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1 HISTÓRIA LOCAL: ENTRE ENSINO E PESQUISA Graziella Fernanda Santos Queiroz (graduanda em História licenciatura na Universidade Federal de Pernambuco) 1 Jonathas Duarte Oliveira de Souza (graduando em História licenciatura na Universidade Federal de Pernambuco) Manoel Caetano do Nascimento Júnior (graduando em História licenciatura na Universidade Federal de Pernambuco) 1. Introdução O PIBID em História da UFPE, campus Recife, é composto por 05 equipes, de 05 alunos, divididos em 05 escolas públicas da cidade. Se objetiva, entre outros aspectos, pela inserção dos licenciandos no cotidiano de escolas da rede pública de educação, oportunizando-lhes criação e participação em experiências metodológicas, tecnológicas e práticas docentes de caráter inovador e interdisciplinar que pretendam superar problemas identificados no processo de ensino-aprendizagem, como por exemplo, a suplantação de barreiras que opõem a teoria e a prática na docência (PIMENTA, S.G E LIMA, 2008), contribuindo, dessa forma, na formação dos docentes e elevando a qualidade das ações acadêmicas nos cursos de licenciatura. Cada equipe, de acordo com a nossa proposta, tem que elaborar e executar um projeto de intervenção na escola na qual atua. Para isso, o método de pesquisa utilizado na condução do projeto está diretamente relacionado à perspectiva da pesquisa-ação. Esse tipo de pesquisa, de acordo com Kurt Lewin, seu idealizador, objetiva- se em investigar as relações sociais e conseguir mudanças em atitudes e comportamentos dos indivíduos(ANDRÉ, 2006, p.31). Em educação, a pesquisa- ação vem sendo frequentemente utilizada, principalmente em projetos como o PIBID 1 Este e os dois nomes seguintes são bolsistas do PIBID/ História da UFPE, atuantes na Escola Estadual de Paulista e no EREM Trajano de Mendonça.

História local: Entre o ensino e a pesquisa

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HISTÓRIA LOCAL: ENTRE ENSINO E PESQUISA

Graziella Fernanda Santos Queiroz (graduanda em História licenciatura na Universidade Federal de Pernambuco)1

Jonathas Duarte Oliveira de Souza (graduando em História licenciatura na Universidade Federal de Pernambuco)

Manoel Caetano do Nascimento Júnior (graduando em História licenciatura na Universidade Federal de Pernambuco)

1. Introdução

O PIBID em História da UFPE, campus Recife, é composto por 05 equipes, de

05 alunos, divididos em 05 escolas públicas da cidade. Se objetiva, entre outros

aspectos, pela inserção dos licenciandos no cotidiano de escolas da rede pública de

educação, oportunizando-lhes criação e participação em experiências

metodológicas, tecnológicas e práticas docentes de caráter inovador e

interdisciplinar que pretendam superar problemas identificados no processo de

ensino-aprendizagem, como por exemplo, a suplantação de barreiras que opõem a

teoria e a prática na docência (PIMENTA, S.G E LIMA, 2008), contribuindo, dessa

forma, na formação dos docentes e elevando a qualidade das ações acadêmicas

nos cursos de licenciatura.

Cada equipe, de acordo com a nossa proposta, tem que elaborar e executar

um projeto de intervenção na escola na qual atua. Para isso, o método de pesquisa

utilizado na condução do projeto está diretamente relacionado à perspectiva da

pesquisa-ação.

“Esse tipo de pesquisa, de acordo com Kurt Lewin, seu idealizador, objetiva-

se em investigar as relações sociais e conseguir mudanças em atitudes e

comportamentos dos indivíduos” (ANDRÉ, 2006, p.31). Em educação, a pesquisa-

ação vem sendo frequentemente utilizada, principalmente em projetos como o PIBID

1 Este e os dois nomes seguintes são bolsistas do PIBID/ História da UFPE, atuantes na Escola

Estadual de Paulista e no EREM Trajano de Mendonça.

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que visam à melhoria da qualidade da educação no ensino público brasileiro através

de práticas docentes atualizadas.

