RELATÓRIO FINAL
DE ESTÁGIO
PROFISSIONALIZANTE
MESTRADO INTEGRADO EM MEDICINA 2013-2019
NOVA Medical School | Faculdade de Ciências Médicas
Universidade Nova de Lisboa
Sara da Costa Correia de Oliveira | 2013383
Junho de 2019
Regente: Professor Doutor Rui Maio
Orientador: Doutor António Mário Santos
Glossário
AEFCM – Associação de Estudantes da Faculdade de Ciências Médicas | NOVA Medical School
AEFMUL – Associação de Estudantes da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa
ANEM – Associação Nacional de Estudantes de Medicina
ATLS – Advanced Trauma Life Support
BO – Bloco Operatório
CEMEF – Curto Estágio Médico em Férias; organizado pela a ANEM
CHPL – Centro Hospitalar Psiquiátrico de Lisboa
DGS – Direção-Geral da Saúde
ECG – Eletrocardiograma
EO – Exame Objetivo
GPA e CAM – Grupo Psicoterapêutico Aberto e Consulta Aberta ao Mundo; realizados no CHPL pelo Dr. António
Bento
ICD – Implantable Cardioverter Defibrillator/Cardioversor Desfibrilhador Implantável
IFMSA – International Federation of Medical Students’ Associations
IPOM – Open Intraperitoneal Onlay Mesh
MCDT – Meios Complementares de Diagnóstico e Tratamento
MGF – Medicina Geral e Familiar
MI – Medicina Interna
MIM – Mestrado Integrado em Medicina
NMS|FCM – NOVA Medical School | Faculdade de Ciências Médicas
SNS – Sistema Nacional de Saúde
SU – Serviço de Urgência
TEAM – Trauma Evaluation and Management; curso integrado no Estágio Parcelar de Cirurgia
UC – Unidade Curricular
USF – Unidade de Saúde Familiar
Índice 1. Introdução ........................................................................................................................................................1
1.1. Enquadramento e Organização ................................................................................................................1
1.2. Objetivos Gerais .......................................................................................................................................1
2. Síntese das Atividades Desenvolvidas ..............................................................................................................2
2.1. Cirurgia Geral – Estágio Parcelar ..............................................................................................................2
2.2. Cardiologia – Estágio Parcelar ..................................................................................................................2
2.3. Pediatria – Estágio Parcelar ......................................................................................................................3
2.4. Cirurgia Pediátrica – Estágio Parcelar .......................................................................................................3
2.5. Ginecologia e Obstetrícia – Estágio Parcelar ............................................................................................3
2.6. Gastrenterologia – Estágio Parcelar .........................................................................................................3
2.7. Saúde Mental – Estágio Parcelar ..............................................................................................................4
2.8. Medicina Geral e Familiar – Estágio Parcelar ...........................................................................................4
2.9. Unidade Curricular Opcional Trauma .......................................................................................................4
2.10. Elementos Valorativos ..........................................................................................................................5
3. Reflexão Crítica .................................................................................................................................................5
3.1. Análise dos Estágios Parcelares e Opcional ..............................................................................................5
3.2. Apreciação Global .....................................................................................................................................7
Anexos ......................................................................................................................................................................9
Anexo I – Cronograma do Ano Letivo 2018/2019 ................................................................................................9
Anexo II – Certificado do Curso ATLS................................................................................................................. 10
Anexo III – Certificados de Atividades da AEFCM .............................................................................................. 11
Anexo IV – Certificados de Atividades no Estrangeiro ...................................................................................... 13
Anexo V – Comparação dos Sistemas de Saúde Português e Alemão .............................................................. 17
Anexo VI - The Tuning Learning Outcomes/Competences for Primary Medical Degrees in Europe – Level 2 . 19
1
1. Introdução
1.1. Enquadramento e Organização
O presente relatório descreve a UC Estágio Profissionalizante do 6º ano do MIM da NMS|FCM da Universidade
Nova de Lisboa. Encontra-se organizado em Introdução, incluindo a delineação dos Objetivos Gerais; Síntese das
Atividades Desenvolvidas; e Reflexão Crítica, incluindo uma análise dos Estágios Parcelares e uma Apreciação
Global.
Esta UC engloba 6 Estágios Parcelares: Medicina, Cirurgia, Pediatria, Ginecologia e Obstetrícia, Saúde Mental, e
Medicina Geral e Familiar. Efetuei todos estes estágios, à exceção de MGF e Saúde Mental, ao abrigo do
Programa Erasmus+ na Charité – Universitätsmedizin Berlin, na Alemanha. Tendo em conta a maior flexibilidade
em mobilidade, optei por dividir Cirurgia em Cirurgia Geral e Cirurgia Pediátrica; e Medicina em Gastrenterologia
e Cardiologia (ambas são consideradas como subespecialidades da MI na Alemanha, sendo os serviços de MI
geralmente subespecializados). Optei por Cardiologia pela grande prevalência de patologias cardíacas na
população; por Cirurgia Pediátrica por ser uma especialidade com que nunca havia contactado; e por
Gastrenterologia por desejar aprofundar conhecimentos na área. A este ano de formação pertence também uma
UC Opcional, tendo eu escolhido a UC de Trauma.
