Universidade do Estado do Par
Centro de Ciencias Sociais e da Educao
Curso de Lincenciatura Plena em Ciencias Naturais com
Habilitao em Qumica
Carlyle de Almeida Souza
Leon Carlos Santana Lopes
O Desenvolvimento do Ensino de Qumica no
Par
O Caso do Curso de Licenciatura Plena em Cincias
Naturais com Habilitao em Qumica
Belm
2013
Centro de Cincias Sociais e da Educao
Rua Djalma Dutra, S/N Telegrafo
66113-200, Belm - PA
www.uepa.br
Carlyle de Almeida Souza
Leon Carlos Santana Lopes
O Desenvolvimento do Ensino de Qumica no Par
O Caso do Curso de Licenciatura Plena em Cincias Naturais com
Habilitao em Qumica
Trabalho de Concluso de Curso
apresentada como requisito parcial para
obteno de grau no curso de
Licenciatura Plena em Cincias Naturais
com Habilitao em Qumica,
Universidade do Estado do Par.
Orientador: Prof Dr. Jos de Ribamar de
Castro Carvalho.
Belm
2013
Carlyle de Almeida Souza
Leon Carlos Santana Lopes
O Desenvolvimento do Ensino de Qumica no Par
O Caso do Curso de Licenciatura Plena em Cincias Naturais com
Habilitao em Qumica
Tese de Concluso de Curso
apresentada como requisito parcial para
obteno de grau no curso de
Licenciatura Plena em Cincias Naturais
com Habilitao em Qumica,
Universidade do Estado do Par.
Orientador: Prof Dr. Jos de Ribamar de
Castro Carvalho.
Data de Avaliao: ____/_____/_______
Banca Examinadora
____________________________________- Orientador
Prof Jos de Ribamar de Castro Carvalho
Dr. em Qumica Universidade Federal do Par
____________________________________________
____________________________________________
Para Clia, Camilla e Patrcia.
Por seu apoio incondicional.
Para nossos mestres, todos eles.
Agradecimentos
Agradeo primeiramente, a Deus.
Agradeo ao meu parceiro de TCC Leon Lopes, que me oportunizou
esse momento com apoio e estimulo.
Agradeo ao nosso Preto Velho, que acima de tudo se mostrou um
mestre, e com sua confiana e determinante incentivo nos levou a concluir
esse tardio mas necessrio trabalho, portanto agradeo ao nosso mestre com
carinho, Professor Doutor Jos de Ribamar de Castro Carvalho, muito
obrigado.
Agradeo a Mestra Patrcia Homobono, por sua ajuda decisiva no
final deste trabalho. E por todo caminho decorrido companhia de sua amizade
to valiosa para meu desenvolvimento pessoal.
Agradeo ao Professor Doutor Ruy Guilherme Castro de Almeida,
por sua ajuda a encontrar referencias para este trabalho.
Agradeo as professoras Maria de Fatima e Conceio Lobato por
sua ajuda quer seja no incio do trabalho ou em seu fim. E agradeo ao
Professor Mestre Jorge Ricardo Coutinho Machado, gigante que nos cedeu
seus ombros e assim pudssemos ver mais longe.
Agradeo a minha me, dona Clia Maria, que sempre me mostrou a
importncia de ser honesto e dedicado com meus estudos. Agradeo a minha
companheira, meu amor Camilla Amaral, por sua imensa pacincia, por seu
incentivo e companhia nos momentos mais difceis, por sua insistncia em mim
quando eu mesmo quis desistir.
Agradeo a minha famlia bero de pessoas honestas e
trabalhadoras, as quais sempre me mostraram a importncia de ter dignidade
frente s adversidades da vida. Agradeo aos meus amigos e colegas de curso
sempre dispostos a ajudar.
Agradecimentos
Gostaria de agradecer primeiramente a Deus por toda a sade e
fora que tive para chegar aqui.
Ao meu parceiro de TCC Carlyle Souza, sempre a postos nas
correes e na escrita, ao nosso Preto Velho, que nos momentos em que
travamos ele estava l com um pouco de mestre dos magos, sempre disposto
a uma palavra sbia e a um incentivo, Prof. Dr. Ribamar Castro sem a sua
confiana com toda certeza no estaramos nem perto de alcanar esse
objetivo.
Agradecer tambm aos meus amigos irmo Eliphas Vieira, Igor Dias
e Yuri Bitar, que com sua perturbao para que eu terminasse logo com esse
trabalho, vocs acreditavam muito mais em mim do eu mesmo, vou ser grato
eternamente a vocs por isso.
A minha me Cleide que mesmo no estando presente no incio da
minha caminhada acadmica mais agora no final ajudou-me bastante, ao meu
Pai Jos Carlos (kasparov) que mesmo ao ler esse agradecimento, escutarei a
voz dele dizendo no me conta... No me conta, desculpa pelas inmeras
vezes que o Estou terminando foi dito ao senhor sem que fosse verdade, o
que posso dizer que agora !
Ao meu amor, companheira e melhor amiga Paty Sousa que estava
ao meu lado e inmeras vezes passou horas ouvindo falar sobre a histria da
cincias e sempre me retribua com um sorriso no rosto, sei que nem sempre
foi o melhor assunto, aos seus pais Domingos e Marinalva e sua irm Ana
Paula, que sempre me incentivaram e me cobravam esse termino.
Meus irmos de sangue, Luane, Gabriela, Lucas, Joo Paulo, Ana
Paula, Ana Beatriz, Isadora e o Feijozinho (ainda vai chegar), espero que
essa batalha que travei e a conquista que estou tendo sirva de exemplo e de
fora para vocs nunca desistirem de seus objetivos.
Aos meus Pais e Mes que tive a felicidade de ter durante a minha
vida Adalberto, Claudia, Tia Vera, Simeia, Tia Patrcia, Andr e Cleimer, esses
sim nunca deixaram de acreditar na minha vitria e sem o exemplo da fora de
vontade deles, provavelmente no teria chegado ao incio dessa nova fase.
Em especial a dona Inercila do Carmo, minha V Ila que no est
aqui para ver essa conquista, mas do meu corao e de meus sonhos ela com
certeza estar sempre presente me abraando e fazendo aquele cafune na
cabea que s ela sabe. Te amo V!
Condenado pelos deuses, Ssifo tem a sina de levar uma grande pedra morro acima, para v-la rolar ladeira abaixo, e recomear tudo
novamente. um trabalho insano, inglrio, interminvel. Mas ele persiste.
A maldio de Ssifo descreve, em boa parte, a prpria histria da comunidade cientifica brasileira, em que so poucos os sucessos e, em geral,
efmeros. Os homens responsveis por esta comunidade mostraram ser um grupo extremamente ldico, critico, conhecedor de suas prprias limitaes,
mas apesar de tudo, otimista. Este otimismo ajuda, talvez a entender a persistncia de Ssifo.
Fazer a histria , em certo sentindo, refazer o caminho, reviver as experincias que deram certo, sentir novamente o clima do trabalho criador,
recolocando novamente a pedra sobre os ombros e sentir que existe fora para carrega-la.
SCHAWRTZMAN
LOPES, Leon C. SOUZA, Carlyle A. O desenvolvimento do ensino de qumica no Par...
Resumo
Este trabalho trata do desenvolvimento do ensino de qumica no Par,
especificamente da mudana ocorrida no perfil do professor aps a criao dos
cursos de licenciatura plena em qumica nas universidades federais nas
dcadas de 70 e 80, e posteriormente na Universidade do Estado do Par -
UEPA. De suma importncia para constatar a mudana do perfil do professor
formado em reas tcnicas para licenciados, tendo como objetivo de fazer um
levantamento da ocorrncia dessas mudanas, especificamente no Curso de
Licenciatura em Cincias Naturais com Habilitao em Qumica da UEPA.
Prosseguindo atravs de pesquisa bibliogrfica, acerca da graduao dos
professores docentes da UEPA, junto a plataforma Lattes de currculos. O
trabalho traz a luz, a discusso acerca da necessidade destas mudanas de
perfil para o desenvolvimento do ensino de qumica e a otimizao da formao
do professor e constata a permanncia dos profissionais formados em reas
tcnica ainda como professores do curso de Licenciatura.
Palavravas-chave: Ensino de qumica no Par. Perfil do professor de Qumica.
Formao de Professores. Curso de Licenciatura Plena em Cincias Naturais
com Habilitao em Qumica.
LOPES, Leon C. SOUZA, Carlyle A. O desenvolvimento do ensino de qumica no Par...
Abstract
This work is about the development of chemistry teaching on Par-State,
specifically the change that occurred at the teacher profile after the creation of
teaching degree courses in chemistry at the federal universities in the 70s and
80s, and later at the University of Par-State - UEPA. Extremely important for
note the change in the teacher profile trained in technical areas for graduates,
specifically in the Degree in Natural Sciences with enabling in Chemistry of
UEPA. Pursuing through of bibliographic research, about the graduate UEPA
teachers, along the Lattes curriculum platform. The work brings to top,
discussion about the need for these changes in profile to the development of
the teaching of chemistry and optimization of teacher training and confirms the
permanence of professionals trained in technical areas even as professors of
Degree.
Keywords: Chemistry teaching on Par-State. Chemistry teacher profile.
Teacher Education. Degree in Natural Sciences with enabling in Chemistry.
LOPES, Leon C. SOUZA, Carlyle A. O desenvolvimento do ensino de qumica no Par...
Sumrio
1. INTRODUO 10
1.1. OBJETIVO GERAL 12
1.2. OBJETIVOS ESPECFICOS 12
2. AS CINCIAS NO BRASIL, UM BREVE HISTRICO 13
2.1. HISTRIA PORTUGUESA, INCIO DAS CINCIAS 13
2.2. CRIAO DO CURSO DE CINCIAS NATURAIS NA UNIVERSIDADE DE
COIMBRA 14
2.3. BRASIL COLNIA 16
2.4. BRASIL NOVA SEDE DO GOVERNO PORTUGUS. 18
2.5 INDEPENDNCIAS DO BRASIL 22
2.6. ABOLIO DA ESCRAVATURA E SUAS IMPLICAES NA CINCIA. 23
2.7. BRASIL REPUBLICA 24
3. A CHEGADA DO EM ENSINO DE QUMICA AO PAR 28
3.1. DESCENTRALIZAO DO ENSINO SUPERIOR 28
3.2. IMPLEMENTAO DA QUMICA NO PAR 29
3.3. A ESCOLA DE CHIMICA INDUSTRIAL DO PAR. 30
3.4. INCORPORAO DA ESCOLA DE QUMICA PELA UNIVERSIDADE
FEDERAL DO PAR 34
4. A FORMAO DOS PROFESSORES DE QUMICA 38
4.1. FORMAO DE PROFESSORES DE QUMICA EM BELM. 38
4.2. CRIAO DO CURSO DE LICENCIATURA EM CINCIAS NATURAIS NA
UNIVERSIDADE DO ESTADO DO PAR. 42
4.3. A PROBLEMTICA DO PERFIL DO PROFESSOR FORMADOR. 44
LOPES, Leon C. SOUZA, Carlyle A. O desenvolvimento do ensino de qumica no Par...
