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Disciplina: Multiletramentos, Linguagens e Mídias Tópico: Um início de conversa
Introdução ________________________________________________________________________________________ Estamos iniciando as disciplinas do Módulo 3 do Curso de Especialização em Língua Portuguesa REDEFOR. Na disciplina LP005 -‐ Multiletramentos, linguagens e mídias, vamos abordar as maneiras pelas quais a linguagem e as tecnologias vêm afetando uma à outra ao longo da História. Inicialmente, refletiremos sobre a tecnologia da escrita que já nos é familiar e, depois, focalizando a Internet e o meio digital, vamos destacar as principais características dos textos digitais e da comunicação mediada por computador. Mais tarde, partindo da noção de multiletramentos, vamos apresentar a você certas maneiras práticas de lidar produtiva e criticamente com os desafios e oportunidades trazidos por esse novo meio e essas novas práticas, dentro e fora da sala de aula. Bom trabalho! Clique aqui1 para acessar o vídeo de introdução à disciplina.
1 http://cameraweb.ccuec.unicamp.br/video/X6814B9X8HO5/
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Disciplina: Multiletramentos, Linguagens e Mídias
Tema: 1. Tecnologias e Práticas Comunicativas Tópicos: Processos de naturalização das tecnologias: o caso da escrita alfabética
Ponto de Partida ________________________________________________________________________________________
É fato que, ao longo da História, as comunidades sempre sentiram a necessidade de usar recursos externos para ampliar as possibilidades de trocas de informação. Somos seres sociais2 e precisamos da linguagem para interações que viabilizam trocas que são essenciais para a construção, manutenção e evolução das culturas comunitárias. Muitos desses recursos hoje são tão antigos que já ficaram quase tão "naturais" quanto a fala. Recordar um pouco desse percurso talvez nos ajude a entender as tecnologias digitais3 e as mudanças que elas trazem para nosso cotidiano. Vamos começar o Tema 1 -‐ "Tecnologias e Práticas Comunicativas" -‐ refletindo um pouco sobre algumas afirmações que comumente são feitas sobre o computador, a Internet e a aula de Língua Portuguesa nos dias de hoje. Você concorda ou discorda de tais afirmações? A seguir, leia os comentários feitos para cada resposta. 1) O aluno precisa aprender a usar o computador para conseguir obter melhores empregos. Concordo4 Discordo5 2) O computador é uma tecnologia cara que não é acessível a todos. Para que colocar o computador na escola se o aluno não pode usá-‐lo fora dela? Concordo6
2 Fonte: http://educarparacrescer.abril.com.br/aprendizagem/lev-vygotsky-307440.shtml, acesso em 14/02/2011. 3 Tecnologias de comunicação e informação, também denominadas TICs. 4 A possibilidade de ter um emprego melhor depende mais das condições do mercado de trabalho. Alunos que sabem ler e
escrever bem não necessariamente têm garantia de empregos bem pagos. Na prática, se o empregador quiser, funções mais simples relacionadas a certas atividades podem ser adquiridas durante o trabalho, com a ajuda de colegas, por exemplo. As mesmas promessas de melhoria social, antes associadas ao domínio da língua escrita, são agora atribuídas ao letramento digital. O letramento (digital ou não) pode ser usado como fator de exclusão de certas funções, nunca como um passaporte que garante o acesso a certos empregos e/ou práticas sociais.
5 Sua avaliação está correta. Você se lembra do tempo em que a imprensa falava que precisávamos “alfabetizar” a população para que as pessoas tivessem melhor raciocínio, melhor lugar na sociedade ou pudessem contribuir de fato para o desenvolvimento econômico do país? A teoria já criticou e apresentou contra-argumentos para todos esse mitos. Agora a mídia, em geral, fala as mesmas coisas, só que em vez de alfabetização e letramento, o tema agora é o domínio da tecnologia digital.
6 É falso acreditar que o jovem da escola pública não tem nenhum acesso à internet ou a computadores. Muitos usam computadores de amigos e vizinhos (assim como fazíamos com a televisão) ou acessam essa tecnologia nas lan houses ou em centros comunitários espalhados pela periferia urbana. Além disso, há projetos para fornecer computadores mais
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Discordo7 3) O computador é só mais um "modismo", como tantos outros, colocados para o professor de Língua Portuguesa. Se o aluno souber ler e escrever bem, ele não vai precisar do computador para estudar ou atuar na sociedade. Concordo8 Discordo9
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baratos para as escolas e é possível prever que tanto as máquinas quanto a internet se tornarão mais baratos no futuro. Você tem dúvida disso? Lembra quando os telefones celulares eram só para pessoas que tinham muito dinheiro?
7 Tem razão. É assustador como tal tecnologia evoluiu e se torna mais barata a cada dia. Há 25 anos atrás, ter um computador pessoal era um sonho de consumo. Hoje, em alguns contextos – como o universitário – os laptops e os palms substituem livros para consulta e cadernos de anotações. O acesso amplo à tecnologia é sempre uma questão de tempo. O governo brasileiro tem investido na instalação de redes de comunicação, que é a infraestrutura necessária para ampliar o acesso à Internet. Em termos de acesso à informação, acaba sendo muito mais barato usar os recursos da internet do que só contar com materiais impressos.
8 Você pensaria em dar aula hoje sem usar a escrita? Pois é, saiba que nem sempre foi assim. Os gregos na Antiguidade, por exemplo, discutiam se a leitura de textos escritos poderia ser uma fonte de aprendizado. Para Sócrates – para quem o ensino era centrado na conversa entre discípulos e o mestre -, depender da escrita iria prejudicar a memória (pois os textos eram memorizados) e ler o texto na ausência do seu autor só iria favorecer interpretações erradas.
9 Os temores que vemos explicitados hoje por alguns professores em relação aos “malefícios” do computador são semelhantes à dúvida que Sócrates tinha sobre o uso do texto escrito em processos educativos. A questão da memorização, salientada em algumas comunidades orais, é importante se a circulação de registro escrito na comunidade for precária, ou o custo da reprodução escrita muito caro e difícil (como acontecia na época dos manuscritos em rolos e no códex).
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Mãos à Obra ________________________________________________________________________________________ Você já parou para pensar que o formato do livro que usamos atualmente é o produto de uma tecnologia que foi desenvolvida e aprimorada ao longo de muitos séculos? Assista ao vídeo abaixo, tendo em mente este questionamento que foi apresentado.
10 Reflita agora sobre a referência que o vídeo faz às demais qualidades hoje atribuídas aos recursos oferecidos pelas TICs11. ________________________________________________________________________________________
10 Fonte: http://www.youtube.com/watch?v=aH9Pe5yUJJE&feature=player_embedded#at=84, acesso em 14/02/2011. 11 Tecnologias de Informacão e Comunicação
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Colocando os conhecimentos em jogo 1 ________________________________________________________________________________________ Uma tecnologia é criada para atender ou facilitar as necessidades que temos que enfrentar em nosso cotidiano. É fato também que, uma vez criada, se o acesso a esses recursos é ampliado na sociedade, ela muda a natureza do cotidiano. Uma das questões que refletimos no nosso 'Ponto de Partida' foi sobre a relação entre escrita e práticas educativas. Nessa reflexão inicial, mencionamos as colocações de Sócrates12 sobre a escrita. Para o filósofo13, a escrita era um problema14 para a educação e não uma fonte de apoio. Isso parece estranho na realidade de hoje, na qual o texto escrito é uma ferramenta fundamental para nossas práticas de ensino. Na realidade, a escrita é tão "natural" para nós hoje que, muitas vezes, até não nos damos conta de que o texto escrito - impresso ou não - é um produto de tecnologia. Se voltarmos na História, é fácil entender os temores de Sócrates e ver como eles encontram paralelos nos dias atuais. Na época desse filósofo, os gregos15 já tinham desenvolvido a escrita, mas a produção de textos escritos era relativamente pequena, dada a dificuldade e custo do papiro16 e de pergaminhos17 e a consulta desses textos também era complicada. Os rolos eram tiras enormes de papéis (papiros e pergaminhos) e, à medida em que uma mão desenrolava uma parte, a outra tinha que enrolar a parte oposta. Não dava para ler e tomar notas, como fazemos hoje. Logo, era mas simples e eficiente "decorar" os textos.
12 Fonte: http://www.educ.fc.ul.pt/docentes/opombo/hfe/momentos/escola/socrates/vidadesocrates.htm, acesso em
14/02/2011. 13 Fonte: http://www.cfh.ufsc.br/~wfil/textos.htm, acesso em 14/02/2011. 14 Fonte: GNERRE, M. Linguagem, escrita e poder. São Paulo: Martins Fontes, 1994. p.47-49. 15 Fonte: http://educacao.uol.com.br/historia/ult1690u6.jhtm, acesso em 14/02/2011. 16 Fonte: http://www.discoverybrasil.com/egito/alfabetizacao/papiro/index.shtml, acesso em 14/02/2011. 17 Nome dado a uma pele de animal, geralmente de cabra, carneiro, cordeiro ou ovelha, que era preparada para servir de
suporte da escrita.
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Colocando os conhecimentos em jogo 2 ________________________________________________________________________________________ A popularização da escrita, que ocorreu com a produção de texto em massa, propiciada tanto pela tecnologia da imprensa18 quanto da de produção de papel, permitiu que dispensássemos a prática de decorar textos. Hoje usamos nossa memória de uma forma eficiente, que envolve processos complexos de consulta a diferentes textos escritos. Nesse processo de construção de conhecimento, usamos também notas manuscritas ou digitalizadas como estratégias de estudo. A naturalização da escrita nas práticas educativas nos leva a estranhar as críticas feitas por Sócrates. No entanto, não estranhamos tanto quando as pessoas acreditam que o uso de máquinas calculadoras fez com que as pessoas mais jovens perdessem a capacidade de fazer "contas de cabeça". Como a máquina realiza operações numéricas de forma ágil e confiável, certos tipos de habilidades, que antes precisavam ser desenvolvidos, hoje não são indispensáveis. Isso permite que, em princípio, nossos recursos de memória sejam explorados para operações mais complexas. É possível que, no futuro, lendo sobre as críticas feitas hoje às calculadoras, as pessoas sintam o mesmo estranhamento que sentimos ao ler as colocações feitas por Sócrates ao texto escrito. E, no entanto, sem o registro escrito, hoje não teríamos condições de ter acesso e refletir sobre as colocações desse filósofo feitas em um período tão distante na História e registradas por seu discípulo Platão19. Trazendo esse problema para uma realidade mais atual, hoje muitas pessoas avaliam os recursos oferecidos pelo computador e pela Internet com a mesma preocupação e suspeita que os gregos clássicos tinham sobre o texto escrito. Cabe avaliarmos essa questão entendendo de forma mais esclarecida as possibilidades e os limites que a tecnologia digital traz para as práticas comunicativas que fazem parte do nosso cotidiano atual.
18 Fonte: http://veja.abril.com.br/historia/descobrimento/imprensa-gutemberg-revolucao-cultural.shtml, acesso em
14/02/2011. 19 Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Plat%C3%A3o, acesso em 17/04/2012.
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Finalizando... ________________________________________________________________________________________ Antes de refletirmos sobre o percurso da história da escrita, seria interessante que você recuperasse, de sua história de vida, como seu acesso a diferentes suportes e ferramentas de escrita mudou ao longo de sua vida escolar e profissional. Alguns, por exemplo, devem se lembrar da evolução da caneta tinteiro às canetas com carga plástica recarregável até as canestas esferográficas. Para aqueles que não se lembram -‐ ou não presenciaram tais mudanças -‐ abaixo há uma reportagem curta sobre esse tema.
20 Refletindo sobre esse vídeo, podemos entender como as invenções que passaram a ser exploradas na produção da escrita afetam de forma bastante direta as práticas de letramento. Quando o tinteiro ficava externo à caneta só podíamos escrever em lugares específicos. Primeiro as canetas-‐tinteiro e depois as esferográficas nos permitiram transportar nossa "ferramenta" de escrita para todo o lugar. Hoje com telefones celulares não só escrevemos mensagens de qualquer lugar como também as enviamos em tempo real para variados destinatários. O uso do envio de texto pelo celular também tem nos forçado a ser mais suscintos em nossas mensagens. Vale a pena avaliar o quanto a tecnologia da escrita já mudou, mesmo no tempo curto de nossas vidas.
20 Fonte: http://www.youtube.com/watch?v=7-fh-_IgDW0, acesso em 09/02/2012.
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Tópico 2 -‐ Das paredes da cavernas ao monitor
Ponto de partida ________________________________________________________________________________________ O vídeo abaixo projeta problemas que poderiam ser enfrentados por leitores acostumados a consultar rolos de papiro, ao se depararem com o códex21. O que na atualidade parece trivial e mesmo engraçado para comunidades letradas, pode ter sido fonte de problemas para seus primeiros usuários.
22 Retomando as questões que finalizaram o tópico anterior, sempre que nos deparamos com novas tecnologias, sentimos um estranhamento inicial que dificulta o seu uso. Existem pessoas que hoje veem a tecnologia como "inimigos impostos", outras como aliados valiosos. É fato que, no início, o novo assusta e irrita. Não podemos realizar ações que antes fazíamos de forma automática e somos forçados a entender a lógica de interface23, os comandos e nos familiarizarmos com novos tipos de práticas comunicativas. Foi assim com as secretárias eletrônicas e com os controles remotos, só para citar alguns exemplos. Hoje, não imaginamos nossa vida sem esses recursos. Os que se familiarizaram com o uso do computador e da Internet logo descobriram que, uma vez dominados os recursos que essas tecnologias oferecem, eles podem contribuir muito para facilitar nossa vida pessoal e profissional. Perdemos o medo com o uso (que transforma o "novo" em "familiar") e passamos a explorar esses usos quando compreendemos a sua funcionalidade em nossas vidas. Anote as suas reflexões sobre esse tema, para podermos ponderar o quanto a tecnologia da escrita já mudou, mesmo no tempo curto de nossas vidas. Isso preparará a elaboração de sua primeira Dissertação nesta disciplina. _____________________________________________________________________________________
21 Fonte: http://www.amigosdolivro.com.br/lermais_materias.php?cd_materias=3735, acesso em 09/02/2012. 22 Fonte: http://www.youtube.com/watch?v=jo3rl2kxB4g, acesso em 14/02/2011. 23 Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Interface, acesso em 09/02/2012.
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Mãos à obra ________________________________________________________________________________________ Para iniciarmos nossa reflexão sobre como a humanidade foi inventando e se apropriando das tecnologias e sobre como isso muda cotidianamente nossas vidas, vamos ver este clipe24 que é um de uma série de vídeos feitos por alunos para a Expo-‐Vida 2009 -‐ Diversidade Humana25, uma feira de produção cultural da Escola Municipal Tereza Pinheiro de Almeida em Angra dos Reis e do projeto ANIMA ANGRA (núcleo experimental de animação). Nele, os alunos interpretam, por meio de animação, a canção "O Silêncio" de Arnaldo Antunes.
26 Na letra da canção, Antunes menciona uma série de tecnologias27 que foram aparecendo ao longo da história da humanidade. Que relação as tecnologias posteriores mantêm com as anteriores? Você consegue explicar? Anote suas reflexões, pois essas também o(a) prepararão para a escrita de sua primeira Dissertação.
24 Coordenado pelo professor Rafael Kuwer de Educação Artística com turmas de 6º e 7º anos. 25 Fonte: http://www.buddiesbook.eu/browse_vidfeeders.php?&tag=Kuwer&p=3, acesso em 09/02/2012. 26 Fonte: http://www.youtube.com/watch?v=pcsLL7FDarE, acesso em 09/02/2012. 27Fonte:https://autoria.ggte.unicamp.br/tinymce/plugins/filemanager/files/lingua_portuguesa/modulo_03/multiletramentos
_linguagens_midias/LP_T1_TP2_P02.jpg, acesso em 09/02/2012.
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Colocando os conhecimentos em jogo 1 ________________________________________________________________________________________ A construção da cultura depende da comunicação e a fala e a linguagem gestual são as formas mais naturais de comunicação, já que sua produção e recepção, em condições normais, não dependem de recursos externos ao nosso organismo. Mas, à medida que os conhecimentos e valores culturais foram se ampliando ao longo da história das diferentes comunidades, os indivíduos passaram a sentir a necessidade de formas alternativas de usar a linguagem e de ampliar seu potencial de trocas comunicativas. Para isso, começaram a criar recursos materiais que permitissem o registro de informações28 ou mensagens (nas paredes das cavernas, nas placas de pedra, barro ou madeira, em pedaços de couro de animais ou, posteriormente, na manipulação de fibras de plantas usadas para fabricar os papiros). Gradativamente, foram também criando novas convenções de linguagem que permitiam a troca de mensagens, mesmo se as pessoas estivessem distantes. Sinais de fumaça, o som de batidas em árvores e tambores e o som de cornos de animais usados como trombetas foram, possivelmente, as formas mais primitivas de comunicação a distância criadas pelos seres humanos.
28 Fonte: http://webeduc.mec.gov.br/midiaseducacao/material/impresso/imp_basico/e1_assuntos_a1.html, acesso em
13/02/2012.
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Colocando os conhecimentos em jogo 2 ________________________________________________________________________________________ Os estudos históricos indicam que as primeiras expressões escritas e figurativas, como as registradas nas pinturas rupestres, tinham inicialmente uma função mística. Mas, gradativamente, elas não só migraram para outros tipos de suporte textuais -‐ como as placas de pedra ou argila -‐ como também passaram a cumprir funções mais cotidianas, registrando, para consulta posterior, informações sobre as mais diversas atividades culturais e transações comerciais. Esse processo, mesmo em sua fase primitiva, foi fruto de tecnologia, já que o ser humano teve que "criar" ferramentas apropriadas para o registro das informações e escolher ou criar meios de suporte textual que permitissem tal registro. Isso veio com novas convenções de linguagem, já que havia uma distância muito grande entre a quantidade de informação que poderia ser comunicada pela fala em interações face a face e o que poderia ser registrado nos limites impostos pelos suportes textuais primitivos. Gradativamente, as comunidades foram sentindo necessidade de tipos de suporte que fossem suficientemente práticos para facilitar o registro, o transporte e o armazenamento da informação escrita. A criação do papiro veio solucionar alguns desses problemas. Posteriormente, o uso do papiro em rolos viabilizou o registro de textos mais longos e mais complexos. No entanto, a consulta nos rolos de papiro ainda era muito complicada. Isso motivou alternativas mais práticas como o códex, criado por volta do século II a.C. e construído por folhas de pergaminho produzidas a partir do couro de animal. No códex, folhas manuscritas eram posteriormente encadernadas para preservação. Nesse tipo de suporte, consultas a partes específicas do texto poderiam ser realizadas de uma forma mais ágil, como hoje ocorre com nossas consultas a livros impressos ou cadernos manuscritos. Toda essa tecnologia de suporte já estava bem desenvolvida quando foi criada a imprensa.
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Colocando os conhecimentos em jogo 3 ________________________________________________________________________________________ Como vimos no tópico anterior, a tecnologia da imprensa ampliou e popularizou o acesso ao material escrito. No entanto, isso não resolveu o problema de comunicação a distância que as novas organizações sociais passaram a sentir necessidade. Esses problemas, aliados às possibilidades propiciadas pelas novas descobertas, como a eletricidade, foram o cerne do que hoje chamamos TICs, ou seja, Tecnologias de Informação e Comunicação. Passamos por meios que permitiam acesso imediato a mensagens curtas, como os telégrafos29, a formas que possibilitavam a transmissão e recepção de áudio, como o rádio30, ou que abriram canais para a comunicação a distância, como o telefone31. O registro de imagens também passou por mudanças significativas: fotografia32 em preto e branco, fotografia a cores, imagens em movimento exploradas pelo cinema33, vídeo34 e programas da televisão35. Surgiram as máquinas fotocopiadoras36 -‐ substituindo os antigos mimeógrafos37 -‐ e aparelhos de fax facilitaram a reprodução e envio de textos a pontos remotos. A tecnologia digital permitiu que essas diferentes formas e possibilidades de construção de sentidos pudessem ser acessadas em uma única máquina: o computador. Com a Internet, na fase conhecida como Web 2.038, foi viabilizada a comunicação em tempo real ou quase real, que é central para a construção das redes sociais virtuais. Esses diferentes recursos de acesso à informação e trocas interativas, antes dependentes de um computador fixo ligado à Internet, hoje tornaram-‐se móveis: aparelhos celulares, palms, tablets e laptops, por exemplo, fazem parte da tecnologia que nos permite estar conectados nessa era em que a cultura torna-‐se simultaneamente local e global. ________________________________________________________________________________________
29Fonte:http://www.batlab.ufms.br/~rubens/TEL%C3%89GRAFO,%20A%20REVOLU%C3%87%C3%83O%20NA%20
MAREIRA%20DE%20SE%20COMUNICAR.htm, acesso em 14/02/2011. 30 Fonte: http://blogdajully.wordpress.com/2008/03/03/linha-do-tempo-inovacoes-tecnologicas-radio-1900-a-1950-
internet-1951-a-2005-e-nokia-morph-de-2010-em-diante/, acesso em 14/02/2011. 31 Fonte: http://informatica.hsw.uol.com.br/telefones1.htm, acesso em 14/02/2011. 32 Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Fotografia, acesso em 14/02/2011. 33 Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Cinema, acesso em 14/02/2011. 34 Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/V%C3%ADdeo, acesso em 14/02/2011. 35 Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Televis%C3%A3o, acesso em 14/02/2011. 36 Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Fotocopiadora, acesso em 14/02/2011. 37 Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Mime%C3%B3grafo, acesso em 14/02/2011. 38 Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Web_2.0, acesso em 14/02/2011.
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Finalizando ________________________________________________________________________________________ Neste tópico 2, refletimos, de forma geral, sobre como o uso de determinadas tecnologias sempre passa por um período inicial de familiarização e apropriação. Buscamos ressaltar que esse processo ocorre porque tais tecnologias tornam-‐se cada vez mais presentes em nossas vidas. Isso acontece porque um grande número de pessoas percebe que as inovações trazem facilidades para a realização de práticas já familiares ou dão origem a novas possibilidade de ações. Comumente, quando se fala em tecnologia e comunicação, logo nos vêm à mente os diferentes recursos oferecidos pelas TICs. Por estarmos tão familiarizados hoje com a escrita, é comum não lembrarmos que ela é também produto de uma tecnologia que se desenvolveu ao longo de milhares de anos. Refletir sobre o passado pode nos ajudar a pensar o presente. Historicamente, o desenvolvimento da tecnologia envolveu a escolha e criação de meios adequados para o registro do texto (tecnologia de suporte textual) e também instrumentos que permitiram realizar tais registros. Essa nova tecnologia foi gradativamente sendo aprimorada, de modo a facilitar a consulta e o transporte de material escrito.
Basta compararmos os códex antigos39, extremamente pesados, com os livros de bolso que temos hoje. Como era de se esperar, esses avanços na tecnologia de suporte, assim como o custo da reprodução de material escrito, também afetaram as situações e condições de leitura de texto. Assim, os livros acabaram saindo dos sacrários e bibliotecas para nossas casas e foram incorporados também em nossas atividades de lazer.
40 Além dessas mudanças na tecnologia de suporte, a popularização do uso da escrita também se deve às mudanças que ocorreram nas normas linguísticas, as quais foram adequando de forma cada vez mais eficiente a linguagem às possibilidades e limites dos novos meios de comunicação.
