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Planejamento de Pesquisa-Prof a. Dr a. Hilma Khoury-UFPA/IFCH/FAPSI Produzido em Maio/2006. 3ª. Revisão: Abril/2012 1 GUIA PARA PLANEJAR PESQUISAS E ELABORAR PROJETOS 1 Hilma Tereza Tôrres Khoury 2 “Uma obra de engenharia só começa após o detalhamento das plantas. Um piloto só decola com um plano de vôo. Uma reunião só deve começar quando já está tudo decidido (segundo José Maria Alkmin). E uma pesquisa só deve iniciar após a confecção do projeto de pesquisa. (...). É consenso entre os coordenadores de pós-graduação que o sucesso ou o fracasso de uma pesquisa definem-se pelo binômio aluno (a)-orientador (a). Ainda que o tema geral da pesquisa seja determinado pela linha de pesquisa do orientador, o aluno precisará sempre aprofundar a análise de um determinado tópico que pareça adequado como tema do seu projeto de pesquisa” (Spector, 2001, p. 45). Uma pesquisa possui pelo menos três fases: 1) Fase de Decisão - escolha do tema, definição e delimitação do problema de pesquisa; 2) Fase de Construção - elaboração do projeto de pesquisa e execução da pesquisa propriamente dita; 3) Fase de Redação - organização das idéias visando à elaboração do relatório (Silva & Menezes, 2001). A primeira fase diz respeito ao planejamento da pesquisa que culmina com a elaboração do Projeto de Pesquisa, já no início da segunda fase. Antes da redação do projeto, a pesquisa precisa ser planejada. Assim, este artigo tratará inicialmente das etapas e ações necessárias ao planejamento de uma pesquisa e, em seguida, abordara a redação do texto do projeto. 1. Planejamento O planejamento de qualquer pesquisa implica algumas etapas essenciais: 1) Escolha do Tema de Pesquisa e sua Delimitação; 2) Revisão da Literatura; 3) Formulação do 1 Texto elaborado para subsidiar a disciplina Teoria e Prática de Pesquisa em Psicologia Social, ministrada pela autora para o Curso de Psicologia - Graduação na Universidade Federal do Pará (UFPA). O material pode ser útil para pesquisadores de outras áreas das ciências humanas e sociais. 2 Psicóloga, Doutora em Psicologia, Professora Associada na Universidade Federal do Pará.

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Planejamento de Pesquisa-Profa. Dra. Hilma Khoury-UFPA/IFCH/FAPSI Produzido em Maio/2006. 3ª. Revisão: Abril/2012 1

GUIA PARA PLANEJAR PESQUISAS E ELABORAR PROJETOS1

Hilma Tereza Tôrres Khoury2

“Uma obra de engenharia só começa após o detalhamento das

plantas. Um piloto só decola com um plano de vôo. Uma

reunião só deve começar quando já está tudo decidido (segundo

José Maria Alkmin). E uma pesquisa só deve iniciar após a

confecção do projeto de pesquisa. (...). É consenso entre os

coordenadores de pós-graduação que o sucesso ou o fracasso de

uma pesquisa definem-se pelo binômio aluno (a)-orientador (a).

Ainda que o tema geral da pesquisa seja determinado pela linha

de pesquisa do orientador, o aluno precisará sempre aprofundar

a análise de um determinado tópico que pareça adequado como

tema do seu projeto de pesquisa” (Spector, 2001, p. 45).

Uma pesquisa possui pelo menos três fases: 1) Fase de Decisão - escolha do tema,

definição e delimitação do problema de pesquisa; 2) Fase de Construção - elaboração do

projeto de pesquisa e execução da pesquisa propriamente dita; 3) Fase de Redação -

organização das idéias visando à elaboração do relatório (Silva & Menezes, 2001). A primeira

fase diz respeito ao planejamento da pesquisa que culmina com a elaboração do Projeto de

Pesquisa, já no início da segunda fase.

Antes da redação do projeto, a pesquisa precisa ser planejada. Assim, este artigo

tratará inicialmente das etapas e ações necessárias ao planejamento de uma pesquisa e, em

seguida, abordara a redação do texto do projeto.

1. Planejamento

O planejamento de qualquer pesquisa implica algumas etapas essenciais: 1) Escolha

do Tema de Pesquisa e sua Delimitação; 2) Revisão da Literatura; 3) Formulação do

1 Texto elaborado para subsidiar a disciplina Teoria e Prática de Pesquisa em Psicologia Social, ministrada pela autora para o Curso de Psicologia - Graduação na Universidade Federal do Pará (UFPA). O material pode ser útil para pesquisadores de outras áreas das ciências humanas e sociais. 2 Psicóloga, Doutora em Psicologia, Professora Associada na Universidade Federal do Pará.