5. METODOLOGIA 46
6. RESULTADOS 47
7. CONCLUSO 49
REFERNCIAS 52
LOPES, Leon C. SOUZA, Carlyle A. O desenvolvimento do ensino de qumica no Par... 10
1. Introduo
O desenvolvimento da qumica do Par, tema ainda pouco abordado
em trabalhos de pesquisa, abrange importante parte dos fatos histricos que
corroboram a maneira como o estado acolheu a qumica, cincia fundamental
para o desenvolvimento nacional, capaz de alavancar a industrializao e
tradicionalmente reconhecida como fator de progresso.
Evidenciando em um breve histrico do que ocorreu junto ao Brasil,
desde a chegada da Coroa Portuguesa, marco para o desenvolvimento da
educao e da cincia no Brasil. Diversos momentos histricos de elevada
importncia ocorreram em relao a educao superior, como a criao dos
cursos de licenciatura plena em qumica no estado Par. Os motivos de seu
surgimento e sua relao com a mudana de perfil projetada para o professor
de qumica, objetivando uma formao de cunho pedaggico em detrimento da
formao tecnicista, to tradicional no Brasil.
Analisando o contexto no qual o Brasil desenvolveu-se
cientificamente, podemos observar que houve sempre maior inclinao para
reas tcnicas, devido a inmeros fatores dos quais podemos destacar: as
necessidades advindas da chegada da Coroa ao Brasil, e do desenvolvimento
e expanso tardios da educao e de Universidades.
A criao de cursos de Licenciatura junto a estas, visa uma ruptura
com a tradicional formao de tcnicos, e o aperfeioamento pedaggico dos
professores, mas este fato realmente mudou o perfil do professor universitrio?
A implementao de tais cursos, trouxe de fato mudana para o currculo
destes profissionais, so os formados atravs destes cursos que ministram
aulas junto a Universidade do Estado do Par UEPA, tais questionamentos
nortearam este trabalho.
Para tanto procuramos definir a formao dos professores da UEPA,
especificamente do curso de Licenciatura Plena em Cincias Naturais com
Habilitao em Qumica. Tendo a finalidade de determinar se a criao dos
cursos de Licenciatura em Qumica nas Universidades Federais, entre as
LOPES, Leon C. SOUZA, Carlyle A. O desenvolvimento do ensino de qumica no Par... 11
dcadas de setenta e oitenta, realmente est a cumprir com seu objetivo
suprindo a demanda universitria.
De suma importncia para melhoria da educao, a formao de
licenciados, aperfeioa aqueles que estaro em sala de aula. Obter
informaes e analisar o quadro docente da UEPA, serve de indicador para a
mudana do perfil do professor universitrio, antes formado em reas mais
tcnicas, ora formado junto a pedagogia, didtica e psicologia da educao.
Tambm servindo como feedback, das polticas educacionais implementadas
no Brasil.
Portanto, a fim de constatar tais indicadores, utilizamos de pesquisa
bibliogrfica junto ao departamento de cincias naturais da UEPA, levantando o
quadro de professores do curso de Licenciatura Plena em Cincias Naturais
com habilitao em Qumica, e utilizando da Plataforma Lattes para conhecer
suas graduaes. A partir deste momento pode ser feito uma anlise
documental de tais informaes, analise quanti-qualitativa.
Este trabalho se divide em trs captulos, o primeiro tratando do
desenvolvimento das cincias com a chegada da Coroa Portuguesa ao Brasil
em 1808, o segundo abordando a descentralizao do ensino superior no
Brasil e a chegada e implementao de cursos de qumica no Par, o terceiro
responsvel por elucidar o desenvolvimento do ensino de Qumica no Par.
LOPES, Leon C. SOUZA, Carlyle A. O desenvolvimento do ensino de qumica no Par... 12
1.1. Objetivo Geral.
Avaliar a formao dos professores que atuam no curso de
licenciatura plena em cincias naturais com habilitao em qumica da
universidade do estado Par.
1.1.1. Objetivos Especficos.
Analisar a mudana do perfil do professor, antes oriundo de reas
tcnicas, para um perfil de professor atuante na formao de professores.
Identificar a diferena do perfil dos professores que atuam na capital
e nos campis do interior, quanto a sua rea de formao.
LOPES, Leon C. SOUZA, Carlyle A. O desenvolvimento do ensino de qumica no Par... 13
2. As Cincias no Brasil, um breve histrico.
2.1. Histria Portuguesa, incio das cincias.
Portugal sempre foi um celeiro de escritores e poetas e por essa
razo sempre teve sua cultura voltada para a filosofia, escrita e estudo da
navegao, por esse motivo o desenvolvimento de tal Pas com as cincias
naturais era visto como uma verdadeira perda de tempo. Enquanto outros
pases colonizadores estudavam e aprendiam mais sobre as cincias, falando
em termos tecnolgicos Portugal foi um dos ltimos pases a investir nesse
campo de estudo.
Vrios autores de livros histricos que debatem sobre a evoluo do
ensino no Brasil principalmente na rea das cincias naturais comentam que a
partir da vinda da Coroa portuguesa (em 1808), inicia-se o processo de
desenvolvimento educacional brasileiro. Vendo de outra forma esse marco
histrico de nossa nao podemos obter outra discusso muito proveitosa
sobre tal acontecimento.
No discutvel o fato de que o avano da educao brasileira ter se
iniciado neste perodo, j que antes o estudo na colnia de Portugal era feita
por jesutas que ensinavam a leitura e a escrita. Outros contedos de certa
forma eram pouco acessveis e basicamente se destinavam as famlias ligadas
ao cultivo e comercio na colnia, tendo em vista que esta ainda permanecia em
um sistema agrrio exportador dependente.
O plano de estudos propriamente dito foi elaborado de forma diversificada, com o objetivo de atender diversidade de interesses e de capacidades. Comeando pelo aprendizado do portugus, inclua o ensino da doutrina crist, a escola de ler e escrever. Da em diante, continua, em carter opcional, o ensino de canto orfenico e de msica instrumental, e uma bifurcao tendo um dos lados o aprendizado profissional e agrcola e, de outro, aula de gramatica e viagem Europa. (RIBEIRO, 1992, p.23).
Este sistema agrrio baseado em latifndios vinculado ao
escravismo apresenta grandes inverses exigidas pela produo afim de
encontrar rentabilidade afetiva organizando-se em grandes empresas,
ocorrendo assim atraso tecnolgico e a monopolizao colonial de carter
predatrio.
LOPES, Leon C. SOUZA, Carlyle A. O desenvolvimento do ensino de qumica no Par... 14
Num contexto social com tais caractersticas, a instruo, a educao escolarizada s podia ser conveniente e interessar a esta camada dirigente (pequena nobreza e seus descendentes) que segundo o modela de colonizao adotada, deveria servir de articulao entre os interesses metropolitanos e as atividades coloniais. (RIBEIRO, 1992, p.22)
Para atender a demanda de escolarizao dos membros oriundos
das famlias vinculadas ao cultivo do acar, inseridas na pequena nobreza, foi
fundada na Bahia em 1553 as primeiras classes de latim sob domnio da
Ordem Jesuta, alm destas outras escolas seriam criadas, Colgio Jesuta de
Piratininga (1554), Colgio Jesuta de Pernambuco (1570), Colgio Jesuta do
Rio de Janeiro e Colgio Jesuta do Maranho (1662).
As condies da colnia eram adversas ao desenvolvimento cientifico: Imprensa proibida, sistema escolar deficiente, ausncia de Universidades, nenhum intercambio com os centros mais avanados, pouco brasileiros tinha condies de completar seus estudos na Europa; os pedidos de reconhecimento para os cursos ministrados aqui pelos padres frequentemente no eram atendidos pelo governo portugus. (MOREL,1979, v. 4, p.26)
O Marqus de Pombal empreendeu em 1768 a reforma da
Universidade de Coimbra, acrescentando o estudo da Historia Natural e das
Matemticas, criando um observatrio, laboratrios, e museus, relacionando-a
s cincias exatas mais especificamente no caso da Qumica, levando ento
em conta que a escola portuguesa tinha muita influncia de vrios filsofos tal
como Aristteles e Ptolomeu. Atravs deste contexto, percebemos o motivo de
tanto atraso no desenvolvimento de nossa metrpole, s a partir de 1772 quase
no final do Sculo XVIII, a qumica comeou a ser includa como disciplina no
ensino superior de Portugal. Por no haver nenhum professor portugus que
tivesse tal conhecimento, para iniciar e manter um curso de cincias naturais,
ento foi convidado Domingos Vandelli (1730-1816), professor Italiano j
conhecido da Universidade.
2.2. Criao do curso de Cincias Naturais na universidade de
Coimbra.
Durante o reinado de D. Jos I, a Universidade sofreu uma profunda
alterao. Em 28 de Junho de 1772 o rei ratificou os Estatutos Pombalinos, que
marcam o incio da Reforma, acrescendo o estudo de Histria Natural e das
matemticas, criando um observatrio, laboratrios, e museus. Demonstrando
LOPES, Leon C. SOUZA, Carlyle A. O desenvolvimento do ensino de qumica no Par... 15
um grande interesse pelas cincias da natureza e pelas cincias do rigor, que
to afastadas se encontravam do ensino universitrio. Tal afastamento,
[...] deve-se ao fato de que os jesutas foram chamados para a Universidade de Coimbra [durante o reinado de D. Joo III], em Portugal, [assim] o ensino se afastaria totalmente do movimento cientifico que comeava a invadir a Europa[..]. (MOREL 1979, v.4, p.26),
Esta situao se manteve at a ratificao dos estatutos j citados,
ou seja, tal situao s mudaria atravs das reformas pombalinas.
Vandelli foi o fundador do curso de cincias naturais da Faculdade
de Filosofia da Universidade de Coimbra, a partir deste momento os estudos,
pesquisas e avanos relacionados a essa disciplina, comearam a ser
estudados e praticadas em Portugal.
Quando iniciada a colonizao do Brasil, durante o reinado de D.
Joo III, os jesutas foram chamados para a universidade de Coimbra, em
Portugal, e o ensino se afastaria totalmente do movimento cientifico que
comeara a invadir o resto da Europa. Durante dois sculos, os Jesutas
mantem o seu domnio sobre a cultura portuguesa, o que vai se refletir no
Brasil atravs de uma de suas diretrizes bsicas, a de converso dos indgenas
por catequese ou instruo.
Dele dependeria (...) o exito da arrojada empresa colonizadora; pois que, somente pela aculturao sistematica e intensiva do elemento indigena aos valores espirituais e morais da civilizao ocidental e crist que a colonizao portuqguesa poderia lanar raizes definitivas (...) (MATTOS. 1958, p51).
