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INTERNALIZAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS EM ANÁLISES CUSTOS-BENEFÍCIOS (ACB) DE PROJETOS. ESTUDO DE CASO: INDÚSTRIA DE BENEFICIAMENTO DE PESCADO, MANAUS, AM Bidone, E.D. 1 ; Bidone, F.J.D. 2 & Maddock, J.E.L. 1 1 Universidade Federal Fluminense – UFF, Programa de Pós-Graduação em Geociências (Geoquímica Ambiental – PGG/UFF), Outeiro de São João Batista, s/n – 5 o andar, CEP 24.020-007, Centro – Niterói, RJ. E-mail: [email protected]; [email protected] 2 Curso de Administração, Pontifícia Universidade Católica - PUC/RJ, e-mail: [email protected] Recebido em 02/05; aprovado para publicação em 10/05 ABSTRACT Incorporation of costs due to environmental impacts in cost-benefit analysis of projects is not an easy task due to intangible market value of most goods and services affected by the activities planned in the project. In this paper we discuss the environmental externalities of the establishing of a fish processing plant in Manaus, AM. In this case we discuss the impacts on the water quality of the river receiving the plant effluents; therefore valuation of goods and services is not needed. The methodology use environmental impact modeling through the evaluation of the support capacity of the environment in relation to sustainability. The results allowed the creation of alternative scenarios to control the emission of liquid effluents; a monetary valuation of the physical depreciation of the natural capital (i.e. water quality) for each alternative; the definition of an optimal technical-economic level for the selection of the best alternative; and the definition of the fraction of the natural capital depreciation under the responsibility of the stake holders. RESUMO A incorporação (internalização) dos custos devidos a impactos ambientais em análises custos- benefícios de projetos não é uma tarefa fácil; tendo em vista a intangibilidade, em termos monetários (mercado), da maioria de bens e serviços ambientais afetados pelas atividades previstas no projeto. Neste trabalho, através do exemplo prático do projeto para implantação de uma indústria de beneficiamento de pescado às margens do Rio Negro na cidade de Manaus, AM, é utilizada uma abordagem para incorporar externalidades ambientais, no caso, impactos sobre a qualidade das águas fluviais receptoras de efluentes líquidos. Neste caso, não é necessária a valoração de bens e serviços ambientais. A metodologia preconizada utiliza-se da modelagem dos impactos das atividades de projeto sobre o meio ambiente, avaliando sua capacidade de suporte relativa a indicadores para o seu uso sustentável. Os resultados obtidos permitiram: a avaliação ambiental de diferentes cenários alternativos para o controle da emissão de efluentes líquidos do projeto enfocado; a estimativa monetária da depreciação física do capital natural (i.e., água fluvial, no estudo de caso) envolvida em cada alternativa; a definição de um nível ótimo técnico-econômico para a seleção da alternativa mais viável; e, complementarmente, verificar qual a parcela da depreciação física resultante é de responsabilidade do empreendedor ou da sociedade. Geochimica Brasiliensis, 19(2)118-127, 2005 Geochimica Brasiliensis

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INTERNALIZAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS EM ANÁLISESCUSTOS-BENEFÍCIOS (ACB) DE PROJETOS. ESTUDO DE CASO:INDÚSTRIA DE BENEFICIAMENTO DE PESCADO, MANAUS, AM

Bidone, E.D.1; Bidone, F.J.D.2 & Maddock, J.E.L.1

1Universidade Federal Fluminense – UFF, Programa de Pós-Graduação em Geociências (GeoquímicaAmbiental – PGG/UFF), Outeiro de São João Batista, s/n – 5o andar, CEP 24.020-007, Centro –

Niterói, RJ. E-mail: [email protected]; [email protected] de Administração, Pontifícia Universidade Católica - PUC/RJ, e-mail:

[email protected] em 02/05; aprovado para publicação em 10/05

ABSTRACT

Incorporation of costs due to environmental impacts in cost-benefit analysis of projects is not aneasy task due to intangible market value of most goods and services affected by the activities planned inthe project. In this paper we discuss the environmental externalities of the establishing of a fish processingplant in Manaus, AM. In this case we discuss the impacts on the water quality of the river receiving theplant effluents; therefore valuation of goods and services is not needed. The methodology useenvironmental impact modeling through the evaluation of the support capacity of the environment inrelation to sustainability. The results allowed the creation of alternative scenarios to control the emissionof liquid effluents; a monetary valuation of the physical depreciation of the natural capital (i.e. waterquality) for each alternative; the definition of an optimal technical-economic level for the selection of thebest alternative; and the definition of the fraction of the natural capital depreciation under the responsibilityof the stake holders.