39 Fonte: http://destylou-misterios.blogspot.com/2011/02/codex-gigas-la-biblia-del-diablo-el.html, acesso em 13/02/2012. 40 Fonte: http://www.hadideeb.com/journal/2011/12/31/la-biblioteca-de-babel.html, acesso em 09/02/2012.
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Tópico 3 -‐ As TICs e o processo de remidiação
Ponto de Partida ________________________________________________________________________________________ A Internet é uma fonte de diferentes opiniões e posições e por isso precisa ser explorada de forma crítica. O vídeo abaixo foi produzido pela empresa portuguesa Excentric41 e mostra uma mensagem natalina que chama a atenção do internauta para o fato de que os tempos mudam (as formas de comunicação também), mas os sentimentos permanecem. Algumas pessoas questionaram, na própria Internet, essa mensagem, considerando-‐a pouco respeitosa (veja os comentário sobre o vídeo no YouTube). Outras ressaltaram a criatividade dos autores, que mostram os diferentes recursos que as TICs oferecem para comunicação fácil e ágil. É interessante vermos esse material para refletirmos sobre os conflitos de vozes sociais que aparecem na Internet e os seus diferentes recursos. Você conseguiu identificar algumas das TICs presentes no vídeo? Há alguma que você não conhece? Dê uma olhada neste arquivo e confira a lista de recursos43 usados e conheça um pouco mais sobre eles. ________________________________________________________________________________________
41 Fonte: http://www.excentric.pt/#/home/, acesso em 14/02/2011. 42 Fonte: http://www.youtube.com/watch?v=tgtnNc1Zplc&feature=player_embedded, acesso em 14/02/2011. 43Fonte:https://autoria.ggte.unicamp.br/tinymce/plugins/filemanager/files/lingua_portuguesa/modulo_03/multiletramentos
_linguagens_midias/recursosnatividadedigital.pdf, acesso em 14/02/2011.
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Mãos à obra Vimos no 'Ponto de partida' que as novas TICs se valem de diferentes ferramentas, programas, tecnologias e linguagens para significar e comunicar: da imagem de satélite que localiza no Google Maps a cidade de Nazareth aos diferentes textos e mensagens trocados por torpedos (SMS), e-‐mails ou Twitter. Ou seja, as novas tecnologias e letramentos se valem de diferentes linguagens combinadas e misturadas para fazer significar por meio de seus textos. Falaremos disso neste último tópico de nosso Tema 1: Como as diferentes tecnologias combinam e formatam as diferentes linguagens (verbais e não verbais, multimodais) para gerarem significação por meio de mensagens? Para sairmos um pouco do campo do verbal (oral ou escrito) -‐ ao qual retornaremos em seguida -‐ e desautomatizarmos nossa percepção, vejamos um vídeo do Programa Metrópole que nos mostra como as novas tecnologias têm impactos no tratamento de uma outra linguagem que é a da imagem estática: a fotografia44. Veja a reportagem e observe os diferentes efeitos de sentido que os diversos tratamentos da linguagem da imagem estática (fotografia analógica e digital) permitem.
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44Fonte:http://www.mnemocine.art.br/index.php?option=com_content&view=article&id=108:histfoto&catid=46:fotohisto
ria&Itemid=68, acesso em 09/02/2012. 45 Fonte: http://mais.uol.com.br/view/xiddtuwnvlqs/metropolis--linguagem-fotografica-04021C3070D0A95346?types=A,
acesso em 09/02/2012.
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Colocando os conhecimentos em jogo 1 ________________________________________________________________________________________ Nos anos 1980, durante uma iniciativa educacional realizada em uma comunidade isolada no Nordeste brasileiro, os professores envolvidos ficaram espantados ao constatar que as crianças pequenas não conseguiam identificar que o animal representado em uma fotografia era um jegue, um tipo de animal muito comum na região. Na realidade, em centros urbanos, estamos tão imersos em representações gráficas que esquecemos que o jegue em uma fotografia não passa de uma representação do animal real: a foto é bidimensional e não tem nem o tamanho nem o cheiro do animal, o que dificulta o reconhecimento do animal pelas crianças. Transferindo essa comparação para o texto escrito, como professores de Língua Portuguesa, nem sempre temos clareza sobre o quanto a forma que falamos, por exemplo, difere das normas esperadas em um texto escrito. Isso fica mais claro quando analisamos textos transcritos. Dê uma olhada no texto abaixo. Essa é a transcrição de um trecho de uma aula de história46 e foi feita mantendo as marcas de oralidade, tais como pausas, repetições e orações inacabadas: "o que é uma revolução... uma revolução significa o quê? uma mudança... de classe... em assumindo o poder... você vê por exemplo... a Revolução Francesa... o que ela significa? nós vimos... você tem uma classe que sobe... e outra classe que desce... não é isso? A burguesia cresceu... ela ti / a burguesia possuía... o poder... econômica... mas ela não tem prestígio social... nem poder político... então... através do poder econômico dessa burguesia... que controlava o comércio... que tinha nas mãos... a economia da França... tava nas mãos da classe burguesa... que crescera... desde o século XV... com a Revolução Comercial... nós temos o crescimento da burguesia... essa burguesia quer... quer...o poder... ela quer o poder político...e o prestígio social... ela quer entrar em Versalhes... então nós vamos ver que através... de uma revolução... ela vai... de forma violenta... ela vai conseguir o poder... isso é uma revolução porque significa a ascensão de uma classe e a queda da outra... mas qual é a classe que cai? É a aristocracia... tanto que... o Rei teve a cabeça cortada... não é isso? Caiu... o poder das classe privilegiadas e uma nova classe subiu ao poder... você diz... por exemplo... que a Revolução RUSSA de dezessete... é uma verdadeira revolução... por quê? Porque significa... a ascensão duma nova classe... que tem o poder... ou melhor... que assume o poder... o proletariado... e a queda... das outras classes... não é isso? O poder decisório... o poder de dirigir... vai caber a essa classe que emerge...e as outras classe decrescem... PERdem o poder... é a mudança do poder... uma classe que sobe e a outra que cai... isso é que é o que mostra... o que é uma revolução". ________________________________________________________________________________________
46 O trecho foi extraído do banco de dados do Projeto de Norma Urbana Culta (NURC).
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Colocando os conhecimentos em jogo 2 ________________________________________________________________________________________ Embora a transcrição mostrada na página anterior consiga capturar muitas das características da oralidade, ela nunca será como uma interação face a face, pois nesse tipo de interação temos elementos como a entonação e os gestos que complementam e que contribuem para a construção de sentido do que está sendo falado. Sem esses elementos, a informação verbal que se encontra transcrita acima parece caótica. Abaixo, encontra-‐se uma possível versão escrita da aula de História sobre a Revolução Francesa: "Revolução significa mudança de classe no poder. No caso específico da Revolução Francesa, a classe que tomou o poder foi a burguesia, que desde o século XV possuía o poderio econômico francês, mas não o político, e tampouco o prestígio social. De forma bastante violenta, através de uma revolução, a burguesia conseguiu tomar o poder. Para isso foi preciso depor e decapitar o rei, símbolo das classes até então privilegiadas. A essência de uma revolução está na mudança da classe que detém o poder. O desejo de tal mudança, para citar mais um exemplo, também foi o estopim da Revolução Russa, em 1917, quando o poder passou para as mãos do proletariado. Sempre, numa revolução, uma classe toma, de forma violenta, o poder que antes era ocupado por outra". Você notou como as pausas -‐ indicadas pelas reticências -‐ e as hesitações desapareceram, a repetição diminuiu, assim como a forma que as idéias foram apresentadas foi mais elaborada? E se tivéssemos que transformar essa última versão do texto em um hipertexto, de que forma ele ficaria? Aqui temos uma possibilidade.
Revolução47 significa mudança de classe no poder. No século XV48, na França, a burguesia49 tinha o poder econômico, mas não o político ou o privilégio social. Com a Revolução Francesa, o rei -‐ símbolo das classes privilegiadas -‐ foi deposto e decapitado. Outro exemplo de revolução foi a Revolução Russa50, em 1917. Resumindo, numa revolução, uma classe toma, de forma violenta, o poder que antes era ocupado por outra. (Clique aqui51 para ampliar a imagem)
47 Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Revolu%C3%A7%C3%A3o, acesso em 14/02/2011. 48 Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/S%C3%A9culo_XV, acesso em 14/02/2011. 49Fonte:http://mais.uol.com.br/view/m0yiwic42nfl/a-revolucao-burguesa-e-suas-interpretacoes-o-fim-de-um-long-
04021C3772D8890346?types=A&, acesso em 14/02/2011. 50 Fonte: http://www.youtube.com/watch?v=NpMVZ1khv7A, acesso em 14/02/2011. 51Fonte:https://autoria.ggte.unicamp.br/tinymce/plugins/imagemanager/files/lingua_portuguesa/modulo_03/multiletramen
tos_linguagens_midias/LP_T1_TP2_P05_2.jpg, acesso em 14/02/2011.
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Colocando os conhecimentos em jogo 3 ________________________________________________________________________________________ No começo, o registro escrito não tinha a forma tão distinta da transcrição de fala. Textos antigos, muitas vezes, eram "ditados" para escribas e sua recepção pressupunha a leitura em voz alta. Historicamente, a escrita foi gradativamente se afastando do padrão da linguagem oral e criando novos padrões que facilitassem modos de recepção visual. Por isso, o texto escrito hoje difere significativamente da transcrição de um texto oral, como vimos no exemplo dado no "Colocando os conhecimentos em jogo 2" deste tópico. O texto em anexo52 ilustra um documento formal que concede direitos a um escritor cego. Lendo o texto é possível perceber que ele foi construído de forma ditada. Isso fica evidente por algumas marcas de referência que são comuns na oralidade (em que o falante pode apontar ou contar com o conhecimento compartilhado do contexto) e também por expansões de tópico por associação de idéias, que são mais típicas de construções textuais orais.
As considerações feitas por Illich (1997) sobre a história do texto53 nos ajudam a entender esse processo. Refletir sobre o que já aconteceu com a mediação da tecnologia escrita pode nos auxiliar a estar mais receptivos às mudanças que estão ocorrendo nessa passagem da escrita para a comunicação digital.
52Fonte:https://autoria.ggte.unicamp.br/tinymce/plugins/filemanager/files/lingua_portuguesa/modulo_03/multiletramentos
_linguagens_midias/cartaBaltazarDias.pdf, acesso em 14/02/2011. 53Fonte:https://autoria.ggte.unicamp.br/tinymce/plugins/filemanager/files/lingua_portuguesa/modulo_03/multiletramentos
_linguagens_midias/A_HISTORIA_DO_TEXTO1.pdf, acesso em 14/02/2011.
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Colocando os conhecimentos em jogo 4 ________________________________________________________________________________________ A comunicação também ocorre em meios específicos. As interações face a face54, por exemplo, compõem sentidos explorando linguagem verbal e linguagem gestual. Portanto, o meio, neste caso, é o nosso próprio corpo, com seus recursos de som (aparelho fonador55) e gestos. Cada meio privilegia uma linguagem, sendo exemplos de outros meios o impresso, o rádio, a televisão, o telefone e o computador. Chamamos linguagens porque as convenções de sentidos são específicas de cada recurso expressivo explorado pelo meio/linguagem e variam de cultura para cultura. Por exemplo, no Brasil, se as coisas estão acontecendo de acordo com o previsto, fazemos um sinal de positivo. Já a cultura americana para expressar o mesmo sentido, usa o sinal de OK, que até recentemente era interpretado como um gesto ofensivo no Brasil. O impacto da cultura americana na brasileira, através da mídia fílmica e televisiva, diminuíram a conotação ofensiva que esse sinal causava nos anos 1960 se usado no Brasil. Ou seja, essas convenções mudam de um grupo cultural para outro. Mudam historicamente e também mudam o seu sentido na passagem de uma mediação (mídia) para outra. O exemplo dos "smiles" ilustra bem a questão.
56 Na mídia digital, em contextos de uso como e-‐mails e chats, essa representação gráfica passou a ser usada com uma função que não existia antes: ela registra, em interações informais escritas, que a pessoa está, por exemplo, brincando ou sendo irônica. Tal função é também representada por formas escritas que buscam mostrar, de modo mais onomatopaico, o som de risos ("hehehe" ou "rsrsrs" ou "kkkk").
54 Saiba mais sobre os usos e formas da linguagem oral na disciplina LP006 - Linguagem oral: Gêneros e variedades. 55 Fonte: http://educacao.uol.com.br/portugues/ult1693u42.jhtm, acesso em 12/02/2011. 56 Fonte: RedeFor
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Atividade Autocorrigível 1 ________________________________________________________________________________________ Com base nos exemplos dados, decida se as afirmações abaixo são verdadeiras ou falsas. Em seguida, pouse o cursor em suas escolhas, para ler os comentários. (1) O texto oral é fragmentado, pouco claro e desconexo. Por isso, precisamos da escrita para ter maior clareza. Verdadeiro57 Falso58 (2) Gírias, informalidade, falta de cuidado com a norma culta da língua são marcas de oralidade no texto escrito. Verdadeiro59 Falso60 (3) Materiais impressos facilitam o estudo e a construção do conhecimento mais que os textos da Internet. Verdadeiro61 Falso62 ________________________________________________________________________________________
57 Incorreto: a fala pode ser tão clara e coerente como textos escritos. Na transcrição, perdemos o registro da entoação e
dos gestos que compõem o sentido do texto oral. Por isso, fica às vezes difícil a compreensão. Além disso, a fala não é editada, mas isso atrapalha o leitor e não ouvinte. Textos escritos lidos em voz alta são difíceis de processar.
58 Correto: o texto oral é perfeitamente adequado para interações face a face. Além de contar com o auxílio da prosódia e do gestos, as repetições auxiliam o ouvinte a construir o sentido e o que parece fragmentado na transcrição (que registra o processo de reflexão do falante) passa despercebido quando ouvimos o texto oral. Isso só fica evidente na transcrição da fala. Incorreto: essas marcas estão relacionadas ao gênero e à adequação à situação de uso e não às questões de modalidade linguística (modalidade oral ou escrita). Há textos escritos informais e formais, assim como há situações de fala que variam em grau de formalidade.
59 Incorreto: essas marcas estão relacionadas ao gênero e à adequação à situação de uso e não às questões de modalidade linguística (modalidade oral ou escrita). Há textos escritos informais e formais, assim como há situações de fala que variam em grau de formalidade. Incorreto: essas marcas estão relacionadas ao gênero e à adequação à situação de uso e não às questões de modalidade linguística (modalidade oral ou escrita). Há textos escritos informais e formais, assim como há situações de fala que variam em grau de formalidade.
60 Correto: textos escritos como textos orais podem ser mais formais ou informais dependendo do gênero que é adequado à situação de uso. Um bom exemplo é o internetês. As pessoas cultas que estranham abreviações como “vc” esquecem que, em situações informais, falam enunciados do tipo “que que cê qué?”
61 Incorreto: novas modalidades linguísticas não excluem as anteriores. Na época de Sócrates, o ensino era só através das trocas orais. Hoje, nossos alunos já são escolarizados através da oralidade e da escrita. Agora e cada vez mais no futuro, oralidade e escrita irão se mesclar com textos digitais, já que a Internet é também um grande repositório de informações. Mas para atividades de ensino, o professor precisa saber selecionar e ensinar o aluno a consultar a Internet de forma crítica.
62 Correto: os letramentos digitais ampliam nossas formas de construção de sentido. Na Internet, temos a possibilidade de acesso a um volume enorme de informações, a facilidade de consulta propiciada pelos links e a vantagem de explorarmos outras formas de linguagem junto com a escrita: arquivos de imagem, voz, vídeos e animações, por exemplo.
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Finalizando ________________________________________________________________________________________ Como discutido neste tópico e neste Tema, a história da comunicação mediada por tecnologia (escrita, rádio, telefone, televisão, computador e Internet) sempre demanda um processo de remidiação -‐ passagem do sentido textual de um meio para outro. Para facilitar a comunicação, cada meio exige que o texto seja adequado às normas que se tornaram convencionais nas suas práticas de uso. Vimos, neste tópico 3, que a mediação tecnológica contribuiu para expandir, de diferentes formas, as nossas possibilidades de comunicação, seja criando alternativas para registro de textos -‐ que permitiram a quebra dos limites temporais e espaciais que tipificam a comunicação face a face -‐, seja oferecendo os recursos de novas semioses. Embora a interpretação de determinados recursos expressivos seja padronizada e "naturalizada" em situações práticas de usos, é importante considerarmos, como professores, que o sentido desses padrões é sempre aprendido. Um bom exemplo disso é o sentido que atribuímos às fotografias. Na prática concebemos as fotografias como representativas de uma "realidade", embora a relação de verossimilhança que lhe atribuímos seja questionável, como ilustrou o caso do reconhecimento da foto de um jegue por crianças pouco expostas a imagens impressas ou a reportagem do Programa Metrópolis sobre o tema. A história da comunicação mediada por tecnologia revela que a construção de textos para circularem em determinados meios demanda ajustes significativos no nível da linguagem, já que cada meio oferece recursos específicos e também coloca restrições particulares para a comunicação. É diferente falarmos por telefone e pelo Skype, por exemplo.
Dada a especificidade das linguagens para cada meio, a remidiação ou a passagem de um texto de um meio para outro (oral para escrita, escrita no papel para a da tela), envolve sempre um processo de retextualização. Dominar as normas e entender as convenções de sentido que regem as diferentes semioses ou linguagens é necessário para sermos leitores e produtores críticos.
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Ampliando o conhecimento 1 ________________________________________________________________________________________ Aqui, você irá encontrar sugestões de textos -‐ como artigos e livros -‐ tanto em formato digital quanto impresso, que complementam e expandem o conteúdo do Tema 1: BRAGA, D. B. A constituição híbrida da escrita na internet: a linguagem nas salas de bate-‐papo e na construção de hipertextos. Leitura: Teoria e Prática, nº 34. Campinas: ALB -‐ Associação de Leitura do Brasil, Dezembro de 1999. Este texto contempla um momento inicial das reflexões sobre letramentos digitais. Apesar de defasado, o texto ilustra bem como diferentes modalidades linguísticas (oral, escrita e digital) se integram de forma complementar nas práticas de sala de aula. CHARTIER, R. A aventura do livro: Do leitor ao navegador. São Paulo:Unesp, 1997. Neste livro, Chartier nos mostra uma retrospectiva histórica da evolução da tecnologia de suporte e seu impacto em práticas sociais. HAVELLOCK, E. Os gregos antes da escrita. In: _____. A revolução da escrita na Grécia e suas implicações culturais. São Paulo: Paz e Terra, 1994. O nono capítulo deste livro apresenta uma série de exemplos que sustentam a tese de que, embora a escrita já fosse conhecida pelos gregos, eles não a adotavam como prática usual, nem mesmo para atividades acadêmicas. MARCUSCHI, L. A. Da fala para a escrita. Atividades de retextualização. São Paulo: Cortez, 2000. Conceitos como oralidade e escrita são discutidos nesta obra através de uma variada exemplificação que demonstra como, a partir de situações cotidianas, ocorrem as alterações quando os textos migram de uma modalidade para a outra. _____. O hipertexto como um novo espaço de escrita em sala de aula. Linguagem & Ensino, Vol. 4, No. 1, 2001: 79-‐111. Disponível neste link63. Neste artigo, Marcuschi reflete sobre o hipertexto como um novo espaço da escrita. XAVIER, A. Letramento digital e ensino. Disponível neste link64. Como as novas tecnologias afetam o processo de ensino/aprendizagem? Xavier irá refletir sobre as possíveis mudanças que o desenvolvimento de tais tecnologias causarão no processo educacional.
63 Fonte: http://www4.pucsp.br/%7Efontes/ln2sem2006/f_marcuschi.pdf, acesso em 12/02/2011. 64 Fonte: http://www.ufpe.br/nehte/artigos/Letramento digital e ensino.pdf, acesso em 12/02/2011.
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Ampliando o conhecimento 2 ________________________________________________________________________________________ Algumas referências múltimídia para quem desejar saber mais sobre a relação entre escrita e novas tecnologias:
A) Neste vídeo65, o Prof. Dr. Marcelo Buzato irá comentar as dúvidas que existem sobre conceitos como "letramento digital".
B) "You've got mail66" é uma comédia romântica com os atores Meg Ryan e Tom Hanks que mostra como a troca de e-mails pode mudar a vida de duas pessoas. O seu trailer pode ser visto aqui67.
65 Fonte: http://www.youtube.com/watch?v=0-Fc0i0x7oA&feature=player_embedded, acesso em 12/02/2011. 66 Fonte: http://www.epipoca.com.br/filmes_detalhes.php?idf=1893, acesso em 12/02/2011. 67 Fonte: http://www.youtube.com/watch?v=jCetfaS7GAo, acesso em 12/02/2011.
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Referências bibliográficas ________________________________________________________________________________________ BRAGA, D.; RICARTE, I. Letramento e Tecnologia. Campinas: CEFIEL / Brasília: MEC, 2005. Disponível em: http://www.iel.unicamp.br/cefiel/imagens/cursos/19.pdf, acesso em 12/02/2011. GNERRE, M. Linguagem, escrita e poder. São Paulo: Martins Fontes, 1994. OLSON, D. R.; TORRANCE, N. (Orgs.). Cultura escrita e oralidade. São Paulo: Ática, 1997.
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Tema: 2. A linguagem nos/dos novos meios
Tópico 1 -‐ Fundamentos da CMC
Ponto de partida ________________________________________________________________________________________
Assista ao curtametragem "Meu computador, minha vida"68, produzido por um aluno do Curso de Comunicação da Universidade Federal do Tocantins e disponibilizado no You Tube. Em seguida, reflita sobre os pontos indicados pelas perguntas 1, 2 e 3.
Perguntas: 1)Você diria que o curtametragem é "realista" ou apenas uma piada? 2)Acha que a mensagem implícita nele é uma crítica ou um elogio à comunicação mediada por computadores? 3)Se você tivesse encontrado esse vídeo no YouTube e quisesse deixar um comentário para o autor, o que escreveria? ________________________________________________________________________________________
68 Fonte: http://www.youtube.com/v/5HzpLEFzJyU, acesso em 17/01/2011.
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Mãos à obra ________________________________________________________________________________________ A Comunicação Mediada por Computadores, ou CMC, é uma modalidade de comunicação na qual as mensagens são produzidas, estocadas, enviadas e recebidas por meio de computadores conectados à Internet. Isso inclui todos os tipos de dispositivos digitais que permitam conexão em redes digitais como, por exemplo, telefones celulares, tablets e aparelhos de MP4, entre outros. A rigor a própria WWW pode ser considerada uma forma de CMC, embora o termo costume nos trazer à mente outros programas e serviços específicos da Internet tais como e-‐mail69, mensagens instantâneas70, SMS71 (torpedos), chat72 e blog73.
Uma das características mais importantes da CMC é a velocidade com que ela continua evoluindo. Além disso, formas até então distintas de CMC estão constantemente se reinventando ao se articularem umas às outras. Um exemplo disso é o famoso Twitter74, do qual se fala muito hoje na TV e no rádio. Trata-‐se de uma rede social que funciona por meio de uma fusão entre blog e mensageiro instantâneo. Quem esteve atento à história recente desse serviço terá notado que nele foram incluídas novas funcionalidades, tais como a transmissão em vídeo, e que passou a ser incorporado por outras redes sociais e outros sites da Internet. O mesmo podemos dizer de vários tipos de CMC hoje.
