8/8/2019 Violncia Urbana - texto
1/42
AUTORIZO A REPRODUO E DIVULGAO TOTAL OU PARCIAL DESTETRABALHO, POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRNICO,PARA FINS DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA AFONTE.
E-MAIL: [email protected]
Freitas, Eleusina Lavr Holanda deF866L Loteamentos fechados / Eleusina Lavr Holanda de
Freitas. --So Paulo, 2008.
203 p. : il.Tese (Doutorado rea de Concentrao: Habitat) - FAUUSP.Orientadora: Ermnia Terezinha Menon Maricato
1.Loteamento 2.Segregao urbana 3.Urbanizao4.reas metropolitanas 5.Mercado imobilirios I.Ttulo
CDU 711.63
8/8/2019 Violncia Urbana - texto
2/42
Captulo
02BAIRROS FECHADOSAlphaville D. Pedro Campinas/SPFonte: Alphaville Urbanismo
8/8/2019 Violncia Urbana - texto
3/42
< Captulo 02: Bairros Fechados >
52
De Johannesburgo a Budapeste, do Cairo Cidade do
Mxico, de Buenos Aires a Los Angeles, processos
semelhantes ocorrem: o erguimento de muros, a
secesso das classes altas, a privatizao dos espaospblicos e a proliferao das tecnologias de vigilncia
esto fragmentando o espao da cidade, separando
grupos sociais e mudando o carter da vida pblica de
maneiras que contradizem os ideais modernos de vida
urbana. (Caldeira, 2000:328)
8/8/2019 Violncia Urbana - texto
4/42
< Captulo 02: Bairros Fechados >
53
Bairros fechados, gated communities, condomnios ou loteamentos fechados
definem loteamentos residenciais cercados por muros e cercas, com acesso
controlado. A segurana se d pela presena de barreiras fsicas ou naturais e pela
presenadeguaritas.Ruasepraassituam-seinternamenteaofechamentoeasguaritas
so controladas por guardas terceirizados ou cartes magnticos de identificao
eletrnica. Dentro dos enclaves h sempre guardas a p, ou em carros, patrulhando a
rea. O fechamento controla tanto o acesso s moradias quanto aos espaos pblicos
(quando se trata de loteamento no Brasil): ruas,praas,parques do loteamento que foi
fechado.
Este modo de morar intramuros tem se popularizado em diversas partes do
mundo e sua referncia principal so os subrbios americanos. Em todo o mundo, a
escala dos empreendimentos varia em funo do perfil dos mesmos. Bairros fechados
voltados ao lazer e ao descanso necessitam de grandes reas, pois, alm das reas
residenciais, oferecem espaos para o lazer e a prtica de esportes, tais como: golfe,
plo, ski, tennis, hipismo. Nestes casos so complexos urbanos auto-suficientes
denominados new tows. H tambm bairros fechados, exclusivamente residenciais,
voltados ao pblico que trabalha e estuda nas cidades e se desloca diariamente para os
grandes centros urbanos. H casos tambm de bairros tradicionais existentes que setransformam em fechados a partir da implantao de cercas e portes nas ruas da
cidade.
8/8/2019 Violncia Urbana - texto
5/42
No Brasil, a moradia intramuros foi inicialmente permitida na forma de
condomnios fechados horizontais, regulamentados pela Lei n 4.591, de 16 de
dezembro de 1964 que dispe sobre o condomnio em edificaes e sobre as
incorporaes imobilirias, mas foi atravs dos loteamentos fechados quese proliferou
este tipo de moradia. Atualmente, os bairros fechados tm ocorrido no Brasil,
prioritariamente sob a forma de loteamentos fechados, ou seja, loteamentos
concebidos e aprovados de acordo com a lei de parcelamento do solo vigente (Lei
6.766/79) com a doao de reas de uso comum do povo para a implantao de ruas,
praas e equipamentos sociais, e que, em geral, por autorizao municipal se fecham
formandoumbairrofechado.
A pesquisa sobre as gated communities americanas permite ver que h umacpia do modelo americano replicada nos pases perifricos, especialmente no Brasil.
O mercado imobilirio assume o modelo americano das gated communities, e
reproduz suaclassificao, modelos e padres. Conforme aponta Roberto Schwarz , a
referncia cultural europia e americana foi utilizada no Brasil, desde o perodo da
colonizao como forma de justificar o arbtrio e alienar sua populao, formada pelo
latifundirio, o escravo e o trabalhador livre. J neste perodo, as casas rurais
demonstravam seu desejo de se distanciar da realidade brasileira, incorporando
ornamentos greco-romanos e neoclssicos importados da Europa. A forma
ornamental era usada como prova de modernidade e distino. Veremosque, no caso
dos loteamentos fechados, a importncia dos ornamentos, smbolos e signos
importados se d atravs do argumentoda modernidade e pelo desejo de afastamento
daselites,darealidadepobreedesigualpresenteemnossascidades.
Salvo engano, o quadro pressupe o seguinte arranjo de trs elementos: um sujeito
brasileiro + a realidade do pas + a civilizao das naes adiantadas sendo que
a ltimaajudao primeiroa esquecera segunda. (Schwarz,2005:136)
Neste captulo ser apresentada, portanto, a discusso sobre a profilerao
destes bairros fechados, no Brasil e no mundo, utilizando a bibliografia internacional
para demonstrar as principais motivaes para o sucesso do modelo, bem como suas
conseqncias, que vm sendo observadas por pesquisadores em pases como
Estados Unidos, Chile,Argentinae Mxico.
Sero destacados, portanto, os trabalhos de pesquisa realizados por Edward
Blakely e Mary Snyder, Mike Davis e Robert Fishman, nos Estados Unidos, bem como
1
Schwarz, R. As idias fora dolugar in Cultura e Poltica. So
Paulo: 2 ed. Paz e Terra, 2005.
1
< Captulo 02: Bairros Fechados >
54
8/8/2019 Violncia Urbana - texto
6/42
55
pelo Movimento do Novo Urbanismo . Francisco Sabatini, Rodrigo Hidalgo, Pauline
Stockins e Gonalo Cceres realizam pesquisas sobre os bairros fechados no Chile e
Luiz Felipe Barajas Cabrales traz a experincia de Guadalajara, no Mxico. Maristela
Svampa analisa o modelo argentino, enquanto no Brasil sero utilizados os estudos
realizados por Teresa Caldeira, Helosa Costa e Nestor Reis. As pesquisas brasileiras
tm como enfoque principal o tema da segregao residencial bem como a
fragmentao da ocupao urbananasmetrpoles e cidades mdias.
O subrbioamericano e asgatedcommunities
A origemdossubrbios
O verdadeiro subrbio mais do que um assentamento perifrico ocupado pela
classe-mdia. Ele deve conter em seu desenho um casamento entre cidade e
campo, uma zona diferenciada separada das ruas da cidade no sentido do
campo. Seu desenho mais do que uma caracterstica cosmtica. Ele protege e
define a comunidade, mesmo que ela venha a ser cercada pelo crescimento
urbano, e eleestabeleceo padrode baixa densidade. (Fishman,1987:117)
Assim como apontado acima, o modelo de loteamento fechado exportadopara os pases da Amrica Latina, especialmente para o Brasil, teve como referncia
conceitual o subrbio americano, e os primeiros subrbios ingleses. O relato
histrico da origem dos subrbios revela diversas caractersticas presentes nos
projetos atuais. Valores como natureza como elemento de separao entre a
moradia das elites e os bairros operrios; padres estticos como herana
aristocrtica e signo de distino e a especulao de terras rurais como forma de
obteno de lucros extraordinrios nascem na origem dos subrbios, j nos sculos
XVIII e XIX. Na cidade industrial, o subrbio se d em oposio ao crescimento da
classe operria, como signo de poder e dominao; instrumento de proteo dos
privilgiosdaelite.
A Inglaterra e osprimeiros subrbios
Conforme aponta Robert Fishman, o subrbio residencial voltado classe-
mdia um produto do sculo XVIII. Os primeiros subrbios surgem nos arredoresde Londres, como bairros de lazer, utilizados nos finais de semana. Porm, a
burguesia londrina no abandonou de imediato a vida na cidade. A residncia do
2
2.12.1.1.
2 O Movimento do Novo
Urbanismo nasceu nos EstadosUnidos, em 1993, a partir de umCongresso realizado no estadoamericano de Virginia. Estecongresso reuniuaproximadamente 170participantes, que publicaram ummanifesto intitulado Charther ofthe New Urbanism. Em seumanifesto defendem arecuperao das reas centraisbem como a recuperao dossubrbios. Criticam oespraiamento da ocupao urbanae propem medidas derecuperao urbana para ossubrbios. Destacam-se neste
movimento os arquitetos: PeterCalthorpe, Andrs Duany,Elizabeth Moule, Elisabeth Plater-Zyberk, Daniel Solomon eStefanos Polyzoides.
< Captulo 02: Bairros Fechados >
8/8/2019 Violncia Urbana - texto
7/42
subrbio era a vila pitoresca para o descanso da famlia aos finais de semana, a grande
casa na montanha, com belas paisagens, cavalos, jardins. Funcionava como forma da
burguesia londrina seapropriardo prestgioe prazeres tpicos da aristocracia. Fishman
descreve o subrbio como uma imitao das manses da aristocracia. Arquitetura
clssica, paladiana e jardins contemplativos desenhados para o consumo dos
moradores e observadores, representando a relao entre o subrbio e seu
entorno: o to valorizadocontato da moradia com o meio rural. A burguesia londrina
ganhava com isso um lugar no campo distante do centro de Londres e, atravs do
desenho dos empreendimentos, resgatava a herana cultural da moradia aristocrata,
baseadanaestticaclssica.
O arquiteto ingls John Nash, autor do projeto de Park Village em Londres,desenvolve, portanto, a frmula bsica do projeto urbanstico para o subrbio
burgus: ruas retas transformam-se em curvas, e a idia do subrbio como casas
dentro de um parque. Segundo Fishman, Park Village prepara o caminho para a
rpida proliferao da suburbanizao. O subrbio deixa de ser um privilgio das
elites para transformar-se em um produto acessvel. A partir de 1870, o subrbio
burgus comea a dominar o mercado de imveis residenciais voltados para a classe
mdialondrina.