RESUMO

A incorporação (internalização) dos custos devidos a impactos ambientais em análises custos-benefícios de projetos não é uma tarefa fácil; tendo em vista a intangibilidade, em termos monetários(mercado), da maioria de bens e serviços ambientais afetados pelas atividades previstas no projeto.Neste trabalho, através do exemplo prático do projeto para implantação de uma indústria de beneficiamentode pescado às margens do Rio Negro na cidade de Manaus, AM, é utilizada uma abordagem para incorporarexternalidades ambientais, no caso, impactos sobre a qualidade das águas fluviais receptoras de efluenteslíquidos. Neste caso, não é necessária a valoração de bens e serviços ambientais. A metodologia preconizadautiliza-se da modelagem dos impactos das atividades de projeto sobre o meio ambiente, avaliando suacapacidade de suporte relativa a indicadores para o seu uso sustentável. Os resultados obtidos permitiram:a avaliação ambiental de diferentes cenários alternativos para o controle da emissão de efluentes líquidosdo projeto enfocado; a estimativa monetária da depreciação física do capital natural (i.e., água fluvial, noestudo de caso) envolvida em cada alternativa; a definição de um nível ótimo técnico-econômico para aseleção da alternativa mais viável; e, complementarmente, verificar qual a parcela da depreciação físicaresultante é de responsabilidade do empreendedor ou da sociedade.

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INTRODUÇÃO

Análise Custos-Benefícios em PolíticasPúblicas

As Análises Custos-Benefícios (ACBs),em sua origem, são técnicas econômicas criadaspara gerar informações visando a melhoraria daqualidade das políticas públicas. Neste contexto,‘qualidade’ refere-se à medida do bem-estarsocial que determinada política confere àsociedade. As ACBs envolvem a medidamonetária da mudança em bem-estar individual,agregado, resultante de uma decisão política.Nelas, assume-se que o bem-estar individualdepende da satisfação de preferênciasindividuais, e que a medida monetária damudança em bem-estar pode ser derivada a partirdo quanto os indivíduos estão dispostos a pagar,i.e., dispostos a renunciar em termos de outrasoportunidades de consumo. Esta abordagem podeser aplicada tanto a bens e serviços correntementetransacionados no mercado quanto àquelespúblicos não transacionáveis como, por exemplo,a qualidade do meio ambiente, embora a medidamonetária destes últimos representar um grandedesafio (Kopp et al, 1997)

Em ACBs aplicadas à políticas públicasambientais (p.ex., combate à poluição) é precisovalorar os custos de proteção ambiental e osbenefícios resultantes à sociedade, de modo amaximizar o benefício social líquido do conjuntodos indivíduos afetados, máximo este que resultada igualdade entre os custos marginais deproteção e benefícios marginais resultantes. Esteenfoque traz problemas sérios dos pontos de vistaoperacional e teórico (Cánepa, 2003).

Do ponto de vista teórico, as críticasincluem desde questões (i) filosóficas - aproteção ambiental é, freqüentemente, desejávelpor razões que não podem ser quantificadas(sociais, espirituais, psicológicas) valores quedesafiam valorações em simples termoseconômicos; à (ii) metodológicas - em ACB, amedida do bem-estar social e de como ele éafetado por uma política depende de como o bem-estar dos indivíduos é agregado para obter-se obem-estar de toda a coletividade; ou, o meioambiente é um bem público que não étransacionado em mercados e, portanto, desafia

a avaliação econômica.

Do ponto de vista operacional, existemvárias abordagens técnicas para a valoraçãoeconômica de recursos ambientais (produçãosacrificada, valor de propriedade, custo deviagem, custo de saúde, avaliação contingente,entre outros). As dificuldades operacionaisinerentes aos métodos de valoração vão doconhecimento limitado dos ecossistemas (o quedificulta a identificação de benefícios, potenciaise futuros, e tende à elaboração de contas quesubestimam estes benefícios), à dificuldade emse imputar benefícios, ou sua perda,exclusivamente a atributos ambientais. Tendo emvista as limitações em se determinar aspreferências da população por benefíciosambientais em termos de mercado, esforços sãorealizados no sentido de traçar estas preferênciasatravés de avaliações contingentes. SegundoSerôa da Motta (1990), os resultados daspesquisas podem ser influenciados pelaimprecisão das perguntas, pelo instrumento decoleta, pela desinformação e expectativas dapopulação considerada.

Ampla bibliografia detalhando métodose técnicas de valoração ambiental é disponível,bem como sobre os problemas conceituais,teóricos e empíricos encontrados naquantificação do valor econômico para o meioambiente (e.g., In: Pearce e Turner, 1990;Costanza, 1991; Pearce, 1993; Serôa da Motta,1998; May et al., 2003; Bidone e Morales, 2004).

