PU
BL
ICA
ÇÃ
O O
FIC
IAL
Revista de Súmulas
SUPERIOR
TRIBUNAL
DE JUSTIÇA
VOLUME 17, ANO 5
MARÇO 2011
Revista de Súmulas
SUPERIOR
TRIBUNAL
DE JUSTIÇA
Superior Tribunal de Justiça
www.stj.jus.br, [email protected]
Gabinete do Ministro Diretor da Revista
Setor de Administração Federal Sul, Quadra 6, Lote 1,
Bloco C, 2º Andar, Sala C-240, Brasília-DF, 70095-900
Telefone (61) 3319-8003, Fax (61) 3319-8992
Revista de Súmulas do Superior Tribunal de Justiça - V. 1 (nov. 2005) -. Brasília: STJ, 2005 -.
Periodicidade: Irregular.
Repositório Ofi cial de Jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça.
Nome do editor varia: Superior Tribunal de Justiça / Editora Brasília Jurídica, 2005 a 2006,
Superior Tribunal de Justiça, 2009 -.
Disponível também em versão eletrônica a partir de 2009: https://ww2.stj.jus.br/web/
revista/eletronica/publicacao/?aplicacao=revista.sumulas
ISSN 2179-782X
1. Direito, Brasil. 2. Jurisprudência, periódico, Brasil. I. Brasil, Superior Tribunal de
Justiça (STJ). II. Título.
CDU 340.142(81)(05)
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
Gabinete do Ministro Diretor da Revista
Diretor
Ministro Hamilton Carvalhido
Chefe de Gabinete
Marcos Perdigão Bernardes
Servidores
Andrea Dias de Castro Costa
Eloame Augusti
Gerson Prado da Silva
Jacqueline Neiva de Lima
Maria Angélica Neves Sant’Ana
Técnico em Secretariado
Fagno Monteiro Amorim
Mensageiro
Cristiano Augusto Rodrigues Santos
Estagiários
Deusilene Duarte Martins
Ricardo Rodrigues Fonseca Junior
MINISTRO HAMILTON CARVALHIDO Diretor
Revista de Súmulas
SUPERIOR
TRIBUNAL
DE JUSTIÇA
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
Plenário
Ministro Ari Pargendler (Presidente)
Ministro Felix Fischer (Vice-Presidente)
Ministro Cesar Asfor Rocha (Diretor-Geral da ENFAM)
Ministro Aldir Guimarães Passarinho Junior
Ministro Gilson Langaro Dipp
Ministro Hamilton Carvalhido (Diretor da Revista)
Ministra Eliana Calmon Alves (Corregedora-Nacional de Justiça)
Ministro Francisco Cândido de Melo Falcão Neto (Corregedor-Geral da Justiça Federal)
Ministra Fátima Nancy Andrighi
Ministra Laurita Hilário Vaz
Ministro João Otávio de Noronha
Ministro Teori Albino Zavascki
Ministro José de Castro Meira
Ministro Arnaldo Esteves Lima
Ministro Massami Uyeda
Ministro Humberto Eustáquio Soares Martins
Ministra Maria Th ereza Rocha de Assis Moura
Ministro Antônio Herman de Vasconcellos e Benjamin
Ministro Napoleão Nunes Maia Filho
Ministro Sidnei Agostinho Beneti
Ministro Jorge Mussi
Ministro Geraldo Og Nicéas Marques Fernandes
Ministro Luis Felipe Salomão
Ministro Mauro Luiz Campbell Marques
Ministro Benedito Gonçalves
Ministro Raul Araújo Filho
Ministro Paulo de Tarso Vieira Sanseverino
Ministra Maria Isabel Diniz Gallotti Rodrigues
Resolução n. 19/1995-STJ, art. 3º.
RISTJ, arts. 21, III e VI; 22, § 1º, e 23.
SUMÁRIO
Súmulas
226 ...............................................................................................................................11
227 ...............................................................................................................................79
228 .............................................................................................................................109
229 .............................................................................................................................139
230 (Cancelada) .........................................................................................................185
231 .............................................................................................................................227
232 .............................................................................................................................265
233 .............................................................................................................................339
234 .............................................................................................................................383
Índice Analítico ................................................................................................................................................. 425
Índice Sistemático ........................................................................................................................................... 431
Siglas e Abreviaturas...................................................................................................................................... 437
Repositórios Autorizados e Credenciados pelo
Superior Tribunal de Justiça ....................................................................................................................... 443
Súmula n. 226
SÚMULA N. 226
O Ministério Público tem legitimidade para recorrer na ação de acidente
do trabalho, ainda que o segurado esteja assistido por advogado.
Referência:
CPC, arts. 82, III, in fi ne, e 499.
Precedentes:
EREsp 30.468-SP (CE, 21.08.1996 – DJ 26.05.1997)
EREsp 37.322-SP (3ª S, 08.10.1997 – DJ 27.10.1997)
EREsp 68.613-SP (CE, 18.06.1997 – DJ 22.09.1997)
EREsp 71.995-SP (CE, 16.04.1997 – DJ 27.09.1999)
EREsp 72.634-SP (CE, 18.06.1997 – DJ 12.08.1997)
EREsp 96.868-SP (3ª S, 09.04.1997 – DJ 02.06.1997)
REsp 2.350-SP (1ª T, 26.04.1993 – DJ 31.05.1993)
REsp 6.460-SP (2ª T, 13.03.1991 – DJ 1º.04.1991)
REsp 30.224-SP (5ª T, 19.10.1994 – DJ 30.10.1995)
REsp 35.166-SP (6ª T, 13.09.1993 – DJ 30.05.1994)
REsp 35.314-SP (6ª T, 21.09.1993 – DJ 11.10.1993)
REsp 44.654-SP (5ª T, 07.08.1995 – DJ 28.08.1995)
Corte Especial, em 02.08.1999
DJ 30.09.1999, p. 367
Republ. DJ 11.11.1999, p. 57
EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA NO RECURSO ESPECIAL N. 30.468-SP
(96.009783)
Relator: Ministro Nilson Naves
Embargante: Instituto Nacional do Seguro Social - INSS
Embargado: Waldemar Simões da Silva
Advogados: Ayres Lourenço de Almeida Filho e outros
Ubirajara Wanderley Lins Junior
EMENTA
Acidente do trabalho. Transação, ou acordo celebrado entre as
partes, regularmente representadas por advogados. Inobstante tal
aspecto, o Ministério Público é parte legítima e tem interesse, podendo
conseqüentemente apelar da sentença homologatória. Embargos
conhecidos pela divergência, mas rejeitados. Votos vencidos.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Corte
Especial do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das
notas taquigráfi cas a seguir, por maioria, conhecer dos embargos e os rejeitar.
Vencidos os Srs. Ministros Eduardo Ribeiro, José de Jesus Filho, Garcia Vieira,
Waldemar Zveiter, Sálvio de Figueiredo, Hélio Mosimann, Peçanha Martins
e Humberto Gomes de Barros. Votaram com o Relator os Srs. Ministros
Luiz Vicente Cernicchiaro, Fontes de Alencar, Demócrito Reinaldo, Anselmo
Santiago, José Dantas, William Patterson, Antonio de Pádua Ribeiro e Cid
Flaquer Scartezzini. Ausentes, ocasionalmente, os Srs. Ministros Bueno de
Souza (Presidente) e Costa Leite. Ausente, justifi cadamente, o Sr. Ministro
Edson Vidigal.
Brasília (DF), 21 de agosto de 1996 (data do julgamento).
Ministro Américo Luz, Presidente
Ministro Nilson Naves, Relator
DJ 26.05.1997
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
16
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Nilson Naves: Tomo por relatório a exposição de fl s. 152-4,
de autoria da Subprocuradoria-Geral da República, nestes termos:
Decidiu a E. Quinta Turma que o Ministério Público tem legitimidade para
recorrer de sentença homologatória de acordo fi rmado em ação acidentária,
ainda que assistido por advogado o acidentado.
2. E esta a ementa do respectivo acórdão:
Processo Civil. Ação acidentária. Conta. Homologação. Recurso do
Ministério Público. Legitimidade.
I. O representante do Ministério Público tem legitimidade para recorrer
tanto nos processos em que é parte, quanto naqueles em que funciona
como fi scal da lei - Súmula n. 99-STJ.
II. A transigência do advogado do operário na ação acidentária cede
ante o interesse público e porque as prestações, sendo de caráter alimentar,
confi guram direitos indisponíveis, especialmente quando postula que o
benefício seja reajustado tendo em vista o que estabelece a Constituição.
(fl s. 98).
3. Inconformado, veio o INSS com os presentes embargos, para sustentar que
o ilustrado aresto, assim decidindo, divergiu da orientação da Colenda Segunda
Turma, consubstanciada na decisão proferida no Recurso Especial n. 1.736-SP, e
do acórdão proferido pela Corte Especial nos Embargos de Divergência n. 37.116,
este último assim ementado:
Recurso especial. Ministério Público.
O Ministério Público não tem interesse jurídico para recorrer
nas ações de acidente de trabalho, quando a parte está regularmente
representada por advogado de sua livre escolha. Admitir-se o contrário é
desqualifi car a representação do advogado cuja presença no processo é
constitucionalmente indispensável.
Embargos de divergência conhecidos e recebidos por maioria de votos.
(fl . 120).
4. Os embargos foram admitidos, para simples discussão, através do despacho
de fl . 148.
Quando admiti os embargos para discussão, despachei assim na fl . 148 (lê).
Em conclusão, o parecer é pela rejeição dos embargos.
É o relatório.
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (17): 11-78, março 2011 17
VOTO
O Sr. Ministro Nilson Naves (Relator): O parecer é do Dr. José Arnaldo
da Fonseca, então Subprocurador-Geral da República, com estes fundamentos:
5. Note-se, por oportuno, que a referida decisão da E. Corte Especial foi tomada
por maioria, com diferença de apenas um voto, em sessão na qual estiveram
ausentes sete dos ilustres componentes daquele órgão julgador (certidão de fl .
145). Por essa razão, e diante da relevância do tema, recomenda-se que haja uma
nova deliberação da Corte a esse respeito.
6. Quanto ao mérito dos embargos opostos pelo INSS, entendemos que deve
prevalecer o entendimento preconizado no acórdão embargado, diante das
seguintes ponderações.
7. Em primeiro lugar, convém ressaltar que o núcleo da divergência não está
situado na legitimidade do Ministério Público para recorrer nos feitos em que
ofi cia na condição de custos legis, uma vez que este poder-dever é reconhecido
até mesmo em alguns dos votos condutores da tese consubstanciada nos
acórdãos trazidos a confronto (vide, particularmente, fl. 144, trecho do voto
proferido pelo il. Min. Eduardo Ribeiro).
8. Discute-se, em verdade, se o Ministério Público teria ou não interesse
jurídico para recorrer nas ações de acidente no trabalho, quando a parte está
regularmente representada por advogado de sua livre escolha.
9. Ora o interesse em recorrer do Ministério Público nos processos
acidentários, nos quais ofi cia como custos legis, é uma conseqüência direta de sua
legitimidade para intervir no processo. Lembre-se que o órgão ministerial, em tais
hipóteses, tem dúplice atuação: compete-lhe resguardar os interesses da parte
hipossufi ciente, e, principalmente, fi scalizar a aplicação da lei, razão por que não
está obrigado a concordar com a orientação do advogado do acidentado.
10. E que a lide em tela envolve matéria de ordem pública, ao tratar de direitos
indisponíveis. Com efeito, o direito ao ressarcimento acidentário tem caráter
alimentar, sendo insuscetível de renúncia por parte do trabalhador infortunado.
Vale destacar, nesse ponto, as ponderações do il. Ministro Costa Lima, Relator do
acórdão embargado, no tocante à natureza do benefício acidentário:
O Colendo Supremo Tribunal Federal referindo-se ao acidentado
e respectivos beneficiários assentou: “Os direitos provenientes dessa
legislação especial, de caráter alimentar, são indisponíveis”. (RE n. 91.807-
8-SP, Relator Ministro Djaci Falcão, julgado em 08.08.1980, in RT vol. 548.
p. 220-223). Theotonio Negrão (Código de Processo Civil e legislação
processual em vigor, 25ª ed. Malheiros, p. 703) inclui a seguinte nota:
As prestações de acidente do trabalho têm caráter alimentar, e, por
isso, são indisponíveis; se o empregado transige quanto ao valor do
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
18
benefício, seu prazo de duração, índices de reajustamento ou outras
parcelas que infl uem sensivelmente no quantum da indenização, a
transação é nula, tendo o MP legitimidade para recorrer da sentença
que o homologa (Bol. AASP 1.732/59), “suprindo eventual defi ciência
da atividade do patrono da parte” (Bol. AASP 1.806/supl., p. 1) (fl . 91).
11. Por fi m, não se pode deixar de lembrar que os recentes episódios ocorridos
principalmente no Rio de Janeiro, nos quais foram descobertas várias fraudes
em processos acidentários, revelaram a necessidade de um acompanhamento
atento do Ministério Público, a fim de resguardar o interesse público. Essa
circunstância, aliás, foi também lembrada pelo il. Ministro Vicente Cernicchiaro, no
voto que proferiu nos EREsp n. 37.116-8, ao comentar que “na realidade judiciária
- notadamente na Sexta Turma, onde passou vários processos dos chamados
‘escândalos do INSS do Rio de Janeiro’ - observa-se, muitas vezes, desvirtuamento
das ações de acidente de trabalho” (fl . 125).
Diante de todo o exposto, manifesta-se o Ministério Público Federal pela
rejeição dos embargos.
Acolhendo o parecer, conheço dos embargos, mas os rejeito.
VOTO VENCIDO
O Sr. Ministro Eduardo Ribeiro: No precedente citado, trazido como
paradigma, formei com a maioria e persisto no entendimento de que não há
fundamento jurídico algum a justifi car a intervenção do Ministério Público em
causas como a em exame.
Não é a regra, obviamente, a atuação do Ministério Público. Essa ocorrerá
quando haja lei que o determine. Como salientei no julgamento citado, no
sistema do Decreto-Lei n. 7.036 poderia ofi ciar como substituto processual
do acidentado, ajuizando as ações em seu benefício. A Lei n. 8.213/1991,
entretanto, ora vigente, de nenhum modo disso cogita, como já não o fazia a Lei
n. 6.367/1976.
Não havendo lei específi ca, justifi car-se-ia a questionada intervenção caso
a impusesse o artigo 82 do Código de Processo Civil.
Não há, obviamente, sequer cogitar do disposto no item II daquele artigo.
Também se deverá afastar qualquer possibilidade de incidência do item I. O
acidentado não é um incapaz. O fato de ter sofrido um acidente não o degrada
a essa condição. Não deixa de poder discernir, como qualquer outro adulto.
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (17): 11-78, março 2011 19
Cuidava dos seus interesses antes do acidente, deles cuidará após. Não é um
interditado.
Menciona-se que se trata de um hipossufi ciente, por ser economicamente
débil, e, com essa consideração, pretende-se que a hipótese seria passível de
submeter-se à previsão do inciso III do artigo 82. A natureza da lide justifi caria
a intervenção do Ministério Público.
Aquela disposição refere-se a interesse público evidenciado pela natureza
da lide. Seria necessário demonstrar a presença de interesse público na exata
solução da lide. Ora, trata-se de causa que diz com o interesse de determinada
pessoa e não há interesse público maior, no seu deslinde, que o existente no
julgamento de qualquer outra que se submeta à Jurisdição.
Ademais - e isso o mais relevante - a particularidade da lide estaria apenas
no fato de nela fi gurar um hipossufi ciente, uma pessoa carente de recursos, em
outras palavras. Se assim é, não se compreende porque limitar a obrigatoriedade
de que ofi cie o Ministério Público às hipóteses de acidente do trabalho. Por que
não quando alguém sofresse um acidente, por outra causa, e se encontrasse na
miséria? Numerosos processos tramitam, interessando a viúvas, a isso reduzidas
em virtude de acidente, sem relação com o trabalho, e que se encontram em
situação de absoluta carência. Malgrado cumpridamente caracterizada a
hipossufi ciência, nunca se ouviu dizer devesse o Ministério Público intervir
em tais processos. A essas pessoas socorre-se com a assistência judiciária, com
a gratuidade, mas não com aquela obrigatória intervenção. E cumpre notar
que essa não é facultativa. Dando-se um caso dos previstos no artigo 82, a falta
importará nulidade.
Também não colhe a assertiva de que se trata de direito indisponível. No
caso, a indisponibilidade impede a renúncia prévia, mas não o acordo. Basta ver
o que sucede na Justiça do Trabalho, onde o que mais se busca é exatamente a
transação.
Cumpre permitir que o acidentado cuide de seus interesses. Não se haverá
de procurar tutelá-lo, apenas porque é pobre, obrigando-o a esperar anos pelo
duvidoso resultado de um processo, se ele próprio considera mais conveniente
um acordo que desde logo lhe propicie o benefício. Isso salientou o Ministro
Peçanha Martins no julgamento anterior e o fez, a meu sentir, com inteiro
acerto.
Peço vênia ao eminente Relator para receber os embargos.
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
20
VOTO VENCIDO
O Sr. Ministro José de Jesus Filho: Sr. Presidente, fi el ao julgamento que
tivemos nos Embargos de Divergência n. 37.116-SP, acompanho, com a devida
vênia do Sr. Ministro Nilson Naves, o Sr. Ministro Eduardo Ribeiro.
VOTO
O Sr. Ministro Luiz Vicente Cernicchiaro: Sr. Presidente, a matéria não é
nova. Renovam-se as divergências. Não há dúvida, os argumentos trazidos pelo
Eminente Ministro Eduardo Ribeiro e secundados pelo Eminente Ministro
José de Jesus Filho são contundentes. Entretanto, dever-se-á interpretar a lei
acidentária dentro do próprio sistema; tomada esta palavra no seu sentido
técnico, ou seja, conjunto de princípios que governa um conjunto de normas.
Não há dúvida, o Ministério Público, notadamente com a Constituição de
1988, ganhou grandeza antes não conquistada, como fi scal do interesse público.
Daí, poder-se invocar subsidiariamente o disposto no art. 82, inciso III, do
Código de Processo Civil, que estabelece competir ao Ministério Público
intervir em todas as demais causas em que haja interesse público, evidenciado
pela natureza da lide ou qualidade da parte. Evidentemente, o acidentado
não é um incapaz. Entretanto, não podemos deixar de conhecer a realidade.
O direito não pode ser analisado exclusivamente no plano normativo, teórico.
É imperioso que se vá à realidade histórica dos fatos. O acidentado, quando
procura, através da lei da infortunística, realizar os seus direitos - é de ciência de
todos, decorre da própria experiência dos fatos -, coloca-se, judicialmente. Em
posição de inferioridade, no sentido de que - trazendo até alguns argumentos da
criminologia - todos não são iguais perante os chamados órgãos de controle da
criminalidade. Analogicamente, quando a pessoa humilde entra no Judiciário,
quando comparece a um processo, não se sente à vontade e com o mesmo
desembaraço como ocorre com a pessoa assistida por profi ssionais competentes
de escritórios, reconhecidamente hábeis a desenvolver a sua tese. Quando em
voto afi rmei, trazendo como argumento o que ocorreu no Rio de Janeiro, no
chamado escândalo do INSS, observava-se exatamente isto: pessoas outorgavam
procuração a advogados; obtinham determinada importância a título de
indenização; ao acidentado ou pseudoacidentado, era reservada uma quantia
que, pela carência econômica da pessoa, qualquer que fosses, estimulava-a para
o acordo.
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (17): 11-78, março 2011 21
Em se considerando a teleologia da lei da infortunística, deve o Estado, via
Ministério Público, com a sua grandeza institucional, zelar notadamente pelos
acordos. O acidentado, premido por situações de carência, capitula, não tem
condições de dialogar, no mesmo plano, com a parte contrária e realizar, efetiva
e substancialmente o direito, ou seja, que a prestação jurisdicional ser efetiva não
se reduzir a mero esquema formal.
Daí que me parece, data venia, a necessidade dessa assistência, no
sentido amplo da palavra, do Estado, via Ministério Público. Peço licença para
acompanhar o douto voto do Eminente Ministro-Relator.
VOTO VENCIDO
O Sr. Ministro Waldemar Zveiter: Sr. Presidente, já tenho ponto de vista
defi nido na matéria a que fez referência o Eminente Ministro José de Jesus Filho,
a quem acompanhei no precedente da Corte Especial, e peço licença àqueles
que divergem para manter-me fi el à posição adotada.
Com a vênia devida do Sr. Ministro-Relator, acompanho o voto proferido
pelo eminente Ministro Eduardo Ribeiro.
VOTO-VOGAL
O Sr. Ministro Fontes de Alencar: Senhor Presidente, reconheço a pujança
dos argumentos do Ministro Eduardo Ribeiro, mas ainda não me convenci da
desnecessidade desta participação do Ministério Público nas ações acidentárias.
E, ao que disse o Ministro Luiz Vicente Cernicchiaro, acrescento que a
Constituição, no art. 129, ao tratar das funções institucionais do Ministério
Público, deu-lhe
a de zelar pelo efetivo respeito dos Poderes Públicos e dos serviços de
relevância pública aos direitos assegurados nesta Constituição, promovendo as
medidas necessárias a sua garantia.
O que me leva ao art. 5° do mesmo Estatuto e ao inciso que impõe o
seguro de acidente do trabalho; trata-se, pois, de uma matéria de relevância tal
que o constituinte a soergueu ao patamar da Lei Maior.
Assim manifesto-me, mantendo posição anteriormente adotada; e rogo vênia
ao Eminente Ministro Eduardo Ribeiro, para acompanhar o Sr. Ministro-Relator.
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
22
VOTO VENCIDO
O Sr. Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira: São sem dúvida substanciosos
os argumentos travados pelas duas correntes, como estamos a presenciar neste
julgamento. Tanto assim que, ao que consta, este Órgão colegiado tem se
manifestado por pequena margem na prevalência de um destes entendimentos.
Peço vênia ao Ministro-Relator, e aos que o acompanham, porque a mim
me parece que a questão se coloca no plano da política legislativa. No momento
em que o legislador ordinário retirou a participação obrigatória do Ministério
Público, entendeu, certamente, que assim agindo estaria melhor protegendo a
fi gura daquele que anteriormente tinha tal proteção nas causas e nos acordos
sob sua fi scalização.
Acompanho a corrente capitaneada pelo voto do Ministro Eduardo Ribeiro.
VOTO VENCIDO
O Sr. Ministro Hélio Mosimann: Senhor Presidente, o assunto -
legitimidade do Ministério Público para recorrer nas ações de acidente de
trabalho - parece que está sufi cientemente debatido e, integrando a Segunda
Turma, tenho votado na linha do pronunciamento que acaba de fazer o
Eminente Ministro Eduardo Ribeiro.
Por isso, fi co fi el a essa posição, pedindo vênia ao Eminente Ministro-
Relator e aos que lhe seguiram, para receber os embargos.
VOTO VENCIDO
O Sr. Ministro Peçanha Martins: Senhor Presidente, tenho opinião
fi rmada em torno da matéria, alias referida pelo eminente Ministro Eduardo
Ribeiro, razão por que a mantenho, recebendo os embargos, data venia dos que
pensam em contrário.
VOTO
O Sr. Ministro Demócrito Reinaldo: Sr. Presidente, também já tenho
entendimento fi rmado, inclusive expendido em casos análogos, na Primeira
Turma e nessa Corte Especial. Entendo que a Lei de Acidentes é protetiva e
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (17): 11-78, março 2011 23
tem um conteúdo acentuado de interesse social, e a intervenção do Ministério
Público, nessas ações é obrigatória. Já decidiu o Supremo Tribunal Federal: (lê)
Os direitos provenientes de acidentes são indisponíveis (...) suplemento (p. 01).
Com essas considerações, peço vênia aos que pensam em contrário e
acompanho o Eminente Ministro-Relator.
É como voto.
VOTO
O Sr. Ministro José Dantas: Senhor Presidente, no precedente ora
conferido para os embargos de divergência, consta o meu voto-vencido. A ele
reporto-me para acompanhar o Sr. Ministro-Relator.
VOTO-VOGAL
O Sr. Ministro Antônio de Pádua Ribeiro: Sr. Presidente, também entendo
que, no caso, é obrigatória a intervenção do Ministério Público em razão da
natureza da lide, isto é, à vista do exposto no art. 82, inciso III, do Código de
Processo Civil. O Eminente Ministro-Relator proferiu brilhante voto sobre
a matéria, no que foi secundado pelo não menos brilhante voto do Eminente
Ministro Luiz Vicente Cernicchiaro, que teve a ocasião de sustentar que, no
caso, há de se considerar o sistema que rege essa lei de acidente do trabalho.
Lembro-me, a propósito, de que há precedentes outros das nossas Turmas,
uns dos quais foi Relator o Eminente Ministro Ilmar Galvão, hoje pontifi cando
o Supremo Tribunal Federal: trata-se do Recurso Especial n. 6.460-SP, julgado
pela Segunda Turma, em 13 de março de 1991.
No mesmo sentido foi o decidido no Recurso Especial n. 4.113-SP, de
que foi Relator o saudoso Ministro Armando Rolemberg, julgado pela Egrégia
Primeira Turma, na assentada de 3 de setembro de 1990; nessa mesma linha
ainda, o decidido pela Segunda Turma no Recurso Especial n. 8.038-SP, Relator
o Eminente Ministro Américo Luz, na assentada de 3 de abril de 1991.
À vista destes precedentes, peço vênia para acompanhar o Eminente
Ministro-Relator.
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
24
EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA EM RECURSO ESPECIAL N. 37.322-SP
(96.0069276-9)
Relator: Ministro Fernando Gonçalves
Embargante: Ministério Público Federal
Embargado: Instituto Nacional do Seguro Social - INSS
Advogados: Rosana Teixeira de Carvalho e outros
Interessado: Durvalino Rodrigues Cardoso
Advogado: Roberto Moreira Cesar
Interessado: Ministério Público do Estado de São Paulo
EMENTA
Embargos de divergência. Processo Civil. Legitimidade do
Ministério Público para recorrer. Ação acidentária.
1 - A Corte Especial pacificou o entendimento segundo o
qual tem o Ministério Público legitimidade para recorrer nas ações
acidentárias, mesmo que o acidentado encontre-se representado por
advogado.
2 - Precedente da Corte Especial: EREsp n. 72.634.
3 - Embargos de divergência acolhidos.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Terceira
Seção do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas
taquigráficas a seguir, por unanimidade, conhecer e acolher os embargos.
Participaram do julgamento os Ministros Felix Fischer, José Dantas, William
Patterson, Cid Flaquer Scartezzini, Vicente Leal e José Arnaldo. Ausentes,
ocasionalmente, os Ministros Edson Vidigal e Luiz Vicente Cernicchiaro.
Brasília (DF), 08 de outubro de 1997 (data do julgamento).
Ministro Anselmo Santiago, Presidente da Sessão
Ministro Fernando Gonçalves, Relator
DJ 27.10.1997
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (17): 11-78, março 2011 25
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Fernando Gonçalves: Cuida-se de embargos de divergência
opostos pelo Ministério Público Federal, contra acórdão proferido pela egrégia 5ª
Turma deste Superior Tribunal de Justiça, Relator o Ministro Edson Vidigal,
assim ementado, verbis:
Processo Civil. Ação acidentária. Sentença homologatória de cálculos.
Ministério Público. Interesse para recorrer.
1. Em ação de acidente de trabalho, o Ministério Público não tem interesse
para recorrer de sentença homologatória de cálculos, quando a parte encontra-se
devidamente representada por procurador constituído nos autos. Precedente da
Corte Especial - EREsp n. 37.116-SP.
2. Recurso não conhecido. (fl . 93)
Afi rma o embargante a existência de divergência entre o acórdão recorrido
e outro julgado do Tribunal.
Admitidos os embargos, foi oferecida impugnação às fl s. 129-157.
É o relatório.
VOTO
O Sr. Ministro Fernando Gonçalves (Relator): A matéria foi examinada
pela Corte Especial, predominando o entendimento de que tem o Ministério
Público legitimidade para recorrer, nas ações de acidente do trabalho, verbis:
Processo Civil. Ação acidentária. Recurso especial. Ministério Público.
Legitimidade para recorrer.
I - A Corte Especial fi rmou orientação pela legitimidade do Ministério Público
para recorrer nas ações de acidente do trabalho, ainda que o acidentado esteja
representado por advogado da sua livre escolha. Precedentes.
II - Embargos de divergência conhecidos e rejeitados. (EREsp n. 72.634-SP, Rel.
Min. Antônio de Pádua Ribeiro, in DJU de 12.08.1997).
Ante o exposto, acolho os embargos para, reformando o acórdão da egrégia
Quinta Turma, conhecer do recurso especial.
É como voto.
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
26
EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA NO RECURSO ESPECIAL N. 68.613-SP
(95.0069538-3)
Relator: Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira
Embargante: Instituto Nacional do Seguro Social - INSS
Embargado: Ministério Público do Estado de São Paulo
Interessado: Osvaldo Pires Barbosa
Advogados: Ayres Lourenço de Almeida Filho e outros
Clei Amauri Muniz e outros
EMENTA
Processual Civil. Embargos de divergência. Ações acidentárias.
Ministério Público. Fiscal da lei. Legitimidade recursal. Enunciado n.
99 da Súmula-STJ. Precedente. Recurso desprovido.
I - Nas ações acidentárias, decorrentes da aplicação da Lei n.
8.213/1991, legitima a atuação do Ministério Público como fi scal da
lei, em razão do interesse público presente nessas demandas.
II - Atuando o Parquet como custos legis, tem ele legitimidade
para recorrer, ainda que silente a parte, nos termos do Enunciado n.
99 da Súmula-STJ.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Corte
Especial do Superior Tribunal de Justiça, preliminarmente, na conformidade
dos votos e das notas taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, conhecer do
recurso mas negar-lhe provimento. Votaram com o Relator os Ministros Hélio
Mosimann, Peçanha Martins, Demócrito Reinaldo, Humberto Gomes de
Barros, Anselmo Santiago, José Dantas, William Patterson, América Luz,
Antônio de Pádua Ribeiro, Cid Flaquer Scartezzini, Costa Leite, Nilson Naves,
Eduardo Ribeiro, José de Jesus Filho, Edson Vidigal, Garcia Vieira, Luiz
Vicente Cernicchiaro, Waldemar Zveiter e Fontes de Alencar.
Brasília (DF), 18 de junho de 1997 (data do julgamento).
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (17): 11-78, março 2011 27
Ministro Bueno de Souza, Presidente
Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira, Relator
DJ 22.09.1997
EXPOSIÇÃO
O Sr. Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira: Cuida-se de embargos de
divergência opostos contra acórdão da Sexta Turma, da relatoria do Sr. Ministro
Adhemar Maciel, que entendeu ter o Ministério Público legitimidade para
recorrer nas ações acidentárias.
Indica o embargante, órgão previdenciário, como paradigmas, acórdão
da Segunda Turma, no REsp n. 1.736-SP, e da Corte Especial, nos EREsp n.
37.116-SP, que deram pela ilegitimidade recursal do Parquet.
Admitido o recurso, não foi ele impugnado, merecendo parecer desfavorável
da Subprocuradoria-Geral da República, em parecer da Drª Delza Curvello
Rocha.
É o relatório.
VOTO
O Sr. Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira (Relator): Discute-se, nos
presentes autos, se o Ministério Público tem ou não legitimidade para recorrer
nas ações decorrentes da Lei n. 8.213/1991, relativa a acidentes do trabalho.
Compulsando o referido diploma normativo, verifi ca-se que em nenhum
ponto há referência à obrigatoriedade de atuação do Parquet como fi scal da
lei. Assim, em princípio, se ele não funciona no processo como custos legis, não
haveria de admitir-se recurso de sua parte. Todavia, o Código de Processo Civil,
no seu art. 82, III, dispõe que o Ministério Público deve funcionar nos feitos
em que há interesse público, evidenciado pela natureza da controvérsia ou pela
qualidade da parte.
Assim disciplinando a lei, tenho que a essência da ação acidentária
recomenda a conveniência de enquadrá-la como demanda de interesse público,
sobretudo pelo preponderante interesse social que desperta, em razão de
produzir resultados perante uma grande massa da população brasileira, quase
sempre hipossufi ciente economicamente.
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
28
Desta forma, seja para fi scalizar a aplicação escorreita da lei, seja para evitar
fraudes, como as que ocorreram na Previdência Social, tem-se como legítima a
intervenção do Ministério Público como custos legis nas demandas que envolvem
os benefícios acidentários. E, em conseqüência, tem ele legitimidade recursal nas
mesmas causas, a teor do Enunciado n. 99 da Súmula-STJ, verbis:
O Ministério Público tem legitimidade para recorrer no processo em que
ofi ciou como fi scal da lei, ainda que não haja recurso da parte.
É de salientar-se que, após larga divergência neste Tribunal, a respeito
da legitimidade recursal do Parquet, na espécie, a Corte Especial firmou
entendimento no sentido afi rmativo, a partir do julgamento dos EREsp n.
30.224-SP, julgado em 02.04.1997, tendo como relator designado o Sr. Ministro
Edson Vidigal. Entendimento, aliás, que já vinha prevalecendo na Seção
Especializada (3ª).
Em face do exposto, conheço dos embargos de divergência mas os
desprovejo.
EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA NO RECURSO ESPECIAL N. 71.995-SP
(96.0000960-0)
Relator: Ministro Luiz Vicente Cernicchiaro
Embargante: Ministério Público Federal
Embargado: Instituto Nacional do Seguro Social - INSS
Interessada: Ingrid Margaret Nunweiler
Advogados: Ayres Lourenço de Almeida Filho e outros
Emilia Aparecida Capella Salmazo e outro
EMENTA
EREsp. Previdenciário. Processual Civil. Ministério Público.
Interesse econômico. Recurso. Embargos de divergência. O
Ministério Público atua, no processo de infortunística, como custos
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (17): 11-78, março 2011 29
legis. Visa a resguardar o bom desenvolvimento do processo e em
atenção ao economicamente hipossuficiente. Em conseqüência,
poderá acompanhar a instrução e valer-se dos recursos legais.
Marcará presença obrigatória em todos os atos processuais, ainda
que de conteúdo econômico, compensatório da extensão do acidente
laboral. Irrelevante estar o trabalhador assistido de advogado. Assim,
como postula, pode recorrer, com reforço também na Constituição
da República (art. 5°, LV) que assegura “em processo judicial ou
administrativo” contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos
a ela inerentes.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Corte
Especial do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas
taquigráfi cas constantes dos autos, por unanimidade, acolher os embargos, nos
termos do voto do Sr. Ministro Relator. Votaram com o Relator os Srs. Ministros
Fontes de Alencar, Sálvio de Figueiredo, Hélio Mosimann, Peçanha Martins,
Demócrito Reinaldo, Humberto Gomes de Barros, Anselmo Santiago, José
Dantas, William Patterson, Antonio de Pádua Ribeiro, Cid Flaquer Scartezzini,
Costa Leite, Nilson Naves e José de Jesus Filho. Ausente, ocasionalmente, o Sr.
Ministro Eduardo Ribeiro. Ausentes, justifi cadamente, os Srs. Ministros Bueno
de Souza (Presidente), Edson Vidigal, Garcia Vieira e Waldemar Zveiter.
Brasília (DF), 16 de abril de 1997 (data do julgamento).
Ministro Américo Luz, Presidente (*)
Ministro Luiz Vicente Cernicchiaro, Relator
(*) Este acórdão deixa de ser assinado por motivo de aposentadoria, art.
101, § 2º, do RISTJ.
DJ 27.09.1999
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Luiz Vicente Cernicchiaro: Embargos de divergência
interpostos pelo Ministério Público Federal, nos autos do REsp n. 71.995-SP,
proferido pela Quinta Turma deste STJ, assim ementado:
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
30
Processual. Ministério Público. Recurso especial. Interposição.
- O Ministério Público não tem legitimidade processual para interpor recurso
em lide acidentária, quando a parte estiver regularmente representada.
- Recurso não conhecido (fl . 86).
Sustenta o embargante que o acórdão embargado diverge frontalmente de
julgado proferido pela Sexta Turma deste Tribunal, a saber o REsp n. 37.116-3-
SP, de que fui Relator, e que aqui cabe referir:
REsp. Previdenciário. Processual Civil. Ministério Público. Interesse econômico.
Recurso. O Ministério Público atua, no processo de infortunística, como custos
legis. Visa a resguardar o bom desenvolvimento do processo e em atenção ao
economicamente hipossuficiente. Em conseqüência, poderá acompanhar a
instrução e valer-se dos recursos legais. Marcará presença obrigatória em todos os
atos processuais, ainda que de conteúdo econômico, compensatório da extensão
do acidente laboral. Irrelevante estar o trabalhador assistido de advogado. Assim,
como postula, pode recorrer, com reforço também na Constituição da República
(art. 5º, LV) que assegura “em processo judicial ou administrativo” contraditório e
ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes (fl . 101).
Alega o embargante:
A divergência se verifi ca porque a r. decisão embargada considera que “o
Ministério Público não tem legitimidade processual para interpor recurso em
lide acidentária, quando a parte estiver regularmente representada”, lastreada
em outro édito da e. Corte Especial asseverando que “o Ministério Público não
tem interesse jurídico para recorrer nas ações de acidente de trabalho, quando
a parte está regularmente representada por advogado de sua livre escolha”,
enquanto que, ao reverso, no aresto trazido a confronto para comprovar o
dissenso, está escrito que o Ministério Público tem interesse nos processos
de infortunística, no sentido processual, que reside em “resguardar o bom
desenvolvimento do processo e, especifi camente, curar eventual direito do
acidentado, de modo geral, carente de conhecimento jurídico e desprovido de
recursos para efi ciente assistência processual”, sem prejuízo de que o interesse
seja apenas econômico, salientando que “nas ações acidentárias, de modo geral,
predomina o aspecto econômico, compensatório da extensão do infortúnio
laboral” (fl s. 96-97).
O embargado impugnou (fl s. 110-113).
É o relatório.
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (17): 11-78, março 2011 31
VOTO
O Sr. Ministro Luiz Vicente Cernicchiaro (Relator): A divergência está
evidente.
O v. acórdão embargado, Relator o E. Ministro Flaquer Scartezzini, cuja
ementa traduz o conteúdo do julgado:
Processual. Ministério Público. Recurso especial. Interposição.
- O Ministério Público não tem legitimidade processual para interpor recurso
em lide acidentária, quando a parte estiver regularmente representada.
- Recurso não conhecido (fl . 86).
O acórdão paradigma é de minha relatoria, no REsp n. 37.116-3-SP, assim
resumido às fl s. 101:
REsp. Previdenciário. Processual Civil. Ministério Público. Interesse econômico.
Recurso. O Ministério Público atua, no processo de infortunística, como custos
legis. Visa a resguardar o bom desenvolvimento do processo e em atenção ao
economicamente hipossuficiente. Em conseqüência, poderá acompanhar a
instrução e valer-se dos recursos legais. Marcará presença obrigatória em todos os
atos processuais, ainda que de conteúdo econômico, compensatório da extensão
do acidente laboral. Irrelevante estar o trabalhador assistido de advogado. Assim,
como postula, pode recorrer, com reforço também na Constituição da República
(art. 5º, LV) que assegura “em processo judicial ou administrativa” contraditório e
ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes (fl . 101).
Nota-se a divergência se projeta parcialmente, que seja, se admissível
a participação do Ministério Público, nas ações de infortunística, quando o
trabalhador houver constituído advogado.
Conheço, pois, dos Embargos de Divergência.
No mérito, reedita considerações lançadas em voto na E. Corte Especial,
no EREsp n. 37.116-8-SP, Relator o E. Ministro José de Jesus Filho, cuja
ementa está às fl s. 117:
Recurso especial. Ministério Público. O Ministério Público não tem interesse
jurídico para recorrer nas ações de acidente no trabalho, quando a parte está
regularmente representada por advogado de sua livre escolha. Admitir-se o
contrário é desqualifi car a representação do advogado cuja presença no processo
é constitucionalmente indispensável. Embargos de divergência conhecidos e
recebidos por maioria de votos.
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
32
Cumpre, ademais, invocar o disposto no art. 82, III, in fi ne do Código de
Processo Civil. E, sobranceira a grandeza constitucional do Ministério Público,
incumbindo-lhe a defesa “dos interesses sociais e individuais indisponíveis”.
O hipossufi ciente é fato notório e conhecido. A relação jurídica precisa
preservar o que os processualistas repetem: paridade de armas.
O acidentado, regra geral, é assistido por defensores, nem sempre com
condições materiais sufi cientes para efetiva defesa de seus direitos.
O processo não pode ser visto como mero esquema formal. Há de ser
garantia efetiva, material.
Acolho os Embargos de Divergência para, data venia, prevalecer o
comando do acórdão da E. 6ª Turma.
O Sr. Ministro Assis Toledo (Aparte): Em que sentido?
O Sr. Ministro Luiz Vicente Cernicchiaro: No sentido de que o Ministério
Público atua sempre.
Pode ocorrer, porque entendo que ele atua por força do comando do art. 81
do Código de Processo Penal, o Juiz entender: “aqui não há um interesse público
ou individual”.
O Sr. Ministro Assis Toledo (Aparte): Se V. Exª me permite, o problema
não é o mérito, mas está pendente na Corte Especial.
O Sr. Ministro José Dantas (Aparte): Não está mais pendente. A Corte
Especial decidiu, mas por 6 a 7, faltando 7 votos.
O Sr. Ministro Assis Toledo (Aparte): Decidiu contrariamente. Seria
melhor V. Exª propor a remessa à Corte. Não é possível que a Corte decida no
sentido “A” e a Seção no sentido “B”.
O Sr. Ministro Luiz Vicente Cernicchiaro (Relator): Aliás, a preocupação
do Ministro José Dantas é essa.
O Sr. Ministro Vicente Leal (Aparte): Remetendo à Corte pode ser que
melhore o quorum. É melhor mandar para lá para reativar a questão.
O Sr. Ministro Assis Toledo (Aparte): Então V. Exª propõe a remessa à
Corte.
O Sr. Ministro Luiz Vicente Cernicchiaro: Proponho.
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (17): 11-78, março 2011 33
VOTO
O Sr. Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira: Acompanho o Ministro-
Relator, dadas as peculiaridades assinaladas por S. Exª.
VOTO-VOGAL
O Sr. Ministro Hélio Mosimann: Senhor Presidente, na última sessão,
em dois casos idênticos colocava-me em sentido oposto aquele em que acaba
de votar o Eminente Ministro-Relator. Diante, porém, da manifestação desta
Corte Especial, que fi rmou a orientação pela legitimidade do Ministério Público
para recorrer, ressalvo meu ponto de vista até aqui sustentado, e passo a seguir a
orientação da Corte, acompanhando o voto do Sr. Ministro-Relator.
VOTO
O Sr. Ministro Peçanha Martins: - Senhor Presidente, tendo em vista
a decisão da Corte, ressalvo a minha opinião contrária e acompanho o Sr.
Ministro Relator.
VOTO
O Sr. Ministro Humberto Gomes de Barros: Sr. Presidente, de acordo com
o Ministro-Relator, com ressalva do meu entendimento.
VOTO
O Sr. Ministro Costa Leite: Sr. Presidente, acompanho o Ministro-Relator
com ressalva do meu ponto de vista.
VOTO
O Sr. Ministro José de Jesus Filho: Sr. Presidente, acompanho o Ministro-
Relator, com ressalva do meu ponto de vista.
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
34
EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA NO RECURSO ESPECIAL N. 72.634-SP-
(96.0047658-6)
Relator: Ministro Antônio de Pádua Ribeiro
Embargante: Instituto Nacional do Seguro Social - INSS
Advogados: Rosana Teixeira de Carvalho e outros
Embargado Ministério Público do Estado de São Paulo
Interessado: Nilto Ribeiro Moureira
Advogados: Márcio Silva Coelho e outros
EMENTA
Processual Civil. Ação acidentária. Recurso especial. Ministério
Público. Legitimidade para recorrer.
I - A Corte Especial fi rmou orientação pela legitimidade do
Ministério Público para recorrer nas ações de acidente do trabalho,
ainda que o acidentado esteja representado por advogado da sua livre
escolha. Precedentes.
II - Embargos de divergência conhecidos e rejeitados.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima
indicadas.
Decide a Corte Especial do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade
dos votos e das notas taquigráfi cas anexas, por unanimidade, conhecer e rejeitar
os embargos, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator.
Os Srs. Ministros Cid Flaquer Scartezzini, Costa Leite, Nilson Naves,
Eduardo Ribeiro, José de Jesus Filho, Edson Vidigal, Garcia Vieira, Luiz Vicente
Cernicchiaro, Waldemar Zveiter, Fontes de Alencar, Sálvio de Figueiredo,
Hélio Mosimann, Peçanha Martins, Demócrito Reinaldo, Humberto Gomes
de Barros, Anselmo Santiago, José Dantas, William Patterson e Américo Luz
votaram com o Sr. Ministro Relator.
Brasília (DF), 18 de junho de 1997 (data do julgamento).
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (17): 11-78, março 2011 35
Ministro Bueno de Souza, Presidente
Ministro Antônio de Pádua Ribeiro, Relator
DJ 12.08.1997
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Antônio de Pádua Ribeiro: Ao admitir estes embargos,
proferi o seguinte despacho (fl . 159):
Trata-se de embargos de divergência, opostos pelo Instituto Nacional do
Seguro Social - INSS ao acórdão da Egrégia Quinta Turma, que afastou a preliminar
suscitada, de falta de interesse do ministério público para recorrer, nas ações
acidentárias, quando a parte está representada por advogado.
O embargante traz a confronto aresto da Corte Especial, proferido no EREsp n.
37.116-8-SP, assim ementado (fl . 129):
Recurso especial. Ministério Público.
O Ministério Público não tem interesse jurídico para recorrer
nas ações de acidente no trabalho, quando a parte está regularmente
representada por advogado de sua livre escolha. Admitir-se o contrário é
desqualifi car a representação do advogado cuja presença no processo é
constitucionalmente indispensável.
Embargos de divergência conhecidos e recebidos por maioria de votos.
Por achar-se, em princípio, caracterizado o dissídio, admito os embargos.
Dê-se vista ao embargado para apresentar impugnação. Prazo: 15 (quinze)
dias.
Impugnados os embargos (fl s. 162-163), os autos vieram-me conclusos.
É o relatório.
VOTO
O Sr. Ministro Antônio de Pádua Ribeiro (Relator): Esta Corte Especial
fi rmou orientação pela legitimidade do Ministério Público para recorrer nas
ações de acidente do trabalho, ainda que o acidentado esteja representado por
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
36
advogado da sua livre escolha. (EREsp n. 30.224-SP, j. 02.04.1997, Relator
Ministro Edson Vidigal; EREsp n. 71.995-SP, j. 16.04.1997, Relator Ministro
Luiz Vicente Cernicchiaro).
Isto posto, conheço dos embargos e os rejeito.
EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA NO RECURSO ESPECIAL N. 96.868-SP
(97.0001640-4)
Relator: Ministro William Patterson
Embargante: Ministério Público Federal
Embargado: Instituto Nacional do Seguro Social - INSS
Advogado: Ayres Lourenço de Almeida Filho
EMENTA
- Embargos de divergência. Processo Civil e Previdenciário.
Ação acidentária. Legitimidade do Ministério Público. - Assentada
jurisprudência da Corte Especial deste STJ no sentido de que o
Ministério Público tem legitimidade para recorrer, em ação acidentária,
mesmo que assistido o segurado por advogado constituído.
- Embargos conhecidos e recebidos.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Terceira
Seção do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas
taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, conhecer e receber os embargos, nos
termos do voto do Sr. Ministro Relator. Votaram com o Relator os Srs. Ministros
Cid Flaquer Scartezzini, Luiz Vicente Cernicchiaro, Anselmo Santiago, Vicente
Leal, José Arnaldo, Fernando Gonçalves, Felix Fischer e José Dantas.
Brasília (DF), 09 de abril de 1997 (data do julgamento).
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (17): 11-78, março 2011 37
Ministro Edson Vidigal, Presidente
Ministro William Patterson, Relator
DJ 02.06.1997
RELATÓRIO
O Sr. Ministro William Patterson: - Embargos de Divergência opostos
pelo Ministério Público Federal ao v. acórdão de fl s. 140-143, proferido pela
Egrégia Quinta Turma, Relator Ministro José Arnaldo, assim ementado:
Previdenciário. Acidente de trabalho. Disacusia. Grau mínimo.
- O Ministério Público não tem legitimidade processual para recorrer em lide
acidentária quando a parte estiver regularmente representada.
- Não conhecido o recurso do Ministério Público.
O dissídio exsurge de comparação com a decisão da Eg. Sexta Turma,
REsp n. 37.116-SP, Relator Ministro Luiz Vicente Cernicchiaro, que assim
concluiu (fl . 156):
REsp. Previdenciário. Processual Civil. Ministério Público. Interesse econômico.
Recurso. O Ministério Público atua, no processo de infortunística, como custus
legis. Visa a resguardar o bom desenvolvimento do processo e em atenção ao
economicamente hipossuficiente. Em conseqüência, poderá acompanhar a
instrução e valer-se dos recursos legais. Marcará presença obrigatória em todos os
atos processuais, ainda que de conteúdo econômico, compensatório da extensão
do acidente laboral. Irrelevante estar o trabalhador assistido de advogado. Assim,
como postula, pode recorrer, com reforço também na Constituição da República
(art. 5º, L V) que assegura “em processo judicial ou administrativo” contraditório e
ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes.
Admitido o recurso, voltaram-me os autos com a impugnação de fl s.
167-171, protestando pela rejeição dos embargos. Nesta, fez saber a Autarquia
embargada que a Corte Especial rechaçou o entendimento do julgado
paradigma, eis que, na assentada de 25 de maio de 1995, por maioria, recebeu os
embargos que lhe foram interpostos.
É o relatório.
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
38
VOTO
O Sr. Ministro William Patterson (Relator): - Sem razão a Autarquia
embargada. Inobstante o enfoque jurídico que se deu ao paradigma, face o
recebimento, por decisão da Egrégia Corte Especial, dos embargos de
divergência que lhe foram opostos, o certo é que em recente decisão aquele
Órgão Colegiado, pois na Sessão de 02.04.1997 (EREsp n. 30.224-SP),
reformou o seu entendimento anterior, ao proclamar que o Ministério Público
tem legitimidade para recorrer, em ação acidentária, mesmo que assistido o
segurado por advogado constituído. Daí, porque reafi rmou a aplicação, em casos
que tais, do seu Enunciado n. 99, verbis:
O Ministério Público tem legitimidade para recorrer no processo em que
ofi ciou como fi scal da lei, ainda que não haja recurso da parte.
Em sendo assim, entendo que não deve subsistir os fundamentos do acórdão
embargado, pois em fl agrante discrepância com a orientação que veio a prevalecer
neste Superior Tribunal. Conheço dos embargos de divergência e os recebo.
RECURSO ESPECIAL N. 2.350-SP (90.0001973-7)
Relator originário: Ministro Garcia Vieira
Relator designado: Ministro Demócrito Reinaldo
Recorrente: Ministério Público do Estado de São Paulo
Recorrido: Instituto Nacional de Previdência Social - INSS
Advogados: Elsa Maria Sanches Ramos
Antônio Carlos Cunha e outro
EMENTA
Processual Civil. Intervenção do Ministério Público como fi scal
da lei e sua legitimidade para recorrer.
Em face do preceito expresso de lei (artigo 499, § 2º do CPC),
o Ministério Público, nos processos em que intervém como fi scal da
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (17): 11-78, março 2011 39
lei, tem legitimidade para interpor recurso nas instâncias ordinárias,
como no especial.
Recurso provido por maioria de votos.
ACÓRDÃO
Vistos e relatados os autos em que são partes as acima indicadas, decide
a Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiça, por maioria, vencido o Sr.
Ministro Garcia Vieira, dar provimento ao recurso, na forma do relatório e
notas taquigráfi cas constantes dos autos, que fi cam fazendo parte integrante do
presente julgado.
Participaram do julgamento os Srs. Ministros Demócrito Reinaldo, Gomes
de Barros e Milton Pereira. Ausente, justifi cadamente, o Sr. Ministro Cesar
Rocha. Custas, como de lei.
Brasília (DF), 26 de abril de 1993 (data do julgamento).
Ministro Garcia Vieira, Presidente
Ministro Demócrito Reinaldo, Relator designado
DJ 31.05.1993
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Garcia Vieira: - Trata-se de ação acidentária ajuizada por
Nelson Ferreira de Carvalho contra o INPS, alegando que teve o seu dedo
indicador direito comprometido, face acidente típico que sofreu em 20.04.1985
o que veio a reduzir o seu potencial laborativo.
Em primeira instância o MM. Juiz de Direito homologou a desistência,
extinguindo o processo apoiado no artigo 269, inciso III do CPC (fl . 51).
O Egrégio Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo não conheceu
do recurso ao entender que não cabia na qualidade de custos legis o Ministério
Público penetrar na manifestação da vontade livre e deliberada do trabalhador e
pretender que lhe seja dado mais do que ele almeja (fl s. 71-73).
Inconformado, o Procurador-Geral de Justiça interpôs recurso especial
apoiado no artigo 105, inciso III, alínea a da Constituição Federal, alegando que
o v. acórdão recorrido negou vigência ao artigo 499, parágrafo 2º do CPC.
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
40
Sustenta, em síntese, que o Ministério Público tem legitimidade para
recorrer, seja interveniente, apenas balisado pela defesa do interesse público
indisponível que lhe legitimou a própria intervenção (fl s. 75-84).
Oferecidas contra-razões às fl s. 86-89.
Admitido o recurso (fl s. 93-95), subiram os autos a este Egrégio Tribunal.
Nesta instância a douta Subprocuradoria Geral da República opinou pelo
provimento do recurso.
É o relatório.
VOTO VENCIDO
O Sr. Ministro Garcia Vieira (Relator): - Nelson Ferreira de Carvalho
propôs contra o INPS ação acidentária, pleiteando benefícios previdenciários
(Inicial, fl s. 02-03). Constatada pela perícia (laudos de fl s. 36-41) a existência
de incapacidade laborativa e redução na mobilidade do dedo indicador da
mão direita, as partes fi zeram um acordo que foi homologado e a sentença
homologatória transitou em julgado.
Desta sentença apelou o Dr. Curador que impugnou a liquidação por não
ter sido aplicado o índice integral no primeiro reajuste (fl s. 52-55).
O Segundo Tribunal de Alçada Cível do Estado de São Paulo não
conheceu do recurso, sendo interposto este recurso especial por suposta violação
ao artigo 499, parágrafo 2º do CPC.
A autora, devidamente assistida por advogado constituído, concordou
com a liquidação amigável conforme planilha de fl s. 48, com o índice aplicado
para receber, desde logo, a indenização. Ela podia transigir e concordar com
a liquidação. Com inteira razão o julgador monocrático, ao acentuar em sua
decisão que julgou extinta a obrigação (fl . 51).
Se é verdade que o Ministério Público tem legitimidade para recorrer
como parte ou como fi scal da lei (artigo 499, parágrafo segundo do CPC),
é, também certo não haver interesse, no caso, para a autora, recorrer e se ela
pode transigir, nada a impede de concordar com a liquidação e com o índice
aplicado. O Ministério Público, no caso, não é parte e como fi scal da lei, não tem
qualquer interesse de recorrer da sentença que julgou a liquidação. Não pode ele
contrariar a vontade e o interesse da parte, se não há nenhum interesse público
atingido e se trata de direito disponível. A questão não é desconhecida desta
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (17): 11-78, março 2011 41
Egrégia Corte. Nos Recursos Especiais n. 4.343-SP, Relator Eminente Ministro
Américo Luz, DJ de 29.10.1990 e 2.613-SP, julgamento de 09 de maio de 1990,
Relator Eminente Ministro Ilmar Galvão, entendeu, em, casos idênticos, não
existir interesse para o Ministério Público, como fi scal da lei, recorrer.
Nego provimento ao recurso.
VOTO
O Sr. Ministro Demócrito Reinaldo: Senhor Presidente, já é conhecido o
meu ponto de vista nesta Turma a respeito do assunto. O artigo 499, § 2º, do
Código de Processo Civil, não deixa margem a dúvidas; em qualquer hipótese, o
Ministério Público tem interesse e legitimidade para recorrer. Temos decidido,
na egrégia Corte Especial, recursos de embargos de divergência manifestados
pelo Ministério Público. Poder-se-ia perguntar: qual o interesse do Ministério
Público em interpor recurso de embargos de divergência? Na realidade, não há
interesse direto do Ministério Público.
Se se tratasse de decisão proferida sob o pálio do Código de Processo de
1939, não teria dúvida em acompanhar V.Exª, mas o Código atual não deixa
margem a qualquer dúvida e impõe ao Ministério Público não só o direito, como
até, o dever. E, na defesa daquelas pessoas que são consideradas hipossufi cientes,
pode recorrer, na hipótese de entender que houve infração à lei.
O Ministério Público é fi scal da lei e da aplicação dela.
Senhor presidente, com a vênia de V. Exª conheço do recurso e lhe dou
provimento.
É como voto.
RECURSO ESPECIAL N. 6.460-SP (90.0012455-7)
Relator: Ministro Ilmar Galvão
Relator designado: Ministro Vicente Cernicchiaro
Recorrente: Ministério Público do Estado de São Paulo
Recorrido: Instituto Nacional de Previdência Social - INPS
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
42
Interessado: Pedro Batista de Oliveira
Advogados: João Durce e outros
EMENTA
Recurso especial. Acidente do trabalho. Ministério Público. Nos
processos de acidente do trabalho é compulsória a intervenção do
Ministério Público, inclusive quanto aos recursos. Considere-se o
interesse público da matéria em discussão.
ACÓRDÃO
Vistos e relatados estes autos, em que são partes as acima indicadas;
decide a Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiça, por maioria, conhecer
do recurso e lhe dar provimento, na forma do relatório e notas taquigráfi cas
constantes dos autos, que fi cam fazendo parte integrante do presente julgado.
Custas, como de lei.
Brasília (DF), 13 de março de 1991 (data do julgamento).
Ministro Américo Luz, Presidente
Ministro Luiz Vicente Cernicchiaro, Relator designado
DJ 1º.04.1991
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Ilmar Galvão: O Ministério Público do Estado de São Paulo
interpôs recurso especial, fundado no art. 105, III, letra a, da Constituição, contra
acórdão do Segundo Tribunal de Alçada Civil de São Paulo, que não conheceu
dos embargos infringentes interpostos ao acórdão que negara concessão de
aposentadoria por invalidez a segurado da Previdência Social, por entender
faltar ao Ministério Público o interesse para apresentar recurso.
Alegou que o acórdão ao assim decidir violou o art. 499, § 2º, do CPC,
uma vez que o Ministério Público conserva igual legitimidade para recorrer,
quer seja parte, quer seja fi scal da lei, não se exigindo dele o interesse recursal,
pois detém interesse público.
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (17): 11-78, março 2011 43
Admitido na origem, o recurso foi regularmente processado.
É o relatório.
VOTO VENCIDO
O Sr. Ministro Ilmar Galvão (Relator): - O v. acórdão recorrido negou
conhecimento aos embargos infringentes opostos pelo órgão do Ministério
Público, ao seguinte fundamento:
Reiteradamente tem-se entendido, em muitos outros julgados anteriores que,
fazendo-se a parte representar por advogado, ofi cia o Ministério Público, como
fi scal da lei, e nessa função, carece da legitimidade para interpor recurso.
Neste sentido, jurisprudência desta Egrégia Corte: - Ap. Sum. 195.639 - 6ª
Câmara - Relator Juiz Soares Lima - Julgada em 18.03.1987, Ap. Sum. n. 175.898
- 4ª Câmara - Relator Juiz Telles Correa - Julgada 05.03.1985, A.I. n. 189.992 -
2ª Câmara - Relator Juiz Batista Lopes - julgado em 14.05.1986, Ap. 195.002
- 7ª Câmara - Relator Juiz Guerrieri Rezende - Julgada em 14.10.1986, J.T.A. (RT)
83/280.
A intervenção, em caso que tais, do Ministério Público, dá-se, como custos
legis, no estrito cumprimento do disposto no art. 83 do CPC, sua intervenção
é exigida para que se faça cumprir a lei. Reconhece-se não restringir a norma
processual a atuação do Ministério Público, ao contrário, dá-lhe amplos poderes
de intervenção no feito, e, dá-lhe, evidentemente, legitimidade para recorrer, a
teor do preceituado no art. 499.
Neste sentido os “Comentários ao Código de Processo Civil” Celso Agrícola
Barbi - Forense - I Volume - p. 380.
No entanto, quando se trata de direito disponível, da parte, e não de
cumprimento da lei, como aventado acima, quando no feito a parte vem
representada por advogado, tal legitimade inexiste, retirando-lhe o interesse.
De acordo com o Recorrente, houve violação ao art. 499, parágrafo
segundo, do CPC, segundo o qual, “o Ministério Público tem legitimidade para
recorrer assim no processo em que é parte, como naqueles em que ofi ciou como
fi scal da lei”.
Acontece que, no caso, a questão posta em foco é a de ausência de interesse
e não de legitimidade.
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
44
Com efeito, o Autor da ação sui iuris, quedou-se resignado com o desfecho
dado à causa pelo v. acórdão, já que, benefi ciário do auxílio-acidente e não
estando incapaz para tarefas diversas daquela em que se acidentou, não tinha
cabimento a pretendida aposentadoria.
Assim sendo, considerou o v. acórdão falecer interesse ao órgão do
Ministério Público para que, ofi ciando na qualidade de custos legis, viesse bater-
se pela modifi cação do v. acórdão.
Em tais circunstâncias, não há falar-se em afronta ao dispositivo legal
invocado.
Não conheço do recurso.
VOTO-VOGAL
O Sr. Ministro Vicente Cernicchiaro: - Senhor Presidente, sou Relator
de caso idêntico: discute-se apenas a parte processual. Cheguei a conclusão
diversa do Eminente Relator, invocando o art. 82, inciso III, do Código de
Processo Civil, ao determinar que o Ministério Público deverá atuar nas causas
de interesse público.
Em se tratando de acidente do trabalho, dada a natureza previdenciária,
chego até a conclusão de ser indisponível esse direito à percepção das
conseqüências jurídicas do infortúnio. Em sendo compulsória a intervenção do
Ministério Público, conforme dispõe Barbosa Moreira, nos seus comentários,
há de ser integral, facultando, inclusive, os recursos de modo amplo. A única
ressalva que o Código de Processo estabelece é que não poderá o Ministério
Público valer-se do recurso adesivo, entretanto, poderá recorrer. E, tendo em
vista o interesse público irrevogável de nível previdenciário, data venia entendo
que o Ministério Público tem legitimidade para recorrer.
Conheço e dou provimento.
VOTO-VOGAL
O Sr. Ministro Hélio Mosinann: - Senhor Presidente, a questão é muito
sutil, mas me comovem mais os argumentos do Eminente Ministro Vicente
Cernicchiaro, inclusive por não haver prejuízo à parte e porque a atribuição do
Ministério Público é ampla, em toda a sua plenitude.
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (17): 11-78, março 2011 45
Peço vênia para discordar, neste ensejo, do Eminente Ministro
Ilmar Galvão.
VOTO-VISTA
O Sr. Ministro Américo Luz: Na sessão de 17.12.1990, após o voto
do Ministro-Relator, não conhecendo do recurso e dos Ministros Vicente
Cernicchiaro e Hélio Mosimann, do mesmo recurso conhecendo e dando-lhe
provimento, pedi vista dos autos que agora trago com o meu pronunciamento.
Para rememorar a espécie, leio o relatório: lê.
O voto do Ministro Ilmar Galvão tem o seguinte teor, após transcrição
de tópicos fundamentais do aresto que negou conhecimento aos embargos
infringentes opostos pelo representante do Ministério Público (fl . 02 do voto):
De acordo com o Recorrente, houve violação ao art. 499, parágrafo segundo,
do CPC, segundo o qual, “o Ministério Público tem legitimidade para recorrer
assim no processo em que é parte, como naqueles em que ofi ciou como fi scal da
lei”.
Acontece que, no caso, a questão posta em foco é a da ausência de interesse e
não de legitimidade.
Com efeito, o Autor da ação sui iuris, quedou-se resignado com o desfecho
dado à causa pelo v. acórdão, já que, beneficiário do auxílio-acidente e não
estando incapaz para tarefas diversas daquela em que se acidentou, não tinha
cabimento a pretendida aposentadoria.
Assim sendo, considerou o v. acórdão falecer interesse ao órgão do Ministério
Público para que, ofi ciando na qualidade de custos legis, viesse bater-se pela
modifi cação do v. acórdão.
Em tais circunstâncias, não há falar-se em afronta ao dispositivo legal invocado.
Não conheço do recurso.
Em seguida, votaram, pela ordem, os Ministros Vicente Cernicchiaro e
Hélio Mosimann, conhecendo do recurso e lhe dando provimento. Leio esses
votos: lê.
Data venia do entendimento do Ministro-Relator, acompanho os votos que
acabo de ler, em face da argumentação, que me convence, de que o Ministério
Público tem legitimidade para recorrer, em se tratando de ação acidentária.
Conheço do recurso e lhe dou provimento.
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
46
RECURSO ESPECIAL N. 30.224-SP (92.0031625-5)
Relator: Ministro Jesus Costa Lima
Recorrente: Instituto Nacional de Seguro Social - INSS
Advogado: Solon José Ramos
Recorrido: João José dos Santos
Advogados: Heloísa Albuquerque de Barros Braga e outros
EMENTA
Processual Civil. Ação acidentária. Conta. Homologação.
Recurso do Ministério Público. Legitimidade.
I. O representante do Ministério Público tem legitimidade para
recorrer tanto nos processos em que é parte, quanto naqueles em que
funciona como fi scal da lei - Súmula n. 99-STJ.
II. A transigência do advogado do operário na ação acidentária
cede ante o interesse público e porque as prestações, sendo de caráter
alimentar, confi guram direitos indisponíveis, especialmente quando
postula que o benefício seja reajustado tendo em vista o que estabelece
a Constituição.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Quinta
Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas
taquigráfi cas a seguir, por maioria, conhecer do recurso e lhe negar provimento.
Votaram com o Relator os Ministros José Dantas, Cid Flaquer Scartezzini e
Edson Vidigal. Votou vencido o Ministro Assis Toledo.
Brasília (DF), 19 de outubro de 1994 (data de julgamento).
Ministro Jesus da Costa Lima, Presidente e Relator
DJ 30.10.1995
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (17): 11-78, março 2011 47
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Jesus Costa Lima: Cuida-se de recurso especial interposto
pelo Instituto Nacional de Seguro Social - INSS, alegando violação ao art. 499, § 2°,
do CPC e dissídio jurisprudencial por parte do v. aresto de fl s. 99-101, proferido
pela eg. Sexta Câmara do Segundo Tribunal de Alçada Civil de São Paulo,
entendendo ter o Ministério Público legitimidade para, em ação acidentária,
recorrer contra sentença que homologa cálculo de liquidação, inobstante tenha o
defensor do obreiro transigido.
Aduz o recorrente que a parte tem advogado contratado que concordara
com a conta homologada, não podendo intervir a Curadoria de Acidentes do
Trabalho mediante apelação. Como paradigma, indica REsp n. 4.343-SP, DJ
29.09.1990 e REsp n. 2.613-SP, DJ 21.05.1990 (fl s. 103-106).
Opina o Dr. Roberto Monteiro Gurgel Santos, ilustrado Subprocurador-
Geral da República, pelo improvimento do recurso, invocando a aplicação da
Súmula n. 99-STJ (fl s. 121-124).
Relatei.
VOTO
O Sr. Ministro Jesus Costa Lima (Relator): O Ministério Público vinha
atuando no processo na condição de Curador de Acidentes. Homologada a conta
de liquidação com “transação havida entre as partes” (fl . 73), o representante do
Ministério Público recorreu alegando prejuízo para o acidentado porque as
prestações deixaram de ser reajustadas pelo valor do salário mínimo tal como
previsto na Constituição de 1988.
Ora, inescusável que, assim como lembrado no acórdão - fl s. 100-101 -, o
Ministério Público agiu como fi scal da lei, pugnando pela correta apuração do
crédito do operário.
É que os pagamentos devidos aos acidentados, benefi ciários que são da
Previdência Social, devem ser reajustados e pagos de acordo com os valores
mais recentes. Tanto assim que a Constituição, no art. 58, do ADCT estabelece
que os benefícios de prestação continuada a cargo da Previdência “terão os seus
valores revistos, a fi m de que seja restabelecido o poder aquisitivo, expresso em
número de salários mínimos, que tinham na data de sua concessão” ...
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
48
A Súmula n. 99 deste Superior Tribunal de Justiça resolveu esse problema,
conforme resulta de seus precedentes, dos quais destaco os votos a seguir.
O Ministro Milton Luiz Pereira teceu as seguintes considerações no REsp
n. 6.536-SP, julgado em 06.04.1993:
A Curadoria de Acidentes do Trabalho, com persistente irresignação, apelou
de sentença homologatória da conta de liquidação em ação acidentária,
pretendendo a reforma do Julgado para ser aplicado o índice geral ao reajuste do
benefi cio, pretensão não conhecida, cônsono o venerando acórdão:
A ilustre Curadoria, no caso, ofi cia como fi scal da lei, não estando, pois, a
representar o autor, único legitimado ao zelo de seu direito, por intermédio
do advogado regularmente constituído (fl . 5).
Desta forma, a apelante é parte ilegítima para recorrer, porquanto a
insurgência não visa interesse público, este sim, alvo da fi scalização em tela.
Registre-se, afi nal que nada obstante a regra do § 2º do artigo 499, do
Código de Processo Civil, a reconhecer a legitimidade do Ministério Público
a recorrer tanto nos processos em que é parte, como naqueles em que atua
como órgão fi scalizador, o certo é que a norma não pode ser avistada senão
em conjunto com o disposto no artigo 82 do precitado estatuto de rito
que estabelece as hipóteses de intervenção do parquet, é no caso, porque
o apelo não tem em mira o interesse público, mas, tão-somente, outro,
de proveito exclusivo do autor, não há legitimidade da Curadoria à sua
interpretação (fl s. 90-91).
Irretorquível, no caso, que o Ministério Público Federal participou da relação
processual, a sua legitimidade resulta do interesse jurídico justifi cador daquele
ingresso admitido, vincado nas funções de intervenção autorizada em lei. Essa
participação estando-se à incidência recursal, como acentuado nas eruditas
razões do recurso, a saber:
omissis (...)
Em outras palavras, o interesse está pressuposto (in re ipsa) na própria
outorga da legitimação: foi ele identificado previamente pelo próprio
legislador, o qual, por isso mesmo, conferiu a legitimação.
Como diz Hugo Mazzilli, “o interesse de agir, por parte do Ministério
Público, é presumido: quando a lei lhe confere legitimidade para intervir,
é porque lhe presume o interesse”. A conclusão de Satta, no particular,
é perfeitamente adequada ao nosso sistema jurídico: “o interesse do
Ministério Público é expresso na própria norma, que lhe permitiu ou
conferiu o modo de atuar”.
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (17): 11-78, março 2011 49
Ao ingressar no processo, quer na função de parte, quer na de fi scal
da lei, o Ministério Público está atuando na defesa do interesse público.
Conforme referido acima, ao lhe ser outorgada legitimação para agir ou
intervir em determinado processo, já se lhe reconheceu previamente o
interesse. É porque há interesse é que o Ministério Público está legitimado
a recorrer (art. 499, CPC). Interessa sempre à sociedade, que a decisão da
causa onde haja interesse público seja tomada de modo mais aproximado
possível da justiça ideal, sem vicio de procedimento ou de juízo.
Daí decorre a correta afirmação de que o interesse recursal, não se
constitui para o parquet em pressuposto de admissibilidade do recurso.
Esta é a razão pela qual, no processo penal, pode ele recorrer de sentença
condenatória em favor do réu.
Não raras vezes o Ministério Público interpõe recurso, no processo civil e
no processo penal, contra posicionamento de seu antecessor no processo.
Essa circunstância, como já se viu, não lhe retira o interesse recursal (fl s.
103-105).1
E, prosseguiu:
O direito discutido na ação acidentária merece tratamento diverso do
que lhe deu, data venia, o v. acórdão recorrido, haja vista ser indisponível: “os
direitos contemplados na Lei Acidentária, estruturada por normas cogentes,
ostentam caráter alimentar e, enquanto tais, são indisponíveis”, de modo
que mereciam a fi scalização do Ministério Público, pela via controladora do
recurso contra a sentença que desrespeitou essa indisponibilidade.
Deixar o processo acidentário correr ao bel prazer da parte, implicaria
tolher a atuação do parquet na defesa do interesse público, imanente
ao processo acidentário, interesse público esse que se encontra sempre
superposto ao interesse meramente individual da parte.
Ao propósito, o Pretório Excelso fixou princípio que vale ser aqui
invocado:
A custódia da lei, deferida ao Ministério Público, não pode sofrer
restrições, na exegese de norma processual, coarctando-lhe o pleno
desempenho do ofício.
Como diz Carnelutti:
O escopo das partes é ter razão; o escopo do processo é dar razão
a quem a tem. Nas duas fórmulas, verdadeiramente simples, está a
1 Comentários às súmulas do STJ, 2º volume, págs. 267-268
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
50
antítese entre o interesse interno e o interesse externo: que seja dado
razão a quem a tem não é um interesse das partes, mas um interesse
da sociedade inteira. Portanto, o processo não serve às partes, mas as
partes servem ao processo.
Negar ao Ministério Público, no caso sob exame, legitimidade e interesse
para recorrer, é, por vias transversas, impedir a realização da intenção
da lei de ver resguardado, ao máximo, o interesse público que existe
na preservação do direito particular do obreiro que, por não saber ou
não poder defender-se, sucumbe diante de interpretação equivocada e
insensível das fórmulas processuais (fl s. 108-110).
Para coroar, evitando abordar com a repetição, ilustrou a douta
Subprocuradoria-Geral da República, verbis:
Como já decidiu o Supremo Tribunal Federal, “o Ministério Público
tem legitimidade para recorrer assim no processo em que é parte, como
naqueles em que ofi ciou como fi scal da lei - art. 499, § 2º CPC”. (RE n. 91.677-
PR. 2ª Turma, Rel. Min. Cordeiro Guerra, in RTJ 93/1.339).
PONTES DE MIRANDA, a propósito, escreveu: “Restam os casos (4),
em que o Ministério Público apenas é órgão judicial consultivo, técnico,
podendo externar o que pensa pró ou contra quaisquer comunicações de
vontade feitas ao juiz. Não é parte. Não tem, a priori, qualquer legitimação
para recorrer; só a lei pode criá-la e essa lei mesma é que lhe pode permitir
o recorrer contra o que se resolveu de acordo com o seu parecer, espécie de
ius poenitendi, digna de maiores investigações como problema de política
legislativa... O Ministério Público, quando funciona, ou é parte, ou não o
é, se não o é parte, somente pode recorrer se o recurso se subsume no de
algum legitimado especial, ou se a lei mesma o legitima... fora daí e de lei
explícita, não pode recorrer... 7) Ministério Público - o artigo 499, § 2º, foi
bastante explícito, de modo que afastou as dúvidas que surgiam sob o
Código de 1939, antes da Lei n. 4.717, de 29 de junho de 1965, art. 19, §
2°. Os recursos interponíveis são os comuns. No processo, cabem-lhe os
mesmos poderes que às partes (art. 81, mas há regras jurídicas especiais,
como a do art. 511, relativa à dispensa da preparo. 8) Interesse de intervir
para reconhecer - o interesse para recorrer supõe a legação à relação jurídica
que está em causa e pode ser vantajosa para o terceiro provimento do
recurso. Quanto ao Ministério Público, art. 499, § 2° (in Comentários ao
Código de Processo Civil, ed. Forense, 1975, tomo VII, p. 71-72).
BARBOSA MOREIRA, comentando o art. 499, § 2º do Código de Processo
Civil, acentua que “o Ministério Público tem legitimidade para recorrer
assim no processo em que é parte, como naqueles em que ofi ciou como
fi scal da lei. Os recursos utilizáveis pelo Ministério Público são os mesmos,
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (17): 11-78, março 2011 51
em qualquer hipótese, de que dispõem as partes, sem diferença no que
tange aos pressupostos de cabimento” (Comentários ao CPC, Forense, vol.
V. p. 276).
Na espécie, ação relativa a acidente do trabalho, o Ministério Público
local funcionou na qualidade de custos legis: a sua legitimação para recorrer
assenta-se, indiscutivelmente, na expressa literalidade do artigo 499, § 2º,
do Código de Processo Civil e o interesse do parquet, resultante de sua
própria legitimidade, absolutamente não se confunde com o interesse da
parte (fl s. 125-126).
Diga-se, outrossim, que a jurisprudência desta Corte contemplou a
legitimidade ministerial para recorrer; à seguinte parla:
Processual Civil. Ação acidentária. Sentença homologatória de conta de
liquidação. Apelação do Ministério Público. Pretendendo a aplicação do
índice integral. Não conhecimento. Recurso especial. Art. 499, § 2° do CPC.
Além de legitimidade, tem o Ministério Público interesse em recorrer de
todas as decisões proferidas contra a parte sob sua proteção.
Recurso provido (REsp n. 5.507, Rel. Min. Américo Luz, in DJU de
10.12.1990).
Processual. Recurso. Ministério Público. Legitimidade para recorrer. Tanto
como parte ou como fi scal da lei (CPC, art. 499, § 2º).
Recurso provido (REsp n. 4.114, Rel. Min. Geraldo Sobral, in DJU de
08.02.1990).
Processual Civil. Ação acidentária. Sentença homologatória de conta de
liquidação. Apelação. Ministério Público. Legitimidade.
Tem o Ministério Público legitimidade e interesse em recorrer, seja como
parte ou fi scal da lei (art. 499, § 2º CPC), de todas as decisões proferidas
contra a parte sob sua proteção (REsp n. 6.459, Rel. Min. José de Jesus Filho,
in DJU de 07.10.1991).
Acidente do trabalho. Recurso do Ministério Público.
O Ministério Público tem legitimidade para recorrer como parte ou
como fi scal da lei, mas é necessário o interesse da parte em nome de quem
recorre, principalmente, quando não há interesse público atingido e se
tratando de direito disponível (REsp n. 6.945, Rel. Min. Garcia Vieira, in DJU
de 18.03.1991).
Recurso especial. Ministério Público. Legitimidade.
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
52
O Ministério Público tem legitimidade para recorrer, seja como parte ou
fi scal da lei. Os recursos são os mesmos de que dispõem as partes. A única
ressalva decorre do art. 500 do CPC, quanto ao recurso adesivo (REsp n.
6.795, Rel. Min. Vicente Cernicchiaro, in DJU de 04.03.1991, p. 1.981).
A bem ver, a harmoniosa compreensão fl ui do sistema processual civil vigente,
na perspectiva de dúplice atuação do Ministério Público: como parte (art. 81, CPC)
ou como fi scal da lei - (arts. 82 e 83, Cód. ref.) esmaecendo a gravitação como
custos legis (Cândido Rangel Dinamarco - Fundamentos do Processo Civil - p.
327 - n. 187 - Ed. Rev. Tribs. - 1986; RE n. 93.531, Rel. Min. Oscar Correia, in DJ de
1º.07.1983, p. 9.998; RE n. 94.064, Rel. Min. Néri da Silveira, in DJ de 17.12.1983, p.
13.209 - apud razões do recurso).
Curial, pois, que o Ministério Público, seja parte ou fiscal da lei tem,
resguardado o seu direito de recorrer (art. 499, § 2°, CPC), fundado nos interesses
sociais e individuais indisponíveis, pressupostos (in re ipsa) antecedentes à própria
legitimidade para a causa. Integrando na relação processual, a sua desvinculação
direta com os interesses, em confl ito, todavia, não o desqualifi ca para o exercício
dos deveres processuais decorrentes; confi ra-se:
Ser parte signifi ca participar da contradição posta em juízo, qualquer
que seja a posição processual ocupada, no processo, todo um conjunto de
direitos, faculdades, ônus e sujeições, inerentes às posições processuais. Ser
parte não implica ser exatamente igual à parte, uma vez que, obviamente,
diferem as partes entre si a partir da posição processual assumida, mas
implica, necessariamente, desfrutar na contradição instituída perante o juiz
da semelhante igualdade de oportunidade para infl uir na decisão, apesar
da posição processual eventualmente ocupada.
Quem participar do processo e nele desfrutar de um complexo de
direitos e faculdades que vão infl uir no julgamento sobre a contradição de
mérito, é parte, porque ser parte é fazer aquilo que só a parte pode fazer,
não o juiz.
Assim, o Ministério Público, sempre, ainda que intervindo, é parte e os
adjetivos com que se lhe individualiza a qualidade (parte artifi cial, parte
imparcial, parte adjunta, parte necessária ou parte secundária), nenhum
signifi cado apresentou no fenômeno processual (José Fernando Silva Lopes
- Ministério Público e o Processo Civil - p. 79 - Ed. Saraiva - 1978 - gr.).
Desse modo, assente a dualidade no desempenho das funções ou aceita a sua
participação, lato sensu, como parte, de qualquer sorte, infl uindo no julgamento,
por conclusão, até de lógica-jurídica, destacada a sua essencialidade na defesa
dos interesses sociais e individuais indisponíveis (art. 127, CF), inafastável a
legitimidade do Ministério Público para recorrer, enfim, seja como parte
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (17): 11-78, março 2011 53
interessada no acertamento do mérito, quer ofi ciando como fi scal da lei (§ 2º, art.
499, CPC).
Confl uente à motivação, compreendendo que a comentada legitimidade, por
tenazes razões de direito, deve ser reconhecida, descortinada a contrariedade no
art. 499, § 2º, CPC (art. 105, III, a, CF), voto pelo provimento, a fi m de que, para o
julgamento do mérito da apelação, dela tome conhecimento a instância recursal
a quo.
É o meu voto.
O Ministro Garcia Vieira fi cou vencido. Argumentou:
Como se trata de direitos disponíveis e de segurado capaz e devidamente
representado por advogado regularmente constituído com amplos poderes,
inclusive para “desistir de ações, acordar, desistir, discordar, adjudicar, remir,
receber e dar quitação, receber Alvarás Judiciais, representar o outorgante em
quaisquer repartições ...” (doc. de fl s. 27), não tem o Ministério Público, no caso,
legitimidade para recorrer. Não pode ele substituir a parte para contrariar a
vontade desta. Se o segurado pode até desistir da ação e entrar em composição
amigável com a parte contrária, pode, também deixar de recorrer e se conformar
com decisão a ele contrária e nas ações de acidente do trabalho não é diferente. O
Ministério Público que, no caso não é parte, não pode prejudicar a parte e impedi-
la de se conformar com arestos a ele adverso. A ele falta interesse e legitimidade
para recorrer. Não pode ele desconhecer e contrariar a vontade da parte, se não
há sequer interesse público atingido e não se trata de direito indisponível.
Como fi scal da lei não pode ele recorrer, se a parte é capaz e está legitimamente
representada por advogado constituído e se conformou com o acórdão a ele
contrário.
A questão é bem conhecida desta Egrégia Corte. Nos Recursos Especiais n.
4.343-SP, DJ de 29.10.1990, n. 2.613-SP, assentada de 09 de maio de 1990, n. 6.945-
SP, DJ de 18.03.1991, entendeu não ter o Ministério Público legitimidade para
recorrer, se não existe o interesse da parte em nome de quem recorre.
Contudo, no REsp n. 6.795-SP, julgado em 17.12.1990, afirmou o
Ministro Vicente Cernicchiaro:
A fi nalidade da lei, nos casos contemplados, é ensejar ao Ministério Público,
pouco importa atuar como parte ou custos legis, o exercício de todos os meios
processuais a fi m de buscar a solução do litígio. Inclui, evidentemente, o direito de
recorrer. A verdade real é a meta buscada. Ressalto, no caso dos autos, debate-se
ação acidentária, hoje, de cunho previdenciário, marcadamente assistencial.
2 Comentários às súmulas do STJ, 2º volume, págs. 268-272
3 Comentários às súmulas do STJ, 2º volume, págs. 272-273
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
54
Pouco importa, data venia, o trabalhador estar representado em juízo por
advogado. Em primeiro lugar, poderá haver divergência entre o causídico e
o representante do Ministério Público. Em segundo lugar, a atuação deste é
compulsória, impondo-se-lhe a obrigação de, no estrito cumprimento do dever
legal, esgotar os meios de defesa.
Essa duplicidade não deve afastar a presença do parquet. Ao contrário, em caso
de identidade de teses, ambos os recursos serão apreciados conjuntamente.
BARBOSA MOREIRA, “Comentários ao Código de Processo Civil”, Rio, Forense,
1985, vol. V, 5ª ed., 487-488, leciona:
O atual Código, louvavelmente, aqui se defi niu com toda a nitidez, no
§ 2° do artigo sob exame, “que o Ministério Público tem legitimidade para
recorrer assim no processo em que é parte, como naqueles em que ofi ciou
como fi scal da lei”. Os recursos utilizáveis pelo Ministério Público na função
de custos legis são os mesmos de que dispõem as partes, sem diferença no
que tange aos pressupostos de cabimento. Ressalve-se apenas que, à luz
dos dizeres do art. 500, não pode o Ministério Público, naquela qualidade,
recorrer “adesivamente”.
Entendo, considerada a natureza jurídica da ação de acidente do trabalho,
a intervenção do Ministério Público é compulsória, ainda que o obreiro se
faça representar por mandatário com legitimidade ad postulandum. Se a Lei n.
6.367/1976 é silente, ao contrário da anterior, o art. 82, III, in fi ne do Cód. Proc. Civil
oferece a solução.
Na espécie, fazem-se presentes dois pormenores. A parte economicamente
fraca e a fi nalidade previdenciária da infortunística.
Dou provimento ao recurso. Retornem os autos para julgamento do Recurso.
O Ministro Adhemar Maciel assim manifestou-se no REsp n. 35.314-SP,
julgado em 21.09.1993:
Senhor Presidente, no agravo de instrumento o Ministério Público, de modo
concreto, isto é, tentando demonstrar que houve prejuízo para o acidentado,
recorreu. O Tribunal a quo deu provimento ao agravo. Daí o recurso especial
do INSS, ao fundamento de que as partes já tinham, antes, concordado com a
homologação dos cálculos. Em sendo assim, não cabia ao Curador de Acidentes
agravar.
Senhor Presidente, o recorrente não tem razão. Nos termos do art. 499, caput,
e § 2° do CPC, o Ministério Público está legitimado para recorrer nos casos em
4 Comentários às súmulas do STJ, 2º volume, págs. 273-274.
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (17): 11-78, março 2011 55
que é fi scal da lei. É exatamente o caso em tela. O recurso, é bom que se frise, não
foi feito in abstracto, como sustenta o recorrente. No agravo de instrumento o
Curador de Acidentes do Trabalho sublinhou: “já que o critério de atualização ali
utilizado lhe lesa parcialmente o direito pela não-aplicação da equivalência em
todo período de cálculo, com vistas ao que dispõe o RR n. 9.858/74”. Assim, tem
legitimidade.
Transcrevo as ementas abaixo:
Processual Civil. Ministério Público. Legitimidade para recorrer. Parte e
fi scal da lei.
I - Consoante a expressa verba legis - art. 499, parágrafo 2º, CPC, é lícito
ao Ministério Público recorrer, tanto nos processos em que ofi cie como
parte, bem assim, nos em que for custos legis.
II - Recurso conhecido e provido (REsp n. 5.617-SP, Rel. Min. Pedro Acioli,
DJU de 28.10.1991).
Processual Civil. Ação acidentária. Sentença homologatória de conta
de liquidação. Apelação do Ministério Público pretendendo a aplicação do
índice integral. Não conhecimento. Recurso especial. Art. 499, par. 2º do
CPC.
Além de legitimidade, tem o Ministério Público interesse em recorrer de
todas as decisões proferidas contra a parte sob sua proteção.
Recurso provido (REsp n. 5.507-SP, Rel. Min. Américo Luz, DJU de
10.12.1990, p.14.799).
Dessarte, não conheço do recurso pela alínea a.
Quanto à alínea c, conheço para negar-lhe provimento.
O colendo Supremo Tribunal Federal referindo-se ao acidentado e
respectivos benefi ciários assentou: “Os direitos provenientes dessa legislação
especial, de caráter alimentar, são indisponíveis”. (RE n. 91.807-8-SP, Relator
Ministro Djaci Falcão, julgado em 08.08.1980, in RT vol. 548, p. 220-223)
Th eotônio Negrão (Código de Processo Civil e legislação processual em vigor, 25ª
ed. Malheiros, p. 703) inclui a seguinte nota:
As prestações de acidente do trabalho têm caráter alimentar e, por isso são
indisponíveis; se o empregado transige quanto ao valor do benefício, seu prazo de
duração, índices de reajustamento ou outras parcelas que infl uem sensivelmente
5 Comentários às súmulas do STJ, 2º volume, págs. 274/275
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
56
no quantum da indenização, a transação é nula, tendo o MP legitimidade para
recorrer da sentença que a homologa (Bol. AASP 1.732/59), “suprindo eventual
defi ciência da atividade do patrono da parte” (Bol. AASP 1.806/supl., p. 1).
Quanto ao INSS: aplica-se ao INSS a presunção do art. 302, caput do CPC, no
caso de não impugnação dos fatos articulados na inicial, porque seus direitos são
indisponíveis (JTA 108/381).
Feitas essas considerações, comprovada a divergência, conheço do recurso,
mas para negar-lhe provimento.
VOTO
O Sr. Ministro José Dantas: Senhor Presidente, meu voto, em caso
semelhante, do qual juntarei xerocópia, coincide com o de V. Exª, louvando-me
na mesma jurisprudência colacionada da Primeira Seção e da Sexta Turma; pelo
que o acompanho também na conclusão.
ANEXO
RECURSO ESPECIAL N. 41.660-4-SP
VOTO
O Sr. Ministro José Dantas (Relator): Senhor Presidente, conquanto
que ainda não uniformizada, vê-se que a jurisprudência deste Eg. Tribunal
propende para a tese esposada no v. acórdão recorrido, conforme os precedentes
colacionados no parecer, verbis:
1. Trata a hipótese de recurso especial interposto pelo Instituto Nacional do
Seguro Social, com fundamento no art. 105, inciso III, alíneas a e c, da Constituição
Federal, contra acórdão que reconheceu a legitimidade, bem como o interesse
do Ministério Público para recorrer de sentença homologatória de liquidação em
ação acidentária.
2. Alega o recorrente ter o acórdão violado os artigos 14, 16, 158, 447, 448, 449,
499, parágrafo 2º do Código de Processo Civil, arts. 82, 85 e 1.030 do Código Civil e
arts. 67, 68, 70, 76, 87 e 89 da Lei n. 7.215/1963.
3. Esta Corte optou pelo seguinte entendimento:
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (17): 11-78, março 2011 57
Processo Civil. Ministério Público. Legitimidade para recorrer. O Ministério
Público é titular da legitimidade para recorrer, tanto nos processos em que
atua como parte, quanto naqueles onde funciona como custos legis - tanto
mais, no processo de acidente do trabalho, onde sua função é resguardar
o interesse da parte hipossufi ciente. (REsp n. 2.785-SP, 1ª Turma, Rel. Min.
Humberto Gomes de Barros, publ. DJ 13.09.1993, p. 18.542).
4. No mesmo sentido: REsp n. 5.507-SP, 2ª Turma, Rel. Min. Américo Luz, publ.
DJ 10.12.1990, p. 14.799; REsp n. 6.459-SP, 2ª Turma, Rel. Min. José de Jesus, publ.
DJ 07.10.1991, p. 13.947; REsp n. 4.051-SP, 2ª Turma, Rel. Min. José de Jesus, publ.
DJ 07.06.1993, p. 11.250. - fl s. 100-101.
A luz dessa conferência jurisprudencial, tenho por incensurável o v. acórdão
recorrido.
Pelo exposto, se bem que conheça do recurso pela letra c, nego-lhe
provimento.
VOTO VENCIDO
O Sr. Ministro Assis Toledo: Sr. Presidente, segundo esclareceu V.Exª, as
partes representadas por advogados constituídos concordaram com o cálculo
elaborado. O maior interessado, que é o acidentado, tem advogado nos autos,
de sua livre escolha, que concordou com o cálculo. O Ministério Público, único
inconformado, não alega a existência de coação, dolo, simulação ou fraude.
Penso, data maxima venia, que os direitos originários de relação de trabalho
e que se traduzem em pecúnia são direitos disponíveis. Assim não fora, não se
explicaria a exigência de conciliação, na Consolidação das Leis do Trabalho,
para todas as reclamações de índole trabalhista. Sabe-se, por outro lado, que
essas conciliações, em geral, ocorrem com uma das partes, ou ambas, abrindo
mão de alguma parcela de seu direito. Do mesmo modo, seria pura fi cção não se
reconhecer que a solução imediata de um litígio, com o recebimento desde logo
do que é devido, não seja melhor ou mais vantajoso, para o trabalhador, do que
uma demanda que se prolonga e poderá perpetuar-se nos Tribunais, levando
anos para a solução fi nal.
Penso que, no caso, por amor à forma, atribui-se ao Ministério Público
o direito de recorrer naqueles casos em que a própria parte, benefi ciária do
resultado imediato do litígio, prefere concordar com o cálculo.
Distingo entre legitimidade e interesse para recorrer.
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
58
Para o exercício do recurso é preciso não só legitimidade, mas também o
interesse no desfecho da causa ou na solução do que se pleiteia. Não se nega
ao Ministério Público legitimidade para recorrer em todas as causas de que
participa, seja como fi scal da lei, seja como substituto processual. No caso dos
autos, porém, o que lhe nego é o interesse para recorrer, diante da concordância
da parte. O Ministério Público pode ter legitimidade para recorrer mas não tem
interesse quando a parte, a única benefi ciária da solução do litígio, concorda
com aquela solução que lhe parece mais rápida, embora abrindo mão de alguma
parcela. Se o Ministério Público não concorda com a solução, ele agrava o
sofrimento da parte, levando até às últimas instâncias um litígio que já poderia
estar fi ndo.
Data maxima venia da maioria, meu voto é totalmente divergente.
Conheço do recurso e dou-lhe provimento.
VOTO-VOGAL
O Sr. Ministro Edson Vidigal: Senhor Presidente, consignando meus
respeitos ao voto do Eminente Ministro Assis Toledo - como lhe é peculiar, no
seu brilho e experiência -, não obstante, até aqui, continuo inclinando-me no
sentido da posição vencedora neste julgamento.
Acompanho o voto de V. Exª.
É o voto.
RECURSO ESPECIAL N. 35.166-SP (93.0013792-1)
Relator: Ministro José Cândido
Recorrente: Instituto Nacional de Seguro Social - INSS
Recorrido: Lucia de Souza Ocanha - representada pela Curadoria de
Acidentes do Trabalho
Advogado: Solon José Ramos
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (17): 11-78, março 2011 59
EMENTA
Recurso especial. Processual Civil. Acidentária. Execução.
O Curador de Acidentes do Trabalho não se conformando com
as contas de liquidação, ainda que tenha assinado o acordo celebrado
entre o INSS e o acidentado, tem direito de apelar da decisão que
homologou os cálculos, se entendeu que houve lesão ao direito do
assistido. Não há falar em falta de interesse do Ministério Público para
o exercício da apelação.
Precedentes do Superior Tribunal de Justiça.
Recurso de que não se conhece.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Sexta
Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, não conhecer do
recurso, na conformidade dos votos e notas taquigráfi cas constantes dos autos.
Votaram com o Relator os Ministros Pedro Acioli, Adhemar Maciel, Anselmo
Santiago e Vicente Cernicchiaro.
Brasília (DF), em 13 de setembro de 1993 (data do julgamento).
Ministro Vicente Cernicchiaro, Presidente
Ministro João Cândido, Relator
DJ 30.05.1994
RELATÓRIO
O Sr. Ministro José Cândido: - Adoto como relatório o despacho de fl s.
78-79:
O venerando acórdão de fl s. 65-68 deu provimento ao presente agravo de
instrumento tirado contra decisão que rejeitou recurso de apelação interposto
nesta ação acidentária, em fase de liquidação.
Interpõe a autarquia recurso especial, com fundamento no artigo 105, III, a, da
Constituição Federal, sob a alegação de contrariedade aos artigos 14, 16, 158, 447
a 499, § 2º do Código de Processo Civil, 82, 85, e 1.030 do Código Civil, 67, 68, 70,
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
60
76, 87 e 89 da Lei n. 4.215/1963 porque reconhecida a legitimidade e o interesse
do Ministério Público para recorrer de sentença homologatória de liquidação, por
transação realizada entre as partes.
Intimada a parte contrária, decorreu, in albis, o prazo para contra-razões.
Opinou a douta Procuradoria-Geral de Justiça pelo indeferimento do apelo.
O recurso merece prosseguir.
O venerando aresto hostilizado asseverou que o Ministério Público tem
legitimidade para recorrer, bem como interesse, ainda que tenha havido transação
entre as partes, na medida em que, como fi scal da lei, vislumbrou que predito
acordo se mostrou lesivo aos interesses do obreiro.
Concluiu o ilustre Vice-Presidente, Dr. José Fraga Teixeira de Carvalho, no
juízo de admissibilidade, pelo processamento do recurso especial pela alínea a
do permissivo constitucional.
É o relatório.
VOTO
O Sr. Ministro José Cândido (Relator): Nenhuma razão assiste ao
recorrente.
O saudoso Hely Lopes Meirelles, falando sobre a independência de atuação
do Ministério Público, é explícito ao afirmar: “Seus atos funcionais só se
submetem ao controle do Poder Judiciário, quando praticados com excesso ou
abuso de poder lesivo de direito individual ou infringente das normas legais que
regem a sua conduta” (Parecer, Justitia, 123:185).
No caso dos autos, o Curador de Acidentes do Trabalho recorre da sentença
homologatória de fl . 144, por entender que houve lesão ao direito do segurado,
operando, assim, no pleno exercício de fi scal da lei. É absolutamente certo que
lhe assiste direito ao recurso. Não seria lógico que sofresse ele limitações ao
exercício do apelo extremo, havendo participado dos demais atos do processo.
O entendimento do Superior Tribunal de Justiça está pacifi cado, no sentido
de ser o Ministério Público, in casu, parte legítima para recorrer. São decisões
desta egrégia Corte Superior:
Ementa: Processual. Recurso. Ministério Público. Legitimidade para recorrer.
I - O CPC é incisivo sobre ter o Ministério Público Federal legitimidade para
recorrer, tanto como parte ou como fi scal da Lei (CPC, art. 499, parágrafo 2º).
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (17): 11-78, março 2011 61
II - Recurso provido. (REsp n. 4.114-SP, 1ª Turma, 31.10.1990, Relator Min.
Geraldo Sobral)
Ementa: Processual Civil. Acidentária homologatória em liquidação. Aplicação
de índice fracionado no reajustamento do benefício. Apelação do MP pelo índice
integral, não conhecida. Recurso especial, art. 499, § 2º, do CPC.
A teor do art. 499, § 1º do CPC, o MP tem legitimidade para agir na salvaguarda
dos interesses do acidentado. Restringir essa atuação contraria a lei e o pleno
desempenho do custos legis em prol de quem lhe cumpre proteger.
Recurso provido para devolver a matéria a apreciação do Tribunal a quo. (REsp
n. 6.198-SP, 1ª Turma, em 21.10.1991, Rel. Min. Gomes de Barros)
Tomando por base a jurisprudência desta Corte, consignada nas Ementas
transcritas, e outros tantos julgados, não conheço do recurso.
É o meu voto.
VOTO-VOGAL
O Sr. Ministro Luiz Vicente Cernicchiaro: O meu voto é no mesmo
sentido. Reedito entendimento lançado quando do julgamento do REsp n.
37.116-3-SP de que fui relator:
O Ministério Público atua, nos processos de infortunística, como custos legis.
Visa a resguardar o bom desenvolvimento do processo e, especifi camente, curar
eventual direito do acidentado, de modo geral, carente de conhecimento jurídico
e desprovido de recurso para efi ciente assistência profi ssional.
Em sendo assim, a relação processual inclui o Ministério Público.
Conseqüentemente, poderá acompanhar a instrução e valer-se dos recursos
legais. Se assim não fosse, seria mera presença formal. O propósito do Direito é
outro, busca atuação materialmente efi caz.
Assim, marcará presença obrigatória em todos os atos processuais. Não diviso,
data vênia, realce da distinção elaborada pelo v. acórdão, ou seja, quando o
interesse for apenas econômico. Realço esta passagem do aresto:
Verifi ca-se, portanto, por este ângulo, que não subsiste interesse jurídico
para o Ministério Público recorrer porquanto o conteúdo da questão é
meramente econômico. O argumento do recurso não processado, em
essência, é o do prejuízo econômico do trabalhador (- a legitimidade do
Ministério Público para se insurgir mesmo contra pseudo-composições
aviltantes do restitutio in integrum - fl . 22, do apelo) (fl . 55).
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
62
O interesse (sentido processual) precisa estar presente do princípio ao fi m do
processo. Ademais, nas ações acidentárias, de modo geral, é o aspecto econômico,
compensatório da extensão do infortúnio laboral.
Assim, ainda assistido de advogado, o acidentado tem o respaldo do Ministério
Público. Pode, por isso, recorrer da sentença homologatória, desde que presentes
os requisitos do recurso. Caso contrário, chegar-se-ia a um contrasenso. Imagina-
se o parquet opor·se à transação. O Juiz, porém, pendesse para solução oposta.
Restaria impedido de postular à instância superior? Evidente, impõe·se resposta
negativa. Invoque-se, aliás, o disposto no art. 5º, LV, da Constituição da República
que assegura “em processo judicial ou administrativo”, “contraditório e ampla
defesa, com os meios e recursos a ela inerentes”.
Conheço do recurso. Dou-lhe provimento para que se processe a apelação
interposta.
RECURSO ESPECIAL N. 35.314-SP (93.014306-9)
Relator: Ministro Adhemar Maciel
Recorrente: Instituto Nacional do Seguro Social - INSS
Advogado: Solon José Ramos
Recorrido: José Geraldo da Silva
Advogados: Jayme Arbex
EMENTA
Processual Civil. Acidente do trabalho. Liquidação de cálculo.
Ministério Público. Legitimidade para recorrer in concreto. Recurso
especial improvido.
I - O recorrente especial (INSS) pondera que houve acordo entre
o acidentado, através de seu advogado, e a Autarquia Previdenciária, no
tocante aos cálculos. Assim, ao Ministério Público falece legitimidade
recursal (agravo de instrumento).
II - O Ministério Público tem legitimidade recursal nos termos
do caput, e § 2º, do art. 499 do CPC. No caso em foco, ele recorre
como custos legis. Seu recurso não se faz in abstracto, mas in concreto.
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (17): 11-78, março 2011 63
Mesmo com a anuência do acidentado, o Curador de Acidentes do
Trabalho teve por lesivo ao acidentado o índice aplicado nos cálculos.