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Problema de Investigação (Problematização) que implica elaborar: a) a Justificativa para a

investigação do tema; e b) o Propósito do estudo na forma de questão a ser respondida

pela pesquisa; 4) Definição de conceitos/variáveis; 5) Estabelecer questões específicas de

pesquisa (Perguntas de Pesquisa) e Hipóteses; 6) Definição dos Objetivos; 7) Definição da

Metodologia de Investigação, o que inclui a tomada de decisão sobre: a) o Método de

Pesquisa mais adequado para efetuar a investigação; b) os Participantes/amostra – seleção;

critérios de inclusão/exclusão; c) os Instrumentos/materiais de pesquisa; d) os

Métodos/técnicas para a coleta dos dados; e e) os Métodos/técnicas para a análise dos

dados; 8) Elaboração de um cronograma para a execução da pesquisa; 9) Previsão quanto

à utilização de recursos – humanos; materiais e financeiros.

O Planejamento constitui-se em etapa fundamental do processo da pesquisa. Tendo-

se em conta que tanto o auto-relato quanto a observação possuem limitações e são passíveis

de erros e tendenciosidades, uma pesquisa bem planejada tem grande probabilidade de reduzir

ao mínimo os erros e vieses, bem como o desperdício de tempo e recursos.

1.1. Escolha do Tema e Delimitação

O planejamento começa com a escolha do tema de pesquisa o que já implica sua

delimitação. A seleção do tema pode advir de diversas fontes tais como a observação do

cotidiano, o exercício profissional, a participação em programas de pesquisa, o contato e

relacionamento com especialistas e estudo da literatura especializada (Silva & Menezes,

2001), bem como a participação em programas/projetos de extensão.

Como não é possível abranger todo o conhecimento de uma determinada área em

uma única pesquisa, é preciso delimitar o campo de investigação, ou seja, “eleger uma parcela

delimitada de um assunto, estabelecendo limites ou restrições para o desenvolvimento da

pesquisa pretendida” (Silva & Menezes, 2001, p.30). Devem-se fazer recortes, ou seja,

focalizar o aspecto do tema selecionado para o estudo em pauta.

De acordo com Silva e Menezes (2001), na escolha do tema de pesquisa deve-se

levar em conta sua atualidade e relevância, assim como o conhecimento do pesquisador a

respeito, preferências e aptidão pessoal para lidar com o tema escolhido.

1.2. Revisão da Literatura

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Uma vez definido o tema da pesquisa deve-se proceder à revisão da literatura. Rever

a literatura não se resume a compilar o material existente e descrevê-lo. Diz respeito a discutir

estudos anteriores relevantes, relacionados ao tema da investigação. Tal discussão deve

apontar como o estudo ora proposto se relaciona com trabalhos anteriores na área (APA,

2010).

Uma revisão de literatura deverá responder às seguintes questões: Quem já escreveu

sobre o assunto? O que já foi publicado a respeito? Que aspectos já foram abordados? Quais

as lacunas existentes na literatura? A revisão da literatura pode visar a “determinar o ‘estado

da arte’, ser uma revisão teórica, ser uma revisão empírica ou ainda ser uma revisão histórica”

(Silva & Menezes, 2001, p.30).

De acordo com o Manual de Publicações da American Psychological Association

(APA, 2010, p. 28), uma revisão de literatura não precisa ser exaustiva; supõe-se que o leitor

conhece o problema básico sob investigação e não necessita de uma completa revisão

histórica Contudo, precisa resumir apropriadamente os trabalhos anteriores mais recentes e

diretamente relacionados ao tema que se quer investigar. É fundamental reconhecer a

prioridade do trabalho de outros autores e dar crédito aos mesmos; esta ação, além de

demonstrar responsabilidade científica e acadêmica, é essencial para o desenvolvimento de

uma ciência cumulativa.

A revisão da literatura é crucial! É a revisão da literatura quem sustenta a delimitação

do tema; sua justificativa e propósito; a escolha e a definição de variáveis, além de fornecer

subsídios para a decisão quanto à metodologia a ser empregada na pesquisa. Uma revisão

inicial da literatura poderá conduzir a ajustes ou mesmo à mudança no tema da pesquisa

previamente definido. Pode acontecer de o tema já ter sido exaustivamente investigado e,

nesse caso, uma nova pesquisa sobre o mesmo tema seria inútil, pois nada teria a acrescentar.

Por outro lado, pode ser que não se encontre nada ou quase nada publicado a respeito do tema.

Isto pode significar que o tema seja relativamente novo, mas também pode indicar que seja

irrelevante do ponto de vista científico. Além de estabelecer limites mais precisos para o tema

de sua pesquisa, a revisão da literatura contribui para a formulação do problema de

investigação de maneira a evitar duplicações e repetições desnecessárias. Isto porque a revisão

da literatura põe em evidência a relevância (ou irrelevância) científica para o estudo do tema,

ou seja, mostra de que forma ainda se pode contribuir para o avanço do conhecimento

científico já existente na área e/ou para a solução de problemas. É útil acrescentar que, mesmo

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quando o tema já foi bastante investigado, pode haver insuficiência na averiguação de

determinado aspecto do problema; ou necessidade de examiná-lo em um contexto diferente

dos usuais ou de testar outras variáveis; ou, ainda, ter-se argumentos para investigá-lo por

outro método, diverso dos costumeiros.

