Universidade do Algarve
Escolha Superior de Gestão, Hotelaria e Turismo
Licenciatura em Assessoria de Administração, 1º Ano
Ética e Responsabilidade Social
Introdução à Gestão
Ilda Pedro
Adriana Godinho, 42381
Alexandre Sousa, 41455
Ivo Gonçalves, 16987
Natália Jesus, 41759
Faro, 1 de Dezembro de 2010
EPÍGRAFE
“Não digas tudo o que sabes,
Não faças tudo o que podes,
Não acredites em tudo o que ouves,
Não gastes tudo o que tens
Porque:
Quem diz tudo o que sabe,
Quem faz tudo o que pode,
Que acredita em tudo o que ouve,
Quem gasta tudo o que tem
Muitas vezes,
Diz o que não convêm,
Faz o que não deve,
Julga o que não vê,
Gasta o que não pode.”
Provérbio Árabe
ii
AGRADECIMENTOS
À Prof.ª Dra. Ilda Pedro, pelo acompanhamento no desenvolvimento deste
trabalho, pelo direccionamento no desenvolvimento da acção real.
À Prof.ª Dra. Sílvia Quinteiro pelas informações prestadas em relação ao
funcionamento da Escola e do Curso.
À Direcção da Escola Superior de Gestão Hotelaria e Turismo pelo apoio
prestado no sentido de desenvolver a acção de Inscrição de Dadores de
Medula Óssea.
Ao Centro de Histocompatibilidade do Sul, pela informação disponibilizada.
Ao Dr. Máximo Spencer-Dohner pelo tempo disponibilizado.
iii
ÍNDICE
INTRODUÇÃO 2
1. Ética 3
a. Ética, Ética Aplicada e Ética Empresarial 3
b. Ética no espaço e no tempo 7
c. Enquadramentos legais da Ética 8
d. Formulação de opinião 8
2. Responsabilidade social 9
a. Responsabilidade social ou benefícios próprios? 11
b. Contexto económico da Responsabilidade social 12
c. Formulação de opinião 13
3. Ética e Responsabilidade social 14
a. Formulação de opinião – Um jogo de percepções 14
4. Casos de Mercado 16
a. McDonald’s (Responsabilidade Social) 16
b. General Electric (Responsabilidade Social) 16
c. Northern Rock (Ética) 17
d. Exxon (Ética) 18
5. Acção real 19
a. Desenvolvimento da acção 20
b. Resultados esperados 21
CONCLUSÃO 22
1
INTRODUÇÃO
No presente trabalho iremos abordar os conceitos de Ética e Responsabilidade
Social e a sua aplicação nas Organizações.
Será feita uma análise individual a cada um dos dois conceitos, com vista à sua
definição, sendo estes posteriormente correlacionados, sendo formuladas as
opiniões próprias do grupo.
Como reforço ao tema, serão analisados casos históricos de aplicação dos
conceitos, por organizações de reputação mundial. Será ainda desenvolvida
uma acção de Responsabilidade Social.
2
1. Ética
Ética é uma palavra de origem grega (do grego, ethos) que define o estudo da
moral – estabelecendo conjuntos de normas que tipificam como certas ou
erradas as condutas que cada indivíduo tem no seu dia-a-dia, perante a
sociedade onde se encontra inserido.
Moral (do latim, mores) define o conjunto de costumes pelos quais o indivíduo
se rege, consoante os seus princípios, permitindo uma conduta certa ou errada.
Estes conjuntos podem ser definidos em dois tipos de normas:
Normas morais – Praticadas e aceites por uma sociedade.
Normas jurídicas – Leis e regras que definem a legalidade das acções.
a. Ética, Ética Aplicada e Ética Empresarial
A ética restringe as acções de cada indivíduo, pela aplicação da moral. A
consciência de cada indivíduo determina o comportamento que melhor se
adequa aos seus valores e razão, perante a sociedade onde se encontra
inserido – uma vez que cada individuo tem a sua própria concepção das suas
aspirações.