III - Recurso especial improvido.
ACÓRDÃO
Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas.
Decide a Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade,
não conhecer do recurso pela alínea a, dele conhecer pela alínea c, do permissivo
constitucional, porém, negar-lhe provimento, nos termos do voto do Sr. Ministro
Relator, na forma do relatório e notas taquigráfi cas constantes dos autos, que
fi cam fazendo parte integrante do presente julgado. Votaram de acordo os Srs.
Ministros Anselmo Santiago e Pedro Acioli. Ausentes, por motivo justifi cado,
os Srs. Ministros Vicente Cernicchiaro e José Cândido.
Custas, como de lei.
Brasília (DF), 21 de setembro de 1993 (data do julgamento).
Ministro Pedro Acioli, Presidente
Ministro Adhemar Maciel, Relator
DJ 11.10.1993
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Adhemar Maciel: Trata-se de recurso especial interposto
pelo Instituto Nacional de Seguro Social contra acórdão do Segundo Tribunal de
Alçada Civil de São Paulo, com fundamento no art. 105, III, a e c, da CF.
2. O Ministério Público Estadual (no interesse de José Geraldo da Silva)
interpôs agravo de instrumento contra decisão que entendeu faltar-lhe interesse
processual para impugnar conta liqüidação já transacionada entres as partes.
A Sexta Câmara do 2º TACSP deu provimento ao recurso. Entendeu que o
Ministério Público conta com legitimidade e interesse em recorrer de todas as
decisões proferidas contra a parte sob sua proteção. In casu, a Curadoria pode
atuar para suprir eventuais defi ciências do patrocinador da causa.
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
64
3. Inconformado, o INSS interpôs o presente recurso. Aduz que o
Ministério Público Estadual não pode discordar de acordo feito entres as partes
por lhe faltar interesse. Assim, restaram violados os arts. 14, 16, 158, 447 a 449
e 449, § 2º, do CPC; bem como os arts. 82, 85 e 1.030 do CC, e arts. 67, 68, 70,
76, 87 e 89 da Lei n. 4.215/1963 (EOAB).
É o relatório.
VOTO
O Sr. Ministro Adhemar Maciel (Relator): Senhor Presidente, no agravo
de instrumento o Ministério Público, de modo concreto, isto é, tentando
demonstrar que houve prejuízo para o acidentado, recorreu. O Tribunal a quo
deu provimento ao agravo. Daí o recurso especial do INSS, ao fundamento de
que as partes já tinham, antes, concordado com a homologação dos cálculos. Em
sendo assim, não cabia ao Curador de Acidentes agravar.
Senhor Presidente, o recorrente não tem razão. Nos termos do art. 499,
caput, e § 2º do CPC, o Ministério Público está legitimado para recorrer nos
casos em que é fi scal da lei. É exatamente o caso em tela. O recurso, é bom
que se frise, não foi feito in abstracto, como sustenta o recorrente. No agravo de
instrumento o Curador de Acidentes do Trabalho sublinhou: “já que o critério
de atualização ali utilizado lhe lesa parcialmente o direito pela não-aplicação
da equivalência em todo período de cálculo, com vistas ao que dispõe o RR n.
9.858/74”. Assim, tem legitimidade.
Transcrevo as ementas abaixo:
Processual Civil. Ministério Público. Legitimidade para recorrer. Parte e fi scal da
lei.
I - Consoante a expressa verba legis - art. 499, parágrafo 2º, CPC, é lícito ao
Ministério Público recorrer, tanto nos processos em que ofi cie como parte, bem
assim, nos em que for custos legis.
II - Recurso conhecido e provido. (REsp n. 5.617-SP, Rel. Min. Pedro Acioli, DJU
de 28.10.1991)
Processual Civil. Ação acidentária. Sentença homologatória de conta de
liquidação. Apelação do Ministério Público pretendendo a aplicação do índice
integral. Não conhecimento. Recurso especial. Art. 499, par. 2º do CPC.
- Além, de legitimidade, tem o Ministério Público interesse em recorrer de
todas as decisões, proferidas contra a parte sob sua proteção.
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (17): 11-78, março 2011 65
- Recurso provido. (REsp n. 5.507-SP, Rel. Min. Américo Luz, DJU de 10.12.1990,
p. 14.799)
Dessarte, não conheço do recurso pela alínea a.
Quanto à alínea c, conheço para negar-lhe provimento. O único aresto
colacionado, o REsp n. 4.343-SP, ementado pelo Min. Américo Luz, confi gura
caso de recurso in abstracto.
É como voto.
RECURSO ESPECIAL N. 44.654-SP (94.0005808-0)
Relator: Ministro José Dantas
Recorrente: Ministério Público do Estado de São Paulo
Recorrido: Instituto Nacional do Seguro Social - INSS
Advogado: Yoriko Koza
Interessado: Francisco Braga Resende
Advogado: Sergio Viegas Prado
EMENTA
Acidente de trabalho. Ministério Público. Recurso.
- Legitimidade. Tranqüila jurisprudência das Turmas às quais, no
Superior Tribunal de Justiça, foi transferida a competência exclusiva
para julgar a matéria acidentária, no sentido da legitimidade do
Ministério Público para recorrer como Curador de Acidentes do
Trabalho, ainda que o curatelado tenha advogado constituído.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Quinta
Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas
taquigráfi cas a seguir, por maioria, conhecer do recurso e lhe dar provimento,
nos termos do voto do Ministro Relator. Votaram com o Relator os Ministros
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
66
Cid Flaquer Scartezzini e Jesus Costa Lima. Votaram vencidos os Ministros
Edson Vidigal e Assis Toledo.
Brasília (DF), 07 de agosto de 1995 (data do julgamento).
Ministro Assis Toledo, Presidente
Ministro José Dantas, Relator
DJ 28.08.1995
RELATÓRIO
O Sr. Ministro José Dantas: Relato o feito pelas linhas do parecer do
Ministério Público Federal, lavra do Subprocurador-Geral Paulo Campos,
nestes termos:
Trata-se de recurso especial interposto pelo Ministério Público do Estado
de São Paulo, fundamentado na alínea a do permissivo constitucional, sob a
alegação de negativa de vigência ao art. 499, § 2° do Código de Processo Civil, na
medida em que o acórdão negou provimento ao agravo de instrumento tirado
contra decisão, que em lide acidentária, em fase de execução, deixou de receber
apelação interposta pelo Ministério Público contra sentença homologatória do
acordo celebrado entre as partes, por entender ausente o interesse recursal.
2. Desmerece prosperar a irresignação.
3. Se as partes acordaram com o cálculo de liquidação, inexiste interesse para
que o Ministério Público, como fi scal da lei, recorra da sentença homologatória,
eis que prejuízo algum se verifi ca a interessar ao Erário Público e, in casu a justifi car
a intervenção recursal pretendida.
4. Ademais, verifi ca-se que não houve a violação da regra invocada, eis que a
mesma não trata do interesse do MP recorrer, mas da legitimidade para o recurso.
5. Nesse sentido, já decidiu essa C. Corte, verbis:
Processual. Recurso especial pela letra a. Decisão que, em ação
acidentária, concluiu pela ausência de interesse recorrer, por parte do
Ministério Público. Invocada violação ao art. 499, § 2°, do CPC.
Fundamentando-se a decisão na ausência de interesse de recorrer, não
pode ter violado norma jurídica que versa coisa diversa, seja, a legitimidade
para o recurso. (REsp 2.673-SP, Rel. Min. Ilmar Galvão, 2ª Turma, julgado em
09.05.1990)
Assim sendo, opina-se pelo desprovimento do presente apelo. - fl s. 70-71.
Relatei.
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (17): 11-78, março 2011 67
VOTO
O Sr. Ministro José Dantas (Relator): Senhor Presidente, conquanto
tranquila a orientação consagrada por esta e pela 6a Turma, no sentido positivo
do interesse do Ministério Público para recorrer como Curador de Acidentes,
mesmo estando a parte representada por advogado (e.g., o mais recente acórdão
relatado pelo Sr. Min. Adhemar Maciel, REsp n. 44.621, DJ de 06.06.1994),
aconteceu que a Corte Especial, ao cotejar essa orientação com acórdão da
antiga Segunda Turma, se bem que por maioria de votos, recebeu os embargos
de divergência, preferindo a orientação paradigma, ao fundamento, em suma,
da carência de lei que torne obrigatória a intervenção do Ministério Público
naquelas ações (EREsp n. 37.116, Rel. Min. José de Jesus, Sessão de 25 de maio
deste ano).
Inobstante esse pronunciamento da Corte Especial, fi co em permanecer
naquele antigo entendimento, posto que tenho a curatela do Ministério Público
como função indissociável da assistência devida aos infortunados. Reporto-
me, pois, aos fundamentos do voto então reproduzido pelo Sr. Min. Vicente
Cernicchiaro, a quem acompanhei naqueles embargos de divergência, textual:
Sr. Presidente, o art. 499, § 2° do Código de Processo Civil, apontado pelo
Recorrente como violado, ostenta a seguinte redação:
O Ministério Público tem legitimidade para recorrer assim no processo
em que é parte, como naqueles em que ofi ciou como fi scal da lei.
O texto em vigor conferiu a solução divergente durante o Código revogado.
A fi nalidade da lei, nos casos contemplados, é ensejar ao Ministério Público,
pouco importa atuar como parte ou custos legis, o exercício de todos os meios
processuais a fi m de buscar a solução do litígio. Inclui, evidentemente, o direito de
recorrer. A verdade real é a meta buscada. Ressalto, no caso dos autos, debate-se
ação acidentária, hoje, de cunho previdenciário, marcadamente assistencial.
Pouco importa, data venia, o trabalhador estar representado em juízo por
advogado. Em primeiro lugar, poderá haver divergência entre o causídico e
o representante do Ministério Público. Em segundo lugar, a atuação deste é
compulsória, impondo-se-lhe a obrigação de, no estrito cumprimento do dever
legal, esgotar os meios de defesa. Essa duplicidade não deve afastar a presença
do parquet. Ao contrário, em caso de identidade de teses, ambos os recursos
serão apreciados conjuntamente.
Barbosa Moreira, “Comentários ao Código Processo Civil”, Rio, Forense, 1985,
Vol. V, 5ª ed., 487-488, leciona:
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
68
O atual Código, louvavelmente, aqui se defi niu com toda a nitidez, no
§ 2° do artigo sob exame, “que o Ministério Público tem legitimidade para
recorrer assim no processo em que é parte, como naqueles em que ofi ciou
como fi scal da lei”. Os recursos utilizáveis pelo Ministério Público na função
de custos legis são os mesmos de que dispõem as partes, sem diferença no
que tange aos pressupostos de cabimento. Ressalve-se apenas que, à luz
dos dizeres do art. 500, não pode o Ministério Público, naquela qualidade,
recorrer “adesivamente”.
Entendo, considerada a natureza jurídica da ação de acidente do trabalho,
a intervenção do Ministério Público é compulsória, ainda que o obreiro se
faça representar por mandatário com legitimidade ad postulandum. Se a Lei n.
6.367/1976 é silente, ao contrário da anterior, o art. 82, III, in fi ne do Cód. Proc. Civil
oferece a solução.
Na espécie, fazem-se presentes dois pormenores. A parte economicamente
fraca e a fi nalidade previdenciária da infortunística. - REsp n. 6.795, 6ª Turma, em
17.12.1990.
Ademais, explico essa minha inusitada desavença com o decidido pela
Corte Especial, por duas razões: a primeira, por se tratar de precedente isolado
da orientação de três outras Turmas, julgado, aliás, por simples maioria de voto;
e a segunda, porque naquela mesma sessão aprovou-se Questão de Ordem
determinante de que não servem à demonstração do dissídio, nos efeitos dos
embargos de divergência, acórdãos proferidos por Turmas que hajam perdido a
competência sobre a matéria de que se trate; justamente o caso, já que, segundo
a reforma regimental oportuna, tal competência para causas da infortunística foi
reservada às 5ª e 6ª Turmas do Tribunal.
Donde, justificar minha resistência à cassação da jurisprudência das
referidas Turmas julgadoras.
Pelo exposto, conheço do recurso e o provejo, em moldes a ensejar o
julgamento do discutido recurso do Ministério Público, no Tribunal a quo.
VOTO VENCIDO
O Sr. Ministro Assis Toledo: Srs. Ministros, data venia do entendimento
da maioria, tenho fi cado vencido por entender que, naqueles casos em que
houve acordo entre as partes, homologado pelo juiz, falta legítimo interesse
ao Ministério Público para recorrer, até porque não teria como se opor à
vontade livre e manifestada pelas partes que podem preferir o recebimento
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (17): 11-78, março 2011 69
imediato da indenização à discussão de diferenças durante meses ou anos nas
instâncias superiores.
Não conheço do recurso.
VOTO VENCIDO
O Sr. Ministro Edson Vidigal: Senhor Presidente, em face das
considerações feitas por V. Exª, peço vênia para retifi car meu voto e aderir ao de
V. Exª.
É o voto.
VOTO
O Sr. Ministro Jesus Costa Lima: Sr. Presidente, acompanho o voto do Sr.
Ministro-Relator de acordo com voto que proferi no julgamento do REsp n.
30.224-2-SP, em 19.10.1994, nesta 5ª Turma:
O Ministério Público vinha atuando no processo na condição de Curador de
Acidentes. Homologada a conta de liquidação com “transação havida entre as
partes” (fl . 73), o representante do Ministério Público recorreu alegando prejuízo
para o acidentado porque as prestações deixaram de ser reajustadas pelo valor do
salário mínimo tal como previsto na Constituição de 1988.
Ora, inescusável que, assim como lembrado no acórdão - fls. 100-101, o
Ministério Público agiu como fi scal da lei, pugnando pela correta apuração do
crédito do operário.
É que os pagamentos devidos aos acidentados, beneficiários que são da
Previdência Social, devem ser reajustados e pagos de acordo com os valores mais
recentes. Tanto é assim, que a Constituição, no art. 58, do ADCT, estabelece que os
benefícios de prestação continuada a cargo da Previdência “terão os seus valores
revistos, a fi m de que seja restabelecido o poder aquisitivo, expresso em número
de salários mínimos, que tinham na data de sua concessão”...
A Súmula n. 99 deste Superior Tribunal de Justiça resolveu esse problema,
conforme resulta de seus precedentes, dos quais destaco os votos a seguir.
O Ministro Milton Luiz Pereira teceu as seguintes considerações no REsp n.
6.536-SP, julgado em 06.04.1993:
A Curadoria de Acidentes do Trabalho, com persistente irresignação,
apelou de sentença homologatória da conta de liquidação em ação
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
70
acidentária, pretendendo a reforma do julgado para ser aplicado o índice
geral ao reajuste do benefício, pretensão não conhecida, cônsono o
venerando acórdão:
A ilustre Curadoria, no caso, ofi cia como fi scal da lei, não estando,
pois, a representar o autor, único legitimado ao zelo de seu direito,
por intermédio do advogado regularmente constituído (fl . 05).
Desta forma, a apelante é parte ilegítima para recorrer, porquanto
a insurgência não visa interesse público, este sim, alvo da fi scalização
em tela.
Registre-se, afi nal, que nada obstante a regra do § 2º, do artigo
499, do Código de Processo Civil, a reconhecer a legitimidade do
Ministério Público a recorrer tanto nos processos em que é parte,
como naqueles em que atua como órgão fi scalizador, o certo é que a
norma não pode ser avistada senão em conjunto com o disposto no
artigo 82 do precitado estatuto de rito que estabelece as hipóteses de
intervenção do parquet, é no caso, porque o apelo não tem em mira
o interesse público, mas, tão-somente, outro, de proveito exclusivo
do autor, não há legitimidade da Curadoria à sua interpretação (fl s.
90-91).
Irretorquível, no caso, que o Ministério Público Federal participou
da relação processual, a sua legitimidade resulta do interesse jurídico
justifi cador daquele ingresso admitido, vincado nas funções de intervenção
autorizada em lei. Essa participação estando-se à incidência recursal, como
acentuado nas eruditas razões do recurso, a saber:
omissis (...)
Em outras palavras, o interesse está pressuposto (in re ipsa) na
própria outorga da legitimação: foi ele identifi cado previamente pelo
próprio legislador, o qual, por isso mesmo, conferiu a legitimação.
Como diz Hugo Mazzilli, “o interesse de agir, por parte do Ministério
Público, é presumido: quando a lei lhe confere legitimidade para
intervir, é porque lhe presume o interesse”. A conclusão de Satta, no
particular, é perfeitamente adequada ao nosso sistema jurídico: “o
interesse do Ministério Público é expresso na própria norma, que lhe
permitiu ou conferiu o modo de atuar”.
Ao ingressar no processo, quer na função de parte, quer na de
fi scal da lei, o Ministério Público está atuando na defesa do interesse
público. Conforme referido acima, ao lhe ser outorgada legitimação
para agir ou intervir em determinado processo, já se lhe reconheceu
previamente o interesse. É porque há interesse é que o Ministério
Público está legitimado a recorrer (art. 499, CPC). Interessa sempre à
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (17): 11-78, março 2011 71
sociedade, que a decisão da causa onde haja interesse público seja
tomada de modo mais aproximado possível da justiça ideal, sem vicio
de procedimento ou de juízo.
Daí decorre a correta afi rmação de que o interesse recursal, não
se constitui para o parquet em pressuposto de admissibilidade do
recurso.
Esta é a razão pela qual, no processo penal, pode ele recorrer de
sentença condenatória em favor do réu.
Não raras vezes o Ministério Público interpõe recurso, no processo
civil e no processo penal, contra posicionamento de seu antecessor
no processo. Essa circunstância, como já se viu, não lhe retira o
interesse recursal (fl s. 103-105).
E, prosseguiu:
O direito discutido na ação acidentária merece tratamento
diverso do que lhe deu, data venia, o v. acórdão recorrido, haja
vista ser indisponível: “os direitos contemplados na Lei Acidentária,
estruturada por normas cogentes, ostentam caráter alimentar e,
enquanto tais, são indisponíveis”, de modo que mereciam a
fi scalização do Ministério Público, pela via controladora do recurso
contra a sentença que desrespeitou essa indisponibilidade.
Deixar o processo acidentário correr ao bel prazer da parte,
implicaria tolher a atuação do parquet na defesa do interesse público,
imanente ao processo acidentário, interesse público esse que se
encontra sempre superposto ao interesse meramente individual da
parte.
Ao propósito, o Pretório Excelso fi xou princípio que vale ser aqui
invocado:
A custódia da lei, deferida ao Ministério Público, não pode
sofrer restrições, na exegese de norma processual, coarctando-
lhe o pleno desempenho do ofício.
Como diz Carnelutti:
O escopo das partes é ter razão; o escopo do processo é
dar razão a quem a tem. Nas duas fórmulas, verdadeiramente
simples, está a antítese entre o interesse interno e o interesse
externo: que seja dado razão a quem a tem não é um interesse
das partes, mas um interesse da sociedade inteira. Portanto, o
processo não serve às partes, mas as partes servem ao processo.
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
72
Negar ao Ministério Público, no caso sob exame, legitimidade e
interesse para recorrer, é, por vias transversas, impedir a realização
da intenção da lei de ver resguardado, ao máximo, o interesse
público que existe na preservação do direito particular do obreiro
que, por não saber ou não poder defender-se, sucumbe diante de
interpretação equivocada e insensível das fórmulas processuais (fl s.
108-110).
Para coroar, evitando abordar com a repetição, ilustrou a douta
Subprocuradoria-Geral da República, verbis:
Como já decidiu o Supremo Tribunal Federal, “o Ministério Público
tem legitimidade para recorrer assim no processo em que é parte,
como naqueles em que ofi ciou como fi scal da lei - art. 499, § 2º, CPC”.
(RE n. 91.677-PR, 2ª Turma, Rel. Min. Cordeiro Guerra, in RTJ 93/1.339).
Pontes de Miranda, a propósito, escreveu: “Restam os casos (4),
em que o Ministério Público apenas é órgão judicial consultiva,
técnico, podendo externar o que pensa pró ou contra quaisquer
comunicações de vontades feitas ao juiz. Não é parte. Não tem, a
priori, qualquer legitimação para recorrer; só a lei pode criá-la e essa
lei mesma é que lhe pode permitir o recorrer contra o que se resolveu
de acordo com o seu parecer, espécie de ius poenitendi, digna de
maiores investigações como problema de política legislativa... O
Ministério Público, quando funciona, ou é parte, ou não o é, se não o
é parte, somente pode recorrer se o recurso se subsume no de algum
legitimado especial, ou se a lei mesma o legitima... fora daí e de lei
explícita, não pode recorrer... 7) Ministério Público - o artigo 499, § 2º,
foi bastante explícito, de modo que afastou as dúvidas que surgiam
sob o Código de 1939, antes da Lei n. 4.717, de 29 de junho de 1965,
art. 19, § 2º. Os recursos interponíveis são os comuns. No processo,
cabem-lhe os mesmos poderes que às partes (art. 81, mas há regras
jurídicas especiais, como a do art. 511, relativa à dispensa do preparo.
8) Interesse de intervir para reconhecer - o interesse para recorrer supõe
a legação à relação jurídica que está em causa e pode ser vantajosa
para o terceiro provimento do recurso. Quanto ao Ministério Público,
art. 499, § 2°” (in Comentários ao Código de Processo Civil, ed. Forense,
1975, tomo VII, p. 71-72).
Barbosa Moreira, comentando o art. 499, § 2º, do Código de
Processo Civil, acentua que “o Ministério Público tem legitimidade
para recorrer assim no processo em que é parte, como naqueles em
que ofi ciou como fi scal da lei. Os recursos utilizáveis pelo Ministério
Público são os mesmos, em qualquer hipótese, de que dispõem as
partes, sem diferença no que tange aos pressupostos de cabimento”
(Comentários ao CPC, Forense, vol. V, p. 276).
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (17): 11-78, março 2011 73
Na espécie, ação relativa a acidente do trabalho, o Ministério
Público local funcionou na qualidade de custos legis: a sua legitimação
para recorrer assenta-se, indiscutivelmente, na expressa literalidade
do artigo 499, § 2º, do Código de Processo Civil e o interesse do
parquet, resultante de sua própria legitimidade, absolutamente não
se confunde com o interesse da parte (fl s. 125-126).
Diga-se, outrossim, que a jurisprudência desta Corte contemplou a
legitimidade ministerial para recorrer; à seguinte parla:
Processual Civil. Ação acidentária. Sentença homologatória de
conta de liquidação. Apelação do Ministério Público. Pretendendo
a aplicação do índice integral. Não conhecimento. Recurso especial.
Art. 499, § 2º do CPC.
Além de legitimidade, tem o Ministério Público interesse em
recorrer de todas as decisões proferidas contra a parte sob sua
proteção.
Recurso provido. (REsp n. 5.507, Rel. Min. Américo Luz, in DJU de
10.12.1990)
Processual. Recurso. Ministério Público. Legitimidade para recorrer.
Tanto como parte ou como fi scal da lei (CPC, art. 499, § 2º).
Recurso provido. (REsp n. 4.114, Rel. Min. Geraldo Sobral, in DJU de
08.02.1990)
Processual Civil. Ação acidentária. Sentença homologatória de
conta de liquidação. Apelação. Ministério Público. Legitimidade.
Tem o Ministério Público legitimidade e interesse em recorrer, seja
como parte ou fi scal da lei (art. 499, § 2º, CPC), de todas as decisões
proferidas contra a parte sob sua proteção. (REsp n. 6.459, Rel. Min.
José de Jesus Filho, in DJU de 07.10.1991)
Acidente do trabalho. Recurso do Ministério Público.
O Ministério Público tem legitimidade para recorrer como parte
ou como fi scal da lei, mas é necessário o interesse da parte em nome
de quem recorre, principalmente, quando não há interesse público
atingido e se tratando de direito disponível. (REsp n. 6.945, Rel. Min.
Garcia Vieira, in DJU de 18.03.1991)
Recurso especial. Ministério Público. Legitimidade.
O Ministério Público tem legitimidade para recorrer, seja como
parte ou fi scal da lei. Os recursos são os mesmos de que dispõem as
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
74
partes. A única ressalva decorre do art. 500 do CPC, quanto ao recurso
adesivo. (REsp n. 6.795, Rel. Min. Vicente Cernicchiaro, in DJU de
04.03.1991, p. 1.981).
A bem ver, a harmoniosa compreensão flui do sistema processual
civil vigente, na perspectiva de dúplice atuação do Ministério Público:
como parte (art. 81, CPC) ou como fi scal da lei - (arts. 82 e 83, Cód. ref.)
esmaecendo a gravitação como custos legis (Cândido Rangel Dinamarco -
Fundamentos do Processo Civil - p. 327 - n. 187 - Ed. Rev. Tribs. - 1986; RE n.
93.531, Rel. Min. Oscar Corrêa, in DJU de 1º.07.1983, p. 9.998; RE n. 94.064,
Rel. Min. Néri da Silveira, in DJU de 17.12.1983, p. 13.209, apud razões do
recurso).
Curial, pois, que o Ministério Público, seja parte ou fi scal da lei, tem,
resguardado o seu direito de recorrer (art. 499, § 2º, CPC), fundado nos
interesses sociais e individuais indisponíveis, pressupostos (in re ipsa)
antecedentes à própria legitimidade para a causa. Integrando na relação
processual, a sua desvinculação direta com os interesses, em conflito,
todavia, não o desqualifica para o exercício dos deveres processuais
decorrentes; confi ra-se:
Ser parte significa participar da contradição posta em juízo,
qualquer que seja a posição processual ocupada, no processo, todo
um conjunto de direitos, faculdades, ônus e sujeições, inerentes às
posições processuais. Ser parte não implica ser exatamente igual à
parte, uma vez que, obviamente, diferem as partes entre si a partir
da posição processual assumida, mas implica, necessariamente,
desfrutar na contradição instituída perante o juiz da semelhante
igualdade de oportunidade para infl uir na decisão, apesar da posição
processual eventualmente ocupada.
Quem participar do processo e nele desfrutar de um complexo
de direitos e faculdades que vão influir no julgamento sobre a
contradição de mérito, é parte, porque ser parte é fazer aquilo que só
a parte pode fazer, não o juiz.
Assim, o Ministério Público, sempre, ainda que intervindo, é parte e
os adjetivos com que se lhe individualiza a qualidade (parte artifi cial,
parte imparcial, parte adjunta, parte necessária ou parte secundária),
nenhum significado apresentou no fenômeno processual (José
Fernando Silva Lopes - Ministério Público e o Processo Civil, p. 79 - Ed.
Saraiva -1978 - gr.).
Desse modo, assente a dualidade no desempenho das funções ou aceita
a sua participação, lato sensu, como parte, de qualquer sorte, infl uindo
no julgamento, por conclusão, até de lógica-jurídica, destacada a sua
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (17): 11-78, março 2011 75
essencialidade na defesa dos interesses sociais e individuais indisponíveis
(art. 127, CF), inafastável a legitimidade do Ministério para recorrer, enfi m,
seja como parte interessada no acertamento do mérito, quer ofi ciando
como fi scal da lei (§ 2º, art. 499, CPC).
Confluente à motivação, compreendendo que a comentada
legitimidade, por tenazes razões de direito, deve ser reconhecida,
descortinado a contrariedade no art. 499, § 2º, CPC (art. 105, III, a, CF), voto
pelo provimento, afi m de que, para o julgamento do mérito da apelação,
dela tome conhecimento a instância recursal a quo.
É o meu voto.
O Ministro Garcia Vieira fi cou vencido. Argumentou:
Como se trata de direitos disponíveis e de segurado capaz e devidamente
representado por advogado regularmente constituído com amplos poderes,
inclusive para “desistir de ações, acordar, desistir, discordar, adjudicar, remir,
receber e dar quitação, receber Alvarás Judiciais, representar o outorgante
em quaisquer repartições ...” (doc. de fl . 27), não tem o Ministério Público,
no caso, legitimidade para recorrer. Não pode ele substituir a parte para
contrariar a vontade desta. Se o segurado pode até desistir da ação e entrar
em composição amigável com a parte contrária, pode, também deixar de
recorrer e se conformar com decisão a ele contrária e nas ações de acidente
do trabalho não é diferente. O Ministério Público que, no caso não é parte,
não pode prejudicar a parte e impedi-la de se conformar com arestos a ele
adverso. A ele falta interesse e legitimidade para recorrer. Não pode ele
desconhecer e contrariar a vontade da parte, se não há sequer interesse
público atingido e não se trata de direito indisponível.
Como fiscal da lei não pode ele recorrer, se a parte é capaz e está
legitimamente representada por advogado constituído e se conformou
com o acórdão a ele contrário.
A questão é bem conhecida desta Egrégia Corte. Nos Recursos Especiais
n. 4.343-SP, DJ de 29.10.1990, n. 2.613-SP, assentada de 09 de maio de
1990, n. 6.945-SP, DJ de 18.03.1991, entendeu não ter o Ministério Público
legitimidade para recorrer, se não existe o interesse da parte em nome de
quem recorre.
Contudo, no REsp n. 6.795-SP, julgado em 17.12.1990, afirmou o Ministro
Vicente Cernicchiaro:
A finalidade da lei, nos casos contemplados, é ensejar ao Ministério
Público, pouco importa atuar como parte ou custos legis, o exercício de
todos os meios processuais a fim de buscar a solução do litígio. Inclui,
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
76
evidentemente, o direito de recorrer. A verdade real é a meta buscada.
Ressalto, no caso dos autos, debate-se ação acidentária, hoje, de cunho
previdenciário, marcadamente assistencial.
Pouco importa, data venia, o trabalhador estar representado em juízo por
advogado. Em primeiro lugar, poderá haver divergência entre o causídico e
o representante do Ministério Público. Em segundo lugar, a atuação deste
é compulsória, impondo-se-lhe a obrigação de, no estrito cumprimento do
dever legal, esgotar os meios de defesa.
Essa duplicidade não deve afastar a presença do parquet. Ao contrário,
em caso de identidade de teses, ambos os recursos serão apreciados
conjuntamente.
Barbosa Moreira, “Comentários ao Código de Processo Civil”, Rio, Forense,
1985, vol. V, 5ª ed, 487-488, leciona:
O atual Código, louvavelmente, aqui se definiu com toda a
nitidez, no § 2º do artigo sob exame, “que o Ministério Público tem
legitimidade para recorrer assim no processo em que é parte, como
naqueles em que ofi ciou como fi scal da lei”. Os recursos utilizáveis
pelo Ministério Público na função de custos legis são os mesmos de
que dispõem as partes, sem diferença no que tange aos pressupostos
de cabimento. Ressalve-se apenas que, à luz dos dizeres do art.
500, não pode o Ministério Público, naquela qualidade, recorrer
“adesivamente”.
Entendo, considerada a natureza jurídica da ação de acidente
do trabalho, a intervenção do Ministério Público é compulsória, ainda
que o obreiro se faça representar por mandatário com legitimidade ad
postulandum. Se a Lei n. 6.367/1976 é silente, ao contrário da anterior, o art.
82, III, in fi ne do Cód. Proc. Civil oferece a solução.
Na espécie, fazem-se presentes dois pormenores. A parte
economicamente fraca e a fi nalidade previdenciária da infortunística.
Dou provimento ao recurso. Retornem os autos para julgamento do
recurso.
O Ministro Adhemar Maciel assim manifestou-se no REsp n. 35.314-SP, julgado
em 21.09.1993:
Senhor Presidente, no agravo de instrumento o Ministério Público, de
modo concreto, isto é, tentando demonstrar que houve prejuízo para o
acidentado, recorreu. O Tribunal a quo deu provimento ao agravo. Daí o
recurso especial do INSS, ao fundamento de que as partes já tinham, antes,
concordado com a homologação dos cálculos. Em sendo assim, não cabia
ao Curador de Acidentes agravar.
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (17): 11-78, março 2011 77
Senhor Presidente, o recorrente não tem razão. Nos termos do art. 499,
caput, e § 2° do CPC, o Ministério Público está legitimado para recorrer
nos casos em que é fi scal da lei. É exatamente o caso em tela. O recurso, é
bom que se frise, não foi feito in abstracto, como sustenta o recorrente. No
agravo de instrumento o Curador de Acidentes do Trabalho sublinhou: “já
que o critério de atualização ali utilizado lhe lesa parcialmente o direito pela
não aplicação da equivalência em todo período de cálculo, com vistas ao
que dispõe o RR n. 9.858/74”. Assim, tem legitimidade.
Transcrevo as ementas abaixo:
Processual Civil. Ministério Público. Legtimidade para recorrer.
Parte e fi scal da lei.
I - Consoante a expressa verba legis - art. 499, parágrafo 2º, CPC,
é lícito ao Ministério Público recorrer, tanto nos processos em que
ofi cie como parte, bem assim, nos em que for custos legis.
II - Recurso conhecido e provido. (REsp n. 5617-SP, Rel. Min. Pedro
Acioli, DJU de 28.10.1991)
Processual Civil. Ação acidentária. Sentença homologatória de
conta de liquidação. Apelação do Ministério Público pretendendo a
aplicação do índice integral. Não conhecimento. Recurso especial.
Art. 499, par. 2º do CPC.
Além de legitimidade, tem o Ministério Público interesse em
recorrer de todas as decisões proferidas contra a parte sob sua
proteção.
Recurso provido. (REsp n. 5.507-SP, Rel. Min. Américo Luz, DJU de
10.12.1990, p. 14.799)
Dessarte, não conheço do recurso pela alínea a.
Quanto à alínea c, conheço para negar-lhe provimento.
O colendo Supremo Tribunal Federal referindo-se ao acidentado e respectivos
benefi ciários assentou: “Os direitos provenientes dessa legislação especial, de
caráter alimentar, são indisponíveis”. (RE n. 91.807-8-SP, Relator Ministro Djaci
Falcão, julgado em 08.08.1980, in RT vol. 548, p. 220-223). Theotônio Negrão
(Código de Processo Civil e legislação processual em vigor, 25ª Ed., Malheiros, p.
703) inclui a seguinte nota:
As prestações de acidente do trabalho têm caráter alimentar e, por isso
são indisponíveis; se o empregado transige quanto ao valor da benefi cio,
seu prazo de duração, índices de reajustamento ou outras parcelar que
infl uem sensivelmente no quantum da indenização, a transação é nula,
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
78
tendo o MP legitimidade para recorrer da sentença que a homologa (Bol.
AASP 1.732/1959), “suprindo eventual defi ciência da atividade do patrono
da parte” (Bol. AASP l.806/supl., p. 1).
Quanto ao INSS: aplica-se ao INSS a presunção do art. 302 caput do CPC,
no caso de não impugnação dos fatos articulados na inicial, porque seus
direitos são indisponíveis (JTA 108/381).
Feitas essas considerações, comprovada a divergência, conheço do recurso,
mas para negar-lhe provimento.
Súmula n. 227
SÚMULA N. 227
A pessoa jurídica pode sofrer dano moral.
Referências:
CF/1988, art. 5º, X.
CC/1916, arts. 159 e 1.553.
Precedentes:
REsp 129.428-RJ (4ª T, 25.03.1998 – DJ 22.06.1998)
REsp 134.993-MA (4ª T, 03.02.1998 – DJ 16.03.1998)
REsp 161.739-PB (3ª T, 16.06.1998 – DJ 19.10.1998)
REsp 161.913-MG (3ª T, 22.09.1998 – DJ 18.12.1998)
REsp 177.995-SP (4ª T, 15.09.1998 – DJ 09.11.1998)
Segunda Seção, em 08.09.1999
DJ 20.10.1999, p. 49
RECURSO ESPECIAL N. 129.428-RJ (97.289818)
Relator: Ministro Ruy Rosado de Aguiar
Recorrente: Liane Vasconcelos Gonçalves
Recorrido: Tinturaria e Lavanderia Estrela do Matoso Ltda.
Advogados: Antonio Claudio Ferreira Neto e outros
Ricardo Xavier Araujo Feio e outros
EMENTA
Responsabilidade civil. Imprensa. Dano moral. Pessoa jurídica.
A pessoa jurídica pode sofrer dano moral. Precedente.
Ilegitimidade passiva não prequestionada. Recurso conhecido pela
divergência, mas improvido.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Quarta
Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas
taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, conhecer do recurso, mas lhe negar
provimento. Votaram com o Relator os Srs. Ministros Sálvio de Figueiredo
Teixeira e Barros Monteiro. Ausentes, justifi cadamente, o Sr. Ministro Bueno de
Souza e, ocasionalmente, o Sr. Ministro Cesar Asfor Rocha.
Brasília (DF), 25 de março de 1998 (data do julgamento).
Ministro Barros Monteiro, Presidente
Ministro Rui Rosado de Aguiar, Relator
DJ 22.06.1998
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Ruy Rosado de Aguiar: Cuida-se de ação de indenização
c.c. obrigação de fazer promovida por Tinturaria e Lavanderia Estrela do
Matoso Ltda. contra a jornalista do Jornal “O Globo” Liane Gonçalves, tendo
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
84
em vista que a ré publicou no referido jornal matéria que denegriu o conceito
da empresa autora no mercado de prestação de serviços de lavagem de roupas
hospitalares perante órgãos públicos de âmbito Federal, Estadual, Municipal e
Autárquico, impedindo, inclusive, o seu direito de resposta.
A sentença julgou improcedente o pedido, alegando não caber indenização
de dano moral a pessoas jurídicas:
(...) Razão assiste à ré, quando chama a atenção deste juízo para o fato de não
caber indenização de dano moral a pessoas jurídicas, uma vez que as mesmas, na
realidade como salientava, não são suscetíveis de experimentar dor, sofrimento
ou angústia. Essa matéria hoje é mansa e pacífi ca nos Tribunais, inadmitindo
qualquer entendimento que contrarie princípios básicos da indenização.
Somente as pessoas físicas são suscetíveis de dano moral, não sendo possível
admitir·se a pretensão da autora em se ressarcir que efetivamente não sofreu. A
preliminar de inépcia da petição inicial, confunde-se com o mérito da questão, e
será com ele fi nalmente decidida. Na realidade, esta ação se afi gura a este juízo
como verdadeira aventura da autora, em pretender da ré, jornalista do Jornal
“O Globo”, ressarcimento por uma reportagem que registrou fatos constatados
documentalmente, e que em passado algum, como salientado no corpo dessa
sentença, foi produto de impressão ou opinião pessoal. Foram relatados fatos,
efetivamente tidos como suspeitos, merecendo ser consignado, que as pessoas
envolvidas nos mesmos admitiram a existência das irregularidades constadas
pela ré. Encimo a reportagem o título “Hospital Paga Por Lavagem Que Não
É Feita” (verbis). Lendo-se com atenção a reportagem, e comparando-se-a
com a petição inicial, nota-se a evidência, que em passo algum desta última é
contestado o cerne da reportagem, vale dizer, o superfaturamento da prestação
de serviço. Quanto mais não seja a reportagem diz respeito a uma sucessora dela,
que vergonhosa e escandalosamente substituí-a na prestação do serviço que
ela, por razões inconfessadas foi afastada, nenhuma culpa ou responsabilidade
cabe à ré, que se afi gurou a esta juízo como uma profi ssional séria, correta, que
cumpriu a sua missão, nos exatos limites dos fatos constatados. Na verdade, não
há reportagem truncada ou retorcida. Muito ao revés disso, há uma reportagem
que merece uma apuração criminal, para responsabilizar aqueles que se utilizam
de uma forma criminosa do erário público, em prejuízo do contribuinte. Isto
posto, julgo improcedente o pedido e condeno a autora ao pagamento das
custas do processo e honorários de advogado, na base de 20% sobre o valor da
causa. Determino que seja extraída cópia desta sentença, e da reportagem, e
encaminhada à Polícia Federal, em tese criminosos apontados nela.
A autora apelou e a eg. 6ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado
do Rio de Janeiro, por votação unânime, rejeitou a preliminar de nulidade
da sentença, por falta de fundamentação, reconheceu a revelia da apelada, e,
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (17): 79-108, março 2011 85
no mérito, deu provimento à apelação, julgando procedente a ação a fi m de
condenar a ré a pagar indenização por danos morais, fi xados em 50 salários
mínimos, cujo acórdão restou assim ementado:
Responsabilidade civil. Difamação veiculada pela imprensa. Publicação
objetivando denegrir o bom nome, imagem e reputação de empresa comercial.
Ação de indenização por danos morais. A Constituição Federal, ao garantir
indenização por dano moral, não fez qualquer distinção entre pessoas físicas ou
jurídicas. Divulgação de notícias tendenciosas e injustas sobre a empresa e seus
serviços. Danos morais satisfatoriamente demonstrados. Obrigação de reparar os
danos morais causados à empresa comercial. (fl . 230).
Irresignada, a ré manifestou recurso especial, com fundamento no art.
105, inc. III, alíneas a e c da Constituição Federal, apontando afronta aos arts.
267, VI do Código de Processo Civil, 159 do Código Civil e 49 e 50 da Lei
n. 5.250/1967, além de dissídio jurisprudencial. Alega que as pessoas jurídicas
não são suscetíveis de sofrer danos morais, faltando, portanto, legitimidade da
autora para pleitear indenização por danos dessa natureza. Outrossim, diz que
faltou um dos pressupostos da responsabilidade civil, pois o dano inexiste. Aduz
que somente o veículo de comunicação pode responder diretamente por danos
causados pela publicação de notícias, respondendo o jornalista somente em ação
regressiva.
Com as contra-razões, o recurso foi admitido no Tribunal de origem
(divergência), subindo os autos a este eg. STJ.
É o relatório.
VOTO
O Sr. Ministro Ruy Rosado de Aguiar (Relator): 1. Esta 4° Turma já
examinou o tema da responsabilidade civil por dano moral causado a pessoa
jurídica, e lhe deu resposta afi rmativa:
Quando se trata de pessoa jurídica, o tema da ofensa à honra propõe
uma distinção inicial: a honra subjetiva, inerente à pessoa física, que está no
psiquismo de cada um e pode ser ofendida com atos que atinjam a sua dignidade,
respeito próprio, auto-estima, etc., causadores de dor, humilhação, vexame; a
honra objetiva, externa ao sujeito, que consiste no respeito, admiração, apreço,
consideração que os outros dispensam à pessoa. Por isso se diz ser a injúria um
ataque à honra subjetiva, à dignidade da pessoa, enquanto que a difamação é
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
86
ofensa à reputação que o ofendido goza no âmbito social onde vive. A pessoa
jurídica, criação da ordem legal, não tem capacidade de sentir emoção e dor,
estando por isso desprovida de honra subjetiva e imune à injúria. Pode padecer,
porém, de ataque à honra objetiva, pois goza de uma reputação junto a terceiros,
passível de fi car abalada por atos que afetam o seu bom nome no mundo civil ou
comercial onde atua.
Esta ofensa pode ter seu efeito limitado à diminuição do conceito público
de que goza no seio da comunidade, sem repercussão direta e imediata sobre o
seu patrimônio. Assim, embora a lição em sentido contrário de ilustres doutores
(Horacio Roitman e Ramon Daniel Pizarro, El Daño Moral y La Persona Juridica,
RDPC, p. 215) trata-se de verdadeiro dano extrapatrimonial, que existe e pode ser
mensurado através de arbitramento. É certo, que, além disso, o dano à reputação
da pessoa jurídica pode causar-lhe dano patrimonial, através do abalo de crédito,
perda efetiva de chances de negócios e de celebração de contratos, diminuição
de clientela, etc, donde concluo que as duas espécies de danos podem ser
cumulativas, não excludentes.
Pierre Kayser, no seu clássico trabalho sobre os direitos da personalidade, observou:
As pessoas morais são também investidas de direitos análogos aos
direitos da personalidade. Elas são somente privadas dos direitos cuja
existência está ligada necessariamente à personalidade humana. (Revue
Trimestrielle de Droit Civil, 1971, v. 69, p. 445).
E a moderna doutrina francesa recomenda a utilização da via indenizatória
para a sua proteção:
A proteção dos atributos morais da personalidade para a propositura
de ação de responsabilidade não está reservada somente às pessoas
físicas. Aos grupos personalizados tem sido admitido o uso dessa via para
proteger seu direito ao nome ou para obter a condenação de autores de
propostas escritas ou atos tendentes à ruína de sua reputação. A pessoa
moral pode mesmo reivindicar a proteção, senão de sua vida privada, ao
menos do segredo dos negócios. (Traité de Droit Civil, Viney, Les Obligations,
La responsabilité, 1982, vol. II, p. 321.)
No Brasil, está hoje assegurada constitucionalmente a indenizabilidade do
dano moral à pessoa (art. 5°, X, da CR). Para dar efetiva aplicação ao preceito,
pode ser utilizada a “regra exposta pelo art. 1.553 do CCivil, segundo o qual ‘nos
casos não previstos neste capítulo, se fi xará por arbitragem a indenização’. Esta
disposição permite a indenização dos danos morais e constitui uma cláusula geral
dessa matéria” (Clóvis do Couto e Silva, “O Conceito de dano no Direito brasileiro
e comparado”, Rev. dos Tribunais, 667/7). O mesmo dano moral, de que pode ser
vítima também a pessoa jurídica, é reparável através da ação de indenização,
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (17): 79-108, março 2011 87
avaliado o prejuízo por arbitramento.
No caso dos autos, a v. sentença, depois confi rmada pelo v. acórdão, cujos
fundamentos estão transcritos no relatório, além de admitir a existência de
dano extra patrimonial, também reconheceu a presença de dano patrimonial,
diretamente derivado da conduta culposa do banco. Tanto por um fundamento,
quanto pelo outro, cabível o deferimento do pedido indenizatório.
Isto posto, conhecendo do recurso pela divergência, nego-lhe provimento.
(REsp n. 60.033-MG, de minha relatoria, DJ 27.11.1995; no mesmo sentido, REsp n.
112.127-RS, 4ª Turma, Rel. em. Min. Barros Monteiro)
2. No caso dos autos, a ré alegou a ilegitimidade ativa da autora e a
impossibilidade de caracterizar-se o dano, por se tratar de pessoa jurídica
infensa ao dano moral. A divergência fi cou bem demonstrada, razão pela qual
conheço do recurso, nesse ponto, mas lhe nego provimento, para manter a
orientação acolhida no r. acórdão recorrido.
3. O tema da ilegitimidade passiva da ré não foi examinado pela eg.
Câmara, faltando quanto ao ponto o necessário prequestionamento, a impedir
o exame da tese no presente feito, embora tenha sido seguidamente objeto de
julgamentos na Turma.
Posto isso, conheço do recurso, pela divergência, mas lhe nego provimento.
É o voto.
RECURSO ESPECIAL N. 134.993-MA (97.0039042-0)
Relator: Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira
Recorrente: Industrias Químicas do Norte S.A - Quimicanorte
Recorrida: Gráfi ca Escolar S.A
Advogados: Cícero Francisco de Oliveira e outro
José Carlos Sousa Silva e outro
EMENTA
Civil. Responsabilidade civil. Danos morais. Pessoa jurídica.
Possibilidade. Honra objetiva. Doutrina. Precedentes do Tribunal.
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
88
Recurso provido para afastar a carência da ação por impossibilidade
jurídica.
- A evolução do pensamento jurídico, no qual convergiram
jurisprudência e doutrina, veio a afi rmar, inclusive nesta Corte, onde o
entendimento tem sido unânime, que a pessoa jurídica pode ser vítima
também de danos morais, considerados esses como violadores da sua
honra objetiva.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Quarta
Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das
notas taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, conhecer do recurso e dar-lhe
provimento. Votaram com o Relator os Ministros Barros Monteiro e Cesar
Asfor Rocha. Ausentes, justifi cadamente, os Ministros Bueno de Souza e Ruy
Rosado de Aguiar.
Brasília (DF), 03 de fevereiro de 1998 (data do julgamento).
Ministro Barros Monteiro, Presidente
Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira, Relator
DJ 16.03.1998
EXPOSIÇÃO
O Sr. Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira: A recorrida, editora de “O
Estado do Maranhão”, publicou em seu jornal uma série de reportagens nas
quais afi rmou ter a recorrente vendido, ao Governo Federal, através da Ceme
(Central de Medicamentos do Ministério da Saúde), sem licitação e com
preços superfaturados, uma quantidade considerável de soro, salientando que
a recorrente teria recuperado suas fi nanças justamente em razão do contrato
administrativo fi rmado.
Inconformada com essa divulgação, a recorrente ajuizou ação indenizatória
baseada na Lei de Imprensa, dizendo-se ofendida em sua honra e pleiteando a
condenação da recorrida em danos morais.
A sentença acolheu o pedido, mas o Tribunal de Justiça do Maranhão, sob
a relatoria do Desembargador Almeida e Silva, julgou extinto o processo por
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (17): 79-108, março 2011 89
impossibilidade jurídica do pedido, assinalando que pessoa jurídica não pode
pleitear indenização por dano moral. E entendeu ainda a Turma que não era de
se exigir, como pressuposto recursal, o pagamento integral do valor a que foi a ré
condenada, porque a condenação excedera em quase trinta vezes o teto máximo
defi nido na Lei de Imprensa.
Manifestados declaratórios, foram eles rejeitados.
Insatisfeita, a autora interpôs recurso especial por violação dos arts. 57, § 6º
da Lei de Imprensa e 267, VI, CPC, bem como pela ocorrência de dissídio com
o REsp n. 60.033-MG. Alega que a apelação não deveria ter sido conhecida
por faltar o pagamento do valor da condenação e ser juridicamente possível o
pedido de indenização por danos morais pleiteada por pessoa jurídica.
Contra-arrazoado, foi o recurso admitido na origem.
É o relatório.
VOTO
O Sr. Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira (Relator): l. No que concerne
ao pressuposto de admissibilidade da apelação - pagamento do valor da
condenação como condição para recorrer - a matéria não pode ser analisada
nesta instância especial. O voto-condutor, no ponto, assinalou:
Isso está a demonstrar a impossibilidade de aplicação, sob pena de
malferimento do disposto no art. 5º, item LV da Constituição Federal, da regra
do § 6º do art. 57 da Lei de Imprensa. Exigir que o recurso só possa ser admitido
com o depósito do valor da indenização, fi xado em quase trinta vezes o máximo
legal, implica, na prática, a anulação do princípio do duplo grau de jurisdição,
essencial à preservação da ampla defesa e do contraditório, consagrados no texto
constitucional (fl . 91).
Constata-se, portanto que o acórdão, ao tratar do tema, arrimou-se em
fundamento constitucional, que tem o recurso extraordinário como sede própria
para discussão, diferentemente do decidido no REsp n. 39.886-SP, julgado em
22.09.1997, cujo aresto se baseou somente em argumento infraconstitucional.
2. Quanto à segunda insurgência da recorrente, por meio da qual ela insiste
não ser juridicamente impossível pedido de indenização de danos morais a
favor de pessoa jurídica, melhor sorte lhe assiste, tendo restado confi gurada
a divergência com o REsp n. 60.033-MG, desta Turma, que, enfrentando
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
90
diretamente a tese jurídica posta, de forma explícita admitiu a condenação da
pessoa jurídica por dano extrapatrimonial, embora versando espécie concernente
a protesto indevido de título cambial.
Com efeito, como se tem entendido, a pessoa jurídica pode ser vítima de
danos morais, não obstante a inicial posição contrária de Wilson Melo da Silva
(Cf. O Dano Moral e sua Reparação, 2ª ed., Forense, 1969, n. 224, p. 501).
Bem é verdade que a pessoa jurídica não sente, não sofre com a ofensa
à sua honra subjetiva, à sua imagem, ao seu caráter, atributos do direito de
personalidade, inerente somente à pessoa física. Mas, não se pode negar, a
possibilidade de ocorrer ofensa ao nome da empresa, à sua reputação, que, nas
relações comerciais, alcançam acentuadas proporções em razão da infl uência que
o conceito da empresa exerce.
Walter Moraes, no verbete relativo a danos morais, publicado na
Enciclopédia Saraiva de Direito, v. XXV, p. 207, anota que “a doutrina, em geral,
admite a tutela da honra das pessoas jurídicas, distinta da proteção da dignidade
dos indivíduos que as compõem”.
No mesmo sentido, embora informando a inexistência, à época, de
exemplos de danos morais à pessoa jurídica no País, assinalou Aguiar Dias:
A pessoa jurídica pública ou privada, os sindicatos, as autarquias, podem
propor ação de responsabilidade, tanto fundada no dano material como no
prejuízo moral. Este ponto de vista, esposado pela generalidade dos autores, é
sufragado hoje pacifi camente pela jurisprudência estrangeira. A nossa carece
de exemplos, ao menos de nós conhecidos. Não há razão para supor que não
adote, ocorrida a hipótese, igual orientação (Da Responsabilidade Civil, v. II, 7ª ed.,
Forense, 1983).
A doutrina francesa há muito caminha por essa trilha, admitindo a
repercussão do dano moral na pessoa jurídica. Primeiramente restringiu ela sua
atuação aos sindicatos, para, depois, estendê-la às pessoas jurídicas em geral.
Mazeaud & Mazeaud assim se posicionaram:
Le préjudice matériel n’est pas seul en jeu. Un groupement, tout comme une
personne physique, a un patrimoine extra-pécuniaire, qui peut être lésé. Il est capable
de subir un préjudice moral, à l’exc1usion seulement d’une atteinte aux: sentiments
d’affection. Si une personne morale n’a pas de coeur, elle a un honneur et une
considération (Traité Théorique et Pratique de la Responsabilité Civile Délictuelle et
Contractuelle, t. III, 2ª ed., Librairie du Recueil Sirey, 1934, p. 685).
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (17): 79-108, março 2011 91
De grande valia, ainda, as considerações trazidas pelo Ministro Ruy Rosado
de Aguiar, ao relatar o paradigma colacionado pela recorrente, verbis:
Quando se trata de pessoa jurídica, o tema da ofensa à honra propõe
uma distinção inicial: a honra subjetiva, inerente à pessoa física, que está no
psiquismo de cada um e pode ser ofendida com atos que atinjam a sua dignidade,
respeito próprio, auto-estima, etc., causadores de dor, humilhação, vexame; a
honra objetiva, externa ao sujeito, que consiste no respeito, admiração, apreço,
consideração que os outros dispensam à pessoa. Por isso se diz ser a injúria um
ataque à honra subjetiva, à dignidade da pessoa, enquanto que a difamação é
ofensa à reputação que o ofendido goza no âmbito social onde vive. A pessoa
jurídica, criação da ordem legal, não tem capacidade de sentir emoção e dor,
estando por isso desprovida de honra subjetiva e imune à injúria. Pode padecer,
porém, de ataque à honra objetiva, pois goza de uma reputação junto a terceiros,
passível de fi car abalada por atos que afetam o seu bom nome no mundo civil ou
comercial onde atua.
Esta ofensa pode ter seu efeito limitado à diminuição do conceito público
de que goza no seio da comunidade, sem repercussão direta e imediata sobre o
seu patrimônio. Assim, embora a lição em sentido contrário de ilustres doutores
(Horácio Roitman e Ramon Daniel Pizarro, El Daño Moral y La Persona Jurídica,
RDPC, p. 215) trata-se de verdadeiro dano extrapatrimonial, que existe e pode ser
mensurado através de arbitramento. É certo, que, além disso, o dano à reputação
da pessoa jurídica pode causar-lhe dano patrimonial, através do abalo de crédito,
perda efetiva de chances de negócios e de celebração de contratos, diminuição
de clientela, etc, donde concluo que as duas espécies de danos podem ser
cumulativas, não excludentes.
Pierre Kayser, no seu clássico trabalho sobre os direitos da personalidade,
observou:
As pessoas morais são também investidas de direitos análogos aos
direitos da personalidade. Elas são somente privadas dos direitos cuja
existência está ligada necessariamente à personalidade humana (Revue
Trimestrielle de Droit Civil, 1971, v. 69, p. 445).
E a moderna doutrina francesa recomenda a utilização da via indenizatória
para a sua proteção:
A proteção dos atributos morais da personalidade para a propositura
de ação de responsabilidade não está reservada somente às pessoas
físicas. Aos grupos personalizados tem sido admitido o uso dessa via para
proteger seu direito ao nome ou para obter a condenação de autores de
propostas escritas ou atos tendentes à ruína de sua reputação. A pessoa
moral pode mesmo reivindicar a proteção, senão de sua vida privada, ao
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
92
menos do segredo dos negócios (Traité de Droit Civil, Viney, Les Obligations,
La responsabilité, 1982, vol. II, p. 321).
No Brasil, está hoje assegurada constitucionalmente a indenizabilidade do
dano moral à pessoa (art. 5º, X, da CR). Para dar efetiva aplicação ao preceito,
pode ser utilizada a “regra exposta pelo art. 1.553 do CCivil, segundo o qual, ‘nos
casos não previstos neste capítulo, se fi xará por arbitragem a indenização’. Esta
disposição permite a indenização dos danos morais e constitui uma cláusula geral
dessa matéria” (Clóvis do Couto e Silva, “O Conceito de dano no Direito brasileiro
e comparado”, Rev. dos Tribunais, 667/7). O mesmo dano moral, de que pode ser
vítima também a pessoa jurídica, é reparável através da ação de indenização,
avaliado o prejuízo por arbitramento.
Recentemente, esta Turma teve oportunidade, uma vez mais, de manter
seu entendimento a respeito do tema sob enfoque. No REsp n. 112.236-RJ (DJ
25.08.1997), assentou:
- A pessoa jurídica pode sofrer dano à sua honra objetiva.
A Terceira Turma não tem discrepado desse entendimento, ao confi rmar,
no REsp n. 58.660-MG (DJ 22.09.1997), relatado pelo Ministro Waldemar
Zveiter, sentença da então Juíza da 9ª Vara Cível de Belo Horizonte, Maria Elza
Campos Zettel. O referido aresto desta Corte fi cou encimado com esta ementa:
II - Cabível a ação de indenização, por dano moral, sofrido por pessoa jurídica;
visto que a proteção dos atributos morais da personalidade não está reservada
somente às pessoas físicas (REsp n. 60.033-2-MG - DJ de 27.11.1995).
3. Em face do exposto, conheço do recurso pela divergência e dou-lhe
provimento para, cassando o v. acórdão, ensejar o exame dos demais pontos
constantes da apelação.
RECURSO ESPECIAL N. 161.739-PB (98.0000135/2)
Relator: Ministro Waldemar Zveiter
Recorrente: Banco do Brasil S/A
Recorrido: Silva e Spinelly Ltda.
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (17): 79-108, março 2011 93
Advogados: Leonidas Cabral de Albuquerque e outros
Caius Marcellus Lacerda e outros
EMENTA
Responsabilidade civil. Dano moral. Pessoa jurídica.
I - A ofensa à honra objetiva da pessoa jurídica pode resultar de
protesto indevido de título cambial, cabendo indenização pelo dano
patrimonial daí decorrente.
II - Recurso não conhecido.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Senhores Ministros
da Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos
e das notas taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, não conhecer do recurso
especial. Participaram do julgamento os Senhores Ministros Menezes Direito,
Costa Leite, Nilson Naves e Eduardo Ribeiro.
Brasília (DF), 16 de junho de 1998 (data do julgamento).
Ministro Costa Leite, Presidente
Ministro Waldemar Zveiter, Relator
DJ 19.10.1998
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Waldemar Zveiter: - Cuida-se de ação de indenização por
danos morais e materiais derivados de ato ilícito e defeitos relativos à prestação
de serviços.
Silva e Spinelly Ltda. propôs tal demanda contra o Banco do Brasil S/A
por ter este apontado a protesto título (duplicata emitida por Dia Grag. Com.
Motopeças, fornecedora da demandante), quando essa duplicata já havia sido
paga, antes de seu vencimento.
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
94
A sentença de fl . 79, acolhendo o pedido, impôs ao banco-réu condenação
equivalente a 100 (cem) vezes o valor do débito protestado (danos material e
moral), acrescido de custas, despesas processuais e honorários (estes, em 15%
sobre o quantum da condenação). Tudo apurado em liquidação de sentença.
Inconformado, interpôs o réu apelação, mas o aresto de fl . 112 confi rmou
a sentença, assim também o fazendo o de fl . 124 (Declaratórios) sendo certo
que nestes Embargos, explicitou-se que os danos morais resultaram da ofensa
perpetrada à moral objetiva da empresa. Tais acórdãos estão assim ementados:
Fl. 112:
Ação de indenização por danos morais. Protesto indevido de título. Quantum da
indenização. Critérios razoáveis.
- A empresa que protesta título já quitado, deverá arcar com a responsabilidade
pelo dano moral causado.
- A jurisprudência pátria, com o aval e chancela do STJ, tem entendido
que o quantum da indenização por protesto indevido de duplicata, deve ser
correspondente a cem vezes o valor do título protestado.
- A indenização por protesto indevido de duplicata deve ser fi xada em quantia
correspondente a cem vezes o valor do título protestado, corrigido desde a data do
ato. Com isso se proporciona a vítima satisfação na justa medida do abalo sofrido,
sem enriquecimento sem causa, produzindo, em contrapartida, no causador do mal,
impacto bastante para dissuadi-lo de igual e novo atentado.
Fl. 124:
Responsabilidade civil. Pessoa jurídica. Pólo ativo. Prejuízo moral. Honra
objetiva.
- As pessoas jurídicas podem funcionar no pólo ativo das ações de indenizações
por dano moral, desde que devidamente demonstrada que houve flagrante
ofensa à sua honra objetiva.
- A doutrina alienígena, notadamente a francesa - leia-se Duguit, André de
Laubadere, Viney, Lafayette Pondé, Tirarei, Gendrel, Pierre Montané de la Roque -,
entende que a proteção à honra, para a propositura da ação de indenização por
danos morais não está tão-somente reservados às pessoas físicas, igualmente
estando assegurado às pessoas jurídicas.
- A Constituição Federal, ao garantir indenização por dano moral não fez
qualquer distinção entre pessoas físicas ou jurídicas, não se podendo deslembrar da
parêmia no sentido de que onde a lei não distingue não cabe ao intérprete distinguir.
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (17): 79-108, março 2011 95
Ninguém poderá negar que o protesto indevido de um título de crédito, sacado
contra uma empresa e já pago, não traduza ofensa à imagem e ao bom nome desse
estabelecimento. Mas também ninguém poderá negar que essa ofensa se converterá
em prejuízo econômico, na medida em que a imagem ruim se refl ete não só nas
vendas como no relacionamento com as fornecedores. - RUI STOCO.
- O mau funcionamento dos serviços bancários obriga a instituição fi nanceira
a ressarcir os prejuízos causados aos seus clientes e o banqueiro responde por
dolo e culpa, inclusive leve e até pelo risco profi ssional assumido de acordo com a
jurisprudência do STF - Antônio Carlos Amaral Leão, citando o professor Arnaldo
Wald.
- Embargos declaratórios conhecidos e acolhidos.
Impugnando esses decisórios, alega o banco que eles, pelo entendimento
em que se lastreiam, divergem da orientação seguida por outros precedentes que
trazem a confronto - fl s. 133.
O apelo teve seu processamento acolhido na origem, ao fundamento de
que o recorrente logrou comprovar a dissidência pretendida.
É o relatório.
VOTO
O Sr. Ministro Waldemar Zveiter (Relator): - No apelo (fl . 141), o banco
recorrente restringe seu pedido a que se reconheça, nesta Instância do Especial,
a impossibilidade de indenização por danos morais, quando requerida por pessoa
jurídica.
O acórdão da apelação, respaldando-se no direito pretoriano, assim decidiu
(fl . 116):
A indenização por protesto indevido de duplicata deve ser fixado em quantia
correspondente a cem vezes o valor do título protestado, corrigido desde a data do
ato. Com isso se proporciona a vítima satisfação na justa medida do abalo sofrido,
sem enriquecimento sem causa, produzindo, em contrapartida, no causador do mal,
impacto bastante para dissuadi-lo de igual e novo atentado.
Mas o acórdão dos embargos, objeto específico da insurgência,
complementado o decisum acima referido, acolheu a tese jurídica, no que se
refere a ofensa à moral objetiva de pessoa jurídica (empresa), proclamada pelo
eminente Ministro Ruy Rosado de Aguiar, no REsp n. 60.033-MG, verbis (fl .
128):
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
96
Dentre os inúmeros arestos do STJ, merece destaque o Recurso Especial
n. 60.033-2-MG, publicado no DJU de 27.11.1995, em acórdão relatado pelo
eminente Ministro Ruy Rosado de Aguiar, assim ementado:
Responsabilidade civil. Dano moral. Pessoa jurídica.
- A honra objetiva da pessoa jurídica pode ser ofendida pelo
protesto indevido de título cambial, cabendo indenização pelo dano
extrapatrimonial daí decorrente.
Sua Excelência, o Ministro Relator, foi enfático inclusive citando doutrina:
No Brasil, está hoje assegurada constitucionalmente a indenização
do dano moral à pessoa (art. 5°, X, da CF). Para dar efetiva aplicação do
preceito, pode ser utilizada a “regra exposta pelo art. 1.553 do Código
Civil, segundo o qual, nos casos não previstos neste capítulo, se fi xará por
arbitragem a indenização”. Esta disposição permite a indenização dos danos
morais e constitui uma cláusula geral dessa matéria (Clóvia do Couto e Silva,
“O Conceito de Dano Moral no Direito Brasileiro e Comparado”, Revista dos
Tribunais, 667/7). O mesmo dano moral, de que pode ser vítima também
a pessoa jurídica, é reparável através da ação de indenização, avaliado o
prejuízo por arbitramento.
A seguir o eminente Relator do acórdão, aqui impugnado, traz ao contexto,
e ainda como arrimo de sua conclusão, a melhor doutrina sobre o tema. (fl s. 128-
130):
Se não bastasse, a doutrina pátria, quase que unânime, igualmente caminha
nesse sentido.
Rui Stoco, in “Responsabilidade Civil e sua interpretação Jurisprudencial”,
editora Forense, Rio, 3ª edição, n. 272, assim se pronuncia:
A Constituição Federal, ao garantir indenização por dano moral não
fez qualquer distinção entre pessoas físicas ou jurídicas, não se podendo
deslembrar da parêmia no sentido de que onde a lei não distingue não cabe ao
intérprete distinguir.
E mais, deixou a Carta Magna palmar no artigo 5°, inciso U e X, que a ofensa
moral está intimamente ligada às agressões e danos causados à intimidade, à
vida privada, à honra, à imagem das pessoas e outras hipóteses.
Não de pode negar que a honra e a imagem estilo intimamente ligadas ao
bom nome das pessoas (sejam físicas ou jurídicas); ao conceito que projetam
exteriormente.
Do que se conclui que não se protegeu a dor ou os danos da alma.
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (17): 79-108, março 2011 97
A verdadeira questão não está em adrede incluir ou excluir pessoas
jurídicas da reparação por dano moral mas verifi car, caso a caso, os efeitos e
consequências dessa ofensa.
Mais adiante o autor conclui:
Ninguém poderá negar que o protesto indevido de um título de crédito,
sacado contra uma empresa e já pago, não traduza ofensa à imagem e ao bom
nome desse estabelecimento.
Mas também ninguém poderá negar que essa ofensa se converterá em
prejuízo econômico, na medida em que a imagem ruim se refl ete não só nas
vendas como no relacionamento com os fornecedores.
A doutrina alienígena, notadamente a francesa - leia-se Duguit, André de
Laubadere, Lafayette Pondé, Tirard, Gendrel, Pierre Montané de la Roque -, uma
das mais avançadas no tema responsabilidade civil, igualmente corrobora com o
pensamento abarcado pela nossa. Valho-me dos ensinamentos de Viney, “Traité
de Droit Civil - Lês Obligations, La responsabilité”, 1982, vol. II/321:
A proteção dos atributos morais da personalidade para a propositura de
ação de responsabilidade não está reservada somente às pessoas físicas. Aos
grupos personalizados tem sido admitido o uso dessa via para proteger seu
direito ao nome ou para obter a condenação de autores de propostas escritas
ou atos tendentes à ruina de sua reputação. A pessoa moral pode mesmo
reivindicar a proteção, senão de sua vida privada, ao menos do segredo dos
negócios.
Impende ressaltar que controvérsia não reside mais no âmbito da Segunda
Seção desta Corte eis que nesta Turma. Também pacifi cou-se entendimento
sobre ser possível o ressarcimento pelo dano moral causado a pessoa jurídica,
tal como admitido nestes autos, como já o entendera a Colenda Quarta Turma.
Confi ram-se os REsp’s n. 58.660-MG e n. 57.830-MA, da minha relatoria e do
Sr. Ministro Costa Leite respectivamente.
Demais disso cumpre anotar que a verba concedida na espécie não é
exacerbada tendo-se em consideração o reduzido valor do título protestado e do
gravame causado a empresa.
Contra acórdão então assim fundamentado, a irresignação do banco recorrente
não cabe, mormente quando, como na hipótese, o eminente Relator trouxe, como
sustentáculo de suas razões de decidir, tema pacifi cado pela jurisprudência desta
Egrégia Corte Superior Tribunal de Justiça (Verbete n. 83-STJ).
De conseguinte, não conheço do recurso.
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
98
VOTO
O Sr. Ministro Carlos Alberto Menezes Direito: Senhor Presidente, com
a ressalva do meu ponto de vista, acompanho o Eminente Senhor Ministro
Waldemar Zveiter.
VOTO
O Sr. Ministro Eduardo Ribeiro: - Sr. Presidente, assim como o Sr.
Ministro Carlos Alberto Menezes Direito, ressalvo o meu entendimento que
já expus em outra oportunidade, mas, tendo em vista a jurisprudência que já se
fi rmou, limito·me a essa ressalva e acompanho o eminente Sr. Ministro Relator.
RECURSO ESPECIAL N. 161.913-MG (98.699-0) (4.881)
Relator: Ministro Carlos Alberto Menezes Direito
Recorrente: Banco Bradesco S/A
Recorridos: Construtora Verde Grande Ltda. e Madeiras IGL Ltda.
Sustentação oral: Carlos Mário da Silva Velloso Filho (pelo primeiro
recorrido)
Advogados: Maurício Andrade de Carvalho, Carlos Mário da Silva Velloso
Filho e outros e Afonso Maria Vaz de Resende
EMENTA
Duplicatas fraudulentas. Protesto. Banco endossatário. Ciência
do vício. Dano moral. Pessoa jurídica.
1. Tendo ciência inequívoca o banco endossatário de que as
duplicatas eram fraudulentas, sem lastro algum, deve o mesmo
responder pelos danos morais decorrentes do protesto.
2. Incidência, na espécie, da vedação da Súmula n. 7-STJ quanto
à verifi cação da boa-fé do endossatário, afastada no acórdão recorrido.
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (17): 79-108, março 2011 99
3. Ressalvada a posição deste Relator, tem direito a pessoa jurídica
de postular indenização por danos morais ocasionados por ofensa à
sua honra. Precedentes da Corte.
4. Dissídio jurisprudencial que não sustenta a passagem do
recurso especial, a teor da Súmula n. 83-STJ.
5. Recurso especial não conhecido.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Senhores Ministros
da Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos
e das notas taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, não conhecer do recurso
especial. Participaram do julgamento os Senhores Ministros Costa Leite,
Nilson Naves, Eduardo Ribeiro e Waldemar Zveiter.
Brasília (DF), 22 de setembro de 1998 (data do julgamento).
Ministro Costa Leite, Presidente
Ministro Carlos Alberto Menezes Direito, Relator
DJ 18.12.1998
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Carlos Alberto Menezes Direito: Trata-se de recurso
especial interposto por Banco Bradesco S/A, contra o acórdão proferido pela
6ª Câmara Civil do Tribunal de Alçada de Minas Gerais que julgou procedente
ação anulatória de duplicatas cumulada com pedido de ressarcimento por danos
morais, entendendo que o recorrente agiu de má-fé ao levar a protesto títulos
sobre os quais fora avisado da ilicitude.
Sustenta o recorrente que o acórdão recorrido malferiu os artigos 160,
inciso I, do Código Civil e 13, § 4º, da Lei n. 5.478/1968, vez que, ao levar os
títulos a protesto exerceu um direito facultado por lei para legitimar ação de
regresso contra o emitente de má-fé. Argumenta, ainda, que a pessoa jurídica
não tem direito à indenização por danos morais. Traz arestos desta Corte, do
Tribunal de Justiça do Estado do Maranhão e do Tribunal de Justiça do Estado
do Rio de Janeiro para comprovar a divergência jurisprudencial.
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
100
Houve contra-razões e o recurso especial não foi admitido, subindo os
autos por força de provimento dado a agravo de instrumento.
É o relatório.
VOTO
O Sr. Ministro Carlos Alberto Menezes Direito (Relator): A recorrida
Construtora Verde Grande Ltda. propôs a presente ação ordinária de
indenização contra o Banco Bradesco S/A, ora recorrente, e contra Madeiras
IGL Ltda. buscando ser ressarcida pelos danos morais decorrentes do protesto
de duplicatas fraudulentas, sem lastro.
Procedente a ação em primeiro e segundo graus, ingressa o Banco Bradesco
S/A com o presente especial, assentado em que, ao protestar os títulos, agiu no
exercício de um direito com o propósito de assegurar a possibilidade de regresso,
bem assim que a pessoa jurídica não é passível de ser indenizada por danos
morais.
O primeiro ponto esbarra, induvidosamente, na vedação contida na Súmula
n. 7-STJ, sendo certo que o recorrente procura, em diversas passagens da peça
recursal, demonstrar que a boa-fé é presumida e que a mesma, de fato, estaria
presente. Observe-se, v.g., os seguintes lances do apelo:
(...)
O endosso e a circulação das duplicatas sem o aceite do sacado é permitido
na legislação. Ao descontar o título, não está o descontador obrigado a perquirir
a causa debendi da cártula. A boa-fé do terceiro adquirente é presumível, pois
negocia o título formalmente constituído, ignorando o negócio subjacente que
ensejou sua emissão. (fl . 196).
(...)
De acordo com os doutos, a autonomia e independência da cambial tem o
condão de afastar qualquer oposição contra o terceiro adquirente do título, pois
é estranho à relação originária que lhe deu causa. Nessa trilha de entendimento, é
fácil concluir que se o terceiro ao negociar o título não tinha conhecimento de sua
emissão fraudulenta, é certo que agiu de boa-fé. (fl . 200).
(...)
Ao protestar o título, o Banco recorrente, endossatário de boa-fé, agiu no
exercício regular de um direito. Com efeito não poderia deixar de protestar a
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (17): 79-108, março 2011 101
cártula sob pena de perder o direito de regresso contra o endossante e avalistas,
por imposição legal. (fl . 201).
(...)
De acordo com v. acórdão guerreado, o ato praticado pelo Banco endossatário
foi ilegítimo, uma vez que tinha conhecimento da ilicitude do título, caso em que
desaparece o requisito da boa-fé. Data venia, o aresto hostilizado parece partir
do pressuposto que a duplicata é um título causal vinculado à sua causa debendi,
o que escapa ao entendimento da posição doutrinária dominante. Ao receber
o título por endosso, pressupõe o endossatário sua veracidade. Daí repousa sua
boa-fé. Não lhe cabe investigar a causa do título. A duplicata é título autônomo
e independente que circula e pode ser negociada antes do aceite. (fl s. 202-203).
A duplicata, entretanto, é um título causal, cuja ausência de aceite obriga o
credor a provar a efetiva prestação de serviço ou entrega do produto, bastando,
para demonstrar ser esta a orientação desta Corte, reproduzir as ementas dos
seguintes julgados:
Processual Civil. Execução. Duplicata não aceita. Título executivo. Requisitos
existentes. Lei n. 6.458, art. 15, II, a e b.
I - Consoante a doutrina e jurisprudência, constitui título líquido,
certo e exigível, para instruir a execução, a duplicata sem aceite, quando,
cumulativamente, houver protesto e documento hábil comprobatório da entrega
e recebimento da mercadoria.
II - Precedentes do STJ.
III - Recurso não conhecido. (REsp n. 30.700-8-TO, 3ª Turma, Relator o Ministro
Waldemar Zveiter, DJ de 05.04.1993)
Execução. Duplicata. Via eleita admissível.
Constitui título líquido, certo e exigível, apto a embasar a execução, a duplicata
sem aceite, quando cumulativamente houver protesto e documento hábil
comprobatório da entrega e recebimento da mercadoria. Precedentes do STJ.
Recurso especial não conhecido. (REsp n. 48.618-1-ES, 4ª Turma, Relator o
Ministro Barros Monteiro, DJ de 05.09.1994)
Processual Civil. Recurso especial. Divergência não confi gurada. Duplicata sem
aceite e protestada. Não conhecimento.
Quando não se trata, como no caso, de notória divergência, a simples citação
de ementa é insufi ciente para caracterização do dissídio jurisprudencial.
A duplicata sem aceite, mas protestada e com prova da realização do serviço, é
título hábil para promover-se execução.
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
102
Recurso especial não conhecido. (REsp n. 4.492-AM, 4ª Turma, Relator o
Ministro Cesar Asfor Rocha, DJ de 14.04.1997)
Nessa hipótese, tendo o endossatário ciência inequívoca da ausência de
lastro das duplicatas, não poderia protestá-la, sob pena de responder pelos danos
supervenientes causados, tendo o acórdão recorrido deslindado a questão assim,
verbis:
(...)
No mérito, a alegação da primeira apelante no sentido de que não emitiu e
nem colocou em circulação as duplicatas anuladas não se sustenta.
É que o segundo apelante confi rma o desconto das mesmas, com o respectivo
endosso, além de que houve delas protestos, conforme documentado às fl . 09, 10
e 87-TA.
Acrescente-se que outras duas duplicatas igualmente sacadas pela primeira
recorrente contra a recorrida e descontadas no Banco Boavista foram objeto
de correspondência daquela ao endossatário, noticiando a inexistência de
lastro mercantil e solicitando a abstenção de sua cobrança e protesto, contendo
anotação de que “idêntico procedimento estava sendo adotado (pela recorrida),
junto ao Bradesco, relativamente aos títulos referidos nestes autos (fl s. 17-18 e 19
e v-TA)”.
Não prospera de seu turno, a argumentação do segundo recorrente acerca
da licitude do protesto de cambial ainda que sem o aceite do sacado, porquanto
o direito que se reconhece ao endossatário de levar a protesto o título, para
resguardar-se contra o endossante e seus avalistas, cessa no instante em que
toma ciência da ilicitude da cártula, desaparecendo o requisito da boa-fé, de que
deve se revestir o endossatário.
Inaplicáveis, portanto, ao caso presente, em razão do detalhe (boa-fé), os
arestos trazidos pelo Banco-endossatário.
Sem dúvida alguma, o Banco fora avisado da ilicitude da Duplicata (fl s. 16-TA)
e, não obstante, ainda assim, a encaminhou ao protesto, agindo com abusividade.
Dadas as peculiaridades que o protesto cambial tomou no nosso País,
estigmatizando como mau pagador aquele figure como sacado no registro
público respectivo, é induvidosa a ocorrência de dano moral que dele se origina.
(fl s. 169-170).
Como se pode observar, demonstrou o Tribunal a quo a ausência de boa-fé
do banco endossatário com base nas provas dos autos, que apontam no sentido
de que estaria ciente da origem fraudulenta dos títulos, aspecto fático que escapa
dos limites traçados para o recurso especial, a teor da Súmula n. 7-STJ.
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (17): 79-108, março 2011 103
A responsabilidade do banco endossatário, portanto, está clara, conforme já
decidiu esta Corte:
Duplicata. Protesto. Cancelamento. Dano moral. Responsabilidade do banco.
- A jurisprudência predominante no STJ admite o cancelamento do protesto
de duplicata sem causa.
- A responsabilidade pela indenização dos danos é do banco que levou o título
sem causa ao cartório.
- A pessoa jurídica pode sofrer dano à sua honra objetiva.
Precedentes.
Recurso conhecido em parte, pela divergência, mas improvido. (REsp n.
112.236-RJ, 4ª Turma, Relator o Ministro Ruy Rosado de Aguiar, DJ de 25.08.1997)
Dano moral. Protesto de duplicata. Pagamento. Pedido de indenização.
Estando a duplicata paga, procedeu mal o banco, apontando o título em cartório,
que o protestou. Segundo o acórdão recorrido, “a autora teve sua reputação
comercial atingida e seu nome maculado junto à praça” é sufi ciente para justifi car
o pedido de indenização por dano moral. A diminuição patrimonial justifi ca a
indenização por dano material. Precedente da 2ª Seção do STJ: REsp n. 51.158.
Recurso conhecido pelo dissídio, mas não provido. (REsp n. 58.783-SP, 3ª Turma,
Relator o Ministro Nilson Naves, DJ de 03.11.1997)
Quanto a admitir dano moral em relação à pessoa jurídica, no julgamento
do REsp n. 147.702-MA, Relator o Ministro Eduardo Ribeiro, acompanhei o
Relator, com ele fi cando vencido, deduzindo as razões que se seguem:
A minha convicção é a mesma do Senhor Ministro Eduardo Ribeiro. De fato,
qual é o suporte jurídico para admitir o dano moral da pessoa jurídica? Não se
pode confi gurar a presença de uma dor profunda, de um sentimento íntimo, de
uma agressão aos valores éticos, de uma violência contra a honra em relação a
uma pessoa jurídica.
O conceito de honra objetiva, opondo-se ao conceito de honra subjetiva,
utilizado pela doutrina para justifi car o deferimento do dano moral em favor da
pessoa jurídica, com todo respeito, é, apenas, um artifício para o fi m colimado.
Em nenhuma hipótese, e é um fato insuscetível de contestação, a pessoa jurídica
pode sofrer dano moral.
Tudo o que se passa na esfera da atividade empresarial, ou não, desenvolvida
por sociedades organizadas de acordo com a lei, deve, necessariamente, repercutir
no patrimônio. Se, por exemplo, contra uma instituição fi nanceira é assacada
afi rmação mentirosa sobre a sua capacidade de cumprir os compromissos com
seus clientes, é evidente que não há falar em dano moral, mas, sim, em dano à
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
104
credibilidade da empresa com repercussão patrimonial, assim a fuga de clientes
ou o encerramento das contas. O que não pode existir é a empresa sentir-se
ofendida na sua dignidade, na sua honra. Se fosse diferente, estar-se-ia no reino
do absurdo.
É claro que a construção interpretativa pode sempre avançar para preencher
as lacunas, para compatibilizar a lei com a realidade. Todavia, essa interpretação
construtiva tem cabimento quando não há caminho legal para amparar a
prestação jurisdicional. Ora, no caso da pessoa jurídica, o direito positivo brasileiro
tem outras avenidas que podem ser percorridas para esse efeito. Nesse sentido,
destacou bem o voto do Senhor Ministro Eduardo Ribeiro que a “reputação de
uma pessoa jurídica merece proteção porque o bom nome propicia melhor
relacionamento e credibilidade, levando a que possa auferir lucros. A perda dessa
poderá acarretar, por conseguinte, dano econômico. De outro lado, o injusto
sacrifício da boa fama, conforme as circunstâncias, será fonte de sofrimento, não
para a pessoa jurídica, evidentemente, mas para seus dirigentes. Se nada disso
ocorreu, não haverá dano a ressarcir, podendo-se concluir, com Agostinho Alvim,
não se saber ‘em que consistirá esse dano moral, que nem é dor, nem é prejuízo’
(Da Inexecução das Obrigações e suas Conseqüências - 3ª ed. - p. 216)”.
Creio que as razões acima deduzidas são sufi cientes para que eu acompanhe,
por inteiro, o voto do eminente Relator.
Ressalvado o meu posicionamento, respeito a orientação majoritária desta
Corte, que admite ter a pessoa jurídica direito de ser indenizada por danos
morais quando atingida em sua honra. Anote-se:
Civil. Responsabilidade civil. Danos morais. Pessoa jurídica. Possibilidade.
Honra objetiva. Doutrina. Precedentes do Tribunal. Recurso provido para afastar a
carência da ação por impossibilidade jurídica.
- A evolução do pensamento jurídico, no qual convergiram jurisprudência
e doutrina, veio a afirmar, inclusive nesta Corte, onde o entendimento tem
sido unânime, que a pessoa jurídica pode ser vítima também de danos morais,
considerados esses como violadores da sua honra objetiva. (REsp n. 134.993-MA,
4ª Turma, Relator o Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira, DJ de 16.03.1998)
Civil. Ação de indenização. Responsabilidade civil. Pessoa jurídica. Dano moral.
I - A honra objetiva da pessoa jurídica pode ser ofendida pelo protesto
indevido de título cambial.
II - Cabível a ação de indenização, por dano moral, sofrido por pessoa jurídica;
visto que a proteção dos atributos morais da personalidade não está reservada
somente às pessoas físicas (REsp n. 60.033-2-MG - DJ de 27.11.1995).
III - Recurso conhecido a que se nega provimento. (REsp n. 58.660-7-MG, 3ª
Turma, Relator o Ministro Waldemar Zveiter, DJ de 22.09.1997)
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (17): 79-108, março 2011 105
No tocante ao dissídio jurisprudencial, incide a vedação da Súmula n.
83-STJ.
Ante o exposto, não conheço do recurso especial.
O Sr. Ministro Eduardo Ribeiro: - Ambas as questões são passíveis de
controvérsias.
V. Exa. já salientou a existente a propósito do dano moral quando o
ofendido seja pessoa jurídica. Em relação ao tema fi quei vencido e não pretendo
nele insistir.
Outro ponto está em saber se o procedimento do banco pode conduzir ao
pagamento de indenização.
Não há como ignorar que o protesto de duplicata, ainda que não aceita,
pode trazer graves conseqüências para o sacado. Assim não deveria ser, por certo,
mas não seria razoável deixar-se de ter em conta o que efetivamente se verifi ca.
Cumpre também considerar, entretanto, que o banco recebeu o título na
qualidade de endossatário e haveria de diligenciar o protesto, para que pudesse
garantir o direito de regresso em relação ao endossante. E a regra de que os
títulos são suscetíveis de circular não se compatibiliza com possível exigência
de que o endossatário houvesse de indagar se o saque tinha ou não razão de ser.
O Sr. Ministro Costa Leite: - A observação de V. Exa. me parece muito
pertinente. O problema é que se afi rmou que ele teve ciência.
O Sr. Ministro Eduardo Ribeiro: - Tenho para mim que aqueles princípios
de direito cambial hão de ser confrontados com valor que não se pode
menosprezar. Deve ser resguardado o terceiro que, em verdade, é inteiramente
estranho às relações entre endossante e endossatário e que não participara de
qualquer negócio que justifi casse fosse contra ele feito o saque. O banco foi
avisado de que a duplicata não tinha causa e, não obstante, levou o título a
protesto. Certo que haveria de fazê-lo para assegurar o regresso. Mas estava
ciente de que causaria dano a terceiro.
O Sr. Ministro Costa Leite: - Há o princípio da boa fé.
O Sr. Ministro Eduardo Ribeiro: - Creio que, sopesadas todas as
circunstâncias, preferível acolher o entendimento que vem encontrando acolhida
na jurisprudência. O banco, ao receber o título, desconhecendo sua causa,
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
106
assumiu o risco de que, inexistente essa, o eventual protesto causaria dano
injustifi cado a terceiro. E se, ciente da falta de fundamento para o saque, levou o
título a protesto, haverá de ressarcir o dano suportado por terceiro.
Acompanho o Relator.
VOTO
O Sr. Ministro Waldemar Zveiter: Sr. Presidente, peço licença à Turma
para aderir a essas ponderações feitas pelo Eminente Ministro Eduardo Ribeiro.
Lembro-me de um caso julgado logo após a fundação deste Tribunal, de
relatoria de S. Exa., em que examinou com bastante profundidade a matéria.
Nessa dúvida entre fazer valer a lei cambial e a circularidade dos títulos e causar
prejuízo a terceiros, S. Exa. adotou posição pragmática, mantendo a sustação
do protesto, mas ressalvado ao endossatário o direito a cobrança. Nesse caso,
todavia, não se pode valer do precedente por não ser a hipótese. Faço essa
observação para justifi car adesão às ponderações de S. Exa. que tive o prazer de
acompanhar naquela circunstância.
Não conheço do recurso.
RECURSO ESPECIAL N. 177.995-SP (98.42373-7)
Relator: Ministro Barros Monteiro
Recorrente(s): Unibanco União de Bancos Brasileiros S.A.
Recorrido(s): Solfesta Turismo Ltda.
Advogado(s): João Paulo Marcondes e outros e Rubens Naman Rizek
Júnior e outros
EMENTA
Indenização. Dano moral. Pessoa jurídica.
A pessoa jurídica pode ser sujeito passivo de danos morais,
considerados estes como violadores de sua honra objetiva. Precedentes.
Recurso especial não conhecido.
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (17): 79-108, março 2011 107
ACÓRDÃO
Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas:
Decide a Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, não
conhecer do recurso, na forma do relatório e notas taquigráfi cas precedentes que
integram o presente julgado. Votaram com o Relator os Srs. Ministros Cesar
Asfor Rocha, Ruy Rosado de Aguiar e Bueno de Souza.
Brasília (DF), 15 de setembro de 1998 (data do julgamento).
Ministro Barros Monteiro, Presidente e Relator
DJ 09.11.1998
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Barros Monteiro: - Solfesta Turismo Ltda. propôs ação
ordinária contra “Unibanco - União de Bancos Brasileiro S.A.”, visando ao
pagamento de indenização por danos morais, em face de duplicata protestada
indevidamente.
O MM. Juiz de Direito julgou a ação procedente. A Sexta Câmara de
Direito Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo, por unanimidade, negou
provimento ao apelo do banco. Eis a ementa do acórdão:
Indenização. Responsabilidade civil. Dano moral. Protesto cambiário indevido.
Desnecessidade de prova de dano patrimonial. Verba devida e arbitrável. Art. 5º,
inciso X, da Constituição Federal. Sentença mantida. Recurso improvido (fl . 79).
Inconformado, o banco manifestou o presente recurso especial, com fulcro
na alínea c do permissivo constitucional, apontando dissídio jurisprudencial
com arestos do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro e do Tribunal de Alçada
Civil de São Paulo. Alegou que a indenização, a título de dano moral, só se
justifi ca quando a vítima for pessoa física, pois, caracterizando-se esse tipo de
dano por sofrimento de natureza psíquica, não há como considerá-lo em relação
a uma pessoa jurídica. Por outro lado, asseverou que a indenização por dano
moral à pessoa jurídica reclama comprovação do efetivo prejuízo, o que inexistiu
no caso dos autos.
Contra-arrazoado, o recurso foi admitido na origem, subindo os autos a
esta Corte.
É o relatório.
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
108
VOTO
O Sr. Ministro Barros Monteiro (Relator): - Esta Corte tem entendido
que a pessoa jurídica pode ser sujeito passivo de danos morais, considerados
estes como violadores de sua honra objetiva. Desta Quarta Turma colhem-se
os seguintes precedentes: REsp’s n. 60.033-2-MG e n. 112.236-RJ, ambos de
relatoria do Sr. Ministro Ruy Rosado de Aguiar; e REsp n. 134.993-MA, relator
Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira. Na Eg. Terceira Turma, prevaleceu a
mesma orientação: REsp n. 58.660-7-MG, relator Ministro Waldemar Zveiter.
Transcrevo a ementa deste último julgado referido:
Civil. Ação de indenização. Responsabilidade civil. Pessoa jurídica. Dano moral.
I - A honra objetiva da pessoa jurídica pode ser ofendida pelo protesto
indevido de título cambial.
II - Cabível a ação de indenização, por dano moral, sofrido por pessoa jurídica;
visto que a proteção dos atributos morais da personalidade não está reservada
somente às pessoas físicas (REsp n. 60.033-2-MG, DJ de 27.11.1995).
III - Recurso conhecido a que se nega provimento (in DJU de 22.09.1997).
Nessas condições, a diretriz traçada por este Tribunal a respeito do tema se
fi rmou no mesmo sentido da decisão recorrida (Súmula n. 83-STJ).
Por derradeiro, nada cuidou o v. acórdão acerca da necessidade de a
pessoa jurídica proceder à demonstração do efetivo prejuízo econômico. Incide,
no ponto, o Enunciado da Súmula n. 282-STF, mesmo porque a espécie
controvertida diz com a ocorrência meramente do dano moral. Não fora isso, a
pretensão recursal ainda demandaria o reexame de matéria probatória, o que é
defeso a teor do Verbete Sumular n. 7 desta Casa.
Ante o exposto, não conheço do recurso.
É o meu voto.
Súmula n. 228
SÚMULA N. 228
É inadmissível o interdito proibitório para a proteção do direito autoral.
Referências:
CC/1916, art. 493.
Lei n. 5.988/1973, arts. 2º e 29.
Precedentes:
REsp 67.478-MG (3ª T, 06.05.1997 – DJ 23.06.1997)
REsp 89.171-MS (4ª T, 09.09.1996 – DJ 08.09.1997)
REsp 110.523-MG (4ª T, 04.03.1997 – DJ 20.10.1997)
REsp 126.797-MG (3ª T, 19.02.1998 – DJ 06.04.1998)
REsp 144.907-SP (3ª T, 10.11.1997 – DJ 30.03.1998)
REsp 156.850-PR (4ª T, 10.02.1998 – DJ 16.03.1998)
Segunda Seção, em 08.09.1999
DJ 20.10.1999, p. 49
RECURSO ESPECIAL N. 67.478-MG (95.277239)
Relator: Ministro Nilson Naves
Recorrente: Escritório Central de Arrecadação e Distribuição - Ecad
Recorrida: Rádio Terra Ltda
Advogados: Antônio Olímpio Nogueira e outros
Francisco Braz Neto e outro
EMENTA
Direitos de autor. Interdito proibitório. Dele não se pode valer
o Ecad, a pretexto de defender posse de tais direitos. Posse não há,
inexistindo em conseqüência turbação ou esbulho. Precedentes da
4ª Turma do STJ: REsp’s n. 89.171 e n. 110.523. Recurso especial
conhecido pelo dissídio, mas improvido.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da 3ª
Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas
taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, conhecer do recurso especial e lhe negar
provimento. Participaram do julgamento os Srs. Ministros Eduardo Ribeiro,
Waldemar Zveiter, Menezes Direito e Costa Leite.
Brasília (DF), 06 de maio de 1997 (data do julgamento).
Ministro Costa Leite, Presidente
Ministro Nilson Naves, Relator
DJ 23.06.1997
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Nilson Naves: - Trata-se de ação de interdito proibitório
cumulada com pedido de perdas e danos, intentada pelo Escritório Central de
Arrecadação e Distribuição - Ecad contra a Rádio Terra Ltda., pela utilização
de obras musicais, lítero-musicais, fonogramas e obras de criação intelectual, etc.
Pela sentença, o processo foi declarado extinto, conclusivamente:
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
114
Diante do exposto, por entender que o tipo de procedimento foi inadequado
à natureza da demanda bem como que a inicial é inepta o que da narração dos
fatos não decorre logicamente à conclusão da necessidade e até mesmo da
legalidade da medida possessória, hei por bem indeferi-la à luz do art. 295, IV,
julgando extinto o processo por força do art. 267 I, IV, VI, todos do CPC.
À apelação, por unanimidade, negou-se provimento, em resumo:
Aliás, é bom que se recorde que o art. 932 do CPC prevê como condições para
se deferir o interdito proibitório que o autor do pedido seja possuidor direto ou
indireto e tenha justo receio de ser molestado em sua posse. Além de o autor
não estar defendendo direito possessório, mas direitos autorais, verifi ca-se pela
própria exposição do pedido que “não tem justo receio de ser molestado em sua
posse”, pois que afi rma que a ré já vem “transmitindo milhares e milhares de obras
musicais e fonogramas” com isto violando direitos autorais. Ora, se por acaso o
autor colocou ainda que indevidamente os direitos autorais como bem sujeito
à posse, de sua exposição vê-se que a ré não estaria a causar-lhe “justo receio”
de molestá-lo, mas que efetivamente já vinha esbulhando seu pretenso direito
possessório. E o interdito não se presta como remédio possessório para os atos já
consumados.
Por todas estas razões, vê-se que a r. sentença indeferiu corretamente o pedido
e não está a merecer qualquer reparo.
Com tais considerações, nego provimento ao recurso.
Daí o recurso especial de fl s. 120-131, admitido que foi pelo despacho de
fl s. 147-148, litteris:
As razões interpositivas alegam vulneração aos artigos 48, III, 493, I, e 524,
parágrafo único, todos do Código Civil, artigos 2° e 29 da Lei n. 5.988/1973 e
artigo 932 do CPC.
Argumenta o recorrente que é próprio o uso do interdito para a proteção do
direito autoral, vez que é de natureza real.
Alega, ainda, a presença do justo receio, posto que “o ato se reedita novo
e vário a cada transmissão, visto como não há um direito autoral único do
Recorrente violado continuamente, mas várias e novas violações” (...) (fl s. 124-TA).
A argumentação recursal trouxe razoável dúvida sobre a incidência ou não das
normas que invoca.
O recorrente, se não demonstrou à saciedade a incidência dos permissivos
constitucionais do recurso especial, pelo menos conseguiu trazer à discussão a
possibilidade de que isso tenha ocorrido, in casu.
Ademais, conforme pontifi ca o em. Min. Sálvio de Figueiredo, “fundando-se o
recurso nas alíneas a e c do art. 105, III, da Constituição, em tomo de teses jurídicas
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (17): 109-137, março 2011 115
inegavelmente polêmicas nos pretórios estaduais, e não tendo ainda esta jovem
Corte se pronunciado na matéria, quer-me parecer que não se (leve pautar com
rigidez na apreciaçãoo do seu cabimento, dada a missão constitucional atribuída
a este Tribunal de fi el guardião do direito federal, assegurando-lhe a inteireza e a
uniformidade de interpretação” (REsp n. 6.589-MG, ementa publicada no DJU de
19.08.1991).
Diante dessa situação, é recomendável que se requeira a elevada apreciação do
Superior Tribunal de Justiça, árbitro maior das controvérsias sobre aplicabilidade
de normas infraconstitucionais.
Admito, pois, o recurso, determinando a sua remessa imediata àquela Corte
Superior.
É o relatório.
VOTO
O Sr. Ministro Nilson Naves (Relator): - Em caso de direitos de autor,
admite-se que se valha do interdito proibitório? Pode o eventual possuidor
impetrar ao juiz que o segure da turbação ou esbulho? Crê o recorrente que sim,
socorrendo-se de precedentes jurisprudenciais, vez que já “pediu e teve deferida
a proteção dos direitos autorais de execução pública musical, os quais exerce por
força de lei (Lei n. 5.988/1973, art. 115, c.c. 104), pela via dos interditos, mesmo
em casos como o dos autos - para não dizer em todos eles - em que as emissoras
transmitiam...”, fl . 125.
Nesta Turma, acompanhei o voto do Sr. Ministro Cláudio Santos, no
julgamento do REsp n. 41.813, para o qual foi escrita essa ementa: “Direitos
autorais. Proteção possessória. Cabimento. Sendo o direito autoral uma
propriedade, legítima a defesa de tal direito via ação de interdito proibitório.
Recurso conhecido pelo dissídio, mas improvido” (DJ 20.02.1995). Ficaram
vencidos os Srs. Ministros Eduardo Ribeiro e Waldemar Zveiter. O Sr. Relator
se reportou ao RE n. 14.144, da relatoria do saudoso Ribeiro da Costa, Ministro
do Supremo Tribunal. Os votos vencidos se valeram da lição de Darcy Bessone
(in Direitos Reais, Saraiva, 1988, p. 262-3).
A 4ª Turma, porém, tem precedentes não admitindo a utilização do
interdito, em casos dessa ordem. Do REsp n. 89.171 foi relator o Sr. Ministro
Ruy Rosado, com essa ementa: “Posse. Direito de autor, interdito proibitório.
Inadmissibilidade. Não cabe a utilização dos interditos possessórios para a
defesa dos direitos autorais. Recurso conhecido pela divergência, mas improvido”
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
116
(Sessão de 09.09.1996). Essa posição foi recentemente mantida, no julgamento
do REsp n. 110.523, oriundo de Minas Gerais, de que também foi relator o
Ministro Ruy.
Revendo o meu voto de simples adesão quando do julgamento do REsp n.
41.813, quero entender, na linha dos votos aqui vencidos e dos precedentes da
4ª Turma, que não se admite possa se utilizar da via possessória para a defesa de
direito autoral.
Pelo dissídio, conheço do recurso, mas lhe nego provimento.
VOTO
O Sr. Ministro Waldemar Zveiter: - Sr. Presidente, acompanho o Nobre
Relator, coerente com o voto-vencido que proferi no acórdão citado por S. Exª.
VOTO
O Sr. Ministro Carlos Alberto Menezes Direito: Senhor Presidente, é a
primeira vez que voto nessa matéria.
Não há nenhum sentido, não tem apoio nenhum, já a essa altura da vida
processual brasileira, com a disponibilidade de outros meios próprios, em usar a
ação possessória para a defesa dos direitos autorais.
Acompanho, às inteiras, o voto do Senhor Ministro Relator.
RECURSO ESPECIAL N. 89.171-MS (96.118345)
Relator: Ministro Ruy Rosado de Aguiar
Recorrente: Escritório Central de Arrecadação e Distribuição - Ecad
Recorrido: Rádio Dourados do Sul Ltda.
Advogados: Glaucus Alves Rodrigues
Arildo Garcia Perrupato
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (17): 109-137, março 2011 117
EMENTA
Posse. Direito de autor, interdito proibitório. Inadmissibilidade.
Não cabe a utilização dos interditos possessórios para a defesa
dos direitos autorais.
Recurso conhecido pela divergência, mas improvido.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Quarta
Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas
taquigráfi cas a seguir, prosseguindo no julgamento, a Turma, por unanimidade,
conhecer do recurso, mas lhe negar provimento. Votaram com o Relator os Srs.
Ministros Fontes de Alencar, Sálvio de Figueiredo Teixeira, Barros Monteiro e
Cesar Asfor Rocha.
Brasília (DF), 09 de setembro de 1996 (data do julgamento).
Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira, Presidente
Ministro Ruy Rosado de Aguiar, Relator
DJ 08.09.1997
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Ruy Rosado de Aguiar: O Escritório Central de
Arrecadação e Distribuição - Ecad propôs interdito proibitório, com pedido
liminar, c.c. perdas e danos contra Rádio Dourados do Sul Ltda., em virtude do
não recolhimento dos valores devidos a título de direitos autorais. Concedida
a liminar para que a rádio se abstivesse da veiculação de obras musicais sem
autorização prévia, a ré manifestou agravo de instrumento. A eg. Terceira Turma
do TJMS deu provimento ao recurso:
Agravo de instrumento. Interdito proibitório. Impropriedade. Direito autoral.
Posse. Ecad. Legitimidade. Provido.
O Escritório Central de Arrecadação e Distribuição - Ecad é parte legítima
para atuar na cobrança e arrecadação de direitos autorais, vedada a utilização do
interdito proibitório em face de seu cunho exclusivamente possessório. (fl . 81).
