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Metade de Mim /Coração de Lata Sylvia Seny Metade Mim Coração de lata poesias Silvia Ramos S. Feitosa SP 2010 0

Metade de mim

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Metade de Mim /Coração de Lata

Sylvia Seny

Metade MimCoração de lata poesias

Silvia Ramos S. Feitosa SP 2010

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Sylvia Seny

ISBN - 978-85-99389- 00-0

Seny, Sylvia;Coração de Lata – A CaminhadaSuzano, SP: Mirambava Editora, 2010.

55 p.

1. Literatura Brasileira. 2. Romance.3. Poesia. Sylvia Seny. III. Título.

CDD 869.8.

http://Sylviasenny.blogspot.comhttp://romancegospeljuvenil.blogspot.com.br/ 2ª edição 2015

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Metade de Mim /Coração de Lata

Sou poeta, sou criança...Sou mulher, sou esperança.Hoje sou lágrima, amanha quem sabe... Riso! Hoje sou incógnita, amanha talvez um livro.Sou passível de errar, sou feita de muitos valores.Das mãos que Deus, formou-me pra amar,Mesmo e além dos dissabores...

Sylvia Seny ( Silvia R. S. Feitosa)

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Abraça-me

Meu corpo informe, contra toda natureza resistia dentro de uma "bolsa" mal nutrida de afeto e gordura, sentia frio.... E eu que nem ciência tinha implorava: Abraça-me! Para que assim Tua Mão poderosa aquecesse meu espírito. Então, num sopro de milagre entre a existência e a partida numa incubadora fria, nenhuma palavra dizia, mas com o coração clamava: Abraça-me! Não fui amamentada ao seio, nem tive boneca de porcelana... Canela fina e pensamentos desnudos. Nos braços da adolescência fui o mais complexo adulto, ainda assim clamava á responsabilidade: Abraça-me! E eu abracei meu filho. Agora com maturidade o frio arrepia o intelecto, e euenvolvo meus pensamentos, com sonhos, com forte alento. É a caneta tão macia? Ou tem braços como o urso? È quente o papel que recebe a minha tinta? Cantei junto a mulher de trinta... E ainda vazia baixinho eu confesso: Abraça-me! Abraça-me meu amigo quando as lágrimas caem e os ideais frustram-se... Quando eu te procuro á meu lado e vejo somente um corpo desprovido de compaixão e revestido de belos músculos. E a ultima lágrima grita, sem mais esperar que você me abrace!

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A menina e o PoetaPés descalços no quintalCorre livre e sente o vento.Seus 6 anos não á impedemDe almejar o firmamento!O poeta que a observaQueria poder lhe darUm coração com asas,Pra ela poder voarInerte em seus devaneios,Bonecas jogadas ao chão.Olha com mágoa o escárnioDo atrevido balão.Por que ele flutua no céu?E ela não pode alcançar o ar.Nem caminhou e já não querAs batalhas do lidar!O poeta entenebrecidoAo perceber o desfalqueCom flecha acerta o balãoE esse já não mais invade!A menina agradecidaSorri com meneios no olhar,Espera que na vindoura penumbrao céu venha disputar!

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FAZ DE CONTA

Onde estão seus braços quando eu procuro,que me deixam sentir frio a noite e não afagam meus seios?Onde estão seus lábios que não encontram os meus?Onde estão as carícias e os sussurros teus?Onde esta aquele sorriso e mansidão no teu falarOnde esta tua admiração que implantava brilho em meu olhar?Onde esta você, amor?Aonde me perdi neste faz de conta?Faz de conta que nada mudou...Faça de conta que o tempo não passou!Faz de conta que sou sua rainha...E que a imagem que estimula seu dia, ainda é a minha.

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Metade de Mim /Coração de Lata

Ranchinho Feliz

Observei, tinha ao longe depois da curva uma casinha branca de telhas vermelhas,Árvores com folhas amareladas queimadas pelo inverno, um lago pequeno pintado de azul.Vi a cerca quebrada e uma fileira de pinheiros. Foi quando entrei nele,Vi uma sombra indistinta, as cores indefiníveis em tons escuros.Cheguei mais perto, fui absorvida pela beleza.O céu amava as montanhas, e o sol tímido de uma tarde fria abraça o verde e o marrom da terra numa possessão grandiosa.Os

pinheiros curvavam-se solenemente com o sussurro do vento que cantava entre as folhas: Deixem-nos se amar.A cerca, a casinha, o pássaro que passou voando... Meros figurantes no cenário, nem se quer percebiam a beleza a sua volta.

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A mão que contornava a silhueta o fazia com maestria e cuidado, os cabelos que caiam sobre o tórax deitado na relva, acariciavam seu corpo e seu ego...Agora o momento era de uma calma invejada. A mulher madura levantou os olhos para o céu, duas lágrimas caíram de emoção. O homem nu arrumou os cabelos curtos e grisalhos que o vento beijava.Queria continuar minha invasão extasiada e flagrar o casal experiente banharem-se no rio após o amor. Mas, decidi não interferir mais, desisti de tirar o pó do quadro e voltei meus olhos para o barulho da TV.

