OS DIREITOS HUMANOS DAS MULHERES E O “FENÔMENO DA FEMINIZAÇÃO DO ENVELHECIMENTO” EM UM CENTRO DE CONVIVÊNCIA
DE IDOSOS DA CIDADE DE DOURADOS-MS
Débora Martins Moreti Reis1
RESUMO: O crescimento da população idosa é um processo caracterizado pelo aumento da longevidade humana e tem como característica marcante sua maior ocorrência entre as mulheres. Por isso, essa pesquisa buscou abordar o "fenômeno da feminização do envelhecimento" em um Centro de Convivência de Idosos localizado na cidade de Dourados-MS, a partir dos olhares de frequentadores do ambiente e considerando a perspectiva dos Direitos Humanos. As estratégias de pesquisa se basearam em material bibliográfico e documental, acompanhado de entrevistas com usuários e observação participante. O estudo sobre esse tema se manifesta significativo considerando-se que a população idosa tem crescimento acelerado no país e as mulheres são a maior parcela, bem como, embora sejam notados avanços nos debates sobre o assunto, as mulheres idosas ainda são invisíveis para as políticas públicas, razão pela qual faz-se necessário o esclarecimento da coletividade a fim de propiciar planejamento e implantação de ações/intervenções mais efetivas para alcance dessa parcela populacional na cidade e garantir seus direitos. Palavras-chave: Direitos Humanos, Mulheres, Centro de Convivência, Longevidade.
1. INTRODUÇÃO
O crescimento da população idosa é um fato desafiador caracterizado pelo
prolongamento da vida humana, em função de fatores diversos e geradores de discussões
acadêmicas visando à melhor assimilação das consequências dessa ampliação da existência.
Por isso, o envelhecimento foi escolhido para pesquisa, especialmente no que se refere às
mulheres, em vista a percepção da maior ocorrência de longevidade para essa parcela
populacional, bem como, das dificuldades de visibilidade feminina pelas políticas públicas
voltadas ao tema do envelhecimento.
O estudo buscou abordar o chamado “fenômeno da feminização do envelhecimento”
em um Centro de Convivência de Idosos (CCI) localizado na cidade de Dourados – MS, a
1 Mestre em Sociologia pela Universidade Federal da Grande Dourados, Especialista em Direito Público pela Universidade do Sul de Santa Catarina, Bacharel em Direito pela Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul.
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partir dos olhares de seus frequentadores e também considerando os avanços dos Direitos
Humanos no Brasil.
As estratégias de pesquisa estão baseadas em material bibliográfico e documental,
tais como Declaração Universal dos Direitos Humanos, os Programas Nacionais de Direitos
Humanos, estatuto do Centro de Convivência escolhido para exploração, registros oficiais,
reportagens da mídia da região e projetos, bem como, entrevistas com usuários. Os dados da
pesquisa foram coletados também com a utilização de observação participante.
Apresentam-se nesse trabalho algumas reflexões sobre a temática, especialmente em
relação ao público feminino, com o intuito de fornecer uma contribuição para subsidiar o
planejamento e a implantação de ações mais efetivas para as mulheres idosas na cidade de
Dourados, uma vez que se reconhece a complexidade do tema e sua repercussão para o
enfrentamento de desigualdades e concretização de cidadania.
2. EVOLUÇÃO HISTÓRICA DOS DIREITOS HUMANOS
Os Direitos Humanos têm seu surgimento na fase entre a pré-história e a história, nos
séculos XI e X a.C., quando apareceram os primeiros objetos de metal e a escrita. O ponto
inicial da consciência histórica dos Direitos Humanos decorreu do reconhecimento de que as
instituições governamentais devem ser utilizadas a serviço dos governados, de modo que se
admitiu a existência de direitos que são inerentes à própria condição humana (COMPARATO,
2010).
A ideia de igualdade entre as pessoas nasceu vinculada ao surgimento da lei escrita e
aplicada numa sociedade organizada, na qual se compreendesse a dignidade da pessoa e seus
direitos. Assim, o entendimento de Direitos Humanos atravessou a Democracia Ateniense e
seus princípios de supremacia da lei e participação do cidadão nas funções de governo; a
República Romana, com suas limitações ao poder político; o Imperialismo, na Baixa Idade
Média. Já na Idade Média constituiu-se uma nova civilização que reconheceu direitos comuns
a todos os indivíduos e, posteriormente, o Feudalismo – na Alta Idade Média (séculos XI a
XIII) – revelou os Direitos Humanos como um valor a ser observado, embora em favor de
clero e nobreza, com poucas concessões ao povo e, na sequência, a Monarquia Absolutista
(século XVII) direcionou as liberdades individuais para a burguesia.
Com a Independência Americana (1776), foi reconhecida solenemente a igualdade
entre os seres humanos e, com a Revolução Francesa (1789), essa ideia foi reforçada com a
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afirmação de que os homens nascem e permanecem livres e iguais em direitos (conforme a
Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, em seu art. 1º).
