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Resumo
Introdução: O suicídio constitui uma das principais causas de morte violenta nas prisões em
todo o mundo. Vários estudos têm mostrado que o número de suicídios nas prisões é mais
elevado do que na população em geral, e que a tentativa de suicídio constitui um forte preditor
do suicídio consumado. No entanto, os factores de risco subjacentes às tentativas de suicídio
em meio prisional são ainda insuficientemente conhecidos.
Objectivos: Com o objectivo de contribuir para uma melhor compreensão do fenómeno, este
estudo pretende caracterizar uma população de indivíduos que cometeram tentativas de
suicídio na prisão, identificando factores pessoais, características de personalidade e sintomas
psicopatológicos, bem assim como outros factores de risco associados à ideação suicida e à
passagem ao acto.
Sujeitos e métodos: Foram estudados 157 indivíduos do sexo masculino, distribuídos por três
grupos: um grupo experimental constituído por indivíduos que cometeram tentativa(s) de
suicídio na prisão (N=52), um grupo de controlo, cujos sujeitos não possuíam antecedentes de
tentativas de suicídio (N=52), e um segundo grupo de controlo, com indivíduos vivendo na
comunidade e, igualmente, sem tentativas de suicídio (N=53). Além de uma entrevista semi-
estruturada, que permitiu caracterizar os participantes em relação a diferentes variáveis, foram
utilizados o Inventário de Personalidade NEO PI-R e o Inventário de Sintomas Psicopatológicos
(BSI), cujos resultados foram tratados estatisticamente usando a versão 19® do SPSS para
Windows.
Resultados: Os dados sóciodemográficos mostram que os reclusos que cometeram tentativas
de suicídio em meio prisional tinham uma média de idades de 36 anos (±10,2),
maioritariamente solteiros (67,3%), com o 1.º ciclo de escolaridade ou menos (46,2%), com
história de abuso/dependência de substâncias psicoactivas (57,7%) e comportamentos
autodestrutivos (69,2%). Além disso, (69,2%) tinham um diagnóstico psiquiátrico de
perturbação mental e 78,8% estavam a tomar medicação psicotrópica. A maioria (69,2%)
possuía antecedentes criminais, tendo sido condenado, por crimes contra o património (50%)
e/ou crimes contra as pessoas (38,5%), e tinha cometido tentativas de suicídio prévias (71,2%).
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A tentativa de suicídio actual foi cometida na maioria dos casos por enforcamento (57,7%), no
período compreendido entre as 18H e as 24 horas (32,7%). Os resultados do NEO PI-R
revelaram que estes indivíduos apresentam uma personalidade caracterizada por elevados
níveis de neuroticismo (78.6 ± 19.06) e reduzidos índices de extroversão (32.7 ± 26.46), com
traços marcadamente depressivos (82.9 ± 20.60). Encontraram-se ainda traços de
vulnerabilidade (73.8 ± 21.72), ansiedade (72.8 ± 23.92) e hostilidade (71.6 ± 23.50) e
impulsividade (63,5 ± 25,85) igualmente acentuados nestes indivíduos, ao contrário das facetas
acolhimento (25.71 ± 22.12) e de confiança (26.77 ± 20.38) que apresentam valores muito baixos.
Adicionalmente, os dados do BSI revelam um Índice de Sintomas Positivos (2.41 ± 0.48)
elevado, mostrando que estes indivíduos apresentam mais frequentemente sintomatologia
psicopatológica.
Conclusões: Os reclusos que cometeram tentativa de suicídio em meio prisional apresentam,
relativamente aos grupos de controlo, mais factores de risco de suicídio, nomeadamente mais
sintomatologia psicopatológica, em especial depressão e ideação paranóide, bem assim como
uma maior vulnerabilidade, ansiedade, hostilidade e impulsividade.
Palavras chave: Tentativa de suicídio; Prisão; Recluso; Personalidade; Psicopatologia
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Abstract
Introduction: Suicide is a leading cause of violent death in prisons worldwide. Several studies
have shown that the number of suicides in prisons is higher than in the general population, and
that the suicide attempt is a strong predictor of completed suicide. However, the underlying risk
factors for suicide attempts in prison are still insufficiently known.
Objectives: Aiming to contribute to a better understanding of the phenomenon, the goal of this
study is to characterize a population of actual inmates who committed suicide attempts in
prison, identifying individual factors, personality traits and psychopathological symptoms, as
well as other risk factors associated with suicidal ideation and the acting out.
Subjects and methods: This study includes 157 individuals, males, distributed into three
groups: an experimental group constituted by inmates who committed a suicide attempts in
prison (N = 52), a control group of inmates, who never committed suicide attempts (N = 52), and
a second control group, constituted by people living into the community, without prior criminal
behaviour history or suicide attempt (N = 53). In addition, to a structured interview which
allowed to characterize the regarding relevant variables, the Inventory of Personality NEO PI-R
and the Psychopathologic Symptom Inventory (BSI) were used. All data was statistically
analyzed using the SPSS 19® version for Windows.
Results: Sociodemographic data showed that the inmates who committed suicide attempts in
prison have a mean age of 36 years (± 10.2), and are mostly singles (67.3%), with 4 school
years or less (46.2%). Many (57.7%) have a history of drug abuse, and self-destructive
behaviours (69.2%). In addition, these individuals have psychiatric diagnosis of mental disorder
(69.2%) and 78.8% were taking psychotropic medication. The majority (69.2%) had criminal
antecedents, mostly related to crimes against property (50%) and/or crimes against the people
(38.5%), and prior suicide attempts (71.2%). The current suicide attempt was committed in most
cases by hanging (57.7%), in the period between 6:00 pm and 12:00 pm (32.7%). The results of
the NEO PI-R revealed that these individuals have a personality characterized by high levels of
neuroticism (78.6 ± 19.06), and reduced levels of extraversion (32.7 ± 26.46). Further, these
individuals appear to be highly depressed (82.9 ± 20.60). Additionally, it was found that
vulnerability (73.8 ± 21.72), anxiety (72.8 ± 23.92), hostility (71.6 ± 23.50) and impulsivity (63.5
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± 25.85) are also highly pronounced in these individuals, unlike the facets warmth (25.71 ±
22.12) and trust (26.77 ± 20.38) that exhibit very low values. Moreover, the BSI revealed an
enhanced Positive Symptoms Index (2.41 ± 0.48), showing that these individuals present more
psychopathologic symptoms.
Conclusions: Inmates who committed suicide attempt in prison appear to present, comparing
with both control groups, a higher risk to commit completed suicide, regarding either personality
structured or psychopathologic symptoms namely depression and paranoid ideation.
Keywords: Suicide attempt; Prison; Inmate; Personality; Psychopathology
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Índice Geral
Resumo ........................................................................................................................................ 3 Abstract ........................................................................................................................................ 5 Índice de quadros, gráficos e tabelas ..................................................................................... 10 Agradecimentos ........................................................................................................................ 11
Introdução .................................................................................................................................. 14 Parte I. Fundamentação Teórica .............................................................................................. 16
Capítulo I. Estudo dos comportamentos autodestrutivos ................................................. 17 1. Suicídio ............................................................................................................................ 17 2. Tentativas de suicídio ..................................................................................................... 24 3. Factores de risco ............................................................................................................ 29
3.1. Personalidade ............................................................................................................. 29
3.2. Outros factores de risco .............................................................................................. 32
4. Estratégias de coping ..................................................................................................... 37 5. Adaptação à prisão ......................................................................................................... 39
Capítulo II. Sistema Prisional ................................................................................................ 42 1. Breve resenha histórica do sistema penal ................................................................... 42 2. Tratamento prisional ....................................................................................................... 44
2.1. A prisão como oportunidade de mudança .................................................................. 44
2.2. Programas de Intervenção .......................................................................................... 45
Parte II. Contribuição pessoal ................................................................................................. 47
Capítulo III ............................................................................................................................... 48 1. Objectivos e hipóteses .................................................................................................. 48
1.1. Objectivos ................................................................................................................. 48
1.2. Hipóteses .................................................................................................................. 49
2. Sujeitos e métodos ........................................................................................................ 50
2.1. População estudada ................................................................................................. 50
3. Técnicas e instrumentos utilizados na recolha de dados ......................................... 54
3.1. Entrevista semi-estruturada ....................................................................................... 54
3.2. Inventário de Personalidade NEO PI-R ..................................................................... 56
3.3. Inventário de Sintomas Psicopatológicos BSI ........................................................... 58
4. Tratamento de dados ..................................................................................................... 58 Capítulo IV. Resultados ......................................................................................................... 60
1. Caracterização sociodemográfica ................................................................................ 60
1.1. Idade .......................................................................................................................... 60
1.2. Estado civil ................................................................................................................. 60
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1.3. Afinidade populacional ............................................................................................... 61
1.4. Naturalidade ............................................................................................................... 61
1.5. Nacionalidade ............................................................................................................ 61
1.6. Residência ................................................................................................................. 62
1.7. Sector Profissional ..................................................................................................... 62
2. Antecedentes pessoais ................................................................................................. 63
2.1. Aspectos desenvolvimentais e relacionais ................................................................ 63
2.1.1. Escolaridade ....................................................................................................... 63
2.1.2. Relação familiar .................................................................................................. 63
2.1.3. Dimensão da fratria ............................................................................................. 64
2.1.4. Posição na fratria ................................................................................................ 65
2.1.5. Relacionamentos maritais................................................................................... 66
2.1.6. Número de filhos ................................................................................................. 66
2.1.7. Acontecimentos de vida relevantes .................................................................... 67
2.2. Hábitos tóxicos ........................................................................................................... 68
2.2.1. Tabaco ................................................................................................................ 68
2.2.2. Álcool .................................................................................................................. 69
2.2.3. Outras substâncias psicoactivas ........................................................................ 69
2.3. Antecedentes criminais .............................................................................................. 70
2.4. Comportamentos autodestrutivos .............................................................................. 70
2.4.1. Automutilações ................................................................................................... 70
2.4.2.Tentativa de suicídio anterior ............................................................................... 71
2.4.2.1. Tempo de pena cumprido no momento da primeira TS na prisão ............... 71
2.4.2.1. Tentativa de suicídio anterior ........................................................................ 71
2.4.2.1. Local ............................................................................................................. 71
2.4.2.2. Método .......................................................................................................... 72
3. Antecedentes familiares especialmente relevantes ................................................... 72 3.1. Comportamentos suicidários ..................................................................................... 72
4. História actual................................................................................................................. 73
4.1. Criminal ...................................................................................................................... 73
4.1.1. Crimes cometidos ............................................................................................... 73
4.1.2. Condenação e pena de prisão ............................................................................ 73
4.1.3. Tempo cumprido na actual pena de prisão ........................................................ 74
4.2. Suporte familiar .......................................................................................................... 74
4.3. Perturbação mental .................................................................................................... 74
4.4. Medicação psicotrópica.............................................................................................. 75
4.5. Tentativa de suicídio actual (TS mais recente) .......................................................... 76
4.5.1. Tempo decorrido entre a primeira e a última TS na prisão ................................ 76
4.5.2. Ocupação laboral aquando da TS ...................................................................... 76
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4.5.3. Actos preparatórios ............................................................................................ 76
4.5.4. Pedido de ajuda .................................................................................................. 76
4.5.5. Variação temporal ............................................................................................... 76
4.5.5.1. Estação do ano ............................................................................................. 76
4.5.5.2. Variação mensal ........................................................................................... 77
4.5.5.3. Variação semanal ........................................................................................ 77
4.5.5.4. Período do dia ............................................................................................... 77
4.5.6. Local da TS ......................................................................................................... 77
4.5.7. Método usado ..................................................................................................... 77
4.5.8. Grau de gravidade .............................................................................................. 78
4.5.9. Socorro após a passagem ao acto ..................................................................... 78
4.5.10. Motivações para cometer a TS ......................................................................... 78
4.6. Expectativas futuras ................................................................................................... 79
5. Inventário de Personalidade NEO PI-R ....................................................................... 80
5.1. Correlações entre os factores do NEO PI-R com outras variáveis ........................... 87
6. Inventário de Sintomas Psicopatológicos BSI ............................................................ 88 7. Discussão ........................................................................................................................... 96 8. Perfil do recluso que cometeu tentativa de suicídio .................................................... 113 9. Caso ilustrativo ................................................................................................................ 114 10. Conclusões ..................................................................................................................... 117
Referências bibliográficas ...................................................................................................... 119 Anexos ...................................................................................................................................... 128
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Índice de quadros
Quadro 1. Os dez pressupostos comuns do suicídio, segundo Shneidman .............................. 18
Quadro 2. Número de suicídios nas prisões portuguesas no período de 2000 a 2010.............. 22
Índice de gráficos
Gráfico 1. Análise de variância One-Way ANOVA para a relação familiar ................................. 62
Gráfico 2. Interacção grupos x 5 factores do NEO PI-R ............................................................. 80
Gráfico 3. Interacção grupos x factores de Personalidade NEO PI-R ........................................ 81
Gráfico 4. Análise de variância das facetas do Neuroticismo. Interação grupo x neuroticismo 83
Gráfico 5. Índice de sintomas positivos (ISP) ............................................................................. 87
Gráfico 6. Efeito principal das dimensões BSI ............................................................................ 91
Gráfico 7. Interacção grupo x dimensões BSI ............................................................................. 93
Índice de tabelas
Tabela 1. Distribuição dos participantes por tipos de estabelecimentos .................................... 52
Tabela 2. Média e desvio padrão de idades dos participantes dos 3 grupos ............................. 58
Tabela 3. Estado civil dos participantes dos 3 grupos ................................................................ 59
Tabela 4. Escolaridade dos participantes dos 3 grupos ............................................................. 61
Tabela 5. Número de irmãos nos 3 grupos ................................................................................. 63
Tabela 6. Posição na fratria nos 3 grupos .................................................................................. 63
Tabela 7. Acontecimentos de vida significativos ........................................................................ 66
Tabela 8. Diagnóstico de perturbação mental, segundo DSM-IV .............................................. 73
Tabela 9. Motivações que contribuíram para cometer a actual tentativa de suicídio ................ 77
Tabela 10. Expectativas futuras .................................................................................................. 78
Tabela 11. Comparação das médias dos factores do Inventário de Personalidade NEO PI-R . 79
Tabela 12. Comparação das médias das facetas do Neuroticismo da NEO-PI-R ..................... 82
Tabela 13. Comparação das médias das restantes facetas do NEO PI-R ................................ 84
Tabela 14. Estatística descritiva para as pontuações do BSI ..................................................... 88
Tabela 15. Comparação das médias para as dimensões do BSI para cada grupo ................... 90
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AGRADECIMENTOS
Neste espaço pretendo agradecer a todos os que contribuíram para a realização desta
dissertação. Embora, o espaço da escrita me limite e não me permita que agradeça a todos
quantos fizeram parte desta caminhada, não posso deixar de mencionar aos quais me sinto
grata, por terem tornado possível esta investigação.
Em primeiro lugar, quero demonstrar a minha gratidão ao Professor Doutor Jorge Costa
Santos, meu orientador, grande mestre que muito me honra ter orientado este trabalho.
Agradeço os momentos de partilha, as sugestões, os ensinamentos e as questões inquietantes
que provocaram em mim um processo de amadurecimento. O meu obrigado pelo entusiasmo,
insistência numa constante melhoria e pela consolidação do saber.
À Direcção-Geral dos Serviços Prisionais, por ter autorizado a realização deste trabalho. A
todos os Directores e suas equipas nos vários estabelecimentos prisionais, que sempre me
apoiaram, facilitando a recolha da amostra e o espaço adequado para a realização das
entrevistas. Obrigada a todos os Técnicos e Guardas Prisionais que comigo colaboraram
permitindo que a recolha fosse realizada com êxito.
Gostaria de expressar o meu agradecimento aos reclusos que aceitaram participar neste
estudo, a eles devo esta investigação, por terem partilhado comigo tantas histórias das suas
vidas. Embora, esta não seja uma problemática agradável de relembrar, cada recluso acedeu
contar a sua história, que foi vivida e experienciada de modo diferente por cada um deles.
Ao Dr. João Pessoa, meu Director, pela compreensão ao longo da realização desta
dissertação. Agradeço à Dr.ª Anabela Guerreiro e à Dr.ª Helena Cardoso pelo apoio, incentivo
e encorajamento perante os novos desafios. Aos meus colegas de trabalho que prestaram,
cada um à sua maneira, palavras de apoio e de força, partilhando todos os dias angústias e
alegrias na procura de novos rumos e desafios profissionais.
Ao Professor Doutor Rui Santos, pelo apoio ao nível da estatística e pelas sugestões.
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Agradeço à Professora Doutora Helena Geada, subcoordenadora do mestrado e ao Sr. Rui
Gonçalves, secretário da Direcção pelo prestável apoio e gentileza ao longo deste mestrado.
À Luísa e à Sara, por serem minhas amigas e por todos os momentos que temos passado
juntas ao longo destes anos.
Às minhas amigas Sandra e Manuela por serem fontes de grande apoio e suporte, pela
amizade e carinho constantes e pela partilha comum de tantos momentos, com altos e baixos,
com mais ou menos alegria, pois sempre vos senti muito presentes.
Agradeço à minha amiga Catarina Gonzalez, pelo encorajamento, pelos preciosos
contributos e sugestões na revisão crítica deste trabalho. Obrigada pela tua amável
hospitalidade, boa disposição e grande amizade, fruto dos bons velhos tempos de Uppsala,
que jamais se esquecerão.
Ao meu irmão José Carlos, pelo carinho, incentivo e apoio incondicional que sempre
demonstrou ao longo da minha vida. À Patrícia pela encorajamento e compreensão em todos
os momentos da minha vida e pela alegria que nos deu, a mim e a toda a família, pela chegada
da nossa querida Eva.
Dedico este trabalho aos meus Pais, a quem tudo devo. Têm sido a minha âncora, sem o
seu apoio não teria concretizado os meus sonhos e projectos. Muito obrigada ao meu Pai e à
minha Mãe pela força e coragem que me transmitem, pelo vosso legado e por me apoiarem
incondicionalmente, em todos os momentos da minha vida.
Ao Fernando, obrigado por tudo o que vivemos juntos.
Às minhas filhas, Joana e Carolina, pela importância e significado que elas têm na minha
vida, pelo carinho, amor e alegria que me dão todos os dias, pela energia contagiante e por
terem dado um sentido especial à minha vida. Sem vocês nada seria igual, que sejam muito
felizes.
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IIINNNTTTRRROOODDDUUUÇÇÇÃÃÃOOO
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INTRODUÇÃO
Estudar o fenómeno do suicídio exige uma reflexão profunda sobre as grandes premissas
da existência humana. Parece universal que a morte é algo que qualquer indivíduo teme, mas
também é verdade que este fim, que ninguém sabe como vai ser, aguça a criatividade
individual na procura da verdadeira essência da existência. Hennezel (2005, p. 12), refere que
“a morte, essa que todos havemos de viver um dia, a que fere os nossos próximos (…) talvez
seja o que nos leva a não nos contentarmos em viver à superfície das coisas e dos seres, o
que nos move a penetrar na sua intimidade e na sua profundeza.”
O conceito de suicídio, tem sido amplamente estudado por vários autores, mas as dúvidas
persistem, pois o acto de acabar com a própria vida é um processo verdadeiramente complexo.
Talvez o suicídio seja uma forma diferente de morrer, porquanto seja doloroso esperar a morte.
Bateson (1987, cit. in Costa Santos, 1998), defende que não se pode perder de vista os limites
da ciência, mas também devemos ter em conta a diversidade das significações existenciais
associadas às múltiplas faces do suicídio. Segundo Braz Saraiva (2006a)), aparentemente,
quem protagoniza tal acto, deseja ao mesmo tempo os dois mundos, a vida e a morte, jamais
devendo interpretar-se o comportamento suicidário como um suicídio frustrado. Enquanto acto
de autodestruição, o comportamento parasuicidário tem sido uma realidade sempre presente
nas sociedades e tem despertado o interesse de várias áreas científicas na tentativa de
encontrar respostas explicativas para este fenómeno e sua prevenção.
Este projecto de investigação, surge na sequência de um percurso profissional ligado à
população prisional, onde o suicídio e os comportamentos suicidários têm aumentado,
tornando-se numa problemática incontornável. A nível internacional, o suicídio em meio
prisional é uma matéria muito estudada, em parte devido ao número dos suicídios nas prisões
sempre com taxas mais elevadas do que na população em geral (Andersen, 2004; Dooley,
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1990; Jenkins, et al., 2005). Em Portugal, os trabalhos científicos nesta área do conhecimento
são muito escassos.
A presente investigação, tem como principal objectivo estudar o fenómeno das tentativa(s)
de suicídio em meio prisional e como objectivo específico, analisar, os factores pessoais
associados, bem como avaliar a sintomatologia psicopatológica e as características de
personalidade dos indivíduos que atentaram contra a própria vida em prisões portuguesas.
Como tal, procedeu-se à investigação de um grupo de reclusos que haviam cometido pelo
menos uma tentativa de suicídio, comparando-o com dois outros grupos de várias dimensões,
um grupo de reclusos sem história de tentativas de suicídio e outro de sujeitos em meio extra
prisional, sem antecedentes criminais e sem tentativas de suicídio.
A estrutura desta dissertação está dividida em duas partes. Na primeira parte, procede-se
a uma revisão crítica da literatura, sem a intenção de querer, contudo, esgotar o tema, se é que
algum tema relativo à condição humana seja esgotável. Na segunda parte, apresenta-se o
contributo pessoal sobre a realização e desenvolvimento do presente estudo, realizado com
indivíduos que cometeram tentativa(s) de suicídio e com indivíduos que nunca tentaram o
suicídio, bem assim como algumas reflexões visando a prevenção deste tipo de
comportamentos.
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Capítulo I. Estudo dos comportamentos autodestrutivos
1. Suicídio
O suicídio tem sido encarado pela sociedade de formas bem diversificadas, dependendo
da cultura onde nos inserimos. A palavra suicídio tem a sua origem no latim, derivando da
composição de dois termos: sui, de si mesmo e cidium, matar, ou seja, matar-se a si mesmo.
Segundo Prats (1987), não existe sociedade ou microcultura, onde não se tenha
manifestado o suicídio, embora tenha sido sempre gerido dependente, da visão que se tem
sobre o valor social e simbólico da morte. Por seu turno, Costa Santos (1998), refere que
ninguém morre da mesma maneira, porque a morte também não é concebida de igual modo
por todos, nem tem sempre o mesmo significado. O suicídio configura-se, assim, como um
fenómeno que tem acompanhado a evolução da sociedade e que é transversal a todas as
culturas, classes sociais e idades, possuindo uma etiologia multifactorial. Apesar de tudo, a
morte continua a ser um assunto tabu, particularmente quando se trata de uma morte por
suicídio.
O estudo de Durkheim (1897, ed. Port. 2007), representado numa importante obra
intitulada O Suicídio, analisou este fenómeno colocando a tónica no colectivo sobre o
individual, considerando-o como um resultado da dinâmica social. Durkheim, (op. cit., 2007, p.
23) definiu o suicídio como “toda a morte que resulta mediata ou imediatamente de um acto
positivo ou negativo, desde que realizado pela própria vítima, tendo em vista esse resultado”
Contudo, anos mais tarde Halbwachs (1930, cit. in Costa Santos, 1998), afasta-se dessa
definição, conceptualizando o suicídio como uma questão do foro individual, sem necessidade
da aprovação social ou como um fim altruísta, reforçando o vazio social criado à volta do
indivíduo. Retomando à concepção de Durkheim (1897, ed. Port. 2007), o autor preconiza uma
tríade explicativa do suicídio: egoísta, altruísta e anómico. O primeiro caracteriza-se pela
fragilidade e apatia, traduzindo uma grande desilusão e melancolia. As relações entre o
indivíduo e a sociedade estariam fragilizadas e dificultam a integração social do indivíduo. O
segundo tipo, o altruísta, caracteriza-se por uma interdependência da sociedade, não podendo
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estar nem desligado dela, nem demasiado ligado à ela, traduzindo-se num sereno sentimento
de dever. O tipo anómico corresponde à ausência ou desintegração social de normas, regras
ou leis e à dependência individual desse poder regulador social, traduzindo-se numa
deficiência de regulação social para garantir o equilíbrio da vida em sociedade.
Shneidman (1985) baseia-se no modelo psicológico, tendo em conta o indivíduo e as
circunstâncias inerentes ao próprio para tentar compreender o complexo e sinuoso caminho da
suicidologia. Deste modo, Shneidman (1985) define suicídio como um acto consciente de
autodestruição, de etiologia multidimensional, cometido por um indivíduo que, em dadas
circunstâncias acredita ser esse comportamento a melhor solução para alguns estados
emocionais, vivenciados como uma dor intolerável. O mesmo autor (op. cit., 1985) considera
que este processo seria evolutivo e gradual, podendo iniciar-se numa ideação suicida ligeira e
evoluir com maior consistência e determinação, culminando numa planificação cuidadosa do
suicídio. Na mesma linha de pensamento, Kaplan & Sadock (1993) afirmam que o suicídio não
é um acto aleatório ou sem finalidade, ele representa a saída de uma situação carregada de
intenso sofrimento.
No entanto, Nuno Gil (2006), reportando-se à realidade clínica, refere que o doente
pensa a morte como um alívio, reconhecendo a necessidade de diferenciar pensamentos
genéricos acerca da morte, recorrentes ou não, pois a ideação suicida não seria condição
suficiente para a passagem ao acto suicidário, não significando isso que deva ser
menosprezada.
A ideação suicida é um pensamento, isto é, uma função cognitiva superior caracterizada,
fenomenologicamente, por intenções e significados, ou antes, por intenções significativas (Pio
Abreu, 1997), pelo que pode ser entendida como a planificação mental do acto suicida ou a
organização hierárquica dos gestos necessários à obtenção desse fim. Por seu turno, Liebling
(1993) refere que os gestos que determinados indivíduos realizam e que causam dano a si
próprio, podem ser vistos como um continuum de severidade, sendo que a motivação para
estes comportamentos seria a mesma, quer se trate de uma tentativa de suicídio ou de um
suicídio. Para Shneidman (1993), pensamentos sobre o suicídio lideram com frequência o
elevado sofrimento emocional em indivíduos afectados. Ainda sobre a ideação suicida autores
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como Sokero et al. (2003), ou Oquendo et al. (2007) consideram que a ideação suicida está
intimamente ligada com comportamento suicida, tal como com tentativa de suicídio e suicídio
consumado. Para Litman (1966, cit. in Soeiro, 2006), o comportamento suicida, também não é
repentino, imprevisível ou momentâneo, resultando com frequência de um plano suicida
estrategicamente desenvolvido ao longo do tempo. Para o mesmo autor (op. cit., 2006), este
plano, tem como pano de fundo crises, conflitos, ambivalências que reflectem um profundo
sentimento de angústia coabitando com uma incapacidade em encontrar soluções. O culminar
deste profundo sentimento de angústia e desespero, limita de tal forma as capacidades
egóicas, que permitirá que o plano suicida seja concretizado. Grinberg (2000) complementa
esta acepção sustentando que o comportamento suicida, constitui muitas vezes a derradeira
tentativa para expressar desespero e desamparo, perante a dificuldade de enfrentar um
problema, e a percepção, quase sempre subjectiva, de que os outros não percebem a sua real
necessidade de ajuda.
Shneidman (1985), estabeleceu os dez pressupostos mais comuns nos comportamentos
suicidários (Quadro 1). Estes dez “mandamentos”, como lhe chamou, poderiam ser mais ou
menos dependendo das motivações de cada indivíduo.
Quadro 1. Os dez pressupostos comuns do suicídio, segundo Shneidman
I. O propósito comum do suicídio é procurar uma solução
II. O objectivo comum do suicídio é uma interrupção da consciência
III. O estímulo comum no suicídio é a dor psicológica intolerável
IV. O factor de stress comum no suicídio é a frustração das necessidades
psicológicas
V. A emoção comum no suicídio é o desespero-abandono
VI. O estado cognitivo comum no suicídio é a ambivalência
VII. O estado perceptivo comum no suicídio é a restrição
VIII. A acção comum no suicídio é a evasão/saída
IX. O acto interpessoal comum no suicídio é a comunicação da intenção
X. A regra comum no suicídio é a incompatibilidade em lidar com padrões de vida
duradouros
Fonte: Adaptado de Shneidman (1985)
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Mestrado em Medicina Legal e Ciências Forenses_________________________________20
Shneidman (1985) elabora desta forma o conjunto de factores que estão na génese do
suicídio, sublinhando a necessidade de uma abordagem global e multifactorial no estudo dos
factores associados aos comportamentos suicidários. A problemática e difusa questão da
intencionalidade é assim equacionada, que para aquele autor pode ser consciente ou
inconsciente. Enquanto para Durkheim (1897, ed. Port. 2007), a intenção nem sempre se
evidencia, pois, segundo este autor, a intencionalidade é algo demasiado íntimo para se poder
atingir do exterior, a não ser por aproximações grosseiras, ocultando-se mesmo para o próprio
indivíduo. De facto, segundo Costa Santos (1998) o conceito de intenção não pode ser
dissociado de um qualquer quadro de referência epistemológico, que lhe dê sentido e
coerência. De acordo com este pressuposto, também Shneidman (1973), como já referimos,
sugere que as mortes têm sempre uma motivação, distinção esta que será reflectida no seu
conceito de intencionalidade. Deste modo, este autor (op. cit., 1973) propõe três níveis de
intencionalidade da morte:
1. Morte intencional – todo o tipo de morte no qual o indivíduo tenha
desempenhado um papel directo e consciente na sua própria consumação, o que
corresponderia ao acto suicida definitivo, deliberado e consciente;
2. Morte não intencional – toda e qualquer morte, independentemente da
determinação da sua causa ou da etiologia médico-legal, na qual o indivíduo não tenha
desempenhado qualquer papel efectivo na sua consumação, ou seja, quando a morte é
inteiramente alheia a qualquer traumatismo físico externo ou a uma falência biológica sem
componente psicológico apreciável – situações que corresponderiam à morte natural e à
morte acidental, desde que se demonstre que o indivíduo não contribui de qualquer forma
para o resultado fatal;
3. Morte subintencional – toda a morte em que o indivíduo desempenha algum
papel indirecto, camuflado, parcial ou inconsciente no desenlace fatal. Os indícios
objectivos que permitiriam estabelecer esta subintencionalidade residiriam na constatação
de determinadas manifestações comportamentais, como uma reduzida capacidade de
avaliação, a assunção de riscos excessivos, o abuso do álcool, o consumo de drogas, a
negligência com a sua própria segurança, um estilo de vida autodestrutivo, entre outras,
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Mestrado em Medicina Legal e Ciências Forenses_________________________________21
em que de algum modo o indivíduo cria condições, facilitando, acelerando ou precipitando
o processo da sua própria morte.
As propostas apresentadas acerca da definição do suicídio colocam a tónica em termos
de carácter voluntário, intencional, deliberação, escolha ou intenção, que se afigura
inadequado face à diversidade dos contextos em que ocorre a passagem ao acto suicida. A
questão da intencionalidade relativamente à morte coloca dificuldades operacionais e clínicas.