Na Colnia as primeiras escolas foram fundadas por jesutas, j em
1553 fundaram na Bahia as primeiras classes de latim, frequentadas por filhos
de famlias ligadas ao cultivo do acar. Perceba a disparidade de datas, entre
a reforma educacional da Universidade de Coimbra e o comeo dos estudos no
nosso pas, mais de meio sculo aps o descobrimento do Brasil, sendo as
aulas apenas para a elite agropecuria do pas, simplesmente aulas de latim.
At o sculo XIX toda e qualquer atividade cientifica na colnia
resumia-se as misses europeias, mineralogia e botnicos que observavam,
coletaram e classificaram nossas riquezas naturais, exercendo fascnio pelo
novo. O Primeiro tipo de atividade cientifica deu-se a partir da ocupao de
LOPES, Leon C. SOUZA, Carlyle A. O desenvolvimento do ensino de qumica no Par... 16
parte do nordeste pelos holandeses, o Prncipe Mauricio de Nassau mandou vir
a Pernambuco uma misso de homens de cincia entre eles estavam o
naturalista George Marcgraff e o fsico Wilhelm Piso, entre 1630 e 1654. Neste
perodo tambm nasce primeiro observatrio, que foi estabelecido no Novo
Mundo para realizar estudos e observaes sobre a fauna e flora do nosso
extico pas.
O trabalho deles resultou na publicao, em 1648, da grande
Histria naturalis brasiliae, no entanto aps esse perodo com a partida do
prncipe das terras brasileiras no demorou muito para que Portugal
expulsasse os holandeses de sua colnia, estagnando todo o investimento e
avanos cientficos realizados no Brasil.
Como colnia houve um grande e demorado perodo at as cincias
serem estudadas em terras brasileiras, tendo em vista que muitos brasileiros
descendentes de portugueses radicados no Brasil, enviavam seus filhos
brasileiros a Portugal estudar as nobres artes e alguns casos especiais o
estudo das cincias naturais. Acerca do tema vale destacar precioso
comentrio feito por Farias, Neves e Silva:
Como nico pais das Amricas a ser colonizado por portugueses, o Brasil terminou por ser vtima da poltica daquela metrpole com relao as suas colnias, nas quais se impedia a criao de centros de ensino, sobretudo em nvel superior, por se temer que tal iniciativa poderia contribuir, a mdio e longo prazos, para a formao de uma elite esclarecida a qual lutaria pela independncia. Assim, diferentemente dos pases de colonizao espanhola onde Universidades eram criadas, o Brasil viu-se, por mais de trs sculos aps o descobrimento privado da existncia de centros de ensino superior. (FARIAS; NEVES; SILVA, 2010).
2.3. Brasil Colnia
Aps 1768, posteriormente a reforma da Universidade de Coimbra
todas as mudanas existentes iriam refletir diretamente no Brasil atravs de
brasileiros que l completaram seus estudos e que iriam ocupar cargos na
estrutura administrativa da Metrpole. A escassez de matricula (de que j se
queixava o Marqus de Pombal, em 1773) nas sees de cincias naturais e
filosficas, e nos cursos que mais tarde se criaram na Faculdade de Filosofia
(Botnica e Agricultura, Zoologia e Mineralogia, Fsica, Qumica e Metalurgia),
LOPES, Leon C. SOUZA, Carlyle A. O desenvolvimento do ensino de qumica no Par... 17
alm das prprias necessidades tcnicas do Reino e da Colnia, levaram o
governo portugus a atrair para a universidade os estudantes brasileiros.
Do ponto de vista Educacional, a orientao adotada foi de formar o perfeito nobre, agora negociante; simplificar e abreviar os estudos fazendo com que um maior nmero se interessasse pelos cursos superiores; propiciar o aprimoramento da lngua portuguesa; diversificar o contedo, incluindo o de natureza cientifica; torna-los os mais prticos possveis. (RIBEIRO, 1992, p.34).
Em 1800, sobre o modelo de formao proposto pela cultura da
poca, viu-se necessrio a formao especializada de jovens brasileiros indo
para a Metrpole estudar e que voltassem em seguida a sua formao para
que utilizassem seus aprendizados aqui no Brasil.
[...]mandou o rei ao governador do Maranho que designasse quatro estudantes para receberem instruo no Reino, fazendo seus cursos em Coimbra, dois, o de matemtica, para depois serem empregados como hidrulicos, agrimensores e contadores, um, o de medicina e o outro o de cirurgia. Se alm dos quatro, mais algum o merecesse pela sua capacidade, podiam as cmaras manda-lo, lanando para esse fim uma finta especial. (AZEVEDO, A cultura brasileira, p.548.).
Aps esse perodo de incio da sada de brasileiros para Portugal
para simplesmente ajudarem ao preenchimento de vagas sobrando na
Universidade, vrias tentativas de instituir o ensino superior no Brasil foram
sumariamente barradas pelo Reino. Diferente, por exemplo, da Espanha que
em suas colnias criou desde cedo universidades. Estas propostas de criao
de ensino superior foram sistematicamente anuladas pelo Estado portugus.
Uma das tentativas mais marcantes para o desenvolvimento de
nossa nao foi a da Inconfidncia Mineira, em 1789, liderada por Tiradentes,
uma das propostas era a de criao de uma Universidade no Brasil, tentativa
frustrada como vrias outras que vieram anteriormente, dessa maneira
cincia brasileira estava acondicionada a situao colonial.
Enquanto isso, alguns brasileiros iam para Portugal estudar qumica
comeando assim a histria de brasileiros envolvidos em projetos e estudos
relacionado a esta cincia, sendo boa parte deles aprendizes de Domingos
Vandelli, dentre eles estavam o conhecido Jos Bonifcio de Andrada e Silva
(1763-1838), o baiano Alexandre Rodrigues Ferreira (1756-1815) e o mineiro
Vicente Coelho de Seabra Silva Teles (1764-1824).
LOPES, Leon C. SOUZA, Carlyle A. O desenvolvimento do ensino de qumica no Par... 18
Aps de ser tornar doutor, Alexandre Rodrigues auxiliou e fez
diversas pesquisas junto a Domingos Vandelli, tendo trabalhado no laboratrio
do Museu de Ajuda de Lisboa. Em 1783 fora enviado ao Brasil para uma
expedio naturalista que cobriu boa parte do territrio nacional.
J Vicente Coelho, foi o primeiro brasileiro a escrever um livro de
qumica chamado: Elementos da Chimica, considerada uma enorme
contribuio. Sempre levando em considerao o fato de tanto Alexandre
Rodrigues quanto Vicente Coelho realizaram seus estudos sempre vinculados
a universidade de Coimbra. Enquanto que no Brasil o estudo e a pratica
qumica eram muito rusticas e por quase no existiam, a no ser pelos ndios e
na explorao das riquezas.
Em contramo a tudo que acontecia surge:
Joo Manso Pereira o primeiro qumico genuinamente brasileiro. Em total concordncia com o que se poderia esperar num pais onde o ensino superior era interditado, aquele que sem dvida um dos precursores da qumica no Brasil, ou seja, um qumico que no apenas era brasileiro, mas que aqui adquiriu seus conhecimentos e, sobretudo, executou sua obra, Joo Manso Pereira. (FARIAS; NEVES; SILVA,
2010).
Joo Manso foi autor de cinco obras sobre a qumica, numa vertente
mais utilitria, o que seria considerado comum na poca. Mesmo diante de
tudo isso, o brasileiro no teve seus conhecimentos aproveitados pelo ento
criado Laboratrio Qumico-Pratico que fora fundado em 1812.
2.4. Brasil nova sede do Governo Portugus.
A coroa portuguesa veio ao Brasil por medo da invaso de Napoleo
Bonaparte, que na Frana institura uma revoluo cientifica e de carter
humanitrio que pregava como principal ideal a liberdade e igualdade entre os
homens. Este pensamento no foi bem aceito pelo Rei de Portugal j que na
sua colnia era basicamente formada por agricultores e escravos que lhe
rendiam impostos. Sendo o Brasil naquela poca um dos maiores produtores
de acar e caf, exportando grande quantidade desses produtos para
Portugal e outras naes amigas, dessa maneira os ideais da revoluo no
eram interessantes para a metrpole. Ento Portugal se volta contra a Frana e
com o apoio da Inglaterra vem para o Brasil.
LOPES, Leon C. SOUZA, Carlyle A. O desenvolvimento do ensino de qumica no Par... 19
A instalao da corte portuguesa no Brasil, em 1808, um ponto
essencial do desenvolvimento cientifico, at ento limitada a alguns indivduos
que tiveram a oportunidade de investimento suficiente para ter a sua formao
feita em Portugal. O governo portugus por sua vez, se viu em uma situao
em que sua colnia no oferecia as menores condies para a instalao da
corte e seu desenvolvimento, tanto na educao, quanto em servios
essncias. A exemplo desta falta de condies, na tentativa de aclimatar aqui
plantas estrangeiras para seu uso no Brasil e pela sua beleza, foi criado o
Jardim Real, mais tarde chamado de real Jardim Botnico, considerado
primeira instituio de histria natural brasileira.
A primeira medida, tomada em 22 de janeiro de 1808, foi abertura
dos portos brasileiros s naes amigas, o que de certa forma facilitaria o
desenvolvimento das relaes intelectuais entre o Brasil e os pases europeus.
Posteriormente os prximos decretos foram para estabelecer novos parmetros
para a moradia da corte portuguesa, como servios de sade, higiene e
educao e principalmente investimentos na rea da engenharia militar.
Como fora citado anteriormente, Portugal no tinha nenhum
interesse em se desenvolver cientificamente, tanto prova que se no fosse
participao do Marques de Pombal, a universidade de Coimbra no teria
iniciado o curso de cincias naturais. Em 1808 quando a coroa portuguesa veio
fugida para o Brasil nossa principal fonte de renda era a agricultura e
explorao da terra, assim criando vrios senhores de engenho e coronis de
caf, desta forma para a Coroa, estimular a educao, nessa poca, era
totalmente desnecessrio. Sendo cmodo para os governantes que os filhos de
tais fazendeiros sassem de seu pas para estudar nas escolas portuguesas, e
quando retornavam o ciclo de dominao agrcola continuavam.
A partir da instalao da Coroa, o governo se viu obrigado a iniciar a
criao de cursos superiores, alguns dos primeiros foram os cursos mdicos e
cirrgicos nos hospitais militares da Bahia e do Rio de Janeiro, graas ao
mdico pessoal do Prncipe Regente, Dr. Jos Correia Picano, um professor
brasileiro da Universidade de Coimbra, insistente na criao de tais cursos.
