Universidade do Estado do Rio de Janeiro
Centro de Tecnologia e Ciências
Instituto de Química
Jonas de Albuquerque Barbosa Filho
Plantas Medicinais & Ensino de Química: saberes populares e
conhecimentos escolares
Rio de Janeiro
2015
Jonas de Albuquerque Barbosa Filho
Plantas Medicinais & Ensino de Química: saberes populares e conhecimentos escolares
Monografia submetida ao corpo docente do
Instituto de Química da Universidade do Estado
do Rio de Janeiro como requisito final para
obtenção do diploma de Licenciatura em
Química.
Orientador (a) (es): Prof.a Dr.
a. Maria de Fátima Teixeira Gomes
Rio de Janeiro
2015
Jonas de Albuquerque Barbosa Filho
Plantas Medicinais & Ensino de Química: saberes populares e conhecimentos escolares
Monografia submetida ao corpo docente do
Institudo de Química da Universidade do Estado
do Rio de Janeiro como requisito final para
obtenção do diploma de Licenciatura em
Química.
Aprovada em: _____________________________________________
Banca Examinadora:
_____________________________________________
Prof.ª Dr.a Maria de Fátima Teixeira Gomes (Orientadora)
Depto de Química Geral e Inorgânica - Instituto de Química - UERJ
_____________________________________________
Prof. Dr. Ayres Guimarães Dias
Depto de Química Orgânica – Instituto de Química - UERJ
_____________________________________________
Prof. Ms. José Ilton Pinheiro Jornada
Depto de Química Geral e Inorgânica - Instituto de Química - UERJ
_____________________________________________
Rio de Janeiro
2015
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho a minha família, amigos, orientadora, professores,
supervisora, técnicos de laboratório e aos demais por toda paciência, força e
dedicação que foram fundamentais em minha trajetória.
AGRADECIMENTOS
Aos meus famíliares que me apoiaram e não mediram esforços para eu concluir esta
etapa da vida.
À professora Fátima Gomes pelo incentivo, broncas e sua orientação que tornaram
possível a conclusão desta Monografia.
Aos professores e técnicos dos laboratório da UERJ que foram importantes na minha
vida acadêmica.
Aos amigos e colegas, pelo incentivo e pelo apoio constante, na alegria e na tristeza.
À direção, aos professores, funcionários e alunos do Colégio Estadual Herbert de
Souza, em especial à professora Sandra Maria Fructuoso.
Aos colegas bolsistas de Iniciação à Docência do Subprojeto PIBID Química da UERJ
que me auxiliaram no planejamento e aplicação do projeto didático “Resgatando saberes
populares sobre plantas medicinais” no Colégio Estadual Herbert de Souza.
RESUMO
BARBOSA FILHO, Jonas de Albuquerque. Plantas Medicinais & Ensino de Química:
saberes populares e conhecimentos escolares. Monografia (Graduação em Licenciatura em
Química) – Instituto de Química – Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro,
2015.
Esta Monografia apresenta um relato de experiência sobre o desenvolvimento do
projeto escolar “Resgatando saberes populares sobre plantas medicinais” com alunos do
Ensino Médio, do Colégio Herbert de Souza, localizado no Rio de Janeiro. As ações foram
realizadas por estudantes e professores que participam como bolsistas do Programa
Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID/Capes), do Subprojeto-Química. A
Monografia apresenta um panorama histórico sobre o emprego de plantas como
medicamentos em diferentes épocas e regiões do mundo. Relata sobre as primeiras
publicações sobre o uso da flora brasileira com esse fim e sobre as perspectivas atuais em
relação à utilização de plantas medicinais e fitoterápicos. São apresentados conceitos
relacionados a plantas medicinais, suas classificações; origens, nomes populares e científicos,
princípios ativos e potencialidades para fins terapêuticos. Traz uma revisão bibliográfica de
trabalhos científicos que relacionam o tema plantas medicinais ao Ensino de Química,
publicados nos últimos anos, e descreve a metodologia utilizada na aplicação do projeto
escolar em questão. Apresenta os resultados de levantamentos sobre os conhecimentos
prévios dos estudantes sobre o uso de plantas medicinais, obtidos a partir da aplicação de
questionários, e o confrontamento de suas concepções, oriundas do uso tradicional das
plantas, com recomendações farmacêuticas. Descreve como o tema do projeto foi desdobrado
em trabalhos de Química realizados pelos estudantes e exibidos durante a Feira de Ciências
dentre eles, a produção de repelente de citronela, de desinfetante de eucalipto, de sabão de
erva-doce e de aromatizadores de ambiente, elaborados com óleos essenciais extraídos do
cravo e da canela. O projeto didático “Resgatando saberes populares sobre plantas
medicinais” possibilitou concretizar um trabalho interdisciplinar entre Química e Biologia e
relacionar saberes populares com conhecimentos escolares.
Palavras-chave: Plantas Medicinais. Saberes populares. Projeto escolar. PIBID.
ABSTRACT
BARBOSA FILHO, Jonas de Albuquerque. Medicinal Plants & Chemistry Teaching: popular
knowledge and school knowledge. Monografia (Graduação em Licenciatura em Química) –
Instituto de Química – Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2014.
This monograph presents an experience report on the development of the school
project "Rescuing popular knowledge on medicinal plants" with high school students, the
College Herbert de Souza, located in Rio de Janeiro. The shares were held by students and
teachers who participate in the Institutional Scholarship Program for Teacher Initiation
(PIBID/Capes), Chemistry Sub-project. The monograph presents a historical overview of the
use of plants as medicines at different times and regions. Reports on the first publications on
the use of flora for this purpose and on the current perspectives on the use of medicinal plants
and herbal medicines. Concepts are presented relating to medicinal plants, their ratings;
origins, popular and scientific names, active ingredients and potential for therapeutic
purposes. Brings a literature review of scientific papers relating to the theme medicinal plants
Chemistry Teaching, published in recent years, and describes the methodology used in the
implementation of the school project in question. Presents the results of surveys on the prior
knowledge of students on the use of medicinal plants, obtained from the questionnaires, and
the confrontation of his views, derived from the traditional use of plants, pharmaceutical
recommendations. Describes how the design theme was deployed in Chemistry of works done
by students and displayed during the Science Fair of them, the production of citronella
repellent, eucalyptus disinfectant, fennel soap and environment Flavours, prepared with
essential oils extracted from cloves and cinnamon. The didactic project "Rescuing popular
knowledge on medicinal plants" enabled realize interdisciplinary work between chemistry and
biology and relate popular knowledge with school knowledge.
Keywords: Medicinal Plants. Popular knowledge. School project. PIBID.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 –
Figura 2 –
Figura 3 –
Figura 4 –
Figura 5 –
Figura 6 –
Figura 7 –
Figura 8 –
Figura 9 –
Perfil de respostas dos estudantes em relação à questão 1 que
perguntava sobre o uso, por eles próprios, de plantas como
medicamento................................................................................
Perfil de respostas dos estudantes em relação à questão 2 que
perguntava sobre o uso de plantas medicinais pelos familiares dos
estudantes....................................................................................
Imagem de algumas espécies de ervas medicinais da horta produzida
na escola......................................................................................
Destilação por arraste a vapor........................................................
Imagem escolhida pelos alunos para o cartaz sobre a citronela
(Cymbopogon nardus)...................................................................
Estruturas dos principais constituintes presentes em óleos essenciais
repelentes de insetos.....................................................................
Reação de saponificação................................................................
Sabão de Erva-doce em formas diferentes......................................
Cartaz, em cartolina, produzido pelo grupo sobre o sabão de erva-
doce.............................................................................................
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LISTA DE TABELAS
Tabela 1 –
Tabela 2 –
Tabela 3 –
Tabela 4 –
Tabela 5 –
Tabela 6 –
Tabela 7 –
Tabela 8 –
Exemplos de plantas medicinais, nome popular, nome científico, origem e
suas características principais...............................................................
Plantas Medicinais Arbóreas: nome científico, nome popular, sua
utilização e observações sobre algumas espécies deste grupo..................
Arbustivas, nome científico, nome popular, sua utilização e observações
sobre algumas espécies deste grupo......................................................
Herbáceas, nome científico, nome popular, sua utilização e observações
sobre algumas espécies deste grupo......................................................
Grupo de princípios ativos, suas funções e algumas espécies em que podem
ser encontrados...................................................................................
Plantas medicinais, frequência com que foram citadas, concepções dos
estudentes sobre seus usos terapêuticos e alegações terapêuticas............
Categorização das respostas dos estudantes em relação a pergunta “O que
uma planta medicinal tem que as outras plantas não
têm?”..................................................................................................
Nomes populares e científicos de plantas medicinais e frequência com que
foram citadas pelos alunos...................................................................
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SUMÁRIO
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4.2
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5.1
5.2
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5.4
5.4.1
5.4.2
5.4.3
6
INTRODUÇÃO...................................................................................
UM POUCO DE HISTÓRIA SOBRE A UTILIZAÇÃO DE PLANTAS
MEDICINAIS......................................................................................
CONHECENDO SOBRE PLANTAS MEDICINAIS E SEUS
PRINCÍPIOS ATIVOS........................................................................
PLANTAS MEDICINAIS E O ENSINO DE QUÍMICA...........................
METODOLOGIA................................................................................
Desenvolvimento do Subtema “Produção de repelente contra mosquitos
de citronela”........................................................................................
Desenvolvimento do Subtema “Produção de repelente de sabão de erva-
doce”...................................................................................................
DISCUSSÃO DE RESULTADOS...............................................................
A avaliação dos conhecimentos prévios................................................
Ampliando o conhecimento sobre o tema plantas medicinais...............
A produção de uma horta de ervas medicinais.....................................
As atividades desenvolvidas visando a Feira de Ciências.....................
A extração de óleos essenciais de cravo-da-índia e de canela...................
Desenvolvimento dos Subtema “Produção de repelente de citronela”......
Desenvolvimento do Subtema “Produção de sabão de erva-doce”............
CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..................................................
GLOSSÁRIO.......................................................................................
ANEXO 1.............................................................................................
ANEXO 2.............................................................................................
ANEXO 3.............................................................................................
ANEXO 4.............................................................................................
ANEXO 5.............................................................................................
ANEXO 6.............................................................................................
ANEXO 7.............................................................................................
ANEXO 8.............................................................................................
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12
INTRODUÇÃO
A idealização desta Monografia surgiu a partir da aplicação do projeto escolar
“Resgatando saberes populares sobre plantas medicinais”, sugerido como um projeto “guarda-
chuva” a partir do qual se desdobrariam os trabalhos de Química para a Feira de Ciências e
Cultura, de 2014, no Colégio Estadual Herbert de Souza. O projeto escolar foi desenvolvido
por licenciandos em Química da UERJ, bolsistas do Programa Institucional de Bolsas de
Iniciação à Docência da Capes, Pibid, sob a supervisão da professora de Química do Colégio
e da Coordenadora do Subprojeto Pibid Química da UERJ. Participaram do projeto estudantes
do Ensino Médio Regular e do Nova EJA (Educação de Jovens e Adultos).
No Brasil, os saberes populares sobre o uso das plantas medicinais têm raízes nas
culturas europeia, indígena e africana. Os índios já utilizavam as ervas locais para suas
práticas curativas cotidianas, transmitidas oralmente de geração a geração, quando os
colonizadores portugueses aqui chegaram trazendo os conhecimentos da farmacopeia
europeia. A esses de saberes se somaram as tradições africanas oriundas de três séculos de
tráfico escravo.
O tema plantas medicinais possibilita expandir o conhecimento em Ciência,
principalmente em Química e Biologia, ao resgatar saberes populares e da tradição, dando
margem a realização de projetos, trabalhos e atividades interdisciplinares, em diferentes níveis
educacionais e em contextos diversos.
Ao longo dos anos têm sido utilizadas plantas para fins medicinais no tratamento, cura
e prevenção de doenças. Atualmente a maior parte das plantas medicinais é comercializada
em farmácias e lojas de produtos naturais, com preparo e rotulação industrializada,
contrariando a medicina tradicional que usa, de preferência, as plantas nativas de cada região.
No Brasil, as plantas nativas são utilizadas com pouca ou nenhuma comprovação das
propriedades farmacológicas e com o desconhecimento de sua toxicidade, o que representa
um risco à saúde humana (VEIGA Jr, PINTO e MACIEL, 2005). São necessários mais
estudos multidisciplinares envolvendo etnobotânicos, químicos, farmacólogos e agrônomos
para que sejam conhecidos os potenciais terapêuticos e tóxicos dos extratos vegetais e as suas
interações com os medicamentos alopatas. Por outro lado, também se torna importante
discutir este tema nas escolas como forma de resgatar saberes da tradição familiar, promover
o acesso ao conhecimento científico e ao uso racional das plantas medicinais.
13
OBJETIVO
O objetivo desta monografia é apresentar um relato de experiência, sobre o
desenvolvimento do projeto escolar “Resgatando saberes populares sobre plantas medicinais”,
aplicado em uma escola pública do Rio de Janeiro, no âmbito do Subprojeto Pibid Química da
UERJ.
ESTRUTURA DA MONOGRAFIA
O Capítulo 1, intitulado “Um pouco de história sobre a utilização de plantas
medicinais”, apresenta um panorama histórico sobre o emprego de plantas como
medicamentos em diferentes épocas e regiões do mundo, relata sobre as primeiras publicações
sobre o uso da flora brasileira com esse fim e sobre as perspectivas atuais em relação à
utilização de plantas medicinais e fitoterápicos.
No Capítulo 2, “Conhecendo um pouco sobre plantas medicinais e seus princípios
ativos” são apresentados conceitos relacionados a plantas medicinais, suas classificações;
origens, nomes populares e científicos, princípios ativos e potencialidades para fins
terapêuticos.
O Capítulo 3, denominando “Plantas medicinais e o Ensino de Química” traz uma
revisão bibliográfica de trabalhos científicos relacionados ao tema, publicados nos últimos
anos.
Os Capítulos 4, 5 e 6, apresentam respectivamente a “Metodologia” de Aplicação do
projeto escolar ‘Resgatando saberes populares sobre plantas medicinais’; a “Discussão dos
resultados” da aplicação desse projeto escolar e as “Considerações finais” sobre o projeto e a
Monografia.
Após as Referências bibliográficas, é apresentado um Glossário. Dos Anexos constam
os Questionários Aplicados e os Roteiros Experimentais.
14
1- UM POUCO DE HISTÓRIA SOBRE A UTILIZAÇÃO DE PLANTAS
MEDICINAIS
O uso de plantas medicinais pelo homem está presente desde as primeiras civilizações.
As finalidades de sua utilização sempre foram diversas, desde o tratamento de enfermidades a
práticas mágicas, místicas e ritualísticas. O aprendizado do homem sobre como utilizar as
plantas se deu de forma empírica ou intuitiva de acordo com suas descobertas.