< Captulo 02: Bairros Fechados >
Fig 2.1 O Subrbio Park Village/ Londres(projeto do arquiteto John Nash, 1820)
Fonte: Fishman, 1987
56
8/8/2019 Violncia Urbana - texto
8/42
No incio do sculo XIX,Manchester atraiu muitostrabalhadores e suas famlias, oque resultou em umatransformao em seu tecidourbano: estreitas e antigas ruasse voltaram para as atividadescomerciais e a moradia daclasse-mdia se estabeleceunos subrbios.
< Captulo 02: Bairros Fechados >
3
Apenas ao ser implantado em Manchester, importante cidade industrial
inglesa, que o subrbio passou a atender a classe mdia e, portanto, comea a
transformar a feio da cidade tradicional. Manchester estabelece o padro da
suburbanizaodaclassemdianaclssicacidadeindustrialanglo-americana.
Por outro lado, grande parte da elite de Manchester era migrante, sem
vnculo com a cidade tradicional, o que facilitou a mudana para bairros suburbanos. As
distncias sociais entre pobrese ricos em Manchester eram bastante acentuadas, o que
serefletiunabuscadedistnciafsicaegeogrficaentreasdiferentesclasses.
3
Fig 2.2 O Subrbio Victoria Park/ Manchester(projeto do arquiteto Richard Lane, 1837)Fonte: Fishman, 1987
57
8/8/2019 Violncia Urbana - texto
9/42
58
< Captulo 02: Bairros Fechados >
Alm de expressar as diferenas culturais entre ricos e pobres, o subrbio de
Manchester tambm se mostrava, j no incio, um bom investimento financeiro. A
rpida valorizao imobiliria trazida pela indstria a partir de 1820, incentivou antigos
moradores da cidade a venderem seus imveis nas reas centrais por valores mais
altos, indo morar em terrenos mais baratos, localizados nos novos subrbios. A
possibilidade de transformar terras rurais em lotes urbanos incentivou incorporadores
a investirem nosprojetos de loteamentos suburbanos.
Importante observar que j neste perodo inicial, o processo de incorporao
se dava por iniciativa do proprietrio da terra, que implantava o loteamento,
demarcava os lotes e os vendia, muitas vezes, para investidores. Raramente
construam as casas: vendiam apenas o terreno. J neste perodo, Fishman relata que
embora muitos empreendimentos apresentassem problemas em sua implantao
como falta de regularidade ou falhas de construo, isto pouco importava para os
adquirentesdos lotes,quecompravamlocalizao e paisagem.
Morar no subrbio significava no s fugir da poluio gerada pelas fbricas,
mas, principalmente, distanciar-se da populao trabalhadora, indesejveis e
perigosos.
Fishman cita o subrbio de Victoria Park como um subrbio modelo,implantadoem Manchester segundo a cartilha de John Nash. Entretanto, esta rea era
contgua a um bairro operrio bastante precrio, o que faz Fishman observar que o
subrbioburgussedemoposiomoradiaoperria,comoformadedominaoe
signodepoder.
No caso de Victoria Park, j havia a presena de muros delimitando o
subrbio, o que em parte comprometia a contemplao da paisagem natural, mas
garantiamaseparaodoempreendimentoemrelaoaoentorno.
Ao conhecer So Paulo, Fishman (2003) declara ser esta metrpole, a
principal herdeira de Manchester: uma cidade poluda e perigosa, cuja elite busca a
moradia no subrbio (especialmente em Alphaville, no caso do Brasil) como forma de
afastamentodosproblemasurbanos.
Cabe destacar que os subrbios ingleses e posteriormente os americanosforam tambm a fonte de inspirao para a criao do conceito de cidade-jardim, cujo
seumaior expoente foio inglsEbenezer Howard. Conforme Peter Hall, em seu livro
8/8/2019 Violncia Urbana - texto
10/42
< Captulo 02: Bairros Fechados >
CidadesdoAmanh,HowardviveuemChicagonofinaldosculoXIX,oquefazHall
supor que Howard foi influenciado pelo projeto do subrbio jardim de Riverside,
projetodeFrederickLawOlmsted.
Podemos associar as cidades-jardins s novas new towns, conforme ser citado
a seguir, pois as cidades-jardins foram concebidas como ncleos urbanos auto-
suficientes, ocupados por residncias, indstrias, comrcios e servios. Segundo
Howard (1898), estas cidades nodeveriam ultrapassar 32 mil habitantes de diferentes
faixasderenda.Ascidades-jardinsseriamisoladasporumcinturoverde.Essaproposta
inspirouosbairrosjardinsconstrudosemSoPaulo.(Maricato,2001)
Fig 2.3 O Subrbio Riverside/ Ilinois
(projeto do arquiteto Frederick Law Olmsted, 1869)Fonte: Fishman, 1987
59
8/8/2019 Violncia Urbana - texto
11/42
60
< Captulo 02: Bairros Fechados >
Experincias de cidades-jardins e subrbios-jardins projetados por Howard e
seus seguidores Barry Parker e Raymond Unwin mostraram-se frgeis quanto s
intenes sociais. Em locais como Hampstead Garden Suburb, subrbio-jardim
projetado por Parker em 1907, a valorizao imobiliria provocou a expulso dos
moradores com menor renda e a elitizao do empreendimento. Hampstead possua
muroseportaldeentrada,eeraumsubrbiofechado.
Fig. 2.4 Hampstead Garden Suburb(projeto dos arquitetos Barry Parker e Raymond Unwin, 1907)
O subrbioamericano
Fishman atribui a incorporao dos subrbios estrutura urbana americana
como necessidade de segregao entre classes sociais, diante da ameaa representada
pela industrializao: risco social e econmico. Embora baseado no modelo do
subrbio ingls, o subrbio americano tomou logo feies prprias, incorporando
soluesparaosproblemasdacidademodernaamericana,dosculoXIX.Descreveo
subrbio de Riverside, implantado na Pensylvnia, como uma importante ao
especulativabaseadanavendadelotes,bemacimadopreoanteriordarea,rural.
A consolidao da suburbanizao nosEstados Unidos coincide,ento, coma
formao da metrpole industrial. Neste perodo, no s a populao rural se
deslocava para as cidades como tambm a indstria buscava as metrpoles para se
estabelecer. Havia forte dependncia entre os moradores dos subrbios de classe
mdia e a vida nas cidades, local de onde retiravam os recursos para viverem uma vida
tranqila e junto da natureza, nos subrbios. Os deslocamentos se davam atravs douso de trens, e a dificuldade de acesso era um fator positivo para o empreendimento.
O transporte ferrovirio contribuiu para o fortalecimento da vida urbana das reas
centrais nas cidades americanas, tornando-as local privilegiado para os usos de
8/8/2019 Violncia Urbana - texto
12/42
61
< Captulo 02: Bairros Fechados >
comrcio e servios queatendiam toda a populao, urbanae suburbana. Inicialmente
abrigavam residncias de final de semana, passando residncia principal,
posteriormente.
No perodo de consolidao dos Railroad Suburbs, aproximadamente entre
1850 e 1860, nos Estados Unidos, se percebia que a implantao de modernas eeficientes linhas de trem ocorria muito mais em funo da valorizao das terras ao
longo das linhas, do que propriamente para transportar a populao. Fishman (1987)
afirma que os melhores incorporadores de subrbios eram tambm promotores das
linhas frreas, direcionando os traados da ferrovia para dentro das terras de sua
propriedade, podendo assim capturar a valorizao imobiliria promovida pela
implantaodainfra-estruturadetransporte.
Com relao ao projeto dos loteamentos, a paisagem natural era uma
qualidade necessria implantao dos subrbios americanos. reas verdes eram
abundantes, com parques, largas caladas e posteriormente foram implantados clubes
ecamposdegolfe.
A cada nova linha frrea implantada, novos subrbios iam sendo implantados
aolongodesta.
Streetcars Suburbs
A metrpole do carro foi destruda pelo seu prprio sucesso. (Fishman,
1987: 161). O caso de Los Angeles constitui o que se chama de metrpole suburbana.
O crescimento dos subrbios foi to expressivo e acelerado que inverteu sua relao
com a rea central tradicional: tornou-se o elemento central da estrutura urbana da
cidade.Paramuitos pesquisadores, o elemento gerador desta metrpole de tamanho
monstruoso e com estrutura amorfa foi a ascendncia do automvel particular e a
conseqente criao de uma estrutura viria de grande porte para sustentar esta
demanda. A falta de transporte pblico adequado fragilizou a dinmica urbana da rea
central. A tentativa de universalizar o acesso moradia suburbana, mostrou ser
insustentvel.
Com a proliferao dos subrbios destinados moradia das classes mdia e
alta, a indstria, o comrcio e os servios tambm se descentralizaram. O uso intensodo carro por rodovias e vias expressas resultou no deslocamento dos equipamentos
de comrcio e servios para as margens nas vias, com o intuito de atender o pblico
usuriodotransporteindividual.
8/8/2019 Violncia Urbana - texto
13/42
62
< Captulo 02: Bairros Fechados >
O exemplo de Los Angeles demonstra a falncia do modelo de metrpole
suburbana baseada no uso do carro. Mike Davis (1993), em seu livro Cidade de
Quartzo, discute os problemas decorrentes do modelo de urbanizao adotado
pelo municpio apontando as diversas patologias sociais decorrentes de tal
transformaourbana.
A transformao dossubrbiosemgatedcommunities
Gated Communities tem seus antecedentes nas utopias modernas, mas eles
transformaram (o subrbio) em um produto totalmente novo, organizado e
vendido como soluo para os problemas contemporneos, bem como um
caminho paraumasociedademelhor. (Blakely&Snyder,1997:15)
Se antes de 1980 muitos instrumentos urbansticos j contribuam com a
manuteno de privilgios entre diferentes reas da cidade e mostravam-se eficientes
formas de segregao, como o caso do zoneamento, com as gated communities as
barreiras scio-econmicas se tornam mais profundas. A privatizao do espao
pblico, ou da cidade se d de forma dirigida, assumida e consciente. Privatizam-se
espaos comuns, bem como assumem-se servios coletivos que antes eram de
responsabilidadepblica:segurana,manutenourbanaeolazer.