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69 Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Email, acesso em 17/01/2011. 70Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Mensageiro_instant%C3%A2neo, acesso em 17/01/2011. 71Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Servi%C3%A7o_de_mensagens_curtas, acesso em 17/01/2011. 72Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Chat, acesso em 17/01/2011. 73Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Blog, acesso em 17/01/2011. 74Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Twitter, acesso em 17/01/2011.
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Colocando os conhecimentos em jogo 1 ________________________________________________________________________________________ Existem muitas maneiras de classificar as ferramentas de CMC, todas elas de alguma forma limitadas. Uma dessas formas de classificação consiste em cruzar os padrões de interação e o número de interlocutores possíveis com a maneira como as mensagens são enviadas em termos de tempo, isto é, se simultaneamente (síncronas, como já acontece no telefone ou em chats) ou não simultaneamente (assíncronas, como acontece com cartas e emails). Os padrões de interação incluem também a direcionalidade das mensagens, ou seja, se todos podem emitir e receber mensagens (muitos-‐para-‐muitos), ou se alguns podem apenas receber enquanto outros apenas as emitem (uma-‐para-‐um ou um-‐para-‐muitos). Veja no quadro abaixo como ficariam classificadas algumas das formas mais populares de CMC em uso hoje:
Síncrona Assíncrona
Um-‐para-‐um Chat do mensageiro instantâneo (entre duas pessoas apenas)
E-‐mail (entre duas pessoas apenas)
Um-‐para-‐muitos Transmissão ao vivo75 via Web (ou "streaming76") Podcasts (veja como funciona77)
Muitos-‐para-‐muitos
Chat coletivo Fórum (veja um exemplo78)
Também com relação às modalidades e mídias utilizadas, essas classificações são limitadas. Podemos pensar, por exemplo, que e-‐mail e chat são basicamente formas de CMC baseadas em texto. Porém, nada impede as pessoas de anexarem arquivos de áudio e vídeo a seus emails, ou de enviarem links para fotos ou músicas durante seus chats e também de usarem emoticons79. Além disso, os programas de CMC cada vez mais passam a combinar diversos serviços e modalidades, como, por exemplo, nos sistemas de videoconferência na web80. O importante, para nós, é ter em mente que a linguagem usada nas interações via CMC varia e se especializa de forma sistemática e que há alguns critérios que podem ajudar a entender como isso acontece.
75Fonte: http://www.radios.com.br/novo/midia.htm, acesso em 17/01/2011. 76Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Streaming, acesso em 17/01/2011. 77Fonte: http://videos.hsw.uol.com.br/criar-podcast-2-video.htm, acesso em 17/01/2011. 78Fonte:http://br.answers.yahoo.com/dir/index;_ylt=AnUezCMFEFDX2RG6SDm3Er7V7At.;_ylv=3?sid=396545136&lin
k=list, acesso em 17/01/2011. 79Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Emoticons, acesso em 17/01/2011. 80Fonte: http://videos.hsw.uol.com.br/videoconferencia-1-video.htm, acesso em 17/01/2011.
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Colocando os conhecimentos em jogo 2 ________________________________________________________________________________________ Nossos usos de linguagem sempre variam de acordo com os meios tecnológicos que empregamos. Estamos familiarizados com essas variações quando comparamos nossos usos da língua na fala e na escrita81. Para nos aproximarmos de como essa variação se manifesta na CMC, podemos começar pensando no caso do telefone. Quando falamos ao telefone, seguimos certos rituais tais como dizer "alô" e "quem fala?", antes de entrar no assunto da conversa, e usar expressões como "então está bom", para indicar que precisamos encerrar a ligação. Evitamos alguns tipos de palavras, tais como dêiticos espaciais82, e passamos a levar em conta, de forma mais atenta, o tom de voz que utilizamos. A depender da comunidade e da situação específica, essas variações podem incluir o uso de códigos especializados, que, para os não iniciados, podem soar estranhos, herméticos ou mesmo ofensivos à língua. Um exemplo de código induzido por uma mediação tecnológica é o alfabeto aeronáutico83, utilizado pelos os trabalhadores da aviação para soletrar palavras e evitar confusões na compreensão de letras que têm pronúncia parecida. Esse exemplo é interessante porque o alfabeto aeronáutico nasceu para suprir uma limitação da tecnologia. Como os interlocutores não podem ler lábios, nem fazer gestos ao falar ao rádio ou telefone, letras com pronúncias parecidas, tais como "b" e "p" ou "s" e "f", tendem a ser confundidas. No caso da aviação, isso pode até gerar um acidente. O mais interessante é que a solução encontrada foi basicamente a mesma que utilizamos no dia-‐a-‐dia quando dizemos "é b de bola, não p de pato": usa-‐se uma palavra iniciada pela letra para designar a letra.
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81 Por exemplo, sabemos que a organização textual da fala, normalmente, exibe maior frequência de redundâncias,
repetições e elipses do que a da escrita, e que na escrita, normalmente, aparecem itens lexicais mais precisos e específicos do que na fala.
82 Dêiticos são palavras que, quando utilizadas, apontam para o contexto extralinguístico (ou seja, para a situação concreta do enunciado). Os dêiticos espaciais apontam para elementos espaciais do contexto, como é o caso de advérbios de lugar tais como "aqui", "aí", e "lá".
83Fonte (adaptação): http://www.aviacaopaulista.com/alfabeto_aeronautico/index.htm, acesso em 12/02/2011.
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Colocando os conhecimentos em jogo 3 Como a aviação é uma atividade sujeita a regras rígidas, esse recurso foi padronizado e imposto aos membros dessa comunidade profissional. Mas, em outros casos, variações e especializações podem surgir espontaneamente e não necessariamente seguir padrões rígidos (como é o caso do internetês). De qualquer forma, o caso do alfabeto aeronáutico ilustra um princípio que explica, em parte, porque a CMC é como ela é: maneiras especiais de utilizar a linguagem em meios específicos são respostas dadas por comunidades de usuários, mediante certas práticas comunicativas suas, às limitações e às propiciações84 dos meios utilizados para sua comunicação. Essas respostas tanto podem ir no sentido de facilitar a comunicação interna do grupo, quanto no sentido de reforçar uma identidade de grupo, eventualmente dificultando a participação de outros grupos nas mesmas práticas. Antes de prosseguir, assista a esta apresentação sobre o internetês85.
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84 Propiciação, ou seja, "ação para tornar algo propício", é o termo que os autores que estudam os novos letramentos têm
utilizado para traduzir o conceito de "affordance", advindo da psicologia e da teoria do design. A palavra designa as possibilidades de ação ofertadas a alguém por um objeto, material, ou artefato, em um determinado ambiente.
85Fonte: http://cameraweb.ccuec.unicamp.br/video/K3BMKNO2YW5O/, acesso em 13/02/2012. 86Fonte: http://cameraweb.ccuec.unicamp.br/video/K3BMKNO2YW5O/, acesso em 13/02/2012.
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Colocando os conhecimentos em jogo 4 Usos especiais da linguagem relacionados a mediações tecnológicas específicas tendem a constituir saberes que identificam as comunidades onde surgiram. Como saberes de certos grupos, frequentemente são contestados por outros grupos: existe aí uma possibilidade de conflito e de polêmica. No caso do internetês, são muitas as discussões em torno do seu status frente à língua escrita padrão. Em muitos espaços de interação na Internet considerados "sérios", existem, inclusive formas de repressão ao internetês87. Contudo, o julgamento do senso comum sobre o internetês, frequentemente preconceituoso e impreciso, não coincide necessariamente com o dos especialistas em estudos da linguagem, como você pode conferir nessa matéria jornalística publicada recentemente na Revista Língua88. Talvez o debate sobre o internetês devesse ir além das revistas de notícias e artigos acadêmicos e ser explorado também em sala de aula de Língua Portuguesa. Na realidade, esse uso especial da linguagem oferece oportunidades interessantes para o professor discutir o conceito de adequação linguística com seus alunos. Seria especialmente interessante fazer isso partindo das experiências pessoais e concretas de alunos (e dos professores) com esse saber não oficial. Veja uma sugestão de atividade89 que pode ser útil nesse sentido.
87Fonte: http://blogs.forumpcs.com.br/paulo_couto/2005/06/10/eu-sei-escrever/, acesso em 17/01/2011. 88Fonte: http://altamenteperecivel.blogspot.com.br/2010/09/revolucao-do-internetes-revista-lingua.html, acesso em
08/05/2012. 89Fonte:https://autoria.ggte.unicamp.br/tinymce/plugins/filemanager/files/lingua_portuguesa/modulo_03/multiletramentos
_linguagens_midias/Analisando_o_internetes.pdf, acesso em 08/05/2012.
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Atividade autocorrigível 2 De qualquer forma, não se pode avançar no debate sobre a CMC na escola sem que o professor tenha sua própria posição sobre o assunto, uma posição formulada sobre bases realistas e bem informadas. Veja o quanto você conseguiu avançar rumo à construção desses saberes sobre o internetês fazendo a Atividade Autocorrigível 2. Em qual das alternativas abaixo há apenas afirmações corretas sobre a Comunicação Mediada por Computadores? (1)90 O modo como usamos a língua em práticas comunicativas mediadas por tecnologias varia de acordo com o tipo de mediação tecnológica empregada pelos interlocutores. Os fatores limitantes impostos pelo meio tecnológico, assim como suas propiciações, são os únicos responsáveis pelas alterações e especializações da linguagem que passam a existir nas comunidades em que essas práticas acontecem. O internetês, por exemplo, usa muitas abreviações porque falta espaço na tela e porque a digitação tem que ser rápida para que o ritmo da "conversa" seja mantido. (2)91 O internetês é a linguagem que se usa na internet exclusivamente para interações síncronas, realizadas por escrito, em atividades comunicativas informais. Quando as interações são assíncronas (por exemplo, e-‐mail, fórum, torpedo) não há razão para alguém usar o internetês. (3)92 Como o internetês ameaça a integridade da língua portuguesa e torna o seu usuário menos capaz de entender e produzir textos no português escrito padrão, é importante que o professor conheça o internetês, para poder explicar o que está errado nele e como o aluno pode se proteger. (4)93 Com a popularização de mais e mais novos dispositivos digitais, que estão se tornando menores, mais fáceis de operar, mais sofisticados e mais baratos, e em especial com os novos telefones celulares, tablets e os televisores digitais, todas as pessoas vão usar mais o internetês e, com isso, ele vai se padronizar e se transformar em uma norma. (5)94 Nenhuma das anteriores é totalmente correta.
90Alternativa errada. Se é certo que as limitações e propiciações do meio tecnológico estão diretamente ligadas à variação
no uso da língua, não é verdade que esse seja o único fator responsável pelas especializações que a linguagem passa a sofrer quando usada nesses meios. É necessário levar em conta, também, quais são os propósitos comunicativos envolvidos e em que esfera de atividade discursiva - se profissional, do quotidiano, acadêmica, etc. - essas interações acontecem (como no caso do alfabeto aeronáutico em comparação com estratégias do quotidiano do tipo "b de bola?").
91Alternativa errada. Primeiramente, é duvidoso afirmar que o internetês seja uma linguagem, já que ele não seria capaz de comunicar o que comunica sem lançar mão do português oral e escrito, esse sim, uma língua (em duas modalidades: oral ou escrita), com todos os recursos que uma língua tem que ter. O internetês é melhor definido como uma grafia especializada do português oral, como vimos. Em segundo lugar, embora o internetês seja uma resposta dos usuários da internet para as situações de interação síncronas, ele é usado também em modos assíncronos de CMC. Isso é assim, porque o internetês não se limita a uma função utilitária (comunicar agilmente, como na fala), mas também tem a função de expressar o pertencimento cultural e a identidade pessoal dos seus usuários, sendo parte integrante do perfil estilístico de muitos gêneros discursivos que circulam no meio digital, seja de maneira síncrona ou assíncrona
92 Alternativa incorreta. Antes de mais nada, o internetês não ameaça a integridade da língua portuguesa porque ele é simplesmente uma forma de grafar o português oral, cujas regras morfossintáticas e fonológicas ele preserva. Da mesma forma como a taquigrafia ou mesmo as reformas ortográficas oficiais pelas quais a língua passa periodicamente não constituem ameaça à língua em si, o internetês não altera a língua. Assim sendo, não há nada de "errado" no internetês em si. Há algo de incompatível, isto sim, entre o internetês e certos tipos de produção textual dentro e fora da internet, assim como há incompatibilidades da ortografia oficial do português com certos gêneros digitais.
93 Alternativa incorreta. Como você viu em "mãos à obra", uma das características mais importantes da CMC é a velocidade com que ela continua evoluindo, à medida em que novos serviços, ferramentas, dispositivos e formatos vão sendo agregados aos já existentes, e à medida em que formas até então distintas de CMC se articulam, dando origem a novas formas. Só isso já nos leva a duvidar seriamente de que uma estabilização das variações e especializações de uso da linguagem na CMC esteja à vista. Além disso, ainda que as tecnologias digitais da comunicação e da informação já fossem tão estáveis quanto são a imprensa, o rádio e o telefone convencional, os modos de utilizar a linguagem continuariam a se diversificar por conta das diferenças entre os grupos sociais e práticas sociais envolvidos. Isso é outra maneira de dizer que, tal como a língua, as novas tecnologias também são heterogêneas e também estão sujeitas a forças centrípetas (de centralização e unificação) e centrífugas (de expansão e diversificação) simultaneamente. Finalmente, mesmo que isso fosse desejável, seria muito difícil padronizar ou normatizar o internetês porque não existe uma instituição por trás dele e porque formas de controle tais como a seleção editorial não estão disponíveis em todos os contextos de produção textual em que o internetês circula.
94 Essa é a alternativa correta, porque todas as outras contêm pelo menos uma afirmação incorreta sobre a CMC. Mesmo que você tenha acertado "de primeira", vale a pena olhar os comentários das demais alternativas para conferir se o que você identificou de errado nelas coincide com o que os elaboradores dessa atividade autocorrigível destacaram.
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Finalizando... ________________________________________________________________________________________ Neste tópico, vimos que os modos de CMC podem ser classificados segundo padrões de interlocução e tipos de temporalidade e que, conforme variam esses critérios, usos especiais da linguagem vão sendo desenvolvidos pelos usuários da CMC em suas práticas quotidianas, resultando em formas linguísticas/semióticas que refletem a natureza da mediação tecnológica. Esta, por sua vez, pode ser pensada em termos de restrições e propiciações específicas, as quais influem diretamente no que pode ser dito e em como dizê-‐lo. Tomando o internetês como um caso de destaque, pudemos perceber que, embora muitos leigos o vejam como um código esdrúxulo ou mesmo uma linguagem perniciosa em relação tanto à língua portuguesa, quanto à formação do leitor/escritor do português, ele é meramente uma grafia alternativa do português oral do quotidiano. Essa grafia, embora afronte as regras da ortografia oficial, não é destituída de regularidades e pode mesmo trazer à tona intuições linguísticas do falante que remetem a variedades antigas do português escrito. Vimos também que o internetês é tão heterogêneo como a própria língua portuguesa e que é possível, inclusive, falarmos em "interneteses". Finalmente, compreendemos que todas as formas de CMC que conhecemos hoje são passageiras e estão sujeitas a mudanças muito rápidas, já que elas vão sendo integradas umas às outras em novos programas e serviços e já que os usuários, diversos entre si, estão incessantemente descobrindo novas propiciações do meio e as aplicando a seus propósitos sociais e comunicativos específicos, em contextos específicos de uso. No próximo tópico, vamos expandir esses conceitos pensando no meio digital como um todo, a partir de três de suas propriedades mais importantes: a hipertextualidade, a multimodalidade e a interatividade. ________________________________________________________________________________________
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Tópico 2 -‐ Interatividade, hipertextualidade e multimodalidade
Ponto de partida
________________________________________________________________________________________ Ao longo desta disciplina, temos nos referido à Internet como parte de um meio, o meio digital. Enquanto meio, o digital é comparável com outros meios ou mídias, tais como a televisão, o rádio e a imprensa. Longe, porém, de ser apenas uma mera extensão desses outros meios, o digital os remidiou95, mudando a qualidade da nossa relação com os outros meios, com seus conteúdos e com os produtores desses conteúdos. Neste tópico, vamos tentar identificar algumas dessas mudanças qualitativas, partindo de três palavras-‐chave: interatividade, hipertextualidade e multimodalidade. Para começar, assista ao vídeo "Web 2.0 -‐ A máquina somos nós"96, uma tradução e adaptação, atribuída à Escola do Futuro97, do vídeo norteamericano "The Machine is Us/ing Us98", de autoria de Michael Wesch99, disponibilizado pelo autor na WWW.
100 Você notou que, no título da versão original do vídeo em inglês, há um jogo de palavras que resulta em "The machine is using us" (a máquina está nos usando). Agora que assistiu ao vídeo, você atribuiria a essa frase um sentido positivo ou negativo? Em que sentido, na sua experiência pessoal, é possível dizer que o computador "usa você"?
95Remidiação é a reapresentação, reutilização e recombinação das linguagens, formas típicas e métodos de trabalho
associados a um meio mais antigo por outro meio, surgido posteriormente ou vice-versa. 96 Fonte: http://www.youtube.com/v/NJsacDCsiPg, acesso em 03/02/2011. 97Fonte:http://futuro.usp.br/portal/website.ef;jsessionid=7F91457A8DC90C01BB3C75D5644F9C1F, acesso em
17/01/2011. 98 Fonte: http://www.youtube.com/watch?v=NLlGop..., acesso em 17/01/2011. 99 Fonte: http://ksuanth.weebly.com/wesch.html, acesso em 17/01/2011. 100 Fonte: http://www.youtube.com/watch?v=6gmP4nk0EOE , acesso em 08/02/2012.
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Mãos à obra ________________________________________________________________________________________ Um dos conceitos que nos permite entender como o meio digital nos usa ao mesmo tempo em que nós o usamos é o de interatividade. Mas, para isso, temos que nos afastar do significado que a palavra interatividade ganhou no senso comum. A publicidade tem usado esse termo para designar um atributo que pode estar embutido em um aparelho digital (por exemplo, uma "lousa digital interativa") ou em conteúdo digital (por exemplo, uma apostila interativa). Aqui estamos privilegiando o significado que foi dado a esse termo pelo filósofo Pierry Lévy101, em seu livro Cibercultura102: a interatividade "assinala muito mais um problema, a necessidade de um novo trabalho de observação, de concepção e avaliação dos modos de comunicação, do que uma característica (...) atribuível a um sistema específico"103. Tentando contribuir para o entendimento desse "problema", André Lemos104 definiu a interatividade como uma relação dialógica entre o homem e a técnica e, em seu artigo Anjos Interativos e Retribalização do Mundo105, de 1997, propôs a existência de níveis de interatividade106 típicos de cada meio e de cada época. Podemos dizer que, quanto maior for o seu nível de interatividade, mais um meio permitirá a manifestação de três tendências da comunicação social contemporânea apontadas por Marco Silva107, no artigo "O que é Interatividade108", de 1998: participação-‐intervenção109 (por exemplo, quando os internautas mandam perguntas para o comentarista de um jogo de futebol responder ao vivo); bidirecionalidade-‐hibridação110 (por exemplo, quando um blogueiro publica um post que pode ser imediatamente comentado ou "reblogado" por outros internautas, tornado-‐se, ao mesmo templo, leitor e "emissor" do post); e permutabilidade-‐potencialidade111 (por exemplo, quando consultamos um verbete da Wikipedia, podemos escolher, a cada link que aparece no texto, se vamos prosseguir na mesma página, ou se mudamos a trajetória seguindo o link. O verbete, na verdade, não é apenas o que está escrito na página, mas todo o texto que está potencialmente disponível para que o leitor decida seu próprio percurso na construção de seu conhecimento sobre o assunto). É importante notar que a interatividade não depende, necessariamente, do uso de computadores no processo, ao mesmo tempo que o uso do computador não garante, necessariamente, interatividade! Uma roda de conversa entre professor e alunos, por exemplo, pode ser extremamente interativa, se permitiir a manifestação das três tendências de que fala Marco Silva. Já um a "lousa interativa" pode apresentar um grau de interatividade efetivamente muito baixo se for usada apenas para apresentar perguntas que o aluno responde com os dedos, obtendo simplesmente uma mensagem do tipo "certo" ou "errado".
101 Fonte: http://www.youtube.com/watch?v=Wk76VURNdgw, acesso em 17/01/2011. 102Fonte:http://books.google.com.br/books?id=7L29Np0d2YcC&printsec=frontcover&dq=Cibercultura&source=bl&ots=
ggYwBHVvel&sig=GitYYa3avFmeedrpzzSpPghkp64&hl=pt-BR&ei=9_MMTeirCYa0lQewgbmwDA&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=2&ved=0CC4Q6AEwAQ#v=onepage&q&f=false, acesso em 17/01/2011.
103 LÉVY, P. Cibercultura. São Paulo: Ed. 34, 1999. P. 82. 104 Fonte: http://www.andrelemos.info/, acesso em 17/01/2011. 105 Fonte: http://www.facom.ufba.br/ciberpesquisa/lemos/interativo.pdf, acesso em 17/01/2011. 106 Fonte: LEMOS, André L.M. "Anjos interativos e retribalização do mundo. Sobre interatividade e interfaces digitais",
1997, [http://www.facom.ufba.br/pesq/cyber/lemos/ interac.html] 12/05/1999. 107 Fonte: http://www.saladeaulainterativa.pro.br/index.html, acesso em 17/01/2011. 108 SILVA, M. O que é interatividade. Boletim Técnico do SENAC, Rio de Janeiro, v.24, n.2, 1998. Pp. 27-35. 109 "O emissor pressupõe a participação-intervenção do receptor. Participar é muito mais que responder “sim” ou
“não”, é muito mais que escolher uma opção dada. Participar é modificar, é interferir na mensagem." (SILVA, 1998, p. 7)
110 "Comunicar pressupõe recursão da emissão e recepção. A comunicação é produção conjunta da emissão e da recepção. O emissor é receptor em potencial e o receptor é emissor em potencial. Os dois pólos codificam e decodificam". (SILVA, 1998, p. 7)
111 "O emissor disponibiliza a possiblidade de múltiplas redes articulatórias. Ele não propõe uma mensagem fechada, ao contrário, oferece informação em redes de conexões permitindo ao receptor ampla liberdade de associação e significações." (SILVA, 1998, p. 7)
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Colocando os conhecimentos em jogo 1 ________________________________________________________________________________________ O crítico literário Gérard Genette foi um dos primeiros acadêmicos a utilizar o termo hipertextualidade, na sua obra Palimpsestes112. Para ele, a palavra designaria toda relação que une um texto (texto B -‐ hipertexto) a outro texto (texto A -‐ hipotexto), de modo que o segundo passasse a ter, em relação ao primeiro, o valor de comentário ou de paródia (por exemplo, quando alguém conta uma piada sobre a Carta de Pero Vaz de Caminha, temos um hipertexto, a piada, que remete a um hipotexto, a carta). Com o desenvolvimento de protocolos de Internet e certas linguagens de computador, passou a ser possível estabelecer vínculos explícitos entre textos eletrônicos, chamados, a partir de então, de hipertextos. A palavra hipertextualidade passou, assim, a designar aquilo que caracteriza a existência de hipertexto(s)113. Podemos dizer que a hipertextualidade define um modo não-‐linear (ou multilinear) de apresentar e consultar documentos eletrônicos (ou hiperdocumentos) vinculados entre si por meio de hiperlinks114 (ligações eletrônicas). Esses (hiper)documentos (ou partes deles) passam a funcionar como nós115 de uma rede associativa que oferece ao leitor diferentes opções de percursos de leitura116. Essa é uma forma já bem conhecida da tendência de permutabilidade-‐potencialidade de que falamos em "Mãos à obra". Ao contrário do que acontece na maioria dos textos impressos, em que o formato físico do texto induz um percurso linear de leitura, no hipertexto, o leitor é convidado a escolher entre múltiplos percursos de leitura. Já que o leitor acaba dividindo com o autor de um hipertexto a responsabilidade de estabelecer um percurso de leitura e, portanto de construção de sentidos, diz-‐se que a hipertextualidade perturba a linha de fronteira que dividia, anteriormente, os papéis de autor e de leitor. Na prática, porém, todo percurso de leitura no hipertexto vai depender apenas em parte da vontade do leitor, já que o construtor dos hiperdocumentos utiliza diferentes tipos de links117 para implementar padrões de navegação e de estruturação das informações118 que induzem certos percursos e dificultam outros. Dái a importância do leitor de hipertextos ter os conhecimentos e os recursos técnicos necessários para burlar essas restrições, usando caminhos alternativos, de modo a ter uma interação mais crítica com o texto e poder construir sentidos também alternativos. ________________________________________________________________________________________
112 GENETTE, Gérard. Palimpsestes: la littérature au second degré. Paris: Editions du Seuil, 1992. 113 Podemos falar em hipertexto, no singular, e hipertextos, no plural. No primeiro caso (singular), estamos nos referindo a
uma entidade abstrata, que descreve uma forma de apresentação e concatenação de textos (eletrônicos). No segundo caso (plural), falamos de manifestações concretas dessa entidade abstrata em algum contexto enunciativo, via tela de computador. Por exemplo, podemos dizer que, nesse momento, você está lendo um dos diversos hipertextos (plural) que compõem a disciplina "Multiletramentos, linguagens e mídias". Mas também poderíamos dizer que o conteúdo da disciplina foi escrito em hipertexto (singular).