A pesquisa-ação considera o professor como um curioso contínuo de sua

prática e objetiva estabelecer ações que resultem em ganho para os envolvidos.

Dessa forma, nota-se, a intencionalidade política evidente nesse viés de

investigação: “partir de um problema definido pelo grupo, usar instrumentos e

técnicas de pesquisa para conhecer esse problema e delinear algum plano de ação

que traga algum benefício para o grupo”. (ANDRÉ, 2006,p.33)

O presente trabalho apresenta justamente os resultados obtidos, até o

momento, no projeto de intervenção desenvolvido pelos 03 bolsistas sendo 2 deles

atuantes na Escola Estadual de Paulista e 1 na EREM Trajano de Mendonça. No

decorrer do período de observação das escolas (logo nos primeiros meses de

atividades do PIBID/História), percebemos que os alunos das mesmas conheciam

muito precariamente a história dos bairros no qual suas escolas estão localizadas,

além de ter um ensino baseado na história global sem muitas relações com as

vivências dos educandos, produzindo, para eles, pouco interesse pela disciplina.

Neste sentido, a equipe considerou que poderia “intervir” naquela adversidade

promovendo uma ação didática que proporcionasse aos alunos identificação com

suas escolas e com o lugar em que eles vivem, para que além de aulas mais

atraentes pudessem ter maior reconhecimento do local onde moram.

Para isso, o tratamento com a História local nos serviu como parâmetro para

atuar sobre aquele cenário. Conforme o desenrolar das atividades, observamos que

outro campo da história nos seria útil. A História oral, visto que ela nos possibilita

ampliar o leque documental bem como revelar diferentes perspectivas do mesmo

fato. Como por exemplo, um professor de História que todos os anos pede uma

determinada pesquisa aos seus alunos e repetidamente o “feedback” está

inalterado, congelado no tempo. O uso de diferentes metodologias no ensino de

História faz com que os fatos possam ser interpretados de formas complementares,

divergentes e contínuas além de favorecer aos discentes contribuições significativas

no que concerne ao interesse pelo conhecimento histórico.

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Resultado da articulação entre estudantes de licenciatura do Departamento

de História da Universidade Federal de Pernambuco e professores das referidas

escolas, o projeto buscou apresentar e sensibilizar os estudantes para a história que

os circunda como um modo de dinamização do ensino e alternativas ao

desenvolvimento do sujeito.

Para a organização das atividades a serem realizadas e dos conteúdos a

serem discutidos no âmbito escolar, seguimos as etapas relacionadas ao tipo da

pesquisa supracitada, de acordo com momentos distintos trabalhados por Thiollent

(2005) no que tange ao desenvolvimento da pesquisa-ação e adaptados com a

nossa realidade escolar:

1° etapa: fase exploratória na qual através de uma densa observação, estudo

e registros de dados das escolas foram levantados aspectos intrigantes e se

percebeu o reconhecimento da necessidade de inovação em pontos do programa de

ensino. Além disso, nessa fase, foram reconhecidos os alunos desejosos de

participar do projeto e suas expectativas diante do mesmo;

2° etapa: delimitação do tema da pesquisa e colocação de problemas que nós

pretendíamos intervir através de discussões entre nós graduandos e nossos

supervisores na escola e no PIBID;

3° etapa: delimitação do marco teórico para adquirir sentido ao tema e

formulação do plano de ação que nos seria fundamental para atuarmos nas escolas

dando suporte para interpretar situações, construir hipóteses ou diretrizes

orientadoras da pesquisa;

4° etapa: desenvolvimento das estratégias e avaliação do plano de

intervenção através de reuniões e levantamentos de dados de participação e

envolvimento dos participantes;

5° etapa: coleta de dados onde através de conversas formais ou não com os

alunos procuramos saber o significado da experiência para eles.

