“precisamos mudar de nome”a experiência de criação coletiva como forma de ressignificação e mobilização do grupo de dança de rua Base-NT
“Precisamos mudar de nome”um relato de encontros
Aqui, nesse relato em primeira pessoa, irei contar sobre como passei a fazer parte
do grupo de dança de rua Base-NT.
o processo antes do processo
Trabalhos colaborativos não são fáceis. Tem que ir atrás e con-
vencer um monte de gente a fazer junto. Mobilizar não é fácil.
Deslocar pessoas de suas atividades diárias, trabalhos, tele-
visões, casa dos amigos, churrascos, sofás e dizer que você tem
algo importante a fazer junto com elas é um desafio e tanto! O
desafio aumenta quando você está longe dessas pessoas, geo-
graficamente e culturalmente. A verdade é que, quando fui me
encontrar pela primeira vez com o então Grupo de Dança de
Rua do Novo Tempo, não tinha ideia de como isso tudo seria,
por mais que eu já tivesse feito meia dúzia ou mais de checklists
e plano de atividades.
Como eu moro em Belo Horizonte, há 4 horas de ônibus de
Timóteo (quando não há engarrafamentos na BR-381), precisei
do apoio de pessoas próximas ao grupo de dança para dar uma
força na mobilização e articulação dos encontros com os jovens
dançarinos participantes. Enfim, sem o apoio do Grupo Pirilam-
po, que disponibilizou transporte, alimentação, infraestrutura e
recursos humanos e sem a participação direta do dançarino do
Base-NT, Gabriel Oliveira (que lê seu email com frequência!),
na mobilização dos outros jovens a realização do projeto “Pre-
cisamos Mudar de Nome” correria um sério risco de não existir.
Toda a parte de mobilização dos jovens do grupo Base-NT foi
mediada pelo Gabriel. Agendei previamente, na medida do pos-
sível da vida, todas as datas dos encontros com o dançarino e, à
medida que o encontro ia se aproximando da data marcada ou
remarcada, eu confirmava os horários, datas e locais com ele via
e-mail, telefone e SMS. Uma vez que todos os integrantes do
grupo moram no mesmo bairro, ou em bairros vizinhos, a mo-
bilização feita pelo Gabriel se dava quase sempre no “ô de casa!”
ou nos próprios ensaios do grupo.
Como o meu projeto experimental fez parte de um projeto
maior, o Projeto Cultura de Rua realizado pelo Grupo Pirilampo,
acredito que houve uma certa predisposição inicial dos jovens
por fazer parte do projeto posteriormente nomeado de “Precisa-
mos Mudar de Nome”. Fico imaginando se em uma região com
tanta oferta de atividades como é o caso da Região Metropolita-
na do Vale do Aço, eu conseguiria mobilizar sozinha um coletivo
juvenil de dança com mil e uma outras coisas mais dançantes
por fazer.
sobre a organização dos encontros:
Um grande problema enfrentado inicialmente foi a distância
entre a sede do Grupo Pirilampo, local onde foram realizados
os primeiros encontros, e o bairro Novo Tempo, onde os dan-
çarinos moram. Muitos jovens tinham dificuldade de desloca-
mento entre o bairro deles e o bairro do Pirilampo, que ficam em
diferentes extremos da cidade de Timóteo. Foram tomadas três
iniciativas para contornar esse problema: inicialmente o Grupo
Pirilampo disponibilizou transporte, depois arrumamos umas
caronas suadas e por fim, as atividades foram deslocadas para o
bairro Novo Tempo, o que trouxe vantagens pela proximidade
com o “território” do grupo Base-NT e problemas extras com
infraestrutura, falta de internet rápida, de computadores, etc.
Nada irreparável.
O processo junto aos jovens dançarinos foi organizado em 8
grandes encontros quinzenais, exceto durante o período das pro-
vas do ENEM, quando houve um intervalo de 3 semanas entre um
encontro e outro, nessa época boa parte dos integrantes do grupo
estavam realizando as provas. Participaram do projeto, ao todo, 13
integrantes do grupo, sendo que 10 desses jovens estiveram atu-
antes do início ao fim do projeto. Um ponto feliz desse processo,
já adiantando as coisas, é que ao invés de acontecer uma evasão
dos participantes, o que é comum nesses tipos de atividades que
exigem a mobilização de jovens durante um significativo espa-
ço de tempo, houve um aumento do número de integrantes do
Base-NT ao longo dos encontros. Três jovens que não foram aos
primeiros encontros tiveram notícias das atividades, foram ao
terceiro encontro e se tornaram frequência assídua desde então,
contribuindo enormemente para as atividades propostas.
Os encontros foram realizados, em sua maioria aos sábados e do-
mingos, sendo que o último e penúltimo encontros, já no período
de férias escolares, foram realizados às sextas–feiras. A maioria
dos encontros durou em torno de 4 horas, sendo que o primeiro
encontro foi significativamente maior, durando quase 8 horas
(com intervalo para almoço, para sesta, para conversalhada e para
dança, como sempre).
antes de mais nada:
E não pensem que esqueci da pergunta mais importante de
todo o processo de criação coletiva junto aos jovens do Base-
NT: Vocês querem mesmo ter uma identidade visual? Porque
ninguém é obrigado a ter uma marca. E para garantir que eu
não estava fazendo nada de errado, confirmei - “Vocês querem
continuar sendo um coletivo de dança?”. E então, (ufa!) todos
responderam que sim, queriam uma identidade visual, queriam
manter o grupo integrado e (nossa!) queriam aumentar a sua
abrangência e sua força institucional.
A CONVERSA JOGADA:Encontro 1 (Sede do Grupo Pirilampo – 10h às 17h30)
Vídeo-Cabine / Apresentação do Projeto / Jogo de Discussão
jogo de discussão:
Desde o princípio, havia imaginado começar o processo com
uma espécie de grupo de discussão que levasse os integrantes do
grupo a refletir sobre sua a identidade, a conversar, a brincar, a
dar gargalhada, a contar piada, a se posicionar e a se sensibilizar
sobre alguns temas caros à comunicação, como por exemplo os
públicos, os valores, a imagem etc.