O Cronograma das Atividades Desenvolvidas encontra-se no Anexo I.
1.2. Objetivos Gerais
O 6º ano do MIM é um ano profissionalizante, em que se pretende que os futuros médicos adquiram autonomia,
segurança e confiança, constituindo, assim, um processo de transição tutorada para a prática da profissão
médica. Tendo por base o documento “O Licenciado Médico em Portugal”1 e as Fichas das diversas UC, estabeleci
os seguintes objetivos gerais do Estágio Profissionalizante:
1. Consolidação de conhecimentos teóricos e práticos adquiridos ao longo do MIM;
2. Aprofundamento de competências clínicas para uma abordagem ao doente autónoma e abrangente (isto
é, biopsicossocial) com realização de exame físico detalhado, diagnóstico e proposta terapêutica;
3. Prescrição racional e eficiente de MCDT e medicamentos;
4. Treino da comunicação com o doente, família e profissionais de saúde;
5. Promoção da saúde a nível do doente individualmente e das populações;
6. Aumento da minha autoconfiança como médica, com reconhecimento das minhas limitações e melhoria
contínua das minhas aptidões;
1 Victorino RM et al.; O Licenciado Médico em Portugal–Core Graduates Learning Outcomes Project; Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, 2005; 32-34
2
7. Realização de procedimentos práticos médicos e de enfermagem;
8. Ampliação do meu vocabulário médico em Alemão.
9. Compreensão do funcionamento do Sistema de Saúde Alemão e da rede de referenciação entre
especialidades, consultórios médicos, e hospitais.
Na secção seguinte, optei por definir objetivos específicos para alguns dos estágios, como complemento aos
já definidos na ficha de cada Estágio Parcelar.
2. Síntese das Atividades Desenvolvidas
2.1. Cirurgia Geral – Estágio Parcelar
O estágio de Cirurgia Geral decorreu na Enfermaria e BO durante 2 semanas. Na Alemanha, a Pequena Cirurgia
e a avaliação primária de doentes no SU são asseguradas pela Cirurgia de Trauma (Unfallchirurgie), pelo que
estes componentes não fizeram parte do meu estágio. Estabeleci como objetivos adicionais: (1) Aplicar a
antibioterapia profilática de acordo com as orientações do Departamento de Higiene do Hospital; (2) Participar
em Cirurgias; (3) Tornar-me autónoma na mudança de pensos.
Participei diariamente na Reunião de Serviço e na Visita à Enfermaria. Tive a oportunidade de realizar
autonomamente notas de entrada, entrevista clínica, EO e diários. Adicionalmente, realizei punções venosas,
colocação de cateteres venosos periféricos, mudança de pensos e remoção de pontos. No BO, auxiliei no
posicionamento e desinfeção do doente e participei como 1ª ou 2ª ajudante em diversos procedimentos, dos
quais destaco: Apendicectomia; Hernioplastia e Herniorrafia, incluindo IPOM e TAPP; Fundoplicatura de Nissen;
Colecistectomia; Gastrojejunostomia. Assisti também à reunião multidisciplinar de Oncologia.
2.2. Cardiologia – Estágio Parcelar
O estágio de Cardiologia decorreu na Enfermaria, tendo a duração de 2 semanas. Defini como objetivo
complementar: treinar a leitura de ECG e Radiografias Torácicas. Participei na visita médica diária à enfermaria,
onde contactei com diversas patologias e pude observar a evolução clínica dos doentes. Gostaria de destacar
casos de insuficiência cardíaca descompensada, fibrilhação auricular, miocardite infecciosa, enfarte agudo do
miocárdio e um doente com um Lifevest como ponte para a implantação de ICD.
Realizei a admissão de diversos doentes autonomamente, incluindo entrevista clínica e EO, discutindo
seguidamente os casos com o médico assistente. No que se refere a procedimentos práticos, pude realizar
toracocenteses assistidas por ecografia sob supervisão, colocar cateteres venosos periféricos e realizar inúmeras
punções venosas. Participei também em diversas aulas de ecocardiografia transtorácica dirigidas a internos.
3
2.3. Pediatria – Estágio Parcelar
O estágio de Pediatria decorreu durante 2 semanas na Enfermaria de Neurologia, Epilepsia e Patologias do Sono
(direcionado para a Apneia Obstrutiva do Sono) e 2 semanas na Enfermaria de Pneumologia e Gastrenterologia.