Essas dificuldades surgem obviamente ligadas a determinados contextos psicopatológicos,
mais concretamente num quadro alucinatório-delirante em pleno surto psicótico. Como é que
se pode equacionar o grau de consciência, o acto suicida como voluntário e deliberado num
doente com tais características? Deste modo, torna-se importante sublinhar as considerações
feitas por Costa Santos (1998) a propósito da intencionalidade. Este autor refere que intenção
e vontade não se podem distinguir, tal como se poderia fazer para a deliberação e escolha, à
luz da fenomenologia, as quais representam apenas dois elos intermédios dos cinco que
integram a cadeia de decisão, pressuposto ao acto livre. Assim considera o mesmo autor (op.
cit., 1998), que se afigura razoável adoptar como referência o carácter intencional do acto,
assentando numa estrutura significativa do comportamento. Por esta razão, reconhece-se a
necessidade de recorrer a vários quadros conceptuais para explicar a questão do suicídio,
sendo que o estudo do suicídio em meio prisional tem vindo a merecer uma atenção crescente
por parte dos investigadores desde 1980, em parte também devido ao aumento da incidência
(Daniel, 2006).
Num estudo realizado por Neuringer (1976, cit. in Vaz Serra & Pocinho, 2001), os
suicidas, independentemente do seu estado psíquico, são considerados mais rígidos e
extremados na sua forma de pensar do que os não suicidas, de tal forma que, quando se
sentem insatisfeitos com determinado acontecimento, não consideram outras
oportunidades/alternativas para a mudança, nem prevêem a alteração de estratégias de
resolução dos seus problemas. Vaz Serra & Pocinho (2001), referem que o suicídio não deve
ser considerado uma doença, mas antes um comportamento, manifestado por uma pessoa
com determinadas características, por vezes, sofrendo de um quadro clínico psiquiátrico, que
vive acontecimentos que são para si dolorosos e que supõe não ter capacidade de modificar.
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Segundo a Organização Mundial de Saúde (WHO, 2000b)) o impacto psicológico e
social do suicídio numa família e numa sociedade é imensurável. Em média um suicídio afecta
pelo menos outras seis pessoas. Mas se o suicídio ocorre numa escola ou num local de
trabalho, pode ter impacto em centenas de pessoas. Por essa razão, a OMS (WHO, 1999),
lançou o Suicide Prevention Program (SUPRE) um programa para a prevenção do suicídio. As
taxas do suicídio em Portugal, tiveram um decréscimo significativo desde os anos 90, tendo
descido de 8 para 5 por 100 mil habitantes, perfazendo a segunda taxa de suicídio mais baixa
da União Europeia a seguir à Grécia, situação que se manteve até ao final do século XX
(Saraiva, 2006a)). No início do século XXI, estimava-se num milhão o número anual de
suicídios no mundo. As previsões apontam para que no ano de 2020 esta cifra possa atingir
cerca de um milhão e meio de pessoas. A incidência do suicídio e do parasuicídio mostra uma
relação de 1:4 na terceira idade; entre 1:8 e 1:15 na população em geral e de 1:200 nos jovens
(WHO, 2004). O suicídio constitui-se desta forma como uma das 10 maiores causa de morte
em todos os países e uma das três maiores causas de morte na faixa etária dos 15 aos 35
anos. O aumento deste problema tem provocado mais mortes por suicídio, do que o total de
mortes por homicídio e vítimas de guerra (WHO, 2004), ultrapassando em Portugal, desde
2006, as estatísticas de mortes por acidentes de viação (INE, 2010), colocando o suicídio na
agenda das autoridades de saúde, alertando para a necessidade de elaboração de um plano
de prevenção do suicídio.
Desde o início do século XXI, porém, as taxas do suicídio em Portugal têm apresentado
uma tendência crescente, passando de 550 no final do século XX, para 1200 mortes em 2002,
estatística que já não era registada com números superiores a 1000 mortes, desde o ano de
1984 (Saraiva, 2006a)). No ano de 2010, a taxa de suicídio em Portugal era de 9,7 por 100 mil
habitantes (Costa Santos, 2010). A Organização Mundial de Saúde (2004) reconhece os
comportamentos suicidários como um problema que afecta a generalidade dos países,
alertando que o número de tentativas de suicídio é 20 vezes superior ao número de suicídios.
Os números das tentativas de suicídio vão se alterando, mas existem outras problemáticas que
também estão a aumentar exponencialmente. Saraiva (2006a)) refere que as taxas de suicídio
e de parasuicídio são diferentes do ponto de vista epidemiológico; assinalando que as
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Mestrado em Medicina Legal e Ciências Forenses_________________________________23
primeiras subiram gradualmente a nível mundial durante o século XX, mas as segundas
cresceram de uma forma dramática nos últimos 50 anos. Segundo o mesmo autor (op. cit.,
2006a)) na última década, as taxas de suicídio têm-se mantido relativamente estáveis,
enquanto as tentativas de suicídio e os parasuicídios, principalmente entre os adolescentes
portugueses têm aumentado bastante. Talvez acrescentasse, embora empiricamente, que o
crescimento não se verifica apenas nos adolescentes, mas também em meio prisional o
parasuicídio esteja em franco crescimento, embora, a escassez de estudos neste meio, não
possam comprovar esse facto. Todavia, nestas alterações, existem determinadas relações que
permanecem invariáveis, tal como a proporção de suicídios entre homens e mulheres que é de
3:1, respectivamente (Saraiva, 2006a)). No meio destas cifras negativas não podemos ignorar
os percursos e experiências de vida, o sofrimento do próprio e dos familiares, a individualidade
e as motivações de cada ser humano. Daí a necessidade de estudar este fenómeno nos vários
contextos.
No meio prisional, o comportamento parasuicida manifesta-se em larga escala e trata-se
de um meio onde existe uma maior dificuldade de sair ileso deste acto, dadas as circunstâncias
em que cada indivíduo se encontra. Para além disso, o “olhar” para estes comportamentos
depende muito da forma como esse comportamento é encarado pelos vários intervenientes no
processo. Nem sempre este gesto é entendido como reflexo de um profundo sofrimento. Nos
anos 90, o suicídio nas prisões inglesas aumentou 40%. Em Portugal, o ano de 2010, foi um
dos piores dos últimos anos, com dezanove suicídios consumados nas prisões portuguesas,
sendo apresentado no Quadro 2, uma estimativa de suicídios ocorridos no meio prisional
português. Não obstante, 2004 foi um ano de sobrelotação do sistema prisional, 13 152
reclusos, foi o número de reclusos indicados pelas estatísticas desse ano, tendo-se verificado,
contudo, uma tendência de descida, embora tivesse vivido, em média, com uma população
mensal de 13 549 reclusos, quando a lotação é de 12 789 lugares (Moreira, 2005).
A problemática do suicídio tem sido bastante estudada, quer na população em geral,
quer na população prisional. Embora em Portugal, os estudos se focalizem mais na
comunidade em geral (Costa Santos, 1998; Saraiva, 2006 a) e b); Sampaio, 1991; Freitas,
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Mestrado em Medicina Legal e Ciências Forenses_________________________________24
1984), também têm existido alguns estudos nesta área em contexto prisional (Gonçalves &
Vieira, 1989; Semedo Moreira, 1998; Costa Moreira, 2008; Neves, 2010).
Quadro 2. Número de suicídios nas prisões portuguesas no período de 2000 a 2010
Ano Suicídios Nº reclusos
2000 10 12771
2001 23 13112
2002 19 13772
2003 16 13635
2004 22 13152
2005 9 12889
2006 9 12636
2007 10 11587
2008 7 10807
2009 16 11099
2010 19 11480 Fonte: DGSP (2011b))
No entanto, os estudos, em Portugal, recaem fundamentalmente sobre o suicídio
consumado nas prisões, não existindo dados disponíveis sobre investigações realizadas na
área das tentativas de suicídio. Baseados em vários estudos que apontam as tentativas de
suicídio como um forte preditor do suicídio consumado (Daniel, 2006; Sokero et al., 2003;
Oquendo et al., 2007, Kutcher & Chehil, 2007), afigura-se importante estudar esta
problemática. Moreira (2008) refere que as taxas de suicídio nas prisões são elevadíssimas
comparativamente com a população em geral. Segundo o mesmo autor, por cada suicídio na
população geral entre 1999 e 2004, ocorreram, em média, catorze nas prisões portuguesas.
2. Tentativas de suicídio
Emile Durkheim (1897, ed. Port. 2007, p. 23) define tentativa de suicídio como “todo o
caso de morte que resulta directa ou indirectamente de um acto positivo ou negativo praticado
pela própria vítima, acto que a vítima sabia dever produzir esse resultado mas interrompido
antes que a morte daí tenha resultado.”
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Mestrado em Medicina Legal e Ciências Forenses_________________________________25
A Classificação Internacional de Doenças (CID-10, 1997), define o conceito de
parasuicídio como um acto não fatal, decorrente de um comportamento invulgar, cometido por
um indivíduo sem a intervenção de outrem, que provoca autolesão ou ingere uma substância
em sobredosagem para além da prescrita ou da dose reconhecida como terapêutica, visando
mudanças desejadas pelo indivíduo, sejam através desse acto ou de eventuais consequências
físicas. O conceito atrás referido, alerta para as consequências desejadas pelo próprio, todavia,
após a passagem ao acto, seja ele severo ou não, existem determinadas consequências
psíquicas, físicas ou existenciais que, podem eventualmente, não ter sido contempladas e que
podem constituir-se como grandes problemas, com os quais não saberá lidar ou resolver.
Até aos anos 60 do século XX, segundo refere Saraiva (1999), os estudos comparativos
entre o suicídio e o parasuicídio não eram muito diferenciadores ao nível da tentativa de
compreensão dos trajectos mentais, existindo uma sobrevalorização das características
demográficas e clínicas, em detrimento dos factores cognitivos, relacionados com a
personalidade e com as estratégias de adaptação. É pois na década de 60, que a literatura se
começa a interessar mais pelas diferenças entre estes dois comportamentos. Assim, o mesmo
autor relança para a discussão o que na sua óptica é fundamental que é a necessidade de
tentar compreender os trajectos mentais, bem como os factores cognitivos relacionados com a
personalidade ou com estratégias de adaptação. Saraiva (2006a)) alerta ainda para a
tendência perigosa que está a ser criada com a divisão das tentativas de suicídio em sérias e
manipuladoras. Numa dessas tentativas, Daniel (2006), 45 a 63% dos indivíduos que cometem
suicídio tinham realizado tentativas prévias. Destes que tinham cometido tentativas de suicídio
prévias, dois terços tinham usado métodos letais nas tentativas anteriores, como enforcamento,
ingestão de lâminas, overdose e cortes no pescoço. A gravidade da tentativa é assim
relacionada com a potencialidade autodestrutiva do método utilizado e com a probabilidade de
a pessoa ser socorrida, pois algumas tentativas de suicídio seriam realizadas num contexto
onde é previsível a ocorrência de socorro. Ainda para o autor, (op. cit., 2006a)) as tentativas
sérias representariam um elevado risco de morte (perturbação mental major, método violento
ou tóxico potencialmente letal, com recurso a um local mais ou menos recatado, para que o
corpo não fosse percepcionado) podendo, todavia, equacionar a hipótese de um suicídio
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Mestrado em Medicina Legal e Ciências Forenses_________________________________26
frustrado. As tentativas manipuladoras representariam uma nula ou baixa intenção de morte
(método não violento, em casa, impulsividade, perturbação mental minor), ou seja, um
parasuicídio, persistindo o problema da ambivalência.
Num estudo realizado por McKee (1998) com 665 reclusos e 89 reclusas, que tentaram
suicidar-se, considerou como método letal o enforcamento e método não letal as flebotomias.
Este estudo concluiu que a taxa de mortalidade e as tentativas de suicídio são em maior
número por enforcamento (52 mortes, em 602 tentativas), sendo 19 vezes superior ao número
de mortes por automutilações nos pulsos e braços (1 morte, em 275 tentativas). Este autor
apurou que a prevalência do é 11-14 vezes maior do que na população em geral. Este ensaio
de sistematização dos comportamentos pode tornar-se muito perigoso, pois a tentativa de
suicídio seja ela séria ou manipuladora, envolve sempre um certo risco, para além de se
constituirem como um forte preditor de suicídio (Neeleman, 2001; Corcoran et al., 2003).
Stengel (1952, cit. in Saraiva, 2006a)), defende que muitas tentativas de suicídio e alguns
suicídios acompanham-se de um estado de humor em que é indiferente viver ou morrer, em
vez de uma clara e inequívoca opção de pôr termo à vida, pois na óptica deste autor o
comportamento suicidário é visto como um acto de auto-agressão deliberado no qual o
indivíduo ignora se vai sobreviver.
Diekstra (1993) sugere o uso do termo parasuicídio para um acto não fatal pelo qual o
indivíduo empreende deliberadamente um comportamento não habitual que, sem intervenção
de outro, causará lesões auto-infligidas, ou que ingere deliberadamente uma substância em
quantidade superior à prescrita, tendo como finalidade conseguir as mudanças que o sujeito
deseja. Farberow (1962, cit. in Peixoto & Azenha, 2006) mantém a mesma linha de
pensamento, reconhecendo que alguns comportamentos de risco exibidos por algumas
pessoas são comportamentos autodestrutivos indirectos em que os autores destes
comportamentos não teriam consciência plena da sua intenção suicida. Assim poderíamos
considerar que determinados comportamentos como: condução perigosa, consumo de drogas,
tabaco excessivo, comportamentos sexuais de risco, podem, segundo estes autores, ser
considerados comportamentos autodestrutivos. Hawton e Catalan (1987, cit. in Saraiva,
2006a)), distinguem três tipos de auto-lesões associados ao grau de intenção suicida: cortes
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Mestrado em Medicina Legal e Ciências Forenses_________________________________27
superficiais, mais frequentes no pulso e no antebraço, correspondendo a baixa ou nula
intenção suicida; cortes profundos como flebotomias e corte de tendões, que resultam de
comportamentos suicidários por tiro, enforcamento, precipitação, atropelamento,
correspondendo a elevada intenção suicida; auto-mutilação que pode provocar uma
desfiguração, correspondendo com frequência a doentes esquizofrénicos.
Assinale-se que os modelos cognitivos fundamentam a premissa de que existe uma
interacção entre a forma como os indivíduos pensam (expectativas, crenças, inferências,
esquemas, lembranças, distorções cognitivas) e como, subsequentemente, se comportam face
aos acontecimentos do seu mundo, entendendo o acto suicida como um processo contínuo
que vai da ideação suicida, à tentativa de suicídio e ao suicídio consumado. Para Saraiva
(1999) o comportamento parasuicida é equivalente a um jogo de análise transaccional de
apelos-manipulações como resposta a um conflito de relação no qual o corpo é, ao mesmo
tempo, protagonista e instrumento de revoltas e desamparos. Por seu turno, Vaz-Serra &
Pocinho (2001) defendem que o suicida pretende libertar-se de estados emocionais internos
muito penosos para si, como a angústia, o aborrecimento, a depressão e a culpa, bem como de
problemas externos que são sentidos como intermináveis, inevitáveis e intoleráveis. Por outro
lado, Costa (1986, cit. in Seabra, 2006) defende que não há suicídios lúcidos, uma vez que
estariam quase sempre relacionados como uma qualquer forma de perturbação mental,
formulando a hipótese de a passagem ao acto suicida resultar de um estreitamento de campo
da consciência, facilitador desse gesto.
Os gestos autodestrutivos, levados a cabo por reclusos, são com frequência encarados
como um comportamento manipulador. Estes reclusos pensam que cometendo
comportamentos parasuicidários, poderão ganhar um maior controlo sobre o meio que os
rodeia ou ter ganhos secundários, como a transferência para um hospital ou outros intentos por
eles requeridas. Segundo a OMS (WHO, 2007) a possibilidade de encenar uma tentativa de
suicídio para atingir determinado objectivo ou por um motivo perverso, deve, a partir daquele
momento inscrever-se como uma preocupação para todos os agentes, particularmente aqueles
que trabalham em prisões de máxima segurança. Importa realçar que muitas equipas que
trabalham nas prisões acreditam que alguns reclusos tentam controlar ou manipular o sistema
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Mestrado em Medicina Legal e Ciências Forenses_________________________________28
prisional através de comportamentos autodestrutivos, tendem a não tomar um gesto suicida
como sério, o que por vezes pode ser particularmente verdade, num recluso que tem uma
história passada de violação e infracção das regras (WHO, 2007). Contudo, a OMS alerta para
o facto de que uma tentativa de suicídio, independentemente das suas motivações, pode
resultar em morte, mesmo que essa não seja a intenção inicial, dado o limitado número de
métodos, os reclusos podem optar por um método letal, como o enforcamento (Lohner &
Konrad, 2006) mesmo na ausência do “real” desejo de morrer, ou porventura por não saberem
o risco de perigosidade daquele método.
A prevalência do suicídio e de comportamentos de automutilação entre indivíduos presos
é reconhecida por ser muito maior do que na população em geral e tem vindo a aumentar nas
últimas décadas (Fruehwald et al., 2000; Mckee, 1998). Numa investigação levada a cabo por
Marcus & Alcabes (1993), mostraram que uma percentagem elevada (43%-62%) de reclusos
que cometera suicídio tinha uma história de comportamentos parasuicidários, bem como
tentativas de suicídio e/ou automutilações. Nesta investigação, 36,8% de indivíduos que
puseram termo à vida tinham verbalizado ameaça prévia e 50% dos suicidas tinham cometido
tentativas de suicídio, reforçando mais uma vez, a importância da influência dos
comportamentos parasuicidários no suicídio consumado. Por outro lado, Braz Saraiva (2006a)
e b)) refere que as automutilações têm sido interpretadas, com frequência, como forma de
apelo social e não como tentativa de suicídio. Os cortes, teriam como manifestação mais
comum o corte superficial do pulso e/ou antebraço, com lâmina, X-acto, faca, vidro ou outro
objecto cortante. Segundo o mesmo autor (op. cit., 2006b)), o modelo conceptual de
automutilações engloba 4 grandes categorias: iniciáticas, religiosas, compulsivas e psicóticas.
A primeira categoria enfatiza a construção da identidade, no sentido de pertença e socialização
com os pares no período da formação da personalidade, como é a adolescência. Na segunda
categoria, a perspectiva é mais antropológica e religiosa. Na terceira categoria, avulta a
existência de um comportamento temperamental impulsivo que em resposta a um intenso
estímulo desestabilizador pode fazer enveredar o comportamento para uma automutilação
deliberada, como os cortes. Finalmente, na quarta categoria, surgem graves comportamentos
de automutilação, associados, por vezes, a patologia psiquiátrica major. À luz da nossa
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experiência profissional, as automutilações no contexto prisional português incluem-se,
sobretudo, na terceira e quarta categoria.
3. Factores de risco
3.1. Personalidade
Importa abordar, ainda que resumidamente, algumas perspectivas da personalidade,
uma vez que reflectem o padrão de funcionamento psíquico de um indivíduo, bem como dos
seus comportamentos. Uma parte significativa da investigação sobre o suicídio tem focado o
papel importante da perturbação mental. Segundo Gleitman (1991, ed. 1995) a personalidade,
na perspectiva cognitivo-comportamental, é a forma como as pessoas agem e pensam, pois os
actos e os pensamentos são, na grande medida, produzidos pela situação que o indivíduo
enfrenta no momento ou enfrentou em momentos passados. Sob o ponto de vista da teoria
psicodinâmica (op. cit., 1991, ed. 1995), as pessoas podem actuar em virtude de pulsões
inconscientes, em que os aspectos cruciais da personalidade têm origem em conflitos, desejos
inconscientes, profundamente recalcados. Na perspectiva da teoria humanista (op. cit., 1991,
ed. 1995, p. 842), “as pessoas são completas e impredizíveis, segundo o qual, o mais
importante nas pessoas é o modo como realizam a sua própria mesmidade e actualizam as
suas potencialidades”. Deste modo, a personalidade adquire a sua especificidade, num
conjunto de atributos individuais que se caracterizam e designam por traços de personalidade.
Os traços de personalidade são, portanto, um conjunto de características estáveis e
permanentes, intrínsecas a cada indivíduo. No sentido de aumentar o conhecimento e melhor
aceder ao funcionamento da personalidade, têm sido desenvolvidos bastantes trabalhos de
investigação sobre a personalidade. Um estudo amplamente conhecido é o de Warren Norman
(1963, cit. in Gleitman, 1991, ed. 1995) que destacou cinco principais dimensões da
personalidade, designadamente: extroversão, estabilidade emocional, amabilidade,
conscienciosidade e sensibilidade cultural. Posteriormente, surgiram muitos outros estudos,
com descrições da personalidade idênticas às de Norman, mas é importante salientar o que foi
desenvolvido por Eysenck (1975/1983), tentando abranger as diferenças de personalidade em
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duas dimensões: neuroticismo/estabilidade emocional, que traduz instabilidade
emocional/dificuldade de adaptação e extroversão/introversão, reflectindo a orientação das
energias da pessoa para o mundo interno ou externo. Posteriormente, Eysenck (1975/1983)
introduz uma terceira dimensão, o psicoticismo, característica relacionada com atributos
agressivos e antissociais, impulsivos e centrados em si próprio. Num outro estudo realizado por
Hirvikoski & Jokinen (2011), foi encontrada uma correlação no grupo de indivíduos que
obtiveram valores mais altos no psicoticismo, apresentando também uma maior tendência para
usar métodos mais violentos em tentativas de suicídio. Apesar da discordância existente ao
nível da comunidade científica sobre as “reais” dimensões da personalidade, existem algumas
investigações, que corroboram que estas duas dimensões (neuroticismo/estabilidade
emocional e extroversão/introversão) se podem aplicar não apenas à nossa cultura, mas
também a outras, pois foram obtidos os mesmos padrões de factores, em sociedades como as
do Bangladesh, Brasil, Hong-Kong e Japão (Gleitman, 1991, ed. 1995).
Contudo, contrariamente a esta estabilidade que se tem vindo a retratar, existe a
perturbação da personalidade estreitamente relacionada com os comportamentos suicidários
(Yen et al., 2009; Andersen, 2004; Fazel & Danesh, 2002), quer seja na prisão, quer seja na
comunidade em geral. A DSM-IV (1996) define a perturbação da personalidade como sendo
um padrão estável de experiência interna e comportamento que se afasta marcadamente do
esperado para o indivíduo numa dada cultura, sendo invasivo e inflexível, com início na
adolescência ou na idade adulta, é estável ao longo do tempo e origina sofrimento ou
incapacidade. Num estudo conduzido por Kessel & McCulloch (1966, cit. in Saraiva, 2006a))
revelaram que 27% dos doentes que repetiram o acto parasuicida ao fim de um ano
apresentavam uma perturbação da personalidade, em comparação com 16% do grupo de
controlo psiquiátrico.
Segundo Isometsa et al. (1996, cit in. OMS, 2000a)), os indivíduos com comportamentos
parasuicidas ou suicídio consumado, têm mostrado alta prevalência de perturbações da
personalidade (20 a 50%), sendo, que as perturbações mais frequentemente associadas são
perturbação da personalidade estado limite (borderline) e anti-social.
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Numa revisão de sessenta e dois estudos sobre saúde mental em meio prisional
relativos a doze países ocidentais, Fazel & Danesh (2002), numa amostra de 18.530, em que
81% eram homens, concluíram que 3% a 7% dos reclusos sofriam perturbações psicóticas,
10% de perturbação depressiva major e 65% de perturbações da personalidade (destes 65%,
47% tinham o diagnóstico de perturbação anti-social da personalidade). Como já foi referido,
outra perturbação bastante associada aos comportamentos parasuicidas é perturbação estado-
limite da personalidade, também conhecida por perturbação borderline da personalidade.
Foram apresentados alguns estudos que associam o suicídio às perturbações da
personalidade, no entanto, as perturbações do humor, também estão significativamente
associadas ao suicídio. Num estudo, conduzido por Guillaume et al. (2010) com 211 indivíduos
que tinham cometido tentativas de suicídio e que tinham sido hospitalizados na sequência
desse comportamento, 76 (36%) preenchiam os critérios da DSM-IV (1996) para perturbação
bipolar. Nesse estudo (op. cit., 2010), indivíduos com esse tipo de perturbação e com uma
história relacionada com dependência de álcool e substâncias psicoactivas, tinham cometido
uma tentativa de suicídio mais letal e apresentavam elevado risco de cometer mais do que 3
tentativas de suicídio. Em Portugal, numa grande amostra da região Sul, Costa Santos (1998)
constatou que 66% dos casos por ele estudados, que terminaram em suicídio, possuíam
antecedentes de perturbação mental, onde a depressão ocupava o primeiro lugar, em que 50%
tinha tentativas de suicídio prévias. A OMS (2000a)) refere que a depressão é um factor de
risco para o suicídio em qualquer fase da vida, mas aqueles com depressão de início tardio,
parecem correr maiores riscos. O tratamento da depressão, afigura-se como sendo bastante
relevante para a prevenção do suicídio começando nos cuidados de saúde primários. Na
Suécia, dados adiantados por Rutz et al. (1992) sobre a educação do médico de clínica geral,
na identificação e tratamento da depressão, reduziram substancialmente o número de
suicídios. Este programa sugere, deste modo, que os antidepressivos reduzem o risco de
suicídio entre os deprimidos. Estima-se que 30% dos pacientes vistos por um médico sofram
de depressão, no entanto, por vezes, estes doentes mascaram os sintomas da depressão,
apresentando queixas somáticas (OMS, 2000a)).
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Mestrado em Medicina Legal e Ciências Forenses_________________________________32
Uma vez que se abordaram as perturbações mais associadas ao suicídio, importa ainda
realçar as perturbações psicóticas, particularmente a esquizofrenia, que tem no suicídio a sua
maior causa de morte prematura. Estes indivíduos, podem, eventualmente, provocar auto-
lesões gravíssimas, que poderão estar relacionadas com o quadro delirante-alucinatório por
eles vivido. Hawton e Catalan (1987, cit. in Saraiva, 2006a)), atrás mencionado, dizem que
estes doentes podem provocar automutilações bastante violentas e capazes de provocar uma
desfiguração. Contudo, a OMS (2000a)) baseada em vários estudos, relata que o risco de
suicídio neste quadro diminui de acordo com o tempo de duração da doença, estimando que o
risco de suicídio ao longo da vida seja de 6 a 15% em pessoas com perturbação do humor, 7 a
15% por problemas com alcoolismo e 4 a 10% com esquizofrenia.
O parasuicídio, como se vê, depende de factores da personalidade, da estrutura
cognitiva do indivíduo e ainda de factores como o meio ambiente, envolvendo um desequilíbrio
entre os factores de risco e de protecção. Semedo Moreira (1998), num estudo exploratório
sobre o suicídio em meio prisional português, reforça a ideia de que o fenómeno do suicídio
requer uma investigação desdobrada pelos níveis individual e social para melhor prevenir esta
problemática, porque estas são as patologias dos afectos de ajustamentos, da personalidade e
da interacção social e familiar, visando deste modo mudanças nas esferas familiares e sociais.
Tal como refere Gonçalves (2008), este problema poderá estar subjacente a uma patologia da
adaptação.
3.2. Outros factores de risco
O suicídio, segundo Shneidman (1996), é um fenómeno que resulta de uma confluência
de factores, como a dor psicológica, perda de auto-estima, confinamento mental, isolamento,
desesperança e fuga, retratando os factores de risco relacionados com o ambiente
psicopatologia; e com factores precipitantes, que por sua vez, estão relacionados com
acontecimentos disruptivos recentes e a acessibilidade a meios ou agentes potencialmente
letais. Na mesma linha de pensamento, Saraiva (1999) refere que o binómio tentativa de
suicídio-desesperança representa um elevado e recorrente factor de risco da tentativa de
suicídio ou mesmo de suicídio consumado. Acrescenta ainda, o mesmo autor (op. cit., 1999),
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Mestrado em Medicina Legal e Ciências Forenses_________________________________33
que a desesperança associada à ausência de perspectivas futuras positivas, constitui assim o
principal factor na perda eventual de um sentido para a vida e do desejo de continuar a viver,
acreditando que as actuais dificuldades são intermináveis. Estas dificuldades seriam
acompanhadas pela percepção de falta de alternativas, incapacidade para resolver os
problemas e dificuldade para encontrar redes de apoio e suporte.
Segundo a OMS (WHO, 2004, 2005) o problema do suicídio assenta numa base
multidimensional de factores individuais, incluindo: perturbações mentais (depressão major,
esquizofrenia, abuso de álcool e/ou drogas); factores biológicos e genéticos; acontecimentos e
experiências de vida; factores psicológicos (stresse, conflitos interpessoais, violência ou
história de abusos físicos, perturbações de ansiedade e sentimentos de solidão); factores
ambientais e sociais (grupos marginais, desempregados ou detidos) e algumas doenças físicas
(doença neurológica, cancro e seropositividade para o HIV).
O comportamento parasuicidário, também é comum em meio prisional e tem um
substancial interesse na investigação de Andersen (2004). Este autor (op. cit., 2004) atribui ao
suicídio na prisão, invariavelmente, a expressão do sofrimento mental, depressão, desespero,
ansiedade severa e desesperança. Segundo este e outros autores, os factores que contribuem
para que o risco de suicídio na prisão seja elevado são vários, designadamente: a reincidência
criminal (Joukamaa, 1997), história de doença mental (Joukamaa, 1997; Andersen, 2004;
Kovasznay et al., 2004); história de comportamento parasuicidário (Kovasznay et al., 2004);
isolamento em cela individual (Liebling, 1993), sobrelotação em celas pequenas (Marcus &
Alcabes, 1993); penas longas após crimes violentos (DuRand et al., 1995); abuso de álcool e
de drogas ilícitas (Kovasznay et al., 2004) e sentimentos de culpa (Dooley, 1990). Este e outros
estudos semelhantes apontam para a necessidade de combinar estratégias preventivas
dirigidas à população em geral, com especial incidência nos grupos de maior risco.
Numa das investigações de Dye (2010), motivada por algumas limitações de estudos
anteriores, o objectivo era testar dois conceitos teóricos sobre o suicídio na prisão, com eles a
perspectiva da privação e o modelo da importação. A perspectiva da privação, baseada nos
trabalhos clássicos de Clemmer (1940, cit in Dye, 2010) e Goffman (1961, cit in Dye, 2010),
sustenta que uma má adaptação à prisão (p. ex. violência, agressão, ansiedade, depressão,
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Mestrado em Medicina Legal e Ciências Forenses_________________________________34
angústia e suicídio) resulta da privação que o meio prisional impõe. Dito por outras palavras, as
condições da prisão tal como privação da liberdade, da segurança, da autonomia e de serviços
geram comportamentos agressivos e autodestrutivos. A forma como os reclusos se adaptam a
estas condições é variável, podendo aumentar a oposição individual (p. ex. violência ou
suicídio), ou produzir solidariedade, cooperação e desenvolvimento de uma subcultura prisional
(Dye, 2010). Por seu turno, o modelo da importação sustenta que as características
demográficas, sociais e psicológicas dos reclusos seriam os factores que mais contribuíram
para o suicídio na prisão. Nesta perspectiva, os preditores do suicídio poderiam funcionar da
mesma forma quer seja dentro da prisão ou na comunidade em geral. Os resultados desta
investigação reconhecem suporte empírico em ambos os modelos explicativos. Todavia,
segundo Dye (2010), a melhor forma de olhar para o fenómeno é explicá-lo através da
combinação dos dois modelos teóricos.
