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VER 2002-C/SS/BARRAGENS:BARRAGENS - SANDRONI - 2006 - 6 ESTABILIDADE.doc 1 6 – ESTABILIDADE GEOTÉCNICA DE BARRAGENS 6.1 – ASSUNTOS ABORDADOS Os assuntos de estabilidade são tratados nos seguintes itens: 6.2 – estabilidade dos aterros durante a construção; 6.3 – estabilidade pela fundação dos aterros durante a construção 6.4 – estabilidade dos aterros perante rebaixamento rápido 6.5 – estabilidade dos aterros com reservatório cheio 6.6 – subpressões em estruturas de peso de concreto 6.7 – cargas na junção entre aterros e estruturas de concreto Os aspectos relacionados com tremores de terra não foram incluídos nas presentes notas. Os terremotos no Brasil são de baixa intensidade. Com exceção da região Atlântica de alto mar (a centenas de quilômetros da costa) e da região mais próxima aos Andes (extremidade Oeste da Amazônia) há pouquíssimos registros de sismos com intensidade maior do 5 na escala Richter (que são os que causam problemas para as barragens) e nenhum (que seja do conhecimento do autor) com intensidade maior do que 5,5. Não se tem notícia de nenhum acidente em barragens, mesmo sem gravidade, causado por sismos em território Brasileiro. A exclusão deste assunto é provisória, pretendendo-se no futuro incluí-lo nas notas. Em áreas fortemente sísmicas de outros países, onde os engenheiros Brasileiros muitas vezes são chamados a atuar, os efeitos sísmicos são, com freqüência, determinantes da segurança da barragem. Os deslizamentos de taludes de ombreiras e cortes, durante a construção, e os deslizamentos dos taludes da periferia reservatório durante a operação não foram incluídos nas presentes notas por se tratar de assunto enfocado na cadeira de Taludes. Os parâmetros de resistência dos aterros e das fundações (seja dos solos naturais, seja dos planos de fraqueza em rochas) também não são enfocados, por dois motivos: (a) trata-se de assunto amplo demais, que requereria um curso específico do mesmo porte do presente; (b) o assunto é enfocado em outras cadeiras do curso de mestrado da COPPE.

Barragens sandroni - 2006 - 6 estabilidade

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Apostila de barragens. Professor Sandroni. 2006.

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6 – ESTABILIDADE GEOTÉCNICA DE BARRAGENS 6.1 – ASSUNTOS ABORDADOS Os assuntos de estabilidade são tratados nos seguintes itens:

6.2 – estabilidade dos aterros durante a construção; 6.3 – estabilidade pela fundação dos aterros durante a construção 6.4 – estabilidade dos aterros perante rebaixamento rápido 6.5 – estabilidade dos aterros com reservatório cheio 6.6 – subpressões em estruturas de peso de concreto 6.7 – cargas na junção entre aterros e estruturas de concreto

Os aspectos relacionados com tremores de terra não foram incluídos nas presentes notas. Os terremotos no Brasil são de baixa intensidade. Com exceção da região Atlântica de alto mar (a centenas de quilômetros da costa) e da região mais próxima aos Andes (extremidade Oeste da Amazônia) há pouquíssimos registros de sismos com intensidade maior do 5 na escala Richter (que são os que causam problemas para as barragens) e nenhum (que seja do conhecimento do autor) com intensidade maior do que 5,5. Não se tem notícia de nenhum acidente em barragens, mesmo sem gravidade, causado por sismos em território Brasileiro. A exclusão deste assunto é provisória, pretendendo-se no futuro incluí-lo nas notas. Em áreas fortemente sísmicas de outros países, onde os engenheiros Brasileiros muitas vezes são chamados a atuar, os efeitos sísmicos são, com freqüência, determinantes da segurança da barragem. Os deslizamentos de taludes de ombreiras e cortes, durante a construção, e os deslizamentos dos taludes da periferia reservatório durante a operação não foram incluídos nas presentes notas por se tratar de assunto enfocado na cadeira de Taludes. Os parâmetros de resistência dos aterros e das fundações (seja dos solos naturais, seja dos planos de fraqueza em rochas) também não são enfocados, por dois motivos: (a) trata-se de assunto amplo demais, que requereria um curso específico do mesmo porte do presente; (b) o assunto é enfocado em outras cadeiras do curso de mestrado da COPPE.

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6.2 – ESTABILIDADE DE ATERROS DURANTE A CONSTRUÇÃO 6.2.1 – Aspectos Conceituais A instabilidade no interior de um aterro compactado pode se manifestar de duas maneiras: (a) deslizamento ao longo de uma superfície de ruptura definida; (b) deformações laterais excessivas promovendo um "estufamento lateral" do maciço sem que se consiga perceber uma superfície definida de ruptura. Vaughan (1971) associou cada um destes dois comportamentos ao que se observa em laboratório, ver figura 6.1. No primeiro caso estão os materiais cuja trajetória de tensões efetivas sob condições não drenadas atinge a envoltória de ruptura apenas durante um breve intervalo de deformações e, em seguida, passam a perder resistência e, por conseqüência, a trajetória de tensões se afasta da envoltória. Estes materiais costumam apresentar superfície de ruptura bem definida nos ensaios de laboratório. Ao segundo caso, parte (b) da figura 6.1, pertencem aqueles materiais cujas trajetórias de tensões efetivas sob condições não drenadas após atingir a envoltória de resistência permanecem mais ou menos sobre ela por um longo intervalo de deformações. Estes materiais costumam apresentar ruptura por "embarrigamento" nos ensaios. Seja qual for o tipo de comportamento na ruptura, estufamento ou superfícies definidas, a situação de instabilidade só costuma ser atingida, em aterros corretamente compactados de barragens, se existirem poropressões positivas consideráveis no interior do maciço de terra. Se não existirem poropressões positivas significativas, dificilmente haverá instabilidade durante a construção, pois os solos utilizados na construção de barragens, quando corretamente compactados, apresentam resistência superior à necessária para garantir a estabilidade dos aterros com as inclinações usuais (tipicamente, V:H = 1:2 a 1:3 em aterros homogêneos, não havendo problema de resistência na fundação). E assim é porque a compactação visa, principalmente, facilitar o tráfego dos equipamentos e evitar o colapso perante submersão, sendo a boa resistência do aterro um bem-vindo subproduto. Dependendo do coeficiente de adensamento do aterro, da velocidade de alteamento e da geometria das fronteiras drenantes, os excessos de poropressão gerados durante a construção podem permanecer, caracterizando uma situação não drenada, ou se dissipar (equalizar), caracterizando uma situação drenada. Vaughan (1974) sugeriu que se o fator tempo, definido por T = c . tc / D2 (onde,c = coeficiente de adensamento, tc = tempo de construção e D = distância de drenagem), for menor do que 0,05 não haverá quase nenhuma dissipação e, se T for maior do que 2, a dissipação será praticamente completa. Como os aterros compactados possuem rigidez relativamente alta (E = módulo de elasticidade = 10 a 80 MPa), seu coeficiente de adensamento também costuma ser elevado. Assim, só acontece uma situação nitidamente não drenada quando o aterro é constituído por solo de permeabilidade muito baixa ou o alteamento é realizado de maneira particularmente rápida. A figura 6.2 mostra um exemplo de estudo que indica zonas típicas em função da permeabilidade e da distância D, para o caso em que tc = 1 ano e E = 40 MPa (400 kg/cm2). Vê-se que nessas condições, para uma distância de drenagem

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(distância até uma fronteira drenante) entre 10 e 30 metros a situação só seria não drenada em aterros com permeabilidade da ordem de 1x10-7 cm/s ou menos. Evidentemente, estimativas como essa são aproximações grosseiras da realidade e, em cada caso, o projetista deverá estudar o assunto com base em suas preferências e no nível de prudência que julgar cabível, utilizando, se necessário, os poderosos recursos experimentais e computacionais de que se dispõe atualmente. A geração de poro-pressão não drenada (nem ao ar nem à água) depende, basicamente, da relação entre a compressibilidade do fluido (ar e água) dos vazios e a compressibilidade do arcabouço de grãos do solo. O parâmetro B, para uma solicitação isotrópica não drenada, é dado teoricamente (Skempton, 1954) por: B = dU / dσ1 = 1 / [ 1 + (n.Cvz / Cas)

onde, n = porosidade C = compressibilidade, definida como a relação entre a variação específica de volume e a variação de tensão Cvz = compressibilidade do fluido dos vazios Cas = compressibilidade do arcabouço de grãos, ou seja, do solo com a mesma densidade caso estivesse seco

Se o fluido dos vazios é muito mais compressível do que o arcabouço de grãos (Cvz >> Cas) o valor de B tende para zero (caso do solo seco). Se, em vez, Cvz << Cas, o valor de B aproxima-se de 1 (caso do solo saturado). Quando a quantidade de ar nos vazios é alta e sua pressão é baixa, a compressibilidade do fluido é alta e a maior parte da carga vai para o arcabouço de grãos, de maneira que B é baixo. À medida que o ar vai sendo comprimido, sua compressibilidade vai diminuindo até que a compressibilidade do fluido dos vazios torna-se menor do que a do arcabouço de grãos. Nesse processo, o valor de B vai crescendo e tende a 1. Mas, para que o ar dos vazios seja comprimido é preciso que ele não possa escapar. Enquanto o material do aterro está no estado ABERTO, isto é, com os vazios de ar contínuos e em contato com a atmosfera, o ar pode escapar porque a permeabilidade ao ar é elevada (cerca de 104 a 105 vezes maior do que a permeabilidade à água). Assim, a pressão no ar praticamente não aumenta, permanecendo próxima à atmosférica. Esta situação se mantém até que a compressão do arcabouço de grãos induza à OCLUSÃO. No estado OCLUSO os vazios de ar não são contínuos, passando a prevalecer a permeabilidade do solo à água de maneira que (tratando-se de situação não drenada à água) o ar não pode mais escapar. No processo de geração de poro pressões em um solo compactado submetido a carregamento não drenado à água, devem ser distinguidas duas etapas: antes da oclusão e a partir da oclusão. Na primeira etapa, evidentemente, quanto mais rígido for o material maior será a sobrecarga necessária para levar o solo ao estado ocluso. Uma vez atingida a oclusão, quanto maior a rigidez menor a parcela de carga transferida para os fluidos dos poros, pois o arcabouço de grãos (rígido) absorve uma parte considerável da mesma.