Como objetivos estabeleci: (1) treino da recolha da anamnese e realização de EO na criança; (2) familiarização
com a atuação nas emergências e urgências médicas pediátricas. Contactei com patologias variadas, como casos
de suspeita de desvio paroxístico do olhar para cima, neurite do nervo ótico, e regressão do desenvolvimento.
Realizei notas de entrada, entrevista clínica, EO e diários autonomamente; e escrevi notas de alta.
Ocasionalmente, realizei algaliações e punções venosas sob supervisão. Por se tratar de um centro de referência
para Fibrose Quística, observei adultos e crianças com esta patologia, bem como a realização do teste de suor.
No SU, tive a oportunidade de observar e auxiliar no diagnóstico de crises convulsivas, estado pós-ictal, reações
alérgicas, fraturas, infeções respiratórias, entre outros. No âmbito formativo, assisti a sessões teóricas dirigidas
a alunos e internos sobre temas como Queimaduras e Avaliação do Recém-nascido.
2.4. Cirurgia Pediátrica – Estágio Parcelar
O estágio de Cirurgia Pediátrica decorreu durante 2 semanas no BO e Enfermaria, onde participei na visita e
auxiliei na mudança de pensos de doentes queimados. Assisti e participei em cirurgias, nomeadamente
circuncisão, onicoplastia, orquidopexia, apendicite. Prestei também apoio ao SU.
2.5. Ginecologia e Obstetrícia – Estágio Parcelar
Defini como objetivo principal a prática de procedimentos ginecológicos e obstétricos, incluindo EO, uma vez
que poucas foram as oportunidades de realizar exame ginecológico completo durante o MIM.
As primeiras duas semanas decorreram no Bloco de Partos e Enfermaria do Puerpério, onde tive a oportunidade
de avaliar a progressão do trabalho de parto e do puerpério, realizar toques vaginais, observar partos, participar
como 2ª assistente em cesarianas, treinar a interpretação de cardiotocogramas, e treinar a ecografia obstétrica
sob supervisão do médico-assistente. As duas últimas semanas decorreram na Enfermaria de Ginecologia, BO e
SU. Por se tratar de um centro de referências nestas áreas, assisti a consultas de Displasia do Colo do Útero (com
colposcopia) e Uroginecologia. Recolhi a anamnese autonomamente no SU, realizei EO na Enfermaria e
consultas, e observei diversas ecografias ginecológicas. Participei como 2ª assistente em cirurgias como:
histerectomia, colporrafia, fixação sacro-espinhal, fixação ileococcígea, laqueação de trompas e conização.
2.6. Gastrenterologia – Estágio Parcelar
O estágio decorreu durante 4 semanas num serviço de MI subespecializado em Gastrenterologia. Defini como
objetivos complementares: (1) Aprofundar conhecimentos de Gastrenterologia; (2) Realizar aconselhamento
dietético, nomeadamente na Diabetes Mellitus; (3) Praticar Ecografia. Estive totalmente integrada no serviço,
4
tendo participado na visita à enfermaria diariamente e proposto e discutido hipóteses de diagnóstico e
tratamento. Realizei autonomamente a admissão de doentes, com entrevista clínica e EO.
No que concerne a procedimentos práticos, auxiliei na realização de toracocenteses e paracenteses, realizei
ecografias abdominais sob supervisão, coloquei cateteres venosos periféricos e realizei punções venosas. Assisti
a colonoscopias, sessões multidisciplinares de oncologia, consultas de nutrição, e sessões teóricas dirigidas a
alunos e internos, sobre os mais diversos temas, incluindo asma, cuidados intensivos, emergências médicas e
Diabetes Mellitus.
2.7. Saúde Mental – Estágio Parcelar
O estágio decorreu durante 4 semanas no Hospital de Dia e Consulta Externa do CHPL, sob orientação do Dr. Rui
Durval. Estabeleci como prioridades: (1) Identificação dos sintomas das principais patologias psiquiátricas; (2)
Treino da entrevista clínica e exame do estado mental. Assisti a diversas sessões teórico-práticas na NMS e no
CHPL sobre o diagnóstico das patologias mais prevalentes em Psiquiatria e sobre o estigma associado a esta
especialidade. Durante 3 dias estive no SU onde contactei com doentes com Psicose, Tentativa de Suicídio,
Depressão, Abuso Sexual, Esquizofrenia, e Perturbação Bipolar. No Hospital de Dia, assisti a sessões
multidisciplinares com enfermeiros, psicólogos e terapeutas ocupacionais, e realizei uma história clínica. Assisti
ao GPA e CAM, respetivamente uma sessão aberta em grupo sem estrutura rígida e consultas psiquiátricas,
ambos dirigidos a migrantes, sem-abrigo, refugiados e populações desfavorecidas.
