ESPECIAL: VIAGENS A NEGÓCIOS NA AMÉRICA LATINA
BRASIL www.americaeconomia.com.br
Nº 384 FEV./2010 R$ 8,90
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DÉCADA DOS TRILHOS
OS PLANOS DE EMPRESAS E DO GOVERNO PARA RESGATAR O PROTAGONISMO DAS FERROVIAS NO BRASIL
CARNAVALFESTA BILIONÁRIA
TELEFÔNICAAPRENDENDO COM OS ERROS RECUPERAÇÃO DOS EUAEXCESSO DE OTIMISMO?
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4 AméricaEconomia Fevereiro, 2010
Negócios Telefônica
O desafi o da banda larga
Entrevista
Antonio Roberto Cortes, da MAN Latin America
Carnaval
A festa bilionária
Sede de compra
Cervejas encerram época das grandes fusões
Pegadas ambientais
Empresários neutralizam eventos corporativos
2226283236
Seções Portal
Carta ao Leitor
Cartas
Índice de Empresas
Pistas
Negócio Fechado
Visão Verde
Movimentos
Opinião – Susan Kaufman
Raio X
Capital Aberto
Opinião – John C. Edmunds
I-biz
Clics & Chips
Linha Direta
8 910101213343852587677788182
Debates Haiti
O fl agelo de um país
Recuperação dos EUA
Otimismo exagerado?
Chile elege Piñera
A política internacional do novo presidente
México e a democracia
Uma luta centenária pelo direito de reeleição
44485456
Finanças Jogo das diferenças
Exchange traded funds estão na moda
Entrevista
João Albino Winkelmann, do Bradesco
7274
CAPA A década da ferrovia no Brasil Entrevista: Bernardo Hees, da ALL
1420
ESPECIAL Viagens a negócios Exército silencioso
Mercado de turismo a negócios cresce velozmente
O melhor da América Latina
Viajantes votam em seus serviços e destinos prediletos
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Foto de capa: Daniel K. Trevisan
NESTA EDIÇÃO
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8 AméricaEconomia Fevereiro, 2010
LEIA NO PORTALEDIÇÃO: AINÁ VIETRO ([email protected])
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PORTAL
COPA AQUECE MERCADO DE TELEVISORES A produção de televisores de display de cristal líquido (LCD) crescerá até 70% no Brasil em 2010, por causa da realização da Copa da África do Sul e da preocupação dos consumidores com a conta de energia elétrica, se-gundo a LG Display. A empresa projeta que a venda de aparelhos será de 5,5 milhões de unidades, em 2010.
CARREFOUR ANUNCIA INVESTIMENTO DE R$ 2,5 BI PARA 2010/2011Terceira maior operação do Grupo Carrefour no mun-do, o Carrefour Brasil continua como um dos principais focos de investimento da rede francesa. Para os pró-ximos dois anos (2010 e 2011), a rede anuncia inves-timentos de R$ 2,5 bilhões, maior aporte já realizado pela rede no país destinado à expansão orgânica. Os investimentos serão feitos na inauguração de novas lo-jas, unidades de serviço e aumento da cadeia de distri-buição. A estratégia deve fortalecer a atuação da rede nacionalmente, que já engloba 18 estados, e a consoli-dação da presença nas regiões Norte e Nordeste, onde a empresa inaugurou, apenas em 2009, sete unidades. Entre os planos para a região Norte, está a inauguração de um novo Centro de Distribuição, ainda no primeiro trimestre de 2010. A rede também ingressa no merca-do de comércio eletrônico, no primeiro semestre des-te ano. No último trimestre de 2009, o Carrefour Brasil registrou crescimento de 13,4% em relação ao mesmo período de 2008. No ano, a operação brasileira acumu-lou um crescimento de 14%, apresentando resultados positivos em todos os trimestres.
A gaúcha Camil anunciou em dezembro a com-
pra da chilena Tucapel, maior empresa de bene-
fi ciamento de arroz do Chile, negócio que faz
parte da sua estratégia de inter-
nacionalização na Amé-
rica do Sul. O valor
da aquisição não
foi divulgado.
A Tucapel tem
mais de 50%
de participação
no mercado chi-
leno e faturamento
anual de US$ 70 milhões, além de estar presente
em mais de 80% do varejo no país. A demanda in-
terna do mercado chileno é de 200 mil toneladas
de arroz por ano, segundo a Camil.
Com a aquisição, a empresa brasileira passa a
operar (além do país) no Uruguai e Chile, com
capacidade de produção de 1,8 milhão de tone-
ladas de grãos e faturamento total estimado em
R$ 1,7 bilhão para 2010. Em 2007, a Camil adqui-
riu a uruguaia Saman, também líder naquele país,
com 50% de participação no mercado de arroz
uruguaio, sendo que 91% da produção estão di-
recionados à exportação.
CAMIL COMPRA MAIOR EMPRESA DE ARROZ DO CHILE
EXISTE SEGURANÇA JURÍDICA, ATUALMENTE, PARA INVESTIR NA ARGENTINA?
NÃO82%
SIM18%
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Fevereiro, 2010 AméricaEconomia 9
CARTA AO LEITOR
NAÇÃO AGONIZANTE
N o dia 7 de janeiro, o jornalista chileno Carlos Saldibia retor-
nou a Santiago, depois de uma jornada de 15 dias no Haiti,
onde produziu uma reportagem para AméricaEconomia Bra-
sil sobre a situação do país, considerado o mais pobre do ocidente. A
precariedade das instituições, a miséria da população e a omissão do
Estado, que justifi ca sua falta de ação dizendo-se um país “ocupado”
pelas tropas estrangeiras, desde o princípio, eram o foco da reporta-
gem de Saldibia.
O que não poderíamos imaginar é que, apenas cinco dias depois
do retorno do jornalista ao Chile, um terremoto de proporções gigan-
tescas destruiria a capital haitiana, Porto Príncipe, fazendo Saldibia
subir novamente no avião. O desastre pode ter provocado a morte de
até 200 mil pessoas, segundo estimativas mais recentes. Além da des-
truição que comoveu o mundo, o abalo sísmico deixou uma certeza: a
de que o fl agelo humanitário que assola o país está ainda mais longe
de ser resolvido.
Em “De Novo, Mas Não do Zero”, o jornalista faz uma análise da
dimensão da tragédia e da atuação da missão de estabilização da ONU
no país, liderada pelo Brasil, e discute de que forma a força de paz po-
derá facilitar o caminho da reconstrução.
O início do que promete ser a década de ouro para o setor ferro-
viário brasileiro é o tema de nossa reportagem de capa. Depois de
décadas de abandono, o governo e a iniciativa privada mobilizam-se
para buscar soluções para o gargalo da malha ferroviária. Até 2015, o
investimento público prometido para o setor é de R$ 74 bilhões. Em
um movimento ainda mais ambicioso, outros R$ 150 bilhões devem
ser aplicados, até 2023, em projetos de ampliação da malha ferrovi-
ária, por meio do Plano Nacional de Logística e Transportes (PNLT). O
fato é que, se todas essas promessas se transformarem em realidade,
fi nalmente, veremos o setor dar um salto signifi cativo, benefi ciando
inúmeros setores de nossa economia.
Os riscos que ainda assombram a economia norte-americana; a ex-
pectativa internacional acerca do governo do novo presidente do Chile,
o empresário Sebastían Piñera; o potencial de geração de negócios do
Carnaval brasileiro; e o especial sobre as melhores cidades para viagens
a negócios na América Latina são outros assuntos desta edição.
Aproveite a leitura.
Tatiana Engelbrecht
Diretora de Redação
PUBLISHERJosé Roberto Maluf
CONTEÚDODiretora de Redação Tatiana EngelbrechtEditora Executiva Solange MonteiroDiretora de Arte/Projeto Gráfi co Janaína DinizRepórteres Graziele Dal-Bó e Roberta PregnacaRevisão Assertiva Produções EditoriaisProdução Gráfi ca Eduardo KepplerInfografi a Rodrigo Damati Colaboradores Ainá Vietro (site) e Andre Carvalho (assistente de arte)
COMERCIALIZAÇÃO Gerente de Publicidade Sidney EspósitoExecutivos de Contas Andrea Vieira – [email protected] Nagibe Adaime – [email protected]
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10 AméricaEconomia Fevereiro, 2010
CARTAS ÍNDICE DE EMPRESAS
Os números referem-se à primeira vez em que as empresas são citadas. OLHO NO BRASILParabéns pela matéria de capa sobre o
governo Lula (“O Brasil depois de Lula”,
AméricaEconomia N° 383, janeiro, 2010).
É uma análise objetiva sobre a situação
brasileira que muitos
se esqueceram de fazer,
em meio ao fervor e oti-
mismo que sacode essa
potência sul-americana.
É pouco provável que o
Brasil cumpra essas ex-
pectativas, pois acho que
elas não estão alinhadas
ao potencial real do país,
dados seus défi cits em infraestrutura,
segurança jurídica e sistema tributário.
ALFREDO HÄRR – MIAMI, EUA
GRATA SURPRESAGostei muito da matéria sobre o desem-
penho do mercado de ações da América
Latina (“Quer diversifi car? Atenção às bol-
sas”, AméricaEconomia N˚ 382, dezembro,
2009). Como não acompanho esse merca-
do com detalhes, não imaginava uma va-
lorização tão alta como a da Bolsa de Lima,
que vocês disseram ser de 132%. Guar-
dadas as proporções em relação à nossa
BM&FBovespa, é bom saber desse salto
de nossos vizinhos. LAÉRCIO GONÇALVES – SÃO PAULO, BRASIL
QUESTÃO DE VALORESSobre a matéria “Mau hábito” (América-
Economia N˚ 383, janeiro, 2010), do es-
tancamento da luta contra a corrupção
na América Latina, considero que as lide-
ranças empresariais deveriam estimular
a criação de um conselho nacional para
defi nir os valores mais importantes que
se deve fomentar nos órgãos de governo,
universidades e empresas, que devem ser
divulgados por meio de campanhas. A
melhor receita para construir uma socie-
dade melhor é semear e fomentar valores
para reverter a corrupção, a criminalidade
e a injustiça que há em nossos países.
RAMÓN BÉJAR – CIDADE DO MÉXICO - MÉXICO
Cartas para a redação: [email protected]
1884 67
AB Inbev 33
Acer 71
Aliante 31
ALL 20
Alps 12
Ambev 31
América Móvil 13, 77
American Express 71
Andrés Carne de Res 67
Anhembi 66
Anheuser-Busch 32
Antarctica 31
Apple 71
Astrid & Gastón 67
Azul 67
Banamex 66
Banco Rendimento 40
Barton G 67
Blackrock 73
BM&FBovespa 21, 73
Bradesco 74
Brahma 31
BrandAnalytics 31
Brasil Telecom 23
Bresler 40
Cablemás 12
Cablevisión 12
Camargo Corrêa 13
Carlyle Group 13
Casapiedra 66
CCU do Chile 33
Ceagesp 39
Cuau. Moctezuma 32
Cervejaria Dominicana 33
Cervejaria Polar 33
Cintra 13
Cisco 79
Cisneros 33
Climatempo 39
CNBC 76
CNEC Engenharia 13
Coinvalores 23
Colferias 66
Compaq 71
Compass Group 73
Copacabana Palace 66
Cosan 19
Couroecol 34
Curtidora Francana 35
CVC Brasil 13
D.O.M. 67
Delano 66
Dell 71, 81
Diálogo Interamericano 55
Diners 71
Discover 71
Eccaplan 36
ECP 35
El Cardenal 67
Enron 76
Euro Pacifi c Capital 50
Eurom. Internacional 33, 41
Femsa 32
Ferronorte 20
Ferrovial 13
Florida Ice & Farm 33
Fortaleza del Real Felipe 66
Four Seasons 66
Fundação Bradesco 79
GE 19
GJP Hotéis e Resorts 13
Google 81
Grand Hyatt 66
Gurovic y Asociados 25
GVT 23
Hack Consultoria 37
Heineken 32
HSBC 42
IHS Global Insight 61
Ilos 16
Intel 79
Intelig 23
Interbolsa 73
Intercontinental 66
ISA 13
Itaú 31
Just-Drinks 33
La Rural 66
LAN Chile 55
León Jimeno 33
Liguria 67
Log. Intermodal (Log-In) 15
Lucent 23
Luksic 33
Mac 71
Magna 71
MAN Latin América 26
Mandarin Oriental 66
Mappin 13
Marabraz 13
Mastercard 71
McKinsey Institute 79
Megacable 12
Mendoza 33
Mercedes-Benz 13, 26
Miami Conv. Center 66
Microsoft 79
Modelo 33
Molson-Coors 32
Movistar 25
MRS Logística 17
Multi 12
Nestlé 40
Nokia 71
Nova Schin 31
NYSE Arca 72
Oi 23, 78
Omni Fruits 40
Orica 42
Packard Bell 71
Parque Arauco 13
PDVSA 42
Petrobras 31
Petrópolis 33
Primo Schincariol 33
Regional 33
Research in Motion 41
Restaurante Rafael 67
SabMiller 32
Scania 26
Scottish & Newcastle 32
Scotwork Brasil 43
Skill 12
Sony 71, 81
SOS Computadores 12
Standard & Poor’s 49
Sucre 67
SulAmérica 66
Telefônica 23
Telmex 12, 13
The Ritz Carlton 66
TIM 23
Toschiba 71
Transamer. Expo Center 66
TV Chilevisión 55
TX Consultoria 62
Tyco 76
Unilever 40
Vale 19
Vésper 23
Visa 40, 71
Vivendi 23
Volkswagen 26
Volvo 26
WebJet 13
Wizard 12
World Trade Center 38, 66
WorleyParsons 13
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12 AméricaEconomia Fevereiro, 2010
CERCO AO MONOPÓLIO
PUBLICAMOS As operadoras decidiram enfrentar Slim. Enquanto a Tel-mex não tem autorização para oferecer TV a cabo, Cablevisión, Cablevi-sión Monterrey e Cablemás uniram-se à Megacable para oferecer triple play. (“Sob a Sombra de Slim”, AméricaEconomia No 377, julho, 2009)
O NOVO A comissão federal de telecomunicações do México está ana-lisando a aplicação de normas que poderiam desagregar a rede da Telmex. A empresa de Carlos Slim, que domina o setor de telecomunica-ções do país, já foi aos tribunais para apresentar seu repúdio à iniciativa e não descartou ir à Corte Suprema de Justiça.
PISTAS
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DOIS BOLÍVARES PUBLICAMOS A diferença de taxas gera negócios rentáveis para aqueles que po-dem comprar pela taxa ofi cial e vender no mercado paralelo. Um sistema do qual participam corretoras, bancos e até o go-verno, aumentando o risco sistemático da indústria fi nanceira venezuelana. (“En-tre o Dólar e o Bolívar”, AméricaEconomia No 382, dezembro, 2009)
O NOVO O presidente venezuelano Hugo Chávez anunciou em janeiro a desvalo-rização do bolívar forte, estabelecendo dois tipos de câmbio: o primeiro, fi xado em 2,6 bolívares, englobará as importa-ções essenciais, como produtos alimen-tícios e de saúde; o outro, apelidado de dólar petróleo, foi fi xado em 4,30 bolíva-res e será aplicado em setores como os de telecomunicações e automotivo.
EXPANSÃO MÁGICA
PUBLICAMOS Em janeiro, a escola de idiomas Wizard abrirá sua primeira unidade na China. Em 2009, a Wizard expandiu sua rede para o México e para a Colômbia. “Em 2010, também esperamos negociar franquias na América Central”, diz Carlos Martins, presidente da empresa. (“Para Chinês Ler”, América-Economia No 382, dezembro, 2009)
O NOVO Martins mostra que não quer crescer só no exterior. O grupo Multi, controlador das escolas de idiomas Wizard, Skills e Alps, anunciou em janeiro a compra da SOS Educação Profi s-sional, que administra a SOS Computadores. Com a compra, o faturamento do Multi deverá ser de R$ 1,35 bilhão este ano.
MENOS É MAIS
PUBLICAMOS É bom que o Brasil tenha um BNDES que possa manter a eco-nomia respirando em momentos de crise. O grande perigo, diz Márcio Garcia, da PUC-RJ, é usar a crise como justifi cativa para uma expansão descontrola-da. (“Expansão Regional”, AméricaEconomia No 381, novembro, 2009)
O NOVO Esse temor parece não se confi rmar. A projeção preliminar de de-sembolsos do BNDES para 2010 é de R$ 126 bilhões – cerca de R$ 11 bilhões a menos que em 2009, quando registrou aumento de 49% nos desembolsos, ainda que esse montante esteja bem acima do de 2008, de R$ 92 bilhões.
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Fevereiro, 2010 AméricaEconomia 13
NEGÓCIO FECHADO
PARQUE ARAUCO A operadora de centros comerciais concordou em vender sua participação de 30% no operador e grupo de desenvolvimento de centros co-merciais argentino Alto Palermo para seu sócio Irsa por US$ 126 milhões. A venda permitirá ao Parque Arauco concentrar su-as operações no Chile, Colômbia e Peru. VALOR: US$ 126 MILHÕES
MERCEDES-BENZ A diretoria do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) aprovou fi nanciamento de R$ 1,2 bilhão para a Mercedes-Benz expandir a capacidade de produção de sua unidade em São Bernar-do do Campo (SP), desenvolver motores adequados à nova legislação ambiental e novos modelos de caminhões leves e médios. Os recursos também serão desti-nados à modernização do centro de dis-tribuição de peças em Campinas (SP) e a investimentos sociais e ambientais.VALOR: R$ 1,2 BILHÃO
WORLEYPARSONS O grupo aus-traliano fechou um acordo para adquirir a CNEC Engenharia, da Camargo Corrêa, por R$ 170 milhões. A CNEC atua na pres-tação de serviços de consultoria, no ge-renciamento de projetos e em soluções de engenharia, tem cerca de 700 funcio-nários e conta com escritórios no Brasil, Argentina e Peru.VALOR: R$ 170 MILHÕES
CINTRA A divisão da espanhola Fer-rovial que opera estradas concordou em vender 60% de sua fi lial chilena para a colombiana ISA por 209 milhões de euros, segundo estimativas do mercado. O gru-po ISA também terá a opção de comprar os 40% restantes da companhia, que ope-ra 907 quilômetros de estradas no Chile.VALOR: 209 MILHÕES DE EUROS
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: Fabio
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AMÉRICA MÓVILA gigante mexicana de telefonia celular América Móvil, do mag-nata Carlos Slim (foto), lançou uma oferta de cerca de US$ 21 bilhões para integrar suas em-presas Telmex e Telmex Interna-cional, em um esforço para am-pliar seus serviços. Se for exitosa, a operação permitirá à América Móvil oferecer serviços integra-dos de telecomunicações nos 18 países em que opera.
VALOR: US$ 21 BILHÕES
MARABRAZ A marca de lojas de mó-veis adquiriu os direitos da rede de de-partamentos Mappin, que faliu em 1999, por R$ 5 milhões, em um leilão judicial. O Mappin funcionava como um magazine, vendendo desde calçados até móveis. Ainda está em estudo se o nome, o foco de negócio e o público-alvo continuarão
os mesmos. Outra tentativa de venda da marca aconteceu em 2007, mas sem su-cesso, por falta de interessados.VALOR: R$ 5 MILHÕES
CARLYLE O grupo internacional de private equity Carlyle Group anunciou a compra de 63,6% do controle da CVC Brasil. O fundador da empresa, Guilherme Paulus, continuará sendo o presidente do Conselho e permanecerá com participa-ção no restante do capital da companhia. A transação envolveu a operadora de via-gens, incluindo a operação de cruzeiros marítimos. As outras empresas controla-das por Paulus, WebJet e a GJP Hotéis e Resorts, não fi zeram parte do acordo.VALOR: NÃO REVELADO
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14 AméricaEconomia Fevereiro, 2010
A DÉCADA DA FERROVIA
Governo e empresários mobilizam-se para concretizar a – até agora – lenta melhoria da malha férrea brasileira
MÁRCIA VAISMAN, DE SÃO PAULO
NEGÓCIOS CAPA
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Fevereiro, 2010 AméricaEconomia 15
Foto
: Arq
uivo A
NTF
A té há pouco tempo, falar em transporte ferroviário
no Brasil era sinônimo de discussões, defesas e
polêmicas que não desembarcavam em nenhuma
estação. Mas, agora, ao menos aparentemente, isso fi cou para
trás. O governo enfi m prometeu ouvir as concessionárias,
ainda no primeiro semestre de 2010, para tentar resolver de
vez os gargalos existentes na atual malha ferroviária. Além
disso, prevê injetar, por meio do Programa de Aceleração do
Crescimento (PAC), R$ 74 bilhões em projetos de expansão da
linha férrea, até 2015.
Se tal movimento se concretizar, 2011 poderá ser o início
de uma das décadas mais prósperas para o setor. De acordo
com o Plano Nacional de Logística e Transportes (PNLT), até
2023, as políticas públicas referentes ao tema implicam in-
vestimentos de R$ 150 bilhões. Ou seja, mais da metade dos
R$ 290 bilhões previstos para todo o transporte brasileiro, que
busca, como futuro efi ciente e competitivo, a intermodalida-
de. “O quadro de reversão já começou, e nós devemos deixar
prontos projetos e estudos ambientais para os próximos
governos”, afi rma o secretário-executivo do Ministério dos
Transportes, Paulo Sérgio Passos.
Dessa forma, as ferrovias brasileiras voltariam a ser o
principal caminho do transporte de cargas no Brasil, represen-
tando 35% do total, ante 30% do rodoviário, em uma tentativa
de provocar sinergia entre os diferentes tipos de transporte.
Hoje, as rodovias corres-
pondem a 58% do total de
cargas transportadas, en-
quanto a malha ferrovi-
ária registra apenas 21%.
Além de a malha ferrovi-
ária ser pequena – 28 mil
km –, há o agravante de
ela ser subutilizada. Se-
gundo a Agência Nacional
de Transportes Terrestres
(ATTT), apenas 10% das
ferrovias, ou 3 mil km, são
plenamente ocupados; 7
mil km são usados abaixo
da capacidade; e 18 mil km
são subutilizados.
Passos admite que,
em termos ferroviários, é
preciso recuperar o tem-
po perdido, uma vez que
o país levou muitos anos
para investir em infraestrutura. “Olhamos para a frente e
percebemos que o Brasil terá de investir em ritmo acelerado,
já que imaginamos um crescimento médio de 5% ao ano, e
esses projetos têm relação direta com a condição próspera do
país”, enfatiza. E não é para menos. As principais mercadorias
transportadas por trem são minério de ferro, com quase 75%
do total, commodities agrícolas, carvão mineral, combustí-
veis e derivados de petróleo e álcool, setores com alto poten-
cial e grandes exportadores.
E adiar ainda mais a ampliação da malha é sinônimo de
prejuízo. Segundo pesquisa divulgada pela Logística Inter-
modal (Log-In), o custo rodoviário deixa de ser competitivo
quando a distância supera os 400 km. Acima disso, transpor-
tar por trem pode custar 30% menos. Sem contar a efi ciência.
Enquanto um caminhão transporta, em média, o máximo de
35 toneladas, apenas um vagão pode transportar 130 tonela-
das, e há companhias como a Vale, que tem composições que
chegam a 320 vagões.
ESTIMATIVAS DIFUSASSe os planos entrarem nos trilhos, até 2015, a malha férrea
deverá corresponder a 35 mil km, um bom avanço, se com-
parados aos atuais 28 mil km, mas ainda aquém do que
representava na década de 60, com seus 38 mil km de trilhos
entrecortando o Brasil. “As ferrovias foram deixadas de lado
e, por isso, não acompanharam o ritmo de crescimento do
país”, admite Passos.
Hoje em dia, já são mais de 17 mil km em estudo e em
andamento, mas a própria assessoria de comunicação do
Ministério dos Transportes admite que é difícil chegar a um
número fechado. Isso porque todos os projetos são discutidos
também em âmbito estadual, e, de acordo com as necessida-
des dos estados, alguns trechos são incluídos nas discussões.
