Coleccao
Documentos de Trabalho
Manuel Ennes Ferreirae
Rui Almas
Comunidade Economica ou Parceria parao Desenvolvimento:
o Desafio do Multilateralismo na CPLP
Lisboa, 1996
Centro de Estudos sobre Africa e do DesenvolvimentoInstituto Superior de Economia e Gestao (ISEG/"Econ6micas")
da Universidade Tecnica de Lisboa
1200 LISBOA PORTUGALR. Miguel Lupi, 20
Telf: ++/351/(0) 1/ 391 26 20 Fax: [...] 396 64 07e-mail: [email protected]
o CEsA ndo confirma nem infirmaquaisquer opiniiies expressas pelos autores
nos documentos que edita.
COMUNlDADE ECONOMIC A OU PARCERlA PARA 0 DESENVOLVJMENTO: 0 DESAFJO DO MULTILATERAL/Sl.fO NA CPLP
COMUNIDADE ECONOMICA OU PARCERIA PARA 0
DESENVOLVIMENTO: 0 DESAFIO DO MULTILATERALISMO NA CPLP*
Manuel Ennes FerreiraInstituto Superior de Economia e Gestae
Universidade Tecnica de LisboaRui Almas" *
JeEP
INTRODUCAO
o dia 17 de Julho de 1996 ficara certamente para a hist6ria dos paises membros
da recem-criada Comunidade de Paises de Lingua Portuguesa (CPLP( Por urn lado,
pode vir a tomar-se nurn importante instrumento pratico de "incremento da cooperacao
a todos os niveis - cultural, economico, social, cientifico e juridico-institucional - bem
como da concertacao politico-dipomatica'" contribuindo assim para promover 0
desenvolvimento dos seus povos; mas, por outro lado, pode nao passar de mais urna
ocasiao perdida para atingir aquele objectivo, seja por se ter transforrnado num nado-
morto, confonne chamou a atencao 0 presidente da Guine-Bissau ao afinnar no acto de
constituicao da CPLP que nao duvidava "que uma mesma interrogacao agita-se no
fundo de nos mesmo quanto ao futuro da associacao que fonnalizamos. Sera que lhe
esta reservado 0 banal destino de tantas aliancas que, perdendendo-se em meandros
burocraticos, so existem na altura em que se reunem responsaveis politicos?":', seja por
se ter ficado enredado nurna mera verbalizacao piedosa e circunstancialista, aspecto
sublinhado pelo presidente de Angola:"urn dos primeiros testes da nossa comunidade
sera transitar da retorica sentimental e grandiloquente, para urn esforco de solidariedade
e entre ajuda capaz de restituir a dignidade minima a milhoes de cidadaos,,4 .
••.as autores agradecem as sugestoes feitas por urn comentador anonimo a uma versao provisoria deste artigo** As opinioes expressas neste artigo sac feitas a titulo pessoal e nao vinculam 0 ICEP.I Sem esquecer naturalmente Timor-Leste, para quem este dia e de ma memoria, como fez questao de frisar JoseRamos Horta, representante da resistencia tirnorense, Premio Nobel da Paz 1996: "no dia 17 de Julho de 1976,Timor Leste era anexada como 2JO provincia da Indonesia. No mesmo dia, 20 anos depois, em 1996, nasceu emLisboa a CPLP. As datas foram mera coincidencia", Expresso, 'Timor-Leste, a CPLP e 0 Brasil', 20/7/96.2 Confonne ponto 3 do Comunicado Final da sessao de trabalho da conferencia de chefes de Estado e deGoverno, constitutiva da Comunidade de Paises de Lingua Portuguesa, realizada em Lisboa, Portugal, a 17 deJulho de 1996.3 Bernardino Vieira, presidente da Republica da Guine-Bissau, em intervencao durante a sessao de formalizacaoda CPLP a 17 de Julho de 1996.4 Jose Eduardo dos Santos, presidente da Republica de Angola, em intervencao durante a sessao de formalizacaoda CPLP a 17 de Julho de 1996.
Manuel Ennes Ferreira e Rui Almas
Independentemente do que vier a ocorrer com 0 funcionamento e efeitos praticos
desta Comunidade, indiferenca e urn qualificativo que nao pode ser usado para
caracterizar 0 periodo que antecedeu a sua institucionalizacao e, certamente, os anos
que se the seguirao. As posicoes publicas assurnidas por politicos, intelectuais,
empresarios, etc, portugueses, brasileiros ou africanos quanta as finalidades e vantagens
da existencia da CPLP sac ja uma demonstracao disso mesmo".
o objectivo deste artigo e duplo: definir os contornos recentes das relacoes
economicas entre os paises participantes e reflectir sobre 0 que podera ser 0 futuro da
CPLP sob 0 ponto de vista econ6rnico. Quanto ao prirneiro objectivo: e facilmente
cornpreensivel que sem se ter a exacta nocao da importancia que reveste para cada urn
dos paises integrantes da CPLP 0 significado do relacionamento economico bilateral,
pouco ou nada, a nao ser especulacao, podera ser dito sobre a exequibilidade e
importancia da CPLP no dominie econ6rnico. 0 segundo objectivo decorre do prirneiro:
feito 0 ponto da situacao do relacionamento economico actual, que factores poderao
pesar a favor e contra 0 reforco daquelas relacoes? Que sentido economico dar, entao, a
CPLP?
Para que se respondam a estas questoes, 0 artigo estrururar-se-a em tome de
cmco aspectos: os diferentes entendirnentos que se tern sobre 0 papel economico da
CPLP; 0 quadro econornico em que presentemente assentam as relacoes economicas
entre os paises participantes; a possibilidade desta se tomar nurna zona de integracao
economica; os factores que contribuem para urn reforco da aproximacao econornica no
interior desta Cornunidade e, finalrnente, os factores que, ao inves, podern ser
potencialmente centrifugadores. Terminar-se-a com as conclusoes e perspectivas.
UM PROCESSO ARRASTADO
A historia da CPLP inicia-se em Novernbro de 1989 durante urn encontro
efectuado em Sao Luis do Maranhao, Brasil, envolvendo os Chefes de Estado e do
5 as representantes de 14 partidos politicos da oposicao civil angolana (paC) e onde se integrarn, entre outrospartidos mas corn representacao parlarnentar, a FNLA e a FpD, reunidos nurn workshop ern Luanda no dia 15 deMaio (Jamal de Angola, 16 de Maio de 1996), ou seja, dois rneses antes da institucionalizacao da CPLPpropuserarn que se realizasse urn referenda sobre a sua criacao, enfantizando que "nem todos os angolanospensam que este seja 0 memento mais oportuno", Publico, 18 de Maio de 1996.
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COMUNIDADE ECONOMIC A OU PARCERIA PARA 0 DESENVOLVlMENTO: 0 DESAFJO DO MULTILA TERALISMO NA CPLP
Governo dos paises actualmente membros da CPLP. Por iniciativa de Jose Aparecido de
Oliveira, na altura embaixador brasileiro em Portugal, a ideia foi exposta e bem
acolhida. Dai resultou a criacao do Instituto Internacional de Lingua Portuguesa (IILP).
Cinco anos depois, em Fevereiro de 1994, os representantes dos negocios estrangeiros
recomendaram aos seus governos a realizacao de uma cimeira com a finalidade de
constituir fonnalmente a Comunidade. Nessa altura 0 optimisrno reinava. No entanto,
primeiro em Junho, depois em Novembro, a formalizacao da CPLP foi adiada, por
dificuldades atribuidas ora ao Brasil", ora it Guine-Bissau' ora a Angolat.:
Em Junho de 1995 0 Comite de Embaixadores (denorninacao que substituiu 0
Grupo de Concertacao Pennanente, criado na reuniao de Brasilia de 1994 e fonnado
pelos ministros das relacoes exteriores) agenda, finalmente, para 0 final do 10 semestre
de 1996 a Cirneira constitutiva da CPLP, em Lisboa, 0 que veio efectivamente a ocorrer
(embora no inicio do 20 semestre), apos a reuniao preparatoria a myel ministerial
realizada em Maputo, Mocambique, nos dias 17 e 18 de Abril.
o arrastar do processo de institucionalizacao da CPLP nao e em si mesma grave.
Muitos equilibrios e interesses politicos e econornicos, sobretudo intern os a cada pais
mas igualmente regionais, pesaram na decisao [mal. Cada urn tera, naturalmente, os
seus pr6prios objectivos e entendimentos sobre esta Cornunidade. A procura de
consensos nao se afigura assim facil, nao devendo por isso mesmo serem subestirnadas
as duvidas, as reticencias, as hesitacoes, as acusacoes sub-entendidas, etc, que
ocorreram no passado e que facilmente se poderao repetir no futuro".
Quando, par exemplo, Itamar Franco afirma que sente "que uma iniciativa
brasileira, demoradamente negociada com todos os paises interessados, como parceiros
de igual soberania e merecedores do mesmo respeito, esteja sendo esvaziada antes
6 Indicacao de Jose Sarney (ex-presidente do Brasil naqueJa data) para representar 0 Brasil em vez de ltamarFranco, 0 que indispos 0 meio diplomatico.7 A campanha eleitoral para a eleicao presidencial neste pais foi a razao evocada para a ausencia do presidenteguineense.8 Admite-se que 0 presidente angolano se recusou a estar presente na sessao agendada para 28 e 29 de Novembrocomo resposta a declaracoes do presidente portugues, Mario Soares, sobre a situacao de guerra em Angola.9 Nao sera por acaso que Briosa e Gala, ex-secretario de Estado da Cooperacao portuguesa, tenha referido que"durante 0 exercicio das minhas funcoes govemativas, fui confrontado com as duvidas de muitos dirigentes eindividualidades africanas acerca do interesse real da criacao da CPLP", in Expresso, "Cornunhao de fortunas nalingua portuguesa", 29 de Junho de 1996.
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ManueL Ennes Ferreira e Rui Almas
mesmo de se institucionalizar" 10, di-lo com alguma intencionalidade e certamente
dirigido a alguern ou pais, acrescentando mesmo discordar da decisao de entregar 0
cargo de secretario executivo da CPLP a Angola 1I. E evidente que Angola reagiu, nao
oficialmente, como e 6bvio nestas circunstancias, mas oficiosamentel2. E como se este
'incidente' nao fosse suficiente, nas vesperas da constituicao da Cohmnidade e 0
pr6prio presidente do Brasil a lancar mais algurna polemica'". I
E que pensa disto Portugal? Neste aspecto, a forma discreta, silenciosa, optimista
e intencionalmente desdramatizadora que 0 govemo portugues sernpre usou nestes
cases" (dando aqui urn exernplo paradigmatico de continuidade de politiba extern. dos
govemos do PSD e agora do PS) podem encontrar urna dupla explicacao: por urn lado, a
intensidade de relacionamento econ6mico entre Portugal e os Palop e completamente
distinto do existente entre 0 Brasil e estes paises. Donde, 0 mal-estar e 0 azedume nas
relacoes bilaterais, em consequencia de acusacoes publicas explicitas, polderia acarretar
perdas maiores para Portugal do que para 0 Brasil. Por outro lado, os ganhos politicos e
diplomaticos que Portugal pode vir a obter com a CPLP SaD indiscutivelmente maiores
relativamente a qualquer outro dos paises membros, incluindo 0 Brasil. a caso recente
da eleicao de Portugal para 0 Conselho de Seguranca pode ser urn evidente exemplo
desta ultima situacao.
Mas este inc6modo sempre acornpanhara, certamente, a CPLP. Nao e grave se
esta efectivamente conseguir definir accoes concretas e encontrar os correspondentes
meios adequados em beneficio dos paises da Comunidade. Neste caso, aquele passado
passara apenas a ser recordado como urn epis6dio, circunstancial, pr6prio das pressoes
10 Itamar Franco, ex-presidente do Brasil e ex-embaixador em Portugal,"A construcao arneacada", in Publico, 22de Maio de 1996.\I "Agora em Maputo, como se fosse para evitar uma solucao natural, adotou-se uma atitude terneraria para 0
futuro da CPLP", ibidem.12 No Jamal de Angola, Luanda, de 2 de Junho de 1996, pode ler-se no artigo "Lusofonos de I" e 2"", apos fortescriticas a Itamar Franco: "e caso para dizer: teremos uma CPLP com lusofonos de primeira e lusofonos desegunda. Onde e que eu ja vi iSIO... T",13 Fernando Henrique Cardoso, presidente do Brasil, questionado pelo Expresso de 13 de Julho de 1996 sobre asrazoes porque custou tanto a CPLP a sair do papel, respondeu:"porque estas coisas SaDmesmo dificeis, exigemlongas negociacoes, os problemas surgem nao se sabe de onde e paralisam tudo. Os ultirnos problemas naodependeram de Portugal nem do Brasil, mas dos paises africanos",14 Ao contrario do que escreveu Itarnar Franco, Publico, 22 de Maio de 1996, para quem "e chegado 0 tempopara que as relacoes diplomaticas entre os paises soberanos se facam com nova linguagem e percam as subtilezasflorentinas", 0 pragmatismo e a realpolitik nas relacoes entre Estados obrigam a alguma ou, na maior parte dasvezes, a muita contencao.
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COMUNIDADE ECONOMIC A OU PARCERIA PARA 0 DESENVOLVlMENTO: 0 DESAFIO DO MULTILATERAUSMO ,II/A CPLP
politico-diplomaticas do momento. Contudo, em ambiente de apatia'i sem que se
vislurnbrem alteracoes significativas no conteudo e volume que caracterizam as actuais
relacoes entre estes Estados membros, certamente que sera argumento facil de
ressuscitar e esgrimir.
OS DIFERENTES ENTENDIMENTOS DA CPLP: QUAL 0 LUGAR DAECONOMIA?
