FACULDADE INTEGRADA DA GRANDE FORTALEZAPROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO
EM COMUNICAÇÃO PÚBLICA
AMAURI ABE
GABINETE VIRTUAL – A INTERATIVIDADE USADA COMO EXTENSÃO DO GABINETE DO VEREADOR JOSÉ THOMÉ (RIO DO
SUL-SC) EM SEU WEBSITE
Fortaleza / 2011
AMAURI ABE
GABINETE VIRTUAL – A INTERATIVIDADE USADA COMO EXTENSÃO DO GABINETE DO VEREADOR JOSÉ THOMÉ (RIO DO
SUL-SC) EM SEU WEBSITE
Monografia apresentada pelo acadêmico Amauri Abe como exigência do curso de pós-graduação em Comunicação Pública da Faculdade Integrada da Grande FortalezaOrientadora: Profª Fernanda Machado Barbieri
Fortaleza / 2011
AMAURI ABE
GABINETE VIRTUAL – A INTERATIVIDADE USADA COMO EXTENSÃO DO GABINETE DO VEREADOR JOSÉ THOMÉ (RIO DO SUL-SC) EM SEU WEBSITE
Comissão Examinadora:
Examinador 1: _____________________________________________
Examinador 2: _____________________________________________
Florianópolis, _______ de ____________________ de 2011.
AGRADECIMENTOS
Ao vereador José Thomé e seus assessores
Cristian Caê Stassun e Dalton Cavalcanti. Ao assistente
legislativo da Câmara Municipal de Rio do Sul Luis
Ricardo Erckmann. A Deus, em especial.
RESUMO
Esta pesquisa pretende analisar o conteúdo do website do vereador José Thomé, de Rio do Sul-SC, e seus apêndices, enfatizando casos nos quais o eleitor via rede passou de mero espectador a ator de políticas públicas a partir de uma sugestão pelo blog ou por mensagens rápidas via twitter, por exemplo. Mostrar quando e como o gabinete de baias cinzas e frias estendeu-se pela internet, de forma efetiva. Para tanto, a linha teórica da pesquisa será o conceito de dialogismo de Mikhail Bakhtin, a partir do qual “um texto, não pode ser considerado inteiramente novo e original”.
Palavras chaves: gabinete virtual – ágora eletrônica – interatividade – política – vereador – website político - interatividade
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO....................................................................................01
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ........................................................
05
2.1 UM DISCURSO, MÚLTIPLAS VOZES ................................. 05
2.2 O PARLAMENTO LOCAL ................................................... 07
2.1 ÁGORA VIRTUAL ................................................................ 09
3. DESENVOLVIMENTO DA PESQUISA..............................................11
3.1. OS MEIOS .......................................................................... 11
3.2. O INTERNAUTA LEGISLANDO ........................................... 15
3.3. PARLAMENTO DIALÓGICO ............................................... 28
CONSIDERAÇOES FINAIS...................................................................33
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA...........................................................36
ANEXO A – ENTREVISTA COM O VEREADOR JOSÉ THOMÉ..........38
ANEXO B – ÍNTEGRA DOS PROJETOS DE LEI CITADOS NA PESQUISA.............................................................................................44
1
INTRODUÇÃO
A Câmara Municipal de Rio do Sul tem, hoje, dez vereadores. Desde
novembro de 2008 sou funcionário de carreira nesta Casa Legislativa. Como é
comum nas casas Legislativas, cada parlamentar tem suas características e bases
eleitorais: bairro x ou bairro y, saúde, segurança ou educação, público adulto, jovem
ou terceira idade. Isto posto importa justificar o motivo de se escolher o website do
vereador José Thomé como objeto do estudo.
José Eduardo Rothbarth Thomé (José Thomé) é, de longe, o mais jovem
desta legislatura. Foi eleito aos 22 anos e, como já seria de se esperar, os jovens
são importante parte de sua base eleitoral. Um exemplo desta visão é que o
legislador realiza palestras para estudantes de ensino médio nas quais diz intentar a
politização, em contraposição à alienação, dos adolescentes. A escolha de José
Thomé não foi feita por questão de simpatia ideológica ou partidária, favorecimento
ou quaisquer outros motivos além dos já apresentados. Todos os demais vereadores
têm atuação legislativa e representam a população de acordo com suas
características, entretanto concentrar a pesquisa em apenas um vereador foi
fundamental para que esta pudesse atingir seus objetivos, que serão abordados
mais para frente.
A interatividade, especialmente com o uso de redes sociais e
comunicação móvel, tem uma grande participação do público de idade mais baixa,
sendo estes potenciais eleitores por ainda muitos pleitos. O website1 de José Thomé
é consonante a isto tudo: tem links para seu twitter, seu perfil no orkut e no picasa 2,
além de permitir que o cidadão-internauta envie sua sugestão de projeto de lei, faça
o título de eleitor pela internet e receba novidades de seu gabinete por newsletter.
No youtube existem ainda vídeos de suas aparições na imprensa. Tem também
1 Http://www.jthome.com.br/2 Twitter é um sistema de microblogs no qual se posta textos curtos, de até 140 caracteres. Orkut é a mais popular rede social em termos de usuários no Brasil, e Picasa é um gerenciador de imagens na web.
2
perfil no facebook3 e um blog no qual posta todas as suas atividades parlamentares
e os internautas podem comentar, criticar e propor melhorias aos seus projetos de
lei.
Esta pesquisa pretende analisar o conteúdo do website e seus apêndices,
enfatizando casos nos quais o eleitor via rede passou de mero espectador a ator de
políticas públicas a partir de uma sugestão pelo blog ou por mensagens rápidas via
twitter, por exemplo. Mostrar quando e como o gabinete de baias cinzas e frias
estendeu-se pela internet, de forma efetiva.
A ágora eletrônica4seria algo possível e viável na prática? Encontrá-la é
um dos principais intentos desta pesquisa. Se democracia vem do grego “demos
kratus”, ou seja, o povo no poder, isto não significa que o povo deva se limitar a
escolher, a cada pleito, seus representantes e, depois, manterem-se inertes. A
constituição de 1988 já previa a criação de leis a partir da iniciativa popular, com a
adesão de 1% do eleitorado5, mas na prática estes casos são bastante raros. O
Projeto Ficha Limpa6, criado em 2010, foi apenas o quarto a ser aprovado, oriundo
da iniciativa popular, na Câmara dos Deputados. Também de acordo com a
Constituição, nos municípios, é preciso 5% do eleitorado (em cidades com até 100
mil habitantes, como é o caso de Rio do Sul) para se criar um projeto de lei de
iniciativa popular; no entanto, até o período no qual esta pesquisa iniciou-se, não
havia registro algum na Câmara Municipal de Rio do Sul de matérias desta natureza.
Todavia, isto não significa, necessariamente, abdicação total da população acerca
do ato de legislar no município; há outras maneiras de se fazer valer junto ao Poder
3 O facebook é outra rede social bastante popular no Brasil, logo atrás do orkut.4 Ágora é como se chamava a praça principal construída nas polis gregas. Tratava-se do local onde os cidadãos se reuniam para discussões políticas e, por isso, a ágora simbolizava a democracia direta. Velloso acredita que “o cenário virtual, ou o ciberespaço, passa a se constituir em importante território da esfera social, a ágora eletrônica contemporânea, que possibilita (...) tratar fatos e fenômenos da vida pública” (VELLOSO, 2008: 5).5 1% do eleitorado nacional, pelo menos, e com participação mínima de cinco estados, e 0,3% do total das assinaturas em cada um destes estados, conforme o artigo 61 da Constituição da República Federativa do Brasil, de 1998.6 Lei Complementar nº 135, de 4 de junho de 2010, oriundo do Projeto de Lei Popular 518/09, que impede que políticos condenados na Justiça possam concorrer a pleitos. Reuniu 1,9 milhão de assinaturas.
3
Público suas reivindicações, como fazendo lobby7 junto a um ou mais vereadores.
Isto é mais viável nos municípios do que nas esferas estaduais e federal, pela
proximidade física entre eleitores e eleitos.
Observamos um fluxo diário de cidadãos nos gabinetes para falar com os
parlamentares ou com seu assessor. Ainda que os assuntos sejam diversos, relatos
das pessoas envolvidas dão conta de que por vezes estes cidadãos vêm reivindicar
melhorias para sua rua, seu bairro, sua cidade, e estas reivindicações por vezes
viram moções, indicações ou projetos de lei.
E este lobby não precisa ser feito pessoalmente. Os gabinetes recebem
telefonemas, e-mails, cartas, entre outras formas de comunicação. Daí a noção de
que mesmo projetos em que apareça apenas o nome do legislador podem ter sido
feitos a partir de apelos populares.
O universo a ser observado será o website do vereador José Thomé e
ferramentas afins naquilo que estiver disponível de 1° de janeiro de 2010 até 22 de
fevereiro de 2011, entrevistas com o citado vereador e sua equipe de assessores,
além de contatos com eventuais eleitores que participaram ativamente de projetos
de lei proposto pelo legislador8. Pretende-se encontrar exemplos de projetos de lei
que foram originados ou tiveram influência dos eleitores a partir de ferramentas de
interação no website do vereador, como seu blog ou seu twitter.
A linha de pesquisa será o dialogismo, de Mikhail Bakhtin, a partir do qual
um texto, não pode ser considerado inteiramente novo e original. Ao ser
formulado, constituiu-se de vários textos anteriores com diferentes graus de
correlação com o assunto. Uma relação necessária e inevitável de textos,
de enunciados, com outros enunciados, um sempre ecoa, ressoa outros
enunciados. (ABE, 2006: 25)
7 Entenda-se como lobby “informar ‘quem resolve’; em seguida, negociar e persuadir; por fim, tentar obter determinado resultado” (FARHAT Apud DANIEL, 2010, 10).8 Entrevistas podem ser formais, como a apresentada no Anexo A, ou simples coletas de informações. Contatos com eleitores pode ser apenas por meio da análise das mensagens enviadas por estes ao vereador José Thomé.
4
Uma legislação construída a partir de diversas vozes, de políticos e de
populares, e através da internet. Espera-se mostrar resultados práticos do processo
legislativo com participação real de internautas. Supõe-se também, a partir de um
panorama em particular, apontar para soluções e desafios em geral para a hipótese
da ágora eletrônica, no que concerne à sua viabilidade técnica, sendo que
explicações e estudos sociológicos e didáticos não serão buscados. Tais
informações podem auxiliar as assessorias de comunicação de políticos e órgãos
públicos das mais diversas esferas de poder em suas estratégias de interação para
com o público.
5
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
A linha de pesquisa será o dialogismo, de Mikhail Bakhtin, a partir do qual
um texto, não pode ser considerado inteiramente novo e original. Ao ser
formulado, constituiu-se de vários textos anteriores com diferentes graus de
correlação com o assunto. Uma relação necessária e inevitável de textos,
de enunciados, com outros enunciados, um sempre ecoa, ressoa outros
enunciados. (ABE, 2006: 25)
O dialogismo não é válido apenas para críticas de obras literárias, mas
para quaisquer formas de comunicação, como rádio, cinema, conversas informais e
redações livres. Basta que haja um enunciado e, a partir da noção de dialogismo,
tem-se a possibilidade de que este beba da fonte de enunciados anteriores.