Passei a pensar, então, em como transformar uma discussão
pouco atrativa em um bate-papo divertido. Assim, produzi al-
gumas cartas que traziam em seu verso as seguintes perguntas:
“O que somos?”, “O que fazemos?”, “O que queremos fazer?”,
“O que queremos ser?”, Como e onde queremos atuar?”, “Como
nos relacionamos com o bairro Novo Tempo?”, “Qual imagem
queremos ter?”, “Quais são nossos públicos?”, “Quais são os
públicos que queremos ter?” e “Quais dificuldades enfrentamos
enquanto grupo?”. Para não deixar as cartas muito “quadradas” e
sem cara de jogo, adicionei cartas com os dizeres “Pule sua vez!”
e “Faça você mesmo sua pergunta para o grupo”. Se fosse hoje
em dia, teria feito mais cartas “descompromissadas”!
Após uma breve apresentação sobre o projeto a ser desen-
volvido, partimos para o “jogo de discussão”. Como já disse, a
proposta do “jogo de discussão”, que teve o áudio gravado na
íntegra, foi problematizar coletivamente aspectos do grupo de
dança de rua, sensibilizando os dançarinos participantes para al-
gumas questões ligadas à identidade, à memória, aos objetivos,
aos públicos, aos valores do grupo, aos seus meios de atuação,
entre outras temáticas. Para tornar a conversa mais leve, dis-
tribuí as cartas por uma mesa redonda com o verso virado para
cima, com todos sentados ao redor. A cada rodada, sorteáva-
mos ou escolhíamos alguém para virar alguma carta. Como cada
carta possuía um desenho de interrogação diferente no verso,
dava espaço para algumas brincadeiras como: “puxa a carta da
vaquinha!” ou “Essa da cobra deve ser difícil!”. Ao puxar uma
carta, o participante lia a pergunta que estava escrita na carta e
jogava a discussão para a roda.
Inicialmente estavam todos constrangidos a se voluntariar para
começar a puxar as cartas, afinal de contas era a primeira ativi-
dade do projeto. O Gabriel, como forma de incentivar os jovens
a partir para as cartas propôs:
_Samara, de 1 a 10 fala um número.
_ Hmm… 5!
_Duda, agora fala você.
_ 9.
_Duda ganhou, pode começar! (risos)
As cartas “Pule sua vez” ou “Faça você mesmo a pergunta para
o grupo” sempre eram seguidas de risos. Quem retirou a carta
“Faça você mesmo a pergunta para o grupo foi a Duda, a jovem
mais jovem, de apenas 11 anos. Inicialmente ela tentou descon-
versar e passar a bola da elaboração da pergunta para outro in-
tegrante, mas rapidamente ela soltou essa: “O que o Hip Hop
significa para você?”. Aos poucos o pessoal foi respondendo:
família, terapia, modo de vida, uma coisa que me deixa feliz,
modo de expressão e “muita Carminha!” (era época do ultimo
capítulo da novela “Avenida Brasil”).
No começo, tive algum receio da conversa não se desembolar
livremente ou ficar muito concentrada na fala de poucos par-
ticipantes, até mesmo pela pouca idade do grupo. Mas a ideia
do jogo foi bem sucedida e tivemos uma ótima e longa conver-
sa onde todos, em algum momento, se expressaram. Deixei o
papo fluir de maneira bastante livre, foi interessante perceber
como os relatos de cada jovem sobre o grupo se misturavam
às memórias e à identidade pessoal de cada um. Assim, o que
começou de maneira tímida, rapidamente se tornou um bate-
papo que se prolongou por 1 hora e 45 minutos e que foi bas-
tante além das respostas às cartas, indo desde temas como “a
nova praça do Novo Tempo”, até temas como violência urbana,
novela, religião e culinária. Foi aí, que a coisa toda tomou formas
mais claras para mim, percebi que mais do que pela dança por
si só, aqueles jovens se reuniam também para conviver, fazer
amizades, se sentir parte.
Segue abaixo uma breve sistematização bem objetiva sobre o
“jogo de discussão”:
Base-NT: Do Novo Tempo para Timóteo
A partir da pergunta “Como e onde queremos atuar” começou
a discussão sobre o atual grupo de dança de rua Base-NT: ritmo
urbano. O grupo respondeu que, a princípio, eles gostariam at-
uar mais intensamente em Timóteo inteiro, através de eventos,
festas e festivais.
Base-NT e a Escola Municipal do Novo Tempo
Foi relatado que o grupo teve sua atuação ligada à escola do
Novo Tempo desde o princípio. A escola sempre acolheu e ce-
deu o espaço, sendo o único apoio durante muito tempo. Os
integrantes disseram que sentem a escola como um local deles
e perto da casa de todo mundo. Mesmo com mudanças de gov-
erno e de direção, o grupo continuou atuando dentro da escola.
A Escola Novo Tempo é uma referência para o grupo, mas nas
palavras do dançarino Beto “o Novo Tempo sempre vai ser sem-
pre referência, mas é necessário buscar outros espaços”.
Fazer a “boa notícia” correr
O grupo relatou que a curto prazo eles gostariam de reforçar
imagem do coletivo dentro do bairro Timotinho até o bairro Ana
moura, bairros vizinhos ao Novo Tempo, criando uma rede que
faça a “boa notícia” correr. Como uma possibilidade eles pon-
tuaram a criação de outras bases dentro da região, para depois
expandir. Foram citadas as possibilidades do grupo trabalhar
dentro de mais escolas e centros comunitários, assim como par-
ticipar da construção do estatuto da Praça PAC, que é ao lado da
Escola Novo Tempo.
Preconceito da comunidade
Foi falado também sobre algumas dificuldades encontradas pelo
grupo. Muitos familiares, vizinhos e funcionários da escola Novo
Tempo, veem a dança de rua com muito preconceito. Aqui, foi
destacada a necessidade de mostrar à comunidade o que é a
dança de rua a fim de combater o preconceito. Sobre o precon-
ceito contra a dança de rua, os jovens disseram que existe de ma-
neira mais forte dentro da população mais religiosa, em especial
a população evangélica.
Partindo para a próxima pergunta “Quais dificuldades encon-
tramos?”, foi discutido sobre como a dança de rua é vista, por
grande parte da população, como algo negativo, nas palavras do
jovem Warley, como algo do “Sem Sombra”, como algo do “Da
Pá Virada!”. Nesse ponto faço um parênteses dentro desse tema,
é interessante notar como os próprios jovens vivem dentro de
um contexto ambíguo, uma vez que eles frequentam as mesmas
igrejas que condenam uma prática que faz parte da rotina deles.
