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Nesta grande obra Cristian Germain nos leva a pensar sobre nossos medos, temores, depressão, egoísmo, inveja, ciúmes, medo da morte, entre outros assuntos de elevada importância, e de como cada um deles nos afeta o comportamento, nossas emoções e saúde. De forma objetiva, esta obra nos faz refletir quem somos, para que somos e para onde temos de ir. Com informações de alta relevância, aqui temos o apoio que precisamos para superar medos, problemas e sentimentos que a todos afetam. Um guia para a vida, ferramenta imprescindível para nossa formação integral. Sem repetições enfadonhas, aqui temos algo diferente e inovador numa abordagem pioneira, aprofundada e de alto valor prático. O fortalecimento de si nos leva a buscar aquilo que efetivamente precisamos para o nosso triunfo. Um investimento de valor inestimável para a nossa melhor formação. O triunfo e o sucesso só alcançam aqueles que possuem a melhor orientação. Todos as dores e sofrimentos advêm da desinformação, do engano, da formação incompleta ou equivocada. A má orientação pessoal inequivocadamente leva a conseqüências dolorosas. Somos melhores em todos os aspectos quando temos luz interior que nos guia através da consciência. Leitura obrigatória para todos aqueles que querem ir além de um lugar comum. Um guia para a conquista de uma nova consciência. Um estudo aprofundado do ser humano desde seu nascimento em seu aspecto global; suas limitações, dúvidas, questionamentos, medos, defesas, reações, desejos, sentimentos e comportamentos. Numa abordagem pioneira e objetiva, este guia nos revela o íntimo de um ser em desenvolvimento. Isso possibilita a cada um de nós conhecer melhor a si próprio, e assim conhecer melhor os outros e nossas interações, convivências e relacionamentos diários. Isso nos remete a um elevado nível de consciência, permitindo um rápido desenvolvimento integral de todas as nossas melhores faculdades. A vida torna-se mais fácil e agradável quando conhecemos sua finalidade. Quando conhecemos quem somos e pra quê somos, logo iniciamos uma caminhada muito mais produtiva e efetiva para a conquista de um novo grau de elevação espiritual. Diferente e inovadora, é leitura obrigatória para todos aqueles que querem ir além de um lugar comum.
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Copyright © 2010 by Cristian Germain
Editor:
Cristian Germain
Arte:
Lucas Dall Agnol
Editoração e Diagramação:
Guilherme Dall Agnol
ISBN: 978-85-910017-1-2
Todos os direitos reservados, proibida a reprodução total ou parcial por
qualquer meio sem a expressa autorização do autor e do editor.
Índice
Prefácio .......................................................................................................... 7
Apresentação ................................................................................................. 9
Capítulo I ..................................................................................................... 19
Vida social e costumes .................................................................... 19
Importância do meio social .............................................................. 23
Capítulo II .................................................................................................... 26
Um Ser cósmico em evolução ......................................................... 26
Ciclos evolutivos ............................................................................. 29
Preparação para o renascimento ...................................................... 32
O local de nascimento ...................................................................... 34
Astrologia e individualidade ............................................................ 36
Capítulo III .................................................................................................. 40
Involução e Evolução ...................................................................... 40
Missão, expiação ou experimentação? ............................................ 44
Capitulo IV .................................................................................................. 49
Causa e efeito e as forças conflitantes ............................................. 49
Capítulo V .................................................................................................... 54
Desenvolvimento individual ............................................................ 54
Capítulo VI .................................................................................................. 59
O despertar da Consciência ............................................................. 59
Capítulo VII ................................................................................................. 63
Brilho momentâneo e Luz espiritual................................................ 63
Felicidade ou paz? ........................................................................... 66
Compreender antes de julgar ........................................................... 68
Fé e crença ....................................................................................... 72
Benção ou uma prova? .................................................................... 74
Capítulo VIII ................................................................................................ 77
Culpa ................................................................................................ 77
Capítulo IX .................................................................................................. 81
Perdão .............................................................................................. 81
O medo pode nos inibir as iniciativas .............................................. 84
Capítulo X .................................................................................................... 87
Vida além da imaginação ................................................................ 87
O desenvolvimento resulta da dedicação ......................................... 89
Capítulo XI .................................................................................................. 93
Reflexão para compreensão e .......................................................... 93
conscientização ................................................................................ 93
Uma outra analise pessoal ............................................................... 95
Seguindo num ponto de vista analítico ............................................ 99
Capítulo XII ............................................................................................... 102
Pelos palcos do mundo .................................................................. 102
Inteligência .................................................................................... 104
Sabedoria ....................................................................................... 105
Astúcia ........................................................................................... 106
Capítulo XIII .............................................................................................. 109
Egoísmo ......................................................................................... 109
De onde nasce o egoísmo? ............................................................. 110
A força da ambição que enrijece ................................................... 113
e escraviza ...................................................................................... 113
Forças divergentes ......................................................................... 115
Refletir além de si próprio ............................................................. 116
Ambição excessiva ........................................................................ 118
Reflexão mais abrangente .............................................................. 119
Morte ao inimigo de todas as virtudes ........................................... 121
Capítulo XIV ............................................................................................. 126
Reforma íntima .............................................................................. 126
Imaturidade .................................................................................... 130
Capítulo XV ............................................................................................... 133
Etapas da vida e problemas comuns .............................................. 133
Infância .......................................................................................... 135
Início de vida adulta, influências e inseguranças........................... 138
Capítulo XVI ............................................................................................. 142
Agressividade ................................................................................ 142
O ponto x da questão ..................................................................... 144
Capítulo XVII ............................................................................................ 147
Crescimento pelas provas do mundo ............................................. 147
Capítulo XVIII ........................................................................................... 154
Saindo do piloto-automático .......................................................... 154
Capítulo XIX ............................................................................................. 157
Timidez excessiva e seus perigos .................................................. 157
A timidez como caminho ............................................................... 166
Aos excessivamente tímidos .......................................................... 167
A relação com os mais tímidos ...................................................... 175
Capítulo XX ............................................................................................... 178
Rodas da vida e seus perigos ......................................................... 178
Felicidade ou realização momentânea? ......................................... 182
Capítulo XXI ............................................................................................. 188
Inveja ............................................................................................. 188
Construímos nossas próprias ......................................................... 192
oportunidades ................................................................................. 192
A força de um ego ferido ............................................................... 194
Capítulo XXII ............................................................................................ 197
Ciúmes ........................................................................................... 197
O que é o ciúme? ........................................................................... 198
Ciúme e status ................................................................................ 203
Dica aos ciumentos ........................................................................ 204
Diálogo pacífico e orientação construtiva ..................................... 208
A desorientação desvirtua e destrói ............................................... 211
Amor em forma de boas conversas ................................................ 214
Paixões e conflitos ......................................................................... 216
Capítulo XXIII ........................................................................................... 220
Planejando as escolhas ................................................................... 220
Iniciativa construtiva ..................................................................... 224
Capítulo XXIV .......................................................................................... 229
Plano de meta pessoal .................................................................... 229
Constância ..................................................................................... 232
Capítulo XXV ............................................................................................ 234
Depressão ....................................................................................... 234
O que leva à depressão? ................................................................. 239
Não se sinta obrigado a fazer sempre ............................................ 246
Não se imagine uma vítima do mundo .......................................... 247
Desilusão de si ............................................................................... 249
Menos fatalismo ............................................................................ 252
Aparências enganam não só aos outros ......................................... 253
Ilusão de tolos ................................................................................ 255
Voltando às cores ........................................................................... 257
O sacro-ofício ................................................................................ 260
Capítulo XXVI .......................................................................................... 262
A dor do luto .................................................................................. 262
Capítulo XXVII ......................................................................................... 268
O que é a morte? ............................................................................ 268
Saudades e dor ............................................................................... 272
Capítulo XXVIII ........................................................................................ 279
Autoestima ..................................................................................... 279
Cuide-se para a sua melhor aceitação ............................................ 282
Ladrões de energia ......................................................................... 287
Considerações finais ...................................................................... 292
7
Prefácio
Poucas são as pessoas que se desenvolvem através do estudo, compre-
ensão e aplicação dos princípios mais elevados que orientam nossas atitu-
des. Assim, pouco ou nada sabemos sobre alguns temas de fundamental
importância na formação integral de cada um de nós. A vida nos oferece
múltiplas escolhas, e a cada dia novas coisas podem ser incorporadas aos
nossos conhecimentos. Só que nem sempre podemos ter segurança ou certe-
za de que fizemos as melhores escolhas, nem se o que estamos aprendendo é
ou será bom para nosso desenvolvimento.
Somente através de visão ampla e aprofundada é que podemos separar
elementos essenciais, de outros formados pela confusão de interpretações,
muitas vezes conduzidas por interesses escusos. Vemos frequentemente
fórmulas “mágicas” emergindo nesses tempos de rápidas transformações. A
imensa maioria dessas promessas milagrosas não passa de oportunismos
visando apenas ganhos financeiros para quem as põe no mercado. Alguns
chegam com promessas apanhadas de velharias impossíveis de serem leva-
das à prática, e que jamais produzem o “milagre” prometido.
Estamos vivendo uma época onde antigos conhecimentos estão sendo
revelados para, juntamente com outros em uso, formar novos conceitos mais
adequados e apropriados aos tempos modernos. Mas, num sistema altamente
voltado ao capitalismo, existem muitos que tentam enriquecer criando ajun-
tamentos de informações, sem muito nexo ou valor prático. Hoje se dá mui-
to valor aos bens materiais; isso dificulta diferenciar necessidades reais das
ilusórias.
Nosso propósito aqui foi aprofundar e analisar alguns temas importan-
tes na vida de todos nós através das ciências superiores. Só assim podería-
mos chegar a oferecer uma visão mais avançada a respeito da formação hu-
mana. A partir de análises comportamentais, situamos um ser em evolução
em suas diversas fases. Procuramos citar alguns pontos importantes e de-
senvolver comentários que conduzem à reflexão, avançando um pouco além
do convencional e da simples pretensão sem propósito definido.
Não pretendemos esgotar todas as possibilidades dos assuntos aqui
apresentados. Nossa finalidade é a de tentar organizar pensamentos; a Ver-
dade soberana está dentro de cada um de nós, e só chegaremos a ela através
8
da experimentação, do convívio social; ultrapassando barreiras, solucionan-
do questões cotidianas, refletindo sobre nossas ações, reações, medos, pre-
conceitos, etc. O conhecimento e compreensão nos fortalecem para superar
mais facilmente os desafios que a vida nos propõe.
Saber a verdade, querer o bem, amar o belo e fazer o que é justo.
Porque a verdade, o bem, o belo e o justo são inseparáveis, de tal forma
que aquele que sabe a verdade não pode deixar de querer o bem, amá-lo
porque é belo e fazê-lo porque é justo.
O melhor conhecimento de si nos leva a compreender melhor os ou-
tros. Quando compreendemos um pouco mais sobre a vida e a missão de
cada um de nós, tudo passa a acontecer num nível mais adequado ao mútuo
desenvolvimento.
Nosso real propósito é auxiliá-lo na formação de uma visão mais am-
pla e real, que dê suficiente sustentação para um caminhar mais seguro. O
sincero desejo do autor é que a leitura das páginas seguintes possa tornar
suas ideias mais completas e amplas.
Que tua busca seja recompensada a cada instante com a descoberta de
sua verdadeira identidade e individualidade. A melhora de cada um de nós
resulta num pouco mais de luz para todos.
9
Apresentação
Estimado amigo leitor.
Este pequeno trabalho é um convite para uma pausa no automatismo
que o mundo nos impõe, sempre que buscamos apenas atender as necessi-
dades mais urgentes e aquilo que precisamos para viver socialmente. O
mundo moderno, principalmente nas grandes capitais, torna pessoas escra-
vas de seus sistemas, robôs da máquina industrial e do consumismo impos-
to, em tempos de desmedida cobiça e tresloucada correria, com alguns bus-
cando seu sustento, e outros o enriquecimento e uma forma de parecer bem
na sociedade. Meio a isso, às vezes nos esquecemos de olhar para dentro de
si, e de que somos seres humanos com missão premente de desenvolvimento
de nossa essência espiritual.
Tratamos aqui sobre o desenvolvimento humano, levando em conta as-
pectos que vão além daqueles onde boa parte das pessoas estão habituados
pelos seus compromissos sociais, responsabilidades e obrigações impostas
pelo sistema.
A vida em sociedade nos remete às suas duras imposições, calcadas nas
pessoas para que se encaixem meio a interesses criados por grandes corpo-
rações inescrupulosas. Neste aparente caos social, pessoas passam pela vida
num estado de sonambulismo, como se estivessem hipnotizadas para faze-
rem aquilo que lhes impõem de forma avassaladora.
A intenção do título que demos a este trabalho não foi chamar a atenção
para uma fórmula secreta que leve alguém imediatamente para outros planos
celestiais, materiais ou espirituais. Na verdade alguns certamente pensarão
se tratar de mais um livro de autoajuda cheio de formulações intelectuais
inúteis, com a tola pretensão de acabar com os problemas individuais de
cada um que o lê, do tipo: “Leia este livro e sua vida se transformará num
céu! Seus problemas se acabaram; não passe mais aperto; livre-se agora dos
seus problemas financeiros; eis a fórmula secreta com as chaves da felicida-
de; livre-se imediatamente de suas dores de cabeça...”.
Procuramos demonstrar nesta obra um estudo que fosse além de sim-
plesmente mostrar problemas e sugerir algum procedimento que os elimi-
nasse de forma milagrosa; pois, claro, sabemos que isso não surte efeito.
10
Problemas existenciais todos nós passamos e temos de passar. Em maior ou
menor grau, mais fáceis ou complexos, todos temos questões das mais vari-
adas ordens e gêneros a tratar.
Isso é óbvio e inquestionável.
Não existe uma só existência que não encontre questões que a faça pas-
sar por jogos psicológicos que a remetam à maturidade. Quando vivemos
impulsionados por estas questões existenciais somos submetidos a inúmeras
particularidades que nos remetem à reflexão, sentimentos e dores que nos
ensinam a lidar com situações mais complexas. Assim se dá o desenvolvi-
mento de todos.
Mas, podemos aprender pelo amor ou pela dor. Eis o ponto chave desta
proposta: quando conhecemos um pouco mais quem somos, lidamos com
estas relações de forma mais madura e preparada. Se entrarmos numa guerra
sem saber ao menos um pouco sobre o adversário, corremos o risco de nos
deparar com um inimigo muito maior ou diferente daquele imaginado, ou
até mesmo supervalorizar seu poder e se esconder com medo. Mas, se reu-
nimos informações e conhecimento acerca dele, tudo pode caminhar mais
facilmente para um desfecho favorável.
Em sua obra “A arte da guerra” Sun Tzu escreve: “Se conheces o ini-
migo e te conheces a ti mesmo, não precisas de temer o resultado de cem
batalhas. Se te conheces a ti mesmo, mas não conheces o inimigo, por cada
vitória sofrerás também uma derrota. Se não te conheces a ti mesmo nem
conheces o inimigo, perderá todas as batalhas”.
O propósito da vida terrena não é a felicidade, mas sim a experiência. A
experiência é o conhecimento dos efeitos que se seguem aos atos. Podemos
adquiri-la pelo duro caminho da experiência pessoal, ou pela observação dos
atos alheios, raciocinando e refletindo sobre eles, guiados pela luz de qual-
quer experiência que já tínhamos. Antigos postulados hindus afirmam que
se o homem quiser conhecer o Universo, primeiro deverá conhecer a si pró-
prio. Existe uma máxima que diz: Gnozi si auton, nosce te ipsum ou Noscete
Ipsum, que é o nosso conhece a ti mesmo. "Homem, conhece-te a ti mesmo
e conhecerás o Universo e os Deuses”.
O ser humano por si só já é por demais complexo. Quando um tipo de
personalidade se vê de frente a outra diferente – num jogo onde cada um
11
quer ganhar ou manter território – inúmeros acontecimentos podem advir,
inclusive inúmeras situações embaraçosas e desagradáveis. Se não reunimos
conhecimento que se traduza em capacidade, tudo poderá transcorrer em
clima de embate, de guerra ou disputa. Mas, o desenvolvimento pode e deve
transcorrer num clima ameno e calmo para que possamos alcançar níveis
mais elevados com menos desgastes e sofrimentos. A compreensão das
principais questões que envolvem os relacionamentos nos dá o preparo para
saber lidar com elementos de dupla face, com um lado que impele para o
desenvolvimento, e outro que nos põe um de frente para o outro disputando
quem vai se sair melhor ou ganhar mais. Isso dá forças ao egoísmo, à ambi-
ção excessiva, à avareza doentia, etc.
Num jogo onde as forças não se equivalem, um lado sempre se verá
desfavorecido ou perdedor, o que acaba por afetar o orgulho, as vaidades, o
ego; o que acaba causando o medo, a raiva, ódio, rancor, inveja e tantos ou-
tros terríveis males psicológicos e comportamentais. Aqui, onde hoje vive-
mos, não temos que tentar evitar ou se esconder, pois são as lições aqui en-
sinadas que temos de aprender. São as questões do dia a dia que nos impe-
lem para as experiências que nos possibilitarão ir além de onde hoje esta-
mos. Nenhum de nós conseguirá deter estas engrenagens que envolvem a
todos. Afinal, nada existiria se não fosse para fazer que saiamos de onde
estamos para ir mais longe, para um nível mais elevado de consciência, um
novo grau de avanço espiritual.
Então, para elevar o nível de compreensão de si mesmo e com relação
aos outros, só mesmo com interações onde podemos sentir aquilo que nós
mesmos temos que resolver, tanto para aperfeiçoamento de nossos senti-
mentos como para alcançar o nível ideal de relacionamento, onde haja amor
verdadeiro, compreensão, paz e tudo mais que poderemos experimentar em
graus mais elevados.
Procuramos nesta obra, antes de entrar nas dificuldades normais a to-
dos, dar uma visão de como nascem determinados problemas, de onde eles
afetam nossas vidas na prática, e de como fortalecer nossas defesas para não
sermos acometido por males tão comuns. Assim podemos criar novas ma-
neiras de agir que desviam de escorregões que tantos males causam. A
conscientização de como nascem os problemas, e de como podemos proce-
der para evitar ou eliminá-los, nos garantirá um desenvolvimento mais sau-
dável, com menos dificuldades e mais vitórias.
12
Vale a pena dedicar-se a isso? Pois tenha plena convicção de que cada
minuto dedicado será plenamente recompensado em real ganho de qualidade
de vida.
A atitude reta e bem administrada costuma fazer pessoas de bem com a
vida; bem resolvidas, confiantes de si e mais humanas, no melhor sentido
desta palavra.
Sua disciplina se tornará hábito, seu hábito produzirá qualidade de vida,
sua qualidade será fundamental a cada minuto de sua trajetória futura.
Existe um axioma que diz “Virtvti Fortvna Comes”: A Ventura acom-
panha a virtude. A virtude supõe a ação, pois se opomos a virtude às pai-
xões é para demonstrar que ela jamais é passiva. A virtude não é somente a
força, é também a razão diretora da força. É o poder equilibrante da vida. É
a arte de balançar as forças para equilibrar o movimento. O equilíbrio que é
necessário ser alcançado não é aquele que produz a imobilidade, senão
aquele que realiza o movimento.
Pois a imobilidade é morte e o movimento é vida. A natureza, equili-
brando as forças fatais, produz o mal físico e a destruição aparente do ho-
mem mal equilibrado.
Uma boa base orienta para as melhores decisões. Sem isso, quantos não
desperdiçam tempo, saúde e oportunidades; com afobações, correrias, irrita-
ções, desgastes, desentendimentos e tantos outros sentimentos comuns
quando se está numa disputa que abala tanto interna quanto externamente.
Os indivíduos e as massas a quem a razão não governa, são escravos da fata-
lidade, a qual rege a opinião que é por sua vez a rainha do mundo.
Devemos racionalizar e otimizar nosso tempo para aproveitá-lo ao má-
ximo, de forma regrada e bem distribuída entre os afazeres diários, lazer,
estudo, descanso e tudo o mais para transformar e fazer de cada instante
uma grande oportunidade de real desenvolvimento. A disciplina leva ao
hábito; quando alcançamos o melhor nível de compreensão de nossa trajetó-
ria, tudo passará a transcorrer de forma mais suave e aproveitável.
Mesmo nos momentos de pleno lazer estaremos interagindo de forma a
tirar de cada circunstância uma nova lição, uma nova e mais avançada per-
cepção de tudo o que está à volta. O estado geral se transforma quando se
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vive intensamente e com a certeza de estar no caminho certo. O ganho real
em tranquilidade e paz de espírito vale plenamente cada minuto dedicado às
mudanças para a construção de um caráter marcante e seguro, personalidade
brilhante e espírito que irradia luz.
As reflexões aqui propostas aguçam os sentidos mais elevados, para que
estes governem as ações do Ego através da sábia orientação da Consciência.
Isto possibilita a criação de mudanças que beneficiarão amplamente a evo-
lução consciente de valores. Com isso sentimos uma gradual melhora geral
na forma de pensar e interpretar cada acontecimento da vida.
Avançamos o texto até o ponto suficiente para a boa compreensão do
conteúdo, sem assim torná-lo pesado ou maçante. O objetivo é despertar de
forma intuitiva o princípio de funcionamento mental mais elevado. Fique
certo de que é muito mais fácil proceder a partir de alguns princípios bem
pautados do que viver na base do errar para aprender. É necessário irmos
além do que simplesmente viver a vida. É preciso que aprendamos com a
mágica do mundo a dar sentido para nossas existências, e vivenciar cada
momento como uma nova oportunidade.
É uma proposta, pois o mundo em geral não considera coisa que julga
demasiado altruísta, pois atualmente não se considera norma de conduta a
que não ofereça uma oportunidade de tirar proveito de tudo. Ante a mente
desses que estão escravizados pelo desejo de acumular riquezas inúteis, a
ideia de Fraternidade evoca as terríveis visões da abolição do capitalismo,
da exploração dos demais e o naufrágio de seus negócios.
Quando concluímos que estamos todos num mesmo barco, compreen-
demos melhor que cada um tem de fazer o seu melhor para o desenvolvi-
mento de todos. A compreensão disso promove o enfraquecimento do ego-
ísmo, que é a principal doença humana. A lição principal que o homem deve
aprender é: o que não beneficia a todos não beneficia verdadeiramente a
ninguém.
Nossos conhecimentos e ensinamentos sobre a vida vivem um conflito
gerado pela má formação de opiniões que, ou são totalmente baseadas em
nossos modos e costumes, ou são influenciados por aqueles que tentam
mostrar seus conhecimentos puramente pela sua formação espiritual ou eso-
térica, nem sempre de origem confiável. Buscamos esclarecer alguns pontos
14
controversos para que ganhem força e segurança para unir estas vertentes.
Só assim poderemos avançar para além do que temos agora.
O ponto central na ordem intelectual e moral é o laço de união entre a
ciência e a fé. Na natureza do homem este ponto central é o meio pelo qual
se unem a alma e o corpo para identificar a sua ação.
Não há como resolver questões elevadas se não unirmos princípios,
agrupando-os para um maior entendimento. Isso só pode ser feito sem pai-
xões, fanatismos, religiosismos ou qualquer arrogância. Estamos começando
a perceber que a união saudável entre nossas sociedades científicas e outras
ciências ocultas é que poderá abrir nossas mentes para novos e mais avan-
çados horizontes, onde encontraremos a solução para males físicos, psicoló-
gicos, espirituais e sociais.
Só que ainda vemos frequentemente homens da ciência apresentando
como “fatos comprovados” simples hipóteses baseadas em ideias e conclu-
sões pessoais. Nossa ciência só se tornará superlativa quando caminhar de
mãos dadas com princípios esotéricos mais elevados. Só assim é que poderá
chegar às chaves que mostrarão a solução para elucidar questões que estão
estreitamente ligadas entre mundo físico e mundo espiritual, entre corpo e
alma. O homem é um trio de corpo, alma e espírito. Entre o espírito e o cor-
po existe um mediador: a mente que reflete o mundo físico. Somos unos em
essência e trinos em manifestação, numa harmonia perfeitamente equilibra-
da entre corpo, alma e espírito.
Nossa medicina, apesar de seu avanço, esbarra frequentemente em pro-
blemas de difícil solução, que só poderão ser resolvidos quando se extirpar
alguns pensamentos limitativos de que, conhecer da alma e pesquisar a ori-
gem cósmica do homem é ficção. Isto tem de ser enterrado bem fundo para
que possamos caminhar sem fantasmas criados por usos e costumes anti-
quados e cansativamente vividos por inúmeras gerações, sustentados pela
arrogância nascida da ignorância. Quanto mais nos acostumarmos a pensar
em termos dos Mundos Espirituais, tanto mais facilmente poderemos sobre-
por-nos às ilusões que nos rodeiam nesta existência concreta, onde os sen-
timentos gêmeos de Interesse e Indiferença obscurecem a Verdade e nos
sugestionam.
Não há que se pensar em misturar as coisas. Há sim que se pensar em
unir forças e conhecimento para avançar para novos patamares; para avan-
15
çarmos para além do terreno das vaidades pessoais; para conhecimentos
mais elevados que vão infinitamente além de qualquer teoria especulativa
ou título acadêmico passageiro.
Na maioria das ciências há coisas boas e coisas más; há verdades fun-
damentadas e passíveis de serem comprovadas, mas também alguns frutos
de imaginações pretensiosas que julgam terem encontrado as chaves para
resolver todos os males. Então temos de ter cuidado e discernimento para
distinguir uma coisa de outra.
A partir de que a ciência entenda que o corpo tem seu correspondente
etérico1, e que o ser humano não se limita a um corpo físico, poderemos
avançar para novas e importantíssimas descobertas para resolver questões
até agora encobertas por tolas crendices, paixões e vaidades pessoais.
Isso só irá acontecer quando avançarmos para outros níveis de conhe-
cimento, onde alguns mais conservadores poderão ser convencidos de que
somos muito mais do que apenas um organismo animado; um corpo de exis-
tência limitada entre o nascimento e a morte. Daí estaremos iniciando a
construção mais avançada e definitiva de nossas sociedades. Não temos que
esperar o clamor dos deuses; temos sim é que trabalhar para unir partes es-
senciais e fortalecer princípios que só assim se tornarão mais abrangentes e
completos.
Nossa atual ciência, mecânica, material, materialista e repetitiva, teve
sua origem basicamente nos tempos da Revolução Industrial, e prescinde de
todo e qualquer valor que não seja objeto formal. Tudo que não se enquadre
em seus estreitos limites não existe ou não é admitido como objeto de estu-
do e pesquisa. E, com isso, continuam existindo grandes lacunas no conhe-
cimento científico, contradições, teorias equivocadas e suposições. É esse
materialismo ateísta que levou a ciência a estancar a humanidade em seu
progresso social e espiritual.
1 Corpo Etérico ou vital é o veículo da bioenergia e do prana que flui pelos 72 mil canais
ou meridianos energéticos que vitalizam todos os órgãos do corpo físico. Ele é o responsá-
vel pela conformação, estruturação e alimentação energéticas do corpo celular. O conhe-
cimento desses meridianos possibilitou o nascimento da acupuntura, do do-in, do moxabus-
tão e da cromoterapia, dentre outros. É o grande maestro organizador termobioeletromag-
nético que atrai e impulsiona energias dentro de um movimento de sístole e diástole.
16
Nossa ciência é avançada no campo meramente tecnológico (movido
pelo capitalismo egoísta e ganancioso), mas vergonhosamente atrasada no
campo espiritual. A ciência terá, obrigatoriamente, de readquirir seu caráter
religioso, assim como a religião readquirir seu caráter cientifico.
O ser humano precisa ser compreendido integralmente. Hoje, salvo ra-
ríssimas exceções, tudo se resume numa luta em busca do lucro a qualquer
custo; na busca e descoberta de vantagens e oportunidades de ganhar mais e
mais dinheiro. Com isso vemos, por exemplo, nossa medicina enfeitando
problemas corriqueiros com novas nomenclaturas, ou criando novas sín-
dromes a cada dia para vender mais remédios. Claro que isso jamais será
admitido publicamente, e corremos até o risco de retaliações quando fala-
mos a verdade. O poder que hoje governa chama-se “poder financeiro!”.
Isso só piora a já caótica situação. Há, por exemplo, inúmeras enfermi-
dades que precisam ser tratadas desde a sua raiz. Senão, corremos o risco de
tratar as aparências da doença – sua manifestação ou sintomas apenas – e
ignorar sua origem, que continuará fincada no corpo ou na alma; e com mais
ou menos tempo tornarão a se manifestar, pois que o problema resiste a me-
didas paliativas criadas para criar dependências; para enriquecem corpora-
ções inescrupulosas.
Até quando limitar nosso cérebro a não se curvar a ensinamentos mais
elevados e completos? Aqui lembramos de Victor Hugo quando disse
“Quem ri do que desconhece está a caminho de ser idiota”. Gostaríamos de
ser sábios, mas, teríamos a certeza de nossa sabedoria enquanto acreditás-
semos que os loucos são mais felizes e até mais alegres do que nós? Capri-
chos da alma e orgulhos pessoais têm de ser atirados no lixo e substituídos
por princípios humanitários mais elevados, sempre perseguindo o que de
fato interessa a todos, e não só àqueles que se fartam às custas do trabalho
de gente honesta, nem que isso lhes custe a vida.
Só assim é que conseguiremos fazer algum progresso efetivo nisso que
hoje vemos e sentimos. É isto que se espera de mentes inteligentes de ver-
dade que não se prendem à noção simples das coisas. É isso que nos separa
de um grande salto em qualidade geral, que signifique progresso e desen-
volvimento, e não só crescimento econômico. Não podemos ficar presos a
coisas para ostentar falso brilho, falsos e confusos valores, egoísmo, orgulho
vazio, arrogância, prepotência e excesso de vaidades. O espírito humano é
um doente que ainda caminha com o auxílio da ciência e da religião. A falsa
17
filosofia tira-lhe a religião, e o fanatismo tira-lhe a ciência. O fanatismo ig-
norante aceita tudo; o materialismo (que também é ignorância) nega tudo.
O exercício da inteligência aplicada à verdade conduz à ciência. O
exercício da inteligência aplicada ao bem dá o sentimento de belo, o qual
produz fé. O homem equilibrado é aquele que pode dizer: sei o que é, creio
no que deve ser, e nada nego do que pode ser. O fascinado dirá: creio no que
as pessoas, em quem acredito, me disseram para acreditar. Creio porque
amo a certas pessoas e certas coisas. Em outros termos, o primeiro poderá
dizer “creio pela razão”; e o segundo, “creio pela fascinação”.
Lembrando um brilhante pensamento de Montaigne: “Dá prova de tola
presunção aquele que despreza e condena como falso aquilo que aos olhos
seus não se apresenta desde logo como verossímil ou verdadeiro. É o erro
habitual de todos aqueles que estão persuadidos de serem mais perspicazes
que o comum das pessoas”.
Enfim, expressamos neste breve trabalho opinião própria sem se pren-
der a nenhuma fórmula pronta e desgastada, teorias ou teses mirabolantes,
frutos de intelectualismos baratos. Intelectuais são aqueles que falam sobre
o que os outros disseram ou escreveram, sem jamais ter vivido na prática a
realidade do que ensinam. Mas, não podemos ficar presos ao que já foi pro-
duzido quando queremos mais.
Não há apenas que se requentar fórmulas ou mudar vírgulas quando o
que se quer é chegar a outros destinos. Medimos, sim, nossa abordagem até
os pontos de conclusão de raciocínio, sem avançar exaustivamente em cada
assunto.
Não buscamos a transformação do mundo, mas a transformação da
mente; que por sua vez, conduzirá ao aperfeiçoamento espiritual, através da
mudança de postura perante o mundo. Se desejamos o conhecimento que
liberta, devemos nos desvencilhar do falso Cosmos criado pela nossa mente
condicionada.
A Consciência Desperta ou um Ser Desenvolvido equivale à ilumina-
ção, à genialidade, à sabedoria. Do contrário temos a mecanicidade, incons-
ciência, subjetivismo ou tão somente educação intelectual. Necessitamos
lançar fora da mente todos os ídolos intelectuais convertidos em axiomas.
Necessitamos desenfrascar a mente e libertá-la da Lógica Formal.
18
Esperamos contribuir para algumas reflexões, confronto de opiniões,
abertura para novas ideias e uma nova visão que consiga enxergar outros
horizontes.
Fraternalmente, o autor.
19
Capítulo I
Vida social e costumes
Num mundo atribulado e cheio de boas e más surpresas, vivemos mui-
tas vezes apenas o momento, sem se dar conta de quais são nossos propósi-
tos, pra onde estamos indo ou onde podemos chegar. Num ritmo de correria,
acabamos por ver o dia a dia de forma automática, sem se dar conta do que
estamos fazendo de nossa vida, de nossos dias, de nosso tempo, de nossa
oportunidade de crescer.
Quando mergulhamos no mundo, sem parar pra pensar se estamos fa-
zendo o melhor que podemos pra nós e para os outros, acabamos por deixar
na mão do acaso nosso destino. Sem maiores explicações ou questionamen-
tos, somos atraídos para frente empurrados pelas ondas de vida que alcan-
çam a todos.
A mecanicidade da vida aumenta a inconsciência com o passar dos
anos e acabamos por esquecer de nós mesmos. Nossa atenção acaba descen-
tralizada e voltada para o mundo exterior, quando na realidade precisamos
nos centrar em nós mesmos, para dentro de cada um de nós, nosso íntimo,
nosso verdadeiro ser, nossa alma. Por isso vivemos e fazemos tudo de forma
mecânica e superficial. Sem sentir e sem chegar a viver de fato, mais bem
passamos pela vida do que vivemos.
Se vivemos em sociedade, regras terão de dizer os limites e ditar pro-
cedimentos adequados para a boa convivência social. Claro que temos de
nos adaptar e se enquadrar naquilo que são as normas da boa convivência,
onde um tem de respeitar determinados limites para não avançar além do
razoável e ponderado.
Mas isso não quer dizer que temos de seguir tudo exatamente como
dizem que tem de ser, sem pensar em criar procedimentos, inovar, buscar
alternativas, viver mais amplamente, além das mesmices impostas; muitas
vezes, por meros interesses financeiros. Sua mente pode criar o hábito de
identificar alternativas, inovar, fazer além. Dentro de limites entre o certo e
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errado, tudo poderá ser feito desde que não infrinja os bons modos, a moral,
as leis, as convenções e o direito dos outros.
Muitos modelos são oferecidos como sendo o ideal, o mais apropriado
e que nos conduzirá de forma segura e ideal conforme a vontade dos usos e
costumes nascidos com o tempo. Mas, esses modelos são bons para quem?
O que ocorre muito frequentemente é que pessoas seguem automática e pas-
sivamente o que lhes é imposto, como se tivessem de agir estritamente de
acordo com modelos criados pelas circunstâncias. Aqui nasce o risco de
apenas se repetir procedimentos e estagnar numa metodologia que não acer-
ta todas as vezes. Pensar ou fazer igual ao que os outros já fizeram irá levar
no máximo a resultados próximos dos já conseguidos. Vivemos numa soci-
edade que traz consigo problemas seculares, que parecem estar à espera de
que Deus transforme tudo através de um milagre.
O comportamento humano, de uma forma geral, vem repetindo proce-
dimentos desde a antiguidade. Os mesmos problemas graves psicológicos
que sabíamos existir a séculos continuam num mesmo nível de avanço. A
cada dia, mais e mais pessoas vão às clínicas discutir o sexo dos anjos, falar
de algo que pouco sabem com outro que muitas vezes sabe menos ainda.
Então, existem muitos “tratamentos” e terapias que se arrastam por anos e
anos e pouco resultado prático produzem.
Procedimentos questionáveis são usadas sem medida em pessoas que
continuam com suas mesmas perguntas ou crises, mesmo depois de muito
tempo se submetendo a elas. Dificilmente alguém percebe sua individuali-
dade sendo o que a sociedade espera, apenas fazendo o que ela impõe. A
vida social – família, sociedade, igreja, ocupação e profissão; política, re-
gras e normas morais e éticas – não conduzem ninguém à efetiva auto-
realização do Ser. Ao contrário, constituem, frequentemente, as próprias
algemas que nos alienam de nosso real destino espiritual.
Não temos uma metodologia prática que aborde o ser humano em sua
totalidade (física e espiritualmente) que possibilite um desenvolvimento
integral: moral, financeiro, religioso, espiritual ou noutros aspectos quais-
quer. Vivemos de forma a ter sempre uma interrogação quanto aos costu-
mes, aos comportamentos e modismos. Dificilmente temos certeza e segu-
rança quanto a cada atitude que tomamos. Há religiões e pseudo-religiões
que sufocam colocando o peso do pecado em boa parte dos procedimentos
das pessoas. Mas o que é o pecado?
21
Cultivamos a ideia de que religiões salvam e ritos transmutam. Mas,
religiões são apenas veículos que facilitam o caminhar em direção a Deus, e
algumas orientam um pouco sobre certos aspectos dessa jornada.
Mas, cabe a cada homem ser o pleno responsável pela própria evolu-
ção do espírito. Essa liberdade de escolha nos foi concedida pelo nosso Cri-
ador, e é aquilo que chamamos de livre-arbítrio. É frequente haver dois im-
pulsos ou estímulos, duas argumentações, duas tendências, entre as quais
precisamos escolher qual vamos aceitar e qual vamos rejeitar. Nessas ocasi-
ões é que exercemos o privilégio do livre-arbítrio, onde temos a liberdade de
escolha; mas, em contrapartida, temos de assumir a responsabilidade pelas
consequências de nossas ações e decisões.
O estudo da alma e do espírito proposto pelas religiões é falho e limi-
tado por estar assentado em dogmas levantados sem a experiência direta e
sem o uso da razão objetiva. É impossível se chegar ao autoconhecimento
baseando-se exclusivamente no estudo conceitual ou intelectual. Tampouco
é possível o verdadeiro e profundo autoconhecimento sem a experiência
direta.
Quem desses saberá dizer exatamente o que pode ou não pode, o que é
certo ou errado? Quem poderá ditar regras pela interpretação de códigos
deturpados pela cobiça humana? Será que alguns destes que aparecem em
todas as esquinas estão querendo o seu bem ou o bem de seus cofres? Do-
cumentos apócrifos e Canônicos foram escritos na mesma época e da mes-
ma forma. A diferença está em que os denominados apócrifos não sofreram
mutilações nem adaptações ao longo dos séculos, e são mais puros, originais
e completos que os Canônicos.
A verdadeira Religião de Jesus é a Solar de todas as idades e séculos,
a Doutrina da Nova Era, o Cristianismo Primordial dos Deuses da Aurora, a
Religião Universal. Num futuro ainda um pouco distante prevalecerá o Cris-
tianismo Esotérico; que pouco ou nada tem a ver com códigos sagrados des-
figurados pelos interesses escusos de corporações criminosas, e de outras
tantas nascidas mais recentemente única e exclusivamente pelo interesse
financeiro. Por estas tantas, dificilmente encontramos pessoas que tenham
opinião completa e irretocável com relação a estes assuntos polêmicos. Mui-
tas vezes querem defender seus pontos de vista e interpretações apenas para
defender seus interesses, jamais pensando nas pessoas como seres sociais
22
em desenvolvimento, e que precisam de boa instrução, informações e acom-
panhamento constantes para o real desenvolvimento.
Ninguém sai deste sistema com uma formação plena que lhe dê sus-
tentabilidade para um caminhar mais seguro. Hoje uma criança vai à escola
para ser programada para se comportar de acordo com os usos e costumes
ultrapassados. Mal é instruída para poder ser e agir de acordo com este mo-
delo nascido de mais erros do que acertos; que não oferece base sólida para
a formação do caráter ou para suprir as verdadeiras necessidades humanas.
Alguns outros ensinos acadêmicos oferecem apenas uma base para a vida
profissional, como se fossemos máquinas de produção e consumo. Esse sis-
tema ultrapassado, que apenas muda de roupagem de acordo com interesses
financeiros, conduz as pessoas a aceitarem o status quo como sendo a reali-
dade possível, permanente e imutável. E isso faz com que elas aceitem tudo
como se isso fosse a vontade divina ou o único caminho. Aprender de fato é
diferente de acumular informações. Os estudos deveriam estar voltados para
o aprendizado direto, através das experimentações, dos exercícios práticos e
das simulações.
Hoje se fala muito em “crescimento econômico”, mas muito pouco se
fala em desenvolver, adequar, modernizar, melhorar, aperfeiçoar; tornar o
que existe mais apropriado para atender as reais necessidades atuais, e não
apenas para que facilitem que este mesmo modelo capitalista vá ainda mais
além. Não temos orientação básica sobre saúde, primeiros socorros, religião,
educação moral e cívica que ensine as pessoas a portarem-se dignamente de
forma boa para si e para os demais; que ofereça esclarecimentos sobre dro-
gas, sexo ou que lhes indique uma forma segura de nascer para o mundo,
longe de riscos de vícios, desencontros, perdas de tempo, ou de fazer coisas
simplesmente para sustentar uma imagem que imaginam ser a mais adequa-
da.
Não orientamos de forma satisfatória sequer quanto ao uso de drogas
permitidas como o álcool e o tabaco, nem tampouco quanto aos riscos de
certos produtos e substâncias distribuídos livremente. O modelo de ensino
de hoje bloqueia e anula os valores, os talentos e as potencialidades. É nessa
importante fase de desenvolvimento que nossos jovens iniciam-se em vícios
sem se dar conta dos enormes riscos e prejuízos que causam para si e para a
sociedade. Este liberalismo desnorteado lhes permite ir além das fronteiras
do razoável para experimentar produtos nocivos livres, enfeitados por rotu-
lagens intensivamente veiculadas para o consumo em massa. Que tipo de
23
pessoa se espera que saia destes sistemas quando juntamos a isto tudo uma
estrutura familiar fraca, e que não consegue oferecer exemplos, nem meto-
dologia diferente daquela que se encontra no mundo?
Teremos, então, mais pessoas desencontradas, desorientadas, sem ru-
mos e à mercê do que o mundo perigosamente atirar sobre elas. Os riscos de
fracasso são muito maiores do que qualquer chance de se sobressair vitorio-
so, de poder vislumbrar um futuro de realização, saúde, exemplo e vitória
pessoal completa. E que satisfaça não só o aspecto material e financeiro,
mas também o lado do desenvolvimento da alma, dos valores morais que
todos temos de alcançar.
Importância do meio social
O convívio nos oferece a toda hora novas possibilidades que acabam
por influenciar, em maior ou menor grau, cada um de nós. Mas como identi-
ficar as melhores oportunidades, como saber separar o que de fato possa nos
ajudar de outras tantas coisas que podem prejudicar?
Somos seres influenciáveis pela própria natureza. Pessoas a nossa vol-
ta acabam por criar diferentes alternativas; alguns influenciam com seu mo-
do de ser; outros interagem de forma mais pessoal, podendo criar perigosos
jogos psicológicos, onde podemos ser envolvidos em paixões, ciúmes e in-
seguranças. Complexos são desenvolvidos, medos são atiçados, novas pos-
sibilidades são vislumbradas. Outras tantas coisas mexem de forma tão in-
tensa que podem desequilibrar a razão e fazer com que se aja de forma au-
tomática, pela cobiça, paixão, desejos instintivos, vaidades, ciúmes, ambi-
ção, raiva, medo; enfim, sentimentos que advém do egoísmo descontrolado
e que alimentam o ego.
A vida nos provoca a cada momento. Cabe a cada um de nós identifi-
car nas suas linhas cada oportunidade de desenvolvimento pessoal que vão
além das nossas aspirações pessoais imediatas. Todos os acontecimentos à
nossa volta nos convidam a desenvolver nosso julgamento, nossas percep-
ções, nossas opiniões e nossa forma de pensar e de enxergar o mundo. A
intensidade com que cada acontecimento nos toca é proporcional ao grau de
maturidade desenvolvido até aquele momento. As lições de discernimento
24
entre o bem e o mal não podem ser aprendidas sem o exercício da livre es-
colha do próprio caminho, e sem que se aprenda a rejeitar o erro como uma
verdadeira “matriz de dor”. E é por isso que podemos agir de forma relati-
vamente livre em nossas escolhas. Esse é o livre-arbítrio de que falamos.
A forma que nosso sistema oferece para nos impelir ao desenvolvi-
mento é provocando cada um de nós para promover mudanças naquilo que
ainda não está totalmente desenvolvido. Porém, este mecanismo esconde
algumas perigosas armadilhas. Muitas vezes, as mesmas oportunidades que
surgem para nos desenvolver podem nos levar ao fracasso. Podemos exem-
plificar isso através desta situação corriqueira e frequente, principalmente
entre adolescentes: quando alguém se vê menor do que algum outro (por um
simples comentário ou elogio feito a um outro qualquer) e fica tocado com
aquilo se achando menor, logo tratará de iniciar uma forma de ser tão bom,
ou tão querido e aprovado quanto aquele que foi elogiado.
Daí inicia-se o jogo. Note que um mesmo impulso pode conduzir a
pessoa a mais de um destino: ou vai fazer com que a ela se dedique de for-
ma pensada e consciente para melhorar, ou vai levá-la a cometer uma ava-
lanche de ações desconexas que poderão acabar numa derrocada. Ou, ainda,
em confusão de sentimentos entre a razão, emoção, paixões e vontade que
levarão a ações impensadas; que fatalmente conduzirão para a frustração,
mágoa, revolta, raiva, culpa e reclusão em si.
Observe como quase todas as comparações, todos os parâmetros e di-
ferentes níveis entre as pessoas podem levar a isso. Se alguém vive dentre
pessoas ricas pode, ou se sentir completamente inferior e deslocado, ou ini-
ciar uma caminhada para crescer tanto quanto aqueles. E pode ir ainda mais
além: o sentimento de inferioridade nascido poderá levar a comportamentos
fora de suas reais possibilidades. Seus desejos tenderão a querer copiar o
modo de vida daqueles que secretamente idolatrou. A humilhação pode le-
vá-la a cometer atitudes desordenadas na desesperada tentativa de ter para si
os atributos que admirou no outro; aqueles que, imagina, poderão colocá-la
dentre aqueles que julgou serem melhores do que ele.
Se esta pessoa não tem condições financeiras para suportar suas vai-
dades feridas, logo se verá em condições deploráveis trazidas pelos gastos
exagerados, financiamentos e submissão às tantas “facilidades” oferecidas
pelo modelo econômico. Modelo que pouco se importa com as consequên-
cias do ato do consumidor, pois o que lhes interessa é a saúde financeira da
25
sua “fábrica de sonhos”. O desejo é o grande tentador da humanidade; é o
grande incentivo para toda a ação. Ele pode ser bom quando favorece os
propósitos do espírito, mas terrível quando se inclina para algo degradante.
Somos chamados para ação a toda hora. Quando não temos boa orien-
tação corremos o risco de se iludir e correr por caminhos que levam a gran-
des desequilíbrios; que podem nos levar a destinos sombrios, onde as defe-
sas poderão ser fortemente abaladas. Quando tomamos atitudes precipita-
das, sem qualquer ponderação ou análise, podemos ser levados a criar um
tipo na única intenção de ser digno de nota, de carinho, de atenção ou pres-
tígio.
Amor, fortuna, poder e fama! Eis os quatro grandes motivadores da
ação humana. O desejo de alguma ou de várias destas coisas é o motivo de
tudo que o homem faz ou deixa de fazer. Mas, um ego ferido pode levar a
atitudes nascidas do devaneio, da paixão, raiva, inveja ou carências que nem
sempre são identificados ou compreendidos a tempo de conter os impulsos
mais instintivos.
26
Capítulo II
Um Ser cósmico em evolução
Vamos estudar agora um pouco sobre nós, além desta pessoa conheci-
da por este nome que hoje temos, e com estas características pessoais que
nos distinguem um do outro na sociedade. Aqui temos de aceitar o fato de
que somos muito mais do uma entidade passageira; que vive apenas uma
vida, volta aos céus para ser julgado, e assim, ou ser condenado eternamen-
te, ou permanecer no paraíso, num eterno desfrute. Isso, obviamente, basta
que usemos um pouco de nosso juízo mais apurado para constatar que é uma
bobagem!
A Antropologia estuda unicamente o homem biológico, mas não estu-
da os aspectos espirituais humanos e não detectáveis pelos nossos aparelhos
e instrumentos científicos. Ela prendeu-se a alguns dogmas evolucionistas,
ateístas e materialistas que a levaram a perder-se na busca de elos perdidos
que jamais existiram. A Ontologia estuda o Ser de forma somente racional e
filosófica. A Numenologia estudava o Espírito, mas foi deturpada pela teo-
logia dos clérigos. A Medicina se desenvolve a partir apenas de estudos da
fisiologia e anatomia humanas. A Sociologia busca apenas compreender os
fenômenos e as relações sociais.
Phillokalia era o tratado de psicologia da religião cristã original que
estudava a Psicologia do Ser, mas há muito foi esquecida e afastada das prá-
ticas atuais. A Psicologia originalmente estudava a alma, e não somente
comportamentos como se aprende hoje. Hoje a psicologia se limita a tentar
ajustar fenômenos comportamentais, sem dar importância aos aspectos espi-
rituais, anímicos ou ontológicos. É evidente que não é possível existir uma
autêntica ciência psicológica sem o profundo estudo desses elementos. Mui-
to mais do que simples seres humanos, que nascem numa determinada famí-
lia e que terminam sua jornada com a morte, pertencemos a uma onda de
vida em plena evolução que nasceu há milhões de anos. Caminhamos atra-
vés dos tempos nas mais variadas condições de nosso planeta, aperfeiçoando
e desenvolvendo nossos veículos físicos e sutis. De espíritos virginais, par-
timos nossa peregrinação evolutiva passando pelos mais diversos estágios
27
necessários para o desenvolvimento de todas nossas faculdades, uma a uma
até que nos tornássemos o que hoje somos.
As condições climáticas e biológicas por onde passamos em outras
eras eram exatamente as mais apropriadas àquele grau evolutivo. Cada fase
é orientada para o desenvolvimento de qualidades latentes existentes em
cada um de nós para que as transformemos em qualidades dinâmicas. Cada
um de nós possui todas as qualidades mais elevadas em nosso átomo-
semente2, mas precisam ser despertadas através de nossas próprias experi-
ências pessoais.
Cada nova oportunidade de provar sobre determinado assunto diferen-
te do que já conhecíamos é uma forma de provar a si mesmo e melhorar as
qualidades já conquistadas. Numa escala evolutiva, em cada passo temos o
corpo físico mais apropriado às tarefas que devemos executar. O desenvol-
vimento anímico ocorre em conformidade com o aperfeiçoamento moral.
Somos seres espirituais vivendo num corpo físico. A verdadeira morada do
espírito está em outras esferas mais elevadas. As “descidas” ao plano terre-
no são necessárias para que nossas possibilidades latentes possam ser de-
senvolvidas até que se tornem energia cinética.
Assim como uma semente de um vegetal contém a planta, somos se-
mente em evolução, onde existem todas as qualidades do Criador: “Omnia
ab unum et in unum omnia” – Tudo provém da Unidade e a Unidade contém
tudo.
2 Átomo-semente - Conhecido na Cabala Esotérica com o nome sagrado de Ain-
Soph, o átomo-semente serve de núcleo para um novo corpo denso na aurora de uma nova
vida na Terra. Durante a vida ele está situado no ventrículo esquerdo do coração, próximo
do ápice. O Átomo-semente é etérico e jamais poderá ser encontrado com um bisturi. En-
quanto todos os demais átomos do corpo denso se renovam periodicamente, esse átomo
continua subsistindo. E permanece estável não somente através de uma vida, mas de todos
os corpos densos já usados por qualquer Ego em particular.
A força do átomo-semente marca o Ego com as impressões recolhidas de todas as
vidas anteriores vivenciadas num corpo físico. Esse átomo é retirado do corpo físico após
a morte, e despertará somente na aurora de uma outra vida física para servir como núcleo
de mais um corpo denso. Os registros ali contidos são ad aeternum, e formam nossa indi-
vidualidade.
28
Estas qualidades em nós contidas precisam ser desenvolvidas até que
se tornem conscientes e parte definitiva do que somos espiritualmente. Boa
parte do aprendizado necessário só pode ser feita através das passagens cor-
póreas. Sem estas experiências aqui vividas, ficaríamos estagnados e limita-
dos ao que já aprendemos. O que temos de desenvolver em nosso atual está-
gio depende da perfeita simbiose que hoje temos com nosso corpo físico,
composto de tal forma a sentirmos tudo que precisamos para evoluir.
O Plano que ora habitamos é o que pode oferecer todas as possibilida-
des e acontecimentos onde, através das convivências, podemos elevar con-
ceitos e aprender cada vez mais. O corpo mental que hoje possuímos é pro-
duto da mecânica evolutiva da natureza e formado de matéria protoplasmá-
tica, para que, através das nossas percepções sensoriais, possamos viver e
aproveitar tudo o que nos acontece de forma a melhorar aquilo que hoje
somos. Todos os sentimentos vividos em cada momento é uma forma de nos
pôr de frente com aquilo que somos para, através de nossos questionamen-
tos e convivências, aperfeiçoar e melhorar tudo o que pensamos e fazemos.
Assim é que se dá a evolução do nosso ser mais íntimo, aquilo que efetiva-
mente somos, independente da nossa forma física.
O impacto de nossas experiências imprime na memória marcas que
são empregadas como guia nas ações futuras, de modo que podemos corre-
lacionar as experiências e inventar novos meios de ação. Somente neste lu-
gar com muitas pessoas se desenvolvendo nas mais diversas condições (nos
muitos lugares diferentes e em diversos graus) é que podemos presenciar
todos os acontecimentos para poder sentir, avaliar, comparar, sobrepor, la-
mentar, apreciar, invejar, sentir ciúmes, orgulho, amor, paixão, ternura,
compaixão, medo, culpa, desejo, ódio, alegria, tristeza e tudo o mais que faz
parte de nossos sentimentos e emoções, necessários para o desenvolvimento
intelectual e moral, e de todas as percepções e faculdades que iremos utilizar
nos próximos graus evolutivos.
Através dos sentimentos somos impelidos a progredir para novas eta-
pas. A cada dia uma nova forma de pensar é alcançada e incorporada. Novas
percepções são aperfeiçoadas de acordo com o novo julgamento que faze-
mos sempre que avançamos etapas. Isto se dá através dos estudos regulares,
pelas dificuldades vivenciadas, pelas perdas, ganhos etc. As sensações expe-
rimentadas ficam registradas como arquivos das percepções e compreensão
intelectual formando nossa memória. Cada sensação que toca nosso senso
de vida influencia nossa mente para adequar-se de forma mais apropriada.
29
As recordações das sensações formam as percepções. Toda percepção física
ou psíquica é a recordação de uma sensação. Essas recordações organizam-
se em grupos. Convertidas em causa comum, projetam-se externamente
dando-nos os parâmetros para definir os objetos e tudo que nos rodeia.
Quando uma experiência consegue lograr sucesso, e a impressão se torna
um hábito, com o uso frequente este conceito se incorpora ao mecanismo
mental, passando a fazer parte de seu todo.
A compreensão verdadeira se manifesta como ação espontânea, natu-
ral, simples e sem nenhuma indecisão. Isso só ocorre quando estamos livres
dos processos da seleção conceitual. Compreensão intelectual é baseada na
lembrança do que lemos, vimos ou ouvimos; é algo dualista, comparativo,
calculista e dependente de conceitos de terceiros. Esse mecanismo mental
baseado em comparações nos impede de ver a verdade ou realidade como
ela é de fato em suas várias dimensões. Um conceito bom e verdadeiro aca-
ba por fazer parte do repertório mental. Quando isso acontece não há mais
necessidade da memória no processo de acionar o recurso, pois não é preci-
so se lembrar daquele conceito, que então será mais uma ferramenta, mais
um recurso disponível, e que será automaticamente utilizado sempre que
necessário. Depois de inseridos em nossa unidade essencial, as reações daí
comandadas são movimentos involuntários, impulsionados e executados de
forma automática, sempre que uma situação exigir.
Nenhuma lição, mesmo que a sua verdade seja superficialmente reco-
nhecida, é de valor real como princípio ativo de vida enquanto o coração
não tenha aprendido pela aspiração e pela amargura.
Ciclos evolutivos
Nosso atual estágio de desenvolvimento faz parte de um ciclo onde al-
ternamos entre a vida espiritual e existências em um corpo físico, tal com a
que agora vivemos. As etapas de desenvolvimento se dão entre o mundo
espiritual e o mundo terreno. O ciclo reencarnatório (palingenesia) em que
agora estamos persiste até que aprendamos tudo o que este plano pode ofe-
recer em termos de desenvolvimento espiritual. Somente as confrontações e
vivências do dia a dia é que podem fazer com que experimentemos todas as
30
situações necessárias. A maturidade se dá com o tempo, e assim é também
com o espírito.
Nossa onda de vida evolui assistida por seres que passaram por etapas
evolutivas similares a estas que ora vivemos, em outras ondas de vida mais
antigas. Esses seres de avançado desenvolvimento nos acompanham de
forma oculta, e cuidam da preservação de tudo que possa nos proporcionar o
desenvolvimento espiritual, sem interferir no nosso livre-arbítrio. Numa
variedade imensa de graduações, eles são os anjos, serafins, querubins, ar-
canjos etc. Depois de cada etapa corpórea fazemos uma parada para assimi-
lação, que é o período em que vivemos no Plano Astral, depois da morte
física. Lá permanecemos em nossa forma espiritual, sem as vestes corpó-
reas, mas plenos de Consciência, até que uma nova oportunidade apropriada
ao grau desenvolvido surja, para assim podermos voltar para uma nova ex-
periência num corpo físico.
Uma nova vida aqui na Terra acontece depois que nossos guias espiri-
tuais identificam o momento mais apropriado para esta nova etapa, donde
reiniciamos do ponto evolutivo alcançado na derradeira passagem terrena.
Assim, alternamos nossas experiências entre o Plano espiritual e o físico.
Sempre que cumprimos uma jornada terrena voltamos ao mundo espiritual
para rever tudo que experimentamos na vida corpórea recém encerrada. En-
tão temos a oportunidade de analisar tudo que fizemos na vida que acabara
de terminar. Cada falha ficará marcada como um ponto a corrigir em novas
provas futuras. O espírito sentirá o retorno de cada um de seus atos mais
nobres, tal como a gratidão daqueles a quem ajudou ou fez o bem, do seu
altruísmo e de todas as suas boas ações.
Assim também se dá com as falhas e atos cometidos de forma contrá-
ria às Leis Maiores, aqueles que conhecemos como pecados. Um ato de
agressão cometido em vida fará com que o espírito sinta tudo que sua vítima
sentiu quando sofreu a agressão. Uma dor causada a alguém será sentida na
mesma amplitude do sofrimento sentido por aquele que foi vitimado. De-
pois, passado um período de descanso e trabalho nos planos astrais, seremos
novamente inclinados a viver outra etapa num corpo físico. Com o passar do
tempo na vida espiritual, por determinação dos Guias da Evolução, somos
chamados a conhecer modelos para uma nova existência corpórea que torne
possível nosso avanço a partir do ponto que paramos.
31
Na nossa preparação para a volta, o corpo espiritual recebe os materi-
ais de acordo com o grau de desenvolvimento conseguido na sua última
existência terrena, mais a quinta-essência do resultado da depuração que
tiver conseguido purgar na vida espiritual anteriormente vivida.
A quinta-essência é aquilo que restou em termos de depuração. Tal
como no refino de uma substância, o produto final deverá ser a parte mais
nobre e preciosa. Aplicando-se a termos espirituais, compreendemos que, ao
final de uma jornada, levaremos uma infinidade de experiências onde todos
os aspectos da vida estarão presentes. Para que a experiência em vida corpó-
rea possa ser aproveitada da melhor forma, será necessário depurar o conte-
údo bruto dessa derradeira encarnação. Isso só se dá depois de uma rigorosa
análise espiritual de tudo aquilo que foi vivido e sentido. Livre da limitação
imposta pelas vestes corpóreas o espírito pode analisar tudo a partir de uma
visão mais ampla, clara e profunda. O julgamento que nos permite concluir
sobre tudo que foi vivido será realizado a partir de uma análise criteriosa e
avançada através da Consciência Maior, aquela que contém em si todos os
preceitos mais elevados da Criação.
Quando voltamos para uma nova jornada terrestre as forças mentais da
última vida, latentes no respectivo átomo-semente, são despertadas assim
que o espírito inicia sua submersão na matéria. A essência espiritual, o espí-
rito em si, atrai para si os materiais que comporão os corpos etéricos, exa-
tamente de acordo com sua magnitude. A absorção de elementos mais ele-
vados se dará exatamente pelo grau de evolução existente; ou seja, somamos
à nossa essência os materiais que conseguirmos atrair conforme nosso grau
de evolução. A vibração de nosso espírito atrairá para si somente as subs-
tâncias etéreas que estiverem na sua mesma ressonância e intensidade.
Numa analogia física, se segurarmos um imã sobre uma mistura de la-
tão, prata, ouro, ferro, chumbo ou outros metais, veremos que ele atrairá
para si somente o ferro. Assim acontece com o átomo-semente: ele atrairá
para si uma quantidade específica da matéria que sua força pode atrair, por-
quanto seu poder de atração é específico e limitado a uma quantidade certa
daqueles elementos, formando assim os núcleos vitais que se somarão ao
átomo-semente. Daí concluirmos que, o ser que se cria é o retrato do que
fomos na vida passada, menos o mal que expurgamos, mais a quintessência
do que conseguimos aprender na derradeira encarnação. O espírito não tem
aparência, sexo, cor nem endereço cósmico fixo e permanente. Podemos
alternar o aprendizado entre existências no sexo masculino e feminino; ora
32
sendo brancos, negros, pardos ou amarelos, e nas mais diferentes caracterís-
ticas humanas.
Apesar de que muitas das nossas atuais configurações planetárias se-
rem necessárias ao mútuo desenvolvimento, aqui é oportuno lembrar quan-
to à tolice que são os preconceitos raciais, as separações de povos, nações
e crenças. Alguém que numa passagem é fanático pelas crenças e costumes
de seu povo – a ponto de declarar ser seu mais ferrenho defensor – poderá,
numa próxima jornada, renascer dentre aqueles que julgava ser seus inimi-
gos ou inferiores.
Aquele que maltrata alguém, julgando-o pela cor de sua pele, numa
próxima encarnação poderá vir exatamente na cor e nas mesmas miseráveis
condições daquele que tanto maltratou. Assim também acontece com aque-
les que maltratam pessoas que não possuem boa condição financeira, nem
bens materiais. Os pobres de hoje poderão ser os ricos de amanhã, e vice
versa.
Uma hierarquia só é justa e verdadeira se for estabelecida pelo grau
de Consciência e nível de desenvolvimento espiritual, e não por sobreno-
mes, condição financeira, cor de pele ou status quo ou condições de mo-
mentâneas passageiras, que podem ter sido construídas pelo egoísmo, mes-
quinhez, avareza ou ganância.