Para realizar uma revisão de literatura é necessário fazer pesquisa bibliográfica de

material pertinente ao tema da pesquisa. Isto implica buscar e analisar obras científicas

diretamente relacionadas ao tema específico a ser investigado, de forma que forneçam suporte

teórico, metodológico e empírico para o desenvolvimento do projeto. Atualmente, as buscas

são realizadas nas bases eletrônicas de dados tais como o psychinfo; bvs-psi; scielo; pepsic;

lilacs e google acadêmico, entre outras.

O aluno deve definir junto com o professor/orientador quais as palavras-chave mais

relevantes para incluir nas buscas e quais os artigos mais importantes a serem considerados

(Spector, 2001). Devem-se incluir trabalhos pertinentes à questão específica a ser investigada

e evitar trabalhos pouco relacionados ou de importância meramente genérica (APA, 2010). É

necessário também delimitar um período de tempo a ser considerado nas buscas. Caso algum

dos artigos selecionados não esteja disponível com texto completo nas bases eletrônicas de

dados, o aluno deve procurá-lo nas Bibliotecas de sua cidade. Se ainda assim não encontrá-lo,

deverá ir à Biblioteca Central de sua Universidade e solicitá-lo no serviço denominado de

COMUT, o qual verifica e obtém em outras bibliotecas do país ou estrangeiras.

Os artigos selecionados na busca devem ser cuidadosamente estudados, atentando-se

não apenas para os objetivos e as conclusões (como costumam fazer meros consumidores),

mas também para questões metodológicas importantes.

A revisão da literatura deve representar “uma leitura crítica do material disponível,

identificando a qualidade das evidências apresentadas pelos diversos autores” (Spector, 2001,

p.47). Para efetuar a revisão da literatura, diria que o material deve ser analisado com olhos de

pesquisador e não com olhos de consumidor. Ao final, quando for redigir o texto do projeto, a

discussão da literatura pertinente deve enfatizar os resultados relacionados ao tema da

investigação; as questões metodológicas importantes e as principais conclusões (APA, 2010).

Durante o trabalho de revisar a literatura pertinente ao tema da pesquisa, recomenda-

se observar, por exemplo:

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1) Justificativa: Que tipo de justificativa é mais freqüentemente apresentado para o estudo

do tema? Justificativa social; científica ou ambas?

2) Principais Conceitos envolvidos no tema: Como são discutidos e definidos?

3) Método de pesquisa: Por qual método o tema tem sido mais freqüentemente

investigado (descritivo; correlacional; experimental?). O tema poderia ser melhor

investigado por outro método? Se sim, qual? O método foi adequado aos objetivos

propostos?

4) Principais Variáveis investigadas: São suficientes? Quais as definições mais

freqüentemente encontradas? Haveria uma definição melhor ou mais precisa? Quais

variáveis se mostraram mais relevantes ao estudo do tema no sentido de produzir os

efeitos ou associações esperadas?

5) Participantes/Amostra: Quais as características mais freqüentemente descritas (p.ex.

faixa etária, sexo, escolaridade, situação sócio-econômica)? Qual a forma de seleção

mais freqüentemente utilizada (probabilística ou não-probabilística)? O tamanho da

amostra e/ou forma de seleção permitem generalização dos dados? Quais os critérios de

inclusão/exclusão mais freqüentes? Há informações sobre o tamanho da população de

onde a amostra foi retirada?

6) Instrumentos: Quais os mais freqüentemente utilizados para medir o construto ou

principais variáveis envolvidas no tema? São questionários abertos, fechados ou

escalas? Há informação sobre sua validação? Estão claramente descritos (número de

itens, dimensões e forma de resposta requerida)? Parecem adequados e/ou suficientes

para investigar o construto/variáveis?

7) Hipóteses: Quais as hipóteses mais freqüentemente testadas? Têm sido confirmadas ou

rejeitadas? Se rejeitadas, são apresentadas explicações para o fato?

8) Coleta de Dados: Qual o meio mais freqüentemente utilizado (observação,

questionário auto-administrado, entrevista)? Parece adequado à população-alvo? Os

dados poderiam ser melhor obtidos por outro meio?

9) Análise dos dados: Por meio de que métodos/técnicas (quantitativas ou qualitativas) os

dados são mais freqüentemente analisados? As técnicas parecem adequadas ao estudo

do tema e às variáveis investigadas? Os dados poderiam ser melhor analisados por

outra técnica?

10) Resultados e Conclusões: Quais as principais descobertas e conclusões mais

importantes na investigação do tema?

11) Limitações: Os estudos costumam apontar limitações? Quais as principais?

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12) Sugestões para investigações futuras do tema: Quais, dentre as apontadas na literatura

recente, ainda não se tornaram alvo de pesquisas? Dentre as que já se tornaram objeto

de investigação, os resultados são satisfatórios?

Este é o ponto de partida para que aluno e orientador estabeleçam quais as questões

mais relevantes sobre o tema que permanecem em aberto, ou seja, ainda não foram

investigadas e/ou suscitam mais investigação. Há questões metodológicas que necessitam de

aperfeiçoamento? A partir deste ponto, já se tem todos os elementos necessários para formular

o problema de pesquisa e definir os objetivos, assim como para delinear a metodologia de

investigação.