A constante pesquisa na formação de professores torna o mesmo capaz de

aprimorar, avaliar e compreender sua prática bem como perceber a importância do

aluno como sujeito da aprendizagem, pois:

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É preciso que, pelo contrário, desde os começos do processo, vá ficando cada vez mais claro que, embora diferentes entre si, quem forma se forma e re-forma ao for-mar e quem é formado forma-se e forma ao ser formado. É neste sentido que ensinar não é transferir conhecimentos, conteúdos nem formar é ação pela qual um sujeito criador dá forma, estilo ou alma a um corpo indeciso e acomodado. Não há docência sem discência, as duas se explicam e seus sujeitos, apesar das diferenças que os conotam, não se reduzem à condição de objeto, um do outro. (FREIRE, 1996, p. 22).

2. Caminhos do Projeto

Inicialmente, passamos nas salas nos apresentando e explicando para os

alunos quem nós éramos, que fazíamos parte do PIBID e os objetivos gerais deste

projeto. Detectados os problemas relativos à ausência de reconhecimento e

afetividade pelos lugares onde vivem, bem como depoimentos sobre o não interesse

pela disciplina História, nós buscamos promover estratégias que auxiliassem os

educandos a encontrar gosto e interesse pelo estudo, bem como fortalecer o ensino

da História local, que se tornou o objetivo principal nesse processo.

Com o grupo de alunos interessados entre as turmas dos primeiros aos

terceiros anos do Ensino Médio, sendo 35 na Escola Estadual de Paulista e 40 no

EREM Trajano de Mendonça, bem como o projeto já nomeado pelos graduandos

juntamente com as supervisoras Adriana Paulo e Isabel Guillen2 de “História dos

Bairros” – vale ressaltar, que no caso da Escola Estadual de Paulista, foi dada

ênfase na história da cidade, devido a particularidades que envolvem o

desenvolvimento do local da escola com a História da cidade – promovemos oficinas

direcionadas à importância de contextualizar a história, promover afetividade do local

onde vivem os discentes, e deixá-los a par de metodologias até então não pensadas

por eles no ensino de História. Usamos como recursos didáticos documentários,

noticiários, histórias de vida privada, fotografias trazidas pelos próprios alunos, entre

outros, com o objetivo de tornar as oficinas mais interessantes, significativas e

2Coordenadoras do projeto PIBID de História e professoras da Universidade Federal de Pernambuco.

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argumentativas, como nos lembra (SCHMIDT,2007). No total, foram realizadas seis

em cada escola.

Na última das oficinas, dividimos os alunos em grupos de 5 para que cada um

deles escrevesse lugares significativos da cidade para os mesmos e que seria

interessante visitarmos. O mais curioso disso foi saber que lugares pensados por

nós, pesquisadores, através de uma bibliografia, estavam listados por eles, que

apesar de não conhecerem muito bem a história achavam que de alguma maneira

era relevante.

Decidimos, nós e os alunos, realizar uma trilha nos lugares mais solicitados e

através dela fortalecer os estudos anteriores trabalhados nas oficinas.

Posteriormente, articulamos a história dos lugares visitados com a vida dos alunos e

de seus familiares, estabelecendo uma ligação entre o que acontecia na cidade, no

Brasil e no mundo.

Por um diminuto acervo documental e pelo fato das fontes existentes serem

um tanto repetitivas e pouco detalhadas, a história oral se apresentou como recurso

fundamental para a construção da História Local do bairro de Jardim São Paulo,

onde está a EREM Trajano de Mendonça; já no caso da Escola Estadual de

Paulista, apesar de ter uma bibliografia bem trabalhada por autores como José

Sérgio Leite Lopes e Rosilene Alvim3 não são apresentadas fontes conflitantes ou

alternativas, logo também utilizamos do mesmo recurso para enriquecer a pesquisa

que auxiliada pela História Local visou em proporcionar aprendizagens significativas

para os alunos. Nessa fase do projeto, os alunos estão aprendendo, através de

oficinas, um pouco mais sobre o uso da História Oral no ensino de História para

posteriormente, auxiliados por nós graduandos, eles mesmos terem a experiência da

produção de um documento oral.