114 Um hiperlink (ao pé da letra, uma "hiperligação") é uma ligação explicitamente estabelecida entre dois hiperdocumentos (ou partes de hiperdocumentos) acionável pelo leitor de um hipertexto, quando clica sobre imagem ou segmento textual que lhe serve de âncora e que traz à tela do computador um alvo designado, na forma de outro segmento textual, imagem ou hiperdocumento completo.
115 Os nós de uma rede hipertextual são heterogêneos: podem ser compostos de imagens, sons e palavras, isoladamente ou em combinações locais.
116 Esses percursos de leitura podem incluir não apenas textos verbais, como também outras modalidades semióticas e outras mídias. Podem também passar inclusive por diferentes serviços acessíveis via hiperdocumentos, tais como consultas a bancos de dados e a buscas na WWW.
117 Adaptado de: GUNTER, Anna. Forming the text, performing the word – Aspects of media, navigation and linking. Disponível em: http://www.hb.se/bhs/ith/23-01/ag.htm, acesso em 20/03/2002.
118 Fonte: LANDOW, George P. Hypertext: The convergence of contemporary Critical Theory and technology. Baltimore: Johns Hopkins UP, 1992.
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Colocando os conhecimentos em jogo 2 ________________________________________________________________________________________ O terceiro dos conceitos chave que nos ajuda a compreender as particularidades dos textos no meio digital é o de multimodalidade. Em Semiótica119, modalidade se refere à organização abstrata e sistemática das possibilidades expressivas de recursos materiais específicos (por exemplo, a voz, as imagens, a escrita etc.) para produzir significados nas práticas comunicativas de uma comunidade. Assim, tanto podemos pensar em modalidades como sendo diferentes canais120 de percepção e transmissão de mensagens, como também nos referimos a modalidades enquanto sistemas de representação121 disponíveis numa cultura, com suas respectivas gramáticas e possibilidades expressivas. Multimodalidade, portanto, seria a integração entre duas ou mais modalidades para a expressão de discursos122 em um contexto cultural qualquer. Em situações concretas de uso de textos de qualquer tipo, vamos notar que os interlocutores normalmente lançam mão de combinações de modalidades para produzir mensagens menos ambíguas e mais contundentes. Por exemplo, ao falar com alguém face a face, utilizamos expressões faciais, gestos e posicionamentos corporais, juntamente com nossos enunciados verbais123. Assim também, quando escrevemos para alguém, utilizamos a organização visual da página para formatar nossas ideias e conduzir, até onde é possível, o percurso do olhar de nosso leitor. Finalmente, quando observamos uma foto de jornal ou assistimos a uma reportagem de telejornal, tendemos a compreender o que está representado visualmente com a ajuda das palavras que precedem ou estão integradas com a imagem (manchetes, legendas, balões de diálogos, créditos etc.). Além de dificilmente isoláveis umas das outras nas práticas comunicativas reais, as modalidades também não são plenamente comensuráveis entre si, isto é, há significados possíveis em cada uma delas que são impossíveis de reproduzir nas outras. Assim sendo, cada modalidade apresenta diferentes propiciações124 que tornam a tarefa de produzir certos tipos de significado, e não outros, mais fácil ou mais difícil (veja um exemplo125). É por isso que, nas esferas de atividade discursiva em que significados mais precisos, mais complexos e mais sofisticados são valorizados (como na Ciência e na Arte), os textos que ali circulam tendem a ser assumidamente multimodais126.
119 Disciplina que se ocupa do estudo dos signos e de sua organização em diferentes sistemas de representação. 120 Visual, verbal ou tátil, por exemplo. 121 Por exemplo, a fala, a escrita, a música, os gestos, a simbologia das cores e assim por diante. 122 No âmbito dessa discussão sobre multimodalidade, vamos entender como "discursos" os "diferentes saberes sobre o
mundo que são invocados na produção e interpretação dos significados textuais, conferindo-lhes certos sentidos e excluindo outros." (KRESS; Van LEEUWEN, 2000, p. 25)
123 Como você viu na apresentação sobre o internetês, essa dimensão visual da fala pode ser recuperada na CMC por meio de diferentes estratégias envolvendo os símbolos disponíveis no teclado do computador.
124 Retomando o que já foi explicado no tópico 1 deste Tema 2, "propiciação", ou seja, ação para tornar algo propício, é o termo que os autores que estudam os novos letramentos têm utilizado para traduzir o conceito de "affordance", advindo da psicologia e da teoria do design. A palavra designa as possibilidades de ação ofertadas a alguém por um objeto, material, ou artefato em um determinado ambiente.
125 Fonte: http://www.relevobr.cnpm.embrapa.br/conteudo/aplicacoes/temperatura.htm, acesso em 22/12/2010. 126 "Assumidamente" no sentido de que, como já dito, todo texto (por exemplo, um bilhete, um recado na caixa postal,
uma prova escolar e assim por diante) é "naturalmente" multimodal, sendo que essa multimodalidade constitutiva é, normalmente, desprezada em favor de nosso foco analítico na modalidade verbal.
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Colocando os conhecimentos em jogo 3 ________________________________________________________________________________________ Uma pergunta que podemos nos fazer, então, é: como o leitor/espectador consegue lidar com a complexidade e multiplicidade dos sentidos nos textos multimodais, ainda mais agora que o computador tornou a produção e distribuição de textos que combinam a língua (oral e/ou escrita), imagens, sons, movimentos, música e efeitos especiais tão mais facilmente? Antes de vermos como os semioticistas respondem a essa pergunta, veja se gosta dessa sugestão de atividade127 para trabalhar com a questão da multimodalidade em sala de aula, com seus alunos.
Para disciplinar, reduzindo ao que é cognitivamente possível para o ser humano, a enorme quantidade de significados potenciais disponíveis nos textos multimodais128, cada cultura lança mão de determinadas convenções formais e interpretativas, que conferem aos textos multimodais uma certa previsibilidade. Outra forma de dizer o mesmo é que conseguimos "navegar" de maneira produtiva por arranjos multimodais complexos porque nossa cultura monta esses arranjos por meio de gêneros multimodais. Assim, quando lemos um jornal (texto + fotos), assistimos a um filme (imagens + fala + legendas + música) ou jogamos videogame de aventura (imagem + fala + escrita + gestos + música + movimentos corpóreos), recorremos a certos padrões que os autores/designers desses textos utilizam conscientemente e que nós reconhecemos, mesmo que inconscientemente, por força da experiência adquirida em práticas sociais em que esses textos são utilizados competentemente.
Os gêneros multimodais estabelecem, portanto, funções específicas para os elementos oriundos de cada modalidade, os quais se coagenciam funcionalmente. Por exemplo, fotos jornalísticas vêm sempre acompanhadas de legendas que estabelecem para o leitor o nível ótimo de interpretação denotativa daquela imagem (ou seja, têm uma função referencial129, que os semioticistas chamam de ancoragem). No cinema, a música serve não apenas para dramatizar o conteúdo visual, mas também para indicar a quem assiste ao filme que duas ou mais cenas fazem parte de uma mesma sequência ou subunidade composicional do filme (ou seja, a música tem uma função organizacional ligada à coesão do filme). Num debate face-‐a-‐face entre várias pessoas, a direção dos olhares estabelece e interrompe o contato entre os interlocutores e nos diz quem está sendo chamado a intervir ou reagir a cada fala (isto é, o olhar tem uma função fática e conativa).
127Fonte:https://autoria.ggte.unicamp.br/tinymce/plugins/filemanager/files/lingua_portuguesa/modulo_03/multiletramento
s_linguagens_midias/Explorando_relacoes_entre_modalidades.pdf, acesso em 17/01/2011. 128 O conceito de texto, nesse caso, incide tanto sobre textos verbais escritos quanto sobre textos no sentido extensivo a
outras semioses. Assim, textos multimodais podem pertencer a diferentes gêneros e circular em mídias diferentes, ou seja, podem ser IMPRESSOS/QUIROGRÁFICOS (por exemplo, histórias em quadrinhos, reportagens de jornal e anúncios publicitários), ORAIS (tais como seminários escolares, jograis ou um debates face-a-face), AUDIOVISUAIS (como por exemplo, novela televisiva, filme de aventura, videodocumentário) e, finalmente, DIGITAIS (tais como blogs pessoais reflexivos, apresentações de slides digitais ou formulários de busca na web), ENTRE OUTROS.
129 Fonte: http://www.brasilescola.com/redacao/as-funcoes-linguagem.htm, acesso em 17/01/2011.
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Colocando os conhecimentos em jogo 4 ________________________________________________________________________________________ Tudo o que se disse sobre multimodalidade em "Colocando os conhecimentos em jogo 4" continua valendo para o digital, mas a coisa não para por aí porque, no meio digital, a multimodalidade alia-‐se à interatividade e à hipertextualidade, sobre as quais já falamos. A essa reunião damos o nome de hipermodalidade130 e dizemos que, assim como a hipertextualidade está para o hipertexto, a hipermodalidade está para a hipermídia131. A hipermídia, como o prefixo "hiper-‐" já diz, não é "mais uma mídia", apenas. Ela pode vir a conter e combinar conteúdos oriundos de quaisquer mídias (veja um exemplo aqui132), desde que devidamente digitalizados133 (veja como é feito134). Além disso, a hipermídia facilita a mistura de gêneros multimodais entre si, como é o caso do videogame, que, em parte, aproveita convenções do cinema (digital), ou de músicas de gêneros diferentes, que aproveitam a portabilidade dos arquivos digitais de música para combiná-‐los fazendo remixes e mash ups (falaremos mais disso em "Colocando os conhecimentos em jogo 5").
135 Na verdade, como todos esses conteúdos midiáticos, quando digitalizados, são traduzidos para a mesma linguagem binária136, abrem-‐se aí inúmeras possibilidades de combinar conteúdos antes mais isolados entre si em composições ou sequências hipermodais. Isso acontece, na verdade, sempre que acionamos links que nos levam de um site a outro, ou quando acionamos um motor de buscas diversas vezes em sequida. Como acontece sempre, com qualquer gênero discursivo em qualquer cultura, aos poucos, essas possibilidades de combinação, intercalação ou sequenciamento vão se estabilizando na forma de outros gêneros, ou caindo em desuso, absorvidos por outros gêneros. É isso que estamos presenciando, com grande velocidade, nos gêneros digitais (hipermodais).
130 Conforme LEMKE, J. L. Travels in hypermodality. Visual Communication, 1(3): 299-325, 2002. 131 O conceito de "hipermídia" é muito próximo do de hipertexto, ou seja "um modo não-linear (ou multilinear) de
apresentar e consultar documentos eletrônicos, NOS QUAIS DIVERSAS MÍDIAS (texto, áudio, vídeo) ESTÃO INTEGRADAS POR MEIO DE SOFTWARE, vinculados entre si meio de hiperlinks (ligações eletrônicas) de modo a que tais (hiper)documentos (ou partes deles) passem a funcionar como nós de uma rede associativa, atualizável por diferentes percursos de leitura".
132 Fonte: http://www.youtube.com/watch?v=Y54ABqSOScQ, acesso em 13/02/2012. 133 Digitalizar alguma coisa é o mesmo que convertê-la em um conjunto de elementos discretos que podem ser
representados de forma binária (ou seja, na forma dos números 0 e 1, que representam "ligar" e "desligar") de modo que esse conteúdo (imagem, texto, vídeo, áudio etc.) possa ser armazenado, tratado e transmitido via computador.
134 Fonte: http://www.youtube.com/watch?v=R_PAONWmKpA&NR=1, acesso em 17/01/2011. 135 Fonte: http://www.youtube.com/watch?v=Y54ABqSOScQ, acesso em 13/02/2012. 136 Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/C%C3%B3digo_de_m%C3%A1quina, acesso em 17/01/2011.
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Colocando os conhecimentos em jogo 5 ________________________________________________________________________________________ A primeira coisa que precisamos ter em mente quando falamos em gêneros digitais (hipermodais) é que os textos a eles pertencentes circulam por diversos espaços sociais e aparelhos digitais e não apenas no computador (veja o exemplo137 das "retrospectivas digitais"). Além disso, temos sempre que levar em conta os "dois lados da moeda" desses gêneros: de um lado da moeda, temos às escritas técnicas e linguagens matemáticas que fazem o computador funcionar138; do outro lado, eles representam modos de fazer e de pensar que vão muito além do que ocorre na tela139. Gêneros digitais (hipermodais) costumam ser chamados de "novos gêneros", relacionados a "novos letramentos". Mas muitos deles não são "efetivamente novos", porque, apesar de usarem as linguagens de computador, o outro lado da moeda continua o mesmo!140 Vamos guardar o "novo" para os gêneros que promovem diferenças qualitativamente significativas na relação dos leitores/produtores com os textos e com as mídias, e que estruturem formas efetivamente novas de pensar e de fazer coisas socialmente relevantes com e nos textos. Não se trata, portanto, de saber ou não usar o computador, ou dominar ou não os gêneros digitais, mas de integrar as novas possibilidades técnicas que o digital nos traz a uma nova mentalidade, uma "mentalidade digital" que, se a escola conseguir compreender e direcionar produtivamente, poderá fazer toda a diferença na vida pessoal e social dos nossos alunos. Veja no quadro abaixo um sumário dessas diferenças de mentalidade.
137 Se você esteve recentemente em uma festa de aniversário, casamento ou formatura, oferecida em um buffet, ou outro
local onde um projetor multimídia e um sistema de som estão disponíveis, provavelmente assistiu a uma retrospectiva digital. Trata-se de uma apresentação de slides com fundo musical, e opcionalmente narração e/ou legendagem, que contém fotos do(s) homenageado(s) organizadas em seqüência cronológica, e destacando momentos especiais de sua(s) vida(s). Em geral, esses textos multimodais são produzidos pelos próprios anfitriões, ou por amigos, em seus computadores, ou mesmo por encomenda ao buffet.
138 A todo texto, de qualquer natureza, que aparece na tela do computador, corresponde um "código fonte", escrito por algum programador, ou mesmo por um programa secundário, sem o qual o primeiro texto não funcionaria. Embora a maioria de nós não saiba, precise, ou deseje, conhecer o funcionamento desse "código fonte", todos sabem que é ele que faz a "mágica" acontecer. Por trás desse código, no entanto, há alguém, um designer, um programador, um engenheiro, que antecipou e tentou resolver todos os problemas e desejos relacionados à nossa relação com aquele texto. Nesse sentido, o codigo fonte é tão parte do gênero quanto o texto que aparece na tela e o designer, programador ou engenheiro é um interlocutor tão real quanto o autor ou leitor do texto na tela, um interlocutor com o qual podemos conviver em harmonia ou em conflito. É importante lembrar sempre disso porque os computadores, por si sós, assim como a linguagem, nada podem, em si, contra ou a favor de seus usuários.
139 "Modos de fazer digitais" podem ser pensados como modos de fazer que não envolvem o computador, mas contam com a possibilidade de usá-lo em algum ponto do percurso. Por exemplo, quando, sabendo que o professor pode nos mandar os slides eletrônicos que utilizou em sala, por e-mail, depois da aula, nos permitimos participar mais ativamente das discussões em torno do tema da aula, sem nos preocuparmos tanto em "copiar a matéria", estamos de certa forma acionando um modo de fazer "digital". Quando nossos(as) alunos(as) adolescentes passam um bilhetinho com o seu "user" no MSN para um(a) paquera numa festa e vão-se embora, cada um para um lado, sem conversar naquele momento, podemos dizer que acontece o mesmo: mais tarde, longe do olhar de pais e amigos e com a "segurança" de poder falar de si "por escrito" no MSN, é que a paquera pode de fato prosperar.
140 Pense, por exemplo, numa declaração de imposto de renda feita no computador, ou num comercial de televisão que passa em um painel digital, onde antes havia um outdoor.
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(Clique na imagem para ampliá-‐la141)
141 Adaptado de: KNOBEL, M.;LANKSHEAR, C. Sampling “the new” in new literacies. In: ______ (Org). A new
literacies sampler. New York: Peter Lang, 2007. Pp. 1-24, nossa tradução.
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Finalizando... ________________________________________________________________________________________ Neste tópico 2, vimos como três propriedades fundamentais do meio digital, a interatividade, a hipertextualidade e a multimodalidade (hipermodalidade) estão postas em relação direta com novas atitudes perante o texto e linguagem e com novas maneiras de fazer as coisas no âmbito da cultura digital. Vimos, inicialmente, que a interatividade se estabelece tanto na relação entre o homem e as máquinas (midiáticas), como na relação entre os participantes e conteúdos de um evento ou de uma prática comunicativa, sendo, por isso mesmo, mais interessante pensarmos em graus de interatividade do que rotular máquinas ou situações como inerentemente interativas. Relacionamos, em seguida, a interatividade com a hipertextualidade, procurando ressaltar as maneiras como o(s) hipertexto(s) borra(m) a linha de fronteira que dividia os papéis de autor e de leitor no caso dos textos impressos, sem que isso signifique, necessariamente, que o leitor de hipertextos é automaticamente mais livre, ou que o autor seja necessariamente mais impotente para controlar percursos e sentidos da leitura. Finalmente, definimos multimodalidade como a integração entre duas ou mais modalidades de linguagem em um mesmo objeto textual para a expressão material de discursos e vimos que o meio digital é especialmente propício à produção e circulação de textos multimodais que, nesse caso, serão melhor descritos como hipermodais. No próximo tópico, vamos ver como esses princípios mais gerais do meio digital se manifestam concretamente, nas situações sociais mediadas por textos, a partir do conceito de "gêneros digitais", não sem, antes, tomarmos o cuidado de discernir ferramentas e serviços de Internet de gêneros (discursivos) digitais propriamente ditos.
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Tópico 3 -‐ Gêneros digitais
Ponto de Partida ________________________________________________________________________________________ Se é verdade que o meio digital chegou para viabilizar certas maneiras "novas" de pensar e de fazer, também é certo instalar computadores numa comunidade ou instituição de ensino não significa que haverá, automaticamente, a adoção dos modos de fazer e de pensar que são típicos da cultura142 digital, com sua linguagem143. O vídeo abaixo, produzido por alunos de uma universidade mineira, tenta traduzir essa ideia. Assista-‐o e reflita sobre a seguinte questão: você concorda com a ideia de que o problema é de natureza metodológica? Se não é, de que natureza seria? Você talvez tenha concluído que o problema está além das metodologias, ou seja, está relacionado ao plano mais amplo e abstrato da cultura. Em outras palavras, deve estar havendo, nesses casos, uma incompatibilidade entre a cultura escolar145 e a cultura digital146. Como todas as culturas se organizam por meio de gêneros discursivos e, como já sabemos muito sobre os gêneros escolares, vale a pena também entender as especificidades dos gêneros digitais. ___________________________________________________________________________________
142 O conceito de cultura é bastante complexo e multifacetado, mas, para nosso propósito, é suficiente pensarmos em
cultura como a rede de significados compartilhados por um grupo social e que dão um sentido particular ao mundo que o cerca, diferente daquele partilhado por outros grupos sociais em outros tempos e lugares.
143 Recordando: a linguagem digital é marcada fortemente pelos princípios da hipertextualidade, multimodalidade e interatividade.
144 Fonte: http://www.youtube.com/watch?v=IJY-NIhdw_4&feature=player_embedded, acesso em 17/01/2011. 145 Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Cultura_escolar, acesso em 17/01/2011. 146 Fonte: http://culturadigital.br/o-programa/conceito-de-cultura-digital/, acesso em 17/01/2011.
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Mãos à obra ________________________________________________________________________________________ Antes de falarmos sobre os gêneros digitais propriamente ditos, precisamos estabelecer a diferença entre gênero digital, programa de computador e serviço de internet. Vamos começar a fazer isso a partir dos exemplos concretos que você vai encontrar neste exercício comparativo147. Examine os exemplos cuidadosamente e preencha as lacunas restantes no "quadro comparativo", no final do documento. Ao final, salve o documento e guarde-‐o em seu computador ou portfólio do TelEduc. Ele será útil mais adiante, quando você for realizar a Atividade Autocorrigível 3. ________________________________________________________________________________________
147Fonte:https://autoria.ggte.unicamp.br/tinymce/plugins/filemanager/files/lingua_portuguesa/modulo_03/multiletramento
s_linguagens_midias/ExercicioComparativo.pdf, acesso em 17/01/2011.
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Colocando os conhecimentos em jogo 1 ________________________________________________________________________________________
Quando citamos o nome de um gêneros discursivo, muitas vezes já estamos definindo também o seu suporte, além do meio ou serviço associados ao mesmo nome. Por exemplo, falar em carta pessoal, que é um dos gêneros epistolares148, implica falar de um documento impresso (ou manuscrito) sobre o papel que será entregue pelo serviço postal. Por isso mesmo, às vezes tomamos a liberdade de dizer que documentos pertencentes a outros gêneros, como um formulário ou uma guia de recolhimento de imposto, "chegou por carta". No caso dos gêneros digitais, precisamos, igualmente, saber separar o gênero propriamente dito do programa de computador149 e do serviço de internet150 de que o gênero precisa para circular.