LOPES, Leon C. SOUZA, Carlyle A. O desenvolvimento do ensino de qumica no Par... 20
As primeiras instituies de ensino superior fundadas pelos portugueses no Brasil Colnia, estavam diretamente articuladas s atividades militares, decorrentes da ocupao portuguesa e sua defesa. Elas se destinavam formao de pessoal que os auxiliasse na construo de embarcaes de diferentes portes, usando material local; portos, destinados atracao de embarcaes que carregavam e descarregavam as mercadorias de troca; fortificaes, que protegessem os militares aqui aquartelados na manuteno da colnia; estradas, que permitissem os deslocamentos para o interior das terras descobertas; minas, na explorao das riquezas do subsolo; engenhos para produo de acar de cana e farinha de mandioca. Assim que, em 1808 criada a Academia Real da Marinha, no Rio de Janeiro, e, em 1810, a Academia Real Militar, para formao de oficiais e de engenheiros civis e militares. (COELHO & VASCONCELLOS. 2009, p.2).
Para Stepan:
Uma segunda rea em que a necessidade de pessoas formadas foi sentida era a engenharia militar. A Academia Real Militar, fundada no Rio de Janeiro em 1810, foi fundada para formar oficiais-cadetes nas artes cincias da guerra, e prepara-los para o levantamento e explorao do que era ainda uma terra virtualmente desconhecida. A fundao desta instituio sugeriu-se, representou um esforo deliberado do Prncipe Regente para alterar a mentalidade literria tradicional do Pas. Os livros de textos europeus mais modernos de matemtica e fsica foram importados para uso na instruo obras de Euler, Bezout, Monge, Legendre, Lacorix e Hay. (STEPAN.
1967. p.37)
Esta seria a primeira instituio de ensino brasileira que de fato
estava estudando as cincias, mesmo no sendo muito aplicada, seus cadetes
tinham instruo para o manuseio de certos materiais, assim a Academia seria
a primeira a estudar qumica, tendo em vista que a qumica fazia parte do
currculo a ser seguido na formao dos futuros militares. Mesmo que tais
estudos nesta rea eram voltados meramente a instruo e formao, sem
nenhum tipo de incentivo a pesquisas e aprofundamento de outros pensadores
qumicos ou afim.
Via-se desta forma que a educao brasileira, neste momento,
seguia duas tendncias educacionais de fcil percepo, e que as mesmas
estavam diretamente ligadas as necessidades imediatas do Brasil, estas
tendncias em um determinado ponto, acarretaram nus para o pleno
desenvolvimento da educao. Sendo estas tendncias: a organizao isolada
(no universitria) e a preocupao basicamente profissionalizante.
Depois dos investimentos em itens de primeira necessidade, vrios
pesquisadores queriam vir ao Brasil para explorar a fauna e flora de nosso
LOPES, Leon C. SOUZA, Carlyle A. O desenvolvimento do ensino de qumica no Par... 21
pas, que tanto encantava os cientistas. Com a abertura dos portos brasileiros
as naes amigas em 1808, vrias expedies foram patrocinadas, algumas
particularmente e outras por governos estrangeiros.
Com o casamento da Arquiduquesa Leopoldina (1817), filha do
imperador Austraco, com o Prncipe Regente D. Pedro, certo nmero de
cientistas vieram ao Brasil junto a corte da noiva para examinar a vegetao e
os animais brasileiros. Dentre eles os de maior renome foram os dois bvaros
Karl Friedrich Philipp Von Martius e Johann Baptist Von Spix, cuja macia Flora
Brasiliensis em muitos volumes (cujo primeiro foi publicado em 1829) levou
finalmente 36 anos para ser completada, e permaneceu como livro de texto
padro da botnica brasileira at o incio do Sculo XX.
Ainda neste contexto histrico a economia brasileira se mantinha
fechada sem que fosse necessrio desenvolvimento, coisa que no acontecia
em outros pases europeus. J que na maioria deles o capitalismo j era um
mercado corrente em que fazendo o dinheiro circular por todas as esferas da
sociedade. Portanto Portugal no tinha tanto dinheiro para se defender e o
nico apoio recebido foi da Inglaterra, assim a metrpole no podia se dar ao
luxo de ver seu dinheiro circulando sem que fosse aproveitado para manter o
reino portugus que j tinha se instalado no Brasil. Para minimizar estes
problemas, Portugal cobrava impostos dos fazendeiros e os mesmos queriam
ter gastos, principalmente usando escravos para trabalhar.
Assim a Coroa portuguesa se instalou no Brasil e tentou a partir
dessa realidade exprimir algum tipo de desenvolvimento no para os habitantes
que j moravam na colnia, mas para o Rei que agora precisava dar suporte e
montar uma estrutura para os nobres sditos que vieram junto com a famlia
real.
Antes de 1808 o Brasil no possua nenhuma escola que formasse
novos mdicos, engenheiros entre outros profissionais, prestadores de servios
essenciais para que a cidade comeasse a crescer, dessa forma dando o
mnimo suporte necessrio para que o Rio de Janeiro se tornasse a nova
capital portuguesa.
LOPES, Leon C. SOUZA, Carlyle A. O desenvolvimento do ensino de qumica no Par... 22
Em 1818 foi fundado em parte devido ao interesse na histria natural
despertado pelo trabalho dos naturalistas estrangeiros, que levou vrios anos
em vrias expedies, o Museu Imperial foi fundado como uma forma de
demonstrar o poder de Portugal e por tentar de alguma forma igualar o Rio de
Janeiro com os grandes museus de histria da Europa, seu objetivo era o de
generalizar os conhecimentos e o estudo da histria natural no Reino.
Como notado e de forma bem clara que o desenvolvimento no
era voltado para todo territrio nacional e para o povo, mas para a nova capital
portuguesa, o Rio de Janeiro. Como prova disso temos: a criao da Academia
Real Militar, o Real Jardim Botnico e o Museu Imperial, instituies que
demonstravam o interesse de Portugal em melhorar a qualidade de vida para
sua corte e para as naes amigas.
Como algumas das cidades eram voltadas para o litoral, acabavam
por consequncia da quantidade de pessoas, que em sua maioria vinham em
expedies para analisar e at explorar as riquezas de nosso pas, se
desenvolvendo cada uma a sua maneira. Como apenas a Bahia que tinha sido
sede do governo de portugus, de Novembro de 1808 a Janeiro do prximo
ano, quando o Prncipe Regente partiu com sua corte para o Rio de Janeiro,
poucas outras cidades brasileiras diferentes destas duas, receberam algum tipo
de incentivo educacional.
2.5. Independncias do Brasil
Embora o pas tivesse sofrido certo nmero de mudanas polticas formais nas primeiras dcadas do sculo, inclusive a separao de Portugal seguida pela independncia em 1822, a monarquia foi preservada at 1889 e permaneceu como smbolo da continuidade com o passado colonial do Brasil. A monarquia ajudou a preservar o poder da elite social e econmica tradicional e seus valores. Enquanto as cidades do Rio de Janeiro, Bahia (salvador) e So Paulo cresciam rapidamente, sobretudo no ultimo tero do sculo, o corao da sociedade brasileira ainda estava nas grandes plantaes e na economia de exportao que elas sustentavam, baseadas no acar e, depois de 1840, no caf. (STEPAN, 1967, p.40).
Antes da libertao dos escravos uma nova gerao de intelectuais
entrou no cenrio nacional para questionar a eficincia do governo monrquico,
a moralidade da escravatura e a qualidade da cultura brasileira. Em 1888,
quando a abolio tomou forma o Brasil j era o ltimo pas do mundo ocidental
LOPES, Leon C. SOUZA, Carlyle A. O desenvolvimento do ensino de qumica no Par... 23
a tomar essa medida. O fim da escravido foi seguido pelo colapso da
monarquia em 1889, o exilio do Imperador D. Pedro II, e a formao da
Republica Brasileira.
A educao secundaria era um privilgio de poucos, e no um direito
de muitos, a nfase na educao era mais literria do que cientifica, refletindo o
interesse das elites. Se a cincia no se desenvolveu no Brasil no Sculo XIX,
em resumo atribui-se ao pouco valor dado ao estudo da cincia, e por
consequncia industrializao que ainda no tinha caminhado at um ponto
onde se pudesse investir com apoio a novos estudos e pesquisas para a
cincia utilitria e pratica.
Com essas informaes podemos dizer que se Portugal tivesse
aceitado os princpios da revoluo empregada por Napoleo, nosso pas
poderia ter tido a oportunidade de aprender com outras cidades europeias e
com outros pensadores. Deste modo poderia ter se desenvolvido antes de
1808 e poderia de alguma forma se igualar ao desenvolvimento cientifico e
tecnolgico de muitas naes ou cidades europeias.
Entre 1808 e 1888 que foi quando a Abolio dos Escravos foi
anunciada no Brasil os primeiros pensamentos sobre libertao j existiam a
muito, alguns filhos de fazendeiros que saiam de seu pas para se educar na
Europa voltavam com ideais revolucionrios pregados por professores
estrangeiro e j lutavam por isso no nosso pas sendo cautelosos com as
punies do reino brasileiro uma vez que em 1822 o Brasil deixa de ser colnia
de Portugal e se torna reino, com o seu prprio Imperador.
2.6. Abolio da escravatura e suas implicaes na cincia.
Nosso pas passava por uma fase de mudana, pois tnhamos nos
libertado de Portugal e nos tornado uma nao livre, e como nao livre os
desenvolvimentos na rea das cincias que tinham se iniciado junto com a
vinda da coroa portuguesa comeam a serem maiores, como a criao das
Universidades e de colgios para a formao de uma nova elite formada pela
nova burguesia que era financiada pela agricultura ainda a principal fonte de
renda para agricultores e o Reino.
LOPES, Leon C. SOUZA, Carlyle A. O desenvolvimento do ensino de qumica no Par... 24
Mesmo depois de inaugurado o regime republicano, nunca talvez fomos envolvidos, em to breve perodo, por uma febre to intensa de reformas que se registrou precisamente nos meados do sculo passado e especiealmente nos anos 51 a 55. Assim que em 1851 tinha inicio o movimento regular de constituio das sociedades anonimas; na mesma data funda-se o segundo Banco do Brasil (...); em 1852, inaugura-se a primeira linha telegrfica na cidade do Rio de Janeiro. Em 1853 funda-se o Banco Rural de Hipotecrio (...). Em 1854 abre-se ao trfego a primeira linha de Estradas de Ferro do Pas (...). A segunda, que ir ligar Corte a capital da provncia de So Paulo, comea a construir-se em 1855. (HOLANDA, 1973 p.42)
Muitos professores estrangeiros vieram para o Brasil para trabalhar
em espaos destinados educao de brasileiros como a Academia Real
Militar, o Real Jardim Botnico e o Museu Imperial, lugares onde ocorria a
formao dos novos jovens, detentores de um ideal revolucionrio, e que
pensavam na igualdade entre os homens. Estes eram influenciados atravs do
pensamento de seus professores oriundos de outros pases que j haviam
passado por tal fase de evoluo, tomada como pensamento cientifico estava
diretamente ligada ao avano da educao. Principalmente por ajudar no
desenvolvimento de fabricas e indstrias, algo que ainda no era a realidade
brasileira, mas j era um pensamento totalmente diferente dos vistos a luz
daquela poca, criando assim (dentro deste contexto) uma discusso sobre o
certo e errado.