Em um dos encontros, a Duda me contou que um pastor mais
novo, com proposta de inovar e trazer mais jovens para a igreja
dele, chamou o grupo Base-NT para dançar em um dos cultos da
igreja, Duda relatou que ao ficar sabendo do convite disse para
os outros integrantes do grupo – “Aí não né gente! Aí vocês tão
de sacanagem! Dançar na igreja! Pode não! Isso é pecado!” – em
seguida a Camila, outra jovem do grupo, falou – “Mas a coreo-
grafia não vai ter nenhum movimento sensual, não vai precisar
rebolar.”
O que queremos ser?
A partir da pergunta “O que queremos ser?”, os integrantes de-
ram as seguintes respostas:
Família de dança / União: Um grupo aberto, porém, que atraia
pessoas interessadas de verdade, que queiram fazer parte da
família.
Ambiente de Diversidade: um coletivo que agrupe todos es-
tilos de dança de rua, etnias e raças. Agregar novas pessoas e
conhecimentos. Local de troca de experiências.
Trabalho Social: Um ambiente que fortaleça laços de amizade,
a disciplina e a cidadania.
Atividade física e de lazer: um ambiente de encontro onde
pessoas se juntem pelo prazer de dançar (objetivo que esteve
junto ao grupo desde o início)
Atividade de competição / alto rendimento: ser reconhecido
enquanto um grupo competente para participar de campeona-
tos de dança a nível nacional. (Esse objetivo é voltado para um
grupo menor de dançarinos mais antigos, com um nível mais
avançado de dança).
Atividade de Inclusão Social pela dança: um grupo que ofer-
eça aulas e oficinas de dança gratuitas em escolas pública.
Por fim eles resumiram em uma frase o que o grupo quer ser:
“Um grupo para quem quer, que estimule as pessoas a experimen-
tarem, a ficarem à vontade e a ter disciplina de ensaio.”
Outras dificuldades encontradas
Foram pontuados, também, como fatorares que atrapalham o
andamento do grupo: a falta de motivação com a saída do líder
André Carlos em agosto, a imaturidade de alguns integrantes
que entram e saem com facilidade e até mesmo o preconceito
que a comunidade tem com o jeito do grupo se vestir: boné de
aba reta, tênis de hip hop, corrente prateada no pescoço etc.
Nossos Públicos
Durante a discussão, os jovens pontuaram, também, quais são os
principais públicos do grupo hoje em dia:
- Pais e familiares das crianças que participam das oficinas de
dança de rua – segundo o grupo, esse público precisa o trabalho
realizado pelo coletivo, portanto o relacionamento com os pais
e familiares das crianças que participam das oficinas deve ser
estreitado.
- Crianças e adolescentes que participam das oficinas – faixa
etária: 6 anos a 12 anos (Turma 1) e 12 anos a 17 anos (Turma 2).
- Crianças e adolescentes que acompanham as apresentações do
grupo.
- Profissionais da dança.
- ONGs, Fundações e movimentos culturais da região do Vale do
Aço (ex: IBIS – Instituto Brasileiro de Igualdade Social – Timó-
teo, Grupo Pirilampo, Fundação de Cultura Aperam Acesita).
- Funcionários da Escola Municipal do Novo Tempo.
- Prefeitura e Secretarias de Cultura e Educação / poder publico.
- Instituições educacionais – UNILESTE/UNIPAC etc.
- Escolas públicas.
- Empresas Privadas.
- Igrejas.
- Outros grupos de hip hop locais – “Conteúdo Avulso” / Cole-
tivo Fora do Eixo.
Por fim…
Por fim, o grupo também destacou a importância do financia-
mento do coletivo para que o mesmo possa crescer com o tem-
po. Deixam claro,no entanto, que o grupo vai além de um pro-
jeto financiado e não precisa necessariamente de dinheiro para
se manter de pé, enquanto coletivo de pessoas que se juntam em
torno da paixão pela dança de rua.
a vídeo-cabine:
“Meu nome é Lucas, sou dançarino…”
A video-cabine foi pensada como uma forma de incentivar a re-
flexão individual sobre o Grupo de dança de rua, sensibilizando
os participantes para o sentido de pertencimento ao grupo de
uma forma bem livre e introdutória. Foram necessários: Uma
sala fechada, um câmera filmadora, um tripé e uma plaquinha
escrito “Vídeo-Cabine”.
Cada participante (exceto Samila, 14, que não quis gravar o de-
poimento por estar com muita vergonha), após o “jogo de dis-
cussão” e após o almoço (cedido gentilmente pelo restaurante
“Rico Sabor”) entrou em uma sala, fechou a porta, deu play na
câmera e gravou seu relato.
Os jovens ficaram bastante empolgados e ansiosos com a ideia
da vídeo-cabine. Acredito que falar para a uma câmera, por mais
que a princípio ninguém esteja te ouvindo, traz uma sensação de
antemão de se estar falando para várias e várias pessoas. As mais
novas se limitaram a falar brevemente sobre como e quando en-
traram no grupo. Já os mais velhos trouxeram mais aspectos da
vida pessoal deles para dentro do relato, falando sobre como a
família apoiou ou não o fato de eles participarem de um grupo
de dança de rua, sobre como o hip hop está presente constante-
mente na vida deles, sobre memórias particulares, como o aci-
dente que o Lucas relatou que o obrigou a ficar quase 4 meses
sem dançar ou como o depoimento do Beto que falou sobre uma
possibilidade de se mudar para Portugal. Um depoimento que
se diferenciou um pouco foi o do Gabriel, imagino por ter se
apropriado de sua posição de líder e de uma fala mais “institu-
cionalizada” sobre o grupo. No seu depoimento, Gabriel tratou
de temas que foram desde sua entrada no grupo, até a inclusão
social pela dança, passando por um breve contextualizada pela
cultura hip hop enquanto uma cultura periférica.
Os videos registrados foram utilizados para compor o pequeno
documentário do grupo que foi entregue a cada um dos partici-
pantes no formato DVD. Ao fim das atividades de vídeo-cabine
os integrantes já partiram, no mesmo dia, para a redação dos ro-
teiros dos programas de rádio, que foram finalizados, gravados e
editados apenas no dia seguinte.
NOVO TEMPO FALANDO PARA O MUNDO!Encontro 2 (Sede Pirilampo – 10h às 13h30)
Processos de criação em rádio / Exercício das fotografias.