Mas os projetos só têm andamento quando transformados
em medidas provisórias e em leis. O certo é que, desse mon-
tante, as obras de cerca de 5 mil km já estão sendo executa-
das, ou deverão ser licitadas nos próximos meses.
BRASIL 8,5 25,0 3,5 2,3 1,6
CHINA 9,3 169,0 8,3 6,2 11,8
RÚSSIA 17,0 44,0 5,1 14,5 6,0
ÍNDIA 3,0 528,0 21,3 7,7 4,9
EUA 9,1 460,0 24,7 86,6 4,5
CANADÁ 9,0 46,0 5,1 10,8 0,1
COMPARAÇÃO DA DENSIDADEDAS MALHAS (km de via por 1.000 km² de área territorial)
Fontes World FactBook e Banco Mundial. Pesquisa do Instituto ILOS - 2009.
RODOVIASPAVIMENTADAS
ÁREA(milhões de km) FERROVIAS DUTOVIAS HIDROVIAS
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16 AméricaEconomia Fevereiro, 2010
Algumas, como a Ferrovia de Integração Oeste-Leste, pro-
jetada para percorrer 1.490 km de Figueirópolis, no Tocantins,
até o porto de Ilhéus, na Bahia, estão sendo viabilizadas pelo
PAC. O investimento previsto é de R$ 6 bilhões. Seus primeiros
500 km de extensão devem ser concluídos no primeiro semes-
tre de 2012. E Passos admite que já existem grupos empresa-
riais interessados, como a Bahia Mineração e o Grupo Gerdau.
No entanto, há desconfi ança de alguns especialistas do setor.
Paulo Fleury, CEO do Instituto de Logística e Supply Chain
(ILOS), ainda tem dúvidas sobre a viabilidade dessa ferrovia. “O
projeto é incipiente, porque esse estudo não está concluído.”
Fonte Dados ANTT
ITAQUI
PECÉM
SUAPE
ILHÉUS
VITÓRIA
RIO/SEPETIBA
SANTOS
PARANAGUÁ/S. F. DO SUL
RIO GRANDE
Vilhena (RO) a Uruaçú (GO): 1.227 km
Sta. Fé do Sul (SP) aPorto Murtinho (MS): 750 km
Eliseu Martins (PI) a Estreito (MA): 460 km
Cascavel (PR) a Maracajú (MS): 500 km
Ferrovia do Oeste Catarinense (SC): 500 km
Litorânea (SC): 250 km
CHILE/ ARGENTINA/PARAGUAI
PROJETOSEM ESTUDO3.687 KM
Fonte Dados ANTT
PROJETOSEM ANDAMENTO5.680 KM
Açailândia a Palmas: 720 km
Palmas a Estrela D’Oeste: 1.480 km
Oeste-Leste BA: 1.490 km
Transnordestina: 1.728 km
Alto Araguaia a Rondonópolis: 262 km
ITAQUI
PECÉM
SUAPE
ILHÉUS
VITÓRIA
RIO/SEPETIBA
SANTOS
PARANAGUÁ/S. F. DO SUL
RIO GRANDE
PRIVATIZAÇÃO E GARGALOSOutros projetos da linha férrea para trans-
porte de cargas têm à frente as concessio-
nárias que participaram do processo de de-
sestatização, ainda na década de 1990. “O
planejamento do governo está levando as
indústrias a pensar nos investimentos mais
alinhados ao transporte de mercadorias”,
comenta o diretor-executivo da Associação
Nacional de Transportes Ferroviários (ANTF),
Rodrigo Vilaça.
Para que o futuro seja realmente promis-
sor, a associação aponta fatores que integram
a agenda estratégica do setor e precisam ser
cumpridos, divididos em quatro grupos:
institucional, voltado à regulamentação, à
segurança e à boa comunicação entre gover-
no e concessionárias; sustentabilidade, que
agrega os estudos ambientais dos trechos,
tecnologia e capital humano; tributário; e
de infraestrutura, que se refere à expansão
da malha, intermodalidade e eliminação
dos gargalos, um dos principais problemas
apontados pelo setor privado.
O modal ferroviário ainda é voltado mais
para o transporte de grãos e minérios, que
são produtos não-perecíveis, e de baixo valor
agregado. Um estudo divulgado pelo Insti-
tuto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea)
em novembro de 2009, revela o resultado de
uma pesquisa realizada com mais de 20 em-
presários de setores produtivos considerados
usuários potenciais – mas não efetivos – do
transporte férreo. Eles apontaram os seguin-
tes problemas para não utilizar as ferrovias:
65% deles alegaram a indisponibilidade de ro-
tas; 58%, a falta de fl exibilidade das operações
ferroviárias; 50%, a baixa velocidade; 48%, os
custos; e 34%, a indisponibilidade de vagões.
RODRIGO VILAÇA, DA ANTF: PLANEJAMENTO
ALINHADO AO TRANSPORTE DE MERCADORIAS
NEGÓCIOS CAPA
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Fevereiro, 2010 AméricaEconomia 17
Ainda existem outros problemas de défi cit em termos de
infraestrutura. A malha ferroviária brasileira é antiga, tem
problemas de traçado e raios fechados, o que diminui a velo-
cidade dos trens. Quem aponta tais debilidades é o próprio se-
cretário-executivo do Ministério dos Transportes. “Enquanto
a média de velocidade é
de 50 km/h, em alguns
momentos, os trens
chegam a 15 km/h”,
complementa Fleury,
do Instituto ILOS.
Por esse estudo, o
Ipea conclui que são
necessárias 141 obras
de infraestrutura para
melhorar a eficiência
operacional e de com-
petitividade do setor.
Mas não é só por causa
do percurso dos trilhos.
Entre os principais pro-
blemas apontados pela
ANTF que causam di-
minuição na velocida-
de dos trens, estão as
invasões de faixa de
domínio. Ou seja, fa-
mílias que não respeitam a distância mínima entre a cons-
trução de suas casas e a passagem do trem. Ao todo, são 200
mil, provenientes de 434 áreas invadidas, que precisam ser
removidas, além de 12,4 mil passagens de nível dentro das
cidades, que devem ser desativadas, pois também causam
lentidão para esse meio de transporte.
A MRS Logística teve sucesso, há dois
anos, quando fez um acordo com a Pre-
feitura do Rio de Janeiro, o Ministério dos
Transportes e o Ministério das Cidades.
Eles removeram 450 famílias que mora-
vam na margem de segurança da linha
do trem, na favela do Arará. A nego-
ciação, iniciada em 2001, resultou num
investimento total de R$ 31 milhões, dos
quais R$ 6 milhões vieram da MRS, R$ 5
milhões do Ministério dos Transportes e
R$ 20 milhões da Prefeitura.
Vilaça, da ANTF, está otimista quan-
to à solução dos gargalos referentes à
infra-estrutura. Isso porque, ainda no
primeiro semestre, ANTF e associadas,
Agência Nacional de Transportes Terres-
tres (ANTT) e Departamento Nacional
de Infraestrutura de Transportes (DNIT)
apresentarão ao governo propostas para
a solução desses problemas. “Isso tam-
Transnordestina / Logística
EFVM / Estrada de Ferro Vitória a Minas
EFC / Estrada de Ferro Carajás
FCA / Ferrovia Centro -Atlântica
ALL / América Latina Logística / Malha Sul
ALL / América Latina Logística / Malha Norte
ALL / América Latina Logística / Malha Oeste
ALL / América Latina Logística / Malha Paulista
FTC / Ferrovia Tereza Cristina
MRS / Logística
Trecho da Norte Sul
Processo de desestatização: 1996 a 199911 malhas concedidas à iniciativa privada
Com a atuação do governo federal, pode-se atingir 35 mil km de malha ferroviária, em 2015.
Malhas ferroviárias operadas pelainiciativa privada: 28.314 km
TRANSPORTEFERROVIÁRIODE CARGASBRASILEIRO
Foto
s: Di
vulga
ção
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18 AméricaEconomia Fevereiro, 2010
bém servirá como um dos compo-
nentes para eventual repactuação
dos atuais contratos de concessão”,
explica Vilaça, da ANTF. Com base
nesse encontro poderão ser traça-
das novas metas, além de alter-
nativas ainda mais participativas
da iniciativa privada, tanto econô-
mica como socialmente. “Depois
de uma análise bem detalhada ao
longo desses 12 anos de concessão
da linha férrea, estamos olhando a
nova década com excelentes pers-
pectivas e queremos transformá-la
em uma malha competitiva, inte-
grada, com foco no cliente, trazen-
do segurança e estabilidade jurí-
dica para atrair capital externo”,
revela o executivo.
AS CONCESSÕESEm 1997, quando a Rede Ferroviá-
ria Federal (RFFSA) foi extinta, ela
apresentava prejuízos acumula-
dos ao longo de três anos, no valor
de R$ 2,2 bilhões. De lá até 2008,
o setor gerou um saldo positivo
para as contas públicas de R$ 9,9
bilhões, referentes à arrecadação
de impostos, arrendamento, con-
cessão e Contribuição sobre Inter-
venção no Domínio Econômico
(Cide). De 1997 a 2008, segundo a
associação, os investimentos pri-
vados totalizaram R$ 18,8 bilhões,
a produtividade ferroviária me-
dida por tonelada transportada
por quilômetro útil (TKU) teve um
crescimento de 95,1%, e o volu-
me de cargas transportadas au-
mentou 81,5%, chegando a 459,7
milhões de toneladas. No mesmo
período, o governo federal inves-
tiu R$ 1,0 bilhão.
Entre as principais ferrovias,
estão a Transnordestina, cujas
obras do novo projeto – que a
transformou na nova Transnor-
destina – estão sendo viabilizadas
com recursos do PAC e coordenada
pelo Ministério dos Transportes.
São 1.728 km, saindo de Eliseu
Martins, no Piauí, até os portos de
PLANTAÇÃO DE CANA DA COSAN E MINERAÇÃO DA VALE: FORTE
INVESTIMENTO NO MODAL FERROVIÁRIO PARA ESCOAR A PRODUÇÃO
NEGÓCIOS CAPA
1
2
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Fevereiro, 2010 AméricaEconomia 19
Pecém, no Ceará, e Suape, em Pernambuco. O investimento
previsto é de R$ 5,2 bilhões, e as obras estão em ritmo ade-
quado, segundo balanço divulgado pelo PAC. Boa parte deve
ser concluída até o fi m deste ano. Mas o governo admite estar
revendo prazos para a conclusão de todo o trecho.
Um exemplo de projeto privado em fase avançada é o da
antiga Estrada de Ferro Carajás, cuja concessão foi adquirida
pela Vale e que foi transformada no trecho norte da Ferrovia
Norte-Sul. O antigo trecho de 200 km, que ligava Porto Franco
a Açailândia, ambos no Maranhão, já opera, desde dezembro,
até Colinas do Tocantins, completando 452 km de extensão. O
trecho norte, cujo total é de 720 km, vai até Palmas e deve ser
concluído no primeiro semestre deste ano, com investimento
de R$ 1,63 bilhão.
Além de contribuir para fomentar o agronegócio, o investi-
mento da Vale criará uma logística competitiva para grãos (so-
ja, arroz e milho), carnes (suíno, bovinos e aves), combustíveis
(álcool, biodiesel, diesel e gasolina) e fertilizantes. A ferrovia
contribuirá, também, para o desenvolvimento portuário,
decorrente do crescimento da movimentação de produtos
para exportação. O trecho sul prevê a construção de 1.535 km,
de Palmas até Estrela do Oeste, em São Paulo, com injeção de
capital da ordem de R$ 6,5
bilhões. Apenas em 2010,
a Vale investirá em logís-
tica o equivalente a US$
2,6 bilhões, para suportar
o plano de expansão de
minério de ferro.
Outro exemplo da
necessidade e do poten-
cial das ferrovias brasi-
leiras veio da Cosan, que,
neste ano, fechou um
contrato de compra de
50 locomotivas da GE. O
anúncio foi feito pelo pre-
sidente mundial da GE,
Jeffrey Immelt, em visita
ao Brasil, em janeiro. Na
ocasião, Immelt também
garantiu o investimento,
neste ano, de US$ 12 mi-
lhões para a ampliação
da GE Transportation em
Contagem, Minas Gerais.
A MRS Logística está
em período de silêncio
desde que o atual presi-
dente, o engenheiro Edu-
ardo Parente, assumiu,
após a saída de Júlio Fon-
tana Neto, que ocupava o
cargo fazia uma década. Mas o relatório referente ao terceiro
trimestre de 2009 revela que a companhia está em um mo-
mento promissor. Somente em setembro, teve um recorde
mensal histórico de produção, com 13,2 milhões de toneladas
transportadas, principalmente de minério de ferro e produtos
siderúrgicos. A MRS terminou o trimestre com um caixa de
R$ 71,3 milhões e ebitda de 53,3% no trimestre. O consolidado
do ano não foi fechado
Bem menor, mas de suma importância, por causa de pro-
jetos futuros, a Ferrovia Tereza Cristina mantém-se isolada, de
Imbituba, em Santa Catarina, até a região carbonífera/cerâmi-
ca e metal-mecânica, passando por 12 municípios catarinen-
ses. Ela atende, principalmente, o Complexo Termelétrico Jorge
Lacerda, transportando carvão. Em 2009, foram 2,9 milhões de
toneladas transportadas. Mas os olhos do setor estão voltados
a ela por causa do projeto da Ferrovia Litorânea, que prevê um
trecho de 235 km, en-
tre Imbituba e Ara-
quari, também em
Santa Catarina.
“Em agosto, o
DNIT contratou em-
presas para fazer o
estudo ambiental,
a fi m de viabilizar a
obra”, revela o geren-
te de Divisão Comer-
cial, Carlos Augusto
Menezes. Segundo
ele, os estudos e a licença ambiental devem ser entregues
até o primeiro semestre de 2011. Menezes revela, também,
que as obras devem consumir um total de R$ 17,5 milhões.
O governo ainda não confi rma os detalhes, mas coloca nos
estudos do PAC esse projeto. “Dessa forma, fi caremos ligados
à rede nacional, e a região terá muito a ganhar com isso”, ad-
mite o gerente da Ferrovia Tereza Cristina.
Assim, se de fato o governo atual e o futuro abraçarem o
compromisso, junto da iniciativa privada de executar esses
projetos, o Brasil tem tudo para entrar nos trilhos e ganhar
posições no ranking da competitividade mundial.
9,9bilhões de reais foi
o quanto o setor movimentou de
1997 a 2008
Foto
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20 AméricaEconomia Fevereiro, 2010
A ORDEM É CRESCER
NEGÓCIOS ENTREVISTA
A ALL é a maior empresa independente de serviços de logística da América Latina. São seis concessionárias,
21,3 mil km de vias – incluindo mais de 8 mil km na Argentina –, 1.095 locomotivas e 700 veículos rodoviários
e centros de distribuição e armazenamento. Em 2009, a queda na produção industrial, a redução de 8% da
safra agrícola e as fortes chuvas do fi nal do ano impactaram diretamente os resultados da empresa, que teve de se
contentar com um aumento de volume transportado aquém do estimado – de 5,8%, para 35.631 milhões de toneladas
por quilômetro útil (TKU) –, e uma queda de ebitda de 8,6% no Brasil, para R$ 1,1 bilhão. Mesmo assim, Bernardo Hees
(foto), um carioca de 37 anos, radicado em Curitiba, afi rma estar otimista para 2010. Em entrevista à AméricaEconomia,
Hees comentou as expectativas de investimento para o setor ferroviário brasileiro.
AméricaEconomia Na sua opinião, qual deverá ser o cenário para o setor ferroviário na próxima década? Bernardo Hees O setor deve ter uma curva de crescimento
espetacular. Projetamos crescimento de 23% ao ano, sendo que
o minério deverá corresponder a metade dessa demanda.
AE Como você avalia a década que passou? Hees Há dez anos, 70% dos ativos encontravam-se não ope-
racionais e os níveis de segurança eram péssimos. Ao longo da
década passada, houve investimento junto dos clientes, cresci-
mento em volume de cargas transportadas e uma história que
já pode ser considerada de sucesso diante de tanto abandono.
Hoje em dia, para cada R$ 1 que a ALL investe, nosso cliente
injeta o mesmo valor. Isso é um indicativo de confi ança, pois
antes ninguém acreditava no setor.
AE Você acha que o fato de as concessionárias precisarem devolver a concessão após um período desestimula os empresários a investir ainda mais no setor? Hees O governo está aberto a discutir a renovação dos
prazos. A Ferronorte, por exemplo, fi cará sob a guarda do
capital privado por 90 anos. As outras têm prazo de 30 anos,
renováveis por igual período. Portanto, nas nossas malhas –
sem contar a Ferronorte – temos ao menos mais meio século
para investir.
AE Com todos os projetos de ampliação, o fato de a malha ferroviária ter trechos administrados por outras conces-sionárias pode ser um empecilho no futuro? Hees O governo está incentivando as expansões das próprias
concessionárias. Uma prova disso é a Ferronorte, que está sob
nossa concessão. Em junho de 2009, iniciamos obras que vão
do Alto Araguaia a Rondonópolis, ambos no Mato Grosso, per-
correndo uma distância de 260 km. Todo o setor quer crescer
e colaborar, para alcançar melhor competitividade. Por isso,
acredito em parcerias.
AE Quais são os gargalos preexistentes para a ALL? Hees Em geral, estamos satisfeitos, pois nem a crise fi nan-
ceira mundial nos prejudicou. Mas é claro que não podemos
ignorar alguns problemas referentes à infraestrutura. Os
principais são as invasões em faixa de domínio e as passagens
de nível nas grandes cidades, que são de responsabilidade do
governo e, portanto, são problemas sobre os quais não temos
autonomia. Mas há uma agenda – elaborada com a Associação
Nacional de Transportes Ferroviários (ANTF) – que será apre-
sentada ao governo ainda no primeiro semestre deste ano.
AE Quais são as perspectivas na Argentina? Hees Fechamos com saldo positivo, mas, em 2009, tivemos a
pior safra dos últimos 50 anos e operamos com 30% de nossa
capacidade ociosa. Em 2010, queremos retomar o crescimento
com a volta do mercado de grãos. Tenho certeza de que qual-
quer cenário será mais positivo que o do ano passado. Nós
acreditamos que a Argentina pode ser, proporcionalmente,
ainda mais produtiva do que o Brasil, porque lá não existem
morros. Mas desde que a economia ajude e a população tam-
bém, porque, sempre que há protestos, eles fecham os trilhos
do trem. E isso afeta nossa escala de entregas.
AE Quais são os próximos passos da ALL? Hees Continuaremos investindo uma média de R$ 700
milhões por ano no desenvolvimento de novos projetos e na
valorização de nosso negócio no médio e longo prazos.
MARCIA VAISMAN, DE SÃO PAULO
FOTO: ROBERTA DABDAB
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Fevereiro, 2010 AméricaEconomia 21
Continuaremos investindo cerca
de R$ 700 milhões por ano em
novos projetos e na valorização de
nosso negócio
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22 AméricaEconomia Fevereiro, 2010
Aumento da concorrência no Brasil faz players investirem no mercado de banda larga em 2010
ROBERTA PREGNACA, DE SÃO PAULO
NEGÓCIOS TELECOMUNICAÇÕES
SEM VER A BANDA PASSAR Fo
tos:
iStoc
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Fevereiro, 2010 AméricaEconomia 23
P ara muitos brasileiros, o ano de
1998 deveria fi car no esqueci-
mento: com três gols a zero e
muita polêmica envolvendo a seleção,
a França tirava a Copa do Mundo de
nossas mãos. Mas não foram apenas
Zidane e Petit que fi zeram calar o Brasil
nesse ano: milhares de paulistanos vi-
ram seus telefones fi carem mudos por
causa de uma expansão de fi os e cabos
para aumentar o número de linhas
telefônicas, resultado da privatização
da Telecomunicações de São Paulo (Te-
lesp), repassada para o grupo espanhol
Telefônica, porém, sem um gerencia-
mento adequado.
“Os anos de 1997 e 1998 foram de
caos,” diz Virgilio Freire, consultor da
área de telecomunicações e ex-presi-
dente de empresas no setor no Brasil,
como a Vésper e a Lucent. “Os serviços
de expansão realizados pela Telefônica
foram feitos de maneira apressada e
foram mal controlados, causando pro-
blemas terríveis para a população.”
Mais de dez anos após a compra da
Telesp, a operadora espanhola ainda te-
ve de tourear problemas relativos à sua
estratégia de expansão no Brasil. Em
2009, foi a vez do produto de banda lar-
ga Speedy. As queixas de consumidores
cresciam em volume tão expressivo que
fi zeram com que a Agência Nacional de
Telecomunicações (Anatel) interviesse
na questão, paralisando as vendas da
Telefônica por cerca de dois meses – o
que também se refl etiu na perda de cer-
ca de 148 mil clientes de banda larga da
empresa, no terceiro trimestre do ano,
em relação ao trimestre anterior.
O fato é que a companhia teve de
reagir rápido, em um ritmo que não po-
derá ser abandonado, daqui para fren-
te, caso a empresa não queira perder
mercado no Brasil. Isso porque, desde
o anúncio da compra da Brasil Telecom
pela Oi, no início de 2008, o ritmo de
consolidações no setor se intensifi cou
– só em 2009, foram cerca de 23 fusões
e aquisições, segundo a KPMG, com
destaque para a conclusão do processo
de aquisição da Intelig pela TIM –, com
novos competidores e uma demanda
maior por investimentos para se man-
ter na frente.
PERDA SENTIDANessa corrida de consolidação, uma das
derrotas mais sentidas para a Telefôni-
ca foi a perda da GVT para a francesa
Vivendi, no fi m do ano passado, em um
Fonte Telefônica.
No de empregados 254,5 mil 87,4 mil 34,3%
Clientes (total de acessos) 268,6 milhões 64,1 milhões 23,9%
Clientes telefonia móvel 205,9 milhões 48,8 milhões 23,7%
Clientes telefonia fixa 41,4 milhões 11,3 milhões 27,3%
Clientes dados e Internet* 14,9 milhões 6 milhões 40,3%
Clientes TV paga 2,5 milhões 509 mil 20,4%
Clientes atacado 3,9 milhões 34,6 mil 8,9%
Brasil % BR/mundoMundo (24 países)
* Clientes do provedor Terra, Speedy e conexões dedicadas a clientes empresariais.
GRUPO TELEFÔNICANO BRASIL E NO MUNDO(dados relativos ao 3o trimestre de 2009)
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24 AméricaEconomia Fevereiro, 2010
NEGÓCIOS TELECOMUNICAÇÕES
braço de ferro que
durou mais de dois
meses. Para analis-
tas, a companhia
GVT era vista como
um último target
relevante do setor
já consolidado de
telecomunicações,
re s t a ndo a gor a
apenas players de
menor porte. “Hoje,
olhando para o mer-
cado, você não en-
contra outra GVT,”
diz um analista da
corretora Coinvalo-
res. “Quando uma
operadora é espe-
lho, como é o caso
da GVT, é necessário
sair com toda a in-
fraestrutura, desde
o início. E ela conse-
guiu, de uma forma
muito efi ciente, ren-
tabilizar isso, investindo pesado e, ao
mesmo tempo, entregando resultados.
Além disso, seus serviços são muito
competitivos,” diz. Estratégia diferente
da adotada pela Telefônica no Brasil,
fonte de grande parte de seus proble-
mas, segundo ana-
listas. “Na Telefô-
nica, tudo é tercei-
rizado, o que eu
critico veemente-
mente”, diz Freire.
A GVT atua em
86 cidades de 15
estados, além do
Distrito Federal, 13
deles nos quais a
operadora oferece
todo o seu portfó-
lio de produtos.
Também tem presença em São Paulo e
Rio de Janeiro, mas com oferta apenas
ao mercado corporativo. A empresa
fechou o terceiro trimestre de 2009 com
um faturamento de R$ 442,3 milhões, e
R$ 1,2 bilhão no acumulado dos primei-
ros nove meses do ano passado.