Arquitetos projetistas de subrbios, como o ingls John Nash, j havia
desenvolvidoumtraadourbanoprprioparagarantiradesconexoentresubrbioe
cidade, com ruas curvas e sem sada (culs-de-sac) e grids alternados em relao s
tradicionais ruas da cidade. Fishman aponta que o desenho urbano foi sempre a
ferramenta preferida para garantir exclusividade e privacidade aos subrbiosburgueses.
A partir dos anos 1980, muros, cercas e guaritas comeam a alterar a feio
urbana das cidades criando bairros fechados, predominantemente nos subrbios.
Diferente do que acontecia nos tradicionais condomnios fechados, onde o
fechamento restringia o acesso s reas residenciais multifamiliares de propriedade
privada, as gated communities realizam o fechamento de reas pblicas, impedindo o
livre acesso s reas de lazer como parques e praas bem como ruas, internas ao
loteamento, tanto no Brasil como nos Estados Unidos. Trata-se de um processo de
2.1.2.
8/8/2019 Violncia Urbana - texto
14/42
63
< Captulo 02: Bairros Fechados >
suburbanizaofechadaemsi,enocasodofechamentodebairrosinseridosnamalha
urbana, um desejo do urbano de suburbanizar-se, reforando em todos os casos a
tradiodosubrbio londrinoe americano.
Fig. 2.5 Traado tpico de subrbioComparao entre o modelo americano e projetos no Brasil.
ESTADOS UNIDOS
fonte: Congress for the New Urbanism, 1999
BRASILLoteamentos fechados em Campinas/SP
8/8/2019 Violncia Urbana - texto
15/42
64
< Captulo 02: Bairros Fechados >
Muros e portes comeam a ser implantados inicialmente ao redor de resorts
e country clubs, com o intuito de garantir exclusividade e prestgio aos espaos de lazer
da elite americana. Atualmente, possvel encontrar bairros fechados no s nos
EstadosUnidos,masemdiversospasesdomundo,nasmaisdiversascamadassociaise
de renda. Estima-se que apenas um tero dos bairros fechados americanos sejam
empreendimentos de luxo, enquanto o restante voltado s classes mdia e baixa.
Calcula-se que at 1997 havia, s nos Estados Unidos, mais de trs milhes de
unidades habitacionais em bairros fechados, situadas em aproximadamente vinte mil
empreendimentos.(Blakely&Snyder,1997)
Tipologia dasgatedcommunities
O pesquisador americano Edward Blakely verificando a diversidade dos
empreendimentos de gated communities existentes nos EUA classificouos em trs
grandes grupos: lifestyle communities, prestige communities e security zone communities,
queserodefinidosmaisadiante.
A pesquisa emprica revela queno Brasil os loteamentos fechados apresentam
caractersticas semelhantes s descritas por Blakely & Snyder, o que permite adotar ocritrio do autor para analisar o fenmeno brasileiro. Entretanto, no Brasil, a
suburbanizao das classes mdia e alta j surgiu de forma fechada entre muros,
misturando desenhos tpicos do subrbio londrino, porm fechados e com a presena
de guaritas para o controle dos acessos. A tipologia mais freqente no Brasil so as
prestige communities, promovidas por incorporadores que aliam o medo do crime ao
desejo de status e prestgio, almejados principalmente pela classe-mdia brasileira.
Imagens dos empreendimentos brasileiros ajudaro a compreender que se trata
essencialmente de comprar status e distino. A referncia histrica dos subrbios
ingleses (Fishman, 1987) permite compreender o papel dos signos como importante
elemento de distino. H tambm, no Brasil, o fechamento de ruas em bairros
existentes, justificado pelo medo do crime principalmente em reas metropolitanas.
Nos ltimos cinco anos, porm, observa-se a introduo de uma nova tipologia,
empreendimentos fechados de alto luxo, ocupando reas maiores e mais afastadas dos
centros, cuja concepo construir residncias em torno de uma grande rea de lazer
e entretenimento. Nestes empreendimentos a proximidade com o meio rural e apresena de elementos naturais como lagos e reservas assumem grande importncia.
Estessodenominados lifestyle communities.
2.1.3.
8/8/2019 Violncia Urbana - texto
16/42
65
< Captulo 02: Bairros Fechados >
As diferenas entre estas tipologias situam-se no tamanho das glebas, usos do
solo, localizao, pblico alvo, preo dos lotes, tamanho dos lotes e caractersticas do
projetourbansticoearquitetnico.
Lifestyle communities atraem aqueles que querem se separar, privatizar servios e
lazer; eles tambm buscam um ambiente homogneo socialmente. As prestiges
communities atraem quem procura uma vizinhana estabelecida de pessoas
similares onde valores da propriedade sero protegidos; a preocupao com a
privatizao dos servios secundria. As securities zones se preocupam em
fortalecer e proteger o senso de comunidade, e seu principal objetivo excluir
pessoas que possam comprometer sua segurana e sua qualidade de vida. (Blakely
&Snyder,1997:45)
Lifestylecommunities
So empreendimentos destinados prioritariamente para o descanso e o lazer.
Opblicoalvosoosaposentadosecomunidadesinternacionaisreunidasemtornode
uma atividade de lazer especfica como, por exemplo, a prtica do golfe, plo ou
hipismo.
No incio de suas implantaes, muitas das unidades eram segunda
residncia, construdas para serem ocupadas apenas uma parte do ano, durante os
perodos de frias ou descanso. Atualmente, h uma tendncia em se transformarem
em residncia principal, devido ao fator envelhecimento e aposentadoria de seus
moradores.
Muitos destes empreendimentos tem seu foco direcionado para os grandes
torneios esportivos internacionais,oferecendo infra-estrutura diferenciada para abrigar
o seleto grupo devisitantese praticantes deesportes voltadospara a elite comoo plo,
ogolfe, skieohipismo.
Ao lado, apresentamos uma imagem retirada da internet, que demonstra
haver um mercado imobilirio amplo e organizado, direcionado promoo e venda
de empreendimentos fechados destinados ao lazer, implantados no s nos Estados
Unidos,mastambmempasescomoMxicoePortoRico.
Estes empreendimentos implantam-se como cidade auto-suficientes, new
8/8/2019 Violncia Urbana - texto
17/42
66
< Captulo 02: Bairros Fechados >
Fig 2.6 Pgina de abertura do websitewww.privatecommunities.com
8/8/2019 Violncia Urbana - texto
18/42
< Captulo 02: Bairros Fechados >
towns, incluindo no apenas residncias, mas todos os usos de comrcio, servios,
educao, lazer, shopping centers e escritrios. Ocupam grandes glebas normalmente
isoladasemmeioaocampo.
Voltados a atender a populao de mais alta renda, so geralmente
empreendimentos de alto-luxo, localizados prximos de reas naturais preservadas e
belas paisagens. Atraem tambm atletas profissionais, milionrios, executivos e os
novos ricos.
Free from worry, diz um morador aposentado que se mudou para um destes
loteamentos fechados. Preferencialmente homens, brancos acima de 60 anos optam
por se mudarem para as lifestyles communities, como forma de terem uma vida maissaudvel,maiscalma,sempreocupaes.
Moradores se referem a estes empreendimentos como sendo uma cidade,
sem cidade, ou seja, com todos os usos que a vida cotidiana demanda, sem os
problemasurbanosdascidades.Osportesatuamcomoformadegarantirprestgioao
local,bemcomoprotegemimveisocupadosapenasemumapocadoano.
O medo do crime no a motivao nestes casos. Exclusividade e prestgio
soasprincipaismotivaes.
Conforme demonstra a pesquisa emprica deste trabalho, empreendimentos
semelhantes esto sendo lanados no Brasil, e no h dvida que tentaro ancorar-se
em uma rede internacional de empreendimentos de mesmo perfil, conforme
apresentado acima. Grifes internacionais so trazidas junto comos empreendimentos,
como o exemplo dos projetistas internacionais de campos de golfes, bem como hsemelhanas quanto s caractersticas do terreno escolhido e seu entorno, com muito
verdeeisoladodoscentrosurbanos.
67
8/8/2019 Violncia Urbana - texto
19/42
68
< Captulo 02: Bairros Fechados >
Fig. 2.7 Comparao entre Lifestyle Communities voltados para a prtica de golfe e hipismo, no Brasil e nos EstadosUnidos
ESTADOS UNIDOS
Toscana Country Club
fonte: www.toscanacc.com
ESTADOS UNIDOSThe Oaks of Lake City Florida,
fonte: www.privatecomunities.com
BRASIL
Vila Trump,Itatiba/SP
fonte: Estudo de Impacto Ambiental, Julho 2005
BRASILLoteamento Fechado Haras Larissa, Monte Mor/SP
fonte: www.haraslarissa.com.br
8/8/2019 Violncia Urbana - texto
20/42
Prestigecommunities
So empreendimentos baseadosno desejo de excluir, criar barreiras entre as
diversas camadas sociais e so oferecidos para famlias de alta renda e para a classe-
mdia. Primeiramente, surgiram voltados ao atendimento de ricos e famosos,
depoisparanovosricoseemergenteseatualmenteatendemtambmaclassemdia.
Seus portes simbolizam distino e prestgioe criam umaproteo,um lugar seguro
paraaascensosocial.(Blakely&Snyder,1997:41)
A ostentao de suas portarias e fachadas conferem a estes o status de
produtodeluxo,garantindoavalorizaodospreosdosimveis.Devempassaruma
imagem positiva do empreendimento. A iluso de exclusividade tambm cumpre
especial papel nestes loteamentos fechados. A presena de recursos naturais
preservados como matas nativas, lagos e belas paisagens contribuem para a
valorizaodopreodosimveis,queatravsdestessediferenciamdosdemais.Estes
loteamentosso exclusivamenteresidenciais.