Na primeira metade do século XIX, os Direitos Humanos de caráter econômico e
social foram identificados e, na segunda metade desse mesmo século, com o fim da Segunda
Guerra Mundial, teve início a internacionalização desses direitos. A Convenção de Genebra,
elaborada em 1864, pretendeu reduzir o sofrimento de pessoas atingidas por conflitos bélicos
e, a partir dela, fundou-se – em 1880 – a Comissão Internacional da Cruz Vermelha. Já em
1907, surgiu a Convenção de Haia, que estendeu os princípios da Convenção de Genebra aos
conflitos marítimos, mesma aplicação estendida aos prisioneiros de guerra, em 1929.
A partir de 1945, os Direitos Humanos evoluíram visando proteger a dignidade
humana de massacres ocasionados pelo totalitarismo estatal e, em 1948, foi aprovada pela
Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), a Declaração Universal dos
Direitos Humanos – marco mundial dos Direitos Humanos – determinante da liberdade e
igualdade de todos os seres humanos em dignidade e direitos, desde o nascimento, bem como,
do dever de agirem com fraternidade.
De acordo com a autora Flávia Teixeira, essa Declaração garantiu proteção aos
direitos e previu a criação de instrumentos efetivos para esse fim: [...] a partir da Declaração dos Direitos Humanos há uma maior participação dos Estados na proteção de direitos. [...] há uma necessidade constante de criação e implementação de mecanismos efetivos e necessários para a garantia dos direitos inerentes aos indivíduos, bem como maior atuação dos Estados consagrando em suas Constituições o respeito à dignidade da pessoa humana e a garantia do seu pleno desenvolvimento (TEIXEIRA, 2012).
A partir de meados dos anos 70 e início dos anos 80, a noção de direitos foi
substancialmente ampliada no Brasil, dando-se ênfase aos direitos políticos em conjunto com
os direitos humanos (CALDEIRA, 1991).
Nesse sentido, em 1988 foi promulgada a Constituição Federal Brasileira,
caracterizada como um instrumento de efetivação de garantias para os cidadãos, prevendo o
pleno exercício de direitos. E, em seu texto, apresentou conteúdo relacionado aos Direitos
Humanos e mecanismos de elaboração e implantação de políticas públicas – necessários para
a efetivação de benefícios às pessoas. Por exemplo, em seu art. 5º estabelece a igualdade entre
todos e prevê a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à propriedade e à segurança.
Há autores com entendimento de que a Constituição tem um texto rígido, porém,
aberto para inovações advindas dos direitos humanos. Na opinião deles, há uma evolução
acelerada da humanidade e, por isso, a elaboração de leis deve incorporar os direitos
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humanos, para afastar as injustiças sociais e promover o avanço sociotecnológico
(MAGALHÃES e LIMA, 2012).
Importante destacar que os Direitos Humanos são classificados em três gerações. A
primeira delas é a dos direitos civis ou das liberdades individuais, concernentes à vida,
locomoção, propriedade, segurança, acesso à justiça, opinião, crença religiosa e integridade
física. A segunda, é a dos direitos sociais, alusivos ao mundo do trabalho, como direito ao
salário, à seguridade social, férias, fixação de jornada de trabalho, entre outros, mas também
abrange direitos não vinculados ao mundo do trabalho e que se destinam a todos, como o
direito à educação, à saúde, à habitação. Já a terceira geração se refere aos direitos coletivos
da humanidade também conhecidos como de solidariedade planetária, como a defesa do meio
ambiente, paz, desenvolvimento, autodeterminação dos povos, partilha do patrimônio
científico, cultural e tecnológico (BENEVIDES, 2012).
Além dessas gerações também desponta uma quarta geração, relativa aos direitos que
poderão surgir a partir de novas descobertas científicas, novas abordagens em função do
reconhecimento da diversidade cultural e das mudanças políticas.
3. OS DIREITOS DAS MULHERES COMO DIREITOS HUMANOS
Os direitos das mulheres nem sempre tiveram reconhecimento ou foram assegurados
pelas legislações, por isso, a Revolução Francesa revelou-se como um acontecimento
significativo para a luta das mulheres no tocante ao seu reconhecimento como seres humanos
iguais aos homens e, nesse período, abriu-se caminho para o primeiro movimento de mulheres
em prol de igualdade e libertação.
Em 1830, na Grã-Bretanha, as mulheres começaram a exigir o direito ao voto, luta
que durou mais de 80 anos até sua conquista, alcançada em 1918. Frise-se que a fundação do
Conselho Internacional das Mulheres, com sede em Paris-França (em 1888) contribuiu para
esse êxito, mediante promoção de diversos encontros, seminários e workshops para discussão
do tema dos direitos das mulheres.
O primeiro órgão a tratar dos Direitos Humanos das Mulheres foi a Comissão
Interamericana sobre as Mulheres, criada em 1928. Após, percebe-se que desde o início da
ONU, as mulheres empenharam-se para participar e atuar na implantação de mecanismos dos
Direitos Humanos, de modo que, em 1946, foi criada a Comissão para o Estatuto da Mulher
com o objetivo de promover os direitos das mulheres em todo o mundo e incluir
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explicitamente esses direitos na Declaração Universal dos Direitos Humanos, datada de 1948.