VIRGILIO FREIRE: CRÍTICA AO MODELO DE TERCEIRIZAÇÃO INICIALMENTE ADOTADO PELA TELEFÔNICA
2bilhões de reais
é o quanto a Telefônica planeja investir no Brasil,
neste ano
Foto
s: Di
vulga
ção
Frente ao atual cenário, apontam
os analistas, a Telefônica já não po-
derá mais escorregar quando se trata
de credibilidade do produto para os
consumidores brasileiros. “Em razão
da falta de concorrência, em algumas
áreas e em muitas
regiões, o cliente
não tem a opção
de migração”, afi r-
ma o analista da
Coinvalores. “Mas
onde há opções,
como a portabi-
lidade numérica
mostrou, o cliente
migra de uma for-
ma muito forte.”
Para fazer frente a
esse desafi o, a Te-
lefônica anunciou que, neste ano, prevê
realizar investimentos da ordem de R$
2 bilhões. Uma das novidades previstas
pela empresa era a de lançar, até o fi nal
de janeiro, uma oferta de banda larga
popular para o estado de São Paulo,
por meio de tecnologia sem fio, Wi-
Mesh ou Wi-Fi, com foco, sobretudo, em
comunidades verticais, como os con-
juntos habitacionais da Cohab.
ÁGUAS PASSADASQuanto ao episódio Speedy, a Telefô-
nica defende já ser coisa do passado.
“Foi realizado um conjunto de ações,
de investimentos e de alterações de
procedimentos, seja na rede ou no aten-
dimento e na comercialização. Temos
a convicção de que todas essas ações
colocam a Telefônica em uma posição
extremamente fortalecida para 2010
e para poder aproveitar o potencial de
crescimento desse mercado de forma
bastante competitiva,” afi rma Fernan-
do Freitas, diretor de Relações Institu-
cionais da Telefônica do Brasil.
O fôlego que esse investimento da-
rá à empresa poderá se ver eclipsado
pela ajuda que o Banco Nacional de De-
senvolvimento Econômico e Social (BN-
DES) aprovou para o grupo Oi, de R$ 4,4
bilhões. Os recursos serão destinados
aos planos de investimento das quatro
empresas do grupo (Brasil Telecom Fixa
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Fevereiro, 2010 AméricaEconomia 25
e Brasil Telecom Móvel, Oi Fixa e Oi
Móvel) relativos ao período de 2009 a
2011. Mas o grupo pode não ter fôlego
para crescer no mercado de banda
larga, devido à dívida adquirida com
a compra da Brasil Telecom, ocorrida
em 2008, de acordo com o analista de
telecomunicações Virgilio Freire. “Em
minha opinião, a Oi deu um passo
maior que as pernas. Agora, está di-
fícil para deglutir essa compra,” diz,
indicando que, antes de mais nada,
o maior desafio da Telefônica será
aprender com seus próprio erros.
ROUPA NOVAJUAN PABLO RIOSECO,
DE SANTIAGO DO CHILE
Apostar na América Latina para crescer, no ce-nário econômico delicado de 2009, foi uma tarefa complexa para a Telefônica, não apenas no Brasil. Um dos principais movimentos da empresa para ajustar seu rumo à retomada econômica na região em 2010 foi impulsionar uma transformação na América Latina, mudando de vez da marca Tele-fônica para Movistar, sua marca de telefonia mó-vel. Uma medida extrema e trabalhosa como essa, segundo analistas, tem motivos óbvios: apagar a imagem negativa que o serviço da companhia dei-xou em muitos países, apresentando-se como um provedor de telecomunicações integrado, com TV paga, Internet e telefonia móvel e fi xa.
Tal iniciativa teve a partida dada em outubro, começando pelo Chile, com investimento de US$ 11,9 milhões. No Brasil, tal mudança poderia se dar em 2011. Segundo a empresa, a escolha do Chile aconteceu por ser um dos com mais alta penetra-ção de tecnologia, além de ser um mercado me-nor em tamanho e de mais fácil acompanhamento para um processo inicial de mudança. Além disso, é um dos poucos na região em que a supremacia dos espanhóis sobre a América Móvil, do mexica-no Carlos Slim, é clara. “A empresa está indo por
um caminho correto, pois sabe que precisa reunir seus serviços para aumentar a competitividade”, diz Marcelo Melnick, analista da consultoria Gurovic y Asociados, em Santiago.
De qualquer forma, para a Telefônica, 2010 já começou com novos percalços na região. Um de-les na Argentina – onde a empresa prevê investir US$ 500 milhões este ano –, e onde o governo fi -xou uma multa de US$ 27,4 milhões para a compa-nhia, por ferir as regras de defesa da concorrência ao não informar ao organismo antitruste a compra de uma parte da Telecom Itália, sua principal con-corrente no país.
Já na Venezuela, o anúncio de desvalorização do bolívar, que, agora, tem um câmbio diferencia-do para serviços taxados de “não essenciais”, como a telefonia, poderá reduzir o faturamento do gru-po em mais de 4% e o lucro em cerca de 10%, se-gundo analistas.
No acumulado dos nove primeiros meses do ano, a receita da operação latino-americana da Telefônica representou 39,8% do total do grupo – ante 35,1% da Espanha e 24,1% da Telefônica Eu-ropa –, dois pontos percentuais a mais do que em relação ao mesmo período de 2008.
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26 AméricaEconomia Fevereiro, 2010
A TODA MÁQUINASOLANGE MONTEIRO, DE SÃO PAULO
FOTO: KIKO FERRITE
NEGÓCIOS ENTREVISTA
AméricaEconomia A MAN anun-ciou, em janeiro, o aumento da ca-pacidade de produção da fábrica de Resende. De onde esse aumento de demanda chegará primeiro?Antonio Roberto Cortes Nossa ex-
pectativa quanto à retomada da ativi-
dade econômica de uma forma plena é
grande. Estamos nos preparando para
isso. Antes da crise fi nanceira, nós tra-
balhávamos com três turnos cheios e,
agora, estamos retomando a capacidade
A ntonio Roberto Cortes esteve à frente da Volkswagen Caminhões por
mais de dez anos. Por isso, hoje, como CEO da MAN Latin America, po-
de afi rmar com propriedade que o mercado de caminhões é um bom
termômetro da economia brasileira. “Quem compra um caminhão vislumbra
utilização, frete, transporte de riqueza”, diz, revelando um otimismo alinhado
à retomada do crescimento no país, que se refl ete diretamente nos planos da
empresa. Em janeiro, a MAN anunciou a volta do terceiro turno da fábrica em
Resende (RJ), com a contratação de 700 funcionários. Além disso, a companhia
acelera os investimentos para dar início à produção dos primeiros caminhões
MAN no Brasil, da categoria extrapesados, com os quais disputará mercado com
Volvo, Mercedes-Benz e Scania.
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Fevereiro, 2010 AméricaEconomia 27
Em 2007, anunciamos um plano de
investimentos de US$ 1 bilhão em
cinco anos, e vamos mantê-lo
de antes da crise, de 72 mil unidades ao
ano. Nós já estamos observando uma
recuperação forte em construção civil,
mineração, logística, transportadores,
de produtos de bem de consumo e do
setor agrícola. Há o incentivo do gover-
no ao PAC e os projetos para a Copa do
Mundo e as Olimpíadas. Além disso, o
Brasil tem uma peculiaridade que nos
deixa mais confortável com essa deci-
são: hoje, a idade média da frota de ca-
minhões, no Brasil, é de 18 anos. E o ideal
seria uma frota de 8 ou 9 anos. Ou seja,
os caminhões brasileiros estão duas ve-
zes mais velhos do que deveriam estar.
Isso não é economicamente viável, nem
para a segurança, nem para os níveis de
consumo, nem para o ambiente, pois
poluem mais.
AE Como foi 2009 para a empresa?ARC No geral, as vendas do setor ca-
íram 11%, enquanto nós registramos
queda de 9%. Nas exportações, a queda
do setor foi de quase 40%, e nós tivemos
redução de 30%. Isso ocorreu porque
nossos principais países exportadores
– Argentina, México e África do Sul – es-
tão sofrendo mais do que nós com essa
crise. Hoje, as exportações representam
15% das nossas vendas.
AE No ano passado, a Volkswagen Ca-minhões foi incorporada pela MAN e se tornou a MAN Latin America. Em que isso mudou o negócio de vocês?ARC Foi importante, pois passamos
a participar do nicho de caminhões
extrapesados, que concentra de 15%
a 20% do mercado de caminhões bra-
sileiro, e que não faz parte do portfólio
da Volkswagen. A MAN não tinha pre-
sença no Brasil, e o objetivo de chegar
aqui, bem como na India, e fazer uma
parceria na China é o de que, daqui a
cinco anos, 50% dos negócios da MAN
estejam fora de Europa.
AE E isso implicou adaptação?ARC Para nós, faz parte da evolução do
negócio. Em 1998, quando começamos,
vendíamos 9 mil veículos ao ano e
detínhamos de 12% a 15% do mercado;
em 2009, vendemos 46 mil e chegamos
à liderança, com mais de 30%. E isso só
foi conquistado em virtude de quatro
pilares. O primeiro é ter produto e, para
tanto, temos uma engenharia no Brasil,
não usamos uma fórmula importada.
O segundo é ter rede que garanta um
pós-venda barato e disponibilidade
de peças em qualquer lugar. O terceiro
foi a construção da fábrica de Resende,
com um modelo totalmente inédito de
produção, chamado consórcio modular,
em que, em invés de nós montarmos
um caminhão, quem monta são nossas
empresas parceiras. E o quarto pilar é
o foco. Com isso, agora, entramos em
um mercado novo, com a marca Volks
permanecendo onde está. Assumindo
que ganharemos em custo, a fabricação
aqui também possibilitará a exporta-
ção para a América Latina, mercado
sobre o qual somos responsáveis.
AE Qual o investimento para fabri-car caminhões e motores MAN no Brasil e qual a previsão de início da produção?ARC Em 2007, anunciamos um plano de
investimentos de US$ 1 bilhão em cinco
anos, e vamos mantê-lo, redirecionan-
do esse investimento. Agora, estamos
acelerando esse processo. Isso signifi ca
que, muito provavelmente, entre o fi nal
deste ano e o início do ano que vem, já
começaremos a fabricação.
AE A MAN tem grande experiência no desenvolvimento de tecnologia para ônibus híbridos usando energia elétrica. Esse seria um modelo viável para o Brasil? ARC Quando você fala em ônibus, você
fala em tarifas, em poder aquisitivo. Se
conseguíssemos uma tecnologia híbri-
da com custo baixo, seria interessante.
Mas isso ainda vai demorar vários anos,
e as prioridades do Brasil são a questão
ambiental e a menor dependência do
petróleo, e acho que isso está no bio-
diesel. Hoje, focamos nosso pessoal de
pesquisa em desenvolver um motor que
rode 100% biodiesel, ou que rode biodie-
sel o máximo possível, com efi ciência.
AE Existe algum fator que poderia ameaçar as estimativas de cresci-mento da MAN?ARC O governo implementou medidas
de incentivo que, na minha opinião, fo-
ram excelentes, que passaram por uma
isenção do IPI para caminhão e redução
do custo fi nanceiro por meio de conces-
são de empréstimo via BNDES: para o
caminhoneiro, a taxa era de 13,5% e caiu
para 4,5% ao ano; para o frotista, caiu de
10,0% para 7,5%. Automaticamente, as
vendas foram retomadas, e essa eu acho
que é a equação do Brasil, de um modo
geral. Medidas como essa não deveriam
ser feitas somente em momentos emer-
genciais, mas no longo prazo, para que
houvesse uma desoneração geral de
impostos e redução da taxa de juros.
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28 AméricaEconomia Fevereiro, 2010
FESTA PROFISSIONAL
NEGÓCIOS CARNAVAL
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Fevereiro, 2010 AméricaEconomia 29
VERÓNICA GOYZUETA, DE SÃO PAULO
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I magine escolher Nilópolis como
destino de suas próximas férias.
O pacote de quatro dias inclui hos-
pedagem em um hotel fazenda, banhos
nas melhores cachoeiras fl uminenses,
trilhas no Parque Nacional de Gerici-
nó e visitas à Escola de Samba Beija
Flor de Nilópolis, assistindo a shows de
sambistas, conhecendo os processos de
confecção de fantasias, conversando
com membros da velha guarda e respi-
rando a cultura do Carnaval. Fazer um
parque temático do samba pode ser um
sacrilégio para tradicionalistas, mas
quem estuda e trabalha na área consi-
dera um modelo a seguir para desbra-
var parte do potencial de um mercado
que deve movimentar, neste ano, R$ 1,2
bilhão apenas com o desfi le das escolas
do Grupo Especial do Rio de Janeiro.
Só o desfi le do Grupo Especial das escolas de samba do Rio de Janeiro deve movimentar R$ 1,2 bilhão neste ano, em uma festa que tem muito espaço para crescer
A criação de um parque temático
do samba foi uma ideia que surgiu de
Sergio Sessim, prefeito de Nilópolis, ao
perceber que a Beija Flor é a principal
atração e umas das maiores fontes de
renda do município. O Bairro de Ma-
dureira, por exemplo, é outro local com
potencial temático. Ele é o berço de três
escolas de samba – a Portela, a Impera-
triz Leopoldinense e a Tradição –, e já
se está desenhando um projeto para a
criação de um sambódromo popular no
local, que leva a assinatura do designer
austríaco Hans Donner, criador de vi-
nhetas do Carnaval para a Rede Globo,
casado com uma das musas da festa.
“Precisamos identifi car o que existe e
aproveitar seu potencial”, diz Luiz Car-
los Prestes Filho, principal pesquisador
brasileiro da economia do Carnaval.
Autor e coordenador do estudo “A
Cadeia Produtiva da Economia do Car-
naval”, Prestes Filho é o primeiro a ana-
lisar academicamente os números do
Carnaval do Rio. Em 2000, quando ini-
ciou a pesquisa, no Núcleo de Estudos
de Economia da Cultura da PUC-Rio, o
Carnaval envolvia gastos de R$ 416 mi-
lhões. Em 2006, último ano registrado,
esse número chegou a R$ 685 milhões e
gerou 246,5 mil postos de trabalho por
mês, com a mobilização de 470,3 mil
trabalhadores. Para este ano, estima-se
que a festa movimentará R$ 1,2 bilhão.
Esses valores referem-se apenas ao
desfi le das escolas de samba do Grupo
Especial e não contabilizam trabalhos
especializados. Entre eles, há o das arte-
sãs de Barra Mansa, que produzem cer-
ca de 40 milhões de bordados por ano:
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30 AméricaEconomia Fevereiro, 2010
ACIMA, DESFILE NO SAMBÓDROMO. À DIREITA,
PRESTES FILHO COM MEMBROS DA ESCOLA
DE SAMBA UNIÃO DO PARQUE CURICICA
52% para as escolas do Rio, 26% para
as agremiações paulistas, e o restante
para o exterior. O negócio gera cerca de
R$ 52 milhões anuais, equivalentes a
4,5% do PIB do município, e vem de uma
atividade quase sempre informal, em
que a evasão fi scal é recorrente. “Temos
de estudar as profi ssões do Carnaval, o
serralheiro, o maquiador etc. Não temos
planejamento dessas atividades, que
hoje, são muito empíricas”, diz Prestes.
“Precisamos pensar quantos operários
devem ser preparados para oferecer
serviço qualifi cado, assim como se faz
na indústria, mas não temos política de
Estado para isso”, diz o pesquisador.
ENORME POTENCIALO Carnaval tem outros dados e cifras
que impressionam, como o da venda de
ingressos. Abertas em janeiro, elas re-
gistraram o recorde de 32 minutos para
esgotar os 12.190 ingressos de arqui-
bancadas especiais e cadeiras individu-
ais, para cada dia de desfi le na Sapucaí.
Isso sem contar os camarotes, que so-
mem na mão de cervejarias, bancos e
multinacionais. Bem como o patrocínio
do tema dos sambas-enredos, negó-
cio que já atraiu até Hugo Chávez. Em
2006, o presidente venezuelano apoiou
a escola de samba Vila Isabel, campeã
naquele ano, levando o tema Simon
Bolívar ao Sambódromo. A ordem dos
especialistas e o desejo das autoridades
é aproveitar esse sucesso e profi ssio-
nalizar o setor, para que ele gere ainda
mais recursos. As possibilidades são
infi nitas e incluem desde patrocínios,
direitos de imagem e de transmissão de
TV a novos investimentos em turismo
e nas profi ssões do Carnaval.
Contrariamente ao modelo temá-
tico, que chama de turismo Cancún,
o consultor e escritor de livros de ges-
tão Ricardo Neves diz que é necessário
aproveitar as características do Car-
naval como um evento espontâneo,
que, na sua visão, atrai um turista que
busca uma experiência de viagem, e
não um modelo pasteurizado. “Há um
novo fi lão, que não é o que está na tela
da Globo. É o Carnaval do exército das
formigas empreendedoras, que deixa
para trás um Carnaval pago apenas
por grandes patrocinadores, em uma
perspectiva que esses patrocinadores
não dominam. É o resgate de uma festa
verdadeiramente popular”, diz Neves,
que é folião em blocos de rua do Rio.
“O Brasil não comercializa, não de-
senvolve e não aproveita o Carnaval
como negócio, como também não faz
com o futebol”, diz o consultor Fernan-
do Prestes Maia , que preside o Instituto
Pensamento Nacional de Bases Empre-
sariais (IPNBE), uma entidade que tem,
entre outros fi ns, a formulação de pro-
jetos de longo prazo para o país. Maia
vê oportunidades de negócio em áreas
alheias ao Carnaval, como alimentação
e bebidas, brindes e acessórios, mas
também acha que os negócios da festa
não precisariam ser sazonais e restritos
ao verão. O empresário cita o caso de
palestras em que a escola de samba
é estudada como modelo de gestão. E
quem melhor para dar uma palestra
que os próprios membros da escola? –
um fi lão que elas ainda não exploram.
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Fevereiro, 2010 AméricaEconomia 31
Para Prestes Filho, o espaço de cres-
cimento de negócios para o Carnaval
se concentra em marcas, patentes, pro-
priedade intelectual e inovação tecno-
lógica, porque áreas como alimentação,
serviços e hospedagem chegam a um
ponto de estabilidade em que não é mais
possível crescer. Na opinião do pesqui-
sador, os latino-americanos não sabem
fazer gestão de marca nem de direitos
autorais, diferentemente dos países do
primeiro mundo, que basearam sua eco-
nomia nesses quesitos. “A Petrobras é a
9ª empresa do mundo, mas não é uma
marca conhecida”, afi rma.
E existe melhor marca do que aque-
la sinônimo de alegria e de festa?
A empresa Aliante, especializada
em eventos para executivos, foi uma das
que colocaram esse bloco na rua. A ideia
não é nova. O economista austríaco-
americano Peter Drucker chegou a pro-
por a escola de samba como modelo de
planejamento, em uma das suas visitas
ao Brasil. O pacote da Aliante “Escola de
Samba Corporativa” é oferecido para
ensinar tópicos como motivação, ge-
renciamento de projetos, disciplina e
espírito de equipe.
A MARCA DO CARNAVALDe fato, são as empresas as que melhor
têm se benefi ciado do potencial da festa
brasileira. “Quem mais tem aproveitado
isso, em termos de marca, é a Brahma,
com seu famoso camarote na Sapucaí”,
diz Eduardo Tomiya, especialista em
marcas e diretor geral da consultoria
BrandAnalytics. Mas ela não está só.
Para este ano, por exemplo, Nova Schin,
Itaú e Petrobras já garantiram seu lugar
como patrocinadores oficiais do Car-
naval de Salvador, na Bahia, pagando,
cada uma cerca de R$ 3,1 milhões. Se-
gundo o Salvador Turismo, órgão do
governo baiano, mais de 200 empresas
disputam espaço nessa festa.
A cervejaria Ambev, dona da Brahma,
considera o Carnaval um dos seus prin-
cipais investimentos de marketing,
junto do futebol e das festas juninas. E
o camarote, que já tem 19 anos de Sapu-
caí, é apenas um ponto na sua rede de
investimentos. A empresa venceu, com
a marca Antarctica, a licitação da Pre-
feitura do Rio para ser a patrocinadora
ofi cial do Carnaval de rua da cidade. “É
uma prova de como o poder público po-
3,1milhões de reais é
o preço da cota de patrocínio, em Salvador
de dar estrutura ao Carnaval
sem tirar a espontaneidade.
Com uma licitação, parceiros
oferecem a estrutura e ajudam
no orçamento público”, diz Thiago
Ely, gerente de Plataforma de Eventos
da Ambev. A empresa investirá R$ 5
milhões para instalar 4 mil banhei-
ros químicos, pagar as diárias de 500
controladores de trânsito, 80 diárias de
UTIs móveis e espalhar sua marca pela
cidade, em galhardetes de sinalização,
guias de blocos e na decoração da Ave-
nida Rio Branco.
A empresa espalha, também, suas
marcas nos carnavais de Salvador, Re-
cife e Olinda e não desiste do investi-
mento – ao contrário, cresce
ano a ano, mais que a infl ação,
ou seja, mais de 5%, diz Ely,
como única pista. “Como con-
tinuamos investindo, pode se
presumir que é um bom negó-
cio”, diz o executivo, que tem
visto um crescimento na pro-
fissionalização do Carnaval.
Ely orgulha-se da ousadia que
a marca teve há cinco anos,
quando levou o DJ FatBoy Slim
para um trio elétrico, em Sal-
vador. Para ele, o desafio do
Carnaval é ousar.
Mas, se as grandes marcas
exploram o Carnaval, por que
não fazer dele uma grande
marca? “Por trás da marca Por-
tela, Beija Flor, Mangueira, há
um valor específi co. Temos de
pensar em propriedade inte-
lectual e Carnaval, garantin-
do a sustentabilidade deste”,
diz o pesquisador, que calcu-
lou que, apenas com a passa-
gem das escolas na Sapucaí,
cantando dez sambas-enredo,
são movimentados R$ 7 mi-
lhões em direitos autorais. “A
marca do Carnaval precisa ser
trabalhada, deixar de ser um
calendário. É necessário posi-
cionar o Carnaval do Rio como
uma marca forte”, concorda
Tomiya, da BrandAnalytics.Foto
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32 AméricaEconomia Fevereiro, 2010
J osé Antonio Fernández, presidente
da mexicana Femsa, diz que foram
três os sinais que o fizeram ava-
liar o futuro da divisão de cervejas da
companhia. Todos eles, curiosamente,
são megafusões: primeiramente, a da
Anheuser-Busch com a Inbev; depois,
a da Molson-Coors com a SabMiller; e, a
mais recente, a da Scottish & Newcas-
tle com a Heineken.
A MAIS CORTEJADA
A venda da Femsa Cerveja à Heineken é um passo decisivo na consolidação do setor na América Latina. Depois, o foco estará nas médias
EDUARDO THOMSON E FELIPE ALDUNATE, DE SANTIAGO
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NEGÓCIOS CERVEJA
“A Femsa Cerveja tinha tudo para
ser uma companhia mundial, mas não
contava com plataforma nem escala”,
comenta Fernández. “E achamos que,
para crescer, ou você compra, ou se jun-
ta, ou vende. Só não pode fi car parado.”
Assim, depois de discussões e fl er-
tes com vários concorrentes, no começo
de janeiro, a Femsa decidiu-se pela ho-
landesa Heineken. Concordou em ven-
der, pelo equivalente a US$ 7,6 bilhões,
sua divisão de cervejas – ofi cialmente
chamada Cervejaria Cuauhtémoc Moc-
tezuma, que produz as marcas Tecate,
Dos Equis, Bohemia e Sol –, em troca de
uma participação de 20% na Heineken.
Os mexicanos tornaram-se, assim, o
segundo maior acionista da holandesa,
depois da própria família Heineken.