O dialogismo opera dentro de qualquer produção cultural, seja letrada ou
analfabeta, verbal ou não-verbal, elitista ou popular. Os filmes de um
realizador como Godard ou Raul Ruiz só fazem ampliar esta noção do
artista como orquestrador das mensagens lançadas por todas as séries –
literárias, pictóricas, musicais, cinematográficas, publicitárias etc. Porém os
mesmos mecanismos dialógicos básicos operam dentro da chamada
‘cultura popular’. (STAM, 2000: 76)
2.1 UM DISCURSO, MÚLTIPLAS VOZES
O dialogismo nos dá a noção de que um discurso, texto, enunciado não é
totalmente autêntico e fruto de apenas uma mente pensante, mas traz em seu bojo
todo um passado de outros discursos, que por sua vez também foram influenciados
por discursos ainda mais antigos. “Podemos começar definindo o dialogismo como
a relação necessária entre um enunciado e outros enunciados, utilizando a palavra
“enunciado” no sentido amplo que lhe dá Bakhtin” (STAM, 2000: 72). Outro ponto
importante é a relação social existente na construção de um discurso. Para Bakhtin,
6
a enunciação é sempre de natureza social, uma via de mão dupla entre quem fala e
quem escuta:
Na realidade, o ato da fala, ou, mais exatamente, seu produto, a
enunciação, não pode de forma alguma ser considerado individual no
sentido estrito do termo; não pode ser explicado a partir das condições
psicofisiológicas do sujeito falante. A enunciação é de natureza social.
(BAKHTIN, 1992: 113.
Portanto, o discurso não é estudado isoladamente, mas a partir de sua
relação com outros discursos, com outras pessoas, sendo diferente dependendo de
quem fala ou escuta. É importante para a pesquisa considerar todo o contexto: quem
é o interlocutor, quem é o público ouvinte, qual o contexto social etc.
No caso desta pesquisa, o locutor é sempre um internauta, embora
possam diferir pelo meio utilizado para se comunicar (twitter, e-mail, postagem em
blog) e características pessoais por parte do internauta (profissão, idade,
escolaridade, grau de intimidade para com o assunto e o ouvinte). Já o ouvinte é
sempre o vereador José Thomé; ainda que seu corpo de assessores possa
participar do diálogo, é para o político que as pessoas dirigem sua palavra e
depositam a esperança no encaminhamento de seu pleito.
O dito “discurso” ou “diálogo” pode ser tanto as mensagens trocadas entre
internautas e vereador, na confecção de uma proposta de lei, quanto a própria
proposta, tendo sido feita a várias mãos: de internautas, dos assessores e do
vereador. Esta pesquisa, no entanto, se aterá à segunda ideia, objetivando observar
os vários enunciados dentro de um enunciado, a saber, um projeto de lei ou
indicação.
Espera-se também que a natureza do texto (legislação) e das pessoas
envolvidas (populares e “autoridades”, como costumam ser vistos os políticos no
Brasil) constitua elemento importante na construção dos diálogos.
7
Essa orientação da palavra em função do interlocutor tem uma importância
muito grande. Na realidade, toda palavra comporta duas faces. Ela é
determinada tanto pelo fato de que procede de alguém, como pelo fato de
que se dirige para alguém. Ela constitui justamente o produto da interação
do locutor e do ouvinte. Toda palavra serve de expressão de um em relação
ao outro. Através da palavra, defino-me em relação ao outro, isto é, em
última análise, em relação à coletividade. A palavra é uma espécie de ponte
lançada entre mim e os outros. Se ela se apoia sobre mim numa
extremidade, na outra apoia-se sobre meu interlocutor. A palavra é o
território comum do locutor e do interlocutor. (BAKHTIN, 92: 117)
É este território comum entre locutor e interlocutor que será abordado
neste estudo, na construção de projetos de lei e indicações com a participação
popular através da internet.
2.2 O PARLAMENTO LOCAL
O Brasil é um País no qual três poderes independentes coexistem: o
Judiciário, o Executivo e o Legislativo. O Poder Legislativo existe nas seguintes
instâncias: Câmara dos Deputados, que, em Brasília, fiscaliza o Governo Federal e
cria leis de âmbito nacional, representando o povo; o Senado Federal, também em
Brasília, criado como uma espécie de parlamento superior à Câmara, representando
as unidades da federação (estados); as Assembleias Legislativas9, que em cada
estado fiscalizam o governo estadual e criam leis para a unidade federal respectiva.
E as Câmaras Municipais, nas quais os vereadores fiscalizam a prefeitura e suas
secretarias, além de legislar no âmbito do município.
O que interessa a esta pesquisa é o Legislativo municipal. Composta por
vereadores, são os políticos mais próximos das pessoas comuns, o que traz
peculiaridades. Pela capilaridade, são importantes para agentes políticos de âmbito
estadual e nacional no angariar votos. Vereadores muitas vezes são chamados para
ajudar na resolução de situações comezinhas, como solicitar a macadamização de
uma rua, a implantação de semáforos ou lembrar / homenagear munícipes.
9 Ou, no caso do Distrito Federal, Câmara Legislativa do Distrito Federal.
8
Munícipes estes que, numa cena surreal para deputados e senadores, batem à porta
da casa do vereador para pedir uma cesta básica, tomam café com o eleito,
chamam o político para ser padrinho de batismo do filho. É a relação mais próxima
que temos entre eleitos e eleitorado.
De acordo com o Regimento Interno da Câmara Municipal de Rio do Sul,
a Câmara tem função legislativa de fiscalização financeira, orçamentária e
patrimonial, de controle externo do Executivo, de julgamento político-
administrativo, este de acordo com a legislação pertinente, de organização e
administração dos seus assuntos internos e de gestão dos assuntos de sua
economia interna. (RIO DO SUL, 2010: 1)
Um vereador, na função de fiscalizador do Executivo, pode fazer uso de
Pedidos de Informação, assim questionando alguma atividade da prefeitura ou suas
secretarias. Pode também fazer requerimentos, solicitando, por exemplo, a
instalação de uma Comissão de Inquérito.
As atividades do vereador são deliberadas em dois momentos: nas
reuniões das Comissões Legislativas, nas quais os projetos de lei são discutidos
tecnicamente quanto ao mérito e à constitucionalidade. Aqui a primeira votação de
um projeto de lei é feita, e a votação derradeira é efetuada no segundo e mais
importante momento: as sessões, nas quais, além de votações, os vereadores
fazem uso do plenário para explanar à população assuntos dos mais diversos. É um
recurso importante para aproximar eleito e eleitorado, principalmente porque em
muitas cidades as sessões são televisionadas ao vivo.
Para legislar, um vereador pode criar projetos de lei (complementares,
ordinárias ou delegadas), que determinam sobre assuntos locais e são discutidos
em comissões e votados duas vezes, sendo sujeitos a emendas. As indicações não
são votadas, apenas lidas, e são pedidos para que outro Poder, principalmente o
Executivo, realize uma atividade de sua alçada. As moções são para manifestar
pesar, aplauso ou outro sentimento a uma pessoa ou fato. O legislador também
9
pode criar emendas à Lei Orgânica Municipal, projetos de decretos legislativos e
resoluções, além de pareceres, relatórios, substitutivos, recursos e representações.
2.3 ÁGORA VIRTUAL
Na Grécia antiga havia um espaço no qual a população discutia e
deliberava sobre questões comuns, ou aquilo que hoje chamamos políticas públicas.
Era a chamada ágora, um símbolo da democracia direta. Lá, todos os cidadãos
tinham igual direito a voto. Era o centro da vida pública de uma pólis grega.
Atualmente, no Brasil, apesar de as reuniões parlamentares em todas as
esferas serem reuniões abertas ao público e, muitas vezes, transmitidas por rádio,
tevê e/ou internet, o cidadão comum não tem a mesma acessibilidade da ágora
ateniense para exercer sua cidadania. Primeiro porque, exceto quando no âmbito
municipal, a distância pode ser muito grande para se participar de uma sessão
parlamentar. Segundo porque muitas vezes no horário das sessões legislativas o
cidadão está trabalhando ou estudando. E, por último, porque, ao contrário do que
acontecia na ágora grega, o cidadão brasileiro atual tem muita pouca oportunidade
de participar ativamente da democracia, sendo um mero espectador.
O ciberespaço, além de derrubar as barreiras do espaço e do tempo,
também diminui a questão hierárquica que dificulta o acesso do homem comum às
decisões políticas. A questão autoral também é diferente na internet, com a
possibilidade de um mesmo texto ter diversos autores colaboradores.
O espaço virtual, imbricado com outras temporalidades e outras
territorialidades, destaca-se pela celeridade das informações hipertextuais,
dispostas em rede, as quais possibilitam leituras mais imediatistas pela
associação da expressão verbal e imagens e sons entre outros; mas
ensejam também leituras extensivas, caminhos alternativos para o leitor
que, valendo-se dos nós na rede hipertextual não linear, vê-se coautor, em
um exercício autônomo de produção de sentido de malha textual. Em muitas
situações, as temporalidades são também redimensionadas por
10
atualizações contínuas e quase simultâneas dos fatos, às notícias, aos
múltiplos registros na internet. (VELLOSO, 2008: 4)
O mesmo autor ainda defende que, com as características já citadas, o
ciberespaço pode ser uma nova ágora ateniense, uma ágora virtual, no qual
pessoas se reúnem, mesmo que à distância e em horários diferentes, para fazer
valer seu direito à cidadania, com participação ativa nas decisões do Poder Público.
O cenário virtual, ou ciberespaço, passa a se constituir em importante
território da esfera social, a àgora eletrônica contemporânea, que possibilita
dar visibilidade aos fatos da vida privada, tratar fatos e fenômenos da esfera
pública e sobretudo redimensionar a esfera social. Por seu descentramento
e atropia, como já referido, enseja diluir as concentrações de poder e
ampliar a participação dos atores sociais e a projeção dos diversos
segmentos (...) O ciberespaço não se constitui, por si mesmo, em garantia
de conquistas de democracia, igualdade ou liberdade. É inconteste que, não
obstante os novos parâmetros temporais e territoriais, persistem as
desiguais correlações de força; não apenas de caráter físico, como se viu na
esfera privada a Grécia Antiga, nem tampouco de caráter retórico, como se
assistiu na esfera pública em que a palavra assumia o papel de se por a
serviço da persuasão; mas de caráter simbólico em uma acepção mais
ampla, uma vez que as interações se dão em ambiente diverso do que
historicamente se teve. (VELLOSO, 2008: 5)
11
3. DESENVOLVIMENTO DA PESQUISA
3.1. OS MEIOS
O ponto de partida de toda esta pesquisa é o site do vereador José
Thomé, de Rio do Sul. A seguir, vemos um screenshot da página principal:
Analisemos agora o website em partes, a começar pelo menu superior:
12
O primeiro botão, “projetos”, abre uma nova página, do blog do vereador,
que lista, na íntegra, todos os projetos de lei apresentados na legislatura por seu
gabinete:
Este setor do sistema de comunicação do gabinete é informativo, mas
também permite a interação bem própria dos blogs: o usuário pode comentar cada
projeto de lei, conforme screenshot a seguir:
13
Apesar desta possibilidade, até a data da pesquisa não foram
encontrados comentários nesta parte do site, a não ser comentários postados pela
própria assessoria do edil.
