REFLEXÕES ACERCA DO DESEMPENHO ESCOLAR E SUA
RELAÇÃO COM ALUNO DOTADO E TALENTOSO.
AUTOR: MICHELINE IDALGA DE BRITO SIMPLICIO
EIXO TEMÁTICO: EDUCAÇÃO E INCLUSÃO SOCIAL
Mestranda em Ensino de Ciências e Matemática NPGECIMA (UFS); Especialista em Psicopedagogia Clínica e Institucional (UNICAP)Graduação em Pedagogia (UPE) Membro da Associação Brasileira de Psicopedagogia. Especialista em Psicopedagogia Clínica e Institucional (UNICAP) Integrante do Grupo de Pesquisa em Inclusão Escolar da Pessoa com Deficiência (NUPIEPED) Email : [email protected]
RESUMO
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Este estudo se refere aos alunos com talento matemático e o seu desempenho escolar, esta articulação busca abrir uma discussão de como se constitui a relação dessas variáveis e a diversidade encontrada em alunos com características cognitivas elevadas. Exploramos material teórico utilizando ferramentas de análise dos conceitos como desempenho escolar, diversidade, talento matemático. Nossa proposta se pauta na analise das possíveis dificuldades encontradas no enquadramento desses alunos nos parâmetros estabelecidos e denominados como desempenho escolar. Tendo como objetivo analisar possibilidades e limites do termo Desempenho escolar no caso específico dos alunos com talento matemático.
Palavras-chave: Desempenho escolar; talento matemático; matemática
ABSTRACT
This research refers to students with mathematical giftedness and your scholar performance. This relation search to open a discussion about how these variables interact with the diversity found in students with higher cognitive characteristics. We explore theoretical materials utilizing analysis of concepts like scholar performance, diversity and, mathematical giftedness. Our proposal is based in an analysis of possible difficult found in a framework of these students with parameters established and named scholar performance. Our objective is analyze possibilities and limits of the term scholar performance in specific case of mathematical giftdness students.
Palavras-chave: scholar performance; mathematical giftdness; mathematics.
INTRODUÇÃO
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O processo educacional apresenta como um dos seus grandes desafios, oferecer aos
alunos oportunidades para o desenvolvimento pessoal e para a aprendizagem, em um contexto
sociocultural. Ao analisarmos a diversidade que constitui um grupo de pessoas, podemos ter
uma visão do quanto é interessante a espécie humana, não existe uma só pessoa que não seja
única.
Estudos estatísticos segundo Guenther (2003) indicam que aproximadamente 3 a 5%
da população apresentam potencial intelectual acima da média estimada, em diversos
contextos sociais.
Para Boruchovitch (1999) O desempenho escolar compreende o alto nível de produção
intelectual, a motivação para aprendizagem, a existência de metas e objetivos acadêmicos
definidos, a atenção prolongada e centrada nos temas de seu interesse, além da persistência
dos esforços face às dificuldades inesperadas.
Por outro lado, existem os que, embora apresentem Talento destacado em determinada
área, têm rendimento escolar inferior e merecem cuidados especiais, pois, freqüentemente,
manifestam falta de interesse e motivação para os estudos acadêmicos e para a rotina escolar,
podendo também apresentar dificuldades de ajustamento ao grupo de colegas, o que
desencadeia problemas de aprendizagem e de adaptação escolar.
Neste contexto abordaremos o desempenho escolar dos alunos com Talento
Matemático, onde buscaremos discutir o que se entende por desempenho escolar e a questão
da diversidade de características cognitivas elevadas. Para alcançar esse objetivo exploramos
possíveis articulações entre os conceitos de desempenho escolar, diversidade e talento
matemático. Buscamos embasamento em autores que trabalham as questões do desempenho
acadêmico, como Soares (2004) Soares e Collares (2006) entre outros que mostram as
possíveis influências para um desempenho positivo dos estudantes, Fonseca (2008)
Magalhães e Andrade (2006) que discutem propostas e definições de desempenho. Como
também Zenita Guenther e Howard Gardner que tratam das questões relacionadas à Dotação e
Talento, e Inteligências múltiplas, estudos fundamentais para reflexão deste artigo.