O medo do crime importante motivao para a mudana para estes
imveis. Grande parte dos adquirentes de lotes morava anteriormente em bairros
tradicionais da cidade, migrando para a periferia para ocupar as gated communities.Trabalhamemreas urbanas oumetropolitanas para as quais se deslocamdiariamente.
A maior preocupao dos moradores com a segurana dos seus bens e com sua
privacidade.
Estes moradores sabem que os muros e portes no garantem segurana e
sabem tambm que dificilmente conseguiro construir comunidades nestes enclaves.
O objetivo dos empreendimentos distanciar seus moradores dos problemas
urbanos. Atribuem segurana ao distanciamento geogrfico dos empreendimentos
emrelaoaoscentrosurbanos.
Security zonescommunities
< Captulo 02: Bairros Fechados >
69
8/8/2019 Violncia Urbana - texto
21/42
8/8/2019 Violncia Urbana - texto
22/42
< Captulo 02: Bairros Fechados >
71
Securities zones sobairros fechados formados a partir do fechamento de ruas
e praas de bairros existentes. Estes fechamentos so promovidos pela populao
moradora,enoporumempreendedorexterno.
Ocorre tanto em reas ocupadas pela populao de baixa renda, quanto em
bairrosdeclassemdia e alta. Sua motivao principal o medo docrime.
O fechamento de ruas nestes casos vem como alternativa para reduzir a
velocidade dos automveis, bem como impedir trnsito indesejvel em ruas locais
residenciais. O argumento utilizado que a polcia ineficiente para garantir a
seguranadapopulao.
Grande parte das reas nobres que vem solicitando o fechamento de ruas e
praas so reas localizadas prximas a favelas e loteamentos clandestinos de baixa
renda. Proprietrios buscam, atravs do fechamento, evitar a desvalorizao de seus
imveis bem como continuar a morar ali. Muitos bairros se fecham mesmo sem
apresentarem dados reais de violncia urbana e a maior parte dos novos
empreendimentosresidenciaislanadosnomercadofechada.
Esta tipologia tem se tornado freqente em reas metropolitanas, onde a
violncia urbana se encontra cada vez presente, fruto do excludente processo de
urbanizao herdado do perodo industrial. A demanda pelo fechamento surge nas
maisdiferentesreasdacidade,embairrosnobresepopulares.
No Brasil, o fechamento de ruas em bairros existentes tambm cumpre o
papel de equiparar o preo dos lotes originalmente abertos aos lotes fechados
oferecidos no mercado, ou seja, atravs do fechamento os moradores atualizam ovalor de sua mercadoria casa, ajustando-o s caractersticas demandadas pelo
mercado imobilirio. Ao fechar ruas existentes em bairros convencionais, o mesmo
transporta-separaacategoriadecondomnio,bemcomoosnovosloteamentosque
se fecham. Equiparam-se todos aos condomnios, sejam estes novos, existentes,
privadosouparcelamentodeloteconvencional.
Omedoreal,pormelenonecessariamenterefleteosdadosdarealidade.
Muitos dos moradores destes bairros fechados sofreram algum ato de violncia,
roubosouassaltos.
8/8/2019 Violncia Urbana - texto
23/42
< Captulo 02: Bairros Fechados >
Fig 2.9 Comparao entre Security Zones, no Brasil e nos Estados Unidos
BRASIL
1. Jardim do Sol; 2. Rua Roge Fereira; 3. Bairro das Palmeiras; 4 Alto Taquaral
ESTADOS UNIDOS
Los Angeles
fonte: Blakely & Snyder,1997
1 2
3 4
72
8/8/2019 Violncia Urbana - texto
24/42
2.2.As principais motivaes para a proliferao dosloteamentos fechados
A seguir sero apresentadas hipteses levantadas por alguns autores, que tm
investigado as motivaes que provocam a proliferao dos bairros fechados, como o
maisimportanteprodutoimobiliriooferecidoemtodoomundo.
Abuscadaseguranaoumedodocrime
Em todos os casos a busca de segurana um argumento muito importante.
Entretanto, pesquisas apontam que a existncia de muros e portes no garantia de
segurana. H diversos registros de roubos e assaltos ocorridos dentro de gated
communities, ocasionados no s pela existncia de quadrilhas especializadas em
invadir comunidades fechadas, como tambm pelo envolvimento de adolescentes
moradores.(Blakely&Snyder,1997)
Alguns moradores de gated communities entrevistados por Blakely
consideram a promessa de segurana como uma falcia, pois h diversas formas deromperocontroledeacessooferecidopelasguaritas.Entretanto,emboraagarantiade
segurana seja falsa, a sensao de segurana propiciada por muros e portes
valorizadaporgrandepartedeseusmoradores.
Principalmente nos Estados Unidos, muitas comunidades fechadas no
possuemguardasemseusportes,apenashcmerasdeseguranasecercasaoredor
do empreendimento. Quando h a presena de guardas (nos Estados Unidos e no
Brasil), estes no so armados, o que lhes d possibilidade apenas de controlar acessos
enocombateraesdeviolnciaarmada.
A segurana nas ruas tambm uma questo a ser discutida. Hdiversos casos
decondomniosquenopossuemreasparaolazerdecrianas,oqueaslevaautilizar
o espao da rua para atividades de lazer. A rua interna, embora fechada, no
necessariamente possui baixa velocidade, o que muitas vezes se torna motivo de
inseguranaparaapopulaomoradora.
2.2.1.
< Captulo 02: Bairros Fechados >
73
8/8/2019 Violncia Urbana - texto
25/42
74
< Captulo 02: Bairros Fechados >
No caso do Brasil, como aborda Caldeira em seu livro Cidade de Muros, o
medo do crime cresce tanto ou mais do que o crime violento. A fala do crime aparece
em todos os locais: em casa, no trabalho, na rua e principalmente nos meios de
comunicaocomotelevisoeosjornais.
O medo e a fala do crime no apenas produzem certos tipos de interpretaes e
explicaes, habitualmente simplistas e estereotipadas, como tambm organizam
a paisagem urbana e o espao pblico, moldando o cenrio para as interaes
sociais que adquirem novo sentido numa cidade que progressivamente vai se
cercando de muros. (Caldeira,2000:27)
Caldeira demonstra em seu livro que a tendncia excluso e segregao
entre ricos e pobres, como se tratassem do bem e do mal, encobre outros
preconceitos,deraa,entreclassessociaisederendadistintas.
ConformeMaricato,
a crescente violncia urbana o sinalizador mais visvel da cidade real ao
extravasar os espaos da pobreza e da segregao (evidentemente mais
violentos) e buscar os espaos distinguidores da riqueza. Mas ela por
demais evidente em nossas cidades para que nos ocupemos dela aqui.
(Maricato,2007:64)
Segundo Da Matta, quando usada pelos poderosos, o argumento da violncia
afirmaahierarquiae desqualifica a igualdade,oquepermiteconcluirqueaviolnciase
torna uma justificativa bastante funcional para encobrir a valorizao imobiliria
promovida pelos bairros fechados. Hierarquia tambm um valor muito importante,
comovistoacima.
Caldeira aponta tambmque a defesa da segurana privada tem se baseado na
ineficincia pblica. Entretanto, dados revelam que a maioria das pessoas envolvidas
com o mercado de segurana privada so policiais ou ex-policiais. Muitas vezes usam
armas da polcia e trabalham nos dias de folga. Se a ineficincia do servio pblico cria
demandaparaosserviosprivadosdeseguranaesoosprpriospoliciaisqueganham
com esta ineficincia, qual o interesse que podem ter em melhorar os servios por
partedoEstado?
Entretanto, como o medo um dado real, a sensao de segurana um
efeito importante, garantidopela existncia de murose portes.
8/8/2019 Violncia Urbana - texto
26/42
2.2.2.
2.2.3.
Avidaemcomunidade
Osbairrosfechadostmsidovendidoscomoopodemoradiaquecontribui
para formao de comunidades mais integradas, permitindo a utilizao dos espaos
livres, ruas e praas, com maior tranqilidade, pois o fechamento impede o trnsito de
passagem permitindo o lazer nas ruas. A presena de guaritas propicia maior segurana
nos espaos livres e a homogeneidade do perfil de seus moradores, supostamente
deveriasersignificadodequecompartilhamaspiraescomuns.
Entretanto, o que se observa que a separao entre casa e trabalho e o
aumento do nmero de horas em que o morador fica fora da residncia alteraram aforma de constituir comunidades: muito mais relacionado aos circuitos ligados ao
trabalho. Um morador que trabalha o dia todo longe de casa, em reas distantes,
ocupa grande parte do seu tempo com os deslocamentos. Possui ento menor tempo
em casa, para desfrutar do convvio da famlia e da comunidade. Segundo Reis, no
ser um exagero supor que cerca de um milho de pessoas sejam atendidas
diariamente em vrias regies do estado, por nibus fretados e peruas, nos trs
turnos.(Reis,2006:93)
Ao contrrio do que ocorre na cidade tradicional, a populao moradora de
bairros fechados apresenta pouca motivao para participar e se relacionar. A
administrao condominial se responsabiliza por prover as necessidades bsicas da
populao moradora. No h necessidade de haver organizao social em busca de
interesses e reivindicaes comuns. A associao de moradores assume o papel de
defensora dos interesses individuais de seus proprietrios, desobrigando seus
moradoresdezelarporseuespaocomum.(Blakely&Snyder,1997)
A gesto condominial : associaes de moradores ou governos
privados?
Uma das caractersticas mais importantes das gated communities, no a
existncia de portes, massim o subjacente sistema de gestorequerida porestas.