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Assim, o desenvolvimento de poropressões positivas depende das condições iniciais do fluido dos vazios (que podem ser expressas pelo grau de aeração, Var/V), da rigidez do solo que compõe o aterro (que pode ser expressa por seu módulo de elasticidade, E) e do momento em que o ar dos vazios se torna ocluso. A oclusão ocorre entre o ponto ótimo da curva de compactação e o ponto que corresponde ao valor mínimo do grau de aeração como indicado pela “região A” na figura 6.3. Gilbert (1959) verificou que “os vazios de ar em um solo coesivo compactado deixam de ser conectados por volta da umidade ótima”. Lins & Sandroni (1994) apresentam evidências, obtidas por Lins (1991), através de um conjunto de ensaios triaxiais especiais em amostras compactadas estaticamente, de que as poropressões na água se tornam positivas para um grau de aeração praticamente constante, independente do grau de aeração original das amostras. Este grau de aeração foi, nos ensaios de Lins, um pouco mais baixo do que o grau de aeração correspondente ao ponto ótimo da curva de compactação (ou seja, do “lado úmido”) obtida com ensaios Proctor Normal. O solo ensaiado por Lins foi uma argila silto-arenosa residual, com LL = 78%, LP = 32% e, fração argila = 62%, 4% de silte e 34% de grãos tamanho areia. Quatro formas típicas da curva poro-pressão versus sobrecarga (γh, onde γ é o peso específico do aterro e h é a altura de aterro acima do ponto) estão mostradas na figura 6.4. Os casos A e B representam um solo compactado no estado ocluso e com compressibilidade alta e baixa respectivamente. Nos casos C e D estão representados solos inicialmente no estado aberto e com compressibilidade alta e baixa, respectivamente. Como se vê, o espectro de respostas de poropressões é muito amplo. 6.2.2 – Pressão negativa na água dos vazios - Sucção Por causa da tensão superficial na interface entre o ar e a água, que coexistem nos vazios de um solo parcialmente saturado, a pressão no ar é maior do que a pressão na água. A diferença entre a pressão no ar e a pressão na água (Uar-Uw) é denominada “sucção”. Logo após a compactação, a pressão no ar é (em termos práticos) igual à zero (ou seja, é igual à atmosférica, posto que, por convenção na engenharia civil, toda e qualquer pressão é considerada como excesso em relação à atmosférica) e a pressão na água é, portanto, negativa. A seguir são brevemente abordados alguns dos aspectos mais relevantes relativos à sucção: • A sucção é, na verdade, uma complexa função da geometria dos vazios e de

forças elétricas que existem junto à superfície dos grãos do solo. Existem diversas técnicas de ensaio para medir a sucção em solos. Uma síntese atualizada sobre o assunto pode ser encontrada em Cruz (1996, Capítulo 5).

• A sucção nos solos compactados nas vizinhanças da condição ótima varia, dependendo do tipo de solo, entre praticamente zero e valores acima de 300 kPa. A figura 6.5.a mostra valores de sucção em função do desvio de umidade

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(w-wot) medidos em solos compactados de diversos tipos e procedências. Vê-se que a sucção varia amplamente em um certo solo com o desvio de umidade e, de um solo para o outro no mesmo desvio de umidade;

• Há muitas evidências experimentais mostrando que a sucção em um certo solo varia muito com a técnica de moldagem da amostra. Lambe (1961) observou diferenças da ordem de 50 kPa na sucção em amostras com umidade e peso específico iguais, compactadas por diferentes procedimentos. Ou seja, não há porque esperar que a sucção em amostras de laboratório seja representativa da que ocorre nos aterros;

• Utilizando um procedimento padronizado de compactação no laboratório, Cruz e Ferreira (1993), mediram a sucção em diversos solos com graus de compactação entre 95% e 100%. Os valores de sucção obtidos por esses autores estão lançados contra o grau de aeração e a % de grãos argila nas figuras 6.5.b e 6.5.c. Vê-se que o valor da sucção é função principalmente do tamanho dos vazios do solo (correlaciona-se bem com a % de grãos argila, figura 6.5.c) e que não se correlaciona com a quantidade de ar nos vazios do solo (ou seja, não se correlaciona com Var/V, figura 6.5.b). Outra evidência de que a sucção depende (até certo ponto) da granulometria e não correlaciona bem com o volume de ar nos vazios são os dados obtidos por Lins (1991) que ensaiou uma argila siltosa de região gnáissica e observou que a sucção (por volta de 100 kPa) variava muito pouco para umidades variando entre –2% e +3% da ótima. Note-se que, devido à influência da técnica de moldagem e das características micro-estruturais dos solos, não é de se esperar que exista uma relação simples (muito menos, com dispersão pequena) entre granulometria e sucção. Os pontos com símbolos preenchidos lançados na figura 6.5.c, que fogem totalmente da relação de Cruz & Ferreira (1993), ilustram este aspecto.

6.2.3 – Metodologias de Análise Uma vez decidido que os excessos de poropressão não sofrerão dissipação apreciável (ou seja, que a situação será não drenada), é preciso verificar a segurança através de análises de estabilidade. São utilizadas diversas metodologias diferentes que estão explicadas e comentadas a seguir: 1. Com tensões totais (ver, por exemplo, Lowe, 1967) – Realizam-se ensaios

triaxiais adensados não drenados (CU) convencionais (ruptura por carregamento axial) em amostras compactadas nas condições previstas para colocação no aterro. Utilizam-se análises de estabilidade em termos de tensões totais, com os parâmetros de resistência obtidos nesses ensaios. Esta metodologia admite, implicitamente, que as poropressões que existirão nas amostras durante os ensaios são representativas daquelas que ocorrerão no campo;

2. Considerando a compressão do ar nos vazios – Esta metodologia, proposta

por Hilf (1948) a partir de estudos de Brahtz, Zangar & Bruggeman (1939), consiste em aplicar as leis de Boyle (compressão dos gases) e de Henry (solubilidade dos gases), considerando que não ocorre qualquer drenagem ou dissipação. A variação da pressão do ar dos poros, dU, é dada pela expressão:

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dU = (Pari . dV/Vo) / (Viar/Vo + h . Vw/Vo – dV/Vo) onde, Pari = pressão no ar dos vazios logo após a compactação (praticamente igual à atmosférica e, para efeitos práticos, suposta igual à atmosférica = 100 kPa); dV = variação de volume; Vo = volume total inicial; Viar = volume de ar nos vazios logo após a compactação. A relação Var/Vo, dita “grau de aeração” é dada, em termos das propriedades índice usuais, por n(1-S), onde n é a porosidade e S é o grau de saturação; h = constante de Henry = 0,02 (desprezando a variação de temperatura); Vw = volume de água nos vazios (constante por força da hipótese de drenagem nula). A relação Vw/Vo, que poderia ser chamada de “grau de umidade” é dada, em termos das propriedades índice usuais, por nS, onde n é a porosidade e S é o grau de saturação;

Hilf (1948) dá exemplos de diversas barragens em que poropressões foram medidas. Essas medições foram realizadas com piezômetros dotados de pedras porosas grossas e, portanto, o grosso do que se media eram as pressões no ar dos vazios. As medições mostraram, segundo o autor, boa concordância com os valores calculados pela fórmula acima. Nos casos estudados, a compressibilidade (dV/Vo) foi obtida de observações de recalques no campo nas proximidades dos piezômetros, mas Hilf sugere que resultados de ensaios de adensamento podem ser utilizados. A teoria de Hilf pode ser verificada aplicando-a a ensaios. Um exercício desses foi realizado utilizando os ensaios PH (triaxiais isotrópicos) e PC (compressão unidimensional) de Casagrande & Hirschfeld (1960), que apresentam as curvas individuais de tensão axial-deformação (volumétrica nos ensaios PH e axial nos ensaios unidimensionais) e de tensão axial-poropressão dos ensaios. Os valores médios da relação entre a poropressão obtida pela fórmula de Hilf (U est Hilf) e a poropressão medida nos ensaios (Umed) situaram-se entre 20% e 73%, como apresentado na tabela 1. Em todos os ensaios examinados (4 PHs e 4 PCs) as curvas [tensão]x[poropressão estimada pela fórmula de Hilf] situam-se abaixo das curvas [tensão]x[poropressão medida]. Portanto, para o conjunto de ensaios em foco, a fórmula de Hilf subestima as poropressões. Uma vez dispondo dos valores de poro pressão estimadas, realizam-se análises de estabilidade utilizando parâmetros efetivos de resistência. Os parâmetros efetivos são, em geral, obtidos através de ensaios CDsat (triaxiais adensados drenados saturados) ou Cusat (triaxiais adensados não drenados saturados) com medição de pressão neutra, em amostras compactadas em laboratório. A saturação das amostras para os ensaios é feita utilizando contrapressões (ver, por exemplo, Lowe & Jonhson, 1960).

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3. Com parâmetros de poropressão – Skempton (1954) e Bishop (1954) definiram

parâmetros de poro pressão A e B, para uma solicitação não drenada, dados pela expressão:

dU = B [dσ3 + A (dσ1 - dσ3)] onde, dU = variação da poro pressão dσ3 = variação da tensão total principal menor dσ1 = variação da tensão total principal maior

A aplicação desta metodologia requer a realização (em amostras representativas) de ensaios triaxiais não drenados com medição de poro pressões nos quais são aplicadas solicitações tão parecidas com as do campo quanto possível. Os parâmetros A e B são obtidos aplicando a fórmula acima aos resultados desses ensaios. Um procedimento nessa linha, utilizado em diversas barragens brasileiras (Cruz & Massad, 1966), consiste em realizar ensaios triaxiais não drenados, com medição de poro pressão, com relação constante entre as tensões principais (K = dσ3 / dσ1 = constante = 0,5 a 0,7), denominados ensaios PN (Casagrande e Hirschfeld, 1960). Desses ensaios são obtidos valores de B = dU / dσ1 (Bishop, 1954). As análises de estabilidade são realizadas utilizando os parâmetros efetivos de resistência e obtendo as poropressões através de B, considerando que dσ1 = dγh. A hipótese de que a tensão principal maior é igual ao peso acima do ponto, se apresenta razoável na maioria dos casos (Costa Filho et al, 1982).