A Internet é, antes de mais nada, um conjunto de serviços prestados por redes de computadores especializados, chamados servidores151. Dentre os serviços oferecidos aos seus usuários estão páginas web152, correio eletrônico153, transferência de arquivos (download154 e upload155), acesso remoto156, mensagens instantâneas157, compartilhamento de arquivos158, entre outros. Assim, quando falamos em e-mail, chat e blog, de forma genérica, a princípio estamos definindo apenas um serviço de Internet que viabiliza a circulação de diversos gêneros. Assim, no caso do exercício de comparação159 proposto a você em 'Mãos à obra', temos um mesmo serviço de Internet chamado e-mail dando circulação a dois gêneros discursivos distintos: o exemplo 1 é um e-mail pessoal e o exemplo 2 é um email comercial. Já o serviço chat é utilizado, no exemplo 1, pelo gênero chat de atendimento ao consumidor. Apesar de usarem o mesmo serviço, é fácil notar que esse tipo de chat é muito diferente de um bate-papo na web, que é o gênero que aparece no exemplo 2. ________________________________________________________________________________________
148 Uma "família" de gêneros que inclui o bllhete, a carta pessoal, a carta do leitor, a carta de demissão, entre muitos
outros. 149 Um programa de computador (software) é uma sequência de instruções a serem seguidas e/ou executadas, na
manipulação, redirecionamento ou modificação de informações ou "acontecimentos" pelo computador. 150 Um serviço é um trabalho provido por um computador para pessoas ou para outros computadores por meio de um ou
mais programas. 151 Servidores são computadores dedicados a prestar serviços a outros computadores, tanto localmente, quando
remotamente. 152Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/P%C3%A1gina_web, acesso em 17/01/2011. 153Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Correio_eletr%C3%B4nico, acesso em 17/01/2011. 154Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Download, acesso em 17/01/2011. 155Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Upload, acesso em 17/01/2011. 156Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Internet#Acesso_remoto, acesso em 17/01/2011. 157Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Mensagens_instant%C3%A2neas, acesso em 17/01/2011. 158Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Compartilhamento_de_arquivos, acesso em 17/01/2011. 159Fonte:https://autoria.ggte.unicamp.br/tinymce/plugins/filemanager/files/lingua_portuguesa/modulo_03/multiletramento
s_linguagens_midias/ExercicioComparativo.pdf, acesso em 17/01/2011.
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Colocando os conhecimentos em jogo 2 ________________________________________________________________________________________ Normalmente, os serviços e programas são criados a partir de nosso desejo ou necessidade de realizar algum tipo de atividade social mediada por textos e com base em gêneros já existentes para essa finalidade. O e-‐mail, por exemplo, parece ter sido um serviço pensado em cima do memorando, do telegrama e do bilhete. O chat, por sua vez, teria sido pensado a partir do diálogo quotidiano face a face. Porém, uma vez que esses serviços são disponibilizados para o público em geral, uma série de outros gêneros, que cumpram finalidades diferentes e estabeleçam posicionamentos diferentes para os interlocutores, podem vir a se apoiar no mesmo serviço. É o que fica muito claro no caso dos blogs160. No começo, blogs eram chamados web logs (diários de registro na web) e apoiavam-‐se no serviço página da web. O autor de um web log era, tipicamente, um internauta com bons conhecimentos sobre construção e atualização de websites161 e que gostava de compartilhar suas experiências de navegação na web com outros internautas. Muitas vezes, essa pessoa recebia, via e-‐mail, comentários de leitores e os republicava junto aos posts162. Ao longo desse processo, os relatos de visitas (pertinentes a um gênero discursivo específico) foram complementados ou substituídos por uma infinidade de outros gêneros presentes nos diferentes tipos de blogs existentes163 hoje, entre os quais estão o blog grupal auto-‐reflexivo e o blog jornalístico individual, (respectivamente, o Blog: exemplo 1 e o Blog: exemplo 2 do exercício comparativo164 que você realizou em "Mãos à obra"). ________________________________________________________________________________________
160Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Blog, acesso em 17/01/2011. 161Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Websites, acesso em 17/01/2011. 162Fonte: Posts (do inglês "post", que significa postar ou publicar uma mensagem) são entradas de texto organizadas em
ordem cronológica dentro de um blog. Hoje em dia posts tanto podem ser escritos (digitados) como gerados a partir de links diretos para arquivos de vídeo, áudio e imagens disponíveis em outros sites da web.
163Fonte:https://autoria.ggte.unicamp.br/tinymce/plugins/imagemanager/files/lingua_portuguesa/modulo_03/multiletramentos_linguagens_midias/LP_T2_TP3_P04-01.jpg, acesso em 17/01/2011.
164Fonte:https://autoria.ggte.unicamp.br/tinymce/plugins/filemanager/files/lingua_portuguesa/modulo_03/multiletramentos_linguagens_midias/ExercicioComparativo.pdf, acesso em 17/01/2011.
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Atividade autocorrigível 3 ________________________________________________________________________________________ Você deve ter guardado em seu computador ou portfólio o arquivo relativo ao exercício comparativo165 proposto em 'Mãos à obra'. Se ainda não teve tempo de fazer o exercício, agora seria uma boa hora para fazê-‐lo, pois vamos precisar de suas respostas para a Atividade Autocorrigível que se segue. Atividade Autocorrigível 3 Primeiramente, coteje o seu quadro comparativo com este quadro comparativo com respostas sugeridas166 pelos autores da disciplina e veja onde há concordâncias e discordâncias. Como se trata apenas de uma sugestão, não há problema algum se suas respostas e as do quadro sugerido não coincidirem totalmente. Agora responda: Com base nos dados reunidos no quadro comparativo, qual das afirmações abaixo você considera correta? (1)167 Como é um gênero restrito à esfera do entretenimento, o chat não tem valor educacional. (2)168 Nos gêneros blog jornalístico e blog grupal autorreflexivo, o conteúdo temático, o estilo e a forma composicional são muito parecidos. (3)169 Emails comerciais e pessoais tendem a preservar alguns traços dos gêneros epistolares tradicionais como, por exemplo, uma saudação inicial, uma saudação final, o registro de uma data e hiperlinks. (4)170 Nos gêneros digitais, assim como nos gêneros impressos, o estilo empregado está relacionado ao status social dos interlocutores e ao tipo de relação estabelecida entre eles, independentemente do serviço utilizado ser síncrono (como o chat) ou assíncrono (como o email e os blogs). (5)171 Todas as anteriores são incorretas.
165Fonte:https://autoria.ggte.unicamp.br/tinymce/plugins/filemanager/files/lingua_portuguesa/modulo_03/multiletramento
s_linguagens_midias/ExercicioComparativo.pdf, acesso em 17/01/2011. 166Fonte:https://autoria.ggte.unicamp.br/tinymce/plugins/imagemanager/files/lingua_portuguesa/modulo_03/multiletrame
ntos_linguagens_midias/LP_T2_TP3_P05-01.jpg, acesso em 17/01/2011. 167 Afirmação incorreta. Primeiramente, porque "chat", apenas, não define um gênero discursivo. Em segundo lugar,
porque chats são utilizados em diversas esferas, inclusive na educacional. Finalmente, o fato de que um gênero seja ligado à esfera do entretenimento não significa necessariamente que não tenha valor educacional (como ficariam, nesse caso, o cinema, a música e o esporte, por exemplo?)
168 Afirmação incorreta. Embora ambos os gêneros sejam organizados na forma de posts e comentários organizados cronologicamente, o conteúdo temático e o estilo vão variar consideravelmente, em função da esfera em que o gênero circula e das relações estabelecidas entre os interlocutores, como mostram os exemplos de blogs utilizados no exercício comparativo
169 Afirmação incorreta, pois nos gêneros impressos não há hiperlinks no sentido estrito da palavra, embora possa haver nesses gêneros, como em todos os tipos de textos, referências ou remissões a outros textos na forma de citações ou notas de rodapé, por exemplo.
170 Afirmação correta! Ainda que possa haver maior tolerância entre os interlocutores para deslizes ortográficos nos gêneros síncronos, os graus de formalidade e impessoalidade não são afetados pelo fato de o gênero ser digital ou não-digital. Basta comparar os dois tipos de email e os dos chats mostrados no exercício para comprovar isso.
171 Afirmação incorreta, pois uma das anteriores é correta. Tente descobrir qual é.
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Colocando os conhecimentos em jogo 3 ________________________________________________________________________________________ Tendo esclarecido que o nome de um serviço de Internet não é suficiente para definir um gênero digital e notado que os gêneros digitais, como todos os gêneros, aproveitam, recombinam e por vezes subvertem gêneros anteriores com os quais compartilham alguns traços, podemos agora pensar em como e por que trabalhar com gêneros digitais na escola. Primeiro o porquê. Gêneros digitais são ferramentas semióticas e cognitivas que permitem às pessoas engajarem-‐se ativamente na cultura digital. Se a escola não se ocupar desses gêneros, mesmo à custa de algum atrito entre a cultura digital e a cultura escolar, quem mais garantirá que os novos modos de pensar e de fazer que vêm atrelados a essa cultura possam ser utilizados a favor do crescimento pessoal do aluno e em benefício da comunidade em que a escola está? Qualquer lanhouse pode ensinar uma criança a usar um computador, bem ou mal, para ser um consumidor. Mas só a escola, juntamente com a família, podem ensinar como usar o computador para ser um cidadão! (Veja um exemplo de um jovem carioca, clicando aqui!172) Outra maneira de dizer o mesmo: o aluno poderia aprender em uma lanhouse, ou mesmo em casa, a usar serviços de internet, assim como uma pessoa qualquer pode aprender a parte mecânica da escrita também fora da escola. Cabe à escola, por outro lado, encontrar maneiras de abordar os gêneros digitais como gêneros discursivos plenos e não apenas como programas ou serviços de Internet para transmitir ou fixar de conteúdos! Para estruturar este trabalho pedagógico em torno dos gêneros digitais, é necessária uma concepção adequada de gênero discursivo. Talvez a proposta por Mikhail Bakhtin173, qual seja, gêneros como tipos relativamente estáveis de enunciados174 vinculados historicamente a esferas específicas de atividade social e que mantêm relação direta com o funcionamento do poder nessas esferas, seja a mais indicada, embora não necessariamente a única. Seria indicada porque implica, antes de tudo, que os gêneros digitais não podem ser vistos fora das esferas e situações concretas de produção dos enunciados, ou seja, que não se pode abordar gêneros digitais como se fossem receitas formais ou conteúdos descritivos, mas levando os alunos a userem-‐nos em situações concretas de enunciação. Um cuidado aí pressuposto, porém, é o de não tratar o meio digital (a Internet) como esfera em si mesmo(a), mas justamente como meio (ou conjunto de serviços) do qual muitas esferas, inclusive a educacional, lançam mão, por diversas razões, gerando ainda outros gêneros. Veja uma sugestão de atividade que pode ser um exemplo simples de fazer isso. ________________________________________________________________________________________
172 Fonte: http://oglobo.globo.com/rio/rene-silva-jovem-do-morador-do-morro-do-adeus-twittou-em-tempo-real-invasao-
da-policia-ao-2918816, acesso em 14/02/2012. 173 Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Bakhtin, acesso em 17/01/2011. 174 Vale a pena lembrar que o conceito bakhtiniano de enunciado engloba tanto textos curtos, do tamanho de uma só
palavra, até textos enormes, como um romance ou mesmo a obra completa de um escritor.
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Finalizando ________________________________________________________________________________________ No tema "A linguagem nos/dos novos meios", procuramos estabelecer o conceito de comunicação mediada por computador (CMC) e explorar algumas formas de classificar as diversas ferramentas, programas e serviços nela envolvidos, para entender o modo como a linguagem escrita, em contato com as propiciações e com as restrições da CMC, sofre variações e especializações sistemáticas, cujo significado ideológico está em disputa na sociedade e na escola. Procuramos compreender como isto se dá, mais especificamente, no caso do internetês, uma grafia alternativa do português (com correspondentes em muitas outras línguas) que tem gerado polêmica e, portanto, que oportuniza a busca de esclarecimentos sobre a relação entre linguagem e (novas) tecnologias nas práticas socioculturais, inclusive em sala de aula. Em seguida, buscamos destrinchar o meio digital do ponto de vista de certas características típicas suas, a saber, a interatividade, a hipertextualidade e a multimodalidade (também a hipermodalidade), tentando entender como tais características repercutem na relação que os usuários do meio digital, conectados entre si por meio de redes telemáticas, estabelecem com os textos e com os contextos, relação essa que está implicada nas suas atitudes perante a linguagem escrita e perante às outras modalidades. Concluímos que essas propriedades dão oportunidade à manifestação de gêneros digitais que possibilitam a lida com a complexidade inerente à hipermodalidade e servem de instrumento aos modos de pensar e de fazer da cultura digital. Finalmente, procuramos tratar das especificidades dos gêneros digitais que circulam em diferentes esferas de atividade social, tomando o cuidado de distinguir gêneros digitais de programas e serviços de internet, assim como de distinguir esferas de atividade sociodiscursiva de meios que servem a várias esferas, como é o caso do meio digital. Com isso, abrimos caminho para a discussão, a ser aprofundada no terceiro tema da disciplina, sobre como tratar os gêneros digitais e os letramentos digitais na escola. ________________________________________________________________________________________
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Ampliando o conhecimento 1 ________________________________________________________________________________________ Textos disponíveis em formato digital que complementam e expandem o conteúdo do Tema 2: Acompanhe o debate sobre a legitimidade do internetês, envolvendo os próprios usuários dos espaços virtuais neste artigo do professor Júlio César Araújo175 para a revista Vida e Educação. Saiba mais sobre o conceito de interatividade no âmbito da sala de aula e sobre o conceito de "docência interativa" neste artigo do professor Marco Silva176 para a Revista Diálogo Educacional. Para ir mais fundo no conceito de hipertexto, aproveite este trabalho da pesquisadora Ana Elisa Ribeiro177 que resume e sistematiza as idéias centrais de quatro importantes autores europeus e norte-‐americanos sobre o tema: Pierre Lévy, Roger Chartier, Jay D. Bolter e George Landow. Confira, no Manual de Netiqueta178, elaborado pela analista de sistemas do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) da Universidade de São Paulo (USP), Maria Alice de Castro, as regras de boa convivência entre os internautas que vem sendo estabelecidas nos espaços públicos de CMC (comunicação mediada por computador), também chamadas de netiqueta. Na Coleção EducaRede: Internet na Escola179, com cinco volumes que podem ser baixados gratuitamente da Internet, mediante cadastro simples, uma grande quantidade de retRatos de experiências concretas e entrevistas com educadores e especialistas de todo o Brasil sobre suas experiências com Internet na escola. ________________________________________________________________________________________
175Fonte: http://julioaraujo.web155.f1.k8.com.br/download/artigo12.pdf, acesso em 17/01/2011. 176 Fonte: http://www.redalyc.org/redalyc/pdf/1891/189117821008.pdf, acesso em 17/01/2011. 177Fonte: http://www.ufpe.br/nehte/artigos/Leituras sobre hipertexto.pdf, acesso em 17/01/2011. 178Fonte: http://www.icmc.usp.br/manuals/BigDummy/netiqueta.html, acesso em 17/01/2011. 179Fonte:http://www.educarede.org.br/educa/index.cfm?pg=revista_educarede.educarede_por_ai_principal&id_porai=55,
acesso em 17/01/2011.
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Ampliando o conhecimento 2 ________________________________________________________________________________________ Para saber um pouco mais sobre o lado técnico da Internet e da CMC, você pode consultar os verbetes sobre informática do site Como Tudo Funciona180. Lá você encontrará, por exemplo, vídeos sobre como funcionam os vírus de computador181 e os programas espiões182 (spyware) para aprender a evitá-‐los. Poderá também entender melhor o funcionamento dos motores de busca183 tais como o popular Google. As pessoas que fizeram (e fazem) acontecer o que chamamos de Internet também merecem sua atenção. Leia sobre Vannevar Bush184 e seu Memex, neste fragmento da Tese de Doutorado de Maria Helena Pereira Dias; ouça Tim Berners-‐Lee, principal idealizador da WWW, explicar o conceito de Web Semântica neste vídeo185 do YouTube; saiba o que pensa Theodore Nelson, considerado o pai do conceito de hipertexto na informática, nessa entrevista186 concedida à revista Veja; e, por fim, acompanhe a conversa entre Pierre Lévy, filósofo que cunhou o termo "cibercultura"187, e o jornalista Florestan Fernandes Jr (1ª parte188, 2ª parte189, 3ª parte190, 4ª parte191). Para finalizar, amplie seu conhecimento sobre o tema das redes sociais. Você pode conhecer um pouco da história da rede social Facebook, a mais importante do momento na Internet, assistindo ao filme A rede social, dirigido por David Fincher (veja o trailer, a ficha técnica192 e críticas193). Muito se tem falado sobre a relação entre redes sociais e as novas formas de mobilização política que vêm sendo observadas em casos como o do fim do governo Mubarak, no Egito. Ouça, nesse podcast194 da Rádio Folha, a opinião de um especialista sobre o assunto. Aproveite o embalo e acesse o texto Apontamentos para uma análise do poder em práticas discursivas e não-‐discursivas na Web 2.0195, resultado de uma pesquisa realizada por um dos autores deste módulo, em parceria com uma colega, para uma visão mais geral sobre a relação entre a Web 2.0 e o funcionamento do poder.
180Fonte: http://www.hsw.uol.com.br/, acesso em 17/02/2011. 181Fonte: http://informatica.hsw.uol.com.br/virus.htm, acesso em 17/02/2011. 182Fonte: http://videos.hsw.uol.com.br/spyware-programas-espioes-1-video.htm, acesso em 17/02/2011. 183Fonte: http://videos.hsw.uol.com.br/mecanismos-de-busca-da-internet-1-video.htm, acesso em 17/02/2011. 184Fonte: http://www.unicamp.br/%7Ehans/mh/memex.html, acesso em 17/02/2011. 185Fonte:http://www.youtube.com/watch?v=Ic3DZF3VuHo&playnext=1&list=PL6744636696460651, acesso em
17/02/2011. 186Fonte: http://veja.abril.com.br/especiais/natal_digital_2005/p_048.html, acesso em 17/02/2011. 187Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Cibercultura, acesso em 17/02/2011. 188Fonte: http://www.youtube.com/watch?v=i5Ko5gGPF4w&feature=related, acesso em 17/02/2011. 189Fonte: http://www.youtube.com/watch?v=QIo2QlQMN5k&feature=related, acesso em 17/02/2011. 190Fonte: http://www.youtube.com/watch?v=cd0QbWBJwHU&feature=related, acesso em 17/02/2011. 191Fonte: http://www.youtube.com/watch?v=9rxl75PcpaA&feature=related, acesso em 17/02/2011. 192Fonte: http://hotsites.sonypictures.com.br/Sony/HotSites/Br/aredesocial/, acesso em 14/02/2012. 193Fonte:http://g1.globo.com/pop-arte/noticia/2010/11/o-g1-ja-viu-filme-rede-social-traca-retrato-critico-da-juventude-
20.html, acesso em 14/02/2012. 194Fonte:http://www1.folha.uol.com.br/multimidia/podcasts/876028-alec-duarte-rede-social-nao-depoe-ditador-mas-
ajuda-processo.shtml, acesso em 17/02/2011. 195Fonte: http://www.celsul.org.br/Encontros/09/artigos/Marcelo%20Buzato.pdf, acesso em 17/02/2011.
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Tema: 3. Novos letramentos no contexto escolar Tópico 1 -‐ Letramentos digitais: conceito, escopo e diversidade
Ponto de partida ________________________________________________________________________________________ Uma das razões pelas quais as sociedades ocidentais modernas valorizam tanto o aprendizado da leitura e da escrita é porque ler e escrever são atividades consideradas essenciais para a participação cidadã dos indivíduos, tanto nos contextos locais em que vivem (a escola, o bairro, a cidade) quanto em contextos mais amplos (o país, as relações entre os países no âmbito da mundialização da cultura e da economia). Com isso em mente, assista ao vídeo Imagine This196, produzido pelo vídeo-‐artista norte-‐americano John Callaghan (cujo nome artístico é Cal-‐Tv), a partir da canção "Imagine", de John Lennon197, cuja tradução você pode ler198 ou ouvir199 previamente.
200 Gostou do que viu? O que você destacaria neste "texto"201 como interessante em comparação com os demais textos sobre o mesmo tema que circularam nos jornais, rádio, televisão, e mesmo na Internet à época? ________________________________________________________________________________________
196Fonte: Cal-Tv. "Imagine This", Redux - 2008. Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=7gOUV_h_-eo,
acesso em 04/03/2011. 197Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/John_Lenon, acesso em 04/03/2011. 198Fonte:https://autoria.ggte.unicamp.br/tinymce/plugins/filemanager/files/lingua_portuguesa/modulo_03/multiletramento
s_linguagens_midias/Imagine.pdf, acesso em 04/03/2011. 199Fonte: http://www.youtube.com/watch?v=XLgYAHHkPFs, acesso em 04/03/2011. 200Fonte: http://www.youtube.com/watch?v=7gOUV_h_-eo&feature=player_embedded, acesso em 04/03/2011. 201 As aspas são para ressaltar que o uso da palavra "texto" para nomear um objeto que comunica por outras semioses que
não a verbal (escrita ou oral) pode causar algum estranhamento no caso de leitores que reservam essa palavra para nomear apenas textos grafológicos. No nosso caso, a partir daqui, vamos eliminar essas aspas, pois vamos chamar de texto, independentemente das semioses envolvidas, qualquer unidade de sentido estruturada por meio de partes que comunicam de modo coeso, sendo que essa unidade se estabelece mediante relações entre quem o enuncia e quem o recebe que são socialmente, culturalmente e historicamente situadas.
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Mãos à obra ________________________________________________________________________________________ Quando de sua exibição original, no ano de 2004, o mashup202 de vídeo Imagine This fez um sucesso extraordinário, indo parar na TV em várias partes do mundo. É certo que esse sucesso se deveu à pertinência do texto ao momento político em que foi lançado203 e também ao valor simbólico da clássica canção de John Lennon, mas o que mais impressiona, você deve concordar, foi a maneira como ele foi "composto".
Fazer mashups, divulgá-‐los na Internet, compartilhá-‐los em redes sociais online204, comentá-‐los em um blog, repostá-‐los e, em especial, reutilizá-‐los para fazer novas remixagens em resposta às anteriores é um exemplo do que poderíamos chamar de um letramento digital. E certos tipos de letramentos digitais nós podemos chamar de novos letramentos.
É consenso hoje que a escola precisa capacitar os jovens para o domínio de letramentos digitais que lhes sejam úteis acadêmica e socialmente. Mas, muitas vezes, parte-‐se da falsa ideia de que os letramentos digitais são letramentos tradicionais "transferidos" para o computador. Com isso, em muitos casos, nem a disponibilidade de computadores na escola faz o desempenho escolar dos alunos melhorar205, nem o acesso dos alunos a letramentos digitais fora da escola (em casa e em lan houses, por exemplo) permite a representação conceitual e a sistematização didática das possibilidades de uso da linguagem digital. E você, que já domina certos letramentos digitais, como os que permitem que você faça esse curso a distância, saberia dizer, "de bate pronto", em quê os letramentos digitais são diferentes dos outros e quando um letramento digital é efetivamente um novo letramento?
202 "Mashup", termo em inglês que significa literalmente "amalgamar", é o nome que se dá a artefatos semióticos digitais,
ou simplesmente textos digitais (músicas, filmes, videoclips, mapas etc.) que são produzidos a partir da mistura ou remixagem de artefatos semióticos/textos já existentes e disponíveis em formato digital, a partir de fontes diversas.
203Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Guerra_do_Iraque, acesso em 20/03/2011. 204Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Rede_social_virtual, acesso em 20/03/2011. 205 É isso o que mostram algumas pesquisas tais como a de Dwyer et al. (2007), para a qual você encontra um link na
bibliografia do Tema 3.
