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PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO Registro: 2012.0000382756 ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos do Apelação nº 0216865- 42.2008.8.26.0000, da Comarca de Bragança Paulista, em que é apelante LUCIANA DE LOCIO E SILVA STEFANI, é apelado CONFEDERAÇAO DA AGRICULTURA E PECUARIA DO BRASIL CNA. ACORDAM, em 10ª Câmara de Direito Público do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Deram provimento ao recurso. V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores ANTONIO CARLOS VILLEN (Presidente) e URBANO RUIZ. São Paulo, 6 de agosto de 2012. Paulo Galizia RELATOR Assinatura Eletrônica

Jurisprudência conceito de empresário empregador

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PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Registro: 2012.0000382756

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos do Apelação nº 0216865-42.2008.8.26.0000, da Comarca de Bragança Paulista, em que é apelante LUCIANA DE LOCIO E SILVA STEFANI, é apelado CONFEDERAÇAO DA AGRICULTURA E PECUARIA DO BRASIL CNA.

ACORDAM, em 10ª Câmara de Direito Público do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Deram provimento ao recurso. V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão.

O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores ANTONIO CARLOS VILLEN (Presidente) e URBANO RUIZ.

São Paulo, 6 de agosto de 2012.

Paulo GaliziaRELATOR

Assinatura Eletrônica

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Apelação nº 0216865-42.2008.8.26.0000-Bragança Paulista - Voto nº 4428 5

VOTO N.º 442810ª CÂMARA DE DIREITO PÚBLICOAPELAÇÃO COM REVISÃO N.º 0216865-42.2008.8.26.0000COMARCA: BRAGANÇA PAULISTAAPELANTE: LUCIANA DE LOCIO E SILVA STEFANIAPELADA: CONFEDERAÇÃO DA AGRICULTURA E PECUÁRIA DO BRASIL CNA JUÍZA FERNANDA ROSSANEZ VAZ DA SILVA

CONTRIBUIÇÃO SINDICAL RURAL. Imóvel objeto de arrendamento para exploração de atividades agropecuárias. Competência da Justiça Comum para conhecer da demanda, sentenciada antes da vigência da EC 45/2004. Proprietária que não se enquadra no conceito de empresário ou empregador rural e não pode figurar como sujeito passivo da relação jurídica tributária. Ilegitimidade passiva. Caracterização. Processo extinto, nos termos do art. 267, VI, do CPC. Sentença que julgou procedente o pedido reformada.

Recurso provido.

Cuida-se de recurso de apelação interposto contra a r.

sentença de fls. 171/177, cujo relatório se adota, que julgou procedente a ação e

condenou a ré no pagamento da importância de R$ 4.502,81, atualizada desde

a propositura da ação pela Tabela Prática do Tribunal de Justiça, acrescida de

multa de 2% e juros de mora de 1% ao mês. A vencida arcará, ainda, com as

custas, despesas processuais e honorários advocatícios fixados em 10% sobre

o valor da condenação.

Irresignada, apela a ré. Aduz, preliminarmente, a

incompetência da Justiça Comum Estadual para conhecer do litígio, em virtude

das alterações introduzidas pela EC 45/2004, requerendo a anulação da

sentença e a remessa dos autos à Justiça do Trabalho.

Afirma que a cobrança relativa ao ano de 1998 está

prescrita, que houve cerceamento de defesa diante da não realização de

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audiência de instrução e que as teses levantadas na contestação não teriam

sido analisadas na r. sentença.

Argui ilegitimidade passiva, pois “a relação jurídica aqui

existente não é com a ré e sim com arrendatário da propriedade rural, que

possui todas as características de empregador rural.” (fls. 195)

Sustenta estar sofrendo bitributação, uma vez que já é

contribuinte de ITR.

Pleiteia a reforma da r. sentença e a inversão dos ônus

da sucumbência (fls. 192/196).

Recurso tempestivo e respondido (fls. 210/215).

É O RELATÓRIO.

Trata-se de ação de cobrança de contribuições exigidas

pelo sindicato em virtude de representação prestada aos participantes das

categorias econômicas ou das profissões liberais atreladas a atividades rurais,

com fundamento nos artigos 578 a 610, da CLT.