Análise Custos-Benefícios em Projetos/Empreendimentos

A partir dos anos 80 verifica-se odesenvolvimento de legislação ambientalgradativamente mais severa, impondo às nãoconformidades ambientais penalidades elevadase condições rigorosas para o licenciamentoambiental de empreendimentos. A pressão sobreas empresas cada vez mais conscientizam que omeio ambiente é estratégia de negócio e fator desucesso na gestão empresarial, assim como osprogramas da qualidade, de segurança e decustos. Surge o Sistema de Gestão Ambiental,certificado e integrado às demais funçõescorporativas. Racionalizam-se os investimentosambientais e, com isso, busca-se: melhores

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resultados operacionais (reciclagem,conservação de matéria e energia); redução dorisco com acidentes e geração de passivosambientais, multas e penalidades; melhor relaçãocom partes interessadas e órgãos fiscalizadores;maior aceitação pelo mercado (credibilidade) ecompetitividade; atrair investidores e acionistas;facilitar o acesso a financiamentos favorecidos.

Neste contexto as ACBs podemrepresentar um papel importante. Através daavaliação financeira ou de rentabilidade privadao empreendedor procura conhecer o retorno queo projeto gerará sobre o capital que ele vaiinvestir. A determinação do orçamento de custose receitas na avaliação privada de projetos nãoapresenta nenhum problema maior que o dadeterminação dos preços dos produtos e dosinsumos de mercado. Aplicar ACB, em seusentido estrito, na avaliação econômica deprojetos individuais (públicos ou privados)apresenta os mesmos princípios básicos daavaliação privada, com a única e importantediferença de que inclui certos benefícios e custosque não participam do orçamento do empresário,mas que participam do orçamento da coletividadeem geral, i.e., economias externas ouexternalidades do projeto (Buarque, 1989).

Em economia ambiental, isto significaa necessidade de internalizar, em termosmonetários, os benefícios e custos de impactosresultantes da implantação do empreendimentosobre o meio ambiente. Os planos de contasconvencionais são registrados em termos demercado (preços). Então, na avaliação financeirana ótica privada, ou seja, na construção de fluxosde fundos em valores atualizados, a inserção deaspectos ambientais na ACB, da mesma formaque no caso de políticas públicas, requer aestimativa de preços para recursos ambientaisque sejam diretamente comparáveis com preçosde mercado, com problemas similares aosapontados anteriormente (“Fluxo de Fundos”, ouseja, grosso modo: FF = Receitas - Investimentosde Implantação - Custos de Operação,Manutenção, etc.).

METODOLOGIA

Uma alternativa à necessidade devaloração de recursos ambientais em ACB,

sobretudo do lado dos ‘benefícios’ dos planosde contas, tanto para políticas públicas quantopara projetos individuais, é o emprego de Análisede Custo-Efetividade (ACE).

A ACE pode ser vista como uma formaparticular de ACB. Em ACE, aplicada a umapolítica de controle/proteção ambiental, éestabelecida uma meta ou um padrão dequalidade e/ou quantidade ambiental, e a análisebusca identificar, entre as alternativas possíveispara alcançar a meta ou o padrão, aquela(e) demenor custo. No caso da aplicação de ACE aprojetos/empreendimentos individuais,geralmente o empreendedor busca atender a metaou o padrão estabelecida(o) pela legislaçãoambiental, a qual, por sua vez, resulta de algumapolítica pública (tenha sido esta analisada emtermos de custos e benefícios à sociedade, ounão). Evidentemente, o comportamento doempreendedor é reflexo da natureza de comando-controle, incorporando o princípio de poluidorpagador, vigente na legislação ambiental.

O exemplo prático da indústria depescado, a seguir, utiliza a abordagemmetodológica proposta por Bidone et al. (2002)para a internalização de impactos ambientais emprojetos individuais, incorporando em grandeparte o conceito de ACE.

Um exemplo teórico do método propostoé apresentado na Figura 1. Sobre o eixo “y” sãocolocados os Custos das Medidas de Proteçãoambiental (CMP), os termos a, b, c, d, e, f, g, nafigura. Por exemplo, os custos de diferentes

AB

C

D

E

FG

NBNPFS f'g'e'c'b'a'PF

CMP($)

ab

c

de

fg

DCN(1)

DCN(2)

.FIGURA 1 – Análise Custos-Benefícios sem necessidadede valoração de bens e serviços ambientais (Fonte: Bidoneet al., 2002)

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alternativas técnicas para o tratamento deefluentes de um projeto ou alternativas para umprograma público de saneamento básico, emambos os casos tendo como corpo receptor umrio.

No eixo “x” são mostrados o PadrãoFísico (PF) para as funções/usos ambientais, i.e.,um indicador capaz de referenciar a qualidadee/ou quantidade necessária à realização dediferentes funções ou usos possíveis de umrecurso natural, aqui no exemplo, as águas deum determinado rio. O PF corresponde a umparâmetro químico, físico ou biológico, p.ex., osníveis de oxigênio dissolvido nas águas fluviaisdo exemplo proposto. No caso da existência devários poluentes nos efluentes, se um únicoparâmetro não for capaz de indicar sua presença,o PF pode assumir a forma de um índiceagregando todos ou parte dos contaminantes deinteresse. No caso do tratamento do tratamentode diferentes tipos de efluentes em uma mesmainstalação industrial, o método deve serempregado, separadamente, para cada tipo deefluente.