Preparação para o renascimento
Após permanecer no Plano Astral por algum tempo surge o desejo de
novas experiências. Assim somos orientados com algumas sugestões de
trajetórias que poderemos adotar, na forma de um vislumbre de uma vida
futura, onde podemos, conforme o grau de desenvolvimento espiritual, optar
por um ou outro modelo, de acordo com nossas necessidades de aperfeiço-
amento.
O panorama da nova vida contém somente os acontecimentos princi-
pais. Quanto aos detalhes o espírito tem plena liberdade de escolha. É como
se um homem, para ir a uma cidade distante, tivesse uma passagem com
tempo determinado para lá chegar, mas com liberdade inicial de escolher o
33
caminho. Depois de tê-lo escolhido e começado a viagem já não poderia
mudar de caminho durante a jornada. Poderia deter-se em todos os lugares
que quisesse dentro do tempo marcado, mas não poderia voltar atrás.
Então, vislumbramos partes desta nova existência ainda no plano as-
tral, através de visões da futura vida, onde as imagens são apresentadas na
mesma ordem que deverão ocorrer. Daí se escolhe uma das alternativas, e
uma vez feita a escolha não se poderá mudar de opinião. Assim somos en-
caminhados para o local, família e condições mais adequadas, de acordo
com a orientação superior.
Então, cada um é orientado para uma nova etapa através de vários
planos, com possibilidades de variar nas formas de proceder. O fim proposto
deverá ser alcançado, não importando o caminho que se tome para isso; o
livre-arbítrio nos permite trilhar o caminho, até certo ponto, conforme a
vontade individual.
Por isso, as boas ou más consequências são, quase que invariavelmen-
te, advindas de nossas próprias escolhas. Isso deve ser assim, pois somos
seres individuais em evolução; ou seja, precisamos desenvolver o ser único
que somos. Somente assim é que poderemos assumir novas atribuições, con-
forme formos galgando os degraus da evolução. E é assim que chegaremos a
níveis de elevação dos quais poderemos, inclusive, exercer novos trabalhos
fundamentais ao desenvolvimento de outros seres que hoje se encontram em
estado menos evoluído do que a atual humanidade.
Num Plano infalível, cada um de nós terá de passar por todas as expe-
riências de forma pessoal e inequívoca. Como isso deverá ser feito no decor-
rer das vidas corpóreas depende exclusivamente de cada um de nós. Somos
responsáveis pelos nossos acertos e também pelas consequências de nossas
atitudes mal pensadas. Desta forma alguns levam mais e outros menos tem-
po para aprender lições de um mesmo grau.
O grau de aproveitamento de cada uma dessas oportunidades depende
das escolhas que cada um faz para si em sua trajetória de vida. Quando dei-
xamos o plano terrestre nossas qualidades conquistadas são somadas à es-
sência individual, tornando-se parte do Eu superior e imortal. O merecimen-
to é medido pela mais alta Justiça, e é certo para cada esforço que fazemos.
Em contraparte, o que não conseguimos desenvolver, e as novas possibili-
dades que criamos durante a atual existência, farão parte de uma próxima
34
vida. Verdadeiramente, tudo o que somos ou deixamos de ser é resultado do
nosso próprio esforço ou de nossa própria inação.
O local de nascimento
As condições de vida são elaboradas conforme nosso grau de desen-
volvimento e de acordo com as necessidades que cada um tem para seguir
adiante, numa justa sincronia entre o que precisamos desenvolver e aquilo
que precisamos resgatar de dívidas passadas.
Cada um de nós teve inúmeros relacionamentos com outras pessoas
nas vidas anteriores. Destas muitas convivências podem ter restado dívidas a
serem resgatadas. Assim, cada um é levado a renascer na família e no ambi-
ente que respeite esses relacionamentos anteriores. Parte de nossa nova vida
será constituída por eventos que irão necessariamente ocorrer, por se trata-
rem de eventos estabelecidos pela Lei de Consequência (Causa e Efeito) aos
quais não poderemos nos furtar por formarem aquilo que chamamos de
“Destino Maduro”.
As etapas de vida começam com o local indicado ou que escolhemos
para nascer. Partindo do pressuposto de que o que importa é o desenvolvi-
mento integral – e que tudo isso depende exclusivamente do esforço indivi-
dual – claro que o espírito aceitará reencarnar mesmo sabendo que terá de
passar por duras provas, com limitações de recursos ou outras contrarieda-
des passageiras.
Se isso é que vai possibilitar seu progresso e o resgate de dívidas ante-
riores, certamente que não escolherá uma vida monótona e cheia de regalias,
onde outros fariam por ele tudo que ele necessita passar para poder se de-
senvolver. Isso seria simplesmente adiar a quitação de uma dívida, ou des-
perdiçar uma oportunidade de desenvolvimento, que o isentaria de ter de
passar por situações mais dolorosas. Se for pelas duras provas que poderá
superar suas atuais limitações e deficiências, porque desperdiçar precioso
tempo de vida com banalidades?
Quando no Plano espiritual podemos vislumbrar todas as maravilhas
que podemos alcançar, logo vemos a necessidade de fazer o melhor para sair
35
deste doloroso Ciclo reencarnatório. Então, nem sempre o que parece ser as
melhores condições – pelas ilusórias facilidades e mordomias – será, de fa-
to, o que precisamos para pôr à prova conceitos pessoais que enfraqueçam o
Ego. Cada um tem o que é mais apropriado para se desenvolver, mesmo que
a nova existência terrena o sujeitar a duras lutas, dificuldades ou limitações.
O compromisso que assumimos perante a Providência e para conosco mes-
mo deverá ser de acordo com o que julgamos poder superar, sem fraquejar
ou desistir pelo caminho, ou se perder e tomar rumo adverso, desperdiçando
precioso tempo que poderia ser aproveitado para avançar. Para isso conta-
mos com o auxílio de orientadores altamente desenvolvidos para que não
assumamos missão demasiadamente difícil ou penosa, o que poderia nos
levar ao fracasso ao invés da vitória.
Numa existência demasiadamente dura qualquer um de nós poderia
fraquejar e até cometer suicídio, o que traria consequências horrendas para o
espírito.
A interrupção de uma existência, mesmo que num momento de deses-
pero, faz com que todo tempo que o suicida haveria de permanecer na vida
corpórea – cumprindo sua missão até o dia planejado de seu término – seja
vivido na erraticidade, num mundo espiritual vazio, escuro, com o sentimen-
to de abandono e sensação terríveis. Estas visões e sentimentos fazem o es-
pírito sentir e reviver a dor da morte, com a horrenda sensação de que o cor-
po está vazio. O sofrimento é tremenda e terrivelmente doloroso! Por isso,
por mais duro que esteja sendo um percurso da trajetória, jamais alguém
deverá sequer pensar em interromper sua existência como uma atitude insa-
na.
O suicídio é como dar um tiro de misericórdia em si na tentativa de
acertar outrem com suas mágoas. Alguém fragilizado pode querer tirar a
própria vida na inconsciente tentativa de causar nos outros o remorso por
uma desatenção para com ele. Aquele que se sente ignorado, rejeitado, des-
prezado, incompreendido, etc, pode fraquejar e tentar chamar a atenção que
não obteve em suas frustradas tentativas, de forma abrupta e violenta, com o
impacto suficiente para tocar os sentimentos daqueles que o contrariaram.
Só que quem comete esta loucura em busca de compaixão acaba por acordar
de sua ilusão num plano onde terá de enfrentar consequências ainda piores
do que os problemas que a levaram ao suicídio.
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As consequências totais que isto acarreta são extremamente prejudici-
ais. Sem contar que certamente o suicida, cumprido seu tempo de vida na
erraticidade, quando voltar para uma nova tentativa neste mundo terá de
passar por uma existência com o mesmo tipo de provas que o levaram ao
fracasso. Então, por mais que uma prova esteja sendo difícil, melhor será
resistir, buscar auxílio e superá-la. Tentar desviar o caminho apenas retarda-
rá até que outra oportunidade de nascimento corpóreo surja, onde se terá que
passar tudo que deixou de fazer naquela oportunidade em que fraquejou.
Quando se está na vida espiritual a Consciência analisa de forma mais
clara como avançar mais efetiva e proveitosamente, independente se pra isso
terá de submeter-se a duras provas no plano físico. Do ponto de vista espiri-
tual, não é difícil avaliar o bem possível de se conseguir através das provas
mais difíceis. Como o que efetivamente importa é o desenvolvimento, logo
podemos deduzir que, cada um na sua forma de orientação pessoal ou suge-
rida, escolherá o que for melhor para o seu desenvolvimento. Somente atra-
vés do desenvolvimento é que se podemos seguir adiante na escala evolutiva
e se habilitar para operar nos mundos superiores.
Cada qualidade pessoal depende do desenvolvimento emocional con-
quistado para se tornar uma qualidade efetiva. Cada uma das qualidades
menos desenvolvidas deverá ser remodelada até o nível ideal para prosse-
guir adiante.
E é dessa forma que acontece a evolução de um Ser. Através do méri-
to pessoal e das necessidades somos encaminhados para novas etapas, sem-
pre caminhando para um grau superior, donde poderemos ingressar noutras
escolas, com outras características e outras possibilidades mais elevadas,
vivendo novas experiências corpóreas, em veículos corpóreos menos densos
e mais capazes.
Astrologia e individualidade
Aqui é oportuno que tomemos um vislumbre do que somos pelos
olhos da astrologia científica. Através desta maravilhosa ciência podemos
identificar características individuais profundas.
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Não temos determinadas características porque nascemos num deter-
minado dia; mas sim, nascemos naquele dia porque temos determinadas
características. Ninguém é privilegiado por determinadas configurações as-
trais, e por isso possui qualidades diferenciadas a seu favor. Nossa individu-
alidade é construída por nós mesmos no decorrer dos tempos. A partir da
data, horário e localização do nascimento podemos identificar quais são
nossas características mais peculiares, aquelas que se encontram num nível
espiritual elementar. A conjunção astral do momento do nascimento aponta
qual é a nossa essência individual única e verdadeira.
Tanto as qualidades quanto quaisquer outras características, nada mais
são do que aquilo que estamos naquele determinado momento de nossa exis-
tência espiritual. Não ganhamos qualidade por nascer num dia mais apropri-
ado.
Nosso desenvolvimento ocorre em conformidade com nosso poder de
discernir entre as boas e más escolhas. Hoje somos o resultado daquilo que
fomos capazes de fazer de nós mesmos. O que hoje somos e sentimos é o
resultado daquilo que somamos, dividimos, subtraímos ou modificamos em
nós de acordo com cada situação vivida.
Através de uma carta astral podemos elaborar o horóscopo pessoal,
um mapa astral que aponta como somos na nossa individualidade. Ninguém
terá mais ou menos sorte, inteligência ou boas chances simplesmente porque
nasceu numa data “privilegiada”. A ciência astrológica apenas nos aponta
nossas reais características. Todas nossas mais íntimas características apare-
cerão num mapa astral elaborado por um astrólogo profissional habilitado,
desde que utilize os conhecimentos da Astrológica Científica. Nele encon-
traremos fortes sinais daquilo que fomos na precedente encarnação, tanto as
boas como as más características. Os cuidados ali apontados dizem respeito
a eventuais dívidas passadas, coisas mal resolvidas, pendências, etc.
Aquela configuração pessoal influenciou intensivamente na atual exis-
tência. Por isso, melhores chances, favorecimentos, talentos ou outras carac-
terísticas quaisquer nada mais são do que possibilidades construídas noutras
passagens. Um dom não nos é dado gratuitamente. Um dom nada mais é do
que um avanço conquistado pelos nossos próprios méritos pessoais nas ex-
periências anteriores. Nossas qualidades e defeitos são decorrentes de nos-
sas próprias ações.
38
Mas, podemos evitar que boa parte dos maus presságios venham a
acontecer. A qualidade de vida através da retidão, honestidade e equilíbrio
na atual existência pode possibilitar atitudes eficazes que podem afastar do-
enças, acidentes, infortúnios, más associações, etc. As qualidades ali apon-
tadas são frutos de nossas boas atitudes, estudos, experiência e provações
passadas, e que agora podem ter sua sequencia e desenvolvimento facilita-
dos pelo avanço já alcançado no passado.
A investigação honesta do Eu interior nosso ou de nossos filhos e
amigos possibilitam uma análise com a finalidade de ajudar a fortalecer as
tendências herdadas positivas e sobrepujar as que são desfavoráveis ou no-
civas, favorecendo nosso desenvolvimento espiritual. O efeito Cósmico so-
bre a nossa Consciência nem sempre se manifesta na nossa natureza exterior
ou objetiva. A verdadeira índole de uma pessoa pode ser muito diferente da
personalidade que ela expressa. Em muitos casos, somente uma amizade
prolongada é que poderá nos revelar a verdadeira natureza interior de uma
pessoa que pensávamos conhecer e compreender inteiramente.
A personalidade de uma pessoa geralmente expressa contaminações,
tendências, vícios, expressões e maneirismos que ela pode ter assumido,
adquirido ou até mesmo fingir possuir por muitas razões. Estas característi-
cas de momento podem não ser coerentes com seu verdadeiro Eu interior.
Os recursos atualmente utilizados para leitura de alguém, tais como quiro-
mancia, fisiognomonia, frenologia, grafologia e outros tantos podem dar
uma boa indicação das características externas, mas todos eles falham na
tarefa de retratar verdadeiramente a Personalidade-Alma que é inerente e
profundamente enraizada nos recessos do Ser.
É frequente verificarmos que certas pessoas têm ocupações, profis-
sões, vocações e posição social diferentes daquelas que poderíamos imagi-
nar através de uma simples análise. Isso porque os sistemas utilizados para
leitura do caráter são apenas indicadores do Eu objetivo exterior, que é mu-
tável, vacilante, e que possui fortes tendências de assumir e afetar condi-
ções, maneirismos, e influenciar na escolha de ocupações. Mas, quando uti-
lizamos um método que nos indica a natureza interna da pessoa, verifica-
mos que, a despeito da vida e das características exteriores, intimamente, no
seu âmago, quando estão consigo mesmas, todas as pessoas vivem segundo
os indicadores internos e a natureza Cósmica da alma.
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O conhecimento da natureza exterior de um indivíduo é superficial e
falho. Em poucas horas de convívio, uma análise criteriosa e bem funda-
mentada revelará mais a respeito dos hábitos e características exteriores de
uma pessoa do que qualquer sistema superficial que apenas busca conhecer
alguém através dos sinais externos. O simples conhecimento da expressão,
tendências, hábitos e reações de uma pessoa não é o bastante para formamos
uma opinião confiável. Se queremos conhecer a verdadeira natureza consti-
tutiva de alguém, além de suas características temporárias, temos de buscar
a essência que está além das aparências fictícias, temporárias e vacilantes de
uma pessoa.
A natureza exterior geralmente é a carapuça que vestimos para nos de-
fender e representar força e capacidade iguais ou superiores aos nossos “ad-
versários”. Então, em boa parte das vezes ela é a aparência que buscamos
dar a nós mesmos para nos expressar e fazer as manobras que nos impedem
de sermos vistos como fracos, dependentes ou menos capazes do que aque-
les que estão a nossa volta.
Pais que desejam compreender seus filhos para ajudá-los a evoluir su-
as tendências naturais Cósmicas devem encontrar a natureza interior da cri-
ança, e saber separar estas características daquelas que surgem por força da
imitação de hábitos alheios, de associações casuais e de outras influências
exteriores de natureza temporária. É desta forma que poderão manter a har-
monia com a personalidade Cósmica em seu interior, o que resultará em
maior felicidade e sucesso na vida.
Para conhecer nosso Eu real devemos saber com que tendências, ca-
pacidades, características e pontos fortes da personalidade viemos ao mun-
do. Isso nos familiarizará com o Eu interior de modo surpreendente. As in-
dicações do caráter da alma e da personalidade levarão a um resultado muito
mais correto e abrangente do que qualquer sistema de leitura humana hoje
utilizados. Apesar de poucos a conhecerem, o mais poderoso recurso exis-
tente para isso é a ciência astrológica científica.
40
Capítulo III
Involução e Evolução
A partir de um Plano evolutivo de milhões de anos, estamos atualmen-
te na fase de evolução onde avançamos de forma mais individualizada, fun-
cionando a partir da consciência desenvolvida até então e pela ação do Ego
correspondente ao que temos de provar, dentro de um Plano Maior. O Ego é
o Eu pluralizado, o Tríplice espírito no homem, uma seção superior da per-
sonalidade humana; é um estado que se caracteriza mais pelo instinto do que
pela razão. Morre a personalidade, mas sua recordação fica no Ego. Esse Eu
reencarna incessantemente.
Falaremos mais sobre o Ego mais adiante.
Depois de vivermos no Purgatório a expiação de nossos maus atos
voltamos em vidas posteriores para sermos testados nessas mesmas falhas e
maus hábitos, para que provemos que aprendemos a lição. É uma repetição
das mesmas condições nos ajudando a crescer. Uma coisa é reconhecermos
que estávamos errados, e outra é provarmos que aprendemos e não mais
cometeremos aqueles erros.
Assim como devemos entender matemática e não apenas decorá-la, as
provações não devem ser decoradas, mas compreendidas. Do contrário, a
memória registraria as provações como retratos de períodos difíceis e as
desprezaria, sem assimilá-las como de fato tem de ser; pois seriam sentidas
sob o prisma do sofrimento, e não dos ensinamentos edificantes. A provação
é uma crítica construtiva que Deus estabelece para que reflitamos sobre nos-
sos atos, mantendo o livre-arbítrio intocável. Mas se não meditarmos sobre
elas, entendendo suas mensagens, voltamos a cometer os mesmos erros, de
nada adiantando o sofrimento pelo qual passamos. O importante é saber
compreender e separar o positivo e desprezar o negativo que envolve as
provações; esquecer o sofrimento em si e assimilar o ensinamento como um
bem eterno.
Como seres complexos, só podemos desenvolver nossas qualidades la-
tentes intrínsecas através das confrontações. Somente através de sentimentos
41
é que podemos viver a magnitude de cada situação. Sem sentir individual-
mente cada experiência, nada elas significariam. A Essência Divina de cada
um de nós só pode se tornar individualizada a partir do momento em que
sejam desenvolvidas as características do Criador. Tendo como fim o de-
senvolvimento de uma centelha até o ponto onde possua luz própria, essa
luz advinda do Pai necessita passar por provas que a levem a ter consciência
própria, Luz Divina; uma nova individualidade com as mesmas qualidades
do Criador.
O Ego individual contém a contraparte necessária à criação de senti-
mentos que possibilitam estas situações. Essa parte livre corresponde ao
nosso lado provocativo. Os impulsos do Ego é que nos empurram para as
novas experiências. Somente com essa força atuante em cada um é que so-
mos impelidos ao desenvolvimento, à ação, ao movimento, à busca. Através
do livre arbítrio somos impelidos – de forma induzida pela repetição – a
seguir construindo de forma independente, o que deveremos ser no futuro.
Nosso desenvolvimento até nossa penúltima fase evolutiva se deu
através da involução; ou seja, estávamos nos desenvolvendo de acordo com
a orientação e trabalho dos Seres auxiliares de ondas de vida mais antigas.
Estávamos numa longa viagem descendente para nos tornar aptos a receber
e criar novos veículos para atuar em corpo denso. No passado remoto,
quando estávamos num estágio muito inferior ao atual, não precisávamos de
um organismo complexo tal como temos hoje. Novas incorporações se so-
maram através do desenvolvimento induzido e orientado pelos Mentores
Maiores. Assim, através dos tempos, crescemos conforme orientação supe-
rior, mas de acordo com o trabalho e merecimento individual. Nesta fase
fomos guiados para avançar de forma constante e apropriada aos Desígnios
Maiores.
Só podíamos seguir de forma individualizada a partir de quando al-
cançássemos o grau de maturidade suficiente para caminhar com recursos
próprios, tal como hoje acontece. A partir de então, iniciamos a subida atra-
vés de uma escalada evolutiva.
Então, o período de tempo dedicado à aquisição de consciência do Eu,
e à construção dos veículos por cujo intermédio se manifesta o espírito do
homem, é denominado Involução. O período subsequente de existência,
durante a qual o ser humano individual desenvolve consciência própria até
convertê-la em Divina Onisciência, é chamada Evolução. Agora podemos,
42
até certo limite, criar nossas próprias passagens no Plano terrestre e nos de-
senvolver por vontade própria, sempre almejando um mesmo fim: tornar-se
mais avançado de acordo com os desígnios da Criação. Assim avançaremos
para condições futuras inimagináveis no momento. Mas, trataremos disso
com detalhes noutra oportunidade. Por hora, o que nos importa é a boa per-
cepção de quem somos, para onde devemos ir, e de que forma aproveitar
melhor cada momento de cada uma destas passagens tão importantes.
O importante aqui é termos claro que cada nova existência é sempre
uma oportunidade de resgatar alguma dívida passada, aprimorar o que já
aprendemos e aprender coisas novas. Trazemos conosco o ônus das dívidas
cometidas no passado para que sejam corrigidas e resolvidas. Enquanto nos-
sa personalidade se molda a cada passagem, nossa essência recebe os frutos
de todas nossas interações, experiências e aprendizados que vamos incorpo-
rando ao Eu imortal.
Nosso átomo-semente grava tudo que presenciamos e vivemos, exa-
tamente de acordo com o que se passa em nós e ao nosso redor. Através da
respiração absorvemos a impressão contida no ar. O ar que respiramos en-
che nossos pulmões com a vida que nos rodeia a cada instante; o sangue
leva ao átomo-semente cada impressão, emoção ou sentimento vivido a cada
instante. Isto tudo fica gravado intimamente em nossa essência. Esses regis-
tros fazem parte de nossa história.
Assim como a natureza se encarrega de gravar em seus registros
akáshicos tudo o que aconteceu e acontece com a evolução de nosso planeta,
cada um de nós leva consigo tudo o que já experimentou, nessa e em outras
vidas, fielmente gravado no átomo-semente. Esses registros nos permitem
analisar todas nossas atitudes em cada passagem pela vida corpórea. São
estes registros que nos remetem a cada acontecimento vivido quando esti-
vermos passando pelo estágio oportuno (purgatório3) depois da morte física.
3 O purgatório não é apenas um lugar de sofrimento, onde cada um será julgado ou
terá de sofrer as consequências de seus atos. Purgatório é o plano onde tomamos melhor
consciência de cada atitude presenciada e sentida, sejam elas as nossas próprias ou as dos
outros. É a parada onde podemos sentir e refletir cada uma dessas atitudes para melhor
compreensão de si e dos outros.
O homem constrói e semeia até que chegue a morte. Quando acontece a morte do
corpo físico, o tempo da sementeira e os períodos de crescimento e amadurecimento fica-
ram para trás. É chegado o tempo da colheita. O produto restante da experiência no Pur-
gatório é o fruto da vida recentemente vivida. Este fruto é incorporado ao átomo-semente e
43
Assim integramos definitivamente tudo de bom que conquistamos, e avali-
amos a melhor forma de corrigir e dar sequencia ao que já aprendemos,
identificando tudo aquilo que precisamos reformar numa próxima existência
no plano físico.
Cada uma das características imperfeitas terá sua oportunidade de res-
gate numa circunstância futura que será a oportunidade de resgate e aperfei-
çoamento daquilo que ainda não aprendemos. As faltas que porventura cau-
semos a outrem ficarão marcadas profundamente até que sejam resolvidas e
pagas. O resgate de nossas dívidas é regido pela Lei da Causa e Efeito, ação
e reação, atitudes e suas consequências. Espiar nossas faltas não é o mesmo
que receber um castigo ou maldição por um pecado digno de condenação
por parte dos céus. Espiar nossas faltas é uma necessidade de que algo seja
feito para que as más qualidades sejam substituídas por princípios mais ele-
vados. Isso se torna possível através da justa medida entre o que causamos e
o que passamos para perceber nossas falhas, e assim não mais cometê-las.
Cada falha receberá uma providência que seja suficiente para sua reso-
lução.
Sempre que cometemos um erro, ou tomamos uma decisão pelo im-
pulso e não pela Consciência, é porque o sentimento de justiça com relação
àquela questão ainda não estava totalmente formado. Quando isso acontece,
enquanto cometermos atos levados pelo mau julgamento e prejudicial ao
meio, uma situação futura acontecerá onde o resultado cause um impacto
marcante que nos deixe evidente que as consequências dolorosas advém
daquela falha. Cada uma das más atitudes acarretará uma consequência do-
lorosa que nos leve a sentir as mesmas dores que causamos àqueles que pre-
judicamos. E é desta forma que somamos novos juízos e valores à nossa
Consciência na maioria das vezes.
Numa próxima ocasião, as chances de vir a cometer aquele mesmo er-
ro estarão reduzidas; pois, logo que se encontrar numa situação em que agí-
amos de forma prejudicial, nossa Consciência nos alertará sobre as más con-
sequências que nós mesmos tivemos de provar numa ocasião parecida.
Quando ultrajamos a moralidade o remorso provoca dor em nossa Consci-
tomará parte da Consciência, que assim estará renovada e mais elevada. Isso permite à
Consciência agir com mais justiça e misericórdia em sua futura jornada corpórea.
44
ência, a qual prevenir-nos-á para não repetirmos o ato. Esse freio nos impe-
de de agir de forma errada novamente.
Quando persistirmos e agimos de má-fé, a lição que o destino nos fará
passar será ainda muito mais dolorosa do que aquelas outras que não deram
conta de nos amadurecer. Se não aprendemos através de uma lição mais
branda, logo teremos de suportar as consequências de um golpe mais violen-
to, até que aprendamos e não mais cometamos as mesmas falhas. Isso pode
acontecer com pouco ou muito tempo; o certo é que a verdadeira Justiça
sempre é feita, e é desta forma que somos lapidados com o passar do tempo.
Missão, expiação ou experimentação?
Então, podemos compreender que as dificuldades são oportunidades
para aprender uma nova lição. Mas, em muitas ocasiões, não é porque co-
metemos algo contra alguém que teremos de passar por uma situação difícil;
mas sim porque é desta forma que vamos experimentando todo tipo de situ-
ação, para conhecer e provar sobre tudo. E assim criamos o nível de Consci-
ência necessário para continuar aprendendo coisas mais elevadas. Então, a
sequencia de vida que levamos é formada pelos nossos desejos, pelas provas
que temos de passar para o desenvolvimento individual, mais as tarefas a
que somos submetidos para corrigir erros passados.
Nem sempre é fácil determinar o que é uma expiação (que é a purifi-
cação, reparação ou remissão de uma falta sofrendo as consequências atra-
vés de penitência ou pena), missão ou experimentação. O certo é que, quan-
to menos erramos, mais teremos tempo para viver as condições que nos pro-
porcione mais e melhores aprendizados. Não haveria como cada um somar
em si experiências sem que provasse de situações reais. Se não existissem
termos comparativos e um conjunto de ações – tais como a que temos em
nosso planeta – não teríamos como vivenciar situações em que pudéssemos
sentir o que precisamos neste atual grau de evolução.
Todo este “palco” é a mais perfeita escola que poderíamos ter para
passar pelo que necessitamos agora. De outra forma, se mais ou se menos,
não haveria como desenvolver o que já sabíamos e aprender coisas novas.
Somente as experiências em vida terrena é que podem oferecer sentimentos
45
e tudo mais para que nossas qualidades latentes possam se tornar dinâmicas
e ativas. O organismo vivo que portamos agora – nosso corpo denso – é a
mais perfeita organização para que possamos sentir o que sentimos na me-
dida mais adequada ao que precisamos passar. Nossas condições planetárias
reúnem tudo que precisamos para poder passar por uma existência onde
podemos aprimorar todos os nossos conceitos, percepções e julgamentos,
até que se tornem definitivos.
Assim, descemos do Plano Astral Superior para o Plano Físico que
funciona num nível de consciência e energia inferiores ao daquele existente
no Astral Superior. O nascimento num veículo físico é que possibilita traba-
lharmos e desenvolvermos este nível. As imperfeições não passam de cami-
nhos que levam ao desenvolvimento das qualidades possíveis neste estágio.
Então, problemas e imperfeições antes são os meios em que somos levados
a vivenciar para nosso aperfeiçoamento. Cada átomo existente é uma parte
de um todo organizado para proporcionar tudo que precisamos nesta altura
de nossas existências.
Estamos vivendo hoje numa esfera altamente elaborada que é a escola
que nos habilita para outros graus superiores. Perceba como nada do que
aqui existe está ou é fruto do acaso: a temperatura de nosso planeta, a dis-
tância em relação ao nosso doador de vida, o Sol; a combinação de gases, os
nutrientes de cada alimento; o ecossistema, a diversidade, quantidade e dis-
tribuição da fauna e da flora; a temperatura do fogo em condições normais;
a pressão atmosférica, que mantém nosso sangue no interior do corpo em
perfeito equilíbrio com a pressão interna. Ainda, a umidade do ar, a tempe-
ratura e a quantidade das geleiras nos polos; a quantidade de água dos ocea-
nos e distribuição hidrográfica; a formação geológica e geográfica; a dispo-
sição dos povos nos países; os vulcões, os desertos; a inclinação do eixo
imaginário da Terra e o Plano da eclíptica4; a existência, tamanho, distância,
força gravitacional e fases da lua; a velocidade de rotação e translação da
Terra, a posição em relação aos demais planetas e estrelas, etc, etc.
Nada do que não é lógico pode existir no Universo. Esta configuração
não existe por acaso. É sim a evolução acontecendo juntamente com o de-
senvolvimento humano numa magnífica simbiose. Isso tudo faz parte da
Criação, que vai além de nossa existência até bilhões de anos luz, bilhões de
4 Plano da eclíptica é o caminho circular percorrido, aparentemente, pelo Sol em
torno da Terra em um ano.
46
galáxias, trilhões de outros sóis, uma infinidade de outros planetas e tudo
mais que compõe o Universo.
Para melhor nos situarmos nessa imensidão, vamos a alguns números:
A Via-Láctea é a galáxia onde está localizado o nosso Sistema Solar,
composto por nosso Sol, a Terra e os planetas vizinhos: Mercúrio, Vênus,
Marte, Júpiter, Saturno, Urano, Netuno e Plutão (este considerado um plane-
ta anão). Inclui, ainda, os satélites dos planetas, numerosos cometas, aste-
roides, meteoroides e o espaço interplanetário.
Nossa galáxia, que abriga nosso Sistema Solar e outros milhares de
Sistemas similares ou não, é uma estrutura constituída por cerca de duzentos
bilhões de estrelas (de estrelas como o Sol, e não de planetas como a nossa
Terra),e novos estudos apontam para números ainda muito maiores. A Via-
láctea tem uma massa de cerca de um trilhão e 750 bilhões de massas sola-
res. Sua idade está calculada entre 13 e 13,8 bilhões de anos.
O diâmetro do disco Galáctico é de aproximadamente 100.000 anos-
luz. O Sol orbita o centro da Via Láctea a uma distância de cerca de 25,5
mil anos-luz dele, completando uma órbita entre 225 a 250 milhões de anos
(um ano galáctico). Isso a 251 quilômetros por segundo, que é a estimativa
mais recente da velocidade orbital do sol. A órbita da Terra em torno do Sol
é de 950 milhões de quilômetros, distância que é percorrida a uma velocida-
de média de 107.000 quilômetros por hora, em 365 dias, 6 horas, 9 minutos,
9 segundos e 5 décimos.
A velocidade da luz no vácuo é de 299 792 458 metros por segundo, o
mesmo que 1 079 252 848,8 quilômetros por hora. Distâncias astronômicas
são medidas em anos-luz, que é a distância que a luz percorre em um ano
solar, aproximadamente 9,46×1012
quilômetros. Uma Nave Estelar imaginá-
ria viajando à velocidade da luz levaria 100.000 anos para contornar nossa
Via Láctea.
A distância média entre a Terra e o Sol é de 150 milhões de quilôme-
tros (uma unidade astronômica: UA). A luz solar demora aproximadamente
8 minutos e 18 segundos para chegar à Terra. Um foguete à velocidade de
40.000 quilômetros por hora levaria 5 meses para atingir o Sol. O Sol possui
uma massa 332.900 vezes maior que a da Terra, e um volume 1.300.000
vezes maior que o do nosso planeta.
47
Dentro da Galáxia nosso Sol é só um ponto minúsculo na totalidade
que se perde na luz de mais de 200 bilhões de outras estrelas. No entanto, a
estrela mais próxima da Terra, depois do Sol, é uma estrela anã vermelha
chamada de Proxima Centauri que se situa a 4.3 anos-luz. Há estrelas com
diâmetro 2000 maior que o do Sol e preenchem espaços equivalentes a dez
distâncias entre a Terra e o Sol. LBV 1806-20 tem luminosidade igual à de
40 milhões de sóis. Muitas estrelas têm temperatura superior a 40 mil graus
centígrados, ou mais de sete vezes a temperatura do sol; outras têm massa
que ultrapassam trezentas vezes à do Sol.
Falamos um pouquinho de uma única galáxia – nossa Via Láctea.
Que tal se multiplicarmos esse número por 250 bilhões, que é o número hoje
estimado de galáxias existentes? Há mais estrelas no Universo do que grãos
de areia em nosso planeta! Será que nessa inimaginável imensidão só existi-
ríamos nós, habitando um minúsculo planeta? Pra quê tudo o mais? Por que
existiriam outros trilhões de sistemas “desocupados”? Apenas para que fi-
cássemos observando através de nossos limitados telescópios? “A casa do
pai tem muitas moradas”.
Existe um axioma Hermético que diz “Como em cima, assim é embai-
xo”. Então, apenas para que pensemos um pouco, existem no corpo humano
(microcosmo) aproximadamente 200 quintilhões de células.
Isto tudo sem falar da vastíssima existência em outras muitas dimen-
sões5 que não são dadas aos nossos olhos. A Vida pode existir independen-
temente da forma concreta. Podem existir Formas não perceptíveis aos nos-
5 Teríamos de dedicar uma obra inteira para abordar melhor o tema “outras di-
mensões”. Mas, apenas para dar uma vaga ideia do que falamos, todo plano está compos-
to de sete etapas e cada etapa tem sete subdivisões ou sete sub planos. Estes planos não
estão sobrepostos, mas sim interpenetrados naquilo que, para nós, é um mesmo espaço
físico. Isso pode parecer muito estranho à primeira vista, e até inconcebível para nossa
limitada ciência.
Mas tudo ocorre da mesma forma como existem a luz e o ar em um mesmo aposen-
to, independentemente um do outro. Podemos dizer também que em um quarto se acham
ar, luz, magnetismo, eletricidade, energia, e que a luz é mais sutil que o ar e o magnetismo.
Os líquidos interpenetram os sólidos, e os gases interpenetram os líquidos. Com esta dis-
tante comparação podemos ter uma vaga ideia do que ocorre em termos de matéria astral.
48
sos atuais sentidos limitados, e não sujeitas a quaisquer das leis que regem o
atual estado concreto da matéria.
49
Capitulo IV
Causa e efeito e as forças conflitantes
Uma vida desregrada e despreocupada, daquelas onde a Consciência
pouco trabalha por preguiça, acomodação ou servidão ao Ego, certamente
que acumulará tarefas que terão de ser experimentadas numa próxima exis-
tência terrena. Males causados neste nível de existência física terão de ser
corrigidos aqui. Fraquezas ou faltas estarão presentes sempre que pendentes,
até que sejam pagas e resolvidas através das provas pessoais.
Falhas ficarão como marcas na alma, gritando para serem resgatadas e
purificadas. Estas poderão se transformar em alertas contínuos que pedem
uma solução. A Consciência6 acusa e grita para alguma eventual falha ou
6 No sentido mais comum e corrente, consciência é o conhecimento ou percepção do
que se passa em nós ou a faculdade que temos de julgar nossos próprios atos, e é o que nos
leva a ter escrúpulo em fazer determinada coisa. Consciente é aquele que tem consciência
da própria existência; aquele que sabe o que faz. Então, cônscio é aquele que sabe o que
faz ou que é ciente do que deve fazer.
Aqui, falamos da Consciência como a voz secreta da alma, que aprova ou desapro-
va nossos atos. Consciência é o que normalmente chamamos de Juízo. A capacidade indi-
vidual de distinguir o certo do errado; o justo do injusto, etc. Nossa Consciência reúne os
resultados de todas nossas experiências passadas, e é quem tem a capacidade de pôr freio
às nossas atitudes, paixões ou impulsos.
Uma pessoa ajuizada é aquela que consegue conter uma vontade despertada por um
desejo instintivo. Ao contrário daquele impulsivo, este mede as consequências de seus atos
e atitudes para que não ultrapassem a linha da razão, do razoável.
Nossa consciência é o Manas, o perfeito reflexo da mente cósmica em nós, a verda-
deira Mente Universal. Manas é conhecida também como o Corpo da Vontade Consciente.
É o centro da árvore da vida e é a alma humana que trabalha e atua de forma independen-
te da mente, das emoções e do corpo. Manas está além da mente, dos afetos e das recorda-
ções. A Consciência é uma faculdade e um atributo da Alma e do Ser.
A grande maioria de nós educa, fortalece e desenvolve apenas a mente ou o intelec-
to ao invés de educar a Consciência. Mas, a Consciência está muito acima da mente, e sua
capacidade é infinitamente maior do que aquela. O uso contínuo dessa nossa faculdade é
que fortalece nossos bons princípios e modificam nossos vícios e más atitudes, tornando-
50
ponto fraco. Se não houver atitude eficaz, de acordo com as necessidades,
novos alertas serão emitidos até que a situação seja resolvida.
A Lei da Causa e Efeito marca no subconsciente cada erro cometido
com a intensidade exata de sua causa. Estas marcas são instaladas nos po-
rões da alma e ficam atormentando a existência através de sentimentos pes-
soais amargos, até que uma atitude digna, e à altura da falha, seja tomada
para que se suplante e supere aquela falha. Falhas que, em boa parte das
vezes, são causados por egoísmos comuns aos seres em desenvolvimento.
Quando não se tem orientação ou um grau de entendimento capaz de diluí-
los, através de novas e melhores atitudes, atormentarão como que fantasmas
assombrando e causando maus sentimentos e sensações de incômodo, sem
motivo aparente.
A persistente cobrança sem resposta costuma causar tristezas, depres-
sões, angústias e outros sentimentos que abatem, muitas vezes sem evidên-
cias claras de sua origem. Quando a pessoa não consegue compreender e
resolver a questão em vida, a marca levada pelo inconsciente permanecerá e
se instalará no Ego reencarnate. Ou seja, com mais ou menos tempo, sempre
deverá existir o discernimento suficiente para que exista a efetiva compre-
ensão das questões pessoais. Algumas “cobranças” relacionadas a assuntos
mais complexos só se manifestarão mais intensamente quando o “devedor”
tiver plenas condições de raciocinar de forma eficaz. A cobrança só se pro-
jetará sobre aquele que tem plena Consciência e capacidade de compreender
e responder pelos seus atos. A Consciência se encarrega de medir e pesar
cada atitude; se ela é tocada por um sinal de que os limites foram ultrapas-
sados, logo registrará a infração e arquivará para providências futuras.
Causa e efeito. Ninguém terá de responder ou resgatar alguma dívida
que não tenha advindo de seus próprios atos. Infalivelmente, com mais ou
menos tempo, a Lei será aplicada, até que o equilíbrio seja estabelecido.
Então, podemos concluir que construímos nosso futuro através de nossas
próprias atitudes. A colheita é sempre de acordo com o que semeamos.
O Ego passa por distintas etapas de formação e de manifestação ao
longo das vidas. Nas primeiras etapas o Ego é simples, descomplicado, for-
os bons hábitos que se somam às nossas qualidades. Fala-se muito em subconsciência e
inconsciência. Na realidade tudo isso pode ser sintetizado como consciência adormecida.
Supraconsciência é o estado de “Consciência Desperta”.
51
mado de pequenos e poucos elementos, tal como o dos indígenas. Assim,
nunca veremos um indivíduo menos evoluído rodeado de cobranças que
demandem um alto grau de desenvolvimento; o peso da falta será determi-
nado pelo meio em que cada um vive. Somente aquele que alcançou maior
evolução estará sujeito a lidar com situações mais complexas, porém cada
vez menos pesadas em termos de sofrimentos físicos ou até psicológicos. A
ninguém será imputada culpa ou pena que não corresponda à capacidade de
suas faculdades.
Sempre que somos submetidos às necessárias experiências e falhamos,
cada ponto fraco permanece no Ego. Este por sua vez estará sempre impe-
lindo ao movimento. A força de sua mola propulsora é proporcional ao ta-
manho do defeito a ser corrigido. Assim o Ego impele para ação sempre,
agindo entre as qualidades e defeitos individuais, sempre tentando mover o
ciclo evolutivo para o desenvolvimento. A única força suficientemente forte
para impedir seu avanço desordenado é a da Consciência. Sempre existirá
uma força pedindo providências. Quando elas não são tomadas consciente-
mente o ego agirá livremente, dominando e impelindo para ações desorde-
nadas.
Quando um defeito não é corrigido pela sábia orientação da Consciên-
cia, o será por uma situação provocada pela força do Ego; onde, aquilo que
poderia ter sido resolvido de forma calma e eficaz, agora terá de ser pago
com o preço do estrago feito por uma atitude mal pensada. As más conse-
quências acontecem sempre que tomamos atitudes impulsivas levadas pela
imaturidade ou irresponsabilidade, sempre que nos deixamos ser seduzido
pela possibilidade de satisfazer uma vontade ou desejo instintivo. A força do
Ego é inata e faz parte do atual Ciclo Evolutivo. Ela está sempre presente e
vence facilmente aqueles que não conseguem desenvolver força suficiente
para dominá-la pela razão. Ou dominamos sua força conscientemente, ou o
círculo de erros o fará pela dor e sofrimento. Esta força está sempre provo-
cando, desafiando e arremessando a pessoa para ações, até quando ela con-
seguir impor sua razão sobre seus desejos. Assim acontece com vícios, gula,
desejos instintivos: drogas, álcool, fumo, comida, fugas, preguiça, sexo, etc.
Vamos ilustrar melhor isso: as coisas mais saborosas e prazerosas é
que engordam, criam dependências e viciam provocando consequências na
saúde e desequilibram tanto o plano físico como o mental. Pois aqui estão
algumas provas diárias de nossa escola para pôr à prova nossa disciplina
sobre o Ego, nossa Consciência sobre nossos desejos. Não existe nenhuma
52
razão para que a natureza queira nos oferecer ou impor aquilo que ela tem
de pior. O que acontece de fato é que, somente assim é que criamos força
suficiente para não se deixar levar pelos desejos mais baixos, instintivos e
prejudiciais. A verdade é que esta nossa escola é, também, para doutrinar-
mos nossos desejos que atuam de forma a nos levar para onde querem, co-
mo se fossemos alienados sem juízo.
Perdemos sempre que nos deixamos seduzir por sabores, prazeres, lu-
xúria, exageros, egoísmo ou substâncias entorpecentes. Note que, se não
houvesse consequências graves para alguns exageros, muitos de nós seriam
um poço de vícios, luxúria, relaxo, desleixo... Nesses casos, somente as con-
sequências, o sofrimento é que consegue nos pôr freios, medidas e limites.
Sempre suportamos duras consequências quando exageramos em qualquer
coisa que nos dê prazer.
Note como o próprio círculo da vida se encarrega de nos pôr à prova
diariamente: O que é mais gostoso, um sanduíche super recheado ou uma
saladinha? O que tem mais sabor, uma porção de alimento integral ou uma
superelaborada receita industrializada, refinada, cheia de calorias, gordura,
óleos saturados, açúcar, conservantes e uma vistosa cobertura? Como é que
conseguimos manter a forma, assistindo TV, se divertindo em jogos, ou
praticando caminhadas, ingerindo alimentos saudáveis e de acordo com nos-
sas necessidades nutricionais e dietéticas? Temos de aprender que nem
sempre o que é mais vistoso, saboroso, atraente e prazeroso é o que de fato
nos faz bem.
Equilíbrio e disciplina só são conservados e respeitados quando a voz
da Consciência é mais forte do que a do Ego.
A tendência natural é de que cedamos cada vez mais, sempre que nos
deixemos passar dos limites. Perceba, também, como um vício sempre aca-
ba por trazer outro para perto de si. Ou seja, sempre que cedemos e a portei-
ra é aberta, outros monstrinhos podem entrar junto com aquele que autori-
zamos numa deliberação mal ajuizada. O fumo adora o álcool; uma sensa-
ção gratificante sempre leva ao desejo de outras sensações ainda mais fortes.
Um tipo de droga será sempre suplantado quando outra mais inebriante to-
mar seu lugar. Uma luxúria sem limites leva a outras cada vez piores...
Existe em nós uma necessidade premente em aliviar nossos sofrimen-
tos. A busca por recompensas ou prazeres muitas vezes é justificada pela
53
necessidade de obter alguma recompensa ou alívio para situações estressan-
tes, cansativas, entediantes; que exijam atenção, ação, esforço, atitude, raci-
ocínio, etc. Nossa natureza é viciada em recompensas. Se por um lado ne-
cessitamos de algo que nos dê descanso da rotina e nos distraia das ativida-
des cotidianas, por outro temos de controlar nossos impulsos para que per-
maneçam antes da linha limítrofe que nos impede de agir livre e delibera-
damente até uma derrocada.
Nossa semente já é viciada pela necessidade de ter algum prazer sem-
pre que fazemos algum esforço. Buscar algum prazer em troca de um esfor-
ço, além de satisfazer uma vontade é uma necessidade para que prossigamos
na luta. Difícil é manter justa relação e medidas entre o que queremos e de-
sejamos, e o que devemos e temos de fazer. Esse é o ponto de equilíbrio que
deve ser utilizado como justa medida para nossas ações. A lógica é a guia
mais segura em todas as nossas ações. O desequilíbrio acontece sempre que
perdemos a noção de medida entre nossos deveres e as recompensas.
Ao esmorecer se entregando às satisfações damos força para que o
Ego prevaleça sobre a razão, que é quem pode nos conservar dentro de limi-
tes razoáveis. Então, podemos afirmar que o Ego é o terrível demônio que
pode nos fazer a vida tão amarga. Sempre que cedemos para uma de suas
tentações a condição financeira se desequilibra, a saúde declina, os relacio-
namentos se conturbam; a psique se perde entre limites, razão, incertezas,
devaneios, emoções e exageros...
A condição econômica das pessoas, em boa parte das vezes, já é uma
maneira de lhes frear os impulsos. Isso pode ser meio duro de aceitar, mas a
verdade é que, além das facilidades compradas pelo dinheiro e que poderi-
am fazer alguém ficar estagnado em sua escalada, se todos possuíssem mai-
ores condições, claro que as chances de se submeter a maiores erros aumen-
taria; com a excessiva predominância do Ego, com exageros, desperdícios,
manutenção de vícios crescentes, busca insaciável por satisfação de natureza
instintiva, etc, etc.
54
Capítulo V
Desenvolvimento individual
Inocência não é sinônimo de Virtude. A Inocência é filha da Ignorân-
cia, e esta não pode ser mantida num universo que tem como propósito evo-
lutivo a aquisição da Sabedoria. Para se chegar a esse fim é essencial conhe-
cer o bem e o mal, o certo e o errado, e ter também a liberdade de ação. Se o
homem, possuindo o conhecimento e a liberdade de escolha, defende o Bem
e o Justo, cultiva assim a Virtude e a Sabedoria. Se sucumbe à tentação e
pratica o mal conscientemente, cultiva o vício. Cada ato é uma semente para
a Lei de Consequência. Colhemos o que semeamos.
Neste círculo pernicioso, num mundo movido pela ganância e exces-
sivo interesse financeiro, temos inúmeros exemplos de alguns que, por pos-
suírem algumas habilidades físicas que movem milhões, acabam por ganhar
fortunas. Não são poucos os que se perdem e destroem sua fortuna, integri-
dade e saúde em banalidades. Quando não existe juízo suficiente para refre-
ar vontades e desejos, e sobra condição financeira para satisfazê-los, a situa-
ção de desperdício e abusos continuará até que o próprio destino imponha
sua força sobre o incauto.
A verdade é que, mesmo que a Lei trate de assegurar certos limites,
existem muitos que se sobrepõem apenas pela condição financeira e não
pela sua Consciência; pela força da ignorância e não da razão. É odioso pre-
senciar frequentemente a compra de valores morais em assuntos que só a
virtude poderia fazê-lo. E, com a mais absoluta certeza, outros tantos fariam
o mesmo ou pior se tivessem condição de comprar uma condição social que
lhes colocasse em evidência, “longe dos comuns”.
A escravidão de um prazer chama-se paixão. O domínio de um prazer
pode converter-se em poder. A natureza coloca o prazer junto do dever; se
o separamos do dever, corrompe-se e nos envenena. Se o juntamos com o
dever, o prazer não se separará mais dele, nos seguirá e será a nossa re-
compensa.
55
Não temos de matar o desejo, mas sim devemos governar o desejo por
meio da razão. Claro que temos de anular completamente os desejos baixos
e grosseiros; porém, não significa isto que se deva matar a força pura do
desejo, ou a força do desejo puro, mas sim, eliminar ou dissolver a baixa e
grosseira forma do desejo.
Não temos que dominar ou controlar os desejos e as emoções por
meio da vontade; temos que nos educar, porque educar é um ato superior.
Podemos nos educar para amar sem desejo e adorar sem profanação. O
mesmo calor que aquece e aconchega pode queimar e destruir quando dis-
traímos e nos perdemos na medida de sua intensidade.
Um homem nulo e medíocre poderá chegar a tudo, porém jamais será
algo. Um homem apaixonado, que se abandona aos excessos, morrerá por
sua própria intemperança, ou será fatalmente arrastado ao excesso contrá-
rio. A mente e o coração puros constituem a melhor proteção contra todo
pensamento e sentimento malignos.
Somente com atitudes que deem conta de resolver cada etapa é que
novas possibilidades e qualidades vão se somando às já existentes. A neces-
sidade de desenvolvimento estará sempre sendo cobrada, não importando o
que cada um terá de fazer para conseguir cada progresso. Enquanto não da-
mos conta de agir pela temperança, haverá uma força permanentemente se-
denta e vigilante. Essa mesma força pode levar para mudanças positivas ou
negativas. O mesmo princípio que nos experimenta e eleva pode nos levar
ao desequilíbrio, aos vícios, aos exageros e à queda. Cada um tem de viver
suas próprias experiências. Tudo o que se fizer de bom, para si ou para o
bem de todos, será um avanço na caminhada.
Não existem fórmulas prontas que poupem alguém de sua jornada
pessoal.
Não existe fórmula mágica que evite que alguém tenha de se desen-
volver a cada dia, através das inúmeras experiências. Ninguém poderá in-
corporar as qualidades de outrem sem que exista a percepção e desenvolvi-
mento para isso. Seria como querer instalar um programa avançado num
computador sem que ele possua tecnologia suficiente para sua execução.
Qualidade pessoal só poderá ser alcançada através do desenvolvimento gra-
dativo, perene, constante e consciente.
56
Não somos determinadas pessoa que possui determinadas característi-
cas permanentes; mas sim, estamos vivenciando um determinado estágio
que é a soma das experiências de até então. Somos o produto da forma como
lidamos com nossos sentimentos e fraquezas, e frutos da capacidade que
tivemos de aproveitar cada uma das experiências até então vividas. Não so-
mos de determinada forma, mas sim, estamos de determinada forma.
Não podemos pensar que somos um problema, menores ou fracassa-
dos; mas sim que encontramo-nos neste momento – da exata forma como
nos sentimos – como fiel resultado daquilo que fomos até então. Os próxi-
mos anos de nossas vidas serão o resultado do que agora somos. Qualquer
um pode e deve almejar alcançar outros níveis maiores, desde que esteja
disposto a trabalhar e se esforçar para que as melhorias se efetuem. Todo
êxito é alcançado através da concentração persistente no objetivo desejado.
Podemos e devemos mudar todas nossas peculiaridades duvidosas ou mal
resolvidas. Temos de aproveitar cada momento para refletir sobre cada ati-
tude, para estar sempre promovendo mudanças para melhor.
Devemos procurar compreender cada uma de nossas atitudes mais ins-
tintivas, cada reação, cada opinião emitida, cada julgamento, cada compor-
tamento com relação a si e aos outros. Precisamos perceber e estudar nossos
hábitos a fim de compreendê-los. Desperdiçamos grandes oportunidades de
desenvolvimento sempre que seguimos sem quaisquer racionalizações; rea-
gindo conforme as circunstâncias, de maneira viciada, repetitiva e automáti-
ca. Quando não se aproveita uma oportunidade de desenvolvimento, novas e
dolorosas circunstâncias terão de ser vividas até que se perceba o que o
mundo está ensinando.
Precisamos dar conta de que só acordamos quando passamos a olhar e
cuidar melhor de nosso interior; analisando, percebendo como se dão cada
uma de nossas reações, cada uma de nossas atitudes mais corriqueiras; cada
emoção, cada sentimento, cada tristeza, cada medo. O que podemos e de-
vemos fazer é criar qualidade que desenvolva mais e mais preciosas ferra-
mentas que possam nos ajudar a abrir novos caminhos com menos esforço e
mais certeza de estar fazendo o melhor.
Mas então, qual será a forma de alcançar o melhor desenvolvimento
para melhor aproveitar cada oportunidade? Como posso evitar cair em ca-
minhos que atrasem ou desviem meus princípios? Em quê ou em quem
acreditar, afinal? Como me livrar daqueles terríveis males que atormentam a
57
mente, que produzem mal-estar, angústia, depressão, recolhimento, ansieda-
de, timidez, fraqueza e tantas outras amargas e perversas destruidoras do
equilíbrio? Até que ponto estarei fazendo o certo para crescer, de forma a
não cometer erros que podem pôr tudo a perder? Será que não estou trans-
gredindo ou avançando além dos limites permitidos para conseguir o que
quero? Como distinguir o bom e correto de procedimentos equivocados que
acabam por construir grandes dívidas morais? Não estarei pecando ao tomar
certas atitudes? O que vão pensar de mim? Não estarei apenas visando man-
ter aparências para reforçar aquilo que acho ser o ideal aos olhos dos outros?
A dosagem certa para cada ação só poderá ser ministrada com a mente
adequadamente ajustada. Qualquer ponto em desarmonia pode desviar as
melhores intenções para outros rumos. Somente com retidão de pensamen-
tos podemos conduzir de forma adequada nossas atitudes e tomar cada pro-
vidência no tempo e forma corretos. Para que haja este equilíbrio é preciso
que se ajuste o modo de pensar para uma linha forte e bem formada. Isto só
é possível quando construímos princípios que orientam sobre os aspectos
mundanos e pessoais.
Para agir bem e de forma acertada, para que haja progresso financeiro
e espiritual, é necessário levar a consciência para níveis mais elevados, don-
de se possa vislumbrar além do que normalmente se vê. A integração de
corpo e alma, a conscientização de nós como um todo é que apontará o ca-
minho seguro a ser seguido. Não podemos deixar que as provas mundanas
desorientem ou causem problemas de ordem psicológica que acabam preju-
dicando a atenção em nossos objetivos. A confusão mental acaba por levar a
caminhos diversos e equivocados. As escolhas acabarão acontecendo pelo
simples impulso de momento. Não haverá uma decisão acertada com esfor-
ços dirigidos para um destino planejado. No máximo haverá desejos egoís-
tas nascidos das situações de momento. Uma dificuldade ou provocação
pode incitar a uma ação instintiva para simplesmente fugir de alguma situa-
ção incômoda de momento, por exemplo.
Quando não agimos com maturidade e persistência, os insistentes sen-
timentos ruins acabam somatizando e levando a consequências orgânicas.
Uma sensação desagradável que persiste perturbando é como uma voz que
implora por ajuda, e que acaba se manifestando no corpo para que providên-
cias sejam tomadas; afinal, quando eram apenas um sentimento mal identifi-
cado não tiveram a atenção suficiente, nem tratamento adequado; não houve
uma parada para reflexão e conscientização do porquê das sensações incô-
58
modas. Agora, surgindo através de uma manifestação física, as doenças te-
rão de ser tratadas por remédios – de eficácia às vezes duvidosa – até que o
indivíduo perceba suas falhas e trabalhe para resolvê-las adequadamente.
Tratar o mal físico nem sempre significa solucionar o problema; pois
se houve manifestação é porque existiu um motivo para isto acontecer. Se
não se identificar a raiz do problema, certamente que ele irá persistir até que
haja compreensão suficiente que o elimine através da frequência espiritual
mais elevada. Uma etapa só estará resolvida a partir de que se alcance novo
grau de maturidade. Enquanto estiver faltando parte, novas experiências
terão de ser vividas até que se complete o ciclo evolutivo. A prática do ego-
ísmo e da cobiça são os fatores primários que perturbam a mente. A doutri-
nação do egoísmo e cobiça levará naturalmente a um estado mental saudá-
vel.
Fármacos não resolvem problemas energéticos mais sutis, salvo al-
guns recursos que não têm impacto direto sobre a bioquímica do corpo, e
possuem a frequência ideal para agir no plano dinâmico, e que conduzem a
uma condição mais favorável, tais como bons florais e a homeopatia. Estes
mudam a frequência de ressonância, fazendo com que a sensibilidade do
organismo à doença também mude. Quando os estímulos são mais fortes do
que a resistência natural do organismo, ocorre um estado de desequilíbrio
com sinais e sintomas rotulados de doenças. De nada adianta querer suplan-
tar problemas existenciais através de remédios. Isso pode apenas auxiliar no
equilíbrio químico, em casos de depressão, angústia, raiva, medo ou ansie-
dade, por exemplo, para que o organismo alcance estado mais brando, onde
o nível de raciocínio possa levar a mente a conclusões mais ponderadas e
acertadas.
Problemas emocionais advindos de atos mal pensados ou confusos
persistem até que sejam encarados e resolvidos de forma racional e inteli-
gente. Ninguém saberá lidar com os sentimentos de forma mais madura en-
quanto não tiver raciocinado, pensado e identificado os motivos causadores
destes desequilíbrios emocionais, e que tanto afetam no modo de interagir
de cada um. Só se poderá eliminar um problema de ordem psicológica
quando partirmos em busca de sua raiz. De nada adiantará tratar topicamen-
te uma ferida se o que a está causando são substâncias tóxicas produzidas
pelo organismo. Teríamos, então, de eliminar as causas que estão desequili-
brando o organismo para, automaticamente, curar a ferida.
59
Capítulo VI
O despertar da Consciência
Nosso ideal de realização deverá estar de acordo com as Leis Maiores
para não construirmos karma. Este é formado por dívidas acumuladas ad-
vindas de atos mal pensados, ações equivocadas e prejudiciais ao sistema,
aos outros e, principalmente, para si próprio. Mas como isto pode ser conse-
guido? Como viver de forma próxima das Leis universais, para que o pro-
gresso se dê de forma eficiente, definitiva e que some Luz efetiva?
Primeiramente devemos estar conscientes da missão de cada um no
ciclo de experiências, nas várias passagens no decorrer dos tempos. Depa-
ramo-nos frequentemente com pessoas envolvidas em problemas existen-
ciais graves advindos de sua própria desinformação ou confusão mental.
Através de atitudes desordenadas, seguem seus dias sem orientação, método
ou regra que possam guiá-las de forma segura. Até mesmo a magnitude de
valores dados aos ciclos de convivência, família, amigos, sociedade etc,
acaba causando certa limitação na forma e alcance dos pensamentos de cada
um, pois restringem nossa percepção de si. Restringir nossa percepção ao
nosso atual círculo familiar (onde somos tal pessoa, filho de fulano, irmão
de cicrano, com nome tal, etc) apaga temporariamente nossa visão universal,
de que somos muito mais do que simples seres nascidos num determinado
local e data, e que somos estas características peculiares percebidas por nós
e pelos outros.
Acreditamos ser estas definições criadas pelas nossas limitações tem-
porárias, que nos impedem de ter uma percepção mais abrangente. A maio-
ria sequer imagina ser alguém que já passou por inúmeras encarnações, ora
como filho de seu atual pai; ora como pai de quem hoje é seu pai; ora como
irmão de quem hoje é a esposa, etc. Minha visão de quem sou seria infini-
tamente limitada se imaginasse que sou, e sempre fui, este que nasceu neste
lugar, nessa família, e que jamais viveu outra existência; com outro nome,
nascido noutro lugar, com outros parentes e amigos... Sim! Se o que somos
agora é passageiro, e nosso nome é limitado a esta esfera, não podemos
imaginar que somos esta pessoa, que somos problemáticos, maiores ou me-
nores.
60
O certo é que estamos sendo hoje tal pessoa, temos determinadas ca-
racterísticas e problemas, mas não somos um problema nem essa persona
atual, essa personalidade. Per+sonus significa soar através de; ou seja, mani-
festamos nossa atual personalidade, mas não somos somente esta personali-
dade. A verdade é que cada um de nós manifesta hoje uma personalidade
necessária ao respectivo grau de desenvolvimento. Esta personalidade con-
vive com um Ego que reúne o conjunto de questões a serem compreendidas
e plenamente resolvidas.
Esta personalidade é a pessoa nascida através da convivência. Ela é
formada pela interpretação que damos à família, aprendizado, sociedade e
por tudo que nos rodeia socialmente. Estas impressões, tais como sentimos
hoje, terminam com a morte física; mas o Ego continua vinculado ao espíri-
to, entrelaçado à nossa Consciência, através do ciclo reencarnatório. Nosso
destino é seguir em frente, muito além do que uma breve permanência res-
trita há poucos anos, com estas nossas atuais características.
Quando se limita o grau de alcance a este atual círculo, pessoas vão
vivendo seus dias, dia após dia, sem novas atitudes, sem criar alternativas,
sem pensar no que seria o melhor para si, e isto costuma cobrar um preço
alto. Quando passamos pela vida como passageiros de um barco à deriva, no
máximo poderemos chegar aonde o vento nos levar. Por isso é bom que nos
questionemos sobre os porquês dos acontecimentos, dos porquês das inter-
relações e convivências. Não há como fugir desta imensa engrenagem onde
todos nós temos de seguir. O tempo que se leva para desenvolver a essência
permanente varia conforme o empenho individual. Alguns poderão levar
séculos para aprender o que outros conseguem em poucos anos. Por isso,
nessa imensidão de seres, encontramos pessoas que partiram de uma mesma
linha no tempo, mas que se encontram nos mais diversos níveis de evolução,
dentro desse limite onde possa existir mútuo aproveitamento destas convi-
vências. Quanto melhor aproveitamos o tempo de vida terrena mais qualida-
de agregamos. Quanto maior o desenvolvimento menores serão as dificul-
dades e dores futuras.
Não podemos ficar parados com o pretexto de não ter condições para
estudar ou conseguir meios mais apropriados. Aqui, mais do que cultura ou
conhecimentos que habilitem profissionalmente, falamos de verdadeiros
princípios morais; aqueles aprendidos através da convivência, e que o mun-
do nos oferece a todo o momento. O cotidiano nos coloca de frente para
inúmeras situações donde devemos refletir cada comportamento, cada atitu-
61
de, cada reação coletiva ou individual. Assim aprendemos com cada atitude
alheia, com seus erros, acertos, exageros, impulsos, equívocos, medos, reco-
lhimentos, egoísmos, bravatas, defesas, etc.