Um estudo de Daniel & Fleming (2006) sugeriu que os suicídios ocorrem mais
frequentemente em cadeias de alta segurança, onde a privação é muito maior, quando
comparadas com as prisões de média e baixa segurança. Na mesma linha de investigação,
existem outros estudos a constatar essa mesma realidade, como é o caso do trabalho de
Fruehwald et al., (2004), que encontraram um aumento da probabilidade do suicídio em celas
individuais ou celas disciplinares similares àquelas usadas nas prisões de alta segurança. Num
estudo mais recente, Magaletta et al., (2008) mostraram que nas cadeias de máxima
segurança, os reclusos que cumprem penas mais longas e os que estão em celas disciplinares
constituem um grupo de alto risco para o suicídio. Estes estudos vêm sublinhar a importância
das experiências pessoais num meio totalmente controlado, pois as prisões, quanto mais
segurança exigem, também mais rígidas e inflexíveis são as regras, a vigilância, as
movimentações, etc. Este conceito está estreitamente relacionado com a concepção de
privação, que é, naturalmente, indissociável das prisões, como a privação da liberdade, o
isolamento da família e dos amigos, são privações que têm sido estudadas por outros autores
(Sykes, 1958, cit. in. Mills, 2005), por ser uma grande fonte de stresse para os reclusos durante
o tempo de cumprimento da pena e, consequentemente constituírem-se grandes factores de
risco para o suicídio.
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Mestrado em Medicina Legal e Ciências Forenses_________________________________35
Wagner et al. (2003) numa análise de estudos realizados com famílias de jovens com
comportamentos suicidas, apontam como factores de risco para o comportamento fatal: a
separação parental, história de comportamento suicida na família e abuso de álcool ou
substâncias. Por outro lado, os problemas no sistema familiar e a fragilidade da vinculação
pais/filho estarão mais ligados a comportamentos parasuicidários não fatais.
Num estudo realizado por Mills (2005), sobre a vulnerabilidade e as dificuldades em lidar
com a vida em meio prisional, revelou que a maior dificuldade na prisão é estar separado da
família e dos amigos. O mesmo autor encontrou algumas semelhanças relativamente à
dificuldade que os reclusos têm em lidar com os sentimentos de impotência, para ajudar as
famílias quando estas se deparam com determinados problemas no exterior. Igualmente
considerada problemática para os reclusos é a incerteza do sentimento dos/as
companheiros/as em relação a eles, bem como a frustração de não conseguirem comunicar
com os amigos e família. O mesmo estudo (op. cit., 2005) revela ainda, as dificuldades em lidar
com o sofrimento por estar preso, tal como o isolamento, o aborrecimento e o medo dos outros
reclusos, deixando-os mais vulneráveis para o suicídio/automutilação e outras respostas
desadaptativas, tal como explosões violentas e vitimização (Mills, 2005). Na mesma linha de
pensamento, Braz Saraiva (2006a)), refere que os jovens que tentam suicidar-se, sobretudo
com idades entre os 15 e os 24 anos, maioritariamente raparigas, encontram-se doentes,
vulneráveis e têm dificuldade em lidar com situações de stress.
Estudos sobre a privação têm encontrado na prisão, como se esperava, o local por
excelência, tal como mostrou Liebling & Krarup (1993, cit. in Liebling, 2011) num estudo que
conduziram sobre o suicídio na prisão, entre 1990 e 1992. Estes autores concluíram que
muitos reclusos tinham múltiplas experiências prévias de privação antes de entrarem na prisão,
cujas experiências contribuíram para aumentar os seus problemas em meio carceral, levando-
os a tentar acabar com a vida. Este estudo (op. cit., 2011) revela também que,
aproximadamente, um terço da população apresentava problemas de saúde mental. Costa
Santos (1998) numa grande investigação por ele realizada, revelou que acontecimentos de
vida geradores de stresse foram identificados em 90% dos suicidados. Nesta amostra o mesmo
autor conclui, que uma fracção importante das doenças somáticas identificadas na população
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Mestrado em Medicina Legal e Ciências Forenses_________________________________36
dos suicidas encontra-se sobretudo associada ao alcoolismo nos homens e a uma componente
afectiva nas mulheres.
Para Fruehwald et al. (2003), um dos maiores deveres dos psiquiatras que trabalham em
instituições penais, é prevenir o suicídio. Contudo, os números e as taxas de suicídio nas
prisões têm aumentado na maioria dos países nas últimas décadas. Segundo este autor, os
factores de risco associados à elevada taxa de suicídio são vários, incluindo o encarceramento,
sobrelotação (Marcus & Alcabes, 1993), isolamento, abuso de álcool e drogas (WHO, 2000;
Maloney, 2009), e repressão (Liebling, 1993). Neeleman (2001) refere que a literatura, ampla
na área do parasuicídio ou autolesão, também é uma forma de chamar a atenção para um dos
maiores factores de risco para o suicídio. Por seu turno, Maris (2002), alerta para o aumento
destes comportamentos, estimando que existem 10-25 actos parasuicidas por cada suicídio,
aumentando para 100-200 nos adolescentes.
Como já foi referido, o suicídio é mais comum nos homens do que nas mulheres, com
um rácio de quatro homens para uma mulher, enquanto o contrário sucede com o parasuicídio,
onde as taxas femininas são três vezes mais altas. Um acto autodestrutivo durante o último
ano aumenta em 5.6 e 13.7 vezes, a probabilidade de repetição da tentativa dentro de 12
meses, para homens e mulheres, respectivamente (Corcoran et al., 2004), reforçando
impressionante efeito que a história anterior de parasuicídio tem no risco de repetição de
tentativa de suicídio.
Para Fruehwald & Frottier (2005) à entrada na prisão a despistagem de qualquer
indivíduo, deve ser acompanhada de meios para identificar aqueles que apresentam maior
risco de suicídio ou comportamento automutilatório, e orientá-los para um acompanhamento
adequado. Esta triagem inicial constitui assim uma estratégia para lidar com o problema do
suicídio em meio prisional. No sistema prisional português foram adoptadas algumas medidas
preventivas visando finalidade de uma Checklist (Intake Screening), que é preenchida o mais
precocemente possível, após o momento de entrada do recluso, para detectar eventuais sinais
de alerta de risco de suicídio e subsequentemente encaminhar a situação para que os técnicos
de saúde possam assegurar o adequado acompanhamento (Direcção Geral dos Serviços
Prisionais, 2011a)).
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Mestrado em Medicina Legal e Ciências Forenses_________________________________37
Costa Santos (2006), atento a esta problemática do suicídio nas prisões, assinala que o
encarceramento constitui um factor de risco, sobretudo na fase inicial da reclusão, e a
incidência dos suicídios nas instituições prisionais atinge, em muitos casos, níveis bastante
significativos. O mesmo autor, abordando Van der Horst (1956, cit. in Costa Santos, 2006)
refere que o fim da nossa vida é sempre conforme a nossa vida, sugerindo que o modo de ser
de cada indivíduo no mundo é diferente, condicionando as suas atitudes anímicas perante a
vida, este ser individual não pode, porventura, deixar de exercer uma poderosa e decisiva
influência no seu modo de adoecer, de estar doente e de morrer.
Para finalizar, seria importante sublinhar alguns factores que têm sido associados a
factores de risco externos, que está relacionada com uma característica sazonal, em que
incidência do suicídio tem sido, quase invariavelmente ao longo dos tempos, mais elevada no
início da Primavera e no Verão. Houve vários autores que tentaram interpretar estas flutuações
sazonais. Citando apenas um estudo, Durkheim (1897, ed. Port. 2007) já tinha tentado explicar
este fenómeno, referindo que nesta altura do ano, o aumento do dia, faz com que aumente
também a vida social e, por isso, mais tensões. Em Portugal, existe também uma
particularidade associada à questão geográfica, distinguindo o Sul e características rurais, com
uma taxa mais elevada de suicídio. Contudo, as estatísticas revelam um aumento considerável
deste fenómeno em zonas urbanas, à semelhança do resto da Europa (Henriques, 2006).
4. Estratégias de coping
A ideação suicida é geralmente considerada uma estratégia de coping desadaptativa ou
uma tentativa de reduzir, evitar ou, por outro lado, camuflar a regulação das emoções (Klonsky,
2007). Estudos prévios com enfoque em populações clínicas com ideação suicida encontraram
evidências de que a ideação suicida está associada a sintomas psiquiátricos como ansiedade e
depressão (Muehlenkamp, 2005). Estudos mais recentes, Yates et al. (2008) com populações
não clínicas originaram resultados semelhantes, confirmando a existência de uma relação entre
ideação suicida e vários sintomas psiquiátricos, verificando-se num outro estudo de Gollust et
al., (2008) associações significativas entre ideação suicida, ansiedade e depressão.
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Costa Moreira (2008) num estudo que desenvolveu em contexto prisional, encontrou
associado ao comportamento parasuicida défices nas estratégias de coping e competências
psico-sociais, o que sugere uma fragilidade ao nível dos factores protectores individuais.
Consistente com estes estudos, Sarno et al. (2010), mostrou uma forte associação entre
ideação suicida recorrente, psicopatologia e problemas psicológicos em geral. Estas
associações indicavam, também, evidências de uma relação entre ideação suicida e
mecanismos de defesa desadaptativos (incluindo projecção, dissociação, repressão, fantasia,
conversão, afastamento, passagem ao acto, anulação), sugerindo a presença de desequilíbrios
em indivíduos com ideação suicida recorrente. Num outro estudo desenvolvido por Brown et al.
(2007) com indivíduos que tinham história de ideação suicida, os resultados foram
semelhantes, em que os aqueles indivíduos adoptavam estratégias de coping desadaptativas,
particularmente estratégias de evitamento.
Existem vários estudos que indicam que os reclusos apresentam estratégias de coping
menos eficazes. A investigação de Liebling & Krarup, (1993, cit. in Liebling, 2011) mostrou que
os reclusos com comportamentos de automutilação têm menos suporte, quer seja da família,
quer seja da reinserção social, concluindo também que estes indivíduos passam mais tempo
na cela e estabelecem uma “trajectória” menos construtiva de satisfação do seu tempo.
Motivado por este estudo e com o objectivo de encontrar diferenças das estratégias de coping
adoptadas, por indivíduos com e sem automutilações, Dear (1998), conduziu um estudo com
82 reclusos que se automutilaram na prisão, nos últimos 3 dias, os quais apresentaram menos
estratégias de coping e menos respostas efectivas do que os do grupo de controlo. Os
indivíduos com comportamentos parasuicidários diferiram ainda do grupo de controlo, na
identificação de situações que precederam a semana anterior, bem como nos eventos muito
stressantes, tendo se distanciado igualmente na redefinição da situação, aceitação e acção
directa das estratégias de coping, usadas como resposta aos estímulos stressores. Estratégias
de coping eficazes, são uma mais-valia para uma boa adaptação do recluso ao meio prisional.
Desta forma, afigura-se importante equacionar a questão da adaptação à prisão, como uma
importante variável, que interfere, no processo e escalada de comportamentos autodestrutivos.
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5. Adaptação à Prisão
Numa óptica de compreensão aprofunda-se o percurso de cada recluso no processo de
adaptação à prisão. Os contributos que têm vindo das ciências sociais, especialmente da
psicologia e da sociologia, têm ajudado a compreender este conceito, com modelos
explicativos de adaptação do homem ao mundo que o rodeia. Estes modelos concebem o ser
humano e o seu comportamento intimamente inter-relacionados, considerando que a forma
como cada indivíduo e a sua personalidade se ajustam às circunstâncias do meio, reflectem a
capacidade individual de adaptação. Para Gonçalves (2008) que tem um vasto trabalho
desenvolvido sobre esta matéria, a adaptação é um processo que se inicia precocemente,
tendo a escola como um dos primeiros palcos de representações, a seguir à que é iniciada no
seio da família. A entrada na escola e suas implicações como o afastamento da família e a
integração num novo grupo, assumem deste modo, um papel preponderante no processo de
adaptação, colocando à criança desafios e barreiras que têm de ser superados. Tais
obstáculos como o contacto com desconhecidos, a constante permanência em grupo, caso não
sejam ultrapassados poderão ter repercussões na vida futura, considerando este autor (op. cit.,
2008, p. 159) que “uma inadaptação escolar pode transformar-se numa inadaptação social”. Na
mesma linha de pensamento, Farrington (1998) considera que o insucesso escolar e a
indisciplina surgem como factores relacionados às carreiras delinquentes, uma vez que os
delinquentes foram crianças ou jovens tendencialmente mal-sucedidos na escola.
A psicologia social e ambiental tem proporcionado alguns contributos para a
compreensão do processo de adaptação nos vários contextos. Estas vertentes da psicologia,
de uma forma geral, consideram que a adaptação é o fruto da interacção entre o indivíduo e os
outros e, entre o indivíduo e o meio, respectivamente, com tudo o que essa interacção implica.
Gonçalves (2008) refere que a adaptação é ser capaz de sentir, perceber e agir,
ponderando as consequências das atitudes e dos comportamentos que se adoptam, ao
contrário do indivíduo com comportamento desviante, que permanece centrado sobre si próprio
e cujos comportamentos tendem a perpetuar esse modo de ser e de estar. A dificuldade na
percepção da primeira premissa e a dificuldade de distinção entre estes dois registos, pode ser
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Mestrado em Medicina Legal e Ciências Forenses_________________________________40
determinante no desenvolvimento do processo de adaptação à prisão, uma vez que o indivíduo
está sob condições adversas ao ser humano como é a privação da liberdade.
Desta forma, a prisão pode constituir-se, como refere Gonçalves (2008), conjugando
ideias de vários autores, o primeiro passo para desencadear um processo de regressão.
Contudo, este autor (op. cit., 2008) reconhece que o facto de ser ou não reincidente,
desempenha neste processo, um papel importante, bem como a capacidade adaptativa de
cada indivíduo. Acerca deste facto, Gonçalves (2008) refere que “o novo recluso sucumbe por
completo ao peso institucional e “cola-se” ou funde-se com os desígnios da instituição, para
depois caminhar numa progressiva autonomização, em que já reconhece os bons e os maus
objectos, reage cognitiva e afectivamente a eles e procura situar-se dentro do sistema como
um actor diferenciado dos outros actores (presos, guardas, etc.), conseguindo, dessa forma
preservar algo do seu Eu e do seu sentido de identidade, que embora fragmentado pela sua
quase inexistência de controlo sobre o meio e sobre as suas acções, promova, ainda assim,
uma adaptação satisfatória e dê significado ao seu viver actual.” (op. cit., p. 157)
Ao nível internacional têm sido desenvolvidos alguns estudos sobre a adaptação à
prisão, contudo importa incidir sobre os trabalhos de investigação realizados em Portugal sobre
esta temática. Assim, Gonçalves (2008) na tentativa de definir boa e má adaptação realizou um
estudo, incluindo guardas e reclusos, tendo identificado, sobretudo, 4 tipos de adaptação
prisão: bem adaptado, mal-adaptado, sobreadaptado e inadaptado. Os bem adaptados, com
idade superior a 30 anos, eram identificados como delinquentes primários, ocasionais, cujo
crime é geralmente o homicídio, as ofensas corporais graves ou a violação, sem grande
envolvimento em problemas disciplinares. Os reclusos considerados como mal-adaptados, têm
em média 29 anos, têm como principal característica o mau comportamento prisional,
independentemente do crime que cometeram e da pena que cumprem e são habitualmente
reincidentes. Já os sobreadaptados, são mais velhos que os anteriores, tendo em média idades
acima dos 35 anos e foram encontrados nos reclusos com maior cadastro criminal, tendo
crimes contra o património, mas, no entanto, sem grandes problemas disciplinares. Finalmente,
o grupo que designou por inadaptados, sendo os que têm a média de idades mais jovens, 24
anos, cuja principal característica é a sua incapacidade generalizada para se ajustarem às
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normas do estabelecimento e ao cumprimento da pena. São estes que mais facilmente
desenvolvem patologias da adaptação, acabando por, na maior parte dos casos centralizar em
si os desígnios punitivos da instituição, automutilando-se, ingerindo objectos, etc, sendo os
protagonistas dos efeitos do stresse prisional. Não estão associados a nenhum crime
específico, mas é neste grupo que se encontra a maior ligação ao consumo de drogas. Os
reclusos primários são a sua maioria, mas também se encontram reincidentes, que dentro da
prisão, tanto podem ser ou não alvo de punições disciplinares. O traço único que se pode
identificar é o da inadaptação global ao ambiente da prisão, ao seu espaço, ao tempo que a
rege, aos ruídos e cheiros que a individualizam e personificam. Esta inadaptação, revela-se
sobretudo ao nível das queixas relacionais, doenças psiquícas e/ou psicossomáticas, da
procura de isolamento e alheamento de tudo o que o rodeia, em ataques de cólera, culminando
no recurso a formas distorcidas de comunicar como é a automutilação, a greve de fome e, no
limite, o suicídio.
Resumidamente, Gonçalves (2008), defende que o processo de adaptação à prisão não
é estático, mas antes dinâmico, onde naturalmente variáveis evolutivas como a idade assumem
um papel preponderante. Adicionalmente, o estado civil, a condenação, o tipo de crime, a
condição primária vs reincidente e o comportamento disciplinar, são variáveis explicativas, que
a seguir à idade, parecem contribuir para esta diferenciação.
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Capítulo II. Sistema Prisional
1. Breve resenha histórica do sistema penal
Sendo a população prisional alvo e objecto da presente investigação, afigura-se
importante fazer uma breve caracterização do Sistema Prisional e subsequentemente do
Tratamento Prisional, bem como um breve resumo sobre a forma como o encarceramento tem
evoluído ao longo dos tempos.
As primeiras grandes teorias do comportamento desviante representam agora um legado
histórico – teorias demonológicas que permaneceram até ao início do século XIX. Estas teorias
veiculavam a ideia de que o indivíduo seria vítima do demónio, que o impelia à prática do
crime. Desde essa altura, emergem várias escolas de revelando a responsabilidade do
indivíduo, a influência do meio, ou mesmo a interacção com o meio social. Esta evolução
culminaria, colocando a tónica numa abordagem sistémica – multi-factorial, com um olhar de
vários ângulos sobre o sujeito que comete um crime. No entanto, foram necessários vários
séculos, um caminho de lenta emergência, para que a prisão se transformasse na pena por
excelência (Vieira, 2005).
A prisão foi considerada durante muito tempo, como um espaço de exclusão, que tinha
como pressupostos da sua existência o castigo, o isolamento e a submissão (Vieira, 2005).
Esta instituição totalitária, como a designou Goffman (1987, cit. in Benelli, 2002), era
caracterizada pelo confinamento através de barreiras, levantadas para segregar o indivíduo da
sociedade, por um período considerável de tempo. Não há exclusão entre a loucura e o crime,
mas sim uma implicação que os une (Foucault, 1995). As primeiras casas de trabalho e
correcção remontam aos finais do século XVI, destinadas a franjas empobrecidas da população
que se pretendia regenerar através do trabalho regular. Iniciava-se assim o princípio da
detenção e da regeneração, sendo mais tarde transferida para o contexto prisional (Vieira,
2005). As ideias da «escola penal correccionalista» ou «escola clássica» do direito penal,
saídas do Iluminismo, vão influenciar demoradamente o pensamento em Portugal relativo ao
crime e à sua penalização. Cesare Beccaria (1764, cit. in Vaz, 2000), autor paradigmático
desta corrente, é geralmente referido como tendo revolucionado a forma de percepcionar o
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crime e o modo como este devia ser penalizado. Uma nova legislação define o poder de punir
como uma função geral da sociedade que é exercida da mesma maneira sobre todos os seus
membros e na qual cada um deles é igualmente representado (Foucault, 1996).
Demonstrando uma clara partilha das ideias veiculadas na linha do racionalismo
humanista saído do Iluminismo, Silva Ferrão (1856, cit. in Vaz, 2000) defende que, em caso
algum, o indivíduo deve perder a sua natureza de homem e de cidadão, afirmando acreditar na
possibilidade de recuperação, de «regeneração» do indivíduo delinquente. Seriam as penas,
devidamente pensadas e aplicadas, que possuiriam a capacidade «terapêutica» de inverter o
percurso que é dado como característico do indivíduo delinquente.
Com efeito, o encarceramento penal, desde o início do século XIX, representava, ao
mesmo tempo, a privação da liberdade e a transformação correctiva do indivíduo, defendida,
particularmente pelos utilitaristas como Bentham (1789, cit. in Foucault, 1995, 1996),
promovendo a regeneração individual e social, como se de um laboratório se tratasse.
Esta concepção permite intensificar, em Portugal, as medidas com vista à construção de
penitenciárias, de acordo com o isolamento celular do detido, permitindo ao indivíduo um maior
exercício de auto-reflexão. Assim, são enviados vários observadores a França e a Inglaterra
para visitarem estabelecimentos prisionais, com a finalidade de adoptar em Portugal o regime
prisional capaz de possibilitar a regeneração do delinquente. Mais do que punir, a pena deve
possibilitar a reabilitação do delinquente, através da realização de um processo transversal
desde a educação, auto-reflexão e trabalho (Vaz, 2000). A penitenciária de Lisboa recebe os
primeiros condenados em 1885, com espaços de isolamento, com regras de funcionamento
próprias, destinados a confinar indivíduos prevaricadores da ordem social instituída num
regime de reclusão e isolado da sociedade de forma a reabilitar o indivíduo delinquente e
proteger a sociedade, enquanto este não é reabilitado. Posteriormente, o tempo de reclusão
passou a ser ocupado por actividades de trabalho em conjunto com outros detidos, mas
devendo estes permanecer sempre em silêncio (Marques, 2010).
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2. Tratamento prisional
2.1. A prisão como oportunidade de mudança
Entre os anos de 1900 a 1930 assistiu-se a um maior recurso ao trabalho físico para
modificar comportamentos e atitudes dos detidos e a educação começou a surgir ocupando um
lugar importante na reabilitação dos reclusos. Nos anos 60 e 70 do século XX, o sistema
prisional e a reclusão começam a ser encarados sob uma perspectiva científica, com a
introdução de novos métodos, inspirados nas ciências de comportamento, conduzindo a
mudanças significativas no que se passou a designar de “Tratamento Penitenciário”: «a acção
levada a cabo junto do delinquente no sentido de tentar moldar a sua personalidade, tendo
como objectivo afastá-lo da reincidência e favorecer o seu enquadramento social», como refere
Pinatel (1975, cit. in Vieira, 2005). Mais tarde, surgem as intervenções específicas individuais e
em grupo com o objectivo principal de provocar uma mudança de atitudes e comportamentos
nos reclusos (Gonçalves, 1998; Vieira, 2005; Gonçalves, 2008).
Actualmente, segundo Manuela Cunha (2008, cit in. Marques, 2010), o sistema prisional
está cada vez mais aberto, ou seja, tenta cada vez mais reduzir o isolamento a que a
população reclusa está sujeita em relação à sociedade. As dificuldades com que o sistema
prisional se deparou relacionadas com fenómenos como o consumo abusivo de álcool e drogas
(Agra, 1993), o impacto dos problemas da saúde como automutilações e as taxas de suicídio
(Gonçalves & Vieira, 1989), factos que conduziram a alterações significativas dentro do sistema
prisional, como a entrada de técnicos e a criação de unidades específicas de tratamento das
drogas, designadas por Unidades Livres de Droga. O recurso a equipas multidisciplinares,
associado a uma prestação de serviços de saúde, físico e psicológico, a ocupação laboral em
diversas áreas, a educação e a formação profissional, entre outras, foi aproximando a vida na
prisão à vida no mundo exterior (Vieira, 2005).
Estas necessidades de recursos para o desenvolvimento destas actividades só podem
ser satisfeitas fora dos muros da prisão e isso incrementou o fluxo entre o meio prisional e a
realidade exterior, o que tem vindo a permitir uma maior ressocialização do recluso. Isto não
deixa, naturalmente, de constituir uma oportunidade para que se procurem novas abordagens
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nas formas de tratamento penitenciário. A implementação de estratégias interventivas dirigidas
às problemáticas que os reclusos enfrentam na prisão, deve ser vista, do ponto de vista
terapêutico ou clínico, no sentido de modificar esquemas de funcionamento favoráveis a um
estilo de vida criminal, é actualmente reconhecida pela generalidade da população e pela
totalidade do corpo técnico das prisões (Vieira, 2005).
2.2. Programas de Intervenção
Nos últimos anos, a Direcção-Geral dos Serviços Prisionais (DGSP, 2011a)) tem
realizado um grande esforço no sentido de aplicar programas de reabilitação/psicoeducativos.
Os programas são sempre aplicados por profissionais internos dos Serviços Prisionais,
designados normalmente por Técnicos Superiores de Reeducação ou, em casos excepcionais,
por entidades com quem as quais a DGSP (2011) tenha esse acordo. Estes programas de
intervenção estão dirigidos para determinadas problemáticas ou para grupos de reclusos
específicos, visando a alteração e potenciação de competências pessoais e sociais que
parecem estar em défice.
Estes programas vieram preencher uma lacuna que existia no sistema há muitos anos,
tendo também por base apoiar os técnicos na escolha das acções/programas a definir no
âmbito do Plano Individual de Readaptação (PIR), após a avaliação das necessidades de
intervenção e em função da hierarquização das áreas carenciadas. O PIR tem por base a
orientação do técnico e do recluso para toda a intervenção que é necessária levar a cabo com
cada recluso, tendo em conta as suas necessidades básicas para não voltar a reincidir
criminalmente, sendo realizado por ambos. Os programas não têm um carácter lúdico-
ocupacional, sendo a sua aplicação dependente de uma avaliação de necessidades
criminógenas/risco de cada recluso. Cada programa em execução no sistema prisional tem um
modelo de avaliação próprio.
Estes programas revestem-se actualmente de grande importância no sistema prisional
pelo que importa referir, cada um deles, ainda que resumidamente. O Programa de Intervenção
Técnica dirigida a Agressores Sexuais, de cariz cognitivo-comportamental, está vocacionado
para reclusos condenados por crimes sexuais, sendo composto por 30 sessões. O Programa
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de Promoção de Competências Pessoais e Emocionais, Gerar Percursos Sociais (GPS) é
composto por cinco módulos distintos, com 41 sessões no total. O Programa de Prevenção da
Reincidência e da Recaída – Construir um plano de prevenção e contingência. Este programa
visa, essencialmente uma alteração cognitivo-comportamental, permitindo ao recluso antecipar
o que pode correr mal na sua vida futura, construindo planos de prevenção para essas
adversidades. O Programa Estrada Segura dirigido a autores de crimes relacionados com
condução sem habilitação legal ou sob o efeito de álcool, tem como objectivo que o recluso
adopte um comportamento juridicamente integrado e responsável. Finalmente, o Programa
Integrado de Prevenção do Suicídio (PIPS). Este programa versa sobre a problemática
específica do risco e vulnerabilidade ao cometimento de suicídio em meio prisional. É
constituído por duas listagens de sinais de alerta, uma preenchida pelos serviços de vigilância
e a outra preenchida pelos serviços técnicos. Este formulário deve ser preenchido o mais
precocemente possível após a entrada do recluso em qualquer prisão, devido aos
conhecimentos da literatura e em estudos realizados no meio prisional (ex. Semedo Moreira,
1998; Costa Moreira, 2008) que apontam que as tentativas de suicídio podem ser efectivada
nas primeiras horas de detenção. Cada recluso à entrada (preventivo, condenado ou
transferido), deverá ser avaliado nesse momento e tantas vezes quantas as mudanças de
circunstâncias pessoais ou ambientais ocorrerem no seu percurso. Esta despistagem, indica o
tipo de encaminhamento a prosseguir, dependendo da avaliação inicial, contemplando o
encaminhamento para avaliação psicológica até ao internamento caso se justifique.
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Capítulo III
1. Objectivos e Hipóteses
1.1. Objectivos A presente de investigação surge na sequência da crescente problemática do suicídio no
sistema prisional. A nível internacional, o suicídio nas prisões é uma questão que suscita a
curiosidade de muitos investigadores, porque, para além de ocorrer com muito maior
frequência do que na população em geral, continua a ser uma das maiores causas de morte
violenta nas prisões. Sabendo que o encarceramento, constitui por si só, um factor de risco,
sobretudo para as populações jovens adultas, e que a incidência do suicídio nas instituições
prisionais atinge, em muitos casos, níveis bastante significativos, afigura-se da maior
importância investigar este fenómeno para compreender os comportamentos parasuicidários,
mais concretamente as tentativas de suicídio. Monteiro (2011) revelando dados recentes,
referiu-se ao ano de 2010, como tendo sido o terceiro pior dos últimos dez anos, tendo ocorrido
dezanove suicídios nas prisões portuguesas. Perante esta realidade, e tendo conhecimento
prévio de que a(s) tentativa(s) de suicídio constituem um forte preditor do suicídio consumado
(Daniel, 2006, Sokero et al., 2003; Oquendo et al., 2007, Kutcher & Chehil, 2007), este estudo
pretende investigar esta problemática no sentido de compreender os motivos que levaram
alguns reclusos a adoptar comportamentos autodestrutivos numa determinada fase das suas
vidas.
O principal objectivo desta investigação é estudar as tentativas de suicídio em meio
prisional. Pretende-se também identificar factores pessoais, designadamente características de
personalidade e eventual psicopatologia dos reclusos que tivessem cometido tentativa(s) de
suicídio durante o período de reclusão.
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Definimos como objectivos específicos os seguintes:
- Caracterizar a população prisional que cometeu uma ou mais tentativas de suicídio,
designadamente variáveis sociodemográficas, características pessoais; hábitos de consumo;
acontecimentos de vida relevantes e tentativa(s) de suicídio;
- Comparar as características pessoais e sócio-demográficas de um grupo que cometeu
uma ou mais tentativas de suicídio em meio prisional com dois grupos de controlo que nunca
cometeu tentativas de suicídio. Um destes grupo de controlo está em reclusão e o outro grupo
vive na comunidade, sem quaisquer antecedentes criminais;
- Analisar o tipo de personalidade dos indivíduos que cometeram tentativa(s) de suicídio,
comparando-a aos sujeitos dos dois grupos de controlo;
- Estudar eventuais níveis de psicopatologia nos indivíduos que cometeram tentativas de
suicídio, por comparação com os dos grupos de controlo;
- Identificar os factores de risco que levaram os reclusos a ter estes comportamentos
parasuicidários dentro da prisão.
1.2. Hipóteses
Este estudo pretende testar as seguintes hipóteses:
Hipótese 1 - Os indivíduos que cometeram tentativa(s) de suicídio em meio prisional
apresentam mais factores de risco associados ao suicídio;
Hipótese 2 - Os indivíduos que cometeram tentativa(s) de suicídio apresentam mais
sintomatologia psicopatológica, nomeadamente ao nível da depressão e ideação paranóide;
Hipótese 3 - Os indivíduos que cometeram tentativa(s) de suicídio apresentam uma
maior vulnerabilidade, impulsividade e hostilidade.
