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Geografia da Revolução Geografia da Revolução ecos literários da “semana dos prodígios” ecos literários da “semana dos prodígios” Ana Isabel Queiroz e Daniel Alves FCSH - Universidade NOVA de Lisboa IHC – Instituto de História Contemporânea, Humanidades Digitais e Investigação Histórica IELT – Instituto de Estudos de Literatura Tradicional , LITESCAPE.PT – Atlas das Paisagens Literárias de Portugal Continental

Geografia da Revolução

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Page 1: Geografia da Revolução

Geografia da RevoluçãoGeografia da Revolução ecos literários da “semana dos prodígios”ecos literários da “semana dos prodígios”

Ana Isabel Queiroz e Daniel Alves

FCSH - Universidade NOVA de Lisboa

IHC – Instituto de História Contemporânea, Humanidades Digitais e Investigação Histórica

IELT – Instituto de Estudos de Literatura Tradicional, LITESCAPE.PT – Atlas das Paisagens Literárias de Portugal Continental

Page 2: Geografia da Revolução

“semana dos prodígios”,de 24 de Abril (noite) a 1 de Maio de 1974

Lisboa e arredores

estudo comparativo da geografia das representações literárias com a dos eventos históricos

tempo

espaço

metodologia

análise de conteúdo e referenciação geográfica dos locais mencionadosmétodos quantitativosSIG – Sistemas de Informação Geográfica

Page 3: Geografia da Revolução

Alexandre Pinheiro Torres, Amor, só amor, tudo amor (1999)

Alice Vieira, Vinte cinco a sete vozes (1999)

Almeida Faria, Lusitânia (1980)

Álvaro Guerra, Café 25 de Abril (1986)

António Lobo Antunes, A morte de Carlos Gardel (1994)

António Lobo Antunes, As Naus (1988)

António Lobo Antunes, Fado Alexandrino (1983)

Carlos Brito, Vale a pena ter esperança (1999)

Filomena Marona Beja, Bute daí, Zé! (2010)

Germano Almeida, Dona Pura e os Camaradas de Abril (1999)

José Cardoso Pires, Alexandra Alpha (1987)

José Saramago, A Noite (1979)

José Saramago, Levantado do Chão (1980)

José Saramago, Manual de Pintura e Caligrafia (1977)

Lídia Jorge, O Dia dos Prodígios (1980)

Maria Isabel Barreno, As vésperas esquecidas (1999)

Mário de Carvalho, Apuros de um pessimista em fuga (1999)

Mário de Carvalho, Era bom que trocássemos umas ideias sobre o assunto (1995)

Mia Couto, Vinte e zinco (1999)

Patrícia Reis, Por este Mundo acima (2011)

Rui Zink, Hotel Lusitano (1986)

Teolinda Gersão, Paisagem com mulher e mar ao fundo (1982)

Urbano Tavares Rodrigues, O último dia e o primeiro (1999)

Corpus literário (n=23)

ocorrências

categorias de análise (n=7)

figuras públicas

inst

ituiç

õesmedia

ícones

mensagens

emotividade

locais mencionados

georeferenciação

Page 4: Geografia da Revolução

Análise de conteúdo

23 10 21 13 18 17 17

OCC INS MSG FIG MED ICO EMO

[1] Amor, só amor, tudo amor

[2] Vinte cinco a sete vozes

[3] Lusitânia

[4] Café 25 de Abril

[5] A morte de Carlos Gardel

[6] As Naus

[7] Fado Alexandrino

[8] Vale a pena ter esperança

[9] Bute daí, Zé!

[10] Dona Pura e os Camaradas de Abril

[11] Alexandra Alpha

[12] A Noite

[13] Levantado do Chão

[14] Manual de Pintura e Caligrafia

[15] O Dia dos Prodígios

[16] As vésperas esquecidas

[17] Apuros de um pessimista em fuga

[18] Era bom que trocássemos ..