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Colocando os conhecimentos em jogo 1 ________________________________________________________________________________________ Antes de falarmos em letramento digital, letramentos digitais e novos letramentos, precisamos estabelecer um conceito de letramento(s), dentre as diversas concepções de letramento existentes na literatura206.
Vamos chamar de letramento(s), no sentido tradicional, "um conjunto de práticas sociais que usam a escrita, enquanto sistema simbólico e enquanto tecnologia, em contextos específicos, para objetivos específicos" (KLEIMAN, 2008[1995], p. 19) e vamos distinguir letramento de alfabetização207 e alfabetismo208 da seguinte maneira: alfabetismo seria o conjunto de habilidades individuais e mensuráveis que permitem às pessoas utilizarem a leitura e a escrita produtivamente no seu dia a dia. Já alfabetização seria um tipo de prática de letramento destinada ao ensino/aprendizagem básica dos símbolos, códigos, convenções associadas ao uso da escrita.
A definição que estamos adotando deixa claro que existe uma ligação forte entre letramento e tecnologia, letramento e contexto209 e letramento e objetivo (finalidade). Por essa razão, hoje em dia falamos em letramentoS, no plural210, e consideramos todos os letramentos como sendo situados (ou seja, inseparáveis do contexto em que existem). Assim, por exemplo, (i) escrever um diário pessoal; (ii) redigir uma procuração em cartório; e (iii) participar de um fórum de discussão do REDEFOR no TelEduc são o que podemos chamar de letramentos (no plural), embora todos eles envolvam igualmente a capacidade básica de ler e escrever (veja o quadro resumo).
206 Você poderá se familiarizar com as diversas concepções, suas implicações, limites e vantagens consultando Soares
(1995) e Rojo (2009), obras listadas na nossa bibliografia. 207 Mais detalhes sobre os conceitos de alfabetismo e alfabetização você encontra em Soares (1995) e Rojo (2009). 208 Mais detalhes sobre os conceitos de alfabetismo e alfabetização você encontra em Soares (1995) e Rojo (2009). 209 Entenderemos como contexto o domínio sociocognitivo e/ou a esfera da vida social e/ou a situação de uso da
linguagem e/ou a própria cultura dentro da qual se dá a prática de um letramento. 210 O que não se confunde, necessariamente, com multiletramentos, ou letramentos multissemióticos, como você verá
mais adiante.
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Colocando os conhecimentos em jogo 2 ________________________________________________________________________________________ Como fica, então, o letramento digital? Antes de mais nada, no plural: não se pode dizer que paquerar no MSN, fazer um mashup de vídeo e entregar o imposto de renda via Internet são um letramento só, já que cada caso remete a um contexto211 e um objetivo diferentes dos demais. Falamos, assim, em letramentoS digitaIS. Também precisamos separar alfabetização digital, uma metáfora que nos fala sobre da capacidade básica para usar um computador ou outro aparelho digital, de letramentos digitais, ou seja, das práticas sociais em que usamos o meio digital e a linguagem digital, para propósitos específicos, em contextos específicos212. Finalmente letramentos digitais são letramentos da cultura digital e, portanto, são vinculados a maneiras de fazer e de pensar específicos213, tais como, fazer coletivamente e em rede, remixar e remontar elementos de tempos e espaços, gêneros, linguagens e mídias diferentes, como no mashup Imagine This214, entre outras coisas. Logo, nem todo letramento que utiliza computador é necessariamente digital. Muito menos é necessariamente um novo letramento, pois, como você viu no Tema 2/Tópico 3, pode-‐se vincular serviços e artefatos digitais a gêneros absolutamente tradicionais. Novos letramentos são, a rigor, aqueles que exploram as particularidades do meio digital para dar existência à mentalidade digital215, ou seja, letramentos que enfatizam a participação e não a autoria individual, o conhecimento distribuído e não o centralizado, a partilha de conteúdos, a experimentação, a troca colaborativa, a quebra criativa de regras e o hibridismo em lugar da difusão de conteúdos, do policiamento das regras e da valorização da pureza (LANKSHEAR; KNOBEL, 2007). ________________________________________________________________________________________
211 Aparentemente, alguns autores consideram "digital" como contexto ou esfera, algo que, no Tema 2, já vimos que seria
inadequado. 212 Na leitura obrigatória deste Tema 3, você vai entrar em contato com uma definição mais sofisticada de letramentos
digitais, mas, por enquanto, esta nos é suficiente. 213Fonte:https://autoria.ggte.unicamp.br/tinymce/plugins/filemanager/files/lingua_portuguesa/modulo_03/multiletramento
s_linguagens_midias/LP_D5_T3_I12.jpg, acesso em 04/03/2011. 214214 Fonte: http://www.youtube.com/watch?v=7gOUV_h_-eo, acesso em 04/03/2011. 215 Lankshear e Knobel (2007, p. 21).
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Colocando os conhecimentos em jogo 3 ________________________________________________________________________________________ Novos ou não, digitais ou analógicos, letramentos são sempre plurais e situados, como já vimos. Porém, de algumas décadas para cá, começam a ganhar importância os conceitos de multiletramentos (letramentos múltiplos) e letramentos multissemióticos. Você deve estar se perguntando se, afinal, são necessários tantos termos assim. Afinal, "plural" e "múltiplo" são praticamente sinônimos! A resposta é: sim. Precisamos desses termos, porque letramento tornou-‐se um conceito suficientemente complexo216 para demandar essas especificidades. Veja, dizer que os letramentos são plurais e situados não nos diz, necessariamente, que um letrado qualquer deseje ou necessite dominar diversos letramentos. Mas, se fizermos o exercício de acompanhar um brasileiro urbano de classe média durante algum tempo hoje em dia, veremos que são muitos os tipos de letramentos de que ele participa217 para dar conta de seus interesses e afazeres cotidianos. Cada um desses letramentos, como sabemos, está relacionado a um contexto diferente, sendo que alguns deles, tais como os que se pratica na escola ou no mundo do trabalho, são mais valorizados do que outros. A palavra multiletramentos costuma ser usada para designar a multiplicidade dos letramentos de que participamos na contemporaneidade. Mas faz referência, também, à variedade de linguagens, modalidades semióticas e mídias envolvidas nesses letramentos, variedade que podemos, alternativamente, designar pelo termo letramentos multissemióticos.
216 Convém notar que, assim como o uso da palavra "texto" para designar um filme ou um jogo de computador pode ser
contestado, a depender do ponto de vista disciplinar de onde se olha, assim também o uso da palavra "letramento", que, até então, era reservada para as práticas que envolvem textos grafológicos, também o pode. Em verdade, a palavra letramento designa hoje tantas coisas, que sua força teórica vem se perdendo. De qualquer forma, para nossos propósitos, um letramento será entendido como um tipo de prática social que envolva a produção de sentidos socialmente relevantes, utilizando qualquer tipo de mídia, texto, linguagem e sistema semiótico.
217 É provável que a rotina de Dona Naná, uma personagem fictícia, professora do Ensino Fundamental I e aluna do curso superior de Pedagogia, criada por Rojo (2009, p. 31, com adaptações), seja semelhante, em alguma medida, à sua, nesse sentido. Confira: "Ela começa [seu dia, antes de sair para trabalhar] por escrever um bilhete para sua diarista, que é alfabetizada e cursou até a 3ª série, pedindo que limpe o forno e use o dinheiro deixado em cima da pia para comprar sabão em pó [...]. Em seguida, consulta sua agenda telefônica para pegar o número da autorizada que fez o orçamento do conserto [de um eletrodoméstico seu]. [...] O curso de Pedagogia que está fazendo é semipresencial e tem muitas atividades online. D. Naná aprendeu a lidar com computadores e a navegar e hoje usa o computador que o filho lhe deu para muitas coisas: comprar, ouvir músicas e rádio, ir ao banco e até namorar. Assim, ela acessa seu banco pelo computador e faz um depósito online na conta da autorizada ainda antes de se arrumar. Também aproveita e dá uma olhada em seus emails. Pronto, agora ela pode se arrumar para o trabalho e, enquanto o faz, liga a TV para ver o Telejornal regional da manhã. Em seguida, sai para tomar a condução. Durante o dia, nas escolas, quase todas as suas atividades são eventos de letramento: faz chamadas, dá aulas, lê textos e livros didáticos com os alunos, corrige avaliações e exercícios, atribui notas etc. Chegando em casa, janta, vê as novelas e namora um pouco no MSN, pois seu parceiro vive numa cidade próxima. Por último, faz algumas das atividades online de seu curso universitário."
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Colocando os conhecimentos em jogo 4 ________________________________________________________________________________________ Vamos tentar sumarizar as relações existentes entre todos esses conceitos, a partir de um exemplo concreto. Antes, vamos lembrar que letramentos digitais são uma parte dos letramentos múltiplos de que uma pessoa tem a possibilidade, se não a necessidade, de participar hoje, para ter uma vida social plena. Alguns desses letramentos são mais valorizados, como os acadêmicos e profissionais; outros menos, como os da cultura popular e os ligados ao entretenimento de massa. Isso sempre foi assim. Porém, hoje, há facilidades tecnológicas e uma certa mentalidade que permitem a esses letramentos entrarem em contato criativo -‐ mas também conflituoso -‐ mais facilmente. Vamos pensar em um caso hipotético: um jovem morador de um bairro periférico218 deseja conhecer clássicos do cinema sobre os quais ouviu falar na escola ou na TV. Ele poderá ter acesso a esse tipo de material, legal ou "ilegalmente", na WWW, se não em casa, talvez em um telecentro ou lanhouse219. Agora, suponhamos que, gostando do que viu e reconhecendo o valor simbólico desses textos para o público em geral, ele tenha a idéia de remixar cenas desses filmes, de modo a fazer os atores dizerem algo que ele gostaria de dizer, algo como a letra de um RAP que ele aprecia e que lhe parece estabelecer relações dialógicas220 com o filme. Ele poderia tratar disso numa redação, é claro; mas não seria tão divertido, nem teria tanto impacto na sua "moral com a galera" quanto fazer uma redublagem221. Como está conectado, o jovem acessa as ferramentas necessárias e conta com a ajuda (via CMC222) de amigos mais experientes no assunto, justo no exato momento em que aquele conhecimento se faz necessário. A redublagem pronta vai para a WWW, onde recebe comentários, uns agradáveis e pertinentes, outros ofensivos e impertinentes, feitos por amigos, mas também por desconhecidos que constituem sua audiência real e interativa. Porque tinha qualidade, ou porque gerou polêmica, ou ambos, circula e vai parar na caixa de e-‐mail de um professor universitário, que a destaca como tema de um artigo científico, que acaba na bibliografia do curso de especialização online de que participa a professora do jovem autor, que gosta do menino e de Internet, mas não fazia ideia... ________________________________________________________________________________________
218 Bairro como os da periferia de São Paulo, nos quais não há cinema, muito menos videoteca, embora haja camelôs de
vídeos piratas, camelôs que, entretanto, não dispõem de cópias piratas de clássicos do cinema. 219 Mas dificilmente na escola, por conta das limitações de "banda", que não permitem baixar vídeos; das restrições
técnicas e de segurança, que impedem o acesso a sites de distribuição legal ou ilegal de vídeos; ou mesmo pela grande quantidade de alunos que desejam usar o computador nos poucos e raros momentos em que lhes é permitido sem a presença do professor ou a imposição de uma tarefa escolar.
220Fonte: http://www.mackenzie.br/fileadmin/Pos_Graduacao/Doutorado/Letras/Cadernos/Volume_4/003.pdf, acesso em 04/03/2011.
221 Veja exemplos desse tipo de trabalho fazendo buscas com a palavra “redublagem” em www.youtube.com, www.metacafe.com, ou www.vimeo.com.
222 CMC corresponde a "comunicação mediada por computador", como já vimos no Tema 2.
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Colocando os conhecimentos em jogo 5 ________________________________________________________________________________________ Nem sempre as hibridizações entre velhos e novos (multi)letramentos são harmoniosas e produtivas. Digamos, por exemplo, que o menino da redublagem223 tivesse chegado aos clássicos do cinema porque sua professora lhe encomendara uma pesquisa224, mas que, em lugar de explicar "em suas próprias palavras" o resultado, ele tivesse feito um "remix", por assim dizer, copiando e colando fragmentos de textos que achou na web, ou que recebeu de amigos, via CMC225. Não é difícil prever que, dispondo de letramentos que lhe permitem facilmente identificar falhas de coesão e de argumentação no texto dos alunos, a professora identificasse o tal "remix" e, sentindo-‐se enganada, o punisse por plágio. Vemos aí letramentos digitais e escolares, novos e tradicionais, em choque. O mais engraçado (ou triste?) nisso, como em todo choque cultural, é que ambos fizeram o que, para si, era "coerente". A professora desejava ensinar o jovem a ser mais autônomo em seus percursos de aprendizagem, usando a Internet. O jovem, ao remixar textos prontos sobre o assunto, não deixou de querer fornecer um resultado "contextualizado" e "formatado" ao gosto da professora (exceto, é claro, no que tange à ética da autoria nos letramentos escolares, que ele violou). Supondo que não por mera preguiça, podemos imaginar que assim agiu por não fazer sentido, para ele, redigir um texto igual aos milhares que ele achou com uma simples "googada" ou "tuitada". A professora, pedindo o resultado da pesquisa "redigido nas próprias palavras", pretendia, talvez, atender à crença pedagógica, fundamentada em sua experiência, de que textualizando o resultado em suas palavras para apresentá-‐lo a outrem, o jovem pudesse integrá-‐lo a outros conhecimentos em sua memória e mantê-‐lo lá para o futuro. Já o jovem, ao "remixar" o texto, de alguma forma (re)textualizou aquele conhecimento, mas sem a preocupação de guardá-‐lo na memória, se não por "protesto", para atender à crença, baseada em sua experiência quotidiana, de que a memória vai além do corpo e do tempo: espalha-‐se pela rede extracorpo de máquinas e pessoas que, ele crê, estarão sempre acessíveis no momento necessário, agora e no futuro; se não essas, outras. ________________________________________________________________________________________
223 O mesmo do exemplo utilizado em Colocando os conhecimentos em jogo 4 224 Por exemplo, sobre obras literárias que viraram filmes clássicos 225 CMC corresponde a "comunicação mediada por computador", como já vimos no Tema 2.
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Finalizando_______________________________________________________________________
_________________ Neste tópico 1, procuramos definir, relacionar, distinguir e implicar mutuamente os conceitos de:
• letramento(s) • letramentos situados • letramento(s) digital(is) • novos letramentos • multiletramentos • letramentos multissemióticos
Vimos que, ao mesmo tempo em que passamos a considerar letramentos em sua pluralidade e em seu caráter situado, o escopo do conceito de letramento foi ampliado drasticamente para abranger a variedade de práticas, linguagens, semioses, mídias e tecnologias que mobilizamos em nosso quotidiano, em todas as esferas, domínios e contextos institucionais nos quais atuamos socialmente.
Destacamos como traço distintivo dos novos letramentos (digitais) sua pertinência a uma mentalidade digital226. Abordamos as hibridizações227 operacionalizadas por procedimentos como o remix e o mashup e pela conexão entre pessoas diferentes e textos de diferentes gêneros e semioses, em um mesmo horizonte de acesso. Concluímos que novos e antigos (multi)letramentos, ao se encontrarem na escola e na vida, podem gerar transformações produtivas, mas também choques culturais, que nos desafiam a encontrar pedagogias, posturas e mecanismos de negociação igualmente novos e transformadores, em face dos novos (multi)letramentos.
228
No tópico 2, levaremos essa discussão adiante, partindo do conceito de apropriação tecnológica, discutindo exemplos concretos de "apropriações e inapropriações" do computador na escola e, finalmente, estabelecendo os letramentos (digitais) críticos como o locus privilegiado de sua atuação. ________________________________________________________________________________________
226 A qual abordamos por meio de um quadro comparativo e de exemplos concretos de produção e circulação de textos
digitais. 227 Entre práticas, textos, semioses e tecnologias. 228 Fonte: http://theartdontstop.org/show_topic.php?id=10285, acesso em 09/02/2012.
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Tópico 2 -‐ Novos letramentos na escola: da pedagogização à apropriação crítica
Ponto de partida_____________________________________________________________________________
___________ Em uma visita recente que um dos elaboradores desta disciplina, pesquisador em Linguística Aplicada, fez a uma escola da Zona Leste de São Paulo, para entrevistar alunos da 6ª série/7º ano sobre sua relação com as novas tecnologias, contaram-‐lhe sobre um "projeto interdisciplinar" que as professoras de Língua Portuguesa e de Informática da escola haviam realizado poucos dias antes.
229A ideia era simples: levar os alunos a produzirem uma carta de amor e agradecimento às suas mães para ser lida por elas na festa do Dia das Mães que se aproximava. Primeiro, os alunos escreveram as cartas em seus cadernos; em seguida, a professora de Língua Portuguesa leu as cartas, fez correções e deu sugestões de como melhorar os textos do ponto de vista da forma composicional, estilo e conteúdo temático. Os alunos, então, passaram a trabalhar no laboratório de informática, onde a professora os ensinou a usar o programa editor de textos230. As cartas para as mães foram, então, digitadas nesse programa e cada aluno pode formatar sua carta como desejava, alterando as margens, o espaço entre linhas, o tipo e o tamanho das fontes tipográficas, inserindo letras capitulares231 e wordarts232. A professora de Informática se encarregou de imprimir as cartas (para não correr o risco de gastar tinta demais ou de quebrar o equipamento, contaram as crianças) e devolvê-‐las a seus autores que, em seguida, montaram painéis no corredor das salas de aula onde, devidamente assinadas, as cartas foram afixadas, para que as mães pudessem lê-‐las no dia da festa.
As crianças contaram ao pesquisador o resultado dessa experiência, mas, antes de saber desse resultado, pede-‐se que você reflita por um momento sobre ela do ponto de vista das professoras, da mãe, e dos alunos. Quando tiver feito esse "experimento mental", siga adiante para "Mãos à obra".
229 Ilustração e animação: RedeFor - http://cameraweb.ccuec.unicamp.br/video/M4XR4G7H733H/, acesso em
12/05/2011. 230 Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Processador_de_texto, acesso em 20/03/2011. 231 Letra capitular é uma letra maior que as demais em tamanho, de grande destaque, que dá início a um livro, seção ou
capítulo de livro. 232 Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/folha/colunas/canalaberto/ult3810u25.shtml, acesso em 20/03/2011.
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Mãos à obra_________________________________________________________________________________
_______ Quando relataram essa mesma experiência ao pesquisador, uma professora, uma mãe e um aluno forneceram visões complementares, porém bastante diversas, sobre ela. A professora se mostrou muito satisfeita com a dose extra de "motivação" que a atividade trouxe: "Nunca vi esses meninos tão envolvidos com uma tarefa", contou. A mãe de um dos meninos se disse "orgulhosa" em ver que seu filho estava aprendendo a lidar com o computador, além de comovida com a homenagem: "Quando eu vejo que ele tinha dificuldade na escrita, né? Mas agora ele escreveu essas coisas pra mim... ainda por cima, no computador!". Já o aluno, embora tenha achado o processo "mais legal do que no caderno", não gostou tanto assim do resultado: "Minha mãe gostou e tudo... só que os moleques ficaram me tirando por causa do que eu escrevi, que eles leram ali no quadro, né? Daí eu me estressei com eles, entendeu? Sem contar que ficou estranho. Não parecia eu falando com a minha mãe: parecia aqueles papéis da escola que a gente leva pra mãe assinar, entendeu?" Esse caso ilustra uma das maneiras pelas quais os computadores que estão disponíveis nas escolas (nas quais isso já é verdade) vêm sendo utilizados: uma maneira que, embora legítima, torna-‐se questionável quando pensamos em apropriação tecnológica. O termo "apropriação tecnológica" designa um processo pelo qual um grupo social qualquer entra em contato com uma tecnologia e a transforma em algo seu. Tal processo tem uma dimensão individual e uma dimensão coletiva, social. Do ponto de vista individual, pode ser entendido como internalização (no sentido vygotskiano) dos modos de pensar e de fazer que acompanham aquela tecnologia e como redirecionamento desses modos internalizados para a ação individual na comunidade233. Já do ponto de vista coletivo, a apropriação tecnológica se refere ao processo pelo qual a comunidade adapta o significado e as funções da tecnologia às suas próprias necessidades, normas e convenções simbólicas (até onde isso é possível do ponto de vista prático e jurídico); mas também nos diz das mudanças que a presença dessa tecnologia acaba propiciando234 nos modos de funcionamento da comunidade, caso a comunidade aproveite bem esse momento235. O que o exemplo "carta para as mães" mostra é que, onde não há um processo consciente de apropriação tecnológica do computador pelos professores, administradores, pais e alunos, acontece uma mera pedagogização acrítica do computador, isto é, a inserção "forçada" do computador, destituído de seus maiores potenciais, em tarefas escolares tradicionais, que não promovem reflexividade ou criticidade sobre a prática da própria comunidade. ________________________________________________________________________________________
233 Nesse caso, podemos tomar como exemplo mais óbvio o processo pelo qual a criança, paralelamente ao processo de
alfabetização conduzido pela escola, vai se tornando "letrada", isto é, vai começando a pensar e agir (falar) como alguém que usa a escrita socialmente, de forma competente, para seu benefício pessoal e o de sua comunidade.
234 É muito importante estar atento à escolha da palavra "propiciar", em lugar de outras tais como "produzir" ou "provocar", nessa frase. Ela indica que a noção de "apropriação tecnológica" está contraposta, de certo modo, à noção do "determinismo tecnológico", isto é, a noção de que uma tecnologia qualquer contém em si o poder de causar, unilateralmente, mudanças nos seus usuários ou nas comunidades em que é introduzida, uma noção ultrapassada e que diversos estudos etnográficos, por exemplo, sobre a tecnologia da escrita, já demonstraram ser equivocada.
235 Todas as vezes que uma nova tecnologia chega a um contexto sociocultural específico, esse contexto tem uma oportunidade ímpar de rever criticamente seu funcionamento e de entender de que maneira as normas, ideologias e propósitos que a constituem são compatíveis e incompatíveis com o que se espera dessa comunidade no contexto social mais amplo. É disso, no limite, que nos falam autores como Paulo Freire, quando, a propósito dessa tecnologia que chamamos de "escrita", citam a possibilidade de, aprendendo a ler a palavra, aprendermos a (re)ler o mundo.