Na China Antiga, foram encontrados os primeiros manuscritos que descreviam os
tipos de drogas produzidas a partir das plantas. Acredita-se que estes relatos foram escritos no
ano de 5.000 a.C. e, devido a importância, foram tidos como referência e inspiração para os
subsequentes manuscritos. De modo que, o Imperador Sheng-Nung escreveu um tratado
chamado Pen Tsao que reunia os saberes tradicionais sobre plantas e sua utilização como
medicamentos. Para escrever essa verdadeira farmacopeia ele fez uso de várias plantas, em si
próprio, para conhecer a sensação que causavam no corpo e suas consequências. Uma das
várias plantas utilizadas e descritas por ele no tratado foi raiz de ginseng que, segundo
acreditava, proporcionava a longevidade. A descrição de um antigo texto da farmacopeia de
Shen-Nung traz a seguinte informação sobre a raiz de ginseng:
“Tem sabor adocicado e sua propriedade é ligeiramente refrescante, cresce nos
desfiladeiros das montanhas. É usado para reparar as cinco vísceras, harmonizar as
energias, fortalecer a alma, afastar o medo, remover substâncias tóxicas, a brilhar os
olhos, abrir o coração e melhorar o pensamento. Uso contínuo dará vigor ao corpo e
prolongará a vida (JORGE, 2009, p. 4).”
Acredita-se que Shen-Nung viveu até aos 123 anos devido aos seus hábitos de
experimentar as erva e tomar ginseng. Em seu catálogo foram descritas um total de duzentas e
cinquenta e duas plantas. Somente no século VII, no governo da dinastia Tang, foi distribuída
a obra revisada do Imperador Shen-Nung. Entretanto, a obra que mais se destacou na
farmacognosia da China Antiga foi a do Imperador Cho-Chin-Kei, que ficou conhecido como
sendo o ‘Hipócrates chinês’. Ao que parece, o primeiro cultivo de plantas medicinas foi
realizado pelo chinês Sheu-ing, em 3.000 a.C. (LAMEIRA e PINTO, 2008; JORGE, 2009).
Em 1578, Li-Chi-Chen publicou o Compêndio de Matéria Médica que englobava
todos os saberes existentes sobre farmacologia, destacando o uso de mais de mil drogas de
origens vegetal, mineral e animal (JORGE, 2009).
Do Antigo Egito, é proveniente o Papiro de Ebers que talvez tenha sido escrito em
1.550 a.C.; contém 811 receitas elaboradas a partir de plantas, animais e minerais. Neste
15
papiro são mencionadas cento e vinte e cinco plantas e, várias ainda são utilizadas atualmente,
como funcho, genciana, hortelã, losna e zimbro. Essa civilização utilizava os seus saberes
sobre as plantas medicinais na cura de doenças ou para obter algum efeito específico, por
exemplo, a babosa e o óleo de rícino eram utilizados como catárticos e a papoula, como
sonífero. Algumas plantas eram escolhidas por seu cheiro, pois se acreditava que certos
aromas afugentavam os espíritos das enfermidades. No ano de 2.300 a.C., os egípcios
desenvolveram a arte de embalsamar os cadáveres evitando, com o uso das plantas, a sua
deterioração. Por esta razão, egípcios, assírios e hebreus começaram a cultivar uma
diversidade de ervas e também traziam novas de suas expedições (LAMEIRA e PINTO,
2008; JORGE, 2009).
Na Índia, os textos religiosos da civilização védica, Os Vedas, de cerca de 1.500 a.C,
mencionam plantas medicinais que até hoje são utilizadas, como exemplos, o alho, gengibre e
manjericão. Nesta época, os médicos indianos desenvolveram técnicas cirúrgicas e de
diagnósticos. Em seus tratamentos faziam o uso de uma variedade de ervas, pois os hindus
acreditavam que as ervas eram as “filhas prediletas dos deuses”. No início da era cristã, o
texto de Parasara Vrikshayurveda, sobre plantas medicinais, foi o que mais se destacou na
Índia (JORGE, 2009).
Na Babilônia, do mesmo modo que no Antigo Egito, sua medicina combinava a
capacidade curativa (ou supostamente com poder curativo) de determinadas substâncias e
certas espécies vegetais ao seu uso em rituais religiosos (MATOS, 1987 apud LAMEIRA e
PINTO, 2008). Sua farmacopeia abrangia mil e quatrocentas plantas. Existem registros, em
placas de barro de 3.000 a.C., que a Babilônia importava ervas medicinais e que, por volta de
2.000 a.C., comercializava ginseng com a China (JORGE, 2009).
O papel das plantas medicinais na Medicina também estava presente na Grécia e em
Roma. Na Grécia, foi Diocles (400 a.C.) que escreveu o primeiro livro que se conhece no
Ocidente sobre ervas. Os gregos ficaram conhecidos como sendo os primeiros a sistematizar
os saberes adquiridos. O ‘Pai da Medicina’, o grego Hipócrates (460-361 a.C.), estudou as
reações individuais dos pacientes em relação a uma determinada doença. Foi capaz de reunir o
conhecimento médico, de seu tempo, na sua obra Corpus Hipocratium com sugestões sobre o
remédio vegetal e o tratamento a ser utilizado para cada enfermidade. Nesses tratamentos
eram personalizados, com dose única, e também se recomendava dieta, massagem,
hidroterapia, repouso e preparações de plantas. No século IV a.C., o jardim de Aristóteles
(384-322 a.C.) continha mais de trezentas espécies de plantas. O grego Teofrasto (372-285
a.C.) catalogou quatrocentos e cinquenta e cinco plantas medicinais em sua obra História das
16
Plantas, no século III a.C. com o detalhamento de como preparar e usar cada produto, que é
utilizado até hoje. E, no século I d.C., Crateus publicou O Rhizotomikon, a primeira obra com
ilustrações sobre as plantas medicinais e Dioscórides (40-90 d. C.), em seu tratado De Materia
Medica, catalogou, descreveu e apresentou ilustrações, em cores, de aproximadamente,
seiscentas plantas. Acredita-se que o conhecimento grego sobre as ervas foi adquirido da
China, Babilônia, Egito e até da Índia (JORGE, 2009).
Em Roma, no século I d.C., Plínio, o Velho, dedicou oito volumes de sua obra
História Natural, em trinta e sete volumes, ao uso pelos romanos de espécies vegetais úteis à
Medicina (JORGE, 2009). Galeno (129-199 d. C.), de origem grega, é considerado o fundador
da Farmácia. Ele desenvolveu misturas complexas, oriundas das antigas preparações egípcias
e gregas e divulgou o uso de extratos vegetais para a cura de diversos males, emprestando o
nome às formulações farmacêuticas, denominadas fórmulas galênicas (BARREIRO, 2001).
Foi o primeiro a tratar as cãibras com a erva ruibarbo que era importada da China. Também,
propôs aos oficiais romanos realizarem fiscalizações para confirmar se os remédios
apresentavam o que era declarado, pois, naquela época, a fraude era bastante comum (CRF-
SP, 2012).
Com o declínio do Império Romano e o fortalecimento da Igreja Católica, os estudos
sobre as plantas medicinais, na Idade Média, cessaram por um longo tempo. Com a invenção
da imprensa, em meados do século XV, por toda a Europa, foram escritos vários livros com
descrições e ilustrações das obras de Hipócrates, Aristóteles, Dioscórides e Galeno. Em 1484,
foi lançado o primeiro livro sobre o cultivo de erva medicinal que diferia muito pouco do
tratado de Dioscórides. No começo do século XVI, foram recuperadas, escritas em árabe,
algumas obras gregas que foram perdidas ou esquecidas durante a Idade Média, dentre elas a
obra Medicina dos Signos, que propunha o uso de plantas que se assemelhassem às partes
doentes do corpo para as quais se buscava a cura (JORGE, 2009).
A primeira farmacopeia, só surgiu em 1542, na Alemanha, listava trezentas plantas
medicinais de várias partes do mundo. Ao final do século XVI já haviam sido organizados
jardins botânicos em várias universidades, concorrendo para a elaboração e divulgação de
vários tratados de Botânica, denominados à época de ‘Herbários’, que traziam estudos sobre
as propriedades medicinais das plantas, o que contribuiu para a ascensão do prestígio da
fitoterapia. O primeiro ‘Herbário’ a citar as plantas do Novo Mundo foi escrito em 1597 por
John Gerard (JORGE, 2009).
No decorrer do século XIX, com o advento da indústria química, os interesses se
voltaram para a produção de medicamentos sintéticos. O retorno ao interesse pelas ervas
17
medicinais se deu na primeira metade do século XX, durante as Guerras Mundiais, devido à
necessidade de se adquirir medicamentos de baixo custo para as mais variadas doenças. Neste
período, a inglesa M. Gneve publicou o tratado Um Herbario Moderno, sobre as propriedades
medicinais, culinárias, cosméticas e econômicas das ervas medicinais, além de informações
sobre o cultivo e o modo da utilização (JORGE, 2009).
Após a Segunda Guerra Mundial, especialmente entre as décadas 1940 e 1970, foram
descobertos vários antibióticos obtidos de bactérias, que juntamente com o aumento da
produção de medicamentos sintéticos, impulsionado pelo desenvolvimento da Química
Orgânica, levou ao abandono do uso de drogas naturais. A partir da década de 1980, devido
ao baixo custo das plantas medicinais, se comparado ao das drogas alopáticas, houve um
retorno à Fitoterapia, que foi chancelado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), através
do lema ‘Saúde para todos no ano 2000’. Como forma de baixar os custos dos programas de
saúde pública e atender um maior número de beneficiários, a OMS recomendava que nos
países subdesenvolvidos e em desenvolvimento se realizassem estudos de plantas medicinais
regionais. (MATOS, 1987 apud LAMEIRA e PINTO, 2008).
No Brasil, o uso de plantas medicinais sofreu influências das culturas europeia,
indígena e africana. O início da influência dos europeus ocorreu com a chegada ao Brasil, em
1549, juntamente com Tomé de Souza, dos primeiros padres da Companhia de Jesus,
liderados pelo Padre Manoel da Nóbrega. Os jesuítas, dentre eles o padre José de Anchieta,
formularam receitas denominadas ‘Boticas dos colégios’ para o tratamento de diversas
doenças pelo uso de plantas medicinais. Junia Furtado (2010) destaca que foram os índios que
mostraram aos europeus como utilizar as ervas locais, se baseando em suas práticas curativas
cotidianas, transmitidas oralmente de uma geração para outra. A historiadora destaca que:
Os elementos animais, vegetais ou minerais da natureza brasileira, seus usos
na Medicina e suas classificações foram arduamente estudados desde o
período colonial. Cada um desses elementos era chamado de “simples”, e, da
sua combinação, eram produzidos medicamentos “compostos”. Dentre os
remédios produzidos com ervas locais, tornou-se célebre a Triaga Brasílica,
criada pelos jesuítas na Bahia, de ampla utilização no tratamento de diversas
doenças. (FURTADO, 2010, p.84).
O naturalista Marcgrave, integrante da comitiva de Maurício de Nassau, escreveu a
Historia Naturalis Brasiliae, publicada em 1648, em que descreve e ilustra inúmeras plantas
brasileiras designadas pelos nomes vulgares, indicando, sempre que possível, os nomes
científicos correspondentes. Em seu herbário dedicou-se ao estudo da flora do Nordeste do
18
Brasil (Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Bahia, Ceará e
Maranhão). Guilherme Piso, outro integrante da comitiva de Nassau, também publicou, em
1648, suas observações em um livro ilustrado que tratava especialmente das qualidades
medicinais de diversas plantas do Nordeste (AZEVEDO, 1994).
Uma das primeiras publicações sobre plantas medicinais brasileiras é a obra Florae
Fluminensis, escrita pelo mineiro Frei José Mariano Veloso (1741-1811), um dos principais
nomes da ciência e da tecnologia do império português entre o final do Setecentos e o início
do século XIX. Seu manuscrito sobre a flora do Rio de janeiro reunia descrições de mil e
setecentas espécies (CRF-SP, 2012; AZEVEDO, 1994).
No começo do século XIX, se deu um intenso movimento de naturalistas que,
isoladamente ou em comissões científicas, vieram ao Brasil para estudar a sua vegetação.
Destacamos o russo Langsdorff, que organizou uma comissão que elaborou um herbário com
cerca de sessenta mil exemplares de plantas brasileiras, o qual foi levado para São
Petersburgo. Outro naturalista que viajou pelo Brasil na mesma época foi o francês Auguste
de Saint-Hilaire. Uma de suas obras mais conhecidas é Flora brasiliae meridionalis em que
ele escreve sobre as observações e dados que recolheu pelos seis anos que viajou pelos
estados de Espírito Santo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Goiás, São Paulo, Santa Catarina e
Rio Grande do Sul (AZEVEDO, 1994).
A mais extensa e importante obra para a botânica brasileira, é de autoria de Carl
Friedrich Phillip von Martius (1794-1868), a Flora Brasilienses, cujo primeiro fascículo foi
publicado em 1840. Ao morrer, aos 74 anos, já haviam sido impressos quarenta e seis
fascículos, contendo descrições de aproximadamente dez mil espécies, ilustradas em mil e
cem estampas. Nos anos seguintes foi dada continuidade a sua obra, que em 1906, sessenta e
seis anos depois de ser iniciada, ficou completa, com cento e trinta fascículos (AZEVEDO,
1994). Além desse importante legado, Martius, em 1843, publicou, em latim, o livro Systema
Materiae Medicae Vegetabilis Brasiliensis, que apresenta as virtudes medicinais das plantas
brasileiras (CRF-SP, 2012).
A primeira Farmacopeia Brasileira, também chamada de “Farmacopeia Verde”, é a
de Rodolpho Albino Dias da Silva, que contém descrições macro e microscópicas das drogas
obtidas de cento e oitenta e três espécies de plantas medicinais brasileiras (CRF-SP, 2012).
O progressivo declínio no uso de plantas medicinais, na segunda metade do século
XX, e as novas tendências mundiais de retorno à Fitoterapia, também, têm sido observadas no
Brasil, que voltou a valorizar sua flora como fonte inestimável de substâncias com atividade
biológica. O consumo de plantas medicinais, com base na tradição familiar é hoje em dia uma
19
prática generalizada na medicina popular. Dentre os fatores que têm contribuído para isso
destacam-se: “os efeitos colaterais decorrentes do uso crônico dos medicamentos
industrializados, o difícil acesso da população à assistência médica, bem como a tendência ao
uso da medicina integrativa e abordagens holísticas dos conceitos de saúde e bem-estar”
(CRF-SP, 2012, p 17).
Neste início de século, têm sido tomadas medidas para legalizar a utilização de plantas
medicinais e de fitoterápicos no Brasil. A portaria de 3 de maio de 2006, do Ministério da
Saúde, aprovou a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC) no
Sistema Único de Saúde. O decreto federal n° 5.813 de 22 de junho de 2006 aprovou a
Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos. Esse decreto visa “garantir à
população brasileira o acesso seguro e o uso racional de plantas medicinais e fitoterápicos,
promovendo o uso sustentável da biodiversidade, o desenvolvimento da cadeia produtiva e da
indústria nacional” (BRASIL, MS, 2009, p. 13), suas ações estão manifestadas no Programa
Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos, aprovado pela portaria Interministerial nº
2.960, de 9 de dezembro de 2008.
Nesse contexto, no Brasil, a utilização de plantas medicinais e de fitoterápicos tenderá
futuramente a aumentar, ao se tornar mais que uma prática popular, mas uma alternativa
terapêutica legalizada e que pode ser empregada nos serviços públicos de saúde.
20
2- CONHECENDO SOBRE PLANTAS MEDICINAIS E SEUS PRINCÍPIOS ATIVOS
Para entender o tema proposto deve-se a princípio reconhecer que uma planta é
definida como medicinal, quando o vegetal possui substâncias com ação farmacológica
(FURLAN, 1998). A Organização Mundial de Saúde (OMS) define planta medicinal como
toda e qualquer planta que apresenta substâncias com possibilidades de serem utilizadas para
fins terapêuticos ou como precursora de um fármaco semissintético (VEIGA JUNIOR, 2005).