A Femsa fi cou livre de dívidas, e com
tempo e dinheiro para se dedicar a duas
outras áreas: à expansão de sua rede de
lojas de conveniência Oxxo e à engar-
rafadora Coca-Cola Femsa. “Além disso,
esse acordo nos permite continuar na
indústria da cerveja, porque vemos va-
lor nela”, comenta Fernández.
Essa venda põe um ponto final à
era das grandes operações na indústria
cervejeira latino-americana, já que os
jogadores de peso independentes desa-
pareceram. Daqui para a frente, serão
as companhias de tamanho médio que
começarão a sentir a pressão para se
associarem a alguma das grandes.
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Fevereiro, 2010 AméricaEconomia 33
vejaria Nacional Dominicana (do grupo
León Jimeno), a CCU do Chile (do grupo
Luksic) e a costarriquenha Florida Ice &
Farm (da família Lindo Morales), ainda
que, nas duas últimas, a Heineken te-
nha participação minoritária.
Os casos da Schincariol e da Petrópo-
lis são particulares, já que estas ocupam
o segundo e o terceiro lugares, respecti-
vamente, em participação de mercado
no país, segundo dados do Euromonitor
Internacional. Contudo, segundo Enio
Rodrigues, diretor do Sindicato Nacional
da Indústria da Cerveja do Brasil (Sindi-
cerv), Schincariol e Petrópolis arrastam
passivos tributários suficientemente
complicados para assustar um poten-
cial comprador. “Difi cultariam a com-
pra por parte de um ator internacional,
já que eles costumam ter regras muito
restritas de contabilidade”, comenta Ro-
drigues. “SabMiller e Heineken fi zeram
diligências em empresas da região em
anos anteriores, mas não chegaram a
nenhuma conclusão.”
Atores como a Petrópolis têm es-
paço sufi ciente para seguir crescendo
dentro de seu país. “As fusões e aqui-
sições são simplesmente trocas no jo-
go de xadrez mundial. Para nós, nada
muda. Somos especialistas do mercado
brasileiro e seguiremos fazendo o que
sabemos fazer”, diz Douglas Costa, ge-
rente de Marketing da empresa.
Fora do Brasil, não há muitas opor-
tunidades, ressalta Rodrigues, do Sindi-
cerv. “Em alguns países, poucos atores
têm participações tão altas que difi cul-
tam a entrada”, comenta. “Não vamos
ver outra oportunidade tão atraente
como a Femsa nos próximos três anos.”
No caso da Femsa, segundo Fernán-
dez, a possibilidade de um melhor posi-
cionamento de mercado tornou a ofer-
ta da Heineken ainda mais atraente.
“Havia quatro condições para qualquer
oferta: a primeira, que o valor fosse
atrativo; a segunda, a diversifi cação da
presença geográfi ca do sócio; a terceira,
o potencial de crescimento nos mer-
cados em que se encontra; e a quarta,
fl exibilidade cultural”, diz.
Assim, a associação com a Heineken
coube como luva, já que a holandesa
conta com presença global, operações
com forte potencial de crescimento,
como a China e o Sudeste Asiático, e
entende a cultura da mexicana, já que
é a Heineken USA quem faz a distribui-
ção das marcas Tecate e Dos Equis nos
Estados Unidos.
PRATELEIRAS VAZIASAgora, na América Latina, as grandes
oportunidades de compra estão fi can-
do escassas. Por exemplo, para o grupo
mexicano Modelo se tornar um alvo,
deverá concluir um processo de arbi-
tragem com a AB Inbev sobre a compra
da Anheuser-Busch. A AB tem 50,1% da
Modelo – ainda que não o controle –, e
os donos do Modelo alegam que, em vez
de passar à AB Inbev, eles deveriam ter
opção para recompra destas ações.
Segundo Olly Wehring, editor-che-
fe do site Just-Drinks, outro motivo pelo
qual, em 2010, certamente o mercado
estará mais calmo é que nem todas as
grandes cervejeiras mundiais contam
com muito dinheiro para fazer aqui-
sições. “Elas fi zeram grandes compras
há pouco tempo e estão ocupadas con-
solidando o que têm”, comenta. A úni-
ca grande que contaria com dinheiro
abundante em mãos para fazer com-
pras estratégicas é a SabMiller.
Na América Latina, o que resta são
atores médios. “Mas há bons ativos”,
comenta Fernández, da Femsa. Entre
as médias cervejeiras potencialmente
atraentes, estão as brasileiras Primo
Schincariol e Petrópolis, as venezuela-
nas Cervejaria Polar (do grupo Mendo-
za) e Regional (do grupo Cisneros), a Cer-
16%é a participação da América Latina no mercado mundial
de cerveja
Um dos países com alto nível de
consumo per capita de cerveja na Amé-
rica Latina é a Venezuela, mas Rodri-
gues, do Sindicerv, duvida que players
como SabMiller estejam olhando gru-
pos como a Cervejaria Polar ou Regional
no momento, já que a instabilidade não
permite fazer grandes investimentos.
O mercado latino-americano de
cervejas, segundo o Euromonitor, re-
presentou 16% do volume mundial em
2008. A mesma empresa acrescenta
que a América Latina, junto da região
da Ásia-Pacífico, África e do Oriente
Médio, será o único mercado regional
que manterá ou incrementará sua par-
ticipação no total de volumes cervejei-
ros, entre 2008 e 2013.
E aí está o ponto positivo para os
grandes, como Heineken ou um Sab-
Miller. Com volumes estancados ou em
franco declínio na América do Norte
e Europa Ocidental, por conta da cri-
se mundial, a região compensa essas
baixas. Além de outro fator favorável:
a jovem demografi a da região, já que
se espera que o consumo per capita de
cerveja aumente 6,4 litros, entre 2008 e
2013, acrescenta o Euromonitor.
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34 AméricaEconomia Fevereiro, 2010
A empresa recolhe retalhos de couro descartados pelas fábricas de calçados e curtidoras
1
A massa seca naturalmente em moldes
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O couro é misturado a outros produtos, como bactericida e catalisador, para formar a massa do bloco
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Arquiteto do interior de São Paulo fabrica blocos usando retalhos de couro descartados da indústria calçadista
P ara quem nasce em Franca, a 400
km da capital paulista, é difícil não
estar relacionado direta ou indire-
tamente com a produção de calçados. A ci-
dade, de cerca de 330 mil habitantes, reúne
760 fábricas de calçados, responsáveis por
25 mil empregos diretos e uma produção
anual próxima dos 30 milhões de pares.
Nem mesmo o arquiteto Emar Garcia
Júnior escapou dessa sina. Primeiro, com
projetos relacionados aos escritórios des-
sas empresas. Depois, com um negócio
resultante de uma inquietação: o grande
acúmulo de retalhos de couro descartados
pelas fábricas de calçados e curtidoras.
“Pensava comigo: preciso fazer algo para
reverter isso, tornar a produção mais sus-
tentável”, conta Garcia.
Há oito anos, ele começou a pesquisar
uma forma de reutilizar esse resíduo. O re-
sultado desse estudo foi o desenvolvimento
de uma massa que, além do couro, inclui
produtos como aglutinantes, bactericidas e
catalisadores, com a qual o arquiteto inves-
tiu, primeiramente, na criação de peças de
design decorativas e que, há quatro meses,
transformou-se também na base para a
fabricação de blocos para construção civil.
“Além de reaproveitar esse material, a seca-
gem dos blocos é feita ao ar livre, evitando
a emissão de gases liberados no processo
industrial em fornos”, explica.
Para garantir matéria-prima, a Coure-
col, empresa de Garcia, negocia associações
com curtidoras e indústrias de calçados.
Atualmente, a Couroecol reúne 5 toneladas
de retalhos de couro ao mês, com as quais
consegue fabricar uma média de 2 mil blo-
GRAZIELE DAL-BÓ, DE SÃO PAULO
CASA CURTIDANEGÓCIOS VISÃO VERDE
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Fevereiro, 2010 AméricaEconomia 35
Prontos, os blocos são usados na construção, unidos com cola PVA
4
Segundo Márcio Morato Galvão, da consultoria ambien-
tal ECP, ideias como a de Garcia ainda são novidade no Brasil,
mas seguem uma tendência já bem explorada nos países
desenvolvidos. “Nos Estados Unidos, por exemplo, há pelo
menos uma década existem os chamados green buildings”,
diz, referindo-se a construções que usam materiais produ-
zidos com resíduos e privilegiam os recursos naturais, com
mais entradas para a luz do dia, por exemplo. “Aqui no Brasil,
esse modelo ainda engatinha.”
Para Garcia, entretanto, isso não parece ser problema. “Há
um défi cit habitacional importante entre os trabalhadores
do setor calçadista aqui em Franca”, diz, afi rmando que esse
nicho é sua prioridade inicial.
Info
grafi
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oto:
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kpho
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cos. A doação dos retalhos mostrou-se um negócio vantajoso
também para as empresas, já que economizam no descarte
desses resíduos em aterros sanitários. “Hoje, nos cobram R$
76 por tonelada de rejeito. Todos os meses, depositamos entre
5 e 6 toneladas”, diz Ivan Junior de Andrade, diretor da Curti-
dora Francana, primeira empresa parceira da Couroecol. Se-
gundo Andrade, os custos com aterro sanitário representam,
hoje, 3% do faturamento da empresa.
Segundo Garcia, o bloco feito com resíduos de couro ga-
rante um isolamento acústico e térmico de 40%, “e custa o
mesmo que os blocos de concreto, cerca de R$ 1 a unidade”.
Para comprovar a efi ciência do produto, nos próximos meses,
Garcia, com o apoio de quatro empresas doadoras de couro,
começará a construir a primeira casa feita com esses blocos,
de 48 metros quadrados. “Depois, esperamos começar a asso-
ciar nossa produção à demanda”, diz.
O empresário não revela estimativas de faturamento
com o novo produto – em cujo desenvolvimento, conta o em-
presário, colaboraram técnicos do laboratório Falcão Bauer e
da Fundação Vanzolini –, mas afi rma que tudo o que entrar
no caixa da empresa, no começo, “será reinvestido no projeto”.
Entretanto, declara otimismo quanto ao potencial do bloco
no mercado de construção de casas populares. “O custo de
produção de uma casa com esses blocos cai, em média, 30%”,
afi rma. “Para se ter uma ideia, um imóvel com 60 metros qua-
drados, feito com bloco comum, sai por algo entre R$ 18 mil
e R$ 20 mil. Já um fabricado com o nosso custará entre R$ 13
mil e R$ 14 mil.” Isso porque, segundo o arquiteto, o bloco de
couro pesa menos, reduzindo o custo da fundação. “Enquanto
um bloco de concreto pesa até 6 kg, o feito com retalho não
ultrapassa os 2,5 kg. E, quanto mais pesada uma construção,
mais resistente – e cara – tem de ser a fundação.”
5toneladas de
retalhos de couro é a atual capacidade
mensal de processamento
da Couroecol
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36 AméricaEconomia Fevereiro, 2010
PEGADAS LUCRATIVAS
Jovens empresários paulistas apostam no mercado de compensação de emissões de carbono em eventosGRAZIELE DAL-BÓ, DE SÃO PAULO
BELTRAME: AUMENTO DA DEMANDA DE PROJETOS DEPOIS DA CÚPULA DE COPENHAGUE
NEGÓCIOS PME
O Brasil tem ganhado papel de
destaque na área de eventos.
Embora não existam núme-
ros ofi ciais, estima-se que mais de 300
mil encontros de todos os tipos acon-
teçam no país por ano. Os resultados
para a economia são incontestáveis.
Somente o segmento de grandes feiras
movimentou R$ 3,4 bilhões em 2009,
segundo a União Brasileira dos Promo-
tores de Feiras (Ubrafe).
Mas, ao sentar-se em uma plateia e
ouvir a apresentação de um expositor,
poucos imaginam as toneladas de dió-
xido de carbono que se necessitou emi-
tir para possibilitar a realização de tal
encontro. Exagero de algum ambienta-
lista fanático? Não. Essa preocupação é
tão real que incentivou dois empresá-
rios paulistas a investir na neutraliza-
ção de CO2 em eventos. Há dois anos,
Fernando Beltrame e Ricardo Uchoa
adicionaram mais esse serviço ao rol de
atividades da Eccaplan, consultoria de
desenvolvimento sustentável que, en-
tre outros clientes, atende grandes re-
des varejistas, prestadoras de serviços
para eventos e fabricantes de produtos
de tecnologia da informação.
“Nós somamos tudo o que envolve
o evento, como uso de energia elétri-
ca, ar-condicionado, milhas aéreas dos
participantes, papel, lixo etc. Aí, faze-
mos o cálculo de quantas toneladas de
carbono isso vai gerar e mostramos al-
guns projetos ao nosso cliente, para que
ele possa escolher”, afi rma Beltrame,
explicando que esse cálculo tem como
base o GHG Protocol, ferramenta de
medição de emissões de gases do efei-
to estufa. As compensações são feitas
1
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Fevereiro, 2010 AméricaEconomia 37
EVENTOS CORPORATIVOS:
NICHO DE MERCADO PROMISSOR
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com a compra de créditos de carbono
na Bolsa do Clima de Chicago, onde a
empresa é registrada.
Um dos principais clientes da Ec-
caplan é o Grupo de Líderes Empresa-
riais (Lide), que iniciou seu programa
de evento neutro em agosto de 2008.
“Já compensamos as emissões de 828
toneladas de gás carbônico. Dessa
forma, nossos eventos subsidiaram a
manutenção de um ano de ativida-
des fl orestais sustentáveis, numa área
equivalente a 210 campos de futebol do
tamanho do Maracanã ou a 1,02 Parque
do Ibirapuera”, diz Ana Lucia Ventorim,
diretora-geral do Lide.
A diretora do Conselho Empresarial
Brasileiro para o Desenvolvimento Sus-
tentável (Cebds), Marina Grossi, lembra
que a compensação de carbono ainda
não é obrigatória no Brasil, mas repre-
senta um mercado promissor. “As me-
tas de redução, embora voluntárias, são
compromissos, e sabemos que a maior
parte dessas mitigações virá das em-
presas privadas.” Portanto, antecipar-
se é um diferencial competitivo para
o empresário disposto a desembolsar
entre R$ 3 mil e R$ 12 mil ao promover
um evento “neutro”de um dia para um
público de até mil pessoas e que não
envolva viagens.
Do outro lado do balcão, quem
desenvolve projetos de neutralização
também colhe bons resultados. Prin-
cipalmente após a Cúpula de Cope-
nhague, que pode não ter surtido o
efeito ideal, mas despertou o interesse
de empresários pelo tema. “Temos 30
clientes fi xos e, depois do encontro na
Dinamarca, mais
de 20 empresas
nos procuraram,
interessadas no
trabalho de con-
sultoria ambien-
tal”, conta Bel-
trame, que não
revela o quanto a
consultoria fatu-
ra anualmente,
mas garante que só a parte de eventos
é responsável por 60% dos lucros da em-
presa – que também trabalha com rela-
tórios de sustentabilidade e programas
de gerenciamento de emissões de gases
do efeito estufa, atendendo a empresas
de outros setores.
CONSCIÊNCIA AMBIENTALUma iniciativa parecida com a da Ecca-
plan tem sido desenvolvida pela gaúcha
Hack Consultoria, de Novo Hambur-
go, que existe desde 1992 e participa
de projetos como gestão de resíduos,
licenciamentos e diagnósticos am-
bientais. Há cerca de três anos, a Hack,
que atende em toda a América Latina,
orientando empresas que atuam em
segmentos como celulose, alimentício
e coureiro-calçadista, resolveu apostar
na neutralização das emissões de gases
de efeito estufa de encontros corporati-
vos. “A maioria dos trabalhos teve como
objetivo promover a compensação e a
consciência ambiental”, explica a ge-
rente administrativa Adriana Hack.
O processo é parecido ao da Ecca-
plan, com a diferença de que a gaúcha
faz a compensa-
ção por meio do
plantio de árvores.
“Nossa empresa
calcula o quanto
deve ser neutrali-
zado e repassa as
orientações aos
responsáveis, mo-
nitorando o plan-
tio”, diz Hack.
Essa é uma preocupação que os em-
presários devem ter na hora de escolher
um projeto, orienta Grossi. “Não adian-
ta só plantar árvores; é preciso saber se
o bioma é o correto e se isso será moni-
torado. Assim como há muita iniciativa
séria, há outras que não são.”
2
3
12 milreais é quanto pode
custar a compensação de um evento
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38 AméricaEconomia Fevereiro, 2010
MOVIMENTOS
Foto
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HORIZONTEAMPLO
Crescer em meio à crise fi nanceira mundial não é para qualquer um. E não estamos fa-
lando da China, mas do Qatar, que viu sua economia expandir-se 11%, em 2009, graças
à sua forte atuação no mercado de gás natural. Mesmo com essa performance invejá-
vel, o governo daquele país tem como plano estratégico diversifi car seus negócios e
se tornar menos dependente do setor energético, atraindo investimentos de empresas
ao redor do mundo, sobretudo nas áreas de serviços e transferência de tecnologia.
“Os negócios entre Brasil e Qatar não são tão signifi cativos atualmente”, afi rma Chadi
Abou Daher, gerente regional do World Trade Center no Qatar. O intercâmbio comer-
cial entre o Brasil e o Qatar, em 2009, foi de apenas US$ 220 milhões, ou 0,08% do total
brasileiro. “Isso talvez se deva ao fato de que estão muito longe um do outro”, afi rma
Daher. Para reduzir essa distância e buscar parcerias, Daher visitou São Paulo no fi nal
de janeiro para inaugurar o International Perspectives, uma série de eventos que será
promovida pelo WTC em 2010 com o objetivo de reunir executivos e especialistas in-
ternacionais para debater perspectivas de negócios e intercâmbios de diversos países.
ROBERTA PREGNACA, DE SÃO PAULO
38 AméricaEconomia Fevereiro, 2010
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Fevereiro, 2010 AméricaEconomia 39
SER OU NÃO SER O braço de ferro de Martín Redrado pela Presidência do Ban-
co Central não é o único dilema político do governo de Cris-
tina Kirchner. O vice-presidente argentino, Julio Cobos, vem se
consolidando como líder da oposição ao próprio governo que
representa, com pré-candidatura à Presidência. Cobos ganhou
fama ao votar contra o governo, no Senado, quanto à proposta
125, que eleva os impostos às exportações da soja e do milho.
Na Argentina, o único papel do vice-presidente é encabeçar o
Senado, e ele somente tem direito a voto quando há empate.
Agora, o grande debate entre constitucionalistas é se esse voto
decisivo pertence a Cobos ou à vontade do governo. Outro
candidato à sucessão presidencial, o prefeito de Buenos Aires,
Mauricio Macri, afi rma que “Cobos não poderá fi car eternamente
como vice-presidente com o rol de interessado nas eleições de
2011”. RODRIGO LARA, DE BUENOS AIRES
ALÍVIO VERÃO A previsão climática indica uma redução das chu-
vas nos próximos meses, um sinal de alívio para
moradores e comerciantes da capital paulista, que
sofrem com enchentes nos períodos mais quen-
tes do ano. “O fato de São Paulo ter tido grandes
problemas e chuvas muito acima do normal nos
últimos meses não signifi ca que o restante de 2010
será também debaixo d’água,” diz a meteorologista
da Climatempo Josélia Pegorim.
A expectativa de um volume menor de chuvas é
um alívio para empresas como a Companhia de
Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Cea-
gesp). A companhia teve de interromper a comer-
cialização em seu entreposto durante praticamente
um dia inteiro em dezembro, causando enormes
prejuízos aos comerciantes. Para se ter uma ideia,
o entreposto movimenta uma média de R$ 15 mi-
lhões diariamente. ROBERTA PREGNACA, DE SÃO PAULO
Foto
: Lilia
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MOTORES LIGADOS As estimativas de crescimento do PIB acima de 5% para este ano animam diversos setores da economia
brasileira. De acordo com projeções da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fena-
brave), o segmento de automóveis e veículos comerciais leves deve comercializar 3,3 milhões unidades em
2010, uma alta de 9,73% em comparação com o ano anterior. Já o setor de caminhões deve negociar 123.885
unidades, um acréscimo de 13,50% em relação a 2009, e o segmento de ônibus deve apresentar crescimento
de 11,50%, o equivalente a 25.196 unidades vendidas em 2010. ROBERTA PREGNACA, DE SÃO PAULO
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40 AméricaEconomia Fevereiro, 2010
MOVIMENTOS
MÃOZINHA AO PIB Mesmo que eles ainda convivam com discrimi-
nação e piores condições de vida, o relatório
“Imigrantes e a Economia”, elaborado por David
Dyssegaard, diretor de Pesquisa de Imigração
do Fiscal Policy Institute, afi rma que os imigran-
tes – sobretudo os recém-chegados – signifi cam
muito para a economia dos EUA. Em Miami, re-
presentam 37% dos habitantes e 38% do PIB.
“Surpreende-me o que se passa em Nova York”,
diz Dyssegaard, indicando que o nível de educa-
ção dos imigrantes lá tem aumentado, e estes já
não se concentram apenas em trabalhos como
limpeza e construção. Exemplo disso é que 54%
dos trabalhadores da área de alimentação são
imigrantes. No restante das regiões, os resultados
indicaram que 24% já ocupam cargos gerenciais
e profi ssionais, e 22% são empresários ou pro-
prietários de negócios. Vale destacar que, do to-
tal de estrangeiros que vivem nos EUA, 47% são
latino-americanos. CAROLINA FUENTES, DE SANTIAGO
O SEGREDO ESTÁ NO VERDE Tão verdes como o pistache que se produz no Chile são os lucros da Omni Fruits. Seu dono, Amir Arjmand,
chegou ao Chile no ano 2000 e instalou a Omni Fruits com somente quatro funcionários. Hoje, tem uma planta
processadora na qual trabalham cerca de 50 pessoas e entre seus clientes estão indústrias como Bresler, Nestlé e
Unilever. “O Chile compete com o pistache verde porque há
pouca produção no mundo e, aqui, ele tem ótima qualidade”,
diz Arjmand. Segundo o empresário, o segredo é que o pis-
tache que se produz no Chile matura dentro da casca, con-
servando sua cor natural. E, quanto mais intensa ela for, mais
gostoso será o fruto. O quilo do pistache, no mercado interna-
cional, custa cerca de US$ 8. EVELYN QUEZADA, DE SANTIAGO
Foto
s: Divu
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BOLIVIANOS NA MIRA Depois de lançar um serviço de remessas para estrangeiros que vivem no
Brasil, no fi nal de 2009 o Banco Rendimento aumentou a aposta nos imigrantes
desbancarizados. O cartão Mi Plata permite ao usuário fazer pagamentos no comércio cre-
denciado à rede Visa Electron e usar a rede PLUS de caixas eletrônicos para realizar saques. Segundo o
banco, o foco inicial do cartão é atender à comunidade de bolivianos que vivem em São Paulo – de acordo
com o Centro de Apoio ao Imigrante, ligado à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), fala-se em
160 mil bolivianos só na capital paulista. “O lançamento do cartão complementa as ações de anistia que estão
sendo feitas. Sem dúvida, será um ganho enorme”, diz o cônsul geral da Bolívia em São Paulo, Jaime Valdívia. O
banco não cobra taxa para compras; já cada retirada em caixa custa R$ 4,90. SOLANGE MONTEIRO, DE SÃO PAULO
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Fevereiro, 2010 AméricaEconomia 41
VENDAS EM MOVIMENTO São muitas as companhias cujas
vendas estão estancadas por
causa da crise, mas a Research
In Motion (RIM), desenvolvedo-
ra da tecnologia Blackberry, é
excessão. A empresa acaba de
divulgar resultados muito acima
das expectativas de analistas, e
grande parte disso se deve ao rá-
pido crescimento do faturamen-
to da empresa fora dos Estados
Unidos. “As operações interna-
cionais estão avançando muito
bem”, disse o presidente execu-
tivo da companhia, Jim Balsillie,
destacando a força de suas ope-
rações na Ásia, Europa e América
Latina. David Añón, diretor de
Mercadotecnia de Canal da em-
presa para a América Latina, diz
que o crescimento de assinantes
e de usuários da tecnologia Bla-
ckberry na região tem sido muito
forte nos últimos tempos, “supe-
rando 25% de um trimestre para
o outro”. Isso se deve, diz Añón, à
inclinação dos jovens por enviar
mensagens de texto e à crescen-
te expectativa do consumidor
latino-americano de que seus
telefones celulares façam muito
mais do que somente receber
chamadas telefônicas. ANTONIO MA-RÍA DELGADO / MIAMI
MARÉ DE IANQUES Os turistas norte-americanos ainda não podem viajar diretamente
a Cuba, mas isso poderá mudar. Um comitê da Câmara dos Depu-
tados dos EUA discutiu, no fi nal do ano passado, um projeto de lei
apresentado pelo governo de Barack Obama que permitiria via-
jar à ilha, e o Ministério do Turismo cubano realizou uma reunião
virtual com executivos de agências de viagens dos EUA. Mesmo
que seja improvável que isso aconteça logo, estudo do Euromo-
nitor International indica as vantagens de tal liberação. Dados da
Sociedade Norte-americana de Viagens mostram que cerca de
835 mil turistas poderiam visitar a ilha anualmente, além dos 960
mil cubanos que
vivem nos EUA
e gostariam de
visitar seus pa-
rentes. O estudo
ainda aponta
que tais viagens
poderiam trazer
lucro anual de
US$ 1,1 bilhão às
empresas de tu-
rismo dos EUA.