Em seguida, já em 1953, surgiu a Convenção sobre os Direitos Políticos da Mulher, a qual
estabeleceu igualdade no gozo e exercício de direitos políticos.
Entretanto, apenas nos anos 70 foram adotados instrumentos mais efetivos para a
garantia dos Direitos Humanos das Mulheres pela ONU, mediante elaboração da chamada
Década para as Mulheres das Nações Unidas: Igualdade, Desenvolvimento e Paz, que
englobou o período de 1976 a 1985.
Ainda nessa linha, em 1979, foi adotada a Convenção sobre a Eliminação de Todas
as Formas de Discriminação contra as Mulheres, o mais importante mecanismo para a
proteção e promoção dos Direitos Humanos das Mulheres e o primeiro a reconhecê-las como
seres humanos plenos.
Destaca-se que o Brasil subscreveu essa Convenção apenas no ano de 1984 e, ainda
assim, com reservas em relação à parte do direito de família. Todavia, essas reservas deixaram
de existir e, dez anos depois, a Convenção foi aprovada pelo Congresso Nacional Brasileiro,
conforme o Decreto Legislativo nº 26/1994, promulgado pelo Decreto nº 4377/2002.
Em 1993, a ONU aprovou a Declaração sobre a Eliminação da Violência contra a
Mulher, admitindo a necessidade de se aplicar – de forma universal – os direitos de igualdade,
integridade, dignidade humana, liberdade e segurança para as mulheres.
A Organização dos Estados Americanos (OEA), por sua vez, aprovou – em 1994 – a
Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher,
concernente à proteção dos direitos da mulher tanto na esfera pública quanto na privada.
No tocante ao combate à violência contra as mulheres, no Brasil foi publicada a Lei
Maria da Penha, que prevê punição à violência praticada contra as mulheres (Lei nº
11.340/2006). Essa legislação foi indicada pela ONU, em 2008, como uma das melhores
legislações sobre o assunto no mundo.
Convém destacar que antes da criação dessa lei, o Brasil firmou compromissos
internacionais com o objetivo de eliminar a discriminação das mulheres e, em decorrência de
movimentos feministas, em 2015, o Código Penal Brasileiro foi alterado através da Lei nº
13.104/2015, a qual incluiu a modalidade de homicídio qualificado quando as agressões são
motivadas por questões de gênero (feminicídio), porém até o momento nota-se um sentimento
de ineficiência no cotidiano de vítimas, embora tenha havido avanços relevantes contra os
vários tipos de violência contra as mulheres.
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A violência não é um elemento novo na sociedade e é um tema complexo e, por isso
mesmo, há grande dificuldade na criação e implantação de políticas públicas e sociais
relativas a ele. Contudo, a existência de instrumentos internacionais voltados à proteção dos
direitos das mulheres traduz progresso para afastar a discriminação e a violência contra essas
e, ao mesmo tempo, alavanca a igualdade de gêneros. E, esse consenso ultrapassa a
diversidade cultural dos povos e legitima a ideia de que essa diversidade deve ser vista como
equivalência, não como disparidade.
4. ENVELHECIMENTO E LONGEVIDADE
O envelhecimento é um processo universal, influenciado por formas de vivência
particulares motivadas por diferentes contextos culturais e que, além do indivíduo, pode afetar
a família e a sociedade. É parte do curso da existência de cada indivíduo e se caracteriza por
experiências peculiares e próprias de cada um, como resultado da trajetória de vida. Trata-se
de um processo natural, do ponto de vista orgânico ou biológico, pelo qual há prolongamento
de vida (MENDES et al, 2005).
A autora Sara Nigri Goldman entende que o envelhecimento é um processo
complexo que ocorre em cada pessoa, individualmente, mas condicionado a fatores sociais,
culturais e históricos, envolvendo as pessoas idosas e as várias gerações. Em vista disso, a
autora, destaca que: A velhice enquanto fenômeno social há que ser compreendida como resultante de um conjunto de determinantes econômicos, sociais, políticos e ideológicos que ocorrem na correlação de forças e contradições engendradas pelo modo de produção capitalista (GOLDMAN, 2000).
Logo, é conveniente afirmar que mulheres e homens passam por processos bem
diferentes no que se refere ao envelhecimento, uma vez que a sociedade ainda manifesta
desigualdades no tratamento de gênero, colocando as mulheres em lugar inferior,
submetendo-as a situações de desvalorização.
No aspecto social, o envelhecimento modifica o status da pessoa idosa e de seu
relacionamento com outras pessoas, por vezes, como consequência de uma crise de identidade
provocada pela mudança ou ausência do papel social que, de outro lado, gera perda da
autoestima e mudanças no âmbito familiar e comunitário, especialmente para as mulheres, as
quais – culturalmente no Brasil – têm grandes dificuldades relativas ao ingresso e egresso no
mercado de trabalho do sistema capitalista de produção.