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2. Sujeitos e métodos
2.1 - População estudada
Os estabelecimentos prisionais foram seleccionados com vista a reunir uma amostra
representativa da Região Centro e da Região de Lisboa de acordo com o NUTS III (Unidades
Territoriais de Estatística de Portugal) (Anexo II). A decisão de recolher a amostra nestas
regiões do país, não abrangendo a Região do Algarve, Alentejo e Norte, foi ditada por razões
de tempo e falta de meios logísticos para alargar o projecto a todo o território, como seria o
desejo da autora. A recolha da informação durante um dia raramente ultrapassava as 3/4
entrevistas, devido quer ao tempo dispendido com cada indivíduo que era 1,5 a 2 horas,
aproximadamente, quer às rotinas diárias dos próprios reclusos. Para além disso, a deslocação
para estas zonas do país exigia um esforço pouco compatível com o exercício e continuidade
da actividade profissional, existindo também um limite temporal para o presente estudo, que
não se compadecia com o propósito inicial. Ainda assim, a recolha da informação para o
presente estudo não foi realizada com a celeridade desejada, pelas razões já referidas.
Posto, isto, iniciaram-se os contactos com os estabelecimentos prisionais, no sentido de
explicitar o teor da investigação e solicitar o levantamento da amostra pretendida por quem
detinha um maior conhecimento dos reclusos acerca desta problemática. Na sequência desse
contacto, identificaram-se os reclusos que cometeram pelo menos uma tentativa de suicídio em
meio prisional, durante o cumprimento da pena actual, independentemente de terem,
efectivamente, atentado contra a própria vida em determinado momento prévio à sua detenção.
A selecção foi realizada assim pela equipa de saúde em cada estabelecimento, bem como
Técnicos de Reeducação e Guardas, identificando a população que cometera tentativa de
suicídio em período de reclusão. A amostra foi recolhida em 9 Estabelecimentos Prisionais
(EP) da área geográfica acima referida, após autorização concedida para esta investigação
pela Direcção-Geral dos Serviços Prisionais. Procedeu-se, portanto, à recolha da amostra nos
seguintes EP: Alcoentre, Carregueira, Coimbra, Montijo, Linhó, Lisboa, Vale Judeus, Sintra e
Hospital Prisional S. João de Deus, em Caxias. Foram ainda contactados os Estabelecimentos
Prisionais Regionais de Setúbal, Caldas da Rainha e Leiria, onde não foi realizada nenhuma
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entrevista por não existirem reclusos nos vários períodos de contacto com os pré-requisitos
exigidos na investigação. O Estabelecimento Prisional Especial de Leiria, onde a investigadora
exerce a sua actividade profissional, foi excluído da recolha da amostra para que pudesse
existir o distanciamento necessário a um estudo desta natureza. É de salientar que esta
exclusão deveu-se única e exclusivamente à necessidade de preservar a homogeneidade dos
procedimentos, tais como desconhecimento prévio do local, com o objectivo de ter um “olhar”
isento e imparcial do meio onde a amostra foi recolhida.
O grupo experimental (GEP) tinha os seguintes critérios de inclusão:
• Reclusos do sexo masculino
• Reclusos que cometeram pelo menos uma tentativa de suicídio em meio
prisional, registada no respectivo processo clínico.
• Tentativa de suicídio efectiva cometida durante o actual período de reclusão.
O grupo de controlo na prisão (GCP) tinha os seguintes critérios de inclusão:
• Reclusos do sexo masculino
• Ausência de registo anterior de tentativas de suicídio dentro ou fora da prisão
O grupo de controlo no exterior (GCE), entrevistado na região Centro, nomeadamente
na zona de Leiria, tinha os seguintes critérios de inclusão:
• Indivíduos do sexo masculino
• A viver na comunidade
• Ausência de antecedentes criminais e de registo de tentativas de suicídio ao
longo da história de vida
Critério de exclusão para todos os grupos:
• Não estar sob o efeito de substâncias psicoactivas e/ou sobredosagem de
medicação;
• Foram excluídos os sujeitos que, preenchendo os critérios de inclusão, atrás
referidos, manifestaram alterações de comportamento que, poderiam comprometer a
capacidade de entender e colaborar na entrevista e nos procedimentos de avaliação.
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A amostra é constituída por 157 indivíduos, divididos por 3 grupos, mais especificamente
um grupo experimental e dois grupos de controlo. As entrevistas foram realizadas
individualmente com todos os participantes. Dois grupos da amostra, nomeadamente, o GEP e
GCP são constituídos por reclusos que estão detidos em estabelecimentos prisionais (centrais,
regionais e especiais) da região de Lisboa e de parte da região Centro (Tabela 1). O GCE
constitui o segundo grupo de controlo, tendo sido recolhido aleatoriamente na região Centro,
designadamente no distrito de Leiria. Os sujeitos deste grupo de controlo, não possuíam
antecedentes criminais, nem tentativas de suicídio anteriores, tendo sido estudado com vista a
identificar possíveis diferenças e semelhanças que possam existir entre um grupo que vive na
comunidade, em meio extra-prisional e dois grupos em meio prisional. É de salientar que, neste
grupo GCE houve a preocupação de encontrar indivíduos dentro do mesmo intervalo de idades
e com o mesmo nível de escolaridade.
Operacionalização dos três grupos:
1 – Grupo Experimental na Prisão (GEP) – 52 reclusos do sexo masculino, que
cometeram pelo menos uma tentativa de suicídio em meio prisional;
2 – Grupo de Controlo na Prisão (GCP) – 52 reclusos do sexo masculino, sem registo
de tentativas de suicídio, fora e dentro da prisão;
3 – Grupo de Controlo no Exterior (GCE) – 53 indivíduos do sexo masculino, vivem na
comunidade e não têm antecedentes criminais, nem tentativas de suicídio na sua vida.
Todos os reclusos foram devidamente esclarecidos sobre o propósito da investigação e
os que aceitaram voluntariamente participar no estudo, assinaram um documento de
consentimento informado (Anexo I) a autorizarem o uso e análise da informação recolhida,
tendo-lhes sido garantida a confidencialidade e anonimato da mesma.
As entrevistas foram realizadas nos estabelecimentos prisionais já referidos, em
gabinete de atendimento usado apenas para o efeito, garantindo a privacidade exigida nestas
situações. Todos os reclusos foram entrevistados individualmente pela autora, que possui
experiência no uso dos instrumentos de avaliação psicológica utilizados, uma vez que os usa
na sua prática clínica há cerca de onze anos.
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Ao longo das entrevistas, caso fosse identificada alguma situação de vulnerabilidade de
algum recluso, no decorrer da entrevista ou percepcionado algum sinal de alerta sobre eventual
ideação suicida, eram imediatamente informados os serviços de Psicologia ou a equipa de
saúde de tal situação.
Importa realçar que ao longo da consulta e pesquisa dos processos clínicos, dos dois
grupos recolhidos nas prisões, foram detectadas algumas diferenças. Constatou-se, na maioria
das vezes, que os processos dos reclusos do GEP eram substancialmente mais volumosos
que os processos dos reclusos do GCP. Essa diferença, resultava de vários factores, em
primeiro lugar, o número de consultas hospitalares do GEP, designadamente da especialidade
de Psiquiatria era claramente mais numeroso do que as consultas frequentadas pelos sujeitos
do GCP. Em segundo lugar, a maioria dos processos dos elementos do GEP continham
despachos da direcção por razões disciplinares, nos quais se solicitava à equipa da saúde,
pareceres clínicos sobre determinados comportamentos manifestados pelos reclusos, sendo
por vezes em maior número do que nos processos do grupo de controlo. Por último,
avolumavam estes processos, mas mais raramente, os pedidos dos reclusos, apelando a
determinados serviços ou atendimentos.
A recolha da amostra teve início em Abril de 2009 e terminou em Março de 2011, com a
realização de cento e oitenta e duas entrevistas, dos quais 11 reclusos foram excluídos e 14
recusaram participar no estudo, tendo sido excluídos do tratamento e análise da informação:
• 10 reclusos com tentativas de suicídio e 4 sem tentativas de suicídio recusaram
participar no estudo;
• 6 foram seleccionados para o grupo de controlo prisional, mas já tinham cometido
tentativa(s) de suicídio antes da detenção e também não foram incluídos no GEP;
• 2 não efectivaram a tentativa de suicídio, embora tivessem tido actos preparatórios;
• 2 não estavam em condições de responder ao inquérito, um por ter tentado o suicídio
no dia anterior à entrevista e o outro por estar, aparentemente, sob o efeito de sobredosagem
de medicação;
• 1 declarou não se ter tratado de uma tentativa de suicídio, mas de uma mera
simulação.
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Tabela 1. Distribuição dos participantes por tipo de estabelecimento prisional
Tipos de Estabelecimentos Prisionais
Grupo Experimental
GCP
N % N %
Est. Prisional Central 45 86,5 45 86,5
Est. Prisional Regional 3 5,8 7 13,5
Est. Prisional Especial (Hospital Prisional
S. João de Deus Caxias)
4 7,7 - -
Total 52 100,0 52 100,0
3. Técnicas e instrumentos utilizados na recolha de dados
3.1. Entrevista semi-estruturada
A entrevista constitui uma fonte de informação extremamente importante, bem como um
meio de obter esclarecimentos privilegiados relevantes através da inquirição dos indivíduos que
cometeram uma ou mais tentativas de suicídio. A recolha de dados sócio-demográficos,
história de comportamentos suicidários e história de vida, foi realizada através de uma
entrevista semi-estruturada (Anexo II), criada para este estudo, adoptando como referência
(sem a seguir detalhadamente) o modelo de entrevista criado para a investigação de Costa
Santos (1998). Esta entrevista era semi-aberta para não fechar totalmente o leque possível de
respostas, conduzindo a entrevista de modo a obter as informações pretendidas. Caso as
perguntas possibilitassem total abertura nas respostas, havia o risco de cada entrevistado
responder de acordo com o que ocorresse na altura, não respondendo exactamente àquilo que
interessava saber. As entrevistas foram complementadas com informações recolhidas do
processo clínico do recluso existente nos serviços clínicos dos estabelecimentos prisionais.
Estes processos contêm toda a informação clínica, uma vez que acompanham sempre o
recluso, quando este se desloca ao hospital para beneficiar de assistência médica ou quando é
transferido para outro estabelecimento.
Este modelo de entrevista está dividido por grupos de variáveis (Anexo III). O primeiro
grupo de perguntas (A) corresponde às variáveis de ordem sócio-demográfica,
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designadamente: dados identificativos, idade, sexo, estado civil, naturalidade, nacionalidade,
residência, profissão, escolaridade, formação profissional, afinidade populacional,
relacionamentos maritais, filhos, irmãos e posição na fratria. É importante a operacionalização
de alguns itens da entrevista, no sentido de clarificar de que forma foi recolhida a informação.
Na variável de relacionamentos maritais, os entrevistados referiam quantos relacionamentos
tinham tido, desde que tivessem vivido seis meses ou mais com essa pessoa
(independentemente de estarem ou não casados).
O segundo grupo de variáveis (B) caracteriza os hábitos de consumo de substâncias
tóxicas (álcool, tabaco e drogas de abuso). O terceiro grupo de variáveis (C) fornece
informação sobre o estado civil e profissão dos pais, bem como o tipo de relação familiar
considerada pelos entrevistados desde a infância até ao momento em que foram detidos, de
acordo com a seguinte escala: “Bom relacionamento” (vida bastante partilhada);
“Relacionamento razoável” (convívio regular, sem conflitos significativos); “Mau
relacionamento” (pelo menos um dos pais alheado das questões familiares e educação dos
filhos, conflitos frequentes, violência física). O quarto grupo de variáveis (D) indica em primeiro
e segundo lugar, respectivamente, os acontecimentos de vida relevantes, que mais afectaram,
negativamente, os indivíduos até ao dia da entrevista. O quinto grupo de variáveis (E)
corresponde à situação jurídico-penal (antecedentes criminais, crime(s), situação jurídica da
pena, tempo de pena cumprido). O sexto grupo de variáveis (F) caracteriza as tentativas de
suicídio anteriores à actual tentativa de suicídio, bem como os antecedentes familiares sobre
tentativas de suicídio e suicídio consumado. O sétimo grupo de variáveis (G) caracteriza a
tentativa de suicídio actual, aprofundando as suas circunstâncias, motivações, método,
instrumento utilizado, gravidade da tentativa, ocupação laboral na altura em que atentou contra
a vida e automutilações. A tentativa de suicídio actual foi mais aprofundada do que as
tentativas anteriores, por ser a mais recente e permitir uma informação mais detalhada.
Por fim, procura-se perceber quais são as expectativas futuras de cada indivíduo. Neste
item foi realizada uma pergunta aberta, formulada para que cada indivíduo respondesse como
é que desejava que fosse o seu futuro em termos ideais. As respostas foram depois
englobadas nas seguintes categorias: “não verbaliza projectos de vida”; “verbaliza projectos de
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vida, claros e exequíveis” e “verbaliza projectos de vida vagos, difusos e pouco consistentes”. A
primeira categoria engloba respostas como: “viver um dia de cada vez”; “não sei, não penso
muito nisso”; “primeiro quero sair da prisão e depois é que faço planos”; “reconciliar-me com
uma das mães dos meus filhos”, enquanto a segunda categoria verbaliza projectos de vida
engloba respostas como: “quero tirar a carta de condução e trabalhar com o meu antigo
patrão”; “quero ver crescer os meus filhos e trabalhar, sem recorrer mais ao mundo do crime”;
“em primeiro lugar quero deixar de consumir drogas e trabalhar, gostava muito de ter um carro”;
na terceira categoria, as “verbalizações de projectos vagos, difusos e pouco consistentes”
engloba respostas como: “quero ter mais 2 ou 3 filhos e ver crescer os meus netos”; “quero
abrir um negócio na noite, porque sempre gostei da noite e uma loja de tatuagens”; “espero ser
feliz com a família e ter mais momentos de felicidade do que de tristeza”; “espero montar um
negócio com o meu filho aqui ou noutro país qualquer” “gostava de tirar um curso de Direito,
para mostrar a alguns juízes que o que eles fazem não está correcto”, “ter uma vida estável”.
O último grupo de variáveis (H) correspondia à recolha de informação no processo
clínico e junto dos profissionais de saúde que acompanham o recluso.
3.2. Inventário de personalidade NEO PI-R
O Inventário de Personalidade NEO-R (Costa & McCrae, 1978, versão Portuguesa, Lima
& Simões, 1997) operacionaliza o modelo de personalidade em cinco factores/domínios gerais
e trinta facetas específicas (ver Anexos). Estes cinco factores estão definidos como
agrupamentos de traços inter-relacionados, são eles: Neuroticismo, Extroversão, Abertura à
Experiência, Amabilidade e Conscienciosidade, cada um deles avaliado em seis escalas e num
total de 240 itens, que por sua vez, compõem o NEO-PI-R. Através da descrição do
posicionamento do sujeito nesses cinco factores, obtemos um esquema compreensivo e
sintetizador do estilo emocional, interpessoal, experiencial, atitudinal e motivacional de cada
indivíduo.
Segundo Gonçalves (2008), o “modelo dos cinco factores” de Costa e McCrae, “parece
ser aquele que na actualidade reúne maior consenso na explicação, compreensão e avaliação
desse conceito tão vasto que é a personalidade”.
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Para Carver (2006), o modelo dos cinco factores, é um dos que se aproxima mais da
avaliação da personalidade, sustentando que a variabilidade da personalidade pode ser
percebida pela abordagem destas cinco dimensões.
Este questionário foi aferido para a população portuguesa, tendo obtido bons valores de
fidelidade e estabilidade. A análise da consistência interna efectuada através dos coeficientes
alfa de Cronbach, obtiveram na amostra portuguesa resultados entre: 0.86 e 0.79 para os
factores e 0.86 e 0.95 para as facetas (Lima & Simões, 2000).
Este questionário é composto por uma escala que inclui as seguintes opções de
resposta: “discordo fortemente”, “discordo”, “neutro”, “concordo” e “concordo fortemente”. As
pontuações dos factores permitem uma análise geral, que pode ser mais aprofundada através
das escalas das facetas, proporcionando uma interpretação mais fina e mais detalhada ao nível
da personalidade (Anexo IV).
Para operacionalizar melhor os factores, descrevem-se brevemente cada um deles. O
Neuroticismo avalia a adaptação vs. Instabilidade emocional. Identifica indivíduos com
propensão para a descompensação emocional, ideias irrealistas, desejos e necessidades
excessivas, bem como respostas de coping desadequadas. A extroversão avalia a quantidade
e intensidade das relações interpessoais, o nível de actividade, a necessidade de estimulação
e a capacidade de exprimir alegria. A Abertura à Experiência avalia a procura proactiva e
apreciação da experiência por si própria, bem como a tolerância e a exploração do não familiar.
A Amabilidade avalia a qualidade da orientação interpessoal num contínuo, que vai, desde a
compaixão ao antagonismo nos pensamentos, sentimentos e acções. A Conscienciosidade
avalia o grau de organização, persistência e motivação no comportamento orientado para um
objectivo. Contrasta pessoas que são de confiança e escrupulosas com aquelas que são
preguiçosas e descuidadas.
Cada domínio/factor é composto por seis facetas, designadamente o Neuroticismo
abrange as seguintes escalas: Ansiedade (N1), Hostilidade (N2), Depressão (N3), Auto-
consciência (N4), Impulsividade (N5) e Vulnerabilidade (N6). O domínio Extroversão tem como
facetas: Acolhimento caloroso (E1), Gregariedade (E2), Assertividade (E3), Actividade (E4),
Procura de excitação (E5) e Emoções positivas (E6). Abertura à experiência abrange as
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seguintes facetas: Fantasia (O1), Estética (O2), Sentimentos (O3), Acções (O4), Ideias (O5) e
Valores (O6). As facetas da Amabilidade são: Confiança (A1), Rectidão (A2), Altruísmo (O3),
Complacência (A4), Modéstia (A5) e Sensibilidade (A6). A Conscienciosidade abrange a:
Competência (C1), Ordem (C2), Obediência ao dever (C3), Esforço de realização (C4), Auto-
disciplina (C5) e Deliberação (C6).
3.3. Inventário de Sintomas Psicopatológicos (BSI) A sintomatologia psicopatológica foi avaliada através do Inventário de Sintomas
Psicopatológicos, versão portuguesa do Brief Symptom Inventory (BSI) (Derogatis, 1982, cit in.
Canavarro, 1999) traduzido e adaptado por Canavarro (1999) (Anexo V). É um inventário de
auto resposta com 53 itens, onde o indivíduo classifica o grau em que cada problema o afectou
durante a última semana, numa escala tipo Likert que varia entre «Nunca» a «Muitíssimas
vezes». O BSI avalia sintomas psicopatológicos em nove dimensões de sintomatologia:
somatização, obsessões-compulsões, sensibilidade interpessoal, depressão, ansiedade,
hostilidade, ansiedade fóbica, ideação paranóide e psicoticismo. Avalia também três índices
globais, que constituem avaliações sumárias de perturbação emocional, representando
aspectos diferentes de psicopatologia (Índice Geral de Sintomas (IGS), Total de Sintomas
Positivos (TSP) e o Índice de Sintomas Positivos (ISP). Os estudos psicométricos efectuados
na versão Portuguesa (Canavarro, 1999) revelaram que a escala apresenta níveis adequados
de consistência interna para as nove escalas, com valores de alfa que variam entre 0.72 e
0.85. Do ponto de vista clínico, a análise das pontuações obtidas nas nove dimensões fornece
informação sobre o tipo de sintomatologia que preponderantemente perturba mais o indivíduo.
4. Tratamento de dados A informação recolhida através dos instrumentos utilizados, nomeadamente, o guião da
entrevista para obtenção dados sócio-demográficos, história de vida, Inventário de Sintomas
Psicopatológicos (BSI) e o Questionário de Personalidade NEO PI-R, foram introduzidos numa
base de dados construída expressamente para este estudo e sujeitos a análise estatística com
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recurso ao Statistical Package for Social Science (SPSS), versão 19®. As análises foram
efectuadas com recurso ao Manual de análise estatística no SPSS (Maroco, 2005). Numa
primeira fase foi realizada a estatística descritiva das variáveis utilizadas com a apresentação
das frequências, médias e percentagens. Utilizou-se também a regressão logística para
identificar as variáveis estatisticamente mais significativas. Numa fase posterior, foram
efectuadas análises de variância (ANOVA, tendo sido também utilizado o teste de Tukey USD
para análises post-hoc, Medidas Repetidas e Correlação de Pearson.
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Capítulo IV. Resultados
1. Caracterização sócio-demográfica
1.1. Idade
A população estudada é globalmente constituída por 157 participantes, do sexo
masculino, com idades compreendidas entre os 18 anos e os 73 anos (M=35,5; DP=11.98). Foi
efectuada uma análise de variância One-way ANOVA entre os grupos e a idade e concluiu-se
que não existem diferenças estatisticamente significativas em relação à variável idade (p< .28).
O GEP apresenta uma média de idades de 36 anos (±10,2), em que o participante mais
novo tinha 19 anos e o mais velho 73 anos. O GCP apresenta uma média de idades de 35
anos (±10,7), em que o participante mais novo tinha 20 anos e o mais velho 65 anos. O GCE
apresenta uma média de idades de 38 anos (±14,4) em que o participante mais novo tinha 18
anos e o mais velho 70 anos.
Tabela 2. Média e desvio padrão de idades dos indivíduos dos 3 grupos
Idade
GEP N= 52
GCP N=52
GCE N=53
M DP M DP M DP
35,5 10.2 34,5 10.7 38,1 14.4
1.2. Estado civil
O estado civil dos sujeitos do GEP e do GCP, é maioritariamente solteiro. No GEP 35
(67,3%) indivíduos são solteiros, 9 (17,3%) são divorciados ou separados, 7 (13,5%) são
casados ou viviam maritalmente (apenas 1 vivia maritalmente, os restantes são casados) e 1
viúvo. O GCP apresenta exactamente o mesmo estado civil que o GEP, sendo 35 (67,3%)
solteiros, 9 (17,3%) divorciados ou separados, 7 (13,5%) casados ou viviam maritalmente (5
viviam maritalmente, os restantes são casados) e 1 viúvo. No GCE, 32 (60,4%) são casados ou
vivem maritalmente (2 viviam maritalmente, os restantes são casados), 17 (32,1%) são
solteiros e 4 (7,7%) são divorciados ou separados (Tabela 3). Foi efectuada uma análise de
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variância One-way ANOVA, entre o estado civil e os 3 grupos da amostra e concluiu-se que
não existem diferenças estatisticamente significativas em relação à variável estado civil
[F(2,154)=1,379; p< .255].
Tabela 3. Estado civil dos participantes dos 3 grupos
1.3. Afinidade populacional
A afinidade populacional nos três grupos é caucasiana na sua grande maioria. No GEP
45 (86,5%) são caucasianos, 3 (5,8%) são negróides e 4 (7,7%) são ciganos; no grupo de GCP
41 (78,8%) são caucasianos, 9 (17,3%) são negróides e 2 (3,8%) são ciganos; no GCE 52
(98,1%) são caucasianos e 1 é negróide.
1.4. Naturalidade
Relativamente aos indivíduos do GEP, vinte e oito (53,8%) são naturais do Sul, dos
quais 23 são de Lisboa, 11 (21,2%) do Norte, 9 (17,3%) do Centro e 4 (7,7%) são naturais das
Ilhas. Os indivíduos do GCP nasceram maioritariamente no Sul: 24 (46,2%), dos quais 23 em
Lisboa, 11 (21,2%) no Centro, 7 (13,5%) no Norte, 1 nas Ilhas e 9 (17,3%) são naturais de
outros países europeus e africanos. Relativamente aos indivíduos do GCE: 46 (86,8%) são
naturais do Centro, 1 do Norte e 6 (11,3%) de outra naturalidade, nomeadamente de países
africanos e outros europeus.
1.5. Nacionalidade
O GEP tem apenas indivíduos de nacionalidade portuguesa. O GCP tem 47 portugueses
e 5 originários de Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP). O grupo de
Estado Civil
GEP N=52
GCP N=52
GCE N=53
N % N % N %
Solteiro 35 67,3 35 67,3 17 32,1
Casado/união facto 7 13,5 7 13,5 32 60,4
Divorciado/separado 9 17,3 9 17,3 4 7,5
Viúvo 1 1,9 1 1,9 - -
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indivíduos do GCE tem 51 sujeitos de nacionalidade portuguesa, 1 de outro país europeu e 1
de um País Africano de Língua Oficial Portuguesa.
1.5. Residência
A área de residência dos indivíduos do GEP situa-se em vinte e cinco (48,1%) em
Lisboa, 10 (19,2%) no Centro, 8 (15,4%) no Norte, 4 (7,7%) nas Ilhas, 4 (7,7%) no
Alentejo/Algarve e 1 não tinha residência fixa. Os indivíduos do GCP, têm residência
maioritariamente em Lisboa: 30 (57,7%), 14 (26,9%) no Centro, 4 (7,7%) no Norte, 2 nas Ilhas,
Alentejo/Algarve e 1 indivíduo não tinha residência fixa. De entre os indivíduos do GCE 52
(98,1%) residem no Centro e 1 no Norte.
1.7. Sector Profissional
Organizou-se a variável profissão de acordo com o sector profissional, incluindo no
sector primário (agricultura, pesca, pecuária), no sector secundário (Indústria, Construção civil,
Produção) se no sector terciário (comércio e serviços).
No GEP, 41 (78,8%) reclusos trabalharam por conta de outrem, antes de serem detidos,
10 (19,2%) por conta própria e 1 era estudante no ensino superior. Destes, 24 (46,2%)
trabalharam no sector secundário, 23 (44,2%) no sector terciário, 4 (7,7%) no sector primário e
1 era estudante. No GCP, 34 (65,4%) trabalharam por conta de outrem, 14 (26,9%) por conta
própria e 4 (7,7%) nunca trabalharam: destes, 30 (57,7%) trabalharam no sector terciário, 18
(34,6%) no sector secundário e 4 nunca trabalharam; no GCE, 36 (67,9%) trabalhavam por
conta de outrem, 12 (22,6%) por conta própria e 5 (9,4%) noutra situação: destes, 34 (64,1%)
trabalhavam no sector terciário, 7 (13,2%) no sector secundário, 8 (15,1%) no sector primário e
5 (9,4%) eram estudantes. Foi efectuada uma análise de variância One-way ANOVA, entre o
sector profissional e os 3 grupos, mostrando não existirem diferenças estatisticamente
significativas entre os 3 grupos para o sector profissional [F(2,154)=1,590; p< .207].
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2. Antecedentes Pessoais
2.1. Aspectos desenvolvimentais e relacionais
2.1.1. Escolaridade
No GEP 8 (15,4%) indivíduos frequentaram o 1.º ciclo; 16 (30,8%) têm o 1.º ciclo
completo, 16 (30,8%) o 2.º ciclo, 7 (13,5%) o 3.º ciclo, 4 (7,7%) o 12.º ano e 1 tem um curso
superior. No GCP, 5 (9,6%) têm o 1.º ciclo, 14 (26,9%) o 2.º ciclo, 22 (42,3%) o 3.º ciclo, 10
(19,2%) o 12.º ano e 1 tem um curso superior. Dos indivíduos do GCE, 1 frequentou o 1.º ciclo,
9 (17,0%) têm 1.º ciclo completo, 6 (11,3%) o 2.º ciclo, 13 (24,5%) o 3.º ciclo, 21 (39,6%) o 12.º
ano e 3 têm um curso superior (Tabela 4). Foi efectuada uma análise de variância One-way
ANOVA, entre a escolaridade e os 3 grupos, revelando diferenças estatisticamente
significativas relativamente è escolaridade nos 3 grupos [F(2,154)=17,909; p< .0001].
Tabela 4. Escolaridade dos participantes
Escolaridade
GEP N= 52
GCP N= 52
GCE N= 53
N % N % N %
Iletrado/Freq. 1.º Ciclo 8 15,4 - - 1 1,9
1.º Ciclo 16 30,8 5 9,6 9 17,0
2.º Ciclo 16 30,8 14 26,9 6 11,3
3.º Ciclo 7 13,5 22 42,3 13 24,5
Secundário 4 7,7 10 19,2 21 39,6
Curso Superior 1 1,9 1 1,9 3 5,7
2.1.2. Relação familiar
A relação familiar correspondia ao ambiente que os indivíduos diziam ter habitualmente
no seio familiar. Foi usada uma escala de três níveis acerca da forma como cada indivíduo
avaliava a relação/ambiente familiar no período em que viveram com os pais (ou outros) até
saírem de casa ou serem detidos. No GEP, 23 (44,2%) referiram ter bom relacionamento (vida
bastante partilhada), 14 (26,9%) referiram relacionamento razoável (convívio regular e sem
conflitos significativos), outros 14 (26,9%) revelaram a existência de um mau relacionamento
_____________________________________________________ Tentativa de suicídio em meio prisional
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(um dos pais alheado da educação dos filhos, conflitos frequentes e violência física). No GCP,
29 (55,8%) tinham um bom relacionamento; 17 (32,7%) relacionamento razoável e 6 (11,5%)
mau relacionamento. No GCE, 41 (77,4%) tinham bom relacionamento; 10 (18,9%)
relacionamento razoável, 1 mau relacionamento e 1 não quis responder. Efectuou-se uma
análise estatística para comparar a relação familiar nos três grupos da investigação, usando a
análise de variância One-way ANOVA (Gráfico 1), incluindo como variável dependente a
relação familiar (bom relacionamento vs. razoável vs. mau relacionamento) e como variável
independente o grupo (GEP vs. GCP vs. GCE). Os resultados indicam que existem diferenças
estatisticamente significativas [F(2,154)=9,661; p<.0001]. Uma análise post-hoc (Tukey USD),
mostrou que as maiores diferenças se encontram entre os grupos GEP e GCE (p< .0001).
Gráfico 1. Análise de variância One-Way ANOVA para comparar a relação familiar
2.1.3. Dimensão da fratria
No GEP, 34 (65,4%) reclusos têm 3 ou mais irmãos, 11 (21,2%) têm 2 irmãos, 6 (11,5%)
têm 1 irmão e 1 é filho único. No GCP, 34 (65,4%) têm 3 ou mais irmãos, 10 (19,2%) têm 1
irmão, 6 (11,5%) têm 2 irmãos e 2 são filhos únicos. No GCE, 24 (45,3%) indivíduos têm 1
irmão, 19 (35,8%) têm 3 ou mais irmãos, 5 (9,4%) têm 2 irmãos e 5 são filhos únicos (Tabela
5). Com o objectivo de perceber se existem diferenças estatisticamente significativas para a
variável irmãos, foi efectuada uma análise de variância One-way ANOVA, entre os irmãos e os
_____________________________________________________ Tentativa de suicídio em meio prisional
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3 grupos, revelando existirem diferenças estatisticamente significativas entre os irmãos nos 3
grupos [F(2,154)=10,807; p< .0001].
