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Centro de Ensino Urbano Rocha Imperatriz, ____ de dezembro de 2014. Alunos: ________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ Professora: Mary Alvarenga Disciplina: Filosofia Série: 3° ano “A” Turno: matutino Pensar e conhecer Pedimos somente um pouco de ordem para nos proteger do caos. Nada é mais doloroso, mais angustiante do que um pensamento que escapa a si mesmo, ideias que fogem, que desaparecem apenas esboçadas, já corroídas pelo esquecimento ou precipitadas em outras, que também não dominamos. [...] Perdemos sem cessar nossas ideias. É por isso que queremos tanto agarrar-nos a opiniões prontas. (Gilles Deleuze e Félix Guattari) A citação acima se refere ao esforço constante que nos anima a conhecer. Diante do caos que não significa vazio, mas desordem; procuramos estabelecer diferenças, semelhanças, contiguidades, sucessão no tempo, causalidades. Desejamos “pôr ordem no caos”, porque só assim poderemos nos situar no mundo e sermos capazes de agir sobre ele. É isso, portanto, o conhecimento; esse esforço psicológico pelo qual procuramos nos apropriar intelectualmente dos objetos. Quando falamos em conhecimento, podemos nos referir ao ato de conhecer ou ao produto do conhecimento: o primeiro diz respeito à relação que se estabelece entre a consciência que conhece e o objeto a ser conhecido, enquanto o segundo é o que resulta do ato de conhecer, ou seja, o conjunto de saberes acumulados e recebidos pela tradição. A capacidade de pensar O ser humano é o único animal do planeta capaz de pensar sobre o mundo que o cerca. E é claro que isso não é pouco! Você já pensou na importância de poder pensar? Foi a capacidade de pensar, interligada a outros atributos específicos da nossa espécie, que nos possibilitou sermos o que hoje somos! Em outras palavras: a evolução da espécie humana está totalmente ligada à sua capacidade de pensar, pois foi assim que o homem criou mecanismos de sobrevivência e adaptação ao meio no qual ele vivia, conseguindo fazer uma coisa que nenhum outro animal foi capaz de fazer: interferir sobre a natureza e adequá-la às suas necessidades. Perceba a importância do pensamento! A atividade de pensar, ou seja, a capacidade de refletir sobre as coisas que nos cercam, é aquilo que chamamos de razão. Quem nunca ouviu a expressão: “o homem é um animal racional”? E é aqui que entra a filosofia. Refletir sobre o sentido da vida, os seus valores e como viver de forma feliz e correta, entre outras coisas, é o ofício da filosofia. Veja que “filosofar” e “pensar” são duas atividades inseparáveis. Entretanto, a prática filosófica busca conhecer e compreender o mundo que nos cerca; isso implica um pensamento organizado e voltado para o conhecimento. Portanto, nem sempre quando pensamos sobre alguma coisa estamos necessariamente filosofando. Não é tão simples assim. Para filosofar, é preciso ter interesse em conhecer. Aliás, conhecer sempre foi mais uma necessidade do que um desafio para o homem. Desde o início das primeiras civilizações humanas, somos obrigados a superar o desconhecimento por meio de uma série de maneiras, como a observação, por exemplo. Ao observar os pássaros bicando frutos, o homem descobria alimento sem correr o risco de morrer envenenado. Sendo assim, podemos definir o ato de conhecer como relação que se estabelece entre o sujeito que conhece e o objeto a ser conhecido, como também o resultado desse ato. As formas de conhecimento Mas será que o conhecimento obtido pela prática filosófica é a única forma de se conhecer as coisas? A resposta é não. Existem outras maneiras de se conhecer o mundo que nos cerca. Vejamos algumas delas, além da filosófica. O conhecimento mitológico: foi a primeira tentativa de explicação do mundo feita pelo homem, ainda que de uma maneira fantasiosa. Os mitos são carregados de imaginação e crença, o que nos

Texto: Pensar e conhecer

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Page 1: Texto: Pensar e conhecer

Centro de Ensino Urbano Rocha

Imperatriz, ____ de dezembro de 2014.

Alunos: ________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________

Professora: Mary Alvarenga Disciplina: Filosofia Série: 3° ano “A” Turno: matutino

Pensar e conhecer

Pedimos somente um pouco de ordem para nos proteger do caos. Nada é mais doloroso, mais

angustiante do que um pensamento que escapa a si mesmo, ideias que fogem, que desaparecem apenas

esboçadas, já corroídas pelo esquecimento ou precipitadas em outras, que também não dominamos. [...]