Na busca de contribuições para o avanço da compreensão desse tema, essa proposta se
pauta na analise das possíveis dificuldades encontradas no enquadramento desses alunos nos
parâmetros estabelecidos e denominados como desempenho escolar. Tendo o objetivo,
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portanto de analisar possibilidades e limites do termo Desempenho escolar no caso específico
dos alunos Talentosos.
1.0 A DIVERSIDADE DO ALUNO DOTADO E TALENTOSO
Embora no título desse trabalho estejamos falando de alunos Talentosos, ao
retratarmos a questão conceitual seria interessante destacar as dificuldades na denominação
desses sujeitos, pois existem instruções oficiais que dificultam o clareamento dos conceitos
usando terminologias consideradas vagas como – superdotação – altas habilidades. Guenther
(2006) reforça que conceitos mal assentados, com termos imprecisos geram insegurança e
rejeição pela área, dificultando o trabalho.
Atualmente a terminologia mais adotada mundialmente é a preconizada por Gagné
(2008) Dotação e Talento:
Dotação: designa posse e uso de notável capacidade natural, em pelo menos um
domínio da capacidade humana.
Talento: designa desempenho superior, mestria conhecimento aprendido, e habilidades
sistematicamente desenvolvidas, implicando alto nível de conhecimento ou realização, em
alguma área de atividade.
Gardner (1995), com o estudo das inteligências múltiplas, também não utiliza o termo
superdotado, mas sim talento. Define talento por um arranjo complexo de aptidões ou
inteligências, habilidades instruídas e conhecimento, disposições de atitudes de motivações
que predispõem um indivíduo a sucessos em uma ocupação, vocação, profissão, arte, ou
negócio. Ao se dedicar as questões da Inteligência e observar todas as fontes de informações
sobre o desenvolvimento, populações especiais entre outros, reuniu uma grande quantidade de
informações. Para organizá-las Howard Gardner (1995) teorizou sobre sete tipos de
inteligências:
1. Inteligências Lingüísticas: característica dos poetas;
2. Inteligências Lógico-Matemática: à Capacidade lógica e matemática;
3. Inteligências Espacial: à capacidade de formar um mundo espacial e de ser capaz de
manobrar e operar utilizando esse modelo (Marinheiros, Engenheiros, cirurgiões, etc.);
4. Inteligência Musical: possuir o dom da música como Mozart ;
5. Inteligência Corporal-Cinestésica: capacidade de resolver problemas ou elaborar produtos
utilizando o corpo (Dançarinos, Atletas, artistas, etc.);
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6. Inteligência Interpessoal: capacidade de compreender outras pessoas (Vendedores,Políticos,
Professores, etc.);
7. Inteligência Intrapessoal: capacidade correlativa, voltada para dentro.
Capacidade de formar um modelo acurado e verídico de si mesmo e de utilizar esse
modelo para operar efetivamente na vida.
Alencar e Fleith (2001) ressaltam que a superdotação pode se da em diversas áreas do
conhecimento humano (intelectual, social, artística etc.), num continuum de habilidades, em
pessoas com diferentes graus de talento, motivação e conhecimento.
Já de acordo com Virgolim (2007) enquanto algumas pessoas demonstram um talento
significativamente superior à população geral em algum campo, outras mostram um talento
menor, neste mesmo contínuo de habilidades, mas o suficiente para destacá-las ao serem
comparadas com a população geral.
Renzulli (2004) descreve a superdotação como a interseção de grupos de habilidades
denominados os três anéis de Renzulli que são: "capacidade acima da média", "criatividade"
e "envolvimento com a tarefa" que, por sua vez, são influenciados por uma rede de fatores
como a família, a escola ou o trabalho e a própria sociedade.