A Cartilha de Plantas Medicinais e Fitoterápicos do CRF-SP (2012) define planta medicinal
como “espécie vegetal, cultivada ou não, utilizada com propósitos terapêuticos” (p. 65).
Silva, Aguiar e Medeiros (2000) definem planta medicinal como um vegetal com
capacidade de produzir em seu “metabolismo natural substâncias em quantidade e qualidade
necessárias e suficientes para provocarem modificações das funções biológicas...” (p. 20).
Essas substâncias são denominadas princípios ativos e têm potencial para serem utilizadas
para fins terapêuticos. “Alguns princípios ativos, no entanto, apresentam elevada toxidade,
devendo-se ter o cuidado de usá-los em concentrações estritamente indicadas” (idem).
Entretanto, não devemos confundir planta medicinal com fitoterápico, que é um
medicamento em que a matéria-prima utilizada para sua formulação é uma planta medicinal.
Os princípios ativos e seus derivados são obtidos a partir das plantas por processos industriais
ou semi-industriais e comercializados na forma de extratos, óleos, tinturas, ceras, etc. Um
fitoterápico é, portanto, um “medicamento tecnicamente obtido e elaborado, empregando-se
exclusivamente matérias-primas vegetais com finalidade profilática, curativa ou para fins de
diagnóstico, com benefício para o usuário.” (VEIGA JUNIOR, 2005, p.520).
O nome popular ou vulgar de uma espécie vegetal pode variar conforme a região ou
mesmo dentro de uma mesma região, o que decorre da transmissão oral, como é o caso do
capim-limão também conhecido por capim-santo, capim-cidreira, cidreira de folha estreita,
etc. Por outro lado, devido a semelhanças físicas ou ao odor, algumas espécies diferentes são
reconhecidas pelo mesmo nome popular. Plantas do mesmo gênero são bem parecidas como,
por exemplo, as mentas: hortelã-pimenta (Mentha piperita), poejo (Mentha pulegium) e a
hortelã comum (Mentha crispa). Existem, ainda, plantas que pertencem a gêneros diferentes
que são conhecidas com o mesmo nome popular, são exemplos os boldos e as cidreiras.
No Brasil ocorrem algumas plantas que são chamadas de boldos e os principais são: o
boldo-da-terra (boldo de folha peluda, Plectranthus barbatus ou Coleus barbatus) e o boldo-
baiano (mais alto, Vernonia condensada). O boldo é uma planta muito comum nos quintais e
21
a maioria da população acredita que se trata do boldo-do-chile, que possui odor muito
próximo ao da erva-de-santa-maria (devido à presença de mesma substância). Entretanto, o
verdadeiro boldo-do-chile, de nome científico Peumus boldus, é raríssimo no Brasil e,
geralmente, o boldo comercializado com essa denominação é importado (FURLAN, 1998).
As palavras cidreira ou melissa nas plantas medicinais estão relacionadas ao uso como
calmante e por isso, várias plantas possuem essa denominação. No entanto, quando se trata da
verdadeira melissa, o correto seria a de origem europeia e da qual derivou o nome latino
Melissa officinalis. Em quase todo o Brasil, a planta que recebe o nome de melissa é uma
planta com flores lilases e que cresce com muita facilidade. No sul é comum chamá-la de
erva-cidreira-brasileira. Seu nome científico é Lippia alba e é de origem brasileira. No
nordeste há outras espécies de Lippia, mas que recebem nomes como alecrim-pimenta ou
alecrim-de-vaqueiro (FURLAN, 1998).
O uso de uma planta para fins medicinais requer que ela seja identificada
corretamente, caso contrário não surtirá a melhora esperada do estado de saúde ou pode-se até
mesmo induzir a uma piora. Os pesquisadores associam os diversos nomes populares de uma
dada planta a um único nome científico que identifica o gênero e a espécie do vegetal. O
nome científico de uma planta é grafado em itálico (ou em negrito). O primeiro nome
(gênero) inicia em letra maiúscula e o segundo (espécie) em minúscula. Em alguns casos,
além do gênero e da espécie, também aparece uma indicação sobre o nome do pesquisador
que atribuiu a denominação à planta, e, desse modo, o nome científico pode conter três ou
quatro palavras (FURLAN, 1998). Assim, o nome científico do capim-limão é Cymbopogon
citratus Stapf.
O nome científico permite diferenciar espécies distintas que, entretanto, se
assemelham pelo odor e que por isso acabam sendo utilizadas com a mesma finalidade, por
exemplo, na aromatização de alimentos ou bebidas. É o que ocorre em relação ao funcho
(Foeniculum vulgare), na maioria das vezes chamado de erva-doce (Pimpinella anisum) cuja
ocorrência é rara nos quintais e hortas brasileiras. Erva-doce é sinônimo de anis. No entanto,
como anis há ainda a árvore anis-estrelado (Illicium verum Hook. F.) que produz semente com
odor semelhante (FURLAN, 1998).
Na Tabela 1 contém exemplos de plantas medicinais, seus nomes populares e
científicos, o país de origem e suas principais características (FURLAN, 1998, p. 22, 24, 27 e
30).
22
Tabela 1. Exemplos de plantas medicinais, nome popular, nome científico, origem e suas características principais.
Nome popular Nome científico Origem Características principais
Boldo-do-chile Peumus boldus Chile Altura de 1,2 a 1,5 m.
Boldo-baiano Vernonia
condensata África
Altura de 2 a 5 m. Facilidade de
quebrar com o vento.
Boldo-da-terra
(Boldo
brasileiro)
Plectranthus
barbatus ou
Coleus barbatus
África Altura de 1 a 2 m. Folha peluda e flor
azulada.
Arnica Arnica montana Europa Altura menor que 0,5 m. Flores
amarelas e sem caule.
Sapé-macho
(arnica)
Solidago
chilensis
América do
Sul, comum
no Brasil
Cerca de 1m de altura. Flores amarelas
e espontâneas.
Arnica-de-
cerrado
Lichnophora
pinaster
América do
Sul
Encontrada em cerrados e a mais alta
das arnicas. Folhas parecidas com a de
um pinheiro.
Cravorana
(arnica)
Porophyllum
ruderale
América do
Sul, comum
no Brasil
Altura menor que 1m. Folhas com odor
de caju ou pitanga.
Capim-limão Cymbopogon
citratus Stapf Ásia Capim, aroma suave de limão.
Erva-cidreira Melissa
officinalis
América do
Sul
Altura menor que 60 cm. Semelhante à
hortelã e com odor de desinfetante.
Erva-cidreira-
brasileira Lippia alba Europa
Altura cerca de 1m. Flores lilases.
Cresce com facilidade.
Erva-doce Pimpinella
anisum
Egito e
Oriente
Médio
Altura menor que 1m. Flores brancas,
folhas largas, semente mais
arredondada e menor que a do funcho.
Funcho Foeniculum
vulgare Europa
Altura maior que 1m. Flores amarelas.
Folhas finas. Sementes mais alongadas.
As plantas medicinais com valor econômico podem se apresentar com características
arbóreas, arbustivas e herbáceas. As arbóreas são árvores com troncos lenhosos com formação
de copas na parte superior. Sua forma de exploração é feita através do extrativismo, com
manejo adequado, para evitar a extinção da espécie, como quase ocorreu com o ipê-roxo. As
arbustivas são arbustos com troncos lenhosos com porte menor e suas ramificações saem da
base. Esta espécie cresce com mais facilidade do que as arbóreas, porém também requerem
um manejo adequado na sua exploração. As herbáceas têm caule tenro e não superam um
metro de altura. A maioria das espécies deste grupo são consideradas plantas daninhas, por
isto, são raras as que necessitam de autorização do IBAMA para exploração (FURLAN, 1998
e IBAMA).
23
As Tabelas 2, 3 e 4 apresentam, respectivamente, os nomes populares e científicos de
algumas plantas medicinais arbóreas, arbustivas e herbáceas, os principais usos terapêuticos e
observações sobre a ocorrência das espécies no Brasil (FURLAN, 1998, p. 108-118).
Tabela 2. Plantas Medicinais Arbóreas: nome científico, nome popular, sua utilização e observações sobre algumas espécies deste grupo.
Nome
Científico Nome popular Utilização Observações
Amburana
cearensis Amburana
Como broncodilatador e
uso do extrato para o efeito
relaxante.
Ocorrência em várias partes
do Brasil; sua altura pode
chegar até 20 m.
Bauhnia
forficata Unha-de-vaca
Como diurética e laxante.
Também auxilia no
tratamento da diabete.
Encontrada nas regiões Sul
e Sudeste e com altura
entre 5 a 9 m.
Cecropia
adenopus Embaúba
Expectorante e como tônico
cardíaco. Reconhecida a
utilização para o tratamento
da pressão alta.
Pode atingir 7 m de altura;
encontrada em várias partes
do Brasil.
Schinus
terebinthifolius
Aroeira-
vermelha
Para problemas nas vias
respiratórias e urinárias.
Pode ser encontrar do Rio
Grande do Sul até
Pernambuco; sua altura
pode chegar a 10 m.
Também conhecida como
pimenta-rosa.
Tabebuia
avellanedae Ipê-roxo
Como anti-inflamatório,
antibacteriano, antialérgico,
adstringente e cicatrizante.
Ocorrência nas matas
tropicais e até no Rio
Grande do Sul. Pode chegar
a 35 m de altura; dá flor
roxa.
Para compreender como as plantas podem ter propriedades medicinais tão diversas é
necessário conhecer o metabolismo das espécies. Didaticamente, pode-se dividir o
metabolismo das plantas em primário e secundário. No primário, ocorre a produção de
substâncias essenciais ao crescimento e desenvolvimento da planta, como lipídeos, proteínas,
carboidratos, aminoácidos e ácidos nucleicos. No secundário, são produzidas substâncias que
não são essenciais à vida, mas com funções de proteger contra pragas/doenças e de atrair os
polinizadores. É através do metabolismo secundário que são produzidos os princípios ativos.
Estas substâncias químicas podem provocar reações nos organismos, podendo inclusive ser
tóxicos, dependendo da dosagem utilizada. São várias as aplicações dos princípios ativos das
plantas. Sabe-se, por exemplo, que o capim-limão (Cymbopogon citratus) é muito utilizado na
24
apicultura para atrair abelhas e a citronela (Cymbopogon nardus e Cymbopogon winterianus)
produz substância que repele pernilongos (FURLAN, 1998).
Tabela 3. Arbustivas, nome científico, nome popular, sua utilização e observações sobre algumas espécies deste grupo.
Nome
Científico Nome popular Utilização Observações
Datura
suaveolens ou
Brugmansia
suaveolens
Saia-branca
Indicada como bronco
dilatadora e contra inchaços
na perna.
Encontra-se em terrenos
baldios. Sua altura varia de
2 a 3 m. É uma planta
tóxica.
Lantana
camara Cambará
Indicações para as vias
respiratórias.
Encontrada em pastagem e
sua altura variam de 1 a 3
metros. É tóxica ao fígado.
Photomorphe
peltata Caapeba
Folhas: problemas
hepáticos e auxiliar contra a
malária. Raiz: como
desobstruente do fígado e
do baço.
Sua altura varia de acordo
com o ambiente. Pode
chegar até 1,5 m.
Solanum
paniculatum Jurubeba
Contra a dispepsia
(distúrbios da digestão).
Ocorrência em todo o
Brasil. É um arbusto perene
de até 3 m.
Tabela 4. Herbáceas, nome científico, nome popular, sua utilização e observações sobre algumas espécies deste grupo.
Nome
Científico Nome popular Utilização Observações
Centella
asiatica Centela-asiática
Contra celulite, varizes,
eczemas, hematomas e
rachaduras de pele. Efeito
vasodilatador.
Encontrada nas regiões Sul
e Sudeste. Originária da
Ásia. Propaga-se da mesma
maneira que o
morangueiro.
Coronopus
didymus
Mentruz ou
mastruço
Como expectorante e
contra contusões.
Encontrada nas regiões Sul
e Sudeste. É uma planta
quase rasteira.
Matricaria
chamomilla Camomila
Contra cólicas intestinais;
calmante para quadro leve
de ansiedade.
Sua origem é do sul da
Europa e Ásia ocidental. 20
a 50 cm de altura.
Mentha piperita Hortelã pimenta Contra cólicas, flatulência e
problemas hepáticos.
Caule quadrangular e
aroma de menta. Originária
da Europa e Ásia.
Rosmarinus
officinalis Alecrim
No tratamento de distúrbios
circulatórios e digestivos.
Anti-inflamatório. Usado
como condimento.
Arbusto com 1 a 2 m de
altura, originário do
Mediterrâneo.
25
Os princípios ativos podem estar concentrados nas raízes, rizomas, ramos, caules,
folhas, sementes ou flores, e o teor varia de acordo com a época do ano, hora de coleta, solo
ou clima onde vive a planta. São classificados, geralmente, em seis grupos: mucilagens, óleos
essenciais, alcaloides, taninos, bioflavonoides e glicosídios cardiotônicos. A Tabela 5
apresenta os seis grupos de princípios ativos, como eles atuam nos organismos e em quais
espécies de plantas foram encontrados (FURLAN, 1998, p. 40 e 41).
Tabela 5. Grupos de princípios ativos, suas funções e algumas espécies em que podem ser encontrados.
Grupo de princípio
ativo Ação Espécie
Mucilagens
Anti-inflamatória,
antiespasmódica, laxante e
cicatrizante.
Babosa, tanchagem e borragem.
Óleos essenciais Bactericida, anestésica,
antisséptica e vermífica.
Alecrim, tomilho, hortelãs e
sálvia.
Alcaloides Analgésica, anestésica, sedativa e
calmante.
Boldo-do-chile, beladona, café,
maracujá e estramônio.
Taninos Antidiarréica, adstringente e
vasoconstritora.
Goiabeira, barbatimão,
espinheira-santa e pitangueira.
Flavonoides Anti-inflamatória e fortalece os
vasos capilares.
Camomila, calêndula, erva-
baleeira e macela.
Glicosídios
cardiotônicos
Em tratamentos de doenças do
coração. Espirradeira e dedaleira.
Para melhor compreensão dos componentes vegetais e de suas ações, apresentamos, a
seguir, um breve resumo dos principais grupos de princípios ativos (JORGE, 2009, p. 17-18).
Mucilagens – são polissacarídeos complexos formados por açúcares simples e que incham
quando em contato com a água proporcionando um líquido viscoso. São princípios ativos que
protegem as mucosas contra os irritantes locais, atenuando as inflamações. Ocorrem em
diversas plantas, mas somente algumas espécies possuem aplicação terapêutica. São
encontrados em maior quantidade nas sementes de tanchagem e malva, goma arábica e algas
marinhas. Em menor quantidade encontram-se nas raízes tuberosas, folhas suculentas e
plantas de clima árido.
Óleos essenciais – dos princípios ativos, os óleos essenciais formam o grupo mais importante
do ponto de vista econômico. São componentes vegetais extremamente voláteis, dificilmente
solúveis em água, e possuem odor intenso, algumas vezes desagradável. Podem estar contidos
26
em flores, frutos, raízes e folhas das plantas aromáticas. Em algumas espécies como o cedro, a
canela e o linho, encontram-se na casca.