2.7. Brasil Repblica.
Aps 1888 a economia brasileira no era uma das melhores, pois o
pas ainda se adequava a nova realidade da sua populao, com a vinda de
europeus para o nosso pas e em 1889 quando o pas deixa de ser um Imprio
para se tornar uma Repblica.
De qualquer forma tornara-se evidente, ao aproximar-se o fim do sculo XIX, que o aparelho de Estado se tornara obsoleto, no correspondia mais realidade econmica e poltica, transformara-se num trambolho. A Repblica quando altera aquele aparelho de Estado, traduz o problema: cai o Poder moderador, cai a vitaliciedade do senado, cai a eleio base de renda, cai a nobreza titulada, cai a escolha de governadores provinciais, cai a centralizao. O novo regime permite a participao no poder, embora transitoriamente, da classe mdia, e h com a mudana de regime, claramente, uma luta em torno da poltica tarifaria e cambial. As reformas citadas na realidade traduzem, o que se processa em profundidade. No surgiram da imaginao dos republicanos da primeira hora: visavam, muitas vezes apenas na inteno, atender a determinados fatores, que eram relativamente novos, que vinham em ascendncia. No surgiram do acaso em suma. (SODR, 1973, p.273).
LOPES, Leon C. SOUZA, Carlyle A. O desenvolvimento do ensino de qumica no Par... 25
Nessa nova viso a industrializao comeou a ser uma das maiores
fontes de renda do Brasil, diante disso veio tona a preocupao com os
operrios de tais fabricas, sua educao e sua capacidade de aprendizado. Os
escravos haviam acabado de ser libertos e ainda marginalizados moravam a
merc da sociedade.
Neste momento percebe-se a precariedade que era a situao da
maior parte da populao, surgindo a imigrao de europeus para o Brasil atrs
do trabalho do plantio e da colheita principalmente de caf. Estes Imigrantes
saram de seus pases para tentar uma vida nova, na maioria das cidades
europeias a educao era muito valorizada.
Dessa maneira percebe-se que eles tinham necessidades maiores
que as condicionadas aos negros, que lutavam por paz e sua libertao, os
imigrantes queriam novos horizontes novas formas de trabalho, e nas fabricas
foi onde eles mais se adequaram. A maioria desses imigrantes chega com o
ideal de ganhar dinheiro e fazer fortuna, por consequncia faziam economia.
A partir dessas mudanas na estrutura da sociedade brasileira, o
dinheiro comeava a circular por todas as camadas, bens de consumo
comeavam a se tornar essncias, assim o Capitalismo tomou conta da
economia de nosso pas, fazendo com que o dinheiro circulasse por lojas,
empresas, mercados entre outros lugares.
A educao mesmo sendo muito escassa comeava a ser vista de
outra maneira, na parte cientifica era totalmente empregada na formao de
empregados de fabricas, farmacuticos entre outros ramos da educao
tcnica sempre sendo de carter Industrial.
A outra inteno era fundamentar esta formao na ciencia rompendo com a tradio humanista clssica, responsvel pelo academismo dominante no ensino brasileiro. A predominancia literaria deveria ser substituida pela cientifica e, para tanto foram intorduzidas as ciencias, respeitando-se a ordenao positivista (matematica, astronomia, fisica, quimica, biologia, sociologia e moral. (RIBEIRO, 1992, p.69).
A cincia entra nessa nova realidade como uma forma de
desenvolvimento das fabricas e empresas, pois era necessria a formao de
novos engenheiros, qumicos, matemticos entre outros. Os cientistas ou
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pesquisadores da poca rstica da qumica viam nesses estudiosos uma
maneira de desenvolvimento e novas pesquisas relacionados a avanos na
melhoria e crescimento de algumas fabricas.
Nesse perodo de desenvolvimento, fixao e aperfeioamento da
educao para os brasileiros, nosso pas passou por vrias mudanas tais
como uma colnia sendo explorada por sua metrpole, indo a fase de
Metrpole, ora vista como a capital de Portugal, e por fim um pas livre e
independente. Com esses atrasos impostos na maioria das vezes por Reis e
Imperadores, sempre acompanhados da centralizao do desenvolvimento,
pois estados como o Rio de Janeiro, So Paulo, Minas Gerais e a Bahia
tiveram mais recursos.
Rio de Janeiro como nova capital brasileira recebeu museus, Jardim
Botnico, entre outras instituies que fizeram com que o ensino das cincias
fosse melhor aproveitado, dessa maneira os estados prximos a capital
comeavam a se desenvolver na mesma proporo que o Rio de Janeiro.
No estado do Par j inicivamos uma certa produo biolgica no
de tanta expresso mais reconhecida pelo seu tamanho e diversidade de
espcies, o Museu Paraense que a priori seria criado para server como um
museu escola, dando suporte aos alunos e aos naturalistas que viriam ao
Estado, como afirma o autor:
"O Museu deveria ter atributos de uma Academia. Na ausncia de escolas superiores em Belm, este deveria exercer esta funo, dotado de biblioteca e sees tcnicas, cuja finalidade seria o estudo da natureza amaznica: fauna, flora, geologia, histria e o estudo do homem indgena amaznico. Tambm seria dotado de funes pedaggicas, com uma seo de extenso ao ensino para alunos de escolas de Belm e pessoas interessadas. Nessas sees seriam ministradas prelees de Histria Natural e outras."(BERTHO, 1994, p.63-64)
Depois de alguns anos de funcionamento o Museu Paraense foi
ganhando um status de referncia em pesquisas na regio norte do pas e a
sua consolidao caminhou junto com a poca urea da borracha, sendo
fixado de fato com o incio da republica, sobre tal fato podemos utilizar como
referncia o texto a seguir:
LOPES, Leon C. SOUZA, Carlyle A. O desenvolvimento do ensino de qumica no Par... 27
Ameaado de completa extino em 1888, o Museu Paraense foi recuperado por determinao do Governador Lauro Sodr, que, atravs da mediao do escritor e crtico paraense Jos Verssimo Dias de Mattos, trouxe para sua direo, em 9 de junho de 1894, o cientista suo e ex-funcionrio do Museu Nacional, Emlio Augusto Goeldi (1859-1917). A chegada desse naturalista ao Par coincidiu com o momento de valorizao dos museus e com o boom da borracha na Amaznia, possibilitando mais verbas para a instituio. Goeldi foi implacvel na reconstruo do Museu Paraense, consolidando sua imagem como um museu cientfico caracterstico do final do sculo. (FIOCRUZ, 2013)
Sem os esforos reconhecidamente feitos por Lauro Sodr e Goeldi,
poderamos hoje no tem mais esse espao localizado no centro da cidade,
referncia em pesquisa e com uma diversidade de fauna e flora diferente dos
demais museus.
Com a borracha sendo explorada no Par, e com um museu onde
poderiam ser estudadas, o estado comeou a ser enxergado como um possvel
lugar onde poderiam instituir escolas, universidades e at o momento cursos
tcnicos voltado a rea da cincia.
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3. A chegada do Ensino de Qumica no Par.
3.1. Descentralizao do Ensino Superior
O final do sculo XIX presencia eventos categricos para a nao brasileira: a troca de regime poltico, a abolio da escravatura, a introduo de mo-de-obra livre, a poltica imigratria e o primeiro surto industrial (MOROSINI, 2005, p.308).
No incio da Repblica percebe-se uma relativa urbanizao do
nosso pas, e os grupos que estiveram junto aos militares na idealizao e
construo do novo regime vieram de setores sociais urbanos que preferiam
carreiras de trabalho mais escolarizadas em detrimento do trabalho braal.
Junto a isso e ao clima de inovao poltica, surgiu ento a motivao para
muitos intelectuais brasileiros viessem a discutir a necessidade de abertura de
escolas.
Nesse perodo, os Estados se caracterizavam pela poltica dos governadores, pela qual se entregou cada estado federado, como fazendas particulares, oligarquia regional que a dominasse, de forma que esta, satisfeita em suas solicitaes, ficasse com a tarefa de solucionar os problemas desses estados. Apesar do carter oligrquico, esse foi um perodo frtil para a expanso do ensino superior que de 1907 a 1933 passa de 25 para 338 instituies de ensino superior e 17 universidades e de 5. 795 para 24. 166 alunos. Entretanto, mesmo com esta expanso, a taxa de escolarizao era muito baixa, pois somente 0,05% da populao total do pas, em torno de 17 milhes de habitantes, estava matriculada em um curso superior. (MELO; SANTOS; ANDRADE, 2009).
Dentro deste contexto de expanso, haver a criao dos cursos de
qumica industrial, derivada de um projeto do deputado paulista Rodrigues
Alves Filho, de 1919, e tinha como ideia central a necessidade de formar
profissionais para suprir a nascente indstria do Pas.
Sobre isso h a afirmao:
Como entidades didticas independentes, mas anexos a instituies j existentes, com o fim do aproveitamento de seus docentes e laboratrios, possibilitando tambm, igualmente, o contrato de profissionais estrangeiros. (RHEINBOLDT, 1955, p. 68)
A diversidade de matria prima na Amaznia levou a muitos
exploradores pesquisarem sobre a fauna e flora regional onde se encontravam
muitas riquezas e locais, onde alm dos ndios ningum tinha conseguido
chegar. Realidade essa que aguou e estimulou vrios cientistas a conheceram
LOPES, Leon C. SOUZA, Carlyle A. O desenvolvimento do ensino de qumica no Par... 29
a regio, matria prima essa que vinha a se mostrar muito lucrativa e uma
inovao para a comunidade cientifica da poca em questo.
3.2. Implementao da Qumica no Par
Diante dessa realidade da vastido de materiais naturais a serem
explorados e compreendidos, faz-se necessria a implementao da qumica
no Par, em certo momento do desenvolvimento educacional e exportador
brasileiro, devido grande diversidade de materiais a serem explorados, e a
quantidade insuficiente de pessoas capacitadas a trabalhar nessa rea.
Sobre a pratica exploratria indiscriminada em nossa regio vem
nesse contexto o caso da Ltex, retirado das seringueiras na floresta
amaznica;
Por volta de 1744 Charles Marie La Condamine descobriu que os ndios usavam o ltex para fabricar garrafas, botas e bolas ocas que se achatavam quando eram pressionadas. Retornando ao formato original quando cessava a presso. Era evidencia da elasticidade da borracha, familiar aos ndios mais somente empregada com sucesso para a fabricao de cmaras de ar de pneus em 1888. (MACHADO, 2004. p. 40 e 41).
No momento em que a histria paraense, principalmente na capital
Belm ficou conhecida como a poca da borracha, que deu ao Par assim
como a Manaus um ar de Paris na Belle poque. Nome este, dado por conta
das vestimentas utilizadas na poca e pela grande influncia europeia em
nossa cidade graas a descoberta e explorao da seringueira. Deste modo o
Par vivia
[...]cenrios favorveis inveno de tradies e mitos sobre um perodo de excessos, embalado pela lrica, regrado pela ordem republicana, estimulado pelo cosmopolitismo e confiante no progresso (DAOU, 2000, p. 11).