1.3. Formulação do Problema de Investigação

Formular um problema de investigação implica apresentar a situação-problema; indicar

porque aquele problema merece ser investigado (justificativa); e apontar o propósito do

estudo na forma de questão a ser respondida pela pesquisa.

A formulação do problema, portanto, exige que se construa uma argumentação, baseada

em estudos anteriores pertinentes e indicadores estatísticos (quando for o caso), de tal forma a

justificar a importância da investigação proposta. No bojo desta argumentação, fazem-se os

questionamentos que vão culminar na pergunta principal a ser respondida pela pesquisa.

1.3.1.Justificativa: Que vantagens e benefícios a pesquisa irá proporcionar? Que contribuições

científicas e/ou sociais trará?

A justificativa deve consistir em uma demonstração da relevância científica e social para o

estudo do tema, ou seja, da contribuição que o estudo trará para o avanço do conhecimento

científico já existente (pesquisas básicas) ou para a solução de problemas (pesquisas

aplicadas). “A justificativa constitui uma parte fundamental do projeto de pesquisa. É nessa

etapa que você convence o leitor (professor, examinador e demais interessados no assunto) de

que seu projeto deve ser feito” (Findlay, Costa & Guedes, 2006, p. 11).

1.3.2.Questão/Problema: O que se quer descobrir ou testar? Ou explorar? Que

problema/pergunta pretende-se resolver/responder com a pesquisa?

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A questão/problema é uma pergunta que norteará todo o processo de pesquisa e que deve

ser passível de uma solução/resposta.

Deve-se avaliar se o problema é realmente um problema de pesquisa e se vale a pena

tentar encontrar uma resposta/solução para ele.

A formulação do problema de investigação tem como conseqüências a elaboração de

perguntas específicas sobre o tema a ser investigado (perguntas de pesquisa), bem como a

previsão de respostas/soluções para estas perguntas (hipóteses).

1.4. Perguntas de Pesquisa e Hipóteses.

1.4.1.Perguntas de Pesquisa: representam uma forma prática e objetiva de apresentar o

problema de investigação. São questões específicas que o pesquisador faz acerca do tema,

cujas respostas devem ser fornecidas pelos dados empíricos a serem obtidos. Além disso, as

perguntas de pesquisa também ajudam a especificar os objetivos, uma vez que focalizam o

que vai ser investigado dentro do tema proposto.

As perguntas de pesquisa dizem muito acerca do método de pesquisa a ser utilizado para

investigá-las, assim como do instrumento necessário para isto. Vejamos os exemplos de

perguntas abaixo:

1. Que motivos mais influenciam o retorno de aposentados ao mercado de trabalho?

2. Há diferenças quanto a gênero, nível sócio-econômico, tipo de profissão, nível de

escolaridade, e tempo de aposentadoria?

Essas perguntas indicam um estudo descritivo. Tudo o que se quer é identificar os

principais motivos responsáveis pelo retorno de aposentados ao trabalho e verificar se há

diferença entre grupos (p.ex. masculino/feminino; nível sócio-econômico baixo/alto). Assim,

bastaria um instrumento para coletar informações sócio-demográficas e outro para avaliar a

importância de determinados motivos na decisão do aposentado de retornar ao mercado de

trabalho.

Se a pergunta fosse: - O nível de capacidade funcional em idosos varia com a

percepção de auto-eficácia? Esta pergunta requer um estudo correlacional. O que se quer

saber é se duas variáveis (nível de capacidade funcional e percepção de auto-eficácia) co-

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variam em um determinado grupo ou população (idosos), ou seja, se as duas variáveis estão

co-relacionadas. Isto significa saber se quando uma dessas variáveis aumenta/diminui a outra

também aumenta/diminui (correlação positiva), ou se quando uma dessas variáveis aumenta a

outra diminui (correlação negativa ou inversa). Nesse caso, o pesquisador terá de providenciar

dois instrumentos, um para medir o nível de capacidade funcional e outro para medir a

percepção de auto-eficácia, organizados de tal maneira que seja possível determinar

quantitativamente em um continuum (escala de respostas) quem tem maior/menor nível de

capacidade funcional, assim como quem tem percepção de auto-eficácia baixa/alta.

1.4.2.Hipóteses: Uma vez elaboradas as perguntas de pesquisa, cabe formular as hipóteses.

As hipóteses são previsões de resultado. São respostas prováveis às questões levantadas pelo

pesquisador. São afirmações baseadas em um pressuposto; em evidências provenientes da

literatura científica. Portanto, toda hipótese é fundamentada. A hipótese é uma espécie de

aposta quanto aos resultados.

Exemplo:

Fundamentados na literatura que enfatiza a importância

psicológica e social do trabalho para a constituição da identidade

(Carlos et al., 1999; Codo et al., 1993; Codo & Sampaio, 1995;

Khoury-Carvalho, 1994; Jacques, 1996) espera-se que fatores

psicossociais tenham maior influência que a necessidade de

aumentar a renda na decisão dos aposentados de retornar ao

trabalho, mesmo na categoria de aposentados com baixa

qualificação profissional e, consequentemente, baixa renda

(Khoury, Ferreira, Souza, Matos & Barbagelata-Góes, 2010, p.

152).