Alcaloides – formam um grupo economicamente importante, pois entram na composição de
inúmeros medicamentos. Plantas produtoras de alcaloides são potencialmente perigosas se
consumidas sem orientação médica, por isso diz-se que são plantas de uso industrial. Podem
causar toxidez mesmo quando usadas em pequenas doses. Como exemplo de plantas
produtoras de alcaloides, temos a coca e o tabaco.
Taninos – são substâncias que protegem o vegetal do ataque de micro-organismos, formigas
ou cupins. A sensação travosa da boca, quando ingerimos planas contendo tanino, é causada
pela precipitação das proteínas na mucosa. Os taninos podem provocar irritação gástrica. São
encontrados em frutos verdes, pó de banana verde, cascas do caule e raiz de algumas espécies
vegetais como: caju roxo, aroeira, nogueira.
Flavonoides – formam um grupo muito extenso com propriedades físicas e químicas muito
variáveis. São compostos que se concentram principalmente nas flores e frutos servindo de
atrativo para insetos e animais dispersores. São os responsáveis pela coloração das flores,
frutos e algumas cascas. Possuem propriedades antioxidantes, retardam o envelhecimento
celular. Tem ação antiespasmódica, ação em determinados distúrbios cardíacos e circulatórios
e em casos de cólicas estomacais.
Glicosídeos – as plantas produtoras de glicosídeos são de uso industrial, pois seu uso sem
orientação médica pode ser perigoso. Apresentam ações e efeitos tão diversos que é difícil
agrupa-los sob um conceito químico.
Vale ressaltar que as vitaminas e os sais minerais encontrados nos vegetais,
imprescindíveis ao bom funcionamento dos organismos, também são exemplos de princípios
ativos.
A extração dos princípios ativos de uma planta medicinal, ou seja, retirar o composto
de dentro de uma célula vegetal para um líquido que pode ser água ou um solvente orgânico
pode ser influenciada por fatores, como “temperatura e tempo de aquecimento”, que devem
ser estudados para que se consiga a maior concentração possível do produto natural no líquido
extrator (SILVA, AGUIAR e MEDEIROS, 2000, p. 20). Além da extração são necessários
processos de fracionamento das misturas e purificação dos constituintes de forma criteriosa e
eficaz, que requerem a atuação de profissionais da área de Química de Produtos Naturais.
A transformação de princípios ativos e seus derivados em fitoterápicos requer uma
grande quantidade de testes e envolve a participação de vários outros profissionais como
químicos, farmacologistas, médicos e farmacêuticos.
27
3- PLANTAS MEDICINAIS E O ENSINO DE QUÍMICA
Kovalski, Obara e Figueiredo (2011) argumentam que as plantas são usadas na
sociedade para uma diversidade de funções, tais como, aquecimento, construções,
alimentação e, principalmente, para fins medicinais, constituindo um conhecimento que faz
parte da nossa cultura e que a escola não deve deixar de lado, daí a necessidade do professor
estabelecer um diálogo entre esses saberes populares e os saberes científicos. As autoras
desenvolveram uma pesquisa com o objetivo de conhecer “como os professores trabalham e
dialogam o saber popular e o conhecimento científico em relação às plantas medicinais com
seus alunos, em uma escola pública de ensino fundamental” (p. 2). No artigo são relatadas as
várias atividades (aulas práticas, aulas de campo, produção de uma horta, visita ao horto de
plantas medicinais, etc.) que os professores realizam com os alunos.
Cougo, Figaro e Lindermann (2013) fizeram um levantamento sobre quantos
trabalhos, que relacionam o tema plantas medicinais ao Ensino de Química, no período de
2003 a 2012, foram divulgados em três eventos nacionais: Reunião Anual Sociedade
Brasileira de Química (RASBQ), Encontro Nacional de Ensino de Química (ENEQ) e
Encontro de Debates sobre o Ensino de Química (EDEQ). Foram encontrados quinze
trabalhos: dez sobre plantas medicinais, quatro sobre chás e um sobre fitoterápicos. Dos
trabalhos citados, sete foram elaborados no Ensino Superior, visando aplicações em aulas no
Ensino Médio ou a produção de material didático com esta finalidade; cinco foram elaborados
por professores e graduandos e aplicados no Ensino Médio, visando à contextualização de
conteúdos de Química Orgânica; dois foram aplicados na Educação de Jovens e adultos (EJA
- Ensino Médio) e um no Ensino Fundamental. O artigo aponta a necessidade de um maior
número de pesquisas e produção de material didático relacionado ao tema.
Ribeiro et al. (2012) ao analisar os textos sobre plantas medicinais nos livros didáticos
de Química do Ensino Médio, constataram que estes não são suficientes para despertar, no
aluno, o interesse e a curiosidade sobre o tema e recomendam que os professores utilizem
livros paradidáticos e artigos na sala de aula e que promovam palestras sobre o tema para
complementar os conteúdos dos livro didático.
Souza e Monteiro (2012) realizaram uma pesquisa com alunos do 9º do Ensino
Fundamental, em Sobral, no Ceará, com o objetivo de identificar o conhecimento dos alunos
sobre as ervas medicinais e se este conhecimento tinha alguma relação com o currículo
ministrado em sala de aula. Concluíram que os conhecimentos prévios dos alunos sobre
28
plantas medicinais e suas atividades terapêuticas se deviam ao aprendizado empírico
repassado por suas mães ou avós e evidenciaram um distanciamento entre o currículo
trabalhado no ensino de Ciências e o conhecimento popular. Foi proposto que os alunos
trouxessem, para a sala de aula, mudas de plantas medicinais, como erva cidreira, capim-
santo, mastruz e arruda, e estas foram identificadas e caracterizadas. As autoras relataram o
entusiasmo com que os alunos realizaram as atividades e recomendaram que o assunto fosse
mais explorado no Ensino de Ciências, sugerindo associá-lo ao tema Transversal Educação
Ambiental ou aos temas de biodiversidade que tratam das relações sociedade-natureza.
Veiga Jr (2008), em pesquisa realizada sobre a utilização de plantas como
medicamentos e sua inserção na cultura popular, analisou mil trezentos e vinte formulários
respondidos pela população do interior do Estado do Rio de Janeiro e por profissionais da área
de saúde e constatou que as plantas medicinais são as principais formas de tratamento para
63% dos entrevistados, apesar de terem disponibilidade de fazer uso de medicamentos
alopáticos. As plantas mais citada foram o boldo brasileiro (Plectranthus barbatus) e a
camomila (Chamomila recutita). Entretanto, a urbanização das cidades e a migração da
população rural para a área urbana ocasionou o esquecimento do conhecimento sobre as
plantas medicinais nas novas gerações devido ao distanciamento das plantas e/ou a falta de
interesse em aprender suas propriedades.
Rodrigues, Anjos e Rôças (2008) relataram o projeto interdisciplinar que foi realizado
com alunos do segundo ano do Ensino Médio, a partir de aulas de Química, tendo tema as
plantas medicinais, com o objetivo de discutir elementos associados à educação ambiental e a
promoção de saúde. O desenvolvimento do projeto possibilitou ao professor da disciplina
mostrar como os compostos químicos de algumas espécies vegetais se estruturam e quais as
suas aplicações medicamentosas. Segundo os autores, o projeto procurou envolver a
comunidade escolar, “criando espaços de vivências significativas, de atitudes reflexivas ...;
além de tornar a escola um espaço de exercícios de valores, tais como cidadania, participação,
solidariedade social e ambiental” (p. 66).
Silva, Aguiar e de Medeiros (2000) relataram a pesquisa-ação levada a cabo por
professores na comunidade do Córrego do Jenipapo em Recife, PE, que teve por objetivos
resgatar saberes populares em Química, aprofundar os conhecimentos científicos na área e
contribuir para uma melhoria da prática comunitária de produção de medicamentos
fitoterápicos, tais como tinturas, pomadas, xaropes e outros formulados. Segundo os autores:
29
O trabalho prático foi iniciado com um levantamento de como as pessoas
usavam as plantas medicinais, registrando as espécies mais usadas e suas
respectivas indicações terapêuticas populares. Objetivou-se com isso a
valorização da cultura popular, devolvendo-se à comunidade orientações que
difundiram o bom uso dos chás, infusos e lambedores; incentivou o cultivo
das plantas medicinais nos quintais das casas e principalmente abriu um
espaço permanente de discussão política sobre a saúde do povo (p. 20).
A pesquisa-ação analisou como fatores químicos (temperatura, pH, etc.) podem
interferir no processo de fabricação de medicamentos caseiros e buscou ainda elementos para
subsidiar o trabalho do professor, “enquanto agente educador, na perspectiva holística de que
a produção comunitária é uma fonte inesgotável de conhecimento e aprendizagem” (p. 21).
Silva, Aguiar e de Medeiros (2000) destacam a relevância de trabalhar com o tema
Plantas Medicinais em sala de aula e apontam algumas abordagens que podem ser feitas no
campo de domínio da Química considerando que os processos extrativos dos princípios ativos
baseiam-se em “diversos mecanismos físico-químicos, tais como, difusão, diluição, fatores
cinéticos de reação (temperatura, tempo de aquecimento, superfície de contato, natureza do
reagente), pressão de vapor, pressão osmótica, etc.” (p.22). Os autores sugerem que o tema
seja utilizado para explanações sobre as características físicas das plantas, as partes que são
empregadas para fazer determinado medicamento fitoterápico, quais são as indicações
terapêuticas e, também, para socializar a importância deste conhecimento através de relatos de
vivências de sua utilização pelos alunos, dentre outras possibilidades que podem ser
trabalhadas pelo professor.
Queiroz, Silva e Lima (2012) propuseram atividades interdisciplinares, entre Química
e Biologia, para estudantes do 2º ano Ensino Médio, da qual também participaram
licenciandos em Química, tendo como tema gerador as ervas medicinais. Por serem
medicamentos será necessário conhecer os critérios de sua utilização e quais são os benefícios
e riscos de cada erva. A proposta desenvolvida teve como objetivo inter-relacionar as
linguagens do senso comum e científica e identificar a importância de eventos químicos e
biológicos no cotidiano, através do preparo de medicamentos naturais de uso externo. A turma
foi divida em grupos e cada um ficou responsável pelo estudo de uma das seguintes plantas:
arnica, alecrim, erva-doce, hortelã, arruda, capim santo, saião. O estudo envolveu investigar
os aspectos: “nome científico, origem, composição, processo de fotossíntese, princípio ativo,
aplicações, benefícios e malefícios que esta planta pode trazer a saúde e a importância dessa
planta em nosso dia-a-dia”. Após a pesquisa, cada grupo se responsabilizou pelo plantio da
espécie estudada. Também foram realizadas, aulas experimentais utilizando essas plantas para
30
a confecção de xampu, pomadas, sabonetes etc. Os autores relataram que alunos se mostraram
mais dispostos durante as aulas de Química e de Biologia, pois a metodologia adotada
despertou curiosidade pelos novos conhecimentos.
Oliveira, Batalini e Santos (2010) relataram suas tentativas de tornar as aulas de
Química mais dinâmicas através da participação dos estudantes no levantamento das plantas
medicinais mais comercializadas pelos raizeiros da feira livre de Barra do Garças, MT. Os
estudantes coletaram informações sobre o nome usual das plantas, suas partes mais utilizadas,
formas de uso mais comuns e indicação terapêutica e, em literatura especializada,
investigaram sobre os constituintes químicos das plantas estudadas. Os autores destacam que
as atividades desenvolvidas, além de despertaram a atenção dos alunos para a cultura local e
para a importância da biodiversidade e seu uso sustentável, possibilitaram a inserção de vários
conteúdos químicos.
Silva (2011), em sua Dissertação de Mestrado, relata o uso da temática ‘A Química
dos Chás’ para a (re)construção do conhecimento de Química Orgânica por estudantes da 3ª
etapa da Educação de Jovens e Adultos (EJA). Segundo a pesquisadora, a temática permitiu o
resgate dos conhecimentos científicos adquiridos nas etapas anteriores, facilitou a
compreensão dos novos conceitos e possibilitou relacionar a Química com o cotidiano dos
alunos.
Cavaglier e Messeder (2014) relatam algumas alternativas de abordagens
interdisciplinares e contextualizadas, por meio do tema plantas medicinais, no Ensino de
Química e Biologia na Educação de Jovens e Adultos. Como, geralmente, o uso de plantas
medicinais faz parte do cotidiano desse público, a ativação de seus conhecimentos prévios
específicos pode contribuir no desenvolvimento de uma prática educativa mais significativa
nas duas disciplinas. Os autores descrevem algumas sugestões de planos de aulas que podem
ser abordadas de maneira independente por professores de Química e de Biologia, tais como,
a produção de fármacos a partir de plantas medicinais e a química dos chás e dos óleos
essenciais das plantas.
Navarro et al. (2007) relataram o projeto realizado, em parceria entre Universidade
Estadual de Ponta Grossa e uma escola de ensino básico, que utilizou o tema ‘Plantas
Medicinais e Aromaterapia’ como uma ferramenta para o ensino de Ciências. A metodologia
utilizada baseou-se no cultivo, coleta e dessecação de plantas medicinais, dentro dos
respectivos parâmetros preconizados na literatura. Como estratégias de ensino, foram
proporcionados aos alunos envolvidos no projeto estudos de Botânica e Morfologia vegetal,
visitas ao horto medicinal e aos laboratórios da Universidade, onde eles acompanharam a
31
extração e caracterização de óleos essenciais obtidos de espécies vegetais. Foram utilizadas as
espécies medicinais Rosmarinus officinalis (Alecrim), Cymbopogon citratus (Capim-limão) e
Caryophyllus aromaticus (Cravo-da-índia), esta última, atualmente, denominada Syzygium
aromaticum. A composição dos óleos essenciais foi analisada por cromatografia. Segundo os
autores o projeto proporcionou aos estudantes vivenciar importantes procedimentos
experimentais na área de Fitoterapia.
Guimarães, Oliveira e Abreu (2000) propuseram uma atividade experimental para
extrair óleos essenciais das plantas através da destilação por arraste a vapor, utilizando
materiais alternativos. Os autores sugerem a comparação, pelos alunos, das essências obtidas
nos experimentos com as essências comerciais e, ao final do artigo, propõem questões para
serem debatidas com os alunos ou para comporem um relatório.
Carvalho e Souza (200-) usaram o tema extração de óleo essencial de eucalipto
(Eucalyptus globulus) visando promover a interdisciplinaridade entre Química e Biologia e
tornar as aulas mais motivadoras e contextualizadas. A extração do óleo essencial de eucalipto
foi realizada através do processo de destilação por arraste a vapor utilizando materiais
alternativos. O óleo essencial obtido da espécie Eucalyptus globulus contém alcoóis, aldeídos,
ésteres e éteres, sendo o cineol ou eucaliptol o seu principal componente. Com o óleo
essencial de Eucalyptus Globulus extraído foi preparado um desinfetante caseiro.
É perceptível que o Ensino de Química está em uma fase de transição, em que se
procura superar o modelo tradicional com o objetivo de melhorar o aprendizado dos
conteúdos, tornando-o mais prazeroso e significativo. Os vários autores apresentados
reforçam a importância de associar a pesquisa ao ensino e de relacionar os saberes populares
aos científicos e, sempre que possível, em envolver além da comunidade escolar, também as
famílias e a comunidade local, visando conhecer e resgatar aspectos culturais que permeiam
as vivências dos estudantes.