A qumica pura e ensinada chegou no Par por volta de 1904 como
qumica farmacutica, com a criao da Escola de Farmcia. Nesse
determinado perodo essa disciplina era utilizada simplesmente como um
conhecimento adicional ao curso de farmcia e no a qumica de ensino e de
pesquisa que conhecemos nos dias atuais. Com o fim da Primeira Guerra
Mundial dois acontecimentos relevantes para o ensino de Qumica no Brasil,
segundo Rheinboldt (1994), so: a criao do ensino profissional tcnico e a do
LOPES, Leon C. SOUZA, Carlyle A. O desenvolvimento do ensino de qumica no Par... 30
ensino cientfico orientado para a pesquisa nas cincias puras, decorrentes
diretamente do surto industrial que originou-se em consequncia daquele
conflito mundial,
"modificando rapidamente a fisionomia da nao, como tambm os ensinamentos dessa guerra, que mostraram ao mais indiferente leigo a enorme importncia da qumica, ao menos de sua indstria, para a civilizao e a defesa das naes, alargaram as maneiras de pensar e abriram os olhos para a necessidade inevitvel de indstrias qumicas com tcnicos especializados" (RHEINBOLDT, 1994). No ano seguinte, a lei Oramentaria de Despesas n 3.991 consignou uma subveno de 100 contos de ris por curso. Deveriam estabelecidos cursos em Belm, Recife, Salvador, Belo Horizonte, Ouro Preto, Rio de Janeiro, So Paulo e Porto Alegre (SCHWARTZMAN 1979, p.118).
A partir de 5 de Janeiro de 1920, foram criados os primeiros cursos
de qumica no Brasil, e Belm foi sede de uma das escolas tcnicas, a ento
fundada Escola de Chimica Industrial tendo Paul Le Cointe como seu primeiro
diretor.
3.3. A Escola de Chimica Industrial do Par.
A respeito da fundao da Escola de Chimica Industrial:
A criao de uma instituio de ensino de qumica em Belm foi resultado da ao de parlamentares paraenses, na cmara federal, que aproveitam a deciso do Congresso Nacional de criar diversos cursos de qumica no Pas. Foram, assim, criados cursos de qumica nos institutos tcnicos e j existentes nas cidades de So Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Belo Horizonte e Recife. Como em Belm ainda no houvesse uma escola politnica foi necessrio criar uma instituio prpria. Paralelamente, a Associao Comercial do Par. Que possua um Museu Comercial, onde eram exibidos materiais primas regionais e alguns processamentos para obteno de produtos acabados e semiacabados, motivou-se pela implantao da instituio de ensino, que, alm de ensino, prestaria servios aos setores pblicos e privados. (ALENCAR, 1985, p.120).
A escola tinha por interesse formar profissionais que trabalhassem
nas reas tcnicas das empresas regionais, como as de borracha, as boticrias
e industrias relacionadas ao desenvolvimento de matrias primas naturais da
regio amaznica, tendo em vista que essas reas eram as que
movimentavam a economia.
Dentro deste contexto, Machado (2004, p. 40) afirma:
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Da cultura tecno-qumica primitiva da Amaznia restaram ainda vrios conhecimentos, posteriormente aperfeioados, sobre leos vegetais, ltex, farinhas, pigmentos, fibras vegetais, medicamentos naturais, perfumes e conservao de alimentos. Do deslumbramento dos europeus com a diversidade de substncias qumicas encontradas no Brasil resultou um contnuo (e s vezes sigiloso) fluxo de materiais. Sabe-se que La Condamine enviou amostras de ltex para serem estudadas pela Academia de Cincias da Frana e o caso das sementes de seringueira contrabandeadas para a Malsia notrio.
No texto citado a cima, evidente a variedade de compostos e de
materiais que podem ser utilizadas para pesquisas, e aprimorados com
tcnicas qumicas, tanta diversidade chamou a ateno do naturalista francs
Paul Le Cointe, primeiro diretor da Escola de Chimica do Par. Que antes de
ser escolhido para o cargo j mostrava grande interesse pela natureza
amaznica desde o tempo em que lecionava qumica na Universidade de
Nancy. Tendo publicado vrios trabalhos sobre a Amaznia, entre o mais
importante deles o LAmazonie Brsilienne de 1922.
Le Cointe no foi o nico especialista francs que participou do
funcionamento da escola de Qumica, outros franceses fizeram parte do corpo
Docente, alm de alguns professores paraenses que lecionavam nos
Gynasios Estaduais.
Sobre isso afirma Machado (2004, p.42):
Alm de Le Cointe, outros especialistas franceses participaram da Escola de Qumica, primeiro Charles Paris e Raymond Joannis e depois Ren Rougier, Georges Bret, Camille Henniet e Andre Callier, e ainda os brasileiros Antnio Maral e Renato Franco.
O curso tcnico em qumico industrial era realizado em 4 anos,
sendo o ltimo ano, complementar aos trs anos oficiais, destinado a um
trabalho de tese e especializao em indstria, geralmente de interesse
amaznico. A grade curricular das disciplinas do mesmo era administrada da
seguinte maneira:
a). No primeiro ano - qumica mineral, qumica industrial, anlise
qualitativa, fsica, matemtica e tecnologia amaznica;
b). No segundo ano - qumica orgnica, qumica industrial,
qumica biolgica, anlise quantitativa e fsica;
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c). No terceiro ano - qumica industrial, fsico-qumica,
mineralogia e desenho linear.
d). No quarto ano suplementar ensinava-se tecnologia industrial,
qumica industrial, uma especializao e havia carga horria
para preparao de uma tese de graduao.
Com a tese aprovada, o aluno receberia o diploma de qumico. No
sendo muito distante de como aplicado o tempo e a forma para a concluso
dos cursos de licenciatura em Qumica atualmente.
Os alunos tinham aulas tericas e prticas, sendo estas ltimas com um mnimo de vinte horas de laboratrio por semana, alm de visita a fbricas e trabalhos de campo. A biblioteca era atualizada com literatura cientfica internacional, com predomnio francs. Sobre aquela biblioteca, A Folha do Norte de 22/11/1970 (pag. 2) menciona como parte do acervo: DICTIONNAIRE DE CHIMIE de Wurtz (Paris, 1892); ENCYCLOPDIE CHIMIQUE de M. Frmy (Paris, 1894); TRAIT COMPLET D'ANALYSE CHIMIQUE APPLIQU AUX ESSAIS INDUSTRIELES, de Post e Newmann (1919) e os famosos ANNALES DE CHIMIE ANALYTIQUE, Societ des Chimistes Franais (1923), obras em francs, lngua que, segundo Ben-David, apud Alves (2004), em algum momento representou referncia internacional para modernizao e internacionalizao da cincia. (MACHADO, 2004, p.42).
A escola de Qumica Industrial desenvolveu suas atividades por um
perodo de nove anos somente, desenvolvendo vrias pesquisas sobre as
matrias primas regionais e formando poucos alunos nesse perodo, no
entanto, com trabalhos de diversos gneros que foram publicados em um
peridico um ano aps o seu fechamento em 1930. At o ano que antecedeu o
termino das atividades da escola foram formados nove qumicos, aptos a
repassarem conhecimento como futuros docentes ou trabalharem em
empresas da regio, este segundo sendo mais possvel de acontecer.
A escola era mantida por verba federal dividindo despesas com a
Associao Comercial do Par. No entanto ao assumir a presidncia do pas
Getlio Vargas instituiu o Nacionalismo, estatizando muitas instituies e
criando medidas e leis estimulando o crescimento do pas e do Governo. Assim
as verbas de escolas especificas, vinculadas a qualquer instituio privada
foram suspensas, fazendo com que muitas dessas escolas de Qumica fossem
fechadas. Mesmo com essa realidade a Associao Comercial tentou manter a
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instituio aberta, mas pelos altos custos decidiu por finalmente encerrar as
atividades em 1930.
Sobre o fechamento e o desenvolvimento da Escola de Qumica:
At 1929 a escola formou nove qumicos. Apesar de todos os trabalhos e de todas as pesquisas realizadas serem de vital importncia para o desenvolvimento da Amaznia, a Escola de Qumica Industrial do Par foi fechada em 1930, devido crise econmica ocasionada pela revoluo do mesmo ano. Alm dela, a maioria das Escolas de Chymica tambm foram fechadas, e canceladas as subvenes federais. Mesmo com o fechamento da Escola, seu boletim cientfico, publicado em 1930, continha 15 trabalhos sobre produtos naturais amaznicos. O Boletim tinha a finalidade de publicar a produo cientfica da escola e seu segundo nmero encontrava-se j pronto para ser publicado quando do encerramento das atividades. (MACHADO, 2004, p.43).
Depois de 25 anos fechada a Escola de Qumica novamente seria
reaberta pois acreditava-se que a Amaznia e principalmente o Par continham
riquezas que deveriam ser estudadas e pesquisadas por qumicos. Uma vez
que todo o trabalho que era conhecido sobre a nossa regio, eram os
peridicos publicados pelos alunos da extinta Escola de Chymica Industrial e
os livros do ento diretor Paul Le Cointe. Nesse esforo alguns merecem maior
destaque na histria dessa instituio, nesse caso a professora Clara Martins
Pandolfo, ex-aluna de Le Cointe.
Sobre a retomada das atividades da escola e sobre os esforos de
ex-alunos para que a qumica fosse novamente estudada numa escola
especifica e com professores capacitados a ensinar essa disciplina:
Atravs dos esforos da superintendncia da SPVEA (Superintendncia do Plano de Valorizao Econmica da Amaznia), da Associao Comercial do Par e do movimento de ex-alunos, em 1956 com o Decreto Federal 38.876 era autorizada a reabertura e funcionamento da Escola de Qumica Industrial do Par. No mesmo ano foi realizado um vestibular e a Escola reiniciou suas atividades. No dia 20 de abril deu-se a aula inaugural, que versou sobre o tema: Qumica uma cincia a servio da humanidade. O diretor poca era o professor Joo Renato Franco, sob cuja direo a Escola continuou funcionando no mesmo local, onde era mantida provisoriamente com pequenos recursos da Associao Comercial do Par e auxlio da SPVEA. A maioria dos docentes era constituda por ex-alunos. LIMA, ALENCAR, BARBOSA (apud MACHADO, 2004 p.47):
LOPES, Leon C. SOUZA, Carlyle A. O desenvolvimento do ensino de qumica no Par... 34
Mesmo com a sua reabertura em 1956 a escola no havia sido
reconhecida, somente em 1959 a partir do Decreto Federal 47.340, de
03.11.59, tornando-se uma instituio de ensino reconhecida, mesmo
continuando com os problemas que a assolaram desde a sua criao, que
seria de onde viriam os recursos, j que o governo federal no poderia ser o
financiador de tal escola, correndo o risco de encerrar as atividades por falta de
recursos.