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Arfar de Cinderela

Nunca tive uma vida social tão intensaNem o estado emocional na corda-bambaA sintonia do corpo cansada e doenteDesritmado pandeiro no desfileda escola de sambaNunca me deixei rodear tanto de “Cultura”De personagens, mestres e artistas!Nem de anônimos humildes e agradáveisNem os já empossados de cerviz tão dura!Nem tinha sentido o brilho da ametistaPedra preciosa de gentil canduraE se de pudica frase acusam-me à vistaAs lágrimas correntes corrompem a armaduraNunca um sonho teve o antídoto no sanguePra tudo que aflige, pros amigos distantesPra cura deste grito, à quebra de valoresPra lida desencontrada em tantos dissabores!O custo de vida, o nível social...Sustenta-me a fé que afasta meus deslizesSegura pelos sonhos afago as cicatrizesDeixadas pela crise no instante brutal!Nunca houvera sentido tão forte as pedradasDo meu sonho escrito, vendido e publicado!E apesar de tudo... Brilha a alma, o riso

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O novo que vai gerando um SONHO REALIZADO!A queda do sapato que era de cristal?A carruagem virou nuvemO príncipe tornou-se omisso!Escondo a irreverente maquiagemReflito à imagem... Do imprudente Narciso!

Cante Cante uma cançãoque fale de paixãocom ré pra perdoare dó de não tentar;Canta uma cançãoem versos de amorcom sol pra aquecerquando a noite for.Cante uma canção de "mi" pra escalaros desejos que há em mim;E só se 'fa" pararrouco de emoçãode tanto e mais tocar.

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Dias de chuva...

Quando um sonho vai se perdendoou talvez seja adiado.

Depois de ter lutado,sofrido,gemido!

Depois de tê-lo amado,Ter por tempos, desejado...

Ter visto os primeiros passosde um projeto de vida,ver esvaindo na lida.

As lágrimas que caem nesse traço...Marca o tempo, o espaço,De uma espera...De uma vida!

“... faz chover a chuva serôdia sobre nós”

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Noite

"Que a noite seja curta,que a dor nao dure muitoque um novo amor nasça com a alvoradaque eu possa amar na mesma intensidadeque eu acredite novamente...que alguém esteja esperando por mimque os beijos tenham gosto de ternuraque eu me apaixone e seja objeto de paixãoe seja um amor que perdureaté meus olhos se fecharem nesta terra!"

Então...

Vem cantar comigo, vem compor uma musica com o corpo, deixa o amor ditar o ritmo e eu deixo o perdão seguir seus passos...

A lua vem saindo, já vai alta no céu cantar entre as estrelas, o frio saiu á passear, corujas vigiam, esquilos dormem, as teclas acalmam-se, a melodia continua.

Boa noite!

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Se a humildade acabar...

Se a humildade acabar a musica que tocamos será apenas um grunido que incomoda e não encanta mais...Se a humildade acabar a poesia será uma mentira ensaiada, os contos serão realidade, e perderemos a essência e o dom que nos foi dado...Se a humildade acabar almejaremos o poder, desprezaremos a justiça e não faremos mais a diferença. Seremos mais um nicho de apologia social...Se a humildade acabar o orgulho cresce, o egocentrismo lidera, o umbigo é o centro, a democracia vai embora e seremos apenas mais um nicho engolido pela política desta selva de pedra.

Amor...      Este tipo de amor é comparado á uma noite sem estrelas...Aquela em que o frio dói no corpo e insistimos em ignorar o sofrimento.    O vento açoita os cabelos com o gélido hálito do descaso, e ainda assim, O olhar vaga pelo céu na esperança de encontrar uma estrela.

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     Entre milhares que existem como é vasta a esperança, quem sabe uma vá brilharAquietando nosso coração até a próxima noite sem estrelas.

Com o tempo

Com o passar do tempo o amor não era mais calmo. Tornara-se espaçadoE cheio de paixão.O toque chegava a doer.Uma sofreguidão intensificada pela urgência do relógio.Com o passar do tempo, não mais prestávamos atenção aos detalhes, osBeijos tornavam-se mais curtos e a vida mais corrida.Passou-se uma década.Quando te vi de novo...As pernas estavam dentro do rio até a altura dos joelhos, a bermuda molhada.O dorso nu vermelho, castigado pelo sol.Nas mãos uma vara de pescar. O olhar fixo no rio, tão distante.E me dei conta que era isso que você amava.

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A liberdade, o vagar das horas, o pensamento absorto, a auto-suficiência.

A luta solitária entre o pescador e o peixe; entre o caçador e a caça...Nunca se entregando totalmente; nunca confiando o suficiente; Sempre precavido, não se deixando conhecer por inteiro.Dá próxima vez que te amei, eu era igual o pescador; cheia de métrica, deSuspiros contidos, de lágrimas guardadas e o coração ferido preso pelo anzol.

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Mudanças...

Às vezes tudo sai do lugar.Seu sonho voa com o vento,e você tenta se apegarao que ficou deste intento.Ou vai com ele procurar,novo ideal, novo intento..Dói deixar em algum lugarparte do que foi você.Parte dos sonhos, das composições,coisas que não encontra nas multidões.Se a essência fica um pouco aquia outra parte acompanha o vento.Não há lágrimas que bastem,não há esperança que não desgaste,Não há calma que não se exalte,Nem solidão que fique a parte...Distinta de mudança,entre outros sentimentos...Anseios, rudimentos, só tua.inevitável:

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SAUDADE!!Saudade do que vaisaudade do que ficaDor que abdica Inevitável MUDANÇA!

Tema de Susie

Encontramo-nos no começo da juventude.Crescemos juntos, caminhamos juntos...Fomos sendo parte um do outro,fomos sendo amigos.Vencendo cada desafio.Desafiando perigos...Fomos sendo amantes!Amantes da vida e do riso,amantes da paz e da virtude.Amei-te mais do que pude...Amo-te em teus sonhos,como gato brinca com novelos...Envolto numa mecha de cabelos.Por que teu olhar tristonho?Não sabes que a adversidade passa?Você me prometeu bodas de prata.Estaremos sempre juntos.Ainda um moleque correrá aos meus braços,olhos claros de seus traçose um sorriso matreiro meu!Será nosso filho arteiro.