Perdemos sem cessar nossas ideias. É por isso que queremos tanto agarrar-nos a opiniões prontas.

(Gilles Deleuze e Félix Guattari)

A citação acima se refere ao esforço constante que nos anima a conhecer. Diante do caos que não

significa vazio, mas desordem; procuramos estabelecer diferenças, semelhanças, contiguidades, sucessão no

tempo, causalidades. Desejamos “pôr ordem no caos”, porque só assim poderemos nos situar no mundo e

sermos capazes de agir sobre ele.

É isso, portanto, o conhecimento; esse esforço psicológico pelo qual procuramos nos apropriar

intelectualmente dos objetos. Quando falamos em conhecimento, podemos nos referir ao ato de conhecer ou

ao produto do conhecimento: o primeiro diz respeito à relação que se estabelece entre a consciência que

conhece e o objeto a ser conhecido, enquanto o segundo é o que resulta do ato de conhecer, ou seja, o

conjunto de saberes acumulados e recebidos pela tradição.

A capacidade de pensar

O ser humano é o único animal do planeta capaz de pensar sobre o mundo que o cerca. E é claro que

isso não é pouco! Você já pensou na importância de poder pensar? Foi a capacidade de pensar, interligada a

outros atributos específicos da nossa espécie, que nos possibilitou sermos o que hoje somos! Em outras

palavras: a evolução da espécie humana está totalmente ligada à sua capacidade de pensar, pois foi assim que

o homem criou mecanismos de sobrevivência e adaptação ao meio no qual ele vivia, conseguindo fazer uma

coisa que nenhum outro animal foi capaz de fazer: interferir sobre a natureza e adequá-la às suas

necessidades. Perceba a importância do pensamento!

A atividade de pensar, ou seja, a capacidade de refletir sobre as coisas que nos cercam, é aquilo que

chamamos de razão. Quem nunca ouviu a expressão: “o homem é um animal racional”? E é aqui que entra a

filosofia. Refletir sobre o sentido da vida, os seus valores e como viver de forma feliz e correta, entre outras

coisas, é o ofício da filosofia. Veja que “filosofar” e “pensar” são duas atividades inseparáveis. Entretanto, a

prática filosófica busca conhecer e compreender o mundo que nos cerca; isso implica um pensamento

organizado e voltado para o conhecimento. Portanto, nem sempre quando pensamos sobre alguma coisa

estamos necessariamente filosofando. Não é tão simples assim. Para filosofar, é preciso ter interesse em

conhecer.

Aliás, conhecer sempre foi mais uma necessidade do que um desafio para o homem. Desde o início das

primeiras civilizações humanas, somos obrigados a superar o desconhecimento por meio de uma série de

maneiras, como a observação, por exemplo. Ao observar os pássaros bicando frutos, o homem descobria

alimento sem correr o risco de morrer envenenado. Sendo assim, podemos definir o ato de conhecer como

relação que se estabelece entre o sujeito que conhece e o objeto a ser conhecido, como também o resultado

desse ato.

As formas de conhecimento

Mas será que o conhecimento obtido pela prática filosófica é a única forma de se conhecer as coisas?

A resposta é não. Existem outras maneiras de se conhecer o mundo que nos cerca. Vejamos algumas delas,

além da filosófica.

O conhecimento mitológico: foi a primeira tentativa de explicação do mundo feita pelo homem,

ainda que de uma maneira fantasiosa. Os mitos são carregados de imaginação e crença, o que nos

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leva a concluir que não passam por uma sistematização do conhecimento. A questão da crença,

inclusive, aproxima o mito da religião. O mito é uma representação coletiva, transmitida através de

várias gerações e que relata uma explicação do mundo. Trata-se de uma maneira de a sociedade

explicar os fenômenos que a cercam, assim como uma tentativa de explicar a si próprio. A filosofia

surgiu na Grécia como um esforço de superar o conhecimento mítico.

Mito: relato fabuloso, de caráter religioso, que diz respeito a seres que personificam agentes naturais.

O mito tende a fornecer uma resposta e uma explicação satisfatórias. Possui igualmente uma função

que assegura a coesão social. (RUSS, J. Dicionário de filosofia. São Paulo: Scipione. 1994, p. 187.)