Assim, sem demasiada crítica ou julgamento de mérito das ações de
cada um, podemos compreender melhor cada atitude, cada sentimento ou
expressão. A atitude das outras pessoas pode nos servir de bons ou maus
exemplos. Tanto as atitudes alheias quanto as nossas devem passar pela per-
cepção de nossa Consciência. Estas percepções é que formam os parâmetros
que orientam nosso desenvolvimento. Esta é a forma como graduamos nossa
Consciência a cada dia e todos os dias, promovendo um avanço na visão
global; que começará a tomar vislumbres de um sistema muito maior do que
aquele percebido numa vida comum. Nossa consciência é o que chamamos
de juízo, e é formada pelo resultado das experiências passadas. Uma consci-
ência mais elevada pode orientar para soluções mais coerentes em todas as
outras situações futuras.
A alquimia a que nos referimos no título deste trabalho não se limita à
arte quimérica que procurava descobrir o elixir da vida e a pedra filosofal,
mas sim àquela que trabalhamos noite e dia no laboratório que é o nosso
próprio ser, tanto no plano espiritual quanto no físico. Nesse laboratório são
feitas todas as operações da ciência alquímica, que não objetiva transformar
o chumbo em ouro, mas sim a transformação do próprio alquimista, e o con-
sequente acesso a um estado Superior de Consciência. A grande obra dos
alquimistas sempre foi a autotransformação, a transmutação, a combinação
equilibrada de elementos que transformam matéria rústica ou simples noutra
de grande valor. Mas é um equívoco acreditar em autoconhecimento basea-
do exclusivamente no estudo conceitual ou intelectual. Também, não é pos-
sível o verdadeiro e profundo autoconhecimento sem a experiência direta.
Muitos acreditam que estudar sobre comportamento ou psicologia bas-
ta para resolver seus problemas existenciais. Muitos identificam seus pro-
blemas como se fossem determinadas características, e acabam se aceitando
como tal, sem nenhum propósito de correção. Isso pouco ajuda. A partir do
momento que identificamos nossos pontos fracos precisamos fazer uma pro-
funda autotransformação, através de ações que deem conta de provar na
prática a experimentação que precisamos para melhor compreender o mun-
do e, assim, compreender melhor nós mesmos. Não podemos confundir
formação intelectual com experiência. Erudição não é vivência nem experi-
mentação. A grande revolução interna só é possível através da experimenta-
62
ção direta, integral e holística da Consciência que envolve simultaneamente
os aspectos físicos e metafísicos.
Incluímos, também, sucesso e triunfo no título. Sucesso é ter bom êxi-
to, resultados felizes, etc. Triunfar é alcançar vitória, vencer qualquer resis-
tência, sair vencedor, triunfar dos obstáculos, gloriar-se, dominar as paixões.
Jamais alguém poderá dizer que é realizado se não desenvolveu a sua alma,
sua espiritualidade. É este o sucesso que aqui tratamos; é este que nos con-
duz ao triunfo; que, mais do que se sair vitorioso num embate ou amontoar
bens materiais, é a vitória sobre nós mesmos. Para alcançar Consciência
mais elevada precisamos perceber e compreender melhor tudo que temos à
nossa volta, os elementos que podem nos levar à reflexão do que fomos, do
que somos, de onde viemos, de onde estamos e para onde estamos indo.
Antes de buscar transformar o mundo temos de transformar a mente,
mudar nosso interior, nosso pensamento, nossa visão e abrangência da
Consciência. Precisamos reconhecer que o mundo é uma condição que pre-
cisamos superar. Quando temos ciência de nossa verdadeira missão passa-
mos a dar maior atenção ao nosso desenvolvimento integral, aquele que vai
muito além do que qualquer formato temporário reunido numa personalida-
de mundana.
Confundem-se em psicologia Consciência com Ego, dividindo esse
Ego em Eu Superior e Eu Inferior. Lamentavelmente a psicologia estuda
apenas o comportamento interativo mundano; estuda apenas o comporta-
mento humano em seus aspectos externos, buscando mais explicar que mo-
dificar esse mesmo comportamento de forma profunda e definitiva. O ideal
seria que estudasse a alma e o espírito. Por isso, na maioria das vezes, serve
apenas de ponto de partida ou de mera referência para o autoconhecimento.
Qualquer mudança só será eficaz se feita a partir de suas origens. E para
voltar às origens é necessário ter percepção dos nossos próprios erros. E isso
só consegue aquele que olha para dentro de si mesmo.
O estudo de si mesmo, a serena reflexão, se resume na quietude e no
silêncio da mente, naquilo que chamamos de “mente vazia”. Quando a
mente está quieta e em silêncio, não apenas no nível superficial do intelec-
to, advém o novo, liberta-se a Essência, a Consciência, e produz-se o des-
pertar da alma.
63
Capítulo VII
Brilho momentâneo e Luz espiritual
Não podemos medir o grau de evolução de cada um pela primeira apa-
rência. Isto poderia nos levar a enormes enganos. Grau de evolução espiritu-
al não deve jamais ser comparado a condições de vida, dinheiro, status nem
a poder aparente.
Alguém poderá nascer num ambiente luxuoso e abastado e não possuir
a elevação de outro que nasceu numa condição miserável.
O que ocorre mais frequentemente é que cada um nasce no local mais
apropriado para desenvolver suas qualidades e criar ferramentas que o leva-
rão mais longe. De nada adiantaria alguém nascer num ambiente rico e abas-
tado se o que precisa é de provas advindas da escassez de recursos. Uma
vida cheia de riquezas geralmente restringe as possibilidades maiores de
desenvolvimento. Se alguém nasce num ambiente onde fazem por ele, que
oportunidades terá de provar a si?
Analisando através deste ponto de vista, o que seria melhor, uma vida
cheia de glamour e riqueza, ou outra onde a pessoa tenha de pôr-se à prova
através dos desafios, para conseguir seu sustento? Quem, ao final de uma
jornada, terá conseguido uma evolução maior, aquele que foi poupado de
tudo ou aquele que enfrentou as dificuldades? O que mais vale, uma vida
cheia de riqueza, mas com pouco desenvolvimento pessoal, com desperdício
de tempo e oportunidades únicas, ou outra, numa condição inferior, tendo de
enfrentar e resolver questões complicadas, mas conseguir elevar-se a outros
patamares muito mais avançados? Claro que no segundo exemplo a pessoa
evoluirá infinitamente mais do que aquela que apenas goza de abundância
momentânea.
Quase que invariavelmente, apesar dos sofrimentos de uma vida cheia
de desafios, tudo terá um aproveitamento infinitamente maior do que aquele
proporcionado por condições mundanas que pareçam mais leves e fáceis.
Quem não gostaria de viver de forma tranquila e sem maiores problemas?
Claro que ninguém gosta de sofrer; mas, temos de entender que não há outra
64
maneira de aprendermos determinadas lições se não for através de alguns
sofrimentos. O sofrimento precisa ser superado, e o único meio de superá-lo
é suportando-o. Passagens amargas não são castigos como alguns supõem;
são formas de aprendermos cada lição para o desenvolvimento e aperfeiço-
amento nos mundos mais elevados. Se não existe outra forma de seguir adi-
ante, por que ficar retardando o próprio avanço?
Temos um futuro espiritual de realizações maiores, onde seremos
chamados para novas posições, conforme nosso merecimento e capacidade.
Não há como exercer tarefas mais elevadas se não formos conduzidos por
caminhos que nos proporcione as mais variadas experiências. É necessário
passar por tarefas árduas e até grandes dificuldades, até mesmo para valori-
zar e sentir melhor tudo que viveremos na vida espiritual. Não haveria sen-
tido criar seres para apenas desfrutar de um paraíso. Como alguém poderia
ver e sentir sem que tivesse desenvolvido todas as qualidades possíveis no
espírito?
Como é que poderíamos compreender lições mais elevadas sem que
tivéssemos passados por níveis preliminares? Cada ser é uma fagulha viva
que vem se desenvolvendo através de inúmeras passagens. A formação da
consciência de si inicia-se por estágios onde éramos apenas uma centelha
obscura vivendo dentre outros seres. A evolução se dá lentamente com to-
dos. Como poderia um espírito nascer com todas suas faculdades já desen-
volvidas? Assim como tivemos uma longa jornada passada em condições
inferiores, e com experiências apropriadas àquele grau de evolução, teremos
no futuro poderes espirituais para sermos parte mais ativa na criação.
Mas, responsabilidades maiores só podem ser atribuídas àqueles que
alcançam nível suficiente para exercê-las. Não podemos progredir senão por
meio de nossas faculdades já alcançadas. Maiores capacidades só alcançam
aqueles que já se capacitaram através de experiências menores. Só pode
exercer determinadas atribuições aqueles que possuem capacidade, qualida-
de e atributos para exercê-las sem sair do equilíbrio. Como alguns de nós
poderiam receber atribuições maiores cometendo falhas terríveis exercendo
tarefas mundanas menores? Ninguém confiaria maiores atribuições a quem
vive apenas para satisfazer seus desejos mais vis.
Para que haja melhor compreensão disso é preciso que nossa mente
vislumbre além do que costumeiramente vemos, pensamos e sentimos. Nos-
sa existência muitas vezes é sentida como se fossemos integrantes de um
65
sistema único, uma única morada, um único planeta habitado. Então, aca-
bamos limitados a nos ver como determinada pessoa, que nasceu de família
tal, numa determinada localidade de um país; em uma comunidade, com
posição socioeconômica definida segundo os padrões locais; que trabalha,
estuda e vive numa família, com sua história passada, etc.
Então, nascemos numa família, crescemos numa localidade distinta,
temos nossos amigos, estudo, trabalho, algumas diversões, cumprimos com
algumas formalidades sociais; temos nossas preferências, estilo, personali-
dade e posição social. Este normalmente é o caminho mais comum percorri-
do por uma pessoa no decorrer de sua existência. Mas esta visão restrita ao
mundo imediatamente à volta limita nossa percepção de que somos muito
mais do que alguém numa sociedade, um membro de uma comunidade ape-
nas.
A mentalidade comum é limitada à percepção de que vivemos num
mundo único, descrito por toda sua história e épocas passadas, e que somos
apenas a continuidade, uma nova geração de novas pessoas; que estamos
confinados num único planeta habitado, que nada mais existe do que estre-
las no céu, nosso sistema e galáxias. Mas, para que possamos perceber além
é preciso uma visão mais ampla, irrestrita e real de outros milhares de sis-
temas, outras tantas “moradas” onde outras civilizações estão se desenvol-
vendo a cada dia, umas mais outras menos avançadas do que a nossa, com
sistemas idênticos outros não; em condições e características físicas iguais
ou completamente diferentes, em meios onde nossa existência seria impos-
sível em nossos atuais corpos físicos e sutis; em dimensões tais que sequer
são dadas aos nossos olhos.
As engrenagens do desenvolvimento existem por todo o Universo. In-
finitos outros sistemas abrigam seres dos mais variados níveis de evolução.
Não existe só uma onda de vida através dos tempos. Não somos os únicos
seres neste infinito Universo da Criação. Só não temos plena consciência
disso hoje porque não nos é dado conhecer sobre esclarecimentos mais
completos, pois não seriam ideais neste nível, nem fariam sentido devido às
nossas atuais limitações. Isso não quer dizer que temos de ficar com a mente
presa ao que conhecemos e vemos. Não podemos nos deter ao círculo terres-
tre. Tudo parecerá muito óbvio quando nossa ciência avançar no decorrer
dos próximos séculos.
66
Felicidade ou paz?
Esperar encontrar a felicidade neste estágio poderá ser uma tarefa
frustrante. Claro que o ideal é que a alegria e o entusiasmo façam parte de
todos, senão a vida se torna amarga e sem cores. Mas, o que é felicidade? A
máxima felicidade que sentimos aqui é relativa e longe de ser a verdadeira
felicidade.
Neste momento mais importa o ganho de maturidade espiritual do que
pensar em se realizar segundo modelos sociais. Isso, no máximo levará a
satisfazer algumas poucas vaidades e desejos provocados pelas muitas com-
parações que fazemos, pelo valor que cada um dá ao que se passa a sua vol-
ta.
Buscar certa tranquilidade para a velhice, desfrutar de alguns bons
momentos, sim; mas imaginar que uma vida tranquila e despreocupada leva-
ria à felicidade é puro engano. Só encontramos verdadeira felicidade nos
momentos de descanso, nos intervalos de cada vida, de acordo com o mere-
cimento pessoal. A verdade é que não estamos numa colônia de férias. Es-
tamos, sim, vivendo numa grande escola, onde somente através de alguns
sofrimentos é que nos capacitamos para estágios da mais pura felicidade
espiritual.
Neste estágio onde vivemos na matéria, o máximo que podemos con-
seguir é uma vida provida com tudo que necessitamos em primeira necessi-
dade; equilíbrio e segurança; uma boa família e bom convívio social, filhos
saudáveis e bem orientados para a vida; amor com mútua compreensão,
verdade e justiça; satisfazer algumas vontades; ter boa saúde, conviver com
pessoas honestas, verdadeiras e humildes; conquistar bens que proporcio-
nem algum conforto e bem-estar, etc.
Quando reunimos estas possibilidades temos então uma vida alegre e
relativamente feliz. Mas, mesmo nos melhores casos, ninguém é feliz o
tempo todo. Existem momentos de tranquilidade e equilíbrio nas coisas da
vida que podem fazê-la ser menos atribulada; mas esta não é a felicidade de
que falamos. Estamos numa fase transitória e relativamente curta. A grande
maioria das pessoas sequer sabe definir bem o que afinal busca quando diz
estar em busca da felicidade. A maioria de nós sequer sabe definir atrás de
que corremos. A imensa maioria apenas busca aquilo que possa colocá-lo
67
numa posição de destaque diante dos demais. Mas, em boa parte das vezes
isso apenas leva alguém a ostentar uma posição que imagina ser a ideal para
se dizer realizado, capaz, poderoso e melhor do que todos os seus “oponen-
tes”, tanto os verdadeiros quanto os imaginados.
O homem deveria ter domínio sobre o mundo, mas na grande maioria
dos casos o mundo é que tem domínio sobre o homem. Cada homem que
tenha propriedades lucrativas admitirá, em momentos de lucidez, que as
posses constituem uma fonte inesgotável de aborrecimentos, e que se vê
constantemente obrigado a traçar planos para conservar seus bens. Ou pelo
menos que tem de manter guarda para evitar perdê-los através de golpes,
pois sabe que os outros estão sempre tramando isso. O homem é escravo de
tudo aquilo que, por inconsciente ironia, chama de “minhas posses”, quando
na realidade, são elas que o possuem.
E isso lhes custa a vida, a saúde, a alegria de viver, a paz. Pergunte a
algum desses se ele é feliz. Certamente que, se responderem honestamente,
longe das suas defesas, sequer vão se lembrar de algum momento de tran-
quilidade, alegria espontânea e verdadeira ou paz de espírito. Se você per-
guntar para esses o que de fato os levaria a ser feliz, e conseguir lhes derru-
bar suas máscaras, mesmo que por alguns segundos, certamente que respon-
deriam: “o que busco é um pouco de paz; um lugar onde eu possa viver sem
as pressões do mundo; onde eu consiga expressar meus verdadeiros senti-
mentos, receber amor e compreensão; pois na realidade sou frágil, carente,
cheio de inseguranças, dúvidas... e isso tudo causa uma grande confusão;
gostaria de sair desse redemoinho que deixei me envolver... ...Gostaria de
ser compreendido, ter apoio e algo que me tire esta pesada carga que trago
às costas...”
Pressões e cargas que a maioria atrai para si a partir do momento que
inicia uma corrida através da comparação de si com aquilo que está à sua
volta. A insegurança leva as pessoas a imaginar que alcançando um monte
de coisas materiais serão grandes. Grandes o quê? A verdade é que, antes de
buscar a felicidade, devemos buscar o amadurecimento suficiente para com-
preender melhor quem somos, quem são os outros e para que efetivamente
estamos. Esta maturidade é que poderá levar ao equilíbrio, sabedoria e pon-
deração; a um estilo agradável de vida que possibilite um pouco de paz.
O resto não passa de disputas infantis cometidas por pessoas que que-
rem o tempo todo demonstrar ser, quando na realidade são apenas um pou-
68
quinho daquilo que estão querendo dar a entender que são; e com isso, atra-
vés dessa ilusão criada por eles mesmos, se acham dignos de merecer amor,
admiração, amizade, afeição, reconhecimento, etc, etc. O que de fato mere-
cem? Não, não merecem, precisam! Precisam sair do estágio precário em
que estão e buscar conhecer-se melhor; e assim compreenderão melhor
quem são os outros, e assim sair do sufocante mundo das aparências.
Daí, se somarmos a isso uma visão mais aprofundada de todo o siste-
ma em que vivemos, teremos pessoas de bem, de brilho verdadeiro; que
emanam amor em sua expressão mais pura, e não “amor” demonstrado por
interesses escusos, paixões, egoísmos e vaidades.
No estágio em que nos encontramos a felicidade não deve ser encara-
da como um objetivo ou lugar onde devemos chegar. Hoje devemos procu-
rar fazer de nossa viajem uma passagem calma, ponderada e consciente para
que possamos viver de forma branda para a alma, dentro de princípios justos
e verdadeiros. O resultado daquilo que hoje vivemos é que pode nos condu-
zir à plena felicidade quando concluirmos esta fase.
Compreender antes de julgar
Um equívoco que se comete frequentemente é de julgar as pessoas pe-
la sua posição a partir do que tem, pelas suas atuais condições ou possibili-
dades. Mas, como fazer o julgamento de alguém sem conhecer a sua história
pregressa? Quem poderá chegar a uma conclusão correta quando não sabe o
que aquela pessoa passou na sua vida mais jovem ou em outras passagens?
Na verdade não nos cabe julgar ninguém, até pelo fato de que ninguém é
perfeito e isento de cometer erros; ninguém poderá se julgar mais ou melhor
porque tem maiores condições financeiras do que o outro.
Passamos por incontáveis passagens corpóreas. Dentre essas podemos
alternar vidas na África, na Europa, na Ásia, nas Américas ou em qualquer
outro lugar do planeta; poderemos ser brancos, mulatos, negros, amarelos;
vivendo ora como homens ora como mulheres. O aprendizado só pode
avançar quando vivemos em diversas situações. As experiências de uma
vida no sexo masculino são diferentes das aprendidas no sexo feminino.
Não podemos generalizar ou dizer que tudo é diferente. O que queremos
69
dizer é que todos temos de viver e conviver com inúmeras situações; muitas
delas só existentes em determinadas culturas, povos diferentes, outros regi-
mes de governo, outras religiões. Podemos, ainda, ter uma vida abastada
numa ocasião e, em outra, uma condição menos favorecida.
O que importa, quando isso tudo é visto de um Plano Maior, é que ca-
da um chegue ao seu destino com todas as qualidades lapidadas, brilhando
num conjunto altamente desenvolvido. Podemos alternar entre muitas e in-
finitas possibilidades nossas formas de avançar. Não raramente encontramos
pessoas de elevada luz atravessando um período de dolorosas provações.
De outro lado, muitas vezes temos pessoas passando por tarefas me-
nos pesadas ou complicadas que, à primeira vista, poderia nos levar a pensar
que estão num grau espiritual mais elevado. Efetivamente pode ocorrer de
alguém estar vivendo uma vida com pouquíssimos recursos, porque é desta
forma que poderá obter as provas que concluirão sua tarefa. Assim, jamais
poderemos julgar alguém pela sua posição aparente, seu destaque social ou
riqueza material. Poderemos facilmente encontrar seres de alto desenvolvi-
mento passando por provações complicadas que, de pronto, poderíamos
julgar tratar-se de alguém menos desenvolvido. Enfim, não podemos julgar
ou tratar ninguém como inferior ou menor. O que temos de fazer é respeitar
cada um na sua posição, não importando onde esteja. Antes de qualquer
julgamento devemos procurar compreender levando tudo isso em considera-
ção. Sua concepção de desenvolvimento o fará tomar maior respeito pela
missão de cada um, esteja ele onde estiver, na condição que for.
Por isso, também, o auxílio que podemos prestar vai até onde não in-
terfiramos no desenvolvimento de outrem. O que de pronto pode parecer
uma grande ajuda, na verdade poderá ser retirar de alguém a oportunidade
de crescimento através de sua própria luta. Oferecer uma vida confortável e
sem obstáculos a alguém, simplesmente por afinidade, amor, compaixão ou
dó, poderia significar atrasar seu desenvolvimento. Dadas as nossas obriga-
ções, onde temos de cumprir com nossos deveres, muito cuidado temos de
ter para não retirar de alguém uma excelente oportunidade de crescer defini-
tivamente. Claro que isso não quer dizer que devemos dar as costas naquelas
condições óbvias onde temos de nos desprender e ajudar sem esperar re-
compensas; na recuperação da saúde de alguém, nas tragédias, nas fatalida-
des ou naqueles tropeços que cometemos mesmo quando fazemos de boa
intenção.
70
Esse é um tema delicado e sujeito a más interpretações; mas, entenda
que a justiça existe mesmo onde pareça não existir amor ou compaixão.
Existem inúmeras pessoas em situações de vida exatamente de acordo com
aquilo que semearam num passado mais remoto. Não conseguimos nos lem-
brar facilmente de eventuais falhas cometidas nas últimas passagens aqui
vividas. Ninguém está totalmente isento de cometer falhas. Existe a natural
e real possibilidade de que possamos ter cometido faltas graves numa exis-
tência anterior. Então, o que a primeira vista poderia parecer uma falta de
sorte ou esquecimento da providência divina, nada mais está sendo do que
uma oportunidade de resgatar e corrigir comportamentos prejudiciais aos
outros, e principalmente para si próprio.
Esta justa medida deve estar muito bem definida na nossa consciência:
ajudar sempre, mas nunca esquecer de pesar se não estamos antes atrapa-
lhando do que ajudando ao prestar algum tipo de auxílio impróprio ou in-
conveniente. Quer ajudar? Que tal se optar por ajuda sociedades beneficen-
tes através de trabalhos sociais que podem significar melhorias para todos,
tais como amparo a idosos, alfabetização, cuidados médicos, auxílio a lares
educandários, asilos; recuperação de jovens desvirtuados pelas drogas, dedi-
cação amorosa na educação dos filhos, opinião pública, etc.
É bom não se esquecer também de que existem casos de tropeços ne-
cessários ao aprendizado, e outros causados pelos excessos desmedidos,
consequências de irresponsabilidades deliberadas. Podemos compreender
melhor através da ilustração deste exemplo, quando aqueles muito humildes
e pobres, despreparados para o mundo, ganham um grande prêmio numa
loteria. Note como, quase invariavelmente, acabam gastando tudo que ga-
nharam sem medir consequências, sem fazer poupança ou investimentos que
pudessem lhes gerar o sustento futuro.
E pior: em boa parte das vezes contraem dívidas impagáveis que po-
dem deixar descendentes e familiares em situação difícil. Da mesma forma,
ao oferecer grandes socorros financeiros, por piedade e consideração, muitas
vezes podemos estar tirando uma possibilidade única de alguém passar por
uma prova que o levaria ao desenvolvimento necessário. Para, só daí, estar
preparado para lidar com situações mais complexas e criar medidas e limites
para suas ações.
Uma vida com limitados recursos certamente que construirá a noção
de economia. Os gastos serão feitos quando necessário e sem desperdícios.
71
Devemos lembrar que a própria Lei da Causa e Efeito providencia situações
onde a possibilidade de auxílio fica imensamente prejudicada, e grandes
populações se veem carentes de quaisquer recursos mais apropriados para
uma vida mais confortável. Nestes casos, além da expiação de erros cometi-
dos numa existência passada, em outros casos, pessoas são submetidas a
estas existências para poder aguçar a noção de cooperativismo, amor, justi-
ça, solidariedade, etc.
Note que, quase sempre, uma ajuda financeira ou material generosa
acaba por desviar o auxiliado de seu caminho por alguns tempos. Poderá
trazer mais tranquilidade e segurança momentânea, mas dificilmente farão
com que ele tire da situação difícil as lições que poderia e deveria aprender.
Certamente que, quando acabar o provimento ofertado, logo estará nova-
mente no mesmo ponto que estava quando recebeu a ajuda. Ou seja, de uma
forma ou de outra, sempre o destino fará com que cada um encontre a situa-
ção adequada para o seu estágio de desenvolvimento. Claro que isso jamais
pode ser usado como pretexto para desprezar ou ignorar toda e qualquer
situação de urgência vivida por alguém. Antes auxiliar, mesmo que na dúvi-
da, do que simplesmente ignorar e se omitir mediante situações de conflito,
urgência ou erro, que qualquer um de nós pode passar; situações que só con-
seguimos sair quando alguém oferece auxílio providente.
Cristo operou muitos milagres, curando cegueiras, deficiência físicas
graves, doenças contagiosas em estado terminal, etc. Deus, em Sua infinita
bondade e amor, tudo poderia curar através unicamente de Sua Vontade.
Porém, a maioria das pessoas tem dificuldades, doenças, limitações, medos
e tantos outros tormentos que carregam por toda a vida. Será, então, que
estão esquecidos pela Providência? – Claro que não. O objetivo e vontade
não é a de que ninguém sofra por sofrer, sem nenhum motivo. Qualquer
problema poderia ser resolvido pela Providência Divina; mas, para que pos-
samos aprender é necessário que cada um arque com as consequências de
seus próprios erros, suas dificuldades e suas doenças. Este é o caminho que
temos por hora. Só poderemos viver num futuro sem dificuldades ou doen-
ças quando tivermos aprendido tudo que essas dores ensinam. Doenças, em
boa parte das vezes não passam de consequências de exageros ou de senti-
mentos mal resolvidos. A doença é a consequência de um desequilíbrio. Se
há desequilíbrio algo tem de ser feito para melhorar as condições mentais e
espirituais que possibilitem um estado saudável.
72
Fácil seria se pudéssemos contar com um elevado guia que nos socor-
resse para tudo, em todos os momentos: não haveria doenças, qualquer tipo
de pobreza, nenhuma carência de recursos; não teríamos que nos esforçar
para nada, a vida seria um eterno desfrute de tudo, sem ter que fazer nada
para merecer isso tudo. Ou seja, aqueles das ondas de vida anteriores, seri-
am nossos escravos, e nós, seres especiais livres de qualquer problema, pois
que eles estariam evitando qualquer mal, a todo o momento. Se fosse assim
não haveria sequer a necessidade das inúmeras reencarnações. Se assim fos-
se teríamos nascido prontos, com todos os conhecimentos, todos os senti-
mentos, com todos os parâmetros de comparação já formados em cada um,
com todos os merecimentos!
Como isso obviamente não existe, claro está que temos de passar pelas
muitíssimas provas mundanas, para só daí receber um período de descanso e
tranquilidade. É oportuno lembrar que não adianta “entregar a vida nas
mãos de Deus”. Isso seria uma forma covarde de fugir aos compromissos
que cada um tem de ter consigo, e com cada um que estiver sob seus cuida-
dos. Esperar milagres não é uma boa aposta. Ficar esperando que uma Pro-
vidência Divina dê cabo de todos os problemas poderá levar a uma grande
decepção. Só receberemos algum “milagre” ou ajuda extra, se o caso for de
excepcional gravidade, e de acordo com o merecimento de cada um.
Fé e crença
Muitos são aqueles que ficam parados, esperando que alguém vá fazer
tudo, simplesmente confiando na fé. Mas o que é fé, afinal? Existe confusão
entre crer e ter fé desde quando o texto grego do Evangelho foi traduzido
para o latim. A palavra grega para fé é pistis, cujo verbo é pisteuein. O subs-
tantivo latino fides, correspondente a pistis, não tem verbo e, assim, os tra-
dutores latinos viram-se obrigados a recorrer a um verbo de outro radical
para exprimir o grego pisteuein. Trata-se do credere, que em português fi-
cou como crer.
Nenhuma das cinco línguas neolatinas possui verbo derivado do subs-
tantivo fides ou fé; todas essas línguas são obrigadas a recorrer a um verbo
derivado do credere. Mas, a palavra pistis ou fides, originalmente, significa
harmonia, sintonia, consonância. Portanto, ter fé é estabelecer ou ter sinto-
73
nia, harmonia entre o espírito humano e o espírito divino. Se o espírito hu-
mano não está em sintonia com o espírito de Deus, ele não tem fé, embora
talvez creia.
Esse homem poderia teoricamente aceitar que Deus existe, e apesar
disso, não ter fé. Segundo o sentido original, a verdadeira fé é aquela exer-
cida pela Consciência. Então, fé significa sintonia com Deus, tanto pela
Consciência como pela vivência. Alguém sem comunhão com Deus pela
consciência, mística7 ou pela vivência pode crer vagamente em Deus. Mas,
essa crença pode apenas ser um ato de boa vontade; pois, podemos acreditar
em algo ou alguém simplesmente por conformismo, persuasão, comodidade,
submissão, conveniência, ignorância, subserviência, obrigação, imposição,
etc. Ter fé é uma atitude de Consciência e de vivência.
O sentido mais comum dado a palavra fé é acreditar em nós, dar um
voto a mais de confiança naquilo que estamos fazendo; acreditar e voltar as
forças para a execução. Em sua acepção, fé significa acreditar nos desígnios
maiores, respeitar e amar a Deus, acreditar em Seus mandamentos e diretri-
zes para a vida cristã. Temos de conservar a fé nascida do coração, da hu-
mildade que mostra o que de fato somos, que cria forças necessária para o
bem agir. Respeitar e acreditar que podemos é uma forma de seguir adiante
de forma precavida, tomando os devidos cuidados para chegar à vitória;
seguir com fé é fazer de forma submissa na certeza de uma justiça maior; na
segurança de se sentir guiado por uma Luz Maior. Quem tem fé se mune de
uma força interior maior; sua divindade se manifesta de forma mais plena e
convicta, sem se deixar abalar por nenhum percalço.
Respeitar a si próprio, aos outros e a Deus é uma verdadeira manifes-
tação advinda da fé cristã. Respeitar, não no sentido restrito de acatar, temer
ou suportar. Respeito remonta suas raízes ao latim respectus, que significa
“olhar para trás” e “considerar”. Respeito implica reconhecimento da impor-
7 Etimologicamente, místico designa “uma vivência profundamente interior, miste-
riosa”. Em sentido mais amplo, “mística é toda espécie de união interior com Deus”. Por-
tanto, “Místico é aquele que comunga diretamente com Deus”. O traço comum da Mística
é fato de a Verdade ou Deus ser conhecida apenas individual e experimentalmente no inte-
rior da própria alma. Cientificamente isso é impossível, algo considerado inexistente, visto
tratar-se de um fenômeno subjetivo, intransferível, não-empírico.
74
tância da individualidade de cada um, bem como suas crenças e sentimen-
tos.
Benção ou uma prova?
Muitas vezes, até mesmo uma vida rica materialmente é uma prova di-
fícil de ser cumprida. Uma vida abastada testa os limites das pessoas e iden-
tificam quais são seus verdadeiros valores morais para com seus semelhan-
tes. A riqueza pode aflorar o lado altivo, orgulhoso e egoísta de alguém que,
a partir de um ponto luxuoso, poderá enxergar todos os demais como inferi-
ores e menos importantes. A riqueza não remove a possibilidade de que a
pessoa venha a passar por grandes problemas psicológicos. Muitas vezes a
abundância de recursos leva à abundância de problemas.
Entre nós, o dinheiro move montanhas; assim, o fascínio causado pelo
dinheiro costuma levar a atitudes desmedidas. Atitudes mal pensadas geral-
mente levam a consequências desastrosas. Uma vida abastada muitas vezes
é dada para testar os limites verdadeiros de alguém; principalmente para
aqueles que nascem em família muito rica. Estes, quando não sabem valori-
zar o dinheiro, porque nada tiverem de fazer para ganhá-lo, usam-no de
forma totalmente desregrada e irresponsável, como que vivendo um conto
de fadas. Não se importam com o quanto gastam e nem dimensionam ou
raciocinam se é necessário ou não usar a quantia que normalmente esban-
jam. Muitas vezes conseguiram passar por uma existência passada com re-
cursos extremamente limitados.
Numa vida atual de riqueza, seus limites estão sendo testados para
provar a verdadeira essência de sua Consciência. Existe um limite entre es-
banjar e ter o suficiente para uma vida relativamente feliz. Aquele que des-
perdiça recursos sem motivo, certamente que não poderá alcançar a verda-
deira felicidade espiritual. Quem se contenta e se basta com pouco, certa-
mente dará valor a uma vida espiritual feliz, sem cometer nenhum excesso.
Existem casos verídicos de alguns Seres mais desenvolvidos que, quando
submetidos a esta prova, não só desprezaram o excesso da fortuna em prol
de seus semelhantes, como optaram por uma vida simples e sem ostentação.
Provaram, então, a sua elevação espiritual. Ao desprezar uma vida rica e
cheia de mordomias, provaram e estabeleceram sua elevada Consciência.
75
Sua índole julgou de maneira correta a situação: possuíam muito mais do
que precisavam; ao invés de guardar e ostentar, antes optaram por fazer me-
lhor uso de toda sua riqueza em favor dos mais necessitados.
A inteligência superior os levou a conclusões mais elevadas: pra que
guardar para si se sua missão ia muito além do que ter uma vida de facilida-
des e ócio? Sabiam que as coisas passageiras da terra são antes para possibi-
litar nossas experiências e provações, e não para obter relativa felicidade
momentânea. O que lhes era reservado numa vida superior, jamais poderia
ser comparado a alguns momentos de desfrute. O poeta grego Homero disse
Já dizia o poeta Homero: “Mais vale ser um mendigo sobre a terra do
que ser um rei no império das sombras”.
“Vendemos curas, milagres e um lugar no paraíso! Lembre-se de
que temos de ser ignorantes e pobres para subir aos céus. Pois, liberte-se
de suas economias e propriedades que todos seus problemas serão resolvi-
dos!”.
Existem algumas seitas que se autodenominam “religião”, com de-
monstrações absurdas de curas, abertura de caminhos, solução para pro-
blemas financeiros e tantos outros, à custa da boa fé e ingenuidade de mui-
tos ricos na devoção, mas pobres no discernimento. Estes ardilosos seqües-
tradores de mentes prometem o impossível para arrancar tudo que for pos-
sível de cada um de seus seguidores.
Estes são explorados por estas quadrilhas que enriquecem com o di-
nheiro que juntaram com muito esforço. Agem como se possuíssem poderes
de mudar o destino das pessoas e produzir milagres. Será que estes estão
conseguindo salvar a si próprios, pelo menos? Hoje infelizmente temos dis-
ponível muita informação, mas pouca formação.
Muitas pessoas são enganadas por estas quadrilhas que praticam ab-
surdos aos olhos de todos, protegidos por aquilo que a lei diz ser “liberda-
de de culto religioso”. Mas não podemos jamais concordar e consentir
quando se confunde isso com a prática de estelionato, furto, golpes, enga-
nações, sonegações, comércio, lavagem de dinheiro etc. Usam de interpre-
tações absurdas de palavras sagradas, põem uma gangue de charlatães
muito bem treinados e persuadidos em seus “templos”, e aumentam cada
dia mais suas rendas com este grande negócio amoral, ilícito e imoral.
76
Ninguém deve esperar que alguém tenha o poder de oferecer bênçãos,
gratuitas ou não, que acabem com todos seus problemas. É óbvio que isto é
pura pretensão de mentes perturbadas pela ganância, pela lavagem cere-
bral que recebem para agir operando milagres em suas contas bancárias.
Pura enganação!
Salvo raríssimas exceções, onde graças foram alcançadas por mere-
cimento e pelas mãos de agentes elevados, pouquíssimos relatam um só
caso destas seitas onde tenha recebido, de fato, algum benefício de suas
ridículas estripulias.
A deturpação de códigos religiosos em busca de vantagens pessoais
ou corporativas causou e causa atos atrozes. Ainda hoje existem aqueles
que defendem que “aquele que morre lutando pelo seu Credo vai direto ao
céu”. Assim justificam insanidades, tais como aquilo que chamam de
“guerra-santa”, para defender o que dizem ser seu credo, ideal, religião,
misticismo ou missão.
77
Capítulo VIII
Culpa
Muitas das tristezas e melancolias, insatisfações e angústias advêm do
sentimento de culpa. A culpa prende ao passado e causa tristeza pelo senti-
mento de não ter sido como deveria ou poderia ser. A sensação que persiste
é a de ter cometido de que não deveria ter agido daquela forma. É o conflito
existente entre o que fomos e o que julgamos que deveria ter sido. Um erro,
engano ou equívoco pode gerar o remorso da culpa.
Há muitas pessoas que carregam em si marcas de erros cometidos que
sequer geraram consequências graves. A preocupação com o ocorrido per-
siste, e a dor de ter falhado fica represado no inconsciente. Isto ocorre prin-
cipalmente quando alimentamos exagerada expectativa em relação a nós. A
culpa pode se manifestar até mesmo num simples silêncio, parecido com a
da depressão ou angústia. Algumas vezes carregamos traços de culpa tão
misturados dentre outros sentimentos que mal os detectamos. Mas, apesar
de não definido numa primeira análise, muitas vezes detectamos na expres-
são confusa de quem não sabe explicar o seu recolhimento e angústia, prin-
cipalmente mediante algumas situações em particular.
A dor persiste porque somos cobrados por nossa Consciência em todas
as situações. Quando existe um caráter formado por fortes regras e imposi-
ções, e a pessoa é demasiadamente rigorosa consigo e com os demais, qual-
quer falha, real ou imaginada, poderá desencadear a culpa por não estar fa-
zendo determinada coisa que julga ter de fazer. Então, a insatisfação consigo
causa a tristeza da dívida, do não fazer, do não poder fazer, da impotência
perante certas situações; do querer fazer mas não poder.
Trata-se de uma excessiva cobrança de nós quanto às atitudes que te-
mos de tomar com relação a tudo. Quando alguém é criado em regimes ex-
tremamente rigorosos, seu senso de responsabilidade é desenvolvido através
das excessivas cobranças e máximo rigor na forma de agir. Quando pessoas
criadas assim se veem em situações onde nada podem fazer – julgando ter
de fazer – carregam-se de altas doses de cobrança em si. Mesmo naquelas
78
situações onde nada poderiam fazer, devido aos muitos motivos possíveis,
se atormentam com culpa causada pelo não cumprimento de seus “deveres”.
Observe como estes sentimentos sorrateiros permeiam milhares de
mentes e as atormentam no dia a dia. Mães que se sentem na obrigação de
ajudar os filhos mesmo naqueles problemas sem muita importância; cônju-
ges que se oprimem no desconforto de se ver numa situação difícil e nada
poderem fazer; filhos com pais acometidos de doenças ou outra dificuldade
qualquer, pouco podendo fazer naquele momento, etc. É necessário que
identifiquemos as circunstâncias em que isso acontece para percebermos se
uma tristeza não está sendo gerada pelo sentimento de culpa. Precisamos
perceber quando esse tipo de tristeza se instala mas nada podemos fazer
pelas nossas atuais limitações, ou pela falta de recursos ou tantos outros
inúmeros fatores.
Precisamos identificar aquelas situações onde nos cobramos excessi-
vamente para aquilo que realmente não podemos ou não nos cabe fazer. Se
não podemos ir além daquele ponto onde já fizemos o possível, por que fi-
car se martirizando com a dor da culpa? Isso bem poderia ser apenas nossa
intenção automática de nos mostrar responsáveis, para deixar claro para os
outros de que nos importamos, muitas vezes apenas para demonstrar que
fomos tocados por alguma situação alheia qualquer. Precisamos sempre nos
lembrar de que nossa responsabilidade vai até onde devemos e podemos
fazer; o dever moral vai até onde nossas possibilidades alcançam; nosso
dever humano vai até o limite do realizável. Além desse limite, se nada po-
demos fazer, temos de ficar descansados, conservando nossa mente num
bom nível para raciocinar de forma equilibrada.
Claro que jamais podemos dizer que estamos tranquilos quanto a de-
terminadas situações se nada tentamos, ou não fizemos o menor esforço
para ajudar. Mas, o que frequentemente ocorre é de pessoas carregarem con-
sigo altas doses de cobrança quando nada podem fazer. Esta cobrança acaba
se manifestando como culpa por não reagir mediante algumas situações pas-
sadas por alguém querido, necessitado, injustiçado. O fato de não poder de-
monstrar o quanto gosta daquela pessoa, através de atos eficazes, acaba por
frustrar uma vontade advinda da alma, da índole, da bondade ou do amor.
As marcas dessas sensações mal resolvidas se misturam e se manifestam na
culpa, que entristece e deprime. Este tipo de sentimento só é identificado
quando fazemos uma varredura na alma através de uma reflexão que detecte
eventuais culpas desnecessárias e as atire para bem pra longe. Se não for
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extirpada a dor angustiante da culpa, além do desconforto mental, psicológi-
co e emocional, acabará por causar doenças psicossomáticas: cardíacas, cir-
culatórias, nervosas, alérgicas, glandulares, funcionais etc.
Não podemos confundir responsabilidade e altruísmo com obrigação
de ter de fazer em toda e qualquer circunstância. É preciso que respeitemos
nossos limites e percebamos até onde efetivamente podemos e devemos ir.
Não podemos nos preocupar demasiadamente com problemas que cabem
aos outros resolverem. Não podemos ficar se enchendo de cobranças quando
alguém passa por uma dificuldade, fruto de sua própria irresponsabilidade
ou desleixo. Não temos que ficar se sentindo eternamente devedores com os
filhos, se estes já estão com idade suficiente para resolver seus problemas e
arcar com consequências e responsabilidades da vida. Não temos que sentir
a dor de alguém quando nada podemos fazer, além de auxiliar e prestar so-
corro. Nestas situações, depois de detectado a culpa e nos livrarmos dela,
basta manifestarmos nossa solidariedade numa oração simples e de coração
que aliviamos a mente da cobrança indevida, que tanto atormenta a paz inte-
rior.
Quantas vezes não trazemos em si a marca de uma falta que não foi
causada por má intenção ou de propósito, e que foi cometida quando éramos
ainda imaturos e ingênuos. O simples fato de ter prejudicado alguém ou a
nós mesmos, por não termos correspondido à expectativa de alguém, causa
o sentimento de culpa. A culpa não perdoada, por algo que fizemos a ou-
trem, deixará uma marca como se ficássemos devendo alguma coisa. Como
nem sempre é possível reparar um dano, logo nos culpamos por qualquer
palavra ou ato equivocado. Se falhamos ao desempenhar alguma tarefa que
alguém esperava que fizéssemos bem, o remorso ficará angustiando. A sen-
sação de não termos feito aquilo que alguém tanto esperava pode aflorar a
mágoa, frustração e culpa.
É sempre necessário lembrar de que não somos seres perfeitos, nem
eu, nem você nem ninguém. Imaginar que nunca alguém falhou ou falhará é
uma bobagem. Só não erra quem não faz. Todas as pessoas que buscam al-
cançar algo correm o risco de errar. Ficar guardando sentimentos de angús-
tia por alguma derrota ou erro só serve para criar o medo de voltar a tentar.
Aquele que não se valoriza e acha que tem de fazer tudo perfeito estará
sempre correndo o risco de sofrer pela culpa.
80
Muito do que aprendemos só é conseguido através de tentativas, erros
e acertos. Muitas vezes nos cobramos por temer sentir culpa por não ter fei-
to nossa parte. A autopunição, ou o temor da repreensão de um terceiro é
necessário para que as pessoas permaneçam num bom nível de realizações.
Numa vida onde somos submetidos a fazer, muitas vezes sem ao menos ter
recebido alguma instrução, grandes são as possibilidades de que alguma
coisa não saia conforme o desejado, conforme a expectativa que criamos, ou
que imaginamos que os outros têm de nós. Se imaginarmos que temos de ser
perfeitos o tempo todo colocamos uma carga pesada sobre os ombros, e
acabamos inibindo nossas iniciativas com medo de errar e decepcionar al-
guém, ou até a si próprio.
Cometemos muitos exageros sempre que atribuímos culpa ao erro.
Sempre que algo não sai conforme o esperado, altas doses de culpa são im-
putadas a si, o que leva à sensação de ter de pagar dívidas imensas. Quando
pensamos dessa forma, ou vamos passar a vida parados com medo de errar e
sentir culpa, ou estaremos sempre nos sentindo culpados, porque nunca errar
é impossível. A culpa nasce da maneira como nos colocamos diante do erro,
do conceito de que é errado errar, que devemos ser castigados pelas faltas
cometidas; pela crença de que cada erro deve corresponder a um castigo,
que cada falta deve receber uma punição.
81
Capítulo IX
Perdão
Para eliminar este sentimento precisamos aprender a perdoar a si e aos
outros. Se a culpa é a vergonha de uma falha, o perdão é o que dá forças
para levantar de novo. Então, nunca esqueçamos de dizer para si: “Eu me
perdoo pelos erros cometidos, pois não sou perfeito; eu perdoo minhas limi-
tações, afinal sou humano; eu perdoo aquele que me prejudicou por uma
atitude equivocada, sem se dar conta de sua gravidade, por imaturidade; eu
perdoo meu erro porque cometi na boa intenção de acertar, de fazer, de pro-
curar aprender para ser melhor, e assim não mais cometer repetidamente os
mesmos erros”.
Não podemos condenar aquele que erra tentando acertar, pois isso
acontece com todos. Pra que guardar o ódio atribuído a alguém quando con-
denamos alguma de suas atitudes. Antes de julgar e imputar culpa a si e aos
outros, procure compreender e raciocinar num bom nível de percepção de si
e dos outros. Se fossemos perfeitos seriamos deuses e não pessoas apren-
dendo. Cada um se desenvolve dentre outras pessoas, errando e acertando.
Perdoando restabelecemos a nossa integridade diante da vida, unindo o que
a culpa dividiu, e assim seguimos ao encontro do ponto de equilíbrio e do
bom-senso. Perdoar é também aceitar que na vida temos altos e baixos, que
erramos e acertamos, mesmo quando só agimos na boa intenção.
Buscar o perdão é um exercício de analisar erros passados para acertar
no presente. Um erro será isentado de culpa sempre que nos conscientiza-
mos de seu peso e aprendermos a não mais cometê-lo. De que adianta con-
servar um peso na consciência se não podia ser feito de outra forma? Anali-
semos quais são nossas possibilidades presentes, e aliviemos nossa mente do
peso da dívida moral cometida pela insuficiente maturidade, que não deixou
que aquilo pudesse ter sido falado ou feito de maneira mais apropriada.
Aquele que pensa que vai se livrar das críticas fazendo tudo da maneira
mais perfeita possível corre o risco de apenas querer agradar aos outros e
nunca ficar satisfeito consigo. Tudo que for fazer fará pensando no que os
outros podem pensar, e não para conquistar seus desejos e satisfazer suas
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necessidades. Erros cometidos sem a intenção de prejudicar alguém não são
pecados, como muitos dizem.
Quem é que nunca errou na vida? Como poderemos julgar o peso de
um erro quando não conhecemos todas as partes integrantes que perfizeram
o conjunto de fatores que o gerou? Como podemos condenar a falha de al-
guém sem ao menos conhecer os motivos que o levaram a falhar? Apesar de
existir modelos e regras a serem seguidas, sempre haverá atitudes desagra-
dáveis a um ou outro, pois somos diferentes um do outro. Impossível que
cada atitude venha a agradar a todos. Num mundo de aprendizes é impossí-
vel que todos as inúmeras relações ocorram de forma harmônica, e que tudo
transcorra na mais perfeita ordem.
Há casos onde a preocupação excessiva nasce das excessivas cobran-
ças que fazemos movidos pelo sentimento de culpa. Se deixamos de fazer
algo a tempo, ou se fizermos menos do que a obrigação, logo sentiremos a
culpa por não ter feito o que devia, ou aquilo que a Consciência julgou ser o
ideal. Então, nesses casos a culpa é o sentimento que nos avisa que devemos
nos mexer e cumprir nossas obrigações. Quando vemos alguém fazendo e
estamos parados, claro que seremos tocados pela Consciência para que aju-
demos. Nestes casos, só não sentirá a cobrança pela culpa de não fazer –
excluindo-se os casos de impossibilidade física ou intelectual – quem é pro-
fundamente egoísta ou cômodo em sua preguiça, sem a maturidade para
discernir que cada um tem de fazer sua parte. O remorso da inércia nos
chama para a solidariedade, para a união de forças, para a divisão de esfor-
ços e trabalhos, para que tudo possa sair bem e ninguém se sobrecarregue
com excessos.
A culpa nasce também quando cometemos uma negligência, impru-
dência ou ato levado por interesses menores, algo que sabíamos que não
podia ter cometido. A Consciência sempre nos alerta quando tendemos a
cometer uma atitude que sabemos estar errada. Sem o sentimento de culpa
nos autorizaríamos a fazer tudo sem medir consequências, nem para si nem
para os outros. Não sentiríamos o dever de fazer nada e nem nos preocupa-
ríamos de incorrer em reincidências de erros. O sentimento de culpa é uma
faculdade de nosso juízo que atua auxiliando a justa medida entre o certo e o
errado. Se cometemos um ato sem consultar a Consciência, logo ela fará
soar o alarme que cria a sensação de angústia, remorso e reprovação de si.
83
Mas, acontece muitas vezes de pessoas ficarem lamentando suas atitu-
des passadas, cometidas quando eram menos maduras ou menos experien-
tes. Ou seja, lançam um olhar de seu atual ponto de desenvolvimento e con-
denam seus atos passados, quando eram pessoas menos instruídas e menos
capazes. Isso costuma marcar muita gente com o arrependimento por ter
agido de uma determinada forma que hoje reprovam.
Só que nestes casos jamais podemos nos sentir culpados ou sentir dor
por algo que ficou no passado. Se era aquele antigo e imaturo caráter que
levou àquele ato infeliz, porquê ficar lamentando, se agora alcançamos um
nível mais alto de Consciência? Nível este que permite até que se perceba os
erros e equívocos cometidos outrora. Quando as dores persistem é porque
lamentamos e queremos voltar ao passado e fazer de novo, agora da forma
correta. Claro que isso é impossível. Se a atitude de hoje é melhor do que
aquela ruim do passado, basta.
Não devemos nos condenar por pequenos defeitos ou erros do passa-
do, se foram eles que fizeram com que amadurecêssemos. Sem ter cometido
aqueles erros, certamente que você estaria no mesmo nível que estava na-
quela época. Se você não tivesse tentado, errado e aprendido, certamente
que estaria naquele mesmo nível de maturidade.
Que bom poder aprender e enxergar nossas falhas passadas e dizer:
“Eu aprendi! Agora não só sei para mim, mas posso ensinar os outros para
que não cometam a mesma falha. Sofri, fiz alguns sofrerem, mas hoje ja-
mais cometeria aquelas bobagens novamente; venci minhas limitações e
imperfeições, e hoje estou melhor. Agora não mais cometo aquilo que era
prejudicial a mim e aos outros. Se mesmo tomando o máximo cuidado co-
meter alguma falha, paciência: eu erro e todos erram. O importante é agir de
boa fé e sempre com o máximo cuidado para não cometer erros graves que
prejudiquem os outros e a si próprio. No mais, como estou sempre apren-
dendo; infelizmente existe a chance de algum erro acontecer. Hoje o que
mais importa é que sigo sempre tentando acertar; o que mais importa disso
tudo é que cresci, estou crescendo e auxilio todos aqueles que estiverem
passando pelas mesmas dificuldades. Sem o peso da culpa, perdoo e sou
perdoado”.
Muitas vezes só aprendemos depois de cometer uma falha. Em boa
parte das vezes é através dos erros e acertos que encontramos a maneira
certa de fazer para não mais errar. Então, ninguém tem que ficar lamentando
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e remoendo coisas passadas com imensa carga de culpa. Se havia boa inten-
ção, mas não a capacidade necessária para agir de outra forma naquele mo-
mento, como poderia ter feito melhor? Quem é que nunca magoou ou preju-
dicou alguém por um deslize qualquer?
Se não existia nenhuma má intenção naquele ato, porque não se expli-
car e fazer ser compreendido por quem eventualmente saiu prejudicado? E
se foi você o prejudicado: que tal se você raciocinar sobre o que aconteceu e
perdoar aquele que cometeu a falha? Muitas desavenças advêm de desen-
tendimentos pela falta de experiência e conhecimento de causa, o que impe-
de que atitudes mais apropriadas sejam tomadas. Errar faz parte de nosso
desenvolvimento. Quanto mais fazemos, maiores são as possibilidades de
que algum erro aconteça.
Mas, e então? Devemos ficar parados, sem fazer nada para nunca er-
rar?
– Impossível. Você já ouviu o provérbio que diz que “não devemos
chorar sobre o leite derramado”? Pois então continue fazendo sua parte, sem
medo ou excessivas cobranças de que tem de fazer tudo perfeito, ou sempre
mais do que os outros.
O excesso de cobrança gera insatisfação e remorso. Quem é que gosta
de viver com estas coisas? Claro que ninguém. Liberte-se da culpa daquilo
que já fez e não tem mais jeito de consertar. Se magoou ou prejudicou al-
guém e pode reparar a falha, ótimo: vá e peça perdão, reconheça seu erro e
prontifique-se a reparar sua falha. Uma das mais nobres atitudes que pode-
mos ter é a de reconhecer nossos erros, equívocos ou falhas, pedir descul-
pas, e fazer para que tudo volte à paz e boa convivência.
O medo pode nos inibir as iniciativas
O ressentimento causado por uma falha pode nos inibir a iniciativa. O
medo de errar de novo pode nos fazer deixar passar muitas oportunidades.
Para nos livrar dessas culpas temos de admitir que não somos perfeitos, mas
sim meros aprendizes. A humildade de saber que não somos capazes de fa-
zer tudo de maneira perfeita nos leva a tentar de novo. O medo de receber
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uma crítica ou julgamento de alguém pode nos levar ao recolhimento e a
aceitação de que não somos capazes.
Mas, será que é melhor ficar se sentindo inferior, ou partir com cora-
gem e sem medo de críticas? Algumas sacudidas da vida são formas de pro-
var nossos limites e aumentar nossas capacidades. Ficar olhando o mundo e
imaginar que não somos capazes nos leva a cultivar insatisfação e dor. Isso
é muito pior do que humildemente identificar nossos atuais limites, e buscar
construir nossas conquistas seguindo todos os passos, sem a afobação de
querer mostrar para os outros. Não temos de nos preocupar em agradar sem-
pre; e, às vezes até somos obrigados a sacrificar algo para alcançar um obje-
tivo maior. Imaginar que temos de viver para o tempo todo agradar os ou-
tros, e assim ser poupado de críticas e nunca ser julgado ou visto com repro-
vação, nos torna escravos do mundo. Não podemos deixar que limites se
estabeleçam pelos nossos medos.
Não fazer por medo de julgamentos nos conserva no círculo onde nos
julgamos menores, menos capazes e menos dignos de receber amor. Quando
julgamos não ser dignos de atenção, carinho, amizade ou amor acabamos
por nos tornar demasiadamente críticos, o que pode acabar se tornando pre-
texto para justificar uma posição de constrangimento interno de intensa dor.
Mas, claro que ao invés de se recolher criticando a vida e o mundo, melhor
será se levantarmos a cabeça e seguir sem medos excessivos de julgamentos
ou críticas. Não precisamos ser sempre perfeitos simplesmente para agradar
e ser reconhecidos. Só a ação é que pode nos conduzir para um lugar me-
lhor. Ficar parado vendo os outros passar, se achando digno de dó, cheio de
pena de si, acaba levando ao recolhimento e medo de agir. Por isso não po-
demos nos colocar como vítimas das circunstâncias, com excessivo dó de si
mesmo.
Antes de esperar compaixão para conseguir o apoio dos outros, me-
lhor será se tivermos atitudes maduras e segurança para não precisar da
compaixão de ninguém, nem de nós mesmos? Temos de seguir otimistas,
buscando sempre agir com mais segurança e opinião; e até mesmo admitin-
do humildemente que precisamos da ajuda dos outros. Precisamos nos com-
prometer a mudar o que não agrada, mesmo se para isso tiver que sacrificar
algum velho costume ou relação duvidosa. Somos admirados quando somos
persistentes e fortes o bastante para não esmorecemos demais em qualquer
dificuldade e seguimos fazendo.
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Todos nós aprendemos todos os dias. Se ficarmos parados, o máximo
que vamos conseguir é permanecer no mesmo lugar, adiando nossas experi-
ências para outra vez em que o mundo nos provocar e chamar para a luta;
muitas vezes, em circunstâncias muito piores, de forma mais violenta e sem
piedade. Se seguimos bem intencionados, impelidos pela consciência do que
somos, e sabendo até onde podemos ir para não ferir ou prejudicar ninguém,
sigamos em frente sem medos ou freios postos pela culpa. Não coloquemos
excessiva expectativa em tudo. Meçamos nosso entusiasmo até o ponto que
crie a força necessária para ação. Isto basta para seguir fazendo sem muitas
cobranças de si. Se imaginarmos que vamos ou temos de ganhar todas as
vezes, certamente que nos decepcionaremos.
Se falhamos, que tal tentar de novo? Do ócio e da lamentação só pode-
rão surgir dor, tristeza, baixa autoestima, culpa, raiva de si e dos outros, re-
colhimento e depressão. Quando procuramos meios de preencher a vida e
dar conta de cumprir nossas obrigações diárias, culpa nenhuma ficará ron-
dando. Isso porque a cobrança que a Consciência faz, de forma quieta, mas
atenta, pode provocar a angústia como se tivéssemos devendo algo. É sem-
pre bom percebermos se não estamos adiando demais nossas tarefas, dei-
xando para depois o que podemos ou devemos fazer agora. O sentimento de
culpa é um sinal que incomoda a Consciência sempre que percebemos a
gravidade ou consequência de uma falha que cometemos, mesmo quando
cometida sem qualquer má intenção.
Lembremo-nos de que não somos de determinada forma, mas sim que
estamos de tal forma. O que hoje somos é melhor do que já fomos; seremos
a partir de hoje pessoas mais maduras, mais sábias, mais experimentadas e
mais capazes. Amanhã poderemos vir a se envergonhar de uma de nossas
atuais características ou atitudes que hoje aceitamos e é normal em nossa
vida. Então, porque ficar presos a ressentimentos de coisas que fizemos num
passado remoto, se quem cometeu foi aquele que éramos no passado. O
mais importante é termos hoje a certeza de que não iremos repetir os mes-
mos erros ou equívocos de antes. O principal propósito da vida é nos fazer
aprender com nossas próprias ações, entre erros, acertos, glórias e até com
alguma decepção.
87
Capítulo X
Vida além da imaginação
Ninguém é idêntico a ninguém, por mais que existam personalidades e
forma de expressões comuns. Cada ser tem sua individualidade e caráter
próprio, algumas vezes desenvolvido em condições parecidas, mas em cir-
cunstâncias diferentes, com um conjunto de pensamento e emoções diferen-
tes, a partir e de acordo com o momento intelectual e emocional individual.
Possuímos hoje o conjunto mais adequado à sequencia de nosso atual está-
gio de desenvolvimento espiritual.
Reunimos, dentre nossas faculdades já desenvolvidas, aquelas que
formam o conjunto ideal para resgatarmos alguma dívida, desenvolvermos
pontos ainda insuficientemente desenvolvidos e para aproveitar de forma
mais efetiva cada experiência vivida. Muitas de nossas habilidades e talen-
tos podem ficar como que desligados, armazenados em nossa essência. Se
elas tiverem de estar “desligadas” para que melhor funcionemos de acordo
com o que precisamos desenvolver agora, elas ficarão adormecidas enquan-
to estivermos encarnados.
A mente faz a união entre o corpo e a alma para manifestação de um
ego, que é o conjunto de percepções e habilidades reunidas de acordo com o
que iremos precisar na atual fase de desenvolvimento. Quando nos aproxi-
mamos do plano material para passar por uma nova jornada nas vestes cor-
póreas, recebemos como que luvas que se sobrepõem até o ponto certo para
iniciarmos nova jornada terrestre. Isto limita muito nossa percepção nata de
seres eternos e celestiais.
Mas, esta é a forma apropriada para o desenvolvimento atual. Se pos-
suíssemos a completa Consciência do que somos, o cumprimento das tarefas
necessárias a cada um no plano corpóreo seria impossível. Por isso é dize-
mos que formamos o conjunto mais apropriado à sequencia de nossa jorna-
da, sem jamais perder a individualidade, nem qualquer conquista passada.
Então, somos orientados e desligados momentaneamente de muitas de
nossas habilidades e conhecimentos adquiridos nas vidas anteriores para, só
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assim, chegarmos ao ponto que precisamos para melhor desenvolver aquilo
que ainda não conseguimos despertar de nossa Essência Divina. Jamais per-
demos os registros de tudo que já construímos. Estes registros ficam arma-
zenados no nosso átomo-semente e são religados a nós sempre que retorna-
mos à vida espiritual depois de deixar o Plano físico. Muitas vezes podemos
ter sido intelectuais altamente cultos no passado, mas faltava a experiência.
Ou seja, havia apenas o conhecimento teórico e não o prático. Para que fi-
xemos nosso aprendizado precisamos que eles sejam processados pela men-
te, exercidos e memorizados, para futuramente serem somados ao átomo-
semente. Somente através da prática é que podemos conseguir isto.
Apenas ler a respeito de alguns sentimentos não é o suficiente. Como
poderíamos avaliar quando alguém nos dissesse que está triste, com ciúmes,
com medo, mágoa etc, sem antes ter provado em si estes sentimentos? Ja-
mais poderemos avaliar antes de ter passado por uma circunstância que te-
nha produzido em nós aquele sentimento ou emoção. Se não soubéssemos
distinguir um sentimento não poderíamos avaliar as circunstancias e dificul-
dades alheias; não haveria parâmetros para distinguir situações, grau de en-
volvimento, compromisso etc, que fazem com que cada convivência seja um
aprendizado. Se não tivéssemos noção de cada um dos sentimentos e emo-
ções possíveis ao ser humano não saberíamos avaliar o sofrimento de cada
um, não haveria compaixão, solidariedade, amizade, afeição, amor e nem
desenvolvimento.
Alguns retornam a esta morada para determinadas missões e outros
para aprimorar seus dotes – aqueles que chamamos de dons naturais. Quan-
do a tarefa é uma missão, existe uma orientação oculta que direciona o mis-
sionário para cumprir sua tarefa. Nestes casos já existe a formação adequada
reunida pelo seu grau de desenvolvimento. Dons e talentos nada mais são do
que faculdades desenvolvidas em outras passagens; sejam musicais, mate-
máticos, astronômicos, científicos ou outros quaisquer. Outros, ainda, tra-
zem consigo parte de seu conhecimento para servir de base para inclinações,
para influenciar o término de alguma modernização, inovação, desenvolvi-
mento, complemento, aprimoramento, etc.
Certo é que trazemos conosco uma quantidade de matéria purificada
conforme o grau de desenvolvimento espiritual. Uma alma nobre atrairá
para si materiais mais finos e mais puros. Conforme já dissemos, quando
estamos “descendo” para uma nova vida corpórea, atraímos para si todos os
materiais etéricos que formarão nossa essência vitalícia. Quanto mais pura
89
for a natureza do espírito, melhores serão as matérias que atrairá para si. Isto
ocorre de forma automática e justa. A seleção é feita de acordo com o nível
de luz que cada um tem. Isto implica até mesmo na vitalidade do organismo
em criação.