Embora os Estados membros da Comunidade dos Paises de Lingua Portuguesa
tivessem aprovado e assinado uma Declaracao Constitutiva e respectivos Estatutos talI
nao significa, contudo, que exista uma completa e clara unanimidade acerca do seu
papel primordial. Isto mesmo pode ser aquilitado quer por declaracoes de responsaveis
politicos dos diferentes paises quer pelas posicoes publicas assumidas por elementos
oriundos das respectivas sociedade civis (independentemente da sua existencia ser mais
ou menos incipiente neste ou naquele pais).
A posicao portuguesa
De urn modo geral, 0 entendimento da CPLP em Portugal tende a colocar a
tonica de actuacao nurn quadro alargado linguistico-cultural e tecnico sobre 0 qual
devera repousar 0 reforco do relacionamento economico. Neste contexto, quando a
questao do economico e directamente abordada ressalta, desde logo, 0 cui dado que se
poe no refrear dos animos e expectativas (sobretudo a curto e medio prazos). Resultados
politico-diplornaticos, estes sim, parecem poder ser evocados desde logo. Nao restam
duvidas que 0 simples facto de se ter instituido a CPLP e fruto de urn importante
trabalho da diplomacia portuguesa (e da brasileira), traduzida ao longo dos ultimos anos
numa maior aproximacao nas relacoes entre 0 Estado portugues e os Palop. Pode-se
conjecturar, e certo e legitimo, sobre a importancia e influencia das alteracoes de
condicionalismos intemos e intemacionais que enquadraram 0 periodo de governacao
do Partido Socialista, num primeiro momento, e a do Partido Social Democrata depois.
Mas se esta discussao e certamente estimulante, 0 que parece reunir a unanimidade,
independentemente do quadrante politico, e aquilo que Manuel Villaverde Cabral muito
bem sintetiza quando escreve: "0 sonho realizou-se (a formacao da CPLP) e Portugal
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Manuel Ennes Ferreira e Rui Almas
dotou-se, como ambicionava, de urn trunfo potencial para maximizar 0 seu estatuto na
Uniao Europeia e na cena mundial" 15. Resta saber, contudo, se ao nivel do simb6lico os
portugueses se sentem satisfeitos apenas com esta visibilidade junto do exterior ou se,
pelo contrario, ela e apenas "a versiio democratizada do velho lusotropicalismo" 16.
A tomada de posicoes publicas relativas a formacao e entendimento do papel da
CPLP, pennite sintetiza-las numa topologia centrada em tome de seis ideias base:
a) a CPLP como zona de comercio livre
Uma das referencias mais comuns it Comunidade diz respeito it sua
transformacao numa zona de integracao econornica, nao apenas com livre circulacao de
produtos, tipica de urna zona de cornercio livre, mas igualmente de pessoas ou mesmo
d .. 1: ~ . d C . 'fr I'de capitars, rererencia a urn merca 0 comum. omo mars a ente se vera, ecorre para
Portugal a impossibilidade de fonnar uma tal zona economica em virtude dos deveres
que decorrern do facto de ser membro da Uniao Europeia, nomeadamente pela
exigencia do cumprimento da politica comercial comurn. Isto traduz-se, na pratica, pela
existencia, por urn lado, de urn Acordo-Quadro Interregional de Cooperacao Economica
e Comercial entre 0 Mercosul (onde esta 0 Brasil) e a Uniao Europeia tdesde 1995) e,
por outro, da Convencao de Lome (acordo entre os paises ACP, onde se situam os
Palop, e a Uniao Europeia).
Mas este entendimento nao e generalizado. Assim, enquanto p a uns "a CPLP
nao visa a criacao de urn mercado unico ou de uma uniao aduaneira" I' ou uma 'zona
comercial' 18, seja porque tenharn presente as limitacoes impostas pela participacao
portuguesa na Uniao Europeia seja pela influencia, a prazo, do movimento de
integracao regional de cada pais'", para outros, pelo contrario, a CPILP tern de ser
15 Manuel Villaverde Cabral, in Diorio de Noticias, 22 de Julho de 1996, "CPLP - Potencial e contradicoes".16 De acordo com Manuel Villaverde Cabral "a criacao da CPLPconstitui a realizacao de urn sonho partilhadopor todas as nossas elites, desde a extrema direita nostalgica do Imperio ate a extrema esquerda adversa aocapitaiismo europeu: e a versao democratizada do velho lusotropicaJismo". Diorio de NOficl'ias, 22 de Julho de1996, "CPLP - Potencial e contradicoes".17 Jaime Gama, Ministro dos Neg6cios Estrangeiros de Portugal, em entrevista ao Publico, 17 de Julho de 1996.18 Jose Larnego, secretario de Estado da Cooperacao de Portugal, em entrevista a Africa Hoje, Dezembro 1995:"nao estou a ver a CPLP como uma zona comercial".19 E a posicao de Miguel Cadilhe, presidente do BFE, em entrevista a Africa Hoje, Junho de 1996. Ai pode-se lerque "ache poueo provavel que a CPLP desemboque numa eomunidade econornica, porque estamos hoje a assistirit integracao regional de paises. Dentro de 10 ou 15 anos estes paises ja estarao completamente integrados nosrespeetivos bloeos regionais. Por outro lado, as comunidades econornicas formam-se a partir de condicoesnaturais. A lingua so nao chega",
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COMUNIDADE ECONOMIC A OU PARCERIA PARA 0 DESENVOLVlMENTO: 0 DESAFIO DO MULTILATERAL/SMO NA CPLP
entendida de forma ousada: "0 meu sonho e que pudesse existir a comunidade
econ6mica dos paises que falam portugues, independentemente das obrtgaciies e dos
vinculos e dos compromissos que nos temos ao nive/ da Untiio Europeia. Se nao se
empenhar nesse caminho, Portugal uma vez mais esta a dormir na fonna,,20.
b) a CPLP como meio para aumentar as trocas, aproveitar as recursos internos
e promover 0 desenvolvimento economico dos Daises.Esta posicao, formal e economicamente mais viavel, tern sido transmitida na
maioria dos casos por pessoas ligadas ao mundo empresarial. 0 seu raciocinio baseia-se
na articulacao entre os resultados praticos da CPLP nos domini os econornico e social e
o efeito demonstracao que isso gera junto dos povos que formam a Comunidade, unico
modo de se sentirem fazer parte de algo palpavel e positive": no ganho acrescido que
cada pais tera nas negociacoes fora desta Comunidadev' e na possibilidade de potenciar,
por esta via, os recursos dos paises constituintes da CPLp23.
A refrear algum excesso de optimismo nesta materia, ha quem chame a atencao
para os problemas que derivam quer da debilidade economica estrutural de alguns
paises participantes quer da debil relacao intra-economica existente". Este modo de
encarar 0 problema, realista, e certo, necessita de ser relativizado e colocado numa
perspectiva dinamica. Relativizado porque, confonne mais a frente s6 mostrara, a
importiincia econ6mica que representa para urn pais as relacoes com Iconjunlo de
20 Manuel Monteiro, presidente do Partido Popular, Publico, 7 de Agosto de 1996. Este politico acrescenta aindaque "de nada serve, sob 0 ponto de vista dos discursos, dizermos que fazemos parte de uma comunidade dospaises de lingua portuguesa, se a esse campo politico nao associarmos 0 campo economico".21 "A importancia cia resposta que a Comunidade puder vir a dar aos anseios dos povos e Estados paraalcancarem maior prosperidade ... (necessidade) de articulacao de politicas de estimulo ao desenvolvimentoeconomico, it criacao de emprego e a justica social. Julgo que este aspecto e essencial para que os povos dos Setepaises acreditem e promovam a CPLP" (Francisco Mantero, presidente da ELO, entrevista ao Diario de Noticias,7 de Outubro de 1996.22 Para Antonio Espirito Santo, Presidente da Camara de Cornercio e Industria Luso-Brasileiro, in Africa Hoje,Junho de 1996, "0 projecto e fundamental na sua vertente economica para 0 desenvolvimento das relacoes entrePortugal, Brasil e Palop. Vira dar, decerto, muito peso institucional a qualquer urn dos paises e espacos nas suasnegociacoes com paises e espacos terceiros".23 De acordo com Daniel Pedrosa Lopes, presidente da Camara de Comercio Portugal-Mocambique, editorial daRevista Portugal/Mocambique da CCPM, Agosto de 1996, "se as componentes principais (da CPLP) sao deindole historica, linguistica e diplomatica. e certo que as potencialidades econornicas inseridas nos paisesconstituintes, como nas regioes geograficas a que pertencem nao sao de desprezar". I24 Na optica de Manuel Villaverde Cabral, Diorio de Noticias, 22 de Julho de 1996, "CPLP - Potencial econtradicoes", "falta e e provavel que continue a faltar a CPLP uma base econ6mica real. Faltam recursosproprios a cada um dos paises e as trocas comerciais entre eles SaD reduzidissimas bem como 0 investimentomutuo".
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Manuel Ennes Ferreira e Rui Almas
paises desta Comunidade varia muito entre si, identificando-se clararnente dois grupos
de paises. Colocada nurna perspectiva dinamica porquanto, a longo-prazo, encontrada a
estabilidade economica e politica, a superacao das suas debilidades estruturais
implicara, necessarianmete, novas e rnultiplas oportunidades abertas no dominio
economico.
c) as oportunidades da CPLP enquanto charneira entre Europa/Africa/America
Latina/Mundo
A consideracao de urn ganho que cada pais pertencente a CPLP podera Vir a
obter pelo facto desta se estender geograficarnente por tres continentes e diversos
organismos regionais, e largarnente referido: seja pela importancia de nela estar presente
urn pais da Uniao Europeia'", pela optimizacao da triangulacao entre
Uli/Mercosul/Convencao de Lome", pela colocacao das divers as organizacoes
regionais num pe de igualdade", ou seja ainda pela projeccao da econornia dos paises
da CPLP num contexto economico mais alargado ".
d) Para Portugal a direcr;oo deve ser a CPL?, a Europa au ambas?
Nao e de todo pacifica a resposta a esta questao, e que e, alias, bastante antiga. 0
celebre dilema 'A Europa ou a Africa?' que atravessou desde sempre a sociedade
portuguesa, corn especial enfase as decadas de 60 e prirneiros anos da decada de 70, nao
foi senao resolvida, do ponto de vista politico, atraves da independencia dasex-colonias
portuguesas. No entanto, a historia e a malha de interesses econornicos (e nao so)
existentes, nao permitiu que toda a gente encarasse do mesmo modo a crescente
integracao econornica e politica no espaco europeu. As vantagens e inconvenientes para
a sociedade e econornia portuguesa derivados deste duplo direcionarnento continuarn a
25 Jaime Gama, discorrendo sobre os efeitos da adesao de Portugal as Comunidades Europeias sublinha 0 facto de"Portugal, em muitos casos, surgira perante (0 Brasil e os Palop) nao apenas como dinamizador europeu doespaco da lusofonia mas como janela de acesso a uma Comunidade desenvolvida, fortemente apostada no dialogoNorte-Sui", "A adesao de Portugal as Comunidades Europeias", in Politiea Internaeional, vol. 1 (10), 1994/95".No mesmo sentido, Durao Barroso, ex-Ministro dos Negocios Estrangeiros e ex-secre9rio de Estado daCooperacao de Portugal, afirma que "0 factor europeu funcionou hem (na criacao da CPLP) porque os Palopcompreenderam que seria bom ter urn aliado na Europa", Jornal de Notieias, 8 de Agosto de 1996.26 Ideia defendida por Alvaro de Vasconcelos, director do Instituto de Estudos Estrategicos Internacionais, dePortugal, no artigo "Cimeira dos Sete: Angola, nao esquecer", in Publico, 17 de Junho de 199~. .27 Para Jose Lamego, "a CPLP constituira um veiculo de relacoes entre a Uniao Europeia, 0 ~ercosul e a AfricaAustral", Seminario cia ELO, Diario de Notieias, 16 de Julho de 1996. I28 "A par da integracao regional, a CPLP pode ajudar a reforcar a transicao para uma economia mundial em viasde globalizacao", Adelino Tores. professor universitano, Expresso, "A CPLP e viavel?", 12 de Outubro de 1996.
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COMUNlDADE ECONOMIC A OU PARCERIA PARA 0 DESENVOLVIMENTO: 0 DESAFIO DO MULT/LA TERALISMO NA CPLP
alimentar polemicas'". Neste contexto, nao deixa de ser sintornatica e importante a
posicao de Mario Soares, europeista convicto e dos principais responsaveis pela
integracao de Portugal na CEE em 1986 (actual Uniao Europeia) ao afirmar que
"sempre entendi e defendi que os dois projectos (integracao europeia e CPLP) nao eram
incompativeis nem, muito menos, contraditorios: eram, antes, perfeitamente
complernentares"?".
Esta ideia de complementariedade nao excusa, porem, que se possam e devam
priorizar as areas geograficas de actuacao, nomeadamente atraves da definicao de
mercados-alvo estrategicos e de apoios ao processo de internacionalizacao da economia
portuguesa. Assim, enquanto para uns a direccao (e portanto a opcao) que se coloca a
Portugal nao e a CPLP mas sim a Europa", para outros, embora apontando no mesmo
sentido, condimentam-no com a necessidade (pelo menos solidaria) da ligacao aos
Palop32, realcando 0 facto de Portugal dever reforcar 0 seu protagonismo na Europa
atraves dos trunfos que possa vir a obter neste novo espaco, apelando simultaneamente
para urn reforco do investimento intra-grupo e das parcerias empresariais como forma
de maximizacao da cooperacao ernpresarial " ou procurando potenciar as relacoes com
o Brasil e os Palop num quadro de priorizacao da participacao na Uniao Europeia".