Quanto às características que figuram esses sujeitos destacam-se: As Diretrizes gerais
para o atendimento educacional aos alunos portadores de altas habilidades/superdotação e
talentos (Brasil, 1995), postulam que as pessoas com altas habilidades/superdotação são os
educandos que apresentam notável desempenho e/ou elevada potencialidade em qualquer dos
seguintes aspectos, isolados ou combinados:
a ) Capacidade Intelectual Geral; b) Aptidão Acadêmica Específica; c) Pensamento Criativo
ou Produtivo; d) Capacidade de Liderança; e) Talento Especial para Artes; f) Capacidade
Psicomotora.
Com relação às características Renzulli (2004) divide as características dos indivíduos
com altas habilidades em: O Tipo Escolar e o Tipo Produtivo Criativo.
Baseados nessas definições e características tornam-se necessários o planejamento dos
sistemas de ensino para uma efetiva execução do atendimento adequado as necessidades
educacionais desses alunos. Devemos, portanto ampliar a discussão em relação à educação
dos talentosos porque, as opções educativas condizentes com as características desse grupo
não podem ser deixadas ao acaso, como acontece em muitos lugares. Precisam ser
sistemáticos, articulados e coerentes no contexto em que está inserido.
De modo geral o sistema de ensino, tende a ser focalizado na faixa média, e a
identificação e o encaminhamento das necessidades educativas especiais pedem flexibilização
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de alternativas, sob risco de sufocar os potenciais. Perceber as diferenças pode favorecer um
ensino mais individualizado e combinar pessoas com habilidades diferentes de modo mais
flexível, atendendo ao verdadeiro princípio de inclusão. Necessidades diferenciadas
demandam atenção diferenciada, e não discriminação e isolamento, e isso deve abarcar
também os alunos Talentosos.
De acordo com Guenther (2006) As instituições escolares, pelos compromissos com
objetivos sociais, como também por opção, lidam com a faixa média da população, via
educação regular, e com faixas fora da média via Educação Especial. Neste cenário, o acesso
a um atendimento direcionado às condições pessoais do aluno que garantam as oportunidades
adequadas significa oferecer oportunidades para que cada indivíduo possa desenvolver seu
potencial. Salientando, portanto que a rotina do ensino convencional pode gerar desmotivação
e desperdício do potencial do sujeito podendo afetar diretamente no seu desempenho escolar,
por isso a importância do tema que segue.
1.1 SOBRE DESEMPENHO ACADÊMICO /ESCOLAR
Conceituação
No ambiente acadêmico, a constatação da competência pressupõe um conjunto de
critérios estabelecidos com base no perfil do aluno que a instituição planejou formar. Esses
critérios formam a base para o julgamento das competências dos alunos analisados a partir de
seus desempenhos acadêmicos.
O desempenho acadêmico está relacionado a fatores como inteligência, habilidade e competência. A inteligência tem a ver com o conjunto de habilidades de um indivíduo que lhe possibilita a realização de diferentes atividades de maneira a adaptá-lo às demandas do ambiente. Esta habilidade diz respeito ao potencial para realizar determinada tarefa, física ou mental. E a competência está relacionada a um nível esperado de realização para uma determinada atividade. (Magalhães e Andrade 2006, p.2).
Magalhães e Andrade (2006) citando Oxford Advanded Learner's Dictionary, 1989,
descrevem em seu texto que a expressão desempenho é utilizada para transmitir a idéia de
“achievement”, isto é, a ação de conquistar algo, de ser bem sucedido, através do esforço, da
habilidade.
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E para Braga “a avaliação do desenvolvimento e do aprendizado dos alunos, isto é, a
determinação de quão bem os alunos alcançam os objetivos acadêmicos, é uma das principais
maneiras pelas quais as instituições demonstram suas efetividades.” (2004, p.1)
Neste contexto Esteban (2002), afirma que nada garante que um aluno que tenha tirado
nota máxima saiba realmente mais que outro que tenha tirado nota 50% da nota. No entanto,
uma repetição de boas notas representa certo grau de conhecimento e retenção do conteúdo
representando assim seu desempenho e esta é a principal razão da importância de ser ter
várias avaliações ao longo do curso.