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Ademais, se pode argumentar que esse mesmo sistema capitalista de produção do
país e os aspectos decorrentes dele impõem forte influência sobre a conduta humana e,
consequentemente, é necessário considerar todos os elementos para discussão e compreensão
do fenômeno na sociedade brasileira.
A longevidade, por sua vez, refere-se à ampliação do tempo de vida e possibilidade
de maior convivência familiar e intergeracional. E, diante disso, a característica de prolongar-
se a vida aponta para um fenômeno demográfico mundial, determinante de grandes mudanças
nas áreas social, econômica e política com a revolução do sistema de valores éticos e dos
novos arranjos familiares no Brasil, nos quais as mulheres, cada vez mais, tem assumido o
papel de chefes de família.
Esse aumento da longevidade resultou de políticas e incentivos promovidos pela
sociedade e pelo Estado e suas consequências têm sido vistas com preocupações com a
transferência de recursos na sociedade, colocando desafios para o Estado, as famílias e os
setores produtivos (CAMARANO, 2004).
Além do mais, a peculiaridade de a longevidade feminina ser mais corrente do que a
masculina no Brasil, demanda uma abordagem mais apurada em relação a essa característica
do processo de envelhecimento.
5. O FENÔMENO DA “FEMINIZAÇÃO DO ENVELHECIMENTO”
Esse “fenômeno” é um aspecto da estrutura etária do Brasil e se refere ao elevado
número de mulheres idosas em comparação ao quantitativo de homens. Tal situação se deve,
possivelmente, ao alto índice de óbitos entre os homens em função da relutância desse público
em buscar os serviços assistenciais e de saúde, por serem mais propensos a riscos de acidentes
em geral, consumirem mais cigarro e álcool, conhecerem pouco o próprio organismo o que os
atrapalha na identificação de possíveis doenças (SANT’ANA, 2014).
Há autores que entendem essa maior ocorrência de longevidade entre as mulheres
como efeito do cuidado que estas têm com a própria saúde e a menor exposição a fatores de
risco durante toda a vida (PAPALÉO NETTO, YUASO e KITADAI, 2005). O
prolongamento da vida ocorre com maior frequência entre pessoas de sexo feminino do que
de sexo masculino, particularmente no que se refere à ideia de maiores cuidados com a saúde
pelas mulheres.
Nessa linha, a autora Guita Grin Debert, articula que:
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[...] por enfrentar mudanças drásticas no seu organismo, como gravidez, lactância, menstruação e outros, a mulher se adapta melhor às mudanças na velhice. Muitos acreditam que a maior preocupação com a prevenção médica por parte das mulheres e os maiores riscos aos quais os homens estão sujeitos, como assassinatos, brigas, trabalhos perigosos e outros, fazem com que a mulher tenha uma longevidade superior à do homem (DEBERT, 2004).
Sob esse aspecto, entende-se que a longevidade feminina se relaciona não apenas
com a capacidade que as mulheres geralmente possuem para controlar o ambiente no qual
estão inseridas (com domínio sobre as situações que se manifestam durante todo o curso da
vida), mas também com a herança oriunda da história das relações evolutivas.
Nessa perspectiva, gestação longa, prole pouco numerosa, longos intervalos entre
nascimentos e a sociabilidade são determinantes da extensão da longevidade feminina, de
forma que o apoio familiar e a integração social passam a ser políticas importantes para
aumento da esperança da vida das mulheres (CAMARANO; KANSO e MELLO apud
CAMARANO, 2004).
Outra singularidade refere-se ao fato de que as mulheres, ao ficarem viúvas
apresentam menor interesse em novo casamento, em contraposição ao que ocorre com os
homens que tem maior taxa de segundo casamento após se tornarem viúvos. Essa
característica advém da circunstância de que grande número de mulheres apresenta condições
afetivas, emocionais, econômicas e sociais de manterem-se com qualidade de vida com o
avançar da idade, em contraste ao que ocorre com os homens que, em geral revelam menos
condições afetivas e emocionais.
É pertinente assinalar que a longevidade tem uma peculiaridade, conforme frisa a
autora Maria do Carmo Eulálio: [...] os homens experimentam um pico de mortalidade entre os 60 e 65 anos, mas depois de 70 anos, aqueles que permanecem vivos são mais saudáveis do que as mulheres, que sofrem de doenças crônicas mais debilitantes. [...] as mulheres são mais autônomas, elas muitas vezes sobrevivem trinta anos de viuvez. Enfim, elas se viram melhor do que os homens, talvez por estes serem mais ásperos/duros, menos ricos em termos de capacidades associativas (EULÁLIO, 2015).
Possivelmente, essa situação origine-se na combinação dos efeitos do
envelhecimento populacional, da desigualdade social e das mudanças nas práticas sociais
relativas ao convívio intergeracional que aumentam a probabilidade de mulheres idosas de
todos os níveis sociais viverem sozinhas (LIMA, 2011).
