1
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA CENTRO DE CINCIAS DA SADE
PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM ENFERMAGEM
O EXERCCIO GERENCIAL DO ENFERMEIRO NA
ESTRATGIA SADE DA FAMLIA
DISSERTAO DE MESTRADO
Lucilene Gama Paes
Santa Maria, RS, Brasil. 2013
2
O EXERCCIO GERENCIAL DO ENFERMEIRO NA ESTRATGIA SADE DA FAMLIA
Lucilene Gama Paes
Dissertao de mestrado apresentado ao Curso de Mestrado do Programa de Ps-Graduao em Enfermagem. rea de Concentrao em Cuidado, Educao e Trabalho em Enfermagem e Sade, Linha de
Pesquisa: Trabalho e Gesto em Enfermagem e Sade da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM, RS), para obteno do ttulo de Mestre
em Enfermagem.
Orientadora: Prof. Dr. Suzinara Beatriz Soares de Lima
Santa Maria, RS, Brasil. 2013
3
4
5
Dedico este trabalho minha me,
amor incondicional!!
6
hora de agradecer ...
Agradeo Deus
por guiar o meu caminho, por me dar fora e coragem todos os dias.
Agradeo aos meus pais, Marlene e Luiz Carlos
que desde sempre me apoiaram para a conquista dos meus sonhos. Dedicaram-me suas
vidas, abdicando das suas em diversos momentos.
Souberam me amar e me ensinaram a perseverar sempre.
Amo muito vocs!!
Agradeo ao meu irmo Fabiano
por todo o carinho e amor a mim dedicados, essa conquista nossa, pois esteve ao meu lado
durante todo o caminho, sei que posso contar com voc para tudo.
Tenho muito orgulho daquilo que conquistamos!!
Agradeo ao meu amor Rodrigo
meu companheiro de jornada h quase 15 anos, obrigada por sempre me apoiar, me
incentivar e acreditar no meu potencial.
Amo voc!!
Agradeo a minha orientadora Dr Suzinara Beatriz Soares de Lima
por me acolher como orientanda, por saber respeitar as minhas dificuldades, por me
incentivar e apoiar na construo deste trabalho.
Agradeo as professoras da banca:
Dr Alacoque Lorenzini Erdmann, Dr Teresinha Heck Weiller, Dr Carmem
Lcia Colom Beck, pela disponibilidade em colaborar com o meu aprendizado.
7
Agradeo a Universidade Federal de Santa Maria
por ter me proporcionado uma bela formao profissional, lembro-me da ansiedade no
primeiro dia de aula ainda na graduao e da
felicidade por retornar na ps-graduao,
aqui, sinto-me em casa!!
Agradeo as minhas colegas do mestrado
que possibilitaram magnficos debates e com eles maior aprendizado,
em especial agradeo a Bruna por dividir comigo o desafio de aprender sobre a Teoria
Fundamentada nos Dados, a Tanise pelas diversas vezes que carregou minha mala, no
imagina como me ajudou com este simples gesto!!
a Pmela pelas madrugadas em claro em que ficvamos escrevendo, pelas diversas vezes
em que preparou minha janta, pelas lgrimas que secou dos meus olhos e pelas palavras de
incentivo quando o cansao das idas e vindas de Santa Maria e Cruz Alta me abatiam e
finalmente a Eliane, minha amiga de estrada, obrigada por cada abrao dado quando
precisei!!
Agradeo aos meus colegas enfermeiros de Cruz Alta, que me receberam nas Unidades de
Sade e em suas residncias, efetivando a realizao deste trabalho.
Agradeo a todos aqueles que de alguma forma contriburam para a realizao de mais
este sonho!!
Muito Obrigada!
8
RESUMO
Dissertao de Mestrado Programa de Ps-graduao em Enfermagem
Universidade Federal de Santa Maria
O EXERCCIO GERENCIAL DO ENFERMEIRO NA ESTRATGIA
SADE DA FAMLIA
Autora: Lucilene Gama Paes Orientadora: Prof Dr Suzinara Beatriz Soares de Lima
Data e local da defesa: Santa Maria, 29 de abril de 2013.
O atual contexto de sade no Brasil tem vivenciado transformaes importantes nos ltimos anos, emerge a necessidade de desenvolver novas e inovadoras possibilidades de trabalho. A Estratgia Sade da Famlia (ESF) insere-se nesse cenrio como importante ferramenta de reorganizao dos servios na ateno primria. O enfermeiro coloca-se diante desse desafio, na medida em que assume atividades relacionadas ao gerenciamento dos processos de trabalho, bem como a coordenao e organizao dos servios de sade. Este trabalho teve como objetivo geral apresentar os significados atribudos pelos enfermeiros ao processo interacional no exerccio gerencial das ESFs e como objetivos especficos discutir a gerncia realizada pelo enfermeiro na ESF, bem como sua articulao com a assistncia de enfermagem e ainda elaborar uma matriz terica representativa da vivncia do enfermeiro na gerncia das ESFs. Trata-se de uma pesquisa de campo descritiva com abordagem qualitativa, guiada pelo referencial terico-metodolgico do Interacionismo Simblico e Teoria Fundamentada nos Dados (TFD), respectivamente. A coleta de dados ocorreu nos meses de maro, abril e maio de 2012 e realizou-se por meio de entrevistas semiestruturadas a partir de uma proposta intensiva, os sujeitos foram sete enfermeiros gerentes das ESFs de um municpio do interior do Rio Grande do Sul. Para anlise seguiram-se os passos propostos pela TFD: codificao aberta, axial e seletiva. A pesquisa seguiu os princpios ticos propostos pela Resoluo 196/96 e foi aprovada pelo Comit de tica da Universidade Federal de Santa Maria. Aps a codificao obteve-se as seguintes categorias: revelando-se profissional, convivendo com adversidades, envolvendo-se com a organizao do cuidado, estabelecendo o trabalho em equipe e centrando o trabalho no usurio. Estas foram organizadas em torno de um conceito explanatrio central, com o objetivo de proporcionar a compreenso do fenmeno central que se constitui: Vivenciando o agir gerencial do enfermeiro na estratgia sade da famlia: significados a partir da interface com o cuidado. Este foi apresentado junto ao Modelo Paradigmtico. Assim, foi possvel vislumbrar que o enfermeiro gerente reconhece a importncia da sua atuao na ESF e procura desempenhar a sua funo considerando o usurio foco central do seu trabalho.
Palavras-chave: Enfermagem. Gerncia. Sade da Famlia. Teoria Fundamentada nos Dados.
9
ABSTRACT
Masters Dissertation Post-graduation Program in Nursing
Universidade Federal de Santa Maria
THE PRACTICE IN NURSING MANAGEMENT IN FAMILY HEALTH STRATEGY
Authir: Lucilene Gama Paes
Adviser: Prof Dr Suzinara Beatriz Soares de Lima Date and place of defense: April, 29th 2013, Santa Maria, RS
The current context of health in Brazil has experienced important transformations in
the last years and therefore new and innovator possibilities of work must emerge. The
Family Health Strategy inserts itself in this context as an important tool of
rearrangement of the services in the primary care. The nurse stay before this
challenge once she assumes the management of the processes of work, as well the
coordination and organization of the health services. This research had as general
objective: to present the meanings attributed to the interaction process by nurses in
their management at the Family Health Strategy, as well as their articulation with the
elaboration of a theoretical matrix in their experiences of management in the Family
Health Strategy. This is a Descriptive Field Research, with qualitative approach,
guided by the methodological referential respectively of the Symbolic Interactionismo
and Grounded Theory. The data collection occurred during the months of March, April
and May of 2012 through semi structured interviews, departing from an intensive
proposal. The subjects were seven nurses, who manage the Family Health Strategy
in the countryside of Rio Grande do Sul, Brazil. To analyze the data the steps of
grounded theory were used: open coding, axial code and selective coding. The
research obeys the ethical principles of the Res.196/96 and was approved by the
Ethics Committee of the Federal University of Santa Maria. After the codification, the
following categories were achieved: revealing itself as professional, living together with
adversities, engaging with the organization of care, establishing the teamwork, and
focusing the work on the user. The categories were organized around a central
explanatory concept, with the purpose of giving the comprehension of the central
phenomenon in which they are constituted: Experiencing the management of the
nurse in the Family Health Strategy act: significants from the interface with the
care. This phenomenon was presented through the Paradigmatic Model in order to
demonstrate that the manager nurse realizes his function in the Family Health Strategy
and tries to play his function putting the user as central focus of his work.
Keywords: Nursing. Management. Family Health. Grounded Theory.
10
LISTA DE QUADROS
Quadro 1: Perfil dos sujeitos da pesquisa ................................................................. 52
Quadro 2: Subcategorias e cdigos conceituais da categoria 1 ................................ 65
Quadro 3: Subcategorias e cdigos conceituais categoria 2 ..................................... 76
Quadro 4: Subcategoria e cdigos conceituais categoria 3 ....................................... 83
Quadro 5: Subcategoria e cdigos conceituais categoria 4 ....................................... 90
Quadro 6: Subcategoria e cdigos conceituais categoria 5 ....................................... 94
11
LISTA DE DIAGRAMAS
Diagrama 1: Categoria: Revelando-se profissional ................................................... 75
Diagrama 2: Categoria: Convivendo com adversidades ............................................ 82
Diagrama 3: Categoria: Envolvendo-se com a organizao do cuidado ................... 89
Diagrama 4: Categoria:Estabelecendo o trabalho em equipe ................................... 93
Diagrama 5: Categoria: Centrando o trabalho no usurio ......................................... 94
12
LISTA DE ANEXOS
ANEXO A - Autorizao de Pesquisa ...................................................................... 124
ANEXO B - Parecer Consubstanciado do Comit de tica e Pesquisa ................. 125
13
LISTA DE APNCIDES
APNDICE A - Dados de Identificao do Participante ........................................... 118
APNDICE B - Roteiro de Entrevista ...................................................................... 119
APNDICE C - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido ................................ 120
APNDICE D - Termo de Confidencialidade ........................................................... 122
14
SUMRIO
1 CONSIDERAES INICIAIS ................................................................................. 15 1.1 Questo norteadora ............................................................................................ 17 1.2 Objetivos ............................................................................................................. 17 1.2.1 Objetivo geral .................................................................................................. 17 1.2.2 Objetivos especficos ........................................................................................ 18
2 FUNDAMENTAO TERICA ............................................................................. 19 2.1 Interacionismo Simblico ..................................................................................... 19 2.2 O exerccio gerencial do enfermeiro .................................................................... 21 2.3 A atuao gerencial do enfermeiro na ESF ......................................................... 23 2.4 Artigo 1: O enfermeiro e a gerncia dos servios na ateno primria no Brasil ......................................................................................................................... 26 2.5 Artigo 2: A produo do conhecimento sobre o fazer gerencial do enfermeiro na ateno primria ................................................................................................... 39
3 PERCURSO METODOLGICO ........................................................................... 48 3.1Cenrio e contexto do estudo ............................................................................... 48 3.2 Tcnica para coleta de dados ............................................................................. 49 3.3 Sujeitos da pesquisa ........................................................................................... 50 3.4 Caracterizao dos sujeitos da pesquisa ............................................................ 51 3.5 Consideraes bioticas ..................................................................................... 52 3.6. Artigo 3: Construindo a teoria fundamentada: consideraes para a anlise dos dados .................................................................................................................. 54
4 APRESENTAO DOS DADOS ........................................................................... 65 4.1 Categoria 1 - Revelando-se profissional .............................................................. 65 4.2 Categoria 2 - Convivendo com adversidades ...................................................... 76 4.3 Categoria 3 - Envolvendo-se com a organizao do cuidado ............................ 83 4.4 Categoria 4 - Estabelecendo o trabalho em equipe............................................ 90 4.5 Categoria 5 - Centrando o trabalho no usurio ................................................... 94
5 ARTIGO 4: VIVENCIANDO O AGIR GERENCIAL DO ENFERMEIRO NA ESTRATGIA SADE DA FAMLIA: SIGNIFICADOS A PARTIR DA INTERFACE COM O CUIDADO ............................................................................... 95
6 CONSIDERAES FINAIS ................................................................................. 110
REFERENCIAS ...................................................................................................... 113
APNDICES ........................................................................................................... 117
ANEXOS ................................................................................................................. 123
15
1 CONSIDERAES INICIAIS
Com a criao de um sistema de sade nico (SUS), a partir da Constituio
Federal de 1988, instaura-se em nosso pas uma nova ordem social. Deixa-se de
atender apenas a parcela trabalhadora da populao para buscar a universalidade,
igualdade e integralidade dos atendimentos, bem como a descentralizao dos
servios e incentivo a participao da comunidade no processo de tomada de deciso
(MENICUCCI, 2009).