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Colocando os conhecimentos em jogo 1 ________________________________________________________________________________________ Tendo tomado contato com os conceitos de apropriação tecnológica e de pedagogização acrítica do computador, estamos agora em condições de pensar sobre qual, afinal, é o papel da escola -‐ e do professor, em particular -‐ no processo de apropriação tecnológica das comunidades servidas pela própria escola e, no limite, no processo de apropriação tecnológica de todo um contexto social mais amplo que a própria escola, processo que, para muitos, pode ser chamado de "inclusão digital"236. Antes de aprofundar essa discussão, vamos retomar o exemplo da "carta para as mães" para tentar identificar como, nesse caso, a apropriação desviou-‐se para um caso de pedagogização acrítica. O critério mais óbvio que podemos utilizar para distinguir entre apropriação e pedagogização acrítica é o de gênero discursivo (digital) empregado. Se nos perguntarmos de que maneira o gênero carta pessoal (para a mãe) foi utilizado na experiência relatada, veremos que ele foi totalmente distorcido para dar ocasião ao ensino de certos recursos de programas de computador que, em verdade, sequer caberiam no caso de uma carta pessoal (recursos como wordart e capitular, por exemplo). Notaremos também que a necessidade de exibir para a comunidade (os pais, em especial) o envolvimento da escola com as demandas pelo letramento digital na sociedade passou por cima dos modos e lugares de interlocução do produtor (o aluno) e do leitor (a mãe) no gênero, causando-‐lhes, inclusive, algum tipo de prejuízo social (o aluno que foi ridicularizado pelos colegas e se indispôs com eles). Mesmo que o objetivo de "mostrar que estamos usando computador" tenha sido atingido, o texto produzido não alcançou, do ponto de vista da relação entre forma e conteúdo, uma função comunicativa reconhecida pela comunidade como útil e legítima! Logo, não se produziu aí "inclusão", em qualquer sentido, mas sim "exclusão". Mesmo que, para alguns, a produção de textos que não têm função comunicativa fora dos muros da escola seja aceitavel como um letramento "próprio da escola", dificilmente poderíamos chamar essa experiência de apropriação tecnológica. Seria melhor chamá-‐la de "inapropriação" cultural (tendo em vista a noção de "cultura digital"). Não caberia, por outro lado, simplesmente condenar os professores que idealizaram essa experiência pois, de alguma forma, o que tentaram fazer foi aproximar um letramento novo (digital) de letramentos conhecidos, que têm valor e circulação na comunidade. A pergunta que devemos nos fazer, então, é: como se pode fazer esses letramentos dialogarem entre si sem causar exclusões e distorções?
236 O termo inclusão digital é criticado por diversos autores, por exemplo Buzato (2010), sob o argumento de que já
estamos todos, de certa forma, incluídos em um sistema econômico cuja infraestrutura é digital, sendo necessário, portanto, aos menos privilegiados por esse sistema, mais do que "incluírem-se", reverem os modos e lugares de sua "inclusão", lutando, com o auxílio das tecnologias digitais, mas não apenas "via" essas tecnologias, por modos e lugares de "inclusão" mais justos.
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Colocando os conhecimentos em jogo 2 ________________________________________________________________________________________ A pressão da sociedade atual fez com que educadores, defensores ou não das novas tecnologias, passassem a discutir sobre a necessidade de inclusão do computador e da Internet nas práticas escolares. Algumas iniciativas de ordem prática, no entanto, revelam que a transposição de meio (do escrito para o digital) nem sempre vem acompanhada das mudanças que já estudamos sobre linguagem e práticas letradas digitais. Sendo assim, tais iniciativas não surtem, na prática, o efeito esperado. Alguns professores, por exemplo, têm incluído o computador para a realização das mesmas tarefas que já propunham antes dessa tecnologia. Embora essas iniciativas apresentem algum nível de inovação, elas não podem ser consideradas como exemplos de práticas letradas digitais, já que o meio previsto para a circulação é o impresso. Deve-‐se ressaltar que o fato da prática ser digital não garante a sua qualidade. Muitas tarefas previstas para resolução direta na tela adotam orientações pedagógicas ultrapassadas e não estimulam a aprendizagem. Resumindo, o uso da Internet nas práticas de ensino pode ser produtivo se focalizar novas práticas letradas, outro tipo de atividade e concepção de tarefa237. As práticas letradas digitais têm algumas características específicas: contam com fonte ilimitada de informação238; facilidade de registrar relações intertextuais através de links239; são, por natureza, multissemióticas240 e seguem normas e gênero específicos para diferentes situações de interação241. Esse conjunto de mudanças listadas são importantes para entendermos uma alteração mais radical: as demandas educacionais e o papel do professor também estão mudando. Tradicionalmente, cabia ao professor trazer materiais ou fornecer as informações necessárias para a construção de conhecimentos específicos. Cabia também a esse professor expor, em sala de aula, o aluno a situações de prática de língua às quais ele não tinha acesso em seu cotidiano familiar e cultural. Sendo o principal provedor do saber escolar, o professor também assumia o papel de avaliador privilegiado do desempenho desse aluno. Hoje, diferentes comunidades virtuais permitem que o aluno circule por
237 Exercícios de múltipla escolha ilustram bem essa questão. Ferramentas como as oferecidas pelo "hot potatoe"
simplificam a construção de tarefas de múltipla escolha do tipo “verdadeiro ou falso”. Dependendo da forma como tais tarefas são concebidas, elas podem ser restritas à mera verificação do conhecimento adquirido sem demandar um nível mais elaborado de reflexão por parte do aluno. Isso não precisa ser assim. Na presente disciplina, por exemplo, buscamos construir atividades nas quais o aluno pode fazer escolhas, mas em que é levado também a refletir mais sobre tais escolhas. O "feedback" oferecido pelo sistema reforça e justifica a adequação de certas opções e apresenta contra-argumentos para outras. Como ambas são de fácil acesso, é possível que alunos que tenham interesse ampliem seus conhecimentos lendo também os comentários elaborados para a opção de resposta que não privilegiou. Reproduzir o mesmo tipo de estrutura no meio impresso poderia não ter o mesmo resultado prático: o excesso de informação simultânea poderia prejudicar o foco da leitura de trechos específicos de informação.
238 Ao contrário do que acontece com o material impresso, no meio digital o acesso à informação é bastante democrático. Havendo apenas um computador conectado à Internet, por exemplo, qualquer usuário pode ter acesso a textos, sites, bibliotecas virtuais em escala global ou mesmo interagir como leitor ou produtor de textos nas inúmeras comunidades virtuais (centradas em interesses específicos).
239Fonte: https://autoria.ggte.unicamp.br/tinymce/plugins/filemanager/files/lingua_portuguesa/modulo_03/multiletramentos_linguagens_midias/Redefor_3_-_Popup2.pdf, acesso em 12/05/2011.
240 Como estivemos discutindo ao longo desta disciplina, a participação efetiva nos contextos das TICs demanda dos leitores e produtores familiaridade com a lógica estrutural e com os recursos expressivos de textos hipermediáticos: textos cujas relações inter e intratextuais se organizam através de links e que se constroem a partir de diferentes tipos de linguagens (vídeo, animações, imagem estática, arquivos sonoros, linguagem verbal, por exemplo).
241 Como já vimos no Tópico 3 do Tema 2 (“A linguagem nos/dos novos meios”), o gênero e-mail, por exemplo, embora comumente associado a eles, difere de gêneros escritos como cartas e bilhetes. Como era de se esperar, há diferenças linguísticas significativas também em e-mails formais e informais. O mesmo ocorre com gêneros digitais que circulam em determinados ambientes, como o blog. Por exemplo: há blogs jornalísticos que não seguem o padrão de diário, assim como há blogs educacionais que cumprem outras funções comunicativas e que estão sujeitos à normas sociais particulares desse tipo específico de interação. Resumindo, no meio digital, assim como em qualquer outro, as condições e situações de uso favorecem a constituição de gêneros discursivos específicos.
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contextos sociais nos quais antes era excluído. As situações de prática de novos gêneros existem desvinculadas da escola. As informações disponibilizadas online extrapolam os limites impostos pelos livros didáticos ou pela seleção pessoal do professor. Isso gera, certamente, uma questão: é possível prever, no futuro, o esvaziamento do papel do professor? Possivelmente o papel do "instrutor" em áreas específicas vai perder grande parte de sua função, mas isso não se aplica ao papel do educador. Cada vez mais, o aluno precisa perceber as escolhas que tem e saber avaliar de forma crítica aquelas pelas quais opta, ou ficará perdido no mar de informações ao qual é exposto. Além do volume assustador, nem todas as informações são, em termos de utilidade e qualidade, equivalentes.
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Colocando os conhecimentos em jogo 3 ________________________________________________________________________________________ O vídeo a seguir mostra uma experiência realizada na Índia que revela como a geração mais jovem se apropria de forma mais ou menos natural dos recursos das TICs. Assistir ao "O buraco no muro"242 é importante para entendermos que a dificuldade não está em aprender a usar e sim, em como e para quê usar o meio.
O vídeo revela uma situação extrema na qual, de modo informal e espontâneo, as crianças aprendem a usar o computador em práticas que lhes interessam. Isso ocorre de uma forma mais natural e sem os medos que caracterizam, em menor ou maior grau, a interação da geração não nativa digital243 com as TICs. Para essa geração, a popularização da tecnologia digital demandou reavaliações em uma história de práticas letradas fortemente norteada e ancorada no modelo tradicional de escrita (manuscrita ou impressa).
É fato que a experiência fora de sala de aula pode fazer com que muitos alunos já estejam familiarizados com práticas digitais244. No entanto, as práticas familiares aos alunos fogem das especificidades esperadas em gêneros mais formais ou do tipo de construção de conhecimento privilegiado pela escola e por contextos institucionais mais formais. Ou seja, cabe ao professor-‐educador estabelecer uma ponte entre as práticas digitais nativas e o conhecimento de natureza acadêmica. Isso implica em criar situações pedagógicas que estimulem o desenvolvimento de um conjunto de habilidades que são fundamentais para um uso não ingênuo da Internet245.
242 Fonte: http://www.youtube.com/watch?v=Xx8vCy9eloE, acesso em 04/03/2011. 243Tem-se denominado “nativos digitais” as pessoas que nasceram a partir de 1970, quando os avanços tecnológicos
deram inicio à “era da informação”. Para pessoas que cresceram sendo expostas às TICs, a tecnologia digital e seu uso foram naturalizadas em seu processo de socialização. Essas pessoas desempenham práticas letradas digitais com mais facilidade, já que contam com um repertório de conhecimentos, habilidades e estratégias desenvolvidas durante a sua apropriação do meio. Em contraste, para os "não nativos digitais", o processo de apropriação do meio pode demandar o uso de outras mídias, como é o caso das pessoas que não se sentem confortáveis em ler textos diretamente na tela.
244 Jogos, busca de informação, trocas de mensagens e participação em redes sociais. 245 Uma das grandes preocupações de pais e educadores, com relação à Internet, está no fato de diferentes grupos se
posicionarem abertamente e sem censura. Esses grupos se balizam por diferentes princípios éticos. A título de exemplo, assim como há grupos que oferecem apoio para comunidades e indivíduos que tem necessidades especiais – como surdos e diabéticos –, também, no espaço virtual, há grupos que exploram o meio para discriminar indivíduos – como é o caso do “bullying escolar” - ou grupos que usam esse espaço para defender posições eticamente questionáveis e socialmente destrutivas – como é o caso das comunidades neonazistas, por exemplo. Embora seja por vezes assustador, na era da informação o controle de pais e educadores sobre as crianças e jovens em formação é bastante limitado. Os jovens vivem nesse tipo de sociedade, queiramos ou não. A Internet não “cria” essas vozes sociais, ela apenas dá visibilidade e amplia seu poder de circulação. Assim, a reflexão social crítica é essencial para a formação das gerações futuras. Ela permite que os jovens saibam identificar e se defender de posições ideológicas destrutivas. Alternativamente, eles podem também aprender a explorar os recursos do meio para a criação de movimentos de contracultura em defesa de princípios que promovam a valoração, respeito e o bem estar de indivíduos e comunidades.
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Colocando os conhecimentos em jogo 4 ________________________________________________________________________________________ Em primeiro lugar, o aluno precisa ser instigado a não se acomodar apenas às situações de interação e uso de linguagens que já lhes são familiares. Nessa direção, a escola mantém a função de expandir o universo referencial de seus alunos e, para fazê-‐lo, precisa, primeiro, aceitar e considerar este universo. Em segundo lugar, o volume de informação e a multiplicidade de vozes que circulam na Internet exigem leitores que tenham critérios de filtros eficientes e adequados a esse meio e que sejam capazes de avaliar criticamente as informações que selecionam. A reflexão crítica precisa ser devidamente informada246 e eticamente247 orientada.
Em relação à construção de conhecimento de natureza acadêmica, dentro de contextos formais como a escola, existe uma expectativa de rigor e profundidade248 que não é observada em consultas informais na Internet: essas, em geral, têm um foco temático mais solto (informações secundárias viram temas de novas buscas) e nem sempre a qualidade das fontes consultadas respeitam as exigências do discurso acadêmico. Cabe assim ao professor criar situações práticas ou provocar discussões que permitam os alunos desenvolverem as habilidades esperadas para uso das TICs.
Na realidade, as metáforas pedagógicas mudaram. Como professores deixamos de ser "fonte" de saber e passamos a ter a função de "pontes" que criam ligações críticas entre o conhecimento escolar e aquele gerado pelo senso comum na sociedade. Antes isso era desejável, agora talvez não nos reste outra alternativa.
246 O nível de reflexão e aprofundamento exigido pelo método acadêmico, que norteia a construção do conhecimento
escolar, pode contribuir na direção do desenvolvimento de uma conscientização crítica por parte dos alunos. 247 Reflexões de cunho ético são fundamentais, pois oferecem parâmetros para avaliar as alianças que o leitor pode
estabelecer com as diferentes vozes sociais que ganham visibilidade no contexto online. 248 Consultas informais na rede tendem a progredir de forma mais ou menos incidental e associativa - um assunto leva a
outro – norteadas apenas pelo interesse ou curiosidade momentâneos do leitor. Elas não têm o foco e aprofundamento demandado pela construção do conhecimento acadêmico.
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Atividade autocorrigível 4______________________________________________________________________________________
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À luz do que foi exposto neste tópico 2, escolha, dentre as opções abaixo, aquela que considera adequada. Justifique sua escolha.
(1)249 A escola deve priorizar o ensino de gêneros digitais, pois são esses os gêneros realmente importantes na vida dos alunos hoje.
(2)250 O professor ainda é a fonte do saber confiável e autorizado e, portanto, não se deve querer que ele perca seu tempo "visitando" com seus alunos outras fontes de saber, menos confiáveis, tais como sítios da Internet.
(3)251 A escola precisa parar de teimar em utilizar recursos como "seminários", "resumos", "dissertações" e "diários de classe", porque eles não correspondem à realidade social fora da escola e porque são coisas que um computador pode resolver de modo mais barato e eficiente.
(4)252 A apropriação tecnológica na escola deve excluir qualquer tipo de pedagogização dos novos letramentos, caso contrário, haverá uma "inapropriação" tecnológica.
(5)253 Nenhuma das afirmações anteriores é totalmente adequada.
249 Escolha inadequada. O que se espera da escola é realmente que ela dê acesso aos gêneros que são importantes para
uma participação social consciente do aluno, voltada para o seu desenvolvimento social e o de sua comunidade. Mas o critério para a escolha desses gêneros não pode ser simplesmente o do meio em que eles circulam. Gêneros digitais e gêneros mais tradicionais podem ser, igualmente, importantes ou não, para a formação do aluno. Importa, porém que, em ambos os cenários, a escola instrumentalize o aluno para uma participação "não ingênua" nos gêneros de sua cultura.
250 Escolha inadequada. Está cada vez mais claro que, além de não ser a única "fonte do saber" confiável e autorizado em sua comunidade, o professor não tem condições de "competir" com a variedade de fontes informativas disponíveis para os jovens hoje e, mesmo que tivesse, isso não seria desejável. Importa, isto sim, que o professor tenha condições, pessoais e institucionais, de estabelecer "pontes" que criam ligações críticas entre o conhecimento escolar e aquele gerado pelo senso comum na sociedade, que está, cada vez mais, à disposição do aluno, fora da escola.
251 Escolha inadequada. Se é verdade que a escola pode, e talvez deva, utilizar a informática para substituir procedimentos e tipos de gêneros burocráticos que não são mais usuais em outras instituições, isto não quer dizer, necessariamente, que ela deva abrir mão de gêneros que lhe são próprios, gêneros com os quais os professores vêm lidando há séculos para produzir resultados de aprendizagem que eles consideram relevantes, gêneros tais como a dissertação, o resumo e o seminário. O que se deve garantir, entretanto, é que tais gêneros dialoguem, na escola, com outros gêneros igualmente relevantes para a construção e avaliação crítica do conhecimento hoje em dia, muitos deles, gêneros digitais, ou gêneros que utilizam recursos digitais tais como a busca na WWW, o hipertexto acadêmico, a apresentação digital e assim por diante.
252 Escolha inadequada. Se é certo que a pedagogização acrítica do computador deve ser combatida, isto não quer dizer que a apropriação tecnológica na escola exclui qualquer tipo de pedagogização, simplesmente porque a prática social da escola é essencialmente pedagógica! O que se deve combater é a substituição do movimento de apropriação tecnológica, que, muitas vezes, leva a escola a ter que se repensar, por um tipo de pedagogização acrítica que, em vez de instrumentalizar o aluno para a vida social, produz gêneros, eventos e práticas de letramento "artificiais", simplesmente para que seja dada a impressão, à comunidade a que a escola serve, de que os letramentos digitais estão sendo abordados em sala de aula.
253 Escolha adequada já que, realmente, as quatro opções anteriores contém inadequações conceituais ou argumentos inadequados. Mesmo que tenha escolhido essa opção já em sua primeira tentativa, vale a pena ler os comentários deixados pelos autores da disciplina nessas outras opções.
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Finalizando ________________________________________________________________________________________ Este tópico 2 buscou ressaltar algumas questões que são importantes para entendermos a apropriação das novas tecnologias que vem sendo feita pela escola. É necessário termos em mente que as TICs propiciaram mudanças nos modos de construção da cultura e do conhecimento, de forma semelhante ao que ocorreu quando houve a popularização da escrita impressa. É fato que os professores, hoje, encontram-‐se em um período de transição e, mesmo não sendo "nativos digitais", têm que enfrentar uma nova tecnologia, tendo muitas vezes como referência práticas letradas e atividades escolares fortemente ancoradas nos gêneros escritos (manuscritos ou impressos). Essa situação se torna mais complexa na medida em que a sociedade passa a depender da mediação das TICs em conjunto de atividades relacionadas ao mercado de trabalho ou essas passam a estar cada vez mais presentes em nossas práticas cotidianas. Dentro desse novo contexto social, é mais ou menos esperado que, buscando promover a chamada "inclusão digital", alguns professores incorporem o computador na execução de atividades escolares tradicionais às quais já estão habituados. Isso, no entanto, acaba criando novos problemas, pois se adulteram gêneros escritos tradicionais e não se usa a Internet da forma que ela está de fato sendo usada na sociedade mais ampla (seja em práticas escolares ou não escolares). O vídeo "O buraco no muro"254 ilustra que o problema maior dos jovens não é aprender a usar o computador. O que de fato eles precisam é de orientação para usá-‐lo da maneira esperada pela escola. Cabe, pois, ao professor oferecer a seus alunos parâmetros que favoreçam a apropriação de gêneros digitais e modos de construção de conhecimento socialmente esperados em contextos mais formais. Foi também ressaltado que o papel do professor mudou. Como o meio já oferece acesso a fontes ilimitadas de informação, torna-‐se ainda mais dispensável a atuação do professor/instrutor (aquele que provê conteúdos em áreas específicas de conhecimento) e ganha maior importância o papel do professor/educador (aquele que ensina o aluno a ser autônomo na construção do conhecimento e a filtrar de forma crítica as informações que acessa). Resumindo, as diferentes reflexões oferecidas neste tópico buscaram salientar que houve mudanças significativas nas demandas sociais e, como seria de se esperar, nas demandas educacionais. Mudanças de natureza semelhante ocorreram quando a escrita foi incorporada às práticas escolares e cotidianas. Talvez a diferença maior entre esses dois momentos históricos distintos seja a velocidade com que as mudanças se implantaram nas práticas sociais em geral. ________________________________________________________________________________________
254 Fonte: http://www.youtube.com/watch?v=Xx8vCy9eloE, acesso em 09/02/2012.
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Tópico 3 -‐ Concretizando propostas de multiletramentos na escola: alguns caminhos práticos
Ponto de partida_____________________________________________________________________________
___________ Há muito, tem se criticado que o ensino de Língua Portuguesa atém-‐se a detalhes linguísticos isolados de contexto, deixando de orientar os alunos nas questões que podem impedir sua participação plena em situações reais de uso, seja como leitor ou produtor de textos. Apesar das novas orientações de ensino favorecerem perspectivas mais promissoras255, a mídia insiste em defender a orientação antes adotada pelo ensino tradicional de Língua Portuguesa256. É interessante, como início de reflexão, contrastarmos essa visão sobre ensino centrado em normas gramaticais específicas e as reflexões mais amplas sobre linguagem e seu uso em práticas interativas257 na linha em que estamos trabalhando ao longo desta disciplina.
258 Se a orientação centrada em reflexões sobre a língua isolada de contexto já foi criticada no contexto do ensino do letramento tradicional, sua inadequação é ainda mais evidente quando pensamos na complexidade envolvida nas práticas de leitura ou de produção de textos digitais. O arquivo incluído aqui259 apresenta duas páginas retiradas da Internet que podem ilustrar um pouco esse problema e também salientar a necessidade de desenvolvermos em nossos alunos a reflexão social crítica para que eles saibam filtrar, avaliar e se posicionar frente aos conteúdos que acessam. Na realidade, a questão que se coloca hoje vai muito além da adequação ou não do ensino de normas gramaticais260. O ensino atual precisa se preocupar com outras questões mais prementes: Que novas habilidades de leitura e produção nossos alunos precisam desenvolver para participarem das novas possibilidades de comunicação e modos de construção do conhecimento? Para ajudar a refletir sobre esse assunto, vamos abordar, neste último tópico, diferentes modos de ler e produzir em algumas ferramentas digitais mais presentes em sala de aula hoje (ferramentas de busca, blogs, wiki, e-mail, MSN e redes sociais). ________________________________________________________________________________________ 255 Como aquela do ensino de línguas norteado pela noção de gêneros discursivos. 256 O professor Pasquale, por exemplo, ganhou grande destaque na mídia impressa e televisiva discutindo detalhes
gramaticais e dando a eles uma importância muito maior que a merecida. 257 Sejam elas digitais ou não. 258 Fonte: http://www.youtube.com/watch?v=CqQ40kTXofE, acesso em 09/02/2012. 259Fonte:https://autoria.ggte.unicamp.br/tinymce/plugins/filemanager/files/lingua_portuguesa/modulo_03/multiletramento
s_linguagens_midias/vozessociais.pdf, acesso em 09/02/2012. 260 Dentro ou fora de contexto de uso.
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Mãos à obra_________________________________________________________________________________
_______ Para começarmos a pensar como tratar os novos letramentos ou letramentos digitais em sala de aula, considere uma situação hipotética -‐ mas não implausível -‐ como é a do cyberbullying261: imagine que esse fenômeno surgiu na sua classe. Sensibilizado(a) com o problema que a difamação na Internet trouxe para seu/sua aluno(a), você achou importante enfocar e discutir esse tema nas atividades previstas para a aula de Língua Portuguesa.
262 Uma vez selecionadas as fontes e textos, faça um breve plano de aula, indicando como pretende explorar essa discussão dentro do conteúdo programático de uma série específica. Após ter concluído seu plano de aula, publique-‐o no seu Diário de Bordo no TelEduc, socializando suas reflexões a respeito.
