PERCEPÇÕESM Á R C I O H U D S O N
entrelinhasCuiabá, 2006
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© Márcio Hudson, 2006.
Av. Senador Metello, 3.773, Jardim Cuiabá78.030-005 – Cuiabá-MT, Brasil
Telefax: (65) 3052 8711 / 3624 8711www.entrelinhaseditora.com.br
e-mail: [email protected]
Editora
Maria Teresa Carrión Carracedo
Projeto, design gráfi co e tratamento de imagens
Helton Bastos
Digitalização de imagens
Ronaldo Guarim
Fechamento de arquivos e produção gráfi ca
Ricardo Miguel Carrión Carracedo
Revisão Ortográfi ca
Domingos Vieira de Assunção
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Hudson, Márcio.
Percepções / Márcio Hudson. -- Cuiabá :
Entrelinhas, 2006.
ISBN 85-87226-38-X
1. Cor 2. Fotografi a 3. Fotografi a artística 4. Hudson, Márcio
5. Luz 6. Preto e branco I. Título.
CDD-77906-1156
Índices para catálogo sistemático:1. Fotografi a : Hudson, Márcio : Artes 7792. Hudson, Márcio : Fotografi as: Artes 779
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Para Juliana, a minha maior motivação.
Obrigado à editora Maria Teresa Carrión Carracedo,que vislumbrou esta obra antes de mim.Desde 1993 fui muito incentivado pelas curadoras Ângela Magalhães e Nádja Peregrino, às quais sou duplamente grato.Muito obrigado ao fotógrafo e mestre Ivan Klingen, pelos profundos mergulhos técnicos na fotografi a, em longos estudos e discussões em seu estúdio em Copacabana, ao som de blues e bossa-nova.Minha gratidão ao amigo e fotógrafo Marcus Eurício Álvaro (in memoriam), que me conduziu nos primeiros passos desta grande arte.Abriram-me, também, os horizontes os fotógrafos Evandro Teixeira, Beat Presser, Eduardo Brandão, Cláudio Edinger (durante a minha estada em NY), Louis Jay Suckle, John Sexton (via Internet), Márcio Riscado, Daniel Mattar e a modelo Adriana Mattar.Devido aos seus trabalhos inspiradores, devo pagar tributo a Ansel Adams, Irvin Penn, Horst P. Horst, e aos fotógrafos de cinema Sven Nykvist e Nestor Almendros.Agradeço, ainda, ao Dr. Alfredo Arruda, meu tio, pelo seu inestimável apoio no meu retorno a Cuiabá.
Ao meu fi lho Antônio, que, aos dois anos de idade, já opera uma câmara digital.
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PR E F Á C I O
Materialidade da luz nas fotografi as de Márcio Hudson
O livro Percepções reúne fotografi as dos últimos quinze anos do artista mato-grossense Márcio Hudson, que, desde as primeiras páginas, mostra o caráter subjetivo da sua poética autoral, onde a série de imagens dos corpos femininos tipifi ca, das formas mais diversas, a natureza imprecisa da linguagem fotográfi ca. Não é difícil identifi cá-la na ação do artista. Ao contrário, Hudson nos mostra que ela pode estar presente tanto nas ma-neiras como confi gura determinados corpos, quanto na sua articulação com uma realidade precária sempre próxi-ma ao desmanche. A cor rósea, sobre o fundo escuro, presente em algu-mas imagens do corpo, imprime, por exemplo, uma materialidade etérea, espectral. Cortes drásticos, enqua-dramentos inusitados, vestígios de formas, linhas do corpo, falarão sobre o enigma da visibilidade, situando o seu trabalho na fronteira do fi gurativo com o abstrato.
Todas essas invenções e metáforas subvertem, através da arte, a ordem das coisas, ativando os canais de per-cepção, que atam, em tensão constan-te, aquilo que nos parece diferente. Efetivamente, tentamos buscar, nessa migração visual, ou seja, naquilo que é transposto pela câmara, um elo com um mundo conhecido, sem deixar, entretanto, de reconhecer o desloca-mento visual que o trabalho provoca. É o caso das paisagens da Chapada dos Guimarães e da rodovia Trans-pantaneira, em que Hudson usa o fi lme preto e branco com fi ltro ver-melho e, em outros casos, utiliza fi ltro infra-vermelho em câmara digital, para alterar, dramaticamente, as cores naturais, como forma de ultrapassar o naturalismo habitual das fotografi as de paisagens.
A série de fotografi as sobre cidades exige também uma análise um pouco mais detida. Como sabemos, o modo
mais tradicional de se retratar a cida-de sempre foi através de suas “vistas”; dessa forma, os fotógrafos pioneiros traduziam, não só as dimensões da cidade, como também os aspectos climáticos e geográfi cos do terreno onde ela estava situada. Esse registro costumava ser feito à distância, cap-tando, se possível, a cidade inteira para o espectador. Entretanto, Márcio Hudson nos revela a cidade não exis-tente no cartão postal. A exploração de refl exos dos prédios demonstra o interesse do artista pelos fenômenos ópticos, em que as formas dos objetos é “truncada” pelo fenômeno visual. É um pouco daquilo que o revolucio-nário diretor de cinema Dziga Vertov, em 1923, chamava de “olho mecâ-nico”. À maneira de Vertov, Hudson logra dinamizar as suas composições, sublinhando frações da arquitetura distorcida, invertida, apresentando a complexidade da vida urbana sem mostrar as pessoas, evidenciando
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apenas a obra humana, sua metáfora. Olhar é um ato de escolha. Nesse sentido, a apreensão desse campo visual testemunha o modo como o artista vê o mundo.