Destaco que neste contexto o termo desempenho acadêmico é considerado como a
atuação do estudante na execução de tarefas acadêmicas avaliadas em termos de eficiência,
rendimento que refletem o nível de habilidade alcançado.
O conceito de desempenho acadêmico é compreendido nesse contexto como grau de conhecimento e o desenvolvimento de habilidades de um indivíduo em um determinado nível educacional. (Ramirez & Ramirez 2004).
O bom desempenho para Fonseca (2008) significa considerar que ele apresentou
progressão de conhecimento e habilidades pessoais e sociais em um determinado nível
educacional, aspectos necessários para o desenvolvimento satisfatório na vida acadêmica,
social e profissional. Entretanto existem alunos que não conseguem alcançar essas exigências
impostas pela sociedade e vivenciam o fracasso escolar.
Este parâmetro é mensurado a partir de uma escala considerada de zero a dez pontos.
Segundo Patto (1999) e Torres (2004) alguns estudos mostram que os alunos que não
conseguem alcançar um desempenho mínimo exigido pela sociedade são reprovados e, então,
começam a vivenciar o fracasso escolar.
Dimensões de alcance do conceito de desempenho
De acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional LDB (2004) ficam
estabelecidos critérios de avaliação para verificar se a educação oferecida é de qualidade,
sendo observados os seguintes critérios:
Art. 24. A educação básica, no nível fundamental e médio, será organizada de acordo com as seguintes regras comuns:
Parágrafo V - a verificação do rendimento escolar observará os seguintes critérios:
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a. avaliação contínua e cumulativa do desempenho do aluno, com prevalência dos aspectos qualitativos sobre os quantitativos e dos resultados ao longo do período sobre os de eventuais provas finais;
b. possibilidade de aceleração de estudos para alunos com atraso escolar;
c. possibilidade de avanço nos cursos e nas séries mediante verificação do aprendizado;
d. aproveitamento de estudos concluídos com êxito; e. obrigatoriedade de estudos de recuperação, de preferência
paralelos ao período letivo, para os casos de baixo rendimento escolar, a serem disciplinados pelas instituições de ensino em seus regimentos;
Neste contexto o aspecto que se refere ao desempenho acadêmico caracteriza-se por
questões não apenas quantitativas, mas evidencia aspectos qualitativos na aquisição do
conhecimento. Para Fonseca (2008) apesar da evidente distinção na avaliação do desempenho
escolar, quando se computa a nota referente ao rendimento, as instituições escolares
apresentam uma única nota quantitativa, referente à soma da aquisição do conhecimento e das
habilidades pessoais e sociais.
De acordo com Soares (2004) Os fatores que determinam o desempenho cognitivo
pertencem a três categorias:
� os associados à estrutura escolar;
� os associados à família;
� aqueles relacionados ao próprio aluno.
Soares (2004) reforça que pesquisas empíricas realizadas nos anos 50 e 60 mostraram
que os fatores extra-escolares explicam mais a desigualdade no desempenho dos alunos do
que fatores intra-escolares. Para tanto Soares (ibid) os fatores intra-escolares podem explicar
apenas 12,3% da variância presente nos dados pesquisados, demonstrando que a maior parte
da variação proficiência deve ainda ser atribuída a variações intrínsecas ao sujeito. As
variáveis do aluno e de sua família são segundo as pesquisas as que têm maior influência e
poder explicativo para proficiência escolar.
Os artigos utilizados como fonte teórica e discutem as relações dos desempenhos
acadêmicos dos alunos brasileiros levam em consideração sem exceção a fonte de dados do
SAEB. (Soares 2004; Soares 2006; Filho 2006).
O Ministério da Educação utiliza atualmente como instrumentos avaliativos os
seguintes projetos: Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica SAEB; Exame
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Nacional de Desempenho dos Estudantes Enade; Exame Nacional do Ensino Médio ENEM.