Aquele que cultivou bons hábitos em sua última passagem, certamente
que receberá uma forte constituição, robusta, cheia de saúde e vitalidade; do
contrário, aquele que desperdiçou saúde com banalidades terá de aprender,
através de fragilidades físicas, a doutrinar seus modos de vida de modo a
conservar e valorizar sua constituição. São muitas as doenças advindas de
abusos cometidos noutras existências. O desenvolvimento da mediunidade
comum, negativa e passiva, por exemplo, acaba por ocasionar ataques epilé-
ticos numa ocasião futura. O abuso de substâncias nocivas pode levar al-
guém à futura fragilidade hepática, renal, intestinal, pulmonar etc, para que
essa fragilidade o impeça de cometer aqueles mesmos erros de outrora.
O uso abusivo de substâncias narcóticas, bem como o tabaco e o álco-
ol, podem acarretar danos que vão além do corpo físico. O alcoólatra invete-
rado causa sérios problemas à glândula Pineal e a toda sua constituição eté-
rica. A debilidade causada acaba por atrapalhar a vida espiritual e futuras
passagens terrenas.
O desenvolvimento resulta da dedicação
Nossa mente é o resultado de nossas experiências, da sabedoria que
conquistamos através de comparações, escolhas, estudos, disciplina e auto-
conhecimento. Nosso nível de desenvolvimento cresce de acordo com nos-
sas virtudes, conforme vamos substituindo antigos costumes por outros mais
novos e mais adequados no decorrer da existência. Alguém brilhante e in-
fluente só pode ser formado através dos estudos, experiências e dedicação.
Ser normal é a meta dos fracassados. Não existe, nunca existiu e nem nunca
existirá uma fórmula mágica que transforme alguém através de um passe de
mágica.
O desenvolvimento espiritual promove a elevação mental, e só assim é
que podemos dominar o ego; a Consciência elevada é que pode reduzir a
intensidade das forças contidas no ego. Dependemos de nossas escolhas e
90
discernimento para tomar os melhores caminhos que nos levem para um
objetivo maior. Nosso atual estágio de desenvolvimento requer uma sequen-
cia de fatos e acontecimentos que só esse conjunto do todo, que é o mundo,
pode oferecer. Todos os acontecimentos à nossa volta, os bons e os ruins,
contribuem influenciando na nossa forma de pensar. Para que algumas de
nossas qualidades possam aflorar é que existe um mundo com este conjunto
de acontecimentos, atuando de forma decisiva e com força suficiente para
moldar cada até o ponto que efetivamente deverá ser.
Dificuldades acontecem mesmo para aqueles que aparentemente se
encontram numa condição mais favorável ou mais fácil. Dificuldades não
ocorrem em um só âmbito. Elas poderão surgir em forma de grandes barrei-
ras psicológicas e emocionais, problemas de desenvolvimento físico, limita-
ções de recursos e outros tantos. Só se livra de dificuldades quem consegue
vencer plenamente tudo o que deve aprender com determinada circunstân-
cia. Uma mesma situação poderá ser corriqueira para alguém experiente,
mas penosa para o inexperiente. Só a experiência é que poderá tornar al-
guém mais hábil para a lide diária. A verdadeira paz só pode ser naquele que
conhece a si e compreende os outros; que conhece o mundo e sabe do por-
quê das coisas acontecerem como acontecem. Se remarmos para um mar
desconhecido estaremos sujeitos às tormentas e todas as outras condições
atmosféricas adversas que poderão pôr o barco à deriva e até afundá-lo.
Ter vontade e iniciativa não é o suficiente. É preciso ser inteligente e
atento para fazer as melhores escolhas e planejar de forma a atingir uma
meta estabelecida. Mirar o horizonte sem ter um propósito como alvo será o
mesmo que mirar para o nada, para o desconhecido. Será se sujeitar a cami-
nhar por um lugar que poderá ser um deserto de condições adequadas e ne-
cessárias para o melhor aproveitamento. O tamanho de nossos sonhos e von-
tades é que determinam o tamanho da força que temos de empreender. Se
desejamos ser grandes, em troca teremos de nos preparar para grandes desa-
fios e até grandes dificuldades. Fazer igual nem sempre poderá levar ao me-
lhor destino. Cada um tem de identificar suas próprias e verdadeiras neces-
sidades, e quais efetivamente podem ser úteis ao desenvolvimento pessoal.
Não é tão simples encontrar a condição mais adequada para levar adi-
ante nosso desenvolvimento espiritual. Renascer para uma nova vida corpó-
rea nesta nossa escola não depende de uma simples vontade de continuar.
Conforme já tratamos no tópico “o local de nascimento”, uma complicada
junção de fatores tem de confluir para que sejam reunidas todas as condi-
91
ções necessárias para uma nova vida na matéria. Então, não é toda hora que
alguém pode voltar a Terra para continuar a jornada. Isso é um ponto im-
portante a ser considerado: se a oportunidade de ir adiante não surge a toda
hora, podendo demorar até séculos para acontecer, porque não aproveitar ao
máximo a vida que temos agora, utilizando de forma regrada o tempo dis-
ponível para melhorar-se de uma forma geral?
Cabe unicamente a cada um de nós perceber o que a vida pode nos en-
sinar em cada situação. Cada dificuldade é uma oportunidade de crescimen-
to. Cada nova situação é uma nova oportunidade para melhorar aquilo que já
foi construído. Cada característica ou sentimento problemático da personali-
dade, aquelas que atormentam a si e aos outros, são coisas que precisam ser
melhoradas aqui. Tal qual uma pedra preciosa, até que seja polida e muito
bem lapidada não passa de uma pedra a mais na natureza. A essência, a luz
já se encontra no núcleo doador de vida, mas precisa ser lapidada com o
decorrer do tempo, até que seu brilho venha à tona, com toda sua beleza.
Não existe quem nasça pronto, com todas as qualidades possíveis. Então,
apesar destas já se encontrarem em nosso espírito, elas precisarão ser aflo-
radas através das muitas experiências transformadoras, aquelas que tornarão
um indivíduo comum num Ser da mais alta luz, com maior capacidade e
poder.
Não podemos simplesmente apanhar de outros as experiências por
eles já vividas, como se elas pudessem ser implantadas, passando a funcio-
nar a partir de que fossem enxertadas. Só poderá haver compreensão, enten-
dimento e discernimento a partir de que se sinta cada sensação intimamente.
Não há como se formar Consciência daquilo que não conhecemos.
Um Ego evoluído passou pelas mais diversas situações, cada uma ten-
do influenciado o aflorar de uma nova qualidade, de uma nova ferramenta
constituinte do Ser, em sua mais alta expressão. Para melhor entender cada
situação, distinguir cada sentimento, cada atitude humana, só mesmo reu-
nindo em si faculdades que possibilitem um juízo mais completo e avança-
do.
Um pai pode orientar mas jamais passar pelo filho o que cabe unica-
mente a ele vivenciar para seu desenvolvimento. Uma boa orientação será
sempre útil no sentido de preparar e tentar evitar que se cometam erros já
cometidos por outros; mas, isso não quer dizer que alguém possa criar al-
gumas características simplesmente a partir de algumas dicas teóricas. Ima-
92
ginar que outro possa fazer por nós aquilo que precisamos para o desenvol-
vimento espiritual é uma tolice. Podemos, sim, utilizar experiências viven-
ciadas por outros para nortear as nossas atitudes; mas, mesmo assim, só as-
similamos a lição quando conseguimos compreendê-la. Imaginar que se
possa pagar para se livrar de algumas responsabilidades espirituais é uma
ingenuidade que apenas pode retardar algumas provas.
Não podemos confundir escolher o certo com escolher o da moda
simplesmente por que outros escolheram. Fazer as melhores escolhas come-
ça pela melhor orientação. Dificuldades são comuns e acontecem natural-
mente a todos. O único verdadeiro fracassado é aquele que deixa de tentar.
Saber como superar, contornar e ultrapassar os desafios faz a diferença entre
sucesso e fracasso.
93
Capítulo XI
Reflexão para compreensão e conscientização
Uma excelente e simples atitude para o rápido desenvolvimento é a re-
flexão sobre tudo que fazemos durante nossas atividades diárias. A reflexão
de cada atitude faz com que se perceba eventuais enganos, equívocos, erros,
precipitações, exageros, devaneios, etc. A análise presente é de extrema uti-
lidade para melhor identificar cada atitude, cada pensamento constituinte de
uma ação. Analisando cada acontecimento fortalecemos a personalidade
desenvolvendo a maturidade, e assim alcançamos novas percepções a cada
nova atitude, o que nos possibilita desenvolver nova forma de agir em oca-
siões futuras.
O melhor e mais tranquilo momento para repassar tudo que fizemos
num período é quando nos recolhemos para dormir. Reservando alguns mi-
nutos para repassar tudo que foi feito durante o dia, podemos analisar tudo
de uma forma mais tranquila, mais propicia às reflexões. Assim podemos
identificar eventuais erros que poderíamos ter evitado, comportamentos
exagerados onde podíamos ser mais brandos; alguns medos desnecessários
que prejudicam o desempenho, ciúmes, egoísmos; comportamentos confu-
sos copiados de outras pessoas, etc.
O hábito de repassar cada momento, sentimento, descontrole emocio-
nal, dificuldade, cada reação diante das diversas situações, é uma forma de
eliminar sentimentos e atitudes equivocadas que incomodam e podem ficar
perturbando a mente com medos, culpas, cobranças, receios, vergonha, e
tantas outros sentimentos prejudiciais. Isto fortalece a iniciativa e nos me-
lhora a forma de agir a cada nova circunstância.
Nossa Consciência atua como uma mestra, apontando através de per-
cepções sensoriais, cada dificuldade ou erro cometido. É ela que coloca
freios e medidas para os constantes desejos. Se não existisse uma razão ajui-
zada acabaríamos agindo impulsivamente, impelidos pela força propulsora
de uma vontade desenfreada, mais pela emoção do que pela razão. Se não
94
houvesse um árbitro para moderar e determinar limites, logo estaríamos
infringindo os limites aceitáveis e mais adequados.
Para cada ação uma nova análise será feita pela Consciência. Desta
forma elas são revistas para chegarem o mais próximo possível do ideal, até
que se tornem qualidades efetivas. Quando contribuímos para que isso se dê
de forma mais rápida, logo temos um conjunto mental muito mais desenvol-
vido. Assim otimizamos o desenvolvimento individual e evitamos o círculo
repetitivo que se mantém quando não percebemos aquilo que precisamos
aprender. Errar-se-á menos a cada dia. Do contrário, se não houver consci-
entização de cada atitude falha, situações persistirão num círculo vicioso e
pernicioso até que o tempo se encarregue de pôr tarefas mais dolorosas e
evidentes, que demonstrem de forma mais clara, que providências precisam
ser tomadas.
Estas reflexões nos levam a identificar falhas comportamentais, atitu-
des tolas, exageros, fingimentos, equívocos etc. Mas, não temos com isso de
deixar que demasiadas críticas ou cobranças recaiam sobre os ombros. Isso
poderia levar ao perfeccionismo e criar uma eterna insatisfação com o que
somos; ou, ainda, causar um recolhimento capaz de levar à apatia. As obser-
vações devem servir de parâmetros para as ações futuras. O simples fato de
rever os acontecimentos já faz com que, automaticamente, se melhore a
forma de agir, de viver, de pensar e proceder. Isso tem de ser feito de forma
tranquila, sem excessivas cobranças, recolhimentos ou sentimentos de infe-
rioridade.
Ao submetermos nossos atos à análise da consciência estaremos como
que observando pelo ponto de vista mais crítico, que opera automaticamente
pelo mecanismo mais elevado em nós, que é o nosso guia desenvolvido pe-
las ações passadas, através de muitas outras passagens. Quando paramos
para refletir, se alguma atitude tomada está contrária aos princípios mais
elevados, logo esta despontará de nossos pensamentos, dando a oportunida-
de de refletirmos sobre ela e providenciar as mudanças para um nível mais
avançado. Isto ocorrerá não só com eventuais falhas, mas também com os
sentimentos que nos fazem agir com mais ou menos desprendimento, mais
ou menos atenção, etc. Estes avisos costumam apontar claramente para ne-
cessidades diárias de correções comportamentais. Quando não são observa-
das ou são ignoradas, infalivelmente costumam provocar más consequên-
cias.
95
Nunca estaremos perdendo tempo nestas análises extremamente úteis,
mas sim ganhando em qualidade de vida, passando a ser melhores para si e
para os outros. Isto surte efeito imediato. A melhoria nas atitudes e a matu-
ridade logo serão sentidas. Isto possibilita rapidamente enfraquecer o ego,
que é quem possui o conjunto de provas a serem superadas, e os pontos fra-
cos;nossas fraquezas a serem fortalecidas. Cada nova resistência desenvol-
vida – suficiente e eficaz para evitar a indução a precipitações – fortalece o
bem e enfraquece o mal. Evitamos também de ter de passar novamente por
caminhos já percorridos. É desta forma que formamos boa índole e brilhan-
tismo de caráter. Se acertamos ou desempenhamos nossas tarefas de forma
brilhante, elogiemo-nos; se identificamos falhas é porque nossa essência
possui condição de agir melhor. Assim se promovem as mudanças necessá-
rias.
Sem exageradas cobranças, depois de feitas estas observações, respei-
temos nosso momento de descanso e durmamos sem o peso de nenhuma
culpa ou qualquer sentimento que perturbe o sono. Desliguemos para so-
mente voltar a refletir no dia seguinte. Temos de nos condicionar a identifi-
car e nos conscientizar dos ajustes a serem feitos; mas, logo que isso é feito,
desliguemos e relaxemos o corpo e a mente para uma importantíssima noite
de sono reparador. De uma forma geral, podemos analisar não somente nos-
sos atos diários, mas todos os demais comportamentos.
Uma outra analise pessoal
Outro tipo de análise interessante que podemos fazer sobre nossas ati-
tudes é feita quando nos colocamos na posição de uma segunda pessoa que
vê de fora tudo o que estamos fazendo. Desse ponto, desprendido dos pen-
samentos instantâneos que confundem, poderemos fazer uma análise como
se fossemos uma pessoa vista do ponto de vista crítico de outro. Ao parar
para se ver de fora, nossa análise poderá ser muito mais completa e isenta de
certas defesas que costumamos fazer de forma automática quando recebe-
mos criticas de outras pessoas.
Geralmente quando recebemos críticas de alguém, por mais que elas
sejam verdadeiras, sempre serão recebidas com ressalvas que nascem da
nossa natural necessidade de defesa. De uma maneira geral, sentimos toda e
96
qualquer crítica como se uma falha estivesse sendo apontada, como se fos-
semos defeituosos ou não tão bons quanto os outros. As defesas que usamos
para manter uma boa imagem não gostam de ser invadidas e vistas por de-
trás de suas barreiras.
Ninguém gosta de se ver notado em suas fraquezas, mesmo que estas
sejam evidentes. Assim, sempre que recebemos uma crítica ou somos repre-
endidos, recebemos isso como uma atrevida e indesejada invasão que aden-
trou um terreno proibido. Isso soa como uma afronta àquilo que queremos
manter escondido para parecer ser bom, tanto quanto imaginamos que preci-
samos ser para ser aceito e respeitado.
Nosso sistema de defesa entra em estado de alerta sempre que alguém
repara alguma de nossas características ou comportamento. Nem sempre
estamos ou somos seguros quanto àqueles pontos criticados. Então, senti-
mos desconforto sempre que alguém põe o dedo na ferida. Muitas de nossas
fraquezas são escondidas no fundo de nosso íntimo, para não parecermos
fracos ou defeituosos, menores ou menos dignos de amor e atenção. A inse-
gurança cria uma enorme barreira onde escondemos nossos pontos fracos e
tudo que achamos que não pode aparecer. Existem algumas deficiências
(verdadeiras ou imaginadas) que não aceitamos ou não gostamos; que luta-
mos de forma intensa para tentar modificar, e mesmo assim não consegui-
mos pôr num ponto aceitável. Se neste tempo alguém deixa evidente que
este ponto está visível para os outros, logo todo o sistema entrará em alerta e
até em colapso.
O conflito gerado fará com que providências – boas ou ruins, certas ou
equivocadas, eficazes ou não – sejam tomadas. Quando não conseguimos
modificar aquilo que abalou de forma negativa, nascem as revoltas, reco-
lhimentos, comportamentos ásperos e arredios, sempre na mais pura inten-
ção de querer demonstrar que aquele que criticou, ou o mundo, tem tantos
ou mais defeitos do que aqueles nele apontados. Daí, para não nos sentirmos
num ponto isolado com “todos” nossos defeitos, procuramos uma forma de
criticar e esbravejar atirando para todos os lados, dizendo:
“Sim, mas não sou só eu que tenho defeitos; os outros também os têm.
Porque ficar me criticando e repreendendo, se todos os outros estão cheios
de vícios e deficiências”.
97
Geralmente esta conclusão faz sentido. Mas, no momento de uma in-
vestida, sentimos como se fossemos os únicos a ter defeitos na face da Ter-
ra. Quando não existe a segurança suficiente para sustentar uma posição,
logo qualquer crítica pode desmontar e colocar toda a pessoa para baixo,
diminuindo consideravelmente sua autoestima, seus valores pessoais. Isso
acontece quase que invariavelmente na adolescência e início de vida adulta.
Outros carregam estas marcas por toda a vida, e certamente que seguirão
com essas mesmas fragilidades e confusões, sem compreender sequer sobre
seus sentimentos e reações mais comuns. Aqui, vale lembrar aquilo que dis-
semos quanto às necessárias reflexões que devemos fazer com relação às
nossas reações e atitudes instintivas ou não instintivas, voluntárias ou auto-
maticamente expressadas em reações nem sempre calmas e pacíficas.
Melhor do que criarmos excessivas defesas e nos fecharmos num mo-
delo produzido será sermos autênticos e verdadeiros; cientes dos pontos
fracos, mas agindo de forma moderada, com segurança condizente com as
reais qualidades, procurando sempre melhorar aquilo que achamos não estar
bom. Isso poderá ser feito de maneira mais aproveitável sempre que nos
colocamos num ambiente tranquilo, numa meditação reflexiva serena e pro-
funda, por exemplo. Temos de conseguir pôr de lado toda nossa vida, para
que possamos fazer essa autoanálise. A situação deve transcorrer como se
estivéssemos perguntando, a uma pessoa que consideramos inteligente e
bem resolvida, o que ela acha de nossos comportamentos, de nossas deci-
sões, de nossas atitudes, de nossa forma de agir, etc. Essa pessoa pode ser,
por exemplo, aquele que consideramos maduros e retos nas suas atitudes,
seja esta pessoa que for: o padre, o professor, o pai, o avô, um amigo de
reconhecido equilíbrio e bom-senso ou nós mesmos.
Esta é uma reflexão que costuma surtir bons resultados, pois nem
sempre sentimos segurança de expor abertamente um problema a alguém.
Dificilmente nos abrimos para expor e ouvir a opinião dos outros. Isso parte
do princípio de que não temos a segurança suficiente para admitir publica-
mente que somos fracos ou que temos sentimentos delicados que não gos-
tamos que sejam percebidos.
Mas, aqui nesse tipo de reflexão, na verdade estaremos a sós, sem ne-
nhum sentimento ou reação indesejada daquele a quem expomos nossas
fraquezas.
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O simples fato de deixarmos que uma outra opinião a nosso respeito
seja ouvida – mesmo que seja nossa própria Consciência a dar as respostas –
nos fazem enxergar o que somos e pensamos de forma diferente daquela que
apenas sentimos.
Visto desse ponto, identificamos melhor as causas e motivos de agir-
mos de determinadas formas em algumas circunstâncias. Assim fazendo,
identificamos melhor aquelas manias, vícios, cacoetes, reações, comporta-
mentos, respostas; timidez, rebeldia, irreverência, excessos desnecessários,
raivas, rancores, mágoas, medo, ciúmes, inveja, idolatria, repugnância, pré-
julgamentos, pretextos, defesas, etc. Ao analisarmos nossos comportamen-
tos do ponto de vista de um espectador, conseguimos identificar comporta-
mentos bizarros, absurdos, desnecessários, equivocados, atrapalhados e des-
conexos. Quando vemos tudo isso de fora – a partir de um ponto de vista
racional, inteligente, independente, excluso e imparcial, de modo que pos-
samos identificar os porquês de agirmos de determinada forma – consegui-
mos enxergar muito mais longe, abrangendo temas de forma muito mais
aprofundada.
Assim fazendo, logo poderemos identificar os motivos da existência
de insegurança ou timidez com relação a determinados temas, por exemplo.
A percepção das razões que levam àqueles comportamentos em dados mo-
mentos fará com que automaticamente se iniciem as mudanças. Sem dema-
siadas cobranças ou desesperos, seguiremos melhorando a cada dia, a cada
momento.
E assim desenvolvemos nosso caráter, índole e melhoramos nossa
personalidade. Nossa segurança se reflete nas nossas atitudes. Isso automa-
ticamente faz com que sejamos mais respeitados, pois agiremos de forma
mais equilibrada, espontânea e verdadeira.
De outra forma, levando sem organizar ou pensar sobre nossas pró-
prias ações, ficaremos sempre no risco de receber um “ataque-surpresa”,
daqueles que magoam e fazem mal para a autoestima. Assim vamos apren-
dendo a dominar nossos conflitos, e deixamos de apenas sentir sem nada
entender. Somente com uma análise pessoal desprendida de qualquer defesa
poderemos chegar aos pontos chaves que nos limitam a certa posição. Tudo
pode ser mudado, modificado, corrigido e melhorado.
99
Vamos lembrar mais uma vez que não somos isso, mas estamos isso.
Não podemos pensar que nascemos com determinadas características, por
isso teremos que levá-las até a morte. Isso engana, limita, causa insegurança
e medo. Do contrário, podar arestas e consertar o que não está a contento é
uma maneira de gradualmente ficarmos mais amadurecidos, seguros, com
opinião bem formada, cientes de todas nossas qualidades e deficiências;
sabendo que podemos e devemos mudar. Todo dia é uma nova oportunidade
de ficarmos melhores.
Ninguém nasce pronto. Uns com mais, outros com menos conheci-
mento com relação aos muitos aspectos da vida, todos nós temos o que
aprender sempre. Sabendo que estamos em pleno desenvolvimento, tudo
transcorrerá de forma mais suave, sem medos ou demasiada cobrança, ou
mesmo com aqueles sentimentos de que somos inferiores aos outros. Assim
podemos viver com menos máscaras, menos comparações, inveja ou desejos
traiçoeiros; daqueles que levam ao egoísmo, arrogância, falsa segurança e
fragilidade de caráter.
Seguindo num ponto de vista analítico
Como será que você veria o passado imaginando estar numa época fu-
tura, com mais idade do que tem hoje? A partir desse ponto imaginado no
futuro, o que você lamentaria do que está fazendo hoje? O que mudaria, de
que forma encararia as situações presentes? Pois então, Uma outra forma de
avaliar o presente pode ser feita como se estivesse mais velho, recordando o
passado, que na realidade, é a vida que está vivendo hoje.
Assim, imaginando estar numa idade futura, analisa o que faria se es-
tivesse vivendo com a atual idade. Não é raro encontrar pessoas que dizem
“... ah, se fosse hoje...” ; ou, “se pudesse voltar faria de forma diferente”; “...
se tivesse parado para pensar um pouco teria dado outro rumo à minha vi-
da...” , “hoje eu não faria desta forma...” , etc. Ocorre é que, somente quan-
do paramos para pensar é que vemos coisas que podem ser melhoradas, mu-
dadas, corrigidas, aperfeiçoadas, alteradas, suprimidas, etc. Este é um esfor-
ço necessário. Do contrário, os dias vão passando como se estivéssemos
vivendo no piloto-automático, deixando as coisas acontecerem, como se
nada tivesse ou pudesse ser feito.
100
Aceitar tudo da forma como acontece pode ser o pior caminho. Viver
de acordo com a tocada social significa ser mais um apenas. Ou pior: mais
um que segue a tendência criada por interesses alheios. Criar soluções, ino-
var, encontrar alternativa, fazer diferente, ousar, ir além de onde já foram
são partes do repertório das pessoas pioneiras, desbravadoras, corajosas, de
iniciativa, de vanguarda e de sucesso. Seguindo nesta mesma linha de refle-
xão, naqueles mesmos modos que tratamos no tópico anterior, podemos
ainda pôr-se como outra pessoa lançando olhar crítico sobre o que estamos
fazendo. Imaginando ser alguém que admiramos pela sua capacidade e inte-
ligência, por exemplo, podemos encontrar soluções e visualizar falhas antes
não vistas.
Para isso temos de buscar soluções e críticas construtivas, deixando
que elas soem de forma a construir, jamais se deixando abater por eventuais
constatações de falhas de procedimento. A intenção é a melhora de si como
um todo, mas não a construção de alguém formado por opiniões de tercei-
ros. O cuidado é necessário para que não se deixe levar por aquilo que os
outros são ou querem para eles. O que serve para seu vizinho pode não ser-
vir pra você. Esse expediente é útil até o ponto onde aproveitamos o privilé-
gio do angulo de vista (como se fosse outra pessoa) para melhorar aquilo
que temos como objetivo. Pondo se num ponto isolado, onde podemos en-
xergar todos os problemas, dificuldades, traumas, timidez etc, podemos ser
criticados sem qualquer constrangimento, defesas ou fugas, que certamente
ocorreriam se feitos diretamente por alguém.
Podemos, então, perceber melhor o que melhorar, sem o peso de ter de
provar pra ninguém, sem competições, nem comparações. A construção será
gradual e prazerosa, como se estivéssemos fazendo uma reforma, jogando
fora coisas antigas, hábitos, costumes, medos, traumas, bloqueios e tantas
outras coisas que travam o desenvolvimento, constantemente. Experimente
fazer isso e constatará o quanto de qualidade de vida se ganha a cada uma
dessas “pausas para balanço”. Ao se criar o hábito de repassar o que faze-
mos, automaticamente nos veremos em momentos de reflexão e análise que
levarão à compreensão de si. Só seremos efetivamente vencedores a partir
do momento que conhecermos melhor quem somos, com todas as qualida-
des e defeitos, limitações e vícios, talentos e bons hábitos.
Só fraqueja quem acha que é menor, que é menos capaz, menos inteli-
gente, menos criativo, menos talentoso, menos preparado para a vida. Al-
guém pode ter enormes falhas de personalidade, caráter, consciência, mas é
101
tanto capaz quanto qualquer outro de modificar e aprimorar tudo o que esta
sendo. Quando aliamos a vontade de ser à força para modificar o que não
está bom, não existe barreira que possa impedir a vitória. Só dependemos de
nossos próprios esforços na construção de verdadeiros valores.
102
Capítulo XII
Pelos palcos do mundo
A vida em sociedade ou familiar nos remete a conviver com as mais
variadas opiniões e pontos de vista, com cada um expressando aquilo que
sente ou que acha que pareça ser o melhor para defender sua posição. Onde
a troca de experiências, opiniões, pareceres é necessária para o aprendizado,
é quase impossível viver sem ser atingido ou atingir alguém com alguma
palavra mais áspera, por uma interpretação precipitada ou equivocada, por
juízos feitos a partir de sentimentalismos ou fofocas, por expressão inade-
quada; ou pelo momento delicado de alguém que, por isso, está mais sensí-
vel às palavras.
O crescimento de cada um depende do nível de interação e assimila-
ção que fizer do mundo. Um jogo é estabelecido onde cada um tentará fir-
mar sua identidade e seus valores. Isso acaba fazendo com que as pessoas
deem excessivo valor à opinião dos outros. Estas comparações, se não forem
bem orientadas e resolvidas, poderão fazer com que a personalidade seja
afetada por intrusos alheios à vontade pessoal, que tomam espaço sempre
que não encontram resistência ou opinião própria que as combata. Todas as
pessoas precisam se sentir aprovadas e amadas. Quando esta necessidade
não é suprida pelos contatos mais próximos – familiares, cônjuge, filhos,
amigos, colegas etc – logo será procurada pelas mais estranhas formas, até
que se consiga a atenção necessária que satisfaça as carências afetivas. Nes-
te jogo de disputas, muitas pessoas saem feridas ou magoadas com atitudes
de outros que também querem estabelecer o seu território; que também que-
rem atrair para si alguém que lhes ofereça apoio, compreensão, carinho,
ajuda ou amor.
Num jogo desigual, de forças e disputas diferentes, cada um receben-
do, atacando e procurando se autoafirmar, é quase impossível que alguém
saia ileso da troca de forças físicas, psicológicas e sentimentais. São nessas
disputadas naturais que surgem o ódio, a vingança, o egoísmo, a raiva e tan-
tos outros males que envenenam a alma. Como passar por esse mar de ondas
vindas de todos os lados e chegar à praia? Claro que não há como prever
todas as situações e ter à mão um antídoto mágico ou manual que resolva
103
tudo; mas, existem formas de entrar no jogo da vida que, se bem utilizadas,
ajudarão decisivamente na superação de confrontações, troca de forças e no
estabelecimento de um espaço suficiente para o saudável desenvolvimento
pessoal.
Você sabe quais são os principais males a serem evitados e quais as
suas principais consequências? Quais são seus problemas atuais? De que
forma você tem lidado com suas dificuldades? Você pode dizer que é um ser
que venceu todas as provas sem dificuldades (e está hoje num patamar de
felicidade), ou existem algumas marcas difíceis de serem removidas? O que
mais te aflige em termos de passado, presente ou futuro? Você já parou pra
pensar quais são os principais motivos de existir desigualdades entre as pes-
soas? Já notou quais são os principais motivos de desgastes? Já parou para
pensar se suas carências não passam de necessidade de atender as vontades
para parecer-se bem para os outros? Você certamente se lembrará de alguém
que admira pela sua eloquência, desenvoltura e segurança no agir. Analise
de que forma aquela pessoa conseguiu criar uma personalidade forte e mar-
cante. Pergunte a ela se ela conseguiu algo de sua personalidade que não
fosse através de intensa luta para aperfeiçoamento pessoal.
Grandes líderes e pessoas de verdadeiros valores morais são grandes
vencedores no jogo da vida. Só atinge um nível superior quem lapida sua
personalidade de forma disciplinada e constante, seguindo grandes exem-
plos e criando para si conceitos elevados. Conquistas devem ser a conse-
quência da maturidade e desenvolvimento de talentos pessoais. Quem cresce
de forma justa e honesta não pode pensar em ressentimentos de possuir va-
lores materiais, se antes se preparou e conquistou seus valores morais, que
são os verdadeiros tesouros de sua alma e que levará por todo o sempre,
para além de sua existência terrena.
Para aqueles que buscam conhecimento antes do dinheiro, as oportu-
nidades vindouras serão do tamanho de seu preparo. Estes sabem que suces-
so alcança quem consegue aguçar seus sentidos para descobrir as melhores
oportunidades e possuir capacidade de torná-las boas realizações. Plenitude
de ações alcança quem conquista as melhores formas de superar e aperfei-
çoar-se para se sobressair mesmo nas situações de maior risco. Para sofrer
menos é preciso saber mais. Para manter o necessário equilíbrio diante das
situações cotidianas – sejam elas quais forem: de trabalho, amizade, afetivas
ou outras quaisquer – é necessário um caráter forte formado por alicerces
104
seguros. Segurança e equilíbrio psicológico têm quem é experiente e madu-
ro de fato, reunindo sabedoria para ter opinião própria mediante os desafios.
Note como nestas situações aqui comentadas sempre há formas dife-
rentes de ações. Umas dirigidas pela astúcia, outras pela ambição desmedi-
da, outras pela emoção, outras pela real capacidade. As ações são orientadas
pelo tipo e grau de formação intelectual e espiritual de cada um. Existe dife-
renças que muitas vezes passam despercebidas, mas que influem de maneira
decisiva na forma de agir para alcançar determinado fim. O grau de desen-
volvimento de princípios mentais e morais é que faz toda diferença entre um
estorvo social e um visionário empreendedor. Enquanto alguns buscam fre-
neticamente uma forma de aparecer, outros buscam conquistar pelo equilí-
brio, dignidade, honestidade, compreensão, respeito e justiça.
A diferença é que alguns usam de sua crueldade através de muitos
exercícios intelectuais, manobras e outros artifícios sujos para arrancar dos
outros tudo o que for possível, seja como for. Muitos consideram isso “inte-
ligência”, esperteza, agilidade, etc. Quando se pensa num mesmo nível de
ambição e egoísmo, aquele que se sobressai com sua “esperteza” é idolatra-
do e invejado. Isso nada tem a ver com sabedoria, nem mesmo com inteli-
gência, quando vista pela sua verdadeira acepção.
Inteligência
Inteligência é o resultado da união de experiências e estudo transfor-
mados em capacidade intelectual prática. É a capacidade de entender, com-
preender, discernir através do conhecimento amadurecimento e desenvolvi-
mento intelectual.
Pensamento não é inteligência. A inteligência é uma faculdade da
Consciência. Quanto mais consciente for um homem mais inteligente ele
será. Esta faculdade desenvolvida através dos tempos, e moldada pelas ex-
periências e aplicação de conhecimento na lide diária, possibilita à pessoa
ter compreensões mais elevadas sobre os acontecimentos, sobre comporta-
mentos, sobre os relacionamentos e atividades cotidianas. Inteligência tem
quem se põe à prova constantemente.
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Cultivar inteligência e se capacitar para ter um grau mais elevado são
tarefas que levam tempo e dedicação. Este tempo se encarrega de ajustar o
intelecto daquele que se põe à prova aceitando novos desafios e, assim, des-
cobre novos conceitos e entendimentos cada vez mais elevados. A capaci-
dade de pôr em prática o desenvolvimento intelectual é que faz a diferença
no resultado de um mesmo trabalho.
Sabedoria
Se a ciência nos dá o conhecimento, a filosofia pode nos dar a sabedo-
ria. Não podemos confundir conhecimento, apenas, com sabedoria. Se o
conhecimento ajuda a ganhar a vida, a sabedoria ajuda a construir uma vida.
O conhecimento intelectual é apenas um meio para alcançar-se um fim, não
o fim em si mesmo.
Sabedoria não se refere apenas ao conhecimento intelectual. Sabedoria
é o estágio espiritual que conhece a verdadeira natureza das coisas, das pes-
soas, do mundo e da Criação. Entre as principais características de um sábio
podemos citar o desapego, a compaixão, a simplicidade, a alegria, a sereni-
dade, a compreensão e o serviço ativo pelo benefício dos outros.
Sabedoria é a capacidade espiritual prática desenvolvida a partir da
somatória das muitas experimentações. Sábio é aquele que é capaz de racio-
cinar com lógica nas suas questões e nas dos outros. Só alcança o saber
aquele que conhece a si próprio e a natureza humana, a essência básica das
pessoas e das coisas do mundo e além dele. Aquele que sabe ponderar entre
opiniões e dar um parecer simples, porém completo, é sábio. Sabedoria al-
cança quem consegue superar os enigmas das coisas comuns e ingressa nu-
ma outra categoria de conhecimentos. Aquele que avança e alcança opinião
própria fortalece a sua individualidade, sua essência, sua luz permanente.
Isso está muito além de uma simples reunião de conhecimentos. O sábio,
além de conhecer, confrontou sua opinião com sua cultura e formou sua
verdade; é aquele que conseguiu ir além das simples opiniões e criou con-
ceito de vida. Os conceitos se formam com as recordações das percepções.
Os conceitos emitidos pelos gênios têm origem nas recordações transcen-
dentais de suas percepções psíquicas.
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Seu entendimento e razão vão além de uma simples opinião duvidosa:
sua ação corresponde ao seu reto pensar advindo de seu alto julgamento. O
sábio passou da fase da mesquinhez, do egoísmo, do ciúme, do medo, da
desconfiança, da arrogância, da prepotência, da gritaria e bravatas. Ele é
humilde e expressa a imagem de sua Consciência, com pensamento reto e
organizado, sem ostentação, falsidade ou orgulho. O sábio não reclama nem
cobiça o que não tem ou não lhe pertence; mas sim, se alegra com tudo que
possui ou lhe serve na sua alegria, desde bens materiais, intelectuais, afeti-
vos ou espirituais; geralmente, o pouco que fala contém o suficiente para
comunicar a expressão de sua essência.
Uma pessoa sábia age com mais maturidade, mais equilíbrio e menos
atropelos; faz seu julgamento através de uma visão mais ampla a respeito da
vida. Sua compreensão vai além daquele alcançado pela maioria. Este pro-
cura ajudar o outro na conquista de melhorias. O sábio é altruísta, humilde e
sensível ao comportamento alheio. O sábio não menospreza ou julga o ou-
tro, pois sabe compreender o momento como expressão do grau de alguém
em desenvolvimento. Isso nada tem a ver com as interpretações fáceis que
nos deparamos no dia a dia. Este não se importa em envolvimentos senti-
mentalistas ou discussões banais, nem em envolvimentos com discussões de
coisas mundanas, pois seu desenvolvimento o impede de se envolver em
questões meramente circunstanciais e corriqueiras. Ele observa e opina de
forma equilibrada; geralmente permanece calado quando todos gritam, pois
sua opinião geralmente já está formada!
Sua mente se ocupa de pensamentos mais elevados, pois que ultrapas-
sou o nível da confusão mental, aquele em que pessoas comuns se atolam,
não sabendo interpretar sequer seus próprios sentimentos. A sabedoria é o
resultado de uma intensa luta em busca da Verdade.
Astúcia
A astúcia é a manha ardilosa e sutil, a má esperteza, a arteirice incon-
sequente, a travessura maldosa. Muitas vezes é confundida com a capacida-
de de lidar com situações difíceis, com a “boa malícia”; com rapidez de ra-
ciocínio, clareza mental, maleabilidade, dinamismo, esperteza, inteligência
prática ou sabedoria.
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Ela pode tomar parte no desenvolvimento da inteligência, mas nunca
da sabedoria. Tanto é usada para o bem quanto para o mal. Pessoas astutas
são aquelas que unem sua capacidade intelectual, cultural e social para criar
as melhores condições para si, independente do que tenha de fazer para isso.
A astúcia anda sempre de mãos dadas com a avareza, ganância e egoísmo.
Por isso termos afirmado que “pode fazer parte da inteligência” – ainda que
esta esteja gatinhando – porém, nunca da sabedoria.
Se a inteligência é a capacidade de pôr em prática a capacidade inte-
lectual adquirida com estudo, experimentações, erros, acertos e múltiplas
tarefas, a sabedoria é a união de inteligência com experiência de vida trans-
formada em princípios morais. Esta luz espiritual só age para o bem, para si
e para o bem de todos. Não existe nenhum rastro de ganância, egoísmo, vai-
dades, imaturidades... O que se aprendeu na longa caminhada foi transfor-
mado em luz efetiva, força espiritual que leva ao altruísmo, bondade , amor,
compreensão, paz. A astúcia é a principal arma do egoísta, do inseguro dis-
simulado, do excessivamente ambicioso; daqueles que querem tudo para si
sem jamais se importar se estão sendo justos, corretos ou não. A astúcia é o
instrumento daqueles que querem tirar vantagem de tudo e de todos.
Para estes não existe a menor importância se alguém está sendo preju-
dicado, lesado, furtado, enganado, iludido. O que importa é conseguir mais
e mais, sem nunca parar para refletir sobre suas canalhices. O astuto usa de
seu ardil para elaborar planos de ataque sempre visando vantagens fáceis,
maneiras de se sobrepor a qualquer ofensiva ou obstáculo às suas buscas. A
vida nos provoca a ter alguma “astúcia” para poder se sobressair em meio a
tantas tentativas fortuitas de outros nos enganarem. A chamada esperteza ou
vivacidade tem de estar sempre presente quando vivemos numa sociedade
cheia de armadilhas. A experiência nos ensina a ter precaução e cuidados
para não cair em armadilhas espalhadas por cada esquina.
Esta precaução é sinal de que reunimos conhecimento e sabedoria para
a lide diária. Mas, isso não deve ser confundido com astúcia no sentido de
que falamos agora. Não há que se confundir precaução e atenção que nos
impedem de ser vítima de astúcia dela mesma.
Num sentido mais jocoso e corrente, astuto é aquele malandro que não
se deixa ser enganado dentre outros de seu meio; ou, no sentido coloquial,
aquele patife, gatuno, velhaco, vagabundo ou espertalhão que usa da sagaci-
dade para enganar. São aqueles que vivem em ajuntamentos de indivíduos
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de má índole, em locais onde o convívio não costuma ser dos melhores; on-
de há que se defender com todas as armas para manter ou ganhar território,
moral, espaço e respeito.
Estes, juntamente com aquele egoísta e ambicioso doente, são os prin-
cipais astuciosos; É aquele que pensa ser esperto, mas que, por não possuir
real capacidade ou desenvolvimento, age de maneira tão ou mais grosseira
do que aqueles de seu mesmo nível social.
109
Capítulo XIII
Egoísmo
Egoísmo é o hábito ou a atitude de uma pessoa colocar seus interesses,
opiniões, desejos e necessidades em primeiro lugar, em detrimento do ambi-
ente e das demais pessoas com que se relaciona. Egoísta é aquele que sem-
pre tentará fazer com que os fatos e as pessoas girem em torno de si, inde-
pendente de quem venha a magoar. Um dos maiores entraves ao bom conví-
vio social é o egoísmo.
Somente definindo donde nasce o egoísmo é que poderemos compre-
ender melhor cada uma das vezes em que alguém – ou nós mesmos – agi-
mos movidos por ele. Assim, compreendendo melhor, poderemos identifi-
car, conviver e auxiliar a excluir este destruidor da paz e convívio saudável;
essa que é a maior chaga da sociedade. O egoísmo cresce na mesma propor-
ção das populações, pois advém do próprio instinto humano. É o resultado
de um forte desejo de possuir para aparecer, para se firmar, para esconder
fraquezas; o que gera o orgulho, a ambição, a cupidez, a inveja, a avareza, a
desconfiança, o ciúme, etc.
Ciúme este que envenena o egoísta, perturbando todas as suas relações
sociais, o que provoca as dissensões, aniquila a confiança, o que o obriga a
se manter constantemente na defensiva, fazendo mesmo dos amigos, inimi-
gos; o que contribui, também, para sua infelicidade e insegurança. Conviver
com alguém que tenha todos os seus objetivos voltados para si mesmo é
algo bem doloroso. O egoísmo cega aquele que o possui, pois ele se confun-
de meio a sua personalidade, fazendo com que para ele tudo pareça muito
normal.
O egoísta sofre e faz sofrer com as suas próprias ações, sem saber
identificar a origem de suas dores, nem mensurar a dor que causa; mas, ge-
ralmente, coloca a culpa deste sofrimento nas pessoas que com ele convive,
que não compreendem suas intenções que, para ele, são as melhores possí-
veis. Para ele, só a conquista de uma posição altíssima – que nem ele sabe
dimensionar – o fará cessar.
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Como a vontade de possuir afoga a razão, seguirão buscando sempre
mais daquilo que invejarem no outro. Seguem pela vida até que suas forças
físicas derem conta de mantê-lo correndo atrás de conseguir uma forma de
apagar a marca de pequeno, comum ou pobre.
De onde nasce o egoísmo?
O egoísmo deriva das forças que impelem ao desenvolvimento pesso-
al. Uma pessoa só será movida de onde está para outro lugar, a partir de que
se veja comparada ou se compare a alguém de mais prestígio, que recebe
mais elogios, mais aprovação e admiração dos outros.
Então, sempre que alguém se sentir menos, num nível onde gostaria
de receber a mesma atenção e amor despendidos a algum outro, prontamen-
te dará início a uma corrida para conquistar sua posição e receber os louros
da vitória, que é o que afagará seu Ego e satisfará suas carências. É assim
que as pessoas são como que forçadas a buscar o que as coloque num bom
nível de realização, que reforce seus valores pessoais. Ou seja, o choque
provocado fará com a pessoa busque alcançar um lugar de destaque onde
seja prestigiada.
Deste ponto, dois caminhos podem ser trilhados: ou se inicia uma ca-
minhada consciente, bem planejada com uma meta alcançável; ou, uma cor-
rida desesperada para tentar afundar aquela imagem, que agora está total-
mente abalada, depois de ter se sentido menor ou menos capaz; pobre ou
sem nenhum bem material vistoso ou qualquer atributo digno de elogio. É
aqui se inicia a implantação do egoísmo doentio. Este acontece sempre que
alguém perde a medida entre conquistar melhorias para si – pois essa é a
forma natural que faz alguém sair de onde está para outros lugares onde seus
bons valores estarão aumentados – ou tentar conquistar tudo que confira
status, não se importando com o que tenha de fazer para conseguir sempre
mais.
Pessoas de boa índole, mas pouco preparadas, estarão sujeitas a serem
movidas pela tentadora força do egoísmo. Tudo começa quando alguém
sente seu ego ferido, seu status rebaixado, sua posição tomada por outro de
melhor prestígio e busca um nível onde possa ser visto como grande tam-
111
bém, digno de todos os elogios. Só que, quando isso é feito de forma desori-
entada e apavorada, unicamente pelo sentimento de orgulho ferido, muitos
valores podem ser confundidos, o que fatalmente levará aos excessos, à ava-
reza, à excessiva ambição, à busca desenfreada por sempre mais e mais; sem
se importar se para conseguir tenha de passar por cima dos outros, ou agir
de má fé, com excessiva ganância, crueldade, injustiça e a cegueira que isso
provoca.
Isso geralmente acontece quando impera a imaturidade intelectual e
moral. Se de um lado busca freneticamente por aquilo que não tem, de outro
se deixa consumir pelo fogo da ambição, dos desejos instintivos mais lou-
cos, com os valores materiais se sobrepondo aos morais. Como vivemos
num meio onde as comparações são inevitáveis, o instinto para buscar o que
não se tem é natural e pode nascer a qualquer momento. A humilhação de
ser visto como pequeno atiça o desejo do querer, da conquista daquilo que
interpreta como sendo a forma de se colocar dentre os vencedores. Então,
querer para si é uma forma de movimentar as pessoas para tentar, para se
pôr à prova, para ir além do ponto em que se encontram. O perigo está na
forma como isso se desenrola: buscar ir além de onde se está é condição
primeira para o desenvolvimento de si. Querer ir além é um instinto humano
natural, é uma força que atira pessoas para a ação, para a realização de suas
vontades, ou das necessidades que julgam serem necessárias para ser bem
aceitos.
Quando existem bons princípios e orientação para que isso ocorra de
forma sadia e justa, a conquista será consequência e recompensa pelo esfor-
ço, trabalho, coragem, iniciativa, inteligência e capacidade. Mas, quando
isso nasce simplesmente da vontade de querer ser, pode levar alguém a mer-
gulhar numa terrível busca de posição, fazendo com que não se importe em
pisar os outros para galgar sua posição. A forma como as pessoas interpre-
tam essa necessidade de fazer, sabendo separar muito bem o que são neces-
sidades reais, de outras que não passam de devaneios de um ego ferido que
pede ação, é que fará toda a diferença. Onde bons princípios estão presentes,
buscar não será mais do que aproveitar a força que impele à ação para reali-
zar aquilo que levará a uma vida melhor, com mais segurança.
Buscar o suficiente para poder viver com certa tranquilidade e realiza-
ção de necessidades básicas é como que uma obrigação de cada um de nós.
Mas, o que costuma embaraçar os pensamentos e distorcer o juízo é a busca
para conquistar sempre mais, nunca se contentando com o que se tem.
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Quando alguém se põe em comparação com todos à sua volta, como se fos-
sem adversários, por mais que consiga muito pelas suas manobras, nunca se
sentirá satisfeito. Existem pessoas que têm muito mais do que o necessário
para viver bem, mas a ambição desenfreada acaba levando a querer o que os
outros conseguiram, como se só dessa forma pudessem descansar e se sentir
realizados. E é por isso que vemos tantas pessoas completamente escravas
do dinheiro.
Quando não conseguem se contentar com suas conquistas, mesmo
quando têm o suficiente para si, estarão sempre na busca de algo sem medi-
da, sem nome ou formato. Passam simplesmente a buscar sempre o máximo.
Claro que somente uma condição muito favorável o levará a ter tudo que o
dinheiro pode comprar. Então, mesmo quando conseguem muito, viverão
sempre na frustração, na dor, com o sentimento de ser menor, de ser menos
capaz, de possuir menos, de ser menos astuto ou inteligente – e nesse caso,
às vezes até existe um pouco de inteligência, mas não existe maturidade. Se
alguém se deixa envolver com seus mais baixos instintos, conduzido pelo
seu Ego, logo se concluirá que suas forças ou capacidade de autodomínio
praticamente não existem. Presenciamos a toda hora pessoas dominados e
escravizadas pelo dinheiro e seus insaciáveis desejos.
Esses sofrem e fazem sofrer. O convívio com pessoas egoístas é ex-
tremamente difícil: geralmente são irascíveis, inconformados, odiosos, inve-
josos, excessivamente ambiciosos, sem amor próprio ou com relação a outro
qualquer.
O egoísta sofre com suas próprias ações, mas geralmente coloca a cul-
pa deste sofrimento nas pessoas que com ele convive; que não compreen-
dem suas intenções que, para ele, são as melhores possíveis. Sua paixão e
desejo se resumem a um só objetivo: dinheiro! Por ele eles matam, ferem,
roubam, furtam; cometem inúmeras e enormes injustiças, trapaceiam, enga-
nam, traem, fogem a todos seus bons princípios; driblam a lei e calculam
fórmulas de sempre tirar o máximo proveito. Quando o processo se inicia, o
prazer de uma conquista – seja ele por uma vitória qualquer, sem julgar o
método ou mérito das ações utilizados para consegui-la – logo iniciará a
cupidez por desejar sempre mais. Em muitas ocasiões, quando alguém al-
cança aquilo que tanto desejava, logo seus sonhos entram em polvorosa
busca de mais, sempre mais, sem se importar se pra isso tenha que se sobre-
por a qualquer um, a qualquer coisa, a qualquer lei, a qualquer princípios de
consideração, amizade ou amor.
113
Assim seguimos vendo pessoas enganando outras sem qualquer cons-
trangimento ou compaixão. Em busca de status, poder e dinheiro fortalecem
o ego, tornando-o cada vez mais forte e dominante. Alguns preservam seus
laços apenas para demonstrar suas porcas conquistas, longe de amar algum
deles. Fácil é encontrar pessoas jurando amor, quando, na realidade, tudo
não passa de uma desavergonhada manutenção de seus interesses. Assim,
seguem cometendo as mais absurdas injustiças, mesmo com familiares. E,
quem dirá, com aqueles que não são da família.
Quantas pessoas não se dizem altruístas com demonstrações ridículas
de bondades inexistentes: ricos que oferecem miséria dita caridade para al-
guma instituição, somente para receberem publicidade e condecorações tor-
pes. Quantos não atiram uma moeda para aquele que precisa de amor e cari-
nho, numa medonha demonstração de falsa piedade? Quantos não oferecem
ajuda simplesmente para reforçar sua “superioridade” frente a alguém que
esteja passando por dificuldades? Quantos não oferecem “ajuda” simples-
mente para obter a realização de seus mais baixos desejos? Quantos não
oferecem alguma coisa simplesmente para demonstrar sua “elevada posi-
ção” frente aos pobres mortais? Poderíamos estender esta lista de egoístas
disfarçados de bons por muitas páginas. Na verdade estes estão presos ao
seu mais baixo instinto, aos seus desejos mais grosseiros, porque não possu-
em princípios que o levem a discernir e julgar de forma correta.
A força da ambição que enrijece e escraviza
O egoísmo é uma doença que destrói princípios, desvia mentes, detur-
pa e corrompe a consciência, envenena a alma e suja o espírito. As conse-
quências dos atos desmedidos, cometidos pela ganância, são terríveis. Aque-
le que constitui riqueza, não se importando com a origem de seu montante,
certamente que terá de responder por cada uma de suas toscas atitudes. Cada
bem será um mal; cada alegria será uma tristeza; cada prazer será uma dor.
Quando o escravo do “ouro dos tolos” desencarna, além de sentir a
dor de ter que deixar seus bens para trás, se verá frente a terríveis agruras,
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na solidão, envolto nos mais pesados pensamentos de crueldade, dívida, dor
e angústia. Isso pode persistir por longos e longos anos. Às vezes, ainda em
vida, quando menos imaturos, percebem o que deixaram de viver; percebem
o quanto foram vítimas de sua própria prisão. Nessas ocasiões (até abando-
nados pela própria família e “amigos”) eles poderão perceber que não cons-
truíram nem felicidade, nem verdadeiras alegrias, nem amizades, nem nada
de que possam se orgulhar.
Enquanto o sábio faz amigos dos seus inimigos, o tolo faz inimigos
dos seus amigos. Isso é incompatível com a felicidade ou segurança de si. A
vida de um doente atacado pelo egoísmo é uma eterna angústia. O orgulho,
a ambição, a cupidez, o ódio, a inveja, o ciúme, a insegurança, a altivez, a
falsidade, tudo isso sempre está presente no egoísta. Isso tudo o perturba a
cada momento e estraga todas as relações sociais. É o que provoca as diver-
gências e afastamentos, desentendimentos, ira, revolta e o que o obriga a se
manter sempre na defensiva contra quem quer que esteja a seu lado. Faz de
qualquer pessoa um inimigo.
Se de um lado quer demonstrar seu valor, sua força e capacidade, de
outro sua confusão de valores invade seus pensamentos causando terror,
angústia, desamor, desilusão, mágoa, solidão, recolhimento; sensação de
falta de luz própria, com uma confusa autocondenação e autopunição; so-
frem pela escravidão de um mundo que se tornou o palco onde todo dia tra-
vará a luta para não se deixar ser visto com todos seus medos, sua mágoa,
revolta, fraquezas e loucos desejos que o atormentam a todo instante. Isso
tudo costuma fazer pessoas cheias de raiva, ódio dos outros e de si próprias,
com carência disfarçada pela falsa força; angustia afogada pela altivez, cari-
nho morto pelo desejo de querer para poder aparecer. A falsa capacidade é
demonstrada de forma raivosa, sempre na defensiva, sempre escondendo
qualquer fraqueza; as opiniões são ditas em forma de lei; costumes e atitu-
des são conduzidos pela lasciva, pela cobiça, pelo fervor de um ego que
domina.
Muitos se sentem entre a cruz e a espada: de um lado a forte influência
do ego; de outro, um ser que se sente descontrolado, mas que não sabe o que
fazer para reencontrar o equilíbrio. Se de um lado são completamente caren-
tes, de outro não sabem como atrair para si o amor, a compreensão, o reco-
nhecimento, o carinho, a admiração que tanto desejam. Querem que os
amem, que os admirem, que sempre os tratem bem, mas sequer compreen-
dem que são suas próprias atitudes que os levam a ficarem sozinhos. Assim
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vivem sem serem amados, pois são vistos e sentidos conforme a terrível
máscara que criam, geralmente sem que qualquer um lhe ofereça verdadeiro
amor ou afeto. De outro lado, a enorme barreira defensiva que criam não
permite que demonstrem qualquer carinho, amor ou verdadeiro respeito pe-
los outros. Eis o conflito infernal a que são submetidos todas aquelas víti-
mas dos redemoinhos do mundo.
O endurecimento que o egoísmo causa ao coração acaba por criar uma
personalidade agressiva, temerosa, fechada, imprevisível, medrosa e preca-
vida; geralmente emoldurada por um grande e falso orgulho. Assim, osten-
tando a falsa impressão de que são fortes e poderosos, reforçam suas atitu-
des, pois que sentem certa segurança pelo temor que causam. Agindo pela
estupidez irracional conseguem se impor pelo medo que causam e agem
pondo defeito em tudo o que os outros fazem, demonstrando toda sua falsa
capacidade, como se pudessem agir melhor do que qualquer outro. Geral-
mente só manifestam amizade quando por detrás há algum interesse. Sem-
pre que identificarem uma forma de tirar proveito, logo tentarão se aproxi-
mar de, forma doce e calculada, daqueles onde identificam a possibilidade
de ganhar dinheiro, somar status ou aumentar seu “poder”.
Tudo girará em torno da busca de satisfações pessoais, pouco se im-
portando com que os outros estão sofrendo por seus atos desmedidos. Ge-
ralmente não gostam sequer daqueles mais próximos e, para aumentar sua
angústia, não gostam sequer de si mesmos. Só demonstram alguma afeição
quando o outro lhe oferece alguma possibilidade de que venham a conseguir
algo de seu interesse.
Forças divergentes
Mas, por menos que pareça, ainda existe dentro de cada um desses
uma consciência que continua sinalizando suas atitudes desregradas. E é
disso que brota suas amarguras: de um lado uma vontade desenfreada; de
outro, uma consciência enfraquecida tentando apontar suas falhas, para que
se coloque fim neste turbilhão que fermenta mesmo àqueles de boa inten-
ção, mas que não possuem a devida percepção dos verdadeiros valores.
Muitos são aqueles que perdem a saúde para juntar dinheiro e depois per-
dem o dinheiro para recuperar a saúde; por pensarem ansiosamente no futu-
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ro, esquecem do presente, de tal forma que acabam por nem viver no pre-
sente nem no futuro; vivem como se nunca fossem morrer e morrem como
se nunca tivessem vivido.
Mas, se o egoísta contemplasse a solidão infernal que o aguarda, nun-
ca se afastaria da prática infatigável da fraternidade e da cooperação. O ego-
ísta de hoje será a vítima de amanhã. Todo aquele que submete seus seme-
lhantes às suas vontades – para serem os escravos que constroem seus tesou-
ros – sem dúvida de que serão vítimas de sistemas parecidos em crueldade,
iguais aos que proporcionaram. Aquele que fere, com “boas” ou más inten-
ções, terá que sentir na sua própria pele tudo que causou ao seu semelhante.
Assim, infalivelmente, todos aqueles que fazem dos outros escada para subir
até onde seu ego lhes pede, serão degraus de muitas pesadas e doloridas
passadas numa próxima encarnação. Na maioria das vezes, aquilo que um
egoísta considera uma grande jogada, será no futuro motivo para terríveis
desgraças e sofrimento.
Refletir além de si próprio
Toda e qualquer atitude tomada pelo egoísmo deve ser refletida e jul-
gada pela Consciência, pois só o arrependimento é que pode fazer parar este
grave defeito. Uma nova atitude perante a vida diminuirá as dívidas e sofri-
mentos futuros. Ignorar isso é como assinar uma sentença de dor nos próxi-
mos passos. Isso é a realidade que o sistema utiliza para emendar aquele que
causa desequilíbrios para si e para a sociedade.
O egoísta deveria se questionar todos os dias antes de dormir: - A
quem poderei ter magoado hoje? Não terei sido hoje causa de dor e mágoa?
Será que o que considero fofocas contra mim não são verdades? Onde pode-
ria ter cometido uma injustiça? A quem poderei ter prejudicado com minha
sede de ganhar? A quem poderei ter magoado, levado pelas minhas atitudes
mal pensadas, nascidas das tantas defesas de mim? Quem poderia ter sido
prejudicado pela minha excessiva ambição? Será que ao invés de justiça, o
que busco são apenas maneiras de convencer os outros a deixarem que eu
fique sempre com a maior parte? Quem poderá ter sido prejudicado por mi-
nha vontade desenfreada de levar vantagens sempre? Será que estou sendo
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justo nas minhas atitudes, ou apenas estou fazendo o que meu senhor, o ego,
está pedindo para eu fazer pelo meu deus, o dinheiro?
Será que estou fazendo o mínimo para uma boa convivência, ou ape-
nas o suficiente para que continuem me beneficiando e proporcionando pra-
zer e ganhos? Será que não sou eu o culpado por tanta gente não gostar de
mim, agindo desta forma tão egoísta? Será que não é hora de repensar mi-
nhas atitudes e começar a pensar em justiça, ao invés de apenas pensar em
mim? Será que estou fazendo o suficiente para que meus funcionários traba-
lhem e façam com prazer, ou estou passando a impressão (verdadeira) de
que os estou usando?
Será que não estou sendo rude com aqueles que querem meu bem, que
estão percebendo minha tola e ridícula pretensão de ser mais do que eles?
Agi certo quando pensei somente em mim, ignorando os direitos e senti-
mentos dos outros? Como esperar receber amor, carinho, atenção das outras
pessoas, se não tenho essa iniciativa, se não me preocupo com o que faço
aos outros, se não me dou conta de quão friamente trato os meus semelhan-
tes?
Aquele que não compreende que precisa viver e deixar os outros vive-
rem; aquele que não compreende que uma sociedade justa só pode existir
com cada um fazendo sua parte para merecer uma vida melhor; aquele que
não compreende que justiça também é pagar o que é dos outros, de que suas
atitudes mesquinhas só fazem acumular montanhas de dívidas futuras; aque-
le que não compreende que antes de julgar tem de procurar compreender;
aquele que não compreende que a bondade, o carinho, a ajuda só nos chega
quando nós começamos a praticá-los; aquele que acha que está sendo fabu-
loso cada vez que passa alguém para trás, amealhando o que não lhe condiz
nem é de direito; aquele que se aproveita da inocência dos outros para es-
cravizá-lo; aquele que é oportunista e não sente nenhuma piedade de se
aproveitar da fraqueza dos demais; aquele que mantém relações para poder
tirar proveito ou satisfazer desejos baixos; aquele que pensa que é “esperto”
manipulando tudo para tirar proveito é egoísta.
118
Ambição excessiva
A ambição exagerada quando toma parte na vontade de realizar, pode
não só levar ao egoísmo como também a outras perversas doenças psicoló-
gicas. Vamos ver como uma vontade frustrada pode desequilibrar. Se al-
guém se vê fechado em seu mundo e as comparações o colocam para baixo,
a vontade pode nascer na forma de um convite para sair da inércia; porém,
quando a situação não possibilita a realização de um projeto – por ter sido
gerado de um impulso impensado – as frustrações e desenganos poderão
causar a sensação de impotência.
Alguém que cai nesta armadilha e continua se comparando aos outros
acaba por decretar sua própria derrota. Se ela se compara com pessoas de
um nível impossível de alcançar, mesmo que por hora, suas tentativas ja-
mais irão satisfazer sua expectativa. Assim, todas as suas investidas acaba-
rão se transformando em fracassos. Derrota após derrota, todas as forças
acabam sendo minadas e esgotadas. Claro que alguém que sofre seguidas
derrotas se sentirá bem. Então, quando a ambição atropela o limite dos reais
recursos existentes, para que tudo se dê de forma gradual, uma briga com
tudo será travada, lutas desmedidas serão atraídas para si e construções sem
base sólida serão iniciadas.
Quando alguém entra num círculo pernicioso de seguidas derrotas, lo-
go estará confundindo seus fracassos como sendo ele próprio um fracasso.
A partir daqui, não são os resultados que são ruins (devido a total falta de
planejamento e metodologia), mas sim, toda a pessoa estará se julgando
incapaz, inferior, perdedora, fracassada, inútil e renegada a viver num se-
gundo plano. Neste ponto existem três possibilidades: ou ela recomeça de-
pois de uma boa orientação; ou ela entra num terrível conflito existencial,
que poderá levá-la à depressão; ou partirá para conseguir o que não conse-
guiu, mesmo que tiver de praticar coisas terríveis.