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E dormirá em teus braços...Você lhe ensinará os passos.E na maturidade vencida,com meus cabelos grisalhos,embalarei nossos netos!Oh, Susie, te amo com o mais puro afeto...E com a mais intensa paixão!Amo-te, Susie,doce e vorazmente.Guarde em sua mente,Amo-te: de corpo, almaE coração.

"... A vida sempre continua"

Eu não vou parar de te olhar e nem de olhar pra dentro da poesia que esmiúça o ser alienado que a escreve,

pondo pra fora todo seu ego num redemoinho depensamentos e sentimentos tão densos como a neve noinverno da Califórnia e inusitado , inconstante como o verãopaulistano. Com toda razão do mundo e sem razão alguma que distingua o poeta da sua poesia; assim como a letra da frase ou o ícone da linha seguinte.

Somos todos loucos por uma única razão: um dommaravilhosamente inspirado no sopro de Deus pra nós!

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Homens maduros

São os pais que nos carregavam, Ao colo com vigor.Ou os tiranos do castigoDa palmada com ardor!São os olhos da conquista.Os conselhos do avô.A segurança previstaNo entardecer do amor.Os grisalhos da revista...O paletó amarelado,Ou o olhar de conquista,Que nunca fora apagado.Saber despertar a criançaNo interior da mulher,Suas mãos tocam na damaCom a carícia que ela quer!Quem venceu as tentaçõesDas aventuras profanas,Hoje cuida com prazerde suas preciosas damas:A filha, a irmã, a esposa,flores venturosas que o cercam.Fazem destes homens charmososamores que já não pecam!

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São suaves no tocar, meigos na grave voz.Um abraço os acalentara,Vigorosos, devotado a nós.

O amor que quero

Eu diria do amor que espero, é ser musa, é ser criança, virar mulher na dança calma.Toque-me com cuidado.Tenha-me com cautela.Não sou só um desejo...Sou um sonho, uma donzela.Corteje-me como a uma princesa.Como se eu fosse o frágilChumaço de algodão.Toque como a um cristal raro,e soletre-me versos de nossa canção.Quando percorrer meu corpo, me tenha com os olhos, e em abençoado frenesi, soe suas mãos.Emaranhe seu perfume em meus cabelos, e ao romper o selo, eu seja tua então.

E na sublime jura de amor eterno,seja tão sincero, quanto à inspiração.Pois eu só me dei ao amor que quero: manso, puro, sincero.

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Eu sou sua dama.Não apenas a cama.Mas, em teu peito chamaDe amor, sublime paixão!

Misteriosa Dama

A música branda do piano, os convidados em desfile, apresentações, cumprimentos... Olhei a lua, tudo tão perfeito! Minha festa entre os amigos...Adentrou no rol uma fina dama de vestido azul, cabelos cor de mel, olhos claros como o sol.A todos deslumbrava. Sorria, bebia, cumprimentava, mas de mim fugia.De alguma forma, via uma tristeza naquele olhar, mas, logo ela dissimulava e voltava a todos encantar!De anfitrião fiquei, esgueirando-te na noite.Encontramo-nos na escada, olhando a mesma lua.Abracei-te fortemente e toquei seus lábios com as mãos.Disse-me: - Eu queria estar entre os quadros e fotos registrados das festas neste seu mundo real. Por isso, deixei de ser poema e fiz-me uma dama, e que dama; dama excepcional!Olhei-te com lágrimas nos olhos, mas tinha que aquilo dizer:- Você não pode ficar aqui, aqui um poema não pode viver.

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E, num último abraço, afastei-me de costas. Fui descendo a escada pensando no que fazer. Virei-me num impulso. Ela estava de pé no pára-peito e sorrindo disse-me:- É adeus, com efeito!Fechou os olhos e, como se tivesse asas, o vestido abriu como uma cortina azul. Atirando-se, despencou no ar, antes que eu pudesse mover-me.No chão, lá embaixo, o sangue vermelho não parecia mórbido. Nada parecia sórdido.Você não parecia morta! Era ainda uma visão perfeita da menina em mulher!Toquei seu rosto. Gritei: - Alguém me dê uma flanela!Limpei o vinho derramado sobre o quadro do poema "A menina e o poeta" e pendurei-te de novo na parede. Seguiu a festa ao som das músicas clássicas do piano.

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Milagre

Já os olhos fechados,nem queria ver a vida... Ainda custava-me a lida, o relógio do progresso atrasado. E eu me havia negado, a chance de recomeçar, já ia perdendo o ar... Mas seu amor recém-chegado, num abraço me envolveu, tão puro e lindamente. Salvando assim o meu "eu", do frio que morbidamente anunciava a partida! Seu calor foi tão eficaz, não vou deixá-lo nunca mais! E eu que tanto o procurei, nos seus olhos desvendei: Um amor que vence tudo! O sempiterno que me envolveu, acendendo a luz no breu, com lágrimas me alegrei, 

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por aquele que saudei.. Era simplesmente Deus... Acendendo a luz do mundo!

Comum AcordoPrometa-me:Prometa-me não esquecer como é bom dormir á meu lado, Mesmo que eu me inquiete atravessando à cama a noite todaPrometa-me:Quando as coisas ficarem difíceis, você se lembrará que estouLutando também em outro lugar.Prometa-me:Que se nossas crianças não entenderem minha partida, você os consolará e ligará para que ouçam minha voz.Prometa-me:Quando a solidão te cobrar minha ausência, você lera versosE vídeos que deixei pra ti.Prometa-me:Lembrar-me com mensagens, e-mails e o que for possível todos os dias que você está a minha espera.Prometa-me:Sua lealdade, não só porque é o correto... Mas, porque o seu amor tem meu nome fincado na alma e no corpo;meu cheiro, meu gosto,minha voz, minhas manias, meus sussurros...Prometa-me:Que se as circunstancias te revoltarem, lembrarás das lágrimas que derramo hoje e da minha vontade de lutar por nós!Prometa-me:Que quando ninguém entender nosso esforço e fores interrogado, dirás apenas que "somos um "e concordamos neste risco.Prometa-me:Não morrer, não me substituir, não acostumar-se sem mim!E eu te prometo apenas:

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“..Que meu amor é ainda forte como a morte e o ciúme é duro como a sepultura e que as muitas águas jamais apagarão o que Deus uniu...”Selo este contrato declarando no parágrafo principal que te amo e confio em Deus.Até breve...

Falência Múltipla 

Não há diálogosAs calorosas brigas também cessaramUm fala, o outro já não escutaSó existe monólogosNão somos mais Nóssomos apenas Tu e EuO sofá ficou pequenoO ego cresceuAs mãos endurecidas no gesto de apontare não fazem mais carinhoA sala esta cheia de pessoase o ambiente vazio!Não mais consideraçãoNão mais preocupaçãoNão mais ideias e planosSomos só Um e Um!A admiração perdeu-seA esperança esta anêmicaO desejo hipotérmicoO amor bradicárdicoO sangue pulsante da almanão mais filtra a amarguraÓrgãos vitais!Perseverança, respeito, desejo e companheirismorespiram por aparelho. A insônia pateticamente entra em comaA aliança esta ofusca, Os olhos não vêem o príncipe

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A princesa virou medusa. Bodas! Bodas! Bodas... Esperava-se as bodas!Comodismo. O sofá estreitou-se demais, o colchonete de solteiro não cabe nem umNada mais é "comum". Lágrimas constantes... Egoísmo vibrante... O contrato quebrado. Palavras já não importam mais, nem profanas, nem pudicas!Os sonhos? O amor?Ai meu Deus!DESFIBRILADOR ligado... Falência múltipla! 

Medéia

Aquela louca , insana, apaixonada, amava tanto!Amava? Amava nada! Odiava, odiava tanto!Odiava nada, só destruía a tudo,a si mesma, a quem amava, em quem confiava...Confiava tanto que a si condenava.Desconfiada tanto. Não confiava nada!Queria em troca o aprisionamento, a abnegação, a falência...A quem amava?Amava tão somente a loucura,a loucura que dela emanava!

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Carinha de sapo

Toda vez que passava de frente ao quintal da casa ao lado, um terreno aberto, com um pouco de mato, eu avistava uma menininha  quase sempre só de short, sem blusa, as vezes ela vestia um macacãozinho azul.

O macacãozinho azul ficou marcado em minha memória, porque aquela roupa surrada parecia-se com ela.

Mesmo quando o sol já ia alto ela estava ali, cavucando o chão, com uma cara de sapo, sem olhar pra cima, sem dizer nada. Alheia a tudo á sua volta.

Tinha um pezinho de mato verde, seu aspecto era de  um trevo, vira e mexe ela mastigava e engolia.

Raras vezes olhava o céu, a não ser quando uma pipa pairava baixo.

Os anos foram passando. Agora com ela brincando no descampado, com a barriga vazia, tinha dois irmãos menores, amarelos a comer mato. todos com a mesma cara de sapo.

Agora o macacão era um trapo curto, e uma blusinha cobria o peito.

Uma vez eu ouvi de casa  ela gritar com medo da chuva.

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A casa era metade de tijolos, metade de madeira num arranjo pobre e deprimido.

Eram só os três no cenário, sempre os três.Eu continuei minha vida, sem nem me dar conta

de que podia ter ao menos conversado com ela, só agora me dei conta de que devíamos ter a mesma idade.

Perto das treze horas  eu subia pra ir á escola ali pertinho e a menina estava lá, lavando a louça, muda do lado de fora da casa e os irmãos comiam trevos.

Um dia encontrei com ela quando a fila subia pra sala de aula. Ela estava de avental branco, quase não a reconheci. Quando encarei, ela baixou a cabeça. Só por um minuto eu a vi, olhos grandes e inexpressivos, a boca não era grande, o nariz era pequeno e redondo, o cabelo preto encaracolado caia nos olhos, mas, ainda era cara de sapo!

Continuei passando por ela...Ela lavava a louça na chuva, tomava banho do

lado de fora num banheiro no quintal,Não via água encanada e pra mim, ela não era

nada. Como não era pra mais ninguém.

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Num certo verão choveu bastante. Ouvi sua voz pela segunda vez; eram gritos apavorados. Alguém gritou: "A casa caiu!"

E a casa feia desabou.Os vizinhos salvaram as crianças. E por um

tempo eu não a vi mais.Depois que me formei lembrei-me dela, não sei

por quê...Pensei como tudo teria sido se ela realmente

tivesse existido, mas sem aquela cara de sapo... Tão verde de esperar, tão muda de não notar, tão faminta de comer trevo, tão desprotegida  (como se sobrevivesse por teimosia, sem laços, sem vínculos) dentro da lagoa que jazia naquele quintal abandonado. Como a vida seria pra ela, se não tivesse cara de sapo!

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FUTUROTa na hora de aumentar o comprimento da saia,de fechar todos os decotes,de aposentar a maquiagem,de usar cabelos curtos, porque são mais práticos.Ta na hora de vestir cores sóbrias e terninhos de

tweed,De falar pausadamente...Aproveitar cada instante que respiramosE ...finalmente envelhecer!Mas, por que envelhecer com tanta seriedade?Dentro de nós ainda é arco-íris,Há um prêmio no final do arco , depois da chuva.O futuro chegou!Que tal comemorar mais do que a passagem pela

vida?Vamos festejar com balões (mesmo que sejam

nuvens no céu),Sorvetes (ainda que diet); música cafona e saia

prensada...Contar estrelas ( só as que mais gostamos),

acreditar em sonhos,Fazer planos...Enfim, comemorar a existência!

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ConflitoMédico e monstro...

“... É como um punhal que não sai do peitoe cada vez mais fundo vai penetrando.Num momento o médico Dr. Jekyll quer

livrar-me da dor, outro se transforma em Mr. Hyde e intenta afundar o punhal até a morte.

Quer condenar-me mesmo  tendo sido absolvida.

Faltam palavras no momento de dizer-me coisas boas ou incentivar meus ideais, mas sobram momentos  para machucar, tempo demais pra destruir...

E nesta luta interior alheia, eu vou sofrendo os danos sem mais conseguir puxar o punhal pra fora de mim mesma, (o sangue das lágrimas espirrando na prole, no combate, na carreira de Paulo) minhas mãos estão sem forças, porque o coração esta fraco, rejeitado, acuado...

A esperança vendo uma única porta onde tinha tantas janelas.

Desejo que Hyde desista; que Jekyll continue, mas só você pode decidir quem quer que vencerá." (S.S.)

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AS FLORES...

Não são flores de maio, mas... São flores que tocaram a alma.

Flores sinfônicas de um janeiro inesperado.Não viajei (pra outras cidades), mas foram as

melhores férias da minha vida!Seladas por  pétalas de vitória.Vermelho e branco,  ramalhete com laço

indiscreto...Exótico como eu, perfeito como um milagre! Carmim vivo e branco  calmaria.Não tinham odor forte, mas tinham a presença da

surpresa.Aquele dia na porta  da estrela, quando o recebi,

fiquei estática.A comoção sobrepujou a   emoção;Emoção que só dei vazão quando chorei...

Chorei porque recebi flores,Choveu e as flores abriram,Chorei porque jamais esperei essa deliciosa

atitude.Chorei porque o cheiro delas era de um amor

antigo.Foi preciso somente 180° para mudar tudo.

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 Não precisou uma volta inteira de 360º para ser como antes... Voltar ao mesmo lugar.

Precisava apenas ser melhor,Apenas diferente,  Apenas "ser”... Infinitamente. O valor de ser da flor viçosa,Do botão aberto, a pessoa ideal,e o presente certo.E desta vez eu não sonhei...Eu vivi!

Ás vezes, só às vezes eu tenho vontade de brincar.Ás vezes, só às vezes eu tenho vontade de criar.Ás vezes, só às vezes em punho papel vou rabiscando.Ás vezes largo a caneta...E deixo o Ser maior vir- me compondo

Sylvia

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Deixem-me a sós com meu Pai!

Saiam todos da sala, tranquem a porta e me deixem a sós. Quero contar minhas queixas, gritar minhas

angustias , aproveitar a deixa... Quero chorar toda mágoa, quero confessar que magoei. Quero admitir que errei algumas vezes propositalmente e aceitar o castigo, mas quero me abrir contigo, Pai e mais

ninguém! Quero enumerar minhas fraquezas, quero uma audiência! Quero ser criança outra vez! Quero reivindicar o que me roubaram, quero que você, Pai, vá lá reclamar o que é meu. Quero destilar meu veneno, quero me sentir pequeno, pra caber nos braços teus! Já passei muito além dos trinta, mas ainda tenho aquela pinta acima dos olhos, perto do céu. Sou eterna adolescente, venho a ti tão carente a te encontrar além do véu.Pai, já não mais o que faço, tenho no corpo o cansaço de marcas e frustrações. Sei que és tão bom comigo, no espelho eu abrigo a imagem das estações. Gostas deste meu cabelo, e meu corpo em teu zelo tem saúde que é

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Metade de Mim /Coração de Lata

prodígio. Pai fiquei enamorada, e por paixões erradas eu verti sangue e suor. O meu tempo desperdiçado; não quero mais ver o passado, me abraça diz que acabou! Pai, que saudade tenho de ti,por isso hoje volto aqui... Quero muito o teu conselho, que me firme em meus artelhos e me faça prosseguir. Oh, Pai deixe-me deitar em colo, recomeçar carreira solo, refazer meu existir. Sei que és Pai e vês além, me castigas pro meu bem, não conta a mancha que houve em mim. Sabes o tanto que eu chorei, quando em conflito te procurei pra não me deixar partir. Pai te quero eternamente, ouves o que há me minha mente, conforta-me ou briga comigo! Pai tu és o rumo, a voz fiel, a paz que me faz adormecer, Eu te amo de toda minha alma, me conduz em tua calma,  Quero um tempo a sós contigo, meu Pai... Meu melhor amigo!

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Flores de outubro...

Dias quentes em que o solSe importa brilhando no céuE os pássaros cantam mais cedo.Para que aproveitamos melhor o diaE as noites sejam mais ternas.São rosas? Orquídeas? Margaridas? Quais são? As que vieram perfumar nossa vida...Não é um perfume passageiro, nem comum, muito menos de fácil composição.  Obra de Supremo perfumista, essências raras e marcantes e as chamaremos assim...Flores de Outubro!

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Bodas

Ouça-me é uma cançãoA voz que sai do coraçãoEu seguro sua mão para cantarOuça- me, nossa história... nosso caminho na memóriaa estrada até aqui...

Ouça-me não é preciso gritarNo sorriso dá pra notarSomos cúmplices, somos umOnde não seriamos nenhumum milagre somos nós,do coração em viva voz, sim ouça-me!

Aprouve ao Pai  conservarVês em mim e no teu olharOuça-me, ouça-me, ouça-me!Eu sussurro em teu ouvidoSe abraças meu sentidoSim há brasas de renovoEm nosso ser.

Ouça que eu agradeçoVejo os planos que hoje teço...Tua mão pra segurar,Ainda vamos muito andar,Há uma brasa aquecendo em ti ,em mim.

Esse amor não tal, nem qual

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É tesouro original,Vem de Deus que nos achouNos uniu e restaurouE hoje canto pra dizer que amo sim,

Ouça-me o mundo inteiro,Não bastou o passar dos anos,nem os sonhos que trocamos.Quando sorrires vão notar que além doMeu cantar , um sinal ratificou.

São as bodas que não crerame o amor que os venceram,São de prata e em ouro se tornarão.Tens em ti meu coraçãoEm mim vem o teu pulsarÉ minha força pra cantar,e ouço a ti...

Bodas de prata, bodas de sonhos, bodas de perdão, bodas de uniãobodas de amor!

Resposta ao cordão de Ellen)

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Metade de Mim /Coração de Lata

Li sobre o cordão de Ellen,tocou-me demais o coração,Achei que seria eu, a próxima a herdar o cordão!

Mas você com tanto cuidado, acrescentou uma esperança:Disse-me que eu era Helenae que era desde criança.

Mesmo assim uma duvida,pairava sombria no ar...Onde esta o cordão,que Helen te fez aceitar?

Olhei tuas mãos calejadasde arte e de compor...Porém não vi o cordão,vi teus versos de amor!Roubei-o de tua missão?

Sinto o mundo lá fora,porém não quero sair.será que vesti a pulseirade que Helen tentava fugir??

Sylvia Seny

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Sylvia Seny

Sózinha na cidade

Vi sua foto, senti saudade da sua voz.Quantos amigos ficaram na cidade,Quantos tenho eu neste campo feroz?Sinto-me só no fim de tarde.Bate em peito as notas da implacável, saudade!

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Ouço versos estonteantesem palavras que leio de teus punhos!Por que judias do coração arteiro,Sabes que dói teu olhar distante?Ah, poeta como descreves...O amor em suas faces mais ofuscantes.Me deixas tonta de beber teus versos...Sim, tu és perverso, coração gritante.

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Metade de Mim /Coração de Lata

Amor de alma

È a vontade de estar sempre perto,é não saber o amanhã,È querer que exista um depois...é ter o peito aberto,no seio o aconchego...È te abraçar sem medo!È ver " A história de nós dois"É um sempre-terno diferente,é mutuo, independente...È valente é amigo.Sabe qual o perigo?O perigo deste amor?É torná-lo em paixão!Porque neste estagio então,já não haverá liberdade...Te amo no fruto da alma,naquele que cala, na saudade que fala...Com zelo e sinceridade..no cozimento que chega ao ponto,estar alerta e sempre "pronto".Te amo no fruto da verdadeira Amizade!

Amo-te

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Sylvia Seny

Amo- te, é verdade!Com tudo que sou..Com o que não vês,Com o que vês também.Com tudo o que tens!Amo-te mais e além...Amo-te como convém:Como amante, como amigo, como irmão!Enfim, amo-te até mesmo sem razão.

Risco Duplo

Que surpresa sentir o pulsar no peito...Ao som da tua voz, ao cheiro do teu perfume!

E eu que pensei estar imune,Outra vez me apaixonei e com mais efeito!

Emanando a mesma dor,Ofereço-te o leito.Entre enfeites e bemóis pra ti eu canto.

E por esta insensatez...Que é meu defeito:De sentir o mesmo amor é que me espanto!

Vida?

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Metade de Mim /Coração de Lata

A vida não era monotonia.Em que mundo você vivia?Acho, eras boa porcaria...Mas então chegou o momentoque tua alma disse :nãoe de tanta insatisfaçãosua revolta gritou.Não atingiu a cabeçaDentro dela foi que tocouAtingindo a consciênciade pronto, se rebelou.Discuto de Deus o papelde adoçante da vida, ser melPois nos deu o livre arbítrioPra gente se realizarDeu saúde, inteligênciae força pra gente lutarE a mocinha, acordandodeixou de lado a adolescênciapra,como mulher, se realizarQuem aprende não é irreverenteOusadia é dom que a genteprecisa uma hora assumirNão ligue o mundo deixarNem nova verdade, viverbater no peito, ufaniaé muito fácil de fazerMas tu és mulher vencedorae como toda lutadoraNovas brigas , vai vencer

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Sylvia Seny

( J.H.B)

Dorme a casa...

É madrugada, a incógnita perfeita..não me dizia nada, o sonho esta á espreita.Queria sentir sono, embora o cansaço do dia.fiquei desconectada, mesmo assima lida me confundia.Passei pra ver se no nada,o Tudo também podia,se não te encontrei na estrada,Aurora de um novo dia!Passei pra dizer-te:Bom Dia!!!!!!!!!!!!!!!!!♥

Pseudo Paternal

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Metade de Mim /Coração de Lata

Você foi...Quem me deu o conselho mais sério...(Talvez não o mais sábio).O castigo mais duro...O que mais doeu com certeza!Foi a pessoa mais critica,e a que eu não conhecia, julgando conhecer..Já não recebo suas cartas, as frases e os conselhos.Estou dentro do seu coração fraterno,busque-me em teu espelho!Você também é meu incentivo de subir ao palco amanhã.Mas...Tu não estarás entre a platéia.Você nem sabe que eu estarei lá!Você não sabe mais o que faço.Sei que se orgulharia de saber onde cheguei.È a saudade do abraço de bom dia,da voz ao telefone, do compartilhar as aflições...Foi a ultima verdade dos amigos!Não carrego seu sobrenome?Não! Mas, leia bem as entrelinhas.Sou herdeira da tua paz...Pensavas que falava eu de um homem?Eu falava da distância de um pai.

Canção da Saudade

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Sylvia Seny

Frescor que invade minha almaOuço tua voz ao longe...Lembro-me das tuas palavras.Teu perfume em mim se esconde.Oh meu peito, tenha

calma!Quando te verei de novo?Teu olhar, o teu sorriso,teu ar de graça... Eu preciso,Abraçar-te como nuncae declarar sem temer:Que te amo, oh irmã minha!És integrante do meu ser.Deixo-te uma rosa eterna,deixo-te versos e poemas,deixo-vos a minha alma: Selma, Liu e Lena's.

Um fiozinho...

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Metade de Mim /Coração de Lata

Um fiozinho de preocupação..Um fiozinho de tristeza...Um fiozinho de emoção...Um fiozinho de desteza...Um fioziho de egoismo...Um fiozinho de ansiedade...Um fiozinho de decepção...Um fiozinho de verdade!Um fizinho de realização...Um fioznho de frustração...Um fiozinho de marasmo...Um medinho de fiasco!Um fiozinho de preguiça...Uma mágoa que enguiça!Um fiozinho de sofrimento...Um fiozinho do passado...Um fiozinho de esperança...Um fiozinho a ser apagado!Um coração que sorri,sem gosto, pra não ser derrotado!

Como dizia a menina poetiza:respirar é imprescindível,

viver é ssencial!

Lágrimas

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Sylvia Seny

Suave vertente que banha o rostolavando o desgosto de um grande mal.Lágrimas formam os rios,e pranteiam a morte sem nunca voltar.Gotas da tempestade, que faznela se afogar.Esperança é o salva-vidas quetira você deste grande mar!Que seja como diz a escritura,que chegue o fim da "noite" eno raiar do dia, com a manhã,também chegue a alegria.Pois, solidão não é estar só.È estar cercado de pessoas e mesmo assimsentir falta de si mesmo.Quando jorram brilhantes lágrimas,ofuscando o olhar, caminhando á esmo.O que despertou o manancial?Palavras agudas como espadas,que rasgam mais que bisturis.Deixam eminente no peito,a alternada cicatriz!

In Memorian

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Metade de Mim /Coração de Lata

Compus linhas paralelas...fontes, luzes, linda aquarela.Lágrimas que correm,suspeita janela.Saudade que escorre na face amarela.

Musicas e sonhos de eterna donzela.Lembra a adolescência,saudade que apela.Seu rosto em meu espelho,dor que não congela!Diria mil vezes " te amo",se voltasses a passarela.

Já desfilaste no tempoe recolhido em hora não bela!Acabado foi o teu ato;Pois, nosso já não eras.Saístes entre os aplausosde lágrimas e flores...E nunca mais te abraçamos:Saudade dos teus amores!

(my brother: Samuel)

Decisão

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Sylvia Seny

 

Decisão que custa..dói , exaspera, assusta.Queria dizer-te que não!Não se apegue em nada,a lágrima guardadavence os sonhos seus.Deixe coerente, dirigir a gente:O trabalhar de Deus!Ninguém conhece bem,o que és e o que há além...como Ele pode ver.Mesmo que difícil, esqueça oimpune vicio; deixe Deus agir.Entregues o teu sere sem reservas vai ver...Feliz será o por vir.

Anotações no diário

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Metade de Mim /Coração de Lata

Não sei se diário ou agendamas, sei que meu peito desvendao eco da dor que sinto.E registra o dia-a-dia:trabalho, valores, casa..meus filhos! A pedra de absinto.

Também desnuda o sofrimento,o preço tão alto que aguentoda fraqueza que foi vencida!Quisera esquecer o passado.pois, nua minha alma ao acaso...o valor pesado da vida!

Queria fazer o que acho,mas em tormento um racho,na relação tão querida.E eu que tanto lutei.sem querer me desvieida água viva no tachopor causa, do beijo do abraço...Pela dor vou sendo vencida!

Sem Você

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Sylvia Seny

Tão longe de um mundo que conheci,Milhas da cidade onde nasci.Já não me sinto tão sozinha sem você.Você que eu tanto amei.Você que ter eu almejei.De repente descobri que posso viver,Já não vou morrer sem você!Sem você reencontrei um lugar,Achei onde posso ficar.Tenho mesmo que me amar, pois,Como eu poderia amar alguém,Se a mim não fizesse esse bem?Viver sem você!A dor foi só o amadurecer.E todas as cartas que te escrevi,Da cidade sob as águas?Um dia eu vou postar,Hoje só quero apostar.Certamente ainda há sonhos em mim.Ainda há brilho no olhar.A saudade já não vai me fazer chorar.Eu posso viver! Sim é mais que sobreviver,Que posso sorrir, sem você!Talvez ainda não saiba onde vou.Procure-me! Já não estou aqui.

Sabes ainda quem sou?

Expressão

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Metade de Mim /Coração de Lata

Não diga que não falei das flores..Só te falei das doresque também espinhos tem!Corta os pulsos dessa imensa saudade,ficou naquela cidade,bem mais do que os olhos vêem!Ficou tudo que sou meus planos, aonde vou?Por que não ficou a solidão também?Essa malvada me acompanhou,desbrava o que não sou,E faz que insana, eu perca seu bem.Me ame com meus defeitos,pois, neles bate meu peito,o sorriso que lá deixei...Oh volta á minha cidade...Deixei mil rostos na verdade,Minha vida eu lá deixei!

Sozinha

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Sylvia Seny

Quando meus olhos te viram,eu enxerguei a mim mesmo...não notei que como eu,você caminhava a esmo.Me encantei com você...Nós cantamos juntos,musicas antigas,letras que não se perdem no tempo!Eu me apaixonei pela vida,eu me via em seus olhos,tanto que mudei a cor das lentes...Eu queria ver você!Tentei tanto...O tempo passou.Olhando o espelho descobrique não podia vê-lo.Você simplesmente nunca esteve ali!Nunca por completo,sempre eqüidistante...Olhares perdidoslágrimas confusas...Como não percebi?Os anos passaram e eu não tinha você.Então você partiu e levou também a mim.Estou me procurando,me detenho em versos,Que forma perversa de amor.Ainda te amo?Quando eu reencontrar-me no espelho...Estarei amando á mim mesmo!

Milagre

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Já os olhos fechados,nem queria ver a vida..Ainda custava-me a lida,o relógio do progresso atrasado.E eu me havia negado,a chance de recomeçar,já ia perdendo o ar...Mas teu amor recém-chegado,num abraço me envolveu ,tão puro e lindamente.Salvando assim o meu "eu",do frio que morbidamente,anunciava a partida!Seu calor foi tão eficaz,não vou deixar-te nunca mais!E eu que tanto te procurei,nos seus olhos desvendei:Um amor que vence tudo!O sempiterno que me envolveu,acendendo a luz no breu,com lagrimas me alegrei,pois aquele que saudei..Era simplesmente Deus...Acendendo a luz do mundo!

Eu acredito54

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Sylvia Seny

Eu acredito na pureza da amizadenaquela que não tem idadeé a criança que em nós trazemosÉ um querer sem preconceitonão tem cor, não tem raça..não te sexo, nem defeitoMas traz a virtude no peitode querer bem, sem interesseE esse é seu maior efeitopois revela-se no amor,na simplicidadeNo compartilhar a dor,a alegria, a saudade.E a inspiração de compor pra tiessa verdade:meu amigomeu irmãoas vezes minha ponte,outras sou seu monte..Como anjos, amigos são!

De tudo, á mim

Queria ser atento á mim mesmodo que :"de tudo ser ao meu amor",

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Como dizia “Vinicius”...Esperto no momento pra não ter dor.Estar alerta á mera necessidade, ao que sinto,ao que hoje quero e ao que desejo com ardor...Esquecer o mal que á mim fizeram,e cantar um Deus que não é mero...É real, imortal e tem-me amor!

Pra sentir seu calor, rasguei teu terno,e minha alma cálida sua voz rasgou,Transformando em mártir o amor sincero,e fingindo ter ...dele esplendor!Esqueceu tão rápido do gosto efêmero,e como Vinícius, foste enganador.Pois o infinito não durou um dia,Seu machismo grato... És um ditador!

Posto que é chama, isso é covardia..Pois a chama ardia dentro do meu ser,E eu amava a vida, e ela me amava,e tinha muito orgulho no que refletiaVia no espelho a virtuosa euforiade ser pura, inocente... De ser eu somente!Agora somos duas, eu e aquela tua..Mas, me importo comigo, e devoto á mim.Serei agora atenta, á um amor sem fim..Antes de doar-me aos outrosDoou-me ao ego contidoE meu "autoerego"?Prendo-o comigo!

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Sylvia Seny

DesperdícioQuem não quis minha amizadeJogou fora um grande bem...jogou fora a oportunidade, ea sinceridade que convém.Jogou fora o "amar de verdade"!

Quem não quis minha companhia...Perdeu de virtudes compartilharperdeu a pureza de uma meninaperdeu o prazer de sonhar!

Pretensiosa minha sina?Oh, não vais te abalar.A vida corre como um rioe a água não para pra estancar.

Quem não viu o meu sorriso,Não sabe o que é felicidade...Ser amigo é preciso.Ter é mais cumplicidade!

Caminhar  Caminhar, só porque vi a terra na estrada, tão solta

desfigurada...Alguém precisa andar por cima dela, colocar a terra no

lugar, assentar a poeira.

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Metade de Mim /Coração de Lata

  Caminhar, só porque o caminho estava á minha frente, porque não havia bifurcações ou paralelas, só porque parar seria mais fácil e desistir mais cômodo.

  Caminhar, exatamente porque a inércia não pôde me segurar em seus braços, porque eu me lembrei dos teus passos e o caminho é longo e demorado...

  Caminhar, tão simplesmente porque é a decisão certa e porque essa estrada manifesta o desafio de vencer o meu gigante...

  Mas, quando eu lembrei onde ia chegar, eu passei a correr, a pular, a extinguir do corpo o cansaço e pra descansar em teus braços eu prossigo e não quero voltar!

Quer saber quem eu sou?

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Sylvia Seny

Quer saber quem eu sou? Suba as escadas, vire á esquerda,E abra a porta direita daquele armário que me deu... Lá encontrará uma enorme pasta preta, tão cheia de registros,Que se tornaria fácil saber quem sou não fosse pelo fato de que é cheia de senhas. Senhas que você mesmo colocou, mas não lembra. Têm tantas imagens e relatos, casos registrando os fatos... As flores, o perfume e o vinho, têm passagens, lembranças de viagens e um pouco mais de altitude... Tem o cheiro das montanhas de quando descemos a serra, Tem a sensação de vento no rosto quando subimos á deriva... Ah! Quem dera lesses tantas estrelinhas, quem dera percebesses... Porém não se exaspere, nem se confunda, vem vire a direita novamente e logo mais a frente esqueça o arquivo vivo, a pasta e a ferida, e com tua mão suada e o remorso de quase nada escreve em mim uma página um pouco mais vívida!

Sylvia R. S . Feitosa