Neste cenrio de transformao das prticas em sade e de insero de novos
atores que se buscou desenvolver novas possibilidades de trabalho em sade.
Inicialmente com a institucionalizao do Programa de Agentes Comunitrios (PACS)
como poltica oficial do Governo Federal em 1991. Posteriormente, em 1994, com a
criao do Programa Sade da Famlia (PSF), entendida como uma poltica pblica
fundamental para a reorientao do modelo de ateno e de organizao das aes
de sade nos municpios e, mais recentemente, em 2006, com a Estratgia Sade da
Famlia (ESF), como estratgia prioritria para a organizao da ateno primria
(BRASIL, 2007).
O redirecionamento do modelo de ateno impe claramente a necessidade de transformao permanente do funcionamento dos servios e do processo de trabalho das equipes exigindo de seus atores (trabalhadores, gestores e usurios) maior capacidade de anlise, interveno e autonomia para o estabelecimento de prticas transformadoras, a gesto das mudanas e o estreitamento dos elos entre concepo e execuo do trabalho (BRASIL, 2011, p.50).
nesse contexto de mudana do modelo assistencial que o enfermeiro e os
demais profissionais das equipes esto inseridos. Busca-se superar as prticas
curativistas, desenvolvidas intensamente no mbito hospitalar, para se trabalhar sob
uma nova perspectiva onde seja possvel estimular e fortalecer a ateno primria.
A gerncia dos servios de sade pode ser utilizada como uma importante
ferramenta para impelir esse processo de mudana, de modo que, permita o
compartilhamento do poder nas ESFs, possibilite a efetivao de diferentes poltica e
cristalizao de novos modelos de ateno sade (VANDERLEI, ALMEIDA, 2007;
CARVALHO; CUNHA, 2006).
16
Apesar de no existir uma definio legal sobre o poder administrativo e
poltico dos enfermeiros, cada vez mais comum
nos servios de sade encontrar esses profissionais vinculados a gesto dos diversos
processos de trabalho da equipe multiprofissional da ateno primria, alm de
desempenhar atividades relacionadas a organizao e coordenao dos servios
(PINHEIRO, 2009).
Assim, a enfermagem vem construindo um caminho de compromisso junto aos
demais profissionais de sade de viabilizao do SUS e de incentivo a participao da
equipe na organizao e produo de servios de sade para atender s reais
necessidades dos usurios, trabalhadores e Sistema nico de Sade (FERNANDES
et al., 2010).
Durante a minha trajetria acadmica foi possvel vivenciar um pouco dessa
realidade. Inicialmente como aluna do curso de Enfermagem da Universidade Federal
de Santa Maria (2004/2008), a partir da disciplina de Sade Coletiva, logo nos
semestres iniciais, identifiquei nesse contexto novas possibilidades para a construo
do fazer profissional.
No ano de 2005, por meio da participao no Projeto de Vivncias e Estgios
na realidade do Sistema nico de Sade (VER-SUS), desenvolvido em Santa Maria
(RS), elaborado e efetivado a partir de uma parceria entre o Ministrio da Sade e o
Movimento Estudantil da rea da sade do municpio (Frum Integrado do Movimento
Estudantil Santamariense da Sade FIMESS), foi possvel uma aproximao com
as conquistas e os desafios inerentes ao SUS, alm de aprofundar-me nas
discusses sobre o trabalho em equipe, a gesto, a ateno e educao em sade e
o controle social.
Posteriormente, como residente do Programa de Residncia Multiprofissional
em Sade da Famlia e Comunidade da Universidade do Planalto Catarinense, no
municpio de Lages, Estado de Santa Catarina (2009/2011), vivenciei o cotidiano de
trabalho de uma equipe de sade da famlia, desenvolvendo atividades como
enfermeira no mbito assistencial e gerencial, experienciando as potencialidades e as
dificuldades do trabalho em uma ESF, bem como o desafio de articular a dimenso
assistencial com o gerenciamento de um servio de sade.
A partir dessas experincias pude evidenciar o surgimento de um importante
campo de atuao para o enfermeiro e perceber que todo esse processo ainda
muito recente, assim como o prprio SUS. Existem muitas dificuldades a serem
17
superadas pelo enfermeiro enquanto ator na ateno primria. Cotidianamente
precisa desenvolver estratgias para atuar mediante a falta de recursos financeiros,
materiais e de equipamentos, a desintegrao da rede de servios de sade, a falta
de capacitao de alguns profissionais para o trabalho na unidade, a composio
incompleta das equipes e inclusive a inexperincia para o gerenciamento. (XIMENES
NETO; SAMPAIO, 2008; KAWATA et al., 2009; SOUZA; MELO, 2009; WEIRICH et
al., 2009; FERNANDES et al., 2010).
Ainda existem alguns desafios como a organizao do trabalho de outros
profissionais, a importncia do enfermeiro assumir-se enquanto lder no sistema de
sade (CHISTOVAM; SANTOS, 2004) e a superao da desarticulao do assistir e
gerenciar em seu processo de trabalho (FRACOLI; EGRY, 2001; VANDERLEI;
ALMEIDA, 2007; BACKES et al., 2009).
Desse modo, acredito que estudar o fazer gerencial do enfermeiro na ESF
possa desencadear uma reflexo e reviso das suas prticas de trabalho , alm de
contribuir no fortalecimento da ateno primria, uma vez que, o enfermeiro est cada
vez mais presente neste cenrio e, que, principalmente, possa colaborar com o seu
reconhecimento como um profissional referncia neste mbito.
1.1Questo norteadora
Considerando minhas experincias prvias e algumas constataes sobre o fazer
do enfermeiro na ESF a partir da literatura, trago como questo norteadora da
pesquisa: Quais os significados atribudos pelos enfermeiros aos processos
interacionais no seu exerccio gerencial nas ESFs?
1.2 Objetivos
1.2.1 Objetivo geral
- Apresentar os significados atribudos pelos enfermeiros aos processos interacionais
no exerccio gerencial das ESFs.
18
1.2.2 Objetivos especficos
- Discutir a gerncia realizada pelo enfermeiro na ESF, bem como sua articulao
com a assistncia de enfermagem;
- Elaborar uma matriz terica representativa da vivncia do enfermeiro na gerncia
das ESFs.
19
2 FUNDAMENTAO TERICA
Para fundamentao terica desta pesquisa apresenta-se o Interacionismo
Simblico (IS), entendendo que sob este enfoque relacional ser possvel construir
um novo olhar acerca do gerenciamento do enfermeiro na ESF. Alm disso, toma-se
como referncia conceitos sensibilizadores, relativos ao exerccio e atuao gerencial
do enfermeiro na ESF, utilizados na rea da sade coletiva e de enfermagem.
2.1 Interacionismo Simblico (IS)
O movimento interacionista tem suas razes no sculo XVIII, a partir da
contribuio intelectual de importantes pensadores, tais como: George Herberth
Mead, John Dewey, WilliamThomas, Robert Pares, William James, Charles Horton
Cooley, Florian Znanieki, James Mark Baldwin, Robert Redfield e Louis Wirth
(BAZILLI et al., 1998). Contudo, Haguette (2005) destaca que George Herberth Mead
foi o que mais contribuiu para a construo dos conceitos do IS. Tem como autor
seminal Herbert Blumer que, em 1937 atribuiu sua abordagem o nome de
Interacionismo Simblico (MINAYO, 2007, grifo do autor). Ao empenhar-se nesta
sistematizao, Blumer aproximou conceitos acerca da vida dos grupos humanos,
elaborados pelos pensadores acima mencionados, especialmente Mead, e construiu
os conceitos constituintes do IS a partir das suas similaridades (BAZZILI et al., 1998).
Dessa forma, Blumer (1969) desenvolveu algumas premissas bsicas para o IS,
conforme coloca Haguette (2005), so elas:
1 O ser humano age com relao s coisas na base dos sentidos que elas tm para ele [...]; 2 O sentido destas coisas derivado, ou surge, da interao social que algum estabelece com seus companheiros; 3 Esses sentidos so manipulados e modificados atravs de um processo interpretativo usado pela pessoa ao tratar as coisas que ela encontra (HAGUETTE, 2005, p.35).
Trata-se de um referencial terico fundamentado no princpio de que o
comportamento humano autodirigido e observvel, tanto no mbito simblico como
no relacional (MINAYO, 2007), permitindo a compreenso do significado que os
seres humanos constroem a partir das interaes que os mesmos estabelecem dentro
de uma sociedade (LIMA, 2008, p.44).
20
Bazzili et al. (1998) ressaltam, com base nos apontamentos de Stryker e
Statham (1995), que o IS orienta-se para as relaes entre a pessoa, a sociedade e a
interao, sendo este processo intermediado pelo self. Nesse sentido Minayo (2007,
p.153), destaca que:
A vida social constitui uma espcie de consenso que propicia um processo de inter-relaes e de interpretaes de significados compartilhados por um grupo, ou comunidade que pode ao mesmo tempo, manipular, redefinir e modificar seus sentidos (MINAYO, 2007, p. 153).