é nóis na fita:
A partir do tema “o Hip hop e o Grupo de Dança de Rua do bairro
Novo Tempo” (que ainda não havia sido batizado de “Base-NT”),
foi proposto que os integrantes do grupo produzissem pequenos
programas de rádio a serem transmitidos na Rádio Cidade (rádio
comunitária local) e Rádio Itatiaia Vale do Aço.
A proposta pretendia tanto estimular os integrantes a pensar
sobre o próprio grupo, quanto sensibilizá-los para aspectos
como: para quem queremos falar? Qual imagem queremos ter
diante de nossos públicos? Outro objetivo pretendido com essa
atividade foi dar visibilidade e reconhecimento ao trabalho do
grupo, uma vez que um produto feito pelos jovens iria ao ar em
duas rádios de grande audiência local. Não fez parte das propos-
tas desse encontro capacitar os jovens para a edição de áudio,
mesmo assim deixei uma apostila impressa sobre como editar
áudios no Audacity (um software aberto com uma interface su-
per simples) com cada um dos participantes.
Inicialmente, mostrei aos jovens diferentes exemplos de pod-
casts, em segundo lugar abri espaço para a discussão em grupo
sobre a temática do programa a ser produzido (já com os três
grupos divididos) e em terceiro lugar apresentei brevemente
“como escrever um roteiro para rádio”.
Desse processo de criação, surgiram 3 programas de rádio,
cada um com aproximadamente 4 minutos: “é Nóis na Fita!”,
um programa de entrevistas; “Grito de Rua!”, um programa de
reportagens e “Vida Loka Também Ama”, uma radionovela.
No programa “é Nóis na Fita!”, o Gabriel (21) foi entrevistado
pela Duda (11). Ao longo da entrevista foram tratados de temas
mais pessoais como, “O que o hip hop significa para você?” a
temas mais coletivos como, “Como surgiu o grupo de dança de
rua do Bairro Novo Tempo?”. Já no programa “Grito de Rua!” o
hip hop foi tratado de maneira mais global, apresentando um
breve histórico sobre a cultura hip hop no mundo. Por fim, a
rádio novela “Vida Loka Também Ama” teve um tom mais livre
e “romântico”. O enredo da radionovela tratou sobre uma estu-
dante que se apaixona por um dançarino de hip hop.
Percebi que a maior dificuldade encontrada por eles foi se con-
centrar e redigir o roteiro, assim como “se soltar” na locução.
Criamos um pequeno estúdio improvisado (com um tripé, um
bom gravador e um computador) onde, a medida que cada gru-
po ia concluindo o roteiro, os jovens entravam na salinha e man-
davam ver na locução. Nas primeiras gravações de cada grupo os
meninos ainda estavam encabulados, falando com pouca fluên-
cia e gaguejando bastante, o que é normal. Fui dando uns toques
aqui, uma ajudinha ali e nas últimas gravações da locução de
cada programa já tínhamos um resultado ótimo, considerando
o pouco tempo de preparo que tivemos. Após a gravação da
locução, os jovens me passavam todas as sonoras selecionadas
por eles para compor os programas (trilhas e efeitos sonoros) e
orientavam meu trabalho de edição dos programas no Audac-
ity. Acabei aproveitando as trilhas sonoras para atualizar minha
playlist com muito hip hop e funk.
Fiquei surpresa com o engajamento da Duda que sugeriu que
tivéssemos oficinas de rádio durante todos os domingos do ano.
Os jovens ficaram bastante empolgados com o resultado final dos
programas de rádio e eu cheia de planos para propor um futu-
ro programa semanal para Rádio Comunitária Cidade – começa
agora mais um programa “Novo Tempo falando para o mundo!”
produzido pelos jovens do coletivo Base-NT (…) – e por aí vai.
desafio fotográfico:
Como exercício do primeiro para o segundo encontro, verifiquei
com os participantes quais tinham câmeras disponíveis, tanto
câmeras fotográficas comuns dessas digitais, quanto câmeras de
celular. Como a maioria dos integrantes tinham acesso a algum
tipo de câmera, propus que eles utilizassem as próprias câmeras
para realizar o exercício em duplas. Assim, foi proposto como
exercício que, ao longo de 15 dias, os dançarinos registrassem
imagens que, segundo eles, estivessem relacionadas à identi-
dade do grupo, ou seja, o desafio era registrar o grupo sem se
autofotografar ou fotografar os outros integrantes. Dessa forma,
ficou combinado que as imagens seriam entregues no próximo
encontro.
Pensada como forma de criar uma ponte entre as questões le-
vantadas no “jogo de discussão” e o trabalho de criação visual,
o exercício com fotografias tinha tudo para dar certo, mas infe-
lizmente apenas três integrantes do grupo (Gabriel, Kut e Síria)
cumpriram com a tarefa proposta (os trabalhos colaborativos e
seus mistérios de mobilização…) o que acabou fazendo com que
o exercício fotográfico tivesse que ser adiado, como será esmi-
uçado mais à frente.
NO PALCO, MAS SEM ABANDONAR A RUAEncontro 3 (Fundação Aperam Acesita às 19h)
apresentação de coreografia:
O terceiro encontro foi realizado durante a apresentação do
Base-NT na VI Mostra Círculo de Cultura do Grupo Pirilampo,
que aconteceu na Fundação Aperam Acesita, em um teatro com
capacidade 150 cadeiras. Nesse encontro, além de atuar como
observadora, tratei do registro audiovisual da apresentação.
Acredito que esse encontro teve grande importância no decor-
rer dos processos criativos do grupo, uma vez que houve grande
reconhecimento por parte do público (de diferentes regiões de
Timóteo), com a casa cheia e muita gritaria!
Outro ponto importante foi a exibição do vídeo da apresenta-
ção para todo o grupo no dia seguinte à mostra. A reação foi
bastante empolgada, vários pediram para eu gravar o vídeo para
eles , outros perguntaram “pode colocar no face?” e a Samara co-
mentou: “Nossa! Até que eu tô dançando direitinho!”. Ao longo
da exibição do vídeo os jovens iam comentando sobre a reação
do público, sobre a fumaça cenográfica que estava atrapalhando
um pouco, entre outras memórias do momento.
PRECISAMOS MUDAR DE NOMEEncontro 4 (Sede do Grupo Pirilampo – 9h às 13h30) - Apresenta-
ção da sistematização do Jogo de Discussão / Precisamos Mudar
de Nome / Site / (Re) Exercício das fotografias.