Por isso é que insistimos quanto à necessidade de um acompanhamen-
to aos nossos jovens e adultos para que planejem suas vidas, meçam seus
sonhos, separem vontades desnecessárias de sonhos bons e realizáveis; von-
tades próprias com outras nascidas das comparações, onde se fará de tudo
para ser o que imagina que agradará aos outros. Somente o planejamento de
metas seguras é que poderá levar a suprir as necessidades futuras, sem de-
vaneios nem ostentação, para que não se perca em gastos desnecessários.
119
Sabemos o quanto isso é difícil na vida de cada um, separar todos os
desejos das verdadeiras necessidades; mas, isto é de extrema importância
pelos riscos aqui existentes. Claro que todos nós temos de nos sentir capazes
de realizar nossos sonhos; claro que cada um deve almejar e arranjar meios
de conquistar melhorias, mas sem nunca esquecer que está plantando agora
o que vai colher no futuro, sejam os bons ou os maus resultados. Temos que
pensar em construir muito mais do que apenas um sonho passageiro, lem-
brando que temos de nos prevenir para não ter pesadelos depois.
Temos de pensar em construir nossa essência imortal, a luz que deverá
estar cada dia mais brilhante, para que se possa ter um descanso com os
mais altos merecimentos, e vidas futuras cada vez mais brandas. O que fa-
zemos agora determinará nosso futuro; se é disso que dependemos para ser
permanentemente mais felizes, por que arriscar a própria felicidade? Então,
antes de esperar que os outros gostem de você, passe a se dar mais valor, e
busque gradualmente suas melhorias, de forma saudável, sem correrias nem
devaneios.
Reflexão mais abrangente
Quem percebe egoísmo em si tem de se lembrar que é um ser imortal,
que está agora cumprindo a continuidade de outras vidas; que sua vida futu-
ra só poderá de fato ser mais feliz se plantar agora melhores condições para
o amanhã. Do contrário, pesadas cobranças advirão de cada erro cometido.
Se queremos ser felizes de verdade, temos de perceber que os verdadeiros
valores não são aqueles que podemos comprar; se queremos ser amados,
não é a riqueza que suprirá esta carência; se você quer ser aprovado, em
vida terrena e depois dela, basta que siga uma vida digna, cheia de realiza-
ções para si e para os outros que ama, e até para aqueles que não ama.
Seu maior tesouro não será alcançado com um monte de papel de va-
lor monetário, mas sim com a grandeza de sua Consciência, com a alma
limpa, com o espírito livre de qualquer apego. Para se ter uma vida digna e
cheia de bons valores, e para ser uma pessoa digna de nota efetivamente,
nenhuma esperteza tem de ser usada, nenhuma má conquista precisa ser
alcançada, nenhuma ostentação precisa ser feita através de bens materiais.
120
Alguém grande de fato, aquele valorizado por pessoas de bem, de-
monstra sabedoria, maturidade, desapego, inteligência, humildade, simplici-
dade, amor verdadeiro, amizade sem segundas intenções, fidelidade, confi-
ança, honestidade, justiça, tem bom caráter e compreende antes de qualquer
julgamento e procura sempre manter diálogos construtivos, e não conversas
banais para sustentar posições, defender máscaras, parecer ser aquilo que
não é. Recebe amor aquele que é humilde e é amoroso por natureza, pela
sua índole; recebe carinho quem demonstra afeição; recebe reconhecimento
aquele que realiza seus sonhos através do trabalho digno e honesto; tem
verdadeiros amigos que sabem cultivar e valorizar as boas amizades .
Não devemos fazer aos outros o que não queremos que façam conos-
co. É necessário mais inteligência e persistência para vencer a nós mesmos
do que para vencer os outros. Somente se o próprio egoísta quiser combater
essa sua deficiência é que se poderá chegar a debelá-la. Algumas pessoas
colocam frequentemente o “eu” como centro das atenções. Mas quem é esse
“eu” afinal? Poucas pessoas se questionam sobre isso, e vivem apenas como
uma entidade mundana, quem tem um nome, mora em determinado lugar
com todas as suas características pessoais, mas sem uma definição mais
profunda de quem é em sua essência.
Como pode gostar de si mesmo aquele que se entrega ao ter, acima da
descoberta do ser? Ama-se aquele que se aprisiona no desejo de estar sem-
pre correspondendo às expectativas dos outros? Conhece-se aquele que tudo
quer, sem critérios e sem a análise pessoal, simplesmente pelo desejo de
prazeres e ostentação? Quer o melhor para si aquele que não questiona sua
insatisfação, seu desconforto constante incompreendido? Na verdade o ego-
ísta não se ama, não pensa em si mesmo e não se conhece. Somente voltan-
do o olhar para nós mesmos é que aprendemos a olhar com verdade para o
próximo. Quando passamos a conhecer melhor nosso íntimo é que podemos
começar a amar o outro. Existe uma frase de Carl Gustav Jung que diz:
“Aquele que olha para fora sonha; aquele que olha para dentro acorda”.
Desfazer o emaranhado de emoções e sentimentos conflitantes; equili-
brar as ambições da mente e os anseios do coração é uma prova difícil; ou-
vir os desejos do ego e as aspirações da alma e ter que optar pelo mais apro-
priado é extenuante. Alguns egoístas não se dão conta de que agem de for-
ma automática e prejudicial ao meio em que vivem, sendo necessário que
alguém os ajude a perceberem o que fazem. Estes só pensam nas suas atitu-
des quando existe o desejo sincero de mudar.
121
Mas, quando estão com o sentimento de egoísmo muito arraigado, di-
ficilmente aceitarão a opinião de qualquer outra pessoa, ainda que seja uma
pessoa próxima. Então, combater o egoísmo fica ainda mais difícil quando a
própria pessoa tem dificuldade de perceber que está sendo egoísta. É verda-
de que o egoísta geralmente é astuto e sagaz, porém raramente possui boa
inteligência. Às vezes até existe boa capacidade de raciocínio; mas, como os
princípios são comandados pelo ego, dificilmente utilizam seu discernimen-
to para perceber suas próprias más atitudes.
O egoísmo deve ser conscientizado da bondade que carrega sufocada
pelo seu medo de parecer pequeno. É necessário que ele seja encorajado de
assumir-se através de sua verdadeira luz, aquela que está encoberta pelos
seus temores.
O egoísmo sufoca nos porões da alma os bons e sinceros sentimentos.
Com o passar do tempo este porão fica mais escuro, até o ponto em que a
pessoa se torna fria, calculista, arrogante, tirana, pedante, insuportável na
maneira de ser, de pensar e de agir. Não podemos deixar que o egoísmo su-
foque a natureza divina que existe em nós. Existe, mesmo naqueles mais
agressivos e aparentemente maldosos, genuíno amor que nos foi doado pela
Criação.
A vida não é só receber, a vida é também doação, a vida é troca de
afeto e carinho, troca de boas palavras e compreensão, solidariedade e oferta
de amor verdadeiro sem visar nenhuma pretensão vil. O bom caminho é o
da ajuda ao próximo, da caridade, da fraternidade; sejamos humildes, seja-
mos fraternos, sejamos pessoas simples, não podemos dar excessivo valor
aos bens materiais; temos que reunir sim, muitas qualidades para que no
futuro sejamos, não pessoas grandes, importantes, imponentes, mas pessoas
iluminadas, desfrutando do verdadeiro amor, com a paz e a verdadeira feli-
cidade.
Morte ao inimigo de todas as virtudes
Se o egoísmo nasce da ambição desmedida é necessário que saibamos
distinguir muito bem o que estamos buscando. Temos de saber separar den-
tre os nossos desejos aquelas vontades advindas das comparações. Quando
122
nos colocamos como inferiores ou menores – por não ter o necessário amor
próprio, a necessária segurança de si – logo corremos o risco de deixar que
os pensamentos mais instintivos tomem conta de nossa mente. Quando nos
embrenhamos numa busca, apenas para que os outros vejam que somos ca-
pazes, acabamos por desnortear nossos melhores projetos, e tudo passa a ser
uma infindável busca para ser o melhor dentre os seres. Então, mesmo que
conseguindo muito, nunca estaremos contentes, nunca estaremos satisfeitos.
Se o que buscamos é uma forma de ultrapassar aquele que julgamos superi-
or, tudo o que for feito ainda será pouco.
Quando isso ocorre, pessoas passam a vida inteira correndo atrás de
mais e mais, sem medir esforços, mas de uma maneira tão frenética que per-
dem o sentido da vida. Se ganhar dinheiro é o que vai dar o status desejado,
tudo passará a girar em torno disso. Todas as ações estarão voltadas aos ne-
gócios, às conquistas materiais, mesmo que tiver de passar por cima do di-
reito dos outros.
Desrespeitar o que não lhe é merecido soará apenas como mais um
golpe de mestre; mais um ponto a favor da ganância. A pessoa que se deixa
influenciar por estas tentações banais foge aos seus princípios, perde a no-
ção de bem e mal, esquece-se de que os outros também têm seus direitos. Se
para ganhar for necessário enganar ou trapacear, isso não terá peso de erro;
mais sim, será sentido como inteligência, capacidade, astúcia, sabedoria,
esperteza.
O egoísta não se dá conta de que toda sua corrida é uma busca louca
por alguma coisa que demonstre aos outros que é capaz e grande como
aquele que idolatrou secretamente. Se o que precisa é de um carro novinho
para impressionar, lá estará ele escolhendo o que mais o faça aparecer. Seus
verdadeiros gostos e necessidades são esquecidos em detrimentos de buscar
a todo custo, não se importando com os erros ou equívocos que cometa pelo
caminho. A insegurança e a inveja juntas formam a principal força de ação
do egoísta: ele lança um olhar para alguém que possui bens – e que é corte-
jado pelos demais – sente um frio na espinha e um enorme golpe em seu
ego; recolhe-se e deixa fermentar toda sua indignação, humilhação, juntado
a tudo isso o ódio e a inveja. Tomado por este monstro inflado (o ego feri-
do), dispara sorrateiramente para conseguir furtar algo na calada da noite,
que o torne belo e poderoso...
123
Assim que alguém dá as costas, vupt! ...atira-se com suas garras e fur-
ta; se aparece uma oportunidade de ganho fácil, arma-se da sua mais doce
figura – aquela construída pela astúcia e ganância – e parte tal qual uma
víbora atrás de um camundongo. Se identifica alguém que tem muito e ofe-
rece oportunidade de algum negócio lucrativo, adula e agrada descarada e
falsamente, de forma a ganhar a confiança de sua vítima, para aplicar-lhe o
golpe sorrateiro e fatal.
Os desejos se misturam a pensamentos desconexos dando vida a uma
miragem; seu sonho não almeja um objetivo, mas sim uma busca sem fim.
Por isso, passa a vida inteira correndo atrás do “ouro dos tolos”, que é o que
pensa que o fará grande.
Os principais antídotos contra o egoísmo são a conscientização dos
verdadeiros valores, senso de justiça e honestidade que vão além daqueles
dados aos valores monetários passageiros. Aquele que busca de forma ego-
ísta e traiçoeira o que quer, esquece-se de que toda sua luta gira em torno de
uma busca para satisfazer apenas uma situação de momento. A maioria dos
egoístas quando chega na velhice olham para trás e veem um punhado de
bugigangas sem nenhum valor afetivo, coisas frias que não demonstram
sentimento algum, que não somaram a ele nada em termos de valores mo-
rais. E o que é pior: em boa parte das vezes acumularam enormes dívidas
(karma) por conta de suas trapaças, injustiças e irresponsabilidades cometi-
das pela doentia astúcia. Olham à volta e percebem que aqueles que se man-
têm do seu lado ficaram unicamente por interesse, pelo que a soma de suas
riquezas pode lhes oferecer.
Passaram a vida escondidos por detrás de suas máscaras de guerra,
nunca conseguiram demonstrar de fato o que eram; nunca despenderam al-
gum carinho ou amor verdadeiro, nunca tiraram um só centavo na intenção
de auxiliar algum necessitado, nunca conseguiram fazer amizade com pes-
soas realmente de bem.
Quando chegam perto do fim se veem abandonados, rejeitados, igno-
rados, sem amigos verdadeiros, sem ninguém que lhes admire de fato, a não
ser aqueles de mesma estirpe. Passam seus dias aproveitando daquilo que
amontoaram através de suas manobras, como ratos que se deitam em seus
ninhos feitos do que conseguem sorrateiramente furtar.
124
Muitas vezes, só acordam quando param com todas as suas correrias,
causadas pela escravidão que o dinheiro lhes impôs; vivem numa profunda
melancolia, demonstrando dó de si, como que pedindo compaixão ou pieda-
de; como se estivessem admitindo que erraram. Só que a esta altura já é
muito tarde para reparar falhas terríveis com um simples gesto nascido de
seu falso e medroso arrependimento. Quando morrem, tudo aquilo que ar-
rastam atrás de si para ostentar, deixam para trás, sem levar um só centavo
de suas “riquezas”. Já do outro lado, seu tesouro estará largado num ponto
distante, com vários aproveitadores se divertindo às custas de toda sua luta
insana. Alguns passam para o plano astral tão apegados às coisas materiais e
ao dinheiro que não conseguem seguir o caminho normal no pós-morte. Vi-
vem atormentados olhando os outros destruírem tudo aquilo que levaram,
bem ou mal, uma vida inteira para acumular.
Isso muitas vezes faz com que pessoas assim fiquem presas ao plano
inferior, reféns de suas próprias fraquezas. Por terem se prendido demasia-
damente ao plano que acabaram de deixar (e por pouco ou nada conhecerem
do mundo espiritual) dificilmente conseguem ser tocados por algo que não
seja material.
O apego, as paixões, o dinheiro e tudo que conseguiram amontoar
agora estão ficando para trás. A total ignorância do mundo espiritual os im-
pede de perceber algo além do que habitualmente ostentavam. Muitos aca-
bam presos ao plano material na ilusão de que ainda poderão manter para si
suas “riquezas”. Assim, ficam reféns de sua própria condição de apego e
confusão, permanecendo por muito tempo perdidos entre mundos, no sofri-
mento e perda de tempo que poderiam aproveitar para o seu desenvolvimen-
to.
Para piorar isso tudo, levam consigo enormes dívidas morais; dívidas
com aqueles que tanto desprezou, dívidas por tudo aquilo que conseguiu de
forma ilícita... Quando chegam aos planos superiores, onde se expurga e se
repassa todas as ações vividas, são tomados do mais profundo arrependi-
mento pelo desperdício que fizeram de sua oportunidade de se elevar espiri-
tualmente.
Quando pensarem que tudo está terminado, aí sim é que começará seu
pior tormento: ter de passar uma nova existência terrena nas mesmas condi-
ções daqueles que tanto humilhou. Sua ganância será sentida cortando sua
carne; sua cupidez será vingada, com outros fazendo a ele o que fez na sua
125
última vida corpórea; tornando-o um escravo, arrancando dele tudo que seu
trabalho conquistar. Sofrerá as mesmas injustiças que cometeu aos outros.
A humilhação de nunca conseguir nada fará com que ele se sinta na
mesma posição daqueles que tanto humilhou, simplesmente por que não
possuíam bens materiais, nem dinheiro, nem poder ou status. Uma vida ego-
ísta recheada de más conquistas atrairá uma nova passagem extremamente
amarga, terrível de ser vivida, em condição de pobreza, humilhações e injus-
tiças de fazer dó. O egoísta deve ser alertado de que os verdadeiros valores
que ele tem de conseguir para si é o amor, a verdadeira amizade, a mútua
ajuda, a prática do altruísmo. Isso sim é que engrandece, alivia a consciên-
cia, traz a paz, a alegria de viver, satisfação e felicidade.
126
Capítulo XIV
Reforma íntima
Todos nós temos de refletir muito bem o que estamos desejando para
nossa vida, pensar muito bem se o que estamos querendo não é apenas para
agradar aos outros, ostentar, aparecer, ser visto com importante e vencedor.
Ou ainda, desejar para si apenas imaginando construir uma vida cheia de
luxo e ostentação, simplesmente para agradar o Ego.
Antes ser um pobre humilde, solidário e altruísta, do que ser um rico
egoísta. Aquele que não acredita neste princípio básico deve procurar clare-
ar o raciocínio, desenvolver a inteligência e partir para observar seus verda-
deiros valores e fazer uma faxina, uma completa e imediata reforma antes
que seja tarde demais.
Porém, certamente que há milhares que sentem isso como pregações
absurdas ou descabidas, desmedidas ou ligadas a qualquer tipo de religio-
sismo. Não, não falamos nem queremos defender absolutamente nenhum
tipo de religião, seita ou qualquer outro tipo de manifestação religiosa. Fa-
lamos aqui de verdadeiros conceitos humanos, aqueles que todos nós preci-
samos alcançar, para poder interromper a sequencia de sofrimentos que pas-
samos, até que tenhamos de fato aprendido todos os ensinamentos que daqui
podemos levar.
Melhor fazer uma reforma agora do que ter de suportar das piores
provações possíveis no futuro. Aquele que guarda em si traços de egoísmo
deve procurar reforçar-se com verdadeiros e bons princípios éticos e espiri-
tuais. Dar melhor valor ao que é efetivamente, e não alimentar sonhos para
ser o que não deve ser, é um bom começo. Raciocinar e pensar muito bem
todas as vezes que surgir vontades e desejos, para identificar se eles não
estão nascendo da simples vontade de ter aquilo que os outros têm, sim-
plesmente por achar que aqueles têm conceitos mais elevados, modernos e
bem resolvidos.
Não se colocar frequentemente em comparações e seguir tratando de
crescer em verdadeiros bons princípios é de fundamental importância. Con-
127
servar a humildade e simplicidade é outra forma de conseguir tudo o que
precisa, sem cobranças excessivas de si, sem cometer nenhum exagero ou
erro. Pois assim, estará tratando de conseguir apenas o efetivamente neces-
sário. Ter o suficiente para viver bem e manter uma boa reserva para even-
tualidades e uma velhice tranquila é bem diferente de amontoar de tudo que
estiver ao alcance, apenas por achar que assim será distinto entre os melho-
res. Melhores o quê? Ricos em quê? Brilhantes com que luz? Bons para
quem? Será que o que vale é algo para criar uma máscara bonita, ou o que
importa mesmo é criar uma personalidade cheia de luz, uma alma brilhante,
um espírito que resplandece em sua grandeza? Só chegamos à verdadeira
resposta quando pensamos e refletimos através de nossa Consciência, sem
orgulho, com humildade e bondade.
Todo egoísta trás em sua raiz a carência, a falta de amor próprio por
ter se sentido rejeitado. Toda pessoa egoísta carrega consigo uma vontade
imensa de ser grande e aparecer; pois é assim – pensam – que receberão
amor, carinho, atenção, distinção, condecorações, elogios, reconhecimento,
exaltação... Todo egoísta carrega em si uma vontade imensa de ter também;
só que isso acontece a partir de sua baixa autoestima e insegurança. Assim,
sua busca passa a ser uma obsessão louca para apagar aquela imagem que
tanto sofrimento lhes causou.
Quando fazem de maneira tresloucada, acabam perdendo a noção de
certo e errado; de bom ou ruim. Quando não conseguem o que querem – e
nunca conseguem, pois que não existe limite que os contente – vivem sob
enorme pressão exercida pelas cobranças de si mesmo. Sua vida é um eterno
tormento, para si e para os outros, pois vivem excessivamente preocupados
com seus ganhos. O que ganham nunca lhes é o suficiente; assim, se tornam
mesquinhos e avarentos, porque qualquer gasto será como se estivesse di-
minuindo o montante de sua glória. Como associam sua personalidade ao
tamanho de sua fortuna, defendem sua riqueza com unhas e dentes. Gastar,
para eles, é como diminuir a possibilidade de poder adquirir outras coisas
que os faça aparecer para os outros.
Daí alcançam a felicidade? – Nunca! Nada basta, nada os tranquiliza,
nada os satisfaz, ninguém é bom o suficiente, ninguém o ama, ninguém o
reconhece, ninguém lhe dá carinho, ninguém o compreende, ninguém faz
bem feito, ninguém sabe fazer nada... Não reconhecem nada que os outros
fazem, pois sentem a necessidade de fazer chegar aos outros que foi ele
quem fez, foi ele quem pensou, que foi ele quem decidiu, que foi ele quem
128
executou. Sua disfarçada carência implora por aprovação. O medo de que
alguém os supere ou pareça melhor causa-lhes pavor; têm verdadeiro terror
de que alguém reconheça um outro e não eles.
O convívio com pessoas assim não é fácil. Todos aqueles que estão à
sua volta e que não demonstram algum tipo de afeto serão tidos como ini-
migos. Pois, mesmo não manifestando carinho ou empatia, acham que todos
devem sustentar e suprir sua completa carência afetiva. Por desenvolverem
uma falsa segurança nascida do medo, desenvolvem a ideia de que são
grandes; assim, qualquer relação que não os bajule ou os coloque nas alturas
não lhes serve. Quando encontram outros neste mesmo estado perturbado,
logo sentem repulsa, pois não há como dois recalcados em busca de luz se
darem bem num mesmo nível de disputa, com um querendo aparecer mais
do que o outro.
Geralmente não conseguem demonstrar amor, simplicidade, empatia,
afeto, reconhecimento, gratidão ou verdadeira amizade. Pois, demonstrar
amor será como aprovar os outros. Como temem que alguém se fortaleça e
se torne maior do que eles seguem vivendo sem nenhuma manifestação de
carinho ou reconhecimento, sem elogiar ou enaltecer qualquer qualidade
alheia. Sentem um profundo medo de mostrar qualquer fraqueza, vestem-se
de uma armadura pela qual incorporam um herói desbravador; atiram sua
verdadeira personalidade para longe e incorporam as características deste
ser criado pelo medo, pela carência e humilhação.
Estes sentimentos, assim que incorporam e formam esta “poderosa fi-
gura”, tomam o lugar de qualquer virtude, que ficarão escondidas por detrás
da arrogância, ganância, ódio, desprezo, frieza, inveja, revolta, desrespeito,
altivez, orgulho, falsidade e tantos outros “lindos” atributos e qualidades.
Escondem todo seu medo, ciúme, ira, inveja e carência com uma carapuça
amedrontadora. Então, por medo de que os vejam menores, escondem qual-
quer demonstração ou necessidade de algum afeto. No fundo de sua alma,
seguirão se sentindo como rejeitados, incompreendidos, injustiçados e des-
prezados. Seguem pela vida fechados, em conflito existencial, sentindo-se
recusados, mas com uma carência enorme ardendo nas suas almas.
Não conseguem demonstrar carinho, por isso não recebem afeto; não
conseguem demonstrar amor, por isso não são amados. As pessoas só se
mantêm perto de egoístas por algum motivo que as force a isso; do contrá-
rio, afastam-se rapidamente deste alguém interesseiro e azedo. Alguém só
129
deixará de ser egoísta quando se der conta dos porquês de estar agindo de tal
forma e iniciar uma varredura dentro de sua alma, partindo de uma análise
consciente de quem é e do que deveria estar sendo, para assim lembrar de
todos os seus bons princípios e resgatá-los por detrás da barreira criada pelo
seu devaneio. Procurar identificar o que o fez desviar-se de seu caminho é o
começo.
O egoísta deve lembrar-se de valorizar cada uma das pessoas como se-
res humanos iguais, independente de condições financeira, e que todos estão
fazendo para sobreviver e alcançar seus objetivos, dentro das possibilidades
que cada um está tendo em seu momento de vida. Quem imagina que tem de
ser maior do que os outros para ser respeitado ou conseguir lugar de desta-
que, se afastará da realidade e esquecerá de todas as suas fraquezas, limita-
ções, sentimentos, amor-próprio, respeito a si e aos outros.
Sentir suas carências e o porquê delas, e o que o fez se sentir tão pe-
queno e inexpressivo o remeterá ao princípio de sua corrida maluca em bus-
ca de ser mais e maior do que os outros. Perceber que sua busca está, no
fundo, tentando atrair para si um pouco de amor e consideração fará com
que identifique sua necessidade de ser amado pelos outros, de ser compre-
endido; de que os outros deveriam reconhecer suas qualidades, sua bondade,
sua importância. O que inicia esta luta interna é o sentimento de desprezo,
de ter sido posto num segundo plano, de que outros a sua frente foram ou
são mais prestigiados. Essa carência leva à inveja.
Mas, a partir de quando identifica isso – independente de que os ou-
tros o amem ou não – será amando a si mesmo que diminuirá sua resistência
e deixará transparecer sua verdadeira índole: uma pessoa carente, amorosa,
mas com um medo terrível de que alguém a veja deficiente ou carente da-
quilo que julga que os outros têm de sobra. Demonstrar nossas carências e
necessidades, desde que façamos no momento apropriado e para as pessoas
certas, quebra as barreiras que impedem os outros de se aproximar. A hu-
mildade nasce quando nos percebemos como seres humanos aprendizes e
com falhas, e que todas as pessoas, em maior ou menor nível, sempre terão
alguma carência, dificuldades, medo de expressar o que sentem, medo de
baixar a guarda e deixar que os outros vejam seus pontos fracos. Quando
pensamos que os outros são perfeitos, e que só nós é que temos defeitos,
colocamo-nos num plano inferior, com uma pesada carga que diminui a au-
toestima e a noção de nossos valores.
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Resgatar nossa verdadeira identidade, nossa essência, e trabalhar cada
ponto com ponderação, desprendimento, sem medo de ser taxado de inocen-
te e frágil, é a melhor forma que existe para que as pessoas compreendam
quem somos, deixem-se mostrar como elas são, e ofereçam ajuda sem medo
de perturbar ou ferir sentimentos. A união entre qualquer relação humana só
é verdadeiramente satisfatória e proveitosa quando cada lado demonstra
suas carências e, ao mesmo tempo, todo o apreço, consideração e amor que
sente pelo outro.
Imaturidade
Quando analisamos as razões que levam as pessoas a agir agressiva-
mente com os outros em certas ocasiões, logo perceberemos que na maioria
das vezes existe o amor. Porém ele é manifestado de forma grosseira, apesar
da intenção de ajudar, de alertar, de demonstrar preocupação, de querer evi-
tar que o outro incorra em erro, etc. Isso acontece porque, para demonstrar
carinho sem se renegar a um segundo plano, agimos como se fossemos uma
voz que orienta. Essa é uma maneira que usamos frequentemente para mani-
festar amor e uma carência disfarçada: de um lado nos colocamos como
maduros e prestativos querendo exercer influência sobre o outro aconse-
lhando; do outro, ao oferecer uma ajuda, automaticamente estaremos con-
quistando o apreço da outra pessoa.
Quando somos carentes e inseguros, essa mesma insegurança nos im-
pede de deixar alguém perceber alguma intenção de que queremos esse seu
apreço. Esse orgulho nascido da insegurança é que inibe e poda mais fre-
quentemente as pessoas de agirem carinhosamente com as outras.
Quando nos colocamos na defensiva, isto é manifestado de forma ru-
de, sem explicações, somente com cobranças, com gritos, com advertências,
com apontamentos de falhas, com bravatas, demonstrações de “sabedoria”,
sem um pingo de carinho, diálogo ou compreensão. Mas, ninguém, por mais
que intimamente sinta a boa intenção, não gosta de ser tratado de forma ru-
de. Ninguém gosta de se sentir coagido, ameaçado, amedrontado, instigado
ou levado a fazer por algo que pareça ser uma imposição do outro. Esse tipo
de manifestação imatura leva aos desentendimentos. A forma de expressar
131
uma preocupação ou cuidado sempre alcançará seu objetivo quando feita de
forma carinhosa, compreensiva, respeitosa, amorosa...
A boa interação entre as pessoas só atinge um bom nível de convivên-
cia através da exposição de motivos, das razões, dos princípios de cada ex-
pressão, dos porquês de estarmos nos dirigindo desta ou daquela forma. Daí
torna-se possível o diálogo, com cada um entendendo os motivos e essência
do outro. Nenhum ser humano é violento em sua essência, tampouco egoís-
ta. São as circunstâncias da vida que desviam a maneira de se expressar.
Quando estes desvios acontecem, deixamos que o ego se manifeste na sua
forma mais primitiva, abrindo as portas para que os instintos menores en-
contrem chance de se expressar sem qualquer resistência. Se do contrário,
agimos com a razão e com os verdadeiros sentimentos, colocamos uma forte
barreira nas manifestações mais primitivas e alcançamos um novo grau de
desenvolvimento, uma forma mais madura de expressão, um novo juízo,
uma nova luz, um novo semblante, uma nova e mais elevada personalidade,
um espírito mais iluminado.
Quando nos damos conta de que não é só o “eu” que tem de ganhar e
se desenvolver; quando nos damos conta de que cada um tem um longo pas-
sado, e um presente determinado pelas suas próprias atitudes passadas, mas
que todos nós estamos aqui porque estamos aprendendo, quebra-se a luta
pelo desenvolvimento ou ganho pessoal apenas. Temos de nos lembrar de
que nossa caminhada é longa, e que cada um de nós poderá passar por inú-
meras dificuldades que só poderão ser resolvidas com a mútua ajuda. So-
mos, afinal, uma imensa família, no mais puro significado desta expressão.
Tentar manipular a Lei e querer só para si será como infringir os princípios
mais sagrados, mais elevados da Criação. Não poderemos vir a ser chamado
de Filhos, se nunca sequer respeitamos a individualidade e os valores de um
irmão.
Como poderia alguém ser livre sem qualquer tipo de constrangimento,
convivendo com outras pessoas que magoou no passado, que prejudicou,
furtou, enganou, trapaceou, unicamente por querer parecer o que de fato não
é? Inteligente de fato é quem se convence destas verdades e se apressa em
mudar suas atitudes mesquinhas. Valorizado será aquele que efetivamente
possuir altos valores morais, espirituais, que são luzes que não se apagam
com a morte, nem com qualquer tentativa de furto ou outra coisa qualquer.
Os valores que somamos definitivamente no espírito é que são nossos ver-
dadeiros tesouros.
132
Se poderemos nos elevar quando formos solidários, amorosos, coope-
rativos, altruístas, bondosos, simples e humildes. Amar e compreender a si
próprio, com todos os defeitos e virtudes, sem orgulho, vaidades ou medos
que inibem a espontaneidade, faz com que nos abramos mais. Deixar de
imaginar que nossos defeitos são únicos, e que poderiam nos colocar num
nível abaixo no merecimento de amor, nos fará parecer e ser mais humildes,
mais humanos, mais normais, mais resolvidos quanto ao nosso caráter e
individualidade.
Amando certamente que seremos amados, mesmo com qualquer tipo
de limitação passageira. Afinal, só os perfeitos é que são dignos de receber
atenção, amor, compreensão e carinho? – Claro que não. Se fosse assim
ninguém seria digno de ser amado, pois ninguém é perfeito. Cada um com
suas falhas, sempre estaremos travando uma luta interior para extirpar qual-
quer imperfeição e substituí-las por qualidades. Se alguém fosse perfeito,
garanto que não teria necessidade de estar aqui neste mundo conosco, exce-
to raríssimas exceções feitas àqueles que aqui vêm para oferecer de sua luz,
sem nada pedir em troca.
O egoísmo faz a pessoa ser menos feliz porque a felicidade é igual o
amor: quanto mais dividimos com os outros, mais temos. Amando e sendo
seguro de si, não será necessária nenhuma estripulia, nenhum alvoroço ou
um simples querer parecer; a expressão natural dará conta de se manifestar
com toda sua grandeza, amor, beleza e luz. Quando de fato compreendemos
tudo isso, todas nossas dificuldades serão entendidas como oportunidades de
melhorar o que já somos; quando agimos com esta consciência, todos aque-
les problemas que tanto afligem, tais como a depressão, o ódio, inveja, me-
do, ciúmes, etc serão afastados gradativamente, cedendo lugar a uma alma
nova, cheia de confiança e paz, satisfação e alegria.
A mesquinhez é tal como um telescópio que aumenta as pequenas coi-
sas, mas que nos impede de ver as grandes que estão ao nosso redor.
133
Capítulo XV
Etapas da vida e problemas comuns
As maiores dificuldades da trajetória humana geralmente ocorrem na
adolescência e pós-adolescência, início de vida adulta. Este período crítico é
marcado por uma avalanche de experiências fortes e que poderão deixar
marcas profundas na mente de cada um, boas ou ruins, de acordo com o
nível de entendimento neste momento da vida. Orientação e acompanha-
mento terão de ser feitos de perto por alguém que de fato possa oferecer
suporte para apaziguar ânimos e acalmar corações.
O risco de crises e desajustes é de fato muito grande, e não raro se jun-
tam a uma montanha de problemas de todos os tamanhos para os próximos
anos de vida, e ainda outros que serão arrastados por toda a existência se
não forem resolvidos num nível de aceitação mental lógico e equilibrado.
Não existem instituições que ofereçam suporte de acordo com as exigências
desta fase. Por mais que exista algum tipo de orientação, um pouco daqui
outro pouco de lá, não existe um guia de procedimentos seguro.
A consequência disso são as dores, lágrimas, brigas, encrencas, dis-
cussões, inconformismos, decisões precipitadas ou equivocadas, ressenti-
mentos, desobediência e recolhimentos perigosos. A criança imita de forma
natural durante toda a sua infância, mas raramente recebe orientação para
sair da imitação para a criatividade. O normal é que sigam imitando e copi-
ando ao invés de desenvolver o conhecimento através da descoberta do
mundo, que vai muito além do ensino formal e daquilo que absorvem no
convívio familiar. Não existe uma cartilha que sirva de manual de sobrevi-
vência, que ofereça uma linha de conduta segura para se aproveitar melhor o
tempo com coisas úteis e boas, ao invés de perder tempo com problemas
que se arrastam ad infinitum, calcados no subconsciente de pessoas que se
tornam hospedeiras de seu próprio desarranjo mental; com coisas que po-
dem tornar sua vida e as dos outros verdadeiros horrores. Muito da vida se
perde devido à má formação que resulta num mau preparo intelectual e de-
sequilíbrio emocional.
134
Se analisarmos os problemas que acarretam as dificuldades de convi-
vência e que atormentam mentes, constataremos se tratar de coisas relativa-
mente corriqueiras, mas que, quando não são bem resolvidas, permanecem
povoando a mente que se carrega com estes intrusos que desorganizam toda
a estabilidade necessária para uma vida mais tranquila, e sem riscos de do-
enças advindas de fatores emocionais. Sentimentos retraídos e recalcados no
subconsciente costumam gerar grandes estragos físicos e mentais a médio e
longo prazo. Estes males têm de ser solucionados ou acabam por se mani-
festar de outras formas. Quando possuírem raízes fortes e prontas para se
fixar em algum órgão, passarão a fazer parte dos motivos de dores inexpli-
cáveis; que vão minando, minando até começarem a se manifestar em forma
de doenças mais graves. A maior parte dos problemas psicológicos nascem
na infância e adolescência e são reforçados por altas doses de inseguranças
no início da vida adulta.
Estabelecido o mal, na grande maioria das vezes este passa a fazer
parte da vida, com manifestações de raiva, medo, fobias, traumas, esquisiti-
ces, etc. Passa a existir a manifestação decorrente de um mal que existe, mas
que não é identificado no seu gênero e espécie, para que receba o antídoto
certo, ser tratado e extirpado. A manifestação de pessoas mais irritadiças,
revoltadas, pessimistas, perfeccionistas, violentas, briguentas, carentes e
depressivas advém de intrusos que, em boa parte, se implantaram na forma-
ção do indivíduo e que acabaram tomando parte nele. Estas pessoas acabam
sentindo sua personalidade de um ponto de vista como se todos aqueles de-
feitos pertencessem efetivamente a eles, e não como sendo manifestações
advindas de contágios que afetaram a livre e natural manifestação perante a
vida. Sua expressão será contaminada por estes inúmeros fatores que for-
mam a sua atitude perante o mundo.
Estes acabam se vendo como sendo aquilo; ou seja, muitas de suas ca-
pacidades podem ficar escondidas e sufocadas pelas marcas que impressio-
naram na vida pregressa. A manifestação de suas atitudes estará altamente
prejudicada pelo que imagina de si, se julgando ser aquele que um dia fa-
lhou, ou que imaginou ser menos do que qualquer outro. O convívio com
estas contaminações carregam em si uma infinidade de males que atrapa-
lham enormemente o desenvolvimento sadio e a segurança de si.
135
Infância
A infância é a importante fase na formação da pré-adolescência. É ne-
la que absorvemos quase tudo que acontece a nossa volta de forma automá-
tica, tal como faz uma esponja. O mundo à volta injeta uma enxurrada de
informações que a tomam sem que ela saiba julgar se elas são boas ou ruins,
bênçãos ou venenos.
Estas informações permeiam a mente e influenciam em boa parte das
atitudes posteriores. A influência sofrida até os catorze anos é de fundamen-
tal importância na formação da personalidade pelos próximos muitos anos.
Os principais componentes de uma expressão são impressos na infância.
Muito do que expressamos para o mundo advém de uma base iniciada nos
primeiros passos como personalidade em desenvolvimento.
Nos primeiros sete anos somos totalmente dependentes dos adultos. O
mundo à volta implanta o modelo que será copiado nos próximos sete anos.
Dos sete aos quatorze anos agimos com certa independência, mas sujeitos às
novidades que chegam a todo instante, de uma forma e de outra. Os mais
velhos são idolatrados e imaginados como sendo aquilo que queremos ser
quando adultos. Começam a acontecer os primeiros questionamentos com
relação ao comportamento dos pais, sobre os tipos de pessoas, etc. Por volta
dos quatorze anos tudo muda. O jovem adolescente quer independência. O
que o pai e mãe falam passam a ser banalidades e coisas ultrapassadas. Co-
mo estão frequentemente em contato com outras inúmeras personalidades e
tipos, começam a incorporar certos modismos, tendências e tudo mais que
lhes tocar como sendo a última pedida para se tornar o centro das atenções.
Aqui começam os jogos de sedução. Vale tudo quando a intenção é parecer
interessante para os outros, principalmente para os de mesma faixa etária.
A partir de uma primeira experiência, seja intensa ou não, logo estarão
cheios de paixões e fazendo tudo que for possível para ser o mais cortejado.
Os pais? Estes serão apenas o suporte para o impetuoso galhardo romper
novas fronteiras. O sentimento com relação a eles costuma sofrer algumas
alterações: o pai é o que naturalmente provê o sustento. Afinal, desde que
nasceu foi assim; logo, resolver os problemas de dinheiro e suprir as neces-
sidades diárias, são tarefas que cabem aos pais. A mãe, além de sentir certo
orgulho de ter formado um jovem Ser independente e cheio de opinião, co-
136
meçará a ter que lidar com novos comportamentos, novas vontades, novo
jeito de agir, novas amizades, etc.
Para estes jovens, o que importa é estar com os amigos e curtir a vida
como se ela fosse um jogo de videogame, uma aventura colorida. Pensar em
como se preparar para a vida adulta? Se pudessem responder de pronto, sem
pensar muito, diriam: “- Adulto? Mas quem falou que eu vou ser adulto?
Não sou tolo como todo mundo, casar, ter filhos, viver cheio de problemas e
sob regras; pagar contas, naquela monotonia de encontros e festinhas sem
graça...” Responsabilidade, pra quê? Está tudo tão bom... Não vou ficar na
saia de minha mãe, e nem dando ouvido para as cafonices repetidas cansati-
vamente pelo pai. O que eu quero é curtir, festejar, namorar, viajar, conhe-
cer coisas novas...”
No período da adolescência o jovem começa a viver sua individuali-
dade. Ele já não aceita mais obedientemente o que os pais falam. Começam
a se sentir donos das “verdades”, não admitem serem contrariados; afinal,
dizem: “...já sou adulto e sei muito bem o que tenho de fazer. Não sou aque-
la criança bobinha que nada sabia, e que todos mandavam. Agora sou mais
eu. Sou eu quem determina o que é melhor para mim. Não vou admitir que
ninguém fique me tratando como se fosse um tolo, um qualquer que precisa
de ensinamentos de ninguém. Eu sei sobre mim e do que preciso!”
De fato acontece que, a partir do momento que o jovem começa a se
sentir independente, não admite que ninguém intervenha nas suas coisas.
Está muito interessante aproveitar o que o mundo tem de bom. Não querem
que ninguém lhes tire o direito de namorar, sentir paixão, ser cortejado e
aprovado. Daí, começam os comportamentos mais afoitos, mais atirados,
mais em segredo. Os pais não são informados do que estão fazendo. Se per-
guntam, certamente que receberão respostas ríspidas, como estas: “- Estão
desconfiando de quê? Acham que eu não sei cuidar de minha vida? Pensam
que eu sou um qualquer que vai se meter em problemas? Sei muito bem o
que estou fazendo e não preciso de ninguém tomando conta, muito menos
vigiando...”
Esta é uma das fases mais críticas da vida. O jovem começa a se sentir
livre, mas na realidade não possui todo o preparo suficiente para lidar com
as questões do mundo. Estão vulneráveis e altamente sujeitos a sofrer más
influências, a contrair vícios perigosos, desvios de conduta; a cometer irres-
ponsabilidades, esbanjamento; a ter arrogância, ódio, reclusão, sedentaris-
137
mo, inveja, ciúmes, revolta; abandono de princípios, etc. Isso tudo pode di-
minuir imensamente suas chances de sucesso, em todos os sentidos e em
tudo. As escolhas feitas nesta fase da vida determinam em muito o futuro
deste jovem. Se possuem boa base, nascido de pais que lhe ofereceram boa
educação através do diálogo, logo estarão ingressando em outros estudos
que proporcionarão melhores chances de sucesso profissional; se souberem
como lidar com seus sentimentos, e separar suas paixões de suas decisões,
certamente que constituirão matrimônio feliz e formarão boa base para seus
filhos. Se possuem forte resistência e orientação para a boa conduta, não
estarão sujeito àqueles comportamentos marginais causados por modismos,
carências, falta de opinião e de amor próprio.
Desta forma não cairão em vícios, não se envolverão com drogas libe-
radas ou não; não estarão sujeitos a seguir modelos criados por quem tem
melhores posses; ou por aqueles que não têm verdadeira segurança de si, e
por isso montam uma personagem para esconder sua verdadeira identidade,
com enfeites esdrúxulos, pinturas na pele, trajes esquisitos, etc. Nem tam-
pouco se envolverão em procedimentos e comportamentos, simplesmente
porque aquele que mais chama a atenção ou que está sempre em evidência
faz. Não vão frequentar lugares simplesmente porque é pra lá que vão os
mais irreverentes; nem vão copiar comportamentos bizarros cometidos por
aqueles que querem demonstrar independência e autossuficiência, quando
na realidade estão cometendo a imprudência e irresponsabilidade de se atirar
sem medo naquilo que não conhecem, simplesmente para não parecerem
comuns ou pouco integrados aos modismos.
Certamente que estes últimos, além de imaturos e despreparados, são
carentes de aprovação para se sentirem bem, pois carregam dentro de si um
medo latente de serem excluídos e tidos como inferiores. Uma simples re-
primenda ou sensação de não ser tão bons quanto queriam ou demonstravam
ser, pode atiçar a ira destes que farão de tudo para criar uma imagem forte e
que impressione. Então, farão de tudo para chamar a atenção e serem presti-
giados. Quando não conseguem o prestígio que imaginavam que teriam com
esta imagem fabricada, eis a porta aberta para o vício que “consola”. Daí
nasce o terrível conflito que pode conduzir à derrocada pela teimosia de não
querer reconhecê-la (ou que reconheçam seu fracasso), o que criará uma
forte e resistente barreira para sua recuperação e reabilitação, que o traga de
volta para uma vida mais proveitosa. A volta geralmente torna-se muito di-
fícil, porque geralmente alguém admite seus erros.
138
Continuar fazendo o que vêm fazendo será uma forma de dizer: “As-
sumo o meu jeito descolado de ser; não sou medroso e nem vou me sujeitar
às tentativas de imporem a mim um jeito normal de ser... sou muito mais do
que isso...” A irresponsável irreverência – como que assumindo seus atos
dizendo, “Sei o que estou fazendo... Assumo minha identidade... Arco com
as consequências...” – dificulta a razão para poder assumir que sua tentativa
de buscar aprovação não deu certo, e que nem por isso tem de persistir com
seus desvios perniciosos.
A insistência na vida errada é o resultado da teimosia gerada pelo me-
do de que efetivamente o vejam com olhos críticos que o desaprovem ou
enxerguem sua derrota. Manter o que está sendo, mesmo a custa de muitos
erros e excessos, será uma forma de manter de pé uma imagem de decidido
e ciente de tudo o que está acontecendo, o que leva muitos tão longe, que só
a morte consegue pôr fim a sua viajem tresloucada.
Início de vida adulta, influências e inseguranças
O início da vida adulta é a fase das dúvidas e das cobranças internas.
Se o jovem tiver vivido um período agitado na sua adolescência, certamente
que trará marcas fortes em sua personalidade, que acabam prejudicando o
início da efetiva integração na vida social.
Esta fase de conflitos pessoais, onde existe uma necessidade latente de
querer se mostrar da melhor e mais indefectível forma para o mundo –
mesmo sem ter elementos que possam dar a segurança necessária para uma
expressão verdadeira – costuma causar grandes desilusões, frustrações e
medos. A necessidade de aprovação e de afirmação pessoal se faz presente
como uma fera indomável dentro de um ser em formação. Este poderá ser
domado pela fera e até tornar-se escravo dela, de forma a viver sobre seu
jugo. Será aprisionado por uma lei que não está escrita em palavras, mas sim
em sentimentos que mechem com a cabeça e o coração de forma violenta,
podendo causar grandes estragos por toda uma vida, e até além.
139
Nessa fase costuma-se confundir dinheiro com poder; status com re-
conhecimento e uma vida tranquila, sem ter de se submeter aos demais; de
ter poder de mandar, determinar e colocar outros sob suas ordens. O jovem
estará extremamente ligado em tudo que está a sua volta. Valores materiais
o impressionarão de tal forma, que passará a perseguir um modo de conse-
guir coisas para si. Os sonhos se confundem meio a realidade, e grandes
devaneios afloram da mente que sonha com uma vida de poder e fama. Daí
começa a valorizar tudo aquilo que faz diferença no jogo das disputas. A
percepção que têm funciona assim: quem tem o melhor carro impressiona
mais; quem cria um tipo diferente impressiona e é bem aceito; quem faz
determinada coisa está na moda; quem tem mais o que mostrar está sempre
rodeado de outras pessoas, é feliz e prestigiado; quem é rico desfruta de tu-
do que a vida pode oferecer, etc.
Essa é a formula que rapidamente dá forças e aflora o Ego. Aqui se
iniciam as vontades, os desejos, o querer ser tão bom ou melhor do que
aqueles que julga serem superiores. Sua base geralmente não é das mais
sólidas; então, logo começa a ter de enfrentar a dura realidade. Se possuir
parâmetros e tiver boa orientação, certamente que se sairá bem. O preparo
lhe dará todo o suporte para passar incólume pelas provações que tanto im-
pressionam todos os jovens.
Se sua educação for limitada a parcas instruções que a vida deu, logo
estará sujeito a todas as consequências do desequilíbrio: frustração, revolta,
inconformismo, ira, agressividade, nervosismo, complexo de inferioridade,
etc, etc. Sua situação será confundida com sua pessoa, e pensará: “- sou pe-
queno, um pobretão, um fracassado, esquecido, rejeitado e mal-amado”.
Sua personalidade afetada começará a moldar seu caráter conforme a
contaminação causada pelos pensamentos e julgamentos que faz de si. Logo
estará exatamente como seus pensamentos o levaram a pensar que era: a
força exercida pela pressão de suas exageradas cobranças de si o levou ao
caos. Agora tudo está nebuloso, escuro, sem alegrias e pesado de ser vivido.
Sua energia e atitude de jovem guerreiro foram minadas e esgotadas.
O mundo não será mais uma forma e oportunidade de alcançar o su-
cesso. A vida passou a ser um lugar onde alguns vivem bem e outros ficam
aonde seus pensamentos maus o levaram. “- Que fazer, afinal? “... não passo
de uma pobre vítima do destino; quem sou eu para estar dentre os sortudos
que têm uma vida abastada? ...um infeliz condenado a viver nas adjacências,
140
na marginalidade, na periferia, que é onde vivem os desafortunados e com
tanta má sorte...”
Estas pessoas abaladas pelas limitações que deixaram tomar conta de
si, se não receberem ajuda e orientação amiga, vão continuar vivendo com o
pensamento venenoso de que não são ninguém; de que não são dignos de
melhor sorte, de que não devem tentar, pois o mundo foi feito para os sortu-
dos que receberam a chance, ou para os que nasceram em berço de ouro.
Quando enfim encostam e se acomodam, a vida passará a ser uma
eterna busca pela sobrevivência, miserável e limitada de qualquer recurso ou
melhores condições. Os dias vão passando e a situação não muda. Proble-
mas, contas para pagar, remédios e só. O pouco recurso estará contado e
extremamente medido para cada obrigação. Não existe nenhuma reserva,
não existe nada que dê um pouco de alegria; nada poderá mudar as coisas e
promover uma vida mais digna e tranquila. Este tipo de vida leva à aflição,
ao desgosto, à revolta, à raiva, à inveja, ao desespero e permanente mal-
estar. Não existem muitas pessoas que ofereçam ajuda importante e decisiva
para que estas pessoas possam vislumbrar um futuro melhor. A miséria aca-
ba por enfraquecer a autoestima, os valores pessoais, o brilho necessário
para viver bem; existem aqueles que se colocam na condição de vítimas do
destino e passam a alimentar enormes doses de dó de si mesmo.
Acabam adoecendo, deprimindo, entristecendo, se afundando pela
condição, como se eles fossem de fato incapazes, quando, na realidade, é a
condição que os levaram a imaginarem-se incapazes, incompetentes ou me-
nores. O diálogo aberto entre os pais e os jovens é de extrema importância.
A boa orientação oferecida de forma amigável e calma é que alertará para
estas armadilhas do mundo. O jovem deve pensar em se preparar para a vida
futura nesta fase.
Sua principal meta deverá ser o que vai fazer para garantir uma vida
de satisfação, realizações, vitórias, avanços, progressos, garantia de estabili-
dade profissional, física e psicológica. Nesta fase, por terem limitado poder
de discernimento do que é certo ou errado, e por se acharem donos de si,
inúmeras fatalidades podem acontecer e comprometer toda a sua trajetória.
Decisões erradas, paixões desenfreadas, envolvimentos perigosos,
drogas, desvio de conduta, preguiça, acomodação, confusão de valores e
tantas outras coisas, poderão marcar negativamente, pondo todas as suas
141
possibilidades futuras por água abaixo. A orientação deverá levar em conta
um vislumbre de sua vida futura. Para os jovens, por mais que seja penoso
ter de pensar ou agir de forma regrada e orientada, futuramente certamente
que agradecerão imensamente o apoio que tiveram nesta fase tão delicada e
perigosa.
O ideal é que se oriente salientando os motivos das dicas. Esta é aque-
la fase onde ninguém gosta de se sentir conduzido por ninguém. Aceitar
uma ordem, orientação ou reprimenda será confundido com rebaixamento a
níveis menores do que eles gostariam de ser vistos e considerados. Se não se
enfatizar que o que está se visando é seu próprio bem, tudo poderá se perder
em revoltas, brigas, desobediências e afastamentos.
Apontar os riscos e oferecer alternativas viáveis, sem exigir demais, é
uma forma de poder continuar sendo pai e amigo. Existem muitos proble-
mas que só serão resolvidos com as experiências pessoais; mas, quando se
auxilia sem querer prender ou regrar demais, toda a trajetória futura poderá
ser assegurada. Não temos o direito de determinar o que um filho ou outra
pessoa qualquer quer ser; mas, podemos e devemos oferecer, de nossos co-
nhecimentos e experiências, dicas e alternativas para quem consideramos e
amamos.
142
Capítulo XVI
Agressividade
De onde nasce a agressividade? Por que nos comportamos de forma
agressiva em determinadas situações? Por que ficamos na defensiva em
determinados momentos? Por que nos irritamos com alguns comentários,
críticas, ofensas ou agressões verbais? Por que evitamos aqueles que dizem
certas verdades?
Por que reagimos com agressividade em determinadas circunstâncias
e outras não? Por que teimamos e relutamos em não fazer certas coisas,
principalmente depois que alguém nos magoou?
A reação agressiva ocorre sempre que alguém contraria uma de nossas
vontades, costume ou personalidade. Reagimos de forma agressiva sempre
que sentimos que alguém está nos forçando a fazer algo contra nossas von-
tades; a ameaça terá uma resposta na mesma proporção da intensidade sen-
tida. Quanto maior o medo de perder uma posição ou condição, maior será a
reação na tentativa de impor temor ao adversário. Sempre que uma atitude
alheia nos tire do conforto relativo habitual, ou contrarie nossos princípios,
uma enérgica manifestação se dará como forma de protesto. Ao sermos
questionados sobre uma opinião, gosto, entendimento, vontade ou desejo,
sempre procuramos nos defender com medidas drásticas, picantes e agressi-
vas.
Sempre que nos sentimos desrespeitados, contrariados, forçados a
mudar o que gostamos por imposição de outra pessoa, haverá uma reação
contrária na tentativa de manter distância segura. Quando não temos habili-
dade suficiente para defender nosso território pela diplomacia, será com a
violência e agressividade que tentaremos amedrontar, ameaçar, atacar e
afastar o opressor. Quando não existe compreensão e maturidade suficien-
tes, toda e qualquer reação parecerá contrária e ameaçadora. A reação natu-
ral será na forma de agressividade, na tentativa de manter o “inimigo” fora
de seu raio de alcance. Quando nos deparamos com algo desconhecido e
amedrontador, e não sabemos como lidar com a situação, uma reação instin-
tiva tentará conter a situação, podendo ser ela na forma de medo, choro,
143
grito, pânico, fuga, desespero, agressividade, recolhimento. Isso acaba ge-
rando dó de si mesmo, falta de iniciativa, timidez, vergonha, insegurança,
acanhamento, inúmeros complexos perniciosos, raiva, ódio e instinto de
vingança.
Quando não conhecemos os motivos de uma solicitação, facilmente
nos recusamos a fazer, tentando defender nosso bem-estar, nossa posição,
nossos gostos, costumes e opinião. Qualquer contrariedade – quer alguém
sinta como ela é ou lhe pareça ser – sempre será rechaçada com uma atitude
agressiva e cheia de defesas de si. Quando alguém tenta suplantar nosso
princípio e verdade com outra opinião brusca e invasiva, logo demonstrare-
mos desconforto através de uma atitude agressiva, que é para que aquele
outro cesse com suas investidas. Sempre que nos vemos vítimas de insistên-
cia de alguém para que cedamos em alguma coisa poderemos reagir com a
agressividade que dê conta de contê-las.
Agimos com agressividade também sempre que alguém aponta algu-
ma de nossas falhas, pontos fracos, defeitos, marcas ou vícios. Agimos,
muitas vezes, com repulsa àquele que quer demonstrar que estamos errados.
Por não querer demonstrar qualquer tipo de fraqueza ou irresponsabilidade,
mantemos nossa opinião, mesmo naquelas ocasiões onde as consequências
terão um alto custo. Para não declinar da posição de quem “sabe o que está
fazendo”, mantemos a posição e seguimos com os erros, mesmo naqueles
momentos onde efetivamente estamos cometendo disparates.
O orgulho pessoal – o medo de deixar transparecer fraquezas – faz
com que alguns sigam pelos mesmos caminhos, mesmo que isto lhes cause
grandes prejuízos. Nestes casos, a vergonha que seria admitir-se errado cria
a teimosia, a rispidez, e inibe a necessária humildade de admitir que errou.
Quando nos atribuímos excessivo valor, mesmo que este não seja real, ceder
será o mesmo que fraquejar. Então, mesmo que alguns se queimem com
algumas de suas loucuras, permanecerão encostados na chama; mesmo se a
dor for intensa e quase insuportável, não cederão de sua posição, com de-
monstrações de bravatas, estripulias, galanteios, futilidades, etc.
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O ponto x da questão
A agressividade nasce da teima em não ceder; ela é a forma mais ins-
tintiva de autodefesa. Ela se manifesta sempre que alguém se sente desvalo-
rizado ou pré-julgado nas suas atitudes. Muitas vezes, pessoas sensíveis e
inseguras prendem-se de tal forma às suas defesas que sentem mesmo aque-
les comentários mais sutis com relação a elas. Qualquer simples palavra dita
de forma diferente poderá lhes causar o incômodo de estar sendo vistas por
detrás de suas defesas; então, quando isso acontece, sempre haverá um re-
forço nestas defesas, resultando numa atitude mais ríspida, mais agressiva.
Sempre que alguém quiser defender seus pontos de vista, manias, ví-
cios, crendices, personalidade, erros, acertos, mentiras, oportunismos, inér-
cia, preguiça etc, e alguém se opõe com outras opiniões, poderá levá-lo à
agressividade. O desconforto causado pela oposição gera uma defesa daqui-
lo que queremos transmitir como pessoas. Esse tipo imaginário quer ser
visto sem defeitos, sem fraquezas, sem limitações e sem medos. Qualquer
atitude alheia que coloque em risco o que pensamos, o que achamos, acredi-
tamos, defendemos ou sustentamos será sentida com desconforto.
Defender algo de que temos certeza, que é correto, que é ponto pacífi-
co, nem sempre é o suficiente para uma conclusão calma e pacífica. Quando
alguém teima em sustentar sua opinião – mesmo que errada – nascem os
conflitos que geram a violência e agressividade. Teimoso é aquele que não
cede nem mesmo para verdades quando está tratando de defender a sua re-
putação e personalidade.
Este não declina de sua posição, sustenta seu ponto de vista mesmo
quando sua opinião, ideias e interpretações estejam equivocadas. Existem
incontáveis situações em que alguém se sentirá traído, subjugado, incom-
preendido, menosprezado, desrespeitado, ignorado etc, com as quais não se
conformará e sairá de seu equilíbrio.
O que importa é conservar um princípio pelo qual poderemos diminuir
e até acabar com as atitudes e reações agressivas nos relacionamentos. Qual
a solução, então? Existe um único remédio capaz de conter a agressividade:
o diálogo amistoso. Somente a conversa conduzida de maneira tranquila,
contida, ponderada, inteligente, educativa, humilde, calma e equilibrada é
que poderá contornar todas aquelas situações onde poderia acontecer uma
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guerra de palavras e de nervos. Sempre que alguém tiver de aceitar uma
conclusão com o sentimento de que foi vencido, poderá aceitar como desa-
grado, com agravo, com raiva ou sensação de que foi reduzido em sua per-
sona.
Alguém só irá aceitar desmontar de sua posição e aceitar uma nova
verdade a partir de que seja convencido delicadamente de que, apesar de sua
boa intenção, seu ponto de vista está equivocado. Se houver diplomacia –
traquejo e sabedoria nas palavras, na forma como são ditas, na maneira sim-
ples e sincera que estão sendo proferidas – daí sim alguém poderá ser ple-
namente convencido e aceitará de forma branda e tranquila a opinião que
suplantou a sua. De outra forma, jamais alguém se sentirá conformado,
mesmo que a verdade esteja evidente e saltando aos seus olhos, pois o que
resta nestes casos é a humilhação de ter sido superado e passado para trás.
Ninguém jamais irá aceitar isso, principalmente se feito em tom de chacota,
desrespeito ou arrogância. Uma mensagem, um comentário, recomendação
ou conselho só serão bem aceitos quando feitos com verdade – demonstra-
ção dos verdadeiros motivos e intenções – com respeito, amizade, carinho e
amor. Do contrário, querer impor à força gerará a raiva, ódio, inconformis-
mo, revolta e agressividade.
O que acontece afinal é que, de uma forma geral, as pessoas sentem a
necessidade de serem aprovadas. Sempre que alguém quiser demonstrar
mais força, uma atitude revoltada irá nascer. Quando alguém suplanta uma
opinião, o risco de que isto não seja aceito é grande; e pior, se aquele que
sabe mais tentar se estabelecer com demonstrações de força, uma enorme
inveja nascerá daquele que se sentiu diminuído em relação a ele. Aquele que
age de maneira muito sincera e impositiva será evitado por aqueles que se
sentem humilhados e diminuídos. Se as circunstâncias fizerem com que a
relação prossiga, e que o convívio seja inevitável, uma grande batalha se
estabelecerá, e dificilmente as opiniões, de ambos, serão aceitas de forma
pacífica.
Este clima de guerra tornará a relação insuportável, até que haja um
desfecho ruim que afaste os “adversários”. Então, manter a simplicidade é
uma forma de respeitar e ser respeitado. O equilíbrio nas palavras e na for-
ma de dizer as opiniões é que fará a diferença entre bons ou maus relacio-
namentos. Nascemos neste plano físico para eliminar nossas imperfeições;
ou seja, para criar novas qualidades através destas provas que são entendi-
das e sentidas como imperfeições. Só que ninguém gosta que alguém lhe
146
aponte qualquer defeito. Receber uma crítica soa como se alguém estivesse
querendo nos magoar, desvalorizar, diminuir ou desprestigiar. Pensamos e
fazemos para ser aceitos, dignos de amor, admiração, e para que possamos
viver num nível de relativa satisfação conosco e com relação aos outros.
Quando surge evidente uma de nossas características mais rústicas, logo
nasce com ela a preocupação de fazer, de ter de fazer, de envidar novos es-
forços, de ter de começar uma nova luta, de ter de promover mudanças, ter
de passar por novos esforços e readequação de tudo. Ao termos uma falha
apontada, nos sentimos invadidos e descobertos, significando que estamos
sendo vistos como não desejamos que aconteça.
Como achamos que precisamos ser indefectíveis para sermos dignos
de ser notados e valorizados, qualquer falha acusada soará como uma afron-
ta ao status quo, à condição de ser reconhecido como alguém digno de aten-
ção, amor, carinho, compaixão e respeito. Somente a conversa calma e res-
peitosa é que poderá levar alguém a aceitar seus eventuais defeitos, sem
levá-lo a utilizar-se de suas defesas, contra-ataques nem agressividade.
147
Capítulo XVII
Crescimento pelas provas do mundo
O que você quer para o seu futuro? Qual é a sua maior aspiração em
termos de realização pessoal? Será que a sua resposta não o está limitando a
possíveis realizações terrenas? Será que seus sonhos não estão muito iguais
aos da maioria que se limita a ver a vida como sendo esta uma passagem
única, e que o mais importante objetivo são apenas a busca de realizações
imediatas?
Para que possamos avançar, é imprescindível que abramos nosso en-
tendimento espiritual mais avançado, para irmos além das barreiras naturais
do visível e não fiquemos restritos ao que toda a maioria se restringe. Só
podemos avançar para objetivos maiores a partir de que tenhamos em mente
pelo menos uma visualização do destino aonde queremos chegar, uma meta
pessoal. Podemos e devemos ganhar dinheiro, adquirir bens materiais e mui-
to mais; mas, devemos ser muito mais para ir além.
Temos de distinguir ganhos financeiros de conquistas espirituais defi-
nitivas. Um é passageiro e pode ser a consequência de nossos esforços; ou-
tros são os resultados alcançados pelo nosso modo de encarar a vida, de co-
mo agimos nela e o propósito que damos para as nossas realizações. O pri-
meiro poderá satisfazer nossas necessidades mais imediatas, sejam lá quais
forem; as outras são obrigações assumidas e que farão parte de nossa alma
para sempre; são conquistas definitivas que carregamos sempre conosco,
sempre somando ao nosso núcleo de luz.