O problema das verbas, alis, era histrico, uma vez que j na
criao dos curso de qumica industrial em 1919, referindo-se ao custeio das
instituies, Rheinboldt (apud MACHADO, 1994) menciona que:
"logo no primeiro ano de vida os embaraos e as deficincias se apresentaram no ensino prtico das disciplinas, como as de qumica, exigentes de longa permanncia em laboratrios, devendo servir aos alunos da Escola de Engenharia [no caso de So Paulo] e aos do curso (estes ltimos se viam sempre prejudicados). Com raras excees as prprias escolas no disporiam de laboratrios adequados e a verba de cem contos no era suficiente para cobrir pagamento de docentes, material de ensino e novas instalaes; o aumento posterior da verba a 120 contos no resolveu o problema do oramento dos cursos."
Com todos esses problemas a criao da Universidade Federal do
Par (UFPA) em 1957, seria uma forma de manter em pleno funcionamento as
atividades da escola, mas a instituio no foi federalizada ficando assim fora
da ento grade de cursos da UFPA, fato esse no entendido por vrios
professores e alunos da escola. Nesse atual contexto em que se encontrava,
mas uma vez estava beira de encerrar as atividades, porm o Governo
Estadual por meio da Lei Estadual 2173, de 17.01.61 tomou posse da
instituio evitando mais uma vez a sua extino.
3.4. Incorporao da Escola de Qumica pela Universidade Federal do
Par
Desde sua reabertura em 1956 e seu reconhecimento em 1959
foram mais 4 anos de espera e de estruturas precrias para a pratica do ensino
e aprendizado de Qumica, at que finalmente fosse acampada a Universidade
Federal do Par em novembro de 1963, mediante a protestos e reinvindicaes
de alunos e professores, agora sim tornando-se Escola Superior de Qumica.
LOPES, Leon C. SOUZA, Carlyle A. O desenvolvimento do ensino de qumica no Par... 35
Dentro deste contexto acima citado MACHADO (2004, p 45) diz:
Com a participao de docentes, alunos, movimento estudantil, ex-alunos e polticos (destacando-se o Deputado Ferro Costa), a Escola foi encampada pela UFPA no dia 18 de novembro de 1963 (Lei 4283 de 18.11.63), tendo o mesmo ocorrido com a Escola de Servio Social, que (pela mesma razo?) tambm ainda no o havia sido. Tal, no entanto, no foi aceito pela administrao da Universidade, que continuou resistindo incorporao das Escolas e pressionou politicamente o Governo Federal, o que levou o Presidente da Repblica a vetar o projeto de Lei que encampava as duas escolas. O Congresso Nacional, cedendo s presses do movimento estudantil paraense, rejeitou o veto presidencial, tornando a Escola, agora, Superior de Qumica, integrada Universidade Federal do Par.
A Universidade Federal do Par sofreu uma reestruturao em
1969/70, onde as Escolas superiores foram extintas sendo criado os
Departamentos de Qumica Bsica e Engenharia Qumica do Centro de
Cincias Exatas e Naturais. Especificando ainda mais as atividades e
abrangendo uma quantidade maior de investimento nessa rea que a muito
faltava ser feito. Aps nova reestruturao as atividades de qumica Bsica
ficaram a cargo do Departamento De Qumica do Centro de Cincias Exatas e
Naturais e as aplicadas a cargo do Departamento de Operaes e processos
Qumicos do Centro Tecnolgico (MACHADO, 2004).
MACHADO (2004, p.46) afirma: tardia encampao da Escola de
Qumica do Par pela Universidade deu-se em 1963, depois de muitas
dificuldades vencidas (LIMA, ALENCAR e BARBOSA, 1985) e oportunizou o
desenvolvimento das atividades de ensino graas principalmente capacitao
docente ocorrida, implantao de projetos de pesquisa e atualizao
curricular do curso de qumica industrial.
Percebemos que a demora em unir os esforos locais de ex-alunos
da escola de qumica com os subsdios do Governo Federal atrasou muito o
desenvolvimento de tcnicas e pesquisas que poderiam ser estudadas e
praticadas no Par. A educao em Belm sempre foi iniciada da forma tardia,
desde a criao da Escola de Farmcia em 1904, em um perodo onde foi
percebido que as riquezas naturais do norte do pas poderiam dar um retorno
lucrativo a empresas e porque no h educao.
LOPES, Leon C. SOUZA, Carlyle A. O desenvolvimento do ensino de qumica no Par... 36
Foi somente em 1924 segundo Beckmann (1985), no propriamente
em decorrncia das Faculdades existentes, mas da iniciativa pessoal de
homens ligados a cultura oriundos das cincias e do magistrio, que se criou a
Universidade Livre do Par.
Para BECKMANN (1985, p. 508):
Somente aps a quebra da borracha, em 1912, que viria a expandir-se o nosso ensino superior, num evidente contraste econmico-educacional. Em 1914 fundava-se a Faculdade Livre de Odontologia; a de Agronomia e Veterinria em 1918, e, em 1919, a Faculdade de medicina e Cirurgia do Par, que chegaria a ocupar lugar de destaque no cenrio mdico nacional.
A Universidade Livre do Par, estaria ministrando curso e
organizando outras instituies de ensino superior, agindo como uma
instituio cultural, assim no tendo uma extenso de ensino e pesquisa. J na
dcada de 30 seria fundada a Escola de Engenharia do Par, voltando assim a
falar em Universidade, assim em 1950 a Universidade de Medicina foi ento
federalizada, sendo de vital importncia para a criao de uma Universidade
Paraense.
Sobre a criao e a afirmao da Universidade no Par e seu
processo de desenvolvimento, para BECKMANN (1985), em julho de 1957
mediante lei sancionada pelo ento presidente Juscelino Kubitschek de
Oliveira. Na sua Origem estavam as trs faculdades, (Medicina, Direito e
Farmcia), as quais foram acrescentadas a Escola de Engenharia e as
Faculdades de Odontologia, Filosofia, Cincias e Letras e Cincias
Econmicas, Contbeis e Atuariais, tardiamente a encampao da Escola de
Qumica do Par pela Universidade deu-se somente em 1963.
Nesse contexto da implementao e estruturao do curso de
licenciatura em Qumica na universidade federal do Par afirma MACHADO
(2004, p. 46 e 47):
Reunidas as condies suficientes, deu-se afinal a criao do Centro de Cincias Exatas e Naturais da UFPA (CCEN) (Decreto Lei n 252/67) dentro do que se denominou, poca, de Reforma Universitria. Tais condies surgiram em decorrncia da prpria consolidao da Universidade do Par que, como vimos, precisava das disciplinas da chamada rea de Cincias Exatas e Naturais ofertadas de forma ostensiva a muitos a muitos dos seus cursos. A
LOPES, Leon C. SOUZA, Carlyle A. O desenvolvimento do ensino de qumica no Par... 37
implantao do CCEN deu-se a partir de janeiro de 1971 j no campus universitrio recm construdo e reunia as estruturas didtico-administrativas do Ncleo de Fsica e Matemtica, do curso de Geologia e parte da estrutura da antiga Escola Superior de Qumica (LIMA, ALENCAR E BARBOSA, 1985). Vinculado ao CCEN deu-se, em 1972 (Resoluo n 86 de 15.05.72 do COSEP) a criao do curso de Licenciatura em Qumica, que passou a ser redigido pela Resoluo CONSEP n 356 de 08.07.76. At ento, os cursos de Qumica no Par conferiam a sus formados atribuies exclusivamente tecnolgicas, no os preparando para o exerccios do magistrio no 1 e 2 graus (hoje nvel fundamental e mdio). Assim, formavam profissionais para a pesquisa e a indstria, mas no os habilitavam para uma reflexo mais consistente sobre os problemas da Educao Qumica. Engenheiros e tecnlogos podem, evidentemente, tornarem-se excelentes professores, mas a efetiva formao para o magistrios deve ser proporcionada por cursos de Licenciatura.
Este curso criado dentro de um contexto onde acreditava-se que o
mesmo era mais um curso de qumica, observamos a grande predonminancia
de conhecimentos qumicos sobre os demais, relevando que sua criao muito
se relaciona com a concepo moderna de cincia e educao presente na
poca.
Posteriormente essa concepo moderna da formao de
professores, cair em crise, tendo como fatores a complexidade do ato de
ensinar e a incapacidade de se posicionar frente a problemas sociais graves
como violncia, criminalidade e desemprego, alm do sentimento de
desconfiana em relao a tecnologia e o surgimento de uma demanda de
ensino para qual s a modernidade j no basta, um ensino com temas mais
amplos, complicador para esta concepo.
LOPES, Leon C. SOUZA, Carlyle A. O desenvolvimento do ensino de qumica no Par... 38
4. A formao do Professores Qumica.
4.1. Formao de professores de qumica em Belm.
Depois de 40 anos de funcionamento e criao dos cursos na rea
da qumica pela UFPA, sendo assim a primeira instituio no Par a
implementar esse curso na sua grade, tendo em vista a carncia de
professores especializados em licenciatura para se trabalhar com ensino
fundamental e mdio.
Engenheiros Qumicos, Qumicos Industriais, Bacharis em Qumica
e Farmacuticos, Mdicos, poderiam sim ser bons professores dessa
disciplina, porm, os mesmos estariam cometendo o mesmo erro j cometido
por instituies de ensino que antecederam a mesma no incio do sculo
passado, com profissionais no especializados em reas pedaggicas e com o
mnimo de trato em sala de aula.
Sobre essa pratica de outros profissionais atuarem na rea da
educao sem a devida instruo comenta Retondo, Silva (2007, p.146):
Sabe-se que esta prtica tradicional de acrescentar aos conhecimentos cientficos alguns conhecimentos pedaggicos partindo-se do princpio de que estes, somados queles, resultariam num conhecimento que daria conta de solucionar os problemas prticos da profisso vem carregada de inmeros problemas (Schn, 1992). O caminho para a viso da totalidade outro. Nem sempre fcil ou desejado. Tanto a legislao quanto a literatura educacional sinalizam claramente que pensar a formao de professores hoje vai muito alm de oferecer ao aluno algumas disciplinas pedaggicas ao final do bacharelado. Formar professores numa universidade implica ter um projeto especifico e partilhado por todos os docentes da licenciatura (no apenas pedagogos).
A partir desse momento ento definitivamente criado o curso de
Cincias Habilitao em Qumica. Reconhecido pela portaria n73 de 15 de
janeiro de 1980, Construdo a partir de uma mentalidade racional moderna, o
curso estruturou-se em torno da concepo tradicional de cincias e de
conhecimento. (MACHADO 2004, p.49).
Fato esse que atrasou um pouco e deixou os futuros licenciados em
qumica a margem dos cursos tcnicos e bacharis dessa disciplina, sendo
LOPES, Leon C. SOUZA, Carlyle A. O desenvolvimento do ensino de qumica no Par... 39
colocados como um curso sem a devida importncia na formao de
professores.
