EDIFÍCIOS VERDES
Práticas Projectuais Orientadas
para a Sustentabilidade
NUNO DUARTE FERNANDES ANTUNES
Dissertação submetida para satisfação parcial dos requisitos do grau de
MESTRE EM ENGENHARIA CIVIL — ESPECIALIZAÇÃO EM CONSTRUÇÕES
Orientador: Professor Doutor Alfredo Augusto Vieira Soeiro
JUNHO DE 2010
MESTRADO INTEGRADO EM ENGENHARIA CIVIL 2009/2010
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL
Tel. +351-22-508 1901
Fax +351-22-508 1446
Editado por
FACULDADE DE ENGENHARIA DA UNIVERSIDADE DO PORTO
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4200-465 PORTO
Portugal
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mencionado o Autor e feita referência a Mestrado Integrado em Engenharia Civil -
2009/2010 - Departamento de Engenharia Civil, Faculdade de Engenharia da
Universidade do Porto, Porto, Portugal, 2009.
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Autor.
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À Helena
Há o suficiente no mundo para todas as necessidades humanas, não há o suficiente para a
cobiça humana
Ghandi
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AGRADECIMENTOS
A realização deste trabalho não seria possível sem a intervenção de algumas pessoas que foram
determinantes na sua realização. Assim, gostaria de expressar aqui o meu reconhecimento a todas elas.
Em primeiro lugar, agradeço ao professor Alfredo Soeiro por ter aceite a orientação da minha
dissertação, pela bibliografia cedida e por todas as suas linhas orientadoras que foram determinantes
para encontrar o caminho quando me desviava dos propósitos fundamentais do trabalho. Ao professor
Rui Calejo pela sua simpatia, disponibilidade e conhecimentos científicos partilhados, que me foram
úteis na aplicação do estudo. Agradeço igualmente à arquitecta Joana Pinho, pela gentileza de me ter
cedido bibliografia e material para desenvolver todo o trabalho.
Gostaria de deixar a minha profunda gratidão à Helena pela paciência, persistência e apoio nas alturas
mais exigentes, que um trabalho desta natureza acarreta. Ao Luís pelas elucidações em Excel que
tornaram a realização do programa possível. Aos meus amigos Rui, Hélder e João, pelo
companheirismo na realização deste trabalho e a todos os restantes que na impossibilidade de os
nomear, agradeço por terem contribuído na minha formação pessoal e académica.
Finalmente agradeço à minha família por todo esforço investido em mim para que me pudesse tornar
numa pessoa melhor.
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Edifícios Verdes – Práticas Projectuais Orientadas para a Sustentabilidade
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RESUMO
As actuais crises ambientais, energéticas e económicas, parecem ter despertado uma consciência
humana para reparar os danos causados no meio ambiente, criando um novo movimento, o movimento
Verde. Contudo tem havido uma descaracterização deste conceito provocado pela sua crescente
popularidade. Mas o que é realmente este movimento Verde? Este movimento retrata a consciência e
atitude de considerar um consumo eficiente dos recursos e de minimizar os impactes no meio Natural,
não só de algumas, mas de todas as acções tomadas.
O meio edificado é responsável por uma generosa parte dos problemas que atravessamos actualmente.
Em Portugal, os edifícios são responsáveis por cerca de 30% do consumo de energia e 30% das
emissões de CO2. Curiosamente, do mesmo modo que os edifícios representam parte destes
problemas, também podem representar parte da sua resolução. Este facto abre as portas para uma
mudança de paradigma nos edifícios que eleva as questões da eco-eficiência a um plano ainda mais
elevado. O papel que uma estrutura edificada desempenha numa sociedade pode igualmente contribuir
para a preservação e regeneração do meio Natural. Os Edifícios Verdes apresentam uma série de
benefícios não só neste sentido, mas também numa perspectiva funcional e económica, considerando
todo o seu ciclo de vida.
O presente trabalho visa reunir um conjunto de objectivos e requisitos que passam apenas por
considerações simples, práticas e conscientes, completamente compatíveis com o conhecimento
tecnológico actual. Também promove a consciencialização de todos os intervenientes da construção
para uma análise integrada de todas as suas fases, atendendo ao desempenho das vertentes funcionais,
ambientais e económicas. Como as pessoas passam cerca de 90% do seu tempo no interior de
edifícios, os esforços destes intervenientes devem centrar-se na optimização da fase de operação.
Neste trabalho também é realizado um estudo que vai de encontro à perspectiva de avaliação do
desempenho, funcional, ambiental e económico de tecnologias de paredes exteriores que representam
um elemento dominante na construção de um edifício e ao mesmo tempo fazem a separação do
ambiente exterior e o interior. Este estudo termina com o estabelecimento de um ranking da
sustentabilidade de cada parede e uma análise de sensibilidade dos modelos utilizados.
PALAVRAS-CHAVE: Sustentabilidade, Eco-eficiência, Edifícios Verdes, Envolvente, Tecnologias.
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Edifícios Verdes – Práticas Projectuais Orientadas para a Sustentabilidade
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ABSTRACT
The current environmental, energetic and economic crises seem to have aroused a human
consciousness to repair the damage caused on the environment, by creating a new movement, the
Green movement. However, there has been a mischaracterization of this concept caused by its growing
popularity. But what is actually this Green movement? This movement represents the consciousness
and the attitude of considering an efficient use of the resources, minimizing the impact on the natural
environment, not just of some, but of all the actions taken.
The built environment is responsible for a generous share of the problems we are experiencing today.
In Portugal, the buildings account for about 30% of energy consumption and 30% of CO2 emissions.
In fact, on the same way that buildings account for all these problems, they may also represent part of
its solution. This opens the door to a paradigm shift in buildings that raises the issues of eco-efficiency
to a whole new level. The role that a built structure plays in our society may also contribute to the
preservation and regeneration of the Natural environment. The Green Buildings present benefits not
only on this point of view, but also on a functional and economic perspective, considering their whole
life cycle.
This paper brings together a set of objectives and requirements that represent simple, practical and
conscious considerations, fully compatible with current technological knowledge. It also promotes the
awareness of all the construction stakeholders for an integrated analysis of all the stages of
construction, engineering its functional, environmental and economic performances. Because people
spend about 90% of their time inside buildings, the efforts of these stakeholders should be focused on
optimizing the operation phase.
This work also includes a study that aims to the evaluation of the, functional, environmental and
economic performance of exterior walls technologies, which represent a dominant element in the
building construction, and make, at the same time, the division between the external and indoor
environment. This study ends up with the creation of a sustainability ranking for each wall, and a
sensitivity analysis of the implemented models.
KEYWORDS: Sustainability, Eco-efficiency, Green Buildings, Envelope, Technology.
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ÍNDICE GERAL
AGRADECIMENTOS ................................................................................................................................. i
RESUMO....................................................................................................................................... iii
ABSTRACT ............................................................................................................................................. v
1. FUNDAMENTAÇÃO .................................................................................................... 1
1.1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 1
1.2. OBJECTIVO DA DISSERTAÇÃO ...................................................................................................... 1
1.3. ESTRUTURA DO TRABALHO ........................................................................................................... 1
2. AVALIAÇÃO DOS PRINCIPAIS INDICADORES ............................. 3
2.1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 3
2.2. POPULAÇÃO ................................................................................................................................... 3
2.3. ENERGIA ......................................................................................................................................... 4
2.3.1. GENERALIDADES ............................................................................................................................. 4
2.3.2.EUROPA .......................................................................................................................................... 5
2.3.3. PORTUGAL ..................................................................................................................................... 5
2.3.4. PORTO ........................................................................................................................................... 7
2.3.4.1. Sectores .................................................................................................................................... 7
2.3.4.2. Sector Doméstico ...................................................................................................................... 7
2.4. EMISSÃO DE GASES ....................................................................................................................... 8
2.4.1. GENERALIDADES ............................................................................................................................. 8
2.4.2. MUNDO .......................................................................................................................................... 9
2.4.3.EUROPA ........................................................................................................................................ 11
2.4.4. PORTUGAL ................................................................................................................................... 12
2.4.5. PORTO ......................................................................................................................................... 13
2.4.5.1. Sectores .................................................................................................................................. 13
2.4.5.2. Sector Doméstico .................................................................................................................... 14
2.5. CLIMA ........................................................................................................................................... 14
2.6. PEGADA ECOLÓGICA ................................................................................................................... 15
2.7. CONSIDERAÇÕES FINAIS DE CAPÍTULO ....................................................................................... 16
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3. DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL, CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL, EDIFÍCIO SUSTENTÁVEL ............................................ 19
3.1. O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL ......................................................................................... 19
3.2. A CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL .................................................................................................. 21
3.2.1. O CONCEITO ................................................................................................................................. 21
3.2.2. A EVOLUÇÃO PARA A CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL .......................................................................... 22
3.2.3. DESAFIOS PARA AS CLASSES PROFISSIONAIS ASSOCIADAS À INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO .................. 24
3.2.3.1. Introdução................................................................................................................................ 24
3.2.3.2. Promotores e Clientes ............................................................................................................. 24
3.2.3.3. Projectistas .............................................................................................................................. 24
3.2.3.4. Empreiteiros e Fabricantes ...................................................................................................... 25
3.2.3.5. Autoridades ............................................................................................................................. 25
3.2.3.6. Utilizadores .............................................................................................................................. 26
3.3. A SUSTENTABILIDADE EM EDIFÍCIOS .......................................................................................... 27
3.3.1. GENERALIDADES ........................................................................................................................... 27
3.3.2. ENGENHARIA DE CICLO DE VIDA ..................................................................................................... 29
3.3.2.1. Introdução ................................................................................................................................ 29
3.3.2.2. Avaliação do Ciclo de Vida ...................................................................................................... 30
3.3.2.3. Custo do Ciclo de Vida ............................................................................................................ 32
3.3.2.4. Funcionalidade ........................................................................................................................ 33
3.3.3. VERTENTE NORMATIVA .................................................................................................................. 33
3.3.3.1. Normas Europeias ................................................................................................................... 33
3.3.3.2. Normas Internacionais ............................................................................................................. 35
3.3.4. INDICADORES................................................................................................................................ 36
3.3.5. SISTEMAS DE CERTIFICAÇÃO AMBIENTAL ........................................................................................ 37
3.3.5.1. Introdução ................................................................................................................................ 37
3.3.5.2. BREAM .................................................................................................................................... 38
3.3.5.3. LEED ....................................................................................................................................... 39
3.3.5.4. HQE ......................................................................................................................................... 41
3.3.5.5. CASBEE .................................................................................................................................. 43
3.3.5.6. DGNB ...................................................................................................................................... 44
3.3.5.7. LiderA ...................................................................................................................................... 45
3.3.5.8. SBTOOL-pt .............................................................................................................................. 46
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4. EDIFÍCIOS VERDES, PRINCIPIOS E PRÁTICAS ......................... 49
4.1. INTRODUÇÃO AOS EDIFÍCIOS VERDES ........................................................................................ 49
4.1.1. GENERALIDADES ........................................................................................................................... 49
4.1.2. CONCEITO .................................................................................................................................... 50
4.1.3. OBJECTIVOS ................................................................................................................................. 50
4.1.3.1. Introdução ................................................................................................................................ 50
4.1.3.2. Eficiência no uso da energia, água e outros recursos ............................................................. 50
4.1.3.3. Conforto e Protecção da saúde dos ocupantes ....................................................................... 51
4.1.3.4. Redução do desperdício, da poluição e da degradação ambiental ......................................... 51
4.1.4. PRINCÍPIOS BIOCLIMÁTICOS ........................................................................................................... 51
4.2. CONFIGURAÇÃO E CONTROLO AMBIENTAL NATURAL DO EDIFÍCIO ......................................... 52
4.2.1. LOCALIZAÇÃO E IMPLANTAÇÃO ....................................................................................................... 52
4.2.1.1. Implantação Local ................................................................................................................... 52
4.2.1.2. Impermeabilização e Ilhas de Calor ........................................................................................ 53
4.2.1.3. Áreas Verdes ........................................................................................................................... 53
4.2.1.4. Forma e Proporção do Edifício ................................................................................................ 53
4.2.1.5. Orientação e Proporção das áreas envidraçadas .................................................................... 54
4.2.1. PELE DO EDIFÍCIO ......................................................................................................................... 56
4.2.1.1. Vidros e Caixilharias ................................................................................................................ 56
4.2.1.2. Sombreamento Exterior ........................................................................................................... 57
4.2.1.3. Isolamento Térmico ................................................................................................................. 59
4.2.1.4. Inércia Térmica ........................................................................................................................ 59
4.2.1.5. Paredes Trombe ...................................................................................................................... 60
4.2.1.6. Ventilação Natural ................................................................................................................... 60
4.2.1.7. Permeabilidade das Superfícies .............................................................................................. 61
4.3. EFICIÊNCIA DOS RECURSOS........................................................................................................ 62
4.3.1. ENERGIA ...................................................................................................................................... 62
4.3.1.1. Renováveis .............................................................................................................................. 63
4.3.1.2. Iluminação ............................................................................................................................... 63
4.3.1.3. Electrodomésticos ................................................................................................................... 64
4.3.1.4. Climatização ............................................................................................................................ 64
4.3.2. ÁGUA ........................................................................................................................................... 64
4.3.2.1. Águas Pluviais ......................................................................................................................... 64
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4.3.2.2. Irrigação Exterior ..................................................................................................................... 65
4.3.2.3. Tratamentos para Reutilização de Água .................................................................................. 65
4.3.2.4. Sistemas de Descarga e outros Dispositivos ........................................................................... 66
4.3.3. MATERIAIS .................................................................................................................................... 66
4.3.3.1. Reduzir, Reutilizar, Reciclar..................................................................................................... 67
4.3.3.2. Recursos Naturais ................................................................................................................... 67
4.3.3.3. Recursos Renováveis .............................................................................................................. 67
4.3.3.4. Recursos Locais ...................................................................................................................... 67
4.3.3.5. Químicos e VOC’s ................................................................................................................... 67
4.4. GESTÃO DOS RESÍDUOS .............................................................................................................. 68
5. ANÁLISE DE SENSIBILIDADE ENTRE A APLICAÇÃO DO SISTEMA LIDERA E O MARS-SC ..................................................................... 69
5.1. OBJECTIVOS DA METODOLOGIA ................................................................................................. 69
5.1.1.INTRODUÇÃO ................................................................................................................................. 69
5.1.2. DEFINIÇÃO DOS INDICADORES GERAIS DE COMPARAÇÃO ENTRE SISTEMAS ........................................ 69
5.1.2.1. Indicador Funcional ................................................................................................................. 70
5.1.2.2. Indicador Ambiental ................................................................................................................. 71
5.1.2.3. Indicador Económico ............................................................................................................... 71
5.2. METODOLOGIA DE AVALIAÇÃO RELATIVA DE SUSTENTABILIDADE .......................................... 71
5.2.1. DESCRIÇÃO .................................................................................................................................. 71
5.2.2. DEFINIÇÃO DOS PARÂMETROS ....................................................................................................... 73
5.2.2.1. Massa (M) ................................................................................................................................ 73
5.2.2.2. Coeficiente de transmissão térmica (U) ................................................................................... 74
5.2.2.3. Energia Incorporada (PEE) ...................................................................................................... 76
5.2.2.4. Potencial de Aquecimento Global (GWP) ................................................................................ 76
5.2.2.5. Água Incorporada (EW) ........................................................................................................... 77
5.2.2.6. Custo ciclo de Vida (LCC)........................................................................................................ 78
5.2.3. NORMALIZAÇÃO DOS PARÂMETROS ................................................................................................ 80
5.2.4. AGREGAÇÃO DOS PARÂMETROS ..................................................................................................... 81
5.2.4.1. Desempenho Funcional ........................................................................................................... 82
5.2.4.2. Desempenho Ambiental .......................................................................................................... 82
5.2.4.3. Desempenho Económico ......................................................................................................... 83
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5.2.5. DETERMINAÇÃO DA NOTA SUSTENTÁVEL ........................................................................................ 84
5.2.6. PERFIL SUSTENTÁVEL ................................................................................................................... 85
5.3. SISTEMA DE CERTIFICAÇÃO AMBIENTAL LIDERA ...................................................................... 87
5.3.1. DESCRIÇÃO .................................................................................................................................. 87
5.3.2. DESCRIÇÃO E SELECÇÃO DOS CRITÉRIOS LIDERA........................................................................... 87
5.3.2.1. Integração Local ...................................................................................................................... 87
5.3.2.2. Recursos ................................................................................................................................. 88
5.3.2.3. Cargas Ambientais .................................................................................................................. 89
5.3.2.4. Conforto Ambiental .................................................................................................................. 90
5.3.2.5. Vivências Socio-Económicas .................................................................................................. 90
5.3.2.6. Gestão Ambiental e Inovação ................................................................................................. 91
5.3.3. AGREGAÇÃO DOS CRITÉRIOS LIDERA ............................................................................................. 92
5.3.4. DEFINIÇÃO DAS PONDERAÇÕES LIDERA ......................................................................................... 92
5.3.5. ATRIBUIÇÃO DA NOTA LIDERA........................................................................................................ 93
5.4. IDENTIFICAÇÃO DAS SOLUÇÕES .................................................................................................. 94
5.5. RESULTADOS DA APLICAÇÃO DO MARS-SC ............................................................................ 94
5.6. RESULTADOS DA APLICAÇÃO DO LIDERA ................................................................................. 95
5.7. ANÁLISE DE SENSIBILIDADE DOS MODELOS .............................................................................. 96
5.8. OBSERVAÇÕES ............................................................................................................................ 98
6. CONCLUSÃO .................................................................................................................. 99
6.1. CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................................. 99
6.2. CONCLUSÕES SOBRE O ESTUDO................................................................................................. 99
6.3. DESENVOLVIMENTOS FUTUROS ................................................................................................ 100
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Edifícios Verdes – Práticas Projectuais Orientadas para a Sustentabilidade
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ÍNDICE DE FIGURAS
Fig.2.1. – Projecções da população mundial .......................................................................................... 3
Fig.2.2. – Consumo Final de Energia, por Sector, na Europa a 27, no ano de 2006 ............................. 5
Fig.2.3. – Consumo Final de Energia para a Portugal, por Sector em 2006 .......................................... 6
Fig.2.4. – Consumo Final de Energia para a Portugal, por Sector em 2007 .......................................... 6
Fig.2.5 – Evolução do Consumo Final de Energia para a Portugal, por Sector entre 1990 e 2007........ 6
Fig.2.6. – Consumo de Energia Primária para a Portugal em 2007 ....................................................... 7
Fig.2.7. – Repartição do Consumo Final por Sector ............................................................................... 7
Fig.2.8. – Repartição de energia do subsector residencial pelas utilizações ......................................... 8
Fig.2.9. – Evolução das emissões de CO2 de combustão de origem fóssil ............................................ 9
Fig.2.10. – Emissões de CO2 de combustão de origem fóssil ................................................................ 9
Fig.2.11. – Emissões de GHG no mundo repartidas por sector ........................................................... 10
Fig.2.12. – Evolução percentual das Emissões no mundo repartidas por sectores em relação a
1971 ..................................................................................................................................................... 10
Fig.2.13 – Estrutura das emissões de GHG na Europa a 27 por sector em 2005 ................................ 11
Fig.2.14. – Evolução percentual das Emissões no mundo repartidas por sectores em relação a
1971 ..................................................................................................................................................... 11
Fig.2.15. – Emissões de CO2 eq em Portugal por ramo de actividade em 2007 ................................. 12
Fig.2.16. – Evolução das emissões de CO2 eq em Portugal por ramo de actividade entre 1995 e
2007 ..................................................................................................................................................... 12
Fig.2.17. – Evolução percentual das Emissões em Portugal repartidas por sectores em relação a 1995
............................................................................................................................................................. 13
Fig.2.18. – Emissões de CO2 eq no Porto por ramo de actividade ...................................................... 13
Fig.2.19. – Repartição das emissões de CO2 eq do subsector residencial pelas utilizações ............... 14
Fig.2.20. – Variação da temperatura global superficial terrestre .......................................................... 15
Fig. 2.21. – Pegada ecológica por componente entre 1961 e 2005 ..................................................... 15
Fig.2.22. – Recuperação da sustentabilidade ...................................................................................... 16
Fig.3.1. – Tripla dimensão do Desenvolvimento Sustentável ............................................................... 20
Fig.3.2. – Desequilíbrio do Desenvolvimento ....................................................................................... 20
Fig.3.3. – Contributo da construção sustentável para o Desenvolvimento sustentável e o número
crescente de agentes envolvidos ......................................................................................................... 21
Fig.3.4. – Abordagem integrada e sustentável às fases do ciclo de vida de uma construção .............. 22
Fig.3.5. – Evolução das prioridades dos modelos de construção......................................................... 23
Fig.3.6. – Incentivos externos para a mudança .................................................................................... 26
Edifícios Verdes – Práticas Projectuais Orientadas para a Sustentabilidade
xiv
Fig.3.7. – Abordagem integrada do ciclo de vida de um edifício .......................................................... 29
Fig.3.8. – Variantes da abordagem do ciclo de vida ............................................................................. 30
Fig.3.9. – Considerações do ciclo de vida ............................................................................................ 31
Fig.3.10. – Representação gráfica dos custos do ciclo de vida de diferentes opções .......................... 33
Fig.3.11. – Representação teórica de um gráfico de Amoeba com infinitas dimensões....................... 37
Fig.3.12. – Logótipo Breeam ................................................................................................................ 38
Fig.3.13. – Definição e ponderação das áreas de avaliação BREEAM ................................................ 39
Fig.3.15. – Escala da classificação final BREEAM ............................................................................... 39
Fig.3.15. – Logótipo LEED ................................................................................................................... 40
Fig.3.16. – Fases de avaliação LEED .................................................................................................. 40
Fig.3.17. – Definição e ponderação das categorias de avaliação LEED .............................................. 41
Fig.3.18. – Escala da classificação final LEED ..................................................................................... 41
Fig.3.19. – Certificado HQE .................................................................................................................. 42
Fig.3.20. – Quadro de distribuição dos 14 aspectos HQE .................................................................... 42
Fig.3.21. – Logótipo CASBEE .............................................................................................................. 43
Fig.3.22. – Descrição da fronteira hipotética no CASBEE .................................................................... 43
Fig.3.23. – Escala da classificação final CASBEE ............................................................................... 44
Fig.3.24. – Logótipo DGNB .................................................................................................................. 44
Fig.3.25. – Definição e ponderação das categorias de avaliação DGNB ............................................. 45
Fig.3.26. – Escala da classificação final DGNB .................................................................................... 45
Fig.3.27. – Logótipo LiderA .................................................................................................................. 45
Fig.3.28. – Vertentes e áreas e do LiderA v2.0 .................................................................................... 46
Fig.3.29. – Níveis de desempenho global ............................................................................................ 46
Fig.3.30. – Logótipo SBTOOL-pt .......................................................................................................... 47
Fig.3.31. – Metodologia SBTOOL-pt .................................................................................................... 47
Fig.3.32. – Escala de desempenho SBTOOL-pt .................................................................................. 47
Fig.4.1. – Exemplo do equilíbrio entre ganhos e perdas térmicas ........................................................ 50
Fig.4.2. – Exemplo da representação de leituras de temperatura e humidade relativa exterior (à
esquerda) e interior (à direita)e o polígono de conforto segundo a ASHREA ...................................... 51
Fig.4.3. – Princípios bioclimáticos ........................................................................................................ 52
Fig.4.4. – Potencial uso da energia solar térmica ou fotovoltaica para diversos rácios de cobertura e
altura admitindo a mesma profundidade .............................................................................................. 54
Fig.4.5. – Potencial uso da geotermia para diversos rácios de área de implantação e altura admitindo
a mesma profundidade ......................................................................................................................... 54
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Fig.4.6. – Irradiação solar média diária (à esquerda) e anual (à direita) em Lisboa (38,7º N) para as
diversas orientações dos planos verticais ............................................................................................ 55
Fig.4.7. – Exemplificação do funcionamento do sombreamento natural de um edifício ....................... 56
Fig.4.8. – Comparação da amplitude térmica exterior e interior ........................................................... 59
Fig.4.9. – Princípio de funcionamento da uma parede Trombe ............................................................ 60
Fig.4.10. – Esquematização de uma parede Trombe ........................................................................... 60
Fig.4.11. – Conceito de ventilação natural ........................................................................................... 62
Fig.4.12. – Exemplificação de um bioswale ......................................................................................... 65
Fig.4.13. – Exemplo de um sistema de reutilização e reciclagem de água .......................................... 66
Fig.5.1 – Representação da MARS-SC adaptado ................................................................................ 72
Fig.5.2. – Perfil sustentável (exemplo em que a solução em estudo é mais sustentável do que a
solução de referência) .......................................................................................................................... 86
Fig.5.3. – Perfil sustentável (exemplo em que a solução em estudo é menos sustentável do que a
solução de referência) .......................................................................................................................... 86
Fig.5.4. – Esquema do software desenvolvido com base na metodologia MARS-SC.......................... 98
Edifícios Verdes – Práticas Projectuais Orientadas para a Sustentabilidade
xvi
Edifícios Verdes – Práticas Projectuais Orientadas para a Sustentabilidade
xvii
ÍNDICE DE QUADROS
Quadro 3.1. – Comparação entre o impacte da construção civil e a utilização dos edifícios ............... 27
Quadro 3.2. – Distribuição das emissões atribuídas às fases de construção de edifícios ................... 28
Quadro.3.3. – LCA dos componentes do edifício [PINHEIRO, 2006] de fonte original ........................ 32
Quadro 3.4. – Normas publicadas ........................................................................................................ 34
Quadro 3.5. – Normas sob aprovação ................................................................................................. 34
Quadro 3.6. – Normas publicadas ........................................................................................................ 35
Quadro 3.7. – Normas publicadas ........................................................................................................ 35
Quadro 3.8. – Normas publicadas ........................................................................................................ 36
Quadro 3.9. – Normas sob aprovação ................................................................................................. 36
Quadro 3.10. – Normas publicadas ...................................................................................................... 36
Quadro 4.1 – Destinação entre arquitectura convencional, bioclimática e eco-eficiente ...................... 49
Quadro 5.1. – Quadro representativo da discriminação dos indicadores ............................................. 70
Quadro 5.2. – Resistências Térmicas .................................................................................................. 74
Quadro 5.3. – Condutibilidade Térmica e Massa Volúmica, consideradas por material ....................... 75
Quadro 5.4. – Representação dos factores ambientais consideradas por material ............................. 77
Quadro 5.5. – Representação das considerações de a e N ................................................................. 79
Quadro 5.6. – Representação das restantes considerações para o LCC por material......................... 80
Quadro 5.7. – Peso de cada parâmetro na avaliação do desempenho funcional ................................ 82
Quadro 5.8. – Peso de cada parâmetro considerado no estudo da EPA ............................................. 83
Quadro 5.9. – Peso de cada parâmetro na avaliação do desempenho ambiental ............................... 83
Quadro 5.10. – Peso de cada parâmetro na avaliação do desempenho económico ........................... 83
Quadro 5.11. – Peso de cada indicador na avaliação do desempenho económico ............................. 84
Quadro 5.12. – Peso de cada indicador na avaliação do desempenho económico ............................. 85
Quadro 5.13. – Critérios LiderA da vertente Integração Local ............................................................. 88
Quadro 5.14. – Critérios LiderA da vertente Recursos ......................................................................... 88
Quadro 5.15. – Critérios LiderA da vertente Cargas Ambientais .......................................................... 89
Quadro 5.16. – Critérios LiderA da vertente Conforto Ambiental ......................................................... 90
Quadro 5.17. – Critérios LiderA da vertente Vivências Socio-Económicas .......................................... 91
Quadro 5.18. – Critérios LiderA da vertente Gestão Ambiental e Inovação ......................................... 91
Quadro 5.19. – Agregação dos critérios LiderA segundo os indicadores ............................................. 92
Quadro 5.20. – Ponderações atribuídas segundo o nível de desempenho .......................................... 93
Edifícios Verdes – Práticas Projectuais Orientadas para a Sustentabilidade
xviii
Quadro 5.21. – Atribuição de nota do sistema LiderA .......................................................................... 93
Quadro 5.22. – Caracterização das soluções construtivas pelos parâmetros considerados ................ 94
Quadro 5.23. – Notas obtidas na MARS-SC ........................................................................................ 95
Quadro 5.24. – Notas obtidas no sistema LiderA ................................................................................. 96
Edifícios Verdes – Práticas Projectuais Orientadas para a Sustentabilidade
xix
SÍMBOLOS E ABREVIATURAS
toe – Toneladas Equivalentes de Petróleo
GDP – Produto Interno Bruto
DGEG – Direcção Geral de Energia e Geologia
AdEPorto – Agência de Energia do Porto
EEA – Agência Europeia para o Ambiente
IEA – Agência Internacional da Energia
GHG – Gases com efeito de estufa
GWP – Potencial de Aquecimento Global
NASA – Administração Nacional do Espaço e da Aeronáutica
IUCN – União Internacional da Conservação da Natureza
DS – Desenvolvimento Sustentável
LCE – Engenharia do Ciclo de Vida
LCA – Avaliação do Ciclo de Vida
LCC – Custos do Ciclo de Vida
ISO – International Organization for Standardization
CEN – European Committee for Standardization
EPD – Declaração ambiental de Produto
IPD – Investment Property Databank
BREEAM – Building Research Establishment!s Assessment Method
LEED – Leadership in Energy & Environmental Design
HQE – Haute Qualité Environnementale dês Bâtiments
CASBEE – Comprehensive Assessment System for Building Environmental Efficiency
SBTOOL – Sustainable Building Tool
ASHREA – American Society of Heating,Refrigerating and Air-Conditioning Engineers
HVAC – Aquecimento Ventilação e Ar Condicionado
LED – Diodo Emissor de Luz
U – Coeficiente de transmissão térmica
RCCTE – Regulamento das Características do Comportamento Térmico de Edifícios
RSECE – Regulamento dos Sistemas Energéticos de Climatização dos Edifícios
Edifícios Verdes – Práticas Projectuais Orientadas para a Sustentabilidade
xx
Edifícios Verdes – Práticas Projectuais Orientadas para a Sustentabilidade
1
1
FUNDAMENTAÇÃO
1.1. INTRODUÇÃO
O tema desta dissertação centra-se na actual procura da sustentabilidade na concepção dos edifícios,
desde o projecto, à construção, manutenção e operação, realçando a importância deste ciclo de vida.
Pretende-se ainda reunir diferentes práticas projectuais, ambientalmente correctas, que tornem a
concepção do edifício mais eco-eficiente.
O estudo refere-se a uma análise comparativa de sensibilidade entre dois sistemas de avaliação de
sustentabilidade. Na primeira fase, procede-se à análise de sustentabilidade de diferentes tecnologias
de paredes exteriores, com base no método relativo de avaliação de sustentabilidade, proposto por
Ricardo Mateus. Na segunda, pretende analisar-se os mesmos tipos distintos dessas tecnologias, mas
aplicando o sistema de Certificação Ambiental – LiderA.
1.2. OBJECTIVO DA DISSERTAÇÃO
Este trabalho visa contribuir positivamente para a sustentabilidade, de uma forma objectiva, e culmina
com a análise diferentes soluções arquitectónicas de referência para a sustentabilidade. Deste modo, os
principais objectivos a abordar neste trabalho são:
Apresentar o estado actual dos principais indicadores de sustentabilidade mundial, fazendo
uma aproximação desde o planeta, passando pela Europa e terminando em Portugal;
Caracterizar o Desenvolvimento Sustentável, Construção Sustentável e Sustentabilidade nos
Edifícios;
Consciencializar, para a sustentabilidade, os principais intervenientes do sector da
construção, dando-lhes a conhecer os benefícios da construção sustentável;
Reconhecer a importância do ciclo de vida;
Caracterização dos principais sistemas de certificação ambiental dos edifícios;
Distinção entre arquitectura bioclimática e eco-eficiente/verde;
Definição de princípios e práticas projectuais de Edifícios Verdes;
Análise da sensibilidade entre dois sistemas de avaliação de sustentabilidade;
Estabelecer um ranking de sustentabilidade entre soluções construtivas de paredes exteriores
com base nestas duas metodologias de avaliação da sustentabilidade.
Retratar graficamente o perfil de sustentabilidade de cada parede, com base nos Indicadores
Funcional, Ambiental e Económico.
Edifícios Verdes – Práticas Projectuais Orientadas para a Sustentabilidade
2
1.3. ESTRUTURA DO TRABALHO
O trabalho está essencialmente dividido em quatro partes, de modo a que se processe uma coerência
natural entre os acontecimentos.
A primeira parte conjuga os principais problemas que o planeta e a sociedade enfrentam actualmente,
fazendo um retrato da evolução dos índices que representam estes problemas ao longo do tempo e
identificando as tendências e relações entre eles. Os problemas abordados incluem o crescimento da
população, o consumo de energia e como esta se distribui pelos diferentes sectores. A emissão de
gases e a evolução do clima são também destacados, assim como, a evolução da pegada ecológica.
Este trabalho termina com uma reflexão sobre todos estes indicadores e de que forma os edifícios
podem contribuir para sua atenuação.
A segunda parte desdobra e aproxima o conceito de sustentabilidade desde as bases que sustentam o
desenvolvimento de uma sociedade, passando pelos princípios de construção sustentável e terminando
com os principais aspectos relacionados com a sustentabilidade em edifícios. Este última vertente, que
está ligada à sustentabilidade dos edifícios e remete para todos os aspectos ligados ao seu ciclo de
vida, que abrange os impactes ambientais, os custos e o seu desempenho, às vertentes normativas e aos
sistemas de certificação ambiental. Esta parte refere alguns princípios teóricos que serão o ponto de
partida para o capítulo seguinte.
A terceira parte estabelece princípios práticos para atingir a eco-eficiência, ou seja a maximização da
eficiência na utilização dos recursos com o menor impacto ambiental. Esta parte abrange também os
princípios e objectivos dos Edifícios Verdes e as práticas projectuais relacionadas com o controlo
ambiental, que incluem questões de implantação e da própria envolvente do edifício. Também
destacam a eficiência dos recursos como a energia, água e materiais, culminando com a gestão dos
resíduos.
A quarta e última parte, apresenta um estudo sobre diversas tipologias de parede exterior em que se
estabelece uma avaliação da sua sustentabilidade através de duas metodologias. A escolha da
representação da sustentabilidade de paredes exteriores prende-se com o facto de que grande parte da
envolvente está relacionada com o comportamento destas paredes que, consequentemente, reflecte o
desempenho eco-eficente de um edifício. A primeira é uma metodologia desenvolvida por Ricardo
Mateus no decorrer da sua tese de mestrado e que se aplica a soluções construtivas, a segunda é a
metodologia de certificação ambiental LiderA, desenvolvida por Miguel Pinheiro. Estruturalmente
realiza uma síntese das metodologias e apresenta os resultados de cada uma. Posteriormente é
realizada uma análise de sensibilidade entre os dois modelos e daí são extraídas novas elações.