14
O botão “Home”, na página principal, volta para a raiz do site, e o botão
“Perfil” leva para esta página:
Aqui um destaque para os contatos telefônico e por e-mail do vereador. É
a partir destas informações disponíveis que muitos internautas puderam se
comunicar com o gabinete, por meio de e-mails.
3.2. O INTERNAUTA LEGISLANDO
Desde sua estreia na Câmara Municipal de Rio do Sul, em janeiro de
2009, até 22 de fevereiro de 2011, 26 projetos de lei foram propostos pelo gabinete
de José Thomé.
15
No tocante desta pesquisa, que é analisar casos nos quais internautas
contribuíram na elaboração de legislação, comecemos por este caso. Por e-mail,
veio de uma internauta uma proposta ao vereador para instituir o “Programa de
Substituição de Embalagens Plásticas Convencionais por Congêneres
Biodegradáveis”. A propositora em questão era uma funcionária pública de um
município vizinho (Imbuia) que enviou um projeto de lei já redigido, próximo de estar
apto a ser apresentado. A matéria previa que os estabelecimentos comerciais do
município usassem embalagens feitas de materiais renováveis ou recicláveis
(algodão cru ou papel), com prazo de seis meses para as populares sacolas
plásticas saírem de circulação. No entanto, a idéia não virou projeto de lei, mas foi
encaminhada ao Executivo, devido à natureza de sua ementa, onde tramita neste
momento.
Já o projeto de lei n° 087, de 9 de agosto de 2010, que foi sugerido por
internauta através do e-mail, virou a lei municipal n° 5.067, de 6 de novembro de
2010. O projeto em questão autorizou o Executivo Municipal a dar transparência no
cronograma de execução das obras públicas. A ideia era tornar público pelo site da
prefeitura dados gerais da obra, da empreiteira, fase da obra, andamento e local da
tramitação e fotos da obra em andamento. De fato, a prefeitura disponibilizou na
internet o Portal de Transparência, com estas e outras informações disponibilizadas
para a população. O vereador ainda relatou, na justificativa do projeto de lei, que
este foi uma contribuição de um cidadão local.
Um terceiro projeto, já aprovado e sancionado, chegou até o gabinete
também por e-mail. É o projeto de lei n° 125/09, sobre a criação do projeto “Ponto de
leitura” no município. Apresentado em 2 de outubro de 2009, foi sancionado em 16
de março de 2010, quando se tornou a lei n° 4.975. De acordo com o projeto de lei,
o município foi autorizado a criar um “Ponto de leitura”, para incentivar a leitura, a
história e cultura na cidade. Este seria subordinado à Biblioteca Municipal e ao
Museu de Rio do Sul, sendo localizado dentro do terminal urbano de ônibus,
contendo livros, jornais locais e revistas, vindas de doação.
16
Se ainda são poucos os projetos de lei que vieram a partir da grande
rede, o número de indicações10 é maior. A indicação a seguir, por exemplo, foi uma
solicitação de um internauta, recebida pela assessoria do vereador por MSN
Messenger11.
Indicação Nº 045/11
Excelentíssimo Senhor Presidente da Câmara de Vereadores de Rio do Sul
O(a) Vereador(a) que a presente subscreve no uso de suas atribuições
regimentais e após ter ouvido o plenário.
REQUER:
Que o Executivo Municipal, através da Secretaria de Planejamento, estude
a possibilidade de melhorar a sinalização das lombadas na Estrada Boa
Esperança, no Bairro Fundo Canoas.
Além das referidas não estarem pintadas, não há placas de sinalização,
indicando-as.
Tal medida evitará danos em automóveis e possíveis ações contra a
municipalidade.
Sala das Sessões em 13 de dezembro de 2010.
JOSÉ THOMÉ
Vereador Autor.
O texto que acabamos de ver é a redação da indicação pronta,
confeccionada pela assessoria do vereador e ainda com aperfeiçoamentos por parte
da assessoria legislativa da Câmara Municipal de Rio do Sul. O conteúdo original,
entretanto, se perdeu. As duas indicações a seguir também foram originadas no
MSN Messenger, mas seus conteúdos originais também se perderam:
REQUER:
Em virtude do grande fluxo de pessoas que frequentam o parque Harry
Hobus, somando-se o considerável aumento de visitantes que o mesmo irá
receber durante o final de ano, que a Secretaria de Planejamento
10 Indicação é a proposição em que o vereador sugere medidas de interesse público, aos Poderes competentes. Não é matéria sujeita a voto, apenas é lida em plenário e já segue para o Poder competente, geralmente o Executivo, que pode ou não atender a solicitação.11 Aplicativo de mensagens instantâneas bastante popular, cuja utilização no gabinete do vereador José Thomé várias vezes redunda em algum pedido de ação do Poder Público em favor da comunidade.
17
providencie a colocação de mais lixeiras no entorno, bem como dentro do
parque, e que os mesmos sejam recolhidos com a frequência necessária.
Sala das Sessões em 02 de dezembro de 2010.
REQUER:
Que o EXECUTIVO MUNICIPAL, através da SECRETARIA DE OBRAS,
proceda aos reparos na Rua Henrique Muller, no Bairro Pamplona, nas
proximidades da empresa Polimix.
A rua encontra-se em péssimas condições de trafegabilidade. É necessário
assim, a macadamização e o patrolamento da referida rua, com a MÁXIMA
URGÊNCIA.
Sala das Sessões em 28 de fevereiro de 2011.
Já as indicações a seguir foram sugestões recebidas pelo vereador via e-
mail:
REQUER:
Que o Executivo Municipal, através da Secretaria de Obras e Serviços
Públicos tome providência URGENTE para com parte do Loteamento Luiz
Bianchett, no Bairro Taboão, mais precisamente na parte alta do
Loteamento. Pequena Rua à direita, de acesso a casa de número 102 e a
do vizinho ao lado estão impossibilitando a entrada de veículos nas casas,
devido aos enormes valos que a água da chuva fez nos últimos meses. O
serviço de macadamização e patrolagem vem sendo feito constantemente
na rua principal, mas deixado por fazer na rua intermediária. Solicitação do
morador XXXXXXXXXXXXXXXX12.
REQUER:
Que o executivo municipal, através da Secretaria de Obras e Serviços
Públicos tome providência para com a Travessa Petrópolis, no Bairro Boa
Vista. Problemas com entupimento de bocas de lobo são constantes, devido
à má conservação da rua. A solicitação, para solucionar momentaneamente
o problema, seria o patrolamento e a colocação de cascalho. Pedido feito
pelo morador Adriano Batista Amaral.
12 Por questões de privacidade e segurança, os dados pessoais dos internautas que se comunicaram com o gabinete do vereador José Thomé não serão divulgados.
18
Nota-se que, na indicação citada, o vereador inclusive faz a menção do
morador que solicitou a melhoria.
REQUER:
Que o Executivo Municipal, através da Secretaria de Obras proceda às
manutenções em torno da Rua Acadêmico Nilo Marchi, Bairro Centro.
Problemas no calçamento e nas calçadas, que foram feitas recentemente
pela Prefeitura, estão apresentando sérios problemas. Algumas casas estão
com 100% das suas calçadas totalmente destruídas, devido à má
compactação das lajotas, quando a obra foi feita.
Pedido de todos os moradores da Rua
Sala das Sessões em 23 de março de 2009.
REQUER:
Com urgência, que o Executivo Municipal proceda à colocação de uma faixa
de segurança, redutores de velocidade e uma placa de identificação na rua
em frente ao Centro de Educação Infantil Favinho de Mel II, localizado na
Rua Bulcão Viana, Bairro Jardim América.
De acordo com o histórico das solicitações da APP, o pedido está sendo
feito há pelo menos três anos e a prefeitura ainda não tomou previdências.
Tais solicitações já foram feitas através dos seguintes expedientes
- Oficio em 09/05/2005 à Secretária de Educação de Rio do Sul;
- Memorando em 21/02/2007 à Sandra Comper;
- Memorando da Prefeitura Municipal de Rio do Sul em 31/07/2008 ao
Comandante da Guarda Municipal solicitando orientação de trânsito na rua
em frente a esta unidade;
- Memorando em 19/08/2008 ao Depto. de Trânsito/Secretaria de
Planejamento;
- Memorando em 26/09/2008 da Prefeitura Municipal de Rio do sul ao
Favinho de mel informando que seria feita a faixa de segurança, sem data
de conclusão;
- Memorando em 16/03/2009 à Secretaria de Planejamento;
- Contato telefônico após este último memorando do dia 16/03/2009, onde
foi informado que estava dependo da Secretaria de Obras;
- Enviado Oficio em 09/04/2009 à Secretaria de Obras.
Sala das Sessões em 15 de junho de 2009.
19
A seguir temos exemplos da população atuando junto ao vereador: as
solicitações, vindas por e-mail, foram anexadas à indicação. Lembrando que é no
website do vereador que este disponibiliza seu e-mail, permitindo ser contatado pela
população desta maneira.
Indicação Nº 016/09
Excelentíssimo Senhor Presidente da Câmara Municipal de Rio do Sul
O Vereador que a presente subscreve no uso de suas atribuições
regimentais e após ter ouvido o plenário etc...
REQUER:
Que o executivo municipal, através da Secretaria de Obras e Serviços
Públicos tome providência para com a Rua Henrique Schultz, no Bairro
Laranjeiras, afetada gravemente pelas chuvas que ocorreram nos últimos
dias, dificultando inclusive a passagem de pedestres e automóveis pela rua.
Pedido feito pela moradora XXXXXXXX.
Sala das Sessões em 09 de fevereiro de 2009.
JOSÉ THOMÉ
Vereador Autor.
Indicação Nº 017/09
Excelentíssimo Senhor Presidente da Câmara Municipal de Rio do Sul
O Vereador que a presente subscreve no uso de suas atribuições
regimentais e após ter ouvido o plenário etc...
REQUER:
Que o executivo municipal, através da Secretaria de Obras e Serviços
Públicos tome providência para com a Estrada do Acre, no Bairro
Laranjeiras. A rua tornou-se intrafegável devido às chuvas e precisa
urgentemente de patrolamento e macadamização. Pedido feito pelo
morador XXXXXXXX.
Sala das Sessões em 09 de fevereiro de 2009.
JOSÉ THOMÉ
Vereador Autor.
Indicação Nº 042/09
Excelentíssimo Senhor Presidente da Câmara Municipal de Rio do Sul
O Vereador que a presente subscreve no uso de suas atribuições
regimentais e após ter ouvido o plenário etc...
20
REQUER:
Que o executivo municipal, através da Secretaria de Obras e Serviços
Públicos tome providência para com as Ruas Henrique Schultz e Ladeira
Araranguá, no Bairro Laranjeiras. Praticamente todas as bocas de lobo das
duas ruas estão entupidas e grandes valetas se formaram ao longo do
percurso, impossibilitando a passagem dos automóveis. Pede-se que seja
desentupido o mais rapidamente as bocas de lobo e macamização e
patrolamento na rua são indispensáveis para que ofereça trafegabilidade
normal.