Neste sentido, pode-se fazer referência a uma conduta ética – regras onde os
valores humanos são equacionados para que cada indivíduo possa ser tratado
com igualdade, justiça, dignidade, solidariedade e respeito, entre outros.
Possibilita-se assim um desenvolvimento integral, visando a formação de uma
sociedade equilibrada.
Ética aplicada
A ética aplicada estuda do ponto de vista moral as condutas da vida pública e
privada de um indivíduo ou organização, restringindo este estudo a
determinadas áreas de actividade, sendo as principais: ética da decisão, ética
profissional, ética clínica, ética empresarial, ética organizacional e ética social.
3
Ética Empresarial
A ética empresarial consiste na implementação de condutas morais e legais
dentro da organização, com o objectivo de criar um equilíbrio com a sociedade
na qual se enquadra.
É essencial que uma organização defina os seus objectivos com base nestes
critérios, deixando transparecer para todos os seus públicos-alvo (internos ou
externos) estas condutas pelas quais é regida, de forma clara e objectiva.
A implementação destas condutas rege-se pela definição de ferramentas tais
como:
Missão – Objectivos a que a organização se propõe, abrangendo os
valores que a identifica.
Enquadramentos e normas legais – As organizações têm de cumprir
normas legais instituídas no país onde exerce a sua actividade.
Códigos de conduta – Guia que indica conduta de acção com finalidade
de haver um comportamento coerente e justo, junto dos seus
colaboradores.
Através destes conceitos e da comunicação transparente da sua aplicação, a
organização será respeitada pela sua conduta, o que lhe trará uma posição de
destaque no mercado e com maior aproximação e fidelização dos públicos-
alvo, com o objectivo de florescer, sendo esta a chave do negócio.
4
Códigos de conduta de Ética Organizacional
Ilustração 1 - Código de Ética Organizacional
Ética individual – Garantir consideração pela conduta moral dos indivíduos com
os quais a organização se relaciona, respeitando cada indivíduo de acordo com
a sua cultura, observando a área geográfica na qual a organização se encontra
implementada.
Ética social – Respeitar as condutas sociais de forma participativa e activa,
adoptando-as de acordo com o meio cultural e legal onde a organização se
insere.
Ética profissional – Adoptar valores e normas morais específicas ao grupo de
profissionais que a constitui, respeitando ao líder o papel de mediação.
5
Código de Ética Organizacional
Ética Social Valores e normas
existentes no direito,
costumes, práticas.. de
uma determinada sociedade
Ética Individual Valores e normas
pessoas que resultam da influência da
família, pares ..
Ética Profisional Valores e regras que um grupo
utiliza para decidir
comportamentos a ter
Modelos de ética
Os modelos de ética são uma ferramenta utilizada nas organizações com o
objectivo de tomar decisões éticas. Definem-se em três modelos:
Modelo utilitário – Defende que uma decisão ética é aquela que traz
benefícios para todos os membros da organização.
Modelo da justiça – Restringe o modelo utilitário defendendo que a
decisão ética deverá trazer benefícios de maneira justa e equilibrada.
Modelo moral – Defende os direitos e privilégios das pessoas perante a
organização.
Através destas condutas e modelos de ética as organizações terão maior
credibilidade, destacando-se os seguintes aspectos fundamentais:
Existirá maior comprometimento por parte dos seus colaboradores,
providenciando-lhe uma atmosfera de segurança, motivação,
criatividade, inovação, igualdade e dinamismo, para que esta imagem
seja transmitida para o exterior.
Haverá maior credibilidade e lealdade perante os seus investidores,
transparecendo integridade nos negócios e notoriedade da organização
no mercado.
Credibilidade perante os seus clientes de forma a criar uma maior
fidelização.
Contribuição para obtenção de lucros, gerando competitividade no
mercado.
a.