EDUARDO THOMSON, DE SANTIAGO
PRINCIPAISDESTINOS TURÍSTICOSNORTE-AMERICANOS NO CARIBE(em mil pessoas)
Fonte Euromonitor International
Porto Rico 1.205 1.184
Bahamas 1.236 1.760
Jamaica 1.132 1.150
2007 2008
República Dominicana 1.080 1.091
Costa Rica 790 807
AE 384 movimentosa.indd 5AE 384 movimentosa.indd 5 1/22/10 12:25:04 AM1/22/10 12:25:04 AM
42 AméricaEconomia Fevereiro, 2010
MOVIMENTOS
APOSTA COMPLICADATrês anos depois de ter se instalado no Equador, a estatal Pe-
tróleos de Venezuela (PDVSA) faz sua aposta no mercado local
de postos de gasolina. Com a inauguração da primeira unida-
de em Quito, no fi nal de 2009 , a petrolífera busca ganhar es-
paço em um mercado já saturado. Ernesto Guerra, presidente
da Associação de Distribuidores de Derivados de Petróleo de
Pichincha, no Equador, conta que os executivos da PDVSA se
apresentaram a empresários interessados em investir em no-
vos postos com a marca venezuelana, bem como a donos de
postos já existentes para lhes convidar a formar parte da rede
PDVSA quando concluírem o contrato com outras redes. Mas
não será uma briga fácil. Desde 1995, com a modernização das
redes no Equador, o número de postos aumentou 145%, para
os atuais 1.090, segundo empresários do setor. A margem de
lucro dessa operação é regulada em dez centavos de dólar
por galão, que deve ser repartido entre os transportadores, a
distribuidora e o posto de gasolina. EVA VALENCIA, DE QUITO
EXPLOSÃO PETROQUÍMICA A empresa australiana Orica está de olho no Peru para iniciar outro grande projeto petroquí-
mico. Trata-se da planta de nitrato de amônio em San Juan de Marco, na região sul de Ica,
que demandará o investimento de US$ 500 milhões. “Forneceremos cerca de 60% da de-
manda local de nitrato de amônio. Isso totaliza umas 250 mil toneladas ao ano das quais
se importa, atualmente, mais de 90%”, diz Robert J. McDonald, gerente geral da Orica
Nitratos Peru. Assim, com a construção dessa planta, que se iniciará em 2011, a empresa
produzirá 300 mil toneladas anuais de nitrato de amônio, permitindo abandonar a im-
portação desse produto para abastecer o mercado interno. NATALIA VERA, DE LIMA
EMISSÃO ZERO Apesar do recente fracasso da Cú-
pula de Copenhague, o meio am-
biente está cada vez mais presente
no coletivo mundial. Na “Pesquisa
de Atitudes sobre a Mudança Cli-
mática 2009”, produzida pelo HSBC
com pessoas de 12 países (incluindo
o México e o Brasil), 65% dos entre-
vistados assinalaram que é impor-
tante alcançar um novo acordo in-
ternacional para reduzir as emissões
poluentes. Além disso, 79% dos en-
trevistados demonstraram interesse
em que se estabeleça um compro-
misso global para alcançar a meta
de reduzir as emissões entre 50% e
80% até o ano de 2050. Os mexica-
nos foram os que mais defenderam
esse compromisso, com 91%; se-
guidos de Hong Kong, com 84%; e
da China, com 82%. Já na Índia esse
percentual foi de 75%; no Reino Uni-
do, de 71%; e nos Estados Unidos,
mais baixo, de 66%. Apesar do im-
pacto da recessão global, sete entre
dez pessoas concordaram que en-
frentar as mudanças climáticas é tão
importante, ou mais, que apoiar sua
economia interna durante a desace-
leração. NATALIA VERA, DE LIMA
AE 384 movimentos.indd 6AE 384 movimentos.indd 6 1/22/10 12:26:35 AM1/22/10 12:26:35 AM
Nossa mais importante entrega? Um futuro melhor.Na atual economia global, idéias e produtos são compartilhados e as oportunidades surgem mais rápido que nunca. A FedEx ajuda a garantir
que a geração seguinte esteja pronta para um começo promissor ao conectar pessoas, bens e informação ao redor do mundo,
colocando assim, o futuro do continente em boas mãos.
A FedEx faz entregas para um mundo em constante mudança.
experience.fedex.com/education
© 2
009
FedE
x.
34 AméricaEconomia Fevereiro, 2010
DE NOVO, MAS NÃO DO ZERONão há como prever quando o Haiti poderá se recuperar dos efeitos do terremoto. Mas a coordenação previamente impulsionada pela força de paz da ONU poderá facilitar o caminho
CARLOS SALDIVIA, DE PORTO PRÍNCIPE
COM GRAZIELE DAL-BÓ, DE SÃO PAULO
DEBATES HAITI
1
A té a tarde de 12 de janeiro, o Haiti vivia em nor-
malidade relativa, comum ao país. Era um estado
comparável a Palestina ou Bagdá. A Polícia Nacional
haitiana encontrava-se espalhada por quase todas as esqui-
nas da capital Porto Príncipe com escopetas automáticas de
grosso calibre e metralhadoras M-16. Efetivos militares da
Minustah (sigla em francês para Missão das Nações Unidas
para Estabilização do Haiti) patrulhavam a região, munidos
de coletes antibala, com grupo sanguíneo escrito à vista de
todos, capacetes e fuzis. Nos setores de afl uência de pessoas,
guardas privados da empresa Blackwater observavam cada
movimento estranho.
Depois do terremoto, porém, cerca de 70% da cidade foi ao
solo. A estimativa de mortos, no fi m de janeiro, já apontava
AE 384 haiti.indd Sec1:2AE 384 haiti.indd Sec1:2 1/22/10 3:37:21 AM1/22/10 3:37:21 AM
Fevereiro, 2010 AméricaEconomia 45
MOVIMENTO EM RUA DE PORTO PRÍNCIPE
(ESQ.) E AÉREA DO HOTEL MONTANA
(ACIMA): PREJUÍZOS INCONTÁVEIS
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ruas, já que não há pavimento além das avenidas principais.
O segmento da areia branca para construção estava em seu
auge. Isso explica por que as construções novas eram irregu-
lares e altamente instáveis. Fato que foi alertado, em 28 de
dezembro, por Andrea Loi, braço direito do chefe da missão da
ONU no país, Hebi Anabi, ambos mortos no terremoto, já que
três pequenos tremores de terra sentidos antes do Ano Novo
tinham causado nervosismo no quartel-general da ONU. Dos
três hotéis antes considerados seguros em Porto Príncipe,
Montana, HMG e Le Plaza, apenas o último se manteve em
pé, por um motivo lógico: foi construído por engenheiros
norte-americanos sobre rocha e com blocos de pedra, o que
garantiu que a moradia de diplomatas e militares resistis-
sem, mesmo contíguas ao Palácio do Governo e à Catedral,
que não resistiram ao abalo.
Em Cite Solei, entretanto, fazer uma visita a pé só era per-
mitido com colete antibalas e capacete. “É como uma favela
brasileira”, compara o soldado. Um adolescente se aproxima
e lhe pede dinheiro, desafi ador, misturando creole, algo de
português e inglês, ao que o soldado respondeu: “estamos
aqui só para lhe dar segurança”. E ninguém discorda. Há
cinco anos, quando a quantidade de mortos por roubo era
impossível de determinar e quatro cartéis do narcotráfi co
um número próximo de 200 mil. Somente construções de
rocha do começo do século permaneceram em pé, e uma pe-
quena comunidade que vivia no luxo desapareceu do bairro
nobre de Petion Ville. Afi nal, o debacle humanitário do país,
agora, está ainda mais longe de ser resolvido.
“É uma imagem desalentadora”, diz, inconformado, um
soldado do Exército brasileiro que não quis se identifi car. Há
dois anos, é um dos responsáveis por fazer a guarda em Cité
Soleil, região mais pobre e violenta do Haiti. Pensava que sua
retina já estava vacinada contra cenas de desgraça, pelo con-
vívio diário com tantas imagens de miséria. Mas se enganou.
Diante dos efeitos do terremoto, os cerca de 7 mil soldados
dos 18 países, que formam a missão, comandada desde seu
início pelo Brasil, tiveram de direcionar-se ao resgate de ví-
timas. Para o brasileiro, naquele momento, os cinco anos da
Minustah e os US$ 577 milhões gastos por seu país na missão
pareciam ter ruído com a cidade.
DIFÍCIL ANTES, PIOR DEPOIS Visitando alguns pontos da capital haitiana com o soldado,
antes do terremoto, podia-se notar que, durante o dia, era
possível caminhar normalmente, mas, à noite, o panorama
mudava. Os brancos obedeciam a instruções de não circu-
lar, e os homens da Missão de Paz respeitavam o toque de
recolher às 23h30, monitorados pela política militar noturna
da Jordânia e do Brasil. No Haiti, o sol se põe às 17h30 e cada
chuva costumava deixar inundações em quase todas as
2
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46 AméricaEconomia Fevereiro, 2010
SE NÃO FOSSE O TERREMOTOO bom desempenho do setor agrícola, entre outros setores, como a indústria maquiladora, fez a economia do Haiti expandir-se em 2009. Esti-mativa divulgada pela Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal) em dezembro indicava um crescimento de 2% no ano passado.
Não fosse pelo terremoto, a projeção era de que esse número se repetiria em 2010. Os principais fatores que impulsionaram tal crescimento se-riam uma política mais expansiva para estimular a economia e o cenário eleitoral, com eleições legislativas no começo do ano e presidenciais no fi nal.
O informe ainda indicava que a taxa média de infl ação anual tinha baixado de 14,4% em 2008 para 3,4% em 2009 – por causa da redução dos preços internacionais de alimentos e petróleo. O défi cit em conta corrente caiu de 4,6% para 1% no mesmo período, e o investimento estrangeiro direto (IED) tinha aumentado 24% em relação a 2008, ainda que fosse um montante tímido: US$ 37 milhões. O ex-presidente dos EUA, Bill Clinton, nomeado, em abril de 2009, enviado especial da ONU ao Haiti, buscou impulsionar a atração de IED ao país, promovendo, em outubro, uma visita ao Haiti de cem empresários de 14 países. Entretanto, a destituição, nesse mesmo mês, da primeira-ministra Michele Pierre-Louis, por acu-sação de malversação de fundos para atender a vítimas dos furacões de 2008, foi considerada um passo atrás nesse esforço.
Hoje, ainda não se pode mensurar os desafi os para a recuperação econômica do país. Em 2008, quando foi vítima de furacões, o Haiti re-gistrou perdas de US$ 900 milhões, relativas a 15% do PIB, segundo o FMI. Mas isso, frente aos desastres provocados pelo terremoto, parece ser café pequeno.
repartiram a capital em setores, tudo era indiscutivelmente
pior. Os sequestros foram reduzidos de 327 mensais, em 2004,
para cerca de 20 ao ano.
“Realmente, a missão liderada pelo Brasil, nesses mais
de cinco anos, conseguiu cumprir questões mais relevantes,
que são a provisão de estabilidade e de condições mínimas
de segurança pública”, diz Antonio Jorge Ramalho, professor
de Relações Internacionais da Universide de Brasília (UnB).
Ramalho, que morou em Porto Príncipe entre 2007 e 2008,
acha que o Exército do Brasil, nesse sentido, “conseguiu medir
o uso da força sem reagir com violência, usando-a dentro das
regras de engajamento estabelecidas”, o que se constituiu em
um diferencial em relação a militares de outros países. “Era a
primeira vez que haitianos viam soldados construírem algo,
distribuir alimentos, brincar com crianças.
TEMPO E ORDEMAgora, quem olha para Porto Príncipe, seja pela TV, seja a olho
nu, não deixa de refl etir sobre o retrocesso que o processo de
recuperação implicará ao de estabilização. “Embora o terre-
moto tenha destruído muita coisa, não se vai sair do zero,
pois a Minustah promoveu uma coordenação maior, mais
troca de informações, e permitiu ao governo haitiano fazer
um projeto. Agora, será preciso revisitá-lo”, diz Ramalho.
Para um assessor europeu de Anabi, o maior desafi o será
a velocidade da recuperação. “Não há dúvida de que tivemos
avanços no processo de estabilização, mas, em cinco anos,
não tínhamos chegado nem à metade do necessário”, diz.
Com o terremoto ainda fresco, e apesar da comoção e dos
acenos de ajuda de todo o globo, os organizadores não tinham
tempo de fazer estimativas, nem de ser otimistas: apenas
de reagir. Uma semana depois do terremoto, com tropas de
reforço desembarcando no país, a ONU ainda não sabia como
organizar um sistema de ajuda que garantisse ao menos
que água e alimentos chegassem aos mais necessitados. “E
vamos ver se essa comoção internacional poderá se conver-
ter em uma colaboração efetiva”, questiona um alto ofi cial
chileno da missão. “Antes do terremoto, o país já era a maior
reunião de ONGs de direitos humanos e ajuda humanitária
que conheci, com mais de 400 delas”, afi rma, questionando
o valor de uma ação tão fragmentada, sobretudo ao atrair
intituições que sequer possuíam registro ofi cial. “Em contra-
partida, há um cemitério de projetos de engenharia, em que
os planos do Programa das Nações Unidas para o Desenvol-
DEBATES HAITI
A ÂNSIA DA BUSCA ENTRE OS ESCOMBROS:
VÍTIMAS PODEM CHEGAR A 200 MIL
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Fevereiro, 2010 AméricaEconomia 47
PORTO PRÍNCIPE ANTES DO
TERREMOTO: APESAR DO CERCO
MILITAR, PAÎS VIVIA EM RELATIVA
NORMALIDADE E CHEGOU A CRESCER
2% EM 2009, SEGUNDO A CEPAL
15%do PIB do Haiti foi o
quanto as perdas pelos furacões de 2008
custaram ao país
vimento (PNUD) são uma gota no deserto”, diz, apontando a
falta de foco em planos de infraestrutura no país, que pode
ter colaborado para a intensidade dos efeitos do terremoto.
Ramalho, da UnB, entretanto, defende que será um gran-
de equívoco deixar o calor das emoções contaminar o debate
e culpar a ONU e outras instituições pelos défi cits de infra-
estrutura no Haiti. “O fato de o Estado ser tão frágil difi culta
que ele cumpra suas responsabilidades, e muita gente olha
para a ONU como se ela tivesse que fazer o que o haitiano
não faz”, afi rma. Para o brasileiro, entretanto, “a única falha
da missão até agora foi deixar-se usar pelo governo haitiano,
que se exime de suas responsabilidades, alegando que o país
está ocupado. Há décadas as elites do país usam a presença
internacional como escudo”, diz. E, se essa distorção existe,
neste momento em que a ajuda internacional se fará cada vez
mais necessária, será ainda mais complexo corrigi-la.
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48 AméricaEconomia Fevereiro, 2010
DIAGNÓSTICO RESERVADOO otimismo ressurge, mas ainda são muitos os riscos que rodeiam a economia norte-americana ANTONIO MARÍA DELGADO, DE MIAMI
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DEBATES ESTADOS UNIDOS
F rank Salvatierra ainda lembra
com desgosto o dia que lhe des-
pediram. O jovem executivo
de um pequeno banco da Flórida já
tinha visto vários de seus colegas se-
rem atingidos pelo rolo compressor da
crise. Sabia que lhe poderia acontecer o
mesmo, ante a rápida deterioração das
condições de negócios no país. Apesar
disso, não conseguiu conter o frio no
estômago quando seu chefe colocou a
mão sobre seu ombro e o chamou para
conversar. Sempre busca ser otimista
em situações como esta, mas vendo
como a situação estava e a difi culdade
com que se deparava para encontrar
um novo trabalho, era difícil manter a
esperança, diz Salvatierra.
Mas o que ele ainda não imaginava
é que essa situação duraria tanto tem-
po. Salvatierra já está desempregado há
quase um ano. Em setembro, quando
suas reservas se esgotaram, teve de
deixar de pagar a hipoteca, e, agora,
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Fevereiro, 2010 AméricaEconomia 49
espera apenas a ordem judicial para
sair da casa e ir, junto de sua mulher e
dois fi lhos, viver com algum familiar.
“É surpreendente como sua situação
pode mudar de um dia para outro”, diz.
“Passei de almoçar diariamente nos
melhores restaurantes da cidade a de-
pender da ajuda do governo para fazer
as compras do mês.”
O executivo é apenas um dos 3,5
milhões de norte-americanos que per-
deram seus postos de trabalho em meio
ao que se afi rma ter sido a pior crise
econômica desde a Grande Depressão.
E, mesmo quando a maior economia
mundial começa a dar sinais de estar
se nivelando, muitos economistas ad-
vertem que a recuperação marcha a
passo lento e por um caminho repleto
de perigos, minando a esperança de
Salvatierra de conseguir um emprego
no curto prazo.
Quão severos são esses riscos? Os
economistas não chegam a um acordo
sobre o tema. Os mais otimistas acham
que, se não houver novas surpresas
pela frente, o clima de negócios pode-
ria dar sinais de melhora na segun-
da metade do ano. Já os pessimistas
acham que os EUA estão à beira de um
período semelhante à Década Perdida
atravessada pelo Japão, e há até os que
afi rmam que a verdadeira crise ainda
nem começou.
PASSOS DE TARTARUGADavid Wyss, chefe dos economistas da
Standard & Poor’s, está no grupo dos
otimistas. Wyss afi rma que o processo
de recuperação já começou, mesmo ad-
mitindo que este ainda é frágil, avança
a passos de tartaruga e que poderia
ser eclipsado a qualquer momento por
algum evento negativo. Que tipo de
evento? Há um grupo óbvio deles, afi r-
ma. Um é o preço do petróleo. Um barril
a US$ 80 não é grande coisa; já a US$
150, patamar em que estava há um ano
e meio, seria sufi ciente para nos levar
de volta a uma recessão.
Outro risco, segundo Wyss, provém
do setor financeiro. Se, por exemplo,
colapsar outra instituição financeira
empresas, incluindo centenas de ban-
cos. Entre os sinais promissores, está o
anúncio de números que indicam que
o matadouro no mercado de trabalho
já começa a decair, além de uma reação
do PIB, com crescimento de 2,2% no ter-
ceiro trimestre de 2009, de acordo com
o último dado anunciado e pequenas
amostras de que o consumidor, que,
nos últimos dois anos a única coisa
que fez foi consumir as próprias unhas,
começa a recobrar o ânimo para abrir
a carteira.
Estima-se que o crescimento do PIB
no terceiro trimestre, em parte atribu-
ído ao programa de estímulo imple-
mentado pela Casa Branca, tenha sido
acompanhado de outro bom percen-
tual para o quarto trimestre, de mais
de 3%, segundo prognósticos de alguns
economistas, o que permitiria à econo-
mia cumprir o requisito informal para
declarar o fi nal da recessão.
E tais expectativas já levam um
signifi cativo número de economistas
a pedir que a Casa Branca e o FED, que,
nos últimos anos, mantiveram as taxas
de juros em níveis baixos, comecem a
aplicar freio às medidas de estímulo,
temendo a volta da infl ação e um ex-
cesso de liquidez que fomente a criação
de grande porte, ou se se produzir um
grande default, talvez no lado das emis-
sões soberanas, isso poderia congelar
os mercados fi nanceiros e nos levar de
novo à lona. E também existe o risco po-
lítico, como a possibilidade de um novo
confl ito no Oriente Médio, uma guerra
comercial ou uma intensificação da
crise orçamentária em nível estatal
nos EUA. Enfi m, qualquer evento que
poderia ser assimilado pela economia
sob condições normais, mas que agora,
dada a sua fragilidade, poderia levar o
país de volta a uma recessão.
Para Kenneth Goldstein, economis-
ta do grupo empresarial The Conference
Board, o risco continua aí, apesar de ser
menor do que o que enfrentávamos há
um ou dois meses. É como um paciente
que acaba de sair da sala de cirurgia:
apesar de não estar totalmente fora de
perigo, a cada dia se reduzem os riscos
de que sofra uma recaída.
Goldstein acrescenta que as últi-
mas projeções econômicas divulgadas
apoiam a teoria de que a tormenta fi -
cou para trás. Esta provocou mais de
15 meses consecutivos de contração
econômica, ocasionando perdas patri-
moniais estimadas em US$ 11 trilhões,
causando o fechamento de milhares de
3%ou mais de
crescimento no quarto trimestre
permitiria declarar o fi m da recessão
nos EUA
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50 AméricaEconomia Fevereiro, 2010
de outra bolha como a imobiliária, que
desatou a crise. Outros, por sua vez,
pensam que o governo não deve dar
ouvido a essas opiniões. “Isso seria re-
petir os erros cometidos na Grande De-
pressão, quando se pensava que tudo
já havia terminado e se começou a ele-
var as taxas de juros, provocando uma
recessão mais profunda”, diz Michael
Intriligator, professor de Economia da
Universidade de Califórnia (Ucla), em
Los Angeles. “Apesar de isso ter acon-
tecido há mais de 70 anos, continua
sendo um risco.”
Paul Krugman compartilha da
mesma opinião do professor de Econo-
mia. Em uma coluna publicada recen-
temente, o Prêmio Nobel de Economia
advertiu que as recessões costumam
registrar breves momentos de recupe-
ração, que acabam sendo apenas ilu-
sões estatísticas, provocadas por uma
leve recuperação do nível de estoque.
Quando as economias se estancam,
explica Krugman, as companhias se
encontram com um grande estoque e
cortam a produção para poder escoar
a quantidade de produtos sem ven-
der. Uma vez que estes se esgotam, as
companhias retomam a produção, o
que pode se refl etir em um forte cresci-
mento do PIB.
Infelizmente, o crescimento provo-
cado pela recuperação de um nível ade-
quado de estoque acontece apenas uma
vez, salvo se as fontes fundamentais de
demanda, como o gasto do consumidor
e os investimentos de longo prazo, me-
lhorarem, afi rmou Krugman.
LONGO CAMINHO?Intriligator acha que o gasto do con-
sumidor, particularmente em um mo-
mento em que o desemprego ronda
os 10%, ainda não é suficiente para
justificar o otimismo do presidente
Obama, do presidente do Federal Re-
serve (FED), Ben Bernanke, e do diretor
do Conselho Nacional de Economia,
Lawrence Summers.
“Eles estão tentando restaurar a
confi ança das pessoas, defender seu
trabalho, mas, na verdade, nesse sen-
tido a situação está piorando”, diz In-
triligator, que prognostica que a reces-
são poderia durar mais três anos. “Os
EUA estão atravessando um processo
semelhante ao que o Japão passou du-
rante a denominada Década Perdida,
nos anos 1990, quando a economia se
desacelerou e se manteve estancada
por muitos anos.”