Um valor específico do PF pode serrelacionado à necessária qualidade do recursoou à qualidade considerada aceitável definidapela legislação ambiental para um determinadouso do recurso, ou para vários usos (os quaisrepresentam benefícios ambientais). Esse é oPadrão Físico de Sustentabilidade (PFS) definidopara o recurso em pauta. O termo NBN sobre oeixo “x” corresponde ao Nível de Base Naturaldo proposto indicador para o recurso.

No exemplo de águas fluviais, aqualidade da água precisa ser relacionada a cadauma das alternativas de medidas de controleambiental, por meio de modelos matemáticos(p.ex., modelos de diluição/dispersão), os quaispodem estimar (i.e., prognosticar) os valoresresultantes das concentrações do parâmetroindicador (i.e., PF) proposto para a qualidade daságuas. Os termos a’, b’, c’, d’, e’, f’, g’ sobre oeixo “x”.

A curva de oferta de funções/usos dorecurso natural (i.e., disponibilidade – qualidadee quantidade - do recurso natural) pode serinterpolada ou inferida considerando os custos

de cada alternativa de medida de controleambiental (a, b, c...) e seus resultantes valoresde qualidade (a’, b’, c’...).

Em outros termos, isso significa que, nodiagrama tradicional das curvas de oferta e dedemanda para funções/usos de um dado recursonatural, foi determinado um ponto sobre asabscissas (o ponto PFS na figura), o qualrepresenta o padrão para o uso sustentável dorecurso. Uma perpendicular neste pontointercepta a curva de oferta. Esta perpendicularsubstitui a (desconhecida) curva de demanda. Oponto de intersecção indica o volume deatividades de controle, medido em termosmonetários, necessário para atingir o padrão deuso sustentável determinado.

A curva de demanda (de inclinaçãooposta, cortando a curva de oferta) por funçõesambientais é praticamente impossível deconstruir. Isso porque, a demanda não émanifestada diretamente, ou de maneirasuficientemente rápida para alcançar-se um valormensurável de equilíbrio: os membros dasociedade que se beneficiam das medidas deproteção ambiental não pagam por elasdiretamente, e suas preferências somente podemser expressas através de processos políticosaonde eles serão ofuscados por outras questões.

Assim, na abordagem proposta, ademanda foi substituída pelo padrão desustentabilidade, representado pelo ponto PFSna figura, o qual assegura a manutenção daqualidade do recurso, possibilitando um númeromáximo de suas funções/usos, tanto para opresente quanto para o futuro.

O termo Depreciação do Capital Natural(DCN), em termos de depreciação física, estárelacionado à noção de perda de função/uso, i.e.,perda em qualidade do recurso considerado,envolvendo a avaliação dos seus custos eresponsabilidades por eles.

No exemplo da figura, o termo DCN(1)

reflete uma situação onde o Padrão Físico deSustentabilidade (PFS) legalmente definido émenor do que o Nível de Base Natural (NBN).O valor monetário correspondente a DCN(1) podeser visto como uma medida indireta dos custos

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ambientais incorridos pela sociedade devido àperda (depreciação) na qualidade de água,implícitos no PFS definido pela legislação.Devido ao seu caráter legal, esses custos nãopodem ser incluídos na análise econômica doprojeto (o projeto implantando a alternativa ‘D’sobre a curva atende à legislação, i.e., atinge oPFS). Eles são custos ambientais implícitos,aceitos/definidos pela lei/sociedade.

O termo DCN(2), considerando comoexemplo a alternativa “C” de medida de controleambiental, e outras situações similares na figura,mede, em termos monetários, os custosambientais não internalizados pelo projeto emsua análise de viabilidade. Por outro lado, estassituações podem representar, apenas, uma etapamomentânea de uma estratégia de controleambiental, legalmente acordada, a serimplementada em sucessivas etapas. Emqualquer caso, esses custos deveriam serinternalizados na análise econômica do projeto,por serem custos de responsabilidade privada(i.e., do empreendimento); ou, ainda, no caso deprojetos públicos (p.ex., saneamento), deveriamser incluídos, juntamente com o valor monetáriocorrespondente à DCN(1), no cálculo das contaspúblicas (p.ex., PIB municipal) a fim de indicarà sociedade o tamanho (custo) real do seudesempenho econômico.