Edifícios Verdes – Práticas Projectuais Orientadas para a Sustentabilidade
3
2
AVALIAÇÃO DOS PRINCIPAIS INDICADORES E PROJECÇÕES
2.1. INTRODUÇÃO
Antes de iniciar a descrição dos conceitos teóricos de sustentabilidade em que se enquadra este tema é
necessário realizar um resumo dos principais problemas, de certa forma planetários, que enfrentamos
actualmente.
Neste capítulo pretende-se efectuar uma análise global da forma como se processa o crescimento
populacional mundial, como obtemos e utilizamos a energia, quais os principais emissores de gases
com efeito de estufa e como tem reagido o clima a estes factores. Para finalizar tem ainda o objectivo
de averiguar em que medida é que os edifícios estão relacionados com esses problemas.
2.2. POPULAÇÃO
Actualmente existe uma população mundial de 6 mil milhões, contudo espera-se que dentro de 30 anos
chegue aos 9 mil milhões de pessoas [GORE, 2009]. Surge então o primeiro problema, que se
relaciona com a satisfação das necessidades deste número crescente de população [GORE, 2009].
Fig.2.1. – Projecções da população mundial [UN, 2009]
Edifícios Verdes – Práticas Projectuais Orientadas para a Sustentabilidade
4
Ao crescimento populacional estão associados outros problemas como: a disponibilidade de recursos
passíveis de serem produzidos naturalmente, nomeadamente a água, o território, entre outros; a
produção de energia que também consome recursos e constitui um bem essencial para a sobrevivência
da população e, o consequente aumento de poluição, decorrente do acréscimo de resíduos proveniente
do crescimento da actividade humana [GORE, 2009].
Da observação deste gráfico destaca-se que o aumento da população mundial se deve, essencialmente,
ao crescimento populacional dos continentes Asiático, Africano, Americano e Oceânico. O continente
Europeu, por sua vez, tem vindo a apresentar um crescimento nulo, com tendência para decrescer. A
razão para esta divergência, entre o crescimento populacional na maioria dos continentes relativamente
à Europa deve-se, segundo a Al Gore, à qualidade de vida, à segurança e à educação que os pais
depositam na qualidade de vida futura dos seus filhos [GORE, 2009]. Continentes como a África e a
Ásia apresentam ainda condições precárias de vida, o que motiva as famílias a terem mais filhos para
poderem subsistir em conjunto. Para além disto, a falta de informação sobre os meios contraceptivos
também contribui para este facto. [GORE, 2009].
Vários autores defendem que no futuro, quando a maioria das comunidades do mundo possuírem, em
média, um nível de vida equivalente ao da Europa, o planeta possa observar uma paragem no
crescimento ou que este crescimento se processe de uma forma muito mais ténue. Isto poderá
verificar-se devido ao aumento da informação, à melhoria das condições de vida, à garantia da
sobrevivência da espécie e também ao número limitado de recursos existentes na terra [GORE, 2009].
2.3. ENERGIA
2.3.1. GENERALIDADES
A energia é um bem essencial para toda a Humanidade. O nosso próprio corpo também precisa de
energia e é por esse motivo que a obtemos sob a forma de alimento. No entanto, para alimentar as
principais actividades Humanas de modo a nos proporcionar melhores condições de vida, é necessário
obter mais energia. Actualmente, essa forma de energia é obtida, essencialmente, através da mineração
de alguns recursos naturais, como o carvão, o petróleo e o gás natural, que são fontes de energia fóssil
e portanto não renovável. Por outro lado, também se pode obter energia de uma forma renovável
através da energia hídrica, geotérmica, eólica, e solar. Todos estes meios podem ser utilizados para
produzir electricidade, convertendo a energia cinética em energia eléctrica. O modo como
armazenamos toda esta energia ou como lidamos com os seus resíduos, representa ainda um dos
principais problemas com que lidamos presentemente.
De modo a estabelecer um grau de comparação entre estas fontes energéticas é necessário convertê-las
para uma unidade padrão e, geralmente utiliza-se como referência a tonelada equivalente de petróleo
(toe - tonne of oil equivalent). Para comparar o consumo entre países utiliza-se, como indicador de
referência, a razão entre o consumo de toneladas equivalentes de petróleo e o Produto Interno Bruto
(toe/GDP) ou o referido consumo per capita (toe/capita) [IEA, 2009].
Com esta abordagem não se pretende pormenorizar informação relativa a estes indicadores apenas
descrever, de uma forma sucinta, o retrato da sua fonte no contexto Europeu, Português e Portuense.
Edifícios Verdes – Práticas Projectuais Orientadas para a Sustentabilidade
5
2.3.2. EUROPA
Na Europa os principais recursos energéticos são o petróleo, o gás natural e a electricidade. Como o
recurso petrolífero não existe em abundância neste continente, muitos países europeus ainda precisam
de importar esta forma de energia. Isto não acontece com os recursos renováveis, que geralmente são
aproveitamentos locais, como é o caso da energia geotérmica na Islândia, eólica na Dinamarca e
hídrica em Portugal. Os inconvenientes destas energias passam pela sua disponibilidade que
normalmente não é permanente, dependendo essencialmente das condições locais. Quando as
condições locais não satisfazem os requisitos é necessário compensar através do consumo de energias
fósseis, por isso as formas renováveis de energia ainda representam uma pequena percentagem do
consumo final [EUROSTAT, 2009a].
Em termos sectoriais existe uma repartição clara no consumo da energia final, pela indústria,
transportes, famílias e serviços. Reconhecendo que a parcela dos edifícios é composta pelo sector
doméstico e de serviços, claramente se observa que estes são os maiores consumidores de energia final
na Europa. É necessário acrescentar que o sector dos transportes apresenta, obviamente, uma
dependência grande do petróleo [EUROSTAT, 2009a].
O supramencionado pode ser justificado pela Fig.2.2., que descreve o consumo de energia final da
Europa repartida pelos principais sectores.
Fig.2.2. – Consumo Final de Energia, por Sector, na Europa a 27, no ano de 2006 [EUROSTAT, 2009a]
2.3.3. PORTUGAL
Em Portugal, ao nível macro energético, o cenário não é muito diferente do europeu. Ainda existe uma
dependência significativa do petróleo (Fig.2.3.) e portanto uma necessidade externa deste recurso, uma
vez que Portugal possui relativamente poucas reservas do mesmo.
No que se refere às energias renováveis, Portugal apresenta um valor acima da média europeia, onde a
sua fatia de consumo é repartida pelos sectores industrial e doméstico. Parte deste acontecimento
deve-se ao fornecimento de energia das diversas centrais hídricas, existentes no território nacional, que
apresentam um peso considerável no consumo final de energia [EUROSTAT, 2009a].
Edifícios Verdes – Práticas Projectuais Orientadas para a Sustentabilidade
6
Fig.2.3. – Consumo Final de Energia para a Portugal, por Sector em 2006 [EUROSTAT, 2009a]
A repartição sectorial aponta para uma divisão de aproximadamente três grandes terços do consumo de
energia. O maior consumo de energia vai para o sector dos transportes (36%), seguidamente para a
indústria (33%) e, finalmente, edifícios (29%) que englobam o sector doméstico e de serviços
(Fig.2.4.).
Fig.2.4. – Consumo Final de Energia para a Portugal, por Sector em 2007 adaptado de [DGEG, 2008]
Em termos evolutivos, Portugal tem assistido nas últimas duas décadas a um aumento gradual do seu
consumo energético, principalmente nos sectores dos transportes e doméstico (Fig.2.5.).
Fig. 2.5 – Evolução do Consumo Final de Energia para a Portugal, por Sector entre 1990 e 2007 adaptado de
[DGEG, 2008]
2%1%
28%
4%
36%
17%
12% AGRICULTURA E PESCAS
INDÚSTRIAS EXTRACTIVAS
INDÚSTRIAS TRANSFORMADORAS
CONSTRUÇÃO E OBRAS PÚBLICAS
TRANSPORTES
SECTOR DOMÉSTICO
SERVIÇOS
0
5000000
10000000
15000000
20000000
25000000
tep
Edifícios Verdes – Práticas Projectuais Orientadas para a Sustentabilidade
7
Importa ainda referir que existe uma componente importante da energia, que é utilizada nos próprios
sectores ligados à produção e distribuição de energia, facto para o qual não se pode ficar alheio. A
soma do consumo final com esta parcela dá origem ao consumo de energia primária.
Seguidamente demonstra-se graficamente a proporção destas duas parcelas (Fig.2.6.).
Fig.2.6. – Consumo de Energia Primária para a Portugal em 2007 adaptado de [DGEG, 2008]
2.3.4. PORTO
2.3.4.1. Sectores
A realidade da cidade do Porto não se desvia muito da europeia. Sectorialmente a repartição do
consumo final de energia é semelhante, destinando-se, igualmente, a maior fatia para o sector dos
transportes (33%). Contudo, se agregarmos o sector doméstico ao de serviços, obtém-se o consumo
final de energia dos edifícios, perfazendo um total substancialmente superior ao sector dos transportes
(58%) (Fig.2.7.). No Porto o gasto energético reparte-se maioritariamente para os edifícios e
transportes [ADEPORTO, 2008].
Fig.2.7. – Repartição do Consumo Final por Sector adaptado de [ADEPORTO, 2008]
2.3.4.2. Sector Doméstico
O sector doméstico representa uma fatia relevante da energia final consumida nesta cidade (26%).
A figura seguinte destaca as percentagens consumidas para as várias utilizações domésticas.
26%
74%
PRODUÇÃO E DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA
CONSUMO FINAL
9%
33%
26%
32% INDÚSTRIAS E OUTRAS
TRANSPORTES
SECTOR DOMÉSTICO
SERVIÇOS
Edifícios Verdes – Práticas Projectuais Orientadas para a Sustentabilidade
8
Fig.2.8. – Repartição de energia do subsector residencial pelas utilizações adaptado de [ADEPORTO, 2008]
Esta última figura (Fig.2.8.) retrata o comportamento do consumo de energia geral das famílias da
cidade Portuense, constatando-se que o grosso do gasto energético, neste sector, vai para a preparação
das refeições (24%), o aquecimento das águas (24%) e o aquecimento ambiente (23%). O restante é
repartido pelos equipamentos de refrigeração (14%), iluminação (5%) e outras utilizações (10%)
[ADEPORTO, 2008].
2.4. GASES COM EFEITO DE ESTUFA
2.4.1. GENERALIDADES
As emissões atmosféricas têm sido alvo de uma preocupação crescente nos últimos vinte a trinta anos,
sobretudo as emissões que provocam efeito de estufa. Este efeito refere-se à capacidade de certos
gazes serem capazes de reterem parte de uma radiação específica do sol, usualmente a infravermelha
[NASA, 2010], provocando o aquecimento terrestre, da mesma forma que a radiação na gama das
micro-ondas aquece as partículas de água incorporada nos alimentos. É por este motivo que existe uma
preocupação global com a emissão destes gases uma vez que estão fortemente relacionados com o
aquecimento do planeta. Estas emissões podem ser de origem antropológica, isto é, através de
actividades humanas, ou de origem natural como é o caso da actividade vulcânica.
São conhecidos diversos gases com efeito de estufa (GHG - Greenhouse Gases) como o dióxido de
carbono (CO2), o metano (CH4), o óxido nitroso (N2O), o hexafluoreto de enxofre (SF6), entre outros,
e cada um destes afecta de forma diferente o aquecimento global. Com o objectivo de comparar o
efeito de estufa entre estes gases, o protocolo de Kyoto definiu a fórmula1 de cálculo para
determinação do Potencial de Aquecimento Global (GWP - Global Warming Potential) em CO2
equivalente. Este protocolo também definiu tectos para as emissões de cada país que aderiu ao
protocolo, com base no seu grau de desenvolvimento e uso do território. Assinala-se que o principal
emissor de CO2,os Estados Unidos da América, não aderiu a este protocolo, alegando que ainda não
havia um acordo científico de que o aquecimento global era provocado pelas emissões dos referidos
gases [GORE, 2009].
1 Fórmula de cálculo na determinação do CO2 equivalente para determinação do GWP como definido no
protocolo de Kyoto [EEA, 2009]:
1 ton CH4 = 21 ton CO2 eq;
1 ton N2O = 310 ton CO2 eq;
1 ton SF6 = 23 900 ton CO2 eq.
24%
24%23%
14%
5%10%
PREP. REFEIÇÕES
AQS
AQUECIMENTO AMBIENTE
FRIO DOMÉSTICO
ILUMINAÇÃO
OUTROS
Edifícios Verdes – Práticas Projectuais Orientadas para a Sustentabilidade
9
Analogamente ao sistema energético os principais indicadores de referência utilizados para
comparação das emissões são as toneladas de CO2 por GDP ou per capita. Mais uma vez, não se
entrará em mais pormenores sobre estes indicadores, o objectivo será fazer uma comparação entre as
principais fatias de emissões nos diversos sectores e se possível, retratar a evolução da emissão de
gases causadores do efeito de estufa nos últimos quinze, vinte a trinta anos.
2.4.2. MUNDO
Desde que se iniciaram registos das emissões de CO2 e se acompanha a sua evolução, tem-se
evidenciado uma grave subida das emissões deste gás. Se até 1950 o seu crescimento parecia
constante, a partir desse ano o seu crescimento tornou-se exponencial até à actualidade (Fig.2.9) [IEA,
2009].
Fig.2.9. – Evolução das emissões de CO2 de combustão de origem fóssil [IEA, 2009]
Parte desse crescimento advém do consumo de combustíveis fósseis, como forma de energia, que
representam a totalidade do share das emissões de CO2,sendo o carvão o que possui uma participação
maioritária (42%), seguido do petróleo (42%) e do gás natural (20%) (Fig.2.10.). A contribuição dos
restantes recursos energéticos ou das outras formas de energia, apenas apresenta um valor residual nas
emissões de CO2 totais [IEA, 2009].
Fig.2.10. – Emissões de CO2 de combustão de origem fóssil [IEA, 2009]
Edifícios Verdes – Práticas Projectuais Orientadas para a Sustentabilidade
10
Da mesma maneira, com o decorrer do tempo, o mundo tem assistido a uma evolução da repartição
sectorial do CO2. Existem mudanças significativas relativamente aos sectores dos transportes e da
indústria da energia.
Em 1971 as emissões de GHG eram distribuídas por três grandes grupos (Fig.2.11.), o sector da
produção de energia (27%), o sector da indústria (27%) e o dos transportes (20%). O restante é
atribuído aos sectores de serviços (16%) e doméstico (10%) que compõem, como referido
anteriormente, a fatia relativa aos edifícios (26%). No ano de 2007 já se regista um panorama
diferente, existe um claro destaque do sector da produção de energia como principal responsável pela
emissão de GHG (41%), seguido pelos transportes (23%), indústria (20%) e edifícios (16%) [IEA,
2009].
Fig.2.11. – Emissões de GHG no mundo repartidas por sector adaptado de [IEA, 2009]
Em relação à trinta e cinco anos atrás, verifica-se um aumento substancial das emissões de GHG no
sector da energia e transportes, acompanhado pelo decréscimo das emissões da indústria e residencial.
Contudo, globalmente, não existe uma variação muito acentuada (Fig.2.12.). Atribui-se portanto, a
responsabilidade do aumento das emissões ao longo dos tempos, em termos mundiais, aos sectores das
indústrias ligadas à energia e aos transportes.
Fig.2.12. – Evolução percentual das Emissões no mundo repartidas por sectores em relação a 1971 [IEA, 2009]
27%
20%10%
16%
27%
20%
23%
6%10%
41%
INDUSTRIA
TRANSPORTES
RESIDENCIAL
SERVIÇOS
PRODUÇÃO E DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA
2007
1971
Edifícios Verdes – Práticas Projectuais Orientadas para a Sustentabilidade
11
2.4.3. EUROPA
A Europa tem tido um papel activo na tentativa da diminuição das emissões de GHG e, desde o
protocolo de Kyoto, assumiu uma posição muito menos tolerante. Para o contexto europeu, a Agência
Europeia para o Ambiente (EEA - European Environmental Agency), apresenta alguns valores das
emissões de CO2 equivalente, repartidos de forma sectorial, e o modo como estas evoluíram nos
últimos 15 anos.
De uma forma geral, os principais emissores de GHG são a produção de energia (32%), os transportes
(19%) e a indústria (13%), à semelhança do panorama mundial mas com percentagens menos
significativas. Os edifícios compõem uma parte não menos importante (16%) das emissões de CO2
equivalente. Mais uma vez o sector responsável pela energia é o principal emissor, motivado,
naturalmente, pela forma de como produz essa mesma energia (Fig.2.13.) [EEA, 2009].
Fig.2.13 – Estrutura das emissões de GHG na Europa a 27 por sector em 2005 [EEA, 2009]
Entre 1990 e 2005, houve um esforço da Europa no combate às emissões, visto que, em termos
globais, a tendência geral era de uma ténue diminuição da emissão de CO2 equivalente. No entanto,
sectorialmente verificou-se que ocorreu um aumento das emissões dos transportes equilibrado pela
ligeira diminuição das emissões do sector da energia, uma vez que as emissões dos edifícios
continuaram sem significativas mudanças (Fig.2.14.). Refere-se ainda que, uma parte significativa que
não está relacionada com a energia [EEA, 2009].
Fig.2.14. – Evolução percentual das Emissões no mundo repartidas por sectores em relação a 1971 [EEA, 2009]
Edifícios Verdes – Práticas Projectuais Orientadas para a Sustentabilidade
12
2.4.4. PORTUGAL
Em 2007 o tecido das emissões de Portugal é ligeiramente diferente do europeu. A contribuição maior
é originada pela indústria (29%), seguido pelos edifícios (28%), e pela indústria da energia (21%)
(Fig.2.15.). Revela-se então, esta disparidade de Portugal com a Europa em que a indústria e os
edifícios têm uma contribuição mais pesada em comparação com a Europa. Os transportes parecem ter
menos emissões de GHG do que a agricultura, isto possivelmente deve-se ao facto de a agricultura
emitir mais compostos, como o CH4, que possuem um potencial maior de efeito de estufa e, portanto,
aumentam consideravelmente a sua contribuição final.
Fig.2.15. – Emissões de CO2 eq em Portugal por ramo de actividade em 2007 adaptado de [INE, 2009]
A evolução sectorial entre 1995 e 2007 manifestou, uma vez mais, uma contrariedade face à Europa,
dando sinais de um aumento gradual das emissões (Fig.2.16.).
Fig.2.16. – Evolução das emissões de CO2 eq em Portugal por ramo de actividade entre 1995 e 2007 adaptado
de [INE, 2009]
11%1%
28%
3%8%13%
15%
21%
AGRICULTURA E PESCAS
INDÚSTRIAS EXTRACTIVAS
INDÚSTRIAS TRANSFORMADORAS
CONSTRUÇÃO E OBRAS PÚBLICAS
TRANSPORTES
SECTOR DOMÉSTICO
SERVIÇOS
PRODUÇÃO DE ENERGIA
0
10000
20000
30000
40000
50000
60000
70000
80000
90000
100000
Ton
ela
das
de
CO
2Eq
uiv
alen
te
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13
Os sectores que têm alimentado esse aumento são o sector dos transportes, o de serviços o doméstico e
a produção de energia (Fig.2.17.). A agricultura tem tido uma tendência de diluição das suas emissões
em Portugal.
Fig.2.17. – Evolução percentual das Emissões em Portugal repartidas por sectores em relação a 1995 adaptado
de [INE, 2009]
Salienta-se então que os edifícios e os transportes possuem uma relevância significativa nas emissões
em Portugal. A produção de energia tem acompanhado o crescimento global das emissões. Porém
observa-se que, este sector tem um peso nas emissões totais, inferior à Europa, possivelmente devido
ao facto deste sector apostar nas energias renováveis, maioritariamente na energia hídrica. Como foi
anteriormente referido este tipo de energias apenas apresenta um valor residual de emissões
comparado com as outras formas.
2.4.5. PORTO
2.4.5.1. Sectores
Se em Portugal os edifícios compõem uma parte importante das emissões, no Porto essa fatia ainda se
torna mais alargada (55%). A outra grande fatia destina-se aos transportes (36%), já a indústria e os
restantes sectores compõem apenas uma minoria (9%) (Fig.2.18.) [ADEPORTO, 2008].
Fig.2.18. – Emissões de CO2 eq no Porto por ramo de actividade adaptado de [ADEPORTO, 2008]
0
50
100
150
200
250
AGRICULTURA E PESCAS
INDÚSTRIA
TRANSPORTES
SECTOR DOMÉSTICO
SERVIÇOS
PRODUÇÃO DE ENERGIA
TOTAL
9%
36%
32%
23%INDÚSTRIAS E OUTRAS
TRANSPORTES
SECTOR DOMÉSTICO
SERVIÇOS
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14
2.4.5.2. Sector Doméstico
Nas habitações do Porto a distribuição das emissões de GHG, é repartida maioritariamente pelo
aquecimento das águas (26%), pela preparação de refeições (22%) e pelos equipamentos de
refrigeração (18%). O aquecimento ambiente das residências também mostra uma cota parte
significativa com 15% das emissões residenciais (Fig.2.19.) [ADEPORTO, 2008].
Fig.2.19. – Repartição das emissões de CO2 eq do subsector residencial pelas utilizações adaptado
[ADEPORTO, 2008]
2.5.CLIMA
Desde que há registos de temperatura, há cerca de cento e cinquenta anos atrás, que década após
década se atingem recordes de temperatura [NASA, 2010].
Em termos relativos, desde 1880 a terra já assistiu a um aumento de 1,5 oC [NASA, 2010]. Existem
autores que afirmam que, neste momento, a terra poderá estar com febre. Por esse motivo, o
aquecimento global é um dos principais problemas que o mundo enfrenta actualmente.
É cientificamente reconhecido que a temperatura do planeta está a aumentar, mas o mesmo não
acontece quanto à causa deste fenómeno. As razões que motivam este acontecimento podem derivar
do aumento dos GHG, resultantes da actividade vulcânica ou actividade humana; da existência de uma
ligeira inclinação do eixo da terra, ou até mesmo do aumento da actividade solar. Também é
igualmente desconhecido de que forma este aquecimento irá afectar as complexas relações entre terra,
oceanos, atmosfera e organismos vivos que habitam o planeta. Para tentar desmistificar este
acontecimento, tem havido um esforço científico global e vários satélites da NASA que têm
contribuído com informação muito relevante sobre o que se passa com o nosso planeta em tempo real.
Estes ajudam a perceber a quantidade de radiação que é emitida pelo Sol, quanta dessa radiação é
reflectida novamente para o espaço e quanta é absorvida aquecendo o planeta [NASA, 2010].
O Sol tem uma actividade cíclica de 12 anos. Registos recentes demonstram que a radiação solar tem
pouco efeito na temperatura terrestre uma vez que, nas últimas décadas tem-se assistido a um aumento
significativo da temperatura terrestre, que tem coincidido com um estado latente da actividade solar.
Por outro lado, caso a actividade solar aumente, espera-se que a temperatura também aumente
ligeiramente [NASA, 2010].
A forma como o planeta aquece também está ligada com o próprio brilho do planeta. Quanto mais
brilhante mais radiação é reflectida. As áreas mais brilhantes do planeta são aquelas cobertas por gelo,
isto é, as calotes polares. Com a diminuição destas, a radiação passa a ser absorvida pela água que é
mais escura. Por sua vez, As nuvens também reflectem parte da radiação solar, com o aumento da
temperatura evapora-se mais água e, com a sua evaporação, originam-se mais nuvens, que reflectem
22%
26%
15%
18%
7%
12% PREP. REFEIÇÕES
AQS
AQUECIMENTO AMBIENTE
FRIO DOMÉSTICO
ILUMINAÇÃO
OUTROS
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15
por sua vez a luz solar e tornam o planeta mais fresco. Todavia o comportamento das partículas
associadas à formação de nuvens ainda é muito imprevisível. Os modelos climáticos prevêem uma
ligeira diminuição da temperatura, mas como o vapor de água também possui propriedades de efeito
de estufa, as partículas que arrefecem o planeta também poderão contribuir para o seu aquecimento
[NASA, 2010].
Para terminar o puzzle do aquecimento global resta referir que foi a partir da revolução industrial que
a actividade humana aumentou drasticamente as emissões de GHG, como o CO2 e óxido nitroso
(Fig.2.9.). Associando-se o facto do aumento de temperatura ter coincidido com este período, parece
evidente que as emissões têm um forte contributo para o aumento do efeito de estufa do planeta e o
consequente aumento de temperatura (Fig.2.20.). Estudos recentes apontam que a Terra pode ser mais
sensível à presença de carbono na atmosfera do que aquilo que se pensava [NASA, 2010].
Fig.2.20. – Variação da temperatura global superficial terrestre, [GISS, 2009], [NASA, 2010]
2.6. PEGADA ECOLÓGICA
O planeta tem sofrido um desgaste motivado pelas crescentes necessidades humanas. O modo como a
esta consume os seus recursos naturais afecta a Terra de maneira diferente. Esse impacto pode ser
medido através da pegada ecológica, que se tem agravado paralelamente à actividade humana.
Em termos globais, este crescimento tem tido tal expressão que neste momento a nossa pegada
ultrapassa os limites da capacidade biológica terrestre, o que evidencia um défice ecológico.
Das parcelas que compõem a pegada ecológica, nenhuma tem tido mais impacto do que a pegada de
carbono (Fig.2.21.).
Fig.2.21. – Pegada ecológica por componente entre 1961 e 2005 [WWF, 2008]
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16
2.7. CONSIDERAÇÕES FINAIS DE CAPÍTULO
Para finalizar, perante estes factos, nota-se que a energia possui uma importância extrema em todos os
sectores de actividade. O seu progressivo aumento está relacionado com o aumento das exigências
impostas por todos eles. A actividade humana requer agora mais energia, não só porque o número da
população está a aumentar, mas porque esta exige mais conforto a todos os níveis. A rapidez de
deslocação, a iluminação, o aquecimento e arrefecimento dos espaços interiores, são exemplos que
comprovam este aumento da exigência. As indústrias por sua vez crescem motivadas por este
consumo. O sector da energia, no entanto, é o maior consumidor, visto que ainda se gasta bastante
energia para a disponibilizar. Os edifícios também compõem uma cota parte relevante nesse consumo,
informação que se prende directamente com o objectivo deste estudo.
As emissões de carbono estão associadas ao consumo de energia, uma vez que grande parte dela ainda
é obtida por recursos fósseis, que são os principais emissores de GHG. Assim, se o sector da energia é
o maior consumidor consequentemente também é o maior emissor.
Como todos os anos há uma quantidade enorme de CO2 a ser libertado, uma vez que o seu ciclo é
relativamente lento, existe uma acumulação deste na atmosfera. Isto representa um problema à escala
planetária, em que o sintoma é o aquecimento global.
De um modo geral, o crescimento populacional e o consequente aumento do consumo de energia,
provoca uma delapidação dos recursos e um aumento das emissões de carbono. A agregação de todos
estes factores provoca um aumento da pegada ecológica.
Fig.2.22. – Recuperação da sustentabilidade [WWF, 2008]
Actualmente, apenas se pode tomar uma de duas opções. Assim, ou se diminui o impacto da
humanidade no planeta, ajustando as nossas necessidades e recorrendo a estratégias sólidas para
atingir esse objectivo, ou se continua a ignorar estes problemas insistindo-se num consumo crescente.
A última opção pode levar a uma situação extrema em que o planeta deixa de dar resposta a essas
necessidades e, deste modo, irão surgir problemas mais graves que podem subsistir.
Se a resposta é evitar a degradação do planeta, então deverão ser tomadas medidas. Essas medidas
passam por admitir formas alternativas de energia, que possuem menor impacto e que sejam
renováveis, como o sol, o vento e a água, aproveitando ao máximo as condições locais, eliminando
assim, a dependência dos combustíveis fósseis, que são os maiores responsáveis pelas emissões de
GHG. Por sua vez, também se deverá caminhar para a eficiência energética, uma vez que a produção e
distribuição de energia ainda consomem uma fatia significativa da energia primária.
Edifícios Verdes – Práticas Projectuais Orientadas para a Sustentabilidade
17
Em termos globais, a contribuição para a minimização das emissões deverá ser um pensamento
constante juntamente com a preservação dos recursos.
[TIRONE et al, 2008], indica três passos que deveram ser considerados para que se procure ir de
encontro às reflexões supramencionadas. O primeiro passo deve ser dado no sentido de reduzir ao
mínimo a procura de recursos não renováveis, através de uma maior eficiência no consumo. O
segundo passa por promover a descentralização e diversificação da oferta de energia, recorrendo aos
recursos naturais renováveis. O terceiro passo deve ser dado no sentido de promover a harmonização
entre a procura e oferta de energia, através de distribuições inteligentes de modo a minimizar perdas.
Isto porque os recursos renováveis nem sempre estão disponíveis, e quando estão, não são de um
modo uniforme (apresentam picos de comportamento). Por isso é importante a harmonização de todos
os recursos, para que a indisponibilidade de um recurso, num determinado momento, possa ser
compensada pela disponibilidade de outro.
Os edifícios, por sua vez, possuem um papel crucial na resolução destas dificuldades uma vez que,
representam uma fatia interessante dos problemas e estão associadas, directa ou indirectamente a todas
as indústrias. Estes também possuem uma forte ligação com a componente social, relacionando-se do
mesmo modo com a sua qualidade de vida e podem desempenhar um papel primordial no aumento de
qualidade de vida ambiental.
A construção sustentável de novos edifícios e a reabilitação sustentável dos já existentes pode iniciar
uma fase essencial, para a melhoria do desempenho ambiental das cidades e da qualidade de vida dos
seus cidadãos. A integração de questões ambientais, da gestão energética, da implementação da gestão
da procura de energia e da utilização das energias renováveis, nos edifícios é um caminho importante
que deve ser percorrido.
Da mesma forma que os edifícios representam parte do problema também poderão representar a parte
da solução.
A realidade poderá estar eventualmente entre estes dois extremos de abordagem, devendo, em cada
situação, encontrar-se um equilíbrio entre os consumos e os recursos, de forma a caminhar para
recursos renováveis e a não exceder a sua taxa de renovabilidade. Importa também afirmar que
existem limites para o crescimento, nem que esse limite seja condicionado pelo próprio planeta, uma
vez que como este, só temos um e já se encontra perto do seu limiar de suporte.
Edifícios Verdes – Práticas Projectuais Orientadas para a Sustentabilidade
18
Edifícios Verdes – Práticas Projectuais Orientadas para a Sustentabilidade
19
3
DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL
EDIFÍCIO SUSTENTÁVEL
3.1. O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
Até aos finais dos anos 70, a lógica da sustentação da sociedade assentava numa visão economicista,
com reduzidas preocupações ambientais. Só em 1987, pela Comissão para o Meio Ambiente da
Organização das Nações Unidas (ONU) surge, de forma mais generalizada, o conceito de
Desenvolvimento Sustentável, através do relatório dirigido pela Comissão de Gro Harlem Bundtland
[CWB, 2010]. A sua Comissão definiu o Desenvolvimento Sustentável como aquele que “satisfaz as
necessidades do presente, sem comprometer a capacidade das futuras gerações satisfazerem as suas
próprias necessidades” [BRUNDTLAND, 1987].
Esta definição de Desenvolvimento Sustentável tem vindo a ser amplamente discutida e tem sofrido
algumas alterações ao longo do tempo, uma vez que não é totalmente precisa e pode estar aberta a
diferentes interpretações, muitas vezes contraditórias. No entanto, continua a ser a principal referência
no âmbito internacional. Embora esta definição tenha sido vaga trouxe consigo uma mensagem
bastante evidente, propondo que os níveis de desenvolvimento procurem um equilíbrio com a
quantidade de recursos naturais existentes, para que este se processe a um ritmo que não comprometa
a capacidade de carga dos ecossistemas, nem o desenvolvimento das futuras gerações. Este relatório
levou a um esforço global para que o modelo de desenvolvimento económico fosse corrigido, de
forma a ir de encontro a estes princípios. [EDWARDS, 2005]
Em Junho de 1992, a ONU contou com a participação de 170 países na Conferência para o Meio
Ambiente e Desenvolvimento Humano, na cidade do Rio de Janeiro. Nessa conferência, foi redigido o
documento denominado por “Agenda 21”. Este documento continha as principais estratégias e
referências para atingir o Desenvolvimento Sustentável e que deveriam ser implementadas, em todas
as áreas onde a actividade humana afectasse o Meio Ambiente, até ao início do século XXI, pelos
Governos, Agências de Desenvolvimento e Grupos Sectoriais. Com o objectivo de um sociedade, justa
e ecologicamente consciente. Também apelava ao esforço local, dirigindo-se às autoridades locais,
para que trabalhassem em pareceria com os vários sectores da comunidade na elaboração de um plano
de acção estabelecendo as suas prioridades como forma de atingir o Desenvolvimento Sustentável. A
ideia geral traduz-se no “pensar global, agir local”, tendo consciência dos problemas e das tendências
globais, não devem constituir um factor inibidor da acção local, mas sim um estímulo à actuação das
autoridades e outros agentes locais, que têm um contacto mais próximo com as populações, e podem
Edifícios Verdes: Práticas Projectuais Orientadas para a Sustentabilidade
20
motivar a alteração do conceito de desenvolvimento. Agindo localmente os efeitos positivos obtidos
positivos, contribuem para a melhoria das condições globais [BETTENCOURT et al, 2007].
A procura por alcançar este patamar de desenvolvimento não assenta apenas no crescimento
económico e na protecção do ambiente, mas também nas preocupações com as problemáticas sociais,
sanitárias e éticas do bem-estar humano, como a melhoria da qualidade de vida, a equidade social, a
prevenção da pobreza e a equidade entre as gerações, uma vez que estas merecem um ambiente tão
bom ou melhor do que aquele que usufruímos actualmente. Por sua vez, só deverá haver maior
desenvolvimento quando este se situar dentro dos limites necessários ao equilíbrio dos sistemas
naturais e artificiais.
Confere-se ao modelo de Desenvolvimento Sustentável, uma tripla dimensão que visa equilibrar as
diferenças a nível social e económico, através da justiça socioeconómica; a nível económico e
ambiental, através da eco-eficiência, e a nível ambiental e social, promovendo a consciência social
para a ecológica (Fig.3.1.) [WERBACH, 2006].
Fig.3.1. – Tripla dimensão do Desenvolvimento Sustentável adaptado de [IPD, 2008]
Actualmente, assiste-se ainda a um desajuste deste modelo, em que a dimensão do desenvolvimento
económico é a mais relevante, remetendo para segundo plano a dimensão social, sendo o
desenvolvimento ambiental, o mais desfavorecido (Fig.3.2.).
Fig.3.2. – Desequilíbrio do Desenvolvimento adaptado de [WERBACH, 2006]
Edifícios Verdes – Práticas Projectuais Orientadas para a Sustentabilidade
21
De modo a inverter esta tendência, o caminho para o Desenvolvimento Sustentável desafia os vários
agentes e sectores a procurar soluções que contribuam para a procura da sustentabilidade.