Tendo por base as ideias defendidas pelo referencial do IS, faz-se relevante
abordar os conceitos balizadores dessa teoria.
A sociedade - Haguette (2005) destaca, mencionando Mead, que toda
atividade grupal se baseia no comportamento cooperativo e que a associao
humana surge quando cada ator individual percebe a inteno dos atos dos outros e
constri sua prpria resposta baseado naquela inteno. Assim, o comportamento
humano concebido no apenas como uma resposta direta as atividades dos outros,
mas envolve uma resposta s intenes dos outros. Essas intenes so transmitidas
atravs de gestos que se convertem em smbolos, tornando-se, dessa forma,
passveis de interpretao.
A sociedade pode, ento, ser concebida como um tecido de comunicao
fundamentada no consenso e no compartilhamento de sentidos sob a forma de
compreenses e expectativas comuns (BAZILLI et al., 1998; HAGETTE, 2005).
Sob essa perspectiva, no possvel conceber o homem sem a sociedade e a
sociedade sem o homem, uma vez que ambos so gerados permanentemente,
mediante a construo da interao e suas resultantes simblicas (BAZZILI et al.,
1998).
Concepo de homem - Percebido como um ser pensante que conversa
utilizando-se de smbolos desenvolvidos no processo social (BAZZILI et al., 1998).
Interao Social - Trata-se do espao que permite a gerao do self e da
sociedade por meio da interao e da simbolizao de ambos (BAZZILI et al., 1998).
Socializao - Processo que se inicia cada vez que passamos a integrar um
novo grupo ou organizao social com o objetivo de criar os smbolos da interao. A
interao em si mesma a socializao, por essa razo pode ser compreendida
como um processo contnuo (BAZZILI et al., 1998).
21
Significado - Bazzili et al. (1998) definem, com base em Stryker e Statham
(1985), que o significado atribudo as coisas organizam o comportamento das
pessoas. Trata-se do produto da interao social.
Smbolos Significantes - Podem ser compreendidos como o resultado da
maneira que as pessoas reagem aos smbolos, pois a partir dos significados que se
compreende o prprio comportamento e o dos outros (BAZZILI et al., 1998).
Definio da situao - Refere-se ao produto de simbolizao. Considera que
toda situao de interao social precisa ser simbolizada antes de gerar cursos de
ao, comportamentos, decises, etc (BAZZILI et al., 1998, p.39).
Self Segundo Haguette (2005), para Mead o ser humano pode tornar-se
objeto das suas prprias aes, tendo em vista que ele pode interagir socialmente
com outras pessoas, bem como consigo mesmo. Bazzili et al (1998), complementa
que o self est relacionado com um comportamento auto-reflexivo da pessoa no
processo de interao social.
Mente Haguette (2005) descreve que, para Mead, a mente concebida como
um processo que se manifesta sempre que o indivduo interage consigo mesmo
fazendo uso dos smbolos significantes.
Ato social Mead, conforme destaca Bazzili et al. (1998), prope a ideia de
ato social para melhor caracterizar a noo de interno e externo no que se refere a
experincia individual. O ato vislumbrado, nesse contexto, como um processo
dinmico da experincia interna que se constitui socialmente exigindo a cooperao
de mais um indivduo.
2.2 O exerccio gerencial do enfermeiro
A gerncia em sade define-se como uma atividade cujo foco de ao
mantm um carter articulador e integrativo. Caracteriza-se como um instrumento
condicionante e condicionado, determinante e determinado, ao passo que possibilita a
transformao do processo de trabalho e tambm passvel de transformao
(MISHIMA et al., 1997). composta por uma dimenso tcnica relativa aos
conhecimentos e habilidades necessrias efetivao do SUS; uma dimenso
poltica capaz de articular o trabalho gerencial ao projeto que se quer empreender;
uma dimenso comunicativa relacionada ao carter de negociao presente no lidar
com as relaes de trabalho na equipe de sade e nas relaes da unidade com a
22
comunidade; e uma dimenso do desenvolvimento da cidadania implicada com a
emancipao dos sujeitos sociais, quer sejam eles os agentes presentes no processo
de trabalho, quer sejam os usurios dos servios de sade (MISHIMA et al., 1997).
Dessa forma, coexiste na ao gerencial uma racionalidade instrumental e uma
racionalidade comunicativa, onde os sujeitos sociais envolvidos tm papel relevante
nas possibilidades de transformao (MISHIMA et al., 1997).
A gerncia a nvel local ganhou relevncia com o processo de municipalizao
da sade (MISHIMA et al., 1997) quando a responsabilidade na implantao e
implementao das polticas pblicas nessa rea passou a ser compartilhada com as
trs esferas do governo. Essa descentralizao possibilitou que novos atores,
especialmente o enfermeiro, fossem inseridos no contexto da gerncia atuando como
coparticipes da conduo do SUS (MELO; SANTOS, 2007).
A enfermagem, nesse contexto, enquanto ao, uma parcela do trabalho em
sade que constituiu-se atrelada ao trabalho dos demais profissionais (LEOPARDI;
GELBCKE; RAMOS, 2001). Utiliza-se de um saber construdo a partir de outras
cincias, sintetizado e colocado para que ela prpria aprenda o objeto da sade em
seu campo especfico. um instrumento da sade coletiva na medida em que todos
os saberes e prticas nesse mbito subordinam-se as necessidades sociais da sade
da populao (ALMEIDA; ROCHA, 1997).
Dessa forma, a enfermagem como prtica social responde s exigncias
definidas pelas organizaes de sade, pelas prticas econmicas, polticas, sociais e
ideolgicas (DAL PAI; SCHRANK; PEDRO, 2006). Tem sua conformao atual como
resultado de um processo histrico, que incorporou elementos da evoluo geral do
trabalho em uma sociedade capitalista e especificidades da rea da sade. Por essa
razo, passou por modificaes ao longo do tempo, a fim de acompanhar as
exigncias socioeconmicas e polticas que acabaram por influenciar o seu fazer.
Verifica-se que para alcanar as novas propostas apresentadas pela sade
coletiva, o enfermeiro tem diversificado seu trabalho, indo desde o cuidar de
enfermagem, perpassando pelas aes educativas e administrativas (ALMEIDA;
ROCHA, 1997). A enfermagem como uma das profisses que integram a equipe
multiprofissional nos servios da ateno bsica, vem cada vez mais se inserindo
nesse cenrio e confirmando-se nas funes gerenciais a ponto de tornar seu
profissional referncia para execuo de atividades como coordenao de programas
e gerenciamento das unidades de sade (PETERLINI; ZAGONEL, 2006).
23
Na literatura tem-se definido o gerenciamento em enfermagem como um
processo dinmico, participativo e integrador acenando para um despertar de novas
abordagens gerenciais que possibilitem ao enfermeiro ampliar seu olhar e
comprometer-se na construo de redes interativas e participativas (BACKES et al.,
2009), bem como na atuao de lder (LOURENO; SHINYASHIKI; TREVIZAN,
2005).
De acordo com Leopardi, Gelbcke e Ramos (2001), o processo de trabalho
gerencial do enfermeiro caracteriza-se por ter como finalidade a organizao do
espao teraputico, assim como a distribuio e controle do trabalho da equipe de
enfermagem. No ponto de vista de Kirchhof (2003) o enfermeiro coloca-se diante de
um importante desafio, organizar o trabalho da equipe de enfermagem e mediar o
trabalho da equipe de sade.
2.3 A atuao gerencial do enfermeiro na ESF
A ESF tornou-se um importante espao de ao para os enfermeiros,
especialmente, pela possibilidade de atuao no apenas nas atividades
assistenciais, mas tambm na gesto do servio (SOUZA; MELO, 2009). Alm disso,
proporcionou que o enfermeiro assumisse a posio de elemento nuclear da equipe,
tornando-o mais respeitado e reconhecido pelo seu trabalho (COSTA; SILVA, 2004).
De acordo com Bertussi, Oliveira e Lima (2001), o gerente em uma ESF deve
conferir direcionalidade s diversas aes do servio sempre com responsabilidade,
articulando, atravs da negociao poltica, os trabalhadores, os recursos financeiros,
materiais e tecnolgicos em consonncia com as necessidades da populao do
territrio. Alm disso, a gerncia deve ser entendida na perspectiva de construo de
um projeto que esteja comprometido com a integralidade em um contnuo processo
de mudana (WEIRICH et al., 2009).
Esse quadro coloca o enfermeiro diante da necessidade de uma nova
organizao de trabalho, em que deve estar presente o cuidado de enfermagem as
pessoas, as famlias e as comunidades, as aes de educao em sade e
continuada, o gerenciamento de aes interdisciplinares e intersetoriais e a
organizao do servio, diversificando seu trabalho no mbito da ateno bsica
(MISHIMA et al., 1997).
24
Recentemente, em trabalhos como os de Lima e Rivera (2009), tem-se
destacado a necessidade cada vez mais iminente de abordar a gerncia/coordenao
sob uma perspectiva comunicativa e relacional, destacando o aspecto subjetivo do
processo.
Alm disso, o trabalho gerencial tem tomado uma perspectiva estressante se
lembrarmos que na grande maioria dos servios de ateno bsica do nosso pas, os
gerentes precisam assumir simultaneamente as atividades da gerncia com o seu
fazer profissional. Nesse sentido, destaca-se o estudo realizado por Weirich et al.
(2009), nos servios da Rede Bsica de Sade no municpio de Goinia, cujo enfoque
era o trabalho gerencial do enfermeiro na Ateno Bsica. Identificou-se que 38,6%
dos profissionais desenvolviam concomitantemente suas atividades gerenciais e
assistenciais e 61,4% das atividades realizadas pelos gerentes eram essencialmente
de carter gerencial, entre essas atividades destacam-se: promover integrao e bom
relacionamento entre a equipe, planejar e avaliar o funcionamento das Unidades
Bsicas de Sade, manter bom relacionamento com usurio, delegar e auxiliar a
implementao de servios, capacitar e controlar os recursos humanos (RH).
Em outro estudo semelhante, realizado no municpio de Sorocaba (SP) junto a
enfermeiros que atuavam na ESF, verificou-se que 58,46% do tempo de trabalho era
destinado as atividades gerenciais, tais como: reunies entre enfermeiros, equipe de
sade da famlia e equipe de enfermagem, superviso de Agentes Comunitrios de
Sade (ACS) e auxiliares de enfermagem, superviso e proviso de material e
equipamentos, proviso de pedidos de exames, resoluo de problemas e dvidas
dos membros da equipe, manipulao de papis e relatrios, participao em
processo seletivo de ACS, recepo de agentes externos e reunio de conselho local.
Apenas 35,24% eram destinados as atividades assistenciais como as consultas de
enfermagem e visitas domiciliares e 6,29% educao por meio da orientao de
grupos e da prpria equipe de sade (DUARTE; BENEVIDES; MENINO, 2009).