6
b. Ética no espaço e no tempo
Os conceitos de Ética variam de acordo com a região ou com a era temporal
sujeita a análise. Como disciplina filosófica, a Ética é um conceito evolutivo
sujeito a influências externas, como por exemplo aquelas de natureza cultural,
económica e jurídica entre outras.
Como tema exemplificativo poderão ser analisadas as normas éticas
respeitantes ao Trabalho Infantil.
Na sociedade Portuguesa, na actualidade, o trabalho infantil é proibido por lei –
verifica-se a aplicação de uma norma jurídica. No entanto nem sempre existiu
esta proibição, ela surgiu numa fase inicial, com o Decreto-lei 49408, de 24 de
Dezembro de 1969. Por ocasião deste decreto, o trabalho passou a ser vedado
a menores de 14 anos e a natureza do trabalho limitada com vista à
preservação da integridade física do menor. Posteriormente, com a introdução
do Decreto-lei 396/91, a idade mínima passou a ser de 16 anos, sendo esta
aquela que se mantêm até à data. Podemos desta forma falar de uma evolução
temporal das normas jurídicas subjacentes à Ética.
Todavia, as variações dos conceitos de Ética não se restringem só às de
carácter temporal, podendo ser observadas também variações regionais dos
conceitos éticos, por imposições culturais ou económicas. De acordo com o
relatório “Child labour and responses in South Asia” da “International Labour
Organization”, em países como o Bangladesh, a Índia, o Nepal, o Paquistão e o
Sri lanka, o trabalho doméstico infantil – aquele onde o menor é colocado a
trabalhar em casa de terceiros, com funções essencialmente domésticas – é
tendencialmente aceite por força das fracas condições económicas dos
agregados familiares que se vêm obrigados a aproveitar o rendimento de todos
os seus membros capazes para o trabalho.
7
c. Enquadramentos legais da Ética
A organização como parte activa na sociedade, tem de estar em conformidade
com todas as leis vigentes nos países onde desenvolve a sua actividade,
desde do cumprimento da obtenção de licenças para exercer a sua actividade,
pagamento de impostos, pagamento da segurança social, seguros para os
seus funcionários, segurança e higiene no trabalho.
Em determinados sectores de actividade, os colaboradores da organização são
obrigados a seguir determinados códigos deontológicos, definidos por
conjuntos de normas e deveres que são inerentes às suas áreas profissionais,
cumprindo-os de acordo com os seus próprios princípios perante a organização
e a sociedade.
d. Formulação de opinião
Concluímos que ética pode ser definida como as normas pelas quais nos
regemos, na nossa sociedade, no trabalho, nas nossas relações pessoais, em
tudo o que nos circunda.
Em suma nas organizações, tal como no contexto pessoal, é essencial que o
comportamento que estas adoptam seja de acordo com as normas
implementadas, conduzindo à aceitação das organizações no contexto social
onde estas se inserem.
8
2. Responsabilidade social
O significado de responsabilidade social assume várias perspectivas estudadas
ao longo dos tempos por vários economistas. Segundo o presente estudo são
nove os significados de responsabilidade social encontrando-se estes
agrupados em 3 grupos:
Obrigação social;
Reacção social;
Sensibilidade social.
Obrigação social
A perspectiva de responsabilidade social enquanto obrigação social está
associada ao economista Milton Friedman, que defende que as obrigações das
organizações para com a sociedade são a produção de bens e serviços em
troca de lucros, dentro dos limites definidos pela lei.
Para Friedman o conceito de responsabilidade social refere-se apenas ao
comportamento orientado exclusivamente para o lucro, com o objectivo de
servir os interesses dos accionistas. Para Friedman cabe ao governo definir
políticas de melhoramento e apoio social, pois se as organizações contribuírem
para o melhoramento social, em detrimento do lucro, estão a cometer um
abuso de autoridade.