Sendo assim, com base em algumas experiências aqui descritas, desenvolvemos uma
proposta didática, que regatasse os saberes sobre plantas medicinais e que favorecesse a
contextualização de conteúdos de Química em aulas no Ensino Médio regular e no NEJA. A
participação do autor no Programa de Bolsas de Iniciação à Docência da Capes, PIBID,
possibilitou a aplicação da proposta em uma escola da rede pública de ensino no Rio de
Janeiro.
32
4- METODOLOGIA
O projeto escolar “Resgatando saberes populares sobre plantas medicinais” foi
desenvolvido por licenciados em Química da UERJ que participam do Subprojeto-Química
do Pibid (Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência da Capes), no Colégio
Estadual Herbert de Souza, situado no bairro do Rio Comprido, no Rio de Janeiro. Os
bolsistas, juntamente com a professora da escola e supervisora Sandra Fructuoso, trabalharam
o tema com estudantes de turmas do 1º e do 3º ano do Ensino Médio Regular e do Nova EJA
(Educação de Jovens e Adultos). Nestas turmas, havia alunos com uma faixa etária ampla, de
14 até 23 anos de idade.
Um dos objetivos do projeto escolar foi o de resgatar saberes populares sobre o uso de
plantas medicinais. Desse modo, em um primeiro momento, após um amplo debate, durante
uma reunião do Pibid, em que participaram a Coordenadora, a Professora de Química do
Colégio (Supervisora) e os bolsistas de iniciação à docência, foi elaborado um questionário
(Anexo 1) sobre o tema “Plantas Medicinais”. Ficou acordado que o questionário seria
aplicado aos alunos durante um tempo de aula da Professora, que deveria ser respondido sem
consulta a qualquer tipo de fonte de informação e recolhido ao término da aula. A aplicação
do questionário teve por objetivo fazer um levantamento sobre os conhecimentos prévios dos
estudantes sobre o tema.
Em um segundo momento, visando o ampliar o nível de conhecimento sobre o tema,
os estudantes foram solicitados a pesquisar sobre os nomes científicos de algumas plantas
medicinais, correlacionando-os com seus nomes populares, e a buscar informações sobre os
benefícios e riscos que o uso das plantas medicinais traz para a saúde. Para nortear a pesquisa
foram feitas algumas questões sobre o tema cujas respostas poderiam ser obtidas por consultas
a diferentes fontes, meios de comunicação e mesmo com os próprios familiares. As questões
de pesquisa estão disponíveis no Anexo 2.
Em um terceiro momento, Professores, estudantes e bolsistas Pibid se organizaram na
produção de uma horta de ervas medicinais no Colégio Estadual Herbert de Souza. A
atividade foi desenvolvida em um sábado letivo, que fora destinado a realização de atividades
pedagógicas extraclasses.
Um segundo objetivo do projeto escolar foi associar os saberes populares relacionados
a plantas medicinais a conhecimentos adquiridos em aulas de Química, como forma de
motivar os estudantes do Ensino Médio para o aprendizado desta Ciência. Para atingir este
33
objetivo os bolsistas Pibid pesquisaram como obter óleos essenciais de cravo-da-índia
(Syzygium aromaticum), canela (Cinnamomum Zeylanicum), capim-limão (Cymbopogon
citratus) e manjericão (Ocimum basilicum) e testaram vários experimentos pensando em
realizá-los na escola. Entretanto, como os estudantes não estavam familiarizados com a
realização atividades experimentais em aulas de Química, foi necessário primeiramente iniciá-
los em operações básicas de laboratório, como filtração, decantação e destilação. Os roteiros
destas atividades práticas encontram-se detalhados no Anexo 3. Esta etapa do projeto exigiu
também que as Professoras (Supervisora e Coordenadora) e os bolsistas reativassem o
laboratório de Química do Colégio, que se encontrava praticamente sem uso e desabastecido.
Retornando aos objetivos do projeto escolar, em um quarto momento, os estudantes
das turmas de 1º ano e 3º ano do Ensino Médio Regular e Nova EJA participaram de
atividades práticas demonstrativas de extração de óleos essenciais de botões florais secos do
cravo-da-índia e de cascas secas da canela.
cravo e de canela cujos roteiros são detalhados nos Anexo 4 e 5.
O projeto escolar foi desenvolvido visado à participação dos estudantes na Feira de
Ciências do Colégio Estadual Herbert de Souza. Desse modo, o tema do projeto foi
desdobrado em propostas de atividades/trabalhos de Química a serem realizados pelos
estudantes e exibidos durante o evento escolar. Foram propostas as seguintes atividades:
produção de repelente contra mosquitos de citronela (Cymbopogon winterianus), de
desinfetante doméstico de eucalipto (Eucalyptus globulus), de sabão de erva-doce (Pimpinella
anisum) cujos roteiros podem ser encontrados, respectivamente nos Anexos 6, 7 e 8, além da
produção de aromatizadores de ambiente elaborados com óleos essenciais extraídos do cravo
e da canela.
Cada uma das cinco turmas da Professora supervisora foi dividida em quatro grupos,
com em média cinco integrantes. Nem todos os grupos trabalharam com o tema plantas
medicinais. Também foram desenvolvidos trabalhos com os temas: “Separação de plásticos
por densidade”, “O amargo sabor do doce”, “Corrosão do ferro”, “Condutividade elétrica dos
materiais”, “O sal nosso de cada dia”, “Métodos para tornar a água potável: filtração”,
“Tratamento de água: da água turva à água clara” e “Extrato de repolho roxo como indicador
de pH”.
Em cada turma foi apresentada uma lista com os temas pré-selecionados, sendo um
deles relacionado às plantas medicinais. E foi realizado um sorteio. Nesta Monografia são
relatadas as ações planejadas e os resultados da aplicação dos subtemas “Produção de
repelente de citronela” e “Produção de sabão de erva-doce”.
34
As ações planejadas para o desenvolvimento dos trabalhos tiveram por objetivo
incentivar o interesse pela Química e contextualizar o ensino de funções orgânicas. As
atividades foram realizadas, em quatro encontros, no horário das aulas de Química. Os grupos
deveriam apresentar seus trabalhos, no dia da Feira de Ciências, para os colegas e professores,
na forma de cartazes explicativos e também, exibir os produtos, repelente de citronela e o
sabão de erva-doce. Descremos a seguir, como foram desenvolvidos os dois subtemas.
4.1- Desenvolvimento do Subtema “Produção de repelente contra mosquitos de
citronela”
No primeiro encontro, foram apresentados os objetivos do trabalho e os alunos foram
orientados a realizar, como atividade domiciliar, consultas para responder as seguintes
perguntas:
1. Você conhece a planta citronela? Qual é a sua aparência? Pesquise imagens dessa planta.
2. Qual é o nome científico da citronela?
3. .Quais são os seus principais princípios ativos? Escreva suas estruturas químicas;
identifique as funções químicas presentes em suas fórmulas e apresente algumas de suas
propriedades físicas.
4. Quais são as alegações terapêuticas da citronela?
No segundo encontro foi feita a leitura e a discussão do texto “Cuidados com os
produtos químicos domésticos”, do livro didático Química & Sociedade (SANTOS et al.,
2008, p.304-305). As principais questões abordadas nesse debate foram: quais são os
cuidados básicos para prevenir uma intoxicação? Há restrições ao uso de repelentes contra
insetos? Quem pode usar?
No terceiro encontro foi realizada com os estudantes a atividade experimental de
produção do repelente de citronela (Anexo 6). Durante a execução do procedimento foram
ainda levantadas questões sobre porque o repelente deve ser guardado em frasco escuro e
sobre como poderíamos fazer o teste cutâneo do repelente, para verificar se há riscos de ele
provocar reações alérgicas no usuário.
No quarto encontro foram dadas orientações sobre como produzir um cartaz em
cartolina e sobre como fazer a apresentação do trabalho.
35
4.2- Desenvolvimento do Subtema “Produção de repelente de sabão de erva-doce”
No primeiro encontro, foram apresentados os objetivos do trabalho e a leitura e a
discussão do texto “Lipídios” do livro didático Química & Sociedade (SANTOS et al., 2008,
p. 519-521). Foram abordados os conceitos de lipídios e ácidos graxos e discussões sobre o
consumo de alimentos gordurosos. Como atividade domiciliar, os estudantes foram orientados
a realizar consultas para responder as perguntas abaixo:
1. Você conhece a planta erva-doce? Qual é a sua aparência? Pesquise imagens dessa
planta.
2. Qual é o nome científico da erva-doce?
3. .Quais são os seus principais princípios ativos? Escreva suas estruturas químicas;
identifique as funções químicas presentes em suas fórmulas e apresente algumas de
suas propriedades físicas.
4. Quais são as alegações terapêuticas da erva-doce?
5. Como é feito o sabão? O que é uma reação de saponificação?
No segundo encontro foi feita a leitura e a discussão do texto “A invenção do sabão e
do detergente”, do livro didático Química & Sociedade (SANTOS et al., 2008, p. 286). Os
dois principais tópicos abordados nesse debate foram: como pode ser feito um sabão com
aroma de erva-doce? Quem pode usar este sabão?
No terceiro encontro foi realizada atividade experimental demonstrativa de fabricação
de um sabão domestico, a partir de óleo de cozinha usado, aromatizado com erva-doce
(Anexo 8). Durante a realização foram abordadas questões sobre o preparo do sabão como:
quais reagentes são indispensáveis? Qual a importância dos demais reagentes?
No quarto e último encontro, os estudantes foram orientações sobre como produzir um
cartaz em cartolina e sobre como fazer a apresentação do trabalho.
No próximo capítulo apresentamos os resultados e as discussões sobre a aplicação do
projeto.
36
5- DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
5.1- A avaliação dos conhecimentos prévios
O questionário foi respondido por um total de oitenta e nove estudantes de turmas do
Ensino Médio Regular (1° e 3° ano) e da Nova EJA. Após a tabulação constatamos que, 48%
desses alunos afirmaram que fazem ou já fizeram uso de uma planta como medicamento e
foram citadas vinte espécies diferentes, sendo boldo (35%), camomila (11%) e erva cidreira
(10%) as mais citadas. A figura 1 apresenta a distribuição das respostas elaboradas pelos
estudantes para a questão 1.
Figura 1. Perfil de respostas dos estudantes em relação à questão 1 que perguntava sobre o
uso, por eles próprios, de plantas como medicamento.
Em relação à pergunta 2, “Em sua família é comum o uso de plantas medicinais?”,
42% dos estudantes confirmaram a utilização em suas famílias, tendo sido citadas vinte e três
espécies diferentes de plantas, dentre elas a mais citada foi o boldo (37%). O padrão de
respostas dos estudantes para essa questão é representado na figura 2.
Somente 27% dos estudantes afirmaram ter em sua casa algum pé de planta medicinal.
Foram nomeadas as dez espécies seguintes: boldo (56%), erva cidreira e saião (9%), assa-
peixe e babosa (6%), hortelã, erva doce, capim-limão, goiabeira (brotos) e aroeira (3%, cada).
Em relação à quarta questão, que solicitava ao estudante citar os nomes de plantas
medicinais que ele conhece, em um universo de cento e trinta e sete respostas plausíveis,
foram registradas vinte e cinco citações de espécies diferentes, após ter sido descartada a
37
duplicidade de nomes para capim-limão/capim-santo (Cymbopogon citratus), erva de santa
maria/mastruz (Chenopodium ambrosioides) e hortelã/menta (plantas do gênero Mentha). As
cinco plantas medicinais mais citadas foram: boldo (33%), erva cidreira (11%), camomila
(7%), arnica (6%) e babosa (6%).
Figura 2. Perfil de respostas dos estudantes em relação à questão 2 que perguntava sobre o
uso de plantas medicinais pelos familiares dos estudantes.
Objetivando conhecer sobre as concepções alternativas dos estudantes sobre o uso
terapêutico das plantas, a questão 4 solicitava também que o estudante informasse o(s)
problema(s) de saúde para os quais as plantas medicinais citadas por ele eram indicadas. Os
dados comparativos entre as concepções dos estudantes e as alegações terapêuticas (CRF-SP,
2012) para dez das espécies citadas são apresentadas na tabela 6.
Ao confrontar as concepções dos estudantes, oriundas do uso tradicional das plantas
medicinais, com recomendações farmacêuticas, constatou-se uma similitude surpreendente.
Diferenças são observadas em relação ao uso da babosa que os estudantes associam ao uso em
‘shampoos’ e cremes para o cabelo, mas que se caracteriza na fitoterapia por sua ação
cicatrizante. As mentas são, com frequência, utilizadas em balas e pastilhas para a garganta,
por sua ação refrescante, e para perfumar o hálito, mas não apresentam a ação anti-
inflamatória alegada pelos estudantes.
Destaca-se o uso predominante do boldo, do qual existem várias espécies. No Brasil, o
boldo-da-terra, Coleus barbatus ou Plectranthus barbatus, é a espécie mais comum nos
quintais, mas o boldo-do-chile, Peumus boldus, importado, pode ser facilmente adquirido nas
farmácias (FURLAN, 1998). É interessante ressaltar que a camomila, bastante citada pelos
38
estudantes, tem cultivo pouco comum nos quintais, o que remete a aquisições, no comércio,
na forma desidratada, para uso em chás.
Tabela 6. Plantas medicinais, frequência com que foram citadas, concepções dos estudantes sobre seus usos terapêuticos e alegações terapêuticas
Planta
Medicinal
Frequência
(%)
Concepções dos
estudantes Alegações terapêuticas
Boldo 33
Dores no estômago;
dores no corpo; males
do fígado; prisão de
ventre; enjoo; ressaca e
cólica.
a Dispepsia (distúrbios digestivos) e
hipotensão; b
dispepsia, ação colerética (aumenta a
produção de bile) e colagoga (auxilia
a sua eliminação).
Erva
cidreira 11
Tranquilizante; dor de
cabeça e cólica.
Quadros leves de ansiedade e insônia,
como calmante suave. Cólicas
abdominais.
Camomila 7 Tranquilizante e anti-
inflamatório.
Quadros leves de ansiedade, como
calmante suave. Cólicas intestinais.
Processos inflamatórios da boca e
Gengiva.
Arnica 6
Dor muscular, anti-
inflamatório e
analgésico.
Anti-inflamatório em traumas,
contusões e edemas por fraturas e
torções; em hematomas e equimoses.
Babosa 6 Tratamento do cabelo Cicatrizante
Broto de
goiabeira 4 Diarreia
Diarreias não infecciosas; pele e
mucosas lesadas, como antisséptico.
Romã 4 Garganta. Tosse.
Inflamações e infecções da mucosa da
boca e faringe como anti-inflamatório
e antisséptico
Hortelã e
menta 4
Anti-inflamatório para a
garganta. Analgésico.
Cólicas, flatulência e problemas
hepáticos.
Aroeira 3 Cólica; dor na coluna e
para banhos
Inflamação vaginal, leucorréia, como
hemostático, adstringente e
cicatrizante (uso em banhos)
Erva-doce 3
Desconforto no
estômago e cólica.
Tranquilizante.