2.8. Medicina Geral e Familiar – Estágio Parcelar
O estágio de MGF decorreu durante 4 semanas na USF Novo Mirante, sob orientação da Dra. Joana Caldeirinha.
Delineei como objetivos específicos: (1) Identificação de fatores de risco para diversas patologias e de indicação
para referenciação hospitalar; (2) Aplicação de rastreios. Participei ativamente e conduzi sob supervisão
consultas de Saúde de Adultos, Planeamento Familiar, Saúde Materna, Saúde Infantojuvenil, e domicílios. A
realçar, a realização autónoma de exame objetivo neurológico, músculo-esquelético e ginecológico, tal como de
inúmeras colpocitologias. Assisti à colocação de implantes anticoncecionais e a consultas de enfermagem.
Elaborei um folheto sobre “Vacinas Extra Programa Nacional de Vacinação”.
2.9. Unidade Curricular Opcional Trauma
Optei pela UC Opcional Trauma por ser uma das minhas áreas de interesse e acerca da qual tinha poucos
conhecimentos. Assisti a 3 dias de aulas teóricas e ao curso ATLS (Anexo II) e estagiei um dia em cada um dos
seguintes departamentos: VMER (Viatura Médica de Emergência e Reanimação), Sala de Trauma, Neurocirurgia,
Unidade de Queimados, Cirurgia Vertebro-medular e Cirurgia Maxilo-facial.
5
2.10. Elementos Valorativos
Ao longo destes 6 anos, participei nos mais variados workshops, sessões teóricas e congressos na área da
formação médica organizados pela AEFCM, ANEM e AEFMUL, dos quais destaco os realizados no 6º ano:
“Distúrbios Ácido Base” e “Nutri Day: O papel da Nutrição na Diabetes; Intolerâncias Alimentares” (Anexo III). A
aposta elevada na formação extracurricular das associações estudantis em Portugal é algo único do nosso país,
pelo que aproveitei todas as oportunidades de complementar a minha formação médica curricular.
Pelas experiências e saberes que trouxeram à minha formação médica e pessoal, não posso deixar de mencionar:
o Intercâmbio Científico da IFMSA que realizei na Eslováquia em 2015; o Intercâmbio Clínico da IFMSA que
realizei na Estónia na Unidade de Cuidados Intensivos em 2017; e o 5º ano que realizei ao obrigo do Programa
Erasmus+ na Charité – Universitätsmedizin Berlin, na Alemanha. Os respetivos certificados encontram-se no
Anexo IV.
3. Reflexão Crítica
3.1. Análise dos Estágios Parcelares e Opcional
Em primeiro lugar, os estágios de Cirurgia Geral e Cirurgia Pediátrica permitiram-me participar ativamente
em diversas cirurgias e aprender a mudar pensos cirúrgicos e de queimaduras, algo que nunca havia feito em
Portugal. Não tinha contacto com a cirurgia desde o 3º ano, aquando do primeiro estágio do MIM, em que tudo
constituía uma novidade, e estes estágios constituíram, assim, uma oportunidade de renovar os conhecimentos
adquiridos e de me focar nas patologias cirúrgicas. O estágio de Cirurgia Pediátrica, por ter sido realizado num
departamento pequeno, não me permitiu o contacto com patologias tão diversas quanto esperava.
Durante o estágio de Pediatria, realizado num grande departamento com várias enfermarias, tive a
oportunidade de contactar com patologias de diversas áreas, superar o desafio de falar com crianças numa língua
estrangeira e praticar a recolha da anamnese e EO.
No que se refere ao estágio de Ginecologia e Obstetrícia, este permitiu-me aprender o vocabulário específico
da área em Alemão, participar pela primeira vez em cirurgias ginecológicas e cesarianas, e confrontar-me com a
situação de ter de transmitir más notícias (como um aborto espontâneo) ao doente, de forma empática e
profissional. Destaco como ponto positivo, a realização frequente de exame objetivo ginecológico e obstétrico.
Nos estágios de Gastrenterologia e Cardiologia tive a oportunidade de abordar diversos doentes de forma
autónoma, algo que contribuiu de forma inegável para a minha formação médica. Por terem sido os estágios em
que mais estive integrada na equipa e ter participado na visita diariamente, acompanhei e participei no processo
6
diagnóstico e terapêutico de inúmeros doentes desde a entrada até à alta. Adicionalmente, familiarizei-me com
as doses de alguns fármacos, algo que penso ser essencial no 6º ano.