O modelo proposto poderia ser utilizadoem conjunção com políticas de incentivo àconservação (p.ex., taxação de emissões deefluentes), sobretudo pela sua capacidade deincentivar melhoramentos tecnológicos. Estaspolíticas também têm seus custos. A sobrecargaeconômica de uma política de incentivos vaidepender em parte de como, sobretudo, osvalores obtidos com as taxas são utilizados.Ainda, o custo será menor se outras taxas quesobrecarregam desnecessariamente as atividadesforem eliminadas.

ESTUDO DE CASO

A seguir, é apresentado um exemploprático de análise baseado na metodologiadescrita. A análise foi realizada objetivando aviabilidade técnico-econômica do controle deefluentes líquidos de uma indústria debeneficiamento de pescado. A área do estudositua-se na cidade de Manaus, capital do Estadodo Amazonas, às margens do Rio Negro, cercade 13 km da confluência deste rio com o RioSolimões, formadores do Rio Amazonas.

A indústria foi projetada visando: (i) amodernização da industrialização do pescado. Asperdas podem alcançar mais de 50% do peso totalde pescado processado, devido aos processosessencialmente artesanais utilizados naindustrialização do pescado na região; e, (ii) aformação de estoques reguladores de pescadobeneficiado e congelado para atender a demandana época de entressafra, sobretudo com pescadoa um preço acessível às populações de baixarenda.

O processamento e o beneficiamento deaté 200 t/d de pescado, conforme previsto noprojeto, geram efluentes com cargas orgânicasextremamente elevadas. O lançamento destascargas no corpo fluvial receptor (Rio Negro) foidiagnosticado como o principal impactoambiental potencial relacionado aoempreendimento. A contaminação das águas pelolançamento de efluentes resultantes de indústriasde pescado é expressiva: problemas estéticos,alterações profundas das característicasorganolépticas da água, anaerobiose eeutrofização, problemas de saúde tais como aconjuntivite, etc., já foram intensivamenterelacionados e divulgados.

A Tabela 1 apresenta as vazões,

Fonte à partir da indústria Vazão ( m3/d) DBO ( mg/L) Fluxo ( kg/d)

Beneficiamento de Pescado 1.415 4.000 5.660

Água de Cola ( "stickwater") 40 70.000 2.800

Outras 600 200 120

Efluente Total 2.055 4,175 8.580

Fonte: OIKOS Pesquisa Aplicada

Tabela 1 - Características dos efluentes líquidos da indústria projetada. Fluxo ou Carga = Vazão do Efluente x Concentração deDBO

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concentrações em Demanda Bioquímica deOxigênio (DBO) e fluxos (cargas) dos efluenteslíquidos a serem gerados pela indústria.

O termo “beneficiamento de pescado”refere-se às fontes da indústria relacionadas àfabricação dos diferentes produtos a seremcomercializados. O termo “água de cola”(“stickwater”) corresponde aos efluentes comcaracterísticas de gel, resultantes da fabricaçãode farinha e óleo de peixe, responsáveis por cercade 30% dos fluxos totais de efluentes. As “outras”(fontes) referem-se aos efluentes gerados nasdemais instalações da fábrica, sobretudo aosesgotos.

Considerando que o padrão para olançamento de cargas orgânicas em águas fluviaisé de 150 mgDBO/L no efluente, e que a DBO doefluente total da fábrica é de 4.175 mgDBO/L, atarefa passa a ser o tratamento destes efluentes.Para tanto, três cenários foram considerados.

Cenário I: Abordagem convencional

O primeiro cenário considera o estritoatendimento ao padrão estabelecido e, portanto,os efluentes precisam ser tratados, previamenteao seu lançamento, fazendo com que suaconcentração de DBO (4.175 mgDBO/L) sejareduzida em, aproximadamente, 96%.

Nove alternativas para o tratamento dosefluentes foram consideradas:

A - sem tratamento;

B - separação do material sólido por peneiração;

C - peneiração + decantação primária;

D - peneiração + decantação + floculação esedimentação;

E - peneiração + decantação + floculação esedimentação + filtração com filtro biológicoaeróbico;

F - lagoas facultativas;

G - lagoas anaeróbicas;

H - lagoas de maturação;

I - lagoas aeradas.

A Figura 2 descreve o primeiro cenárioconsiderado. A curva na figura foi interpoladaconsiderando-se as intersecções dos custos paraimplantação de cada uma das alternativas detratamento (A, B. I), com a correspondenteporcentagem de redução na concentração deDBO dos efluentes. Os custos de implantaçãodas diferentes alternativas de tratamento foramdefinidos em termos do seu percentual nacomposição do investimento total em obras eequipamentos para implantação da fábrica. Acurva inferida mostra que a redução do poluentee os custos incorridos para isso se correlacionamde maneira exponencial.