Como possvel perceber, as evidncias apontam para o que Bas, Arajo e
Timteo (2008) identificam como sobrecarga do cotidiano dos enfermeiros,
desencadeada pelo acmulo das mltiplas atividades no campo da assistncia, da
gerncia e da educao/formao, acrescenta-se a isso o interesse desse
profissional, enquanto gerente do servio, em proporcionar o bom andamento das
aes associada s dificuldades encontradas no processo.
25
Vanderlei e Almeida (2007) alertam ainda que a sobrecarga de aes
administrativas desencadeiam no gerente, o difcil ou impossvel impasse de buscar
articulao entre a dimenso assistencial e a dimenso gerencial. Dessa maneira, o
gerenciamento apresenta-se como uma atividade desafiadora, uma vez que se
prope a conduzir a implementao de novas formas de produo de sade
transformando o enfermeiro em um importante ator desse processo.
Para complementar as consideraes sobre a atuao do enfermeiro na ESF,
foram realizadas buscas sistemticas na literatura com o objetivo de identificar e
analisar as produes cientficas acerca do trabalho gerencial do enfermeiro na
ateno primria sade no Brasil.
Apresenta-se a seguir o resultado dessas buscas, organizados no formato de
dois artigos.
26
2.4 Artigo 1
O ENFERMEIRO E A GERNCIA DOS SERVIOS NA ATENO PRIMRIA NO
BRASIL
Lucilene Gama Paes; Bruna Parnov Machado; Suzinara Beatriz Soares de Lima
RESUMO: Este estudo teve como objetivo analisar as produes cientficas acerca do trabalho gerencial do enfermeiro na ateno primria sade no Brasil. Trata-se de uma reviso sistemtica da literatura realizada em duas bases de dados eletrnicas: Literatura Latino-Americana e do Caribe em Cincias da Sade e Base de dados da Enfermagem. A anlise temtica foi utilizada no intuito de descobrir os ncleos de sentido. Percebeu-se que os estudos procuravam identificar, analisar ou caracterizar o trabalho do enfermeiro gerente na ateno primria, pontuando os elementos constituintes desse processo, fatores facilitadores e dificuldades, atitudes e conhecimentos requeridos pelo enfermeiro na gerncia. Evidenciou-se a necessidade de desenvolvimento de novas competncias pelos profissionais enfermeiros que os possibilitem atuar com as diferentes dimenses tecnolgicas e adotar uma postura crtico-reflexiva, bem como intensificar esforos para a construo de estratgias que minimizem as dificuldades vivenciadas no cotidiano gerencial.
Introduo
O trabalho realizado nos servios de sade da ateno primria tem como uma
de suas caractersticas os encontros e desencontros entre os diferentes profissionais
que atuam nesse espao, considerando a coexistncia de diversas culturas, ideias,
expectativas e planos. Dessa maneira, entende-se que o trabalho possa ser realizado
de diversas formas, sendo este, produto do processo histrico, influenciado pela
cultura e crenas dos sujeitos envolvidos nesse processo os trabalhadores
(MARTINS et al, 2009).
Nesse mbito, destaca-se a funo do gerente que deve conferir
direcionalidade s diversas aes do servio, sempre com responsabilidade,
articulando, atravs da negociao poltica, os trabalhadores, os recursos financeiros,
materiais e tecnolgicos, em consonncia com as necessidades da populao do
territrio (BERTUSSI; OLIVEIRA; LIMA, 2001).
27
A gerncia em sade pode ser definida como uma atividade cujo foco de ao
mantm um carter articulador e integrativo. Caracteriza-se como um instrumento
condicionante e condicionado, determinante e determinado, ao passo que possibilita a
transformao do processo de trabalho e tambm passvel de transformao
(ALMEIDA; ROCHA, 1997). Alm disso, a gerncia deve ser entendida na perspectiva
de construo de um projeto que esteja comprometido com a integralidade, em um
contnuo processo de mudana (WEIRICH; MISHIMA; BEZERRA, 2009).
A enfermagem como uma das profisses que integram a equipe
multiprofissional nos servios da ateno primria vem cada vez mais se inserindo
nesse contexto e confirmando-se nas funes gerenciais, a ponto de tornar o
profissional uma referncia para execuo de atividades como coordenao de
programas e gerenciamento desses servios (PERTERLINI; ZAGONEL, 2006),
mesmo sem haver uma definio legal quanto ao poder administrativo e poltico dos
enfermeiros (PINHEIRO, 2009).
Com isso, pode-se dizer que a enfermagem vem construindo um caminho de
compromisso, junto aos demais profissionais de sade, de viabilizao do Sistema
nico de Sade (SUS) e de incentivo a participao da equipe na organizao e
produo de servios para atender s reais necessidades dos usurios, trabalhadores
e instituies (FERNANDES et al, 2010).
Dessa forma, a gerncia apresenta-se como um importante instrumento do
processo de trabalho na medida em que possibilita a organizao dos meios para
prestao da assistncia aos usurios com eficincia, eficcia e efetividade
(PASSOS; CIOSAK, 2006), bem como pode desencadear uma produo de cuidados
mais comprometida e menos fragmentada (KAWATA et al, 2009), a fim de
implementar e consolidar novas formas de se produzir sade.
Assim, vislumbram-se grandes desafios para o enfermeiro gerente na ateno
primria, haja vista as suas responsabilidades assistenciais e gerenciais, o
comprometimento com a realizao de um trabalho em uma perspectiva de
transformao da realidade, de realizao de planejamento das aes, de educao
em sade e de incentivo a participao da comunidade.
Diante dessas consideraes, o presente artigo teve como objetivo analisar as
produes cientficas acerca do trabalho gerencial do enfermeiro no contexto da
ateno primria no Brasil, buscando contribuir para a compreenso das aes
desses profissionais nesse mbito.
28
O estudo torna-se relevante considerando que a presena do enfermeiro
enquanto gerente dos servios de sade na ateno primria do Brasil
relativamente nova, tendo em vista que a proposta de mudana no modelo
assistencial tambm recente, partindo da criao do Sistema nico de Sade (SUS)
em 1988, do Programa Sade da Famlia (PSF) em 1994 culminando na sua
consolidao em 2006 por meio da Estratgia de Sade da Famlia (ESF).
Metodologia
Trata-se de um estudo de reviso sistemtica da literatura, realizada a partir de
fontes primrias. As fontes so consideradas primrias quando os trabalhos
publicados de forma integral ou resumida encontram-se na sua forma original,
editados em papel ou em verses informatizadas, como nas bases de dados
disponveis pela internet (BERNARDO; NOBRE; JATENE, 2004).
A busca pelos artigos foi realizada no ms de Junho de 2011 em duas bases
de dados eletrnicas: Literatura Latino-Americana e do Caribe em Cincias da Sade
(LILACS) e Base de dados de enfermagem (BDENF).
Para levantamento dos artigos, foram utilizadas as palavras enfermagem,
gerncia e gerenciamento em portugus como termos de busca, associadas pelos
termos conectores AND e OR respectivamente, configurando o seguinte caminho
de pesquisa: ENFERMAGEM [Palavras] and (GERENCIA) or
GERENCIAMENTO[Palavras]. A partir dessa combinao foram encontradas 860
referncias.
Procedeu-se a leitura atentiva dostulos e resumos disponveis, selecionando-se
artigos originais publicados em peridicos nacionais e internacionais que versassem
sobre a gerncia do enfermeiro no mbito da ateno primria, a partir do ano de
implementao do Programa Sade da Famlia (1994) no Brasil, itens esses
necessrios para critrios de incluso. Como critrios de excluso definiu-se artigos
de reviso de literatura ou reflexo; pesquisas desenvolvidas no mbito hospitalar,
teses, dissertaes, conferncias e documentos oficiais (governamentais). Por meio
dessa sistematizao obteve-se 30 publicaes, as quais foram encontradas em mais
de uma base de dados foram agrupadas e consideradas uma nica vez. Prosseguiu-
se a leitura dos artigos na ntegra, excluindo aqueles que estavam indisponveis
29
online e que no atendiam aos critrios previamente definidos. Dessa forma, o
universo emprico constituiu-se de 15 artigos.
Para a organizao dos dados e anlise, foi adaptado um instrumento (URSI;
GALVO, 2006), que contemplasse nome da pesquisa, autores, detalhamento
metodolgico, objetivos do estudo, resultados, recomendaes ou concluses.
Fez-se uso da anlise temtica (MINAYO, 2007) no intuito de descobrir os
ncleos de sentido que compunham o corpus da pesquisa, cuja presena ou
frequncia traziam significao para o objetivo do estudo.
Resultados e discusso
Os artigos buscavam de uma forma geral identificar, analisar ou caracterizar o
trabalho do enfermeiro gerente na ateno primria, pontuando os elementos
constituintes desse processo, fatores facilitadores e dificuldades, atitudes e
conhecimentos requeridos pelo enfermeiro na gerncia nesse mbito.
Registra-se que o corpus da pesquisa foi composto por artigos publicados no
perodo de 1999 a 2010, destacando-se o ano de 2009 com quatro publicaes.
Em relao aos aspectos metodolgicos, identificou-se um predomnio da
abordagem qualitativa (9). As principais tcnicas de coleta de dados foram as
entrevistas (9) e os questionrios (6), contudo, alguns estudos utilizaram mais de uma
forma de coleta (3) mesclando entrevistas e questionrios ou acrescentando a anlise
documental e o grupo focal.
Para apreciao dos dados destacou-se a anlise de contedo (3), entretanto,
emergiram abordagens como a teoria fundamentada nos dados (1), a socioanlise (1)
e os fluxogramas analisadores (1).
A maioria dos estudos realizados concentravam-se na regio nordeste do
Brasil (5) com destaque para os estados da Bahia (2) e Cear (2), seguida pelos
estados de So Paulo (3) e Rio de Janeiro (2), da regio sudeste (5), as regies
centro-oeste, sul e norte do pas apresentaram uma, trs e nenhuma produo
respectivamente. Em um dos estudos no foi possvel identificar o cenrio da
pesquisa.
Com relao aos peridicos, a Revista Brasileira de Enfermagem e a Revista
de Enfermagem UERJ, destacaram-se nas publicaes de artigos, com quatro e trs
respectivamente.
30
No que se refere a populao pesquisada, a maioria dos estudos foram
realizados junto a enfermeiros gerentes de Unidades Bsicas de Sade, Unidades de
Sade da Famlia ou Coordenadores de Programas (11), uma pequena parcela de
estudos utilizou os demais membros das equipes de sade (4). Destaca-se que
apenas um trouxe a participao dos usurios.
Quadro 1: Artigos que compuseram o corpus desta pesquisa. Santa Maria, 2011.
Ttulo Autores
Despertando novas abordagens para a gerncia do cuidado de enfermagem:
estudo qualitativo.
Dirce Stein Backes; Alacoque Lorenzini Erdmann; Valria Lerch Lunardi; Wilson
Danilo Lunardi Filho;Rolf Hermann Erdmann.