Resumindo, para Friedman uma organização tem comportamentos socialmente
responsáveis quando procura o lucro dentro das restrições legais impostas pela
sociedade.
“Há uma e apenas uma responsabilidade social do negócio – utilizar os
recursos e comprometer-se com actividades desenvolvidas para aumentar os
lucros enquanto respeitar as regras do jogo o que significa comprometer-se
numa concorrência aberta e livre, sem vigarice e fraude.” (Milton Friedman,
McGraw-Hill)
9
Reacção social
A responsabilidade social enquanto reacção social, está associada ao facto das
organizações irem para além do fornecimento de bens e serviços sendo
responsáveis pelos custos ecológicos, ambientais e sociais.
Estas limitam se a cumprir o que a lei obriga, mas para alguns estudiosos estas
deveriam ir mais além e cumprir com valores e expectativas dominantes.
Segundo Keith Davis, um defensor de que a responsabilidade social é vai mais
além do que a lei estabelece: “Uma empresa não está a ser socialmente
responsável se cumprir apenas as exigências mínimas da lei… a
responsabilidade social vai um pouco além disso. Ela constitui a aceitação por
parte da empresa de uma obrigação social que está para além das exigências
da lei”. (Keith Davis, McGraw-Hill)
Sensibilidade social
Uma organização socialmente sensível procura formas de resolver problemas
sociais. Este significado de responsabilidade social refere-se ao facto das
organizações além de não se preocuparem só com a sua obrigação primária de
obter lucro dentro dos limites legais, procuram formas de ser socialmente
responsáveis utilizando recursos e aptidões da organização para resolver
qualquer problema social.
Com base nestes conceitos a responsabilidade social das organizações é a
preocupação voluntária com a sociedade, com o ambiente e com todas as
partes interessadas que integram o quotidiano da organização.
“Uma organização socialmente responsável tem em consideração, nas
decisões que toma, a comunidade onde se insere e o ambiente onde opera. Há
quem defenda que as organizações, como motor de desenvolvimento
económico, tecnológico e humano, só se realizam plenamente quando
consideram na sua actividade o respeito pelos direitos humanos, o
investimento na valorização pessoal, a protecção do ambiente, o combate à
corrupção, o cumprimento das normas sociais e o respeito pelos valores e
princípios éticos da sociedade em que se inserem.” (Portal da Empresa)
10
Evolução da responsabilidade social
Visão Clássica Visão Contemporânea
Obrigação Social Reacção Social
Sensibilidade Social
a. Responsabilidade social ou benefícios próprios?
Existe um paradigma nas organizações entre agir responsavelmente no meio
social ou agir em benefício próprio. Uma organização tem como objectivo
principal a obtenção de lucro; isso leva a organização a ter capacidades para
responder aos seus accionistas assim como a ter recursos monetários para
poder agir de forma responsável.
As responsabilidades legais das organizações, obrigam estas a agir em
conformidade com a lei e a produzir bens e serviços que satisfaçam as
obrigações legais.
Quando uma organização cria meios para satisfazer as necessidades da
sociedade onde se insere, está a agir de forma socialmente responsável, como
por exemplo: ao criar creches, apoiar lares de terceira idade e apoiar acções de
reabilitação urbana, entre outros.
Todavia, quando uma organização faz uma contribuição financeira para uma
instituição privada de solidariedade social tendo em vista apenas as deduções
11
fiscais previstas na lei do mecenato portuguesa, a mesma encontra-se a agir
em benefício próprio.
A fronteira entre responsabilidade social e benefício próprio é ténue,
competindo à organização comunicar de forma inequívoca os parâmetros de
acordo com os quais está a agir socialmente.
b. Contexto económico da Responsabilidade social
De acordo com a definição de responsabilidade social, poderá ser
relativamente fácil para as organizações desenvolver projectos nesta área
quando a economia se encontra em patamares positivos.