Assumindo a responsabilidade instituída pela LDB. Esses instrumentos avaliativos têm como
objetivo subsidiar a elaboração de políticas públicas educacionais no âmbito federal, estadual
e municipal, para identificação de variáveis associadas ao aprendizado e aos processos de
ensino. O SAEB por exemplo segundo Soares e Collares (2006) utiliza amostra
representativa dos alunos do 5º ao 9º ano do ensino fundamental e do 3º ano do ensino médio
com a mesma escala para medir a proficiência em matemática e língua portuguesa.
O processo de avaliação do desempenho escolar dos alunos em nosso país apesar de se
configurar como uma avaliação de medida quantitativa o que deixa muitas questões
importante em segundo plano, a verificação desse desempenho apresenta-se como
fundamental para a criação de políticas públicas na área educacional como também para
progressão do aluno como um todo. Com relação ao aspecto cognitivo um dos seus
instrumentos de avaliação o SAEB, realizados a cada dois anos e sob a responsabilidade do
INEP essa avaliação tem o propósito de monitor à qualidade da educação básica brasileira,
fornecendo os dados existentes para o estudo do efeito-escola nacional. A matriz de
especificação dos itens incluídos nos testes do SAEB descreve a associação entre os
conteúdos ensinados nas escolas brasileiras de ensino básico e as competências matemática e
leitora que o teste procura medir. Alguns autores consideram o seu demonstrativo limitado,
pois sua coleta não se refere à aprendizagem apenas ao desempenho dos alunos.
Soares (2004) afirma que os baixos níveis de desempenho dos alunos mostram que
para a maior parte da população o sistema de educação não está provendo a formação
necessária muito menos a participação crítica na sociedade moderna.
Outras pesquisas (Marsh 1992 apud Simão 2005) sugerem que a participação em
atividades extracurriculares podem levar o aluno a um maior interesse pela escola, o que
conduz indiretamente um melhor rendimento escolar. Este rendimento elevado, pode ser
explicado através de um auto-conceito escolar elevado. Auto-conceito é a imagem que temos
de nós mesmos, aquilo que acreditamos ser. (Harter 1993 apud Simão 2005).
Portanto é de grande importância abrir um viés de reflexão acerca do processo de
avaliação do desempenho escolar levando em consideração suas falhas seus objetivos como
também o que pode vir a influenciar no desempenho positivo ou negativo do aluno que
participa desse processo.
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Desempenho escolar de alunos com dotação e talento
Em princípio, quando nos referimos a alunos que apresentam dificuldade de
aprendizagem no Brasil, associamos a imagem de crianças com baixo rendimento escolar.
Porém, devem-se levar em consideração os casos de alunos com Dotação e Talento, pois a
respeito desse grupo em particular, devemos focalizar, estratégias de interações positivas que
possam favorecer o seu desenvolvimento. Juntamente com o desempenho, existem algumas
características definidas e observáveis, que podem ser notadas e acompanhadas em várias
faixas etárias, e que apresentam necessidades educacionais especiais, determinando
procedimentos pedagógicos diferenciados para essas pessoas.
Entretanto, não se pressupõem que todos os alunos com Dotação e Talento apresentem
todas essas características. Quando as apresentam, isso não se dá, necessariamente, em
simultaneidade e no mesmo nível. O importante é que não se deve generalizar, pois alunos
podem ter desempenho expressivo em algumas áreas, médio ou baixo em outras, dependendo
do tipo de Talento. Esse aluno, ao contrário do que se pensa, não consegue aprender sem a
ajuda de ninguém. Isso se configura como um dos principais preconceitos dirigidos a esta
clientela, o que diz que seu potencial já é um “dom”, algo a mais, e, portanto não precisa de
mais nada. Sem estímulo, essa pessoa pode desprezar seu potencial elevado e apresentar
frustração e inadequação ao meio.