E aí, Bruna? Ficou bom?
Nesse encontro apresentei para o grupo a sistematização que eu
havia feito sobre tudo que tínhamos discutido no “Jogo de Dis-
cussão” do primeiro encontro. Percebi que isso foi importante
para retomarmos questões importantes do projeto, evitando
de as discussões iniciais ficarem esquecidas ou pouco presen-
tes ao longo de todo o processo criativo. Aqui, chegamos em
um ponto interessante que veio, posteriormente, dar nome ao
projeto experimental: após a apresentação e a validação do que
fora sistematizado sobre a identidade do grupo, o Lucas, mais
conhecido como Lukão, disse: “Precisamos mudar de nome”.
Imediatamente, todos concordaram.
Assim, eu praticamente me limitei a gravar alguns momentos
do brainstorm, que surgiu de maneira espontânea dentro da
conversa entre os dançarinos, e a dar algumas sugestões quan-
do alguém do grupo me perguntava: “E aí Bruna, ficou bom?”.
Para não tornar minhas opiniões tendenciosas, minhas sug-
estões sempre caminhavam para o lado: “vamos pensando em
mais nomes, quanto mais melhor, depois vocês entram em um
acordo” ou “não podemos esquecer do que já pensamos sobre
nosso públicos, objetivos, valores, nosso histórico...”. Falei assim
mesmo, dizendo “nosso” grupo, foi uma apropriação natural que
tive ao longo dos encontros com os meninos. Hoje, considero
que isso foi positivo para o andamento das atividades, afinal a
proposta do “fazer junto” implica que o mediador, no caso eu,
mobilize-se, entre para a roda e se sinta, de certa forma, per-
tencente aquele coletivo. Sem isso, a coisa fica meio capenga ou
insossa e, por isso mesmo, menos integradora.
Além do nome escolhido “Base-NT” (eleito com 8 votos), os
jovens tiveram ideias como: TNT-Crew, NT-Base, TNT Dance,
TNT-Mix, NT Roots, entre outras propostas menos aceitas pelo
grupo. Após a escolha do nome, o grupo fez outra “tempestade
de ideias” para escolher o slogan. Algumas propostas foram:
Base-NT: Cultura de Rua; Base-NT: Ritmo de Rua; Base-NT: Hip
Hop Dance e o vencedor: Base-NT: Ritmo Urbano.
O grande argumento para mudar de nome foi o de minimizar a
relação direta entre o grupo de dança de rua e a Escola Munici-
pal do bairro Novo Tempo. O Novo Tempo devia ser uma base,
mas não devia ser o próprio grupo. Além disso, os integrantes
acharam que o nome “Grupo de Dança de Rua do Novo Tempo”
era compriiiiiido demais.
WWW:
Uma demanda que surgiu ao longo das atividades junto ao Base-
NT foi a de criar um site para o grupo, reservei parte desse en-
contro para pensarmos conjuntamente no conteúdo do site e
sobre como ele seria atualizado. Foi decidido que o site teria
as seguintes páginas: Inicial / Base-NT / Vídeos / Fotos / De-
poimentos / Agenda / Comentários / Possibilidade de compar-
tilhamento de conteúdo via facebook / Contatos. Disse que ia
desenvolver um site com essas funções, mas bem simples, uma
vez que eles mesmos teriam que ter a autonomia de atualizá-lo.
Foi combinado que ao fim do processo eu enviaria um tutorial
simples ensinando-os a postar conteúdos no site (wordpress) e
que o Gabriel, que possui fluência com computadores e internet,
seria, a princípio, o responsável pela atualização. A Francislane
(18), irmã da Duda e ex-integrante do grupo Base-NT, se dispôs
a divulgar o site e as notícias do Base-NT via redes sociais, uma
vez que ela é online. Aqui, também marcamos de montar uma
fanpage no Facebook para o grupo divulgar suas apresentações.
E como já dizia a Duda “#compartilhe!”.
Fotografias, recortes, esboços:
Como já foi falado, no primeiro exercício com fotografias tivemos
um grande problema: apenas 3 integrantes fizeram o exercício de
fotografar imagens relacionadas ao Base-NT, com as seguintes re-
gras: (1) não se autofotografar e (2) não fotografar o próprio grupo.
Assim, achei que 3 era um número pequeno, diante de todos os
13 participantes. Chamei a atenção do grupo dizendo sobre a im-
portância daquele exercício para as próximas atividades. Assim,
repeti o “dever de casa”, mas dessa vez ampliei os recursos que
podiam ser utilizados: além de fotografias, os jovens poderiam
trazer, esboços, recortes e imagens da internet.
PAPEL, CANETA E MANGAEncontro 5 (Casa da Duda – 14h às 18h) - Processos de criação vi-
sual (trazer referências ligadas ao grupo: exercício das fotografias,
recortes, imagens da internet, desenhos e rascunhos). Sensibiliza-
ção sobre importância das cores, da tipografia e da logomarca.
Acredito que essa parte do processo tenha sido a parte mais
desafiadora, o grupo teria que juntar tudo o que já havia sido
conversado e acordado sobre a identidade Base-NT para então
resumí-la em uma logomarca. Outro grande desafio era: em
que medida interferir no processo criativo? Existe algum limite
bom de interferência? Ou seria a proposta ideal apenas dar liber-
dade? Optei por repertoriar minimamente os jovens e criar certa
base de trabalho, um de onde partir guiado pelo encadeamento
das propostas definidas para cada encontro. Acredito que mui-
tas vezes uma “liberdade total de criação” se torne uma “falsa
liberdade”, considerando que os jovens naturalmente se cobram
por cumprir uma expectativa projetada sobre eles, trocando em
miúdos, fazer um recorte dentro de uma infinidade de possíveis
materiais de trabalho não significa restringir as possibilidades
criativas que neles estão depositadas.
Foi ótimo realizar o 5º (e 6º) encontro na casa da Duda. A Dudinha,
como o pessoal gosta de chamá-la, mora no final do bairro Ana
Moura (vizinho ao Novo Tempo) em uma casa que mais parece
uma roça, chão batido, terreiro, galinha, cachorro solto, muito
pé de fruta, horta… fiquei até achando curioso o ritmo urbano
do Base-NT e refletindo sobre essa apropriação da cultura de rua
dos grandes centros urbanos pelas pequenas e médias cidades do
interior. Enfim, foram só uns parênteses.