A alternativa “I” é a única que satisfaza condição de reduzir a DBO dos efluentes aopadrão estabelecido (PL, na figura). Mas, estaalternativa tem um custo de implantação acimado limite de viabilidade financeira (LV, nafigura), determinado pela equipe do projeto em8% do total em obras e equipamentos,disponíveis para o tratamento dos efluentes dafábrica. Custos adicionais forçariam umareavaliação de toda a “engenharia financeira” doprojeto, com riscos para a sua viabilização. Estaalternativa apresenta uma “folga” pequenarelativamente ao padrão estabelecido. Emsistemas de tratamento sempre é melhortrabalhar-se com uma “folga” maior para

0

2

4

6

8

10

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100% redução da DBO

Cus

to d

e tr

atam

ento

PL

AB

CD

E

F

HG

ILV

FIGURA 2 - Cenário I: abordagem convencional. A, B....I =alternativas de tratamento dos efluentes (custos empercentuais do investimento total em obras e equipamentospara a implantação da indústria); PL = padrão legal (150mgBOD/L); LV = Limite de Viabilidade financeira

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diminuir os eventuais problemas a posteriori,resultantes de possíveis deficiências nodesempenho do sistema.

Cenário II: Abordagem considerando acapacidade de suporte do Rio Negro

estabelecida através da modelagem dadispersão dos efluentes nas suas águas

A Figura 3 apresenta o esquemasimplificado de localização e lançamento dosefluentes da indústria no Rio Negro. O OxigênioDissolvido (OD) será utilizado como o padrãofísico, referencial de sustentabilidade das águasfluviais receptoras dos efluentes líquidos daindústria de beneficiamento de pescado, ou seja,padrão para as funções ou usos sustentáveis daságuas fluviais. No caso presente, o OD preencheo requisito de indicar os impactos globaissignificativos potenciais da emissão dos efluentesnas águas fluviais.

O Rio Negro é um rio de grande porte,com largura média na época de vazante de cercade 2km e com uma profundidade média de 13m. Em época de cheia, estas dimensões podemaumentar de várias vezes. Ele apresenta várioscanais. O Canal 1, na figura, é o mais impactado,porque a maior parte dos efluentes domésticosda cidade de Manaus são aí lançados diretamentein natura, i.e., sem tratamento prévio. Nas áreaspróximas ao centro da cidade, de maior densidadedemográfica, os níveis de OD podem alcançarvalores inferiores a 1mgOD/L, o valor médio doNível de Base de Poluição (na figura, NBP)destas áreas. O valor médio do NBP aumenta para3,5mgOD/L nas proximidades da área da

indústria projetada. O Canal 2 apresenta valoresde OD similares aos do Nível de Base Natural(NBN), i.e., sem poluição do Rio Negro: emmédia, 4.5mgOD/L. Deve-se salientar que o RioNegro é um rio de águas turvas e negras,naturalmente rico em matéria orgânica, com pHácido (< 5,0) e com baixos teores de OD.

O Cenário II considera o lançamento dosefluentes no Canal 1, através de emissáriosubaquático. A Figura 4 descreve este segundocenário.

M A N A U S C IT Y

N E G R O R IV E R

C hanne l 1

C hanne l 2

P B L= 3.5m gO D / l

N B L = 4.5m gO D /l

M F I

S e tt ing I I

S e tt ing I II

S ca le ~ 1 :40 ,000

M AN A US

In d ú stria

C e ná rio I I

Ce n á rio I I I

C a n a l 1 NB P = 3,5m g O D /L

C a n a l 2 N BN = 4,5m g O D/L R io N e gro

Es go to s

Es ca la ~ 1:4 0.0 00

III

FIGURA 3 - Desenho esquemático da localização elançamento dos efluentes da indústria de beneficiamentode pescado.OD = Oxigênio Dissolvido;NBP = Nível de Base de Poluição (mgOD/L);NBN = Nível de Base Natural (mgOD/L)

0

2

4

6

8

10

0 0,5 1 1,5 2 2,5 3 3,5 4 4,5 5Padrão Físico (mgOD/L)

Cus

to d

e tr

atam

ento

A BC

FD

E

G

H

I

F2NBNNBP

LV

FIGURA 4 - Cenário II: abordagem considerando acapacidade de suporte do Rio Negro estabelecida atravésda modelagem da diluição dos efluentes nas suas águas.A, B....I = alternativas de tratamento dos efluentes (custosem percentuais do investimento total em obras eequipamentos para a implantação da indústria); LV = Limitede Viabilidade financeira; NBP = Nível de Base de Poluição(mgOD/L); NBN = Nível de Base Natural (mgOD/L); F2 =função ou uso das águas na Classe II (consumo humano,Resolução CONAMA no 357/2005).

A curva na figura representa uma “curvade oferta” de qualidade ambiental. Ela foiinferida considerando-se os custos deimplantação das alternativas de tratamento e ascorrespondentes concentrações de OD nas águasdo Rio Negro. O OD nas águas, resultante damistura das águas com a carga de DBOremanescente lançada após tratamento, foiestimado com o uso do modelo de Streeter-Phelpspara cada uma das alternativas consideradas.Este é um modelo validado amplamente usadopara prognosticar o déficit de oxigênio resultanteda descarga de efluentes orgânicos em rios(Tchobanouglous e Schroeder, 1987).