Filho (2006) considerando dados do SAEB descreve que os alunos das escolas
privadas têm um desempenho melhor do que os alunos das escolas públicas, mesmo após
levarmos em contar todas as variáveis familiares. Além disto, os dados revelam que a escola
explica entre 10% e 30% das diferenças de notas obtidas pelos alunos. O restante da variação
ocorre dentro das escolas, ou seja, devido às características dos alunos e das suas famílias.
Os exercícios econométricos da mesma pesquisa mostram que as variáveis que mais
explicam o desempenho escolar são as características familiares e do aluno, tais como
educação da mãe, cor, atraso escolar e reprovação prévia, número de livros e presença de
computador em casa e trabalho fora de casa. Os resultados obtidos consideram os fatores de
ordem intrínseca ao sujeito como de grande influência no desempenho do aluno o que reforça
o entendimento de que os alunos que apresentam Dotação e Talento podem ser influenciados
por fatores característicos de seu comportamento como a introspecção e a dificuldade de
relacionamento com os pares.
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De acordo com Filho (2006) começando pelo gênero, os meninos têm um desempenho
em matemática superior às meninas em todas as séries. Alunos atrasados em sua série têm
desempenho pior do que os alunos que estão na série correta ou adiantados, o que
possivelmente está ligado ao efeito de variáveis como entrada tardia na escola ou
discriminação. A questão da discriminação considera como uma variável que pode interferir
no desempenho dos alunos talentosos levando a uma dificuldade de relação e
consequentemente de rendimento satisfatório.
As discussões contra mensuração da avaliação escolar direcionada exclusivamente ao aspecto quantitativo o que vemos na realidade educacional de nossas escolas é a prática recorrente da apresentação dos resultados em termos quantitativos. (BRASIL 2004).
Gardner (1995) se contrapõe com sua teoria das inteligências múltiplas enfatizando o
propósito da escola que deveria ser o de desenvolver as inteligências a ajudar as pessoas a
atingirem objetivos adequados a sua inteligência particular com expectativas de cunho
qualitativo.
Reforçando minha postura de acreditar que a avaliação do desempenho esperado pelas
instituições não leva em consideração os aspectos particulares da diversidade encontrada nos
alunos talentosos.
Entrando no campo docente podemos destacar os resultados da pesquisa de Filho
(2006) a qual relata que o fato do professor ter passado recentemente por um processo de
treinamento não tem nenhum efeito sobre o desempenho dos alunos, e os métodos didáticos
como o uso de retro-projetor ou computador têm muito pouco impacto sobre as notas dos
alunos.
Gardner (1995) propõe um novo conjunto de papéis para os educadores com a tarefa
de tentar compreender as capacidades e interesses dos alunos utilizando instrumentos justos
com a inteligência. Ele critica essa forma de avaliar sugerindo observação das capacidades
espaciais e pessoais não se limitando ao desempenho habituais das inteligências lingüística e
lógico-matemática. Tornando-se fundamental para o aluno com dotação e talento essa
consideração, pois a dependência da medida dessas capacidades apenas, possivelmente poderá
esconder outras capacidades também muito importantes. Se existem sete tipos de inteligência
descritas por Gardner não parece justo serem verificadas apenas duas dessas inteligências.
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Pois segundo ele uma criança pode ter um desempenho precoce em uma área e estar na média
ou abaixo da média em outra.
Com relação à escola acreditamos que a perspectiva comunitária que leva em
consideração as relações dos sujeitos também pode influenciar nesse processo avaliativo,
onde a escola de perspectiva burocrática precisa ser critica e revista, por não considerar
contingências humanas. Nesta perspectiva Gardner também critica a visão universalista da
mente que conduz a uma visão de escola centrada na uniformidade de todos. Consideramos a
partir das discussões teóricas, esses resultados de desempenho na perspectiva burocrática não
são suficientes para abarcar a diversidade cognitiva dos alunos com Talento. Devem-se
reconsiderar essas medidas tradicionais de verificação de desempenho.