Tabela 5. Número de irmãos dos participantes
Número de irmãos
GEP N=52
GCP N=52
GCE N=53
N % N % N %
Filho único 1 1,9 2 3,8 5 9,4
1 irmão 6 11,5 10 19,2 24 45,3
2 irmãos 11 21,2 6 11,5 5 9,4
3 ou mais irmãos 34 65,4 34 65,4 19 35,8
2.1.4. Posição na fratria
Relativamente à posição na fratria, no GEP, 21 (40,4%) reclusos estão numa posição
intermédia, 20 (38,5%) são mais velhos, 8 (15,4%) são mais novos, 2 são gémeos e 1 é filho
único. No GCP, 24 (46,2%) são intermédios na fratria, 19 (36,5%) são os mais novos, 7
(13,5%) são os mais velhos e 2 são filhos únicos. No GCE, 18 (34,0%) indivíduos são os mais
novos, 16 (30,2%) são os mais velhos, 12 (22,6%) estão numa posição intermédia na fratria, 6
(11,3%) são filhos únicos e 1 é gémeo (Tabela 6). Foi efectuada uma análise de variância One-
way ANOVA, entre os 3 grupos e a posição na fratria, revelando existirem diferenças
estatisticamente significativas entre os 3 grupos e a posição na fratria [F(2,154)=3,511; p<
.032].
Tabela 6. Posição na fratria
Posição na fratria GEP GCP GCE
N % N % N %
Filho único 1 1,9 2 3,8 6 11,3
Gémeo 2 3,8 - - 1 1,9
Mais novo 8 15,4 19 36,5 18 34,0
Intermédio 21 40,4 24 46,2 12 22,6
Mais velho 20 38,5 7 13,5 16 30,2
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2.1.5. Relacionamentos maritais
Entende-se aqui por relacionamento marital, o relacionamento afectivo com coabitação
durante 6 ou mais meses, observa-se que a maioria dos entrevistados nos três grupos teve um
destes relacionamentos ao longo da vida. No GEP, 29 (55,8%) tiveram 1 relacionamento, 12
(23,1%) tiveram 2 relacionamentos, 9 (17,3%) tiveram 3 ou mais e 2 não tiveram nenhum
relacionamento. No GCP, 24 (46,2%) tiveram 1 relacionamento, 9 (17,3%) tiveram 2
relacionamentos maritais, 9 (17,3%) tiveram 3 ou mais e 10 (19,2%) não tiveram nenhum. No
GCE, 35 (66,0%) tiveram 1 relacionamento, 1 teve 2 relacionamentos e 17 (32,7%) não tiveram
nenhum relacionamento marital. Foi efectuada uma análise de variância One-way ANOVA,
entre a relação marital e os 3 grupos, revelando diferenças estatisticamente significativas em
relação à variável relação marital. Análises post-hoc com o teste Tukey USD, revelaram que as
maiores diferenças entre os sujeitos do GEP, teve mais relacionamentos que os dos dois
grupos de controlo (GCP e GCE) [F(2,154)=15,875; p<.0001]; análises revelam ainda
diferenças estatisticamente significativas entre o GCE e os dois grupos em meio prisional
(p<.0001), por ser o grupo com o menor número de relacionamentos maritais.
2.1.6 Número de filhos
O número de filhos não difere muito nos três grupos. No GEP, 20 (38,5%) reclusos não
têm filhos, 16 (30,8%) têm 1 filho, 6 (11,5%) têm 2 filhos e 10 (19,2%) têm 3 ou mais filhos. No
GCP, 21 (40,4%) reclusos não têm filhos, 10 (19,2%) têm 1 filho, 14 (26,9%) 2 têm filhos, 7
(13,5%) têm 3 ou mais filhos. No GCE, 21 (39,6%) indivíduos não tem filhos, à semelhança dos
outros dois grupos, 10 (18,9%) têm 1 filho, 19 (35,8%) têm 2 filhos e 3 indivíduos têm 3 filhos
(5,7%). Foi efectuada uma análise de variância One-way ANOVA, entre os 3 grupos e o
número de filhos, revelando não existirem diferenças estatisticamente significativas entre o
número de filhos e os 3 grupos [F(2,154)= .507; p< .603].
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2.1.7. Acontecimentos de vida relevantes
Os acontecimentos de vida relevantes eram registados como aqueles que mais
afectaram os participantes negativamente em primeiro e em segundo lugar. Desta forma, os
valores apresentados em 1.º lugar (1.ª coluna, na tabela 7) são os que foram referidos como
tendo sido os acontecimentos mais marcantes até ao momento da entrevista, enquanto os que
estão assinalados na 2.ª coluna, foram assinalados terão sido referidos como sendo os
acontecimentos de vida relevantes em 2.º lugar (2.ª coluna da tabela 7). Registaram-se como
os acontecimentos de vida mais marcantes, por ordem decrescente, em 1.º lugar no GEP:
problemas jurídico-penais, familiares, conjugais e de saúde; em 2.º lugar: problemas jurídico-
penais, familiares, saúde, conjugais e outros. No GCP registou-se, por ordem decrescente, em
1.º lugar: problemas jurídico-penais, familiares, conjugais, saúde, outros problemas e
escolares; em 2.º lugar: problemas jurídico-penais, familiares, saúde e profissionais. No GCE,
registaram-se como acontecimentos mais marcantes, por ordem decrescente, em 1.º lugar:
problemas familiares, saúde e profissionais, conjugais, escolares, outros e jurídico-penais; em
2.º lugar foram referidos: problemas de saúde, familiares e profissionais, escolares e jurídico-
penais. Foi efectuada uma análise de variância One-way ANOVA, concluindo que existem
diferenças estatisticamente significativas em relação à variável acontecimentos de vida
relevantes para os acontecimentos assinalados em 1.º lugar [F(2,154)=10,29; p<.0001], e para
os acontecimentos referidos em 2.º lugar [F(2,154)=5,36; p<.01] (Tabela 7). Análises post-hoc
com o teste Tukey USD revelaram que as maiores diferenças existem como seria de esperar
entre o GCE e os dois grupos em meio prisional (p<.0001), para os problemas com a justiça.
As análises mostraram, também, diferenças estatisticamente significativas entre o GCE para os
problemas profissionais comparativamente com o GEP e o GCP (p<.0001). O mesmo teste
revela ainda diferenças estatisticamente significativas, indicando que o GCE tem mais
problemas escolares do que os dois grupos em meio prisional (p<.01).
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Tabela 7. Acontecimentos de vida relevantes
* p < .05, ** p < .01, *** p < .001
2.2 - Hábitos tóxicos
2.2.1. Tabaco
O tabaco é amplamente usado nas duas populações em meio prisional. Esta informação
foi recolhida de acordo com os consumos habituais dentro da prisão e no momento da
entrevista. Alguns reclusos referiram que já tinham fumado ao longo da vida, tendo
abandonado esses hábitos pelo que, não foram contabilizados neste estudo. No GEP, a média
de idades para o início dos consumos de tabaco situava-se nos 14 anos (DP=3,2), variando
entre os 8 e os 22 anos para o início dos consumos; 46 (88,5%) fumavam e 6 (11,5%) não
fumavam. No GCP, a média de idades para o início do consumo de tabaco foi aos 14 anos,
Acontecimentos de vida relevantes
GEP GCP GCE F (2,154)
1.º 2.º 1.º 2.º 1.º 2.º
(“privação liberdade/família”, “estar inocente”,
“pena longa”, “prática criminal/próprio crime”,
“ambiente prisional violento”, “não ter visitas”)
Problemas jurídico-penais 26 8 24 14 1 1 52,70***
(“morte pai/mãe/outros familiares”, “separação/
divórcio pais”, “maus tratos parte pai”)
Problemas familiares 11 7 17 12 23 4 2,56
Problemas conjugais
(“mau relacionamento companheira”, “não ter
apoio da mulher/filhos”, “separação/divórcio”).
9 5 4 - 7 - 3,54*
Problemas de saúde
(“próprio”; “filhos”; “pais”; “consumo de drogas”)
6 6 3 7 8 8 0,69
Problemas escolares
(“conflitos com colegas”; “mudança de escola”)
- - 1 - 4 1 4,16**
Problemas profissionais(“instabilidade profissional”; “excesso de
trabalho”; “falência de empresa”; “mudança de
cidade”; “problemas financeiros")
- - - 1 8 4 12,39***
(“mudança de país”; “presenciar morte de um
amigo”; “serviço militar”)
Outros problemas - 2 3 - 2 - .50
Não responde - 24 - 18 - 35
Total 52 52 52 52 53 53
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variando entre os 8 e os 22 anos (DP=3,3); 31 (59,6%) fumavam e 21 (40,4%) não fumavam.
No GCE, a média de idades para o início do consumo de tabaco situa-se nos 18 anos
(DP=3,8), variando entre os 11 e os 25 anos para o início dos consumos; 11 (20,8%) fumavam
e 42 (79,2%) não fumavam.
2.2.2. Álcool
O consumo de álcool reporta-se aos hábitos existentes antes da reclusão. No GEP, 15
(28,8%) referiram que nunca consumiram álcool ou só o faziam excepcionalmente, 16 (30,8%)
consumiam menos de um litro de álcool/dia, 9 (17,3%) consumiam mais do que um litro de
álcool/dia e 12 (23,1%) tinham história de dependência de bebidas alcoólicas. No GCP, 13
(25%) nunca consumiram álcool ou só o faziam excepcionalmente, 19 (36,5%) consumiam
menos de um litro de álcool/dia, 14 (26,9%) consumiam mais do que um litro de álcool/dia e 6
(11,5%) tinham história de dependência de bebidas alcoólicas. No GCE, 28 (52,8%) não
consumiam álcool ou só o faziam excepcionalmente, 23 (43,4%) consumiam menos do que um
litro de álcool/dia e 2 (3,8%) possuíam história de dependência de álcool de álcool.
2.2.3. - Outras substâncias psicoactivas
O consumo de substâncias psicotrópicas, apresenta níveis muito diferentes nos 3 grupos
da amostra. Esta informação foi recolhida de acordo com os consumos habituais ao nível das
drogas fora e dentro da prisão. Alguns reclusos referiram que consumiam mais drogas fora da
prisão, outros revelaram que o início do consumo de drogas foi após a reclusão. Contudo, a
informação era recolhida segundo os consumos ao longo da sua vida. No GEP, a média de
idades para o início do consumo de drogas situava-se nos 16 anos (DP=4,5), variando entre os
9 e os 35 anos. Neste grupo, 15 (28,8%) nunca consumiram qualquer tipo de drogas e 37
(71,2%) usaram drogas: 4 (7,7%) consumiam ocasionalmente haxixe e/ou heroína e/ou
cocaína ou outras drogas, 3 (5,8%) tinham história de dependência de haxixe, 30 (57,7%)
tinham história de dependência de várias drogas em associação, designadamente, haxixe,
heroína, cocaína e/ou ecstasy. No GCP, a média de idades para o início do consumo de
drogas situava-se nos 17 anos, variando entre os 11 e os 30 anos (DP=4,8). Neste grupo, 23
(44,2%) nunca consumiram qualquer tipo de drogas, 8 (15,4%) consumiam ocasionalmente
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haxixe e/ou heroína e/ou cocaína ou outras drogas, 7 (13,5%) tinham história de dependência
de haxixe, 14 (26,9%) tinham história de dependência de várias drogas em associação, tais
como, haxixe, heroína, cocaína e/ou ecstasy. No GCE, a média de idades para o consumo de
drogas foi aos 17 anos (DP=2,8), variando entre os 15 e os 19 anos. Neste grupo, 51
indivíduos (96,2%) referiram que nunca consumiram drogas, 2 (3,8%) consumiram
ocasionalmente haxixe.
2.3. Antecedentes criminais
Mais de metade dos reclusos que atentaram contra a própria vida tinham antecedentes
criminais, ou seja, cumpriram penas de prisão efectiva antes da actual. No GEP, 36 (69,2%)
tinham antecedentes criminais: 10 (19,2%) tinham sido detidos uma vez, 16 (30,8%) tinham
sido presos 2 vezes e outros 10 (19,2%) reclusos tinham sido presos 3 ou mais vezes, variando
entre 1 a 6 prisões efectivas. No grupo de GCP, 20 (38,5%) também eram reincidentes: 13
(25%) indivíduos estiveram presos uma vez e 7 (13,5%) estiveram duas ou mais vezes,
variando entre 1 e 4.
2.4. Comportamentos autodestrutivos
2.4.1. Automutilações
As automutilações aqui descritas podem estar ou não relacionadas com tentativas de
suicídio, porquanto se referem a gestos autodestrutivos cometidos ao longo da vida dos
sujeitos fora ou dentro da prisão. No GEP, 36 (69,2%) automutilaram-se em algum momento da
sua vida e 16 (30,8%) nunca se automutilaram. Entre os reclusos que se automutilaram, 35
(67,3%) fizeram-no dentro da prisão e 1 fora e dentro da prisão. No GCP, 2 (3,8%) reclusos
tinham comportamentos de automutilação. Destes dois reclusos, 1 iniciou este comportamento
apenas dentro da prisão e o outro tinha comportamentos autodestrutivos antes de ter sido
detido, tendo-se automutilado também dentro da cadeia. Efectuou-se uma análise de variância,
a One-way ANOVA, usando como variável dependente os comportamentos destrutivos
(automutilações) e como variável independente o grupo (GEP vs. GCP vs. GCE). Os resultados
indicam que existem diferenças estatisticamente significativas [F(2, 154) = 19,171; p < .0001].
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Esta análise foi complementada com testes post-hoc (Tukey USD), que mostraram que o GEP
apresenta uma diferença estatisticamente significativa maior de automutilações, quando
comparado com os dois grupos de controlo (p< .0001).
2.4.2. Tentativas de suicídio anterior
2.4.2.1. Tempo de pena cumprido no momento da primeira TS na prisão
Importava estabelecer qual o momento de cumprimento de pena em que os reclusos
cometeram a primeira vez TS na prisão, independentemente de o terem feito ou não antes da
entrada para a prisão. Assim, a primeira TS em meio prisional, em média foi cometida quando
os reclusos já tinham cumprido 3 anos e 4 meses (DP=3,3; Moda= ,08), com um mínimo de 1
dia e um máximo de 15 anos de prisão para o cometimento da primeira tentativa de suicídio em
meio prisional.
2.4.2.2. Tentativas de suicídio (TS) prévias
No GEP, dos 52 reclusos, 15 (28,8%) tentaram pôr termo à vida pela primeira vez e 37
(71,2%) tinham cometido outra(s) TS prévia, variando entre um minímo de 1 e um máximo de
15.
No GEP, dos 37 reclusos que tinham cometido tentativas anteriores, 15 (28,8%)
atentaram contra a vida uma vez; 13 (25%) cometeram 2 TS; 4 (7,7%) cometeram 4 TS; 1
tentou suicidar-se 3 vezes; 1 cometeu seis TS, 1 cometeu dez TS; 1 atentou 11 vezes contra a
vida e 1 tentou acabar com a vida 15 vezes.
2.4.2.3. Local
As tentativas de suicídio que acabámos de referir foram cometidas em diversos sítios,
uma vez que nos referimos a tentativas que ocorreram antes da actual, que teve
necessariamente de ocorrer na prisão. Assim, a primeira tentativa de suicídio para 27 (72,9%)
indivíduos foi na prisão, algumas delas não necessariamente durante o cumprimento da actual
pena; 6 (16,2%) TS foram em casa, 2 em local público, designadamente uma precipitação de
uma ponte para um rio, uma TS perto da casa do recluso numa árvore junto a um rio com um
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Mestrado em Medicina Legal e Ciências Forenses_________________________________72
cinturão de karaté que ele praticara em tempos e um outro indivíduo tentou o suicídio numa via
rápida, precipitando-se no seu carro para uma ravina.
2.4.2.4. Método
O método mais usado nestas tentativas de suicídio foi o enforcamento 17 (45,9%); 8
(21,6%) provocando cortes no braço e no pescoço; 5 (13,5%) ingestão de psicofármacos, 3
(8,1%) por overdose de opiáceos; 1 por ingestão de corpos estranhos; 1 com arma de fogo; 1
por queimadura/incêndio provocadas pelo próprio na sua cela, 1 por inalação de gás.
3. Antecedentes familiares especialmente relevantes
3.5. Comportamentos suicidários
No GEP, 3 (5,8%) reclusos referiram que as mães tentaram suicidar-se, 3 (5,8%) têm
irmãos que cometeram TS e 4 (7,7%) têm outros familiares que tentaram matar-se. Os
restantes reclusos referiram que não têm conhecimento de outros familiares que tentaram
suicidar-se. Ainda neste grupo, 2 reclusos referiram que o pai se suicidou, 1 em que foi o
irmão, 2 reclusos têm avós que se suicidaram e 4 reclusos têm outros familiares que se
suicidaram. No GCP, 2 reclusos referiram que o pai tentou suicidar-se, 6 (11,5%) reclusos
referem que a mãe cometeu TS. Os restantes reclusos referem que não têm conhecimento de
familiares que tentaram o suicídio. Neste grupo, 1 recluso referiu que a mãe se suicidou, 2
tiveram irmãos que se suicidaram e 2 reclusos tiveram outros familiares que se suicidaram. No
GCE, 1 referiu que a mãe tentou suicidar-se e outro tem um familiar que tentou suicidar-se. Os
restantes indivíduos não têm familiares que tenham cometido tentativas de suicídio. Neste
grupo, 4 entrevistados têm 4 familiares que se suicidaram.
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Mestrado em Medicina Legal e Ciências Forenses_________________________________73
4. História actual
4.1. Criminal
4.1.1. Crimes cometidos A tipologia de crimes mais comum não é muito diferente em ambos os grupos recolhidos
em meio prisional. No GEP, 26 (50,0%) cometeram crimes contra o património, mais
especificamente os crimes de roubo, furto e burla, que são também aqueles que têm mais
expressão nos dois grupos; 20 (38,5%) crime contra as pessoas, aqui representado pelo crime
de homicídio, tentativa de homicídio, sequestro, violação e contra a integridade física (destes
20 crimes, 9 (17,3%) são crimes de homícidio e 4 (7,7%) são tentativas de homicídio), 6
(11,5%) crimes relacionados com droga. No GCP, 24 (46,2%) cometeram crimes contra o
património, 16 (30,8%) crimes contra as pessoas (7 (13,5%) homicídios e 2 (3,8%) tentativas
de homicídio), 9 (17,3%) crimes relacionados com tráfico, droga e armas, e 2 (3,8%) crime de
lenocínio e 1 por várias multas que não pagou, por excesso de velocidade e corridas ilegais, 1
recluso está preventivo por crimes contra o património. No GEP, 27 (51,9%) indivíduos tiveram
uma segunda ou mais condenações pela prática de crimes contra o património; 9 (17,3%) por
tráfico de droga; 8 (15,4%) por outros crimes; 4 (7,7%) por crimes contra as pessoas. No GCP,
28 (53,8%) reclusos tiveram uma outra condenação por crimes contra o património, 9 (17,3%)
por tráfico de droga e outras actividades ilícitas, 4 (7,7%) por crimes contra as pessoas, 8
(15,4%) por outro tipo de crimes, 3 reclusos estão preventivos.
4.1.2. Condenação e pena de prisão
Em ambos os grupos, os indivíduos têm penas de prisão relativamente longas. No GEP,
26 reclusos (50,0%) têm uma pena de 10 anos ou mais, 18 (34,6%) >5 e <10 anos, 7 (13,5%)
têm uma pena entre 2 anos e ≤ 5 anos e 1 recluso está preventivo. No GCP, 27 reclusos
(51,9%) têm uma pena de 10 ou mais anos, 13 (25,0%) têm uma pena >5 e <10 anos, 7
(13,5%) têm uma pena entre 2 anos e ≤ 5 anos, 2 (3,8%) têm uma pena menor que 2 anos e 3
reclusos (5,8%) estão preventivos.
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4.1.3. Tempo cumprido na actual pena de prisão
Os reclusos do GEP cumpriram em média 5 anos e 6 meses (DP=3,7) de pena na
prisão, variando entre os 4 meses e os 18 anos. No GCP, os reclusos cumpriram em média 4
anos e 6 meses (DP=3,2) de pena na prisão, variando entre um mínimo de 8 meses e um
máximo de 13 anos.
4.2. Suporte/Rede familiar
O suporte familiar corresponde ao apoio que os reclusos têm por parte dos familiares ou
de outros significativos, que funcionam como uma rede de suporte, que os visitam, com mais
ou menos regularidade, e/ou que lhe enviam encomendas. No GEP, 19 (36,5%) reclusos
referiram que têm apoio por parte dos pais e/ou irmãos, 13 (25,0%) são apoiados pela
mulher/namorada e/ou filhos, 2 são apoiados pela família alargada e/ou amigos, 18 (34,6%)
referiram que não têm qualquer apoio, visitas ou suporte familiar. No grupo de GCP, 29
(23,1%) reclusos referiram que tinham suporte por parte dos pais e/ou irmãos, 13 (25,0%) são
apoiados pela mulher/namorada e/ou filhos, 3 (5,8%) são apoiados pela família alargada e/ou
amigos e 7 (13,5%) reclusos referiram que não têm visitas nem qualquer suporte familiar.
4.3. Perturbação mental
A perturbação mental está apresentada segundo os critérios de classificação da DSM-IV
(Manual de diagnóstico e estatística das perturbações mentais, 1996). No GEP, 20 têm
diagnósticos psicopatológicos com perturbações do Eixo I: 14 (26,9%) com perturbação do
humor (depressão/distimia) e 3 (5,8%) com outra perturbação do humor (bipolar), 3 (5,8%)
perturbação psicótica (esquizofrenia ou outra); 16 com diagnósticos no Eixo II,
designadamente: 11 (21,2%) perturbação estado-limite da personalidade (borderline), 4 (7,7%)
perturbação anti-social da personalidade, 1 perturbação narcísica da personalidade. No GCP, 5
reclusos têm diagnósticos com perturbações do Eixo I: 4 (7,7%) com perturbação do humor
(depressão) e 1 perturbação psicótica; perturbações do Eixo II: 1 perturbação anti-social da
personalidade (Tabela 8). No GCE não foi referido nenhum diagnóstico conhecido. Para
perceber o perfil de cada grupo em função da perturbação mental, foi efectuada uma One-way
ANOVA, incluindo como factor inter-sujeitos o grupo (GEP vs. GCP vs. GCE) e como factor
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Mestrado em Medicina Legal e Ciências Forenses_________________________________75
intra-sujeitos, as perturbações psiquiátricas. Os resultados indicaram que existem diferenças
estatisticamente significativas [F(2,154) = 443,305; p < .0001]. Esta análise foi complementada
por testes post-hoc (Tukey USD), revelando que os reclusos do GEP têm um maior número de
diagnósticos psicopatológicos que o GCP (p < .0001), e que o GCE (p < .0001). O GCP
também apresenta mais psicopatologia relativamente ao GCE (p < .0001).
Tabela 8. Diagnóstico de perturbação mental segundo o DSM-IV (Manual de Diagnóstico e
Estatísticas das Perturbações Mentais, APA, 1996)
GEP GCP GCE
Perturbação mental diagnosticada N % N % N %
Eixo I
Perturbação do humor (depressão neurótica ou reactiva)
14 26,9 4 7,7 - -
Perturbação do humor (doença bipolar) 3 5,8 - - - -
Perturbação Psicótica (Esquizofrenia e outra)
3 5,8 1 1,9 - -
Eixo II
Perturbação Estado-Limite (borderline) da Personalidade
11 21,2 - - - -
Perturbação Narcísica da Personalidade 1 1,9 - - - -
Perturbação Anti-social da Personalidade 4 7,7 1 1,9 - -
Total 36 69,2 6 11,5 - - Nenhum diagnóstico 16 30,8 46 88,5 53 100
4.4. Medicação psicotrópica
A medicação reporta-se à prescrição psiquiátrica. Os reclusos que tomam medicação
estão a ser acompanhados por psiquiatria do próprio estabelecimento ou no Hospital Prisional
de Caxias. Os reclusos que são acompanhados por este serviço podem solicitá-lo
voluntariamente ou ser encaminhados por um técnico da saúde. No GEP, registaram-se 41
(78,8%) reclusos a fazer medicação psiquiátrica/psicotrópica prescrita e 11 (21,2%) reclusos
não tomavam nenhuma medicação, embora alguns já tenham tomado medicação psiquiátrica.
No GCP, registaram-se 17 (32,7%) reclusos a tomar medicação e 35 (67,3%) que não
tomavam medicação psicotrópica; no GCE ninguém estava a tomar medicação psiquiátrica.
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4.5. Tentativa de suicídio actual (mais recente)
4.5.1. Tempo decorrido entre primeira e a última tentativa de suicídio
De entre os reclusos que tinham cometido TS prévia, 18 (34,6%) tinham cometido essa
TS à mais de um ano antes da actual, 9 (17,3%) reportaram que foi, aproximadamente, à 6
meses antes da última, 6 (11,5%) à menos de um ano antes da última e 4 não forneceram
informação suficiente.
4.5.2. Ocupação laboral
No GEP, 13 (25%) reclusos tinham ocupação laboral no momento da tentativa de
suicídio e 39 (75%) referiram não ter ocupação laboral nesse momento.
4.5.3. Actos preparatórios
Os actos preparatórios que envolveram o momento da tentativa de suicídio
correspondem a algum planeamento, pois 11 (21,2%) reclusos adquiriram instrumentos ou
produtos para pôr fim à sua vida; 4 (7,7%) tiveram um gesto de despedida e 15 (28,8%)
deixaram uma carta, uma nota ou uma mensagem de despedida.
4.5.4. Pedido de ajuda
Na população de reclusos que cometeram TS, 35 (67,3%) não pediram ajuda antes de
cometer TS; 6 (11,5%) indivíduos pediram ajuda ao psicólogo/a; 5 (9,6%) reclusos deram conta
dos seus propósitos a outras pessoas aqui não descritas (como ao capelão, por exemplo); 4
(7,7%) pediram ajuda e manifestaram a sua intenção suicida a outro recluso; 1 pediu ajuda ao
médico e outro recluso pediu ajuda a um familiar.
4.5.5. Variação temporal
4.5.5.1. - Estação do ano
A primavera foi a estação do ano em que ocorreram mais tentativas de suicídio com 17
(32,7%); 15 (28,8%) foram no verão; 10 (%) no inverno e 10 (19,2%) no outono.
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4.5.5.2. Variação mensal
Obtivemos registos de tentativas de suicídio ao longo de todos os meses do ano.
Contudo, alguns meses como Maio e Setembro registaram o maior número de tentativas de
suicídio com 8 (15,4%) em cada um desses meses; 5 (9,6%) TS em cada um dos meses de
Março e Junho; 4 (7,7%) em cada um dos meses de Fevereiro, Abril, Agosto e Dezembro; 3
(5,8%) em cada mês de Julho, Outubro e Novembro, e 1 em Janeiro.
4.5.5.3 – Variação semanal
O dia da semana em que se registaram mais tentativas de suicídio, por ordem
decrescente foi: quarta-feira, sábado, sexta-feira e domingo, segunda-feira, terça-feira e quinta-
feira.
4.5.5.4 - Período do dia
O período do dia em que houve mais TS foi no final do dia, mais especificamente, a
hora em que se registaram a maioria das tentativas de suicídio foram, 23 (44,2%) entre as
18:00H e as 24:00 horas; 17 (32,7%) entre as 14:00H e as 18 horas; 5 (9,6%) entre as 12:00H
e as 14:00 horas; 4 (7,7%) entre as 8:00H e as 12:00 horas; 3 (5,8%) entre as 0:00H e as 8:00
horas.
4.5.6. Local da TS
O local para atentarem contra a própria vida na prisão foi, na maioria dos casos, a cela
de habitação para 37 (71,2%) reclusos; 8 (15,4%) TS na cela disciplinar; 4 (9,6%) na camarata
onde estavam alojados, significando que, eventualmente, havia mais reclusos que habitavam
nesse espaço, e 3 (5,8%) na ala prisional.
4.5.7. Método usado
No GEP, 52 reclusos tentaram o suicídio por métodos variados, embora o
enforcamento tenha sido o método mais usual: 30 (57,7%) TS por enforcamento; 7 (13,5%) por
ingestão de medicação psicotrópica; 6 (11,5%) reclusos produziram cortes no braço e pescoço,
5 (9,6%) ingeriram corpos estranhos, como colheres, vidros, pilhas e lâminas (envoltas em fita-
cola), 1 por overdose de opiáceos; 1 tentou acabar com a vida atando um saco de plástico ao
_____________________________________________________ Tentativa de suicídio em meio prisional
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pescoço com vista a provocar asfixia, 1 precipitou-se numa ala prisional (de um andar
superior), 1 tentou o suicídio por incêndio/queimaduras provocado pelo próprio na sua cela.
4.5.8. Grau de gravidade
O grau de gravidade da tentativa de suicídio foi aferido em função do tipo de
assistência que cada indivíduo teve após a passagem ao acto. O grau de gravidade da actual
tentativa de suicídio para a maioria dos reclusos foi médio, pois 23 (44,2%) tiveram assistência
médica ou de enfermagem nos serviços clínicos do estabelecimento prisional ou num hospital,
tendo ficado internados ou sob vigilância, com uma duração que não excedeu as 24 horas; 17
(32,7%) cometeram uma tentativa de gravidade importante com internamento hospitalar
superior a 24 horas (num hospital prisional ou distrital) e 12 (23,1%) reclusos fizeram uma
tentativa de gravidade ligeira que não requereu assistência médica, tendo sido observados pelo
enfermeiro de serviço.
4.5.9. Socorro após passagem ao acto
A primeira pessoa que socorreu o recluso após a passagem ao acto suicida, em 32
(61,5%) casos foi o guarda prisional; 17 (32,7%) foram socorridos por outro recluso; 1 por um
enfermeiro e 2 reclusos não tiveram o apoio de ninguém.
4.5.10. Motivações para cometer a tentativa de suicídio
As motivações referidas pelos reclusos para a passagem ao acto suicida, ou seja as
atribuições feitas pelos próprios para cometer a TS, foram agrupadas conforme se pode ver na
tabela 9, dando oportunidade a cada indivíduo a apontar mais do que um motivo para aquela
conduta: 43 (82,7%) referiram problemas relacionados com a prisão, punições e transferências,
37 (71,2%) verbalizaram sentimentos de desânimo, tristeza, desespero, frustração, stresse e o
tipo de vida que tinham, 19 (36,5%) por não poderem acompanhar o crescimento dos filhos
e/ou estar com a família, 18 (34,6%) problemas com guardas/colegas, 17 (32,7%) perda de
apoio familiar ou não ter família, 13 (25%) pena elevada, 10 (19,2%) problemas de saúde, 9
(17,3%) falta/excesso de medicação psicotrópica, 5 (9,6%) pelo crime e questões com este
relacionados, 15 (28,8%) por outros motivos.