Por sua vez, a indústria da construção tem um papel activo no desequilíbrio do desenvolvimento uma
vez que tem uma generosa participação no PIB – dimensão económica – e é responsável por uma
expressiva parcela na geração de postos de trabalho – dimensão social – no entanto produz impactes
significativos no ambiente, como a utilização de recursos naturais, a produção de grandes quantidades
de resíduos e a modificação do ambiente natural através das suas intervenções – dimensão ambiental.
Desta forma, a procura pela sustentabilidade na construção é fundamental e deve assentar, no
desenvolvimento do edificado sustentável, ambientes construídos sustentáveis e até na criação de
comunidades sustentáveis como contributo para a efectiva concretização do Desenvolvimento
Sustentável (Fig.3.3.) [EDWARDS, 2005].
Fig.3.3. – Contributo da construção sustentável para o Desenvolvimento sustentável e o número crescente de
agentes envolvidos [EDWARDS, 2005]
3.2. A CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL
3.2.1. O CONCEITO
O conceito de construção sustentável não é recente. Existem indícios, que remontam à Antiguidade
Clássica, que documentam as preocupações entre a relação do meio artificial e natural.
O arquitecto e engenheiro romano Vitrúvio (séc. I a. C.), foi o pioneiro neste conceito, abordando-o no
seu tratado de arquitectura. Ele sugeria que o projecto de arquitectura deveria actuar como um agente
mediador entre o conforto interno e o ambiente externo, através de certas recomendações como, a
localização, orientação e iluminação e ventilação natural dos edifícios [EDWARDS, 2005].
No entanto, esta preocupação foi perdendo a sua importância, culminando com a Revolução Industrial.
O consequente êxodo rural levou à procura desmesurada por um emprego e habitação no centro
urbano, levando a um crescimento desproporcionado das cidades com poucas ou mesmo nenhumas
preocupações ambientais. Desde então, o sentido da sustentabilidade acabou por ficar esquecido.
Só muito mais tarde, cerca de dois séculos depois desta revolução, mais precisamente em 1994, é que
ocorre uma nova consciencialização para este conceito. A realização da Primeira Conferência
Internacional sobre Construção Sustentável ("The First International Conference on Sustainable
Construction"), em Tampa, na Flórida, expôs diversas propostas no sentido de definir o conceito de
Edifícios Verdes: Práticas Projectuais Orientadas para a Sustentabilidade
22
construção sustentável. A definição mais aceite foi a então apresentada por Charles Kibert, que define
Construção Sustentável como a "criação e gestão responsável de um ambiente construído saudável,
tendo em consideração os princípios ecológicos e a utilização eficiente dos recursos" [KIBERT,
1994]. A construção sustentável tem em conta todo o seu ciclo de vida e considera que os recursos da
construção são os materiais, o solo, a energia e a água. A partir destes recursos, Kibert estabeleceu os
cinco princípios básicos da construção sustentável [PINHEIRO, 2006]:
i. Reduzir o consumo de recursos;
ii. Reutilizar os recursos sempre que possível;
iii. Reciclar materiais em fim de vida do edifício e usar recursos recicláveis;
iv. Proteger os sistemas naturais e a sua função em todas as actividades;
v. Eliminar os materiais tóxicos e os subprodutos em todas as fases do ciclo de vida.
Tendo em conta estes princípios definidos por Kibert, nota-se que a construção sustentável é, na sua
essência, a aplicação da tripla dimensão do Desenvolvimento Sustentável à Indústria da Construção.
Resta referir que esta foi a primeira, de um ciclo de conferências que a precederam, com o objectivo
de concentrar as atenções para este tema e aprimorar as prioridades de intervenção. No contexto
actual, as prioridades passam por promover: o uso de materiais de construção amigos do ambiente, a
eficiência energética, a gestão inteligente dos resíduos e finalmente, centrar uma visão integrada das
várias fases de construção como: projecto, construção, utilização e demolição, recaindo assim em todo
o ciclo de vida da construção, tendo em vista a contribuição para a sustentabilidade (Fig.3.4.)
[PINHEIRO, 2006].
Fig.3.4. – Abordagem integrada e sustentável às fases do ciclo de vida de uma construção [MATEUS et al, 2006]
3.2.2. A EVOLUÇÃO PARA A CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL
A construção, com o passar do tempo, tem sofrido uma progressiva evolução das suas prioridades.
Actualmente, o conceito de construção sustentável pretende reformar os factores tradicionalmente
encarados como competitivos na indústria da construção - qualidade, tempo e custo. Isto porque,
habitualmente uma construção só é considerada competitiva se tiver o nível de qualidade exigido pelo
projecto, se utilizar sistemas construtivos que optimizem a produtividade durante a fase de construção,
Edifícios Verdes – Práticas Projectuais Orientadas para a Sustentabilidade
23
diminuindo o período desta fase para permitir uma maior rapidez na recuperação de investimento.
[MATEUS et al, 2006]
Com a introdução das preocupações ambientais, o conceito de qualidade na construção pretende
incluir os aspectos relacionados com a qualidade ambiental. Surge assim a construção eco-eficiente,
também conhecida por construção ecológica ou por construção “verde”. A construção eco-eficiente
traduz-se numa construção que minimiza o impacte ambiental, ou que por outro lado crie edificados
com consequências reparadoras para o meio ambiente, por exemplo, através da substituição de
edifícios ou de outro tipo de construções, por outros com efeitos menos severos sobre o meio
ambiente. Resumindo a construção eco-eficiente procura integrar o meio construído com os sistemas
ecológicos (ecossistemas) da biosfera durante todo o seu ciclo de vida. [MATEUS et al, 2006]
Ao incorporarem-se as anteriores prioridades de mitigação dos impactes ambientais dos edificados e
ao preservar-se as preocupações relacionadas com as três dimensões do Desenvolvimento Sustentável,
aplicado à construção, cria-se um novo desafio e um conjunto de novos itens a agregar ao modo
tradicional de abordar a construção (Fig.3.5.).
Fig.3.5. – Evolução das prioridades dos modelos de construção adaptado de [MATEUS et al, 2006]
A perspectiva evolutiva para a construção sustentável apela a um novo paradigma da construção,
passando do triângulo qualidade - custo – tempo, para incluir também o consumo dos recursos –
emissões e saúde – biodiversidade e qualidade do ambiente construído e equidade social – herança
cultural.
Edifícios Verdes: Práticas Projectuais Orientadas para a Sustentabilidade
24
3.2.3. DESAFIOS PARA AS CLASSES PROFISSIONAIS ASSOCIADAS À INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO
3.2.3.1. Introdução
A construção sustentável de infra-estruturas, de novos edifícios e da renovação sustentável dos que já
existem, pode estar a iniciar uma nova fase. Como foi referido anteriormente, a mudança, passa pela
promoção da sustentabilidade através da incorporação de novos horizontes. [PINHEIRO, 2006]
Para que haja um efectiva modificação da perspectiva tradicional é necessário o empenho de todas as
partes intervenientes no sector da indústria da construção. Promotores, projectistas, empreiteiros,
utilizadores, assim como as autoridades são agentes activos, que devem estar atentos e contribuir com
as suas actividades para melhorar o mundo para as gerações futuras, não apenas preservá-lo.
[PINHEIRO, 2006]
A construção sustentável pode trazer benefícios, no entanto, é preciso que haja uma visão e esforço
comum de todas as partes. Deste modo, para atingir a sustentabilidade, são lançados os seguintes
desafios para estes agentes de mudança deste sector.
3.2.3.2. Promotores e Clientes
Os promotores têm um papel primordial no que se refere ao domínio da sustentabilidade, uma vez que
a construção depende do seu investimento. Segundo [WERBACH, 2009], esta parte interessada tem
essencialmente três desafios associados, que devem ser incorporados nas suas estratégias de negócio
para atingir a sustentabilidade, sendo que o primeiro passa pelo empenho. Esta parte interessada tem
que ter o empenho para promover e procurar estratégias para a atingir a sustentabilidade, e ser capaz
de se envolver nas suas implicações sociais, culturais, ambientais e não apenas nas económicas. Em
segundo lugar, e mais importante de que modo como se processa o investimento, é a transparência que
tem que estar sempre associada a todos os seus processos. O promotor também deverá ser
transparente, na partilha dos seus desafios e ser claro na definição dos objectivos para atingir a
sustentabilidade. Em último lugar, este deverá procurar ampliar o seu conhecimento sobre esta
temática, através da informação ou experiência de empresas, corporações ou organizações não
governamentais ou outros peritos que possam apresentar um conhecimento com valor acrescentado
[WERBACH, 2009].
Se estes desafios forem aceites, a construção sustentável poderá acarrear benefícios reais para os
promotores. Estes benefícios passam pelo melhoramento da sua imagem, uma vez que a esta fica
associada à sustentabilidade. A segurança do investimento e os seus rendimentos também serão
significativos visto que, os produtos sustentáveis criados, promovem a satisfação, a produtividade e
aumentam a competitividade. Considerando todo o ciclo de vida, os gastos associados também são
menores umas vez que os produtos da construção serão mais eficientes [WERBACH, 2009].
A construção sustentável não tem que ser incomportável economicamente, como o próprio nome
indica é uma construção que procura equilibrar os vértices - económico, social e ambiental.
3.2.3.3. Projectistas [PINHEIRO, 2006]
A fase de projecto tem um grande contributo para a sustentabilidade, no qual os projectistas são os
principais intervenientes para atingir esse fim. É nesta fase que as decisões tomadas pelos projectistas
têm mais impacto para a vida do edificado, e menores custos associados. Assim, para estes
intervenientes, são propostos desafios com vista a construção sustentável.
Edifícios Verdes – Práticas Projectuais Orientadas para a Sustentabilidade
25
Para os projectistas, a construção sustentável deve assentar desde o início numa visão integrada de
todo o ciclo de vida da obra de construção. Neste ciclo devem ser considerados todos os factores
ambientais, sociais e culturais, focando a atenção para os mais sensíveis e para a sua valorização. A
utilização dos recursos nas diferentes fases do ciclo de vida, também deve ser considerada no sentido
de reduzir o consumo, dos materiais, da energia, da água, apostar na eficiência e na utilização
preferencial de recursos renováveis, tendo em consideração a sua taxa de renovabilidade. O estudo do
projecto deve ser o mais detalhado possível, consequentemente, os projectistas devem exigir toda a
informação sobre as características técnicas, funcionais e ambientais desses materiais. Só deste modo é
que podem tomar conhecimento das diferenças no desempenho dos respectivos materiais ao longo do
ciclo de vida. O projectista deve assegurar condições de durabilidade, que é um aspecto fundamental
que se relaciona com a redução dos consumos de materiais durante toda a vida da construção. Deve
garantir do mesmo modo as acessibilidades e o respeito pelos aspectos culturais e sociais, contribuindo
desta forma para a melhoria do ambiente e integração local da edificação.
Finalmente, na definição e antecipação de todos aspectos relacionados com a construção deve existir
uma constante comunicação com todos os intervenientes da fase de projecto e produção, para
descobrir potenciais incompatibilidades ou melhores estratégias.
3.2.3.4. Empreiteiros e Fabricantes
As empresas de construção também devem adoptar estratégias que minimizem os impactos da fase de
construção propriamente dita. Devem ser destacados as estratégias adoptadas no Reino Unido, que
aplicam, na construção, um conceito inicialmente desenvolvido no ramo da produção automóvel –
Lean Production. Este novo conceito pretende transferir os métodos eficientes de fabricação da
indústria automóvel, para a indústria da construção civil, tentando melhorar os processos de
construção com o mínimo de custo e o obtendo o máximo rendimento, indo de encontro às
necessidades do cliente. Visto que o conceito é aplicado à construção, designa-se por Lean
Construction [PENEIROL, 2007].
A estratégia de Lean Construction não engloba apenas os aspectos relacionados com o custo e prazo.
Engloba nomeadamente, a reutilização de imóveis já existentes, o planeamento de forma a produzir o
mínimo de resíduos com o objectivo de apontar para uma construção mais limpa. Também se inclui a
minimização do uso de energia na construção, bem como dos gastos energéticos nos edifícios, a
preservação ou aumento da biodiversidade, a conservação do recurso da água e, finalmente, evitar a
poluição, dignificando as pessoas e o seu ambiente local.
Finalizando, a aplicação deste conceito é o desafio que se propõe aos agentes envolvido na produção
que vai de encontro às práticas de sustentabilidade e de melhoria da eficácia do desempenho das
tarefas e consequentemente da diminuição dos custos.
3.2.3.5. Autoridades [PINHEIRO, 2006]
Às autoridades compete promover o desenvolvimento de códigos, normas harmonizadas e indicadores
de sustentabilidade para a construção de obras sustentáveis, e programas que implementem requisitos
de desempenho baseado nos indicadores definidos e regulados pelas mesmas normas. As autoridades
também deverão encorajar o investimento através do desenvolvimento incentivos fiscais e requisitos
de sustentabilidade nos seus procedimentos de adjudicação de edifícios e outras obras de construção.
Edifícios Verdes: Práticas Projectuais Orientadas para a Sustentabilidade
26
3.2.3.6. Utilizadores
Finalmente, os utilizadores devem preservar a consciência para sustentabilidade, de forma a perpetuar
o conceito durante a vida da obra. Estes devem possuir uma relação estreita com o objectivo da
construção, não devendo descurar-se das estratégias de sustentabilidade pré-definidas. O consumo
consciente da energia e da água e minimização dos desperdícios e dos resíduos são os desafios diários
para estes agentes.
A assimilação de todos os desafios acima abordados resume-se na Fig.3.6.:
Fig.3.6. – Incentivos externos para a mudança [PINHEIRO, 2006]
Edifícios Verdes – Práticas Projectuais Orientadas para a Sustentabilidade
27
3.3. A SUSTENTABILIDADE EM EDIFÍCIOS
3.3.1. GENERALIDADES
O impacte das edificações e o papel que estas desempenham numa sociedade é fundamental para
atingir o Desenvolvimento Sustentável. É claramente um sector onde a incorporação dos princípios do
Desenvolvimento Sustentável pode fazer a diferença, com destaque na eficiência energética e
preservação de recursos naturais, bem como na utilização de novas tipologias e materiais de
construção com menor impacto ambiental.
Um edifício sustentável terá que ser pensado em todas as suas fases, desde o projecto, passando pela
construção até ao seu desmantelamento, sendo a sua exploração uma das fases cruciais. Em qualquer
uma destas fases, a sustentabilidade na construção é equacionada nas perspectivas económica,
energética e ambiental [EDWARDS, 2005]. As edificações também devem ser observadas como um
sistema que consome recursos e emite resíduos, que por sua vez originam impactes ambientais. O
capital ambiental investido nas edificações é enorme, assim como seu impacto em termos de resíduos.
Também são grandes consumidoras de matérias-primas e outros recursos naturais.
A fase de construção está, no geral, associada a períodos mais reduzidos (meses), face à fase de
operação (décadas). De modo geral, as infra-estruturas e edifícios projectados na actualidade, tem um
tempo de vida superior a 40 anos e alguns dos edifícios e estruturas existentes podem ultrapassar, ou já
ultrapassam, os 100 anos. Isto significa que as estruturas construídas têm impactes com efeitos muito
duradouros, quer a nível dos consumos, quer na acumulação dos materiais, quer nível das emissões e
cargas poluentes, cujos efeitos ambientais importa considerar [PINHEIRO, 2006]. O Quadro 3.1.
sensibiliza para as diferenças entre o impacto da construção e da utilização dos edifícios.
Quadro 3.1. – Comparação entre o impacte da construção civil e a utilização dos edifícios [EDWARDS, 2005]
Impacto Construção Utilização
Recursos energéticos Médio Alto
Água Médio Alto
Recursos minerais Alto Baixo
Poluição do ar Baixo Médio
Poluição da água Alto Baixo
Poluição sonora Alto Baixo
Impacto visual Alto Médio
Impacto sobre a biodiversidade Alto Baixo
Resíduos sólidos Médio Alto
Saúde Alto Médio
Nesse contexto, os efeitos ambientais das actividades construtivas decorrem não só do acto de
construir, mas também da operação das estruturas construídas (incluindo a sua manutenção) e até da
sua desactivação. Os seus efeitos (impactes) são diferenciados em cada uma das fases consideradas
[PINHEIRO, 2006].
Como curiosidade no que se refere aos numerosos impactes, destaca-se que em termos de materiais,
60% de todos os recursos mundiais são destinados à construção. Por outro lado, cerca de 50% da
energia gerada é utilizada para aquecer, iluminar e ventilar as edificações, alem de 3% usados na sua
Edifícios Verdes: Práticas Projectuais Orientadas para a Sustentabilidade
28
construção [EDWARDS, 2005]. A água também é um recurso cada vez mais escasso e que se
consome sem ter consciência do seu real valor. Segundo [EDWARDS, 2005], 50% da água usada no
mundo é destinada ao abastecimento de instalações sanitárias e outros usos das edificações. E, 80% do
solo cultivável é utilizado na construção civil e não na agricultura, a grande parte restante é perdida
como consequência de inundações causadas pelo aquecimento global [EDWARDS, 2005].
Nota-se ainda, que na Europa, em média 85% do impacto energético-ambiental, que resulta do meio
edificado corresponde à fase de operação (durante a vida e utilização dos edifícios) e
aproximadamente 15% tem lugar na fase de construção e demolição (Quadro 3.2.) [TIRONE et al,
2008]. E no que toca às emissões de carbono, a sua distribuição também é distinta nas diferentes fases,
e muitas vezes desconsiderada. Em termos quantitativos 84% das emissões correspondem à fase de
utilização.
Quadro 3.2. – Distribuição das emissões atribuídas às fases de construção de edifícios [IGT, 2010]
Fases Emissões de GHG % Pegada de Carbono
Projecto <0,1 <1
Produção 39,8 13
Distribuição 6,1 2
Construção 4,5 1
Utilização 255,9 84
Pegada de carbono total 306,3 100
Torna-se, por isso, prioritárias, aquelas medidas que mais contribuem para reduzir o impacto
energético-ambiental do meio edificado ao longo da sua vida útil, dando prioridade à implementação
de medidas que aumentem a eficiência do desempenho. Estas medidas são, também as mais
económicas porque o investimento respectivo permite reduzir o consumo de energia e de outros
recursos ao longo de toda a vida útil dos edifícios [TIRONE et al, 2008]. A geração de cargas
ambientais, emissões atmosféricas, efluentes líquidos, resíduos sólidos, ruído ambiente e poluição
térmica, devem ser reduzidas sempre que possível. Caso não o seja, deve ser controlada ou reciclável.
As condições do ambiente interior e qualidade do ar interior, também devem ser uma prioridade, uma
vez que se vive actualmente em média de 80 a 90 % do tempo nos edifícios, quer no sentido de evitar
a toxicidade e os riscos de inalação de microrganismos, quer no sentido de se proceder à renovação do
ar natural. Do mesmo modo, visa-se igualmente alargar a directiva de desempenho energético a
edifícios de menor dimensão e incluir outros elementos-chave em matéria de ambiente e de
sustentabilidade, como a qualidade do ar no interior dos edifícios, as acessibilidades, os níveis de
ruído, o conforto, a qualidade ambiental dos materiais e o custo do ciclo de vida dos edifícios e, como
atrás mencionado, deveria também incluir-se a capacidade dos edifícios para resistir a riscos
ambientais, como inundações, tempestades ou sismos, conforme a sua localização [TIRONE et al,
2008].
Existe outro aspecto a considerar, que muitas vezes passa despercebido, que tem que ver com a criação
de riqueza do próprio edifício, visto que, os arquitectos projectam edificações, que por sua vez geram
riqueza. Anualmente, metade de toda a formação do capital fixo é utilizada em investimentos em
edificações, que, somada aos activos herdados dos imóveis, representa aproximadamente 75% de toda
a riqueza no Reino Unido. Partindo dessa perspectiva, parece prudente que o valor de uma edificação
deve representar a longo prazo a capacidade de satisfazer as exigências dos utilizadores, as condições
ambientais variáveis e a evolução das expectativas sobre a qualidade do projecto [EDWARDS, 2005].
Edifícios Verdes – Práticas Projectuais Orientadas para a Sustentabilidade
29
Adianta-se ainda que a sustentabilidade só é realmente atingida quando o sistema sustentável se
perpetua pelo tempo. Deste modo, devem procurar-se que os processos sejam ciclos e não cadeias
lineares fechadas. A Fig.3.7. resume os principais aspectos relacionados com as diversas fases de vida
de um edifício e retrata as principais relações entre elas através da reciclagem e a reutilização.
Fig.3.7. – Abordagem integrada do ciclo de vida de um edifício [BARBOSA, 2008]
3.3.2. ENGENHARIA DE CICLO DE VIDA
3.3.2.1. Introdução
Vários factores, como o impacto ambiental provocado pelos produtos, têm sido cada vez mais
valorizados pela sociedade em geral. A procura por englobar uma análise ambiental das metodologias
de selecção de materiais, tem vindo a despertar o interesse dos projectistas em incorporar essas
metodologias nas fases de projecto de um produto, de forma a responder ao desafio lançado pela
sociedade. Assim, a perspectiva de análise do ciclo de vida de qualquer produto quer seja da
construção quer seja comercial começa a ganhar uma nova metodologia [BAUER et al, 2009].
Essa metodologia denomina-se de Engenharia do Ciclo de Vida (LCE – Life Cycle Engineering) e
baseia-se em três avaliações distintas, sendo estas, os Custos de Ciclo de Vida (LCC – Life Cycle
Cost), a Avaliação do Ciclo de Vida (LCA – Life Cycle Assessment) e o desempenho funcional do
produto. O LCC consiste numa análise económica feita ao produto durante toda a sua vida. O LCA
refere-se à avaliação dos impactos ambientais provocados durante toda a vida do produto. O
desempenho funcional consiste numa avaliação feita aos materiais ou outros constituintes do produto
tendo em conta as suas funções ou requisitos [INÁCIO, 2009].
Existe então, uma nova visão que pretende alargar o actual planeamento sequencial para uma nova
abordagem totalmente integrada. Isto implica o controlo de todos os aspectos ligados à concepção e ao
planeamento a longo prazo e conta com a consulta, decisão e avaliação de todos os intervenientes
Edifícios Verdes: Práticas Projectuais Orientadas para a Sustentabilidade
30
(Fig.3.8.). De modo a auxiliar estes intervenientes com as múltiplas opções de planeamento, estes
devem contar com as mais modernas ferramentas de cálculo optimização de processos durante a
operação.
Os autores desta metodologia consideram que com esta abordagem integral promovem-se maiores
níveis de sustentabilidade [BAUER et al, 2009].
Fig.3.8. – Variantes da abordagem do ciclo de vida. Da abordagem sequencial para à integrada terminando na LCE, aumentando progressivamente a relação dos intervenientes com a fase de operação. [BAUER et al, 2009]
3.3.2.2. Avaliação do Ciclo de Vida
A LCA foi, originalmente, definida pela SETAC, (Society for Environmental Toxicology and
Chemistry) como um "processo para avaliar as implicações ambientais de um produto, processo ou
actividade, através da identificação e quantificação dos usos de energia e matéria e das emissões
ambientais; avaliar o impacte ambiental desses usos de energia e matéria e das emissões; e
identificar e avaliar oportunidades de realizar melhorias ambientais" [PINHEIRO, 2006]. Esta
avaliação considera todos os processos ou actividades no ciclo de vida do produto, abrangendo a
extracção, o processamento de matérias-primas; a transformação, o transporte e a distribuição; o uso, a
reutilização, a manutenção; a reciclagem e a deposição final [PINHEIRO, 2006].
De uma forma sucinta, a LCA constitui o procedimento que permite analisar formalmente, a complexa
interacção de um sistema, que pode ser um material, um componente ou um conjunto de componentes,
com o ambiente, ao longo de todo o seu ciclo de vida (Fig.3.9.) [PINHEIRO, 2006].
A LCA parte da premissa de que todos os estágios da vida de um produto geram impacte ambiental e
devem ser analisados. [PINHEIRO, 2006]. Por sua vez, o modo como se abordam esses estágios,
originam consequentemente várias variantes da avaliação do ciclo de vida. As variantes mais
conceituadas são as avaliações cradle-to-gate2, cradle-to-grave3
, cradle-to-cradle4.
A primeira, cradle-to-gate é uma avaliação parcial da vida do produto. Esta variante inclui todos os
processos de fabricação do produto (cradle) até à fase em que está pronto para sair pela porta da
fábrica (gate), isto é, antes de ser transportado para o consumidor. As restantes fases normalmente
omitidas. A análise do ciclo cradle-to-gate também é utilizada nas Declarações Ambientais de Produto
(EDP – Environmental Product Declarations).
2 Cradle-to-grave – Análise do Berço ao Túmulo
3 Cradle-to-gate – Análise do Berço ao Portão
4 Cradle-to-cradle – Análise do Berço ao Berço
Edifícios Verdes – Práticas Projectuais Orientadas para a Sustentabilidade
31
A segunda, cradle-to-grave é a avaliação integral da vida do produto desde a fabricação (cradle)
passando pela etapa de utilização terminando na fase de eliminação (grave). Esta vertente é a análise
usual do ciclo de vida quando se realiza a LCA.
Por último, a Cradle-to-cradle é uma variante específica da avaliação cradle-to-grave, onde à fase de
fim de vida é incrementado um processo de valorização, normalmente trata-se da reciclagem do
produto.
Este último conceito foi primeiramente introduzido por Walter Stahel, em 1976, quando este abraçava
um projecto que consistia na determinação da extensão de vida do produto, em Génova. Stahel
constatou que, em carros e edifícios quando analisados à escala micro ou macro económica, a extensão
da vida de alguns dos seus componentes poupava uma quantidade enorme de recursos contrapondo
com a transformação de materiais virgens em novos produtos. As implicações também se estendiam à
diminuição de mão-de-obra e das despesas de energia. No seu trabalho, conclui que 75% da energia
industrial era utilizada na exploração e na produção de recursos como aço e betão. Enquanto, apenas
25% era gasto na conversão dos materiais em bens finais como máquinas e edifícios. Também
demonstrou que, uma nova abordagem no modo como se lidava com a valorização dos produtos
favorecia o crescimento de novos clusters económicos, mais pequenos e organizados, dos quais as
comunidades locais beneficiariam [LOVINS, 2008].
Esta nova filosofia de análise do produto introduz, não só a consideração de uma fase de valorização
do produto, mas também um novo conceito de escala económica da aplicação dessa metodologia.
Fig.3.9. – Considerações do ciclo de vida [EDWARDS, 2005]
No que toca à LCA aplicada aos edifícios, esta é utilizada para avaliar o impacto ambiental das
edificações ao longo de toda a sua vida útil, medindo os custos ecológicos do consumo dos vários
recursos e da fabricação dos produtos que, posteriormente, são avaliados e comparados com base em
critérios ambientais [EDWARDS, 2005]. Esta avaliação identifica o fluxo de materiais, energia e
resíduos gerados pelas edificações ao longo de toda a sua vida útil, de forma que os impactos
ambientais possam ser determinados antecipadamente. Os fluxos analisados englobam a extracção de
materiais e o seu uso, reutilização, reciclagem ou eliminação [EDWARDS, 2005].
De uma forma geral, no final da vida útil de uma edificação é frequente existirem três destinos, sendo
estes: a reutilização das suas partes em novas construções, a reciclagem de seus materiais, como
compostos para o betão e a demolição da edificação e deposição em aterros sanitários. [EDWARDS,
2005] admite que a reutilização deve ser mais valorizada do que a reciclagem, isto porque a primeira
está associada a uma menor incorporação da energia no material, na medida em que se gasta ainda
mais energia no processo de reciclagem.
Edifícios Verdes: Práticas Projectuais Orientadas para a Sustentabilidade
32
De modo a exemplificar o exposto, segue o Quadro 3.3 que retrata a LCA de um edifício, onde se
inclui a energia incorporada nos diferentes elementos que compõem o edifício, os resíduos sólidos, os
índices de poluição do ar, da água e o volume de emissões de Gases de Efeito de Estufa (GHG), que é
indicador do potencial de aquecimento global (GWP). Contudo, As estimativas de energia e emissões
não incluem a fase de operação [PINHEIRO, 2006].
Quadro.3.3. – LCA dos componentes do edifício [PINHEIRO, 2006] de fonte original [Trusty & Horse, 2002]
Componentes do edifício
Energia incorporada
(GJ)
Resíduos sólidos
(ton)
Poluição do ar
(índice)
Poluição da água
(índice)
GWP
(ton de CO2 eq.)
Uso dos recursos
ponderado
(ton)
Estrutura 52 432 3 273 859,0 147,0 13 701 34 098
Revestimento 17 187 281 649,8 24,7 5 727 2 195
Cobertura 3 435 145 64,8 5,8 701 1 408
Total 73 054 3 554 1 573,6 177,5 20 129 37 701
Por m2 2,36 0,11 0,05 0,006 0,65 1,21
No entanto, a LCA apresenta algumas desvantagens. O processo considera de forma individual os
diferentes materiais e produtos da construção civil, como o aço, o betão, telhas cerâmicas e tintas, e
analisa de forma combinada e sistemática o impacte ecológico de cada elemento ao longo do tempo.
Contudo a construção civil é muito mais complexa, pois envolve a utilização de materiais de forma
combinada, de maneira a que as características positivas do ciclo de vida de um material acabem por
ser anuladas pelas características negativas de outro. A título de exemplo, a tinta utilizada no
revestimento do aço dificulta a reutilização desse material e a argamassa utilizada para o assentamento
dos tijolos não pode ser reciclada [EDWARDS, 2005].
3.3.2.3. Custo do Ciclo de Vida
A partir do desenvolvimento do LCA surgiu a análise do Custo de Ciclo de Vida (LCC) [EDWARDS,
2005]. No entanto, este conceito já não era novidade, visto que, nos meados da década de 60 era
utilizado com uma aplicação militar do Departamento de Defesa Norte Americano. Só em meados da
década de 80 é que se tenta implementar este princípio ao investimento em edifícios [RIBEIRO,
2009]. Inicialmente era uma metodologia designada para decisões de aquisição e investimento mas,
com o passar dos anos começou a ser utilizada para enriquecer a perspectiva do cliente [RIBEIRO,
2009].
O LCC é composto por uma formulação matemática e económica que se assemelha ao método do
valor actual de edifícios, mas onde os custos cíclicos de operação e manutenção, ganham uma
importância relevante por serem custos decisivos e consideráveis, relativamente ao investimento
inicial (CI) [RIBEIRO, 2009].
Os custos operacionais reflectem o aquecimento, a ventilação e a iluminação consequente da utilização
do edifício. Os custos de manutenção, por sua vez, traduzem os custos derivados da manutenção e
preservação da função sistemas do edifício. Por isso, o LCC contempla questões, como o aumento de
preço do petróleo e manutenção de equipamentos mecânicos, permitindo que os utilizadores da
edificação meçam o seu desempenho.
Edifícios Verdes – Práticas Projectuais Orientadas para a Sustentabilidade
33
A correcta análise desta metodologia de determinação dos custos de um edifício, não avalia apenas o
custo de investimento, mas todos os custos ao longo da vida útil representando do melhor modo os
custos cíclicos de um edifício em serviço [RIBEIRO, 2009].
A metodologia do LCC pode ser aplicada para determinar os custos cíclicos de cada componente para
as diversas fases da sua vida. A partir dessa informação poderá representar-se uma curva
representativa desses custos, que pode auxiliar a tomada de decisões técnico-económicas quer na fase
de projecto, quer na fase de operação, como é representado na Fig.3.10.
Fig.3.10. – Representação gráfica dos custos do ciclo de vida de diferentes opções
Esta figura retrata a evolução do somatório de todos os custos cíclicos de duas soluções em relação aos
custos da opção de nada fazer para melhorar o projecto. Facilmente se observa que a Solução 1, apesar
de possuir um esforço financeiro inicial mais elevado, pode trazer benefícios financeiros a longo
prazo, que se começam a sentir a partir do trigésimo quinto ano. Por sua vez, a Solução 2 não
apresenta melhorias significativas, uma vez que os seus ciclos de despesas acabam por atenuar a sua
poupança anual e o investimento só mostra os seus frutos muito mais tarde.
3.3.2.4. Funcionalidade
Esta última vertente relaciona-se com a funcionalidade ou os requisitos de desempenho a que um
edifício deve cumprir. Aqui inserem-se todos os aspectos relacionados com a segurança, saúde,
salubridade e conforto, que devem ser garantidos durante toda a vida do edifício.
3.3.3. VERTENTE NORMATIVA
3.3.3.1. Normas Europeias [CEN, 2010], [UNEP, 2009]
A Comunidade Europeia incitou o Comité Europeu para a Normalização (CEN) a estabelecer um
conjunto de normas e linhas orientadoras para a sustentabilidade na construção. Deste modo, foi
elaborada uma Comissão Técnica (CEN/TC 350), que neste momento, está responsável pelo
desenvolvimento das normas relacionadas com a avaliação dos aspectos de sustentabilidade de obras
novas ou já existentes; a definição de normas para a declaração ambiental de produtos da construção e
0
2000
4000
6000
8000
10000
12000
14000
16000
18000
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60 65 70 75
Euro
s (€
)
Anos
Não fazer nada
Solução 1
Solução 2
Período de retorno da Solução 1
Período de retorno da Solução 2
Edifícios Verdes: Práticas Projectuais Orientadas para a Sustentabilidade
34
avaliação integrada do desempenho ambiental dos edifícios com base no princípio da avaliação do
ciclo de vida (LCA).
As normas pretendem então, descrever uma metodologia harmonizada para a avaliação do
desempenho ambiental dos edifícios e do desempenho do custo do ciclo de vida dos edifícios, bem
como os aspectos de desempenho quantificáveis de saúde e conforto dos edifícios. Estas normas serão
aplicáveis, em geral, de uma forma horizontal e são relevantes para a avaliação de desempenho
integrado dos edifícios ao longo do seu ciclo de vida.