Similarmente é valoroso destacar que pesquisas da área de gerontologia apontam que
as mulheres estão mais expostas à solidão e à pobreza ao atingirem idade mais avançada, além
de deterem maiores taxas de institucionalização (permanência em asilos) do que os homens.
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Por conseguinte, os processos de distinção do modo de viver a velhice devem ser
analisados com auxílio de alguns critérios associados, como gênero e classe social, tendo em
vista que fatores sociodemográficos e demandas psicológicas influenciam esses indicadores
que tornam o envelhecimento feminino uma experiência com múltiplas facetas: mulheres das
classes baixa e média tendem a frequentar espaços específicos para atendimento das
demandas de idosos (clubes, centros de convivência e universidades abertas para a terceira
idade); se libertam de certos controles sociais relativos à reprodução e à vida familiar, em
decorrência da liberdade sexual; se utilizam dos novos espaços como símbolos de liberdade,
entre outras características (DEBERT, 1999).
Ainda, com relação ao assunto, Guita Grin Debert afirma que as mulheres
demonstram maior entusiasmo na realização de atividades propostas em grupos de
convivência, contrastando com a atitude de reserva e indiferença dos homens (DEBERT,
2004).
Nessa lógica, Ana Maria Marques afirma que: "Feminilidades e masculinidades são
culturalmente marcados por valorações desiguais, com padrões diferenciados e
diferentemente valorados de comportamentos e funções atribuídos como próprios de cada
gênero, nas diferentes culturas" (MARQUES, 2004).
Ademais, a mesma autora expõe que os homens têm dificuldades em admitir serem
idosos, provavelmente em decorrência dos estereótipos que lhes impõem a virilidade e a
produtividade econômica como características durante toda a vida e presentes na velhice.
Alguns autores consideram pontos positivos e negativos em relação à situação das
mulheres idosas. Um fato que pode ser ressaltado relaciona-se com o aumento da longevidade
e sua interferência na composição familiar – com a percepção de mais de uma geração de
idosos numa mesma família – o que ocasiona para a mulher a tarefa de cuidar de familiares
(papel social), razão pela qual, num futuro próximo, facilmente se notará um maior número de
mulheres idosas desempenhando papel de cuidar de outras mulheres com idade avançada,
como mães, tias e avós, por exemplo (SALGADO, 2002).
A libertação de controles sociais, manifesta-se como um fator de forte influência, que
faz com que as mulheres se desprendam de antigos costumes sexuais e da valorização do
corpo físico jovem, de maneira que as idosas passam a ter percepção diversa dos preconceitos
ainda vigentes em relação às pessoas com idade avançada e externam esse olhar sobre as
mudanças sentidas e vividas em espaços como os Centros de Convivência de Idosos, que são
tidos como símbolos de liberdade.
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Nesse sentido, Cláudia Lima destaca a diferença entre os locais frequentados pelas
mulheres idosas, conforme as classes sociais às quais pertencem, de maneira que as de classe
baixa tendem a frequentar grupos de convivência e lazer, nos quais são enfatizadas atividades
físicas e sociais e a troca de experiências enquanto as de classe média tendem a frequentar as
universidades que oportunizam atualização e aprendizagem sobre o mundo e sobre si próprias
(LIMA, 2011).
Por outro lado, convém destacar a ainda insistente invisibilidade das mulheres nas
políticas públicas voltadas para pessoas idosas, invisibilidade essa que ocorre em duas
dimensões: na ausência de dispositivos voltados para as especificidades femininas e na
linguagem utilizada na legislação relacionada às pessoas com idade avançada. Ressalte-se que
essa falta de percepção sobre as mulheres decorre de diferentes formas de opressão de gênero
vivenciada pelo grupo ao longo de suas vidas e que permanece com o avançar da idade.
É de se notar que as mulheres idosas procuram visibilidade e ressignificação de seus
interesses em espaços associativos, participam mais do que os homens em atividades
extradomésticas – de organização de movimento de mulheres, cursos e viagens, por exemplo
– e, por isso, atuam de modo mais significativo em programas voltados para esse segmento
(PAPALÉO NETTO, 2003; CAMARANO, 2004). Essa peculiaridade favorece uma
ampliação da continuidade de uma vida social e afetiva que permite às mulheres obterem mais
qualidade de vida do que muitos homens da mesma faixa etária.