Pois essa análise dos limites e das possibilidades do termo Desempenho escolar no
caso específico dos alunos Talentosos através de uma discussão teórica de pesquisadores do
assunto, mostrou-nos que a avaliação tem sido limitada também pela hipertrofia que o
processo de atribuição de notas ou conceitos. Definir através de nota ou conceito as
dificuldades e facilidades do aluno á apenas um recurso simplificado que identifica a posição
do aluno em uma escala.
A prática da avaliação do desempenho poderia ser utilizada com o propósito de
compreender o processo ensino-aprendizagem, pois tem sido utilizada por muitas vezes de
forma reducionista limitando sua aplicação a um instrumento de coleta de informações.
Acabam assim por legitimar as desigualdades na escola, o currículo escolar, que privilegia a
cultura das classes dominantes, e o resultado é a reprodução das injustiças e da idéia de que há
classes sociais que nascem para estudar e desempenhar papéis de liderança na sociedade e
classes que nascem destinadas a obedecer e a ocupar os lugares mais baixos na escala da
produção.
Portanto a avaliação do desempenho escolar tem um caráter limitado em sua
abrangência fazendo um diagnóstico direcionado aos objetivos do ensino, e o seu uso pode vir
a diminuir as oportunidades dos sujeitos de demonstrar seu real potencial dando ênfase a
resultados específicos.
Os alunos com Dotação e Talento apresentam diversidade de características e de
potencial cognitivo, tendo que as formas de avaliação considerar a variedade desse potencial,
valorizando outras formas e tipos de inteligência humana. O ambiente escolar sendo uma
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representação de uma parcela da sociedade poderia ser lócus de transformação e
redirecionamento de suas perspectivas dando ênfase a um modelo mais heterogêneo de
verificação do desempenho escolar.
Torna-se importante destacar que as discussões realizadas neste trabalho apresentam
uma perspectiva inicial de reflexão acerca deste assunto, sendo importante a continuidade dos
estudos para um maior embasamento e verificação das possibilidades de mudança no cenário
educacional atual.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este trabalho teve como principal objetivo a analise dos limites e das possibilidades do
termo Desempenho escolar no caso específico dos alunos Talentosos através de uma
discussão teórica de pesquisadores do assunto.
A avaliação tem sido limitada também pela hipertrofia que o processo de atribuição de
notas ou conceitos. Definir através de nota ou conceito as dificuldades e facilidades do aluno
á apenas um recurso simplificado que identifica a posição do aluno em uma escala.
A prática da avaliação do desempenho poderia ser utilizada com o propósito de
compreender o processo ensino-aprendizagem, pois tem sido utilizada por muitas vezes de
forma reducionista limitando sua aplicação a um instrumento de coleta de informações.
Acabam assim por legitimar as desigualdades na escola. O currículo escolar, que privilegia a
cultura das classes dominantes, e o resultado é a reprodução das injustiças e da idéia de que há
classes sociais que nascem para estudar e desempenhar papéis de liderança na sociedade e
classes que nascem destinadas a obedecer e a ocupar os lugares mais baixos na escala da
produção.
Portanto a avaliação do desempenho escolar tem um caráter limitado em sua
abrangência fazendo um diagnóstico direcionado aos objetivos do ensino, e o seu uso pode vir
a diminuir as oportunidades dos sujeitos de demonstrar seu real potencial dando ênfase a
resultados específicos.
Os alunos com Dotação e Talento apresentam diversidade de características e de
potencial cognitivo, tendo que as formas de avaliação considerar a variedade desse potencial,
valorizando outras formas e tipos de inteligência humana. O ambiente escolar sendo uma
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representação de uma parcela da sociedade poderia ser lócus de transformação e
redirecionamento de suas perspectivas dando ênfase a um modelo mais heterogêneo de
verificação do desempenho escolar.
Torna-se importante destacar que as discussões realizadas neste trabalho apresentam uma
perspectiva inicial de reflexão acerca deste assunto, sendo importante a continuidade dos
estudos para um maior embasamento e verificação das possibilidades de mudança o cenário
educacional atual.
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