As funções ambientais correspondemaos usos das águas fluviais considerados pelalegislação brasileira (Resolução CONAMA no

357/2005); neste estudo são referenciadas aosseus padrões legais em OD (mgOD/L): F1 (6

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mgOD/L) = abastecimento doméstico apóstratamento simplificado; irrigação de hortaliçasingeridas cruas; aqüicultura; proteção decomunidades aquáticas e recreação; F2 (5mgOD/L) = abastecimento doméstico apóstratamento convencional; irrigação de plantasfrutíferas; aquicultura; proteção de comunidadesaquáticas e recreação; F3 (4 mgOD/L) =abastecimento doméstico após tratamentoconvencional; irrigação de cereais e forrageiras;dessedentação de animais; e, F4 (2 mgOD/L) =navegação; harmonia paisagística e outros usosmenos exigentes.

As águas do Canal 1 do Rio Negro, localde lançamento dos efluentes no Cenário II, sãopoluídas (NBP médio de 3,5mgOD/l) e, portanto,sem tratamento prévio somente podem serutilizadas para a função F4. A rigor, a alternativa“I” de tratamento dos efluentes seria a única naqual o NBP de oxigênio permaneceria o mesmo.Sobre a alternativa “I” continuam válidas asobservações feitas no cenário anterior. Todas asdemais alternativas ocasionam uma piora nascondições atuais (já degradadas), i.e., todascausariam uma diminuição dos níveis de OD paravalores situados abaixo do NBP. As alternativasde tratamento “A, B & C” podem gerar umaperda da função F4.

Em termos da Depreciação do CapitalNatural (DCN) água fluvial, uma análise sucintada figura permite observar que: (i) qualquerredução da qualidade das águas para valoresinferiores ao NBP representa uma perda dequalidade (depreciação) que pode ser imputadaao empreendimento, correspondendo, portanto,a custos de responsabilidade privada; (ii) se estaredução de qualidade ocorresse no intervalocompreendido entre os valores de NBP (3,5mgOD/l) e NBN (4,5 mgOD/l) - caso impossívelneste Cenário II mas possível de ocorrer noCenário III, a seguir - a responsabilidade pelaDCN dificilmente poderia ser imputável aoempreendimento, porque este utilizaria águas jápreviamente contaminadas pelos esgotos dacidade de Manaus, e com as metodologias demonitoramento ambiental disponíveis,dificilmente poderíamos estabelecer variaçõesnítidas nos gradientes de concentração quepudessem ser imputáveis ao empreendimento.

Cenário III: Abordagem considerando acapacidade de suporte do meio receptor (Rio

Negro) e alterações no projeto

No Cenário III, os efluentes são lançadosno Canal 2, e não mais no Canal 1 (Figura 3).Introduzindo-se esta modificação, devido àscaracterísticas hidrodinâmicas de maiorcapacidade de dispersão no Canal 2, asalternativas de tratamento melhoram seudesempenho, medido por modelagem, entre 15%e 20% de incremento nas estimativas do OD naságuas do Rio Negro.

O Cenário III inclui, também, areciclagem da “água de cola” - um produtointermediário obtido após o cozimento, prensadoe centrifugado, este último para a retirada do óleodo pescado. Este produto possui uma elevadaquantidade de água, sendo altamentedeteriorável. O produto obtido da água de colase chama no mercado internacional “solúvel depescado” e, normalmente, é incorporado aoprocesso de farinha antes da secagem, para obterum produto de melhor qualidade. Estes solúveiscompostos por aminoácidos livres e outroscompostos de amônia quaternária sãoresponsáveis pelo fator de crescimento dosanimais alimentados com farinha de peixe -,reincorporando-a ao processo produtivo defarinha e óleo de peixe. Esta modificaçãorepresenta um ganho de cerca de 30% nodesempenho das alternativas de tratamento dosefluentes. A “água de cola” é responsável por30% dos fluxos de DBO nos efluentes totais daindústria (cf. Tabela 1).

As duas modificações introduzidas noCenário III representam um acréscimo global dedesempenho das alternativas de tratamento dosefluentes variando de 40% a pouco mais de 50%.Em contrapartida, estas modificações resultamem um acréscimo nos custos de tratamento de,aproximadamente, 16% com relação aosinvestimentos em obras e equipamentos para aimplantação do projeto da indústria. Estes custossão absorvidos com vantagens no fluxo de fundosdo empreendimento em valores atuais.

A Figura 5 descreve o terceiro cenário.Em relação ao cenário anterior, o acréscimo no

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desempenho das alternativas de tratamento deefluentes e de seus custos define a sua novaposição no gráfico da Figura 5, com umdeslocamento, respectivamente, para a direita epara cima.