O estágio de Saúde Mental foi a primeira oportunidade que tive de contactar exaustivamente com doentes
com patologia psiquiátrica. Deparei-me com o preconceito existente na área, quer da parte de doentes e
familiares, quer de profissionais de saúde e de colegas meus, algo que prejudica o já difícil acesso à saúde mental
no SNS. Considero, portanto, como essencial a existência deste estágio no 6º ano. Foi uma experiência que me
fez crescer como pessoa e profissional de saúde, e desenvolver empatia e capacidades de comunicação,
nomeadamente ao confrontar-me com situações de abuso sexual, adição e internamento compulsivo. Pude
constatar a importância da relação médico-doente e de uma perspetiva holística no sucesso do diagnóstico e
tratamento dos doentes, em que consideramos a pessoa individualmente, o seu trabalho e o seu círculo social.
A destacar, o GPA e a CAM, que me introduziram ao conceito da patologia psiquiátrica como um dos fatores
desencadeantes da existência de sem-abrigos, e à importância de meios menos convencionais para abordar a
saúde mental nesta população.
No estágio de MGF, tive a oportunidade de comparar o funcionamento de diversas USF, nomeadamente a
Novo Mirante (onde realizei este estágio), a Buarcos (onde realizei um CEMEF no 1º ano), e a Polis (onde sou
utente). Constatei o quão importante é explicar ao doente as diversas opções terapêuticas, a sua eficácia, grau
de complexidade e preço, de modo a que o doente possa realizar uma escolha informada, garantindo assim uma
maior adesão à terapêutica. No âmbito da prevenção, fiz ensinos de comportamentos saudáveis e familiarizei-
me com as indicações para rastreios da DGS, algo que apenas pude aplicar agora, por ter realizado o estágio de
MGF do 5º ano em Berlim. Gostava, contudo, de poder ter conduzido autonomamente um maior número de
consultas, sozinha ou sob supervisão da minha tutora, mas tal não foi possível por constrangimentos de tempo.
A opcional de Trauma equipou-me das aptidões necessárias para abordar um doente traumatizado de acordo
com o protocolo ABCDE, tendo excedido as minhas expetativas, e completado uma lacuna na minha formação,
uma vez que não tive a oportunidade de realizar o curso TEAM em Erasmus+.
Gostaria ainda de destacar a oportunidade de, em diversos estágios, praticar a ecografia abdominal, cardíaca
e obstétrica; bem como de assistir ou realizar procedimentos invasivos, como a colocação de cateteres venosos
periféricos, toracocenteses e paracenteses. Nomeadamente no que concerne à colocação de cateteres venosos
periféricos, é uma competência que se espera que todos os médicos possuam no final do MIM, mas que temos
pouca oportunidade de treinar em Portugal, por ser geralmente realizada pelos Enfermeiros.
7
3.2. Apreciação Global
O 6º ano do MIM fez parte de uma das etapas mais desafiantes e recompensadores do meu percurso de vida,
que se iniciou no 5º ano, com um ano de Erasmus+ na Charité – Universitätsmedizin Berlin. Efetivamente, o meu
ano profissionalizante iniciou-se no 2º semestre do 5º ano, durante o qual realizei estágios em diversas
especialidades, correspondentes ao Plano de Estudos da NMS, em Berlim. Tomei a decisão de realizar grande
parte do meu 6º ano na Alemanha, por os alunos serem completamente integrados no dia-a-dia da equipa, sendo
vistos mais como médicos e menos como estudantes externos ao serviço, permitindo assim maior autonomia e
treino de procedimentos (muitos dos quais são do domínio médico e não da enfermagem, em comparação com
Portugal). O objetivo do 6º ano é “aprender fazendo” e, só quando somos totalmente responsáveis pelo doente,
nos apercebemos da necessidade de possuirmos conhecimentos sólidos e atualizados, do impacto que temos na
saúde dos doentes, e da obrigação de sermos honestos connosco próprios para admitirmos e melhorarmos as
nossas falhas.
Esta verdadeira experiência de trabalho, com um horário de 40 horas semanais, não veio sem desvantagens:
há menos tempo disponível para o estudo autónomo em casa e o foco no hospital é por vezes colocado em aliviar
o trabalho dos médicos assistentes. Contudo, isto permitiu-me desenvolver a minha capacidade de gestão de
tempo, quer no hospital, quer na vida pessoal. Em segundo lugar, por ter mudado frequentemente de
departamento, consegui abranger mais áreas de conhecimento, conhecer o modo de funcionamento de mais
serviços, decidir qual a especialidade que pretendo seguir e contactar com diversos estilos de praticar medicina.
No entanto, este aspeto constituiu por vezes um entrave ao aprofundar de conhecimentos sobre determinada
especialidade e ao estabelecimento de relações com outros profissionais de saúde.