Mas quando a realidade económica se altera e as organizações são obrigadas
a alterar as suas estruturas de custo e modelos de acção, a sua capacidade de
desenvolver projectos de responsabilidade social é das primeiras áreas a ser
afectada.
Perante uma menor disponibilidade financeira, ou pressão para aumentar a
produção, torna-se difícil para as organizações efectuar doações a causas
sociais, dar benefícios acrescidos aos seus colaboradores ou dispensar os
mesmos quando estes efectuam acções de voluntariado.
Mesmo quando as contribuições das organizações não existem sobre a forma
de doações monetárias ou de tempo dos seus colaboradores, estas podem
optar por incluir critérios de responsabilidade social nas suas linhas de
produtos, partilhando os custos com os clientes. Mas citando Jack Welch num
artigo datado de Maio de 2009:
“Os consumidores estão crescentemente impossibilitados ou indisponíveis para
pagar mais por um produto só porque os faz sentir bem.” (Jack Welch,
Business Week)
12
c. Formulação de opinião
Na elaboração deste estudo, foram abordadas várias perspectivas de
responsabilidade social: Obrigação social, Reacção social e Sensibilidade
social.
Acreditamos que a perspectiva que melhor retrata a responsabilidade social na
sociedade actual é a da sensibilidade social, onde as organizações não se
encontram obrigadas a agir socialmente, fazendo-no de livre arbítrio.
As organizações movimentam recursos para causas sociais, sendo que existe
efectivamente uma ténue divisão entre o interesse próprio e a verdadeira acção
social. Qualquer que seja o projecto desenvolvido nesta área, existe sempre
algum proveito para a organização, quer seja em termos de retorno de
impostos, em termos de imagem ou motivação dos colaboradores entre outros.
A fronteira da responsabilidade social está na consciência colectiva da
organização, onde esta analise quais as razões subjacentes à sua iniciativa.
13
3. Ética e Responsabilidade social
Neste contexto e após as consultas feitas para a elaboração deste trabalho,
conclui-se que ética e responsabilidade social são dois termos que estão
interligados, que não possuem uma fronteira definida.
Todavia, poderemos numa tentativa de definir uma fronteira sobre a qual seja
possível efectuar uma análise, constatar que a ética define os valores da
organização e a responsabilidade social analisa a sua aplicação.
Poderemos desta forma referir que os valores da organização (a sua ética,
positiva ou negativa) restringem os parâmetros de acordo com os quais esta
poderá agir perante a sociedade (quantificando a sua responsabilidade social).
a. Formulação de opinião – Um jogo de percepções
Podemos observar que a definição de ética, de responsabilidade social e a sua
correlação são amplamente subjectivas. Desta forma, para formular um
conceito geral de funcionamento do tema abordado estabeleceu-se uma
análise com base num princípio central: a percepção.
A percepção que cada indivíduo tem de cada valor, comportamento ou acção é
estritamente pessoal. Um determinado comportamento pode ser analisado de
uma forma pelo indivíduo que o possui, e de outra forma por um individuo que
o observe.
Com o princípio de facilitar a formulação, foi adoptado o conceito de público-
alvo. Cada elemento com o qual a organização se relaciona é categorizado de
acordo com essa relação. Alguns exemplos de públicos-alvo são: Accionistas,
Direcção, Colaboradores, Comunidade e Clientes, entre outros.
De seguida, analisam-se quais os valores e comportamentos adoptados pela
organização. Estes são expostos a cada público-alvo para que sejam
classificados de acordo com a sua importância.
Pela análise desenvolvida no presente trabalho, consideramos que os
comportamentos éticos não beneficiam a imagem da organização perante os
14
públicos-alvo, estes comportamentos éticos são o mínimo que se espera da
organização, sendo que apenas prejudicam a imagem da organização quando
inexistentes.
No entanto, analisando a aplicação corrente de responsabilidade social, é
amplamente considerado que uma organização é socialmente responsável
quando desenvolve acções que beneficiam a sociedade circundante sem que
isso lhe seja exigido, por lei.