Conquistar bens materiais e uma posição mais confortável deverá ser
o resultado de nossa capacidade de trabalho, nossa inteligência, honestidade
e fruto consequente de boas ações. No mais, se nossas empreitadas não obe-
decerem a princípios morais, algo que agora parece conquistas poderá atra-
palhar numa próxima etapa. Amealhar coisas a partir de procedimentos pou-
co elogiáveis, apenas para parecer maior, não pode ser considerada uma
atitude digna e inteligente por quem possui de fato princípios mais elevados.
Alguns incorrem em erros absurdos e se deixam levar pela ilusão de que
tirar dos esforços da sociedade seja o máximo da inteligência. Tentar se li-
148
vrar das provações do mundo com dinheiro sujo é a maneira mais eficaz de
se atirar na lama, nos porões do mundo. Apropriar-se de bens materiais
através da desonestidade nos sentencia uma vida futura penosíssima e dolo-
rosa, cheia de privações, desespero e infortúnios.
Nossa alma tem sede instintiva de conhecimento e está continuamente
buscando tirar proveito das situações existentes. As dificuldades por que
passamos têm sempre dois lados: um deles é aquele que se forma para impe-
lir-nos à ação de forma que experimentemos novas situações e assim nos
desenvolvermos. O outro é o lado obscuro e perigoso que pode nos desequi-
librar. Ocorre que estes princípios, necessários para iniciar uma jornada,
podem ser perigosos se não houver um bom nível de entendimento para se-
guir de forma segura. A mesma força que impele para a ação poderá ser
motivo de grandes desastres psicológicos. Vamos seguir por um exemplo
que acontece com mais pessoas do que se possa imaginar, seguindo de acor-
do com aquilo que já estudamos: na adolescência existem aquelas terríveis
comparações com outras pessoas, outros valores e condições alheias. O jo-
vem sempre irá reparar no que os outros fazem, e se verá fascinado por al-
guma coisa que lhe salte aos olhos, como sendo o máximo da expressão
individual; principalmente quando for algo elogiado, admirado e cobiçado
por todos.
Daí nasce aquela vontade imensa de querer aparecer também e firmar
uma posição de destaque, que traga para si aprovações e admiração. Come-
çam a brotar aqueles conflitos internos de querer, mas não saber como fazer
para ter e ser reconhecido. Isto faz com que a pessoa saia de sua rotina e
comece a procurar meios de se afirmar pessoalmente, ter status, poder e des-
taque.
Daí surgem as duas possibilidades: o lado bom da situação e o lado
perigoso. Se de um lado isto pode fazer com que a pessoa procure fazer para
se tornar melhor, ótimo. Afinal este é o propósito oferecido nas muitas opor-
tunidades de convívio: o aprendizado. Neste caso a provocação foi necessá-
ria para incitar novas atitudes que conduzirão a outro nível de desenvolvi-
mento e consciência.
De outro, o perigo da falta de orientação, onde a pessoa se sente infe-
riorizada e dá início por uma louca vontade de ser alguém, de ter aprovação
e demonstrar que também pode. Infelizmente nem todos contam com a ne-
cessária ajuda e orientação nestes momentos e acabam por querer coisas
149
impossíveis de realizar naquele momento. Iniciam um processo desorienta-
do por querer demonstrar capacidade, mas não possuem direcionamento. O
passo seguinte é tentar de muitas formas desconexas: começam muitos pro-
jetos baseados em devaneios, e despendem muita energia sem um objetivo
bem traçado e possível. O fato de direcionar energia para várias coisas e não
conseguir terminar nada, e consequentemente não obter resultado nem su-
cesso em nenhuma empreitada, levará à frustração e desânimo. Existe mais
um elemento que é necessário para o aprendizado, mas que pode ser perigo-
so, de acordo com o que ouvimos e tomamos como certo e errado na infân-
cia: é a assimilação.
A criança não sabe por si só distinguir exatamente o que é certo, o que
é o melhor e o que deve seguir ou largar pelo caminho. Geralmente trazem
todas aquelas coisas que ouviram na infância, desde o que os familiares ou
os outros falavam próximo de si. Esta é uma fase onde muitas vezes se tem
excesso de cuidado, mas a capacidade de orientar nem sempre é das melho-
res. Os “nãos” tomam parte do dia a dia da criança como um forte interrup-
tor de ações. Não existe orientação. O que existe é uma forma de coibir a
ação da criança para tudo o que ela for fazer. Como ela não sabe distinguir
muito bem o certo do errado, e tem uma imensa curiosidade e vontade de
mexer em tudo, começa a ser podada em sua iniciativa toda vez que tenta
fazer algo e tem um sonoro “não” para impedi-la.
Aqui tem início a falta de iniciativa, o deixar que outros façam, o jul-
gar que somente os outros são capazes de fazer. Assim, partem para a vida
adulta sem nenhuma criatividade. Nem sequer tentam, porque não existe
dentro de suas mentes esta possibilidade de criar e agir por si só. A forte
repreensão sofrida para tudo que tentavam fazer criou uma barreira mental
que causa bloqueios. Isto irá se manifestar sempre que tiver de tomar a ini-
ciativa ou achar soluções. Seu trauma psicológico estará berrando em seus
ouvidos: “Não faça isso! Você vai apanhar; já não te disse para obedecer?
Fique quietinho e não atrapalha o que estou fazendo; será que você não per-
cebe que está me atrapalhando?”
Ou ainda, “Quantas vezes eu vou ter que repetir para você ficar quieto
e não atormentar minha paciência? Seu pai vai te bater se continuar a fazer
isso! Seja bonzinho e educado e fica quietinho; você não sabe!!! ...não se
atreva a tentar o que não sabe; pare imediatamente com isso!” ... e tantas
outras poderosas forças que destroem toda e qualquer iniciativa e aprendi-
zado para a vida. Boa parte de nossas crianças não recebe orientação para
150
suas indagações e curiosidades. Quantas vezes ouvem aquela “inteligente”
resposta dos pais: - Porque sim; isto não é da sua conta; não amola; não seja
xereta; vê se fica calado; não perturba; ah, isso você não vai entender; eu
não sei; por que você quer saber?
Estas coisas são excelentes para criar barreiras mentais e tornar uma
pessoa uma espécie de alienado sem opinião e podado na sua capacidade de
expressão. Ao ter sido fortemente bombardeada com aquelas atitudes des-
truidoras, caminha para uma adolescência completamente vazia de qualquer
tipo de maturidade. Sente-se incapaz e inferior perante um mundo que ques-
tiona e cobra atitudes.
Como foi ferido em seus princípios terá de se arranjar sozinho no
mundo, cheio de complexos de inferioridade e julgamento próprio da pior
negatividade possível. Isto pode não ser fruto exclusivo da má educação dos
pais, mas poderá nascer ou ser reforçado por amigos de infância e irmãos
mais velhos, por exemplo.
Dentre estes, um fator que costuma ser influente para que isto ocorra é
quando a criança possui irmão ou irmãos mais velhos que o limitem a se
desenvolver de forma segura, natural e saudável. Ao não saber orientar e
querer manter o mais novo sempre debaixo de ordens e julgamentos de su-
perioridade, acabam por implantar o bloqueador de iniciativas próprias. Ao
serem fortemente recriminados por maldade, ciúmes ou inveja do mais ve-
lho, serão colocados numa posição de inferioridade que levarão para a vida
de adulto.
A forma como cada criança se desenvolve – de acordo com a interpre-
tação dada para cada experiência – será fator determinante de como ela rea-
girá nas suas tarefas de juventude. Esta base será como que um guia interior
que vai orientar as ações futuras. Se passar seu período de adolescência num
círculo isolado, certamente que levará este mesmo conjunto mental para o
início de vida adulta e até pelo resto da vida. Suas atitudes mais prontas
obedecerão ao que ele aprendeu quando recebia suas instruções quase que
de forma automática, como que se tivesse recebido e autoimplantado pro-
gramas mentais e modelos de formas de proceder. Quando a pessoa começa
a se achar pronta e conhecedora da vida, vai passar a defender o seu modo
de vida e o seu ponto de vista. Para defender seu modo de vida, dificilmente
se deixará influenciar ou ter sua privacidade invadida; pois estará como de-
fendendo um território exclusivo e pessoal, fechado para palpites e opiniões.
151
Ou seja, a partir de que chega num ponto onde haja certo conforto de
emoções e uma seleção de gostos, costumes e preferências, existe uma
grande chance de que ela se feche para qualquer opinião e consequente ajus-
te, como se aquilo que escolheu – dentre os muitos modelos que elegeu co-
mo os melhores – fosse o seu Eu verdadeiro; como se aquela personalidade
moldada pelo medo fosse sua totalidade. Então, para não querer deixar ne-
nhuma eventual falha ou imperfeição aparecer, fecha-se num mundo que diz
ser a sua vida, e que ninguém tem que se meter com ela “que cada um cuide
da sua e a deixe em paz!”. Jamais vai admitir que alguém fale abertamente
de si ou que dirija algum comentário que lhe pareça uma invasão de privaci-
dade. Para não querer jamais parecer irresponsável, fraco ou inconsequente,
defende seus pontos de vista e forma adotada, com todas as forças possíveis.
Cada um terá disponível em si até a idade de mais ou menos catorze
anos aquilo que lhe foi oferecido como base na construção do caráter e per-
sonalidade. Estes modelos recebidos das várias influências variam conforme
o meio e as condições em que se deram. O adolescente será como que uma
reunião de influências geradas pelo meio. Seus principais conflitos e pro-
blemas de adaptação para o mundo adulto ocorrerão quando tiver de se de-
senvolver a partir daquela base implantada. Suas dificuldades e progresso
dependerão enormemente de como recebeu e compreendeu cada ponto for-
mador de sua base. Uma educação falha e mal direcionada, sem as devidas
orientações, certamente que fará o jovem ter que aprender mais com o mun-
do e suas experiências pessoais. Isso prejudica sua segurança e confiança.
Se não existem princípios que o norteiem, todas as suas atitudes advirão
desse estado de insegurança, medo, timidez, desconfiança etc.
Esta fase é muito mais importante do que o tamanho da atenção que
nosso sistema de ensino despende na formação da base para os próximos
passos. É dela que advém os principais problemas de relacionamento e con-
vívio social. As diferenças entre pessoas bem acompanhadas em sua infân-
cia, com outras que pouco ou nada receberam, são enormes. A percepção de
mundo e a forma como vamos passar a adotar nossos procedimentos varia
enormemente entre estes modelos que trazemos. Nesta fase geralmente não
existe muita capacidade de discernimento; o aprendizado ocorre mais pelos
sentimentos vividos em cada oportunidade. As emoções deixam mais mar-
cas do que o ensino regular. O reflexo disso é transmitido diretamente nas
atitudes posteriores.
152
Quando não existe uma metodologia mais apropriada de ensino, a cri-
ança fica sujeita às lições do mundo, que geralmente são colhidas de com-
portamentos suspeitos, de colegas ou amigos que tenham um maior grau de
influência, quer para coisas boas ou ruins. Isto acaba fazendo com que o
jovem em formação adote hábitos e vícios, e viva baseando-se em costumes
sociais. A necessidade de afirmação para o mundo acaba fazendo com que
nossos jovens colham modelos de agir de outras pessoas. Quando isto ocor-
re, a “colcha de retalhos” que se forma acaba gerando um terrível conflito de
personalidade. De um lado a consciência formada por elementos que estão
plantados no fundo da mente; de outro, o ego que age de forma a comandar
os sentimentos, provocando a vontade imensa de mudar a partir de compor-
tamentos estranhos que tenta incorporar de forma impositiva, gerados pela
súbita vontade de ser igual àqueles que julga serem mais bem integrados ao
meio.
Com isso, a pessoa passa a agir de uma forma artificial num profundo
conflito existencial. Existem os sentimentos causados pelo seu ser, e outros
advindos de experiências começadas com aqueles enxertos de modismos.
Então, de um lado está a verdadeira pessoa, e de outro um ser artificial que
começa a querer tomar conta, pois se sente mais capaz de aparecer para os
outros. O que geralmente ocorre, então, é uma gradual substituição de cos-
tumes genuínos por outros que a pessoa acaba por chamar para si, a partir de
que acha que são modos mais apropriados para aparecer para o mundo.
O que se busca é querer parecer alguma coisa que vá além daquela pa-
cata e escondida personalidade que ele cultivava desde criança. Sua perso-
nalidade nata – forma de expressão – acaba sendo afastada toda vez que
confronte opiniões entre pessoas, e perceba algum de seus comportamentos
como sendo ultrapassado. Aqui se inicia a caça às coisas ditas pelos pais,
para poder atirá-las para bem longe, onde ninguém as veja. Afinal, acabam
tomando terror das coisas que os pais ensinaram, desde quando começaram
a ver coisas diferentes e mais moderninhas nas atitudes dos outros tantos do
mundo. Esta é aquela fase perigosíssima de criar uma personalidade revol-
tada e disposta a ir com os outros. Afinal, se eles conseguiram destaque e
são tipos que chamam a atenção, claro que vão querer ser também. Nesta
fase (ou ocasião) perigosa é onde nascem os piores vícios e desvios compor-
tamentais.
As escolas não costumam ensinar de forma a orientar nossos jovens
para uma direção mais segura; não existe um sistema que respeite as indivi-
153
dualidades e que ensinem bons costumes para nossos jovens. Não existe
uma disciplina que ofereça estas necessárias bases no sentido de orientar
sobre o que definitivamente é bom ou ruim. Não temos ensino sobre educa-
ção moral e cívica nem religiosa de boa qualidade para formar cidadãos de
verdade. Enquanto não houver um firme propósito bem definido com rela-
ção à orientação do jovem para a vida, continuaremos vendo pessoas perdi-
das e sem rumo, cometendo todo tipo de atrocidade, causando grandes pre-
juízos para toda a sociedade.
154
Capítulo XVIII Saindo do piloto-automático
Passamos rapidamente pelas nascentes de boa parte dos problemas
comportamentais, de relacionamento entre pessoas, sejam elas da família, da
escola, do trabalho, amigos ou cônjuge. A reflexão quanto a tudo que traze-
mos conosco é de extrema importância. Senão, corremos o grave risco de
agir apenas fazendo o que os instintos mandam, sem ter uma opinião pessoal
mais bem formada. Ou seja, a pessoa não muda muito do que era para o que
vai ser dali pra diante.
Você conhece a pessoa com dezesseis anos, e quando torna a encon-
trá-la, com cinquenta, continua exatamente igual em termos comportamen-
tais e psicológicos. Pouco avançou, quase nada melhorou, tem os mesmos
problemas existenciais, continua carregando um pesado fardo que lhe colo-
caram, e que lhe serviu de modelo de vida. Como não raciocina a respeito
dessas coisas, passa a vida inteira com os mesmos princípios; afinal aquele
conjunto de coisas passou a ser ele próprio. As tantas influências que rece-
beu, tanto as boas quanto as ruins, passaram a ser aquela pessoa que incor-
porou, e passou a existir como sendo aquele montão de coisas ajuntadas
num corpo. Passam a se identificar como sendo aquela coisa pesada e nada
conseguem fazer para mudar; afinal, pensam, “eu sou deste jeito, e o que se
pode fazer?”.
Este é um problema encontrado frequentemente. Pessoas vão sim-
plesmente levando a vida conforme as coisas vão acontecendo, conforme os
problemas vão surgindo, até que a morte os leve. Pouco evoluem daquele
infeliz ser que foi produzido por outras pessoas, e que passou a viver daque-
le programa implantado pelos outros. Sua capacidade vai até onde seus pou-
cos conhecimentos e baixa confiança permitem. Para estes existe um limite
determinado pela sua capacidade sentida logo nos primeiros confrontos com
problemas. Se não foram suficientemente capazes para superar um proble-
ma, logo se recolhem para seu casulo, aumentando cada vez mais sua falta
de valores pessoais. Tornam-se o fracasso em si, vivendo dependendo do
que os outros fazem, do que os outros lhe impõem, do que os outros pen-
sam. A baixa autoestima faz com que se sintam incapazes, sempre sendo os
155
outros os melhores, mais bonitos, mais inteligentes, mais resolvidos, mais
atirados, com mais iniciativa etc.
Estas pessoas acabam por se fechar num mundo limitado pelas suas
percepções, a partir de pontos limitados pela capacidade percebida em si.
Irão pela vida desejando ser mais, ter mais dinheiro, ter tanto quanto os de
sucesso possuem, mas nada conseguem. As constantes decepções e frustra-
ções vão dando lugar para a depressão, para uma ideia muito limitativa de
si, de uma valorização pessoal baixíssima e perigosa, daquelas que fazem a
pessoa se tornar fechada, raivosa e agressiva. Por não quererem que os ou-
tros percebam o que para eles é uma dor, afastam-se e criam enormes barrei-
ras para se esconder em suas fraquezas. Agem de forma agressiva e grossei-
ra sempre que se sentem ameaçados pelas espertezas do mundo. Como não
possuem entendimento nem capacidade para se defender com métodos mais
elaborados, passam a atirar na primeira sombra que os aterrorize, como que
ditando limites até onde algo ou alguém possa chegar – para que não sejam
notados em sua personalidade debilitada por uma má criação, pela falta de
um ensinamento adequado para desenvolver aptidões.
Isto pode dar início aos processos de aprisionamento de si e começo
das idealizações para projetos perfeitos e gigantes, para demonstrar força e
capacidade. Mas, o que pode acontecer é que, se não existe de fato uma ca-
pacidade real que leve os planos à prática, para que sejam realizados con-
forme o imaginado, outras cargas de frustrações vão se somando até que se
transforme em doenças físicas ou depressões profundas. É daqui que nasce
boa parte daqueles seres extremamente críticos e amargos para a vida.
Quando alguém tenta e começa a despertar para as coisas do mundo, mas
continua se frustrando pelas seguidas decepções, começa a fazer parte do
círculo dos críticos que veem defeito em tudo o que os outros fazem.
Como estes não conseguem realizar seus desejos, passam a malograr e
desferir duros golpes para todos os lados na confusa tentativa de demonstrar
capacidade e iniciativa. Só que em boa parte das vezes isto não vai além das
bravatas. Tentarão compensar no grito aquilo que não conseguem dar conta
na prática.
Vão achar defeito em tudo o que os outros fazem, como que querendo
demonstrar mais capacidade ou maior entendimento da situação. Para estes,
todos serão menos capazes que seus devaneios mentais, que seus sonhos
criados a partir de quando se viram enterrados pelas provocações do mundo.
156
Se não puderam fazer e ter que engolir isto, passam a querer compensar esta
derrota com grandes demonstrações de genialidades ditas em fins de noite
no botequim.
Para estes, todos não passarão de pessoas arrogantes, metidas e com
manias de grandeza. Vão defender sua posição como se ela fosse uma esco-
lha bem pensada, vinda de seus altos princípios intelectuais. Assim vão se
escondendo em justificativas e pretextos na tola tentativa de tornar sua der-
rota um motivo para demonstrar suas “virtudes”.
157
Capítulo XIX
Timidez excessiva e seus perigos
Note como estes problemas existenciais, surgidos das muitas armadi-
lhas psicológicas, podem levar pessoas à depressão, recolhimento e timidez.
Tímido é aquele que se mantêm acanhado e silencioso em seus medos
em determinadas circunstâncias ou em quase todas elas. A timidez é causa-
da pelo medo de não ser aceito. Ela se manifesta sempre quando alguém
precisa falar em público, conversar abertamente com alguém, dar uma opi-
nião, etc.
O excessivamente tímido age de maneira acanhada, quieta e pouco
expressiva.
Isto pode, por exemplo, prejudicar enormemente seu desempenho
quando estiver num esporte coletivo ou até mesmo individual. No aprendi-
zado, pois o medo de ser repreendido se acaso não compreender determina-
da lição, faz com que estes criem uma ansiedade excessiva e prejudicial. A
demasiada preocupação com o que os outros possam pensar dele – caso ve-
nha a demonstrar algum sinal de fraqueza – faz com que embole o raciocí-
nio, com medos e questionamentos.
Isso acaba afetando o aprendizado, pois o esforço para compreender
algo é redobrado e falho. Isso não deve ser entendido como incapacidade
mental ou menor desenvolvimento intelectual. Na maior parte das vezes o
tímido é inteligentíssimo, mas o fato de se encontrar num momento onde
possa ser comparado com alguém que julga ser melhor, causa um pânico
mental que desvia sua atenção e bloqueia seu raciocínio mais lógico. Ele
pode ser um atleta formidável; mas se tiver de se apresentar para uma gran-
de plateia, eis o perigo de fugir ou dar um grande vexame. O medo que sen-
te pode travá-lo de tal forma que limita sua mobilidade, sua ação física, sua
expressão natural. Isto geralmente começa com a sensação de inferioridade
que faz com que a pessoa se julgue menos capaz do que os outros.Todas as
pessoas que se sentem tímidas encaram sua dificuldade como se fosse um
defeito incurável que faz com que se sinta inferior diante de outras pessoas.
158
O desconforto de se imaginar menos capaz do que os outros só piora a
desagradável sensação de impotência. Isso o leva ao desespero e raiva por
não conseguir se expressar como deseja, o que acaba causando um comple-
xo de inferioridade. Se o convívio não for suficiente para amenizar e até
extirpar o problema, grandes dificuldades terão de ser suportadas durante a
vida; oportunidades serão desperdiçadas pela insegurança e medo de se ex-
por ou enfrentar situação nova.
Não podemos confundir timidez com tristeza ou depressão. Em muitos
casos pessoas tornam-se caladas quando não estão se sentindo bem consigo.
A frustração e desgosto pela vida podem levar à revolta e reclusão num
mundo de autopiedade. A timidez excessiva pode levar à tristeza e reclusão,
se persistente. Mas, neste caso especificamente, vamos falar da timidez que
inibe, independente de alguma outra patologia da psique.
Pessoas tímidas muitas vezes possuem baixa autoestima ou se limitam
a viver dentro de si, pouco se mostrando para o mundo para não serem ques-
tionadas ou contrariadas. São sensíveis a ponto de sentirem-se mal por qual-
quer pequena recusa ou reprovação. São muitas vezes pessoas que julgam
ser portadoras de defeitos; mas que, na realidade, são marcas que foram im-
postas e assimiladas quando crianças, por exemplo, de tal forma incisiva que
fazem elas se sentirem como se possuíssem de fato estas falhas, este com-
plexo de inferioridade.
Acabam por confundir estas fraquezas como sendo partes de si. Fazem
autoanálises a partir destas suas dificuldades, e com isto fecham-se com
medo de deixar transparecer o quanto são “pequenas e inferiores”. Por não
querer deixar que ninguém note sua fragilidade, fecham-se no silêncio como
forma de defesa.
A timidez muitas vezes nasce quando alguém valoriza demais as qua-
lidades ou características dos outros pondo-se em comparação. Isso o leva a
imaginar que só pode aparecer sendo tão ou melhor do que imagina que é
aquele ou aqueles que admira. Ao pôr-se em comparação com outro mais
velho, mais experiente, ou que possua de fato mais conhecimento – pelo seu
tempo de vida e dedicação, por exemplo – nota que não tem todo aquele
brilho que admirou de forma instintiva. Desta forma acaba se achando me-
nor e menos importante. Em sua percepção da situação não leva em conta os
motivos das diferenças entre ele e aquele que julgou como modelo perfeito.
159
Não leva em consideração o quanto aquele teve de lutar, estudar, su-
perar suas falhas (inclusive timidez, muitas vezes) para conseguir chegar
onde está. Imagina que é menor, e não que, naquele momento, por ser mais
jovem ou ter menos preparo, encontra-se numa posição menos admirável do
que aquele que aquele que viveu o suficiente para ter maior desenvolvimen-
to. No íntimo sentem medo de ficar só, num ponto isolado, longe das pesso-
as de destaque. O temor existente causa a aflição que o leva a imaginar que
não dará conta de fazer aquilo que está sentindo como uma obrigação para
contentar aos demais. Achando-se menor, leva esta marca consigo como se
ele fosse um gênero inferior, e que nada pode ser feito para conseguir, tam-
bém para si, aquela posição de maior destaque. Esta marca doentia acaba
fazendo com que a pessoa se sinta sempre menor ou menos capaz.
A timidez muitas vezes é reforçada pelo grau de importância que a
pessoa dá ou sente por alguma crítica recebida, não importando se ela foi
construtiva, boa ou ruim, fundamentada ou não. Esta marca interna perma-
nece viva de tal forma que causa danos profundos na sua maneira de julgar
o mundo e a si próprio. A marca calcada no inconsciente age de forma sor-
rateira, sem dar avisos ou pedir licença. Pessoas extremamente tímidas so-
frem tremendamente na vida social. Ter de conviver com outras pessoas
muitas vezes lhes é um peso. Acabam criando tipos que, imaginam, vão
aparecer melhor do que se agissem espontaneamente com sua verdadeira
personalidade.
O tímido, se de um lado tem medo de dizer exatamente o que pensa,
com o temor de desagradar ou dizer banalidades, de outro tem consigo a
íntima – porém confusa – sensação de que não é limitado ao ponto que está
parecendo ser para os outros. Na realidade tem consciência de suas capaci-
dades, mas assim que julgou que alguém possuía aquilo e um pouco mais,
fechou-se para não ter que aparecer e ser visto como sendo menor ou menos
capaz. Só irá se abrir quando conseguir ser, ou pelo menos parecer tão bom
quanto àqueles que o inibiram.
Esta confusão os faz sofrer e criar certas revoltas, vindas aparente-
mente do nada.
Algumas vaidades podem fazer com que algumas pessoas não se ma-
nifestem em determinadas ocasiões, e só emitam opinião em situações que
se sintam extremamente seguras do que vão falar. Isto ocorre porque estão
sempre querendo se mostrar indefectíveis, perfeitos, simplesmente para apa-
160
rentar segurança, controle de si e capacidade, o que lhe reforça as defesas.
Então, em alguma oportunidade em que poderia dizer alguma banalidade, e
abalar o julgamento que os outros fazem de si (ou que pelo menos imaginam
que fazem), ficam calados.
A sensação de incapacidade pode levar alguém a criar uma redoma
que o faz ficar separado do mundo. Isto só piora os sintomas que acabam
sendo alimentados sempre com mais doses venenosas. A reclusão vai fazen-
do com que procure uma forma de justificar sua quietude. Acaba criando
mecanismos de defesa que poderão levá-lo a se pôr sempre em atitude de-
fensiva. Existe quase que invariavelmente dentre os tímidos uma vontade de
querer ser além do que efetivamente são em dado momento da vida. Assim,
com o medo de parecer aquela pessoa mais limitada – aquela que tenta es-
conder a todo custo –, começam a criar uma personalidade dissimulada, um
tipo que identificou como sendo o ideal para parecer diante dos outros.
Uma pessoa fechada e com ares de poucos amigos poderá surgir desta
estratégia. Isto porque o tipo que desenvolveu para interpretar é de extrema
fragilidade; então, externamente se mostra carrancudo para manter a distân-
cia e o respeito que a sua falsa segurança exige. Mas, dentro de si existe um
medo latente de que venha a ser “descoberto” por detrás de sua máscara.
Muitas vezes isso leva ao trágico mundo das drogas, aos vícios maiores e
menores, que incluem o tabaco, álcool, fármacos ou entorpecentes. Por se
sentirem bem quando estão menos presos ao seu íntimo, acabam buscando
substâncias que os faça se sentir menos acanhados em sua timidez angusti-
ante. O relaxamento e fuga podem causar a dependência daquelas substân-
cias que promovem o alívio dos seus martírios, mesmo que por alguns mo-
mentos; mesmo com todo o prejuízo físico, mental e espiritual que isto cau-
sa.
Mas, voltando às mascaras, como sabem que lá não existe aquela se-
gurança que querem dar a parecer, logo ficarão extremamente embaraçados
se alguém invadir suas defesas, ou explorar aquela aparência bem resolvida
e séria – aquela que usa como uma armadura contra ataques de espertinhos.
A tendência natural, quando existe a boa vontade de conhecer melhor as
pessoas e o mundo (para, melhor compreendendo, poder interagir) é de que
com o tempo passem a agir de forma mais natural e com menos defesas.
Pode até chegar um tempo em que, a partir de que se conheçam, inici-
em uma caminhada de forma mais humilde e simples, e mais adequada ao
161
que são de fato. Isso acaba acontecendo quando percebem que os outros não
têm de fato todo aquele imenso valor que atribuiu, nem que ele é tão peque-
no quanto a sua insegurança o fez pensar. Este processo acontece com boa
parte de nossos jovens, e é natural pelas circunstâncias da vida. Se esta fase
começar a ser mudada logo que ingressar na fase adulta, nada de anormal
podemos dizer que está acontecendo; apenas o transcorrer normal de uma
fase onde não temos completa segurança, e imaginamos que precisamos ser
perfeitos e completos. Isso acontece mais frequentemente dos quatorze anos
aos vinte e três anos.
É nesta fase que ocorre a afirmação da individualidade. Mas, isso não
significa que esse impulso natural incorpore todo preparo para encarar os
novos desafios. É natural, então, que se manifeste certo receio de se expor
demais. O medo de ser julgado menos esperto e capaz do que os outros de
sua idade e até mais velhos é grande. Quando não existe orientação suficien-
te, muitas vezes acaba pensando que é uma pessoa defeituosa. Ou seja, não
existe a compreensão de que ele está passando por uma fase de imaturidade;
mas sim, imagina-se limitado e menos brilhante do que os outros. Isto pode
criar marcas profundas que acabam sendo levadas por toda a vida. O senti-
mento de inferioridade passará a fazer parte de sua expressão; sua mente
estará contaminada com uma impressão de que é inferior e menos capaz do
que os outros. Mesmo quando superar certas dificuldades, jamais julgará ser
tão bom ou inteligente como os demais. Daí, ou constrói obras notórias que
lhe confira destaque e segurança, ou vai passar toda uma vida se achando
menor e menos capaz do que qualquer outro.
Principalmente na juventude, a necessidade de tentar sempre justificar
a reclusão acaba desenvolvendo um lado ainda pior na sua personalidade,
que é aquele em que se porá sempre como vítima do meio em que vive. A
excessiva compaixão e dó de si o fazem se sentir vítima do mundo, como se
ele fosse consequência da pobreza dos pais, de ter sido menos orientado
devido às limitações destes, etc.
Passará a pôr culpa nos demais pelo fato de não conseguir se sentir
bem e aceito.
Seu sentimento de rejeição o tornará revoltado, fazendo com que ele
encare o mundo como se fosse um mar de violação à sua pessoa. Esta reclu-
são acaba mudando para pior o ponto de vista e panorama do mundo. Al-
162
guém que não se acha apto a se expressar num meio tentará procurar meios
que justifiquem esta reclusão.
De uma forma ou de outra esta pessoa vai ter que pôr sua cara no
mundo. Isto somente será conseguido depois de criar mecanismos de defesa
que o muna de um repertório pronto para utilizar sempre que sentir seu terri-
tório ser invadido. Uma pessoa tímida procura modelos que acha serem me-
lhores do que ela, e passa a copiar comportamentos que julga superiores ou
melhores do que os seus. Como já dissemos, uma pessoa recalcada para um
mundo onde ela não se sente segura, procurará achar dentre os demais uma
forma de conseguir um tipo que possa ser aprovado em sociedade.
Inicia-se, então, uma guerra de conflitos internos entre a verdadeira
personalidade presente e os elementos que são incorporados; e que, na mai-
or parte das vezes, são de difícil “digestão”. A luta será travada pelo senti-
mento nascido de sua verdadeira personalidade em conflito com caracterís-
ticas adotadas de comportamentos de outros. Este conflito gera uma séria
crise de identidade que faz com que o indivíduo passe a não saber distinguir
muito bem quem de fato é. De um lado sentimentos mal resolvidos e que
doem; de outro, comportamentos que o levam a agir de forma artificial,
muitas vezes distante do que efetivamente é.
Este conflito pode causar sérias consequências, já que ninguém terá
seus problemas resolvidos simplesmente incorporando modelos de outras
pessoas. Só se poderá desenvolver personalidade sadia se devidamente sen-
tida em todos os seus aspectos na sua criação. Numa crise de identidade
uma pessoa vai passar a fazer coisas que ela jamais pensou em fazer, apenas
para se mostrar tão resolvida quanto àquele que passou a copiar: moderna,
sem problemas e bem resolvida em todos os aspectos. A tentativa de incor-
porar uma personalidade forte e bem decidida é um esforço para tentar en-
terrar suas vergonhas e medos. Sempre que isso existe vemos possíveis exa-
geros ou equívocos cometidos pela falta de opinião e razão daquele que quis
fugir de si incorporando uma personagem; e que, ao sustentar e alimentar
este tipo, passa a fazer coisas que acha serem atitudes de quem é moderno e
incluso na sociedade, que geralmente julga através das aparências.
Este tipo de camuflagem ideológica geralmente ocorre na adolescên-
cia. Nesta fase da vida o jovem é altamente influenciável. Sua personalidade
não tem ainda força suficiente para viver somente por si. Existe sempre o
perigo de que passe a agir constantemente daquela maneira estranha que
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adotou, e com o tempo incorporar aquela interpretação como sendo ele pró-
prio; ou seja, a figura imaginária acaba criando vida própria e invade a men-
te, expulsando a personalidade desenvolvida até então, muitas vezes até pela
repulsa de antigos princípios. O que se pode esperar de uma pessoa neste
nível de conflito? Ao ceder sua verdadeira identidade para o invasor que ele
próprio ajudou a invadir, logo estará vivendo em função de alimentar este
alienígena criado por sua insegurança e disfarçado orgulho. Sustentar esta
figura costuma ter um preço altíssimo. As verdadeiras vontades e desejos
mais íntimos ficam enterrados pelo medo de que eles sejam vistos pelos
demais. Por ter se julgado menos capaz de aparecer, logo começará a fazer
somente aquilo que os outros do mesmo tipo estiverem fazendo. Se alguém
que admira – por ser alguém que se porta do jeito que incorporou para si –
muda alguma coisa no seu comportamento, logo tratará de mudar também.
Seguirá seu “ídolo” como se fosse um modelo livre de qualquer exclusão ou
maus comentários. Passa, então, a alimentar uma figura deformada que jul-
gou ser o ideal, apenas para se sentir mais seguro, incluso, aceito, amado e
respeitado.
Veja que o tipo externo para aparecer para a sociedade poderá ser mu-
dado; porém, a personalidade ali existente, a alma e todas as suas sensações,
continuam vivendo, quer queira ou não, produzindo os mesmos sentimentos
que antes causavam. A divergência existente entre a consciência e o ego
será sufocante. Por menos que ele queira, sempre que estiver recluso e só,
logo a sua personagem perderá força, dando lugar à verdadeira identidade
recusada.
Num momento de reflexão, talvez sua consciência lhe pergunte: “O
que você está fazendo de si? Aonde quer chegar com isso?”. De outro lado
uma ameaça ronda seus pensamentos: “Talvez este tipo definitivamente não
me agrade... mas, como poderei sobreviver sem ele? Como conseguirei pas-
sar pela vida demonstrando fraqueza e fragilidade?”.
De um lado a razão, de outro uma pessoa coberta por vestes estranhas
que permitem que ele seja alguém, mesmo que sem espontaneidade ou au-
tenticidade. Daí pensa: “Bem, apesar da confusão que isso causa, pelo me-
nos consigo aparecer melhor, de forma que os outros não me julguem menos
e nem me ataquem”. A personagem tomou conta como um parasita e se-
questrou as atitudes mais espontâneas. Ele já não consegue mais ser verda-
deiro; passará, então, a ser um produto que sua mente produziu num mo-
mento de desespero. Então inicia-se a procura por alguma coisa que lhe
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permita fugir da tensão gerada; aí é que o perigo da iniciação às drogas se
torna efetivo. Afinal, o conflito interno é grande e a sensação de peso vai
sufocando e fazendo com que a pessoa procure formas de aliviar toda esta
tensão. Mesmo o tabaco é uma forma de inibir os sentimentos mais íntimos
de insegurança e ansiedade. O usuário utiliza-se de tabaco como se fosse
uma válvula de alívio que retira o peso de ter enfrentado uma situação tensa.
É basicamente isto que faz com que alguns se afundem num mundo
ilusório onde interpretam uma personagem, fugindo do que efetivamente
são. Estes não admitem serem repreendidos e poderão até ser agressivos se
vierem a ser questionadas com relação àquele “tipo radical”. Quando a ex-
pressão não condiz com o que efetivamente é a pessoa, isto logo é notado
pelos outros. Neste ponto pode acontecer – dentre outras possibilidades mais
difíceis – duas coisas: ou a pessoa amadurece e perde sua pelagem falsa; ou
vai seguir sustentando sua imagem de irreverente e decidida, nem que tenha
de cometer absurdos contra si, ou até aos outros. Pessoas assim passam a
frequentar grupos que muitas vezes fazem muitas coisas totalmente bizarras,
mas que acham o máximo. Afinal, isso faz parte da forma que encontraram
para conseguir manter a personagem com tudo o que ela implica. Note
quantas pessoas fazem parte de alguns grupos estranhos simplesmente para
fugir de suas realidades. Observe só quantas pessoas não passam a fazer uso
de drogas, álcool e outras substâncias nocivas, porque o grupo em que con-
vivem usa. Afinal, pensam, se para fazer parte da “legião dos destemidos”
tenho que usar isso, que então seja assim.
Aqui está o princípio que faz com que pessoas se enveredem por
mundos perigosos dos entorpecentes e da marginalidade. É dessa forma e
princípio que muitos entram no perigoso mundo das drogas, sem mesmo se
darem conta de como foram chegar naquele fundo de poço. Veja como se
sente alguém que nasce num meio desprovido de recursos, passa por gran-
des privações, e vê na sociedade algo que ela não pode ser. Veja que tipo de
complexo se passa na cabeça daquele que vê nos outros pessoas de status
totalmente diferente do que elas jamais poderiam conseguir. A má influên-
cia chega e diz que “pode sim!”; ...que ele pode conseguir tudo isto. Claro
que um comportamento irreverente vai apenas parecer ser, e não ser defini-
tivamente uma pessoa equilibrada e consciente dos valores de si e dos ou-
tros.
A educação recebida por um jovem deve incluir altas doses de orien-
tação com relação aos conceitos de vida, e sobre o que de fato importa para
165
que uma pessoa seja aceita pela sociedade de forma saudável, agradável e
simples; para que ela seja valorizada pelos seus valores morais, e não só
pelo que ela conseguir reunir em bens materiais ou em recursos que a façam
aparecer ou parecer mais. Formação religiosa e orientação para que a pessoa
seja incluída no meio em que vive é fundamental. A orientação deve (ou
pelo menos deveria) ser oferecida pelas pessoas que assistem o crescimento
de nossos jovens. Esperar que eles aprendam da pior forma, simplesmente
tentando descobrir no mundo, poderá resultar em desgosto para eles pró-
prios, família e sociedade.
Vemos diariamente pessoas que sentem extrema dificuldade em se in-
tegrar numa sociedade que desvia as pessoas para seus interesses mais con-
venientes. Que incita comportamentos fabricados por interesses comerciais,
como se seus modelos fossem perfeitos e dignos de serem seguidos. As pes-
soas não admitem ser outra coisa senão aquela imaginada por interesses
escusos, de que todos devem ser bonitos, ricos, descolados, que possuam um
monte de coisas para serem destaque num mundo onde o pobre é sentencia-
do como sendo um fracassado. Confunde-se pobreza com incapacidade e
incompetência. Associa-se alguém que mora num lugar modesto à inferiori-
dade; um sem educação qualquer que não é digno de ser tratado com respei-
to nem educação. Ser menos “vistoso” sentencia à discriminação e separa-
ção daqueles que acham serem melhores por terem bens que o destacam dos
demais.
Sentimento de inferioridade: isto pode ser o principal estimulante para
promover grandes reformas, mas pode também ser a pior das molas propul-
soras para gerar seres que crescem numa sociedade que discrimina e julga
por princípios defeituosos, mesquinhos e egoístas. A grande maioria das
pessoas só vai se sentir tranquila socialmente quando possuir status da for-
ma e na altura que a distinga socialmente; a partir de que entenda ser grande
o suficiente para aniquilar algumas características de outras pessoas, para
daí se sentir incluída nos meios mais formais. Isto acaba reforçando com-
plexos de inferioridade naqueles que não conseguem ser “tão grandes” de-
vido às inúmeras circunstâncias que podem levar a isso.
166
A timidez como caminho
Mas se isso tudo pode acontecer quando não se dá necessário apoio e
direcionamento através de boas orientações, por outro lado a timidez pode
significar uma importante impulsionadora para mudanças interiores.
Quando ela é entendida como sendo uma limitação natural e normal –
inerentes a alguma fase da vida ou condição social – ela poderá ser uma
excelente impulsionadora para avançar e vencer todas as dificuldades.
Quem se vê incomodado pela sua excessiva timidez, mas se abre para
as mudanças, logo estará num nível onde a sua força eliminará toda a inibi-
ção. Quando o jovem não for tocado em suas vaidades, ou não se sentir infe-
riorizado por qualquer dificuldade que tenha de manter um diálogo, logo se
conscientizará de que alguma eventual dificuldade é natural e normal para
qualquer um. Quando ele não advier de criação que o negou e sufocou até
fazê-lo perder a iniciativa, não dará excessivo valor aos outros; e nem se
desenvolverá a partir dos valores que atribui a si pela baixa autoestima. Se o
recolhimento for apenas um meio de não se expor em demasia (evitando
avançar para terrenos desconhecidos e perigosos) isto nem pode ser chama-
do de timidez.
Antes sim é uma boa noção de seus valores e o dos outros. Em muitas
ocasiões não temos que confrontar opiniões se não temos plena segurança
sobre o assunto. Neste caso a consciência de si limitou a escutar e aprender,
antes de apenas emitir uma opinião banal para querer demonstrar saber. Em
boa parte das vezes as pessoas mais contidas em suas expressões verbais se
saem melhor na vida. São aqueles que sabem se portar de modo educado,
calmo, sem gritarias nem estripulias. Agem de forma equilibrada e autênti-
ca. Preferem seguir sendo verdadeiros a atrair para si uma contaminação de
caráter. Seguem seu caminho de forma espontânea e honesta, sem cometer
exageros. Este tipo de comportamento favorece para vencer e obter sucesso.
Se não se põe em comparação com outros, pra que demonstrar opinião di-
zendo bobagens em altas bravatas?
As pessoas de boa índole e inteligentes percebem boa educação nos
mais quietos. Pessoas educadas transmitem mais confiança; pessoas mais
recatadas permitem uma aproximação maior; quem se abre e não tem medo
de demonstrar suas fraquezas está sempre aberto para receber ajuda. Se não
167
se incomoda de que lhe auxiliem ensinando, logo se tornarão pessoas cultas,
distintas e agradáveis, sem ter que representar nenhuma cena de herói para
agradar.
Há muitas pessoas mais quietas, e não tímidas no sentido de ter medo
de falar com os outros. Portam-se de maneira equilibrada pela boa educação
que têm. Estes não se metem a fazer só para agradar aos outros, que muito
bem podem ser completamente desregrados e inconsequentes. Geralmente
um comportamento atirado e falastrão existe devido à pessoa ser extrema-
mente carente. Esse, então, fará de tudo para estar no centro das atenções e
receber apoio e carinho naquilo que não é completamente seguro: sua per-
sonalidade.
Ele sabe intimamente que não é nenhuma personalidade, mas age
abertamente com os outros para que estes também se mostrem menos inde-
fectíveis, para que, assim, tudo seja levado sem maiores responsabilidades.
Outros agem de maneira aparentemente segura conduzidos pela sua
total falta de amor, compreensão e consideração aos demais. Estes são os
falsos, egoístas, pretensiosos, orgulhosos, desrespeitadores que costumam
agir atrevidamente como bem dá na sua despreparada cabeça, sem se impor-
tar ou respeitar os outros. Simplesmente vivem a partir do que imaginam
ser, não se importando com o que os outros sentem da sua expressão. Ge-
ralmente são pessoas com noção limitadíssima de si, dos outros ou de qual-
quer sentimento autêntico e verdadeiro. Pouco vão se importar se magoarem
alguém dizendo alguma de suas grosserias.
Aos excessivamente tímidos
Os excessivamente tímidos devem procurar encontrar a raiz de seus
bloqueios para que ela seja tratada até que se encontre o caminho com setas
que apontem para uma nova atitude: o da autoconfiança e da segurança de
identidade. Um ponto importante a ser considerado pelos tímidos: não se
ache vítima do mundo. Milhares de outras pessoas passam pelos mesmos
caminhos. Raramente alguém possui completa segurança para se mostrar
perfeito e irretocável para o mundo. Pessoas mais maduras e que querem se
melhorar, frequentemente fazem cobranças com relação ao comportamento
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próprio no sentido de aperfeiçoar-se. O que não pode é achar que todos são
perfeitos e que só você possui “defeitos” que possam levá-lo a ter vergonha
de se expressar. Não somos mais porque nos elogiam, nem menos porque
nos vituperam.
Boa parte das pessoas é insegura ou tímida mediante algumas circuns-
tâncias.
A maioria dos grandes comunicadores foram pessoas extremamente
tímidas quando jovens ou no início da carreira. Alguns são grandes comuni-
cadores apesar de manterem alguns traços de timidez. Não imagine que to-
dos são perfeitos e que você está num nível abaixo. Ninguém é obrigado a
demonstrar que é o máximo o tempo todo, nem melhor do que ninguém.
Seja espontâneo. A maioria das pessoas prefere lidar e tem mais confiança
nas pessoas mais contidas do que nas pessoas extremamente extrovertidas e
barulhentas. Note que mais da metade do que os tagarelas falam não se
aproveita. Ser menos falastrão não é defeito. Antes sim, na maioria das ve-
zes, denota na pessoa uma personalidade equilibrada e menos embalada
pelas influências do mundo. Quem conhece e prestigia verdadeiros valores
certamente que admirará muito mais uma pessoa menos afoita do que outra
atirada aos costumes defeituosos que o jogo da vida implantou.
Pelo menos metade do seu problema estará resolvido quando conse-
guir identificar qual a origem dele e de que forma ele o afetou ou ainda afe-
ta. Em quais circunstâncias você se sente mais retraído? Você consegue
identificar os motivos dessa retração nestes dados momentos? Quem ou o
quê foi o principal causador de sua retração? Se foi uma pessoa em particu-
lar, pergunte-se: - se ela fizesse o mesmo que fez no passado, você se senti-
ria tão atingido hoje? – Provavelmente não. Muitas vezes podemos ser víti-
mas de uma palavra dita de forma maldosa e impensada por aqueles que
pouco ou nada se importam com os sentimentos dos outros. Em determina-
das fases de nossas vidas uma simples brincadeira ou alguma expressão mal
pensada pode nos afetar de tal forma que levamos suas marcas de forma
escondida e mal resolvida.
Alguém mais sensibilizado pode facilmente ser vitimados por pessoas
que não medem nem refletem sobre aquilo que dizem. Dependendo da cir-
cunstância e momento de alguém, um encontro com algum desses pode cau-
sar um impacto traumático na sua personalidade. Existem incontáveis víti-
169
mas destes convívios desastrosos, sejam com os pais, colegas de escola,
amigos, irmãos ou outros tantos que sequer conhece.
Mas, o que o está incomodando, ser quem você é, ou não ser aquele
que quer demonstrar para os outros? Muitas vezes reprovamos o que somos
simplesmente porque imaginamos que não somos o suficiente para ser ad-
mirado ou aceito. Na adolescência principalmente, uma simples condição
física que não gostamos pode baixar a autoestima a níveis terríveis de desa-
provação e revolta consigo mesmo. Colocamos toda a personalidade, todo o
ser, englobado numa característica que sentimos de forma negativa. Jamais
podemos achar que somos apenas aquela pessoa de determinada aparência,
com uma ou outra característica menos digna de nota, como se toda nossa
pessoa fosse feia ou menos atraente do que qualquer outra. Isso acaba por
interferir na personalidade, e naquilo que você é efetivamente, com todas as
suas qualidades e defeitos. Sim, defeitos! Quem é que não os tem?
Não podemos nos submeter a excessivas comparações, como se esti-
véssemos disputando alguma posição, emparelhando-se com exemplos que
achamos serem ideais, simplesmente por que, aquilo que por hora admira-
mos no outro, não é tão bom ou bonito em nós. O que temos de mudar de
fato é aquilo que está confuso para níveis compatíveis com nossa Consciên-
cia. O que você tem de conseguir em termos espirituais não depende nem
um pouco de aspectos físicos.
Não temos de ser igual a ninguém. O importante é reunir em si os
princípios que efetivamente fazem a diferença entre alguém bem formado,
daqueles que apenas juntam em si meios de representar um tipo para os ou-
tros. Então, sem perfeccionismos ou “achismos”, temos de seguir seguros de
si para que nossa verdadeira expressão flua espontaneamente, com toda sua
luz interior. Não podemos nunca julgar ser apenas aquela imagem que ve-
mos no espelho.
Seu brilho pessoal não depende de seu aspecto externo, mas sim do
que você tem em sua alma, seus valores, seus princípios, sua verdadeira
essência.
Existem milhares de pessoas que se preocupam demasiadamente com
a aparência física, mas por dentro seguem com seus inúmeros conflitos, suas
dúvidas, confusões, dificuldades, etc, pouco se importando se seu nível inte-
lectual é o suficiente apenas para estar entre os médio-pequenos.
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O que importa para estes é que chamem a atenção para sua figura, pois
assim se sentirão aprovados, aceitos, distintos, cortejados, sensuais, cobiça-
dos (mesmo que nem sempre com intenções muito louváveis) unicamente
pelo que são por fora. Por que se fosse depender de seus verdadeiros valo-
res...
O fato é que se algo nos incomoda temos de procurar os meios para
resolver o problema. Não podemos deixar que o mal persista e se estabeleça
de modo a causar consequências na saúde, além dos males psicológicos já
sentidos. Não fique parado se achando digno de piedade. No máximo vão
achá-lo um “coitado”; dificilmente alguém o entenderá efetivamente a ponto
de ajudá-lo. É você que precisa se aceitar, para que depois seja automatica-
mente aceito entre os outros.
Ninguém é um problema! Pessoas têm problemas que podem ser solu-
cionados. A iniciativa para mudar o que somos para melhor é uma decisão
pessoal. Não se cobre exageradamente imaginando não ser aquilo que ima-
gina que tem de ser para ser bem aceito. Antes de qualquer coisa é você
quem tem de aceitar-se, reconhecendo o que de fato é a sua essência. Tire de
si por um momento o que acha que não está bom, e sinta como você seria
sem isto que o incomoda. Feito isso você chegou no estado de espírito ideal
para se sentir bem. Pois então, tome uma atitude para mudar o que não está
te satisfazendo, mas com a segurança e energia vibrante, sem acanhamentos
inúteis e amargos.
Existem inúmeras pessoas que demonstram ser mais comunicativa
apenas para esconder a autentica expressão de sua personalidade. Se tiverem
de se apresentar em público, por exemplo, sentirão o mesmo desconforto
que qualquer outro. O desgaste depois de uma apresentação será tanto ou
maior do que aquele tido por outro como menos comunicativo. A insegu-
rança ou timidez eventual é comum a todos as pessoas. É normal e natural
que qualquer um de nós se sinta menos confortável ao tratar de assuntos
menos frequentes, desconhecidos ou que pouco sabemos. A reação natural
nestas situações é a de insegurança, o que automaticamente põe em alerta
nossas defesas. Algum medo pode se juntar quando existe a desconfiança de
que estamos sendo trapaceados, enganados ou envolvidos em armadilhas.
Não existe aquele que domine totalmente tudo sobre qualquer tema.
Então, ser comedido muitas vezes demonstra abertamente a humildade da-
quele que não conhece sobre o assunto. Vivemos em sociedade onde cada
171
um tem suas características próprias e outras comuns; mas ninguém, nem
mesmo os mais cultos ou sábios dominam absolutamente toda a verdade e
conhecimento possíveis. Isto não significa que temos de se esconder com
medo de aparecer.
Só se esconde aquele que acha que tem de ser o máximo para os ou-
tros, tão somente para suprir suas carências, reclamando para si toda a aten-
ção, respeito, carinho e idolatria.
A humildade é a principal característica do sábio. Geralmente quem
possui um grau elevado de genuína sabedoria não se mete em conversas
banais, desnecessárias ou para discutir temas corriqueiros. Fala muito quem
não tem nada a dizer! Tagarelice, conversas banais, fofocas, intrigas e outras
tantas coisas corriqueiras não passam de tola expressão do inconsciente co-
letivo. Pessoas que se envolvem facilmente em conversas banais não têm
muita noção de individualidade. “Ser” significa para estes copiar ou inventar
um tipo que pareça tão enfeitado ou mais do que o do outro. Só que o de-
senvolvimento real da maioria está muito aquém do que seria medianamente
suficiente para uma sociedade mais madura, justa e agradável. Então por
quê seguir modelos corrompidos, decadentes, estragados, contaminados,
egoístas, interesseiros, etc.
A insegurança geralmente leva à timidez. Convivemos com pessoas
nos mais variados graus de desenvolvimento; aquele que não tem tanta se-
gurança do que é (ou está naquele momento) pode calar com medo de se
passar por tolo ou despreparado. Então, o medo de expressar aquilo que de
fato está sentindo ocorre pela natural defesa de um estado frágil. A insegu-
rança pode ser ainda maior naqueles que não encontram fluidez verbal. Daí,
o temor de não conseguir expressar os sentimentos os leva à reclusão. “Em
boca fechada não entra mosca”, assim diz um conhecido adágio popular.
Sim, pois, em certos momentos, falar pode nos levar a embates desnecessá-
rios. Quando não há clareza naquilo que sentimos, submeter nosso pensa-
mento a confrontações poderá ser desastroso.
Quando não sabemos compreender muito bem nossas reações, difi-
cilmente entenderemos nossos sentimentos, nem como eles acontecem. En-
volver-se em sentimentalismos ou discussões poderá ser uma tragédia: se
ambos os lados não sabem definir muito bem o que estão sentindo, claro
que, instintivamente se tentará defender os próprios pontos de vista. O que
pode advir disso? – Discussão em tom de briga! Onde um não cede em nada
172
para o outro o convívio acontece em clima de disputa. Pode até existir afeto
e consideração; mas, a falta de compreensão causada pela imaturidade con-
serva o clima de disputa. Disputa de quê? - Defender um “território” frágil
onde não há suficiente compreensão para suprimir as emoções. Mas o que
mais o tímido quer evitar é ficar no centro de discussões ou da atenção dos
outros. Discutir ou se envolver em situações pesadas será altamente desgas-
tante. Para estes melhor será ficar calado, mesmo que à sós atire toda sua
raiva na forma de revolta e defesa de si.
Então, expor-se mais e não achar que tem de ser um astro – para só daí
poder aparecer para o mundo – já é um bom começo. A timidez vai automa-
ticamente sendo removida conforme as pessoas vivenciam novas experiên-
cias. Ficar escondido faz com que o problema fique e se agrave. Se cometer
alguma gafe sorria e releve sem maiores punições. Ser extrovertido não sig-
nifica ser melhor do que ninguém. A maior parte dos barulhentos apenas
aprecia situações corriqueiras de momento. Se você é mais compenetrado
certamente o é porque está buscando o amadurecimento interior. Mas, ja-
mais exagere na sua quietude. O enfrentamento é o caminho natural para
que qualquer um saia de seu esconderijo. Não fique esperando aprovações
dos outros e procure conhecer-se melhor e valorizar a si próprio.
Não podemos estacionar num ponto isolado onde imaginamos que to-
dos os outros são perfeitos, e que somos os únicos a ter defeitos. Todas as
pessoas passam por dificuldades. Existem inúmeras pessoas que sabem dis-
farçar sua timidez, mas que sofrem tremendamente suas limitações. Não
tenha medo de comentários ou críticas. Saiba separar um bom conselho de
um comentário banal, feito por pessoa sem maiores valores. Não dê muita
importância para o que os outros possam falar. Se você analisar com critério
verá que dificilmente dizem algo que seja importante de fato, ou que faça
justiça em relação a você. Valorize-se e lembre-se de que você pode chegar
aonde quiser, desde que queira. Mas antes, procure identificar se o que está
desejando não passa de uma vaidade disfarçada, daquelas que vai procurar
copiar para ser igual aos outros. Você não precisa ser igual a ninguém: você
é único e tem características próprias, a sua individualidade.
Antes seguir de forma moderada e equilibrada do que se pôr em com-
parações inúteis só por imaginar que não está sendo aceito como é. Inicie
atividades novas de forma a melhorar sua confiança e autoestima. Acredite
mais em si e melhore-se aos poucos, constantemente. Assim, em menos
tempo do que imagina estará mais seguro e confiante. A timidez é uma for-
173
ma natural de as pessoas serem chamadas a promover algumas mudanças
internas. Se começar a melhorar aquilo que efetivamente o está estorvando,
logo notará que estará muito acima do que qualquer outro que você tenha
imaginado como sendo o ideal. Estes que se sentem muito confortáveis com
o que são – independente de que sejam ou não efetivamente o que acham ser
– quase nunca pensam em mudar alguma coisa.
Pois se estão passando sem maiores recriminações ou cobranças inter-
nas, por qual motivo iriam se preocupar em mudar? Assim, continuam basi-
camente os mesmos por toda uma existência. Pouco fazem e pouco mudam.
Quando você estiver completamente renovado por atitudes e decisões equi-
libradas, aquele continuará sendo o mesmo de tempos atrás. Lembre-se
também que não é preciso fazer estripulias para parecer bom e ser aceito por
todos. Na realidade, neste caso, basta que sejamos bons o suficiente para
nós. Daí, não precisa ser o falante para provar que é inteligente. Bastarão
poucas palavras ditas com sabedoria que a imagem de tímido logo será
substituída pela de reservado, comedido, equilibrado e inteligente. Então,
antes de ficar se queixando, que tal levantar a cabeça e fazer parte de um
mundo pessoal mais confiante e seguro? Você estará evoluindo sempre que
fizer o que a sua consciência lhe orientar a ser.
Existem aqueles que são mais reservados porque têm opinião bem
formada, e por isso não perdem tempo em confrontações inúteis. Sua expe-
riência e sabedoria os poupam de envolvimentos desnecessários. A seguran-
ça e maturidade os impedem de agir de forma infantil ou fabricada com in-
gredientes alheios. Agem de forma mais ponderada e reta e não se metem
em disputas corriqueiras. Não precisam viver escravos de seu ego, pois
aprenderam que não precisam se rebaixar simplesmente para agradar aos
demais. Para estes basta agir com educação, humildade e respeito que tudo o
mais estará adequado para relacionamentos bons e saudáveis. Quando se
põem a falar, logo se evidencia sua posição segura e bem abalizada. Nin-
guém ousará dizer que é tímido, mas sim uma pessoa de brilho e caráter
bem formados.
Na fase de timidez excessiva existe certo temor de ser repreendido.
Este medo de ser visto pelos demais como inferior, nem que seja por uma
coisa simples, causa o medo de ser isolado no esquecimento, como se não
fosse digno de receber atenção nem carinho. Ninguém gosta de se sentir
menor e menos querido do que ninguém. Todas as pessoas buscam ser apro-
vadas e reconhecidas no que fazem ou no que são. O excessivo medo dos
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tímidos advém do temor de que o que são e o que fazem não esteja à altura
do que os outros fazem. Com isso se escondem por detrás de uma clausura
que os mantém longe de qualquer tipo de confrontação. Isto pode acontecer,
por exemplo, com filhos de pais muito exigentes e sem muita diplomacia
nas suas cobranças e forma de “educar”.
As frequentes repreensões que fazem – mesmo quando eles mesmos
não souberam ensinar como fazer direito – abalam a segurança e autoestima
daqueles que são submetidos a estes regimes. Cobranças e fortes reprimen-
das são feitas em muitas famílias que sequer ensinam como os filhos devem
fazer aquilo que tanto exigem. Desta forma vão sendo fortemente destruídos
todas as vezes que alguma coisa não sai exatamente como aqueles pais exi-
giram que fosse. Isso acaba causando o temor de não fazer o que os outros
querem, e o de sofrer fortes reprimendas perante outros. Sua situação deli-
cada não suportaria se fosse alvo de alguma gritaria em público. Estes temo-
res permeiam a mente medrosa que acaba por se pôr numa atitude de exclu-
são e fuga. Nunca vão participar de maneira mais ativa; nunca vão se sentir
confortáveis em emitir opinião própria; nunca tomarão iniciativas por si só.
Nunca seguirão uma meta nem caminho desejado e planejado por si,
mas somente por caminhos já trilhados ou conduzidos pelos outros. Nunca
farão suas vontades, nem se sentirão seguros dentre outras pessoas, pois se
julgam inferiores aos demais. Pessoas assim costumam prender sua verda-
deira expressão. Fecham-se de tal forma que perdem sua verdadeira identi-
dade. Põe-se a viver de forma fabricada, copiada de outras pessoas. Acabam
se tornando submissas e escravas do que os outros determinarem para eles.
Perdem a espontaneidade e travam uma luta interna a cada nova convivên-
cia.
Em boa parte das vezes se apegam a qualquer um que lhes ofereça ca-
rinho e um pouco de atenção ou compreensão. Isto leva pessoas assim a
cometer sérios erros se envolvendo em relacionamentos interesseiros e ardi-
losos. Sua relação de dependência acaba fazendo com que tolerem destratos,
rebaixamentos, e até violência. Como não se acham dignos de amor, aceita-
rão qualquer coisa de seu dominador para que não fiquem sozinhos. Não
aguentariam ter de suportar mais uma recusa, mais um “fracasso”. Isso seria
o golpe maior nestas frágeis e delicadas personalidades que, por uma sim-
ples falta de boa orientação, englobam toda sua pessoa como se não possuís-
se nenhuma qualidade digna de ser notada ou respeitada.
175
De um simples recolhimento na adolescência a uma vida escrava,
amarga e destruída. Por não ter sido (ou imaginado) que não era tão bom
quanto os outros, deixa que toda sua identidade seja contaminada com a
ideia de que é menos. A contaminação age de tal forma destruidora que aca-
ba fazendo com que a pessoa se torne de fato aquilo que imaginou ser; aqui-
lo que deixou invadir seu ser. A compreensão e conclusão que devem ficar é
a de que ninguém entende tudo sobre todas as coisas. Uns sabem mais a
respeito de determinado assunto do que outros. Não precisamos sempre ser
os melhores em tudo. Cada um deve seguir procurando fazer para se apri-
morar. Afinal, todos nós estamos aprendendo para desenvolver aquilo que
ainda não está num ponto ideal de amadurecimento.
Estamos mudando todos os dias. Somente com o tempo é que pode-
mos nos tornar tão grandes como um dia sonhamos. Não existe outra forma.
Então, respeite e valorize o que você é hoje e perceba tudo de bom que exis-
te em você, esta base que o levará para muito além do que hoje está. Mante-
nha-se firme e sem orgulhos ou vaidades. Siga com a atitude de fazer, e não
de ficar parado se lamentando.