Como grande mais-valia deste percurso considero o conhecimento que adquiri sobre outros sistemas de
saúde, diretamente como médica e utente, e indiretamente através do contacto com estudantes de diversos
países, durante o tempo de Erasmus+ e os dois intercâmbios da IFMSA. O sistema de saúde é um grande
determinante da qualidade do cuidado médico prestado e da satisfação dos utentes e faz parte da nossa
responsabilidade contribuir para a sua melhoria. Neste contexto, o Anexo V sistematiza as principais diferenças
que observei entre os sistemas de saúde português e alemão.
Durante o ano profissionalizante, aprendi também com sucesso a efetuar uma abordagem centrada no
doente, ao invés de uma abordagem paternalista, tendo sempre em consideração que o doente é uma pessoa
autónoma, que devemos informar durante todo o processo de diagnóstico e tratamento e que é capaz decidir,
com a nossa orientação, sobre os MCDT e opções terapêuticas que deseja. Nomeadamente, na Alemanha, é
obrigatório fornecer ao doente um documento de consentimento informado a explicar extensivamente todo e
qualquer procedimento ou cirurgia, incluindo riscos e necessidade do procedimento. Pessoalmente, constatei
8
que os doentes são também muito mais críticos, questionando frequentemente o médico, o que exigiu de mim
um maior grau de confiança nos meus conhecimentos e cuidado para os esclarecer de forma concisa e acessível.
Durante o estágio de MGF e ao lidar com a população multicultural e multilingual de Berlim, deparei-me com
diversas crenças de saúde e a necessidade de por vezes as desmistificar, de forma empática e tolerante, tendo a
língua frequentemente como barreira. Procurei, sempre que possível, tranquilizar o doente, quebrar o estigma
e preconceções associados a certas patologias, e estabelecer uma relação médico-doente satisfatória para o
doente, considerando o impacto biopsicossocial do processo diagnóstico e terapêutico. Para este objetivo,
contribuíram também todos os estudantes internacionais com quem tive contacto e que me ajudaram a quebrar
barreiras e preconceitos culturais, tão nocivos à prática clínica e difíceis de eliminar sem ser por contacto direto
com pessoas e costumes externos à nossa zona de conforto.
Por último, viver e estudar um ano e meio num país estrangeiro, sem a estrutura de apoio familiar e de
amigos, constituiu o maior desafio da minha vida, a nível pessoal e académico. Por um lado, tive a oportunidade
de, pela primeira vez desde o início do curso, me focar na minha própria saúde mental, no desporto,
passatempos, criação de amizades e descoberta de um Mundo que vai para além do nosso País. Neste sentido,
e como disse Abel Salazar, “O Médico que só sabe Medicina nem Medicina sabe” e se nós próprios nos limitarmos
à Medicina, não poderemos ambicionar considerar todos os elementos que definem uma pessoa, cuidando-a
sem a resumirmos à patologia que tem. Por outro lado, lidei com a frustração de ter de realizar tudo numa língua
não materna, de perder eventuais conhecimentos por não a dominar, e de ser julgada academicamente com
base no domínio da língua.
Mais do que um ano de transição para a prática médica, o 6º ano foi um ano de verdadeira transição para a
vida adulta, em que desenvolvi a minha capacidade de pragmatismo, aptidões clínicas e aptidões interpessoais.
Em reflexão, considero que cumpri os objetivos a que me propus, apresentando, porém, ainda alguma
dificuldade na prescrição racional de MCDT e medicamentos. De forma mais extensiva, optei por realizar a
autoavaliação das minhas competências após a conclusão destes 6 anos através dos “The Tuning Learning
Outcomes/competences for Primary Medical Degrees in Europe” que apresentei na versão oficial em inglês, no
Anexo VI. Ao identificar detalhadamente as minhas falhas, pretendo que seja mais fácil colmatá-las no futuro.
Agora, ao chegar à reta final desta difícil jornada de 6 anos, em que muitas vezes nos questionámos se
escolhemos o curso ou Universidade certa, posso dizer com felicidade que a NMS me formou não só como
médica, mas também como pessoa adulta. São a NMS e os seus docentes, tutores e funcionários que fizeram de
mim aquilo que sou hoje, e desde já agradeço a esta Casa. E porque medicina não se faz sozinho, levo para a vida
amigos do curso e a consciência de que, na vida e na prática clínica, não há nada mais importante do que as
pessoas que nos rodeiam.