Esse tipo de estancamento, em que
até se poderia registrar algum cresci-
mento, ainda que ínfi mo, seria fruto
da alta taxa de desocupação e do
impacto deste sobre a demanda
interna, que, por sua vez, alimen-
ta mais de dois terços da eco-
nomia nacional, característica
que diferencia os EUA de países
como Índia e China, onde as
exportações, e não o consumo
interno, são o principal motor
da atividade econômica.
10%de desemprego nos
EUA ainda é um índice alto para justifi car
qualquer otimismo
Foto
: Pet
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Os economistas também demons-
tram preocupação com a crise fiscal
que a maioria dos estados está sofren-
do. Se esta se agravar, as coisas podem
se complicar ainda mais, já que os esta-
dos se veriam obrigados a aprofundar
os cortes na prestação de serviços que
oferecem, acentuando o desemprego.
Peter David Schiff, presidente da
corretora Euro Pacifi c Capital, acha que
a situação, na verdade, é bem pior que
a descrita por Intriligator, já que, a esse
cenário sensível, ainda é preciso somar
o risco da alta dependência do país do
fi nanciamento externo e a possibilida-
de de que os investidores estrangeiros
incluindo os de China, Japão e vários
outros países percam a confi ança na
capacidade de pagamento dos EUA.
DEBATES ESTADOS UNIDOS
BARACK OBAMA: JUNTO DE
BEN BERNANKE, DO FED, BUSCA
RESTAURAR A CONFIANÇA DO
NORTE-AMERICANO
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Fevereiro, 2010 AméricaEconomia 51
tir a história de Indonésia, Coreia, Hong
Kong, Tailândia e Filipinas, durante a
crise asiática; muitos ainda mantêm a
aposta de que a recuperação econômica
fi nalmente começa a tomar forma.
Entretanto, ainda os mais otimistas
admitem que mesmo com o melhor dos
cenários, o caminho a seguir continua-
rá sendo duro e levará tempo para que
a economia consiga eliminar todos os
desequilíbrios que conduziram à crise.
“Estamos sob observação médica,
e temos um longo período de restabe-
lecimento pela frente”, diz Goldstein.
“Quando se sofre um problema cardía-
co dessa magnitude, não se pode acre-
ditar na possibilidade de jogar tênis
dois dias depois.”
“O problema é que grande parte do
que consideramos crescimento econô-
mico, neste país, na realidade não o foi”,
diz Schiff, que ganhou notoriedade nos
EUA por ser um dos poucos economis-
tas a advertir, durante a época de auge,
que a economia norte-americana se
dirigia a uma crise. “Nós simplesmente
gastamos dinheiro que não tínhamos
e pedimos muito dinheiro emprestado
para fazê-lo. E, eventualmente, tudo
isso tem de colapsar, porque não se po-
de ter uma economia sadia construída
sobre esse tipo de consumo.”
COLAPSO MONETÁRIO“Há um limite sobre a quantidade de
dinheiro que podemos pedir empresta-
do, particularmente quando não se po-
de pagar. Também há um limite sobre
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ESTÍMULO AO CONSUMO: PEÇA-CHAVE
NA RECUPERAÇÃO DA ECONOMIAa quantidade de dinheiro que o mundo
vai nos emprestar por causa do mesmo
motivo, é como uma economia de bo-
lha, é uma economia artifi cial e o que o
governo está tratando de fazer é evitar
que esta desinfl e; está tratando de so-
prar mais ar para dentro”, diz Schiff.
Nesse cenário, que Schiff acha que
poderia acontecer em qualquer momen-
to, nos próximos dois anos, a crise viria
por meio de um ataque sobre o dólar. A
moeda começaria a se desvalorizar, e o
que inicialmente poderia se apresentar
como um retrocesso ordenado do dólar,
eventualmente se converteria em uma
queda desordenada, que conduziria ao
pânico e ao colapso fi nanceiro.
Dito isso, é preciso ressaltar que, ho-
je, são poucos os que concordam que os
Estados Unidos estão próximos de repe-
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52 AméricaEconomia Fevereiro, 2010
OPINIÃO
COMÉRCIO NON GRATO
SUSAN KAUFMAN PURCELL é diretora do Centro de Política Hemisférica da Universidade de Miami
Ilust
raçã
o: Sa
mue
l Cas
al
A o que tudo indica, 2010 não é um bom ano, nos
Estados Unidos, para se falar de livre-comércio com
a América Latina. Em primeiro lugar, as taxas de
desemprego continuam muito altas no país, acima de 10%,
e o livre-comércio é visto por muitos como redução de postos
de trabalho – pelo risco de estimular empresas norte-ameri-
canas a se realocar no exterior ou permitir que importações
de baixo custo ameacem a sobrevivência dessas. Em segundo
lugar, o Partido Democrata, do presiden-
te Barack Obama, é muito dependente
do apoio sindical, e essas organizações
já deixaram claro que se opõem a novos
tratados de livre-comércio. Em terceiro
lugar – e talvez mais importante –, está
o fato de que 2010 é ano de eleições legis-
lativas. Pesquisas já indicam a possibilidade de os democra-
tas perderem um número signifi cativo de cadeiras, tanto na
Câmara quanto no Senado. Isso já começa a ser comprovado.
O republicano Scott Brown derrotou a democrata Martha
Coakley na eleição especial realizada recentemente, no esta-
do de Massachusetts, para substituir o senador Ted Kennedy,
morto no ano passado.
Com isso, o partido de Barack Obama perde o domínio
no Senado. O crescimento econômico acelerado da China
também contribuiu para a intensifi cação de sentimentos
antilivre-comércio nos EUA. Há uma forte percepção, entre
muitos americanos, de que a China concorre de forma desleal
na economia global, mantendo sua moeda desvalorizada pa-
ra inundar o mercado com exportações baratas. Esse coquetel
desestimulará o Congresso dos EUA a considerar a aprovação
de acordos pendentes com a Colômbia e o Panamá ainda nes-
te ano. Por outro lado, se houvesse uma chance de progredir
em direção a um acordo de livre-comércio com o Brasil, maior
economia da América Latina, o ponto pacífi co de que 2010
será ruim para o comércio perderia validade.
O fato é que tampouco o Brasil se mostra favorável a um
acordo comercial com os EUA. Ao contrário, demonstrou resis-
tência à criação da Área de Livre-comércio das Américas (Alca),
ainda na Presidência de George W. Bush. Mais recentemente,
o país tem demonstrado maior interesse em expandir suas re-
lações comerciais com nações como a China, que tirou o lugar
dos EUA como mercado mais importante para o Brasil.
No entanto, existem alguns sinais de que o país sul-ame-
ricano pode reavaliar sua posição, principalmente por causa
de algumas tendências preocupantes em seu comércio inter-
nacional. Dados recentemente divulgados mostraram uma
queda preocupante, de 22,2%, nas exportações brasileiras. As
vendas externas de produtos manufaturados registraram um
declínio ainda maior, de 27,3%. As exportações para os EUA,
que têm sido o maior mercado para manufaturados brasileiros,
caíram alarmantes 42%. A principal razão para esse declínio
foi a recessão nos EUA. Mas o Brasil também foi prejudicado
pela valorização de 34% de sua moeda frente ao dólar.
Já as vendas do Brasil para a China cresceram 23%. O
problema, entretanto, é que a China comprou principal-
mente minério de ferro e soja, agravando uma tendência à
concentração das exportações em commodities. Em 2009,
de acordo com a Associação Brasileira
de Comércio Exterior, apenas 15% das
exportações do Brasil foram de manu-
faturados com valor agregado, contra
70% de commodities.
O secretário de Comércio Exterior
do Brasil, Welber Barral, prometeu que,
em 2010, o país “investirá fortemente nos EUA”. Ele acrescentou
que, como parte dessa estratégia, o governo irá considerar um
acordo de investimento e de comércio bilateral com o país.
Os EUA teriam muito a ganhar ao responder positiva-
mente a qualquer esforço brasileiro nesse sentido. Por exem-
plo, apesar da queda nas exportações do Brasil para os Esta-
dos Unidos no ano passado, este se manteve como a principal
fonte de importações do Brasil. Na verdade, o superávit co-
mercial dos EUA com o Brasil aumentou, entre 2008 e 2009, de
US$ 1,8 bilhão para US$ 4,4 bilhões. Um progresso em direção
a um comércio mais livre entre o Brasil, um dos países mais
dinâmicos das economias emergentes, e os EUA, a maior
economia de mercado industrializada, promete ser vantajoso
para ambos os países, durante estes tempos difíceis.
Um comércio mais livre entre Brasil e EUA promete ser vantajoso
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54 AméricaEconomia Fevereiro, 2010
NOVO NO BAIRROPresidente eleito do Chile promete menos política multilateral e mais acordos entre vizinhos
JUAN PABLO RIOSECO, DE SANTIAGO
PIÑERA: POLÍTICA EXTERIOR
FOCADA NA RELAÇÃO COM PERU,
BOLÍVIA E ARGENTINA
O primeiro compromisso inter-
nacional do empresário Sebas-
tián Piñera como futuro presi-
dente do Chile já está agendado: dia 21
de fevereiro ele participará, a convite
da presidente Michelle Bachelet, da
cúpula do Grupo do Rio, na Cidade do
México. De 2010 a 2012, o Chile deverá
assumir a presidência temporária da
organização, o que justifi ca a presença
do novo mandatário no evento.
Observadores internacionais aguar-
dam com curiosidade o primeiro en-
contro de Piñera com os líderes latino-
americanos. Dada a atual fragmentação
ideológica na América Latina, analistas
apostam que este não é o momento mais
propício para a reestreia internacional
da direita chilena, depois de 52 anos sem
ganhar uma eleição presidencial.
A equipe de assessores que, desde
o ano passado, se dedica a elaborar as
linhas da política internacional do go-
verno de Piñera reconhece esse risco
e já determinou a estratégia para os
próximos quatro anos quando o tema
for os países latino-americanos. “O foco
central estará nos três países limítro-
fes: Argentina, Bolívia e Peru”, diz um
dos principais assessores internacio-
nais do novo presidente, que pediu para
não ser identifi cado. A aposta de Piñera
não deixa de surpreender, já que essa
relação é um dos grandes temas pen-
dentes do Chile. Desde a redemocra-
tização, o país demonstrou inserir-se
exitosamente na economia global, mas
até agora não conquistou relações de
confi ança com seus três vizinhos.
Nos últimos anos, o maior avanço
que o Chile conseguiu foi com o Peru.
E parece que isso não mudará. O presi-
dente Alan García foi o primeiro man-
datário estrangeiro a felicitá-lo pela
vitória. As relações comerciais entre as
duas nações se intensifi caram. Entre-
tanto, a demanda que tramita na Corte
Internacional de Haya, lançada pelo
Peru, sobre o limite marítimo entre os
países – e cuja resolução poderá ser co-
nhecida no fi nal do governo de Piñera
–, bem como as eleições presidenciais
no país, em 2011, “poderá dar fi m ao
discurso de boas intenções e ressuscitar
velhas rixas”, diz Rodrigo Álvarez, ana-
lista da Faculdade Latino-americana de
Ciências Sociais (Flacso).
Quanto à Bolívia, apesar das aparen-
tes diferenças entre Evo Morales e Piñe-
ra, “não acho que haverá um rechaço
ideológico”, diz Juan Emilio Cheyre, ex-
comandante do Exército do Chile e dire-
tor do Centro de Estudos Internacionais
da Universidade Católica. “Ao contrário,
a legitimidade, tanto de Morales quanto
de Piñera, faz com que ambos tenham
poder para articular uma política inteli-
gente”, afi rma.
Entre os três vizinhos do Chile, en-
tretanto, será a Argentina o país que
demandará mais tempo de Piñera.
Apesar de ele se sentir politicamente
DEBATES CHILE
Foto
: Migu
el Ca
ndia
mais próximo de líderes da oposição,
como Mauricio Macri, a reativação do
diálogo com a Argentina está dentro
das prioridades do novo presidente. E a
integração energética é um dos primei-
ros temas da agenda.
MARCAR POSIÇÃOSeja como for seu desempenho com
seus vizinhos diretos, o governo de
Piñera tampouco poderá esquecer o
restante da região. O novo presidente
já deixou claro que acha as políticas
multilaterais inefi cazes e sobrepostas.
“O Chile participará, mas não impul-
sionará organizações como o Unasul”,
diz o assessor de Piñera. E, ainda que ele
tenha demonstrado ser pragmático e
aberto em diferentes aspectos, é possí-
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Fevereiro, 2010 AméricaEconomia 55
QUEM É SEBASTIÁN PIÑERA
60 anos de idade
Militante do partido Renovação Nacional, ligado à coligação Aliança por Chile, de centro-direita
Formado em Economia pela Universidade do Chile; com mestrado e doutorado na Universidade de Harvard, EUA
Casado com Cecilia Morel, comquem tem quatro fi lhos
Patrimônio de US$ 1 bilhão, segundo a revista Forbes
Acionista do canal de TV Chilevisión, da companhia aérea LAN Chile (participação que prometeu vender antes de tomar posse, em março), e da equipe de futebol Colo Colo
Eleito com 51,8% dos votos, em segundo turno disputado com Eduardo Frei, candidato da situação
vel que tome posições agressivas com
Chávez e seus aliados. “Na direita chile-
na, diferentemente da Concertação, não
há nenhuma simpatia para com ele”, diz
Peter Hakim, presidente do think tank
Diálogo Interamericano, em Washing-
ton. E ele já demonstrou isso dias depois
de ser eleito, ao fazer a primeira crítica
pública à forma como Chávez “pratica a
democracia e seu modelo econômico”.
Paz Milet, professora de Relações
Internacionais da Universidade do Chi-
le, lembra, entretanto, que “na prática,
Piñera quer ver a região como dois blo-
cos, mas há países que fl utuam entre
eles”, destacando a importância de “de-
fi nir qual tipo de vínculo ele escolhe-
rá ter com o Brasil”. Até agora, não se
ouviu muito de Piñera sobre o tema. “O
Brasil é fundamental, não somente por
ser um amigo tradicional, mas porque
está se transformando em uma potên-
cia mundial”, limitou-se a dizer em um
evento realizado no fi nal de 2009.
“A potência econômica do Brasil
é incontestável”, diz Alvarez, da Flac-
so. “Mas é preciso saber como Piñera
quer articular sua posição em relação
à política exterior do Brasil, à visão
desse gigante sobre pontos confl ituosos
no mundo, como o papel dos EUA na
região”, afirma, indicando que, tanto
quanto sua reação a posições extremis-
tas, serão os sinais do governo de Piñera
aos passos de países como o Brasil os
que contarão na hora de avaliar, num
espectro macro, a ação internacional do
novo presidente.
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56 AméricaEconomia Fevereiro, 2010
DEMOCRACIA À ESPERAGoverno de Felipe Calderón apresenta projeto de reforma política com pontos que o país discute há um século
DAVID SANTA CRUZ,
DA CIDADE DO MÉXICO
E m 1910, quando as eleições no
México eram consideradas de-
corativas, e o país vivia a di-
tadura de Porfi rio Díaz, o empresário
Francisco I. Madero convocou a popu-
lação mexicana à luta armada, sob o
lema “Nunca mais governos perpétuos
e cidadãos oprimidos; sufrágio efetivo,
não à reeleição”. Durante décadas, os
documentos ofi ciais do governo leva-
ram a insígnia da não reeleição nos pés
de página.
Hoje, 100 anos depois, essa herança
da Revolução Mexicana é um dos te-
mas mais polêmicos dentro do projeto
de reforma política apresentado por
Calderón em dezembro passado e que
inclui, entre outros pontos (ver quadro),
a adoção do sistema de segundo turno
para eleições presidenciais. Em linhas
DEBATES MÉXICO
Foto
: Oria
na El
icabe
/AFP
1 2 4 5Permitir a reeleição de prefeitos e demais representantes, como chefes de delegações, por até 12 anos.
Permitir a reeleição de parlamentares federais por um período máximo de 12 anos. 3
Reduzir o número de senadores de 128 para 96 e de deputados federais de 500 para 400.
Aumentar de 2% para 4% o mínimo de votos para que um partido mantenha seu registro.
Criar a fi gura da “iniciativa cidadã”, para que a sociedade civil proponhaprojetos de lei.
OS 10 PONTOS DA REFORMA POLÍTICA
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Fevereiro, 2010 AméricaEconomia 57
REFORMA DO SISTEMA POLÍTICO
MEXICANO INCLUI A POSSIBILIDADE
DE SEGUNDO TURNO PRESIDENCIAL
gerais, alguns itens buscam levar mais
flexibilidade às estruturas de poder
do país. Mesmo assim, analistas são
unânimes em apontar que tal salto
dependerá da maturidade e da visão de
longo prazo dos três principais partidos
do país, o Partido Revolucionário Insti-
tucional (PRI), o da Ação Nacional (PAN)
e o da Revolução Democrática (PRD).
PATERNIDADE EM DISPUTAA reforma do Estado e do sistema po-
lítico do México é um tema de longa
data. A série de mudanças e adendos à
Constituição de 1917 ainda não garan-
tiu a possibilidade de avançar na cons-
trução de maiorias estáveis e dar mais
ferramentas de controle ao cidadão.
Assim, chegar hoje à reforma signifi ca
atravessar um labirinto de egos feridos
pelo desgaste do tempo.
Como costuma acontecer, não são
poucos os que disputam a paternida-
de de uma criança tão importante. A
oposição, por exemplo, considera “pre-
tencioso” atribuir a iniciativa apenas
ao presidente Calderón, a quem acusa
de descartar todas as análises e suges-
tões sobre o tema apresentadas ante-
riormente. A comissão que estudou o
projeto recebeu 6.188 propostas de par-
tidos políticos, ONGs e universidades,
reunidas em um documento. “Mas a ad-
ministração de Calderón ignorou nosso
trabalho”, diz Alberto Aguilar Iñárritu,
que trabalhou como secretário técnico
da Comissão Executiva para a Reforma
do Estado (Cenca), formada por decreto
presidencial em 2007.
Seja como for, para o senador Tomas
Torres, do PRD, de esquerda, “não se de-
ve ter muitas expectativas de que isso
modifi que a estrutura de poder no Mé-
xico”, diz, pois “nenhuma reforma será
sufi ciente até que se eliminem as estru-
turas de poder vigentes – sindicais, de
monopólio e meios de comunicação –,
criadas durante o governo do PRI”.
Já Manlio Fabio Beltrones, líder da
bancada do PRI no Senado, defendeu
que se deveria pensar em modifi cações
no texto, como introduzir a fi gura do
referendo, a revogação do mandato pre-
sidencial e a ratifi cação dos membros
do gabinete pelo Senado.
Mas o problema apontado por mui-
tos analistas é o de timing. Para o Mé-
xico, hoje, o ponto mais importante é a
geração de emprego. Alguns analistas
ainda apontam a iniciativa de Calderón
como um golpe publicitário, por não ter
buscado consenso prévio entre os par-
tidos, além de contar com pontos que
concedem mais poder ao Executivo.
De qualquer forma, apesar de es-
ses cadeados terem sido impostos no
passado para frear o coronelismo e as
ditaduras, em 2010, permitir a reeleição
evitaria que o futuro político de legisla-
dores e prefeitos dependesse de quem
elaborar a lista de candidatos. Alejan-
dro Zapata Perogordo, senador do PAN,
acha que, nesse sentido quem mostra-
ria maior resistência é o PRI – partido
que em 1933 impôs a não reeleição para
legisladores para, dessa forma, poder
repartir o poder político e controlar os
diversos poderes que o compunham.
Hoje, o dissenso dos partidos e uma
indiferença da sociedade levariam ao
risco de que a esperança inicial gerada
pelo projeto se transformasse em uma
mera carta de boas intenções com a
oposição denunciando que o Governo
Federal pretende culpá-la pelo fracasso
dessa iniciativa ou levar a medalha de
ouro por tal conquista. Ninguém disse
que melhorar a democracia seria fácil.
Ainda mais se se trata da complexa
democracia mexicana.
6 8 9 10Incorporar a candi-datura independente para qualquer cargo público que se submeta a eleições.
Permitir que a Supre-ma Corte de Justiça apresente projetos de lei relacionados à sua competência.
Permitir ao Poder Executivo apresentar iniciativas de lei prioritárias.
Permitir ao Executivo vetos parciais ou to-tais em projetos apro-vados no Congresso e ao Orçamento.7
Fixar segundo turno para eleições presidenciais, se um candidato não tiver mais da metade dos votos.
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58 AméricaEconomia Fevereiro, 2010
RAIO X
SEDE DE RECURSOSGoverno de Chávez vive o desafi o da queda da arrecadação do petróleo
A US$ 70 o barril, o preço internacional do petróleo
ainda se encontra em níveis historicamente altos,
mas não o sufi ciente para saciar o voraz apetite do
governo venezuelano, situação que pressagia um difícil cená-
rio fi scal para o presidente Hugo Chávez em 2010.
Isso porque o país se encontra em uma grave crise econô-
mica, e o que mais o governo da Venezuela precisaria neste
momento “é conter gastos e encontrar uma boa forma de ad-
ministrar o orçamento com a queda do preço do petróleo”, diz
Roberto Sifón Arevalo, analista da Standard & Poor’s.
A alternativa escolhida por Chávez, entretanto, foi des-
valorizar a moeda, desmembrando-a em duas. Pela cotação
ofi cial, o bolívar forte saltou de 2,15 por dólar para 2,60 para
a importação de bens essenciais de consumo. E há o bolívar
para a aquisição de bens supérfl uos – entre os quais estão
automóveis e produtos eletrônicos –, que passou a ser cota-
do a 4,30 por dólar.
A medida da desvalorização favorece diretamente a es-
tatal Petróleo de Venezuela (PDVSA). Estrela de um país que
concentra suas exportações no petróleo, a PDVSA é geradora
de 95% das divisas que entram na Venezuela, bem como os
cofres do Estado, já que a desvalorização reduziria seus cus-
tos em bolívares. Tais custos têm registrado altas constantes
frente ao forte aumento da infl ação no país e à falta de fl exi-
bilidade do câmbio ofi cial.
Dessa forma, Chávez busca ganhar tempo. Em teoria, seria
imprescindível cortar despesas, mas a queda da popularidade
do presidente e o clima de campanha eleitoral, com eleições
parlamentares no segundo semestre, indicam que a proba-
bilidade de que isso aconteça é baixa. “O governo enfrentará
fortes pressões para aumentar o gasto, e não reduzi-lo”, diz
Maikel Bello, economista sênior da consultoria venezuelana
Ecoanalitica. “As eleições determinarão se o governo garanti-
rá ou não maioria no Congresso.”
Ainda há uma terceira opção para o presidente, que envolve
um maior endividamento, ferramenta que o governo boliva-
riano usou amplamente para sobrelevar as pressões fi scais que
sofreu em 2009. O endividamento interno cresceu de US$ 10
bilhões em 2008 a US$ 14 bilhões em dezembro de 2009, e ana-
listas estimam que essa tendência continuará em 2010.
Não fosse o bastante, o país tenta absorver outra onda
de fechamento de bancos. Em janeiro, foram três, que se
somam à intervenção, em dezembro, de outros oito bancos
pequenos e médios – destes dois foram liquidados e quatro,
estatizados, sob alegação de insolvência ou irregularidades
na origem dos fundos.
DADOS MACROECONÔMICOSDA VENEZUELA
Fontes FMI, Banco Mundial.