A alegação de incompetência da Justiça Estadual para

julgamento da demanda não comporta acolhida, pois tal questão já foi decidida

pelo E. Superior Tribunal de Justiça no conflito de competência nº 89.981- SP,

suscitado pelo Juízo da Vara do Trabalho de Bragança Paulista SP, sendo

reconhecida a competência do Juízo de Direito da 3ª Vara Cível de Bragança

Paulista SP para julgamento da demanda (fls. 246/248).

A preliminar de ilegitimidade passiva merece ser

acolhida.

A ré afirma ser parte ilegítima para integrar o pólo

passivo da relação jurídica processual, pois, conquanto seja proprietária de

imóvel rural, não possui empregado e não empreende atividade rural.

Comprova que de 12/05/1998 a 15/05/2001 o imóvel foi

arrendado a WILSON YOKIO TSUKADA, conforme contrato de fls. 150/152,

para realização de atividades agropecuárias, consubstanciadas no

desenvolvimento de “quaisquer culturas e criação de modo em geral,

principalmente batata, mandioquinha, couve-flor, milho, etc.” (cláusula sexta)

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Segundo o inciso II do art. 1º do Decreto-Lei 1.166/71,

considera-se empresário ou empregador rural:

       “a) a pessoa física ou jurídica que, tendo empregado, empreende, a qualquer título, atividade econômica rural;

        b) quem, proprietário ou não, e mesmo sem empregado, em regime de economia familiar, explore imóvel rural que lhe absorva toda a força de trabalho e lhe garanta a subsistência e progresso social e econômico em área superior a dois módulos rurais da respectiva região;

        c) os proprietários de mais de um imóvel rural, desde que a soma de suas áreas seja superior a dois módulos rurais da respectiva região. “

Consoante já se pronunciou o E. Superior Tribunal de

Justiça, “O fato gerador da contribuição sindical rural é o exercício da atividade

específica, no caso a atividade rural patronal, destinada ao interesse geral da

respectiva categoria econômica, com natureza obrigatória; sob a égide da

Constituição Federal de 1988 a contribuição sindical rural continua regida pelo

Decreto-Lei 1.166/71, que dispõe sobre o enquadramento sindical rural e a

contribuição devida pelos integrantes das categorias profissionais e econômicas

da agricultura, independentemente de sua filiação ou não a entidades de classe

(art. 8º, IV, da CF/88).” 1

Evidencia-se que, apesar de perceber frutos civis

decorrentes do arrendamento do imóvel, a atividade rural foi explorada

diretamente pelo arrendatário, pessoa que, uma vez satisfeitas as exigências

contidas no inciso II do art. 1º do Decreto-Lei 1.166/71, seria o sujeito passivo da

obrigação tributária.

Nesse sentido:

“AÇÃO DE COBRANÇA. IMÓVEL RURAL EXPLORADO SOB ARRENDAMENTO. CONTRIBUIÇÃO SINDICAL RURAL. INEXISTÊNCIA DE EXPLORAÇÃO RURAL PELO PROPRIETÁRIO. ÔNUS DO ARRENDATÁRIO. INDEVIDA. A contribuição sindical rural, na consonância do art. 1º do Decreto-Lei 1.166/71 tem como fato gerador a exploração econômica da propriedade. Sendo assim,

1 RECURSO ESPECIAL Nº 705.879 - PR (2004/0167149-0), Rel. Min. TEORI ALBINO ZAVASCKI, R.P/ACÓRDÃO : MINISTRA DENISE ARRUDA, j. 19/04/2005, por maioria de votos.

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em face de imóvel rural explorado sob arrendamento, a contribuição sindical rural é devida e só pode ser exigida do arrendatário, não respondendo por seu cumprimento o proprietário do imóvel.” (TRT-4 RO 7205120105040851 RS 0000720-51.2010.5.04.0851, Rel. MILTON VARELA DUTRA, j. 30/06/2011, 10ª Turma, v.u.) (grifo meu)

Em tais condições, acolho a preliminar de ilegitimidade

passiva e julgo o processo extinto, sem resolução do mérito, nos termos do art.

267, inciso VI, do Código de Processo Civil, e condeno a autora no pagamento

das custas, despesas processuais e dos honorários advocatícios que fixo em

10% sobre o valor da causa, corrigido a partir de ajuizamento da ação.

Pelo meu voto, dou provimento ao recurso.

PAULO GALIZIA

RELATOR