9
Anexos
Anexo I – Cronograma do Ano Letivo 2018/2019
Estágio Parcelar Período de
Estágio Local de Estágio
Creditação
(Estágio)
Cirurgia Geral 08/10/2018
26/10/2018 (3s2)
Klinik für Allgemein- und
Viszeralchirurgie
(Vivantes Klinikum im Friedrichshain)
Cirurgia
Cardiologia 29/10/2018
09/11/2018 (2s)
Klinik für Innere Medizin - Kardiologie
und konservative Intensivmedizin
(Vivantes Klinikum im Friedrichshain)
Medicina
Pediatria 12/11/2018
07/12/2018 (4s)
Klinik für Kinder- und Jugendmedizin
(Sana Klinikum Lichtenberg) Pediatria
Cirurgia Pediátrica 10/12/2018
21/12/2018 (2s)
Klinik für Kinderchirurgie
(Sana Klinikum Lichtenberg) Cirurgia
Ginecologia e
Obstetrícia
31/12/2018
25/01/2019 (4s)
Frauenklinik
(Sana Klinikum Lichtenberg)
Ginecologia e
Obstetrícia
Gastrenterologia 28/01/2019
22/02/2019 (4s)
Klinik für Innere Medizin I: Schwerpunkt
Gastroenterologie
(Sana Klinikum Lichtenberg)
Medicina
Saúde Mental 18/03/2019
12/04/2019 (4s) Centro Hospitalar Psiquiátrico de Lisboa ___________
Medicina Geral e
Familiar
22/04/2019
17/05/2019 (4s) USF Novo Mirante ___________
Unidade Curricular
Opcional Trauma
20/05/2019
31/05/2019 (2s)
NMS e Hospital de São José (Centro
Hospitalar Universitário de Lisboa
Central)
___________
Os hospitais alemães mencionados acima são hospitais universitários pertencentes à Charité –
Universitätsmedizin Berlin.
2 s: semanas
10
Anexo II – Certificado do Curso ATLS
11
Anexo III – Certificados de Atividades da AEFCM
12
13
Anexo IV – Certificados de Atividades no Estrangeiro
14
15
16
17
Anexo V – Comparação dos Sistemas de Saúde Português e Alemão Portugal Alemanha
O Sistema de Saúde inclui o Sistema Nacional de
Saúde (SNS), vários subsistemas de saúde (disponíveis
de acordo com a profissão), e seguros privados
opcionais. Toda a informação abaixo, diz respeito ao
SNS.
Sistema de Saúde universal “multi-pagador” com
opção entre Seguro de Saúde do Estado (SSE) e
Seguro de Saúde Privado (SSP), existindo diversas
seguradoras de cada tipo. Todos os trabalhadores
estão cobertos pelo SSE (pago pela entidade patronal
e imposto salarial). Sob certas condições, pode-se
aderir voluntariamente a um SSP.
O SNS é universal e gratuito, cobrindo todos os
residentes em Portugal, nacionais ou estrangeiros.
Inclui taxas moderadoras, aplicadas a consultas,
procedimentos e internamentos.
Todas as consultas são gratuitas. O conceito de taxas
moderadoras aplica-se ao internamento e a
medicamentos comparticipados.
No caso dos SSP, o utente paga o serviço na totalidade
e é depois reembolsado pelo SSP.
Os sem-abrigo e desempregados estão cobertos por
um SSE. Quem não está coberto por nenhum seguro
(ex: estrangeiros sem Cartão Europeu de Saúde) pode
receber cuidados em troca de pagamento total das
despesas.
Há Hospitais públicos (pertencentes ao SNS), sociais
(geridos por instituições privadas de solidariedade), e
privados.
Há hospitais públicos, sociais e privados.
Pode-se ir a qualquer tipo de hospital com o SSE ou
SSP.
SNS maioritariamente centrado nos Hospitais, onde
existem consultas de especialidade em ambulatório.
Os médicos de família pertencem a Centros de Saúde
e outras unidades de Cuidados de Saúde Primários, e
asseguram a saúde reprodutiva, materna e
infantojuvenil.
Existem consultórios de todas as especialidades,
incluindo Cirurgia, a que se pode recorrer com SSE e
SSP. Muitos doentes são seguidos em ambulatório
nos consultórios pelo médico de família e outros
especialistas.
A saúde reprodutiva feminina e materna é assegurada
pelos consultórios de Ginecologia e Obstetrícia, e não
pelo médico de família.
A maioria das crianças são seguidas pelo pediatra.
O médico de família e as referenciações para o
hospital são definidas pela área de residência. A
observação em ambulatório no hospital exige
referenciação pelo médico de família ou SU.
O Sistema está orientado para o consumidor,
podendo este escolher o hospital ou consultório que
desejar, incluindo o médico de família. Para ter
consulta com um médico especialista é geralmente
necessária uma carta de referenciação de um médico
de família, contudo esta limita apenas a
especialidade, e não o consultório em particular. Tem
de ser o doente a estabelecer o contacto com o
consultório para marcar a consulta.
18
Rastreios universais, com critérios definidos pela DGS. A idade de início dos rastreios e a sua frequência
dependem do seguro de saúde.