Solicitação do morador XXXXXXXXXXXXX.
Sala das Sessões em 19 de fevereiro de 2009.
José Thomé
Vereador Autor.
Indicação Nº 078/09
Excelentíssimo Senhor Presidente da Câmara Municipal de Rio do Sul
O Vereador que a presente subscreve no uso de suas atribuições
regimentais e após ter ouvido o plenário etc...
REQUER:
Que o Executivo Municipal, através da Secretaria de Obras e Serviços
Públicos, tome providências URGENTES para com a Rua Roberto Holler,
Bairro Laranjeiras.
Devido às chuvas fortes, a rua tornou-se intransitável, e os moradores não
estão mais conseguindo chegar as suas casas com os veículos.
Enormes quantidades de água acumulam-se nas laterais da rua, uma vez
que as bocas-de-lobo estão entupidas, impossibilitando a passagem de dois
carros ao mesmo tempo, devido ao curto espaço.
Pedido feito pelo morador XXXXXXXXXXX
Sala das Sessões em 9 de março de 2009.
JOSÉ THOMÉ
Vereador Autor.
Indicação Nº 322/09
Excelentíssimo Senhor Presidente da Câmara Municipal de Rio do Sul
O Vereador que a presente subscreve no uso de suas atribuições
regimentais e após ter ouvido o plenário etc...
REQUER:
Que o Executivo proceda à macadamização e patrolamento da Rua Ernesto
Michelsom, bairro Bela Aliança (na subida da Serraria do Fronza), pois a
21
estrada está intransitável, impedindo acesso de mais de 10 famílias para
suas casas.
O pedido é feito pelo morador XXXXXXXXXXXXXXX.
Sala das Sessões em 29 de junho de 2009.
JOSÉ THOMÉ
Vereador Autor.
Indicação Nº 362/09
Excelentíssimo Senhor Presidente da Câmara Municipal de Rio do Sul
Os Vereadores que a presente subscrevem no uso de suas atribuições
regimentais e após terem ouvido o plenário etc...
REQUEREM:
Que o Executivo Municipal, proceda, com caráter EMERGENCIAL, à
macadamização e patrolamento da Rua Ernesto Michelson, bairro Bela
Aliança (na subida da Serraria do Fronza), reiterando Indicação Nº 322/09,
bem como a colocação de uma boca-de-lobo.
A estrada está intransitável, impedindo acesso de mais de 10 famílias para
suas casas, além de impedir que diversos clientes tenham acesso à referida
Serraria, causando enormes prejuízos.
O pedido partiu da moradora XXXXXXXXXXX
Sala das Sessões em 27 de julho de 2009.
JOSÉ THOMÉ ALMIR CECÍLIO DA COSTA
Vereadores Autores.
Indicação Nº 028/11
Excelentíssimo Senhor Presidente da Câmara de Vereadores de Rio do Sul
O Vereador que a presente subscreve no uso de suas atribuições
regimentais e após ter ouvido o plenário.
REQUER:
Que a secretaria de obras e serviços urbanos proceda aos reparos da rua
Augusto Munsfeld, no bairro Fundo Canoas. De acordo com moradora da
rua (e-mail abaixo) a rua encontra-se intransitável devido à construção de
um Loteamento nas proximidades.
‘Nome:XXXXXXX
E-Mail:[email protected]
Telefone:XXXXXX
Fundo canoas, Agustus minsfeld XXXXX
Rio do sul, Estado SC
22
Comentários:
Boa noite, gostaria de pedir a sua ajuda para resolver o problema da nossa
rua. Há dias em que não conseguimos mais tirar o carro de casa, e até
perdemos trabalho por conta disso. Foi feito um loteamento sem a mínina
infraestrutura. Não ha mais condições de moradia, e eles não estão nem aí,
na minha casa chega a entrar água’ (sic).
Atenciosamente,
Sala das Sessões em 21 de fevereiro de 2011
JOSÉ THOMÉ
Vereador AutoR.
Indicação Nº 009/11
Excelentíssimo Senhor Presidente da Câmara de Vereadores de Rio do Sul
O Vereador que a presente subscreve no uso de suas atribuições
regimentais e após ter ouvido o plenário.
REQUER:
Conforme solicitação de morador transcrita no corpo desta indicação, que a
prefeitura municipal através da secretaria de obras proceda ao patrolamento
e a macadamização da Rua Antônio José Polezza, no bairro Bremer. A rua
encontra-se intransitável e necessita urgentemente de reparos.
‘De: XXXXX [mailto:[email protected]]
Enviada em: quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011 16:23
Para: [email protected]
Assunto: Urgênte Rua Gessi
‘Boa tarde Thomé
Conforme conversamos solicito que se possível providencie uma maquina
para arrumar a rua da minha casa o endereço é:
Rua XXXXXXXXX – Bairro Bremer – loteamento João Paulo II – Rio do Sul
– SC. ( subindo pelo loteamento santa Monica )
Cara ta feio o negócio La e só esta piorando, agora não consigo mais entrar
com o carro na minha casa. Manda alguém La urgente.
Um Abraço
XXXXXXX’ (sic)
Sala das Sessões em 07 de fevereiro de 2011.
Indicação Nº 525/10
23
Excelentíssimo Senhor Presidente da Câmara de Vereadores de Rio do Sul
O Vereador que a presente subscreve no uso de suas atribuições
regimentais e após ter ouvido o plenário.
REQUER:
Reiterando indicação já feita por este vereador, solicito a secretaria de obras
que tome providência para com a rua, Elizabeth Jasper, no bairro Fundo
Canoas. De acordo com relato de morador (transcrito abaixo) a rua
encontra-se em péssimas condições de trafegabilidade e necessita urgente
de reparos. Da mesma forma solicito a secretaria de planejamento uma
resposta com relação à pavimentação da mesma, que é aguardada pelo
moradores há bastante tempo.
De: XXXXXX [mailto:[email protected]]
Enviada em: quinta-feira, 25 de novembro de 2010 23:05
Para: Thomé
Assunto: Rua Elizabeth Jasper - Fundo Canoas
‘Boa noite Thome, você conseguiu ver algo sobre essa rua??? porque a
cada dia esta pior.... já adotamos um tema para a rua, " NADA É TÀO
RUIM QUE NÃO POSSA PIORAR!!!!", nessa semana já passou
reportagem na TV BA, rádio mirador.... Gostaria de saber se vc tem como
nos auxiliar para que possa ser agilizado o processo de asfalto, pois os
moradores da rua estão cada vez mais REVOLTADOS E INDIGNADOS
COM O SERVIÇO DA PREFEITURA, e não só nesta rua, da estrada geral
então, ixxx nem se fala... O ASFALTO AQUI FICOU SÓ EM PROMESSA
DE CAMPANHA... MAIS QUERO QUE LEVE A MENSAGEM AO NOSSO
PREFEITO, NOVA ELEIÇÃO LOGO TA CHEGANDO, E COM CERTEZA
VAMOS LEMBRAR DO QUE ESTA SENDO PELO BAIRRO FUNDO
CANOAS!!! Peço desculpas em estar encomodando, mais falo em nome
dos moradores da rua e precisamos de ajuda!!!! obrigada ,XXXXXX’ (sic).
Sala das Sessões em 02 de dezembro de 2010.
JOSÉ THOMÉ - PMDB
Vereador Autor.
Indicação Nº 373/09
Excelentíssimo Senhor Presidente da Câmara Municipal de Rio do Sul
O Vereador que a presente subscreve no uso de suas atribuições
regimentais e após ter ouvido o plenário etc...
REQUER:
24
Que o Executivo Municipal faça estudos junto a Secretaria de Planejamento,
para implantação de uma lombada eletrônica na Rua XV de Novembro,
diminuindo os acidentes e congestionamentos da mesma.
As ruas laterais que, dão acesso a Rua XV, são de certa maneira perigosas,
pois existe pouca visibilidade para a rua principal, e a velocidade com que
os motoristas trafegam pela rua XV costuma ser alta.
Segue e-mail de relato de morador da localidade.
‘De: XXXXXXXXXXX [mailto:[email protected]]
Enviada em: segunda-feira, 27 de julho de 2009 16:28
Para: [email protected]
Assunto: redutor de velocidade na rua xv
Prezado Sr Jose Thome.
Sou morador da Rua XV de Novembro na altura do Unibanco, como ja
presenciei vários acidentes nessa região, gostaria de atraves desse lhe
pedir encarecidamente para que fosse considerada a possibilidade de
implantação de um redutor de velocidade nessa via.
Desde ja agradeço.
Att.
XXXXXXXXXXXXXXXX
47 XXXXXXXXXX’ (sic).
Sala das Sessões em 03 de agosto de 2009
JOSÉ THOMÉ
Vereador Autor.
Indicação Nº 524/10
Excelentíssimo Senhor Presidente da Câmara de Vereadores de Rio do Sul
O(a) Vereador(a) que a presente subscreve no uso de suas atribuições
regimentais e após ter ouvido o plenário.
REQUER:
Que o Executivo Municipal, através da Secretaria de Planejamento, proceda
a estudos para implantação de redutores de velocidade na Rua Bulcão
Viana, no Bairro jardim América, do trecho que parte da Secretaria de Obras
ao final da rua.
De acordo com relato de morador (email em anexo) a rua encontra-se muito
perigosa para o tráfego de pedestres, onde veículos passam em alta
velocidade durante todo o dia.
‘De: XXXXXXX [mailto:[email protected]]
25
Enviada em: sexta-feira, 19 de novembro de 2010 17:18
Assunto: Solicitação
Senhores vereadores,
Como muitos sabem sou morador da rua Bulcão Viana no trecho sem
pavimentação. Pois bem, mesmo os caminhões pipas passando
regularmente amenizando a poeira visível não resolve, e ultimamente ainda
virou pista de corrida por carros e caminhões, inclusive os da Secretaria de
Obras que não respeitam a placa de indicação 30 km h. E o pior de tudo é
que jovens embalados em seus potentes sons ensurdecedores, motivados
pela facilitação (sem redutores e muito menos fiscalização ) aproveitam a
situação para os famosos cavalos de pau, em qualquer dia e horário, pondo
em risco os usuários, nossos filhos e á eles mesmos.
Em conversa com moradores da rua e em comum acordo solicitamos
redutores de velocidade pelo menos dois pontos do trecho entre Secretária
de Obras e final da rua.
Aguardo uma posição.
XXXXXX’ (sic).
Sala das Sessões em 02 de dezembro de 2010.
JOSÉ THOMÉ
Vereador Autor.
Indicação Nº 457/10
Excelentíssimo Senhor Presidente da Câmara de Vereadores de Rio do Sul
O(a) Vereador(a) que a presente subscreve no uso de suas atribuições
regimentais e após ter ouvido o plenário.
REQUER:
Que o executivo municipal tome providências para com a Rua Rafael
Rossa, no bairro Fundo Canoas. Uma pequena parte da rua, cerca de 25
metros, foi deixada de lado e não foi calçada. Segue abaixo, relato de
morador da rua, com fotos anexo, para que o executivo possa ter em mãos
informações suficientes e possa também tomar o devido encaminhamento.