29 Ver, a este respeito e Jigado a questao da ligacao de Portugal aos Palop, Mota Amaral, ex-presidente da RegiaoAutonorna dos Acores, in Diorio de Noticias, "Europa e Africa nos caminhos de Portugal", 25 de Maio de 1996.30 Mario Soares, ex-Presidente da Republica Portuguesa, Diorio Noticias, "Urn projecto para 0 seculo XXI", 17de Julho de 1996.31 "A longo-prazo, Portugal pode ganhar projeccao mundial com 0 processo, mas trata-se de algo que nao podesubstituir a Europa, como parceiro economico, politico e mesmo cultural e demografico", Nuno Valerio,professor uruversitario, Expresso, "Uma alternativa a Europa?", 28 de Setembro de 1996.32 De acordo com Mota Amaral, "hoje, os caminhos do futuro de Portugal sao os caminhos da Europa ... Mas anossa aposta na nova Europa nao nos pode desligar da Africa, em especial dos paises lusofonos. Eis aqui urncampo em que 0, nosso interesse nacional pode tambem afinnar-se em razoavel equilibri~ com [0 das outras partesenvolvidas. A Africa precisa de solidariedade", in Diario de Noticias, "Europa e Africa nos caminhos dePortugal", 25 de Maio de 1996.33 Augusto Mateus, Ministro da Industria e do Comercio, de Portugal, durante 0 Seminario sobre CooperacaoEmpresarial realizado em Lisboa e organizado pela ELO, por ocasiao da formalizacao da CPLP em Julho de1996, Revista Exportar, ICEP, n041, Agosto de 1996.34 Ver, por exemplo, as declaracoes de Augusto Mateus a entrevista da revista Africa HOje'ln099, Setembro de1996: "a prioridade da internacionalizacao da economia portuguesa e a construcao europeia. Mas tarnbem aquiha uma alteracao clara na politica economica deste governo, que e nao fazer nenhuma contradicao entre essaprioridade europeia e 0 relacionamento de Portugal com a America, Africa e Asia. Sendo assirn, a Europa vale10, Palop e Mercosul 9.5", ou do seu secretario de Estado da Competitividade e da Intemacionalizacao, JoseFreire de Sousa: "independentemente da participacap portuguesa na UE ser uma prioridade, Portugal tern de teruma estrategia de posicionamento no mundo que potencie os lacos com os Palop e 0 Brasil", serninario da ELO.Dtario de Noticias, 16 de Julho de 1996.
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Manuel Ennes Ferreira e Rui Almas
Em sintese, a opcao europeia quer do ponto de vista politico quer econornico
assurniu, claramente a partir de 1976, 0 estatuto de opcao estrategica no quadro da
vertente atlantica em que desde sempre Portugal se inseriu, obrigando-o a uma clara
redefinicao geografica, ou seja, "sern alterar a sua condicao atlantica, Portugal alterou 0
seu lugar no mundo e 0 seu destino na historia: da Africa para a Europa't "
e) a distribuiciia dos ganhos economicos
A posicao economica inicial de cada Estado membro ira condicionar
seguramente os beneficios individuais que dali se retirarao. Isto nao significa, contudo,
que os paises mais desenvolvidos, Portugal e Brasil, so tenham a ganhar com a
existencia desta Comunidade e que nao exista, it partida, urn interesse comurrr'". As
diferencas no nivel de desenvolvirnento e das estruturas economic as existentes tomam
compreensivel que "a curto-prazo, a CPLP tenha muito mais a esperar de Portugal do
que Portugal a esperar da Comunidade,,37.
Mas se a CPLP nasceu clararnente "it sornbra de dois Estados e nao de urn ...
(tendo) aqui uma informal mas real lideranca bicefala, a do Brasil e a de Portugal'r", a
reparticao dos beneficios, ernbora podendo ser cornplernentar entre os agentes
economicos envolvidos, sera urn desafio pennanente no interior desta comunidade. Isso
permitira aquilatar ate que ponto pode ser levada e entendida a solidariedade no
dominio economico e social.",
Como ja atras fora sublinhado, e perfeitamente admisssivel tanto a coexistencia
de interesses diferenciados entre os Estados membros como a existencia de estrategias
empresariais nao coincidentes. E 0 que e mesmo natural e que "subsistam interesses
proprios de cada urn dos Estados rnernbros, visoes regionais distintas, mas tudo isso
pode e deve ser integrado e potenciado, no interesse de todos, na Comunidade'I'". Os
35 Ver os fundamentos e desenvolvimento desta ideia no interessante artigo de Nuno Severiano Teixeira, directordo Instituto de Defesa Nacional, "Entre a Africa e a Europa: a politica extema portuguesa, 1890-1986", Politicalnternacional, vol.I (12), pp.55-86, 1996.36 Adelino Torres, "A Africa Austral contemporanea na hora das transformacoes", in Africa Austral: 0 Desafiodo Futuro, Estudos Africanos n02, lEEI, pp,49-72, 1991.37 Nuno Valerio, Expresso; "Uma altemativa a Europa?", 28 de Setembro de 1996.38 Nuno Rogeiro, lndependente, "Encontros imediatos do terceiro grau'', 19 de Julho de 1996.39 Para Manuel Villaverde Cabral, Diorio de Noticias, "CPLP - Potencial e contradicoes", 22 de Julho de 1996,"urn born teste ao potencial da CPLP sera ver se os ernpresarios dos paises menos pobres - Portugal e Brasil - sealiarao ou se cornpetirao entre si para investir nos mais pobres".40 Mario Soares, Diorio Noticias, "Urn projecto para 0 seculo XXI", 17de Julho de 1996.
10
anos que se vao seguir irao por decerto confinnar ou negar esta assercao de Mario
Soares.
o A defesa e promofiio da lingua e identidade cultural, e niio a economla, como
fundamentos e objectivos prioritarios da CPLP
Os vectores linguistico-cultural e economico partilham, na maioria das opinioes,
as principais opcoes a atribuir a CPLP. Tentando conciliar os dois aspectos, que nao sac
a partida mutuamente exclusivos, Adriano Moreira advoga que "a defesa da lingua e
tambem a defesa da identidade do grupo e de cada membro: 0 economico vem por
arrasto'<", numa linha de pensamento partilhada por Mario Soares42.
Este reconhecimento da importancia da lingua43 e da cultura44 deve ser
ponderada, como oportunarnente observa Jaime Garna: "a lingua comum e condicao
necessaria mas nao suficiente para a garantia de sucesso da CPLP,,45. Esta forma mais
pragmatica de colocar a questao fica distante daquela outra, porventura mais frontal,
segundo a qual "uma primeira interpretacao da chamada CPLP e a de que pressupoe que
ela assenta num fundo de identidade cultural comum aos sete paises signataries ... (pelo
que) nao vejo sob que forma, a nao ser a de uma rerniniscencia ideologica sem qualquer
conteudo argumentavel, sera possivel recorrer-se ainda a uma tal fundamentacao para a
comunidade de lingua portuguesa't"I
Seja que entendimento se tiver quanta ao papel da lingua portuguesa naI
prossecucao dos diversos objectivos da CPLP, no mundo actual em que as
interpenetracoes culturais, tecnicas e econ6micas fundarnentarn t as relacoes
intemacionais, e seguro que a lingua nao so nao e condicao necessaria para assegurar 0
41 0 que se conclui da leitura do artigo "0 Instituto Intemacional da Lingua ", Adriano ¥oreira, Diario deNoticias, 13 de Agosto de 1996.42 Para Mario Soares, Diorio de Noticias. "Urn projecto para 0 seculo XXI", 17 de Julho de 1996, "a lingua e 0
afecto sao elementos que operam milagres, ainda que certos politicos, obcecados pelo pragmatismo imediatista,tenham tendencia a pensar 0 contrario, numa visao economicista ou meramente mercantil". I43 Jorge Sampaio, Presidente da republica portuguesa, no discurso de tomada de posse no Parl1amento fazia fe emque "a lingua, a rica diversidade de culturas expressas na mesma lingua, a hist6ria de solidariedade efectiva entreOS povos dos sete estados e do territ6rio de Timor tomam necessaria a concretizacao de uma Comunidade deEstados e Povos de Lingua Oficial Portuguesa". Diario de Noticias, 10 de Marco de 1996. Tres meses mais tardereafirma esta sua ideia: "a lingua e 0 mais forte e perene trace de uniao, constituindo' 0 fundamento daComunidade e 0 grande instrumento da sua projeccao no mundo", Africa Hoje, Junho de 1996.44 "E no contexto e na perspectiva intemacional de potencializacao das vantagens inerentes a urn espacolinguistico e geocultural consistente que deve ser encarado 0 projecto de uma CPLP", Jose Augusto Seabra (ex-embaixador portugues junto da Unesco), Publico, "Urna comunidade de povos e de lingua", 18 de Julho de 1996.45 Jaime Gama, entrevista ao Publico, 17 de Julho de 1996.
11
Manuel Ennes Ferreira e Rui Almas
exito econ6mico no relacionamento entre Estados como, por maiona de razao, esta
longe de ser condicao suficiente'".
A posicao dos Palop e do Brasil
Nao foi pacifico, como ainda nao 0 e, 0 entendimento que nestes paises se da aCPLP, sendo talvez mais evidente no caso dos Palop. Nota-se, nestes ultimos, a procura
de urn equilibrio interno, de cariz tranquilizador e exorcizante relativamente ao passado,
e que pode ser sintetizado pela afirmacao do responsavel da diplomacia angolana: "nao
tocando na soberania de cada urn, tendo em consideracao as especificidades, as
diferencas, mesmo ate culturais, a situacao geo-politica e geografica de cada urn dos
Sete, iremos todos beneficiar com a Comunidade,,48. Afinal apenas decorreram vinte
anos desde a independencia dos paises africanos. Por outro lado, existe claramente
algum desfazamento entre as declaracoes produzidas ao mais alto myel politico e ao
nivel da sociedade civil, sendo que a propria exiguidade de meios (em particular nos
paises africanos) nao permite alargar a discussao a todos os potenciais interessados.
A reflexao sobre esta ultima questao mereceria, alias, uma atencao e analise mais
cuidada. Nao e linear que exista nestes paises urna unica interpretacao do papel da
CPLP, ora tendendo-se a realcar a ideia de que a Comunidade assenta nos cidadaos, nos
seus interesses especificos e na procura de resolucao dos seus problemas econ6micos e
sociais ora defendendo a ideia de que ela nao passa de urn mero instrumento de
articulacao politico-diplornatica entre os Estados membros'".
Os dois enfoques estao constantemente presentes no debate. Quando se advoga
que uma das principais virtudes exteriores da CPLP e a de que "vai dar mais peso aos
paises participantes junto da comunidade internacional"SO enquanto ao nivel interno se
46 Diogo Pires Aurelio, Diorio de Noticias, "Razoes de Sobra", 4 de Agosto de 1996.47 A este proposito ver, por exernplo, KLEIMAN (1978), "Cultural ties and trade: Spain's role in LatinAmerica", Kyklos, vol.Ll (2), pp.275-290. I
48 Venancio de Moura. Ministro das Relacoes Exteriores de Angola, Africa Hoje, Junho de 191
96.49 Como muito bem chama a atencao Dario Moreira C. Alves, embaixador brasileiro aposent!ado e presidente doConselho de Curadores da Fundacao Luso-Brasileira para 0 Desenvolvimento do Mundo de Lingua Portuguesa,"sern essa componente economico-social (real progresso das populacoes mais atrasadas) na estruturacao dacomunidade, como alias tern feito sentir certos dirigentes africanos, 0 esforco politico e diplornatico empregadoem todo esse processo seria marcado por frustacoes e desenganos", Guia Brasil, Boletim da Embaixada do Brasilem Lisboa, n° 16. Julho/ Agosto de 1996. I50 Fernando Henrique Cardoso, Presidente do Brasil, em entrevista ao Expresso, 13 de Julho de 1996.
12
COMUNIDADE ECONOM/CA OU PARCERIA PARA 0 DESENVOLVlMENTO: 0 DESAFJO DO MULTILATERAL/SMO NA CPLP
deve "privilegiar principalmente a vertente cultural sem deixar de por em relevo a
cooperacao economica?", a nuance de apresentar em primeiro lugar a cultura e depois
os aspectos econornicos nao recolhe, porern, a unanimidade dos paises. Nota-se que sac
exactamente os paises mais pobres deste grupo aqueles que fazem sobressair a
prioridade da economia sem descurar, em segunda linha, da vertente linguistic a-cultural:
Guine-Bissau, Sao Tome52 e Mocambique. Quer Angola quer mesmo Cabo Verde " sac
mais comedidos na ordenacao hierarquica daqueles objectivos. 0 Brasil, sem per em
causa 0 lade econ6mico desta questao, tende mais para 0 lado da cooperacao cultural54.
Todas estas posicoes nao sac de estranhar. Para paises cujas populacoes vivem
no limiar da pobreza absoluta, toda a ajuda e apoio econ6mico e bem vindo. A ret6rica
nao alimenta e nao resolve os problemas do curto-prazo e, nestes paises, 0 curto-prazo
significa tao somente 0 limiar da sobrevivencia. Exactamente conhecedor destes
anseios, 0 Brasil e, Portugal nao puseram excessivamente a h: .ica na importancia do
econ6mico: nao s6 nao lhes interessa ter de suportar sozinhos a factura econ6mica como
as expectativas que entre tanto se criem poderao ser perfeitamente defraudadas. Mas estaI
e, potencialmente, uma ambiguidade nao totalmente resolvida it partida e que, a prazo,
pode vir a tornar-se uma das causas fundamentais que suporte as acusacoes de
inoperancia e nao cumprimento da CPLP.