O desenvolvimento das referidas normas está ainda em progresso, com a maioria das secções
definidas, mas ainda sujeitas à aprovação. Para já a Comissão Técnica irá comprometer a cobertura
das seguintes normas (Quadro 3.4. e 3.5.):
Quadro 3.4. – Normas publicadas
CEN/TC 350 - Sustentabilidade das Obras de Construção
Referência da Norma Título
CEN/TR 15941:2010 Sustentabilidade das Obras de Construção - Declarações Ambientais de
Produtos (EPD) - Metodologia para selecção e utilização de dados genéricos
Quadro 3.5. – Normas sob aprovação
CEN/TC 350 - Sustentabilidade das Obras de Construção
Referência do
Projecto
Título
(Não está definida) Sustentabilidade das Obras de construção - Declarações Ambientais de
Produtos - Utilização da declaração ambiental do produto
prEN 15942 Sustentabilidade das Obras de Construção - Declarações Ambientais de
Produtos - Formato de comunicação
prEN 15643-1 Sustentabilidade das Obras de Construção - Avaliação da Sustentabilidade
de Edifícios - Parte 1: Quadro geral
prEN 15643-2 Sustentabilidade das Obras de Construção - Avaliação da Sustentabilidade
de Edifícios - Parte 2: Quadro para a Avaliação de Desempenho Ambiental
prEN 15643-3 Sustentabilidade das Obras de Construção - Avaliação da Sustentabilidade
de Edifícios - Parte 3: Quadro para a avaliação do desempenho social
prEN 15643-4 Sustentabilidade das Obras de Construção - Avaliação da Sustentabilidade
de Edifícios - Parte 4: Quadro para a avaliação do desempenho económico
prEN 15978 Sustentabilidade das Obras de Construção - Avaliação do Desempenho
Ambiental de Edifícios - Método de cálculo
(Não está definida) Sustentabilidade das Obras de Construção - Avaliação do Desempenho
Social de Edifícios – Métodos
Edifícios Verdes – Práticas Projectuais Orientadas para a Sustentabilidade
35
Existem ainda, normas que deverão ser consideradas na sustentabilidade dos edifícios como é o caso
das normas relacionadas com Desempenho Energético dos Edifícios (EPBD). A CEN TC 371 é a
Comissão Técnica que desenvolve a normalização do nível de desempenho energético da construção,
em parceria com a CEN TC 350. Esta norma resulta de uma directiva e europeia para o aumento da
eficiência energética dos edifícios e consequente minimização das necessidades de energia (Quadro
3.6.).
Quadro 3.6. – Normas publicadas
CEN/TC 371 - Desempenho Energético dos Edifícios (Directiva EPBD)
Referência da Norma Título
EN 15603:2008 Desempenho Energético dos Edifícios - Consumo de Energia Global e
Definição de Ratings de Energia
3.3.3.2. Normas Internacionais [ISO, 2010], [UNEP, 2009]
A aplicabilidade das normas europeias realizadas pela CEN restringe-se apenas à realidade europeia.
Como a preocupação com os conceitos de sustentabilidade têm atingido proporções mundiais, a
Organização Internacional de Normalização (ISO) também reuniu esforços para identificar e
estabelecer princípios gerais para a sustentabilidade na construção civil. Definindo uma metodologia
de avaliação da sustentabilidade dos materiais, edifícios e projectos de construção, recorrendo também
à metodologia da avaliação do ciclo de vida. Por sua vez, a comissão ou Committee Técnico
responsável é o TC 59. Como já foi referido, a sustentabilidade na construção, contém uma
abrangência considerável de aspectos. Existem portanto, alguns aspectos mas técnicos que estão a ser
trabalhados por novas comissões. A TC 205 e a TC 207 são dois exemplos. A primeira está ligada às
preocupações do projecto do ambiente construído e a segunda com a gestão ambiental, particularmente
com a metodologia de avaliação do ciclo de vida.
O trabalho conjunto entre estas comissões já elaborou algumas normas, que neste momento, já se
encontram em vigor, no entanto, existem alguns aspectos que precisam de ser apurados, devido à
complexidade associada à sustentabilidade (Quadro 3.7. a 3.10.).
Quadro 3.7. – Normas publicadas
ISO/TC 59 - Sustentabilidade na Construção Civil
Referência da Norma Título
ISO 15392:2008 Sustentabilidade na Construção Civil - Princípios gerais
ISO/TS 21929-1:2006 Sustentabilidade na Construção Civil - Indicadores de Sustentabilidade -
Parte 1: Quadro para desenvolvimento de indicadores para edifícios
ISO 21930:2007 Sustentabilidade na Construção Civil - Declaração Ambiental de Produtos
de Construção
ISO/TS 21931-1:2006 Sustentabilidade na Construção Civil - Enquadramento para os Métodos de
Avaliação de Desempenho Ambiental de Obras de Construção - Parte 1:
Edifícios
Edifícios Verdes: Práticas Projectuais Orientadas para a Sustentabilidade
36
Quadro 3.8. – Normas publicadas
ISO/TC 205 - Projecto do ambiente construindo
Referência da Norma Título
ISO 16813:2006 Projecto do Ambiente Construindo - Ambiente Interior - Princípios gerais
Quadro 3.9. – Normas sob aprovação
ISO/TC 59 - Sustentabilidade na Construção Civil
Referência da Norma Título
ISO/NP TS 12720 Sustentabilidade na Construção Civil - Directrizes para a aplicação dos
princípios gerais sobre a sustentabilidade
ISO/NP 21929-2 Sustentabilidade na Construção Civil - Indicadores de Sustentabilidade -
Parte 2: Quadro para o desenvolvimento de indicadores para obras de
engenharia civil
ISO DTR / 21932 Sustentabilidade na Construção Civil - Edifícios e Património Construído -
Terminologia
Quadro 3.10. – Normas publicadas
ISO/TC 207 – Gestão Ambiental
Referência da Norma Título
ISO 14040:2006 Gestão Ambiental - Avaliação do Ciclo de Vida - Princípios e estrutura
ISO 14044:2006 Gestão Ambiental - Avaliação do Ciclo de Vida - Requisitos e orientações
ISO/TR 14047:2003 Gestão ambiental - Avaliação do Ciclo de Vida - Exemplos de aplicação da
ISO 14042
14048:2002 Gestão Ambiental - Avaliação do Ciclo de Vida - Dados e formato de
documentação
3.3.4. INDICADORES E PARÂMETROS
O reconhecimento da sustentabilidade é uma tarefa complexa que envolve a análise de diversas
dimensões, que se relacionam entre si de um modo muito complexo o que torna difícil a sua
caracterização, decomposição e posterior quantificação.
Os indicadores de sustentabilidade surgem com o objectivo de tentar avaliar e caracterizar a
sustentabilidade de diferentes contextos. Nota-se que o modo como se observa um determinado
problema também depende do grau do controlo que o observador ou avaliador tem perante as
dimensões admitidas. Quando este tem controlo sobre todas as variáveis do problema a sua avaliação é
determinística, pelo contrário quando ele não consegue controlar todas as dimensões o avaliador tem
que dilatar a sua visão do problema e a sua observação tende para a holística.
Um indicador avalia o comportamento de uma solução, face a um ou mais objectivos do
Desenvolvimento Sustentável, enquanto um parâmetro é uma propriedade observável ou mensurável e
Edifícios Verdes – Práticas Projectuais Orientadas para a Sustentabilidade
37
fornece informação acerca de um fenómeno, ambiente ou área. O indicador é uma variável a qual pode
ser medida ou ser atribuído um valor qualitativo ou quantitativo, de modo a avaliar um estado ou
progresso de um determinado objectivo [BARBOSA, 2008].
Os indicadores de sustentabilidade capturam tendências para informar os agentes de decisão, orientar o
desenvolvimento e monitorização das estratégias para a procura da implementação de um
Desenvolvimento Sustentável [BARBOSA, 2008].
Uma boa maneira de representar graficamente estes indicadores nas diversas dimensões é através de
gráficos do tipo Amoeba (Fig.3.11.), que possibilitam a introdução de infinitas dimensões, que se
podem agrupar segundo vários contextos representando, no seu limite, uma circunferência de
resultados que pode facilmente retratar um perfil de sustentabilidade.
Fig.3.11. – Representação teórica de um gráfico de Amoeba com infinitas dimensões [BELL, 2008]
Finalmente o grande problema que os indicadores apresentam é a definição da importância de cada
dimensão relativamente a outra. No entanto reconhece-se que esta ponderação não é estática mas sim
dinâmica. Actualmente, deve-se favorecer o ambiente mas no futuro poder-se-á beneficiar mais a
dimensão social e cultural ou a económica, pode dependendo essencialmente do contexto do problema
ou objecto a analisar.
3.3.5. SISTEMAS DE CERTIFICAÇÃO AMBIENTAL
3.3.5.1. Introdução
Os sistemas de classificação e certificação têm sido desenvolvidos para avaliar e reconhecer
objectivamente a procura de sustentabilidade nos edifícios [PINHEIRO, 2006]. Para atingir essa
sustentabilidade, estes sistemas devem considerar várias vertentes numa abordagem integrada, tendo
em consideração as várias fases de concepção, construção e operação e a sua relação entre diferentes
aspectos como o Desenvolvimento Sustentável local, a saúde humana e ambiental, a eficiência
energética, a economia de água, selecção de materiais, qualidade ambiental interna, os aspectos de
qualidade social e económica [PINHEIRO, 2006]; [BAUER et al, 2009].
O objectivo é compilar todos estes critérios numa lista orientada, para que os construtores,
proprietários e operadores reconheçam o impacto ambiental, o desempenho global, e a qualidade dos
seus edifícios [BAUER et al, 2009]. Por sua vez os resultados obtidos nestes sistemas devem ser de
Edifícios Verdes: Práticas Projectuais Orientadas para a Sustentabilidade
38
fácil interpretação, demonstrando de forma evidente e transparente a sua classificação [BAUER et al,
2009]. Para isto, muito têm contribuído os sistemas que possuem uma integração Web.
Em termos estruturais, os diferentes critérios estão organizados pelas diferentes vertentes Ambientais,
Económicas e Sociais - tripla dimensão. Para cada vertente, existem um ou mais critérios de referência
que precisam ser ponderados a fim de obter uma análise mais detalhada. De um modo geral, a
metodologia dos sistemas passa, inicialmente, pela ponderação individual dos critérios e de seguida
pelo seu somatório, traduzindo o resultado final. O resultado obtido é posteriormente comparado com
uma escala de classificação final, que se apresenta dividida em vários níveis. Quanto maior o número
de pontos, melhor a sua certificação [BAUER et al, 2009].
Estas metodologias voluntárias de avaliação e reconhecimento da construção sustentável têm-se
destacado cada vez mais e, por esse motivo, vários países têm vindo a desenvolver os seus próprios
sistemas adaptando-os à sua própria realidade [PINHEIRO, 2006]. Actualmente, os sistemas de
certificação ambiental dos edifícios mais divulgados são, o BREEAM (Building Research
Establishment!s Assessment Method) desenvolvido no Reino Unido, o LEED (Leadership in Energy &
Environmental Design) desenvolvido nos Estados Unidos da América e, o HQE (Haute Qualité
Environnementale dês Bâtiments) na França. Porém, ainda existem outros com um desenvolvimento
mais recente, como é o caso do CASBEE (Comprehensive Assessment System for Building
Environmental Efficiency) no Japão e o DGNB na Alemanha [PINHEIRO, 2006].
A nível nacional, as preocupações ambientais dos edifícios não têm sido desconsideradas, uma vez que
só em Portugal já foram desenvolvidos dois sistemas de avaliação voluntária. O sistema de
certificação ambiental LiderA possui um passado recente, mas tem sido o sistema de referência
nacional. Este facto não impediu o surgimento de uma nova plataforma lançada pela iiSBE Portugal, a
SBTOOL-pt, que tem evidenciado um potencial significativo, apresentando a possibilidade de
integração na Web.
A realidade de cada um destes sistemas pode ser detalhada seguidamente.
3.3.5.2. BREAM
O BREEAM foi o método pioneiro no reconhecimento e avaliação ambiental voluntária [UNEP,
2009]. O seu surgimento deveu-se a uma parceria entre o BRE (Building Research Establishment)
como sector privado e indústria, na década de 90, no Reino Unido [PINHEIRO, 2006]. Este sistema
foi inicialmente desenvolvido para novos edifícios de escritórios (Offices) mas, rapidamente
generalizou o seu âmbito através da criação de versões específicas para o mercado residencial
(EcoHomes), industrial (Industrial BREEAM), comercial (Retail) e escolar [BAUER et al, 2009]. O
seu sistema está concebido para que a sua aplicação se centre essencialmente na fase de projecto
[UNEP, 2009].
Fig.3.12. – Logótipo Breeam
A avaliação deste sistema considera diversas escalas (global, local e interior do edifício) e baseia-se na
atribuição e ponderação de um conjunto de créditos. Por sua vez, estes critérios agrupam-se em áreas
Edifícios Verdes – Práticas Projectuais Orientadas para a Sustentabilidade
39
de gestão, de saúde e bem-estar, de energia, de transportes, de água, de materiais, de resíduos, de
poluição e de ecologia e uso do solo (Fig.3.13.). Em termos globais, a sua metodologia define duas
fases de avaliação, sendo que a primeira corresponde às características construtivas do projecto e a
segunda está destinada à operação, gestão e manutenção do mesmo [UNEP, 2009].
Fig.3.13. – Definição e ponderação das áreas de avaliação BREEAM [BAUER et al, 2009]
A classificação final varia em função da quantidade de créditos obtidos, sendo satisfatória se cumprir
mais de 30% dos créditos, boa se cumprir mais de 45% destes, muito boa se acima dos 55%, excelente
se estiver acima dos 70% e extraordinária se cumprir mis de 85% (Fig.3.14.).
Fig.3.14. – Escala da classificação final BREEAM [BAUER et al, 2009]
3.3.5.3. LEED
O sistema de avaliação ambiental voluntário LEED foi desenvolvido nos Estados Unidos da América
pela USGBC (U. S. Green Building Council) que estabeleceu em 1998 a base de requisitos de
avaliação deste sistema. Desde do seu lançamento que este sistema tem sofrido ligeiras alterações,
procurando melhorar e facilitar a sua aplicação. Neste momento, a versão mais actual deste sistema é o
LEED v3. Esta última versão inclui uma melhoria da definição das categorias de avaliação e uma
plataforma melhorada de certificação on-line.
Edifícios Verdes: Práticas Projectuais Orientadas para a Sustentabilidade
40
Fig.3.15. – Logótipo LEED
À semelhança do BREEAM, também foram desenvolvidas diferentes versões do sistema, dependendo
do tipo de utilização do edifício. No leque de versões LEED disponíveis encontram-se, variantes
destinadas às residências (Homes), aos espaços comerciais interiores (Commercial Interiors), aos
elementos de construção do edifício, como a estrutura, envolvente e AVAC (Core & Shell), à nova
construção (New Construction), aos edifícios de serviços (Schools, Healthcare, Retail) e aos edifícios
existentes (Existing Buildings). Está em projecto piloto a aplicação do LEED na variante de
desenvolvimento da envolvente (Neighborhood Development), com base no smart growth. Cada
variante prende-se com as diferentes fases do projecto, como se observa na Fig.3.16. [USGBC, 2010].
Nota-se que, embora a aplicação da metodologia entre as diferentes versões seja semelhante, a
ponderação entre os respectivos critérios é distinta [BAUER et al, 2009].
Fig.3.16. – Fases de avaliação LEED [USGBC, 2010]
A diferenciação relativamente ao seu homólogo do Reino Unido prende-se com a pré-selecção dos
projectos, uma vez que no LEED só são admitidos ao processo de avaliação aqueles que cumpram
uma check list de dez pré-requisitos, tais como, a eficiência energética, a qualidade do ar interior, o
conforto térmico ou a qualidade da água, entre outros [USGBC, 2010].
Edifícios Verdes – Práticas Projectuais Orientadas para a Sustentabilidade
41
Estruturalmente o LEED subdivide-se categorias, relacionadas com a sustentabilidade local, eficiência
de água, energia e atmosfera, materiais e recursos, qualidade do ambiente interior, desenho e inovação.
A atribuição de créditos por cada uma destas categorias é feita segundo a Fig.3.17.
Fig.3.17. – Definição e ponderação das categorias de avaliação LEED [BAUER et al, 2009]
A classificação final vai variar igualmente em função do somatório de créditos. Esta escala de
classificação, no entanto, tem sofrido várias alterações com as diferentes versões do sistema LEED. A
versão mais recente considera certificado o projecto reúne entre 40 e 49 pontos, atribui uma
classificação de bronze se cumprir entre 50% e 69% dos pontos, prata se cumprir entre 60% e 69%
destes, ouro se estiver entre 70% e 79% e platina se estiver acima dos 80% [USGBC, 2010].
Fig.3.18. – Escala da classificação final LEED [BAUER et al, 2009]
Este sistema tem assistido a um crescimento constante, uma vez que conta com já inúmeros projectos
avaliados. O principal motor deste crescimento tem sido o aumento do interesse dos promotores pela
sustentabilidade. O sucesso do LEED nos Estados Unidos inspirou o desenvolvimento de outros
sistemas de certificação ambiental nos restantes países [PINHEIRO, 2006].
3.3.5.4. HQE
A metodologia geral do HQE foi definida em 1998, pelo esforço conjunto da AFNOR (Association
Française de Normalisation) e do CSTB (Centre Scientifique et Technique du Bâtiment), com o apoio
da ADEME (Agence gouvernementale De l'Environnement et de la Maîtrise de l'Énergie). A sua
abordagem assenta, por um lado, sobre um sistema de gestão ambiental da operação SMO (Système de
Management de l’Opération) e, por outro, sobre as exigências ambientais definidas no projecto,
Edifícios Verdes: Práticas Projectuais Orientadas para a Sustentabilidade
42
segundo as prioridades QEB (Qualité Environnementale du Bâtiment) [PINHEIRO, 2006]. Esta
abordagem conduziu ao desenvolvimento de etiquetas ambientais, quer para habitação através das
etiquetas NF Logement/démarche HQE e NF Maison Individuelle/démarche HQE quer para o sector
terciário através da etiqueta NF Bâtiments tertiaires/démarche HQE [UNEP, 2009].
Por sua vez, os organismos de certificação responsáveis pela atribuição das etiquetas ambientais são a
Certivéa, Cerqual e a Cequami. A Certivéa é uma subsidiária do CSTB e a Cerqual é uma filial da
Qualitel que é um órgão especializado pela qualidade no sector imobiliário. Finalmente a Cequami
nasce da associação conjunta entre o CSTB e a Qualitel.
À semelhança do LEED, a avaliação é voluntária, mas para a certificação já é exigida uma verificação
por um destes organismos independentes.
Fig.3.19. – Certificado HQE [UNEP, 2009]
O sistema HQE especifica a qualidade ambiental num conjunto de 14 aspectos de intervenção
organizadas em dois domínios, sendo o primeiro a gestão ambiental exterior e o segundo, a qualidade
ambiental interior do edifício. Estes dois domínios foram interligados num quadro de referência,
criando um conceito de dois em um, e que torna o HQE único. Como se pode observar pela Fig.3.20.,
estes 14 aspectos estão ainda agrupados em duas famílias por cada domínio, ou seja, em eco-
construção e eco-gestão, e em conforto e saúde.
Fig.3.20. – Quadro de distribuição dos 14 aspectos HQE [UNEP, 2009]
Edifícios Verdes – Práticas Projectuais Orientadas para a Sustentabilidade
43
A classificação final é distribuída em três níveis de desempenho – básico, bom e muito bom. Sendo
que a certificação será concedida mediante a realização de um perfil ambiental mínimo que apresente
uma classificação de “muito boa", em pelo menos, três aspectos, "boa" em pelo menos quatro e nunca
mais de sete aspectos de base. Para os rankings de "bom" e "muito bom" poderá aplicar-se o "princípio
de equivalência".
3.3.5.5. CASBEE
No Japão o Instituto da Habitação (Housing Bureau) e o MLIT (Ministry of Land, Infrastructure,
Transport and Tourism), em Abril de 2001, estabeleceram uma nova organização, o JaGBC (Japan
Green Building Council) que se encarregou a de desenvolver o sistema de certificação ambiental
CASBEE (Comprehensive Assessment System for Building Environmental Efficiency) [UNEP, 2009].
A união de todos estes interessados levou com que o CASBEE ficasse conhecido pela sua aplicação no
nos projectos de concepção das estruturas dos Jogos Olímpicos Pequim de Pequim, em 2008. E
permitiu que, Pequim adoptasse o CASBEE às suas próprias normas, à semelhança do HQE.
Fig.3.21. – Logótipo CASBEE
No que se refere ainda ao sistema de avaliação japonês, este dispõe de uma metodologia interessante,
que detalha um conceito de fronteira que abrange o edifício e a sua envolvente (Fig.3.22.) através de
uma abordagem passível de ser efectuada através de dois instrumentos associados às diferentes fases
de vida do empreendimento [PINHEIRO, 2006].
Fig.3.22. – Descrição da fronteira hipotética no CASBEE [PINHEIRO, 2006]
A relação entre estes dois espaços, tem como objectivo combinar a avaliação da qualidade da
construção e do desempenho ambiental (Q) no interior da fronteira, com a avaliação das cargas
ambientais (L) provocadas pela construção na propriedade pública. O quociente entre estas duas
avaliações indica a nota final.
Edifícios Verdes: Práticas Projectuais Orientadas para a Sustentabilidade
44
A classificação total depende também da ponderação individual de todos os critérios, que depois de
calculada é avaliada numa escala entre C (classificação mais baixa), B-, B+, A e S (classificação mais
alta).
Fig.3.23. – Escala da classificação final CASBEE [UNEP, 2009]
3.3.5.6. DGNB
O sistema de certificação ambiental alemão DGNB (Deutsch Gütesiegel Nachhaltiges Bauen), foi
desenvolvido, em 2007, por uma equipa de especialistas, que incluiu não só profissionais da
construção, como arquitectos, engenheiros e físicos das construções, consultores ambientais, e
consultores energéticos, mas também fabricantes de produtos para a construção de edifícios,
investidores e cientistas. A intenção era transferir a experiência prática de cada um destes indivíduos
para a definição dos requisitos técnicos para atribuição do certificado [UNEP, 2009].
Fig.3.24. – Logótipo DGNB
O GeSBC (German Sustainable Building Council), juntamente com o Ministério dos Transportes,
Obras e Urbanismo (BMVBS) alemão contribuíram igualmente para a concretização deste sistema que
considera as três dimensões da sustentabilidade avaliando os aspectos ecológicos, económicos e sócio-
culturais. Os critérios do DGNB procuram traduzir requisitos quantificáveis, de forma a avaliar
objectivamente a qualidade dos edifícios, nas respectivas três vertentes, interligando-se com a
qualidade técnica, a qualidade dos processos e a qualidade local [BAUER et al, 2009].
Edifícios Verdes – Práticas Projectuais Orientadas para a Sustentabilidade
45
Fig.3.25. – Definição e ponderação das categorias de avaliação DGNB [BAUER et al, 2009]
A classificação distingue-se em três níveis distintos, para que seja interpretada de forma clara. A
certificação de bronze é atribuída quando atinge o nível de créditos entre 50 e 65%, prata entre 65% e
80% e ouro para níveis de créditos superiores a 80%.
Fig.3.26. – Escala da classificação final DGNB [BAUER et al, 2009]
3.3.5.7. LiderA
O LiderA é a denominação de um sistema de avaliação e reconhecimento voluntário da construção
sustentável nacional, desenvolvido por Manuel Duarte Pinheiro Doutorado em Engenharia do
Ambiente, docente do Departamento de Engenharia Civil e Arquitectura do Instituto Superior Técnico
e Director da IPA (Inovação e Projectos em Ambiente) [LiderA, 2009]. Este sistema resulta do seu
trabalho de investigação sobre a sustentabilidade na construção, que e fez com que, em 2005
publicasse a primeira versão.
Fig.3.27. – Logótipo LiderA
O sistema abrange um conjunto de vertentes que passam pela, Integração local, os recursos, as cargas
ambientais, o conforto ambiental, a vivência sócio-económica e a gestão ambiental e inovação. Por sua
vez, estas vertentes subdividem-se em mais áreas que estão descriminadas na Fig.3.28.
Edifícios Verdes: Práticas Projectuais Orientadas para a Sustentabilidade
46
Fig.3.28. – Vertentes e áreas e do LiderA v2.0 [LiderA, 2009]
Por cada área, existe um ou mais critérios, que o LiderA atribui um nível de desempenho de entre ++A
e G, com base na sua eficiência em relação á prática usual (E). A classificação final resulta, como os
restantes métodos, da soma das classificações ponderadas de todos critérios considerados. Se o
desempenho final comprovado pela verificação do LiderA atingir uma avaliação final da
sustentabilidade das classes C, B, A, A+ ou A++, são certificáveis como bom nível de sustentabilidade
o edificado ou os ambientes construídos [LIDERA, 2009].
Fig.3.29. – Níveis de desempenho global [PINHEIRO, 2006]
3.3.5.8. SBTOOL-pt
O SBTOOL-PT é um sistema nacional, voluntário, de avaliação e reconhecimento da sustentabilidade
de edifícios, baseado na ferramenta internacional SBTOOL (Sustainable Building Tool). Este sistema
foi adaptado à realidade Portuguesa pela Associação iiSBE Portugal (International Initiative for the
Sustainable Built Environment) em colaboração com o LFTC-UM e a Ecochoice.
Edifícios Verdes – Práticas Projectuais Orientadas para a Sustentabilidade
47
Fig.3.30. – Logótipo SBTOOL-pt
O SBTOOL-pt considera as três dimensões da sustentabilidade, agrupando os vários critérios nas
diferentes dimensões.
A metodologia diverge das restantes uma vez que considera uma normalização dos critérios, numa
fase anterior à sua agregação. Esta normalização possibilita uma distinção clara entre as melhores
práticas, as práticas consideradas e as práticas de referência, atribuindo um valor de 1, para a melhor
prática e um valor de 0 para a prática de referência.
Fig.3.31. – Metodologia SBTOOL-pt [SBTOOL-PT, 2009]]
Em termos de classificação final, o SBTOOL-pt, considera uma escala semelhante ao LiderA (+A a
E), no entanto a distribuição da sua pontuação é distinta.
Fig.3.32. – Escala de desempenho SBTOOL-pt [SBTOOL-pt, 2009]
Edifícios Verdes: Práticas Projectuais Orientadas para a Sustentabilidade
48
Finalmente este sistema introduz uma novidade que é a atribuição de uma nota individual a cada
dimensão da sustentabilidade, para além da nota global e está a ser desenvolvido para que tenha uma
aplicação na Web.
Edifícios Verdes: Práticas Projectuais Orientadas para a Sustentabilidade
49
4
EDIFÍCIOS VERDES
PRINCÍPIOS E PRÁTICAS
4.1. INTRODUÇÃO AOS EDIFÍCIOS VERDES
4.1.1. GENERALIDADES
O conceito de construção eco-eficiente tem sido muitas vezes associado à mera diminuição dos
consumos energéticos nos edifícios, sendo por isso confundido com o conceito de arquitectura
bioclimática. Como se pode observar no Quadro 4.1., o conceito de construção eco-eficiente é no
entanto mais abrangente, por incluir preocupações ao nível da redução da delapidação dos recursos
naturais, da produção de resíduos e emissão de gases poluentes nocivos aos ecossistemas e à saúde
humana, e ao nível da conservação da biodiversidade [MATEUS et al, 2006].
Quadro 4.1 – Destinação entre arquitectura convencional, bioclimática e eco-eficiente [MATEUS et al, 2006]
Aspectos Convencional Bioclimática Eco-eficiente
Configuração do
edifício
Outras influências Influenciada pelo clima Influenciada pelo meio ambiente
Orientação do
edifício
Pouco importante Crucial Crucial
Fachadas e
janelas
Outras influências Dependentes do clima Dependentes do ambiente
Fonte de
energia
Gerada Gerada/ambiente Gerada/ambiente
Controlo do
ambiente interno
Electromecânico Electromecânico/natural Electromecânico/natural
Consumo de
energia
Geralmente
elevado
Reduzido Reduzido
Fontes de
matérias-primas
Pouco importante Pouco importante Reduzido impacte ambiental
Tipo de
materiais
Pouco importante Pouco importante Reutilizáveis/recicláveis/reciclados
Edifícios Verdes: Práticas Projectuais Orientadas para a Sustentabilidade
50
4.1.2. CONCEITO
Edifícios verdes são então, edifícios ambientalmente responsáveis e que preservam a eficiência da
utilização dos recursos durante todo o seu ciclo de vida, isto é, incluindo as fases de projecto,
construção, operação, manutenção, reabilitação e demolição. Esta visão de edifício complementa as
considerações/preocupações clássicas de economia, utilidade, durabilidade e conforto. Os edifícios
verdes também são conhecidos por serem edifícios de alta performance [BAUER et al, 2009].
4.1.3. OBJECTIVOS
4.1.3.1. Introdução
Os estes edifícios verdes são concebidos para reduzir o impacto provocado pelo ambiente construído
na saúde humana e ambiente natural através de três princípios [EDWARDS, 2005]:
Eficiência no uso da energia, água e outros recursos;
Conforto e Protecção da saúde dos ocupantes;
Redução do desperdício, da poluição e da degradação ambiental.
Em cada um destes princípios existem algumas considerações básicas para a garantia dos mesmos e
que serão explorados de seguida.
4.1.3.2. Eficiência no uso da energia, água e outros recursos
Neste tópico destaca-se a performance do edifício face ao consumo de recursos. A eficiência
energética é provavelmente a preocupação número um dos proprietários dos edifícios, uma vez que
traduz directamente os custos de operação do edifício. A eficiência energética de um edifício não está
só associada à eficiência dos sistemas e aparelhos que consomem energia, mas também está
fortemente relacionada com a construção da envolvente exterior do edifício, assim como a relação
entre ganhos e perdas térmicas (Fig.4.1.).
Fig.4.1. – Exemplo do equilíbrio entre ganhos e perdas térmicas [BAUER et al, 2009]
A água também é um recurso sensível que deve ser preservado e, por isso, deve-se ter em conta o seu
consumo consciente, assim como estratégias para captação reutilização e reciclagem de toda a água
doméstica utilizada.
A selecção de materiais é igualmente uma fase muito importante na caracterização da sustentabilidade
do edifício. Existem diversos factores a ter em conta, como a fonte do material, os químicos para os
produzir, o transporte do material e os processos e os materiais para instala-lo.
Finalmente, para gerir todos os recursos devem existir sistemas de monitorização, de modo optimizar
todos os aspectos relacionados com a operação e manutenção de um edifício. Estes sistemas são
Edifícios Verdes: Práticas Projectuais Orientadas para a Sustentabilidade
51
determinantes porque permitem que exista um maior controlo da quantidade de recursos utilizados e
da forma como são utilizados, permitindo, deste modo, acompanhar e determinar os resultados de
desempenho dos edifícios.
4.1.3.3. Conforto e Protecção da saúde dos ocupantes
Os aspectos relacionados com o conforto interior são bastante importantes. Se estiver a contemplar
edifícios de serviços, estes aspectos tornam-se ainda mais relevantes porque melhoram a produtividade
dos ocupantes.
O conforto térmico é uma exigência essencial para a humanidade, no entanto a percepção de conforto
não é absoluta. Várias investigações foram realizadas neste sentido e revelaram que a temperatura e
humidade relativa, que define a sensação do conforto em espaços interiores, são variáveis e possuem
uma forte relação com a temperatura média no exterior [TIRONE et al, 2008].
Fig.4.2. – Exemplo da representação de leituras de temperatura e humidade relativa exterior (à esquerda) e interior (à direita) e o polígono de conforto segundo a ASHREA (American Society of Heating,Refrigerating and Air-Conditioning Engineers) [TIRONE et al, 2008].
As exigências de conforto não se limitam à térmica, também se exige conforto visual, no qual o
sistema de sombreamento e a qualidade do vidro representam um papel preponderante. A garantia de
conforto ao nível acústico e ao nível olfactivo é uma exigência igualmente relevante.
A saúde também é um aspecto essencial. Aqui dever-se-á ter em conta a qualidade do ar, utilizando
uma adequada ventilação e uma boa filtragem do ar, adoptando materiais que não produzam detritos
nocivos para a saúde humana.
4.1.3.4. Redução do desperdício, da poluição e da degradação ambiental
As preocupações relacionadas com o local de implantação, os materiais e os procedimentos de
construção são determinantes para identificação dos impactos ambientais locais causados. O modo
como um edifício é construído pode ter um contributo considerável para a sua sustentabilidade. A
reciclagem dos detritos de demolição pode reduzir a pegada ambiental, assim como utilizar
procedimentos de construção limpos e organizados. Na fase de utilização deve-se acautelar a produção
de efluentes líquidos e eliminação e separação dos resíduos sólidos.
4.1.4. PRINCÍPIOS BIOCLIMÁTICOS [TIRONE ET AL, 2008]
A arquitectura bioclimática não deixa de ser uma das vertentes da construção sustentável - concepção
de edifícios que mantêm uma relação positiva e interactiva com o clima, oferecendo o máximo
conforto no interior. Esta é certamente uma vertente extremamente importante na óptica da utilização
racional de recursos, porque é durante a vida útil dos edifícios que estes consomem a maior fatia de
recursos (mais de 80% da energia, enquanto que na construção são consumidos menos de 20% da
Edifícios Verdes: Práticas Projectuais Orientadas para a Sustentabilidade
52
energia). A arquitectura bioclimática é também relevante para a saúde das pessoa, porque o bom
diálogo com o clima exterior resulta também num clima interior mais equilibrado e saudável.
Esta vertente da construção define as características da envolvente dos edifícios, criando um filtro
positivo entre o exterior e os espaços interiores. Este filtro garante a permeabilidade ao vapor
adequada (deixando respirar os espaços interiores e fazendo sair os vapores do interior para o
exterior), a impermeabilidade à água (não deixando entrar água da chuva), a transmissão das
temperaturas médias exteriores para o interior (massa térmica nas paredes que acumulam as
temperaturas médias), a transparência aos raios solares no Inverno (áreas envidraçadas com dimensões
adequadas tendo em consideração a orientação solar para permitir o aquecimento passivo), a sua
exclusão durante o Verão (sombreamentos adequados) e a renovação do ar necessária.
Fig.4.3. – Princípios bioclimáticos [MULLER, 2002]
4.2. CONFIGURAÇÃO E CONTROLO AMBIENTAL NATURAL DO EDIFÍCIO
4.2.1. LOCALIZAÇÃO E IMPLANTAÇÃO
4.2.1.1. Implantação Local [BAUER et al, 2009]
Na escolha do local de implantação existem vários atributos que são necessários considerar. Construir
numa área urbana, de preferência num local em desenvolvimento ou já desenvolvido, é menos
pernicioso para o ambiente do que construir numa zona rural. Isto porque, existe menos perturbação
do solo, pois as instalações estão geralmente perto, e os materiais utilizados na demolição de um
edifício anterior podem ser reutilizados. Além disso, localidades urbanas estão mais próximas de
amenidades locais como lojas, bancos, etc., que reduzem a necessidade de transporte.
Zonas mais degradadas devem ser também alvo de consideração. Com as devidas medidas correctivas
e com um correcto planeamento local, estes locais podem ser transformados em zonas seguras e
limpas fazendo rejuvenescer a vizinhança através de novos e melhores serviços.
É determinante verificar se a zona de implantação não é uma zona ambientalmente protegida, ou se
não influencia nenhum habitat natural. Perturbar estas áreas pode trazer efeitos sérios nas populações
animais locais e pode até alterar os padrões normais de migração a não ser que a utilização destas
áreas compense ou promova o habitat local. É importante evitar zonas pantanosas, não só por razões
ambientais mas também por razões de estabilidade estrutural.