Considerando os conceitos expostos acima quanto aos estados aberto e ocluso, os ensaios visando estudar a estabilidade durante a construção deveriam, em princípio, ser livres para drenar o ar para a atmosfera até que a oclusão ocorresse espontaneamente na amostra. Os ensaios PN usualmente utilizados não são abertos para a atmosfera: a amostra fica oclusa (dentro da membrana de borracha) desde o início do ensaio, de maneira que existe uma tendência à geração prematura de poropressões positivas. Este procedimento “fechado”, utilizado nos ensaios PN usuais, embora conservador costuma ser aceitável, porque a maioria dos aterros de grandes barragens no Brasil é compactado do lado seco da ótima e, por conseqüência, as poropressões durante a construção são muito baixas. Mas é importante ressaltar que o procedimento “fechado” constitui-se em procedimento de limite superior que leva às maiores poropressões. Para se ter resultados de limite inferior (menores poro pressões) os ensaios precisam ser do tipo PNA (PN abertos) como sugerido por Sandroni & Silva (1989). Nesses ensaios há uma tubulação ligando os vazios da amostra à atmosfera, a qual só é fechada quando se observa o início do fluxo de água para fora da amostra (pressões positivas na água dos vazios). As figuras 6.6.a e 6.6.b mostram exemplos numéricos de valores de B em ensaios PN e PNA hipotéticos imaginando amostras com grau de compactação 99% e umidade 0,5% abaixo da ótima. As curvas de poropressão após a oclusão foram calculadas usando a fórmula de Hilf (acima apresentada), supondo que a oclusão ocorre no ponto ótimo da curva de compactação e representando o solo como linear elástico com E = 100 kg/cm2 (10 MPa) e 400 kg/cm2 (40 MPa).

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Como se vê na figura 6.6.b, para aterro com E = 400 kg/cm2, a poropressões são pequenas (B < 10%) praticamente para qualquer altura de aterro. Já na figura 6.6.a, onde E = 100 kg/cm2 (um aterro compactado de compressibilidade elevada), as poropressões se apresentam elevadas a partir dos 30 a 40 m de altura de aterro. A figura 6.6.c mostra resultados de ensaios PN e PNA em amostras do mesmo solo compactado em condição igual (Sandroni & Silva, 1989), podendo-se observar a confirmação experimental do que foi exposto acima. No caso geral de campo, em que a drenagem do ar no estado aberto não é perfeita, as poro pressões deverão ficar entre os dois limites representados pelas curvas do ensaio PN e do ensaio PNA. Os conceitos acima expostos serviram como base para o desenvolvimento da metodologia descrita a seguir.

4. Considerando o solo como linear e aplicando os conceitos de estado aberto

e ocluso. Sandroni (1985) sugeriu uma metodologia, para estimar as poropressões construtivas, baseada nas seguintes hipóteses:

• A relação tensão efetiva-deformação do solo é linear. Em particular, para o caso isotrópico, tem-se D = [variação da tensão isotrópica efetiva] / [deformação volumétrica];

• A oclusão ocorre no grau de aeração (Var/V = n.(1-S)) do ponto ótimo da curva de compactação Proctor Normal;

• Não há variação de umidade, ou seja, o carregamento é não drenado para a água;

• Antes da oclusão a pressão no ar permanece atmosférica e toda a variação de volume se deve ao ar que escapa para fora do solo;

• Após a oclusão, toda a variação de volume se deve à compressão do ar nos vazios, aplicando-se a lei de Boyle. Ou seja, despreza-se a solução do ar na água dos vazios.

A aplicação dessas hipóteses na prática é simples. A seguir estão os passos que devem ser seguidos:

A. Obter D = δσ`o/(δV/V) em ensaios triaxiais drenados isotrópicos sobre amostras saturadas (por contrapressão) ou em ensaios triaxiais não drenados isotrópicos com medição de poropressão e de variação volumétrica. Se os ensaios forem triaxiais tipo PN com um certo valor de K, considerar σ`o = σ`1 ((1+2K)/3). No caso de utilizar ensaios unidimensionais (adensamento) considerar K = 0,50;

B. Obter o grau de aeração de oclusão, (Var/V)ocl, que é igual ao grau de aeração no ponto ótimo da curva de compactação Proctor Normal. Com os valores do peso específico seco máximo (γdmax), da umidade ótima (wot) e da densidade dos grãos (G), o grau de aeração pode ser obtido com as bem conhecidas fórmulas:

eot = (G/γdmax) γágua – 1 not = e/(1+e) e, (Var/V)ocl = not (1-Sot) Sot = G.wot/e

C. Obter o grau de aeração inicial, que existirá no campo logo após a compactação, (Var/V)c, com as fórmulas de B, para os valores de peso

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específico seco e umidade especificados para o aterro. As especificações, em geral, estabelecem grau de compactação (GC= γdc/γdmax) e desvio de umidade (dw = wc-wot) a partir dos quais podem ser fixados um ou mais pares de γdc e wc para cálculo do valor do grau de aeração inicial. Para cada par de γdc e wc selecionado será feito um estudo separado. Se os estudos indicarem poropressões inaceitavelmente altas, poder-se-á até mudar as especificações;

D. Comparar o grau de aeração inicial com o grau de aeração na oclusão, para fixar em qual dos dois casos seguintes a situação se insere:

CASO 1 - (Var/V)c maior do que (Var/V)ocl CASO 2 - (Var/V)c igual ou menor que (Var/V)ocl

E. No CASO 1, as poropressões são calculadas da seguinte maneira: • Poropressão nula até à oclusão que ocorrerá na seguinte tensão:

σ`ocl = D . [(Var/V)c - (Var/V)ocl] • Poropressão após a oclusão dada pela fórmula (Sandroni, 1985);

δU=[(δσ`o+Patm-M+(δσ`o+Patm-M)2+4Mpatm)1/2]/2-Patm onde: δU=variação da poropressão δσ`o=variação da pressão total, definida como em A Patm = pressão atmosférica (1 kg/cm2 ou 100 kPa) M = D x (Var/V)ocl

Neste caso a curva tensão x poropressão terá a forma das curvas C e D da figura 6.4.

F. No CASO 2, considerar σ`ocl = zero e calcular δU com a fórmula de E acima, utilizando M = D x (Var/V)c, ou seja, com o grau de aeração inicial previsto para o campo. Neste caso a curva tensão x poropressão terá a forma das curvas A e B da figura 6.4.

Esta metodologia, tal como a de Hilf, pode ser verificada aplicando-a a ensaios. A verificação foi feita por aplicação aos mesmos ensaios PH e PC de Casagrande & Hirschfeld (1960) utilizados acima para testar a metodologia de Hilf. Os valores médios da relação entre a poropressão obtida pela aplicação da metodologia (notar que todos os ensaios, por não serem conectados ao ar, caem no CASO 2) e a poropressão medida nos ensaios (Umed) situaram-se entre 41% e 106%, como apresentado na tabela 1. Nos oito ensaios examinados, as curvas [tensão]x[poropressão estimada] situaram-se um pouco abaixo ou praticamente em coincidência com as curvas [tensão]x[poropressão medida]. Portanto, para o conjunto de ensaios em foco, a metodologia em foco conseguiu uma estimativa razoável das poropressões. Sandroni (1985) apresenta alguns casos de campo nos quais esta metodologia resultou em estimativas razoáveis por comparação com poropressões medidas em aterros. A vantagem desta metodologia sobre as demais é permitir que verifique, numericamente, os efeitos de diferentes graus de compactação e desvios de umidade, sobre a estabilidade do aterro na fase construtiva.

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Evidentemente, em casos que disponham do tempo e dos recursos, podem ser realizados ensaios tipo PNA, como sugerido por Sandroni & Barbosa, 1988). NOTA: depois de publicado o trabalho, Sandroni & Barbosa tomaram conhecimento dos trabalhos de Pacheco Silva, da década de 60, nos quais os conceitos de estado aberto e ocluso, bem como os ensaios drenados ao ar, foram estabelecidos.

6.2.4 – Casos históricos Existem registrados, no Brasil, dois casos de deslizamento de maciços de terra durante a construção: os de Cocorobó e Açú. Em ambos os casos a ruptura se deu segundo superfície de ruptura bem definida e os maciços eram compostos por solos argilosos de plasticidade alta e compressibilidade relativamente elevada, oriundos de jazidas aluvionares nas quais as argilas se encontravam praticamente saturadas (ou seja, em condição oclusa). Sobre o acidente de Cocorobó encontra-se alguma informação em Mello (1976). A barragem de terra homogênea, com 35 m de altura, sofreu um deslizamento em final de construção, no talude de montante. A seção da barragem, com a posição da superfície de ruptura, está mostrada na figura 6.7.a. O talude médio era por volta de 1:3,3 (V:H). O solo utilizado possuía hot = 20 a 22%, γdmax = 1,62 a 1,68 t/m3, LL = 57% e LP = 19% e sua compactação teria sido controlada ao redor de 1% abaixo da ótima. Para corrigir o acidente, uma parte do aterro foi removida com trator formando uma ”ensecadeira” de emergência a montante (que veio a funcionar também como berma) e a seção foi reconstruída com talude mais suave do que o original, como indicado na figura 6.7.b. Para o caso de Açú, rompida em 15 de dezembro de 1981, foram desenvolvidos, depois da ruptura, diversos estudos visando apurar as causas e definir o projeto de reconstrução (Nunes & Mello, 1982; Sandroni, 1985 e 1986). A seguir são comentados alguns aspectos desse deslizamento: • A ruptura do maciço principal ocorreu em uma largura de 700 m, com altura de