Embora as diferencas entre 0 Brasil, os paises africanos de I lingua oficialI
portuguesa e estes entre si seja uma realidade que se traduz em objectiv?s e estrategias
especificas ", e possivel agregar numa tipologia as posicoes, sobretudo oficiais,I
transmitidas pelo Brasil e pelos Palop relativamente ao papel da Comunidade:
51 Marcolino Moco, ex-prirneiro ministro de Angola, secretario executive da CPLP, entrevikta ao Expresso, 13de Julho de 1996. I52 "Sao Tome e Principe adere a esta comunidade consciente do grande desafio que ela representa: a busca daintegracao na descontinuidade. Nao e necessario ser ceptico, mas tao somente sensato e realista, para tomar emdevida conta e medida as dificuldades que este empreendimento nos coloca", Armindo Vaz, intervencao por SaoTome e Principe, durante a sessao de forrnalizacao da CPLP, Lisboa, 17 de Julho de 1996.. I53 "A lingua portuguesa e 0 cimento que liga os povos da CPLP. 0 elemento-base da criacao da Comunidade e 0
desejo e a necessidade de defesa, valorizacao da nossa lingua comum", Pedro Pires (presidente do PAlCY e ex-primeiro ministro), Expresso, "Cooperacao descentralizada em bases pragmaticas'', 13 de Julho de 1996.54 "A CPLP sera a primeira Comunidade onde a producao cultural vai puxar 0 resto, isto e, 0 desenvolvimentopolitico e economico", afirmacao de Fernando Henrique Cardoso em entrevista ao Expresso, 13de Julho de 1996.55 A este proposito e acerca da visao do Brasil, ver 0 artigo de Fernando Mourao, professor universitariobrasileiro e director do Centro de Estudos Africanos da Universidade de S.Paulo, "Portugal, Brasil, Africa: oscaminhos da convergencia", in Africa Austral: 0 Desafio do Futuro, Estudos Africanos n02, lEEI, pp. 135-155,1991.
13
Manuel Ennes Ferreira e Rui Almas
aJ a CPLP como zona de comercio livre
Os empresarios dos Palop tendem muito particularmente para a referencia da
criacao de uma zona de cornercio livre como objectivo central da CPLP, As suas
intervencoes durante a Conferencia "0 Espaco Econornico da Lusofonia", organizado
pelo Forum dos Empresarios de Lingua Portuguesa (FELP) e realizado na FIL em Abril
de 1996, foram testemunha disso mesmo". A ideia de que urn espaco econornico
comum, livre de entraves, poderia induzir e obrigar a uma mais rapida criacao de
condicoes intemas propicias para a actuacao dos ernpresarios locais nos seus mercados
internos (estabilizacao economica, firn dos entraves adrninistrativos, diminuicao da
concorrencia desleal por parte do Estado, etc/7, em parceria com os empresarios
portugueses e brasileiros, sobrepos-se it argurnentacao mais racional da exequibilidade
juridica de tal espaco".
bJ CPLP como meio paraallmenfar as frocas, aproveitar os recursos infernos e
promover 0 desenvolvimento economico dos paises
Esta perspectiva econornica, indissoluvelrnente ligada it questao do
aproveitamento da integracao em espacos economic os regionais, e 0 principal enfoque
nas posicoes oficiais, seja contextualizando-a no interior da Comunidade59 ou
trasvazando-a para 0 dominio intemacional'".I
Em qualquer das situacoes 0 que parece certo e assumir-se que 01 facto da CPLP
integrar paises com niveis de desenvolvimento tao dispares nao seja necessariarnente
motivo para que a Comunidade nao possa contribuir para 0 bem-estar dos paises
56 Ver Negocios da Lusofonia - Relatorio e Conclusoes, FELP, 1996.57 "Os objectivos de cooperacao e desenvolvimento dentro da CPLP so poderao ser alcancados se as iniciativasprivadas forem acompanhadas por medidas que visem desmantelar obstaculos adrninistrativo-burocraticos eeconornicos que ainda prevalecem em alguns Estados membros", Mario Ussene, presidente da AssociacaoComercial de Mocarnbique, Revista da CCPM, Agosto de 1996.58 A proposito da impossibilidade de transformacao da CPLP em zona de integracao econornica, ver PauloMonteiro, economista cabo-verdiano e assessor no Banco de Portugal, em entrevista ao Expresso ; 25 de Maio de1996.59 "A CPLP nao tera valor se, para alern da politica, nao tiver tarnbem uma componente deliberada eempenhadissima no desenvolvimento", afirmacao de Delfim da Silva, Ministro dos Negocios Estrangeiros daGuine-Bissau, no Serninario Balsa de Contactos e Projectos - Negocios da Lusofonia, organizada pelo FELP,Maio de 1996, in Africa Hoje, Junho de 1996. I60 Para Joaquim Chissano, presidente de Mocarnbique, "e impossivel estabelecer uma concertacao politica ediplornatica perante terceiros sem incluir questoes econornicas, nomeadamente em relacao a organizacoes como aOMC, 0 BM e 0 FMI. Por isso esperamos que a CPLP seja tarnbem e sobretudo, urn instrumento de cooperacaoeconornica e empresarial entre os seus membros", entrevista a Revista Portugot/Mocambtque, da Camara deComercio Portugal-Mocarnoique, Agosto de 1996.
14
COMUNlDADE ECONOMIC A OU PARCERIA PARA 0 DESENvOLVTMENTO: 0 DESAFIO DO MULTIL4 TERALlSl./o NA CPLP
membros'" ou para que uns se demitam dos esforcos de cooperacao esperando que
outros 0 facam por eles'".
c) a integracao em espacos regionais como pOlenciar;ao da vertente econ6mica
daCPLP
A ideia de que cada pais e uma ponte, uma placa giratoria, e que pode e deve
canalizar os interesses economicos dos empresarios desta Comunidade para ° mercado
mais alargado representado pelas organizacoes de integracao economica regional em
que se encontram inseridos, nao e nova e e mesmo daquelas que e apresentada como das
potencialmente mais atractivas e prometedoras no ambito economico. Isto mesmo eapresentado tomando como exemplo a abertura para os mercados da America Latina'",
de Africa" ou mesmo da Asia'", acrescentando-se, simultaneamente, que 0 sucesso da
CPLP depende do sucesso de integracao de cada pais nas zonas economicas regionais. 66respectivas .
Numa outra optica, complementar da anterior, esta 0 reconhecimento da
importancia daquelas organizacoes de ambito regional na abertura de oportunidades de
neg6cio para os empresarios lus6fonos, nomeadamente portugueses. Sustenta-se que
isso so podera trazer vantagens, nao sendo, portanto, incompativel com a CPLP67.
61 Mascarenhas Monteiro, intervencao no acto de formalizacao cia CPLP, Lisboa, 17 de Julho de 1996: "essasmesmas realidades (diferencas entre os paises membros cia comunidade) contem elementos e potencialidades que,devidamente aproveitadas, contribuirao para acelerar os processos de desenvolvimento nuns, e a consolidacaodos resultados atingidos, noutros".62 Joaquim Chissano, durante a sua intervencao na constituicao da CPLP, Lisboa, 17 de Julho de 1996/7/96afinnou: "(Mocarnbique) empenhar-se-a para elevar a nossa Comunidade a altura de contribuir para que estesmales do subdesenvolvimento sejam devidamente ultrapassados em cada urn dos nossos paises",63 Antonio Espirito Santo, Presidente da Camara de Cornercio e Industria Luso-Brasileiro. Africa Hoje, Junho de1996 e da ideia de que "0 projecto (da CPLP) e fundamental na sua vertente economica para 0 desenvolvimentodas relacoes entre Portugal, Brasil e Palop. Vira dar, decerto, muito peso institucional a qualquer urn dos paises eespacos nas suas negociacoes com paises e espacos terceiros".64 Pedro Pires (presidente do PAICY e ex-primeiro-ministro), Expresso, "Cooperacao descentralizada em basespragmaticas", 13 de Julho de 1996 pensa que "esse espaco de cooperacao (a CPLP), em que cada urn dosEstados-membros tentara carrear para 0 conjunto as vantagens de que usufrui no espaco geografico, cultural epolitico que the e natural, e efectivamente algo de novo65 "0 projecto de Timor Leste (TL) independente deveria ser assumido pela CPLP com conviccao. coragem egenerosidade. Com urn TL independente alagar-se-ia ate it Asia oriental 0 espaco geografico, linguistico,cultural, diplornatico e economica da CPLP. Com as suas consideraveis riquezas naturais, TL podera constituir-se num polo de investimento e entreposto comercial da CPLP na regiao", Jose Ramos Horta, representante daresistencia tirnorense, Prernio Nobel da Paz 1996, Expresso, "Tirnor-Leste, a CPLP e 0 Brasil", 20 de Julho de1996.66 Delfim da Silva, Ministro dos Neg6cios Estrangeiros da Guine-Bissau, Africa Hoje, Junho de 1996.67 Gualberto Rosario, Ministro da Coordenacao Econornica de Cabo Verde, em entrevista ao SemanarioEconomico, 18 de Outubro de 1996.
15
Manuel Ennes Ferreira e Rui Almas
Contudo, 0 Ministro das Relacoes Exteriores guineense, por exemplo, chama a atencao
para a necessidade de ter em conta a dinamica e complexidade destes processos, 0
pragmatismo necessario e a nao linearidade de raciocinios feitos a priori: "os paises
africanos tern urn mercado nacional incipiente e ernbrionario, 0 que nos causa
dificuldades. Essa integracao economica e positiva. Como ha paises vizinhos que sac
mais desenvolvidos, corremos 0 risco de dissolucao, de sermos engolidos. Oai ser
importante para toda a Comunidade lusofona ajudar a Guine-Bissau a ter sucesso na
regiao; caso contrario, e diluida, em vez de se afirmar com a identidade de pais
lusofono, sobretudo economicamente,,68.
Embora se apresente bastante consensual a visao referida neste ponto, ha tambem
quem questione a ordem de prioridades dada it integracao: CPLP prirneiro e rnercado
regional depois ou 0 inverso?69. E evidente que as implicacoes politicas e economicas,
para a CPLP, destas duas alternativas e perfeitamente distinta.
OS CONTORNOS ECONOMICOS BILATERAIS DA CPLP I
I
A caracterizacao do actual nivel de relacionamento economico entre os paises daI
CPLP torna-se imprescindivel no contexto de uma analise cuja incidencia especificaI
seja 0 dominio economico.
Os laces economicos actualmente existentes entre Portugal e cada urn dos paises
africanos lusofonos contern actualmente 0 efeito da 'mercia negocial'<'', caracterizada
por urn crescente retorno na procura de fontes mais familiares (ex-rnetropolej ",
ultrapassado que esta operiodo do 'exorcismo politico-econornico' pos-independencia
que os conduziu, mais nuns casos do que noutros, a encetar a diversificacao das suas
68 Delfirn cia Silva, Ministro dos Negocios Estrangeiros da Guine-Bissau, Africa Hoje, Junho de 1996.69 "Verifica-se que em todos os outros paises integrantes na CPLP primeiro privilegiaram as suas orgaruzacoescontinentais, 0 Brasil com 0 Mercosul e Portugal com a CEE. Entao, porque que nos (Angola) nao seguimostarnbern os bons exemplos? Comercio Actualidade, Luanda, Angola, artigo de Vitor Aleixo, director, n063, 19 deJulho de 1996.70 Igualmente presente no relacionamento economico pes-colonial entre os paises francofonos e a Franca e ospaises anglofonos e a Inglaterra, como sublinha Livingstone, I., "The Impact of Colonialism and Independenceon Export Growth in Britain and France", Oxford Bulletin of Economics and Statistics, voI.38, n03, pp.211-218,1976.71 Sobre 0 caso de Angola ver, por exernplo, Ennes Ferreira, M.. Angola-Portugal: do Espaco EconomicoPortugues as Relacoes Pos-Coloniais, Col. Estudos sobre Africa,n°1, Ed. Escher, 219 p., 1990
16
CDMUN/DADE ECDNOM/CA DU PARCERfA PARA 0 DESENVOLVlME,"TD: 0 DESAFID DD MULT/LA TERALISMD /VA CPLP
relacoes econ6micas extemas e a procurar novos parceiros econ6micos, resultando dai
uma diminuicao da ofefta da ex-metropole ",
No caso da relacao entre 0 Brasil e os Palop, ao inves de existir este pano de
fundo historico que condicionou durante alguns anos 0 aprofundamento do
relacionamento econ6mico bilateral entre Portugal e os paises africanos lusofonos,
existia a partida, isso sim, uma especie de cumplicidade historico-sentimental derivado
dnao apenas pelo facto do Brasil tambem ter sido uma colonia portuguesa mas tarnbem
par ter sido largamente povoada pelos escravos originarios de Africa, nomeadamente
das ex-colonias portuguesas. Este factor, de indole psicologico e I cultural foi
particularmente explorado pelo Brasil nos primeiros anos apos as independencias dos
Palop, tentando, assim, capitalizar no presente urn dividendo com origem no passado 73.
o que em parte conseguiu mas que foi perdendo folego posteriormente.
Quanto ao relacionamento economico entre os Palop, a base de partida assentava
fundamentalmente em dois vectores: urn econ6mico, baseado simplesmente na estrutura
econ6mica colonial herdada e outro, de indole politica, assente na solidariedade propria
de quem lutou por uma causa comum - 0 fim do colonialismo nos seus paises - e
institucionalmente cimentado na CONCP que funcionou, alias, durante bastantes anos
ap6s as independencias destes paises.
E partindo deste enquadramento economico e politico que se desenvolveram as
relacoes econornicas entre os paises da CPLP. Vinte anos depois, a estrutura comercial
e de investimento entre Portugal e os Palop e entre estes mudou acentuadamente,
independentemente de manter alguns tracos que se podem considerar quase
estruturais 74.
72 Em Kleiman, E., "Trade and the Decline of Colonialism". The Economic Journal, 86, pp.459-480, 1976 eKleiman, E., "Heirs to Colonial Trade", Journal of Development Economics, 4, pp.93-I03, 1977, e demonstradoisto mesmo para 0 caso das ex-colonias africanas sob dominacao francesa e inglesa.73 0 gesto mais paradigrnatico desta ofensiva do Brasil apos as independencias dos Palop pode ser apresentadopelo facto de se ter tornado 0 primeiro pais do mundo a reconhecer oficialmente Angola como Estadoindependente, numa altura em que vigorava urn regime ditatorial no Brasil e em que 0 nao reconhecimento porparte de Portugal facilitou-lhe a entrada no mercado angolano.74 Sobre a caracterizacao recente do relacionamento economico entre Portugal e os Palop comparativanmente a1973 (antes das independencies destes ultirnos paises), ver Ennes Ferreira, M. "Relacoes entre Portugal e Africade lingua portuguesa: comercio, investimento e divida (1973-1994)", Analise Social, Vol XXIX, nOS, pp.1071-1121, 1994. Apenas sobre as relacoes econornicas e financeiras pos-independencia, Torres, A. (coord.), Portugal-Palop: as Relacoes Economicas e Financeiras, CoL Estudos sobre Africa, n02, Ed. Escher, 217 pp., 1991 eace rea da reversao geograflca das importacoes coloniais par parte de Portugal, Oppenheimer, l,"O cornercio
17
Manuel Ennes Ferreira e Rui Almas
Actualmente, a realidade das relacoes econornicas bilaterais esta traduzida nos
Quadros que se seguem e e com referencia a ela que se deve reflectir sobre as
potencialidades econornicas do espaco formado pelos sete paises da CPLP.