Deve procurar-se a maior exposição solar possível, porque quanto maior for esta exposição, maiores
serão as oportunidades de utilizar a energia solar, tanto para aquecimento de água e produção de
electricidade, como para o aquecimento solar passivo do próprio edifício. Por isso é necessário estar
atento a eventuais edifícios altos ou árvores que estejam demasiado próximas e inibam a radiação solar
Edifícios Verdes: Práticas Projectuais Orientadas para a Sustentabilidade
53
de alcançar o edifício. A exposição a Sul é a melhor para o aquecimento solar passivo, sendo que a de
este e Oeste é a orientação mais difícil de lidar. Contudo uma implantação com pouca exposição solar
não é completamente limitadora, é necessário, no entanto criatividade projectual, para tirar partido da
exposição solar que o local oferece.
4.2.1.2. Impermeabilização e Ilhas de Calor [BAUER et al, 2009]
Qualquer superfície que esteja coberta por materiais impermeáveis é denominada por hardscape. Estas
áreas incluem parques de estacionamento, passeios, pátios e outras superfícies pavimentadas, contudo
são consideradas indesejáveis por duas razões. A primeira, é que estas não possuem coeficientes de
absorção das águas das chuvas, por isso contribuem para a necessidade de tratamento ou
acondicionamento das águas pluviais. Segundo, estas absorvem a radiação solar durante o dia e
libertam o calor durante a noite, criando o efeito denominado “Ilha de Calor”. Este efeito é
considerado prejudicial porque altera os padrões normais do clima local. Este efeito pode ser reduzido
pela simples diminuição da área pavimentada com características impermeáveis, utilizando estratégias
como: o parqueamento coberto, ou pavimento aberto, asfalto ou betão permeáveis, e betão leve
colorido.
4.2.1.3. Áreas Verdes [TIRONE et al, 2008]
A criação de espaços verdes que pertençam à natureza local é importante, uma vez que geram
pequenos ecossistemas e promovem o aumento da biodiversidade. Isto é, a plantação de espécies
vegetais em várias áreas como a envolvente, a cobertura ou até na própria fachada resulta na criação
de ecossistemas que albergam muitos organismos que se encontram na natureza e que são benéficos
para a absorção da poluição atmosférica na cidade.
Estas áreas ajardinadas tornam-se espaços de atenuação climática do próprio edificado e contribuem
para reduzir o impacto dos extremos menos confortáveis do clima exterior. Uma área com densa
vegetação junto a um espaço de estar semi-exterior protege do sol e do vento e melhora as condições
de conforto ambiental no interior e promove a redução do efeito de ilha de calor na cidade.
4.2.1.4. Forma e Proporção do Edifício [BAUER et al, 2009]
As proporções do edifício podem ter um grande impacto na sua eficiência energética, na quantidade de
materiais utilizados e na perturbação do meio ambiente.
Edifícios pequenos necessitam de menos energia para o seu aquecimento e arrefecimento, por isso
genericamente são melhores. Mas se o edifício necessita de ser grande, é preciso ter em atenção a sua
relação entre a altura e a área de implantação, para que possa tirar partido do menor impacto ambiental
local e, ao mesmo tempo, possuir uma área reservada para aplicação de painéis solares (térmicos ou
fotovoltaicos) (Fig.4.4.), na cobertura, ou tubos de ventilação subterrânea (energia geotérmica)
(Fig.4.5.). No entanto, é necessário considerar que a legislação local impõe limites de altura para
alguns tipos de edifícios.
A forma do edifício deve tirar partido da exposição solar e dos ganhos de calor. Isto traduz-se em
edifícios longos e estreitos de implantação quadrada, com a fachada mais longa voltada a Sul. Assim,
permite que uma maior parte da radiação solar embata no edifício, melhorando significativamente as
condições de iluminação interior e promovendo o aquecimento interior por acção solar. Porém, a
realidade pode não permitir a satisfação de todas estas condições e por esse motivo cada edifício deve
ser estudado individualmente.
Edifícios Verdes: Práticas Projectuais Orientadas para a Sustentabilidade
54
Fig.4.4. – Potencial uso da energia solar térmica ou fotovoltaica para diversos rácios de cobertura e altura admitindo a mesma profundidade [BAUER et al, 2009].
Fig.4.5. – Potencial uso da geotermia para diversos rácios de área de implantação e altura admitindo a mesma
profundidade [BAUER et al, 2009].
4.2.1.5. Orientação e Proporção das áreas envidraçadas [TIRONE et al, 2008]
Como foi mencionado acima, a orientação das fachadas dos edifícios e a sua localização condicionam
o modo como este pode recorrer ao aquecimento solar passivo e à iluminação interior durante o dia.
Analisando o percurso que o sol faz durante todo o ano, a orientação pode ser optimizada para que
receba o máximo de luz solar e aquecimento necessário durante o Inverno. O estudo antecipado da
quantidade, proporção, e tipo de janelas instaladas irá permitir a modelagem a esta exposição uma vez
que, são estes elementos, não opacos, que permitem a entrada de radiação.
O dimensionamento das áreas envidraçadas em função da orientação solar é uma medida que contribui
consideravelmente para o conforto dos espaços interiores. É a proporção destas áreas, em simultâneo,
com a variação do percurso do sol durante as quatro estações do ano, que determina a capacidade de
penetração da radiação solar nos espaços interiores e a respectiva captação de calor.
Para alcançar condições de conforto interior deve considerar-se um equilíbrio entre as áreas
transparentes, que reagem às variações do clima de uma forma instantânea, e as áreas opacas que
atenuam o impacto destas variações. Por este motivo, o projecto e a construção devem adaptar-se às
características climáticas locais. Este equilíbrio deverá ser simulado e dimensionado pelo engenheiro
perito em térmica, partindo dos esboços decorridos do projecto. Desta forma, a simulação ou cálculo
do desempenho energético é um processo evolutivo que deve acompanhar todas as fases da concepção
do edifício.
Edifícios Verdes: Práticas Projectuais Orientadas para a Sustentabilidade
55
Por si só, a orientação a Sul permite uma maior penetração do sol no Inverno e uma reduzida
penetração no Verão (Fig.4.6.), devido aos ângulos de incidência solar nas respectivas alturas do ano.
Se uma fachada com maior percentagem de envidraçado for direccionada nesta orientação irá
proporcionar um acréscimo do conforto térmico, tanto no Inverno como no Verão, quando os ganhos
solares não são desejados. Esta orientação tem um potencial de melhorar até 30% as necessidades
energéticas de um edifício, relacionadas com o conforto térmico. Em Portugal, a porção média da área
dos vãos envidraçados do alçado Sul não deve ser superior a 35% da área total da fachada. Porém, este
valor não é definitivo, é apenas uma estimativa que poderá ser um ponto de partida para equacionar a
melhor solução junto do perito de térmica. As áreas envidraçadas voltadas a Sul devem conter
sistemas de sombreamento exterior que permitam regular o grau de luminosidade e quantidade de
radiação directa que penetra na habitação, sem causar desconforto visual e ainda facultar a ventilação
natural.
A imagem seguinte representa a incidência média diária e anual da radiação solar, num metro
quadrado de plano vertical para a região de Lisboa, consoante as orientações de exposição (Fig.4.6.).
Verifica-se que a orientação Sul é a que apresenta maior optimização dos ganhos solares durante o
ano.
Fig.4.6. – Irradiação solar média diária (à esquerda) e anual (à direita) em Lisboa (38,7º N) para as diversas orientações dos planos verticais [GONÇALVES et al, 2004], [TIRONE et al, 2008]
Nas orientações, Nascente ou Poente, não se verifica uma diferença acentuada no ângulo de incidência
solar, porque geralmente é baixo e é por isso que estes vãos necessitam de protecção. Enquanto que os
ganhos solares, provenientes da baixa inclinação, são bem-vindos no Inverno, nos meses mais quentes,
a orientação a Poente causa desconforto, porque o calor de todo o dia já saturou a capacidade de
absorção e acumulação da massa térmica. Para estas fachadas, é extremamente positiva a presença de
árvores, arbustos ou trepadeiras de folha caduca que, com a sua folhagem, possibilitam a criação de
um sombreamento natural das superfícies e reduzem os ganhos solares. Durante o Inverno esta
vegetação liberta-se da folhagem, facultando a entrada dos raios solares, permitindo que cheguem às
áreas envidraçadas (Fig.4.7.).
Edifícios Verdes: Práticas Projectuais Orientadas para a Sustentabilidade
56
Fig.4.7. – Exemplificação do funcionamento do sombreamento natural de um edifício [1]
As áreas envidraçadas na orientação Norte, devido à fraca insolação, possuem um peso relevante no
balanço energético do edifício, porque são áreas que representam perdas. Porém, em edifícios de
habitação estes vãos permitem garantir a boa ventilação natural e contribuem com uma boa fonte de
iluminação natural difusa, evitando o excesso de luz solar directa, que é característica das outras
orientações.
As clarabóias oferecem uma iluminação e radiação agradável no Inverno, mas no contexto climático
de Portugal são vãos que podem contribuir para o sobreaquecimento, porque a incidência solar é muito
forte durante muitos dias do ano. No caso de serem consideradas clarabóias, de modo a eliminar o
risco de sobreaquecimento, deve promover-se a ventilação natural, especificar uma qualidade de vidro
adequada e aplicar um sistema de sombreamento exterior. A sua aplicação deve ser bem ponderada
por um perito de térmica.
4.2.1. PELE DO EDIFÍCIO [TIRONE ET AL, 2008]
A envolvente exterior do edifício é provavelmente a peça mais importante na determinação da sua
eficiência energética. A envolvente exterior é a “pele” do edifício e inclui todos os aspectos
relacionados com o material de revestimento, a resistência ao vapor, isolamento, janelas e portas. Ter a
certeza que cada um destes componentes é o mais eficiente possível é a chave para baixar os custos.
4.2.1.1. Vidros e Caixilharias
A especificação do vidro varia conforme os contextos específicos em que se pretende aplicar. No
entanto é importante considerar:
O factor solar, que resulta do quociente entre o fluxo transmitido e o fluxo irradiado pelos
raios solares que incidem sobre o vão, deve ser o adequado para o contexto específico em
que o vidro é aplicado.
O coeficiente de transmissão luminosa do vidro deve ser o adequado para as actividades
interiores
A relação entre a transmissão luminosa e o factor solar também é relevante, designando-se
por índice de selectividade.
Edifícios Verdes: Práticas Projectuais Orientadas para a Sustentabilidade
57
As propriedades de segurança e resistência mecânica do vidro devem garantir a resistência à
pressão do vento, e precaver e precaver a intrusão ou mesmo a quebra.
O grau de resistência à sujidade do vidro exterior que contribui para reduzir a manutenção. O
revestimento de um vidro com auto limpeza possui micro partículas de silicone que facilitam
o escoamento da água pela superfície.
Existem outras indicações úteis relativamente à orientação destes vidros e às especificações que estes
devem atender no que diz respeito à sua aplicação em território nacional. Em alçados a Norte o factor
solar não é relevante uma vez que estão permanentemente sombreados, porém dever-se-á ter em
atenção as perdas térmicas e por isso recomenda-se um coeficiente de transmissão térmica (U) nunca
inferior a 1,1. Em alçados orientados a Nascente, Poente e Sul, o coeficiente U poderá ser maior, mas
o factor solar deverá ser igual ou inferior a 0,4. Idealmente o índice de selectividade, deverá ser
próximo de 2, o que implica uma especificação com um valor de transmissão luminosa de 0,8 e um
factor solar de 0,4, ou um valor de transmissão luminosa de 0,5 e um factor de 0,25. A espessura dos
vidros e da caixa-de-ar deverá ser (do exterior para o interior): vidro com 8 mm, caixa-de-ar de 10 mm
e vidro com 6 mm, de modo a garantir a redução de 35 dB(A) de ruído.
As caixilharias são elementos de transição entre as áreas opacas e as respectivas áreas envidraçadas da
envolvente do edifício. Embora representem uma pequena percentagem desta envolvente, as suas
funções são importantes para o desempenho global do edifício. A caixilharia suporta os painéis de
vidro, tanto na posição aberta como fechada, garante a estanquidade dos espaços interiores, absorve e
suporta as variações de deslocamentos entre a parede e o vidro e contribui para a optimização do
desempenho energético-ambiental.
A estanquidade da caixilharia é uma exigência de desempenho importante, que permite controlar o
gradiente de calor e frio entre o interior e exterior. Contudo, com uma caixilharia mais estanque, deve
procurar-se promover as renovações de ar através de grelhas de ventilação auto reguláveis
(incorporadas no vão).
As características a ter em conta na especificação da caixilharia devem atender ao seguinte:
Devido ao grau de estanquicidade da caixilharia as renovações de ar devem ser garantidas
por outra via;
O material que constitui o caixilho deve ser tão reciclável quanto possível, assim como os
acabamentos;
O material que constitui o caixilho deve ter sido, em parte, reciclado. A porção de material
reciclado incorporado deverá ser indicada pelo fornecedor e deverá ser superior a 50%.
Deverá também constar de que fases provêem, por exemplo, se provêem de aplicações
anteriores ou de desperdícios de fabrico.
É conveniente que numa habitação exista uma janela com um sistema de abertura que permita a
ventilação enquanto se está ausente. Normalmente esta função é conseguida quando são especificadas
ferragens oscilo-batentes, uma vez que permitem que a janela abra ou bascule. Este sistema também
permite o acesso a ambas as faces para facilitar a limpeza.
4.2.1.2. Sombreamento Exterior
O sombreamento exterior é essencial para cortar a incidência dos raios solares quando estes não são
desejados, antes de atravessarem o vidro. Isto porque depois de atravessado, os raios que transportam
calor (radiação térmica) alteram o seu comprimento de onda e não conseguem voltar e sair através do
vidro, ficando retidos no interior, criando o fenómeno de efeito de estufa. Assim as orientações mais
Edifícios Verdes: Práticas Projectuais Orientadas para a Sustentabilidade
58
expostas à radiação solar (Nascente, Sul e Poente), devem estar dotadas de sombreamento exterior.
Seguem-se alguns aspectos a serem considerados nas especificações do sistema de sombreamento
exterior, tendo como objectivo controlar a quantidade de radiação solar que atinge os espaços interior
e optimizar o seu desempenho energético. Contudo e como sempre, estas especificações de sistemas
de sombreamento exterior dependem sobretudo do contexto climático no qual se está a intervir.
O sistema escolhido deve proteger os vãos envidraçados da radiação indesejada, sem
necessariamente alcançar a oclusão nocturna (black-out), mas mantendo a privacidade
interior;
O sistema seleccionado deve permitir uma boa ventilação natural, mesmo quando se
encontra descido e em posição de sombrear;
O sistema deverá permitir que se goze a vista, mesmo quando se encontra descido e em
posição de sombrear;
O sistema deve ser orientável para permitir vários graus de protecção solar, consoante a
inclinação dos raios solares;
Para evitar a radiação térmica captada pelo próprio elemento de sombreamento seja
transmitida para o interior, é importante garantir uma distância suficiente entre o elemento de
sombreamento e o vão envidraçado para que a ventilação natural possa realizar-se;
A oclusão nocturna deve melhorar o coeficiente de transmissão térmica, contribuindo, no
Inverno, para isolar termicamente a envolvente e reduzir as perdas de calor.
Relativamente ao objectivo de controlar a qualidade da iluminação natural que atinge os espaços
interiores, os sistemas de sombreamento exterior deveram ter em consideração os aspectos seguintes:
O sistema especificado deve permitir controlar o nível de luminosidade que se pretende
admitir para o interior, facilitando a criação e uma diversidade de atmosferas;
O sistema pode ter uma função dupla, a parte superior deverá reflectir a iluminação solar
para o tecto do espaço, difundindo-a, fazendo com chegue aos espaços mais recuados da
habitação enquanto a parte interior poderá estar orientada de forma a obscurecer, para não
criar zonas de reflexo nem brilho nas superfícies de trabalho;
O sistema pode ter uma função dupla invertida, em que a parte superior, desta vez, poderá
obscurecer os espaços interiores e a parte inferior reflectir, de forma difusa, a radiação solar;
Os sistemas de sombreamento também divergem consoante a orientação solar, por isso é importante
conhecer o comportamento do sol que é totalmente previsível, embora varie consoante a hora do dia e
as estações do ano.
Para vãos orientados a Sul deve-se procurar dimensionar os sistemas de sombreamento para os
ângulos de incidência solar de 28 graus no Inverno e de 75 graus no Verão. Quando é possível
projectar para além do plano da fachada as palas de sombreamento revelam-se uma solução eficiente.
Nos meses em que o sol está mais íngreme, estes sistemas de sombreamento protegem do sol e
proporcionam a entrada de ar para o interior. Este efeito também pode ser conseguido, com os
sistemas com lâminas quando instalado a uma maior distância da fachada com o vão envidraçado. Para
vãos orientados a Nascente ou Poente, o sol encontra-se sempre baixo, dado que, nessas orientações o
sol nasce e põe-se ao nível do horizonte. Assim, sempre que se pretende preservar uma vista nestas
orientações, ao mesmo tempo que se limita a incidência solar, deve adoptar-se lâminas orientáveis na
vertical. As lâminas na horizontal também são uma boa solução, sempre que se dispense da vista
quando o sol se aproxima do horizonte.
Finalmente, devem também ser considerados os seguintes aspectos relativos à operação e manutenção
destes sistemas:
Edifícios Verdes: Práticas Projectuais Orientadas para a Sustentabilidade
59
O sistema deve ser durável, com manutenção mínima e ser facilmente operável,
preferencialmente do lado interior. Mesmo quando está previsto que a operação se processe
manualmente, é importante efectuar, sempre que possível, uma pré-instalação para
electrificar a sua operação no futuro e para comandar à distância porque, durante a execução
da obra, os custos de executar, uma pré-instalação são insignificantes, quando comparados
com a sua execução após o termo da obra.
Estes sistemas devem ainda garantir, quando possível, a segurança à intrusão e resistência
mecânica, à pressão do vento e precaver a quebra ou empeno.
4.2.1.3. Isolamento Térmico
Em Portugal o isolamento térmico é utilizado na construção de edifícios desde a década de 1950 e é
uma componente essencial para o correcto desempenho energético dos edifícios. Com a entrada do
primeiro Regulamento das Características de Comportamento Térmico dos Edifícios (RCCTE – D.L.
n.º 80/2006) em 1991, a sua aplicação passou a ser obrigatória. O isolamento tanto pode ser aplicado
pelo interior das paredes da envolvente de um edifício, como colocado na caixa-de-ar entre paredes
duplas, como ainda ser assente pelo exterior de um edifício. Actualmente, tem-se assistido a um
aumento da aplicação deste isolamento pelo exterior, uma vez que este elimina as potenciais pontes
térmicas porque é aplicado de forma contínua pelo exterior, para além disto faz com que a inércia
térmica funcione a favor do clima interior, contribuindo para que as temperaturas no edifício se
mantenham estáveis.
4.2.1.4. Inércia Térmica
A optimização da inércia térmica na região do clima mediterrâneo tem sido uma técnica generalizada,
ao longo de muitos séculos, para assegurar condições de conforto térmico no interior de edifícios.
A inércia térmica é especialmente relevante em climas sujeitos a grandes amplitudes térmicas em
curtos espaços de tempo. São os materiais pesados e maciços que constituem a inércia térmica dos
edifícios e, quando bem aplicados, conferem aos espaços interiores uma maior estabilidade térmica.
Como a própria palavra indica, existe latência gradual das trocas de calor com o meio de calor
motivada pelos elementos pesados da construção, conservando as temperaturas médias.
Uma vez armazenada a temperatura média durante o dia, o elemento de construção maciço, irradia
continuamente para os espaços interiores o calor armazenado, assim que exista uma pequena
diminuição da temperatura exterior, ou seja, durante a noite.
Fig.4.8. – Comparação da amplitude térmica exterior e interior [TIRONE et al, 2008]
Edifícios Verdes: Práticas Projectuais Orientadas para a Sustentabilidade
60
4.2.1.5. Paredes Trombe
As paredes Trombe (não ventiladas) não necessitam de manutenção e funcionam como radiadores que
utilizam a energia passiva do sol, para aquecer os espaços onde se encontram, sempre que haja sol no
Inverno. Estas têm a capacidade de acumular o calor dos raios solares durante os dias de céu limpo no
Inverno e transmitir de noite o calor acumulado para os espaços interiores, o que é positivo no
contexto climático mediterrânico. Durante o Verão, estas paredes, que são exclusivamente orientadas a
Sul, não têm capacidade significativa para reter a radiação solar, dado que o sol incide num ângulo
muito íngreme sobre o vão envidraçado que as protege, resultando na reflexão da maior parte da
radiação. Em complemento, estas paredes podem estar até dotadas de um sistema de sombreamento.
Fig.4.9. – Princípio de funcionamento da uma parede Trombe [2]
A parede Trombe utiliza o conceito de inércia térmica de um modo mais específico. Quando os raios
solares de Inverno atravessam o vão envidraçado da parede Trombe (não ventilada), acontece o
fenómeno de “Efeito de Estufa”, em que os raios solares, por alteração da frequência de onda, ficam
acumulados na caixa-de-ar, entre o vidro e o betão sem conseguirem atravessar novamente o vidro
duplo. O calor que se acumula neste espaço vai progressivamente aquecendo a parede de betão,
penetrando depois de algumas horas até à face interior. O calor que é libertado para o interior da
habitação, por irradiação pela parede Trombe, aumenta o conforto no Inverno e reduz, a necessidade
de aquecimento.
Fig.4.10. – Esquematização de uma parede Trombe [3]
Edifícios Verdes: Práticas Projectuais Orientadas para a Sustentabilidade
61
A parede Trombe (não ventilada) é composta por um vão envidraçado, com vidro duplo orientado a
Sul, por uma caixa-de-ar com aproximadamente, 20 mm e por uma parede de betão com,
aproximadamente 200 mm de espessura 8 (a dimensão e densidade do betão deve ser especificadas
pelo perito de térmica) que, na face exterior, é pintada, com uma cor muito escura que potencie a
absorção dos raios solares e, na face interior é estucada e pintada, ficando com um aspecto idêntico a
qualquer outra parede na habitação.
A pormenorização deste elemento é crucial para o seu bom desempenho. Um aspecto primordial é o
pormenor dos bites do caixilho do vão envidraçado, que protege a parede Trombe pelo exterior, que
devem ser montados pelo exterior no caso de substituição do vidro. Outro cuidado importante a ter na
pormenorização e execução da parede Trombe é o isolamento térmico em volta da caixa-de-ar que
separa o vão envidraçado da parede de betão, para que o calor acumulado não seja libertado sem ser
através do betão.
A integração da parede Trombe na arquitectura é relativamente simples. Vista do exterior, aparenta ser
uma janela e, pelo interior, assemelha-se a uma parede comum. As paredes Trombe (não ventiladas e
correctamente dimensionadas) são colocadas nos alçados orientados a Sul, nos espaços em que se
pretende receber ganhos solares indirectos durante os meses mais frios do ano, aproveitando, durante a
noite, o calor que acumularam durante o dia. Esta medida contribui para aumentar o conforto térmico e
para reduzir as necessidades energéticas dos edifícios com alçados orientados a Sul.
Uma parede Trombe pode satisfazer até 15% das necessidades de aquecimento no período de Inverno,
quando correctamente dimensionados e orientados a Sul. Segundo Nick Baker, a transferência de calor
por uma parede Trombe é cerca de 18 min por cada10 mm de espessura. Numa parede com de 200
mm de betão, a parede retarda em 6 horas (18x20=360 min) a irradiação do calor armazenado. Com o
início da absorção da radiação por volta das 12 horas (11 solares), a parede começará a irradiar o
espaço interior por volta das 18 horas, ou seja, no fim de tarde e início de noite.
4.2.1.6. Ventilação Natural
Se a inércia térmica garante a estabilidade térmica interior ao longo do ano, a ventilação natural
permite a redução imediata de extremos de temperatura.
No contexto climático português a ventilação natural é extremamente importante para garantir a
optimização do conforto no interior. Utiliza-se este recurso renovável não só para refrescar, mas
também para renovar o ar interior a uma taxa adequada, que é fundamental para manter a qualidade do
ar interior do edifício.
A ventilação natural de um edifício processa-se de duas formas em que o movimento do ar resulta do
seu impulso natural para manter entre a temperatura e pressão. A primeira efectua-se quando o vento
local incide sobre fachadas com orientações opostas e causa uma diferença de pressão no ar presente
provocando a sua movimentação, essencialmente nos espaços que contactam directamente sobre as
mesmas fachadas opostas.
A segunda dá-se quando existe uma diferença de temperatura, entre o ar exterior e interior, que
também provoca a sua circulação, através da mesma abertura ou por várias aberturas. No entanto, o
modo de ventilação por efeito térmico processa-se mais eficientemente quando as trocas de ar se
efectuam através de aberturas em fachadas opostas. Esta última ventilação ocorre porque se uma
fachada está exposta ao sol, a outra encontra-se necessariamente à sombra, logo o ar que esta contém
está a uma menor temperatura, e é arrastado pelo ar mais quente, que se encontra junto à fachada
exposta, que é mais leve e sobe acabando por sair pelas aberturas.
Edifícios Verdes: Práticas Projectuais Orientadas para a Sustentabilidade
62
O arrefecimento por tubos enterrados é outra variante da ventilação por efeito térmico e também é uma
solução interessante de arrefecimento, mas que apenas traz vantagens a edifícios com pouca altura.
Este arrefecimento acontece porque a temperatura do solo é praticamente constante durante quase todo
o ano e não sofre variações bruscas (inércia térmica muito alta). De um modo geral, quando a
temperatura exterior é alta (no Verão), a temperatura do solo é inferior e quando a temperatura exterior
é consideravelmente baixa, a temperatura do solo é superior. Esta propriedade permite que no Verão a
temperatura do solo arrefeça o espaço interior à medida que o ar quente, que é mais leve, sai pelas
aberturas. As exemplificações expostas são representadas na Fig.4.11.
Fig.4.11. – Conceito de ventilação natural. [GONÇALVES e tal, 2004]
Possuir uma boa ventilação também é a chave para manter a qualidade do ar saudável, mas sempre que
o ar exterior não seja de boa qualidade deve recorrer-se a processos de filtração para purificação desse
ar. Uma boa filtração remove as partículas de pó e toxinas que possam estar presentes no ar, mas
requer uma manutenção regular.
4.2.1.7. Permeabilidade das Superfícies
A capacidade da “pele” do edifício “respirar” é muito importante, este aspecto implica que a
envolvente construída permita a saída do vapor no interior para o exterior. Para além da
permeabilidade ao vapor dos sistemas construtivos, empregues na envolvente de edifícios, como o
estuque, o betão, os tijolos e os isolamentos térmicos, torna-se também importante a qualidade de
tintas aplicadas. As tintas ou outros materiais que revestem as paredes bem como, os tectos devem ser
permeáveis ao vapor e permitir uma interacção com a humidade suspensa no ar, retendo ou dissipando
a humidade quando esta é excessiva ou rara respectivamente.
4.3. EFICIÊNCIA DOS RECURSOS
4.3.1. ENERGIA
Os aspectos relacionados com a conservação de energia nos edifícios estão intrinsecamente associados
à poupança económica e portanto à sua sustentabilidade. Estes aspectos normalmente apresentam um
retorno económico relativamente rápido, e com o aumento do preço da energia têm cada vez mais
procura.
Edifícios Verdes: Práticas Projectuais Orientadas para a Sustentabilidade
63
Outro aspecto prende-se com a falta eficiência dos sistemas actuais de produção da energia e de todas
as perdas que existem no percurso desta até ao equipamento consumidor. Isto implica que toda a
energia recebida deve ser consumida com a máxima eficiência, de modo a contrariar os desperdícios
da rede.
4.3.1.1. Renováveis [TIRONE et al, 2008], [BAUER et al, 2009]
Outro modo de reduzir os custos na energia é através da geração local da própria energia. A
electricidade pode ser gerada a partir do vento, sol, água, ou até da própria terra, dependendo das
condições locais. Actualmente já existe uma panóplia de sistemas energéticos no mercado para os
vários recursos supramencionados. No entanto, estes sistemas apresentam um custo inicial avultado
mas que, numa perspectiva de ciclo de vida, podem trazer vários benefícios. Alguns destes sistemas
também podem funcionar nos dois sentidos, isto significa que uma vez ligado à rede, tanto pode
funcionar para geração da energia local, como pode ser “vendida” à rede, caso haja um excedente de
energia produzida. Este excedente deve ser utilizado para amortizar o investimento.
Um factor que aumenta a eficiência dos sistemas de energia é a sua centralização, à escala de um
edifício singular ou de uma zona compacta da cidade. Porém, esta optimização só resulta quando há
uma boa concepção dos sistemas, sendo importante perante tecnologias ainda recentes, uma
monitorização e gestão contínuas, de modo a evitar, ao máximo, o recurso a energias não renováveis.
A decisão de aquisição de um sistema destes não deverá ser feita de ânimo leve, deverá ser uma
decisão completamente consciente e que seja frutífera não só para o bolso do utilizador, mas que
também sirva de incentivo para o desenvolvimento local e melhoria do ambiente.
4.3.1.2. Iluminação [TIRONE et al, 2008]
A substituição de lâmpadas incandescentes, por lâmpadas de baixo consumo, ou fluorescentes, é uma
das medidas mais simples económicas para reduzir o consumo de energia e, consequentemente, as
emissões de CO2 para a atmosfera. Existem no mercado produtos que podem ser incorporados já na
fase de projecto e outros o utilizador final também pode introduzir na sua habitação ou escritório caso
não disponha já de soluções de baixo consumo para a iluminação. Estes produtos podem reduzir até
25% o consumo de energia e a sua vida útil é treze vezes superior àquela das lâmpadas incandescentes
convencionais.
Hoje já se encontra disponível uma tecnologia que reduz, em comparação com as convencionais
lâmpadas incandescentes, para cerca de um décimo o consumo de energia. Estas lâmpadas de muito
baixo consumo, denominadas de Diodo Emissor de Luz (LED – Light Emitting Diode), apresentam
benefícios, como a facilidade em controlar a qualidade da luz emitida, a longevidade, até cinquenta
vezes superior àquela das lâmpadas incandescentes convencionais, e a sua dimensão. Com a
tecnologia LED, o potencial de redução de consumo à escala global é considerável, sobretudo tendo
em conta que 19% da electricidade produzida no planeta é consumida na iluminação. Para além do
reduzido consumo de energia, uma característica de grande importância a ter em consideração é a
restrição de alguns materiais utilizados na produção de lâmpadas LED (como mercúrio e o fósforo)
por fazerem parte daquele conjunto de elementos dificilmente absorvidos pelos ecossistemas.
Edifícios Verdes: Práticas Projectuais Orientadas para a Sustentabilidade
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4.3.1.3. Electrodomésticos [TIRONE et al, 2008]
Uma grande parte do consumo de energia doméstica está concentrada na cozinha, cerca de 38% desta
energia está associada a esta divisão da casa, no Porto. Os equipamentos de frio (frigoríficos e
congeladores) são responsáveis por 14% e a preparação de refeições por 24% da energia (Fig.2.19.).
A dimensão adequada dos electrodomésticos e a sua utilização eficiente são princípios fundamentais a
considerar na aquisição destes equipamentos. É necessário ter em conta se a sua dimensão satisfaz
apenas as necessidades essenciais, isto porque, se ele for demasiado grande acaba por ter um consumo
de energia desnecessário mesmo que o electrodoméstico seja eficiente. A sua utilização fora das horas
de maior consumo de energia, faz-se sentir à escala do abastecimento, porque os picos de consumo
tornam-se menos extremos, o que permite às concessionárias de energia reduzir a quantidade de
energia que injectam na rede.
A eficiência do equipamento também é fundamental. Actualmente na Europa, qualquer equipamento
que se encontre à venda, tem de apresentar o respectivo desempenho energético e o consumo de água,
desagregado em classes entre A e G. Os electrodomésticos de CLASSE A, são mais eficientes no uso
da energia e no consumo de água, do que aqueles com outras classificações, e contribuem para a
melhoria do desempenho energético ambiental do edifício. Na generalidade, são também mais
silenciosos, o que torna a sua operação mais cómoda fora das horas de pico de consumo (durante a
noite), período em que a energia é vendida a um preço inferior.
4.3.1.4. Climatização [BAUER et al, 2009]
Quando a implementação de sistemas de Aquecimento Ventilação e Ar Condicionado (HVAC – Heat
Ventilation and Air Conditioning) é completamente necessária, é crucial considerar a sua eficiência,
uma vez que estes sistemas podem ser responsáveis por uma parte considerável do consumo de
energia. A centralização destes sistemas é também um factor que contribui para o aumento da sua
eficiência e deve ser bem estudada em fase de projecto. Destaca-se também que estes são sistemas que
requerem uma manutenção regular. A sua implementação em Portugal deverá ser de acordo com o
Regulamento dos Sistemas Energéticos de Climatização dos Edifícios (RSECE - D.L. n.º 79/2006) que
se aplica a grandes edifícios de serviços ou a pequenos edifícios de serviços ou de habitação que
disponham de sistemas de climatização.
4.3.2. ÁGUA [BAUER et al, 2009]
A água é um recurso precioso que necessita de ser conservado e reutilizado para que não se esgote. As
estratégias para atingir esse fim passam pela selecção de sistemas de irrigação exterior, sistemas
eficientes de escoamento de água e sistemas de reutilização de água.
4.3.2.1. Águas Pluviais
A construção sustentável ambiciona a diminuição da pegada ambiental do edifício. O tratamento e
preservação das águas pluviais contribuem positivamente para esse facto, diminuindo o impacto do
edifício nas infra-estruturas locais. O tratamento pode passar pelo aumentando das áreas permeáveis
(zonas verdes), facultando a infiltração natural da água no solo. Uma prática recomendável é a
realização de valetas naturais (bioswales) (Fig.4.12.), que são percursos de água com vegetação
natural, em que esta retém no solo algumas partículas de poluição transportada pelas águas pluviais.
Posteriormente esta água é direccionada para o sistema de drenagem urbano. Outra estratégia é reter a
própria água no local para a utilização do edifício. A água das chuvas filtrada pode ser utilizada para a
descarga sanitária ou rega. Existem ainda sistemas que conseguem tratar esta água de modo a torná-la
Edifícios Verdes: Práticas Projectuais Orientadas para a Sustentabilidade
65
potável. Este sistema de reutilização requer a pré instalação de reservatórios, sistemas de filtragem e
um sistema secundário de tubagem para a água filtrada.
Fig.4.12. – Exemplificação de um bioswale [4]
4.3.2.2. Irrigação Exterior
Existem essencialmente duas formas de reduzir a quantidade de água utilizada para irrigar a vegetação
exterior, em que a primeira passa pela escolha da vegetação certa e a segunda pela utilização dos
sistemas irrigação certos.
A utilização de plantas vernáculas, que se adaptem ao clima local e que não precisem de ser
constantemente regadas, são o primeiro passo para reduzir a quantidade de água para manter a
envolvente verde. Estas plantas devem ser consideradas em projecto e em detrimento do uso de
extensas áreas de relvado que geralmente não contribuem para a diminuição de água e requerem
manutenção regular.