35 m, com talude médio de 1:3,7 (V:H) e envolveu um volume da ordem de 2 milhões de m3. A geometria típica dessa ruptura está mostrada na parte superior da figura 6.8, observando-se que ocorreu um movimento rotacional na parte superior e deslocamentos translacionais na parte inferior. A superfície de ruptura (cuja posição exata foi verificada em poços escavados em diversos pontos da massa rompida) desenvolveu-se em sua quase totalidade no material 2, uma argila siltosa de cor cinza escura esverdeada com LL = 55% (40 a 70%) e IP = 32% (20 a 42%). Só na região do pé o movimento envolveu o material 1, cascalho argiloso, o qual, no trecho em que passou a superfície de ruptura, havia sido lançado em água. O grosso dos movimentos levou cerca de 30 minutos, findos os quais tinha ocorrido um deslocamento translacional horizontal da ordem de 25 m na parte inferior tendo-se observado, conforme relato de

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testemunhas, os eventos resumidos na parte central da figura 6.8; • Antes da ruptura do maciço principal, ocorreram duas rupturas rotacionais

(contíguas e praticamente simultâneas), com 150 m de largura cada, na ensecadeira incorporada cuja altura era de 14 m e cujo talude era 1:1,5 (V:H). Esta geometria está mostrada no detalhe da parte superior da figura 6.8. A retro-análise dessas rupturas, considerando coeficiente de segurança igual a 1 e φ = 0, resulta em Cu = 49 kPa. Aplicando esse valor de Cu à ruptura maior obtém-se coeficiente de segurança praticamente igual a 1. Qualquer outro par de parâmetros de resistência obtido por retroanálise da ensecadeira, considerando φ diferente de zero, se aplicado à ruptura maior, resulta em coeficiente de segurança superior à unidade;

• O material argiloso, um aluvião obtido na planície de enchente do rio, possuía, na jazida, elevado grau de saturação e densidade seca semelhante à de Proctor Normal. Essas características de densidade e saturação não foram significativamente modificadas durante as operações de carregamento, transporte, lançamento, espalhamento e “compactação” (com rolo pé de carneiro), de maneira que o solo não foi compactado e sim apenas retrabalhado quando colocado no aterro. Os exames posteriores indicaram a existência, freqüente e disseminada, de laminações na argila. O material argiloso do aterro exibia grau de saturação entre 92% e 95%, porcentagem de compactação entre 96% e 104% e desvio de umidade entre -2% e +1% (em relação ao Proctor Normal);

• As especificações construtivas iniciais exigiam desvios de umidade entre -1,5% e +1,5% e grau de compactação médio maior do que 98%. A partir de março de 1981, após a ruptura das ensecadeiras e já com toda a argila abaixo da elevação 38 m colocada, o limite superior de desvio de umidade foi reduzido para +0,5%;

• As especificações de projeto recomendaram, ainda, compactar as primeiras três camadas de argila, junto à fundação, com desvio de umidade entre +2% e +4%, facultando a criação de uma superfície preferencial de fraqueza. As observações diretas em poços mostraram, contudo, que a superfície de ruptura passou 2 a 3 metros acima desta região. É provável que o trecho de maior umidade tenha drenado para a areia sotoposta, propiciando que a parte horizontal da superfície de ruptura se desenvolvesse mais acima, na elevação onde a poropressão foi máxima;

• As análises da ruptura com tensões efetivas apontaram dois mecanismos igualmente passíveis de terem ocorrido, não sendo possível definir qual prevaleceu (ou se ambos ocorreram simultaneamente em diferentes trechos da superfície de ruptura), a saber: (a) parâmetros efetivos de resistência de pico (φ’ = 19o e c’ = 10 a 35 kPa) e poropressões elevadas (B = 0,4 a 0,5); (b) resistência efetiva reduzida por ruptura progressiva e poropressões baixas ou nulas (ensaios tipo cisalhamento anular resultaram em envoltória residual dada por φ’ = 8o e c’ = 0);

• A barragem foi reconstruída removendo-se a parte central da massa deslizada e substituindo-a por cascalho argiloso, como mostrado na parte inferior da figura 6.8.

Um caso de plastificação generalizada com "estufamento lateral" é o da barragem de

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Otter Brook, mostrado na figura 6.9 (Linell & Shea, 1960). O estado de ruptura é nitidamente demonstrado pelos deslocamentos do pilar de ponte, situado no talude de montante. O acompanhamento piezométrico evidenciou poropressões elevadas, destacando-se os valores de B da ordem de 40 a 60 % e os níveis piezométricos muito acima do nível do aterro. Outros dois casos, das barragens de Truscott e Skiatook, são apresentados por Walker & Duncan (1984). Um outro tipo de maciço terroso que sofreu diversos acidentes dispendiosos durante a construção foram os aterros hidráulicos. Esta técnica, muito em voga na primeira metade do século, inclusive no Brasil, seria hoje em dia econômica em diversas situações. Ela segue sendo utilizada no Leste Europeu. Nas Américas porém, devido a acidentes como o de Alexander, Fort Peck, Necaxa e outros, os aterros hidráulicos foram abandonados. Os acidentes ocorreram por instabilidade dos espaldares de material grosseiro sob os empuxos do material mais fino em estado semilíquido da zona central. Hoje se dispõe de conhecimentos sobre os fenômenos envolvidos (resistência ao cisalhamento, empuxos, liquefação, adensamento, etc.) suficientes para tornar anacrônicas as incertezas de há décadas. 6.3 – ESTABILIDADE PELA FUNDAÇÃO DO MACIÇO DURANTE A CONSTRUÇÃO A ampla maioria dos acidentes por deslizamento durante a construção ocorre em locais com fundações compostas por materiais de baixa resistência, contendo camadas ou superfícies de fraqueza. O caso de Carsington na Inglaterra, figura 6.10, foi explicado por Skempton et al (1985) como devido à existência, na camada de argila amarela superficial da fundação, de paleosuperfícies de ruptura cuja resistência fora reduzida ao valor residual. O deslizamento construtivo da barragem de Waco, figura 6.11, deveu-se à existência de um folhelho de baixa resistência (Pepper), em um trecho da fundação. No Brasil não se conhece registro de instabilidade de barragem de terra grande pela fundação durante a construção. Existe reportado um caso de tendência à instabilidade por cisalhamento pela fundação na barragem Água Vermelha (Silveira et. al., 1978), onde deslocamentos concentrados em planos de fraqueza na fundação basáltica, detectados por inclinômetros, levaram à antecipação da execução e ao re-dimensionamento de bermas anteriormente previstas. O reforço foi adotado como medida preventiva e antes que se caracterizasse uma situação de instabilidade franca. O apoio de barragens e aterros de menor porte em depósitos argilosos moles é responsável por diversas rupturas reportadas na literatura. A concepção de aterros sobre solos moles envolve técnicas específicas que não são abordadas no presente texto.

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6.4 – ESTABILIDADE DE ATERROS PERANTE REBAIXAMENTO RÁPIDO 6.4.1 – Aspectos conceituais Os deslizamentos de montante perante rebaixamento, embora graves, em geral, não colocam a barragem sob risco de desastre imediato, pois o nível d'água fica abaixo da crista da massa afetada. Sherard (1953) estudou 12 casos com ruptura deste tipo e concluiu que os acidentes ocorreram durante variações do lago entre o nível máximo e a meia altura da barragem, com velocidades entre 9 e 15 cm/dia e que se constituíram nos rebaixamentos mais rápidos ou de maior amplitude que já haviam ocorrido na obra. Sherard menciona que tais escorregamentos costumam ser profundos e estar associados a fundações de baixa resistência e, que a ocorrência de rupturas superficiais é bem menos freqüente. No Brasil ocorreu justamente um caso de deslizamento superficial, o da barragem de Banabuiú, na qual a capa superficial de rip-rap deslizou em um trecho no qual a compactação do solo sob o rip-rap, próximo à face externa do maciço, foi deficiente. Convém notar que, embora não se constituindo em ameaça imediata de desastre, os escorregamentos de montante costumam implicar em despesas consideráveis, em atrasos e em inconveniências graves para a operação da obra. A estabilidade do talude de montante perante rebaixamento depende das poropressões que existirão no maciço argiloso após o rebaixamento. A estimativa dessas poropressões pode, em princípio, ser feita a partir dos valores de poropressão existentes antes do rebaixamento (obtidos da rede de fluxo em regime permanente, como mostrado na figura 6.12, equação [1]) somando-se algebricamente a variação de poropressão, ∆U, induzida pelo rebaixamento (figura 6.12, equação [2]). A situação de fluxo permanente pode levar muito tempo para se instalar em aterros constituídos por solos finos. Considerações teóricas simples utilizando a lei de d`Arcy (Vaughan, 1974) podem ser utilizadas para mostrar que o regime de percolação permanente pode levar vários séculos para se desenvolver em um aterro argiloso compactado. Mesmo em solo siltoso, podem ser necessárias várias décadas. O valor de ∆U que ocorre por causa do rebaixamento rápido depende de diversos fatores, a saber:

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1. da variação não drenada de U causada pelas variações das tensões totais induzidas pelo rebaixamento. A variação de tensões totais perante rebaixamento compreende uma diminuição da tensão principal maior e uma diminuição maior da tensão principal menor, de modo que a tensão cisalhante aumenta. Além de se estimar as variações de tensões totais, tem-se que dispor de parâmetros de poropressão (tipo A e B de Skempton (1954), por exemplo) relacionando-as com as variações de poropressão para o tipo de solicitação em pauta;

2. da drenagem durante o rebaixamento, que é governada pela relação entre a velocidade de rebaixamento do lago (VRR) e a permeabilidade do maciço (k). Os trabalhos de Reinius (1948 e 1954) mostram que a questão é adequadamente representada pelo parâmetro adimensional k/(n.VRR), onde n é a porosidade do maciço. Valores deste parâmetro inferiores 2,5 indicam uma situação “não drenada”, isto é, na qual o nível de água do maciço permanece muito acima do nível de água rebaixado do lago. Já valores de k/(n.VRR) maiores do que 25 correspondem às situações “drenadas”, ou seja, aquelas nas quais o nível de água do maciço desce praticamente junto com o do lago. A figura 6.13 mostra uma relação aproximada entre a velocidade de rebaixamento e a permeabilidade, indicando as zonas drenadas e não drenadas, segundo os critérios acima. Para as situações intermediárias, Casagrande (ver Sherard et al, 1963, pgs. 375 e 376) desenvolveu uma metodologia aproximada que permite determinar a posição do nível de água no maciço em qualquer tempo “t” após rebaixamento total e instantâneo. É de se ressaltar a natureza muito aproximada das considerações teóricas acima apresentadas;