Gostaria ainda de salientar os seguintes aspetos, referentes ao Sistema de Saúde Alemão:
− É dada uma grande importância à confidencialidade e proteção de dados. No internamento, interações
com o doente decorrem apenas na presença de profissionais de saúde e de outros doentes que estejam
no mesmo quarto. É necessário que o doente autorize que os seus dados sejam transmitidos a médicos
fora do hospital e a familiares ou conhecidos.
− Grande oferta de lares e rede de cuidados paliativos.
− Maior acesso à saúde mental, com grande rede de psiquiatras e psicólogos em ambulatório e no hospital.
Na minha opinião, existe menor preconceito, principalmente no que concerne a adições e depressão.
− Procedimentos ou prescrições que o utente deseje, mas não estejam cobertos pelo seguro, podem ser
efetuados mediante pagamento: por exemplo, realização de análises ou MCDT de rotina antes da idade
indicada; realização de rastreios de doenças sexualmente transmissíveis; contraceção de longa duração.
− Todos os estudantes de medicina e enfermagem têm de apresentar o Boletim de Vacinas e análises a
diversas doenças infetocontagiosas antes de iniciarem um estágio.
19
Anexo VI - The Tuning Learning Outcomes/Competences for Primary Medical Degrees in
Europe – Level 23 Graduates in medicine will have the ability to: Auto-avaliação4
‘Carry out a consultation with a patient’
• take a history • carry out physical examination • make clinical judgements and decisions • provide explanation and advice • provide reassurance and support • assess the patient’s mental state
1 1 2 1 1 1
‘Assess clinical presentations, order investigations, make differential diagnoses, and negotiate a management plan’
• recognise and assess the severity of clinical presentations • order appropriate investigations and interpret the results • make differential diagnoses • negotiate an appropriate management plan with patients and carers • provide care of the dying and their families • manage chronic illness
1 1 2 1 3 1
‘Provide immediate care of medical emergencies, including First Aid and resuscitation’
• recognise and assess acute medical emergencies • treat acute medical emergencies • provide basic First Aid • provide basic life support and cardio-pulmonary resuscitation according to current European guidelines • provide advanced life support according to current European guidelines • provide trauma care according to current European guidelines
1 2 1
1 1 1
‘Prescribe drugs’
• prescribe clearly and accurately • match appropriate drugs and other therapies to the clinical context • review the appropriateness of drug and other therapies and evaluate potential benefits and risks • treat pain and distress
2 1
2 2
‘Carry out practical procedures’
• measure blood pressure • venepuncture • cannulation of veins • administer IV therapy and use infusion devices • subcutaneous and intramuscular injection • administer oxygen • move and handle patients • suturing • blood transfusion • bladder catheterisation
1 1 1 1 1 1 2 2 1 2
3 Cumming A, Ross M; The Tuning Project (Medicine): Learning Outcomes/Competences for Undergraduate Medical Education in Europe, 2007; 14-16 4 1-Sou capaz de realizar; 2- Sou capaz de realizar com dificuldades; 3- Não sou capaz de realizar
20
• urinalysis • electrocardiography • basic respiratory function tests
2 1 3
‘Communicate effectively in a medical context’
• communicate with patients • communicate with colleagues • communicate in breaking bad news • communicate with relatives • communicate with disabled people • communicate in seeking informed consent • communicate in writing (including medical records) • communicate in dealing with aggression • communicate by telephone • communicate with those who require an interpreter
1 1 2 1 1 1 2 2 1 1
‘Apply ethical and legal principles in medical practice’
• maintain confidentiality • apply ethical principles and analysis to clinical care • obtain and record informed consent • certify death • request autopsy • apply national and European law to clinical care
1 1 1 2 3 1
‘Assess psychological and social aspects of a patient’s illness’
• assess psychological factors in presentations and impact of illness • assess social factors in presentations and impact of illness • detect stress in relation to illness • detect alcohol and substance abuse, dependency
1 1 1 1
‘Apply the principles, skills and knowledge of evidence-based medicine’
• apply evidence to practice • define and carry out an appropriate literature search • critically appraise published medical literature
1 2 1
‘Use information and information technology effectively in a medical context’
• keep accurate and complete clinical records • use computers • access information sources • store and retrieve information
1 1 1 1
‘Ability to apply scientific principles, method and knowledge to medical practice and research’
1
‘Promote health, engage with population health issues and work effectively in a health care system’
• provide patient care which minimises the risk of harm to patients • apply measures to prevent the spread of infection • recognise own health needs and ensure own health does not interfere with professional responsibilities • conform with professional regulation and certification to practise • receive and provide professional appraisal • make informed career choices • engage in health promotion at individual and population levels
1 1
1 1 1 1 1
Recommended