261 Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Cyberbullying, acesso em 20/03/2011. 262 Fonte: RedeFor
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Colocando os conhecimentos em jogo 1 ________________________________________________________________________________________ Certamente, uma das grandes vantagens associadas à Internet é o acesso à informação. Imagine um assunto e que alguém já tenha publicado algo sobre ele: filosofia, doenças e tratamentos (o famoso "doutor Google") e até instruções de como fazer nós de gravata. Isso, por um lado, é muito bom, mas, por outro lado, também traz problemas sérios: é preciso saber filtrar a informação que queremos e também ter critérios que nos permitam "separar o joio do trigo". Como qualquer pessoa pode publicar na Internet, há alguns autores que não têm a devida preocupação com a confiabilidade do que publicam online e alguns usam esse meio para intencionalmente espalhar boatos e informações absurdas. É importante ter clareza de que ferramentas de busca, como o Google, pesquisam na rede a partir de categorias, ou seja, palavras-‐chave. Basicamente, esse processo pode ser comparado à lógica de organização das antigas "páginas amarelas" das listas telefônicas. A consulta online pode gerar alguns problemas, pois nem sempre as palavras-‐chave que identificam as diferentes fontes são as que escolheríamos para pesquisar determinados temas. Por exemplo, você quer consultar sobre "ônibus urbano", mas a informação que deseja pode estar em "transporte coletivo" ou "coletivos urbanos" ou mesmo "empresas de ônibus". Buscas eficientes, às vezes, precisam testar mais de uma alternativa263, como muitas vezes já fizemos em nossas consultas às páginas amarelas. Há um outro problema: se você colocar palavras sem muitas especificações, como "ônibus" a título de exemplo, a busca pode trazer uma infinidade de endereços que vão desde indústrias montadoras de ônibus, linhas de ônibus, aluguel de ônibus, acidentes de ônibus e assim por diante. É preciso saber, portanto, especificar melhor sua busca. Uma possível alternativa é colocar as palavras-‐chave entre aspas264. As ferramentas de busca listam as páginas pelo número de acessos. O primeiro bloco265 de endereços tende a ser o mais consultado, mas nem sempre a informação mais pertinente está entre as primeiras opções oferecidas. As legendas colocadas abaixo do endereço podem ser úteis para orientar a seleção do leitor. Uma vez feita a seleção de um endereço, é importante que o usuário avalie a confiabilidade de sua fonte de pesquisa266. Se o site ou a página é de um autor desconhecido, é sempre importante averiguar se ele se identifica267, se oferece endereço para contato ou dados sobre as fontes que consultou. Isso pode ser um indício de maior compromisso com a informação que está sendo veiculada. É claro que é sempre importante averiguar se as fontes citadas de fato existem e se a sua interpretação sobre seus conteúdos é a mesma do autor do texto lido online.
263 Em qualquer uma dessas possibilidades, as buscas trazem um conjunto de endereços possíveis para consulta. Às vezes,
lendo o título desses endereços e as descrições gerais que seguem logo abaixo, é possível fazer uma triagem. Outras vezes, precisamos abrir o endereço e ver o que ele nos oferece.
264 Neste caso, as ferramentas de buscas só trazem endereços que tenham somente aquelas palavras e naquela ordem. Isso delimita melhor a busca, mas pode também limitar as opções de busca. Outra alternativa é colocar palavras-chave sem aspas e a busca trará endereços que tratem de qualquer um daqueles assuntos. Assim, se você colocar [transporte urbano, Campinas], sua busca pode trazer informações mais específicas sobre o que procura, mas pode também indicar sites que discutem sobre a cidade de Campinas ou sobre transporte em geral.
265 Vale consultar os outros blocos, pois nem sempre o que é mais consultado traz a informação que precisamos e também há meios de burlar essas ferramentas de modo a fazer endereços subirem para o primeiro bloco.
266 Sites institucionais, autores conhecidos (ou que falam em nomes de grupos) tendem a ter mais cuidado com o que publicam na Internet, para não prejudicar sua imagem pública.
267 Há muitos textos atribuídos, por exemplo, a Luiz Fernando Veríssimo, que, embora engraçados e interessantes, têm um estilo completamente diferente e, possivelmente, foram escritos por outras pessoas que não quiseram se identificar.
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Colocando os conhecimentos em jogo 2 ________________________________________________________________________________________ Quando se fala em blogs, é comum surgir a seguinte pergunta: isso é um ambiente, uma ferramenta ou um gênero? Ainda que correndo o risco de simplificar um pouco a explicação, é importante entendermos, mesmo que de forma geral, porque essa questão é feita. Tomemos o blog268 como referência. O blog pode ser entendido como um "ambiente" técnico, um contexto virtual que permite que certos tipos de interação social ocorram. Para que isso aconteça, é preciso que os programadores criem ferramentas técnicas que realizem determinados comandos (que permitam o acesso ou a produção e envio de informações). Esses programadores determinam, também, o tipo de interface que aparece na tela do usuário. Isso nem sempre é evidente para às pessoas leigas. Aliás tendemos, em geral, a nos preocupar pouco com a complexidade que é constitutiva das máquinas que usamos em nosso dia a dia269, mesmo aquelas de natureza mecânica, na qual a engrenagem subjacente é visível. Assim, só podemos fazer uso das TICs porque programadores técnicos criaram "ferramentas", programas específicos que controlam as ações feitas pela máquina, a partir dos comandos que damos usando o teclado, o mouse ou mesmo tocando a tela (como acontece em alguns caixas eletrônicos de banco, em smartphones -‐ celulares com tela de toque -‐ e nos tablets). Logo, um blog pode ser entendido como um ambiente que agrega um conjunto de recursos (ferramentas), que foram adequados para as necessidades de comunicação previstas para esse contexto específico. Essas ferramentas variam dependendo da alternativa escolhida270 para criar o ambiente e também variam de um ambiente para outro271. Respondendo à questão inicial, talvez seja mais adequado pensarmos o blog como um ambiente composto por um conjunto de ferramentas técnicas específicas que nos permitem a inclusão de comentários escritos, imagens, links, vídeos etc. Isso nos leva a uma outra questão também comum: podemos considerar o blog um gênero discursivo? Para responder a esta pergunta, é preciso pensar como esse ambiente, com as ferramentas que ele oferece, pode ser apropriado pela sociedade, servindo a diferentes situações comunicativas. Assim, blogs educacionais podem ser bastante distintos dos blogs diários pessoais, dos blogs jornalísticos e assim por diante. Essas distinções precisam estar claras para os professores e para os alunos que são usuários de blogs.
268 Fonte: http://www.youtube.com/user/igovsp#p/u/38/X5GlHTfDNa0, acesso em 20/03/2011. 269 Por exemplo: como motoristas precisamos dominar certos comandos específicos e nos orientar no trânsito. Tais
comandos só dão resultados na prática porque existe um conjunto de recursos mecânicos (um conjunto de engrenagens programadas para funcionar de determinado modo) que permitem que um carro ande com a velocidade e na direção que desejamos.
270 A Internet oferece diversas alternativas para criar blogs com interface e recursos diferenciados. 271 Você tem diferentes recursos e limites para a comunicação a distância quando recorre ao uso de diferentes ambientes
digitais: e-mail, twitter, plataformas wiki e assim por diante.
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Colocando os conhecimentos em jogo 3______________________________________________________________________________________
__ Nos diferentes temas e tópicos desta disciplina, foi ressaltado que as TICs, ao serem incorporadas ao cotidiano das pessoas, mudam a natureza das práticas comunicativas e também da linguagem. Os recursos oferecidos por ferramentas desenvolvidas para escrita coletiva ilustram bem essa questão. Antes das TICs, a escrita era fundamentalmente uma prática individual. Os textos coletivos272, quando ocorriam, eram realizados de forma fundamentalmente cooperativa. Ou seja, o trabalho era subdividido em partes, cada uma sob a responsabilidade de um autor273, ou um único autor se encarregava do registro das pesquisas e reflexões coletivas. Em ambientes como o blog, esse tipo de cooperação pode também contribuir para a expansão de temas específicos. Já ambientes "wiki" criam uma situação que é nova para a construção de textos escritos: a escrita colaborativa.
274 Nesse tipo de escrita, diferentes autores participam do processo de geração e re-‐escrita do texto. Esse processo, por um lado, traz problemas que não se colocavam para a escrita tradicional como, por exemplo, estilo do autor ou mesmo a própria questão da autoria: quem é o autor de um texto produzido e revisado coletivamente? Por outro lado, é possível pensarmos que a participação coletiva em uma experiência de produção textual talvez seja uma oportunidade privilegiada para a construção do conhecimento, nos moldes previstos pela aprendizagem coletiva e colaborativa. Essas formas de aprendizagem já ocorrem em ambientes informais, como ilustrou a experiência em "O buraco no muro"275, na qual as crianças expostas ao computador aprendem colaborativamente como explorar os recursos da máquina. No entanto, levantadas essas possibilidades, é importante frisar que esse tipo de escrita colaborativa é uma prática letrada recente e ainda pouco compreendida em seus usos e funções, seja em situações cotidianas, seja em situações formais e escolares.
272 Como era o caso dos trabalhos em grupo na escola. 273 Isso no melhor dos casos, quando havia uma participação real de todos os membros da equipe 274 Fonte: http://www.youtube.com/v/jaZESDWmm-c, acesso em 20/03/2011. 275 Fonte: http://www.youtube.com/watch?v=Xx8vCy9eloE, acesso em 20/03/2011.
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Colocando os conhecimentos em jogo 4______________________________________________________________________________________
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276 Nos anos 90, o e-mail foi talvez um dos primeiros gêneros digitais que popularizou o uso da Internet entre meios acadêmicos e empresariais, como mostra o vídeo acima. Na virada do milênio, a facilitação do acesso a computadores pessoais277, a ampliação do acesso a Internet, atrelados ao surgimento de provedores gratuitos278 tornaram o uso de e-mails uma das formas mais ágeis e baratas de comunicação a distância e ele passou a ser usados em diferentes práticas279. A geração nativa digital já chega na escola sabendo usar e-mails e um conjunto de outras ferramentas que agilizam ainda mais as trocas dialógicas a distância como, por exemplo, o MSN ou, mais recentemente, o Twitter. A escola, portanto, não precisa se preocupar com esses usos mais cotidianos. Em contextos não formais, o aluno ou já sabe usar, ou aprende usando. Situações comunicativas mais formais, no entanto, demandam uma maior orientação por parte do professor. Há situações nas quais as trocas comunicativas envolvem diferentes papéis sociais e, nesses casos, as escolhas linguísticas precisam respeitar certos princípios de formalidade. Isso pode não ser evidente para o aluno. Por exemplo, podemos prever uma tarefa escolar que leve o aluno a buscar interlocução com especialistas em áreas específicas de conhecimento, ou a participar de comunidades virtuais mais formais (através da mediação de fóruns, blogs, ou participando em certos ambientes como o Orkut ou Facebook)280. Nesses casos, o aluno precisa ter o domínio de língua ou ser exposto, na escola, às escolhas linguísticas adequadas a essa situação de comunicação. Nessa direção, o uso de e-mails na escola pode fazer com que o aluno aprenda a explorar esse recurso para comunicar-se com a sociedade mais ampla e pode também ser uma forma de instigar a sua reflexão sobre a adequação dos gêneros digitais a situações comunicativas específicas.
276 Fonte: http://www.youtube.com/watch?v=PoA4qnEHuYc, acesso em 20/03/2011. 277 Agora, com preços mais acessíveis. 278 Yahoo, Google, por exemplo. 279 Algumas dessas práticas são até irritantes, como é o caso da propaganda na Internet também conhecida como "spam". 280 Embora comunidades como o Orkut ou o Facebook tendam a ser mais informais, há grupos que discutem questões
mais sérias como literatura, obras e autores específicos (com participação, inclusive, de professores universitários) ou grupos de interesse compostos por pessoas que dominam muito determinados assuntos, como cinema, música, só para citar alguns.
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Atividade autocorrigível 5 ________________________________________________________________________________________ 1) O(a) professor(a) de Língua Portuguesa resolveu trabalhar de forma mais sistemática textos de natureza dissertativa. Ele/ela negociou com sua classe a escolha de um tema específico. Pensando nessa fase inicial de produção, que demanda a construção de conhecimento sobre o tema e a tomada de posição do futuro autor, qual seria a alternativa digital mais produtiva? a) Blog criado pela classe281 b) Pesquisa na web282 2) Uma turma de terceiro ano do Ensino Médio já debateu sobre um tema polêmico na escola: a escolha do Brasil como sede da próxima Copa do Mundo. O(a) professor(a) achou que seria interessante integrar, em pequenos grupos, as diferentes contribuições283 escritas dos alunos. Essa atividade visou aprofundar o tema e desenvolver habilidades de negociação e síntese. Qual seria a escolha mais apropriada para as metas pedagógicas propostas? a) Wiki284 b) Blog285 3) Uma das vantagens da Internet é o acesso à informação. A pesquisa online deixa o aluno livre para seguir percursos não previstos pelo(a) professor(a). Considerando esse fator, é mais produtivo que o(a) professor(a): a) Não indique a leitura de certas fontes online de modo a incentivar a autonomia do aluno286. b) Delimite certas fontes e critérios de seleção287. 281 Inadequado: ferramentas e ambientes na rede que são eficazes para debates coletivos (como blogs ou fóruns) são
eficazes se os participantes já tiverem refletido previamente sobre o tema. Informações superficiais e comentários genéricos, além de pouco contribuírem para a construção do conhecimento, tendem a não motivar a participação online. A falta da presença física diminui significativamente a pressão social que mantém algumas interações no contexto de sala de aula. No contexto online, ou as trocas são interessantes e instigantes, ou o aluno simplesmente não participa.
282 Adequado: antes de discussões coletivas, é importante que o aluno já tenha refletido de forma mais aprofundada sobre o tema, de modo a ter contribuições a fazer, dúvidas para esclarecer ou posições a defender. A falta da presença face a face desloca o foco da motivação para o conteúdo. Ninguém se motiva a participar de discussões nas quais não tem nada a contribuir, ou uma certa base de conhecimento prévio para poder usufruir e aprender com trocas interativas. Essas colocações valem para a as discussões coletivas em sala de aula, no entanto no ambiente digital, isso fica mais evidente.
283 Trazendo o debate dos que defendiam ou problematizavam a preparação do país para sediar esse evento tão próximo. 284 Adequado: as ferramentas oferecidas no ambiente Wiki facilitam atividades de escrita coletiva. Na situação colocada, a
junção de vários textos em um único texto coletivo força necessariamente negociações e sínteses. No entanto, é bom ter em mente que esse tipo de escrita realmente coletivo é novo em nossa cultura letrada. Negociações desse tipo tendem a ser mais viáveis em pequenos grupos nos quais todos os alunos envolvidos têm que colocar suas contribuições.
285 Inadequado: os recursos oferecidos pelo blog não facilitariam da mesma forma a construção a várias mãos de um único texto, nem o monitoramento do professor da contribuição individual dos alunos na produção coletiva. Isso ocorre porque a estrutura do blog separa o texto principal dos comentários. Isso não favorece negociações para a criação de um texto único e pode também dificultar ainda mais o processo de síntese.
286 Errado: alunos sem um certo conhecimento prévio sobre o tema podem ficar perdidos com o excesso de informação que encontrarão online. Além disso, sem ter uma base de referência prévia, fica difícil para eles filtrarem informações relevantes. Pesquisas aleatórias tendem a dispersar a atenção do aluno para um conjunto de conteúdos que, mesmo sendo interessantes, não são pertinentes ao tema central da pesquisa.
287 Correto: é importante o professor indicar algumas fontes básicas para a pesquisa para nortear inicialmente os alunos. Além disso, cabe ao professor explicitar para o aluno critérios de seleção adequados para pesquisas acadêmicas/escolares. É importante, no entanto, que os alunos sejam instigados a ampliar as fontes iniciais consultadas, pois isso favorece o desenvolvimento da sua autonomia.
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4) O(a) professor(a) discutiu com a sua turma um problema de infraestrutura no sistema de esgoto da comunidade. Como alternativa de ação, incentivou seus alunos a escreverem textos para a Administração Regional, reivindicando melhorias. Qual seria a ferramenta mais adequada? a) E-‐mail288 b) Blog289 ________________________________________________________________________________________
288 Adequado: enviar e-mails para os órgãos responsáveis pode trazer um conjunto de benefícios. O volume de mensagens
pode favorecer que as reivindicações sejam lidas ou mesmo indicar pressão popular. Do ponto de vista de ensino de língua, essa situação favorece o ensino de gêneros mais formais de e-mails que são mais adequados a situação comunicativa em questão.
289 Inadequado: um blog pode dar visibilidade ao problema, mas não necessariamente ser lido pelas pessoas que detêm o poder para concretizar as mudanças reivindicadas.
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Finalizando_______________________________________________________________________
_________________ Este tópico 3 visou refletir sobre alguns ambientes que a Internet oferece para a construção coletiva de conhecimento (Wiki e blogs), para contato com especialistas de área ou instituições (e-‐mail) e sobre a especificidade da pesquisa na Internet (ferramentas de busca). Em relação à pesquisa, foram ressaltados alguns critérios que podem facilitar o filtro de informações e foi enfatizada a necessidade de verificar a confiabilidade do conteúdo pesquisado290. No que tange à interação online, refletimos que, embora ela seja até certo ponto mais informal do que muitos gêneros da escrita tradicional, ela não anula as regras sociais291 que regem a comunicação na sociedade mais ampla. É possível que nossos alunos, mesmo sendo usuários da Internet, precisem de orientação para a produção de textos em gêneros mais formais292. Sobre os ambientes abertos para a participação coletiva, foram enfocadas algumas ferramentas e usos que o blog e a Wiki podem oferecer para o ensino de leitura e produção de textos. Essa discussão, mesmo sendo geral, visou salientar que os recursos oferecidos pelos diferentes ambientes podem ser explorados para criar novas práticas de ensino. Foi chamada também a atenção para o fato de que a natureza da tarefa proposta pode favorecer a escolha de diferentes ambientes digitais. Isso não foge a uma regra mais geral já adotada na escola: do mesmo jeito que já intercalamos diferentes tipos de práticas orais293 com diferentes práticas escritas294, cada vez mais estaremos recorrendo às práticas digitais, visando a atingir objetivos pedagógicos específicos. Como é de se esperar, isso afetará a natureza das práticas educativas e, possivelmente, o uso e a função tradicional das práticas orais e escritas na sala de aula. ________________________________________________________________________________________
290 Isso pode ser um problema mais evidente no meio digital, já que qualquer pessoa pode publicar nesse meio. No
entanto, essa realidade chama nossa atenção para algo muito mais concreto: não podemos aceitar e acreditar ingenuamente em tudo o que ouvimos ou lemos, independente da fonte.
291 Na Internet, também temos situações de comunicação mais ou menos formais, que demandam escolhas linguísticas apropriadas.
292 O domínio desses gêneros pode ampliar a oportunidade de participação em certos contextos socialmente mais prestigiados, nos quais, por exemplo, o uso do “internetês” não é adequado.
293 Explicações orais, debates em sala de aula, apresentação oral de pesquisa. 294 Anotações, leitura de textos, produções escritas, provas, roteiros de apresentações
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Ampliando o conhecimento 1 ________________________________________________________________________________________ Aqui, você irá encontrar sugestões de textos -‐ como dissertações e artigos -‐ tanto em formato digital quanto impresso, que complementam e expandem o conteúdo do Tema 3: A) MORAES, M. A. A Produção do Gênero Dissertativo: Reflexões sobre o uso da Internet na escola. Dissertação apresentada ao Instituto de Estudos da Linguagem, da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), para obtenção do título de Mestre em Linguística Aplicada, 2007. Disponível em: http://cutter.unicamp.br/document/?code=000436244, acesso em 20/03/2011. No capítulo 4 de sua dissertação, Márcio Moraes reflete sobre uma atividade escolar que envolve a consulta de textos na Internet para a produção de textos dissertativos, em uma turma de alunos do 2.º ano do Ensino Médio. B) RODRIGUES, C. O uso de blogs como estratégia motivadora para o ensino de escrita na escola. Dissertação apresentada ao Instituto de Estudos da Linguagem, da Universidade Estadual de Campinas, para obtenção do título de Mestre em Linguística Aplicada, 2008. Disponível em: http://cutter.unicamp.br/document/?code=000436236, acesso em 20/03/2011. No capitulo 5, ítem 5.2.3, de sua dissertação, Cláudia Rodrigues detalha os resultados de uma experiência da produção coletiva de blogs, prevista como parte das atividades de produção de textos programadas para a aula de Língua Portuguesa. C) LIMA, M. C. A.; VIEIRA, A. A. S. Escrita Colaborativa na Internet: A plataforma Wiki. Anais do III CELLMS, IV EPGL e I EPPGL, UEMS-‐Dourados, 08 a 10 de outubro de 2007. Nesse artigo295, Lima e Vieira analisam a dinâmica realizada com um grupo de alunos engajados em uma atividade de escrita colaborativa, explorando os recursos oferecidos pela plataforma Wiki. ________________________________________________________________________________________
295Fonte:https://autoria.ggte.unicamp.br/tinymce/plugins/filemanager/files/lingua_portuguesa/modulo_03/multiletramento
s_linguagens_midias/ESCRITA_COLABORATIVA_-_wiki.PDF, acesso em 20/03/2011.
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Ampliando o conhecimento 2 ________________________________________________________________________________________ Algumas referências múltimídia para quem deseja saber mais sobre a relação entre escrita e novas tecnologias: A) Neste vídeo296, você encontrará um tutorial que irá ensinar cada etapa para se criar um Blog.
297 B) Neste tutorial298, você irá aprender como montar um Wiki. C) Nesta palestra, intitulada "A Era da Busca: oráculos digitais"299, realizada no espaço Café Filosófico da CPFL de Campinas, Martha Gabriel, aceitando um convite de Marcelo Tas, fala do papel dos buscadores -‐ como o Google -‐ na sociedade atual. Clique no link ver a palestra. D) Você pode cotejar sua proposta feita para discutir o Cyberbulling com seus alunos ('Mãos à Obra' do tópico 3) com o amplo material disponível no Portal do Professor do MEC300 sobre (cyber)bulling. ________________________________________________________________________________________
296 Fonte: http://vimeo.com/channels/igovexplica#1992323, acesso em 20/03/2011. 297 Fonte: http://www.youtube.com/user/igovsp#p/u/37/1DKM1RTTqLA, acesso em 20/03/2011. 298 Fonte: http://vimeo.com/channels/igovexplica#1992342, acesso em 20/03/2011. 299 Fonte: http://www.cpflcultura.com.br/site/2010/08/23/a-era-da-busca-oraculos-digitais-%E2%80%93-martha-gabriel-
com-marcelo-tas/, acesso em 20/03/2011. 300 Fonte: http://bullyingportalprofessor.wordpress.com/, acesso em 20/03/2011.
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Referências Bibliográficas ________________________________________________________________________________________ BUZATO, M. E. K. Cultura digital e apropriação ascendente: Apontamentos para uma educação 2.0. Educação em Revista. v.26, n.03: 283-‐304. Belo Horizonte, dez. 2001. DWYER, T.; WAINER, J.; DUTRA, R. et al. Desvendando Mitos: Os computadores e o desempenho no sistema escolar. Educação e Socidedade, v. 28, n. 101: 1303-‐1328. 2007. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=s0101-‐73302007000400003&script=sci_arttext, acesso em 15/07/2008. KLEIMAN, A. B. Os significados do letramento: Uma nova perspectiva sobre a prática social da escrita. Campinas: Mercado de Letras, 2008[1995]. LANKSHEAR, C.; KNOBEL, M. Sampling "the new" in new literacies. In: ______. (Orgs). A new literacies sampler. New York: Peter Lang, 2007. P. 1-‐24 ROJO, R. H. R. Letramento multiplos, escola e inclusão social. São Paulo: Parábola, 2009. SOARES, M. B. Língua escrita, sociedade e cultura: Relações, dimensões e perspectivas. Revista Brasileira de Educação, n. 0: 5–16, 1995.