3. do estado em que o solo se encontrava antes do rebaixamento, o qual pode ser ocluso ou saturado. O simples estabelecimento da rede de percolação garante que o solo estará no estado ocluso. Nos maciços de maior permeabilidade (arenosos) o fluxo pode “lavar” o ar dos vazios porque a capilaridade é baixa. Sherard et al (1963, pg 246) sugerem que em maciços com permeabilidade maior do que 1x10-4 cm/s (100 ft/year), o fluxo, provavelmente, lavará todo o ar dos vazios e o solo ficará saturado. Nos maciços de menor permeabilidade (argilosos) a capilaridade impedirá que o fluxo leve o ar dos vazios e a saturação só será atingida se o solo tiver sido pressurizado até níveis que dissolvam o ar dos vazios. Sabe-se, da prática em laboratório (ver, por exemplo, Lowe & Johnson, 1960), que são necessárias pressões elevadas na água dos poros para saturar os vazios de um solo argiloso (digamos, 2 kg/cm2, para um solo do lado úmido da ótima, a 6 a 8 kg/cm2, para um solo do lado seco). Assim, no interior da porção de montante de um aterro argiloso durante a operação, haverá, no caso geral, pontos saturados (os submetidos às poropressões mais elevadas) e pontos oclusos (parcialmente saturados) como indicado esquematicamente na parte superior da figura 6.14;

4. da dissipação ou equalização das pressões neutras durante o rebaixamento no caso dos maciços em que prevalece uma condição “não drenada”. Este fator não costuma ser de grande importância porque, se a taxa de rebaixamento é rápida o suficiente para que a situação seja não drenada, ela

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será rápida também em comparação com o coeficiente de adensamento aplicável ao caso.

Visando investigar os valores de ∆U em laboratório, Cruz (1973, 1996) realizou uma série de ensaios especiais em amostras de quatro diferentes locais, compactadas por pisoteamento próximo às condições ótimas de Proctor Normal. Os ensaios, realizados em células triaxiais que podiam controlar as tensões principais e a pressão neutra (por contrapressão), procuravam simular toda a história de tensões de elementos de solo situados no corpo de uma barragem para as situações de construção, de percolação com reservatório cheio e de rebaixamento. Tal como Lowe & Karafiath (1959) e Lowe (1967), Cruz escolheu cinco pontos situados na base de lamelas de uma hipotética análise de estabilidade e obteve as tensões principais nesses pontos através de hipóteses simplificadoras razoáveis. As poropressões construtivas foram calculadas considerando B = 0,12 e as poropressões de regime permanente de fluxo e de fluxo perante rebaixamento foram obtidas de redes de fluxo. Quanto à fase de ruptura dos ensaios, Cruz optou por três procedimentos: A – pressão neutra no início da fase de ruptura igual à da rede de rebaixamento e ruptura provocada pela redução da tensão confinante, registrando-se as pressões neutras; B – pressão neutra no início da fase de ruptura estabelecida livremente no estágio anterior do ensaio (correspondente ao lago com nível máximo) e ruptura provocada pela redução da pressão na câmara registrando-se as pressões neutras; C – pressão neutra durante a fase de ruptura mantida igual à da rede de fluxo de rebaixamento e ruptura provocada pela redução da pressão confinante. As principais conclusões desse estudo experimental foram as seguintes: (a) a envoltória efetiva para o caso de rebaixamento rápido se apresentou um pouco mais alta do que a envoltória convencional (obtida em ensaios triaxiais CD ou CU com medição de poropressões, com compressão axial e velocidade controlada). Os resultados sugerem c` algo como 5 a 20 kPa mais alto e φ` algo como 1 a 2 graus mais alto; (b) excluindo o procedimento de ruptura C (que impõe a poropressão), os excessos de poropressão observados nos ensaios foram menores (entre 60% e 80%) do que os da rede de rebaixamento. 6.4.2 – Metodologias de análise A determinação do valor de ∆U é, como visto acima, complexa e sujeita a grande incertezas. Por esta razão (principalmente), alguns projetistas de barragens de terra preferem evitar métodos que exijam a estimativa da poropressão. Resulta que as análises de estabilidade para o caso de rebaixamento rápido são enfocadas de três maneiras, quais sejam: (a) metodologias que utilizam envoltórias de resistência obtidas diretamente de ensaios; (b) metodologias que utilizam envoltória de tensões efetivas e valores de poropressões obtidos de ensaios triaxiais não drenados e, (c) metodologias que fazem análises de estabilidade com a envoltória efetiva e com valores estimados de poropressões. Cada um desses partidos é examinado separadamente a seguir. Lowe & Karafiath (1959) e Lowe (1967) apresentam metodologia segundo a qual a envoltória deve ser obtida, em termos de tensões totais, com ensaios triaxiais

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adensados não drenados, cujas tensões da etapa de adensamento são estimadas para a situação de reservatório cheio e regime permanente de percolação instalado. Essa estimativa de tensões é feita, para algumas das lamelas, por equilíbrio limite, considerando os parâmetros efetivos de resistência e as poropressões de percolação. O adensamento das amostras pode ser anisotrópico e a trajetória de tensões deve ser compatível com o que ocorre durante o rebaixamento no ponto em foco. Obtida a envoltória, realiza-se a análise de estabilidade (em termos de tensões totais) considerando o nível rebaixado do lago. Johnson (1975) apresenta uma metodologia utilizada pelo Corps of Engineers, que consiste em realizar análises de estabilidade com o reservatório rebaixado e com uma envoltória de resistência bi-linear constituída pela envoltoria triaxial adensada-drenada (CD) para baixas tensões e, pela envoltória adensada-não drenada (CU) para tensões mais altas. Wilson & Marsal (1979) também recomendam este procedimento. As análises são realizadas em termos de tensões totais, isto é, sem considerar as poropressões. A idéia básica da utilização da envoltória efetiva no trecho inicial é evitar a consideração implícita das poropressões negativas que, sabidamente, ocorrem nos solos compactados sob níveis baixos de tensão. Johnson ressalta que o uso dessa envoltória bi-linear pode levar a excesso de conservadorismo se o solo impermeável está muito perto do talude de montante, pois, nesse caso, costuma-se encontrar superfícies críticas rasas, paralelas ao talude e com coeficiente de segurança baixo. As metodologias que utilizam envoltória de tensões efetivas e valores de poropressões obtidos de ensaios, requerem a realização de estudos de percolação e de ensaios especiais, como explicado anteriormente (Cruz, 1973, 1996; Lowe & Karafiath, 1959; Lowe, 1967). A utilização de partidos com valores estimados da poropressão implica em fazer hipóteses simplificadoras para a determinação de ∆U. Bishop (1952 e 1954) recomenda usar B = 1, ou seja, ∆U = ∆γh, onde ∆γh é a variação de tensão devida à redução de peso na vertical acima do ponto (que, em muitos casos, é praticamente igual à variação da tensão principal maior). No cálculo de ∆γh deve ser levado em conta a variação da coluna de água e a variação de peso específico de solo cujo nível de água tenha sido rebaixado. O valor ∆U assim obtido deve ser deduzido da poropressão obtida da rede de fluxo de regime permanente existente antes do rebaixamento. O valor de ∆γh é, evidentemente, negativo implicando em uma redução da poropressão. A análise de estabilidade é conduzida com os parâmetros efetivos de resistência e com as poropressões obtidas. Morgenstern (1963) apresenta ábacos para o cálculo expedito da estabilidade a partir da hipótese de Bishop. A sugestão de Bishop é deliberadamente aproximada, procurando constituir-se em envoltória prudente e não levando em conta a existência de zonas não saturadas (embora Bishop estivesse perfeitamente consciente do fato e o tenha mencionado no supracitado trabalho de 1954). A reação da poropressão ao rebaixamento será diferente nos trechos saturados e nos trechos com ar ocluso. Nos pontos em estado ocluso o ar dos vazios poderá expandir sob a tendência à diminuição da

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poropressão e, assim, o valor de ∆U tenderá a ser pequeno (ou nulo). Nos pontos saturados a queda de poropressão será mais acentuada pois a tendência à expansão aliviará significativamente a poropressão. A quantificação, no entanto, é muito difícil devido aos aspectos mencionados anteriormente e, sua confirmação só poderia ser justificada à luz de medições em diversas obras (dados de que não se dispõe). Quando se utiliza a envoltória efetiva para superfícies rasas, em geral, costuma-se encontrar coeficientes de segurança baixos. Quando isto ocorrer, convém exercer julgamento em cada caso, para evitar abater desnecessariamente o talude de montante da barragem. Deve-se lembrar que, junto à periferia, a drenagem (ou a dissipação) são muito rápidas. Também a ser considerado é o fato de que para baixos níveis de tensão a envoltória tende a ser curva, podendo ser representada por parâmetros de resistência mais altos do que para tensões mais elevadas. Há muitos casos em que as rupturas rasas podem ser tratadas com análise tipo talude infinito, considerando fluxo horizontal para fora do talude e parâmetros adaptados para o caso. Em outros casos, revela-se econômico aumentar a espessura de material granular que capeia o talude. Para concluir, sugere-se a seguinte metodologia (com tensões efetivas e estimativa teórica das poropressões): (a) utilizar parâmetros efetivos de resistência; (b) a distribuição de poropressões deve ser obtida partindo da rede de fluxo permanente com reservatório cheio e aplicando ∆U = 0 à zona oclusa e ∆U = ∆γh à zona saturada; (c) as zonas oclusa e saturada devem ser definidas a partir das pressões da rede de fluxo escolhendo-se valor de contrapressão de saturação prudente (um pouco mais baixo do que o médio esperável); (d) deve-se estudar em separado as superfícies de ruptura mais rasas. De qualquer forma, é de se ressaltar que a questão de estabilidade de taludes de montante de barragens de terra perante rebaixamento rápido é um aspecto que se ressente profundamente de uma maior quantidade dados de observação direta em obras. 6.4.3 – Casos históricos Existem poucos relatos publicados sobre medições de poropressões, em aterros argilosos, durante rebaixamento rápido. Um dos raros exemplos é o da barragem de Alcova (Glover, Gibbs & Daehn, 1948). Este caso, apresentado na parte inferior da figura 6.14, com taxa de rebaixamento da ordem de 1 m/dia e depleção de 38 metros, parece confirmar que ∆U é pequeno ou nulo na zona oclusa e elevado na zona saturada. Em outro caso encontrado na literatura, o do dique Sir Adam Beck (Bazzet, 1961), as alturas de água são pequenas (cerca de 8 metros) de maneira que apenas a zona oclusa deve ter ocorrido, não havendo pressões suficientes para induzir a saturação. Coerentemente, as variações de poropressão durante o rebaixamento foram pequenas (valores de B entre 0 e 0,5). Um terceiro caso encontrado na literatura, o da barragem de Lower Glenn Shira (Paton & Semple, 1960), além de ter alturas de água pequenas (da ordem de 9 metros) parece padecer de problemas com a instrumentação. Em suma, as parcas evidências disponíveis sugerem que considerar ∆U = 0 é conservador e considerar ∆U = ∆γh é