No terceiro cenário observa-se acoincidência de um possível padrão físico desustentabilidade, para as águas fluviaisreceptoras, com o valor do NBN. Isto aconteceporque, no ponto de lançamento dos efluentes(Canal 2), os níveis de OD nas águascorrespondem ao NBN (4.5 mgOD/L). O padrãofísico de sustentabilidade poderia ser diferentese as características naturais das águas do RioNegro permitissem um NBN superior aospadrões legais para usos mais amplos (F2 ou F1).Neste caso, NBN estaria à direita de F1 nográfico, e o nível ótimo de controle de efluentespoderia ser definido, de forma menos restritiva,pela perpendicular à curva a partir de F2 ou F1.

As alternativas “D” e “E” satisfazem acondição de sustentabilidade expressa pelo NBN,evitando a perda de função ou a degradação daaptidão natural das águas do Rio Negro, ou seja,faz DCN = 0. A alternativa “D” é a de menorcusto sendo, por isso, a selecionada como aalternativa a ser implantada no projeto. O nívelótimo técnico-econômico é representado nafigura pela interseção da perpendicular a partirde NBN à curva inferida de oferta de qualidadeambiental. Este nível é um referencial teóricointeressante a ser observado. Ele serve para

mostrar o posicionamento da alternativaescolhida relativamente a este “ótimo”conceitual. Evidentemente, por ser a curva umainterpolação (simplificação esquemática) dasrealidades expressas nas alternativas detratamento, o ponto “D” não é inteiramentecoincidente.

Outro aspecto relevante no terceirocenário é o aumento da taxa interna de retornodo projeto pelo incremento das receitasesperadas. Isto foi possível pela reutilização da“água de cola” no processo de produção defarinha e óleo de peixe, permitindo a agregaçãode receitas a partir da incorporação de um novoproduto aos previstos para serem produzidos pelaindústria do estudo. A “água de cola” é umproduto constituído quase que exclusivamentepor proteínas que alcança excelente cotação nomercado externo, especialmente o asiático. Oincremento observado nas receitas futuras superao dos investimentos em obras e equipamentosnecessários à consecução do terceiro cenário.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Têm razão os ambientalistas quedenunciam os problemas ambientais causadospor empreendimentos avaliados de acordo comcritérios econômicos padronizados, i.e.,realizados sob uma ótica de custos e benefíciosestritamente privada.

O problema não é tanto das AnálisesCustos-Benefícios, mas, sobretudo, do escoporestrito que a maioria delas apresenta. A soluçãopara isso encontra-se na correta incorporação decustos ambientais nos projetos. No entanto,primeiro é preciso resolver as dificuldadesinerentes à intangibilidade da maioria dos bensambientais em termos monetários.

As dificuldades podem ser evitadasatravés de abordagens baseadas noestabelecimento de padrões de sustentabilidade(preferencialmente os legalmente definidos) esua implementação técnica e financeira.

O método utilizado no estudo de casoapresentado tem esta característica e,conceitualmente, a estratégia proposta está de

01234567

0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 4,0 4,5 5,0 5,5 6,0Padrão Físico (mgOD/L)

Cus

to d

e Tr

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AB

C

DE

H

F1F2NBN

Nível ótimo técnico-econômico

F3NBP

Alternativa selecionadaF

FIGURA 5 - Cenário III: abordagem considerando acapacidade de suporte do meio receptor (Rio Negro) ealterações no projeto original. A, B....I = alternativas detratamento dos efluentes (custos em percentuais doinvestimento total em obras e equipamentos para aimplantação da indústria); LV = Limite de Viabilidadefinanceira; NBP = Nível de Base de Poluição (mgOD/L);NBN = Nível de Base Natural (mgOD/L); F1, F2, F3 = funçõesou usos das águas nas Classes I, II e III (consumo humano,Resolução CONAMA no 357/2005).

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acordo com o paradigma da necessidade deconservação ambiental, implícito no conceito de‘desenvolvimento sustentável’.

No exercício desenvolvido é interessanteressaltar o esforço feito no sentido de se alcançaro padrão de sustentabilidade estabelecidoatravés, não apenas de uma solução end-of-pipepara o controle dos efluentes da indústriaestudada, mas, também, com o emprego desoluções interferindo decisivamente no desenhotécnico-operacional e de negócios previsto no

projeto original.

O método permitiu, ainda, a estimativada depreciação física do capital natural (no caso,representado pelas águas fluviais do Rio Negro,corpo receptor dos efluentes da indústria depescado) associada a qualquer insuficiênciaobservada nas alternativas consideradas para ocontrole dos efluentes. Assim como, discutirquais as parcelas desta depreciação imputáveisao empreendedor ou à sociedade.

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