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Mirantes de Lavra Os mirantes das casas de Lavra fazem parte da arquitetura popular, parcela importantíssima do património cultural de qualquer país, embora se encontre fortemente ameaçada, em Portugal, devido à prioridade dada à conservação e proteção dos grandes monumentos e sítios. O mirante é uma constante da habitação tradicional de Lavra. Aparece em duas soluções distintas: integrado no próprio edifício como se fosse uma varanda exterior (raro); localizado perto da casa, no muro de delimitação da propriedade, virado para a rua (a maioria dos casos). Tratava-se de um local de vigia/observação dos terrenos agrícolas vizinhos e da rua. Foi ainda um local de lazer das horas de descanso, de convívio com a vizinhança e de namoro, numa época em que os pares de namorados tinham de ter barreiras físicas a separá-los: ela, do lado de dentro, ele do lado de fora do mirante. Os mirantes aparecem vulgarmente na literatura portuguesa: “E daquela borda do tanque já ele avistava ao fundo de outra rua, debruada de dálias abertas, o Mirante – uma construção do séc. XVIII, simulando um templosinho grego, cor de rosa desbotada, com um gordo cupido sobre a cúpula, e janelinhas de rocalha entre o meio relevo de colunas caneladas por onde trepavam jasmineiros.” (Eça de Queiroz, A Ilustre Casa de Ramires); ou “O bairro oriental é principalmente brasileiro, por mais procurado pelos capitalistas que recolhem da América (…) abunda a casa com janelas góticas e portas

Janeiro 2015

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Page 1: Janeiro 2015

Mirantes de Lavra Os mirantes das

casas de Lavra

fazem parte da

arquitetura

popular, parcela

importantíssima

do património

cultural de qualquer país, embora se encontre fortemente

ameaçada, em Portugal, devido à prioridade dada à conservação e

proteção dos grandes monumentos e sítios.

O mirante é uma constante da habitação tradicional de Lavra.

Aparece em duas soluções distintas: integrado no próprio edifício

como se fosse uma varanda exterior (raro); localizado perto da casa,

no muro de delimitação da propriedade, virado para a rua (a maioria

dos casos). Tratava-se de um local de vigia/observação dos terrenos

agrícolas vizinhos e da rua. Foi ainda um local de lazer das horas de

descanso, de convívio com a vizinhança e de namoro, numa época

em que os pares de namorados tinham de ter barreiras físicas a

separá-los: ela, do lado de dentro, ele do lado de fora do mirante.

Os mirantes aparecem vulgarmente na literatura portuguesa: “E

daquela borda do tanque já ele avistava ao fundo de outra rua,

debruada de dálias abertas, o Mirante – uma construção do séc.

XVIII, simulando um templosinho grego, cor de rosa desbotada, com

um gordo cupido sobre a cúpula, e janelinhas de rocalha entre o

meio relevo de colunas caneladas por onde trepavam jasmineiros.”

(Eça de Queiroz, A Ilustre Casa de Ramires); ou “O bairro oriental é

principalmente brasileiro, por mais procurado pelos capitalistas que

recolhem da América (…) abunda a casa com janelas góticas e portas

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rectangulares, e a de janelas

rectangulares e portas góticas, algumas

com ameias, e o mirante chinês”. (Júlio

Dinis, Uma Família Inglesa). Este último

trecho aponta para uma provável

origem oriental (chinesa) para os

mirantes, fruto da epopeia portuguesa

nos Descobrimentos.

Há uma grande diversidade dos

Mirantes de Lavra, podendo ter coberturas, ser simples aberturas ou

construções mais elaboradas. Há, no entanto alguns aspetos

comuns: a utilização sistemática do granito, as grandes dimensões e

a regularidade dos blocos utilizados, diferentes do resto do muro, o

que mostra uma preocupação estética e reveladora da importância

que assumiam na construção de uma casa. Era, também, uma

característica habitual a existência de portadas de madeira, que

hoje, infelizmente, já não existem, bem como os bancos de pedra,

um de cada lado, que facilitavam a conversação e o descanso.

Como Peça do Mês escolhemos os

mirantes em barro, executados por

alunos da Escola, em anos anteriores,

que mostram alguns tipos destas

construções, em Lavra.

Localização: estes mirantes

encontravam-se na R. Dr. José

Domingues dos Santos, na rua de

Antela e no Largo do Avilhoso –Casa do

Carrejo.

Informações recolhidas em Mirar Lavra, da Associação de Trabalho Social e Voluntário de Lavra