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uma hipótese razoável mas que pode ser contra a segurança. 6.5 – ESTABILIDADE COM RESERVATÓRIO CHEIO Os escorregamentos do talude de jusante de barragens de terra com reservatório cheio são acidentes extremamente graves por terem tendências degenerativas, isto é, uma vez ocorrido o deslizamento a massa remanescente costuma se apresentar mais instável ainda e o processo volta a ocorrer até que advenha um desastre. A técnica atual, de projeto, construção e controle, permite a virtual eliminação de eventos deste tipo. Os acidentes reportados são antigos (anteriores à década de 60 do século passado). Não foi possível encontrar nenhum caso brasileiro de ruptura por cisalhamento do talude de jusante de barragem em operação. 6.6 – SUBPRESSÕES EM ESTRUTURAS DE PESO DE CONCRETO 6.6.1 – Aspectos Conceituais A estabilidade das barragens de peso concreto (ou seja, barragens de concreto cuja estabilidade estrutural não depende de armaduras de aço) deve ser calculada de forma a garantir segurança quanto ao deslizamento, quanto à capacidade de carga e quanto ao tombamento, tal como qualquer muro de peso. A grande diferença é a carga de água e a subpressão que ela exerce sob a barragem, tanto na superfície de apoio do concreto como em qualquer plano de fraqueza que exista no terreno (rocha, em geral) de fundação. Até o final do século 19 o assunto de subpressões em barragens de peso estava pouco explorado, não existindo conceituações claras para projeto nem procedimentos consagrados para utilização nas obras. Diversos acidentes importantes exigiram atenção para o assunto e resultaram em muito estudo e experimentação na primeira metade do século 20. A partir da década de 30 as subpressões na base de diversas barragens de concreto nos EUA foram medidas, principalmente pelo USBR (United States Bureau of Reclamation), pela TVA (Tenessee Valley Authority) e pelo Corps of Engineers. No início da década de 50 havia sido acumulado um considerável volume de dados e o assunto já se encontrava em discussão em termos semelhantes aos atualmente tidos como válidos. No clássico trabalho do Subcommittee on Uplift in Mansonry Dams (ASCE, 1952) a maioria dos membros optou por considerar 100% de “area ratio” (% da área em que atua a subpressão) e aplicar um “intensity factor” (um fator de redução do diagrama máximo de subpressão) “obtido a partir de uma detalhada análise da geologia e das condições de fundação da barragem em questão”. Hoje em dia, a maioria dos projetos enfrenta a questão da subpressão sob barragens de concreto utilizando drenos a partir de galeria(s) construída(s) na base

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do maciço de concreto e implantando cortina(s) de injeções para reduzir as vazões nos drenos. Tanto a posição como a profundidade das galerias, dos drenos e das injeções são definidas a partir de detalhado estudo das condições geológicas do maciço em que se apoia a barragem. Em muitos casos a água dos drenos é coletada em nível inferior ao nível de água externo de jusante e removida por bombeamento. Os drenos possuem diâmetro entre 5 e 7,5 cm e seu espaçamento é, em quase todas as obras Brasileiras, igual a 3 m. A cortinas de injeções possuem tipicamente três linhas paralelas ao eixo da barragem, executando-se as externas (montante e jusante) primeiro e a central por último. Em cada linha, cuja distância inicial entre furos é tipicamente entre 12 e 6 m, podendo chegar aos 3 m, costuma-se alternar os furos diminuindo gradativamente o espaçamento à luz das tomadas de calda observadas. Diversos dos aspectos envolvidos e uma detalhada análise sobre a geometria e os princípios de projeto utilizados em barragens Brasileiras podem ser encontrados em Guidicini & Andrade (1983). A figura 6.15, extraída do trabalho de Casagrande (1961), mostra a distribuição de subpressões em algumas situações hipotéticas. A distribuição de subpressão para o caso de fundação homogênea e nenhum tratamento (ou seja, sem drenos e sem injeções), denominada de “subpressão plena” está indicada por linha tracejada em todos os esquemas desta figura. Cabem os seguintes comentários:

caso (a) mostra uma situação de fundação homogênea, com injeções e sem drenagem. Vê-se que a injeção sozinha tem algum efeito de redução das subpressões, por criar uma barreira de permeabilidade mais baixa. A figura 6.16 (ASCE, 1952) mostra as subpressões em 3 barragens (Willwood, Wheeler e Neye) com injeções e sem drenagem e as compara com as médias das barragens com drenos e com injeções do USBR e da TVA. Vê-se que as subpressões, para os casos em que só havia injeções, são mais altas do QUE nos casos com drenos porem, são consideravelmente mais baixas do que a situação de subpressão plena;

o caso (b) mostra uma situação com drenos perfeitamente eficientes cuja saída (boca dos drenos na galeria de drenagem) se encontra em nível mais baixo do que o nível de água de jusante. A distribuição de subpressão para este caso hipotético é uma reta entre montante e a linha de drenos e é nula entre este ponto e o paramento de jusante. A realidade é diferente porque a linha de drenos nunca é perfeitamente eficiente. A figura 6.16 mostra as médias das subpressões observadas em 8 barragens do USBR e 4 barragens da TVA, todas dotadas de linhas de injeções e drenos. Persistem, portanto, subpressões a jusante da linha de drenos, como esquematicamente indicado no caso (c). Daí resultaram as muito divulgadas regras de subpressão do USBR e da TVA, mostradas na figura 6.17;

os casos (d), (e) e (f) mostram situações hipotéticas nas quais os drenos não penetram toda a camada permeável de uma fundação homogênea ou não alcançam a camada de maior permeabilidade de uma fundação heterogênea. Estes são alguns exemplos visando ilustrar casos de heterogeneidade da fundação. Evidentemente, uma quantidade praticamente ilimitada de exemplos poderia ser imaginada.

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A figura 6.18 mostra o caso (Abraham & Lundim, 1976) da barragem Wheeler (que é uma das 3 barragens sem drenos da figura 6.16) na qual os drenos foram colocados com a obra em operação. Pode-se observar a expressiva queda da subpressão depois da instalação dos drenos. Outro caso interessante (Rhodes & Dixon, 1976), que ressalta a importância do espaçamento entre drenos para a eficiência do sistema de drenagem, é o da barragem de Chief Joseph mostrado na figura 6.19. Observa-se a queda das subpressões nesta barragem (que entrou em operação em 1954) na qual o espaçamento dos drenos foi diminuído em duas ocasiões: de 6 para 3 m, em 1959, e para 1,5 m, em 1961. A figura mostra que, 1 ano após a diminuição do espaçamento dos drenos para 3 m, as subpressões voltaram a subir. Os autores relatam (em 1976) que depois que o espaçamento foi diminuído para 1,5 m a subpressão se manteve baixa. 6.6.2 – Definição das subpressões em projeto A definição do diagrama de subpressões a utilizar em cada caso deve se basear, na prática, em precedentes e em avaliacões geológicas. Não existe ainda, apesar do muito que foi estudado e escrito sobre o assunto, um conjunto de estipulações que permitam ao projetista definir de maneira padronizada o diagrama de subpressões nas situações práticas mais complexas. No que se segue são enfocados alguns aspectos desta questão. Nas acima mencionadas barragens do TVA e do USBR havia uma única galeria próxima do paramento de montante (dele distante de cerca de 20% da largura da base). A figura 6.17 mostra as indicações utilizadas por essas duas entidades para considerar a subpressão em casos desse tipo. A maioria dos casos práticos não é tão simples quanto o dessa figura, pelos seguintes motivos:

a superfície de maior risco de deslizamento, em muitos casos, não coincide com o contato entre o concreto e a rocha. Em geral, o maior risco de deslizamento reside em superfície(s) de fraqueza no interior do terreno;

em algumas obras utiliza-se mais do que uma galeria de drenagem ou utiliza-se galeria de drenagem no interior da rocha de fundação;

em diversas obras a superfície de contato entre a estrutura de concreto e a fundação apresenta degraus e diferenças de nível, tanto transversal como longitudinalmente.

O trabalho de Cruz & Barbosa (1981) sugere, com base em subpressões observadas em diversas obras, critérios de projeto para algumas situações práticas mais complicadas, uma das quais está mostrada na figura 6.20. Andrade (1982) procurou encontrar expressões analíticas para determinar o diagrama de subpressões em função da geometria da linha de drenos. Outro dois aspectos que costumam vir à tona quando se está definindo o diagrama de subpressões em projeto, são os seguintes:

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a ocorrência ou não de “trincas de tração” no pé de montante, que permitiriam a comunicação integral da pressão de montante abaixo da superfície. O critério da figura 6.20, por exemplo, considera que isto ocorre. Em algumas obras foi utilizada laje a montante (ligada à estrutura por junta estanque articulada) para fazer frente a este (suposto) problema. Encontram-se na literatura diversos casos de observações de obras atestando que esta “trinca de montante” não ocorreu;

as trincas e fissuras de contorno e a relaxação de descontinuidades da rocha, causados pelas detonações realizadas para as escavações. Guidicini & Andrade (1983) estimam que, em basaltos, essa faixa superficial tenha espessura da ordem de 2 a 3 m e permeabilidade dezenas (e até centenas) de vezes maior do que a do resto do maciço rochoso.