Sobre esse tipo de ensino e como foram institudos os cursos de
licenciatura em qumica no Brasil SCHNETZLER, (2000); CARVALHO; GIL-
PREZ, (2003):
De fato os currculos das licenciaturas das reas das cincias naturais entendidas como Qumica, Fsica e Biologia nas Universidades brasileiras tm sido compostos por um recorte do currculo bacharelado acrescido de alguns componentes psicopedaggicos.
Sobre a relao entre os avanos tecnolgicos e as dificuldades que
nortearam assim a implementao dos primeiros ano da Licenciatura em
Qumica no Brasil, Gonalves (1998, p.45) se manifesta dessa maneira:
No ano de 1972, a Universidade d incio, no meu ponto de vista, desvalorizao do curso de licenciatura em matemtica e de outras Licenciaturas. O conselho do centro, em funo do Art. 4, Pargrafo nico da resoluo 108 do CONSEP, permitiu que trinta e dois (32) alunos das diversas engenharias cursassem simultaneamente a licenciatura em matemtica.
Este fato gerou muita polmica, uma vez que com o passar dos anos, verificou-se, que na verdade esses alunos em sua grande maioria cursavam a licenciatura em matemtica para obter vantagens, tais como: acelerar os seus cursos de Engenharia, o que era possvel em funo de vrias disciplinas serem comuns aos dois cursos; para obter licena para lecionar, outros prestavam vestibular para a Licenciatura em matemtica, como trampolim a uma das engenharias, pois no ano seguinte tentavam trocar de curso ou faziam novo vestibular, objetivando o curso pretendido, mas agora melhor preparados e j com vrias disciplinas cursadas a serem creditadas no novo curso. Entretanto, grande parte desses alunos continuava a se matricular no curso de matemtica, naquelas disciplinas comuns aos dois cursos. Destes, poucos se interessavam em, de fato, obter diploma dos dois cursos. No entanto, alguns tinham o intento de acelerar o seu curso de engenharia e outros, o de pedir licena para lecionar.
Em 1975, o MEC torna obrigatrio o Curso de Licenciatura em Cincias do 1 grau. Mais uma vez, atravs de um decreto, o Governo tenta mudar os rumos do ensino no Brasil. A Universidade Federal do Par no reagiu contra a medida e, no mesmo ano, adota-a e implanta o curso de Cincias. Inicialmente o curso lotado no Centro de Educao, tendo, a partir de 1976, sido transferido para o Centro de Cincias Exatas e Naturais. Sem estar preparada para tal empreitada, a Universidade, diferentemente de outras instituies do pas, acatou prontamente a determinao do MEC, com o agravante de que os Centros envolvidos com as licenciaturas, no foram sequer consultados.
LOPES, Leon C. SOUZA, Carlyle A. O desenvolvimento do ensino de qumica no Par... 40
A situao torna-se tragicmica: os alunos que prestavam vestibular para os cursos de Qumica, Fsica, Biologia ou Matemtica eram obrigados a fazer inicialmente o Curso de Licenciatura em Cincias do 1 grau. Ao termino do referido curso, tornavam-se professores de Cincias e Matemtica de 5 a 8 srie do ensino fundamental.
De acordo com que escreveu GONALVES (1998) podemos
perceber claramente como a implementao dos curso de Licenciatura na
Universidade Federal do Par foi feita de uma forma inconsequente e porque
no sem os pr-requisitos mnimos para uma formao profissional adequada a
uma pessoa que entraria em sala de aula e repassaria o conhecimento a outros
alunos.
Ainda sobre a formao de professores e como a instituio recebeu
o curso de licenciatura, GONALVES (1998) diz:
Com a criao do Curso de Licenciatura em Cincias, foi baixada a Resoluo de nmero 257 de 28.04.75, alterando, novamente, o 1 ciclo da rea de Exatas, alterando a resoluo 03/70, acrescentando as disciplinas Biologia Geral e lgebra 1, retirando Qumica Geral como obrigatria de setor do curso de Matemtica, e acrescentando esta ltima ao curso de Licenciatura em Cincias.
Em julho de 1976, a Resoluo nmero 354 altera, novamente, a Resoluo 03/70, que tinha ido alterada em 75. As alteraes foram os acrscimos de Biologia Geral, Botnica 1, Zoologia 1 e Elementos de Geologia, e volta, novamente, a ser obrigatria a Qumica Geral para o curso de matemtica e para o curso de Cincias. Todas estas alteraes, feitas de forma inconsequente, provocaram um verdadeiro caos nos cursos de licenciatura em Matemtica, Fsica, Qumica e Biologia. Seus coordenadores ficaram por algum tempo totalmente desorientados, uma vez que todas as alteraes eram realizadas sem sua participao. Todas as medidas foram impostas. fcil imaginar a situao dos alunos frente a toda essa organizao.
Como visto nessa resoluo as atribuies de um licenciado em
Qumica era meramente um profissional com especificaes pedaggicas no
currculo, sendo dessa maneira considerado por muitos autores um modelo
tecnicista predominante nos cursos de formao de professores, um modelo
onde os ento estudantes de licenciatura em qumica
Sobre tal modelo, BEJARANO, et al. (2004) afirma que:
A formao do professor encontra-se voltada para a memorizao e aplicao dos saberes de forma acrtica e descontextualizada, sem problematizao e sistematizao dos
LOPES, Leon C. SOUZA, Carlyle A. O desenvolvimento do ensino de qumica no Par... 41
conhecimentos qumicos e pedaggicos, deixando os alunos sem outra alternativa seno manter a concepo de ao docente elaborada na formao ambiental ao longo das suas vivencias, em especial enquanto estudantes.
Dessa maneira vimos que a falta de organizao das instituies
federais e a falta de cuidado na hora da estruturao dos projetos curriculares
e a maneira como os licenciados em qumica eram tratados de um ponto de
vista acadmicos, acabou-se construindo-se uma concepo de que o
professor de qumica um qumico com atribuies pedaggicas, tendncia
que dominou a partir desse momento o desenho curricular de todos os
posteriores desenhos curriculares do curso.
Com esse tipo de formao alguns autores afirmam a m formao
de alguns professores de cincias e ao concluir o curso comum que os
licenciados exibam uma atitude de insegurana e sentem-se despreparados
para ministrar boas aulas, pouco tempo depois vindo a sentir um frustrao e
insatisfao profissional, conforme relata ROSA (2004, p.19):
Ao me tornar professora da escola pblica muitas questes emergiram entre elas: Que cincia essa que conheci?; Como possibilitar aos meus alunos o acesso cultura cientifica para que eles usufruam deste tipo de conhecimento no seu entorno social? (...). Que tipo de professora me tornei? Reflito para tentar responder, contudo fcil recordar que passados alguns poucos anos de profisso docente j me encontrava insatisfeita e frustrada como a maioria de meus colegas.
Sobre essa afirmao acima, percebemos como muitos professores
tem a certeza e porque no a incerteza que os licenciados e futuros licenciados
tem pela frente ao enfrentar uma realidade que j perdura ao longo dos anos.
Como citou Gonalves (1998) alteraes no currculos foram feitas de forma
inconsequente, deixando os coordenadores desorientados com tantas
mudanas, uma vez que todas as alteraes eram realizadas sem a sua
participao efetiva.
Para Schnetzler (2000, p.14), sem as alteraes significativas em
seus modelos de formao e currculo do curso, ela diz:
A grade curricular da maioria dos cursos de licenciatura manifesta e enfatiza dois caminhos paralelos, que no se aproximam sequer, um do outro, durante os vrios semestres, mas que s vo se cruzar e se articular em disciplinas de
LOPES, Leon C. SOUZA, Carlyle A. O desenvolvimento do ensino de qumica no Par... 42
natureza tal como a Prtica de Ensino, a de Didtica Especifica e/ou de instrumentao para o Ensino.
Portanto somente em momentos em que h relevncia do ensino
sobre os conhecimentos especficos e que vamos perceber a unio das
disciplinas trabalhando de maneira conjunta trazendo melhorias para o ato de
lecionar.
4.2. Criao do curso de Licenciatura em Cincias Naturais na
Universidade do Estado do Par.
A Universidade do Estado do Par UEPA, tem como princpio ser
o motor de revitalizao para o desenvolvimento do Estado, o que exige dar
respostas s necessidades e desafios locais e romper-lhes os pontos de
estrangulamento, quer pela via da cincia, da tecnologia, da educao e da
cultura, quer pela produo de caminhos alternativos prprios (Plano de Ao
1996/2000).
Nessa posio e conhecendo a realidade educacional de nosso
estado, e as condies scio econmica, juntamente com a extenso
geogrfica, a UEPA teve que tomar a deciso de se fazer presente em todas as
regies do Estado, nessa situao em especial foi criado o Projeto de
Interiorizao de Cursos de Graduao, principalmente nas reas que no
eram alcanadas pelas outras instituies paraense.
Depois de visto acima os padres e parmetros para a criao dos
cursos de licenciatura no Par a UEPA com um pensamento mais regional e de
suprir demanda do interior do estado que sofria com a falta de profissionais das
reas de Biologia, Fsica e Qumica.
Sendo assim a UEPA, atravs do Centro de Cincias Sociais e da
Educao e do Departamento de Cincias Naturais prope, implantar o curso
de Licenciatura Plena em Cincias, considerando as condies fsicas e
materiais, necessrias ao funcionamento do curso.
A cerca da criao dos cursos em licenciatura o relatrio anual do
curso de licenciatura plena em cincias naturais - 2011
LOPES, Leon C. SOUZA, Carlyle A. O desenvolvimento do ensino de qumica no Par... 43
O Curso de Licenciatura Plena em Cincias Naturais (Biologia, Qumica e Fsica) da Universidade do Estado do Par foi criado pela Resoluo CONSUN n 277 de 11 de dezembro de 1998 e comeou a funcionar na modalidade intervalar a partir de 1999, com um limite de 200 (duzentas) vagas distribudas em 5 (cinco) turmas, com desenvolvimento nos municpios de Altamira, Conceio do Araguaia, Marab, Paragominas e So Miguel do Guam, de natureza intervalar/modular e destinado exclusivamente ao atendimento da demanda do interior do Estado. A forma de ingresso no curso de Cincias se deu, desde a sua criao, atravs do Processo Seletivo e PRISE. O Curso foi aprovado pela Resoluo N 391/00 de 21 de maro de 2000.
Desta maneira podemos observar que os primeiros cursos de
licenciatura foram criados nos interiores, foco principal do interesse estadual
que seria o de suprir as demandas necessrias com profissionais da prpria
regio, tendo em vista a dificuldade que seria para uma pessoa que morasse
na capital ir para cidades muito distantes, como facilitaria a distribuio do
conhecimento que estava sendo repassado somente na capital.
Tal situao se fez necessria pois, como observa o pargrafo 4,
inciso IV do artigo 87 da Lei de Diretrizes Bsicas de Educao Naciona