A hipótese pode afirmar diferenças entre grupos, apontando a sua direção. Por

exemplo: Esperam-se também diferenças de gênero, tendo em vista dados estatísticos que

apontam que 65,9% do total de aposentados que voltaram a trabalhar na cidade de Belém/PA

são homens.

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Pode afirmar também relações entre duas ou mais variáveis, que podem ser causais

ou de predição. Por exemplo, pode-se dizer: Com base na literatura, espera-se que o nível de

capacidade funcional aumente com a elevação da percepção de auto-eficácia.

1.5. Objetivos

O objetivo diz respeito àquilo que se pretende investigar. O objetivo “esclarece e

direciona o foco central da pesquisa de maneira ampla” (Findlay et al., 2006, p.15). Por

exemplo, pode-se dizer: Pretende-se investigar os motivos psicossociais que influenciam o

retorno de aposentados ao mercado de trabalho, comparando-se algumas variáveis sócio-

demográficas (Khoury et al., 2010).

“Os objetivos devem estar coerentes com a justificativa e o problema proposto. O objetivo

geral será a síntese do que se pretende alcançar, e os objetivos específicos explicitarão os

detalhes e serão um desdobramento do objetivo geral” (Silva & Menezes, 2001, p.30).

1.6. Definição de Variáveis

Variáveis dizem respeito ao conjunto de atributos relacionados a um conceito

(Babbie, 1999, p. 182). Alguns conceitos são simples (p.ex. idoso) e podem envolver poucos

atributos; outros são mais complexos (p.ex. capacidade funcional) e podem envolver muitos

atributos. Falou-se em idosos, nível sócio-econômico e capacidade funcional. É possível que o

leitor tenha uma idéia do que seja cada uma dessas coisas, mas isto não basta. Deve-se definir

clara e objetivamente o que se quer dizer com cada um desses termos, ou seja, elaborar

definições operacionais para todos os conceitos/variáveis a serem investigados, mesmo que

pareçam óbvios.

Definições operacionais são importantes e necessárias, principalmente nas ciências

sociais que lidam com conceitos geralmente muito abstratos. Operacionalizar é especificar em

termos de “observações empíricas que podem ser tomadas como indicadores dos atributos

contidos em algum conceito” (Babbie, 1999, p. 182). Assim, o conceito de capacidade

funcional, compreendido como a capacidade para executar as atividades de vida diária sem

ajuda ou com ajuda mínima de outras pessoas, pode ser operacionalmente definido em duas

subcategorias de variáveis: atividades básicas e atividades instrumentais. Os indicadores que

definem as atividades básicas são: tomar banho; vestir-se; alimentar-se; usar o sanitário;

controlar os esfíncteres e transferir-se da cama para a cadeira (Katz, Downs & Cash, como

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citados em Freitas, Py, Cançado, Doll & Gorzoni, 2006, p. 1534). As atividades instrumentais

são avaliadas pelos seguintes indicadores: usar o telefone; fazer compras; controlar o

dinheiro; controlar uso de medicação; preparar refeições; realizar outras tarefas domésticas;

utilizar transporte para lugares distantes (Lawton et al., como citados em Freitas et al., 2006,

p. 1535).

Idoso poderia ser definido como toda pessoa com sessenta anos de idade ou acima

(critério da Organização Mundial da Saúde – OMS). Nível sócio-econômico pode ser definido

como a renda per capita mensal (renda familiar mensal/número de pessoas que moram na

casa).

Definições operacionais evitam problemas e poupam aborrecimentos. Alguém pode

ter uma discussão filosófica profunda acerca do que seja nível sócio-econômico, argumentar

que isto envolve uma série de indicadores. Pode ser que tenha razão! Contudo, se você definiu

clara e objetivamente o que vai considerar como sendo nível sócio-econômico, ninguém

poderá lhe cobrar outra coisa.

1.7. Decisão sobre a metodologia da pesquisa

Com base nos objetivos e nas perguntas de pesquisa elaboradas, delinear a

investigação definindo o método de pesquisa mais adequado para efetuá-la, se descritivo,

correlacional ou experimental; se vai realizar levantamento, análise de documentos ou

observação. Definir também outros aspectos metodológicos:

a) Amostra/Participantes

É preciso decidir como vai selecionar os participantes da pesquisa. É preciso avaliar

a necessidade ou mesmo a viabilidade de uma amostra probabilística. No caso de

levantamentos (surveys), se a amostra for probabilística, certificar-se das molduras de

amostragem (listas) disponíveis e decidir o tipo de seleção que fará (p.ex. aleatória simples,

sistemática, estratificada ou por conglomerados em etapas múltiplas ou, ainda, uma

combinação de tipos de amostragem).

Se a amostra for não-probabilística, decidir se será por cotas (p.ex. de gênero e de

idade), aumentando desta forma o potencial de generalização dos resultados para a população

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de onde foi retirada, ou se será intencional ou, ainda, de conveniência. Essa decisão, contudo,

jamais deverá se basear no comodismo ou preguiça do pesquisador (Babbie, 1999).