Embora nao seja possivel quantificar com porrnenor a importancia de alguns dos
fluxos bilaterais para alguns dos paises, em virtude da dificuldade de elaboracao
estatistica e de acesso as mesmas, os dados sac suficientemente elucidativos para
poderem situar a discussao sobre os contomos econornicos da CPLP.
portugues com os paises africanos ao sui do Sahara", in Aetas da II Conferencia do ClSE?, Ed. CISEPIISEG,1986. Sobre 0 relacionamento inter-colonial durante 0 Estado Novo (1926-1974), ver Ennes Ferreira,M.,"Comercio Colonial", in Serrao. 1., Dicionario de Historia de Portugal, Ed. Figueirinhas (a sair em 1997).
18
COMUNIDADE ECONOMICA OU PARCERlA PARA ODESENVOLVIMENTO: o DESAFIO DO MULTILATERALISMONA CPLP
QUADRO 1PAisES DA CPLP: IMPORTAC;OES ORiUNDAS DESTA COMUNIDADE
RELATIVAMENTE AO TOTAL IMPORTADO POR CADA PAis (em nercentazem
ANGOLA I BRASIL CABO VERDE GUiNE-BISSAU MOC;AMBIQUEI 93 94 95 93 94 95 93 94 95 93 94 95 93 94 95
2.2 7.4 n.d. n.d.(a) n.d.(a) n.d.(o)
n.d.to) n.d.(o) n.d.(a)
n.d.to) n.d.(a)
n.d.(O)
lmportacoes de:
ANGOLABRASILCABO VERDE I n.d.to)
GUINE-B1SSAU I n.d.to) I n.d.Io)
PORTUGAL93 94 9526.7 24.30.2 0.25 0.3433.6 34.5 43.8
I 32.3 37.73.9 4.2
SAO TOME I 7.3 4.8 I n.d.to) I n.d.(o) I n.d.to) I n.d.(o) I 35.4 28.3
SAOTOME93 94 95
n.d.(o)
n.d.(o)
n.d.Io)
n.d.to)
MOCAMBIOUE I n.d.(o) I n.d.PORTUGAL I 0.03 0.02 0.04 I 1.4 1.52 1.57 I 0.00 0.01 0.02 I 0.Q2
n.d.to)
FONTE: elaborado pelos autores a partir de diversas fontes". NOT AS: n.d. - nao disponivel; n.d. (0) - nao disponivel (possivelmente inexpressivo ou inexistente)o valor percentual das importacoes angolanas provenientes do Brasil, em 1994, referem-se ao 1° trimestre.
QUADRO 2PAisES DA CPLP: EXPORTAC;OES COM DESTINO A ESTA COMUNIDADE
NO TOTAL EXPORTADO POR CADA PAis (em nercentazem
0.00 0.00 0.00
Exportacoes para: ANGOLA I BRASIL CABO VERDE GUiNE-BISSAU MOC;AMBIQUE93 94 95 93 94 95 93 94 95 93 94 95 93 94 95
6.8· 2.6 n.d. n.d.to) n.d.(o) n.d.to)n.d. (0) n.d. (a) n.d.(a)
n.d. (0) n.d. (a)n.d.to)
PORTUGAL93 94 95
4.3 0.03 n.d.
0.7 0.69 0.89488 588 88.612.8 35.7
SAOTOME93 94 95
n.d.to)
n.d.to)
n.d.to)
n.d.to)
ANGOLABRASILCABO VERDE I n.d.to)
GUiNE-BISSAU I n.d.Io)
MOCAMBIOUE I n.d.to)PORTUGAL I 2.25 1.63 1.52 I 0.36 0.24 0.83 I 0.38SAO TOME I n.d.to) I n.d.to) I n.d.(o)
12.7 9.9
FONTE: elaborado pelos autores a partir de diversas fontes (ver Quadro n° I)NOT AS: n.d. - nao disponivel; n.d. (0) - nao disponivel (possivelmente inexpressive ou inexistente); *~corresponde ao ana de 1992.
A percentagem das exportacoes angolanas para Portugal e Brasil, em 1994, refere-se ao 1° trimestre.
n.d.to)
75 Os quadros que se seguem foram elaborados a partir de estatisticas insertas em diversas publicacoes, as quais algumas das vezes nao coincidem na apresentacao dosvalores: Relatorios do Banco de Portugal (1993 a 1995), Banco de Portugal (199-*), INE (1993 a 1995), AlP (1996), ICEP (1996), ICEP (1996a), ICEP (199b), EIU (1994 a1996), CPI de Mocarnbique e GIE de Angola.
19
0.08 0.07 0.07
Manuel Ennes Ferreira e Rui Almas
QUADRO 3PAiSES DA CPLP: INVESTIMENTO COM DESTINO A COMUNIDADE FACE
AO INVESTIMENTO DIRECTO TOTAL DE CADA PAis NO ESTRANGEIROCom destino a: I ANGOLA I BRASIL CABO VERDE GUiNE-BISSAU MO<;AMBIQUE
I 93 94 95 93 94 95 93 94 95 9) 94 95 93 94 95n.d.(o) n.d.(o) n.d.(o) n.d.(o)
11.d.(0) n.d.(o) n.d.(o)
n.d. (0) n.dJoJ
n.d.(o)
SAOTOME93 94 95
n.d.
PORTUGAL93 94 95n.d. n.d. n.d.
0.24 n.d. (0)
I n.d.(o). n.d.(o)
n.d. (0) I n.d. (0) o oII.d (0) I 1I.d.(0)
lI.d(o) I n.d.to) n.d(o)1.37 0.47 0.49 I 0.14 0.78 3.24 I 0.14 o
/I.d. (0) I /I.d. (0) I n.d. (0) /I.d.(o)
FONTE: elaborado pelos autores a partir de diversas fontes (ver Quadro n01)NOT A: 0 - ausencia de inveslimento; 0 - montante reduzido; n.d. - nao disponivel ; n.d. (0) - nao disponivel (possivelrnente inexpressivo ou inexistente)
QUADRO 4PAisES DA CPLP: INVESTIMENTO PROVENIENTE DA COMUNIDADE RELATIVAMENTEAO TOTAL DO INVESTIMENTO DIRECTO ESTRANGEIRO RECEBIDO
sAo TOME93 94 95
n.d.(o)
ANGOLA I BRASIL CABO VERDE GUINE-BISSAU MO<;AMBIQUE93 94 95 93 94 95 93 94 95 93 94 95 93 94 95
II. d. (0) n.d. (0) n.d. (0)
Proveniente de: PORTUGAL93 94 95
58.1 87.1 35.8ANGOLAn.d. (0) I lI.d.(o) /I.d.(o)
n.d.Io) n.d.(o)
n.d.(o)
0.58
44.5
lI.d.(o)
n.d.(o)BRASILCABO VERDE I n.d.to) I n.d.(o)
GUINE-BISSAU I n.d.(o) I lI.d.(o) 100.0 21.8 61.1 n.d.(o)
MOCAMBIOUE I n.d.to) I 1.13 o oPORTUGAL 10.01 0.27 0 I 2.21 5.07 0.15 I 0 0 o ooosAo TOME I n.d. I nd.(o) I n.d.(o) n.d.Io)
FONTE: elaborado pclos autores a partir de diversas fontes (ver Quadro n"1)NOT A: 0 - ausencia de investimento; 0 - rnoruante-reduzidoj-s.e. - nao disponivel; n.d.(o) - nao disponivel (possivclmcnte inexpressivo ou inexistente)
o valor refcrcntc ao investimento efectuado por Portugal no ana de 1995 cobre 0 periodo de Janeiro a Novembro; 0 peso relativo do investimentoportugues no Brasil refere-se aos valores acumulados ate Junho de 1995; no caso de Angola, refere-se as intencoes de investimento estrangeiro e exclui 0
sector petrolifero; 0 valor apurado para Cabo Verde respeita aos projectos de investimento apresentados ao Promex no periodo de 1993 a 1995 e, no casode Mocambique, rcfere-se ao valor dos projectos autorizados entre 1985 e Junho de 1996.
20
------------ -
COMUNIDADE ECONOMIC A OU PARCERIA PARA 0 DESENVOLVlMENTO: 0 DESAFIO DO MULT/LA TERALIS,o.fO NA CPLP
Da interpretacao dos quadros, sobressaiern dois aspectos fundamentais:
a) a importancia relativa que Portugal tern, na optica dos Palop, quer ao myel do
seu comercio externo quer ao myel do investimento, nao so no caso dos paises
mais pequenos (Cabo Verde, Guine-Bissau e Sao Tome) como tambem no de
maior potencial (Angola)". A isto contrapoe-se 0 reduzido ou inexistente peso
do Brasil, excepto no relacionamento com Angola, e a quase pura inexistencia
do relacionamento economico intra-Palop;
b) a maior importancia que 0 mercado brasileiro assume para Portugal, e vice-
versa, relativamente aos rnercados dos paises africanos lus6fonos, com a
excepcao das exportacoes portuguesas para Angola.
E neste contexto que a reflexao sobre 0 papel que cada mercado pode
desempenhar na economia dos paises parceiros tern de se situar. E embora de urn ponto
de vista dinamico se possa adrnitir que a realidade de hoje nao e necessariamente 0
cenario de amanha, tern de admitir-se, igualmente, que 0 voluntarismo Ipor si so nao e
forca suficiente para alterar radicalmente os cornportamentos actuais. T?do isto tornado
em consideracao, impoe uma analise prospectiva mais cuidadada e distanciada,I
particularrnente se tomarrnos em consideracao as grandes opcoes estrategicas de cada
pais relativamente it sua insercao em espacos regionais, assunto tratado mais it frente
neste artigo.
Nao pode ser omitido ou tornado levianamente 0 facto de, por exernplo, em 1995
mais de 80% das exportacoes portuguesas e 70% das suas importacoes terern por
parceiro a Uniao Europeia, sucedendo 0 mesmo ao myel do seu investimento directo no
exterior ou enquanto pais receptor. Ou ainda que, em consequencia dos esforcos que 0
governo portugues tern vindo a desenvolver para intemacionalizar a sua econornia, as
76 Neste caso, por exemplo, embora no Quadro 1 se registe uma quota de mercado portuguesa no conjunto dasimportacoes angolanas na ordem dos 26.7% em 1993, outras fontes indicam valores bastante mais acentuados.De acordo com Banco de Portugal (1994), utilizando informacao do FMI, essa quota foi de 52.7% nesse ano, 0
que esta mais de acordo com os 39.6% (1991) e 4l.6% (1992) referidos em Ennes Ferreira, M, Angola: daPolitica Econ6mica as Relacoes Econ6micas com Portugal. Cademos Economicos Portugal-Angola, n07,2°edi~ao, Ed. CCIP A, 97 pp, 1995 e onde e efectuado um estudo, por anos e por produtos, das relacoes entre osdois paises.
21
Manuel Ennes Ferreira e Rui Almas
preferencias reais e nao meramente as intencoes, optem claramente pela Europa, como
se pode ver no Quadro 5:
QUADRO 5Internacionalizacao da economia portuguesa:
intencoes recebidas e p~ojectos aprovados (ate Set.96)INTENCOES APROVACOES
PAis N° 0/0 N° 0/0 (1) I (2)(1) (2)
UNIA.O EUROPEIA 309 52.2 39 78.0 12.6
MOC;AMBIQUE 45 7.61 2 4.0 4.4
ANGOLA 36 6.10 0 0 0
BRASIL 28 4.73 2 4.0 7.1
CABO VERDE 20 3.38 1 2.0 10.0
SAO TOME 6 1.01 0 0 0
GUINE BISSAU 6 1.01 0 0 0
OUTROS 141 23.8 6 12.0 4.2
TOTAL 591 100.0 50 100.0 8.4
FONTE: CDIIICEp77
No caso do Brasil, em 1994, 27% das suas exportacoes tiveram por destino a
Uniao Europeia enquanto 25% das suas importacoes tiveram ali origem, valores estes
que estao proximos dos registados no cornercio com os EUA, enquanto que no que diz
respeito ao investimento recebido, mais de 36% provern da Uniao Europeia e 32% dos
EUA. :
Esta desigualdade transmitida pelas estatisticas pode, no entanto, servir de
contra-argumento, isto e, ha que identifiear todas aquelas areas que pOfem poteneiar 0
relacionamento bilateral, nomeadamente as areas produtivas, precisamerte aquelas que,
por efeito de arrasto e sinergias criadas, induzem ganhos a montante e a juzante em cada
pais e corporizam relacoes mais fortes e duradouras. No horizonte d~ curto e medioI
prazo isso signific aria, na 6ptica portuguesa, sair do dominio excessivamente centrado
77 Nota do CDUICEP: os elementos apresentados referem-se a projectos de investimento no estrangeiroapresentados para enquaciramento no ambito dos apoios a projectos de internacionalizacao do PAIEP, RETEX eBeneficios Fiscais. A recolha iniciou-se em 1992, com 0 lancamento do prograrna RETEX. As intencoesrecebidas podem ser rejeitadas por falta de enquadramento, encarninhadas para outros sistemas de incentivos a
22
COMUN/DADE ECONOM/CA OU PARCERJA PARA 0 DESENVOLVTMENTO: 0 DESAFlO DO MUL7"lLA TERALlSMO NA CPLP
nos servicos nos Palop (banca, construcao civil, formacao, assistencia tecnica, etc) para
apostar nos segmentos industriais e agrieolas. Urn, de entre muitos outros resultados,
seria a possibilidade de voltar ao aprovisionamento de materias-primas junto dos
mercados africanos lusofonos.