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
118
Com fundamento nas alíneas a e c da Constituição da República, o Ecad
apresentou recurso especial. Em síntese, alega que, em virtude da turbação
iminente, tem direito de se valer do interdito proibitório para “guardar a posse
e defender o direito de propriedade do bem imaterial constituído pela criação
dos compositores musicais representados por associações nacionais, bem como
dos direitos de titulares associados à sociedade estrangeira”. Demais, 1) “ao
autor pertence com exclusividade o direito de reprodução, utilização, fruição
de sua obra. Tem o criador direito real, patrimonial e moral sobre sua criação,
nos termos do artigo 524 do CCB”; 2) “no tocante ao patrimônio imaterial,
a turbação da posse consiste na utilização direta ou indiretamente lucrativa
da coisa, sem consentimento e sem compensação pecuniária para o respectivo
dominus, ato alheio que violo o direito de posse”; 3) o artigo 2° da Lei n. 5.988
coloca o direito autoral na categoria de propriedade material, assim, tal direito é
passível de proteção possessória.
Menciona os artigos 29, 30, 73 e § 1º, 104, 115, da Lei n. 5.988/1973 e
ementas de julgados divergentes.
Admitido o recurso (alínea c), sem contra-razões, chegaram os autos a este
eg. STJ.
É o relatório.
VOTO
O Sr. Ministro Ruy Rosado de Aguiar (Relator): 1. A questão versada nos
autos cinge-se à possibilidade da utilização dos interditos possessórios para a
defesa da posse de direito autoral. O v. acórdão negou ao Ecad o exercício do
interdito proibitório, daí o presente recurso.
2. A eg. 3ª Turma, sendo relator o em. Min. Cláudio Santos, no REsp
n. 41.813-RS, forte no voto do Min. Ribeiro da Costa, no RE n. 14.144 (For.
128/427), decidiu com a seguinte ementa:
Direitos autorais. Proteção possessória. Cabimento. Sendo o direito autoral
uma propriedade, legítima a defesa de tal direito via ação de interdito proibitório.
Votaram vencidos os eminentes Ministros Eduardo Ribeiro e Waldemar
Zveiter, aquele citando a lição de Darcy Bessone:
Entendemos que o que verdadeiramente importa é a natureza da coisa, e não
a natureza do direito. A posse não se exerce sobre direitos, que, reais ou pessoais,
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (17): 109-137, março 2011 119
não são visíveis. São entidades abstratas, concebidas pela inteligência (Direitos
Reais, p. 262).
3. Ihering sustentou a proposição: “A proteção da posse, como exterioridade
da propriedade, é um complemento necessário da proteção da propriedade, uma
facilidade de prova em favor do proprietário, que necessariamente aproveita
também ao não proprietário” (O fundamento dos interdictos possessórios, 1908,
p. 71). A idéia central da sua teoria está “em por a posse em relação com a
propriedade”, chegando por isso a admitir a posse de direitos, mas nos seguintes
termos: “Deste modo a idéia desenvolvida até aqui do paralelismo entre a
propriedade e a posse das cousas encontra, na extensão completada pelo direito
moderno da quase posse, a todos os direitos que dela são suscetíveis”. (p. 207).
Astolpho Rezende (A posse e sua proteção, 1937, I/71), depois de explicar
a aparente contradição do texto do Código Civil, ao tratar da posse e referir-
se a direitos, afi rma que, no sistema do Código, o objeto da posse só pode ser
uma coisa sobre a qual se exerça o domínio, o qual é exercitável, na sua acepção
específi ca, sobre as coisas corpóreas. E observa, retornando à doutrina: “Nesta
espécie, não diverge da escola clássica a Teoria de Ihering. Também para Ihering
só tem o nome específi co de posse, e somente gozam de proteção possessória
os direitos que se exercem sobre uma coisa material; não reconhece a posse
das coisas incorpóreas” (p. 85-86). Aliás, na explicação de Clóvis, a expressão
“direito”, encontrada no artigo 493 e outros, somente compreende os direitos
reais sobre coisa alheia.
Até aqui, portanto, temos a posse sobre coisas corpóreas e sobre os iura in
re aliena.
No ponto específi co do direito do autor, a questão se apresenta com certa
complexidade, a começar pela sua classifi cação.
O mesmo Astolpho Rezende, ao versar sobre a natureza dos direitos,
reconhece: “Existem, todavia, certos direitos de difícil classifi cação. Dentre
eles sobressaem os direitos do autor, o direito ao nome, os inventos industriais,
etc”. A Lei n. 5.988/1993 defi niu o Direito Autoral como bem móvel, o que
veio referendar a lição antiga do mestre Astolpho: “(...) só podem, no nosso
Direito, considerar-se objeto de propriedade no sentido técnico e estrito, as
coisas corpóreas, e, além delas, o direito de autor” (p. 138). Adverte, contudo - e
isso é o que mais interessa ao nosso caso - com apoio em Ihering, não ser essa
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
120
propriedade passível de esbulho ou usurpação, mas de simples concorrência (p.
138-139), e conclui: “O que assinala e caracteriza a posse é sua defensibilidade
pelos interditos. Só a posse que tem por objeto coisas materiais é suscetível de
proteção pelas interditas. A posse que não tem por objeto coisas materiais é
sufi cientemente defendida e protegida pelas mesmas ações que garantem os
direitos de cujo exercício e gozo se trata” (p. 150).
Não é diferente a lição de José de Oliveira Ascensão:
Nos estudos que realizamos sobre esta matéria fomos porém levados a
concluir que o direito de autor (e analogamente deveríamos falar dos direitos
sobre bens industriais) não é nem uma propriedade nem um direito real. A obra
intelectual, uma vez divulgada, não pode estar sujeita ao domínio exclusivo dum
só. Todos disfrutam diretamente desse bem, mas só o titular pode benefi ciar
economicamente com ele. Tem pois um exclusivo de exploração econômico da
obra (cfr. o art. 1º do Código do Direito de Autor). (Direitos Reais, Almedina, 1978,
p. 106).
Concluímos por isso que os direitos sobre bens intelectuais se inserem na
categoria dos direitos de exclusivo ou de monopólio.
O eminente Ministro José Carlos Moreira Alves, o mais ilustre dos nossos
civilistas, sustenta que as criações de espírito, entre elas a que dá origem ao
direito autoral, não podem ser objeto de posse. Examina a Lei n. 5.988/1973 e
afi rma:
Também a circunstância de o art. 2º dessa mesma lei considerar o direito
autoral, para efeitos legais, como bem móvel não dá margem a que se sustente a
possibilidade de posse sobre as criações de espírito, pois o artigo 48, II, do CC, diz
o mesmo com relação aos direitos de obrigação, e nem por isso são eles objeto de
posse em nosso sistema jurídico (Posse, II./I/155).
Com estas considerações, estou em conhecer do recurso, pela divergência,
mas lhe negar provimento, julgando incabível o uso do interdito proibitório, pois
o direito do autor, por não recair sobre coisa corpórea, não pode ser turbado ou
esbulhado, apenas exercido indevidamente por outros, em simples concorrência,
o que constitui ofensa à exclusividade ou monopólio, - porquanto só o titular
pode benefi ciar-se economicamente com ele, - mas defensável através das outras
vias que o sistema concede à defesa dos direitos.
É o voto.
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (17): 109-137, março 2011 121
VOTO-VISTA
O Sr. Ministro Fontes de Alencar: Para o recorrente, segundo a exposição
do relator,
1) “ao autor pertence com exclusividade o direito de reprodução, utilização,
fruição de sua obra. Tem o criador direito real, patrimonial e moral sobre sua
criação, nos termos do artigo 524 do CCB”; 2) “no tocante ao patrimônio imaterial,
a turbação da posse consiste na utilização direta ou indiretamente lucrativa da
coisa, sem consentimento e sem compensação pecuniária para o respectivo
dominus, ato alheio que viola o direito de posse”; 3) o artigo 2° da Lei n. 5.988
coloca o direito autoral na categoria de propriedade material, assim, tal direito é
passível de proteção possessória.
S. Exa. o Ministro Ruy Rosado de Aguiar, com apoio em Astolpho
Rezende e em Moreira Alves, civilista emérito e Ministro do STF, conhece do
recurso especial, pela divergência de julgados, mas lhe nega provimento, dando
por
incabível o uso do interdito proibitório, pois o direito do autor, por não recair
sobre coisa corpórea, não pode ser turbado ou esbulhado, apenas exercido
indevidamente por outros, em simples concorrência, o que constitui ofensa
à exclusividade ou monopólio, - porquanto só o titular pode beneficiar-se
economicamente com ele, - mas defensável através das outras vias que o sistema
concede à defesa dos direitos.
Sem propósito de disquisição acadêmica, mas com o fi to de alinhar o
pensamento, relembro a fi liação intelectual de Clóvis Beviláqua a Tobias Barreto
e Ihering, dentre outras fi guras proceniais daqui e dalém-mar, que contribuíram
para sua
posição teórica, que marcaria a Lei n. 3.071 (...)
como assinala Valmireh Chacon, em “Da Escola do Recife ao Código Civil
(Artur Orlando e sua geracão)”, (Rio de Janeiro: Organização Simões, editora,
1969).
Do mestre Clóvis o seguinte escólio:
IHERING dá o seu apoio aos que classificam o direito de autor como de
propriedade, a propriedade intelectual.
(...)
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
122
O Código Civil Brasileiro, denominando esse direito propriedade literária,
scientífi ca e artística, seguiu a mesma doutrina. Para ele, o direito de autor é um
direito real, que se inclue entre os móveis incorpóreos. (Código Civil comentado,
vol. I, p. 270, 3ª ed., Livraria Francisco Alves, 1927).
É dele também a observação, quanto a natureza desse direito, de que
O Projeto primitivo preferia deixar, ainda, a questão aberta para que a doutrina
a resolvesse, defi nitivamente, e, por isso, absteve-se de dar ao direito autoral a
denominação de propriedade (ibidem).
É dele ainda o seguinte reparo:
Isto, porém, não signifi ca desconhecer que haja neste direito, além de um
aspecto real, outro pessoal, que se não desprende da própria personalidade do
autor (Código Civil comentado, vol. III, p. 181, 2ª ed., Liv. Francisco Alves, 1923).
Beviláqua, em “História da Faculdade de Direito do Recife”, vindo a lume
em 1927, obra memorativa do primeiro centenário dos cursos jurídicos no
Brasil, registrou:
O direito autoral - A expressão é de Tobias, e fi cou defi nitivamente admittida
na technologia do direito, apesar de ter o Código Civil volvido à denominação
franceza de propriedade literária (...)
(...)
Cabe, entretanto a Tobias a honra de ter, pela primeira vez, entre nós, collocado
a questão, em sua exacta postura scientífi ca, e a felicidade de ter encontrado uma
expressão que obteve a aceitação geral, que conquistou consagração legislativa
na Lei de 1º de agosto de 1898, denominada Medeiros e Albuquerque, do nome
do seu autor (vol. II, p. 115-116, Liv. Francisco Alves).
Quando do seu famoso concurso em 1882, Tobias submeteu à Congregação
da Faculdade de Direito do Recife os enunciados de teses que defenderia, dentre
os quais, no pertinente ao Direito Civil, uma proposição relativa a uma nova
classifi cação dos direitos civis abrangente do direito autoral. Em artigo que logo
depois publicou, intitulado “O Que se Deve Entender por Direito Autoral”,
Tobias Barreto assim escreveu:
A expressão propriedade literária, com que se costuma, segundo a maneira
franceza, designar o direito do autor de um produto qualquer de ordem espiritual,
é intuitivamente incapaz de bem representar o conceito da coisa. Ela dá lugar a
que se atribua a esse conceito uma extensão menor do que ele tem. Realmente, é
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (17): 109-137, março 2011 123
difícil compreender como pode ter aplicação a idéia de uma propriedade literária,
tratando-se de música ou de pintura, de desenhos e modelos, ou de quaisquer
obras artísticas, nas quais se acentua a individualidade de um talento, e que
nada entretanto têm que ver com literatura. A expressão direito autoral, que é
correspondente ao Urheberrecht dos alemães, não se ressente de igual defeito, é
muito mais compreensiva (“Estudos de Direito”, vol. I, p. 251, Rio: Record; Aracaju:
Sec. de Cultura e Meio Ambiente, 1991).
Miguel Reale diz, et pour cause, que no campo da fi losofi a e nos domínios
do direito
o pioneirismo de Tobias é inconteste (“Tobias Barreto na Cultura Brasileira”,
trabalho de introdução a “Estudos de Direito I”, p. 42).
Volto ao pensador brasileiro professor do Recife. Após repassar a história
do direito autoral, o mestre Tobias, colhendo a boa doutrina dos doutores do
seu tempo, sobretudo os germânicos colocou-se no grupo dos que entendiam
devesse fi gurar o direito do autor entre os direitos pessoais, dizendo à guisa de
conclusão:
Exata, porém totalmente considero a opinião de F. Dahn. Ele se exprime assim:
O autor tem uma ação para fazer reconhecer a sua autoria, onde ela é contestada;
só depois, e por via de conseqüência, é que lhe cabe uma ação para proibir certos
atos incompatíveis com essa autoria juridicamente protegida, bem como para
fazer·se indenizar de qualquer prejuízo produzido pela violação do direito do
autor; enfi m, lhe cabe a ação criminal para fazer punir a quem quer que o tenha
violado (op. cit., p. 253-254).
Consabido é que os arts. 649 a 673 do CCB estão revogados. Não mais
apropriado falar-se em propriedade literária, científi ca e artística. Não mais a
propriedade intelectual. O nosso tempo retomou a denominação tobiana, e as
vezes na forma plural, reacendeu a idéia de que o direito autoral insere-se no
campo dos direitos pessoais.
Direito sui generis, especial ou autônomo, diante da sua natureza, desfruta
de teoria própria, que o separa dos demais direitos privados, para enquadrá-lo
em categoria diferente (a dos direitos intelectuais) - di-lo Carlos Alberto Bittar
(“Contornos Atuais do Direito do Autor”, p. 21, São Paulo: Ed. Rev. dos Tribunais,
1992).
A desrazão cobre o argumento do recorrente no que toca ao art. 2° da Lei
n. 5.988/1973, que simplesmente reproduz, quanto a direitos autorais, o art. 48
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
124
do CCB, dizente dos bens móveis por destinação legal, por isso mesmo que
incorpóreos; e a incorporeidade desse bem (direito autoral), que impede seja ele
objeto de posse em nosso sistema jurídico (Moreira Alves),
é óbice ao uso, no caso, do interdito proibitório.
Destarte, acompanho o relator.
RECURSO ESPECIAL N. 110.523-MG (96.647208)
Relator: Ministro Ruy Rosado de Aguiar
Recorrente: Rádio Veredas FM Ltda
Recorrido: Escritório Central de Arrecadação e de Distribuição - Ecad
Advogados: Délio de Jesus Malheiros e outros
Orlando Gomes Gonçalves
Sustentação oral: Hildebrando Pontes Neto (pela recorrida)
EMENTA
Direito Autoral. Interdito proibitório. Inadmissibilidade.
O interdito proibitório não pode ser utilizado para a defesa da
posse de direito autoral. Precedente.
Recurso conhecido e provido.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Quarta
Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas
taquigráfi cas a seguir, por maioria, conhecer do recurso pelo dissídio e dar-lhe
provimento, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator, vencido o Sr. Ministro
Fontes de Alencar. Votaram com o relator os Srs. Ministros Sálvio de Figueiredo
Teixeira, Barros Monteiro e Cesar Asfor Rocha.
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (17): 109-137, março 2011 125
Brasília (DF), 04 de março de 1997 (data do julgamento).
Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira, Presidente
Ministro Ruy Rosado de Aguiar, Relator
DJ 20.10.1997
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Ruy Rosado de Aguiar: O Ecad promoveu interdito
proibitório contra Rádio Veredas FM Ltda, na Comarca de Bom Despacho-MG,
a fi m de fazer cessar a turbação à posse de direitos autorais dos compositores das
músicas incluídas na programação musical da ré. A sentença julgou procedente
a ação, tendo o eg. Tribunal de Alçada de Minas Gerais, através da sua eg. 4ª
Câmara Cível, negado provimento, por maioria, à apelação da Rádio e, depois,
rejeitados os embargos infringentes, prevalecendo o voto majoritário proferido
no julgamento da apelação pelo em. Dr. Célio César Paduani: “Tenho entendido
nos julgamentos de que tenho participado nesta Colenda Câmara que o Ecad
tem legitimidade ativa para requerer as medidas como as que foram requeridas
na espécie, tais como o interdito proibitório, cumulado com o pedido de perdas
e danos, na condição de órgão fi scalizador e representante de autores de obras
musicais, lítero-musicais e de fonogramas” (fl . 194).
Inconformada, a Rádio ingressou com o presente recurso especial, pelas
alíneas a e c do permissivo constitucional, sem indicar o dispositivo legal que
teria sido vulnerado, mas apontando para a divergência jurisprudencial seja
quanto a ilegitimidade do Ecad para atuar na representação dos autores das
composições musicais, seja quanto à impropriedade da via possessória utilizada
para a defesa da posse de bem incorpóreo.
Nas contra-razões, o Ecad trouxe r. acórdão da eg. 3ª Turma, onde fi cou
decidido, por maioria de votos:
Sendo o direito autoral uma propriedade, legítima a defesa de direito via ação
de interdito proibitório (REsp n. 41.813-RS, rel. em Min. Cláudio Santos).
O recurso foi admitido pela eg. Presidência.
É o relatório.
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
126
VOTO
O Sr. Ministro Ruy Rosado de Aguiar (Relator): Sobre o tema da utilização
da via possessória para a defesa da posse de direito autoral, assim já votei no
REsp n. 89.171-MS:
1. A questão versada nos autos cinge-se à possibilidade da utilização dos
interditos possessórios para a defesa da posse de direito autoral. O v. acórdão
negou ao Ecad o exercício do interdito proibitório, daí o presente recurso.
2. A eg. 3ª Turma, sendo relator o em. Min. Cláudio Santos, no REsp n. 41.813-
RS, forte no voto do Min. Ribeiro da Costa, no RE n. 14.144 (For. 128/427), decidiu
com a seguinte ementa:
Direitos autorais. Proteção possessória. Cabimento. Sendo o direito
autoral uma propriedade, legítima a defesa de tal direito via ação de
interdito proibitório.
Votaram vencidos os eminentes Ministros Eduardo Ribeiro e Waldemar Zveiter,
aquele citando a lição de Darcy Bessone:
Entendemos que o que verdadeiramente importa é a natureza da coisa,
e não a natureza do direito. A posse não se exerce sobre direitos, que, reais
ou pessoais, não são visíveis. São entidades abstratas, concebidas pela
inteligência (Direitos Reais, p. 262).
3. Ihering sustentou a proposição: “A proteção da posse, como exterioridade
da propriedade, é um complemento necessário da proteção da propriedade,
uma facilidade de prova em favor do proprietário, que necessariamente aproveita
também ao não proprietário” (O fundamento dos interdictos possessórios,
1908, p. 71). A idéia central da sua teoria está “em por a posse em relação com a
propriedade”, chegando por isso a admitir a posse de direitos, mas nos seguintes
termos: “Deste modo a idéia desenvolvida até aqui do paralelismo entre a
propriedade e a posse das cousas encontra, na extensão completada pelo direito
moderno da quase posse, a todos os direitos que dela são suscetíveis”. (p. 207)
Astolpho Rezende (A posse e sua proteção, 1937, 1/71), depois de explicar a
aparente contradição do texto do Código Civil, ao tratar da posse e referir-se a
direitos, afi rma que, no sistema do Código, o objeto da posse só pode ser uma
coisa sobre a qual se exerça o domínio, o qual é exercitável, na sua acepção
específi ca, sobre as coisas corpóreas. E observa, retornando à doutrina: “Nesta
espécie, não diverge da escola clássica a teoria de Ihering. Também para Ihering
só tem o nome específi co de posse, e somente gozam de proteção possessória
os direitos que se exercem sobre uma coisa material; não reconhece a posse das
coisas incorpóreas” (p. 85-86). Aliás, na explicação de Clóvis, a expressão “direito”,
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (17): 109-137, março 2011 127
encontrada no artigo 493 e outros, somente compreende os direitos reais sobre
coisa alheia.
Até aqui, portanto, temos a posse sobre coisas corpóreas e sobre os iura in re
aliena.
No ponto específi co do direito do autor, a questão se apresenta com certa
complexidade, a começar pela sua classifi cação.
O mesmo Astolpho Rezende, ao versar sobre a natureza dos direitos,
reconhece: “Existem, todavia, certos direitos de difícil classifi cação. Dentre eles
sobressaem os direitos do autor, o direito ao nome, os inventos industriais, etc”. A
Lei n. 5.988/1993 defi niu o Direito Autoral como bem móvel, o que veio referendar
a lição antiga do mestre Astolpho: “... só podem, no nosso Direito, considerar-se
objeto de propriedade no sentido técnico e estrito, as coisas corpóreas, e, além
delas, o direito de autor” (p. 138). Adverte, contudo - e isso é o que mais interessa
ao nosso caso - com apoio em Ihering, não ser essa propriedade passível de
esbulho ou usurpação, mas de simples concorrência (p. 138-139), e conclui:
“O que assinalo e caracteriza a posse é sua defensibilidade pelos interditos.
Só a posse que tem por objeto coisas materiais é suscetível de proteção pelos
interditos. A posse que não tem por objeto coisas materiais é sufi cientemente
defendida e protegida pelas mesmas ações que garantem os direitos de cujo
exercício e gozo se trata” (p. 150).
Não é diferente a lição de José de Oliveira Ascensão:
Nos estudos que realizamos sobre esta matéria fomos porém levados
a concluir que o direito de autor (e analogamente deveríamos falar dos
direitos sobre bens industriais) não é nem uma propriedade nem um
direito real. A obra intelectual, uma vez divulgada, não pode estar sujeita ao
domínio exclusivo dum só. Todos disfrutam diretamente desse bem, mas só
o titular pode benefi ciar economicamente com ele. Tem pois um exclusivo
de exploração econômica da obra (cfr. o art. 61º do Código do Direito de
Autor). (Direitos Reais, Almedina, 1978, p. 106)
Concluímos por isso que os direitos sobre bens intelectuais se inserem
na categoria dos direitos de exclusivo ou de monopólio.
O eminente Ministro José Carlos Moreira Alves, o mais ilustre dos nossos
civilistas, sustenta que as criações de espírito, entre elas a que dá origem ao
direito autoral, não podem ser objeto de posse. Examina a Lei n. 5.988/1973 e
afi rma:
Também a circunstância de o art. 2º dessa mesma lei considerar o direito
autoral, para efeitos legais, como bem móvel não dá margem a que se
sustente a possibilidade de posse sobre as criações de espírito, pois o artigo
48, II, do CC, diz o mesmo com relação aos direitos de obrigação, e nem por
isso são eles objeto de posse em nosso sistema jurídico (Posse, II./1/155).
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
128
Com estas considerações, estou em conhecer do recurso, pela divergência,
mas lhe negar provimento, julgando incabível o uso do interdito proibitório, pois
o direito do autor, por não recair sobre coisa corpórea, não pode ser turbado ou
esbulhado, apenas exercido indevidamente por outros, em simples concorrência,
o que constitui ofensa à exclusividade ou monopólio, - porquanto só o titular
pode benefi ciar-se economicamente com ele, - mas defensável através das outras
vias que o sistema concede à defesa dos direitos.
Reiterando essa fundamentação, estou em conhecer do recurso, pela
divergência, e lhe dar provimento, para julgar extinto o processo sem julgamento
do mérito, uma vez que é inadmissível o uso do interdito proibitório para a
defesa de direito autoral, invertidos os ônus da sucumbência. Com isso, fi ca
prejudicado o exame da outra tese suscitada no recurso, sobre a ilegitimidade
passiva da autora.
É o voto.
VOTO-VOGAL VENCIDO
O Sr. Ministro Fontes de Alencar: Senhor Presidente, vou rogar ao Sr.
Ministro Ruy Rosado de Aguiar respeitosa vênia para fi xar-me na seguinte
posição: admitindo que o tema tenha sido debatido, questionado, prescindiria
de um acórdão fazer expressa referência a um dispositivo legal, eventualmente
dado como afrontado, mas, no caso concreto, não se dá por afrontado qualquer
dispositivo de lei. Argüi-se divergência de interpretação de lei. Neste caso -
entendo eu - não se pode trabalhar a respeito da desarmonia de interpretação
de texto legal se não se tem um texto legal sobre o qual trabalharam, teriam
trabalhado ou deveriam trabalhar os acórdãos posto em confl itos.
Por isso, respeitosamente, divirjo do voto do Sr. Ministro Relator para não
conhecer do recurso.
VOTO
O Sr. Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira: Acompanho o voto do Sr.
Ministro-Relator, com a vênia do Sr. Ministro Fontes de Alencar.
Conheço do recurso pelo dissídio e lhe dou provimento, na linha de
precedente desta Turma, REsp n. 89.171, do qual também foi relator o Sr.
Ministro Ruy Rosado de Aguiar.
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (17): 109-137, março 2011 129
VOTO
O Sr. Ministro Barros Monteiro: - Sr. Presidente, vou rogar vênia ao
Eminente Ministro Fontes de Alencar para acompanhar o voto do eminente
Ministro-Relator, entendendo, caracterizado, no caso, o dissídio de julgados, em
face de um acórdão oriundo da Colenda Terceira Turma desta Casa.
Há, na espécie, uma quaestio juris, que foi posta nas instâncias ordinárias
e amplamente debatida no recurso especial, envolvendo não só a proteção
possessória conferida pelo Código Civil, como também as preceituações inscritas
na lei processual civil, entre as quais se acham os arts. 932 e 933.
Tocante ao mérito, meu voto é no sentido do que já assentou esta Eg.
Turma quando do julgamento do REsp n. 89.171.
Acompanho, pois, o eminente Ministro-Relator.
VOTO
O Sr. Ministro Cesar Asfor Rocha: - Sr. Presidente, peço vênia ao Sr.
Ministro Fontes de Alencar, para dar por confi gurada a divergência.
Acompanho o voto do eminente Ministro-Relator pois o resultado já
está defi nido independentemente do meu voto, mas reservo-me a fazer novas
refl exões sobre o tema específi co da adequação, ou não, da ação de interdito
proibitório utilizada pelo Ecad nas hipóteses como a dos autos.
RECURSO ESPECIAL N. 126.797-MG (97.24107-6) (2.584)
Relator: Ministro Carlos Alberto Menezes Direito
Recorrente: Escritório Central de Arrecadação e Distribuição - Ecad
Recorrido: Rádio Inconfi dência Ltda
Advogados: Antônio Olímpio Nogueira e Eduardo Sales Pimenta
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
130
EMENTA
Direito Autoral. Interdito proibitório. Precedentes da Corte.
1. As Turmas que compõem a Segunda Seção não discrepam ao
afastar o interdito proibitório para a defesa dos direitos autorais.
2. Recurso especial não conhecido.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Senhores Ministros
da Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos
e das notas taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, não conhecer do recurso
especial. Participaram do julgamento os Senhores Ministros Nilson Naves,
Eduardo Ribeiro e Waldemar Zveiter. Ausente, justifi cadamente, o Senhor
Ministro Costa Leite.
Brasília (DF), 19 de fevereiro de 1998 (data do julgamento).
Ministro Carlos Alberto Menezes Direito, Presidente e Relator
DJ 06.04.1998
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Carlos Alberto Menezes Direito: Cuida-se de recurso
especial interposto por Escritório Central de Arrecadação e Distribuição -
Ecad, com fulcro no art. 105, III, alíneas a e c do permissivo constitucional,
contra decisão prolatada pela 5ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado
de Minas Gerais, que negou provimento ao recurso, inadmitindo o uso dos
interditos possessórios à defesa dos direitos pessoais.
Sustenta o recorrente que, de acordo com os artigos 485, 488, 490, 493,
I, do Código Civil, e artigos 29, 30 e 73 da Lei n. 5.988/1973 e com os
precedentes que menciona, o Direito Autoral goza de proteção possessória por
meio dos interditos.
Não houve contra-razões e o recurso especial foi admitido (fl s. 317-319).
É o relatório.
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (17): 109-137, março 2011 131
VOTO
O Sr. Ministro Carlos Alberto Menezes Direito (Relator): Ecad ajuizou
interdito proibitório cumulado com perdas e danos, extinto em primeiro grau
em relação ao interdito e improcedente em relação ao pedido de perdas e danos.
O Tribunal de Justiça de Minas Gerais manteve a sentença.
O julgado recorrido não discrepa da jurisprudência da Corte, nem, a meu
juízo, da melhor doutrina.
Quanto à primeira, é sufi ciente reproduzir precedente da Quarta Turma de
que foi Relator o Senhor Ministro Ruy Rosado de Aguiar, com a ementa que se
segue, verbis:
Posse. Direito de autor. Interdito proibitório. Inadmissibilidade.
Não cabe a utilização dos interditos proibitórios para a defesa dos direitos
autorais.
Recurso conhecido pela divergência, mas improvido (REsp n. 89.171-MS, DJ de
08.09.1997).
Quanto à segunda, merece ser transcrita a lição de José Carlos Moreira
Alves, verbis:
A nosso ver, as criações do espírito (que dão origem, inclusive, ao direito
autoral) em si mesmas não podem ser objeto de posse. Tem razão Oliveira
Ascensão, ao escrever, com referência ao direito brasileiro:
Todavia, hoje como ontem, parece-nos que a posse pressupõe
necessariamente uma coisa sobre a qual se exerçam poderes. Mesmo a
chamada posse de direitos não deixa de pressupor uma coisa sobre a qual
recai o exercício do direito. Por isso a posse se perde pela destruição da
coisa, por exemplo, e a referência a esta perpassa todo o regime da posse.
O direito de autor, que não pressupõe uma coisa, não pode assim originar
posse.
O próprio artigo 485 do Código Civil exprime esta idéia, pois exige
para o possuidor que tenha de fato o exercício, o que só pode signifi car
o exercício de poderes de fato. O direito de autor não permite situações
que caiam nesta previsão, porque sobre a obra não se pode produzir uma
situação de fato.
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
132
A obra não é pois suscetível de posse. Como veremos, os meios de tutela
desta dispensam o recurso aos meios possessórios.
Note-se que, em face da natureza jurídica que lhe atribuiu a Lei n. 5.988,
de 14 de dezembro de 1973 (que revogou os artigos do Código Civil sobre a
propriedade literária, artística e científi ca - direito real, segundo a sistemática
adotada pelo Código -, e passou a considerar duas espécies de direitos autorais:
os morais, que são personalíssimos, e os patrimoniais, que pertencem ao gênero
direito absoluto, mas não à espécie direito real, e isso por ser o direito autoral,
ainda que patrimonial, fundamentalmente diverso do direito de propriedade),
não há sequer que se pretender a possibilidade de posse sobre a criação literária,
artística e científi ca - e, portanto, sobre a coisa incorpórea - sob a alegação, que
aliás é puramente formal, do paralelismo entre a propriedade e a posse. Também
a circunstância de o artigo 2° dessa mesma lei considerar o direito autoral, para os
efeitos legais, como bem móvel não dá margem a que se sustente a possibilidade
de posse sobre as criações do espírito, pois o art. 48, II, do Código Civil diz o
mesmo com relação aos direitos de obrigação, e nem por isso são eles objeto
de posse em nosso sistema jurídico. Regras dessa natureza signifi cam apenas
que se estendem a tais direitos a disciplina jurídica das coisas móveis, no que
for compatível com a natureza deles. Ademais, no direito brasileiro, não existe
norma correspondente ao § 311 do Código Civil austríaco, o qual reza: “Todas as
coisas corpóreas ou incorpóreas que são objeto do comércio jurídico podem ser
tomadas em posse”. (Posse, Forense, Vol. II, 1º Tomo, 2ª ed., 1991, p. 115-157)
É certo que há um precedente desta Turma, de que foi Relator o Senhor
Ministro Cláudio Santos, admitindo o uso da proteção possessória em direito
autoral (REsp n. 41.813-RS). Naquela ocasião (1984), fi caram vencidos os
Senhores Ministros Eduardo Ribeiro e Waldemar Zveiter. Mais recentemente,
porém, ausente o Senhor Ministro Costa Leite, que acompanhou o Relator,
admitindo o uso da proteção possessória, no precedente mencionado, esta
Turma, Relator o Senhor Ministro Nilson Naves, uniformizou o entendimento
da Seção, com a ementa que se segue, verbis:
Direito de autor. Interdito proibitório. Dele não se pode valer o Ecad, a pretexto
de defender a posse de tais direitos. Posse não há, inexistindo em conseqüência
turbação ou esbulho. Precedentes da 4ª Turma do STJ: REsp’s n. 89.171 e 110.523.
Recurso especial conhecido e provido. (REsp n. 79.843-MG, DJ de 16.06.1997)
Destarte, presente a Súmula n. 83 da Corte, eu não conheço do recurso.
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (17): 109-137, março 2011 133
RECURSO ESPECIAL N. 144.907-SP (97.0058586-7)
Relator: Ministro Costa Leite
Recorrente: Comercial Cabo TV São Paulo Ltda
Recorrido: Escritório Central de Arrecadação de Distribuição - Ecad
Advogados: Maurício Pessoa e outros
Maria Cecília Garreta Prats Caniato e outros
EMENTA
Direitos Autorais. Interdito proibitório.
Consolidada a jurisprudência do STJ no sentido de que incabível
o interdito proibitório para a proteção de direito autoral. Recurso
conhecido em parte e, nesta parte, provido.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Terceira
Turma do Superior Tribunal de Justiça, em conformidade com os votos e notas
taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, conhecer em parte do recurso especial e,
nesta parte, dar-lhe provimento.
Participaram do julgamento os Srs. Ministros Nilson Naves, Eduardo
Ribeiro, Waldemar Zveiter e Menezes Direito.
Brasília (DF), 10 de novembro de 1997 (data de julgamento).
Ministro Costa Leite, Presidente e Relator
DJ 30.03.1998
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Costa Leite: Na causa em que controverte com o Escritório
Central de Arrecadação e Distribuição - Ecad, Comercial Cabo TV São Paulo
investe contra acórdão da e. Oitava Câmara de Direito Privado do Tribunal
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
134
de Justiça de São Paulo, sob a alegação de que discrepou de julgados de outros
tribunais, ao entender cabível o interdito proibitório para proteção de direito
autoral, e negou vigência a dispositivos da Lei n. 5.988/1973, ao reconhecer a
legitimidade do Ecad para a defesa de direitos do autor.
Admitido o recurso, subiram os autos.
É relatório, Senhores Ministros.
VOTO
O Sr. Ministro Costa Leite (Relator): - No que diz com a legitimidade,
não assiste razão ao recorrente, apresentando-se o acórdão, no particular, afi nado
com a jurisprudência deste Tribunal, como se colhe, dentre outros, dos acórdãos
proferidos nos Recursos Especiais n. 74.041-RS, n. 76.553-MG, n. 89.605-RJ,
assim exteriorizado o último, de minha relatoria:
Direito Autoral. Cobrança. Ecad. Legitimidade ativa.
O Ecad está legitimado a promover ação de cobrança de contribuição devida
em razão de direito autoral, independentemente da comprovação da fi liação do
titular e autorização deste.
Quanto à outra questão, após um período de vacilação, a jurisprudência
da Seção especializada acabou se firmando no sentido de que incabível o
interdito proibitório para a proteção de direito autoral. Com esta Terceira
Turma acolhendo esse entendimento que já prevalecia na Quarta Turma,
quando do julgamento do REsp n. 67.478-MG, para cujo acórdão o eminente
Ministro Nilson Naves escreveu a seguinte ementa:
Direitos de autor. Interdito proibitório. Dele não se pode valer o Ecad,
a pretexto de defender posse de tais direitos. Posse não há, inexistindo em
conseqüência turbação ou esbulho. Precedentes da 4ª Turma do STJ: REsp’s n.
89.171 e n. 110.523. Recurso especial conhecido pelo dissídio, mas improvido.
Assim é que, Senhores Ministros, conheço em parte do recurso e, nessa
parte, lhe dou provimento, para modifi car o capítulo do acórdão pertinente ao
interdito proibitório, pedido em relação ao qual impende decretar a carência da
ação, com a nota de que subsiste o pedido cumulado. É o meu voto.
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (17): 109-137, março 2011 135
RECURSO ESPECIAL N. 156.850-PR (97.0085952-5)
Relator: Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira
Recorrente: Escritório Central de Arrecadação e Distribuição - Ecad
Recorrida: TV Cabo Iguaçu Sociedade Civil Ltda.
Advogados: Ludovico Albino Savaris
Rui Geraldo Camargo Viana e outros
EMENTA
Processual Civil. Direitos autorais. Ação de interdito proibitório
cumulada com perdas e danos. Ecad. Legitimidade. Recurso especial.
Fundamento constitucional sufi ciente para “manutenção” da decisão.
Falta de interesse recursal. Recurso não conhecido.
I - Assentando-se o acórdão recorrido sobre fundamentos de
ordem constitucional e infraconstitucional, resta prejudicada a análise
do recurso especial quando o fundamento constitucional sufi ciente
para a “manutenção” do decisum deixa de ser atacado pela via recursal
adequada ou, ainda, quando o recurso extraordinário interposto é
inadmitido pelo tribunal de origem, por decisão transitada em julgada.
II - Segundo jurisprudência firme da Corte, não cabem os
interditos possessórios para a defesa dos direitos autorais.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Quarta
Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas
taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, não conhecer do recurso. Votaram com
o Relator os Ministros Barros Monteiro, Cesar Asfor Rocha e Ruy Rosado de
Aguiar. Ausente, justifi cadamente, o Ministro Bueno de Souza.
Brasília (DF), 10 de fevereiro de 1998 (data do julgamento).
Ministro Barros Monteiro, Presidente
Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira, Relator
DJ 16.03.1998
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
136
EXPOSIÇÃO
O Sr. Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira: Cuida-se de recurso especial
interposto contra acórdão do Tribunal de Alçada do Paraná que, desprovendo
apelação, entendeu não deter o recorrente legitimidade para defender a posse de
direitos autorais, em ação de interdito proibitório cumulada com perdas e danos,
por não haver juntado a prova de fi liação dos titulares dos referidos direitos.
Irresignado, o autor interpôs recursos extraordinário e especial alegando
neste, além de dissídio, violação dos arts. 103, 104 e 115 da Lei n. 5.988/1973,
sustentando a possibilidade de promover, em nome próprio, a defesa judicial dos
titulares de obras musicais, independentemente de qualquer prova de fi liação.
Sem contra·razões, foi somente o recurso especial admitido na origem.
É o relatório.
VOTO
O Sr. Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira (Relator): O acórdão
recorrido fundamentou sua conclusão, entre outros pontos, na ampla liberdade
de associação assegurada no art. 8º da Constituição, conforme se verifi ca neste
trecho de sua ementa:
Direitos Autorais. Ecad. Ilegitimidade ativa ad causam. Reconhecimento de
ofício.
- Dada a liberdade de associação assegurada no art. 8º, da CF, o Escritório
Central de Arrecadação e Distribuição - Ecad, somente tem legitimidade para
representar em juízo os titulares de direitos autorais fi liados às associações que
organizaram o mencionado escritório. Não havendo prova da fi liação, o Ecad é
parte ilegítima para defender a posse sobre tais direitos (exegese do art. 104, da
Lei n. 5.988/1973).
(omissis)
- Para exercer suas atribuições legais, o Ecad deve necessariamente especifi car
as músicas e peças executadas, bem como os seus respectivos autores.
Cuida-se, portanto, de fundamento constitucional suficiente para a
“manutenção” do acórdão, uma vez que o recurso extraordinário restou
inadmitido pelo Tribunal de origem, por decisão transitada em julgado.
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (17): 109-137, março 2011 137
Afi gura-se, destarte, a ausência de pressuposto de admissibilidade do
recurso, qual seja a falta de interesse recursal do recorrente nesse ponto,
incidindo, mutatis mutandis, o Enunciado n. 126 da Súmula-STJ:
É inadmissível recurso especial, quando o acórdão recorrido assenta em
fundamentos constitucional e infraconstitucional, qualquer deles sufi ciente, por
si só, para mantê-lo, e a parte vencida não manifesta recurso extraordinário.
Ademais, consoante jurisprudência firme desta Corte, não cabem os
interditos possessórios para a defesa dos direitos autorais.
A propósito, dentre outros, o REsp n. 89.171-MS (DJ 08.09.1997) de que
foi relator o Ministro Ruy Rosado de Aguiar, de cuja ementa se lê:
Posse. Direito de autor. Interdito proibitório. Inadmissibilidade. Não cabe a
utilização dos interditos possessórios para a defesa dos direitos autorais.
Recurso conhecido pela divergência, mas improvido.
Em face do exposto, não conheço do recurso.
Súmula n. 229
SÚMULA N. 229
O pedido do pagamento de indenização à seguradora suspende o prazo de
prescrição até que o segurado tenha ciência da decisão.
Precedentes:
REsp 807-RS (4ª T, 16.11.1992 – DJ 14.12.1992)
REsp 8.770-SP (4ª T, 16.04.1991 – DJ 13.05.1991)
REsp 21.547-RS (3ª T, 25.05.1993 – DJ 16.08.1993)
REsp 52.149-SP (4ª T, 12.05.1997 – DJ 09.06.1997)
REsp 59.689-SP (3ª T, 27.08.1996 – DJ 21.10.1996)
REsp 70.367-SP (3ª T, 24.10.1995 – DJ 11.12.1995)
REsp 80.844-PE (4ª T, 05.03.1996 – DJ 22.04.1996)
REsp 90.601-PE (3ª T, 03.03.1998 – DJ 1º.06.1998)
REsp 108.748-RJ (4ª T, 10.03.1997 – DJ 05.05.1997)
REsp 200.734-SP (4ª T, 23.03.1999 – DJ 10.05.1999)
Segunda Seção, em 08.09.1999
DJ 20.10.1999, p. 49
RECURSO ESPECIAL N. 807-RS (89.0010216-8)
Relator: Ministro Bueno de Souza
Recorrente: Bamerindus Cia. de Seguros
Recorrido: Syr Martins Filho
Advogados: Celso Ferreira Munhoz e outros, Ademir Canali Ferreira e
outros
EMENTA
Civil. Contrato de seguro. Comunicação de sinistro. Prescrição.
Juros moratórios. Termo inicial.
1. Feita a comunicação, tem-se por suspenso o prazo prescricional,
enquanto a seguradora não cientifi car o segurado dos motivos da
recusa ao pagamento da indenização.
2. Os juros de mora, nas obrigações líquidas, fluem do ato
citatório.
3. Precedentes.
4. Recurso especial conhecido e provido, em parte.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Quarta
Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas
taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, conhecer em parte do recurso e, nessa
parte, dar-lhe provimento. Votaram com o Relator os Senhores Ministros
Athos Carneiro, Sálvio de Figueiredo e Barros Monteiro. Ausente, por motivo
justifi cado, o Senhor Ministro Fontes de Alencar.
Brasília (DF), 16 de novembro de 1992 (data do julgamento).
Ministro Athos Carneiro, Presidente
Ministro Bueno de Souza, Relator
DJ 14.12.1992
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
144
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Bueno de Souza: Syr Martins Filho demandou cobrança
contra Bamerindus Companhia de Seguros, para haver ressarcimento pelos danos
causados a dois helicópteros, durante o transporte terrestre desses aparelhos,
com base em contrato de seguro celebrado ante a recusa manifestada pela ré (fl s.
02-05). Esta em contestação (fl s. 31-34), argüiu a prescrição ânua, e no mérito
sustentando ainda que os danos advieram da má condição da estrada, risco não
contemplado pela apólice. Por derradeiro, alegou que a correção monetária do
débito somente poderia incidir a partir do ajuizamento da ação.
Em primeiro grau, por ocasião do saneamento, rejeitou-se a ocorrência de
prescrição, o que rendeu ensejo a agravo retido, afi nal, assim fi cou decidida a
demanda (fl . 86):
Julgo procedente a ação para condenar a ré ao pagamento de Cr$ 2.400.000,00,
referente ao prejuízo sofrido pelo autor quando do transporte de helicópteros,
risco assumido pela primeira quando celebrou o contrato de seguro com este.
O valor será corrigido pelos índices as ORTNs, desde a data do orçamento
(06.07.1982) e sobre ele incidirão juros de mora à taxa legal a partir de 1º.04.1982,
data em que a ré formalizou a recusa do pagamento pleiteado.
Em apelação, a Segunda Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Rio
Grande do Sul, à unanimidade, de votos, rejeitou preliminar de nulidade da
sentença, assim como negou provimento ao agravo retido e à apelação.
Eis, no essencial, os fundamentos do v. acórdão, confi rmador da r. sentença,
quanto ao ponto da prescrição (fl . 115):
Entendo que a ilustre Pretora Dra. Luíza Puricelli Pires decidiu com acerto a
questão. Descabe, no caso, interpretação literal e rígida do art. 178, § 6º, II do
Código Civil.
Como salienta a decisora, na origem, “há de considerar-se que o direito do
segurado ao formular o pedido de pagamento da indenização fi ca subordinado a
condição suspensiva, qual seja à resposta por parte da seguradora, efetuando ou
recusando o pagamento pleiteado. Em outras palavras, o início da prescrição se
conta a partir da recusa, pois neste momento nasce o direito à ação”.
Em seguimento, a Dra. Pretora enfoca a questão relativa à necessidade de
constituição em mora da seguradora, para perfectibilizar-se a exigibilidade via
judicial.
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (17): 139-184, março 2011 145
Assim, não é razoável pensar-se em prescrição antes que estejam confi guradas
todas as condições para ensejar a propositura da ação.
Embargos de declaração foram rejeitados (fl . 126).
Contra o v. julgado da apelação, Bamerindus Companhia de Seguros interpôs
recurso extraordinário, sustentando contrariedade aos artigos 178, § 6º, II, do
Código Civil: 1º, § 2º, da Lei n. 6.890, de 1981 e 1.536, § 2º do Código Civil,
além de divergência jurisprudencial.
O recurso foi admitido na origem (fl s. 144-145), subindo os autos ao
Supremo Tribunal Federal.
Naquela mais alta Corte, o eminente Ministro Sepúlveda Pertence exarou
o seguinte despacho (fl . 184), verbis:
O recurso extraordinário, e e d (Carta de 1969), suscita apenas questões
jurídicas infra-constitucionais.
Atento à decisão plenária do RE n. 119.204 (questão de ordem), 19.04.1989,
Relator o eminente Ministro Moreira Alves, (DJ 28.04.1989), instalado o Superior
Tribunal de Justiça, a ele se transferiu a competência para julgá-lo, convertido em
recurso especial.
Remetam-se os autos ao Superior Tribunal de Justiça.
VOTO
O Sr. Ministro Bueno de Souza (Relator): - Senhor Presidente, mostram
os autos que, saneamento específi co do processo, a propósito de efetuar o
saneamento específi co do processo, a Il. Juíza do Primeiro Grau logo repeliu,
a título de questão preliminar, a defesa consistente em prescrição. Reiterada
na apelação da ré a impugnação dirigida por agravo retido contra essa decisão,
compreende-se que o v. acórdão se tenha detido, primeiramente, no exame
dessa matéria (CPC, art. 522, § 1º), assim antepondo-a à alegada nulidade da
sentença, por haver condenado a apelante ao pagamento de quantia líquida,
quando é certo que o pedido é de condenação à composição de danos cujo valor
deveria ser objeto de liquidação.
O v. acórdão passou, assim, ao largo da inobservância da ordem legal do
processo, consistente na prematura decisão de questão integrante do mérito,
assim conceituada pelo artigo 269, IV do Código de Processo Civil, para pôr
termo à controvérsia em sede doutrinária.
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
146
Cumpre, portanto, acentuar que o Código de Processo Civil vigente
mantém o princípio da unicidade da sentença no processo de conhecimento em
primeiro grau, tal como advém da necessária conjugação do disposto nos artigos
469 e 463.
Muito embora não seja esta questão suscitada no recurso especial sob
exame, recomenda-se, entretanto, seja aqui abordada, ainda que incidentalmente,
como respeitosa sugestão à oportuna consideração da D. Instância Ordinária, em
apreço à relevância prática do tema, certo que propenso a animar a multiplicação
de recursos desnecessários.
2. A primeira questão a ser enfrentada, na apreciação do recurso sub judice,
é a da prescrição. Colho dos autos os dados empíricos, tais como reconhecidos
no juízo de origem, sem discrepância: o aparelho chegou ao destino em 15 de
fevereiro de 1982, quando se verifi cou a ocorrência dos danos; o fato foi objeto
de comunicação à seguradora em 18 seguinte e esta somente se pronunciou
em 1º de abril de 1982. O ajuizamento da causa, por sua vez, ocorreu em 28
de fevereiro de 1983 (fl s. 03 e 50). O entendimento das instâncias ordinárias
é o de que o pronunciamento da seguradora constitui condição suspensiva, de
tal modo que, enquanto não se verifi ca, não se integra o direito do segurado,
cumprindo, portanto, afastar “interpretação literal e rígida do art. 178, § 6º, II
do Código Civil” (fl . 115).
No particular, não me deparo com contrariedade a esse preceito legal, pois,
muito embora não tenha participado do julgamento, por esta Quarta Turma, do
REsp n. 8.770-SP, de que V. Exa., Senhor Presidente, foi Relator, em 16 de abril
de 1991, estou de inteiro acordo com a orientação ali sufragada, à unanimidade,
na consonância da ementa deste teor (RSTJ 21/513):
Ementa: Contrato de seguro. Incêndio. Prazo prescricional do artigo 178, § 5º,
II do Código Civil. Modo de contagem do prazo. Reclamação perante o segurador.
A comunicação do sinistro, feita pelo segurado ao segurador nos termos do
artigo 1.457 do Código Civil, não constitui “condição suspensiva” do contrato de
seguro, e nem causa interruptiva do prazo prescricional.
Durante o tempo em que a seguradora estuda a comunicação, e até que dê
ciência ao segurado de sua recusa ao pagamento da indenização, considera-se
apenas suspenso o prazo prescricional, que recomeça, de então, a correr pelo
tempo faltante.
Recurso especial conhecido e provido.
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (17): 139-184, março 2011 147
Este mesmo entendimento foi reiterado no REsp n. 10.497-SP, em
27.06.1991, também relatado por V. Exa., a propósito de seguro em grupo
(RSTJ 25/491).
Mais condizente com a natureza do contrato e com as obrigações das
partes é o reconhecimento da suspensão do decurso do prazo, por não ser
razoável negar os direitos oriundos do contrato, em vista do sinistro e, ademais,
encontrar fato exterior à vida do contrato no modo pelo qual incumbe ao
contratante proceder, para adequadamente cumpri-lo.
Como quer que seja, a norma legal não resultou vulnerada: prescrição não
ocorreu.
3. Relativamente ao art. 1.536, § 2º do Código Civil, observo que a
sentença determinou a incidência de juros de mora a partir de 1º de abril de
1982, “data em que a ré formalizou a recusa do pagamento pleiteado” (fl . 86).
Suscitada a matéria em apelação (fl . 92), juntamente com aquela condizente
a correção monetária, quanto ao ponto o v. acórdão silenciou, razão pela qual lhe
foram opostos os embargos de declaração, rejeitados, contudo (fl . 126), porque
(disse-o o voto condutor), ao manter a sentença, é de se entender que o Tribunal
repeliu a pretendida reforma, pelas mesmas razões da decisão impugnada.
4. No tocante aos juros de mora, no entanto, tenho por procedente a
apontada contrariedade ao art. 1.536, § 2º do Código Civil. E assim concluo
porquanto, deixando de parte a vacilação terminológica perceptível primo ictu
ocull à leitura dos arts. 1.533 e 1.536, não há, porém, senão concluir que a
obrigação líquida é aquela que versa sobre valor perfeitamente determinado, ou
seja, sobre quantia certa.
Pois bem, o autor, na inicial, pleiteou a condenação da seguradora a compor
danos que “serão apurados em liquidação de sentença” (fl . 04) e, sobre isso,
limitou-se a sentença a enunciar (fl . 85):
O prejuízo resultante do transporte importou, segundo menor orçamento,
datado de 06 de julho de 1982, em Cr$ 2.400.000.00 (fl . 65), valor que não foi
contestado. A partir daí há de incidir a correção monetária e os juros desde 1º de
abril de 1982, data em que restou comprovado o inadimplemento da ré (fl . 12).
Nesse capítulo, a r. sentença, que o v. acórdão manteve, não se concilia com
o preceito do art. 1.536, § 2º do Código Civil, verbis:
(...)
Contam-se os juros da mora, nas obrigações líquidas desde a citação inicial.
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
148
A regra de que “os juros de mora nas obrigações líquidas” contam-
se “desde a citação inicial”, foi reafi rmada no julgamento por esta Quarta
Turma, dos REsps n. 2.000-SP e n. 1.758-SP, DJU 09.03.1992 e 11.11.1991,
respectivamente, de que fui Relator.
Nessa parte, pois, conheço do recurso, pela letra a; e lhe dou provimento,
para que os juros moratórios incidam somente a contar da citação.
É o voto.
RECURSO ESPECIAL N. 8.770-SP (91.0003776-1)
Relator: Ministro Athos Carneiro
Recorrente: Itaú Seguros S.A
Recorrido: Ornix Com/ e Serviços Ltda.
Advogados: Ricardo Benites Malfati e outros
Lindenberg Bruza e outros
EMENTA
Contrato de seguro. Incêndio. Prazo prescricional do artigo 178,
§ 5º, II, do Código Civil. Modo de contagem do prazo. Reclamação
perante o segurador.
A comunicação do sinistro, feita pelo segurado ao segurador
nos termos do artigo 1.457 do Código Civil, não constitui “condição
suspensiva” do contrato de seguro, e nem causa interruptiva do prazo
prescricional.
Durante o tempo em que a seguradora estuda a comunicação,
e até que dê ciência ao segurado de sua recusa ao pagamento da
indenização, considera-se apenas suspenso o prazo prescricional, que
recomeça, de então, a correr pelo tempo faltante.
Recurso especial conhecido e provido.
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (17): 139-184, março 2011 149
ACÓRDÃO
Vistos e relatados os autos em que são partes as acima indicadas.
Decide a 4ª Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade,
conhecer do recurso e dar-lhe provimento, na forma do relatório e notas
taquigráfi cas precedentes que integram o presente julgado. Participaram do
julgamento, além do signatário, os Srs. Ministros Fontes de Alencar, Sálvio de
Figueiredo e Barros Monteiro.
Custas, como de lei.
Brasília (DF), 16 de abril de 1991 (data do julgamento).
Ministro Athos Carneiro, Presidente em exercício e Relator
DJ 13.05.1991
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Athos Carneiro: Cuida-se de ação fundada em contrato
de seguro contra incêndio, aforada por Ornix Com/ e Serviços Ltda. contra Itaú
Seguros S.A. A ação foi julgada procedente, afastada preliminar arguida pela
seguradora relativamente ao prazo prescricional ânuo, previsto no art. 178, § 6º,
II, do C.C. (fl s. 106-108).
Apreciando a apelação da seguradora, a egrégia Primeira Câmara Cível
do Tribunal de Justiça de São Paulo, à unanimidade, negou provimento ao
recurso, entendendo que a data do evento não se computa como dies a quo do
prazo prescricional, vez que, tendo a segurada solicitado extrajudicialmente o
pagamento, seu direito estaria subordinado a condição suspensiva (fl s. 143-145).
Irresignada, manifestou a seguradora recurso especial, pelas letras a e c do
permissivo constitucional, alegando negativa de vigência ao art. 178, § 6º, inciso
II, do Código Civil, além de dissídio com acórdãos insertos in RTs 468/191,
449/214, 297/362, in RTJ 52/23 e com aresto do 1º TAC de São Paulo, in
JTACSP, vol. 98/152, sustentando a recorrente em síntese, que o sobredito
dispositivo legal (art. 178, § 6º, inciso II do CC), é claro ao prever a prescrição
dentro do prazo de um ano a contar do dia do conhecimento do fato danoso (fl s.
149-161).
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
150
O eminente 3º Vice-Presidente do Tribunal de Justiça admitiu o apelo,
pela relevância da tese e pelo dissídio pretoriano (fl s. 167-168).
É o relatório.
VOTO
O Sr. Ministro Athos Carneiro (Relator): No alusivo a alegação de
prescrição, assim se manifestou o v. aresto:
Reitera a apelante a alegação de prescrição. De acordo com o Código Civil,
prescreve em um ano a ação (leia-se pretensão) do segurado contra o segurador e
vice-versa, se o fato que a autoriza se verifi car no país; contado o prazo do dia em
que o interessado tiver conhecimento do mesmo fato.
No caso, o incêndio se verifi cou no dia 30 de abril de 1987. No dia 30 de julho
daquele ano, a segurada solicitou o pagamento da indenização, sendo que no dia
17 de agosto seguinte, a seguradora informou por carta que estava declinando
da responsabilidade, quanto ao pagamento da indenização (fl . 12). A ação foi
proposta, no dia 12 de junho de 1988.
A r. sentença repeliu a argüição. Deve ser mantida a mencionada rejeição.
Fê-lo de acordo com o entendimento desta Primeira Câmara, que já decidiu
na Apelação n. 99.064 (Rel. Des. Luiz de Azevedo), reportando-se a outros dois
julgados (RJTJSP 104/297 e RT 344/229): “Na verdade, o prazo de prescrição para
ação do segurado contra o segurador não pode ter o seu termo inicial na data em
que ocorrido o evento danoso, quando aquele solicita junto a esta a indenização
que entende haver direito, isto porque, enquanto aguarda ele a resposta, fi ca
o seu direito subordinado à condição suspensiva, impossibilitando o acesso,
desde logo, a via judicial como se decidiu a tal respeito, ‘o direito subordinado
à condição suspensiva não é, ainda, direito adquirido, ao qual corresponda uma
ação, nos termos do art. 118, do Código Civil. Aplica-se, pois, em tal hipótese, o
principio actio nata, segundo o qual, enquanto não nasce a ação, não pode ela
prescrever” (fl . 129).
No caso, a resposta, declinando da responsabilidade é de agosto de 1987 e a
demanda, de junho do mesmo ano. (fl s. 144-145).
Impõe-se, aqui, uma retifi cação ao aresto: a demanda foi proposta no dia
12 de julho, e não 13 de junho de 1988 (vide fl . 06, fl . 02).
Não obstante os ponderáveis argumentos do acórdão recorrido, não
considero o exercício da reclamação administrativa, do segurado perante a
seguradora, como condição suspensiva do negócio jurídico. “Condição” é a
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (17): 139-184, março 2011 151
disposição acessória, “que subordina a efi cácia, total ou parcial, do negócio
jurídico a acontecimento futuro e incerto”; é um “requisito voluntário de
efi cácia do negócio jurídico” (ORLANDO GOMES, “Introdução ao Direito
Civil”, Forense, 5ª ed., n. 283); ou, no dizer de CAIO MÁRIO DA SILVA
PEREIRA, com remissão do Anteprojeto de Código das Obrigações, art. 26:
“Noutros termos, talvez mais precisos, é o acontecimento futuro e incerto, de
cuja verifi cação a vontade das partes faz depender o nascimento ou extinção das
obrigações e direitos” (“Instituições de Direito Civil”, Forense, v. I, 6ª ed., n. 96).
Ora, postas tais defi nições, certo que a efi cácia do contrato de seguro não estava
dependente de nenhum acontecimento externo “futuro e incerto, e nem como
acontecimento futuro e incerto” se pode conceituar a ação do segurado (ainda no
plano extraprocessual) perante a seguradora pleiteando o próprio adimplemento
do contrato, de cuja existência, validade e efi cácia dúvida não se põe.
A reclamação administrativa também não é causa interruptiva da
prescrição, pois não se insere em nenhuma das previsões do artigo 172 do
Código Civil, nem lei especial assim a conceitua.
Todavia, tenho por razoável e correto sustentar que o prazo prescricional
não deverá correr, ficando portanto suspenso, durante o tempo gasto pelo
segurador no exame da comunicação feita pelo segurado, em cumprimento ao
artigo 1.457 do Código Civil: “A fi nalidade do aviso é pôr o segurador a par do
ocorrido, para que tome conhecimento das circunstâncias, verifi que se o sinistro
está incluso na cláusula contratual e investigar quanto às causas do sinistro e do
importe dos danos, antes de se tornarem impossíveis ou difíceis pelas mudanças
e alterações regulares ou culposas ou dolosas”. (PONTES DE MIRANDA),
“Tratado de Direito Privado”, Tomo XLV, § 4.927, n. 4).
A não ser assim, poderia evidentemente o segurador, em procrastinando na
solução do pedido indenizatório, levar o segurado de boa-fé, e confi ante em que
a reclamação estaria bem encaminhada, à perda de seu direito pelo transcurso da
prescrição anual.
Suspenso o prazo prescricional, recomeçará a correr pelo tempo sobejante.
No caso dos autos, recebida a comunicação da segurada aos 30 de julho de
1987 (fl s. 11), já no dia 17 de agosto (fl . 12; fl . 04) a seguradora declinou de sua
responsabilidade, arguindo que a apólice não assegurava cobertura a incêndio
ocorrido por “danos elétricos”. Com a suspensão por apenas 17 dias, tendo o
sinistro ocorrido aos 30 de abril de 1987, já o prazo prescricional ânuo havia
incidido quando da propositura da demanda, aos 12 de julho do ano de 1988.
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
152
Quando ao dissídio pretoriano, este se confi gurou quando menos com o
aresto do 1º TACSP, ut fl s. 157-161.
Conheço, portanto, do recurso especial, por ambas as alíneas, a e c, do
permissivo constitucional, e ao mesmo dou provimento para julgar a demanda
improcedente, artigo 269, IV, do Código de Processo Civil, com despesas pela
vencida e honorários advocatícios de 10% sobre o valor atualizado da causa.
É o voto.
RECURSO ESPECIAL N. 21.547-RS (92.9805-3)
Relator: Ministro Cláudio Santos
Recorrentes: Itaú Seguros S/A e Sul América Unibanco Seguradora S/A
Recorrido: Escritório Comercial e Representações Bagetti Ltda - Escorel
Litisconsorte: Instituto de Resseguros do Brasil
Advogados: Oyama Assis Brasil de Moraes e outros
Marco Antônio Birnfeld e outros
Geraldo Nogueira da Gama e outros
Fernando Neves da Silva
Sustentação oral: Fernando Neves da Silva, pela segunda recorrente
EMENTA
Contrato de seguro. Prescrição. Suspensão do prazo.
Enquanto a seguradora examina o pedido de indenização e até
que comunique ao segurado a recusa do pagamento considera-se
suspenso o prazo prescricional.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Terceira
Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (17): 139-184, março 2011 153
taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, não conhecer do recurso especial da
Itaú Seguros S/A, conhecer, mas, negar provimento ao recurso da Sul América
Unibanco Seguradora S/A. Votaram com o relator os Ministros Nilson Naves,
Eduardo Ribeiro, Dias Trindade e Waldemar Zveiter.
Brasília (DF), 25 de maio de 1993 (data do julgamento).
Ministro Eduardo Ribeiro, Presidente
Ministro Cláudio Santos, Relator
DJ 16.08.1993
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Cláudio Santos: Cuida a espécie de ação de cobrança
movida por Escritório Comercial e Representações Bagetti Ltda. Escorel contra Itaú
Seguros S.A e outras.
A ação foi julgada improcedente no juízo monocrático, em vista de
declaração de prescrição.
A sentença foi confi rmada, por maioria, pela Segunda Câmara Cível do
Eg. Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul.
A nível de embargos infringentes, o v. acórdão veio a ser reformado, sendo
rejeitada a existência da prescrição.
Irresignadas, Itaú Seguros e Sul América Unibanco Seguadora interpuseram
recursos especiais, a primeira com base na alínea a, e a segunda com base nas
alíneas a e c, ambas do inciso III, artigo 105 do permissivo constitucional.
Itaú Seguros alega que o v. aresto afrontou o art. 114 do Código Civil, ao
considerar como “condição suspensiva” as tratativas feitas pelas partes. Sustenta
que tanto a lei, como a doutrina, têm como condição suspensiva uma cláusula,
feita pelas partes do negócio jurídico. Ademais, segundo se depreende da leitura
do acórdão, a condição fi caria ao arbítrio do devedor da obrigação, o que é
defeso pelo art. 115 da Lei Civil.
Ambas as recorrentes sustentam como violado o art. 178, § 6º, II,
do Código Civil, por considerarem que a decisão recorrida alterou a data
do início da prescrição ao entender que esta se dá a partir da recusa da
seguradora em pagar o seguro, desconsiderando, pois, o consignado no
referido dispositivo legal.
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
154
Contra-razões às fl s. 1.023-1.027.
Os recursos foram admitidos.
É o relatório.
VOTO
O Sr. Ministro Cláudio Santos (Relator): No julgamento dos embargos
infringentes, o relator Des. Elias Elmyr Manssour, parcialmente, manifestou-se
de acordo com o vencido, no julgamento da apelação, a assim expressar-se:
Acolho, porém, o voto vencido quando entende que, na data da propositura
da ação e mesmo da citação, que se consumou em 26.05.1987, não havia
decorrido o prazo prescricional. Com efeito, há de se ter presente que o sinistro
teve regulagem que foi realizada apenas em 21.02.1986. Um adendo a esse
mesmo trabalho ocorreu em 17.03.1986, e, por fi m, sindicância foi instaurada, que
teve seu resultado apenas em 27.07.1986. Com relação à Seguradora Itaú, verifi ca-
se que o derradeiro pagamento foi consumado em 30.06.1986 (fl . 43). De modo
que foi nesse momento que fi cou clara a negativa da devedora em pagar toda a
importância reclamada. Com relação à Seguradora Sul América Unibanco, um dos
recibos tem a data de 31.03.1986 (fl . 44) e o outro (fl . 45) sem data. De modo que
não se pode aferir se ele foi antes de 08.05.1986.
De qualquer modo, observa-se que a autora formulou reclamação contra as
seguradoras na Susep, e, ao que parece, em tempo oportuno, que resultou em
manifestação de vários departamentos, quando o Dejur presta informação, n.
68/87, datada de 16.02.1987, ratifi cando a manifestação do Defi s e assinalando
então que a matéria em discussão não era cabível nos estreitos limites do
procedimento administrativo, cabendo ao denunciante recorrer às vias ordinárias
para a defesa de seus direitos. Assim, o esgotamento da via administrativa ocorreu
apenas em fevereiro de 1987, não se podendo considerar como prescrita a ação
proposta em maio de 1987, especialmente pela omissão da data no recibo de fl .
43. (fl s. 975-976).
Em seqüência, desenvolveu o julgador amplas razões de ordem doutrinária,
especialmente a consignar ter-se verifi cado, no caso, uma condição suspensiva,
ou seja, o pedido de pagamento formulado pela autora da ação, ora recorrida,
submetido a estudos pelas seguradoras, o que impossibilitava a cobrança do
seguro antes da recusa das devedoras. Daí a aplicação do princípio da actionata,
segundo o qual, enquanto não nasce a ação não pode ela prescrever.
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (17): 139-184, março 2011 155
Finalizando, expõe o julgador:
Na publicação “Anais Jurídicos”, em que se debateu matéria de contrato de
seguro, o Juiz de Alçada do Tribunal do Paraná, Carlos Victor Maranhão de Loyola,
na proposição sob o título “Da Prescrição nos Contratos de Seguro”. Também
sustenta o mesmo entendimento, sendo, afi nal, a conclusão nos seguintes termos:
“O prazo de prescrição da ação do segurado contra o segurador tem o seu termo
inicial na data em que o segurado tomar conhecimento formal da causa geradora
da lide, ou seja, da negativa da seguradora em pagar a indenização requerida
administrativamente, atendendo-se ao princípio da actio nata. (Ob. citada, p. 163).
Na mesma publicação, em outro trabalho da autoria do advogado Voltaire
Giavarina Marense, sob o título “Algumas Reflexões Sobre a Prescrição do
Contrato de Seguro”, também é defendido o mesmo entendimento, salientando-
se a orientação dos Tribunais de que o termo inicial da ação do segurado contra
a seguradora é da data em que ele toma conhecimento da recusa do pagamento
da indenização pleiteada e não na data em que o evento danoso ocorreu.
A egrégia 3ª Câmara Cível, no julgamento da Apelação n. 588.014.365,
publicada na nossa “Revista de Jurisprudência”, vol. 129, p. 402, adotou o
mesmo entendimento, destacando, da ementa, a seguinte passagem: “Ação da
seguradora contra o segurado. Prescrição. Não reconhecimento. Aplicação do
princípio da actio nata, segundo a qual, enquanto não nasce a ação, não pode ela
prescrever”.
Breno Fischer, in a “Prescrição nos Tribunais”, vol. 4. Tomo I, p. 263, edição de
1960, cita acórdão deste Tribunal. datado de janeiro de 1935, sendo Relator o Des.
Alves Nogueira, em que, “tendo havido negociações para o pagamento do seguro,
fi cou afastado o curso da prescrição, porque não havia reconhecimento do dever
de indenizar”. E o autor, Breno Fischer, ressalta que “nem todos os entendimentos
preliminares podem ter caráter suspensivo, porque poderá haver uma continuada
troca de correspondência, em que a seguradora, longe de reconhecer, venha
reiteradamente negar o direito”.
Data venia, não me parece razoável fazer a distinção, porque sempre haverá
a possibilidade de a seguradora admitir o pagamento, ainda que parcial, tanto
que o referido autor observa que tudo se resume na apreciação de cada caso,
para que se possa bem concluir a respeito das conseqüências determinadas por
aqueles entendimentos prévios, e, no caso, o que se viu é que as seguradoras
acolheram em parte a pretensão da autora.
Em tais termos, estou em acolher em parte o voto vencido para afastar a
prescrição com relação às demais seguradoras, mas entendo que, como a maioria,
devem os autos retornar ao primeiro grau para o exame da matéria de mérito
propriamente dito, porque a prescrição embora considerada causa extintiva do
processo com o mérito, não afasta a necessidade de assegurar o duplo grau de
jurisdição, com a manifestação, portanto, do juízo a quo. (fl s. 978-980).
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
156
Vencido nesse julgamento fi cou o Des. Ivo Gabriel da Cunha a adotar
posição no sentido de admitir que o direito à ação nasce com o sinistro, podendo
a parte promover de imediato a cobrança judicial. Conclui seu voto deste modo:
Quando o Código Civil fala em fato, fala em fato relativo ao sinistro. O
argumento de que a ação nasce da recusa expressa da seguradora em indenizar o
segurado, embora, como já se viu pelo voto do eminente Relator, subsidiado em
opiniões importantes, não tem, na minha visão, base legal. (fl s. 981-982).
Não há dúvida de que o posicionamento do Des. Ivo Gabriel da Cunha
consoa com a letra e talvez o espírito do Código Civil de 1916.
Acontece que o mercado de seguro no começo do século funcionava
de forma inteiramente diversa do atual sistema. Imperava o liberalismo sem
controles e, por isso mesmo, nenhuma “burocracia” subordinava a atuação dos
contratantes, os quais agiam segundo as leis e praxes vigentes.
Hoje, todos sabemos que as seguradoras, assim como seus negócios e
contratos estão sujeitos a rígida disciplina imposta pelas autoridades, por força
da abrangência desse seguimento empresarial pela normatização do sistema
fi nanceiro brasileiro.
Daí a obrigatoriedade do preenchimento dos formulários exigidos pelas
autoridades securitárias e do pedido extrajudicial do pagamento do seguro
pelo segurado, sob pena de recusa da indenização. Ora, essa fase assemelhável
a de um procedimento administrativo necessariamente deve, mesmo que não
seja considerada uma condição suspensiva, suspender o curso da prescrição,
porquanto, a toda evidência, o segurado não tem ação enquanto aquela fase não
é ultrapassada.
A questão já foi enfrentada pela douta 4ª Turma deste Tribunal que assim
decidiu:
Contrato de seguro. Incêndio. Prazo prescricional do artigo 178, § 5º, II, do
Código Civil. Modo de contagem do prazo. Reclamação perante o segurador.
A comunicação do sinistro, feita pelo segurado ao segurador nos termos do
artigo 1.457 do Código Civil, não constitui “condição suspensiva” do contrato de
seguro, e nem causa interruptiva do prazo prescricional.
Durante o tempo em que a seguradora estuda a comunicação, e até que dê
ciência ao segurado de sua recusa ao pagamento da indenização, considera-se
apenas suspenso o prazo prescricional, que recomeça, de então, a correr pelo
tempo faltante.
Recurso especial conhecido e provido. (REsp n. 8.770-SP).
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (17): 139-184, março 2011 157
O relator daquele recurso, eminente Min. Athos Carneiro, assim justifi cou
sua decisão:
Não obstante os ponderáveis argumentos do acórdão recorrido, não considero
o exercício da reclamação administrativa, do segurado perante a seguradora, com
condição suspensiva do negócio jurídico. “Condição” é a disposição acessória, “que
subordina a efi cácia, total ou parcial, do negócio jurídico a acontecimento futuro
e incerto”; é um “requisito voluntário de efi cácia do negócio jurídico” (ORLANDO
GOMES, “Introdução ao Direito Civil”, Forense, 5ª ed., n. 283); ou, no dizer de CAIO
MÁRIO DA SILVA PEREIRA, com remissão do Anteprojeto de Código das Obrigações,
art. 26: “Noutros termos, talvez mais precisos, é o acontecimento futuro e incerto,
de cuja verifi cação a vontade das partes faz depender o nascimento ou extinção
das obrigações e direitos” (“Instituições de Direito Civil”, Forense, v. I, 6ª ed., n. 96).
Ora, postas tais defi nições, certo que a efi cácia do contrato de seguro não estava
dependente de nenhum acontecimento externo futuro e incerto, e nem como
acontecimento “futuro e incerto” se pode conceituar a ação do segurado (ainda no
plano extraprocessual) perante a seguradora pleiteando o próprio adimplemento
do contrato, de cuja existência, validade e efi cácia dúvida não se põe.
A reclamação administrativa também não é causa interruptiva da prescrição
pois não se insere em nenhuma das previsões do art. 172 do Código Civil, nem lei
especial assim a conceitua.
Todavia, tenho por razoável e correto sustentar que o prazo prescricional não
deverá correr, fi cando portanto suspenso, durante o tempo gasto pelo segurador
no exame da comunicação feita pelo segurado, em cumprimento ao artigo 1.457
do Código Civil: “A fi nalidade do aviso é pôr o segurador a par do ocorrido, para
que tome conhecimento das circunstâncias, verifi que se o sinistro está incluso
na cláusula contratual e investigar quanto às causas do sinistro e do importe dos
danos, antes de se tornarem impossíveis ou difíceis pelas mudanças e alterações
regulares ou culposas ou dolosas”. (PONTES DE MIRANDA, “Tratado de Direito
Privado”, Tomo XLV, § 4.927, n. 04).
A não ser assim, poderia evidentemente o segurador, em procrastinando na
solução do pedido indenizatório, levar o segurado de boa-fé, e confi ante em que
a reclamação estaria bem encaminhada, à perda de seu direito pelo transcurso da
prescrição anual.
Estou de inteiro acordo com as razoes expostas pelo douto colega.
Destarte, não tenho por violados os dispositivos legais apontados, motivo
por que não conheço do recurso por interposto por Itaú Seguros S.A.
Quanto ao recurso manejado pela Sul América Unibanco Seguradora S.A.,
face à comprovação do dissídio pretoriano, dele conheço, mas para negar-lhe
provimento.
É como voto.
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
158
QUESTÃO DE ORDEM
O Sr. Dr. Fernando Neves da Silva (Advogado): - Sr. Presidente, há
uma questão, parece-me - pelo que pude entender da posição adotada pelo
Eminente Relator - que considera interrompida até a solução da seguradora.
Mas aqui, no caso (é fato do acórdão recorrido) diz que esta regulagem do
sinistro, ao término desta observação, desse exame administrativo, terminou
no dia 17.03.1983, decorreu-se um ano. A ação foi proposta em maio de 1987;
a regulagem do seguro terminou em março de 1986. O que aconteceu depois
foi uma reclamação na Susepe contra a regulagem do sinistro, e esta respondeu
que, querendo, recorressem às vias ordinárias. Ressalto esta matéria apenas de
fato porque me parece que poderia haver uma divergência com as considerações
que entenderam a suspensão nesse período, e aqui há mais de um ano após o
término do trabalho da seguradora.
O Sr. Ministro Cláudio Santos (Relator): - Além do recibo sem data, com
relação a esta empresa, especifi camente, o acórdão considerou que não podia
estabelecer com precisão o prazo. Assim, não vejo como rever a conclusão.
A seguradora pagou em parte a indenização. Estou considerando que a
partir daí é que se iniciou o prazo prescricional.
O Sr. Ministro Nilson Naves: - Não foi dia 30.06.1986 que houve o
pagamento?
O Sr. Ministro Cláudio Santos (Relator): - O Desembargador Mansur
disse:
O derradeiro pagamento foi consumado em 30.06.1986, com relação a
Seguradora Itaú.
Com relação à Sul-América, há um recibo de 31.03.1986 e outro sem data.
De modo que não se pode aferir se foi antes de 08.05.1986. Não me atrevo a
rever tais conclusões do acórdão.
O Sr. Ministro Eduardo Ribeiro: - Considerada a base empírica colocada
pelo acórdão, não há elementos para dizer que decorreu um ano.
O Sr. Ministro Cláudio Santos (Relator): - Com relação à Itaú, não se tem
dúvida, porque o pagamento foi efetuado em 30.06.1986, e a ação foi proposta
em 25.05.1987.
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (17): 139-184, março 2011 159
O Sr. Dr. Fernando Neves da Silva (Advogado): - Penso que não me
fi z entender na parte fundamental da minha questão de fato. Diz aqui que o
sinistro teve regulagem, que foi realizada apenas em 21.02.1986. Um adendo a
esse mesmo trabalho ocorreu em 17.03.1986. Foi regulagem do sinistro. Ali se
disse o quanto se devia pagar. Demorou, por questão administrativa, um tempo
para sair o cheque; no caso da Sul-América, poucos dias; foi do dia 17 para o
dia 31 de março. Realmente, o outro seguro não tem data. Mas o fato é que o
acórdão recorrido diz que a regulagem do sinistro terminou no dia 17 de março
de 1986, e a ação foi proposta em maio de 1987. Quanto a isso é que peço, para
evitar os embargos declaratórios, defi nição quanto à questão seguinte: de onde
é contado o prazo? Se é da regulagem do sinistro, ou seja, a partir do momento
em que a seguradora diz o quanto deve, ou do pagamento.
O Sr. Ministro Cláudio Santos (Relator): - Não posso presumir, só porque
o acórdão está dizendo que a data da regulagem foi essa, o segurado tomou
conhecimento da recusa da seguradora.
VOTO
O Sr. Ministro Dias Trindade: Sr. Presidente, também acompanho o Sr.
Ministro-Relator porque entendo que a ação só nasceu para o segurado quando
a sua pretensão a que se honrasse o seguro foi resistida pela seguradora.
RECURSO ESPECIAL N. 52.149-SP (94.0023816-9)
Relator: Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira
Recorrente: Brasil Companhia de Seguros Gerais
Recorrida: Miriam Marques Lopes - ME
Advogados: Carlos José Catalan e outro
José Barbosa de Viveiros e outros
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
160
EMENTA
Civil. Contrato de seguro. Cobrança do valor segurado. Prescrição
ânua. Suspensão do prazo até resposta defi nitiva da seguradora em
requerimento administrativo. Precedentes da Turma. Análise de
documento feita pelo acórdão recorrido. Impossibilidade de reexame.
Enunciado n. 7 da Súmula-STJ. Recurso desacolhido.
- Afi rmado pelo acórdão estadual que não teria havido resposta
defi nitiva da seguradora quanto a requerimento administrativo de
pagamento do valor segurado, impossível cogitar de eventual violação
do art. 178, § 6º, II CC, que trata da prescrição ânua, seja por ser
vedado o reexame da prova nesta instância, seja porque a jurisprudência
da Corte é assente que o prazo prescricional fi ca suspenso até resposta
defi nitiva da seguradora.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Quarta
Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas
taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, não conhecer do recurso. Votaram
com o Relator os Ministros Barros Monteiro, Cesar Asfor Rocha e Fontes de
Alencar. Ausente, justifi cadamente, o Ministro Ruy Rosado de Aguiar.
Brasília (DF), 12 de maio de 1997 (data do julgamento).
Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira, Presidente e Relator
DJ 09.06.1997
EXPOSIÇÃO
O Sr. Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira: Uma vez furtadas
mercadorias diversas de sua sede, a recorrida ajuizou ação de cobrança de capital
segurado, em razão de ter a recorrente, companhia de seguros, se recusado a
efetuar dito pagamento.
Embora tenha sido argüida na contestação a prescrição da ação, o Juiz
rejeitou a prejudicial, entendendo que estaria interrompida a contagem do prazo
ânuo a partir do exercício do direito na esfera administrativa.
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (17): 139-184, março 2011 161
O Tribunal de Justiça de São Paulo, sob a relatoria do Desembargador
José Osório, negou provimento ao agravo da seguradora. Concluiu a Turma não
ter sido defi nitiva a negativa de pagamento por parte daquela, sendo que, se se
podia admitir solução administrativa para o caso, não se poderia ter a data de tal
negativa como marco inicial do prazo prescricional.
Irresignada, a ré interpôs recurso especial alegando, além de dissídio com
o REsp n. 8.770-SP, desta Turma, de que foi relator o Ministro Athos Carneiro,
violação do art. 178, § 6°, II do Código Civil, insistindo estar prescrita a ação,
haja vista o requerimento administrativo não interromper, mas, sim, suspender
o prazo, salientando que da última resposta sua já havia transcorrido mais que
um ano.
Contra-arrazoado, foi o recurso admitido na origem.
É o relatório.
VOTO
O Sr. Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira (Relator): O acórdão estadual
negou provimento ao agravo interposto contra a decisão de primeira instância
que rejeitou a prescrição, nos seguintes termos:
(...) É o relatório.
O recurso não tem provimento.
A negativa de pagamento a que se apega a agravante não foi definitiva
porquanto a agravante ainda se mantinha aberta a novas apreciações sobre a
controvérsia. É o que se vê da correspondência de fl . 49.
Em tais circunstâncias, não se pode ter a data de tal negativa como marco
inicial do prazo de prescrição; ainda se podia admitir solução administrativa para
o caso.
É a interpretação que mais se coaduna com o princípio da boa fé aplicado à
execução do contrato.
Diante do exposto, negam provimento ao recurso (fl . 67).
Percebe-se, portanto, que o Tribunal, interpretando a prova produzida,
notadamente o citado documento de fl . 49, entendeu que, por informações
da seguradora, não se poderia depreender ter havido resposta defi nitiva ao
pagamento do valor segurado.
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
162
Sendo defeso o exame da matéria probatória nesta instância, a teor do
Enunciado n. 7 da Súmula-STJ, impossível analisar o conteúdo do referido
documento e apurar seu verdadeiro conteúdo.
Desta forma, afora o prequestionamento da matéria, inocorrente no caso,
e partindo do pressuposto delineado no aresto hostilizado de que a recorrente
se mantinha aberta a novas negociações, é de se prestigiar a jurisprudência deste
Tribunal no sentido de que o prazo prescricional se suspende até que venha
resposta defi nitiva da seguradora a respeito do pagamento ou não do valor
segurado, de que são exemplos os REsps n. 8.770-SP (RSTJ 21/513), n. 53.863-
RJ (RSTJ 75/392) e n. 80.844-PE (DJ 22.04.1996), respectivamente relatados
pelos Ministros Athos Carneiro, Ruy Rosado de Aguiar e Fontes de Alencar e assim
ementados:
- Durante o tempo em que a seguradora estuda a comunicação, até que dê
ciência ao segurado de sua recusa do pagamento da indenização, considera-se
apenas suspenso o prazo prescricional, que recomeça, de então, a correr pelo
tempo faltante.
1. O prazo prescricional de um ano (art. 178, § 6°, II, CCivil) não fl ui enquanto a
seguradora examina o pedido de pagamento feito pela segunda.
- O prazo prescricional fi ca suspenso até o momento em que o segurado tenha
conhecimento da recusa do segurador ao pagamento da indenização.
- Súmulas n. 7 e n. 83 do STJ.
Não tendo havido resposta defi nitiva da seguradora até o ajuizamento da
ação - tese assentada pelo acórdão - descabe dizer sobre infringência ao direito
federal e também sobre o dissídio, que não restou confi gurado, em razão da
dessemelhança dos casos.
Em face do exposto, não conheço do recurso.
RECURSO ESPECIAL N. 59.689-SP (95.3858-7) (133)
Relator: Ministro Carlos Alberto Menezes Direito
Recorrente: Bradesco Seguros S/A
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (17): 139-184, março 2011 163
Recorrido: Germano José Delfi no
Advogados: Voltaire Giavarina Marensi e outros
José Wiazowski e outro
Sustentação oral: Voltaire Giavarina Marensi, pelo recorrente
EMENTA
Recurso especial. Seguro em grupo. Ação do segurado contra a
seguradora. Art. 178, § 6º, II, do Código Civil. Súmula n. 101-STJ.
Fluência do prazo.
1 - “A ação de indenização do segurado em grupo contra a
seguradora prescreve em um ano”. (Súmula n. 101 do STJ).
2 - O mencionado prazo tem como termo a quo a data em que
o interessado teve ciência inequívoca da invalidez e não da data do
acidente.
3 - Recurso especial não conhecido.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Senhores Ministros
da Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos
e das notas taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, não conhecer do recurso
especial. Participaram do julgamento os Senhores Ministros Costa Leite,
Nilson Naves, Eduardo Ribeiro e Waldemar Zveiter. Ausente, justifi cadamente,
o Sr. Ministro Costa Leite.
Brasília (DF), 27 de agosto de 1996 (data do julgamento).
Ministro Waldemar Zveiter, Presidente
Ministro Carlos Alberto Menezes Direito, Relator
DJ 21.10.1996
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Carlos Alberto Menezes Direito: Bradesco Seguros S/A
manejou recurso especial, com fulcro nas alíneas a e c, do inciso III, do art. 105,
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
164
da Constituição, contra Acórdão do 1º Tribunal de Alçada Civil do Estado
de São Paulo, que rejeitou a argüição de prescrição ânua da ação do segurado
contra o segurador (fl s. 203-204).
Sustenta-se que o aresto recorrido negou vigência aos artigos 1.432, 1.433,
1.434 e 1.435, todos do Código Civil, haja vista que os seguros serão regulados
pelas cláusulas das respectivas apólices, desde que não contrariem disposições
legais. E, ainda, do mesmo Estatuto, aos artigos 1.448 e 1.460, ao não observar
os limites de cobertura estabelecido na apólice.
Acrescenta negativa de vigência ao Decreto-Lei n. 73/1966 e ao inciso
VII, do art. 22, da Constituição.
Por derradeiro, indica o recorrente afronta ao art. 178, § 6°, II, do Código
Civil, porque a ação do segurado contra o segurador prescreve em um ano,
contado o prazo do dia em que o segurado sofrer o acidente ou for constatada
invalidez total por doença.
A roborar o dissídio jurisprudencial vieram vários paradigmas, inclusive,
deste Tribunal, confi rmando que, ainda que se trate de seguro em grupo de um
ano é o lapso para a prescrição da ação do segurado contra o segurador (fl s. 217-
226).
O recorrido contra-arrazoou o recurso especial (fl s. 289-295).
O Presidente do Tribunal a quo deferiu o recurso especial, sob o fundamento
da alínea c (fl s. 298-302).
É o relatório.
VOTO
O Sr. Ministro Carlos Alberto Menezes Direito (Relator): Analiso a
matéria admitida: prescrição da ação do segurado contra a seguradora.
Para o desate da questão, colho o seguinte excerto do acórdão recorrido
(fl s. 203-204):
O embargado na condição de segurado, não estipulante da apólice, estava
dispensado de observar o prazo anual, para a propositura da ação, após o acidente
sofrido, ou a constatação pericial de seus males, pois que tal lapso a ele não se
aplica, como já assentou este E. Tribunal por meio de incidente de uniformização
de jurisprudência, que se cristalizou na Súmula n. 34.
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (17): 139-184, março 2011 165
Segundo tal entendimento, no caso não incide o art. 178 - II, parágrafo sexto,
do Código Civil, observando-se, então, o prazo prescricional ordinário de vinte
anos, que ainda não decorreu e deve ser contado da data em que o obreiro teve
conhecimento da sua incapacidade, segundo consta, apenas em Maio/1990.
O fato de o Tribunal recorrido considerar que o prazo prescricional na
espécie é vintenário, ainda que em desacordo com a jurisprudência consolidada
desta Corte Superior, não tem relevância para o deslinde da controvérsia posta
nestes autos.
Isto porque nestes autos, segundo o aresto atacado, o recorrido só teve
ciência de sua invalidez em maio de 1990 (fl s. 204), sendo a ação, ajuizada em
junho do mesmo ano, não decorreu assim o prazo ânuo consolidado na Súmula
n. 101 desta Corte Superior.
Destarte, eu não conheço do recurso.
RECURSO ESPECIAL N. 70.367-SP (95.0036042-0)
Relator: Ministro Waldemar Zveiter
Recorrente: Patria Companhia Brasileira de Seguros Gerais
Recorrido: José Inácio da Silva e cônjuge
Advogados: Voltaire Giavarina Marensi e outros
Cely Maria Prado Rocha e outros
Sustentação oral: Voltaire Giavarina Marensi, pela recorrente
EMENTA
Comercial e Civil. Contrato de seguro. Termo inicial (dies a quo)
do prazo da prescrição. Suspensão.
I - A jurisprudência do STJ acolhe entendimento no sentido de
que o prazo prescricional da ação do segurado contra a seguradora
tem como termo a quo o momento em que aquele teve ciência de que
ocorreu o Sinistro e enquanto a seguradora examina a comunicação
do Sinistro e até que dê conhecimento ao segurado da sua recusa
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
166
ao pagamento da indenização, considera-se suspenso o prazo
prescricional.
II - Matéria de prova não se reexamina em Especial (Súmula n.
7-STJ).
III - Recurso não conhecido.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Senhores Ministros
da Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos
e das notas taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, não conhecer do recurso
especial. Participaram do julgamento os Senhores Ministros Cláudio Santos,
Costa Leite, Nilson Naves e Eduardo Ribeiro.
Brasília (DF), 24 de outubro de 1995 (data do julgamento).
Ministro Waldemar Zveiter, Presidente e Relator
DJ 11.12.1995
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Waldemar Zveiter: Trata-se de Ação de Cobrança
objetivando receber da Pátria Cia. Brasileira de Seguros Gerais os valores dos
riscos contratados.
O acórdão impugnado, julgando preliminar de prescrição, concluiu que,
não se tendo em momento algum mencionado a data da comunicação, tem-se
que o dies a quo efetiva-se com o conhecimento da parte a respeito dos danos (fl .
179).
Sustenta a recorrente terem sido vulnerados os artigos 178, § 6°, II; 1.455 e
1.457 do CC, bem como dissentido de julgados que anota (fl . 213). No segundo
Especial, alega afrontado o artigo 920 do CC, além das matérias apontadas no
primeiro.
O Tribunal de origem deferiu o apelo no que tange à prescrição posto que
este tema está devidamente exposto e prequestionado (fl . 244).
É o relatório.
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (17): 139-184, março 2011 167
VOTO
O Sr. Ministro Waldemar Zveiter (Relator): O ponto nodal da questão,
objeto do julgamento impugnado, é a preliminar de prescrição.
Quanto ao aspecto, deduz o aresto (fl s. 179-180):
No caso dos autos a petição inicial efetivamente narra que alguns danos
surgiram logo após a aquisição do bem, referindo-se genericamente a segurança
ou salubridade, rachaduras e outros, comprometendo a construção levada a
efeito; em seguida esclarece que as anomalias foram comunicadas, inclusive
com pedido de vistoria, sem resultado positivo. Acrescenta que o imóvel não
apresenta condições de habitalidade, em virtude do agravamento dos problemas
ali existentes. Em momento algum foi mencionada data para se ter por efetivada
a comunicação, marcando, desta forma, o conhecimento da parte a respeito dos
danos.
Desconhecido, pois, o momento em que os danos, genericamente descritos,
passaram a ser aqueles que são considerados riscos cobertos pelo contrato na
apólice de seguros.
Tampouco a resposta apresentada resiste à narrativa da petição inicial,
fi rmando os defeitos como decorrentes de vício de construção, expressamente
excluído do contrato de seguro.
Resumidamente, segundo o que se depreende dos autos, de forma satisfatória
e para os fi ns de estudo da prescrição, os danos ocasionados à propriedade dos
apelantes se verifi caram variando no tempo e trazendo verdadeira sequência,
e com larga dose de probabilidade, continuamente, descartado um só fato
isolado, como desencadeador do aparecimento dos riscos cobertos, ainda que
superficialmente descritos. Apresentam-se como permanentes e contínuos,
impossível a adoção de certo e determinado evento para início da contagem do
lapso prescricional.
Em tais circunstâncias ilegítimo afi rmar com a mesma certeza empregada na
r. sentença a respeito da data em que os danos, aqueles cobertos pela apólice de
seguro, se mostraram ao conhecimento dos apelantes.
Merece, pois, como já anteriormente afi rmado, provimento o apelo, afastada
a extinção do processo por ocorrência da prescrição, retornando os autos à
Comarca de origem, para que outra decisão venha a ser lançada, com abordagem
do mérito propriamente dito; e tudo sem prejuízo, como é evidente, de ser
cumprido o que consta do v. acórdão de fl s. 130-134.
Analiso a hipótese pela dissidência, eis que a Turma, em vários precedentes,
alguns de minha relatoria, reiterou que o prazo prescricional da ação do
Segurado contra a Seguradora tem como termo a quo o momento em que aquele
teve ciência de que ocorreu o sinistro. É o que se contém no REsp n. 23.554-SP,
3ª Turma.
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
168
Essa foi a tese também observada pelo acórdão recorrido, tanto que aferindo
os fatos e elmentos concretos da causa chegou à conclusão, ora impugnada pelo
recorrente.
Ainda quanto ao tema, o direito pretoriano tornou extensivo seu
entendimento ao dizer que, enquanto a Seguradora examina a comunicação
do sinistro e até que dê ciência ao Segurado da sua recusa ao pagamento da
indenização, considera-se suspenso o prazo prescricional (REsp n. 25.030-RS,
4ª Turma).
Enfi m, o acórdão está correto e tratando-se de matéria de prova (Súmula n.
7-STJ), o recurso não cabe.
No que diz com o segundo Recurso Especial de fl . 213, do que se extrai dos
autos, interposto como aditivo ao primeiro, não merece conhecimento, eis que
intempestivo na forma como aduzido no despacho de inadmissão de fl . 240, assim:
O segundo recurso foi apresentado tardiamente, razão pela qual não pode ser
admitido, nem mesmo como aditamento do primeiro.
Publicado o acórdão no dia 21 de outubro de 1994 (fl. 181), uma sexta-
feira, o prazo recursal começou a fluir no dia 24 desse mês, segunda-feira, e
sofreu suspensão no dia seguinte, 25, em razão do oferecimento dos embargos
declaratórios (fl . 183).
Um dia apenas fluiu do prazo recursal nesse interregno, subtraído desse
cômputo o dia da apresentação dos embargos.
O acórdão que não conheceu dos embargos foi publicado em 06 de janeiro
deste ano (fl . 196), durante o recesso forense; nesse período, dado o rito ordinário
imposto neste feito, os prazos processuais estiveram suspensos. Assim, os
quatorze dias restantes começaram a fl uir em 1° de fevereiro, p.p, e se expiraram
no dia 14 desse mês, um dia antes da apresentação do segundo recurso.
Por tais fundamentos não conheço do recurso.
RECURSO ESPECIAL N. 80.844-PE (95.0062318-8)
Relator: Ministro Fontes de Alencar
Recorrente: Bradesco Seguros S/A
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (17): 139-184, março 2011 169
Recorrido: Rômulo José Reis de Barros
Advogados: Antônio Roberto Cruz de Farias e outros
Marco Polo Silva de Campos e outros
EMENTA
Seguro. Prescrição.
- O prazo prescricional fi ca suspenso até o momento em que o
segurado tenha conhecimento da recusa do segurador ao pagamento
da indenização.
- Súmulas n. 7 e n. 83 do STJ.
- Recurso especial não conhecido.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Quarta
Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas
taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, não conhecer do recurso. Votaram com
o Relator os Srs. Ministros Sálvio de Figueiredo Teixeira, Barros Monteiro,
Cesar Asfor Rocha e Ruy Rosado de Aguiar.
Brasília (DF), 05 de março de 1996 (data do julgamento).
Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira, Presidente
Ministro Fontes de Alencar, Relator
DJ 22.04.1996
EXPOSIÇÃO
O Sr. Ministro Fontes de Alencar: Rômulo José Reis de Barros propôs contra
Bradesco Seguros S/A ação de cobrança de indenização em virtude de contrato de
seguro.
A sentença de fl s. 163-171 afastou a prescrição argüida pela demandada e
acolheu o pedido do autor.
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
170
A 2ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado de Pernambuco
ao desprover apelação interposta pela ré editou acórdão (fl s. 202-212) com a
seguinte ementa:
Ação de cobrança. Liquidação de seguro. Veículo furtado.
Prescrição. Prazo. Sua contagem. Deve ser iniciado a partir da data da recusa
do pagamento indenizatório pela seguradora e não da ciência do fato.
Preliminar rejeitada por unanimidade de votos.
Caso demandado bem examinado pela sentença atacada a qual merece sua
confi rmação pelos seus próprios fundamentos.
Apelação improvida por unanimidade de votos. (fl s. 202)
A parte vencida manifestou recurso especial com fulcro no art. 105, III, a e
c, da Constituição Federal, alegando ofensa ao art. 5°, II, da Carta Magna; arts.
178, 1.443, 1.444 e 1.436, do Código Civil, além de dissídio jurisprudencial.
Pelo despacho de fl . 238 foi o recurso admitido.
VOTO
O Sr. Ministro Fontes de Alencar (Relator): A sentença que veio a ser
confi rmada pelo aresto afastou a prescrição, assim:
A preliminar de prescrição não resiste para inviabilizar o aforamento da
presente ação, regulado o instituto pelo art. 178, § 6º, II do Código Civil Brasileiro.
O Suplicante fez imediatamente, após a ocorrência do fato – furto do veículo, a
devida comunicação à seguradora (aviso de sinistro), datado de 30 de janeiro de
1992, atestado o seu recebimento, conforme documento de fl . 54. A Suplicada,
por sua vez, após exigir os documentos para liquidação da indenização, somente
devolveu os documentos solicitados em 13 de novembro de 1992, recebidos
pelo Suplicante no dia 26 de novembro do mesmo ano. Nenhuma manifestação
expressa da negativa da cobertura, entendendo-se, portanto, que esta se
operou com a devolução dos referidos documentos. Por vezes o Suplicante, já
através de seu advogado, tentou a solução administrativa amigável, sendo feita
comunicação da negativa de cobertura via contato telefônico, conforme se
depreende do documento de fl s. 18, que tem a autenticação de recebimento pela
seguradora.
O sinistro ocorreu no dia 17 de janeiro de 1992 e a ação presente foi distribuída
em 08 de fevereiro de 1993. Feira a comunicação, na forma determinada no
contrato, em 30 de janeiro de 1992, tem-se por suspenso o prazo prescricional até
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (17): 139-184, março 2011 171
o momento da cientifi cação do segurado dos motivos da recusa ao pagamento
da indenização que certamente só ocorreu depois do envio da correspondência
de fl s. 23. Tanto é assim, que a Sra. Telma Maria Batista da Silva, representante
legal da empresa na audiência de instrução e julgamento, em seu depoimento, foi
categórica, afi rmando (fl . 137):
(...) que a companhia seguradora reteve os documentos do demandante
por mais de 06 (seis) meses até concluir que não iria indenizar. (Grifo nosso).
Vale dizer que o prazo prescricional só tem início no momento que surge, para
o Suplicante, o direito à ação. Neste caso, passou a existir apenas a partir do mês
de agosto de 1992, quando a reclamação administrativa foi decidida mediante a
negação da seguradora em atendê-la. (fl . 166).
Sobre este tema já se pronunciou esta Turma em aresto da lavra do
Ministro Athos Carneiro, no REsp n. 8.770:
Contrato de seguro. Incêndio. Prazo prescricional do artigo 178, § 5°, II, do
Código Civil. Modo de contagem do prazo. Reclamação perante o segurador.
A comunicação do sinistro, feita pelo segurado ao segurador nos termos do
artigo 1.457 do Código Civil, não constitui “condição suspensiva” do contrato de
seguro, e nem causa interruptiva do prazo prescricional.
Durante o tempo em que a seguradora estuda a comunicação, e até que dê
ciência ao segurado de sua recusa ao pagamento da indenização, considera-se
apenas suspenso o prazo prescricional, que recomeça, de então, a correr pelo
tempo faltante.
Recurso especial conhecido e provido.
Recentemente, de igual diretriz, o REsp n. 70.367 da 3ª Turma, Relator
Ministro Waldemar Zveiter, publicado no DJU de 11.12.1995:
Comercial e Civil. Contrato de seguro. Termo inicial (dies a quo) do prazo da
prescrição. Suspensão.
I - A jurisprudência do STJ acolhe entendimento no sentido de que o prazo
prescricional da ação do segurado contra a seguradora tem como termo a quo
o momento em que aquele teve ciência de que ocorreu o sinistro e enquanto a
seguradora examina a comunicação do sinistro e até que dê conhecimento ao
segurado da sua recusa ao pagamento da indenização, considera·se suspenso o
prazo prescricional.
II - Matéria de prova não se reexamina em Especial (Súmula n. 7-STJ).
III - Recurso não conhecido.
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
172
Quando do julgamento do REsp n. 41.799, de que fui relator, assim votei:
Tenho que o entendimento deste Colegiado afeiçoa-se à boa doutrina. Câmara
Leal, em sua clássica obra Da Prescrição e da Decadência, conquanto afi rme que o
prazo prescricional relativo a ação decorrente de contrato de seguro
só começa a correr do dia em que o titular da ação tiver conhecimento
do fato, que a justifi ca (p. 283, Saraiva, SP, 1939),
sustenta:
No art. 169 do Código há uma norma geral implícita que o legislador não
exprimiu objetivamente, mas que presidiu a sua elaboração, e, por isso, nele
se acha virtualmente contida. E é a seguinte: não ocorre a prescrição contra
aqueles que se acham, por motivo legal, impedidos de exercitar a ação (ib,
p. 193).
Trata-se (explicita o renomado jurisconsulto) de interpretação extensiva do
mencionado dispositivo de lei, e elucida:
(...) sendo taxativa a enumeração, pelo Código, das causas suspensivas
da prescrição, não se lhe podem acrescer outras causas, por analogia, mas
apenas ampliar a sua enumeração, aditando-lhe aquelas que, embora não
expensas, se acham, virtualmente, nela contidas (ib, p. 192).
Na atualidade, o Prof. Marco Amélio S. Viana, com apoio em Orlando Gomes e
Caio Mário da Silva Pereira, observa que
a suspensão encontra sua razão de ser na consideração legal de que
certas pessoas, ou quem se encontre em determinadas situações, fi cam ou
devem fi car na impossibilidade de agir (Curso de Direito Civil, vol. 1, p. 279,
Del Rey, BH, 1993).