... Um conselho eleito controla as reas comuns e cada casa atravs deconvenes, condies e restries como parte do contrato... A associao de
moradores uma entidade privada que pode fazer suas prprias leis. (Blakely &
Snyder,1997:20)
< Captulo 02: Bairros Fechados >
75
8/8/2019 Violncia Urbana - texto
27/42
< Captulo 02: Bairros Fechados >
76
Um dos efeitos do fechamento, segundo Blakely & Snyder, a necessidade
criada por eles da formao de uma organizao social interna ao bairro fechado. O
principal papel destas organizaes recolher e administrar recursos necessrios para
o pagamento dos servios de segurana, manuteno interna, bem como garantir a
ordem e a segurana de seus moradores. Segurana, neste caso, significa tambm
manteropadroexclusivoediferenciadodopadrourbansticodoentorno.Garantira
valorizaodosimveistemsidopapeldaassociao,utilizandotodososrecursospara
impedir a desvalorizao do empreendimento. McKenzie (2003), ao pesquisar o
crescimento dos governos privados nos Estados Unidos, chama o fenmeno de
privatopia, pois representa a utpica aspirao de privatizao da vida pblica. O
autor afirma tambm que as associaes de moradores so importantes instituies
querefletema mudana ideolgica em favor da privatizao,caractersticado consensoneoliberal. (McKenzie, 2003)
A pesquisa emprica deste trabalho permitiu alto grau de participao dos
sndicos de loteamentos fechados, nas discusses dos Planos Diretores,
demonstrando grande poder de presso junto s autoridades municipais. Muitos
advogados e juzes tmse destacadona gesto de loteamentos fechados no Brasil, pois
possuem influncia e conhecimento das leis suficiente para garantir a manuteno de
seusprivilgios .
Para o estabelecimento de procedimentos e normas prprias para cada
bairro, so institudas as convenes de condomnio, geralmente mais restritivas dos
que os parmetros da cidade convencional. Estas organizaes so governos
privados, com recursos e poder para controlar, restringir e punir moradores que
infringiremalei.
Partedasdeliberaescontidasnasconvenesdecondomniopodedefiniro
padroconstrutivodasmoradias,otamanhomnimodereaaceitaparaconstruoda
unidade residencial, como tambm poder restringir o acesso de negros, como
acontece em alguns bairros fechados nos Estados Unidos. Garantir uniformidade no
padro construtivo das moradias uma forma de evitar a desvalorizao do bairro
fechado.
Blakely & Snyder demonstram que as associaes no so instituies
democrticas, como parecem. Apontam que nos Estados Unidos algumas chegam a
controlar at o mobilirio interno da moradia, em reas visveis para quem anda nas
4
No caso do Plano Diretor deVinhedo (2006) a questo
fundamental para osloteamentos fechados era
garantir a regularizao dosmesmos e a manuteno das
guaritas sem nus para seusmoradores. Os loteamentos
buscavam tambm garantirprivilgios quanto instalao
da rede de esgoto custeadapela municipalidade. Por outro
lado, opunham-se demarcao de zonas de
interesse social no municpioespecialmente em reas
prximas s reas do mercadode alta renda.
4
8/8/2019 Violncia Urbana - texto
28/42
ruas; o tipo da vegetao, a localizao e altura de canis, a proibio de construo de
edculas, a proibio do uso das moradias para o desenvolvimento de atividade
econmica por parte do morador, como dar aulas particulares, possuir escritrio etc.
As associaes justificam o estabelecimentode restries como forma de controlar o
comportamento de seus moradores. Muitas vezes, as restries contidas nos
regulamentos internos ferem a legislao, seja ela a lei de uso e ocupao do solo do
municpio, a constituio estadual e as leis federais. Este fato ocorre no s no Brasil,
masemoutrospasestambm.(Blakely&Snyder,1997)
Em decorrncia da privatizao da administrao dos bairros, muitos
moradores de gated communities vm questionando o pagamento do imposto
territorial urbano, argumentando j pagarem as taxas condominiais responsveis pelo
provimento dos servios urbanos como segurana e manuteno. Algumasassociaes tm questionado na justia o pagamento das taxas urbanas, obtendo
sucessoemalgunscasos.
Coma proliferao dasassociaes de moradores, maise mais americanos podem
estabelecer suas prprias taxas, escolher os servios que vo usar, e restringir os
benefcios das taxas apenas para os prprios moradores e sua vizinhana
imediata. (Blakely&Snyder,1997:25)
Muitos dos servios internos so executados por empresas terceirizadas,
contratadaspelasassociaesdemoradores.
Os governos, por sua vez, tm incentivado estas organizaes, pois assim se
eximem de suas obrigaes quanto a garantir a segurana pblica, a manuteno
urbanaderuas,praaseparques.
Muitas gated communities americanas, especialmente localizadas na
Califrnia, esto trabalhando para se separarem dos municpios de origem,
emancipando-se. Estes movimentos refletem tambm a insatisfao dos cidados
coma qualidadedosserviospblicosprestadospela municipalidade.
Distino, status, privilgiose a sociedadedo espetculo
Na forma do indispensvel adorno dos objetos hoje produzidos, na forma da
exposio geral da racionalidade do sistema, e na forma de setor econmico
avanado que modela diretamente uma multido crescente de imagens-objetos,
o espetculo a principal produo dasociedadeatual.(Debord,1992:15)
2.2.4. 5
< Captulo 02: Bairros Fechados >
77
5 Faz-se referncia aqui aotrabalho de Guy Deborddenominado A sociedade doespetculo, de 1992.
8/8/2019 Violncia Urbana - texto
29/42
< Captulo 02: Bairros Fechados >
78
Em certo sentido, o loteamento fechado funciona como uma representao.
Envolto em signos, smbolos e imagens, tem como finalidade construir uma
irrealidade, um mundo de fantasia desconectado da cidade tradicional. Sua
desconexo se d no apenas atravs de barreiras fsicas, portes e guaritas, mas
principalmente pela ostentao de suas portarias, estilos arquitetnicos e caractersticas
urbansticasmais tpicas do mundoclssicodo queespecificamente doBrasil.
Se os loteamentos fechados so apenas terra murada, os smbolos devem ser
reforados no intuito de iludir e criar um sonho, mais do que uma realidade. A
propaganda , portanto, ferramenta essencial, como forma de ilustrar um sonho
diferentedoreal.ComodizDebord,oespetculonoumconjuntodeimagens,mas
uma relaosocialentrepessoas, mediatizada por imagens. (Debord,1992:4)
As portarias representam o limite fsico entre a cidade e o mundo das elites,
criando o que se pode chamar de ilhas de primeiro mundo. O mercado vem, porm,
compreendendo quea manuteno da imagemtanto do espao livre interno como das
moradias condio fundamental para garantir a valorizao crescente dos imveis
dentro dos empreendimentos. Para tanto, incluem normas de controle dos hbitos de
seus moradores, nasconvenes de condomnio. O espetculo esconde seucontedo
real.
Assim como descrito acima, embora moradores de bairros fechados saibam
que muros e guaritas no impedem a ocorrncia de assaltos e roubos, pesquisas
americanas apontamqueestas famlias desejam mant-los. Esta afirmaodenotaqueo
sentido de segurana refere-se no s proteo contra o perigo da violncia, mas o
perigodaperda destatus social to oumais importante.
Distinguir-se, separar-se, proteger sua posio na sociedade parte integrante do
projetodevidadaclasse-mdia.
... tendncias em direo privatizao e rejeio da ordem pblica tornaram-se
especialmente visveis durante o perodo de consolidao do regime democrtico.
Fazia parte do projeto de democratizao a criao de uma esfera pblica mais
igualitria, e de fato, ele expandiu a cidadania poltica das camadas trabalhadoras
que, atravs de movimentos sociais, pela primeira vez participaram realmente davida poltica brasileira. Assim, possvel interpretar a retirada da elite para enclaves
privados como umaformade resistncia democratizao. (Caldeira,2000:283)
8/8/2019 Violncia Urbana - texto
30/42
Muitas caractersticas dos empreendimentos contribuem para criar o
espetculo: proximidade com a natureza e com o meio rural, a assepsia de ruas e
caladas, a uniformidade das fachadas. Como se o mundo exterior fosse to
homogneo,controladoeestvel,comodentrodosmurosdosbairrosfechados.
A lucratividade do modelo
Sem negar as motivaes apresentadas acima, buscou-se uma determinao
mais geral para o fenmeno da proliferao dos loteamentos fechados, no Brasil e em
diversos pases do mundo que foram pesquisados. A teoria que melhor explica esta
transformao urbanaresidena lgicado funcionamento dosmercados de terra.DavidHarvey (1980), baseado nas teorias de Marx, fornece explicaes para o fenmeno
estudado.
Solo mercadoria, que no pode deslocar-se, assumindo, a partir de sua
localizao, privilgios de monoplio. A partir das benfeitorias que recebe, pode gerar
riquezas.Harvey(1980)aponta,nocasodamoradia,queosincorporadorescumprem
seu papeldecriarnovos valores deuso paraoutros, somente na medidaemque criam
valores de troca para si prprios. As instituies financeiras,porsuavez,interessam-se
poroferecercrditoscomoformadeobtenodevaloresdetroca,evitandoriscos.
Atravs da implantao de benfeitorias, o Estado contribui para a valorizao
das propriedades localizadas prximas s melhorias financiadas com recursos pblicos.
Marcuse & Kempen,( 2002) aponta que o Estado teve sempre um papel definidor na
produo da segregao. A atribuio de coeficientes de aproveitamento e o
zoneamento sempre funcionaram como forma de valorizar a terra urbana, como ofato de deixar reas fora do permetro urbano tambm garantiu privilgios aos
proprietrios de terra: tornaram-se invisveis para os sistemas de controle urbano e
paraoscadastros.
A reteno de terra urbana para fins de especulao torna escassa a oferta de
terranomercado,eaescassezproduzidapelomercadoproduzmaisvalorizao.
Na tica de Marx, a renda algo furtado pelo proprietrio do solo, um retorno
injusto. O proprietrio do solo no contribui em nada em comparao com o
capitalista, que pelo menos promove a produo; e o proprietrio do solo tem xito
2.2.5.
< Captulo 02: Bairros Fechados >
79
8/8/2019 Violncia Urbana - texto
31/42
< Captulo 02: Bairros Fechados >
80
necessrio explicitar queembora muitas das terras ondeesto sendo implantados estesloteamentos fechados estejamdentro do permetro urbano,
so consideradas rurais porgrande parte das prefeituras.