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Tabela 9. Motivações para a actual tentativa de suicídio
Motivos
Grupo Experimental
N %
Problemas relacionados com a prisão (ambiente pesado, punições,
transferências, não concessão de medidas flexibilização)
43 82,7
Sentimentos de desânimo, tristeza, desespero, stresse, tipo de vida 37 71,2
Problemas/conflitos com os guardas e/ou com reclusos 19 36,5
Não poder acompanhar/estar com os filhos e família 18 34,6
Perda apoio familiar ou não ter família 17 32,7
Pena elevada 13 25,0
Problemas de saúde 10 19,2
Falta ou excesso de medicação 9 17,3
Crime e aspectos relacionados 5 9,6
Outros motivos 17 32,7
*Estes resultados não são cumulativos, uma vez que houve sujeitos que indicaram 2 ou mais motivos
4.6. Expectativas futuras
Relativamente às expectativas futuras, os resultados foram os seguintes: no GEP, 26
(50,0%) indivíduos não verbalizaram qualquer projecto de vida para o futuro; 10 (19,2%)
reclusos verbalizaram a existência de projectos de vida e 16 (30,8%) verbalizaram projectos de
vida vagos, difusos e pouco consistentes; no grupo GCP, 11 (21,2%) indivíduos não
verbalizaram qualquer projecto de vida para o futuro; 17 (32,7%) reclusos verbalizaram a
existência de projectos de vida e 24 (46,2%) verbalizaram projectos de vida vagos, difusos e
pouco consistentes; no GCE 2 (3,8%) indivíduos não verbalizam qualquer projecto de vida para
o futuro; 34 (64,2%) verbalizaram a existência de projectos de vida e 17 (32,1%) verbalizaram
projectos de vida vagos, difusos e pouco consistentes (Tabela 10).
Para saber se existiam diferenças estatisticamente significativas entre os três grupos
relativamente às expectativas futuras, efectuou-se uma One-way ANOVA. Os resultados
mostram que existem diferenças estatisticamente significativas entre os 3 grupos da amostra
(F(2,154)=6,5;p<.002). Realizou-se um post-hoc com o teste de Tukey USD, para analisar em
detalhe as diferenças. As maiores diferenças constatam-se entre o GCP (M=1,2; DP=.79;
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p<.01) e o GEP (M=.81; DP=.88; p<.006). Os resultados sugerem que os 3 grupos diferem
quanto às expectativas futuras.
Tabela 10. Expectativas futuras
Expectativas de futuro
GEP N=52
GCP N=52
GCE N=53
F
(2.154)
N % N % N %
Não verbaliza projectos
de vida
26 50,0 11 21,2 2 3,8 6,5*
Verbaliza projectos de
vida
10 19,2 17 32,7 34 64,2
Verbaliza projectos
vagos, difusos e pouco
consistentes
16 30,8 24 46,2 17 32,1
* p < .002
5. Inventário de Personalidade NEO PI-R
De forma a perceber o perfil de cada grupo em função dos cinco factores de
personalidade do NEO PI-R, foi efectuada uma One-way ANOVA, incluindo como factor inter-
sujeitos o grupo (GEP vs. GCP vs. GCE) e como factor intra-sujeitos, os factores de
personalidade do NEO PI-R (Neuroticismo, Extroversão, Abertura à experiência, Amabilidade e
Conscienciosidade), separadamente. Esta análise foi complementada por testes post-hoc
(Tukey USD). Os resultados (Tabela 11) mostram que, ao contrário do factor Abertura à
experiência (p = .1), todos os factores do NEO-PI-R são significativamente diferentes entre os
grupos. O factor Neuroticismo é significativamente superior no GEP, comparativamente ao
GCP (p < . 0001), e ao GCE (p < .0001). Adicionalmente, os valores observados do
Neuroticismo no GEP, encontram-se acima da média dos parâmetros considerados normais
para a população em geral (> 70). O GCP também apresenta valores de Neuroticismo mais
elevados quando comparado com o GCE (p < .002). Em contraste, o factor Extroversão é
significativamente inferior no GEP, comparado com o GCP (p < .001), e com o GCE (p <
.0001). Este é o factor menos representado no GEP, com um valor muito próximo do limiar
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Mestrado em Medicina Legal e Ciências Forenses_________________________________81
considerado baixo (< 30). Não há diferenças entre o GCP e o GCE (p > .3). Relativamente ao
factor Abertura à experiência, este é inferior no GEP, quando comparado com o GCP (p < .04).
Por outro lado, o factor Amabilidade é significativamente superior no GCE, quando comparado
com o GEP (p < .0001) e com o GCP (p < .001). Finalmente, o factor Conscienciosidade é
significativamente inferior no GEP, quando comparado com GCP (p < .002), e com o GCE (p <
.01). Não há diferenças entre o GCP e o GCE (p > .8). Os valores observados para os factores
Abertura á Experiência, Amabilidade e Conscienciosidade para os três grupos em estudo,
encontram-se dentro dos valores normativos para a população em geral. No grupo GCP, a
Conscienciosidade é o domínio com o valor mais elevado e o domínio Amabilidade com o valor
mais baixo. Em contraste com o GEP, no GCE a Extroversão é a faceta que apresenta o valor
mais elevado e o Neuroticismo o valor mais baixo.
Tabela 11. Comparação das médias dos factores do Inventário de personalidade NEO-PI-R,
para cada grupo (One-way ANOVA)
Domínios NEO-PI-R
GEP (N=52)
GCP (N=52)
GCE (N=53) F (2,154)
Neuroticismo 78.6 ± 19.06 55.0 ± 23.23 40.7 ± 21.90 41.650***
Extroversão 32.7 ± 26.46 50.6 ± 21.46 57.8 ± 23.37 15.359***
Abertura à experiência 45.6 ± 20.71 55.4 ± 19.73 49.1 ± 22.00 .05*
Amabilidade 38.2 ± 19.27 41.2 ± 21.29 55.9 ± 23.30 10.444***
Conscienciosidade 42.2 ± 21.57 55.7 ± 16.51 53.2 ± 20.03 7.005**
* p < .05, **p < .001, *** p < .0001;
Com o intuito de analisar possíveis efeitos de interacção com o NEO-PI-R, foi efectuada
análise de variância de medidas repetidas (ANOVA) com 6 factores: Grupo (GEP x GCP x
GCE) x Factores do Inventário de Personalidade NEO PI-R (Neuroticismo vs. Extroversão vs.
Abertura à experiência vs. Amabilidade vs. Conscienciosidade). Os resultados mostram um
efeito principal dos factores do Inventário de Personalidade NEO PI-R [F(4, 616) = 8,367; p <
.0001], indicando que, globalmente, os indivíduos apresentam índices mais elevados no
domínio neuroticismo (M = 57.97; DP = 26.49), comparando com os domínios de
conscienciosidade (M = 50.38; PD = 20.23, p < .01), de abertura à experiência (M = 50.04; PD
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= 21.11, p < .01), de extroversão (M = 47.11; DP = 25.95, p < .01) e amabilidade (M = 45.16;
PD = 22.62, p < .0001). A análise post-hoc (Tukey USD) revela ainda que, nesta população, o
factor Neuroticismo é aquele que se destaca.
Gráfico 2. Interacção grupos x 5 factores do NEO PI-R
Esta análise revelou igualmente um efeito de interacção entre Grupo e o NEO PI-R [F(8,
61) = 19,153, p < .0001], (Gráfico 2), sugerindo um perfil distinto para cada grupo ao longo dos
cinco factores do Inventário de Personalidade. Este resultado está de acordo com a análise
anteriormente efectuada e descrita (One-way ANOVA), que já tinha evidenciado diferenças
estatisticamente significativas para os três grupos quanto aos factores de Personalidade.
Especificamente, no GEP, o teste post-hoc (Tukey USD) mostra que há diferenças significativas
entre todos os factores (ps <.0001). Em oposição, no grupo GCP, os resultados mostram que
todos os factores são semelhantes entre si (ps > .1). Finalmente, para o GCE as comparações
intra-grupo obtidas pelo teste Tukey (USD) mostram diferenças significativas apenas entre os
factores neuroticismo vs. extroversão (p <.003) e neuroticismo vs. amabilidade (p <.02). Quanto
às comparações inter-grupo, os resultados do teste Tukey (USD) mostram que o factor
neuroticismo é significativamente diferente entre o GEP vs. GCP (p <.0001), e GEP vs GCE
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(p <.0001), e também entre os dois grupos de controlo (p <.04). O factor extroversão também
está representado de forma significativamente diferente entre o GEP vs. GCP (p <.0001), e
GEP vs GCE (p <.0001). Não há diferenças entre os grupos de controlo (p >.1). Em contraste,
o factor abertura à experiência é semelhante para os três grupos (ps >.1). O factor amabilidade
é significativamente diferente apenas entre o GEP vs. GCE (p <.002) e também entre os dois
grupos de controlo (p <.03). Por fim, o factor conscienciosidade, tal como o factor abertura à
experiência, é semelhante para os três grupos (ps >.1).
Gráfico 3. Interacção grupo x factores de personalidade NEO PI-R
As análises anteriores revelaram que o factor neuroticismo se destaca. Por esse motivo,
procedemos a uma análise mais minuciosa, considerando as facetas que constituem este
factor. Os valores descritivos de cada faceta do factor de neuroticismo são apresentados na
Tabela 12. Como se pode observar, e de acordo com os dados normativos relativos às facetas
do factor neuroticismo (Lima & Simões, 2000), estes resultados mostram no GEP, valores
superiores aos considerados normativos para a população em geral: ansiedade (> 70),
hostilidade (> 70), depressão (> 70) e vulnerabilidade (> 70), e acima dos 50% para a auto
consciência e a impulsividade, embora dentro dos parâmetros considerados normativos. Em
contraste, os valores observados em ambos os grupos de controlo estão dentro dos valores
normativos (Lima & Simões, 2000).
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Tabela 12. Comparação das médias das facetas do Neuroticismo do NEO-PI-R. (inter-grupo,
One-way ANOVA).
Facetas do Neuroticismo
GEP (N=52)
GCP (N=52)
GCE (N=53)
F (2, 154)
Ansiedade 72.8 ± 23.92 55.8 ± 20.33 47.6 ± 26.41 15,389***
Hostilidade 71.6 ± 23.50 54.5 ± 23.97 38.3 ± 26.67 23,739***
Depressão 82.9 ± 20.60 61.0 ± 27.38 47.5 ± 24.12 28,714***
Auto Consciência 65.7 ± 19.98 53.3 ± 26.46 46.2 ± 22.43 9,577***
Impulsividade 63.5 ± 25.85 51.0 ± 25.13 41.0 ± 27.07 9,855***
Vulnerabilidade 73.8 ± 21.72 46.7 ± 24.49 38.6 ± 20.19 35,877***
* p < .05, ** p < .01, *** p < .001
A comparação da incidência das diferentes facetas do neuroticismo, entre os grupos foi
analisada através de uma análise de variância One-way ANOVA, incluindo como factor inter-
sujeitos o grupo (GEP vs. GCP vs. GCE) e como factor intra-sujeitos, as facetas do
Neuroticismo do NEO PI-R (ansiedade, hostilidade, depressão, auto consciência, impulsividade
e vulnerabilidade), separadamente. Esta análise também evidenciou que todas as facetas
estão presentes de forma significativamente distinta nos três grupos (Tabela 12). De forma a
explorar possíveis efeitos de interacção com as facetas do factor neuroticismo, procedemos
com uma análise de variância de medidas repetidas (ANOVA) com 7 factores: grupo (GEP vs.
GCP vs. GCE) x facetas do factor neuroticismo do NEO PI-R (ansiedade vs. hostilidade vs.
depressão vs. auto-consciência vs. impulsividade vs. Vulnerabilidade). Os resultados mostram
um efeito principal de Grupo [F (2, 154) = 43,481, p <. 0001], indicando que o GEP (M = 71.7;
DP = 2.21) apresenta claramente valores significativamente superiores nas facetas que
constituem o factor neuroticismo quando comparado com o GCP (M = 53.7; DP = 2.21, p <
.0001) e também com o GCE (M = 43.2; DP = 2.18, p < .0001). Os grupos de controlo também
diferem entre si (p < .002).
Os resultados mostram também um efeito principal das facetas do neuroticismo [F (5,
770) = 7,762, p < . 0001], destacando a faceta depressão. Este efeito mostra que, com
excepção da faceta ansiedade (M = 58.7; DP = 25.80, p = .2), a faceta depressão (M = 63.7;
DP = 28.16), apresenta valores significativamente superiores às restantes facetas que medem
o factor neuroticismo: hostilidade (M = 54.7; DP = 28.15, p < . 001), auto consciência (M = 55.0;
_____________________________________________________ Tentativa de suicídio em meio prisional
Mestrado em Medicina Legal e Ciências Forenses_________________________________85
DP = 24.35, p < .001), impulsividade (M = 51.7; DP = 27.47, p < .0001), e vulnerabilidade (M =
52.9; DP = 26.70, p < .0001). A faceta ansiedade também é significativamente diferente da
faceta impulsividade (p <.02). Finalmente, esta análise mostrou ainda um efeito de interacção
entre Grupo x Facetas do neuroticismo [F (10, 770) = 2,077, p < .02] (Gráfico 4). Consistente
com as análises anteriores, este efeito de interacção mostra diferentes perfis quanto ao factor
neuroticismo, em função do grupo. Relativamente às comparações intra-grupo, as análises
post-hoc (Tukey USD) mostram que, no GEP, o valor da faceta depressão difere
significativamente dos valores observados para as facetas auto consciência (p < .001), e
impulsividade (p <. 0001). No GCP, o valor da faceta depressão difere significativamente do
índice para a faceta vulnerabilidade (p < .03), Em contraste, os índices para todas as facetas
no GCE são semelhantes entre si (ps >.1). Quanto às comparações inter-grupos, os resultados
das análises post-hoc (Tukey USD) mostram que considerando as facetas ansiedade, auto-
consciência e impulsividade, não há diferenças entre os grupos (ps >.1). Por outro lado, os
resultados mostram que o grupo experimental difere significativamente do GCE nas facetas
hostilidade (p <.001), depressão (p <.0001) e vulnerabilidade (p <.001). Esta última faceta
também é significativamente diferente entre o GEP e o GCP (p <.04).
Gráfico 4. Interacção grupo x neuroticismo
_____________________________________________________ Tentativa de suicídio em meio prisional
Mestrado em Medicina Legal e Ciências Forenses_________________________________86
Não descurando da potencial importância dos dados revelados nas restantes facetas do
NEO PI-R, procede-se à sua análise. Na Tabela 13 estão representados os valores de cada
faceta dos factores extroversão, abertura à experiência, amabilidade e conscienciosidade.
Tabela 13. Comparação das médias das restantes facetas do NEO PI-R (inter-grupo, One-way
ANOVA).
Facetas NEO PI-R
GEP (N=52)
GCP (N=52)
GCE (N=53)
F (2, 154)
Extroversão
Acolhimento 25.71 ± 22.12 44.08 ± 20.49 60.40 ± 21.86 34.157***
Gregariedade 36.58 ± 26.67 50.77 ± 23.79 53.45 ± 26.33 6.540**
Assertividade 32,76 ± 22.10 41.79 ± 22.99 48.00 ± 27.77 5.146**
Actividade 45.17 ± 27.66 47.48 ± 21.67 53.35 ± 25.68 1.484
Procura de Excitação 49.78 ± 26.30 54.44 ± 22.97 49.26 ± 24.59 0.698
Emoções positivas 32.60 ± 26.78 58.27 ± 23.43 59.11 ± 25.40 18.603***
Abertura à Experiência
Fantasia 42.94 ± 25.19 54.23 ± 22.41 48 ± 24.49 2.870
Estética 56.78 ± 20.97 57.52 ± 24.09 47.26 ± 26.73 2.976*
Sentimentos 42.63 ± 22.09 51.53 ± 20.97 50 ± 21.09 2.577
Acções 38.40 ± 22.21 43.51 ± 22.26 42.11 ± 23.55 0.706
Ideias 45.75 ± 20.86 54.48 ± 20.96 53.03 ± 23.81 2.371
Valores 42.34 ± 23.02 51.92 ± 25.57 50.81 ± 26.02 2.303
Amabilidade
Confiança 26.77 ± 20.38 37.88 ± 24.94 55.87 ± 26.08 19.763***
Rectidão 43.98 ± 25.58 40.19 ± 25.20 50.84 ± 22.90 2.539
Altruísmo 36.90 ± 24.55 46.71 ± 25.08 57.81 ± 24.55 9.208***
Complacência 39.71 ± 27.73 35.60 ± 24.49 51.58 ± 27.47 5.121**
Modéstia 53.48 ± 21.24 50.63 ± 20.92 53.11 ± 22.62 0.267
Sensibilidade 48.92 ± 22.29 53.25 ± 23.59 56.32 ± 25.62 1.269
Conscienciosidade
Competência 38.40 ± 25.65 49.33 ± 20.77 57.51 ± 23.08 8.910***
Ordem 57.92 ± 24.31 67.15 ± 21.96 48.96 ± 26.94 7.230***
Obediência 37.48 ± 21.18 39.23 ± 17.69 48.81 ± 26.94 4.677**
Luta e realização 49.46 ± 24.59 63.56 ± 18.42 51.92 ± 24.41 5.743**
Autodisciplina 43.60 ± 24.39 59.88 ± 17.73 53.00 ± 22.84 7.284***
Deliberação 35.23 ± 22.74 44.92 ± 21.25 52.60 ± 23.04 7.946***
* p < .05, ** p < .01, *** p < .001
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Complementadas com análises post hoc (Tukey, USD), estes resultados mostram que no
factor extroversão, o GEP difere significativamente do GCP nas facetas de acolhimento (p <
.0001), gregariedade (p < .01) e emoções positivas (p < .0001). O GEP difere
significativamente do GCE nas facetas de acolhimento (p < .0001), gregariedade (p < .002),
assertividade (p < .004) e emoções positivas (p < .0001). Os dois grupos de controlo diferem
apenas na faceta de acolhimento (p < .001). Apesar dos resultados da análise de variância
mostrarem resultados não significativos para a maioria das facetas que constituem o factor
Abertura à Experiência, o teste Tukey revela uma diferença significativa entre o GEP e o GCP
para a faceta fantasia (p < .04). Para o factor amabilidade, os resultados mostram que o GEP é
significativamente diferente na faceta confiança, quando comparado com o GCP (p < .04) e o
GCE (p < .0001). O GEP revela ainda ser significativamente diferente do GCE na faceta
altruísmo (p < .0001). Os dois grupos de controlo são significativamente diferentes
considerando as facetas confiança (p < .001) e complacência (p < .01). Considerando o factor
conscienciosidade, os resultados mostram que o GEP difere de forma significativa do GCP nas
facetas competência (p < .04), luta e realização (p < .004) e autodisciplina (p < .001). O grupo
difere também de forma significativa do GCE nas facetas competência (p < . 0001), obediência
(p < .01), deliberação (p < .001) e, tendencialmente, na faceta autodisciplina (p < .07). Os
grupos de controlo revelam diferenças significativas nas facetas ordem (p <. 001), obediência
(p < .04), luta e realização (p < .02) e autodisciplina (p < .02).
5.1 - Correlação entre os factores de personalidade do NEO PI-R e outras
variáveis
Por fim, foram efectuadas análises correlacionais (Pearson r) entre os cinco factores do
NEO PI-R e a ideação suicida, para cada grupo, separadamente. A análise correlacional entre
os factores da NEO PI-R e ideação suicida revelam uma correlação positiva entre a ideação
suicida e o neuroticismo no GEP (r=.44; p <.001), bem como no GCP (r=.33; p<.02). Isto indica
que nos indivíduos de ambos os grupos, quanto mais elevado é o factor de neuroticismo maior
é a ideação suicida. Não foram encontradas outras correlações significativas entre os factores
da NEO PI-R e a ideação suicida.
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Mestrado em Medicina Legal e Ciências Forenses_________________________________88
Foi realizada uma análise correlacional de Pearson (r) entre os cinco factores do NEO
PI-R e o consumo de substâncias psicoactivas. Os resultados mostram uma correlação positiva
entre o consumo de drogas e o factor abertura à experiência, no GEP (r=.37; p<.01) e também
no GCP (r=.33; p<.05). Isto sugere para os indivíduos de ambos os grupos que, quanto mais
elevada é a abertura à experiência maior é o consumo de substâncias psicoactivas. Foi ainda
observada uma correlação negativa entre o factor conscienciosidade e o consumo de drogas,
no GCP (r= -.32; p<.05). Esta correlação indica que menos conscienciosidade poderá conduzir
a um maior consumo de substâncias psicoactivas.
Efectuou-se também uma análise correlacional de Pearson (r), entre os factores de
personalidade do NEO PI-R e a relação marital. Os resultados verificam uma correlação
positiva entre a relação marital e o número de detenções (número de vezes que esteve preso),
no GEP (r=.367; p<.007), indicando que o aumento do número de detenções (número de vezes
que esteve preso) está correlacionado positivamente com o aumento do número de relações
maritais. Neste grupo, foi também encontrada uma correlação positiva entre a relação marital e
os antecedentes criminais (r=.690; p<.0001), mostrando que o aumento dos antecedentes
criminais está correlacionado positivamente com o aumento do número de relações maritais.
No GCP, foi encontrada uma correlação positiva entre a relação marital e a abertura à
experiência da NEO PI-R (r=.300; p<.03), revelando que o aumento do número de relações
maritais diminui a abertura à experiência. Adiccionalmente, foi encontrada uma correlação
negativa entre o factor amabilidade e o número de relações maritais, no GCE (r= -.385;
p<.004). Esta correlação mostra que o factor amabilidade conduz a um menor número de
relações maritais.
6. Inventário de Sintomas Psicopatológicos (BSI)
De forma a examinar os dados obtidos através do Inventário de Sintomas
Psicopatológicos (BSI), procedeu-se a uma comparação dos três Índices fornecidos pelo BSI
entre os grupos: (1) Total de Sintomas Positivos (TSP); (2) Indice de Sintomas Positivos (ISP);
e (3) Indice Geral de Sintomas (IGS) (Gráfico 5). Assim, foi efectuada uma análise de variância,
One way ANOVA, incluindo grupo (GEP vs GCP vs GCE) como factor inter-sujeitos, e a
_____________________________________________________ Tentativa de suicídio em meio prisional
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pontuação obtida em cada um dos índices do BSI como factor inter-sujeitos, separadamente. A
análise ao TSP mostra um efeito principal de grupo [F (2, 154) = 27,420, p < .0001]. O GEP
revela um TSP (M = 35.62; DP =10.38) significativamente superior, quando comparado com o
GCP (M = 25.73; DP =10.27, p < .0001), e com o GCE (M = 20.17; DP =11.71, p < .0001). O
GCP também mostra um TSP significativamente superior quando comparado com o GCE (p <
.02). A análise ao ISP mostra igualmente um efeito principal de Grupo [F (2, 154) = 67,099, p <
.0001]. O GEP revela um ISP (M = 2.41; DP = 0.48) significativamente superior quando
comparado com o GCP (M = 1.91; DP =0.35, p < .0001) e com o GCE (M = 1.50; DP = 0.36, p
< .0001). O GCP também mostra um ISP significativamente superior quando comparado com o
GCE (p < .0001) (Gráfico 5). De acordo com estes resultados, a análise ao IGS, revela
resultados semelhantes: Há um efeito principal de Grupo [F (2, 154) = 62,916, p < .0001]. O
GEP revela um IGS (M = 1.65; DP = 0.67) significativamente superior quando comparado com
o GCP (M = 0.93; DP =0.42, p < .0001) e com o GCE (M = 0.57; DP = 0.36, p < .0001). O GCP
também mostra um IGS significativamente superior quando comparado com o GCE (p < .001).
Gráfico 5. Índice de Sintomas Positivos (ISP) para os três grupos O ISP é uma medida que combina a intensidade da sintomatologia com o número de
sintomas presentes e o seu cálculo é utilizado como ponto de corte que permite discriminar
_____________________________________________________ Tentativa de suicídio em meio prisional
Mestrado em Medicina Legal e Ciências Forenses_________________________________90
entre indivíduos perturbados emocionalmente e indivíduos pertencentes à população em geral,
como se pode observar na Tabela 14 (Canavarro, 1999).
Tabela 14. Estatística descritiva para as pontuações do BSI
Variáveis Índ. pop. geral Índ. perturb. emocional
Média DP Média DP
Somatização 0.573 0.916 1.355 1.004
Obsessões-compulsões 1.290 0.878 1.924 0.925
Sensibilidade interpessoal 0.958 0727 1.597 1.033
Depressão 0.893 0.722 1.828 1.051
Ansiedade 0.942 0.766 1.753 0.940
Hostilidade 0.894 0.784 1.411 0.904
Ansiedade fóbica 0.418 0.663 1.020 0.929
Ideação paranóide 1.063 0.789 1.532 0.850
Psicoticismo 0.668 0.614 1.403 0.825
IGS 0.835 0.480 1.430 0.705
TSP 26.993 11.724 37.349 12.166
ISP 1.561 0.385 2.111 0.595
Fonte: Canavarro (1999)
Com o objectivo de investigar em maior detalhe o perfil de cada grupo em função da
presença e intensidade de sintomas psicopatológicos, procedeu-se a uma análise mais
pormenorizada das dimensões do BSI. A comparação entre os grupos foi efectuada através da
análise de variância, One-way ANOVA, incluindo como factor inter-sujeitos o grupo (GEP vs.
GCP vs. GCE) e como factor intra-sujeitos, as dimensões da BSI (somatização, obsessões-
compulsões, sensibilidade interpessoal, depressão, ansiedade, hostilidade, ansiedade fóbica,
ideação paranóide, e psicoticismo), separadamente. Esta análise foi complementada por testes
post-hoc (Tukey USD). Os resultados (Tabela 15) mostram que GEP revela significativamente
mais sintomas de somatização quando comparado com o GCP (p < .0001), e o GCE (p <
.0001). Não há diferenças entre os grupos de controlo no que se refere ao índice de
somatização (p > .1). Na mesma direcção, o GEP revela significativamente mais sintomas de
obsessões-compulsões relativamente ao GCP (p < .002) e ao GCE (p < .001). Não há
diferenças entre os grupos GCP e GCE (p > .1). Ainda na mesma linha, o GEP mostra um
índice de sensibilidade interpessoal significativamente mais elevado quando comparado com o
_____________________________________________________ Tentativa de suicídio em meio prisional
Mestrado em Medicina Legal e Ciências Forenses_________________________________91
GCP (p < .0001) e o GCE (p < .0001). Foram também encontradas diferenças significativas
entre os dois grupos de controlo (p < .01). Continuando na mesma direcção, sintomas de
depressão também estão representados de forma significativamente acentuada no GEP,
quando comparado com o GCP (p < .0001), e com o GCE (p < .0001). Não há diferenças entre
os grupos de controlo para este índice da BSI (p > .1). A presença de sintomas de ansiedade
também é significativamente superior no GEP quando comparado com o GCP (p < .0001) e
com o GCE (p < .0001). Os grupos de controlo também diferem quanto á presença de
sintomatologia ansiogénica (p < .001). Igualmente, para a dimensão hostilidade, o GEP revela
valores significativamente superiores relativamente ao GCP (p < .01), e ao GCE (p < .0001).
Não há diferenças entre os grupos de controlo nesta dimensão do BSI (p > .1). Os resultados
mostraram também que o GEP apresenta significativamente mais sintomas de ansiedade
fóbica do que o GCP (p < .0001) e o GCE (p < .0001). Não há diferenças entre os grupos de
controlo (p > .1). Da mesma forma, o GEP revela significativamente mais sintomas de ideação
paranóide quando comparado com o GCP (p < .001), e com o GCE (p < .0001).
Adicionalmente, foram encontradas diferenças significativas entre os grupos de controlo (p <
.0001). Finalmente, sintomas de psicoticismo também são significativamente mais reportados
no GEP do que no GCP (p < .0001) e do que no GCE (p < .0001). Os grupos de controlo
também diferem no índice de sintomas de psicoticismo (p < .001).
De forma a analisar possíveis efeitos de interacção com as dimensões do BSI, procedeu-
se a uma análise de variância de medidas repetidas (ANOVA) com 10 factores: grupo (GEP x
GCP x GCE) x Dimensões da BSI (somatização, obssessões-compulsões, sensibilidade
interpessoal, depressão, ansiedade, hostilidade, ansiedade fóbica, ideação paranóide e
psicoticismo). Os resultados mostram um efeito principal de Grupo [F (2, 154) = 58,905, p <
.0001], sendo que o GEP apresenta, no geral, valores significativamente superiores nas
dimensões do BSI (M = 1.62; DP = 0.39) quando comparado com o GCP (M = 0.9; DP = 0.34, p
< .0001) e com o GCE (M = 0.6; DP = 0.25, p < 0.0001). O GCP também mostra valores
superiores relativamente ao GCE (p < .001). A análise mostra também um efeito principal das
dimensões do BSI [F (8, 123) = 58,137, p < .0001] (Gráfico 6).
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Mestrado em Medicina Legal e Ciências Forenses_________________________________92
Tabela 15. Comparação das médias para as dimensões da BSI para cada grupo (entre grupos, One-way ANOVA).
Dimensão BSI GEP (N=52)
GCP (N=52)
GCE (N=53)
F (2,154)
Somatização 1.29 ± 0.88 0.57 ± 0.56 0.33 ± 0.37 31.342***
Obssessões-Compulsões 1.37 ± 0.83 0.93 ± 0.55 0.88 ± 0.58 8,7167***
Sensibilidade interpessoal 1.67 ± 0.90 1.05 ± 0.64 0.65 ± 0.56 27.532***
Depressão 2.07 ± 1.03 0.80 ± 0.56 0.52 ± 0.61 60.943***
Ansiedade 1.83 ± 0.81 0.91 ± 0.55 0.50 ± 0.34 68.940***
Hostilidade 1.45 ± 0.99 0.97 ± 0.82 0.60 ± 0.53 15.017***
Ansiedade Fóbica 0.94 ± 0.76 0.42 ± 0.47 0.21 ± 0.33 24.602***
Ideacção paranóide 2.19 ± 0.78 1.65 ± 0.67 1.00 ± 0.66 37.658***
Psicoticismo 1.72 ± 0.84 0.97 ± 0.59 0.48 ± 0.47 48.086***
Índice Geral de Sintomas 1.65 ± 0.67 0.93 ± 0.42 0.57 ± 0.36 68.940***
Ìndice Sintomas Positivos 2.41 ± 0.48 1.91 ± 0.35 1.50 ± 0.36 15.017***
Total Sintomas Positivos 35.62 ± 10.38 25.73 ± 10.27 20.17 ± 11.71 24.602***
* p < .05, ** p < .01, *** p < .001
Estes resultados mostram que no geral, a dimensão ideação paranóide (M = 1.61; PD =
0.85) é a dimensão com valores significativamente mais elevados quando comparada com as
restantes dimensões do BSI: somatização (M = 0.73; PD = 0.76, p < .0001), obssessões-
compulsões (M = 1.06; PD = 0.69, p < .0001), sensibilidade interpessoal (M = 1.12; PD = 0.83,
p < .0001), depressão (M = 1.13; PD = 1.02, p < .0001), ansiedade (M = 1.07; PD = 0.81, p <
.0001), hostilidade (M = 1.00; PD = 0.87, p < .0001), ansiedade fóbica (M = 0.52; PD = 0.63, p
< .0001) e psicoticismo (M = 1.05; PD = 0.83, p < .0001). Em contraste, a dimensão ansiedade
fóbica é a dimensão com valores significativamente inferiores quando comparada com todas as
dimensões do BSI: somatização (p < .0001), obsessões-compulsões (p < .0001), sensibilidade
interpessoal (p < .0001), depressão (p < .0001), ansiedade (p < .0001), hostilidade (p < .0001)
e psicoticismo (p < .0001). Na mesma direcção, a dimensão somatização revela também
valores significativamente reduzidos quando comparada com as outras dimensões do BSI:
_____________________________________________________ Tentativa de suicídio em meio prisional
Mestrado em Medicina Legal e Ciências Forenses_________________________________93
somatização (p < .0001), obsessões-compulsões (p < .0001), sensibilidade interpessoal (p <
.0001), depressão (p < .0001), ansiedade (p < .0001), hostilidade (p < .0001) e psicoticismo (p
< .0001). Não foram observadas outras diferenças significativas entre as dimensões da BSI (ps
>.1).
