O CORPO SEXUADO
Disciplina: Corpo e Cultura / Cleverson e Leiriane
I. MOSTRAR OS CORPOS
1. A erosão do pudor privadoBelle Époque: período que começou no final do século 19 (em torno de
1870) e durou até o início da Primeira Guerra Mundial em 1914.
1914 – 1918: Primeira Guerra Mundial
1918 – 1939: Período entreguerras
1939 – 1945: Segunda Guerra mundial
1945 – 1975 : Trinta Gloriosos
• Casamento por amor (físico)
• Vestuário da praia (Topless)• Foto 1: Micheline Bernardini (1946)
• Foto 2: Leila Diniz (1971)
• Desvelar público dos corpos femininos impacta na vida privada.
• Padrões de beleza mais exigentes.
• Novas regras de convivência
2. Varrem-se as formas de decência pública
• Publicidade – desconstrução do pudor (livros, pinturas, filmes)
• Sugere-se a existência do amor físico no filme Os amantes (1958);
• Surge a época do corpo-a-corpo amoroso;
• Diminui a diferença entre filmes eróticos e os classificados como pornográficos;
3. Comercialização do corpo sexuado (Consumo de massa)
• Ruptura com o pudor, com as representações do corpos e da sexualidade – O impacto do Pornô
• A revista Playboy (mostra o corpo, mas não mostra o ato sexual )
II. DISCURSOS E INTERVENÇÕES SOBRE OS CORPOS SEXUADOS
• O século XX é marcado pela: • Proliferação de discursos sobre os sexos “Hipótese
repressiva” (Foucault) – A sexualidade foi colocada em discurso;
• Intervenção médica no corpo sexuado Terapias, remédios, cirurgias,
1. A protossexologia e a “ciência sexual”• A Burguesia do século XIX, com sua vontade de
saber e de controlar os corpos, definiu uma biopolítica do sexo visando normalizar os comportamentos privados a partir do controle da sexualidade das mulheres, crianças e da sexualidade não-reprodutiva.
• A sexualidade como objeto de estudo;• 1º momento: O surgimento da Sexologia (1886)
na Alemanha e Inglaterra Preocupação com classificação das práticas e perversões que ameaçavam a moralidade e a sexualidade considerada normal: incesto, sodomia (pecador) versus homossexual (doente), sadomasoquismo, etc. *Taxonomia das identidades sexuais
• 2º momento: A teoria da sexualidade de Freud (transição de uma sexualidade reprodutiva para uma sexualidade hedonista) mas a busca pela sexualidade normal continua (heterossexual e genital)!
• Luta pela descriminalização da homossexualidade• Pioneiro na descriminalização da homossexualidade na Alemanha.
Criou o Instituto para a Ciência Sexual e fundou a Liga Mundial para Reforma Sexual.
• Teoria do terceiro sexoOs homossexuais estariam numa posição intermédia entre o homem heterossexual e a mulher heterossexual.
• Concepção de homossexualidadeA homossexualidade é hormonal o que abriu à ideia de uma possível ‘cura’ (Transição de crime a doença, como forma de aceitar as práticas homoeróticas)
Magnus Hirschfeld
A construção do modelo binário dos dois gêneros• A substituição de um modelo de
único sexo (masculino) pelo modelo de dois sexos opostos (masculino e feminino);
• Uma nova forma de compreender os corpos – uma nova política e epistemologia que está começando a ser rompida com as problematizações pós-estruturalistas e pós-modernas
Psicanálise freudiana• A libido é masculina;• Rapazes e moças devem organizar a
sexualidade em torno do pênis;• Na ausência de pênis, as mulheres se
masturbam com o clitoris, mas na vida adulta elas devem renunicar esse prazer e privilegiar o coito sexual.
• Deve submeter-se ao pênis com sacrifício e sadomasoquismo, sublimar, enfim, o desejo do pênis.
• A Psicanálise acaba justificando os papéis prescritos para às mulheres na sociedade.
• A escola inglesa relativizou o prazer vaginal e a inveja do pênis, e propôs a ideia de uma libido feminina;
• Os sexólogos tiraram a sexualidade do armário (silêncio e vergonha)!