O conhecimento filosófico: trata-se de um tipo de conhecimento essencialmente teórico adquirido

por quem o pratica por meio de uma exaustiva reflexão crítica acerca da realidade, da ação humana

e dos seus valores. O filósofo não se contenta em “contar uma história” sobre as origens do mundo e

do ser humano; ao contrário, busca entender e explicar racionalmente essas origens, através da

sistematização do pensamento. Este raciocínio está ligado a um encadeamento lógico que visa a não

cair em contradições. É a razão tentando buscar a realidade e a verdade das coisas.

O conhecimento científico: desenvolvido a partir do conhecimento filosófico, é uma forma de

conhecimento elaborado através de métodos rigorosos de investigação, entre eles a utilização da

experiência, que busca obter leis de explicação racional e de validade universal para os fenômenos

analisados.

Antes de tudo, a ciência desconfia da veracidade de nossas certezas, de nossa adesão imediata às

coisas, da ausência de crítica e da falta de curiosidade. Por isso, ali onde vemos coisas, fatos e

acontecimentos, a atitude científica vê problema obstáculos, aparências que precisam ser explicadas e, em

certos casos, afastadas. (CHAUI, M. Filosofia. São Paulo: Ática, 2003, p. 111.)

O conhecimento pelo senso comum: trata-se de um conhecimento espontâneo resultante das

experiências vivenciadas pelos seres humanos no cotidiano da sua existência, isto é, no seu dia a

dia. Trata-se de um conjunto de ideias que nos permite interpretar a realidade, bem como de um

corpo de valores que nos ajuda a avaliar, julgar e, portanto, agir. O senso comum, porém, não é

refletido e se encontra misturado a crenças e preconceitos. É um conhecimento ingênuo (não-crítico),

fragmentário (porque difuso, assistemático e muitas vezes sujeito a incoerências) e conservador

(resistente às mudanças). Por não ser um conhecimento adquirido de maneira mais sistematizada, um

dos grandes problemas que podem ser gerados pelo senso comum é o preconceito em geral. Com

isso não queremos desmerecer a forma de pensar do indivíduo comum, mas apenas enfatizar que o

primeiro nível de conhecimento precisa ser superado em direção a uma abordagem crítica e coerente,

características que não precisam se restringir necessariamente às formas mais requintadas de

conhecer, tais como a ciência ou a filosofia. Em outras palavras, o senso comum precisa ser

transformado em bom senso, entendido como elaboração coerente do saber e como explicitação das

intenções conscientes dos indivíduos livres. Segundo o filósofo Gramsci, o bom senso é "o núcleo

sadio do senso comum". Qualquer pessoa, estimulada no exercício de compreensão e crítica, torna-se

capaz de juízos sábios, porque vitais, isto é, orientados para sua humanização.

Senso comum: compreensão de mundo que é fruto de crenças e tradições, das quais nos

aproximamos por meio dos sentidos, da memória, dos hábitos, dos desejos, da imaginação, da razão.

Pelo senso comum, fazemos julgamentos, estabelecemos projetos de vida, adquirimos convicções e

confiança para agir.”

(ARANHA, M. L. A., MARTINS, M. H. P. Temas de filosofia. 3. ed. São

Paulo: Moderna, 2005, p. 144.)

O conhecimento pela arte: toda obra de arte expressa uma visão de mundo, pois representa a

maneira pela qual seu autor percebe a realidade que o cerca, entre outras coisas. Portanto, quando

nos deparamos com uma obra de arte e buscamos interpretá-la, estamos adquirindo um tipo de

conhecimento que tem relação com nosso interior, ou seja, com nossa subjetividade. Contudo, esse

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tipo de conhecimento é tão complexo quanto o filosófico e o científico, pois requer sensibilidade e

proximidade com a história da arte.

Atividade

1. Defina conhecimento.

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2. Defina razão.

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3. Indique um elemento indispensável para a atividade filosófica.

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4. Defina e caracterize as seguintes formas de conhecimento:

a) Ciência _____________________________________________________________________________

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b) Arte ________________________________________________________________________________

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c) Mitologia ___________________________________________________________________________

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d) Filosofia ____________________________________________________________________________

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e) Senso comum ________________________________________________________________________

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5. Diferencie filosofia e ciência. ____________________________________________________________

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O saber a gente aprende com os mestres e os livros.

A sabedoria, se aprende é com a vida e com os humildes.

Cora Coralina