POPULAÇÃO (milhões) 25,40 25,90 26,40 27,00 27,50 28,10 28,60
PIB (US$ milhões) 83.442,00 112.800,00 144.128,00 184.251,00 227.753,00 319.443,00 353.469,00
BALANÇO DE CONTA CORRENTE (US$ milhões) 11,80 15,50 25,50 27,20 20,00 39,20 6,40
PIB PER CAPITA (US$) 3.285,10 4.353,50 5.453,20 6.834,20 8.281,00 11.388,30 12.354,30
DESEMPREGO (%) 18,00 15,30 12,20 9,70 8,50 7,40 −
INFLAÇÃO (%) 27,10 19,20 14,40 17,00 22,50 30,90 28,00
SALDO COMERCIAL (US$ milhões) 16.747,00 22.647,00 31.708,00 32.712,00 23.702,00 42.100,00 −
2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009(e)
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ANTONIO MARÍA DELGADO, DE MIAMI
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EXÉRCITO SILENCIOSO
Mercado de turismo de negócios cresce a passos grandes
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Fevereiro, 2010 AméricaEconomia 61
U m exército formado de gente que não se conhece e
sequer sabe que atua na mesma causa ocupa em
média 70% dos assentos dos aviões e dos quartos
de hotéis e movimenta uma cadeia de valor que une mais
de 50 segmentos econômicos. Trata-se do setor de viagens
de negócios, que em 2008 gerou uma renda estimada em
US$ 928 bilhões, dos quais US$ 34 bilhões na América La-
tina e US$ 20 bilhões somente no Brasil (9º maior mercado
mundial), segundo estudo do consultor Ken McGill, da
IHS Global Insight. Viajante de negócios é uma expressão
que engloba uma variada gama: executivos e estagiários,
técnicos, consultores, profi ssionais liberais e prestadores
de serviços, entre outros profi ssionais. Em comum, todos
se locomovem a serviço. Ou seja, o percurso é pago pela
empresa – da megacorporação ao micronegócio.
Esse grupo poderoso não mobiliza apenas a clássica
trilogia agência de viagens/companhia aérea/hotel e
respectivos fornecedores – entre telefonia, alimentação,
sistemas de reservas e demais prestadores de serviços. Ele
também promove um impacto positivo sobre uma vasta
rede de itens como aluguel de carros ou táxi; infraestru-
tura aeroportuária; seguro de saúde e de vida, vestuário e
equipamentos de viagem; celulares, notebooks e câmeras
fotográfi cas; serviços de tradução, livros e jornais; cartões
de crédito e refeições rápidas; empresas de eventos e lojas
duty free etc. Com tanto movimento, não surpreende a
acirrada disputa por conquistar viajantes e suas empresas,
que querem se defender dos gastos supérfl uos. “Viagens de
negócios são o terceiro maior custo de uma empresa, logo
depois de salários e tecnologia da informação”, diz Francis-
co Leme, presidente da Favecc, associação que congrega 25
das maiores agências de viagens corporativas brasileiras.
Nem sempre foi assim. Quando a economia não era
globalizada, a internet restringia-se ao mundo acadêmico
e mobilidade nas comunicações era conceito futurista, via-
jar a trabalho se traduzia num ato elegante e raro, restrito
a poucos. A preparação
para uma viagem de
negócios não passava
de rotina relegada às
secretárias, que trans-
mitiam os requisitos
do chefe à agência,
certamente escolhida
não por concorrência,
como hoje, mas por-
que provavelmente o
gerente era primo da
mulher do diretor da empresa. Eram épocas românticas,
onde terno e fl euma ajudavam a encarar o esnobismo dos
passageiros de primeira classe. Esse modelo não resistiu às
pressões de consumidores cansados de pagar por produtos
caros como resultado desse tipo de luxo corporativo.
20bilhões de dólares
é o quanto as viagens a negócios
movimentam no Brasil
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ESPECIAL VIAGENS A NEGÓCIOS
A partir dos anos 70, inicialmente nos Estados Unidos,
a popularização das viagens de negócios fez surgir agên-
cias especializadas nesse público com necessidades tão
diferentes das do viajante de lazer. Aí nasceu o protótipo
do que mais tarde ganhou o nome de TMC (travel manage-
ment company). Na prática, as ex-agências tiveram de se
reinventar, diante da nova realidade de custos e agilidade,
deixando de lado a intermediação para assumir a função
de consultoria. Simples troca de nomenclatura? Não.
Entre outros fatores, isso signifi cou também que as então
chamadas contas corporativas deixaram de ser remune-
radas por comissão, paga pela companhia aérea ou hotel, e
passaram a receber fees da empresa compradora. No Brasil
de hoje, as não mais de 30 TMCs em um universo de 13 mil
agências movimentam quase US$ 5 bilhões, o que repre-
senta 90% de toda a renda do segmento de viagens no país.
Em paralelo, surgiu uma parafernália de ferramentas ge-
renciais, acordos operacionais e processos voltados a obter
economia de escala e controle sobre despesas.
DE TUDO UM POUCOAlém da constelação de atividades envolvidas a partir da
hora em que um profi ssional coloca os pés fora da empre-
sa, hoje, viagem de negócios é um termo genérico, que ser-
ve para tudo: reuniões com clientes, convenções, expan-
são de mercados, treinamento de vendas, atualização de
tecnologias, manutenção de equipamentos, entre outros.
Na falta de melhor explicação, vamos convencionar que a
expressão defi ne qualquer gasto externo realizado por um
empregado a serviço da empresa, desde que legítimo.
Aqui entra em cena o protagonista que deu agilidade
ao processo: o cartão de crédito empresarial, meio de
pagamento que aposentou o dinheiro, com inúmeras
vantagens como eliminar adiantamentos para viagem,
o rastreamento das despesas realizadas e a defi nição pela
empresa de parâmetros de valores e estabelecimentos
autorizados. Mas faltou avisar à maioria das empresas da
região suas vantagens. “Somente um entre quatro fun-
cionários porta esse tipo de cartão”, afi rma o especialista
Walter Teixeira, da TX Consultoria. Nesse caleidoscópio de
atividades e pagamentos frenéticos em velocidade e vo-
lume, brota, enfi m, a carreira já existente em economias
maduras e em plena ascensão nas demais partes do mun-
do: o “travel manager”, ou gestor de viagens. É ele quem
administra e controla as políticas da empresa, adaptadas
à cultura da empresa e que atendam à adequada relação
custo-benefício. Por exemplo, ele defi ne qual a categoria de
hotel que a empresa está disposta a reembolsar para alo-
jar um diretor, ou se pode consumir vinho nas refeições.
Ou se um funcionário menos graduado está autorizado
a comprar um guarda-chuva ao enfrentar um temporal
durante a viagem.
25%dos viajantes
a negócios têm cartão de crédito
empresarial
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Fevereiro, 2010 AméricaEconomia 63
EQUILÍBRIOUma boa gestão de viagens de negócios, segundo especia-
listas, só traz benefícios. Pela sua importância econômica,
poderia ganhar mais atenção das empresas, fornecedores,
players e governos. A própria função do gestor é, em geral,
restrita às multinacionais. “Democratizando essa ativida-
de, todos só têm a ganhar”, responde Vivianne Martins,
presidente da ABGEV, que reúne os gestores de viagens
brasileiros, e da Academia de Viagens Corporativas.
Ela tem razão. Em primeiro lugar, ganham as empre-
sas. A vasta maioria, em especial as pequenas e médias,
ao ignorar os benefícios dessa atividade, deixa de reduzir
custos e operar de forma mais produtiva. Além de bons
acordos fi nanceiros, essa prática permite um sofi sticado
controle do desperdício: reembolsos de gastos não efetua-
dos, trechos de bilhetes não voados, hotéis pré-pagos não
utilizados, entre outras ações. Em segundo lugar, ganha
o viajante, que sai de casa para jornadas quase sempre
solitárias, em locais desconhecidos. Ele precisa de infor-
mações de qualidade e atualizações sobre as melhores
ferramentas de trabalho e quesitos de segurança nos des-
tinos. Terceiro, os fornecedores também lucram. Como
nem todos se integraram ao universo de viagens de
negócios, deixam de oferecer um serviço à altura
das exigências e especificidades dos que viajam
a trabalho. Quem melhor entendeu essa questão
foram os hotéis que se especializaram em receber
profi ssionais, ao proporcionar condições e conforto
térmico e acústico, segurança, higiene e alimenta-
ção, espaço adequado para realizar eventos e reu-
niões, com equipamentos e pessoal treinado. Outro
bom exemplo são ferramentas de produtividade, como
o self booking, que permitem ao viajante fazer reservas
através do notebook sem abrir mão das regras de viagem
da empresa, garantindo economias de até 10%.
Para quem quer conhecer melhor o assunto, há insti-
tuições voltadas à formação e atualização de profi ssionais
como as da NBTA (National Business Travel Association),
com representação no México e no Brasil – este, por meio
da ABGEV e complementado pela Academia de Viagens
Corporativas. “Com o desenvolvimento das economias e
a expansão dos negócios na América Latina, as viagens
de negócios estão em pleno crescimento. À medida que
o mundo percebe a região como um mercado global
competitivo, a NBTA, junto às lideranças da indústria,
busca oferecer educação especializada e oportunidades
de desenvolvimento profi ssional para gestores de viagens
locais”, afi rma Michael W. McCormick, diretor executivo
e COO da NBTA. Além disso, anualmente, NBTA e ABGEV
realizam na capital paulista o LACTTE, encontro desti-
nado a profi ssionais e fornecedores da região. O próximo
será realizado no início de fevereiro, e as informações
estão em www.abgev.org.br.
A iniciativa privada mostra que está fazendo a sua
parte. Quanto aos governos, se pretendem estimular
essa indústria e a visita de homens de negócios em suas
cidades, devem estabelecer condições bastante diferentes
das oferecidas ao turista comum. Alguns já entenderam
isso, como a São Paulo Turismo. Outros ainda precisam
percorrer um longo caminho para perceber que viagens
de negócios e de lazer, como água e azeite, não costumam
dar boa mistura.
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Fevereiro, 2010 AméricaEconomia 65
O LADO BOMDO TRABALHOAMÉRICAECONOMÍA INTELLIGENCE
ESPECIAL VIAGENS A NEGÓCIOS
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PARTICIPANTES DA PESQUISA
Fonte AméricaEconomía Intelligence
100
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200
300
C laudia de la Rosa é uma prova concreta de como
o estresse de uma viagem a negócios pode fazer
alguém perder a cabeça. No fi nal do ano passado,
seu chefe saiu atrasado para pegar o avião de Miami para
Honduras. Claudia, inconformada, decidiu fazer uma liga-
ção anônima e enviar um e-mail às autoridades do Aero-
porto Internacional de Miami, advertindo a existência de
uma bomba no voo da American Airlines. Enquanto uma
equipe especializada adiava a decolagem para inspecionar
a aeronave, a polícia investigava o IP de origem do e-mail,
resultando na prisão de Claudia. “O atraso foi por minha
culpa, e queria ganhar tempo”, argumentou, em reporta-
gem divulgada na mídia da Flórida.
Guardadas as proporções, não são poucos os que en-
louquecem quando o assunto são viagens de negócios.
Entre troca de hotéis, perdas de malas e horas perdidas
em salas de espera, a vida do viajante geralmente é mais
complexa do que parece.
Por outro lado, só quem dribla esses inconvenientes
sabe o lado bom de conhecer pessoas e lugares, colecionar
histórias e provar sabores diferentes. Por isso, a América-
Economía Intelligence apresenta a segunda edição da pes-
quisa* sobre o melhor da América Latina para o viajante
de negócios. Trata-se de uma reunião de preferências ex-
pressadas por nossos leitores sobre itens que vão de servi-
ços a passeios. A pesquisa contou com a opinião de 1,3 mil
leitores, de 17 países, além da assessoria de especialistas.
O TRIUNFO DE MIAMIDas alternativas escolhidas por viajantes a negócios da
América Latina, Miami – que sempre incluímos em nos-
sos estudos – por sua sinergia com o mundo dos negócios
latino-americanos – se destaca entre as favoritas.
Um bom indicador do grau de satisfação que Miami
produz como destino é a boa percepção que há a respeito
de seu aeroporto. Uma percepção que, certamente, refl ete
as mudanças em infraestrutura que se encontram em ple-
no desenvolvimento, fruto de um plano de investimento
de mais de US$ 6,2 bilhões (de 2003 a 2011), equivalente
em cifra aos investimentos no Canal do Panamá. Contu-
do, essa preferência poderá se ver afetada pelo retorno de
uma cultura aeroportuária de extremo controle.
Os diversos itens que
incluímos em nossa pes-
quisa também colocam
Santiago e Buenos Aires
bem posicionadas em vá-
rias categorias, além de
um (ainda) tímido mer-
gulho dos executivos de
alguns países no univer-
so brasileiro.
Além da informação
sobre as cidades-destino
que foram foco dessa in-
trodução, o especial conta
com uma grande quanti-
dade de dados sobre ou-
tros aspectos relevantes
associados às viagens de
negócios.
Bon voyage!* Veja metodologia da pesquisa em www.americaeconomia.com.br
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Fonte AméricaEconomía Intelligence
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ESPECIAL VIAGENS A NEGÓCIOS
Fonte AméricaEconomía Intelligence
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Fevereiro, 2010 AméricaEconomia 67
Fonte AméricaEconomía Intelligence
MELHOR RESTAURANTE (%)
Azul(Miami)
Sucre(Buenos Aires)
El Cardenal(Cidade do México)
Barton G(Miami)
Liguria(Santiago)
Astrid & Gastón(Lima)
Andrés Carne de Res(Bogotá)
1884(Buenos Aires)
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D.O.M.(São Paulo)
4
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13
14
27
Fonte AméricaEconomía Intelligence
MELHOR DRINQUE (%)
Caipirinha(Rio de Janeiro / São Paulo) 64
Masato(Bogotá) 2
Grappamiel(Montevidéu) 2
Seco(Cidade do Panamá) 2
Canelazo(Quito) 3
Fernet Clásico(Buenos Aires) 10
Pisco sour chileno(Santiago) 14
Pisco sour peruano(Lima) 40
Tequila(Cidade do México) 41
Mojito(Miami / Cuba) 48
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OS MELHORES ANFITRIÕES ESTÃO EM: (%)
Bogotá
Rio de Janeiro
Lima
São Paulo
Santiago
Buenos Aires
Montevidéu
Cidade do Panamá
Cidade do México
Quito
45
29
23
17
16
14
14
13
12
9
Fonte AméricaEconomía Intelligence
ESPECIAL VIAGENS A NEGÓCIOS
DESTINO
Fonte AméricaEconomía Intelligence
MELHOR REGIÃO DE NEGÓCIOS (%)
Puerto Madero (Buenos Aires) 49,6
Brickell (Miami) 45,6
Avenida Paulista (São Paulo) 37,5
El Golf (Santiago) 26,3
Polanco (México) 21,8
San Isidro (Lima) 17,0Avenida 100 (Bogotá) 12,9
Escalante (San José) 3,2Las Mercedes (Caracas) 3,1
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Fevereiro, 2010 AméricaEconomia 69
Fonte AméricaEconomía Intelligence
ATRAÇÃO QUE VALE CONHECER (%)
Edifício Colpatria(Bogotá) 3
Monumento do Ipiranga(São Paulo) 5
La Mitad del Mundo(Quito) 13
El Ángel de la Independencia(Cidade do México) 14
Obelisco(Buenos Aires) 19
Pão de Açúcar(Rio de Janeiro) 22
Bayside Market Place(Miami) 23
Canal do Panamá(Cidade do Panamá)
Cristo Redentor(Rio de Janeiro) 60
55
Fonte AméricaEconomía Intelligence
NA AMÉRICAOS PAULISTAS SÃO PREFERIDOS POR:
Argentinos 23,2
Peruanos 21,6
Colombianos 21,0
Mexicanos 20,0
Paraguaios 20,0
%O percentual toma como base a totalidade de entrevistadosda nacionalidade referida, e não o total listado na tabela; todasas respostas são de escolha múltipla
NO BRASILOS EXECUTIVOS CONSIDERAM MELHORESANFITRIÕES OS HABITANTES DE:
Santiago 32,2
Lima 22,0
Bogotá 19,5
Cidade do México 17,8
Montevidéu 16,1
%
OS CARIOCAS SÃO PREFERIDOS POR:
Paraguaios 44,0
Norte-americanos (EUA) 38,5
Peruanos 37,5
Bolivianos 34,9
Uruguaios 34,4
%
NA AMÉRICA
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s: SX
C
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EMBARQUE TRANQUILO MELHOR AEROPORTO DA AMÉRICA LATINA (%)
Fonte AméricaEconomía Intelligence
12Arturo Merino Benítez
[Pudahuel]Santiago
12Benito JuárezCidade do México
8GuarulhosSão Paulo
7TocumenCidade do Panamá
7Jorge ChávezLima
6Ministro Pistarini [Ezeiza]Buenos Aires
Antônio Carlos Jobim [Galeão]
Rio de Janeiro
3El DoradoBogotá
2CarrascoMontevidéu
1Mariscal SucreQuito
0El AltoLa Paz
1Juan SantamaríaSan José
0Silvio PettirossiAssunção
1Simón Bolívar
[Maiquetía]Caracas
*Miami International AirportMiami 30
5
Fonte AméricaEconomía Intelligence
MELHOR ATENÇÃO A BORDO (%)
Continental 3
Outras 8
Varig 4
Mexicana 5
American Airlines 5
Taca 5
Lufthansa 6
Avianca 6
Air France 6
Aeroméxico 7
Copa 10
TAM 14
LAN 22
ESPECIAL VIAGENS A NEGÓCIOS
*Por sua sinergia com o mundo dos negócios latino-americanos, Miami é sempre incluída em nossos estudos. *Empresas que voam na América Latina.
EMBARQUE
1
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Fevereiro, 2010 AméricaEconomia 71
54,7%Visa
MELHOR CARTÃODE CRÉDITOPARA EXECUTIVOSEM VIAGEM DE NEGÓCIOS
23,7%
AmericanExpress
19,6%MasterCard
1,8%Diners
Discover 0,1%Magna 0,2%
Fonte AméricaEconomía Intelligence
MELHOR TELEFONE CELULARPARA UMA VIAGEM A NEGÓCIOS 2020
37% 15
8
Blackberry9000 bold Outros
I Phone 3Gs Blackberry Storm
Nokia N97
Fonte AméricaEconomía Intelligence
Fonte AméricaEconomía Intelligence
9
8
6
14 12
43%
HP/Pavilion
Lenovo/Thinkpad
Packard Bell/Easy Note 2%
Toshiba 2%
Sony Vaio 2%
Mac 1%
Apple 1%
Acer/Spire
Compaq/Presario
Dell
Outros
MELHOR LINHA DE NOTEBOOKSPARA UMA VIAGEM A NEGÓCIOS
ACESSÓRIOS
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72 AméricaEconomia Fevereiro, 2010
EDUARDO THOMSON, DE SANTIAGO, COM ROBERTA PREGNACA, DE SÃO PAULO
Os exchange traded funds atraem os investidores, mas muitos ainda não identifi cam seus riscos
B ernard Taradash não quer saber de
gás natural. A experiência desse ad-
ministrador californiano, que traba-
lha na Oppenheimer Funds e, no ano passado,
apostou no gás, não foi das melhores.
Comprar gás natural não é algo que
qualquer um possa fazer. Mas comprar um
exchange traded fund, ou ETF, que replique
o preço do gás natural está ao alcance de to-
dos. Esses ETFs são fundos de investimento
cotados em bolsa que replicam o desempe-
nho e a composição de índices, commodities
e outras canastras de ativos de um ou mais
países. Os ETFs são cotados livremente e ofe-
recem alta liquidez: podem ser comprados
ou vendidos dentro de uma mesma sessão,
diferentemente da maioria dos fundos mú-
tuos e outros fundos.
O ETF escolhido por Taradash foi um cha-
mado U.S. Natural Gas Fund, cotado na bolsa
eletrônica NYSE Arca. Esse fundo compra
contratos futuros de gás natural para entrega
no mês posterior. À medida que esses contratos vencem, são
vendidos para a compra de outros contratos.
Mas ele não contava com o contango. Essa palavra, que
mais parece proveniente de fi lmes de western ou de ação, iden-
tifi ca um fenômeno de mercados fi nanceiros muito específi co:
quando o preço de um ativo futuro, ou seja, em que sua entrega
se pactua para vários meses ou mais de um ano, é superior
ao preço do mesmo ativo para entrega imediata, também co-
nhecido como preço spot. É uma anomalia, já que o comum é
encontrar preços melhores quando a compra é antecipada.
Mensalmente, à medida que os contratos futuros que o
ETF de gás natural tinha em sua carteira venciam, era preciso
ir ao mercado comprar novos contratos, mas o ETF continua-
va perdendo dinheiro. De fato, estima-se que, no ano passado,
FINANCAS INVESTIMENTOS
JOGO DAS DIFERENÇAS
esse fundo perdeu US$ 1,5 bilhão em valor, segundo estimati-
vas da empresa Morningstar.
“Os ETFs, às vezes, não replicam 100% do que se estima-
va”, comenta Taradash. É uma lição que ele nunca esquecerá,
e que todas as pessoas que pensam hoje em investir em ETFs
deveriam levar em conta, sobretudo na medida em que sua
popularidade aumenta. Nos EUA, por exemplo, eles já chegam
a representar entre 25% e 40% do volume diário de transações
de ações. Eles oferecem vantagens evidentes, como maior li-
quidez e menos comissões do que muitos fundos mútuos – ao
simplesmente replicar um índice e não tratar de “ganhar” do
mercado, economizam o salário de muitos administradores
de fundos. Entretanto, nem todos estão conscientes dos riscos
envolvidos nesse investimento.
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Fevereiro, 2010 AméricaEconomia 73
FESTA LATINAA América Latina não está alheia a essa euforia. Segundo Da-
niel Gamba, diretor para a América Latina da administradora
de fundos Blackrock, dona da marca iShares, maior emissor de
ETFs do mundo, esses títulos estão se tornando cada vez mais
importantes na região. “No fi nal de 2008, os ETFs da iShares ad-
ministravam US$ 11 bilhões em ativos provenientes da Amé-
rica Latina”, diz Gamba. “Fechamos 2009 com US$ 17 bilhões,
dos quais US$ 3 bi correspondem a novos fl uxos de capital.”
Os investidores institucionais da região, como admi-
nistradoras de fundos de pensão (AFPs), estão encantados
com os ETFs. As AFPs peruanas participaram ativamente no
projeto de um ETF de iShares que replica o índice MSCI Perú.
Já a Interbolsa lançou um ETF, em Nova York, que imita o
desempenho das 20 principais ações colombianas. E, agora,
estão medindo o interesse de bancos privados e investidores
qualifi cados no México, diz Gamba. “Recentemente, fi zemos
uma lista dupla de 25 iShares, em Santiago do Chile, e em
Nova York, como parte de um plano de promoção para atrair
clientes da banca privada.” O Vanguard Funds, emissor
de ETFs norte-americanos, rival da iShares, também está
buscando aumentar sua oferta desses instrumentos para a
região. Um porta-voz comentou que eles têm 29 ETFs na Cida-
de do México e em Nova York, estão estudando listar alguns
ETFs deles em Santiago, e já contam com autorização para
que as AFPs invistam em 29 deles.
Nessa história, o Brasil confi gura um caso à parte. Por ser
um mercado já tão atraente para investidores estrangeiros,
registra poucos ETFs domiciliados no país. Na BM&FBovespa,
os quatro ETFs disponíveis movimentaram, em 2009, R$ 4,578
bilhões, com 82,17
milhões de cotas
em 59.460 transa-
ções. O paradoxal
é que o ETF iSha-
res MSCI Brazil é
um dos maiores
do mundo, com
US$ 11 bilhões em
ativos, mas está
listado em Nova York, não no próprio Brasil.
“O que falta, aqui, é as pessoas conhecerem o ETF e sabe-
rem que ele é uma oportunidade de investir em renda variá-
vel, permitindo que se monte uma carteira diversifi cada, por
meio de uma única operação. Isso ainda não é uma coisa fa-
miliar para os investidores”, diz Adriana Sanches, gerente de
produtos de renda variável da BM&FBovespa.