Gráfico 6. Efeito principal das dimensões do BSI
Esta análise revela ainda uma interacção entre Grupo e as Dimensões do BSI [F(16,
123) = 7,459, p < .0001] (Gráfico 6), sugerindo um perfil distinto para cada grupo ao longo dos
dimensões do Inventário de Sintomas Psicopatológicos. Este resultado é consistente com os
resultados obtidos nas análises anteriores (One way ANOVA), que já tinha evidenciado
diferenças significativas entre os três grupos quanto aos valores para cada dimensão do BSI.
Em particular, no GEP, o teste post-hoc (Tukey USD) mostra que, com excepção da dimensão
depressão (p >.1), há diferenças significativas entre a dimensão ideação paranóide e as
restantes dimensões: somatização (p < .0001), hostilidade (p < .0001), ansiedade (p < .03),
ansiedade fóbica (p < .0001), psicoticismo (p < .001), obsessões-compulsões (p < .0001), e
sensibilidade interpessoal (p < .0001). A dimensão somatização também tem valores
significativamente diferentes das dimensões depressão (p < .0001), ansiedade (p < .0001),
psicoticismo (p < .002) e sensibilidade interpessoal (p < .02). A dimensão ansiedade fóbica tem
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Mestrado em Medicina Legal e Ciências Forenses_________________________________94
valores significativamente diferentes das dimensões depressão (p < .0001), hostilidade (p <
.0001) ansiedade (p < .0001), psicoticismo (p < .001) e sensibilidade interpessoal (p < .0001). A
dimensão depressão difere significativamente das dimensões hostilidade (p < .001),
obsessões-compulsões (p < .0001) e sensibilidade interpessoal (p < .01). Observa-se ainda
que a dimensão ansiedade também tem valores significativamente diferentes das dimensões
hostilidade (p < .02) e obsessões-compulsões (p < .001). Por outro lado, no GEP, o teste post-
hoc (Tukey USD) mostra que há diferenças significativas entre a dimensão ideação paranóide e
todas as outras dimensões (ps < .0001). Com excepção da dimensão somatização (p >.1), há
diferenças significativas entre a dimensão ansiedade fóbica e as restantes dimensões:
depressão (p < .02), hostilidade (p < .0001), ansiedade (p < .0001), psicoticismo (p < .0001),
ideação paranóide (p < .0001), obsessões-compulsões (p < .0001) e sensibilidade interpessoal
(p < .0001). São ainda observadas diferenças significativas entre a dimensão somatização e as
dimensões hostilidade (p < .01), psicoticismo (p < .01) e sensibilidade interpessoal (p < .001).
Finalmente, para o GCE, as comparações intra-grupo mostram que, com excepção da
dimensão obssessões-compulsões (p >. 1), há diferenças significativas entre a dimensão
ideação paranóide e as restantes dimensões: somatização (p < .0001), depressão (p < .0001),
hostilidade (p < .01), ansiedade (p < .0001), ansiedade fóbica (p < .0001), psicoticismo (p <
.0001) e sensibilidade interpessoal (p < .04). A dimensão obsessões-compulsões é
significativamente diferente das dimensões somatização (p < .0001), depressão (p < .04),
ansiedade (p < .02), ansiedade fóbica (p < .0001) e psicoticismo (p < .01). Observam-se ainda
diferenças significativas entre a dimensão ansiedade fóbica e as dimensões de hostilidade (p <
.01) e sensibilidade interpessoal (p < .001).
Quanto às comparações inter-grupo, os resultados do teste Tukey (USD) mostram
apenas que a dimensão depressão é significativamente diferente entre o GEP e o GCP (p
<.005) e o GCE (p <.0001). Diferenças significativas são observadas entre o GEP e o GCE nas
dimensões ansiedade (p <.001), psicoticismo (p <.01) e ideação paranóide (p <.01).
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Mestrado em Medicina Legal e Ciências Forenses_________________________________95
Gráfico 7. Interacção grupo x dimensões BSI.
Finalmente, foram efectuadas análises correlacionais (Pearson r) entre as dimensões da
BSI e a ideação suicida, para cada grupo, separadamente. Esta análise correlacional revela
que a ideação suicida está positivamente correlacionada com sintomas de depressão no GEP
(r= .33; p<.02) e no GCE (r= .30; p<.03). Isto indica que nos indivíduos destes dois grupos,
quanto mais elevado for a dimensão depressão maior é a ideação suicida. Ainda no GEP,
observam-se correlações positivas entre a ideação suicida e obsessões-compulsões (r= .38;
p<.006) e entre os índices IGS (r= .30; p<.03) e TSP (r= .31; p<.02), mostrando que quanto
mais elevado for a dimensão obsessões-compulsões maior é a ideação suicida.
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Mestrado em Medicina Legal e Ciências Forenses_________________________________96
7. DISCUSSÃO
Os efeitos da reclusão no ser humano estão amplamente documentados na literatura
científica como tendo uma grande influência nos comportamentos parasuicidários,
nomeadamente na tentativa de suicídio (Fruehwald et al., 2000; Mckee, 1998; Marcus et al.
1993; Kovasznay et al., 2004; Magaletta et al., 2008). Em Portugal, o suicídio em meio
prisional, tem merecido a atenção das instituições envolvidas, embora seja uma área ainda
insuficientemente investigada. Tendo por base estudos científicos, que constataram que a
tentativa de suicídio constitui um elevado factor de risco para o suicídio consumado (Corcoran
et al., 2004; Neeleman, 2001; Daniel, 2006; Sokero et al., 2003; Oquendo et al., 2007; Kutcher
& Chehil, 2007), este trabalho propõe-se estudar e, tanto quanto possível, compreender e
contextualizar as tentativas de suicídio em meio prisional, bem como identificar factores
pessoais, designadamente características de personalidade e eventual psicopatologia dos
reclusos que cometeram uma ou mais tentativas de suicídio durante o período de reclusão.
Os instrumentos seleccionados foram o Inventário de Personalidade NEO PI-R, o
Inventário de Sintomas Psicopatológicos (BSI) e foi criado um guião de entrevista para a
recolha de informação sócio-demográfica, hábitos de consumo de substâncias tóxicas,
antecedentes pessoais, familiares e criminais dos reclusos, bem assim como das
características da actual tentativa de suicídio.
A selecção da amostra, exclusivamente do sexo masculino, esteve relacionada com o
facto de ser este o género mais representado no universo prisional português, existindo em
Portugal 50 estabelecimentos prisionais, sendo que 47 acolhem reclusos do sexo masculino e
apenas 3 têm reclusas do sexo feminino. Desta forma, procedeu-se à recolha da amostra em
nove estabelecimentos prisionais, situados na Região de Lisboa e parte da Região Centro,
reunindo uma amostra representativa das regiões referidas. A amostra é constituída por um
grupo de reclusos que tentou suicidar-se durante o cumprimento da actual pena de prisão
(grupo experimental) e comparada com dois grupos de controlo que nunca tentaram suicidar-se
ao longo da sua história de vida, sendo que um dos grupos de controlo é constituído por
reclusos dos mesmos estabelecimentos prisionais do grupo experimental e o outro grupo é
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Mestrado em Medicina Legal e Ciências Forenses_________________________________97
constituído por indivíduos que vivem na comunidade, sem antecedentes criminais e sem
tentativas de suicídio ao longo da vida.
O grupo de reclusos que cometeram tentativas de suicídio na prisão (GEP) tinham, em
média, 35,5 anos de idade, eram solteiros, caucasianos na sua grande maioria, com
naturalidade e residência em Lisboa, com escolaridade igualmente dividida entre o 1.º e o 2.º
ciclos, sem filhos (38,5%) ou com um filho 30,8%, membros de grandes fratrias, em que 65,4%
têm 3 ou mais irmãos, posicionando-se como filhos mais velhos ou intermédios. A faixa etária
dos reclusos que tentaram o suicídio, situa-se num espectro idêntico aos resultados apurados
por Semedo Moreira (1998). Embora, o estudo de Semedo Moreira (1998) apresente números
reais de suicidados, não se pode ficar indiferente a tal nível de proximidade, pois, segundo as
conclusões deste autor, “mais de metade dos reclusos que atentaram contra a própria vida são
jovens adultos e a faixa etária onde o fenómeno assumiu maior expressão foi a dos 30 – 39
anos” (op. cit., 1998, p. 20), levando a concluir, ainda que empiricamente, que o universo de
reclusos que atenta contra a própria vida e que passam à consumação do acto se estrutura
numa pirâmide etária muito jovem.
Os indivíduos dos três grupos são, maioritariamente, de nacionalidade portuguesa ou
originária de Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP). Os indivíduos do GEP e
GCP não diferem muito relativamente à naturalidade e residência, mas os sujeitos do GCE são
naturais e residem na sua maioria na Região Centro do país.
O estado civil dos indivíduos do GEP e do GCP é maioritariamente solteiro, ao contrário
dos indivíduos do GCE que são maioritariamente casados. Importa salientar, que a população
prisional também é representada por homens solteiros, factor que contribui naturalmente para
explicar o facto de serem reclusos solteiros que cometem tentativas de suicídio e que se
suicidam mais frequentemente. Esta constatação não é surpreendente face aos dados
existentes na literatura (Joukamaa, 1997; Fruehwald et al., 2004). Sabe-se contudo, que 55,8%
dos reclusos do grupo de investigação tiveram um relacionamento marital (cuja duração
mínima foi de 6 meses) e 40,4% tiveram dois ou mais relacionamentos maritais, que já não se
mantêm actualmente, facto que sugere alguma instabilidade afectiva e relacional destes
indivíduos. Ao contrário dos dois grupos em reclusão, no GCE, a maioria dos indivíduos são
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Mestrado em Medicina Legal e Ciências Forenses_________________________________98
casados, embora esse facto não tenha representado uma diferença significativa em termos de
resultados do presente estudo. Esta realidade pode aumentar o isolamento do recluso e o
sentimento de solidão pelo facto de este estar numa situação mais vulnerável como é a
reclusão. Os resultados apontam, também, para o facto do aumento do período de reclusão
influenciar positivamente o número de relações maritais, evidenciando que os antecedentes
criminais que levam a pena de prisão efectiva aumentam o número de vezes que cada
indivíduo coabita e estabelece uma nova relação. Num estudo de Gonçalves (2008), em
contexto prisional português, a maioria dos sujeitos mal-adaptados estavam
divorciados/separados, podendo esse facto reflectir, na opinião do autor, um factor que
testemunha o cansaço por parte do cônjuge ao constante entrar e sair da prisão e ser
justificado pelo número de detenções e pela dificuldade, por parte do recluso e/ou companheira
em continuarem a manter laços afectivos estáveis e duradouros. Ao nível do suporte familiar,
mais de metade do grupo experimental refere que tem apoio por parte dos pais, irmãos,
mulher/companheira e/ou filhos. No entanto, é importante salientar que 34,6% referiram não ter
qualquer apoio ou visitas, permanecendo em reclusão totalmente entregues a si próprios.
Estudos como o de Wasserman (2001) indicam que o isolamento social, físico e psicológico
constitui um indicador de risco, independentemente de outras circunstâncias. Cabe aqui realçar
que os resultados obtidos mais de um terço (34,6%) dos reclusos do GEP se encontram nestas
condições de isolamento.
Os acontecimentos de vida relevantes referidos como aqueles que mais marcaram
negativamente cada indivíduo são os problemas relacionados com a situação jurídico-penal
para os dois grupos de indivíduos que se encontram detidos. Os problemas verbalizados como
os que mais marcaram negativamente cada indivíduo estão relacionados, naturalmente, com
os antecedentes criminais destes sujeitos, uma vez que no grupo experimental 69,2% tinham
condenações anteriores, variando entre um mínimo de 1 e um máximo de 6 prisões efectivas.
No GCP, o número de prisões efectivas diminui, mas ainda assim, é bastante expressivo o
número de reclusos com antecedentes criminais sendo 38,5% os que tinham estado presos
anteriormente, variando entre 1 e 4 o número de prisões efectivas. Constata-se que os
indivíduos do grupo experimental passaram muito tempo das suas vidas em reclusão, sendo
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Mestrado em Medicina Legal e Ciências Forenses_________________________________99
perfeitamente compreensível que os problemas mais marcantes de forma negativa tenham
ocorrido na prisão. Com este historial de prisões, reforça-se a instabilidade nas relações
afectivas e maritais, que sofrem naturalmente um efeito erosivo, conduzindo frequentemente a
rupturas e, subsquentemente, ao isolamento do recluso. Estes resultados são congruentes com
o estudo de Semedo Moreira (1998), pese embora, tratar-se de um estudo de suicidados em
meio prisional, em que mais de metade dos reclusos que se suicidaram tinham antecedentes
criminais, registando mais do que uma condenação. Ao invés, no GCE, os acontecimentos de
vida mais relevantes negativamente, dividem-se entre os problemas familiares, de saúde e
profissionais.
Relativamente aos padrões de consumo de substâncias lícitas e ilícitas, os números
disparam no GEP relativamente ao consumo de ambas as substâncias. Neste grupo 88,5% de
reclusos fumam tabaco, tendo iniciado estes consumos, por volta dos 14 anos de idade. Este
número é mais reduzido, embora seja bastante expressivo, quando se observa o GCP, onde
59,6%, ou seja, mais de metade dos indivíduos fumam tabaco. Cenário inverso é precisamente
o dos indivíduos do GCE, em que 79,2% não fumam tabaco. O consumo de álcool dos
indivíduos do GEP representa sensivelmente o dobro do consumo diário de bebidas alcoólicas
comparando com os sujeitos do grupo de controlo em meio prisional. Relativamente às drogas
ilícitas, os níveis de consumo são bastante diferentes nos três grupos, afectando mais de
metade da população do grupo de estudo (57,7%), cujos sujeitos consumiam regularmente
drogas psicoactivas em associação, tais como: haxixe, heroína e/ou cocaína. Este número
regista uma redução para metade, sensivelmente, nos indivíduos do GCP (26,9%), quando se
trata de consumidores regulares das drogas em associação mencionadas. Verifica-se,
portanto, que o grupo experimental é invariavelmente aquele que tem mais problemas aditivos.
Estes resultados indicam um padrão de consumos de grandes proporções, em sintonia com
vários estudos onde é referida a elevada taxa de criminalidade entre os consumidores de
drogas, nomeadamente substâncias psicoactivas (Andersen, 2004; Carli et al., 2011,
Fruehwald et al., 2004; Kovasznay et al., 2004).
A tipologia de crimes cometidos pelos indivíduos de ambos os grupos em meio prisional,
não é muito diferente, sendo que metade da amostra cometeu crimes contra o património,
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Mestrado em Medicina Legal e Ciências Forenses_________________________________100
nomeadamente furto e roubo, seguindo-se de crimes contra as pessoas (sendo o homicídio o
mais expressivo) e em menor número os crimes relacionados com o tráfico de droga. Importa
todavia realçar que o crime contra as pessoas, que normalmente é mais violento, está mais
representado no grupo experimental. Mais de metade dos reclusos de ambos os grupos em
meio prisional têm várias condenações no cumprimento da actual pena de prisão. Um dado
muito relevante que deve ser tido em conta é o tempo de pena dos reclusos do GEP, em que
metade dos sujeitos (50%) tem 10 anos ou mais de pena para cumprir e 34,6% tem uma pena
maior do que 5 e menor do que 10 anos, fruto da história criminal e, naturalmente, da prática
de crimes graves e violentos. As penas longas representam para muitos indivíduos demasiado
tempo em reclusão completamente insuportável para muitos reclusos com pouca capacidade
de resiliência, podendo representar um dos motivos explicativos da problemática em estudo.
Estes resultados são corroborados por diversos estudos conhecidos na literatura (Moreira,
1998; Hayes, 2000; Blaauw et al. 2005). O tempo de pena cumprido em média pelos reclusos
que atentaram contra a própria vida, que foi de 5 anos e 6 meses, não pode, no entanto fazer
esquecer o número de anos que já cumpriram que se situa nos 18 anos. Ora, isto remete para
uma questão recorrente e efectiva, será que uma pessoa que passa 18 anos da sua vida em
reclusão, não fica mais vulnerável psicologicamente?
Os comportamentos autodestrutivos (automutilações) registam uma diferença
significativa, mostrando que o grupo experimental tem muito mais comportamentos de violência
autodirigida do que os grupos de controlo. Num estudo realizado por Neves (2010), no Hospital
Prisional de Caxias, no grupo de reclusos com história de comportamentos autodestrutivos,
56% invocavam a descarga da “afectividade hostil”, permitindo o afastamento da revolta e da
tensão. Numa análise de conteúdo, este autor incluiu relatos de reclusos como “corto-me com
lâminas há 25 anos, também já fiz greves de fome, sou muito nervoso, recorro à automutilação
para me conter e não matar alguém” (op. cit., 2010, p. 160), ou de outro recluso que refere
sentimentos de desespero e dor depressiva “faço-o por desespero, é um desabafo (…), alivia a
dor” (op. cit., 2010, p. 160). Nestes relatos está bem patente o sofrimento psicológico e o
desespero. A este propósito recorde-se que Saraiva (2006a)), aponta uma perspectiva paralela
de encarar estes comportamentos, referindo que muitos protagonistas dos que cortam o corpo,
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Mestrado em Medicina Legal e Ciências Forenses_________________________________101
o fazem numa certa forma de loucura privada e auto-contemplação, para usufruírem de um
prazer íntimo ou tão só para sentirem a dor do corpo em vez da dor da alma. Ao longo das
entrevistas com os reclusos houve oportunidade de testemunhar alguns cortes bastante
graves, que exigiram intervenção hospitalar, pois sem os cuidados médicos teriam sido fatais.
A perturbação mental diagnosticada revela-se bastante significativa para o grupo
experimental, reflectindo um maior número de diagnósticos de perturbação mental. Neste
grupo (GEP), os diagnósticos apurados pelos psiquiatras que os acompanham, são na sua
maioria perturbações do humor (depressão) com 26,9%, perturbação estado-limite/borderline
da personalidade com 21,2% e a perturbação anti-social da personalidade. Enquanto no GCP,
apenas 7,7% dos indivíduos têm perturbações do humor (depressão). Neste estudo, os
reclusos com perturbações psiquiátricas diagnosticadas são alvo de mais acompanhamento e
usam mais medicação psicotrópica, o que ajuda a explicar o elevado número de reclusos que
se encontrava a fazer medicação psicotrópica. Um estudo recente de Rivlin et al. (2010),
envolvendo 60 reclusos que tentaram suicidar-se por método letal (enforcamento e
estrangulamento) 60 reclusos sem tentativas de suicídio, mostrou que 97% dos indivíduos que
cometeram tentativas de suicídio sofriam de perturbação mental e as tentativas de suicídio
mais letais estavam associadas a história psiquiátrica, mais especificamente perturbação
depressiva, psicose, perturbação de pânico e perturbação da ansiedade e também ao consumo
de psicofármacos.
No presente estudo, 37 (71,2%) reclusos tinham cometido tentativas de suicídio prévias,
fora ou dentro da prisão. A primeira tentativa de suicídio em meio prisional no cumprimento da
pena actual de prisão, em média, ocorreu quando o recluso se encontrava preso à 3 anos e 4
meses, variando, entre o primeiro dia e 15 anos de reclusão. Quanto às tentativas de suicídio
prévias, sabe-se pela revisão da literatura (Shneidman, 1993; Saraiva, 2006a); Daniel, 2006;
Sokero et al., 2003; Oquendo et al., 2007, Kutcher & Chehil, 2007; Perry & Gilbody, 2009;
Fruehwald, et al., 2003) que representam um factor de risco para o suicídio consumado. Numa
autópsia psicológica de 76 suicidados, Way et al. (2005) encontraram 52% com tentativas de
suicídio prévias. Num outro estudo igualmente sobre autópsia psicológica, Costa Santos (1998)
revelou que 40% dos suicidados tinham cometido tentativas de suicídio anteriores. Embora a
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Mestrado em Medicina Legal e Ciências Forenses_________________________________102
literatura aponte, maioritariamente para os primeiros dias e meses de reclusão como os
momentos que mais contribuem para esta realidade, neste estudo encontrou-se um tempo
diferente. Não obstante, a entrada na prisão representar uma experiência de vida bastante
stressante (Moreira, 2008), também é notório que a própria reclusão acarreta inúmeros
problemas que podem aumentar a ideação suicida e a passagem ao acto ao longo do
cumprimento de pena.
Relativamente à tentativa de suicídio actual, a estação do ano em que se registaram
mais tentativas de suicídio foi na Primavera, com 17 tentativas de suicídio, seguindo-se o
Verão com 15 tentativas de suicídio, distribuindo-se as restantes igualmente pelo Outono e
Inverno. Os meses com mais tentativas de suicídio foram Maio e Setembro. O dia da semana
que registou mais tentativas de suicídio foi quarta-feira, seguindo-se o fim-de-semana sábado,
sexta-feira e domingo. Evidencia-se o pico registado na Primavera, dado já conhecido da
literatura e associado a possíveis influências dos ritmos sociais (Moreira, 1998; Costa Santos,
1998; Durkheim (1897, ed. port. 2007). Segundo Durkheim (1897, ed. port. 2007, p.95) “o
homem prefere deixar a vida no momento em que esta lhe é mais fácil”, referindo-se ao Verão.
O mesmo autor (op. cit., p. 95) reconhece ainda que metaforicamente, que a estação do ano
mais favorável ao suicídio “é aquela em que o céu é mais cinzento, em que a temperatura é a
mais baixa e a atmosfera mais húmida”.
Quanto ao período do dia mais crítico, apurou-se ter sido no final do dia,
designadamente entre as 18H e as 24 horas com 44,2% das tentativas de suicídio, seguindo-
se o período entre as 14h e as 18h com 32,7%. As restantes tentativas de suicídio distribuíram-
se ao longo do dia, tendo um pico na hora de almoço, entre as 12h e as 14h. O período referido
como tendo sido o pior (entre as 18h e as 24 horas), pode ser, segundo a nossa perspectiva,
dividido em dois tempos diferentes no contexto prisional. Entre as 18h e as 19 horas,
habitualmente, os estabelecimentos prisionais procedem ao encerramento dos reclusos, ou
seja, um momento de maior acalmia, após o fecho, concomitante com alguma agitação até por
volta das 21 horas. A partir desta hora, de facto, o ruído diminui, a agitação no interior das
celas aparentemente também, ficando os reclusos mais isolados do mundo e dos próprios
companheiros. Segundo os próprios reclusos, aquele primeiro tempo foi sempre retratado
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Mestrado em Medicina Legal e Ciências Forenses_________________________________103
como o período “mais difícil de aguentar”, principalmente no período do Verão em que o
encerramento é realizado em pleno dia, tendo de permanecer mais algumas horas fechados
sem o dia ter escurecido. O mesmo período do dia não é igualmente sentido como tão doloroso
no Inverno, pois quando são encerrados já o dia aparentemente terminou, uma vez que a
escuridão já se instalou. A vigilância neste período do dia também reduz a sua acção, ficando
apenas o turno da noite com menos operacionais e com a obrigatoriedade de realizar as
chamadas rondas ao longo da noite. Ao longo das entrevistas, houve muitos relatos
exactamente sobre estes rituais, em que os reclusos verbalizaram “eu esperava que o guarda
fizesse a ronda e depois sabia que ninguém vinha e foi nesse momento que eu fiz isso” (sic). O
período da tarde (entre as 14H e as 18 horas), momento que precede exactamente o anterior,
talvez seja mais difícil para quem não tem nenhuma ocupação laboral, ao que se apurou 39
reclusos não estavam ocupados. Poderá especular-se se o facto de não estarem ocupados ou
integrados em nenhuma actividade, não seria já fruto de alguma instabilidade emocional que
não permitisse a sua integração e permanência nessa actividade, ou se, por outro lado, estaria
única e exclusivamente, relacionada com as diferentes oportunidades de oferta laboral,
educativa e/ou terapêutica, existente no estabelecimento prisional.
O local onde mais de metade dos reclusos (71,2%) tentou suicidar-se foi na cela
individual de habitação, 15,4% foi na cela disciplinar, 7,7% foi na camarata, eventualmente
alojados com outros reclusos, e 3 na ala prisional. Juntando os reclusos que estavam na cela
individual de habitação e na cela disciplinar, somam 45 reclusos desta amostra que tentaram
suicidar-se em espaços onde estavam sozinhos, o que constitui um número muito expressivo e
alvo de alguma reflexão. Existe o mito de que as tentativas de suicídio cometidas na cela
disciplinar têm apenas um único objectivo: suprimir a medida disciplinar. Realizada uma
recolha de informação mais aprofundada nas tentativas de suicídio que ocorreram nestes
espaços, vulgarmente conhecidos por “solitária”, constata-se que as tentativas de suicídio
foram graves, uma vez que 1 recluso foi assistido num hospital civil e foi internado no Hospital
Prisional de Caxias, 4 indivíduos foram internados no Hospital Prisional S. João de Deus em
Caxias na sequência desta passagem ao acto por um período mínimo de 2 semanas, 3
reclusos foram assistidos nos serviços clínicos do estabelecimento prisional e apenas 1 caso
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foi considerado ligeiro, por não ter necessitado de assistência médica. Posto isto, importa
realçar a gravidade das tentativas de suicídio neste espaço, tantas vezes desvalorizadas pela
associação do acto à tentativa de conseguir a anulação da medida imposta.
O método primordialmente usado foi o enforcamento (57,7%), dividindo-se os restantes
entre a ingestão de psicotrópicos (13,5%), flebotomias (11,5%) e ingestão de corpos estranhos
(9,6%). Curiosamente, olhando para os métodos usados nesta investigação pode-se dizer que
são mais diversificados quando comparados com o estudo de Semedo Moreira (1998), ou por
maior disponibilidade de meios ou por maior circulação interna nos estabelecimentos prisionais
de substâncias tóxicas. Quanto ao grau de gravidade, 17 (32,7%) tentativas de suicídio foram
consideradas de gravidade importante, em que os reclusos foram internados na sequência da
lesão, no Hospital Prisional S. João de Deus em Caxias, por um período superior a 24 horas,
alguns destes após passagem por um hospital civil. Vinte e três (44,2%) reclusos tiveram
assistência da equipa médica/enfermagem nos serviços clínicos do respectivo estabelecimento
prisional, 12 (23,1%) não foram alvo de assistência médica, tendo sido observados pelo
enfermeiro de serviço. Tomados em conjunto, os reclusos que foram assistidos no hospital ou
pela equipa médica nos serviços clínicos somam um total de 35 reclusos assistidos, concluindo
que mais de metade necessitaram de cuidados de saúde, podendo equacionar a hipótese da
maioria das tentativas de suicídio terem sido bastante lesivas para os indivíduos. A distinção
entre tentativa de suicídio séria e manipuladora parece controversa à luz da literatura devido
aos critérios de classificação entre automutilação e tentativa de suicídio e à variabilidade de
operacionalização de conceitos e definições utilizadas em diferentes países (Lohner, 2006;
Muehlenkamp & Gutierrez, 2004). Num estudo realizado por Mckee (1998), já referido na
revisão teórica, envolvendo 665 reclusos e 89 reclusas, o enforcamento foi considerado como
método letal e a automutilação como método não letal, visto o enforcamento ser 19 vezes mais
mortal do que as automutilações.
As motivações atribuídas à passagem ao acto recaem fundamentalmente sobre os
problemas relacionados com a prisão e suas contingências, juntamente com os problemas com
guardas e/ou colegas, correspondendo, porventura, ao perfil do recluso inadaptado, no estudo
de Gonçalves (2008) referido na pesquisa bibliográfica. Sentimentos como desânimo,
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desespero, tristeza, frustração, stresse e tipo de vida, foram verbalizados como fortes causas
para o seu comportamento auto lesivo, reflectindo naturalmente, sentimentos depressivos. A
ausência no acompanhamento dos filhos, a privação de estar com a família e a perda do apoio
familiar foram, também, apontados como factores bastante influentes. Em menor número,
situam-se questões ligadas à duração da pena, saúde, medicação psicotrópica e aspectos
relacionados com o crime. Estas motivações, são porventura as que se encontram a um nível
mais consciente e por isso foram verbalizadas, todavia, denotam sentimentos de grande
sofrimento psicológico atribuído ao contexto prisional. O quadro de motivos apresentado na
análise descritiva deixa transparecer uma atribuição externa para o seu comportamento, mas
reflecte, também, alguma angústia na resolução de determinados problemas que fogem
claramente ao seu controlo, como por exemplo, a perda de apoio familiar ou, por outro lado, a
ausência no acompanhamento/crescimento dos filhos. Segundo Saraiva (2006a)), alguns
estudos constatam que os deprimidos apresentam valores mais altos de locus de controlo
externo e mais baixos de locus de controlo interno. Este autor (op. cit., 2006a)) sugere que os
indivíduos divergem nas suas experiências, conforme a capacidade para controlar reforços,
positivos ou negativos. Assim, os indivíduos que desde cedo obtiveram êxito a controlar o meio
ambiente, tendem igualmente a esperá-lo no futuro. Perante acontecimentos de vida adversos,
os indivíduos de grande externalidade demonstram mais ansiedade e depressão do que os de
maior internalidade.
Relativamente ao Inventário de Personalidade NEO PI-R, que avalia os cinco factores de
personalidade, o grupo experimental apresenta um perfil de personalidade dominado por:
neuroticismo, abertura à experiência, conscienciosidade, amabilidade e, por último,
extroversão. O neuroticismo é o factor mais elevado no GEP e a extroversão o factor com
resultados mais baixos. Contrariamente ao GEP, o GCE apresenta mais extroversão e menos
neuroticismo. Este indicador revela que os indivíduos do grupo experimental são
emocionalmente mais instáveis, preocupados, inseguros, com dificuldade em lidar com o
stresse e com respostas de coping desadequadas (Costa & McCrae, 2000). Existe um grande
consenso entre a comunidade científica em considerar que o neuroticismo reflecte afectividade
negativa e a extroversão, por seu turno, afectividade positiva. Estes resultados são
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consistentes com alguns estudos recentes que mostram conclusões idênticas (Chioqueta et al.,
2005; Yen et al. 2009; Guillaume et al., 2010). Num estudo conduzido por Hirvikoski et al.