‘Prezado Vereador
Sou um cidadão Riosulense que fixei residencia na rua mais problemática
de Rio do Sul, que é a Papa João XXIII localizada no Fundo Canoas, rua
26
esta que já é do conhecimento de muitos e já foi solicitada atenção e
solução para a mesma, mas até o momento nada definitivo foi feito.
Enquanto aguardamos uma solução que parece estar tão distante, nos
alegramos em parte com uma opção que surgiu com a criação do
Loteamento de Rafael Rossa situado uma rua adiante da Papa João XXIII,
loteamento esse que já se encontra calçado, nos dando uma opção de subir
por esta rua para depois acessar a nossa rua pelo acesso lateral que liga a
Papa João XXIII com o referido loteamento. O problema é que os
proprietários do loteamento calçaram a parte que é de propriedade deles,
deixando 25 metros restante até a nossa rua em barro atolador, trecho esse
de responsabilidade da prefeitura.
Pedimos a ajuda para que intercedam por alguns moradores, fazendo com
que a prefeitura calce os 25 metros restantes para que possamos chegar
em nossas casas por este acesso, enquanto aguardamos uma solução para
a nossa tão ruim Papa João XXIII.
OBS: Anexo fotos para entenderem a situação’ (sic).
Sala das Sessões em 14 de outubro de 2010.
JOSÉ THOMÉ
Vereador AutoR.
Destaque também para a ideia de projeto de lei que veio do botão “Ideia
de projeto”, no website do vereador José Thomé. Ainda não se tornou lei, mas
demonstra a utilização das ferramentas de interação do website como gabinete
virtual.
Enviada em: segunda-feira, 22 de junho de 2009 10:21
Para: [email protected]
Assunto: Página Web - IDÉIA de PROJETO - XXXXXX
Nome: XXXXX
E-Mail: XXXXX
Telefone: XXXXX
27
Comentários:
Oláa Eu vi uma necessidade muito
grande em lixeiras pela cidade, pois
os lixos se acumulam pelos cantos
pela falta de lixeiras, em principal
pela avenida e centro. :D Assim
também vamos consientizar as
pessoas a manterem a cidade
limpa...e cuidar do meio ambiente...
Obrigada por nos ouvir... em fim
conseguimos eleger uma pessoa
Jovem cheia de idéias e que aceita
sugestões.. ;DDD aguardo mt
ansiosa (sic).
Já no exemplo abaixo, o website foi usado para cobrar do vereador o
acompanhamento de uma indicação já solicitada, numa função de fiscalização do
Poder Executivo.
Nome:
XXXXXXXXXX
E-Mail:
Telefone:
XXXXXX
Comentários:
Bom dia Thomé! Gostaria de agradecer primeiramente a sua indicação, para
instalação de zona azul no estacionamento do Condomínio Vitório
Fornerolli(antiga rodoviária), mas como você deve ter presenciado, ainda
não foi efetivado. Pedimos a gentileza se você puder cobrar do
departamento competente. Uma indicação que gostariamos de fazer seria a
instalação nas proximidades do Bazar do Vavá na Av Oscar Barcelos um
28
espaço para carga e descarga. Se você quizer ver os espaço posso lhe
mostar pessoalmente nos fazendo uma visita. Obrigado Grande Abraço
Hélcio Angelo Machado Cechet (Bazar do Vavá) (sic).
3.3. PARLAMENTO DIALÓGICO
É por meio das mensagens que o vereador recebe que podemos estudar
o dialogismo nesta pesquisa. Isto porque o dialogismo não é visto apenas em
críticas literárias, mas é aplicável para quaisquer expressões de comunicação.
O próprio Bakhtin parece autorizar essa impressão de que o ‘dialogismo’
ocupa posição central em sua obra, dizendo: ‘Por toda parte ouço vozes e
as relações dialógicas entre elas’. Escreveu também em Problemas da
poética de Dostoievski: ‘Ser significa comunicar-se dialogicamente. Quando
termina o diálogo, tudo termina’. A palavra ‘dialogismo’, porém, é rica
demais em ressonâncias filosóficas e literárias. Chega a ser embaraçosa de
tão polissêmica; por esse motivo foi apropriada pelas correntes mais
diversas e politicamente heterogêneas.
Gostaria, agora, de refletir sobre alguns aspectos do dialogismo e sua
relevância para o cinema e para os estudos culturais em geral. Podemos
começar definindo o dialogismo como a relação necessária entre um
enunciado e outros enunciados, utilizando a palavra ‘enunciado’ no sentido
amplo que lhe dá Bakhtin. Em ‘A Questão dos Gêneros do Discurso’,
Bakhtin oferece uma formulação clara do dialogismo do enunciado: ‘Os
enunciados não são diferentes uns aos outros, nem auto-suficientes; são
mutuamente conscientes e refletem um ao outro... Cada enunciado é pleno
de ecos e reverberações de outros enunciados, com os quais se relaciona
pela comunhão da esfera da comunicação verbal. Cada enunciado refuta,
confirma, complementa e depende dos outros; pressupõe que já são
conhecidos, e de alguma forma os leva em conta’. (STAM, 2000: 72, 73)
Observemos este e-mail:
De: XXXXX [mailto:[email protected]]
Enviada em: quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011 16:23
Para: [email protected]
29
Assunto: Urgênte Rua Gessi
Boa tarde Thomé
Conforme conversamos solicito que se possível providencie uma maquina
para arrumar a rua da minha casa o endereço é:
Rua XXXXXXXXX – Bairro Bremer – loteamento João Paulo II – Rio do Sul
– SC. ( subindo pelo loteamento santa Monica )
Cara ta feio o negócio La e só esta piorando, agora não consigo mais entrar
com o carro na minha casa. Manda alguém La urgente.
Um Abraço
XXXXXXX (sic).
Neste e-mail há uma peculiaridade interessante: pouco se vê da
formalidade que se poderia esperar, em se falar com um vereador. Aqui não se
percebem as vozes anteriores que remetem ao respeito a uma autoridade
constituída, mas o internauta parece falar com o político como quem conversa com
um amigo. Ele não se refere ao parlamentar como “Vossa Excelência”, “Prezado”, e
nem mesmo “Senhor” ou “Vossa Senhoria”, mas como “Cara”, uma forma de
tratamento bastante informal e normalmente reservada a quem se tem alguma
intimidade. Outro traço que conota intimidade e informalidade é a despedida: em vez
de “respeitosamente” ou “cordialmente”, ele se despede com “um abraço”. Também
se percebe ressoar as vozes da falta de conhecimento acerca das reais funções dos
Poderes no Brasil, de uma forma geral, e em Rio do Sul, particularmente. O
internauta solicita ao vereador “manda alguém lá urgente”, para “arrumar a rua”.
Esta é uma função da Secretaria Municipal de Obras. O próprio vereador José
Thomé reconhece esta realidade: “A assessoria da Câmara pode ir para a praça,
colocar um banner bem grande e fazer com que a sociedade dê sua ideia de projeto.
O cidadão vai martelar, vai pedir que o vereador melhora sua rua, e alguém pode
explicá-lo que se trata de uma função do Executivo”13.
O exemplo a seguir é outro mensagem que virou indicação:
Prezado Vereador
Sou um cidadão Riosulense que fixei residencia na rua mais problemática
de Rio do Sul, que é a Papa João XXIII localizada no Fundo Canoas, rua
13 Conforme Anexo A, que contém entrevista com o vereador José Thomé.
30
esta que já é do conhecimento de muitos e já foi solicitada atenção e
solução para a mesma, mas até o momento nada definitivo foi feito.
Enquanto aguardamos uma solução que parece estar tão distante, nos
alegramos em parte com uma opção que surgiu com a criação do
Loteamento de Rafael Rossa situado uma rua adiante da Papa João XXIII,
loteamento esse que já se encontra calçado, nos dando uma opção de subir
por esta rua para depois acessar a nossa rua pelo acesso lateral que liga a
Papa João XXIII com o referido loteamento. O problema é que os
proprietários do loteamento calçaram a parte que é de propriedade deles,
deixando 25 metros restante até a nossa rua em barro atolador, trecho esse
de responsabilidade da prefeitura.
Pedimos a ajuda para que intercedam por alguns moradores, fazendo com
que a prefeitura calce os 25 metros restantes para que possamos chegar
em nossas casas por este acesso, enquanto aguardamos uma solução para
a nossa tão ruim Papa João XXIII.
OBS: Anexo fotos para entenderem a situação. (sic)
Aqui já observamos as vozes anteriores no que remete ao respeito e
formalidade para com autoridades constituídas. O internauta começa com “Prezado
Vereador”, como se estivesse redigindo um ofício, e não uma simples mensagem
eletrônica. Chama a atenção também quando o morador pede que “interceda” pelos
locais. “Interceder” pode lembrar as vozes do catolicismo no qual se ora para beatos
e santos, principalmente Maria, para “interceder pelos pecadores”. Tal observação é
de cunho meramente conotativo, e não denotativo. Analisemos, então, um outro e-
mail que virou indicação:
Nome:XXXXXXX
De: XXXXXX [mailto:[email protected]]
Enviada em: quinta-feira, 25 de novembro de 2010 23:05
Para: Thomé
Assunto: Rua Elizabeth Jasper - Fundo Canoas
Boa noite Thome, você conseguiu ver algo sobre essa rua??? porque a
cada dia esta pior.... já adotamos um tema para a rua, " NADA É TÀO
RUIM QUE NÃO POSSA PIORAR!!!!", nessa semana já passou
reportagem na TV BA, rádio mirador.... Gostaria de saber se vc tem como
nos auxiliar para que possa ser agilizado o processo de asfalto, pois os
moradores da rua estão cada vez mais REVOLTADOS E INDIGNADOS
31
COM O SERVIÇO DA PREFEITURA, e não só nesta rua, da estrada geral
então, ixxx nem se fala... O ASFALTO AQUI FICOU SÓ EM PROMESSA
DE CAMPANHA... MAIS QUERO QUE LEVE A MENSAGEM AO NOSSO
PREFEITO, NOVA ELEIÇÃO LOGO TA CHEGANDO, E COM CERTEZA
VAMOS LEMBRAR DO QUE ESTA SENDO PELO BAIRRO FUNDO
CANOAS!!! Peço desculpas em estar encomodando, mais falo em nome
dos moradores da rua e precisamos de ajuda!!!! obrigada , XXXXXX (sic).
Aqui, mais uma vez, não ouvimos as vozes do respeito e formalidade para
com autoridades constituídas, mas sim a indignação. Esta fica patente pelos “gritos”
(escrever com caixa alta é interpretado, na internet, como gritar), bem como todo o
texto denota revolta. Entretanto, se nota também uma voz bem comum na realidade
brasileira: a sensação de que, como políticos são vistos como autoridades, estão um
degrau acima dos demais. É o que a moradora conota ao dizer “peço desculpas em
estar incomodando”. Se o vereador é eleito para representar a população e fiscalizar
o Executivo, entre outras coisas, ele não está sendo “incomodado” ao escutar os
anseios da população, e sim cumprindo sua obrigação moral e regimentar.