Qualquer que seja o tipo de amostragem utilizado, a decisão sobre o tamanho da

amostra deve levar em conta o tamanho da população de onde será retirada, a fim de garantir

representatividade com baixa margem de erro (Taylor-Powell, 1998).

b) Instrumentos

Deve-se decidir por utilizar algum instrumento já existente e validado, e que seja

adequado para efetuar a investigação dos objetivos propostos. Caso não seja encontrado

nenhum instrumento satisfatório, a saída é construir instrumentos para a pesquisa e validá-los.

Em qualquer caso, observe as regras para construção de instrumentos de pesquisa (Pasquali,

1999; Babbie, 1999; Günther, 1999; Khoury, 2006). Lembre-se que um instrumento mal

construído poderá comprometer toda a pesquisa, afetando sua qualidade ou mesmo

invalidando-a.

Um pré-teste é sempre recomendável, mesmo que o instrumento já seja validado.

Especialmente em um país de dimensões continentais como o Brasil, com grande diversidade

cultural e social. É importante verificar se os itens/questões estão sendo bem compreendidos

pela população. Pode haver necessidade de adaptações como, por exemplo, a adequação da

linguagem.

c) Coleta de Dados

O próximo passo é decidir como os participantes serão abordados e como os dados

serão obtidos. Alguns questionamentos se fazem necessários:

1. Como o pesquisador vai se apresentar ao participante? Estudante? Membro de alguma

organização ou instituição? Isto fará alguma diferença?

2. De que forma vai interessar as pessoas a fim de convencê-las a participar da pesquisa e

obter o seu consentimento?

3. Como vai explicar a finalidade e os objetivos da pesquisa sem sabotá-la e de forma a

obter a colaboração do participante?

4. Qual o método de coleta de dados mais apropriado aos objetivos da pesquisa e à

população investigada? Entrevista? Questionário auto-administrado?

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5. Qual o local mais apropriado para abordar o participante? Locais públicos? No

trabalho? Em escolas? No domicílio?

d) Análise de Dados

Deve-se dizer como os dados serão organizados e analisados. As análises serão

somente quantitativas ou haverá análises qualitativas de dados? Por meio de que técnicas os

dados serão analisados? Haverá utilização de programas para computador (softwares)? Caso

sejam utilizados recursos estatísticos, é importante dizer que técnicas estatísticas serão

utilizadas e para que serão empregadas, ou seja, o que será analisado com cada uma delas?

Por exemplo: A relação entre capacidade funcional e auto-eficácia será testada por

meio do coeficiente de correlação de Pearson. Para verificar diferença de gênero

(masculino/feminino) com relação à percepção de auto-eficácia será utilizado o teste t de

Student.

Além da consideração das questões de ordem científica e social, o planejamento da

pesquisa deve considerar a viabilidade material de efetuar o estudo, ou seja, a disponibilidade

de tempo e de recursos (humanos, materiais, tecnológicos e financeiros). Isto exige a

elaboração de um cronograma e uma previsão de recursos necessários à execução da pesquisa.

2. Redação do Projeto

Qualquer projeto de pesquisa se compõe do conteúdo acima exposto. Porém, a forma

como esse conteúdo é organizado no texto do projeto varia um pouco de acordo com a área da

ciência (p.ex. área médica, ciências sociais), bem como com os modelos disponíveis nas

instituições de fomento e na literatura.

Um Projeto de Pesquisa geralmente contém os seguintes elementos:

1. Informações Gerais

Título

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Pesquisadores e Afiliação Institucional

2. Ementa ou Resumo

3. Introdução

Fundamentos: discussão da literatura pertinente; justificativa e problema.

Perguntas de Pesquisa e Hipóteses (quando couber).

Definição de conceitos e variáveis.

Objetivos

4. Método

4.1. Delineamento da Pesquisa

4.2. Participantes/Amostra

4.3. Ambiente/Contexto (quando couber)

4.4. Instrumentos (ou Instrumentos e Materiais)

4.5. Procedimentos de Coleta de Dados

4.6. Procedimentos de Análise dos Dados

5. Referências

6. Cronograma

7. Recursos (quando for o caso)

2.1. Informações Gerais

Dizem respeito ao título do projeto, nome da equipe de pesquisadores (com titulação

e filiação institucional, quando for o caso), nome das instituições envolvidas, local de

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realização do estudo e ano. Aparecem dispostas logo nas primeiras páginas do projeto e

correspondem à capa e contracapa.

2.1.1. Título: é o seu “cartão de visita”, assim, “deve resumir a idéia principal de um trabalho,

de maneira simples e, se possível, com estilo” (APA, 2010, p.23). O título deve identificar as

variáveis reais ou questões teóricas investigadas e o relacionamento entre elas (p.ex. “controle

primário e controle secundário: relação com indicadores de envelhecimento bem-sucedido”).

Deve também ser auto-explicativo; evitar conter expressões redundantes (p.ex. “um estudo

do...”); abreviaturas e não deve conter mais que 12 palavras (APA, 2010).

2.2. Ementa

É um resumo do projeto contendo os fundamentos que justificam a realização da

pesquisa, os principais conceitos envolvidos, objetivos e métodos. É semelhante ao resumo de

um artigo científico, excetuando-se as seções de resultado e discussão que, evidentemente,

não podem existir no projeto da pesquisa, mas tão-somente no relatório da pesquisa, após sua

realização.