No caso geral devem ser realizados estudos detalhados da geologia da fundação e, à luz desses estudos, da geometria da obra e das experiências disponíveis, devem ser fixados os níveis das galerias, a posição, a profundidade e a geometria das linhas de drenos e das cortinas de injeção. Como parte dos estudos, alguns projetistas, alem de montar modelos geológicos da fundação, realizam análises teóricas numéricas de subpressão. Seja qual for a postura de projeto e a profundidade ou sofisticação dos estudos realizados, deve-se sempre:

Instalar piezômetros em pontos representativos do contato e da fundação e em pontos sobre os quais tenham pairado dúvidas no projeto. Os piezômetros devem ser acompanhados até que se assegure que as subpressões que ocorrem são inferiores àquelas utilizadas no projeto. Caso isto não aconteça, novos drenos e injeções podem se fazer necessários. Os piezômetros devem ser acompanhados por toda a vida da obra e substituídos quando apresentarem defeito;

Medir as vazões nos drenos individualmente e manter histórico. Uma queda de vazão um certo dreno, em relação às vazões nele observadas para os mesmos níveis de reservatório, pode significar que há necessidade de limpar ou substituir este dreno. Uma queda de vazão continuada e lenta em um conjunto de drenos pode resultar da natural colmatação dos caminhos de percolação ou da vedação por siltagem do terreno a montante da barragem. No entanto, se esta queda de vazão vier acompanhada de uma elevação da subpressão, particular atenção deverá ser dada ao trecho;

Garantir que as galerias permitirão acesso para equipamentos de perfuração e terão dimensões que permitam as perfurações e operações necessárias para instalação de novos drenos ou de injeções adicionais.

Em suma, o sistema de drenagem das subpressões de barragens de concreto tem vida útil limitada e requer acompanhamento e manutenção persistentes.

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6.6.3 – Casos de rupturas por subpressão Está apresentado na figura 6.21(a) o caso da barragem de Bouzey, na França. Completada em 1880, esta barragem sofreu um acidente estrutural em 1884 e, após reparos, sofreu desastre em 1895. O primeiro acidente consistiu numa separação entre a cortina incorporada de montante e o corpo barrante, situado a jusante da cortina (ponto 2 da figura). Os reparos consistiram em lançamentos de material impermeabilizante a montante e na construção de um apoio no pé de jusante. A segunda (e desastrosa) ruptura se deu por cisalhamento através do corpo da barragem (ponto 4 da figura). A análise de acidentes como este trouxe à baila as questões de pressão de água no interior e na base de estruturas de concreto. O caso da barragem de Gleno, construída e desastrosamente rompida em 1923 na Itália, está apresentado na figura 6.21(b). A barragem foi originalmente concebida como uma estrutura maciça de concreto (barragem de peso) e a correspondente base de apoio foi construída. Sobre a base, porém, foi erigida uma barragem de arcos múltiplos, muito mais leve, sem que providenciassem o correspondente indispensável alívio de subpressões. A barragem rompeu bruscamente por tombamento no primeiro enchimento. Como se vê na figura 6.21(b) a resultante das forças incidiu praticamente na aresta externa da base de apoio. Um dos mais impressionantes e traumáticos desastres que já ocorreram em barragem de concreto foi o de Malpasset (ICOLD,1974) ocorrido em 1959 na França, cujos principais elementos estão mostrados na figura 6.22. Trata-se de uma barragem em arco, com 66 metros de altura máxima e 222 metros de coroamento construída em 1954. A barragem foi destruída de maneira quase instantânea em 2 de dezembro de 1959 restando apenas uma parte do seu lado direito. Do lado esquerdo a barragem foi totalmente destruída, observando-se uma grande indentação (largura 40 metros, profundidade 30 metros) em forma de diedro na rocha de fundação. Partes do concreto do trecho destruído, ainda perfeitamente solidárias à rocha de fundação, foram encontradas a centenas de metros a jusante. O acidente se deveu a uma conjugação de fatores cuja atuação simultânea não foi prevista. Havia uma falha, cujo plano se constituía numa superfície impermeável, praticamente perpendicular ao vale mergulhando cerca de 45 graus de jusante para montante. Agravando a presença da falha, a estrutura de foliação, contendo planos de fraqueza, mergulhava de montante para jusante com disposição praticamente paralela à tangente do arco na ombreira esquerda. O conhecimento destas estruturas geológicas, porém, não bastaram para que se caracterizasse o risco de ruptura que existia, pois as forças impostas pela barragem tenderiam até mesmo a estabilizar o diedro formado por elas. Porém os efeitos físicos se associaram de maneira muito desfavorável. As estruturas de foliação fizeram com que as forças induzidas pela barragem ao invés de se espalharem pela massa de rocha, ficassem concentradas em um prisma de espessura constante transmitindo compressões elevadas até grande profundidade. Tais pressões fizeram com que a massa de gnaisse, já de baixa permeabilidade, se comportasse como uma cortina impermeável criando uma barreira sob a qual passou a atuar a pressão hidrostática total de montante. Deu-se então o levantamento do diedro de rocha de fundação e a ruptura catastrófica do conjunto. Os pedaços de concreto da barragem aderidos à rocha de

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fundação encontrados a jusante, evidenciam que a ruptura não ocorreu na superfície de contato concreto-rocha. No Brasil ocorreu o desastre no vertedouro da barragem de Santa Helena, na Bahia, devido à subpressão, cujos principais elementos estão mostrados na figura 6.23. A laje do rápido do vertedouro era simplesmente apoiada sobre um aterro arenoso em comunicação com o nível d'água a jusante (através do próprio sistema de drenagem da laje). A ruptura adveio quando, para uma certa vazão (a maior registrada nos cerca de 5 anos de vida da barragem, correspondente à maior abertura das comportas), o ressalto hidráulico fez com que a subpressão fosse superior ao peso da laje e da lâmina d'água que passava sobre ela. A laje foi levantada e removida (ver detalhe na parte inferior da figura). A areia escapou e o vertedor colapsou para o interior da cavidade assim formada. É interessante notar que o aterro da barragem de terra de Santa Helena, homogêneo e com altura de cerca de 18 m, se apoiava em sedimentos argilosos moles (ver seção AA na figura 6.23). O projeto da barragem de terra foi cercado de grandes cuidados: foram utilizados drenos verticais aceleradores de recalques e a construção do aterro foi realizada em etapas. A obra foi instrumentada com piezômetros e medidores de recalque. Os resultados de piezômetros foram utilizados para liberar as etapas de construção do aterro. Recalques de até 2 m foram registrados no aterro durante a construção (ver planta, figura 6.23) e foram observados diversos trincamentos. O resultado final foi bem sucedido, não se registrando rupturas durante a construção, nem vazões excessivas a jusante durante a operação. É de se imaginar que a complexidade geotécnica do aterro tenha distraído a atenção dos projetistas dos perigosos “detalhes” do vertedouro. Recentemente (2000) a barragem de Santa Helena foi recuperada, construindo-se novo vertedouro e aproveitando-se praticamente todo o aterro original. 6.7 – CARGAS EM JUNÇÕES ENTRE ATERROS E ESTRUTURAS DE CONCRETO O valor do esforço exercido por aterros compactados sobre estruturas é uma questão complexa. Alem das incertezas geotécnicas usuais associadas à escolha de parâmetros, homogeneidade, representatividade, etc dois aspectos contribuem particularmente para a complexidade: (a) o fato da estrutura, em geral, não se deslocar o suficiente para que se instale uma situação de plastificação (ativa ou passiva), e (b) a influência das diferenças de geometria e procedimentos construtivos (equipamentos e técnicas de compactação, seqüência executiva, forma e natureza da estrutura e da fundação, etc). No processo de projeto de uma barragem que contenha junção com estrutura, o engenheiro geotécnico é, em geral, solicitado a definir o diagrama de empuxo (ou seja, a distribuição de tensões) exercido pelo aterro compactado sobre a estrutura de concreto. Uma situação freqüente são as junções entre aterros e muros com faces verticais ou de inclinação muito íngreme, de estruturas tais como: barragens de concreto, vertedouros, eclusas, casas de força, etc. Reconhecendo as dificuldades conceituais

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envolvidas e aproveitando a disponibilidade de uma quantidade considerável de medições de tensões com células de carga em obras Brasileiras e estrangeiras, foi dado um tratamento empírico à questão. Através de uma seleção em que se isolou as medições julgadas confiáveis (segundo critério em parte baseado no histórico das medições e em parte no bom senso) foram reunidas medições em 63 células de carga de 11 obras com aterro argiloso (Gould,1971; Wilson & Pimley, 1971; Vaughan & Kennard, 1972; Jones & Sims, 1975; Mellios & Sverzut, 1975; Nakao, 1981; Viotti, 1980; Silveira et al, 1980; Eletronorte, 1988; Brandt, 1985) e medições de 32 células de carga de 6 obras nas quais o aterro era arenoso (Muhs, 1947; Gould, 1971; Broms & Ingelson, 1971 e 1972; Coyle & Butler, 1974). Em nenhum dos casos havia nível de água ou poropressões significativas no interior dos aterros. Foram incluídos casos nos quais os muros possuíam inclinações entre a vertical e 8:1 (V:H). Aos dados referentes a aterros arenosos foi ajustada, de forma a se constituir como uma envoltória, uma relação entre tensão total horizontal (σh , em kPa) e a profundidade (z , em metros) dada por:

Profundidade z entre zero e 3,5 m - σh = 13,5 + 9z Profundidade z entre 3,5 e 5,0 m - σh = 45 Profundidade z maior do que 5,0 m - σh = 9z

A relação envoltória ajustada aos dados de aterros argilosos foi a seguinte:

Profundidade z entre zero e 3,5 m - σh = 18 + 12z Profundidade z entre 3,5 e 5,0 m - σh = 60 Profundidade z maior do que 5,0 m - σh = 12z

Cabem os seguintes comentários sobre as distribuições de tensão horizontal, acima apresentadas:

Elas são puramente empíricas e, nesta medida, prestam-se apenas como prescrições preliminares a serem utilizadas com tirocínio. O simples fato delas não levarem em conta os parâmetros geotécnicos das diferentes areias ou argilas é uma evidência desse caráter puramente empírico;

Elas se baseiam em situações em que a água estava ausente (fase de construção dos aterros). As pressões de água que vierem a ocorrer na junção, no caso geral, somar-se-ão a elas (ver, por exemplo, Herkenhoff & Dib, 1986), aqui também sendo necessário exercer bom julgamento.