Em vez da utilização de sistemas de dispersão do tipo sprinklers, que saturam o solo, existem diversas
opções para atenuar a utilização da água. A primeira é instalar sensores de humidade no solo, para que
os sprinklers só actuem quando não existe humidade suficiente no solo, o que impede que eles actuem
quando chove. Outra é o uso de sistemas de irrigação por gotejamento (Drip Irrigation Systems) que
garantem que a água é conduzida directamente para a planta, não sendo desperdiçada pela sua
dispersão para passeios ou edifícios. Estes sistemas de irrigação podem ser temporários, sendo
utilizados apenas no início, quando a planta é colocada no local e, posteriormente, são retirados
quando esta já se adaptou ao clima local.
4.3.2.3. Tratamentos para Reutilização de Água
Como foi mencionado acima, a utilização de águas pluviais locais é possível depois do seu tratamento
mínimo. Contudo a reutilização da água não deve ficar por aqui, devem existir ainda mais dois tipos
de sistemas de reutilização de águas domésticas, um para as águas cinzentas e outro para as águas
negras.
As águas cinzentas são as águas que provêem dos lavatórios, chuveiros, máquinas lava-loiça e lava
roupa. Assim, quando há alguma filtração podem ser utilizadas para a rega ou para a descarga das
sanitas e urinóis. Note-se que estes sistemas requerem um sistema de tubagem independente para a
circulação da água cinzenta tratada. Com um tratamento mais exigente esta água também pode ser
consumida ou utilizada para a limpeza. As águas negras provêem das sanitas e por vezes de lavatórios
das cozinhas. O tratamento mais cuidadoso tem que ser considerado para qualquer utilização desta
água. Isto envolve uma série de filtragens e tratamentos por luz ultra violeta (UV). Estes sistemas
estão disponíveis para aplicação comercial e uso doméstico. Mais uma vez, a opção com maior
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66
vantagem económica, está associada à utilização destes sistemas em grande escala, como é o caso de
grandes edifícios juntamente com centrais de tratamento.
Fig.4.13. – Exemplo de um sistema de reutilização e reciclagem de água [BAUER et al, 2009]
4.3.2.4. Sistemas de Descarga e outros Dispositivos
O consumo de água potável é determinante na conservação ambiental. Um estudo realizado pela
EPAL, identifica que é no duche onde existe maior consumo de água potável (50%), os sistemas de
descargas também representam uma porção considerável (22%). Por isso é relevante contribuir para a
eficiência nestes tipos de equipamentos.
Hoje em dia já existem diversos sistemas de escoamento no mercado. Como exemplos de sistemas de
escoamento eficientes incluem-se as sanitas de alta eficiência (HET’s – High Eficient Toilets), as
sanitas de descarga dupla que utilizam menos água na descarga de efluentes líquidos e mais água para
efluentes sólidos, mictórios sem águas, torneiras com sensores. É preciso ter também em conta a
eficiência do consumo de água dos electrodomésticos, como lava-loiças e máquinas de lavar roupa. Os
sistemas de introdução de ar como os redutores de caudais nas torneiras e duches mantêm os níveis de
conforto e reduzem o consumo de água.
4.3.3. MATERIAIS [TIRONE et al, 2008]
Acompanhar o aparecimento de todos os novos materiais de construção é uma tarefa difícil. Todos os
dias surgem novos produtos no mercado que declaram serem melhores para o ambiente. Existem
alguns que na realidade são, mas outros apenas apresentam uma intenção falaciosa, é por isso que é
importante exigir certificados ambientais como as EPD, que comprovem a origem, a composição e os
impactos ambientais dos materiais. Também vale a pena ficar atento aos materiais que contribuem
para:
Uma excelente qualidade do ar interior;
Um excelente desempenho energético-ambiental resultante da sua aplicação;
A minimização do respectivo impacte ambiental que tem em consideração todo o seu ciclo
de vida;
A origem dos materiais, perante o impacto do transporte dos mesmos;
Os materiais também devem ser fixados mecanicamente para permitir a sua remoção e
potenciar a reutilização.
Edifícios Verdes: Práticas Projectuais Orientadas para a Sustentabilidade
67
4.3.3.1. Reduzir, Reutilizar, Reciclar
Esta máxima do movimento ambiental aplica-se tanto aos materiais de construção, assim como a
produtos de utilização diária. A meta de reduzir a quantidade de materiais necessários pode ser
atingida eliminando os produtos desnecessários, por exemplo, colorir e polir um pavimento de betão,
diminui o uso dos materiais de revestimento. Deve também criar-se oportunidades de reduzir a
quantidade de desperdício criado nos processos de construção, através do ajustamento de determinadas
paredes para que se adaptem ao tamanho dos materiais, definindo tamanhos modulares, para que não
haja necessidade de aparar o material.
Reutilizar materiais provenientes da fase de demolição é essencial e o seu restauro pode ser uma boa
área de negócio e desenvolvimento local.
Reciclar o máximo de detritos provenientes da demolição é relativamente fácil hoje em dia, uma vez
que existe muita consultoria neste âmbito. O grande problema está relacionado com o
dimensionamento dos caixotes para separação dos desperdícios e a respectivo transporte.
Muitos produtos que formam a espinha dorsal do projecto contêm um potencial de reciclagem grande.
O aço, o gesso cartonado e as telhas cerâmicas são alguns exemplos. O betão pode ser feito com 50%
de cinzas volantes que é um subproduto da combustão do carvão, e é recolhido das chaminés nas
centrais de carvão. As cinzas volantes são um bom substituto do cimento Portland, e não afectam a
integridade do betão, no entanto, podem prolongar o seu tempo de cura.
4.3.3.2. Recursos Naturais
Materiais fabricados a partir de recursos naturais (revestimentos de linoleum, de bamboo, ou de
cortiça) são uma boa solução para o ambiente interior do edifício. Estes produtos contêm poucos ou
nenhuns químicos tóxicos, e por isso não serão libertados uma vez instalados no edifício.
4.3.3.3. Recursos Renováveis
Como já foi mencionado os materiais que provêem directamente da natureza são os mais
aconselháveis. No entanto, deve dar-se preferência àqueles materiais que representam uma rápida
fonte renovável, ou seja, que se regeneram rapidamente. Os materiais são considerados rapidamente
renováveis se o período entre a plantação e colheita for de aproximadamente sete anos. As madeiras
recicladas provenientes de florestas replantadas constituem um bom exemplo.
4.3.3.4. Recursos Locais
Uma boa percentagem do aquecimento global provém do transporte dos materiais que emite CO2.
Então, escolhendo produtos fabricados localmente contribui-se para a redução das emissões. No
entanto, é importante referir que, nem todos os locais fornecem todos os materiais necessários para o
projecto, uma vez que existem recursos específicos que só se podem obter numa determinada área. De
qualquer forma é importante obter todos os recursos o mais local possível, isto porque nem só serão
reduzidas as emissões, mas também porque a economia local é estimulada.
4.3.3.5. Químicos e VOC’s
VOCs ou compostos orgânicos voláteis, são efluentes químicos que se diluem no ar e são a causa de
muitos problemas respiratórios, também são os responsáveis pelo tradicional cheiro a “casa nova”. As
principais áreas a ter em consideração são aquelas com pinturas impermeáveis, corantes e materiais
compósitos da madeira. A prioridade de escolha dos materiais deverá recair naqueles com menores
índices de toxinas que possam contribuir para um aumento da qualidade do ar.
Edifícios Verdes: Práticas Projectuais Orientadas para a Sustentabilidade
68
4.3. GESTÃO DOS RESÍDUOS [TIRONE ET AL, 2008]
Para além das emissões lançadas para a atmosfera e dos efluentes líquidos, existem também resíduos
sólidos resultantes do consumo de materiais, que devem ser reduzidos, reutilizados, reciclados e
valorizados. Esta valorização deverá acontecer à escala do edifício e amenidades locais ou a uma
escala ainda mais alargada.
Os resíduos produzidos pelo sector da construção são consideráveis e possuem um enorme potencial
de redução, dado que a sua valorização já pode ser integrada nos próprios processos de fabrico. Neste
sector existem restrições teóricas muito exigentes, com o objectivo de alcançar um ponto em que já
não haja resíduos a eliminar, apenas a reutilizar e reciclar.
No sector doméstico são sobretudo relevantes os resíduos que resultam dos produtos alimentares e dos
bens de consumo em fim de vida (equipamentos eléctricos, entre outros) que podem ser optimizados
através do comportamento das pessoas. Os habitantes dos edifícios têm um papel fundamental para a
melhoria da gestão destes resíduos.
Por isso, nas áreas comuns do edifício é relevante que existam pontos de recolha de produtos para
reutilização, pontos de recolha de resíduos sólidos biodegradáveis e pontos de recolha de produtos em
fim de vida para reciclagem, diferenciando os recicláveis (metal, plástico, vidro, papel e cartão) por
fileira de produto.
Também é importante que o sistema de recolha seja realizado por vácuo, visto que existem benefícios
associados como a redução de ruído no acto da recolha e um grau de higiene mais elevado.
O desenvolvimento tecnológico permite transformar os resíduos em matérias-primas para novos
processos produtivos, por sua vez as grandes indústrias que produzem os bens que consumimos estão a
implementar processos cada vez mais eficientes.
Edifícios Verdes: Práticas Projectuais Orientadas para a Sustentabilidade
69
5
ANÁLISE DE SENSIBILIDADE ENTRE A APLICAÇÃO DO SISTEMA
LIDERA E O MARS-SC
5.1. OBJECTIVOS DA METODOLOGIA
5.1.1. INTRODUÇÃO
Como foi referido no Capítulo 3, já existe uma panóplia de sistemas de certificação ambiental de
edifícios, adaptados às realidades dos países em que foram desenvolvidos. A maioria pode também ser
aplicada ao nível internacional, mas com algumas limitações. Em termos gerais, estes sistemas
encontram-se orientados para a avaliação ambiental do edificado, de uma forma global. Em
determinados sistemas, a sustentabilidade das soluções construtivas é um parâmetro de avaliação
global do edifício, porém, apenas avalia soluções que estão definidas na sua base de dados, ou que já
existe um conhecimento prévio das suas características. É aqui que a aplicação nacional ou
internacional destes sistemas encontra os principais entraves, uma vez que a especificidade das
soluções varia conforme as práticas tradicionais dos diferentes países.
Perante este problema, o estudo elaborado pretende avaliar a sensibilidade de dois métodos de
avaliação de sustentabilidade aplicados a diversas soluções construtivas. O primeiro método,
denominado Método de Avaliação Relativa de Sustentabilidade de Soluções Construtivas (MARS-
SC), desenvolvido por Ricardo Mateus no decorrer da sua tese de mestrado será aplicado a distintas
soluções construtivas de paredes exteriores. O segundo é o sistema de certificação ambiental LiderA,
que se destina à avaliação ambiental de edifícios mas, neste caso, será aplicado às mesmas soluções
construtivas aplicadas na MARS-SC.
O objectivo final do estudo apresentado consiste em comparar as reacções dos dois sistemas de
avaliação face à modificação de soluções construtivas e, observar de que forma estes dois métodos se
relacionam entre si, através dos indicadores ambiental, funcional e económico. Esta relação tem
implícita a perspectiva de LCE abordada no Capítulo 3.
5.1.2. DEFINIÇÃO DOS INDICADORES GERAIS DE COMPARAÇÃO ENTRE SISTEMAS
Este estudo será realizado numa vertente holística na medida em que é impossível considerar, na
avaliação de sustentabilidade, todos os parâmetros que traduzem estes três indicadores [MATEUS et
al, 2006].
Edifícios Verdes: Práticas Projectuais Orientadas para a Sustentabilidade
70
Por conseguinte, surge a necessidade de caracterizar estes indicadores, seleccionando os itens
relevantes para o estudo, com o objectivo de realizar uma avaliação consistente e coerente das
soluções.
O Quadro 5.1. traduz alguns dos principais pontos para a caracterização da sustentabilidade das
soluções construtivas.
Quadro 5.1. – Quadro representativo da discriminação dos indicadores adaptado de [MATEUS et al, 2006]
Indicadores
Funcional Ambiental Económico
- Isolamento sonoro a sons de
condução aérea;
- Isolamento sonoro a sons de
percussão;
- Isolamento térmico;
- Permeabilidade ao vapor;
- Impermeabilidade à água;
- Durabilidade;
- Estabilidade;
- Comportamento ao fogo;
- Comportamento sísmico;
- Construtibilidade;
- Flexibilidade;
- Inovação e desenho.
- Potencial de
Aquecimento Global
(GWP);
- Energia primária
incorporada (PEE);
- Conteúdo reciclado;
- Potencial de reciclagem;
- Potencial de reutilização;
- Quantidade matéria
recursos utilizados;
- Toxicidade;
- Acidificação;
- Eutrofização das
reservas de água;
- Quantidade de água
incorporada (EW).
- Custo de construção;
- Custo de manutenção;
- Custo de reabilitação;
- Custo de desmantelamento/
demolição;
- Valor residual;
- Custo de tratamento para devolução
ao ambiente natural.
Note-se que no presente estudo apenas se consideraram alguns destes aspectos, nomeadamente aqueles
que poderão ser quantificáveis, de modo a poder integrá-los nos diferentes sistemas de avaliação.
5.1.2.1. Indicador Funcional
No que toca ao parâmetro funcional é necessário perceber que a sua avaliação depende da função do
elemento construtivo, uma vez que cada elemento apresenta diferentes exigências [MATEUS et al,
2006].
Como se pretende avaliar sistemas de envolvente num edifício tomam-se como referência os factores
relativos ao coeficiente de transmissão térmica (U) e à massa da solução construtiva (M).
Com o conhecimento do coeficiente de transmissão térmica, pretende-se identificar soluções que
apresentem melhor desempenho térmico e que provavelmente também irão traduzir menor consumo
de energia para aquecimento dos espaços.
Edifícios Verdes: Práticas Projectuais Orientadas para a Sustentabilidade
71
De forma a definir correctamente os coeficientes de transmissão térmica ter-se-á em conta a
condutibilidade térmica de cada material constituinte da solução.
A escolha da massa do sistema como forma de avaliação pretende reconhecer a facilidade de
construção que se traduz num menor consumo de energia e de recursos tanto humanos como materiais.
5.1.2.2. Indicador Ambiental
O indicador ambiental tem como objectivo permitir avaliar as consequências das tecnologias
construtivas sobre o meio ambiente [MATEUS et al, 2006].
Neste estudo apenas serão considerados três factores: o Potencial de Aquecimento Global (GWP), a
Energia Primária Incorporada (PEE) e quantidade de Água Incorporada (EW). Apenas estes foram
seleccionados porque, para além de existir mais bibliografia referente a estes impactes durante o ciclo
de vida dos materiais, também traduzem as maiores preocupações ambientais da actualidade como o
aumento das emissões de CO2, bem como do consumo de energia e de água.
5.1.2.3. Indicador Económico
Este indicador diz respeito aos custos totais do ciclo de vida de uma tecnologia, nomeadamente custos
materiais, de construção, de utilização, de manutenção, de reabilitação, de demolição e, finalmente, de
tratamento para a devolução ao meio natural, reciclagem ou reutilização (Mateus & Bragança, 2006).
De modo a relacionar todos estes dados é necessário definir o período de vida útil para o qual se
projecta a solução e incluir o valor residual.
Este factor é bastante relevante porque traduz dois aspectos interessantes. O primeiro, e mais óbvio,
está directamente relacionado com o valor económico da solução e o segundo diz respeito à
durabilidade desta. As que soluções mais duráveis são mais baratas a longo prazo porque representam
custos de manutenção reduzidos e não requerem substituições.
Na impossibilidade de obter a totalidade destes custos, nesta análise apenas foram considerados os
custos dos materiais, custos de construção e custos de manutenção que reflectem o ciclo de vida do
edifício.
5.2. METODOLOGIA DE AVALIAÇÃO RELATIVA DE SUSTENTABILIDADE
5.2.1.DESCRIÇÃO
Perante o problema de não existir um sistema de reconhecimento de sustentabilidade que avaliasse de
forma independente a sustentabilidade de uma solução construtiva, Ricardo Mateus, desenvolveu um
sistema de avaliação de sustentabilidade para sistemas construtivos, que pudesse servir de referência
na avaliação global de sustentabilidade do edifício.
A sua metodologia passa pela elaboração de uma base de dados que reúna as principais características
das soluções. Para a concretização de tal tarefa é essencial definir os parâmetros a considerar na
avaliação. De seguida, é necessário decompor as soluções construtivas nos seus materiais
constituintes. Posteriormente, irá quantificar-se, o mais detalhadamente possível, os parâmetros
considerados para os materiais constituintes.
Finalmente para cada parâmetro será necessário atribuir ponderações para que se possa caracterizar o
perfil de sustentabilidade da solução e atribuir uma nota final.
Edifícios Verdes: Práticas Projectuais Orientadas para a Sustentabilidade
72
Fig.5.1 – Representação da MARS-SC adaptado de [MATEUS et al, 2006]
Nota-se que nesta metodologia quantos mais parâmetros se considerarem e quanto maior fora a base
de dados, mais completa e precisa será a sua avaliação. Os parâmetros considerados no MARS-SC
serão referenciados de seguida.
Edifícios Verdes: Práticas Projectuais Orientadas para a Sustentabilidade
73
5.2.2. DEFINIÇÃO DOS PARÂMETROS
5.2.2.1. Massa (M)
A massa total da solução construtiva pode fornecer várias informações acerca do perfil sustentável
dessa mesma solução. Uma solução construtiva que apresente menor massa, implica uma menor
energia nos processos ligados ao seu transporte, montagem e desmantelamento, por sua vez, menos
quantidade de massa implica uma menor utilização de materiais no seu processo de fabrico e
consequentemente traduzem menor impacte.
A massa de cada material constituinte pode ser obtida através da multiplicação da massa volúmica
pela espessura do elemento.
Sendo,
mj – Massa da camada do elemento j por m2 [Kg/m
2];
γj – Massa volúmica do elemento j [Kg/m3];
ej – Espessura do elemento j [m].
O somatório das massas de cada elemento representa a massa total da solução.
Então,
M – Massa de solução construtiva por m2 [Kg/m
2];
mj – Massa da camada do elemento j por m2 [Kg/m
2].
Edifícios Verdes: Práticas Projectuais Orientadas para a Sustentabilidade
74
5.2.2.2. Coeficiente de transmissão térmica (U)
Com a quantificação do coeficiente global de transmissão térmica pretende-se averiguar as soluções de
parede que conferem um melhor conforto térmico. Este coeficiente, num elemento de faces planas e
paralelas, representa a quantidade de calor que atravessa a superfície perpendicularmente, por unidade
de tempo, quando sujeita a um gradiente unitário de temperatura entre os ambientes que as separam.
Os valores máximos permitidos para este coeficiente dos elementos de construção das envolventes,
segundo a zona climática, estão definidos no Regulamente de Características de Comportamento
Térmico de edifícios (RCCTE – D.L. n.º 80/2006 de 6 de Fevereiro). Este parâmetro é obtido através
da equação 5.3., que se aplica em casos em que o elemento é composto por um ou vários materiais, em
camadas de espessura constante.
Sendo,
U – Coeficiente de transmissão térmica global [W/ (m2.oC)];
Rsi = 1 / hi – Resistência térmica superficial interior [m2.oC/W];
Rj = ej / λj – Resistência térmica da camada j [m2.oC/W];
ej – Espessura da camada j [m];
λj – Condutibilidade térmica da camada j [m.oC/W];
Rar – Resistência térmica de espaços de ar não ventilados [m2.oC/W];
Rse = 1/he – Resistência térmica superficial exterior [m2.oC/W].
As resistências térmicas superficiais, traduzem os efeitos de convecção e radiação, e o seu valor varia
em função de vários factores como a rugosidade e a inclinação da superfície, entre outros. Porém serão
considerados valores médios, que se encontram no Quadro 5.2. e traduzem apenas o fluxo de calor
horizontal. No mesmo quadro, também está representada a resistência térmica média dos espaços de ar
não ventilados (Rar) para a mesma orientação do fluxo. O Quadro 5.3., por sua vez, apresenta os
valores das condutibilidades térmicas de vários materiais componentes das soluções construtivas.
Quadro 5.2. – Resistências Térmicas [LNEC, 2006]
Rar 0,18 m2.oC/W
Rsi 0,13 m2.oC/W
Rse 0,04 m2.oC/W
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75
Quadro 5.3. – Condutibilidade Térmica e Massa Volúmica, consideradas por material adaptado de [MATEUS et
al, 2006], [BERGE, 2000] e [LNEC, 2006]
Material/Produto γ λ
[kg/m3] [W/(m.
oC)]
Aço (100% Reciclado) 7780 50
Aço comercial (20% Reciclado) 7780 50
Betão de inertes correntes 2400 2
Pedra de granito 2600 3
Madeira não tratada 550 0,18
Madeira lamelada colada 550 0,15
Aglomerado de fibras de madeira (OSB) 900 0,13
Aglomerado madeira cimento 1350 0,23
Betão celular autoclavado 550 0,19
Betão de argila expandida 750 0,25
Bloco cerâmico vulgar 1200 0,69
Bloco furado de betão leve 1300 1,75
Bloco furado de betão pesado 1600 1,75
Gesso cartonado 900 0,25
Vidro 2700 1
Lã de Rocha 30 0,045
Lã de vidro 20 0,04
Poliestireno expandido moldado (EPS) 23 0,037
Poliestireno expandido extrudido (XPS) 25 0,037
Poliuretano (PUR) 35 0,042
Aglomerado de cortiça expandida (ICB) 140 0,045
Argamassa de assentamento 1900 1,15
Argamassa de reboco 1900 1,15
Membranas betuminosas 1050 0,23
Pedra de granito 2400 2
Pedra de xisto, ardósia 2400 2,2
Revestimento cerâmico 1900 1,15
Alumínio (50% Reciclado) 2700 230
Edifícios Verdes: Práticas Projectuais Orientadas para a Sustentabilidade
76
5.2.2.3. Energia Incorporada (PEE)
A energia incorporada num determinado material, tem em conta toda a energia consumida no seu ciclo
de vida. Neste ciclo de vida é contabilizado a extracção da matéria-prima, o transporte, processamento,
montagem, instalação, desmontagem e desmantelamento ou decomposição. A determinação deste
parâmetro pretende aferir a energia incorporada em cada solução construtiva, sabendo que, quanto
maior for este parâmetro, pior será a sua avaliação.
Nota-se que, tanto para este como para os seguintes parâmetros, ainda não existem dados concretos em
Portugal. Os valores apresentados pertencem a uma base de dados recolhida numa bibliografia
[BERGE, 2000] que indica valores referentes à indústria de construção europeia, o que em todo o
caso, poderá divergir dos valores do mercado português. Contudo, apesar dos valores serem distintos
do mercado nacional, estes devem apresentar as mesmas relações de grandeza entre si, o que vai de
encontro ao objectivo pré-definido neste estudo, possibilitando uma análise comparativa entre as
soluções construtivas.
Como os valores dos parâmetros estão definidos em relação à massa do material, para determinar o
consumo de energia incorporada por metro quadrado de solução, é necessário realizar o somatório da
multiplicação do valor do parâmetro de cada elemento construtivo pela respectiva massa.
Em que,
PEE – Energia incorporada na solução construtiva por m2 [KWh/m
2];
peej* – Energia incorporada no elemento j por Kg [KWh/Kg];
mj – Massa da camada do elemento j por m2 [Kg/m
2].
5.2.2.4. Potencial de Aquecimento Global (GWP)
Do mesmo modo, a contabilização do GWP permite averiguar como a solução agrava o problema das
emissões de CO2 consequentes. A determinação deste parâmetro é análoga à anterior e os valores
admitidos podem ser consultados no Quadro 5.4.
Onde,
GWP – Potencial de aquecimento global da solução construtiva por m2 [g/m
2];
gwpj* – Potencial de aquecimento global do elemento j por Kg [g/Kg];
mj – Massa da camada do elemento j por m2 [Kg/m
2].
Edifícios Verdes: Práticas Projectuais Orientadas para a Sustentabilidade
77
5.2.2.5. Água Incorporada (EW)
Para finalizar a caracterização do perfil ambiental, resta referir que, a água consumida na construção
também representa um problema ambiental. O consumo de água não está só associado à fase de
construção, na realidade, a maioria da água utilizada destina-se ao processo de fabricação dos próprios
materiais de construção. A escolha deste parâmetro relaciona-se, deste modo, com o crescente
consumo de água potável e efluentes resultantes da sua utilização durante o ciclo de vida da solução
construtiva.
A metodologia de determinação, do parâmetro EW, é consistente com a determinação dos anteriores
parâmetros ambientais.
Em que,
EW – Água incorporada na solução construtiva por m2 [l/m
2];
ew*j – Água incorporada do elemento j por Kg [l/Kg];
mj – Massa da camada do elemento j por m2 [Kg/m
2].
O quadro seguinte reúne os vários valores assumidos na determinação dos parâmetros ambientais
associados ao ciclo de vida dos materiais.
Quadro 5.4. – Representação dos factores ambientais consideradas por material de adaptado de [MATEUS et al,
2006] e [BERGE, 2000]
Material/Produto pee* gwp* ew*
[KWh/Kg] [g/Kg] [Litros/Kg]
Aço (100% Reciclado) 2,78 557 3400
Aço comercial (20% Reciclado) 6,94 2230 3200
Betão de inertes correntes 0,28 65 170
Pedra de granito 0,03 8 10
Madeira não tratada 0,83 116 330
Madeira lamelada colada 1,11 116 330
Aglomerado de fibras de madeira (OSB) 1,16 766 2500
Aglomerado madeira cimento 0,30 424 450
Betão celular autoclavado 1,11 280 300
Betão de argila expandida 1,11 307 190
Bloco cerâmico vulgar 0,83 190 520
Bloco furado de betão leve 1,11 307 190
Bloco furado de betão pesado 1,11 110 170
Gesso cartonado 1,39 265 240
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78
Material/Produto pee* gwp* ew*
[KWh/Kg] [g/Kg] [Litros/Kg]
Vidro 2,22 569 680
Lã de Rocha 4,44 1076 1360
Lã de vidro 5,00 1210 1360
Poliestireno expandido moldado (EPS) 20,83 1650 5200
Poliestireno expandido extrudido (XPS) 20,00 1650 5200
Poliuretano (PUR) 30,56 3900 18900
Aglomerado de cortiça expandida (ICB) 1,11 277 24
Argamassa de assentamento 0,28 98 170
Argamassa de reboco 0,28 98 170
Membranas betuminosas 5,00 489 24
Pedra de granito 0,03 8 10
Pedra de xisto, ardósia 0,03 8 10
Revestimento cerâmico 2,22 571 400
Alumínio (50% Reciclado) 184 11102 29000
5.2.2.6. Custo ciclo de Vida (LCC)
A verdadeira análise económica só é realmente consistente quando se consideram todos os custos de
ao longo da vida útil. Deste modo, utiliza-se a metodologia do LCC uma vez que, esta não avalia
apenas o custo de investimento do elemento ou componente, mas todos os custos ao longo período
referido. Implicitamente, quanto menor, for este custo, melhor será o desempenho económico e, por
conseguinte mais sustentável será a solução.
Nesta fase do trabalho pretende-se proceder à determinação do LCC de todos os componentes de cada
solução construtiva, de modo a reflectir, da melhor forma possível, os custos cíclicos da solução em
serviço. Porém, a determinação rigorosa de todos estes custos é um processo muito exigente porque
requer bastante investigação. Apesar da dificuldade em obter alguns dados e a incerteza que advém de
outros, esta metodologia torna-se importante para a contabilização do valor total, para a globalidade da
solução construtiva ou para alguns dos elementos.
O software SIMULA®, desenvolvido por [CALEJO, 2001], já contabiliza essas incertezas e evidencia
o modo como estas afectam o LCC. Salvaguarda-se uma vez mais, que a relação de grandeza entre os
valores obtidos tem maior relevância do que a sua precisão. Por isso, será importante a consideração
do bom senso à subjectividade adjacente da determinação de alguns parâmetros.
Em termos conceptuais, o método assenta na repartição do LCC em dois grupos de custos, o custo
inicial (ci) e os custos diferidos (cd). Neste trabalho, estes custos diferidos são, por sua vez, detalhados
em mais dois custos [CALEJO, 2001]. A primeira parcela considera, os custos cíclicos com a
manutenção (cm) preventiva e correctiva. A segunda representa, os custos cíclicos de substituição (cs).
Estes dois ciclos apresentam uma periodicidade divergente entre si.
Edifícios Verdes: Práticas Projectuais Orientadas para a Sustentabilidade
79
A formulação do LCC é demonstrada de seguida:
Em que,
lccj – Custo do ciclo de vida do elemento j por m2 [€/m
2];
cij – Custo total inicial do elemento j por m2 [€/m
2];
csj – Custos cíclicos de substituição do elemento j por m2 [€/m
2];
cmj – Custos cíclicos de manutenção do elemento j por m2 [€/m
2];
S – Periocidade dos custos cíclicos de substituição do elemento j [anos];
T – Periocidade dos custos cíclicos de manutenção do elemento j [anos];
N – Período de vida útil da solução construtiva [anos];
s – Número do ciclo de substituição do elemento j;
t – Número do ciclo de manutenção do elemento j;
a – Taxa média de actualização [%].
O LCC da solução construtiva pode ser traduzido pela soma dos lccj de todos os elementos que
compõem essa solução [CALEJO, 2001]:
Sendo,
LCC – Custo de ciclo de vida da solução construtiva por m2 [€/m
2];
lccj – Custo do ciclo de vida do elemento j por m2 [€/m
2].
Os quadros seguintes representam todos os valores adoptados na determinação do LCC. E os valores
considerados para o ci, cs e cm, S, T, respectivamente.
Quadro 5.5. – Representação das considerações de a e N
Taxa média de actualização (a) 2%
Período de vida útil da solução construtiva (N) 80 anos
Edifícios Verdes: Práticas Projectuais Orientadas para a Sustentabilidade
80
Quadro 5.6. – Representação das restantes considerações para o LCC por material adaptado [LNEC, 2007]
Material/Produto ci Dur N cs T cm LCC
[€/m2] [anos] [anos] [€/m
2] [anos] [€/m
2] [€/m
2]
Betão 44,42 100 80 44,42 80 0,40 44,8
Pedra de granito aparelhada 410,70 500 80 410,70 80 3,72 414,4
Aço 25,00 60 40 11,32 80 0,23 36,5
Tijolo Maciço de 7 cm 34,57 200 80 34,57 40 1,16 36,9
Tijolo Furado de 11 cm 11,89 200 80 11,89 40 0,40 12,7
Tijolo Furado de 15 cm 13,99 200 80 13,99 40 0,47 14,9
Tijolo Furado de 22 cm 17,99 200 80 17,99 40 0,61 19,2
Bloco de betão furado de 20 cm 24,32 80 80 24,32 40 0,82 26,0
Bloco betão furado leve 20 cm 22,85 80 80 22,85 40 0,77 24,4
Betão celular autoclavado 17,5 cm 31,67 80 80 31,67 40 1,07 33,8
EPS 9,17 40 40 4,15 10 0,83 20,0
XPS 13,69 80 80 13,69 20 1,12 18,2
Lã de Rocha 11,21 80 80 11,21 20 0,92 14,9
ICB 15,59 80 80 15,59 20 1,28 20,7
Revestimento cerâmico 143,54 200 80 143,54 20 23,55 237,7
Aglomerado madeira cimento 19,97 60 40 9,04 10 3,62 58,0
Gesso cartonado 18,95 60 40 8,58 10 3,43 55,0
OSB 9,83 60 40 4,45 10 1,78 28,5
Pedra de granito 3 cm 59,19 100 80 59,19 20 9,71 98,0
Reboco 7,66 80 40 3,47 20 1,26 16,2
5.2.3. NORMALIZAÇÃO DOS PARÂMETROS
Para auxiliar a comparação entre os diversos parâmetros considerados na avaliação da sustentabilidade
das diferentes soluções construtivas, é necessário proceder à sua normalização. A normalização
consiste na conversão dos parâmetros em valores adimensionais, convertendo-os numa escala limitada
entre 0 (pior valor) e 1 (melhor valor). Esta forma de normalizar dados torna-se mais precisa com o
aumento da quantidade e a variedade de valores considerados. Por outro lado se houver uma limitação
desses valores, poderá ocorrer o caso de um determinado valor ser bom em termos globais, mas ser o
pior da amostra e, por conseguinte, terá um valor igual a 0.
Para a normalização dos parâmetros utiliza-se a fórmula [Diaz-Balteiro, 2004], também considerada
no modelo MARS-SC.
Edifícios Verdes: Práticas Projectuais Orientadas para a Sustentabilidade
81
Representando,
P’i,k – Valor adimensional normalizado do parâmetro i da solução construtiva k;
Pi,k – Valor do parâmetro i da solução construtiva k;
P*i – Valor do parâmetro i com pior desempenho;
P*i – Valor do parâmetro i com melhor desempenho.
Reforça-se a ideia de que, para poder haver um termo de comparação que se aproxime da realidade e
elimine a relatividade entre as soluções, será importante construir uma base de dados, o mais
completa, rigorosa e actualizada possível, que traduza uma amostra bastante extensa e que faça uma
boa representação da maioria das soluções construtivas utilizadas.
5.2.4. AGREGAÇÃO DOS PARÂMETROS
A avaliação da sustentabilidade das soluções construtivas envolve a utilização de numerosos
parâmetros. Da mesma forma, a apresentação do desempenho de uma solução através da listagem dos
resultados obtidos de todos os parâmetros considerados, dificulta a compreensão do desempenho
global da solução. Torna-se portanto conveniente combinar, dentro de cada indicador pré-estabelecido,
os diversos parâmetros em função da importância (ponderação) que cada assume no cumprimento dos
requisitos do projecto. Assim, obtém-se um valor resumo que representa o desempenho relativo da
solução ao nível de cada indicador.
O desempenho parcial de cada indicador é calculado de acordo com o método de agregação
apresentado na equação seguinte.
Em que,
Iq,k – Indicador de desempenho q da solução construtiva k;
wq,i – Peso relativo do parâmetro i do indicador de desempenho q;
P’i,k – Valor adimensional normalizado do parâmetro i da solução construtiva k.
Como o indicador representa a média ponderada de todos os parâmetros considerados, a soma dos
pesos deve ser igual à unidade.
A determinação destas ponderações é uma fase fundamental da caracterização do perfil sustentável da
solução construtiva. Porém a sua atribuição ainda é muito complexa e pode estar sujeita a alguma
subjectividade.
Edifícios Verdes: Práticas Projectuais Orientadas para a Sustentabilidade
82
Seguidamente faz-se uma breve justificação da atribuição dos pesos dos parâmetros para a avaliação
do desempenho em cada indicador.