Dispepsia (distúrbios digestivos),
cólicas gastrointestinais e, como
expectorante.
aBoldo-da-terra (Plectranthus barbatus);
bboldo-do-chile (Peumus boldus)
39
5.2- Ampliando o conhecimento sobre o tema plantas medicinais
A seguir apresentaremos algumas das respostas atribuídas pelos estudantes ao
questionário sobre plantas medicinais, que podiam ser elaboradas com auxílio de fontes
consulta.
A pergunta 1: “O que uma planta medicinal tem que as outras plantas não têm?” foi
respondida por um total de cinquenta e um estudantes de turmas do Ensino Médio Regular (1°
e 3° ano) e da Nova EJA. Quarenta e seis respostas foram classificadas com adequadas e
quatro como inadequadas. As respostas consideradas adequadas foram enquadradas em uma
série formada por nove tipos de respostas, listadas das mais simples para as mais elaboradas
conceitualmente, como mostra a tabela 7. A série de respostas inicia com uma afirmação
genérica [as plantas medicinais] “Trazem benefícios à saúde”, passa por uma explicação que
atribui a presença de determinadas “substâncias” que podem “curar”, “amenizar as dores”
ou “que têm ação farmacológica” e termina com afirmação “Possuem princípios ativos...”.
A natureza das respostas dos estudantes dependeu do tipo de material consultado e do nível de
compreensão deles sobre o assunto. Destaca-se a maior frequência (%) para as respostas do
tipo “Possuem substâncias que têm o efeito de amenizar as dores”.
Tabela 7. Categorização das respostas dos estudantes em relação a pergunta “O que uma
planta medicinal tem que as outras plantas não têm?”
Tipos de respostas dos estudantes Frequência (%)
Trazem benefícios à saúde 5,9
Servem para a cura de certas doenças 5,9
Ajudam no tratamento de doenças 7,8
Servem para a fabricação de vários tipos de remédios 7,8
Têm funções biológicas importantes para a defesa do organismo 2,0
Contêm substâncias que podem ser usadas diretamente para a cura 15,7
Possuem substâncias que têm o efeito de amenizar as dores 21,6
Possuem substâncias que têm ação farmacológica 11,8
Possuem princípios ativos que ajudam no tratamento das doenças 11,8
Respostas inadequadas 9,8
40
Em relação ao item 2: “Dê o nome popular de duas plantas medicinais, a sua escolha, e
pesquise quais os seus nomes científicos” foram obtidas oitenta respostas adequadas, que
foram classificadas em vinte e oito nomes populares de plantas medicinais, de trinta e três
espécies diferentes. A tabela 8, lista, em ordem alfabética, os nomes populares das plantas
medicinais, os nomes científicos e o número de vezes em que foram citadas pelos alunos.
Observa-se que o boldo aparece como a mais citada.
Tabela 8. Nomes populares e científicos de plantas medicinais e frequência com que foram citadas pelos alunos.
Ordem Plantas Medicinais Frequência
(numérica) Nome popular Nome Científico
1 Abacateiro Pesea gratíssima 3
2 Agrião Nanturtum officialis 4
3 Alecrim Rosmarinus officinalis 6
4 Alcachofra Cynana scolymus 5
5 Alfazema Lavandula officinalis 3
6 Alho Allium sativum 1
7 Arnica Arnica montana 2
8 Aroeira Schinus Terebenthifolius 1
9 Arruda Ruta graveolens 5
10 Assa Peixe Vernomia polyantes 1
11 Babosa Aloe vera 1
12 Barbatimão Stryphnoden drom adstrigens 1
13 Boldo
Peumus boldus (6); Caleus barbatus (4) e
Plectranthus barbatus (3) 13
14 Canela Cinnamomum verum 2
15 Carqueja Baccharis trimera 1
16 Catuaba Trichilia catingua 1
17 Embaúba Cerepia hololuca (2), Celropia glazidrei (2) 4
18 Erva Cidreira
Caleus amdoimius (1); Melissa officinalis (2)
e Lippia Alba (3) 6
19 Erva São João Ageratum conyzoides 4
20 Eucalipto Eucalyptus globulus 1
21 Mastruz Chenopodium ambrosioides 1
22 Guaco Mikania glomerata 1
23 Hortelã Mentha crispa 1
24 Pata de vaca Bauhihia forficata 5
25 Planta Vassoura Baccharis dracunculifolia 4
26 Romã Punica granatum 1
27 Tomate Salanum lycopersicum 1
28 Unha de gato Morinda citrifolia 1
41
Em relação a terceira pergunta, “Quais os benefícios que o uso das plantas medicinais traz
para a saúde?”, as respostas foram muito parecidas com as da primeira pergunta, tendo sido
apontado que “ajudam a combater as doenças” “contribuem no tratamento de diversas
doenças” , “curam doenças”, etc. Destacamos, entretanto, outros tipos de respostas que
consideramos mais significativas, porque mereceram maior atenção do professor e uma
discussão mais ampla.
- “afetam menos a saúde porque vêm da natureza”;
- “possuem uma composição natural”;
- “podem ser boas à saúde porque não causam rejeição pelo organismo”;
- “podem ser tão eficazes quanto os medicamentos químicos”.
As respostas evidenciaram concepções do senso comum de que produtos naturais são
sempre bons para a saúde, independente de sua composição química, procedência,
higienização, etc.
Em relação à quarta questão, “Muitas pessoas se medicam com plantas medicinais por
conta própria. Quais os riscos desta ação?”, foram apontados: alergias, males à saúde, efeitos
colaterais, ação tóxica, danos ao organismo, risco de morte, etc. Nossos destaques são para as
cinco respostas a seguir.
- “às vezes pode fazer sentido dependendo da planta medicinal que se usa, mas também
pode ser fatal”;
- “pode até se medicar com plantas, mas se não forem limpas vai curar de uma doença e
causar outra”;
- “o risco seria o aumento da doença”;
- “podem acontecer sérios riscos à saúde, algumas plantas podem ser tóxicas”;
- “muitas das vezes usam sem saber qual é o efeito da planta” e
- “a automedicação”.
Nas respostas estão presentes noções dos riscos causados pela automedicação, mesmo
em se tratando do uso de plantas medicinais, tais como causar ou agravar uma doença, devido
à toxicidade de algumas espécies. Como afirmam VEIGA Jr, PINTO e MACIEL (2005):
Comparada com a dos medicamentos usados nos tratamentos convencionais,
a toxicidade de plantas medicinais e fitoterápicos pode parecer trivial. Isto,
entretanto, não é verdade. A toxicidade de plantas medicinais é um problema
sério de saúde pública. Os efeitos adversos dos fitomedicamentos, possíveis
42
adulterações e toxidez, bem como a ação sinérgica (interação com outras
drogas) ocorrem comumente. (p. 519-520).
Na última questão, “Podemos substituir os remédios por plantas medicinais?”,
destacamos a seguintes respostas:
- "Sim, remédios caseiros, se forem usados corretamente, podem ajudar no combate de
algumas doenças”.
- “Sim, pois fazem o mesmo efeito”.
- “Sim, na maioria das vezes podemos, basta ter o conhecimento”.
- “Se o efeito for maior sim, mas só se a planta for bem cuidada.”
- “Depende do que estivermos sentindo, mas as plantas medicinais servem de remédio para
muita coisa.”
- “Não, porque nem sempre vamos atingir o resultado que desejamos”;
- Não, os "remédios naturais" podem prejudicar a saúde, pois alguns podem conter
substâncias tóxicas e
- “Não, só o médico pode identificar a causa exata e prescrever o tratamento adequado.”
A diversidade de respostas dos estudantes aponta para a importância do Professor
promover leituras, discussões, debates, sobre o tema plantas medicinais, abordando os riscos e
os benefícios de seu uso. As perguntas favoreceram discussões sobre o uso consciente de
plantas medicinais e medicamentos fitoterápicos e alopáticos visando promover a boa saúde.
5.3- A produção de uma horta de ervas medicinais
Como muitos estudantes e também professores tinham dificuldades de reconhecer as
diferentes espécies de plantas medicinais, optou-se por produzir uma horta na escola. Na
manhã de um sábado letivo, já previsto no Calendário escolar, professores, estudantes e
licenciandos se organizaram na produção de uma horta de ervas medicinais. Foram plantadas
mudas de hortelã, manjericão, orégano, alecrim, gengibre, boldo, capim-limão, citronela,
erva-cidreira, etc. A figura 3 apresenta um conjunto de fotos de mudas plantas na horta de
ervas medicinais do Colégio Estadual Herbert de Souza.
43
Figura 3. Imagem de algumas espécies de ervas medicinais da horta produzida na escola. Da
esquerda para direita, boldo, hortelã, capim-limão, orégano, manjericão e gengibre.
(Fonte: https://pibidquiuerj.wordpress.com/category/projetos-desenvolvidos/)
5.4- As atividades desenvolvidas visando a Feira de Ciências
5.4.1- A extração de óleos essenciais de cravo-da-índia e de canela
Foram realizados experimentos demonstrativos de extração de óleo essencial de cravo-
da-índia e de canela pelo processo de destilação por arraste a vapor. A aparelhagem utilizada
pode ser visualizada na figura 4.
Figura 4. Destilação por arraste a vapor
44
A extração via processo de destilação por arraste a vapor permite a separação de
constituintes voláteis, imiscíveis na água, a uma temperatura abaixo do seu ponto de ebulição,
o que evita a sua decomposição térmica. Da destilação foi obtida uma emulsão esbranquiçada
(mistura de óleo essencial e água). A adição de solução de cloreto de sódio saturada à emulsão
permitiu separar, por decantação, o óleo da água.
Os principais constituintes dos óleos essenciais de cravo-da-índia (Syzigium
aromaticum) e de canela (Cinnamomum Zeylanicum), responsáveis pelos seus odores
característicos, são, respectivamente, o eugenol (4-alil-2-metoxifenol) e o cinamaldeído (3-
fenil-2-propenal).
OH
O
CH3
CH2
O
H
Eugenol cinamaldeído
5.4.2- Desenvolvimento dos Subtema “Produção de repelente de citronela”
Este subtema foi desenvolvido por um grupo de cinco alunas da turma 3012, que se
empenharam bastante na elaboração do trabalho para a Feira de Ciências. Nos encontros, o
grupo apresentou várias ideias e fez perguntas interessantes que provocaram a busca de novos
conhecimentos sobre o tema.
Algumas sugestões, das alunas, que se concretizaram no trabalho final:
- “...colocar uma imagem colorida da citronela no cartaz, para facilitar a explicação da
aparência para que aqueles que não conhecem...”.
- “Podemos fazer desenhos para representar que é um repelente de mosquitos...”.
Figura 5. Imagem escolhida pelos alunos para o cartaz sobre a citronela (Cymbopogon
nardus). (Fonte: http://www.remedio-caseiro.com/citronela-beneficios-e-propriedades/)
45
As respostas das alunas referentes às consultas solicitadas, após correções e discussões
dos textos, são citadas abaixo:
- “Achamos duas espécies de citronela a Cymbopogon winterianus e Cymbopogon nardus”.
- “Os principais princípios ativos são o citronelol e o geraniol. O citronelol é um álcool
monoterpenóide, insaturado, acíclico, derivado do citronelal por redução. Sua fórmula
molecular é C10H20O. Ele dá ao óleo de citronela seu odor de limão acentuado. O geraniol,
também chamado rhodinol, é um álcool monoterpenóide, com uma insaturação a mais que o
citronelol. Sua fórmula molecular é C10H18O. Pesquisas têm evidenciado que o geraniol é um
efetivo repelente de insetos”.
Abaixo, estão representadas as fórmulas estruturais do citronelol e do geraniol.
CH3
CH3 CH3
OH
CH3
CH3 CH3
OH
Citroneol Geraniol
Os constituintes mais comuns de óleos essenciais com propriedades repelentes, usados
no combate a vários insetos, são os monoterpenos limoneno, terpinoleno, citronelol e
citronelal e a cânfora (JANTAN E ZAKI, 1998 apud MACIEL et al., 2010). A figura 6
apresenta as fórmulas estruturais desses compostos.
Figura 6. Estruturas dos principais constituintes presentes em óleos essenciais repelentes de
insetos. (Fonte: http://www.scielo.br/img/revistas/rbpm/v12n1/a15fig01.gif/)
Para a pergunta “Quais são os cuidados básicos para prevenir intoxicação?” foram
dadas as seguintes respostas:
46
- “Para evitar intoxicação tem que ler e seguir as instruções dos rótulos”.
- “Minha mãe usa luvas quando vai lavar a louça por causa da alergia”.
- “Não misturar materiais de limpeza diferentes para limpar melhor”.
Estas respostas são coerentes, pois estão inclusas nas informações descritas no texto
“Cuidados com os produtos químicos domésticos”, do livro didático Química & Sociedade
(SANTOS et al., 2008, p.304-305). O livro também sugere como resposta “deve-se usar a
quantidade a indicada no produto, assim como, fazer a diluição seguindo as indicações do
rótulo” e “utilizar máscaras em caso de produtos de limpeza voláteis ou que apresentam
odores fortes”.
Em relação às questões “Há restrições ao uso de repelentes contra insetos? Quem pode
usar?” se deu o seguinte diálogo.
Aluna A: - “Sim, as crianças não podem usar.”
Aluna B: - “E, as grávidas também não.”
Aluna A: - “Então a “D” não pode!”
Aluna C- “Os animais também não podem usar.”
As respostas são coerentes com o texto, pois no quinto parágrafo reforça que evite o
uso de inseticidas domésticos na presença de crianças e dos bichos de estimação. A aluna
“D”, uma das cinco integrantes do grupo, estava grávida na época.
No terceiro encontro foi realizada a atividade experimental de preparo de “Repelente
de caseiro de citronela” (Anexo 6). Os alunos tiveram a oportunidade de manusear e sentir o
aroma da citronela (Cymbopogon winterianus) ao preparar a tintura. A tintura de citronela
foi obtida pela imersão de folhas secas e trituradas em solução hidro-alcoólica, por um
período de aproximadamente vinte dias. O concentrado de citronela foi diluído com álcool de
cereais para produzir o repelente contra mosquitos. Para agilizar o preparo do repelente, foi
trazida uma tintura de citronela, elaborada, há cerca vinte dias atrás, no laboratório de
Química Geral e Inorgânica, do Instituto de Química - UERJ. Em seguida, foi realizada a
etapa final do procedimento (diluição em álcool de cereais e glicerina), para o preparo de
duzentos mililitros de repelente. Para evitar a intoxicação, a aluna “D” não participou da
elaboração do repelente nem do teste cutâneo. As alunas já haviam sido informadas sobre o
teste cutâneo, que é realizado quando se quer testar se há algum risco de ser alérgico a certo
47
produto, ao lerem o texto “Cuidados com os produtos químicos domésticos”, do livro didático
Química & Sociedade (SANTOS et al., 2008, p.304-305).
Os óleos essenciais, em geral, na presença de oxigênio, luz, calor, umidade e metais
sofrem reações de degradação, por isso a tintura de citronela e o repelente devem ser
armazenados em fracos escuros, na ausência de luz e calor (SIMÕES et al., 2004 apud
GUIMARÃES et al., 2008).
O grupo elaborou um cartaz contendo o roteiro experimental, informações relevantes
sobre a citronela, os nomes e as estruturas dos seus princípios ativos. O cartaz e o repelente
foram exibidos na Feira de Ciências do Colégio.
