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Texto IV: Um dente não derruba a gente Autores: Carol e seu Pai Fevereiro de 2011

Um dente não derruba a gente

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Page 1: Um dente não derruba a gente

Texto IV: Um dente não derruba a gente

Autores: Carol e seu PaiFevereiro de 2011

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Texto IV: Um dente não derruba a gente-

Introdução

Texto IV: Um dente não derruba a gente-

Introdução

Não é sempre que a gente, quando é bem nova, dá valor a um dente. Quem vai deixar de se largar a correr pelo corredor do hall do elevador, com as pernas meio atrapalhadas só porque tem dois anos e meio e pode quebrar um dente ao cair? Ora, a gente até briga pra sair junto com a visita pra disparar no corredor, fazendo o maior barulho, chamando a atenção da vizinhança.

- Eta! Cuidado pra não cair com a cara no chão, menino!

Além do mais, parece que os nossos anjos da guarda são mais eficientes quando nós somos jovens. Quem já não viu uma queda horrível de uma criança e se a mãe não se importar muito, ela se levantar, bater a poeira e sair correndo de novo? Ou, então, duas crianças virem correndo e, sem uma perceber a outra, baterem de chapa?

-Nossa senhora, doeu até em mim e com eles não aconteceu nada, nossa! 1

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Texto IV: Um dente não derruba a gente - 2ª parte.

Texto IV: Um dente não derruba a gente - 2ª parte.

Comigo e com minhas irmãs também era assim. Mas, todas tinham machucado, em algum momento, a boca; quebrando dente ou então ferindo a gengiva.

Naquela tarde, depois do almoço, na casa de praia, não sei o que aconteceu, caí da rede, e lá se foi um dos dentes da frente. O dente saiu inteiro, voou por cima da mesa e caiu perto da porta. Deu pra ver a trajetória do bichinho. O choro veio logo em seguida.

- Pai? Papai? Eu quebrei meu dente!

E foi aquele corre, corre, todo mundo querendo ajudar, querendo encontrar o dente. Uma das minhas tias mais queridas, sorridente, logo diz: -Tá aqui. Achei.O bicho tá inteirinho.

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Texto IV: Um dente não derruba a gente – 3ª parte.

Texto IV: Um dente não derruba a gente – 3ª parte.

Meu outro tio foi logo dizendo que a melhor forma era lavar o dente e colocar ele no lugar, pressionando bastante e levar imediatamente para um dentista. Meu pai, sempre preocupado, já se adiantou e com o dente bem lavadinho, colocou no lugar, encaixando, de forma perfeita, no buraquinho da gengiva. - Vou segurar aqui por um tempo, filha, até ele ficar bem seguro, daí a gente vê o que vai fazer, tá? A minha preocupação nem era com a dor, porque não estava doendo, nem com sangue porque não estava sangrando. O maior medo era ficar banguela sem ser ainda na hora de ficar banguela. Já pensou no colégio sem um dente dá frente, ainda mais quando não era hora de ficar com a janelinha?

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Texto IV: Um dente não derruba a gente – 4ª parte.

Texto IV: Um dente não derruba a gente – 4ª parte.

Eu via aqueles meninos e meninas envergonhados porque estavam com uma janela na frente. E com medo de rir, botavam as mãos na frente da boca. Todo mundo achava engraçadinho, dos pequeninos aos mais velhos. Dava vontade de dizer pra eles perguntarem:

-Ei, vocês parecem que não foram crianças. Nunca viram um menino banguela não? Parece um bando de abestalhados que não têm outra coisa pra olhar. Ficar sem um dente não é como levar um tombo pra vocês caírem na gargalhada, não.

Na consulta com a dentista, ela disse que meu pai tinha feito direitinho a coisa e que era só tomar conta do dente nos primeiros dias, que tudo ficaria bem. Dentro de uns anos, quando fosse a hora de nascer o dente definitivo, ele iria nascer e aquele dente, que voou na casa de praia, ia ficar só na lembrança. - Mas Dra., vai ficar com uma cor diferente? 4

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Texto IV: Um dente não derruba a gente – 5ª parte.

Texto IV: Um dente não derruba a gente – 5ª parte.

Eu me lembrava da história do dente da minha irmã mais velha, que machucou numa queda quando ela era criança e que daí o dente ficou meio amarelado, de uma cor diferente dos outros. Esta parecia uma coisa ruim que ninguém gostaria que acontecesse. A dentista, então, contou que provavelmente isto não iria acontecer, e que se o dente fosse bem cuidado tudo ia ficar bem, ia ficar feliz. Meu pai, muito esperto, pensou logo em alguma coisa que pudesse levantar a auto-estima, sabendo que aquele assunto podia trazer algum receio e me deixar triste. - Filha, não se preocupe, vai ser o seu dentinho feliz. Mais tarde a gente vai rir desta história. O que a gente tem que fazer agora é cuidar do dentinho feliz.

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Texto IV: Um dente não derruba a gente – parte final.

Texto IV: Um dente não derruba a gente – parte final.

E foi uma badalação do dentinho feliz que talvez ninguém suportasse. Acordava com minha mãe perguntando pelo dentinho feliz; meu pai colocava adesivo de dentinho feliz em tudo que era lugar. Os tios a primeira coisa que diziam era sobre o dentinho feliz. O vovô e a vovó ligavam, só para perguntar sobre o dente. E o mais importante: na escola, no prédio, todo mundo já conhecia o dentinho feliz. Os vizinhos, o porteiro, o zelador, enfim, o dente estava super conhecido. Até eu passei a gostar do negócio de dentinho feliz. Foi surpreendente. É por isso que é um dente não derruba a gente. Uma coisa não é tão ruim como às vezes parece que será. Mas, no final, o dente feliz acabou ficando com uma cor diferente. Ainda bem que foi mais ou menos perto do dente de leite seguir o ciclo normal da boca; e cair, é claro.

Fim