2.3.Introdução

Constitui-se de um texto abordando vários conteúdos: a) a fundamentação do projeto

(discussão da literatura pertinente; justificativa e problema); b) as perguntas de pesquisa e

hipóteses; c) a definição de conceitos/variáveis; e d) os objetivos. Alguns desses conteúdos

podem vir destacados no texto, constituindo-se em subseções da introdução (p.ex.

Justificativa e Objetivos). Isso depende das exigências contidas nos modelos de projeto

adotados pelas instituições ou órgãos de fomento à pesquisa. Contudo, há conteúdos que

jamais se destacam como subseções (p.ex. revisão da literatura).

A fundamentação é uma argumentação construída com base na revisão da literatura,

bem como em indicadores estatísticos (quando couber). Esta argumentação apresenta o tema

objeto da investigação, mostrando a importância de ser pesquisado (justificativa). Além disso,

discute os estudos anteriores diretamente relacionados ao tema, a fim de demonstrar a

relevância do estudo e construir o problema (a questão que a investigação se propõe

responder). Tal discussão deve “demonstrar a continuidade lógica entre a pesquisa atual e os

estudos precedentes. Desenvolver o problema com amplitude e clareza suficientes, de forma a

torná-lo compreensível a um amplo público profissional” (APA, 2010, p. 28).

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A questão a ser investigada deve se desdobrar em questões específicas (perguntas de

pesquisa), seguidas das hipóteses ou resultados esperados (ver explicação acima na seção de

planejamento).

Na introdução também devem ser explicitados todos os conceitos e variáveis a serem

considerados na pesquisa, utilizando-se definições operacionais (ver explicação acima). Não é

necessário haver uma seção específica para este conteúdo da introdução. A definição de

conceitos/variáveis pode estar inserida na discussão da literatura, ou mesmo na justificativa

(p.ex. conceito de idoso). Porém, é necessário tornar claro qual definição será utilizada na

pesquisa.

A introdução é finalizada com a apresentação dos objetivos. O objetivo geral é uma

síntese do que se pretende alcançar com a pesquisa. Os objetivos específicos constituem-se

em desdobramento do objetivo geral; explicitação dos detalhes.

Exemplo:

Objetivo Geral: consistirá em investigar a capacidade funcional – independência e

autonomia – e a qualidade de vida de idosos, comparando-se dois grupos: institucionalizados

e residentes na comunidade.

Objetivos Específicos:

• Caracterizar os idosos quanto à capacidade funcional – medidas de ABVDs e

AIVDs;

• Caracterizar os idosos quanto à percepção de qualidade de vida;

• Verificar se há diferença entre idosos institucionalizados e residentes na

comunidade.

Uma observação importante é quanto ao tempo do verbo empregado em um projeto

de pesquisa. Na revisão da literatura, o verbo deve estar no tempo pretérito perfeito, na

apresentação do objetivo o verbo deve estar no infinitivo. Exemplos:

• Revisão de Literatura: “Pereira (2002) argumentou que a necessidade que o

indivíduo possui de se sentir útil, produtivo, capaz de interagir com o meio e levar

conhecimento de sua experiência de vida para o seu trabalho, se sobrepõe à

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necessidade financeira. França (1999) asseverou que, apesar de nem todos os

trabalhadores terem planejado ou escolhido suas profissões, e a despeito do trabalho

não ser agradável ou satisfatório para todos, a aposentadoria não significa apenas

liberdade, prazer e lazer como se poderia imaginar, mesmo para aqueles que têm uma

condição financeira razoável como é o caso dos executivos” (Khoury et al., 2010, p.

150).

• Objetivo: Pretende-se investigar... Ou, o objetivo consistirá em investigar...

2.4. Método

Esta seção é geralmente subdividida em cinco partes: desenho ou delineamento da

pesquisa; amostra a ser investigada; instrumentos de pesquisa a serem utilizados;

procedimentos a serem empregados na abordagem dos participantes e obtenção dos dados; e

procedimentos para a análise dos dados. Todas as partes são destacadas em subseções.

2.4.1. Delineamento ou Desenho da Pesquisa: Descrevem-se as características metodológicas

do estudo inclusive o tipo de amostragem que será empregado. Deve-se explicitar o método

de pesquisa a ser utilizado, se descritivo, correlacional, ou experimental; se será um survey,

análise de documentos ou observação. Deve-se dizer também se a amostra será probabilística

ou não-probabilística.

Exemplo: Trata-se de levantamento com amostra não-probabilística, constituída por

cotas de gênero, conforme as proporções existentes na população de aposentados

economicamente ativos/ocupados na cidade de Belém/PA. Caracteriza-se como um estudo

descritivo com comparação entre subgrupos.

2.4.2. Participantes/Amostra: Descrição meticulosa da amostra a ser estudada, incluindo

informações acerca de como a amostra será selecionada; critérios de inclusão/ exclusão dos

participantes, ou seja, as características dos indivíduos que os definem como candidatos ao

estudo ou que bloqueiam sua entrada no estudo. Deve conter também informações sobre o

tamanho da população de onde a amostra será retirada, bem como acerca da

representatividade da amostra.