Isto se d pelo fato jexplicitado no Captulo 1
relativo desatualizao doscadastros de imveis, que s
registram a terra como urbana,no momento em que o
proprietrio pretende lote-la.
6
porque ele tem o poder de retirar recursos substanciais ligados ao solo e as
benfeitorias se lhe vantajosofazerassim. (Harvey, 1980:158)
Nos loteamentos fechados, ao exemplo dos subrbios americanos, no h
produo de edificaes. O que se busca principalmente renda fundiria. O risco
destes investimentos proporcionalmente baixo, pois o incorporador no compra a
terra, eleassocia-seao proprietrioda terranoempreendimento.
Se grande parte dos empreendimentos so promovidos em terras rurais e, o
que fixa o seu valor a produtividade de seu solo, no caso agrcola, com a implantao
do loteamento fechado, o preo de venda equipara-se ao mercado de moradia para a
alta-renda, muito superior situao antes encontrada. Pode-se dizer que so as
benfeitorias concedidas pelo Estado que viabilizam tal valorizao de terras rurais nomercado de alta renda. A infra-estrutura pblica transformao valor deuso deuma dada
glebamodificandotambmseuvalordetroca.
Harvey destaca tambm que o valor de qualquer parcela do solo contem as
expectativas supostas de valores futuros. Se a mudana na expectativa de uso se d
apenas no momento da incorporao, logo a valorizao captada tambm pelo
incorporador, que negocia terra barata e vende com valor de mercadoria de luxo. A
produo produz o consumo: provendo o objeto de consumo, determinando o
modo de consumo, criando no consumidor a necessidade dos objetos que ele
primeiroelaboracomoprodutor.(Marx apud Harvey, 1980:186)
A cidade, portanto torna-se lugar de disposio de produto excedentee assim
transforma-se em um campo para gerar demanda efetiva. O mercado imobilirio,
portanto precisa produzir necessidade, atraindo novos consumidores para vender seu
produto excedente.
No caso estudado, h uma dependncia criada entre o crescimento do
mercado e as condies que a cidade apresenta para atrair consumidores. Se a
populao de renda mdia e alta cresce a taxas inferiores a 5% ao ano, como pode o
mercadocrescer30%nomesmoperodo?
A necessidade deconsumir lote fechado sed tanto atravs dopoder da mdia
em divulgar as qualidades de tais empreendimentos, como tambm de alimentar o
medo do crime, como tambm o Estado cumpre sua tarefa: desloca seus
6
8/8/2019 Violncia Urbana - texto
32/42
investimentos para novas reas de explorao de interesse do capital, abandonando a
cidade tradicional.
O mercado imobilirio passa a produzir apenas o novo produto e atravs da
novidade promovida por muros e guaritas, vende o lote e mais todos os servios
anteriormente de responsabilidade do Estado. O preo dos lotes embute a promessadeafastamentodosproblemasdacidade,econstituinovoparmetrodevalor.
Para manter os lucros, o monopolista dever reduzir custos e regular a
quantidade produzida para manter o preo no mercado. O aumento da demanda por
moradias nos loteamentos fechados, se d pela necessidade de expanso do mercado,
e esta estratgia de ampliar mercados surge especialmente a partir da criao de um
produtodeluxo. ComoditoporMarx,
o desenvolvimento da produo capital ista e o conseqente
embaratecimento das mercadorias cresce a sua massa, aumentao nmero
das mercadorias que tm que ser vendidas e, portanto, necessria uma
contnua expanso do mercado: tal constitui uma necessidade para o modo
de produo capitalista. (Marx,2004:161)
Importante lembrar que, conforme explicitado anteriormente, o modelo de gated communities mais encontrado no Brasil so os empreendimentos chamados
prestige communities, ou seja, loteamentos fechados voltados para as classes mdia e
alta cujo apelo distino e status, aos moldes da cpia do estilo aristocrtico
desenvolvidoporJohnNash,naInglaterraequesedisseminouparatodoomundo.
Encurtar a vida econmica e fsica dos produtos um estratagema tpico para
acelerar a circulao de mais valia em todos os setores da econmica. (Harvey,
1980:233). Podemos dizer que o produto moradia, para as classes mdias e altas
tambm funciona assim. Nestes casos, encurtar a vida econmica (obsolescncia
planejada) dosantigos bairros significou a destruio da vida urbanadas cidades, atravs
do abandono e da violncia urbana. O problema urbano se agravou e o mercado
ofereceuasoluodoloteamentofechado,comoonovoprodutoasercomprado.
A indstria imobiliria, por sua vez, buscou ampliar lucros a partir do
estabelecimento da produo em srie. Aumentou, portanto, o nmero de lotes
fechados produzidos em cada empreendimento, buscou reas maiores ao mesmo
tempo em que investiu grandes cifras na propaganda em massa do modelo de morar
intra-muroscomoveremosmaisadiante.
< Captulo 02: Bairros Fechados >
81
8/8/2019 Violncia Urbana - texto
33/42
< Captulo 02: Bairros Fechados >
82
Uma questo importante entender o que viabilizou a rapidez desta
transformao urbana. Segundo Marx, baseado em seu conceito de temporalidade,
parte da mais-valia se d na forma de juros. (Harvey, 1980) Os recursos para habitao,
disponibilizados na dcada de 70 (FGTS e SBPE: SFH/BNH) estiveram retrados nas
dcadasde80,90einciodosc.XXI.Apenasapartirde2005horeaquecimentodos
crditos para o mercado imobilirio e para promoo pblica de habitao. A partir de
ento, bancos comeam tambm a participar dos processos de incorporao
imobiliria,deformabastanteprxima.
No captulo 4, sero apresentados alguns estudos de casos de
empreendimentos de loteamentos fechados que se utilizaram no s de crditos
bancrios, mas tambm ocuparam terras de propriedade de instituies financeiras,
registradas emnome depessoas jurdicasdistintas.
Observou-se tambm, na pesquisa emprica, que a natureza das empresas
incorporadoras se modificaram, bem como novos parceiros foram introduzidos. Este
fenmeno identificado tambm em pases como Chile e Turquia, onde verifica-se
tambm a entrada de novos atores no ramo da incorporao imobiliria. (Levent &
Glmser, 2005; Stockins, 2004) No Brasil, as principais empresas fundiram-se
fortalecendo seu poder de controle no mercado, assim como abriram seu capital naBolsadeValores.
A caractersticados incorporadores
A nova indstria imobiliria tem grande responsabilidade no boom do
crescimento perifrico atravs da implantao de loteamentos fechados. As novas
empresas correspondem a grandes corporaes que possuem, em seu poder, ampla
carteira de terrenos nas periferias das cidades. No Chile, Rodrigo Hidalgo relata que
no h mais possibilidade de se adquirir lotes ou pequenas propriedades de terra, pois
grande parte destas j est reservada para o mercado voltado produo em grande
escaladebairrosfechadostantoparaclassesmdiaealta,quantoparaahabitaosocial.
(Stockins,2004)
Assim, como poder ser visto no captulo 4, h no Brasil tanto empresas queatuavam no ramo da construo e que hoje investem em gerar lucros a partir da renda
da terra transformada em loteamento fechado, quantoempresas cujo capital origina-se
2.2.6.
8/8/2019 Violncia Urbana - texto
34/42
em outros setores da economia: empresas agropecurias, farmacuticas, de
transporte, alimentcia e na maioria dos casos, temos a importante participao dos
proprietriosdeterranassociedadesdeincorporao.
Estasempresascoordenamtodooprocesso,incluindoaescolhadoterreno,a
subcontratao de projetos e obras, o financiamento dos imveis, bem como a
divulgaoecomercializaodosmesmos.
Sua forma de produo baseia-se na produo em srie, do maior nmero de
unidades possveis. Neste caso incluem-se no s os loteamentos fechados, mas
tambm os condomnios horizontais de casas, que com um nico projeto, cujo
tamanho tem aumentado nos ltimos anos do sculo XX e incio do sculo XXI,
conformeservistoadiante.
NoBrasil,onmerodelotesfechadosemumnicoempreendimentochegaa
atingir at 5 mil lotes. Stockins observa em seu estudo que esta forma de incorporao
imobiliria se viabiliza pois h muitos terrenos vazios, de grande porte nas reas
perifricas. No Brasil, so fazendas improdutivas reservadas para a especulao por
parte de seus proprietrios. O ganho imobilirio se d pela compra da terra rural
transformada em produto de luxo, conforme j apontado anteriormente. O fato da
empresa financiar a compra dos lotes faz com que a concesso do crdito seja tambm
revertidaemmaisvaliaparaelaprpria.
Conforme ser apresentado no captulo 4, as dimenses dos
empreendimentos variam de acordo com o perfil dos mesmos e o pblico alvo que
pretende atingir. Os empreendimentos voltados garantia da segurana podem
apresentar menos de 10 mil metros quadrados, sendo condomnios fechados,
enquanto que os loteamentos fechados voltados ao lazer atingem reas com at 5milhes de metros quadrados. A teoria de Blakely & Snyder, neste sentido bastante
importante nesta reflexo, pois ajuda a compreender que h especificidades
importantes de serem apreendidas, evitando que se cometa o equivoco de tratar o
fenmenodeformahomognea.
H hoje empreendimentos fechados para todas as faixas de renda, com lotes
de tamanhos variados, o que condicionar o fator localizao, caracterstica dos
incorporadores e perfil dos terrenos. A diferena que os empreendimentos para
classes de renda menor possuem rea menor, so muito densos e podem estar
< Captulo 02: Bairros Fechados >
83
8/8/2019 Violncia Urbana - texto
35/42
< Captulo 02: Bairros Fechados >
84
Neste caso necessrio dizerque esta diferena de preo se
d muitas vezes emempreendimentos prximos,
entretanto um dentro dopermetro urbano e o outro
na zona rural.