Desta forma podemos opor a ética (como percepções negativas ou neutras) e a
responsabilidade social (como percepções neutras ou positivas), sendo o
resultado a percepção que cada público-alvo tem da organização. Fala-se
assim de ética e responsabilidade social como um jogo de percepções.
15
4. Casos de Mercado
A responsabilidade social pode abranger um vasto leque de áreas e
actividades, sendo que na sua essência é ajudar a colmatar uma necessidade,
ou a não contribuir para a existência de uma.
Nesse sentido vamos apresentar exemplos de algumas organizações,
indicando se as acções são de carácter positivo (Responsabilidade Social) ou
negativo (falta de Ética).
a. McDonald’s (Responsabilidade Social)
A FIRM, a Fundação Infantil Ronald McDonald, que possui mais de 2701 casas
perto de hospitais espalhadas por mais de 302 países, casas essas que servem
para acolher famílias necessitadas com crianças doentes, que têm que se
deslocar da sua residência para receber tratamentos. A primeira casa não foi
simplesmente ideia de nenhum gestor ou administrador, mas sim de um pedido
de apoio que veio por parte de um jogador de futebol profissional, Fred Hill, que
viu a sua filha ser diagnosticada com leucemia, e ao ver o sofrimento que
muitas outras famílias também passavam, principalmente as mais carenciadas,
começou a juntar apoios de colegas e amigos, sendo que alguns deles eram
proprietários de um restaurante McDonald’s e foi assim que nasceu a primeira
casa Ronald McDonald em 1974 em Filadélfia.
b. General Electric (Responsabilidade Social)
A General Electric que na sua política de responsabilidade social, para além de
outras acções, promove o voluntariado, lançou recentemente um relatório que
estima que tem cerca de 100 mil3 colaboradores que já contribuíram com mais
1 http://www.fundacaoronaldmcdonald.com/03_historia.aspx2 http://www.fundacaoronaldmcdonald.com/03_historia.aspx3 http://www.ge.com/files_citizenship/pdf/ge_citizenship_volunteers.pdf
16
Ilustração 3 - General Electric
Ilustração 2 - Fundação Infantil Ronald McDonald
de 1 milhão de horas4 de voluntariado em comunidades onde vivem e
trabalham os funcionários da GE e financiou com 5,5 milhões de dólares5
diferentes áreas como a educação, ambiente e saúde.
c. Northern Rock (Ética)
O banco Northern Rock - um banco do Reino Unido - trabalhava com activos
tóxicos (créditos com risco de pagamento demasiado elevado), pedindo
dinheiro nos mercados nacionais e internacionais, para estender ou dar
empréstimos com fracas garantias de pagamento, voltando depois a colocar
esses créditos nos mercados para aquisição por parte de outras organizações
financeiras, procurando fazer lucro rapidamente.
Em 2007 a procura de compra desses créditos baixou subitamente. Foi nessa
altura que a Merrill Lynch & Co., uma consultora financeira, disse que os lucros
do banco iriam diminuir em cerca de 50%6. A administração veio tentar
reassegurar os seus clientes, mas devido à falta de ética desses negócios que
apesar de legais, não são muito claros, centenas de clientes começaram a
levantar os seus depósitos. Consecutivamente, devido à falta de liquidez o
banco deixou de conseguir pagar aos seus credores, tendo resultado numa
acção de resgate por parte do Banco de Inglaterra e na sua subsequente
reestruturação implicando vagas de despedimentos, numa tentativa de
viabilizar o banco.