E acrescenta:
É possível haver suspensão da prescrição todas as vezes em que houver
impossibilidade absoluta de agir. Em decorrência de determinação legal, de
convenção entre as partes ou motivo de força maior, a prescrição suspende-
se, porque há reconhecimento que inibe a ação do indivíduo (ib, 280).
O mestre Clóvis, ao comentar os § 6°, II, e 7°, V, do art. 178 do Código Civil, já
recomendava
(...) esclarecer o pensamento destes preceitos, com a leitura dos arts.
1.432 e seguintes, que regulam a matéria de seguro (Código Civil, vol. I, p.
459, 3ª ed., Liv. Francisco Alves. 1927)
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (17): 139-184, março 2011 173
De sua vez, o Prof. Washington de Barros Monteiro, tratando da obrigação que
o art. 1.457 do Código Civil impõe ao segurado, aclara com luz forte:
Essa comunicação tem por fim colocar o segundo (o segurador) ao
par do sucedido, para que tome providências e satisfaça as obrigações
contratuais (Curso de Direito Civil - Direito das Obrigações, 2ª parte, Saraiva,
SP, 1969).
Sublinho:
(...) e satisfaça às obrigações contratuais.
Não vislumbro, pois, ofensa ao art. 178, do Código Civil.
Do acórdão transcrevo:
(...) não colhe as circunstâncias estampadas nos autos, alegar-se o pretenso
conluio fraudulento entre o segurado, ora apelado, a corretora e o vistoriador (...)
Na verdade, prova convincente de ter sido a apelante vítima de fraude que
alega, inexiste nos autos. Foram trazidos documentos informativos de fatos
antecedentes envolvendo o veículo objeto do seguro, mas que não fazem
presumir que o veículo aqui segurado não se apresentasse recuperado quando
de sua matrícula e inspeção.
Reproduzo, também, porque o acórdão o chamou a si, dizendo-o “magistral
exposição”, o seguinte trecho da decisão de primeiro grau:
A pretensa combinação entre o segurado, ora Suplicante, corretora e
vistoriador, não foi provada pela Suplicada. E o ônus era exclusivamente de sua
responsabilidade, seguindo a regra do art. 333, II, do Código de Processo Civil, a
exemplo da demonstração de que, na verdade, inexistiu o furto do veículo como
fato gerador para cobertura da apólice, considerando, mais uma vez, o contrato
entre as partes perfeito e acabado. O contrato de seguro é tido por bilateral,
oneroso, aleatório, consensual, nominado, de adesão e de boa-fé. Deixando de
lado as primeiras classifi cações, é preciso se situar na última, pelo sentido que
este envolve e comporta. Segundo explica PEDRO ALVIM, in “Contrato Seguro”,
Forense, Rio, 1983, p. 130) “a boa-fé deve presidir a formação de todos os contratos.
Corresponde a um estado de espírito em harmonia com a manifestação de vontade
que vinculou as partes contratantes, é a intenção pura, isenta de dolo ou malícia,
manifestada com lealdade e sinceridade, de modo a não induzir a outra parte
ao engano ou erro. Não constitui um privilégio do contrato de seguro, mas é aí
reclamada com maior insistência, dada relevância de que se reveste a formação e
execução do negócio”. O princípio da boa·fé, que tanto repete a Suplicada, não foi
quebrado, pelo menos prova neste sentido não foi sufi cientemente produzida,
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
174
a fi m de cessar a obrigação pela cobertura do sinistro. Não logrou provar liame
entre a atitude do vistoriador, da corretora e, especialmente, do segurado, (...) (fl .
209).
O quadro dos fatos da causa não há refazê-lo nesta instância. A prova não
sofre, aqui, reexame. Impõe-se, no contexto processual, a Súmula n. 7 do STJ.
Inencontráveis, destarte, as alegadas ofensas aos arts. 1.436, 1.443 e 1.444
do CCB.
A argüição de confl itos de julgados sobre prescrição é impróspera, pois o
dissídio jurisprudencial não se o demonstra apenas com ementas de acórdãos.
Tê-lo-ia por superado se mostra houvesse, em virtude do iterativo decidir de
ambas Turmas da 2ª Seção desta Corte, ante a Súmula n. 83 do STJ.
Isto posto, não conheço do presente recurso.
RECURSO ESPECIAL N. 90.601-PE (96.0017197-1)
Relator: Ministro Eduardo Ribeiro
Recorrente: Sul América Terrestres, Marítimos e Acidentes - Companhia
de Seguros
Recorrida: Construtora Camilo Brito
Advogados: Fernando Neves da Silva e outros
Flávio Antônio Sales de Melo
EMENTA
Seguro. Indenização. Prescrição.
Apresentado o pedido de pagamento à seguradora, considera-se
suspenso o prazo de prescrição, até que seja decidido.
Citação. Delonga. Inexistência de desídia do autor. Súmula n.
106.
Correção monetária. A circunstância de não mais subsistir o
índice previsto não conduz a que se tenha como afastada a possibilidade
de correção.
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (17): 139-184, março 2011 175
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Srs. Ministros da
Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e
das notas taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, conhecer do recurso especial,
mas lhe negar provimento.
Participaram do julgamento os Srs. Ministros Waldemar Zveiter, Menezes
Direito e Nilson Naves.
Ausente, justifi cadamente, o Sr. Ministro Costa Leite.
Brasília (DF), 03 de março de 1998 (data do julgamento).
Ministro Carlos Alberto Menezes Direito, Presidente
Ministro Eduardo Ribeiro, Relator
DJ 1º.06.1998
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Eduardo Ribeiro: - A egrégia Primeira Câmara Cível do
Tribunal de Justiça de Pernambuco negou provimento à apelação interposta
pela Construtora Camilo Brito, no processo em que contende com Sul
América Terrestres, Marítimos e Acidentes - Cia. de Seguros. Esta a ementa
do acórdão:
Direito Civil. Seguros. Indenização. Prescrição. Correção do valor.
A ação para reaver indenização por seguro de veículo acidentado prescreve
em um ano, contado este prazo do momento da negativa do pagamento pela
seguradora.
Preliminar de prescrição rejeitada.
A indenização do bem segurado e danifi cado por sinistro deve alcançar o
integral pelo qual foi segurado de conformidade com a apólice.
Apelo improvido. Decisão unânime.
No especial, a seguradora sustentou contrariedade aos artigos 178, § 6º,
II, 1.434, 1.458, 1.460 e 1.462, do Código Civil. Insiste em que, na hipótese,
incide a prescrição ânua, devendo o prazo contar-se a partir da data do roubo
do veículo, e que inadmissível pretenda o recorrido receber indenização em valor
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
176
superior ao estabelecido na apólice. Alegou, ainda, que não atendido o disposto
nos artigos 219, 2°, 3º e 4º do CPC, inexiste razão à recorrida.
Recurso admitido e processado.
É o relatório.
VOTO
O Sr. Ministro Eduardo Ribeiro (Relator): - Sustenta a recorrente que
violada a disposição legal que estabelece fl uir o prazo de prescrição da data em
que o segurado tome conhecimento do sinistro. Invoca julgados que negam
haja suspensão do curso do prazo, a partir do momento em que se pretende o
pagamento pela seguradora e até a resposta dessa.
A tese sustentada no especial já mereceu acolhida neste Tribunal. De
um dos julgados, aliás invocado no recurso, fui relator (REsp n. 23.554, DJ
21.09.1992). A jurisprudência, entretanto, veio a fi rmar-se em outro sentido,
como se verifi ca do decidido nos seguintes Recursos Especiais: n. 807, Rel.
Bueno de Souza, DJ 16.11.1992, n. 21.547, Rel. Cláudio Santos, DJ 16.08.1993,
n. 70.367, Rel. Waldemar Zveiter, DJ 11.12.1995, n. 59.689, Rel. Menezes
Direito, DJ 21.10.1996 e n. 108.748, Rel. Cesar Rocha, DJ 05.05.1997.
Convenci-me do acerto do entendimento que veio a prevalecer. Não seria
razoável exigir-se que o segurado, enquanto aguardava a resposta da seguradora,
já houvesse de ingressar em juízo para resguardar-se da prescrição. Tanto mais
que o prazo é de apenas um ano.
Também não prospera a assertiva de que haveria, de qualquer sorte,
prescrição, já que não seria de consider-se a data do ajuizamento da ação, mas
a da citação, ou, pelo menos, do despacho que a determinou. O acórdão não
reconheceu desídia por parte da autora. É caso da Súmula n. 106.
Quanto à correção monetária, não se pode duvidar de que devida. A
circunstância de não mais existir o índice previsto não haverá de conduzir a que
a atualização deixe de ser feita.
No que diz com as demais questões, não foram objeto de apreciação pelo
acórdão recorrido.
Conheço, em virtude do dissídio, mas nego provimento.
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (17): 139-184, março 2011 177
RECURSO ESPECIAL N. 108.748-RJ (96.0060092-9)
Relator: Ministro Cesar Asfor Rocha
Recorrente: Ele e Eme Confecções Ltda.
Recorrida: Itaú Seguros S/A
Advogados: Juda Jesse de Bragança Soares e outros
Sérgio Ruy Barroso de Mello e outros
Sustentação oral: Leirton da Silva Coelho, pela recorrente
Robinson Neves Filho, pela recorrida
EMENTA
Civil. Seguro. Indenização. Prescrição. Suspensão. Art. 170,
I, CC.
A comunicação do sinistro feita pelo segurado à seguradora
suspende o prazo prescricional até o dia em que essa comunica àquele
a recusa do pagamento, recontando-se a partir daí, o tempo restante.
Recurso conhecido e provido.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Srs. Ministros da
Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e
das notas taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, conhecer do recurso e dar-
lhe provimento, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator. Votaram com o
Relator os Srs. Ministros Ruy Rosado de Aguiar, Fontes de Alencar e Sálvio de
Figueiredo Teixeira. Ausente, justifi cadamente, o Sr. Ministro Barros Monteiro.
Brasília (DF), 10 de março de 1997 (data do julgamento).
Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira, Presidente
Ministro Cesar Asfor Rocha, Relator
DJ 05.05.1997
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
178
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Cesar Asfor Rocha: - A recorrente aforou contra a
seguradora recorrida, em 30 de junho de 1993, uma ação ordinária objetivando
o pagamento de indenização relativa a contrato de seguro oriunda de sinistro
ocorrido em 16 de março de 1991.
O processo foi julgado extinto por ter sido reconhecida a ocorrência da
prescrição em face do disposto no inciso II do § 6° do art. 178 do Código Civil,
conforme infere-se do seguinte sumário:
Ação indenizatória. Contrato de seguro. Prescrição. O dies a quo do prazo
prescricional é o dia em que o interessado tiver conhecimento do fato. O
inquérito policial e o procedimento administrativo não confi guram uma condição
suspensiva e, desse modo, não podem ser considerados causas impeditivas da
prescrição. (fl s. 780).
Daí o recurso especial em exame lançado com fi ncas nas letras a e c do
permissor constitucional, por alegada violação aos arts. 118 e 170, I, do Código
Civil, bem como pela divergência com os julgados que indica, ao entendimento
de que a comunicação do sinistro feita pelo recorrente à recorrida teve o condão
de suspender o prazo prescricional até o dia em que essa comunica àquele a
recusa do pagamento, recontando-se a partir daí, o tempo restante.
Devidamente respondido, o recurso foi admitido na origem.
Recebi o processo em 06 de dezembro de 1996 e no dia 21 de fevereiro de
1997 indiquei-o para pauta.
É o relatório.
VOTO
O Sr. Ministro Cesar Asfor Rocha (Relator): - 1. O recurso não pode
ser conhecido pela alegada ofensa ao art. 118 do Código Civil uma vez que a
norma nele inserta não mereceu qualquer interpretação por parte do acórdão
recorrido, não tendo tido a parte o cuidado de opor, contra eventual omissão, os
necessários embargos declaratórios.
Aplicação, pois, dos Verbetes n. 282 e n. 356 da Súmula do Pretório
Excelso, visto que só se pode ter por atendido o requisito do prequestionamento
se a matéria objeto do apelo nobre for efetivamente debatida e decidida na
apelação, o que não se verifi ca na espécie.
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (17): 139-184, março 2011 179
2. Aprecio agora a sugerida violação ao art. 170, I, do Código Civil,
conjuntamente com a divergência postulada.
É que o r. aresto hostilizado deu como dies a quo do biênio prescricional
a data da ocorrência do sinistro e que o fato de a recorrente condicionar o
pagamento da indenização à fi nalização do processo administrativo não seria
causa interruptiva nem suspensiva da prescrição.
Já a recorrente argumenta que durante o tempo em que a seguradora
aprecia a comunicação do sinistro e até que dê ciência ao segurado de sua recusa,
há de ser considerado suspenso o prazo, que recomeça a correr, a partir de então,
pelo tempo faltante.
A questão já foi examinada por esta eg. Quarta Turma no REsp n. 8.770-
SP, relatado pelo eminente Ministro Athos Carneiro em que restou consagrada a
tese da recorrente.
Do judicioso voto condutor extraio os seguintes excertos:
Todavia, tenho por razoável e correto sustentar que o prazo prescricional não
deverá correr, fi cando portanto suspenso, durante o tempo gasto pelo segurador
no exame da comunicação feita pelo segurado, em cumprimento ao art. 1.457
do CC: “A fi nalidade do aviso é pôr o segurador a par do ocorrido, para que tome
conhecimento das circunstâncias, verifi que se o sinistro está incluso na cláusula
contratual e investigar quanto às causas do sinistro e do importe dos danos, antes
de se tornarem impossíveis ou difíceis pelas mudanças e alterações regulares
ou culposas ou dolosas”. (Pontes de Miranda, Tratado de Direito Privado, t. XLV, §
4.927, n. 04).
A não ser assim, poderia evidentemente o segurador, em procrastinando na
solução do pedido indenizatório, levar o segurado de boa-fé, e confi ante em que
a reclamação estaria bem encaminhada, à perda de seu direito pelo transcurso da
prescrição anual.
No mesmo sentido o julgado da eg. Terceira Turma, no REsp n. 21.547, de
que foi relator o eminente Ministro Cláudio Santos, cujo aresto porta a seguinte
ementa:
Enquanto a seguradora examina o pedido de indenização e até que comunique
ao segurado a recusa do pagamento, considera-se suspenso o prazo prescricional.
Destarte, acolho a pretensão da recorrente de se ter por suspenso o prazo
prescricional durante o tempo em que a recorrida apreciou a comunicação do
sinistro e até o dia em que lhe deu ciência de sua recusa, recomeçando a correr, a
partir de então, pelo tempo faltante.
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
180
3. Uma vez superado esse obstáculo, poder-se-ia, já de logo, verifi car se foi
ou não vencido o prazo da prescrição, com a contagem elaborada na forma agora
ordenada.
Todavia, por envolver exame probatório, essa é tarefa a ser executada
pelo juízo de origem - a quem deve ser remetido o feito - que prosseguirá no
julgamento da lide, como achar de direito.
4. Por essas razões e nesses termos, dou provimento ao recurso.
ADITAMENTO AO VOTO
O Sr. Ministro Cesar Asfor Rocha: - Sr. Presidente, antes de passar ao voto
escrito, gostaria de tecer algumas considerações sobre as questões que foram
postas pelo eminente advogado da recorrida.
Primeiramente, para dizer que essas questões fáticas em que S. Exa.
denuncia a ocorrência de fatos criminosos que provocaram um incêndio, em
razão do que se busca o seguro, não foram cogitados no recurso, como também
no acórdão recorrido, até porque não foi ultrapassada a questão referente à
prescrição. Sobre essa questão não havia me ocupado no voto escrito, dela cuido
apenas para fazer estas considerações.
Com relação ao pedido de que não se conheça do recurso porque envolveria
o reexame do acervo probatório, data venia, não acolho esta postulação da
recorrida. É com base nos fatos assentados no acórdão hostilizado que tem
fundamento o recurso especial.
Quero com isso dizer que fi cou assentado no acórdão, não que a seguradora
não pagaria, mas sim que não poderia efetuar qualquer pagamento antes de
concluído o inquérito policial. É com base na confi guração desses fatos, que o
recurso foi interposto.
RECURSO ESPECIAL N. 200.734-SP (99.0002712-4)
Relator: Ministro Ruy Rosado de Aguiar
Recorrente: Porto Seguro Companhia de Seguros Gerais
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (17): 139-184, março 2011 181
Advogado: Paulo Chiaroni e outros
Recorrido: Romauto Comércio de Veículos Ltda. - microempresa
Advogado: Salete Vendramim Laurito
EMENTA
Seguro. Prescrição. Termo inicial. Suspensão do prazo até o
conhecimento, pelo segurado, da resposta defi nitiva da seguradora.
Precedentes.
Recurso não conhecido.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Quarta
Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas
taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, não conhecer do recurso. Votaram com
o Relator os Srs. Ministros Sálvio de Figueiredo Teixeira e Barros Monteiro.
Ausentes, justifi cadamente, os Srs. Ministros Bueno de Souza e Cesar Asfor
Rocha.
Brasília (DF), 23 de março de 1999 (data do julgamento).
Ministro Barros Monteiro, Presidente
Ministro Ruy Rosado de Aguiar, Relator
DJ 10.05.1999
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Ruy Rosado de Aguiar: Romauto Veículos Ltda. - ME
propôs ação de cobrança contra Porto Seguro Cia. de Seguros Gerais para
receber a indenização pelo furto de dois de seus veículos expostos à venda e
segurados pela ré.
O fato ocorreu em 25 de novembro de 1994; comunicado à seguradora,
esta recusou-se ao pagamento, em correspondência expedida a 06 de dezembro
daquele ano. A segurada ingressou com a presente ação no dia 1º.12.1995. Na
audiência de fl . 94, o magistrado repeliu a preliminar de prescrição, do que
agravou de forma retida a ré. A fi nal, a ação foi julgada improcedente.
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
182
A autora apelou, pleiteando a procedência do pedido, enquanto a
seguradora reiterou seu agravo.
A eg. Oitava Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de São
Paulo negou provimento ao agravo retido e deu provimento ao apelo da autora,
conforme a ementa que segue:
Seguro. Apólice que prevê a cobertura de roubo apenas quando ocorrido
no interior do estabelecimento comercial. Roubo de veículo por assaltantes
que lograram a sua retirada do interior do estabelecimento, a pretexto de
interesse na respectiva compra. Hipótese que não se enquadra na exclusão de
responsabilidade da seguradora. (fl . 144).
Irresignada, a seguradora apresentou recurso especial (art. 105, III, a e c, da
CR), em que alega violação aos arts. 168 a 172 e 541 do CPC, 178, § 6º, II, do
CCB e divergência jurisprudencial. Diz que se aplica ao caso a prescrição ânua e
que o rol das causas suspensivas e interruptivas da prescrição (arts. 168 a 172 do
CCivil) é taxativo, não cabendo à eg. Câmara usurpar a competência legislativa
da União para considerar que o prazo prescricional permaneceu suspenso
durante o período em que a seguradora analisou o caso. Argumenta que a lei é
clara ao dispor que o prazo prescricional começou a fl uir a partir do momento
em que o interessado teve conhecimento do fato, inexistindo razão para contá-
lo a partir da data em que foi comunicada a negativa da seguradora, pois tal
constitui mera providência administrativa.
Admitido o recurso, com as contra-razões, vieram-me os autos.
É o relatório.
VOTO
O Sr. Ministro Ruy Rosado de Aguiar (Relator): Tem inteira razão a eg.
Câmara, que assim se manifestou, em acórdão de lavra do em. Des. Yussef Said
Cahali:
Conforme bem assinala o douto Magistrado, na decisão de fl s. 94, não há
pretender a fluência do prazo prescricional enquanto a seguradora examina
na esfera administrativa a pretensão indenizatória formulada pela segurada,
conforme jurisprudência que colaciona; somente depois de desacolhido aquele
pedido, no pressuposto da inexistência de cobertura securitária para o caso, em
razão da resistência à pretensão do ofendido, é que terá nascido o direito de ação.
(fl . 144)
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (17): 139-184, março 2011 183
Em casos similares, esta Corte já se pronunciou pela suspensão do prazo
prescricional enquanto a seguradora analisa administrativamente a comunicação
do sinistro, porque até então não há resposta defi nitiva a respeito do pagamento
da indenização, nem necessidade da propositura da ação, pois o pressuposto é de
que a companhia de seguro cumprirá o contrato.
Confi ra-se:
Durante o tempo em que a seguradora estuda a comunicação, até que dê
ciência ao segurado de sua recusa do pagamento da indenização, considera-se
apenas suspenso o prazo prescricional, que recomeça, de então, a correr pelo
tempo faltante. (REsp n. 8.770-SP, Rel. em. Ministro Athos Carneiro).
O prazo prescricional de um ano (art. 178, § 6º, II, CCivil) não fl ui enquanto a
seguradora examina o pedido de pagamento feito pela segunda. (REsp n. 53.863-
RJ, de minha relatoria).
O prazo prescricional fi ca suspenso até o momento em que o segurado tenha
conhecimento da recusa do segurador ao pagamento da indenização.
Súmulas n. 7 e n. 83 do STJ (REsp n. 80.844-PE, Rel. em. Ministro Fontes de
Alencar)
Civil. Contrato de seguro. Cobrança do valor segurado. Prescrição ânua.
Suspensão do prazo até resposta definitiva da seguradora em requerimento
administrativo. Precedentes da Turma. Análise de documento feita pelo acórdão
recorrido. Impossibilidade de reexame. Enunciado n. 7 da Súmula-STJ. Recurso
desacolhido.
Afirmado pelo acórdão estadual que não teria havido resposta definitiva
da seguradora quanto a requerimento administrativo de pagamento do valor
segurado, impossível cogitar de eventual violação do art. 178, § 6º, II CC, que
trata da prescrição ânua, seja por ser vedado o reexame da prova nesta instância,
seja porque a jurisprudência da Corte é assente que o prazo prescricional fi ca
suspenso até resposta definitiva da seguradora. (REsp n. 52.149-SP, Rel. em.
Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira, DJ 09.06.1997)
Contrato de seguro. Prescrição. Suspensão do prazo.
Enquanto a seguradora examina o pedido de indenização e até que comunique
ao segurado a recusa do pagamento considera-se suspenso o prazo prescricional.
(REsp n. 21.547-RS, Rel. em. Ministro Cláudio Santos, DJ 16.08.1993)
Comercial e Civil. Contrato de seguro. Termo inicial (dies a quo) do prazo da
prescrição. Suspensão.
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
184
I - A jurisprudência do STJ acolhe entendimento no sentido de que o prazo
prescricional da ação do segurado contra a seguradora tem como termo a quo
o momento em que aquele teve ciência de que ocorreu o sinistro e enquanto a
seguradora examina a comunicação do sinistro e até que dê conhecimento ao
segurado da sua recusa ao pagamento da indenização, considera-se suspenso o
prazo prescricional.
II - Matéria de prova não se reexamina em especial (Súmula n. 7-STJ).
III - Recurso não conhecido. (REsp n. 70.367-SP, Rel. em. Ministro Waldemar
Zveiter, DJ 11.12.1995)
Seguro. Indenização. Prescrição. Apresentado o pedido de pagamento à
seguradora, considera-se suspenso o prazo de prescrição, até que seja decidido
(REsp. n. 90.601-PE, Terceira Turma, Rel. em. Min. Eduardo Ribeiro.
Posto isso, por incidência da Súmula n. 83-STJ, não conheço do recurso.
É o voto.
Súmula n. 230
(*) SÚMULA N. 230 (CANCELADA)
Compete à Justiça Estadual processar e julgar ação movida por trabalhador
avulso portuário, em que se impugna ato do órgão gestor de mão-de-obra de
que resulte óbice ao exercício de sua profi ssão.
Referência:
Lei n. 8.630/1993, art. 20.
Precedentes:
CC 22.057-SP (2ª S, 12.08.1998 – DJ 05.10.1998)
CC 22.058-SP (2ª S, 23.09.1998 – DJ 14.12.1998)
CC 22.059-SP (2ª S, 09.12.1998 – DJ 15.03.1999)
CC 22.155-SP (2ª S, 11.11.1998 – DJ 05.04.1999)
CC 22.491-SP (2ª S, 23.09.1998 – DJ 14.12.1998)
CC 22.678-SP (2ª S, 23.09.1998 – DJ 08.03.1999)
CC 22.859-SP (2ª S, 09.09.1998 – DJ 26.10.1998)
CC 23.213-SP (2ª S, 25.11.1998 – DJ 22.03.1999)
Segunda Seção, em 08.09.1999
DJ 20.10.1999, p. 49
(*) Julgando o CC n. 30.500-SP, CC n. 30.504-SP e o CC n. 30.513-SP,
em 11.10.2000, a Segunda Seção deliberou pelo CANCELAMENTO da
Súmula n. 230.
DJ 09.11.2000, p. 69
CONFLITO DE COMPETÊNCIA N. 30.500-SP (2000.0099576-2)
Relator: Ministro Ari Pargendler
Autor: Carisvaldo Macena dos Santos
Advogado: Yasmin Azevedo Akaui e outro
Réu: Órgão Gestor de Mão de Obra do Trabalho Portuário do Porto
Organizado de Santos - OGMO-SP
Advogado: Th iago Testini de Mello Miller e outros
Suscitante: Juízo da 3ª Vara do Trabalho de Santos-SP
Suscitado: Juízo de Direito da 10ª Vara Cível de Santos-SP
EMENTA
Confl ito de competência. Ação proposta contra o Órgão Gestor
de Mão-de-Obra - OGMO. A partir da nova redação do artigo 643,
§ 3o, da Consolidação das Leis do Trabalho (MP n. 1.952/2000, artigo
2o), todas as ações decorrentes da relação de trabalho propostas contra
o Órgão Gestor de Mão-de-Obra - OGMO, devem ser processadas e
julgadas pela Justiça do Trabalho - entendendo-se que os litígios sobre
a relação de trabalho abrangem tanto as ações que visam o acesso
ao trabalho quanto as que pretendem, simplesmente, a respectiva
remuneração.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos es-tes autos, acordam os Ministros da
Segunda Seção do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos
e das notas taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, conhecer do confl ito e
declarar competente a 3a Vara do Trabalho de Santos-SP, a Suscitante. Votaram
com o Relator os Srs. Ministros Aldir Passarinho Junior, Nancy Andrighi,
Barros Monteiro e Ruy Rosado de Aguiar. Os Srs. Ministros Carlos Alberto
Menezes Direito, Antônio de Pádua Ribeiro, Waldemar Zveiter e Cesar Asfor
Rocha também votaram com o Relator, tendo feito ressalvas dos pontos de vista
pessoais.
Brasília (DF), 11 de outubro de 2000 (data do julgamento).
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
190
Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira, Presidente
Ministro Ari Pargendler, Relator
DJ 05.03.2001
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Ari Pargendler: Carisvaldo Macena dos Santos propôs ação
ordinária contra o órgão Gestor de Mão-de-Obra do Trabalho Portuário do
Porto Organizado de Santos para que “seja declarada a suspensão do ato coator
que impede seu ingresso como trabalhador avulso aposentado e credenciado
(mão-de-obra qualifi cada) na área portuária, garantindo-lhe a continuidade no
desempenho de suas funções” (fl . 10).
O MM. Juízo de Direito da 10ª Vara Cível de Santos declinou da
competência para o MM. Juízo da 3ª Vara do Trabalho de Santos (fl . 20), que
suscitou confl ito de competência (fl . 23-25).
O Superior Tribunal de Justiça dirimiu a controvérsia fixando a
competência do MM. Juízo de Direito (fl . 36).
Retornando os autos à Justiça Estadual, esta declinou novamente da
competência ao fundamento de que foi editada a Medida Provisória n. 1.952,
que teria defi nido nova competência para o processo e julgamento da referida
ação ordinária (fl . 62).
A MM. Juíza da 3ª Vara do Trabalho de Santos, SP, suscitou novo confl ito
ao argumento de inconstitucionalidade de referida norma (fl . 90-92).
VOTO
O Sr. Ministro Ari Pargendler (Relator): O artigo 2° da Medida Provisória
n. 1.952 de 2000 deu ao artigo 643, § 3o, da Consolidação das Leis de Trabalho
a seguinte redação:
§ 3° - A Justiça do Trabalho é competente, ainda, para processar e julgar as
ações entre trabalhadores portuários e os operadores portuários ou o Órgão
Gestor de Mão-de-Obra - OGMO decorrentes da relação de trabalho.
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (17): 185-225, março 2011 191
Antes da alteração, a Seção distinguia duas situações:
a) a das ações ajuizadas contra o Órgão Gestor de Mão-de-Obra -
OGMO, postulando o acesso ao trabalho na zona portuária;
b) o das reclamatórias trabalhistas propostas para reivindicar vantagens
resultantes de relação de emprego, v. g., férias, 13° salário, etc.
No primeiro caso decidia-se pela competência da Justiça Estadual; no
segundo, pela competência da Justiça do Trabalho.
A subsistência dessa jurisprudência, em face da nova redação do artigo 643,
§ 3o, da Consolidação das Leis de Trabalho, tornaria inútil a alteração legislativa.
A partir dela, portanto, todas as ações propostas contra o Órgão Gestor
de Mão-de-Obra - OGMO, decorrentes da relação de trabalho devem ser
processadas e julgadas pela Justiça do Trabalho - entendendo-se que os litígios
sobre a relação de trabalho abrangem tanto as ações que visam o acesso ao
trabalho quanto as que pretendem, simplesmente, a respectiva remuneração.
Voto, por isso, no sentido de conhecer do confl ito para declarar competente
o MM. Juízo da 3a Vara do Trabalho de Santos, SP.
VOTO
O Sr. Ministro Carlos Alberto Menezes Direito: Senhor Presidente,
ressalvando minha posição pessoal, tendo em vista o precedente no Confl ito
de Competência n. 30.513, acompanho o voto do eminente Ministro-Relator,
conhecendo do confl ito para declarar competente o MM. Juiz da Terceira Vara
do Trabalho de Santos.
VOTO
O Sr. Ministro Antônio de Pádua Ribeiro: Sr. Presidente, ressalvando o
meu ponto de vista sobre a matéria, acompanho o voto do Sr. Ministro-Relator,
conhecendo do confl ito para declarar competente o MM. Juiz da Terceira Vara
do Trabalho de Santos.
MÉRITO
MESMO RESULTADO N. 30.504-SP
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
192
VOTO
O Sr. Ministro Waldemar Zveiter: Sr. Presidente, ressalvando o voto que
proferi no Confl ito de Competência n. 80.513, uma vez defi nida pela Seção a
nova maneira de interpretar-se a súmula, conciliando-a com a Medida Provisória
n. 1.952, também acompanho o voto do Sr. Ministro-Relator, conhecendo do
confl ito para declarar competente o MM. Juiz da Terceira Vara do Trabalho de
Santos.
VOTO
O Sr. Ministro Cesar Asfor Rocha: Sr. Presidente, acompanho o voto do
eminente Ministro-Relator, conhecendo do confl ito para declarar competente o
MM. Juiz da Terceira Vara do Trabalho de Santos, com ressalva do meu ponto
de vista.
CONFLITO DE COMPETÊNCIA N. 30.504-SP (2000.0099583-5)
Relator: Ministro Ari Pargendler
Autor: Guilherme Fernandes Filho
Advogado: Natercia Raupp Veiga e outro
Réu: Órgão Gestor de Mão de Obra do Trabalho Portuário do Porto
Organizado de Santos - OGMO-SP
Advogado: Th iago Testini de Mello Miller e outros
Suscitante: Juízo da 3ª Vara do Trabalho de Santos-SP
Suscitado: Juízo de Direito da 10ª Vara Cível de Santos-SP
EMENTA
Confl ito de competência. Ação proposta contra o Órgão Gestor
de Mão-de-Obra - OGMO. A partir da nova redação do artigo 643,
§ 3o, da Consolidação das Leis do Trabalho (MP n. 1.952/2000, artigo
2o), todas as ações decorrentes da relação de trabalho propostas contra
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (17): 185-225, março 2011 193
o órgão Gestor de Mão-de-Obra - OGMO, devem ser processadas e
julgadas pela Justiça do Trabalho - entendendo-se que os litígios sobre
a relação de trabalho abrangem tanto as ações que visam o acesso
ao trabalho quanto as que pretendem, simplesmente, a respectiva
remuneração. Confl ito conhecido para declarar competente o MM.
Juízo da 3a Vara do Trabalho de Santos, SP.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Segunda
Seção do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das
notas taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, conhecer do confl ito e declarar
competente a 3a Vara do Trabalho de Santos-SP, a suscitante. Votaram com
o Relator os Exmos. Srs. Ministros Aldir Passarinho Junior, Nancy Andrighi,
Barros Monteiro e Ruy Rosado de Aguiar. Os Srs. Ministros Carlos Alberto
Menezes Direito, Antônio de Pádua Ribeiro, Waldemar Zveiter e Cesar Asfor
Rocha também votaram com o Relator, tendo feito ressalvas dos pontos de vista
pessoais.
Brasília (DF), 11 de outubro de 2000 (data do julgamento).
Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira, Presidente
Ministro Ari Pargendler, Relator
DJ 19.03.2001
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Ari Pargendler: Guilherme Fernandes Filho propôs ação
ordinária contra o Órgão Gestor de Mão-de-Obra do Trabalho Portuário do
Porto Organizado de Santos para que “seja declarada a suspensão do ato coator
que impede seu ingresso como trabalhador avulso aposentado e credenciado
(mão-de-obra qualifi cada) na área portuária, garantindo-lhe a continuidade no
desempenho de suas funções” (fl . 09).
O MM. Juízo de Direito da 10a Vara Cível de Santos declinou da
competência para o MM. Juízo da 3a Vara do Trabalho de Santos (fl . 13 e verso),
que suscitou confl ito de competência (fl . 15-19).
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
194
O Superior Tribunal de Justiça dirimiu a controvérsia fixando a
competência do MM. Juízo de Direito (fl . 25).
Retornando os autos à Justiça Estadual, esta declinou novamente da
competência ao fundamento de que foi editada a Medida Provisória n. 1.952,
que teria defi nido nova competência para o processo e julgamento da referida
ação ordinária (fl . 66).
A MM. Juíza da 3a Vara do Trabalho de Santos, SP, suscitou novo confl ito
ao argumento de inconstitucionalidade de referida norma (fl . 68-70).
VOTO
O Sr. Ministro Ari Pargendler (Relator): O artigo 2o da Medida Provisória
n. 1.952 de 2000 deu ao artigo 643, § 3o, da Consolidação das Leis de Trabalho
a seguinte redação:
§ 3o - A Justiça do Trabalho é competente, ainda, para processar e julgar as
ações entre trabalhadores portuários e os operadores portuários ou o Órgão
Gestor de Mão-de-Obra - OGMO decorrentes da relação de trabalho.
Antes da alteração, a Seção distinguia duas situações:
a) a das ações ajuizadas contra o Órgão Gestor de Mão-de-Obra -
OGMO, postulando o acesso ao trabalho na zona portuária; e
b) o das reclamatórias trabalhistas propostas para reivindicar vantagens
resultantes de relação de emprego, v. g., férias, 13° salário, etc.
No primeiro caso decidia-se pela competência da Justiça Estadual; no
segundo, pela competência da Justiça do Trabalho.
A subsistência dessa jurisprudência, em face da nova redação do artigo 643,
§ 3o, da Consolidação das Leis de Trabalho, tornaria inútil a alteração legislativa.
A partir dela, portanto, todas as ações propostas contra o Órgão Gestor
de Mão-de-Obra - OGMO, decorrentes da relação de trabalho devem ser
processadas e julgadas pela Justiça do Trabalho - entendendo-se que os litígios
sobre a relação de trabalho abrangem tanto as ações que visam o acesso ao
trabalho quanto as que pretendem, simplesmente, a respectiva remuneração.
Voto, por isso, no sentido de conhecer do confl ito para declarar competente
o MM. Juízo da 3a Vara do Trabalho de Santos, SP.
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (17): 185-225, março 2011 195
VOTO
O Sr. Ministro Carlos Alberto Menezes Direito: Senhor Presidente,
ressalvando minha posição pessoal, tendo em vista o precedente no Confl ito
de Competência n. 30.513, acompanho o voto do eminente Ministro-Relator,
conhecendo do confl ito para declarar competente o MM. Juiz da Terceira Vara
do Trabalho de Santos.
VOTO
O Sr. Ministro Antônio de Pádua Ribeiro: Sr. Presidente, ressalvando o
meu ponto de vista sobre a matéria, acompanho o voto do Sr. Ministro-Relator,
conhecendo do confl ito para declarar competente o MM. Juiz da Terceira Vara
do Trabalho de Santos.
MÉRITO
MESMO RESULTADO N. 30.504-SP
VOTO
O Sr. Ministro Waldemar Zveiter: Sr. Presidente, ressalvando o voto que
proferi no Confl ito de Competência n. 80.513, uma vez defi nida pela Seção a
nova maneira de interpretar-se a súmula, conciliando-a com a Medida Provisória
n. 1.952, também acompanho o voto do Sr. Ministro-Relator, conhecendo do
confl ito para declarar competente o MM. Juiz da Terceira Vara do Trabalho de
Santos.
VOTO
O Sr. Ministro Cesar Asfor Rocha: Sr. Presidente, acompanho o voto do
eminente Ministro-Relator, conhecendo do confl ito para declarar competente o
MM. Juiz da Terceira Vara do Trabalho de Santos, com ressalva do meu ponto
de vista.
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
196
CONFLITO DE COMPETÊNCIA N. 30.513-SP (2000.0099595-9)
Relator: Ministro Carlos Alberto Menezes Direito
Relator para o acórdão: Ministro Aldir Passarinho Junior
Autor: Júlio César Dalto
Advogado: Natercia Raupp Veiga e outro
Réu: Órgão Gestor de Mão de Obra do Trabalho Portuário do Porto
Organizado de Santos - OGMO-SP
Advogado: Th iago Testini de Mello Miller e outros
Suscitante: Juízo da 3ª Vara do Trabalho de Santos-SP
Suscitado: Juízo de Direito da 8ª Vara Cível de Santos-SP
Sustentação oral: Ministério Público pelo cancelamento do Enunciado
Sumular n. 230
EMENTA
Confl ito negativo de competência. Ação declaratória movida por
trabalhador avulso contra o OGMO. Medida Provisória n. 1.952, de
10.12.1999. Aplicação abrangente. Competência da Justiça Obreira.
I. Em face da multiplicidade de controvérsias inerentes à nova
sistemática de trabalho adotada nos portos nacionais a partir da
criação do OGMO, todas elas, direta ou indiretamente vinculadas ao
exercício da atividade profi ssional naquela área, tem-se que a partir
da Medida Provisória n. 1.952/1999, a competência para dirimir tais
controvérsias pertence a Justiça Obreira.
II. Confl ito conhecido, para declarar competente o Juízo da 3a
Vara do Trabalho de Santos, SP, suscitante.
ACÓRDÃO
Vistos e relatados estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide
a Segunda Seção do Superior Tribunal de Justiça, à unanimidade, conhecer do
confl ito e, por maioria, declarar competente a 3ª Vara do Trabalho de Santos-
São Paulo, a suscitante, na forma do relatório e notas taquigráfi cas constantes
dos autos, que fi cam fazendo parte integrante do presente julgado. Foram votos
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (17): 185-225, março 2011 197
vencedores os Srs. Ministros Aldir Passarinho Junior, Nancy Andrighi, Barros
Monteiro, Ruy Rosado de Aguiar e Ari Pargendler. Ficaram vencidos os Srs.
Ministros Relator, Antônio de Pádua Ribeiro, Waldemar Zveiter e Cesar Asfor
Rocha. Lavrará o acórdão o Sr. Ministro Aldir Passarinho Junior.
Custas, como de lei.
Brasília (DF), 11 de outubro de 2000 (data do julgamento).
Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira, Presidente
Ministro Aldir Passarinho Junior, Relator para o acórdão
DJ 04.02.2002
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Carlos Alberto Menezes Direito: Confl ito negativo de
competência estabelecido entre o Juízo de Direito da 8a Vara Cível de Santos-
SP, suscitado, e a 3a Junta de Conciliação e Julgamento de Santos-SP, suscitante,
havendo dissenso sobre qual a Justiça competente para processar e julgar “ação
ordinária declaratória constitutiva de direito” proposta por trabalhador portuário
avulso aposentado contra o Órgão Gestor de Mão-de-Obra do Trabalho
Portuário do Porto Organizado de Santos - OGMO, na qual pede o reclamante
não mais lhe seja impedido o ingresso na área portuária, garantindo-lhe assim, o
direito ao desempenho de suas funções, mesmo estando aposentado.
A ação foi proposta perante a Justiça Estadual, que declinou da
competência para a Justiça do Trabalho, afi rmando que a pretensão tem nítido
caráter trabalhista (fl s. 10-11).
O Juízo Trabalhista suscitou o confl ito, considerando que a pretensão
do autor não visa o reconhecimento de vínculo empregatício e que as
partes litigantes não estão classifi cadas na defi nição técnica de empregado
e empregador, “não havendo previsão legal que desloque para esta Justiça
Especializada a competência para dirimir controvérsias existentes entre os
trabalhadores avulsos e as entidades intermediadoras” (fl s. 15).
No despacho de fl s. 21-22, datado de 27.09.1999 e proferido nos autos
do CC n. 27.118-SP, afi rmei, mediante o exame da causa de pedir e do pedido,
“que o autor não postula o reconhecimento de vínculo empregatício ou de
direitos trabalhistas junto ao réu, mas, tão-somente, o direito de livre acesso
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
198
à zona portuária, permitindo-lhe, com isso, o exercício de suas funções como
trabalhador avulso, independentemente de estar aposentado”. No mesmo
despacho esclareci que a “constituição dos órgãos de gestão de mão-de-obra
do trabalho está prevista na Lei n. 8.630⁄1993 que, em seus artigos 18 e 19,
caput, defi ne as atribuições dos mesmos, detalhadamente, e permite concluir
que o réu não é tomador de serviço, mas apenas viabiliza a atividade dos
trabalhadores portuários avulsos junto aos empregadores. Daí que, para espancar
qualquer dúvida sobre a posição dos órgãos de gestão de mão-de-obra junto
ao trabalhador, a própria Lei n. 8.630/1993 repele a existência de vínculo
empregatício no art. 20”.
Por essas razões, conheci do confl ito e declarei a competência do Juízo de
Direito da 8a Vara Cível de Santos-SP.
Retornando os autos à origem, o Juízo Estadual declinou novamente da
competência para a Justiça do Trabalho, afi rmando não desconhecer o teor da
Súmula n. 230-STJ, mas que “há Medida Provisória n. 1.952-20, reeditada
em 03.02.2000 (ou seja, posterior à decisão do confl ito), que alterou os artigos
643 e 652 da Consolidação das Leis do Trabalho, estabelecendo expressamente
a competência da Justiça do Trabalho para processar e julgar as ações entre
trabalhadores portuários e os operadores portuários ou o Órgão Gestor de
Mão-de-Obra - OGMO decorrentes da relação de trabalho” (fl s. 61).
O Juízo Trabalhista suscitou novo conflito, afirmando que a referida
Medida Provisória é inconstitucional.
Solicito parecer oral do ilustre Subprocurador-Geral da República.
É o relatório.
VOTO VENCIDO
O Sr. Ministro Carlos Alberto Menezes Direito (Relator): Apresentado
parecer oral pelo representante do Ministério Público Federal, passo a proferir
o voto.
Em casos como o presente, em que o autor não postula o reconhecimento
de vínculo empregatício ou de direitos trabalhistas junto aos réus, mas, tão-
somente, ver “declarada a suspensão do ato coator que impede seu ingresso
como trabalhador avulso aposentado e credenciado na área portuária, garantido-
lhe a continuidade no desempenho de suas funções” (fl s. 05), o entendimento
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (17): 185-225, março 2011 199
jurisprudencial desta 2a Seção está pacifi cado no sentido de ser competente para
o julgamento do feito a Justiça Comum Estadual, nos termos da Súmula n. 230-
STJ, verbis:
Compete à Justiça Estadual processar e julgar ação movida por trabalhador
avulso portuário, em que se impugna ato do órgão gestor de mão-de-obra de
que resulte óbice ao exercício de sua profi ssão.
A edição da Medida Provisória n. 1.952, em 10.12.1999, com última
reedição ocorrida em 21.09.2000, não altera o posicionamento consolidado na
referida Súmula. Vejamos, quanto ao ponto que ora interessa, o teor da referida
medida provisória:
Art. 643 (...)
§ 3o A Justiça do trabalho é competente, ainda, para processar e julgar as ações
entre trabalhadores portuários e os operadores portuários ou o Órgão Gestor de
Mão-de-Obra - OGMO decorrentes da relação de trabalho.
(...)
Art. 652 (...)
a) (...)
V - as ações entre trabalhadores portuários e os operadores portuários ou o
Órgão Gestor de Mão-de-Obra - OGMO decorrentes da relação de trabalho; (...)
Verifi ca-se que a nova redação dos citados artigos da Consolidação das
Leis do Trabalho afi rma a competência da Justiça do Trabalho para processar e
julgar as ações envolvendo trabalhadores portuários e operadores portuários ou
o Órgão Gestor de Mão-de-Obra - OGMO decorrentes da relação de trabalho.
Na hipótese em que o autor postulava o recebimento de parcelas de
remuneração arrecadas e não distribuídas aos trabalhadores pelos reclamados,
decidimos nesta 2a Seção, no CC n. 29.303-SP, de minha relatoria, DJ de
04.09.2000, diante da nova regra processual instituída pela citada medida
provisória, aplicável de imediato, favoravelmente à competência da Justiça
Laboral face a constatação de envolver a ação questão relativa a relação de
trabalho. Também fi cou ressaltado, no citado julgado, que não se aplicava ao
caso a Súmula n. 230-STJ, vez que a ação intentada não buscava impugnar ato
que resulte óbice ao exercício da profi ssão do reclamante. Anote-se a ementa da
referida decisão:
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
200
Confl ito de competência. Reclamação. Estivador. Órgão Gestor de Mão-de-
Obra. Medida Provisória n. 1.952/2000. Parcelas arrecadadas e não repassadas.
1. Os artigos 643, § 3o, e 652, V, da Consolidação das Leis do Trabalho foram
alterados pela Medida Provisória n. 1.952/2000. A nova redação é clara em afi rmar
a competência da Justiça do Trabalho para processar e julgar as ações envolvendo
trabalhadores portuários e operadores portuários ou o Órgão Gestor de Mão-
de-Obra - OGMO decorrentes da relação de trabalho, sendo esta, efetivamente, a
hipótese destes autos, presente o art. 87 do Código de Processo Civil.
2. Confl ito conhecido para declarar competente a 6a Junta de Conciliação e
Julgamento de Santos-SP, Juízo suscitado. (CC n. 29.303-SP, 2a Seção, Relator o
Ministro Carlos Alberto Menezes Direito, DJ de 04.09.2000)
No presente caso, considero não estar caracterizada a relação de trabalho
exigida na nova redação dos supracitados artigos da Consolidação das Leis do
Trabalho, sendo hipótese distinta da tratada no aresto acima transcrito.
Está o autor, com a ação em apreço, pleiteando seja declarada a suspensão
do ato coator que impede seu ingresso como trabalhador na área portuária,
com o intuito de garantir o desempenho de suas funções. Não objetiva o
recebimento, ou repasse, de verbas decorrentes de sua atividade laboral ou,
ainda, reconhecimento de algum vínculo empregatício, mas, sim, que seja
afastado ato coator que o impede de exercer a sua profi ssão. Sendo assim, sequer
foi instituída a relação de trabalho.
Não há discussão, portanto, relativa a relação de trabalho, não tendo
aplicação ao presente caso a Medida Provisória n. 1.952, reeditada em
21.09.2000.
Perfeitamente aplicável o posicionamento desta Corte, evidenciado no teor
da Súmula n. 230-STJ, sendo competente a Justiça Comum Estadual para o
julgamento do presente feito.
Do exposto, conheço do confl ito e declaro a competência do Juízo de
Direito da 8a Vara Cível de Santos-SP.
VOTO
O Sr. Ministro Aldir Passarinho Junior: O escopo da Medida Provisória
n. 1.952/1999 consiste, verdadeiramente, na atribuição da competência para
dirimir as relações mantidas entre os obreiros portuários e o órgão gestor de
mão-de-obra à Justiça do Trabalho.
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (17): 185-225, março 2011 201
A atuação do OGMO é bastante peculiar. Inúmeras relações podem ser
extraídas da nova sistemática de trabalho nos portos nacionais com o advento da
sua modernização.
Assim, penso que a matéria deve ter tratamento uniforme, eis que, direta
ou indiretamente, as discussões, por mais variadas, sempre têm como elemento
comum postulações inerentes à prestação de serviços na área portuária.
E a presente ação, que objetiva assegurar ao seu autor o ingresso no porto
e a continuidade no desempenho de suas funções, não representa uma exceção,
segundo a aplicação mais ampla que faço, na interpretação da aludida Medida
Provisória, na nova redação que deu à CLT, arts. 643, § 3o, e 652, a, inciso V.
Ante o exposto, rogando vênias ao ilustrado relator, conheço do confl ito
para declarar competente o Juízo suscitante, da 3ª Vara do Trabalho de Santos,
SP.
É como voto.
VOTO VENCIDO (em parte)
O Sr. Ministro Antônio de Pádua Ribeiro: Sr. Presidente, prefi ro manter-
me também fi el à natureza da relação jurídica posta em juízo.
No caso, como bem mostrou o Sr. Ministro Carlos Alberto Menezes
Direito, não se trouxe a exame nenhuma relação jurídica fundada em Direito
do Trabalho. Discute-se apenas o ingresso de um trabalhador na área portuária
sob a gestão de entidades portuárias. Até que a matéria venha a ser solucionada
através de lei - porque até agora é regida por medida provisória, e o próprio
nome diz: medida provisória, que pode ser alterada, como tem sido a todo
instante, a toda hora -, prefi ro ater-me a essa orientação que se embasa mais em
aspectos da doutrina, em aspectos jurídicos tradicionais.
Acompanho, portanto, o voto do Sr. Ministro Carlos Alberto Menezes
Direito, data venia.
VOTO VENCIDO (em parte)
O Sr. Ministro Waldemar Zveiter: Sr. Presidente, pedindo vênia aos que
pensam em sentido contrário, entendo que o eminente Ministro Carlos Alberto
Menezes Direito tem razão.
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
202
S. Exa. julgou neste Tribunal, em face da Medida Provisória n. 1.952,
reeditada em 04.02.2000, o Confl ito de Competência n. 29.303-SP em que se
deu pela competência da Justiça do Trabalho.
A nossa súmula continua a rezar que: (lê)
Compete à Justiça Estadual processar e julgar ação movida por trabalhador
avulso portuário em que se impugna ato de órgão gestor de mão-de-obra de que
resulte óbice ao exercício de sua profi ssão.
É o que S. Exa. está defi nindo no caso concreto. Diz ele, também, que
devemos fi xar um ponto e segui-lo. Fica extremamente difícil este caso em que
a reclamação específi ca é a do teor da súmula. Embora a medida provisória
venha alterando essa disposição sumular, enquanto ela for medida provisória,
devemos obedecê-la, senão, traçamos a nossa jurisprudência de acordo com a
interpretação legal que damos aos textos.
As medidas provisórias desvirtuaram-se. Na verdade, foram lançadas
na Constituição para a instituição de um regime parlamentarista no País.
Substituiu-se o decreto-lei antigo pela medida provisória nova, que se perpetua
assim por muitos anos.
Não é o que diz a Constituição. Penso que podemos fi xar a nossa posição:
quando o trabalhador portuário reclamar da limitação do exercício da sua
atividade ou do impedimento desta, seja de que forma for, evidentemente terá
que demandar na Justiça Comum; se entendermos que esse procedimento
deverá ser feito pela Justiça do Trabalho, alteraremos a súmula também. Não
podemos fi car com a súmula textualmente dizendo isso, decidir contra ela e
distingui-ia, porque há uma medida provisória.
Com essas breves considerações, reiterando vênia aos Srs. Ministros que
votaram em sentido contrário, acompanho o voto do Sr. Ministro Carlos
Alberto Menezes Direito.
VOTO
O Sr. Ministro Barros Monteiro: Sr. Presidente, vou rogar vênia para
acompanhar a divergência, entendendo que a competência é da Justiça do
Trabalho. Enquanto vigente a Medida Provisória n. 1.952, realmente a Súmula
n. 230-STJ não prevalece em face da interpretação extensiva que se deve
atribuir à referida MP. Temos visto no Tribunal que difi cilmente um obreiro
pleiteia verbas trabalhistas contra o órgão gestor, uma vez que não há relação
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (17): 185-225, março 2011 203
de emprego entre este e o trabalhador portuário. Só acontece essa pretensão
do trabalhador quando se vê ele impedido de trabalhar, ou seja, para manter o
emprego. Em outros casos - na maioria - quer ele uma baixa nos registros a ser
providenciada pelo órgão gestor, a fi m de que pleiteie junto à administração uma
indenização. Penso que, por essa razão, interpretando-se a medida provisória de
maneira literal e restritiva, simplesmente não terá ela como ser aplicada.
Por essas razões, fi co com a divergência.
VOTO VENCIDO (em parte)
O Sr. Ministro Cesar Asfor Rocha: Sr. Presidente, peço vênia aos Srs.
Ministros que se manifestaram em sentido contrário para acompanhar o voto
do eminente Ministro Carlos Alberto Menezes Direito e dos demais que adotaram
a orientação traçada por S. Exa. Na verdade, temos que dar cumprimento
ao estabelecido na súmula; essa variação de posição da Seção irá certamente
confundir os juízes e as partes. Na hipótese, não vejo nenhuma razão, data venia,
para remeter o feito à Justiça do Trabalho.
VOTO-VOGAL
O Sr. Ministro Ruy Rosado de Aguiar: Sr. Presidente, peço vênia para
acompanhar o entendimento divergente pelas razões já expostas.
CONFLITO DE COMPETÊNCIA N. 22.057-SP (98.25202-9)
Relator: Ministro Barros Monteiro
Autor: Paulo Xavier Gomes
Réu: OGMO - Órgão Gestor de Mão de Obra do Trabalho Portuário do
Porto de Santos
Suscitante: Quinta Junta de Conciliação e Julgamento de Santos-SP
Suscitado: Juízo de Direito da 9ª Vara Cível de Santos-SP
Advogados: Natércia Raupp Veiga e outro
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
204
EMENTA
Competência. Trabalhador avulso. Órgão Gestor de Mão-de-
obra Portuária (OGMO).
O litígio que se instaura entre o trabalhador avulso portuário e o
órgão gestor de mão-de-obra (Lei n. 8.630/1993) não é de natureza
trabalhista. Precedentes.
Confl ito conhecido, declarado competente o suscitado - Juiz de
Direito da 9ª Vara Cível da Comarca de Santos.
ACÓRDÃO
Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas:
Decide a Segunda Seção do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade,
conhecer do confl ito e declarar competente a 9ª Vara Cível de Santos-SP, a
suscitada, na forma do relatório e notas taquigráfi cas precedentes que integram
o presente julgado. Votaram com o Relator os Srs. Ministros Cesar Asfor
Rocha, Ruy Rosado de Aguiar, Romildo Bueno de Souza, Costa Leite, Nilson
Naves e Eduardo Ribeiro.
Brasília (DF), 12 de agosto de 1998 (data do julgamento).
Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira, Presidente
Ministro Barros Monteiro, Relator
DJ 05.10.1998
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Barros Monteiro: Perante a 9ª Vara Cível da Comarca
de Santos-SP, Paulo Xavier Gomes propôs ação declaratória contra o “Órgão
Gestor de Mão-de-Obra do Trabalho Portuário do Porto de Santos”, requerendo
que “seja declarada a suspensão do ato coator que impede seu ingresso como
trabalhador avulso aposentado e credenciado (mão-de-obra qualifi cada) na área
portuária, garantindo-lhe a continuidade no desempenho de suas funções e,
conseqüentemente, volte a receber o tratamento que lhe era dispensado à época
da transição demissão CODESP/admissão OGMO”.
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (17): 185-225, março 2011 205
A Magistrada, entendendo que a pretensão do autor tem nítido caráter
trabalhista e que se aplica à espécie o disposto no art. 643 da CLT, deu-se
por incompetente e determinou a remessa dos autos a uma das Juntas de
Conciliação e Julgamento de Santos-SP.
A MM. Juíza-Presidente da 5ª Junta de Conciliação e Julgamento de
Santos-SP, considerando que se trata de lide entre trabalhador avulso e o
respectivo órgão administrativo, que o OGMO não é empregador nem tomador
de serviço e que a matéria debatida nos autos tem cunho eminentemente civil
(controvérsia criada entre trabalhadores portuários referente a ato interna
corporis praticado pelo OGMO), também se deu por incompetente e suscitou o
presente confl ito negativo de competência.
O parecer do Ministério Público Federal é pela competência da 9ª Vara
Cível da Comarca de Santos-SP.
É o relatório.
VOTO
O Sr. Ministro Barros Monteiro (Relator): - Hipótese assemelhada foi
objeto de exame por esta C. Seção quando do julgamento do Confl ito de
Competência n. 22.061-SP, relator o Sr. Ministro Ruy Rosado de Aguiar.
Na ocasião, o Sr. Relator acentuara que “a relação que se estabelece entre o
trabalhador portuário avulso e o órgão de gestão da mão-de-obra portuária não
é de caráter trabalhista, pois que o exercício das atribuições deferidas ao órgão
de gestão não implica vínculo empregatício com aquele trabalhador, como fi cou
expressamente ressalvado no art. 20 da Lei n. 8.630/1993”.
Daí a competência para apreciar a espécie da Justiça Estadual, na linha do
que, aliás, em maio de 1990 já proclamara este órgão fracionário do Tribunal a
propósito de pretensão formulada por trabalhador avulso contra o Sindicato dos
Arrumadores (CC n. 349-RJ, relator Ministro Bueno de Souza).
Ante o exposto e nos termos do parecer do Ministério Público Federal,
conheço do confl ito e declaro competente o suscitado - Juiz de Direito da 9ª
Vara Cível da Comarca de Santos.
É o meu voto.
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
206
CONFLITO DE COMPETÊNCIA N. 22.058-SP (98.252045)
Relator: Ministro Nilson Naves
Autor: Arão Waldemiro Bernardo
Réu: Órgão Gestor de Mão-de-Obra do Trabalho Portuário do Porto
Organizado de Santos - OGMO
Suscitante: Quinta Junta de Conciliação e Julgamento de Santos-SP
Suscitado: Juízo de Direito da 9ª Vara Cível de Santos-SP
Advogados: Natércia Raupp Veiga e outro
EMENTA
Mão-de-obra do trabalho portuário. Ação ajuizada contra o
Órgão Gestor (OGMO).
Competência. É estadual, porquanto a relação entre o trabalhador
e órgão de gestão não é trabalhista. Confl ito conhecido e declarada a
competência do suscitado.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da 2ª
Seção do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das
notas taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, conhecer do confl ito e declarar
competente a 9ª Vara Cível de Santos-SP, suscitada. Votaram com o Relator os
Srs. Ministros Eduardo Ribeiro, Sálvio de Figueiredo Teixeira, Barros Monteiro,
Cesar Asfor Rocha, Ruy Rosado de Aguiar, Carlos Alberto Menezes Direito e
Costa Leite. Ausente, justifi cadamente, o Sr. Ministro Romildo Bueno de
Souza.
Brasília (DF), 23 de setembro de 1998 (data do julgamento).
Ministro Waldemar Zveiter, Presidente
Ministro Nilson Naves, Relator
DJ 14.12.1998
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (17): 185-225, março 2011 207
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Nilson Naves: - Em ação declaratória proposta contra o
Órgão Gestor de Mão-de-Obra do Trabalho Portuário do Porto Organizado de
Santos, pediu o autor fosse
(...) declarada a suspensão do ato coator que impede seu ingresso como
trabalhador avulso aposentado e credenciado (mão-de-obra qualifi cada) na área
portuária, garantindo-lhe a continuidade no desempenho de suas funções e,
conseqüentemente, volte a receber o tratamento que lhe era dispensado à época
da transição demissão Codesp/admissão OGMO.
Mas o Juiz de Direito deu-se por incompetente, pois que
No caso dos autos, diverge o autor de sua exclusão das escalas de trabalho
junto às instalações portuárias, organizadas e mantidas pelo réu.
Sua pretensão tem nítido caráter trabalhista, na medida em que, conforme
artigos 28 e 29 da Lei n. 6.830/1993, a seleção e o registro do trabalhador
portuário avulso serão feitos pelo OGMO, de acordo com as normas que forem
estabelecidas em contrato, convenção ou acordo coletivo de trabalho. A
remuneração e demais condições do contrato, serão objeto de negociação entre
entidades representantes dos trabalhadores portuários avulsos e dos operadores
portuários.
Decidir se autor, que se diz trabalhador avulso, tem ou não direito subjetivo
ao cadastro e ao registro aludidos no artigo 27 da Lei n. 6.830/1993 ou, em
outras palavras, se é legítima ou não sua exclusão em virtude da aposentadoria,
conforme promoveu o réu - tomador e organizador do serviço -, em verdade,
envolve análise de pretensão constitutiva de relação jurídica empregatícia.
E o Juiz do Trabalho suscitou o confl ito, em resumo:
Portanto, por qualquer ângulo que se examine a questão, tem-se como
evidente a declaração da incompetência absoluta deste juízo, porque não se trata
de lide entre empregado e empregador, mas sim de litígio entre trabalhadores
avulsos e o respectivo órgão administrativo, criado com o propósito de
administrar o fornecimento de mão-de-obra portuária.
Não é a hipótese constante do artigo 2° da Consolidação das Leis do Trabalho,
ou sequer deve-se fazer remissão ao artigo 643 do digesto trabalhista que
pressupõe dissídios entre trabalhadores avulsos e seus tomadores de serviço e,
por certo que o OGMO não é tomador de serviço!
Tem, pois, este Juízo o convencimento de que a matéria tem cunho
eminentemente civil, na medida em que traz em seu bojo controvérsia criada
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
208
entre trabalhadores portuários dentro do âmbito de aplicação do OGMO, no que
diz respeito a ato praticado por este, interna corporis, para efeito de aplicação dos
dispositivos criados para sua atividade.
O parecer é pela competência do suscitado.
É o relatório.
VOTO
O Sr. Ministro Nilson Naves (Relator): - Esta Seção tem precedentes,
dando pela competência estadual. Por exemplo, o CC·n. 22.301, Ministro
Ruy Rosado, DJ de 19.10.1998, com essa ementa: “Portuário. Órgão gestor
de mão-de-obra de trabalhador avulso. OGMO. Ação declaratória proposta
por trabalhador portuário avulso contra o órgão gestor da mão-de-obra (Lei
n. 8.630/1993). Conflito conhecido e declarada a competência da Justiça
Comum”. Ficou assentado que “A relação que se estabelece entre o trabalhador
portuário avulso e o órgão de gestão da mão-de-obra portuária não é de caráter
trabalhista, pois que o exercício das atribuições deferidas ao órgão de gestão não
implica vínculo empregatício com aquele trabalhador, como fi cou expressamente
ressalvado no art. 20 da Lei n. 8.630/1993”.
À vista dos precedentes, bem como do parecer da Subprocuradoria-Geral
da República, conheço do confl ito e declaro competente o Juízo de Direito da 9ª
Vara Cível de Santos, o suscitado.
CONFLITO DE COMPETÊNCIA N. 22.059-SP (98.0025207-0)
Relator: Ministro Cesar Asfor Rocha
Autor: Antonio Eustaqueo de Aguiar
Advogado: Yasmin Azevedo Akaui e outro
Réu: Órgão Gestor de Mão de Obra do Trabalho Portuário do Porto
Organizado de Santos - OGMO-SP
Suscitante: Quinta Junta de Conciliação e Julgamento de Santos-SP
Suscitado: Juízo de Direito da 6ª Vara Cível de Santos-SP
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (17): 185-225, março 2011 209
EMENTA
Confl ito negativo de competência. Ação declaratória proposta
por trabalhador portuário avulso contra o Órgão Gestor da Mão-de-
Obra Portuária (OGMO).
O órgão administrativo criado para gerir a mão-de-obra portuária
não ostenta, nessa atividade, vínculo empregatício com o trabalhador
portuário avulso.
Competência do Juízo de Direito suscitado.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Srs. Ministros da
Segunda Seção do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e
das notas taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, conhecer do confl ito e declarar
competente a 6ª Vara Cível de Santos-SP, a suscitada. Votaram com o Relator os
Srs. Ministros Ruy Rosado de Aguiar, Carlos Alberto Menezes Direito, Bueno
de Souza, Costa Leite, Nilson Naves, Eduardo Ribeiro, Waldemar Zveiter e
Barros Monteiro.
Brasília (DF), 09 de dezembro de 1998 (data do julgamento).
Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira, Presidente
Ministro Cesar Asfor Rocha, Relator
DJ 15.03.1999
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Cesar Asfor Rocha: Cuida-se de confl ito negativo de
competência verifi cado entre juízos de direito e trabalhista, ambos se afi rmando
incompetentes para o julgamento de ação declaratória, proposta por trabalhador
avulso contra o Órgão Gestor de Mão-de-Obra (OGMO) do trabalho portuário
do Porto de Santos-SP, pretendendo a “suspensão do ato coator que impede seu
ingresso como trabalhador avulso aposentado e credenciado (mão-de-obra
qualifi cada) na área portuária, garantindo-lhe a continuidade no desempenho
de suas funções e, consequentemente, volte a receber o tratamento que lhe era
dispensado à época da transição demissão Codesp/admissão OGMO”.
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
210
O MM Juiz de Direito entendeu que a controvérsia seria decorrente da
relação de trabalho, sendo o réu verdadeiro sindicato dos trabalhadores do Porto
de Santos e, no caso, o tomador e organizador do serviço, declinando da sua
competência em favor da justiça trabalhista, que, por sua vez, suscitou o confl ito,
considerando que o réu seria órgão administrativo da categoria profi ssional sem
qualquer vínculo empregatício com o trabalhador portuário avulso.
Parecer do douto Ministério Público Federal pela competência da justiça
comum.
É o relatório.
VOTO
O Sr. Ministro Cesar Asfor Rocha (Relator): Confl itam negativamente
juízos de direito e trabalhista para o julgamento de ação declaratória proposta
por trabalhador portuário avulso pretendendo ver assegurado o exercício de suas
atividades junto à área do cais com o devido registro e credenciamento perante o
órgão gestor de mão-de-obra.
Nos termos da Lei n. 8.630/1993, a gestão da mão-de-obra portuária por
órgão administrativo criado para esse fi m não importa vínculo empregatício
com o trabalhador portuário avulso, falecendo, portanto, natureza trabalhista na
controvérsia.
Hipóteses idênticas já foram apreciadas por esta egrégia Segunda Seção
nos Conflitos de Competência n. 22.885-SP e n. 22.057-SP, relatados,
respectivamente, pelos eminentes Ministros Ruy Rosado de Aguiar e Barros
Monteiro, publicados nos DJs de 13.10.1998 e 05.10.1998, e assim sumariados:
Portuário. Órgão Gestor de Mão-de-Obra de trabalhador avulso. OGMO.
A ação declaratória proposta por trabalhador portuário avulso (estivador
aposentado) contra o órgão gestor da mão-de-obra (Lei n. 8.630/1993) é da
competência da Justiça Comum.
Competência. Trabalhador avulso. Órgão Gestor de Mão-de-Obra portuária
(OGMO).
O litígio que se instaura entre o trabalhador avulso portuário e o órgão gestor
da mão-de-obra (Lei n. 8.630/1993) não é de natureza trabalhista. Precedentes.
Confl ito conhecido, declarado competente o suscitado - Juiz de Direito da 9ª
Vara Cível da Comarca de Santos.
Posto isso, conheço do confl ito e declaro competente o Juízo de Direito
suscitado.
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (17): 185-225, março 2011 211
CONFLITO DE COMPETÊNCIA N. 22.155-SP (98.0031323-0)
Relator: Ministro Eduardo Ribeiro
Autor: Antônio Gonçalo Mendes
Réu: Órgão Gestor de Mão de Obra do Trabalho Portuário do Porto
Organizado de Santos - OGMO-SP
Suscitante: Quinta Junta de Conciliação e Julgamento de Santos-SP
Suscitado: Juízo de Direito da 1ª Vara Cível de Santos-SP
Advogada: Natércia Raupp Veiga
EMENTA
Portuário. Órgão Gestor de Mão de Obra de trabalhador avulso.
Competência da Justiça Estadual, em virtude da relação litigiosa
deduzida na inicial.
Não há vínculo empregatício entre trabalhador portuário avulso
e o órgão gestor da mão-de-obra (Lei n. 8.630/1993).
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Srs. Ministros da
Segunda Seção do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos
e das notas taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, conhecer do confl ito e
declarar competente a 1ª Vara Cível de Santos-SP, a suscitada.
Votaram com o Relator os Srs. Ministros Barros Monteiro, Cesar Asfor
Rocha, Ruy Rosado de Aguiar, Romildo Bueno de Souza, Costa Leite e Nilson
Naves.
Ausentes, justifi cadamente, os Srs. Ministros Waldemar Zveiter e Carlos
Alberto Menezes Direito.
Brasília (DF), 11 de novembro de 1998 (data do julgamento).
Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira, Presidente
Ministro Eduardo Ribeiro, Relator
DJ 05.04.1999
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
212
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Eduardo Ribeiro: Antônio Gonçalo Mendes ajuizou ação
ordinária, pretendendo obter a suspensão da efi cácia de ato, praticado pelo
Órgão Gestor da Mão de Obra do Trabalho Portuário do Porto Organizado de
Santos-OGMO, que impediu seu ingresso, como trabalhador avulso aposentado,
em área portuária.
O Juízo Estadual declinou de sua competência, ao argumento de que o réu
foi criado para assumir as funções de verdadeiro sindicato dos trabalhadores no
porto de Santos, de acordo com a Lei n. 8.630/1993. Acrescentou que, decidir
se o autor tem ou não direito subjetivo ao cadastro e ao registro e se é legítima
ou não sua exclusão, em virtude da aposentadoria, envolve análise de relação
jurídica empregatícia.
Suscitado conflito pelo Juízo Trabalhista, por entender-se que, ao
contrário do afi rmado, a referida lei dispõe não haver vinculo de emprego entre
trabalhadores portuários avulsos e o órgão gestor de mão-de-obra.
Opina o Ministério Público pelo conhecimento do conflito para ser
declarada a competência da Justiça Comum.
É o relatório.
VOTO
O Sr. Ministro Eduardo Ribeiro (Relator): O litígio a ser julgado é
deduzido pelo interessado e, em vista deste, fi rma-se a competência. A causa
de pedir diz com o direito de livre acesso à zona portuária, para o exercício de
funções como trabalhador avulso, não se revestindo de natureza trabalhista.
Já decidiu esta Seção que a relação estabelecida entre trabalhadores
portuários avulsos e o órgão de gestão da mão-de-obra portuária não tem
caráter trabalhista. A Lei n. 8.630/1993 afasta expressamente a existência de
vínculo empregatício.
Cito como precedentes os Conflitos n. 22.061, relator Ministro Ruy
Rosado, n. 22.065, relator Ministro Menezes Direito e n. 22.060, relator
Ministro Barros Monteiro.
Declaro competente o juízo estadual suscitado.
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (17): 185-225, março 2011 213
CONFLITO DE COMPETÊNCIA N. 22.491-SP (98.0039101-0)
Relator: Ministro Costa Leite
Autor: Cláudio José de Carvalho
Réu: Órgão Gestor de Mão de Obra do Trabalho Portuário do Porto
Organizado de Santos - OGMO
Suscitante: Quinta Junta de Conciliação e Julgamento de Santos-SP
Suscitado: Juízo de Direito da 2ª Vara Cível de Santos-SP
Advogados: Natércia Raupp Veiga e outro
Antônio Barja Filho
EMENTA
Trabalhador portuário avulso.
Litígio envolvendo trabalhador portuário avulso e o órgão gestor
de mão-de-obra, não se fundando a inicial na existência de vínculo
empregatício. Competência da Justiça Comum.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da
Segunda Seção do Superior Tribunal de Justiça, em conformidade com os votos
e notas taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, conhecer do confl ito e declarar
competente a 2ª Vara Cível de Santos-SP, a suscitada. Votaram com o Relator
os Srs. Ministros Nilson Naves, Eduardo Ribeiro, Sálvio de Figueiredo Teixeira,
Barros Monteiro, Cesar Asfor Rocha, Ruy Rosado de Aguiar e Carlos Alberto
Menezes Direito.
Ausente, justifi cadamente, o Sr. Ministro Romildo Bueno de Souza.
Brasília (DF), 23 de setembro de 1998 (data do julgamento).
Ministro Waldemar Zveiter, Presidente
Ministro Costa Leite, Relator
DJ 14.12.1998
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
214
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Costa Leite: - O parecer do Ministério Público Federal
assim sumariou a espécie:
Cuidam os autos de confl ito negativo de competência suscitado pela Egrégia
Quinta Junta de Conciliação e Julgamento de Santos-SP, em face do Juízo de
Direito da Segunda Vara Cível de Santos-SP.
A incompetência é oferecida por entender a Douta Juíza suscitante que no
caso em análise o autor não está pleiteando assunto afeto à sua relação laboral,
mas seu direito de acesso ao local de prestação de serviço, onde a mão-de-obra é
selecionada, uma vez que os trabalhadores fazem parte da categoria dos avulsos.
Por tal motivo suscitou o presente confl ito posto a análise.
Opinando, o parecer é pelo conhecimento do confl ito, para que se declare a
competência do Juízo Suscitado, o da Segunda Vara Cível de Santos-SP.
É o relatório, Senhor Presidente.
VOTO
O Sr. Ministro Costa Leite (Relator): - O litígio envolve trabalhador
portuário avulso e o órgão gestor de mão-de-obra, não se fundando a inicial na
existência de vínculo empregatício. A competência, pois, é da Justiça Comum,
segundo numerosos precedentes deste Tribunal. Em verdade, o litígio não é de
natureza trabalhista, à luz da Lei n. 8.630/1993, e só se fi rmaria a competência
da Justiça do Trabalho caso repontasse aquela causa de pedir, segundo a
jurisprudência da Corte, estampada, entre outros, no CC n. 7.268-PE:
Competência. Pretensão de natureza trabalhista.
Se a pretensão decorre de suposta relação de trabalho, fi rma-se a competência
da Justiça Trabalhista. Se esta entender inexistente a relação trabalhista, deve
julgar o reclamante carecedor de ação, mas não transferir a decisão da causa para
a Justiça Comum. Precedentes.
Assim sendo, conheço do confl ito e declaro a competência da 2ª Vara Cível
de Santos-SP, a suscitada.
É o meu voto, Senhor Presidente.
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (17): 185-225, março 2011 215
CONFLITO DE COMPETÊNCIA N. 22.678-SP (98.0046118-3)
Relator: Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira
Autor: José Carlos dos Santos
Réu: Órgão Gestor de Mão de Obra do Trabalho Portuário do Porto
Organizado de Santos - OGMO
Suscitante: Quinta Junta de Conciliação e Julgamento de Santos-SP
Suscitado: Juízo de Direito da 8ª Vara Cível de Santos-SP
Advogados: Natércia Raupp Veiga e outro
EMENTA
Competência. Confl ito. Trabalhador avulso. Pedido de declaração
da existência de um direito cujo exercício estaria sendo pretensamente
obstado pelo sindicato. Pedido e causa de pedir que não têm natureza
laboral. Competência da Justiça Estadual.
I - A competência para julgar a causa se defi ne em função da
natureza jurídica da questão controvertida, demarcada pelo pedido e
pela causa de pedir.
II - Expondo a inicial pedido de declaração da existência de um
direito, cujo exercício estaria sendo pretensamente obstado pelo réu,
competente para julgar a causa é a Justiça Estadual.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da
Segunda Seção do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos
e das notas taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, conhecer do confl ito e
declarar competente a 8ª Vara Cível de Santos-SP, a suscitada. Votaram com
o Relator os Ministros Barros Monteiro, Cesar Asfor Rocha, Ruy Rosado de
Aguiar, Carlos Alberto Menezes Direito, Costa Leite, Nilson Naves e Eduardo
Ribeiro. Ausente, justifi cadamente, o Ministro Romildo Bueno de Souza.
Brasília (DF), 23 de setembro de 1998 (data do julgamento).
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
216
Ministro Waldemar Zveiter, Presidente
Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira, Relator
DJ 08.03.1999
EXPOSIÇÃO
O Sr. Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira: Trata-se de “ação declaratória
constitutiva de direito”, ajuizada por José Carlos dos Santos, perante a 8ª Vara
Cível de Santos, contra o Órgão Gestor de Mão-de-Obra do Trabalho Portuário
do Porto Organizado de Santos, pleiteando seja declarada a “suspensão do
ato coator que impede seu ingresso como trabalhador avulso aposentado e
credenciado (mão-de-obra qualifi cada) na área portuária, garantindo-lhe a
continuidade no desempenho de suas funções”.
O Juiz de Direito declinou da competência, remetendo os autos à Justiça
do Trabalho.
Foi suscitado pela 5ª Junta de Conciliação e Julgamento de Santos-SP o
confl ito negativo de competência, ao fundamento central de que “a matéria tem
cunho eminentemente civil, na medida em que traz em seu bojo controvérsia
criada entre trabalhadores portuários dentro do âmbito de aplicação do OGMO
(Órgão Gestor de Mão-de-Obra), no que diz respeito ao ato praticado por
este interna corporis, para efeito de aplicação dos dispositivos criados para sua
atividade”.
O parecer do Parquet federal conclui pelo “conhecimento do confl ito e
a declaração da competência do Juízo suscitado, o da Oitava Vara Cível de
Santos-SP”.
É o relatório.
VOTO
O Sr. Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira (Relator): Na linha de
entendimento desta Corte, a competência deve ser definida pela natureza
jurídica da questão em litígio, demarcada pelo pedido e pela causa de pedir.
A inicial, como se vê do relatório, não expõe pedido de natureza laboral,
veiculando pretensões fundadas no direito comum, de sorte a determinar a
competência da Justiça Estadual.
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (17): 185-225, março 2011 217
O parecer subscrito pelo Dr. Francisco Adalberto Nóbrega consigna:
Da leitura dos autos depreende-se que o reclamante postula direito de acesso
ao local de prestação do serviço, que segundo sua alegação, está sendo obstado
pelo Sindicato dos Estivadores e Trabalhadores em Estiva de Minérios do Estado
do Rio de Janeiro.
A nosso entendimento sua postulação não constitui conflito trabalhista a
merecer trânsito na jurisdição especializada, pois a ela cumpre solver os dissídios
decorrentes da relação de trabalho; não podendo ser esquecido que o referido
sindicato de mão-de-obra é mero intermediário entre o avulso e o efetivo
tomador do serviço.
Sendo assim, observamos que a solução da lide é da competência da Justiça
Comum Estadual.
Os precedentes desta Corte no tema não são específi cos. Versando casos
em que os pedidos veiculados guardavam pertinência com verbas previstas
na CLT, casos nos quais a competência foi atribuída à Justiça especializada
precisamente em razão da natureza do pedido e da causa de pedir. Na espécie em
apreço, entretanto, o pedido e a causa de pedir têm natureza diversa, tratando-se
de declaração da existência de um direito cujo exercício pelo autor estaria sendo
pretensamente obstado pelo réu.
À luz do exposto, conheço do confl ito para declarar competente a 8ª Vara
Cível de Santos-SP, para julgar a causa, dando-se ciência desta decisão, por
cópia, ao Juízo suscitante.
CONFLITO DE COMPETÊNCIA N. 22.859-SP (98.541810)
Relator: Ministro Ruy Rosado de Aguiar
Suscitante: Primeira Junta de Conciliação e Julgamento de Santos-SP
Suscitado: Juízo de Direito da 7ª Vara Cível de Santos-SP
Autor: Paulo Roberto Teixeira Ramos
Réu: Órgão Gestor de Mão-de-Obra do Trabalho Portuário do Porto
Organizado de Santos - OGMO
Advogados: Natercia Raupp Veiga e outro
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
218
EMENTA
Portuário. Órgão Gestor de Mão-de-Obra de trabalhador avulso
- OGMO.
É da competência da Justiça Comum a ação proposta por
trabalhador portuária avulso (estivador aposentado) contra o órgão
gestor da mão-de-obra (Lei n. 8.630/1993), para suspensão do ato que
impede o seu ingresso na área portuária e para declarar o seu direito de
continuar desempenhando suas funções.
Confl ito conhecido e declarada a competência do suscitado.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da
Segunda Seção do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos
e das notas taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, conhecer do confl ito e
declarar competente a 7ª Vara Cível de Santos-SP, a suscitada. Votaram com
o relator os Srs. Ministros Carlos Alberto Menezes Direito, Romildo Bueno
de Souza, Nilson Naves, Eduardo Ribeiro e Cesar Asfor Rocha. Ausentes,
justifi cadamente, o Srs. Ministros Costa Leite, Waldemar Zveiter e Sálvio de
Figueiredo Teixeira.
Brasília (DF), 09 de setembro de 1998 (data do julgamento).
Ministro Barros Monteiro, Presidente em exercício
Ministro Ruy Rosado de Aguiar, Relator
DJ 26.10.1998
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Ruy Rosado de Aguiar: Trata-se de confl ito negativo de
competência entre a Primeira Junta de Conciliação e Julgamento, suscitante,
e o Juízo de Direito da Sétima Vara Cível, ambos de Santos, Estado de São
Paulo, relativo à competência para processar e julgar ação declaratória proposta
por Paulo Roberto Teixeira Ramos contra o Órgão Gestor de Mão de Obra
do Trabalho Portuário de Santos a fi m de ser declarada “... a suspensão do
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (17): 185-225, março 2011 219
ato coator que impede seu ingresso como trabalhador avulso aposentado e
credenciado (mão-de-obra qualifi cada) na área portuária, garantindo-lhe a
continuidade no desempenho de suas funções e, consequetemente, volte a
receber o tratamento que lhe era dispensado à época da transição demissão
Codesp/admissão OGMO”, nos termos da Lei n. 8.630/1993.
A ação foi proposta perante a Justiça Estadual, a qual entendeu que a
matéria versada nos autos envolve questão trabalhista, vez que decidir se o
“... trabalhador avulso, tem ou não direito subjetivo ao cadastro e ao registro
aludidos no artigo 27 da Lei n. 6.830/1993 ou, em outras palavras, se é legítima
ou não sua exclusão em virtude da aposentadoria, conforme promoveu o réu -
tomador e organizador do serviço -, em verdade envolve análise de pretensão
constitutiva de relação jurídica empregatícia” (fl . 13), e declinou da competência
à Justiça do Trabalho. Esta suscitou o presente conflito, ao argumento de
que a lide não tem caráter trabalhista, pois gira entre trabalhadores avulsos e
o respectivo órgão administrativo, criado com o propósito de administrar o
fornecimento de mão-de-obra portuária.
É o relatório.
VOTO
O Sr. Ministro Ruy Rosado de Aguiar (Relator): 1. A Lei n. 8.630, de
25.02.1993, determinou que se constituísse, em cada porto organizado, um
órgão de gestão de mão-de-obra do trabalho portuário tendo por fi nalidade
administrar o fornecimento de mão-de-obra do trabalhador portuário e do
trabalhador portuário avulso, manter o cadastro do primeiro e o registro do
segundo, promover o treinamento e habilitação profi ssional, selecionar e registrar
o trabalhador portuário avulso, estabelecer o número de vagas, a forma e a
periodicidade para acesso ao registro, expedir documentos, arrecadar e repassar
os valores devidos pelos operadores relativos à remuneração do trabalhador
portuário avulso.
A relação que se estabelece entre o trabalhador portuário avulso e o órgão
de gestão da mão-de-obra portuária não é de caráter trabalhista, pois que o
exercício das atribuições deferidas ao órgão de gestão não implica vínculo
empregatício com aquele trabalhador, como fi cou expressamente ressalvado no
art. 20 da Lei n. 8.630/1993.
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
220
2. Oportuno transcrever a fundamentação da eg. Primeira Junta de
Conciliação e Julgamento de Santos no CC n. 22.277-SP:
Analisando-se o texto da Lei n. 8.630 de 25.02.1993, cabe a menção ao seu
artigo 20, que atesta que “O exercício das atribuições previstas nos artigos 18 e
19 desta Lei, pelo órgão de gestão de mão-de-obra do trabalho portuário avulso,
não implica em vínculo empregatício com o trabalho portuário avulso”.
Impende ressaltar, neste mesmo diapasão, que o artigo 25 da mesma lei
dispõe que “O órgão de gestão de mão de obra é reputado de utilidade pública e
não pode ter fi ns lucrativos, sendo-lhe vedada o prestação de serviços a terceiros
ou o exercício de qualquer atividade não vinculada à gestão de mão-de-obra”.
Assim, de qualquer ângulo que se analise tal competência, não se pode
considerar o OGMO como empregador, ou mesmo equipará-lo a tal fi gura. A uma
porque não almeja fi ns lucrativos no desempenho de sua atividade econômica.
A duas porque sendo considerada pessoa jurídica de utilidade pública, não
contrata, dirige ou fi scaliza a atividade dos empregados avulsos no desempenho
de suas funções dentro do Porto Organizado.
De corolário, se afigura nítida a diferença de funções entre o OGMO e os
operadores portuários, não se podendo imputar ao primeiro, qualidades e
principalmente responsabilidades do segundo, dentro da relação processual ora
imposta (fl . 72).
3. No caso dos autos, o autor pretende ver reconhecido seu direito de
receber do OGMO um certo tratamento, com base na lei que regula a matéria,
a qual excluiu expressamente a existência de vínculo empregatício. Logo, a
matéria não se inclui no âmbito da Justiça Especializada.
Posto isso, conheço do confl ito e dou pela competência do Dr. Juiz de
Direito da 7ª Vara Cível de Santos-SP, suscitado.
É o voto.
CONFLITO DE COMPETÊNCIA N. 23.213-SP (98.0063740-0)
Relator: Ministro Bueno de Souza
Autor: Alberto Rodrigues Castanha
Advogado: Yasmin Azevedo Akaui e outro
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (17): 185-225, março 2011 221
Réu: Órgão Gestor de Mão de Obra do Trabalho Portuário do Porto
Organizado de Santos - OGMO-SP
Suscitante: Terceira Junta de Conciliação e Julgamento de Santos-SP
Suscitado: Juízo de Direito da 1ª Vara Cível de Santos-SP
EMENTA
Processual Civil. Competência. Conflito negativo. Justiças
Comum e Trabalhista. Ação ordinária declaratória constitutiva de
direito.
Pedido que não tem natureza trabalhista. Portuário (aposentado)
que pretende suspensão de ato impeditivo do órgão gestor de mão-
de-obra, de seu ingresso na área portuária. Competência da Justiça
Estadual.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da
Segunda Seção do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos
e das notas taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, conhecer do confl ito e
declarar competente a 1ª Vara Cível de Santos-SP, a suscitada.
Votaram com o Relator os Srs. Ministros Costa Leite, Nilson Naves,
Eduardo Ribeiro, Waldemar Zveiter, Barros Monteiro, Ruy Rosado de Aguiar e
Carlos Alberto Menezes Direito.
Ausente, nesta assentada, o Sr. Ministro Cesar Asfor Rocha.
Brasília (DF), 25 de novembro de 1998 (data do julgamento).
Ministro Sálvio de Figueiredo, Presidente
Ministro Bueno de Souza, Relator
DJ 22.03.1999
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Bueno de Souza: A espécie se acha apropriadamente
resumida no parecer da lavra do ilustrado Subprocurador-Geral da República,
Dr. Moacir Guimarães Morais Filho, fl . 54:
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
222
Trata-se de Confl ito Negativo de Competência suscitado pela MMª Terceira
Junta de Conciliação e Julgamento de Santos, sob a alegação de ser incompetente
para julgar a Ação Ordinária Declaratória Constitutiva de Direito contra o Órgão
Gestor de Mão-de-Obra do Trabalho Portuário do Porto Organizado de Santos -
OGMO distribuída, originariamente, ao Juízo de Direito da 1ª Vara Cível de Santos.
O juízo suscitado entendeu que a competência seria da Justiça do Trabalho,
porque a pretensão do autor tinha caráter trabalhista.
O d. parecer citado conclui opinando pela competência da justiça estadual.
É o relatório.
VOTO
O Sr. Ministro Bueno de Souza (Relator): Senhor Presidente, eis as razões
em que louva o r. parecer ministerial:
O autor da ação postula a suspensão do ato coator que impede seu ingresso,
como trabalhador aposentado e credenciado, na área portuária.
O litígio não nos parece, decorrente de relação empregatícia, nem de decisão
ou sentença versando sobre questão laboral.
Portanto, trata-se de lide que exorbite o âmbito da justiça do trabalho.
A Consolidação das Leis do Trabalho estabelece:
... Art. 651. A competência das Juntas de Conciliação e Julgamento é
determinada pela localidade onde o empregado, reclamante ou reclamado,
prestar serviços ao empregador, ainda que lenha sido contratado noutro
local ou no estrangeiro.
Parágrafo 1º: Quando a parte no dissídio agente ou viajante, é
competente a Junta de localidade onde o empregador tiver o seu domicílio,
salvo se o empregado estiver imediatamente subordinado a agência ou
filial, caso em que será competente a Junta em cuja jurisdição estiver
situada a mesma agência ou fi lial.
Parágrafo 2°: A competência das Juntas de Conciliação e Julgamento,
estabelecida neste artigo, estende-se aos dissídios ocorridos em agência
ou fi lial no estrangeiro, desde que o empregado seja brasileiro e não haja
convenção internacional dispondo em contrário.
Parágrafo 3º: Em se tratando de empregador que promova realização
de atividades tora do lugar do contrato de trabalho, é assegurado ao
empregado apresentar reclamação no foro da celebração do contrato ou
no da prestação dos respectivos serviços.
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (17): 185-225, março 2011 223
Art. 652. Compete às Juntas de Conciliação e Julgamento:
a) conciliar e julgar:
I - os dissídios em que se pretenda o reconhecimento da estabilidade do
empregado;
II - os dissídios concernentes a remuneração, férias e indenizações por
motivo de rescisão do contrato individual de trabalho;
III - os dissídios resultantes de contratos de empreitadas em que o
empreiteiro seja operário ou artífi ce;
IV - os demais dissídios concernentes ao contrato individual de trabalho;
b) processar e julgar os inquéritos para apuração de falta grave;
c) julgar embargos opostos às suas pr6rpias decisões;
d) impor multas e demais penalidades relativas aos atos de sua
competência.
Parágrafo único. Terão preferência para julgamento os dissídios sobre
pagamento de salários e aqueles que derivarem da falência do empregador,
podendo o presidente da junta, a pedido do interessado, constituir
processo em separado, sempre que a reclamação também versar sobre
outros assuntos.
O artigo 114 da Constituição da República dispõe:
Compete à justiça do trabalho conciliar e julgar os dissídios individuais
e coletivos entre trabalhadores e empregadores, abrangidos os entes de
direito público e da administração pública direta e indireta dos municípios,
do Distrito Federal, dos Estados e da União, e, na forma da lei, outras
controvérsias decorrentes da relação de trabalho, bem como os litígios
que tenham origem no cumprimento de suas próprias sentenças, inclusive
coletivas.
A competência é defi nida pela análise do pedido e da causa de pedir.
A pretensão do autor não possui conteúdo trabalhista. Não se pleiteia o
reconhecimento de relação de emprego ou a aplicação de normas celetistas, mas
sim questões vinculadas a princípios estatísticos e/ou legais, atinentes à atividade
fi m da entidade gestora da mão-de-obra.
Neste sentido, os seguintes arestos são aplicáveis, analogicamente:
Conflito de Competência. Ação de cobrança. Justiça do Trabalho ou
Justiça Comum do Estado. Pedido e causa de pedir.
1. O pedido e a causa de pedir, havendo dissenso entre a justiça
comum do Estado e a justiça do trabalho, defi nem a natureza da lide e, por
conseqüência, a competência ratio materiae para dirimi-la.
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
224
2. Assim, compete a justiça comum processar e julgar ação de cobrança
proposta por ex-empregador contra ex-empregada, objetivando receber a
importância equivalente a hospedagem de fi lho menor da ré em hotel de
propriedade do autor, ainda que a dívida tenha sido contraída no mesmo
período em que vigorou o contrato de trabalho.
3. Confl ito conhecido para declarar competente a justiça comum. Por
unanimidade, conhecer do confl ito e declarar competente o juízo de direito
de Alta Floresta-MT, o suscitado.
(STJ - CC n. 18.108-MT, Rel. Min. Carlos Alberto Menezes, DJ 09.12.1997,
V.U.)
Processual Civil. Competência. Ação de cobrança c.c. perdas e danos.
Trabalhador. Prestação de serviços avulsos.
1. Ação de cobrança proposta pelo autor contra sindicato profi ssional,
objetivando o recebimento de importância devidamente atualizada, como
perdas e danos; tal postulação não afirma o autor decorrer de relação
empregatícia, mas, sim, de prestação de serviços, como trabalhador avulso.
2. Se existente, ou não, vínculo de emprego, não há de afi rmá-lo o juiz
em desfavor da parte, cabendo-lhe, tão-só, dirimir a controvérsia nos limites
do pedido.
3. Confl ito conhecido, para declarar-se competente o juízo comum.
(STJ - CC n. 701/89-SP, Rel. Min. Waldemar Zveiter, DJ 13.12.1989, DJ
12.02.1990, V.U.)
Outro não tem sido o entendimento desta Seção como demonstram as
seguintes ementas:
Competência. Trabalhador avulso. Órgão Gestor de Mão-de-Obra Portuária
(OGMO).
O litígio que se instaura entre o trabalhador avulso portuário e o órgão gestor
de mão-de-obra (Lei n. 8.630/1993) não é de natureza trabalhista. Precedentes.
Confl ito conhecido, declarado competente o suscitado - Juiz de Direito da 9ª
Vara Cível da Comarca de Santos. (CC n. 22.057-SP, rel. Min. Barros Monteiro, DJU
de 05.10.1998)
Portuário. Órgão Gestor de Mão-de-Obra de trabalhador avulso. OGMO. É da
competência da Justiça Comum a ação proposta por trabalhador portuária avulso
(estivador aposentado) contra o órgão gestor da mão-de-obra (Lei n. 8.630/1993),
para suspensão do ato que impede o seu ingresso na área portuária e para
declarar o seu direito de continuar desempenhando suas funções.
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (17): 185-225, março 2011 225
Confl ito conhecido e declarada a competência do suscitado. (CC n. 22.859-SP,
Rel. Min. Ruy Rosado de Aguiar, DJU de 26.10.1998)
Eis porque, acolho a judiciosa manifestação do Ministério Público Federal
e, na consonância dos precedentes citados, conheço do confl ito para declarar
competente o Juízo de Direito, suscitado.
É como voto.
Súmula n. 231
SÚMULA N. 231
A incidência da circunstância atenuante não pode conduzir à redução da
pena abaixo do mínimo legal.
Precedentes:
REsp 7.287-PR (6ª T, 16.04.1991 – DJ 06.05.1991)
REsp 15.691-PR (6ª T, 1º.12.1992 – DJ 03.05.1993)
REsp 32.344-PR (6ª T, 06.04.1993 – DJ 17.05.1993)
REsp 46.182-DF (5ª T, 04.05.1994 – DJ 16.05.1994)
REsp 49.500-SP (5ª T, 29.06.1994 – DJ 15.08.1994)
REsp 146.056-RS (5ª T, 07.10.1997 – DJ 10.11.1997)
Terceira Seção, em 22.09.1999
DJ 15.10.1999, p. 76
RECURSO ESPECIAL N. 7.287-PR (91.4812)
Relator: Ministro William Patterson
Recorrente: Ministério Público do Estado do Paraná
Recorrido: Sebastião Marques Cano
Advogado: Antonio Carlos Menegassi
EMENTA
Penal. Pena. Fixação. Critérios. Se a redução da pena importou
em fi xá-la abaixo do mínimo legal, por força de equivocado critério na
ordem de consideração de causa especial de aumento e de atenuante,
merece reforma a decisão.
Recurso especial conhecido e provido.
ACÓRDÃO
Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas.Decide a Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade,
conhecer do recurso especial e lhe dar provimento, para cassar o acórdão
recorrido e, em consequência, restabelecer a sentença de primeiro grau no
tocante à pena aplicada ao réu Sebastião Marques Cano, nos termos do voto do
Sr. Ministro Relator, na forma do relatório e notas taquigráfi cas constantes dos
autos, que fi cam fazendo parte integrante do presente julgado.
Custas, como de lei.
Brasília (DF), 16 de abril de 1991 (data do julgamento).
Ministro William Patterson, Presidente e Relator
DJ 06.05.1991
RELATÓRIO
O Sr. Ministro William Patterson: - Ao ser julgada pela Egrégia Segunda
Câmara Criminal do Tribunal de Alçada do Estado do Paraná a Apelação n.
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
232
487/89, seu eminente Relator, Desembargador Martins Ricci, expôs a matéria
discutida nestes autos, nos seguintes termos:
Valdeci Cruz Ramiro, Sebastião Marques Cano e Denir Barbosa de Oliveira
foram denunciados pelo representante do Ministério Público como incursos,
os primeiros, nas sanções dos arts. 155, § 4º, inc. IV, c.c. o art. 29, caput, do
Código Penal, 171, caput, c.c. os art. 29, caput, e 71, caput, do mesmo Codex e
art. 1º, da Lei n. 2.252, de 1º.07.1954, observada a regra do art. 69, caput, do
Código Penal; e o último, nas sanções do art. 171, caput, do Código Penal. Narra
a denúncia que no dia 11 de junho de 1985, Sebastião e Valdeci subtraíram do
interior de um veículo pertencente à vítima Joaquim Francisco da Silva Pinto um
toca-fi tas e um talonário de cheques do Banco Brasileiro de Descontos S.A.. De
posse do talonário preencheram as folhas com diversos valores, assinando-as
apocrifamente e, juntamente com Denir e o menor Samoel Rodolfo Machado,
passaram a descontá-los no comércio da região.
Concluída a instrução criminal e apresentadas as alegações fi nais, o Dr. Juiz
a quo julgou parcialmente procedente a denúncia e, absolvendo Sebastião e
Valdeci do crime de corrupção de menores, por insufi ciência de provas, condenou
os réus às seguintes penas:
a) Valdeci Cruz Ramiro: 03 (três) anos e 06 (seis meses de reclusão, em regime
aberto e pagamento de 20 (vinte) dias-multa no valor mínimo a unidade, por
infração aos arts. 155, § 4º, IV e 171, caput (sete vezes), c.c. os arts. 29 e 71, todos
do Código Penal;
b) Sebastião Marques Cano: 03 (três) anos e 04 (quatro) meses de reclusão, em
regime aberto e 20 (vinte) dias-multa, no valor mínimo a unidade, como incurso
nas sanções dos arts. 155, § 4º, IV e 171, caput (três vezes), c.c. os arts. 29 e 71,
todos do Código Penal;
c) Denir Barbosa de Oliveira: 01 (um) ano de reclusão, em regime aberto e
pagamento de 10 (dez) dias-multa, no valor mínimo legal a unidade, pela prática
de estelionato, concedendo-se-lhe sursis.
Inconformados com a decisão, tempestivamente apelaram os réus através
de defensor constituído, protestando por apresentarem as razões na superior
instância, não o fazendo, contudo, quando lhes foi aberto prazo.
A douta Procuradoria Geral da Justiça, a exemplo do Dr. Promotor de Justiça,
opinou, preliminarmente, pela declaração de extinção da punibilidade de Valdeci,
pela prescrição retroativa e pelo improvimento do apelo dos demais réus.
A decisão colegiada está resumida no acórdão prolatado, verbis:
1) Apelação. Razões. Ausência. Recurso conhecido. Reexame dos pontos decididos.
2) Prescrição retroativa. Concurso material de infrações. CP, art. 11. Prazo para
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (17): 227-264, março 2011 233
cada crime contado isoladamente. Menoridade. Redução do prazo. CP, art. 115,
extinção da punibilidade decretada ex offi cio, CF. CP, arts. 107, IV, 109, V, 110, § 1º,
115 e 119, e CPP, art. 61, caput. Mérito do recurso prejudicado.
3) Confi ssão espontânea. Atenuante obrigatória. CP, art. 65, III, d. Redução ex
offi cio da pena, ao mínimo legal.
4) Apelo provido, em parte, para esse fi m.
Os embargos declaratórios opostos pelo Ministério Público Estadual (fl s.
256-257), não foram acolhidos, conforme decisão de fl s. 262-265).
Com as razões de fl s. 267-282, o Ministério Público interpôs recurso
especial fundado nas letras a e c, do dispositivo constitucional, “para o fi m de
ser reformada, pelo Colendo Superior Tribunal de Justiça, a prestação da tutela
jurisdicional, consubstanciada nos VV. acórdãos increpados, restabelecendo-
se, concessa venia, o juízo de reprovabilidade fi xado em primeiro grau (cfr. fl .
223) para o réu recorrido Sebastião Marques Cano”. Como reforço de seus
argumentos cita lições doutrinárias e transcreve julgados divergentes da decisão
recorrida.
Admitido o recurso pelo r. despacho de fl s. 291-294, subiram os autos a
esta Corte, onde o Ministério Público Federal, dignamente representado pela
Subprocuradora Geral da República, Dra. Márcia Dometila Lima de Carvalho,
endossando o entendimento do MPE, manifesta-se pelo conhecimento e
provimento do recurso, a fi m de que se restabeleça a sentença monocrática (fl s.
298-300).
É o relatório.
VOTO
O Sr. Ministro William Patterson (Relator): - O recurso especial propugna
pela reforma do aresto ao fundamento de que, ao ser reduzida a pena do réu
Sebastião Marques Cano, pela Corte Estadual, importou isso em fi xar sanções
inferiores ao mínimo legal, o que não é possível, por força do disposto no
art. 65, IV, d, 67, 68 e 71, do Código Penal, além de contrariar a orientação
jurisprudencial de outros Tribunais, inclusive o Egrégio Supremo Tribunal
Federal. O equívoco decorreu do critério de consideração de uma atenuante
após a incidência de uma circunstância de aumento ou diminuição, conforme se
extrai dessas explicações colocadas no petitório:
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
234
Pois bem, no caso em tela, o réu-recorrido (Sebastião Marques Cano, vulgo
“Tião”) fora condenado na pena mínima, tanto no furto qualifi cado como no
estelionato (respectivamente, 02 anos e 01 ano de reclusão). A continuidade
delitiva estabelecida em 1/3 (o mínimo seria 1/6). Portanto, a reprimenda restou
fi xada em 03 anos e 04 meses de reclusão (para ambos os delitos). O mínimo,
em tese (alterada a continuidade) seria 03 anos e 02 meses de reclusão. No
entanto, inatacada a fração da continuidade, fi xadas as penas para os crimes
no mínimo, a atenuante admitida estaria neutralizando a majorante e atuando
sobre a circunstância genérica de aumento (majorante). Consequentemente, in
concreto, a pena total e fi nal não poderia ter sido reduzida mediante a incidência
da atenuante estabelecida no art. 65, IV, letra d, do C. Penal.