O mdulo mnimo rural de20 mil metros quadrados por
exigncia do Estatuto da Terra,Lei no 4.504/64. Atravs da
Instruo Normativa no 17-B/INCRA de 22/12/1980,
possvel realizar oparcelamento de um imvelrural, porm a norma deixa
claro que para a finalidade deuso urbana, devero serobedecidas as exigncias
estabelecidas pela Lei 6766/79,que veda a ocupao urbana
fora do permetro urbano. Oque acontece um
descumprimento da lei: oparcelamento em rea rural aprovado pelo INCRA para ouso agrcola, mas ao se tornar
7
8
localizados em reas urbanas consolidadas, ao contrrio dos empreendimentos para
populao de mais alta renda, que preferem os lotes suburbanos, e de mais baixa
densidade. Os loteamentos fechados, voltados classe mdia baixa, chegam a possuir
readolotemenordoqueosantigosconjuntoshabitacionaispromovidospeloEstado.
Importante ressaltar que a comparao entre os preos do metro quadrado cobradoem lotes fechados varia muito, pois h dimenses muito diferentes entre eles. Em
Campinas, encontram-se lotes voltados para a classe mdia alta cujo preo do metro
quadrado variou entre R$15,00 e R$ 480,00 , no primeiro caso sendo lotes de 20 mil
metros quadrados (lote rural/ mdulo mnimo do INCRA) e o segundo, lotes de 300
metros quadrados . Os lotes em loteamentos fechados no Brasil variam entre 150
metrosquadradose 20 milmetrosquadrados .
No Brasil alguns municpios definiram padres mais densos em algumas reas
com o intuito de incentivar a promoo de empreendimentos de interesse social,
voltados s classes populares, abrindo a oportunidade desta oferta ser realizada
tambm no mercado. No entanto, observa-se quepadres mais densos foram usados
indevidamente pelo setor imobilirio que diminui o lote, adensando o
empreendimento, fechou e elevou os preos, obtendo assim lucros extraordinrios.
Nestescasos utilizam-se os parmetros estabelecidospor leis de habitao de interesse
social,paraproduzirmoradiasparaaclassemdia.H,portanto,umadistoroporque
o produto, cujas exigncias so menores (tamanho de lote, tamanho da edificao,
recuosdentreoutros),noatendeointeressesocial.EmCampinas,comoservistono
Captulo 4, foram empreendidos diversos empreendimentos de HIS, vendidos no
mercadodemdiarenda.
7
8
8/8/2019 Violncia Urbana - texto
36/42
< Captulo 02: Bairros Fechados >
85
2.3.Asconseqncias dos loteamentos fechados
Conforme j apresentadoinicialmente, profundasalteraesestoocorrendo
na morfologia das cidades brasileiras. Disperso, fragmentao so sinais da nova
ordem global ao qual foram submetidos pases centrais e perifricos. O surgimento de
espaos cada vez mais fechados entre muros tem chamado a ateno de
pesquisadores, que comeam a analisar as conseqncias da proliferao de bairros
fechados,destinadosresidnciadasclassesmdiasealtas.
A seguir sero apresentadas algumas questes relativas aos impactos
decorrentes de tais implantaes, tendo como base a bibliografia internacional sobre o
tema.
Mudana na escala da segregao e aumento dos custos
sociais
Sabatini (2004) defende que, no Chile, o aparecimento dos bairros fechados
tem reduzido a escala da segregao. A possibilidade de fechar bairros intra-muros,
abre a possibilidade da disperso geogrfica da moradia das elites. Muitos bairros
fechados foram implantados em meio a regies ocupadas por bairros populares, ao
contrrio do que ocorria at ento, onde a elite concentrava-se formando o que o
autordenominadeumconedealtarenda.
Pesquisas realizadas no Chile demonstram tambm que a populao de baixa
renda, moradora do entorno dos bairros fechados, avalia positivamente a chegada da
populao de mais alta renda, pois atravs da chegada de moradores com maior poder
aquisitivo, h a melhoria da regio como um todo. Muitos empregados domsticos so
demandados pelos bairros fechados, gerando emprego para parte da populao do
entorno.
No Brasil, especialmente observando a rea de pesquisa, a RegioMetropolitana de Campinas, o fenmeno inverso. As cidades brasileiras que hoje
recebem loteamentos fechados especialmente suburbanos, j apresentam forte
2.3.1
8/8/2019 Violncia Urbana - texto
37/42
segregao espacial das classes populares, o que faz com que os empreendimentos
das classes mdias e altas busquem localizar-se junto aos eixos tradicionalmente
valorizados.
A viabilizao de empreendimentos voltados para a elite nas periferias,
restringe ainda mais a oferta de terras usualmente destinadas s camadas populares,
isto , a possibilidade de se implantar um loteamento fechado em qualquer parte da
cidade deflagra um processo inflacionrio no preo dos terrenos da cidade como um
todo.
Fechamentos cada vez maiores, mais prximos e contguos, demarcam
grandes permetros fechados, nunca vistos antes dentro da malha urbana e a
implantao desenfreada de loteamentos fechados em reas contguas entre sicompromete a fluidez do trfego, excluindo parte da populao do uso de espaos de
lazer pblicos, da circulao em determinadas regies da cidade, bemcomo a impede
de ver certas paisagens e de tomar contato com o meio rural. Partes do territrio se
tornam exclusivos a um determinado grupo que compra o privilgio de desfrut-los:
exemplodematasnativas,praias,montanhasetc.
A exigida distncia entre ricos e pobres, condio bsica para garantir o valor
dos imveis, cria um modelo caro e controvertido. A populao que trabalha nos
loteamentos fechados acaba morando nas regies precrias e distantes dos centros
urbanos. Se o mercado de trabalho se metropolizou, a populao trabalhadora foi
expulsa para regies cada vez mais distantes das reas infra-estruturadas, ou seja,
mora-se em um municpio e trabalha-se em outro, sendo submetido a grandes
deslocamentos dirios dentro da metrpole. A populao utiliza o nibus urbano para
se deslocar, dada falta de um transporte de massa de maior eficincia em diversas
cidades brasileiras. Os custos urbanos e sociais, por sua vez, so repartidos com oresto da sociedade, pois o municpio que acaba investindo viabilizando novas linhas
de transporte pblico para a populao, bem como estendendo toda a infra-estrutura
urbanaataportadoempreendimento.
A exigncia de habitao social para os trabalhadores dos loteamentos no
aparece como exigncia do Estado e nem considerada nos diversos Estudos de
Impacto Ambiental que so elaborados para o licenciamento de alguns destes
< Captulo 02: Bairros Fechados >
86
8/8/2019 Violncia Urbana - texto
38/42
empreendimentos. como se no houvesse impacto social e urbano decorrentes da
implantaodecentenasdeunidadeshabitacionaisemmeioaocampo.
Degradao do meioambiente/rural
Assim como foi dito anteriormente, estar prximo natureza foi sempre uma
caracterstica da concepo urbana dos subrbios. A proximidade de recursos naturais
preservados apresenta-se como um requisito, principalmente no caso de bairros
fechadosdestinadosaolazer.
Como observa o movimento do Novo Urbanismo e como comprovado
pelas pesquisas empricasdeste trabalho, a disperso de bairros fechados junto s reas
rurais e preservadas acaba degradando o meio ambiente do entorno. Altos ndices deimpermeabilizao do solo, decorrentes da implantao de loteamentos urbanos,
alteram as feies do stio natural e os ciclos hidrolgicos. Os represamentos de rios e
crregos de forma desmedida executados para criar o cenrio natural exigido para o
empreendimentopodemserompercausandosriasenchentes .
Randall Arendt, membro do grupo do Novo Urbanismo, defende a idia de
que salvar as reas agrcolas uma questo crucial para garantir a sade das
comunidades metropolitanas. Esta defesa se faz no apenas para manter reas
produtivas, mas para proteger os mananciais contra a poluio, contaminao e
2.3.2.
9
Em Campinas, houve doiscasos muito graves deenchentes ocorridas nos anosde 2002 e 2003 causadas porrompimento de barramentos/represamentos realizados emgrandes fazendas para aimplantao de loteamentosfechados de alto padro.Entretanto, emboraamplamente divulgado pelaimprensa, o fato no impediuo pleno desenvolvimentodestes empreendimentos,que aps o ocorridoretomaram as obras e estosendo comercializadoslivremente.
9
Fig. 2.10
1. Ocupao urbana concentrada na
zona rural2 e 3. Ocupao urbana dispersa nazona rural comprometendo o meio
fsico naturalFonte: Congress of The NewUrbanism, 1999.
1
2
3
< Captulo 02: Bairros Fechados >
87
8/8/2019 Violncia Urbana - texto
39/42
desaparecimento.Eledizquemesmo5%deocupaoemumloteruralpodearruinar
50%dapaisagem,seforemlotesgrandescomumedificaocentral.
No Brasil grande parte dos loteamentos fechados tipo lifestyle communities
localiza-se no permetro rural. Sendo assim so parcelamentos com lotes de vinte milmetros quadrados, o que faz com que grandes reas naturais sejam expostas ao uso
urbano, de forma predatria e insustentvel no conjunto da preservao do
ecossistemanatural.
Mortedaruaedacidade
Aqueles que se sentem ameaados pela pobreza e pela aproximao de negros
tm duas opes: fechar-se entre muros ou mudar-se para uma zona segura e
fechar-se l. ... Igualmente, trabalhadores e classe mdia sem recursos para
mudar-se simplesmente fecham suas ruas. Mas pessoas de todas as classes esto
optando pormudar-separa zonas de seguranaounovos loteamentos fechadosnos
subrbios. (Blakely&Snyder,1997:150)
Com o aumento de reas fechadas, muros, guaritas e portes, a cidade
comea a tornar-se local abandonado e perigoso. Ao mesmo tempo, os bairrosfechados vm reforando o medo das pessoas em relao s ruas e aos outros. As
ruas fechadas, predominantemente ruas locais, antes destinadas a caminhadas a p ou
destinadas ao uso da bicicleta so fechadas dentro dos bairros, o que concentra o fluxo
de veculos, pedestres e ciclistas em grandes avenidas, trazendo insegurana para a
populaoqueusaestesespaos.