Gerncia de enfermagem em unidades bsicas: a informao como instrumento
para a tomada de deciso.
Alba Lcia Santos Pinheiro.
Anlise da atuao do enfermeiro na gerncia de unidades bsicas de sade
Marcelo Costa Fernandes; Adriana Sousa Barros; Lucilane Maria Sales da Silva; Maria de Ftima Bastos Nbrega;
Maria Rocineide Ferreira da Silva; Raimundo A. Martins Torres.
Atuao de enfermeiras nas macrofunes gestoras em sade
Mariluce Karla Bomfim de Souza; Cristina Maria Meira de Melo.
O trabalho gerencial do enfermeiro na Rede Bsica de Sade
Claci Ftima Weirich; Denize Bouttelet Munari; Silvana Martins Mishima; Ana
Lcia Queiroz Bezerra.
Processo de asceno ao cargo e as facilidades e dificuldades no
gerenciamento do territrio na Estratgia Sade da Famlia
Francisco Rosemiro Guimares Ximenes Neto; Jos Jackson Coelho
Sampaio.
Atitudes gerenciais do enfermeiro no Programa Sade da Famlia: viso da
Equipe Sade da Famlia
Gladys Amlia Vlez Benito; Luciana Corra Becker.
A concepo dos enfermeiros no processo gerencial em Unidade Bsica
de Sade
Joanir Pereira Passos; Suely Itsuko Ciosak.
O Sistema de informao utilizado pelo Enfermeiro no gerenciamento do
Olga Laura Giraldi Peterlini; Ivete Palmira Sanson Zagonel.
31
processo de cuidar
Conhecimento gerencial requerido do enfermeiro no Programa Sade da
Famlia
Gladys Amlia Vlez Benito; Luciana Corra Becker; Jefferson Duarte;
Daniela Stuarte Leite.
Os desafios da gerncia do enfermeiro no nvel central de sade
Barbara Pompeu Christovam; Iraci dos Santos.
Impacto da criao do Programa Sade da Famlia na atuao do enfermeiro
Maria Bernadete de Sousa Costa; Maria Iracema Tabosa da Silva.
Processo de trabalho de gerncia: instrumento potente para operar
mudanas nas prticas de sade?
Lislaine Aparecida Fracolli; Emiko Yoshikawa Egry.
Tcnica Delphi: identificando as competncias gerais do mdico e do enfermeiro que atuam em ateno
primria de sade
Roseli Ferreria da Silva; Oswaldo Yoshimi Tanaka.
Gerenciamento e liderana: anlise do conhecimento dos enfermeiros
gerentes.
Maria Regina Loureno; Gilberto Tadeu Shinyashiki; Maria Auxiliadora Trevizan.
A partir da anlise emergiram quatro categorias temticas: o uso da
informao como ferramenta de trabalho para a gerncia, repensando aspectos
da formao do enfermeiro, limites do processo gerencial e desafios e
possibilidades do processo gerencial.
O uso da informao como ferramenta de trabalho para a gerncia
A informao pode ser definida como o significado atribudo pelo homem a um
determinado dado, atravs de convenes e representaes, constituindo-se em
suporte bsico para toda a atividade humana. Nessa perspectiva a informao em
sade deve ser entendida como um instrumento de apoio decisrio para o
conhecimento da realidade scio-econmica, demogrfica e epidemiolgica, para o
planejamento, gesto, organizao e avaliao nos vrios nveis que constituem o
Sistema nico de Sade (CARVALHO; EDUARDO, 1998, p.1)
32
Verificou-se a relevncia do uso das informaes como importante instrumento
auxiliar para a gesto aproximando as decises tomadas pela gerncia das polticas
formuladas pela gesto municipal (PETERLINI; ZAGONEL, 2006; PINHEIRO, 2009).
Em estudo realizado em um distrito sanitrio de Curitiba (PR) identificou-se que
as informaes so utilizadas para a elaborao de planos operacionais da Unidade
de Sade, para justificar a solicitao de insumos e medicamentos, para aes de
acompanhamento e avaliao, para emisso de relatrios e identificao de riscos e
ainda para o redirecionamento das aes e tomada de deciso. Podendo ser divididas
em informaes gerenciais, epidemiolgicas e clnicas (PETERLINI; ZAGONEL,
2006).
As informaes provenientes dos sistemas de informao quando utilizadas no
cotidiano de trabalho do enfermeiro promovem um processo reflexivo, gerando
conhecimento, condio fundamental para o gerenciamento, direcionamento das
aes e consequente tomada de decises (PETERLINI; ZAGONEL, 2006). Para isso,
exige-se mudanas tanto nas prticas dos enfermeiros como da gesto municipal,
desenvolvendo mecanismos que facilitem o acesso a informao de forma organizada
e oportuna (PINHEIRO, 2009).
Alguns fatores podem estar relacionados ao no uso ou pouco uso da
informao na gerncia, mesmo tendo reconhecida sua relevncia para a tomada de
deciso e avaliao dos servios. Entre esses fatores destacam-se a cultura
institucional em decidir sem informaes, a desarticulao do sistema municipal com
os servios, a tendncia centralizao e individualismo no ambiente institucional, as
caractersticas do modelo assistencial vigente, as deficincias na qualificao para a
gerncia e a inexistncia da retroalimentao (PINHEIRO, 2009).
Repensando aspectos da formao do enfermeiro
Este tema foi construdo a partir das consideraes de estudos (WEIRICH et
al, 2009; FERNANDES et al, 2010; BACKES et al, 2009; SOUZA; MELO, 2009) que
apontaram na necessidade de redirecionamento das estratgias de formao dos
profissionais de enfermagem, principalmente no sentido de superar os processos
gerenciais normativos e pontuais, buscando articular o cuidado e a gerncia no
trabalho do enfermeiro, bem como enfocar na gesto pblica dos servios de sade.
33
Para se pensar e fazer o gerenciamento do trabalho em sade imprescindvel
que o profissional enfermeiro desenvolva na sua prtica gerencial habilidades sociais
e polticas, integre diferentes saberes e mantenha atitudes de justia, afetividade, de
abertura a negociaes e mudanas, de dilogo, entre outras (FERNANDES et al,
2010; SOUZA; MELO, 2009; BENITO; BECKER, 2007).
Percebeu-se que o enfermeiro, embora, seja um dos profissionais da rea da
sade que mais se aproxima do gerenciamento dos servios na ateno primria,
encontra dificuldades para entender e propor solues aos problemas vivenciados no
cotidiano da gerncia, o que para os autores pode demonstrar uma carncia de
entendimento acerca dos fundamentos dos sistemas de servios de sade e de seu
papel (FERNANDES et al, 2010).
Um dos estudos (BENITO et al, 2005) aponta para a importncia do enfermeiro
gerente conhecer os princpios que regem os servios da ateno primria, conhecer
a misso e os objetivos da instituio de sade, conhecer as polticas de sade e
conhecer a administrao participativa, esses so alguns dos conhecimentos
requeridos do enfermeiro para a gerncia da assistncia de enfermagem nas
Unidades de Sade da Famlia. Por esta razo destacam-se como possveis temas a
serem abordados durante a formao.
Destacou-se a necessidade de fortalecimento de parcerias entre ensino e
servio, a fim de subsidiar a formao gerencial do enfermeiro em uma perspectiva
transformadora e buscar novos cenrios para a formao, como por exemplo as
Unidades de Sade da Famlia (WEIRICH et al, 2009).
Limites do processo gerencial
Neste tema foi possvel identificar as diversas dificuldades que se colocam
cotidianamente no processo de trabalho do enfermeiro gerente na ateno primria
no Brasil. Emergiram dificuldades de ordem estrutural, mas principalmente de
natureza organizacional dos servios, do coletivo de trabalhadores e tambm
polticos:
Estrutural: falta de recursos financeiros, material e equipamentos para o
exerccio contnuo das atividades; a estrutura fsica de uma forma geral (WEIRICH et
al, 2009; FERNANDES et al, 2010; XIMENES NETO; SAMPAIO, 2008).
34
Organizacional: desintegrao da rede de servios de sade; falta de
referncia e contrarreferncia, falta de um plano de cargos, carreiras e salrios ou
execuo dele, grande nmero de reunies, demanda reprimida de especialidades,
pouca ou nenhuma autonomia financeira (KAWATA et al, 2009; FERNANDES et al,
2010; SOUZA; MELO, 2009; WEIRICH et al, 2009).
Coletivo de Trabalhadores: falta de capacitao de alguns profissionais para o
trabalho na unidade, composio incompleta das equipes nas Unidades de Sade da
Famlia e falta de capacitao para gerenciamento (FERNANDES et al, 2010;
XIMENES NETO; SAMPAIO, 2008)..
Poltico: politicagem, entendida como uma interferncia negativa do poder
poltico local no processo de trabalho e na autonomia profissional e gerencial
(XIMENES NETO; SAMPAIO, 2008)...
Outra dificuldade tambm salientada a desarticulao do processo de
trabalho gerencial com o processo de trabalho assistencial. Essa desarticulao
entendida como uma situao conflituosa (WEIRICH et al, 2009).
Estes achados ratificam a ideia de que muitos enfermeiros no visualizam a
atividade gerencial como integrante das prticas de cuidado, desconsiderando que
na enfermagem o gerenciamento pode ser realizado atravs de aes diretas do
profissional com o usurio, por intermdio de delegao e ou articulao com outros
profissionais da equipe de sade (GARLET et al, 2006).
Diante de tais dificuldades percebeu-se a canalizao da ateno do
enfermeiro gerente para a resoluo dos problemas, alm disso, destacou-se a
necessidade de superao para que as mesmas no se tornem uma situao natural,
previsvel e inerente rea (FERNANDES et al, 2010).
Desafios e possibilidades do processo gerencial
No quarto tema emergiram situaes que favorecem o trabalho da gerncia na
ateno primria. Essas situaes esto focalizadas nas relaes interpessoais com a
equipe, usurios e diversos setores da comunidade7, na identificao com o trabalho
e no comprometimento da equipe (FERNANDES et al, 2010; XIMENES NETO;
SAMPAIO, 2008)..
No que se refere aos desafios postos os estudos apontam para a organizao
do trabalho de outros profissionais, para a importncia de assumir-se enquanto lder
35
no sistema de sade, considerando o papel que tem desempenhado nesse setor, e
para superar a desarticulao do assistir e gerenciar em seu processo de trabalho
(CHRISTOVAM; SANTOS, 2004; VANDERLEI,; ALMEIDA, 2007; FRACOLLI; EGRY,
2001).
O gerenciamento em enfermagem foi definido como um processo dinmico,
participativo e integrador, dessa forma, acena-se para um despertar de novas
abordagens gerenciais que possibilitem ao enfermeiro ampliar seu olhar e
comprometer-se na construo de redes interativas e participativas, bem como atuar
como lder seguindo o novo paradigma (BACKES et al, 2009; LOURENO;
SHINYASHIKI; TREVIZAN; 2005).