A discussao e obviamente longa e tanto se podem esgrimir argurnentos a favor
como contra. Para isso, toma-se necessario apresentar urn quadro sintetico de factores
favoraveis ou desagregadores da potenciacao da utilizacao reciproca dos mercados dos
sete paises da CPLP.
ESPACO ECONOMICO OU ENTENDIMENTO E CONCERTACAoNEGOCIAL?
Uma das caracteristieas economicas fundamentais da Uniao Europeia nas suas
relacoes com paises terceiros diz respeito a existencia de uma pauta aduaneira comum,
obrigatoria para todos os paises membros. Isto signifiea que existe urna politiea
eomereial eomurn, prevista nos objectivos da Comunidade Europeia no art. 3°, alinea b),
e desenvolvida depois nos arts. 110° a 115°.
Quaisquer medidas respeitantes a esta politica sao tomadas pelo Conselho, pelo
que os aetos individuais e discricionarios tornados por urn dos Estados membros face a
paises terceiros nao pode eolidir com os principios em que aquela se baseia,
particularmente a que se refere ao estabelecimento da pauta aduaneira ':comurn78. Fica
assim afastada desde logo a possibilidade de criacao de urna zona de integracao
econornica exclusivamente fonnada por Portugal, Brasil e os Palop.
No entanto, a Uniao Europeia, no ambito da sua politica comercial, tern
estabelecidos dois acordos e que envolvem todos os paises da CPLP: atr~ves do Aeordo-
Quadro Inter-Regional de Cooperacao Economica e Comercial com 0 Mercosul (onde se
integra 0 Brasil) e atraves da Convencao de Lome (onde estao os PaJ1op) definem-seI
regras e principios que norteiam as relacoes entre os paises membros destes acordos (ver
Figura 1). Por exernplo, no CapA (Principios que regern os instrumentos daI
cooperacao), art. 25° do Aeordo da Convencao de Lome IV e dito que 0 regime geral de
troeas entre os paises ACP e a Comunidade baseia-se no principio do livre aces so dos
78 Definida originalrnente pela Seccao 2. arts. 18° a 29° do Tratado que institui a Comunidade Europeia.
23
Manuel Ennes Ferreira e Rui Almas
produtos originarios daqueles parses ao mercado cornunitario, salvo as excepcoes
enunciadas, acrescentando logo de seguida que "se baseia igualmente nos principios da
nao-discriminacao pelos Estados ACP entre os Estados membros e a atribuicao aComunidade de urn tratamento nao menos favoravel que 0 regime da nacao mais
favorecida?". Mais a frente, no art. 168°, ponto 1, refere-se ainda que "os produtos
originarios dos Estados ACP sac admitidos a irnportacao na Cornunidade isentos de
direitos aduaneiros e de taxas com efeito equivalente't'".
Em sintese, resulta daqui a impossibilidade de transformacao da CPLP em zona
de integracao econ6mica exc1usiva aos seus membros.
Grafico 1 - Situacao institucional que enquadra 0 aproveitamento reciproco daspotencialidades dos mercados de cada pais e, particularmente, da CPLP
ACOROO-QUADRO lNfER-REGIONAL DE COOPERAC;AoECONOMICA E COMERCIALENTRE 0 MERCOSUL EA UNIAo EUROPEIA
RELAC;OESECONOMICASNO AMBITO DA CONYENC;AoDE LOME
LEGENDA: Interesses economicos bilaterais entre Portugal e 0 Brasil (area A); entre Portugal e os Palop (areaB) e entre 0 Brasil e os Palop (area C); CPLP - area de intereses econ6micos reciprocos e comuns entre os paisesmembros desta instituicao, assente ern projectos prioritarios de desenvolvimento dos paises mais necessitados. Asituacao idilica, na ausencia de quaisquer constrangimentos formais, seria dado por
CPLP> A=B=C
Esta e a situacao supostamente ideal: todos os Estados membros da CPLP teriam
a mesma motivacao e interesse no reforco dos lacos econ6micos bilaterais e
multilaterais, sendo que todos estariam igualmente empenhados em aproveitar 0 espac;o
79 "Quatrierne Convention ACP-CEE", assinada em Lome, 15 de Dezembro de 1989, Le Courrier, n0120,Marco/ Abril, 1990.
24
COMUN/DADE ECONOMIC A OU PARCERJA PARA 0 DESENVOL VIMENTO: 0 DESAFJO DO MULnLA TERAUSMO NA CPLP
comurn que decorre da criacao da Comunidade (a area CPLP). Neste contexto as accoes
comuns, a criacao de mecanismos de apoio financeiro, tecnico e economico levariam 0
grupo, como urn todo, a apostar no desenvolvimento economico dos Sete.
Ha, entao, que delimitar 0 senti do de espaco CPLP do ponto de vista econornico.
Apesar da sua nao transformacao em espaco de integracao econornica, poder-se-a
esperar que a institucionalizacao das multiplas vertentes de relacionamento bi e
multilateral possam induzir urn melhor clima de entendimento e abertura, traduzindo-se
tal facto num aumento do nivel do relacionamento economico. Deste modo, 0 sentido
economico da CPLP deve ser encarado numa dupla perspectiva: a) em sentido restrito":
todas as accoes e projectos que, recebendo 0 apoio do Fundo Especia182, possam servir
de suporte a projectos que contribuam para 0 estimulo e desenvolvimento de sectores
prioritarios especificos neste ou naquele pais, podendo ser concretizados, em parceria
ou nao, pelos empresarios dos paises interessados'"; b) em sentido lata: conjunto de
todas as accoes que estruturam 0 relacionamento economico inter-paises e cujo
acrescimo, relativamente a media dos ultirnos anos, deve ser atribuido ao efeito
sinergetico decorrente da constituicao da CPLP.
A pan6plia de accoes e medidas e vasta. A titulo exemplificativo, aII
multilateralizacao, atraves de uma accao concertada pelos orgaos da CPiP' dos acordos
bilaterais de proteccao dos investimentos ja existentes'" ou a criar, podepa originar urn
ambiente mais seguro e favoravel ao investimento entre os paises lusoforos85. A CPLP
seria levada, deste modo, a desempenhar urn papel estimulante das acyofs econornicas,
nao substituta das accoes bilaterais mas, pelo menos, complementar. IIA vertente de
entendimento e concertacao negocial, prioritariamente vocacionada Pia projectos de
80 "Quatrierne Convention ACP-CEE", 3° Partie, Titre I, Cap. 1 (Regime General des Echangds).81 Que decorre da leitura da Declaraciio Constitutiva da CPLP e dos seus objectivos:"desen~olver a cooperacaoeconornica e empresarial entre si e valorizar as potencialidades existentes, atraves da definicao e concretizacaode projectos de interesse comum, explorando nesse sentido as varias formas de cooperacao, bilateral, trilateral emultilateral", Julho de 1996.82 Este Fundo Especial, criado ja, "dedica-se exclusivamente ao apoio financeiro das accoes concretas levadas acabo no quadro da CPLP e e constituido por contribuicoes voluntarias, publicas ou privadas".83 Os governos, nao devendo substituir-se a classe empresarial, deverao, isso sim, criar condicoes de apoio eestimulo a sua accao. Em ultima analise os resultados praticos dependem das estrategias empresariaisindividuais. Sem que iS10 signifique a ausencia de articulacao na actuacao de empresarios de paises diferentes, atarefa nao so nao parece facil como nern sempre e desejavel.84 Sao OS casos dos acordos estabelecidos entre Portugal e Cabo Verde e a Guine-Bissau.
25
Manuel Ennes Ferreira e Rui Almas
imp acto sobre as condicoes necessarias ao desenvolvimento econorruco e social dos
paises mais carenciados, seria assim 0 contributo e a face economic a visivel da CPLP.
As modalidades referentes ao apoio publico e privado deveria ser outro dos assuntos a
ser defmido.
FACTORES AGREGADORES OU POTENClADORES DORELACIONAMENTO ECONOMICO NO SEIO DA CPLP
A dinamizacao, crescimento, diversificacao e potenciacao das rclacoes
economicas sac alguns dos objectivos implicitos nos discursos sobre 0 relacionamento
economico futuro entre os paises da CPLP. No ponto anterior demonstrou-se a
impossibilidade de considerar este espaco alargado formado pel os mercados dos sete
paises como urna zona de integracao economica. Sendo assim, 0 que no minimo se
espera e que 0 facto de se ter institucionalizado 0 dialogo conjunto isso permita, por
inducao, criar urn quadro mais estimulante a aproximacao econ6rnica entre as diversas
partes. Isto e, urn reforco das ligacoes bilaterais e urn inicio de multilateralizacao que ate
ao presente tern estado ausente.
Nao e tare fa facil qualquer uma delas, particularmente a ultima. Contudo,
existem a partida alguns factores que podem reforcar ou agregar as relacoes econornicas
no interior desta Comunidade, independentemente de se considerar ou nao ser esse 0 seu
objectivo prioritario'".
Alguns dos factores que de seguida se enumeram podem ser encarados,
simultaneamente, como factores inibidores ao desenvolvimento das relacoes economicas
intra-CPLP, assunto que sera abordado no ponto seguinte deste artigo.
Sem preocupacoes de maior relativamente a ordem de importancia a atribuir a
cada urn dos factores, centrar-nos-emos em tres aspecto: desde logo, a necessidade de
recuperaciio economica dos paises africanos lusofonos. 0 quase tudo que ha por fazer
exige, do curto ao longo prazo, urn empenhamento dos empresarios e urn apoio
govemamental profundos. Portugal e 0 Brasil certamente estarao em melhores condicoes
85 Este tipo de acordos e, alias, estimulado no ambito do Acordo da IV Convencao de Lome, nomeadamenteatraves da 3' Pane, Titulo III, Cap. 3, Seccao 2 (Proteccao dos Investimentos), arts. 2600 a 2620
86 Marcolino Moco, secretario-geral da CPLP, em entrevista it Revista Lusofonia, expressa a opiniao de que acultura sera 0 principal leitmotiv desta comunidade, permitindo criar condicoes mais propicias para 0desenvolvimento cia cooperacao econornica.
26
COMUNlDADE ECONOMICA OUPARCERIA PARA 0 DESENVOLVlMENTO: 0 DESAFIO DOMULTlLATER-tLISMO NA CPLP
para assegurar esse apoio no conjunto da CPLP. E 0 facto de a concorrencia com paises
terceiros ser elevada, nao e motivo para que nao se possa vir a assistir a urn aumento da
presenca dos interesses econornicos destes dois paises nos Palop.
A insercdo dos paises da CPLP em areas de integraciio economica regional
pode igualmente ser urn instrumento interessante de reforco das relacoes econ6micas
bilaterais, talvez mais visivel nos casos de integracao regional dos paises africanos (na
perspectiva portuguesa e brasileira), do Brasil (na perspectiva portuguesa) e de Portugal
(na perspectiva brasileira). Estamos concretamente a pensar nas consequencias queI
advem com 0 desvio de comercio induzido pela area de integracao econ6mica. Como
forma de contornar esse problema, a resposta do pais ameacado (particularmente
Portugal e Brasil) devera ser a promocao do investirnento directo nessa regiao,
aproveitando as facilidades de producao e servindo 0 mercado regional, ou seja, dando
origem ao chamado efeito de criacao de investimento, 0 qual podera multiplicar-se em
resposta ao efeito interno de criacao de comercio'". A multiplicidade de declaracoes por
parte de responsaveis govemamentais ou ernpresarios, de qualquer urn dos paises da
CPLP e bem elucidativo da compreensao da importancia que pode revestir este factor.
Como factor generico pode apontar-se 0 papel que podem desempenhar as
afinidades historicas, linguisticas e culturais existentes entre os paises da comunidade,
sendo certo, como ja foi referido, que elas nao sac condicoes necessarias e muito menos
suficientes. 0 sentido que se deve atribuir a este factor e muito ample. Desde a
facilidade criada pelo uso da mesma lingua, particularmente importante em areas
especificas como sejam a formacao e a assitencia tecnica, pas sando pel a influencia
exercida pelas importantes comunidades africanas, portuguesa e brasileira residentes em
paises da CPLP ou pela influencia cultural, traduzida, por exemplo, na estrutura de
consurno, mais evidente nos 'produtos da saudade".
87 Sobre este assunto e como aborda-lo na optica portuguesa, ver Ennes Ferreira, M., "Portugal e a IntegracaoEconornica Regional", in Africa Austral. a Desafio do Futuro, Estudos Africanos, n02, rEEII, pp.IOI-113, 1991,Lisboa. I88 Expressao do eng. Branco Rodrigues, presidente do IROMA, em entrevista a revista Africa Mais, n07, Agostode 1992.
27
Manuel Ennes Ferreira e Rui Almas
FACTORES CENTRlFUGOS AO REFORCO DAS RELACOES ECONOMICASINTRA-CPLP
Urn dos problemas centrais com que se ira defrontar a CPLP diz respeito aelevada expectativa e aposta que 0 todo ou as partes possam ter relativamente aos
beneficios econornicos decorrentes da Comunidade. Passou bastante tempo ate que a sua
formalizacao se concretizasse 0 que, conjugado com a insistencia da sua
institucionalizacao, nomeadamente por parte de Portugal e do Brasil, faz entender aos
olhos dos paises africanos que ha urn empenhamento activo na prossecucao dos seus
objectivos. Ora a contrapartida desta percepcao so pode ter traducao na obtencao de
resultados concretos, contribuintes para 0 desenvolvimento econornico e social destes
paises. Caso contrario, tera sido urn simples desperdicio de esforcos. E, a menos que
aparecam tais beneficios, far-se-ao sentir a medio e longo-prazo, e ainda com maior
intensidade, alguns dos ja existentes, ou potencialmente existentes, sinais prernonitorios
de centrifugacao a este espaco.