5.2.4.1. Desempenho Funcional
Apesar da quantificação dos parâmetros funcionais ser bastante directa e objectiva, o modo como cada
parâmetro influencia o desempenho funcional e consequentemente a sua sustentabilidade, não é
consensual. Esta avaliação envolve a atribuição subjectiva de pesos e também depende,
substancialment,e do tipo de utilização da solução, assim como das características sócio-económicas e
culturais do avaliador.
De modo a resolver o problema da subjectividade e a obter valores mais consensuais, da ponderação
dos parâmetros funcionais, o autor [MATEUS et al, 2006] sugere que se realizem inquéritos
direccionados aos potenciais utilizadores, de forma a identificar quais os parâmetros que são
considerados mais importantes. Através da aplicação da metodologia AHP (Analytic Hierarchy
Process) é possível quantificar o peso de cada um.
Como neste trabalho apenas se consideram dois parâmetros funcionais, U e M, a ponderação será mais
acessível. Assim, dos parâmetros considerados, nota-se que o U revela uma importância dominante
relativamente a M, uma vez que traduz um maior conforto interno para o utilizador e um menor
consumo de energia para o aquecimento dos espaços durante a fase de utilização, que é a mais
exigente.
Portanto é coerente atribuir um peso maior a este parâmetro do que a M, que está mais relacionado
com a fase de construção.
Quadro 5.7. – Peso de cada parâmetro na avaliação do desempenho funcional
Desempenho Funcional
Parâmetro wi (%)
U 80
M 20
5.2.4.2. Desempenho Ambiental
No diz respeito aos parâmetros ambientais já existem alguns estudos que definem as prioridades das
ponderações de modo consensual. O autor da metodologia refere o estudo realizado pela United States
Environmental Protectian Agency (EPA), no qual foi analisada, para uma lista de doze parâmetros
ambientais, a prioridade de cada um relativamente aos restantes, em função dos efeitos nocivos para o
ambiente. Os resultados desse estudo encontram-se apresentados no Quadro 5.8.
Enquanto não existem referências de estudos regionais ou locais, que sustentem uma definição mais
rigorosa dos pesos, [MATEUS et al, 2006] sugere que na aplicação da MARS-SC se utilizem
directamente ou por extrapolação as ponderações consideradas nesse estudo.
Edifícios Verdes: Práticas Projectuais Orientadas para a Sustentabilidade
83
Quadro 5.8. – Peso de cada parâmetro considerado no estudo da EPA [MATEUS et al, 2006l]
Parâmetro wi (%)
Aquecimento global 24
Acidificação 8
Eutrofização 8
Utilização de combustíveis fósseis 8
Qualidade do ar interior 16
Alteração dos habitats 24
Utilização de água 4
Emissão de gases poluentes 8
Criação de “Smog” 6
Toxicidade para os ecossistemas 11
Toxicidade para o ser humano 11
Destruição da camada de ozono 5
Neste caso, como não foram utilizados todos os parâmetros referidos no anterior estudo obteve-se, por
extrapolação, a ponderação estabelecida que está enunciada no quadro seguinte.
Quadro 5.9. – Peso de cada parâmetro na avaliação do desempenho ambiental
Desempenho Ambiental
Parâmetro wi (%)
Aquecimento global (GWP) 67
Utilização de combustíveis fósseis (PEE) 22
Utilização de água (EW) 11
5.2.4.3. Desempenho Económico
Finalmente, na quantificação do desempenho económico apenas é considerada uma variável logo, o
peso atribuído a esse parâmetro será igual a 1. Sintetizando, o valor do parâmetro normalizado é igual
ao valor indicador do desempenho económico.
Quadro 5.10. – Peso de cada parâmetro na avaliação do desempenho económico
Desempenho Económico
Parâmetro wi (%)
Custo de ciclo de vida (LCC) 100
Edifícios Verdes: Práticas Projectuais Orientadas para a Sustentabilidade
84
5.2.5. DETERMINAÇÃO DA NOTA SUSTENTÁVEL
Para finalizar a caracterização do perfil de sustentabilidade das soluções é necessário atribuir uma nota
final de sustentabilidade (NS).
O desempenho global da solução construtiva pode ser determinado pela equação 5.12., que condensa
os desempenhos dos indicadores anteriores num único valor.
Sendo,
NS – Nota Sustentável da solução construtiva k;
WGq – Peso global do indicador de desempenho q;
Iq,k – Indicador de desempenho q da solução construtiva k.
Com,
Recorda-se que o valor da NS está compreendido entre 0 e 1, uma vez que resulta da normalização do
valor dos parâmetros.
Uma vez que, ainda não existe um consenso, sobre o modo como o desempenho individual de cada
indicador influencia a sustentabilidade de uma forma global, o autor deixa a liberdade de se poder
ajustar o peso de cada um dos parâmetros de acordo com as exigências pretendidas.
Numa primeira análise poder-se-ia ter considerado uma distribuição equitativa entre os três
indicadores. No entanto, como o trabalho aborda os edifícios eco-eficientes, no âmbito da construção
sustentável, pretende-se uma maior compatibilidade entre o desempenho funcional e a preservação do
ambiente, sem comprometer uma justa relação custo/benefício. Na aplicação desta metodologia
considera-se a distribuição dos pesos apresentada no Quadro 5.10.
Quadro 5.11. – Peso de cada indicador na avaliação do desempenho económico
Desempenho Global
Indicador Wq (%)
Funcional 35
Ambiental 35
Económico 30
Edifícios Verdes: Práticas Projectuais Orientadas para a Sustentabilidade
85
Com a determinação desta nota é possível comparar e classificar qualitativamente, o desempenho
global das soluções construtivas, relacionando o valor da NS obtido com o valor da nota da solução de
referência (NSref).
Quadro 5.12. – Peso de cada indicador na avaliação do desempenho económico [Mateus et al, 2006]
NSr Classificação do desempenho
< NSref Inferior
= NSref Referência
> NSref Superior
O autor [MATEUS et al, 2006] alerta para o facto de que o valor de NS não deverá ser utilizado
individualmente para caracterizar a sustentabilidade da solução. Nos resultados finais devem também
constar os desempenhos parciais da solução ao nível dos três indicadores. Assim, evita-se a
possibilidade de uma incorrecta interpretação de resultados, causada pela possível compensação entre
indicadores, uma vez que soluções com comportamentos divergentes ao nível de cada indicador
poderão apresentar a mesma nota sustentável.
5.2.6. PERFIL SUSTENTÁVEL
A última fase da aplicação da metodologia consiste na representação gráfica dos valores normalizados
dos parâmetros considerados e dos valores dos indicadores obtidos. Desta forma, é possível observar
de uma forma clara as diferenças de desempenho de cada solução, ao nível de cada parâmetro e ao
nível dos indicadores de desempenho. A representação dos indicadores tem também como objectivo a
comparação gráfica das soluções e o modo como se relacionam com os indicadores definidos, entre
diferentes sistemas.
Na MARS-SC a representação gráfica faz-se através de um gráfico tipo radar, também conhecido por
diagrama de Amoeba, que apresenta um número de raios igual ao número de parâmetros em estudo.
Neste gráfico, quanto mais próximo do centro se encontra representada uma solução, menor é a sua
sustentabilidade.
Para que se possa comparar com facilidade as diferenças entre cada solução e a de referência, o perfil
sustentável desta (representado a vermelho) é traçado sobre o perfil de cada solução (representado a
azul), como se pode observar na Fig.5.2. e Fig.5.3.
A título de exemplo, se o perfil sustentável de cada solução for semelhante ao representado na
Fig.5.2., o desempenho da solução em estudo será melhor do que o da referência ao nível de todos os
parâmetros. Caso contrário a solução de referência é mais sustentável (Fig.5.3.).
Edifícios Verdes: Práticas Projectuais Orientadas para a Sustentabilidade
86
Fig.5.2. – Perfil sustentável (exemplo em que a solução em estudo é mais sustentável do que a solução de
referência)
Fig.5.3. – Perfil sustentável (exemplo em que a solução em estudo é menos sustentável do que a solução de
referência)
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87
5.3. SISTEMA DE CERTIFICAÇÃO AMBIENTAL LIDERA
5.3.1. DESCRIÇÃO
O sistema LiderA3 foi desenvolvido no âmbito da avaliação do desempenho ambiental dos edifícios. A
sua aplicação tem implícita a avaliação de um conjunto de critérios globais de desempenho. Estes
critérios por sua vez agregam-se em princípios que sustentam a base deste sistema. Contudo, alguns
critérios são de difícil avaliação quantitativa, o que sugere uma avaliação qualitativa e implica um
certo grau de subjectividade.
O LiderA baseia-se numa escala de referência, idêntica à utilizada pela certificação energética, que
determina o nível de eficiência de um determinado critério, numa escala A++ a G, por ordem de
decréscimo de eficiência. A cada nível de desempenho está associada uma relação de eficiência com
as práticas projectuais correntes.
Como este sistema se aplica principalmente à globalidade do edifício será necessário tomar estratégias
que possibilitem a avaliação do desempenho das soluções construtivas de uma forma isolada. Também
se terá em conta a possibilidade de se poder estabelecer uma base de comparação entre os diferentes
sistemas.
Para que a aplicação do LiderA tenha sucesso, a estratégia passa pela selecção dos critérios que se
assemelhem ou tenham implícito o mesmo objectivo que os da avaliação MARS-SC. Para além disso,
a aplicação do LiderA abrange todas as paredes consideradas no sistema MARS-SC, uma vez que, só
deste modo, resultará uma análise de sensibilidade do sistema LiderA mais rigorosa, aquando da
mudança de solução construtiva.
Pretende-se também eliminar a subjectividade utilizando critérios que se possam justificar
quantitativamente, através do MARS-SC, ou através de bibliografia.
Numa fase final a comparação recairá não só pela relação de desempenho das soluções construtivas ao
nível dos indicadores funcional, ambiental, e económico (análise micro), mas também pela análise da
forma como a mudança de solução construtiva afecta a nota global do próprio edifício (análise macro).
5.3.2.DESCRIÇÃO E SELECÇÃO DOS CRITÉRIOS LIDERA
Os critérios estão associados às vertentes do sistema, por isso faz sentido identificar em primeiro lugar
as vertentes associadas às soluções e, de seguida, escolher os critérios correspondentes.
A escolha dessas vertentes e dos respectivos critérios é justificada de seguida.
5.3.2.1. Integração Local
Esta vertente está relacionada com o impacte ambiental da integração local do edifício como um todo.
No que se refere ao objectivo do trabalho, nenhum dos respectivos critérios se enquadra no
desempenho pretendido para uma solução construtiva de parede exterior.
3 Para este estudo será considerada a versão mais actual deste sistema - LiderA 2.0.
Edifícios Verdes: Práticas Projectuais Orientadas para a Sustentabilidade
88
Quadro 5.13. – Critérios LiderA da vertente Integração Local [LiderA, 2009]
VERTENTE ÁREA Wi (%)
PRE-REQ
CRITÉRIO Nº C Pi
INTEGRAÇÃO LOCAL
SOLO 7 S
Valorização territorial C1 3,50
Optimização ambiental da implantação C2 3,50
ECOSSISTEMAS NATURAIS
5 S Valorização ecológica C3 2,50
Interligação de habitats C4 2,50
6 CRITÉRIOS PAISAGEM E
PATROMÓNIO 2 S
Integração paisagística local C5 1,00
14% Protecção e valorização do património C6 1,00
5.3.2.2. Recursos
A vertente Recursos engloba os critérios a ponderar em áreas como a energia, a água, os materiais e
recursos alimentares. Esta vertente considera a racionalização do consumo dos recursos naturais como
um factor importante para reduzir o impacte ambiental associado.
Nesta segunda vertente, à partida, já se encontram áreas que reúnem critérios que podem ser utilizados
para analisar o desempenho de uma parede exterior. Contudo, estes recursos estão adaptados à
utilização do edifício. Para contornar este aspecto, admite-se que o consumo de recursos está ligado a
todos os constituintes do edifício e portanto, associa-se às soluções construtivas.
Quadro 5.14. – Critérios LiderA da vertente Recursos [LiderA, 2009]
VERTENTE ÁREA Wi (%)
PRE-REQ
CRITÉRIO Nº C Pi
RECURSOS
ENERGIA 17 S
Certificação energética C7 5,67
Desenho passivo C8 5,67
Intensidade em Carbono (e eficiência energética)
C9 5,67
ÁGUA 8 S Consumo de água potável C10 4,00
Gestão das águas locais C11 4,00
MATERIAIS 5 S
Durabilidade C12 1,67
Materiais locais C13 1,67
9 CRITÉRIOS Materiais de baixo impacte C14 1,67
32% ALIMENTARES 2 S Produção local de alimentos C15 2,00
Na área da energia será considerado o critério 9 (C9), uma vez que está ligado às emissões de carbono,
e neste estudo foi recolhida informação que pode quantificar este problema. No que se refere à água,
será considerado o critério C10 como consumo de água das soluções construtivas. Finalmente, na área
de materiais serão admitidos os critérios C12 e C14, que se referem à durabilidade e ao baixo impacte
das soluções, respectivamente.
Edifícios Verdes: Práticas Projectuais Orientadas para a Sustentabilidade
89
A durabilidade pode ser quantificada através do LCC, substituindo os custos das operações por um.
Esta nova equação traduz o custo unitário de operações logo, a solução que tiver um maior custo será
menos durável, uma vez que possui mais operações de manutenção e substituição.
O baixo impacte dos materiais será quantificado pelas soluções que possuem menos massa. Soluções
com menos massa implicam o uso de menos material ou material mais leve, que na generalidade tem
menor impacto ambiental.
5.3.2.3. Cargas Ambientais
A terceira vertente, Cargas Ambientais, aborda a dimensão dos impactes gerados pela envolvente
construída e a relação que esta promove com os espaços exteriores. Também são avaliados todos os
tipos de poluição imputáveis aos edifícios ou ao local onde este está inserido. Como estes são critérios
possíveis de serem admitidos para o estudo, as considerações tomadas na vertente anterior, também
serão admitidas para a vertente de cargas ambientais.
Quadro 5.15. – Critérios LiderA da vertente Cargas Ambientais [LiderA, 2009]
VERTENTE ÁREA Wi (%)
PRE-REQ
CRITÉRIO Nº C Pi
CARGAS AMBIENTAIS
EFLUENTES 3 S
Tratamento das águas residuais
C16 1,50
Caudal de reutilização de águas usadas
C17 1,50
EMISSÕES ATMOSFÉRICAS
2 S
Caudal de emissões atmosféricas - Partículas e/ou Substancias com potencial acidificantes (Emissão de outros poluentes: SO2 e NOX)
C18 2,00
RESÍDUOS 3 S
Produção de resíduos C19 1,00
Gestão de resíduos perigosos C20 1,00
Reciclagem de resíduos C21 1,00
8 CRITÉRIOS RUÍDO
EXTERIOR 3 S Fontes de ruído para o exterior C22 3,00
12% POLUIÇÃO ILUMINO-TÉRMICA
1 S Efeitos térmicos (ilha de calor) e luminosos
C23 1,00
Nesta vertente, será considerado apenas o critério C18 da área correspondente às emissões
atmosféricas, visto que é o único para o qual o estudo fornece dados possíveis de se avaliar. Também
seria interessante incluir a reciclagem das soluções construtivas, mas não foram encontrados detalhes
para possibilitar a inclusão deste critério.
Edifícios Verdes: Práticas Projectuais Orientadas para a Sustentabilidade
90
5.3.2.4. Conforto Ambiental
A quarta vertente, Controlo Ambiental, inclui as áreas relacionadas com o conforto interior dos
espaços, nomeadamente os níveis de qualidade do ar, o conforto térmico, os níveis de iluminação e o
conforto acústico. Estes são critérios chave para o bem-estar dos utilizadores que não só dependem das
actividades e programa dos espaços como também do tipo de utentes que os frequentam.
A envolvente exterior desempenha um papel fundamental na melhoria do conforto ambiental de um
edifício.
Quadro 5.16. – Critérios LiderA da vertente Conforto Ambiental [LiderA, 2009]
VERTENTE ÁREA Wi (%)
PRE-REQ
CRITÉRIO Nº C Pi
CONFORTO AMBIENTAL
QUALIDADE DO AR
5 S Níveis de qualidade do ar C24 5,00
4 CRITÉRIOS CONFORTO
TÉRMICO 5 S Conforto térmico C25 5,00
15% ILUMINAÇÃO E
ACÚSTICA 5 S
Níveis de iluminação C26 2,50
Isolamento acústico/Níveis sonoros
C27 2,50
Os critérios LiderA relacionados com a envolvente exterior, que influenciam directamente o
desempenho do conforto ambiental de um edifício, são os critérios C25 e C27, que correspondem ao
conforto térmico e ao isolamento sonoro, respectivamente. No que diz respeito ao critério C25, a
determinação do valor deste critério foi realizada na aplicação da metodologia MARS-SC, o mesmo
não acontece com o critério C27. Todavia [MATEUS et al, 2006], realizou um estudo acústico de
algumas paredes consideradas neste estudo. O seu trabalho será aplicado então, na avaliação do
desempenho deste critério.
5.3.2.5. Vivências Socio-Económicas
A vertente Vivências Socio-Económicas considera aspectos relacionados com a integração do edifício
nas áreas sociais e económicas.
Na lista do Quadro 5.17., a área correspondente ao modo como uma parede exterior afecta o impacto
social e económico de um edifício é a área de custos de ciclo de vida.
Edifícios Verdes: Práticas Projectuais Orientadas para a Sustentabilidade
91
Quadro 5.17. – Critérios LiderA da vertente Vivências Socio-Económicas [LiderA, 2009]
VERTENTE ÁREA Wi (%)
PRE-REQ
CRITÉRIO Nº C Pi
VIVÊNCIAS SOCIO-
ECONÓMICAS
ACESSO PARA TODOS
5 S
Acesso aos transportes públicos
C28 1,67
Mobilidade de baixo impacte C29 1,67
Soluções inclusivas C30 1,67
CUSTOS NO CICLO DE VIDA
2 S Baixos custos no ciclo de vida C31 2,00
DIVERSIDADE ECONÓMICA
4 S
Flexibilidade - Adaptabilidade aos usos
C32 1,33
Dinâmica económica C33 1,33
Trabalho Local C34 1,33
AMENIDADES E INTERACÇÃO
SOCIAL 4 S
Amenidades locais C35 2,00
Interacção com a comunidade C36 2,00
PARTICIPAÇÃO E CONTROLO
4 S
Capacidade de controlo C37 1,00
Governância e participação C38 1,00
13 CRITÉRIOS Controlo dos riscos naturais - (Safety)
C39 1,00
19% Controlo das ameaças humanas - (Security)
C40 1,00
Sendo assim, o critério seleccionado será o critério C31, que também já foi abordado na metodologia
MARS-SC.
5.3.2.6. Gestão Ambiental e Inovação
A última vertente do sistema LiderA é a de Gestão Ambiental e Inovação, que se refere à gestão do
ambiente interior através da implementação de práticas que visem a monitorização dos espaços
construídos. Esta manutenção é efectuada não só através de sistemas automáticos de gestão ambiental,
como também pela divulgação de informações relevantes aos utentes, que possam de alguma forma,
optimizar o desempenho ambiental dos espaços.
Quadro 5.18. – Critérios LiderA da vertente Gestão Ambiental e Inovação [LiderA, 2009]
VERTENTE ÁREA Wi (%)
PRE-REQ
CRITÉRIO Nº C Pi
GESTÃO AMBIENTAL E
INOVAÇÃO GESTÃO
AMBIENTAL 6 S
Condições de utilização ambiental
C41 3,00
3 CRITÉRIOS Sistema de gestão ambiental C42 3,00
8% INOVAÇÃO 2 S Inovações C43 2,00
Edifícios Verdes: Práticas Projectuais Orientadas para a Sustentabilidade
92
Em termos práticos, para o desenvolvimento deste trabalho, será considerado o critério C43
correspondente à inovação, uma vez que existem tecnologias nos sistemas construtivos de parede, que
traduzem benefícios incrementais, como é o caso da eliminação das pontes térmicas com os sistemas
de isolamento exterior, e a ventilação da fachada, através das tecnologias de fachadas-ventiladas.
5.3.3. AGREGAÇÃO DOS CRITÉRIOS LIDERA
Para obter uma relação de comparação entre as metodologias de avaliação de sustentabilidade e de
forma a ir de encontro ao objectivo do trabalho, a agregação dos parâmetros nos diversos indicadores é
feita segundo o Quadro 5.19.
Note-se que esta agregação não faz parte da avaliação do sistema LiderA, apenas irá representar um
modo de comparação entre os resultados.
Quadro 5.19. – Agregação dos critérios LiderA segundo os indicadores [LiderA, 2009]
INDICADOR CRITÉRIO NºC Pi
Funcional
Durabilidade C12 1,67
Conforto térmico C25 5,00
Isolamento acústico/Níveis sonoros C27 2,50
42% Inovações C43 2,00
Ambiental
Intensidade em Carbono (e eficiência energética) C9 5,67
Consumo de água potável C10 4,00
Materiais de baixo impacte C14 1,67
50% Caudal de emissões atmosféricas - Partículas e/ou Substancias com potencial acidificantes (Emissão de outros poluentes: SO2 e NOX)
C18 2,00
Económico
8% Baixos Custos no ciclo de vida C31 2,00
Para realizar uma comparação entre soluções construtivas pelos três indicadores, ou seja, ao nível
micro, a ponderação será extrapolada, para que o somatório dos pesos individuais (Pi) dos critérios
considerados seja igual a 100%. Já no que se refere à comparação do desempenho das soluções, ao
nível da performance do edifício (nível macro), os Pi’s manter-se-ão os mesmos e apenas se alterará a
nota individual dos critérios considerados.
5.3.4. DEFINIÇÃO DAS PONDERAÇÕES LIDERA
Numa fase posterior à selecção dos critérios atribui-se uma nota a cada critério, com base no seu
desempenho em relação à prática habitual A cada nota está associada uma ponderação.
O Quadro 5.20. apresenta as ponderações consideradas no sistema LiderA.
Edifícios Verdes: Práticas Projectuais Orientadas para a Sustentabilidade
93
Quadro 5.20. – Ponderações atribuídas segundo o nível de desempenho [LiderA, 2009]
Nível Ponderação Descrição
G 0,67 Apresenta um agravamento de 25% face à prática habitual
F 0,86 Apresenta um agravamento de 12,5% face à prática habitual
E 1 Valor de desempenho igual à da prática habitual
D 1,14 Apresenta uma melhoria de 12,5% face à prática habitual
C 1,33 Apresenta uma melhoria de 25% face à prática habitual
B 1,66 Apresenta uma melhoria de 37,5% face à prática habitual
A 2 Apresenta uma melhoria de 50% face à prática habitual
A+ 4 Apresenta uma melhoria de 75% face à prática habitual
A++ 10 Apresenta uma melhoria de 90% face à prática habitual
As notas consideradas no sistema LiderA variam entre A++ e G Assim, a nota A corresponde a uma
melhoria de 25% face à prática habitual e a G representa um agravamento de 25% face à mesma
prática. A nível intermédio encontra-se a nota E que representa o desempenho igual à prática habitual.
5.2.1. ATRIBUIÇÃO DA NOTA LIDERA
Finalmente, no que se refere à atribuição das notas será considerada a adopção de duas estratégias. A
primeira é adoptada para a comparação entre indicadores, a segunda constitui uma avaliação
convencional aplicada a todos os critérios considerados no sistema LiderA, em que apenas se alteram
os adoptados e os outros correspondem à prática habitual (nota E).
Esta nota resulta do somatório das ponderações multiplicadas pelos seus Pi’s dividido por dez.
A nota atribuída a ambos os casos será de acordo com o sistema LiderA que está apresentado no
Quadro 5.21.
Quadro 5.21. – Atribuição de nota do sistema LiderA [LiderA, 2009]
Classificação
Classe G < 8,9
8,9 ≤ Classe F < 9,8
9,8 ≤ Classe E < 10,8
11,2 ≤ Classe D < 12,2
12,2 ≤ Classe C < 14,5
14,5 ≤ Classe B < 18,0
18,0 ≤ Classe A < 30,0
30,0 ≤ Classe A+ < 70,0
70,0 ≤ Classe A++
Edifícios Verdes: Práticas Projectuais Orientadas para a Sustentabilidade
94
5.4. IDENTIFICAÇÃO DAS SOLUÇÕES
Como foi admitida uma quantidade considerável de soluções, a sua presença nesta parte do trabalho,
iria desviar a atenção do principal objectivo que é a aplicação e a posterior comparação das
metodologias. Não obstante, adianta-se que no leque de soluções construtivas admitidas, foram
consideradas paredes duplas, paredes simples com isolamento pelo exterior e fachadas-ventiladas.
Assim, o resumo da descrição das soluções construtivas de paredes exteriores consideradas encontra-
se no anexo A1 o que possibilita uma consulta mais clara.
5.5. RESULTADOS DA APLICAÇÃO DO MODELO DE AVALIAÇÃO RELATIVO DE SUSTENTABILIDADE
Incorporando toda a informação recolhida na base de dados, nas diversas soluções construtivas,
obteve-se o seguinte quadro, que servirá de base de comparação entre os dois métodos estudados.
Quadro 5.22. – Caracterização das soluções construtivas pelos parâmetros considerados.
Parede M U PEE GWP EW LCC
[Nº] [Kg/m2] [W/(m
2.ºC)] [KWh/m
2] [g/m
2] [l/m
2] [€/m
2]
1 370 0,54 291 66104 175830 78
2 527 0,45 205 45385 95256 170
3 297 0,56 246 54394 145820 84
4 525 0,62 236 52714 138380 116
5 260 0,61 227 54994 102051 107
6 951 0,55 162 36694 88100 461
7 341 0,48 265 59506 156180 71
8 557 0,52 183 40925 101696 97
9 597 0,53 65 13885 25296 467
10 203 0,61 150 33286 84420 89
11 115 0,27 348 109605 170248 171
12 319 0,49 261 62815 157530 111
13 602 0,85 152 37099 88974 180
14 380 0,73 377 47344 68284 121
15 331 0,64 328 90225 70034 299
No final da normalização dos parâmetros considerados na MARS-SC, e da posterior agregação destes
nos respectivos indicadores, foi possível a elaboração de um ranking de sustentabilidade para as
soluções construtivas da envolvente exterior (Quadro 5.23.), com base na sua nota sustentável (NS).
Edifícios Verdes: Práticas Projectuais Orientadas para a Sustentabilidade
95
Quadro 5.23. – Notas obtidas na MARS-SC
Parede Indicador de Desempenho NS
[Nº] Funcional Ambiental Económico
(+)
10 0,51 0,76 0,96 0,73
8 0,55 0,67 0,94 0,71
7 0,65 0,44 1,00 0,68
2 0,64 0,63 0,75 0,67
3 0,56 0,50 0,97 0,66
12 0,65 0,42 0,90 0,65
5 0,49 0,54 0,91 0,64
1 0,56 0,37 0,98 0,62
4 0,41 0,53 0,89 0,59
11 1,00 0,02 0,75 0,58
14 0,31 0,51 0,88 0,55
9 0,53 1,00 0,00 0,53
13 0,08 0,73 0,73 0,50
6 0,41 0,73 0,01 0,40
15 0,44 0,25 0,42 0,37
(-)
Este ranking está organizado por ordem decrescente de sustentabilidade. A variação das notas, obtidas
pela MARSC-SC, vai de 0,73 para a parede 10, a 0,37, para a parede 15, que correspondem
respectivamente à pior e à melhor classificação.
5.6. RESULTADOS DA APLICAÇÃO DO SISTEMAS DE CERTIFICAÇÃO AMBIENTAL LIDERA
No que diz respeito ao sistema LiderA, o Quadro 5.24. resume as notas distribuídas pelos respectivos
indicadores de desempenho e estabelece igualmente um ranking, segundo este sistema. A avaliação
está repartida por uma nota que corresponde a uma classe de desempenho.
Como foi referido na descrição da metodologia deste sistema, à nota final estão associadas uma nota
micro e uma nota macro. A primeira, corresponde à avaliação final da solução construtiva, segundo os
critérios considerados, e a segunda refere-se à nota global do edifício considerando todos os critérios
do sistema.
Edifícios Verdes: Práticas Projectuais Orientadas para a Sustentabilidade
96
Quadro 5.24. – Notas obtidas no sistema LiderA
Parede Indicador de Desempenho Nota Nota
[Nº] Funcional Ambiental Económico Micro Macro
(+) Classe Nota Classe Nota Classe Nota Classe Nota Classe Nota
10 Classe D 11,2 Classe A++ 92,5 Classe E 10,0 Classe A+ 52,0 Classe A 21,1
9 Classe D 11,5 Classe A++ 88,3 Classe G 6,7 Classe A+ 49,8 Classe A 20,5
13 Classe D 10,8 Classe A++ 79,3 Classe G 6,7 Classe A+ 45,0 Classe A 19,3
6 Classe D 11,3 Classe A+ 53,8 Classe G 6,7 Classe A+ 32,4 Classe B 15,9
11 Classe A+ 51,0 Classe A 20,2 Classe G 6,7 Classe A+ 32,1 Classe B 15,9
15 Classe D 11,4 Classe A+ 36,7 Classe G 6,7 Classe A 23,8 Classe C 13,6
14 Classe E 10,3 Classe A+ 37,4 Classe G 6,7 Classe A 23,7 Classe C 13,6
2 Classe D 10,9 Classe A 22,4 Classe G 6,7 Classe B 16,4 Classe D 11,7
8 Classe E 11,5 Classe B 16,3 Classe G 6,7 Classe C 13,6 Classe D 10,9
5 Classe E 10,2 Classe B 15,4 Classe G 6,7 Classe C 12,6 Classe E 10,7
3 Classe D 11,0 Classe D 11,6 Classe E 10,0 Classe D 11,2 Classe E 10,3
12 Classe D 11,8 Classe D 11,2 Classe G 6,7 Classe D 11,1 Classe E 10,3
7 Classe D 11,8 Classe E 10,4 Classe E 10,0 Classe D 11,0 Classe E 10,3
4 Classe E 10,4 Classe D 11,7 Classe G 6,7 Classe E 10,7 Classe E 10,2
1 Classe E 10,0 Classe E 10,0 Classe E 10,0 Classe E 10,0 Classe E 10,0
(-)
Na lista de paredes consideradas, observa-se que no sistema LiderA, a parede que obteve melhor
classificação foi novamente a parede 10 e a que ficou em último lugar foi a parede considerada de
referência, a parede 1.
5.7. ANÁLISE DE SENSIBILIDADE DOS MODELOS
Ao iniciar análise de sensibilidade destes dois modelos, depara-se com uma dificuldade em adequar os
dois métodos um ao outro, uma vez que estes apresentam diferenças na sua metodologia que podem
explicar a disparidade dos resultados obtidos.
A MARSC-SC avalia parâmetros que definem de um modo claro as exigências intrínsecas aos
elementos construtivos. Esta também procura relacionar os resultados obtidos de um modo mais
equitativo através da sua normalização, criando assim um valor de comparação entre 0 e 1, consoante
o nível de resultados obtidos. No entanto o valor obtido não é representativo de um contexto global de
soluções construtivas, apenas se adequa à quantidade e qualidade de soluções estudadas.
O sistema LiderA, como o objectivo e objecto da sua avaliação é o edifício como um todo, a sua
aplicação a um sistema construtivo motivou a adaptação de alguns critérios para que estes se
pudessem incluir apenas na avaliação de soluções construtivas de paredes exteriores. A sua
metodologia diverge, relativamente ao MARSC-SC, no modo como é estabelecida a nota de cada
critério. Em quanto que a MARS-SC utiliza uma forma de normalização dos valores obtidos para criar
Edifícios Verdes: Práticas Projectuais Orientadas para a Sustentabilidade
97
uma nota, o LiderA baseia-se na definição de uma nota com base no rendimento da solução em relação
a uma solução corrente ou de referência. Contudo este sistema valoriza mais as notas mais altas e
menos as notas mais baixas, por que a escala de atribuição de notas aumenta expressivamente com o
aumento da eficiência (Quadro 5.20.), para além disso, esta escala e a escala de atribuição da classe
final (quadro 5.21.) não são equitativas o que promove um aumento da nota final, sempre que haja
uma nota que se destaque num determinado critério. Por outro lado, pequenas variações das eficiências
dos critérios são imperceptíveis.
Ainda no que se diz respeito ao LiderA a percentagem correspondente aos critérios seleccionados para
a avaliação de uma parede exterior representa 26,5% da totalidade dos critérios do sistema. O que
implica que a parede exterior possui um papel importante na sustentabilidade do edifício. Em termos
de percentagens dos indicadores Funcional Ambiental e Económico, o LiderA contabiliza mais o
Ambiental (50%), seguido pelo Funcional (42%) e menos o Económico (8%), em contra partida a
MARS-SC, contabiliza de igual forma os indicadores Ambiental e Funcional (35%), mas dá mais
importância ao Económico que o LiderA (30%).
No que se refere aos resultados obtidos existe uma coerência na parede que atingiu o maior patamar de
sustentabilidade (parede 10). Esta é a que apresenta a constituição mais simples, e das mais leves o
que implica menos material na sua constituição, logo menos energia, menos emissões e mais barata
sem perder as suas características funcionais. Pelo Quadro A1.10, do anexo A1,segundo a MARSC-
SC, percebe-se facilmente que esta solução apresenta uma melhoria significativa dos desempenhos
ambiental e económico em relação à solução de referência. Segundo o LiderA esta metodologia
destaca-se pela elevada eficiência dos critérios ambientais. Contudo, esta parede representa uma
solução não tradicional e que aponta algumas reservas quanto à sua resistência mecânica.
As paredes que apresentam uma maior disparidade de resultados entre estes dois modelos são as
paredes 6, 7, 9 e 13. Todas elas divergem cerca de 10 lugares no ranking de uma metodologia para a
outra. As paredes 6 e 9 são soluções constituídas por pedra emparelhada natural que em termos
ambientais apresentam um bom desempenho, mas em termos económicos são incomportáveis, não
pelo custo de manutenção, mas devido ao elevado custo inicial que a aplicação desta tecnologia
acarreta. Logo como o sistema LiderA valoriza muito mais os aspectos ambientais que económicos,
inflaciona o seu valor final, o que permite subir dez valores em relação à MARS-SC. Por outro lado, a
parede 7, embora tenha uma classificação equilibrada na MARS-SC, desce dez classificações no
sistema LiderA, porque esta tecnologia não apresenta melhorias significativas, relativamente à
eficiência de uma solução de referência. A parede 13, por sua vez, representa um mau comportamento
térmico o que implica um consequente mau desempenho funcional na MARS-SC. Mas como em
termos ambientais apresenta uma maior eficiência ambiental do que a solução de referencia, a sua
posição no LiderA é mais destacada.
A classificação da parede de referência (parede 1) diverge igualmente entre os métodos estudados. Em
quanto que no ranking da MARS-SC esta parede em contra-se a meio da tabela, no LiderA a parede 1
é a pior classificada. Isto deve-se ao facto de que na MARS-SC, esta parede apresenta uma forte
componente económica que equilibra a nota global, já no LiderA essa componente é descaracterizada.