Para enfatizar a afirmação de que a longevidade feminina é sobremaneira maior do
que a masculina no Brasil, apresentam-se dados demográficos do Brasil, concernentes à
esperança de vida ao nascer, aos 60 anos e a idade média ao morrer – por sexo, divulgados
pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE):
Tabela 1- Esperança de vida ao nascer (e0), aos 60 anos (e60) e idade média ao morrer (por sexo)
Esperança de vida ao nascer (e0), aos 60 anos (e60) e idade média ao morrer (por sexo)
2000 2009 Homens (em anos)
e0 67,2 70,1 e60 18,0 21,0
Idade média ao morrer 68,7 70,5 Mulheres (em anos)
e0 74,8 78,9 e60 21,3 2,7
Idade média ao morrer 71,0 73,3 Fonte: IBGE/Censo Demográfico de 1980, 1991 e 2000; Ministério da Sáude (DATASUS/SIM)
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No comparativo entre os anos de 2000 e 2009, nota-se que a idade média ao morrer,
para os homens, subiu de 68,7 anos para 70,5 – o que sinaliza um aumento de pouco mais de
1 ano e meio na esperança de vida desses indivíduos. Entretanto, quando se avalia a idade
média ao morrer, para as mulheres, revela-se que a idade aumentou de 71 anos para 73,3,
perfazendo um acréscimo de mais de 2 anos na esperança de vida desse grupo.
O gráfico relativo à pirâmide etária brasileira, divulgado pelo IBGE e resultante do
Censo Demográfico de 2010, ratifica essa elevada longevidade feminina ao demonstrar que as
mulheres são o contingente populacional mais numeroso no Brasil, particularmente quando se
analisa a faixa de idade mais avançada em comparação à faixa de idade mais nova, cujo
indicativo é de mais nascimentos de homens do que de mulheres no país.
Gráfico 1 - Pirâmide Etária do Brasil (2010)
Nota-se que a pirâmide etária tem a base (que demonstra a faixa de 0 a 14 anos) um
pouco reduzida se comparada com a faixa dos 15 aos 39 anos, o que caracteriza a redução de
nascimentos e aumento de pessoas nas demais faixas etárias. Nessa lógica, é apropriado
destacar a faixa das idades mais avançadas, o que também fortalece o entendimento de que a
pirâmide etária está em processo de inversão.
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Idade Brasil
Homens Mulheres
55 a 59 anos 3.902.183 4.373.673
60 a 64 anos 3.040.897 3.467.956
65 a 69 anos 2.223.953 2.616.639
70 a 74 anos 1.667.289 2.074.165
75 a 79 anos 1.090.455 1.472.860
80 a 84 anos 668.589 998.311
85 a 89 anos 310.739 508.702
90 a 94 anos 114.961 211.589
95 a 99 anos 31.528 66.804
Mais de 100 anos 7.245 16.987
Tabela 2- Pirâmide Etária do Brasil (2010)
Proporcionalmente, pode-se afirmar que a redução do quantitativo de homens idosos
é patente, conforme se verifica na Tabela 2 (acima), principalmente na faixa de idade de 70
anos e mais, o que colabora para reforçar o “fenômeno da feminização do envelhecimento”.
6. CENTRO DE CONVIVÊNCIA DE IDOSOS
Essa é uma modalidade de Instituição de Longa Permanência, prevista no Decreto nº
1.498/1996, configurada como espaço voltado para a cultura, educação, lazer, saúde,
fortalecimento de vínculos afetivos, convívio social e relações intergeracionais e, em razão
disso, serve como veículo de controle e prevenção dos principais infortúnios associados ao
envelhecimento.
Trata-se de política pública implantada como alternativa de convívio para idosos e
que permite a continuidade destes no convívio familiar (desinstitucionalização), em
contraposição aos asilos e outras instituições que os retiram do contato doméstico e
Idade Brasil
Homens Mulheres
0 a 4 anos 7.016.614 6.778.795
5 a 9 anos 7.623.749 7.344.867
10 a 14 anos 8.724.960 8.440.940
15 a 19 anos 8.558.497 8.431.641
20 a 24 anos 8.629.807 8.614.581
25 a 29 anos 8.460.631 8.643.096
30 a 34 anos 7.717.365 8.026.554
35 a 39 anos 6.766.450 7.121.722
40 a 44 anos 6.320.374 6.688.585
45 a 49 anos 5.691.791 6.141.128
50 a 54 anos 4.834.828 5.305.231
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comunitário, pois é destinada à permanência diurna para realização de atividades diversas em
determinado período do dia e oportunizam o regresso para seus lares diariamente.
O Centro de Convivência de Idosos foi escolhido para pesquisa por permitir um
contato muito próximo a um grupo numeroso de idosos da cidade de Dourados-MS e,
consequentemente, facilitar a coleta de dados empíricos para demonstração do “fenômeno da
feminização do envelhecimento” no município.
Isso posto, ao se verificar os registros documentais do Centro de Convivência de
Idosos escolhido para análise, foi possível apurar que de um total de 265 pessoas idosas
cadastradas, 181 são do sexo feminino e 84 do sexo masculino, de maneira que se robustece
que a frequência majoritária é de mulheres (68,68% do total de usuários) e, entre os cadastros
em que há informação sobre a renda e a escolaridade, averiguou-se que há maior quantidade
de pessoas de classe social e grau de escolaridade baixos. Portanto, pode-se aduzir que se trata
de um equipamento capaz de alcançar um público que se encontra – no mais das vezes – à
margem da sociedade.