Ha, assim, urn primeiro factor centrifugador que e 0 tempo. Ao contrario de
Portugal e do Brasil, os paises africanos nao se podem dar ao luxo de perder tempo. As
enorrnes dificuldades porque passam as suas populacoes impele os seus governos a
estarem sujeitos a pressao do curto-prazo, eventualmente do medio-prazo. Neste
contexto, ou os divers os agentes economicos e actores sociais se apercebem de
resultados praticos, palpaveis e positivos, derivados do funcionamento da CPLP, ou
entao esta passara a ser mais uma de rnultiplas outras organizacoes em que os seus
paises se encontram inseridos.
Daqui decorre que, pelo peso da Hist6ria e pelo seu nivel de desenvolvimento e
insercao na Uniao Europeia, e para Portugal que naturalmente se irao centrar as
atencoes. Em ultima analise e a ele que se pedirao contas e responsabilidades sobre os
exitos econornicos desta Comunidade. Tarefa ingrata, certamente, quer para 0 governo
quer para 0 conjunto da classe empresarial portuguesa. Neste contexto, a saida mais
obvia, particularrnente para os paises africanos, e a procura de alternativas: este e 0
segundo factor centrifugador. Tern-se vindo a esbocar nestes ultimos anos,
comportamentos e tomadas de decisao que fundamentam esta preocupacao: a entrada de"
Mocarnbique para a Commonwealth; a participacao da Guine-Bissau como membro
28
COMUNlDADE ECONOMIC A OU PARCERlA PARA 0 DESENVOLVlMENTO: 0 DESAFIO DOMULTILA TERALISMO NA CPLP
observador das Cimeiras franco-africanas; a suspensao do acordo monetario entre
Portugal e aquele pais e a recente rnanifestacao da sua intencao de substituir 0 peso
guineense pelo franco CFA aderindo, deste modo, a zona monetaria da UMOA,
controlada em ultima analise pela Franca; posicoes similares deixadas transparecer por
Sao Tome e Principe, pais com 0 qual, alias, nunca se chegou a acordo quanta a urn
arranjo monetario semelhante ao existente com a Guine-Bissau, pese embora 0 desejo
manifestado pelo governo sao-tomense; finalmente, a adesao it francofonia por parte de
Cabo Verde e traduzida na adesao a Agencia de Cooperacao Cientifica e Tecnica".
Estes san alguns factos, bem reais e nada imaginaries. Pouco importa que se
argurnente que os paises em causa tern a soberania suficiente para tomarem as suas
proprias decisoes e no seu proprio beneficio. Nao se trata obviamente de questionar
isso. Trata-se, isso sim, de perceber que 0 fracasso em corresponder as expectativas de
beneficios economicos que a relacao com Portugal no passado poderia ter permitido,
conduziu esses paises it procura de outras alternativas'". Legitimas, e evidente. E, apartida, nao necessariamente substitutas da cooperacao no seio da CPLP. Contudo, a
menos que esta venha a mostrar resultados e nao apenas retorica de solidariedade, esta
vertente centriguga acentuar-se-a. Como bem observa e sintetiza 0 presidente de Cabo
Verde, Carlos Veiga, "nao podemos ficar eternamente a espera de Portugal't'".
Intimamente relacionado com esta procura de alternativas em sentido lato, ocorre
urn potencial terceiro factor de centrifugaciio: a tntegraciio economica regional de
cada urn dos Estados rnernbros. Ressalta, desde ja, a complexidade deste dossier e suas
consequencias. Como se verificou quer no ponto anterior quer no registo das
declaracoes dos govemantes dos diferentes paises integrantes da CPLP, a integracao
regional po de ser dos factores de dimensao economica com maiores potencialidades a
ser explorada no futuro, conduzindo deste modo a urn reforco das inter-relacoes
economic as no seio desta Comunidade. No entanto, e apenas paradoxal a primeira vista,
encerra tarnbem urn forte elemento centrifugo it maior aproximacao no interior da CPLP.
89 De acordo com Carlos Veiga, primeiro-rninistro de Cabo Verde, "e legitirno que Cabo Verde queiradiversificar a sua cooperacao e as suas fontes de financiamento da ajuda ao desenvolvimento", acrescentando que"isso em nada compromete a CPLP". entrevista ao Expresso, 26 de Outubro de 1996.90 Rui Almas, director-adjunto do departamento internacional do ICEP, explica isto mesmo em "Lusofonia eCommonwealth", Revista Exportar, n? 41, Agosto de 1996, ICEP. .
29
Manuel Ennes Ferreira e Rui Almas
A razao para que isto possa ocorrer deriva basicamente da conjugacao de dois
vectores: urna melhoria no funcionamento e perfomance economica das organizacoes
economicas regionais (particularmente as africanas e 0 proprio Mercosul), 0 que servira
de polo de atracao para as economias integradas nesses espacos regionais (0 que ate
agora apenas se verificou de forma muito debil) e a falta de aproveitamento por parte
dos empresarios, lusos ou lusofonos, das oportunidades que se lhes oferecerem para ai
actuarem, quer pela via do cornercio, do investimento ou da prestacao de services.
Assim, tendo em conta a actual insercao regional dos paises integrantes da CPLP,
e a importancia econ6mica e politica que essas organizacoes representam para cada urn
dos paises no contexto nacional, regional e intemacional, parece poder evidenciar-se de
forma simples e por representacao grafica, a perspectiva economica estrategica que cada
pais tern relativamente a cada urn dos espacos econornicos em que esta inserido, it CPLP
e aos paises parceiros.
Esta aproximacao obriga a que se considere os comportamentos estrategicos de
cada urn dos paises, conscientes que estao da existencia dos outros parceiros (e das suas
respectivas estrategias) e tomam isso em conta quando defmem a sua linha de actuacao.
Naturalmente que entramos aqui no dominio daquilo que em teoria econornica e
conhecido por 'teoria dos jogos'. a jogo - a CPLP - pressupoe a existencia de urn
consenso minimo por parte dos participantes (os paises que integram esta Comunidade)
o que leva a poder dizer-se que 0 beneficio mutuo existente assenta nurn nivel minimoI
de cooperacao, isto e, existem solucoes do tipo cooperativo. Contudo, as solucoes deste
tipo levantam algumas questoes, nomeadamente: indeterminacao quanta it divisao dos
beneficios de cooperacao entre os paises parceiros e instabilidade associada ao facto de
algum participante nao estar interessado nesse tipo de solucao. Passamos, entao, para 0
dominio da procura de solucoes nao cooperativas'". As accoes e estrategias delineadas
individualmente passam a ter que considerar as possiveis accoes alternativas que os
parceiros irao tomar. 0 quadro de actuacao evidencia, neste caso, a complexidade de
91 Transcrito do artigo "Sarnpaio em Africa", de Miguel Sousa Tavares, Publico, 17/5/96.92 Talvez que 0 seu exemplo mais paradimetico seja 0 caso da exploracao diamantifera em Angola. Portugal,atraves da SPE, e 0 Brasil, atraves cia Odebrecht, tern interesses e actuacoes c1aramente rivais e nao cooperativas.
30
COMUNlDADE ECONOMICA OU PARCERlA PARA 0 DESENVOL"7MENTO: 0 DESAFIO DO Jo"fULTlLATERALISMO filA CPLP
saidas e a imprevisibilidade de resultados. Nao sendo objectivo deste artigo desenvolver
este aspecto especifico, ele deve, porern, estar presente em toda exposicao que se segue.
Assim sendo, e mais razoavel raciocinar-se num quadro que tome em
consideracao 0 que tern sido ate agora a estrategia (definicao de prioridades)
individualmente seguida pelos govemos e pelas classes ernpresariais destes paises, para
que se possam tecer algumas consideracoes sobre a possibilidade da existencia de uma
potencial influencia centrifuga sobre a CPLP, originada com a integracao regional.
GRAFIeO 2 - Perspectiva econernica estrategica de Portugal face aos Palop, ao Brasil e aCPLP
UNIAO EUROPEIA
insercao centrifugadora
CONCLUSAO: B > A > CPLP, com CPLP em sentido restritoCI - visao de Portugal da area de interesse do Brasil nas relacoes com os
Palop, em resposta it estrategia portuguesaC2 - visao de Portugal da area de interesse dos Palop nas relacoes com 0
Brasil, em resposta it estrategia portuguesa
As estatisticas inseridas nos quadros apresentados anterionnente puseram em
evidencia que 0 comercio extemo e 0 investirnento portugues no estrangeiro direcionam-
se maioritariamente para 0 espaco europeu. E 0 espaco natural de integracao da
economia portuguesa. No entanto, as relacces passadas e actuais com os Palop e a
aposta na recuperacao das suas economias, particularmente de Angola e Mocarnbique,
pennitem acalentar alguma expectativa quanta a urn maior envolvimento das empresas
31
Manuel Ennes Ferreira e Rui Almas
portuguesas nesses mercados. Face a dimensao e diversificacao das relacoes economicas
ja existentes, parece que a estrategia de actuacao das empresas portuguesas e 0 apoio
govemamental privilegiarao 0 relacionamento bilateral em detrimento de grandes e
significativas accoes concertadas no conjunto da CPLP. Dai que a area B seja
significativamente maior que a area CPLP, sendo esta, por seu turn 0, menor que a area
correspondente ao desenvolvimento do relacionamento econ6mico bilateral entre
Portugal e 0 Brasil e que ultimamente tern vindo a despertar cada vez maior atencao. Em
suma, a insercao da economia portuguesa no espaco europeu, embora nao seja
incompativel com 0 reforco e alargamento da sua actuacao junto dos Palop e do Brasil,
sera 0 centro nuclear dos interesses econornicos portugueses. A sua perspectiva
estrategica de internacionalizacao e a sua optimizacao parecem indicar que 0
relacionamento bilateral deva ser privilegiado.
GAAFICO 3 - Perspectiva econornica estrategica dos Palop face a Portugal, Brasil, entresi e CPLP
potencial mente centrifugadoraCEDEAO (Cabo Verde, Guine-Bissau)CEEAC (Sao Tome)SADC e PT A (Angola, Mocarnbique)
CONCLUSAO: B> CPLP > C> D, com CPLP em sentido restritoAl - visao dos Palop da area de interesse do Brasil nas relacoes
com Portugal, em resposta it sua estrategiaA2-visao dos Palop da area de interesse de Portugal nas relacoes com 0
Brasil, em res posta it sua estrategia
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COMUNIDADE ECONOMIC A OU PARCERIA PARA 0 D£S£NVOLVlM£NTO: 0 D£SAFIO DO MULT/LA T£RAUSMO NA CPLP
Os quadros estatisticos inseridos neste artigo pennitiram aquilatar da importancia
que as relacoes econ6micas entre os Palop e Portugal assumem para aqueles paises e,
por omissao estatistica, 0 inexpressivo ou mesmo inexistente peso das relacoes
econ6micas inter-Palop. 0 Brasil, face a Portugal, nao tern tanta expressao econ6mica.
Tudo indica, assim, que a procura de apoio preferencial junto das autoridades
portuguesas e dos empresarios portugueses manter-se-a. pelo que a area B e bem maior
que a C, sendo esta ultima menor face it area CPLP. Razao: na 6ptiea dos paises
africanos parece ser desejavel 0 reforco da aproximacao eneetada neste 'condominio',
seja por motivos politicos seja por causas estritamente econ6micas. Neste ultimo caso, a
procura de pareerias envolvendo conjuntamente interesses eeon6mieos portugueses,
brasileiros e nacionais, prefigurando uma actuacao do genero 'consorcio ou sindicato
pan-CPLP' em determinadas areas que exijam elevados recursos financeiros, tecnicos e
hurnanos, pode ser urna forma pratica de encarar a Comunidade. Finalmente, e em
termos de prioridade, fica a area D - reforco das relacoes econ6micas entre os cinco
paises africanos de expressao portuguesa. As condicoes de debilidade estrutural que as
caracterizam e 0 forte caracter concorrencial entre esses paises nao perrnitem, a curto e
medio prazo, esperar que possam representar atemativas econ6micas face a Portugal, ao
Brasil ou mesmo aos espacos regionais onde se integram formalmente.
Destaque, finalmente, para 0 papel potencialmente centrifugador que a integracao
econ6mica destes paises pode vir a desempenhar neste processo, redirecionando os seus
fluxos economicos. Embora a evidencia dos faetos permita fazer urn balance poueo
estimulante quanta aos resultados que se tern obtido nas respeetivas organizacoes
regionais de integracao econ6mica, no futuro poder-se-a assistir a urna inversao da
tendencia. Dai que se afigure a existencia de urn cenario potencialmente centrifugador,
como bem sintetiza 0 presidente da Guine-Bissau ao declarar que "0 distanciamento
geografico, a nova insercao em zonas geopoliticas e econornicas naturais, a consequente
pressao das forcas centripetas a que estamos sujeitos sac factores que importa gerir com
inteligencia't'".