[19] Vinte e zinco

[20] Por este Mundo acima

[21] Hotel Lusitano

[22] Paisagem com mulher e mar ao fundo

[23] O último dia e o primeiro

Page 5: Geografia da Revolução

Relação entre “ocorrências” e

as outras categorias de análise

> dimensão dramática e

simbólica

+ o colectivo, o anónimo e o emocional do que o individual, o personalizado e o racional

Page 6: Geografia da Revolução

Aí, Chiado, Largo do Carmo, quartel-general da Guarda Republicana, os ditadores em fuga estavam cercados por um clamor de cravos e de fuzis. Um mar de gente a entoar Grândola Vila Morena, um imenso coro a declarar solenemente a terra da fraternidade diante dum quartel de malditos onde se tinha refugiado o Governo. No meio de nós estavam os carros blindados de armas apontadas (342)

Eme-Efe-A! Eme-Efe-A! Vitória! Democracia! Cada rádio era um eco daquele largo a percorrer o espaço até às moradas longínquas, hospitais, barcos de mar, até ao vigilante perdido na montanha e aos camiões de longo curso que rolavam pelas estradas. Ouvia-se por esse mundo Liberdade! Povo Unido!, e éramos nós aqui, o nosso brado a alastrar por cima de comunicados e de palavras de ordem. (348+)

José Cardoso Pires, Alexandra Alpha

Page 7: Geografia da Revolução

[1] Amor, só amor, tudo amor 4

[2] Vinte cinco a sete vozes 4

[3] Lusitânia 6

[4] Café 25 de Abril 23

[5] A morte de Carlos Gardel 3

[6] As Naus 0

[7] Fado Alexandrino 14

[8] Vale a pena ter esperança 3

[9] Bute daí, Zé! 29

[10] Dona Pura e os Camaradas de Abril 25

[11] Alexandra Alpha 8

[12] A Noite 4

[13] Levantado do Chão 1

[14] Manual de Pintura e Caligrafia 1

[15] O Dia dos Prodígios 0

[16] As vésperas esquecidas 8

[17] Apuros de um pessimista em fuga 1

[18] Era bom que trocássemos .. 0

[19] Vinte e zinco 0

[20] Por este Mundo acima 0

[21] Hotel Lusitano 1

[22] Paisagem com mulher e mar ao fundo 4

[23] O último dia e o primeiro 27

Locais mencionados (n=71)

Largo do Carmo 12

Terreiro do Paço 10

Rua António Maria Cardoso 8

Quartel do Carmo 8

Rádio Clube Português 8

Prisão de Caxias 7

Baixa 5

RTP - Estúdios Lumiar 5

Avenida da Liberdade 5

Aeroporto da Portela 5

Os 10 mais citados (f≥5)

Significativa correlação positiva entre o nº de categorias de análise e o nº de locais mencionados

Número de locais por obra

Page 8: Geografia da Revolução

[A]li perto do Terreiro do Paço, na Rua do Arsenal, e depois também no Rossio, tinha visto tropas do Governo a passar ostensivamente para o lado do Movimento das Forças Armadas, tinha ouvido um general dar ordens a um alferes para disparar um canhão sobre o Terreiro do Paço e depois ouviu esse recusar a ordem dizendo que preferia ser preso. E de facto foi imediatamente preso, mas enquanto era levado o povo que ali se tinha juntado apupava o general chamando-lhe fascista ordinário. O povo vitoriava os soldados, as vendedeiras de flores metiam-lhes cravos nos canos das espingardas, outras pessoas levavam-lhes comida, sandes, garrafas de laranjada…(87)

Germano Almeida, Dona Pura e os camaradas de Abril

Page 9: Geografia da Revolução

Geografia literária, locais por classes de frequência.

A - Largo do Carmo; B - Terreiro do Paço; C - Rua António Maria Cardoso; D - Quartel do Carmo; E - Rádio Clube Português; F - Prisão de Caxias; G – Baixa;

H - RTP - Estúdios Lumiar; I - Avenida da Liberdade; J -Aeroporto da Portela

Page 10: Geografia da Revolução

Locais em “Lisboa em (R)evolução vs. geografia literária

Page 11: Geografia da Revolução

As obras literárias estudadas apresentam descrições das ocorrências (sensu lato) referenciadas a lugares (com foco no centro de Lisboa). Mercê das habilidades literárias para comunicar fatos e sentimentos, os eventos e os locais agregam-se numa teia de recordações que potencia a compreensão deste evento histórico.

Os resultados potenciam a valorização da literatura como suporte histórico e repositório de valores, crenças e tradições que unem as pessoas através de uma ideia de um passado em comum. Nas apressadas sociedades contemporâneas , caracterizadas pelo esquecimento e a superficialidade no tratamento da história recente, esta questão tornou-se objecto de reflexão.

Memory, on which history draws and which it nourishes in return, seeks to save the past in order to serve the present and the future. Let us act in such a way the collective memory may serve the liberation and not the enslavement of human beings. (99)

Jacques Le Goff, History and Memory (1992)

Page 12: Geografia da Revolução

http://paisagensliterarias.ielt.org/

http://atlas.fcsh.unl.pt/omeka/

Ana Isabel Queiroz [email protected] Daniel Alves [email protected]