De mais a mais, pode-se inferir que as mulheres abarcadas por essa política pública
na cidade de Dourados-MS tiveram, em geral, menos acesso à educação formal, assim como
possuem menor renda que os homens, conforme se nota em dois relatos transcritos a seguir: Eu, como eu morava só no sítio, né, eu nunca estudei fora [...] (Entrevista 1)
Nós estudava em casa, sabe, porque quando nós morava no sítio [...], as professora os pais da gente pagava prá nós estuda em casa, né, porque era longe prá ir prá escola. (Entrevista 3)
A pesquisa documental demonstrou ainda que, em relação à faixa etária dos usuários,
há maior participação de pessoas com idades entre 61 e 70 anos (predominantemente
mulheres – 30,19%), seguidas por aquelas com idades variando entre 71 e 80 anos
(prevalecendo mulheres – 17,74%). Também há pessoas com idade inferior a 60 anos
(imperando mulheres – 2,26%) e, da mesma forma, idosos com idade superior a 81 anos
(nesse caso, majoritariamente homens – 3,77%).
Outro dado interessante se refere ao quantitativo de mulheres pensionistas em
comparação aos homens (14,34% e 1,13%, respectivamente), o que demonstra que, embora o
Brasil tenha passado por mudanças em sua organização social, com maior inserção feminina
no mercado capitalista de produção, as mulheres dessa geração de idosas ainda aparecem fora
do mercado de trabalho durante a vida adulta, por vezes/talvez, para cuidar dos afazeres
domésticos e dos filhos.
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Em contraposição à noção de que as mulheres são maioria nas práticas desenvolvidas
no Centro de Convivência de Idosos, os homens também marcam presença, sendo esta notória
nas atividades físicas, ocasião em que aparentam maior integração entre si e com as mulheres.
Outrossim, no tocante à inclusão masculina, verificou-se que existe muito interesse nos jogos
de mesa, principalmente, sinuca ou bilhar, atividade com volume considerável de
participantes do sexo masculino, que exprimem muita descontração, alegria, interação e
receptividade entre si, características importantes para a criação e manutenção de
sociabilidades.
Infere-se que até o momento não há ações eficientes e concretas para maior
integração dos homens nas atividades propostas no Centro de Convivência estudado, tendo
em vista que estes são minoria populacional e, portanto, identicamente no acesso a esse
equipamento. No tocante a essa menor inserção dos homens é pertinente relatar que, em
certos casos, eles mesmos entendem que as ações ofertadas pelo Centro são mais voltadas ao
público feminino (como é o caso dos cursos de artesanato e de algumas oficinas), além de
manifestarem maior objeção a participarem de algumas das ações propostas, acreditarem que
as mulheres possuem maior disponibilidade de tempo, ou até mesmo pelo fato de eles (os
homens) ainda terem compromissos de trabalho (informal), conforme se afigura nos trechos
de algumas entrevistas: Esse caso de ter mais mulher de que homem aqui, não tem problema, não. Homem morre mais mesmo e tá mais escasso mesmo, e sempre o homem tem alguma coisa prá fazer e a mulher é sempre mais, fez a obrigação de casa, aí já vem fazê as atividade. (Entrevista 5)
Tem mais mulheres, sim. Acho que deveria de ter, né, mais um pouquinho de atividades pros homens [...]. (Entrevista 6)
Agora, os homens não vem porque eles trabalha, né? Não tem interesse também de vim, né? Não gosta, às vez, né? (Entrevista 7)
[...] Então, eu acho que é porque eles não tem vontade de vim, não se interessa. Apesar que, nós mulher, eu tenho essa impressão, parece que os homem, tem uns homem que são mais acomodado, né, fica em casa, numa boa. Já a mulher, a mulher faz um servicinho e já parte prá cá. (Entrevista 9)
[...] eu acho que o homem é assim, se acomoda, prefere ficar sentadinho lá, vendo o trem passar, como se diz, né. Então, não ligam muito. Eu acho que é assim porque aqui tem homem que até faz aquele trabalho manual, tinha um senhor fazendo... a coisa mais linda! Então, eu acho que tem muito preconceito também. (Entrevista 11)
Ah! Os homem são mais paradão, mais acomodados, é. Porque às vezes não tá nem trabalhando, mas não vem! Eu vejo cara que fica o dia inteiro embaixo de uma árvore, tomando tereré. Eu já chamei, tem pessoa que eu já chamei. Não vem! [...]. (Entrevista 12)
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Por isso, pode-se dizer que os elementos obtidos no estudo sobre o Centro de
Convivência fortalecem e corroboram com a caracterização da problemática de gênero, uma
vez que evidenciam que essa política pública é um equipamento acessado em grande parte por
mulheres idosas.
Apesar disso, há autores que ressaltam que “a mulher ainda encontra-se exposta a
vários riscos, que a colocam numa situação de grande vulnerabilidade, por questões culturais,
construções sociais e econômicas, que a relegam à discriminação, isolamento e exclusão”
(ESPÍNDOLA e CORTE 2016).