Demonstrou o Recorrente que, em momento algum da nossa história
legislativa foi permitido estabelecer-se pena inferior ou superior ao mínimo
legal, em razão de sistemas de aplicabilidade. Ressaltou que tanto no regime
bifásico como no trifásico, este último consagrado atualmente no Código, estava
afastada a hipótese.
As lições doutrinárias trazidas à colação são expressivas desse entendimento,
consoante se lê desses lances da brilhante peça recursal:
Hoje, com a alteração oriunda da Lei n. (...) 7.209/1984, o C. Penal (ex vi arts.
59 e seu inciso II, 67 e 68) impõe a observância do sistema trifásico do saudoso
mestre HUNGRIA. De uma forma ou de outra, seja na legislação de 40, seja na
atual (Lei n. 7.209/1984), qualquer que seja o método (de LYRA ou de HUNGRIA,
este, agora, obrigatório), as agravantes e as atenuantes não poderiam, e não
podem, levar a resposta penal in concreto para fora dos limites de mínimo e
máximo estabelecidos para a infração criminal reconhecida.
No sentido supra, DAMÁSIO E. DE JESUS (in “DIREITO PENAL”, vol. 1, p. 506,
1985) ensina que: “Em face de uma circunstância agravante ou atenuante, nem
sempre a aplicação de seu efeito é obrigatória. Isso porque, tratando-se de
circunstâncias legais genéricas, a pena não pode ser fi xada aquém do mínimo ou
além do máximo. Suponha-se que o juiz, atendendo ao art. 59, caput, fi xe a pena
no mínimo (pena-base). Na segunda operação, encontra uma atenuante. A pena
não pode ser inferior ao mínimo legal”. Assim, também, HELENO C. FRAGOSO
(in “LIÇÕES DE DIREITO PENAL”, PG, p. 355, 7ª ed., 1985): “As circunstâncias legais
atenuantes são de aplicação obrigatória. Elas atuam diminuindo a reprovabilidade
da ação e, pois, da culpabilidade. Não pode, porém, a pena ser diminuída abaixo
do mínimo da escala legal”. Por igual, tem-se a ensinança de JUAREZ CIRINO DOS
SANTOS (in “DIREITO PENAL”, 1985, Forense, p. 250), para quem “as circunstâncias
atenuantes ou agravantes genéricas (incluídas as do concurso de pessoas) não
podem exceder os limites mínimo e máximo da pena cominada ao tipo legal”.
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (17): 227-264, março 2011 235
Em síntese, o critério do pranteado mestre HUNGRIA, que já era utilizável na
legislação anterior (cfe. orientação do Pretório Excelso), está delineado na própria
“Exposição de Motivos” da Lei n. 7.209/1984: “Fixa-se, inicialmente, a pena-base,
obedecido o disposto no art. 59; consideram-se, em segunda, as circunstâncias
atenuantes e agravantes; incorporam-se ao cálculo, finalmente, as causas de
diminuição e aumento” (item n. 51). Uma simples leitura, até despretensiosa,
dos arts. 59, inciso II, 67 e 68 do atual C. Penal (outrora, de forma implícita, nos
artigos 42, 49, parágrafos único, 49 e 50 do C. Penal”), evidencia, historicamente,
a preferência pelo sistema trifásico (evitando lapsos e abusos na aplicação da
resposta penal).
Outra não é a compreensão dada ao problema, de forma predominante, na
jurisprudência indicada no recurso, verbis:
Quanto à impossibilidade de se reduzir a sanção penal abaixo do mínimo com
fulcro no reconhecimento de atenuante (genericamente), tem-se a ensinança
contida no v. aresto do HC n. 63.707-SP, douta 1ª Turma (Relator: Exmº. Sr. Ministro
Sydney Sanches), publicado na RTJ 118/928-929 (xerox em anexo).
Diz a ementa do v. aresto:
Pena. Fixação. Menoridade.
Circunstância atenuante, que, todavia, não pode implicar redução da
pena fi xada no mínimo legal. Precedentes.
Habeas corpus indeferido (RTJ 118/928).
No corpo do v. julgado consta:
É da jurisprudência desta Corte o entendimento de que as circunstâncias
atenuantes, como, por exemplo, a da menoridade, embora de aplicação
obrigatória, não podem, entretanto, ao contrário das causas de diminuição,
implicar redução de pena abaixo do mínimo legal, conforme os precedentes
mencionados no voto do eminente Ministro Néri da Silveira quando do
julgamento do HC n. 61.467, que ostenta a seguinte ementa, verbis:
(...)
A circunstância de ser o réu menor de vinte e um anos, à data dos
fatos delituosos, não conduz à imposição da pena abaixo do mínimo
legal. Habeas corpus indeferido (in RTJ 114/1.027) (RTJ 118/929).
Ainda sobre o tema, a divergência se perfaz com o v. aresto no HC n. 61.467-
SP, da douta 1ª Turma (Relator: Exmo. Sr. Ministro Néri da Silveira), publicada
na RTJ 114/1.027-1.031 (xerox em anexo). Neste v. julgado, o Pretório Excelso
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
236
reitera o ensinamento superior no sentido de que as atenuantes não possuem as
características de minorantes, não podendo, daí, fazer com que a pena privativa
de liberdade possa fi car abaixo do mínimo estabelecido para o tipo penal.
Diz a ementa do v. aresto:
Habeas corpus. Roubo qualifi cado e extorsão, sendo o último sob forma
continuada. Concurso material. Código de Processo Penal, art. 383. Não se
trata de hipótese do art. 384, parágrafo único, do mesmo diploma legal.
A circunstância de ser o réu menor de vinte e um anos, à data dos fatos
delituosos, não conduz à imposição da pena abaixo do mínimo legal.
Habeas corpus indeferido (RTJ 114/1.027).
Consta sabre o punctun saliens, o seguinte:
Quanto à co-ré, Maria Vanderlei dos Santos, bem demonstraram
as informações que a pena imposta, de referência a ambos os delitos,
circunscreveu-se ao mínimo legal. A circunstância de ser menor de vinte
e um anos, à data dos fatos delituosos, não conduz à imposição da pena,
abaixo do limite mínimo (RTJ 114/1.030).
Como contribuição, para reforçar o elenco desses julgados, cito recentíssimo
acórdão do Pretório Excelso onde a tese foi fi rmemente corroborada. É o que se
extrai da ementa pertinente ao HC n. 68.339-8-DF, Relator o Senhor Ministro
Moreira Alves (DJ de 15.03.1991):
Habeas corpus. Pena-base estabelecida no mínimo legal. Menoridade do réu.
Ainda que o magistrado tenha ignorado a menoridade do réu na data do fato,
circunstância expressa de atenuação legal - artigo 65, I, CP -, todavia pôs a sanção
no mínimo legal, de sorte que, mesmo reconhecida fosse tal atenuação, por não
se confundir com causa especial de diminuição de pena, a pena-base não poderia
estar aquém do mínimo legal.
Habeas corpus indeferido.
É certo, no dizer de Nelson Hungria, que as causas especiais de aumento
ou diminuição permitem resultado abaixo ou acima dos limites estabelecidos
na lei, e, por isso mesmo, essas causas devem ser consideradas após a aplicação
das agravantes ou atenuantes, que não têm aquele efeito. Tal critério não foi
observado, no caso sob exame, ensejando, destarte, a reforma cogitada.
Ante o exposto, conheço do recurso especial e dou-lhe provimento para
cassar o v. acórdão recorrido e, em consequência, restabelecer a sentença de
primeiro grau, no tocante à pena aplicada ao réu Sebastião Marques Cano.
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (17): 227-264, março 2011 237
VOTO-VOGAL
O Sr. Ministro Vicente Cernicchiaro: - Senhor Presidente, acompanho as
doutas considerações de V. Exa. A pena é cominada em lei, não podendo - até
por garantia, tanto da acusação, como da defesa - ser alterada pelo juiz. Este
poderá, segundo o critério de oportunidade e conveniência, em função do caso
concreto, aumentá-la ou reduzi-la, dentro dos limites da cominação, que é a
hipótese de agravante ou atenuante. Causa especial de diminuição de pena é
redução feita em tese pela própria lei, o que mostra que a hipótese é diferente.
Quanto à agravante e atenuante, realmente, os limites são rígidos. Não
pode haver modifi cação, nem para favorecer nem para prejudicar.
RECURSO ESPECIAL N. 15.691-PR (91.0021212-1)
Relator originário: Ministro Pedro Acioli
Relator designado: Ministro Vicente Cernicchiaro
Recorrente: Ministério Público do Estado do Paraná
Recorridos: Roberto Carlos da Silva e outros
Advogados: Júlio César Ferreira da Silva, Miguel Edio Giampietro, Osmair
Ferreira, Mauricio Souza Bochnia e Vergílio Alberto Trevisan
EMENTA
REsp. Penal. Pena. Atenuante. O princípio constitucional da
individualização da pena visa a resguardar o direito de liberdade. A
cominação (in abstrato) não se confunde com a aplicação (in concreto).
A atenuante não se confunde com a causa especial de diminuição da
pena. A primeira enseja o Juiz, nos limites da cominação, reduzir a
pena-base. A redução, pois, não pode transpor o mínimo na lei. A
segunda, sim, conduz a grau porque o legislador afetou o quantum da
cominação.
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
238
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Sexta
Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas
taquigráfi cas constantes dos autos, por maioria, vencido o Sr. Ministro Relator,
conhecer do recurso e lhe dar provimento.
Brasília (DF), 1º de dezembro de 1992 (data do julgamento).
Ministro José Cândido, Presidente
Ministro Luiz Vicente Cernicchiaro, Relator designado
DJ 03.05.1993
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Pedro Acioli: - Trata-se de Recurso Especial interposto
pelo Ministério Público do Estado do Paraná em razão de decisão proferida
pela eg. Terceira Câmara do Tribunal de Alçada do Estado do Paraná, nos
seguintes termos - fl . 513:
Roubo. Delito caracterizado.
Assalto contra uma fábrica de jóias, praticado por vários réus. Absolvição de
uns e condenação de outros. Decisão absolutória mantida. Mantida, também, a
condenação.
Apelações improvidas.
Consta dos autos que o recorrido Roberto Carlos da Silva foi condenado a
pena de quatro (04) anos de reclusão acrescido da multa-dia, dada a infringência
do disposto no artigo 157, com a qualifi cadora do parágrafo 2º, incisos I e II do
CPB.
A decisão do Tribunal a quo, mantendo a sentença singular, motivou o
Ministério Público Estadual a promover presente recurso, sob a alegação de
que existe a negativa de vigência aos artigos 65, I; 68 e 157, § 2º, II, do CPB.
Acresça-se a tal argumentação a assertiva de divergência jurisprudencial sobre o
tema, quando resumiu - fl . 539:
O presente recurso especial tem como objetivo a questão relativa ao alcance
da incidência das atenuantes, ou seja: a atenuante não pode levar a fi xação da
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (17): 227-264, março 2011 239
pena abaixo do mínimo estabelecido no preceito secundário da norma penal, e
sua consideração antecede, sempre, as causas de diminuição e de aumento.
Nesta Instância o Ministério Público Federal manifestou-se pelo
provimento do recurso, sob um ponto assim - fl . 576:
O critério do cálculo da pena é estabelecido no artigo 68 do Código Penal
devendo “ser feito em três fases, no também chamado método de Nelson Hungria”
como observa Celso Delmanto na obra citada, p. 121. Como essa questão não
emerge cristalina no acórdão recorrido neste vulnerado o artigo 68 do Código
Penal ao qual o decisório recorrido negou vigência. Isso não ocorreria se a forma
e a resultante da operação fossem aquelas explicitadas pelo Recorrente nas fl s.
523-524.
No tocante ao artigo 157, parágrafo 2º do Código Penal, constata-se negativa
de vigência da disposição.
O Recorrido praticou crime de roubo. Esse ato ocorreu mediante o uso de arma
e em concurso com outras pessoas, os outros réus.
É o relatório.
VOTO
O Sr. Ministro Pedro Acioli (Relator): - O Ministério Público do Estado
do Paraná recorreu, tão somente, quanto à pena aplicada a Roberto Carlos da
Silva, cuja sentença de fl s. 409-410 disse:
(...)
Roberto Carlos da Silva é primário, razão pela qual fi xo a pena base em quatro
anos de reclusão, que aumento de um terço, dadas as qualificadoras acima
verifi cadas, o que dá o total de cinco anos e quatro meses de reclusão; sendo
menor de vinte e um anos de idade, diminuo um ano e quatro meses, totalizando
quatro anos de reclusão, que torno defi nitiva.
(...)
III - condenar Roberto Carlos da Silva como incurso nas sanções do artigo 157,
§ 2º, I e II, c.c. artigo 65, I, todos do Código Penal, ao cumprimento de quatro anos
de reclusão e ao pagamento de 20 dias-multa, fi xando-se o dia multa em um
salário mínimo regional.
(...)
Quanto a Roberto Carlos da Silva, concedo-lhe que cumpra sua pena sob as
regras do regime aberto, previstas no artigo 36 e seus parágrafos, do Código
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
240
Penal. Como, porém, o mesmo reside em São Paulo, onde diz ter emprego,
aguardarei sua manifestação oferecendo garantias para o fi el cumprimento das
condições previstas em lei e de outras que, então, irei impor. Este Juízo fi cará no
aguardo dessa manifestação, para, então, determinar a expedição de alvará de
soltura.
(...)
O v. acórdão recorrido confi rmou essa condenação nos seguintes termos -
fl s. 517-518:
Irretocável se apresenta a sentença impugnada, merecendo esta, portanto,
integral confi rmação, por seus fundamentos, que ora são adotados.
Tal como entendeu o ilustre julgador singular, está confi gurada a participação
do réu recorrente, Roberto Carlos da Silva, na prática criminosa descrita na
denúncia, restando demonstrada essa sua participação até por meio do relato
que fez por ocasião de seu interrogatório prestado em juízo (fl s. 280-281 verso).
Foi esse réu que, juntamente com outro, teve a função de fi car do lado de fora
do estabelecimento assaltado, vigiando e observando o movimento externo, a
fi m de dar cobertura aos demais réus, que se encontravam dentro do mesmo
estabelecimento. Também a pena que lhe foi imposta não merece repara, pois,
além de ser levado em conta o fato de ser ele primário e menor de vinte e um
anos de idade, não houve qualquer erro no doseamento da mesma reprimenda,
que não podia ser menor, nem maior, do que aquela fi xada.
Quanto à pretensão do Ministério Público, no sentido de ver aumentada a
pena do réu Roberto “Roberto Carlos da Silva e condenados os demais réus,
vale frisar que a mesma está abroquelada somente em elementos frágeis, razão
pela qual desmerece acolhimento. Quanta à pena do réu Roberto, conforme
já observado na ocasião em que foi negado provimento ao seu recurso, vale
repetir que a mesma foi fi xada corretamente, não devendo ser diminuída, nem
aumentada.
O recurso especial centra-se no argumento de que a pena aplicada fi cou
abaixo do mínimo legal cominado ao roubo qualifi cado.
Diz o Ministério Público Estadual que o especial “tem como objeto a
questão relativa ao alcance da incidência das atenuantes, ou seja: a atenuante não
pode levar a fi xação da pena abaixo do mínimo estabelecido no preceito secundário
da norma penal, e sua consideração antecede, sempre, as causas de diminuição e de
aumento”, e que houve negativa de vigência ao art. 65, inciso I, ao art. 68 e ao art.
157, § 2º, inciso I e II, tudo do Código Penal.
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (17): 227-264, março 2011 241
Devo salientar que o recorrente não particularizou e nem sequer individuou
esses dispositivos alegados de violados, o que seria razão e motivo a não
comportar conhecimento o presente recurso - REsp n. 286-MS, Rel. Ministro
Costa Leite, in DJ 11.12.1989 - entretanto, a questão jurídica me pareceu clara,
a permitir o exame dos dispositivos.
Como eu li acima, a fi xação da pena do réu Roberto Carlos da Silva foi da
seguinte forma: “(...) é primário, razão pela qual fi xo a pena base em quatro anos
de reclusão, que aumento de um terço, dadas as qualifi cadoras acima verifi cadas,
o que dá o total de cinco anos e quatro meses de reclusão; sendo menor de vinte
e um anos de idade, diminuo um ano e quatro meses, totalizando quatro anos de
reclusão, que torno defi nitiva”.
O recurso sustenta que a pena mínima cominada ao crime previsto no art.
157, § 2º, incisos I e II, do CP, é de 5 anos e 4 meses, ao argumento de que a
“atenuante não pode levar a fi xação da pena abaixo do mínimo estabelecido no
preceito secundário da norma penal”.
Fui ao texto da lei - art. 157 - cuja conduta prevista no caput, a pena
cominada é de reclusão no mínimo de 4 anos e no máximo de 10 anos e multa.
Já, no caso, a conduta criminosa do réu Roberto Carlos da Silva é a
qualifi cada, é a do preceito previsto no caput do artigo, cumulada com a do
preceito estabelecido no inciso I e II, do § 2º, cuja pena cominada é a do mínimo
de 4 anos acrescida de 1/3 (um terço) ou seja mínima de 5 anos e 4 meses.
Portanto, resumindo a pena a ser aplicada à conduta típica prevista no art.
157, § 2º, incisos I e II, do Código Penal, é de 5 anos e 4 meses, a máxima 13
anos e 4 meses.
Daí, obedecendo o mesmo parâmetro do Juízo a quo, fi xando a pena base
ao mínimo legal do tipo prevista no caput do art. 157, somado à majorante de
1/3 estabelecido no § 2º, incisos I e II, do CP, se chegará à pena de 5 anos e
4 meses e levando em consideração a circunstância atenuante - de aplicação
obrigatória - no caso, a menoridade à data do fato, que deve preponderar sobre
as demais circunstâncias - HC n. 66.605, in DJ 21.04.1989; embora não possa
reduzir a pena abaixo do mínimo legal previsto - RTJ 118/928, RTJ 104/736
- se chegará a cominação da pena defi nitiva de 4 anos de reclusão que é o
mínimo legal do tipo, aplicando a causa atenuante de pena de 1/3 (um terço) -
menoridade à data do fato.
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
242
Ora, cada tipo penal tem a pena mínima fi xada expressamente no caput e
para os crimes qualifi cados a lei traz o mínimo legal fi xado expressamente, como
é o caso do art. 121, § 2º e § 3º; art. 129, § 1º, § 2º, § 3º e 6º, art. 175, § 1º; art.
180, § 1º e § 4º, tudo do Código Penal, além de outros.
Quando não previsto expressamente na lei um mínimo legal para as formas
qualifi cadoras, é ela agravante da pena prevista no caput e não um mínimo dela.
No caso dos autos o tipo penal é roubo que tem a pena mínima de 4 anos,
e na forma qualifi cada, § 2º, incisos I e II, é agravante do tipo, que no caso,
o legislador não fi xou expressamente para a fi gura do § 2º, incisos I e II, um
mínimo legal fora do mínimo do tipo.
Por isso, não conheço do recurso, pela letra a.
No que toca ao fundamento da alínea c, dissídio jurisprudencial, o r.
despacho de admissibilidade do especial disse o seguinte - fl s. 567-568:
O recorrente traz como paradigmas de divergência dois julgados do
Supremo Tribunal Federal: o primeiro, da lavra do Exmo. Sr. Ministro Cordeiro
Guerra, publicado na RT n. 541/472; o segundo, da lavra do Exmo. Sr. Ministro
Sidney Sanches, publicado na RTJ 118/928-929. Em ambas as hipóteses, verifi ca-
se similitude fática entre os casos confrontados e divergência sobre qual
seja a melhor solução para a questão de direito. Está demonstrado o confl ito
jurisprudencial.
Dá-se, pois, seguimento ao presente recurso especial.
Quanto ao primeiro paradigma fl . 560 - do Min. Cordeiro Guerra, a
ementa do RE n. 90.974-5-PR é a seguinte:
Pena. Fixação. Menoridade.
Circunstância atenuante, que todavia, não pode implicar redução da pena
fi xada no mínimo legal.
Por si, da própria ementa do paradigma já se vê da sua coerência com o
voto que profi ro quanto à letra a do permissivo constitucional.
Já no respeitante ao segundo acórdão paradigma digo que está consentâneo
com a decisão recorrida e a ele faço remissão no voto acima.
Portanto, também, não conheço do recurso pela letra c.
É como voto.
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (17): 227-264, março 2011 243
VOTO-VOGAL
O Sr. Ministro Vicente Cernicchiaro: Sr. Presidente, a Constituição
consagra o princípio da individualização da pena, que se desenvolve em três
etapas: cominação, feita pelo legislador; aplicação, promovida pelo Juiz, dentre
os limites da cominação; e, por fi m, a execução, isto é, o cumprimento, regulada
pela Lei n. 7.210/1984.
O princípio da individualização é garantia para o réu e limite para o
poder de punir. A tripartição visa a disciplinar a pena, a mais severa das sanções
jurídicas.
Em face dessas considerações, data venia, não é possível, em se aplicando
uma atenuante, ultrapassar-se, para menos, os limites da cominação. Três
são as circunstâncias que podem repercutir na pena: a qualifi cadora, a causa
especial de aumento ou diminuição de pena; a agravante e a atenuante. Em se
tratando de atenuante, o quantum da oscilação é relativa à pena base, trabalho
exclusivamente do magistrado, jungido, porém aos limites da cominação legal.
Não pode ultrapassar para mais ou benefi ciar para menos.
A pena cominada ao roubo, com a causa especial de aumento de pena
do § 2º, será de quatro anos mais 1/3, totalizando, portanto, cinco anos e
quatro meses. A atenuante do art. 65, I, CP, menoridade entre 18 e 21 anos
não tem quantum determinado. O Juiz, então, repita-se, dentre os limites da
cominação, pode, em atenção ao caso concreto, modifi car à vontade, fundamento
o raciocínio, escolhendo 1/3, metade, um dia, três dias.
Não lhe é, todavia, facultado, sob pena de afetar garantia constitucional,
ultrapassar a barreira da cominação. Se fi xar pena base no mínimo legal, a
título de atenuante, não pode reduzir nada mais. Senão, estaria transformando
a atenuante em causa especial de diminuição de pena. Os dois institutos são
inconfundíveis.
Em razão dessas considerações, rogando vênia ao Eminente Relator e,
entendendo que o MM. Juiz, com o aval do Egrégio Tribunal, ultrapassaram,
para menor, os limites da cominação legal, conheço e dou provimento ao
recurso, a fi m de fi xar no mínimo legal.
Acrescento. Se o cálculo da aplicação da pena houvesse obedecido o
disposto no art. 68, CP, talvez, o inconveniente, a erronia, não ocorresse.
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
244
O roteiro que deveria ser obedecido, por defi nição legal, é este: 1ª etapa:
pena-base (art. 59); 2ª etapa: atenuantes e agravantes; 3ª etapa: causa de
diminuição e de aumento.
Ocorre, no entanto, a inversão das etapas, no caso concreto, não é relevante
para a conclusão.
Dou provimento, insisto, para fi xar a pena, no mínimo legal.
VOTO-VISTA
O Sr. Ministro Adhemar Maciel: - Trata-se de pedido de vista. O relator,
eminente Min. Pedro Acioli, não conheceu do recurso quer pela alínea a, quer
pela alínea c do art. 105, III, da Constituição.
Outro, porém, foi o entendimento do não menos eminente Min. Vicente
Cernicchiaro, que, diferentemente, conheceu e deu provimento.
Para melhor situar e discutir a questão, tomo a liberdade de fazer uma
síntese.
2. O juiz monocrático condenou Roberto Carlos da Silva, dentre outros có-
réus, por infração ao art. 157, § 2º, incisos I e II, do Código Penal, a quatro anos
de reclusão. Também o condenou em pena pecuniária.
O egrégio TAPR (3ª Câmara Criminal) negou provimento aos apelos do
condenado e do Ministério Público.
Em embargos declaratórios, o Ministério Público insistiu na violação do
art. 68 do CP. O juiz - frisou - não se ateve ao critério legal de quantifi cação
da pena privativa de liberdade. Dessarte, após o encontro da pena-base (04
anos de reclusão), foram, em primeiro lugar, consideradas as causas de aumento
para, depois, então, considerar-se a atenuante de menoridade. Assim, a pena
de Roberto Carlos da Silva fi cou muito aquém do mínimo legal para o delito de
roubo qualifi cado, que é de cinco anos e quatro meses.
3. O Ministério Público interpôs recurso especial pelas alíneas a e c.
Procurou demonstrar que, mesmo antes do advento da Lei n. 7.209/1984, a
utilização tanto do denominado “método Roberto Lyra” quanto do “método
Nélson Hungria” não podia levar à fi xação da pena abaixo ou acima dos limites
in abstracto fi xados pela lei. No caso dos autos, o juiz singular - e com ele o
TAPR - negou vigência aos arts. 65, I, 68 e 157, § 2º, I e II, do Código Penal.
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (17): 227-264, março 2011 245
4. Senhor Presidente, após examinar a questão, peço vênia ao eminente
ministro relator para acompanhar a divergência.
No tocante à alínea a, o acórdão fustigado negou, na verdade, vigência aos
artigos apontados pelo douto recorrente. Diz o caput do art. 68 do CP que a
pena-base será fi xada atendendo-se
ao critério do art. 59 deste Código; em seguida serão consideradas as
circunstâncias atenuantes e agravantes; por último, as causas de diminuição e de
aumento.
Como bem notou o Ministro Vicente Cernicchiaro, houve, até, infração
a dispositivo constitucional: o inciso XLVI do art. 5º, que preconiza a
“individualização da pena”.
O Código Penal, com a alteração feita pela Lei n. 7.209/1984, obriga o juiz
a seguir, na hora da fi xação da pena, três etapas ou fases. Foi o que se ouviu da
leitura do caput do art. 68.
Para fi xar a pena-base, o juiz tem de levar em conta as denominadas
“circunstâncias judiciais” (art. 59). Depois, então, é que, já na segunda fase,
passa a considerar as “circunstâncias legais”. Fixa, ainda que provisoriamente,
um quantum. Por último, na terceira fase, é que leva em conta as “causas de
diminuição e aumento” da pena. Obtém, então, a pena defi nitiva.
No caso concreto, como observou o recorrente, o juiz não se ateve ao
preceito da lei infraconstitucional.
Diz a respeitável sentença, que foi confi rmada pelo acórdão recorrido:
Roberto Carlos da Silva é primário, razão pela qual fi xo a pena base em quatro
anos de reclusão, que aumento de um terço, dadas as qualificadoras acima
verifi cadas, o que dá o total de cinco anos e quatro meses de reclusão; sendo
menor de vinte e um anos de idade, deminuo um ano e quatro meses, totalizando
quatro anos de reclusão, que torno defi nitiva.
Como se percebe, o juiz inverteu a seqüência das fases, preconizada pelo
art. 68. Depois de achar a pena-base, de quatro anos, é que teria de levar em
conta a circunstância legal, atenuante, da idade do réu (art. 65, I). O juiz não
fez isso. Pulou para a terceira fase, aumentando a pena-base de um terço para, a
seguir, diminuí-la de um terço.
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
246
Na verdade, o juiz deveria, após examinar as circunstâncias judiciais, todas
favoráveis ao réu, ter fi xado a pena-base em quatro anos, como fez. A seguir, na
segunda fase, levar em conta as circunstâncias legais. Não poderia, nesse caso,
reduzir a pena-base, que já se achava no mínimo (quatro anos). Feito isso, isto é,
obtida os quatro anos na segunda fase, é que poderia passar a considerar a causa
especial de aumento da pena (roubo qualifi cado, § 2º do art. 157).
Por tais motivos, conheço do recurso para dar-lhe provimento.
É o voto.
VOTO-VOGAL
O Sr. Ministro José Cândido: - Data venia, do Eminente Ministro-Relator
Pedro Acioli, acompanho o Sr. Ministro Vicente Cernicchiaro.
RECURSO ESPECIAL N. 32.344-PR (93.0004667·5)
Relator: Ministro Vicente Cernicchiaro
Recorrente: Reginaldo Nascimento da Silva (réu preso)
Recorrido: Ministério Público do Estado do Paraná
Advogados: Ronaldo Antonio Botelho
EMENTA
REsp. Penal. Pena. Atenuante. O princípio constitucional da
individualização da pena visa a resguardar o direito de liberdade. A
cominação (in abstrato) não se confunde com a aplicação aplicação (in
concreto). A atenuante distingue-se da causa especial de diminuição
da pena. A primeira enseja o Juiz, nos limites da cominação, reduzir
a pena-base. A redução, pois, não pode transpor o mínimo fi xado na
lei. A segunda, sim, conduz a grau menor porque o legislador afetou o
quantum da cominação.
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (17): 227-264, março 2011 247
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Sexta
Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas
taquigráfi cas constantes dos autos, por unanimidade, conhecer e dar provimento
ao recurso nos termos do voto do Sr. Ministro-Relator. Votaram de acordo os
Srs. Ministros Adhemar Maciel, Anselmo Santiago e Pedro Acioli.
Brasília (DF), 06 de abril de 1993 (data do julgamento).
Ministro Luiz Vicente Cernicchiaro, Presidente e Relator
DJ 17.05.1993
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Vicente Cernicchiaro: Recurso especial interposto por
Reginaldo Nascimento da Silva, réu preso, com fulcro nas alíneas a e c, do
permissivo constitucional, no intuito de impugnar v. acórdão proferido pela
Terceira Câmara Criminal do Tribunal de Alçada do Estado do Paraná, que,
manteve sua condenação imposta em 1º grau de jurisdição, deixando de aplicar-
lhe a causa de diminuição de pena prevista no art. 19, parágrafo único, da Lei n.
6.368, de 21.10.1976.
Sustenta negativa de vigência ao dispositivo mencionado, que ostenta a
seguinte redação:
A pena pode ser reduzida de um terço a dois terços, se, por qualquer das
circunstâncias previstas neste artigo, o agente não possuía, ao tempo da ação
ou da omissão, a plena capacidade de entender o caráter ilícito do fato ou de
determinar-se de acordo com esse entendimento.
Dois foram os fundamentos do aresto impugnado para o afastamento
da pretendida diminuição de pena. Primeiro: ainda que provado o uso de
drogas pelo Recorrente, a concessão deste benefício não é obrigatória. Segundo:
havendo condenação por crime de tráfi co, não há que se falar nesta atenuante.
Registro, por relevante, a seguinte passagem extraída do v. aresto
impugnado:
Acertou o Magistrado de primeiro grau. Em primeiro lugar porque a diminuição
de pena é facultativa - depois, porque o benefício não tem aplicação quando se
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
248
trata de trafi cante viciado, cuja dependência é somente quanto ao uso de droga
(TJSC - AC – Relª. Desª. Thereza Tang - JC 36/428, do mesmo teor, JC 29/501). Como
já se decidiu,
Comprovada a infração mais grave, consistente no comércio ilícito, não
cabe o reconhecimento de semi-imputabilidade por eventual coexistência
de vício. TJSP - AC – Rel. Des. Prestes Barra - RJTSP 84/367). (fl s. 94).
O Recorrente sustentou, outrossim, divergência jurisprudencial, trazendo à
colação aresto do Pretório Excelso.
Despacho deferitório às fl s. 116-119.
É o relatório.
VOTO
O Sr. Ministro Vicente Cernicchiaro (Relator): A ementa do v. acórdão
recorrido traduz, com fi delidade, o seu conteúdo:
Tráfi co de entorpecentes. Réu condenado. Apelo objetivando absolvição por
falta de provas, outra pessoa ser a autora, ou desclassifi cação para o artigo 16
da Lei n. 6.368/1976, e benefício do artigo 19, parágrafo único da mesma lei.
Prova idônea e satisfatória da materialidade e autoria do crime imputado ao
Réu - entorpecente que não era destinado apenas para uso próprio. A minorante
prevista no parágrafo único do artigo 19 da Lei n. 6.368/1976, é facultativa,
e o benefício não tem aplicação quando se trata de traficante-viciado cuja
dependência é somente quanto ao uso da droga. Recurso improvido. (fl s. 88).
O art. 19, parágrafo único da Lei n. 6.368, de 21.10.1976 tem a seguinte
redação:
A pena pode ser reduzida de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços) se, por qualquer
das circunstâncias previstas neste artigo, o agente não possuía, ao tempo da ação
ou da omissão, a plena capacidade de entender o caráter ilícito do fato ou de
determinar-se de acordo com esse entendimento.
Registra, sem dúvida, causa especial de redução de pena. Não se confunde
com a atenuante. Aquela afeta a cominação. A segunda repercute na aplicação.
Em outras palavras, a primeira reduz a pena in abstrato. A última não tem esse
efeito.
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (17): 227-264, março 2011 249
A matéria foi apreciada anteriormente por esta Turma. Aliás, para instruir
o dissídio pretoriano, o Recorrente realça o REsp n. 8.650-RS, de que fui
Relator, publicado na RSTJ, n. 22/426-431.
Mais recentemente, o Colegiado reeditou essa orientação, como se observa
no REsp n. 15.691, de que fui Relator designado.
REsp. Penal. Pena. Atenuante. O princípio constitucional da individualização
da pena visa a resguardar o direito de liberdade. A cominação (in abstrato) não
se confunde com a aplicação (in concreto). A atenuante não se confunde com a
causa especial de diminuição da pena. A primeira enseja o Juiz, nos limites da
comunicação, reduzir a pena-base.
A redução, pois, não pode transpor o mínimo fi xado na lei. A segunda, sim,
conduz a grau menor porque o legislador afetou o quantum da cominação.
Não há, pois, com confundir as duas espécies de minorantes: causa especial
de diminuição da pena e circunstância atenuante.
O outro item do recurso também merece prosperar.
O art. 19, da Lei n. 6.368/1976 registra hipótese de inimputabilidade,
acrescentando outra causa, comparativamente com o Código Penal. Menciona,
agora, “substância entorpecente ou que determina dependência física ou
psíquica”, “qualquer que tenha sido a infração penal praticada”.
Interpretação lógica impõe concluir serem as infrações descritas na referida
lei. Logo, compreende tanto a hipótese do art. 12, como do art. 16.
A distinção se explica pela orientação da Política Criminal, buscando
conferir tratamento diferenciado para o inimputável (caput) e o semi-imputável
(parágrafo único).
O v. acórdão prestigiou a r. sentença que reconheceu a semi-imputabilidade.
Em decorrência, por ser compulsória a diminuição da pena, quando se
trata de causa especial de diminuição o v. aresto merece reparo. Aliás, com
esteio também na jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, ilustrada,
exemplifi cativamente, pelo RHC n. 86.773-2, Relator Min. Octávio Gallotti:
Mesmo em se tratando do crime previsto no art. 12 da Lei n. 8.368/1976, faz-se
necessária a indagação sobre a eventual dependência física ou psíquica, prevista
no art. 22, § 5º, do mesmo diploma legal.
Recurso provido, em parte, para que o Paciente seja submetido a novo
interrogatório, antes do julgamento da apelação, mantida a prisão decorrente do
fl agrante. (fl s. 106).
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
250
Em sendo assim, conheço e dou provimento ao recurso, por ambos os
fundamentos. Reduzo a pena aplicada de 1/3 (um terço).
Realço, Sr. Presidente, o zelo e a erudição do Recurso, elaborado pelo
Escritório Modelo de Aplicação, da Pontifícia Universidade Católica do Paraná
que atuou em favor de Réu carente para contratar advogado.
RECURSO ESPECIAL N. 46.182-DF
Relator: Ministro Jesus Costa Lima
Recorrente: Ministério Público do Distrito Federal e Territórios
Recorrido: Reginaldo Monteiro da Silva
Advogados: Clóvis José dos Santos e outro
Recorrido: Marcelo Nery da Silva (réu preso)
Advogado: Enok de Andrade Barros
EMENTA
Penal. Pena-base. Mínimo legal. Menoridade e causa de aumento.
Fixação da pena. Critérios.
1. O sistema adotado pelo Código Penal impede que,
estabelecida a pena-base consideradas as circunstâncias judiciais,
existindo circunstância atenuante, o Juiz diminua a pena abaixo
do estabelecido em lei. Portanto, fixada a pena-base no mínimo
legal, mesmo levando em conta a menoridade do réu, a pena não
pode ser reduzida para quantidade inferior ao mínimo abstratamente
considerado. É que as circunstâncias legais infl uem sobre o resultado
a que se chega na primeira fase, cujos limites, mínimo e máximo, não
podem ser ultrapassados. Apenas na terceira fase, quando incidem as
causas de diminuição e de aumento, é que aqueles limites podem ser
ultrapassados.
2. Precedentes.
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (17): 227-264, março 2011 251
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da
Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e
das notas taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, conhecer do recurso e lhe
dar provimento. Votaram com o Relator os Ministros José Dantas e Edson
Vidigal. Ausentes, justifi cadamente, o Ministro Cid Flaquer Scartezzini e,
ocasionalmente, o Ministro Assis Toledo.
Brasília (DF), 04 de maio de 1994 (data do julgamento).
Ministro Jesus Costa Lima, Presidente e Relator
DJ 16.05.1994
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Jesus Costa Lima: O Ministério Público do Distrito Federal
e Territórios interpõe recurso especial fi ncado nas alíneas a e c do permissivo
constitucional, irresignado com o v. aresto de fls. 151-155, proferido pela
Segunda Turma Criminal do Tribunal de Justiça do Distrito Federal, que
decidiu ser “admissível a incidência da circunstância atenuante da menoridade
relativa, sobre a pena-base fi xada no mínimo legal, se o quantum em defi nitivo
concretizado resta superior ao mínimo abstratamente cominado para sancionar
o delito, desde que suficiente para que se reeduque o agente e preserve o
organismo social” (ut. fl . 151).
A r. sentença do Juízo Singular, mantida pelo acórdão recorrido, condenou
os réus como infratores do art. 157, § 2°, II do Código Penal. Fixou a pena-
base no mínimo legal (04 anos de reclusão), diminuiu seis meses em virtude da
menoridade dos infratores e acrescentou um terço devido a causa de aumento
prevista no inciso II do § 2° do art. 157 do CP, tomando-a defi nitiva em quatro
anos e oito meses de reclusão (fl s. 91-95).
Alega o recorrente que há divergência com julgados do Pretório Excelso
e que “viola o art. 68 do Código Penal o acórdão que, em conformidade com
a sentença de primeiro grau, mantém a reprimenda fi xada aquém do mínimo
abstratamente previsto ao tipo penal, em decorrência de circunstância legal
atenuante. Grave equívoco, pois somente as causas de aumento e de diminuição
permitem a fi xação da pena aquém ou além dos limites previstos no tipo” (ut fl .
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
252
158). Pleiteia a reforma do julgado para que sobre a pena-base fi xada no mínimo
legal, quatro anos de reclusão incida apenas o aumento previsto no inciso II, § 2°
do art. 157 do Código Penal, totalizando cinco anos e quatro meses de reclusão
(fl s. 157-173).
O Dr. Edinaldo de Holanda Borges, ilustrado Subprocurador-Geral
da República, dá parecer pelo provimento do recurso, fazendo referência à
jurisprudência dos Tribunais Superiores (fl s. 188-189).
Relatei.
VOTO
O Sr. Ministro Jesus Costa Lima (Relator): Conheço do recurso, seja
pela letra a, seja pela c, do permissivo constitucional, pois configurado o
descumprimento do disposto no artigo 68 do Código Penal e a divergência,
conforme se lê nas fl s. 174-179.
Em hipótese semelhante a destes autos, o Supremo Tribunal Federal
(RECr n. 114.928-1-PR, LEX vol. 132, p. 312-319) decidiu:
(...) dou provimento para fixar em cinco (05) anos e quatro (04) meses de
reclusão, a pena privativa de liberdade pelo crime de roubo qualifi cado pelo uso
de arma (art. 157, § 2º, I, do C. Penal) (...)
Na dosimetria da pena, segundo a reforma penal de 1984, o Juiz procede a
diversas operações: a) fi xa a pena-base apreciando as circunstâncias judiciais (art.
59 do Código Penal); b) se houver circunstâncias legais - atenuantes e agravantes
-, as sopesa e diminui ou agrava a pena sem extrapolar os limites legais, mínimo
e máximo; c) havendo qualifi cadora, aumenta a pena na quantidade prevista na
parte especial do Código Penal. Apenas nessa última etapa é que a pena pode
ser fi xada aquém ou além dos limites, abstratamente cominados.
Adverte JÚLIO FABBRINI MIRABETE (Manual de Direito Penal,
vol. 1, p. 303, da ed. de 1986, da Editora ATLAS):
Uma característica fundamental das circunstâncias judiciais, atenuantes e
agravantes, é a de que não pode servir para a transposição dos limites mínimo
e máximo da pena abstratamente considerada. Assim, a presença de atenuantes
não pode levar a aplicação abaixo do mínimo, nem a de agravantes a acima do
máximo.
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (17): 227-264, março 2011 253
Esta Quinta Turma já teve ensejo de manifestar-se sobre o tema em
acórdão da lavra do eminente Ministro Assis Toledo:
Penal. Pena. Fixação.
No direito brasileiro, não se admite a redução da pena abaixo do mínimo legal,
por incidência de mera circunstância atenuante.
Recurso especial conhecido e provido. (REsp n. 15.695-PR, DJU de 17.02.1992)
Tanto já o fez a Sexta Turma:
Penal. Pena. Fixação. Critérios.
Se a redução da pena importou em fi xá-la abaixo do mínimo legal, por força de
equivocado critério na ordem de consideração de causa especial de aumento e de
atenuante, merece reforma a decisão.
Recurso especial conhecido e provido. (REsp n. 7.287-PR, Rel. Min. William
Patterson, DJU de 06.05.1991, p. 5.674)
REsp. Penal. Pena. Atenuante. O princípio constitucional da individualização da
pena visa a resguardar o direito de liberdade. A
REsp. Penal. Pena. Atenuante. O princípio constitucional da individualização
da pena visa a resguardar o direito de liberdade. A cominação (in abstrato)
não se confunde com a aplicação (in concreto). A atenuante distingue-se da
causa especial de diminuição da pena. A primeira enseja o Juiz, nos limites da
cominação, reduzir a pena-base. A redução, pois, não pode transpor o mínimo
fi xado na lei. A segunda, sim, conduz a grau menor porque o legislador afetou o
quantum da cominação. (REsp n. 32.344-PR, Rel. Min. Vicente Cernicchiaro, DJU de
17.05.1993)
No caso, fi xada a pena-base em 04 (quatro) anos, a circunstância atenuante
alusiva à menoridade do réu quando praticou o fato, não tem nenhuma infl uência
para reduzir a reprimenda, pois se trata do mínimo estabelecido no caput do
art. 157 do Código Penal. Donde, inexistindo circunstância agravante, mas
considerada a causa de aumento do mesmo artigo, § 2°, II, no mínimo de um
terço, tem-se: 48 mais 16 meses, igual a 54 meses, ou seja, 05 (cinco) anos e 04
(quatro) meses de reclusão, com cumprimento, inicialmente, no regime fechado.
Em suma, conhecendo do recurso, dou-lhe provimento para fi xar a pena
defi nitiva em 05 (cinco) anos e 4 (quatro) meses de reclusão, a ser cumprida, de
início, no regime fechado.
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
254
RECURSO ESPECIAL N. 49.500-SP
Relator: Ministro Assis Toledo
Recorrente: Ministério Público do Estado de São Paulo
Recorrido: Luiz Carlos Bonfatti (réu preso)
Advogado: Paulo Sérgio de Almeida
EMENTA
Penal. Pena. Fixação.
No direito brasileiro não se admite a redução da pena abaixo do
mínimo legal, por incidência de mera circunstância atenuante.
Recurso conhecido e provido.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Quinta
Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das
notas taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, conhecer do recurso e dar-lhe
provimento para restabelecer a sentença, nos termos do voto do Ministro-
Relator. Votaram de acordo os Ministros Edson Vidigal, Jesus Costa Lima, José
Dantas e Cid Flaquer Scartezzini.
Brasília (DF), 29 de junho de 1994 (data do julgamento).
Ministro Jesus Costa Lima, Presidente
Ministro Assis Toledo, Relator
DJ 15.08.1994
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Assis Toledo: Luiz Carlos Bonfatti foi denunciado e
condenado à pena de três anos de reclusão pela prática do crime previsto no art.
12 da Lei n. 6.368/1976.
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (17): 227-264, março 2011 255
Irresignado, apelou o réu, tendo a Terceira Câmara Criminal do Tribunal
de Justiça do Estado de São Paulo dado parcial provimento ao recurso para
reduzir a pena imposta, fi xando-a em dois anos e seis meses de reclusão. O
acórdão fi cou assim ementado:
Confi ssão espontânea. Delito de autoria conhecida. Irrelevância. Atenuante
obrigatória. Inteligência do art. 65, III, d, do CP.
- A confi ssão espontânea perante a autoridade policial ou judiciária, ainda
que não se trate de delito de autoria ignorada ou atribuída a outrem, confi gura a
atenuante obrigatória prevista no art. 65, III, d, do CP.
Pena. Fixação da pena básica. Incidência das agravantes e atenuantes
obrigatórias. Inexistência de restrição pelos limites máximo e mínimo da
cominação em abstrato. Exegese do art. 68 do CP.
- As circunstâncias agravantes e atenuantes previstas nos arts. 61, 62 e 65,
todos do CP, sempre incidirão sobre as penas básicas, por força do disposto no
art. 68 do mesmo diploma legal, ainda quando essas se encontrem já nos limites
mínimo e máximo da cominação em abstrato. (fl . 128).
Contra essa decisão, interpõe o Ministério Público Estadual recurso
especial pela letra c do permissivo constitucional, sustentando que o acórdão
recorrido divergiu do entendimento adotado por outros tribunais no tocante à
impossibilidade da redução da pena abaixo do mínimo legal, pela incidência de
circunstância atenuante.
Contra-arrazoado (fl s. 147-150), o recurso foi admitido (fl s. 152-153).
Nesta instância, a douta Subprocuradoria-Geral da República, em parecer
da lavra do Dr. Edinaldo de Holanda Borges, opina pelo provimento, in verbis:
Propugna o diligente Ministério Público de São Paulo pela reforma de acórdão
do Egrégio Tribunal daquele Estado, que deu provimento a recurso da defesa, em
matéria criminal, para reduzir a pena do réu aquém do mínimo legal.
Sobreleva o entendimento dominante nesta Egrégia Quinta Turma de que, no
direito brasileiro não se admite a redução da pena abaixo do mínimo legal, por
incidência de mera circunstância atenuante (REsp n. 15.695, Relator Min. Assis
Toledo).
Pelo exposto, o alvitre é no sentido do provimento do recurso, face à
concorrência dos requisitos a tanto. (fl s. 158).
É o relatório.
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
256
VOTO
O Sr. Ministro Assis Toledo (Relator): Demonstrada a divergência com
acórdãos do Supremo Tribunal Federal e desta Corte, exibidos às fl s. 140-142,
conheço do recurso.
O Juiz, na sentença, estabeleceu a pena mínima possível aplicada à espécie,
que é de três anos de reclusão.
Assim, não poderia o acórdão reduzir esse cálculo por aplicação de uma
circunstância atenuante, a confi ssão espontânea (art. 65, III, d, do CP).
É o que decidiu esta Turma, no REsp n. 15.695-PR, citado como
paradigma:
Penal. Pena. Fixação. No direito brasileiro, não se admite a redução da pena
abaixo do mínimo legal, por incidência de mera circunstância atenuante. Recurso
especial conhecido e provido. (Rec. Esp. n. 15.695-Paraná, 5ª T. do STJ, j. 18.12.1991,
Rel. Min. Assis Toledo, DJU 17.02.1992, p. 1.381) (fl s. 142).
Ante o exposto, conheço do recurso, pela letra c, e dou-lhe provimento
para cassar o acórdão recorrido e restabelecer a sentença de primeiro grau.
É o voto.
RECURSO ESPECIAL N. 146.056-RS (97.60498-5)
Relator: Ministro Felix Fischer
Recorrente: Siham Bowanani
Recorrido: Ministério Público Federal
Advogado: Manoel Gandara - Curador
EMENTA
Penal. Art. 12 da Lei n. 6.368/1976. Consumação e tentativa.
Aplicação da pena privativa de liberdade. Limite de incidência das
atenuantes reconhecidas.
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (17): 227-264, março 2011 257
I - Se o agente, trazendo consigo ou transportando a droga,
é detido quando pretendia exportá-la, o delito previsto no art. 12
da Lei n. 6.368/1976 está consumado, sendo irrelevante, em sede de
tipifi cação, a tentativa de exportação.
II - A majorante do art. 18, inciso I da Lei de Tóxicos alcança as
hipóteses de “trazer consigo” ou do “transporte da droga” visto que se
considerou demonstrado o “tráfi co com o exterior”.
III - As atenuantes (no caso, as do art. 65, inciso I e art. 65, inciso
III, letra d, do Código Penal) nunca podem levar a pena privativa de
liberdade para nível aquém do mínimo legal que é, até aí, a reprovação
mínima estabelecida no tipo legal.
Recurso conhecido e desprovido.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Quinta
Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das
notas taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, conhecer do recurso e negar-lhe
provimento. Votaram com o Relator os Ministros Edson Vidigal, José Dantas,
Cid Flaquer Scartezzini e José Arnaldo.
Brasília (DF), 07 de outubro de 1997 (data do julgamento).
Ministro Edson Vidigal, Presidente
Ministro Felix Fischer, Relator
DJ 10.11.1997
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Felix Fischer: Trata-se de recurso especial interposto,
com fulcro no art. 105, inciso III, letra c, da Carta Magna, contra v. acórdão
do egrégio Tribunal Regional Federal da 4ª Região, no qual se pleiteia: a)
reconhecimento da conatus no art. 12 da Lei n. 6.368/1976; b) redução da
pena in concreto abaixo do mínimo lega1 com base em atenuantes (menoridade
relativa e confi ssão espontânea). A ré-recorrente acabou sendo condenada a 04
anos de reclusão como incursa nas sanções do art. 12 c.c. o art. 18, inciso I, da Lei
de Drogas.
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
258
A quaestio está delineada às fl s. 265-266, in verbis: “Cuida-se de Recurso
Especial interposto por Siham Bowanani (fl s. 228-246), em face do v. acórdão
de fl s. 198-209, do Tribunal Regional Federal da 4ª Região que, por unanimidade,
deu provimento ao apelo apresentado pelo Ministério Público Federal (fl s. 148-
160), afastando a modalidade de delito tentado para a de crime consumado. O v.
aresto restou assim ementado, verbis:
Tóxico. As ações de transportar ou ter consigo, amplamente comprovados na
instrução, autorizam condenação por crime consumado, mesmo que a ré tenha
a intenção de exportar a cocaína que portava. Recurso provido para afastar a
minorante (fl . 209).
Narram os autos que a ora Recorrente foi condenada em 1º grau, à pena
de 02 (dois) anos de reclusão e multa, por infração ao artigo 12, caput, c.c. artigo
18, I, ambos da Lei n. 6.368/1976, na forma tentada, “porque, na data de 28
de junho de 1996, foi a acusada presa em fl agrante, na Estação Rodoviária de
Porto Alegre-RS, quando embarcava em ônibus com destino a Montevidéu,
levando consigo uma maleta, em cujo forro escondia 3.006 gramas de substância
entorpecente (cocaína) (...)” (fl s. 131-146). Concluiu a MM. Juíza sentenciante
que “se a acusada foi presa na rodoviária de Porto Alegre, não houve exportação,
mas tentativa de exportação” (fl . 140).
Interposto recurso pelo MPF e uma vez reformada a r. sentença para,
então, considerar o delito sub judice como tráfi co de entorpecentes consumado
em sua modalidade “transportar” ou “trazer consigo”, a outrora Acusada, com
fulcro na alínea c do permissivo constitucional, aduz divergência jurisprudencial
quanto ao artigo 14, II, do Código Penal, buscando retornar à modalidade de
crime tentado já considerado pela decisão monocrática. Traz à tona, também,
dissídio quanto à possibilidade de redução da pena-base abaixo do mínimo
legal, porquanto teriam a MM. Juíza Federal e o v. acórdão guerreado mantido
a pena-base no mínimo legal, não obstante o reconhecimento das atenuantes da
confi ssão espontânea e da menoridade, mas o seu afastamento para a fi xação da
pena.
A douta Subprocuradoria-Geral da República se pronunciou pelo
conhecimento e desprovimento do recurso.
É o relatório.
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (17): 227-264, março 2011 259
VOTO
O Sr. Ministro Felix Fischer (Relator): O recurso apresenta dois pedidos:
a) o reconhecimento da conatus tal como ocorreu em primeiro grau; b) a
incidência das atenuantes da confi ssão expontânea e da menoridade relativa,
levando a pena defi nitiva a nível aquém do mínimo legal.
Em nenhum dos casos acima, a pretensão recursal pode ser acolhida.
Inicialmente, é bem de ver que o legislador, ao procurar proteger a saúde
pública contra os malefícios causados pelas drogas, criou uma série de normas
incriminadoras, em tutela quase cerrada em torno do referido bem jurídico. No
afã de evitar a terrível propagação do uso e comércio de tóxicos, valeu-se, assim,
também, dos denominados tipos mistos alternativos ou tipos de conteúdo variado
(v.g., arts. 12 e 16 da Lei n. 6.368/1976), procurando impedir a existência ou
a criação artifi ciosa de desnecessárias e indesejáveis lacunas. Pois bem, os tipos
mistos alternativos, como se sabe, apresentam a característica da ocorrência,
dentro de um mesmo contexto, da fungibilidade entre as modalidades alinhadas
no modelo legal de conduta proibida. O tipo apresenta formas diferentes de
transgressão da mesma proibição, todas com igual desvalor (v.g., Damásio E. de
Jesus in “Direito Penal”, vol. I, p. 210, 20ª ed., 1997, Saraiva; H. C. Fragoso in
“Lições de Direito Penal”, PG, Ed. Forense, 15ª ed., p. 158, n. 131; Luzón Pena
in “Curso de Derecho Penal”, PG, I, p. 311, Ed. Universitas S.A., Madrid, 1996;
R. Maurach/Zipf in “Derecho Penal”, PG., 1, p. 360, Ed. Astrea, 1994). Ora, no
caso em tela, a imputatio facti, da qual a ré se defendeu, deixa claro que ela trazia
consigo, na bagagem, a enorme quantidade de três mil e seis gramas da cocaína,
quando, então, veio a ser oportunamente detida no aeroporto. Pretendia, é claro,
exportar a droga. Não o conseguiu. Todavia, isto não caracteriza a conatus. O
delito previsto no art. 12 (nas formas de trazer consigo, transportar) já estava, aí,
consumado.
Sob outro prisma, não se pode olvidar que o tipo do art. 12, mormente
nas formas “trazer consigo” ou “transportar”, é congruente (nas taxionomias
de R. Maurach/Zipf, op. cit., p. 354-356, de Santiago Mir Puig in “Derecho
Penal”, PE, 4ª ed., PPU, 1996, p. 205, de Günther Jakobs in “Derecho Penal.
Parte General. Fundamentos y teorías de la imputación”, Marcial Pons, 2ª ed. esp.,
1997, p. 215) ou congruente simétrico (na sistematização de E. R. Zaff aroni in
“Manual de Derecho Penal”, Ediar, 6ª ed., p. 403-404 e in “Tratado de Derecho
Penal”, vol. III, p. 296-298, Ediar; tb. E. R. Zaff aroni & J. B. Pierangelli in
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
260
“Manual de Direito Penal Brasileiro”, PG, RT, 1997, p. 481-482) bastando o
dolo no tipo subjetivo (ou dolo genérico na terminologia causal) e prescindindo
de qualquer outro elemento subjetivo diverso do dolo (v.g., animus de trafi car,
etc.). Tipo incongruente ou congruente assimétrico é o do art. 16 que, além do
dolo, exige o especial fi m de agir, consubstanciado no “exclusivo uso próprio”.
Conseqüentemente, a ação pretendida de exportar, que acabou limitada aos
seus atos de execução, sem atingir a meta optata, restou como mero post factum,
per si, não punível. E, neste item, seria insustentável admitir-se que uma
conduta delituosa mais grave (trazer consigo) pudesse ser absorvida por outra,
concretamente, menos censurável (tentativa de exportação), ressalvando-se,
por natural, a situação em que pudessem, contextualmente, formar uma fi gura
típica (...) “privilegiada”. Dessarte, inaplicável, in casu, a conatus. E, no entanto,
plenamente correta a incidência da majorante do art. 18, inciso I da Lei de
Drogas.
Penal. Entorpecente. Tráfi co internacional. Consumação.
Réus presos na zona de fi scalização aduaneira brasileira, transportando grande
quantidade de tóxicos.
Crime de ação múltipla que já se havia consumado na forma de transportar
e trazer consigo, pois a conduta em foco contém todos os elementos do tipo
incriminador em exame (art. 14, I, do CP).
Recurso do Ministério Público conhecido e provido.
(REsp n. 41.180-PR, 5ª Turma-STJ, Relator Ministro Assis Toledo, DJU de
14.03.1994, p. 4.531).
Tóxico. Apreensão em posto de fronteira. Núcleo do tipo.
Tratando-se de apreensão no posto de fronteira, tem-se a confi guração do
núcleo “transportar”, exclui-se, por isso mesmo, a possibilidade de considerar
outro dos dezoito mencionados no artigo 12 da Lei n. 6.368 e que desaguaria
na tentativa - importar substância entorpecente ou que determine dependência
física ou psíquica, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou
regulamentar.
Tóxico. Agravante. Tráfi co com o exterior. Alcance. A causa de aumento prevista
no inciso I do artigo 18 da Lei n. 6.368/1976 alcança o transporte da droga, sendo
que a referência à “tráfi co com o exterior” conduz à pertinência na hipótese em
que ocorrida a apreensão em posto da fronteira.
(HC n. 72.658-5-SP, 2ª Turma-STF, Rel. Ministro Marco Aurélio, DJ de 27.10.1995,
p. 36.334).
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (17): 227-264, março 2011 261
Quanto à redução da pena privativa de liberdade aquém do mínimo legal,
unicamente com supedâneo em atenuantes, o recurso carece, igualmente, de
suporte jurídico válido.
A individualização da pena, evidentemente, não existe para deleite do
magistrado. Ela é uma obrigação funcional, a ser exercida com critério jurídico
pelo juiz e, simultaneamente, uma garantia do réu (v.g. art. 5º, inciso XLVI da
Carta Magna e arts. 381 e 387 do CPP) e da sociedade (v.g. arts. 381 e 387 do
CPP). Está, outrossim, vinculada ao princípio da reserva legal (art. 5º, inciso
XXXIX da Lex Maxima). A nossa legislação fornece o critério mencionado
na Lex Fundamentalis (“a lei regulará a individualização (...)”) que deve ser
respeitado e aplicado com a indispensável fundamentação concreta (cfr. princípio
da persuasão racional ou princípio do livre convencimento fundamentado,
ex vi art. 93, inciso IX, 2ª parte da Lei Maior e arts 157, 381, 387 e 617 do
CPP). Ninguém, em nenhum grau de jurisdição, pode, mormente através
de paralogismos ou de silogismos destituídos de conteúdo jurídico, realizar
a aplicação da pena privativa de liberdade de forma diversa daquela prevista
na sistemática legal. O argumento crítico, de carga exclusivamente subjetiva,
pessoal, ou, então, o pretenso exercício de “dikeologia” só acarretam, no fundo,
neste tópico, imprevisibilidade, incerteza e injustiça. Uma coisa é exercer a função
de aplicador do Direito, outra, em postura mistifi cadora, é querer identifi car-se
com ele (sobre o tema: Soveral Martins in “Processo e Direito Processual”, 2°
volume, p. 180 e segts., Centelha, Coimbra, 1986).
Em assim sendo, desde a elaboração do C. Penal de 40, passando
pelas diversas alterações, até se atingir a modifi cação ampla realizada pela
Lei n. 7.209/1984, nunca predominou - nem sequer mereceu destaque - o
entendimento de que as agravantes e atenuantes (ao contrário das majorantes e
minorantes) pudessem levar a pena privativa de liberdade para fora dos limites
previstos em lei. E isto, quer seja no sistema bifásico (de Roberto Lyra), quer
seja no trifásico (de Nelson Hungria), agora imposto legalmente (v.g. as
ensinanças de Hungria, A. Bruno e M. Noronha, por demais conhecidas).
Como se vê, repetindo, dos arts. 59, 67 e 68 de C. Penal, a Lei n. 7.209/1984
impôs um critério de fi xação da pena privativa de liberdade. Ele não pode, de
forma alguma, ser negado sob pena de se tornarem, os referidos dispositivos,
mero ornato do C. Penal. Trata-se de uma regulamentação genérica que não
fere qualquer princípio ou norma superior e, portanto, inadmite o circumvenire
legam. Pela sistemática enfocada, a fi xação da pena defi nitiva pode desdobrar-
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
262
se em três etapas cuja seqüência está evidenciada. A pena-base (e não ponto
de partida) é obtida com as circunstâncias judiciais (art. 59 do CP). A seguir,
em segunda operação, devem incidir as agravantes e as atenuantes (ex vi arts
61 a 67 do CP), surgindo, daí, a pena provisória. Esta só se torna defi nitiva ou
fi nal se não houver a aplicação das denominadas causas legais, genéricas ou
específi cas, de aumento ou diminuição da pena (majorantes ou minorantes, ex
vi art. 68 do CP). Como se vê, primo ictu occuli, até “à vol d’oiseau”, o critério
é claro, a sua seqüência evidente e os limites, nas duas primeiras operações,
decorrem não só dos textos mas até por uma questão de elementar lógica. Se
assim, não fosse, inexistindo os parâmetros apontados, teríamos um sistema
de ampla indeterminação que é incompatível com o princípio da reserva legal e
possibilita constantes tratamentos infundadamente diferenciados. Mas, o CP,
em seu art. 59, II, diz: “dos limites previstos”. No art. 67, assevera: “do limite
indicado”. É, cumpre sublinhar, o sistema da indeterminação relativa (v.g.: Jair
Leonardo Lopes in “Curso de Direito Penal”, PG., 2ª ed., RT, p. 231 e segts.;
Damásio E. de Jesus in “Direito Penal”, vol. 1, PG, p. 579, 2ª ed., Saraiva;
Heleno C. Fragoso in “Lições de Direito Penal”, PG., Forense, 1995, 25ª ed.,
p. 339; Álvaro Mayrink da Costa in “Direito Penal”, PG., vol. Tomo II, p. 539,
Ed. Forense, 1991; L. Régis Prado & Cezar Roberto Bitencurt in “Código
Penal Anotado”, RT, 1997, p. 327 e 334; Juarez Cirino dos Santos in “Direito
Penal. A nova Parte Geral.”, p. 250, Ed. Forense, 1985; Mauricio Kuehne in
“Teoria e Prática da Aplicação da Pena”, Juruá, p. 99, 1995 e Fernando Galvão
in “Aplicação da Pena”, p. 124, Ed. Del Rey, 1995).
A quaestio não pode merecer solução diversa daquela tradicionalmente
adotada. Primeiro, qual seria a razão de ser do disposto nos arts. 59, 67 e 68
do CP, mormente se o estatuto repressivo indica, ainda, um mínimo e um
máximo de pena privativa de liberdade para cada delito? Segundo, admitindo-
se, ad argumentandum, a redução almejada no recurso especial, qual seria o
limite? A pena “zero”? Vale lembrar que não foi adotada, entre nós, a discutível
concepção unilateral na relação culpabilidade/pena (v., comparativamente, Nilo
Batista in “Introdução Crítica ao Direito Penal” e H. H. Jescheck, in “Tratado
de Derecho”, 4ª ed., Granada, 1993, p. 384-386, apresentando a polêmica na
doutrina alienígena, em particular, envolvendo Roxin, Jakobs, A. Kaufmann e
Achenbach). Terceiro, a alegação de manifesta injustiça, ou de absurdo jurídico,
na hipótese de um concurso de agentes em que dois réus, com circunstâncias
judiciais favoráveis, são condenados à mesma pena, apesar de um deles ainda
ter, a seu favor, mais de uma atenuante, também, data venia, não é argumento
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (17): 227-264, março 2011 263
decisivo. A aplicação da pena não pode ser produto de “competição” entre réus
ou delinqüentes. Caso contrário, na participação de somenos (art. 29 § 1º do
CP), aí sim, absurdamente, teríamos, constantemente que aplicar a minorante,
“premiando” o co-réu que tivesse menor participação (o texto, todavia, só diz
com a participação ínfi ma, cfr. ensinanças de René A. Dotti in “Reforma Penal
Brasileira”, Ed. Forense, 1988, p. 98-99, e de Jair Leonardo Lopes, op. cit., p.
183). Por último, a expressão “sempre atenuam” não pode ser levada a extremos,
substituindo-se a interpretação teleológica por uma meramente literal. Sempre
atenuam, desde que a pena base não esteja no mínimo, diga-se, até aí, reprovação
mínima do tipo. Se assim não fosse, teríamos que aceitar, também, a hipótese
de que as agravantes (“que sempre agravam a pena”) pudessem levar a pena
acima do limite máximo (o outro lado da ampla indeterminação). E, isto, como
preleciona A. Silva Franco, é incompatível com o princípio da legalidade formal.
“O entendimento de que o legislador de 84 permitiu ao juiz superar tais
limites encerra um sério perigo ao direito de liberdade do cidadão, pois, se, de
um lado, autoriza que apenas, em virtude de atenuantes, possa ser estabelecida
abaixo do mínimo, não exclui, de outro, a possibilidade de que, em razão de
agravantes, seja determinada acima do máximo. Nessa situação, o princípio
da legalidade da pena sofreria golpe mortal, e a liberdade do cidadão fi caria à
mercê dos humores, dos preconceitos, das ideologias e dos “segundos códigos”
do magistrado, Além disso, atribui-se às agravantes e às atenuantes, que são
circunstância acidentais, relevância punitiva maior do que a dos elementos
da própria estrutura típica, porque, em relação a estes, o juiz está preso às
balizas quantitativas determinadas em cada fi gura típica. Ademais, estabelece-
se linha divisória inaceitável entre as circunstâncias legais, sem limites
punitivos, e as causas de aumento e de diminuição, com limites determinados,
emprestando-se àquelas uma importância maior do que a estas, o que não
parece ser correto, nem ter sido a intenção do legislador. Por fi m, a margem de
deliberação demasiadamente ampla, deixada ao juiz, perturbaria o processo de
individualização da pena que se pretendeu tornar, através do art. 68 do CP, o
mais transparente possível e o mais livre de intercorrências subjetivas”. A. Silva
Franco in “Código Penal e sua Interpretação Jurisprudencial”, 6ª ed., 1997, RT,
p. 1.072).
Enfi m, neste ponto, improcede, igualmente, a pretensão recursal que esbarra,
inclusive, na orientação pacífi ca do Colendo Supremo Tribunal Federal (v.g.:
a) HC n. 71.051-4, rel. Min. Marco Aurélio, DJU de 09.09.1994, p. 23.442; b)
HC n. 70.883-8, rel. Min. Celso de Mello, DJU de 24.06.1994, p.16.636; c) RTJ
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
264
118/928, rel. Min. Sydney Sanches; d) HC n. 69.342-3, rel. Min. Marco Aurélio,
DJU de 21.08.1992, p. 12.784; e) HC n. 73.615-7, rel. Min. Mauricio Corrêa,
DJU de 06.09.1996, p. 31.852). E, esta Turma tem precedentes na matéria,
a saber: a) REsp n. 15.695-PR, rel. Min. Assis Toledo, DJU de 17.02.1992, p.
1.381; b) REsp n. 46.182-DF, rel. Min. Costa Lima, DJU de 16.05.1994, p.
11.779.
Voto, pois, pelo desprovimento do recurso.
Súmula n. 232
SÚMULA N. 232
A Fazenda Pública, quando parte no processo, fi ca sujeita à exigência do
depósito prévio dos honorários do perito.
Referências:
CPC, arts. 19, 27 e 33.
Lei n. 6.830/1980, art. 39.
Precedentes:
EREsp 10.945-SP (CE, 09.11.1995 – DJ 26.02.1996)
REsp 10.945-SP (4ª T, 22.09.1992 – DJ 07.12.1992)
REsp 13.934-SP (3ª T, 09.06.1992 – DJ 31.08.1992)
REsp 14.333-SP (1ª T, 21.09.1994 – DJ 19.12.1994)
REsp 18.172-SP (3ª T, 14.04.1992 – DJ 11.05.1992)
REsp 29.090-PE (4ª T, 08.08.1995 – DJ 11.09.1995)
REsp 30.245-SP (2ª T, 23.09.1997 – DJ 13.10.1997)
REsp 43.617-SP (1ª T, 09.03.1994 – DJ 11.04.1994)
REsp 47.071-SP (2ª T, 25.04.1996 – DJ 27.05.1996)
REsp 87.717-SP (1ª T, 29.04.1996 – DJ 03.06.1996)
REsp 102.234-SP (6ª T, 08.10.1996 – DJ 1º.12.1997)
REsp 118.785-SP (2ª T, 19.05.1997 – DJ 09.06.1997)
REsp 127.471-SC (4ª T, 16.06.1998 – DJ 13.10.1998)
REsp 132.643-RS (5ª T, 10.02.1998 – DJ 16.03.1998)
REsp 154.682-SP (1ª T, 11.12.1997 – DJ 02.03.1998)
REsp 182.201-SC (2ª T, 04.03.1999 – DJ 29.03.1999)
RMS 4.082-SP (2ª T, 24.05.1995 – DJ 12.06.1995)
Corte Especial, em 1º.12.1999
DJ 07.12.1999, p. 127
EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA NO RECURSO ESPECIAL N. 10.945-SP
(93.0005642-5)
Relator: Ministro Cesar Asfor Rocha
Embargante: Fazenda do Estado de São Paulo
Embargado: Amazílio Cunha de Oliveira
Advogados: Miguel Francisco Urbano Nagib
Ivan Ferreira Valim
EMENTA
Embargos de divergência. Fazenda Pública. Honorários de
perito. Artigo 27 do Código de Processo Civil. Inteligência.
I - Nos termos do aresto embargado, “a Fazenda Pública, em
sendo parte na causa, deve depositar previamente os honorários do
perito judicial”.
II - Embargos rejeitados.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Srs. Ministros da
Corte Especial do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos
e das notas taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, conhecer dos embargos
de divergência e, por maioria, os rejeitar, nos termos do voto do Sr. Ministro
Relator. Votaram vencidos, no mérito, os Srs. Ministros Adhemar Maciel e
José Dantas, que davam provimento ao recurso. Os Srs. Ministros Anselmo
Santiago, Antônio Torreão Braz, Bueno de Souza, Américo Luz, Antônio de
Pádua Ribeiro, Costa Leite, Nilson Naves, Eduardo Ribeiro, José de Jesus Filho,
Hélio Mosimann, Peçanha Martins e Humberto Gomes de Barros, votaram
com o Sr. Ministro Relator. Ausentes, justifi cadamente, os Srs. Ministros Edson
Vidigal e Antônio Torreão Braz (art. 162, parágrafo 1º, RISTJ). Ausentes,
ocasionalmente, os Srs. Ministros Cid Flaquer Scartezzini, Assis Toledo e
Demócrito Reinaldo. Presidiu o julgamento o Sr. Ministro William Patterson.
Brasília (DF), 09 de novembro de 1995 (data do julgamento).
Ministro William Patterson, Presidente
Ministro Cesar Asfor Rocha, Relator
DJ 26.02.1996
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Cesar Asfor Rocha: - Cuida a espécie de embargos de
divergência opostos de acórdão proferido pela egrégia Quarta Turma, em
recurso especial, relator Ministro Fontes de Alencar, assim ementado:
Honorários de perito. Fazenda Pública.
A Fazenda Pública, quando parte na causa, deve depositar previamente os
honorários do perito judicial.
Recurso especial de que não se conheceu. Unânime. (fl . 144).
Sustenta a Municipalidade embargante divergência com julgados das
colendas Primeira e Segunda Turmas (REsps n. 4.841-SP e n. 5.902-SP), cujos
pronunciamentos foram no sentido de que em face do estabelecido no artigo 27
do Código de Processo Civil, a Fazenda Pública não está sujeita a antecipar os
honorários do perito judicial, os quais serão pagos a fi nal pelo vencido.
Os embargos foram admitidos, abrindo-se vista ao embargado para
impugnação ofertada às fl s. 167.
O douto representante do Ministério Público opina pelo recebimento dos
embargos.
É o relatório.
VOTO
O Sr. Ministro Cesar Asfor Rocha (Relator): - A divergência em apreço
diz respeito a obrigatoriedade ou não da Fazenda Pública, sendo parte na ação,
antecipar o pagamento das despesas processuais pertinentes aos honorários do
perito judicial.
O v. acórdão embargado, proferido pela egrégia Quarta Turma, por
unanimidade de votos (ausente, por motivo justifi cado, o eminente Ministro
Bueno de Souza), entendeu necessário o depósito prévio dos honorários periciais.
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
270
Colho do voto condutor do v. aresto, da lavra do eminente Ministro Fontes
de Alencar, as seguintes considerações:
Nada obstante os precedentes referidos, outra a minha posição, pois entendo
que o art. 27 do Código de Processo Civil não tem a abrangência que as decisões
referidas lhe deram.
Merece atenção, a propósito, o RE n. 108.235-SP. No referido recurso
extraordinário o Colendo Supremo Tribunal Federal, ao tempo em que de sua
competência era apreciar a alegação de ofensa a lei federal, conquanto tenha
agasalhado, sem ressalva de ser, ou não, a Fazenda Pública parte na causa,
entendimento de que o privilégio do art. 27 do Código de Processo Civil “alcança
o custo do transporte do oficial de justiça no cumprimento de diligência”, o
eminente Ministro Francisco Rezek, seu relator, realçou a posição de Humberto
Theodoro Jr.,
que ressalva do benefi cio fazendário apenas os gastos a serem feitos fora
dos serviços públicos, (...) como os honorários de perito não-ofi cial, já que é
inexigível de terceiros a prestação de serviços e a realização de despesas em
benefício da Fazenda Pública, sem o imediato ressarcimento. (Processo de
Conhecimento, Rio, Forense, 1984, p. 84) - (in RJT, vol. 120, p. 1.281-1.282).
Já no RE n. 108.183-SP, da relatoria do eminente Ministro Moreira Alves, a Corte
Suprema, em caso que se prendia a despesa para diligência de remoção de bem
móvel, entendeu não desarrazoada a interpretação dos arts. 27 do Código de
Processo Civil e 39 da Lei n. 6.830/1980
que considera que as despesas em causa são extraordinárias, e, portanto,
não se enquadram nas a que aludem os dispositivos legais acima referidos
(RTJ - 123, p. 651).
Douta feita, mais recentemente, quando do julgamento do RE n. 108.845-SP, o
Ministro Moreira Alves, relator, deixou consignado no seu voto:
o fato é que tenho para mim que tanto o artigo 27 do CPC como o artigo
39 da Lei n. 6.830/1980 não abrangem as despesas de condução dos Ofi ciais
de Justiça. O conceito de “custas e emolumentos” de que fala o artigo 39 da
Lei e o termo “despesas dos atos processuais” do estatuto processual não
têm o alcance pretendido pela exeqüente, pois se referem tão-somente aos
atos de responsabilidade da Serventia, não a atos exteriores do processo.
Enxergar além nesses preceitos é conceder à Fazenda Pública privilégio que,
em última análise, viola o princípio constitucional de isonomia, previsto no
§ 1º do artigo 153 da Constituição Federal; ou seja, se as leis federais acima
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (17): 265-337, março 2011 271
citadas quiserem efetivamente conceder tais privilégios a uma parte do
processo, são elas inconstitucionais na parte em que os estabelecerem, (...)
Do voto, no caso mencionado, do eminente Ministro Moreira Alves é o seguinte
arremate:
Observo finalmente - (...) que o artigo 39 da Lei n. 6.830/1980, que,
de certa forma, veio explicitar o sentido do artigo 27 do CPC, não
conduz necessariamente à exegese de que a Fazenda não está sujeita ao
adiantamento de despesas como as de condução do Ofi cial de Justiça, de
remoção de bens penhorados, de pagamento a perito, pois ele, depois de
preceituar que a Fazenda Pública não está sujeita ao pagamento de custas
e emolumentos, acentua que a prática dos atos judiciais de seu interesse
independerá de preparo ou de prévio depósito, expressão última - prévio
depósito - que muitos têm entendido que só existiria para tais despesas,
o que não é exato, sabido como é que, por vezes, a legislação processual
exige prévio depósito para recorrer ou para propor ação rescisória. (RTJ 127,
p. 228-234).
A doutrina tem dado atenção ao tema. Com efeito assinala o Ministro Sálvio de
Figueiredo em seu “Código de Processo Civil Anotado”, fazendo remissão a Pontes
de Miranda:
A regra do art. 27 se aplica às causas nas quais as pessoas jurídicas de
direito público não são partes. (p. 26, 4ª ed., Saraiva - 1992).
De sua vez, o mestre Hélio Tornashi observara logo em 1974:
O art. 27 demonstra insofismavelmente que os atos efetuados a
requerimento da Fazenda Pública podem acarretar despesas. Ainda que
a lei a isentasse de custas, outros gastos poderão ser inevitáveis sem que
possam ser fi nanciados para pagamento ao fi nal. Se assim é, cumprira dizer
quem adianta essas despesas. Parece ter havido cochilo quandoque bônus
(...) (“Comentários ao Código de Processo Civil”, vol. I, p. 160, Ed. Rev. dos
Tribunais).
De seu turno, Celso Agrícola Barbi escolia o aludido art. 27 do Código de
Processo Civil assim:
A Fazenda Pública pode atuar em Juízo como autora ou ré, em defesa de
seus direitos. (...).
Mas se sua intervenção não tem esse caráter, mas sim o de mera
atividade fi scalizadora, com v.g., para verifi car o pagamento de tributos ou
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
272
contribuições que lhe sejam devidas, aí terá aplicação a regra do art. 27.
(“Comentários ao Código de Processo Civil”, p. 215, Anexo I, 1ª Ed. Forense
- 1975).
Ante o exposto, nem sequer lobrigo, no caso, ofensa ao art. 27 do Código de
Processo Civil. (fl s. 138-142).
Por outro lado, os acórdãos paradigmas, das egrégias Primeira e Segunda
Turmas, relatados pelos eminentes Ministros Garcia Vieira e Américo Luz,
julgados em 20.02.1991 e 24.10.1990, respectivamente, concluíram não estar
a Fazenda Pública sujeita ao adiantamento da paga do perito. Os arestos
encontram-se sumariados pelas seguintes ementas:
Processual. Honorário de perito. Depósito prévio.
O estabelecido no Código de Processo Civil, artigo 27 é que as despesas dos
atos processuais efetivados a requerimento do Ministério Público ou da Fazenda
Pública, serão pagas a fi nal pelo vencido, portanto, não está a Fazenda Pública,
sujeita a adiantamento. (fl s. 147).
Processual Civil. Fazenda Pública. Perícia. Depósito prévio. Art. 27 do CPC.
- Por força do aludido preceito legal, a Fazenda Pública fi ca desobrigada de
depositar previamente a paga do perito, a ser feita pelo vencido, afi nal.
- Recurso provido. (fl s. 148).
Ocorre que, conquanto evidenciado o dissídio, na sessão do dia 18 de
maio do corrente ano, a egrégia Primeira Seção desta Corte, no julgamento
dos embargos de divergência no Recurso Especial n. 23.337-3-SP, decidiu,
em hipótese semelhante, onde se discutia o custeio das despesas do Ofi cial de
Justiça, por maioria de votos, vencidos os eminentes Ministros Garcia Vieira,
Demócrito Reinaldo e este Relator, que também fi cou convencido, uniformizar
o entendimento de que, nos termos do artigo 27 da Lei Instrumental Civil,
“não há obrigatoriedade legal de o Ofi cial de Justiça adiantar o pagamento das
despesas para prática de atos de interesse da Fazenda”. (DJ de 16.08.1993).
Assim, reportando-me aos doutos fundamentos do acórdão ora embargado,
bem como aos do julgado acima referido, que ora faço juntada, rejeito os
embargos.
É o meu voto.
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (17): 265-337, março 2011 273
ANEXO
EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA NO RECURSO ESPECIAL
N. 23.337-SP
Relator originário: Ministro Garcia Vieira
Relator para o acórdão: Ministro Hélio Mosimann
Embargante: Superintendência Nacional do Abastecimento - Sunab
Advogado: Pedro Antonio B. Castisano e outro
Embargado: Panifi cadora e Confeitaria Benjamin Ltda.
EMENTA
Processo Civil. Execução fi scal. Fazenda Pública. Transporte do
Ofi cial de Justiça. Pagamento das despesas.
Não há obrigatoriedade legal de o Ofi cial de Justiça adiantar o
pagamento das despesas para prática de atos de interesse da Fazenda.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da
Primeira Seção do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e
das notas taquigráfi cas a seguir, por maioria, rejeitar os embargos, vencidos os
Srs. Ministros Garcia Vieira (Relator), Demócrito Reinaldo e Cesar Rocha. Os
Srs. Ministros Peçanha Martins, Milton Pereira e José de Jesus votaram com o
Sr. Ministro Hélio Mosimann. Ausente, justifi cadamente, o Sr. Ministro Gomes
de Barros.
Brasília (DF), 18 de maio de 1993 (data do julgamento).
Ministro Américo Luz, Presidente
Ministro Hélio Mosimann, Relator
DJ 16.08.1993
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Garcia Vieira: - A Superintendência Nacional do
Abastecimento - Sunab interpõe embargos de divergência, irresignada com o v.
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
274
acórdão, ementado às fl s. 74, que negou provimento a seu recurso, por maioria de
votos, vencido o Excelentíssimo Ministro José de Jesus Filho, (fl s. 56), aduzindo
contrariedade violação ao artigo 13 da Lei Delegada n. 5/1962 e artigo 21 do
Decreto n. 78.730/1975, 27 do Código de Processo Civil, artigo 9º, inciso I da
Lei n. 6.032/1974 e 39 da Lei n. 6.830/1980 e contraria a Súmula n. 154 do
extinto TFR inúmeros julgados dos tribunais superiores, indicando Recurso
Especial n. 22.654-9-SP, Relator Eminente Ministro Demócrito Reinaldo, 1ª
Turma, em 26.10.1992.
Pede provimento para prevalecer o decisum apontado como divergente.
Os embargos forma admitidos, fl s. 87, não tendo havido impugnação, fl s.
88vº.
É o relatório.
VOTO VENCIDO
O Sr. Ministro Garcia Vieira (Relator): - Sr. Presidente: - As despesas dos
atos processuais, efetuados à requerimento da Fazenda Pública serão pagas a
fi nal pelo vencido. É isto o que determina o artigo 27 do CPC. Esta vantagem
também é extensiva às autarquias (artigo 9º, inciso I, da Lei n. 6.032/1974).
Assim já entendia o TFR (AI n. 44.912-SP, DJ de 22.03.1984, AI n. 52.623-RJ,
DJ de 18.06.1987, AI n. 53.329-SP, DJ de 27.08.1987, citados por Th eotônio
Negrão, no seu Código de Processo Civil, 23ª edição atualizada até 12 de julho
de 1992. A Sunab é uma autarquia (Lei Delegada n. 5, de 26 de setembro de
1962, artigo 1º) e a ela s o extensivos os privilégios da Fazenda Pública (Lei
Delegada n. 5/1962, artigo 13). Como no caso se trata de execução fi scal, aplica-
se o artigo 39 da Lei n. 6.830/1980. Por este dispositivo legal,
A Fazenda Pública não está sujeita ao pagamento de custas e emolumento. A
prática dos atos judiciais de seu interesse independerá de preparo ou de prévio
depósito.
No TFR a questão era pacífi ca e foi cristalizada na Súmula n. 154, verbis:
A Fazenda Pública, nas execuções fi scais, não está sujeita a prévio depósito
para custear despesas do Ofi cial de Justiça.
Theotônio Negrão, ob. cit., cita precedente da Excelsa Corte, a favor
desta Súmula, publicado na RTJ 120/1.295, na nota n. 03 (p. 802). Assim
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (17): 265-337, março 2011 275
também vem entendendo a Egrégia Primeira Turma (Recurso Especial n.
4.841-SP, julgado no dia 29.02.1991, do qual fui Relator e n. 22.654-9-SP, DJ
de 26.10.1992, Relator o Eminente Ministro Demócrito Reinaldo). A questão
já se tornou também pacífica na Excelsa Corte (RT 620/227). No RE n.
108.236-6-SP, nossa Corte Maior deixou bem claro que:
O privilégio que tem o Ministério Público e a Fazenda Pública, de não dever
cobrir previamente as despesas com atos processuais que requeiram (artigo 27),
alcança o do transporte do Ofi cial de Justiça no cumprimento da diligência. (doc.
de fl s. 17).
O Eminente Ministro José de Jesus Filho, no seu voto vencido, no
venerando acórdão embargado, referente ao Recurso Especial n. 23.337-2-SP,
julgado no dia 05.08.1992, com inteira razão, acentuou que:
Esta matéria já foi por diversas vezes examinada pelo extinto Tribunal Federal
de Recursos, que chegou até a sumular a quest o, no seu Enunciado n. 154, verbis:
A Fazenda Pública, em execuções fiscais, não está sujeita a prévio
depósito para custear despesas do Ofi cial de Justiça.
Baseia-se este verbete precisamente no artigo 39, da Lei n. 6.830/1980, que
dispõe:
A Fazenda Pública não está sujeita ao pagamento de custas e
emolumentos. A prática de atos de seu interesse independerá de preparo
ou de prévio depósito.
Parágrafo único - Se vencida, a Fazenda Pública ressarcirá as despesas
feitas pela parte contrária.
A recorrente é uma autarquia federal, logo se inclui no conceito de Fazenda
Pública para efeito de cobrança de sua dívida ativa inscrita (artigo 1º, da Lei n.
6.830/1980).
Não há razão para modifi car o entendimento que tinha quando no extinto TFR,
de que são exemplos os Agravos n. 50.581, julgado em 10.11.1986 e n. 51.269,
julgado em 11.02.1987. (fl s. 56).
Assim sendo.
Acolho os embargos de fl s. 76-80 para que prevaleça a decisão divergente da
Egrégia Primeira Turma, proferida no Recurso Especial n. 22.654-9-SP, Relator
Eminente Ministro Demócrito Reinaldo, DJ de 26.10.1992 (doc. de fl s. 81).
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
276
ESCLARECIMENTOS
O Sr. Ministro Garcia Vieira (Relator): Como verifi cam os colegas, o
próprio Ministro José de Jesus, que foi Relator do acórdão divergente, depois
votou em sentido contrário. De forma que, hoje, já não existe mais a divergência.
Já está pacifi cada em ambas as Turmas esse entendimento.
O Sr. Ministro José de Jesus: Mas parece-me que é no sentido de depositar
o valor devido ao ofi cial de justiça.
O Sr. Ministro Garcia Vieira (Relator): V. Exa. vai proferir seu voto com
base na Súmula n. 154 do Supremo Tribunal Federal.
O Sr. Ministro José de Jesus: O caso é que aproveitaram um voto meu
antigo, mas já reformulei meu entendimento. Vinha votando vencido e depois,
entendi - só para esclarecer os Eminentes Colegas -, que, evidentemente,
o ofi cial de justiça não pode custear despesas de diligência. O Governo do
Estado de São Paulo já vem depositando. Só a União e suas autarquias gozam
desse privilégio, que, até certo ponto, é odioso. Sou contra todos os privilégios
constantes do Código de Processo, inclusive aquele referente a prazos.
O Sr. Ministro Garcia Vieira (Relator): Ministro José de Jesus, o problema
é de lei. É a lei que concede isso.
O Sr. Ministro José de Jesus: Estou apenas ressalvando o meu ponto de
vista. Penso que a Súmula n. 154 não tem mais razão de ser.
Naquela oportunidade, ressalvava o meu ponto de vista. Acompanhei o
Sr. Ministro Pádua Ribeiro diversas vezes no Tribunal Federal de Recursos
para revogar a Súmula. Não conseguimos, pois a maioria entendia ao contrário.
Nesse caso, na nossa Turma, apenas o Sr. Ministro Hélio Mosimann diverge do
nosso entendimento. Os demais Srs. Ministros votamos no sentido de que se
deva exigir um depósito prévio. Havia um processo que veio às minhas mãos, do
interior de São Paulo, em que o Prefeito repassou dinheiro a um funcionário que
pagava os ofi ciais de justiça pelas diligências.
O Sr. Ministro Garcia Vieira (Relator): Ministro José de Jesus, no Recurso
Especial n. 23.337-2-SP, julgado no dia 05.08.1992, consta o voto que V. Exa.
proferiu, o qual transcrevo aqui.
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (17): 265-337, março 2011 277
O Sr. Ministro José de Jesus: Reformulei o meu entendimento
recentemente. Vinha votando vencido na Turma e entendi que, realmente, exigir
do ofi cial que custeie despesas para a União e suas autarquias é injusto.
Um outro argumento, Ministro Garcia Vieira, só para antecipar: criada
a Advocacia-Geral da União por Lei Complementar, esta tem manuseio de
verbas próprias que pode, perfeitamente, custear essas despesas. Não há mais
razão de ser.
O Sr. Ministro Garcia Vieira (Relator): Mas a questão, Ministro José de
Jesus, é de lei. A lei prevê isso.
O Sr. Ministro José de Jesus: É questão de interpretação do art. 27 do
Código.
O Sr. Ministro Garcia Vieira (Relator): Não é interpretação. A lei, a meu
ver, é muito clara. Não é só do Código de Processo é, também, a Lei n. 6.830.
Como vamos desconhecer a legislação?
O Sr. Ministro José de Jesus: Ministro Garcia Vieira, existe lei mais
ditatorial do que a Lei de Execuções Fiscais? Penso que não.
Essa era apenas a ressalva que gostaria de fazer.
VOTO-VENCEDOR
O Sr. Ministro Hélio Mosimann: Voto idêntico proferi na Segunda Turma,
quando levado a julgamento o Recurso Especial n. 22.619, também de São
Paulo.
Resume-se a controvérsia na interpretação do art. 39, da Lei n. 6.830/1980
- dispõe sobre a cobrança judicial da Dívida Ativa da Fazenda Pública e dá
outras providências - que assim estabelece:
A Fazenda Pública não está sujeita ao pagamento de custas e emolumentos. A
prática dos atos judiciais de seu interesse independerá de preparo ou de prévio
depósito.
Parágrafo único - Se vencida, a Fazenda Pública ressarcirá o valor das despesas
feitas pela parte contrária.
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
278
Dissenti do eminente relator, convencido pela robusta argumentação do
eminente Ministro Pádua Ribeiro, desenvolvida no Recurso Especial n. 22.695-
SP, entre outros, no sentido de que o dispositivo supra transcrito como o texto
do artigo 27 do Código de Processo Civil, devem ser entendidos em termos,
sem interpretação literal, isto é, na vertente segundo a qual não se pode obrigar
o Ofi cial de Justiça a adiantar as importâncias necessárias à prática dos atos de
interesse da Fazenda.
Reportando-me aos sólidos fundamentos do acórdão, com respaldo
inclusive em manifestação do Supremo Tribunal Federal, transcrevo a ementa
do mencionado REsp n. 22.695-SP:
Processual Civil. Despesas de condução do Ofi cial de Justiça. Pagamento pela
Fazenda Pública.
I - Os arts. 27 do CPC e 39 de Lei n. 6.830, de 22.09.1980, não obrigam o
meirinho a financiar despesas para permitir a prática de atos processuais do
interesse de entidades públicas, retirando da sua remuneração, que é paga pelo
Estado, quantias com aquela fi nalidade. O caso não é de simples iniq idade, mas
de falta de obrigação legal.
II - Dissídio com a Súmula n. 154 do extinto TFR confi gurado.
III - Recurso especial conhecido mas desprovido (Min. Pádua Ribeiro, em sessão
de 24.06.1992).
Comungando desse entendimento que já se tornou pacífi co no seio da
Egrégia Segunda Turma (REsp n. 22.619, n. 22.648 e n. 22.666, todos de
São Paulo, julgados em 24.06.1992), rejeito os embargos de divergência agora
opostos, data venia.
É como voto.
VOTO
O Sr. Ministro Peçanha Martins: - Senhor Presidente, o que acontece é
que estamos enfrentando uma difi culdade. Não sei se é o Tribunal do Rio de
Janeiro ou um outro desses Estados ricos da Federação que está se recusando a
mandar processos, por não dispor de verba para fazê-lo.
Com relação à Justiça Federal e toda a minha prática na advocacia me
conduz a dar esse depoimento, não há que se adiantar despesas de Ofi cial de
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (17): 265-337, março 2011 279
Justiça. Mas quando a atuação se faz junto à Justiça Comum - no interior da
Bahia, por exemplo, toda ela é paga pelo ato praticado; o Ofi cial de Justiça
recebe por ele. Ningu m pode exigir do ofi cial que proceda a uma diligência
fi nanciando a União. Essa é a realidade. É com esse espírito que temos votado.
Não se trata no mais das vezes, de pagamento de custas, de emolumentos, mas
de custeio das despesas indispensáveis à prática do ato.
Continuo divergindo do Eminente Ministro-Relator, razão por que rejeito
os embargos.
VOTO
O Sr. Ministro Demócrito Reinaldo: Senhor Presidente, acompanho o
nobre Relator, porque esse tem sido um ponto de vista reiteradamente defendido
por mim na egrégia Primeira Turma e não vi ainda nenhuma razão para mudá-
lo. Esse meu ponto de vista tem raiz na jurisprudência pacífi ca que se cristalizou,
em Súmula, no Tribunal Federal de Recursos.
É como voto.
VOTO
O Sr. Ministro Milton Pereira: - Senhor Presidente, dentro da controvérsia
posta, tenho ponto de vista para convencimento fi rmado, e as minhas razões têm
sido externadas com frequência na Primeira Turma, onde fi co vencido, porque,
na interpretação do art. 39, já há pronunciamento do Supremo Tribunal Federal,
fazendo a distinção quando for a Fazenda autora ou ré. Essa distinção, todavia,
poderá perder o seu sentido, uma vez que, anotado o art. 27, emerge que as
despesas dos atos processuais efetuados a requerimento ao Ministério Público
ou da Fazenda Pública serão pagas a fi nal. Pagar a fi nal não signifi ca eximir a
obrigação de antecipar.
O art. 39, na interpretação de algumas decisões do Supremo Tribunal
Federal, anotadas por Th eotônio Negrão, na página 821, ao comentar e trazer
precedentes sobre a antiga Súmula n. 154 do Tribunal Federal de Recursos e
a Súmula n. 4 do Tribunal Regional Federal da 3ª Região - de cuja discussão
participei -, estabelece nas suas explicitações: (Lê)
Nem o art. 27 (...) Fazenda for vencida.
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
280
Parece-me que é de uma lógica tão estridente e, neste particular, peço mil
vênias ao Senhor Ministro-Relator para dele discordar, pois não vejo como fugir
dessa conclusão.
Diante disso, acompanho o voto do Senhor Ministro Hélio Mosimann.
VOTO
O Sr. Ministro Adhemar Maciel: Sr. Presidente, esse art. 27 tem sido um
entrave para o juiz. Há muitos anos, quando fui Juiz Federal, tratava-se de um
problema sério, uma vez que não se achava perito por causa do depósito prévio.
Da fala do ilustre embargante, pincei uma expressão que me impressionou
muito, ou seja, o problema da mobilidade de verba: não há mobilidade de verba.
Da fala do Ilustre Dr. Sollberger, pincei uma outra observação: a Fazenda
aqui só pode ser parte.
Então, pedindo vênia ao ilustre ministro-relator, conheço dos embargos e
dou-lhe provimento.
É como voto.
VOTO
O Sr. Ministro José Dantas: Senhor Presidente, vindo de um Tribunal
eminentemente fazendário, pois que ali a Fazenda Pública era parte necessária
em todos os processos, percebi, desde logo, que o art. 27 do novo CPC pautou-
se por traduzir uma linha de antigüidade do direito positivo brasileiro, quanto às
chamadas prerrogativas da Fazenda Pública.
Na verdade, ainda que respeitável o princípio da igualdade das partes
no processo, impositivo pela moderna legisla ão processual, lembro que no
Tribunal Federal de Recursos construímos algumas súmulas a respeito desse
tratamento especial da Fazenda, precisamente para aliviá-la da tormentosa
exigência do preparo de custas e despesas, adiantamento esse que se mostra
inteiramente desafeito ao sistema orçamentário do Estado ou suas próprias
autarquias equiparadas.
De modo que, Sr. Presidente, quando este artigo 27 consagra a regra
tradicional a que me referi, não vejo como, no tocante ao adiantamento das
custas propriamente ditas, distingui-las das despesas processuais, dentre as
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (17): 265-337, março 2011 281
quais a dos honorários periciais, da forma como elas se unifi cam a rigor do §
2° do artigo 20 do CPC., quando estabelece que as despesas abrangem não
só as custas dos atos do processo, como também a indenização de viagens e a
remuneração do assistente técnico.
Com essas considerações, respeitando os fundamentos doutrinários
magistralmente desenvolvidos pelo Sr. Ministro-Relator, no entanto, prefi ro
me acostar à jurisprudência colacionada, provinda da Primeira e Segunda
Turmas deste Tribunal, conforme os respectivos acórdãos aqui citados; pelo que,
acompanho o Sr. Ministro Adhemar Maciel, recebendo os embargos.
VOTO
O Sr. Ministro Antônio Torreão Braz: - Sr. Presidente, a norma genérica a
respeito da matéria é a do art. 19 do CPC, que diz:
Art. 19. Salvo as disposições concernentes à justiça gratuita, cabe às partes
prover as despesas dos atos que realizam ou requerem no processo, antecipando-
lhes o pagamento desde o início até a sentença fi nal; e bem ainda, na execução,
até a plena satisfação do direito declarado pela sentença.
Ele só abre exceção para a justiça gratuita. A Fazenda Pública está isenta
apenas do pagamento de custas e de preparo de recursos. As demais despesas
ela tem de adiantar, de vez que o art. 27 do mesmo estatuto não tem a extensão
que se lhe quer emprestar. Se acolhermos entendimento contrário, estaremos
diante de uma inconstitucionalidade, como, aliás, lembrou o relator invocando
precedente do STF.
Acompanho o relator.
VOTO-VISTA
O Sr. Ministro Bueno de Souza: Senhor Presidente, pedi vista destes autos
para melhor exame da vexata quaestio.
A divergência lavra sobre a obrigatoriedade ou não da Fazenda Pública,
sendo parte na ação, antecipar o pagamento das despesas processuais pertinentes
aos honorários do perito judicial.
O eminente Relator, Ministro César Rocha, acompanhado dos eminentes
Ministros Anselmo Santiago e Torreão Braz, malgrado conhecer do recurso, na
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
282
linha do entendimento abroquelado pelo acórdão recorrido, rejeita os embargos,
adotando posição de ser necessário o depósito prévio dos honorários do expert,
ainda mesmo quando for postulante a Fazenda Pública.
Os não menos eminentes Ministros José Dantas e Adhemar Maciel
desta corrente destoam, razão pela qual conhecem dos embargos e lhes dão
provimento para escusar a representação judicial do erário do preparo de custas
e despesas, incluindo-se os honorários provisórios do perito.
Após refl etido exame das teses em confronto e bem assim, de cada qual
dos eruditos votos que me antecederam, voltei minha atenção para a produção
jurisprudencial do extinto e sempre lembrado Tribunal Federal de Recursos
sobre a matéria.
Na Quarta Turma daquela Corte, onde tomava assento, sob a Presidência
do inesquecível Ministro Armando Rollemberg, como relator do AI n. 41.256-SP,
adotei entendimento no sentido de que o artigo 27 do CPC requer cuidadosa
interpretação de modo a assegurar, por um lado, o normal desenvolvimento
do processo (fato que corresponde, de resto, à garantia constitucional de
acesso à jurisdição, o que bem demonstra o relevo do tema em seu perfil
doutrinário); e também, de outro lado, a evitar a prática de atos ilegais e até
mesmo inconstitucionais pelo Juiz, como se o citado art. 27 da Lei Processual o
investisse de poderes para efetuar requisição de bens e de serviços de terceiros,
ou seja, de pessoas em tudo e por tudo absolutamente estranhas e inteiramente
alheias ao que se passa no processo e que, por conseguinte, não podem sofrer
embaraços ilegais no desempenho de suas atividades lícitas.
O art. 27 do Cód. de Proc. Civil deve ser interpretado de modo a não
extrapolar o universo do processo, uma vez que se destina, tão só e unicamente,
a disciplinar a responsabilidade provisória por custas ou despesas: constitui,
portanto, norma voltada apenas ao processo, às partes litigantes e aos auxiliares
do Juiz; não a terceiros estranhos ao processo.
Releve-se-me a insistência quanto a esta distinção verdadeiramente
fundamental, que permite visualizar os contornos do tema e, por conseguinte,
evitar sua inadmissível repercussão em regiões a que ele não diz respeito. De
fato, não convém se converta o processo em ocasião de atropelo prejudicial a
estranhos que devem merecer, ao contrário, a segurança de seus direitos.
Com efeito, adverte Pontes de Miranda:
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (17): 265-337, março 2011 283
As despesas judiciais estão subordinadas a princípio de direito processual
somente no que concerne à condenação a suportá-las. (Comentários ao CPC, 2º
ed., Forense, Rio, 1979, I/522).
Parece não haver dúvida razoável sobre o fato de que somente as partes
possam ser condenadas a suportá-las, provisória ou defi nitivamente.
Ao discorrer sobre o assunto, Amaral Santos começa, precisamente, por
delimitar-lhe a abrangência. Escreve:
As atividades que se desenvolvem no processo importam em despesas
múltiplas e geralmente vultosas, dando lugar a velho problema, de ordem
política, consistente em resolver sobre quem deva suportá-las, o Estado ou as
partes. (Primeiras Linhas, 4ª ed., Saraiva, SP, II/259)
E adiante, reitera seu pensamento:
Parece, portanto, por motivos de conveniência, acertada a solução que ao
problema se dá no direito brasileiro, aliás na consonância do sistema adotado
pela generalidade das legislações, e que pode ser assim sintetizado: a) ao
Estado cabem as despesas gerais com a administração da justiça; b) os litigantes
respondem pelas despesas com os serviços que o Estado lhes presta, ou seja,
pelas despesas inerentes aos processos de que são partes; c) aos litigantes
necessitados, como tais considerados aqueles que não se acharem em condições
de pagar as despesas do processo, sem prejuízo do sustento próprio ou da família,
se assegura a gratuidade da justiça (Constituição Federal, art. 153, § 32), assunto
este a constituir objeto do Capítulo seguinte. (Ib., II/261).