Começamos as atividades do 5º encontro fazendo alguns exer-
cícios para soltar o traço e o desenho criativo (o que, Bruna? –
Soltar o traço! – Que traço? – O traço uai! Vocês vão ver...). Pri-
meiro realizamos desenhos às cegas para diminuir a expectativa
e a cobrança sobre o que estava sendo desenhado, inicialmente
o desenho deveria ser feito sem retirar o lápis do papel, em um
segundo momento, cada integrante deveria completar o desenho
de outro jovem.
A princípio, os meninos ficaram um pouco “travados”, dizendo
que não sabiam desenhar. Porém, com o passar do tempo, a
grande maioria foi se desinibindo e, com a ajuda dos exercícios
propostos, se concentrando em criar de acordo com suas possi-
bilidades técnicas. Após o exercício de desenho às cegas e de de-
algumas músicas. A cada 30 segundos eu trocava de estilo musi-
cal, propus essa atividade como forma de fazer ligações sinestési-
cas, incentivando os jovens a criarem metáforas entre aspectos
sensoriais distintos.
Foi uma boa atividade, porém, se fosse realizar esse exercício
novamente, evitaria trazer músicas e ritmos conhecidos pelos
jovens, já que a música conhecida tende a trazer consigo, além
de opiniões muito cimentadas e arquirrivais (“forró é a morte!”,
“tira esse pagode pelo amordedeus!”) uma bagagem de pré-asso-
ciações já muito definidas e que, muitas vezes, nada tem haver
com a música em si. O exercício deu muito certo, por exemplo,
quando coloquei músicas da japonesa Keiko Abe.
O último exercício de desenho proposto foi o de desenho rápi-
do. Pedi que cada um desenhasse os seguintes objetos no tempo
determinado: uma garrafa térmica em 5 segundos (“garrafa tér-
mica?”), um chuveiro elétrico em 10 segundos (“que isso!”) e uma
galinha em 5 segundos (um deles desenhou um ovo). Esse último
exercício de desenho, trouxe várias imagens simples, divertidas e
espontâneas que exemplificaram como é possível construir ima-
gens “profundas” com poucos traços (“Cara! Sua galinha ficou
muito massa!”).senho coletivo, foi proposto que cada um desenhasse ao ritmo de
Após os exercícios de desenho, fizemos um exercício de en-
quadramento como forma de sensibilizar os jovens para esse
aspecto da criação. Cada um recebeu uma fotografia com o mes-
mo tema: bicicleta. A partir daí, com o auxílio de uma cartolina
preta com um retângulo vazado, cada um foi incentivado a sele-
cionar um enquadramento daquela imagem e justificar a escolha
do mesmo. Com isso, tratamos um pouco sobre a necessidade
de escolha do que e como se quer mostrar, diante de todo um
mundo de coisas que pode aparecer. O que queremos enfatizar?
O que é para ser visto? Como mostrar o que deve aparecer? O
que pode ser ocultado?
Por fim, digo, antes de começarmos a nos debruçar diretamente
na criação da marca Base-NT, falei de maneira breve sobre cores,
tipografias e logomarcas. No caso das logomarcas, apresentei di-
versas (em torno de 15) logomarcas que se utilizam do animal
“porco” como referência visual e nem por isso são parecidas uma
com a outra, cada uma tem uma personalidade distinta com va-
lores implícitos diferentes. Nesse momento, puxei uma conversa
sobre aquelas logomarcas e aqueles porcos, um pretexto para
começar uma discussão sobre quais porcos eram mais legais,
quais eram mais fofinhos, quais eram comestíveis, quais eram
de pelúcia, quais eram moderninhos, etc. Apresentei também
como exemplo, algumas marcas e cartazes tipográficos, além
de marcas não figurativas. Meu objetivo com isso foi desvincu-
lar a criação da marca como apenas a definição das referências
visuais, sensibilizar os participantes para a importância de dar
“personalidade” à nossa futura logomarca e chamar atenção para
o cuidado que se deve ter na criação tipográfica, afinal de contas
letras também são desenhos.
Ao fim das atividades do quinto encontro, que aconteceu na
casa da Duda, ficamos até às 8 horas da noite jogando futebol,
chupando manga e matando pernilongo.
Base-NT: a Marca.Encontro 6 (Casa da Duda – 9h às 13h30) – Discussão em grupo
a partir das referências trazidas, dos desenhos criados na oficina
e dos objetivos e públicos do grupo. Definição coletiva da com-
posição da identidade visual do grupo (ilustração e tipografia).
No início do 6º encontro nos voltamos para as imagens criadas
e selecionadas a partir do (re) exercício fotográfico. A maioria
dos jovens dessa vez cumpriu com a proposta sugerida e trouxe
imagens produzidas por eles que representassem o grupo de al-
guma forma. Assim, além das imagens produzidas no primeiro
exercício de produção de fotografias, tínhamos dessa vez alguns
desenhos e esboços produzidos pelos jovens, algumas imagens
selecionadas da internet e um esboço da futura camisa do cole-
tivo projetada pela Duda.
Nesse momento, passamos a conversar sobre os conceitos que
deveriam estar presentes na marca, como mediadora, eu sempre
ia buscando as discussões de encontros anteriores para orientar
a criação. Depois de muita conversa, fechamos que a marca de-
veria expressar movimento e estilo, além de ser amigável como
a “família” Base-NT. Continuando o processo de criação, algu-
mas definições imagéticas começaram a sair a partir das referên-
cias trazidas e das discussões anteriores, as mais citadas foram:
Grafite, Muro da escola, boné e caixa de som ou pickup.
Enfim, cada um pegou papel, lápis, caneta, etc e começou a colo-
car a mão na massa. Coloquei um som na “pickup” para o ambi-
ente ficar mais descontraído e propus que todos fossem buscando
criar imagens que pudessem ser utilizadas na elaboração da logo-
marca, assim como desenhar letras dignas de representar nosso
grupo. Foi interessante reparar que o trabalho sempre continuou
coletivo, com cada um dando pitacos e interferindo na criação
do outro de modo positivo. Para quem ainda estava muito inse-
guro com o desenho, sugeri a utilização da projeção da imagem
do computador na parede para pegar alguns traços e proporções
(até porque a proposta da oficina nunca foi a de ser uma oficina
de desenho), deixando claro que a criação teria que ser inédita e
que eles deveriam interferir na imagem de toda forma.