Outra situação comum de projeto é a estimativa de empuxos de aterros sobre galerias. As galerias de concreto, muito mais rígidas do que os aterros que as envolvem, constituem-se em inclusão rígida e, por conseqüência, ocorre concentração de tensões em suas imediações. A tensão sobre o topo da galeria fica mais alta do que a tensão média esperável (γh) e as tensões laterais ficam menores do que as que existiriam se a galeria ali não estivesse (Koγh). Os cálculos costumam ser conduzidos com estudos bidimensionais utilizando métodos numéricos como o dos elementos finitos e considerando seção normal à galeria. Um procedimento aproximado para considerar a condição tri-dimensional do problema foi proposto por Cavalcanti & Sandroni (1992).

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ANEXO 6.1 - PARÂMETRO B EM SOLO PARCIALMENTE SATURADO DEMONSTRAÇÃO DE SKEMPTON (1954)

Ensaio isotrópico não drenado em solo parcialmente saturado, no qual se aplica uma variação de tensão total isotrópica δσ que causa uma variação de tensão no fluido dos poros (ar + água) δUp e uma variação de volume δV. Seja CS a compressibilidade do arcabouço de grãos do solo e, Cp a do fluido dos vazios (ar + água) do solo. A compressibilidade é definida como a relação entre a variação específica de volume (δV/V) e a variação de tensão isotrópica (δσ). A variação de volume do arcabouço de grãos é: )( UpVCsVs δδσδ −××−=

A variação de volume do fluido dos vazios é: UpVnCpVp δδ ×××−=

lembrando que nV é o volume dos vazios. Como os grâos do solo e a água são praticamente incompressíveis por comparação com o arcabouço de grãos e a mistura de ar e água dos vazios, pode-se afirmar que: δVs = δVp

logo, =−× )( UpCs δδσ UpnCp δ××

portanto,

CsCpn

CsBUp+×

==δσδ

ou,

CsCpn

BUp×+

==1

1δσδ

No caso de solo seco Cs >> Cp e, por consequência, 0⇒B . No caso de solo saturado Cp >> Cs e, por consequência, 1⇒B .

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ANEXO 6.2 - POROPRESSÕES EM SOLO LINEAR ISOTRÓPICO, PARCIALMENTE SATURADO OCLUSO, CARREGADO ISOTROPICAMENTE

(SANDRONI, 1985) Seja um elemento de solo parcialmente saturado, no estado ocluso (água contínua, ar em bolhas), com volume total V e volume de vazios nV (onde n é a porosidade), submetido a uma variação de tensão total isotrópica δσ sem que se permita escape de ar ou de água. Considerando a água e os grãos sólidos como incompressíveis, a variação de volume do elemento de solo (δV) será igual à variação de volume no ar dos vazios (δVar), ou seja: (δV) = (δVar) [1]

O volume inicial de ar, lembrando que a relação entre o volume de ar e o volume dos poros é igual a 1-S (onde S é o grau de saturação), é igual a: Vari = n (1-S) V [2]

Com a aplicação de δσ a pressão absoluta no ar dos vazios passa de um valor inicial Po para um valor final P. Utilizando a lei de Boyle e desprezando a pressão parcial de vapor d´água e a solução do ar na água, tem-se: Var.Par = Vari. Pari [3]

Com [2] em [3], vem: Var = n (1-S) V. Pari/Par [4]

Diferenciando [4] vem:

2.).1.(PParPariSn

VVar δδ −−= [5]

Ou seja,

2..).1.(PParPariVSnVar δδ −−= [6]

No estado ocluso pode-se admitir que a variação de pressão na água e no ar dos vazios é igual e, portanto: Parδδσδσ −=' [7]

No caso de solo linear solicitado isotropicamente, o módulo de compressão é dado por:

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D = -

VVδ

δσ ' = - ( )

VVPar

δδδσ [8]

Ou seja,

).(.1 ParVD

V δδσδ −

−= [9]

Com [6] e [9] em [1], vem:

δσδ .1).1.(.

1

2

+−=

PPariSnD

P [10]

A fórmula [10] expressa o valor do parâmetro δσδPB = e esclarece a influência dos

diversos fatores que determinam o seu valor, a saber: a quantidade de ar existente nos poros, expressa pelo grau de aeração = Var/V = n.(1-S), a compressibilidade do arcabouço de grãos, D, e as pressões (absolutas) inicial (Pari) e final (P) no ar dos vazios.

A expressão PariSn

p).1.(

2

− é uma “compressibilidade equivalente” do fluido

(ar+água) existente nos poros, como se depreende da fórmula 6. A relação entre a poropressão e a tensão total pode ser obtida da fórmula [10], por integração:

PP

PariSnDtecons δδσ ).1).1.(.(tan 2 +−=+∫ ∫ [11]

ou seja,

P

PariSnDPtecons ).1.(.tan −−=+σ [12]

quando, σ = σo, P = Pari, logo, oSnDParitecons σ−−−= )1.(.tan [13]

Com [13] em [12], chega-se à equação: ( ) 0..2 =−−+−− PariMPMPariP oσσ [14]

onde,

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M = D.n.(1-S) [15]

Resolvendo a equação [14] e desprezando a raiz que daria P menor do que zero (o que não é possível por se tratar de pressão absoluta), vem: P = [ ( ) ( ) )..42 PariMMPariMPari oo +−+−+−+− σσσσ ]/2 [16]

Para obter o valor da poropressão com referência atmosférica (U = P - Patm, onde Patm é a pressão atmosférica), evidentemente: U = [ ( ) ( ) )..42 PariMMPariMPari oo +−+−+−+− σσσσ ]/2 - Patm [17]

onde, σ = tensão total final; σo = tensão total inicial Pari = pressão inicial no ar dos poros (no caso mais comum, atmosférica) M = D.n.(1-S), sendo D = módulo efetivo de compressão isotrópica, n porosidade inicial e S grau de saturação inicial Patm = pressão atmosférica. Nos casos práticos de construção de aterro, tem-se as seguintes condições e aproximações: • A tensão total final é a carga de aterro acima do ponto que, em muitos casos,

pode ser expressa, sem grande perda de precisão, pelo produto do peso específico do aterro pela altura de aterro acima do ponto (γ.h);

• A tensão total inicial, σo, é a tensão em que ocorre a oclusão. Se o solo estiver ocluso desde o início, evidentemente, σo = 0;

• Quando o solo se encontra inicialmente no estado aberto a pressão no ar é atmosférica. No instante da oclusão a pressão no ar permanece atmosférica de modo que Pari = Patm. Quando o solo é compactado no estado ocluso, pode restar uma pequena pressão no ar após a compactação, mas este valor, em geral, será muito pequeno de maneira que se pode considerar Pari = Patm.

• O valor de D pode ser obtido a partir de E (módulo de Young) e ν (coeficiente de Poisson), considerando o solo como linear e isotrópico, através de relação simples, a saber:

D = E.(1- ν) /[(1 + ν).(1 - 2ν)]

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FIG 6.1 – RELAÇÃO ENTRE O COMPORTAMENTO NO

CAMPO E NO LABORATÓRIO (Vaughan, 1971)

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FIG 6.2 EXEMPLO DE ESTUDO DA DISSIPAÇÃO DE POROPRESSÕES DURANTE A CONSTRUÇÃO EM BARRAGENS DE TERRA

( baseado em Vaughan. 1975)E = 400kg/cm2 Tempo de construção = tc =1 ano

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FIG 6.3

RESULTADOS TÍPICOS DE ENSAIOS DE COMPACTAÇÃO

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FIG 6.4

DESENVOLVIMENTO DE POROPRESSÕES

DURANTE A CONSTRUÇÃO

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FIG. 6.5

SUCCÇÃO APÓS A COMPACTAÇÃO EM

LABORATÓRIO

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FIG. 6.6

POROPRESSÕES NAS CONDIÇÕES

ABERTA E FECHADA

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FIG. 6.7 - BARRAGEM DE COCOROBÓ

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FIG. 6.8

BARRAGEM DO AÇÚ

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FIG. 6.9

BARRAGEM DE OTTER BROOK

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FIG. 6.10

BARRAGEM DE CARSINGTON

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FIG. 6.11

BARRAGEM DE WACO

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FIG. 6.12

POROPRESSÕES TEÓRICAS PERANTE

REBAIXAMENTO INSTANTÂNEO

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FIG. 6.13

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FIG. 6.14

POROPRESSÕES PRÁTICAS PERANTE

REBAIXAMENTO

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FIG. 6.15

CASOS HIPOTÉTICOS DE SUBPRESSÃO EM

BARRAGENS DE CONCRETO

(Casagrande ,1964)

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FIG. 6.16

SUBPRESSÕES OBSERVADAS EM 3

BARRAGENS DE CONCRETO COM INJEÇÕES E SEM

DRENOS ( ASCE, 1962)

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FIG. 6.17 SUBPRESSÃO NA BASE DE BARRAGENS DE CONCRETO

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FIG. 6.18

SUBPRESSÕES NA BARRAGEN DE

WHEELER ANTES E DEPOIS DOS DRENOS

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FIG. 6.19

QUEDA NAS SUBPRESSÕES DA

BARRAGEM DE CHIEF JOSEPH POR CAUSA DA

DIMINUIÇÃO DO ESPAÇAMENTO ENTRE

DRENOS

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FIG. 6.20

PRESCRIÇÕES PARA SUBPRESSÕES EM

CASO PRÁTICO(Cruz e Barbosa,1961)

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FIG. 6.21

RUPTURAS POR SUBPRESSÃO EM BARRAGENS DE

CONCRETO ANTIGAS

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FIG. 6.22

BARRAGEM DE MALPASSET

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FIG. 6.23

BARRAGEM DE SANTA HELENA