93 Nino Vieira, presidente da Guine-Bissau, aquando da sua declaracao sobre a constituicao da CPLP, Lisboa,17/7/96. I
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Manuel Ennes Ferreira e Rui Almas
GRAFICO 4 - Perspectiva econornica estrategica do Brasil face a Portugal, Palop e CPLP
MERCOSULtendencialmente centrifugadora
CONCLUSAO: A> C > CPLP, com CPLP em sentido restritoBI - visao do Brasil da area de interesse dos Palop nas relacoes
com Portugal, em resposta a estrategia brasileiraB2 - visao do Brasil da area de interesse de Portugal nas relacoes com os
Palop, em resposta it estrategia brasileira94
FinaImente 0 caso do Brasil. Dois importantes factores tern de ser, it partida,
equacionados: a insercao do Brasil no Mercosul e 0 Acordo-Quadro existente entre 0
Mercosul e a Uniao Europeia desde Dezembro de 1995. Enquanto 0 primeiro representa
c1aramente uma tendencia centrifuga ao espaco da CPLP, visto ser urn espaco natural e
prioritario de integracao da economia brasileira e uma prioridade na politica extema
brasileira, 0 segundo (Acordo com Uniao Europeia) e potencialmente urn novo elernento
a ter em consideracao quer pela importancia que 0 Brasil ja entendeu dar ao rnercado
europeu quer pel a aposta que a Uniao Europeia tern vindo a fazer junto da Arnercica
Latina'". Resultado previsivel: e com 0 espaco econ6mico representado por Portugal que
parece existir maior atracao e possibilidade de obtencao de beneficios. 0 espaco de
relacionamento bilateral com os Palop situar-se-ia, neste contexto, num plano
imediatamente a seguir, relegando para ultimo lugar a estrategia de actuacao conjunta no
94 Ver Fernando Mourao, op. cit., pp.149-150, embora num quadro datado de 1990.95 Estes do is aspectos podem ser claramente entendidos a partir cia entrevista dada pelo Ministro das RelacoesExteriores do Brasil, Luiz Felipe Lampreia, a revista brasileira Brasil-Europa Magazine, de Agosto/Setembro de1996.
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COMUNIDADE ECONOMIC A OU PARCERIA PARA 0 DESENVOLVTMENTO: 0 DESAFJO DO MULTlL4 TERALISMO NA CPLP
espaco representado por CPLP. As motivacoes para esta hierarquizacao sao, assim,
muito proximas das apresentadas por Portugal.
Poder-se-a dizer, em jeito de conclusao deste terceiro factor que em todas as
situacoes 0 espaco comum (CPLP) nao parece vir a desempenhar 0 leitmotiv principal
na aproximacao e reforco dos lacos economicos entre os paises membros, preferindo os
dois principais paises (Portugal e Brasil) actuarem com base em estrategias mais
individualizadas sem contudo excluirem parcerias ou aproximacoes multilaterais a este
espaco. So no caso dos Palop se revela urn interesse maior na actuacao "tripartida", 0
que e explicavel pela sua maior debilidade econornica estrutural e necessidade de apoio
dos outros dois parceiros.
o quarto e ultimo Jactor desagregador respeita as condiciies econ6micas
internas dos pafses aJricano .. A estabilizacao e a recuperacao econ6mica destes ultimos
paises e uma necessidade imperiosa. A criacao de urn quadro e ambiente econ6mico,
politico-institucional e juridico propicio para a emergencia e posterior consolidacao de
uma classe empresarial nacional e tarefa prioritaria. Na condicao de se manterem os
actuais constrangimentos que pes am sobre estes paises, nada de substancialmente
diferente e novo ha a esperar do empenhamento economico dos governos e sobretudo
dos empresarios portugueses e brasileiros. A questao do reforco de actuacao econornica
no espaco CPLP, nomeadamente nos Palop, dependera, entao, e em primeiro lugar, da
evolucao da situacao economica e social actualmente prevalecente nestes paises.
CONCLUSAO E PERSPECTIVAS:
Ha alguma razao de ser na existencia da CPLP? Se pensannos sobretudo nos seus
aspectos politico-diplomaticos e culturais, a resposta tendera para 0 lado afinnativo. No
entanto, se tomannos os seus contornos economicos como eixo referencial, entao a
resposta nao e inequivocamente afinnativa.
A perspectiva muitas vezes prevalecente em torno deste ultima prisma tende a ser
minimalista, isto e, entre existir ou nao existir CPLP mais vale a sua existencia, per si,
do que 0 vazio ate agora reinante. 0 problema e que se a Comunidade existe, ela deve
servir para alguma coisa. E se ela existe, a alguern (nomeadamente pais) se ira pedir
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Manuel Ennes Ferreira e Rui ALmas
contas relativamente aos resultados alcancados. Quem vai pedir contas? Antes de mais e
em primeiro lugar os paises africanos lus6fonos. A quem? Em primeiro lugar a Portugal,
mas 0 Brasil certamente nao ficara de fora. Porque razao? Pelo defraudar das
expectativas.
A gestiio das expectativas e, assun, 0 problema central desta Comunidade,
particularmente quando encarada sob 0 prisma econ6mico. Todos os intervenientes
neste processo referem as potencialidades econ6micas que se ofere cern com a
institucionalizacao da CPLP. Seja porque agora se tera criado um novo espirito de
cooperacao, seja porque se podera utilizar 0 mercado alargado composto pelos sete
paises da Comunidade, seja ainda porque se descobriu 'at last' as virtualidades da
insercao de cada um destes paises nos seus espacos regionais. Mas nestes tres aspectos,
o que e que verdadeiramente se alterou com a criacao da CPLP? Nada. Desde logo
porque nao ha espaco econ6mico comum a ser utilizado pelas empresas dos respectivos
paises, depois porque 0 motor das relacoes econ6micas entre os paises sempre assentou
e continuara a assentar no bilateralismo e, finalmente, porque a varia vel fundamental e
condicionadora do volume e diversificacao das relacoes econ6micas respeita mais asituacao intern a, econ6mica e politica, dos Palop do que ao apregoar constante do
voluntarismo politico. Em que sentido a criacao da CPLP conseguira inverter estas
realidades objectivas que a ultrapassam?
A ser assim, 0 excesso de optimismo e expectativa propagados no nascimento da
CPLP, mobilizador de boas vontades nos primeiros tempos, poder-se-a tomar, a seu
tempo e quando comparado com os resultados alcancados, no seu contrario, isto e, 0
argumento da sua inoperancia.
Neste contexto, se a espada de Dam6cles pende sobre alguem, esse alguem e,
sem duvida, Portugal . Mais do que ao Brasil, e a Portugal que se pedirao contas. Por
varias razoes, sejam hist6ricas, morais, econ6micas ou politicas. Mais do que 0
desenvolvimento de Portugal ou do Brasil, 0 que aqui esta em jogo e a sobrevivencia
dos Palop. Estes dois paises tern ja urn myel de relacionamento econ6mico que em nada
se compara com 0 que caracteriza as suas relacoes com os paises africanos lus6fonos,
visto que compreenderam ha muito a importancia e consequencias que advern do
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COMUNIDADE ECONOMICA OU PARCERIA PARA 0 DESENVOLVlMENTO: 0 DESAFIO DO MULTlLATERALlSMO NA CPLP
papel que as suas organizacoes economicas regionais desempenham e virao a
desempenhar no futuro. Se os agentes economicos propulsores do relacionamento
economico sac os empresarios, a menos que 0 quadro actual dos Palop se altere, nao se
podem esperar grandes empenhamentos empresariais, portugueses ou brasileiros. Mas,
no entanto, e exactamente a medicao dos resultados economicos que sera evocada pelos
Palop para aferir se valeu a pena ou nao a criacao da CPLP. A cultura, no senti do lato, ereconhecidamente urn factor importante nesta Comunidade, mas os problemas dos
paises africanos sac dois: curto-prazo e satisfacao das necessidades basicas, ou seja,
promocao do desenvolvimento econ6mico e social. Conseguira a CPLP responder a
isto? Porque, nao haja ilusoes, e por esta bitola que a Comunidade sera julgada.
o facto de it partida, com a constituicao da CPLP, nao ter ficado perfeitamente
claro, sem ambiguidades ou margens para duvidas, 0 que se po de esperar da CPLP,
implica que cada pais estabeleceu uma ordem hierarquica de prioridades relativamente
aos beneficios que pensa poder retirar da existencia da Comunidade.
HIERARQUIZACAO DE PRIORIDADES SEGUNDO CADA PAis DA CPLP
CONCERTA~AO COOPERA~AO ESTIMULOAOrot.trtco- TECNICO-CUL TURAL DESENVOLVIMENTO
DlPLOMAnCA ECONOMICO
ANGOLA 3- 1- rBRASIL 2- 1- 3-CABO VERDE 3- r 1-GUINE BISSAU 3- r 1-MOCAMBIQUE 3- r 1-PORTUGAL 1- r 3-SAOTOME 3- r 1-
A leitura deste quadro faz realcar que 0 maior desafio colocado it CPLP deve ser
a procura de urn consenso que simultaneamente satisfaca a optica 'mercantil e
desenvolvimentista' e a 6ptica 'politico-diplornatica'. Se se conseguir encontrar urn
ponto de equilibrio entre as duas perspectivas, ter-se-a alcancado 0 denominador comum
conciliador daqueles diferentes entendimentos.
Assim, urn dos desafios que se coloca it CPLP - na perspectiva econornica - etomar efectivos projectos que congreguem os esforcos sirnultaneos dos diferentes
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Manuel Ennes Ferreira e Rui Almas
paises, com 0 intuito, ate aqui ausente, de promover accoes conjuntas dinamizadoras do
desenvolvimento econornico e social dos paises mais carenciados. Significa isto tomar a
CPLP uma instituicao actuante, conceptualmente operacional. Dito de outro modo, hi
que passar do enfoque bilateral (sem 0 negar) para 0 multilateral, conferindo-lhe urn
conteudo de parceria para 0 desenvolvimento. Contudo, as resistencias impostas pelas
estrategias e interesses de Estado e empresariais, ao nivel de cada pais, limitarao decerto
a extensao da parceria para 0 desenvolvimento. Mais a mais, 0 perigo de defraudar este
objectivo e esvaziar a sua essencia continuarao a manter-se sempre presentes se se
passar a considerar todo 0 relacionamento bilateral como cabendo numa grande etiqueta
'made in CPLP', multilateralizando 0 que e estritamente bilateral, nao resistindo ao facil
apelo do impacto mediatico, a sernelhanca do que tern sucedido com a consideracao de
toda e qualquer simples operacao mercantil como sendo urn acto de 'cooperacao".
A nao ser que se coloque a economia ao nivel a que deve ser realmente
percepcionada pela CPLP, 0 futuro avizinhar-se-a particulannente dificil. 0 gorar das
expectativas atingira nao apenas os paises africanos lus6fonos mas igualrnente a classe
empresarial, emergente nos paises lus6fonos, ou aquela que poderia e deveria liderar ()
processo, portugueses e brasileiros. E se e sem duvida irnportante dar corpo politico-
diplomatico a este espaco para nao enjeitar a corrente latente que ate aqui nao foi
utilizada em toda a sua expressao'", de modo a que a articulacao politica e diplornatica
dos Estados membros, entre si e face a terceiros e, sobretudo, no ambito das
organizacoes internacionais'" se possa fazer sentir, nao e menos importante tambern que
o lado econ6rnico ajudaria a resolver muitos problemas, nos Palop, mas igualmente em
Portugal e no Brasil. Neste contexto, e no caso portugues, a CPLP seria encarada como
o instrumento que finalrnente perrnitiria inverter a opiniao segundo a qual sempre tern
existido urn grau rnais elevado de aspiracoes do que substancia na relacao com os
Palop ".
96 Jaime Garna, entrevista ao Publico, 17 de Julho de 1996,97 Como sublinha Mario Soares, "Urn projecto para 0 seculo XXI", Diorio de Noticias, 17 de Julho de 1996,98 De acordo com Kenneth Maxwell, "Portugal - Ponte entre a Europa e os Paises em Desenvolvirnento",cornunicacao apresentada no Seminario Portugal- Ponte entre Continentes, 9-11 de Dezembro de 1991, Lisboa.
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COMUNIDADE ECONOMIC A OU PARCERIA PARA 0 DESENVOLVlMENTO: 0 DESAFIO DO MULTILATERAIJSMO NA CPLP
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Comercio Actualidade (Angola)Jomal de Angola (Angola)Brasil-Europa Magazine (Brasil)Guia Brasil (Brasil)Le CourrierAfrica HojeDiario EconomicoDiario de NoticiasExpressoIndependenteJomal de NoticiasPublicoRevista Africa MaisRevista da Camara de Comercio Portugal-MocambiqueRevista LusofoniaSernanario Econornico
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OCEsA
o CEsA Ii um dos Centros de Estudo do Instituto Superior de Economia e Gestdo daUniversidade Tecnica de Lisboa, tendo sido criado em 1982.
Reunindo cerea de vinte investigadores, e eertamente um dos maiores, seniio 0 maior, Centro deEstudos especializado nas problemdticas do desenvolvimento economico e social existente em Portugal.Nos seus membros, na maioria doutorados, incluem-se economistas (a especialidade maisrepresentada), sociologos, licenciados em direito entre outros.
As areas principais de investigacdo sdo a economia do desenvolvimento, a economiainternacional, a sociologia do desenvolvimento, a historia africana e as questiies sociais dodesenvolvimento; sob a ponto de vista geografico, siio objecto de estudo a Africa Subsariana, aAmerica Latina, a Asia Oriental, do SuI e do Sudeste.
Varies membros do CEsA sdo docentes do Mestrado em Desenvolvimento e CooperaciioInternacionalleccionado no ISEG/"Economicas ". Muitos deles tem tambem experiencia de trabalho,doeente e ndo-docente, em Africa e na America Latina.
Os Autores
Manuel Ennes Ferreira
Mestre em Economia. Assistente do ISEG. Trabalhos publieados sabre a economia de Angola esobre as relacoes entre Portugal e aquele pais. Colaborador assiduo de vdrias publicacbes eientificas.Prepara doutoramento sabre a industria em Angola no periodo pos-independencia (1975/92).
Rui Almas
Director adjunto do Departamento Internacional do ICEP. Licenciado pelo ISCTE. Autor devarios artigos sabre as relaciies Portugal-PALOP pub/ieados em revistas da especialidade.
Centro de Estudos sobre Africa e do Desenvolvimentolnstituto Superior de Economia e Gestae (ISEG/"Econ6micas")
da Universidade Tecnica de Lisboa
R. Miguel Lupi, 20Telf: ++ /351 / (0)1/391 2620
1200 LISBOAFax: [...] 396 64 07
PORTUGALe-mail: [email protected]