A ESF emergiu como um importante espao de ao para os enfermeiros em
especial pela possibilidade de atuao no apenas nas atividades assistenciais, mas
tambm na gesto do servio (SOUZA; MELO, 2009). Alm disso, proporcionou que o
enfermeiro assumisse a posio de elemento nuclear da equipe, tornando-o mais
respeitado e reconhecido pelo seu trabalho (COSTA; SILVA, 2004).
Este cenrio colocou o enfermeiro diante da necessidade de uma nova
organizao de trabalho, na qual deve estar presente o cuidado de enfermagem as
pessoas, famlias e comunidades, as aes de educao em sade e continuada, o
gerenciamento de aes interdisciplinares e intersetoriais e a organizao do servio,
diversificando seu trabalho no mbito da ateno primria.
Verificou-se como caractersticas importantes no gerenciamento dos servios
na ateno primria a gesto de pessoas, seguida pela gesto de processos e, por
ltimo, a gesto centrada no usurio, o que segundo o estudo pode demonstrar a
necessidade dos gerentes compreenderem a importncia da incluso do usurio no
processo gerencial dos servios (FERNANDES et al, 2010).
Um dos estudos (WEIRICH et al, 2009) verificou que em 38,6% dos servios os
enfermeiros desenvolvem simultaneamente atividades gerenciais e assistenciais, e
que 64,1% das atividades desenvolvidas so de carter gerencial, entre essas
atividades destacam-se: promover integrao e bom relacionamento entre a equipe,
planejar e avaliar o funcionamento das UBS, manter bom relacionamento com
usurio, delegar e auxiliar a implementao de servios, capacitar e controlar os
recursos humanos (RH), e a captao de recursos financeiros junto ao Ministrio da
Sade (MS) e outros rgos.
36
Consideraes finais
Esta reviso de literatura possibilitou compreender alguns aspectos relativos ao
processo de trabalho gerencial do enfermeiro no contexto da ateno primria no
Brasil a partir de estudos que focalizavam essa temtica. Embora, a gerncia da
enfermagem seja um tema bastante explorado, os estudos permanecem dando
enfase a ao gerencial do enfermeiro no mbito hospitalar, conforme revelado pela
pequena quantidade de trabalhos inseridos para anlise.
Foi possvel vislumbrar a premncia de novas competncias nos profissionais
enfermeiros, considerando as necessidades emergentes da ateno primria. Para
tal, torna-se imprescindvel que este profissional consiga atuar com as diferentes
dimenses tecnolgicas e adotar uma postura critico-reflexiva.
Verificou-se que embora os estudos tenham sido realizados em diversas
regies do Brasil muitas das dificuldades enfrentadas pelos enfermeiros gerentes so
semelhantes e tendem a no se modificar, o que remete a necessidade de intensificar
esforos para a construo de estratgias gerenciais que minimizem esses entraves.
Referncias
Almeida MCP, Rocha SMM. Consideraes sobre a enfermagem enquanto trabalho.
In: Almeida MCP, Rocha SMM. (Orgs). O trabalho de Enfermagem. So Paulo:
Cortez, 1997, p.15-26.
Backes DS, Erdmann AL, Lunardi VL, Lunardi Filho WD, Erdmann RH. Despertando
novas abordagens para a gerncia do cuidado de enfermagem: estudo qualitativo.
Online braz j nurs. 2009, 8(2).
Bernardo WM, Nobre MRC, Jatene FB. A prtica clnica baseada em evidncias.
Parte II buscando as evidncias em fontes de informao. Rev Assoc Med Bras
2004,50(1): 104-108.
Benito GAV, Becker LC. Atitudes gerenciais do enfermeiro no Programa Sade da
Famlia: viso da Equipe Sade da Famlia. Rev. bras. enferm. 2007, 60(3): 312-316.
http://portal.revistas.bvs.br/transf.php?xsl=xsl/titles.xsl&xml=http://catserver.bireme.br/cgi-bin/wxis1660.exe/?IsisScript=../cgi-bin/catrevistas/catrevistas.xis|database_name=TITLES|list_type=title|cat_name=ALL|from=1|count=50&lang=pt&comefrom=home&home=false&task=show_magazines&request_made_adv_search=false&lang=pt&show_adv_search=false&help_file=/help_pt.htm&connector=ET&search_exp=Online%20braz.%20j.%20nurs.%20(Online)http://portal.revistas.bvs.br/transf.php?xsl=xsl/titles.xsl&xml=http://catserver.bireme.br/cgi-bin/wxis1660.exe/?IsisScript=../cgi-bin/catrevistas/catrevistas.xis%7Cdatabase_name=TITLES%7Clist_type=title%7Ccat_name=ALL%7Cfrom=1%7Ccount=50&lang=pt&comefrom=home&home=false&task=show_magazines&request_made_adv_search=false&lang=pt&show_adv_search=false&help_file=/help_pt.htm&connector=ET&search_exp=Rev.%20bras.%20enferm
37
Benito GAV, Becker LC, Duarte J, Leite DS. Conhecimento gerencial requerido do
enfermeiro no Programa Sade da Famlia. Rev bras enferm. 2005, 58(6): 635-40.
Bertussi DC, Oliveira MSM, Lima JVC. A unidade bsica no contexto do Sistema de
Sade. In: Andrade Sm, Soares DA, Cordoli Jnior L. Bases da Sade Coletiva.
Londrina: UEL/ ABRASCO, 2001, p.133-143.
Carvalho AO, Eduardo MBP. Sistemas de Informao em Sade para Municpios.
Srie Sade & Cidadania. So Paulo: Faculdade de Sade Pblica da Universidade
de So Paulo, v.6, 1998.
Chistovam BP, Santos I. Os desafios da gerncia do enfermeiro no nvel central de
sade. Rev Enferm UERJ. 2004, 12(1):66-70.
Costa MBS, Silva MIT. Impacto da criao do Programa Sade da Famlia na atuao
do enfermeiro. Rev Enferm UERJ. 2004, 12(3
Fernandes MC, Barros AS, Silva LMS; Nbrega MFB, Silva MRF, Torres, RAM.
Anlise da atuao do enfermeiro na gerncia de unidades bsicas de sade. Rev
bras enferm. 2010, 63(1): 11-5.
Fracolli LA, Egry EY. Processo de trabalho de gerncia: instrumento potente para
operar mudanas nas prticas de sade? Rev latinoam Enferm. 2001, 9(5): 13-18.
Garlet ER, Trindade LL, Lima MADS, Bonilha ALL. The resignification of management
processes in care procedures in nursing. Online Braz J Nurs. 2006, 5(3).
Kawata LS, Mishima SM, Chirelli MQ, Pereira, MJB. O trabalho cotidiano da
enfermeira na sade da famlia: utilizao de ferramentas da gesto. Texto &
Contexto enferm. 2009, 18(2): 313-320.
Loureno MR, Shinyashiki GT, Trevizan MA. Gerenciamento e liderana: anlise do
conhecimento dos enfermeiros gerentes. Rev Latinoam enferm. 2005, 13(4): 469-473.
http://portal.revistas.bvs.br/transf.php?xsl=xsl/titles.xsl&xml=http://catserver.bireme.br/cgi-bin/wxis1660.exe/?IsisScript=../cgi-bin/catrevistas/catrevistas.xis%7Cdatabase_name=TITLES%7Clist_type=title%7Ccat_name=ALL%7Cfrom=1%7Ccount=50&lang=pt&comefrom=home&home=false&task=show_magazines&request_made_adv_search=false&lang=pt&show_adv_search=false&help_file=/help_pt.htm&connector=ET&search_exp=Rev.%20bras.%20enfermhttp://portal.revistas.bvs.br/transf.php?xsl=xsl/titles.xsl&xml=http://catserver.bireme.br/cgi-bin/wxis1660.exe/?IsisScript=../cgi-bin/catrevistas/catrevistas.xis%7Cdatabase_name=TITLES%7Clist_type=title%7Ccat_name=ALL%7Cfrom=1%7Ccount=50&lang=pt&comefrom=home&home=false&task=show_magazines&request_made_adv_search=false&lang=pt&show_adv_search=false&help_file=/help_pt.htm&connector=ET&search_exp=Rev.%20Enferm.%20UERJhttp://portal.revistas.bvs.br/transf.php?xsl=xsl/titles.xsl&xml=http://catserver.bireme.br/cgi-bin/wxis1660.exe/?IsisScript=../cgi-bin/catrevistas/catrevistas.xis%7Cdatabase_name=TITLES%7Clist_type=title%7Ccat_name=ALL%7Cfrom=1%7Ccount=50&lang=pt&comefrom=home&home=false&task=show_magazines&request_made_adv_search=false&lang=pt&show_adv_search=false&help_file=/help_pt.htm&connector=ET&search_exp=Rev.%20Enferm.%20UERJhttp://portal.revistas.bvs.br/transf.php?xsl=xsl/titles.xsl&xml=http://catserver.bireme.br/cgi-bin/wxis1660.exe/?IsisScript=../cgi-bin/catrevistas/catrevistas.xis%7Cdatabase_name=TITLES%7Clist_type=title%7Ccat_name=ALL%7Cfrom=1%7Ccount=50&lang=pt&comefrom=home&home=false&task=show_magazines&request_made_adv_search=false&lang=pt&show_adv_search=false&help_file=/help_pt.htm&connector=ET&search_exp=Rev.%20bras.%20enfermhttp://portal.revistas.bvs.br/transf.php?xsl=xsl/titles.xsl&xml=http://catserver.bireme.br/cgi-bin/wxis1660.exe/?IsisScript=../cgi-bin/catrevistas/catrevistas.xis%7Cdatabase_name=TITLES%7Clist_type=title%7Ccat_name=ALL%7Cfrom=1%7Ccount=50&lang=pt&comefrom=home&home=false&task=show_magazines&request_made_adv_search=false&lang=pt&show_adv_search=false&help_file=/help_pt.htm&connector=ET&search_exp=Rev.%20bras.%20enfermhttp://portal.revistas.bvs.br/transf.php?xsl=xsl/titles.xsl&xml=http://catserver.bireme.br/cgi-bin/wxis1660.exe/?IsisScript=../cgi-bin/catrevistas/catrevistas.xis%7Cdatabase_name=TITLES%7Clist_type=title%7Ccat_name=ALL%7Cfrom=1%7Ccount=50&lang=pt&comefrom=home&home=false&task=show_magazines&request_made_adv_search=false&lang=pt&show_adv_search=false&help_file=/help_pt.htm&connector=ET&search_exp=Rev.%20latinoam.%20enferm
38
Martins JT, Robazzi, MLCC, Marziale MHP, Garanhani ML, Haddad MCL. Significados
do gerenciamento de Unidade de Terapia Intensiva para o Enfermeiro. Revista
Gacha de Enfermagem. 2009; 30(1): p.113-119.
Minayo MCS. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em sade. 10 ed. So
Paulo: Hucitec; 2007.