Exemplo: Em Belém/PA há 21.969 aposentados economicamente ativos/ocupados,

sendo 14.468 (65,9%) homens e 7.501 (34,14%) mulheres.

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De acordo com tabela estatística que define tamanhos de amostras representativas

conforme o tamanho da população (Taylor-Powell, 1998), para uma população de 20.000,

uma amostra de 392 é considerada representativa com margem de erro de 5%; uma amostra

de 100, é representativa com margem de erro de 10%. A amostra será composta por 250

aposentados economicamente ativos em proporções de gênero equivalentes às existentes na

população (165 Homens e 85 Mulheres).

2.4.3. Instrumentos: Descrição detalhada dos instrumentos de pesquisa a serem utilizados no

estudo, incluindo informações sobre quantidade, conteúdo, estrutura e validação. Por

exemplo, se for um questionário para dados sócio-demográficos e uma escala de atitudes, no

primeiro deve-se informar que tipos de dados sócio-demográficos serão recolhidos. No

segundo, devem-se dizer quantos itens compõem a escala, quantos são favoráveis e

desfavoráveis ao objeto atitudinal em questão e como serão avaliados, por exemplo, em uma

escala do tipo Likert, com 5 pontos (1 = discordo totalmente; 5 = concordo totalmente). Esta

subseção do projeto requer anexo contendo o instrumento completo.

2.4.4. Procedimentos de Coleta de Dados: Descrição dos procedimentos a serem utilizados

para abordar os participantes e para coletar os dados, incluindo: a) Forma de acesso a eles; b)

Maneira de abordá-los e de estabelecer o rapport; c) Forma de explicar os objetivos da

pesquisa e de obter o consentimento3 do potencial participante – Termo de Consentimento

Livre e Esclarecido (colocar documento em anexo); d) Indicação da ordem de aplicação dos

instrumentos (no caso de questionários) e sua duração; e) Descrição dos métodos e técnicas a

serem empregados para coletar os dados.

2.4.5. Procedimentos de Análise de Dados: Descrição dos métodos e técnicas a serem

utilizados para analisar os dados (p.ex. métodos estatísticos), bem como informação acerca do

que será analisado com cada uma delas (Ver explicação acima).

2.5. Referências

3 É importante destacar que desde 1996 o Brasil possui legislação (Resolução CNS 196/96) que obriga as pesquisas na área da saúde, envolvendo seres humanos, a ter seus projetos aprovados em Comitês de Ética em Pesquisa e a utilizarem o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido assinado pelos participantes. Vale observar que as pesquisas psicológicas e sociais não envolvem o uso de substâncias químicas que possam trazer danos à saúde dos participantes e muito dificilmente os expõe a situações constrangedoras ou que possam resultar em danos físicos ou psicológicos. Além disso, geralmente utilizam questionários, portanto, auto-relato. Assim sendo, precisam contar com a honestidade e sinceridade do respondente. Para tanto, prometem sigilo e discrição quanto às informações prestadas. O consentimento informado, sendo assinado pelo participante, produz identificação e poderia prejudicar as pesquisas baseadas em auto-relato.

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Na área da Psicologia, em geral, adotam-se as normas da American Psychological

Association (APA). O Manual de publicações da APA encontra-se em sua 6ª edição (APA,

2010). No Brasil há uma tradução da 4ª Edição (APA, 2001), bem como um resumo da 5ª

Edição em língua portuguesa. A maioria dos periódicos nacionais na área da psicologia utiliza

as normas da APA.

2.6.Cronograma

Devem-se descrever em ordem cronológica as etapas que compõem o estudo. Esta

parte deve ser apresentada preferencialmente por meio de um gráfico ou tabela.

Exemplo:

Atividades MÊS 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24

1. Levantamento Bibliográfico

2. Submissão ao Comitê de Ética

3. Preparação e Reprodução dos instrumentos de coleta de dados

4. Seleção da Amostra

5. Coleta de Dados e Alimentação do Banco de Dados

6. Análise dos Dados

7. Elaboração do Relatório

2.7.Recursos

Nesta seção são especificados todos os recursos necessários à execução do projeto,

humanos, materiais, tecnológicos e financeiros, com os respectivos custos.

Para encerrar, vale lembrar que todo Projeto de Pesquisa na área da saúde, onde se

inclui a psicologia, e que se destina a investigar humanos deve ser submetido à apreciação de

um Comitê de Ética em Pesquisa em seres humanos, conforme a Resolução CNS 196/96

(Brasil, 1996).

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Referências

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Daniel Bueno. Porto Alegre/RS: Artmed.

APA (2006). Manual de estilo da APA: Regras básicas; Trad. Magda França Lopes. Porto

Alegre/RS: Artmed.

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Brasil (1996). Conselho Nacional de Saúde. Ministério da Saúde. Resolução No. 196, de 10 de

outubro de 1996. Disponível em

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projetos de pesquisa. Publicação online. Joinville/SC: Univille.

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geriatria e gerontologia (2ª ed.). Rio de Janeiro/RJ: Guanabara-Koogan.

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