4 http://www.ge.com/files_citizenship/pdf/ge_citizenship_volunteers.pdf5 http://www.ge.com/files_citizenship/pdf/ge_citizenship_volunteers.pdf6 http://www.bloomberg.com/apps/news?pid=newsarchive&sid=aeypCkzcRlU4
17
Ilustração 4 - Northern Rock
d. Exxon (Ética)
A Exxon, que opera no sector energético, viu-se a braços com um processo
legal, e teve que pagar pesadas multas devido a um acidente com o seu navio
Exxon Valdez, que derramou entre 41 a 119 mil m37 de crude nas águas do
golfo do Alasca, no estreito do Príncipe William.
Este desastre, não tendo sido mero acidente, enquadra-se na falta de ética.
Houve alguns factores que foram ignorados pela companhia, uma vez que
algumas das causas apontadas para o desastre ecológico, são, entre outras:
Um radar que estava avariado há mais de um ano e não foi reparado
(porque sendo demasiado dispendioso a organização achou que não o
deveria fazer). Embora com este radar pudesse não ter sido possível
detectar as rochas submarinas nas quais o navio embateu, poderia ter
detectado um reflector de radar (dispositivo que se coloca em certas
zonas para facilitar o reconhecimento pelos radares) e que se
encontrava instalado na zona.
Uma tripulação reduzida e sobrecarregada;
Apesar da proibição de bebidas alcoólicas a bordo, houve testemunhos
da sua presença e as análises ao sangue do capitão indicavam que o
mesmo consumia álcool a bordo.
Assim sendo, se a organização tivesse todos os sistemas a bordo a funcionar,
se tivesse uma tripulação adequada e um melhor capitão, teria minorado o
impacto do acidente perante a opinião pública, assim como os valores
monetários que teve que pagar.
7 http://en.wikipedia.org/wiki/Exxon_Valdez_oil_spill
18
Ilustração 5 - Exxon
5. Acção real
No âmbito do presente trabalho, optámos por reforçar a execução do mesmo
aplicando os conhecimentos estudados com a realização de uma acção de
responsabilidade social.
Após reflexão, foi possível concluir que seria interessante sensibilizar algumas
organizações a nível da região para a necessidade de desenvolver esta acção.
Foram apuradas várias hipóteses – recolha de roupa e brinquedos, oferta de
cabazes de natal a famílias carenciadas, entre outras – mas aquela que
achámos mais interessante e que decidimos desenvolver foi uma acção de
sensibilização para a necessidade de registo de Dadores de Medula Óssea no
CEDACE (Centro Nacional de Doadores de Medula Óssea, Estaminais ou de
Sangue do Cordão).
A escolha desta acção prendeu-se com a escala do impacto possível. Uma
acção desenvolvida dentro da escola, rapidamente poderia demonstrar
resultados a uma escala global – Um dador que se registasse ao abrigo da
acção passaria a estar catalogado na base de dados do CEDACE que por sua
vez está integrada no BMDW (Do Inglês: “Bone Marrow Donors Worldwide”),
possibilitando assim que um estudante da escola viesse a poder fazer uma
doação de medula óssea a um paciente em qualquer país.
A necessidade de sensibilização prende-se com dois factos principais:
A diminuta possibilidade de compatibilidade entre dois indivíduos – A
probabilidade estimada de compatibilidade situa-se actualmente em
1/100008. Apesar dos 13 milhões9 de dadores registados na BMDW,
existem ainda casos onde não é possível encontrar dadores
compatíveis.
Os mitos existentes na sociedade que afastam potenciais doadores –
Existem actualmente muitos cidadãos que pensam que o processo de
doação de medula obriga a uma punção óssea, procedimento esse que
se diz doloroso e de morosa recuperação. Na realidade, o procedimento
8 Dados do CEDACE9 Dados da Bone Marrow Donors Worldwide
19
de recolha pode ser feito por Citaferése, um processo semelhante a uma
doação de sangue, sendo que a principal diferença é que o sangue é de
imediato processado por uma máquina apropriada para o efeito,
extraindo as células de medula e devolvendo as restantes ao dador.