Passos JP, Ciosak SI. A concepo dos enfermeiros no processo gerencial em
Unidade Bsica de Sade. Rev Esc Enferm USP. 2006, 40(4): 464-468.
Peterlini OLG, Zagonel IPS. O Sistema de informao utilizado pelo Enfermeiro no
gerenciamento do processo de cuidar. Texto & contexto enferm. 2006, 15(3): 418-26.
Pinheiro, ALS. Gerncia de enfermagem em unidades bsicas: a informao como
instrumento para a tomada de deciso. Rev APS. 2009, 12 (3): 262-270.
Souza MKB, Melo CMM. Atuao de enfermeiras nas macrofunes gestoras em
sade. Rev enferm. UERJ. 2009, 17(2):198-202.
Ursi ES, Galvo CM. Preveno de leses de pele no perioperatrio: reviso
integrativa da literatura. Rev Latino-am Enfermagem. 2006, 14(1): 124-131.
Vanderlei MIG, Almeida, MCP. A concepo e prtica dos gestores e gerentes da
estratgia de sade da famlia. Cincia & Sade Coletiva. 2007, 12(2): 443-53.
Weirich CF, Munari DB, Mishima SM, Bezerra ALQ. O Trabalho Gerencial do
Enfermeiro na Rede Bsica de Sade. Texto & Contexto em Enfermagem. 2009,
18(2): 249-257.
Ximenes Neto FRG, Sampaio JJC. Processo de asceno ao cargo e as facilidades e
dificuldades no gerenciamento do territrio na Estratgia Sade da Famlia. Rev bras
enferm. 2008, 6(1): 36-45.
http://portal.revistas.bvs.br/transf.php?xsl=xsl/titles.xsl&xml=http://catserver.bireme.br/cgi-bin/wxis1660.exe/?IsisScript=../cgi-bin/catrevistas/catrevistas.xis%7Cdatabase_name=TITLES%7Clist_type=title%7Ccat_name=ALL%7Cfrom=1%7Ccount=50&lang=pt&comefrom=home&home=false&task=show_magazines&request_made_adv_search=false&lang=pt&show_adv_search=false&help_file=/help_pt.htm&connector=ET&search_exp=Texto%20%26%20contexto%20enfermhttp://portal.revistas.bvs.br/transf.php?xsl=xsl/titles.xsl&xml=http://catserver.bireme.br/cgi-bin/wxis1660.exe/?IsisScript=../cgi-bin/catrevistas/catrevistas.xis%7Cdatabase_name=TITLES%7Clist_type=title%7Ccat_name=ALL%7Cfrom=1%7Ccount=50&lang=pt&comefrom=home&home=false&task=show_magazines&request_made_adv_search=false&lang=pt&show_adv_search=false&help_file=/help_pt.htm&connector=ET&search_exp=Rev.%20APShttp://portal.revistas.bvs.br/transf.php?xsl=xsl/titles.xsl&xml=http://catserver.bireme.br/cgi-bin/wxis1660.exe/?IsisScript=../cgi-bin/catrevistas/catrevistas.xis%7Cdatabase_name=TITLES%7Clist_type=title%7Ccat_name=ALL%7Cfrom=1%7Ccount=50&lang=pt&comefrom=home&home=false&task=show_magazines&request_made_adv_search=false&lang=pt&show_adv_search=false&help_file=/help_pt.htm&connector=ET&search_exp=Rev.%20enferm.%20UERJhttp://portal.revistas.bvs.br/transf.php?xsl=xsl/titles.xsl&xml=http://catserver.bireme.br/cgi-bin/wxis1660.exe/?IsisScript=../cgi-bin/catrevistas/catrevistas.xis%7Cdatabase_name=TITLES%7Clist_type=title%7Ccat_name=ALL%7Cfrom=1%7Ccount=50&lang=pt&comefrom=home&home=false&task=show_magazines&request_made_adv_search=false&lang=pt&show_adv_search=false&help_file=/help_pt.htm&connector=ET&search_exp=Rev.%20bras.%20enfermhttp://portal.revistas.bvs.br/transf.php?xsl=xsl/titles.xsl&xml=http://catserver.bireme.br/cgi-bin/wxis1660.exe/?IsisScript=../cgi-bin/catrevistas/catrevistas.xis%7Cdatabase_name=TITLES%7Clist_type=title%7Ccat_name=ALL%7Cfrom=1%7Ccount=50&lang=pt&comefrom=home&home=false&task=show_magazines&request_made_adv_search=false&lang=pt&show_adv_search=false&help_file=/help_pt.htm&connector=ET&search_exp=Rev.%20bras.%20enferm
39
2.5 Artigo 21
A produo do conhecimento sobre o fazer gerencial do enfermeiro
na ateno primria
KINALSKI, Daniela Dal Forno; PAES, Lucilene Gama; MACHADO, Bruna Parnov;
LIMA, Suzinara Beatriz Soares;
RESUMO: Esta pesquisa teve como objetivo analisar as produes cientficas da enfermagem (dissertaes e teses) relacionadas ao fazer gerencial do enfermeiro na ateno primria. Trata-se de uma pesquisa bibliogrfica do tipo descritiva, elaborada a partir dos resumos das teses e dissertaes disponveis no Banco de Teses e Dissertaes da Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior (CAPES). Foi realizada uma busca durante o ms de Novembro de 2011, por meio da associao de palavras-chave. Foram includos neste estudo 13 dissertaes e 5 teses. Os trabalhos includos nesta pesquisa objetivavam, de forma geral, compreender o trabalho do enfermeiro na rede primria de sade, identificar quais aes gerenciais esto sendo realizadas e qual a contribuio dessas aes para a efetivao do SUS. Percebeu-se que a ateno primria tem se tornado um importante campo de atuao para o enfermeiro, principalmente no gerenciamento destes servios, entretanto, ainda no existem muitos estudos nesta temtica, uma vez que as pesquisas permanecem concentradas no mbito hospitalar. Descritores: Gerncia, Enfermagem em Sade Comunitria, Gesto em Sade, Administrao de Servios de Sade. INTRODUO
Com o processo de implantao do Sistema nico de Sade (SUS) novas
configuraes de trabalho comeam a ser desenhadas, transformando o modo de
organizar os servios e do fazer em sade.
A descentralizao dos servios, implementada pelo processo de
municipalizao, possibilitou que a temtica da gesto e da gerncia dos servios de
sade comeasse a ter visibilidade. Dessa forma, ampliou-se a responsabilidade no
processo de trabalho da gerncia e da gesto implantado no mbito local
(VANDERLEI, 2005).
1 Artigo publicado parcialmente nos Anais Jornada Internacional de Enfermagem Unifra. Volume 2. Santa Maria.
Disponvel em: http://www.unifra.br/eventos/jornadadeenfermagem/Trabalhos/4236.pdf.
http://www.unifra.br/eventos/jornadadeenfermagem/Trabalhos/4236.pdf
40
Entende-se por gerncia a administrao de uma unidade ou rgo de sade,
que se caracteriza como prestador de servios ao Sistema (BRASIL, 1997). Define-se
como uma atividade cujo foco de ao mantm um carter articulador e integrativo.
Caracteriza-se como um instrumento condicionante e condicionado, determinante e
determinado, ao passo que possibilita a transformao do processo de trabalho e
tambm passvel de transformao (MISHIMA et al., 1997).
Diante desse novo quadro de organizao dos servios de sade o papel
gerencial, no processo de trabalho em sade no nvel local, ganha relevncia
(VANDERLEI, 2005), possibilitando que novos atores, especialmente o enfermeiro,
sejam inseridos no contexto da gerncia atuando como coparticipes da conduo do
SUS (MELO; SANTOS, 2007) e colocando-o diante de um importante desafio,
organizar o trabalho da equipe de enfermagem e mediar o trabalho da equipe de
sade (KIRCHHOF, 2003).
Dessa forma, esta pesquisa tem como objetivo analisar as produes
cientficas da enfermagem (dissertaes e teses), relacionadas ao fazer gerencial do
enfermeiro na ateno primria, disponibilizadas no Banco de Teses e Dissertao do
Portal Capes.
METODOLOGIA
Trata-se de uma reviso sistemtica, elaborada a partir dos resumos das teses
e dissertaes disponveis no Banco de Teses e Dissertaes do Portal Capes, sem
delimitao de marco temporal.
A busca foi realizada no ms de Novembro de 2011, por meio da associao
de trs palavras-chave: ENFERMAGEM e GERNCIA, ENFERMAGEM e
GERENCIAMENTO. Dessa forma, foram encontradas 334 dissertaes e 119 teses.
Inicialmente, para seleo dos trabalhos, realizou-se a leitura do ttulo e
respectivo resumo, selecionaram-se todos os trabalhos que abordavam o tema do
fazer gerencial do enfermeiro na rede primria de servios do Sistema nico de
Sade. Foram excludos todos queles que abordavam o fazer gerencial do
enfermeiro no mbito hospitalar.
Posteriormente, aps realizar nova leitura atentiva dos resumos, foram
excludos queles cujos sujeitos de pesquisa no eram enfermeiros atuantes na
ateno primria, como por exemplo, estudantes de enfermagem e professores, bem
41
como os que fugiam ao tema, ou que no apresentavam nos resumos informaes
pertinentes para a compreenso do estudo.
Assim, incluram-se neste estudo, 13 dissertaes e 5 teses. As dissertaes
foram enumeradas de D1 D13 e as teses de T1 T5 de acordo com a ordem
cronolgica da defesas. queles trabalhos que apareceram nas duas buscas foram
contabilizados uma nica vez.
Para o processo de anlise foram elaborados alguns instrumentos que
auxiliaram na organizao dos dados. Inicialmente, realizou-se uma anlise descritiva
a fim de obter a caracterizao dos estudos, em um segundo momento fez-se uso da
anlise temtica (MINAYO, 2007) no intuito de descobrir os ncleos de sentido que
compunham o corpus da pesquisa, cuja presena ou frequncia traziam significao
para o objeto em questo: o gerenciamento realizado pelo enfermeiro na ateno
primria.
APRESENTAO E DISCUSSO DOS DADOS
Os trabalhos includos nesta pesquisa objetivavam, de uma forma geral,
compreender o trabalho do enfermeiro na rede primria de sade, identificar quais
aes gerenciais esto sendo realizadas e qual a contribuio dessas aes para a
efetivao do SUS. Alm disso, apresentam fortemente os fatores que facilitam e que
dificultam o trabalho do enfermeiro nesse mbito, bem como a problemtica da
desarticulao do assistir e gerenciar como aspecto negativo na construo da
integralidade.
A maioria os trabalhos utilizaram uma abordagem qualitativa (10) na
implementao da pesquisa, dois deles abordaram mtodos quantitativos e apenas
um associou as abordagens. Destaca-se que em cinco dos resumos no estava
descrito qual a abordagem foi utilizada.