3. Ensino de História e História Local: uma luz para o interesse

3 In: ALVIM, Rosilene. (1997) e LOPES, José Leite (1988).

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Apesar de recentemente o cenário no que tange ao ensino de História está

mais propício para relações com o tempo presente, na prática docente há ainda

dificuldade em se desvincular das heranças da linha tradicional de se pensar História

em sala de aula. Uma narrativa linear de fatos seletos, marcada por personagens

(heróis) e acontecimentos simbólicos com causa e consequência e sem relações de

utilidade na vida prática dos alunos, como ratifica (LAVILLE,1999). Esses fatores

refletem para o alunado certo desinteresse pela disciplina.

Em pesquisa realizada por Helenice Rocha em seu texto: “Aula de história:

que bagagem levar?”(ROCHA,2009), a partir de pesquisas que realizou em

diferentes instituições sobre a representação da disciplina de História pelos alunos,

ressalta que muitos deles afirmaram que o professor não dava explicações e apenas

fazia uma leitura comentada com poucos momentos de explicação e diálogo.

Também na pesquisa realizada pela autora, muitos alunos consideram o ensino de

história sem sentido, como um conhecimento puramente do passado, demonstrando

certo desinteresse pela disciplina. Fica perceptível ai que há ausência de ação

didática necessária que explicite as ligações entre coisas que parecem desconectas

e sem contexto para os estudantes.

É sabido que em meados dos anos 90, através de um novo projeto de Lei de

Diretrizes e Bases da Educação Nacional, posteriormente aprovado por Darcy

Ribeiro em 1996 – Lei n° 9.394/96 –, as Propostas Curriculares Nacionais (PCN) se

voltam para a preocupação em desenvolver e estimular no discente o pensamento

crítico apoiado em novas metodologias, interdisciplinaridade e renovação de

conteúdos no ensino. Em História, alunos são pensados como sujeitos da história e

capazes de refletir historicamente. Nessa perspectiva:

A História Local foi tomada como um dos eixos temáticos dos conteúdos de todas as séries iniciais da escola fundamental e como perspectiva metodológica em todas as séries da escola básica. O objetivo era que a adoção dessas perspectivas pudesse contribuir para a construção de pertencimento do aluno a um determinado grupo social e cultural, na medida em que conduziria aos estudos de “diferentes modos de viver no presente e em outros tempos, que existem ou que existiram no mesmo espaço”. (SCHMIDT, 2007, p.189 ).

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A História local tem o potencial de despertar interesse nos alunos devido ao

constante questionamento sobre o florescimento do local onde moram e a vivência

de seus antepassados, “a busca pelo sentido de pertença, de lugar no mundo”

(MATTOSO,p.180,1988), viabilizando aos estudantes um olhar crítico e questionador

sobre o mundo de que fazem parte na medida em que são capazes de relacionar a

História mais geral contida principalmente nos livros didáticos com os

acontecimentos ao seu redor.

Além disso, a História Local permite uma abordagem voltada para o social, a

“História das massas” dos que não foram vistos, onde várias histórias acontecem

dentro do mesmo contexto histórico na busca por singularidades e diversidades em

contraponto ao caráter uniforme e repleto de certezas da História global, como nos

lembra BARBOSA(1998).

Como por exemplo, ao tratar das modificações no cenário brasileiro no

período de redemocratização e movimentos como “Diretas Já”; é interessante

explicar que as lutas trabalhistas e as reivindicações sindicais que permeavam a

cidade de Paulista impactaram uma promissora fábrica, Companhia de Tecidos

Paulista, enfraquecendo-a. Logo, a cidade antes industrial passa por um processo

de desindustrialização e o que antes era uma cidade potencialmente fabril passa a

ser uma cidade-dormitório4, questionando os alunos sobre as motivações que levam

os seus pais a trabalhar tão longe e usar o lar frequentemente apenas para dormir.

“A história local ultrapassa os limites do município e se integra à história geral, não

apenas como um dado disperso, mas como parte de um todo mais complexo”.

(NOGUEIRA E SILVA,p.232,2010).

Percebe-se que essa abordagem na sua metodologia considera o

conhecimento prévio do aluno, problematiza o conteúdo ao estabelecer ligações

entre o cotidiano dos mesmos e de outras pessoas em diferentes lugares e

momentos, vinculando a História local com a História Nacional e até mesmo a

Universal, como ressalta (SCHMIDT,2007,p.193).