2. Sexologia moderna e intervenção sobre o corpo
• 3º momento: A liberdade sexual e o rompimento com a moral da castidade e da heterossexualidade conjugal (Relatório Kinsey Sondagem de opinião)
• Contesta a concepção freudiana (Diferenças de comportamento são oriundas da socialização de gênero diferenciada)
• Sexualidade livre• Saúde: orgasmo obrigatório!• Sexualidade em clínicas: sexólogos
3. Medicina e gestão do corpo sexuado
• Corpo feminino = função reprodutora• Corpo feminino = espaço para experimentação
científica• Pílula• Cirurgias de mudança de sexo• Viagra – Medicina reforço social• AIDS
III. LIBERTAR OS CORPOS E AS SEXUALIDADES• 1. Libertar a palavra e os gestos
• A sexualidade começa a ter ‘nome’ (a linguagem anatômica, científica neutra); • Os corpos se desnudam, mas é no ‘escuro’ que se faz sexo• As proibições da Igreja e da Medicina não são seguidas• As caricias reservadas as prostitutas se popularizaram• O beijo na boca era considerado atentado violento ao puder em
1881 e na década de 1920 torna-se expressão obrigatória da paixão amorosa
• A masturbação torna-se assunto aberto (1950 em diante)• A moral já não se põe a proibir gestos durante muito tempo
considerados como “a última obscenidade”
2. Dissociar sexualidade e reprodução
• A necessidade de controle populacional e a ameaça da gravidez
• As mulheres em perpétua gestação• O adesão ao modelo da família monogâmica e heterossexual, como
um casal de filhos ou com apenas um (como na Belle Époque)• O coito interrompido é usado como método contraceptivo (prática
realizada pelos homens)• Depois da II Guerra Mundial, as mulheres se preocupam em
controlar a própria fecundidade.• Diafragma• Abortos fenômeno social que atinge todas
as mulheres• Pílula Os homens perderam o controle sobre a fecundidade feminina e foram liberados de controlar seus corpos
3. Rumo à sexualidade para todos e o direito ao prazer• “Gozemos sem barreiras”, diziam militantes homossexuais na Frente
Homossexual de Ação Revolucionária em 1968. • Descriminaliza-se o adultério (paga-se a multa);• Jovens descobrem a vida sexual pré-marital;• Dessacraliza-se a virgindade e a sexualidade pré-marital;• Os ritos de iniciação à heterossexualidade diminuem (a procura pelas
putas e zonas);• O casamento não é mais obrigatório;• A sexualidade juvenil adquiriu direitos de cidadania;• A sexualidade das pessoas idosas ficou ocultada (surge o Viagra);• Voyerismo e troca de casais;• A liberação dos costumes trouxe vantagens e privilégios aos homens -
> escondeu a dominação masculina (“garanhões” e “vadias” são os papéis atribuídos em caso de muitas ou poucas relações sexuais antes do casamento; troca como objetivo de conseguir novas parceiras e trocar a própria mulher)
4. Da sexualidade para todos a todas as sexualidades?
• A homossexualidade também se beneficiou com a liberação dos costumes e com o recuo da norma heterossexual, imposta pelo casamento.
• A invisibilidade das lésbicas: Salvo na Alemanha, os homossexuais as englobam na maioria das vezes em uma rejeição misógina reprimir a lesbianidade significava não admitir que as mulheres poderiam ter uma vida sexual autônoma.
• O desenvolvimento das culturais homossexuais• A patologização (OMS, 1968), destatologização (APA, 1974) e
repatologização da homossexualidade (Aids, 1980)• Os surgimentos do movimentos liberacionistas (homossexual e
feminista) Stonewall In (1969) e as paradas do orgulho que se espalharam pelo mundo
• O corpo masculino sofre a influência das imagens sugeridas pelos gays (o gay californiano, musculoso, viril e esportivo; etc.)
5. Direito ao prazer, consentimento e rejeição da violência
• A liberdade sexual, porém...• Rejeita as violências sexuais;• Cria-se o delito de atentado ao pudor (1832)• Magistrados mostravam-se compreensivos com os
estupradores (Século XX);• O processo de Aix-em-Provence reconhece o
estupro como intolerável (1978); • Os estupros masculinos atrás das grades (1996)• Pedófilos começaram a ser rejeitados (incesto)
NOVOS FEMINISMOS Na busca pela libertação do corpo
Marcha das Vadias de Maceió - 2012
NOVOS FEMINISMOS Na busca pela libertação do corpo• Funks (proibidão) “Quero te dá, dá, dá, dá, dá...”, • O funk não deve ser analisado como ferramenta de alienação, mas sim de poder. Poder de falar sobre os
seus próprios corpos (SANCHES, 2011).• O corpo não é uma ferramenta de opressão de gênero, mas um espaço de visibilidade de experiências que
não são bem vistas pela cultura opressiva que vivemos. • O absurdo como lugar de uma ação corrosiva e questionadora dos padrões culturais de gênero
e sexualidade, capaz de publicitar corpos resistindo e vivendo fora de matrizes de inteligibilidade cultural.
• O controle da sexualidade da mulher (e do homem?) A publicização de uma sexualidade feminina libertária é inaceitável. Não desvinculamos o corpo da mulher dos ideais maternos e familiares. O corpo feminino é institucionalizado, ou seja, é um corpo preso a práticas sociais que vigoram a séculos (machismo e patriarcado).
• Macha das Vadias • O poder de governar os corpos e o direito ao corpo
CONCLUSÃO• A história do corpo sexuado é uma história do seu controle e das suas
intervenções através da Ciência, da Igreja e da sociedade burguesa e conservadora, mas também é a história da luta pela sua libertação. A libertação não só dos corpos (especialmente, das mulheres), mas também dos costumes culturais, da moral, da tabu, do pudor e dos valores religiosos que insistem em normalizar e prescrever padrões para os corpos, os gêneros e as sexualidades.
• A história do corpo sexuado é uma história também da intervenção e dos investimentos que homens e mulheres fazem sobre o próprio corpo (vestiário, cirurgias, cremes, etc.), mas também é uma história de resistência à dominação masculina, que se renovou e avançou sob a bandeira da liberdade sexual.
• O que herdamos dessa história, de libertação do corpo? • O que temos feito para a libertação/repressão dos corpos?
Referências
• SANCHES, Julio César. Valesca Popozuda e o corpo da mulher. In: Coletivo Aquenda. Disponível em: http://coletivoaquenda.wordpress.com/2012/06/24/valesca-popozuda-e-o-corpo-da-mulher/. Acesso em: 17 jul. 2012.
• SOHN, Anne-Marie. O corpo sexuado. In: CORBIN, Alain et al (Orgs.). História do corpo: as mutações do olhar: o século XX. Petrópolis, RJ: Vozes, 2008.