Ao fim do processo, colocamos todos os desenhos finalizados
na mesa e perguntei para eles: “E aí? Como vai ser?”. O grupo
definiu, a partir de voto aberto, os parâmetros e os elementos
a serem compostos na finalização da marca. Com isso anotado
na cabeça, levei as imagens para casa, digitalizei, vetorizei e fiz
alguns ajustes de composição.
E gostei demais da marca! De cor preta chapada e inspirada na
estética do stêncil (arte de rua) a marca expressou o que havia
sido discutido: ela é jovem, amigável, expressa movimento e tem
estilo, estilo de rua, de “feito na tora”. Além disso, a utilização
da referência visual dos “bonecos de sinalização”, incorporando
a ele um comportamento hip hop, traz uma sugestão imagética
comum aos “urbanos” para dentro da marca.
De fato, o trabalho coletivo e a contribuição de cada um den-
tro do processo foi um diferencial para a criação da marca. O
desenho tipográfico, por exemplo, foi feito diretamente por
duas pessoas em conjunto (Gustavo e Felipão), já o desenho do
personagem foi pensado mais diretamente pelo Felipão e pelo
Gabriel, desenhado pelo Gabriel e finalizado por mim, que fiz
algumas pequenas alterações em seus gestos de modo a torná-
los um pouco mais característicos, nada que tenha deturpado a
proposta de criação do Gabriel.
Enfim, todos contribuíram de alguma forma, com sugestões,
pitacos, através das votações, discussões, busca de referências,
etc. Por fim, fiquei torcendo para que o resultado final agradasse
a todos os jovens dançarinos.
BLUSAS FRESQUINHASEncontro 6 (Escola Novo Tempo – 16h às 19h30) – Apresentação
das versões da marca finalizadas / votação sobre qual seria a
marca definitiva / Criação de Stêncil da marca / Impressão das
camisetas BaseNT / Colagem de cartazes pela Escola e no ponto
de ônibus em frente à escola com a marca nova / último ensaio
para o Flash Mob de divulgação da marca no dia 22/12.
No 6º encontro, foram apresentadas algumas versões finalizadas
da marca Base-NT, com diferentes composições. Coloquei todas
elas impressas sobre a mesa e esperei que todos entrassem em
acordo a respeito de qual seria, enfim, a marca Base-NT. Não
houve nenhum grande conflito para a escolha da marca, a escol-
hida venceu por quase unanimidade.
Assim que foi definida a versão final da marca, apresentei para os
jovens como seria o processo de impressão das blusas (impressão
serigráfica artesanal usando um molde -stêncil - de papel sulfite
90g/m2 por debaixo da tela de nylon). Alguns dançarinos já ha-
viam trazido as respectivas blusas brancas para serem impressas,
por segurança levei mais blusas para ninguém ficar sem (nem
eu!). Esse processo foi ótimo, uma delícia! Todos, de fato, vesti-
ram a camisa. E impressas por eles mesmos! A reprodutibilidade
técnica assim tão de perto e tão feita à mão sempre me encanta,
em pouco tempo a mesa já estava cheia de camisas iguais. Achei
interessante como muitos integrantes se apropriaram da marca
e customizaram suas camisas com glitter (mesmo que o glitter
fosse sair depois da primeira lavagem), tintas coloridas, nome
nas costas, etc.
Ao fim do encontro, de maneira espontânea, os integrantes do
grupo Base-NT colaram alguns cartazes divulgando a nova mar-
ca Base-NT pela escola, no muro e no ponto de ônibus próximo
à Escola Municipal Novo Tempo. Acredito que isto tenha sido
outro ótimo indício de apropriação da marca pelo grupo.
Terminada as impressões das blusas, os jovens dançarinos foram
para o último ensaio do flashmob do dia seguinte. Pensado
como um primeiro momento de divulgação da marca Base-NT,
o flashmob funcionou como um momento de “dar as caras”, se
posicionar enquanto grupo e ser reconhecido enquanto tal, des-
pertando julgamentos dos expectadores.
Fiquei gravando o ensaio e pensando que se eu ainda morasse
em Timóteo eu iria ser Base-NT.
VEM COM MC KORINGA E DEIXA O CORPO SACUDIR:Encontro 7 (Centro de Timóteo – MG / 15 horas)
Planejado para o ultimo sábado antes do Natal, o flashmob
aconteceu na tarde do dia 22 de Dezembro de 2012, às 15 horas
no Centro-Norte de Timóteo. O evento foi organizado integral-
mente pelo grupo Base-NT, a partir de uma ideia do Gabriel que
surgiu no início dos encontros do projeto. Com o andamento do
processo o flashmob, que ia ser apenas mais uma apresentação
do grupo, virou uma oportunidade de divulgação da nova marca
Base-NT: ritmo urbano. Meu papel nesse encontro foi o de regis-
trar o flashmob, o que foi uma coisa bastante difícil com apenas
uma câmera e muita coisa acontecendo.
Tudo começou com uma simulação de briga entre um casal
(Lucão e Samara) e um terceiro elemento, que se dizia ser a
amante do homem do casal (Warley Kut de peruca). Os três an-
daram por locais movimentados do centro simulando um bate-
boca e atraindo a atenção dos curiosos de plantão. Depois de
despertar a curiosidade de muita gente, os dois pararam em uma
rua e quando a briga esquentou o Gabriel entrou para apartá-
la, nesse momento a caixa de som de uma bicicleta de anúncio
começou a tocar “Danada Vem que Vem” do MC Koringa. Foi
então que os outros jovens, que até então estavam disfarçados
de transeuntes, entraram na dança. No segundo momento da
dança, quando já tinha um público significativo formado, eles
colocaram a camisa do Base-NT, produzida no dia anterior, e ao
fim da dança gritaram “Base-NT!!!”.
A reação do público, em geral, foi positiva, principalmente dos
jovens e das crianças. Alguns adultos se mostraram descon-
fortáveis com o estilo de música, o funk. Algumas pessoas que
pararam para assistir ao flashmob chegaram a esboçar uma
dancinha, mas nada além disso. Ao fim da dança, alguns pedi-
ram “mais um!”, outros pediram uma camisa, muitos aplaudi-
ram, um chegou a chamar o grupo para dançar no bairro dele e
o Gabriel disse que esse era só a primeira de várias intervenções
na rua.