Veja-se, pois, que a primeira questão que se coloca para a Lei Processual é
concernente a qual das partes deve arcar com certas despesas.
O autorizado mestre esclarece ainda a amplitude do conceito de despesas,
para separá-lo do de custas: aquele, mais amplo; este, mais restrito.
Naquele (de despesas) inclui gastos cujo pagamento seja devido ao Estado,
aos sujeitos do processo (principais ou secundários), a auxiliares do juízo e a
“pessoas que colaboram no desenvolvimento dessa relação” (v. p. 261).
A seguir (e para fi car ainda com o ilustre processualista pátrio), importa
não confundir a responsabilidade provisória de cada uma das partes por despesas
do processo, com a responsabilidade defi nitiva (ainda das partes), porque cada
uma se orienta por princípios diversos que a lei recebeu da doutrina.
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
284
Na verdade, no que diz com a responsabilidade definitiva por custas
o Código vigente manteve o princípio da sucumbência (que constava já na
legislação anterior) como seu fundamento, ao dispor que o vencido deve arcar
com as despesas necessárias a preservar, declarar ou restabelecer o direito da
parte que demonstrou ter razão, desprezada qualquer consideração quanto ao
elemento subjetivo da conduta daquele que, agindo contra o direito (objetivo e
subjetivo), constrangeu outrem a demandar.
É a regra do art. 20 do CPC.
Se assim não fosse, aliás, o direito da parte que demonstra ter razão nunca
seria completamente assegurado, senão apenas parte de seu direito (abatidas as
custas e despesas do processo).
Por igual, o direito objetivo também não atuaria integralmente mas,
mutilado (menos custas e despesas).
Amaral Santos, novamente, perfi lhando sugestão de Frederico Marques, ao
classifi car os sujeitos de relação processual, escreve:
Em suma, acompanhado Frederico Marques, assim agrupamos os sujeitos do
processo: a) sujeitos principais (juiz e partes); b) patronos das partes; c) Ministério
Público; d) sujeitos secundários (auxiliares da justiça e terceiros desinteressados).
(Primeiras Linhas, 6ª ed., Saraiva, 1978, I/266).
Nesta classifi cação, os peritos (tanto quanto as testemunhas) entram na
classe dos sujeitos secundários desinteressados, estranhos ao aparelho orgânico
do serviço.
Diverso, por conseguinte, é o caso em que o feito (desapropriação ou
qualquer outro) solicite serviços de terceiros, juridicamente alheios à estrutura
orgânica da Justiça como serviço público: quando isto ocorra, tem-se que
o serviço público (no caso, serviço de Justiça) precisa solicitar (e, portanto,
retribuir) a colaboração de profi ssionais liberais.
Se é certo que ninguém se escusa de cooperar com a jurisdição nos termos
do art. 339 do Cód. de Processo Civil, não menos verdadeiro também é que
a Constituição da República, ao estabelecer as linhas fundamentais da ordem
econômica e dos direitos individuais, mantém o princípio da livre iniciativa e da
liberdade profi ssional (art. 5º, XIII e 170, parágrafo único).
Bem por isso, a colenda Primeira Seção desta Corte, na forma de seus
reiterados precedentes, fi rmou entendimento segundo qual a Fazenda Pública
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (17): 265-337, março 2011 285
e suas autarquias estão sujeitas ao adiantamento das despesas processuais,
inclusive as referentes a realização da perícia.
Eis porque, com expressa ressalva da isenção quanto a custas e, bem
assim, no que concerne a remuneração de assistentes técnicos que mantenham
relação de natureza estatutária ou empregatícia com a Fazenda Pública, meu
voto acompanha o entendimento sufragado pela corrente capitaneada pelo
eminente Ministro Relator, no sentido de rejeitar os presentes embargos de
divergência.
VOTO-VOGAL
O Sr. Ministro António de Pádua Ribeiro: - Sr. Presidente, tenho convicção
formada sobre essa matéria. Tenho votado no mesmo sentido que ora acaba de
ser sustentado, brilhantemente, pelo Eminente Ministro Romildo Bueno de
Souza, na consonância do voto proferido pela não menos Eminente Ministro-
Relator.
Sobre o tema, a questão veio a baila, inclusive neste Tribunal, de forma
análoga, no que toca às despesas de condução do ofi cial de justiça. O antigo
Tribunal Federal de Recursos tinha uma súmula, segundo a qual, à vista do art. 27
do Código de Processo Civil, a Fazenda Pública não estava obrigada a adiantar
as despesas de condução do ofi cial de justiça. Tentei, naquela Corte, várias vezes,
a revogação dessa súmula, e, felizmente, aqui nesta Corte, a jurisprudência, a
qual é do meu conhecimento, foi no sentido contrário ao referido verbete. O
argumento para revogá-la, com base em acórdão do Supremo Tribunal Federal,
é o de que não é possível se impor a terceiros obrigações que não decorram de
lei. Como forçar um terceiro, ofi cial de justiça, a fi nanciar o processo das partes,
ainda que uma dessas partes seja uma entidade de Direito Público? Isso é algo
inconcebível, aberrante e absurdo.
Assim, fi rmou-se a nossa jurisprudência.
A questão, agora, é um pouco diferente, diz respeito às despesas de perícia.
Um terceiro, particular, é nomeado perito e será obrigado a fazer a perícia sem
que o órgão público adiante as despesas? Evidentemente que não. Não há lei
alguma que lhe imponha essa obrigação. Nessa mesma linha tenho votado.
Acompanho o voto do Eminente Sr. Ministro-Relator.
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
286
VOTO
O Sr. Ministro Eduardo Ribeiro: - O tema em exame de há muito incomoda
os julgadores. O Sr. Ministro Pádua Ribeiro mencionou o que a propósito se
decidiu no Tribunal Federal de Recursos. Devo lembrar que, em relação às
execuções fi scais, a lei específi ca contém dispositivo que difi cilmente ensejaria a
solução a que aderiu o eminente Relator. No caso, entretanto, incide o Código de
Processo Civil e, como observou o Ministro Bueno de Souza, cuida-se do trabalho
que haverá de ser prestado por alguém que é estranho ao aparelho judicial. A
situação é diversa dos que ocupam cargos integrantes de sua estrutura, em relação
aos quais ainda se pode dizer que assumiram tais encargos quando tomaram posse.
Em caso como o dos autos cria-se um impasse. O perito pode carecer de
adiantamento para despesas e não seria razoável que a parte que não requereu a
perícia, que nela não tem interesse, haja de arcar com tais custos.
Entendo que a distinção feita pelo Ministro Bueno de Souza acomoda-se
ao espírito da lei, considerada no ordenamento em que inserida.
VOTO
O Sr. Ministro José de Jesus Filho: Sr. Presidente. Desde quando Juiz
de Primeiro Grau, lidando com os interesses da Fazenda Nacional, senti o
problema; a grande difi culdade de recrutar peritos competentes para fazer as
perícias e aguardar o recebimento dos seus honorários ao fi nal.
Quando cheguei ao Tribunal Federal de Recursos, de pronto, me fi liei à
corrente capitaneada pelo Ministro Antônio de Pádua Ribeiro, para revogar a
Súmula n. 154 do Tribunal Federal de Recursos, que, evidentemente, criava um
obstáculo no caso dos ofi ciais de justiça. Está dito no art. 139 do Código de
Processo, que os peritos são auxiliares do juiz, dentre outros, o escrivão, o ofi cial
de justiça, o depositário, o administrador e o intérprete. Como diz o Ministro
Bueno de Souza, o ofi cial de justiça e os auxiliares têm que receber antecipado,
pois fazem trabalhos externos.
Por essas considerações, também acompanho o voto do Eminente Relator.
VOTO-VOGAL
O Sr. Ministro Hélio Mosimann: Sr. Presidente, acompanho o Eminente
Relator, data venia, em face da posição assumida pela maioria desta Corte
Especial sobre a matéria.
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (17): 265-337, março 2011 287
RECURSO ESPECIAL N. 10.945-SP (91.0009320–3)
Relator: Ministro Fontes de Alencar
Recorrente: Fazenda do Estado de São Paulo
Recorrido: Amazilio Cunha de Oliveira
Advogados: Paulo César Silveira de Toledo e outros e Ivan Ferreira Valim
EMENTA
Honorários de perito. Fazenda Pública.
A Fazenda Pública, quando parte na causa, deve depositar
previamente os honorários do perito judicial.
Recurso especial de que se não conheceu.
Unânime.
ACÓRDÃO
Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas: Decide
a Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, não conhecer
do recurso, na forma do relatório e notas taquigráfi cas constantes dos autos, que
fi cam fazendo parte integrante do presente julgado. Os Srs. Ministros Sálvio de
Figueiredo, Barros Monteiro e Athos Carneiro votaram com o Relator. Ausente,
por motivo justifi cado, o Sr. Ministro Bueno de Souza.
Brasília (DF), 22 de setembro de 1992 (data do julgamento).
Ministro Athos Carneiro, Presidente
Ministro Fontes de Alencar, Relator
DJ 07.12.1992
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Fontes de Alencar: Trata-se de recurso especial interposto
com fundamento no art. 105, III, a e c, da Constituição Federal, contra
decisão que manteve o despacho que determinara à Fazenda do Estado
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
288
depositar previamente os honorários do perito judicial, na ação possessória em
que é autora.
O acórdão proferido pela Eg. Quarta Câmara do Primeiro Tribunal de
Alçada do Estado de São Paulo guarda os seguintes fundamentos:
A questão do adiantamento dos salários do perito, nas causas em que a
Fazenda Pública é parte, não se resolve com a aplicação do enunciado no artigo
27 do Código de Processo Civil. Este dispositivo constitui-se em simples preceito
de previsão dos ônus da sucumbência, no sentido de que, dentre as verbas
devidas pela parte vencida, se incluem as decorrentes de atos requeridos pela
Fazenda Pública e pelo Ministério Público.
Assim, como já decidiu esta Câmara, no caso de adiantamento de despesas
para perícia, requerida pela Fazenda Pública ou determinada pelo juiz quando
esta é autora, prevalece a regra geral do artigo 19, parágrafo 2º, reforçada pelo
disposto no artigo 33 do Código de Processo Civil.
Em suma, o artigo 27 do Código de Processo Civil não isenta a Fazenda Pública
de adiantar despesas processuais atinentes às despesas da perícia, mas refere-se
a verbas de sucumbência, que o vencido suporta a fi nal, quando se trata de atos
praticados a requerimento dela ou do Ministério Público. Neste sentido, aliás,
também decidiu a colenda Quinta Câmara deste Tribunal (Agravo de Instrumento
n. 413.989-9 da comarca de São Paulo) e fi rmou-se a jurisprudência do Egrégio
Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo (RJTJESP - Lex - números 110/307,
104/307, 99/287, 87/273, 86/270). (fl s. 34-35).
Inconformada, alega a Fazenda Pública violação do artigo 27 do Código
de Processo Civil, além de dissídio jurisprudencial (fl s. 37-43).
Pelo despacho de fl s. 64-65 foi o recurso admitido, subindo os autos a esta
Corte.
VOTO
O Sr. Ministro Fontes de Alencar (Relator): A matéria objeto do recurso
diz respeito a obrigatoriedade, ou não, da Fazenda Pública, sendo autora da
ação, pagar antecipadamente as despesas processuais pertinentes aos honorários
do perito judicial.
No tocante a alegação de ofensa ao art. 27, do Código de Processo Civil,
em matéria similar, a Segunda Turma desta Corte, no REsp n. 5.209, da relatoria
do Ministro Américo Luz, entendeu que vulnera o mencionado dispositivo a
cobrança antecipada dos honorários do perito judicial, consoante se infere da
seguinte ementa:
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (17): 265-337, março 2011 289
Processual Civil. Fazenda Pública. Perícia. Depósito prévio. Art. 27 do CPC.
- Por força do aludido preceito legal, a Fazenda Pública fi ca desobrigada de
depositar previamente a paga do perito, a ser feita pelo vencido, a fi nal.
- Recurso provido.
De igual modo, a Primeira Turma, ao julgar o REsp n. 4.841, relatado pelo
Ministro Garcia Vieira, assim ementado o acórdão respectivo:
Processual. Honorário de perito. Depósito prévio.
O estabelecido no Código de Processo Civil, artigo 27 é que as despesas dos
autos processuais efetivados a requerimento do Ministério Público ou da Fazenda
Pública, serão pagas a fi nal pelo vencido, portanto, não está a Fazenda Pública,
sujeita a adiantamento.
Na mesma diretriz são os seguintes julgados do antigo Tribunal Federal de
Recursos: Ag n. 59.423, Rel. Ministro José Dantas, Ag n. 56.710, Rel. Ministro
Edson Vidigal, Ag n. 56.593, Rel. Ministro William Patterson, Ag n. 53.901,
Rel. Ministro Dias Trindade, Ag n. 42.466, Rel. Ministro Romildo Bueno e Ag
n. 41.803, Rel. Ministro Carlos Velloso.
Nada obstante os precedentes referidos, outra a minha posição, pois
entendo que o art. 27 do Código de Processo Civil não tem a abrangência que as
decisões referidas lhe deram.
Merece atenção, a propósito, o RE n. 108.235-SP. No referido recurso
extraordinário o Colendo Supremo Tribunal Federal, ao tempo em que de
sua competência era apreciar a alegação de ofensa a lei federal, conquanto
tenha agasalhado, sem ressalta de ser, ou não, a Fazenda Pública parte na
causa, entendimento de que o privilégio do art. 27 do Código de Processo
Civil “alcança o custo do transporte do ofi cial de justiça no cumprimento de
diligência”, o eminente Ministro Francisco Rezek, seu relator, realçou a posição
de Humberto Th eodoro Jr.,
que ressalva do benefício fazendário apenas “os gastos a serem feitos fora dos
serviços públicos, (...) como os honorários de perito não-ofi cial, já que é inexigível
de terceiros a prestação de serviços e a realização de despesas em benefício da
Fazenda Pública, sem o imediato ressarcimento.” (Processo de Conhecimento, Rio,
Forense, 1984, p. 84) - (in RTJ, vol. 120, p. 1.281-1.282).
Já no RE n. 108.183-SP, da relatoria do eminente Ministro Moreira Alves,
a Corte Suprema, em caso que se prendia a despesa para diligência de remoção
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
290
de bem móvel, entendeu não desarrazoada a interpretação dos arts. 27 do
Código de Processo Civil e 39 da Lei n. 6.830/1980
que considera que as despesas em causa são extraordinárias, e, portanto, não
se enquadram nas a que aludem os dispositivos legais acima referidos (RTJ 123,
p. 651).
Douta feita, mais recentemente, quando do julgamento do RE n. 108.845-
SP, o Ministro Moreira Alves, relator, deixou consignado no seu voto:
O fato é que tenho para mim que tanto o artigo 27 do CPC como o artigo
39 da Lei n. 6.830/1980 não abrangem as despesas de condução dos Ofi ciais
de Justiça. O conceito de “custas e emolumentos” de que fala o artigo 39 da
Lei e o termo “despesas dos atos processuais” do estatuto processual não têm
o alcance pretendido pela Exeqüente, pois se referem tão-somente aos atos
de responsabilidade da Serventia, não a atos exteriores do processo. Enxergar
além nesses preceitos é conceder à Fazenda Pública privilégio que, em última
análise, viola o princípio constitucional de isonomia, previsto no § 1º do artigo
153 da Constituição Federal; ou seja, se as leis federais acima citadas quiserem
efetivamente conceder tais privilégios a uma parte do processo, são elas
inconstitucionais na parte em que os estabelecerem, (...)
Do voto, no caso mencionado, do eminente Ministro Moreira Alves e o
seguinte arremate:
Observo fi nalmente - (...) que o artigo 39 da Lei n. 6.830/1980, que, de certa
forma, veio explicitar o sentido do artigo 27 do CPC, não conduz necessariamente
à exegese de que a Fazenda não está sujeita ao adiantamento de despesas
como as de condução do Ofi cial de Justiça, de remoção de bens penhorados, de
pagamento a perito, pois ele, depois de preceituar que a Fazenda Pública não
está sujeita ao pagamento de custas e emolumentos, acentua que a prática dos
atos judiciais de seu interesse independerá de preparo ou de prévio depósito,
expressão última - prévio depósito - que muitos têm entendido que só existiria
para tais despesas, o que não é exato, sabido como é que, por vezes, a legislação
processual exige prévio depósito para recorrer ou para propor ação rescisória.
(RTJ 127, p. 228-234).
A doutrina tem dado atenção ao tema. Com efeito, assinala o Ministro
Sálvio de Figueiredo em seu “Código de Processo Civil Anotado”, fazendo
remissão a Pontes de Miranda:
A regra do art. 27 se aplica as causas nas quais as pessoas jurídicas de direito
público não são partes. (p. 26, 4ª ed., Saraiva, 1992).
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (17): 265-337, março 2011 291
De sua vez, o mestre Hélio Tornashi observara logo em 1974:
O art. 27 demonstra insofi smovelmente que os atos efetuados a requerimento
da Fazenda Pública podem acarretar despesas. Ainda que a lei a isentasse de
custas, outros gastos poderão ser inevitáveis sem que possam ser fi nanciados
para pagamento ao fi nal. Se assim é, cumprira dizer quem adianta essas despesas.
Parece ter havido cochilo quandoque bonus (...) (“Comentários ao Código de
Processo Civil”, vol. I, p. 160, Ed. Rev. dos Tribunais).
De seu turno, Celso Agrícola Barbi escolia o aludido art. 27 do Código de
Processo Civil assim:
A Fazenda Pública pode atuar em Juízo, como autora ou ré, em defesa de seus
direitos. (...).
Mas se sua intervenção não tem esse caráter, mas sim o de mera atividade
fi scalizadora, como v.g., para verifi car o pagamento de tributos ou contribuições
que lhe sejam devidas, aí terá aplicação a regra do art. 27. (“Comentários ao
Código de Processo Civil”, p. 215, Anexo I, vol. I, 1ª ed., Forense, 1975).
Ante o exposto, nem sequer lobrigo, no caso, ofensa ao art. 27 do Código
de Processo Civil.
Quanto ao dissenso jurisprudencial alegado, não no encontro demonstrado,
pois um dos arestos trazidos à colação o foi por via de ementa, e o outro versa
sobre dispositivo do Estatuto Processual Civil de 1939.
Destarte, não conheço do recurso.
RECURSO ESPECIAL N. 13.934-SP (91.173762)
Relator: Ministro Nilson Naves
Recorrente: Municipalidade de São Paulo
Recorridos: Álvaro Augusto e outros
Advogados: Maria Regina Ferro Queiroz Penteado e outro e Fuad
Abbud Junior
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
292
EMENTA
Despesa processual em ação de usucapião. Honorários de perito,
a cargo da Fazenda Pública. 1. Antecipação da despesa. Hipótese em
que, tendo sido, após suscitado o incidente, depositados os honorários
(ao que parece, pela parte contrária, mas o tema relativo à autoria
é irrelevante), a questão da antecipação tornou-se acadêmica, não
ensejando pronunciamento a seu respeito. 2. Opinião do Relator sobre
o assunto em discussão. 3. Recurso especial não conhecido.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da 3ª
Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas
taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, não conhecer do recurso especial.
Participaram do julgamento os Srs. Ministros Eduardo Ribeiro, Dias Trindade,
Waldemar Zveiter e Cláudio Santos.
Brasília (DF), 09 de junho de 1992 (data do julgamento).
Ministro Nilson Naves, Presidente e Relator
DJ 31.08.1992
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Nilson Naves: - Em ação de usucapião, foi a Municipalidade
de São Paulo, requerente da perícia, compelida a depositar certa importância,
para garantia dos salários do perito. Inconformada com o ato judicial, agravou
mas o agravo foi improvido, verbis:
Os salários do perito, foram depositados, mas isto não signifi ca prejuízo ao
agravo como pretende o Dr. Procurador da Justiça.
É que necessário se faz que se estabeleça em defi nitivo julgamento à espécie,
para fi rmar posição em face do problema.
É certo que o art. 20, § 2º do CPC, estipula que ao vencido incumbe o
pagamento de honorários de advogado do vencedor e que pague as despesas
já antecipadas pelo vencedor ou outras a serem pagas pelo mesmo vencido ou
já pagas.
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (17): 265-337, março 2011 293
Ocorre, todavia, que o art. 19 do CPC determina que cada parte deverá
antecipar o pagamento das despesas dos atos que requerer, incluindo-se, assim,
as despesas com perícia, o que não impede o reembolso, caso vença a demanda.
Isto precisamente quer dizer que a Municipalidade, caso vença a demanda,
não virá a sofrer qualquer prejuízo, não se podendo cogitar que o autor pague as
despesas por antecipação, de vez que inaplicável à espécie o disposto no art. 19,
§ 2º do CPC.
Isto posto, nega-se provimento ao agravo.
Daí o recurso especial, em torno do art. 27 do Cód. de Pr. Civil, inadmitido
na origem, que subiu mercê do provimento ao agravo.
O Dr. Nelson Parucker, Subprocurador-Geral da República, emitiu parecer
pelo provimento do recurso, nestes termos:
5. De fato, tem razão, permissa venia, a Recorrente, no particular. Com efeito,
embora os dispositivos legais invocados na inconformidade última não tenham
sido expressamente ventilados no ven. aresto atacado e não se haja interposto os
cabíveis embargos declaratórios para sanar a omissão, é certo que a controvérsia
foi inequivocamente objeto de apreciação pelo Eg. Tribunal Revisor, de sorte a
não serem aplicáveis, no caso, concessa venia, os Enunciados das Súmulas n. 282 e
n. 356, do Pretório Excelso, a obstarem o exame da insurgência derradeira.
6. A seu turno, também é verdadeiro que os reportados honorários provisórios
do perito já foram depositados (fl . 21), supostamente pela parte contrária, o que
poderia propiciar a prejudicialidade do recurso em questão. Contudo, não é bem
assim. Deveras, cumpre solucionar a divergência, ante os nítidos termos dos arts.
27 e 33, da lei de ritos, que proporcionam à Fazenda Pública o pagamento de tal
verba somente a fi nal, se vencida, salientando-se que, em casas que tais, havendo
ambas as partes postulado dita prova, o adiantamento compete aos Autores.
7. De outro lado, os preceitos legais utilizados pelo ven. julgado que se
guerreia, data venia, são os inteiramente impróprios para a situação em foco.
8. Nestas condições, com a devida vênia, merece prosperar o recurso especial
de que se trata.
É o relatório.
VOTO
O Sr. Ministro Nilson Naves (Relator): - De início, tenho duas razões para
não conhecer do recurso. Penso que a questão tornou-se acadêmica, a partir do
momento em que ocorreu o depósito. Lembro que a ré insurgiu-se contra o ato
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
294
judicial que determinara que ela depositasse certa importância, para garantia dos
salários do perito, daí a origem deste agravo de instrumento, em grau de especial.
Ao contrário da compreensão do Sr. Subprocurador-Geral da República (por
igual, confi ra-se o acórdão), a questão perdeu o seu interesse (a parte não teria
mais interesse por ela), vez que uma das partes efetuou o depósito e a ação,
conseqüentemente, seguiu o seu curso. Posto isto, a outra razão tem a ver com a
falta do prequestionamento. É que, a meu sentir, o assunto foi versado ao redor
dos arts. 19 e 20 do Cód. de Pr. Civil, bem como dos seus parágrafos. O acórdão
não dedicou nem uma palavra ao disposto no art. 27 do mesmo Código, tema
do recurso, e a recorrente não entrou com os embargos de declaração. Vem assim
a pêlo o princípio das Súmulas n. 282 e n. 356.
2. Superado que seja o obstáculo que acabei de apresentar, conheceria do
recurso pela alínea c, embora a recorrente o tenha interposto com referência
apenas à alínea a (“com fundamento no art. 105, inciso III, alínea a da
Constituição Federal (...)”). É que, apesar da falta de referência à alínea c, foi,
neste caso, apresentado dissídio quanto à interpretação do aludido art. 27, e
tenho, em casos assim, a saber, quando deduzido o fundamento que ensejaria o
recurso pela divergência, examinado a alegação. Seria o princípio da iura novit
curia, que, no pormenor, tenho por aplicável ao apelo extremo.
3. Conhecendo do recurso, valho-me dessa nota de Th eotonio Negrão:
Art. 27: 2. Dos arts. 27 e 19, § 2º, combinados, resulta:
- que o autor (mesmo que seja a Fazenda Pública: RJTJESP 110/307) é obrigado
a adiantar as despesas de atos determinados de ofício pelo juiz ou a requerimento
do MP;
- que a Fazenda Pública, sendo autora, é obrigada a adiantar as despesas
judiciais dos atos que requerer (contra: RT 632/105, maioria); sendo ré, o autor
terá de adiantar as despesas dos atos por ela requeridos.
A questão não é pacífi ca. (in Código de Processo Civil (...), 21ª edição, p. 74).
Pois bem, o meu entendimento é o de que, cabe à Fazenda Pública, na
condição de autora ou ré, antecipar pagamentos como qualquer autor ou réu,
qual a previsão do art. 19. O privilégio do pagamento a fi nal, se vencida, tal
a previsão do art. 27, dá-se quando a Fazenda atua no exercício de atividade
fi scalizadora, “como, v.g.,”, afi rma Celso Agrícola Barbi (Comentários (...), p.
214), “para verifi car o pagamento de tributos ou contribuições que lhe sejam
devidas”. Em relação a privilégios, e de privilégio cuida o art. 27 (mormente
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (17): 265-337, março 2011 295
quanto à Fazenda), requer-se exegese estrita, parecendo-me melhor, inclusive
para meu conforto pessoal, a interpretação segundo a qual aplica-se a norma em
comento quando houver atividade fi scalizadora.
4. Ante o exposto, não conheço do recurso especial, conhecido que seja pela
alínea c, nego-lhe provimento.
VOTO COMPLEMENTAR
O Sr. Ministro Nilson Naves (Relator): - Opinando a Turma pelo não
conhecimento do recurso, deixo a segunda parte do voto registrada como
opinião pessoal. Repito, não conheço do recurso especial.
RECURSO ESPECIAL N. 14.333-SP (91.0018219-2)
Relator: Ministro Humberto Gomes de Barros
Recorrente: Município de São Paulo
Recorrido: Amaro Celestino da Silva
Advogados: Maria Fernanda F. P. Fortunato e Sérgio Francisco
Coimbra Magalhães
EMENTA
Processual. Honorários do perito. Estado. Depósito prévio. Art.
27 do CPC.
O Estado é obrigado a adiantar honorários de perito, nos
processos em que é autor, ou onde tenha requerido prova pericial.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Primeira
Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas
taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, negar provimento ao recurso. Votaram
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
296
com o Sr. Ministro Relator os Srs. Ministros Milton Luiz Pereira, Cesar Asfor
Rocha, Garcia Vieira e Demócrito Reinaldo.
Brasília (DF), 21 de setembro de 1994 (data do julgamento).
Ministro Demócrito Reinaldo, Presidente
Ministro Humberto Gomes de Barros, Relator
DJ 19.12.1994
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Humberto Gomes de Barros: Reporto-me a ementa do
acórdão recorrido, in verbis:
Perito. Salários provisórios. Ação proposta pela Fazenda Pública, que ademais
requereu a prova. Depósito prévio. Necessidade. Ônus da Fazenda. Interpretação
dos arts. 19 e 27 do CPC.
Em todos os processos, salvo o de execução fi scal, os salários provisórios do
perito, enquanto modalidade de despesas de atos processuais, devem sempre
ser, nos termos do art. 19, caput e § 2º, do CPC, antecipados pela Fazenda Pública,
quando, sendo parte, haja requerido a prova, ou, sendo autora, a prova tenha
sido ordenada de ofício pelo juiz. Não se aplica o art. 27, que regula apenas a
responsabilidade final pelas despesas de atos praticados a requerimento da
fazenda, quando esta intervenha noutra condição que não a de parte no processo
(fl . 22).
Acrescento que o Egrégio Tribunal de Justiça de São Paulo negou
provimento ao agravo.
O Estado de São Paulo interpôs recurso especial, com fundamento na
alínea a do permissivo constitucional. Afi rma que o acórdão desobedeceu ao
preceito contido no artigo 27 do Código de Processo Civil.
É o relatório.
VOTO
O Sr. Ministro Humberto Gomes de Barros (Relator): - A questão é
conhecida e se encontra pacifi cada nesta Corte. Veja o que se decidiu no REsp
n. 10.945-5-SP, da relatoria do E. Sr. Ministro Fontes de Alencar:
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (17): 265-337, março 2011 297
Nada obstante os precedentes referidos, outra a minha posição, pois entendo
que o art. 27 do Código de Processo Civil não tem a abrangência que as decisões
referidas lhe deram.
Merece atenção, a propósito, o RE n. 108.235-SP. No referido recurso
extraordinário o Colendo Supremo Tribunal Federal, ao tempo em que de sua
competência era apreciar a alegação de ofensa a lei federal, conquanto tenha
agasalhado, sem ressalva de ser, ou não, a Fazenda Pública parte na causa,
entendimento de que o privilégio do art. 27 do Código de Processo Civil “alcança
o custo do transporte do oficial de justiça no cumprimento de diligência”, o
eminente Ministro Francisco Rezek, seu relator, realçou a posição de Humberto
Theodoro Jr.,
que ressalva do benefício fazendário apenas os gastos a serem feitos fora
dos serviços públicos (...) como os honorários de perito não-ofi cial, já que é
inexigível de terceiros a prestação de serviços e a realização de despesas
em benefício da Fazenda Pública, sem o imediato ressarcimento (Processo
de Conhecimento, Rio, Forense, 1984, p. 84) (in RTJ, vol. 120, p. 1.281-1.282).
Já no RE n. 108.183-SP, da relatoria do eminente Ministro Moreira Alves, a Corte
Suprema, em caso que se prendia a despesa para diligência de remoção de bem
móvel, entendeu não desarrazoada a interpretação dos arts. 27 do Código de
Processo Civil e 39 da Lei n. 6.830/1980,
que considera que as despesas em causa são extraordinárias, e, portanto,
não se enquadram nas a que aludem os dispositivos legais acima referidos
(RTJ 123, p. 651).
Douta feita, mais recentemente, quando do julgamento do RE n. 108.845-SP, o
Ministro Moreira Alves, relator, deixou consignado no seu voto:
O fato é que tenho para mim que tanto o artigo 27 do CPC como o artigo
39 da Lei n. 6.830/1980 não abrangem as despesas de condução dos Ofi ciais
de Justiça. O conceito de “custas e emolumentos” de que fala o artigo 39 da
Lei e o termo “despesas dos atos processuais” do estatuto processual não
têm o alcance pretendido pela exeqüente, pois se referem tão-somente aos
atos de responsabilidade da Serventia, não a atos exteriores do processo.
Enxergar além nesses preceitos é conceder à Fazenda Pública privilégio que,
em última análise, viola o princípio constitucional de isonomia, previsto no
§ 1º do artigo 153 da Constituição Federal; ou seja, se as leis federais acima
citadas quiserem efetivamente conceder tais privilégios a uma parte do
processo, são elas inconstitucionais na parte em que os estabelecerem, (...)
Do voto, no caso mencionado, do eminente Ministro Moreira Alves é o seguinte
arremate:
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
298
Observo finalmente - (...) que o artigo 39 da Lei n. 6.830, que, de
certa forma, veio explicitar o sentido do artigo 27 do CPC, não conduz
necessariamente à exegese de que a Fazenda não está sujeita ao
adiantamento de despesas como as de condução do Ofi cial de Justiça, de
remoção de bens penhorados, de pagamento a perito, pois ele, depois de
preceituar que a Fazenda Pública não está sujeita ao pagamento de custas
e emolumentos, acentua que a prática dos atos judiciais de seu interesse
independerá de preparo ou de prévio depósito, expressão última - prévio
depósito - que muitos têm entendido que só existiria para tais despesas,
o que não é exato, sabido como é que, por vezes, a legislação processual
exige prévio depósito para recorrer ou para propor ação rescisória. (RTJ 127,
p. 228-234).
A doutrina tem dado atenção ao tema. Com efeito assinala o Ministro Sálvio de
Figueiredo em seu “Código de Processo Civil Anotado”, fazendo remissão a Pontes
de Miranda:
A regra do art. 27 se aplica às causas nas quais as pessoas jurídicas de
direito público não são partes. (p. 26, 4ª ed., Saraiva, 1992).
De sua vez, o mestre Hélio Tornaghi observara logo em 1974:
O art. 27 demonstra insofismavelmente que os atos efetuados a
requerimento da Fazenda pública podem acarretar despesas. Ainda que
a lei a isentasse de custas, outros gastos poderão ser inevitáveis sem que
possam ser fi nanciados para pagamento ao fi nal. Se assim é, cumprira dizer
quem adianta essas despesas. Parece ter havido cochilo quandoque bonus
(...) (“Comentários ao Código de Processo Civil”, vol. I, p. 160, Ed. Rev. dos
Tribunais).
De seu turno, Celso Agrícola Barbi escolia o aludido art. 27 do Código de
Processo Civil assim:
A Fazenda Pública pode atuar em Juízo como autora ou ré, em defesa de
seus direitos. (...).
Mas se sua intervenção não tem esse caráter, mas sim o de mera
atividade fi scalizadora, com v.g., para verifi car o pagamento de tributos ou
contribuições que lhe sejam devidas, aí terá aplicação a regra do art. 27.
(“Comentários ao Código de Processo Civil”, p. 215, Anexo I, 1ª ed. Forense,
1975).
Ante o exposto, nem sequer lobrigo, no caso, ofensa ao art. 27 do Código de
Processo Civil.
Acompanhando este entendimento, nego provimento ao recurso.
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (17): 265-337, março 2011 299
RECURSO ESPECIAL N. 18.172-SP (92.0002612-5)
Relator: Ministro Eduardo Ribeiro
Recorrente: Aníbal Mesquita da Silva
Recorrido: João Antônio Zuff o
Advogados: Th eo Escobar e outros
Sílvio Resende Duarte e outros
EMENTA
Honorários de perito.
Sua fixação, dependente como é da valoração do trabalho
efetuado, não enseja revisão pela via do especial.
O respectivo montante deve, em princípio, fi xar-se desde logo,
em atenção à regra de que o pagamento das despesas haverá de ser
adiantado pelas partes.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Terceira
Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas
taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, conhecer do recurso especial pela alínea
c, mas lhe negar provimento. Votaram com o relator os Srs. Ministros Dias
Trindade. Waldemar Zveiter, Cláudio Santos, Nilson Naves.
Brasília (DF), 14 de abril de 1992 (data do julgamento).
Ministro Nilson Naves, Presidente
Ministro Eduardo Ribeiro, Relator
DJ 11.05.1992
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Eduardo Ribeiro: - Nos autos da ação de nunciação
de obra nova ajuizada por Aníbal Mesquita da Silva contra João Antônio
Zuff o, arbitrada a verba destinada a remuneração do perito, o autor agravou
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
300
de instrumento. Alegou que excessiva e imprópria a época determinada para
seu pagamento.
Mantida a decisão e rejeitado o pedido de declaração, foi manifestado
recurso especial.
Com base no artigo 105, III, c, da Constituição Federal, o autor relacionou
julgados que afi rmou divergentes no que diz com a oportunidade do pagamento
ao perito.
Reconhecida a divergência, o recurso foi admitido e processado.
É o relatório.
VOTO
O Sr. Ministro Eduardo Ribeiro (Relator): - Impugna o agravante o valor
dos honorários fi xados para remunerar o trabalho do perito, assim como a
oportunidade em que isso se fez. Considera que própio o momento da sentença.
No que diz com o montante da verba, não se demonstrou tivesse havido
violação da lei. Trata-se de avaliar o trabalho realizado, o que não se compadece
com a via do especial. A propósito de honorários de advogado, aliás, o Supremo
Tribunal Federal consubstanciou, na Súmula n. 389, o entendimento de que sua
fi xação escapava ao âmbito do extraordinário.
Relativamente a quando se deva proceder ao arbitramento, também não
assiste razão ao recorrente. Como salientado pelo recorrido, devem as partes
antecipar o pagamento das despesas processuais. É o que determina o artigo 19
do CPC. Nem se justifi cariam maiores delongas no saldar tais despesas.
Encontrando-se os autos no Tribunal, trouxe o agravante a alegação de que
o perito não se encontrava habilitado. A circunstância há de ser examinada em
primeiro grau, podendo o juiz, em face do fato novo, reexaminar sua decisão. Não
se pode adiantar pronunciamento sobre o tema, sem ofensa ao contraditório.
Conheço, em vista do dissídio, mas nego provimento.
RECURSO ESPECIAL N. 29.090-PE (92.0028585-6)
Relator: Ministro Sálvio de Figueiredo
Recorrentes: União Federal
Recorridos: Terceiros incertos e não sabidos
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (17): 265-337, março 2011 301
EMENTA
Processo Civil. Despesas necessárias à realização de perícia
requerida pela União, como parte autora. Inaplicabilidade do art. 27,
CPC. Recurso desacolhido.
À União, quando parte, cumpre promover o recolhimento
antecipado de verba sufi ciente a prover os meios materiais necessários
à realização de perícia por ela requerida, sob risco de, assim não
procedendo, deixar de desincumbir-se do ônus probatório que lhe
caiba.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Quarta
Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas
taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, não conhecer do recurso. Votaram com
o Relator os Ministros Barros Monteiro, Ruy Rosado de Aguiar e Fontes de
Alencar. Ausente, ocasionalmente, o Ministro Antônio Torreão Braz.
Brasília (DF), 08 de agosto de 1995(data do julgamento).
Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira, Relator e Presidente
DJ 11.09.1995
EXPOSIÇÃO
O Sr. Ministro Sálvio de Figueiredo: Requerida pela União, em sede de
ação de discriminação e demarcação de terras por ela proposta, a realização de
prova pericial, o Juiz, atendendo a solicitação do expert nomeado, determinou à
autora efetuasse o adiantamento de 5.564,72 BTNs para fazer face às despesas
com o levantamento topográfi co da área.
Interposto agravo, o Tribunal Regional Federal da 5ª Região negou-lhe
provimento, lançando acórdão assim ementado:
Processual Civil. Despesas processuais. Antecipação. Prova pericial requerida
pela União.
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
302
1. De modo a evitar-se que se onere indevidamente o perito do juízo com
encargos que não lhe cabem, há de conjugarem-se os comandos do art. 27 e
19 do CPC, cabendo assim à União, antecipar as despesas encontradas como
necessárias pelo perito judicial para levar a efeito a perícia.
2. Agravo improvido.
Do voto condutor, da lavra do Juiz Petrúcio Ferreira, colhe-se, a título de
fundamentação:
Entendo que, em se tratando de despesas de atos processuais efetuado a
requerimento do MP ou da Fazenda Pública a regra, in genere, é a do art. 27 do CPC,
importando, no entanto, em se considerando situações fáticas especiais, fazer-se
uma correlação entre o disposto no referido artigo com a disposição expressa
no art. 19 da Lei Processual Civil que, excluindo as disposições concernentes
à Justiça gratuita, estabelece caber às partes prover as despesas dos atos que
realizem ou requerem no processo antecipando-lhes o pagamento desde o início
até a sentença fi nal, bem como, se se cuida de execução até a plena satisfação do
direito declarado pela sentença.
A ratio essendi de tal dispositivo está na impossibilidade de exigir-se a
efetivação de atos processuais que exijam despesas sem que, sem a devida
alocação da verba necessária, se criem condições do seu próprio exercício ou,
como ocorre no presente feito, se onere àquele que tem um munus judicial -
perito do juízo - a exercer tal munus dispendendo antecipadamente valores
destinados a cobrir despesas.
Inconformada, a União manifestou recurso especial, alegando afronta aos
arts. 27, CPC e 9°, I, CC 2°, IV, da Lei n. 6.032/1974. Sustenta:
a) que não está obrigada a antecipar despesas processuais;
b) que, ao entender em sentido contrário, o Colegiado regional, a par de
impor a ela, recorrente, encargo a que não está sujeita, desconsiderou o princípio
da previsão orçamentária para realização de gastos.
Sem contra-razões, foi o apelo admitido na origem, tendo a douta
Subprocuradoria-Geral da República opinado pelo não conhecimento, em
parecer assim sumariado:
Demarcação e discriminação judicial de terras da União. Prestação jurisdicional
requerida pela União, desacompanhado do mínimo de provisão administrativa
para se desincumbir do ônus probatório. REsp que não se conhece.
É o relatório.
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (17): 265-337, março 2011 303
VOTO
O Sr. Ministro Sálvio de Figueiredo (Relator): Em sede doutrinária,
escudado em Pontes de Miranda, já tive ensejo de sustentar que “a regra do art.
27 se aplica às causas nas quais as pessoas jurídicas de direito público não são
partes” (“Código de Processo Civil Anotado”, Saraiva, 5ª ed., art. 27, p. 26).
Esta Quarta Turma, por sua vez, quando do julgamento do REsp n.
10.945-0-SP, relatado pelo Sr. Ministro Fontes de Alencar, decidiu:
Honorários de perito. Fazenda Pública. A Fazenda Pública, quando parte na
causa, deve depositar previamente os honorários do perito judicial.
Recurso especial de que se não conheceu.
Unânime (DJ de 07.12.1992).
Nesse mesmo sentido os REsps n. 14.914-PR, relator o Sr. Ministro Pádua
Ribeiro, e n. 37.298-4-SP, relator o Sr. Ministro Demócrito Reinaldo, assim
respectivamente sumariados:
Processual Civil. Honorários de perito. Depósito prévio pela Fazenda Pública.
CPC, art. 27. Interpretação.
I - O art. 27 do CPC não tem aplicação, em se tratando de depósito prévio de
honorários, para fi ns de perícia a ser realizada por profi ssional estranho ao quadro
da Justiça.
II - Recurso especial conhecido e desprovido.
(REsp n. 14.914-PR, Rel. Min. Antônio de Pádua Ribeiro, DJ de 06.12.1993).
Processual Civil. Honorários de perito avaliador estranho ao quadro da Justiça.
Depósito prévio pela Fazenda Pública. Artigo 27 do CPC. Inaplicabilidade à
espécie.
Consoante jurisprudência predominante nesta egrégia Corte, a Fazenda
Pública está sujeita ao depósito prévio de honorários de perito avaliador, para
fi ns de perícia a ser realizada por profi ssional estranho ao quadro da Justiça.
Precedente.
Recurso desprovido, sem discrepância.
(REsp n. 37.298-4-SP, Rel. Min. Demócrito Reinaldo, DJ de 11.04.1994).
No caso vertente, com mais razão não tem incidência a norma do art.
27, CPC, na medida em que, consoante assinalado na decisão agravada, a
antecipação foi requerida pelo perito não para fazer face a seus honorários, mas
sim para prover os meios materiais “indispensáveis a elaboração da perícia”.
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
304
Não se mostra admissível entender que tais gastos tenha o perito que
realizá-los com recursos próprios para a fi nal ver-se reembolsado pelo vencido.
O lógico é que se aplique, em relação a essas despesas, o disposto no art. 19,
CPC, fi cando a União, quando autora, obrigada a antecipar-lhes o pagamento,
isso, é claro, se a providência ou ato que demande custeio tiver sido por ela,
União, requerido. Esse, aliás, o entendimento que tem sido adotado por esta
Corte no que respeita às despesas de condução do ofi cial de justiça, sendo
exemplifi cativos a propósito os REsps n. 41.186-6-SP, relator o Sr. Ministro
Hélio Mosimann, e n. 40.368-5-SP, relator o Sr. Ministro Pádua Ribeiro, este
último assim ementado:
Processual Civil. Despesas de condução do ofi cial de justiça. Pagamento pela
Fazenda Pública.
I - Os arts. 27 do CPC, e 39 da Lei n. 6.830, de 22.09.1980, não obrigam o
meirinho a financiar despesas para permitir a prática de atos processuais do
interesse de entidades públicas, retirando da sua remuneração, que é paga pelo
Estado, de quantias com aquela fi nalidade. O caso não é de simples iniquidade,
mas de falta de obrigação legal.
II - Dissídio com a Súmula n. 154 do extinto TFR confi gurado.
III - Recurso especial conhecido, mas desprovido.
(REsp n. 40.368-5-SP, Rel. Min. Pádua Ribeiro, DJ de 11.04.1994).
A questão da alegada falta de previsão orçamentária para realização de
tais dispêndios não interessa à solução da controvérsia, revelando-se apropriada
suscitá-la perante as esferas administrativa e legislativa incumbidas da
elaboração do orçamento. O certo é que, se por imprevidência, deixar a União de
proporcionar os meios necessários à realização da diligência requerida, suportará
os efeitos processuais daí decorrentes, conforme, com a habitual percuciência,
assinalado pelo Dr. Roberto Casali ao ofi ciar nestes autos:
Ao que se verifi ca, a dispensa de antecipação de despesas dos atos processuais,
prevista no art. 27 do CPC, não é uma proposição apodítica de imunidade para
qualquer tipo de despesa processual.
No caso, o embaraço procedimental não decorre de ato imputável ao perito
e a resistência da recorrente revela a necessidade da entidade pública prover-se
de recursos, que possibilitem a prestação jurisdicional, para prevenir o risco de
não se desincumbir do ônus probatório, como neste caso de impossibilidade de
desempenho regular do munus pericial.
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (17): 265-337, março 2011 305
Assim, inexistindo questão de direito federal, mas imprevidência dos serviços
de administração do patrimônio da União, parece-nos que o recurso não deve ser
conhecido.
Em face do exposto, não conheço do recurso.
RECURSO ESPECIAL N. 30.245-SP (92.31811-8)
Relator: Ministro Ari Pargendler
Recorrente: Município de São Paulo
Advogados: José Rubens Barbosa Júnior e outros
Recorridos: Mário Rezende - espólio e outros
Advogados: Jayme Vita Roso e outros
EMENTA
Processo Civil. Honorários periciais. Antecipação do respectivo
montante pela Fazenda Pública. Se o juiz determina a realização de
perícia, em ação por ela promovida, a Fazenda Pública está obrigada
a antecipar o depósito dos honorários periciais. Recurso especial não
conhecido.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Segunda
Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas
taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, não conhecer do recurso, nos termos
do voto do Sr. Ministro-Relator. Participaram do julgamento os Srs. Ministros
Peçanha Martins e Adhemar Maciel. Ausente, justifi cadamente, o Sr. Ministro
Hélio Mosimann.
Brasília (DF), 23 de setembro de 1997 (data do julgamento).
Ministro Peçanha Martins, Presidente
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
306
Ministro Ari Pargendler, Relator
DJ 13.10.1997
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Ari Pargendler: - O Município de São Paulo propôs ação
cautelar, seguida de ação ordinária, contra Mário Rezende e sua mulher, Carolina
Rezende, bem assim contra MarioBraz Empreendimentos e Construções Ltda.,
visando a, na primeira, evitar a expansão de loteamento clandestino “em área
situada no Bairro do Grajaú, denominado ‘Parque Recanto Cocaia’” (fl . 03,
autos em apenso), e, na segunda, a respectiva regularização (fl s. 08-09).
O MM. Juiz de Direito Dr. Yoshiaki Ichiahara julgou procedentes ambas
ações (fl . 98), sentença mantida, por maioria de votos, pela Egrégia Décima
Nona Câmara Civil do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, Relator o
eminente Desembargador Mohamed Amaro (fl s. 207-214).
Seguiram-se embargos de declaração (fl s. 225-228), rejeitados (fl s. 231-
232), bem assim embargos infringentes (fl s. 236-254), acolhidos pela Egrégia
Décima Nona Câmara Civil do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo,
Relator o eminente Desembargador Vallim Bellocchi (fl s. 294-297 e 314-317).
Lê-se no julgado:
Recorreu a autora ao Poder Judiciário colimando obrigar os réus ao
cumprimento de posturas edilícias, no exercício de ato de polícia, para a execução
de legislação sobre o parcelamento do solo urbano. Uma vez que a coerção
administrativa, em princípio, mostrou-se inefi caz, não deveria agir de maneira
diferente, e mais, não veda o ordenamento jurídico o tipo de demanda eleito
pela embargada-autora, na relação município-munícipe. Correto, nesse passo, o
v. acórdão embargado. No mais, e permissa venia, o mérito não tem condições
de ser julgado sem a prova pericial. Há necessidade, mesmo legal, da coleta de
elementos que possam, de uma sorte ou de outra, enriquecer o julgamento,
ou, no mínimo, evitar que se proclame deformado. A propósito, o artigo 420 do
Código de Processo Civil e, diante das circunstâncias do feito, o artigo 5° da Lei de
Introdução ao Código Civil, até para ser expungida eventual ameaça ao direito de
defesa, porque é prova que não repugna a espécie. Recorde-se, por exemplo que
há séria alegação de que loteamento vizinho, em condições similares, nada sofreu
até então. As razões são expostas dessa forma, à vista do cuidado de não haver
resvalo ao mérito (fl s. 295-296). (...) Para a realização da perícia de engenharia
fi ca nomeado o Doutor Amaury Leite de Toledo, sob compromisso, e que terá o
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (17): 265-337, março 2011 307
prazo de trinta dias para apresentar o laudo, mediante o depósito prévio de Cr$
20.000,00, pela autora (art. 19, § 2º, do Código de Processo Civil (fl s. 296-297).
Ambas as partes interpuseram recursos especiais (fl s. 319-237 e 329-346),
um e outro não admitidos pelo eminente 4º Vice-Presidente do Tribunal de
Justiça do Estado de São Paulo, Desembargador Renato Torres de Carvalho
Filho (fl s. 382-386).
Por força de agravo de instrumento provido pelo eminente Ministro José
de Jesus Filho (fl . 395), o recurso especial interposto pelo Município de São
Paulo, com base no artigo 105, inciso III, letra a, da Constituição Federal, foi
processado; nele se diz que o julgado incorreu “em fl agrante negativa de vigência
da Lei Federal n. 6.766/1979” (fl . 321), bem assim que contrariou o artigo 27
do Código de Processo Civil, que “faculta à Fazenda Pública o pagamento das
despesas no fi nal do feito, se vencida, pois, dada sua solvabilidade, desnecessário
é que se preste garantia quanto ao pagamento dos salários periciais” (fl . 324).
O Ministério Público Federal, na pessoa da eminente Subprocuradora-
Geral da República, Dra. Delza Curvello Rocha, opinou pelo provimento do
recurso (fl s. 405-406).
VOTO
O Sr. Ministro Ari Pargendler (Relator): - O primeiro tópico do recurso
especial foi desenganado no juízo de admissibilidade, à base da seguinte
motivação:
(...) a questão da irrelevância relativamente à regularização do loteamento
vizinho remete ao mérito da causa, no qual a Turma não ingressou, exatamente
por reputar necessária a realização de perícia, inclusive para a elucidação
desse fato. E o reexame da matéria, no que tange à oportunidade dessa prova,
implicaria na reapreciação da matéria fática, incidindo na hipótese, para obstar o
seguimento, a Súmula n. 7 do Superior Tribunal de Justiça (fl .).
Quanto ao segundo, Th eotônio Negrão (Código de Processo Civil, com
a colaboração de José Roberto Ferreira Gouvêa, Editora Saraiva, São Paulo,
1997, 28ª edição), dá a seguinte notícia acerca da interpretação do artigo 27 do
Código de Processo Civil (nota 27:2):
“A Fazenda Pública, em sendo parte na causa, deve depositar previamente os
honorários do perito judicial”, se for a requerente da medida (STJ - Corte Especial,
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
308
ED no REsp n. 109.445-5, SP, Rel. Min. Cesar Rocha, j. 09.11.1995, rejeitaram os
embs., dois votos vencidos, DJU, 26.02.1996, p. 3.906, 2ª col., em.).
A Fazenda Pública, seja autora ou ré, deve adiantar as despesas dos atos
processuais que requerer, só se aplicando o art. 27 quando “esta intervenha
em outra condição que não a de simples parte no processo” (RT 669/95, bem
fundamentado). Neste sentido: STJ-RT 722/300, RT 663/122.
Finalmente, o autor, mesmo que seja a Fazenda Pública, é obrigado a adiantar
as despesas de atos determinados de ofício pelo juiz ou a requerimento do MP;
se vencer a demanda, será reembolsado a fi nal pelo réu (v., quanto a esta última
parte: STJ - 3ª Turma, REsp n. 4.069, SP, Rel. Min. Eduardo Ribeiro, j. 27.11.1990,
deram provimento, v.u., DJU, 04.02.1991, p. 574, 1ª col., em.).
Salvo melhor juízo, esse é o melhor entendimento. A interpretação literal
do artigo 27 do Código de Processo Civil inviabilizaria as perícias requeridas
pela Fazenda Pública, por falta de experts que se dispusessem a aguardar o
término do feito para receber os respectivos honorários.
Voto, por isso, no sentido de não conhecer do recurso especial.
RECURSO ESPECIAL N. 43.617-SP (94.0002975-6)
Relator: Ministro Garcia Vieira
Recorrente: Inagra Administração de Bens Próprios S/C Ltda.
Recorrido: Município de São Paulo
Advogados: Antonieta Balido
Francisco Jose de Macedo Costa e outros
EMENTA
Processual Civil. Despesas. Perícia. Fazenda Pública.
Adiantamento.
Firmou-se o entendimento, na Egrégia 1ª Seção, de que a
Fazenda Pública e suas autarquias estão sujeitas ao adiantamento das
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (17): 265-337, março 2011 309
despesas dos atos processuais, inclusive as referentes à realização de
perícia.
Recurso provido.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Exmos. Srs. Ministros
da Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos
e das notas taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, dar provimento ao recurso.
Participaram do julgamento os Exmos. Srs. Ministros Demócrito Reinaldo,
Humberto Gomes de Barros, Milton Luiz Pereira e Cesar Asfor Rocha.
Brasília (DF), 09 de março de 1994 (data do julgamento).
Ministro Demócrito Reinaldo, Presidente
Ministro Garcia Viera, Relator
DJ 11.04.1994
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Garcia Vieira: Trata-se recurso especial interposto por
Inagra Administração de Bens Próprios S/C Ltda., com apoio nas alíneas a e
c do permissivo constitucional, contra acórdão que determinou a realização de
perícia, requerida pela Municipalidade de São Paulo, independentemente da
antecipação do valor de seu custo, que será suportado ao fi nal, pelo vencido, nos
termos do art. 27 do CPC.
Alega a recorrente que o v. aresto hostilizado, assim decidindo, violou os
artigos 3º, 19, 333, I do CPC, bem como divergiu de arestos que traz à colação.
Sustenta, em síntese, que à recorrente, na qualidade de autora da ação
ordinária, incumbe o ônus da prova, quanto ao fato constitutivo do seu direito
e, se entende que pode prová-lo, sem a realização de prova pericial, não pode a
prefeitura-ré, só para sobreonerá-la, exigir a realização da perícia.
Entende que, nos termos do artigo 19 do CPC, cabe à parte, inclusive à
Fazenda Pública, antecipar o pagamento das despesas dos atos requeridos por
ocasião de cada um deles (fl s. 67-70).
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
310
Indeferido o processamento do especial (fl s. 92-94), subiram os autos a
este C. Tribunal, face ao provimento de agravo de instrumento regularmente
interposto.
É o relatório.
VOTO
O Sr. Ministro Garcia Vieira (Relator): Sr. Presidente: - Conheço do
recurso, inclusive pela divergência jurisprudencial.
Vinha eu sustentando que as despesas dos atos processuais, inclusive as
referentes às diligências dos ofi ciais de Justiça, efetuadas a requerimento da
Fazenda Pública seriam pagas à fi nal pelo vencido, face ao disposto no artigo
27 do CPC, artigo 9º, inciso I da Lei n. 6.032/1974 e artigo 39 da Lei n.
6.830/1980.
Mas, como Relator dos Embargos de Divergência no Recurso Especial n.
23.337-3-SP, julgado pela Egrégia 1ª Seção no dia 18.05.1993, fi quei vencido
e fi rmou-se o entendimento de que a Fazenda Pública e suas autarquias estão
sujeitas ao adiantamento das despesas de condução de ofi cial de justiça.
Neste sentido são as recentes decisões proferidas nos Recursos Especiais
n. 12.224-SP, DJ de 07.02.1994; n. 36.914-SP, DJ de 22.11.1993; n. 39.594-
SP, DJ de 07.02.1994; n. 36.916-SP, DJ de 08.11.1993; n. 35.541-SP, DJ de
04.10.1993, este último acórdão assim ementado:
Processual Civil. Execução fi scal. Adiantamento de despesas para o Ofi cial de
Justiça ou para o perito. Art. 27, CPC. Lei n. 6.830/1980, art. 39.
1. Se a interpretação por critérios tradicionais conduzir a injustiça, incoerências
ou contradição, recomenda-se buscar o sentido eqüitativo, lógico e acorde com o
sentimento geral.
2. Custas e emolumentos, quanto a natureza jurídica, não se confundem com
despesas para o custeio de atos decorrentes do caminhamento processual.
3. O Ofi cial de Justiça ou o Perito não estão obrigados a arcar, em favor da
Fazenda Pública, com as despesas necessárias para a execução de atos judiciais.
4. Recurso conhecido e improvido.
Assim, ressalvando o meu entendimento, acompanho a maioria da Colenda
1ª Seção.
Dou provimento ao recurso.
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (17): 265-337, março 2011 311
RECURSO ESPECIAL N. 47.071-SP (94.0011521-0)
Relator: Ministro Peçanha Martins
Recorrente: Fazenda do Estado de São Paulo
Recorrida: Farmiplan Empreendimentos Ltda.
Advogados: Leila D’Auria e outros
Sônia Márcia Hase de Almeida Baptista e outros
EMENTA
Processual Civil. Honorários periciais. Antecipação do
pagamento. Jurisprudência predominante no STJ. Precedentes.
- As despesas dos atos processuais, inclusive as referentes à
realização de perícia, devem ser antecipadas pela parte que as requereu,
mesmo quando se tratar da Fazenda Pública e suas autarquias.
- Entendimento fi rmado pela Egrégia Primeira Seção.
- Recurso conhecido, mas desprovido.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Segunda
Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das
notas taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, conhecer do recurso e lhe negar
provimento. Votaram com o Relator os Ministros Antônio de Pádua Ribeiro e
Hélio Mosimann.
Ausente, justifi cadamente, o Sr. Ministro Ari Pargendler.
Brasília (DF), 25 de abril de 1996 (data do julgamento).
Ministro Hélio Mosimann Presidente
Ministro Peçanha Martins, Relator
DJ 27.05.1996
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
312
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Peçanha Martins: - A Fazenda do Estado de São
Paulo manifestou recurso especial com apoio nas letras a e c do permissivo
constitucional, contra acórdão do Tribunal de Justiça Estadual que negou
provimento ao agravo de instrumento interposto, pela ora recorrente, nos autos
de ação expropriatória movida contra Farmiplan Empreendimentos Ltda.
O acórdão recorrido entendeu que “o arbitramento dos salários do perito,
logo após o oferecimento do laudo, bem como a determinação do depósito, pelo
requerente da prova, do valor fi xado encontram respaldo no disposto no artigo
33 do Código de Processo Civil”, interpretado em harmonia com os arts. 27 e
19, § 2º do mesmo estatuto processual.
Daí a irresignação da Fazenda Estadual que alega ter o v. acórdão recorrido
negado vigência ao art. 27 do CPC. Invoca julgado deste STJ para comprovar a
divergência jurisprudencial alegada.
Contra-razões foram oferecidas às fl s. 99-102.
O Tribunal a quo deferiu o seguimento do recurso, subindo os autos a esta
superior instância, onde vieram a mim conclusos.
Dispensei o parecer do Ministério Público Federal, nos termos do RISTJ.
É o relatório.
VOTO
O Sr. Ministro Peçanha Martins (Relator): Insurge-se a Fazenda do Estado
de São Paulo contra o entendimento proclamado pelo v. acórdão hostilizado,
afirmando ser do Estado a responsabilidade pelo depósito dos honorários
periciais arbitrados, decidindo que o art. 27 CPC deve ser interpretado em
harmonia com os arts. 19, § 2º e 33, também da Lei Processual Civil.
É verdade que alguns Julgados deste Tribunal vinham admitindo não
estar a Fazenda Pública obrigada a antecipar as despesas com perito antes de
realizado o trabalho. Contudo, a partir do julgamento do EREsp n. 23.337-3-
SP, a Eg. Primeira Seção fi rmou o entendimento em sentido oposto. Inúmeros
arestos foram prolatados seguindo tal orientação, como os seguintes, dos quais
transcrevo as ementas:
Processual Civil. Honorários periciais. Antecipação do pagamento.
Jurisprudência predominante no STJ. Precedentes.
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (17): 265-337, março 2011 313
1. As despesas dos atos processuais, inclusive realização de perícia, devem ser
antecipadas pela parte que as requereu, seja ela particular ou órgão público.
2. Entendimento jurisprudencial atual deste STJ.
3. Recurso especial não conhecido. (REsp n. 65.887-SP, DJ 11.12.1995, Rel. Min.
Peçanha Martins)
Processual Civil. Despesas. Perícia. Fazenda Pública. Adiantamento.
Firmou-se o entendimento, na egrégia 1ª Seção, de que a Fazenda Pública e
suas autarquias estão sujeitas ao adiantamento das despesas dos atos processuais,
inclusive as referentes a realização de perícia.
Recurso provido. (REsp n. 43.617-SP, DJ 11.04.1994, Rel. Min. Garcia Vieira)
Incide, assim, a Súmula n. 83 do STJ.
Sendo esta a orientação jurisprudencial mais recente desta Corte e não
confi gurada a negativa de vigência ao art. 27 CPC, bem como superada a
divergência jurisprudencial alegada, conheço do recurso mas lhe nego
provimento.
RECURSO ESPECIAL N. 87.717-SP (96.0008298-7)
Relator: Ministro José Delgado
Recorrente: Fazenda do Estado de São Paulo
Recorrido: Luiz do Nascimento
Advogados: Pedro Ubiratan Escorel de Azevedo e outros
Gino Kammer e outro
EMENTA
Administrativo. Fazenda Pública. Ação em que é parte.
Antecipação de despesas processuais, incluindo os honorários do
perito. Não caracterizada violação ao art. 27 da Lei Processual Civil.
Recurso não conhecido.
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
314
1 - A Fazenda Pública, quando fi gurar como parte, deve adiantar
o pagamento das despesas processuais, mormente quando se tratar de
honorários de perito em perícia por ela requerida.
2 - A Lei Processual Civil, no seu artigo 27, refere-se a situações
onde a Fazenda Pública não é parte, o que não corresponde ao caso
sob exame.
3 - Recurso não conhecido.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Exmos. Srs. Ministros
da Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos
e notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, não conhecer do recurso.
Participaram do julgamento os Exmos. Srs. Ministros Humberto Gomes de
Barros e Milton Luiz Pereira.
Ausentes, justifi cadamente, os Exmos. Srs. Ministros José de Jesus Filho e
Demócrito Reinaldo.
Brasília (DF), 29 de abril de 1996 (data do julgamento).
Ministro Humberto Gomes de Barros, Presidente
Ministro José Delgado, Relator
DJ 03.06.1996
RELATÓRIO
O Sr. Ministro José Delgado: A Fazenda do Estado de São Paulo interpõe
o presente Recurso Especial (fl s. 87-98), com fulcro no artigo 105, inciso III,
alínea a, da Constituição Federal, contra acórdão (fl . 81-84) proferido pela 11ª
Câmara Civil do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, assim ementado
(fl . 81):
Perito. Salários definitivos. Adiantamento por parte da Fazenda Pública.
Admissibilidade.
1 - No processo de desapropriação, a realização de perícia constitui imperativo
legal (Decreto-Lei n. 3.556, de 1941, art. 14), devendo, os salários periciais,
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (17): 265-337, março 2011 315
enquanto despesas judiciais que são, ser adiantados, no caso, pela Fazenda-
Expropriante.
2 - Recurso improvido.
A Recorrente aduz contrariedade ao artigo 27 do CPC e aos artigos 30 e
31 do DL n. 3.365/1941.
O Recorrido, em contra-razões (fls. 102-103), aduz ser meramente
procrastinatório o presente recurso, opinando pela manutenção do venerando
aresto ora atacado.
Admitido o recurso por despacho (fls. 105-106) do Exmo. Sr.
Desembargador Nigro Conceição, 4º Vice-Presidente do Tribunal de Justiça de
São Paulo, subiram os autos a esta Corte.
É o relatório.
VOTO
O Sr. Ministro José Delgado (Relator): O presente Recurso Especial não
merece conhecimento.
O art. 27 do Código de Processo Civil não foi violado, uma vez que as
despesas resultantes dos atos processuais serão pagas, na sua íntegra, por quem os
houver requerido, ou pelo autor, se determinada a diligência, de ofício, pelo juiz.
É o que se depreende da leitura do art. 19 do referido diploma e, relativamente a
exames periciais, de forma cristalina, o art. 33, também, do CPC.
Deste modo, ao se proceder a exegese do art. 27, obtempera-se que o
mesmo possui plena aplicabilidade na hipótese da Fazenda Pública requerer a
produção de prova pericial, a exemplo do caso em tela.
É certo que o perito não está obrigado a esperar pelo julgamento da causa,
para que só então perceba seus honorários. O pagamento far-se-á desde logo,
sendo que o reembolso se dará ao fi nal, arcando o vencido com este ônus.
O art. 27 disciplina tão somente a responsabilidade fi nal pelas custas de
atos praticados a requerimento do Ministério Público, da Fazenda Pública ou
das autarquias, quando tais sujeitos sejam parte no processo.
Quando a Fazenda Pública figura como parte (hipótese dos autos) é
correta a exigência de antecipar as despesas, entre as quais estão os salários do
perito que realizou perícia requerida por ela própria.
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
316
Corroborando a fundamentação acima mencionada, transcrevo o REsp n.
43.617-6-SP, DJ de 11.04.1994, cujo relator fora o Exmo. Sr. Ministro Garcia
Vieira, assim ementado:
Processual Civil. Despesas. Perícia. Fazenda Pública. Adiantamento.
1 - Firmou-se o entendimento, na Egrégia 1ª Seção, de que a Fazenda Pública e
suas autarquias estão sujeitas ao adiantamento das despesas dos atos processuais,
inclusive as referentes à realização de perícia.
2 - Recurso provido.
Confi ram-se ainda os seguintes precedentes:
Processual Civil. Fazenda Pública. Honorários de perito. Depósito prévio. Artigo
27 do Código de Processo Civil. Inteligência.
1 - A Fazenda Pública, quando parte na causa, está sujeita ao prévio depósito
dos honorários do perito judicial.
2 - Recurso Especial desprovido. (REsp n. 41.425-3-SP, Rel. Min. Cesar Asfor
Rocha, DJ de 07.03.1994)
Processual. Honorários do perito. Estado. Depósito prévio. Art. 27 do CPC.
1 - O Estado é obrigado a adiantar honorários de perito, nos processos em que
é autor, ou onde tenha requerido prova pericial. (REsp n. 14.333-0-SP, Rel. Min.
Humberto Gomes de Barros, DJ de 19.12.1994)
Despesas processuais. Perícia.
1 - Cabe a quem requereu a perícia, ou ao autor, se determinada pelo Juiz,
efetuar o pagamento dos honorários do perito. O vencido reembolsará, a fi nal, o
vencedor. (REsp n. 4.069-SP, Rel. Min. Eduardo Ribeiro, DJ de 04.02.1991)
Por todo o exposto, não conheço do recurso.
É como voto.
RECURSO ESPECIAL N. 102.234-SP (96.0046865-6)
Relator: Ministro Luiz Vicente Cernicchiaro
Recorrente: Município de São Paulo
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (17): 265-337, março 2011 317
Recorrido: Ademir de Souza
Advogados: Maria de Lourdes Almeida Prado Nigro e outros
EMENTA
REsp. Processual Civil. Despesas judiciais. Perito. Honorários.
Os honorários do perito devem ser adiantados pela parte que requereu
a produção de prova.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Sexta
Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas
taquigráfi cas constantes dos autos, por unanimidade, não conhecer do recurso,
nos termos do voto do Sr. Ministro-Relator. Participaram do julgamento os Srs.
Ministros Vicente Leal, Fernando Gonçalves e Anselmo Santiago. Ausente, por
motivo de licença, o Sr. Ministro William Patterson.
Brasília (DF), 08 de outubro de 1996 (data do julgamento).
Ministro Anselmo Santiago, Presidente
Ministro Luiz Vicente Cernicchiaro, Relator
DJ 1º.12.1997
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Luiz Vicente Cernicchiaro: Recurso Especial interposto
pelo Município de São Paulo, com base no art. 105, III, a da Constituição
Federal, contra v. acórdão do Segundo Tribunal de Alçada Civil de São Paulo,
entendendo que incumbe à recorrente, assim como ao INSS, o encargo de
adiantar as despesas referentes à prova pericial, em autos de ação acidentária
cujo autor é benefi ciado de justiça gratuita, a que o art. 27 do CPC refere-se
apenas às situações em que a Fazenda Pública intervém na causa, no exercício
da atividade fi scalizadora.
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
318
O recorrente alega contrariedade ao art. 27 do CPC aduzindo, ainda,
dissídio jurisprudencial com acórdão do Superior Tribunal de Justiça. Sustenta
que ao autor cabe suportar o adiantamento das despesas processuais decorrentes
da produção de suas provas e das determinadas de ofício pelo magistrado.
Despacho admitindo o recurso especial pela alínea a às fl s. 40-41.
É o relatório.
VOTO
O Sr. Ministro Luiz Vicente Cernicchiaro (Relator): O tema posto a
julgamento é a interpretação do disposto no art. 27, do Código de Processo
Civil, verbis:
As despesas dos atos processuais, efetuados a requerimento do Ministério
Público ou da Fazenda Pública, serão pagas a fi nal pelo vencido.
Trata-se, sem dúvida, de norma de interpretação restrita. A regra
é o adiantamento das despesas. Compreende-se o privilégio das entidades
vinculadas ao Estado, conhecidas que são as difi culdades orçamentárias.
Não se pode, entretanto, ignorar o princípio da isonomia. E mais. A
Constituição da República não isenta o Estado do pagamento das custas.
Nesse contexto, dever-se-á entender o contido no transcrito no art. 27.
Assim, as despesas próprias, essenciais ao procedimento, podem fi car para
pagamento à fi nal. Todavia, diligências especiais, como é o caso de perícia,
notadamente porque envolve serviço profi ssional de terceiros, não faz sentido, o
perito aguardar o fi m do processo e sujeitar-se à execução.
A jurisprudência tem sido sensível para o fato, como é exemplo a linha
adotada pela 1ª Turma do Superior Tribunal de Justiça.
Firmou-se o entendimento, na Egrégia 1ª Seção, de que a Fazenda Pública e
suas autarquias estão sujeitas ao adiantamento das despesas dos atos processuais,
inclusive as referentes à realização de perícia (STJ - 1ª Turma, REsp n. 43.617-6-SP,
Rel. Garcia Vieira, j. 09.03.1994, deram provimento, v.u., DJU 11.04.1994, p. 7.619,
2ª col, em.). - CPC, Theotonio Negrão, Saraiva, São Paulo, 26ª ed., 1995, p. 101.
Não conheço do Recurso Especial.
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (17): 265-337, março 2011 319
RECURSO ESPECIAL N. 118.785-SP (97.009190-2)
Relator: Ministro Adhemar Maciel
Recorrente: Município de São Paulo
Advogados: Gianfrancesco Genoso e outros
Recorrido: Nacional Imóveis Ltda.
Advogados: Nélson de Figueiredo Cerqueira e outros
EMENTA
Processual Civil. Ação proposta pela Fazenda Pública Municipal.
Depósito adiantado da verba pericial: necessidade. Precedentes do
STJ. Recurso não conhecido.
I - A regra inserta no art. 27 do CPC não se aplica, quando a
Fazenda Pública age como “parte”. O vistor ofi cial, em decorrência,
tem direito a seus honorários desde logo.
II - Recurso especial não conhecido.
ACÓRDÃO
Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas.
Decide a Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade,
não conhecer do recurso, nos termos do voto do Sr. Ministro-Relator, na forma
do relatório e notas taquigráfi cas constantes dos autos, que fi cam fazendo parte
integrante do presente julgado. Votaram de acordo os Srs. Ministros Hélio
Mosimann e Peçanha Martins. Ausentes, justifi cadamente, os Srs. Ministros
Ari Pargendler e Antônio de Pádua Ribeiro.
Custas, como de lei.
Brasília (DF), 19 de maio de 1997 (data do julgamento).
Ministro Peçanha Martins, Presidente
Ministro Adhemar Maciel, Relator
DJ 09.06.1997
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
320
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Adhemar Maciel: O Município de São Paulo interpõe
recurso especial contra acórdão proferido pelo TJSP.
O ora recorrente ajuizou “Ação pelo rito ordinário, para cumprimento
de obrigação de fazer e não fazer cumulada com preceito cominatório” (fl . 09)
contra Nacional Imóveis Ltda.
O juiz de primeiro grau deferiu a produção de prova pericial, determinando
ao ora recorrente efetuasse o depósito dos honorários do perito.
Inconformado, o ora recorrente interpôs agravo de instrumento.
Conduzida pelo voto proferido pelo eminente Desembargador Paulo
Bonito, a 9ª Câmara de Direito Público do TJSP, à unanimidade de votos, negou
provimento ao agravo. O acórdão restou assim ementado:
Perito. Salários. Valor devido antecipadamente quando a prova é solicitada
pela Fazenda Pública e sendo esta autora da demanda ajuizada. Interpretação do
art. 19, parágrafo 2°, do CPC. Inaplicabilidade da regra do art. 27 da Lei Processual
Civil. Recurso improvido (fl . 29).
Não se dando por derrotado, o Município de São Paulo recorre de especial
pela alínea a do permissivo constitucional. Alega que o acórdão proferido
pelo TJSP contrariou o art. 27 do CPC, bem como os arts. 62 e 63 da Lei n.
4.320/1964.
Invoca em seu favor precedentes do extinto TFR.
Foram apresentadas contra-razões.
O recurso foi admitido na origem.
É o relatório.
VOTO
O Sr. Ministro Adhemar Maciel (Relator): Senhor Presidente, o recurso
especial não merece ser conhecido.
Como já se falou, trata-se de ação proposta pela Fazenda Pública
Municipal, que, na petição inicial (fl . 08), requereu a produção de prova pericial.
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (17): 265-337, março 2011 321
Ora, a regra inserta no art. 27 do CPC não se aplica, quando a Fazenda
Pública (da União, dos Estados, do Distrito Federal ou dos Municípios) atua
como parte, já que devem ter as “partes igualdade de tratamento” (art. 125, I, do
CPC).
Realmente, como bem ensina o insigne jurista PONTES DE MIRANDA,
“a regra jurídica do art. 27 apanha a União, bem como os Estados-membros, o
Distrito Federal, os Municípios, os Territórios e quaisquer entidades autárquicas.
Não podem ofender o art. 27. Advirta-se porém que a regra jurídica concerne
a ações em que elas não são partes, porque, se demandadas, ou demandantes, ou
intervenientes, é como partes que se tratam” (“Comentários ao Código de Processo
Civil”, Tomo I, 5ª Ed., Forense, 1996, p. 410) (grifei).
O saudoso Professor EDSON PRATA também leciona que “o art. 27 não
se refere às despesas efetuadas quando a Fazenda Pública seja parte, mas apenas
órgão fi scalizador de seus interesses. Sendo parte, obriga-se à regra do art. 19”
(“Comentários ao Código de Processo Civil”. Volume II, Tomo I, Forense, 1987,
p. 155) (grifei).
No mesmo sentido é o seguinte precedente da relatoria do eminente
Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira:
Processo Civil. Despesas necessárias a realização de perícia requerida pela
União, como parte autora. Inaplicabilidade do art. 27, CPC. Recurso desacolhido.
A União, quando parte, cumpre promover o recolhimento antecipado de verba
sufi ciente a prover os meios materiais necessários a realização de perícia por
ela requerida, sob o risco de, assim não procedendo, deixar de desincumbir-se
do ônus probatório que lhe caiba (REsp n. 29.090-PE, 4ª Turma do STJ, unânime,
relator Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira, publicado no DJU de 11.09.1995, p.
28.830) (grifei).
Além disso, sendo o perito profi ssional liberal, ou seja, estranho aos quadros
do Poder Judiciário, deverá a Fazenda Pública adiantar os honorários periciais,
já que o perito particular não está obrigado a exercer seu ofício sem a imediata
remuneração.
Nesse sentido é a lição do Professor HUMBERTO THEODORO
JÚNIOR, in verbis:
Não se sujeitam ao ônus de antecipação de preparo a Fazenda Pública e o
Ministério Público (art. 27). Mas há que se ressalvar os gastos a serem feitos fora
dos serviços públicos, como as despesas da diligência pericial ou os honorários
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
322
do perito não oficial, já que é inexigível de terceiros a prestação de serviços
e a realização de despesas em benefício da Fazenda Pública, sem o imediato
ressarcimento (Curso de Direito Processual Civill, 19ª Ed., Forense, 1997, p. 89).
A propósito, invoco os comentários do Professor NELSON NERY
JÚNIOR ao art. 27 do CPC:
No entanto, nem o perito nem o ofi cial de justiça estão obrigados a pagar as
despesas realizadas para a consecução de seu trabalho, no interesse do MP ou da
Fazenda Pública (Código de Processo Civil Comentado, 2ª Ed., Editora Revista dos
Tribunais, 1996, p. 393).
Por oportuno, transcrevo as ementas dos seguintes precedentes da Corte:
Processual Civil. Honorários de perito avaliador estranho ao quadro da Justiça.
Depósito prévio pela Fazenda Pública. Artigo 27 do CPC. Inaplicabilidade a
espécie.
Consoante jurisprudência predominante nessa egrégia Corte, a Fazenda
Pública está sujeita ao depósito prévio de honorários de perito avaliador, para fi ns
de perícia a ser realizada por profi ssional estranho ao quadro da Justiça.
Precedente.
Recurso desprovido, sem discrepância (REsp n. 37.298-SP, 1ª Turma do STJ,
unânime, relator Ministro Demócrito Reinaldo, publicado no DJU de 11.04.1994).
Processual Civil. Perícia. Despesas. Depósito prévio pela Fazenda Pública. CPC,
art. 27.
I - A Fazenda Pública está sujeita ao adiantamento das despesas relativas a
realização de perícia. Precedentes.
II - Recurso ordinário conhecido, mas desprovido (RMS n. 4.082-SP, 2ª Turma
do STJ, unânime, relator Ministro Antônio de Pádua Ribeiro, publicado no DJU de
12.06.1995).
Processual Civil. Despesas. Perícia. Fazenda Pública. Adiantamento.
Firmou-se o entendimento, na egrégia 1ª Seção, de que a Fazenda Pública e
suas autarquias estão sujeitas ao adiantamento das despesas dos atos processuais,
inclusive as referentes a realização de perícia.
Recurso provido (REsp n. 43.617-SP, 1ª Turma do STJ, unânime, relator Ministro
Garcia Vieira).
Com essas considerações, não conheço do recurso especial.
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (17): 265-337, março 2011 323
Determino o envio de cópia do acórdão à Comissão de Jurisprudência.
É como voto.
RECURSO ESPECIAL N. 127.471-SC (97.0025319-8)
Relator: Ministro Bueno de Souza
Recorrente: União
Recorrida: Olivina Tomazia da Silva
Advogados: Godoy Antônio Susin e outro
EMENTA
Processual Civil. Recurso especial. Honorários de perito. Fazenda
Pública.
1 - A Fazenda Pública, em sendo parte da causa, deve depositar
previamente os honorários do perito judicial.
2 - Súmula n. 83 do STJ.
3 - Recurso Especial não conhecido.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Quarta
Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas
taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, não conhecer do recurso.
Votaram com o Relator os Srs. Ministros Sálvio de Figueiredo Teixeira,
Barros Monteiro, Cesar Asfor Rocha e Ruy Rosado de Aguiar.
Brasília (DF), 16 de junho de 1998 (data do julgamento).
Ministro Barros Monteiro, Presidente
Ministro Bueno de Souza, Relator
DJ 13.10.1998
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
324
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Bueno de Souza: Adoto como relatório trechos do r.
parecer do ilustre Subprocurador-Geral da República Dr. Francisco Adalberto
Nóbrega (fl s. 60-62) que bem resume a matéria:
Recurso especial, com fulcro no art. 105, III, letras a e c da Carta Política.
União. Honorários periciais. Adiantamento. Prova requerida pela Fazenda Pública.
Exceção ao disposto no art. 27 CPC. Decisão do Tribunal a quo em consonância
com o entendimento do STJ. Não conhecimento do recurso.
(...)
2 - Consoante se infere da análise dos autos, a União interpôs agravo de
instrumento contra a r. decisão monocrática que determinou a antecipação dos
honorários periciais do procedimento por ela formulado, tendo em vista não ter
sido reconsiderada a decisão.
3 - O recurso foi rejeitado por maioria de votos, prevalecendo o entendimento
do relator.
4 - Irresignada, a União interpôs o presente recurso especial, estribado no art.
105, inciso III, alíneas a e c sustentando em síntese que o v. acórdão recorrido
negou vigência ao art. 27 do Código de Processo Civil, bem como, colacionou
entendimentos jurisprudenciais que a seu juízo sustentam dissídio.
5 - O recurso foi admitido pela vice-presidência do Tribunal Regional Federal
da Quarta Região, pelas alíneas a e c do permissivo constitucional.
É o relatório.
VOTO
O Sr. Ministro Bueno de Souza (Relator): Senhor Presidente, são
reiteradas as decisões desta Corte sobre o tema suscitado neste recurso especial,
inclusive de precedente promanado da eg. Corte Especial, gerado por ocasião do
julgamento do EREsp n. 10.945-SP, relator Ministro Cesar Asfor Rocha, DJU
26.02.1996, cuja ementa assim fi cou redigida:
Embargos de divergência. Fazenda Pública. Honorários de perito. Artigo 27 do
Código de Processo Civil. Inteligência.
I - Nos termos do aresto embargado, “a Fazenda Pública, em sendo parte na
causa, deve depositar previamente os honorários do perito judicial”.
II - Embargos rejeitados.
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (17): 265-337, março 2011 325
Incide, portanto, o Enunciado da Súmula n. 83 de nossa jurisprudência.
Eis porque, brevitatis causa, não conheço do recurso especial.
É como voto.
RECURSO ESPECIAL N. 132.643-RS (97.0034925-0)
Relator: Ministro Cid Flaquer Scartezzini
Recorrente: União
Recorrido: Sady Vieira Pires
Advogado: José Jappur
EMENTA
Processual Civil. Honorários periciais. Adiantamento pela
Fazenda Pública. Art. 27 do CPC.
- Nas causas em que for parte, a Fazenda Pública está sujeita ao
depósito prévio de honorários referentes a perícia que tenha requerido.
- Recurso não conhecido.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Quinta
Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas
taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, não conhecer do recurso. Votaram com
o Relator os Srs. Ministros José Arnaldo, Felix Fischer, Edson Vidigal e José
Dantas.
Brasília (DF), 10 de fevereiro de 1998 (data do julgamento).
Ministro Edson Vidigal, Presidente
Ministro Cid Flaquer Scartezzini, Relator
DJ 16.03.1998
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
326
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Cid Flaquer Scartezzini: A União Federal interpõe recurso
especial com fundamento no artigo 105, III, a e c, da Constituição Federal, ao
v. acórdão de fl s. 32-36, que entendeu que a Fazenda Pública não esta isenta do
adiantamento dos honorários referentes à perícia que requereu.
Sustenta a recorrente, em síntese, negativa de vigência ao disposto no art.
27 do CPC, bem como dissenso pretoriano a respeito (fl s. 38-44).
Admitido o recurso (fl . 52), subiram os autos, vindo-me conclusos.
É o relatório.
VOTO
O Sr. Ministro Cid Flaquer Scartezzini (Relator): Sr. Presidente, diz o art.
27 do CPC:
Art. 27 - As despesas dos atos processuais, efetuados a requerimento do
Ministério Público ou da Fazenda Pública, serão pagas a fi nal pelo vencido.
Todavia, o disposto na norma supra não tem aplicação, na hipótese de
depósito prévio de honorários para fi ns de perícia que tenha requerido.
Neste sentido, é a jurisprudência predominante da Corte, verbis:
Processual Civil. Honorários periciais. Antecipação do pagamento.
Jurisprudência predominante no STJ. Precedentes.
- As despesas dos atos processuais, inclusive as referentes a realização de
perícia, devem ser antecipadas pela parte que as requereu, mesmo quando se
tratar da Fazenda Pública e suas autarquias.
- Entendimento fi rmado pela Egrégia Primeira Seção.
- Recurso conhecido, mas desprovido (REsp n. 47.071-SP, 2ª Turma do STJ,
unânime, relator Ministro Peçanha Martins, publicado no DJ de 27.05.1996).
Processual Civil. Fazenda Pública. Honorários de perito. Depósito prévio. Art.
27, CPC. Inteligência. Matéria pacífi ca.
- A Fazenda Pública, quando parte na causa, está sujeita ao prévio depósito
dos honorários de perito judicial, conforme o entendimento fi xado pela Egrégia
Corte Especial deste Tribunal.
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (17): 265-337, março 2011 327
- Recurso especial não conhecido (REsp n. 89.202-SP, 4ª Turma do STJ, unânime,
relator Ministro Cesar Asfor Rocha, publicado no DJ de 18.11.1996).
Processual Civil. Perícia requerida pela Fazenda Pública. Ré na ação proposta
pela empresa-recorrida. Isenção do adiantamento dos honorários periciais. Não
ocorrência. Precedentes. Recurso não conhecido.
I - Nas causas em que for parte, a Fazenda Pública não está isenta do
adiantamento dos honorários referentes à perícia que requereu.
II - Inteligência dos arts. 27 e 33 do CPC.
III - Precedentes do STJ: EREsp n. 10.945-SP, REsp n. 87.717-SP.
IV - Recurso especial não conhecido.
Com estas considerações, tendo em vista a jurisprudência pacífi ca da
Corte, não conheço do recurso.
É como voto.
RECURSO ESPECIAL N. 154.682-SP (97.0080937-4)
Relator: Ministro Milton Luiz Pereira
Recorrente: Município de São Paulo
Recorrido: Th iers da Silva Santiago
Advogados: Roberto Rosenthal e outros
Mônica Aguiar Costa
EMENTA
Processual Civil. Execução fi scal. Adiantamento de despesas
para o Ofi cial de Justiça ou para o perito. Art. 27, CPC.
1. Se a interpretação por critérios tradicionais conduzir à
injustiça, incoerências ou contradição, recomenda-se buscar o sentido
eqüitativo, lógico e acorde com o sentimento geral.
2. Custas e emolumentos, quanto à natureza jurídica, não
se confundem com despesas para o custeio de atos decorrentes do
caminhamento processual.
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
328
3. O Ofi cial de Justiça ou o Perito não estão obrigados a arcar, em
favor da Fazenda Pública, com as despesas necessárias para a execução
de atos judiciais.
4. Recurso conhecido e improvido.
ACÓRDÃO
Vistos e relatados estes autos, em que são partes as acima indicadas: Decide
a egrégia Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade,
negar provimento ao recurso, na forma do relatório e notas taquigráfi cas constantes
dos autos, que fi cam fazendo parte integrante do presente julgado. Participaram
do julgamento os Senhores Ministros José Delgado, Garcia Vieira e Demócrito
Reinaldo. Ausente, justifi cadamente, o Senhor Ministro Humberto Gomes de
Barros. Presidiu o julgamento o Senhor Ministro Milton Luiz Pereira.
Custas, como de lei.
Brasília (DF), 11 de dezembro de 1997 (data do julgamento).
Ministro Milton Luiz Pereira, Relator e Presidente
DJ 02.03.1998
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Milton Pereira: Trata-se de Recurso Especial, fundado no
artigo 105, inciso III, alínea a da Constituição Federal, interposto contra o v.
acórdão do egrégio Tribunal a quo, prolatado em agravo de instrumento, cuja
ementa está assentada nos termos, a saber:
Fazenda Pública. Perícia. Prova por ela requerida. Obrigação de antecipar as
despesas. Interpretação do artigo 27 do CPC. Jurisprudência do STJ a respeito.
Agravo improvido. (fl . 64).
Em suas razões, alega a Recorrente que o v. aresto impugnado contrariou
os artigos 27 do Código de Processo Civil.
O Recorrido apresentou suas contra-razões às fl s. 79-81.
Por ter sido o tema devidamente prequestionado e por não vislumbrar
vetos sumulares ou regimentais, o ilustre 4º Vice-Presidente, em exercício, do
egrégio Tribunal a quo admitiu o Recurso.
É o relatório.
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (17): 265-337, março 2011 329
VOTO
O Sr. Ministro Milton Luiz Pereira (Relator): O recurso foi erguido com
base no art. 105, III, a, Constituição Federal, reptando o v. acórdão que teria
contrariado os artigos 27 do CPC.
Examinando temática recursal idêntica, conhecida e debatida nesta Corte,
como relator, votando no REsp n. 22.859-5-SP, argumentei:
Omissis
Para o exame, inicialmente, tem espaço próprio o art. 27, CPC:
As despesas dos atos processuais, efetuados a requerimento do
Ministério Público ou da Fazenda Pública, serão pagas a fi nal pelo vencido.
O art. 39, da Lei n. 6.830/1980, dispõe:
A Fazenda Pública não está sujeita ao pagamento de custas e
emolumentos. A prática dos atos judiciais de seu interesse independerá de
preparo ou de prévio depósito.
Na franquia de literal interpretação dos textos transcritos, a Fazenda Pública,
há muito, vem insistindo estar desobrigada de fazer adiantamentos, ensejando
a criação de permanentes difi culdades no processamento de ações, nas quais
integra a relação processual - mormente nas execuções fi scais.
Essa obstinação, fi cando repelida, já provocou manifestação jurisprudencial,
verbis:
Se a autarquia requer perícia e o perito ofi cial pleiteia adiantamento para
despesas necessárias, deve a requerente prover as despesas (Ag n. 50.254 -
TFR - Rel. Min. José Cândido - Apud Theotônio Negrão - Código de Processo
Civil - Ed. RT - 21ª ed. - p. 75).
É certo que a compreensão dos aludidos dispositivos, também, tem favorecido
a Fazenda, como demonstra a jurisprudência cristalizada nas Súmulas n. 99 e n.
154-TFR.
Confrontadas as antagônicas interpretações, refl etindo, parece-me que à luz
de interpretação sistemática e atento às realidades, as quais, sob pena de fi car
desajustado, o direito não pode ignorar, entendo que a liberalidade deve ceder
à natureza jurídica das chamadas “despesas”, não se confundindo com “custas e
emolumentos”, que estão fora do alcance da Súmula n. 154-TFR. Tanto que a Lei n.
6.032/1974 (art. 2°), estabelece:
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
330
Excluem-se da norma fi xada neste artigo os incidentes expressamente
previstos nas outras tabelas e as despesas com diligências fora de cartório,
perícias e avaliações, a publicação de editais na imprensa, a expedição de
cartas de ordem e de sentença, arrematação, adjudicação ou remissão,
precatórias e rogatórias, e a formação de traslados e certidões em geral (gf ).
No meu pensar, faltam razões legais e, mais acentuadamente, quando se tratar
de execução fi scal, para o ilimitado descompromisso da Fazenda Pública. Essa
afi rmação se fortalece, após a análise daqueles dispositivos, de nenhum deles
extraindo-se que o Ofi cial de Justiça (serventuário do Estado) ou perito deve
fi nanciar as suas atividades profi ssionais, o primeiro agindo por dever de ofício e o
outro por convocação judicial, sacrifi cando a sua paga pelo desempenho laboral,
para servir ao Estado, seja como “patrão”, quer por decorrência de mandato extra-
contratual. Inexistindo obrigação legal, improcede impor-se prestação de serviço,
na expectativa, ad futurum, do pagamento. Daí as preciosas observações feitas,
como relator, pelo Senhor Ministro Moreira Alves, no RE n. 108.845-1-SP, in DJU de
25.11.1988, verbis:
(...) Se o privilégio da Fazenda for entendido na extensão por ela
pretendida, deve o Estado consignar, no orçamento, verba própria para essas
despesas, no que diz respeito aos cartórios oficializados, uma vez que,
quanto aos não ofi cializados, essas despesas sairão dos emolumentos a
estes devidos, e que são receita pública, como fi xado pela jurisprudência
desta Corte. Recurso Extraordinário não conhecido (apud jurisprudência
sobre o Código de Processo Civil e Leis Extravagantes - GIL TROTTA TELLES -
Ed. Juruá - 3ª ed. - p. 36 - grifei).
Assentado que o favorecimento não está sob o pálio da legalidade, ou
discernindo pelo bom senso, inadmissível será coagir o Ofi cial de Justiça ou o
perito a arcar com as despesas emergentes da execução de atos judiciais ou
dos trabalhos técnicos e nem sujeitá-lo, compulsoriamente, como profi ssional,
a aguardar pacientemente o pagamento somente a fi nal do processo, por isso
tudo, inclusive, no resguardo do próprio interesse da Fazenda Pública e, também,
da celeridade processual, signifi ca que lhe compete providenciar o adiantamento
de todo o pagamento, ou pelo menos de parte, correspondente aos serviços
desempenhados (REsp n. 22.634-SP, Rel. Min. José de Jesus, in DJU de 28.09.1992).
Demais, a trato de prova pericial, a tempo e modo, não realizada, ensejaria a
extinção do processo ou o seu prosseguimento sem a prova (arts. 267, III, 125, II,
183, 340, III, CPC).
Enfi m, por essas veredas, na projeção da legislação comentada, viceja que a
Fazenda Pública goza da isenção de custas e emolumentos devidos às serventias
não oficializadas, mas sujeita-se às despesas necessárias a execução de atos
judiciais, não homenageando a lógica sujeitar, como se fosse um “empréstimo
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (17): 265-337, março 2011 331
compulsório”, o serventuário a custear o caminho processual. E, por hipótese,
na execução fi scal, se vier a anistia do débito, quem fará o reembolso? Sem ele,
induvidosamente, se estamparia a iniqüidade, o locupletamento ilícito.
Por isso mesmo, fujo da interpretação que levaria à desobrigação de fazer o
adiantamento ou a atender que a isenção em favor da Fazenda, preferindo aderir
às advertências do insigne CARLOS MAXIMILIANO:
Diante que a interpretação pelos processos tradicionais conduz à
injustiça fl agrante, incoerência do legislador, contradição consigo mesmo,
impossibilidades ou absurdos, deve-se presumir que foram usadas
expressões impróprias, inadequadas, e buscar um sentido eqüitativo, lógico
e acorde com o sentir geral e o bem presente e futuro da comunidade.
(Hermenêutica e Aplicação do Direito - p. 178 - Ed. Freitas Bastos - 8ª
ed. - 1965).
Com a mesma compreensão: REsp n. 22.618-5-SP - Sessão de 28.10.1992.
Esses julgados encontram seguro respaldo no assentamento jurisprudencial
da egrégia Primeira Seção:
Processual Civil. Despesas de condução de Ofi cial de Justiça. Fazenda
Pública.
Segundo entendimento da Egrégia 1ª Seção a Fazenda Pública e suas
autarquias estão sujeitas ao adiantamento das despesas de condução de
Ofi cial de Justiça.
Embargos rejeitados (Embargos n. 22.630-7-SP, Rel. Min. Garcia Vieira, in
DJU de 06.09.1993).
No mesmo sentido: EREsp n. 23.337-3-SP, in DJU de 16.08.1993.
Acertado concluir que o mesmo delineamento argumentativo serve como
adjutório para demonstrar a obrigatoriedade, também, em relação ao perito
judicial, na combinação dessas razões, voto pelo improvimento.
É o meu voto.
RECURSO ESPECIAL N. 182.201-SC (98.0052720-6)
Relator: Ministro Hélio Mosimann
Recorrente: Departamento Nacional de Estradas de Rodagem - DNER
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
332
Advogado: Alcemar Cardoso da Rosa e outros
Recorrido: Refi nadora Catarinense S/A
Advogado: Carlos Rodolpho Pinto da Luz e outros
EMENTA
Processo Civil. Honorários do perito. Antecipação pela Fazenda.
Obrigatoriedade.
As despesas dos atos processuais devem ser antecipadas, inclusive
pela Fazenda Pública e suas autarquias, não estando o perito obrigado
a custear as despesas para realizar o trabalho.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Segunda
Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das
notas taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, conhecer do recurso, mas negar-
lhe provimento, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator. Participaram
do julgamento os Srs. Ministros Peçanha Martins, Ari Pargendler e Aldir
Passarinho Junior.
Brasília (DF), 04 de março de 1999 (data do julgamento).
Ministro Ari Pargendler, Presidente
Ministro Hélio Mosimann, Relator
DJ 29.03.1999
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Hélio Mosimann: Cuida-se de recurso especial interposto
pelo Departamento Nacional de Estradas de Rodagem - DNER, fundado no
artigo 105, inciso III, alíneas a e c, da Constituição Federal, contra acórdão que
entendeu devido o adiantamento dos honorários de perito pela União e suas
autarquias, pois o perito não está obrigado a realizar o trabalho sem receber pelo
menos uma parte dos honorários.
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (17): 265-337, março 2011 333
Sustenta o recorrente, em síntese, negativa de vigência aos artigos 19,
27 e 33, do CPC, bem como dissídio jurisprudencial, ao argumento de não
ser o autor da ação e, mesmo que fosse, em virtude de ser autarquia federal, o
pagamento só se daria ao fi nal da demanda.
Sem contra-razões, posto que não oferecidas, vieram os autos a esta
superior instância.
É o relatório.
VOTO
O Sr. Ministro Hélio Mosimann (Relator): A decisão singular, mantida pela
instância a quo, “determinou o pagamento de quantia relativa ao adiantamento
dos honorários de perito que realizaria prova pericial em ação de desapropriação
indireta”.
Confi ra-se o que decidido por esta egrégia Turma quando do julgamento
do REsp n. 187.921-PR, da minha relatoria:
O tema de que se cuida - antecipação de honorários periciais - tem merecido,
desta egrégia Turma, tratamento que pode ser sintetizado pelas ementas postas
nos seguintes termos:
Processual Civil. Honorários periciais. Antecipação do pagamento.
Jurisprudência predominante no STJ. Precedente.
- As despesas dos atos processuais, inclusive as referentes a realização de
perícia, devem ser antecipadas pela parte que as requereu, mesmo quando
se tratar da Fazenda Pública e suas autarquias.
- Entendimento fi rmado pela egrégia Primeira Seção.
- Recurso conhecido, mas desprovido. (REsp n. 47.071-SP, Rel. Min.
Peçanha Martins, DJ de 27.05.1996)
Processo Civil. Honorários periciais. Antecipação do respectivo montante
pela Fazenda Pública. Se o juiz determina a realização de perícia em ação
por ela promovida, a Fazenda Pública está obrigada a antecipar o depósito
dos honorários periciais. Recurso especial não conhecido. (REsp n. 30.245-
SP, Rel. Min. Ari Pargendler, DJ de 31.10.1997)
Ora, por despacho, o sentenciante monocrático afi rmou que “muito embora
os autores tenham requerido a perícia, devem os honorários ser antecipados pelo
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
334
Incra (...)”, ao argumento de que inaplicável às chamadas ações de desapropriação
indireta a regra de que o pagamento antecipado das despesas do processo
correm a conta de quem requereu os respectivos atos, “sob pena de que o
expropriado sofra nesse âmbito encargos maiores do que teria se o Poder Público
houvesse seguido o procedimento legal (...)”. (AI n. 89.04.10264-2-PR, Relator Juiz
Ari Pargendler).
Do exposto, na linha dos precedentes colacionados, conheço do recurso e lhe
dou provimento.
Seguindo os precedentes, conheço do recurso mas lhe nego provimento.
É como voto.
RECURSO EM MANDADO DE SEGURANÇA N. 4.082-SP (94.0003203-0)
Relator: Ministro Antônio de Pádua Ribeiro
Recorrente: Município de São Paulo
Advogados: Denise do Carmo R. S. de Oliveira e outros
Tribunal de Origem: Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo
Impetrado: Juízo de Direito da 7ª Vara da Fazenda Pública de São Paulo-SP
Recorridos: Emílio Heininger - espólio e outros
EMENTA
Processual Civil. Perícia. Despesas. Depósito prévio pela Fazenda
Pública. CPC, art. 27.
I - A Fazenda Pública está sujeita ao adiantamento das despesas
relativas à realização de perícia. Precedentes.
II - Recurso ordinário conhecido, mas desprovido.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima
indicadas.
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (17): 265-337, março 2011 335
Decide a Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade
dos votos e das notas taquigráficas anexas, por unanimidade, conhecer do
recurso e negar-lhe provimento, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator.
Participaram do julgamento os Srs. Ministros Hélio Mosimann, Peçanha
Martins e Américo Luz.
Brasília (DF), 24 de maio de 1995 (data do julgamento).
Ministro Hélio Mosimann, Presidente
Ministro Antônio de Pádua Ribeiro, Relator
DJ 12.06.1995
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Antônio de Pádua Ribeiro: A Prefeitura Municipal de São
Paulo impetrou mandado de segurança visando dar efeito suspensivo ao agravo
de instrumento interposto contra o despacho do MM. Juiz de Direito da Sétima
Vara da Fazenda Pública de São Paulo, que determinou o depósito imediato dos
honorários periciais.
O Egrégio Tribunal a quo denegou a segurança, ao fundamento de que a
Fazenda Pública não está excluída da incidência da regra segundo a qual “cabe
às partes prover as despesas dos atos que realizam ou requerem no processo,
antecipando-lhes o pagamento, desde o início até sentença fi nal.”
Daí o presente ordinário, em que a impetrante pretende “o pagamento dos
salários periciais tão somente após realizado o serviço, com base não apenas no
art. 27 do CPC, mas também, nos artigos 62 e 63 da Lei n. 4.320/1964 que
estabelece normas legais de direito fi nanceiro para elaboração e controle dos
orçamentos e balanços da União, dos Estados, dos Municípios e do Distrito
Federal.”
Contra-arrazoado o recurso (fl s. 67-68), subiram os autos e, neste Tribunal,
a douta Subprocuradoria Geral da República, em parecer do Dr. José Arnaldo
da Fonseca, ilustre Subprocurador Geral da República, opinou no sentido do
seu improvimento (fl s. 73-76).
É o relatório.
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
336
VOTO
O Sr. Ministro Antônio de Pádua Ribeiro (Relator): Consoante assinala
o parecer do órgão ministerial, o acórdão recorrido está em harmonia com
precedentes desta Corte, de um dos quais, aliás, fui Relator. Eis as ementas:
Processual Civil. Despesas. Perícia. Fazenda Pública. Adiantamento.
Firmou-se o entendimento, na Egrégia 1ª Seção, de que a Fazenda Pública e
suas autarquias estão sujeitas ao adiantamento das despesas dos atos processuais,
inclusive as referentes à realização de perícia.
Recurso provido.
(REsp n. 43.617-6-SP (94.0002975-6), Rel. Min. Garcia Vieira, Julg. em 09.03.1994
e Publ. DJ de 11.04.1994) e
Processual Civil. Honorários de perito. Depósito prévio pela Fazenda Pública.