4 Conceitos trabalhados por José Leite Lopes, em “A tecelagem dos conflitos na cidade das

chaminés”, ver referência bibliográfica.

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Além disso, é válido lembrar que para facilitar as aprendizagens locais é

interessante ampliar o leque das fontes, sendo elas as mais diversas e amplas:

como jornais, revistas, fotografias pessoais, depoimentos orais a partir de

interrogações bem direcionadas, como fora realizado por nós nas escolas aqui em

análise.

De acordo com Jörn Rusen(2007), a narrativa histórica faz alusão à maneira

como o passado é interpretado, e como essa interpretação passa a apresentar um

sentido e função no espaço cultural da contemporaneidade. Para isso, é necessário

além de saber os conteúdos e leis da História (função nomológica), entender o

contexto específico a qual o mesmo é direcionado e conceder clareza e

sentido(função intencional) para que ele se torne palpável e interessante5.

Favorecendo assim o que ele chama de “constituição histórica de sentido”.

Dessa maneira, o debate acerca da importância de novas abordagens no

ensino de História, nesse caso a História local com o objetivo de promover

reconhecimento, contextualização e mais interesse pela disciplina despontou, em

nossa prática, como uma importante estratégia pedagógica.

4. História Oral: a mão amiga

Buscando ampliar o leque documental e romper barreiras entre universidade

e escola, na medida que o ofício do historiador é posto em prática com os

educandos, a História Oral se apresentou como recurso para atuarmos nas escolas

e promover aproximação dos alunos com a História Local visto que pudemos, após

as trilhas, identificar potenciais narradores para engrandecer o projeto, seja por

tempo vivido no lugar e/ou pela participação atuante no desenvolvimento da

localidade.

Utilizando Benjamim como bibliografia no texto “experiência e pobreza”(1994),

através de oficinas procuramos instruí-los para a importância da valorização dos

5 De acordo com RÜSEN(2007), a nomológica abrange uma cientificidade para a História, na busca

de descobrir e/ou utilizar leis históricas. A intencional está ligada a explicar os atos. E a narrativa seria organizar o conhecimento histórico e conceder clareza as outras duas formas.

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narradores e dos aspectos relevantes que eles podiam trazer no trabalho com

História Local através de ressignifações das suas memórias6. Também nas oficinas,

foram mostrados documentários como foi o caso da Escola Estadual de Paulista

onde passamos “Tecido e Memória”, produzido por José Leite e Rosilene Alvim,

para que os alunos pudessem atentar para sujeitos que apesar de não receberem

importância pela historiografia tradicional podem através de suas experiências

vividas trazerem bagagens significativas que auxiliam na formação do conhecimento

histórico a partir de outro viés interpretativo.

Na EREM Trajano de Mendonça, foi dada “a caça aos velhinhos”, nome

designado pelos alunos, que ficaram eufóricos e motivados para saber como se

produz um documento com a metodologia da História Oral. Na Escola Estadual de

Paulista, os grupos formados ressaltaram ter na família pessoas potencialmente

narradoras, como avós, tios e outros personagens nunca pensados por eles como

construtores de narrativas históricas.

Foram realizadas algumas entrevistas ministradas por nós graduandos com

um morador do bairro de Jardim São Paulo, que lá vive desde os anos 40 e com

uma ex-operária da Companhia de Tecidos Paulista, que vive na cidade de Paulista

desde meados de 30. Ambas as entrevistas estão em fase de didatização, ou seja,

estão sendo analisadas em conjunto, com o objetivo de mostrar o passo-a-passo de

sua elaboração. Como, por exemplo, aspectos relativos ao respeito com a

sensibilidade de tratar os entrevistados, os recursos eletrônicos necessários e

questionamentos de como relacionar a história de vida com a história do lugar

(CANO,2012); para que posteriormente os próprios alunos façam em grupos o

trabalho que antes foi desenvolvido pelos graduandos.