Consideramos que se os cidadãos fossem esclarecidos sobre este mito,
iriam ocorrer muitas novas inscrições.
a. Desenvolvimento da acção
No desenvolvimento da acção, foi abordado o Centro de Histocompatibilidade
do Sul, que cedeu toda a informação necessária para a elaboração da
campanha de sensibilização e recolha das novas inscrições. Foram fornecidas
brochuras informativas, os dados clínicos necessários e aqueles relativos ao
processo de recolha.
Após a recolha da informação foi elaborado o pedido à Direcção da Escola
Superior de Gestão Hotelaria e Turismo da Universidade do Algarve, para a
realização da acção na escola, com curtas interrupções das aulas para as
acções de sensibilização, tendo sido obtido parecer favorável para o
desenvolvimento da acção.
Seguiu-se um pedido a um Hospital da região, pela sua envolvência na área,
onde se requisitava uma equipa de quatro enfermeiros (dois para o ponto de
recolha, dois para a sensibilização nas salas), sendo que neste caso a
Direcção do Hospital não considerou que fosse relevante para a sua actividade
na região.
Sem a participação de uma entidade de saúde tornou-se impossível a
realização da acção nos prazos previstos. Encontra-se previsto, para o futuro,
retomar o contacto com o Centro de Histocompatibilidade do Sul, para que uma
brigada do próprio centro possa vir fazer uma acção de inscrição durante as
inscrições do ano lectivo de 2011/2012.
20
b. Resultados esperados
Esperava-se a adesão de pelo menos 100 membros da escola (entre alunos,
docentes e outros).
Extrapolando os dados de prevalência de Leucemia nos Estados Unidos (dado
não haver informação disponível para Portugal) onde 1,3% da população será
diagnosticada com esta doença ao longo da vida, os dados relativos à
População Mundial (6,903 mil Milhões10), e a possibilidade de compatibilidade
(1/1000011), estimou-se que esta acção, aliada a acesso a cuidados de saúde,
pudesse vir a afectar directamente a qualidade de vida de 897 mil pessoas12.
Este número é meramente demonstrativo, dado não ter um estudo científico
subjacente.
10 Dados do “United Nations Population Fund”11 Dados do CEDACE12 Valor meramente exemplificativo, sem estudo científico subjacente
21
CONCLUSÃO
No desenvolvimento do presente trabalho, pudemos observar que os conceitos
de Ética e Responsabilidade social são amplamente debatíveis, sendo
influenciados por diversas variáveis.
A principal destas variáveis é a percepção humana, medida em que a
reputação das organizações é avaliada. Os valores éticos que as organizações
defendem e as acções de responsabilidade social que desenvolvem afectam
directamente a percepção dos diversos públicos-alvo.
Uma determinada organização nunca poderá agradar inteiramente a todos os
seus públicos-alvo, tendo que, em plena consciência, agir de forma a agradar o
maior número possível de indivíduos. Desta forma poderá suceder nos seus
objectivos, gerindo o seu impacto na sociedade.
22
INDÍCE DE ILUSTRAÇÕES
Ilustração 1 - Código de Ética Organizacional................................................................5
Ilustração 2 - Fundação Infantil Ronald McDonald........................................................16
Ilustração 3 - General Electric.......................................................................................16
Ilustração 4 - Northern Rock..........................................................................................17
Ilustração 5 - Exxon.......................................................................................................18
23
BIBLIOGRAFIA
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Exxon Valdez had problems before spill. (1989). Anchorage Daily News.
Decreto-lei 396/91. (16 de Outubro de 1991). Diário da República. Portugal.
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(2004). Child labour and responses in South Asia. International Labour Organization.
Northern Rock Stock Tumbles Further Amid Run on Bank. (2007). Bloomberg.
(2010). The State of World Population 2010. United Nations Population Fund.
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Bews, N. F., & Rossouw, G. J. (s.d.). A Role for Business Ethics in Facilitating Trustworthiness.
Electric, G. (s.d.). GE Volunteers. Estados Unidos da América.
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