Quanto as tcnicas de coleta, a entrevista foi a mais utilizada (11), seguida da
anlise documental (seis) e observao (cinco). Tambm surgiu o questionrio (dois),
o grupo focal (dois), reviso bibliogrfica (dois), oficina de trabalho (dois), formulrio
(dois) e a utilizao de dados secundrios (um). Salienta-se que em onze trabalhos foi
utilizada a associao de tcnicas de coleta, o que pode ser justificado pela
complexidade do tema.
42
No que se refere ao local da coleta de dados, destaca-se as regies sudeste e
nordeste do pas com sete e seis trabalhos respectivamente. Apenas a regio sul no
foi contemplada, as demais centro-oeste e norte, apresentaram dois e um trabalho
respectivamente. Em dois trabalhos no foi possvel identificar o cenrio de pesquisa.
Com relao aos sujeitos da pesquisa, em seis dos trabalhos no foi possvel
identific-los claramente, entretanto, considerando os objetivos a que estes estudos
se propunham, bem como as contribuies que descreveram, optou-se por no retira-
los da amostra, tendo em vista a sua relao com o fazer gerencial do enfermeiro na
ateno primria. Todos os demais (12) foram realizados com enfermeiros da rede
primria de servios. Em um deles tambm incluram-se enfermeiros da rede
hospitalar.
Quanto ao tipo de anlise dos dados, destacou-se entre os estudos, a anlise
temtica (sete), contudo, salienta-se o uso da hermenutica dialtica (dois), anlise
de discurso (um), anlise de contedo (dois), socioanlise (um), frequncia (um),
varincia (um), Tukey-DHS (um) e Teste-t de Student (um). Dois dos trabalhos
utilizaram mais que uma tcnica de anlise.
Identificou-se que a instituio com maior nmero de produes foi a
Universidade de So Paulo (seis), o que pode ser justificado pelo fato desta instituio
possuir cursos de mestrado e doutorado na rea especfica da Enfermagem em
Sade Pblica. Tambm surgiram instituies como a Universidade Federal da
Paraba (um), Universidade Federal do Cear (um), Universidade estadual do Rio de
Janeiro (um), Universidade Estadual de Campinas (um), Universidade Federal da
Bahia (dois), Universidade estadual do Paran (um), universidade Federal do Mato
Grosso (um), Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (um) e Universidade
Federal do Rio de Janeiro (trs).
Por fim, registra-se que o corpus desta pesquisa foi composto por trabalhos
defendidos nos anos de 1996 2010, de acordo com a seguinte descrio: 1996
(um), 1997 (um), 2001 (dois), 2002 (um), 2003 (trs), 2004 (um), 2005 (um), 2006
(um), 2007 (um), 2008 (um), 2009 (um), 2010 (um). Acredita-se que isto tenha se
dado, devido s transformaes ocorridas na dcada de 90 no mbito da sade
coletiva, especialmente com a criao do Programa sade da Famlia (PSF) em 1994.
A partir dos resultados apresentados pelos estudos em anlise emergiram duas
categorias temticas, aes desenvolvidas pelo enfermeiro no cotidiano da ateno
primria e prticas gerenciais do enfermeiro na ateno primria.
43
Tabela 1: Dissertaes e Teses includas neste estudo. Santa Maria 2011.
D1
David Lopes Neto. Administrao Pela Qualidade: Um Novo Paradigma Para a Administrao dos Servios de Enfermagem de Sade Pblica. 01/09/1996 Universidade Federal da Paraba.
D2
Silvia Helena Bastos de Paula. SUS e Modelo de Financiamento: Aes Realizadas e Registradas pelas Enfermeiras. 01/04/1997 Universidade Federal do Cear.
D3
Barbara Pompeu Christovam. A instituio da liderana dos enfermeiros em questes de sade. 01/01/2001 - Universidade do Estado do Rio de Janeiro.
D4
Rafaela Azenha Teixeira. O trabalho da enfermeira na Sade da Famlia: potncia de (re) construo do modelo assistencial e (re) criao do trabalho da enfermagem?. 01/11/2002 Universidade de So Paulo.
D5
Dalvani Marques. A Trajetria do Programa Sade da Famlia em Campinas e a Contribuio da Enfermagem. 01/02/2003 Universidade Estadual de Campinas.
D6
Alba Lcia Santos Pinheiro. Gerncia de Enfermagem em Unidades Bsicas: a informao em sade como instrumento para a tomada de deciso. 01/09/2003 - Universidade Federal da Bahia.
D7
Elizabeth Xaud Maron Setenta. Aes Gerenciais das(os) enfermeiras (os) na reorganizao dos servios de sade da rede bsica: um estudo no Municpio de Itabuna-Ba. 01/09/2003 Universidade Federal da Bahia.
D8
Sheila Rodrigues Dias Filgueiras. A Atuao do Enfermeiro na Estratgia Sade da Famlia: o despertar de um novo cenrio no Municpio de Volta Redonda/RJ. 01/04/2005 Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro
D9
Francisco Rosemiro Ximenes Neto. Gerenciamento do Territrio na estratgia sade da famlia: o processo de trabalho dos gerentes. 01/06/2007 Universidade Estadual do Paran
D10
Andria Arantes Batista Guedes. A Informao na ateno primria em sade como ferramenta para o trabalho do enfermeiro. 01/08/2007 Universidade de So Paulo.
D11
Mrcia Goulart de Souza. Percepes de Enfermeiros sobre o processo de trabalho na Estratgia Sade da Famlia. 01/02/2009 Universidade Federal do Mato Grosso.
D12
Daiana Bonfim. Identificao das intervenes de enfermagem na ateno bsica sade como parmetro para dimensionamento de trabalhadores de enfermagem. 01/05/2010 Universidade de So Paulo.
44
D13
Licia Marques Vidal. Processo de trabalho na prtica gerencial: desafios para um novo fazer em Sade da Famlia. 01/12/2010 Universidade Estadual do sudoeste da Bahia.
T1
Maria Jos Moraes Antunes. O trabalho da gerncia na rede bsica do Sistema nico de Sade SUS: Contribuio da Enfermagem Brasileira no universo da Classificao Internacional da Prtica da Enfermagem em Sade Coletiva - CIPESC. 01/03/2001 Universidade de So Paulo.
T2
Gesilda Meira Lessa. A atuao da enfermeira nas equipes do Programa de Sade da Famlia no estado da Bahia. 01/03/2004 Universidade Federal do Rio de Janeiro.
T3
Jesanne Barguil Brasileiro Rocha. O trabalho da enfermeira no Programa Sade da Famlia em Floriano (PI). 01/07/2006 - Universidade Federal do Rio de Janeiro.
T4
Vilma Ribeiro da Silva. A dimenso gerencial da prtica do enfermeiro nos servios de sade: subsidiando o ensino de graduao. 01/12/2008 Universidade de So Paulo
T5
Dalvani Marques. O gnero e o trabalho da enfermagem na ateno bsica: percepes das enfermeiras. 01/03/2008 Universidade de So Paulo.
Aes desenvolvidas pelo enfermeiro no cotidiano da ateno primria
Constata-se pelos trabalhos que a atuao da enfermeira no contexto da
ateno primria est focalizada para a resoluo de problemas de sade da
comunidade, sem, no entanto, inclu-la nesse processo (LESSA, 2004). Alm disso,
tem realizado aes pr-estabelecidas focadas nos grupos prioritrios, ratificando as
normas ministeriais que direcionam suas aes para a consulta de enfermagem,
realizao de visitas domiciliares e palestras educativas (ROCHA, 2006).
Alm disso, identificou-se que a equipe de enfermagem na ateno primria
sade absorve a maior parte do tempo de trabalho com intervenes do domnio
Sistema de Sade, como Gerenciamento de caso/Visita Domiciliar e documentao
(BONFIM, 2010).
Destaca-se ainda que o trabalho dos enfermeiros na ateno primria pode ser
caracterizado como cuidador, diferente, porm semelhante, complexo, pelo objeto de
trabalho, especfico, pelo uso amplo de tecnologias leves e feminino, pelas marcas
femininas do trabalho das enfermeiras (MARQUES, 2008).
Tambm foi possvel perceber o envolvimento ativo dos trabalhadores de
enfermagem com a transformao do modelo assistencial, bem como o
gerenciamento em nvel local da assistncia sade (ANTUNES, 2001). Destaca-se
45
que em algumas situaes o enfermeiro tem assumido sozinho a responsabilidade
por melhorar o nvel de sade da populao (CHRISTOVAM, 2001) e intermediar a
relao equipe-secretaria-usurio, ficando como condutor desse processo (VIDAL,
2010).
Nessa circunstancia em que encontra-se, a ESF pode facilitar a mudana do
modelo assistencial, aproximando trabalhadores, usurios, famlias e comunidade,
contudo, ressalta-se que esse processo est em construo (D5). A atuao do
enfermeiro insere-se nessa realidade, despertando-se para esse novo modelo
assistencial e de efetivao do SUS (FILGUEIRAS, 2005).
Nessa mesma linha reflexiva, aponta-se para a necessidade de se repensar o
trabalho do enfermeiro (TEIXEIRA, 2002), com vistas a um resgate de princpios e
valores de cuidado, retomando o cuidado humano, para alm do biolgico,
considerando suas necessidades histricas e sociais, favorecendo uma relao de
proximidade entre trabalhador e usurio, entre cuidadores e seres cuidados, em uma
realidade concreta (SOUZA, 2009).
Prticas gerenciais do enfermeiro na ateno primria.
Os resultados dos trabalhos, de uma forma geral, demonstraram que a
gerncia do servio na ateno primria est relacionada a enfermeira (VIDAL, 2010).
Tem seu processo de trabalho gerencial centrado em aes individuais e coletivas
(NETO, 2007), possui clareza do lugar que ocupa nas hierarquias de poder, mantendo
relaes apaziguadoras, satisfazendo, assim, uma ordem de estabilidade
(CHRISTOVAM, 2001).
Destaca-se que o enfermeiro tem desempenhado funes de gerncia que no
se limitam dimenso tcnica, mas que tambm relacionam-se a coordenao dos
trabalhadores que compem a equipe (TEIXIERA, 2002).
Dessa forma, o enfermeiro na gerncia em sade coloca-se diante de
importantes desafios, tais como, organizar o trabalho de outros profissionais,
organizar adequada infra-estrutura para o cuidado, realizar planejamento de servio,
assumir-se enquanto lder no sistema de sade e superar conflitos oriundos da
desarticulao entre as dimenses administrar e cuidar, uma vez que permanecem
dicotmicas (CHRISTOVAM, 2001; TEIXEIRA, 2002; PINHEIRO, 2003; VIDAL, 2010).
46
Ressalta-se que existe uma tendncia dos enfermeiros gerentes a identificarem
o objetivo do seu trabalho como predominantemente assistencial, considerando as
aes gerenciais como secundrias (SETENTA, 2003).
A referida dicotomia existente entre a assistncia e a gerncia pode ser
considerada uma ameaa i