De acordo com (DELGADO,2009), visando a construção de documentos e

fontes, a História Oral como procedimento metodológico, é de extrema relevância,

visto que “através de narrativas induzidas e estimuladas, testemunhos, versões e

6 Conceito trabalhado entre outros autores, por MONTENEGRO(1993), onde o mesmo tece

considerações conceituais a respeito da memória, auxílio inerente à História oral.

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interpretações sobre a História em suas múltiplas dimensões: factuais, temporais,

espaciais, conflituosas, consensuais”. (DELGADO,2009,p.15). Não sendo, pois, um

compartimento da história vivida, mas, sim, o registro de depoimentos sobre essa

mesma história vivida.

Durante muito tempo a História Oral foi vista com certo ceticismo pelos

historiadores. Tal desentusiasmo se deveu as concepções arraigadas numa forma

de conceber a História como exclusivamente de fontes oficiais documentais, “[...] o

domínio absoluto dos documentos escritos como fonte, em detrimento da oral,

expulsando a memória a favor do fato”(FERREIRA,1994,p.01). Essa metodologia

apontaria por um encerramento com a exclusividade do fazer historiográfico.

Entretanto, para autores como MONTENEGRO(1993), essa proposta revela

uma forma simplista e reducionista de tratar a contribuição da História Oral para a

compreensão do passado, visto que o depoimento produzido serve para conflitar,

analisar e embasar as fontes já escritas. Infere-se assim que:

[...] a História Oral é um procedimento, um meio, um caminho, para a produção do conhecimento histórico. Traz em sim um duplo ensinamento: sobre a época enfocada pelo depoimento – o tempo passado, e sobre a época na qual o documento foi produzido– o tempo presente. Trata-se, portanto de uma produção especializada de documentos e fontes, realizada com interferência do historiador e na qual se cruzam intersubjetividades. (DELGADO, 2009,p.16).

5. Considerações Finais

O PIBID com o tema “história dos bairros” na EREM Trajano de Mendonça e

na Escola Estadual de Paulista não acabou. A proposta para a segunda metade do

ano é transformar esses novos conhecimentos obtidos através das vivências nas

oficinas, nas trilhas e na documentação produzida em materiais didáticos para que

assim não só os participantes do projeto, mas toda a comunidade escolar tenha

acesso e possa se apropriar e se interessar pelo objetivo real da pesquisa que é

tornar os alunos mais interessados em aprender História a partir da valorização da

História Local.

A nossa pesquisa-ação em sua última fase pretende saber a opinião no que

tange à experiência dos participantes na perspectiva de melhorias e retorno das

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ações. Dessa forma, foram realizadas algumas entrevistas com integrantes de

ambas as escolas para saber deles a significação do projeto. Perguntados sobre a

importância do PIBID e seu entendimento sobre a História de onde vivem, alunos

respondem que:

Sabia, mas muito por cima... por que a gente sempre acha que a História é algo muito distante. Ou em relação a tempo, ou em relação a espaço mesmo. Então o PIBID ta mostrando que não. A História ta em todos os cantos e muito mais perto do que a gente acha. (Kelly Santos, aluna do 1° ano do Ensino Médio da Escola Estadual de Paulista).

O PIBID vai ser importante para mim nas aulas de História nos dias normais por que ele vai fazer um chamado muito maior, entedesse? Que eu não curto muito História, ai o PIBID ta dando uma nova luz. (Rebeca Luna, aluna do 2° ano do Ensino Médio da EREM Trajano de Mendonça).

Sendo assim, percebemos que os resultados obtidos até o momento são bons

e contribuem para o desenvolvimento da construção crítica do saber histórico

mostrando a importância da vinculação entre teoria e prática na docência para que

cada vez mais a mesma cumpra seu papel de constituir cidadãos críticos e

autônomos na sociedade.

6. Referências Bibliográficas

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Anexos

FOTO 1

Trilha realizada pelo centro da cidade de Paulista, região metropolitana do Recife. Ao fundo, antiga

residência dos donos da Companhia de Tecidos Paulista.

FOTO 2

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Momento da trilha onde foi iniciada a “caça aos velhinhos”, no bairro de Jardim São Paulo, em Recife.