Sob outra perspectiva, é patente o sentimento de amorosidade nas fotografi as documentais produzidas na África, nos retratos das mulheres massais e da vida selvagem, onde a produção fotográfi ca do artista se em-bebe dos traços marcantes da herança étnica e das forças da natureza, que revelam a sua ligação com questões regional-universais tão típicas de Mato Grosso. Se, de um lado, o artis-ta descortina exuberantes paisagens de Mato Grosso e da África orien-tal, por outro, não deixa de pensar a ação danosa do homem sobre o meio ambiente. Ao invés de usar apenas o gênero documental para pontuar a questão, o autor investe numa outra representação do real, por meio de
uma cuidadosa composição de crâ-nios, insetos, madeiras e sementes, que renovam a luta pela conscientiza-ção ambiental. Dessa forma, a partir do acurado domínio técnico, Hudson materializa a luz a seu bel-prazer, sempre renovando a estética, criando novos signos para petrifi car o tempo e reiterando o mistério da visibilidade.
Vemos, de fato, que, em Percepções, o artista envereda por um imaginário bastante sofi sticado, já que caminha para uma crescente complexidade entre as questões da sintaxe fotográ-fi ca, desembocando em proposições de novas leituras de espaços, em que a expressividade da representação se integra ao espaço circundante. Não sem razão, portanto, a edição deste livro, importante para Mato Gros-so, ao apontar novos olhares sobre antigas questões. Ademais, é uma semente que vai propiciar a gestação de obras futuras, que contextualizem
tanto a produção quanto os traços da linguagem autoral dos fotógrafos de Mato Grosso, disponibilizando-os para a fruição e pesquisa visual de um público em rápido crescimento. A partir daí, a narrativa se desdobra para além dos próprios limites, o que, sem dúvida, instiga todos nós.
Ângela Magalhães e Nadja Fonseca Peregrino
CURADORAS E PESQUISADORAS ASSOCIADAS
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Os meus trabalhos em fotografi a de publicidade são bem conhecidos, pois a própria veiculação comercial se encarrega disso; todavia os ensaios pessoais fi cam em evidência somente durante o curto período de exposição e limitados aos freqüentadores de museus e galerias. Para compensar, as fotos que escolhi para este livro são as menos conhecidas: ensaios de nu artístico, paisagem urbana, paisagem natural, documental e natureza mor-ta. Entraram, também, retratos e algu-mas fotos publicitárias marcadas por um estilo mais autoral. Por se tratar de uma retrospectiva, foi obedecida a ordem cronológica anual; mas, dentro de cada ano, a ordem foi estética.
É muito gratifi cante remexer e pes-quisar as fotos mais antigas, pois elas contam a nossa história pessoal por meio de instantes congelados... fl ashes de memória.
De alguns ensaios eu já nem me recordava. Foi uma viagem ao passa-
banho-maria... O processo de reve-lação da imagem latente é isso, pura feitiçaria!
Tão logo a tecnologia digital atingiu a qualidade necessária e preços aces-síveis, adquiri uma câmara digital, para utilizar em todos os meus tra-balhos comerciais a partir de 2000, e a atividade fotográfi ca perdeu o seu lado mais intuitivo. Em compensação, ganhou em agilidade e reprodutibili-dade, tão necessária ao dia a dia dos trabalhos comerciais. Acredito que, do mesmo modo que a fotografi a, no século XIX, libertou a pintura do naturalismo, e propiciou todas as experiências estéticas revolucionárias dos impressionistas em diante, assim também creio que a fotografi a digital vai deixar para o fi lme a exploração de novas possibilidades na fotografi a de arte.
Márcio Hudson
do. Descobri que a fotografi a não se refere à luz, porém ao tempo.
Percebi que o meu trabalho profi ssional pode ser dividido em duas fases distintas, dois ciclos de vida, refl etidos na fotografi a: de 1989 a 2000, que foi o período da pesquisa e da descoberta.
Houve um intervalo entre os idos de 1994 e 1996, três anos de trabalho intenso e criativo, mas não na foto-grafi a. Foi quando abri restaurantes e aventurei-me na gastronomia. Parece algo distante da fotografi a, mas não o é. A fotografi a autoral, utilizando fi lme preto e branco, exige que o próprio fotógrafo faça a revelação e amplie as cópias em papel no próprio laboratório, e, para isso, é necessário o conhecimento de química. A química moderna tem sua origem na alqui-mia medieval, que era um processo de cozimento: uma pitada disto, uma porção daquilo, deixar em repouso, remexer, aumentar o fogo, deixar em
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