A seguir, mais um e-mail:
De: XXXXXXXXXXX [mailto:[email protected]]
Enviada em: segunda-feira, 27 de julho de 2009 16:28
Para: [email protected]
Assunto: redutor de velocidade na rua xv
Prezado Sr Jose Thome.
Sou morador da Rua XV de Novembro na altura do Unibanco, como ja
presenciei varios acidentes nessa regiao, gostaria de atraves desse lhe
pedir encarecidamente para que fosse considerada a possibilidade de
implantação de um redutor de velocidade nessa via.
Desde ja agradeço.
Att.
XXXXXXXXXXXXXXXX
47 XXXXXXXXXX (sic).
32
Nesta mensagem é patente o respeito e formalidade. Começa na
saudação, “Prezado Senhor”, e no corpo da mensagem o cidadão quase “implora”
por um serviço público, como se este fosse um “favor”. Ele diz “pedir
encarecidamente para que fosse considerada a possibilidade de implantação”, em
vez de simplesmente reivindicar ou solicitar. As vozes referentes ao respeito para
com um vereador ficam claras.
33
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O exemplo do site do vereador José Thomé, de Rio do Sul-SC, mostrou
dispor de ferramentas que viabilizam uma extensão eletrônica para seu gabinete.
Esta intenção é clara não só pela construção de seu website mas também pelas
palavras do parlamentar.
Corrobora para tanto os projetos de lei e indicações que se tornaram
realidade, tendo outrora sido concebidos por internautas, e cujo teor chegou ao
conhecimento do vereador por meio de MSN Messenger, e-mail ou as ferramentas
internas do website. Mesmo quando a demanda veio por e-mail, este foi
disponibilizado pelo website e assim a população pôde saber como contatar o edil.
A muito baixa utilização da ferramenta de comentários do blog do
legislador, onde se pode comentar projetos propostos por este, parece ser um
problema de natureza não-técnica. A utilização deste meio é bastante rápida e fácil,
ou seja, tecnicamente, a ferramenta de interação do blog, na qual se comenta, como
em um fórum, um projeto de autoria do vereador, tem as condições técnicas para
servir de extensão virtual do gabinete. Sua baixa utilização parece ter causas como
pouca ênfase e publicidade sobre sua existência, além de fatores socioculturais.
O mesmo pode ser dito para a ferramenta no website na qual o internauta
pode enviar uma ideia de projeto de lei. Esta é tecnicamente viável e disponível,
porém vem sendo pouco utilizada pelos usuários, deliberadamente. Todavia, mesmo
as poucas participações existentes já são importantes para viabilizar a ideia de
gabinete eletrônico.
Para a existência de um gabinete virtual, que funcione como ágora
eletrônica, não basta que existam condições técnicas, mas o vereador e sua
assessoria precisam valorizar, ouvir e defender os cidadãos que, pela internet,
buscam seu auxílio. Os projetos de lei e indicações propostos por internautas
corroboram para afirmar que, no caso do website do vereador José Thomé, isto
34
existe. A efetivação de medidas públicas a partir de reivindicações populares no
mundo virtual é um resultado concreto do exercício da democracia e da cidadania
pela internet.
O fato de que a maior ferramenta de interação é o e-mail, cujo endereço
eletrônico é disponibilizado na website do vereador José Thomé, parece ser uma
escolha deliberada dos usuários e, como as demais ferramentas disponíveis, para
seu fim, tem funcionado, isto é, a mensagem do popular chega ao vereador e ele a
transforma em legislação.
Quanto à polifonia, a análise das mensagens eletrônicas que viraram
legislação trouxe informações peculiares. Em algumas delas, a linguagem é informal
como se fosse uma simples conversa entre amigos. Em outras, é patente a
indignação e a impaciência.
Na maior parte delas, no entanto, se percebe que as vozes anteriores que
enxergam no político uma autoridade, o que é próprio do brasileiro, estão presentes.
A formalidade e o respeito a uma autoridade constituída eram claros em muitos e-
mails analisados.
Isto faz parecer que o internauta realmente lembra que está lidando com
uma autoridade constituída e a trata de maneira diferente, ainda que, talvez, o faça
inconscientemente. Ou seja, “o receptor é ‘imaginarizado’, de maneira singular, por
diferentes ‘contratos de leitura’ estabelecidos pelo campo da emissão, no interior de
um mesmo suporte (NETO, 1995: 196).
A empregada se dirige à patroa como 'senhora', enquanto a patroa chama a
empregada de 'você'. A mesma palavra, sendo pronunciada por um
camponês, um operário, um intelectual ou um empresário, não é
exatamente a mesma palavra. (STAM, 2003: 31)
Para futuros estudos e também para aplicações profissionais por parte
das assessorias de comunicação, o estudo conclui que é real a participação do
35
internauta na construção da cidadania e da democracia. É real, importante e,
acredito, indispensável, pois boas ideias podem vir por meio da interação na grande
rede, além desta ser uma grande ferramenta para medir a adesão popular de
determinada legislação ou agente público. Caberá às assessorias de comunicação
crias campanhas e incentivos para que as técnicas disponíveis sejam utilizadas pela
população. E, para futuras pesquisas, fica a sugestão de se estudar os aspectos
socioeconômicos que possam influenciar na utilização das ferramentas da rede na
participação da cidadania. Outra sugestão é se estudar ferramentas específicas
nesta construção da cidadania, como as redes sociais e os aplicativos de
mensagens instantâneas.
36
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
Obras citadas:ABE, Amauri. O rádio que cura: análise das falas do programa radiofônico Arca em
sua casa. Joinville: Ielusc, 2006.
BAKHTIN, Mikhail (VOLOCHINOV, V.N.). Marxismo e filosofia da linguagem. São
Paulo: Editora Hucitec, 1992.
DANIEL, Silvana Cristina Andrade. Lobby e Relações governamentais. Brasília:
FGF, 2010.
RIO DO SUL. Resolução n° 597, de 13 de dezembro de 2010. Institui o Regimento
Interno da Câmara Municipal de Rio do Sul. Diário Oficial dos Municípios de Santa
Catarina. Ed. 636 15/12/2010.
STAM, Robert. Bakhtin: da teoria literária à cultura de massa. São Paulo: Ed. Ática,
2000.
VELLOSO, Ricardo Viana. O ciberespaço como ágora eletrônica na sociedade
contemporânea. Ci. Inf., vol.37 no.2 Brasília mar./ago. 2008.
Material de apoio:
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988.
ECO, Umberto. Como se faz uma tese. São Paulo: Ed. Perspectiva, 2004.
FERNANDES, Breno; GOMES, Wilson; REIS, Lucas e SILVA, Tarcizio. POLITICS
2.0: A CAMPANHA ON-LINE DE BARACK OBAMA EM 2008. In : Rev. Sociol. Polít.,
Curitiba, v. 17, n. 34, p. 29-43, out. 2009.
LÉVY, Pierre. Ciberdemocracia. Lisboa: Instituto Piaget, 2003.
37
NETO, Antônio Fasuto. A deflagração dos sentidos: Estratégias de produção e de
captura da recepção. In: SOUZA, Mauro Wilton de (org). Sujeito: o lado oculto do
receptor. São Paulo: Editora Brasiliense, 1995.
VERÓN, Eliseo. Fragmentos de um tecido. São Leopoldo: Unisinos, 2005.
38
ANEXO A – ENTREVISTA COM O VEREADOR JOSÉ THOMÉ
Pesquisador: O senhor é filho de um ex-deputado14. Como isto
influenciou o senhor politicamente falando?
José Thomé: Eu cresci ouvindo sobre o meu pai e sua trajetória política.
O perdi quanto eu tinha seis anos de idade, ele já estava fora do processo político e
eu não tive a oportunidade de acompanhar suas caminhadas políticas. Entretanto,
como militante do Movimento Democrático Brasileiro15, que lutou pela
redemocratização do País, para se voltar a viver dentro de um processo
democrático. Ele foi também o primeiro deputado federal eleito pelo MDB no Alto
Vale16, sendo também vice-prefeito de Rio do Sul e empresário, gerando muitos
empregos no ramo do comércio, durante 35 anos. Sem dúvida, veio de casa este
desejo de participar do processo político, de você, enquanto detentor de um
mandato, causar impactos positivos na sociedade. Cito dois exemplos: a luta pela
equiparação do nível salarial no Brasil, que antigamente eram três e aqui no Alto
Vale era o pior nível salarial do Brasil, e a luta pela unificação do salário mínimo no
Brasil, sendo que a autoria do projeto no Congresso Nacional foi dele, e virou
realidade no Brasil inteiro, dando as mesmas condições financeiras para todos os
trabalhadores no Brasil. O atestado admissional para emprego: antes quem pagava
era o empregado, hoje é o empregador, o que fez isto mudar foi um projeto de lei do
meu pai. Um deputado que representava o Alto Vale, que discutia ações para todo o
Brasil, dentro da minha casa, de meu seio familiar, e isso me inspirou para entrar na
política.
Pesquisador: Quando o senhor efetivamente começou a caminhada para
a carreira política?
14 José Thomé, já falecido, foi deputado federal pelo MDB na 45ª legislatura (1975 – 1979).15 MDB, partido político que fez o contraponto com a ARENA no período do governo militar, tendo sido fundado em 1966. Tornou-se o atual PMDB, em 1980, e de suas muitas correntes surgiram ainda o PT, o PDT e o PSDB.16 O Alto Vale do Itajaí é a microrregião a qual o município de Rio do Sul pertence, sendo inclusive considerada sua “capital”, por ser sua mais populosa cidade e ser um centro para as cidades vizinhas.
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José Thomé: Eu tinha 17 anos quando me filiei ao PMDB, em 2003, e a
eleição foi em 2008, quando eu já estava há cinco anos no partido. Sempre pelo
movimento jovem, levando a juventude a participar das decisões políticas. É uma
grande bandeira nossa: fazer com que a juventude, mesmo que não queira
concorrer a cargos eletivos, mas que possa estar inteirada sobre a função do Poder
Executivo, do Poder Legislativo, pois há hoje uma confusão cultural muito grande,
funcional, dos poderes. Aos 17 comecei a participar de reuniões, envolver jovens,
militamos na JPMDB17 de Rio do Sul, que é um segmento importante do partido.
Fomos nos identificando cada vez mais, apoiando candidatos a vereador, a
deputado, e aí conhecendo efetivamente a sociedade. Esta questão de investir na
carreira política envolve a questão do conhecimento social, de conhecer melhor a
sociedade riossulense, conhecer os pontos fracos e saber onde temos que investir
politicamente, e aí envolve a participação das entidades, Câmara Júnior, Rotary,
Rotaract, Núcleo Jovem Empreendedor da Associação Empresarial. Isto eu
considero como a base para meu hoje estar investindo em meu mandato, o
envolvimento partidário e social ao longo do tempo a partir dos 17 anos.
Pesquisador: Quais as ambições para seu futuro político?