Acredito que o flashmob foi uma atividade muito válida para a
divulgação da marca, principalmente se for seguido de próximos
eventos dessa natureza com uma divulgação mais intensa pela
internet convidando todos a cair na dança. De toda forma senti
firmeza na continuidade dessas ações. O Grupo Pirilampo se
disponibilizou a ajudar o Base-NT a conseguir novos locais para
organização dos próximos flashmobs. Como possíveis cenários
para as próximas intervenções em flash já temos: o Shopping do
Vale do Aço, o Hipermercado Bretas, o restaurante setorial da
Siderúrgica Aperam e o calçadão comercial da rua 31 de Março.
Aguardem!
LANÇAMENTO DO DVD BASE-NT:RITMO URBANOEncontro 8 (Sede do Grupo Pirilampo – 9h30 às 12h30) –Pensar
em táticas para a divulgação do Base-NT / Distribuição de car-
tazes / Reunião de encerramento / Exibição de lançamento do
DVD Base-NT: Ritmo Urbano.
No último encontro organizamos uma pequena exibição de
lançamento do DVD Base-NT: Ritmo Urbano. Convidamos in-
tegrantes da equipe do Grupo Pirilampo, funcionários da Funda-
ção Aperam Acesita e integrantes antigos do grupo Base-NT.
Considerei o lançamento um sucesso! Contamos com a presença
de aproximadamente 24 expectadores, incluindo a Neide, coor-
denadora de projetos sociais da Fundação Aperam Acesita. O re-
torno foi muito positivo e o grupo recebeu vários eleogios, como
“Não sabia que vocês tinham um trabalho tão legal e tão bem
estruturado!” (Neide) ou “Ficou fino! Profi! Só vai ficar melhor
se eu ganhar uma camisa!” (Weverson Negão – ex-integrante do
grupo de dança). A exibição do DVD (composto por documen-
tário de 20 minutos, video do flashmob, clipe da criação da logo-
marca, álbum de fotografias e link para site) e os comentários
que se seguiram após a exibição, funcionaram, de certa forma,
como uma avaliação do público externo (ainda que pouco rep-
resentativa) sobre o grupo Base-NT e sobre o trabalho realizado.
As representantes da Fundação Aperam Acesita, ao fim da exi-
bição, pediram um DVD para repassar para outros funcionários
da fundação, o que pode ser um bom indício para o Projeto Cul-
tura de Rua continuar a ser financiado.
É claro que para termos uma real avaliação sobre como os públi-
cos do Base-NT receberam a nova marca do coletivo, precisaría-
mos de um tempo maior de inserção da marca dentro da co-
munidade, o que, infelizmente, ainda não é possível de ser feito.
E DAQUI PRA FRENTE?
Após o lançamento do DVD realizamos uma reunião entre os
integrantes do grupo Base-NT mais o convidado (ex-integrante)
Weverson, o Negão, para discutirmos as próximas atividades de
divulgação do Base-NT. Fiz a seguinte pergunta para o grupo:
Como vamos continuar divulgando o Base-NT? Como será daqui
para frente? Assim passamos a conversar sobre ações de comu-
nicação como facilitadoras da sustentabilidade do grupo.
Foram citadas pelos jovens as seguintes ações:
1 - Distribuição do DVD para outros coletivos e parceiros liga-
dos à cultura de rua como forma de propor aproximação en-
tre os grupos. Negão ficou encarregado de entregar o DVD para
os contatos que ele tem com o Coletivo Fora do Eixo em BH e
com o Conteúdo Avulso de Ipatinga, além de fazer um convite
para que dançarinos da Região Metropolitana de Belo Horizonte
ministrem workshops em Timóteo.
2 - Criar uma fanpage no Facebook para divulgar os eventos,
vídeos, site e o próprio material do DVD.
3 - Atualizar o site com frequência.
4 - Propor intervenções nas escolas públicas nos horários dos
recreios (flashmobs nos patios e cantinas),
5 - Mutirão de lambe-lambe em muros de terrenos baldios.
6 – Criar vídeos-teaser do Base-NT para divulgação na internet.
Ao fim da discussão sobre as ações de comunicação a serem im-
plementadas, fizemos uma avaliação interna sobre todo o pro-
cesso criativo. Pedi para que os jovens fizessem uma avaliação
oral sobre nosso projeto experimental, relatando em que o pro-
cesso criativo vivenciado contribuiu para o grupo. Foram relata-
das pelos jovens as seguintes observações que fui tomando nota:
“O grupo está mais apegado”/ “Estamos mais unidos”
“… percebi que o grupo está mais autônomo”
“agora o grupo posui mais facilidade de inserção junto aos nos-
sos públicos”
“O grupo está mais bem estruturado”
“A autoestima aumentou”
“…até mesmo alguns integrantes que já haviam saído recente-
mente resolveram retornar”
“Acredito que isso que aconteceu com a gente foi um pontapé
inicial para recomeçar um grupo que já estava terminando.”
“Agora estamos com muitos instrumentos em mãos para uti-
lizarmos em benefício do grupo”
Fiquei bastante satisfeita com o que eles foram espontanea-
mente relatando, afinal de contas o fortalecimento da sensação
de pertencimento, a integração e mobilização do grupo e o em-
poderamento desse coletivo juvenil eram os objetivos mais caros
ao projeto “Precisamos Mudar de Nome”. Por fim eles me dis-
seram que já me viam como parte do grupo Base-NT e eu aqui
morrendo de vontade de aprender a dançar Freestyle, Kromp,
Charme, Reggeaton. Prometi ao grupo que iria voltar e organizar
um treinamento sobre como escrever projetos culturais, que já
foi marcado previamente com a Coordenadora de projetos do
Grupo Pirilampo. Enfim, é difícil de largar um coletivo juvenil
assim sem mais nem menos!
Este livreto vem acompanhado de 2 DVDs em anexo:
DVD Precisamos Mudar de Nome -
- breve vídeo que ilustra como foi o processo de
criação da marca Base-NT:ritmo urbano;
- Programas de rádio produzidos pelos integrantes do
Base-NT
- álbum de fotos dos encontros.
DVD Base-NT: ritmo urbano -
- pequeno vídeo documentário sobre o Base-NT
- registro do Flashmob de divulgação do Base-NT
- álbum de fotografias
- Contatos e site
- material de texto
- Clipe da criação da marca
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