CPC, art. 27. Interpretação.
I - O art. 27 do CPC não tem aplicação, em se tratando de depósito prévio de
honorários, para fi ns de perícia a ser realizada por profi ssional estranho ao quadro
da Justiça.
II - Recurso especial conhecido e desprovido.
(REsp n. 14.914-0-PR (91.0019516-2), Rel. Min. Antônio de Pádua Ribeiro, Julg.
em 17.11.1993 e Publ. DJ de 06.12.1993).
Isto posto, conheço do recurso, mas nego-lhe provimento.
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (17): 265-337, março 2011 337
Súmula n. 233
SÚMULA N. 233
O contrato de abertura de crédito, ainda que acompanhado de extrato da
conta-corrente, não é título executivo.
Referência:
CPC, art. 585.
Precedentes:
EREsp 148.290-RS (2ª S, 24.02.1999 – DJ 03.05.1999)
REsp 71.260-PR (3ª T, 05.12.1995 – DJ 1º.04.1996)
REsp 89.344-RS (3ª T, 19.02.1998 – DJ 11.05.1998)
REsp 97.816-MG (4ª T, 11.02.1999 – DJ 10.05.1999)
REsp 121.721-SC (4ª T, 18.03.1999 – DJ 10.05.1999)
REsp 126.053-PR (3ª T, 15.12.1997 – DJ 13.04.1998)
REsp 160.106-ES (3ª T, 17.03.1998 – DJ 17.08.1998)
REsp 174.829-RS (3ª T, 06.10.1998 – DJ 16.11.1998)
Segunda Seção, em 13.12.1999
DJ 08.02.2000, p. 264
EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA EM RECURSO ESPECIAL N. 148.290-RS
(97.0094002-0)
Relator: Ministro Ruy Rosado de Aguiar
Embargante: Banco do Brasil S/A
Advogado: Eliezer de Oliveira Felinto Melo e outros
Embargado: Nelson Nicolau Mallmann
Advogado: Vilson Roberto Pohlmann e outros
EMENTA
Execução. Contrato de abertura de crédito. Título executivo
(inexistência).
- O contrato de abertura de crédito não é título executivo.
Orientação da Segunda Seção.
Embargos conhecidos, mas rejeitados.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da
Segunda Seção do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e
das notas taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, rejeitar os embargos. Votaram
com o Relator os Srs. Ministros Carlos Alberto Menezes Direito, Bueno de
Souza, Costa Leite, Nilson Naves, Eduardo Ribeiro, Waldemar Zveiter, Barros
Monteiro e Cesar Asfor Rocha.
Brasília (DF), 24 de fevereiro de 1999 (data do julgamento).
Ministro Sálvio de Figueiredo, Presidente
Ministro Ruy Rosado de Aguiar, Relator
DJ 03.05.1999
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Ruy Rosado de Aguiar: Nos autos dos embargos à execução
que lhe move Nelson Nicolau Mallmann, o Banco do Brasil S/A opôs embargos
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
344
de divergência a v. aresto da eg. Terceira Turma que deu provimento a recurso
especial, em acórdão assim ementado:
Contrato de abertura de crédito.
Limitando-se a ensejar a possibilidade de utilizar-se de crédito, obriga apenas
quem se dispõe a propiciar o mútuo. Não refl ete qualquer obrigação da outra
parte, menos ainda líquida, certa e exigível.
Impossibilidade de o título completar-se com extratos fornecidos pelo próprio
credor que são documentos unilaterais. Não é dado às instituições de crédito criar
seus próprios títulos executivos, prerrogativa própria da Fazendo Pública.
Entendimento que não se altera em virtude da modifi cação introduzida pela
Lei n. 8.953/1994, pois não afastada a exigência de liquidez e certeza constante do
artigo 586 do CPC. (fl . 85)
Demonstra a divergência com acórdão desta eg. Quarta Turma, proferido
no REsp n. 133.139-SC, de relatoria do em. Ministro Sálvio de Figueiredo:
Processo Civil. Execução. Contrato de abertura de crédito acompanhado de
extrato circunstanciado de movimentação da conta corrente. Título executivo.
Liquidez. Recurso especial. Prequestionamento. Inocorrência. Impossibilidade de
exame. Recurso desprovido.
I - O contrato de abertura de crédito rotativo tem a natureza de título executivo,
sufi ciente para informar o processo de execução, desde que acompanhado de
extrato de movimentação da conta corrente que permita aferir a evolução da
dívida e a exata correspondência com o que tenha sido ajustado.
II - Ausente a manifestação do Colegiado de origem sobre a questão federal
suscitada no recurso especial, inviável seu exame por falta de prequestionamento,
nos termos do Enunciado n. 282 da Súmula STF. (fl . 100).
Em suas razões recursais, evidencia o embargante acórdão embargado não
atribuiu força executiva aos contratos de abertura de crédito em conta corrente,
desprovidos dos requisitos de liquidez e certeza ainda quando acompanhados
dos extratos de movimentação contábil, enquanto que o aresto paradigma
reconheceu a liquidez e a certeza daquele documento quando acompanhado do
respectivo extrato de movimentação bancária.
Além disso, prossegue o embargante, o aresto embargado afi rmou que
o título em questão não se enquadra entre aqueles contemplados no art. 585,
inciso II, do CPC, também por não guardar a liquidez de que fala o art. 586 do
CPC. Para o r. acórdão divergente, no entanto, o contrato de abertura de crédito
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (17): 339-382, março 2011 345
em conta corrente, sendo documento particular assinado pelo devedor, com duas
testemunhas, tem a natureza do título executivo.
Demonstrada a divergência, admiti os embargos e determinei fosse
concedida vista ao embargado, por quinze dias (art. 267 do RISTJ).
Decorrido o prazo sem imputação, os autos me foram conclusos. (certidão
fl . 111 vº).
O processo aguardou o julgamento do EREsp n. 108.259-RS, sobre a
mesma questão.
É o relatório.
VOTO
O Sr. Ministro Ruy Rosado de Aguiar (Relator): 1. Os presentes embargos
versam sobre a executividade de contrato de abertura de crédito.
Há dissenso entre as duas teses principais afi rmadas nos dois acórdãos
postos em confronto: enquanto o aresto da eg. Terceira Turma, ora embargado,
afi rma a absoluta insufi ciência executiva do contrato de abertura de crédito, que
não se aperfeiçoa com a juntada de extratos explicativos, porque unilaterais, o
acórdão paradigma, da Quarta Turma, admite a executividade do referido título,
desde que acompanhado de demonstrativos sufi cientemente esclarecedores da
formação do débito, desde o seu início.
O dissídio retratado nos autos está hoje superado no âmbito desta Segunda
Seção, desde o julgamento do EREsp n. 108.259-RS, quando prevaleceu a
orientação da eg. Terceira Turma, aceita no acórdão embargado, com a seguinte
ementa:
Processual Civil. Execução. Contrato de abertura de crédito. Inexistência de
título executivo. Inteligência dos arts. 585, II e 586 do CPC.
Mesmo subscrito por quem é indicado em débito e assinado por duas
testemunhas, o contrato de abertura de crédito não é título executivo, ainda que
a execução seja instruída com extrato e que os lançamentos fi quem devidamente
esclarecidos, com explicitação dos cálculos, dos índices e dos critérios adotados
para a definição do débito, pois esses são documentos unilaterais de cuja
formação não participou o eventual devedor.
Embargos de divergência rejeitados.
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
346
2. Sobre a mesma questão já depois disso votei na eg. Quarta Turma,
seguindo o entendimento que se tornou predominante e hoje está consolidado.
Peço permissão para reproduzir a fundamentação do voto no REsp n. 188.586-
RS:
1. Esta Quarta Turma aceitava o contrato de abertura de crédito como
título executivo, desde que acompanhado de extratos ou demonstrativos
sufi cientemente esclarecedores sobre a formação do débito, desde a sua origem,
de modo a permitir ao devedor o exercício de sua defesa quanto aos lançamentos
efetuados em sua conta. Assim os precedentes:
Contrato de abertura de crédito. Executividade. Demonstrativo. Cláusula
inválida. Art. 115 do CCivil.
- É título executivo o contrato de abertura de crédito acompanhado de
demonstrativo sufi cientemente esclarecedor da formação do débito, que
se completa com as estipulações constantes do contrato sobre os índices a
serem aplicados.
- É inválida a cláusula que permite ao credor escolher, a seu juízo, as
taxas a serem utilizados na hipótese de prorrogação do contrato, com
abandono das contratadas.
- Recurso conhecido em parte e provido. (REsp n. 173.483-PR, Quarta
Turma, de minha relatoria)
Execução. Contrato de abertura de crédito. Extratos.
- Havendo informação sufi cientemente esclarecedora sobre a formação
do débito, desde o seu início, com indicação da natureza do lançamento
feito, período e índice utilizado, é de se reconhecer a existência de título
executivo.
- Precedentes da Quarta Turma.
- Recurso conhecido e provido. (REsp n. 169.816-RS, Quarto Turma, de
minha relatoria)
2. A fundamentação para esse entendimento estava, entre outros julgados, no
voto que proferi no EREsp n. 108.259-RS:
1. Trata-se de embargos de divergência no REsp n. 108.259-RS, assim
relatado pelo em. Ministro Sálvio de Figueiredo: Leu.
O em. Ministro Relator, acompanhado pelo em. Ministro Barros Monteiro,
conheceu e deu provimento ao recurso, com voto assim ementado:
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (17): 339-382, março 2011 347
Direitos Comercial e Processual Civil. Embargos de divergência.
Execução. Contrato de abertura de crédito acompanhado de
extrato circunstanciado de movimentação da conta corrente. Título
executivo. Liquidez. Recurso provido.
I - O contrato de abertura de crédito rotativo tem a natureza de
título executivo, sufi ciente para informar o processo de execução,
desde que acompanhado de extrato e movimentação da
conta corrente que permita aferir a evolução da dívida e a exata
correspondência com o que tenha sido ajustado, como ocorre na
hipótese sob exame.
II - Tal extrato, contudo, cumpre seja elaborado de forma
discriminada, com emprego de rubricas e adequadas (específi cas),
e de molde a abranger todo o período transcorrido entre a data da
celebração do ajuste e a do ajuizamento da execução, possibilitando,
assim, a aferição da sua exata correspondência com o que pactuado
e permitido a impugnação, em sede de embargos do devedor, dos
lançamentos efetuados de modo abusivo, em descompasso com as
estipulações contratuais (EdREsp n. 108.259-RS, 4ª Turma, rel. em.
Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira).
Já o em. Ministro Cesar Asfor Rocha conheceu mas negou provimento
aos embargos, asseverando que “Mesmo subscrito por quem indicado em
débito e assinado por duas testemunhas, o contrato de abertura de crédito
não é título executivo, ainda que a execução seja instruída com extrato e
que os lançamentos fi quem devidamente esclarecidos”.
Tendo pedido vista dos autos, trago-os hoje para a continuação do
julgamento.
2. Tenho acompanhado a orientação da eg. Quarta Turma ao admitir a
executividade do contrato de abertura de crédito, desde que acompanhado
de informações suficientemente esclarecedoras da formação da dívida
desde o início da execução do contrato, explicados os lançamentos, sua
natureza, taxas, índices e períodos considerados, a fi m de que o devedor
possa exercer sua defesa e o juiz tenha condições de julgar eventuais
embargos.
Assim entendi e continuo entendendo porque o contrato de abertura
de crédito, pelo qual o banco se obriga a manter à disposição do cliente
certa quantia em dinheiro, por tempo determinado ou não, normalmente
conjugado a uma conta corrente, permitindo o reembolso e a reutilização do
crédito, é uma modalidade de contrato bancário que facilitou sobremaneira
a obtenção do crédito, simplifi cou a sua concessão e benefi ciou ambas as
partes.
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
348
Nesta figura contratual, o cliente se beneficia com a
disponibilidade do dinheiro, obtendo a ajuda do banco como ocorre
no empréstimo. Mas com uma diferença crucial: a abertura de crédito
se adapta elasticamente às exigências do momento, propiciando
ao cliente, como se em sua própria caixa, a soma do crédito que
ele poderá utilizar pela forma e tempo avençados, na medida de
sua conveniência. E, ademais, como em geral esse contrato se
instrumenta em forma de conta corrente, o cliente tem a faculdade
de poder abater a sua dívida, fazendo ingressos na conta, na medida
em que suas condições financeiras o permitam, evitando, assim,
o pagamento de interesses incidentais sobre o crédito (Covello,
Contratos Bancários, p. 191).
Esse instrumento tem sido amplamente utilizado no mercado, a
evidenciar a sua praticidade, principalmente na modalidade de cheque
especial, que se contam aos milhões no país. Mas, assim como traz
benefícios ao tomador, deve oferecer ao banco, na hipótese de constatado
saldo devedor ao final do termo previsto, a possibilidade de dispor de
instrumento sufi cientemente efi caz para a cobrança do débito. Se assim
não fi car estabelecido, a prática, atualmente tão difundida e de inegável
interesse dos clientes, deverá necessariamente ser modifi cada e tenderá a
desaparecer com o retorno aos contratos de empréstimo que admitem a
criação de documento cambial subscrito pelo devedor.
Na Espanha, foi posto essa mesma questão da executividade do título
formado mediante o lançamento unilateral do banco, terminando por se
admitir como líquida a dívida resultante dos registros lançados nos livros
bancários, a permitir a sua execução. Com isso, foi garantido o caráter
executivo do documento expedido pelo banco em função de contrato
de abertura de crédito, considerado “indispensável para manter um
sistema creditício, de tanto interesse para a economia geral do país e para
os próprios usuários dos créditos, sem eliminar os direitos destes, que
continuam sufi cientemente garantidos, já que no juízo executivo poderão
excepcionar o excesso de pedido” (Joaquin Garrigues, Madrid, Contratos
Bancários, p. 201).
Nesse contexto, tenho que os extratos e demonstrativos bancários
informando sobre os lançamentos efetuados pelo banco se incorporam ao
título e servem para defi nir o valor do débito, emprestando ao contrato as
características de um título executivo.
Não posso deixar de reconhecer, porém, duas graves restrições que
devem ser feitas: a primeira, porque os contratos de cheques especiais
têm sido utilizados para prática das mais altas e abusivas taxas de juros e
encargos bancários conhecidos; de outra parte, há instituições bancárias,
entre as quais se inclui o ora embargante, que não comunicam ao cliente,
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (17): 339-382, março 2011 349
sequer periodicamente ou no término do prazo contratual previsto, os
lançamentos que estão sendo feitos. Essas duas práticas colocam o cliente,
que na verdade está cingindo a um contrato de adesão, em situação de
extrema inferioridade.
Tais circunstâncias, porém, não me parecem sufi cientemente fortes para
retirar do saldo apurado, bem explicado quando do ajuizamento da ação,
a natureza de título executivo. As questões por último referidas deverão
servir para a defesa do devedor através de embargos, a serem apreciados
pelo magistrado, como tem sido feito, seja para excluir parcelas abusivas,
seja para eliminar a possibilidade de ser executivamente cobrada uma
conta cuja formação não foi periodicamente levada ao conhecimento do
devedor.
Posto isso, com a devida vênia, estou acompanhando o em. Ministro
Relator, conhecendo e dando provimento aos embargos.
3. Contudo, na eg. Segunda Seção, terminou prevalecendo o entendimento
anteriormente aceito pela eg. Terceira Turma, que reiteradamente não admitia
a executividade de título resultante de lançamentos feitos unilateralmente pelo
credor:
Como consignado pelo eminente Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira,
relator deste feito, a questão cuida de se reconhecer ou não, como título
executivo extrajudicial, o contrato de abertura de crédito rotativo em conta
corrente, acompanhado do extrato da conta e da especifi cação do crédito,
elaborado pelo credor.
A eg. Terceira Turma, a partir do julgamento do REsp n. 29.597 (DJ de
13.09.1993), relatado pelo eminente Ministro Eduardo Ribeiro, negou a
executividade desses contratos, “ainda que estejam acompanhados de
extratos, porquanto estes são documentos unilaterais, e as instituições
financeiras não podem criar seus próprios títulos executivos” (REsp n.
139.282-RS, relator eminente Ministro Waldemar Zveiter).
No mesmo diapasão, dentre muitos outros, os REsps n. 36.391, n.
146.048-RS, n. 140.447-RS, relatados, respectivamente, pelos eminentes
Ministros Costa Leite, Nilson Naves e Carlos Alberto Menezes Direito.
Quando passei a integrar a Egrégia 4ª Turma, essa mesma posição que
foi agora exposta pelos eminentes Ministros que me antecederam, já estava
consolidada com relação ao tema ora posto.
De início, aquele douto Órgão fracionário dava pela viabilidade da
execução fundada em contrato de abertura de crédito, o chamado “cheque
especial”, desde que instrumentalizado apenas com o extrato da conta,
tendo posteriormente evoluído o que foi defendido pelo eminente Ministro
Relator, vale dizer, exigindo-se também a efetiva demonstração de todos
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
350
os lançamentos, esclarecidos os cálculos, os índices e os critérios adotados
para a defi nição do débito.
É o que fi cou assente, dentre tantos, nos REsps n. 11.037-0-DF, n. 147.523-
RS e n. 146.033-RS, da relatoria, respectivamente, dos eminentes Ministros
Sálvio de Figueiredo Teixeira, Barros Monteiro e Ruy Rosado de Aguiar.
Acostei-me, sem nenhum entusiasmo, data venia, a tal entendimento,
uma vez que ali já estando pacifi cado a nenhum resultado prático levaria a
minha eventual e solitária discordância, sendo de observar que a tanto não
tivera nenhuma oportunidade de fazê-lo como relator.
No entanto, aberto aqui e agora o ensejo, neste douto Órgão que tem
a competência para traçar a diretriz defi nitiva sobre a questão proposta,
sinto-me estimulado em afi rmar, data venia, que não reconheço nenhuma
executividade em cogitado contrato de abertura de crédito, mesmo que
estando subscrito pelo eventual devedor e assinado por duas testemunhas,
ainda que a execução seja instruída com extrato e que os lançamentos
fiquem devidamente esclarecidos, com explicitação dos cálculos, dos
índices e dos critérios adotados para a definição do débito, pois esses
são documentos unilaterais de cuja formação não participou o eventual
devedor, e o contrato apenas possibilita que uma certa importância possa
ser eventualmente utilizada.
Nele não há nenhuma afi rmação de quem quer que seja dizendo-se em
dívida de uma importância certa e determinada que lhe teria sido creditada.
E essa ausência não pode ser suprida com a simples apresentação de
extratos ainda que explicitados pelo banco que abriu o crédito, por serem
documentos unilaterais de cuja formação não participou aquele que é
indicado como devedor.
Como observado pelo eminente Ministro Eduardo Ribeiro no REsp n.
29.597-3-RS, acima mencionado, “não se trata aqui, note-se, da hipótese em
que existe um título e o valor do débito, com base no mesmo, é alcançado
por simples operações aritméticas. No caso, como dito, o contrato de
abertura de crédito não constitui título algum, por não conter declaração
por meio do qual alguém se obrigue a pagar quantia determinada. Por
fi m, avenças acaso constantes do contrato, reconhecendo a liquidez dos
lançamentos, de modo apriorístico, carecem de maior signifi cado, pois não
é dado às partes criar outros títulos executivos, além dos estabelecidos em
lei”.
Embora a questão e desate tenha sido dirimida pelas instâncias inferiores
ainda antes da vigência da Lei n. 8.953/1994, que deu nova redação ao
inciso II, do art. 585 do Código de Processo Civil, permito-me trazer mais e
se lúcido ensinamento do eminente Ministro Eduardo Ribeiro, já agora no
REsp n. 142.754-RS, a saber:
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (17): 339-382, março 2011 351
Cumpre verifi car se esse entendimento continuaria sustentável,
após a alteração introduzida, no dispositivo acima citado, pela Lei n.
8.953/1994. Considero que de nenhum modo foi atingido.
Embora a expressão “obrigação de pagar quantia determinada”,
que veio a ser suprimida, tenha sido valorizada no pronunciamento
acima transcrito, a modifi cação da norma não é de molde a conduzir
a que se abandone a orientação jurisprudencial apontada.
Em verdade, veio a lei a admitir que obrigações de outra natureza,
e não apenas as de pagar quantia certa, pudessem constituir título
executivo. Continua a ter como necessário, para que se viabilize
execução, seja o título líquido, certo e exigível (art. 586). A liquidez e
certeza hão de decorrer do próprio título. Com base nele, tratando-se
de execução por quantia certa, se praticam atos de constrição contra
o patrimônio do devedor. Isso não se pode admitir sem que do título
resulte que existe a dívida. Nesse sentido Dinamarco (A Reforma
do Código de Processo Civil - Malheiros - 1995 - p. 228-9). Contrato
de abertura de crédito e extratos unilateralmente elaborados de
nenhum modo atendem a esses requisitos. Tais documentos, em
realidade, não bastam para provar exista obrigação alguma.
Confesso que muito me sensibiliza o argumento de que devemos extrair
do processo toda efetividade que por ele possa ser proporcionada. Essa
tem sido a tônica de meus pronunciamentos.
Contudo, data venia, não se pode em nome disso, conferir a quem
quer que seja a mesma posição favorável estabelecida ao exequente sem
que esteja munido de um documento, fi rmado pelo próprio devedor, que
retrate claramente uma dívida por ele assumida.
A experiência comum tem demonstrado que em nome da celeridade
da efetividade que se deve emprestar aos feitos judiciais, nesses processos
que veiculam a mesma discussão aqui instaurada, muitos excessos têm sido
cometidos, na inclusão feita pelo credor de verbas não pactuadas.
Poder-se-ia retrucar, é certo, que nessas hipóteses o devedor poderia se
valer dos embargos à execução ao fi m do que o juiz reduziria a dívida ao
exato valor.
Todavia, quando da oposição dos embargos, o eventual devedor já é
levado a uma situação de constrangimento e de inferioridade, resultante do
só fato de ser obrigado a, previamente, necessariamente ter os seus bens
sob constrição judicial.
Ademais, inquietou-me, em princípio, a possibilidade de que uma
decisão contrária à que foi proposta pelo eminente Ministro-Relator,
inadmitindo a executividade cogitada, servisse de desestímulo aos
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
352
estabelecimentos bancários em oferecer crédito sem muita burocracia,
aos seus clientes, como as relações comerciais e bancárias desses tempos
modernos estão a exigir.
Porém, esses receios ficam superados ante a adoção, pela nossa
legislação processual, da ação monitória tão pouco utilizada, diga-se de
passagem - que também enseja às casas bancárias reaver o crédito com
a celeridade da via executiva, mas aí deixando as partes em posição de
igualdade para discuti-lo, nessas hipóteses, como a dos autos, em que não
há título líquido, certo e exigido.
Diante de tais pressupostos, data venia, rejeito os embargos.
Ementa: Processual Civil. Execução. Contrato de abertura de crédito.
Inexistência de título executivo. Inteligência dos arts. 585, II, e 586 do CPC.
Mesmo subscrito por quem é indicado em débito e assinado por duas
testemunhas, o contrato de abertura de crédito não é título executivo, ainda
que a execução seja instruída com extrato e que os lançamentos fi quem
devidamente esclarecidos, com explicitação dos cálculos, dos índices e dos
critérios adotados para a defi nição do débito, pois esses são documentos
unilaterais de cuja formação não participou o eventual devedor.
Embargos de divergência rejeitados (EREsp n. 108.259-RS, Segunda
Turma, voto do em. Min. Cesar Asfor Rocha).
4. Assim, atendendo ao decidido no órgão deste Tribunal incumbido de
harmonizar a jurisprudência entre as Turmas de Direito Privado, estou adotando
a orientação vencedora e, aplicando a Súmula n. 83-STJ, não conheço do recurso.
3. Posto isso, conheço dos embargos, porque era visível a divergência, ao
tempo, mas os rejeito, com ressalva da posição pessoal.
É o voto.
RECURSO ESPECIAL N. 71.260-PR (95.38206-7)
Relator: Ministro Cláudio Santos
Recorrente: Florença Veículos S/A
Recorrido: Imaribo Administração, Participação e Serviços S/C Ltda.
Advogados: Alceu Conceição Machado Filho e outros, Claudio Bonato
Fruet e outros
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (17): 339-382, março 2011 353
EMENTA
Processual Civil. Recurso especial. Contrato de abertura de
crédito em conta-corrente aparelhado com extrato de movimentação.
Execução como título executivo extrajudicial. Art. 585, II, do CPC.
Impossibilidade. Falta de título consubstanciando obrigação de pagar
quantia certa.
I - O contrato de crédito em conta-corrente, mesmo que
acompanhado de extratos de movimentação, não constitui título
executivo extrajudicial, nos termos do art. 585, II, do CPC, por não ser
obrigação de pagar quantia determinada. Precedentes.
II - Recurso especial não conhecido
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Terceira
Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e notas
taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, não conhecer do recurso especial.
Votaram com o Relator os Ministros Costa Leite, Nilson Naves, Eduardo
Ribeiro e Waldemar Zveiter.
Sustentaram oralmente, o Dr. Francisco de Paula Xavier Neto, pela
recorrente e o Dr. Carlos Eduardo Caputo Bastos, pela recorrida.
Brasília (DF), 05 de dezembro de 1995 (data do julgamento).
Ministro Waldemar Zveiter, Presidente
Ministro Cláudio Santos, Relator
DJ 1º.04.1996
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Cláudio Santos: - O Tribunal de Alçada do Estado do
Paraná, por maioria, negou provimento aos embargos infringentes opostos por
Florença Veículos S/A, estando o julgado assim sumariado - fl . 361:
Embargos infringentes. Contrato oneroso de mútuo. Fundo mútuo integrado
por mais de duas dezenas de empresas. Execução proposta por uma das
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
354
integrantes contra a administradora. Votos majoritários que entendem tratar-se
de promessa de mútuo. Voto minoritário que considera como contrato de conta
corrente iliquidez e incerteza da dívida. Embargos desprovidos.
I - O contrato de conta corrente é caracterizado pela inexigibilidade dos
créditos.
II - No mútuo, o mutuário dá ao dinheiro entregue (tradictio) a destinação que
bem lhe aprouver, tem o uso e a disponibilidade do bem mutuado.
III - Na promessa de mútuo, não há a entrega de quantia alguma em dinheiro:
há uma convenção entre empresas ditas coligadas que resolvem autorizar e
permitir entre si a transferência de recursos em moeda corrente.
IV - A dívida não é líquida e certa, se o contrato estipula que, após um certo
prazo, ele se prorroga por tempo indeterminado, sendo passível de exigência
apenas após prévia denúncia e acertamento entre as partes do indexador
aplicável para a atualização do débito.
V - Simples demonstrativo gráfi co, sem autenticação e sem reconhecimento
do devedor, que não registra as diversas operações de mútuos, limitando-se a
apontar eventual saldo devedor, também não confi gura título hábil à execução
extrajudicial.
A embargante opôs embargos de declaração, os quais foram providos
parcialmente para corrigir erro material - fl s. 418-422.
Insatisfeita, interpôs recurso especial por dissenso pretoriano na
interpretação do art. 585, II, do CPC - fl s. 428-465.
Aduz que contrato acompanhado de extrato de conta corrente é título
executivo extrajudicial. A sustentar o seu entendimento, colaciona aresto do 1º
Tribunal de Alçada Civil de São Paulo, que permite a viabilidade de se ter por
confi gurado título executório constituído por contrato de abertura de crédito,
assinado por correntista e por duas testemunhas e instruído com extratos
demonstrativos do valor do crédito.
Em segundo plano, afi rma que aresto do Supremo Tribunal Federal decidiu
que os créditos e débitos (ao desenvolvimento da conta corrente) não retiram a
executividade do extrajudicial, ao contrário do paragonado, que entende que
os mútuos recíprocos somente serão exigíveis em processo de conhecimento.
Ademais, o acórdão recorrido afastou a executoriedade em função da falta de
“acertamento entre as partes do indexador aplicável para atualização do débito”,
o que discrepa do posicionamento do Superior Tribunal de Justiça, para o
qual os encargos da dívida (juros e correção monetária) não tomam o título
inexeqüível, posto que é matéria que poderá ser dirimida, quando do julgamento
dos embargos, em sua parte meritória.
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (17): 339-382, março 2011 355
Em terceiro lugar, esclarece que o contrato, sem quantia determinada, que
indique os elementos para apurá-la, têm força executiva, consoante julgado
paradigma do Tribunal de Alçada Civil de São Paulo.
O recorrido impugna o recurso às fl s. 465-495. Em síntese, arrazoa que
se pretende reexame de prova e interpretação de cláusula contratual; falta
identidade fática entre as hipóteses em confronto; há desacordo com o
entendimento do Superior Tribunal de Justiça e não cumprimento do art. 255,
parágrafo único, do RISTJ.
O Presidente do Tribunal a quo negou seguimento ao recurso - fl s. 497-
501, mas o mesmo subiu devido a provimento de agravo de instrumento - fl s.
793, do apenso.
É o relatório.
VOTO-PRELIMINAR
O Sr. Ministro Cláudio Santos (Relator): - A questão central deste recurso
especial consiste em saber se o contrato fi rmado pela recorrente com a recorrida
pode ser considerado título executivo extrajudicial, nos termos do art. 585, II, do
Código de Processo Civil.
A respeito da natureza jurídica do pacto fi rmado o acórdão salientou o
seguinte - fl s. 370-376:
Não vejo no saldo que se executa um reconhecimento ou uma confi ssão de
dívida, senão apenas a posição da embargante junto ao Fundo Mútuo, máxime
porque Imaribo participa como gerenciadora deste Fundo, como administradora
destes recursos, dos quais dispunha no interesse comum.
4. O voto vencido especifica que a espécie contratual eleita pelas partes
encontra perfeita similitude com o contrato para saldos devedores em contas
correntes bancárias, ao qual é atribuída força executiva. Em ambos não há quantia
determinada e, também, o contrato estipula que os lançamentos em conta
corrente se constituirão em prova do débito do mutuário.
Com a devida vênia, não posso concordar com esta interpretação, quer
dizer, que estejamos diante de um contrato de conta corrente. Ninguém o
explicitou melhor do que PONTES DE MIRANDA, inclusive nos seus aspectos de
inexigibilidade e de indisponibilidade. Eis a sua lição:
Pelo contrato de conta corrente, nenhum dos fi gurantes se vincula a
prestar dinheiro, ou outro bem. Apenas se promete escriturar os créditos
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
356
decorrentes de operações em que os figurantes sejam titulares. Pelo
contrato de conta corrente, não se mutua, nem se abre crédito. Alude-se
ao que se há de fazer quanto a créditos, passados, presentes e futuros.
Até que se feche a conta não se pode exigir nem dispor dos créditos e dos
débitos. Mediante tal vinculação contabilística, os créditos e os débitos
que se lancem se contrapõem automaticamente, e o saldo só é exigível
quando se dê o vencimento, pré-estabelecido para a conta corrente. Note-
se bem: o vencimento do dever de lançar e anotar, com efi cácia, então, de
computação automática.
Do contrato de conta corrente não se irradiam relações jurídicas
creditícias (que são relações jurídicas obrigatórias entre os figurantes),
mas apenas o dever de lançar e anotar os créditos de um e de outro, e,
para o outro fi gurante, o de ater-se a esses lançamentos e anotações. Em
conseqüência da regulamentação unitária, há a contraposição automática
de origem negocial.
O contrato de conta corrente é fruto do direito costumeiro. Não há, no
sistema jurídico brasileiro, regras jurídicas escritas sobre ele (TRATADO DE
DIREITO PRIVADO, Vo. 42, p. 119-120).
Assim, contrato de conta corrente é o contrato pelo qual os figurantes se
vinculam a que se lancem e se anotem, em conta, os créditos e débitos de cada
um para com o outro, só se podendo exigir o saldo ao se fechar a conta. Trata-se,
portanto, de conta que anda, que se move, que corre. Daí o nome.
O crédito que se lançou funde-se aos outros créditos anteriormente lançados,
ou ao saldo, inexigível, que resultou como expediente técnico, informativo
da escritura. A inexigibilidade dos saldos-expedientes é resultante de poder
chegar algum débito que se contraponha ao que é saldo-expediente; portanto,
transitório, sem necessidade do esvaziamento da conta corrente.
A conta corrente corre enquanto não se fecha, de jeito que cada um dos
fi gurantes espera cobrir o seu saldo-expediente devedor, ou espera que o outro
cubra o seu. Durante o curso, nenhum dos fi gurantes pode exigir, porque o exigir
já seria concernente à própria conta corrente e a suporia fechada, em vez de
exposta aos apostilhamentos de um lado e de outro.
5. É preciso que se atenda ao verdadeiro conteúdo do contrato de conta
corrente e à sua função operacional, por bem dizer-se, externa, com a
produtividade essencial da não exigibilidade dos saldos transitórios, por isso ditos
saldos-expedientes, enquanto a conta corrente não se fecha.
O conteúdo e a função da conta corrente não descem ao plano das operações de
crédito, nem aos seus efeitos, posto que tenha a função de regular o comportamento
de um, pelo menos, dos fi gurantes quanto as chegadas de créditos e seus efeitos
(PONTES DE MIRANDA, ob. cit. p. 121 e 122).
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (17): 339-382, março 2011 357
Lançado o crédito, há parálise da pretensão. Só o saldo, ao ser encerrada a
conta corrente, será exigível.
Exigível há de ser o saldo, que só se apura ao fechar-se a conta, a despeito da
solidifi cação que com automaticidade se consuma, ao correr da conta.
A exigibilidade é a favor dos fi gurantes, e não só do devedor (PONTES DE
MIRANDA, ob. cit. p. 123).
São características da conta corrente a facultatividade, a reciprocidade, a
consensualidade e a bilateralidade.
Em conseqüência, além da inexigibilidade, dá-se também a indisponibilidade
dos créditos.
O contrato de conta-corrente não se assemelha à conta corrente bancária. Na
conta corrente bancária, há a exigibilidade do crédito, ao passo que, se houve
contrato de conta corrente, o crédito - saldo expediente - é inexigível (PONTES DE
MIRANDA, ob. cit., p. 133).
6. Se não está caracterizado o contrato de conta corrente, que tem como
elementos a inexigibilidade do saldo e a sua indisponibilidade, como interpretar o
contrato de que se trata?
O que as partes celebraram foi um pré contrato de mútuo, onde cada qual dá o
dinheiro entregue (traditio), a destinação que bem lhe aprouver.
O mútuo pode ter fi nalidade, escopo, que resulta de alguma cláusula ou lei,
como no caso em exame.
O que caracteriza o mútuo é o fato de o mutuário poder fazer uso e
disponibilidade do bem mutuado. O mutuante não somente permite que o
mutuário use, mas dá-lhe o direito de propriedade, sem qualquer condição. A
mutuária, Imaribo Administração, assumiu o dever de restituir. Mas esta obrigação
apenas se transmuda em responsabilidade após prévia denúncia e acertamento.
É que, após o decurso de 60 dias da data do empréstimo, está prevista a
prorrogação do contrato por prazo indeterminado (cláusula 3ª, fl s. 18).
Nesta hipótese, é necessário denunciá-la, pela notifi cação ao devedor com o
prazo de 30 dias (cláusula 3ª, fl s. 18). Mesmo assim, as partes deverão negociar o
tipo de indexador incidente, para os fi ns de restituição (cláusula 4ª, fl s. 18).
Insisto em que deve haver a identifi cação de cada operação e não o total
desprezo delas, para tudo se resumir a um único saldo, com a abstração total dos
mútuos operados.
Se no instrumento de contrato de mútuo há muitos obrigados, mas sem
solidariedade ou conjuntividade, há tantos contratos quantos os outorgados.
Concluo assim que as entregas e os recebimentos de numerários, mesmo
lançados em conta corrente, para fi ns contábeis, são operações autônomas a
serem separadas e identifi cadas.
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
358
O extrato de fls. 37, dos autos em apenso, não registra nenhuma destas
operações de mútuo. Não se sabe quando foram realizadas e quais os seus
valores. Como disse, operações feitas em fi dúcia, sem sequer garantias.
Mas o pré-contrato, por si, não é prova de dívida líquida e certa. Houve diversos
mútuos entre as partes, decorrentes do contrato de promessa mutuar. Florença
não apenas entregou numerário, como também recebeu. Estas operações não se
confundem com a conta corrente.
O contrato oneroso de mútuo, per se, como promessa de mútuo, não confi gura
título executivo extrajudicial. E os mútuos recíprocos que dele decorreram só
serão exigíveis em processo de conhecimento, porque não respadados por
nenhum título executivo, como tal não valendo o extrato de movimentação do
Fundo Mútuo, impróprio até mesmo se se tratasse de contrato de conta corrente.
Concluiu-se do julgado que o contrato era de promessa de mútuo e não
de conta-corrente, tendo em vista as cláusulas estipuladas entre as partes. E
ainda que, após o decurso de 60 dias, estando o contrato prorrogado por prazo
indeterminado, seria necessário notifi car o devedor com o prazo de 30 dias para
pagar, devendo as partes negociar o tipo de indexador incidente, para fi ns de
restituição.
Ao voto transcrito foram acrescidos argumentos de votos-vogais de dois
outros juízes, dos quais são necessários se ter conhecimento - fl s. 377-379:
O documento encartado na execução não atende, portanto, as exigências
do invocado artigo 585, inciso II, do Código de Processo Civil, por não constar
determinadamente a quantia que se pretende cobrar, faltando-lhe, então, a
necessária certeza e liqüidez (art. 586, caput, do CPC).
(...)
No caso concreto, o documento em execução não apresenta, absolutamente,
os elementos necessários a elaboração da conta. Fala, é bem verdade, que a
transferência dos recursos se fará “através de operações de simples lançamento
em contas-correntes específi cas”, mas o extrato de fl s. 37 não serve para atestar
o respectivo valor qualquer autenticidade, como argumentou a peça inicial, e,
depois, porque dá a entender que a Florença é credora da importância afi nal
numerada, porém não registra quem é o devedor, permitindo dúvidas, pois,
como o contrato visava possibilitar a transferência de recursos entre as empresas
signatárias, qualquer uma delas, ao menos em tese, pode ser a responsável pelo
débito.
Existe muita dúvida. Obscuridade também. Tudo só claro em procedimento
adequado. Não aqui.
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (17): 339-382, março 2011 359
Para tudo se apurar, depende muito de interpretação de cláusulas contratuais.
Esta Câmara já decidiu quando do julgamento da Apelação Cível n. 2.052/88,
relatada pelo Juiz Moacir Guimarães: “Não se pode embasar a execução em
título que não contenha os requisitos de liquidez e certeza, dependendo sua
exigibilidade, da interpretação de cláusulas contratuais”. De tal recurso fui revisor.
Lendo os contratos nos quais a execução acastelou, não se sabe o que se deve.
O negócio que realizaram é complexo e complicado. Com segurança não se sabe
como a exeqüente chegou a conclusão do crédito que diz ter na quantia de Cr$
66.711.679,98.
Pois bem, o apelo está estribado, tão-somente, em dissídio jurisprudencial.
O recorrente assevera que o contrato acompanhado de extrato constitui
título executivo extrajudicial, a teor do contido no art. 585, II, do CPC. Aliás,
este é o entendimento do 1º Tribunal de Alçada Civil de São Paulo.
Trouxe como paradigma o Incidente de Uniformização de Jurisprudência
em Embargos Infringentes n. 263.540 (Revista dos Tribunais, vol. 570, p. 103-
112).
Para confi gurar a divergência consignou - fl s. 427-429:
7. A matéria posta a julgamento nos acórdãos recorridos e paradigma é
a mesma. do relatório dos acórdãos impugnados de f. 366, consta que a ora
recorrente sustentou que “a juntada aos autos de execução do extrato e do contrato
conferem executoriedade ao título, portanto, os embargos devem ser admitidos e
processados, conhecidos e providos a fi m de que a sentença seja reformada para
que prossigam os embargos com o julgamento do mérito”.
No aresto paradigma a proposição é a mesma: viabilidade de se ter por
configurado título executório constituído por contrato de abertura de crédito,
assinado por correntista e por duas testemunhas e instruído com extratos
demonstrativos do valor do crédito, conforme o seguinte trecho:
Suscitado o incidente de uniformização, quanto à viabilidade de se ter
por confi gurado título executório constituído por contrato de abertura de
crédito, assinado por correntista e por duas testemunhas e instruído com
extratos demonstrativos do valor do crédito, bem exposta foi a linha de
julgamento no sentido da resposta negativa, tanto por seu relator, o Juiz
Rafael Granato, que teve o feliz discernimento da necessidade do exame
pela Plenária, como pelo Juiz Rangel Dinamarco.
E, por fi m, conclui - fl s. 430-431:
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
360
9. A única diferença existente entre as duas conclusões, refere-se ao credor
(no caso dos autos, empresa comercial - no julgado paradigma, estabelecimento
bancário). Inobstante a diferença, o acórdão do e. 1º Tribunal de Alçada Civil
de São Paulo se presta para comprovar a divergência, porque a qualidade do
mutuante (estabelecimento de crédito) não foi o fator que ensejou a decisão
acolhendo a executoriedade. Como também, não foi o fato da recorrente ser
empresa comercial, que ensejou a deliberação contrária a executoriedade. Por
sinal, nenhum dos acórdãos (recorrido e paradigma) deram destaque ao tipo de
atividade do credor para embasar a decisão.
Cotejando paradigma e paragonado, observo que no paragonado chegou-
se ao consenso da existência de um contrato de promessa de mútuo e não
de conta-corrente (rectius: de abertura de crédito); não foram identifi cadas
as operações específi cas dos contratantes bem como os respectivos valores,
podendo qualquer das empresas signatárias do acordo, em tese, ser responsável
pelo débito; o extrato trazido não serviu para atestar ao respectivo valor
qualquer autenticidade; a apuração do quantum depende muito de interpretação
de cláusulas contratuais. O paradigma cuida especifi camente de contrato de
abertura de crédito, assinado por correntista e por duas testemunhas e instruído
com extratos demonstrativos do valor do crédito.
Não vejo como dar como semelhantes os acórdãos.
No primeiro, a moldura fática é incisiva que não se trata de contrato de
conta-corrente; nas operações realizadas há incerteza de que o recorrido seja
mesmo do devedor e de que o valor cobrado seja o real; a autenticidade dos
extratos é duvidosa; a exegese das cláusulas contratuais é imperiosa para chegar
ao valor devido e o contrato não foi assinado com duas testemunhas. O segundo
é claro: há um contrato de conta-corrente; identifi cado está o devedor; o débito
não gera dúvida e nem depende do exame das cláusulas contratuais; o extrato
não foi considerado sem autenticação e existem duas testemunhas.
Em suma, a meu ver não está confi gurada a divergência, que, de início,
pareceu-me aceitável.
As demais questões do recurso especial dependem da admissão desta
primeira, logo, restam prejudicadas.
Assim, preliminarmente, não conheço do recurso especial.
É o voto.
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (17): 339-382, março 2011 361
VOTO
O Sr. Ministro Costa Leite: Acompanho o voto do eminente Relator.
Li o bem elaborado memorial que o ilustre advogado que ocupou a tribuna
fez chegar às minhas mãos. Ali se fez referência à modifi cação introduzida no
inciso II do art. 585 do CPC, como reforço de argumentação, evidentemente.
Data venia, o que ali se disciplinou não interfere na jurisprudência que se
consolidou nesta Terceira Turma, porquanto cumpre interpretar o dispositivo
conjugadamente com o art. 586, que estabelece os requisitos do título executivo
extrajudical. O contrato de que se cuida, por si só, não preenche os requisitos
de liquidez e certeza. Complementá-lo com os extratos signifi ca a constituição
de título executivo extrajudicial unilateralmente, que é prerrogativa própria da
Fazenda Pública.
VOTO
O Sr. Ministro Eduardo Ribeiro: - Sr. Presidente, o eminente advogado do
recorrente, com grande zelo e talento, forcejou por demonstrar que a hipótese
se distinguiria daquelas outras, que têm sido objeto de nossa apreciação, e a
cujo respeito já se fi rmou a jurisprudência. O fundamental, entretanto, é que
ninguém pode criar títulos executivos a seu favor. E, nesse ponto, as hipóteses se
identifi cam. Como disse o Ministro Costa Leite, só a Fazenda Pública tem essa
prerrogativa no Direito Brasileiro, e, assim mesmo, observado um procedimento
próprio em que há o contraditório.
Acompanho o voto do Ministro Relator.
VOTO
O Sr. Ministro Waldemar Zveiter: - Srs. Ministros, dispensaria-me de
fazer quaisquer considerações ante os votos já proferidos, mas em atenção
ao nobre advogado, pelo memorial que recebi de suas mãos ontem, faço uma
pequena observação, que me parece ressaltada pelo Sr. Ministro Relator no seu
voto.
Ainda que pudéssemos examinar este tipo de contrato, como lavrado, pelo
que fi cou expresso, ele demandava notifi cação para acertamento, pelo menos, da
correção entre as partes, o que me parece inexistir no caso ocorrente.
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
362
QUESTÃO DE ORDEM - APARTE
O Dr. Francisco de Paula Xavier Neto (Recorrente): A notificação
acompanha a inicial.
O Sr. Ministro Valdemar Zveiter: - Não tenho dúvidas sobre ter existido
a notificação, e sim o acertamento. Precisaria que esse acertamento fosse
inequívoco, porque essa indagação, feita também pelo eminente Ministro
Costa Leite, se existia nos autos a concordância da parte, o que poderia lhe dar
essa feição de executoriedade, o que inexiste. Dessa forma, não poderíamos
examinar essa matéria. Como fi cou dito pelo Eminente Relator, secundado
pelos Eminentes Ministros Costa Leite e Eduardo Ribeiro, a Turma evoluiu
na sua jurisprudência para compreender que, segundo a legislação ordinária
brasileira, é inconcebível que se crie um título executivo unilateralmente e, por
isso, modifi cou a sua jurisprudência assentando este entendimento. Somente a
Fazenda Pública, e, assim mesmo, obediente a determinados preceitos que a lei
estabelece. Servível que fosse este paradigma ofertado, ainda assim estaríamos
presos à nossa jurisprudência.
Peço respeitosa vênia ao Eminente e ilustre advogado que sustentou as
suas razões pelo recorrente, e nos ofertou um memorial extremamente elogiável,
para me manter vinculado a esse entendimento da Turma, acompanhando o Sr.
Ministro Relator.
RECURSO ESPECIAL N. 89.344-RS (96.0012221-0)
Relator: Ministro Eduardo Ribeiro
Recorrente: Unibanco União de Bancos Brasileiros S/A
Recorridos: Olavo Schreiner e outro
Advogados: Germano Luiz Heinkel e outros
Nelmo José Beck e outros
EMENTA
Contrato de abertura de crédito.
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (17): 339-382, março 2011 363
Limitando-se a ensejar a possibilidade de utilizar-se de crédito,
obriga apenas quem se dispõe a propiciar o mútuo. Não refl ete qualquer
obrigação da outra parte, menos ainda líquida, certa e exigível.
Impossibilidade de o título completar-se com extratos
fornecidos pelo próprio credor que são documentos unilaterais. Não
é dado às instituições de crédito criar seus próprios títulos executivos,
prerrogativa própria da Fazenda Pública.
Entendimento que não se altera em virtude da modifi cação
introduzida pela Lei n. 8.953/1994, pois não afastada a exigência de
liquidez e certeza constante do artigo 586 do CPC.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Srs. Ministros da
Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e
das notas taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, conhecer do recurso especial,
mas lhe negar provimento.
Participaram do julgamento os Srs. Ministros Waldemar Zveiter, Menezes
Direito e Nilson Naves.
Ausente, justifi cadamente, o Sr. Ministro Costa Leite.
Brasília (DF), 19 de fevereiro de 1998 (data do julgamento).
Ministro Carlos Alberto Menezes Direito, Presidente
Ministro Eduardo Ribeiro, Relator
DJ 11.05.1998
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Eduardo Ribeiro: - Schreiner Comércio e Representações
Ltda. e outro embargaram execução, fundada em contrato de crédito em conta
corrente, ajuizada pelo Unibanco - União de Bancos Brasileiros S/A. Rejeitados,
recorreram as partes.
Proveu-se a apelação dos embargantes não se acolheu o agravo retido do
banco, está assim resumido:
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
364
Execução.
Contrato de abertura de crédito em conta-corrente.
O contrato de abertura de crédito, embora acompanhado de extratos de
conta-corrente, não consigna a obrigação de pagar quantia determinada e, por
isso, não se caracteriza como título executivo extrajudicial de que trata o art. 585,
II, do CPC.
No especial a instituição fi nanceira sustentou que o aresto impugnado, não
reconhecendo o título como exeqüível, dissentiu da Súmula n. 11 do Tribunal de
Alçada Cível do Estado de São Paulo, cujo enunciado é o seguinte: “O contrato
de abertura de crédito, feito por estabelecimento bancário a correntista, assinado
por duas testemunhas e acompanhado de extrato de contracorrente respectiva é
título executivo extrajudicial.”
Recurso admitido e processado.
É o relatório.
VOTO
O Sr. Ministro Eduardo Ribeiro (Relator): - Pretende o recorrente que
se considere o contrato de abertura de crédito em conta corrente como título
executivo extrajudicial. Assim não entendendo, o acórdão impugnado decidiu
no mesmo sentido que o tem feito reiteradamente esta Turma. A propósito
reproduzo trecho de voto que proferi no julgamento do REsp n. 29.597:
Procura-se buscar respaldo, para a execução, no artigo 585, II do CPC que,
entretanto, não lhe dá amparo. Ali se dispõe que constitui título executivo
o documento, assinado por duas testemunhas, e subscrito pelo devedor, de
que conste obrigação de pagar quantia determinada. Certamente que a isso
não corresponde o contrato de abertura de crédito. Nesse, apenas se enseja a
utilização de uma certa importância, o que poderá ocorrer ou não. O valor não
é de logo creditado, não havendo assunção da “obrigação de pagar quantia
determinada”. Quanto a isso não há dúvida.
Afi rma-se que a falta tem-se por suprida com a apresentação de extratos pelo
banco que abriu o crédito. Ora, isso se admitindo, estar-se-á criando outro título
executivo, que de nenhum modo se compreende no citado dispositivo da lei
processual. Os extratos são documentos unilaterais. Deles não consta qualquer
declaração de devedor. Com todo o respeito, parece-me que o entendimento
ora contestado importa aceitar que as instituições de crédito, à semelhança da
Fazenda Pública, possam criar seus próprios títulos executivos.
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (17): 339-382, março 2011 365
Não se trata aqui, note-se, da hipótese em que existe um título e o valor do
débito, com base no mesmo, é alcançado por simples operações aritméticas. No
caso, como dito, o contrato de abertura de crédito não constitui título algum,
por não conter declaração por meio da qual alguém se obrigue a pagar quantia
determinada.
Por fi m, avenças acaso constantes do contrato, reconhecendo a liquidez dos
lançamentos, de modo apriorístico, carecem de maior signifi cado, pois não é
dado às partes criar outros títulos executivos, além dos estabelecidos em lei.
Cumpre verifi car se esse entendimento continuaria sustentável, após a
alteração introduzida, no dispositivo acima citado, pela Lei n. 8.953/1994.
Considero que de nenhum modo foi atingido.
Embora a expressão “obrigação de pagar quantia determinada”, que veio
a ser suprimida, tenha sido valorizada no pronunciamento acima transcrito,
a modificação da norma não é de molde a conduzir a que se abandone a
orientação jurisprudencial apontada.
Em verdade, veio a lei a admitir que obrigações de outra natureza, e não
apenas as de pagar quantia certa, pudessem constituir título executivo. Continua
a ter como necessário, para que se viabilize execução, seja o título líquido, certo
e exigível (art. 586). A liquidez e certeza hão de decorrer do próprio título.
Com base nele, tratando-se de execução por quantia certa, se praticam atos de
constrição contra o patrimônio do devedor. Isso não se pode admitir sem que
do título resulte que existe a dívida. Nesse sentido Dinamarco (A Reforma do
Código de Processo Civil - Malheiros - 1995 - p. 228-9). Contrato de abertura
de crédito e extratos unilateralmente elaborados de nenhum modo atendem a
esses requisitos. Tais documentos, em realidade, não bastam para provar exista
obrigação alguma.
Conheço do recurso, em virtude do dissídio, mas nego-lhe provimento.
RECURSO ESPECIAL N. 97.816-MG (96.0036081-2)
Relator: Ministro Cesar Asfor Rocha
Recorrente: Benedito Lopes Pinheiro
Recorrida: Unibanco - União de Bancos Brasileiros S/A
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
366
Advogados: José Augusto Lopes Neto e outro
Wania Guimarães Rabello de Almeida e outros
EMENTA
Processual Civil. Execução. Contrato de abertura de crédito.
Título executivo. Inexistência. Inteligência dos arts. 585, II, e 586 do
CPC.
Mesmo subscrito pelo eventual devedor e assinado por duas
testemunhas, o contrato de abertura de crédito não é título executivo
extrajudicial, ainda que a execução seja instruída com extrato e que
os lançamentos fi quem devidamente esclarecidos, com explicitação
dos cálculos, dos índices e dos critérios adotados para a defi nição e
a evolução do débito, pois esses são documentos unilaterais de cuja
formação não participou o devedor.
Precedente da Segunda Seção.
Recurso especial conhecido e provido.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Srs. Ministros da
Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e
das notas taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, conhecer do recurso e dar-lhe
provimento, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator. Votaram com o Relator
os Srs. Ministros Ruy Rosado de Aguiar, Bueno de Souza, Sálvio de Figueiredo
Teixeira e Barros Monteiro.
Brasília (DF), 11 de fevereiro de 1999 (data do julgamento).
Ministro Barros Monteiro, Presidente
Ministro Cesar Asfor Rocha, Relator
DJ 10.05.1999
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Cesar Asfor Rocha: - O egrégio Tribunal de Alçada
do Estado de Minas Gerais, acolhendo apelação do ora recorrido, julgou
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (17): 339-382, março 2011 367
improcedentes embargos do devedor, determinando o prosseguimento da
execução fundada em contrato de abertura de crédito em conta corrente
acompanhado dos extratos de movimentação bancária.
Inconformado, o embargante interpôs recurso especial, com fundamento
nas alíneas a e c do permissivo constitucional, alegando ter o v. acórdão
vulnerado o disposto nos artigos 583, 585, II, 586, e 618, I, do Código de
Processo Civil, além da divergência pretoriana, inclusive no âmbito deste
Superior Tribunal de Justiça, porquanto o contrato de abertura de crédito,
mesmo assinado pelo devedor e duas testemunhas, e acompanhado dos extratos
bancários, não constituiria título executivo extrajudicial.
Respondido, o recurso foi admitido na origem, ascendendo os autos a esta
Corte.
Recebidos no meu gabinete no dia 13 de agosto de 1996 e indicados para
pauta no dia 25 de agosto de 1998.
É o relatório.
VOTO
O Sr. Ministro Cesar Asfor Rocha (Relator): 1. Como consignado no
relatório, a questão cuida de se reconhecer ou não, como título executivo
extrajudicial, o contrato de abertura de crédito rotativo em conta corrente,
acompanhado de extrato da conta e dos elementos discriminativos da evolução
do débito, elaborado pelo próprio credor.
2. A controvérsia verificada sobre o tema entre as Terceira e Quarta
Turmas desta Corte foi dirimida pela egrégia Segunda Seção que, por maioria
de votos, no julgamento dos Embargos de Divergência no REsp n. 115.462-RS,
de minha relatoria, em 09 de dezembro de 1998, concluiu pela uniformização da
jurisprudência de acordo com o entendimento preconizado pela Terceira Turma,
negando a executividade desses contratos, ainda que estejam acompanhados de
extratos, porquanto estes são documentos unilaterais, e as instituições fi nanceiras
não podem criar seus próprios títulos executivos.
Com efeito, o contrato de abertura de crédito carece de exeqüibilidade,
mesmo que seja subscrito pelo eventual devedor e assinado por duas
testemunhas, ainda que a execução seja instruída com extrato e que os
lançamentos fi quem devidamente esclarecidos, com explicitação dos cálculos,
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
368
dos índices e dos critérios adotados para a defi nição do débito, pois esses são
documentos unilaterais de cuja formação não participou o eventual devedor, e o
contrato apenas possibilita que uma certa importância possa ser eventualmente
utilizada.
Nele não há nenhuma afi rmação de quem quer que seja dizendo-se em
dívida de uma importância certa e determinada que lhe teria sido creditada.
E essa ausência não pode ser suprida com a simples apresentação de
extratos ainda que explicitados pelo banco que abriu o crédito, por serem
documentos unilaterais de cuja formação não participou aquele que é indicado
como devedor.
Como observado pelo eminente Ministro Eduardo Ribeiro no REsp n.
29.597-3-RS, acima mencionado, “não se trata aqui, note-se, da hipótese em
que existe um título e o valor do débito, com base no mesmo, é alcançado
por simples operações aritméticas. No caso, como dito, o contrato de abertura
de crédito não constitui título algum, por não conter declaração por meio do
qual alguém se obrigue a pagar quantia determinada. Por fi m, avenças acaso
constantes do contrato, reconhecendo a liquidez dos lançamentos, de modo
apriorístico, carecem de maior signifi cado, pois não é dado às partes criar outros
títulos executivos, além dos estabelecidos em lei”.
4. O entendimento é idêntico ainda que se considere o advento da Lei
n. 8.953/1954, que deu nova redação ao inciso II do artigo 585 do Código de
Processo Civil. Permito-me, a respeito, trazer mais esse lúcido ensinamento do
eminente Ministro Eduardo Ribeiro, já agora no REsp n. 142.754-RS, a saber:
Cumpre verificar se esse entendimento continuaria sustentável, após
a alteração introduzida, no dispositivo acima citado, pela Lei n. 8.953/1994.
Considero que de nenhum modo foi atingido.
Embora a expressão “obrigação de pagar quantia determinada”, que veio
a ser suprimida, tenha sido valorizada no pronunciamento acima transcrito, a
modifi cação da norma não é de molde a conduzir a que se abandone a orientação
jurisprudencial apontada.
Em verdade, veio a lei a admitir que obrigações de outra natureza, e não
apenas as de pagar quantia certa, pudessem constituir título executivo. Continua
a ter como necessário, para que se viabilize execução, seja o título líquido, certo
e exigível (art. 586). A liquidez e certeza hão de decorrer do próprio título. Com
base nele, tratando-se de execução por quantia certa, se praticam atos de
constrição contra o patrimônio do devedor. Isso não se pode admitir sem que
do título resulte que existe a dívida. Nesse sentido Dinamarco (A Reforma do
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (17): 339-382, março 2011 369
Código de Processo Civil - Malheiros - 1995 - p. 228-9). Contrato de abertura de
crédito e extratos unilateralmente elaborados de nenhum modo atendem a
esses requisitos. Tais documentos, em realidade, não bastam para provar exista
obrigação alguma.
5. Diante de tais pressupostos, conheço do recurso e lhe dou provimento.
RECURSO ESPECIAL N. 121.721-SC (97.0014692-8)
Relator: Ministro Bueno de Souza
Recorrente: Banco do Estado de Santa Catarina S/A - BESC
Advogado: Selma Botto Guimarães Gevaerd e outros
Recorrido: Juarez Rogério Furtado
Advogado: Juarez Rogério Furtado (em causa própria)
EMENTA
Processual Civil. Contrato de abertura de crédito em banco.
Título executivo. Inviabilidade da execução.
1. Os instrumentos particulares de contrato de conta corrente
não se apresentam como títulos certos e líquidos a ponto de abrir as
vias executivas.
2. Recurso especial não conhecido.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Quarta
Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas
taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, não conhecer do recurso.
Votaram com o Relator os Srs. Ministros Sálvio de Figueiredo Teixeira,
Barros Monteiro, Cesar Asfor Rocha e Ruy Rosado de Aguiar.
Brasília (DF), 18 de março de 1999 (data do julgamento).
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
370
Ministro Barros Monteiro, Presidente
Ministro Bueno de Souza, Relator
DJ 10.05.1999
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Bueno de Souza: Juarez Rogério Furtado opôs embargos
à execução que lhe move o Banco do Estado de Santa Catarina S/A - BESC,
argüindo, em síntese, que a dívida não é líquida nem certa e muito menos
exigível, pois o contrato de abertura de crédito em conta corrente não serve aos
fi ns buscados pelo Banco.
Julgados parcialmente procedentes os embargos, o executado e o banco
apelaram, tendo a eg. Segunda Câmara Cível do Tribunal de Justiça de Santa
Catarina assim se manifestado:
Embargos do devedor. Agravo retido desprovido. Nomeação de bens à
penhora pelo credor. Inteligência do art. 656 e incs. do CPC. Adulteração de
contrato de abertura de crédito em conta corrente, sem anuência do devedor.
Nulidade da execução por falta de liquidez do título. Inteligência do art. 618, inc. I
do CPC. Sentença reformada. Recurso provido.
Devolve-se ao credor a indicação de bens se a nomeação feita pelo devedor
não obedece à ordem legal, não refere bens no foro da execução e ainda aponta
para penhora imóvel vinculado a contrato de financiamento com garantia
hipotecária a terceiro.
Falta liquidez a título consistente em contrato de abertura de crédito, no
qual se constata por perícia, a inserção de novas taxas de juros e outras datas de
vencimento, sem anuência do devedor.
O Banco, inconformado, interpôs este recurso especial (alíneas a e c),
alegando dissídio com os julgados apontados. Explicita não haver dúvida de que
o acórdão recorrido e o divergente tratam de situações semelhantes: em ambos,
a execução estava baseada em contrato de abertura de crédito em conta corrente,
acompanhada dos extratos de evolução da conta, centrando-se a discussão na
executividade ou não de tais contratos.
Sustenta, ainda, que a contrariedade à lei federal é fl agrante, estando claro
que a decisão recorrida ofendeu o art. 585, II, do Código de Processo Civil.
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (17): 339-382, março 2011 371
O Tribunal de origem admitiu o recurso especial pela alínea c do permissivo
constitucional (fl . 285).
É o relatório.
VOTO
O Sr. Ministro Bueno de Souza (Relator): Senhor Presidente, a matéria
objeto deste feito já foi decidida no REsp n. 189.740-RS, de minha relatoria,
julgado em 16.03.1999, cujo acórdão pende de publicação.
Adoto as razões de decidir ali expostas como fundamento para integrar o
presente voto, motivo pelo qual faço juntada do mesmo por cópia.
Pelo exposto, na consonância do entendimento uníssono deste Tribunal
no sentido de que contrato de abertura de crédito não é título executivo, não
conheço do recurso.
ANEXO
RECURSO ESPECIAL N. 189.740-RS
VOTO
O Sr. Ministro Bueno de Souza (Relator): Senhor Presidente, esta Quarta
Turma considerava o contrato de abertura de crédito como título executivo,
desde que acompanhado de extratos ou demonstrativos hábeis a comprovar
a formação do débito desde sua origem, de molde a garantir ao devedor o
exercício de sua defesa.
Há inúmeros precedentes neste sentido, dentre os quais o REsp n. 173.483-
PR, de relatoria do ilustre Min. Ruy Rosado de Aguiar, cuja ementa transcrevo,
tão somente para melhor compreensão da matéria:
Contrato de abertura de crédito. Executividade. Demonstrativo. Cláusula
inválida. Art. 115 do CCivil.
- É título executivo o contrato de abertura de crédito acompanhado de
demonstrativo sufi cientemente esclarecedor da formação do débito, que se completa
com as estipulações constantes do contrato sobre os índices a serem aplicados.
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
372
- É inválida a cláusula que permite ao credor escolher, a seu juízo, as taxas a
serem utilizadas na hipótese de prorrogação do contrato, com abandono das
contratadas.
Recurso conhecido em parte e provido.
Em inúmeras oportunidades votei nesse sentido.
2. Entretanto, ante a reiterada divergência observada nos julgamentos
versantes com o tema entre as turmas que compõem a Seção de Direito Privado,
o assunto chegou ao crivo da Segunda Seção, que, ao julgar os Embargos de
Divergência n. 108.259-RS, cujo acórdão pende de publicação, entendeu que
contrato de abertura de crédito não é título executivo.
3. Observo que, na ocasião, após minuciosa meditação sobre a controvérsia
votei de acordo com o Sr. Min. Carlos Alberto Menezes Direito (voto-vista-
preliminar) nos seguintes termos:
Sr. Presidente, conquanto na Quarta Turma tenha votado no sentido do
entendimento que lá vem prevalecendo, devo, entretanto, reconsiderar o voto
que proferi na sessão anterior, porquanto percebo que, no caso dos autos, tal
como agora acentuado pelo eminente Ministro Carlos Alberto Menezes Direito, a
demonstração do indigitado saldo credor não se exprime de modo a franquear a
impugnação consistente do devedor. Quero mesmo adiantar meu entendimento
de que os instrumentos particulares de contrato de conta corrente, com
demonstrativos que não suprem as informações sufi cientes, não se apresentam
como títulos certos e líquidos a ponto de abrir as vias executivas, tanto mais
quando o nosso sistema processual reformado contempla no processo monitório,
forma adequada para esse desiderato, sem que a defesa do devedor se sinta
coartada pelo adiantamento dos atos de execução.
Assim, adotando a posição majoritária emanada da Segunda Seção, órgão
habilitado a dirimir divergência entre as turmas de Direito Privado, na esteira
desse entendimento, não conheço do recurso especial.
É como voto.
RECURSO ESPECIAL N. 126.053-PR (97.0022654-9)
Relator: Ministro Waldemar Zveiter
Recorrente: Haito e Companhia Ltda. e outro
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (17): 339-382, março 2011 373
Recorrido: Banco do Estado do Paraná S/A
Advogados: Cassio Lisandro Telles e outro e Heleodoro Bortot e outro
EMENTA
Processual Civil. Execução. Contrato de abertura de crédito.
Inexistência de título executivo. Precedentes.
I - O contrato de abertura de crédito em conta-corrente, ainda
que acompanhado do extrato bancário, não constitui título executivo
extrajudicial.
II - Precedentes.
III - Recurso conhecido e provido.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Senhores Ministros
da Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e
das notas taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, conhecer do recurso especial
e lhe dar provimento. Participaram do julgamento os Senhores Ministros
Menezes Direito, Costa Leite, Nilson Naves e Eduardo Ribeiro.
Brasília (DF), 15 de dezembro de 1997 (data do julgamento).
Ministro Costa Leite, Presidente
Ministro Waldemar Zveiter, Relator
DJ 13.04.1998
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Waldemar Zveiter: - Cuida-se de embargos à execução
fundada em título extrajudicial (contrato de mútuo para abertura de crédito,
garantido por nota promissória), em que embargantes-executados Haito e
Companhia Ltda. e outro e embargado-exeqüente Banco do Estado do Paraná S/A.
Os Embargos foram julgados improcedentes, ao entendimento de que o
objeto da execução é o contrato de mútuo; a promissória que o garantia não foi
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
374
quitada; o contrato executado se faz acompanhar dos extratos bancários; os juros
e demais consectários foram pactuados; os Embargantes através dos extratos,
acompanharam toda a movimentação da conta. Nada reclamando, sendo certo
que a cláusula nona do contrato prevê como reconhecimento e prova do débito
os extratos demonstrativos ou avisos de lançamentos - fl . 485.
Inconformados, os Embargantes apresentam apelação, mas o acórdão
conhecendo-a, julgou-a improvida, fundamentando-se em que a sentença embora
sucinta, não é nula, se sufi cientemente motivada. O avalista tem legitimidade
passiva para ser demandado, se firmou o contrato, como interveniente e
anuente (coobrigado). Contrato de crédito rotativo é título executivo, quando
acompanhado da conta gráfica a liquidez desta não foi elidida pela prova
produzida e, enfi m, não se comprovou a novação do negócio avençado - fl . 527.
Inconformado, os Embargantes apresentam Especial (art. 105, III, a e c)
alegando que o aresto teria violado os arts. 165; 458, II e III do CPC, bem como
dissentido de paradigmas que colacionam - fl s. 553.
Às fls. 553, deferiu-se o processamento do apelo, quanto ao conflito
pretoriano, posto que neste, oriundo do STJ, pertinente ao tema da solidariedade
do avalista pelos encargos decorrentes do contrato, pelo simples fato de, nessa
qualidade, tê-lo fi rmado, de fato, a insurgência merece reexame pela Corte
Superior.
É o relatório.
VOTO
O Sr. Ministro Waldemar Zveiter (Relator): - A controvérsia foi analisada
pelo eminente Relator, nestes termos (fl s. 528-531):
A alegação preliminar de nulidade da sentença, por falta de fundamentação,
não é de ser aceita, vez que o r. decisum, embora seja conciso, analisou, de modo
sufi ciente, as alegações postas pelas partes, tais como a possibilidade jurídica do
pedido, a prescrição, a liquidez da dívida, os juros pactuados, o demonstrativo
do débito, mostrando os motivos pelos quais declarou a improcedência dos
embargos.
A respeito, assim, já se decidiu:
Não é nula a decisão com fundamentação sucinta, mas a que carece de
devida motivação, essencial ao processo democrático (STJ, 4ª Turma, REsp
n. 1.966.100-SP, Rel. Min. Sálvio de Figueiredo, DJU 08.06.1992, p. 8.623).
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (17): 339-382, março 2011 375
Outrossim, não se pode cogitar de ilegitimidade passiva de Vanir Haito, vez
que ele fi rmou o contrato, na qualidade de “avalista, interveniente e anuente” (f.
06 v., autos de execução), sendo, portanto, coobrigado, como já se decidiu:
I - Instrumentalizada a execução com mais de um título, a eventual
imprestabilidade de um não induz, necessariamente, à invalidade dos
demais.
II - Se o contrato se apresenta formalmente válido como título executivo
extrajudicial (art. 585, II, CPC), lícita em princípio se mostra a execução
movida contra aqueles que nele se obrigaram, independentemente
do rótulo que se lhes atribui. Em casos tais, constando do instrumento
contratual a expressão “avalistas”, deve-se tomá-la, em consonância com o
disposto no art. 85 do Código Civil, por coobrigado, co-devedor ou garante
solidário (STJ, 4ª Turma REsp n. 34.719-MG DJU 02.08.1993, p. 14.257).
De outra parte, já no mérito, a inicial da execução é clara, ao mencionar que o
título que se está a executar é o contrato, “lastreado por uma nota promissória”
(f. 02, autos da execução), e, sendo nula a cambial, como sabido, porque fi rmado
por prepostos do banco credor, por procuração dos devedores (f. 12, mesmos
autos), resta tal avença a dar suporte à executio, não se podendo, assim, falar em
novação, do que, aliás, não há qualquer notícia nos autos e, muito menos, em falta
de executividade, porque não houve prorrogação da avença, já que está claro que
a renovação não se deu, em face do inadimplemento dos embargantes.
No que tange à iliquidez do título, embora a inicial só mencione que os juros
são extorsivos, que o demonstrativo do débito nada vale, porque é constituído de
“papéis”, que não comprovam a dívida, vale dizer, alegações desacompanhadas
de dados, fatos e documentos, capazes, sequer, de justifi car a produção de outras
provas, o que levaria ao julgamento antecipado da lide, o fato é que foi realizada
perícia, que deve ser levada em consideração, com reserva, porque, ao responder
os quesitos do embargado, afi rmou o Sr. Perito que “(...) resta saber se os encargos
lançados, mais juros e correção monetária, até a data de 30.03.1989 são os
contratados (...)” e que não havia concluído “(...) se os documentos foram emitidos
na forma contratada e legal” (f. 428), chegando ao valor do débito, a partir do
limite do crédito, o que não é o caso, dados os encargos debitados, e considerou
o contrato vencido em data de 26.04.1986 (f. 420), quando há lançamentos em
conta, referentes a encargos devidos por descumprimento da avença, em data de
29.02.1988 (f. 23, autos de execução).
Destarte, não conseguiu tal prova abalar a presunção de tratar a espécie de
crédito líquido, certo e exigível, sendo a forma do título indiscutível (arts. 586 e
618, I, do CPC).
De resto, não saíram do campo das alegações, as afi rmações de que houve
lançamentos indevidos em conta corrente e de que supostas irregularidades da
agência fossem responsáveis pelo lançamento de “encargos, juros e IOF”.
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
376
Referentemente à alínea a, no que tange à eventual violação dos artigos 165
e 458 do CPC, a irresignação não merece acolhida.
A decisão objurgada pode ser considerada sucinta, mas examinou todos
os aspectos fáticos, dando-lhes solução jurídica adequada. Logo, restou bem
motivada.
A jurisprudência reputa escorreito aresto ou decisum assim prolatado.
É ver o REsp n. 57.575-RS (DJ de 15.05.1995), de minha relatoria, onde se
diz que sentença com fundamentação sucinta não é nula, desde que satisfaça os
pressupostos legais.
A mesma jurisprudência empresta validade à execução forrada na
multiplicidade de títulos, desde que a liquidez destes não tenha sido afi rmado
unilateralmente.
REsp n. 62.460-SP (DJ de 09.10.1995), de minha relatoria, consigna que
na execução forrada em mais de um título vinculados ao mesmo negócio, a
invalidade de um não conduz, necessariamente, à invalidade do outro.
Todavia, no aspecto, que diz com a liquidez do título de que se trata a
Terceira Turma, em múltiplos arestos sedimentou entendendimento que a
contrato de mútuo (empréstimo rotativo), como na hipótese, se manifesta inábil
a execução.
Com efeito, após algumas discussões acerca do tema, consolidou-se
jurisprudência no sentido de que o contrato de abertura de crédito em conta-
corrente, ainda que acompanhado do extrato bancário, não constitui título
executivo extrajudicial. E isto porque o contrato não consubstancia obrigação
de pagar importância determinada; além do que os extratos são produzidos de
forma unilateral, não sendo dado às instituições de crédito criarem seus próprios
títulos executivos, prerrogativa própria da Fazenda Pública.
Neste sentido o REsp n. 114.515-RS, DJ 04.08.1997, Relator Ministro
Carlos Alberto Menezes Direito e o REsp n. 89.682-RS, DJ 05.08.1996,
Relator Ministro Costa Leite.
Forte em tais lineamentos, conheço do recurso, e lhe dou provimento para
cassar as decisões das instâncias ordinárias e, aplicando o direito a espécie, julgar
procedente os embargos invertidos os ônus da sucumbência.
É o meu voto.
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (17): 339-382, março 2011 377
RECURSO ESPECIAL N. 160.106-ES (97.923851)
Relator: Ministro Nilson Naves
Recorrente: Banco do Estado do Espírito Santo S/A - Banestes
Recorrido: Ricardo Esteves Neves
Advogados: Gilmar Zumak Passos e outros
EMENTA
Contrato de abertura de crédito em conta corrente. Tal contrato
não é título executivo extrajudicial, ainda que esteja acompanhado de
extratos fornecidos pelo próprio credor. Precedentes da 3ª Turma do
STJ: REsp’s n. 29.597 e n. 136.520, entre outros. Recurso especial
conhecido pelo dissídio, mas desprovido.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da 3ª
Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas
taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, conhecer do recurso especial, mas lhe
negar provimento. Participaram do julgamento os Srs. Ministros Eduardo
Ribeiro, Waldemar Zveiter, Menezes Direito e Costa Leite.
Brasília (DF), 17 de março de 1998 (data do julgamento).
Ministro Costa Leite, Presidente
Ministro Nilson Naves, Relator
DJ 17.08.1998
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Nilson Naves: - Em execução fundada em contrato de
abertura de crédito em conta corrente, o juiz indeferiu a inicial. A sentença foi
confi rmada pelo acórdão, consoante esta ementa:
Nulidade da sentença.
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
378
Já á pacífi co na jurisprudência dominante que não são exigíveis os requisitos
consagrados no art. 458 do CPC, nas hipóteses previstas no art. 267 do mesmo
diploma legal.
Negativa de prestação jurisdicional.
O fato de ter o magistrado indeferido a inicial e proclamado a extinção do
processo, não signifi ca que houve negativa da prestação jurisdicional.
Mérito.
Nesta Corte já está pacifi cado que o contrato de abertura de crédito não é
título revestido de liquidez e certeza. Primeiramente, terá a agência bancária
que lançar mão do processo de cognição, para obter a condenação do devedor.
Recurso improvido.
O recurso especial foi admitido pelo despacho do Presidente do Tribunal
de Justiça, verbis:
Embasando-se no art. 105, III, alíneas a e c da Constituição Federal, Banestes
S/A interpôs, tempestivamente, recurso especial, por inconformado com o v.
acórdão de fl s. 59 e ss, proferido pela Egrégia Segunda Câmara Cível, na Apelação
n. 024950159095.
Razões recursais às fl s. 72 e ss.
Sem contra-razões.
Parecer da douta Procuradoria-Geral da Justiça, às fl s. 96-97, pela não admissão
do recurso.
A matéria do recurso especial retro interposto é estritamente de direito e foi
objeto de prequestionamento.
Portanto, estando os demais pressupostos recursais também atendidos, dou
seguimento ao apelo.
É o relatório.
VOTO
O Sr. Ministro Nilson Naves (Relator): - Quanto ao art. 458, incisos I e II,
não procede o especial. Mas, confi gurado o dissídio a respeito do tema principal,
conheço do recurso.
A respeito de tal questão, a 3ª Turma, a partir do julgamento do REsp n.
29.597 (DJ de 13.09.1993), tem a compreensão de que esse contrato não é título
executivo extrajudicial, ainda que o credor também apresente demonstrativo
contábil. Confi ram-se esses precedentes, por suas ementas:
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (17): 339-382, março 2011 379
- Contrato de abertura de crédito. Limitando-se a ensejar a utilização de
determinada quantia, não consubstancia obrigação de pagar quantia
determinada, inexistindo correspondência com o modelo previsto no artigo 585,
II do CPC. Impossibilidade de o título completar-se com extratos fornecidos pelo
próprio credor que são documentos unilaterais. Não é dado às instituições de
crédito criar seus próprios títulos executivos, prerrogativa própria da Fazenda
Pública (REsp n. 29.597, Sr. Ministro Eduardo Ribeiro, DJ de 13.09.1993).
- Execução. Título executivo extrajudicial. Contrato de abertura de crédito em
conta corrente. Contrato de abertura de crédito em conta corrente não constitui
título executivo extrajudicial, segundo o previsto no art. 585, II, do CPC, por não
consubstanciar obrigação de pagar quantia determinada. Precedentes. Recurso
conhecido e provido (REsp n. 36.391, Sr. Ministro Costa Leite, DJ de 23.05.1994).
- Processual Civil. Embargos à execução. Título executivo. Título executivo
extrajudicial. Art. 745, do CPC.
I - A teor da norma insculpida no art. 745, da Lei Processual Civil, na execução,
sendo o título originário de contrato de abertura de crédito (cheque especial),
tem o embargante o direito de questionar a origem do valor em dinheiro nele
expresso, sobretudo, quando se vislumbra, de imediato, a possibilidade de erro,
ou até mesmo dolo, na apuração do montante de crédito.
II - Inexistindo certeza quanto ao valor expresso na cambial, conseqüentemente,
não será o título líquido, nem exigível (art. 586, do CPC).
III - Recurso não conhecido (REsp n. 30.445, Sr. Ministro Waldemar Zveiter, DJ
de 05.04.1993).
- Contrato de abertura de crédito em conta corrente (cheque ouro). Não é
título executivo extrajudicial, ainda que tal contrato esteja acompanhado de
extratos. Em conseqüência, não se lhe aplica o art. 10 da Lei de Falências, para
legitimar o pedido de quebra. Recurso especial não conhecido (REsp n. 27.389, Sr.
Ministro Nilson Naves, DJ de 19.09.1994).
- Contrato de abertura de crédito.
Limitando-se a ensejar a possibilidade de utilizar-se de crédito, obriga apenas
quem se dispõe de propiciar o mútuo. Não refl ete qualquer obrigação da outra
parte, menos ainda líquida, certa e exigível.
Impossibilidade de o título completar-se com extratos fornecidos pelo próprio
credor que são documentos unilaterais. Não é dado às instituições de crédito criar
seus próprios títulos executivos, prerrogativa própria da Fazenda Pública.
Entendimento que não se altera em virtude da modifi cação introduzida pela
Lei n. 8.953/1994, pois não afastada a exigência de liquidez e certeza constante
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
380
do artigo 586 do CPC (REsp n. 136.520, Sr. Ministro Eduardo Ribeiro, sessão de
02.09.1997).
Tal o contexto, conheço do recurso pelo dissídio, mas lhe nego provimento.
RECURSO ESPECIAL N. 174.829-RS (98.0037678-0)
Relator: Ministro Costa Leite
Recorrente: Banco do Brasil S/A
Recorrida: Comércio de Sementes Produtivas Ltda.
Interessados: Jairo Rego Fucks
Eleandro Humberto Bolson
Advogados: Nelson Buganza Junior e outros
Simone Hegele Bolson e outro
EMENTA
Execução. Título executivo extrajudicial. Contrato de abertura de
crédito em conta corrente.
Consolidou-se a jurisprudência da Terceira Turma no sentido de
que o contrato de abertura de crédito em conta corrente não constitui
título executivo extrajudicial. Irrelevância da nova redação do art. 585,
II, do CPC. Recurso conhecido pelo dissídio, mas não provido.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Terceira
Turma do Superior Tribunal de Justiça, em conformidade com os votos e notas
taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, conhecer do recurso especial, mas
negar-lhe provimento. Participaram do julgamento os Srs. Ministros Nilson
Naves, Eduardo Ribeiro, Waldemar Zveiter e Menezes Direito.
Brasília (DF), 06 de outubro de 1998 (data do julgamento).
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (17): 339-382, março 2011 381
Ministro Costa Leite, Presidente e Relator
DJ 16.11.1998
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Costa Leite: - Trata-se de recurso especial interposto
por Bando do Brasil S/A, com fundamento nas alíneas a e c do permissivo
constitucional, contra acórdão da e. Quinta Câmara Cível do Tribunal de
Alçada do Estado do Rio Grande do Sul, assim exteriorizado:
Agravo de instrumento. Processo de execução. Exceção de pré-executividade.
Contrato de abertura de crédito rotativo em conta corrente não é título
executivo extrajudicial, nem quando acompanhado de extrato evolutivo, por seu
caráter de unilateralidade, sem capacidade para conferir liquidez à obrigação.
Execução extinta.
Agravo provido.
Sustenta-se negativa de vigência aos arts. 2°, 126, 131, 585, I e II, 458 e 535
do Código de Processo Civil, 54 do Decreto n. 2.044/1908, 75 do Decreto n.
57.663/1966, além de dissídio jurisprudencial.
Processado e admitido o recurso, subiram os autos.
É o relatório, Senhores Ministros.
VOTO
O Sr. Ministro Costa Leite (Relator): - Após um certo período de vacilação,
esta Turma acabou se fi xando no entendimento de que o contrato de abertura
de crédito em conta corrente não constitui título executivo extrajudicial, na
compreensão de não consubstanciar ele obrigação de pagar quantia determinada
e por não poder o título formar-se com extratos fornecidos pela própria
instituição de crédito, que, assim, criaria seus próprios títulos, prerrogativa da
Fazenda Pública.
Tal orientação subsiste, a despeito da nova redação do art. 585, II, do CPC,
introduzida pela Lei n. 8.953/1994, como escorreitamente observou o eminente
Ministro Eduardo Ribeiro, neste relanço do voto que proferiu no REsp n.
139.271-RS:
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
382
Cumpre verificar se esse entendimento continuaria sustentável, após
a alteração introduzida, no dispositivo acima citado, pela Lei n. 8.953/1994.
Considero que de nenhum modo foi atingido.
Embora a expressão “obrigação de pagar quantia determinada”, que veio
a ser suprimida, tenha sido valorizada no pronunciamento acima transcrito, a
modifi cação da norma não é de molde a conduzir a que se abandone a orientação
jurisprudencial apontada.
Em verdade, veio a lei a admitir que obrigações de outra natureza, e não
apenas as de pagar quantia certa, pudessem constituir título executivo. Continua
a ter como necessário, para que se viabilize execução, seja o título líquido, certo
e exigível (art. 586). A líquidez e certeza hão de decorrer do próprio título. Com
base nele, tratando-se de execução por quantia certa, se praticam atos de
constrição contra o patrimônio do devedor. Isso não se pode admitir sem que
do título resulte que existe a dívida. Nesse sentido Dinamarco (A Reforma do
Código de Processo Civil - Malheiros - 1995 - p. 228-9). Contrato de abertura de
crédito e extratos unilateralmente elaborados de nenhum modo atendem a
esses requisitos. Tais documentos, em realidade, não bastam para provar exista
obrigação alguma.
Assim sendo, conheço do recurso pelo dissídio, que se apresenta
devidamente caracterizado, mas lhe nego provimento. É o meu voto.
Súmula n. 234
SÚMULA N. 234
A participação de membro do Ministério Público na fase investigatória
criminal não acarreta o seu impedimento ou suspeição para o oferecimento da
denúncia.
Referência:
CF/1988, art. 129, I e VI.
Precedentes:
HC 7.445-RJ (5ª T, 1º.12.1998 – DJ 1º.02.1999)
HC 9.023-SC (5ª T, 08.06.1999 – DJ 1º.07.1999)
RHC 892-SP (5ª T, 21.11.1990 – DJ 10.12.1990)
RHC 4.074-PR (6ª T, 28.11.1994 – DJ 20.02.1995)
RHC 6.662-PR (6ª T, 20.10.1997 – DJ 27.04.1998)
RHC 7.063-PR (6ª T, 26.08.1998 – DJ 14.12.1998)
Terceira Seção, em 13.12.1999
DJ 07.02.2000, p. 185
HABEAS CORPUS N. 7.445-RJ (98.0032251-5)
Relator: Ministro Gilson Dipp
Impetrante: Marcelo Bustamante
Impetrado: Quarta Turma do Tribunal Regional Federal da 2ª Região
Paciente: Ricardo Rangel Sohn
EMENTA
Habeas corpus substitutivo de recurso ordinário. Trancamento de
ação penal. Atos investigatórios realizados pelo Ministério Público.
Validade. Ordem denegada.
I. São válidos os atos investigatórios realizados pelo Ministério
Público, que pode requisitar informações e documentos para instruir
seus procedimentos administrativos, visando ao oferecimento de
denúncia.
II. Ordem que se denega.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Srs. Ministros da
Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça, em conformidade com os votos
e notas taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, denegar a ordem.
Votaram com o Relator os Srs. Ministros José Arnaldo, Edson Vidigal e
Felix Fischer.
Brasília (DF), 1º de dezembro de 1998 (data do julgamento).
Ministro José Arnaldo da Fonseca, Presidente
Ministro Gilson Dipp, Relator
DJ 1º.02.1999
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Gilson Dipp: Adoto, como relatório, a parte expositiva do
parecer ministerial, in verbis:
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
388
Cuida-se de habeas corpus substitutivo de recurso ordinário constitucional,
com pedido de liminar, impetrado por Marcelo Bustamante, em favor de Ricardo
Rangel Sohn, apontando como autoridade coatora a Quarta Turma do Tribunal
Regional Federal da Segunda Região, que denegou parcialmente a ordem
impetrada (fl s. 02-12).
Narram os autos que o ora paciente foi denunciado como incurso nas penas
dos artigos 334, caput, c.c. seu § 3° e artigo 14, inciso II, ambos do Código Penal.
Expõe a peça inicial que no dia 13.04.1994, Ricardo Rangel Sohn, procedendo
da cidade de Miami, tentou ingressar em território nacional com expressiva
quantidade de mercadorias estrangeiras sem declará-las, a fi m de se livrar do
pagamento dos impostos incidentes (fl s. 86-87).
A denúncia foi recebida pelo despacho de fl . 109. Irresignado com a instauração
do processo criminal, impetrou ordem de habeas corpus perante o Tribunal
Regional Federal 2ª Região, visando a declaração da nulidade do processo, sob
o fundamento de haver sido inválida a citação editalícia, e por entender serem
ilegais as investigações realizadas pelo Ministério Público Federal no sentido de
instruir a denúncia.
Em sua análise, o Tribunal entendeu haver nulidade somente da citação do
Réu, não vislumbrando, qualquer irregularidade a ser sanada quanto ao fato do
Parquet proceder a investigações que lhe dessem base para o oferecimento da
denúncia (fl s. 39-42).
Daí o presente instrumento, por meio do qual o paciente objetiva a decretação
da nulidade do processo penal em curso na 13ª Vara da Justiça Federal, sob a
seguinte argumentação: “os requerimentos supra são devidos à coação ilegal que
vem sofrendo o paciente, que é indiciado em inquérito policial e é réu em ação
penal ilegal, pela prática do mesmo fato, intimado para comparecer a dois órgãos
diversos para submeter-se a depoimento e interrogatório ao mesmo tempo.” (fl s.
153-154)
A d. Subprocuradoria-Geral da República opinou pela denegação da
ordem.
É o relatório.
VOTO
O Sr. Ministro Gilson Dipp (Relator): A impetração pede o trancamento
da ação penal instaurada contra o paciente, sob o argumento de ilegalidade das
investigações realizadas pelo Ministério Público Federal a fi m de instruir a
denúncia.
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (17): 383-424, março 2011 389
Não merece prosperar a irresignação.
É certo que são válidos os atos investigatórios realizados pelo Ministério
Público - que pode requisitar informações e documentos para instruir seus
procedimentos administrativos, visando ao oferecimento da denúncia.
Nesse sentido, tenho por adotar integralmente a promoção da d.
Subprocuradoria Geral da República, que muito bem elucidou a controvérsia,
demonstrando o acerto da decisão denegatória originária e com base, inclusive,
na jurisprudência da Colenda Corte:
Analisando os autos, observa-se que a presente ordem não merece ser
concedida, em face da inexistência de violação à norma processual que enseje
a decretação da nulidade do processo e o posterior trancamento da ação penal.
A nulidade é sanção imposta pelo órgão jurisdicional ao ato praticado sem
a devida observância da norma legal instituída, evitando-se, destarte, ofensa
à garantia constitucional ao amplo direito de defesa. É, portanto, regra do
direito processual penal pátrio que os atos processuais sejam realizados em
conformidade com a forma descrita em lei, para que sejam perfeitos e produzam
seus efeitos jurídicos.
O Impetrante alega, por meio do presente writ, estar o paciente sofrendo
constrangimento ilegal, pelo fato de responder a processo crime, instaurado,
por meio de denúncia oferecida sem base em inquérito policial. Alega a defesa,
serem atos eivados de nulidade os do Procurador da República que realizou
investigações autônomas e desvinculadas das da polícia judiciária. Aduz,
portanto, que são ilegais os elementos sobre os quais se fundam a peça inicial
oferecida, e que, por este motivo, seria nula e merecedora de trancamento.
Contudo, razão não cabe ao impetrante. O argumento aduzido pela defesa,
no sentido de que “o sistema legal brasileiro vigente não autoriza o Ministério
Público a promover as investigações preliminares, em substituição à policia
judiciária” (fl . 05), não condiz com o direito processual nacional. Ao contrário do
alegado, o Ministério Público é sim, instituição com competência para produzir
provas e colher elementos que lhe permitam formar a convicção necessária para
o oferecimento da denúncia com todos os elementos necessários, arrolados
pelo artigo 41 do Código de Processo Penal. Destarte, não é, portanto, possível
decretar a nulidade do processo e determinar o consequente trancamento da
ação penal, sob esta fundamentação.
É o que dispõe o artigo 129 da Constituição Federal, ao estabelecer as funções
do Parquet:
São funções institucionais do Ministério Público:
VI - expedir notificações nos procedimentos administrativos de sua
competência, requisitando informações e documentos, para instruí-los na
forma da lei complementar respectiva; (grifamos).
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
390
Ainda neste sentido, o art. 47 do Código de Processo Penal:
Se o Ministério Público julgar necessário maiores esclarecimentos e
documentos complementares ou novos elementos de convicção, deverá
requisitá-los, diretamente, de quaisquer autoridades ou funcionários que
devam ou possam fornecê-los.
Cabe, ainda, ressaltar a posição de José Frederico Marques quanto a esta
questão:
Além da polícia judiciária, outros órgãos podem realizar procedimentos
preparatórios de investigação, conforme está previsto, de maneira expressa,
pelo artigo 4º parágrafo único do Código de Processo Penal.
É o que se verifi ca, por exemplo, com as comissões parlamentares de
inquérito. As investigações por elas efetuadas podem ser remetidas ao
juízo competente para conhecer os fatos delituosos ali apurados, ou ao
Ministério Público, a fi m de ser instaurada a instância penal (Marques, José
Frederico, Elementos de Direito Processual Penal, Ed Brookseller, 1ª edição,
p. 138, volume II).
Diante do exposto, o que se afere é que o Sistema Processual Penal Brasileiro
visa justamente a propiciar ao Parquet autonomia, para efetuar requisições
e recolher elementos e fatos necessários para o oferecimento da denúncia,
possibilitando-lhe, desta forma, a persecutio criminis, ainda que não tenha
como base procedimento policial. Portanto, para a promoção da ação, basta
ao Ministério Público possuir os elementos de convicção sufi cientes, que dêem
sustentação à peça vestibular, independentemente de suporte em inquérito
policial.
Outrossim, conforme ressaltou a Procuradoria Regional da República da 2ª
Região (fl . 31), o Egrégio Supremo Tribunal Federal, já acolheu entendimento
semelhante ao ora esposado, ao julgar a Ação Direta de Inconstitucionalidade n.
1.571-1, que tratava justamente dos crimes de sonegação fi scal tipifi cados pela
Lei n. 8.137/1990, verbis:
(...) Decerto o Ministério Público Federal, pelos mais diversifi cados meios
de sua ação, conhecimento de atos criminoso na ordem tributária, não fi ca
impedido de agir, desde logo, utilizando-se, para isso, dos meios de prova a
que tiver acesso. É de se observar, ademais, que, para promover a ação penal
pública ut art. 129, I, da Lei Magna da República, pode o Ministério Público
proceder às investigações cabíveis requisitando informações e documentos
para instruir seus procedimentos administrativos preparatórios da ação
penal (CF, art. 129, VII), requisitando também diligências investigatórias e
instauração de inquérito policial (CF, art. 129, VIII) (grifo não presente no
original).
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (17): 383-424, março 2011 391
Ademais, como manifestação da pretensão punitiva do Estado, representando
a formulação da acusação, a inicial acusatória é a exposição narrativa e
demonstrativa, por meio da qual pode se verificar a existência, a natureza e
as circunstâncias do delito, bem como os seus autores. Por seu meio, inicia-se
o processo de formação de culpa. A atual denúncia, por sua vez, encontra-se
perfeita, contendo a devida exposição dos fatos criminosos, com o propósito de
dar início ao processo penal contra o autor do delito.
A denúncia deve estar baseada em elementos demonstrativos da existência do
fato criminoso (materialidade), e os indícios da autoria, requisitos estes contidos
na denúncia de fl s. 86-87.
Correto, portanto, o v. acórdão unânime recorrido ao entender inexistir
constrangimento ilegal a repelir, conforme verbis:
Do que se verifica dos autos, o Ministério Público Federal, munido
de suporte probatório razoável, vale dizer, auto de infração e termo de
apreensão e guarda fi scal, ofereceu denúncia contra o paciente (...) nos
termos do artigo 129, inciso VI da Constituição Federal, pode o Ministério
Público proceder às investigações cabíveis, requisitando informações e
documentos para instruir seus procedimentos administrativos preparatórios
da ação penal (fl s. 39-42).
Por fim, o que se conclui é a ocorrência de crime em tese, não podendo
ser considerada atípica a conduta imputada ao Réu pela denúncia. Havendo
sido devidamente elaborada, contendo os elementos exigidos pelo art. 41 do
Código de Processo Penal, a denúncia proporcionou pleno conhecimento do fato
delituoso imputado ao Paciente, permitindo-lhe, destarte, o exercício da ampla
defesa no curso do processo penal. (fl s. 154-159).
Diante do exposto, denego a ordem.
É como voto.
HABEAS CORPUS N. 9.023-SC (99.30357-1)
Relator: Ministro Felix Fischer
Impetrantes: Gilberto da Silva Tinoco e outros
Impetrada: Segunda Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Estado
de Santa Catarina
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
392
Pacientes: Jean Adriano Esterchotter (preso)
Joselito Oliveira da Silva (preso)
Hélio Marques Martins (preso)
Evaldo Alves dos Santos (preso)
EMENTA
Processual Penal. Denúncia. Inépcia. Imputação genérica. Art.
41 do CPP. Prisão preventiva. Nulidade do decreto. Inocorrência.
Tópicos não apreciados.
- Havendo descrição sufi ciente dos fatos, e confi gurando estes,
crime em tese, nos termos do art. 41 do CPP, não se pode ter por
genérica a denúncia.
- A participação de membro do Parquet na busca de dados
para o oferecimento da denúncia não enseja, per si, impedimento ou
suspeição para o oferecimento da denúncia.
- Inocorrência de nulidade no decreto prisional em virtude
da transcrição de escuta telefônica não ter sido realizada por perito
ofi cial, tendo em vista o caráter indiciário conferido à transcrição e o
fato de que há outros elementos a justifi car a prisão preventiva.
- A impossibilidade de se realizar, em sede de habeas corpus,
minucioso cotejo do material probatório impede a apreciação da
nulidade da prisão preventiva.
- Não se conhece de parte do writ acerca de tópicos que não
foram ser apreciados no e. Tribunal local.
- Habeas corpus parcialmente conhecido e, aí, indeferido.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Quinta
Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas
taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, conhecer parcialmente do pedido e,
nessa parte, o indeferir. Votaram com o Relator os Ministros Gilson Dipp, José
Arnaldo e Edson Vidigal.
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (17): 383-424, março 2011 393
Brasília (DF), 08 de junho de 1999 (data do julgamento).
Ministro José Arnaldo da Fonseca, Presidente
Ministro Felix Fischer, Relator
DJ 1º.07.1999
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Felix Fischer: Trata-se de habeas corpus impetrado em favor
de Jean Adriano Esterchotter e outros, denunciados pela prática do delito previsto
no art. 12 c.c. art. 18 da Lei n. 6.368/1976, contra acórdão da egrégia 2ª Câmara
Criminal do Tribunal de Justiça de Santa Catarina, assim ementado:
Habeas corpus. Inquérito policial. Participação ativa do Ministério Público na
sua confecção. Fato que não macula referida peça. Denúncia. Descrição dos fatos
e individualização da conduta de cada acusado. Inépcia afastada. Pacientes presos
preventivamente sob a acusação da prática de tráfi co ilícito de entorpecentes.
Despacho devidamente fundamentado. Princípio da confi ança no juiz da comarca
do crime. Materialidade comprovada e indícios da autoria. Ordem denegada.
Eventuais irregularidades ocorridas durante a fase de inquérito, ficam
prejudicadas diante do recebimento da denúncia. Além disso, não é pacífi co o
entendimento jurisprudencial sobre a possibilidade de interferência do Ministério
Público na confecção da referida peça administrativa, sendo inviável discutir-se,
nesta fase, tal ocorrência.
Se a denúncia preenche os requisitos do art. 41 do CPP, individualizando
a conduta dos acusados e descrevendo o desenrolar dos fatos, não há como
acoimá-la de inepta.
Estando o despacho que decretou a segregação preventiva dos pacientes
amplamente fundamentado, e baseado, entre outras coisas, na gravidade e
repercussão do crime, onde foram apreendidos mais de cem quilos de material
entorpecente, visando, com isso, a garantia da ordem pública, não há que se falar
em coação ilegal, impondo-se a manutenção da medida. (fl s. 432).
Alegam os impetrantes nulidade da denúncia, por considerarem-na inepta
e por ter sido oferecida por membro do Parquet que participou da atividade
investigatória contra os acusados. Apontam também excesso do número de
testemunhas arroladas pela acusação.
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
394
Aduzem também que houve ilegalidade no decreto de prisão preventiva
emanado contra os pacientes, em face da ausência de indícios de autoria e da
nulidade existente nas provas obtidas contra os réus. Narram os impetrantes
que os acusados foram submetidos a tortura e que a escuta telefônica não foi
transcrita por peritos ofi ciais.
A liminar foi indeferida às fl s. 918.
As informações foram prestadas pelo Exmo. Sr. Desembargador Presidente
do Tribunal de Justiça de Santa Catarina (fl s. 922-924), afi rmando a legalidade
do decreto prisional e da denúncia.
A douta Subprocuradoria-Geral da República se pronunciou pela
denegação da ordem.
É o relatório.
VOTO
O Sr. Ministro Felix Fischer (Relator): Inicialmente, a alegação dos
impetrantes, de inépcia da denúncia, não procede.
Conforme se verifi ca pela cópia acostada às fl s. 162-166 dos autos, a
denúncia oferecida pela representante do Ministério Público atende às
exigências do art. 41 do CPP.
O argumento esgrimido pelos impetrantes de que a conduta imputada
aos réus é genérica e que a descrição dos fatos é confusa, não se sustenta. Os
impetrantes tomam por base o início da denúncia, onde, após a qualifi cação
dos acusados, afi rma-se que em data ignorada os acusados celebraram entre
si ajuste de vontades, com a finalidade específica de efetuar a aquisição e
posterior revenda de substâncias entorpecentes. Se a denúncia parasse por aí,
se a imputação fosse apenas essa, realmente, não se poderia considerá-la válida.
A nulidade seria evidente. Mas o que se percebe é que esse foi apenas o início,
o preâmbulo, digamos assim, da acusação. Após, segue a descrição minuciosa
dos fatos, desde o encontro entre dois dos acusados em um hotel na cidade de
Criciúma até a venda das substâncias, passando pela “desova” da droga por um
avião, em vôo rasante, em uma fazenda no município de Capivari de Baixo, e o
recolhimento do material pelos réus.
Não há dúvida que os fatos foram satisfatoriamente narrados na peça
acusatória, não se podendo falar em prejuízo para a defesa. Tampouco se pode
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (17): 383-424, março 2011 395
questionar que descrevem crime em tese, daí por que é improcedente a alegação
de inépcia por esse motivo.
Sobre a nulidade da denúncia em virtude da prática de atos investigatórios
pela representante do Parquet, também não pode ser acolhida a pretensão dos
impetrantes.
A nulidade ocorreria, segundo os impetrantes, porque a ilustre Promotora
Justiça que subscreveu a denúncia participou de diligências que culminaram
com a prisão dos pacientes.
A jurisprudência desta Corte, no entanto, tem se posicionado pela
inexistência de impedimento em relação ao membro do Ministério Público
nesses casos:
Processual Penal. Denúncia alegação de inépcia. Ação penal. Trancamento.
Fatos típicos. Habeas corpus. Inquérito instaurado pelo Ministério Público Federal.
Impossibilidade. Constrangimento ilegal. Inexistência.
- Constando da denúncia a adequada descrição de fatos que, em tese,
consubstanciam crimes, não procede a alegação de inépcia, já que observados os
requisitos próprios, inscritos no art. 41 do CPP.
- O habeas corpus instrumento processual de assento constitucional destinado
a assegurar o direito de locomoção, não se presta para a realização de longa
incursão sobre fatos em exame no curso de ação penal, nem para a obtenção de
absolvição sumária.