(2011), na Clínica de Prevenção do Suicídio (Estocolmo), com uma população de 181
indivíduos em acompanhamento na sequência de uma tentativa de suicídio, revelaram que o
neuroticismo, ao contrário da extroversão, era o factor com maior expressão. Posto isto, e
atendendo aos resultados da presente investigação, parece que o neuroticismo se constitui
como um factor da maior relevância a ser estudado em indivíduos com ideação suicida, mas
também nos indivíduos que cometem efectivamente tentativa de suicídio.
Este factor é aquele que se destaca mais entre os três grupos, por isso é fundamental,
perceber de que forma é que se comportam as facetas que o constituem. Todas as facetas, à
semelhança do factor, também apresentam o valor mais elevado comparando com os sujeitos
dos outros grupos e com as restantes facetas. A faceta que mais se destaca entre as seis que
compõem o neuroticismo é a depressão, que regista valores bastante elevados. Assim, o
contributo da depressão para o aumento dos índices do neuroticismo é bastante significativo. O
resultado deste traço de personalidade indica que estes indivíduos têm pouca esperança,
sentem-se culpabilizados, tristes, sozinhos e desesperados (Costa & McCrae, 2000). A
literatura é muito abundante nesta área, sugerindo recorrentemente que a depressão é uma
dimensão crucial no estudo do suicídio (Costa Santos, 1998; Andersen, 2004; Daniel et al.,
2006; Chioqueta, 2005; Rivlin et al., 2010).
No mesmo sentido, as restantes facetas constituintes do neuroticismo também se
mostraram significativamente relacionadas com a ideação suicida evidenciando, nos indivíduos
do grupo experimental, valores mais altos comparativamente com os sujeitos dos dois grupos
de controlo, o mesmo não se verificando nos outros domínios do inventário, onde as facetas
apresentam valores semelhantes entre si, manifestando um “comportamento” mais
homogéneo. A vulnerabilidade é outra faceta em que os indivíduos apresentam neste estudo
valores que se distanciam das médias encontradas nos sujeitos dos dois grupos de controlo,
contribuindo também para influenciar o aumento do neuroticismo. Este traço de personalidade
indica que os indivíduos facilmente entram em pânico em situações de emergência e que são
incapazes de lidar com a tensão, tornando-se dependentes. Num estudo orientado por Yen et
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Mestrado em Medicina Legal e Ciências Forenses_________________________________107
al. (2009), concluíram precisamente que a vulnerabilidade deve ser uma variável a ser
considerada como um importante factor de risco. Liebling (1995), num estudo realizado em
prisões inglesas, com indivíduos que tinham cometido tentativas de suicídio, mostrou que a
vulnerabilidade estava relacionada com a família e com os contactos com o exterior, ou seja,
os reclusos que tinham menos visitas, que recebiam menos correspondência e que estavam
presos em centros urbanos, sentiam-se mais vulneráveis do que os reclusos que estavam em
estabelecimentos mais rurais e que recebiam mais correspondência. Neste estudo, Liebling
(1995) constatou que os reclusos que mantinham mais contacto com o exterior através de
protocolos existentes entre as prisões e a comunidade em geral, tornando possível a
participação em trabalhos comunitários, bem como aqueles reclusos que participavam em
programas educacionais e/ou de intervenção, se apresentavam menos vulneráveis do que
aqueles que não tinham oportunidade de participar em qualquer actividade. Na presente
investigação, sendo a vulnerabilidade uma característica associada à ideação suicida, não
pode dissociar-se do facto de que, aliada ao consumo excessivo de substâncias psicoactivas e
à depressão, podem constituir factores de risco muito consistentes para o comportamento
suicidário. Na mesma linha de pensamento, incluímos a faceta impulsividade, que também está
associada a esta constelação de factores de risco, uma vez que revelou valores altos
comparativamente com os indivíduos dos dois grupos de controlo. Este traço de personalidade
refere-se à incapacidade de controlar e resistir às tentações, nomeadamente desejos relativos
à alimentação, tabaco ou de propriedade, os quais são percebidos como sendo tão intensos
que o indivíduo não consegue resistir-lhe, apesar de mais tarde se poder arrepender desse
comportamento. A literatura tem-se debruçado sobre o estudo da impulsividade associada aos
comportamentos suicidários (Hirvikoski et al.,2011; Yen et al., 2009; Lohner et al., 2006) e ao
uso excessivo de substâncias psicoactivas (Maloney, 2009), considerando, igualmente, este
traço como um factor de risco.
A ansiedade, a hostilidade e a auto-consciência também contribuíram para aumentar o
elevado índice do neuroticismo, uma vez que apresentam valores mais altos do que os
indivíduos dos dois grupos de controlo e do que os outros factores avaliados. A ansiedade
revela que os indivíduos são apreensivos, tensos e preocupados. A hostilidade é um indicador
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Mestrado em Medicina Legal e Ciências Forenses_________________________________108
de que estes indivíduos têm tendência a experienciar raiva, frustração, zangando-se
facilmente. Por fim, a auto-consciência atesta a presença de vergonha e embaraço,
desvalorização pessoal, tímidez e ansiedade social. Num estudo longitudinal, Yen et al. (2009),
usou o Inventário NEO PI-R com 701 participantes, para tentar determinar, entre a afectividade
negativa e a desinibição, qual dos traços de personalidade melhor predizia futuras tentativas de
suicídio, uma vez que o estudo foi realizado ao longo de 7 anos. Concluíram que a afectividade
negativa é o melhor preditor de tentativas de suicídio. De acordo com os índices elevados de
neuroticismo e reduzidos de extroversão, esta conjugação, parece extremamente importante
nesta população, merecendo um destaque crucial no estudo do suicídio. É importante salientar
que quanto mais elevado é o factor neuroticismo maior é a ideação suicida.
Analisemos agora, ainda que resumidamente, as facetas que constituem os outros
quatro factores. Após a análise anterior, o factor extroversão, sendo aquele que menos se
evidencia no grupo experimental, suscita curiosidade imediata para perceber o fundamento de
tal resultado. Percebe-se rapidamente essa razão, pelas áreas avaliadas nesta dimensão,
designadamente, a socialização, o optimismo, a afectividade, a quantidade e intensidade de
relações interpessoais. Analisando um pouco mais detalhadamente, constata-se que os
indivíduos do GEP apresentam níveis muito baixos de acolhimento (intimidade interpessoal),
emoções positivas (satisfação com a vida), assertividade (defesa das suas ideias) e de
gregariedade (preferência em estar sozinho) encontrando-se as outras facetas mais próximas
da média de valores normativos (percentil ≅ 50) para a população em geral. Aprofundando
igualmente o factor abertura à experiência, que avalia a imaginação e aspectos relacionados
com a cognição, observa-se que ao nível da inteligência, os indivíduos do GEP apresentam
valores próximos da população em geral (Lima & Simões, 2000), bem como dos sujeitos dos
dois grupos de controlo. Todavia, é pertinente referir que os resultados sugerem que quanto
mais elevada é a abertura à experiência, maior é o consumo de substâncias psicoactivas. Ora,
sendo este o factor que apresenta resultados mais próximos dos indivíduos dos dois grupos de
controlo, ao contrário dos outros factores, poderá extrair-se daqui que ele traduz de algum
modo a procura de novas sensações, experiências e variedade, podendo ajudar a explicar os
elevados níveis de consumo de substâncias psicoactivas.
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Relativamente à amabilidade, a mesma analogia já não se pode fazer, uma vez que aqui
o grupo experimental se distancia dos indivíduos dos dois grupos de controlo, embora mais
acentuadamente no GCE. A amabilidade, factor que avalia a qualidade das relações
interpessoais, os pensamentos, sentimentos e acções, demonstra a dificuldade dos indivíduos
do grupo experimental em estabelecer e manter relações de confiança (alicerce do
desenvolvimento psicossocial), bem como em ser altruísta (preocupação activa pelos outros).
Por último, a conscienciosidade, medida dos aspectos proactivos, relacionados com a
necessidade de apego ao trabalho, e inibidores, relacionados com escrúpulos morais e a
prudência. Este factor revela diferenças significativas entre os três grupos, sendo mais
acentuadas ao nível da obediência (cumprimento das obrigações) e da deliberação
(planeamento e ponderação).
Após esta observação mais detalhada e tentando fazer um breve resumo das
características essenciais dos indivíduos do grupo experimental, facilmente se percebe que
experienciam uma afectividade negativa, ou seja, instabilidade emocional, com traços de
personalidade depressivos, ansiosos, hostis e bastante vulneráveis. Complementarmente, os
indivíduos que tentaram o suicídio estabelecem poucas relações interpessoais ou de fraca
qualidade, são desconfiados e, de uma forma geral, pouco satisfeitos com a vida.
Uma vez analisada a personalidade, importa saber qual o perfil de sitomatologia
psicopatológica desta população. As respostas encontram-se muito facilmente através dos três
índices do Inventário de Sintomas Psicopatológicos (BSI). O grupo que cometeu tentativas de
suicídio revelou um total de sintomas positivos, um índice geral de sintomas e um índice de
sintomas positivos com resultados superiores aos valores apresentados pelos indivíduos dos
dois grupos de controlo. O índice de sintomas positivos (que representa a intensidade de todos
os sintomas assinalados) e o índice geral de sintomas (que representa a intensidade do mal-
estar psicológico) revelam índices de perturbação emocional, considerando o ponto de corte
aferido para a população portuguesa. Verifica-se ainda que os sujeitos do grupo de controlo em
meio prisional (GCP) obtiveram resultados superiores nos três índices comparativamente com
o grupo de controlo exterior (GCE), mas sem atingir índices de perturbação emocional como o
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GEP. O total de sintomas positivos, embora se encontre acima dos índices para a população
geral portuguesa, não revela valores de perturbação emocional.
As escalas clínicas, no grupo experimental, mostram valores mais altos
comparativamente aos resultados dos dois grupos de controlo, e, à semelhança do verificado
nos três índices, também o GCP apresenta valores mais elevados nas escalas clínicas do que
o GCE. No grupo experimental, algumas dimensões apresentam índice de perturbação
emocional para a depressão, ansiedade, hostilidade, ideação paranóide, sensibilidade
interpessoal e psicoticismo. As escalas de somatização, obsessões-compulsões e ansiedade
fóbica, apesar de revelarem valores acima da média para a população portuguesa, não
mostram índice de perturbação emocional. Nos dois grupos de controlo GCP e GCE, a única
dimensão onde se verifica sintomatologia psicopatológica é a ideação paranóide, as outras
escalas não apresentam índice de perturbação emocional. O grupo experimental é dominado
pelas dimensões: Ideação paranóide, depressão, ansiedade, psicoticismo, sensibilidade
interpessoal, hostilidade, obsessões-compulsões, somatização e ansiedade fóbica. É possível
constatar nesta população, de acordo com os resultados obtidos, índices de sintomatologia
psicopatológica, que sugerem níveis de psicopatologia consideráveis, capazes de comprometer
o funcionamento psíquico e a saúde mental dos sujeitos. A escala clínica depressão revela
resultados coincidentes com a faceta depressão ao nível da personalidade, demonstrando que
este grupo está bastante debilitado em termos de energia anímica e capacidade para reagir
positivamente aos problemas, pois os níveis de depressão são muito elevados. A dimensão
ideação paranóide também apresenta valores bastante elevados, que merecem alguma
atenção. Apesar do sistema prisional, pelas suas contingências, poder aumentar os níveis de
paranóia devido a vários factores associados à prisão, como a vigilância permanente, a
ausência de privacidade e a constante desconfiança dos outros, resulta, ainda assim difícil
explicar resultados tão elevados, talvez fosse interessante aprofundar esta matéria, em futuras
investigações. No entanto, estas constatações poderão ajudar a perceber melhor a razão pela
qual os indivíduos do grupo experimental se sentem sós, sem rede de suporte, sem apoio e
sem condições psicológicas para romper com este sofrimento.
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Tomando em consideração os resultados apresentados e discutidos, afigura-se
importante regressar às questões centrais desta investigação e apresentar os resultados em
função das hipóteses formuladas neste trabalho:
H1 - Os indivíduos que cometeram tentativa(s) de suicídio em meio prisional apresentam
mais factores de risco associados ao suicídio
Após a análise dos resultados, verifica-se esta hipótese, estatisticamente, podendo-se
afirmar que os indivíduos que cometeram tentativa de suicídio apresentam mais factores de
risco associados ao suicídio, em consonância, aliás, com os resultados de outros trabalhos
científicos referidos na revisão teórica (Lekka, 2006; Way, 2005; Moreira, 2008). Nesta
investigação, os factores de risco encontrados na população que cometeu tentativa de suicídio,
a qual difere nos dois grupos de controlo, são vários: o factor de personalidade neuroticismo
que apresenta valores mais elevados do que os dois grupos de controlo, evidenciando mais
afectividade negativa e consequentemente mais instabilidade emocional, com respostas de
coping desadequadas. A questão da personalidade está estreitamente relacionada com a
perturbação mental que apresentou diferenças estatisticamente significativas em relação aos
sujeitos dos dois grupos de controlo. Por seu turno, a sintomatologia psicopatológica também
se diferenciou entre o grupo experimental e os dois grupos de controlo, apresentando no
primeiro caso índices de perturbação emocional, ao contrário dos dois grupos de controlo,
constituindo mais um factor de risco. As automutilações também diferem bastante entre os
indivíduos do grupo experimental e os dos grupos de controlo, sendo amplamente mais
frequentes no grupo que cometeu tentativas de suicídio. As tentativas de suicídio prévias são
naturalmente uma variável diferente, mas é sabido por vários estudos constituírem um
importante factor a ter em conta (Corcoran et al. 2004; Neeleman, 2001; Daniel, 2006; Sokero
et al., 2003; Oquendo et al., 2007; Kutcher & Chehil, 2007). O uso excessivo de substâncias
psicoactivas é muito superior no grupo experimental do que nos dois grupos de controlo,
sobretudo no GCE. O consumo de drogas tem sido amplamente documentado na literatura
como um factor de risco associado ao suicídio (Kovasznay et al., 2004; Maloney et al., 2009;
Andersen, 2004). A relação familiar é outro factor a ter em conta, uma vez que a quantidade de
problemas familiares, que transportam consigo para a prisão, invocando a teoria da importação
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já referida na revisão teórica, irá acompanhá-los até ao momento da sua libertação. O número
de relacionamentos maritais é outra variável onde se verificam diferenças estatisticamente
significativas entre os grupos, ressaltando o facto dos indivíduos do grupo experimental ter tido
mais relacionamentos e actualmente não ter tanto apoio, nem rede de suporte. Estas relações
não foram duradouras na maioria dos casos, ainda assim algumas deram origem a filhos, que
podem actualmente constituir um factor agravante de instabilidade emocional. Os
acontecimentos de vida relevantes estão, na maioria dos casos, relacionados com a situação
jurídico-penal e com a prisão, tendo-se verificado diferenças estatisticamente significativas
entre o GEP e o GCE, mas não foram encontradas diferenças entre o GEP e o GCP,
reforçando uma vez mais que a prisão se constitui como um acontecimento de vida relevante
para aqueles que vivenciam essa experiência.
H2 - Os indivíduos que cometeram tentativa(s) de suicídio apresentam mais
sintomatologia psicopatológica, nomeadamente ao nível da depressão e ideação paranóide
Esta hipótese verifica-se através das diferenças estatisticamente significativas
encontradas nas análises realizadas com o Inventário de Sintomas Psicopatológicos (BSI),
entre os sujeitos do grupo experimental e os dos dois grupos de controlo. Estes resultados
apresentam uma diferença estatisticamente muito significativa ao nível da depressão (2,07) e
ao nível da ideação paranóide (2,19), indicando índices de perturbação emocional, ao contrário
dos indivíduos dos dois grupos de controlo, que não apresentam sintomatologia
psicopatológica. Para além disso, estes valores são confirmados, com testes que mostram as
diferenças estatisticamente significativas encontradas para a escala da depressão, no
Inventário de Personalidade NEO PI-R, onde este traço obteve resultados muito elevados
comparativamente aos dos dois grupos de controlo. Paralelamente, as outras dimensões do
BSI mostraram igualmente sintomatologia psicopatológica que confirmam esta hipótese.
H3 - Os indivíduos que cometeram tentativa(s) de suicídio apresentam uma maior
vulnerabilidade, impulsividade e hostilidade
Esta hipótese verifica-se através das diferenças estatisticamente significativas
encontradas nas análises realizadas com o Inventário de Personalidade NEO PI-R, que mostra
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as diferenças estatisticamente muito significativas entre os sujeitos do grupo experimental e os
dos dois grupos de controlo. As diferenças são verificadas para a vulnerabilidade (73.8),
hostilidade (71.6) e impulsividade (63.5). Estes resultados são confirmados pelos resultados
obtidos na escala hostilidade (1.45) do BSI, que registam diferenças estatisticamente
significativas entre os indivíduos do grupo experimental e os dos dois grupos de controlo.
8. Perfil do recluso que cometeu tentativa de suicídio
O perfil do recluso que comete tentativas de suicídio corresponde ao de um indivíduo,
pertencente ao grupo etário dos 30 aos 40 anos, solteiro, com baixa escolaridade, oriundo de
grandes fratrias, com uma relação marital até ao momento da reclusão, sem filhos, sem apoio,
visitas, correspondência, nem suporte familiar e/ou emocional. Os acontecimentos de vida
relevantes, surgem estreitamente relacionados com os aspectos prisionais como a privação da
liberdade, ambiente prisional violento, transferências e com a ausência de suporte familiar. É
consumidor de substâncias psicoactivas em associação, designadamente: haxixe, heroína e
cocaína e autor de crimes contra a propriedade como furto ou roubo, com antecedentes
criminais, tendo cumprido em média mais 2 penas de prisão efectiva. O recluso típico possui
história de comportamentos autodestrutivos, diagnóstico de perturbação mental e encontra-se
medicado com psicofármacos. Este recluso já tinha cometido mais tentativas de suicídio
anteriores à actual. A actual tentativa de suicídio foi concretizada por enforcamento, entre as 18
e as 24 horas, na cela de habitação, tendo sido classificada como de gravidade importante. A
sua personalidade é marcada pelo neuroticismo e reduzida extroversão. Os traços de
personalidade mais evidentes são a depressão/distimia, seguida pela vulnerabilidade,
hostilidade e ansiedade, denotando pouco acolhimento e confiança. A sintomatologia
psicopatológica presente de forma mais acentuada é a ideação paranóide, depressão,
hostilidade, sensibilidade interpessoal e psicoticismo.
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9. Caso ilustrativo
M. tem 47 anos de idade, é divorciado e tem o 2.º ciclo completo. É natural e residente
num bairro da periferia de Lisboa. Quando M. entrou no gabinete de atendimento, para esta
entrevista, vinha eufórico e bem-disposto. Questionado pela razão da sua euforia, respondeu
imediatamente “o telemóvel veio dar uma grande ajuda”, subentendendo-se que tinha acabado
de usar o telemóvel, algo que é sempre vivido pelos reclusos com um misto de ansiedade e de
prazer proibido. Oriundo de uma família com algum desafogo económico, os pais de M.
emigraram durante 10 anos, pelo que M. viveu até aos 11 anos num país europeu, juntamente
com os seus dois irmãos. Regressados a Portugal, o pai, descrito como um homem pouco
afectuoso e agressivo, continuou como motorista e a mãe como doméstica, sendo, segundo
M., uma mulher pouco dada à expressividade emocional, pois “não demonstrava os
sentimentos relativamente aos filhos”, continuando a afirmar “era uma mulher muito fria e
rígida, só se aproximava dos filhos quando bebia bebidas alcoólicas”.
Na escola M. não tinha grandes dificuldades, mas em casa o ambiente era mau,
existindo muitos conflitos e violência física. Durante o período da adolescência saía com os
amigos para fugir ao ambiente de violência em casa, tendo iniciado hábitos alcoólicos
excessivos, que mais tarde vieram a tornar-se patológicos, dado as quantidades que ingeria
diariamente “bebia todos os dias, desde cervejas a bebidas brancas.” Abandonou a escola e
começou por fazer trabalhos indiferenciados, tendo iniciado consumos de haxixe por volta dos
15 anos, altura em que começou a evidenciar comportamentos delinquentes. Estes
comportamentos culminaram numa detenção aos 16 anos por furto de veículos. Quando saiu
da prisão, tentou fazer uma vida diferente e foi trabalhar com uma tia que era vendedora
ambulante. Porém, o consumo de drogas de abuso não parou, iniciando-se nos percursos da
heroína e cocaína, e continuando a prática criminal, para satisfazer as suas necessidades
aditivas “era tudo para a droga”. Casou aos 19 anos e quando o seu filho tinha 6 dias de vida,
M. foi novamente detido, tendo ficado preso 9 meses. Entretanto, os pais de M. divorciaram-se
e não puderam continuar a apoiá-lo da mesma forma. Pouco tempo depois o próprio M.
também se divorciou, porque a mulher já não aguentava mais as entradas na prisão do marido.
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Desde que se divorciou teve mais duas relações afectivas com quem terá vivido três e três
anos e seis meses, respectivamente. A partir daí M. pautou a sua vida pela criminalidade
“adaptei-me ao crime, profissionalizei-me pronto, andava sempre armado, levava armas ou
facas, dependia da minha situação económica.” O seu comportamento criminal levou-o mais
vezes à prisão, sendo actualmente a sexta vez que está preso, num crescendo de gravidade
criminal, bem como da pena aplicada. Obviamente que este tipo de vida deixou marcas muito
profundas e bastante desestruturais, tendo inclusivamente levado M. a tentar pôr termo à vida.
A primeira vez que cometera uma tentativa de suicídio foi quando uma namorada, após o
divórcio, terminou a relação, namorada esta que recorda com muita tristeza, porque depois de
terem reatado a relação, ela foi morta por um homem que alegadamente vivia com ela, “mas
não eram um casal”, visto essa ser uma realidade muito penosa para M. aceitar “o que mais me
custou foi eu não poder fazer nada porque já estava preso”.
Actualmente cumpre uma pena de doze anos de prisão, dos quais sete já terão passado.
Estes sete anos foram vividos sob grande pressão, com registos de exagerada ansiedade, que
não sabia gerir, associada ao consumo de drogas de abuso, particularmente quando a mãe
falecera num acidente de viação “logo agora que nos estávamos a dar melhor” referiu, tendo
ficado completamente sozinho, pois não tem contacto com o pai e os irmãos só o visitaram
para ele assinar documentos de partilha e divisão de bens. E para além disso, tinha uma
grande mágoa por ter decepcionado mais uma vez o filho, que vive no estrangeiro, e que por
via da distância não o apoia com tanta regularidade.
Após a morte da mãe, M. deprimiu bastante, tentando suicidar-se quatro vezes, porque
“já não aguentava mais, perdi tudo o que tinha de bom” referiu. O método que usou foi por
flebotomia até à última tentativa de suicídio, tendo sido, esta última concretizada por
enforcamento. Os cortes que provocava a si próprio, eram de grande gravidade, havendo
registos de que terá sido trazido à enfermaria “inconsciente, com palidez acentuada e
taquicardia”. A este propósito, M. acrescenta “tenho as veias todas cortadas, por isso agora já
nem sangro” e continua dizendo “há fases da vida que a única saída é mesmo a morte, eu
defendo o suicídio quando o sofrimento é muito grande”. Contudo, actualmente M. está mais
confiante, porque está mais próximo da sua saída em liberdade. Integrou um programa de
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tratamento à toxicodependência e está integrado num curso de formação profissional. A
mudança de comportamento é reconhecida e reforçada, quer pelos técnicos, quer pela equipa
de vigilância que referem que depois do último tratamento, houve mudanças significativas.
“Agora penso em sair e apoiar-me no meu filho” remata.
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9. Conclusões
Neste capítulo apresentam-se as principais conclusões, que podem ser assim formuladas:
1. Os reclusos que cometeram tentativas de suicídio na prisão distinguiam-se dos sujeitos
das populações de controlo em meio prisional e na comunidade por um certo número de
variáveis sociodemográficas, nomeadamente serem oriundos de grandes fratrias e
possuírem um menor nível de escolaridade.
2. Os reclusos que cometeram tentativas de suicídio na prisão apresentavam um maior
número de factores de risco de suicídio, nomeadamente uma frequência mais elevada
de perturbações mentais, padrões de consumo de substâncias psicoactivas,
comportamentos autodestrutivos, incluindo tentativas de suicídio, acontecimentos de
vida relevantes, entre os quais avultavam a relação familiar conflituosa, antecedentes
criminais mais pesados e um maior isolamento.
3. Os reclusos que cometeram tentativas de suicídio na prisão apresentavam mais
sintomatologia psicopatológica, designadamente:
3.1. A nível do neuroticismo, com maior instabilidade emocional, afectividade
negativa e sentimentos de insatisfação, e menores índices de extroversão, com
reduzida sociabilidade, relações interpessoais frágeis e escassa actividade
física;
3.2. A nível da estrutura da personalidade, em que avultavam os traços de
depressão/distimia, vulnerabilidade, hostilidade, ansiedade e impulsividade;
3.3. A nível da frequência e intensidade da ideação paranóide e depressão.
4. O perfil do recluso que comete tentativa(s) de suicídio na prisão corresponde ao de um
homem no grupo etário dos 30-40 anos, solteiro, com reduzida escolaridade, mantendo
uma relação marital conflituosa, e que, além disso, possui antecedentes criminais,
hábitos de consumo de substâncias psicoactivas, história de comportamentos
autodestrutivos, incluindo tentativas de suicídio, encontrando-se na cadeia pela prática
de crimes mais recentes, sobretudo crimes de natureza patrimonial, cujo processo
jurídico-penal e prisional é referido como gerador de grande sofrimento psicológico.
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5. Na prisão, este tipo de recluso apresenta sintomatologia psicopatológica, possui,
maioritariamente, um diagnóstico de perturbação mental, sobretudo da linha depressiva,
encontra-se medicado com psicofármacos, diz-se seriamente afectado pelo ambiente
prisional e pela falta de apoio familiar, visitas e correspondência, atenta contra a sua
vida na cela de habitação, no final do dia (18-24 h), por meio de enforcamento,
atribuindo este seu gesto às condições de vida, com destaque para a pressão exercida
pelo sistema prisional associada ao isolamento e falta de apoio familiar.
Em suma, estes resultados sugerem que os reclusos que cometeram tentativas de
suicídio em meio prisional apresentam uma personalidade marcada pela vulnerabilidade,
ansiedade e hostilidade, associadas a uma intensa perturbação emocional, onde avulta um
elevado índice de neuroticismo, a vivência da afectividade negativa, a depressão e a ideação
suicida.
A multiplicidade e complexidade dos factores de risco, alguns dos quais remontam à
infância, são dificilmente modificáveis ou controláveis por quem, como a maioria deles, possui
uma personalidade tão vulnerável e tão escassas competências pessoais, familiares e sociais.
Uma das linhas de intervenção susceptível de contribuir para a mudança aponta para um
esforço psicopedagógico, baseado no ensino e treino de competências individuais, manejando
o sistema de crenças, atitudes e relações interpessoais, e, consequentemente, uma alteração a
nível do comportamento. Esta linha, aqui apenas esboçada, justificaria um desenvolvimento
ulterior, nomeadamente sob a forma de programas de prevenção e intervenção neste domínio
das condutas autodestrutivas.
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_____________________________________________________ Tentativa de suicídio em meio prisional
Mestrado em Medicina Legal e Ciências Forenses_________________________________128
ANEXOS
_____________________________________________________ Tentativa de suicídio em meio prisional
Mestrado em Medicina Legal e Ciências Forenses_________________________________129
ANEXO I
_____________________________________________________ Tentativa de suicídio em meio prisional
Mestrado em Medicina Legal e Ciências Forenses_________________________________130
Autorização de Participação
Carla Sofia de Matos Pragosa, aluna do Curso de Mestrado em Medicina Legal e Ciências
Forenses da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, está a realizar um trabalho de
investigação no campo das tentativas de suicídio, sob a orientação do Prof. Doutor Jorge Costa
Santos (Professor da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa). Este estudo consiste
na administração de dois instrumentos de avaliação psicológica (BSI – Brief Symptom
Inventory e NEO-PI-R - Revised NEO Personality Inventory) e de uma entrevista semi-
estruturada.
Pretende-se, com isto, identificar factores pessoais, designadamente características da
personalidade e eventual psicopatologia das pessoas que tenham praticado, pelo menos, uma
tentativa de suicídio durante o período de reclusão em estabelecimentos prisionais da região
de Lisboa e Vale do Tejo e da Região Centro do país.
Toda a informação fornecida pelas pessoas entrevistadas é absolutamente confidencial, sendo
garantido o completo anonimato dos dados.
Tendo sido informado(a) sobre os métodos e técnicas acima referidos, declaro autorizar a
utilização dos dados por mim fornecidos neste trabalho de investigação.
Estabelecimento Prisional de _______________, _______ de____________ de ______
_________________________________________________
(Assinatura)
Muito obrigada,
Carla Pragosa
_____________________________________________________ Tentativa de suicídio em meio prisional
Mestrado em Medicina Legal e Ciências Forenses_________________________________131
ANEXO II
_____________________________________________________ Tentativa de suicídio em meio prisional
Mestrado em Medicina Legal e Ciências Forenses_________________________________132
_____________________________________________________ Tentativa de suicídio em meio prisional
Mestrado em Medicina Legal e Ciências Forenses_________________________________133
_____________________________________________________ Tentativa de suicídio em meio prisional
Mestrado em Medicina Legal e Ciências Forenses_________________________________134
_____________________________________________________ Tentativa de suicídio em meio prisional
Mestrado em Medicina Legal e Ciências Forenses_________________________________135
_____________________________________________________ Tentativa de suicídio em meio prisional
Mestrado em Medicina Legal e Ciências Forenses_________________________________136
ANEXO III
_____________________________________________________ Tentativa de suicídio em meio prisional
Mestrado em Medicina Legal e Ciências Forenses_________________________________137
_____________________________________________________ Tentativa de suicídio em meio prisional
Mestrado em Medicina Legal e Ciências Forenses_________________________________138
_____________________________________________________ Tentativa de suicídio em meio prisional
Mestrado em Medicina Legal e Ciências Forenses_________________________________139
_____________________________________________________ Tentativa de suicídio em meio prisional
Mestrado em Medicina Legal e Ciências Forenses_________________________________140
_____________________________________________________ Tentativa de suicídio em meio prisional
Mestrado em Medicina Legal e Ciências Forenses_________________________________141
ANEXO IV
_____________________________________________________ Tentativa de suicídio em meio prisional
Mestrado em Medicina Legal e Ciências Forenses_________________________________142
_____________________________________________________ Tentativa de suicídio em meio prisional
Mestrado em Medicina Legal e Ciências Forenses_________________________________143
_____________________________________________________ Tentativa de suicídio em meio prisional
Mestrado em Medicina Legal e Ciências Forenses_________________________________144
_____________________________________________________ Tentativa de suicídio em meio prisional
Mestrado em Medicina Legal e Ciências Forenses_________________________________145
ANEXO V
_____________________________________________________ Tentativa de suicídio em meio prisional
Mestrado em Medicina Legal e Ciências Forenses_________________________________146
_____________________________________________________ Tentativa de suicídio em meio prisional
Mestrado em Medicina Legal e Ciências Forenses_________________________________147