“Daqui para a frente, o nosso trabalho é listar
novos ETFs, pois, ao longo de 2010, eu tenho
certeza de que serão lançados novos fundos
como esse. Temos recebido demanda de ban-
cos para isso”, diz.
A LETRA PEQUENAPor enquanto, o interesse dos investidores
latino-americanos tem se concentrado, prin-
cipalmente, nos ETFs mais simples, ou seja,
que replicam índices acionários. Estes não
estão 100% isentos de riscos, já que existe
um tracking error (erro de acompanhamento)
inerente. Mas o mundo dos ETFs está se tor-
nando complexo, e isso implica riscos mais
altos. Como exemplo dessa complexidade,
começam a surgir ETFs alavancados, ou seja,
que usam compras a crédito para aumentar
seus retornos em até três vezes.
O problema é que também podem ma-
ximizar as perdas. Outro exemplo são os
ETFs “inversos”, ou seja, que ganham se o
ativo replicado perde valor, e vice-versa. Há ETFs que fazem
operações exclusivamente no curto prazo, apostando que
o valor das ações que formam sua carteira cairá. E há até
ETFs que prometem não replicar um índice como o S&P 500,
mas fazer uma administração ativa, com o que pretendem
superar o rendimento do mercado. Em resumo, há ETFs para
todos os gostos.
Jimena Llosa, diretora de Estratégia de Investimento da
Compass Group, explica que, ultimamente, os ETFs alavanca-
dos têm gerado controvérsias e que os órgãos reguladores, nos
Estados Unidos, estão começando a alertar os investidores
sobre esses instrumentos. A moral da história, afi nal, é: antes
de investir em um ETF, vale à pena ler as letras pequenas e
entender bem em que, na verdade, se está investindo.
11bilhões de dólares é quanto o MSCI Brazil
tem em ativos
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74 AméricaEconomia Fevereiro, 2010
BENDITA CRISEFINANCAS PRIVATE BANKING
SOLANGE MONTEIRO, DE SÃO PAULO
FOTO: ROBERTA DABDAB
S e há um setor que não pode reclamar dos efeitos da crise fi nanceira
é o de private banking brasileiro. Enquanto no mundo a fragilidade
dos bancos e escândalos como os de Bernie Madoff e Allen Stanford
eram motivo de pânico, os bancos brasileiros registraram uma corrida de
donos de fortunas em busca de menos risco. “A gente virou cofre”, diz João
Albino Winkwelmann, novo diretor do Bradesco Private Banking, em entre-
vista à AméricaEconomia.
AméricaEconomia Como foi o perí-odo de crise para o setor? João Albino Winkwelmann A gente
virou cofre. O mundo private não gosta
de divulgar números, mas o volume
de captação foi três vezes maior que a
média usual, e com outra característica:
90% de todas as alocações eram CDBs
(Certifi cado de Depósito Bancário), renda
fi xa. Os clientes não queriam ações, não
queriam fundo, não queriam multimer-
cado. Só a partir de maio, junho, é que
isso começou a passar.
AE Quanto o private do Bradesco cresceu e qual a previsão para 2010? Winkwelmann A gente cresceu muito,
próximo de 30%, em 2009. Em 2008, fo-
ram 36%. Para 2010, tentaremos repetir
30%, ainda que seja mais difícil. 2008 foi
um ano excepcional, com muitas fusões
e aquisições, IPOs... Todo dia você abria o
jornal e via: família tal vende sua empre-
sa, empresa tal está fazendo um IPO, e
isso gerou muito evento de liquidez.
AE O que mudou no cliente private depois da crise? Winkwelmann Hoje, diferentemente
do que acontecia no passado, ele ques-
tiona mais, quer saber quais os riscos,
quer evidências. Outra novidade, trazi-
da até pela maturidade alcançada pelo
nosso private, é que agora a gente fala de
sucessão a qualquer momento, tempo e
prazo, com qualquer cliente. E envolver a
família desde cedo é bom também para
nós, pois você cativa. Senão, a tendência
natural é o fi lho querer fazer diferente
do que o pai fazia, mudando de banco.
AE E o medo já passou por completo?Winkwelmann Agora, já se volta a
aplicar em ações. Com juros a 8,75%, o
cliente busca a posição no fi nal do mês
e vê 0,60% de rendimento. E o brasileiro,
que já viveu com altas taxas de infl ação
e juros, não consegue fi car quieto: aceita
mais volatilidade na carteira e abre mão
da liquidez. Um exemplo é a atual de-
manda pelos fundos imobiliários. Neles
o dinheiro fi ca preso por quatro, seis, até
oito anos, mas, no fi nal, a promessa de
retorno é de 150% a 200% do CDI (Cer-
tifi cado de Depósito Interbancário). O
segredo está em diversifi car.
AE O que se aprendeu com a crise? Winkwelmann A crise consolidou
bancos brasileiros como grandes players
no segmento private. Porque nos deu a
oportunidade de mostrar o que fazemos
para um público que jamais considerou o
Bradesco uma opção. Não deixamos nada
a desejar, e temos o diferencial de não ser
só um private: temos um banco por trás
dele, com uma variedade de produtos
fi nanceiros. Por isso achamos que vamos
crescer 30% em 2010, enquanto a previ-
são do mercado em geral é de 20%.
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22 - 24 March 2010, Sheraton Rio HotelRio de Janeiro, Brazil
6th Latin Petroleum Strategy Briefing 22rd March 2010
16th Latin Upstream 23rd - 24th March 2010
The Hague Tel: + 31 70 324 6154 Fax: + 31 70 324 1741
Johannesburg: Tel: +27 11 880 7052 Fax: +27 11 880 1798
Rio de JaneiroTel: +55 21 2435 5408Fax: +55 21 2435 5408Mobile: +55 21 8435 5408
Group Managing DirectorBabette van [email protected]
Sponsors/ExhibitionSonika [email protected]
Brazilian RepresentativeVirginia de [email protected]
RegistrationTanya [email protected]
MarketingJerry van [email protected]
Silver Sponsor Venue SponsorBronze Sponsor
th
Latin Upstream Oil & Gas-LNG: JV-Partners & Competitors
76 AméricaEconomia Fevereiro, 2010
EM BUSCA DA PRÓXIMA BOLHAO setor imobiliário chinês dá mais sinais de reaquecimento
EDUARDO THOMSON, DE SANTIAGO
S empre que se deixa uma bolha
financeira para trás, analistas
do mundo todo começam a es-
pecular qual será a próxima. Uma bo-
lha é basicamente um desalinhamento
entre as percepções sobre o valor de um
ativo e o valor subjacente apropriado, e
as apostas de muitos economistas são
de que o setor imobiliário chinês está
mostrando sinais de tal desconexão.
James Chanos, administrador do
hedge fund Kynikos Associa-
tes, com sede em Nova York,
foi quem disparou o alarme.
Chanos, que ficou famoso ao
denunciar irregularidades em
empresas como Enron e Tyco
International – e obteve lucros
ao realizar operações no curto
prazo com as ações dessas com-
panhias, apostando que cairiam
no futuro –, ganhou as man-
chetes ao afi rmar que a China
entraria em colapso em breve.
“É Dubai, mas multiplicado por
mil, ou pior”, disse, à rede CNBC.
Quem nega a possibilidade
de bolha alega que não há exces-
so de crédito hipotecário e que
as pessoas, na China, compram
bons imóveis à vista. Toda bolha se
defi ne pela alavancagem excessiva, ar-
gumentam. Sem crédito excessivo, não
há bolha, e se acaba a discussão.
Mas nem sempre foi assim. Patrick
Chovanec, economista norte-america-
no da Universidade de Tsinghua, em
Pequim, afi rma que algumas bolhas de
grandes dimensões, como a “Mania das
Tulipas”, de 1637, ou a do “Mar do Sul”,
de 1720, não foram causadas por exces-
so de crédito, mas por investidores que
colocaram seu dinheiro em commo-
dities ou empresas cujos negócios eles
praticamente não conheciam.
E, diz Chovanec, o mercado imobi-
liário chinês é alavancado, mas de for-
ma diferente. Com a crise hipotecária
nos EUA, foram os compradores de ca-
sas que solicitaram (e receberam) hipo-
tecas que depois não poderiam pagar,
simplesmente contando que o valor
das casas continuaria subindo. Depois,
esses empréstimos foram revendidos,
distribuindo o risco por todo o mundo,
com os resultados que já conhecemos.
Em contrapartida, muitos chineses
compram à vista porque, ao ter poucas
opções, adquirem casas como reserva
FINANCAS CAPITAL ABERTO
de valor e investimento. Mas as cons-
trutoras se endividam. Elas não o fazem
diretamente, porque a lei não permite,
mas por meio de suas matrizes, que rea-
lizam o aporte de capital. E esses níveis
de dívida estão crescendo.
No caso dos bens com fi ns comer-
ciais, o risco é maior, porque as cons-
trutoras buscam ganhar dinheiro com
o aluguel. Entretanto, a quantidade
de propriedades com fi ns comerciais
vazias na China é incrível.
Chovanec cita o exemplo de
um projeto imobiliário, em Pe-
quim, chamado Pangu Plaza,
composto por cinco torres de
escritórios e um shopping center
construído dois anos antes das
Olimpíadas, e que ainda está
praticamente vazio.
Felizmente, o governo chi-
nês está reagindo e passou a es-
tabelecer restrições mais seve-
ras ao crédito hipotecário. Para
pessoas que não vivem no país,
é relativamente difícil apostar
no setor imobiliário chinês. Al-
gumas opções são os exchange
traded funds (ETFs) listados em
Nova York (veja gráfi co).
Chovanec não chega a acusar a
existência de uma bolha de fato, mas
alerta que existem riscos crescentes.
Contudo, para que haja esse risco, as
pessoas têm de começar a acreditar que
essa bolha existe, e as declarações de
pessoas como Chanos acabam se con-
vertendo em outro fator de risco. Sinais
de uma profecia autocumprida?
MONTANHA RUSSA NA CHINADESEMPENHO DA BOLSA E DO SETOR IMOBILIÁRIO
ETF imobiliário na China Índice ações FTSE/Xinhua 25
20
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Fevereiro, 2010 AméricaEconomia 77
OPINIÃO
PLANO DE ATRAÇÃO
Ilust
raçã
o: Sa
mue
l Cas
al
O ano que apenas começou pode ser muito bom
para vários países latino-americanos. Os fl uxos de
capital desempenharão um importante papel ao
determinar as taxas de crescimento da atividade econômica.
E, certamente, tais fl uxos terão impacto dominante sobre os
preços dos ativos fi nanceiros, de empresas locais e no merca-
do imobiliário.
Investidores de portfólio em todos os lugares do mundo
questionam suas convicções mais arraigadas. A velha di-
ferenciação entre os países industrializados e os países em
desenvolvimento, que décadas atrás lhes serviu como bússo-
la, falhou nos últimos dez anos. Os mercados de renda fi xa e
variável dos países industrializados registraram perfomance
aquém da desejada durante esse período. Já os mercados
emergentes, conhecidos por sua volatilidade, passaram a ser
mais estáveis e atraentes. Agora, o maior medo dos investido-
res é acreditar demais da conta na metamorfose dos merca-
dos emergentes. Buscam, ansiosos, por sinais de revitalização
das economias industriais.
Entretanto, essas economias se mostram cada vez mais
velhas. Suas dívidas ameaçam qualquer perspectiva de recu-
peração rápida. E essa sombra permanente faz os investidores
voltar sua atenção a regiões anteriormente inexploradas.
Hoje, a América Latina é vista como uma região diversifi cada
e merecedora de uma análise cuidadosa.
Evidentemente, o país que os estrangeiros
estudam mais de perto é o Brasil. Estão
fascinados com ele.
Depois, os investidores estrangeiros
de portfólio voltam seu radar para o Peru,
a Colômbia, o Chile e o México. Eles gostam da Argentina e
planejam tirar férias lá, mas hesitam em comprar ações ou
bônus do país. Fazem pequenas compras de ações no Peru,
aproveitando-se do exchange trade fund (ETF) que está listado
na Bolsa de Nova York. Comentam a possibilidade de comprar
bônus colombianos, mas não encontram uma maneira fácil
de fazê-lo; analisam o mercado do México e, depois, compram
algumas ações da América Móvil.
Entre os aspectos positivos dos principais mercados fi-
nanceiros latino-americanos – Brasil, Peru, Colômbia, Chile e
México –, os estrangeiros sempre destacam a baixa quantidade
de dívida pública como proporção do PIB. Citam, também, a
melhoria na proteção dos direitos dos acionistas minoritários e
o crescimento da participação local nos mercados de ações e bô-
nus. Suas posições são mais fortes quando uma grande parcela
da classe média de um país detém ações e bônus emitidos local-
mente. Eles também citam a composição etária da população. A
taxa de crescimento da população nessas nações tem diminuí-
do; portanto, a proporção de dependência está melhorando.
O desafi o para esses cinco países é
decidir quanto investimento estrangei-
ro querem atrair. Eles podem permitir o
ingresso de investimentos estrangeiros
para fortalecer suas moedas e aumen-
tar os preços de ativos. Essa política favorece os titulares de
ações e bônus e os proprietários de imóveis, enfraquece os
incentivos para a exportação e fortalece os incentivos para
a importação, principalmente de bens de consumo de luxo.
Ela gera riqueza, mas não empregos. Essa política é arriscada
porque a entrada de investimento estrangeiro é notoriamen-
te instável. Os investidores estrangeiros estão muito suscetí-
veis ao pânico. No fundo, eles sabem como são ignorantes em
relação ao que está realmente acontecendo nos países onde
seus investimentos estão localizados.
Para os investidores locais astutos, o desafi o consiste em
medir o quanto de dumb money é investido em seus merca-
dos locais, e que o dumb money vai comprar depois. Ondas
de dumb money criam oportunidades, mas essas ondas de
repente podem virar hostis.
JOHN C. EDMUNDS é doutor em Administração pela Universidade de Harvard, professor do Babson College e coautor de Wealth by Association
Investidores estrangeiros estão
fascinados pelo Brasil
AE 384 opiniao Edmunds.indd 1AE 384 opiniao Edmunds.indd 1 1/22/10 12:45:07 AM1/22/10 12:45:07 AM
78 AméricaEconomia Fevereiro, 2010
I-BIZ
INOVAÇÃO BÁSICAPrograma desenvolvido no Brasil mostra que buscar o modelo de educação ideal para as gerações futuras é muito mais que garantir um computador por criança
1
JUAN PABLO DALMASSO, DE CÓRDOBA
N a porta do colégio estadual José Leite Lopes, no Rio
de Janeiro, há ansiedade e euforia. Com 470 alunos,
neste ano a escola deverá receber cerca de 2 mil
adolescentes em busca de uma vaga na instituição.
O colégio é o resultado bem-sucedido de uma experiência
que começou em 2007, quando a Secretaria de Educação do
Estado do Rio de Janeiro aceitou o convite do Núcleo Avança-
do em Educação (Nave), um centro de pesquisas em tecnolo-
gia e educação subsidiário da empresa de telefonia Oi, para
criar um colégio secundário especializado em tecnologias
digitais com certifi cação em programação multimídia, jogos,
e conteúdos para a TV digital. Além disso, o colégio deveria
utilizar essas competências para trabalhar o currículo tra-
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Fevereiro, 2010 AméricaEconomia 79
Foto
s: 1 -
Mar
cos P
into;
2 - É
rico H
iller
respectivamente, tinham a mesma defi ciência.
A iniciativa da Nave não é a primeira e nem a última em
inovação educacional. A Fundação Bradesco começou, em
2004, um processo de troca tecnológica nas 40 escolas de
nível primário e médio que atende pelo Brasil. Com o apoio
do laboratório de mídia do Instituto Tecnológico de Massa-
chussets (MIT) e de provedores como Intel e Cisco, a Fundação
adotou o conceito de um laptop por aluno, “como uma aposta
na mobilidade e no trabalho cooperativo”, segundo Nivaldo
Marcusso, superintendente e diretor de Inovação da Funda-
ção Bradesco. O programa da Fundação introduziu a robótica
nas aulas, como ferramenta pedagógica que ajuda o
docente a ditar as matérias tradicionais.
Quase todos os alunos das escolas Bradesco al-
cançaram uma média considerada satisfatória pelo
sistema de avaliação de exame da educação básica
do Brasil. 60% deles ultrapassaram a média em
línguas, e 20%, em matemática, enquanto o planeja-
mento ofi cial estima que, somente em 2012, 60% dos
alunos do país alcançarão essa meta.
MAIS DO QUE HARDWARE E SOFTWAREO detalhe é que a tecnologia não parece ser o ponto
primordial nesse processo. “Claro, a excelência é pro-
duto da inovação permanente, e nós temos desenvol-
vido, em todos estes anos, um portfólio de mais de
180 técnicas pedagógicas”, diz Marcusso.
Reforçando essa ideia, nos colégios Fontan, na
Colômbia, a proposta foi transformar o docente em
tutor que diagnostica o nível do aluno e confecciona
um plano de estudo sob medida. Para isso, oferecem
os elementos essenciais da malha curricular até que o aluno
possa criar um mapa conceitual do tema, aprofundando-se
nas matérias por sua conta, até conseguir um nível de exce-
lência e passar à lição seguinte.
“A tecnologia é só um facilitador”, diz Francisco Moisés,
diretor da área de Educação da Microsoft para a América Lati-
na. “Além de ser um motivador para os jovens, permite mon-
tar um sistema de serviços comunicacionais, pedagógicos e
burocráticos para o estudante”, afi rma. A Microsoft é quem
fornece a plataforma de CRM com a qual os colégios Fontan
estão gerenciando a complicada massa de informação de
seu sistema de educação personalizada, e estruturando seu
sistema para transferi-lo a terceiros.
Entretanto, todo esse potencial de inovação requer docen-
tes competentes, e isso não é fácil de obter. Qual o caminho
para chegar a eles? Mudar o status da docência, com bons sa-
lários iniciais e políticas de recrutamento entre os melhores
universitários, capacitação permanente e intercâmbio entre
pares, tem dado bons resultados no curto prazo onde tem sido
implementado, segundo o McKinsey Global Institute.
Mas essa será outra transformação radical, para a qual
nosso sistema público de ensino precisa se preparar.
dicional, por exemplo, aplicando a matemática e a lógica à
programação e desenvolvendo conteúdos multimídia para
explicar a história ou a geografi a.
“É evidente que o meio natural destas gerações é o digital.
Enquanto nos preocupamos em como manter a atenção dos
alunos, eles fi cam até nove horas na frente de um videogame
sem perder a concentração”, diz Samara Weiner, diretora
do Nave. “Além disso, a tecnologia nos permite trabalhar
competências, como o desenvolvimento de projetos. Pode-se
incentivar o trabalho cooperativo, dando mais autonomia ao
aluno frente ao professor”, acrescenta.
A escola ainda não tem uma avaliação ofi cial, dado ao
pouco tempo do programa, mas alguns indicadores são sig-
nifi cativos. Apesar de atender comunidades de classe média-
baixa e baixa, a escola Nave só registrou a desistência de três
alunos. No Rio de Janeiro, o índice de abandono na escola
secundária pública é de 55%, e a média brasileira é de 50%, de
acordo com um informe da Unesco apresentado em 2010.
A Nave também está trabalhando com a Secretaria da
Educação de Pernambuco. E, dependendo do resultado do
programa em 2011, o modelo começará a se expandir por
mais colégios. “A plataforma estará à disposição do sistema
educacional em geral”, acrescenta Samara.
MUDANÇA NA FORMAPesquisa do McKinsey Global Institute (MGI) com 112 escolas
que se submeteram a reformas educacionais no mundo apon-
ta que uma maneira diferente de dar aulas é o único fator que
faz melhorar a qualidade da educação. E, sem dúvida, essa é
uma dívida pendente na região. O exame internacional em
ciências Pisa 2006 registrou que 60% dos estudantes brasilei-
ros e colombianos não alcançavam o nível mínimo aceitável
de competências, e 55% e 50% dos argentinos e mexicanos,
ESPAÇO NAVE (À ESQ.): PROGRAMA ESTIMULA TRABALHO COOPERATIVO.
ACIMA, ALUNOS DA FUNDAÇÃO BRADESCO: MÉDIA ALTA EM AVALIAÇÃO
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com 11,5 milímetros de espessura e 130 gramas de peso, tem uma
tela de 3,7 polegadas sensível a toque e uma câmera fotográfi ca de
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brasileiros, o aparelho pode ser adquirido nos Estados Unidos a um
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82 AméricaEconomia Fevereiro, 2010
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SOLANGE MONTEIRO, DO RIO DE JANEIRO
A expectativa de ver a chegada do Ano Novo das
praias do Rio de Janeiro inebria qualquer turista.
Esquemas especiais de trânsito, montagem de ce-
nários, ambulantes amontoados nas ruas para oferecer fl ores
brancas e amarelas; preparativos que se repetem e em si já
confundem os incautos. Entretanto, um dos fatores aparen-
temente impossíveis de programar – além de balas perdidas
– é a chuva. E a chegada de 2010 parecia não escapar desse
destino: as previsões do tempo davam 90% de certeza de que
os 2 milhões de moradores e turistas estimados para a festa
em Copacabana teriam de se molhar, a menos que mudassem
os planos e decidissem ver a pirotecnia pela TV.
Mas chegou a meia-noite, e nada de chuva.
Sorte? Não. A razão, segundo a Prefeitura do Rio, veio das
mãos do Cacique Cobra Coral, um índio que, garantem seus
discípulos, é a reencarnação do físico e astrônomo italiano
Galileu Galilei e do lenhador, agricultor e ex-presidente dos
Estados Unidos Abraham Lincoln. Isso graças à fundação ca-
pitaneada pela médium Adelaide Scritori, responsável por in-
corporar o Cacique sempre e quando há demandas ofi ciais.
Digo “ofi ciais” porque a Fundação Cacique Cobra Coral
(FCCC) trabalha com base em convênios fi rmados com admi-
nistrações públicas. O fato, na realidade, não é novo. Sempre
que a circunstância justifica, as autoridades recorrem à
fundação para administrar os imponderáveis climáticos.
Em 2007, por exemplo, um subsecretário da Prefeitura de São
Paulo solicitou ajuda à médium e às forças da umbanda para
deter a chuva durante o desembarque do papa Bento 16 na
cidade. E não choveu. Em 2009, notas publicadas no site da
FCCC dão conta de que a entidade trabalhou – em Madri e
em Copenhague – em um lobby espiritual para que o Brasil
ganhasse o direito de hospedar as Olimpíadas de 2016.
E nem o senador Arthur Virgílio (PSDB) escapou à tenta-
ção. Em novembro, chegou a convocar ofi cialmente a FCCC a
uma audiência da Comissão de Ciência e Tecnologia para pe-
dir seu parecer sobre o apagão ocorrido naquele mês, fato que
deixou 50 milhões sem luz elétrica. Por causa da má repercus-
são da ideia, o pedido foi rápida e gentilmente cancelado.
O sincretismo religioso e o misticismo são parte do DNA
dos brasileiros e, entre outros, dão vida a algumas das mais
ricas manifestações culturais e anímicas do continente.
Já a intenção de sincretizar política e religião, entretanto,
está longe de resultar em algo bom. Isso
porque é inútil buscar motivos sobrena-
turais em falhas naturais, humanas. Por
exemplo, enquanto, em Copacabana, os
abraços eram salpicados de champanhe,
na região de Angra dos Reis o excesso de
chuva resultou em 52 mortes, fruto de
uma urbanização desordenada, que agu-
çou os efeitos do El Niño.
O refl exo do El Niño na região soma-
se a outros eventos não menos sérios na
América Latina, como o frio extremo e a
morte de crianças na cordilheira perua-
na, inundações catastrófi cas nos pampas
úmidos argentinos, seca nas planícies
da Venezuela. E, enquanto nos bastamos
elevando preces aos céus, meteorologis-
tas nos EUA se esmeram em enviar saté-
lites às alturas e termômetros fl utuantes
aos mares para sondar, minuciosa e in-
cansavelmente a mínima mudança de
temperatura, vento e umidade.
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