José Thomé: A partir do momento que se tem um mandato, os
envolvidos em política dizem que a verdadeira campanha começa quando se tem o
mandato. Você pode atender a população, tenta dar encaminhamentos positivos
para a sociedade, passa a ter força política dentro do Poder Legislativo, muitas
coisas em parceria com o Executivo, buscando apoio, força, recursos com
deputados estaduais e federais, senadores, governador, e aí vamos construindo
uma campanha de verdade, mas em contrapartida você passa a ser vitrine, alvo de
críticas, a política é muito dinâmica. Estou muito feliz aqui, passo os melhores anos
na minha vida aqui, já apresentamos projetos para a sociedade, envolvendo a
juventude, a educação, cultura, e quero poder contribuir mais e mais para a
sociedade por intermédio da política que é, sim, um grande caminho, mas quem vai
decidir o que devo seguir, seja na próxima eleição ou nos próximos anos será a
população, que vai avaliar meu trabalho. Vejo desta forma. Sonho um dia ser 17 Juventude do Partido do Movimento Democrático Brasileiro.
40
prefeito, deputado, e isso é a sociedade que vai decidir. Espero que o partido tenha
o discernimento de avaliar se agora será a minha vez ou não.
Pesquisador: Seu website não é apenas um site expositivo, mas tem
diversas ferramentas interativas. Tem links para twitter, orkut, youtube, tem um
botão no qual o internauta pode mandar um projeto de lei. O senhor acredita que
estas ferramentas de rede funcionam como uma extensão do gabinete?
José Thomé: Criamos estas ferramentas na internet como uma forma de
fazer com que nosso trabalho seja muito mais amplo, fora do gabinete. O gabinete é
muito importante, dou expediente todos os dias de manhã18 aqui, recebo a
população, faço projetos de lei com meu assessor, vamos até a comunidade quando
nos podem para ir ao encontro deles, e, na verdade, este trabalho de campo eu faço
no período da tarde. Pretendo abrir minha empresa em breve, abrir meu próprio
negócio, até para que a sociedade veja o Thomé como um bom político e também
um bom gestor de negócios, gerador de empregos, de oportunidades, enfim. E o site
mostra para a sociedade efetivamente o que estamos fazendo, é uma ferramenta
que aproxima a sociedade das nossas ações. Às vezes se tem receio de vir até aqui,
e se a gente levar em consideração, 50%, 60% do que atendemos nem vale a pena
estar aqui, porque recebemos pessoas pedindo encaminhamentos assistencialistas,
financeiros, questões de resolver problemas momentâneos, não são coisas que
construirão uma sociedade melhor a médio e a longo prazo, não vai gerar um bom
projeto que vai dar um impacto na sociedade como um todo. A maioria vem aqui
para resolver questões individuais. A internet, e o site, o blog, o twitter, divulgam
projetos e tratam de questões do mandato, da minha estada como vereador.
Divulgamos projetos de lei, explicamos para o jovem que ele pode fazer o título de
eleitor pela internet, no nosso site a sociedade pode acompanhar a situação das
barragens, por meio de um link podem ver os encaminhamentos políticos no Brasil,
tem um “fale conosco” que eu respondo por e-mail, e nesses mais de dois anos de
mandato já foram mais de 200 e-mails respondidos. Eu recebo muitas mensagens
pelo site, que também tem notícias do gabinete atualizadas. Ontem estive em uma 18 A Câmara Municipal de Rio do Sul funciona apenas no horário da manhã, com exceção das segundas-feiras, que tem expediente até as 19h, e das quintas-feiras com sessão ordinária, com expediente até 13h30.
41
reunião do JPMDB de Santa Catarina, em Florianópolis, do qual sou presidente, e
isto estará no site para a sociedade ver que buscamos soluções enquanto
participação do jovem no processo político. À tarde estive em alguns locais e à noite
no “Fala Comunidade Educadora19”, e isto também estará no site para a sociedade
ver o que estamos fazendo na área da educação. Estes meios de comunicação via
internet fazem com que a sociedade acompanhe de forma mais ampla aquilo que é
a verdadeira proposta deste vereador.
Pesquisador: A partir da Constituição de 1988 existe a possibilidade de
projetos criados a partir da iniciativa popular. No entanto, nunca tivemos algo assim
em Rio do Sul, mas isto não significa que esta seja a única forma de um cidadão
participar do processo legislativo. No seu caso específico, das pessoas que o senhor
atende pela internet, elas já geraram, influenciaram ou colaboraram na produção de
um projeto de lei?
José Thomé: Nós encaminhamos na semana passada20 uma proposta ao
Plano Diretor do Município de Rio do Sul que visa ao aumento do perímetro urbano
no bairro Fundo Canoas, na Estrada Boa Esperança, onde agora tem pavimentação
asfáltica, ciclovias, energia elétrica, água potável, e é considerada área rural, com
poucas propriedades que efetivamente praticam a agricultura. Isto foi um
encaminhamento de um cidadão, que nos procurou por e-mail, nos mandou uma
proposta altamente fundamentada e encaminhamos então para ele, propriamente,
fazer esta discussão com o Plano Diretor, que é o responsável por discutir estas
matérias. Uma indicação que fizemos ao Executivo para criar um portal de
transparência no site de prefeitura, com o cronograma das obras executadas pelo
município, é uma proposta que recebemos da população, que pediu que
encaminhássemos o projeto, que hoje já é realidade21. Existe sim essa interação e
ela é importantíssima, acontece por e-mail, por telefone, até porque disponibilizamos
uma coluna em jornal de alta circulação na cidade no qual publicamos nosso e-mail,
19 Programa da Secretaria Municipal de Educação de Rio do Sul, no qual se busca incentivar o diálogo entre os integrantes da comunidade escolar.20 Uma vez que a entrevista foi feita no dia 16 de fevereiro de 2011, a “semana passada” da qual o entrevistado se refere compreende os dias entre seis e 12 de fevereiro de 2011.21 O Portal da Transparência da Prefeitura de Rio do Sul pode ser acessado em: http://201.41.210.4/contab/boletimDiario.php.
42
telefone, nome da assessoria, para que entrem em contato, mandem ideias de
projetos. Estamos aqui para as pessoas, nossas ações são exclusivamente voltadas
para o bem da população, e se temos como ouvir ideias de projetos oriundos de um
cidadão comum, que vive uma situação e acredita que é uma ação boa para o
coletivo, temos que explorar isso e ver com muito bons olhos, acolher estas ideias.
Temos muitas outras situações como estas que viraram realidade e dão retorno
positivo para a sociedade.
Pesquisador: Há outras possibilidades que existem e existiram no
tocante à interatividade, lançando mão, por exemplo, da telefonia móvel. Em sua
opinião, estas ferramentas de rede podem realmente servir como uma “ágora
eletrônica”?
José Thomé: A cada dia buscamos democratizar a participação do povo
nas nossas decisões. Estamos aqui para as pessoas, para o coletivo, e precisamos
avançar mais neste sentido, no site, na internet. Usando notícias, informativos,
colunas nos jornais, são coisas estáticas, precisamos fazer com que a população
acompanhe a ação na comunidade, portanto acredito que o Poder Público precisa ir
para as praças, para dentro das empresas, envolver mais a população. Mudar o
horário da sessão22 talvez não dê resultado, precisamos é mudar as práticas. Talvez
fazer uma sessão solene na praça, pois nesta não há votações, que legalmente
precisam ser feitas dentro da Casa Legislativa. Mas uma sessão solene que
homenageia, cultura, esportes, pode ser feita no ginásio de esportes, a Câmara
pode ir até lá. A assessoria da Câmara pode ir para a praça, colocar um banner bem
grande e fazer com que a sociedade dê sua ideia de projeto. O cidadão vai martelar,
vai pedir que o vereador melhore sua rua, e alguém pode explicá-lo que se trata de
uma função do Executivo. Nós não vamos resolver precisamente aquele problema
deste cidadão, mas ele vai ganhar em conhecimento agregado, vai saber melhor a
função do vereador, na próxima eleição vai votar melhor. Então precisamos ir ao
encontro da população. A discussão da lei de proibição de bebidas alcoólicas em
locais públicos, por exemplo. Recebi um e-mail de um cidadão se colocando
22 As sessões ordinárias acontecem às segundas-feiras, 15h, e uma ou duas quintas-feiras dentro do mês, às 10h.
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contrário ao projeto, o convidamos para a audiência pública e ele veio. Entre outras
situações.
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ANEXO B – ÍNTEGRA DOS PROJETOS DE LEI CITADOS NA PESQUISA
PROJETO DE LEI Nº 087, DE 09 DE AGOSTO DE 2010(Autoria do Vereador JOSÉ THOMÉ)
Autoriza o Executivo Municipal a dar
transparência no cronograma de execução de
suas obras públicas
Art. 1o Fica autorizado o Executivo Municipal a publicar em seu site
institucional na internet o cronograma da execução de todas as obras públicas
municipais, contendo:
I - Dados gerais da obra (Local, Tipo, Valor Geral Orçado, Espécie de
Convênio);
II – Dados da Empreiteira (Nome, Razão Social, Contato Telefônico,
Localidade);
III - Fase da obra, andamento dos procedimentos e local na secretaria onde
está tramitando o projeto;
IV - Fotos das obras em andamento.
Art. 2o As informações deverão ser atualizadas semanalmente até a sua
conclusão.
Art. 3o Esta lei entra em vigor na data de sua publicação.
Rio do Sul, 09 de agosto de 2010.
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JOSÉ THOMÉVereador Autor
JUSTIFICATIVA
Dar publicidade e levar ao conhecimento dos cidadãos os atos
administrativos, contratos ou outros instrumentos legais é obrigação da
administração pública. A transparência nas informações possibilita a qualquer
pessoa questionar e controlar toda a atividade administrativa. Inclusive, o dever de
publicidade é princípio norteador da Administração pública, conforme disposto no
art. 37 da Constituição Federal:
“Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos
Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios
obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade,
publicidade e eficiência e, também, ao seguinte:
§ 1º A publicidade dos atos, programas, obras, serviços e
campanhas dos órgãos públicos deverá ter caráter educativo,
informativo ou de orientação social, dela não podendo constar
nomes, símbolos ou imagens que caracterizem promoção pessoal
de autoridades ou servidores públicos.”
46
Atualmente, é indissociável à idéia de publicidade e transparência a
divulgação de informações por meio da Internet. O crescente uso desta ferramenta
como meio de comunicação a transforma em um moderno instrumento de
publicação para o poder público municipal.
A concepção e construção do Portal Oficial da Transparência – POT foi
iniciada imediatamente após a LC 131 ter sido promulgada (26/5/2009) porque os
dirigentes da ATM previam que mesmo entre os 273 municípios com população
superior a 100 mil habitantes muitos não teriam condições de se preparar para
cumprir as novas normas de transparência, previsão que está se confirmando.
Porque em Rio do Sul e de que Forma?
Recebemos com muita honra a contribuição desse projeto de um cidadão
de Rio do Sul, Sr. Valdir Meinicke, e avaliamos as constantes reclamações sobre
problemas não na qualidade da obras de Rio do Sul, mas em como estão seu
andamento, realização e prazos.
Para diminuir visitas na Secretaria de Planejamento da Prefeitura, gastos
com entrada de protocolos, desgastes da população e dos agentes políticos, o
caminho da transparência é a solução mais justa e eficaz. Não propomos um Portal
da Transparência como o da LC 131, pois seria impossível para um município de
pequeno porte atualizar diariamente todas as informações, mas oferecemos o
primeiro passo em caminho da transparência das obras públicas de Rio do Sul.