A relação com os mais tímidos
Para agir com pessoas tímidas, sem que elas se recolham, será neces-
sário fazer com que elas se sintam aceitas e compreendidas. Elas não gostam
de ser notadas em nenhuma dificuldade ou falha de caráter, imaginada ou
existente. Odeiam que alguém as trate como se fossem retardados ou salien-
tando sua quietude.
Por isso, só se sentirão à vontade com quem demonstrar simplicidade,
bom humor, humildade e atitudes simples. Não gostam que lhes apontem
defeitos ou teçam críticas quanto às suas qualidades ou capacidade. Elas se
sentirão limitadas sempre que perceberem que alguém é mais preparado do
que elas. Como não aceitam que sejam notadas em suas deficiências, jamais
se sentem bem com aqueles que eventualmente possam criticar seu modo de
ser ou de pensar. Jamais se porão em disputas com quem possa vencê-las e
colocá-las ainda mais para baixo. Existe um sentimento de inferioridade
escondido por detrás de qualquer comportamento desenvolto, mesmo quan-
do esta desenvoltura seja só aparência. Então, sempre que notarem alguma
176
possibilidade de que sejam superadas por alguém, logo se porão em estado
de alerta, recolhendo-se no silêncio.
Quando vai se dirigir algum comentário ou ordem para pessoas assim,
melhor será fazer de forma descontraída e sem nenhum tom de subordina-
ção. Se tiver que fazer uma correção ou chamar-lhe a atenção, o máximo de
cuidado possível deve ser tomado: qualquer palavra mais incisiva o ferirá.
Qualquer tipo de censura ou correção deverá ser feita de forma pessoal, sem
fortes reprimendas ou demasiado afeto – daqueles, como estivesse se diri-
gindo a uma criança inocente ou a um retardado – e de forma descontraída.
Assim, certamente que entenderão toda e qualquer mensagem, e valorizarão
a capacidade de compreensão, carinho e amizade de quem lhe fez a correção
ou dirigiu orientação. O conteúdo de uma mensagem, seja ela uma correção
ou uma ordem, será entendido em seu conteúdo e valorizado pela forma
descontraída que foi feito. Quando uma observação de algum erro cometido
é feita desta forma, nunca mais cometerão a mesma falha.
Existe nestes a vontade imensa de agradar e fazer bem feito. Quando
cometem alguma falha, raramente será por algum desleixo. Antes será por
não terem tido a formação necessária para ter feito melhor. Muitas vezes
sentem-se inibidos de pedir maiores esclarecimentos a respeito de algum
assunto, com o medo de serem julgados inferiores. Então, se antes de rece-
ber uma repreensão receberem orientação, certamente que vão agradecer
aquele que o fez. Quando recebem alguma ordem de forma segura, porém
descontraída, logo tratarão de executar com menos cobrança de si e menos
peso. Ao sentir certa liberdade para a ação serão mais seguros; trabalharão
melhor se puderem fazer tranquilamente, sem o peso de alguma humilhação,
se caso errarem. Assim irão aprender com mais eficácia e menos dor. Estes
só agirão de forma espontânea e autêntica quando incluídos dentre outras
pessoas. Aquele que oferecer amizade e compreensão sem arrogância, logo
será distinto como pessoa de alto valor e prestígio.
Pessoas assim multiplicarão sua força e aplicação quando chamadas a
participar de uma força-tarefa onde o resultado depende do esforço indivi-
dual – para o bom resultado de uma equipe, por exemplo. Daí, quem está no
comando tem de demonstrar plena confiança na capacidade destes. É nestas
ocasiões que alguém pode surpreender a todos; afinal, esta é uma oportuni-
dade de receber votos de confiança e ser incluído entre os “bons”. Existe a
força interior em cada uma dessas pessoas. O que elas precisam é criar segu-
rança para que isto se manifeste. Quando a situação é propicia, agirão como
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verdadeiros leões; afinal, é a chance de serem tirados do lugar onde se sen-
tem fracos, para serem incluídos dentre os melhores.
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Capítulo XX
Rodas da vida e seus perigos
Somos a toda hora impelidos à ação. Quanto mais fazemos, maiores e
melhores oportunidades vão surgindo, neste complexo sistema que conduz
cada um de nós a se desenvolver sempre. Para que possamos mudar de onde
estamos para posições mais adequadas às nossas vontades e necessidades,
somos a toda hora postos à prova mediante situações que mechem com nos-
sa imaginação, fazendo com que ela encontre uma resposta a estas provoca-
ções da vida. Estes chamados nem sempre são feitos da maneira mais suave.
Somos muitas vezes colocados em situações que parecem tremenda-
mente perigosas e com grandes riscos de destruição. Mas, em boa parte das
vezes estas manifestações da natureza estão somente nos impelindo para
seguirmos para novos e mais altos caminhos. Observe como frequentemente
nossas dificuldades acabam fazendo com que nos submetamos a novos de-
safios. Veja como as situações se modificam – e até se complicam às vezes
– sempre que vamos além do que se tudo estivesse sempre muito bem resol-
vido, e nada mais tivesse de ser feito. Ou nos guiamos pela Consciência, e
seguimos adiante buscando resolver nossos conflitos, ou paramos e nos des-
viamos para a ociosidade, para as reclamações e consequentes problemas
existenciais. Observe como sempre há pelo menos dois lados em cada
enigma que nos é apresentado no decorrer da vida. Uma mesma situação
corriqueira pode conter uma oportunidade e uma armadilha. Uma mesma
situação pode nos levar ao trabalho, para podermos alcançar mais um de-
grau na escala do desenvolvimento, ou nos levar à derrocada.
Uma pessoa pode ser chamada à atenção para uma coisa que está fa-
zendo de forma inadequada, e humildemente acatar o aviso tomando-o co-
mo um conselho construtivo, e modificar para melhor o que não está tão
bom. De outro lado, alguém pode receber uma crítica e escondê-la debaixo
de sua raiva, a ponto de passar a considerar quem o criticou como sendo um
intrometido, um invasor, um ousado grosseiro que não tinha nada que se
meter na sua vida, tomando-o de inimigo e se guardando em ódio e repulsa.
A mágoa represada vai corroendo até que comece a se manifestar fisicamen-
te, começando com um grande estrago ao sistema nervoso. Daí começa a
179
seguir para os órgãos mais ligados às suas dores, até que estes comecem a
sofrer as duras doses de veneno que recebem todos os dias. Observe como a
todo o momento somos tocados pelas coisas que acontecem à nossa volta.
Mais intensamente na adolescência, acabamos sendo influenciado por
tudo o que acontece aos nossos olhos. Cada oportunidade demonstrada pelo
mundo acaba por influenciar a forma como percebemos e sentimos cada
fato. Com isso, sofremos influência do meio em que vivemos, com maior ou
menor intensidade, de acordo com o nosso nível de desenvolvimento men-
tal. Se estivermos num momento de baixa autoestima, mais facilmente po-
deremos ser influenciados por uma figura que demonstre ser aquilo que de-
sejamos ser.
Se estamos passando por um momento com as defesas enfraquecidas –
onde sentimos as emoções negativas mais intensamente – mais facilmente
seremos influenciados pelas atitudes de alguém que pareça ser vencedor,
dinâmico, arrojado, brilhante, conquistador, simpático e cheio de virtudes.
Esta é uma das formas com que o mundo nos empurra para frente to-
dos os dias. Sempre haverá algo que nos deixa descontentes, seja em termos
de aparência, desempenho intelectual, vaidades, posição etc. Muitas vezes
só promovemos mudanças quando alguém tenha conquistado algo. Assim,
acabamos – muitas vezes sem se dar conta – de que somos impelidos à ação
por motivações causadas por atos de terceiros. Se invejamos alguma atitude
ou personalidade, logo esta estará influenciando de forma sutil nosso sub-
consciente a agir de forma que alguma mudança seja promovida para conse-
guir, também para si, aquilo que admiramos no outro. Assim, estamos sem-
pre sujeitos às influências causadas por amigos ou familiares; uns mais, ou-
tros menos, cada um com seu grau de desenvolvimento, mais ou menos in-
fluenciáveis de acordo com cada momento, de acordo com cada grau de
percepção de si, de cada necessidade subjetiva. Num sistema onde os mais
fortes se destacam, a busca por um lugar ao sol é intensa, embora isso possa
se dar de forma discreta ou apenas instintiva.
Estamos sujeitos a frequentes e inevitáveis comparações que acabam
por fazer muita gente permanentemente insatisfeita com o que conseguiu até
então. A paixão desenfreada – ou a necessidade subjetiva incutida de que se
precisa chamar a atenção para ser amado – faz com que dificilmente alguém
se sinta realizado e feliz com o que possui. Imaginando que a felicidade se
encontra nas realizações materiais, a toda hora vemos pessoas mirando cada
180
vez mais alto, nunca satisfeitas mesmo com aquilo que lhes é suficiente para
viver de forma tranquila. Uma grande maioria acaba se metendo com metas
atraídas simplesmente pelo desejo de aparecer para os outros. Se estes pa-
rassem para analisar sobre os porquês de estarem sonhando com algo, ou
querendo a qualquer custo ter aquilo que o vizinho tem, perceberiam que se
trata de um excesso de ambição provocada pela simples vontade de parecer
tão grande ou maior do que aquele vizinho.
Num mundo de eternas comparações e confrontamentos, o “ter me-
nos” significa ser inferior, menos inteligente, menos capaz, menos esperto,
menos responsável, menos lutador, menos astuto; um fracote que é facil-
mente vencido pelos desafios mundanos. A ganância, a ambição doentia e o
enorme medo de que descubram sua verdadeira personalidade, faz com que
vivam tentando provar que são capazes, que são inteligentes, que são tão
bons ou melhores do que os outros.
Parecer para o mundo é o que importa; afinal, vivemos num mundo
que valoriza demasiadamente as aparências. Podem não ter muita coisa den-
tro de si; mas se possuem o suficiente para aparecer bem na sociedade, isso
basta.
Numa roda de acontecimentos onde cada um é provocado para mos-
trar seus valores através do que aparenta ser, claro que cada vez mais pesso-
as vão querer pra si tudo o que os outros têm e muito mais. Com isso, em
boa parte das vezes as pessoas são impelidas à ação simplesmente pela von-
tade instintiva desencadeada por uma sensação; por um sentimento, por uma
vaidade ferida, ou por simplesmente querer provar que pode ser tão bom ou
melhor do que aquele que sentiu como sendo seu adversário ou mais digno
de ser admirado. Esta costuma ser uma máquina de desviar os propósitos
mais humanos, os necessários de fato. Quando alguém se põe numa disputa
desigual, simplesmente para querer mostrar que é forte, geralmente acaba
sendo envolvido num jogo mortal onde nunca as forças são suficientes.
Quando alguém se atira para um propósito mal dimensionado ou movido
pelo ego ferido, na maior parte das vezes acaba fracassando, atraindo para si
o descontrole, o desequilíbrio e o caos.
Passa a ser aquilo que incorporou para parecer algo digno de ser nota-
do. Sua personalidade é uma colcha de retalho sem identidade, sem vida
própria, sem consciência nítida, sem freios nem medidas. A marca deixada
pela sensação de ser menor (que qualquer característica alheia que tenha
181
admirado) logo fará com que a pessoa se ponha a lutar numa batalha deses-
perada, onde o que importa é formar em si aquela ser imaginário para, as-
sim, ter também aquele brilho e ostentação que invejou. Estes embates onde
se imagina outra pessoa como sendo um rival, fazem com que a pessoa faça
qualquer esforço para jamais parecer menos ou menor do que aquele. A par-
tir daí, no primeiro problema financeiro ou emocional que surgir, eis toda
uma personalidade completamente abalada e colocada num nível frágil e
delicado, onde tudo de ruim pode acontecer. Este costuma ser o ponto de
partida para grandes derrocadas, tragédias, fracassos, desilusões e frustra-
ções, que acabam por deixar marcas profundas por toda a vida.
Seus valores são medidos em cifras. Sua personalidade vale o quanto
tem na conta corrente. Seu bem-estar está associado com o nível de seus
bens materiais. Se alguma coisa acontecer que abale esta fantasia, tudo esta-
rá arruinado: a pessoa se põe no nível que sua condição o levar. Se não con-
seguir resolver seus problemas, será reduzida a nada. Afinal, tudo que mais
dava valor se foi. Dentro de si não há orientação nem equilíbrio que deem
sustentação para ultrapassar as dificuldades. O caminho para a angústia e
reclusão estará aberto. Você percebeu o perigo que estas inúmeras ocasiões
– onde podemos ser tentados a ser igual a outro – podem ser perigosas? Per-
cebeu o quanto de tempo e vida se pode jogar no lixo quando agimos sim-
plesmente pelos impulsos de uma paixão, inveja, ciúme, vaidade ou insegu-
rança pessoal? Viu como a competição pode ser altamente prejudicial quan-
do feita sem planejamento, simplesmente para querer provar alguma coisa
para os outros, a partir de uma comparação puramente pessoal?
Então, para que isto não aconteça (ou se dê em níveis razoáveis) que
tal, sempre que perceber estar sendo tocado por uma vontade ou sentimento
de inferioridade, refletir e analisar se suas sensações não estão brotando de
uma parte ciumenta de seu cérebro, aquela que sempre quer mais, e que não
se importa com o que você tem de fazer para conseguir, o seu ego? Se você
conseguir manter seu equilíbrio e fizer uma fria análise, sem dó de si, e se
isentando de qualquer culpa, note como boa parte das vontades pessoais não
passam de devaneios, sonhos de consumo para sustentar vaidades e acalmar
um ego sempre sedento de novidades. Quando você consegue dominar seus
ímpetos e passa a doutrinar suas vontades, logo perceberá que seus valores
mudarão para um nível mais confortável de realização.
Boa parte de nossas vontades não passa de caprichos pedidos por nos-
sa vontade de aparecer bem para os outros. Quando isto fica estabelecido e
182
bem definido, logo notamos que podemos direcionar nossos esforços para
propósitos bem pensados, para realizações seguras e de fato boas. Quando
conquistamos maturidade de consciência, a ponto de saber distinguir uma
vontade banal de uma necessidade, o nível de desenvolvimento moral dá um
salto de qualidade e passa a ter o necessário equilíbrio, permanentemente.
Ou seja, somamos qualidade definitiva. Nosso nível pessoal estará mais
elevado. Ao contrário de onde se poderia apenas conseguir sustentar vaida-
des, aqui existe uma ferramenta a mais incorporada às outras, e que nos for-
talecerão para novas e melhores conquistas, sem correr perigos ou se sub-
meter a jogos perigosos.
Felicidade ou realização momentânea?
Qual a ideia ou definição que temos de felicidade? O que afinal busca
quem corre atrás dela? O que é esta felicidade almejada? Será que não se
está confundindo “felicidade” com apenas conseguir chegar num ponto de
destaque? O que de fato traz alegria, descontração, bem-estar, paz e senti-
mento de dever cumprido?
Quando somos levados pela onda de permanentes comparações, tudo
o que conquistamos passará, com mais ou menos tempo, a parecer pouco. A
pessoa consegue comprar uma bela casa, um belo carro, ter um nível de con-
forto bom, até que comece a desejar, mais e mais, tocado pelo que o outro
tem.
Se possui um bom carro, por algum tempo estará satisfeito e contente
com sua conquista. Mas, basta que seu vizinho apareça com um modelo
novinho, mais luxuoso, mais caro e que confira mais status, pronto: seu car-
rinho passará a ser apenas mais um, daqueles que qualquer pobre mortal
pode ter; não é mais aquele que o destaca como o máximo dos seres. Assim,
nova luta passará a travar para conseguir um igual ou melhor do que aquele
do vizinho. Ou seja, ele não está buscando a felicidade, nem tratando de
realizar seus sonhos, mas sim comparando-se e competindo pra ver quem
pode mais. Pessoas assim vivem ambicionando coisas; seus pensamentos
formulam planos, mas quando chega a hora de desfrutar de seus benefícios
acabam se deixando levar pela sede de mais dinheiro e bens materiais.
183
Isto as leva a serem descontentes, irritadiças, nervosas, infelizes e
eternamente frustradas. Desta forma o mundo abala aqueles que procuram
nos outros modelos para ser feliz ou parâmetro para suas realizações. - Você
conhece alguns destes invejados e admirados modelos de “felicidade” que
sejam felizes de verdade? Se procurarmos saber de fato o que acontece na
vida daquele que imaginamos ser o mais feliz da Terra, acharemos proble-
mas iguais ou (em boa parte das vezes) muito maiores do que aqueles que
temos de enfrentar no dia a dia. Acontece para aqueles o mesmo que está
acontecendo para aquele inconformado infeliz: encontra-se num mundo sus-
tentado pelas vaidades pessoais, pela necessidade de mostrar para os outros
o quanto é “superior e poderoso”.
Então, uma coisa que poucos levam em consideração e que pode ser o
principal diferencial de uma vida regrada – com menos dificuldades e lá-
grimas – é identificar muito bem o que é que está lhe causando fascínio.
Existe uma admiração saudável pela conquista de alguém e por seus valores
morais, ou apenas está ocorrendo uma vontade desenfreada do ego em que-
rer ser tão admirado e destacado quanto aquele; apenas para se sentir bem e
ter supridas suas vontades incitadas pela sua cupidez?
Cada momento destes apresenta possibilidades que podem fazer al-
guém iniciar uma caminhada, que poderá ser a porta de entrada para ganhar
qualidade de vida permanente, ou ser a porta de entrada para um rio tormen-
toso e agitado que causará grandes tonturas, enjoos, descontroles, desvios de
rota, perdas de tempo e outros riscos. A fórmula que o mundo nos apresenta
sempre virá carregada de muitas possibilidades. Poderá ser a benção para
aquele que estava parado e partiu para promover mudanças, ou um convite
para uma aventura descontrolada que poderá desviar uma boa conduta para
caminhos tortuosos e perigosos. A cada momento uma vontade brota dos
nossos instintivos desejos. Este é o modelo oferecido para que todos nós nos
desenvolvamos.
Mas o que você está desejando para si? Quais destas coisas que emer-
gem naturalmente irão te fazer melhor? O que você tanto pede não poderá
ser apenas uma vontade de ser igual a alguém que te exerceu fascínio por
seu status? Nossos desejos podem ser apenas uma vontade de ser tão desta-
cado quanto aquele que julgamos ser um modelo ideal. Temos de tomar toda
a precaução para não entrar em jogos movidos pelo simples desejo de querer
ser. Temos de prestar o máximo de atenção para distinguir desejos e vonta-
des, necessidades e conquistas efetivas, aquelas que nos tornarão melhores.
184
Nossos desejos são dotados de força que provoca mudanças que levem à
realização. Isto vale tanto para as boas quanto para as más realizações.
“Pede e te será dado”. Esta frase esconde um significado que vai além
daquele obtido numa primeira análise. A revelação que está por detrás con-
sidera que “aquilo que você pede é aquilo que você deseja”. Temos livre
arbítrio. Então, tudo aquilo que julgamos ser necessário para o desenvolvi-
mento poderá ser alcançado. A vida não nos dirá se aquilo que estamos que-
rendo é bom ou é ruim. A partir do momento que nos movemos para conse-
guir algo um caminho se abre para que consigamos realizar nossos desejos.
O que não nos é dito mais claramente é que, o que buscamos, muitas vezes
pode apenas ser um desejo infantil de ser o melhor dentre os mortais através
de valores banais; tais como ser destacado, prestigiado por todas as riquezas
e tudo que isto trás em si como atrativos que brilham para as mentes desejo-
sas de aparecer.
Se cada um de nós possui a liberdade de escolher o que ter para si para
o desenvolvimento pessoal, não será o destino nem os céus que irão barrar.
Seu desenvolvimento é tarefa exclusivamente sua, com todas as possibilida-
des de escolha. Cada um é que deve pesar o que de fato é uma escolha boa
de outra que pode não passar de um desejo banal.
Assim o teatro da vida nos mostra a todo o momento novas possibili-
dades de mudar, alterar, aperfeiçoar, criar ou trazer para si o que bem dese-
jar. Assim, neste jogo de possibilidades, uma mesma forma pode conter uma
oportunidade de crescimento e outra de derrocada.
Aquele jovem que percebe que o amigo tem muito mais êxito com as
garotas porque tem um carro, logo tratará de envidar grandes esforços para
ter seu carro também. Ele pensa: - Ora, se é isto que eu preciso para fazer
sucesso, é isto que eu vou tratar de conseguir. Note que o princípio pode até
não ser ruim; mas, o que advém disso é que poderá ser bom ou uma tragédia
pessoal. Observe como este fato fez com que a pessoa fosse provocado para
sair de sua condição tida como inferior, para alcançar aquilo que percebeu
como sendo uma forma de ser mais destacado.
A força que induziu a um capricho é a mesma que estará instigando
para conseguir novas coisas, aumentar suas chances e, assim, abrir novas e
maiores possibilidades. Estas possibilidades não se restringem somente ao
carro novo do exemplo. O que temos aqui é o início de outras infinitas pos-
185
sibilidades que estarão nascendo com a nova aquisição. Se foi um ato bem
pensado, o acúmulo de bens será uma forma de reunir melhores condições
futuras, que favorecerão aquisições ainda maiores. Mas, quando feito de
impulso sem medir consequências, eis aquela porta terrível se abrindo, pron-
ta para engolir o incauto. Se a compra do carro (neste exemplo) se deu numa
condição limitada, aquela parte dos ganhos que deveria ser destinada a ou-
tras importantes coisas da vida poderão ser consumidas em intermináveis
prestações. O aprendizado também poderá ser prejudicado, devido à mente
estar ocupada com joguetes amorosos, que geralmente consomem todo tem-
po, atenção e energia.
O desvio de atenções e foco para coisas realmente necessárias estará
desvirtuado. O rumo que a vida tomou a partir de uma vontade mal pensada
irá modificar todo o futuro. O que poderia ser uma trajetória rumo a grandes
e reais conquistas se transformará num jogo que atenda as vontades mais
tolas e corriqueiras; aquelas para as quais geralmente ninguém raciocina,
mas que faz movido por impulsos instintivos. Este mesmo princípio se apli-
ca em outras várias ocasiões de escolha. Dissemos que isto ocorre mais fre-
quentemente com os jovens, porque nesta fase da vida acabam sendo movi-
dos pelas paixões que atendam as necessidades mais imediatas. Se não hou-
ver o eficaz acompanhamento para um aconselhamento acertado, os perigos
de se instalar enormes monstros serão imensos.
Valores mal formados permanecem ocultos na mente por muito mais
tempo que se possa imaginar. Prejudicam de forma arrasadora muito mais
do que uma breve análise possa concluir. Então, é imprescindível a cautela
nesta fase da vida. O cuidado que se toma é determinante para toda a vida
que se inicia mais intensamente. As escolhas e tudo que servir de orientação
e amparo deverão ser ministradas de forma equilibrada e na medida mais
próxima possível do ideal.
O sucesso pessoal é determinado pelas escolhas que cada um faz para
si. Uma decisão acertada e inteligente abrirá novas oportunidades ainda me-
lhores. Tudo que se diz para um jovem adolescente pode influenciá-lo, nesta
que é uma fase onde está saindo da influência mais direta dos pais, e está
abrindo as portas para as influências do mundo. A base bem desenvolvida
determinará o nível de sucesso e a frequência de boas realizações futuras.
Então, a cada nova vontade ou oportunidade onde exista a possibilidade de
alguma comparação, temos de analisar se de fato aquilo que sentimos de
pronto como algo desejável é efetivamente aquilo que necessitamos.
186
Será que o que você está querendo vai ser útil? Seu sonho de realiza-
ção e ideal de vida comportará o convívio com aquilo que você está dese-
jando agora? O que você está pensando em construir a partir de seus desejos
atuais, faz parte daquilo que você sonha como uma vida futura ideal? Quais
as implicações poderá ter nos próximos anos se tomar uma atitude com rela-
ção a estas mudanças que agora julga serem boas? Precisamos refletir: - Não
estarei sendo envolvido por coisas banais e dando excessivo valor àquilo
que poderá ser bom apenas para os outros? Será que preciso mesmo ser
igual a alguém para ser bom para mim? Quem disse que preciso copiar dos
outros aquilo que muito bem pode ser uma armadilha que se apresenta com
falso brilho aos meus olhos. Qual a verdadeira intenção guiou aquele que
está à minha frente para ter chegado onde esta? Terá sido uma intenção no-
bre e pensada ou um impulso tolo que eu estou querendo copiar? Preciso
lembrar que o que pode ter sido o melhor para os outros pode não ser bom
pra mim! Você tem certeza de que aquele que você nota como sendo um
sucesso é de fato uma pessoa bem sucedida?
Esta parada para pensarmos em cada possibilidade aventada poderá
fazer uma imensa diferença em nosso desenvolvimento. A vida se fortalece
ou enfraquece de acordo com cada uma de nossas escolhas. Agir por impul-
so e tomar decisões levados por paixões ou desejos instintivos nunca será a
melhor forma de se chegar à melhor conclusão. Analisar com critério antes
de se empenhar e seguir deverá ser o guia de orientação para a vida. O apro-
veitamento de nosso tempo produtivo será muito mais bem aproveitado com
coisas certas. Embrenhar-se por matas escuras sem um bom guia poderá
trazer consequências terríveis. Poderá fazer alguém perder boa parte de sua
preciosa vida num terrível desperdício de tempo, atraindo para si elementos
que fatalmente atacarão e causarão consequências prejudiciais. Vemos estes
percalços destruindo vidas a toda hora, reduzindo as chances de desenvol-
vimento quase a zero, atraindo más influências; reunindo numa pessoa der-
rotada todos os elementos necessários à derrocada, ao fundo do poço, à des-
graça, à violência, ao desprezo, à dor e ao infortúnio.
O homem é a vítima de seus próprios pensamentos. O pensamento
tenta o ser humano e ele crê que algo de sobrenatural é que o está tentando.
Esses demônios criados pelo homem podem durar muitos anos, e com o
poder que lhes for atribuído. Assim, a forma mental produzida por uma pes-
soa reage sobre ela mesma. Temos de tirar da mente a ideia do demônio
histórico e de seu poder sobre o homem, porque ele não é mais do que uma
forma mental criada e sustentada pelo pensamento que reage sobre seu pró-
187
prio criador. O homem é a vítima de suas próprias ideias e fantasias. Todo o
cuidado e atenção deverão ser sempre acionados antes de decidir por qual
caminho seguir. Poupemo-nos de desgostos usando nossa Consciência mais
elevada. Ela está permanentemente presente e disponível para ser consultada
sempre.
188
Capítulo XXI
Inveja
As excessivas comparações, juntamente com os sentimentos de inferi-
oridade e ambição, costumam criar ambientes onde as disputas por posição
são ferrenhas.
Sempre há aquele que cobiça a posição de outro; sempre tem um des-
contente com sua situação e esticará seus olhares para o que o outro possui.
Não são poucos aqueles que vivem em função das comparações que os man-
tém em constantes disputas com os outros. Estes desejos agem de forma a
impelir nosso desenvolvimento. Este é um resultado natural dos mecanis-
mos que nos transformam dia a dia.
Mas, uma coisa é buscar o desenvolvimento e melhora de condições,
mirando-se em bons exemplos, outra é atirar-se afoitamente na busca por
uma posição imaginária, apenas para apagar a dor que sentiu quando se sen-
tiu menor. Aquele que se atira afoitamente pode encontrar o caos e correr
grandes riscos; enquanto aquele que se empenha em alcançar melhores pos-
tos, até pelos bons exemplos, poderá triunfar. O outro tentará fazer a qual-
quer custo, sem metodologia e, provavelmente, nunca estará satisfeito com o
que conseguir realizar. Estes jogos costumam despertar altas doses de inveja
naqueles que se sentem prejudicados pelas condições de vida desiguais para
a luta. Independente do que o outro tenha lutado para se preparar melhor,
logo se juntarão àquela turma que fica atrás do muro, cheios de bravatas
atirando pedras em quem quer ir à frente pela consciência de suas obriga-
ções. A inveja doentia geralmente orienta para o caos. Nosso aperfeiçoa-
mento se dá de forma natural quando agimos com humildade e boa orienta-
ção quanto aos caminhos que devemos tomar.
A inveja geralmente se inicia quando alguém percebe em algum outro
de seu meio um crescimento além daquele que ele imaginou para si um dia.
Isto costuma causar desconforto em algumas pessoas como se elas tivessem
sido passadas para trás, o que acarreta o medo de serem julgadas inferiores.
Este temor se agrava quando aqueles não encontram meios de alcançar ou
fazer algo para tentar se aproximar daquela pessoa invejada. A impotência
189
costuma gerar ódio, raiva, revolta, rancor, desdém, frustração, desalento,
intranquilidade etc, que fazem do incapaz uma pessoa extremamente amarga
e crítica feroz de tudo. Ao não conseguir meios de realização, passará a
achar formas de pôr defeito em tudo o que os outros fazem. Esta é a forma
pela qual mentes medrosas e magoadas tentam sempre justificar sua modes-
ta posição. Pôr defeito no que os outros fazem, ou condenar a forma como
conseguiram, são pretextos usados por aqueles que não admitem que nin-
guém se sobressaia além da imagem que fizeram dele, e que tanto se esfor-
çam para vender para os outros.
O ideal para estas pessoas – para que consigam manter o pouco amor
que sentem por si – é que continuem satisfazendo aos outros na cômoda ou
modesta posição que conseguiram. Afinal, se não existir ninguém nem algo
que possa lhe confrontar e servir de parâmetro, melhor. Assim seguirão vi-
vendo sem ter de fazer grandes esforços, e não se sentirão magoados e re-
baixados em seus valores.
Claro que isto pode se dar com pessoas limitadas pelas condições na-
turais de sua trajetória de vida. Mas, estes geralmente são mais conformados
quando sabem das limitações e aceitam caminhar de forma lenta, porém
constante, e de acordo com suas possibilidades. Afinal, a todos é dado pro-
gredir, e nem sempre o que parece ser um grande avanço (pelas condições
materiais vistas) pode se traduzir num efetivo desenvolvimento moral e es-
piritual.
Quando temos a capacidade de avaliar cada situação sem se meter a
comparações desnecessárias, nada afetará de forma venenosa. Quando existe
a consciência de que cada um está no momento que criou e merece estar (e
que pode mudar aquilo que não lhe agrada) dificilmente entrará em disputas
banais e ridículas, pondo-se em comparação com outros pelo medo de que o
vejam como sendo incapaz e menos esperto. Estes sentimentos mal resolvi-
dos costumam causar grandes prejuízos para ambas as partes. Ao invejado
uma carga imensa de raios fulminantes e destruidores; a quem inveja, o re-
torno de suas baixas energias que só fazem destruí-lo ainda mais, até que
tudo possa se resolver às claras. Além do que, o veneno que a inveja causa
no invejoso lhe atormenta a cada minuto. O veneno que geram acaba por
afetar eles próprios. É certo que a maldição e a benção voltam ao seu emis-
sor.
190
Então, melhor será se aqueles que se sentem tocados pelo que os ou-
tros fazem parem de depender da opinião dos outros para se sentirem bem e
aprovados. Que esperem menos reconhecimentos dos outros e sigam fazen-
do o que lhes for possível, com as ferramentas que dispõe no momento. An-
tes de esperar a aprovação dos outros, melhor será atribuir uma nota mais
alta para si; aprovar-se, reconhecer seus resultados e gostar mais de si. E,
principalmente, lembrar-se sempre de que ninguém vale o dinheiro que tem
em conta bancária, mas sim seus valores morais. Serão os valores efetivos
espirituais que farão com que alguém avance muito além daquele que reúne
apenas valores materiais. Além disso, podemos dizer que somos superiores
não pelo que adquirimos, mas pelo que damos.
Note como esta é mais uma das muitas oportunidades perigosas da vi-
da: de um lado alguém que pode ver no desenvolvimento dos outros uma
forma de iniciar as suas conquistas. De outro, uma perigosa armadilha para
aqueles que sempre sentem as conquistas dos outros como agulhadas no seu
íntimo que envenenam seu ego. A inveja maldosa é uma má conselheira que
remete para altos níveis de insatisfação generalizada. Quando alguém se
perde nos seus sentimentos, alimentando tudo que a má inveja causa, acaba
atraindo para si uma imensidão de péssimas possibilidades, que em boa par-
te das vezes se transforma em tormento e doença.
Temos de ter sempre em mente que cada um se encontra no momento
resultante de suas escolhas e atitudes passadas. A cada um de nós é dado
crescer sem limites. Abençoe o crescimento de cada um e continue buscan-
do crescer sempre. O desenvolvimento moral não depende de condições
financeiras. Poder e status existem para que cada um de nós se sinta provo-
cado a buscar mais para cada um de nós. E é isso que nos remete a buscar
sair de onde estamos. Isto não significa que temos de ser todos iguais e fazer
tudo o que o outro fez ou faz. Devemos procurar nos desenvolver através da
percepção mais aguçada, estudos constantes, pensamentos elevados, altru-
ísmo e com o desenvolvimento destas faculdades latentes e que estão pedin-
do para que as ativemos.
Em algumas ocasiões a inveja nasce com o temor de ficar desgarrado
e isolado num ponto perdido no passado. Isso costuma acontecer frequente-
mente entre familiares, onde numa unidade familiar jovem há um nível mai-
or de aproximação afetiva. Com o decorrer dos acontecimentos, cada um
toma seu rumo e segue a vida. Quando acontece de um se destacar mais do
que o outro, quem fica mais para trás costuma misturar fraqueza com ciú-
191
mes que podem destruir relações. Geralmente os acontecimentos juvenis se
dão num nível de interação e liberdade maiores do que os de adultos já for-
mados. Então, nestas relações juvenis acontecem aquelas muitas confissões
de segredos e conquistas; descobertas de particularidades pessoais mais ín-
timas, troca de experiências, etc.
Quando ocorre algum afastamento – até por conta das muitas obriga-
ções que cada um tem –, aquele que já possui um perfil de vida delineado e
modesto logo se sentirá como que traído ou desconsiderado por aquele que
foi além.
Funciona na prática desta forma: aqueles que se sentiram ultrapassa-
dos veem, no que consegue se destacar um pouco mais, um traidor; ou seja,
havia uma fraternidade onde todos eles agiam de forma parecida, como se
houvesse um código de conduta familiar entre eles. Quando alguém se supe-
ra e vai além, logo será alvo de olhares mais desconfiados, com sentimentos
de “fomos passados para trás”. Outros se verão tocados porque não reúnem
condições de ir além da posição em que se encontram; assim, dificilmente
aceitarão se verem sendo superados por outros que consigam se sobressair,
independente de que para isso tenha de se esforçar, lutar, estudar ou passar
por outras duras provas para suas conquistas. O que prevalece nestes casos é
o sentimento de que aquele que foi além quer ser mais do que os outros.
Nessas alturas isso será declarado como sendo um defeito.
Então, existem várias faces e níveis da inveja. Uma menor e menos
perigosa é aquela que apenas deseja para si o mesmo que o outro possui,
sem macular ou envolver a pessoa que possui o bem na questão. Acontece
quando um admira a casa de outro, sente o desejo de possuir algo parecido,
sem maldade ou desejo de destruí-lo, com aquela “maravilhosa” conclusão:
se não posso ter, que ele não tenha também! Isso acaba por demonstrar a
real maturidade daqueles que assim agem. E é exatamente isso que faz com
que fiquem estacionados num determinado patamar. A admiração em rela-
ção às conquistas dos outros só acontece quando quem admira possui a ele-
vação e grandeza de reconhecer o trabalho e capacidade de outrem, sem se
pôr em comparação; quando admira alguma qualidade ou condição sem se
colocar como parâmetro de medida. Daí existe apenas o reconhecimento de
uma superação, sem desdenhar nem maldizer. Esta é uma forma de apreciar
possível somente àqueles que conhecem as dificuldades através das próprias
experiências.
192
Quando se é menos materialista existe admiração saudável. Então, se
o vizinho põe na sua garagem um carro novinho, no máximo vão admirar as
qualidades do objeto sem associá-lo à pessoa proprietária; ou seja, existiu
uma atração pelo objeto, foi despertado um desejo de ter algo tão bom, mas
sem atirar farpas destruidoras. Ainda com relação a isso, nunca poderemos
nos esquecer disso: há milhares de pessoas que alcançam um desenvolvi-
mento efetivo, através de experiências numa vida modesta e sofrida, muito
maior do que aquele que aparenta poder.
Construímos nossas próprias oportunidades
As possibilidades de aprendizado existem em tudo e a cada momento,
e isto é o que de fato nos importa agora. A cada novo dia novos aconteci-
mentos trarão a possibilidade de refletir, analisar, ponderar e mudar cada
forma de encarar os desafios para outras mais elevadas. São as experiências
mais complexas que oferecem os melhores ensinamentos para o efetivo de-
senvolvimento. Conforme já dissemos, uma situação que pareça ser mais
fácil e muito cômoda poderá ser também um adiar possibilidades e desper-
dício de tempo útil de vida. Uma vida de conforto e facilidades não oferece
as mesmas oportunidades de se expor às dificuldades, que como sabemos,
são as bênçãos – apesar de muitas vezes serem dolorosas – para o efetivo
aprendizado e fortalecimento das nossas capacidades dinâmicas.
As dificuldades nos ajudam a conhecer melhor quem somos; incitam-
nos a usar o que sabemos para superar limitações. É nas situações difíceis
que conhecemos nossa verdadeira capacidade, provando-a e alcançando
novos horizontes. Esta é a força que faz o universo “conspirar” a nosso fa-
vor; este é o impulso que tudo transforma, numa imensa espiral onde não
existem limites. As consequências da inveja desmedida são frustração, deso-
rientação, confusão, decepção, ódio, rancor, angústia, medo, tristeza, sensa-
ção de desprezo, pena de si mesmo, recolhimento, revolta; desequilíbrio das
energias e caos psicológico, desvio de caminho e perda de orientação para
as conquistas e depressão.
193
Aquele que é tocado por alguma realização ou conquista alheia, colo-
cando-se como termo de comparação e se sentindo menor, pode acabar por
entrar num terrível colapso existencial. Quando uma pessoa se vê atacada
por uma conquista alheia e não pode tomar grandes atitudes, devido as suas
eventuais limitações, acaba por criar para si um círculo terrível de fracasso e
angústia. Você acabou de ler uma lista enorme, porém incompleta de males
que se pode atrair quando alguém entra de cabeça numa disputa tola e sem
medidas. O afetado que toma para si as dores de uma comparação, que par-
tiu exclusivamente de sua cabeça e o afetou profundamente, irá desenvolver
conflitos internos altamente prejudiciais. Quando existe meio de promover
mudanças e se resolve movimentar para frente, ótimo. Aqui estarão operan-
do aquele lado positivo das provocações mundanas, os impulsos que movem
a vida.
Então, o sentimento ruim causado pela inveja fez com que algumas
revoluções internas acontecessem; o medo e o sentimento ruim de estar fi-
cando para trás ou de ser menor provocou a vontade de sair daquela posição
e partir para uma outra, que seja confortável de ser vivida e sentida, onde
exista relativo destaque e menos possibilidades de ataque ou olhares de re-
provação. Porém, quando não existem meios e a pessoa se vê em compara-
ção direta com outra qualquer (outro que, na maioria das vezes, nem imagi-
na que isto esteja acontecendo), eis alguém que se sentirá menor, menos
capaz, menos atraente, menos querido, menos responsável, menos inteligen-
te, menos brilhante, menos digno de ser notado; desaprovado, etc.
A partir deste ponto poderá desenvolver ódio com relação àquela pes-
soa invejada. Isto se dá muitas vezes de forma traiçoeira e oculta. A mani-
festação do invejoso será em forma de críticas escondidas junto àqueles ou-
tros afetados que também são dadas a fofocas e intrigas. A partir daí começa
a se desenvolver o sentimento de fracasso, de ser um qualquer que não con-
segue sair do lugar, porque se julga inferior e incapaz. A autoestima se re-
duz a quase nada. Os valores de si foram transformados e agora estão num
nível baixo e apagado. A iniciativa acaba se apagando neste que se sente
fracassado e incapaz. As frequentes derrotas o vão minando até o ponto on-
de se veja desorientado, frustrado, desprezado; um pobre coitado e com dó
de si mesmo.
Eis o início da depressão, da ansiedade, da completa desorientação e
desequilíbrio para a vida. A partir deste ponto se inicia a derrocada, o cami-
nho para o fundo do poço. Todo aquele mal atirado nos outros voltou para
194
si. Se nada acontecer, se a pessoa não tiver em quem ou em que se apoiar,
logo estará enfrentando irritações, nervosismo extremo, reclusão, conse-
quências somáticas, desconfortos e doenças geradas pelo seu próprio vene-
no.
A força de um ego ferido
O mecanismo é desencadeado pelo ego que cobra ação. O ego não dis-
tingue boas de más ações. Se seu “adversário” (a própria pessoa) não toma
providências, e vontades vão se juntando e nada é feito para conter o seu
ímpeto, eis a instalação do caos e do desequilíbrio. De um lado uma força
que pede providências, como que dizendo: “- vai deixar assim?”; de outro,
as limitações naturais. O resultado? – Frustração, desgosto, humilhação,
descontentamento, desorientação e recolhimento num mundo que permita
que a vítima fique isolada e ruminando suas dores, como se seu recolhimen-
to fosse uma sentença; uma conclusão que atesta a incompetência, a inferio-
ridade, a incapacidade de reagir.
O ego sempre estará altamente ativo para cobrar mudanças para outros
níveis, sejam eles melhores ou piores do que os já existentes. O Ego não
mede condições para se manifestar e atua como um cruel e exigente coman-
dante que desafia sempre e que quer mudanças, independente das condições
para que isto se dê efetivamente. Ele atua como uma força invisível que não
se importa com as consequências de seus impulsos. O ego não mede nem se
importa se as ações advindas de suas cobranças serão boas ou ruins. A única
força capaz de conter os impulsos do ego é a Consciência. Quanto mais ela
for desenvolvida, maior será sua capacidade de pôr freios aos impulsos de-
sordenados, traiçoeiros e perigosos do ego. O tamanho de sua força de jul-
gamento é que poderá suprimir vontades aguçadas de forma contínua e de-
sordenada, e que produzem tantos males.
E assim se dá a formação de confusão de pensamentos e perda do ra-
ciocínio lógico: de um lado uma pessoa frustrada e abatida, de outro um ego
que não perdoa, não tem dó nem compaixão e nem mede condições para se
manifestar. Ele está bem vivo como uma força permanente que cobra provi-
dências em qualquer ocasião. O que importa para ele é que seu “adversário”
se mecha. Sua satisfação é viver intensamente, nem que isto custe a vida
195
deste seu portador involuntário. Somente o juízo elevado e o equilíbrio é
que podem refrear suas vontades e distinguir seus pedidos. Se a pessoa fra-
quejar, as chances de ser atirado numa armadilha são enormes.
Quando as cobranças internas são frustradas pelas poucas condições
existenciais, ou pela impossibilidade de fazer algo ou tomar alguma provi-
dência, abre-se um caminho para possibilidades ainda piores. Este ponto
pode iniciar alguém nas drogas, formação de vícios, dependência de subs-
tâncias narcóticas em doses crescentes etc. As constantes frustrações aca-
bam minando e levando ao sentimento de derrota, o que pode levar a pessoa
a desistir de tentar de novo e passar a viver permanentemente na marginali-
dade. Por aqui já podemos perceber o tamanho das terríveis consequências
de um desequilíbrio. Instala-se um círculo pernicioso provocando uma se-
quencia cada vez mais terrível, com a queda dos valores morais, a deprava-
ção, a marginalidade, o ajuntamento com outras pessoas derrotadas etc.
Poucos são os casos onde a pessoa procura ajuda eficaz e suficiente a
ponto de retomar o caminho seguro. O medo de parecer pequeno e o não
querer se admitir fraco muitas vezes leva o indivíduo à reclusão, juntamente
com os monstros criados de sua própria imaginação contaminada. A solução
para apaziguar ânimos exaltados, acalmar o ego e afastar a inveja? – Não se
preocupar demasiadamente com o que os outros estão fazendo, nem se estão
agindo na legalidade ou não. Não cabe a nós o julgamento de ninguém. É
certo que o julgamento acontecerá, mas não somos nós que diremos a Ver-
dade com relação ao comportamento dos outros. Para isso existe a mais alta
Justiça; e que, ao seu tempo, fará a verdadeira avaliação de cada uma das
atitudes de cada um de nós, e aplicará as penas ou corretivos mais adequa-
dos a cada caso. As consequências boas ou más serão totalmente de acordo
com as atitudes que adotam ou adotamos, e os erros terão de ser pagos ao
seu tempo.
Continuemos caminhando sem achar que temos de ser o melhor sem-
pre. Sigamos o caminho humildemente e com a segurança de que estamos
fazendo o melhor. Temos de manter nossos melhores valores buscando se
aperfeiçoar sempre.
Nosso desenvolvimento integral não pode jamais ser comparado a um
punhado de papel com valor monetário limitado a satisfazer as necessidades
humanas. Que satisfazem os caprichos, as vaidades, a necessidade de apro-
vação para receber algo em troca, ou os desejos que podem ser inocentes
196
vontades ou cobiça aguçada pelo descontrole de uma mente fora de seu
equilíbrio.
197
Capítulo XXII
Ciúmes
Existe um ponto de fundamental importância na vida da maioria dos
jovens quando chegam naquela idade do despertar para as coisas novas da
vida e querer ser igual ou conquistá-las seja lá de que forma for. Os desejos
começam a brotar de forma avassaladora e sem pedir licença. Novas desco-
bertas, novas possibilidades, novos objetos de desejo, novas paixões, novos
ídolos e modelos a serem seguidos. Sentem a possibilidade de provar de
coisas novas e farão de tudo para chegar a satisfazer suas curiosidades e
vontades. Deste ponto nasce aquele terrível choque entre a opinião dos pais
e a vontade e teimosia dos filhos.
De um lado a mãe tentando orientar – ao perceber algumas mudanças
comportamentais – para que o adolescente não entre em situações perigosas;
de outro, um jovem que quer provar ser dono de si e que vai querer se mos-
trar tão ou mais preparado do que os pais; que tem juízo, que sabe o que está
fazendo, que ninguém tem de se meter na sua vida, que ninguém tem de
podar as suas vontades. Qualquer interferência será recebida como uma in-
tromissão com intenção de barrar suas vontades, de tirar sua liberdade. Ja-
mais compreenderão um conselho como ajuda, mas sim como um cuidado
exagerado que só cabe às crianças. Afinal, nesta fase da vida não admitimos
ser apenas iniciantes na vida. Queremos ser vistos como seres autônomos,
independentes, resolvidos e capazes de decidir o que é o melhor para si. Isso
é natural.
Cabe aos pais e orientadores distinguir impulsos banais de princípios
necessários para se tornar autônomo ou firmar sua individualidade. Não há
que se reprovar toda e qualquer iniciativa se é isto que vai impulsionar para
criação de vontade própria para as realizações. O excesso de cobranças ou
de reprovações poderá minar a iniciativa. Certamente que se isto acontecer,
logo se tornará uma pessoa apática, sem iniciativa e sujeito ao que os outros
lhe impuserem. Neta fase da vida, mais ou menos entre os quatorze e vinte e
um anos, os aparentes encantos, principalmente amorosos, superam qual-
quer tentativa de refrear uma vontade. O adolescente mergulha de cabeça
nas paixões e fica cego para qualquer outra coisa que não seja aproveitar o
198
momento com o máximo de emoções. A conquista amorosa vira um jogo de
satisfação recíproca, onde cada um dos jovens parceiros encontra uma ma-
neira de amar e ser amado. A paixão ardente que brota faz com que tudo
gire em torno da manutenção deste sentimento novo e inebriante.
Algumas destas paixões costumam ser tão fortes que têm força para
superar qualquer tentativa de separação. O desejo toma os sentimentos de tal
forma, que tudo o mais fica de fora desta relação. Paixão se confunde com o
mais fervoroso amor. A satisfação da carência afetiva e necessidade de
aprovação fazem com que se agarrem àqueles que ofereçam apoio, amizade,
carinho, compreensão e amor. Isto tudo, juntando com uma íntima realiza-
ção de desejos sexuais, faz brotar as paixões. Estas, em boa parte das vezes
criam a dependência, o apego, o desejo de manter o outro sob seu jugo, para
que não se encante por nenhuma outra coisa que o atraia e chame mais aten-
ção. O ciúme doentio costuma nascer desta fórmula tão corriqueira entre
nós. Para as mulheres, como necessitam mais do que uma simples satisfação
sexual, muitas vezes são envolvidas em relações perigosas. Quando não
existe a seriedade necessária para uma relação sadia, o perigo de que criem
dependência e confundam afeto ou desejo com amor poderá levá-las ao de-
sencanto e más consequências.
A mulher geralmente julga seus valores pelo nível de afeto que recebe.
Quando por um motivo ou outro esta relação termina, logo estará sofrendo
como se ela não fosse digna de ser amada. Todo seu ser será tomado pelo
sentimento de fraqueza, derrota, de ter sido trocada por outra melhor; pela
sensação de abandono e rejeição. Neste ponto não consegue raciocinar de
forma adequada, num nível que a leve a perceber que ela não depende do
amor de ninguém que não a mereça.
O que é o ciúme?
O ciúme geralmente nasce do temor da perda. Começa quando a pes-
soa sente o desconforto de poder ser trocada por outra, pela falta de confian-
ça no outro ou em si. Até mesmo onde haja um bom nível de mútua confi-
ança pode existir o ciúme. O temor de que algum outro interesse possa aba-
lar a união já é o suficiente para acionar o alerta que causa o desconforto da
dúvida. Sabemos, e nem sempre tão bem, apenas o que somos. Os outros,
199
por mais que possam inspirar confiança e amor verdadeiro, dificilmente
chegam a agir de modo a não provocar desconfiança.
Muito dificilmente haverá – principalmente no começo das relações –
a segurança suficiente para despreocupar quanto às ações dos outros. Quan-
do existe uma relação estável, sem que haja nenhuma ameaça, tudo transcor-
rerá de forma calma e sem maiores conflitos; mas, não podemos adivinhar o
comportamento dos outros em situações que lhes exija atitude mais amadu-
recida, além das simples aparências. As pessoas podem muito bem sair do
centro de suas atitudes mediante situações novas. Assim, nunca temos a real
segurança daquilo que os outros vão pensar e sentir mediante situações que
lhes toque outros interesses. Então, qualquer mínima atenção que o parceiro
dê para pessoa do sexo oposto, logo tocará a insegurança pelo medo de que
aquele “adversário” possa oferecer algo que não temos ou que não conhe-
cemos.
Quando existe uma relação boa onde exista troca de afetos e certo sen-
timento de exclusividade, claro que se temerá ser trocados por alguém que
apresente um atrativo a mais. A natural dependência que temos de ser apro-
vados e amados nos faz temer perder a pessoa que nos satisfaz nestes aspec-
tos. A dor advinda da sensação de ser menos interessante ou menos digno de
atenção poderá causar estragos terríveis no nível de confiança e autoestima
da vítima de uma crise de ciúmes. A afetividade que acompanha as relações
mais apaixonadas faz com que haja uma troca de confidências, segredos,
amizade, carinho e satisfação de carências. Quando existe este contato mais
íntimo, onde um passa a ter a outra pessoa como parte de sua vida, logo pas-
sará a temer que esta venha a se interessar por outra e ele fique sem aquela
que satisfaz sua necessidade de carinho, compreensão, amor e afeto. Quando
alguém se sente prestigiado por outro, logo entrará num bom nível de satis-
fação pessoal.
O mundo não costuma nos aprovar a todo instante; quando alguém se
sente compreendido e ainda recebe carinhos e afagos, logo poderá ser total-
mente tomado pela paixão. Neste estado emocional, não se consegue avaliar
se o amor recebido é bom ou apenas um jogo de interesses. Quando existe
um choque de interesses – onde um se sente satisfeito em suas inseguranças
e carências, e o outro apenas joga com sentimentos – facilmente haverá cri-
ses de inseguranças que geram o medo da perda daquele que a “prestigia,
admira, aprova e compreende”. Para piorar, se isto vier a acontecer, como a
pessoa estará com sentimentos exaltados e juízo inebriado, ela apenas senti-
200
rá as dores da perda como se estivesse sendo substituída por alguém mais
interessante. Não existe o claro raciocínio que avalie de fato o que fez com
que a relação não desse certo. O sentimento que lateja e destrói a personali-
dade é de ser menos interessante, menos capaz, menos carinhosa, menos
digna de receber carinho e amor.
Aqui, ou se desencadeia uma crise de identidade ou se planta um in-
truso indesejado e que tanto mal faz: o sentimento de inferioridade. Para ela,
não foi a relação que, por qualquer motivo – mesmo se foi vítima de um
joguete perverso – não deu certo; mas sim, a pessoa dela que não foi sufici-
ente para manter o parceiro. Ela passa a se sentir menor em toda a sua pes-
soa. Neste estado confuso ela não sofre pelo fim da relação, mas sim pelo
sentimento de que ela não é digna de ser amada. O principal perigo que po-
de nascer disso é que a pessoa adote outro comportamento a partir disso.
Numa próxima relação pode se tornar menos criteriosa e regrada com rela-
ção à sua vida sexual, diminuir suas naturais defesas na tentativa de agradar
mais para não correr o risco de perder; aprisionar mais ainda seu parceiro,
para que não haja nenhuma possibilidade de que venha a perdê-lo, pois não
sabe se suportaria novamente a dor de um abandono.
A consequência disso pode ser nefasta, pois a sua estratégia de se en-
tregar totalmente, na intenção de conservar o “amor” de um parceiro, pode
perdurar até que tudo esteja de acordo com os interesses dele. Mas, se por
uma causa qualquer essa relação terminar, a decepção, frustração e raiva que
ficarão poderão desequilibrar sua conduta por muito tempo, e até mesmo
pôr em risco suas atitudes a partir de então. Note que o parceiro nesse rela-
cionamento tinha tudo de forma fácil, pois a parceira queria agradar para
conquistar. O ciúme exagerado dela acaba por enaltecer sua segurança. Cer-
tamente que ele vai gostar muito disso tudo, tanto que, assim que aquilo
começar a se tornar rotineiro, logo tratará de procurar outra união onde pos-
sa novamente ter tudo aquilo para si.
Seres humanos são biologicamente programados para se sentirem
apaixonados de um ano e meio a dois anos e meio. Passado este período o
organismo vai se tornando resistente a todas aquelas substâncias responsá-
veis por aquela euforia inicial (tais como dopamina, feniletilamina e ocito-
cina) e a paixão acaba se desvanecendo gradualmente. O casal então se sen-
te envolvido numa dicotomia: ou se separa ou habitua-se a manifestações
mais brandas de companheirismo, afeto e tolerância, e permanecem junto.
Porém, principalmente quando não há filhos, correntemente acontece de
201
cada um ir para um lado. Para ela restarão ainda mais dores, decepção, frus-
tração e desilusão como consequência da perda do equilíbrio na condução
da relação. Some-se a isso tudo uma dose gigante de baixa autoestima e te-
remos alguém se sentindo infeliz, enganada, depressiva, revoltada, incon-
formada etc, etc.
O ciúme faz a pessoa começar a desconfiar da infidelidade de seu par-
ceiro mesmo quando não existe alguma razão evidente. A obsessão dá início
à procura de “evidências” da traição, e muitas vezes faz com que a pessoa
limite a liberdade da outra. Às vezes leva aos constantes questionamentos,
reações agressivas e busca irrefreável de confirmações de suas paranoias.
Não raramente notamos a presença de provocações de um dos parceiros para
que deixe no ar a sensação de que ainda não está totalmente conquistado.
Em pequenas doses isso não prejudicará o relacionamento. Mas quando isso
passa dos limites tudo pode se transformar numa eterna desconfiança.
Daí o romance passa para clima de guerra de nervos, de raiva, choro,
ódio e frequentes brigas. Existe aquele que escraviza o outro pelo egoísmo e
lasciva, fazendo com que se viva frequentemente num clima tenso e no te-
mor de que a pessoa possa perdê-la. Este jogo sujo existe quando um seduz
e mantém sob sua influência aquela que se vê envolvida num jogo de inte-
resse sem que consiga raciocinar, apenas indo por onde as emoções a leva-
rem. A relação de dependência se estabelece, e quase sempre um sairá ferido
e profundamente magoado dessas situações. Acontece muito de um susten-
tar e seduzir até quando seus interesses estiverem sendo satisfeitos. Quando
estes não mais existirem dará as costas sem qualquer remorso ou piedade, e
no dia seguinte já terá esquecido aquilo que, para ele, terá apenas sido mais
uma de suas conquistas.
As crises de ciúmes podem desequilibrar alguém a ponto de fazê-la
confundir seus sentimentos entre verdades, imaginação, fantasias, crenças e
devaneios. As dúvidas e desconfianças podem ser superdimensionadas cau-
sando ideias delirantes. Os casos mais intensos levam à perseguição na bus-
ca de alguma evidência. Nesses casos, não raramente teremos pessoas bisbi-
lhotando cadernos, computadores, agendas, números de telefone, correspon-
dências, bolsos, carteira, gavetas, carro, e até mesmo seguindo o outro.
O ciúme muitas vezes advém de sentimentos confusos entre inveja se-
guida de raiva, ódio, pena, autocomiseração, vingança, tristeza, aflição, hu-
milhação, culpa, inferioridade, orgulho, medo e ansiedade. Mas, ciúme faz
202
parte do repertório de sentimentos de todos nós. Quando surge como respos-
ta a uma situação real imediata, com sua duração limitada a um tempo que
nem sempre é definido, é normal como sentir saudades. Porém, o ciúme
mais persistente gera a angústia e ansiedade. Quanto maior for a baixa auto-
estima do ciumento, maior será seus sintomas de abandono e raiva. Mais
frequentemente entre as mulheres, o simples fato de sentir ciúmes por al-
guém já é o suficiente para que elas se sintam menores e menos importantes,
e começar a duvidar de si como pessoa. O sentimento de se achar menos do
que os outros as faz pensar que lhes falta algo. A segurança de si pode bai-
xar tanto que moldará uma nova personalidade mais tímida, fechada, reclu-
sa, medrosa e desconfiada.
O homem sente ciúmes tanto quanto a mulher. O que de fato acontece
é que este procura esconder a todo custo seus sentimentos. Para ele, de-
monstrar ciúme seria como se estivesse admitindo que não é tão bom quanto
quer parecer ser. Uma demonstração de fraqueza seria atestar sua imaturida-
de. Quando o ciúme se manifesta, geralmente é na forma de raiva e mau
humor. Ocorre muitas vezes de reagir de forma tirana e autoritária para cau-
sar o temor de que possa fazer algo terrível se ela cometer qualquer ato fora
dos padrões normais de comportamento puritano. A mulher, entretanto, se
enche de vaidade quando percebe que o companheiro morre de ciúme dela;
pois ela tem a expectativa de merecer essa reação, que será como uma espé-
cie de afirmação de que é importante e de realmente merecer todo o amor e
cuidado. O ciúme no homem significará o quanto o seu valor para ele é alto.
Uma manifestação de ciúme será entendida como uma aprovação de si e de
suas qualidades.
Onde existe a natural vontade de segurar é porque existe o temor da
perda. Porém, ela na crise de ciúme tenta afastar a concorrente, que é sem-
pre vista como perigosa ameaça. Acredita sempre que é a mulher que se
insinua ao homem seduzindo-o, e não acusa seu companheiro, jogando sua
hostilidade sobre a caçadora. O homem age de modo diferente, vendo nos
rivais a presença de uma masculinidade mais forte do que a própria, morde-
se de ciúme, porém culpa a companheira por eventuais aproximações. O
ciúme obsessivo inicia-se quando a situação atual remete alguém à lembran-
ça de uma situação passada onde se sentiu reprimido. Qualquer humilhação
atual aflorará aquele amargo sentimento instalado no subconsciente e o trará
à tona, associando-o à situação atual.
203
A intensidade do ciúme não corresponde à intensidade do amor.
Aqueles que são mais ciumentos precisam se sentir amados. Existem mani-
festações simples e naturais, e outras que passam da fronteira da normalida-
de de um relacionamento e se tornam obsessão patológica. Isto depende da
quantidade de raiva ou ódio que alguém acumula toda vez que sente ciúme
por determinada pessoa. Essa raiva é um mecanismo defensivo inconsciente
que visa depreciar a relação na intenção de amenizar a dor no caso de perda.
Isso acaba por prejudicar a relação, já que aquela pessoa tomada pelo ciúme
estará sempre apontando defeitos ou imperfeições, mesmo que não passem
de formas de manter alguém sob influência. Um dos maiores perigos do
excesso de ciúmes – quando este passa da esfera afetiva e se alastra para
outras áreas da vida da outra pessoa – é quando isso começa a se misturar
com outras partes do desenvolvimento de seu parceiro, principalmente no
tocante as potencialidades e criatividade do mesmo.
Quando isso acontece o sentimento de ciúme faz a pessoa desejar se-
cretamente a derrocada do parceiro, com o intuito de que este se torne cada
vez mais dependente, e que jamais construa forças próprias que o levem
para outras conquistas. Nesse ponto o ciúme se une à inveja, e a relação se
torna uma tortura infindável, onde o único caminho para a sobrevivência
daquele que sente ciúme é a aniquilação das capacidades de seu companhei-
ro. Esses sentimentos sempre estão mais presentes em pessoas marcadas por
experiências de abandono ou desamparo.
Ciúme e status
O ciúme nasce quando percebemos em algo ou alguém uma qualidade
ou atributo que não temos, e que tememos que seduza aquele que prestigi-
amos e mantemos relação de interdependência. O ciúme nasce do temor de
que aqueles a quem agradamos com o nosso “pouco” possam descobrir e se
encantar com aquilo que venha a conhecer ou descobrir num outro. O temor
de que aquele que amamos nos troque pelos atributos de outrem nos dispara
o alerta para mantermos maior vigilância. Assim, manter certos limites e
tabus é uma forma de se assegurar de que aquele que estimamos não nos
deixe ou troque atraído por aqueles atributos alheios.
204
Assim, uma simples ameaça pode levar alguém a buscar conseguir pa-
ra si algum atributo, qualidade ou condição que o mantenha com certo nível
de atrativos. Buscamos status a partir de quando sentimos, achamos ou sa-
bemos que não somos o melhor, e envidamos todos nossos esforços em bus-
ca de construir uma figura digna de chamar a atenção daqueles que necessi-
tamos ou guardamos mágoa pelas nossas inseguranças, desejo, interesses,
inveja, etc. Às vezes podemos definir esta busca por prestígio dizendo que
buscamos status sempre quando compramos uma coisa que não queremos,
com o dinheiro que não temos, para mostrar para aquela gente que não gos-
tamos, uma pessoa que não somos.
A corrida de muitos se inicia quando isso acontece e ele se vê despro-
vido daquilo que possa atrair a atenção e estima dos outros. Geralmente
aquele que não se sente seguro consigo busca, por todos os meios, uma ma-
neira de ser aquela pessoa que acha que conseguirá atrair todas as atenções e
ser cortejado, prestigiado, desejado, invejado, destacado, amado, etc. A bus-
ca por atenção faz alguém dirigir todas as suas ações para conseguir aparen-
tar aquilo que acha ser o ideal.