Por outro lado, esta parede como serve de referência, neste sistema, a sua nota será sempre inferior a
qualquer outra solução que apresente uma melhoria em algum dos critérios.
Edifícios Verdes: Práticas Projectuais Orientadas para a Sustentabilidade
98
5.8. OBSERVAÇÕES
No decorrer deste trabalho, realizou-se um programa em Excel que sistematiza a metodologia MARS-
SC aplicada. Este programa facilita a interpretação da sustentabilidade das várias soluções e compara-
as com uma solução de referência ou com outra que o utilizador pretenda. Este programa permite a
introdução de vários elementos por camadas, das quais foram reunidas características ambientais,
funcionais e económicas, previamente, numa base de dados.
Fig.5.4. – Esquema do software desenvolvido com base na metodologia MARS-SC
Este demonstra igualmente que ainda existem combinações de materiais que traduzem índices de
sustentabilidade mais elevados, mas como não contemplam soluções tradicionais e representam
algumas dúvidas na compatibilidade entre os materiais, não foram abordados.
Refere-se ainda que para a determinação dos parâmetros ou critérios ambientais existem softwares
específicos para a LCA, no entanto, foi apenas considerada uma bibliografia, por falta de tempo no
domínio de outras plataformas que são bastante exigentes.
Edifícios Verdes – Práticas Projectuais Orientadas para a Sustentabilidade
99
6
CONCLUSÕES FINAIS
6.1. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A realização do presente trabalho permitiu assimilar um conjunto de aspectos fundamentais para a
sustentabilidade na concepção de edifícios. Desafiou de igual modo, os principais intervenientes da
construção para que procurem a sustentabilidade em todas as suas acções, criando sinergias entre si
durante todas as fases do ciclo de vida do edifício. Desta contemplação nasce uma nova abordagem
integrada, denominada ciclo de engenharia.
Devido ao aumento crescente da procura da sustentabilidade, foi ainda destacado o esforço
Internacional e Europeu em normalizar as vertentes que dizem respeito à sustentabilidade dos
edifícios. Por sua vez, o surgimento dos sistemas de certificação ambiental, foi essencial, para
comprovar e incentivar este aumento do desempenho energético-ambiental.
Foram ainda expostos vários princípios e requisitos que são necessários contemplar para que um
projecto seja considerado verde. Estes requisitos pretendem agregar o conhecimento actual sobre as
práticas mais sustentáveis e focam-se na pele do edifício e na caracterização de estratégias para
equilibrar os ganhos e as perdas.
O conceito de edifício verde não representa apenas benefícios directos ao nível ambiental e
económico, mas também apresenta benefícios indirectos significativos, que são importantes para a
realidade dos projectos de construção de edifícios em Portugal.
Finalmente permitiu entender que a visão de sustentabilidade não deve ser vista do global para o
particular, mas deve promover a sustentabilidade das soluções particulares, alargando a sua visão ao
panorama global. É por isso que é importante decompor um edifício e analisá-lo numa perspectiva de
desempenho funcional, ambiental e económico, passando pelo ponto de vista dos materiais, seguido
pelas soluções e sistemas construtivos e, só posteriormente, partir para a avaliação da sustentabilidade
do edifício como um todo.
6.2. CONCLUSÕES SOBRE O ESTUDO
Este trabalho contribuiu o para estabelecimento de um ranking de sustentabilidade entre soluções
construtivas de parede exterior com base em duas metodologias de avaliação da sustentabilidade.
Permitiu ainda retratar graficamente o perfil de sustentabilidade de cada parede, com base nos
Indicadores Funcional, Ambiental e Económico, anteriormente estipulados. Tudo isto culminou numa
análise crítica entre os dois sistemas e no modo como cada um avalia a sustentabilidade em relação à
mudança de uma solução construtiva de parede.
Edifícios Verdes – Práticas Projectuais Orientadas para a Sustentabilidade
100
A MARS-SC revelou ser uma metodologia interessante para a avaliação da sustentabilidade de
soluções construtivas. Os parâmetros analisados são objectivos e quantificáveis, no entanto o rigor da
sua avaliação depende da quantidade e qualidade dos parâmetros analisados, assim como do número
de soluções construtivas consideradas, para que haja significância estatística.
Como já era esperado, o sistema de certificação ambiental LiderA não está preparado para a avaliação
independente de soluções construtivas. Para a aplicação deste sistema foi necessária a adaptação de
alguns critérios que se identificassem com parâmetros de avaliação de paredes exteriores. Esta análise
permitiu verificar que a ponderação dos critérios seleccionados contabiliza cerca de 26,5% de todos os
critérios do sistema LiderA, o que implica que as paredes exteriores possuam um grande contributo
para as soluções construtivas. É importante referir que a avaliação efectuada por este sistema possui
critérios menos claros que lhe atribuem alguma subjectividade.
As representações gráficas representam uma mais-valia para a compreensão da sustentabilidade de
cada solução construtiva.
Na globalidade, estas duas metodologias atendem ao objectivo final de avaliar a sustentabilidade. O
estudo da análise de sensibilidade permitiu elucidar algumas das divergências dos resultados obtidos.
Finalmente, com este estudo provou-se que a parede exterior possui um papel determinante no
desempenho eco-eficiente do edifício. Por isso todas as considerações tomadas no projecto
relativamente a este sistema são de enorme relevância.
6.3. DESENVOLVIMENTOS FUTUROS
Na impossibilidade de detalhar ainda mais o estudo, por falta de tempo, meios ou conhecimento, são
deixadas algumas sugestões para que se possa complementar a ciência no que se refere à
sustentabilidade dos edifícios, mais concretamente à sustentabilidade de soluções construtivas.
Uma vez que a falta de domínio em certas matérias só possibilitou a definição de alguns parâmetros,
futuramente, poder-se-ia incluir ainda mais parâmetros ao estudo destes elementos construtivos. Isto
permitiria uma maior abrangência das exigências fundamentais, das paredes exteriores, aperfeiçoando
ainda mais a metodologia e a consequente avaliação da sustentabilidade de cada solução. Pelos
mesmos motivos o estudo também deveria ser alargado a uma maior variedade de paredes exteriores.
Como ainda existe algum desconhecimento sobre a sustentabilidade de outros sistemas construtivos
que ainda contemplam a envolvente exterior, poder-se-ia aplicar a mesma metodologia de estudo, por
exemplo, a janelas com vários tipos de vidro e caixilharias, ou ainda a coberturas, utilizando os
mesmos parâmetros ou complementando com outros que sejam mais relevantes para o caso. No
entanto, o estudo não deveria ficar pela envolvente exterior. Este deveria estender-se a todos os
elementos que compõe um edifício, como as fundações, a estrutura e as instalações, de modo a
constituir um guia prático de avaliação da sustentabilidade de todos os componentes integrantes de um
edifício.
Para finalizar, a integração de todos estes conhecimentos numa aplicação Web seria bastante
interessante e promoveria o desenvolvimento de novas tecnologias e consequentemente novas
construções cada vez mais sustentáveis.
Edifícios Verdes - Práticas Projectuais Orientadas para a Sustentabilidade
101
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106
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ANEXO1
A1
PERFIS DE
SUSTENTABILIDADE
A1.1. CARACTERIZAÇÃO DOS PERFIS DE SUSTENTABILIDADE
A1.1.1. INTRODUÇÃO
Os quadros seguintes sistematizam os Perfis de Sustentabilidade de cada solução de parede exterior
considerada. Em cada quadro é demonstrada uma breve descrição da parede, evidenciando as
características que serviram de base para a atribuição de notas nos dois modelos. De seguida
apresenta-se avaliação obtida com a respectiva representação gráfica e a posição no ranking, em cada
metodologia.
Para facilitar a visualização, as 15 paredes foram divididas em três grupos:
Paredes Duplas
Paredes Simples Isoladas pelo exterior
Fachadas Ventiladas
Edifícios Verdes – Práticas Projectuais Orientadas para a Sustentabilidade
ANEXO 1
A1.1.2. PAREDES DUPLAS
Quadro A1.1 – Perfil sustentável da Parede 1
PA
RE
DE
1
PERFIL CONST. DESCRIÇÃO
- Reboco tradicional (1,5 cm); - Tijolo furado de 15 cm; - Espaço de ar (2 cm); - XPS (3 cm) - Tijolo furado de 11 cm; - Reboco tradicional (1,5 cm).
M U Dur Dn PEE GWP EW LCC
[kg/m2] [W/m
2.oC] [Índice] [dB] [kWh/m
2] [g/m
2] [l/m
2] [€/m
2]
370 0,54 9 48 291 66104 175830 78
MA
RS
-SC
NO
TA
M U PEE GWP EW LCC Funcional Ambiental Económico Nota Global Ranking
0,7 0,5 0,3 0,5 0,0 1,0 0,6 0,4 1,0
PE
RF
IL S
US
TE
NT
ÁV
EL
0,62 8º
Lid
erA
CRIT. 12 25 27 43 9 10 14 18 31 Funcional Ambiental Económico Nota Global
Ranking POND. 1,7 5,0 2,5 2,0 5,7 4,0 1,7 2,0 2,0 10,0 10,0 10,0
NÍVEL E E E E E E E E E E E E E
EF. 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0
10,0 15º
0
0,5
1M
U
PEC
GWP
WC
LCC
0
0,5
1Funcional
AmbienteEconómico
0
50
100Funcional
AmbienteEconómico
Edifícios Verdes – Práticas Projectuais Orientadas para a Sustentabilidade
ANEXO1
Quadro A1.2 – Perfil sustentável da Parede 2
PA
RE
DE
2
PERFIL CONST. DESCRIÇÃO
- Betão aparente (20 cm); - Lã de rocha (10 cm); - 2 x Gesso cartonado (2,5 cm).
M U Dur Dn PEE GWP EW LCC
[kg/m2] [W/m
2.oC] [Índice] [dB] [kWh/m
2] [g/m
2] [l/m
2] [€/m
2]
527 0,45 10 56 205 45385 95256 170
MA
RS
-SC
NO
TA
M U PEE GWP EW LCC Funcional Ambiental Económico Nota Global Ranking
0,5 0,7 0,6 0,7 0,5 0,8 0,6 0,6 0,8
PE
RF
IL S
US
TE
NT
ÁV
EL
0,67 4º
Lid
erA
CRIT. 12 25 27 43 9 10 14 18 31 Funcional Ambiental Económico Nota Global
Ranking POND. 1,7 5,7 2,9 2,0 9,4 16,0 1,1 3,3 1,3 10,9 22,4 6,7
NÍVEL E D D E B A+ G B G D A G B
EF. 0,0 0,2 0,2 0,0 0,4 0,8 -0,3 0,5 -0,5
16,4 8º
0
0,5
1M
U
PEC
GWP
WC
LCC
0
0,5
1Funcional
AmbienteEconómico
0,0
50,0
100,0Funcional
AmbienteEconómico
Edifícios Verdes – Práticas Projectuais Orientadas para a Sustentabilidade
ANEXO 1
Quadro A1.3 – Perfil sustentável da Parede 3
PA
RE
DE
3
PERFIL CONST. DESCRIÇÃO
- Tijolo maciço de 7 cm; - Espaço de ar (4 cm); - XPS (4 cm); - Tijolo furado de 11 cm; - Reboco tradicional (2 cm).
M U Dur Dn PEE GWP EW LCC
[kg/m2] [W/m
2.oC] [Índice] [dB] [kWh/m
2] [g/m
2] [l/m
2] [€/m
2]
297 0,56 6 47 246 54394 145820 84
MA
RS
-SC
NO
TA
M U PEE GWP EW LCC Funcional Ambiental Económico Nota Global Ranking
0,8 0,5 0,4 0,6 0,2 1,0 0,6 0,5 1,0
PE
RF
IL S
US
TE
NT
ÁV
EL
0,66 5º
Lid
erA
CRIT. 12 25 27 43 9 10 14 18 31 Funcional Ambiental Económico Nota Global
Ranking POND. 2,8 5,0 2,5 2,0 6,5 4,6 2,2 2,3 2,0 11,0 11,6 10,0
NÍVEL B E E E D D C D E D D E D
EF. 0,4 0,0 0,0 0,0 0,2 0,2 0,2 0,2 -0,1
11,2 11º
0,0
0,5
1,0M
U
PEC
GWP
WC
LCC
0,0
0,5
1,0Funcional
AmbienteEconómico
0,0
50,0
100,0Funcional
AmbienteEconómico
Edifícios Verdes – Práticas Projectuais Orientadas para a Sustentabilidade
ANEXO1
Quadro A1.4 – Perfil sustentável da Parede 4
PA
RE
DE
4
PERFIL CONST. DESCRIÇÃO
- Tijolo maciço de 7 cm; - Espaço de ar (4 cm); - XPS (4cm); - Betão armado (15 cm); - Reboco tradicional (2 cm).
M U Dur Dn PEE GWP EW LCC
[kg/m2] [W/m
2.oC] [Índice] [dB] [kWh/m
2] [g/m
2] [l/m
2] [€/m
2]
525 0,62 6 50 236 52714 138380 116
MA
RS
-SC
NO
TA
M U PEE GWP EW LCC Funcional Ambiental Económico Nota Global Ranking
0,5 0,4 0,5 0,6 0,2 0,9 0,4 0,5 0,9
PE
RF
IL S
US
TE
NT
ÁV
EL
0,59 9º
Lid
erA
CRIT. 12 25 27 43 9 10 14 18 31 Funcional Ambiental Económico Nota Global
Ranking POND. 2,8 4,3 2,5 2,0 6,5 5,3 1,1 2,7 1,3 10,4 11,7 6,7
NÍVEL B F E E D C G C G E D G E
EF. 0,5 -0,1 0,0 0,0 0,2 0,3 -0,3 0,3 -0,3
10,7 14º
0,0
0,5
1,0M
U
PEC
GWP
WC
LCC
0,0
0,5
1,0Funcional
AmbienteEconómico
0,0
50,0
100,0Funcional
AmbienteEconómico
Edifícios Verdes – Práticas Projectuais Orientadas para a Sustentabilidade
ANEXO 1
Quadro A1.5 – Perfil sustentável da Parede 5
PA
RE
DE
5
PERFIL CONST. DESCRIÇÃO
- Tijolo maciço de 7 cm; - Espaço de ar (4 cm); - EPS (1 cm); - Betão celular autoclavado (17,5 cm); - Reboco (2 cm).
M U Dur Dn PEE GWP EW LCC
[kg/m2] [W/m
2.oC] [Índice] [dB] [kWh/m
2] [g/m
2] [l/m
2] [€/m
2]
260 0,61 8 48 227 54994 102051 107
MA
RS
-SC
NO
TA
M U PEE GWP EW LCC Funcional Ambiental Económico Nota Global Ranking
0,8 0,4 0,5 0,6 0,5 0,9 0,5 0,5 0,9
PE
RF
IL S
US
TE
NT
ÁV
EL
0,64 7º
Lid
erA
CRIT. 12 25 27 43 9 10 14 18 31 Funcional Ambiental Económico Nota Global
Ranking POND. 1,9 5,0 2,5 2,0 7,5 8,0 2,8 2,3 1,3 10,2 15,4 6,7
NÍVEL D E E E C A B D G E B G C
EF. 0,2 -0,1 0,0 0,0 0,3 0,7 0,4 0,2 -0,3
12,6 10º
0,0
0,5
1,0M
U
PEC
GWP
WC
LCC
0,0
0,5
1,0Funcional
AmbienteEconómico
0,0
50,0
100,0Funcional
AmbienteEconómico
Edifícios Verdes – Práticas Projectuais Orientadas para a Sustentabilidade
ANEXO1
Quadro A1.6 – Perfil sustentável da Parede 6
PA
RE
DE
6
PERFIL CONST. DESCRIÇÃO
- Pedra de granito aparelhada (30 cm); - Espaço de ar (4 cm); - XPS (4 cm); - Tijolo furado de 11 cm; - Reboco tradicional (2 cm)
M U Dur Dn PEE GWP EW LCC
[kg/m2] [W/m
2.oC] [Índice] [dB] [kWh/m
2] [g/m
2] [l/m
2] [€/m
2]
951 0,55 6 56 162 36694 88100 461
MA
RS
-SC
NO
TA
M U PEE GWP EW LCC Funcional Ambiental Económico Nota Global Ranking
0,0 0,5 0,7 0,8 0,6 0,0 0,4 0,7 0,0
PE
RF
IL S
US
TE
NT
ÁV
EL
0,40 14º
Lid
erA
CRIT. 12 25 27 43 9 10 14 18 31 Funcional Ambiental Económico Nota Global
Ranking POND. 2,8 5,0 2,9 2,0 22,7 40,0 1,1 8,0 1,3 11,3 53,8 6,7
NÍVEL B E D E A+ A++ G A+ G D A+ G A+
EF. 0,5 0,0 0,2 0,0 0,8 1,0 -0,6 0,8 -0,8
32,4 4º
0,0
0,5
1,0M
U
PEC
GWP
WC
LCC
0,0
0,5
1,0Funcional
AmbienteEconómico
0,0
50,0
100,0Funcional
AmbienteEconómico
Edifícios Verdes – Práticas Projectuais Orientadas para a Sustentabilidade
ANEXO 1
A1.1.3. PAREDES SIMPLES ISOLADAS PELO EXTERIOR
Quadro A1.7 – Perfil sustentável da Parede 7
PA
RE
DE
7
PERFIL CONST. DESCRIÇÃO
- Reboco Armado (2 cm); - EPS (5 cm); - Tijolo furado de 22 cm; - Reboco tradicional (2 cm)
M U Dur Dn PEE GWP EW LCC
[kg/m2] [W/m
2.oC] [Índice] [dB] [kWh/m
2] [g/m
2] [l/m
2] [€/m
2]
341 0,48 10 49 265 59506 156180 71
MA
RS
-SC
NO
TA
M U PEE GWP EW LCC Funcional Ambiental Económico Nota Global Ranking
0,7 0,6 0,4 0,5 0,1 1,0 0,7 0,4 1,0
PE
RF
IL S
US
TE
NT
ÁV
EL
0,68 3º
Lid
erA
CRIT. 12 25 27 43 9 10 14 18 31 Funcional Ambiental Económico Nota Global
Ranking POND. 1,7 5,7 2,5 3,3 5,7 4,6 1,7 2,0 2,0 11,8 10,4 10,0
NÍVEL E D E B E D E E E D E E D
EF. 0,0 0,1 0,0 0,4 0,1 0,1 0,1 0,1 0,1
11,0 13º
0,0
0,5
1,0M
U
PEC
GWP
WC
LCC
0,0
0,5
1,0Funcional
AmbienteEconómic
o
0,0
50,0
100,0Funcional
AmbienteEconómico
Edifícios Verdes – Práticas Projectuais Orientadas para a Sustentabilidade
ANEXO1
Quadro A1.8 – Perfil sustentável da Parede 8
PA
RE
DE
8
PERFIL CONST. DESCRIÇÃO
- Reboco Armado (2 cm); - EPS (6 cm); - Betão armado (20 cm); - Reboco tradicional (2 cm)
M U Dur Dn PEE GWP EW LCC
[kg/m2] [W/m
2.oC] [Índice] [dB] [kWh/m
2] [g/m
2] [l/m
2] [€/m
2]
557 0,52 9 55 183 40925 101696 97
MA
RS
-SC
NO
TA
M U PEE GWP EW LCC Funcional Ambiental Económico Nota Global Ranking
0,5 0,6 0,6 0,7 0,5 0,9 0,5 0,7 0,9
PE
RF
IL S
US
TE
NT
ÁV
EL
0,71 2º
Lid
erA
CRIT. 12 25 27 43 9 10 14 18 31 Funcional Ambiental Económico Nota Global
Ranking POND. 1,7 5,0 2,9 3,3 11,3 8,0 1,1 1,3 1,3 11,5 16,3 6,7
NÍVEL E E D B A A G G G E B G C
EF. 0,0 0,0 0,1 0,4 0,6 0,7 -0,3 0,6 -0,2
13,6 9º
0,0
0,5
1,0M
U
PEC
GWP
WC
LCC
0,0
0,5
1,0Funcional
AmbienteEconómico
0,0
50,0
100,0Funcional
AmbienteEconómico
Edifícios Verdes – Práticas Projectuais Orientadas para a Sustentabilidade
ANEXO 1
Quadro A1.9 – Perfil sustentável da Parede 9
PA
RE
DE
9
PERFIL CONST. DESCRIÇÃO
- Reboco Armado (2 cm); - EPS (6 cm); - Pedra aparelhada (20 cm); - Reboco tradicional (2 cm).
M U Dur Dn PEE GWP EW LCC
[kg/m2] [W/m
2.oC] [Índice] [dB] [kWh/m
2] [g/m
2] [l/m
2] [€/m
2]
597 0,53 9 55 65 13885 25296 467
MA
RS
-SC
NO
TA
M U PEE GWP EW LCC Funcional Ambiental Económico Nota Global Ranking
0,4 0,6 1,0 1,0 1,0 0,0 0,5 1,0 0,0
PE
RF
IL S
US
TE
NT
ÁV
EL
0,53 12º
Lid
erA
CRIT. 12 25 27 43 9 10 14 18 31 Funcional Ambiental Económico Nota Global
Ranking POND. 1,7 5,0 2,9 3,3 56,7 40,0 1,1 20,0 1,3 11,5 88,3 6,7
NÍVEL E E D B A++ A++ G A++ G D A++ G A+
EF. 0,0 0,0 0,1 0,4 3,5 6,0 -0,4 3,8 -0,8
49,8 2º
0,0
0,5
1,0M
U
PEC
GWP
WC
LCC
0,0
0,5
1,0Funcional
AmbienteEconómico
0,0
50,0
100,0Funcional
AmbienteEconómico
Edifícios Verdes – Práticas Projectuais Orientadas para a Sustentabilidade
ANEXO1
Quadro A1.10 – Perfil sustentável da Parede 10
PA
RE
DE
10
PERFIL CONST. DESCRIÇÃO
- Reboco Armado (2 cm); - EPS (6 cm); - Tijolo maciço de 7 cm; - Reboco tradicional (2 cm).
M U Dur Dn PEE GWP EW LCC
[kg/m2] [W/m
2.oC] [Índice] [dB] [kWh/m
2] [g/m
2] [l/m
2] [€/m
2]
203 0,61 10 43 150 33286 84420 89
MA
RS
-SC
NO
TA
M U PEE GWP EW LCC Funcional Ambiental Económico Nota Global Ranking
0,9 0,4 0,7 0,8 0,6 1,0 0,5 0,8 1,0
PE
RF
IL S
US
TE
NT
ÁV
EL
0,73 1º
Lid
erA
CRIT. 12 25 27 43 9 10 14 18 31 Funcional Ambiental Económico Nota Global
Ranking POND. 1,7 5,0 2,5 3,3 56,7 40,0 6,7 20,0 2,0 11,2 92,5 10,0
NÍVEL E E E B A++ A++ A+ A++ E D A++ E A+
EF. 0,0 -0,1 -0,1 0,4 0,9 1,1 0,8 1,0 -0,1
52,0 1º
0,0
0,5
1,0M
U
PEC
GWP
WC
LCC
0,0
0,5
1,0Funcional
AmbienteEconómico
0,0
50,0
100,0Funcional
AmbienteEconómico
Edifícios Verdes – Práticas Projectuais Orientadas para a Sustentabilidade
ANEXO 1
Quadro A1.11 – Perfil sustentável da Parede 11
PA
RE
DE
11
PERFIL CONST. DESCRIÇÃO
- Reboco Armado (2 cm); - EPS (1 cm); - OSB (12 cm), - Lã de rocha (14 cm); - 2 x Gesso cartonado (2,5 cm).
M U Dur Dn PEE GWP EW LCC
[kg/m2] [W/m
2.oC] [Índice] [dB] [kWh/m
2] [g/m
2] [l/m
2] [€/m
2]
115 0,27 16 51 348 109605 170248 171
MA
RS
-SC
NO
TA
M U PEE GWP EW LCC Funcional Ambiental Económico Nota Global Ranking
1,0 1,0 0,1 0,0 0,0 0,7 1,0 0,0 0,7
PE
RF
IL S
US
TE
NT
ÁV
EL
0,58 10º
Lid
erA
CRIT. 12 25 27 43 9 10 14 18 31 Funcional Ambiental Económico Nota Global
Ranking POND. 1,1 50,0 2,5 3,3 4,9 4,0 16,7 1,3 1,3 51,0 20,2 6,7
NÍVEL G A++ E B F E A++ G G A+ A G A+
EF. -0,4 1,0 0,1 0,4 -0,2 0,0 2,2 -0,4 -0,5
32,1 5º
0,0
0,5
1,0M
U
PEC
GWP
WC
LCC
0,0
0,5
1,0Funcional
AmbienteEconómico
0,0
50,0
100,0Funcional
AmbienteEconómico
Edifícios Verdes – Práticas Projectuais Orientadas para a Sustentabilidade
ANEXO1
A1.1.4. FACHADAS VENTILADAS
Quadro A1.12 – Perfil sustentável da Parede 12
PA
RE
DE
12
PERFIL CONST. DESCRIÇÃO
- Aglomerado madeira cimento (1,2 cm); - XPS (5 cm); - Tijolo furado de 22 cm; - Reboco tradicional (2 cm).
M U Dur Dn PEE GWP EW LCC
[kg/m2] [W/m
2.oC] [Índice] [dB] [kWh/m
2] [g/m
2] [l/m
2] [€/m
2]
319 0,49 9 47 261 62815 157530 111
MA
RS
-SC
NO
TA
M U PEE GWP EW LCC Funcional Ambiental Económico Nota Global Ranking
0,8 0,6 0,4 0,5 0,1 0,9 0,6 0,4 0,9
PE
RF
IL S
US
TE
NT
ÁV
EL
0,65 6º
Lid
erA
CRIT. 12 25 27 43 9 10 14 18 31 Funcional Ambiental Económico Nota Global
Ranking POND. 1,7 5,0 2,5 4,0 6,5 4,6 1,9 2,0 1,3 11,8 11,2 6,7
NÍVEL E E E A D D D E G D D G D
EF. 0,0 0,1 0,0 0,5 0,1 0,1 0,2 0,1 -0,3
11,1 14º
0,0
0,5
1,0M
U
PEC
GWP
WC
LCC
0,0
0,5
1,0Funcional
AmbienteEconómico
0,0
50,0
100,0Funcional
AmbienteEconómico
Edifícios Verdes – Práticas Projectuais Orientadas para a Sustentabilidade
ANEXO 1
Quadro A1.13 – Perfil sustentável da Parede 13
PA
RE
DE
13
PERFIL CONST. DESCRIÇÃO
- Placa de granito (3 cm); - ICB (5 cm); - Betão armado (20 cm); - Reboco tradicional (2 cm).
M U Dur Dn PEE GWP EW LCC
[kg/m2] [W/m
2.oC] [Índice] [dB] [kWh/m
2] [g/m
2] [l/m
2] [€/m
2]
602 0,85 7 49 152 37099 88974 180
MA
RS
-SC
NO
TA
M U PEE GWP EW LCC Funcional Ambiental Económico Nota Global Ranking
0,4 0,0 0,7 0,8 0,6 0,7 0,1 0,7 0,7
PE
RF
IL S
US
TE
NT
ÁV
EL
0,50 13º
Lid
erA
CRIT. 12 25 27 43 9 10 14 18 31 Funcional Ambiental Económico Nota Global
Ranking POND. 2,2 3,4 2,5 4,0 56,7 40,0 1,1 8,0 1,3 10,8 79,3 6,7
NÍVEL C G E A A++ A++ G A+ G D A++ G A+
EF. 0,3 -0,4 0,0 0,5 0,9 1,0 -0,4 0,8 -0,6
45,0 3º
0,0
0,5
1,0M
U
PEC
GWP
WC
LCC
0,0
0,5
1,0Funcional
AmbienteEconómico
0,0
50,0
100,0Funcional
AmbienteEconómico
Edifícios Verdes – Práticas Projectuais Orientadas para a Sustentabilidade
ANEXO1
Quadro A1.14 – Perfil sustentável da Parede 14
PA
RE
DE
14
PERFIL CONST. DESCRIÇÃO
- Aglomerado madeira cimento (1,2 cm); - ICB (4 cm); - Bloco de betão furado (20 cm); - Reboco tradicional (2 cm).
M U Dur Dn PEE GWP EW LCC
[kg/m2] [W/m
2.oC] [Índice] [dB] [kWh/m
2] [g/m
2] [l/m
2] [€/m
2]
380 0,73 9 47 377 47344 68284 121
MA
RS
-SC
NO
TA
M U PEE GWP EW LCC Funcional Ambiental Económico Nota Global Ranking
0,7 0,2 0,0 0,7 0,7 0,9 0,3 0,5 0,9
PE
RF
IL S
US
TE
NT
ÁV
EL
0,55 11º
Lid
erA
CRIT. 12 25 27 43 9 10 14 18 31 Funcional Ambiental Económico Nota Global
Ranking POND. 1,7 3,4 2,5 4,0 4,9 40,0 1,7 3,3 1,3 10,3 37,4 6,7
NÍVEL E G E A F A++ E B G E A+ G A
EF. 0,0 -0,3 0,0 0,5 -0,2 1,6 0,0 0,4 -0,4
23,7 7º
0,0
0,5
1,0M
U
PEC
GWP
WC
LCC
0,0
0,5
1,0Funcional
AmbienteEconómico
0,0
50,0
100,0Funcional
AmbienteEconómico
Edifícios Verdes – Práticas Projectuais Orientadas para a Sustentabilidade
ANEXO 1
Quadro A1.15 – Perfil sustentável da Parede 15
PA
RE
DE
15
PERFIL CONST. DESCRIÇÃO
- Revestimento cerâmico (1,5 cm); - ICB (4 cm); - Bloco leve de betão furado (20 cm); - Reboco tradicional (2 cm).
M U Dur Dn PEE GWP EW LCC
[kg/m2] [W/m
2.oC] [Índice] [dB] [kWh/m
2] [g/m
2] [l/m
2] [€/m
2]
331 0,64 7 49 328 90225 70034 299
MA
RS
-SC
NO
TA
M U PEE GWP EW LCC Funcional Ambiental Económico Nota Global Ranking
0,7 0,4 0,2 0,2 0,7 0,4 0,4 0,2 0,4
PE
RF
IL S
US
TE
NT
ÁV
EL
0,37 15º
Lid
erA
CRIT. 12 25 27 43 9 10 14 18 31 Funcional Ambiental Económico Nota Global
Ranking POND. 1,9 4,3 2,5 4,0 5,7 40,0 1,9 1,3 1,3 11,4 36,7 6,7
NÍVEL D F E A E A++ D G G E A+ G A
EF. 0,3 -0,2 0,0 0,5 -0,1 1,5 0,1 -0,3 -0,7
23,8 6º
0,0
0,5
1,0M
U
PEC
GWP
WC
LCC
0,0
0,5
1,0Funcional
AmbienteEconómico
0,0
50,0
100,0Funcional
AmbienteEconómico
Edifícios Verdes – Práticas Projectuais Orientadas para a Sustentabilidade
ANEXO 2
A2
CARTA BIOBLIMÁTICA
DE BARUCH GIVONI
A2.1. ESTRATÉGIAS BIOCLIMÁTICAS [GONÇALVES, 2004]
As Estratégias Bioclimáticas são um conjunto de regras ou medidas de carácter geral destinadas a
influenciarem a forma do edifício bem como os seus processos, sistemas e componentes construtivos.
As estratégias a adoptar num determinado edifício ou projecto deverão ser seleccionadas; tendo em
atenção a especificidade climática do local, função do edifício e consequentemente, modo de ocupação
e operação do mesmo, com o objectivo de promoverem um bom desempenho em termos de adaptação
ao clima.
A carta bioclimática de Baruch Givoni sintetiza num diagrama psicrométrico o tipo de estratégias que
deve ser utilizado para cada clima particular.
Fig. A2.1. – Carta bioblimática de Baruch Givoni
Edifícios Verdes – Práticas Projectuais Orientadas para a Sustentabilidade
ANEXO 2
Nesta carta, representada na Fig.A2.1., devem registar-se as ocorrências dos estados do ar (em termos
de temperatura e humidade) verificados no exterior. As diferentes localizações dessas ocorrências na
carta assumem geralmente a forma de uma mancha, sendo essa localização indicadora do tipo de clima
do local e consequentemente do tipo de estratégias mais adequadas ao bom desempenho do edifício
nesta matéria:
A2.1.1. ESTRATÉGIAS DE AQUECIMENTO:
– Restringir a perdas por condução – Zonas H na Carta Bioclimática, correspondendo a climas de
Inverno agressivo – aplicação de materiais isolantes nos elementos construtivos (paredes, coberturas,
pavimentos e envidraçados) são exemplos deste tipo de estratégias;
– Restringir as perdas por infiltração e restringir o efeito da acção do vento no exterior do edifício –
Zonas H na Carta Bioclimática, correspondendo a climas de Inverno agressivo – como exemplos de
aplicação destas estratégias temos: execução de caixilharias de janelas com uma vedação eficiente,
protecção dos ventos dominantes com vegetação e escolha de uma boa localização para o edifício;
– Promover os Ganhos Solares – Zonas H da Carta Bioclimática, correspondendo a climas de Inverno
agressivo – temos bons exemplos de aplicações deste tipo de estratégias nos sistemas solares passivos
para aquecimento;
A2.1.2. ESTRATÉGIAS DE ARREFECIMENTO:
– Promover ventilação natural – Zonas V, da Carta Bioclimática, correspondendo a climas de tipo
tropical e equatorial, ou temperado de influência marítima – temos bons exemplos de aplicação desta
estratégia nas casa de inércia leve típicas da arquitectura vernácula das regiões tropicais e nos sistemas
de arrefecimento por ventilação;
– Restringir ganhos solares – Zonas V, EC, AC, M e W, da Carta Bioclimática, correspondendo a
todos os climas que necessitam de arrefecimento;
– Promover o arrefecimento por evaporação – Zonas EC e M da Carta Bioclimática, correspondendo a
climas temperados secos, e climas de regiões desérticas áridas e muito secos – bons exemplos destas
estratégias em toda a arquitectura do médio oriente;
– Promover o arrefecimento por radiação – Zonas M, da Carta Bioclimática, correspondendo a todos
os climas quentes de influência continental de elevadas amplitudes térmicas – bons exemplos desta
estratégia em toda a arquitectura do médio oriente e também no Sul da Europa particularmente em
Portugal (Alentejo e Algarve) e Espanha (Andaluzia);
A zona N corresponde à zona (Neutra) de conforto para o ser humano onde as condições de clima
exterior estão próximas das condições de conforto. A arquitectura deverá acautelar a existência de
ganhos solares excessivos e requer que não sejam cometidos outros erros graves em matéria de trocas
térmicas por ventilação e condução.
Nas zonas AC não é possível atingir estados de conforto térmico sem recurso à utilização de meios
mecânicos não passivos.