5.4.3- Desenvolvimento do Subtema “Produção de sabão de erva-doce”
Este subtema foi desenvolvido com um grupo de cinco alunos da turma 3011. No
segundo encontro, eram almejadas as seguintes respostas, referentes às consultas: nome
científico da erva-doce é Pimpinella anisum; seu principal princípio ativo é o anetol, um éter
aromático de fórmula molecular C10H12O. A fórmula estrutural do anetol ou trans-1-metoxi-
4-(prop-1-enil)benzeno está representada abaixo.
Anetol
Como alegações terapêuticas da erva-doce poderia ser citada sua eficiência no
combate à dispepsia (distúrbios digestivos), cólicas gastrointestinais e sua ação expectorante
(CRF-SP, 2012, p.51). É muito comum a sua utilização na produção de sabões e sabonetes
devido ao seu odor ser considerado agradável pela maioria das pessoas, mesmo em elevadas
concentrações.
O sabão é um produto industrializado obtido a partir da reação química entre uma base
forte (hidróxido de sódio, NaOH) e um éster de ácido graxo (ácido carboxílico de cadeia
linear longa, com um número par de átomos de carbono, que pode variar de dez a vinte),
existente em óleos ou gorduras. O processo químico é denominado saponificação e os
produtos, sabões, são sais derivados dos ácidos carboxílicos. A figura 7 apresenta um
esquema da saponificação de um triéster de ácido graxo com solução de hidróxido de sódio.
CH3
OCH3
48
Figura 7. Reação de saponificação.
O sabão de erva-doce foi preparado em uma aula demonstrativa pelo bolsista de
Iniciação à Docência. O roteiro da atividade experimental está descrito no Anexo 8. A figura
8 exibe imagens de amostras do sabão produzido.
Figura 8. Sabão de Erva-doce em formas diferentes. (Fonte: Arquivo pessoal).
Assim como ocorreu com outro grupo, desde o primeiro encontro, os alunos foram
orientados sobre como fazer a apresentação do trabalho na Feira de Ciências e como elaborar
o cartaz, que deveria conter o roteiro experimental resumido, informações relevantes sobre a
planta medicinal e a estrutura química do princípio ativo. A figura 9 mostra o cartaz
apresentado pelo grupo no dia da Feira de Ciências, no Colégio Estadual Herbert de Souza.
No capítulo a seguir, apresentamos as Considerações finais sobre o projeto escolar
“Resgatando saberes populares sobre plantas medicinais” e sobre esta Monografia.
49
Figura 9. Cartaz, em cartolina, produzido pelo grupo sobre o sabão de erva-doce
6- CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esta Monografia me possibilitou divulgar as experiências vivenciadas na aplicação de
um projeto didático em uma escola pública, do qual tive a oportunidade de participar como
bolsista de Iniciação à Docência do PIBID-QUÍMICA-UERJ. O projeto didático “Resgatando
saberes populares sobre plantas medicinais” concretizou um trabalho interdisciplinar entre
Química e Biologia. O interesse dos estudantes pelo tema motivou a busca de informações e o
planejamento de atividades práticas que permitiram correlacionar saberes populares com
conhecimentos escolares em ambas disciplinas. O projeto culminou com a apresentação em
sala de aula, pelos próprios estudantes, dos resultados de suas pesquisas e dos produtos
elaborados.
Para nós estudantes de Licenciatura em Química, o desenvolvimento de um projeto
escolar com estudantes com uma faixa etária tão diferenciada, uma vez que envolveu alunos
do Ensino Médio Regular e do NEJA, foi importantíssimo, pois vivenciamos formas mais
dinâmicas e contextualizadas de ensinar. Agradeço aos colegas bolsistas de Iniciação à
Docência e aos Professores e alunos do Colégio Estadual Herbert de Souza o apoio e a
oportunidade de realizar este trabalho.
50
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC) no Sistema Único de Saúde.
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53
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cura segura? Química Nova, v. 28, n. 3, p. 519-528, 2005.
54
GLOSSÁRIO
Adstringente Protege o tecido ou diminui a eliminação de substâncias.
Analgésico Diminui ou suprime a dor.
Anestesia Perda parcial ou total da sensibilidade para um propósito.
Anestésico Ação ou medicamento que anestesia.
Ansiedade Estado afetivo quando há sentimentos de insegurança.
Antialérgico Controla uma alergia.
Antibacteriano Que combate bactéria.
Antidiarreico Que combate a disenteria.
Antiespasmódico Relaxa as contrações dos músculos lisos.
Anti-inflamatório Combate inflamações.
Antisséptico ou Inibe o desenvolvimento de bactérias, fungos e outros agentes
antimicrobiano microbianos.
Apicultura Criação de abelhas.
Bactericida Combate a flora bacteriana.
Broncodilatador Dilata os brônquios.
Calmante Relaxa ou suprime a irritabilidade.
Celulite Inflamação do tecido celular.
Cicatrizante Que favorece a cicatrização.
Cólica Dor abdominal intensa.
Condimento Substância que serve para temperar, aromatizar ou colorir
alimentos.
Contusão Uma lesão causada por colisão.
Desobstruente Soluciona uma obstrução.
Diabete Uma síndrome metabólica de origem múltipla, decorrente da
falta de insulina e/ou da incapacidade de a insulina exercer
adequadamente seus efeitos, causando um aumento da glicose
no sangue.
Disenteria Doença caracterizada por diarreia e cólicas.
Dispepsia Distúrbios da digestão.
Diurético Facilita a secreção urinária.
Eczema Inflamação na pele.
55
Enjoo Sensação desagradável no estômago que causa desconforto.
Etnobotânica Parte da Botânica que estuda o uso das plantas pelos povos.
Expectorante Facilita a ação de expelir, com tosse, algum material proveniente
do pulmão, brônquios ou traqueia.
Fármaco Substância utilizada como medicamentos
Farmacologia Parte da medicina que estuda todos os aspectos dos
medicamentos.
Farmacopeia Coleção ou repositório de receitas de medicamentos básicos ou
gerais.
Fitoterapia Tratamento de doenças com utilização de plantas.
Fitoterápico Concernente à fitoterapia.
Flatulência Acúmulo de gases no tubo digestivo.
Gastrointestinal Relativo aos órgãos estômago e a intestino.
Hematoma Tumor formado de sangue derramado.
Hemorragia Consequência quando ocorre um derramamento de sangue dos
vasos sanguíneos.
Hemostático Que combate a hemorragia.
Hepático Relacionado ao fígado.
Hipotensão Diminuição abaixo do normal, da pressão, no interior de um
corpo.
Inchaço Acúmulo de líquidos nos tecidos.
Isopreno Um líquido incolor, o 2-metilbutadieno e sua fórmula molecular
é C5H8.
Laxativo ou Facilita a evacuação intestinal.
laxante
Leucorréia Corrimento branco do órgão sexual feminino.
Monoterpeno Designação genérica dos terpenos com dez átomos de carbono,
que se pode considerar resultantes da união de dois isoprenos.
Monoterpenoide Semelhante a estrutura do monoterpeno.
Pressão arterial Aquela que o sangue exerce sobre as paredes arteriais.
Prisão de ventre Dificuldade persistente para defecar.
Profilaxia Parte da medicina que tem por objetivo medidas preventivas
contra doenças.
Profilático Relativo à profilaxia.
56
Ressaca Indisposição oriunda do consumo exagerado de bebidas
alcoólicas.
Sedativo Ação ou medicamento que acalma.
Terapêutica Parte da medicina que estuda meios para aliviar ou curar
pacientes doentes.
Terapêutico Relativo à terapêutica.
Terpeno Designação genérica de determinados hidrocarbonetos
insaturados, encontrados em resinas e óleos essenciais e cuja
biossíntese acarreta a união de dois ou mais fragmentos
derivados do isopreno.
Terpenoide Semelhante a estrutura do terpeno.
Tintura Álcool carregado dos princípios ativos de uma ou mais
substâncias de natureza vegetal, animal ou mineral.
Tônico Que fortifica o organismo.
Toxidade Propriedade que determinadas substâncias causa um efeito
nocivo.
Tranquilizante Medicamento que exerce a ação de tranquilizar sobre a
ansiedade.
Varizes São veias dilatadas e deformadas.
Vasoconstritor Causa a diminuição no diâmetro dos vasos sanguíneos.
Vasodilatador Causa o aumento no diâmetro dos vasos sanguíneos.
Vermífugo Que afugenta ou elimina os vermes.
Fontes consultadas:
FERREIRA, AURÉLIO B. de H. Novo dicionário Aurélio da língua portuguesa. 4. ed.
Curitiba: Ed. Positivo, 2009.
FURLAN, Marcos R. Cultivo de plantas medicinais. Coleção Agroindústria, v.13. Cuiabá:
SEBRAE/MT, 1998.
57
ANEXO 1
Colégio Estadual Herbert de Souza
Investigando o Uso de Plantas Medicinais
Aluno(a):________________________________________Nº _____T._______
1) Você já fez ou faz uso de alguma planta como medicamento? Sim ou não? R: _________
Caso a resposta seja sim, quais plantas você usou?
R:_________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
2) Em sua família é comum o uso de plantas medicinais? Sim ou não? R: _____________
Caso a resposta seja sim, quais são as mais utilizadas?
R:_________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
3) Em sua casa você tem algum pé de planta medicinal? Sim ou não? R: _____________
Caso a resposta seja sim, quais?
R:_________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
4) Escreva na coluna à esquerda, do quadro abaixo, os nomes das plantas medicinais que você
conhece. Caso saiba, escreva na coluna à direita, os problemas de saúde para quais essas
plantas são indicadas.
Nº Planta medicinal Indicada para...
1
2
3
4
5
6
58
ANEXO 2
Colégio Estadual Herbert de Souza
Pesquisa sobre Plantas Medicinais
Aluno(a):_______________________________________Nº _____T._______
5) O que uma planta medicinal tem que as outras plantas não têm?
R:_________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
6) Muitas plantas medicinais têm um nome popular e um nome científico. Dê o nome popular
de duas plantas medicinais, a sua escolha, e pesquise quais são os seus nomes científicos.
R:_________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
7) Quais os benefícios que o uso das plantas medicinais traz para a saúde?
R:_________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
8) Muitas pessoas se medicam com plantas medicinais por conta própria. Quais os riscos
desta ação?
R:_________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
9) Podemos substituir os remédios por plantas medicinais?
R:_________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
59
ANEXO 3
Colégio Estadual Herbert de Souza
Experiências sobre Separação dos Componentes de Misturas
Para separar os componentes de uma mistura, utilizamos processos físicos que não
alteram a composição das substâncias ou materiais. Os principais processos de separação são:
filtração, decantação, centrifugação, destilação, cromatografia, extração por solvente e
recristalização.
1) Separando Materiais Sólidos de Líquidos
Material
- Anel metálico
- Bastão de vidro
- Dois béqueres de 250 mL
- Funil de vidro
- Papel-filtro
- Vidro de relógio
- Enxofre
- Água
Procedimento
Parte A – Aprendendo a dobrar o papel-filtro
1) Dobre o papel-filtro ao meio formando um semicírculo.
2) Faça uma segunda dobra não exatamente ao meio, mas de tal modo que as duas
extremidades fiquem afastadas mais ou menos meio centímetro.
3) Coloque o papel-filtro no funil de vidro e molhe-o com água. Coloque o conjunto sobre
o anel metálico preso à haste metálica.
Parte B – Aprendendo a filtrar
1) Coloque no béquer uma colher de enxofre e cerca de 100 mL de água.
2) Filtre a suspensão preparada, vertendo-a lentamente no funil e coletando o líquido no
outro béquer.
3) Cuidadosamente, retire o papel-filtro do funil e coloque-o sobre um vidro
de relógio.
Responda:
O equipamento esquematizado ao lado pode ser utilizado para separar
os componentes de:
60
a) um sistema homogêneo formado por dois líquidos
b) um sistema heterogêneo formado por dois líquidos
c) um sistema heterogêneo formado por um sólido e um líquido.
2) Separando Líquidos Imiscíveis
Material
- Anel metálico
- Um béquer de 250 mL
- Funil de decantação
- Suporte universal
- Água (50ml)
- Óleo de soja (50ml)
Procedimento
1) Monte aparelhagem de decantação, conforme o esquema abaixo.
2) Transfira a água e o óleo para o funil de decantação.
3) Tape o funil de decantação e agite-o para misturar os líquidos.
4) Em seguida, coloque o funil no suporte e deixe-o em repouso.
5) Quando as fases estiverem bem separadas, tire a tampa do funil de decantação e abra a
torneira cuidadosamente, deixando escoar o líquido que se encontra na parte inferior do
funil para o béquer.
6) Feche a torneira imediatamente antes de escoar a fração que fica na interface dos dois
líquidos
Esquema da aparelhagem de decantação
Responda:
1) Em que propriedade física dos materiais se baseia a separação dos componentes de uma
mistura por decantação?
2) Seria possível utilizar a decantação para separar dois líquidos que se misturam
totalmente, por exemplo, etanol (álcool comum) e água? Justifique.
3) Muitas vezes para separar os componentes de uma mistura é necessário utilizar mais de
um processo de separação. Por exemplo, para separar os componentes de uma mistura
constituída por óleo, água e sal totalmente dissolvido são necessários dois processos.
Que processos de separação são os mais adequados para separar os três componentes?
61
3) Separando Líquidos Miscíveis
Nosso objetivo neste experimento é separar o álcool de uma amostra de vinho por
destilação.
Material
- Balão de fundo redondo de 250 mL
- Borracha de látex
- Bico de Bunsen, tela de amianto e tripé ou outro sistema de aquecimento apropriado
- Condensador de tubo reto
- Garras
- Pérolas de vidro ou pedaçinhos de porcelana
- Proveta
- Suporte universal
- Termômetro adaptado a uma rolha
- Vinho (aproximadamente, 2/3 da capacidade do balão)
Procedimento
1) Monte aparelhagem de destilação, conforme o esquema abaixo.
2) Transfira as pérolas de vidro e o vinho para o balão.
3) Verifique se todas as conexões se encontravam bem ajustadas e adapte o termômetro.
4) Abra a água de resfriamento e dê início ao aquecimento do vinho.
Responda:
Em que propriedade física dos materiais se baseia a separação dos componentes de uma
mistura por destilação?
Esquema da aparelhagem de destilação
Bibliografia
SANTOS, Wildson L. P; MOL, Gerson S.; ... Química cidadã. Vol. 1. São Paulo: Nova
Geração, 2010.
62
ANEXO 4
Colégio Estadual Herbert de Souza
Extração do óleo essencial do cravo-da-índia pelo processo
de destilação por arraste a vapor
Material
- Almofariz e pistilo
- Cabeça de destilação
- Condensador de tubo reto
- Dois Balões de 500ml
- Funil de adição
- Garras metálicas
- Mangueira de borracha
- Manta de aquecimento ou outro sistema de aquecimento apropriado
- Mufas
- Pérolas de vidro
- Suporte universal
- Termômetro
- Tubo de Claisen
- Unha
- 40 g de cravo da índia triturado
- 300 ml de água
Esquema da montagem:
Funil de adição (1); tubo de Claisen (2); balão de fundo redondo (3 e 7); cabeça de destilação
(4); condensador (5) e unha (6).
Procedimento:
1) Triturar o cravo no almofariz com a ajuda do pistilo e reservar a massa necessária.