- O Ministério Público, como órgão de defesa dos interesses individuais e
sociais indisponíveis (CF, art. 127), tem competência para instaurar inquérito
policial para investigar a prática de atos abusivos, susceptíveis de causar lesão a
tais interesses coletivos.
- A instauração de tal procedimento não provoca qualquer constrangimento
ilegal ao direito de locomoção, revelando-se, por isso, impróprio o uso do habeas
corpus para coibir eventuais irregularidades a ele atribuídos.
- Recurso ordinário desprovido.
(RHC n. 7.063-PR, Rel. Min. Vicente Leal, DJU de 14.12.1998).
Processual Penal. Impedimento Ministério Público e Juiz de Direito.
I - A atuação do promotor na fase investigatória - pré-processual - não o
incompatibiliza para o exercício da correspondente ação penal.
II - As causas de suspeição e impedimento são exclusivamente aquelas
elencadas expressis verbis nos artigos 252 e 254, do CPP. O rol é taxativo, não pode
ser ampliado.
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
396
III - Despiciendas as alegações de impedimento do promotor de justiça e do
juiz de direito, eis que não se enquadram nas previsões legais.
IV - Prejuízo indemonstrado.
V - Recurso improvido.
(RHC n. 4.074-PR, Rel. Min. Pedro Acioli, DJU de 20.02.1995).
Recurso de habeas corpus. Alegada ofensa ao princípio do promotor e juiz
natural. Membro do Ministério Público designado para apurar o envolvimento
de policiais militares com o tráfico de drogas. Participação, posteriormente,
da distribuição na vara onde caiu o inquérito decorrente de sua investigação.
Possibilidade de oferecer denúncia. Atuação anterior que provoca o impedimento
da magistrada titular da vara onde tramita ação penal, por ser esposa do
representante do Parquet. Substituição por juíza substituta.
1. Não está impedido de atuar, promotor público designado, de forma
genérica, para apurar o envolvimento de policiais militares com o tráfico de
drogas, sendo posteriormente designado para dividir as atribuições da vara para
onde o inquérito foi distribuído, nada impedindo que ofereça denúncia e ofi cie
naquele originado de suas investigações preliminares.
2. O princípio do promotor natural deve ter o devido tempero, apenas para
evitar o acusador de exceção, aquele designado com critérios políticos e pouco
recomendáveis.
3. Se o membro do Ministério Público atuou, em determinado processo, antes
da magistrada, sua esposa, e sobre esta que recai o impedimento (art. 252, I, CPP),
nada havendo de irregular na sua substituição por outra juíza, competente para
tanto, não se vislumbrando qualquer ofensa ao princípio do juiz natural.
4. Recurso improvido.
(RHC n. 6.662-PR, Rel. Min. Anselmo Santiago, DJU de 27.04.1998).
Processual Penal. Recurso ordinário de habeas corpus. Trancamento de ação
penal. Justa causa. Impedimento de agente do Parquet.
I - Se, para verifi car a ausência de justa causa, é necessário o cotejo analítico
do material cognitivo, a via do habeas corpus se mostra, para tanto, inadequada.
II - A participação na busca de dados para o oferecimento da denúncia, não
enseja, per si, impedimento ou suspeição do agente do Parquet.
Recurso conhecido e desprovido.
(RHC n. 6.128-MG, Rel. Min. Felix Fischer, DJU de 02.02.1998).
Habeas corpus substitutivo de recurso ordinário. Trancamento de ação
penal. Atos investigatórios realizados pelo Ministério Público. Validade. Ordem
denegada.
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (17): 383-424, março 2011 397
I. São válidos os atos investigatórios realizados pelo Ministério Público, que
pode requisitar informações e documentos para instruir seus procedimentos
administrativos, visando ao oferecimento de denúncia.
II. Ordem que se denega.
(HC n. 7.445-RJ, Rel. Min. Gilson Dipp, DJU de 1º.02.1999).
Também nesse sentido há precedente do colendo Supremo Tribunal
Federal: HC n. 75.769-MG, Rel. Min. Octavio Galotti, DJ 28.11.1997, p.
62.220.
Se cabe ao Ministério Público a propositura da ação penal (art. 129, I,
da CF) e para isso é preciso um suporte empírico que corrobore de maneira
razoável a imputação, não se pode exigir que o dominus litis se mantenha
absolutamente inerte, à espera que a autoridade policial lhe dê os subsídios
necessários para exercer sua função, sob pena de se pôr em risco a sua própria
independência funcional. Isso se confi rma pela constatação de que o inquérito
não é indispensável para que se denuncie. Desde que o representante do
Ministério Público tenha os elementos necessários, pode ele propor a ação penal,
independente da realização do inquérito policial. Acrescente-se ainda que, in
casu, não há defi nição exata sobre a participação da ilustre Promotora signatária
da denúncia nas investigações. Existem apenas referências, em depoimentos, de
policiais sobre orientações dadas por membros do Parquet (fl s. 120-130) e dos
acusados sobre a presença da Promotora nos interrogatórios (fl s. 233-246), sem
maiores especifi cações.
No que diz respeito à existência de nulidade da denúncia pelo excesso de
testemunhas arroladas - dezesseis pela acusação - o habeas corpus não pode ser
conhecido, pois esse tópico não foi abordado quando da apreciação pelo egrégio
Tribunal a quo. Nesse sentido: HC n. 8.821-GO, Rel. Min. José Arnaldo da
Fonseca, DJ 31.05.1999; HC n. 8.311-MS, do qual fui relator, DJ 12.04.1999.
Em relação à nulidade do decreto prisional alegada pelos impetrantes,
também não pode ser concedido o writ. Os impetrantes afi rmam que não há
indícios sufi cientes de autoria a justifi car a prisão preventiva. Pela sua leitura,
todavia, percebe-se que não há violação ao art. 312 do CPP (fl s. 144). Os
pressupostos da segregação cautelar estão presentes. Há indícios sufi cientes
de autoria a autorizar a prisão cautelar, seja porque alguns dos acusados
foram encontrados nas imediações da fazenda onde foram apreendidas as
substâncias entorpecentes, seja pela indicação de outros acusados do local onde
estaria escondida outra parte da droga. Não bastasse isso há depoimentos de
testemunhas confi rmando a prática delituosa (fl s. 562 a 571).
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
398
Discorrem os impetrantes também sobre nulidade na escuta telefônica, em
virtude da transcrição das fi tas ter sido efetuada por funcionária do Ministério
Público, e não por perito ofi cial. Inicialmente, é preciso se considerar que a
escuta foi devidamente autorizada pela autoridade judiciária, nos termos da
lei. Ademais, ressalte-se o caráter meramente indiciário dado pelo MM. Juiz
às transcrições ao determinar a prisão temporária dos indiciados, observando
expressamente que “a fi ta que chegou a este juízo, remetida pela autoridade
policial, apesar de não transcrita ofi cialmente, pode ser perfeitamente utilizada
como indício, uma vez que a autorização da interceptação telefônica foi deferida
por este Juízo em data de 04.02.1999” (fl . 354). Por fi m, não se pode olvidar
que a prisão não se baseou apenas nas informações provenientes da escuta, mas
também em outros dados existentes contra os réus.
Finalmente, a respeito da alegação dos impetrantes de que os pacientes
foram submetidos a tortura quando sob custódia da polícia, na presença de
representante do Parquet, tal afi rmação, embora grave, não permite a concessão
do writ. Primeiro, porque a prisão não foi decretada única e exclusivamente em
decorrência das informações obtidas nos depoimentos prestados sob eventual
violência. Há outros elementos a lhe dar suporte. Segundo, é sabido que em sede
de habeas corpus não é possível se fazer o cotejo analítico do conjunto probatório.
A análise dos elementos juntados aos autos sobre os fatos (depoimentos dos
acusados e autos de exame de corpo-delito (fl s. 85 e seguintes)) implicaria em
incursão nesse vedado campo.
Além disso, foi encaminhada cópia dos autos à douta Procuradoria-Geral
de Justiça de Santa Catarina, a fi m de se apurar a prática de eventual delito
contra os réus.
Pelo exposto, conheço parcialmente do pedido e, nesta parte, o indefi ro.
É o voto.
RECURSO DE HABEAS CORPUS N. 892-SP (90.0011998-7)
Relator: Ministro José Dantas
Recorrente: Flávio Jorge Martins
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (17): 383-424, março 2011 399
Recorrido: Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo
Paciente: Ulisses Azevedo Soares (réu preso)
EMENTA
Processual Penal. Denúncia. Impedimento do Ministério
Público. Pretensão ao trancamento da ação.
- Nulidade inexistente. Não impede o Promotor para a denúncia o
fato de sua designação para participar da coleta de provas informativas,
nem a iniciativa de diligências investigatórias do crime.
ACÓRDÃO
Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas.
Decide a 5ª Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade,
negou provimento ao recurso, na forma do relatório e notas taquigráficas
constantes dos autos, que fi cam fazendo parte integrante do presente julgado.
Custas, como de lei.
Brasília (DF), 21 de novembro de 1990 (data do julgamento).
Ministro José Dantas, Presidente e Relator
DJ 10.12.1990
RELATÓRIO
O Sr. Ministro José Dantas: O paciente Ulisses Azevedo Soares foi
denunciado juntamente com outros co-réus (serventuários, albergado um e falso
advogado) perante a 19ª Vara Criminal de São Paulo, por infração do art. 297
do Cód. Penal, pela falsifi cação material de procurações, pronunciamentos do
Ministério Público e até de decisões dos respectivos magistrados, em pedidos de
unifi cação de penas e de promoção ao regime semi-aberto.
Pediu habeas corpus para trancamento da ação penal, dada a nulidade do
processo ab initio, ao fundamento de que:
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
400
Diz, o impetrante, que o processo está nulo, porque a denúncia foi apresentada
por promotora de justiça, que estava impedida de fazê-lo. Argumenta que
essa denúncia é fruto do inconformismo da promotora Dra. Lúcia Maria Casali
de Oliveira, em razão da absolvição do paciente, em outro processo. Daí, teria
ela passado a realizar investigações, como interrogatório deste, oitiva de
testemunhas, tudo no sentido de inculpá-lo. Entende, o digno impetrante,
que se aplicam aos promotores de justiça as mesmas causas que justifi cam o
impedimento dos juízes. Após longas considerações sobre requerer o impetrante
a requisição de sindicância, existente na Egrégia Corregedoria dos Presídios, onde
aparece a referida Dra. Promotora, como testemunha, e fi naliza por pleitear o
trancamento da ação penal em tela. - fl s. 152.
Denegou-se a ordem, com reportagem ao parecer do Procurador de Justiça
Scarance Fernandes, em súmula da legitimidade do malsinado proceder do
órgão do Ministério Público denunciante, ainda que dita Promotora, por
designação, houvesse acompanhado o procedimento investigatório que baseou a
denúncia, tudo conforme a doutrina e a jurisprudência longamente colacionadas
- fl s. 153-64.
Daí o recurso de fl s. 167-93, repetitivo das alegações da inicial e arrematado
por este petitório:
Preambularmente,
1º) Suplicamos venia pelos bons ofícios de Sua Exª ínclito Ministro Relator,
no sentido de requisitar ao MM. Juiz de Direito Corregedor dos Presídios e da
Polícia Judiciária da Capital - São Paulo xerocópia do interrogatório do acusado
Luiz Guilherme Pereira dos Santos na sindicância C-1499-85 e o interrogatório
do acusado Ulisses Azevedo Soares e o depoimento da testemunha de acusação
Lúcia Maria Casale de Oliveira na Sindicância C-462/85, em decorrência do fato,
de que Sua Exª MM. Juiz nega-se a fornecer a prova que mais consubstanciaria o
impedimento da promotora pública denunciante (nemo fenetur ad impossibilia) e
o Egrégio Tribunal ad quem “lava as mãos como Pilatos”;
2º) Também pedimos venia, para os fi ns de requisitarem ao Egrégio Tribunal
ad quem qualquer prova que vincule o paciente-recorrente a falsidade de
capa a capa dos autos de unifi cação de penas do sentenciado Mauro Sanches
França e a xerocópia do parecer falsifi cado do Ministério Público no apenso de
progressão ao regime semi-aberto do sentenciado Mauro Sanches França, já que,
é humanamente impossível a defesa do paciente fazer prova do inexistente; e
3º) Para que possam formar uma pálida idéia a respeito da parcialidade da
promotora pública Lúcia Maria Casale de Oliveira no exercício de suas funções no
Proc. 497/86 na 9ª VC de São Paulo, Capital, requisitarem ao Egrégio Tribunal ad quem:
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (17): 383-424, março 2011 401
a) xerocópia da respectiva denúncia no Proc. 497/86 da 9ª VC de São Paulo -
Capital;
b) xerocópia da sentença concessiva de progressão ao regime semi-aberto
benefi ciando o sentenciado Manoel Monteagudo Poza;
c) xerocópia do ofício comunicando à COESPE a concessão do benefício ao
sentenciado retro citado; e
d) xerocópia do laudo pericial documentoscópico e grafotécnico
comprobatório que ambos os documentos retro citados são falsifi cados.
No mérito:
Suplica que, após o sempre respeitável parecer da douta Procuradoria-Geral da
República, dignem-se data venia, anularem o processo desde a denúncia, por ter
sido ofertada pela promotora pública Lúcia Maria Casale de Oliveira que estava
impedida, sob pena de, transformarmos a Justiça num simulacro de processo
e julgamento face a evidente parcialidade da citada promotora pública como
exaustivamente demonstrado. - fl s. 181-83.
Contra-arrazoado a fl s. 247, subiu o recurso, que nesta instância obteve o
seguinte parecer:
Trata-se de recurso ordinário (art. 105, III, a, da CF) interposto pelo advogado
Flávio Jorge Martins, do v. acórdão de fl s. 152 a 164, da Sexta Câmara Criminal do
Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, que denegou HC impetrado em favor
de Ulisses Azevedo Soares, que visa a declaração de nulidade de processo-crime
a que responde na Décima Nona Vara Criminal, da capital paulista, por vulneração
ao preceito do art. 297 do Código Penal.
2. A nulidade resultaria de haver a promotora denunciante, Drª. Lúcia Maria
Casali de Oliveira, inconformada com o insucesso de anterior processo-crime
contra o paciente, haver adotado atitude persecutória extra-processual que lhe
acarreta impedimento a teor dos arts. 252 e 648, IV, do CPP.
3. Entre outros atos, teria ela xerocopiado “algumas fi chas nas quais constavam
atendimentos feitos por advogados a Ulisses” (sic fl s. 132).
4. O v. acórdão adotou como razões de decidir o brilhante parecer de fls.
131, 145, da Procuradoria de Justiça do Estado de São Paulo, de fl s. 131 a 145,
o qual rechaçou um a um os argumentos da impetração em prol da tese do
impedimento e consequente nulidade do feito criminal.
5. Todos menos um a nosso sentir, embora se tenha empenhado no seguinte
trecho: “Finalmente, o fato de ter a Promotora de Justiça xerocopiado fi chas de
atendimentos feitos por advogados ao paciente também se insere dentro da
linha investigatória e a tanto estava autorizada por dispositivo legal que lhe
permitia promover diligências e requisitar documentos, certidões e informações
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
402
de qualquer repartição pública ou órgão federal, estadual ou municipal, da
administração direta ou indireta, (...) podendo dirigir-se diretamente a qualquer
autoridade (art. 15, inc. I, da Lei Complementar n. 40, de 14.02.1981). Não vemos,
assim, irregularidade na atuação da Promotora de Justiça”.
6. O fato, portanto, está aceito como tendo ocorrido e praticado pela Promotora
no exercício regular de direito.
7. É exatamente quanto à qualificação do fato e suas consequências que
ousamos dissentir do parecer e do acórdão que lhe adotou os fundamentos.
8. Os arquivos, anotações, fi chas, de advogados, exerçam eles liberalmente sua
profi ssão ou como órgão de Defensoria Pública são absolutamente intocáveis,
principalmente quando o ato violador tem por fi m a obtenção de subsídios para
a acusação.
9. Exara o art. 87 da Lei n. 4.215, de 27.04.1963 (EOAB):
São deveres do advogado e do provisionado:
(...)
V - guardar sigilo profi ssional.
(...)
VXI - recusar-se a depor como testemunha em processo no qual
funcionou ou deva funcionar, ou sobre fato relacionado com pessoa, de
quem seja ou foi advogado, mesmo quando autorizado ou solicitado pelo
constituinte.
10. Reza seu art. 89:
São direitos do advogado e do provisionado:
(...)
II - fazer requisitar, em nome da liberdade de defesa e do sigilo
profi ssional, a inviolabilidade do seu domicílio, do seu escritório e dos seus
arquivos.
11. Esses preceitos, mais do que direitos indisponíveis dos advogados,
constituem deveres dos mesmos, ou melhor entendidos, garantias jurídicas
ínsitas ao art. 133 da Constituição Federal.
12. A violação a essa garantia, por órgão que por ela deveria velar, não pode
fazer-se inconsequentemente.
13. Não importa que o réu seja indivíduo que, em sua deformação ética,
reputa-se um perfeccionista do falso, e se envergonha e ofende, quando lhe
atribuem uma falsifi cação grosseira.
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (17): 383-424, março 2011 403
14. A reprimenda a sua ação deve fazer-se com base em princípios que ele
repele, mas que lhe devem ser impostos pelos órgãos da justiça.
15. Assim, parece-nos, com todo o respeito pelo v. acórdão e pelo parecer que
o inspirou, que a digna Promotora de Justiça transpôs a área do legítimo interesse
acusatório, para ingressar no campo do interesse direto e pessoal, ao xerocopiar
“fi chas de atendimentos feitos por advogados ao paciente”, documentos que
não se inscrevem entre os que poderia requisitar, ao contrário do que entende
o v. acórdão com fundamento no art. 15, inc. I, da Lei Complementar n. 40, de
14.02.1981.
16. E assim fazendo, veio a fazer-se impedida para o processo criminal que
intentou, fulminando-a de nulidade. Parecer pelo provimento do recurso, para o
fi m de ser anulado o processo.
Brasília, 16 de novembro de 1990.
Raimundo Francisco Ribeiro de Bonis.
Procurador em exercício da Subprocuradoria-Geral da República. - fl s. 270-73.
Relatei.
VOTO
O Sr. Ministro José Dantas (Relator): Senhores Ministros, começo por
indeferir a longa requisição de documentos suplicada pelo recorrente. Faço-o
porque, à uma, não se concilia com o sumaríssimo do habeas corpus a abertura
do contraditório a integrar-se de maior dilação probatória, quanto mais que
isso se pretenda já na via recursal; à duas, porque não se demonstrou que o
impetrante haja formalmente requisitado certidão de tais peças às autoridades
que as detenham; e, fi nalmente, porque não vislumbro como aqueles documentos
infl uam na tese da legitimidade de parte do Promotor que tenha acompanhado
o procedimento indiciário informativo da denúncia.
Quanto ao mérito, sigo as pegadas do v. acórdão recorrido, que em boa
hora escapou à tautologia, reportando-se in litterim às exaustivas razões do
parecer do Ministério Público local. Ei-las:
O fato de, ultimamente, até por solicitação de vítimas, autoridades policiais
e advogados, ter o Ministério Público acompanhado a investigação de crime
de maior gravidade ou repercussão surge, vez por outra, a afi rmação de que o
Promotor de Justiça, designado para a fase investigatória, não pode oferecer
denúncia e atuar no processo.
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
404
Mas, vêm os Tribunais, de forma constante, repelindo a tese. É essa a orientação
encontrada tanto no Colendo Supremo Tribunal como nesse Egrégio Tribunal de
Justiça, como abaixo será evidenciado.
Nem podia ser de outra forma. O Ministério Público, na área criminal, é parte.
Cabe-lhe acusar o autor do fato criminoso, amealhar provas para demonstrar
a imputação feita e pugnar pela procedência da ação penal. É justamente essa
sua posição que o justifi cou, historicamente, no processo criminal, a fi m de que
pudesse prevalecer o contraditório, possibilitando ao réu ser julgado por um Juiz
marcado pela imparcialidade, inteiramente desvinculado da pretensão acusatória.
Apesar de ser parte, no sentido processual, deve, como órgão de Estado, agir
com isenção de ânimo, sem partidarismos, sem a intenção de prejudicar, e,
nesse aspecto, é que, segundo alguns, seria imparcial. Mas em benefício da
própria sociedade, deve o Ministério Público pugnar pelo sucesso da ação penal,
buscando denodamente provar a acusação por ele feita. É isso que dele se espera.
Nesse sentido, Hélio Tornaghi, in “A relação processual penal”, 2ª ed., 1987, p.
172:
Não há, pois, confl ito entre a imparcialidade que o Ministério Público
deve observar e o seu caráter de parte. Imparcial ele deve ser apenas na
fi scalização, na vigilância, no zelo da lei. Deve fazê-la cumprir no tempo,
na forma, no lugar por ele próprio determinados. Mas essa é apenas uma
de suas funções e não é a que ele tem como parte. Como tal, cabe-lhe
promover a aplicação da lei penal ao acusado, persegui-lo (no sentido
técnico, é claro), carrear para o processo todas as provas de sua culpa (lato
sensu), chamar a atenção dos julgadores para as circunstâncias que possam
onerá-lo, agravando a pena ou qualifi cando o crime.
O interesse do Ministério Público em que se faça justiça não o induz a
proceder da mesma forma que o Juiz, pois então haveria inútil duplicação.
Também Frederico Marques entende ser o Ministério Público parte (Tratado de
direito processual penal, 1980, vol. 2, p. 271-2):
Titular da pretensão punitiva e do direito de acusar, é evidente que o
Ministério Público tem a função e o papel de parte, na relação processual
que se instaura com a ação penal.
(...)
(...) não há que se falar em imparcialidade do Ministério Público, porque
então não haveria necessidade de um Juiz para decidir a acusação (...) No
procedimento acusatório, deve o promotor atuar como parte, pois se assim
não for, debilitada estará a função repressiva do Estado. O seu papel, no
processo, não é o de defensor do réu, nem o de Juiz, e sim o de órgão do
interesse punitivo do Estado.
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (17): 383-424, março 2011 405
Dentro dessa ótica, pode o Ministério Público participar da fase investigatória,
sem assumir a direção do inquérito policial, que é da polícia judiciária, com a
finalidade de obter elementos que possam alicerçar a futura acusação a ser
formulada. Deve, como órgão de Estado, no interesse comum da sociedade, agir
com espírito de justiça, na busca de dados que evidenciem a verdade. Assim,
pode ele, ante a comprovação de inexistência do crime ou a insufi ciência de
indícios, vir a deixar de promover a ação penal. O que não pode ele é, movido
por hostilidade ao indiciado, vir a acompanhar a investigação com o intuito de
prejudicá-lo, perdendo a sua serenidade.
O acompanhamento das atividades de investigação, ou a promoção de
algumas diligências antes de iniciado o processo, encontra ainda suficiente
amparo legal.
A Constituição Federal diz, no art. 129, que são funções institucionais do
Ministério Público:
I - promover, privativamente, a ação penal pública, na forma da lei;
(...)
VII - exercer o controle externo da atividade policial, na forma da lei
complementar (...);
VIII - requisitar diligências investigatórias e a instauração de inquérito policial,
indicados os fundamentos jurídicos de suas manifestações processuais;
IX - exercer outras funções que lhe forem conferidas, desde que compatíveis
com sua fi nalidade, sendo-lhe vedada a representação judicial e a consultoria
jurídica de entidades públicas.
A Lei Orgânica do Ministério Público dos Estados (Lei Complementar n. 40,
de 14 de dezembro de 1981), diz, no art. 15, que são atribuições do Ministério
Público:
I - promover diligências e requisitar documentos, certidões e informações
de qualquer repartição pública ou órgão federal, estadual ou municipal, da
administração direta ou indireta, ressalvadas as hipóteses legais de sigilo e de
segurança nacional, podendo dirigir-se diretamente a qualquer autoridade;
(...)
III - acompanhar atos investigatórios junto a organismos policiais ou
administrativos, quando assim considerarem conveniente à apuração de infrações
penais, ou se designados pelo Procurador-Geral;
A atuação da Promotora de Justiça, Dra. Lúcia Maria Casali de Oliveira,
designada para acompanhar as investigações feitas a respeito das falsifi cações
rea1izadas pelo paciente em processos de unifi cações de penas das execuções
criminais, esteve em total consonância com a posição de parte do Ministério
Público na área criminal e inteiramente afi nada com as diretrizes legais acima
referidas.
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
406
A afi rmação de que a Promotora de Justiça interrogou o paciente nos Autos
da Sindicância C-462/85, da Egrégia Corregedoria dos Presídios e da polícia
judiciária da capital, devido ter sido indeferido o pedido de fl s. 31, não encontra
demonstração nos autos.
Ao contrário do que afi rma o impetrante, segundo fl s. 33 a 39, a Promotora
de Justiça não interrogou o escrevente Luiz Guilherme dos Santos, o que foi
feito pelo Juiz de Direito Irineu Antônio Pedrotti, limitando-se ele a realizar
reperguntas, nos estritos limites de suas atribuições funcionais. Aliás, é essa a
atividade corrente do Ministério Público nas sindicâncias instauradas junto à
Corregedoria da Polícia Judiciária da Capital.
O fato de a Promotora de Justiça ter solicitado a outro Promotor de Justiça que
verifi casse se era sua a assinatura constante de determinado processo, levando-o
a fazer posterior comunicação a respeito de falsifi cação e a fornecer material
gráfi co para perícia, está dentro das suas atribuições legais e demonstra real
interesse em bem evidenciar a ocorrência do fato criminoso.
Teria, ainda, formulado a Promotora de Justiça perguntas diretamente a
Genésio Ferreira Dourado Neto, conforme ele declarou (fls. 41v.). Percebe-se
desse depoimento que estava presente o delegado de polícia, que, inicialmente
fez perguntas, e, depois, após ter ela feito perguntas através da autoridade
policial, veio esta a permitir que a Promotora de Justiça perguntasse diretamente.
Também aqui nada há de irregular. Pode o Ministério Público, através de cotas,
requisitar diligências da autoridade policial, a fi m de que, ouvindo determinada
pessoa, esclareça certos pontos, e, assim, nada há de irregular na sua atuação
quando, diretamente, com autorização da autoridade que preside o inquérito, faz
perguntas a uma testemunha.
A comunicação feita pela Promotora de Justiça ao Promotor de Justiça,
Dr. Renato Nascimento Fabrini, no sentido de que o paciente era o autor da
falsifi cação, está em inteira consonância com o fato de ter oferecido denúncia
eis que, para isso, teve ela convicção de que o paciente era o responsável pela
falsificação. Ademais, não esclarecem os autos quando teria feito ela essa
comunicação e em que elementos se embasou para efetuá-la.
Finalmente, o fato de ter a Promotora de Justiça xerocopiado fichas de
atendimentos feitos por advogados ao paciente também se insere dentro da
linha investigatória e a tanto estava autorizada por dispositivo legal que lhe
permitia “promover diligências e requisitar documentos, certidões e informações
de qualquer repartição pública ou órgão federal, estadual ou municipal, da
administração direta ou indireta, (...), podendo dirigir-se diretamente a qualquer
autoridade” (art. 15, inciso I, da Lei Complementar n. 40, de 14 de dezembro de
1981).
Não vemos, assim, irregularidade na atuação da Promotora de Justiça.
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (17): 383-424, março 2011 407
Ademais, se alguma irregularidade aconteceu, isso atingiria somente a fase do
inquérito, não vindo a contaminar também o processo.
O empenho demonstrado pela representante do Ministério Público na fase
investigatória não a inibia de promover a ação penal.
Não agiu ela como autoridade policial, nem a substituiu. Atuou dentro das
suas funções, nos limites que a lei lhe permitia.
Nada evidencia que a Promotora de Justiça fosse “reconhecidamente hostil” ao
paciente, como aconteceu no caso referido no acórdão inserido na RT 595/404,
citado às fls. 13. Também não se iguala a hipótese concreta com a que vem
descrita na RT 515/425, em que, segundo consta da ementa, o Promotor de
Justiça passou a impulsionar diretamente o inquérito, levando ele mesmo a
termo a investigação policial. Muito menos é adequada à situação aqui retratada,
o acórdão do Tribunal de Justiça de Mato Grosso, constante da RT 492/366,
em que o Juiz e o Promotor de Justiça estariam impedidos de funcionar no
processo criminal porque seriam interessados em seu desfecho, eis que já haviam
funcionado na ação cível da qual resultou a acusação. Finalmente, no Recurso
Criminal n. 108.154, de Piraçununga, julgado pela Terceira Câmara Criminal,
desse Tribunal de Justiça, em 21 de dezembro de 1970 (RT 425/311), o Promotor
de Justiça havia prestado depoimento a respeito dos fatos no próprio inquérito
policial.
O art. 258 do Código de Processo Penal diz que se aplica ao Ministério Público,
no que lhes for aplicável, as prescrições relativas à suspeição e ao impedimento
dos Juízes.
Nem todas as causas de suspeição e impedimento dos Juízes, portanto,
se aplicam aos órgãos do Ministério Público, mesmo porque, conforme já se
acentuou, são diferentes as suas missões no processo criminal.
Espínola Filho, ao comentar o art. 258, do Código de Processo Penal, chegava
a dizer que:
Não há impedimento para o órgão do Ministério Público funcionar em
causa na qual tenha intervido em outra instância.
(...)
Não vemos razão alguma para, ante o que lhes for aplicável do art. 258,
impedir à autoridade policial, que fez o inquérito, vir, se, depois, nomeada
promotor, a funcionar na ação penal, instaurada por denúncia baseada
naquele inquérito, ou de criar a incompatibilidade do órgão do Ministério
Público, porque cônjuge ou algum dos parentes seus, no grau indicado,
tenha presidido o inquérito.
(Código de Processo Penal Brasileiro Anotado, ed. 1955, vol. 3, n. 542, p.
243).
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
408
Mas, se a tanto não se chegar, não há que se considerar impedido o Promotor
de Justiça porque, sem assumir a função da autoridade policial, acompanhou
atos de investigação ou fez diretamente alguma diligência relevante para a futura
acusação.
É o que vem afi rmando o Colendo Supremo Tribunal Federal.
No recurso de Habeas Corpus n. 62.164 (RTJ 120/1.063-1.071), de Santa
Catarina, o Ministro Néri da Silveira transcreve seu extenso voto, pleno de citações
doutrinárias, com alusão a diversos textos legais e com interessante análise da
natureza jurídica da função do Ministério Público no processo criminal, proferido
anteriormente no Habeas Corpus n. 60.764-5-TJ. Segundo se infere no Habeas
Corpus n. 60.764-5-RJ, discutia-se a nulidade do processo por impedimento legal
do “Promotor de Justiça, que ofereceu a denúncia, por haver exercido, segundo a
impetração, funções de autoridade policial no inquérito, que serviu de base à peça
acusatória, por ele mesmo fi rmada asseverando-se que, nesse sentido, inquiriu
testemunhas em seu gabinete. Alega-se, dessa maneira, seu impedimento para
intervir no processo criminal a teor do art. 252, II, combinado com o art. 258,
ambos do Código de Processo Penal”. Concluiu o eminente Ministro, em voto
vencedor, que:
Bem de ver, assim é sua legitimidade à formação de provas conducentes
a ter reconhecida a procedência da acusação, ou à apuração dos ilícitos.
Se as provas obtidas pelo Ministério Público, no desempenho desse
munus, inclusive testemunhais, merecem credibilidade, ou não, dirá o
Juiz, submetidas como fi carão ao procedimento de índole contraditória,
assegurada a ampla defesa ao réu. O só fato de o órgão do Ministério
Público, antes da fase judicial do procedimento, haver tomado
conhecimento dos fatos, das averiguações, participado da prévia formação
de provas, à evidência, não pode incompatibilizá-lo a prosseguir, na ação
penal, inclusive, propulsando seu nascimento, por via do oferecimento
da denúncia. Não se pode, dessarte, em face da natureza das funções do
Ministério Público, aplicar-lhe, desde logo, o que estabelecido está no art.
252, II, do Código de Processo Penal, de referência ao Juiz, que posição
distinta possui na relação processual penal.
Entre as nulidades processuais, outrossim, não se arrola a suspeição ou
impedimento do Ministério Público, no art. 564, do Código de Processo
Penal. Nem cabe ter o representante do Ministério Público, em condições
como a proposta na inicial, enquadrado no item II, do art. 564, do diploma
processual em apreço, eis que não se cuidaria aí de ilegitimidade de parte.
A iniciativa do processo ocorreu por quem tinha qualidade legal para
instaurar a ação penal pública, ou seja, órgão do Ministério Público.
Posteriormente, no Recurso de Habeas Corpus n 61.110-9-RJ, novamente a
Primeira Turma, repele a tese, sendo relator o Ministro Rafael Mayer, estando
assim redigida a ementa ofi cial (RT 580/433):
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (17): 383-424, março 2011 409
Inquérito policial. Atuação do Ministério. Oferecimento da denúncia. É
pacífi co o entendimento segundo o qual a atuação do Ministério Público na
fase do inquérito policial tem justifi cativa na sua própria missão de titular
da ação penal, sem que se confi gure usurpação de função policial, ou venha
a ser impedimento a que ofereça a denúncia.
Também a Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal fi rmou o mesmo
entendimento, no Recurso de Habeas Corpus n. 63.529-RJ, sendo relator o Ministro
Francisco Rezek (RTJ 119/120-121):
Ementa - Não está impedido o Promotor de Justiça que antes da
ação penal não foi investido em qualquer dos cargos previstos no art.
252, I do Código de Processo, mas que exerceu no inquérito da polícia
funções próprias do Ministério Público, previstas no diploma que rege suas
atividades.
Na mesma linha, o Egrégio Tribunal de Justiça repeliu a tese. A Câmara de
Férias, por unanimidade, sendo Relator o Desembargador Onei Raphael, em
hipótese em que o Promotor de Justiça havia colhido declarações da vítima, antes
da fase judicial, e a tinha orientado sobre como agir diante de exigências ilícitas
dos réus, investigadores de polícia, decidiu que a sua conduta, “não o impedia
de atuar na ação penal para a persecução dos mesmos fatos, porque, em suma,
ele sempre agiu nos limites estreitos de sua função pública, jamais exercendo
atividades ou função exclusiva de autoridade policial” (RJTJESP, Lex, vol. 120/589-
592).
Resta, como último aspecto, acentuar, na esteira do acórdão do Supremo
Tribunal Federal acima citado, que o impedimento do órgão do Ministério
Público não está elencado como causa de nulidade. Ademais, não demonstrou
o impetrante ter a atuação da Promotora de Justiça causado prejuízo à defesa do
paciente. - fl s. 153-64.
É bem verdade que a nobre Subprocuradoria-Geral da República, com
boas aparências, recusa acerto àquelas razões, no pormenor da reprodução das
fi chas de atendimentos feitos por advogados ao paciente. Por isso, detive-me
mais atentamente no manuseio dos autos para exame do referido episódio.
Verifi quei, então, três equívocos fatuais da premissa de que, a partir do
sigilo profi ssional garantido aos advogados, a reprodução reprográfi ca daquelas
peças se tornara escusa, pelo que a “Promotora de Justiça transpôs a área do
legítimo interesse acusatório”. (sic).
Na verdade, ao que consta de fl s. 44 a 64, primeiro, a reprodução vinda aos
autos da ação o foi por requisição do juiz da ação ao Diretor da Penitenciária
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
410
do Estado; segundo, tais peças ali xerocopiadas não são fi chas do advogado, mas
mera papeleta de registro das visitas recebidas pelo detento Ulisses, agora acusado
de falsário; terceiro, ditas visitas, ou atendimento como as classifi ca a inicial, não
foram de advogados, mas, justamente, da co-ré Lenita da Silva, que se passava
por advogada exatamente para contactar com o falsário, seu pseudocliente, a
propósito da prestação das inúmeras falsifi cações dos documentos judiciais
aludidos na denúncia.
O esclarecimento desses fatos, deveras não explicitados no bojo das razões
do parecer local, mas evidentemente constatáveis dos autos, pretere a excelência
jurídica do parecer do Ministério Público Federal, tornando-a alheia ao caso
concreto considerado.
Pelo exposto, nego provimento ao recurso.
RECURSO DE HABEAS CORPUS N. 4.074-PR (94.0033349-8)
Relator: Ministro Pedro Acioli
Recorrente: Ruy Barbosa Correa Filho
Advogado: Ruy Barbosa Correa Filho
Recorrido: Tribunal de Justiça do Estado do Paraná
Paciente: Sebastião Antônio Borges de Sampaio (preso)
EMENTA
Processual Penal. Impedimento Ministério Público e Juiz de
Direito.
I - A atuação do Promotor na fase investigatória - pré-processual
- não o incompatibiliza para o exercício da correspondente ação penal.
II - As causas de suspeição e impedimento são exclusivamente
aquelas elencadas expressis verbis nos artigos 252 e 254, do CPP. O rol
é taxativo, não pode ser ampliado.
III - Despiciendas as alegações de impedimento do Promotor de
Justiça e do Juiz de Direito, eis que não se enquadram nas previsões legais.
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (17): 383-424, março 2011 411
IV - Prejuízo indemonstrado.
V - Recurso improvido.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Egrégia
Sexta Turma, do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das
notas taquigráfi cas constantes dos autos, por unanimidade, negar provimento
ao recurso, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator. Não participou do
julgamento, o Sr. Ministro Vicente Leal.
Brasília (DF), 28 de novembro de 1994 (data do julgamento).
Ministro Luiz Vicente Cernicchiaro, Presidente
Ministro Pedro Acioli, Relator
DJ 20.02.1995
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Pedro Acioli: Rui Barbosa Corrêa Filho impetrou habeas
corpus, no Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, em favor de Sebastião
Antônio Borges de Sampaio, denunciado nas sanções do art. 121, § 2º, incisos I
e IV, do Código Penal.
Apontou a nulidade do decreto preventivo, por falta de fundamentação e
desnecessidade. Ademais, suscitou o impedimento do Juiz prolator da custódia,
bem como da Promotora de Justiça, pelo que postula a anulação do decisum e
demais atos do processo - fl s. 02-14.
A ordem foi, parcialmente, concedida. O acórdão restou sumariado assim
- fl . 195:
Habeas corpus. Prisão preventiva. Falta de fundamentação. Despacho defi ciente
para subsistir a custódia cautelar. Despiciendas as alegações de impedimentos
do promotor de justiça e do juiz de direito, por falta de previsões legais. Ordem
concedida.
O recurso ordinário veio às fl s. 201-209. Pede a nulidade da denúncia e do
despacho de recebimento.
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
412
Colhido o parecer do Ministério Público Federal, este o ementou da
seguinte forma - fl . 216:
Recurso ordinário de habeas corpus.
Alegação de nulidade da ação penal por impedimento de Juiz de Direito e
Promotor de Justiça que teriam colhido depoimento de testemunha na fase
investigatória.
Prejuízo indemonstrado.
Ausência de impedimento.
Improvimento que se faz mister.
É o relatório.
VOTO
O Sr. Ministro Pedro Acioli (Relator): - A parte não acolhida do habeas
corpus, fulcrou-se na seguinte fundamentação - fl . 199:
Quanto as alegações do ilustre causídico de impedimentos dos doutores
Promotores de Justiça e Juiz de Direito, bem como, de cassar a denúncia, por
haver este, antes da imposição da custódia presidido atos investigatórios fora do
contraditório, típicos da autoridade policial, decorrendo de tais atos a nulidade do
decreto de prisão preventiva, do despacho que recebeu a denúncia e demais atos
decisórios ou ordenatórios da lavra do Juiz que tornou-se impedido de exercer a
jurisdição criminal, em razão dos fatos apontados.
Acerca do impedimento da doutora Promotora de Justiça, diz encontrar-se
impedida de oferecer denúncia, por haver participado dos atos investigatórios
antes referenciados, juntamente com o doutor Juiz de Direito.
Não se infere de tais alegações, ofensa alguma a Constituição Federal e ao
Estatuto Procedimental Penal, a permitir a nulidade dos atos realizados, que se
apresentam válidos e formalmente perfeitos.
As alegações enunciadas de impedimento, não merecem maiores
considerações, por falta de base legal.
A respeito, o ilustre procurador de Justiça doutor Roberto Nelson Brasil
Pompeo, assim se pronunciou:
Despiciendas as alegações de impedimento do Promotor de Justiça e do
Juiz de Direito, eis que, não se enquadram nas previsões legais.
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (17): 383-424, março 2011 413
Bem andou o Tribunal a quo.
As causas de suspeição e impedimento são exclusivamente, aquelas
elencadas expressis verbis nos artigos 252 e 254, do CPP. O rol é taxativo, não
pode ser ampliado - RT 508/404.
Afora isso, as informações do Juiz monocrático explicitaram o porquê
da atuação na fase investigatória e nenhum prejuízo restou comprovado pelo
recorrente em virtude deste procedimento: pas de nullité sans grief.
Aliás, convém trazer à lume o bem pautado parecer ministerial, cujo teor
merece ser conhecido - fl s. 217-219:
Inexiste prejuízo inocorrente nulidade.
Como já decidiu esta Turma:
Ementa: Nulidade. Prejuízo.
I - Não demonstrado a ocorrência de prejuízo para o réu, não há de se
conceber a nulidade do processo, mais que, tal nulidade é relativa, sanável
se não arguida oportunamente.
II - Ordem denegada.
(HC n. 1.786-8-SP, in DJU de 21.06.1993, p. 12.379).
Vê-se das informações que na época em que os fatos se deram, estava a
Comarca desprovida de policiais, vez que fora decretada a prisão preventiva do
delegado e de todos os agentes policiais, envolvidos em crime de homicídio,
sucedido no interior da cadeia pública local.
Considerando que o inquérito policial tem como destinatário o Ministério
Público, depreende-se que ele pode nele interferir.
Se é levado ao Promotor de Justiça, por pessoas do povo, denúncias de
práticas delituosas e sendo impossível suas inquirições pelas autoridades policiais,
poderiam tais pessoas serem ouvidas por ele e nada obstaria que as ouvisse ainda
o magistrado.
Mesmo que tal ocasionasse nulidade vem a questão: qual o prejuízo que daí a
adviria ao paciente? Se não poderia ele nem seu procurador intervir no inquérito
policial, onde não há o contraditório, a não participação nas inquirições indicadas
teriam o mesmo efeito.
Não poderia o magistrado com base única e exclusivamente em tais
depoimentos vir a pronunciar o réu. O contraditório será assegurado na ação
penal.
Acerca de matéria análoga já decidiu o Pretório Excelso:
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
414
Ementa: Habeas corpus. Condenação penal proferida por juiz que
determinou e presidiu sindicância destinada a apurar notitia criminis.
Inexistência de incompatibilidade. Disciplina jurídica do impedimento e
da suspeição no processo penal. Matéria de direito estrito. Inexistência de
injusto constrangimento. Pedido indeferido. - A sindicância administrativa
instaurada perante magistrado local, por determinação deste, com objetivo
de subsidiar a ação persecutória do Ministério Público, não reveste de
aptidão para ocasionar a incompatibilidade da autoridade judiciária no
ulterior procedimento penal condenatório, que nela tenha fundamento. -
As causas geradoras de impedimento (CPP, art. 252) e de suspeição (CPP, art.
254) do magistrado são de direito estrito. As hipóteses que as caracterizam
acham-se enumeradas, de modo exaustivo, na legislação processual penal.
Trata-se de numerus clausus, que decorre da própria taxatividade do rol
consubstanciado nas normas legais referidas. - Não incide na situação de
incompatibilidade jurídico-processual o Magistrado que, não obstante
presidindo sindicância destinada a apurar notitia criminis a ele comunicada,
não exterioriza qualquer pronunciamento, de fato ou de direito, sobre a
questão objeto das diligências investigatórias. (HC n. 687.849, STF, Primeira
Turma, Relator Min. Celso de Mello, data da decisão 1º.10.1991, DJU
26.03.1993, p. 5.003).
Esta Turma, recentemente, entendeu:
Ementa: Processual Penal. Denúncia. Impedimento. Ministério Público.
I - A atuação do Promotor na fase investigatória - pré processual - não o
compatibiliza para o exercício da correspondente ação penal.
II - Não causa nulidade o fato de o Promotor, para formação da opinio
delicti, colher preliminarmente as provas necessárias para a ação penal.
III - Recurso improvido.
(RHC n. 3.586-2-PA, DJU de 30.05.1994, p. 13.517, Rel. Min. Pedro Acioli).
Face as considerações alinhadas, nego provimento ao recurso.
É como voto.
VOTO-VISTA
O Sr. Ministro Vicente Cernicchiaro: Este recurso insiste em nulidade, ao
fundamento de o membro do Ministério Público que ofertou a denúncia, antes,
participara de investigação de fatos, promovendo diligências.
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (17): 383-424, março 2011 415
O Ministério Público é parte (sentido processual). Ademais, titular da ação penal
relativamente ao crime de homicídio. Em sendo assim, lógico, tem legitimidade para
escorar a denúncia que vai oferecer, notadamente, agora que se consagra a necessidade
de a imputação ter apoio material. Não basta a simples descrição formal.
O v. acórdão, por isso, evidencia-se incensurável.
Este caso não se confunde com julgado desta 6ª Turma, impugnando a
legalidade de o órgão do Ministério Público acompanhar o inquérito policial e,
ao depois, depor, como testemunha, a respeito dos fatos coligidos.
O testemunho é meio de prova (a testemunha é instrumento). Como tal,
deve ser isenta. Evidente, quem participou da coleta probatória, no inquérito
policial, está impedido de depor em juízo. Está, sem dúvida, comprometido com
a versão registrada. Testemunha, sabido, há de ser pessoa isenta.
Acompanho o E. Relator.
Nego provimento ao recurso.
RECURSO EM HABEAS CORPUS N. 6.662-PR (97.0054655-1)
Relator: Ministro Anselmo Santiago
Recorrente: Ronaldo Antonio Botelho
Advogado: Ronaldo Antonio Botelho
Recorrido: Tribunal de Justiça do Estado do Paraná
Paciente: José Edson Neres (preso)
Sustentação oral: Ronaldo Antonio Botelho, pelo paciente
EMENTA
Recurso de habeas corpus. Alegada ofensa ao princípio do
promotor e juiz natural. Membro do Ministério Público designado
para apurar o envolvimento de policiais militares com o tráfi co de
drogas. Participação, posteriormente, da distribuição na vara onde
caiu o inquérito decorrente de sua investigação. Possibilidade de
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
416
oferecer denúncia. Atuação anterior que provoca o impedimento da
magistrada titular da vara onde tramita a ação penal, por ser esposa do
representante do Parquet. Substituição por juíza substituta.
1. Não está impedido de atuar, Promotor Público designado,
de forma genérica, para apurar o envolvimento de policiais militares
com o tráfi co de drogas, sendo posteriormente designado para dividir
as atribuições da Vara para onde o inquérito foi distribuído, nada
impedindo que ofereça denúncia e ofi cie naquele originado de suas
investigações preliminares.
2. O princípio do promotor natural deve ter o devido tempero,
apenas para evitar o acusador de exceção, aquele designado com
critérios políticos e pouco recomendáveis.
3. Se o membro do Ministério Público atuou, em determinado
processo, antes da magistrada, sua esposa, é sobre esta que recai
o impedimento (art. 252, I, CPP), nada havendo de irregular na
sua substituição por outra Juíza, competente para tanto, não se
vislumbrando qualquer ofensa ao princípio do juiz natural.
4. Recurso improvido.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Sexta
Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas
taquigráficas a seguir, por unanimidade, em negar provimento ao recurso.
Votaram com o Sr. Ministro Relator os Srs. Ministros William Patterson, Luiz
Vicente Cernicchiaro, Vicente Leal e Fernando Gonçalves.
Brasília (DF), 20 de outubro de 1997 (data do julgamento).
Ministro Anselmo Santiago, Presidente e Relator
DJ 27.04.1998
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Anselmo Santiago: Trata-se de recurso de habeas corpus
intentado contra aresto da 1ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (17): 383-424, março 2011 417
Estado do Paraná que, acolhendo parcialmente o writ, cassou o decreto de
prisão preventiva, mas não anulou todo o processado, desde a denúncia, como
pretendia o impetrante.
Daí o presente apelo, onde se alega os seguintes vícios no processo a que
responde o paciente:
a) falta de atribuição do Promotor de Justiça para apresentar a denúncia
inaugural;
b) impedimento do membro do Parquet, pois sua esposa era a Juíza Titular
da Vara onde foi proposta a ação penal;
c) violação ao princípio do “promotor natural”, vez que na Vara onde
tramita o procedimento punitivo, já estavam lotadas duas Promotoras de Justiça,
às quais caberiam, com exclusividade, propor e atuar no feito e
d) violação ao princípio do “juiz natural”, posto que a acusação promovida
pelo Promotor, marido da magistrada, inibiu a atuação desta, que seria
competente para processar e julgar a ação.
O Ministério Público Federal, em manifestação da ilustre Procuradora
Regional da República, no exercício do cargo de Subprocurador-Geral da
República, Dra. Laurita Hilário Vaz (fl s. 1.237-1.242), se coloca em sentido
contrário ao provimento do recurso.
É o relatório.
VOTO
O Sr. Ministro Anselmo Santiago (Relator): Muito se discute, ainda, sobre
a aplicação do princípio do promotor natural em nossa legislação, discussão
ainda não pacifi cada na Suprema Corte (HC n. 67.759-RJ, Pleno, Rel. Min.
Celso de Mello), e igualmente nesta, onde julgados o admitem (ROM n.
5.967-SP, Rel. Min. Luiz Vicente Cernicchiaro e RHC n. 6.294-PR, Rel. Min.
Fernando Gonçalves), e outros não (RHC n. 3.061-MT, Rel. Min. Adhemar
Maciel e RHC n. 4.020-MG, Rel. Min. Pedro Acioli).
Penso, contudo, que não se deve levar a tese a extremismos, havendo de
se aplicá-la unicamente naqueles casos onde o acusador é escolhido a dedo, em
critério pouco claro, dir-se-ia meramente político, criando a repulsiva fi gura do
“promotor de exceção”.
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
418
No caso, tal circunstância não se vislumbra, vez que o membro do
Ministério Público que ofereceu a denúncia, não estava inibido de fazê-lo
somente por ter sido, anteriormente, designado para, de forma genérica, apurar o
envolvimento de policiais militares com o tráfi co de drogas, situação semelhante
a que foi analisada em dois julgados deste Tribunal, onde nada se encontrou de
irregular na sua atuação judicial. Tais são as suas ementas:
Criminal. Ação penal. Juiz. Competência preventiva. Promotor natural.
- Nulidades. Não constituem nulidade a competência determinada pela
prevenção de atos praticados antes de distribuição do feito, nem a atuação do
Promotor de Justiça integrante de grupo especializado constituído por determinação
da Procuradoria Geral da Justiça. Precedentes da Turma.
(HC n. 1.171-RJ, Rel. Min. José Dantas, 5ª T., RSTJ 39/213)
Constitucional e Processual Penal. Ação penal. Trancamento. Promotor natural.
1. A criação pelo Procurador-Geral de Justiça de grupo especializado de
promotores de justiça, a fi m de ofi ciarem nos inquéritos e promoverem as ações
penais concernentes a crimes de extorsão mediante seqüestro e a crimes de
tráfi co de entorpecentes praticados em bando ou quadrilha, não contraria os
artigos 127 a 129 da Constituição Federal, estando apoiada na LC n. 40/1981.
2. Incompetência do juízo não configurada, pois a medida urgente foi
ordenada antes de distribuída.
3. Regularidade da denúncia oferecida por Promotor de Justiça integrante de
grupo especializado.
4. Recurso conhecido e improvido.
(RHC n. 1.237-RJ, Rel. Min. Jesus Costa Lima, 5ª T., DJU de 07.10.1991, p. 13.978)
No caso, como salientado no parecer ministerial, além da designação
genérica feita pelo Procurador-Geral de Justiça, através da Resolução n. 631, de
31.05.1996 (fl s. 26), outra foi editada, a de n. 1.050/1996, pela qual o membro
do Parquet que se alega impedido, dividiu as tarefas da Vara de Cianorte, com
as outras duas colegas, o de que demonstra que não houve casuísmo, mas mera
divisão de trabalho, distribuindo-se os feitos ao acaso entre os três promotores
de justiça.
Nada há, portanto, de irregular nesse sentido, não havendo impedimento
para que a denúncia fosse oferecida pelo indigitado acusador.
E se ele atuou, em primeiro lugar, obviamente que o impedimento recairia
sobre a sua esposa, a Juíza da Vara, legalmente substituída por outra. Prevaleceu,
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (17): 383-424, março 2011 419
no caso, o disposto no art. 252, I, do CPP, situação que, também, não reclama
qualquer remédio.
Assim, identicamente, não há ofensa ao princípio do juiz natural, se a
substituição se faz dentro dos critérios legais, passando a ofi ciar no feito outra
magistrada igualmente competente para apreciar a causa.
À vista do exposto, reconhecendo a plena regularidade do processo a que
responde o paciente, acolho o parecer do Ministério Público Federal e nego
provimento ao recurso.
É o meu voto.
VOTO
O Sr. Ministro Luiz Vicente Cernicchiaro: Sr. Presidente, há dois
princípios na nossa Constituição que me parecem inderrogáveis: do juízo
natural, que somente poderá processar e julgar quem previamente, à prática
da infração penal, estiver designado para o respectivo juízo. Tenho defendido,
também, a fi gura do promotor natural, qual seja, de não ser atribuído, conforme
interesses eventualmente políticos, a designação de uma pessoa para fazer a
representação do Estado, ou como costuma-se afi rmar promotor ad hoc. Esse
instituto já foi reconhecido pelo Supremo Tribunal Federal. Apenas pela maioria
de um voto, ao afi rmar que não era auto-aplicável, estando na dependência de
regulamentação. Ocorre, posteriormente a esse julgado, a Lei Orgânica do
Ministério Público, literalmente, estabeleceu que a movimentação, a designação
dos membros do Parquet seria feita conforme normas reguladoras do respectivo
conselho. Com esses dois princípios, do juízo natural e do promotor natural, o
réu fi ca resguardado de perseguição, ataque proposital. Com isso, resguarda-se
da fi nalidade do Estado de Direito Democrático; julgamento isento, imparcial.
No caso concreto, houve designação de promotor público para atuar na
vara em que sua esposa era juíza de direito. Deve-se seguir, na hipótese, a regra
natural, o impedimento da magistrada, uma vez que a denúncia foi ofertada pelo
marido.
A douta fala do ilustre advogado, em nenhum momento, mencionou
a designação tinha por fi nalidade afastar a juíza do caso. Em sendo assim,
não estando vedado que o agente do Ministério Público poderia receber a
incumbência, não ocorrer a malícia, o detournement de pouvoir, o desvio de
fi nalidade que justifi que a presença do princípio do promotor natural.
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
420
Considerando as características do caso concreto, não obstante o
brilhantismo da sustentação oral do nobre advogado, peço vênia, para
acompanhar a conclusão de S. Exª.
RECURSO DE HABEAS CORPUS N. 7.063-PR (97.0090182-3)
Relator: Ministro Vicente Leal
Recorrente: João Ricardo Kepes Noronha
Recorrido: Tribunal Regional Federal da 4ª Região
Pacientes: Olavo Americano Romanus
João Ricardo Kepes Noronha
Joed Domingos da Silva
Advogados: Luiz Alberto Machado e outros
EMENTA
Processual Penal. Denúncia. Alegação de inépcia. Ação penal.
Trancamento. Fatos típicos. Habeas corpus. Inquérito instaurado pelo
Ministério Público Federal. Impossibilidade. Constrangimento ilegal.
Inexistência.
- Constando da denúncia a adequada descrição de fatos que,
tese, consubstanciam crimes, não procede a alegação de inépcia, já que
observados os requisitos próprios, inscritos no art. 41, do Código de
Processo Penal.
- O habeas corpus instrumento processual de assento constitucional
destinado a assegurar o direito de locomoção, não se presta para a
realização de longa incursão sobre fatos em exame no curso de ação
penal, nem para a obtenção de absolvição sumária.
- O Ministério Público, como órgão de defesa dos interesses
individuais e sociais indisponíveis (CF, art. 127), tem competência
para instaurar inquérito policial para investigar a prática de atos
abusivos, susceptíveis de causar lesão a tais interesses coletivos.
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (17): 383-424, março 2011 421
- A instauração de tal procedimento não provoca qualquer
constrangimento ilegal ao direito de locomoção, revelando-se, por isso,
impróprio o uso do habeas corpus para coibir eventuais irregularidades
a ele atribuídos.
- Recurso ordinário desprovido.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Sexta
Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, negar provimento ao
recurso, na conformidade dos votos e notas taquigráfi cas a seguir. Participaram
do julgamento os Srs. Ministros Luiz Vicente Cernicchiaro, Anselmo Santiago
e Fernando Gonçalves. Ausente, por motivo de licença, o Sr. Ministro William
Patterson.
Brasília (DF), 26 de agosto de 1998 (data do julgamento).
Ministro Vicente Leal, Presidente e Relator
DJ 14.12.1998
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Vicente Leal: - Os policiais civis, João Ricardo Képes
Noronha, Olavo Americano Romanus e Joed Domingos da Silva, foram
denunciados pela prática do crime de descaminho.
Por via de habeas corpus, os denunciados pretenderam o trancamento
da ação penal, alegando falta de justa causa, por não estar comprovada a
materialidade do descaminho, especialmente diante da ausência do corpo
de delito e por ser o inquérito policial prerrogativa constitucional da polícia,
sendo invasiva a atuação do Ministério Público Federal, ainda mais quando seu
representante atuou como investigador pré-processual.
O writ não foi denegado pelo Egrégio Tribunal Regional Federal da 4ª
Região, em acórdão condensado na seguinte ementa, verbis:
Habeas corpus. Denúncia oferecida com base em investigações procedidas
pelo Ministério Público. Liberação irregular das mercadorias descaminhadas.
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
422
Corpo de delito.
1. O inquérito policial, é, em regra, atribuição da autoridade policial.
2. O Parquet pode investigar fatos, poder que inclui no mais amplo de fi scalizar
a correta execução da lei.
3. Se o conjunto de elementos e informações colhidos são sufi cientes para
consubstanciar o fumus boni juris, no que diz respeito à materialidade e autoria de
crime, impõe-se o recebimento da denúncia.
4. Tal poder do órgão ministerial mais avulta, quando os envolvidos na infração
penal são autoridades policiais, submetidos ao controle externo do Ministério
Público.
5. Se as mercadorias foram ilicitamente liberadas por outra autoridade policial,
isso não aproveita aos infratores. Incidência do art. 167 do CPP.
6. Ordem de habeas corpus denegada, sendo cassada a liminar concedida. (fl s.
161).
Opostos embargos de declaração, foram os mesmos rejeitados.
Irresignado, os impetrantes interpõem o presente recurso ordinário,
reeditando os mesmos argumentos expendidos na peça inaugural de impetração
e, por fi m, pugnando pelo trancamento da ação por atipicidade das condutas e
falta de justa causa.
Apresentadas as contra-razões (fl s. 199-208), ascenderam os autos a esta
Corte.
A douta Subprocuradoria-Geral da República, em parecer da lavra do
ilustre Subprocurador-Geral João Francisco Sobrinho, opina pelo improvimento
do recurso (fl s. 213-217).
É o relatório.
VOTO
O Sr. Ministro Vicente Leal (Relator): - A decisão recorrida, condensada
em longo e judicioso acórdão, demonstra, à saciedade, que tanto a denúncia
descreve sobejamente a conduta típica imputada aos recorrentes, atendendo às
exigências contidas no art. 41, do CPP. Destaco do citado acórdão o seguinte
excerto, o qual incorporo a este voto e adoto como razão de decidir.
A prova testemunhal é robusta no sentido de evidenciar que a viatura policial
dirigida por Joed Domingos da Silva transportava inúmeras caixas de uísque,
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 5, (17): 383-424, março 2011 423
e que a bebida era trazida do Paraguai, porque o flagrante se deu na Ponte
da Amizade, quando o veículo tentava entrar no território brasileiro com a
mercadoria descaminhada.
Os termos de declarações de Adonai (fl s. 30 e 31) e do AFTN Luis E.P.S Carvalho
(fl s. 33) são reveladores da existência de uísque na traseira do veículo ofi cial, além
de duas caixas no banco de trás do mesmo.
Os Pacientes contrariaram essa versão, dizendo que nada foi encontrado de
irregular no carro, como se vê às fl s. 59 e 60, 62 e 63 e 121 e 123.
Joed Domingos da Silva chegou a afi rmar (fl . 122) que apenas transportava no
veículo ofi cial um fardo com cartazes do congresso.
Interessante observar, no depoimento de Olavo Romanus, que no jantar de
encerramento do Congresso de Delegados, no Hotel Bourbon, foram servidas
várias bebidas entre essas uísques foram fornecidos por patrocinadores.
Isso deve ser verdade porque na declaração de fl . 119 do Hotel Bourbon consta
tudo que foi servido no evento mencionado, e nada esclarece sobre uísque.
Quem eram esses fornecedores? De onde teria vindo a bebida?
Se não bastassem os depoimentos das autoridades que fl agraram o crime, esse
indício seria forte quanto à procedência estrangeira da bebida descaminhada.
E, por fi m, é de estranhar o temor dos envolvidos com dois repórteres da
Rede Globo, que poderiam ter fotografado as mercadorias, tornando evitável a
liberação das mesmas.
O procedimento investigatório foi legal, sem lesão ao princípio da ampla
defesa.
Um dos denunciados não quis ser ouvido, o que não impedirá que esclareça os
fatos, durante a instrução da ação penal.
O que, por fim, é preciso enfatizar é que estamos recém em juízo de
admissibilidade da ação penal.
Com tantas provas a respeito da existência e da autoria do crime seria
impossível impedir o exercício da jurisdição. (fl s. 158-159).
Tenho como incensuráveis os fundamentos contidos no acórdão
referenciado.
Com efeito, tem-se consagrado de modo unissonante, o entendimento
de que o trancamento de ação penal por falta de justa causa, pela via estreita
de habeas corpus, somente se viabiliza quando, pela mera exposição dos fatos na
denúncia se constata que há imputação de fato atípico ou que inexiste qualquer
elemento indiciário demonstrativo da autoria do delito pelo paciente. Se para o
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
424
deslinde da questão é necessário o revolvimento da prova condensada no bojo
dos autos, o tema situa-se fora do alcance do habeas corpus, que não é remédio
próprio para se decretar a absolvição sumária.
Por fi m, não vejo qualquer ilegalidade na postura do Ministério Público ao
proceder investigação, substituindo-se à autoridade policial.
Ora, é sabido que o Ministério Público, como órgão de defesa dos interesses
individuais e coletivos indisponíveis, tem competência para instaurar inquérito
policial para investigar a prática de atos que afetam o interesse coletivo.
E a instauração desse procedimento não provoca qualquer constrangimento
ilegal ao direito de locomoção. Por isso, tenho que o habeas corpus se revela
remédio processual inidôneo para coibir eventuais irregularidades nele
ocorrentes.
Em face do exposto, tenho como apta a acusação e, por isso, nego
provimento ao recurso.
É o voto.
Índice Analítico
A
Ação de acidente de trabalho - CPC, arts. 82, III, in fi ne, e 499 - Legitimidade recursal
- Ministério Público. Súmula n. 226-STJ. RSSTJ 17/11.
Ato de órgão gestor de mão-de-obra - Impugnação - Competência - Justiça Estadual
- Lei n. 8.630/1993, art. 20 - Profi ssão - Óbice ao exercício - Trabalhador avulso
portuário. Súmula n. 230-STJ. RSSTJ 17/185.
C
CC/1916, arts. 159 e 1.553 - CF/1988, art. 5º, X - Dano moral - Possibilidade - Pessoa
jurídica. Súmula n. 227-STJ. RSSTJ 17/79.
CC/1916, art. 493 - Direito autoral - Proteção - Interdito proibitório - Inadmissibilidade
- Lei n. 5.988/1973, arts. 2º e 29. Súmula n. 228-STJ. RSSTJ 17/109.
CF/1988, art. 5º, X - CC/1916, arts. 159 e 1.553 - Dano moral - Possibilidade - Pessoa
jurídica. Súmula n. 227-STJ. RSSTJ 17/79.
CF/1988, art. 129, I e VI - Denúncia - Impedimento ou suspeição - Não-ocorrência -
Investigação criminal - Ministério Público. Súmula n. 234-STJ. RSSTJ 17/383.
Circunstância atenuante - Incidência - Pena - Redução - Limite. Súmula n. 231-STJ.
RSSTJ 17/227.
ÍNDICE ANALÍTICO
428
Competência - Ato de órgão gestor de mão-de-obra - Impugnação - Justiça Estadual
- Lei n. 8.630/1993, art. 20 - Profi ssão - Óbice ao exercício - Trabalhador avulso
portuário. Súmula n. 230-STJ. RSSTJ 17/185.
Contrato de abertura de crédito - Extrato de conta-corrente - CPC, art. 585 - Título
executivo - Não-caracterização. Súmula n. 233-STJ. RSSTJ 17/339.
CPC, arts. 19, 27 e 33 - Depósito prévio - Exigibilidade - Fazenda Pública - Parte -
Honorários periciais - Lei n. 6.830/1980, art. 39. Súmula n. 232-STJ. RSSTJ 17/265.
CPC, arts. 82, III, in fi ne, e 499 - Ação de acidente de trabalho - Legitimidade recursal
- Ministério Público. Súmula n. 226-STJ. RSSTJ 17/11.
CPC, art. 585 - Contrato de abertura de crédito - Extrato de conta-corrente - Título
executivo - Não-caracterização. Súmula n. 233-STJ. RSSTJ 17/339.
D
Dano moral - Possibilidade - CC/1916, arts. 159 e 1.553 - CF/1988, art. 5º, X - Pessoa
jurídica. Súmula n. 227-STJ. RSSTJ 17/79.
Denúncia - Impedimento ou suspeição - Não-ocorrência - CF/1988, art. 129, I e VI -
Investigação criminal - Ministério Público. Súmula n. 234-STJ. RSSTJ 17/383.
Depósito prévio - Exigibilidade - CPC, arts. 19, 27 e 33 - Fazenda Pública - Parte -
Honorários periciais - Lei n. 6.830/1980, art. 39. Súmula n. 232-STJ. RSSTJ 17/265.
Direito autoral - Proteção - CC/1916, art. 493 - Interdito proibitório - Inadmissibilidade
- Lei n. 5.988/1973, arts. 2º e 29. Súmula n. 228-STJ. RSSTJ 17/109.
F
Fazenda Pública - Parte - CPC, arts. 19, 27 e 33 - Depósito prévio - Exigibilidade -
Honorários periciais - Lei n. 6.830/1980, art. 39. Súmula n. 232-STJ. RSSTJ 17/265.
H
Honorários periciais - CPC, arts. 19, 27 e 33 - Depósito prévio - Exigibilidade -
Fazenda Pública - Parte - Lei n. 6.830/1980, art. 39. Súmula n. 232-STJ. RSSTJ
17/265.
I
Indenização - Pedido de pagamento - Prazo prescricional - Suspensão - Termo fi nal -
Seguro. Súmula n. 229-STJ. RSSTJ 17/139.
ÍNDICE ANALÍTICO
RSSTJ, a. 5, (17): 425-430, março 2011 429
Interdito proibitório - Inadmissibilidade - CC/1916, art. 493 - Direito autoral -
Proteção - Lei n. 5.988/1973, arts. 2º e 29. Súmula n. 228-STJ. RSSTJ 17/109.
Investigação criminal - CF/1988, art. 129, I e VI - Denúncia - Impedimento ou
suspeição - Não-ocorrência - Ministério Público. Súmula n. 234-STJ. RSSTJ 17/383.
J
Justiça Estadual - Ato de órgão gestor de mão-de-obra - Impugnação - Competência
- Lei n. 8.630/1993, art. 20 - Profi ssão - Óbice ao exercício - Trabalhador avulso
portuário. Súmula n. 230-STJ. RSSTJ 17/185.
L
Legitimidade recursal - Ministério Público - Ação de acidente de trabalho - CPC, arts.
82, III, in fi ne, e 499. Súmula n. 226-STJ. RSSTJ 17/11.
Lei n. 5.988/1973, arts. 2º e 29 - CC/1916, art. 493 - Direito autoral - Proteção -
Interdito proibitório - Inadmissibilidade. Súmula n. 228-STJ. RSSTJ 17/109.
Lei n. 6.830/1980, art. 39 - CPC, arts. 19, 27 e 33 - Depósito prévio - Exigibilidade -
Fazenda Pública - Parte - Honorários periciais. Súmula n. 232-STJ. RSSTJ 17/265.
Lei n. 8.630/1993, art. 20 - Ato de órgão gestor de mão-de-obra - Impugnação -
Competência - Justiça Estadual - Profi ssão - Óbice ao exercício - Trabalhador avulso
portuário. Súmula n. 230-STJ. RSSTJ 17/185.
M
Ministério Público - CF/1988, art. 129, I e VI - Denúncia - Impedimento ou
suspeição - Não-ocorrência - Investigação criminal. Súmula n. 234-STJ. RSSTJ 17/383.
P
Pena - Redução - Limite - Circunstância atenuante - Incidência. Súmula n. 231-STJ. RSSTJ 17/227.
Pessoa jurídica - CC/1916, arts. 159 e 1.553 - CF/1988, art. 5º, X - Dano moral - Possibilidade. Súmula n. 227-STJ. RSSTJ 17/79.
Prazo prescricional - Suspensão - Termo fi nal - Indenização - Pedido de pagamento - Seguro. Súmula n. 229-STJ. RSSTJ 17/139.
Profi ssão - Óbice ao exercício - Ato de órgão gestor de mão-de-obra - Impugnação
- Competência - Justiça Estadual - Lei n. 8.630/1993, art. 20 - Trabalhador avulso
portuário. Súmula n. 230-STJ. RSSTJ 17/185.
ÍNDICE ANALÍTICO
430
S
Seguro - Indenização - Pedido de pagamento - Prazo prescricional - Suspensão -
Termo fi nal. Súmula n. 229-STJ. RSSTJ 17/139.
Súmula n. 226-STJ - Ação de acidente de trabalho - CPC, arts. 82, III, in fi ne, e 499 -
Legitimidade recursal - Ministério Público. RSSTJ 17/11.
Súmula n. 227-STJ - CC/1916, arts. 159 e 1.553 - CF/1988, art. 5º, X - Dano moral -
Possibilidade - Pessoa jurídica. RSSTJ 17/79.
Súmula n. 228-STJ - CC/1916, art. 493 - Direito autoral - Proteção - Interdito
proibitório - Inadmissibilidade - Lei n. 5.988/1973, arts. 2º e 29. RSSTJ 17/109.
Súmula n. 229-STJ - Indenização - Pedido de pagamento - Prazo prescricional -
Suspensão - Termo fi nal - Seguro. RSSTJ 17/139.
Súmula n. 230-STJ - Ato de órgão gestor de mão-de-obra - Impugnação -
Competência - Justiça Estadual - Lei n. 8.630/1993, art. 20 - Profi ssão - Óbice ao
exercício - Trabalhador avulso portuário. RSSTJ 17/185.
Súmula n. 231-STJ - Circunstância atenuante - Incidência - Pena - Redução - Limite.
RSSTJ 17/227.
Súmula n. 232-STJ - CPC, arts. 19, 27 e 33 - Depósito prévio - Exigibilidade - Fazenda
Pública - Parte - Honorários periciais - Lei n. 6.830/1980, art. 39. RSSTJ 17/265.
Súmula n. 233-STJ - Contrato de abertura de crédito - Extrato de conta-corrente -
CPC, art. 585 - Título executivo - Não-caracterização. RSSTJ 17/339.
Súmula n. 234-STJ - CF/1988, art. 129, I e VI - Denúncia - Impedimento ou suspeição
- Não-ocorrência - Investigação criminal - Ministério Público. RSSTJ 17/383.
T
Título executivo - Não-caracterização - Contrato de abertura de crédito - Extrato de
conta-corrente - CPC, art. 585. Súmula n. 233-STJ. RSSTJ 17/339.
Trabalhador avulso portuário - Ato de órgão gestor de mão-de-obra - Impugnação -
Competência - Justiça Estadual - Lei n. 8.630/1993, art. 20 - Profi ssão - Óbice ao
exercício. Súmula n. 230-STJ. RSSTJ 17/185.
Índice Sistemático
Súmula 226
EREsp 30.468-SP ...Rel. Min. Nilson Naves .......................................... RSSTJ 17/15
EREsp 37.322-SP ...Rel. Min. Fernando Gonçalves ................................ RSSTJ 17/24
EREsp 68.613-SP ...Rel. Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira .................. RSSTJ 17/26
EREsp 71.995-SP ...Rel. Min. Luiz Vicente Cernicchiaro ...................... RSSTJ 17/28
EREsp 72.634-SP ...Rel. Min. Antônio de Pádua Ribeiro ....................... RSSTJ 17/34
EREsp 96.868-SP ...Rel. Min. William Patterson ................................... RSSTJ 17/36
REsp 2.350-SP ........Rel. Min. Demócrito Reinaldo ................................ RSSTJ 17/38
REsp 6.460-SP ........Rel. Min. Luiz Vicente Cernicchiaro ...................... RSSTJ 17/41
REsp 30.224-SP ......Rel. Min. Jesus da Costa Lima ................................ RSSTJ 17/46
REsp 35.166-SP ......Rel. Min. José Cândido ........................................... RSSTJ 17/58
REsp 35.314-SP ......Rel. Min. Adhemar Maciel ..................................... RSSTJ 17/62
REsp 44.654-SP ......Rel. Min. José Dantas ............................................. RSSTJ 17/65
Súmula 227
REsp 129.428-RJ ....Rel. Min. Rui Rosado Aguiar ................................ RSSTJ 17/83
REsp 134.993-MA..Rel. Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira .................. RSSTJ 17/87
REsp 161.739-PB ...Rel. Min. Waldemar Zveiter ................................... RSSTJ 17/92
REsp 161.913-MG .Rel. Min. Carlos Alberto Menezes Direito ............. RSSTJ 17/98
REsp 177.995-SP ....Rel. Min. Barros Monteiro .................................... RSSTJ 17/106
Súmula 228
REsp 67.478-MG ...Rel. Min. Nilson Naves ........................................ RSSTJ 17/113
REsp 89.171-MS ....Rel. Min. Rui Rosado Aguiar ................................ RSSTJ 17/116
ÍNDICE SISTEMÁTICO
434
REsp 110.523-MG .Rel. Min. Rui Rosado Aguiar ................................ RSSTJ 17/124
REsp 126.797-MG .Rel. Min. Carlos Alberto Menezes Direito ........... RSSTJ 17/129
REsp 144.907-SP ....Rel. Min. Costa Leite ............................................ RSSTJ 17/133
REsp 156.850-PR ...Rel. Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira ................ RSSTJ 17/135
Súmula 229
REsp 807-RS ..........Rel. Min. Bueno de Souza ................................... RSSTJ 17/143
REsp 8.770-SP ........Rel. Min. Athos Carneiro ..................................... RSSTJ 17/148
REsp 21.547-RS .....Rel. Min. Cláudio Santos ...................................... RSSTJ 17/152
REsp 52.149-SP ......Rel. Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira ................ RSSTJ 17/159
REsp 59.689-SP ......Rel. Min. Carlos Alberto Menezes Direito ........... RSSTJ 17/162
REsp 70.367-SP ......Rel. Min. Waldemar Zveiter ................................. RSSTJ 17/165
REsp 80.844-PE .....Rel. Min. Fontes de Alencar ................................. RSSTJ 17/168
REsp 90.601-PE .....Rel. Min. Eduardo Ribeiro .................................... RSSTJ 17/174
REsp 108.748-RJ ....Rel. Min. Cesar Asfor Rocha ................................ RSSTJ 17/177
REsp 200.734-SP ....Rel. Min. Rui Rosado Aguiar ................................ RSSTJ 17/180
Súmula 230 (Cancelada)
CC 30.500-SP .........Rel. Min. Ari Pargendler ...................................... RSSTJ 17/189
CC 30.504-SP .........Rel. Min. Ari Pargendler ...................................... RSSTJ 17/192
CC 30.513-SP .........Rel. Min. Carlos Alberto Menezes Direito .......... RSSTJ 17/196
CC 22.057-SP .........Rel. Min. Barros Monteiro ................................... RSSTJ 17/203
CC 22.058-SP .........Rel. Min. Nilson Naves ......................................... RSSTJ 17/206
CC 22.059-SP .........Rel. Min. Cesar Asfor Rocha ................................ RSSTJ 17/208
CC 22.155-SP .........Rel. Min. Eduardo Ribeiro .................................... RSSTJ 17/211
CC 22.491-SP .........Rel. Min. Costa Leite ............................................ RSSTJ 17/213
CC 22.678-SP .........Rel. Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira ................ RSSTJ 17/215
CC 22.859-SP .........Rel. Min. Rui Rosado Aguiar ................................ RSSTJ 17/217
CC 23.213-SP .........Rel. Min. Bueno de Souza..................................... RSSTJ 17/220
Súmula 231
REsp 7.287-PR .......Rel. Min. William Patterson ................................ RSSTJ 17/231
REsp 15.691-PR .....Rel. Min. Luiz Vicente Cernicchiaro .................... RSSTJ 17/237
REsp 32.344-PR .....Rel. Min. Luiz Vicente Cernicchiaro .................... RSSTJ 17/246
REsp 46.182-DF .....Rel. Min. Jesus Costa Lima .................................. RSSTJ 17/250
REsp 49.500-SP ......Rel. Min. Assis Toledo .......................................... RSSTJ 17/254
REsp 146.056-RS ...Rel. Min. Felix Fischer .......................................... RSSTJ 17/256
Súmula 232
EREsp 10.945-SP ...Rel. Min. Cesar Asfor Rocha ............................... RSSTJ 17/269
REsp 10.945-SP ......Rel. Min. Fontes de Alencar ................................. RSSTJ 17/288
REsp 13.934-SP ......Rel. Min. Nilson Naves ......................................... RSSTJ 17/292
ÍNDICE SISTEMÁTICO
RSSTJ, a. 5, (17): 431-435, março 2011 435
REsp 14.333-SP ......Rel. Min. Humberto Gomes de Barros ................. RSSTJ 17/296
REsp 18.172-SP ......Rel. Min. Eduardo Ribeiro .................................... RSSTJ 17/300
REsp 29.090-PE .....Rel. Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira ................ RSSTJ 17/301
REsp 30.245-SP ......Rel. Min. Ari Pargendler ....................................... RSSTJ 17/306
REsp 43.617-SP ......Rel. Min. Garcia Vieira ......................................... RSSTJ 17/309
REsp 47.071-SP ......Rel. Min. Peçanha Martins ................................... RSSTJ 17/312
REsp 87.717-SP ......Rel. Min. José Delgado ......................................... RSSTJ 17/314
REsp 102.234-SP ....Rel. Min. Luiz Vicente Cernicchiaro .................... RSSTJ 17/317
REsp 118.785-SP ....Rel. Min. Adhemar Maciel ................................... RSSTJ 17/320
REsp 127.471-SC ...Rel. Min. Bueno de Souza..................................... RSSTJ 17/324
REsp 132.643-RS ...Rel. Min. Cid Flaquer Scartezzini ........................ RSSTJ 17/326
REsp 154.682-SP ....Rel. Min. Milton Luiz Pereira .............................. RSSTJ 17/328
REsp 182.201-SC ...Rel. Min. Hélio Mosimann ................................... RSSTJ 17/332
RMS 4.082-SP ........Rel. Min. Antônio de Pádua de Ribeiro ................ RSSTJ 17/335
Súmula 233
EREsp 148.290-RS .Rel. Min. Rui Rosado Aguiar ............................... RSSTJ 17/343
REsp 71.260-PR .....Rel. Min. Cáudio Santos ....................................... RSSTJ 17/352
REsp 89.344-RS .....Rel. Min. Eduardo Ribeiro .................................... RSSTJ 17/362
REsp 97.816-MG ...Rel. Min. Cesar Asfor Rocha ................................ RSSTJ 17/365
REsp 121.721-SC ...Rel. Min. Bueno de Souza .................................... RSSTJ 17/369
REsp 126.053-PR ...Rel. Min. Waldemar Zveiter ................................. RSSTJ 17/372
REsp 160.106-ES ...Rel. Min. Nilson Naves ......................................... RSSTJ 17/377
REsp 174.829-RS ...Rel. Min. Costa Leite ............................................ RSSTJ 17/380
Súmula 234
HC 7.445-RJ ...........Rel. Min. Gilson Dipp ......................................... RSSTJ 17/387
HC 9.023-SC ..........Rel. Min. Felix Fischer .......................................... RSSTJ 17/391
RHC 892-SP ..........Rel. Min. José Dantas ........................................... RSSTJ 17/398
RHC 4.074-PR .......Rel. Min. Pedro Acioli .......................................... RSSTJ 17/410
RHC 6.662-PR .......Rel. Min. Anselmo Santiago ................................. RSSTJ 17/415
RHC 7.063-PR .......Rel. Min. Vicente Leal .......................................... RSSTJ 17/420
Siglas e Abreviaturas
AC Apelação Cível
Adm Administrativo
Ag Agravo de Instrumento
AgRg Agravo Regimental
AI Argüição de Inconstitucionalidade
Ana Agência Nacional de Águas
Anatel Agência Nacional de Telecomunicações
Aneel Agência Nacional de Energia Elétrica
APn Ação Penal
AR Ação Rescisória
CAt Confl ito de Atribuições
CC Código Civil
CC Confl ito de Competência
CCm Código Comercial
Cm Comercial
CNE Conselho Nacional de Educação
Com Comunicação
CP Código Penal
CPC Código de Processo Civil
CDC Código de Proteção e Defesa do
Consumidor
CPP Código de Processo Penal
CR Carta Rogatória
CRI Carta Rogatória Impugnada
Ct Constitucional
CTB Código de Trânsito Brasileiro
CTN Código Tributário Nacional
Cv Civil
D Decreto
DL Decreto-Lei
SIGLAS E ABREVIATURAS
440
DNAEE Departamento Nacional de Águas e Energia Elétrica
E Ementário da Jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça
EAC Embargos Infringentes em Apelação Cível
EAR Embargos Infringentes em Ação Rescisória
EAg Embargos de Divergência no Agravo
EC Emenda Constitucional
ECA Estatuto da Criança e do Adolescente
EDcl Embargos de Declaração
EJSTJ Ementário da Jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça
El Eleitoral
EREsp Embargos de Divergência em Recurso Especial
ERMS Embargos Infringentes no Recurso em Mandado de
Segurança
ExImp Exceção de Impedimento
ExSusp Exceção de Suspeição
ExVerd Exceção da Verdade
ExecAR Execução em Ação Rescisória
ExecMC Execução em Medida Cautelar
ExecMS Execução em Mandado de Segurança
HC Habeas Corpus
HD Habeas Data
HSE Homologação de Sentença Estrangeira
IDC Incidente de Deslocamento de Competência
IExec Incidente de Execução
IF Intervenção Federal
IJ Interpelação Judicial
Inq Inquérito
IPVA Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores
IUJ Incidente de Uniformização de Jurisprudência
LC Lei Complementar
SIGLAS E ABREVIATURAS
RSSTJ, a. 5, (17): 437-442, março 2011 441
LCP Lei das Contravenções Penais
Loman Lei Orgânica da Magistratura
LONMP Lei Orgânica Nacional do Ministério Público
MC Medida Cautelar
MC Ministério das Comunicações
MI Mandado de Injunção
MS Mandado de Segurança
NC Notícia-Crime
PA Processo Administrativo
Pet Petição
PExt Pedido de Extensão
Pn Penal
Prc Precatório
PrCv Processual Civil
PrPn Processual Penal
Pv Previdenciário
QO Questão de Ordem
R Revista do Superior Tribunal de Justiça
Rcl Reclamação
RD Reconsideração de Despacho
RE Recurso Extraordinário
REsp Recurso Especial
RHC Recurso em Habeas Corpus
RHD Recurso em Habeas Data
RMI Recurso em Mandado de Injunção
RMS Recurso em Mandado de Segurança
RO Recurso Ordinário
Rp Representação
RSTJ Revista do Superior Tribunal de Justiça
RvCr Revisão Criminal
SIGLAS E ABREVIATURAS
442
S Súmula
SAF Secretaria de Administração Federal
Sd Sindicância
SEC Sentença Estrangeira Contestada
SF Senado Federal
SL Suspensão de Liminar
SLS Suspensão de Liminar e de Sentença
SS Suspensão de Segurança
STA Suspensão de Tutela Antecipada
Tr Trabalho
Trbt Tributário
Repositórios Autorizados e Credenciados pelo
Superior Tribunal de Justiça
REPOSITÓRIOS AUTORIZADOS E CREDENCIADOS PELO SUPERIOR
TRIBUNAL DE JUSTIÇA
01. Lex – Jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça – editada pela Lex Editora
S.A. – Portaria n. 1, de 19.08.1985 – DJ 21.08.1985 – Registro revalidado – Edital de
20.10.1989 – DJ 24.10.1989.
02. Revista de Direito Administrativo – editada pela Editora Renovar Ltda. – Portaria n.
2, de 19.08.1985 – DJ 21.08.1985 – Registro cancelado – Portaria n. 1, de 05.09.2007
– DJ 19.09.2007.
03. Revista LTr – Legislação do Trabalho e Previdência Social – editada pela LTr
Editora Ltda. – Portaria n. 5, de 26.08.1985 – DJ 28.08.1985 – Registro revalidado –
Edital de 20.10.1989 – DJ 24.10.1989.
04. Jurisprudência Brasileira Cível e Comércio – editada pela Juruá Editora Ltda. –
Portaria n. 6, de 09.09.1985 – DJ 12.09.1985 – Registro cancelado – Portaria n. 1, de
09.02.2006 – DJ 15.02.2006.
05. Julgados dos Tribunais Superiores – editada pela Editora Jurid Vellenich Ltda. –
Portaria n. 7, de 06.11.1987 – DJ 10.11.1987 – Registro cancelado – Portaria n. 2, de
06.03.2001 – DJ 09.03.2001.
06. Revista de Doutrina e Jurisprudência do Tribunal de Justiça do Distrito Federal
e dos Territórios – Portaria n. 1, de 29.11.1989 – DJ 1º.12.1989 - Registro alterado/
retifi cado – Portaria n. 3, de 19.06.2002 – DJ de 25.06.2002.
07. Revista de Jurisprudência do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul – Portaria
n. 1, de 08.02.1990 – DJ 12.02.1990 - Registro alterado - Portaria n. 3, de 19.03.2010
- DJe 22.03.2010.
08. Revista Jurídica Mineira – Portaria n. 3, de 02.04.1990 – DJ 04.04.1990 – Registro
cancelado – Portaria n. 4, de 13.05.1999 – DJ 04.06.1999.
09. Revista Jurídica – editada por Notadez Informação Ltda. – Portaria n. 4, de
02.04.1990 – DJ 04.04.1990.
10. Julgados do Tribunal de Alçada do Rio Grande do Sul – Portaria n. 5, de 02.05.1990
– DJ 09.05.1990 – Registro cancelado – Portaria n. 8, de 16.11.2000 – DJ 24.11.2000.
11. Revista de Processo – editada pela Editora Revista dos Tribunais Ltda. – Portaria n.
6, de 31.05.1990 – DJ 06.06.1990.
12. Revista de Direito Civil – editada pela Editora Revista dos Tribunais Ltda. –
Portaria n. 7, de 31.05.1990 – DJ 06.06.1990 – Registro cancelado – Portaria n. 4, de
06.06.2000 – DJ 09.06.2000.
13. Revista dos Tribunais – editada pela Editora Revista dos Tribunais Ltda. – Portaria
n. 8, de 31.05.1990 – DJ 06.06.1990.
REPOSITÓRIOS AUTORIZADOS E CREDENCIADOS PELO STJ
446
14. Revista de Direito Público – editada pela Editora Revista dos Tribunais Ltda. –
Portaria n. 9, de 31.05.1990 – DJ 06.06.1990 – Registro cancelado – Portaria n. 5, de
11.06.2001 – DJ 19.06.2001.
15. Revista Ciência Jurídica – editada pela Editora Nova Alvorada Edições Ltda. –
Portaria n. 10, de 21.08.1990 – DJ 24.08.1990 – Registro cancelado – Portaria n. 2, de
04.07.2003 – DJ 14.07.2003.
16. Revista Jurisprudência Mineira – editada pelo Tribunal de Justiça do Estado de
Minas Gerais – Portaria n. 12, de 10.09.1990 – DJ 12.09.1990.
17. Revista de Julgados do Tribunal de Alçada do Estado de Minas Gerais – Portaria
n. 13, de 17.12.1990 – DJ 19.12.1990 – Registro cancelado – Portaria n. 10, de
08.10.2007 – DJ 18.10.2007.
18. Jurisprudência Catarinense – editada pelo Tribunal de Justiça de Santa Catarina –
Portaria n. 1, de 22.05.1991 – DJ 27.05.1991.
19. Revista SÍNTESE Trabalhista e Previdenciária – editada pela IOB Informações
Objetivas Publicações Jurídicas Ltda. – Portaria n. 3, de 16.09.1991 – DJ 20.09.1991
– Registro retifi cado – Portaria n. 9, de 22.11.2006 – DJ 11.12.2006 – Registro
retifi cado e ratifi cado – Portaria n. 8, de 25.10.2010 – DJe 28.10.2010
20. Lex – Jurisprudência dos Tribunais de Alçada Civil de São Paulo – editada pela Lex
Editora S.A. – Portaria n. 1, de 10.03.1992 – DJ 13.03.1992 – Registro cancelado –
Portaria n. 6, de 08.10.2007 – DJ 18.10.2007.
21. Jurisprudência do Tribunal de Justiça – editada pela Lex Editora S.A. – Portaria n. 2, de
10.03.1992 – DJ 13.03.1992 – Registro retificado – Portaria n. 9, de 16.11.2000 – DJ 24.11.2000.
22. Lex – Jurisprudência do Supremo Tribunal Federal – editada pela Lex Editora S.A.
– Portaria n. 2, de 10.03.1992 – DJ 13.03.1992.
23. Revista de Previdência Social – editada pela LTr Editora Ltda. – Portaria n. 4, de
20.04.1992 – DJ 24.04.1992.
24. Revista Forense – editada pela Editora Forense – Portaria n. 5, de 22.06.1992 – DJ
06.07.1992.
25. Revista Trimestral de Jurisprudência dos Estados – editada pela Editora Jurid
Vellenich Ltda. – Portaria n. 6, de 06.11.1992 – DJ 10.11.1992 – Registro cancelado –
Portaria n. 3, de 04.07.2003 – DJ 14.07.2003.
26. Série – Jurisprudência ADCOAS – editada pela Editora Esplanada Ltda. – Portaria
n. 1, de 18.02.1993 – DJ 25.02.1993 – Registro cancelado – Portaria n. 2, de 23.08.2004
– DJ 26.08.2004.
27. Revista Ata – Arquivos dos Tribunais de Alçada do Estado do Rio de Janeiro –
Portaria n. 2, de 11.02.1994 – DJ 18.02.1994 – Registro cancelado – Portaria n. 3, de
04.05.1999 – DJ 18.05.1999.
REPOSITÓRIOS AUTORIZADOS E CREDENCIADOS PELO STJ
RSSTJ, a. 5, (17): 443-450, março 2011 447
28. Revista do Tribunal Regional Federal da 4ª Região – editada pela Livraria do
Advogado Ltda. – Portaria n. 3, de 02.03.1994 – DJ 07.03.1994.
29. Revista de Direito do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro – Portaria n.
4, de 15.06.1994 – DJ 17.06.1994.
30. Genesis – Revista de Direito do Trabalho – editada pela Genesis Editora – Portaria
n. 5, de 14.09.1994 – DJ 16.09.1994 – Registro cancelado – Portaria n. 4, de 08.10.2007
– DJ 18.10.2007.
31. Decisório Trabalhista – editada pela Editora Decisório Trabalhista Ltda. – Portaria
n. 6, de 02.12.1994 – DJ 06.12.1994.
32. Revista de Julgados e Doutrina do Tribunal de Alçada Criminal do Estado de São
Paulo – Portaria n. 1, de 18.12.1995 – DJ 20.12.1995 – Registro cancelado – Portaria
n. 5, de 08.10.2007 – DJ 18.10.2007.
33. Revista do Tribunal Regional Federal da 3ª Região – editada pelo Tribunal Regional
Federal da 3ª Região – Portaria n. 1, de 11.04.1996 – DJ 22.04.1996 – Registro
cancelado – Portaria n. 18.06.2010 – DJe 22.06.2010.
34. Lex – Jurisprudência do Tribunal Federal de Recursos – editada pela Lex Editora
S.A. – Portaria n. 2, de 29.04.1996 – DJ 02.05.1996 – Registro cancelado – Portaria n.
11, de 08.10.2007 – DJ 18.10.2007.
35. Revista de Direito Renovar – editada pela Editora Renovar Ltda. – Portaria n. 3, de
12.08.1996 – DJ 15.08.1996.
36. Revista Dialética de Direito Tributário – editada pela Editora Oliveira Rocha
Comércio e Serviços Ltda. – Portaria n. 1, de 16.06.1997 – DJ 23.06.1997.
37. Revista do Ministério Público – Portaria n. 1, de 26.10.1998 – DJ 05.11.1998 –
Registro retifi cado – Portaria n. 9, de 14.06.1999 – DJ 22.06.1999.
38. Revista Jurídica Consulex – editada pela Editora Consulex Ltda. – Portaria n. 1, de
04.02.1999 – DJ 23.02.1999 – Republicada em 25.02.1999 – Registro cancelado –
Portaria n. 1, de 06.03.2001 – DJ 09.03.2001.
39. Genesis – Revista de Direito Processual Civil – editada pela Genesis Editora –
Portaria n. 2, de 12.04.1999 – DJ 15.04.1999 – Registro cancelado – Portaria n. 3, de
08.10.2007 – DJ 18.10.2007.
40. Jurisprudência Brasileira Criminal – editada pela Juruá Editora Ltda. – Portaria n.
6, de 14.06.1999 – DJ 22.06.1999 – Registro cancelado – Portaria n. 2, de 09.02.2006
– DJ 15.02.2006.
41. Jurisprudência Brasileira Trabalhista – editada pela Juruá Editora Ltda. – Portaria n.
7, de 14.06.1999 – DJ 22.06.1999 – Registro cancelado – Portaria n. 3, de 09.02.2006
– DJ 15.02.2006.
REPOSITÓRIOS AUTORIZADOS E CREDENCIADOS PELO STJ
448
42. Revista de Estudos Tributários – editada pela marca SÍNTESE, de responsabilidade
da IOB Informações Objetivas Publicações Jurídicas Ltda. – Portaria n. 8, de 14.06.1999 – DJ 22.06.1999.
43. Jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça – editada pela Editora Brasília Jurídica Ltda. – Portaria n. 10, de 29.06.1999 – DJ 05.07.1999 – Registro cancelado – Portaria n. 1, de 23.08.2004 – DJ 26.08.2004.
44. Revista Interesse Público – editada pela Editora Fórum Ltda. – Portaria n. 1, de 14.03.2000 – DJ 21.03.2000.
45. Revista SÍNTESE Direito Civil e Processual Civil – editada pela IOB Informações Objetivas Publicações Jurídicas Ltda. – Portaria n. 2, de 14.03.2000 – DJ 21.03.2000 – Registro retifi cado – Portaria n. 9, de 22.11.2006 – DJ 11.12.2006 – Registro retifi cado e ratifi cado – Portaria n. 8, de 25.10.2010 – DJe 28.10.2010.
46. Revista SÍNTESE Direito de Família – editada pela IOB Informações Objetivas Publicações Jurídicas Ltda. – Portaria n. 3, de 29.03.2000 – DJ 03.04.2000 – Registro retifi cado – Portaria n. 2, de 14.09.2009 – DJe 15.09.2009 – Registro retifi cado e ratifi cado – Portaria n. 8, de 25.10.2010, DJe 28.10.2010.
47. Revista ADCOAS Previdenciária – editada pela Editora Esplanada Ltda. – ADCOAS – Portaria n. 5, de 21.06.2000 – DJ 27.06.2000 – Registro cancelado – Portaria n. 8, de 08.10.2007 – DJ 18.10.2007.
48. Revista ADCOAS Trabalhista – editada pela Editora Esplanada Ltda. – ADCOAS – Portaria n. 6, de 21.06.2000 – DJ 27.06.2000 – Registro cancelado – Portaria n. 7, de 08.10.2007 – DJ 18.10.2007.
49. Revista de Jurisprudência ADCOAS – editada pela Editora Esplanada Ltda. – ADCOAS – Portaria n. 7, de 21.06.2000 – DJ 27.06.2000 – Registro cancelado – Portaria n. 9, de 08.10.2007 – DJ 18.10.2007.
50. Revista SÍNTESE Direito Penal e Processual Penal – editada pela IOB Informações Objetivas Publicações Jurídicas Ltda. – Portaria n. 4, de 06.03.2001 – DJ 09.03.2001 – Registro retifi cado – Portaria n. 9, de 22.11.2006 – DJ 11.12.2006 – Registro retifi cado e ratifi cado – Portaria n. 8, de 25.10.2010 – DJe 28.10.2010
51. Revista Tributária e de Finanças Públicas – editada pela Editora Revista dos Tribunais – Portaria n. 6, de 11.06.2001 – DJ 19.06.2001.
52. Revista Nacional de Direito e Jurisprudência – editada pela Nacional de Direito Livraria Editora Ltda. – Portaria n. 1, de 08.04.2002 – DJ 02.05.2002 – Republicada em 19.04.2002 – Registro cancelado – Portaria n. 1, de 31.07.2009 - DJe 05.08.2009.
53. Revista do Tribunal Regional Federal da 5ª Região – editada pelo Tribunal Regional Federal da 5ª Região – Portaria n. 2, de 23.04.2002 – DJ 02.05.2002 - Registro cancelado - Portaria n. 5, de 09.04.2010 - DJe 18.04.2010.
54. Revista Dialética de Direito Processual – editada pela Editora Oliveira Rocha
Comércio e Serviços Ltda. – Portaria n. 1, de 30.06.2003 – DJ 07.07.2003.
REPOSITÓRIOS AUTORIZADOS E CREDENCIADOS PELO STJ
RSSTJ, a. 5, (17): 443-450, março 2011 449
55. Revista Juris Plenum – editada pela Editora Plenum Ltda. – Portaria n. 1, de
23.05.2005 – DJ 30.05.2005.
56. Revista Bonijuris – versão impressa – co-editada pelo Instituto de Pesquisas
Jurídicas Bonijuris, Associação dos Magistrados do Paraná (Amapar), Associação dos
Magistrados Catarinense (AMC) e Associação dos Magistrados do Trabalho IX e XII
(Amatra) – Portaria n. 2, de 18.10.2005 – DJ 27.10.2005.
57. Revista Juris Plenum Trabalhista e Previdenciária – editada pela Editora Plenum
Ltda. – Portaria n. 3, de 16.12.2005 – DJ 08.02.2006.
58. Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal – editada pela Editora Magister
Ltda. – Portaria n. 4, de 02.08.2006 – DJ 09.08.2006.
59. CD-ROM – Jur Magister – editado pela Editora Magister Ltda. – Portaria n. 5, de
09.08.2006 – DJ 15.08.2006.
60. DVD – Magister – editado pela Editora Magister Ltda. – Portaria n. 6, de
09.08.2006 – DJ 15.08.2006.
61. Revista Previdenciária e Trabalhista Gazetajuris – editada pela Editora Portal
Jurídico Ltda. – Portaria n. 7, de 09.08.2006 – DJ 15.08.2006 – Registro cancelado –
Portaria n. 2, de 08.10.2007 – DJ 18.10.2007.
62. CD-ROM – Gazetajuris – editado pela Editora Portal Jurídico Ltda. – Portaria n.
8, de 02.10.2006 – DJ 04.10.2006 – Registro cancelado – Portaria n. 6, de 12.11.2008
– DJe 17.11.2008.
63. Revista Magister de Direito Civil e Processual Civil – editada pela Editora Magister
Ltda. – Portaria n. 1, de 1º.02.2008 – DJ 11.02.2008.
64. Revista Brasileira de Direito Tributário e Finanças Públicas – editada pela Editora
Magister Ltda. – Portaria n. 2, de 1º.02.2008 – DJ 11.02.2008.
65. Revista Brasileira de Direito das Famílias e Sucessões – editada pela Editora
Magister Ltda. – Portaria n. 4, de 10.10.2008 – DJe 15.10.2008.
66. Revista de Direito Tributário da Associação Paulista de Estudos Tributários –
editada pela MP Editora Ltda. – Portaria n. 5, de 30.10.2008 – DJe 07.11.2008.
67. Portal da Rede Mundial de Computadores “editoramagister.com” – editado pela
Editora Magister Ltda. – Portaria n. 7, de 15.12.2008 – DJe 17.12.2008.
68. “Revista de Jurisprudência do Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul” (versão
eletrônica) - Portal da Rede Mundial de Computadores - endereço eletrônico: htpps://www.
tjrs.jus.br/site/publicacoes/revista_da_jurisprudencia/ - editada pelo Tribunal de Justiça do
Estado do Rio de Grande do Sul - Portaria n. 1, de 19.02.2010 - DJe 24.02.2010 - Registro
retifi cado e ratifi cado - Portaria n. 4, de 19.03.2010 - DJe 22.03.2010.
69. Portal da Rede Mundial de Computadores - “jurisprudência-online” - editada pela
Associação dos Advogados de São Paulo - Portaria n. 2, de 19.02.2010 - DJe 24.02.2010.
REPOSITÓRIOS AUTORIZADOS E CREDENCIADOS PELO STJ
450
70. Revista do Tribunal Regional Federal da 5ª Região (versão eletrônica) - Portal da
Rede Mundial de Computadores - endereço eletrônico: https://www.trf5.jus.br/revista_
jurisprudencia/- editado pelo Tribunal Federal Regional da 5ª Região - Portaria n. 5, de
09.04.2010 - DJe 13.04.2010.
71. DVD ROM Datadez - editado pela Notadez Informação Ltda. - Portaria n. 7, de
10.09.2010 - DJe 14.09.2010.
72. Portal da Rede Mundial de Computadores – “Plenum On-line” – endereço “www.
plenum.com.br” – editado pela Plenum Editora Ltda. – Portaria n. 1, de 31.01.2011, DJe
02.02.2011.
73. DVD-ROM – Júris Síntese DVD – editado pela marca “Síntese”, de propriedade da
IOB Informações Objetivas Publicações Jurídicas Ltda. – Portaria n. 2, de 31.01.2011,
DJe 02.02.2011.
Projeto gráfi coCoordenadoria de Programação Visual - STJ
EditoraçãoGabinete do Ministro Diretor da Revista - STJ
ImpressãoCapa: Gráfi ca do Conselho da Justiça Federal - CJFMiolo: Seção de Reprografi a e Encadernação - STJ