A valorizao imobiliria dos imveis fechados por muros e guaritas promove
a desvalorizaodaqueles imveis queficaram para fora. Assim como Blakely & Snyder
observam, nas classes mdias e altas que a mudana de localizao se viabiliza
financeiramente. A conseqncia destes deslocamentos tem sido o esvaziamento e
abandono de bairros inteiros, notadamente os bairros estritamente residenciais que
ficaram abertos. Sem condies de diversificar o uso dos imveis devido resistncia
de parte dos antigos moradores que permaneceram ali, tornam-se freqente motivo
de conflito entre os que acreditam poder atrair novos moradores, compatveis com
as caractersticas do bairro, e aqueles cuja sada proposta a liberao da rea para aocupaocomercialedeservios.
2.3.3. 10
Resenha de livro: Jane Jacobs"Morte e vida das grandes
cidades". Jornal de Resenhas,Folha de So Paulo 10/03/2001
10
< Captulo 02: Bairros Fechados >
88
8/8/2019 Violncia Urbana - texto
40/42
Cabe destacar que o subrbio brasileiro seguiu o modelo dostreetcar suburb,
baseando-se no automvel particular para todos os deslocamentos. Assim como a
bibliografia americana exemplifica, no foi apenas a suburbanizao que destruiu a
cidade, mas sim a suburbanizao baseada no uso do carro. Los Angeles um
importante tema para reflexo. A falta de alternativas de transporte de massa
promoveu uma profunda alterao na feio urbana desta cidade. O plano virio de
1937 denominado Automobile Club's Plan, mobilizou macios investimentos em
novas estradas, o que causou a definitiva descentralizao da cidade transformando-a
emumametrpoleamorfaeperigosa.
No Brasil, o projeto neoliberal direciona-se no mesmo sentido. Muitos
investimentos tm sido canalizados para a implantao de rodovias, principalmente no
Estado de So Paulo, rodovias estas concessionadas empresas privadas s custas dospedgios implantados estrategicamente nas estradas das reas mais valorizadas no
mercadodealtarenda.
Conforme apresentado por Pires,M. (2007) em seu estudo sobre a regio de
Campinas, j nos anos 80 e principalmente na dcada de 90 em diante, investimentos
na rea de transporte foram concentrados nos eixos de atuao do mercado
imobilirio. Destacam-se os eixos Campinas/Mogi Mirim (concessionado para a
Renovias), vetor Santos Dumont no sentido de Indaiatuba (concessionado Colinas) e
a Anhanguera/ Bandeirantes (administrada pela empresa Autoban). O governo do
Estado de So Paulo inaugurou no ano 2000 o anel virio de ligao entre as Rodovias
Anhanguera e Dom Pedro I, recentemente reformada pela DERSA com a implantao
demarginaisemgrandepartedotrechourbanodeCampinas.(Figura2.11)
As reas centrais, por conseqncia, no recebem investimentos para
melhoria de caladas ou implantao e renovao de suas praas e parques h muitosanos. Como apresentado acima, os investimentos em transportes, especialmente no
Estado de So Paulo, concentraram-se em beneficiar o automvel particular, ao passo
que modos alternativos de mobilidade como transportes sobre trilhos, estmulo a
pedestres e ciclistas foram ignorados. Caladas e praas foram abandonadas refletindo
econtribuindoparaadiminuiodavidanasruas.Senohvidanasruas,nemcaladas
e mobiliriourbano, comopoder a ruasobreviver? Assim para muitas pessoas o dia-
a-dia na cidade est se transformando numa negociao constante de barreiras e
suspeitas, e marcado por uma sucesso de pequenos rituais de identificao e
humilhao.(Caldeira,2000:319)
< Captulo 02: Bairros Fechados >
89
8/8/2019 Violncia Urbana - texto
41/42
VetorPrincipaisLigaes
Dc. 1970 Dc. 1980 Dc. 1990 em diante
Rodovia SP 101 pista simples pista simplesDuplicao at Hortolndia e remodelao do trevo da Bosch (articulaocom a Via Anhanguera)Vetor 1
Campinas-MonteMor Av. John Boyd Dunlop
ruim traado ruim
remodelao do traado e duplicao at o Parque Itaja (1996) eprolongamento, em pista simples, at a divisa com Monte Mor (Jd So Luis- Cohab)
Rodovia Anhanguera pista dupla pista dupla
Construo da terceira pista do entroncamento com Rodovia D. Pedro I atAmericana; remodelao da rotatria com a Rodovia Santos Dumont e dotrevo da Bosch, construo das marginais entre o entroncamento daRodovia Santos Dumont at a Rod. D. Pedro I (em andamento)
Vetor 2
Anhanguera-
AmericanaEstrada dos Amarais (apartir da Rod. D. Pedro) ruim traado ruim
via precria - traado ruim
Rodovia Milton Tavaresde Souza ruim
pista dupla atPaulnia
duplicao at CosmpolisVetor 3 Campinas-Paulnia Estrada da Rodhia pista simples pista simples construo do acostamento
Vetor 4 Campinas-Mogi-Mirim
Rodovia SP - 340 pista simples duplicao remodelao do trevo com a Rod. D. Pedro
Rodovia Dom Pedro I(projeto dc. 1960)
pista simplesduplicao (apartir do final dadcada)
terceira faixa e trechos de marginal, entre a Anhanguera e a HeitorPenteado
Vetor 5 Dom
Pedro-Itatiba
Rodovia Heitor Penteado alargamento duplicao
Rodovia Anhanguera pista dupla pista duplaEstrada Velha para SoPaulo
pista simples pista simples melhorias
Vetor 6
Anhanguera-
Vinehdo Anel Virio no existia no existiaIncio das obras, nos anos 1990, e paralisao at o incio dos anos 2000,quando foi concluido o trecho entre as Rod. D. Pedro e Anhanguera
Rodovia Santos Dumont pista simples duplicao remodelao do trevo da Rod. Anhanguera com a Santos Dumont
Av. Amoreiras pista simplesconstruo decanaleta exclusivapara nibus
Vetor 7 Santos
Dumont
Av. Ruy Rodriguezruim traado ruim
remodelao do traado e duplicao at o Terminal Ouro Verde;melhorias at o Terminal Vida Nova
para o vetor 1 Av. Lixda Cunha (Suleste)
abertura da via compista dupla
Incio das obrasdo tunel
Concluso do Tnel sob a Ferrovia e complementao da duplicao daSuleste (Gov. Jac Bittar)
para o vetor 2 - Estradados Amarais
via precria - traado
via precria - traado
via precria - traado
via precria - traado
via precria - traado via precria
via precria
via precria
via precriaruim traado ruim
duplicao at a Rod. D. Pedro
para o vetor 3 -Tapeto Duplicao (1979/80)
para o vetor 4 - Av.Miguel Burnier
Pista simples duplicao
para o vetor 5 - Av.Moraes Sales/Av. Heitor
Penteado
alargamento econstruo do
Viaduto Lauro
Viaduto deacesso aoShopping Iguatemie duplicao at aRod. D. Pedro I
para o vetor 6 - Av.Francisco de PaulaSouza
alargamento
precriapara o vetor 6 - AvWashington Luis
via simples e precriovia simples e construo da segunda pista entre a marginal do crrego Piarro e o
Parque Prado.
para o vetor 7 - Av.
Prestes Maiaalargamento
para o vetor 7 - Av.Amoreiras
alargamento econstruo decanaleta exclusivapara nibus
Av. Aquidab alargamento
Av. Norte/Sul alargamentoretificao e canalizao do crrego, ampliao e melhorias na pista econstruo do canteiro central
Vetor 8 Centro
metropolitano
Marginais do Piarro retificao do crregoconstruo trechoVila Industrial -Prestes Maia
Trecho Prestes Maia - Parque Prado em construo
Melhoria de acessibilidade por vetor de expanso18Regio Metropolitana de Campinas1970 -2005
Fonte: Pires,M. (2007: 46)
Fontes: Entrevistas com tcnicos municipais; PMC (2004); MIRANDA (2002).
Obs: Rodovia dos Bandeirantes, inaugurada em 1978, no consta no quadro por se tratar de pista sem acesso
urbano. Seu prolongamento at a Rodovia Washington Luis, no incio desta dcada, tem gerado presso sobre reas
rurais de Sumar e Santa Brbara, para empreendimentos de alto padro, voltado para a RMSP .
Fig. 2.11
< Captulo 02: Bairros Fechados >
90
8/8/2019 Violncia Urbana - texto
42/42
Caldeira sinaliza que no s as atitudes nas ruas esto mudando, mas a
composiosocial damultido outra. As classes mdias e altas evitamandar nas ruas e
caladas,preferindo shoppingse supermercados, acessados como usodo automvel.
O transporte pblico atendehoje basicamente as classes populares.
Morar distante dos centros, nos loteamentos fechados nos subrbios tornou-
se um problema, fator de isolamento para muitas crianas e idosos, que pelo fato de
no dirigirem perdem mobilidade, passando grande parte do tempo ou aguardando
umoutroquepossatransport-lo,ouisolando-seemseusbairrosfechados.
Diminuio do contato social: enfraquecimento do
contrato social
Svampa (2001) narra algumas dificuldades que surgem na hora de conter o
excesso de autonomia de parte da populao infantil e adolescente. Muitos dos
moradores que entrevistou confirmam que o excesso de liberdade e confinamento,
provocou o aparecimento de condutas agressivas, como atos de vandalismo e
consumodedrogas.
Nos bairros fechados quem governa so associaes de moradores:
governos privados. A segurana, bem como todos os outros servios bsicos,
realizada por empresas privadas, contratadas pelas associaes de moradores. A
polcia no entra e os guardas privados se submetem aos patres: moradores dos
bairros fechados. Caldeira (2000) relata o caso de Alphaville, em que apenas entre
maro de 1989 e janeiro de 1991 foram registrados 646 acidentes de automvel
dentro do bairro, com 925 feridos e 6 mortos. Oitenta por cento destes delitos forampromovidos por moradores, em reas exclusivas. Os delitos ocorridos internamente
ao bairro vo desde pequenos roubos, atos de vandalismo e consumo de drogas. As
ocorrncias so abafadas enquanto os meios de comunicao internos noticiam
apenasluxoequalidadedevida.
2.3.4.
< Captulo 02: Bairros Fechados >
91