2) Montar a aparelhagem de destilação e colocar a massa de cravo juntamente com 300ml de
água no balão que será aquecido.
63
3) A destilação iniciará na temperatura de, aproximadamente, 100°C. No balão adaptado na
saída do condensador será recolhida uma emulsão de óleo (eugenol) em água.
4) Transferir a emulsão para uma ampola de decantação. Adicionar uma pequena quantidade
de cloreto de sódio, agitar e, em seguida, deixar em repouso, até que acha separação de
duas fases.
5) Proceder a separação do eugenol da água, recolhendo-o em um frasco escuro. Conservar
em geladeira.
OBS: o óleo essencial extraído do cravo-da-índia (gema floral seca) é constituído
principalmente por eugenol (70 a 85%), substância que confere o aroma e sabor marcantes do
condimento. È um antioxidante natural. Apresenta efeito analgésico e anestésico.
Dados sobre o eugenol:
Nomenclatura: 4-alil-2-metoxifenol; Fórmula: C10H12O2
Estrutura:
OH
O
CH3
CH2
Massa molar = 164,20 g.mol-1
Ponto de ebulição = 256ºC
Líquido amarelo claro, a temperatura ambiente.
Solubilidade = solúvel em álcool etílico, éter, clorofórmio e óleo, mas pouco solúvel em água.
Densidade (25 ºC)= 1,064 g/cm3
Bibliografia:
http://qnint.sbq.org.br/qni/popup_visualizarMolecula.php?id=il9dMeAZ2hg9dkdmh-
s6vJyBIVtD_KaIgNq1-DjfTMbNnL3_H4lL8xLlsf0HcANPBEHFlSalUk9LJUyW4yVz4w==
Acesso em: 20 set. 2014.
SILVA, T. C; OLIVEIRA, J. R.; SOUZA, J. O. Extração de eugenol a partir do cravo da índia
e produção de sabonetes aromatizados. Revista Crase.edu, A revista do e-Tec Brasil, Instituto
Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Goiás-IFG, Campus Inhumas, vol. 01, n.1,
2011. Disponível em:
<http://simpoets.inhumas.ifg.edu.br/revistas/index.php/crase/article/view/13/41>. Acesso em:
10 set. 2014.
64
ANEXO 5
Colégio Estadual Herbert de Souza
Extração do óleo essencial de canela pelo
processo de destilação por arraste a vapor
Material
- Almofariz e pistilo
- Cabeça de destilação
- Condensador de tubo reto
- Dois Balões de 250 ml
- Funil de adição
- Garras metálicas
- Mangueira de borracha
- Manta de aquecimento ou outro sistema de aquecimento apropriado
- Mufas
- Pérolas de vidro
- Suporte universal
- Termômetro
- Tubo de Claisen
- Unha
- 18 g de canela em casca triturada (um pacotinho)
- 150 ml de água
Esquema da montagem:
Funil de adição (1); tubo de Claisen (2); balão de fundo redondo (3 e 7); cabeça de destilação
(4); condensador (5) e unha (6).
Procedimento:
1) Triturar levemente a canela no almofariz com a ajuda do pistilo.
2) Montar a aparelhagem de destilação. Colocar a canela, 150 ml de água (aproximadamente
2/3 do balão) e as pérolas de vidro no balão que será aquecido.
65
3) A destilação iniciará na temperatura de, aproximadamente, 100°C. No balão adaptado na
saída do condensador será recolhida uma emulsão de óleo essencial de canela em água.
4) Transferir a emulsão para uma ampola de decantação. Adicionar uma pequena quantidade
de cloreto de sódio, agitar e, em seguida, deixar em repouso, até que acha separação de
duas fases.
5) Proceder à separação do óleo da água, recolhendo-o em um frasco escuro. Conservar em
geladeira.
OBS: o óleo essencial obtido da casca de canela é composto, aproximadamente, por 70% de
cinamaldeído. O cinamaldeído apresenta propriedades antivirais, antibacterianas e
antifúngicas. O óleo de canela contém cerca de 10% eugenol (C10H12O2), o que certamente
contribuir para o efeito calmante da canela.
Dados sobre o cinamaldeído:
Nomenclatura: 3-fenil-2-propenal; Fórmula: C9H8O; (M =132,16 g.mol-1
)
Estrutura:
O
H
Ponto de ebulição = 248ºC;
Líquido amarelo, a temperatura ambiente.
Solubilidade = solúvel em álcool etílico, éter, clorofórmio e óleo, mas pouco solúvel em água.
Densidade (25 ºC)= 1,049 g/cm3
Bibliografia:
http://qnint.sbq.org.br/qni/popup_visualizarMolecula.php?id=MkTRGSvIyCRitj1KhlxbrKrw
msLWKLp9s4Ev78cg-EnxEQn36OVFuyvMNVlNwyTMpl7gWVS24paj2rGIBsFabQ==
Acesso em: 20 set. 2014.
66
ANEXO 6
Colégio Estadual Herbert de Souza
Repelente Caseiro de Citronela
Objetivo
Utilizar um dos princípios ativos da citronela, o citronelal, no preparo de um repelente caseiro
eficiente na proteção contra insetos (moscas e mosquitos). Os repelentes formam uma camada
de vapor na superfície da pele que exala um odor sensível aos insetos, impedindo-os de se
aproximar do corpo.
Material
- Pedaços de citronela seca;
- Água destilada ou filtrada;
- Álcool comum 92,8° INPM*;
- Álcool de cereais;
- Glicerina líquida;
- Béquer de 600 mL;
- Funil;
- Papel filtro;
- Balança;
- Quatro provetas de 100 mL;
- Uma proveta de 1000 mL;
- Etiquetas;
- Três recipientes de 1 litro de capacidade, sendo dois de coloração âmbar;
- Frasco âmbar com válvula spray de 500 mL de capacidade.
*Álcool comum 92,8° INPM corresponde a 92,8% m/m (há 92,8 g de etanol em cada 100g de
álcool comercial). O álcool comum 92,8° INPM é o mesmo álcool 96°GL. 96°GL
corresponde a 96% v/v (há 96 mL de etanol em cada 100 mL de álcool comercial).
Procedimento Experimental
A) Preparo de solução hidroalcoólica de etanol a 77% (v/v) ou 70% (m/m)
1) Calcular a quantidade de água que deve ser adicionada a uma solução de etanol 96% v/v
para se preparar 1000 mL de uma solução hidroalcoólica de etanol a 77% (v/v).
O cálculo pode ser feito usando a equação da diluição.
Cf. Vf = Ci . Vi
Onde:
Ci = Concentração inicial (concentração do álcool na solução comercial)
Vi = Volume inicial (volume de álcool da solução comercial)
Cf = Concentração final (concentração desejada)
Vf= Volume final (volume desejado)
67
2) Medir essa quantidade de álcool com a proveta e transferir para um frasco de 1L.
3) Medir a quantidade de água necessária para completar 1000 mL ou 1L e misturar com o
álcool. Colocar um rótulo de identificação: “Álcool 77% (v/v) ou 70% (m/m)”. Sua
validade é de cerca de 2 anos.
B) Preparo da tintura de citronela
1) Com auxílio de uma balança, pesar o béquer de 600 mL. Após obter o resultado do peso
da vidraria, deverá manter o béquer na balança e apertar o botão ‘Tara’ da balança.
2) Posteriormente, adicionar no béquer os pedaços da citronela seca até obter um resultado
de 200g da planta seca.
3) Com ajuda de um funil de haste larga e curta, transferir os pedaços de citronela do béquer
para o recipiente âmbar e adicionar a solução de etanol a 70% (m/m) até completar o
volume de 1L.
4) Tampar o recipiente, rotulá-lo e reservar em um ambiente protegido da luz solar.
5) Agitar esse recipiente fechado, diariamente, duas vezes ao dia, por um período de 21 dias.
6) Após completar este período, deve-se filtrar a tintura para outro recipiente âmbar e rotulá-
lo. O prazo de validade da tintura é de dois anos.
C) Preparo da loção repelente (para 200mL)
1) Utilizando, as provetas medir os seguintes volumes dos líquidos abaixo. e transferi-los
para frasco âmbar com válvula spray. Fechar, agitar levemente e rotular o frasco.
Medir 30 mL de glicerina líquida;
Medir 30 mL de tintura de Citronela;
Medir 70 mL de álcool de cereais;
Medir 70 mL de água destilada ou filtrada.
2) Transferir os líquidos, com auxílio de um funil, para frasco âmbar com válvula spray.
Fechar, agitar levemente e rotular.
Observação: como os líquidos são voláteis, recomenda-se executar rapidamente essa etapa. Os
líquidos são inflamáveis, logo não se deve trabalhar próximo a chamas.
Dados sobre o citronelal
Nomenclatura (IUPAC): 3,7-dimethyloct-6-en-1-al
Fórmula: C10H18O; (M =154,25 g.mol-1
)
Líquido incolor, oleoso com odor de limão
Ponto de ebulição: 201-207 ºC.
Densidade (25°C): 0,855 g/cm3.
CH3
CH3 CH3
OH
68
Modo de usar o repelente
Passar na pele quando estiver em locais com moscas e, ou, mosquitos.
Bibliografia
Repelente caseiro de citronela para evitar dengue. Disponível em:
<http://www.tuasaude.com/repelente-caseiro-de-citronela-para-dengue>.
Acesso em: 04 out. 2014.
Citronelal. Dados disponíveis em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Citronelal>.
Acesso em: 04 out. 2014.
69
ANEXO 7
Colégio Estadual Herbert de Souza
Desinfetante de Eucalipto caseiro
Objetivo
Utilizar um dos princípios ativos do eucalipto, o eucaliptol, no preparo de um desinfetante
caseiro, fazendo uso de sua eficácia contra bactérias e fungos.
Materiais e reagentes utilizados
- Pedaços de folhas de eucalipto secas (uma mão-cheia)
- Água destilada ou filtrada;
- Álcool comum 92,8° INPM*;
- Funil;
- Papel filtro;
- Provetas de 100 mL e de 1000 mL;
- Etiquetas;
- Três recipientes de 1 litro de capacidade, sendo dois de coloração âmbar;
*Álcool comum 92,8° INPM corresponde a 92,8% m/m (há 92,8 g de etanol em cada 100g de
álcool comercial). O álcool comum 92,8° INPM é o mesmo álcool 96°GL. 96°GL
corresponde a 96% v/v (há 96 mL de etanol em cada 100 mL de álcool comercial).
Procedimento Experimental
D) Preparo de solução hidroalcoólica de etanol a 77% (v/v) ou 70% (m/m)
4) Calcular a quantidade de água que deve ser adicionada a uma solução de etanol 96% v/v
para se preparar 500 mL de uma solução hidroalcoólica de etanol a 77% (v/v).
O cálculo pode ser feito usando a equação da diluição.
Cf. Vf = Ci . Vi
Onde:
Ci = Concentração inicial (concentração do álcool na solução comercial)
Vi = Volume inicial (volume de álcool da solução comercial)
Cf = Concentração final (concentração desejada)
Vf= Volume final (volume desejado)
5) Medir essa quantidade de álcool com a proveta e transferir para um frasco de 1L.
6) Medir a quantidade de água necessária para completar 1000 mL ou 1L e misturar com o
álcool. Colocar um rótulo de identificação: “Álcool 77% (v/v) ou 70% (m/m)”. Sua
validade é de cerca de 2 anos.
70
E) Preparo da tintura de eucalipto
1- Em uma proveta medir 100 mL de álcool comum 70% (m/m), com ajuda de um funil,
despejar no recipiente de coloração âmbar. Repetir esta etapa mais quatro vezes até obter
500 mL de álcool no recipiente.
2- Transferir todos os pedaços de folhas de eucalipto para o recipiente âmbar e adicionar
água destilada até completar o volume de 1L.
3- Tampar o recipiente, rotulá-lo e reservar em um ambiente protegido da luz solar.
4- Agitar esse recipiente fechado, diariamente, duas vezes ao dia, por um período de 21 dias.
5- Após completar este período, deve-se filtrar a tintura para outro recipiente âmbar e rotulá-
lo como desinfetante caseiro.
Observação: como o álcool é volátil recomenda-se executar rapidamente a etapa 1. O álcool
inflamável, logo não se deve trabalhar próximo a chamas.
Dados sobre o eucaliptol
Nomenclatura (IUPAC): 1,3,3-trimetil-2-oxabiciclo[2,2,2]octano
Outros nomes: 1,8-cineol; 1,8-epoxi-p-mentano
Fórmula: C10H18O; (M =154,25 g.mol-1
)
Líquido incolor, oleoso
Ponto de ebulição: 176-177º C.
Densidade (25°C): 0,9225 g/cm3.
Bibliografia
Eucaliptol ou 1,8-cineol. Disponível em: <http://en.wikipedia.org/wiki/Eucalyptol>. Acesso
em: 06 out. 2014.
Eucalipto comum. Disponível em: <http://www.plantasquecuram.com.br/ervas/eucalipto-
comum.html#.VDKnMaP-IsE>. Acesso em: 06 out. 2014.
CH3
CH3 CH3
O
71
ANEXO 8
Colégio Estadual Herbert de Souza
Fabricação de Sabão de Erva-Doce
(Atividade demonstrativa)
Objetivo
Fabricar um sabão caseiro com óleo de cozinha usado e aromatizá-lo com um dos princípios
ativos da erva-doce, o anetol, que promove um odor agradável ao produto de limpeza.
Materiais e reagentes utilizados
- Água destilada ou filtrada;
- Detergente líquido de coco;
- Fubá; Frutos de Erva doce secos;
- 1L de solução de soda cáustica 50% (m/m)*;
- 5 L de óleo de cozinha usado; 1 Balde de 10 L;
- 1 Bastão de vidro grande ou colher de pau de cabo longo,
- 1 Copo de 200 mL (copo americano)
- 1 Proveta de 1L;
- Fôrmas de plástico
*Muito cuidado ao transportar e manusear está solução porque ela é altamente
corrosiva.
Procedimento Experimental
F) Preparo do chá de erva-doce
Preparar um litro de chá de erva doce, na proporção de, cinco colheres (sobremesa) em 1L de
água destilada ou filtrada. Ferver por cinco minutos para extrair o anetol.
G) Preparo do sabão
1- Transferir todo o óleo de cozinha usado para o balde limpo e seco.
2- Adicionar um copo de fubá ao óleo.
3- Em uma proveta, medir 500 mL de detergente e adicioná-lo ao balde.
4- Em seguida, adicionar 1L de solução de soda cáustica e mexer bem o conteúdo do balde
com o bastão de vidro.
5- Depois, transferir o chá fervente para o balde e agitar por, cerca de 40 minutos, na mesma
direção e sem parar.
72
6- Em seguida, colocar a mistura em fôrmas de plástico e esperar por dez dias ou até
endurecer.
Dados sobre o anetol
Nomenclatura (IUPAC): trans-1-metoxi-4-(prop-1-enil)benzeno
Fórmula: C10H12O; (M =148,2 g.mol-1
)
À temperatura ambiente, assume a forma de cristais brancos.
Ponto de fusão: 20-21° C
Ponto de ebulição: 234º C.
Densidade (25°C): 0,998 g/cm3.
Bibliografia
MORTIMER, Eduardo. F.; MACHADO, Andréa H. Química: Ensino Médio. v. 1, São
Paulo: Scipione, p.70.
Anetol. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Anetol>. Acesso em: 06 out. 2014.
CH3
OCH3