A população tem direito de saber e vai ter a possibilidade de cobrar
daqueles que tem a responsabilidade de cumprir as obras, seja empreiteira,
secretaria de planejamento, jurídico, projetos, e os vereadores terão mais uma
ferramenta para fiscalizar o uso de dinheiro público.
JOSÉ THOMÉVereador Autor
47
48
PROJETO DE LEI No 125, DE 02 DE OUTUBRO DE 2009
(Autoria Vereador José Thomé)
Dispõe sobre a autorização para criação do projeto
“Ponto de Leitura” no Município de Rio do Sul e dá
providências
Art. 1o Fica o Executivo Municipal autorizado a criar um “Ponto de Leitura”
para o incentivo a leitura, história e a cultura no Município de Rio do Sul, junto ao
Terminal Urbano Ari Claudino dos Santos.
Art. 2o O “Ponto de Leitura” será subordinado à Biblioteca Municipal e ao
Museu de Rio do Sul em parceria com a Câmara de Vereadores de Rio do Sul e a
Associação de Escritores do Alto Vale do Itajaí.
Art. 3o O “Ponto de Leitura” será localizado dentro do terminal, em um armário
fixado na sua estrutura, adequando-se a proteção dos livros e materiais.
§ 1o Os materiais de leitura colocados à disposição da população serão: livros,
jornais locais e revistas, provenientes de doação, sendo disposto sob dotação da
prefeitura o livro “Rio do Sul: Nossa História em Revista” da Fundação Cultural de
Rio do Sul.
§ 2o O “Ponto de Leitura” permanecerá à disposição no horário das 8:00 às
18:00 horas, aos dias de semana, sendo recolhido os exemplares ou fechado com
chave, sob a responsabilidade do Museu Municipal de Rio do Sul.
Art. 4o As despesas decorrentes da presente lei correrão por conta do
orçamento vigente.
Art. 5o Esta lei entrará em vigor na data de sua publicação.
49
Rio do Sul, 2 de outubro de 2009.
JOSÉ THOMÉVereador Autor
Justificativa
O projeto a ser desenvolvido pela Prefeitura de Rio do Sul em parceria com a
Câmara de Vereadores de Rio do Sul deverá criar o hábito da leitura entre os
moradores da cidade. O projeto “Ponto de Leitura” deverá estimular o interesse
dos cidadãos pela leitura de jornais e revistas, e principalmente dos livros sobre a
história de Rio do Sul. O projeto deverá funcionar próximo as pessoas que estão à
espera dos ônibus que podem escolher um exemplar dos livros para passar o tempo
no local ou levá-lo para casa sem nem precisar preencher uma ficha, apenas com a
responsabilidade de devolvê-los para outras pessoas usarem. A intenção é criar nos
usuários do transporte coletivo uma cultura de responsabilidade de um bem coletivo,
de proteger por eles mesmos os livros que serão doados e dispostos para sua
leitura.
No Brasil, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, decretou em 2003 a lei de
incentivo a leitura e a produção intelectual dos autores, que instituiu a política
nacional do livro.
Lei nº 10.753, de 30 de outubro de 2003
DOU de 31.10.2003
50
Institui a Política Nacional do Livro.
Alterada pela Lei no 10.833, de 29 de dezembro de 2003.
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e
eu sanciono a seguinte Lei:
CAPÍTULO I
DA POLÍTICA NACIONAL DO LIVRO
DIRETRIZES GERAIS
Art. 1 Esta Lei institui a Política Nacional do Livro, mediante as seguintes diretrizes:
I - assegurar ao cidadão o pleno exercício do direito de acesso e uso do livro;
II - o livro é o meio principal e insubstituível da difusão da cultura e transmissão
do conhecimento, do fomento à pesquisa social e científica, da conservação do
patrimônio nacional, da transformação e aperfeiçoamento social e da melhoria da
qualidade de vida;
III - fomentar e apoiar a produção, a edição, a difusão, a distribuição e a
comercialização do livro;
IV - estimular a produção intelectual dos escritores e autores brasileiros, tanto
de obras científicas como culturais;
V - promover e incentivar o hábito da leitura;
VI - propiciar os meios para fazer do Brasil um grande centro editorial;
VII - competir no mercado internacional de livros, ampliando a exportação de
livros nacionais;
VIII - apoiar a livre circulação do livro no País;
IX - capacitar a população para o uso do livro como fator fundamental para seu
progresso econômico, político, social e promover a justa distribuição do saber e da
renda;
X - instalar e ampliar no País livrarias, bibliotecas e pontos de venda de livro;
51
XI - propiciar aos autores, editores, distribuidores e livreiros as condições
necessárias ao cumprimento do disposto nesta Lei;
XII - assegurar às pessoas com deficiência visual o acesso à leitura.
CAPÍTULO II
DO LIVRO
Art. 2 Considera-se livro, para efeitos desta Lei, a publicação de textos escritos em
fichas ou folhas, não periódica, grampeada, colada ou costurada, em volume
cartonado, encadernado ou em brochura, em capas avulsas, em qualquer formato e
acabamento.
Parágrafo único. São equiparados a livro:
I - fascículos, publicações de qualquer natureza que representem parte de livro;
II - materiais avulsos relacionados com o livro, impressos em papel ou em
material similar;
III - roteiros de leitura para controle e estudo de literatura ou de obras didáticas;
IV - álbuns para colorir, pintar, recortar ou armar;
V - atlas geográficos, históricos, anatômicos, mapas e cartogramas;
VI - textos derivados de livro ou originais, produzidos por editores, mediante
contrato de edição celebrado com o autor, com a utilização de qualquer suporte;
VII - livros em meio digital, magnético e ótico, para uso exclusivo de pessoas
com deficiência visual;
VIII - livros impressos no Sistema Braille.
Art. 3 É livro brasileiro o publicado por editora sediada no Brasil, em qualquer
idioma, bem como o impresso ou fixado em qualquer suporte no exterior por editor
sediado no Brasil.
Art. 4 É permitida a entrada no País de livros em língua estrangeira ou portuguesa,
imunes de impostos nos termos do art. 150, inciso VI, alínea d, da Constituição, e,
nos termos do regulamento, de tarifas alfandegárias prévias, sem prejuízo dos
controles aduaneiros e de suas taxas. (Redação dada pela Lei nº 10.833, de
29.12.2003)
52
CAPÍTULO III
DA EDITORAÇÃO, DISTRIBUIÇÃO E COMERCIALIZAÇÃO DO LIVRO
Art. 5 Para efeitos desta Lei, é considerado:
I - autor: a pessoa física criadora de livros;
II - editor: a pessoa física ou jurídica que adquire o direito de reprodução de
livros, dando a eles tratamento adequado à leitura;
III - distribuidor: a pessoa jurídica que opera no ramo de compra e venda de
livros por atacado;
IV - livreiro: a pessoa jurídica ou representante comercial autônomo que se
dedica à venda de livros.
Art. 6 Na editoração do livro, é obrigatória a adoção do Número Internacional
Padronizado, bem como a ficha de catalogação para publicação.
Parágrafo único. O número referido no caput deste artigo constará da quarta capa
do livro impresso.
Art. 7 O Poder Executivo estabelecerá formas de financiamento para as editoras e
para o sistema de distribuição de livro, por meio de criação de linhas de crédito
específicas.
Parágrafo único. Cabe, ainda, ao Poder Executivo implementar programas anuais
para manutenção e atualização do acervo de bibliotecas públicas, universitárias e
escolares, incluídas obras em Sistema Braille.
Art. 8 As pessoas jurídicas que exerçam as atividades descritas nos incisos II a IV
do art. 5o poderão constituir provisão para perda de estoques, calculada no último
dia de cada período de apuração do imposto de renda e da contribuição social sobre
o lucro líquido, correspondente a 1/3 (um terço) do valor do estoque existente
naquela data, na forma que dispuser o regulamento, inclusive em relação ao
tratamento contábil e fiscal a ser dispensado às reversões dessa provisão (Redação
dada pela Lei nº 10.833, de 29.12.2003)
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§ 1 Para a gestão do fundo levar-se-á em conta o saldo existente no último dia de
cada exercício financeiro legal, na proporção do tempo de aquisição, observados os
seguintes percentuais:
I - mais de um ano e menos de dois anos: trinta por cento do custo direto de
produção;
II - mais de dois anos e menos de três anos: cinqüenta por cento do custo
direto de produção;
III - mais de três anos: cem por cento do custo direto de produção.
§ 2 Ao fim de cada exercício financeiro legal será feito o ajustamento da provisão
dos respectivos estoques.
Art. 9 A provisão referida no art. 8o será dedutível para fins de determinação do
lucro real e da base de cálculo da contribuição social sobre o lucro líquido. (Redação
dada pela Lei nº 10.833, de 29.12.2003)
Art. 10. (VETADO)
Art. 11. Os contratos firmados entre autores e editores de livros para cessão de
direitos autorais para publicação deverão ser cadastrados na Fundação Biblioteca
Nacional, no Escritório de Direitos Autorais.
Art. 12. É facultado ao Poder Executivo a fixação de normas para o atendimento ao
disposto nos incisos VII e VIII do art. 2o desta Lei.
CAPÍTULO IV
DA DIFUSÃO DO LIVRO
Art. 13. Cabe ao Poder Executivo criar e executar projetos de acesso ao livro e
incentivo à leitura, ampliar os já existentes e implementar, isoladamente ou em
parcerias públicas ou privadas, as seguintes ações em âmbito nacional:
54
I - criar parcerias, públicas ou privadas, para o desenvolvimento de programas
de incentivo à leitura, com a participação de entidades públicas e privadas;
II - estimular a criação e execução de projetos voltados para o estímulo e a
consolidação do hábito de leitura, mediante:
a) revisão e ampliação do processo de alfabetização e leitura de textos de
literatura nas escolas;
b) introdução da hora de leitura diária nas escolas;
c) exigência pelos sistemas de ensino, para efeito de autorização de escolas, de
acervo mínimo de livros para as bibliotecas escolares;
III - instituir programas, em bases regulares, para a exportação e venda de
livros brasileiros em feiras e eventos internacionais;
IV - estabelecer tarifa postal preferencial, reduzida, para o livro brasileiro;
V - criar cursos de capacitação do trabalho editorial, gráfico e livreiro em todo o
território nacional.
Art. 14. É o Poder Executivo autorizado a promover o desenvolvimento de
programas de ampliação do número de livrarias e pontos de venda no País,
podendo ser ouvidas as Administrações Estaduais e Municipais competentes.
Art. 15. (VETADO)
CAPÍTULO V
DISPOSIÇÕES GERAIS
Art. 16. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios consignarão, em
seus respectivos orçamentos, verbas às bibliotecas para sua manutenção e
aquisição de livros.
Art. 17. A inserção de rubrica orçamentária pelo Poder Executivo para financiamento
da modernização e expansão do sistema bibliotecário e de programas de incentivo à
leitura será feita por meio do Fundo Nacional de Cultura.
55
Art. 18. Com a finalidade de controlar os bens patrimoniais das bibliotecas públicas,
o livro não é considerado material permanente.
Art. 19. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
Brasília, 30 de outubro de 2003; 182o da Independência e 115o da República.
LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA