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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA TRABALHO DE CONCLUSÃO DO CURSO DE GEOGRAFIA T R A G É D I A A N U N C I A D A: “A FAVELIZAÇÃO PROMOVE A EXPANSÃO TERRITORIAL NO SÍTIO URBANO DE BELÉM” EDER JÚNIO LIBÓRIO

Monogafia de Gradução: Produção do Espaço urbano na Metrópole da Amazônia:Belém

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Page 1: Monogafia de Gradução: Produção do Espaço urbano na Metrópole da Amazônia:Belém

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁCENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS

DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIATRABALHO DE CONCLUSÃO DO CURSO DE GEOGRAFIA

T R A G É D I A A N U N C I A D A:“A FAVELIZAÇÃO PROMOVE A EXPANSÃO

TERRITORIAL NO SÍTIO URBANO DE BELÉM”

EDER JÚNIO LIBÓRIO

Belém – Pará

2002

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁCENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS

DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIATRABALHO DE CONCLUSÃO DO CURSO DE GEOGRAFIA

T R A G É D I A A N U N C I A D A:“A FAVELIZAÇÃO PROMOVE A EXPANSÃO TERRITORIAL

NO SÍTIO URBANO DE BELÉM”

E D E R J Ú N I O L I B Ó R I O

9 7 0 3 5 0 0 5 – 0 1

BANCA EXAMINADORA

_______________________________ Conceito : ___Bom__________ Prof. Msc. Pedro Rocha Silva

_______________________________ Conceito : ___Excelente______ Profª. Msc. Suelene Leite Pavão

_______________________________ Conceito : ___Excelente______ Prof. Dr. Roberto M. de Oliveira

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Belém, 28 de Junho de 2002

“Quando a discussão ética é feito isoladamente,

despolitiza o debate de projetos. A ética não deve ser o

centro, mas a base da discussão”

Tarso Genro –Porto Alegre/RS

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“A política nada tem haver com a sala de aula, pois

as virtudes da política são incompatíveis com as do

professor. E não se pode ser ao mesmo tempo homem de

ação e homem de pensamento”

Max Weber

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“È possível ser um bom cidadão sem possuir virtude;

contudo isso o faz apenas um homem de bem.”

Aristóteles

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D E D I C A T Ó R I A

Dedico essa Monografia as mulheres mais importantes em minha vida:

1º - À Dona Angelina Maria de Jesus, por ser ela, a real responsável por

esse e todos os sucessos a que eu venha conquistar em minha existência,

pois seu carinho, educação, vivência familiar e exemplo de vida foram

fundamentais e estimularam minha perseverança e dedicação acadêmica

como o será em toda a minha vida. Todo aprendizagem de mundo me

transmitido amorosamente por minha amada Mãe adotiva, e todo o amor e

consideração dispensado a mim valem bem mais que todos os títulos que

eu possa a vir receber;

2º - À Dona Barbara de Jesus Libório, minha mãe biológica; sem ela minha

aventura na Terra não seria possível. Seu amor de Mãe, sua “garra”, força,

fé e história de vida me valem de inspiração a vencer todos os desafios

que cruza(re)m meu caminho sem fraquejar jamais;

3º - E por fim à minha adorada Consorte Srª. Darcilene Guerra da Silva,

que os cuidados, tolerância e amor dispensado me conduziram, e devem

conduzir-me durante toda a vida, a mais essa vitória, cujo todos os louros

devem ser imputados a valorosa e amada mulher, esposa, e em breve,

Mãe...

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A G R A D E C I M E N T O S

Agradeço em primeiro lugar à Deus que ofereceu a dádiva da vida, e

que me ilumina e me protege em todos os momentos, mesmo aquele em

que não mereço a sua infinita misericórdia;

Ao Departamento e Colegiado de Geografia e a Universidade federal

do Pará como um todo;

À Todos os Professores que se dedicaram em promover a construção

de meu conhecimento profissional e cidadão, em especial a meus

Orientadores Professores Roberto Monteiro de Oliveira e Fátima;

Aos funcionários do Departamento Evaldo e Angela, que servem de

forma brilhante o Departamento e Laboratório de Geografia da UFPA;

À todos os profissionais do Centro de Filosofia e Ciência Humanas,

na pessoa da Diretora do Centro Professora “Naná”;

Aos membros da Banca Examinadora, Professor e amigo Msc. Pedro

Rocha e a Professora e amiga Msc. Suelene Pavão;

À Companhia de Desenvolvimento e Administração da Área

Metropolitana de Belém (CODEM) e a Primeira Comissão Demarcadora de

Limites (PCDL), respectivamente nas pessoas do Sr. Nestor e Dalberson,

que cordialmente nos cedeu as plotagens das representações

cartográficas presente na monografia;

Ao amigo e colega de profissão Danny Souza (o Índio da Geografia),

que editou os croquís existente na monografia, além de ter sido durante

todo o período acadêmico um excelente companheiro;

Ao técnico de informática Júnior por ter reparado voluntariamente

nosso computador;

À todos os moradores do Conjunto Jardim Sevilha, objeto de nossa

pesquisa, e em especial aos Senhores Sidney Rocha, Alberto Silva, João

Vigílio, Altair Rocha, Sérgio das Vísceras e ao Sr. Derocí L. do Nascimento

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(o Ceará), que gentilmente colaboraram conosco sendo nossos

informantes;

À boa amiga Renata Paixão, cujo o exemplo de companheirismo e

lealdade fortalece nossa esperança num mundo mais solidário e humano;

À amiga e camarada Regina, que sempre contagia com a vossa

alegria e ternura com que trata a todos em sua volta;

À todos os amigos (as) e companheiros (as) da “Turma do Guati”,

por ter nos proporcionado com que o período acadêmico ter sido

extremamente agradável, festivo e cheios de “Imperatividade” positiva;

Aos amigos (as) veteranos (as), atuais geógrafos (as), Expedito,

Sueli, Fabiano Bringel, Braulio, Túlio, Fernanda, e em especial, ao saudoso

Márcio Gley, com quem compartilhei bons momentos na academia, e cujo

as atitudes e posturas inspiram-me a um comportamento ético, a

motivação e atuação político-social;

Aos colegas e companheiros do Diretório Central dos Estudantes

(DCE), com quem compartilhei a gestão do DCE da UFPA do último ano;

À todos os colegas estudantes do curso de Geografia e a todos que

diretamente e indiretamente contribuíram para elaboração desta

monografia.

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Ì N D I C E D E T A B E L A E D E Q U A D R O S

1.0T A B E L A S

1.1 ESTRATIFICAÇÃO SOCIAL POR RENDA....................................... 29

1.2 DISTRIBUIÇÃO GEO-ESTATÍSTICA DA POPULAÇÃO E DOS DOMICÍLIOS DE BELÉM..................................................................... 75

1.3 PROCEDÊNCIA DOS MORADORES DO DISTRITO ADMINISTRATIVO DO BENGUÍ – 1982............................................ 81

1.4 FORMA DE AQUISIÇÃO DO IMÓVEL (%)................................... 108

1.5 TEMPO DE MORADIA NO RESIDÊNCIAL (%)........................... 108

2.0 Q U A D R O S

2.1 QUANTIFICAÇÃO E PERCENTUAL DOS INFORMANTES POR SEXO E IDADE.................................................................................... 125

2.2 PROCEDÊNCIA NATAL MORADORES DO JARDIM SEVILHA 126

2.3 NÚMERO DE HABITANTES (POPULAÇÃO RELATIVA EM M²) POR APARTAMENTO................................................................................. 128

2.4 PERCEPÇÃO DOS MORADORES QUANTO A QUALIDADE DE SUA ALIMENTAÇÃO................................................................................. 130

2.5 PODER AQUISITIVO E/OU RENDA FAMILIAR DOS MORADORES DO CONJUNTO.................................................................................. 131

2.6 RELAÇÃO DE TRABALHO EM QUE ESTÃO INSERIDOS OS MORADORES DO SEVILHA........................................................... 131

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2.7 FORMA DE AQUISIÇÃO DO IMÓVEL......................................... 132

2.8 PERÍODO DE RESIDÊNCIA MORADORES DO CONJUNTO... 132

2.9 GRAU DE ESCOLARIDADE DA POPULAÇÃO SEVILHENSE. 133

2.10 MOVIMENTO MIGRATÓRIO INTRA-URBANO (POR DISTRITO ADMINISTRATIVO) REALIZADO PELOS MORADORES.......... 134

2.11 GRAU DE SATISFAÇÃO (OU NÃO) DOS MORADORES PELO LOCAL DE RESIDÊNCIA.................................................................. 135

2.12 FATORES POSITIVOS E NEGATIVOS, INTERNOS AO CONJUNTO IDENTIFICADO PELOS MORADORES..................................... 136

2.13 NÍVEL DE PREOCUPAÇÃO DOS MORADORES PARA COM O FUTURA DO CONJUNTO................................................................ 136

2.14 SENTIMENTO SUBJETIVO DOS MORADORES PARA COM A COMUNIDADE..................................................................................... 137

2.15 GRAU DE PERCEPÇÃO DOS MORADORES QUANTO A ENTIDADE REPRESENTATIVA LOCAL........................................................... 142

2.16 GRAU DE REPRENTATIVIDADE DA ENTIDADE LOCAL (AMOJAS) JUNTO AOS MORADORES............................................................... 142

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Ì N D I C E D E F I G U R A S

1.0 F I G U R A S

1.1 MONUMENTO DO MARCO INSTITUCIONAL DA PRIMEIRA LÉGUA PATRIMONIAL DO MUNICIPIO DE BELÉM........................................... 44

1.2 CONFIGURAÇÃO DO CENTRO COMERCIAL DE BELÉM.................. 54

1.3 LOCALIZAÇÃO GEOGRÁFICA DO MUNICÍPIO DE BELÉM............... 71

1.4 CROQUI DO DISTRITO ADMINISTRATIVO DO BENGUÍ.................... 82

1.5 PLANTA URBANA DA OCUPAÇÃO JARDIM SEVILHA E RESIDENCIAIS ADJACENTES................................................................................................. 84

1.6 DELIMITAÇÃO DAS MICRO BACIAS HIDROGRÁFICAS DO DISTRITO ADMINISTRATIVO DO BENGUÍ................................................................ 87

1.7 POÇOS ARTESIANOS. PROFUNDIDADE 12 METROS......................... 93

1.8 A PISTA PRINCIPAL ANTES DO SANEAMENTO (ASFALTAMENTO) 98

1.9 REDE DE ABASTECIMENTO ENERGIA ELÉTRICA REGULARIZADA 115

1.10 FESTA DE INAUGURAÇÃO DA PISTA PRINCIPAL ASFALTADA PELO ORÇAMENTO PARTICIPATIVO................................................................. 117

1.11 FOTO AÉRIA DO CONJUNTO JARDIM SEVILHA................................ 124

1.12 ESPAÇO INTERNO DOS APARTAMENTOS DE 40 M² CONSTRUÍDOS 128

1.13 FOTO DA PISTA PRINCIPAL ANTES DE SER ASFALTADA.............. 139

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S U M Á R I O

CONSIDERAÇÕES INICIAIS..................................................................................................... 01

1.0 REFERÊNCIAL TEÓRICO............................................................................................... 04

2.0 INVESTIGAÇÃO ETIMOGRÁFICA E FILOSÓFICA ACERCA DAS CATEGORIAS

E/OU PALAVRAS CHAVES FUNDAMENTAIS À MONOGRAFIA. ....................... 12

3.0 ORIGENS HISTÓRICA,JURÍDICA E SÓCIO-MATERIAIS DA QUESTÃO DA

MORADIA POR PARTE DA POPULAÇÃO DA BAIXA RENDA............................. 17

4.0 EXCLUSÃO OU SEGREGAÇÃO: TERMOS EM DISCUSSÃO.................................. 26

5.0 FAVELA: UM TERMO E UMA REALIDADE EM DISCUSSÃO............................... 30

6.0 DA BAIXADA A PERIFERIA DISTANTE: MIGRANTES EM BUSCA DE UM

LUGAR PARA SE VIVER............................................................................................... 41

7.0 RESGATE DA FORMAÇÃO TERRITORIAL DA CIDADE DE SANTA MARIA DE

BELÉM DO GRÃO PARÁ.............................................................................................. 57

8.0 PROCESSO DE VERTICALIZAÇÃO EM BELÉM: ORIGEM GEO-HISTÓRICA DA

FORMA DE MORADIA NA FAVELA EM ESTUDO.................................................. 76

9.0 FORMAÇÃO ESPACIAL E TERRITORIAL DO DISTRITO ADMINISTRATIVO

DO BENGUÍ....................................................................................................................... 79

10.0 LOCALIZAÇÃO,ASPECTOS MORFOCLIMÁTICOS E AMBIENTAIS DA ÁREA EM ANÁLISE.............................................................................................................................. 82

11.0 CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA E JURÍDICA DA CONFIGURAÇÃO E USO DO

SOLO DA ÁREACOMPREENDIDO PELO RESIDENCIAL JARDIM SEVILHA... 99

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12.0 ANÁLISE GEO-ESTATÍSTICAS SOBRE A PERCEPÇÃO COLETIVA DOS MORADORES ACERCA DO JARDIM SEVILHA...................................................... 122

CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................ .................................143

BIBLIOGRAFIA............................................................................................................................ 153

ANEXOS...................................................................................................................................... 158

R E S U M O

A monografia que se apresenta objetiva a avaliação para a Conclusão do Curso de

Bacharel e Licenciado Pleno em Geografia realizado pelo Departamento de

Geografia do Centro de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal do

Pará, onde nós utilizamos várias escolas do pensamento geográfico, e também

teorias e conceitos das mais diversas áreas do conhecimentos científicos.

Iniciaremos demonstrando que a lingüística sempre fora utilizada como instrumento

ideológico dos grupos sociais hegemônicos para manipular e conservar o status quo

e o poder sobre os seguimentos dominados. Discutiremos depois como a questão

da desigualdade sócio econômica se instalou, e tradicionalmente, se consolidou na

sociedade brasileira, concomitante a formação do território nacional. Veremos que

termos e entendimentos são erroneamente utilizados a fim de satisfazerem

interesses ideológicos, sendo que acabam banalizados sem que impactos sejam

sentidos na realidade sócio espacial. Iremos perceber como ocorreu a formação

territorial da cidade de Belém, e como uma cidade provinciana, construída sob uma

estratégia geopolítica militar se transforma em uma metrópole regional periférica na

economia global. Nos é explicitado a influencia do êxodo rural-urbano no processo e

na forma de ocupação e uso do solo do sítio urbano da Região Metropolitana de

Belém (RMB), e em uma escala intra-urbano reflete na configuração e estruturação

da área de expansão da RMB, em especial no Distrito Administrativo do Benguí.

Verificaremos os impactos ambientais negativos que esta forma irracional de

ocupação, sem um mínimo de manejo sócio ambiental, traz para o meio; e quais as

implicações deste processo para os homens que coabitam e se relacionam com

esses espaços geográficos degradados. Estudaremos o processo de espacialização

que, efetivamente, se evidenciou na área que compreende a ocupação clandestina

do Conjunto Jardim Sevilha, denotando quais interesses e causas que contribuíram

para a ocorrência de tal fenômeno. E por fim, nos dedicaremos a análise geo-

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estatística da realidade contemporânea da área em estudo e dos sujeitos sociais

que a compõe, sendo que tentaremos propor alternativas de superação de algumas

questões intrínsecas a área, bem como identificaremos a percepção dos moradores

em meio a uma (re)territorialização forçada, e a uma árdua construção de uma

identidade urbana e industrial, tendo como complicador a nova ordem global imposta

pela hegemonia da era técnico-científica e informacional, capitaneada pelas países

desenvolvidos e imperialistas.

A B R I D G E M E N T

The monograph that comes objectifies the evaluation for the Conclusion of the Course of Bachelor and Full Licentiate in Geography accomplished by the Department of Geography of the Center of Philosophy and Human Sciences of the Federal University of Pará, where we used several schools of the geographical thought, and also theories and concepts of the most several areas of the scientific knowledge. We will begin demonstrating that the linguistics had always been used as ideological instrument of the groups social hegemonycs to manipulate and to conserve the status quo and the power on the dominated followings. We will discuss later as the economic inequality partner's subject he/she settled, and traditionally, he/she consolidated in the Brazilian, concomitant society the formation of the national territory. We will see that have and understandings are used erroneously in order to they satisfy ideological interests, and they finish banalieds without impacts are felt space partner in fact. We will notice as it happened the territorial formation of the city of Belém, and as a provincial city, built under a strategy military geopolítics they becomes an outlying regional metropolis in the global economy. It is we to explicit it influences it of the rural-urban exodus in the process and in the occupation form and use of the soil of the urban ranch of the Região Metropolitana de Belém (RMB), and in an intra-urban scale he/she contemplates in the configuration and structuring of the area of expansion of RMB, especially in the Administrative District of Benguí. We will verify the negative environmental impacts that this irrational form of occupation, without a minimum of handling environmental partner, brings for the middle; and which the implications of this process for the men that cohabit and they link with those degraded geographical spaces. We will study the espacialização process that, indeed, it was evidenced in the area that understands the secret occupation of the Conjunct Jardim Sevilha, denoting which interests and causes that contributed to the occurrence of such phenomenon. It is finally, we will be devoted the geo-statistical analysis of the contemporary reality of the area in study and of the social subjects that it composes it, and we will try to propose alternatives of surmountion of some intrinsic subjects the area, as well as we will identify the inhabitants' perception amid a forced (re)territorialization, and to an arduous construction of an urban and industrial identity, tends as complicator the new global order imposed by the hegemony of the technician-scientific age and information, captained by the developed countries and imperialists.

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CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Adotamos, como objeto de pesquisa na elaboração de nosso trabalho

de conclusão de curso (TCC), a forma de ocupação clandestina, o uso do solo urbano e

os processos que configuram as áreas de expansão da Região Metropolitana de Belém

(RMB), tendo como ênfase a discussão sobre a (re)territorialização e a (re)construção

da identidade dos sujeitos responsáveis por essa espacialização, em virtude de sermos

um desses atores e morar em uma dessas ocupações.

Discutiremos, especificamente, o caso do Conjunto Residencial

Jardim Sevilha, onde residimos, e para tal lançamos mão de inúmeros instrumentos

informativos para subsidiar a construção do conhecimento sobre a área em questão,

desde artigos de jornais e entrevista com moradores pioneiros da área, passando por

um minucioso estudo bibliográfico acerca de teorias afins que oferecessem a devida

propriedade a pesquisa.

Teremos a presunção de apresentar-lhes alguns novos termos,

categoria e conceitos geográficos e/ou redefini-los; por exemplo: economia ilegal,

favela vertical, etc.; pois no decorrer da pesquisa percebemos a indispensável

necessidade de abordá-los, definindo-os de forma clara e contundente, para de posse

deles podermos melhor interpretar fenômenos sociais freqüentes no local, e que

refletem, em escala micro, a sociedade atual.

Partiremos da premissa de que a questão do uso e propriedade do solo

no Brasil tencionou consideravelmente a partir da promulgação da Lei da Terra em

1850, pelo Senado Federal, que definiu que a posse da propriedade e aquisição de

terras só poderia ser feito através da compra, salvaguardando algumas e limitadas

peculiaridades e direitos adquiridos, favorecendo consideravelmente os interesses dos

latifundiários da época.

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Desde então a questão imobiliária vem se acirrando década à década,

regime à regime, culminando em escala local e temporal, no fenômeno atual e

freqüente que ocorre nas áreas urbanas, a exemplo da ocupação do Conjunto Jardim

Sevilha, localizada no Distrito Administrativo do Benguí (DABEN), mais

especificamente no bairro Parque Verde, na cidade de Belém capital do Estado do

Pará.

Em virtude da impotência, até certo ponto proposital do Estado em

todo os seus níveis, para solucionar os problemas e desequilíbrios sócio-econômicos e

culturais causados pela herança colonial e agravados pelo sistema capitalista; as

mazelas sociais se ampliam e as contradições tornam-se mais complexas.

Sendo assim, os agentes modeladores do espaço urbano de baixa renda

são obrigados a se adequarem à realidade urbana, adversa à sua condição e posição

social, e a traçarem estratégias e ações alternativas de sobrevivência, que geralmente

confrontam com os interesses dos agentes hegemônicos e também com as legislações

vigente numa sociedade capitalista, “justificando” que por sua vez a parcialidade das

ações governamentais a favor dos modeladores abastados.

Tal processo de ocupação, configuração e uso do solo urbano

organizado por meio de diferentes agentes, relações, interesses e métodos, produz um

espaço complexo em sua forma, conteúdo e funcionalidade, e ainda repleto de

antagonismos, contradições e conflitos, devido sobretudo ao caráter dialético de sua

consolidação.

A fim de elucidar os fenômeno supracitados, nós realizamos uma

exaustiva pesquisa que buscou informações na história da cidade e/ou no seu processo

de formação territorial, explorando as respectivas implicações sócio-ambientais e

psicossociais que impuseram impactos a esse espaço geográfico e aos sujeitos que nele

habitam. Considerando que os fenômenos naturais não determinam o desenvolvimento

da história que os homens constróem onde habitam, contudo, reconhecendo que esses

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fenômenos impõe facilidades e dificuldades a adaptação dos grupos sociais que optam

em estabelecerem-se em um dado ambiente, portanto constituem-se em elementos

fundamentais a suas respectivas evoluções técnicas e de territorialidade, nós

procuramos também explorar as informações ecológicas e hidrogeomorfológicas que

nos conduzissem as respostas mais verossímeis e olísticas possíveis.

Houve também de nossa parte, uma grande preocupação quanto a

representação cartográfica local, que por sua vez foi trabalhada a fim de demonstrar

visualmente a realidade analisada, e para tal um importante instrumento utilizado foi a

ferramenta de software Auto Cad. R14 e Auto Cad. Map, e os demais instrumentos de

informática necessários a elaboração da pesquisa.

Enfim é sobre esses fenômenos sociais, ambientais e urbano que

iremos discorrer; buscando, por meio dessa monografia, a sua elucidação. A partir do

capitulo seguinte vocês poderão nos acompanhar neste debate científico, cuja a valia

reside em seu poder de refletir, com muita propriedade, uma realidade vivida, sentida e

percebida quotidianamente por muitos e, até hoje, compreendida por poucos,

elucidaremos fatores que, se considerados, servirão de instrumentos de aplicabilidade

real àqueles que se interessarem por trabalhar na promoção da melhoria da qualidade

de vida da população migrante, segregada, e empobrecida de nossas grandes cidades

metropolitanas...

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Capitulo I

REFERÊNCIAL TEÓRICO

Em termos de sustentação teórica, tentaremos fazer uso, o mais

amplamente possível, de todas as ramificações da ciência geográfica associando-a aos

mais diversos saberes interdisciplinares.

Ciente que a maior parte da população das grandes cidades industriais

européias do século XIX vivia em condições insalubres, situação esta criada pelo

desenvolvimento do capitalismo industrial, onde as disparidades entre o crescimento

econômico e a qualidade de vida eram explicita, na Amazônia como área de expansão

capitalista, as mesmas implicações foram sentidas.

Com intuito de mitigar estes impactos e de orientar o crescimento das

cidades, remediar os problemas sociais e condições inaceitáveis em que vivia a

maioria da população urbana, o Estado adotou o planejamento urbano, intervindo de

maneira direta através de construções, e indireta por meio de leis que “orientavam o

uso e ocupação do solo urbano”.

Assim o estado otimiza o uso e ocupação desse espaço no sentido de

ampliar seu poder de controle sobre o mesmo e seus habitantes, operação mascarada

pela concepção estética hegemônica e pelo discurso de salubridade e de atender os

anseios e problemas comuns, que naquele momento reproduz-e-ia no paradigma da

Belle Epoque. Esse por sua vez, era um modelo cultural, urbanístico-arquitetônico e

estético, que exaltava o requinte, o luxo e a ostentação, e fora adotado pela elite

Amazônida, que se caracterizava por valorizar os ideais e estilos diversos importados

e/ou influenciados do modos de vida vivenciados na Europa e, sobretudo, na França do

final do século XIX e início do século passado.

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Dessa feita os trabalhadores de baixa renda, durante todo o período do

século XX, foram cada vez mais empurrados para as periferias a fim de

“descongestionar/arejar” as áreas centrais das cidades, para facilitar a especulação

sobre os terrenos, assim o centro da cidade foi reorganizado segundo a lógica estética,

racional e funcional do poder, enquanto que a periferia serviria de “escória urbana;

como nos declara Lucci :

“(...) historicamente, a ocupação do solo urbano empurrou a

população mais pobre para a periferia ou para as áreas centrais

deterioradas, de acordo com a necessidade do planejamento urbano

(...)” ( 1997; pg. 211).

Entenda-se aí, a necessidade do planejamento urbano como as regras

do capitalismo irracional e/ou desumano, onde os interesses do Estado e das grandes

empresa, hoje as imobiliárias, são prioridades em detrimento das carências da parcela

majoritária da população.

“... A cidade, portanto resulta da utilização capitalista do espaço

físico, onde é a relação de mercado que controla a operação de

apropriação e uso dos espaços urbanos”... (id.)

Por outro lado, podemos contar com o chamado planejamento

participativo, que surge tardiamente em meados da década passada, regida sob uma

ótica mais justa e democrática, pode amenizar as disparidades e distorções do

urbanismo.

Segundo o que Pedro Demo nos revela, existe componentes

fundamentais ao planejamento participativo, são eles: o primeiro é o autodiagnóstico

ou consciência critica; que pode receber“(...) apoio externo de técnicos, professores,

pesquisadores, mas em ultima instância deve tornar-se apropriação da comunidade”

(1991; pg. 55). Ou seja, fatores externos que contenham a sabedoria popular, atendam

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as necessidades locais e, sobretudo estar de acordo com a manutenção do modo de

vida e cultura da comunidade em questão.

O segundo “(...) refere-se à formulação de estratégias de

enfrentamento dos problemas detectados, no sentido de unir teoria e prática: saber

para resolver” (id.).

E o terceiro é a necessária organização político-social para o

desenvolvimento das metas estabelecidas. Assim; Pedro Demo, definiu o planejamento

participativo como sendo:

“(...) a organização política competente de uma comunidade com

vistas a descobrir criticamente os problemas que a afetam e a

formular conjuntamente estratégias de solução, despertar para a

iniciativa própria e criando soluções possíveis.” (id.)

Durante muitas décadas o planejamento foi considerado o remédio

para todos os males que assolavam um espaço urbano; este era projetado (idealizado)

através de instituições estatais e segundo seus próprios interesses em detrimento da

localidade (comunidade) afetada, por isso mesmo observa-se, com freqüência, que os

moradores não se sentiam à vontade e reprovavam o ambiente projetado, haja vista que

não se identificavam com o mesmo, pois tais projetos eram elaborados sob total revelia

dos mesmos, devendo estes tão somente, ajustar-se ao plano preconcebido, devido a

prepotência, arrogância dos planejadores que subestimavam (e alguns ainda

subestimam) o valor da contribuição da comunidade e julgavam-se dotados de

completo arcabouço informativo e intelectual, e conhecimentos necessários para a

realização do projeto das supostas “cidades do futuro”.

Eram descartados fatores relacionados ao modo de vida, cultura, e as

necessidades reais da população, além de não ser reservado lugar ao imprevisto e

imprevisível nesses projetos e nestas cidades. Contudo na praxis, o planejamento

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rígido provou que as idealizações eram falíveis, a exemplo do Distrito Federal e suas

cidades satélites.

Nessa concepção as classes “excluídas” e/ou de baixa renda não

recebem efetivo apoio do Estado e dos chamados poderes públicos e buscam suas

próprias soluções para os problemas, cito, o da moradia . Surgem assim os cortiços, as

favelas, as palafitas, os barracos periféricos e as ocupações coletivas clandestinas

organizadas sob a lógica, estratégia, limitações e criatividade popular. Essas ações e

intervenções populares na configuração do espaço e utilização do solo se dão por meio

dos movimentos populares que é, sobretudo:

“(...) uma estratégia de sobrevivência que desmistifica o mito da

apatia do povo e demonstra uma maior organização por parte dos

trabalhadores do setor urbano que através da mobilização ocupam

áreas ociosas da cidade e tal mobilização se caracteriza como

movimento reivindicatório urbano”. (Sousa;1995, pg. 10)

São cada vez mais freqüentes as organizações de movimentos

reivindicatórios ou populares, sejam urbanos (associações de moradores, clube de

mães, movimento dos sem-teto, etc.) ou rurais (as associações agrícolas, cooperativas,

movimentos dos sem-terra, etc.) que objetivam, primordialmente, a luta pela garantia

dos direitos fundamentais, adquiridos pela Constituição, e por melhoria de qualidade

de vida.

Tais movimentos são na maioria de natureza espontânea, ou seja, não

são controlados pelo Estado e trabalham no regime de autogestão.

O título de cidadão nunca abrangeu todos os brasileiros, haja vista que

ser cidadão é exercer todos direitos civis e políticos garantidos pela Constituição

Brasileira; contudo poucos são os que conquistaram integralmente o direito a vida, à

liberdade, à educação, à habitação, ao trabalho, e a uma vida digna para si e os seus

entes.

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Essa afirmação pode ser confirmada teoricamente através das

colocações de Paul Singer e Lícia Valladares, que afirmam não existir um lugar digno

para camadas populares na sociedade de modelo capitalista, pois, nessas sociedades se

é necessário possuir renda e esse “segmento” da população não possui recursos para

arcar com as despesas atribuídas às melhores áreas do solo urbano, o que os exigem

ocuparem áreas degradadas ou sem a mínima infra-estrutura necessária, até o momento

que a especulação imobiliária estenda seu domínio sobre elas, criando condições

inevitável a existência de projetos que mudem o perfil daquela localidade e que

consequentemente, empurrará/expulsará esta população carente para locais cada vez

mais distante dos centros, e/ou cada vez mais degradadas, portanto, sem condições

mínimas de ocupação humana.

Neste contexto podemos entender que as invasões de terrenos urbanos

ou ocupações coletivas surgem diante da necessidade do onde morar e do como morar,

diante da impossibilidade da aquisição legal. Diante das dificuldades de sobrevivência

decorrente do agravamento da crise social, das políticas implementadas ou falta delas,

resta a grande maioria dos trabalhadores assalariados ocupar áreas desprovidas de

serviços básicos, onde não há uma legalização definitiva ou indefinida.

Segundo Lefébvre “a ordem capitalista gera o caos urbano”, contudo

a expressão caos urbano ironicamente pode ser definida como “desordem organizada”

segundo a lógica definida pelo mercado e pela segregação, pois a falta de

planejamento e a velocidade com que crescem as cidades geram uma paisagem urbana

de verdadeiro caos; onde imperam as ruas mal traçadas, casas localizadas em palafitas,

nos córregos, nas encostas íngremes, nos mangues, nos igarapés, com excessiva

concentração de pessoas em residências compactadas em espaços extremamente

restrito, onde os esgotos correm a céu aberto em meio à animais mortos e crianças

brincando, etc. Entretanto, a aparente desordem na verdade mascara a ordem do

sistema capitalista de produção e/ou o modelo social capitalista, ou ainda como

menciona Milton Santos: “(...) ao que se chama de desordem é apenas a ordem do

possível, já que nada é desordenado”(1988, Pg. 66)

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Podemos contudo, facilmente observar que a aparente desordem da

paisagem das ocupações também apresenta uma ordem particular mesmo diante de

uma população que vive com toda espécie de dificuldades e limitações possíveis,

observa-se uma estratificação social entre eles mesmos (ora sutil ora escandalosa), as

casas localizadas próximas às avenidas ou ruas principais apresentam melhor

construção onde geralmente são instalados comércios, juntamente com a moradia onde

pode ser encontrada inúmeros equipamentos eletro-eletrônicos e são servidas de

tecnologia incompatíveis ao nível de vida da esmagadora maioria dos moradores da

área.

Verifica-se ainda quanto mais distantes das avenidas e ruas principais,

piores são as condições do espaço, de habitação e de níveis e qualidade de vida dos

moradores daqueles que ali residem. Embora as causas do fenômeno e o produto sejam

semelhantes as ocupações “Conjunto Jardim Sevilha” apresentam suas especificidades,

pois como afirma Santos:

“(...) cada lugar é singular, e uma situação não é semelhante a

outra(...). Cada lugar combina de maneira particular variáveis que

podem, muitas vezes ser comuns a vários lugares” ( id).

As áreas de ocupações ilegais representam um entrave aos projetos

idealizados pelos urbanistas do sistema hegemônico e aos interesses de mercado das

imobiliárias. Mas desenvolve-se uma política de convivência tolerante resultante

muitas vezes de interesses eleitorais de determinados setores políticos, que adotam

áreas de invasão como redutos eleitoreiros. Efetivam-se também, nessas áreas,

políticas comprometidas com a classe trabalhadora e/ou categorias sociais

empobrecidas, desenvolvidas por setores progressistas do poder governamental com

interesse de dividir o poder de gestão com a sociedade que os elegeram, na tentativa de

amenizar os problemas causados pelos péssimos indicadores sociais, administrar a

crise do capitalismo e tentar solucionar o “caos urbano” historicamente instalado nas

cidades capitalistas.

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Por mais adversas que sejam as condições de habitação, os moradores

desejam permanecer em casa onde não paguem aluguéis e onde não existam a

necessidade de mudar constantemente.

Outro ponto a ser destacado, diante dos fatores indispensáveis à

sobrevivência nas cidades, é o valor de troca que as benfeitorias passam a possuir.

Esse valor de troca é uma demanda especulativa que encarece cada vez mais o solo

urbano, uma vez que a habitação, pautada nas regras de valorização do jogo capitalista,

torna-se uma mercadoria. Esta , por sua vez, tem preço acessível legalmente apenas a

uma determinada classe da população, pois este é definido diferencialmente pela

localização, pelos consumos e insumos coletivos (abastecimento d’água, de energia, de

transporte coletivo, etc.) que lhes são oferecidos.

O solo urbano tem um valor de troca pautado nas regras do

capitalismo, onde tudo é mercadoria e tem preço. Estes preços são definidos

diferencialmente pela localização e pelos equipamentos urbanos coletivos existentes.

Dessa forma alijados do acesso à áreas mais estruturadas, resta a população de baixa

renda ocupar áreas onde as condições de insalubridade e carências generalizadas são

co-habitantes. Assim a comunidade busca alternativas para suas necessidades, seja

através de organizações de bairro, de “seguimento” social ou através de movimentos

de resistência e ação contrária à lógica hegemônica, para a obtenção de um objetivo

comum.

Tentaremos superar as limitações no que tange a conceitos, categorias

e termos, pois como já fora exposto, não existe numerosas publicações de referência

que aborda especificamente esta questão; contudo não abriremos mão dos termos do

senso comum, próprios da localidade; e muito menos de uma busca contextual,

etimológica, histórico-espacial, imprescindível ao conhecimento da realidade atual de

nosso objeto de estudo.

Partindo dessa premissa, utilizaremos de Milton Santos os conceitos

de “Estrutura (relações entre classes sociais diferentes), Função (utilidade real de um

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dado fenômeno), Forma (aspecto visível, paisagem analisada ), Processo (sistema

historicamente constituído, dinâmica têmpore-espacial), Fluxos (dinâmica e

mobilidade comercial e de comunicação) e Redes (sistema onde essa comunicação,

mobilidade e dinâmica atua)”, sem os quais o sucesso da pesquisa ficaria ameaçado.

Temos a certeza que no decorrer da pesquisa outros autores e outras

referências, inclusive de outras áreas do conhecimento científico aparecerão para

sustentar teoricamente nosso trabalho, do qual lançaremos mão sem hesitar.

No capítulo que se segue, por exemplo, nós discutiremos a evolução

de termos, palavras e conceitos importantes, que ao longo da história da humanidade,

foi adequando-se ás sociedades e as suas conjunturas e estruturas sociais; incorporando

o sentido ou a “essência original” e ao mesmo tempo ganhando novos significados que

melhores respondessem os anseios do momento. Esse processo demonstra claramente

que a dinâmica social encontra na comunicação e na lingüística um poderoso

instrumento a ser utilizado para reforçar, ideologicamente, as transformações sócio-

espaciais em sua dinâmica perpétua; consolidando-as.

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Capítulo II

INVESTIGAÇÃO ETIMOGRÁFICA E FILOSÓFICA ACERCA DAS

CATEGORIAS E/OU PALAVRAS CHAVES FUNDAMENTAIS À MONOGRAFIA

Particularmente acreditamos ser interessante resgatar as raízes

etimológicas de alguns termos que consideramos palavras-chaves nesta pesquisa,

numa tentativa de discutir quais foram suas significações ao longo da história dos

homens modernos, quais as suas definições atuais numa possibilidade de se propor

uma outra definição mais próxima da realidade cotidiana desta contemporaneidade.

Um dos termos eleitos foi o de cidade, que na antigüidade clássica

teve uma raiz etimográfica do hebraico Lair, que significou para aquela sociedade a

idéia de ir e vir, denotando uma ação constante de movimento, o locus da dinâmica

sócio-espacial.

Entretanto a raiz etimológica que mais nos interessa, por ser oriunda

do berço da civilização ocidental, é a derivada da sociedade greco-romana, do latim

civitas, civitatis, que teve o significado de uma povoação de graduação mais elevada

que as vilas, onde habitava um conjunto de cidadãos, que por sua vez, eram

considerados aqueles que detinham plenos direitos e gozo civis e jurídicos. É relevante

buscar uma reflexão precisa, em virtude de se tratar de uma sociedade escravista onde

poucos detinham tais direitos.

Entendido mais claramente, em outros períodos, como o conjunto dos

cidadãos que constituem uma cidade, um Estado, porém parece não só ter conservado

o sentido de cidade como também o sentido de “agrupamento organizado”; o sentido

político foi retomado do latim por via culta, no século XVI.

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O sentido moderno, tanto do termo cidade como o de cidadão, deve-

nos ter chegado do francês: pois perceba o teor desta transcrição que data dos

primeiros dias do mês de Outubro de 1774 e apareceu em circunstância curiosas; um

fidalgo denominado Beaumarchais, tendo sido processado por um conselheiro de

Paris, advogou em pessoa diante o parlamento e fez uma apelo á opinião pública:

“Eu sou um cidadão, disse ele; não sou nem banqueiro, nem abade,

nem cortesão, nem um favorito, nada daquilo que se chama potência,

eu sou um cidadão, isto é , algumas coisa de novo, alguma coisa de

imprevisto e de desconhecido em França; eu sou cidadã, quer dizer, o

aquilo que já devíeis ser a duzentos anos e que sereis dentro de uns

vinte talvez”(Dic. Etimológico, 1976)

O discurso de Beaumarchais teve enorme retumbância, e a datar deste

momento o título de cidadão foi adotado por todos os espíritos liberais e a todos os

homens de iniciativa e preocupados, de alguma forma, com o interesse social,

desvinculando-o da terminologia cidade. O sentido moderno incorporou ainda as

qualidades intrínsecas aos cidadãos sendo o civismo, popular, afável, meigo,

benevolente, sociabilidade, cortesia e a participação política, dentre outras.

Sociedade política e sociedade civil eqüivalem-se na etimologia já que

a palavra originária, grega ou latina (polis ou civitas), tem a mesma significação: a

cidade (comunidade organizada politicamente hoje chamada de Estado). A sociedade

seria a união moral e permanente de várias pessoas em vista de um fim comum: o fim

ou bem comum das pessoas reunidas política ou civilmente é a primeira das causas, a

causa final; as pessoas ou indivíduos racionais, reunião de pessoas (e só pessoas)

forma a sociedade, seria a causa material; a união moral e permanente resultante da

prática de atos racionais e livres, sem a colaboração voluntária dos sócios não haverá

sociedade, esta seria causa formal.

Os diversos tipos de sociedade política encontrados na história têm

algumas características fundamentais comuns, como a aldeia e a tribo. Consideraremos

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tribo como uma sociedade de pequenas dimensões fundada em vínculos de parentesco

e a aldeia é um tipo intermediário entre a família e a tribo e caracteriza-se pela

localização territorial em torno do mercado ou da cidadela.

A sociedade política passou por uma evolução: tribos, confederação

de tribos, cidade, Império e Nação. Podemos considerar que uma cidade pode ser

construída por uma confederação de “tribos” – grupos sociais distintos e possuidores

de identidade própria - ou formada por famílias de procedência diversa associadas num

mesmo local (daí a polis e a civitas dos antigos). Em todas as formas de sociedade

política constata-se que o indivíduo nunca está abandonado a si mesmo ou aos poderes

absolutos da comunidade total: pertence sempre a um grupo familiar que se integra no

todo social – “nenhum homem é uma ilha”.

O termo Urbano, descende do latim urbe, que significava cidade

muralhada, especialmente a cidade de Roma. Por via culta um latim mais moderno

designa termo urbanu com um significado mais específico, o de cidade, urbano, que

caracteriza a cidade, com um comportamento polido, de bom tom, cultivado, bem

cuidado, espirituoso, fino. Podemos perceber que a significação passa a ser

efetivamente de qualidade e/ou virtude dos homens civilizados, um modo de vida a ser

adotados como exemplares, incorporando o termo urbanidade do latim urbanitate

qualidade do que é urbano, civilidade, boa apresentação e maneiras, o antônimo de

rústico.

Periferia deriva do grego περι elemento de composição culta, que

traduz a idéia de acerca, ao redor, em relação a, que circula por todos os lados; sendo

que quando acrescido do termo também grego φέρεια forma a o substantivo composto

περιφέρεια que é sinônimo de circunferência, parte de um círculo, e arco de círculo.

Este termo também aparece abundantemente nos registros antigos pelo latim

þĕŗĭþħĕŗĭα tendo o sentido de redondeza, daquele que habita nas proximidades.

Atualmente podemos conceber periferia como parte de um todo sistêmico marginal em

relação ao “centro” ou à posição/localização privilegiada, ou ainda hierarquicamente

superior.

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Outro termo de suma importância neste estudo e que iremos fazer um

resgate etimográfico é o território que descende do latim territoriu, que na antigüidade

tinha uma variedade de significados, sendo que podemos destacar como importante

extensão de terra; porção da superfície terrestre pertencente a uma nação, região,

província, cidade, etc.; num período mais recente território pôde ser entendido como:

tudo o que está encerrado dentro das fronteiras, um espaço que se estende até ao

alcance dum tiro de peça de artilharia, área de jurisdição ordinária. Ademais

preferimos definir território como uma porção delimitada do espaço geográfico onde

se estabelecem as diversas relações de poder e dominação do homem em relação à

natureza e entre si, sendo que este sempre está impregnado do sentimento afetivo e de

pertencer, de auto-identificação simbólica.

Considerando estes conceito à território a de se investigar a raiz

etimológica também do termo Identidade. Este termo pertence à derivação do latim

tardio identitate que nada mais era que a propriedade de ser perfeitamente igual a

outro, semelhança, analogia, paridade absoluta; que por sua vez é um desdobramento

do latim identicu (idêntico), que deriva do latim idem que significa o mesmo, ao

mesmo tempo, simultânea + mente, mesmo sentido. Identidade hoje tem um forte

sentido de auto-identificação, sendo na geografia entendida como identificação

cultural, também vinculado a um sentimento afetivo e de pertencer e/ou fazer-se parte

integrante.

Compreendemos que a linguagem e os conceitos possui uma dinâmica

própria que corrobora e acompanha a constante dinâmica sócio-espacial de uma dada

sociedade. No Brasil, por exemplo, a história dos seus homens assegurou a

perpetuação da estrutura fundiária existente até hoje, e a linguagem, os termos

pejorativos e a metamorfose técnico-conceitual sempre foram utilizadas para legitimar

um “status quo” hegemônico e para garantir o poder institucional e a exploração

econômica territorial nas mãos de uma sábia elite retrógrada e conservadora.

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No capitulo posterior iremos discorrer sobre os eventos responsáveis

pela consolidação da estrutura fundiária brasileira, que implicou na enorme e nefasta

desigualdade social evidenciada nos dias atuais, e se tornará nítido então, o

fundamental papel cumprido pela dinâmica e/ou metamorfose lingüistica na

consolidação desta situação vivenciada nos dias atuais.

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Capitulo III

ORIGENS HISTÓRICA, JURÍDICA E SÓCIO-MATERIAIS DA

QUESTÃO DA MORADIA POR PARTE DA POPULAÇÃO DE BAIXA RENDA

De alguma maneira é preciso morar; no campo, numa pequena cidade,

nas metrópoles, etc.; morar é como vestir, alimentar, trabalhar, namorar, amar, é uma

necessidade básica dos indivíduos. Historicamente modificam-se as características da

habitação, contudo sempre existe a necessidade de morar, haja visto que não se é

possível viver sem ocupar uma dado espaço.

É no interior das casas que se realizam as demais atividades, além de

prover abrigo, é o lugar do repouso, da privacidade, das refeições, da higiene pessoal,

enfim da convivência com os grupos domésticos. Dever se considerar também como

lugar de trabalho, pois sempre se trabalha nela para a própria manutenção e produzir

maior grau de conforto, assim como para lavar, passar, cozinhar e, muitas vezes na

produção econômica para a subsistência familiar.

Espacialmente diferem-se as formas das moradias, sendo essas

características refletidas nos bairros, nos tamanhos dos lotes, na “conservação” de

acabamento nas casas, na infra-estrutura presente, a densidade ou rarefação

demográfica ou de ocupação, etc., pode-se a partir dessas observações ter a noção da

segregação sócio-espacial existente.

Esta gama de diversidade não estão diretamente relacionadas a

diferentes tempos de ocupação, ou seja, não necessariamente foram ocupados em

momentos diferentes e, com o passar do tempo serão naturalmente servidos de infra-

estrutura de equipamentos e serviços coletivos. Trata-se de uma variação no mesmo

tempo e espaço, da mesma forma que o computador é contemporâneo ao

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analfabetismo, e as favelas são das usinas nucleares por exemplo. A segregação

sócio-espacial é visível até para os observadores menos atentos...

Essa diversidade deve-se a produção e distribuição diferenciadas das

cidades e refere-se a diferente capacidade de pagar dos possíveis compradores, tanto

pela casa terreno quanto pelos serviços coletivos. Somente aqueles que desfrutam de

determinado poder aquisitivo podem morar em áreas bem servidas de equipamentos

coletivos e em casas com um certo grau de conforto. Já quem não pode pagar vivem

em arremedos de moradias, nas externas, longínquas e degradadas periferias ou áreas

centrais ditas deterioradas.

Devemos considerar o termo favela, a partir deste trabalho, enquanto

zonas de fronteira urbana, regularizadas ou não, onde sobrevivem a maioria da

população de baixa renda; geralmente essas áreas caracterizam-se por serem

degradadas e pouco consolidadas estética, econômica, na estrutura e culturalmente;

resultado da inserção não planejada de um agrupamento humano numa dada área

urbana sem prévia preparação adequada para suportar a essa ocupação, tendo como a

moradia sua função prioritária.

Nessas favelas há inclusive àqueles que “não moram”, que estão

completamente excluídos do sistema social; são os que vivem embaixo das pontes,

marquises, praças e logradouros públicos, viadutos, que não possuem e nem têm

condições de possuir um teto fixo ou fixado no solo. Nestes arremedos no interior das

cidades, mergulham-se num “turbilhão” de miséria e de sujeira o que torna ainda mais

difícil ter energia para resistir a suas respectivas influências psicossocial destes

ambientes inteiramente degradados e aos efeitos dessa miséria.

Como muitos moram mal é de supor que existe um enorme déficit de

casas que possam ser compradas ou alugadas. Uma ligeira observação um abismo

entre, de um lado, um grande número de anúncios de casas, terrenos, apartamentos e

demais imóveis para vender e para alugar, de imóveis utilizados como comércios e

serviços – residências transformados para este novo uso – e, de outro, a carência de

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moradias. Se todas as casas e terrenos em ofertas fossem ocupados, mesmo assim

continuariam a faltar casas para se morar. Estima-se que o déficit de moradia no Brasil

seja superior a 22 milhões de unidades, o que corresponde a quase 10% do déficit

mundial .(Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE, 1999)

Diz Engels, quando analisou a crise de moradia na Alemanha de 1872

que:

“(...)uma sociedade não pode existir sem crise habitacional, quando a

maioria dos trabalhadores só tem seu salário, ou seja, o

indispensável para a sua sobrevivência e reprodução, quando as

melhorias mecânicas deixam sem trabalho as massas operárias,

quando as crises industriais determinam, de um lado a existência de

um forte exército de desempregados (de reserva) e, de outro jogam

repetidamente nas ruas grandes massas de trabalhadores; quando

os proletários se amontoam nas ruas das grandes cidades; quando o

ritmo da urbanização é tanto que o ritmo das construções de

habitação não a acompanha; quando, enfim o proprietário de uma

casa, na sua qualidade de capitalista, tem o direito de retirar de sua

casa, os aluguéis mais elevados. Em tal sociedade assim a crise

habitacional não é um acaso, é uma instituição necessária”. (F.

Engels, 1976).

A moradia não é um bem fracionável em partes que possam ser

“vendidas” e/ou utilizada ao longo do dia, da semana ou do mês. Não se pode morar

um dia e no outro não morar. Morar uma semana e na outra não morar. È possível

propor uma suposição que alguns despossuídos – aqueles que não podem pagar –

possam “pedir” uma casa velha para morar ? Ou ir ao fim da feira coletar sobras de

frutas e verduras ou legumes, etc., e “pedir emprestado” uma cozinha numa casa

qualquer para cozinhar? Nós consideramos que a infracionalidade da casa é um

aspecto importante do morar.

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Termo infracionável e infracionalidade deve ser entendido aqui como

a propriedade de um “bem”, matéria, ou “valor construído socialmente” que

dificilmente possa ser compartilhado/dividido com terceiros e/ou alheios ao círculo

familiar.

Numa sociedade capitalista, para morar há de ser necessário possuir a

capacidade de pagar por essa mercadoria não fracionável, que compreende a terra e a

edificação, cujo o valor é medido em função, também, da localização em relação aos

equipamentos e serviços coletivos e a infra-estrutura existente nas proximidades da

casa/terreno. O Decreto-Lei 399, que em 1938 regulamentou o salário mínimo diz:

“O salário mínimo será determinado pela soma das despesas diárias

com alimentação, habitação, vestuário, higiene e transporte,

necessário a vida de um trabalhador adulto”.

Portanto o trabalhador deveria receber pagamento pelos seus serviços

que cobrissem suas despesas com a habitação. Entretanto como adquirir uma

casa/terreno se os valores dos salários são prevista a uma despesa diária? É possível

que o pagamento diário refira-se ao aluguel, porém, mesmos os contratos de aluguel

são, em geral, anuais e neste período o trabalhador corre o risco de desempregar-se.

Assim podemos afirmar que um metro quadrado de qualquer terreno, em qualquer

localização, é superior ao valor do salário mínimo mensal, mesmo para os valores

estipulados originalmente.

Até 1822 a distribuição de terras no brasil era realizada pelo regime de

doação de sesmarias. As sesmarias que nada mais eram que lote de terra inculto ou

abandonado, que os reis de Portugal cediam a sesmeiros que se dispusessem a cultivá-

lo, esse lote ou légua de sesmaria possui 3.000 braças, ou 6.600 metros, sendo no

Brasil doados até 15 há. Essas foram as unidades elementares de apropriação do

território brasileiro, inspiraram-se na antiga legislação fundiária portuguesa do século

XIV, destinada a promover o uso produtivo das terras agrícolas daquele país.

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A lei de sesmarias (1375) surgira da necessidade de reanimar a

agricultura, relegada ao abandono por uma pequena nobreza proprietária mais

interessada nos lucros e honra proporcionado pelas guerras contra os espanhóis. A

legislação implantada pela Coroa obrigava os proprietários a cultivarem as terras ou a

cederem parte delas para o usufruto dos camponeses. A exploração familiar a terra em

pequenos estabelecimentos era encarada, na época, como meio de superação da crise

cerealífera da península Ibérica. No Brasil, contudo, a política das sesmarias retomou

apenas uma parte da tradição lusitana a idéia da conexão entre a propriedade da terra e

o seu uso produtivo, sendo renegada ao plano marginal o incentivo à exploração

camponesa, que fazia parte do outro aspecto dessa tradição.

Sem levar em conta a ocupação indígena, após o descobrimento e a

conquista, por graça de Deus, as terras da colônia passaram a pertencer ao Monarca

luso, o qual por esse direito fazia concessões de sesmarias (grandes extensões de

terras) e doações de datas (lotes menores). Estas formas de atribuir terras, impunha

obrigações para quem as recebia e, teoricamente, o não cumprimento de algumas

obrigações fazia com que a terra fosse devolvida (que ficasse devoluta, como de fato).

Em 1822 foram suspensas as concessões reais, e , desta data até 1850,

a terra passou a pertencer a quem “quisesse” ocupá-la – melhor dizendo, pudesse

ocupá-la. Até 1850 a terra não era uma mercadoria, não podia ser comprada ou

vendida, ou seja não possuía valor de troca, e sim um valor moral, de uso e definia o

status social do possuidor da concessão .

Com a instituição da Lei 601 de setembro de 1850, conhecida no

senso comum como a Lei das Terras, só quem podia pagar era reconhecido como

proprietário juridicamente definido em lei. Além do valor moral, a propriedade passou

a ter um valor econômico e social. O capital se desenvolveu e impôs politicamente o

reconhecimento da propriedade privada da terra.

O preço da terra originalmente como uma forma de impedir, naquele

momento histórico, o acesso do trabalhador sem recurso às terra. Este momento refere-

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se à passagem do escravismo ao trabalho livre e a grande migração de trabalhadores

europeus. A declaração do Conselho de Estado em 1842 é esclarecedora a esse

respeito:

“Com a profusão de datas de terras tem, mais que outras causas,

contribuído para a dificuldade que hoje se sente de obter

trabalhadores livres, é seu parecer que de ora em diante sejam as

terras vendidas sem exceção alguma.

Aumentando-se, assim, o valor das terras e dificultando-se,

consequentemente, a sua aquisição, é de se esperar que o imigrante

pobre alugue o seu trabalho efetivamente por algum tempo, antes de

obter meio de se fazer fazendeiro”(Baldez, 1986).

Fica evidente que o Conselho de Estado considerava fundamental

impedir o acesso à terra pelos trabalhadores livres, o que se torna efetivo com a Lei de

Terras de 1850, ficando assim sancionado o princípio que baniu o trabalhador da terra.

Define que a terra será vendida no mercado e que terá preço, que deverá ser

inacessível aos trabalhadores, para que estes se constituam efetivamente em mão-de-

obra para a lavoura. Como o professor José de Souza Martins bem afirmou, “a terra

tornou-se cativa do capital – Os homens livres, com o fim da escravidão, e a terra

cativa”.

Assim uma porção de terra passa a ser considerada mercadoria

geradora de renda no modo de produção capitalista; uma mercadoria que só tem preço

acessível a uma determinada classe social. Surge a partir daí, instrumentos que

viabilizaram o aparecimento da chamada a especulação imobiliária.

Seus mecanismos, relacionados à ocupação da cidade podem ser

praticados de várias formas. A mais comum refere-se ao interior da área loteada e diz

respeito à retenção deliberada de lotes. Em geral, atraem-se moradores para lotes

piores localizados, em relação aos equipamentos e serviços, para em seguida e

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gradativamente prover a ocupação do restante da área. A simples ocupação de alguns

já aumentam o preço dos demais lotes, “valorizando” toda a área em questão.

Esta forma de ocupação programada é comum o especulador deixar

lotes estrategicamente localizados para a instalação de serviços e comércio de

abastecimento diário. Estes lotes terão, obviamente, seus preços elevados em relação

aos das residências, haja vista que visam a conquista de um mercado que se amplia e

se consolida.

Outra forma de atuação da especulação imobiliária refere-se à

possessão de vastas áreas – latifúndio urbanos -, que em via de regra consiste em não

fazer “uso social” destas áreas próximas a loteamento já existente ou de áreas

potencialmente situadas nas vias de expansão urbana. Assim os proprietários se

beneficiam não só da produção (valorização) social da cidade, mas também da

produção (valorização) que ocorre nos terrenos vizinhos. Enfim, os proprietários que

deixam a terra vazia, ociosa, sem nenhum uso, apropriam-se de uma renda produzida

socialmente.

Os movimentos especulativos, estão sofrendo uma forte oposição por

meio de toda uma produção da casa e da cidade, que estão desvinculada ao círculo

imobiliário: que são as ocupações expontâneas e as formações de favelas. Nesta forma

de produção estão ausente a legitimidade jurídica da propriedade da terra, a

incorporação imobiliária, a industria de edificação e por vezes até a industria de

construção relativa aos insumos; entretanto promovem efetivamente a produção de

residências e participam da configuração das cidades.

Os proprietários de terra, quando especuladores, deixam terras vazias,

fazendo uma ocupação da cidade com uma aparência de caos. Vastos espaços ociosos

numa cidade cuja tendência é se espraiar pelas periferias. Terras sem uso e homens

sem terra coexistindo no mesmo espaço e tempo. É, em via de regra, o fundamental

fator que impulsiona o fenômenos das ocupações de terras e das formações das

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favelas, contrariando os princípios da legalidade jurídica e o da propriedade privada,

um dos pilares “sagrados” do modo de produção capitalista.

Não existe mecanismo claro de limitação à propriedade de terra. O

Estado dispõe sobre o uso da propriedade, contudo é bem mais significativa a defesa

da propriedade do que a limitação ao uso ou ao acesso a quem não tem.

Em tese a propriedade deveria ser subordinada “ao interesse social e

coletivo” (Constituição de 1934), ou ao “bem estar social” (Constituição de 1946), ou

“a função social” (Constituição de 1969). São na verdade abordagens genéricas da

garantias do direito de propriedade. Na Constituição de 1988 esta questão foi colocada

pelos movimentos reivindicatórios e seus representantes, desta vez de forma

abrangente e relacionada à questão do uso, em detrimento aos proprietários e seus

representantes constituintes, que explicitavam a defesa da propriedade, daqueles que já

as possuíam.

A tese vitoriosa na Constituinte de 1988, foi a que propôs mecanismos

de limitação da especulação imobiliária, que explicitou em forma de legislação, que

nos casos de propriedade sem uso justifica-se a desapropriação do imóvel para “fins de

interesse social ou utilização coletiva”, com o pagamento do valor venal do imóvel

em títulos de dívida pública, para fim de permitir uma produção do espaço urbano

mais justa e igualitária. Somou-se a essa legislação a proposta de taxação progressiva,

que fixa valores do imposto territorial mais elevados para as terras ociosas.

Longo e penoso é o processo em que se vem construindo, tanto as

residências quanto as cidades, nas periferias. O termo periferia, contudo, é com

freqüência utilizado para os designar os setores mais precariamente atendidos por

serviços públicos e não, necessariamente, pelas distâncias dessas áreas em relação ao

centro comercial urbano da cidade. Não se considera periferia os loteamentos e/ou

condomínios de alto padrão, bem dotados de serviços públicos mesmo aqueles

localizados em áreas distantes do centro.

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Page 39: Monogafia de Gradução: Produção do Espaço urbano na Metrópole da Amazônia:Belém

Da mesma forma, no capitulo que segue, demonstraremos o quanto o

termo exclusão está sendo banalizado pela exaustão e falta de consistência que este

está sendo invocado para explicar os fenômenos sociais, causando uma certa confusão

teórica e uma perda de exatidão dessas análises, resultado da disposição do autor a

demonstrar sua simpatia pessoal quanto a um certo ponto de vista quanto ao fenômeno

em questão, parcializando-o.

39

Page 40: Monogafia de Gradução: Produção do Espaço urbano na Metrópole da Amazônia:Belém

Capitulo IV

EXCLUSÃO OU SEGREGAÇÃO: TERMOS EM DISCUSÃO

Propomo-nos a uma saudável polêmica: negar a banalização que

costumou-se fazer, tanto na academia, quanto nos movimentos reivindicatórios e senso

comum, a cerca da generalização do termo exclusão social. Estamos convencidos que

para melhor explicar os contrastes urbanos e sociais o conceito de segregação e

segregação gradiente é bem mais eficaz, sendo exclusão um termo com grande carga

ideológica e com uma definição etimológica exagerada, atribuindo-lhe uma

aplicabilidade radical.

Pois vejam; quanto à deterioração e fim de um ecossistema,

subentende-se que houve ocorrência de inclusão, pela presença “alienígenas”, de

subsistemas dentro do ecossistema. A segregação se baseia na associação e

desorganização (desequilíbrio) de atividades dentro de um espaço sensível e

concentrado, que nega a inter-relação com as atividades circunvizinhas, propiciando a

formação de um subsistema dentro de um dado sistema. Milton Santos em 1985, a esse

respeito disse:

“A um processo de reprodução ampliada das classes, correspondente

um processo de reprodução ampliada do espaço, posto que ocorre

não só um aumento numérico das classes, gerando, por conseguinte, a

necessidade de reprodução de novas áreas segregadas para os grupos

sociais que surgem e de novas estratégias por partes de outros

agentes modeladores”.

A concepção de concentração do solo se refere as relações humanas e

não as relações ambientais, portanto é possível dentro dele existirem o surgimento de

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Page 41: Monogafia de Gradução: Produção do Espaço urbano na Metrópole da Amazônia:Belém

pequenos ecossistemas, pois continuam sendo parte do ecossistema de onde se

implantaram. O gradiente de troca refere-se aos processos de transferência que se

produzem nos ecossistemas por impacto dessas atividades ou grupos segregados, cujo

os motivos podem ser de ordens distintas: ordens econômicas, quando essas

transferências produzem em função da especulação urbana e imobiliária, pois os

terrenos próximos serão mais valorizados do que aqueles afastados; ordens funcional,

quando se permite a opção de geração de atividades complementares; e de ordem

infra-estrutural, quando existe a possibilidade de anexar-se as redes implementadas;

por serviços de diversas índole, como transporte, saúde, educação, etc.

Geralmente os processos de segregação gradiente é dotada de

conotações do tipo econômico e social em forma de expressões ideológicas.

“Na prática urbanística se conhecem duas formas de processos de

segregação gradiente nas atividades residenciais, uma auto

segregação que é claramente identificada nos espaços especialmente

periféricos, produtos de assentamentos das classes dominantes que

buscam a melhoria do ambiente, ou também ao fato de localização de

população de baixa renda como mecanismo de defesa aos processos

de legalização; a outra é a segregação imposta que é característica

de população de baixa renda que não tem opções de como e onde

morar e localiza-se nas áreas que são reservadas. O processos de

gradiente se produz em relação aos níveis sócio-econômicos em

questão”. (Trindade Júnior, 1993).

Em Belém pode-se observar inúmeros casos de auto segregação

gradiente concentrada, um dos exemplos mais notáveis é o das chamada área

institucional situadas nos limites da primeira légua patrimonial, sua especialidade se dá

não só pela extensão territorial deste espaço segregado, como também pelo impacto

que causou a organização urbana de Belém.

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Page 42: Monogafia de Gradução: Produção do Espaço urbano na Metrópole da Amazônia:Belém

A concepção de concentrado não implica necessariamente em

densidade populacional ou de complexidade funcional, existes casos que tais limites

estão fixados por meio de outros aspectos físicos, como em alguns condomínios

situados nas áreas periféricas de Belém, que fixam altos valores ao terreno como forma

de garantir o controle social, sendo este o lugar de população de alto poder aquisitivo.

Em vários casos se restringe a circulação dos moradores, como é o

caso de várias áreas de ocupação expontâneas, que recorre a violência como sistema de

controle (talvez até involuntariamente). Uma das formas mais comuns de segregação

imposta é a constituição, como forma de estratégia de sobrevivência, de ocupações

urbanos que se produzem em espaços ociosos.

No que tange as estratificações nas estatísticas sociais, que classifica a

sociedade em classe “A”, “B”, “C”, “D”, “E”. Não podemos negar a intenção

governamental de se amenizar ou mascarar a realidade social estabelecida, até para não

causar uma revolta generalizada, sendo que tal estratificação massifica nossa

sociedade, reconhecimento a todos - a maioria absoluta - enquanto consumidores e

cidadãos, mascarando assim, as contradições e as lutas de classes

Essa estratificação oficial, dentre inúmeras outras que servem a

determinados e específicos propósitos estatísticos e ideológicos, estabelece que os

cidadãos são classificação de acordo com o seu poder de consumo ou renda familiar,

da forma explicitada na tabela a seguir:

*Tabela 01- Estratificação social por renda

Classes Sociais Renda Mensal Classificação Segundo o

Poder de Consumo

Alto Poder Aquisitivo Acima de R$ 10.000,00 Classe “A”

Classe Média Alta De R$ 2.001,00 a R$ 10.000,00 Classe “B”

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Page 43: Monogafia de Gradução: Produção do Espaço urbano na Metrópole da Amazônia:Belém

Classe Média De R$ 1.001,00 a R$ 2.000,00 Classe “C”

Classe Média Baixa De R$ 301,00 a 1.000,00 Classe “D”

Classe Baixa- Pobres De R$ 100,00 a R$ 300,00 Classe “E”

Fonte: Sociedade de Proteção ao Crédito –SPC, 2002 e IBGE, 2000

Podemos concluir que por estar pertencente a um sistema, mesmo de

forma desigual, desprestigiada ou marginalizada, um dado segmento social não

necessariamente está excluído e sim segregado pois, apesar da marginalização, são

reconhecidos e se reconhecem como sujeitos sociais; sendo que devemos entender

como excluído aquele que não é permitido ou opta por não pertencer ao determinado e

hegemônico sistema social, se colocando inteiramente á parte, como são os casos dos

loucos de ruas, mendigos e grupos sociais que optam por pertencer a uma sociedade

“alternativa” – hipies e místicos esotéricos -, sendo que não participam dos processos

produtivos, de circulações, políticos e reivindicatório, etc., característico da sociedade

urbano-industrial hegemônico na contemporaneidade, haja visto que tais grupos não

são reconhecidos socialmente – pois movimentam menos que meio salário mínimo por

mês -, bem como não se identificam e/ou reivindicam participação no sistema social

hegemônico vigente.

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Page 44: Monogafia de Gradução: Produção do Espaço urbano na Metrópole da Amazônia:Belém

Capitulo V

FAVELA: UM TERMO E UMA REALIDADE EM DISCUSSÃO

As primeiras favelas surgem no Brasil logo após a Guerra de Canudos,

na cidade do Rio de Janeiro - RJ. Foi formada, no Morro da Providência atual região

portuária do Rio de Janeiro, pelos soldados recrutados para lutar contra a “milícia

religiosa” de Antônio Conselheiro, que foram atraídos pela promessa de ganhar uma

moradia na então Capital Federal, contudo depois da campanha, os militares

responsáveis, naquele momento histórico, pelo Estado brasileiro ordenaram aos

superiores daqueles praças a não cumprir a promessa.

Estes soldados logo foram dispensados pelo serviço militar, por não

mais se fazerem necessário, e suas indenizações não garantiam o provento de suas

moradias. E aliado a isso teve como complicador a tradição do exército brasileiro em

se deixar acompanhar pelas mulheres durante as campanhas militares. Estes soldados

recrutados que estavam com suas famílias, a grande maioria deles distantes de suas

terras natais, se recusaram a voltar a suas respectivas moradias antigas; iniciaram um

movimento reivindicatório, logo sufocado pelas forças oficiais, sendo que se

recolheram ao Morro da Providência e lá estabeleceram suas moradias.

O termo favela surgira, originalmente, em virtude da grande

ocorrência, no Morro da Providência, de um arbusto da família das Eufobiáceas

(Jatropha phyllacantha), muito comum nas caatingas de Belo Monte, na Bahia onde

ocorrera a peleja.

Segundo Aurélio de Oliveira favela refere-se “a um conjunto de

habitações populares toscamente construídas (geralmente em morros) e desprovidas

de recursos higiênicos”. Já de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e

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Page 45: Monogafia de Gradução: Produção do Espaço urbano na Metrópole da Amazônia:Belém

Estatística (IBGE), favela diz respeito “a um aglomerado de pelo menos cinqüenta

domicílios – na sua maioria carentes de infra-estrutura – e localizados em terrenos

não pertencentes aos moradores”.

Esse Instituto define ainda, o que distingue a favela de outros locais de

moradia também sem infra-estrutura; para esse órgão é a natureza da ocupação das

terras que o diferencia de seus pares desprovidos de serviços e equipamentos urbanos.

A rigor nós pudemos observar que todas as considerações (relatórios e pareceres)

oficiais procuram, de alguma forma, não considerar o exercício da cidadania enquanto

indicador de seus trabalhos, o que reflete nos resultados das análises e conceitos que

elaboram; mascarando assim as respectivas responsabilidades afins, procurando

sempre individualizar o problema, o que implica no abrandamento da questão e na

dissimulação de suas causas, que a nosso entendimento se encontra intrínsecos a

estratificação e a “luta de classe”.

Para essas áreas os mais variados termos são utilizados: invasão de

terras alheias, apropriação indébita ou indevida de vazios urbanos, câncer urbano, vila

miséria, etc.

Nós consideramos que na atualidade o termo favela melhor se

enquadra na definição de áreas urbanas em condição de fronteira; aquelas ainda não

plenamente consolidadas, cuja as feições estão se configurando em meio a crises e

conflitos sociais, em detrimentos de sua legitimidade ou não em relação à propriedade

da terra ou da distância deste loteamento em relação ao centro comercial.

Sendo que a terminologia de “invasão” e “ocupação” está sendo

normalmente utilizada com um forte atributo ideológico independente dos usos, razão

e valores terrenais; pois veja: quando o interesse é descaracterizar ou desvalorizar a

razão social da moradia o termo utilizado com freqüência é o de “invasão”,

independente do sujeitos sociais que as utiliza; entretanto se o interesse for valorizar

ou bem caracterizar a razão social do uso da terra a termo largamente utilizado é o de

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Page 46: Monogafia de Gradução: Produção do Espaço urbano na Metrópole da Amazônia:Belém

“ocupação”, seja qual for o sujeito que a utiliza o que está valendo é o interesse e o

nível de relação que o declarante tem com os residentes da respectiva área em questão.

Qual é a razão da existência de favelas? Esta pergunta nos parece

óbvia contudo esta foi respondida com muita propriedade por João Apolônio Gomes,

um favelado da cidade de São Bernardo do Campo, numa carta publicada no Boletim

das migrações de São Paulo, isso em 1983, que diz o seguinte:

“ A favela cresce através do migrante, do homem do campo, porque

na roça não dá mais para viver. Porque o fazendeiro dá mais para um

boi, ou plantar um capim do que deixar um trabalhador plantar um

milho ou feijão. Através também do aluguel que prefere alugar para

quem tem cachorro do que a pessoa que tem um filho. O boi e o

cachorro vale mais que o trabalhador e o seu filho. E através do

salário mínimo que é muito baixo e da falta de emprego. Por isso não

está mais existindo mias lugar, nem de fazer um barraco. Porque já

está tudo lotado. A favela cresce também através da mentira. Uma

pessoa sai de qualquer cidade grande e vai passear no interior e

chega lá, e mente para um companheiro dele, que lá onde ele está ele

vai ganhar mais; e chega lá ele não vai ganhar, então ele não tem

condições de pagar o aluguel e vai morar na favela.

Sempre aparece na favela um para dar ordem, mas não aparece um

para pedir melhoria na favela. E quando aparece é perseguido. A

gente não mora na favela por que gosta e nem por que quer, mas

porque é obrigado: para manter a família e não morrer de

fome”.(Jornalivro ano II, nº3, 1983).

Esta expressiva definição de um morador de favela mostra, com toda a

sua clareza, as causas da existência das favelas e de seu crescimento. O intenso êxodo

rural, por falta de condições de sobrevivência é atribuída à atração da cidade.

Esta expulsão segundo o relato, parece estar ligado á transformações

da agricultura de subsistência em pastagens. Os baixos salários, ou a inexistência

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Page 47: Monogafia de Gradução: Produção do Espaço urbano na Metrópole da Amazônia:Belém

destes, impedem o pagamento de aluguéis, implicando na recusa de “aceitar” crianças

enquanto cachorros são bem vindos, refletem uma situação nefasta: a casa deverá ser

alugada a que possa pagar; sendo que, por dedução, sustentar um cachorro e talvez

filhos denota essa condição...

Quando analisamos a referência que nosso relator faz a mentira como

um fator para o desenvolvimento das favelas, devemos primeiro compreender as

razões subjetivas que levam um indivíduo a não reconhecer ou declarar seu “fracasso”

e mascarar a sua realidade apresentando-a de forma a demonstrar aos demais que

“estão bem de vida”, inclusive por meio de inverdades.

Outro fator, muito significativo, pode-se atribuir a mentira vinculado

pelos meios de comunicação de massa – a mídia -, quando este apregoam a fartura e o

grande números de empregos da cidade, vendendo a todos, sem distinção, um

estilo/modelo de vida; basta nós observarmos o que os meios de comunicação

“vendem”: o bem estar e o luxo, através das grifes de roupas, bebidas, cigarros, bem

como a responsabilidade do indivíduo em “vencer”, sendo que a mídia cria também

uma expectativa e novos valores e símbolos sociais.

Considerando o entendimento do IBGE, a favela se constitui numa

ocupação juridicamente “ilegal” de terras. Terras sem uso, em geral do poder público

são ocupadas pelas famílias sem terra e sem teto.

O IBGE atesta ainda que, mais de 80% da população favelada mora

em regiões metropolitanas, o que serve de um primeiro demonstrativo de que a

chamada crise habitacional está concentrada onde também se concentra a produção, ou

seja, concentração de riqueza e de pobreza, pois nas metrópoles o preço das terras são

mais elevado, o que torna mais difícil o acesso a terra e à moradia a uma grande

parcela da população.

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As favelas começam a serem “sentidas” no momento em que se

expande o processo de industrialização-urbanização, e a partir da década de 50 passam

a ser consideradas, pelas autoridades constituídas, como problema.

Problema este que ao longo do tempo tem sido visto de várias formas:

como um local de marginais, sendo imprescindível acabar com as favelas para acabar

com a marginalidade; como um “curral eleitoral” lugar de se conseguir votos, sendo

necessário visitá-los, fazer promessas, tratá-los como iguais haja visto que os seus

votos valem como de qualquer outro; e até como resultado do processo de migração e

os favelados vivem desta forma, porque estão es “integrando” no meio urbano,

“criam” um lugar que lhes lembram o campo.

Segundo esta ultima visão é preciso treinar, educar os moradores da

favela a se integrar no meio urbano, para que possam passar da casa de madeira para o

de alvenaria, para que familiarize-se com os serviços urbanos e para que possam se

incorporar ao mercado de trabalho e a cidade. Podemos notar que todos as visões

acerca das favelas e dos favelados são pejorativas e contem uma pesada carga de

preconceito...

A favela surge da necessidade do onde e do como morar. Se não é

possível comprar uma casa pronta, nem o terreno para autoconstruir, tem-se que buscar

uma solução. Para muitos a solução é a favela. A favela é um produto da conjugação

de vários processos: da exploração dos pequenos proprietários rurais e dos camponeses

em geral e da superexploração da força de trabalho no campo, que conduz as

sucessivas migrações rural-urbana, bem como as interurbanas, sobretudo das pequenas

e médias para as grandes cidades.

È também produto do processo de empobrecimento da classe

trabalhadora em seu conjunto, bastando lembrar que o valor real do salário mínimo

tem sido extremamente depreciado e está, no atual momento, num dos seus mais

baixos patamares, cerca de 60% do seu valor real em 1960. É resultado também do

preço da terra urbana e das edificações, sendo que a favela exprime a luta pela

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sobrevivência e pelo direito ao solo urbano de uma parcela significativa da classe

trabalhadora.

As favelas são, para a população, uma estratégia de sobrevivência.

Uma saída, uma iniciativa (ás vezes dirigida), que levanta barracos de um dia para o

outro, contra uma ordem segregadora. Uma iniciativa que, inclusive desmistifica o

mito da apatia do povo: é possível considerar apático um indivíduo que luta pela

sobrevivência, que busca resgatar seus direitos usurpados? Por todos esses argumentos

a favela deveria ser vista como uma estratégia de sobrevivência daqueles que não

possuem outra alternativa para prover uma residência para si e sua família.

Nós compreendemos que o ato de morar, de residir é amplo, complexo

e estende-se além dos limites físicos da casa propriamente dita; este deve ser

entendido como um fenômeno psicossocial que está intimamente ligado á persepção

que esses indivíduos constróem em relação a seus espaços de relações, espaços

cotidianos ou espaço vividos por eles próprios e seus pares, sendo estes impregnado do

sentimento afetivo e de identidade, onde a (re)territorialização ocorre segundo a

capacidade de adaptação deste com o referido ambiente, seja ele qual for. O

fundamental, neste caso, seria o grau de satisfação que o dado indivíduo adquire junto

a sua moradia.

Consideramos tão expressivo este fator que “arriscamos” a uma

analogia entre “morar e namorar”, no sentido que o indivíduo quando se

territorializa em um determinado ambiente ele não apenas habita em um meio físico, a

procura de abrigo e segurança; ele, na verdade, “namora” com as relações que se

estabelecem em seu entorno, namora sua moradia, sua vizinhança, seu ecossistema,

enfim estabelece uma relação intensa e afetiva com seu espaço circundante, da mesma

forma que este cortejaria/namoraria um outro indivíduo do gênero sexual de sua

opção...

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Page 50: Monogafia de Gradução: Produção do Espaço urbano na Metrópole da Amazônia:Belém

Ao longo do tempo um conceito hegemônico de favela que se mantém

em detrimentos de inúmeros outros, é o que se refere aos seus ocupantes como sujeitos

de uma ocupação irregular.

As definições que se referiam às características da moradia estão

paulatinamente mudando a medida em que se modificam as características das

residências que antes eram de madeira e sucata e hoje passam a ser de “madeirit” e

blocos de cimento.

Os moradores das maiorias das favelas não são os proprietários legais

das terras que ocupam para moradia, contudo as ocupações tornam-se cada vez mais

legitimada pelo próprio poder público; pois este sem condições de resolver o problema

da falta de moradia e pressionado pelos moradores, o poder público mantém

programas de urbanização das favelas.

Os moradores cada vez mais lutam pelo direito de concessão real de

uso ou usucapião urbano. O primeiro diz respeito em conquistar o direito de utilizar o

imóvel por um prazo que não exceda 99 anos.

O segundo, que trata do usucapião urbano, também é uma

reivindicação que se coloca para os movimentos de moradia, sobretudo depois da

promulgação do Estatuto da Cidade, por parte do Governo Federal, instrumentalizado

por meio da Lei nº 10.257 de 10 de Julho de 2001, em que no interior de sua Seção V -

Do usucapião especial de imóvel urbano – no artigo 9º reza que:

(...)“aquele que possuir como sua áreas ou edificação urbana de até

duzentos e cinqüenta metros quadrados, por cinco anos,

ininterruptamente e sem oposição, utilizando-a para a sua moradia ou

de sua família, adquirir-lhe-á o domínio, desde que não seja

proprietário de outro imóvel urbano ou rural”(...) (Estatuto da

Cidade, 2001)

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(...)e ampliado por meio do artigo10º onde declara que:

(...)“As áreas com mais de duzentos e cinqüenta metros quadrados,

ocupada por uma população de baixa renda para sua moradia, por

cinco anos, ininterruptamente e sem oposição, onde não for possível

identificar os terrenos ocupados por cada possuidor, são susceptíveis

de serem usucapidas coletivamente, desde que os possuidores não

sejam proprietários de outro imóvel urbano ou rural”(id).

Percebemos pelo princípio desta legislação uma analogia conceitual e

jurídica oriundo do direito romano: o uti possidetis (interdito possessório: a posse

legitimada e justificada por uma circunstância da realidade, pela ocupação efetiva). A

expressão completa é “Utis nunc possidetis, quominus ita vim fieri veto”. Utis

possidetis, ita possidiatis ou como possuis, continuais possuindo.

A noção da legitimidade conferida pela ocupação já fora inúmeras

vezes utilizada como princípio jurídico para legitimar o domínio territorial do Estado

brasileiro sobre terras em litígio, desde o período colonial (por exemplo o Tratado de

Madri), tendo consigo uma tradicional ganhos nacional, devido ao sucesso dos bons

serviços prestados, pelo também tradicional do corpo diplomático brasileiro.

A consagração deste princípio legal, agora sendo utilizado para dirimir

conflitos e litígios territoriais urbanos, nos traz a esperança de ganhos significativos

aos movimentos reivindicatórios de moradia e uma radical mudança no

comportamento dos agentes imobiliários, sobretudo os especuladores, haja vista a

tradicional aceitação deste princípio jurídico ao longo de nossa história nacional.

A legislação municipal, em Belém, que regulava e controlava o uso do

solo, em décadas anteriores, não parecia estimulada a inovar o seu enfoque sobre os

agentes que produziam a cidade, posto que não criava nenhum mecanismo que

posicionasse frente á atuação desenfreada do capital imobiliário.

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Page 52: Monogafia de Gradução: Produção do Espaço urbano na Metrópole da Amazônia:Belém

Não conseguimos definir com fundamento, até o final deste trabalho,

se esta ausência foi fruto do desconhecimento de tais instrumentos, mas acreditamos

na hipótese de que o que ocorreu aqui foi um reflexo das tendências observadas em

outras cidades do país, de que a omissão da lei teria sido a implicação da luta de forças

entre os vários agentes que compunham o quadro político daquela época e cuja

omissão legal, teria sido extremamente providencial num momento que o mercado da

construção civil, maior gerador de emprego direto e renda no município, declinava

ante a grave crise enfrentada durante toda a década perdida (1980-1990).

O aspecto mais irracional de tal omissão, é que se a verticalização da

1º Légua serviu para fortalecer definitivamente o capital imobiliário, serviu também

para consolidar como única alternativa possível de terras “habitáveis” um espaço

brutalmente segregado, forçando a população socialmente carente a se alojar como

podia nas inóspitas e insalubres baixadas que envolvem as áreas nobres de Belém.

A legislação do município de Belém em 1979 sequer menciona a

busca do interesse coletivo, quando o direito á cidade ou bem estar físico e social do

cidadão, como o faz sua sucessora – a Lei de desenvolvimento urbano de 29/01/1988 -

que diz em seu art. 2º:

“São objetivos prioritários da política de desenvolvimento urbano

municipal:

I. Ordenar e controlar a utilização, ocupação e

aproveitamento do solo do território do município, no sentido de efetuar

a adequada distribuição das funções e atividades nele exercidas, em

consonância com a função social da propriedade;

II. Atender às necessidades e carências básicas da

população quanto às funções de trabalho, circulação, habitação,

abastecimento, saúde, educação, lazer e cultura, promovendo a melhoria

da qualidade de vida”.

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Page 53: Monogafia de Gradução: Produção do Espaço urbano na Metrópole da Amazônia:Belém

No início dos anos 90, seguindo a tendência da década anterior, a

situação social se torna insustentável e mais uma vez o espaço urbano é o palco

privilegiado de exemplos da segregação e das crescentes tesões sociais.

A periferia se adensa e se faveliza rapidamente, a violência urbana

explode e a omissão das leis em vigor e das políticas públicas contribuem para

consolidar, “como possível”, uma alternativa ilegal de acesso a um pedaço de chão,

que vem a ser a ocupação urbana de terrenos e/ou empreendimentos imobiliários

privados ou públicos ociosos no interior da malha urbana.

A segregação, e muitas vezes a exclusão, de boa parte da população

dos seus direitos de habitar (e por conseguinte de morar), por conta da valorização e

aumento abusivo do preço do solo, consolidou a luta de classes dentro deste espaço e

vem desafiando a intocabilidade do “sagrado” conceito de propriedade privada.

Esse processo causa uma intensa mobilidade horizontal da população

de baixa renda, que passam a ser, de forma bem particular, incorporadores e

produtores do espaço urbano. No capítulo a seguir faremos uma discussão mais

profunda acerca desse fenômeno sócio-espacial ocorrido em Belém do Pará.

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Capitulo VI

DA BAIXADA À PERIFERIA DISTANTE: MIGRANTES EM BUSCA

DE UM LUGAR PARA SE VIVER

O Instituto de Desenvolvimento do Estado do Pará (IDESP) associado

á Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia (SUDAM) através do Estudo

Ambiental do Estuário Guajarino em 1990 definiu como “Baixada”, título este

entendido como genuinamente Amazônida, a toda áreas que ficando normalmente

abaixo da cota de 4 metros, sendo que tais áreas são sujeitas a inundação pelas marés,

pois a maregrama típico, quanto a Belém, estipulou a preamar em mais de 3,20 metros

e a baixamar em mais de 0,50 metros, embora as cotas máximas conhecidas alcancem

mais de 4,11 metros na preamar e mais 0,37 metros na baixamar, entretanto se ocorre

sua ocupação por palafitas e construções variadas enseja nestes sítios efeitos retentivos

ou estagnantes quanto as águas das marés, efeitos que se tornam mais intensos e

graves quando as preamares coincidem com fortes precipitações pluviométricas.

Informação fundamental quando compreendemos que o processo de

ocupação das baixadas teve sua origem no mesmo processo de crescimento da cidade

de Belém, que se inicia em 1832 com a demolição da muralha defensiva do Convento

de Santo Antônio. É a partir dali que se deu origem a praça na qual convergiam

inúmeras vias, originando no efetivo espraiamento da cidade.

Na medida que a cidade crescia, ela encontrava entraves naturais a seu

crescimento que eram os igarapés, lagos e lagoas. Nesse processo o primeiro passo

para transpor os obstáculos naturais foi a construção das Docas mais próximas ao

centro, e posteriormente deram origem aos processos de canalização, aterramento e

posterior ocupação urbana; neste sentido a Doca do Imperador foi a primeira a ser

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Page 55: Monogafia de Gradução: Produção do Espaço urbano na Metrópole da Amazônia:Belém

aberta em 1851, que mais tarde foi batizada como Doca do Reduto. Quase na mesma

época foi construída a Doca do Igarapé das Almas. Em 1898 se fez o mesmo com a

Doca de Souza Franco.

A pouco mais de meio século de sua retificação, o Igarapé do Reduto

desaparece para dar lugar a construção do Porto de Belém, e em seguida, em 1910 o

Igarapé da Almas é desviado.

A ocupação dos igarapés pode-se identificar como primeiro processo

de “invasão-sucessão”, que transformou os ecossistemas das áreas de baixadas, antes

espaços predominantemente naturais que cumpriam uma função fundamental na

reprodução do sistema ambiental da micro-região, como regulador da umidade e da

temperatura, assim como o de amortizador dos processos perene das marés, bem como

o de fonte de alimentícia para a reprodução das espécies aquáticas da região, que hoje

se constituem em espaços canalizados, desflorestados e contaminados por dejetos

produzidos pela ação antropogênica.

As transformações ambientais e climáticas que se produziram nestes

espaços, provocando impactos urbanos, que no caso específico da temperatura local,

tem seu efeito na vida cotidiana da população de Belém, ao extremo de modificar

espaços, que mesmo não sendo utilizados durante todas as horas do dia, incidem

substancialmente sobre a área urbana aumentando a sensação térmica em vias e

corredores de circulação e suas respectivas circunvizinhanças.

As habitações de espaços intermediários aos arredores do centro

urbano de Belém trazem consigo desde o princípio, o surgimento dos conflitos de

ordem legal. Já na década de 30 se tem notícia de conflitos fundiários em áreas que

atualmente pertencem aos bairros de Umarizal e Telégrafo. Contudo o processo de

ocupação sistemática só deu início na década de 50 quando se apresenta um

crescimento populacional mais intenso, colaborado pela presença do “Cinturão

Institucional” que estrangulou sobremaneira este crescimento, o que implicou por

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Page 56: Monogafia de Gradução: Produção do Espaço urbano na Metrópole da Amazônia:Belém

apresentar uma ocupação com dos tipos espaços, o de dentro do Cinturão com

valorização mais alta e os de fora do cinturão com valorização bem menores.

“Formando um anel que, o Rio Guamá até a baía do Guajará, se

estende junto aos limites da 1º Légua Patrimonial da cidade, tais

áreas passaram a separar a malha urbana belemense à medida em

que esta também se expandiu pela 2º Légua Patrimonial, pois em

virtude dos usos que se atribuem tais espaços, as instituições

detentoras não podem consentir que todo sistema viário de uma parte

tenha a normal continuidade pela outra parte, resultando disso que

tão somente umas poucas vias servem à expansão urbana. Ademais,

parcela expressiva de tais áreas institucionais situa-se em terrenos

altos e secos, pelo que contribui para diminuir a disponibilidade

destes terrenos para uso da população que, conforme a cidade tem

crescido, ocupa espaços alagados ou alagáveis ou vai se localizar na

periferia afastada”. (Companhia de Desenvolvimento e

Administração da Área Metropolitana de Belém, 1980) .

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Page 57: Monogafia de Gradução: Produção do Espaço urbano na Metrópole da Amazônia:Belém

Figura 1: Monumento do Marco da Primeira Légua

Patrimonial do Município de Belém;

Fonte : Eder Libório - 2000

Este processo especulativo se intensificou na década de 60, com a

troca no sistema de valores do solo urbano, pois este acabou por determinar a presença

ou não de infra-estrutura básica, em virtude da pouca oferta e cada vez mais crescente

demanda.

“Nesse processo de intervenção do Estado em relação à efetiva

incorporação de áreas alagadas, há quer se enfatizar jogo em que o

solo urbano está envolvido, no processo de valorização dos espaços

das cidade. A urbanização dessas áreas é realizada á medida em que

estas possam estar inseridas diferentemente, em termos de

localização, ao contexto da cidade.” (Trindade Júnior, 1993).

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Page 58: Monogafia de Gradução: Produção do Espaço urbano na Metrópole da Amazônia:Belém

Nós consideramos que a compreensão setorizada das obras de

recuperação das baixadas, resolve situações particulares, agravando as condições dos

espaços circundantes. Isto porque a elevação das cotas das vias e terrenos

isoladamente, passa a drenar água para as porções inferiores, inclusive retendo ou

dificultando seu escoamento como é o caso da Avenida Bernardo Sayão. Soma-se a

isso o fato de que , as canalizações dos igarapés, levado a cabo, sem sistema de

comportas, fazem com que os leitos desses cursos sejam responsáveis pela penetração

d’água nas áreas de baixadas, como eram os casos dos afluentes do Guamá.

Compreender os processos de crescimento das cidades dos países

subdesenvolvidos, é um compromisso inadiável, sobretudo para as autoridades

responsáveis pelo planejamento urbano, haja vista as previsões para um futuro

imediato de que a maioria absoluta das cidades habitadas por um milhão de pessoas

hoje passarão a quadruplicar essa cifra, sendo que serão estas, a moradia de três

quartos das populações de suas regiões. As cidades Amazônicas pertencentes a estas

previsões, por terem taxas elevadíssimas de crescimento urbano e demográfico, serão

futuro albergue de mais da metade das populações de suas regiões.

Sem exceção, as autoridades governamentais estão conscientes desta

preocupante realidade, contudo seguem sob a égide da estrutura centralista, oscilando

entre os interesses dos especuladores imobiliários urbanos e as necessidades imediatas

da população, sem as mínimas condições de se encontrar uma forma de conciliá-los,

para que se permita uma real possibilidade de organização e planejamento urbano com

alguma perspectiva de equilíbrio sócio-ambiental.

Somos todos conscientes que o principal entrave para que se encontre

uma solução para a problemática habitacional é econômico, pois um número

significativo da população resolve suas necessidades de moradias de maneira

incremental, mediante estratégias que lhes garantam um lote urbano a um custo não

superior a US$ 2.000,00, sendo que os governos municipais são incapazes,

economicamente, de atendê-los com serviços básicos e infra-estrutural. O pivô de

maior relevância para multiplicação deste círculo de desequilíbrio, geralmente está

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Page 59: Monogafia de Gradução: Produção do Espaço urbano na Metrópole da Amazônia:Belém

relacionado a um problema de ordem estrutural, tendo a ver com as desigualdade com

que estão distribuída as riquezas nacional, como evidência Lisboa:

“Evidente que a ação do Estado, no que se refere à questão urbana,

tem se mostrado ineficiente, haja vista que os programas

implementados tem se caracterizado por serem qualitativa e

quantitativamente insignificantes, atingindo apenas parte dos

problemas existentes nas cidades.” (1989).

A complexidade desta problemática se acentua quando visualizamos o

ordenamento político institucional, composto por três agentes fundamentais, e quase

nunca em sintonia, que são: os Governos Federais, que atuam em escala do território

nacional; os Governos Estaduais, que é responsável por agir a nível regional com suas

secretarias e departamentos afins; e por fim o que atua na escala local que são os

Governos Municipais. A probabilidade de resolução dos problemas habitacionais, só

são verdadeiramente visualizadas quando tais demandas forem encaminhadas pelos

diversos níveis de poder em conjunto, cada um em suas especificidade e competência,

buscando uma mesma meta comum.

A Cidade de Santa Maria de Belém do Grão Pará, historicamente

considerada como o portal que une a Região Amazônica ao resto do mundo, sobretudo

no período colonial, bem como ao centro financeiro, administrativo e tecnológico

nacional nos dias atuais, passou desde sua fundação por vários estágios de organização

urbanísticos, dentre eles os mais significativos foram: o colonial, que caracterizou por

ser a primeira cidade com fim estratégico militar nascida e sustentada por uma

economia extrativista e portuária; o período republicano, com a implantação da

primeira légua patrimonial e seu cinturão ecológico, além da adesão urbanístico e

arquitetônica do estilo e estética francesa da “Belle Epoque”; e na modernidade, em

que generalizou-se um evidente processo de centralização e concentração das

atividades produtivas hegemônicas, incorporando uma fisionomia que se define por

um processos de invasão-sucessão e saturação do espaço urbano, assim como um

alarmante processo de segregação social que provoca a degradação ambiental.

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Page 60: Monogafia de Gradução: Produção do Espaço urbano na Metrópole da Amazônia:Belém

Na atualidade, como todas as cidades que ultrapassou seus limites dos

fluxos e das distancias aceitáveis, tanto física quanto tecnologicamente, e não resolveu

os problemas intrínsecos de seu crescimento acelerado, se encontra buscando soluções

que lhe permitam superar seu incontrolável crescimento, cujos prognósticos são

verdadeiramente desalentadores.

Nas experiência de todas as cidades latino americanas, e por

conseguinte de Belém, os trabalhos e esforços de recuperação de áreas para

urbanização sempre implicou num forte argumento ou pólo de atração para a

migração, há casos em que esses processos alcançaram taxas de crescimento

superiores a 17% nos períodos de sua implementação; tal afirmação nos induz a

acreditar que um projeto urbanístico radical produzirá algo similar, agravando ainda

mais os processos de invasão-sucessão.

“(...) entre 1950 e 1960, só no bairro da Condor, viu sua população

aumentar em 580,90%, o do Jurunas em 101,80%, o do Guamá em

68,52%,, o que corresponde a uma variação absoluta de 15.065

habitantes para o Jurunas (no maior aumento registrado em Belém na

década 1950-60), 10.619 para a Condor e 9.515 para o

Guamá”(Penteado, 1968).

Entendendo - nesta monografia - processo de invasão-sucessão como

aquele em que se estabelece transferencia do espaço urbano, de um valor funcional

para outro, de um valor social para outro, e em conseqüência de um valor ambiental

para outro.

A invasão se refere a introdução de novas atividades urbanas em um

ecossistema urbano estável, provocando um desequilíbrio em suas condições de

relações e interações. A sucessão é o respectivo processo de acomodação desse

ecossistema em função das novas exigências das relações impostas pelas incipientes

atividades introduzidas.

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Page 61: Monogafia de Gradução: Produção do Espaço urbano na Metrópole da Amazônia:Belém

Um ecossistema urbano não é modificado de uma só vez; em cada

espaço intra-urbano se apresentam inúmeros processos de invasão-sucessão, os que se

produzem de maneira sucessiva as margens do processo de crescimento dos espaços

urbanos, é assim que eles interferem nas atividades básicas das cidades, e que podem

ser motivadas por aspectos diversos: funcionais, infra-estruturais, econômicos, etc.;

são os que impulsionam os demais processos de remodelagem urbana.

É importante perceber que qualquer lugar possibilita uma clara leitura

de seus processos de invasão-sucessão, pois veja: um riacho constitui um ecossistema

natural que cumpre uma função fundamental para os processos ecológicos do rio,

equilibrando as descidas das marés (preamar e baixamar), dotando de alimento ás

espécies aquáticas e propiciando proteção para reprodução de determinadas espécies

aquáticas e terrestres, etc. Quando as cabeceiras e/ou vales dessa várzea sofre uma

ocupação expontânea e passa a ser utilizado como residência humana, esse

ecossistema é alterado por força das atividades antropogênicas que ali começam a se

produzir, transformando a calha fluvial de segunda ordem, que em outrora era um

coletor natural, em um coletor de resíduos sólidos e dejetos urbanos.

A sensibilidade dos ecossistemas são muito grandes, sobretudo os

naturais, por que todos os seus componentes estão interrelacionados e em constante

interação entre si, em equilíbrio, de tal forma que ao se modificar um dos “elo”, todos

os demais se acomodam, modificando sua composição original em busca de um novo

“equilíbrio”.

Da mesma maneira, quando um igarapé é convertido em Doca, se

produz uma invasão, introduzindo ali atividades de navegação como portos e trapiches

para pequenas embarcações, as atividades comerciais e produtos pesqueiros, as

residências das populações que se dedicam diretamente as atividades pesqueiras e

comerciais, etc.

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Page 62: Monogafia de Gradução: Produção do Espaço urbano na Metrópole da Amazônia:Belém

Todos os processos pertencentes ao ecossistema original passa as ser

afetado pela introdução das novas atividades, o que implica diretamente, num processo

de troca, dos quais os diversos elementos procuram a se acomodar haja vista que ser

produziu-se, neste nicho, uma sucessão que deve se equilibrar sob a forma de um

ecossistema modificado.

Num ecossistema urbano e social, as habitações dos espaços

beneficiados pelas implementações de políticas públicas e por equipamentos urbanos,

acabam favorecendo origem a atividades residenciais cada vez mais sofisticadas,

inclusive do tipo vertical, sendo que proliferam as atividades comerciais e de

transportes que estas geram e introduzem ao ecossistema, ocasionando pela terceira

vez processos de transformações e de equilíbrio de uma nova forma de sucessão.

Abelém, fez referência aos processos de invasão-sucessão quando escreveu o seguinte:

“O PAI (Plano de Ação Imediata, 1976) previa a remoção de famílias

da área que iria sofrer a drenagem para a construção do canal e

aterramento da mesma. No entanto, o plano não teve o sucesso

esperado, uma vez que as famílias não conseguiram se fixar nas

áreas para qual foram removidas; a área sob a intervenção não

recebeu o tratamento prometido; as famílias que permaneceram, não

foram beneficiadas; e a valorização do espaço ficou garantida, não

só no local, como também na área destinada á remoção ”(Abelém,

1988).

No caso concreto do conjunto Jardim Sevilha, iguais todas as áreas

periféricas junto aos eixos de expansão metropolitano, o processo foi bem parecido,

em razão de tratar-se de espaços geográficos dependentes das funções urbanas do

centro da cidade, e por ter uma área de influência cujo os contornos pode-se encontrar

áreas consolidadas em meio processos em consolidação.

Outra definição importante relativa a este estudo é a que Castells

definiu como concentração-desconcentração, e tem como fundamento a forma de

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Page 63: Monogafia de Gradução: Produção do Espaço urbano na Metrópole da Amazônia:Belém

organização das atividades urbanas em torno de sua região central, causando

sobrecarga espacial e a concentração de funções urbanas em um determinado lugar,

que se expressa por sua intensidade, concentrada em torno de uma determinada função

básica, que contudo produz uma disfunção por “desprezar” as demais funções, e

estabelecendo um regime de prioridades baseado em fatores estritamente econômicos.

Essa falta de prioridade obrigam o deslocamento das funções

desprestigiadas e/ou desvalorizadas, que procuram espaços disponíveis, nas maiorias

das vezes, na periferia das cidades, constituindo um processo de desconcentração

daquelas atividades “desprezadas” que situavam nos setores centrais antes da

concentração funcional na zona central, sendo obrigadas a construir-se em outros

espaços oxigenando-os, a partir dessa desconcentração.

Geralmente ocorre com o crescimento das atividades comerciais,

aquelas que se dão preferencialmente em relação ao sistema de transporte; tal

concentração atraem as atividades financeiras, que por sua vez atraem as atividades

administrativas, e assim por diante; esse processo é responsável pelo espraiamento das

atividades residenciais originárias, sendo que sua população é que sustenta essas

atividades comerciais implicando no surgimento de novos processos de concentração

de atividades comerciais desta vez em função dos núcleos residenciais, dando origem a

uma nova escala de concentração: os distritos; e assim sucessivamente.

São característicos esses processos de formação de centros urbanos

nas cidades Pan-Amazônicas, sendo que Trindade Júnior fez o seguinte comentário

sobre Belém:

“...Um exemplo desses processos mostra-nos a concentração de

atividades comerciais na zona central da cidade, que por contato com

núcleos históricos e com outros espaços de ocupação mais recente,

vivenciou um pouco dos vários processos que marcaram a construção

do espaço urbano de Belém: o de centralização e de consolidação da

área central, o de descentralização.” (Trindade Júnior, 1993).

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Page 64: Monogafia de Gradução: Produção do Espaço urbano na Metrópole da Amazônia:Belém

No caso específico de Belém, com o espraiamento das atividades

residenciais ao longo da Avenida Alte. Barroso, Br-316 e Augusto Montenegro,

produz-se a desconcentração destas atividades, em alguns casos reproduzindo os

modelos originais; possibilitando inclusive a implantação de centros comerciais mais

complexos, como Shopings Centers, em função do potencial de concentração

populacional dessas áreas. Entretanto, esse não é um processo pontual, se produz de

maneira sucessiva na medida em que se produz as transferências urbano-espaciais,

gerando os distritos e bairros, que em muitos casos constitui-se em verdadeiros centros

comerciais de maneira espontânea pela demanda local ou pela ação dirigida do plano

diretor urbano, produzindo por sua vez novos processos de desconcentração.

É importante considerar que, apesar da tendência das populações que

habitam as áreas centrais retirar-se geralmente para as áreas periféricas, estas áreas

centrais ainda seguem tendo uma atração muito forte para outros níveis e setores da

população das periferias, que buscam vantagens que não dispõe em seus respectivos

locais de origem.

Este fenômeno é comum em Belém, pois tanto as população de alta

renda e algumas de classe média desejam viver em áreas de cotas altas da periferia,

sendo que a população de baixa renda e de classe média baixa tem o objetivo morar

nas zonas centrais.

Em relação as áreas de baixadas, por se tratar de áreas que sofrem

grande influência do centro urbano de Belém, e serem habitadas, estas são um arsenal

dos processos intra-urbano de centralização-descentralização do centro urbano, se

manifestando tanto pelo transbordo das atividades comerciais, financeiras e

administrativas quanto na implementação de residências para reassentamento das

populações periféricas, ambas propicias dos processos de centralização, como os

processos de realocação das atividades residenciais em outras áreas mais afastadas, em

virtude da saturação dos espaços urbanos, que por sua vez voltam a nutrir o processo

de centralização-descentralização.

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Page 65: Monogafia de Gradução: Produção do Espaço urbano na Metrópole da Amazônia:Belém

A partir de uma observação impírica, notamos que a cidade de Santa

Maria de Belém do Grão Pará define a estrutura de setores urbanos; que configura

concentricamente em torno de sua zona central – centro comercial -, definido a partir

do bairro da cidade velha e do porto de Belém; como sendo resultado imposto pelas

singularidades da geografia da cidade, que por sua vez se projeta (espraia) para o leste

e para o sul do continente. (Observar Figura 02).

A partir da região central se estende seus eixos principais e seu

primeiro arranjo espacial, onde se situa o centro de comercio varejista e a industria de

serviços; a exemplo do que ocorre nos eixos viários da Avenida Senador Lemos, Alte.

Barroso, Presidente Vargas e 1º de Dezembro, este ultimo pelo potencial vislumbrado

por seu futuro prolongamento.

O paradigma latino americano de urbanização, o diferencia dos

demais modelos devido a uma especial discrepância em relação a estes, pois não são

determinadas as zonas residenciais dos trabalhadores, ficando assim pouco claras as

zonas residenciais dos setores populares, que situam-se em função dos centros de

comércios formais, criando verdadeiros núcleos urbanos de comercio informal, como

se pode perceber no distrito do Guamá.

Os espaços compreendidos em torno dos centros de comércios

minoritários e de oficinas (serviços), assim como ao longo dos eixos de circulação, são

ocupados por residência de nível médio em especial na forma de verticalização. Estas

são claramente observadas em todas as avenidas das zonas centrais e das vias que

conectam o centro urbano com as vias de primeira ordem e segunda ordem, como a

avenida Magalhães Barata, Pedro Miranda, Duque de Caxias, Bernal do Couto.

A localização das residências de auto nível possuem indicadores

importantes, que são: sua vizinhança com os bairros populares e dos setores, ditos

perigosos, e a condições de seus terrenos; que no caso de Belém adquire especial

importância, por tratar-se da escassez de terrenos altos em relação as cotas dos rios.

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Page 66: Monogafia de Gradução: Produção do Espaço urbano na Metrópole da Amazônia:Belém

Estas cotas altas e mais valorizadas encontram-se justamente em alguns setores, como

ao longo da Rodovia Augusto Montenegro, Bairro do Coqueiro, Val-de-Cães, etc.

Da mesma forma, as chamadas áreas suburbanas, são representadas no

caso da cidade de Belém, pelas áreas periféricas desprevilegiadas, cuja definição

encontram claras diferenciação sociológicas, haja vista que a primeira se refere a uma

periferia da cidade ocupada por uma população tradicional e estável, em detrimento da

segunda que está caracterizada por ser uma periferia ocupada principalmente por uma

população migrante e “anônima”.

Estas particularidades na estrutura de Belém lhe dão uma especial

significação na zona de influência do Distrito Administrativo do Benguí, por ser o elo

de ligação e de influência direta do centro urbano com o restante da Região

metropolitana de Belém (RMB), e por conter importantes eixos de comunicação que

tendem a atrair o crescimento do comércio e as indústrias de serviços, em virtude do

forte potencial populacional, inclusive no que tange a incorporação progressiva de

residências de nível médio e alto.

Isso significa que, num futuro próximo, o atual comercio minoritário e

informal localizado ao longo da Rodovia Augusto Montenegro, Artur Bernardes,

Mário Covas, Transcoqueiro e Tapanã serão substituídos por novas atividades, e

consequentemente também os serão as residências populares dependentes destes tipo

de atividades comercial. A tendência do processo de invasão-sucessão, motivado pela

forte centralização exercida pelo centro urbano de Belém e pela regiões intermediárias

nos distritos administrativos do DASAC e DAENT, será acelerado no que diz a

respeito as habitações das áreas populares ao longo dos eixos viários mencionados.

A sucessão traz consigo a expulsão dos comércios descapitalizados e

informais, no qual lhes cabe a realocação para algum setor da cidade ou da RMB, cada

vez mais longínquo, onde haja forte presença de consumidores para seus mercados,

dando origem a outro processo da invasão-sucessão por parte das residências dos

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setores de baixo poder aquisitivo, que buscam a proximidades destes mercados e vice-

versa.

Para proporcionar uma visão mais ampla, dos fatores que

determinaram os processos de ocupação e configuração espacial e econômica de

Belém do Pará, iremos a seguir discorrer sobre a formação territorial do município

supracitado.

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Page 68: Monogafia de Gradução: Produção do Espaço urbano na Metrópole da Amazônia:Belém

Capítulo VII

RESGATE DA FORMAÇÃO TERRITORIAL DA CIDADE DE SANTA

MARIA DE BELÉM DO GRÃO PARÁ

Belém, (ex-Santa Maria de Belém do Grão-Pará) Capital do Estado do

Pará, que se localiza na zona de unidade geológica Bragantina, fundada em 12 de

janeiro de 1616, quando Francisco Caldeira Castelo Branco construiu o fortim do

Presépio, que mais tarde se transformou na cidade de Santa Maria de Belém do Grão-

Pará. O local foi escolhido pelos portugueses como defesa do nordeste brasileiro às

incursões de piratas holandeses, ingleses e franceses.

Situado na entrada da bacia amazônica, o local oferecia ótimo abrigo a

navegação e proporcionava fácil acesso à toda Amazônia. A cidade evoluiu muito a

partir de 1867, por dois motivos principais: abertura do rio Amazonas à navegação

internacional e instalação na região da exploração da borracha. A cidade se tornou

entreposto de toda a região, e grandes melhoramentos urbanos foram realizados.

Com a decadência econômica da borracha, esse progresso não teve

continuidade, sendo que somente nos últimos decênios Belém voltou a retomar o ritmo

de desenvolvimento. A expansão do mercado interno do país, refletiu-se no

aparecimento de novos bairros, na multiplicidade de instalações fabris e num grande

centro comercial, dotado de modernas edificações.

A cidade de Belém, assenta-se sobre terraços de planície quaternária,

com altitudes variando de sete a quatorze metros. Graças à situação geográfica, na

entrada do rio Amazonas, Belém representa o papel de maior entreposto comercial da

Amazônia Oriental. Concentra para exportação quase todos os produtos do

extrativismo regional destinados ao mercado interno e externo, ao mesmo tempo que

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Page 69: Monogafia de Gradução: Produção do Espaço urbano na Metrópole da Amazônia:Belém

recebe para distribuição no interior de seu perímetro tributário, manufaturas nacionais

e estrangeiras.

Pouco a pouco Belém vai se industrializando, com beneficiamento de

produtos agrícolas e exploração florestal. Possui fábricas de móveis, curtumes de

couros e peles, fiação de algodão, juta e malva, fábricas de produtos alimentícios,

sabões, artigos de perfumaria, roupas, calçados, bebidas e alguns estabelecimentos

metalúrgicos. Conta com duas usinas termelétricas de gestão federal, Val-de-Cães e

Miramar, que lhe asseguram um potencial energético 36.000 KW a mais que os

750.000 KW recebidas da Usina Hidrelétrica – UH - de Tucuruí. Além do porto ligado

ao rio Amazonas pelos estreitos de Breves e ao litoral norte do mar territorial brasileiro

pela Baía de Guajará, possui duas importantes rodovias: a Belém-Bragança e a Belém-

Brasília.

Turisticamente a cidade oferece, além de hotéis, restaurantes e

cinemas modernos, numerosos pontos de interesse turístico, como sobrados com

fachadas de azulejos antigos, vários mercados onde são encontrados produtos típicos

da Amazônia, o Bosque Rodrigues Alves, o Museu Emílio Goeldi, o Parque da

Residência, o Theatro da Paz e o famoso cais do Ver-o-Pêso, dentre inúmeros outros

pontos. A cidade é também sede de arcebispado.

Destacam-se ainda: o museu Goeldi, que é o centro de pesquisas sobre

a fauna, a flora, a etnologia e a geologia regional; o Instituto Evandro Chagas e o setor

amazônico do Serviço Especial de Saúde Pública, que se dedicam ao estudo das

doenças tropicais e a atual Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária

(EMBRAPA), centro científico dedicado aos problemas do desenvolvimento da

Agricultura e da Pecuária na região amazônica. Possui superfície 736 km.

A história da cidade de Belém confunde-se, como será visto na

descrição que segue, com a própria história do Pará através de quatro longos afanosos

e fecundos séculos de formação e desenvolvimento.

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Page 70: Monogafia de Gradução: Produção do Espaço urbano na Metrópole da Amazônia:Belém

A cidade de Belém foi fundada no dia 12 de janeiro de 1616, por

Francisco Caldeira Castelo Branco, antigo capitão-mor do Rio Grande do Norte, que

partindo do Maranhão, como chefe de uma expedição de 200 homens, em três

caravelas (Santa Maria da Candelária, Santa Maria da Graça e Assunção), comandadas

por Pedro de Freitas, Álvaro Neto e Antônio Fonseca, lançou os alicerces da cidade no

lugar hoje Forte do Castelo.

O fortim de madeira teve o nome de "Presépio", em cujo interior foi

levantada uma capela para o culto religioso, sob o orago de Nossa Senhora da Graça.

Essa fortificação, que ainda hoje subsiste, dominava militar e estrategicamente os

caminhos fluviais possíveis de ameaça a colônia.

Caldeira Castelo Branco, embora soldado de Felipe da Espanha, sob o

jugo de quem se achava Portugal, não se esqueceu que a empresa estava a cargo de

portugueses e desse modo deu às novas terras conquistadas a denominação de Feliz

Lusitânia, colocando-as sob a proteção de Nossa Senhora de Belém.

Na tropa de Caldeira Castelo Branco se encontrava Pedro Teixeira,

cujo nome está ligado à exploração do Amazonas, como o mais famoso perlustrador da

gleba. E Pedro Teixeira varou a selva por terra, de Belém ao Maranhão, para levar a

notícia do feito e trazer provimentos alimentícios de guerra, para a consolidação dos

novos domínios. Vencidas a lutas com os selvagens (Tupinambás e Pacajás) e com os

invasores estrangeiros (holandeses, ingleses e franceses), a cidade perdera, já, a

primitiva denominação de Feliz Lusitânia, passando a ser Nossa Senhora de Belém do

Grão Pará, para a qual Felipe da Espanha concedera os foros da Capitania.

Em 1650, a população somava 80 pessoas livres, sem incluir os

nativos, os religiosos e os soldados. Era o que dizia o Padre Antônio Vieira na sua

"Resposta aos Capítulos do Procurador do Maranhão". As primeiras ruas foram

abertas, todas paralelas ao rio. Os caminhos transversais levam ao interior. Era maior o

desenvolvimento para o lado Norte, onde os colonos levantaram as suas casas de taipa,

dando começo à construção do bairro que é hoje chamado de Cidade Velha.

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Do Forte do Presépio saíram os desbravadores do povoado. Densa

mata circundava a terra. O Igarapé Pirí, vindo do Norte, onde depois foi construído o

Arsenal de Marinha, descia pelo povoado, indo desaguar perto do forte, onde está hoje

a boca do Ver-o-Pêso. Os primeiros habitantes da parte sul foram os religiosos

capuchos do Santo Antônio, que construíram, à margem do Paraná-Guaçu, o hospício

do Una.

Até o meado do século XVII, Belém possuía, além dessa construção, o

convento e a Igreja de Nossa Senhora do Carmo, obra dos Carmelitas calçados, no

local onde Bento Maciel possuíra uma casa de residência; a Igreja e o Convento de

Nossa Senhora das Mercês, construídos em 1640, por frei Pedro de La Cirne e frei

João da Mercê e onde, em 1796, D. Francisco de Souza Coutinho mandou instalar a

Alfândega, que lá ainda continua. A Santa Casa de Misericórdia foi fundada em 24 de

fevereiro de 1619.

Absorvidos os portugueses com o domínio da região amazônica e

sempre perturbados pelos índios e estrangeiros, não foi lhes possível cuidar, nos

tempos iniciais, do progresso da capitania. O móvel maior a ambição do ouro era

causa principal dessa estagnação, que apesar do meio século de permanência, "dava a

colônia a orientação dos primeiros dias". “A idéia da fortuna imediata toldava todos

os espíritos, sem distinção de crença ou de cargos”, diz consagrado historiador

paraense a respeito dessa fase da vida belemense. E a cidade tinha de sofrer, no seu

progresso, as conseqüências do espírito ambicioso de seus primeiros povoadores.

Em 1676, chegaram da Ilha dos Açores 50 famílias, no total de 234

pessoas. Eram agricultores, que o Senado da Câmara localizou no trecho da cidade,

que se chamou de Rua São Vicente, atual Manoel Barata (outrora Pais de Carvalho).

Nessa época já estava instalada a Alfândega e construíram-se a Fortaleza da Barra e o

Forte S. Pedro Nolasco. Na Igreja e convento de Santo Alexandre o Padre Antônio

Vieira pregou alguns de seus monumentais sermões.

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No século XVIII a cidade começou a avançar para a mata, ganhando

distância do litoral. Pela Bula Apostólica de 13 de Novembro de 1720, foi criado o

Bispado do Pará e o 1. Bispo foi D. José Bartolomeu do Pilar, da ordem dos

Carmelitas Calçados. Nesta época a população era de 6 574 homens livres.

A lei de 12 de junho de 1748 estabeleceu o derrame de moeda de

metal-cobre, prata e ouro, para substituir os novelos de algodão e os gêneros nativos,

que eram o dinheiro da época.

A requerimento dos habitantes, foi fundada em 1755, a companhia de

comércio, cuja finalidade era "nutrir a fortuna individual dos moradores". Durou 22

anos e 7 meses. Trouxe ao Pará 12 587 escravos africanos, dos quais muitos foram

vendidos para Mato Grosso, por falta de compradores no Pará.

Foi iniciada a construção do Palácio do Governo, planta do arquiteto

Antônio José Landi, cuja conclusão se deu em 1771. Em 1793, D. Francisco de Souza

Coutinho, governador, capitão-general de Grão Pará e Rio Negro, organizou o sírio de

Nossa Senhora de Nazaré, tradicional préstito religioso, que movimenta todo o Estado.

Estabeleceu-se o serviço oficial do Correio; criaram-se escolas de

ensino primário e de humanidades; foi feita a abertura de poços de serventia pública, a

fundação do Jardim Botânico. As tropas militares ficaram agrupadas numa imensa

casa térrea que se estendia da travessa São Francisco a de São Pedro, donde veio o

nome de largo dos quartéis, hoje praça da Bandeira e Saldanha Marinho.

O Hospital de Caridade fora criado e Dom Frei Caetano Brandão, 6

Bispo do Pará, o obreiro mor. Também estava instalada a justiça. Ao terminar o ano de

1799, a cidade contava com 1 083 residências e 10 620 habitantes. Dom Francisco de

Souza Coutinho, cavaleiro da Ordem de Malta e capitão-de-fragata da Real Armada

Portuguesa, era o governador e capitão-general do Grão Pará e Rio Negro.

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Page 73: Monogafia de Gradução: Produção do Espaço urbano na Metrópole da Amazônia:Belém

O século XIX assinala, em seu primeiro quartel, o fim do período

colonial. Em 15 de agosto de 1823, o Pará aderiu à independência, após um período

agitados de lutas. A população do Município era de 12 467 almas. "O Paraense" foi o

primeiro jornal publicado no Pará, tendo circulado em 1 de abril de 1822, sendo seu

fundador Felipe Patroni. Em 1828, por lei de 1 de outubro, foi criada a Câmara

Municipal de Belém.

"A Cabanagem", revolução nativista, levantou o Pará todo. Uma onda

de sangue que abalou a terra paraense de 1833 a 1836. É também a página mais

emocionante e dramática da história da Amazônia. Em 1850, a população de Belém

era estimada em 40 980 habitantes. A "abertura do rios Amazonas, Tocantins, Tapajós,

Madeira e Negro à navegação dos navios mercantes de todas as nações", e representou

um notável feito e proporcionou desenvolvimento à capital paraense.

O recenseamento de 1 de agosto de 1872 apurou 84 867 habitantes. A

16 de novembro de 1889 a república foi proclamada no Pará.

Dissolvida a Câmara Municipal, por decreto n. 3, de 5 de dezembro

de 1889, da Junta Provisória Republicana, foi, em seu lugar, criado o Conselho

Municipal, composto de cinco membros, sendo um deles presidente, nomeados pelo

governador do Estado. Em 21 de fevereiro de 1890, o decreto n. 67 alterou a

constituição da Câmara, que passou a ter 7 vogais e o nome de Conselho de

Intendência Municipal. Com a lei orgânica dos municípios, em 28 de outubro de 1891,

"os municípios passaram a ser governados por um Intendente, com funções executivas

e um conselho Municipal com funções deliberativas".

O Conselho Municipal foi eleito em 15 de novembro de 1891, para o

triênio 1891-1894, sendo Intendente o Dr. Gama Abreu, barão de Marajó e vogais: Dr.

José Antônio Pereira Guimarães, José Marques Braga, Dr. Teodorico Cícero Ferreira

Pena, Antônio Delfim da Silva Guimarães, Filadelfo de Oliveira Conduru, Cícero da

Costa Aguiar e Ramiro da Silva Castro.

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Page 74: Monogafia de Gradução: Produção do Espaço urbano na Metrópole da Amazônia:Belém

A administração de Antônio José de Lemos, Intendente de 1897 a

1911, foi a fase áurea do município de Belém. Com apurado gosto, embelezou a

cidade, tornando-a atraente e desenvolveu-a, a ponto de faze-la o maior empório

comercial do vale amazônico. Os calçamentos de madeira foram substituídos pelo

granito. Construídos o Mercado de Ferro, o quartel do Bombeiros, o asilo de

Mencidade, o Necrotério Público, iniciada a rede de esgotos; os largos foram

transformadas em praças ajardinadas; abertura de ruas e travessas no bairro do Marco e

promovido o melhoramento do perímetro urbano. Mais uma légua de terra foi dada ao

patrimônio municipal; a iluminação pública instalada por eletricidade e servida a

particular por gás carbônico; a viação pública, por tração animal, foi substituída por

bondes elétricos; dois grandes jornais locais "A província do Pará" e a "folha do

Norte", refletiam a febre de progresso da capital Guajarina; suntuosos prédios;

esplêndidas moradias; belas avenidas e ruas.

Foi essa Belém que o singular e sugestivo Antônio Lemos,

maranhense radicado no Pará e enamorado da terra adotiva, apaixonado pelo seu

progresso, transformou de um semipântano quase inacessível ao civilizado, no

urbanístico e notável pórtico da Amazônia imensurável, solitária e fecunda. A queda

política de Antônio Lemos, logo seguida da derrocada da borracha e a primeira guerra

mundial, pararam a grande metrópole.

Sucedeu a Lemos, em 12 de junho de 1911, o coronel Sabino

Henrique da Luz, vice-presidente do Conselho, que permaneceu nas funções até 5 de

dezembro do mesmo ano, quando foi substituído pelo Dr. Virgílio Martins Lopes de

Mendonça, que completou o restante do período em 1913, quando foi escolhido para o

triênio que começava nesse ano. Renunciando à função, veio a ocupá-la o Dr. Dionísio

Ausier Bentes.

Em 1914, com a reforma constitucional de 3 de setembro, pela Lei

n.1.409, de 26 do mesmo mês e ano, os Intendentes da capital passaram a ser de

nomeação do governo estadual. Foi primeiro Intendente nomeado o Dr. Antônio

Martins Pinheiro, que teve como sucessores, daquele ano até 1930, os Drs. Cipriano

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Page 75: Monogafia de Gradução: Produção do Espaço urbano na Metrópole da Amazônia:Belém

José dos Santos, Manoel Rodrigues dos Santos, Antônio Crespo de Castro, Cel. José

Maria Camisão, Senador Antônio Facióla.

Com a vitória da revolução de 1930, foi Primeiro Intendente de Belém

o Dr. Ismael de Castro, seguido do Dr. José Carneiro da Gama Malcher e Padre

Leandro Pinheiro, que foi, com a mudança do nome de Intendência para Prefeitura, em

virtude do Decreto-Lei n. 12 398, de 11 de novembro de 1930, último intendente da

capital.

Seguem-se efetivamente, após o Padre Leandro Pinheiro, os prefeitos

Abelardo Conduru (duas vezes), Afonso Almeida, Alcindo Cacela, Emanuel de

Almeida Morais, Jerônimo Cavalcante, Alberto Egelhard e Lopo de Castro.

Após a ditadura, com a reconstitucionalização de 1945, foi eleita a

seguinte Câmara de Vereadores: Adolpho Burgos Xavier, Lucival Lage Lobato,

Francisco do Céu Ribeiro Souza, Armando Dias Mendes, Benedito José de Carvalho,

Mário Chermont, Augusto Belchior de Araújo, Raimundo Farah, Antônio Carlos dos

Santos, Melquíades Teixeira Lima.

Belém, não só pela já citada lei estadual, que lhe retirara a autonomia

eletiva, mas também, pela lei federal n. 121, de 22 de outubro de 1937, vinha

impedida de escolher os seus mandatários, porém, a lei federal n. 1 645, de 16 de

julho de 1952, conferiu-lhe o direito de eleger os seus prefeitos quatrienalmente, tendo

ocorrido a primeira eleição em 27 de setembro de 1953, da qual saiu vitorioso o

candidato Dr. Celso Carneiro da Gama Malcher, atual ocupante.

O município de Belém, primeiramente foi constituído dos distritos de

Belém, Icoaraci (ex-Pinheiro), Mosqueiro e Val-de-Cães, consoante a lei n. 158, de 31

de dezembro de 1948, ainda vigente.

Atualmente, Belém está em uma fase de notório e franco progresso,

graças a fatores exponenciais, como sejam os da sua ligação aérea direta com o resto

do Brasil e várias partes do mundo; a instalação de novas indústrias e núcleos

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Page 76: Monogafia de Gradução: Produção do Espaço urbano na Metrópole da Amazônia:Belém

comerciais globalizados; o surgir de importantes instituições de ensino; a atração de

nacionais e estrangeiros para as atividades as mais diversas no comércio, indústria e

agricultura; a modernização da estética urbana; o crescimento populacional; a fixação

da sede de notáveis organismos da administração nacional e de pesquisas científicas; a

transformação do transportes coletivos; e, finalmente, a auspiciosa ligação terrestre

com o Nordeste e o Sul do país, através de rodovias e ferrovias de excepcional relevo

para sua completa integração econômica, cultural e humana.

Situado num dos braços de saída para o rio Amazonas, à margem do

Delta de Franco Estuarino do Rio Pará, o município de Belém é formado por terras

planas, aluvionais em grandes extensões. Nas regiões mais baixas, próximo ao

estuário, ou ainda no vale do seu rio principal, o Guamá, que atravessa o seu território

de oeste para leste ou nos inúmeros igarapés, as terras são sujeitas às inundações

periódicas, devido a influência das marés.

É nesta zona baixa do estuário, às margens da bacia de Guajará, junto

a foz do rio Guamá, que se situa Belém. A cidade possui posição privilegiada, sendo

considerada porta de entrada na Amazônia, em decorrência do seu porto acessível,

amplo e de intenso movimento comercial.

O município localiza-se na zona "Guajarina", segundo o consenso dos

estudiosos da matéria, embora figure na divisão regional do Conselho Nacional de

Geografia na zona "Bragantina", fisiograficamente falando.

A fundação de Belém, representou o início da dominação Lusitana

militar e econômica sobre a Amazônia. Devido sua posição geográfica - a 1º 28’ 03”

de latitude sul e 48º 29’ 18” de longitude oeste – se constituiu um lugar privilegiado

para ocupação das famílias proveniente do Açores que aqui se estalaram e dedicaram-

se a atividades agrícolas sobre tudo o plantio de legumes e extrativismo das “drogas do

sertão” e na busca de metais preciosos. Este tipo de colonização não surtiu o efeito

desejado quando os colonos iniciaram o cultivo de extensas áreas férteis no vale do rio

Guamá, estas cedidas por meios de sesmarias.

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Page 77: Monogafia de Gradução: Produção do Espaço urbano na Metrópole da Amazônia:Belém

As principais fontes ou atividades produtivas iniciais foram o cultivo

do tabaco, a produção do açúcar e aguardente. As primeiras ruas surgiram à leste do

Forte do Presépio denominado rua do Norte, atual rua Siqueira Mendes; Rua da

Cadeia, atual João Alfredo, Rua da Praia, atual 15 de Novembro e São Vicente de

Fora, atual Serzedelo Corrêa e outras foram surgindo ao longo do tempo.

A ocupação da cidade obedeceu uma seleção em base de um critério

espontâneo onde foram ocupadas áreas de cotas mais altas. A topografia da área

ocupada pelo sítio urbano de Belém, apresenta uma certa regularidade nas curva de

nível, variando de 4 a 15 metros, sendo que, 40% de todas suas terras constituí-se pior

aluviões recentes resultantes depósitos efetuados pelos rios amazônicos ou seja dos 18

mil ha da sede de Belém, 5.017 ha são terrenos cuja as cotas hipsométricas estão

abaixo de quatro metros constituindo-se por áreas alagadas, que contornavam o

povoamento que só serão ocupadas quando as terras de cotas mais elevadas se

tornarem escassas implicando em um problema infra-estrutural.

O Estado tentando evitar um povoamento sob uma lógica caótica,

decide estabelecer limite para o núcleo urbano Belemense instalando, como vai se

comentado mais minuciosamente, o marco da primeira Légua patrimonial, contudo

esse evento não conseguiu conter a expansão urbana, que prosseguiu muito além do

limite estabelecido.

Nesse processo de expansão surgem vilas, passagem e travessas no

intuito um contigente populacional entretanto este o extrapolava obrigando a

população de baixa renda a procurar outros locais cada vez mais distante do núcleo

principal, locais inocupados.

Belém foi sempre considerada uma cidade horizontal, com edificações

de tipologias herdadas do passado, taipa e pedra, em vasta representação de

exemplares arquitetônicos do século XVII, que fizeram por muito tempo, parte de um

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Page 78: Monogafia de Gradução: Produção do Espaço urbano na Metrópole da Amazônia:Belém

cenário requintado, onde o que mais de destacavam na paisagem com maior

volumetria eram Igrejas e conventos.

O processo de verticalização belemense, inicia-se de maneira

paulatina na década de 40, o que irá favorecer a expansão da metrópole, porém seus

antecedentes datam do período do apogeu gomífero, pois está diretamente ligado ao

capital proveniente desta atividade. Os prédios que datam deste período são

precisamente o Theatro da Paz, o orfanato Antônio Lemos e o Colégio Gentil

Bittencourt...

A cidade de Belém, vale reafirmar, está localizada sob as coordenadas

geográficas 1º 28’ 03” latitude sul e 48º 29’ 18” longitude oeste, e sua altitude é de 14

metros, cabendo-lhe o 24. lugar, em altitude dentre os demais cidades do estados. No

que tange ao meso climatologia, uma das características do município é o seu clima,

que, de acordo com a classificação Aw de Köppen, que corresponde ao clima de

savana, cujo as características é possuir o mês mais frio tendo a temperatura média

superior a 18ºC; sendo que a isotermia de inverno de 18ºC com o clima tropical

chuvoso garante uma precipitação anual maior do que a evopotranspiração do período,

impondo um domínio quente-úmido e chuvoso no inverno.

Observou-se em 1997 a temperatura média anual de 27,1C, tendo

sido registrada a máxima absoluta de 33,4C e a mínima absoluta de 20,6C. A média

das máximas foi de 31,5C e a média das mínimas marcou 22,2C.

As chuvas são freqüentes e abundantes, caindo com maior intensidade,

de dezembro a junho, tendo atingido, em 1999, a altura de 2 855 mm. Não há porém,

estação seca, pois o mês menos chuvoso (outubro) tem a média de 86 mm. A unidade

relativa, média anual, e de 89%.Belém é, sem dúvida, uma das cidades onde chove

mais do mundo, situada como está na faixa equatorial.

Belém o 94 município do Estado, com a superfície de 719 Km².

Coloca-se, portanto, na relação dos menores municípios paraenses. Todavia, sua área

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Page 79: Monogafia de Gradução: Produção do Espaço urbano na Metrópole da Amazônia:Belém

já foi imensa. No começo do século seus limites iam até o atual município de

Capanema, então Quatipuru. Em 1920, tinha 9 366 km², sofrendo desmembramento

para instalação de Castanhal e Santa Isabel, depois da Revolução de 1930. O último

retalhamento de seu território, para criação de Ananindeua e Barcarena, ocorreu 1944,

quando possuía a área de 3 822 km². Em relação a superfície territorial dentre as

capitais brasileiras, Belém ocupa o último lugar em termos de área superficial e sítio

urbano.

Os principais acidentes geográficos do município, são os seguintes:

Rio Guamá, de leste para oeste, navegável em toda a sua extensão e servindo de via de

comunicações entre Belém e os municípios de São Domingos do Capim, Irituia, São

Miguel do Guamá e Ourém. A Baía do Guajará, onde se localiza o Porto da cidade de

Belém, é formada pela confluência dos rios Guamá, Acará e Moju, e de Santo

Antônio. Ilhas: de Caratateua ou das Barreiras (Outeiro), Jutuba, Paquetá-Açu, Urubu-

oca, Cotijuba, Mosqueiro, esta última se acha localizada no Distrito Administrativo do

mesmo nome, tendo como componentes os bairros de Chapéu-Virado, Farol, Murubira

e Ariramba, dentre outros menos aprazíveis que, com suas praias, constituem o local

de veraneio para os habitantes da Região Metropolitana de Belém (RMB). A cidade de

Belém faz limites territoriais com as cidades de Acará ao Sul; de Colares ao Norte; de

Barcarena a Oeste e por fim a Ananindeua a Leste.

O Governo Federal institui, por meio da Lei Complementar Nº 14 de

08 de Agosto de 1973, a criação da RMB que engloba, naquele momento, as cidades

de Belém e Ananindeua, e cujo aspecto mais significativo, está exposto em seu artigo

5º, alíneas “a” e “c” que abre a alternativa de, em nome de um planejamento integrado,

utilizar as terras metropolitanas para que possam promover e potencializar o

desenvolvimento econômico. Atualmente congregam a RMB cinco cidades sendo elas

respectivamente: Belém; Ananindeua; Marituba; Benevides e Santa Barbara do Pará,

sendo todas estes municípios encontram-se praticamente conurbados; a existência da

BR-316, que liga a capital do Estado ao restante do país, contribui com a facilidade de

locomoção dos imigrantes, provenientes do interior, em busca de melhores condições

de vida na cidade metropolitana, . Em virtude de sua influência enquanto metrópole

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Page 80: Monogafia de Gradução: Produção do Espaço urbano na Metrópole da Amazônia:Belém

regional da Amazônia Oriental, bem como pela proximidade geográfica, as cidades de

Barcarena, Mojú e Castanhal estão de certa forma inseridas, de forma periférica à

RMB. (Observar Figura 03).

Há em Belém uma das mais vivas, notáveis e famosas manifestações

de culto religioso de todo o país, que é o chamado Círio de Nossa Senhora de Nazaré.

A origem do Círio, que é a mais cara e mais presente tradição do povo católico do

Pará, remonta a fatos Lendários. Rezam as crônicas dessa bela história que é a imagem

de Nossa Senhora de Nazaré, hoje venerada na formosa Basílica, que tem seu bem-

querido nome, foi encontrada em lugar ermo das matas próximas à Belém, por um

caboclo chamado Plácido, nos idos do século XVII.

Há versões as mais diversas e até desencontradas sobre a aparição da

Imagem. Nem todos dão o mesmo local. Nem é unanime a opinião quanto à data exata

do achado. Certo é que a confirmação é geral sobre o encontro da imagem em meio à

solidão de vegetais e pelo rústico Plácido.

Consta do histórico do templo, que hoje abriga a imagem ter sido este

edificado juntamente no ponto em que a mesma fora aparecida, por Plácido, que

tomara a si os cuidados de guardá-la, zela-la e cultiva-la à altura dos méritos que lhe

são atribuídos pela Fé Católica.

A festividade tem início na manhã do segundo sábado de Outubro,

com a procissão chamada "Trasladação rodo-fluvial", que conduz a imagem de Nossa

Senhora de Nazaré do Colégio Gentil Bittencourt para a Catedral fazendo com que a

mesma cruze todos os principais eixos viários e fluviais da cidade .

Há, também o famoso "Boi Bumbá", os “Pássaros Juninos” e as

“Quadrilhas Juninas”, que são folguedos animados utilizados durante as festividades

das quadra junina; e dançados nos bailes populares e aristocráticos.

O Bosque Municipal "Rodrigues Alves" é recanto da selva amazônica

(Hiléia) com toda pujança da tropical floresta, com os seus 15 ha de espaço verde

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Page 81: Monogafia de Gradução: Produção do Espaço urbano na Metrópole da Amazônia:Belém

dentro da cidade, possui densos arvoredos, valioso orquidário; e belas aves e pássaros

próprios da região, sendo que no ultimo mês de março se conquistou seu “status mor”

e transformou-se em Jardim Botânico Municipal.

O Museu "Emílio Göeldi": Órgão de projeção científica, reconhecido

mundialmente, foi fundado no ano de 1866, pelo naturalista Domingos Soares Ferreira

Pena, com o nome da Associação Filomática. Possui as divisões técnico-científica de

antropologia botânica e geologia. Sua biblioteca é especializada em história natural e

mantém permanentemente exposição de cerâmicas marajoara e tapajônica. O parque

Zoobotânico ocupa uma área de 52 000 m², em pleno centro de Belém. É uma amostra

viva da fauna e flora amazônica. São mais de 4 000 plantas (incluindo as árvores). O

aquário abriga algumas das espécies ictiológicas mais raras dos rio amazônicos. A

exposição Amazônica, o Homem e o ambiente, ocupa o pavilhão Eduardo Galvão.

O EMBRAPA, antigo Instituto Agronômico do Norte, é o centro de

estudos e pesquisas, com culturas agropecuárias próprias da região, e atua junto

projetos na Região.

O Theatro da Paz: é a casa oficial de espetáculos. Representa uma das

mais belas construções antigas da cidade. Localizado na Praça da república,

antigamente conhecida como "Largo da Pólvora", destaca-se pela beleza verdejante

das mangueiras que arborizam. Edificado de modo majestoso "Theatro da Paz",

produto do gosto neoclássico, com magnífica série de colunas gregas de formas

harmoniosas. Foi construído pelo governo no Segundo Império, e inaugurado a 15 de

fevereiro de 1878 com o artista dramático Vicente Pontes de Oliveira, sendo no último

mês restaurado completamente pelo Governo Estadual.

O Palácio Lauro Sodré, antiga casa oficial do expediente

governamental e Instituto de Educação, datando a sua construção do ano de 1771, com

lindas pinturas, móveis antigos, e assoalho com um trabalho de madeira fora do

comum. Atualmente em reforma, sendo cogitado sua reutilização como museu do

Estado.

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Page 82: Monogafia de Gradução: Produção do Espaço urbano na Metrópole da Amazônia:Belém

Palácio Antônio Lemos: casarão antigo e majestoso, onde estão

sediados órgãos da administração municipal, existe também, na parte da Comuna, uma

coleção de móveis históricos e quadros artísticos dos mais lindos, sugestivos e

notáveis da pintura nacional e até estrangeira, (Pinacoteca Municipal).

O Ver-o-Pêso tem sua origem datada do Século XVII, o seu nome

deriva da existência à época de Posto Fiscal, a Casa do Haver-o-Pêso, onde eram

pagos os impostos a que estavam sujeitos os gêneros trazidos para a sede da Província.

Símbolo cultural e turístico da cidade, é um conjunto de doca, feira e mercados. Lá que

se encontram um janelão escancarado para o rio Guamá e Baía do Guajará. Um grande

espaço aberto, que somados à novíssima Estação das Docas, são patrimônios em que

se pode desfrutar belezas e amenidades do lugar.

O porto de Belém, construídos pelos ingleses no começo deste século,

conta com 15 armazéns com capacidade de carga para 213 600 m³. O números de

guindastes é 12. O cais acostável mede 935 metros de extensão. A profundidade do

ancoradouro varia de oito a dez metros.

Belém é chamada a "Cidade das Mangueiras", em virtude de sua

arborização urbana ser feita quase que exclusivamente por frondosas mangueiras, o

que lhe dá com singularidade um aspecto típico, formando essas frondosas árvores

belos túneis vegetais, como se verifica na Praça da República e às Avenidas Nazaré e

São Jerônimo.

Belém, cidade amazônica, localizada na foz do Rio Amazonas, de

clima tropical quente-úmido, fundada em 1616 por Francisco Caldeira Castelo Branco,

teve seu período áureo, na época da Borracha, sendo como um grande centro de

comercialização desses produtos. Tendo como as principais obras históricas que

representava o progresso da era onde foi nominada a principal cidade equatorial do

mundo, tais como o Theatro da Paz, O porto do Ver-o-Pêso, Museu Paraense "Emílio

Goeldi", Palácio Antônio Lemos, etc.

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Page 83: Monogafia de Gradução: Produção do Espaço urbano na Metrópole da Amazônia:Belém

Tem hoje sua economia voltada para o Turismo e Comércio; as

atrações turísticas que envolve o mercado de ferro, o Ver-o-Pêso, a caixa d'água de

São Braz, a praça Batista Campos, A Estação das Docas, o Terminal Aeroviário

Internacional, Memorial Magalhães Barata, Conjunto Arquitetônico de forma

eclesiástica do inicio do século, o Parque da Residência, o mercado São Braz, as orlas

de Icoaraci e Mosqueiro, etc. Tem como manifestação religiosa o Círio de Nazaré, que

se realiza todos os anos, é reconhecida mundialmente, e a festividade de Iemanjá

realizada na Ilha de Caratateua (Distrito de Outeiro) no sétimo dia de dezembro.

Belém do Pará possui uma população absoluta de 1.280.614

habitantes, e deste total 608.253 ou 49,5% são homens e 672.371, ou seja 52,51% são

do sexo feminino; sendo que na zona urbana vivem 1.272.354, portanto 99,35% da

população total, remanescendo nas áreas rurais apenas 8.260 dos seus habitantes total

ou apenas 0,65%..

Belém possui um total de 296.352 domicílios, e a média de habitantes

nestes é de 4,3 pessoas por residência; e a distribuição geográfica e administrativa

desses habitantes e desses domicílios estão dispostos da seguinte forma:

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Page 84: Monogafia de Gradução: Produção do Espaço urbano na Metrópole da Amazônia:Belém

*Tabela 02 - Distribuição geo-estatística da população e dos domicílios de Belém

Distritos

Administrativos

Nº de

Habitantes

Porcentagem

(%)

Números de

Domicílios

Porcentagem

(%)

DAGUA(do Guamá)

349.535 27,3 75.906 25,6

DASAC(da Sacramenta)

249.370 19,5 55.690 18,8

DABEN(do Benguí)

237.303 18,5 56.383 19

DABEL(de Belém)

140.574 11 36.606 12,4

DAICO(de Icoaraci)

133.150 10,4 31.522 10,6

DAENT(do Entroncamento)

116.561 9,1 27.560 9,3

DAMOS(de Mosqueiro)

27.896 2,2 6.347 2,1

DAOUT(de Outeiro)

26.225 2 6.38 2,1

Total de Habitantes 1.280.614 100 96.352 100 Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística– Censo Demográfico 2000.

A belíssima cidade morena, tem como muitos atrativos o artesanato,

muito valorizado e de destaque nacional. Outro ponto de destaque de Belém, é a

cozinha típica com suas raízes indígenas: prato como Pato no tucupí, maniçoba,

tacacá, os exóticos e saborosos peixes amazônicos, mussuã, casquinha de caranguejo,

além de sobremesas e sorvetes, ou frutas regionais como: bacuri, cupuaçu, uxi,

pupunha, graviola, biribá, ingá e outras tantas variedades.

Todas esses sem números de especificidades e “atrações” intrínsecos à

Belém, oferece-lhe uma aporte exótico, uma aparência bucólica e um “ar”

saudosístico, que mascara uma realidade sinistra por que passa a maioria da população

da cidade que estão desprovidos de vivê-la plenamente. As formas requintadas das

edificações mais proeminente contribui com a disseminação desse equívoco, o qual

tentaremos ilustrar-lhes, com melhor precisão possível, nos capítulos que se seguem.

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Page 85: Monogafia de Gradução: Produção do Espaço urbano na Metrópole da Amazônia:Belém

Capítulo VIII

PROCESSO DE VERTICALIZAÇÃO EM BELÉM: ORIGEM GEO-HISTÓRICA

DA FORMA DE MORADIA NA FAVELA EM ESTUDO

Os primeiros sinais de verticalização, na cidade, surgem na Avenida

15 de Agosto, atual Presidente Vargas, a qual só teria uma ocupação efetiva no início

da década de 30 na administração de Manuel Barata, quando se procede o alinhamento

da avenida. O edifício Manoel Pinto da Silva representa o marco da verticalização

nesta avenida do centro comercial de Belém.

Foram doados terrenos que a margeavam com a condição de neles

serem construídos prédios de boa apresentação, tendo como objetivo, incentivar a

urbanização e favorecer a verticalização. Este objetivo não foi alcançado, pois a

verticalidade se restringiu a prédios de no máximo três pavimentos.

O crescimento vertical efetivou-se posteriormente na avenida 15 de

Agosto devido a concentração de vários fatores que favoreciam esse fenômeno:

possuir altas cotas de nível altimétricos, correspondendo ao nível de 10 metros; e ser

considerado o principal corredor econômico do novo centro comercial, por onde

escoava a produção econômica da cidade, por possuir acesso direto ao porto.

A primeira tentativa de regulamentar a verticalização tem por base a

Lei de Maio de 1957, na qual o principal objetivo era a construção de prédios de alto

“gabarito”, com altura correspondente de no mínimo dez pavimentos na avenida

Portugal, Avenida Castilho França, Avenida João Alfredo e no bairro de Umarizal

(Doca de Souza Franco).

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Page 86: Monogafia de Gradução: Produção do Espaço urbano na Metrópole da Amazônia:Belém

Com o fomento ás atividades industriais e agrícolas através de órgão

federais de atuação regional e a conexão territorial mais importante feita pela Rodovia

Belém-Brasília, a transformação urbana de Belém se acelera (dado a intensificação das

correntes migratórias) e, do início dos anos 70 ao final dos anos 80 do século passado,

esse movimento se consolida, principalmente nos bairros da Pedreira e Sousa e Marco,

sendo que rompe a fronteira de ocupação da 1º Légua Patrimonial e avança pelos

corredores de expansão delimitados pelas Áreas Institucionais, rumo a Icoaraci e

Ananindeua.

Enquanto isso, a verticalização se acentuava e o mercado imobiliário

se estruturava para melhor atuar dentro da cidade tradicional. Os resultados desse

crescimento se tornam visíveis quando começam a esbarrar em suas fronteiras; com

isso tenta-se romper a barreira representada pelo cinturão institucional imediatamente

após a 1º Légua patrimonial, favorecendo a consolidação da área de expansão da

cidade como tal, ao longo dos eixos viários da Rodovia BR-316 (rumo á Ananindeua)

e da Rodovia Augusto Montenegro (rumo á Icoaraci). Belém que havia crescido sem

pressa até então, passa a crescer mais intensamente e ao longo da década de 70

experimenta o adensamento do tecido urbano na área central, incorporando

definitivamente a lógica e a prática de apropriação do espaço urbano oriundo da

especulação imobiliária frente à atraente alternativa da verticalização.

Todo esse complexo processo, culmina nas políticas habitacionais

intensificada nas últimas décadas, incentivadas pelos órgãos federais de fomento à

habitação e que favorecem, sobremaneira, os setores imobiliários da economia (o

capital imobiliário local), na qual priorizam a implementação de conjuntos e

condomínios habitacionais de classe média e populares. Estes empreendimentos são na

maioria verticalizados, e são destes que originam o fenômeno da ocupação do conjunto

Jardim Sevilha.

Todo esse processo influenciou sobremaneira na ocupação e

configuração das áreas de expansão, sobretudo com a intervenção estatal e dos

incorporadores imobiliários (capital imobiliário). Faremos a seguir ao discussão desse

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Page 87: Monogafia de Gradução: Produção do Espaço urbano na Metrópole da Amazônia:Belém

processo, tendo como o referencial o a formação sócio-espacial do Distrito

Administrativo do Benguí.

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Page 88: Monogafia de Gradução: Produção do Espaço urbano na Metrópole da Amazônia:Belém

Capitulo IX

FORMAÇÃO ESPACIAL E TERRITORIAL DO DISTRITO ADMINISTRATIVO

DO BENGUÍ

O lugar em que está localizado o Distrito Administrativo do Benguí

(DABEN), se compunha de várias fazendas sendo que as principais eram a fazenda

Água Cristal, Fazenda Livramento, Fazenda Una, e inúmeros sítios menores; e bem

antes de ser caracterizado como bairro, ainda compondo a zona rural (“cinturão

verde”) vinculado a cidade de Belém, este era o local onde se desenvolvia o cultivo de

hortas, granjas, pequenas vacarias, fazendas e uma grande extensão fundiária

desocupada, que posteriormente passou a pertencer a órgãos militares, prefeitura e às

famílias Acatauassú Nunes e Umbelino Quadros.

No início do século XX, teve como destaque a abertura da estrada de

ferro de Belém-Pinheiro; que se inicia em Belém, conta dentro do município, com três

estações (Belém, Entroncamento e Icoaraci) e cinco paradas, estas situadas no ramal

ferroviário para Icoaraci; ramal da linha de Bragança, que iria ligar a Vila de Pinheiro

(atual Distrito Administrativo de Icoaraci) a Belém, onde se localizava as casas de

veraneio da burguesia local da época.

Na confluência da estrada de ferro moravam duas famílias de

estrangeiros europeus, que tinham dois filhos cujo os nomes eram respectivamente

Benjamin e Guilherme, sendo apelidados de Bem e Gui. As famílias preocupadas com

a situação de seus filhos, que utilizavam diariamente o veículo ferroviário para irem a

escola na Vila de Pinheiro, resolveram colocar uma placa com os nomes “Bem e Gui”

para demarcar o local da parada junto aos condutores dos veículos. Daí com o costume

diário, juntaram-se os dois termos criando as palavras Benguí, surgindo assim a

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Page 89: Monogafia de Gradução: Produção do Espaço urbano na Metrópole da Amazônia:Belém

denominação do respectivo bairro e por influência deste o nome do Distrito

administrativo.

O fator fundamental importância para o povoamento do Distrito está

ligado a ocupação de uma área denominada “Invernada”, em Agosto de 1976; este

lugar localizado na travessa Padre Eutíquio no bairro da Cremação, pertencia ao

Estado e logo nos primeiros dias de ocupação a polícia militar se fez atuante,

procurando impedir a continuação do processo de ocupação, travando um impasse

entre a luta pelo direito de morar e o estado, que dizia destinar o local a construção do

quartel do bombeiros.

Mesmo com a pressão por parte do estado representado pela polícia

militar as famílias ocupantes se recusavam a se retirar e exigiam junto ao poder

público a desapropriação da área. Esse fato, fez com quer o governo prometesse aos

moradores que eles iriam ser remanejados para um local próximo na Estrada Nova;

contudo isso não ocorreu desta forma. Os ocupantes foram retirados e a prefeitura ,

através da Companhia de Desenvolvimento e Administração da Área Metropolitana de

Belém (CODEM), que comprou uma área no bairro do Benguí para alojar essas

famílias no loteamento efetuado.

Podemos também destacar que a população era predominantemente

composta por imigrante das áreas centrais de Belém, e em um número menor do

interior do Estado do Pará, sendo ínfima aqueles provenientes de outros Estados da

Federação, como podemos observar na tabela a seguir:

*Tabela 03 – Procedência dos moradores do Distrito Administrativo do Benguí -1982

Localidade de Origem %

Áreas Centrais de Belém 66,15

Interior do Estado 25,42

Outros Estados 12,43

Fonte: ARAÚJO, 1982.

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Page 90: Monogafia de Gradução: Produção do Espaço urbano na Metrópole da Amazônia:Belém

Somado a uma variedade de fatores, cito: o rompimento da 1º Léguas

Institucional, a intenso e contínuo fluxo migratório rumo a metrópole regional e a já

existente estrada de ferro Belém-Pinheiro contribuiu pela continuidade acelerada da

ocupação deste distrito, sendo esta executada sob uma lógica caótica e

majoritariamente ilegal, além de ter, no início, o aparecimento daqueles que se diziam

proprietários, e que passaram a vender ilegalmente terrenos.

Em 1993, essa área constituíam-se efetivamente em uma área urbana

na periferia da grande Belém, extremamente carente e desprovido das infra-estruturas

básicas suficientes a habitabilidade humana (Observar Figura 04), e com um graves

impactos ambientais negativos como observaremos no capitulo seguinte.

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Page 91: Monogafia de Gradução: Produção do Espaço urbano na Metrópole da Amazônia:Belém

Capitulo X

LOCALIZAÇÃO, ASPECTOS MORFOCLIMÁTICOS E AMBIENTAIS DA ÁREA

EM ANÁLISE

A área de intervenção objeto deste estudo, representado pelo conjunto

Jardim Sevilha, pertence a Região Ambiental das áreas urbanas ou de Expansão

Urbana, sendo delimitado ao Norte pelo residencial Greenville II, ao Sul pelo conjunto

Orlando Lobato, a Leste pelo conjunto Pedro Teixeira e a Oeste pela Rodovia Augusto

Montenegro Km 07 (Observar Figura 05).

As áreas de influência direta desta ocupação são exatamente aquelas

que constituem os limites do conjunto, as quais são formadas por zonas urbanas,

podendo oferecer um destaque as:

I - Zona constituída ao corredor de tráfego viário, a Rodovia

Augusto Montenegro, cuja as peculiaridades em termos de influência com a áreas

estudada refere-se as questões de ordem econômicas, pois funciona como um

grande escoadouro da mão de obra local, bem como pelas atividades produtivas e

de serviços fixadas ao longo do seu eixo absorverá considerável números de

moradores do conjunto;

II - As zonas urbanas representadas pelos conjuntos Orlando

Lobato, Pedro Teixeira e Residencial Grennville II, localizados respectivamente, a

Sul, Leste e Norte do Jardim Sevilha influenciará e sofrerá influência reciproca do

conjunto tanto nas questões econômicas; haja visto que participam ativamente do

comércio e serviços local, como consumidores e clientes, sendo que o último em

menor escala, fortalecendo-o e estimulando a sua diversificação e expansão; assim

como em termos afetivos, de identidade e de relações humanas, sendo que o

Sevilha acaba por se tornar um centro de circulação de pessoas, mercadorias e via

de acesso aos outros conjuntos residenciais estabelecendo, reciprocamente, entre

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Page 92: Monogafia de Gradução: Produção do Espaço urbano na Metrópole da Amazônia:Belém

estes laços e relações afins bastante intensas, podendo se observar por meio da

quantidade de pessoas de outras áreas residências circunvizinhas que escolhem o

Jardim Sevilha como o seu locus do lazer e entretenimento, refletindo diretamente

no comportamento e nas relações interpessoais dos moradores.

Elegemos como áreas de influência indiretas as zonas de ocorrências

de diversos bairros, loteamentos, ocupações, condomínios habitacionais e áreas

comerciais, todos localizados ao longo ou às proximidades da Rodovia Augusto

Montenegro, do Tapanã e Mário Covas e que apresentamos como sendo os principais

os inclusos no Distrito Administrativo do Benguí, tais como: Jardim Sideral, Conjunto

Satélite, Residencial Rui Barata, Bairro do Benguí e a áreas comercial do

Entroncamento.

Destacamos dentre estes a áreas do Entroncamento por ser o principal

ponto de (re)abastecimento do comércio local; o conjunto Satélite por dispor do

colégio de ensino fundamental e médio Helena Guilhon, em que estudam a grande

maioria dos jovens do conjunto; e o residencial Rui Barata, bairro do Benguí e Sideral

sendo que estes estabelecem uma relação de parentesco e de afetividades (entre

moradores) bastante visíveis.

Na áreas em estudo, o clima predominante é o Aw segundo a

classificação Köeppen, caracterizando-se por ser quente e úmido com a estação seca de

junho a novembro e um período úmido bastante acentuado nos demais meses do ano.

A temperatura média anual é da ordem de 28º C e a umidade relativa do ar gira em

torno de 90%. O regime pluviométrico fica geralmente próximo a 2.500 mm por ano.

As chuvas não se distribuem igualmente durante o ano sendo de janeiro a abriu a sua

maior concentração, implicando em grandes excedentes hídricos.

A classificação AW de Köeppen designa a um clima de savana, cujo as

características é não possuir um mês frio característicos das latitudes temperadas,

tendo a temperatura média anual superior a 18ºC; sendo que a isotermia de inverno de

18ºC com o clima tropical chuvoso garante uma precipitação anual maior do que a

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Page 93: Monogafia de Gradução: Produção do Espaço urbano na Metrópole da Amazônia:Belém

evopotranspiração do período, impondo um domínio quente-úmido e chuvoso no

inverno do Hemisfério Sul.

O município de Belém é banhado por cerca de 300 rios e igarapés que

compões 5 microbacias hidrográficas. Ao todo 60% de sua área são compostos por 39

ilhas, sendo que apenas 40% compostos de área continental. Assim, após 199 anos

após o aterramento do Igarapé do Pirí, primeira ação de urbanismo de Belém que

definitivamente iniciou historicamente a relação de afastamento entre a cidade e seus

cursos d’água, em 1803.

Analisando a questão hidrográfica da Região Metropolitana de Belém

– de acordo com os números supracitados – vemos a grande ocorrência de drenagem

nesta região. Entretanto se considerarmos apenas a área do conjunto Jardim Sevilha,

constatamos uma grande ausência em termos hídricos, com a exceção apenas da

microbacia do Igarapé do Ariri, situado acerca de 1 Km do limite leste do conjunto, no

qual está devidamente posicionado entre os divisores de águas do referido igarapé, e

das microbacias do Igarapé Paracurí e Igarapé Mata-Fome, sendo que os dois últimos

fazem parte do conjunto de recursos d’água e furos que constituem o Estuário

Guajarino. Já o Igarapé Ariri deságua no Rio Maguari que só depois vai pertencer ao

conjunto de recursos citado, sendo sua foz na Baia do Guajará (Observar Mapa 06).

Estudos bibliográficos, associados aos trabalhos de campo

desenvolvidos na área, identificaram em termos pedológicos, a existência de dois tipos

de solos: Latossolo Amarelo e Concrecionário Lateríticos.

Segundo Costa (1988), os Latossolos Amarelos apresentam uma

textura média a muito argilosa, profundos envelhecidos, sob cobertura de floresta

densa. A cor varia de branca – acizentada a muito escuro no horizonte “A” e amarela

nos horizontes inferiores. É formado predominantemente, a partir dos sedimentos do

Grupo Barreira e dos sedimentos Pós-Barreiras, em relevo planos e suavemente

ondulados. O termo Barreira tem sido utilizado desde o século XIX através de

inúmeros trabalhos, sobre os sedimentos que constituem as grandes falésias ao longo

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Page 94: Monogafia de Gradução: Produção do Espaço urbano na Metrópole da Amazônia:Belém

da Costa litorânea brasileira. E a partir disso, diversos autores tem se preocupado em

estudar essas seqüências, a fim de melhor definirem o uso do termo, bem como a sua

localidade.

O tipo Concrecionário Laterítico, corresponde á solos profundos,

formados por uma mistura de grãos finos e concreções de arenitos ferruginosos,

preenchidos, na maioria dos casos, no horizonte “B”. Estão associados ao podzólico

vermelho – amarelo, sob terreno suave a ondulado do período Terciário.

Os aspectos geomorfológicos foram estudados e identificados em

função da interação de dados bibliográficos e pesquisa de campo, onde foi possível

observar o relacionamento, quase homogêneo, das diferentes formas de relevo

presentes com base nas litologias existentes.

A morfologia observada na área da favela vertical é resultado da

atuação de diversos ciclos de erosões, que se manifestam de forma direta sobre a

geologia ocorrente na área, através de processos erosivos naturais e antrópicos, após a

retirada da cobertura vegetal original tornando o local mais vulnerável aos impactos de

fenômenos intempéricos de desenvolvimento constante, sendo necessário a

intervenção de ações de engenharia a fim de amenizar tais impactos, causando então, a

formação do atual modelo geomorfológico.

No geral, a área se constitui geomorfologicamente de paisagem

totalmente pediplanadas relacionadas a um relevo de nivelamento médio, com

pequenas porções mais baixas levemente dissecadas justamente no lado Leste do

conjunto, em virtude da aproximação da calha do Igarapé do Ariri.

O projeto RADAM – folha SA. 22 Belém, escala ao milionésimo vol.

4, engloba a área, em termos geomorfológicos, como pertencendo ao Grande Domínio,

em escala regional, denominado de Unidade Morfo-estrutural e Morfoclimático,

classificado como Planalto Rebaixado da Amazônia e Planície Amazônica.

Correspondem a depósitos Pleistocênicos e Holocênicos. Em escala micro e/ou local

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Page 95: Monogafia de Gradução: Produção do Espaço urbano na Metrópole da Amazônia:Belém

essas informações não condiz, exatamente, com a realidade impírica apresentada, em

virtude, da falta imprecisão da escala ao milionésimo, quando referimo-nos a área

compreendida ao Jardim Sevilha; entretanto entendemos que vele considerar esses

dados como genéricos, haja vista que toda a cidade, incluindo obviamente a área em

análise, está inclusa na abrangência da pesquisa realizada pelo projeto RADAM.

A unidade geomorfológica referente ao planalto Rebaixado da

Amazônia, corresponde às áreas de terra firme constituída pelos Pediplanos Neo-

pleistocênicos do grupo Barreiras em geral laterizados e por cobertura dentrítica

aluvio-coluvionares, parcial ou totalmente pedogêneizados, adquirindo caráter de

unidade edafoestratigráfica. O planalto Rebaixado da Amazônia, representa

praticamente 90% da área e a Planície Amazônica os 10% restante.

Destacam-se na área em questão, as formas erosivas e as retificadas,

representadas pelas superfícies pediplanadas, que correspondem os aplainamentos em

retomada de erosão, elaborados geralmente em rochas sedimentares, parcialmente

recobertas por depósitos inconsolidados.

Os aspectos geológicos estão representados na área da ocupação por

uma seqüência sedimentar constituída de litologias pertencentes ao período do

Terciário e Quaternário Pleistocênico e Helocênico da Era Cenozóica.

Os sedimentos Terciários tem a maior representatividade, com

aproximadamente 60% de ocorrência. Está representado pela sedimentação do grupo

barreira, cuja as exposições mostram um evidente controle topográfico, em locais de

ausência de cobertura Dentrítica Quaternária.

As coberturas Pleistocênicas Quaternárias correspondem aos

sedimentos mais antigos deste período, os quais formam os terraços aluviais.

Litologicamente estas áreas possuem camadas intercaladas de sedimentos areno-

argiloso e argilo-arenoso, contendo seixos, com granulometria finíssima, de

composição quartzosa de cor esbranquiçada.

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Page 96: Monogafia de Gradução: Produção do Espaço urbano na Metrópole da Amazônia:Belém

Os sedimentos mais recentes identificados na área em questão, ou

seja, os Quaternários Holocênicos, correspondem aos depósitos da calha

pluviométrica, identificados nas áreas mais baixas sempre acompanhado das margens

das drenagens pluviais superficiais local. São constituído por sedimentos bastante

finos e presença de matéria orgânica dos rejeitos urbanos locais, dos tipos areias finas,

siltes e argila.

Estudos sobre as águas subterrâneas tem sido realizados a mais de

quatro décadas, cujo o principal objetivo é melhor conhecer o balanço hídrico de

determinada região, assim como pesquisar e descobrir água de boa qualidade para o

consumo humano.

Estes estudos hidrogeológicos, em referência a nossa áreas de estudo,

são controlados de maneira geral pelas características do meio físico, sobretudo a sua

composição, estrutura das litologias e grau de vulnerabilidade, etc..., levando-se em

conta a profundidade do lençol freático e os seus parâmetros físicos do substrato.

Ao cair na superfície da terra parte da água tende a se infiltrar e no

subsolo sua tendência é deslocar-se no sentido dos níveis de energia hidráulica, da

mais alta para os mais baixos devido as diferenças de nível e de pressão. Em função

disso, as rochas da crosta tendem a armazenar e conduzirem as águas subterrâneas,

formando os sistemas hidrogeológicos. Tais pesquisas tem comprovado a existência

desses aqüíferos em quaisquer região, depende muito do controle da dinâmica de

circulação de fluxo, o qual foi desenvolvido inicialmente por Darcy (1856) e Dupuit

(1863).

Theis (1935), em termos hidrogeológicos, os seus estudos de

fundamentos da hidráulica de poços, baseiam-se em analogias com fluxo de calor e

mais tarde, em conceitos exclusivamente hidráulicos. Em 1955, Hantsush & Jacob,

realizaram trabalhos hidrogeológicos visando o conhecimento de diversos conceitos

exclusivos para hidráulica. Em 1940, Hubbert estabeleceu fundamentos para a

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Page 97: Monogafia de Gradução: Produção do Espaço urbano na Metrópole da Amazônia:Belém

circulação desses fluxos das águas subterrâneas, tomando como base os meios

geológicos.

Na Região Metropolitana de Belém, e especificamente no conjunto

Jardim Sevilha, foi constatado através das observações de poços artesianos que os

aqüíferos são constituídos por areias de granulometria fina e média, pertencente aos

depósitos da Idade Quaternária, são bastante rasos onde observamos uma profundidade

média que vai de 7 a 16 metros; e em menor escala ocorrem os de composição

areníticas e de areia fina e grossa, comumente associada a seixos quartzosos de

diâmetros milimétricos a centimétricos, esses pertencem ao fácies do Grupo Barreira

no qual encontramos aqueles poços com profundidade maiores, próximos dos 16

metros de profundidade.

Em termos de zona de descarga desses aqüíferos, foi possível

constatar que isso se processa por meio das águas pluviais que se precipitam em toda a

área. O lençol freático da região é do tipo livre e bastante raso, sendo que podemos

observar poços escavados de até 4 metros de profundidade. Devido as características

hidrogeológicas do meio físico, tais como: boa porosidade e permeabilidade, tipo do

aqüífero, baixo declive topográfico (< 15º), boa infiltração e pequeno escoamento,

verificamos que a área é bastante vulnerável a contaminação das suas águas

subterrâneas da região.

Além desses parâmetros mostrarem a vulnerabilidade dos lençóis

freáticos locais, ainda há a presença de um conjunto de elementos poluidores, advindos

de uma única fonte de contaminação a originada pelas atividades humanas e pelo uso

depredatório do meio.

O consumo de água no conjunto é feito a partir de poços artesianos,

sendo estes muito deficientes, construídos por meio de técnicas rudimentares (quando

houve alguma técnica), sendo que se utilizam bombas de baixa capacidade específicas

para poços rasos.

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Page 98: Monogafia de Gradução: Produção do Espaço urbano na Metrópole da Amazônia:Belém

Atualmente existe em uso no conjunto Jardim Sevilha 74 poços

artesianos, desprovidos de proteção contra agentes poluidores, com revestimento de 4”

de diâmetro e 5mm de espessura em tubo de PVC., distribuídos por todos os 60 blocos

de 16 apartamentos cada, e ainda 2 na áreas da feira, sendo que alguns comerciantes

também possuem seus poços. A distribuição da água para consumo humano se dá de

forma comunitária; esta distribuição é realizada normalmente através do bombeamento

de um poço pertencente ao condomínio do bloco para uma caixa d’água comum de

capacidade que varia de 1000 a 2000 litros, sendo paga uma taxa, por apartamento,

referente ao valor da energia elétrica consumida pela bomba. As exceções a este

sistema só existe junto a alguns comerciantes que possuem seus próprios poços e

sistema de reservatórios.

Figura 07: Poços Artesianos. Profundidade 12 metros.

Fonte Eder Libório - 2000

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Page 99: Monogafia de Gradução: Produção do Espaço urbano na Metrópole da Amazônia:Belém

No que tange a flora, a áreas por estar toda urbanizada à nível de

ocupação de um empreendimento imobiliário, se encontra praticamente desprovida de

vegetação, encontrando apenas a ocorrência de vegetação tipo capoeira, conseqüentes

das atividades antrópicas, típicas às existentes em terrenos baldios, nas áreas livres ao

Sul e à Oeste da ocupação. A cobertura vegetal primária foi totalmente destruída para

dar lugar ao empreendimento habitacional, restando apenas o matagal nos locais

subtilizados pelos moradores.

A medida que a ocupação do Distrito Administrativo do Benguí foi

devastando a cobertura vegetal original, destruindo o ecossistema, vai influenciando na

mesma proporção nos aspectos faunísticos, causando o afastamento de todas as

espécies silvestre. Atualmente, essa fauna no contexto da área não existe, à exceção de

alguns pássaros regionais mais resistentes, que de vez ou outra visita o residencial,

devido justamente a intensa presença humana, e até por se tratar de uma zona urbana.

Devido a área estar contida em uma zona de expansão urbana e

metropolitana, é observada a existência de uma intensa atividade antrópica na mesma,

causada pelos próprios moradores, que as exercem sob uma lógica caótica e sem

nenhum planejamento e/ou preocupação ecológico-econômico.

Nota-se que, em toda relação homem/meio ocorre uma determinada

situação de mudança no quadro ambiental, afetando diretamente a qualidade de vida, a

estética local e a auto estima dos moradores e usuários deste meio ambiente. Dessa

forma, os aspectos ambientais desempenham papel preponderante nas avaliações

social e econômica de qualquer área, e, sobretudo, esta questão é determinada pelo

comportamento humano, pois não é pelo meio físico que a qualidade de vida, que os

paradigmas estético e a auto estima individual e coletiva se referencia, haja visto que

os últimos estão em função dos segundo e estes em função do primeiro. Como

exemplo em nossa área de análise temos vários impactos sócios ambientais,

produzidos pela própria ocupação e atividade residencial.

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Page 100: Monogafia de Gradução: Produção do Espaço urbano na Metrópole da Amazônia:Belém

O trinônimo homem/sociedade/meio ambiente muito aplicado nos

diversos estudos de análises de sistemas ambientais, requer uma grande atenção da

moderna teoria dos sistemas, baseando-se que elas geralmente estudam a fundo os

problemas científicos, definindo através de uma análise geral da organização dos

sistemas, as relações complexas e dinâmicas das partes, sobretudo quando essas partes

são rígidas.

Por se constituir a teoria dos sistemas um potencial interdisciplinar

generalizador e integrador, ela recentemente tem sido amplamente aceita e utilizada

em todos os principais campos de pesquisa científica. Trata-se de uma teoria

fundamentalmente baseada na quantidade de energia que entra e sai no sistema

(energia e matéria), produzindo trabalho o qual se constitui o responsável pela a

evolução e manutenção de um dado sistema.

Tal procedimento denominamos de entropia, a qual corresponde ao

conjunto de fenômenos químicos e metabólicos de transformações, desenvolvimentos,

renovações, etc. dos elementos que compõem os sistemas abertos.

Queremos entender a áreas delimitada pelo conjunto Jardim Sevilha

como um ecossistema considerando este como uma unidade ambiental dentro da qual

todos os elementos e processos estão interrelacionados, de modo que uma mudança em

um deles resultará em alterações em outros componentes. É um ecossistema composto

de dois sistemas relacionados: o “sistema natural” e o “sistema cultural”, sendo que o

primeiro constitui-se de elementos do meio físico e biológico e o segundo é

constituído pelo homem e suas atividades.

Devido a presença desses intensos processos de mudanças ou

transformação, e tomando como base a análise ambiental sistêmica, pode-se perceber

atualmente um enorme desequilíbrio ambiental principalmente no que diz respeito ao

meio físico, causado exclusivamente pela ação humana, o que por seu turno implica na

convivência do homem em um ecossistema totalmente degradado e de alta

vulnerabilidade as poluições que comprometem as qualidades hídricas a serem

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Page 101: Monogafia de Gradução: Produção do Espaço urbano na Metrópole da Amazônia:Belém

consumidas. As pessoas procuram desenvolver adaptações a fim de criar um suporte

que garantam atender suas respectivas necessidades de sobrevivência num ambiente

precário.

Esta capacidade corresponde a uma forma específica de a comunidade

conviver em determinado ambiente, resistindo à todas as dificuldades ecológico-

econômico.

Devemos considerar que para atender suas necessidades os homens

utiliza-se do ambiente provocando mudanças e, sobretudo, gerando resíduos, os quais

constituem alterações ambientais praticamente irreversíveis á geração produtora. E a

medida que o tempo passa as relações entre o homem e a natureza estão cada vez mais

distanciadas. O meio pode até exercer influencia sobre o processo de urbanização,

entretanto, os homens impõe modificações bem mais significativas ao ambiente,

alterando e muito as suas características.

A área do conjunto Jardim Sevilha pode ser entendida como um

ecossistema onde fenômenos naturais e as atividades humanas provocaram em meio ao

processo de desenvolvimento urbano, sucessivas transformações no seu ambiente.

Observa-se que uma das implicações mais contundentes dessa ocupação, que obedeceu

a uma lógica caótica, fruto de todo um processo de urbanização que seguiu a mesma

lógica, é a poluição de seu meio físico, caracterizado de forma genérica pela remoção

da vegetação, alteração da topografia, nos tipos e formação de solos, o grande acúmulo

de detritos e de dejetos e a contaminação do lençol freático da região.

Essas alterações vem afetar diretamente os aspectos estéticos visíveis

na paisagem da áreas e consequentemente num processo de baixa estima dos seus

moradores, além de danos impactantes ali desenvolvidos. A proliferação de insetos,

roedores e cães vadios também nos foi evidenciado por causa do acúmulo de lixo. O

acelerado processo de adensamento populacional na área, é um dos responsáveis pelo

aumento gradativo das agressões ao meio ambiente, causando a poluição visual,

auditiva ou sonora e dos recursos hídricos locais.

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Page 102: Monogafia de Gradução: Produção do Espaço urbano na Metrópole da Amazônia:Belém

A poluição auditiva e/ou sonora é causada pelos bares que,

desrespeitam as normas legais (70 decepeis ao dia e 60 à noite) de padrão de emissão

de volume de som em áreas residenciais, sendo que nos finais de semana a situação

fica ainda mais grave em virtude da contratação sistemática de aparelhagens ainda

mais potentes; somado a isso aparece, freqüentes e aleatoriamente, circulam carros de

som fazendo suas publicidade das mais diversas, a qualquer hora do dia.

Em função da pesquisa feito “in loco”, foi possível detectar que ainda

existe, em grande quantidade, uma disposição aleatória dos resíduos sólidos na área de

ocupação, que acabam por afetar definitivamente a qualidade da água utilizada pela

população, em virtude da contaminação dos poços artesianos rasos ali distribuídos.

Em detrimento de esforços isolados, que culminou na construção de

uma depósito de acondicionamento temporário de resíduos sólidos domésticos comum

á toda comunidade – depósito de lixo comunitário -, tais resíduos sólidos são

caracterizados na área, por diversas concentrações de lixões mal acondicionados, entre

os blocos e nas áreas livres, que são jogados sem nenhum controle.

Estes constituem verdadeiras fontes de poluições principalmente para

a água como já fora colocado anteriormente, além de contribuírem, substancialmente,

para concentração e proliferação de insetos, roedores, cães de ruas, e outros que são

propícios a fornecerem o aparecimento de doenças endêmicas nas pessoas que ali

convivem, dentre as quais podemos citar como as mais freqüentes: a febre tifóide, as

várias versões de dengue, hepatite, esquistossomose, malária, irritações e/ou patologias

na pele cito: micoses, escabioses, impinges, além de verminoses e leptospirose. Sendo

os mais afetados são as crianças por serem mais sensíveis e as mais expostas ao

ambiente contaminado.

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Figura 08: A pista Principal antes do Saneamento (Asfaltamento)

Fonte: Eder Júnio Libório

Outro ponto negativo sobre o lixo, é o grande acumulo nos canais de

drenagem pluvial e nas rede de esgoto local, principalmente nos vertedouros dos

bueiros, prejudicando sensivelmente o escoamento normal dos fluxos d’água, exigindo

progressivas ações de limpeza e manutenção da respectiva rede. Esses resíduos sólidos

corresponde aos lixos domésticos e industriais, originados a partir das residências e

mercearias, comércio e bares improvisados ao longo dos blocos de apartamentos.

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Capitulo XI

CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICO E JURÍDICA DA CONFIGURAÇÃO E USO

DO SOLO DA ÁREA COMPREENDIDA PELO RESIDENCIAL JARDIM

SEVILHA

A década de 80 e início de 90 do século passado, foi um período de

mobilização social sem precedentes na história brasileira, sendo que o Estado do Pará

foi palco privilegiado destes fenômenos sociais, que refletiam a intensa luta de classes

no interior da sociedade brasileira, fruto do ápice das transformações sócios espaciais

promovidas durante as décadas anteriores, sobretudo em virtude da mudança do

modelo de desenvolvimento implementada no país, que optou pelo paradigma urbano-

industrial desenvolvimentista em detrimento do antigo modelo agro-exportador.

As implicações destas mudanças de opções causou uma verdadeira

revolução à sociedade Amazônida, que sofreu um intenso fluxo migratório (êxodo

rural-urbano), uma readequação em sua função na Divisão Territorial e Internacional

do Trabalho, bem como uma grande intervenção política por parte de órgãos do

Governo Federal que não mediu esforços para impor uma integração territorial na

região da Grande Hiléia, sem contudo, considerar as populações e atividades

originárias e/ou tradicionais locais.

Tudo isso refletiu enormemente na configuração regional, e de forma

significativa no que tange as cidades através da imposição, acelerada e mal planejada,

de um modo de vida urbano àqueles que por gerações aprenderam a conviver segundo

o tempo da natureza. A cidade de Belém foi um laboratório “vivo” desta experiência.

Exemplos desta ebulição dos movimentos sociais ocorrido neste período podemos citar

o movimento pelas Diretas Já em 1984, o surgimentos e atuação de entidades como a

Central Única dos Trabalhadores (CUT), o Movimentos dos Trabalhadores Rurais sem

104

Page 105: Monogafia de Gradução: Produção do Espaço urbano na Metrópole da Amazônia:Belém

Terra (MST), o movimento que levou ao impeachment do Presidente Collor de Mello,

este último capitaneado pelos estudantes brasileiros organizados em torno da União

Nacional dos Estudantes (UNE), ao nível nacional, sendo que à nível regional

podemos citar estes mesmos movimentos, que se fizeram fortes no Estado, bem como

outros também importantes como: o movimento em prol do direito da meia-passagem

aos estudantes, a ocupação de milhares de silvícolas em Altamira-PA, para impedir a

construção de Usinas Hidrelétricas ao longo do Rio Xingú e etc..

Toda esta mobilidade social, aliada às abruptas transformações sócio-

espaciais que trouxeram incontestáveis prejuízos, tanto econômico, como cultural e

territorial às populações originárias, proporcionou um envolvimento das massas e um

respectivo avanço na consciência, mesmo que com orientação exógena, tênue e

temporário, deste conjunto de seguimentos sociais prejudicados pelas políticas

públicas implementadas.

Todo esse processo favoreceu a ratificação de uma tendência crescente

de ocupações ilegais na Área de Expansão da Região Metropolitana de Belém. Esse

conjunto de acontecimentos veio culminar com a ocupação ilegal do Residencial

Parque Ville I e II - atual Conjunto Jardim Sevilha -, por parte da população

imigrante, subempregada e moradores das periferias degradadas de Belém, isso no dia

06 de outubro de 1993.

Consideramos ser de fundamental importância, para compreendermos

a tomada de tal iniciativa, retratarmos como estava constituída a conjuntura política

administrativa e partidária daquele momento ao nível local, regional e nacional.

Em Belém acabava de assumir o governo municipal o Ilustríssimo Sr.

Hélio Gueiros do Partido da Frente Liberal (PFL), que substituía pela via eleitoral o

empresário Augusto Resende do Partido do Movimento Democrático Brasileiro

(PMDB). No Estado o Sr. Carlos Santos tentava dar continuidade ao governo de Jáder

Barbalho que havia se descompatibilizado para disputar vaga no Senado Federal,

ambos do PMDB.

105

Page 106: Monogafia de Gradução: Produção do Espaço urbano na Metrópole da Amazônia:Belém

Ao nível Federal o mineiro Itamar Franco do PMDB, concluía a

gestão do ex-presidente Fernando Collor de Mello do Partido da Reconstrução

Nacional (PRN) deposto no ano anterior.

Antes de ser deposto Fernando Collor aplicou políticas que

dificultaram ainda mais o acesso a moradia aos trabalhadores brasileiros e impôs uma

“quebradeira” em toda a indústria de construção civil, e deu início ao declínio, ainda

mais intenso, nas políticas de habitação popular, a exemplo da retenção da poupança

popular, não priorizando as aplicações dos recursos da então extinta Banco Nacional

de Habitação (BNH) e Sistema Financeiro de Habitação (SFH) em 1986, substituída

pela Caixa Econômica Federal (CEF) que utilizava recursos do Fundo de Garantia de

Tempo de Serviço (FGTS), bem como desprestigiando as Companhias Habitacionais

(COHAB) estaduais; processo este que vem se agonizando desde então até os dias

atuais.

O espaço onde situa o residencial em questão, fora em haras e uma

estância bubalina de propriedade do Sr. Saíd Xerfan, político influente na época;

contudo nos anos anteriores este acumulou dívidas junto ao Estado e ao município,

sendo a maioria por meio de impostos territorial e empréstimos nos bancos oficiais.

E mediante a um acordo oficial o mesmo quitou parte considerável de

seu débito cedendo a área que compreende o Jardim Sevilha e o Green Ville II para o

governo Estadual, que por sua vez transferiu a administração do terreno à Cooperativa

dos Empresários do Setor de Produção Imobiliária (COESPI); que não por acaso o Sr.

Saíd Xerfan possuía participação privilegiada.

Esta Cooperativa empresarial articulou-se com a Empresa Imobiliária

DEL REY afim de executar um empreendimento imobiliário que atendesse a classe

média naquele local, no qual se constituía em três conjuntos de quinze edifícios com

quatro pavimentos cada e dezesseis apartamentos em cada uma das duas entradas de

cada edifício, na qual receberia a denominação de Parque Ville I, Parque Ville II e

106

Page 107: Monogafia de Gradução: Produção do Espaço urbano na Metrópole da Amazônia:Belém

Parque Ville III sendo de responsabilidade da DEL REY a administração do

financiamento, a construção dos imóveis e a gerência nas vendas tendo que fazer os

respectivos repasse das partes dos lucros que cabiam à cooperativa e seus cooperados.

Como de praxe a imobiliária solicitou, no ano de 1988, financiamento

à CEF, que repassou recursos do FGTS, para implantação do projeto habitacional,

sendo contratado que na mesma proporção que a obra fosse sendo construída o repasse

da verba iria sendo feito. Entretanto tanto a cooperativa quanto a Del Rey passa por

sérios problemas financeiros no final da década de 80, tal qual toda a indústria

imobiliária; o que se complica em virtude da retenção compulsória dos recursos

monetários existentes nos bancos por parte do Governo Federal capitaneado pelo

presidente Collor de Mello.

O empreendimento que se encontrava em “marcha lenta” paralisa-se

de vez, deixando a obra com a seguinte situação: no que se refere aos dois primeiros

conjuntos, estes ficaram semi acabados, enquanto nem foi iniciada a construção da

terceira etapa do projeto.

O abandono ao empreendimento imobiliário associado a

intensificações das crises econômico sociais, bem como a incipiente atração ás áreas

próximas aos eixos de expansão da Região Metropolitana de Belém por parte da

população migrante e daquelas de baixa renda moradoras das favelas centrais recém

valorizadas, mais as implicações da conjuntura político-partidária do período propiciou

a ocorrência do agravamento das tensões sociais e não coincidentemente a ocupação

ilegal do conjunto inacabado.

Vale ressaltar que do meio ao final da década anterior havia uma

grande mobilização entorno da discussão da reforma urbana, sendo que os movimentos

sociais e reivindicatórios ligados a causa da moradia promoviam constantes invasões

de terrenos visando a fixação de residências, estas com uma nítida “condescendência”

de muitas das autoridades constituídas, a exemplo do que ocorreu na ocupação do

107

Page 108: Monogafia de Gradução: Produção do Espaço urbano na Metrópole da Amazônia:Belém

Pará-Acre-Amapá-Rondônia (PAAR) em Ananindeua, de Jaderlândia em Marituba, do

Laranjal em Barcarena, do Carmelândia em Belém, dentre inúmeros outros.

É importante perceber a participação implícita, ás vezes declarada, de

políticos ligados a legenda partidária PMDB em todas as grandes ocupações, num

momento de sua maior ascensão e popularidade. Podemos verificar também a

proximidades destes eventos com os pleitos eleitorais e os respectivos intentos

eleitoreiros de seus promotores que agiam em sua maioria nos bastidores dos

acontecimentos.

Algumas figuras ligadas a essa legenda se tornaram históricas por

instituírem um movimento tão sistemático que foi classificado de “Indústria da

Invasão”, pela intensidade dos eventos, pelo nível de especulação que se seguia e pela

freqüência das lideranças nesses eventos, entre elas podemos citar a Sra. Carmem de

Nazaré Rodrigues que dentre tantas, liderou a ocupação do Carmelândia no bairro do

Uma, cujo o nome é em sua homenagem; João Vigílio de Deus que liderou inúmeras

ocupações inclusive a do Jardim Sevilha, Rui Barata e contribuiu com a do Cabano,

todas as citadas no Distrito Administrativo do Benguí (DABEN); o advogado Jáder

Dias que praticamente assessorava juridicamente todas as ocupações e o próprio Sr.

Jáder Barbalho que se tornou uma figura pública importantíssima no cenário tanto

regional quanto nacional, assumindo inclusive o governo do Estado por duas vezes,

chegando até ao posto de Presidente do Senado Federal da República, incontáveis são

as ocupações, em todo o Estado do Pará, que tem o seu nome como homenagem.

É interessante reparar que todas essas figuras tem ou tinham

vinculação com a sigla partidária supracitada, e com certeza esse fato não era nenhuma

coincidência do destino. Fica claro então que o a adoção do termo ocupação

expontânea para designar as ocupações ilegais de terrenos urbanos é completamente

equivocada, haja visto que todas elas, sem exceção, são dirigidas ou por entidades

representativas ou por lideranças ligadas a organizações políticas partidárias, sendo

que também sem exceção, as entidades representativas do movimento popular e/ou de

108

Page 109: Monogafia de Gradução: Produção do Espaço urbano na Metrópole da Amazônia:Belém

moradia também possui, em sua essência, uma vinculação político partidária que pode

oscilar de acordo com a conjuntura de uma denominação à outra.

No caso específico do conjunto Jardim Sevilha o Sr. João Vigílio, até

então filiado ao PMDB, foi orientado a organizar um grupo de pessoas e efetivar uma

ocupação nos prédios inacabados pela DEL REY. O grupo de lideranças foi recrutado

entre braçais, algumas em conflito com a lei, contudo estas possuíam “pulso forte”,

eram de “decisão firme”, “valentes”, dentre outras virtudes que segundo os pioneiros

da ocupação foram fundamentais para garantir o sucesso e a resistência da ocupação,

ante as investidas dos órgãos de repressão do Estado, na figura da Polícia Militar

(PM), a serviço do capital imobiliário local, bem como na imposição da ordem interna

da ocupação e coordenação coletiva dos demais ocupantes.

Os demais ocupantes foram recrutados principalmente entre

moradores das áreas vizinhas, cito: Tapanã, Conjunto Maguari, Jardim Sideral, bairro

do Benguí; dentre outros em menor número provenientes dos bairros do Jurunas,

Condor, Guamá e Terra Firme.

Essas eram igualmente famílias dirigidas por braçais, muitos

desempregados que moravam pagando aluguel e só tinham como alternativa de

moradia, e por que não dizer de sobrevivência, participar de alguma ocupação para

poderem adquirirem o direito básico de morar. Podemos declarar que entre os

primeiros ocupantes havia uma grande maioria de excluídos, sobretudo por serem

migrantes do meio rural e não haverem se adaptado a vida urbana em que estavam

inseridos.

A ocupação ilegal foi garantida pela persistência do grupo de

liderança inicial, pois na primeira e segunda investida eles foram retirados pela PM do

Estado. Um fato curioso ocorrido foi que um senhor, cujo o nome os informantes não

souberam precisar, que teve garantido o remanejamento para uma área de loteamento

oficial localizado na Cidade Nova em Ananindeua, em virtude do mesmo estar munido

de todos os seus pertences – um fogão, um colchão, todas as suas vestimentas, panelas

109

Page 110: Monogafia de Gradução: Produção do Espaço urbano na Metrópole da Amazônia:Belém

e mais algumas bugigangas - e uma cadela, seu animal de estimação, no qual

argumentando que não tinha outro lugar para ir, sensibilizou os demais infratores bem

como os policiais, que articularam o seu remanejamento e garantiram de forma legal e

legítima a sua moradia, isso na primeira investida da ocupação.

A maioria das pessoas retiradas montaram acampamento em frente a

churrascaria Pavan, sendo que enquanto negociavam sua permanência ameaçavam a

ocupação da Rodovia Augusto Montenegro. A segunda tentativa também foi frustrada;

contudo, dois dias depois, eles se organizaram em número maior – cerca de 1000

pessoas -, e a exemplo do senhor que havia garantido sua moradia mediante a presença

de seus pertences e de sua “família”, trouxeram consigo toda a suas respectivas

mudanças definitivas. Esse fato ocorrido no dia 06 de outubro de 1993, deu-se de

madrugada sendo que pela manhã todos estavam mais ou menos estabelecidos nos

apartamentos semi acabados.

A distribuição inicial dos apartamentos deu-se de maneira aleatória,

em que cada morador poderia escolher o apartamento que quisesse, em virtude da

grande oferta diante da procura inicial; entretanto as pessoas só tinham garantido os

seus imóveis caso os ocupasse efetivamente.

Inúmeros foram os casos de pessoas que demarcaram suas posses mas

não a ocuparam definitivamente, e quando voltavam dias depois encontravam outros

nos respectivos apartamentos, sendo que as lideranças garantiam a razão dos ocupantes

efetivos. No início imediato não foram permitida a venda ou a especulação. Contudo

havia casos que um mesmo grupo de pessoas amigas ou com alguma ligação,

ocupavam blocos de apartamentos inteiros e os defendia até com armas, tendo estes as

“bênçãos” das lideranças originárias; demonstrando que era só questão de tempo para

a especulação ser liberada, como de fato...

Se observarmos a fundo a questão jurídica, econômica e

administrativa; na qual nós não tivemos sucesso em obter as documentações que

comprovariam o que declararemos aqui, por isso mesmo, de forma hipotética;

110

Page 111: Monogafia de Gradução: Produção do Espaço urbano na Metrópole da Amazônia:Belém

perceberemos que, na verdade os mais beneficiados com a ocupação foram a COESPI

e a Empresa DEL REY. Ambas solicitaram reintegração de posse e a restituição

integral, por parte do Estado, dos investimentos que as mesmos diziam ter realizados

no projeto.

Os montantes sempre foram contestados pelos órgãos oficiais, contudo

todo o investimento previsto para a conclusão da obra foi restituído pela Caixa

Econômica Federal à DEL REY, cerca de R$ 30 milhões, mesmo o projeto estando,

naquele momento, apenas 30% concluído. A Caixa Econômica Federal (CEF),

declarava só ter investido R$ 10 milhões na obra.

No campo jurídico, a COESPI responsabiliza a empresa DEL REY

pela ocupação, e esta responsabiliza a COESPI e a CEF, que por sua vês solicita a

justiça reintegração de posse a dois “atores” que no momento participavam da

negociação contudo não residiam na ocupação – um deles era o Sr. Alberto Silva,

assessor parlamentar do vereador pelo PMDB José Maria Costa -; em virtude desta

confusão jurídica inviabilizando a identificação da culpabilidade e/ou da competência

do possível autor do delito, que nós interpretamos por ser proposital. A justiça logo

arquivou o caso na 4º Vara Cível Federal justificando “a falta de condições de definir

o julgamento ao litígio em virtude da equivocada elaboração dos autos do processo

por parte dos representantes dos interessados”, sendo que desde 1994 não mais foi

provocado a justiça sobre o litígio.

Em seguida ambas as empresas abriram falência, sendo que a DEL

REY, logo abriria uma nova imobiliária com o nome de VILLA DEL REY, e com

uma pessoa jurídica (CPNJ) diferente e nova diretoria administrativa.

O empreendimento Green Ville II, condomínio de auto poder

aquisitivo, estava ameaçado em virtude das poucas vendas ocorrida na primeira

versão, entretanto a nova VILLA DEL REY surge capitalizada e soergue o

empreendimento que atualmente possui comprovado sucesso, bem como inicia

111

Page 112: Monogafia de Gradução: Produção do Espaço urbano na Metrópole da Amazônia:Belém

imediatamente outros projetos, a exemplo do Residencial Cidade Jardim, vizinho do

Jardim Sevilha.

Os moradores, ou pelo menos os seus interlocutores, reivindicavam,

naquele momento que o empreendimento saísse da competência da CEF e fosse

negociada junto a COHAB da época, que tinha como presidente o Ilmo. Sr. Eliezer

Rêgo das Neves, que seria futuramente candidato a deputado Federal pelo PMDB.

Novamente percebemos a participação e direcionamento sutil e eleitoreiro das

agremiações partidárias na questão dos movimentos de moradias e/ou ocupação

expontânea.

Passado o momento inicial e tendo garantido a consolidação de fato da

ocupação iniciou um grande movimento especulativo e um intenso fluxo de

mobilidade de moradores na favela vertical. Os apartamentos eram vendidos a valores

irreais. Alguns custavam R$ 800,00 outros mais bem acabados R$ 1.000,00. Alguns

moradores encontraram em seus apartamentos resquícios de materiais de construção,

sobretudo para acabamento e esquadrias; estes foram sumariamente vendidos, o que

sobrou foi algumas peças do andaime que estão em poder da Dona Ana, presidente do

antigo Clube de Mães.

Até pouco tempo os apartamentos eram vendidos ás dezenas por

semana o que representava um fluxo de mobilidade entre os moradores

incompreensível; só depois da conquista da legalização da energia elétrica e do asfalto

na avenida principal que houve um visível refreamento nesta mobilidade. Resultado

disto é que apenas 9,70% dos residentes no conjunto são remanescente da ocupação

original, de acordo com a amostragem registrada na pesquisa de campo.

*Tabela 04 –Forma de aquisição do imóvel (%):

Por meio de Ocupação Adquiriu de

Terceiros

Alugado Cedido por Terceiros

(Temporário)

9,70 % 85% 20% 2,10%

112

Page 113: Monogafia de Gradução: Produção do Espaço urbano na Metrópole da Amazônia:Belém

* Tabela 05 - Tempo de moradia no residencial (%)

De 0 a 1 Ano De 1 a 4 Anos De 4 a 8 Anos Mais de 8 Anos

9,70% 22,60% 58% 9,70%

Após a consolidação da ocupação, com o relaxamento das pressões e

torno da desapropriação do terreno, os primeiros moradores começaram suas

atividades sócio-econômicas cotidianas, tendo a necessidade de construir uma nova

identidade de acordo com a nova realidade a que estavam inseridos. Muitos dos

pioneiros, como já fora falado anteriormente, não conseguiram se adequar a esse novo

gênero de vida e logo venderam suas possessões e deixaram prematuramente o

conjunto.

Contudo, tantos os que ali chegavam quanto os remanescentes tiveram

que (re)territorializar-se ao nova forma e estilo de moradia. Como a grande maioria

constituíam-se de resultado do êxodo rural-urbano, esta (re)territorialização dava-se

tanto no modo de vida cultural quanto no que tange as atividades econômicas, tendo

como fator complicador a forma verticalizada da nova moradia, o espaço doméstico

extremamente restrito, a alta densidade demográfica local que reflete diretamente na

privacidade familiar e na troca entre culturas nem sempre compatíveis e a falta de

atividade econômica compatível com o conhecimento técnico prévio dos moradores,

que se encontravam em sua maioria desempregados ou subempregados.

A saída econômica para muitos foi aproveitar a demanda demográfica

e partir para informalidade dentro do próprio conjunto, montando tabuleiros nas suas

vias de acesso que vendiam desde material de higiene até alimentos e, sobretudo

bebidas.

Assim surge os comércios no interior do conjunto. Inicialmente de

forma improvisada e, com o passar do tempo, evolui-se e complexibiliza, inclusive

com oportunismo premeditado e planejamento. Esses oportunismo ocorrem na medida

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Page 114: Monogafia de Gradução: Produção do Espaço urbano na Metrópole da Amazônia:Belém

em que os atores sociais da área se apossam de espaços coletivos com o argumento de

fazer dele alternativa produtiva de emprego e renda para a família, contudo após

garantir a posse o vende a terceiros, geralmente trazendo prejuízo a coletividade do

entorno mais próximo

O fato relevante, que podemos considerar um marco neste processo

das atividades terceárias meio a uma área nitidamente residencial, foi a cessão no ano

de 1994, de uma extensa área no centro do conjunto (bem ao lado da caixa d’água)

para se estalar uma panificadora. Cessão esta feita mediante pagamento monetário, ao

então presidente da associação durante a segunda gestão da entidade, Sr. Evandro –

vulgo China. Foi este o primeiro comércio, não improvisado, a se estabelecer

efetivamente na ocupação.

No ano seguinte, durante a terceira gestão da entidade presidida neste

momento pelo o Sr. Deroci Lopes do Nascimento – Vulgo Ceará -, é delimitada e

comercializada lotes (denominado “Box” pelos moradores), no centro do conjunto,

atras da caixa d’água sul, cujo o objetivo inicial era o de se estabelecer uma feira livre

“comunitária” no conjunto, para resolver o problema dos tabuleiros nas vias de acesso

(naquela época caminhos estreitos entre lamaçal e mato), bem como o de garantir

minimamente o emprego e renda de algumas famílias.

O projeto da feira resultou em um complexo processo de apropriação

territorial e econômico. Primeiro por ter, como pano de fundo, um interesse

especulativo de que o idealizou, que não se preocupou em cadastras as famílias, e

verificar se as mesmas tinham a intenção e habilidades comerciais. Em segundo lugar,

por não haver um planejamento da demanda de e da quantidade dos produtos a serem

comercializados, o que implicou em muito prejuízos e desestimulou os primeiros

feirantes. E por final, a dificuldade de aquisição dos víveres a serem comercializados

no local.

Tudo isso propiciou a venda paulatina dos “boxs”, que seriam então,

utilizados para fins de moradia, sobretudo àqueles que tinham agregados em suas

114

Page 115: Monogafia de Gradução: Produção do Espaço urbano na Metrópole da Amazônia:Belém

residências ou familiares sem abrigo, recém chegados do interior. Assim nasceu a

“Vila Nóia”, que ao longo dos período de ocupação foi-se expandindo, e se torna uma

ocupação horizontal no interior de uma ocupação vertical, fruto da especulação

terrenal interna.

A denominação “Vila Nóia” se deu pelo o fatos dos delinqüentes

locais utilizarem as vielas desta área, sempre escuras, vazias, ermas e subutilizadas á

noite para fazerem suas reuniões e praticarem tráfico e consumo de drogas ( maconha

misturada á pasta de cocaína), que regionalmente é chamada de “Nóia”, por uma

analogia a o distúrbio psicológico denominado paranóia.

Hoje a “Vila Nóia” já possui cerca de quarenta residências, dois

açougues, uma serralharia, cinco tabuleiros de verdureiros, dois bares, um depósito de

bebidas, uma eletrônica, um serviço de papelaria e correios (Big Serviços) e um

matadouro de galinhas. Atualmente já está iluminada, contudo continua sendo

utilizada para a realização de jogos de baralhos e comércio e consumo de drogas, com

a plena conivência dos moradores da área.

De forma similar surgiu também a “Vila Madalena”, situada à leste do

conjunto, na saída para o conjunto Orlando Lobato e Pedro Teixeira; na qual uma

antiga moradora solicitou um espaço de 10x10metros para construir uma lavanderia

“comunitária” para a mesma explorar e tirar o seu sustento. Contudo logo após ter

construído uma poucas benfeitoria a mesma o vendeu, abrindo precedente; e hoje toda

a área rente ao muro que limita o Jardim Sevilha do Conjunto Pedro Teixeira está

ocupado com residências bares e até uma estância de materiais de construção. O nome

Vila Madalena se deu em virtude de essa polêmica ocupação se efetivou no período

em que se transmitia, pela Rede Globo, uma telenovela com o mesmo nome.

È interessante perceber que apesar de circunscrito à ocupação original,

tanto a “Vila Nóia” quanto a “Vila Madalena” se constitui um apêndice a parte da

favela vertical, tanto pela suas respectivas localizações, quanto aos seus processos de

formação, tendo ainda funções e formas diferenciada... Isso reflete de alguma forma no

115

Page 116: Monogafia de Gradução: Produção do Espaço urbano na Metrópole da Amazônia:Belém

sentimento coletivo em relação às “vilas” e vice-versa: tanto que, inclusive, as

denominações são expressadas como de um lugar á parte, uma comunidade á parte.

Todos os projetos pensados para a comunidade essas áreas nunca

foram consideradas, da mesma forma que seus moradores impõe resistência quanto a

participação dos processos de organização e/ou confraternização mais coletiva; e

quando os fazem, são de forma a autosegregar-se ou a se opor às atividades em

questão. Existe um forte sentimento; este recíproco entre a favela vertical e horizontal

circunscrita ao mesmo território; de autonomia e segregacionista entre as partes...

No princípio a ocupação passou por sérios problemas de infra-

estrutura, pois só havia no local as edificações semi acabadas. Com a presença dos

primeiros moradores no local, urgia a resolução, prioritária e imediata, no que tange a

questão da energia elétrica, distribuição de água e construção das escadas.

A segunda foi resolvida com a abertura de poços artesianos rasos na

entrada de cada bloco de apartamentos, cujo o valor da perfuração e instalação de

tubulações e equipamentos de distribuição deveriam ser rateados de forma comunitária

entre todos que residissem no dado bloco; instituindo o condomínio por bloco de 16

apartamentos. O condomínio possui a atribuição de zelar pela limpeza, manutenção, e

contas coletivas referentes ao bloco em questão.

O ultimo problema de estrutura não foi encarado como uma prioridade

muito objetiva, nem pela entidade representativa dos moradores nem pelos

condomínios – responsáveis pela manutenção; sendo que as escada foram sendo

construídas de forma autônoma e desarticulada no conjunto como um todo. Alguns

condomínios solucionou a questão da edificação das escadas já no primeiro ano, sendo

que ainda coexiste, depois de oito anos de ocupação, blocos de apartamentos que

mantém escadas improvisadas em madeira.

A energia elétrica foi o pivô de inúmeros eventos no conjunto, desde

desvios de verba por parte de membros da Associação até o falecimento de moradores.

116

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Nos períodos iniciais que precedeu a ocupação a única solução

possível para suprir a necessidade de energia elétrica eram as instalações dos “gatos”.

“Gato” é o nome popularmente designado às instalações de condutores irregulares que

se ligam à rede da concessionária oficial de energia, a fim de desviar, de forma ilegal,

energia elétrica para seu consumo mais variado. Existe também outras denominações

como: “gambiarra”, “varal”, “rabo de rato”, “by pass”, etc.

A princípio cada um morador ficou responsável em “puxar” a energia

para o seu apartamento, contudo a medida que a então estatal Centrais Eletricas do

Pará (CELPA) intervia retirando e confiscando os cabos condutores, os moradores

passaram a produzir os “gatos” de forma planejada, coordenados pela Associação dos

Moradores do Conjunto Jardim Sevilha (AMOJAS), entidade representativa dos

moradores do local.

Essa coordenação nem sempre foi satisfatória, haja vista de fatos

ocorrido, em pelo menos um dos momentos que precederam ao confisco da fiação. Em

1994, ocorreu um desses momentos, em que toda comunidade coletou o dinheiro (R$

7,00 cada família) para novamente adquirir a fiação para refazer a rede irregular, pois

energia elétrica é em a necessidade básica e dela nenhum urbanita pode prescindir.

Estando de posse de todo o dinheiro, pertencente a quase 1000 famílias, o então

presidente Sr. Evandro (...) – Vulgo China -, desapareceu do conjunto por um bom

período, sendo destituído toda a sua diretoria e apresado, em forma de material

elétrico, apenas parte do erário desviado.

A energia era desviada da rede existente no conjunto Orlando Lobato,

especificamente na rua Coletora primeira paralela ao Sevilha, e nos postes da Rodovia

Augusto Montenegro, o que trazia muita preocupação e aborrecimentos aos moradores

daquele conjunto habitacional vizinho. Não eram raros as quedas de energia e a

queima de eletro-eletrônicos, bem como as denúncias, as queixas e a atmosfera de

animosidade existente entre as duas comunidades.

117

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Numa destas instalações clandestina um dos chefes de famílias da

ocupação faleceu, em virtude da falta de competência na execução daquela atividade,

bem como prejudicado pelo clima úmido, pós chuvoso do momento. Um outro

morador, apelidado de “Careca”, foi assassinado por ter aproveitado a instalação de

terceiros como ramal para extensão que abasteceria sua residência, provocando a

queima de equipamento do vizinho, causando grande discórdia que acabou em crime.

A partir desses fatos os moradores se mobilizaram a fim de regularizar

o fornecimento de energia no conjunto, onde houve desde solicitações formais a estatal

reivindicando o benefício, até ocupação efetiva do prédio da administração central do

órgão responsável.

Inicialmente foi instalado uma grande caixa de registro na entrada do

conjunto, que marcava o consumo total dos habitantes do Sevilha; entretanto esta

iniciativa foi frustrada por motivo de inadimplência de muitos dos moradores. Um

novo movimento reivindicatório foi iniciado; agora para que se distribuísse e

registrasse individualmente a energia a ser consumida, bem como se instalasse a

iluminação pública padrão na pista central do conjunto, sendo que naquele momento

esta iluminação era improvisada com condutores inapropriados e postes de madeira.

O “relojão”, como era denominado a caixa registradora central de

consumo no conjunto, foi quebrada e ligada diretamente sem passar pelo registro, e

logo, a central da CELPA foi ocupada novamente. Coincidentemente, a mesma

concessionária estatal estava em via de ser privatizada sendo um desgaste naquele

momento ela conviver com protestos freqüentes em sua central, o que facilitou a

conquista da demanda. Um outro fator que facilitou essa conquista, que só veio se

efetivar em 1998, foi uma dívida que esta tinha com a prefeitura municipal que pode

ser amortizada com a execução da benfeitoria, mediante inúmeras articulações das

lideranças do local. Regularizado a energia a telefônica se instalou em seguida,

resolvendo outra das demandas locais.

118

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* Figura 09 - Rede de abastecimento de energia elétrica regularizada

Fonte: Altair Rocha-1998

Hoje ainda existe processos ou movimento junta a Rede CELPA,

agora privatizada, a fim de garantir a não instalação do projeto “Energia às Claras”,

apelidado vulgarmente por “Olhões da Celpa”. A própria Rede já tentou, por três

vezes, promover a instalação dos equipamentos de leitura externa á residência,

intrínsecos ao programa “Energia ás Claras”, contudo foi impedida pela população,

que inclusive agrediu os funcionários mais “dedicados” a empresa.

Entretanto a realidade é que, o conjunto Jardim Sevilha é uma das

poucas comunidades do Estado do Pará que resistiu, e não aderiu ao programa

supracitado, sendo que a leitura ainda é feita na forma tradicional. Só para via de

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curiosidade, a favela registra um altíssimo índice de inadimplência e de apropriação

indébita de energia elétrica...

As articulações da lideranças locais em busca de solucionar a questão

energética, coincide com o momento que o conjunto vive uma intensa mobilidade de

seus moradores, o que reflete na configuração sociocultural e na mudança da

mentalidade coletiva.

Esse momento é contemporâneo também á implementação, por parte

do poder municipal, do programa de “Orçamento Participativo” (OP), onde todas as

comunidades são convocadas a decidir onde seria aplicadas parte das verbas da

prefeitura municipal, sendo que conquista sua demanda a comunidade que participar

com maior número de moradores nos fóruns de deliberação do programa – assembléias

distritais e municipais do OP -. Nesse critério o Sevilha já levava vantagem por sua

especificidade geo-demográfica. A vantagem se apresenta exatamente na quantidade

de pessoas que reside na favela vertical (população absoluta estimada entre 4000 e

5000 habitantes, sendo sua população relativa estimada em 20 habitantes por metro

quadrado) de forma concentrada, bem como na localização geográfica privilegiada do

conjunto (no centro do Distrito Administrativo) que favorece a mobilização das

pessoas, em massa, para qualquer lugar do Distrito, além da facilidade em vias de

acesso.

Foi questão de tempo surgir novas lideranças cito: Sr. Paulo Rabelo

morador do bloco 15 A ; Sr. Sidney Rocha residente do bloco 03 B; Nelson morador

do bloco 27 B; Pedro Paulo antigo morador do bloco 10 A e hoje do 14 A; Rui Vinente

morador do bloco 21 A; Altair Rocha morador do bloco 07 B; e o próprio autor que

mora no bloco 30 B; dentre outros, sendo que “agregou–se” moradores mais antigos, e

deu-se início à oposição àquelas lideranças tradicionais da ocupação, e as suas

ideologias e metodologias; movimento este denominado Frente Sevilha. Instalou-se

então uma franca e, até certo ponto belicosa, disputa pelo micro poder local.

120

Page 121: Monogafia de Gradução: Produção do Espaço urbano na Metrópole da Amazônia:Belém

Essa disputa foi fundamental para as conquistas, tanto da energia

elétrica via CELPA, quanto do asfaltamento da pista principal através do Orçamento

Participativo.

Nesse processo foi também conquistado para a comunidade, através

do OP, uma quadra poliesportiva com uma praça no entorno, e a terraplanagem da rua

lateral do lado B paralela aos blocos pares com a iluminação pública incluída; sendo

estas duas últimas ainda não realizada pelo órgão municipal.

Figura 10: Festa de Inauguração da Pista Principal Asfaltada pelo Orçamento Participativo Fonte: Altair Rocha – 1998

O conjunto já foi considerado de alta periculosidade, em virtude

sobretudo, por ter entre seus moradores pioneiros, elementos em conflito com a lei. O

conjunto já fora reduto da marginalidade de seu entorno e esconderijo de algumas

quadrilhas de traficantes de assaltante de bancos da cidade, isso nos primeiros três

anos de ocupação.

121

Page 122: Monogafia de Gradução: Produção do Espaço urbano na Metrópole da Amazônia:Belém

Ao mesmo tempo que se intensificou a mobilidade e/ou fluxos de

substituição da população originária, associado à conquista paulatina de melhores

infra-estrutura, essa população à margem da lei foi sendo combatida e persuadida a se

mudar. Vão ocorrer inúmeras denúncias, que levarão a várias prisões de elementos

miliantes e ao desbaratamento de algumas quadrilhas do crime organizado.

Um evento pode ser citado como um marco nesse processo: quando

em 1996 os moradores se sentindo coagidos pela ação dos marginais solicitou uma

diligência policial ao Comando Geral da PM, informando vários nomes, crimes e as

rotinas desses elementos no conjunto, como de fato vai ocorrer dias depois na forma

de uma “batida multirão” (segundo nos afirma o Sr. Alberto Silva), e por conseqüência

leva a prisão da maioria dos marginais que atuavam no local na época.

Atualmente, a favela é tida, pelos moradores como tranqüila. Ainda

existem no Jardim Sevilha, como em todos os locais do mundo globalizado, pessoas

que sobrevivem do fruto da economia ilegal, contudo estas atividades marginais não

são praticadas no interior da favela (como em outrora), sendo que isso implica em uma

percepção coletiva e/ou comunitária de um ambiente satisfatoriamente tranqüilo e

seguro, em detrimento da fama externa que ainda persiste, reforçada pela aparência

estética característica das áreas em consolidação (áreas de favela).

Economia Ilegal é definido, nesta monografia, como o ramo de

atividade econômica e/ou produtiva, praticados por aquelas pessoas que estão alijadas

do processo produtivo formal e informal, em virtude da crise estrutural da economia,

que acompanhou o processo de globalização; em que estes, por não conseguirem se

adequar ou transferir-se produtivamente para outras atividades socialmente aceitas,

sobrevivem (e sustentam as suas famílias) por meio de furtos, assaltos, tráfico de

drogas, contrabando, seqüestro, promoção de jogos de azar, etc., enfim, por meio de

todas e quaisquer atividade consideradas “fora da lei” pela sociedade brasileira e/ou

ocidental.

122

Page 123: Monogafia de Gradução: Produção do Espaço urbano na Metrópole da Amazônia:Belém

Neste sentido, em muitos casos, essa atividade é a única alternativa de

sobrevivência do indivíduo, que movimenta majoritariamente a economia capitalista

de inúmeras cidades e até países; a exemplo das cidades de Abaetetuba, Breves, no

Estado do Pará, que possuem como base econômica mais vigorosa o contrabando, e

mesmo a Colômbia se considerarmos a escala nacional em que o narcotráfico é a

muitos anos o principal produto comercial de exportação e de geração de emprego,

mesmo sendo, em ambos os casos, atividades ilegais.

No Sevilha, as ocorrência mais freqüentes na atualidade, que rompe

com a rotina do ambiente, diz-se respeito à questões de família ou de animosidade

entre vizinhos, e ainda por conflitos referente a posse de áreas livres/coletivas; sendo

que inexiste no conjunto gangues de jovens infratores e “pichações” (sendo que o

conjunto dos moradores resistem energicamente a tais ocorrências).

Apesar das poucas manifestações e tradições religiosas de massa

desenvolvidas no interior do Jardim Sevilha, o conjunto conta hoje com seis templos

religiosos cito: Igreja Católica; Assembléia de Deus; Deus é Amor; Igreja

Quadrangular; Igreja Adventista do Sétimo Dia, e por fim a Pentecostal Igreja

Missionário de Jesus.

A medida em que foi avançando o processo de especulação interno e a

ocupação das áreas livres as diversas denominações religiosas demarcaram suas

possessões e edificaram seus templos, que gradativamente vão se ampliando em

extensão terrenal, no volume de engenharia e na aglutinações de fiéis. A exceção da

Igreja católica, que adquiriu seu espaço por meio de doação da Associação,

referendada por todos os moradores em Assembléia Geral.

Os templos e a adesão religiosa estão distribuída da forma que iremos

expor a seguir:

A Igreja Católica edificou seu templo imediatamente ao lado do Bloco

2 B, de frente para a Rodovia Augusto Montenegro e em detrimento de sua modesta

123

Page 124: Monogafia de Gradução: Produção do Espaço urbano na Metrópole da Amazônia:Belém

instalação, por indução podemos afirmar que, ela possui a maior parte dos fiéis dentre

os moradores, cerca de 40%.

A Igreja Assembléia de Deus edificou seu templo, inicialmente de

madeira e hoje possui uma edificação suntuosa de alvenaria, em frente aos blocos 6 e 8

B, sendo que agrega cerca de 15% dos fiéis entre os habitantes do conjunto.

Situada de frente o espaço coletivo existente entre os blocos 2 e 4 B,

encostada no muro que limita o conjunto Jardim Sevilha do Conjunto Orlando Lobato

(situação geográfica que se repete em todos os templos edificados defronte aos blocos

pares e na “Vila Nóia”), a Igreja Quadrangular conter entre o seu “rebanho” 10% dos

fiéis locais.

A Igreja Pentecostal Missionário de Jesus adquiriu seu espaço e

edificou seu templo na área que compreende a “Vila Nóia”, e atualmente se encontra

construindo e ampliando as suas possessões em alvenaria, acreditamos que agregue

10% dos fies da comunidade.

A Igreja Adventista do Sétimo Dia se edificou bem no centro da

ocupação, ao lado da caixa d’água norte, e deve atrair, também, cerca de 5% dos fiéis.

Já a Igreja Deus é o Amor edificou o seu templo, em madeira, na saída

do comunidade para o Orlando Lobato, defronte o bloco 30B; hoje se encontra em

franca expansão cuja a edificação está sendo construída em alvenaria, esta

denominação religiosa não deve agregar mais que 5% dos habitantes do conjunto a seu

“rebanho”.

Gostaríamos de considerar, como de fato, que cerca de 15% dos

habitantes da ocupação são agnósticos ou pertencem a outras denominações religiosas,

tanto cristãs como afrodescendentes e asiática...

124

Page 125: Monogafia de Gradução: Produção do Espaço urbano na Metrópole da Amazônia:Belém

Existe atualmente um assédio da Igreja Universal do Reino de Deus,

junto a AMOJAS, a fim de também se instalar no conjunto, que até o momento está

conseguindo resistir às “seduções”, sob a justificativa que os espaços remanescentes

devem ser resguardados para, num futuro próximo, se edificarem equipamentos de uso

coletivo, que beneficiem toda a população independente de credo religioso...

No próximo capitulo, detalharemos com maior profundidade a

realidade sócio econômico e a percepção que os moradores possuem sobre seu espaço

de moradia; a favela vertical Jardim Sevilha.

125

Page 126: Monogafia de Gradução: Produção do Espaço urbano na Metrópole da Amazônia:Belém

Capitulo XII

ANÁLISE GEO-ESTATÍSTICAS SOBRE A PERCEPÇÃO COLETIVA DOS

MORADORES ACERCA DO JARDIM SEVILHA

Com a intenção de se diagnosticar qual é a real situação da favela

vertical hoje, segundo a percepção e declaração dos próprios moradores, nós

aplicamos um questionário (em anexo), cujo os dados nos serviu de base estatística

para uma interpretação discursiva sobre os elementos que julgamos ser caros para um

entendimento científico acerca deste fenômeno social; que, resguardando as devidas

proporções e escalas, se reproduzem em todas as periferias desta nova sociedade

técnico-científica e informacional.

Além do questionário, aplicado a trinta e uma famílias escolhidas

aleatoriamente e abordadas em suas respectivas residências, fizemos também

entrevistas abertas a “figuras públicas” locais, nas quais eram lideranças políticas e

religiosas, membros dos movimentos de jovens e de mulheres, comerciantes,

moradores pioneiros da comunidade. Vale ressaltar que distribuímos sessenta

questionários contudo conseguimos recuperar e analisar apenas o número declarado, e

são destes que se basearão a pesquisa.

Todos estes elementos nos subsidiaram a análise, que por meio de

uma amostragem matemática, temos a presunção de apresentar uma “radiografia” local

da realidade vivenciada no local, a qual iniciaremos a seguir.

No Conjunto Residencial Jardim Sevilha, agrupamento humano

possuidor de elementos físicos, funcionais e culturais que o caracteriza como uma

favela vertical, dispõe atualmente de exatos 1.080 imóveis em seu interior distribuídos

da seguinte forma: 999 residências, sendo 943 apartamentos, 40 residências edificadas

126

Page 127: Monogafia de Gradução: Produção do Espaço urbano na Metrópole da Amazônia:Belém

na “Vila Nóia” e 16 edificados na “Vila Madalena”; 75 estabelecimentos comerciais e

de serviços sendo sua distribuição: 55 estabelecimentos de comércio e serviços

espraiado em toda dimensão da pista principal e 1 “rádio-cipó” conjugado com curso

de informática instalados no 3º andar do bloco 28 B, 6 pontos instalado na “Vila

Madalena” e 14 instalados na delimitação da “Vila Nóia”, ainda 6 templos religiosos,

tudo no perímetro do conjunto (Observar Figura 05 - pag. 84 desta monografia).

Alguns atividades de comércio e serviços merecem destaque, em

virtude de seu porte e/ou seu fluxo de circulação de pessoas e mercadorias, bem como

pelo poder de influência que transcende a comunidade. Podemos enumerar dentre estes

três mercados1, uma panificadora2, dois salões de beleza3, dois bares dançantes4, 2

depósitos de bebidas5, uma papelaria com serviços de correios6, um açougue7, uma

farmácia8 e por fim um “rádio-cipó” e publicidade9.

Os moradores que responderam o questionário tinham entre 17 e 46

anos. Nos ficou nítido que estas pessoas são as “líderes” dentro do seio familiar; sendo

inclusive declarado, várias vezes durante a abordagem, que a família iria aguardar um

determinado membro estar presente para que este possa permitir a doação das

informações, bem como para responder as questões. Mediante a isso não podemos

considerar as idades dos informantes, nem o sexo, para estabelecer a pirâmide etária

do conjunto em questão.

1 Mercantil Alimenta; Mercadinho Fé em Deus e Mercado do Natan;2 Panificadora e Pizzaria Sevilha3 Casa da Beleza e Salão Atual4 Zouk’s Bar e Bar o Vermelhão5 Depósito de Bebidas Casa Carol e Depósito de Bebidas Comercial Preço Menor6 Big Serviços7 Açougue Boa Esperança8 Armarinho FarmaSantos9 Publicidade Salmo 23

127

Page 128: Monogafia de Gradução: Produção do Espaço urbano na Metrópole da Amazônia:Belém

Figura 11 : Foto Aérea do Conjunto Jardim Sevilha

Fonte: Eder Libório - 1996

O interessante foi verificar que - se considerarmos a dedução como

uma fator objetivo da análise impírica - o questionário foi respondido majoritariamente

por mulheres (67,7%), o que nos leva a acreditar que as famílias do Sevilha são

dirigidas em sua maioria por mulheres, independente da presença masculina efetiva na

família; bem como percebemos o importante papel da juventude na direção das

famílias faveladas.

*Quadro 01 – Quantificação e percentual dos informantes por sexo e idade

MASCULINO FEMININO IDADE

Quant. % Quant. %

De 17 a 25

anos (Jovens)

De 26 a 40 anos

(Jovens adultos)

Acima de 40

anos (Adultos)

Quant. % Quant. % Quant. %

128

Page 129: Monogafia de Gradução: Produção do Espaço urbano na Metrópole da Amazônia:Belém

10 32,3 221 7,7 07 22,5 18 58,1 06 19,4

Tivemos a oportunidade de observar o qual é a importância da

migração campo-cidade para a formação, desde a origem destas comunidades, e como

este movimento horizontal intra-regional contribui para o crescimento das metrópoles.

Compreendemos também a causa da opção da ordem caótica como

forma de organizar seus espaços, haja vista que a realidade, o tempo vivido e o

conhecimentos prévios trazidos do interior, pouco contribui para o entendimento dos

novos símbolos e necessidades objetivas intrínsecos à vida urbana.

Acreditamos que a nova territorialização e a construção de uma nova

identidade só se efetiva na segunda geração da família deste migrante, que até este

momento irá experênciar crises de identidade e de cultura que poderá, inclusive,

promover o desagregamento ou, no mínimo, abalos na estrutura familiar dos mesmos.

Um outro fator impactado, por esta ausência de “competência” urbana,

é meio ambiente em que estas pessoas são inseridas. A medida em que no interior, e

sobretudo no meio rural, elas não têm acesso a gama de produtos industrializados que

encontra na cidade, bem como convivem coletivamente em vastos ambientes, em

detrimento da realidade da cidade, os resíduos destes produtos não são percebidos

necessariamente como problema, contudo no meio urbano não prescinde maior

cuidado no condicionamento e na manipulação dos mesmos, que se complica quando

consideramos o número dessa população inapta vivendo no meio urbano.

Esses impactos se apresenta por meio de acúmulo de resíduos e

dejetos nos mais variados subsistemas que compõe ecossistema urbanos, influenciando

negativamente a estética física e saúde da biota local, gerando também prejuízos na

auto estima coletiva dos habitantes do referido ecossistema, que passa a desvalorizá-lo,

e a reproduzir atitudes que provocam a permanência desses fatores, que por fim, se

consolida como um “círculo vicioso” perpétuo...

129

Page 130: Monogafia de Gradução: Produção do Espaço urbano na Metrópole da Amazônia:Belém

Se considerarmos o déficit técnico e a ausência quanto as habilidades

produtivas veremos que essa população estará sujeita à pauperização gradiente,

ampliada pela crise estrutural da economia mundializada, que implicará no

tensionamento das demandas sociais, que por sua vês abastecerá o setor terceário

atrofiado da economia e, conseguinte os setores da economia ilegal, tendo como

resultado final a explosão da violência urbana que toda a sociedade global, e em

especial o Brasil, vivência nos dias atuais.

Como podemos observar na tabela abaixo, o Sevilha é um exemplo

em escala micro dessa realidade, produzido por meio de processos históricos na opção

política de desenvolvimento adotado em escala nacional, por meio da subordinação ao

desenvolvimento desigual e combinado, impostos pela Divisão Internacional do

Trabalho (DIT), capitaneado pelas potências hegemônicas, às sociedades periféricas.

*Quadro 02 – Procedência natal dos moradores do Jardim Sevilha

Interior do Estado do Pará Capital (Belém) Outros Estados

Quant. % Quant. % Quant. %

17 54,85 08 25,8 06 19,35

O déficit habitacional se explicita quando verificamos a população

absoluta de muitas das residências do conjunto analisado, onde, em um bom número

de casos vivem sete, ou mais pessoas, circunscrita a uma moradia de apenas quarenta

metros quadrados. Percebemos ainda a grande freqüência de membros agregados a

estas famílias.

Esta grave situação causa grande desconforto e a falta da

imprescindível privacidade entre seus membros, sendo ainda mais um fator de

discórdia e conflitos familiares, intensificando os fatores de desestruturação e/ou

promiscuidade doméstica.

130

Page 131: Monogafia de Gradução: Produção do Espaço urbano na Metrópole da Amazônia:Belém

Temos a clareza que esta realidade não é “privilégio” desta favela

vertical, pelo contrário, infelizmente a maioria das famílias de baixa renda vivem esta

situação idêntica de indignidade sócio-econômica, causada pela falta de

implementação de políticas públicas habitacionais sérias, por parte da elite política e

econômica nacional, que em detrimento de trabalhar para amenizar as crises sociais

priorizam políticas que beneficiam tão somente o grande capital.

Isso nos responde também o porque as vias do conjunto e suas áreas

de convivência coletiva; cito: bares, salões de beleza, frente dos blocos; são sempre

muito movimentados, oferecendo ao conjunto a aparência de um “formigueiro

humano”, fenômenos que não ocorrem em agrupamentos residenciais vizinhos como é

o caso do conjunto Orlando Lobato, Pedro Teixeira e Green Ville II, por estes

possuírem, per capta, menores densidade demográfica por família e maiores espaços

para convivência doméstica.

Chegamos a conclusão que por haver uma condições de restrição na

extensão espacial das residências, determinam que as pessoas não se sintam à vontade

e confortáveis em suas moradias, obrigando-as a procurarem nessas áreas externas

ambientes que lhes possam proporcionar tais sentimentos. Esse também é um fator que

prejudica substancialmente a auto estima das pessoas, sobretudo os jovens e os idosos.

*Quadro 03:- Número de habitantes (população relativa em m²) por apartamentos

De 2 a 4 Moradores De 5 a 7 Moradores Acima de 7 Moradores

% Pop. Rel.(hab./m²) % Pop. Rel.(hab./m²) % Pop. Rel.(hab./m²)

67,5 0,75 hab./m² 26 1,5 hab./m² 6,45% > 2 hab./m²

131

Page 132: Monogafia de Gradução: Produção do Espaço urbano na Metrópole da Amazônia:Belém

*Figura 12 :Espaço Interno dos Apartamentos de 40 Metros² Construídos Falta de Conforto em Meio a Alta Densidade Demográfica Fonte : Eder Libório - 1997

Detectamos que a ocupação movimenta financeiramente valores

consideráveis, devido a sua alta densidade demográfica. A renda per capta do conjunto

oscila em torno de R$ 225,00 mensais, perfazendo uma movimentação financeira

mensal, pelo total de moradores da comunidade, de cerca de R$ 1.012.500,00.

Desmistificamos também, a equivocada máxima que os moradores de

favela são excluídos, pois, no exemplo do Sevilha, a sua grande maioria possui uma

renda familiar, segundo declaração deles próprios, superior a R$ 600,00, colocando-os

no rol da classe média baixa, segundo os órgãos oficiais, por conseguinte estes

estariam incluídos nas maiorias dos processos econômicos sociais, bem como se

reconhecem e são igualmente reconhecidos com sujeitos ativos da economia e

produção social nacional.

A população do Sevilha, genericamente falando, se inclui nessa

estratificação como cidadãos de classe “D”, portanto “consumidoras”; tendo inclusive

famílias de classe “C”. Entretanto esses dados praticamente não refletem na melhoria

da qualidade de vida, nem individual nem tão pouco da coletividade dos moradores em

questão. Isso ocorre em virtude do alto grau de individualidade e ausência de

132

Page 133: Monogafia de Gradução: Produção do Espaço urbano na Metrópole da Amazônia:Belém

solidariedade em que está submetida a mentalidade da população local, que se

expressa em suas posturas e comportamentos... Com certeza este é resultado do

paradigma ocidental a que as pessoas são induzidas a adotar como seu, por meio dos

mais diversos instrumentos ideológicos, que inclusive são trabalhados (pela grande

mídia) dentro de suas próprias casas sem que elas se apercebam.

Essa população, proveniente de movimentos migratório rural-urbano;

portanto que possui uma cultura que valoriza uma alimentação farta e natural; e que se

integra socialmente de forma segregada, considera que sua família se alimenta bem, o

que reforça a tese de um mercado interno em potencial, sobretudo no que diz respeito a

alimentação e bebidas, pois a maior parcela dessa renda é aplicada nestes produtos:

*Quadro 04 - Percepção dos moradores quanto a qualidade1 de sua alimentação

Alimentam-se sempre

bem (três vezes ao dia)

Alimentam-se sempre

mau

Alimentam-se com qualidade

variável

Quant. % Quant. % Quant. %

18 58,06 09 29,04 04 12,90

Reconhecemos que existe uma grande parcela de pessoas residente na

ocupação que vivenciam situações financeiras que podem ser consideradas como um

fragrante atentado aos direitos humanos, tão qual é o grau de indignidade e miséria a

que estão submetidas. A estas sim, podemos considerar como excluídas, contudo

reconhecendo que as mesmas lutam por sua inclusão e são de alguma forma

reconhecidas como tal.

1 A qualidade deve ser entendida tanto nutricional quanto por quantidade de refeições diárias.

133

Page 134: Monogafia de Gradução: Produção do Espaço urbano na Metrópole da Amazônia:Belém

Torna-se nítido a razão da proliferação contínua de estabelecimentos

de comércios e de serviços na circunscrição da comunidade, haja vista que existe um

volumoso mercado interno a ser explorado; tendo um potencial ainda mais expressivo

pois pode contar com a benesse de sua posição geográfica estratégica, sendo o

conjunto localizado no centro de inúmeras outras áreas residenciais, servindo-lhes

inclusive, de via de acesso para as suas respectivas populações.

Ao analisar o quadro a seguir, devemos considerar, como de fato

conhecemos, a existência de várias família detentoras de poder aquisitiva ainda

maiores que aos declarados que não atuaram como nossas informantes.

*Quadro 05: Poder aquisitivo e/ou renda familiar dos moradores do conjunto

De 0 a 1 S.M. De 1 a 3 S.M. De 3 a 5 S.M. De 5 a 7 S.M. Não Declarou

Quant. % Quant. % Quant. % Quant. % Quant. %

08 25,8 13 41,93 05 16,12 03 9,65 02 6,41

No que tange a relação de trabalho e/ou ocupação produtiva os

moradores, em idade ativa, possui uma situação similar as divulgada na imprensa pelos

os órgãos oficiais. Refletindo proporcionalmente as influências, já tratadas

anteriormente, da crise estrutural da economia globalizada, que encontra-se em sua

fase técnico-científica e informacional, segundo definiu brilhantemente o saudoso

geógrafo Milton Santos. Essa realidade caracteriza-se por extinguir inúmeros postos de

trabalho, sendo que as pessoas tendem a migrar para outros setores produtivos, a fim

de conseguir o sustento para si e suas famílias; se sujeitando inclusive em reduzir seus

ganhos e abrir mãos de direitos adquiridos. Muitos são obrigados a deixar suas terras

natal, como é o caso de muitos moradores da área pesquisada.

134

Page 135: Monogafia de Gradução: Produção do Espaço urbano na Metrópole da Amazônia:Belém

Como resultado disso temos de conviver com um intenso e

prolongado agravamento da crise social e o aumento da violência. No Sevilha as

pessoas estão ocupadas produtivamente segundo demonstra a tabela a seguir:

*Quadro 06 – Relação de trabalho em que estão inseridos os moradores do Sevilha

Economia Formal

(Carteira Assinada)

Economia

Informal

Situação de

Desemprego

Não Declarou

Quant. % Quant. % Quant. % Quant. %

13 41,93 12 38,70 05 16,15 01 3,22

A ocupação do Sevilha, contrariando a alta densidade demográfica

constatada, ainda não se completou. Existe no conjunto cerca de 10% de apartamentos

fechados, segundo a declaração de alguns dos informantes que relataram que em seus

respectivos blocos existem, de um a dois, apartamentos fechados, sendo que, os

titulares de suas posses aguardavam a valorização imobiliária ou a regularização dos

mesmos, para oferecer um destino socialmente produtivo aos mesmos.

Entre os moradores existem ainda, aqueles que tomam conta de

possessões alheias, e outros que moram de aluguel. Sendo que a maioria adquiriu sua

posse através da compra no mercado “paralelo”, pois a ocupação encontra-se ainda em

situação de litígio judicial ou irregular.

O quadro a seguir demonstra a conivência dos moradores com a

atividade especulativa, bem como o percentual de moradores que adquiriram suas

possessões por meio desse método e ínfimo números de pioneiros que permaneceram

no conjunto após a ocupação se consolidar, bem como demonstra o aumento no

período de permanência e adaptação dos moradores ao conjunto, tende a se esgotar:

135

Page 136: Monogafia de Gradução: Produção do Espaço urbano na Metrópole da Amazônia:Belém

*Quadro 07 - Forma de aquisição do imóvel;

Adquiriu através de

ocupação

Adquiriu através da

compra

Alugado Cedido por

terceiros

Quant. % Quant. % Quant. % Quant. %

03 9,67 26 85,87% 01 3,22% 01 3,22

*Quadro 08: Período de residência dos moradores no conjunto;

Menos de 1 ano De 1 à 4 anos De 5 a 8 anos Superior a 8 anos

Quant. % Quant. % Quant. % Quant. %

03 9,67 06 19,35% 19 61,31% 03 9,67

No índice de escolaridade, que demonstra o nível cultural da

população, o conjunto está, até certo ponto, bem “colocado”. Esse indicador também

deveria garantir o grau de competência que a população de uma determinada área

possui para solucionar os seus problemas mais elementares, contudo, se relevarmos a

observação impírica, algumas dessas demandas básicas, ainda não foram solucionadas,

a exemplo da questão ambiental e da revitalização das áreas coletivas.

Apesar de, obviamente, não declarada o analfabetismo, em virtude do

questionário ter sido respondido individualmente, sabemos que umas poucas pessoas

na comunidade não possuem a habilidade de leitura e nem de escrita. Inclusive a

própria entidade representativa – AMOJAS -, já foi “anfitrião” de projetos de

alfabetização de jovens e adultos, contando com a adesão, no início, de 25 pessoas. O

quadro abaixo, por amostragem estatística, nos revela a situação declarada pelos

informantes.

136

Page 137: Monogafia de Gradução: Produção do Espaço urbano na Metrópole da Amazônia:Belém

* Quadro 09 - Grau de escolaridade da população Sevilhense

Nível fundamental

(Incompleto)

Nível Médio

(completo ou não)

Nível Superior

(completo)

Abaixo do Nível

fundamental (Por Indução)

Quant. % Quant. % Quant. % %

16 51,58 11 41,97 02 6,45 05

Percebemos também a forte influência da migração intra-urbana na

composição da população do conjunto. Isso demonstra que o processo de invasão-

sucessão das atividades centrais sobre as suas áreas periféricas próximas, provoca a

segregação gradiente das atividades marginais situadas nas respectivas áreas, fazendo

com que elas se desloquem cada vês para locais mais distantes dos centros comerciais.

Aqui tais atividades devem ser entendidas como as atividades residenciais e as de

comercio de mercadorias básicas de subsistência.

Esses movimentos também nos revela a forte atração disposta entorno

dos eixos de expansão da Região Metropolitana de Belém (RMB), bem como os

movimentos migratórios não se encerram com a chegada do migrante na cidade

grande, e sim com a sua adaptação ao modo de vida urbano; que vai ocorrer depois da

construção da identidade por parte da geração que sucederá a sua, possibilitando que

esta territorialize-se definitivamente.

O quadro a seguir nos mostra como foi este movimento que

configurou o atual agrupamento humano residindo no conjunto Jardim Sevilha.

*Quadro 10 –Movimento migratório intra-urbano (por Distrito Administrativo) realizado pelos moradores do conjunto

DABEM DAGUA DABEL DASAC DAOUT DAENT Direto do

Interior

Quant % Quant. % Quant. % Quant. % Quant. % Quant. % Quant. %

09 29 03 9,6 03 9,6 04 13 01 3,2 03 9,6 08 26

137

Page 138: Monogafia de Gradução: Produção do Espaço urbano na Metrópole da Amazônia:Belém

A pesquisa demonstrou que a maioria das famílias se territorializaram

ao ambiente oferecido pela comunidade do Sevilha, pois a grande maioria não mais

deseja se locomover para outras áreas, resultado que retrata o nível de adaptação e de

identidade que estas pessoas construíram junto ao ecossistemas em que estão inseridas.

Iremos considerar que a atitude de morar, mais que um ato de se obter

um abrigo físico para o descanso e/ou uma proteção contra as intempéries naturais. É

na verdade, uma relação psicossocial complexa, em que o indivíduo se relaciona

plenamente, tanto com o meio ambiente tanto quanto com a vizinhança de seu entorno.

Esta convivência, necessariamente, é impregnada de sentimento afetivo, em que as

pessoas sentem-se pertencentes ao espaço geográfico de moradia, e sente que este lhe

pertence reciprocamente. È estabelecido também uma rotina que agrada aos sentidos,

um equilíbrio à vida cotidiana. Toda relação de estada duradoura contrária a descrição

acima deveria ser considerada uma mera habitação física, tal qual um alojamento

militar ou de trabalhadores de empreiteiras.

Os movimentos intra-urbanos existem, sobretudo, em virtude desta

procura inconsciente por ambientes que possam proporcionar uma estabilidade física,

emocional e segurança.

O conjunto, ao longo de seu processo de incorporação enquanto

subsistema metropolitano, adquiriu infra-estrutura e nível de convivência que favorece

a estas demandas subjetivas; ao ponto de que as pessoas declarem que se sintam

seguras, em meio a ambiente repleto de relações amistosas, e com infra-estrutura e

condições de sobrevivência e desenvolvimento melhor que os seus respectivos lugares

de origem.

A seqüência de tabela que se seguem demonstra um pouco deste

sentimento, que é mais nítido quando se vivência essa realidade in locus, em

detrimento dos contrastes sociais, conflitos e das restrições vividas pela população da

favela. Elas retratam, especificamente, as resposta que a população nos deu quando

138

Page 139: Monogafia de Gradução: Produção do Espaço urbano na Metrópole da Amazônia:Belém

questionadas, respectivamente, se, gostariam de se mudar do conjunto caso a situação

lhes permitisse; quais eram o mais significativo problema e a maior benesse de se

morar na comunidade e se elas se preocupam com o futuro da ocupação.

* Quadro 11 - Grau de satisfação (ou não) dos moradores com o local de residência

Deseja se mudar quando

possível

Não pretende se mudar Indiferentes a esta

Indagação

Quant. % Quant. % Quant. %

06 19,35 22 71 03 9,65

* Quadro 12: Fatores positivos e negativos, internos ao conjunto, identificados pelos moradores

Lixo Falta de

organização

Outros Não sabe

identificar

Boa

localização

Segurança ou

Tranqüilidade

Fatores

negativo

Q. % Q. % Q. % Q. % Q. % Q. %

1

0

3

2

0

6

1

9

0

5

1

6%

1

0

3

2%

-

-

-

-

-

-

-

-

Fatores

Positivo

Q. % Q. % Q. % Q. % Q. % Q. %

-- -- -- -- 07 23 11 35 08 26 05 16

* Quadro 13 – Nível de preocupação dos moradores para com o futuro do conjunto

Preocupam-se com o

futuro do Jardim Sevilha

Não se preocupam com o

futuro do Jardim Sevilha

Não declarou

Quant. % Quant. % Quant. %

25 80,66 03 9,67 03 9,67

139

Page 140: Monogafia de Gradução: Produção do Espaço urbano na Metrópole da Amazônia:Belém

A última tabela é precedida, no questionário de um comentário

espontâneo do informante, e estes nos revela o que nós já havíamos afirmado em

momentos anteriores, acerca da mentalidade individualista e pouco solidária dos

moradores do Jardim Sevilha; pois veja: perguntado o que essas pessoas fazem

efetivamente para contribuir com o futuro da comunidade, elas declaram que

contribuem com a limpeza e com a manutenção de seus respectivos blocos.

Esses indivíduos são desprovidos de todo e qualquer responsabilidade

cidadã, bem como não nutrem de um sentimento comunitário integral, visualizando,

apenas, a suas realidades mais objetivas e imediatas, delegando para os demais as

responsabilidade de zelar pelo bem estar e pela sustentabilidade coletiva mais ampla e

totalitária; tal qual nos é, sutil e constantemente, sugerido, e por que não dizer,

ensinado pelo “modelo de vida americano”, hegemônico no mundo atual, e que dispõe

de uma divulgação massiva pela grande mídia, que nos visita diariamente e introduz

em nossas mentes o ideário que os interessa...

Contrariando as previsões, quanto a auto estima dos moradores da

ocupação clandestina, as suas declarações nos leva a acreditar que os mesmos às

mantém elevada. As informações denotam, não só a sua satisfação por morar em um

lugar privilegiado e/ou valorizado geograficamente, ou por não mais ter que pagar

aluguel, etc.; na verdade essas informações demonstram um sentimento de prazer e de

forte adaptação dos moradores com a sua forma de moradia, em detrimento dos

mesmos morarem em uma área ilegal que possuem um forte estigma de “invasão” e

uma “visão” externa preconceituosa sobre a mesma. Os dados expostos na tabela

abaixo demonstram isso.

* Quadro 14 - Sentimento subjetivo dos moradores para com a comunidade

Sente-se

Orgulhoso

Sente-se

Indiferente

Sento-se

Constrangido

Não Declarou

Quant % Quant % Quant % Quant %

16 48,38 10 32,25 01 3,22 04 12,90

140

Page 141: Monogafia de Gradução: Produção do Espaço urbano na Metrópole da Amazônia:Belém

Quanto a organização comunitária, presente desde os primórdios da

ocupação, os resultados demonstram uma certa indiferença dos moradores para com a

entidade que os representa; e até um descaso quanto a importância da mesma.

Acreditamos que esse fenômeno pode ser explicado quando

analisamos o histórico das gestões que se sucederam na administração do conjunto;

sem considerar os possíveis juízos de valores que possamos, equivocadamente, tecer

sobre cada uma; sendo que elas vivenciaram contextos diferenciados, situações e

demandas singulares e conduziram uma administração para uma população em

constante mobilidade...

A primeira gestão, liderada pelo Sr. João Vigílio, se caracterizou por

seu “pulso forte” e “valentia”, e até por uma complacência com as ações de

delinqüentes na área. Atitude perfeitamente concebível, considerando o momento de

tensão e a necessidade da manutenção da ordem local para a consolidação da

ocupação. Contudo os moradores mantinham mais uma relação de temor junto aos

líderes do que de respeito e representatividade.

A segunda gestão, liderada pelo Sr. Evandro (...) que, segundo nos foi

informado depôs a primeira pela força, promoveu uma certa continuidade à gestão

anterior; contudo as questões da violência se tornaram insuportáveis sem que as

lideranças pudessem intervir. Essa foi efetivamente deposta pela comunidade, em

virtude do desvio do dinheiro rateado para aquisição de materiais elétrico, necessário

para reinstalação clandestina da rede de energia.

A terceira e a quarta gestões foram lideradas pelo Sr. Deroci,

conhecido no local pelo codinome “Ceará”; este se realizou um projeto que eu

particularmente denominei de “projeto serviçal”, cuja maior característica é o

assistencialismo, paternalismo e a execução de serviços básicos, como limpeza,

capinagem, desentupimento de esgoto, etc, por ele próprio, passando assim a imagem

do líder trabalhador, esforçado, como de fato.

141

Page 142: Monogafia de Gradução: Produção do Espaço urbano na Metrópole da Amazônia:Belém

Em sua gestão foi resolvida a questão da violência, sendo que

inúmeras vezes ele mesmo apontava os bandidos para a polícia e até os enfrentava em

público, nunca se deixando intimidar, o que reforçou sua imagem de homem bravo,

valente e protetor da comunidade. Essas atitude fez com que ele conquistasse por dois

mandatos a gestão da AMOJAS.

Figura 13: Foto da pista principal antes de ser asfaltada Demonstra a incipiente ocupação das áreas coletivas para

fins comerciais Fonte: Eder Libório - 1997

Todas as demandas, reivindicações e relações externas eram

centralizadas por ele, que na maioria das vezes não informava nem para os demais

142

Page 143: Monogafia de Gradução: Produção do Espaço urbano na Metrópole da Amazônia:Belém

diretores o que se passava; aliado a isso surge uma outra entidade no local, Clube de

Mães, que passa a fazer oposição sistemática a ele, isolando-o gradativamente.

Nesta gestão foi marcada pela especulação imobiliária interna, tanto

nas transferência das posses dos apartamentos, quanto nas concessões de áreas

coletivas a quem pudesse pagar, fato que de certa forma trouxe desgaste a sua imagem.

A oposição se intensificou, a mobilidade de moradores provocava uma

acelerada mudança na mentalidade coletiva, e novos atores sociais e/ou líderes iam

sistematicamente se estabelecendo no residencial.

Todo esse processo culminou numa disputa acerradíssima á gestão da

AMOJAS em 1999, na qual o Sr. Ceará possuía ainda um ligeiro favoritismo. Contudo

em virtude de conflitos ocorrido dias anterior ao pleito, o mesmo foi impugnado da

disputa, sendo que o Sr. Evandro, que contou com o apoio da chapa impugnada, se

sagrou vitorioso nessa disputa.

A quarta gestão, a exemplo da ultima liderada também pelo Sr.

Evandro, não chega ao fim. È decretado o seu impeachment em uma Assembléia Geral

massiva comandada pelo seu antigo aliado conjuntural, Sr. Deroci. Formou-se então

uma Junta Governativa, cuja a atribuição era de administrar o conjunto e conduzir um

novo processo eleitoral extraordinário num prazo de seis meses.

Neste processo sagrou-se eleita uma chapa que demonstrava ser

genuinamente de oposição aos projetos e posturas das administração anteriores.

Devemos considerar também, nesta disputa do poder local, que a grande mobilidade de

moradores já havia reduzido e se estabilizado, sendo que os novos pouco conheciam

aqueles que postulavam a direção, e tomando suas decisões segundo os comentários e

“rótulos” que cada um havia incorporado.

Outro fator que pode ter sido determinante para vitória deste grupo,

foi a proximidade do pleito interno com a eleição municipal; haja vista que esse grupo

era (e ainda o é) reconhecido como militantes do Partido dos Trabalhadores (PT), cujo

143

Page 144: Monogafia de Gradução: Produção do Espaço urbano na Metrópole da Amazônia:Belém

o prefeito vitorioso disputava a reeleição pelo mesmo partido e que, na sua gestão

municipal anterior, havia realizado várias obras de infra-estrutura no conjunto. Essa

identificação dentre outros fatores foi decisiva para a vitória desse grupo, que ainda era

desconhecido pela maioria por terem se estabelecido a pouco tempo na ocupação, e

estavam se afirmando como liderança locais.

Essa gestão, a atual, está sendo marcada, e entendida pelos moradores

mais atentos, pelo excesso de disputa e mobilização para fóruns externos à

comunidade, sendo que nesse “quisito” a comunidade têm se destacado

favoravelmente, pois por três vezes consecutiva elegemos membros da comunidade

como conselheiros e delegados em todos os concelhos deliberativos e fiscalizadores do

poder público municipal. Entretanto, internamente, essa gestão é vista como ausente,

desarticulada, e com personalidade fraca, ou seja sem o poder de decisão nos casos

polêmicos.

A atuação, geralmente ocorre em casos extremos em que a situação

fica insuportável e as críticas intensas e generalizadas, ou em ações pontuais com o

auxílio do Governo Municipal.

Essa realidade se evidencia em virtude da opção e/ou postura, do

governo supracitado, que passou a seduzir e a cooptar as lideranças comunitárias e

sindicais de toda a cidade, incluindo-as em seu quadro técnico a fim de evitar uma

oposição sistemática por parte da sociedade civil organizada. tal atitude nos surpreende

pois esta mesma política foi adotada pelo o governo ditatorial e fascista de Getúlio

Vargas – 1937-1945. Essa política estatal implicou no “ingessamento” de parte dessas

entidades, fato que ocorreu com a AMOJAS. Atualmente temos três membros

importantes da diretoria da entidade local (incluindo o presidente e o vice) fazendo

parte do quadro governamental municipal. Essa falta de atuação local reflete no nível

de consciência dos moradores, como nos retrata a tabela abaixo.

*Quadro 15 : Grau de percepção dos moradores quanto a entidade representativa local.Conhecem a existência de

entidade representativo localNão conhecem a existência de entidade representativo local

Não souberam responder

144

Page 145: Monogafia de Gradução: Produção do Espaço urbano na Metrópole da Amazônia:Belém

Quantidade % Quantidade % Quantidade %

14 45,15 11 35,5 06 19,35

Esse histórico, que demonstra o afastamento progressivo da entidade

local com os seus objetivos e, consequentemente, de sua base de atuação, explica em

parte, a indiferença dos moradores á organização, bem como a sua gradual tendência a

não participar dos eventos promovido pela mesma, deixando de reconhece-la como tal.

A questão já discutida, sobre os fatores que favorecem a individualidade e o

sentimento autonomista, também contribui com esse processo. No quadro a seguir

retrata exatamente esse sentimento.

* Quadro 16 : Grau de representatividade da entidade local (AMOJAS) junto aos moradoresSentem-se representados Não sentem-se representados Não Declararam

Quantidade % Quantidade % Quantidade %

08 44,5% 09 50% 01 4,5%

145

Page 146: Monogafia de Gradução: Produção do Espaço urbano na Metrópole da Amazônia:Belém

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As Pressões causadas pela explosão urbana afetam sensivelmente a

formação das cidades com relação a três importantes fatores: o social, o econômico e o

ambiental. Cada um destes aspectos desempenha um papel muito importante dentro do

crescimento ordenado dos centros urbanos, uma vez que estão altamente relacionados

entre si.

A desvinculação de qualquer um destes fatores das políticas de

planejamento urbano, reflete-se numa queda significativa na qualidade de vida da

população, o que, posteriormente, leva as cidades a uma condição de desequilíbrio e

insustentabilidade.

Estudos realizados pela ONU indicam que, no ano 2020, em torno de

80% da população estará concentrada nos centros urbanos, cabendo, aos países do

terceiro mundo, uma grande parcela deste aumento. Diante desta dramática

perspectiva, seria necessário que as autoridades dos países subdesenvolvidos

tomassem medidas rápidas e estratégicas que possam diminuir as precárias condições

de infra-estrutura atualmente existente nos centros urbanos, a fim de melhorar o bem

estar da população.

Os problemas urbanos são mais evidentes e mais críticos à medida que

se analisam as cidades localizadas na região da Pan-Amazônia. Segregadas

praticamente das políticas de planejamento e crescimento econômico regional, cidades

como Manaus, Belém Tabatinga, Letícia, Florencia, Iquitos, entre muitas outras,

amargam hoje, sérias frustrações sociais, econômicas e ambientais, por terem sido

marginalizadas e desconsideradas dos seus respectivos contexto de planejamento

urbano nacional.

146

Page 147: Monogafia de Gradução: Produção do Espaço urbano na Metrópole da Amazônia:Belém

Em termos de desenvolvimento urbano, Belém é um caso muito

especial. Durante os anos dourados do “ boom” da borracha, a cidade chegou a atingir

níveis de desenvolvimento econômico que lhe valeram o título de metrópole da

Amazônia. Grandes empreendimentos e reformas urbanísticas foram realizadas na

cidade, como resultado das exportações de borracha. Belém passou a ser considerada a

cidade mais importante da região Amazônica, devido a sua importante função de

entreposto de exportação e importação dos mais diversos produtos.

Passados os anos gloriosos da economia gonífera, o processo de

apropriação do espaço urbano em Belém adquiriu dimensões dramáticas. As ondas

econômicas de produção extrativista trouxeram para o Estado milhares de pessoas de

outras áreas do país. Este contingente, uma vez passada a euforia da produção

extrativista e sem uma perspectiva de emprego não espaço agrário Amazônida,

procurou refúgio na grande metrópole regional.

Sem nenhuma infra-estrutura urbana capaz de absorver rapidamente

este fluxo de pessoas, iniciou-se desse modo, um processo de ocupação espontâneas da

área urbana da Região Metropolitana de Belém (RMB). Tal condição tem provocado

significativas alterações nos aspectos, sociais econômicos e ambientais da cidade.

A exemplo de Belém, as cidades Pan-Amazônicas cresceram em

função da colonização dirigidas, visando ocupar e incorporar os “espaços vazios” à

atividade econômica nacional. Nesse processo de ocupação, a força de trabalho serviu,

não para a formação de uma economia de mercado que pudesse gerar as condições

necessárias para expandir a economia regional e provocar assim, grandes

transformações sociais e econômicas na região, mas para responder a um processo de

produção extrativa, que servia apenas a interesses nacionais e transnacionais.

Passado muitas décadas da época da colônia, os privilégios dados á

grande empresa na locação de terras, acentuou as profundas diferenças sociais

147

Page 148: Monogafia de Gradução: Produção do Espaço urbano na Metrópole da Amazônia:Belém

existentes na região, provocando assim o êxodo rural-urbano. Tudo isso tem levado a

uma deterioração das condições do gênero de vida urbana.

A crise urbana é o centro da atenção mundial. As autoridades

internacionais, perplexas diante das estatísticas que mostram um quadro assustados

para os próximos vinte anos, têm iniciado, com bastante de atraso, um movimento

internacional para conscientizar a sociedade da importância do desenvolvimento

urbano com sustentabilidade sócio-ambiental, como um ponto para o alcance da

cidadania. Um bom exemplo foi a reunião internacional “HABITAT II” promovida

pela ONU, durante o mês de junho de 1996, em Istambul, Turquia; cujo o principal

objetivo era analisar e encontrar soluções para os problemas urbanos que afetam a

grande maioria das capitais e metrópoles do mundo.

Dada a relação capital-trabalho que intensificou a ocupação da região

Amazônica, as cidades converteram-se em centros polarizadores de fluxos de recursos

e mão-de-obra para exploração da região. A implementação de grandes projetos, além

da época dourada da borracha, foram responsáveis pela transformação econômica das

cidades, trazendo como uma das implicações, um acelerado e descontrolado processo

de crescimento urbano, sobretudo demográfico e deficitário em equipamentos e

serviços públicos.

A ação do Estado em acompanhar esse desenvolvimento com uma

infra-estrutura urbana adequada, praticamente não existiu. A falta de um cuidadoso

monitoramento do fluxo migratório para as cidades, e especialmente a falta da

implementação das diretrizes definidas nos planos diretores para ocupação racional

dos espaços urbanos, colocam hoje as autoridades ante a uma situação de extrema

complexidade com relação a sua capacidade econômica e logística para resolver os

sérios problemas das cidades.

A atitude tolerante das autoridades para com as ocupações

espontâneas clandestinas e a incapacidade do Estado em encontrar alternativas para

148

Page 149: Monogafia de Gradução: Produção do Espaço urbano na Metrópole da Amazônia:Belém

resolver uma situação deficitária de moradia popular, contribui para causar danos

irreversíveis ao crescimento ordenado das cidades, sobretudo as da região Amazônica.

O processo de ocupação ilegal, que tomou conta das maiorias das

cidades, desencadeou uma série de desequilíbrios que comprometem a qualidade de

vida das pessoas e, principalmente, inviabilizam a própria estrutura urbana da cidade.

As condições adversas de moradia e insalubridade de grande parte das

“invasões”, tem um efeito nocivo na população. Em Belém, por exemplo, cerca de

seiscentos mil pessoas moram em áreas de baixadas ou em periferias pauperizadas,

completamente inadequadas a qualquer tipo de moradia decente, comprometendo a

saúde das pessoas. O auto número de doenças às quais a população trabalhadora é

exposta, afetam seriamente a capacidade de participar ativamente no processo

econômico da cidade.

Como resultado concomitante às ocupações ordenadas sob uma lógica

caótica, gerou-se outro grave problema, desta vez de características ambientais. Os

impactos do desmatamento indiscriminado das áreas verdes do sítio urbano traz

implicações negativas a qualidade de vida das pessoas, sendo estas difícil de serem

dimensionados. A degradação ambiental é maior nas áreas mais pobres, que carecem

de serviços básicos como saneamento, água, energia, etc. A falta de controle sobre os

resíduos sólidos e dejetos, afetam seriamente as condições de vida e saúde dos mais

carentes.

À medida que aumentam os processos de ocupação clandestina, a

desarborização rompe o equilíbrio entre as áreas verdes e o espaço construído. Este

equilíbrio é considerado como fator fundamental na determinação do ecossistema

urbano que, por sua vez, se reflete, também no ecossistema humano.

O descompasso entre o crescimento urbano nas cidades amazônicas e

a falta de um planejamento adequado por parte das autoridades, exige uma total

reformulação das políticas relacionadas com a gestão urbana, de forma tal que seja

149

Page 150: Monogafia de Gradução: Produção do Espaço urbano na Metrópole da Amazônia:Belém

possível compatibilizar a nova realidade social e econômica dos países, com um

crescimento ordenado e controlado.

Será necessário não só um programa dirigido para recuperar as áreas

degradadas, como também um aperfeiçoamento dos instrumentos de gestão e

regulação do processo de ocupação do solo urbano. Desta forma, será necessário

preparar as cidades para o milênio que se inicia, reduzindo as desigualdades sócio-

econômicas e os desequilíbrios ambientais causadas durante as ultimas décadas, no

espaço urbano da Amazônia.

No momento em que se repensa, a nível mundial, o ecossistema

humano, a fim de reverter a situação de deterioração das áreas urbanas, é fundamental

que se tenha a idéia clara do quadro existente na Região Amazônica, com relação à

implementação de políticas urbanas e habitacionais dirigidas a solucionar os graves

problemas que têm contribuído para criar as condições que estão levando as cidades a

um processo de rápida degradação social, econômica e ambiental.

Assim vejamos uma suposição para ilustrarmos essa hipótese de ação

dirigida, cujo o objetivo seria minimizar tais impactos e planejar racionalmente uma

cidade para um futuro próximo:

O Governo Federal agiria, necessariamente, substituindo os objetivos

estritamente voltados para a macro economia, reordenando uma inversão dos

processos produtivos, desativando a lógica financista, voltando os capitais para as

atividades essencialmente produtivas, e ao mesmo tempo criando mecanismos de

distribuição da riqueza nacional.

Os Governos Estaduais e suas respectivas secretarias afins,

responsabilizariam por ampliar a base financeira habitacional através de créditos para

unidades populares, estimulando ao mesmo momento pesquisas científicas e

tecnológicas, proporcionando e facilitando assessoria técnicas para as auto-

150

Page 151: Monogafia de Gradução: Produção do Espaço urbano na Metrópole da Amazônia:Belém

construções, além de promover uma descentralização do poder decisório sobre os

recursos e implementações de tais programas.

Caberia aos municípios fazer os respectivos cadastramentos das áreas

públicas e privadas que serviriam de base para a elaboração dos planos, tanto para uma

reforma urbana ampla quanto para os ordenamentos habitacionais, constituindo

mecanismos de concessão de uso para evitar a especulação imobiliária, orientando

capitais para a produção de materiais de construção e fomentando o financiamento de

moradias mediante a regularização das terras ocupadas ilegalmente, lançando mão da

Lei Nº 10.257 de 10 de julho de 2001, Estatuto da Cidade, em sua Seção V - art.9º e

12º.

Deveriam, “em tese”, também ser tomadas diversas medidas paralelas,

como por exemplo a contextualização das propostas habitacionais do plano diretor, o

cumprimento austero do código de postura municipal, a definição de planos de uso do

solo, descentralização espacial das atividades terceárias, penalização da especulação,

hierarquização da estrutura viária e uma racionalização dos transportes coletivos com a

instituição de terminais de integração em áreas estratégicas, priorização dos

equipamentos e serviços urbanos e uma redefinição tecnológica em função das

crescentes demandas, etc.

Se os municípios não contam com uma base de objetivos concretos

para a solução integral dos problemas, suas ações continuarão sendo pontuais e seus

impactos no solo servirão para a sustentação e/ou manutenção dos processos de

reprodução do espaço urbano nas condições atuais, sendo que também se adiarão cada

vez mais suas soluções definitivas, o que implica diretamente no agravamento dos

problemas, em razão do que já fora citado, assim como pelas aceleradas transferência

das escalas e/ou responsabilidades sobre os problemas.

Os órgão públicos deveriam agir, também, no sentido de popularizar a

consciência ambiental, cumprindo e fazendo cumprir o Art. 225, 1º inciso VI da

151

Page 152: Monogafia de Gradução: Produção do Espaço urbano na Metrópole da Amazônia:Belém

Constituição Federal de 19881, bem como fiscalizar e punir severamente os abusos e

desvio de conduta que prejudiquem o ambiente coletivo. A promoção de eventos que

viessem premiar publicamente indivíduos e comunidades que cumprissem a suas

respectivas responsabilidades ambientais, também contribuiria para conscientização,

pois estimularia uma mudança de postura de uma população. Se aliarmos a tudo isso,

uma política agressiva de paisagismo, teremos um visibilidade no impacto positivo das

ações implementadas, bem como um aumento na auto estima coletiva (...)

Esse esforço, se implementado as ações mencionadas, faria com que

os governos atuassem em todos os francos do problema, desde a educação e

conscientização, isto é na prevenção; até a fiscalização e aplicação de penas, na

remediação; não abrindo mão da ampliação das políticas públicas intrínsecas à

questão.

No interior das comunidades, como a do Jardim Sevilha, isso deve ser

objeto de um trabalho exaustivo, com muita divulgação, campanhas educativas, e

austeridade àqueles que, de alguma forma, não contribua para a sanidade do ambiente

coletivo.

Um diagnóstico desanimador foi obtido quanto a organização

comunitária, o que demonstra o já a muito suspeitado: que os movimentos sociais

comunitários passam por um refluxo progressivo e uma grave crise de

representatividade; fenômeno que se reproduz nos demais segmentos dos movimentos

sociais desde a primeira metade da década dos anos 90.

Essa situação, falando especificamente dos movimentos de bairro, é

resultado de um gradativo processo de desgaste na imagem das instituições

representativas ante a opinião pública, somada a incapacidade de suas lideranças em

resolver as novas demandas que se apresentam com os mesmos métodos atuação. Se

exige hoje uma nova forma de atuação política, e as lideranças necessitariam de

apreender novas habilidades técnico-social para evoluir e/ou acompanhar as mudanças 1 Art. 225; 1º, inciso VI – Promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente; (...)

152

Page 153: Monogafia de Gradução: Produção do Espaço urbano na Metrópole da Amazônia:Belém

sociais do período, em que as relações com o Estado e os mecanismos de mobilização

teriam enfraquecido o poder de barganha dessas entidades. Somado a isso a grande

mídia, vende a ideologia do individualismo e da competitividade exacerbada,

impedindo uma unidade entre semelhantes a fim de resolver problemas comuns.

Promoção de pequenos eventos de confraternização, de cultura e

esporte que envolvesse as famílias da comunidade poderia servir tanto para aproximar

vizinhos, estreitando laços de amizade e empatia, quanto para “oxigenar” a

representatividade da entidade, sendo inclusive útil como política financeira da

entidade; o que resolve um outro problema o da autonomia e independência.

Contudo a autonomia só pode ser garantida segundo o desejo dos

líderes. Uma liderança com pouco tempo disponível e sérios problemas objetivos e

domésticos à ser solucionado está vulnerável à cooptação governamental e/ou político-

partidária, o que implica no atrelamento, engessamento e perca da identidade e

representatividade do movimento em questão. Um líder ideal para uma comunidade

carente seria uma pessoa já aposentada, decidida e como personalidade forte, tolerante

à diferenças e ao novo e com um forte sentimento altruísta, pois nesse perfil se somaria

tempo disponível, necessidades objetivas pelo menos parcialmente atendidas,

paciência e experiência de vida, virtudes estas imprescindíveis à causa popular...

Podemos concluir, por meio de uma “radiografia” geo-psicossocial,

que comunidades como a da favela vertical pesquisada existe milhares espalhadas por

este país; onde se amontoam várias de pessoas em espaço ínfimos, definindo uma

altíssima densidade demográfica a esses ambientes; num sistema de

superagromeração. É comum três ou mais famílias morarem num espaço de uma

residência.

Nestes apartamentos (ou barracos), tudo é enfeitado e pintado com

cores vivas (amarelo, azul, vermelho), assim como não faltam quantidade enorme de

quadros de artistas, santos e políticos. Especulamos que façam isso para amenizar e

“colorir” a própria pauperização, ou mesmo para valorizar o pouco que possui.

153

Page 154: Monogafia de Gradução: Produção do Espaço urbano na Metrópole da Amazônia:Belém

Numa favela existem pouquíssimos lugares para lazer, por isso os

moradores supervalorizam as ruas, e os bares. Enquanto uma família de classe média

ou rica tem medo do espaço externo a de suas casas, o favelado se sente o verdadeiro

dono da rua. A ocupação da rua revela o sentimento de liberdade, de descontração, de

“conforto” que muitas vezes no interior da casa não tem. Na rua da comunidade, se

fala uma linguagem coloquial, sem gramática, sem densidade de conteúdos e sem

correção, entretanto sem preconceito e discriminações, sendo esta repleta de uma

comunicação íntima, afetiva e direta...

Esse povo pobre se agarra na “carga” invisível da fé. Através da fé,

manifestada nos encontros semanais, nos cultos evangélicos, nas celebrações e

símbolos diversos de sua religiosidade, que o povo festeja e vivência a fraternidade

sonhada entre os homens e seus grupos, muitas vezes “impedida”, pelos instrumentos

ideológicos, de serem praticadas em seu quotidiano real.

Toda essa realidade pode ser minimizada com um pouco de esforço e

vontade política das autoridades constituídas, contudo só se resolveria de fato com

uma grande ação planejada, a curto, médio e longo prazo, em que o centro dos

esforços estivessem remetidos na (re)conquista da auto estima coletiva, na educação

massiva e qualificada e garantia de direitos básicos de toda a população, que implicaria

diretamente na conscientização de toda a sociedade; sendo que somente ela, como um

todo, é capaz de promover essa transformação revolucionária, no sentido cultural....

154

Page 155: Monogafia de Gradução: Produção do Espaço urbano na Metrópole da Amazônia:Belém

BIBLIOGRAFIA

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