Por outro lado, a pesquisa alerta para a necessidade de que as políticas alusivas às
pessoas idosas se voltem para a articulação de atividades de estímulo à participação de idosos
em geral de forma mais efetiva.
Em tempo, várias das pessoas entrevistadas assinalaram que o acesso a instrumentos
modernos de comunicação (como a internet, por exemplo), bem como, cursos e oficinas
voltados para novas áreas de conhecimento – até então inacessíveis – propiciaram uma
mudança das representações de frequentadores sobre si mesmos e sobre pessoas próximas, o
que desperta novos olhares para o grupo, conforme se depreende de alguns relatos: Teve muita mudança. [...] Melhorou muito a vida da gente, como melhorou! Me trouxe novos aprendizados, novas amizades. (Entrevista 2)
[...] tô também na informática, mas é difícil, fia, aquilo ali. Hum... ela (a professora) põe umas coisa difícil prá gente fazê, né, mas é gostoso! Devagarzinho... Eu falo prá ela: Ninguém nasce aprendido, né? E ela é muito paciente com nós, ela vai lá e ensina, explica como é que é, né, ajuda a gente. É gostoso, sim. (Entrevista 3 – destaque e grifo nossos)
[...]faço curso de computação, informática... é.... informática. E agora acho que vou entrar na aula de violão, prá ficar mais tempo envolvido. (Entrevista 12)
Convém destacar que o empoderamento das pessoas idosas no Brasil emprega a
educação, enquanto prática social e instrumento propício à aprendizagem constante, tornando
possível uma transformação cultural e social, especialmente ao se considerar as diferenças
relacionadas à educação formal e o acesso de pessoas com idade avançada a ela,
especialmente dessa geração de idosos que teve, em grande medida, pouco ou nenhum acesso
à educação formal em sua juventude.
Assim, a instrução pode influenciar os debates acerca do envelhecimento, tornar o
movimento social mais forte e atuante, bem como, propiciar maior esclarecimento sobre essa
temática, de modo que as políticas públicas sejam formuladas e implantadas em conformidade
com as reais necessidades do segmento.
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Por esse motivo, entende-se ser importante a formulação de políticas públicas
relacionadas aos direitos humanos, ao envelhecimento humano e suas características,
fundamentalmente a observância e consideração às especificidades das mulheres idosas, pois
assim poderá haver maior alcance e efetividade das ações para essa parcela populacional.
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O crescimento da população idosa é um fenômeno mundial e um grande desafio.
Trata-se de um processo caracterizado pelo aumento da longevidade da população e que
ocorre de diferentes formas para mulheres e homens.
O envelhecimento humano propicia o debate de diversas áreas do conhecimento,
com intuito de proporcionar qualidade de vida para as pessoas idosas. Para as mulheres, o
processo de envelhecimento gera danos emocionais em consequência da discriminação que
elas sofrem durante toda a vida e, especialmente, em virtude do avançar da idade, que, para
muitos traz a ideia de que as mulheres estão decadentes por não terem mais capacidade
reprodutiva, desconsiderando-se as lutas e movimentos femininos em direção ao
reconhecimento de seus direitos enquanto direitos humanos.
Desse modo, a sobrevivência da mulher (longevidade) parece estar vinculada à
habilidade de corresponder aos padrões sociais impostos ou estabelecidos e que reforçam o
poder masculino, considerando as mulheres como pessoas submissas e, por isso, sem direito à
liberdade e igualdade, o que levou as próprias mulheres (até mesmo as feministas) a
incorporarem uma aversão ao envelhecimento, uma vez que – ao passarem parte de suas vidas
esforçando-se para ajustarem-se aos modelos impostos socialmente – entre eles, beleza – o
avanço da idade tornou-se uma condição ameaçadora e, por isso mesmo, muito temida.
É importante considerar que a longa duração da vida feminina não é sinônimo de
qualidade de vida, tendo em vista o acúmulo de desvantagens que as mulheres têm durante
sua existência – como discriminação, violência, dupla jornada de trabalho, entre outras – o
que induz à maior probabilidade de dependência de recursos externos. Ainda, convém
acrescentar que muitas mulheres idosas assumem papel de chefiar as famílias, sendo suporte
afetivo, emocional e até mesmo financeiro de outras gerações, o que ocasiona maiores
responsabilidades e papeis sociais nessa etapa da vida.
A pesquisa demonstrou que a elaboração e implantação de políticas públicas é
fundamental para melhoria da qualidade de vida dos idosos em geral e, especialmente, das
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mulheres. E, apesar de terem ocorrido avanços relevantes na inclusão das mulheres e
reconhecimento de seus direitos como direitos humanos e, mais, embora as mulheres tenham
mais acesso do que os homens à política pública denominada Centro de Convivência de
Idosos, ainda há muito a ser debatido, avaliado e executado para a efetividade dessa política
pública na cidade de Dourados-MS e no país.
8. REFERÊNCIAS
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