A busca por uma posição, neste caso, visa única e exclusivamente dis-
farçar nossos defeitos através de uma figura criada para parecer mais do que
efetivamente somos. Se sentimos que não somos o suficiente para parecer o
melhor, logo iniciamos uma corrida desenfreada para conseguir reunir atra-
tivos que possam suprir aquelas carências. Isso ocorre com alta frequência
meio àqueles jovens em busca de conquistas amorosas, mas é, também, o
que leva muitas pessoas a saírem de suas posições na busca daquilo que
possa lhes tornar possível satisfazer suas mais íntimas e disfarçadas aspira-
ções.
Dica aos ciumentos
Aquele que nota ciúmes exagerados em seu parceiro, e existe a verda-
deira intenção de que tudo se resolva para níveis mais fáceis de convivência,
deve passar o máximo de seriedade e compromisso através de demonstra-
ções de sua fidelidade e respeito. Você não precisa limitar seus afazeres
diários se não faz nada que implique em traição. Se existem amizades diver-
205
tidas e moderadas, pra que tirá-las de sua vida se são estas que ajudam a
divertir e trocar experiências?
Demonstre que suas antigas e sadias amizades podem continuar a
existir, e que você sabe separar muito bem amizades de relação afetiva; de
que ele(a) o ciumento – é seu amor de verdade, o único com quem comparti-
lha sua intimidade. O casal poderá se integrar de forma que todos possam
viver num bom clima de amizade. Onde existe confiança e amor existe coo-
peração e mútua ajuda. Se o que se busca é uma relação saudável, esta terá
de ser construída pelos dois. Se alguma antiga amizade pode prejudicar ou
exaltar os ciúmes do parceiro, analise se de fato há algum motivo para isso.
Tudo pode ser ajustado e moldado quando se busca nível mais satisfatório
para ambos.
Não dê a impressão que despende mais atenção para os amigos do que
para o parceiro. Não se comporte excessivamente extrovertido nas amizades
e fechado na relação amorosa. Principalmente as mulheres, quando perce-
bem que existe excessivo envolvimento com algum amigo, logo desconfia-
rão de que existe entre eles algum código secreto que esconde segredos e
confidências proibidas. Comporte-se com cavalheirismo e não faça compa-
rações desnecessárias que possam desencadear competições e o medo da
perda. Pra que provocar ciúmes se você sabe que é um dos piores sentimen-
tos de ser vivido? Não é necessária nenhuma demonstração de que é querido
pelos demais para atrair a paixão da parceira. Tenha mais confiança em si e
não confunda relação amorosa com as outras do dia a dia.
Se você gosta e quer a admiração de sua companheira, demonstre ma-
turidade e afaste toda e qualquer manifestação de ciúme com palavras de
respeito, confiança, amor e compromisso. Quando a pessoa sente-se insubs-
tituível na relação, automaticamente passará a ter mais confiança em si e
afastará o ciúme. Se existe a verdadeira intenção de criar uma relação pací-
fica e boa de ser vivida, pra que permeá-la com venenos que tiram qualquer
possibilidade de paz e tranquilidade? Para quem é demasiadamente ciumen-
to, procure, antes de valorizar demais os outros, valorizar a si. Não se ache
uma pessoa indigna de ser amada. Reforce em si suas qualidades e humilda-
de de forma espontânea. Você não depende da aprovação de ninguém para
firmar em si seus valores. Respeite-se como pessoa autêntica e simples. Se
quem buscar amá-la tiver de fato qualidades e grandeza de alma, certamente
que valorizará suas qualidades e crescerão juntos.
206
O bem intencionado preferirá alguém mais recatado a alguém que de-
monstre excesso de extroversão. Ninguém tem de tentar parecer o que não é
apenas para agradar. Ninguém nunca conseguirá agradar a todos. Não é pre-
ciso que ninguém se anule só para agradar aos outros, se rebaixando. O
amor verdadeiro terá de se manifestar a partir da verdadeira personalidade e
não de uma personagem que será descoberta no convívio. Querer que al-
guém a ame fingindo ser o que não é cria uma séria possibilidade de decep-
ção futura. Ora! Se o que conquistou e cativou foi uma entidade fabricada,
não se correrá o risco de tudo perder o colorido quando a verdadeira pessoa
vier a aparecer? Então, antes que se ame o que de fato é a pessoa do que a
uma figura fabricada pela imagem daquilo que se imagina ser o ideal.
Se um parceiro ou pretendente é do tipo que apenas busca pôr defeitos
e tenta escravizar através de comparações, afaste-se o quanto antes; pois
estes são aqueles brutos que se apaixonam, não distinguem sentimentos nem
demonstram qualquer tipo de afeição por medo, insegurança e defesa de sua
posição de “seguro de si”. Sua felicidade não depende da aprovação de nin-
guém. A felicidade está em cada um de nós que aceita e valoriza sua indivi-
dualidade. Imaginar que precisa buscar a aprovação de outro para só daí se
sentir amado será correr um grave risco de nunca ficar satisfeito com o que
é, e viver sempre com amargura e sentimentos de inferioridade, o que baixa
a autoestima.
Não permita jamais que alguém a use como vítima de seus joguetes
perversos para se autoafirmar como predador. Não caia em armadilhas colo-
ridas pelas falsas cores da má intenção, aquelas que só visam o bem de um,
até que este perca o interesse e busque outra vítima. Você não precisa se
submeter a nenhum jogo persuasivo com intenção de usá-la. Uma relação
boa se inicia pela comunhão de pensamentos, com um sempre visando o
equilíbrio do outro, para que juntos construam uma união estável, pacífica e
boa para ambos.
Não se compare a ninguém. A comparação fará com que você use de
parâmetros absurdos onde inúmeros fatores poderão fazê-la se sentir menor.
A comparação costuma se valer de valores deturpados e superdimensiona-
dos. Se buscar numa imagem fabricada uma forma de se autoafirmar, corre-
rá o risco de prejudicar sua verdadeira personalidade e contaminá-la com
peças que não se encaixam a você. Você é você e os outros são os outros. Se
imagina que precisa ser de uma forma qualquer para ser merecedora de
amor, logo entrará num jogo perigoso que desequilibra o íntimo. Seja autên-
207
tica e verdadeira e certamente que atrairá para si somente pessoas que valo-
rizem suas qualidades e respeita seus eventuais defeitos, exatamente como
são.
Depois, ninguém é perfeito; e onde existe amor verdadeiro, um tolera
as diferenças do outro, desde que exista a boa vontade em ambos de aparar
suas arestas, com ambos buscando promover os ajustes para a boa convi-
vência. Sendo autênticos será a melhor maneira de transcender a ameaça de
ser substituído por rivais verdadeiros ou imaginados. Um pouco de ciúmes?
Ora, isso existe em todas as pessoas, sejam elas de qual condição for. O que
não podemos é tornar-se escravos de uma relação achando que se perder
aquela nenhuma outra poderá se estabelecer.
Foi traída? Lembre-se de que quem não presta nesta relação é o trai-
dor, e não você. Ou seja, é aquele que não é digno de confiança nem de
amor. Sua estima não pode ser abalada por qualquer um que pouco conhece
de si ou de você. Então, ao invés de perguntar “por que você fez isso comi-
go?”, pergunte: - Que tipo de relação espera, se não é digno de confiança,
respeito ou amor? Quem está agindo errado e terá de arcar com as conse-
quências é você. Como confiar em alguém que, ao invés de honrar suas ati-
tudes, apenas demonstra com elas meios de seduzir e ludibriar para satisfa-
zer sua perversidade doentia?
Se a pessoa não é digna de confiança, poderíamos dizer: “- Você não
se valoriza, nem valoriza ninguém; não é digno de estar ao lado de uma pes-
soa séria e de valor. Se é aventura o que te agrada, procure aventuras com
outras pessoas irresponsáveis, que também estão perdidas, e respondam por
seus atos insanos e arquem com as consequências do seu egoísmo!” É isso
mesmo! Perceba que, se você foi traída, não é você quem está errada, mas
sim quem cometeu a traição. Logo, é esta pessoa que não é digna de amor,
confiança ou piedade. Deixe de lado qualquer dependência e confie na sua
personalidade, índole e caráter. Conserve seus valores e esqueça alguma
eventual relação desastrosa, que frequentemente acontecem com qualquer
um, mesmo com pessoas de altos valores morais. Aconteceu com você?
Leve com você apenas as lições tiradas da experiência.
Lembre-se sempre disso: antes de procurar aprovação, felicidade ou
amor lá de fora, que tal se iniciar a dar mais valor para sua pessoa, aquela
que estará sempre sendo você, independente se alguém elogiar, amar, corte-
jar, distinguir, respeitar ou despender verdadeiro amor. Ame sua individua-
208
lidade única e não se apresse em buscar o amor dos outros, seja de quem for.
A relação saudável jamais implicará que um tenha de se destruir para satis-
fazer as vontades do outro. Depois, some-se a isso a eliminação da autopie-
dade, o dó de si mesma, e siga sem maiores preocupações de fazer sempre
somente porque os outros fazem. Quase todas as pessoas acabam tendo que
passar por algum relacionamento conturbado. Isso faz parte de nosso desen-
volvimento; isto é uma forma de mostrar o que é errado para aprendermos e
valorizar o que é certo.
Se não tomar as dores de uma separação como sendo a única vítima de
um golpe do destino, nem pensar que você é vítima do mundo, logo que as
coisas voltarem à normalidade perceberá que certas relações não poderiam
dar mesmo certo. Em muitas destas ocasiões, se você analisar numa oportu-
nidade futura, logo perceberá que, se aquilo tivesse permanecido, certamen-
te que sua vida estaria arruinada com o convívio daquele que não é digno de
confiança, ou que apenas mantém uma relação por obrigações civis, ou na
pretensão de satisfazer seus desejos.
Diálogo pacífico e orientação construtiva
A base que sustenta o caráter nas relações futuras é responsabilidade
dos pais. Se não houver orientação para filhos de ambos os sexos, situações
perigosas poderão tentar tanto a um quanto a outro. O jovem dificilmente dá
ouvido para qualquer tipo de conselho, pois que isto soará como sendo uma
ameaça a tudo que está sentindo. Como não quer quebrar o encanto de um
encontro amoroso, não vai dar muita atenção aos pais, nem a qualquer um
que queira alertar para que não caia em certas armadilhas, e cometa erros de
duras consequências.
Continua agindo de forma desenfreada, até que o destino se encarre-
gue de lhe dar um duro golpe, para que volte do transe da paixão para a vida
onde as coisas podem não ser tão coloridas, mas que fazem os olhos verem,
além de apenas sentir as coisas de forma exaltada. Só se evitará estas situa-
ções, que tantas dores causam a tantas famílias, com boa orientação, diálogo
construtivo e amigável.
209
Este ponto da vida costuma ser delicado e decisivo na formação da
personalidade adulta, e requer especial atenção para um desenvolvimento
futuro sadio e dinâmico. A forma como cada um atravessa este mar revolto
determina muito sobre as ações futuras. Se suas experiências se derem em
ambiente saudável e pouco turbulento, menos chances terá de ser afetado
por alguma marca mais profunda. Se esta fase for marcada por dificuldades,
tais como relacionamentos ciumentos, traições, disputas, medos, fracassos,
dificuldade na relação com os pais etc, as chances de algumas marcas per-
sistirem e seguir atormentando pela vida são grandes.
Esta etapa só é resolvida quando a vida chama para a realidade, quan-
do põe freios àqueles atos cometidos pela ingenuidade de quem acha ter
descoberto a fórmula da felicidade, e que não tem mais que dar ouvidos aos
“menos espertos” do que ele. Neste ponto saem duas vertentes: a dos que
amadurecem e refreiam suas paixões, controlando suas ansiedades e desejos
através da doutrina e informação; e outra vertente formada por aqueles que
se deixam levar pelos sentimentos, sem se dar conta que existem outras coi-
sas além de esperar gratificações de cada encontro.
São estes últimos que não conseguem sair do transe causado pela sa-
tisfação de alguns desejos e vontades, e não se importam com as consequên-
cias de seus atos desmedidos para conseguir realizar seus desejos instinti-
vos. Sua vida seguirá sendo uma eterna busca de satisfação pessoal; busca
por aventuras que nutram sua necessidade de ter prazer, mesmo que por
alguns instantes. Estes não costumam pensar nas consequências, e pouco ou
nada se importam com o futuro, com o estabelecimento de normas e preser-
vação da saúde; e nem tampouco se alguém está sendo prejudicado ou so-
frendo. Vão seguir até o ponto que o corpo aguentar, até que se vejam en-
fraquecidos e entregues ao caos que eles mesmos atraíram para si.
Em maior ou menor grau, esta passagem costuma marcar de forma in-
tensa a maioria das pessoas. É fato que, infelizmente, só se tenta consertar
as atitudes a partir de que elas tenham produzido suas consequências. São
poucas as famílias que oferecem uma boa base ao jovem para que ele in-
gresse na vida adolescente com uma estrutura mais apropriada para o mundo
que vivenciará. Correntemente, a maioria é deixada para que o mundo edu-
que com todas as suas armadilhas e golpes, que podem ferir e até deformar
por toda a vida. Marcas mal curadas da adolescência e juventude costumam
assombrar muita gente por toda a vida.
210
É fácil identificar num jovem adulto, ou em pessoas de qualquer ida-
de, muitos problemas acarretados pela pura falta de preparo ou orientação
adequada. Somente uma formação que preveja tudo isto – e que ofereça real
suporte para ultrapassar sem muitas marcas perigosas esta fase – poderá
diminuir e evitar grandes problemas existenciais.
Estes males ocorrem por muitos motivos. Dentre eles estão a falta de
preparo dos pais, a falta de comunicação com os filhos; o não saber como
manter um diálogo franco e aberto com eles; o não querer se meter na vida
daquele mais rebelde, que demonstra ser espertinho e tudo saber; confiar
que o mundo ensina, e que suas lições são suficientes para preparar a crian-
ça para a vida; pelo domínio que alguns filhos exercem sobre aqueles pais
menos esclarecidos, que se orgulham do comportamento moderno de um
filho, e que assim acabam deixando que façam tudo que quiserem, na inten-
ção de que tenham o que não tiveram; a ineficácia na condução e formação
apropriada na orientação e aconselhamento; a dificuldade de conduzir um
diálogo de forma pacífica e compreensiva, o que acaba fazendo de qualquer
diferença uma guerra, etc.
A base educacional tem que essencialmente advir da educação dada
pelos pais. Pais preparados podem orientar através de ensinamentos contí-
nuos. O acompanhamento e diálogo constantes é que identificam como é
que o filho está se comportando mediante as situações da vida. Uma consci-
ência bem formada saberá distinguir o bom do ruim, o bem do mal. Isto fará
com que ele tome um caminho reto, longe das armadilhas e más influências.
Quando uma criança é orientada de forma adulta saberá perceber em cada
situação qual a melhor atitude tomar. Do contrário, quando se deixa alguém
para aprender com o mundo, sem uma base segura, logo estará sobre terrí-
veis influências. Uma atitude precipitada ou decisão equivocada poderá pôr
toda uma boa trajetória em risco. Um desvio de conduta, uma atração para
algo que pareça muito bom de momento, mas que esconde por detrás das
aparências uma cilada, poderá causar problemas que afetarão por toda a sua
existência.
Quando isto acontece tudo estará entregue ao acaso. Se existir uma
combinação de bons fatores, será possível uma recuperação e um retorno
para o bom caminho; se não, o agora adulto terá de viver com marcas plan-
tadas fundas em sua alma, que o farão ser uma pessoa desequilibrada e in-
constante em suas atitudes, com desvios de atenção e raciocínio lógico, o
que acarretará sérios problemas de aprendizagem e desenvolvimento. Pode-
211
remos ter mais um sujeito marginal, mais um delinquente sem futuro, sem
noção, sem planos, metas, expectativas; nem planejamento, nem sonhos,
nem nada. Este será mais um sujeito ao que a vida for lhe fazendo passar de
acordo com leis mundanas cruéis, aplicadas àqueles que se desviam desobe-
decendo todas as regras. Nestes casos, o mundo se encarrega de arrastá-lo
para seus becos mais escuros, para as mais cruéis possibilidades.
A desorientação desvirtua e destrói
Assim se cria e vicia a maioria daqueles que, não raramente, vemos
jogados pela vida; seres que não prestam nem para si nem pra ninguém. Não
produzem e acabam onerando a sociedade. Teremos, então, parasitas inúteis
mantidos com recursos sociais. Não podemos generalizar e juntar todos os
que, infelizmente, vivem nas ruas e taxá-los de imprestáveis. Há inúmeras
pessoas afetadas por golpes aplicados correntemente na sociedade, família
ou qualquer outro meio de convivência. Pessoas são levadas ao desequilí-
brio mesmo quando têm bons princípios; pois aqui, não são os bons princí-
pios que o sustentarão firme para seguir pela retidão, mas sim o equilíbrio
emocional, mental e espiritual. Sentimentos abalados por golpes que não
foram assimilados nem compreendidos podem arruinar e desestruturar com-
pletamente qualquer um de nós.
Há inúmeros fatores de desequilíbrio que podem levar alguém a desis-
tir de procurar fazer para si ou para outrem. Há muitos casos onde alguns
bem intencionados, mas mal orientados, acabam querendo fazer coisas irrea-
lizáveis para contentar os outros, mesmo sem possuir a menor condição para
isso.
A constante frustração mina as forças que o sustentam na sua luta. A
situação acaba por chegar num ponto crítico onde a pessoa se recolhe e de-
siste de lutar, como que entregando seus pontos, com a sensação de desespe-
ro e fraqueza.
Quando isso chega aos limites máximos não é difícil encontrar pesso-
as que desistiram de tudo; traumatizaram-se de tal forma com as duras pro-
vações e fracassos, que desistiram de lutar quando perceberam que não iam
dar conta de criar e realizar todo aquele sonho que gostariam de oferecer aos
212
que ama, ou de quem necessitavam obter atenção. Por isso é que às vezes
encontramos excelentes pessoas, cultas e de boa índole, atiradas na sarjeta
pelo fracasso e decepção, por não terem conseguido realizar a vida digna
que sonhou para os que amam, família, esposa, filhos ou outros quaisquer.
Sua decepção e depressão podem chegar a limites de desistir de tudo. O de-
sequilíbrio é tão grande que perdem o sentido das coisas e o instinto de ori-
entação. Fogem de seus compromissos e abandonam a lide diária. Fogem
para que não tenham de tentar de novo e sofrer nova decepção.
Estes problemas têm origem na carência de informações e despreparo
dos educadores, pais, professores, irmãos ou outros quaisquer. A situação
social acaba esgotando qualquer iniciativa destes que acabam se acostuman-
do com um círculo pernicioso, onde pouco ou nada acabam fazendo devido
aos mais variados motivos. Dentre eles a desestimulante sensação de estar
lutando sozinho, pois não existem projetos sociais que de fato preparem os
jovens para vida, para que sejam cidadãos de fato, e retribuam tudo que
aprenderam na forma de crescimento e desenvolvimento pessoal e social.
Um indivíduo advindo destes péssimos sistemas poderá se sentir no
completo abandono. Mas, dentro destes ainda estará vivo o impulso que os
leva a desejar se igualar àqueles que nota como sendo de valor, prestígio e
poder. Quando não têm orientação sobre as necessárias virtudes e base para
construir uma posição de destaque, é fácil confundir ter dinheiro com poder
e prestígio. A partir deste ponto começam a se sentir marginalizados e per-
tencentes a uma classe inferior de seres: aqueles derrotados, pobres, fracos,
incapazes e dignos de dó.
Esta percepção de si calca no subconsciente estes valores como sendo
verdadeiros, sejam eles de fato como estão sendo sentidos ou não. O senti-
mento contínuo de que não possuem valores nem importância acaba defor-
mando seu caráter. A pessoa passa a ser aquilo que imagina devido ao seu
desvio de conduta. Um mau começo, uma má influência, um deslize, uma
fraqueza cometida, um desleixo e toda uma história de vida será afetada.
Aqui surgem aqueles muitos frustrados que querem para si igual o que os
outros têm, pouco se importando se os meios que irão utilizar são lícitos ou
ilícitos. O sentimento de ser menor causa a inveja. A inveja costuma criar
pessoas revoltadas, irascíveis, desconfiadas, magoadas e com sentimento de
exclusão.
213
O sentimento de que alguém é mais, que tem mais e que é mais queri-
do, costuma despertar a ira daqueles que tomam para si as dores de quem é
ignorado num canto qualquer. Geralmente não pensam que para que alguém
consiga uma posição mais favorável é necessário todo um bom conjunto de
fatores como atitudes, disciplina, trabalho e dedicação constantes. Simples-
mente sentem que, “se aquele alguém pode, por quê ele também não pode?
Por quê ele tem de ficar de fora?” Daqui pode nascer uma personalidade
hostil, sorrateira e irresponsável. Muitos não medem seus atos na tentativa
de ter para si algo que se traduza em poder e riqueza. O conflito interno es-
tabelecido entre o desejo despertado pelo ego contra as reais condições cos-
tuma criar desequilibrados obcecados em obter o objeto de sua cobiça, seja
lá de que forma for.
Sua vontade é afrontada pelas decepções e frustrações que certamente
terá; sua revolta e necessidade de querer aparecer como sendo alguém pode-
roso começa a fazer com que a já debilitada personalidade entre em confli-
tos terríveis, pois se manifesta de um jeito, mas o que a pessoa carrega de
verdadeiro dentro de si é o seu verdadeiro caráter marcado pela vida, com
todos as dores inevitáveis que isto causa. Aqui novas más possibilidades
podem aparecer: o conflito interno procura por algo que o alivie e o tire um
pouco daquele mundo confuso e desregrado. E, para acabar de piorar tudo,
onde geralmente as pessoas procuram se distrair e se divertir para ter algum
prazer e se aliviar das atribulações diárias?
Excluindo os poucos que cultivam bons hábitos, muitos são aqueles
que se submetem a exageros para libertar suas amarras mesmo que por al-
guns instantes, nem que as consequências físicas sejam amargas. Assim
buscam alívio no álcool, nas drogas, na satisfação de desejos físicos. Outros
atacam a tudo e a todos para tentar livrar sua reputação e não parecer o últi-
mo. Afinal, qualquer um poderá ser atacado e parecer pior através das fofo-
cas e críticas descabidas. E é desta forma que se aliviam: criticar sem medi-
das é uma forma de pôr defeito no que os outros fazem ou na própria pes-
soa. A intenção instintiva nisso é fazer com que os outros pareçam imperfei-
tos e menores do que são ou aparentam ser. Essa é uma forma de dizer que
os outros também erram, que os outros também não são perfeitos, que os
outros poderiam fazer melhor se o ouvissem, etc.
Enfim, é uma forma de tirar o peso de suas frustrações e da condição
presente. Apontar erros dos outros é fácil, não custa nada e alivia as próprias
decepções pessoais, além de fazer com que os outros pareçam menos impor-
214
tantes. Assim, as distâncias entre um e outro podem parecer menores; assim,
criticando, o crítico consegue desabafar suas mágoas emitindo opiniões co-
mo se fossem óbvias, e que só os burros não veem. Esta manobra os alivia
com a ilusão de que são aprovados e úteis. Mas, alguns se habituam a isso e
estacionam num degrau onde apenas criticam, mas nada fazem para sair de
sua miserável condição.
Amor em forma de boas conversas
Enfim, vimos aqui a importância da boa formação, principalmente na
idade entre os quatorze e vinte e um anos. Esta fase da vida costuma causar
uma sensação de individualidade. O jovem não é mais o filhinho da mamãe,
mas sim o rapaz cheio de vontade de brilhar e demonstrar suas aptidões.
Isto trás junto o perigoso sentimento de ser dono de si e de não preci-
sar de mais ninguém para decidir o que é melhor para ele. O jovem passa a
ter certa vergonha da fase anterior, onde era conduzido pelas mãos dos pais.
Ao iniciar por ter seus próprios desejos, logo sentirá novas possibilidades.
Agora, “já adulto” é ele, e somente ele, que vai querer escolher o que bem
lhe convier, da forma como quiser, etc. Tudo que vier de fora será recebido
como uma afronta a sua sabedoria e capacidade. Qualquer comentário será
como que uma agulhada no seu poder de discernimento. Pensam: “- Ora!
Será que estão pensando que eu não sei? Será que não notaram ainda que eu
cresci e já sou adulto? Até quando acham que vão me conduzir, mandar,
podar e determinar o que eu possa fazer ou não?”
Aqui é que a habilidade dos pais em lidar com um ser que está des-
pontando para o mundo – mas que não quer jamais parecer apenas um prin-
cipiante – faz toda a diferença. Para ele, ser inferior ou menor será uma
afronta a sua qualidade de ser. Então, jamais admitem para si serem menos
capazes, menos inteligentes ou menos atraentes. Isto gera no jovem as com-
parações, e dá entrada no mundo onde existe um redemoinho que desafia o
ser a fazer de si o que nota nos outros como sendo bom. Só que seu poder de
discernimento não tem formação suficiente e real para definir para si o que
de fato pode ser o melhor. Aqui é que se necessita da constante presença de
pais amorosos, cuidadosos e cheios de habilidades, para não tocar sentimen-
215
tos agora mais sensíveis. Onde havia obediência às ordens agora reina uma
vontade imensa de afirmação pessoal.
Então, qualquer palavra dita sem medir seu peso poderá afetar forte-
mente os sentidos daquele que procura vorazmente formas de parecer me-
lhor. Nesta fase costuma-se confundir todos os sentimentos com valores
reais. Qualquer julgamento que leve a pensar que é menos alguma coisa,
logo se transformará num tormento para alma. O conflito vem em forma de
sentimento que machuca, sem ser de fato compreendido. As sensações e
sintomas tomam conta do jovem sem dó ou piedade. Esta é a fase em que os
pais devem deixar de ser os que corrigem para serem os amigos e confiden-
tes, com plena liberdade para troca das mais íntimas informações, se neces-
sário. Conversa informal em tom descontraído é o melhor. Ao invés de cor-
rigir, melhor será sugerir opções; discordar se preciso, mas expor pontos de
vista em tom de experiência e compreensão; elogiar as qualidades que são
mais evidentes, e reforçar aquelas que notar ser a semente para o desenvol-
vimento de outras novas; realçar que sabe de sua capacidade, mas que gosta-
ria de poder continuar a ser seu amigo para o que precisar, para orientar em
forma de sugestões do que poderia fazer, etc.
A verdade é que, embora os jovens pareçam rebeldes e desajuizados, e
de não gostarem que alguém lhes digam abertamente o que devem fazer,
assim como em adultos, existe a insegurança sobre como melhor se portar.
Mesmo que pareça que não estão dando ouvidos, note como os aconselha-
mentos e correções fazem efeito. Isso porque eles não gostam de admitir que
erram ou são imaturos; mas, no íntimo, quando a consciência consegue agir,
logo percebem que é necessário levar em conta o conselho recebido.
A partir de que isto venha na forma de amparo amoroso, logo a guarda
será baixada. As defesas recuarão e darão passagem para aqueles que com-
provadamente querem ajudar, por amor e por não querer ver um filho numa
situação complicada. Se esta política for adotada, sem exageros de assumir
sobre tudo que ele deva fazer, logo o filho estará se sentindo mais confortá-
vel para pedir opinião, receber carinho, ser amigo, parceiro e companheiro
confidente.
216
Paixões e conflitos
Esta é aquela fase dos romances mais apaixonados. As disputas cos-
tumam ser de caráter pessoal. Conquistas são formas de aprovação pessoal
e, principalmente, para se autoafirmar entre os demais. Ter para si alguma
conquista que destaque será entendido como um triunfo sobre os demais.
Neste jogo de infinitas possibilidades, nem todos costumam se sair confor-
me desejam.
Os fatores que determinam o sucesso ou fracasso nessas buscas são
muitos: econômicos, de comunicação, amizades, porte físico, influência de
outros, etc. Uns irão ter certas facilidades, outros se verão menos favoreci-
dos, o que pode levá-los a pensar que são inferiores como pessoas, e não
somente naquela situação de momento.
As marcas fincadas no fundo da alma nesta fase, se não forem bem re-
solvidas, costumam influenciar de um ponto obscuro no fundo da mente.
São monstros que se escondem no fundo do ser, mas que estão sempre à
espreita para agir. Enquanto não receberem uma dose fatal através da com-
preensão de si mesmo, ficarão atuando de forma venenosa, sem serem con-
vidados, contra qualquer vontade, sem resposta a qualquer tentativa ineficaz
de contê-los. O conjunto mental construído nesta fase da vida é que vai ser a
base para todos os demais atos vida afora. Quando alguém passa por esta
fase acometido de ciúmes, medos, frustrações, complexos, derrotas, etc,
certamente que isto tudo estará presente em cada uma de suas atitudes futu-
ras. Estarão sempre presentes influenciando de forma às vezes sutil, outras
de forma implacável. As constantes frustrações, por exemplo, poderão ex-
tirpar toda e qualquer iniciativa.
Aquele que se sentiu superado na adolescência, na maior parte das ve-
zes será submisso e sujeito ao que lhe impuserem. Não terá opinião própria
e ficará sempre à mercê do que determinarem para ele. Se alguém se sentiu
ameaçado numa relação amorosa, ou não teve muito sucesso nas suas con-
quistas, quando conseguir um triunfo, logo tratará de proteger-se de qual-
quer tentativa de roubarem seu tesouro. Então, o ciúme e a possessão esta-
rão presentes, tornando a vida da outra pessoa extremamente difícil. Pessoas
inseguras nas suas conquistas acabam agindo de forma excessivamente
agressivas nos seus relacionamentos. Quando não se dão conta de que os
acontecimentos passados estão influenciando, fazendo-os agir de forma
217
ciumenta, simplesmente impõem-se de forma autoritária: para manterem
para si alguém que conquistaram – e que agora tornou-se importante fator
de equilíbrio – muitas vezes dirigem comentários e atos altamente deprecia-
tivos na tentativa de fazer que o cônjuge se sinta menor.
Desta forma, na maior parte das vezes conseguem influenciar doente-
mente o parceiro que passa a se sentir de fato como está sendo tratado pelo
ciumento. As constantes investidas vão minando as forças, até que o posses-
sivo consiga seu objetivo: fazer com que o outro se sinta incapaz, menor,
menos interessante, menos atraente, menos inteligente etc, simplesmente
para que jamais se atreva a se achar digno de receber qualquer merecimento
ou se interessar por outra pessoa. Esta é a forma instintiva que o inseguro
usa para se proteger de mais um fracasso ou perda. Ou seja: seu lado instin-
tivo suplanta sua capacidade de raciocinar, o que o leva a agir pelo medo,
pelo temor de ser tido como inferior, sem se importar se para isso tenha que
passar por cima da “amada” ou não. O ideal para ele é que a vítima de sua
insegurança perca a verdadeira noção de seus próprios valores, crie um es-
tado de dependência com o sentimento de que o obsessor é a única pessoa
que lhe tolera e dá atenção.
Esta forma de escravizar pela intimidação psicológica, através de
chantagens, destrói a autoestima, fecha pessoas num mundo isolado onde
passam a viver em função e de acordo com a vontade do outro. Em alguns
casos, o temor gerado através de ameaças acaba por tornar as vítimas total-
mente isoladas, limitando-as a fazer estritamente o que o outro quer, sempre
temendo as prováveis reprovações em forma de repreensões, xingamentos,
gritarias, ameaças, negações etc. Veja que pode até existir amor; mas, antes
disso existe uma relação de dependência disfarçada, um fingimento que es-
conde o temor de se ver comparado e fracassar. O medo de que a pessoa que
lhe representa uma conquista passe a notar algum atrativo em outras pesso-
as, e assim passá-la para um segundo plano, as faz temer o que seria o mais
duro golpe, a mais dolorosa derrota.
Pessoas assim sofrem e fazem sofrer. São eternas desconfiadas, de-
pendentes, inseguras, medrosas e até covardes. Vivem procurando causar
algum tipo de temor; ameaças são frequentes. No íntimo, apenas não sabem
expressar os sentimentos, temendo profundamente que alguém perceba suas
fraquezas.
218
Não demonstram amor e não elogiam com medo de que a pessoa se
torne altiva e confiante demais de suas qualidades, a ponto de procurar al-
guém mais interessante do que ele. Sentem intimamente seus exageros, mas
não sabem agir de outra forma. O temor da perda os torna hostis, às vezes
grosseiros, dominadores extirpadores de individualidade. Não admitem que
a escrava, vítima de sua insegurança, faça qualquer ato ou gesto diferente do
que faria uma santa; tudo pelo temor de que chamem atenção de outrem.
Intimamente, sentem-se fragilizados e cheios de limitações. Isto lhes
causa o medo de que, aquele a quem está disfarçadamente se entregando, e
de onde recebe algum carinho, se interesse por pessoa mais dinâmica e re-
solvida do que ele é ou imagina ser. Mas, enquanto não resolvem isso em si,
continuarão fazendo e sendo vítimas de sua própria fraqueza. Este tipo de
relação conturbada só costuma ser resolvida quando passa a existir uma boa
chance de equilíbrio. Se a pessoa vitimada não possuir capacidade e equilí-
brio suficientes, provavelmente sofrerá e será vítima por muito tempo. Para
que haja equilíbrio será necessário, antes de tudo, de que se conscientize do
que de fato ocorre; depois, seguindo-se do ponto onde conscientizamos de
que se trata de um inseguro medroso, terá que se promover diálogos cons-
tantes para que se estabeleça uma relação de recíproca confiança.
Nunca se deverão incluir nas conversas longas análises da personali-
dade dele, pois isto o colocaria num plano de defesa, tornando-o nervoso e
briguento, a ponto de criar uma redoma ainda mais reforçada da que já exis-
te. Somente a segurança de que há de fato uma relação de amor, que vá bem
além de qualquer paixão ou simples interesse, poderá fortalecer a relação
para níveis mais seguros e maduros, onde a confiança e noção de mútuo
respeito conduzirão à boa convivência. O respeito pelas limitações do com-
panheiro ciumento, e a compreensão sem qualquer condenação, o levarão
para níveis razoáveis de segurança. A convivência será possível desde que
se estabeleça um ambiente de compreensão. Desta forma logo se notará que
o inseguro passa a ser um admirador de sua companheira, e que aos poucos
se abrirá com todas as suas fragilidades.
Se o terreno for propício para que ele se abra aos poucos, logo estará
não só admirando, mas também respeitando a companheira como sendo a
portadora da maturidade que não encontrou em si. O tato na condução da
relação será o ponto de partida em todos os diálogos. O apoio e a compreen-
são serão fundamentais. Reforços para os pontos fortes farão com que o
cônjuge adquira mais segurança. A companheira (neste caso) deverá se mos-
219
trar firme e decidida para não se mostrar submissa, nem passiva demais. Se
demonstrar alguma fraqueza, certamente que haverá constantes tentativas de
domínio por parte do outro que, não só não aceitará ser visto em suas fra-
quezas, mas passará a querer achar defeitos nela, para tentar colocá-la num
mesmo nível de fraquezas. Isto acabaria por causar o clima de competição
de que falamos. Se ela conseguir ser firme, e não tomar para si aquilo que de
fato não lhe cabe, logo se terá uma relação onde o outro se verá na necessi-
dade de melhorar-se; pois de outra forma, acabará perdendo pela sua própria
imaturidade e incapacidade de desenvolvimento.
Então, se verá como que obrigado a respeitar e compreender de si e do
outro, para alcançar nível mais apropriado para viver a relação de forma
mais madura e estável. Daí, fugindo-se a qualquer clima de comparações ou
competições entre o casal, logo as labaredas da fogueira estarão dominadas
e transformadas apenas numa chama que manterá a relação aquecida. O diá-
logo franco, maduro e consciente de ambas as partes conseguirá pôr às cla-
ras os medos, desconfianças, inseguranças, ciúmes etc, para que sejam re-
solvidos de forma tranquila, até que ambos se sintam num nível confortável
de convívio.
220
Capítulo XXIII
Planejando as escolhas
Outro ponto determinante na juventude diz respeito às escolhas feitas
em termos de carreira e estilo de vida. Boa parte dos jovens apenas segue no
caminho em que já se encontram e tornam-se máquinas repetitivas fazendo
sempre a mesma coisa, todos os dias. A maioria apenas segue a trajetória da
vida ao invés de almejar novos horizontes. Numa condição de vida onde
apenas os princípios usuais são seguidos, muitos apenas seguem fazendo o
básico sem planejar, sem pensar numa outra trajetória que não seja aquela
que o mundo lhes impôs. Assim, seguem sem estudar, estabelecer ou elabo-
rar metas para período futuros.
Por comodidade, por falta de orientação, por não pensar na vida futura
ou pela falta de maiores ambições, muita gente não sonha em determinar
para si um desenvolvimento integral e que o satisfaça completamente como
pessoa, em termos financeiros, religiosos, matrimoniais, comportamentais,
culturais; de saúde, lazer, etc. Para esses, a vida será um eterno fazer as coi-
sas de acordo com os acontecimentos à sua volta. Pouco se importam com o
que está acontecendo. Afinal, se estão passando por determinado problema,
foi a vida, o destino, Deus que quis assim. As coisas vão seguindo e as más
consequências da falta de planejamento vão sendo consertadas conforme
vão acontecendo, quando dá, conforme as possibilidades o permitam. Se-
guem reclamando, mas não percebem que a condição em que se encontram
é o fruto apenas e tão somente daquilo que estão fazendo de si e para si; que
sua situação é aquela que suas atitudes passadas o fizeram chegar.
Até certo ponto não há escolhas, devido às circunstâncias de vida fa-
miliar ou outras quaisquer; mas, boa parte das pessoas não procura fazer
além do que os acontecimentos o levaram a fazer. Isto ocorre principalmen-
te pela completa falta de orientação para uma tomada de decisão pautada em
reflexões sobre qual caminho seguir, onde investir em termos de formação,
como elaborar um plano com meta para que o projeto dê certo. A posição
que desejamos para os próximos anos terá de ser buscada através de uma
meta bem estipulada e com um planejamento possível de ser realizado, cal-
culando as eventuais perdas, baixas ou dificuldades normais e possíveis em
221
qualquer execução. Só assim é que tudo caminhará para o destino que dese-
jamos. A tendência natural nas pessoas é a de seguir modelos prontos, e
aproveitar o que já está feito para usar em seus poucos projetos. Isto acaba
limitando e sufocando a criatividade e independência para pensar pela pró-
pria cabeça e criar, dentro das infinitas possibilidades, um plano pessoal;
pensado a partir das necessidades, talento, dons, facilidades de sequencia de
trabalho, visualização de oportunidade de negócio próspero num futuro pró-
ximo.
Quando existe um plano bem pensado, ponderado, com reflexões, aná-
lises corajosas, otimistas e realizáveis, passa a existir um objetivo vivo. Se a
partir disto houver um fracionamento adequado para a prática e que indique
por quais caminhos seguir, a possibilidade de realização do plano torna-se
infinitamente maior. Para que tudo dê certo, a elaboração de um projeto sé-
rio depende de dedicação e criatividade. No geral, as pessoas acabam por
enxergar apenas o que lhes salta aos olhos. Com isso acabam se limitando
ao que os outros fazem ou já fizeram, seguindo por caminhos já trilhados e
sem chance efetiva de crescer além daquele que já fez. A sociedade nos im-
põe certas condutas e regras que possibilitem a boa ordem social. Isto acon-
tece em todas as sociedades modernas e é de fundamental importância para
que cada um se encaixe dentro de padrões pré-estabelecidos, onde cada ele-
mento deve interagir de forma adequada ao sistema.
Mas daí a seguir modelos de conduta somente porque alguém já fez e
deu certo, não me perece o máximo da criatividade e iniciativa. Veja que a
tendência é de que as pessoas sigam roteiros que permanecem anos e anos
na sociedade, como se fossem os melhores ou únicos caminhos a seguir.
Note como a sociedade cobra por procedimentos padrões como se tu-
do fosse o máximo da virtude e perfeição, e que todos devem seguir sendo
levados por aquilo que lhes é imposto. Afinal é o que a sociedade pede para
seus filhos, pois assim, pensa, serão pessoas corretas e dignas. As velhas
fórmulas vão sendo lentamente modificadas a partir de que os acontecimen-
tos as atropelem, fazendo com que só se alterem diretrizes conforme as coi-
sas vão acontecendo. Assim, só se enxerga o risco de incêndio quando tudo
está ardendo entre labaredas.
Com isso, limitam-se as pessoas a viver dentro daquilo que as conduz
para um destino constante daquele rol de afazeres que sempre fizeram. A
forma como isto se dá é tão forte e automática que a maioria segue por elas
222
sem sequer imaginar que existem outras possibilidades e chances de viver
de forma mais leve, natural, produtiva e com muitas melhores chances de
desenvolvimento pessoal e financeiro.
A criança vai para a escola, começa a trabalhar regularmente por volta
dos catorze anos, ganha dinheiro suficiente para casar; casa, vêm os filhos,
continua fazendo aquilo que lhe deu uma relativa estabilidade, e segue até
que a morte o leve. O caminho básico é este. Outros apenas seguem o cami-
nho já construído pelos pais, pois encontram as coisas facilitadas pela remo-
ção dos principais obstáculos, ou porque herdam um empreendimento está-
vel. Então, funciona mais ou menos assim: aquele que nasceu de família
mais humilde, que não reúne condições financeiras de pagar estudos ou ofe-
recer uma base pronta, estará sujeito a todo tipo de dificuldade grosseira do
mundo, pois que estará restrito ao que lhe impuserem. No geral, aqueles que
nascem em berços mais abastados acabam seguindo pelos caminhos abertos
pelos pais, o que é uma forma de se assegurar financeiramente e dar sequen-
cia natural às coisas.
A sociedade cobra por comportamentos padrões como se eles fossem
modelos perfeitos para todos. Se alguém parte para criar suas oportunidades
ou fugir um pouco do convencional, logo poderá até ser tratado como irres-
ponsável, irreverente e inconsequente. Isto acaba por limitar aqueles que
não se sentem suficientemente fortes ou preparados para formar opinião
própria e seguir seus ideais. Assim, o que se vê mais frequentemente é a
repetição do que alguém já fez, como se aquilo fosse o limite possível ao ser
humano, ou modelo infalível e imutável de “sucesso”. Neste modelo social
alguém realmente pode ser considerado um herói quando alcança algum
sucesso sem ter tido uma base que o impulsionasse. Afinal, este alguém saiu
do convencional, ousou ir além quando todos diziam para ele ficar, e conse-
guiu ser bem sucedido e se destacar em meio a tantas divergências e barrei-
ras.
Esse realmente é digno de reconhecimento pela sua bravura e irreve-
rência que o levaram além. Pessoas geralmente não se questionam ou refle-
tem sobre estas questões: elas devem agir de acordo com determinados limi-
tes ou imposições para agradar a quem? Será que os modelos existentes são
tão bons que não podem ser melhorados? Será que a sociedade alcançou um
nível de excelência tão grande que não precisa de ajustes? Será que o que se
está fazendo há tanto tempo é o suficiente? Será que a sociedade não paga
enormemente pelas consequências de modelos falhos e equivocados que
223
privilegiam alguns poucos, mas sufocam todos os demais? Para que seguir
os mesmos caminhos já percorridos sabendo de seus altos riscos e da poten-
cial possibilidade de acarretar sérias consequências pessoais e sociais? Para
que continuar fazendo as mesmas coisas apesar dos milhares de problemas
que vemos todos os dias acontecendo conosco e com toda a sociedade? Para
que manter sistemas altamente ridículos quando vivemos num mundo cheio
de acidentes, fatalidades, crimes, furtos, roubos, abusos, corrupção, injusti-
ças e tantas outras coisas que tanto afetam e prejudicam a todos?
Em termos de carreira profissional, antes apenas de procurar uma
formação que possibilite a atuação e um determinado setor, é preciso que se
faça uma avaliação criteriosa que identifique em qual área melhor poderá
atuar. Em qual trabalho você sentirá prazer de estar todos os dias? Que tipo
de serviço você mais gosta de fazer? Estas e outras perguntas devem levar
em consideração a sua vocação, a sua vontade isenta de qualquer influência
externa. Muitas vezes pessoas são levadas a se inclinar para determinada
área simplesmente pelo dinheiro, poder e status conferidos. Mas, se você
realmente quer trabalhar com prazer, para desenvolver sua tarefa de forma
leve e divertida, antes terá de analisar sem influências externas. Sua decisão
deverá ser isenta de inclinações influenciadas por terceiros.
Quando você faz o que gosta, faz bem feito. Quando você se diverte
com seu trabalho nunca mais será um peso ter de acordar cedo e aguentar
até tarde. A qualidade de vida que se ganha com isso é imensa! Quando vo-
cê analisa melhor, logo descobre que existe um trabalho que você pode se
sair muito bem e que oferece boas oportunidades de ganho. Imagine aqueles
que exercem determinada função obrigados pela situação, por não possuí-
rem boa formação ou não terem escolha. Claro que sua vida será um eterno
sacrifício dia a dia; a cada dia de trabalho uma nova jornada de esforço, falta
de incentivo, desânimo, desgosto e cansaço terão de ser suportados.
De outro lado vemos alguém que optou por pensar e elaborar um pla-
no de carreira, de onde pode vislumbrar de que forma conseguir tudo que
precisa na vida, e até ter sobras para investir em outras coisas. Seu trabalho
é um prazer; seus dias passam com alegria; ele se diverte ao invés de se en-
venenar diariamente; seus dias passam sem estresse, sem cansaços advindos
da perda de energia e desgaste provocados pelo desânimo e falta de vontade
de quando alguém tem de se submeter a fazer o que não gosta. Sua vida
transcorre de forma suave e feliz; seus dias são etapas de uma carreira pla-
nejada, sua atividade é algo que lhe dá alegria, prazer, dinheiro. Isso tudo
224
porque ele resolveu parar um dia e analisar o que queria para seu futuro, e
onde gostaria de exercer suas aptidões.
Embora o ideal seja que se tome esta iniciativa quando jovem, claro
que sempre é tempo de mudar. Tudo que desejamos – desde que nos empe-
nhamos para obter – é possível. Acomodar-se é uma forma de fugir da luta,
muitas vezes por preguiça, outras por medo do desconhecido, e outras por
medo de sair da rotina. Só que você não precisa abandonar o seu trabalho
para tomar decisões, estudar ou procurar outros trabalhos. Não é tão difícil
identificar uma atividade onde você se veja trabalhando com prazer, com
alegria, com entusiasmo e vibração.
Quando conseguir isto sua qualidade de vida mudará radicalmente, e
seu sucesso será consequência natural. Cada esforço feito neste sentido será
uma benção para todos os dias de trabalho, por toda sua vida. Assim, o in-
vestimento em estudos será a construção do alicerce que dará suporte às
suas ações e realizações futuras.
Iniciativa construtiva
O mundo nos oferece inúmeras opções e modelos que podemos adotar
sobre religião, vida conjugal, vida social, modas e tendências criadas pelo
capitalismo, sobre que tipo de roupa usar, alimentação, onde frequentar etc.
Viver neste mar de influências sem possuir opinião razoável sobre o que de
fato interessa e o que não passa de engodo é de fundamental importância.
Submeter-se às coisas impostas apenas por ser parte da sociedade indica um
envolvimento cego e submissão passiva ao que os outros determinam. A
partir de que se chega ao que de fato se quer, tudo começa a caminhar de
forma mais interessante e tomar rumo mais adequado. Se vivemos em fun-
ção do mundo e sujeitos aos modismos e consumismos, certamente que nos
tornaremos consumidores irrefreados pela maciça publicidade contagiante
que direciona nossas vontades para onde lhes interessam.
Assim, não é a pessoa que faz suas escolhas de acordo com as suas
necessidades: elas apenas escolhem, dentre as opções demonstradas, qual irá
comprar para se manter dentro de limites aceitáveis pelas vaidades e compa-
rações entre as pessoas. A sujeição ocorre de forma automática ao sistema
225
de compra e venda, com cada pessoa fazendo parte do mundo consumista de
modismos e tendências, conforme a indústria impõe. Fórmulas publicitárias
tocam as vaidades, desviam comportamentos e criam modelos adequados à
sua cobiça, levando pessoas a fazerem suas vontades. Esta é uma maneira de
dominar mentes, que muitas vezes acabam não pensando além do que lhes
chega de forma aparentemente inofensiva todos os dias. Assim, não param
para raciocinar longe das influências comerciais, onde poderiam formar
opinião própria que pudesse resultar numa escolha, criada a partir da reuni-
ão de elementos efetivamente necessários para a vida.
Esta é a forma que sustenta este círculo monótono, onde um se baseia
no outro e repete o que acha mais apropriado e conveniente, de acordo com
o grau de influência absorvida. Assim, fazem não pelas suas vontades, mas
baseando-se no que os outros fazem. Antes procuram pensar no que é ideal
para agradar aos outros, impressionar ou criar uma imagem, de acordo com
a percepção pessoal contaminada. Como uma das principais preocupações
das pessoas é com relação à forma como pensam ser vistas pelo mundo,
acabam por se manter dentro de esquemas pré-concebidos – pelos usos e
costumes de gerações passadas – e modismos aperfeiçoados de acordo com
os interesses comerciais. Assim, sua visão e percepção de mundo acabam se
limitando enormemente devido estarem sujeitos ao que os outros criaram
para eles seguirem. Ficam presos ao limitado mundo do “fazer o que os ou-
tros já fizeram”; e pior, com a preocupação de agradar a todos, para proteger
a imagem de pessoas bem resolvidas, que conhecem as tendências da moda,
que estão ligadas no que os outros estão fazendo; que só usam aquilo que a
mídia disse que é o máximo da moda.
É devido a estes modismos que nascem figuras contaminadas que ado-
tam personalidades advindas de modelos para tentar se mostrar irreverentes
e exclusivas, “donas” de tipos diferentes, autônomos e aparentemente segu-
ros. São aqueles que fazem parte de turminhas que seguem um líder cabeça-
oca, por serem ainda mais limitados do que aquele. São estes os que usam
trajes medonhos, porque assim passam a imagem de diferentes dos pobres
mortais; ou aqueles que enchem o corpo com tatuagens para disfarçar sua
insegurança, entre tantos outros. Usam de artifícios, mimetismos e camufla-
gens como se fossem animais fugindo dos predadores. Escondem-se por
detrás de roupagens e pelagens como que disfarçando sua real essência, que
muitas vezes acham ser pouco ou insuficiente para ser aceito e amados. Dis-
farçam-se com imagens carrancudas para não serem intimidados e nem pro-
vocados a emitir opinião própria. Sua marca artificial é uma forma de poder
226
agir num mundo que, acham, será isento de cobranças e responsabilidades;
afinal, ninguém vai querer se meter com pessoas “diferentes” e descoladas,
intuem.
A justificativa para agirem de forma esquisita é a de que fazem porque
são mais adiantados, com personalidade própria, opinião etc, quando na
verdade é exatamente do contrário: por não possuírem brilho próprio em-
prestam imagens e tipos daqueles que imaginam serem modernos, irreveren-
tes e à prova de qualquer provocação. Por se sentirem excluídos, iniciam
uma tola corrida para mudar radicalmente seu jeito de ser. O recolhimento, a
vergonha, a timidez e sentimentos ruins fizeram com que adotassem um tipo
artificial: se expressam por meio de gírias, drogam-se para se mostrarem
independentes e resolvidos; fazem coisas que não gostam, simplesmente
porque os outros mais sociáveis e populares fazem...
Há muitas pessoas que acham que só serão totalmente integradas e
modernas a partir de que façam aquilo que os outros fazem. Vemos a toda
hora pessoas fazendo aquilo que invejou no comportamento de outro e que
valorizou como sendo algo de extremo brilho. Passam a querer também na
intenção de obter o mesmo status que atribuiu àqueles, para que os outros
enxerguem nele o mesmo brilho que viu naqueles. É muito fácil encontrar
pessoas que fazem inúmeras coisas não porque lhes agradam, mas porque
agradam a sociedade; agradam as pessoas até o ponto em que elas permane-
çam quietas, sem tecer comentários maldosos; porque assim conseguem se
integrar e interagir com outros que trazem em si comportamentos de outros
do grupo que o influenciaram, numa tola sequencia de maus hábitos.
Isto acaba levando pessoas a fazerem o que os outros querem, sim-
plesmente para não serem vistos como diferentes ou desatualizadas. O medo
de que os outros as exclua faz com que repitam modismos, usos e costumes,
ainda que ridículos ou ultrapassados. Nesses casos não prevalece a opinião
própria, o que torna difícil a manifestação da personalidade nata. A vida é
um eterno investir em nosso bem-estar e crescimento. Nosso desenvolvi-
mento depende de ações contínuas e bem direcionadas se queremos melho-
rar de forma definitiva. Só avançaremos para um nível de compreensão mais
elevado a partir de que façamos constantes investimentos em nossa essência.
Bem-estar permanente só consegue quem atinge um bom nível de per-
cepção, compreensão de si e dos outros, amparado por princípios que não
sejam apenas modismos, interpretações incompletas ou equivocadas, cren-
227
dices e populismos mantidos nos nossos dias a custa de enormes sofrimen-
tos. A vida em sociedade é o palco onde aprendemos pelas comparações,
pelas experiências, pelos modelos e por aquilo que já foi estabelecido; mas,
nem por isso temos de seguir aquilo que já está feito, simplesmente pelo
fato de existir e persistir em permanecer em nossos meios. Se alguém se
desvia por pensar que deve mudar – apenas para se adequar ao que imagina
ser o ideal – toda uma transformação poderá ocorrer de forma inadequada.
Note como aqueles que se deixam levar por modismos passam a agir
de forma diferente. Eles não correspondem mais em suas ações à sua verda-
deira personalidade, mas sim, passam a agir de acordo com o tipo que ado-
tou.
De uma pessoa equilibrada – porém mal orientada – pode surgir tipos
artificiais: aqueles que agem de acordo com uma personagem que adotou
para melhor conviver com outros já influenciados. Assim, ao invés de seguir
pelo caminho da retidão e do juízo, passam a absorver somente aquilo que
aumente a expressão do tipo que adotou. Perceba como toda a sequencia de
sua vida será artificial. Não existe um desenvolvimento adequado, pois a
pseudopersonalidade moldada pelo disfarce é que comanda suas ações. Sua
verdadeira essência acaba ficando num segundo plano; seus procedimentos
são unicamente para agradar a terceiros. Sua vida instável e personalidade
frágil fazem com que se sinta bem apenas quando está representando para os
outros.
Sua vida íntima é uma desilusão. Quando estão recolhidos na sua in-
timidade, naquela hora quando a Consciência lhes julga, logo cairão em
grandes depressões, desgostos, dores e angústias por perceberem que estão
vivendo de maneira inadequada. Afinal, o que estão sendo não corresponde
àquilo que são de fato, nem àquilo que pensam e tem como ideal. Assim, ou
são completamente artificiais e falsos, ou são recolhidos e mudos, medrosos
de manifestar seu próprio ser. Esta confusão gera um conflito existencial,
onde o íntimo tem de conviver com o tipo. Nem ele mesmo sabe quem é de
fato. A dúvida permanece, mas ele tem medo de ser autêntico, de voltar a
ser aquele que foi rejeitado e pouco amado.
De outro lado sabe que o que está fazendo é uma representação con-
trária a seus verdadeiros princípios. Seu ego continua intenso e instigando
para a ação. Não sabendo como nem quando fazer, logo estará numa violen-
ta crise de identidade. De um lado o seu eu verdadeiro e uma consciência
228
que recrimina seus atos; de outro, um ego que não se importa com o que ele
está sentindo. A tristeza e a vontade de seguir começam a enfraquecer. O
disfarce vai ficando obsoleto e desgastado. Quem é ele afinal? Que tipo de
futuro esta pessoa pode esperar? A quem ele deve seguir, uma criatura
monstruosa que criou para se esconder, ou aquele que tinha bons procedi-
mentos, mas que foi rechaçado como sendo “careta”?
Sua Consciência agora está como que um anjo lhe dizendo: “- Eu ten-
tei te alertar. Se tivesse seguido seus instintos e juízo, hoje seria uma pessoa
brilhante pela maturidade, por seu brilho autêntico e verdadeiro. Se conser-
vasse sua espontaneidade, humildade e retidão, certamente que hoje teria o
amor que desejava e o sucesso pretendido; que não teve porque tolamente
tentou copiar de modelos fabricados”.
229
Capítulo XXIV
Plano de meta pessoal
Alguém vence na vida, em todos os aspectos, somente com um plano
que oriente desde os primeiros passos, ou que seja capaz, em seu alcance, de
orientar qual caminho tomar para reencontrar ou encontrar um eixo que sir-
va de guia para as decisões e procedimentos a serem adotados. Promover
mudanças em nós costuma ser bem mais difícil do que simplesmente imagi-
nar ideais ou pregar planos impossíveis. Além de imaginar ou simplesmente
dizer, será necessário raciocinar, ponderar, agir e persistir. Para que o de-
senvolvimento que nos é dado alcançar seja realizado o mais próximo pos-
sível de suas possibilidades é preciso cuidar frequentemente para que não
tomemos decisões simplesmente para satisfazer uma vontade imediata, sem
medir sua real necessidade, sua justiça, sua retidão e valor em seu contexto
geral, em termos de ganho real, além do imaginário.
A grande maioria das pessoas não tem em sua vida uma orientação
mais abrangente que seja determinante para sua conduta, e que vise sempre
uma forma de crescimento honesta e sem limitações impostas por inúmeras
barreiras sociais. Não recebemos clara orientação que possibilite a criação
de bons procedimentos de acordo com o que nos é oferecido. Assim, fica-
mos sujeitos a entrar no jogo sem saber direito quanto às suas regras; aca-
bamos por ser frequentemente contrariados, frustrados, irritados, injustiça-
dos, desrespeitados, menosprezados, ignorados, enganados, ludibriados,
trapaceados, traídos, pisoteados e mal influenciados. A educação recebida
na família e nas escolas, nem quando reforçada pela recebida pelas convi-
vências, é o suficiente para satisfazer todas nossas carências em termos de
orientação para a vida. Acaba que sempre haverá dúvidas com relação a
qual melhor decisão, qual o melhor caminho, qual atitude tomar em cada
situação normal de vida. A falta ou má orientação é causa do princípio de
problemas que muitas vezes se arrastam por toda a vida.
Se a criança não recebe o necessário e justo acompanhamento desde
bem cedo, ficará sujeita a todo tipo de perigo e confrontações até que che-
gue por si só às conclusões que, mesmo assim, nem sempre poderão ser as
mais adequadas. Inicia-se o ciclo das dúvidas, dos conflitos internos, das
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desconfianças, das inseguranças, do recolhimento. Isto costuma atrair toda
uma corrente enorme de consequências, tais como excessiva timidez, agres-
sividade, falta de iniciativa, fugas e isolamentos em mundos fechados e pe-
rigosos. Nem sempre os pais acertam. Apesar da grande maioria dos pais
terem sempre a melhor intenção na educação dos filhos, seus conhecimentos
e experiências acabam não sendo suficientes a ponto de oferecer a qualidade
mais adequada na formação de um indivíduo em desenvolvimento.
A escola da vida costuma ser a que mais oferece oportunidade de
aprendizado, mas seu custo é altíssimo. Esperar que alguém aprenda somen-
te através das experiências no mundo, será como que atirá-lo numa arena de
leões armado de estilingue; será impor um jogo perigoso, onde a violência e
truculência poderão ferir e deixar marcas por muito tempo, ou até aleijar
para sempre. Nosso sistema de ensino seriado e cursos regulares pouco en-
sinam com relação à formação psicológica e moral para a vida. Nossas esco-
las costumam ensinar aquilo que foi definido como o ideal para iniciar pes-
soas em sua formação cultural. Só que se esqueceram de que ninguém vive
apenas de um cérebro, como se bastasse acioná-lo para que dispare uma
ação lógica e certa, pronta para ser aplicada às situações da vida. Pessoas
são seres pensantes e cheios de sentimentos diferentes a cada hora, a cada
minuto, a cada instante. Cada pessoa percebe e sente cada momento de for-
ma diferente.
Por mais que haja comportamentos parecidos, cada um tem sua indi-
vidualidade, formada em momentos diferentes, numa circunstância sentida
pela sua percepção única e subjetiva. Cada pessoa poderá chegar a uma con-
clusão diferente mesmo nas questões comuns para muitos. Interações huma-
nas e relacionamentos pessoais são carregados de interpretações que dão
margem a infinitas possibilidades. Sempre haverá margens para que alguém
se sinta ou saia desfavorecido neste perde e ganha. Num modelo onde é en-
sinado que cada um tem de defender o seu, custe o que custar, muitos se
veem acuados e acabam criando meios de defesa, não para competir de for-
ma justa, mas sim para guerrear e ferir todos que se puserem em seu cami-
nho. Nesta má filosofia só se imagina ganhar se alguém perder; só será ven-
cedor quem derrotar alguém; só será feliz quem fizer mais do que todos os
outros já fizeram. Para que cada um vá além do ponto onde está, claro que
deverá existir algo que o provoque e desafie a ir além. Este é o lado positivo
de situações de dupla face, uma que aponta para o desenvolvimento e supe-
ração; outra para jogar duro e pesado, para derrotar seja lá quem for, seja lá
de que forma tiver de ser.
231
O lado perigoso deste jogo poderá ser eliminado de sua vida quando
tiver resolvido em si questões básicas para não se equivocar e cometer gran-
des enganos e prejudicar a si ou outro qualquer, em detrimento de se tornar
“grande”. Então, o melhor é ser autêntico a partir de uma imagem segura
criada pelas melhores escolhas. Assim nascerá uma personalidade cheia de
magnetismo pessoal e luz; que terá brilho próprio e não emprestado de al-
guém!
Em certas fases da vida em que ficamos confusos entre o que somos e
o que deveríamos ser numa sociedade, melhor conservar a espontaneidade e
expressão da verdadeira personalidade. A autenticidade e espontaneidade
nos conferem brilho pessoal verdadeiro e bom. Quem disse que temos de ser
perfeitos todos os dias, desde que nascemos? Quem poderá dizer se quem
somos não é o ideal? Quem, afinal, é o perfeito que pode julgar como que
devemos agir, desta ou daquela forma, simplesmente porque é assim que ele
faz para melhor se enquadrar, se o que importa é seguirmos do ponto onde
estamos, independente de cor, raça, dinheiro ou família? Ninguém “é” de
tal forma, mas sim, “está” de tal forma.
Quer queira ou não, mudamos todos os dias. Somos meros aprendizes.
Temos a vida inteira para aprender. Mesmo os mais velhos e experientes
sabem tudo que o mundo pode nos ensinar. O que importa de fato é seguir
com persistência alerta para aproveitar, dentre tudo o que acontece ao redor,
de tudo um pouco, para só assim formar opinião própria. Quem é sincero e
honesto – independente de ser extrovertido, alegre ou tímido – passará con-
fiança e humildade. Assim deixará sempre as portas abertas para os bons
conselhos, para o auxílio de outros mais experientes, para receber bons con-
selhos de como se livrar de problemas que muitas vezes nos atormentam, até
que alguém venha e ofereça uma solução que parecia impossível.
Não há que seguir modismos, nem fórmulas duvidosas, nem copiar
modelos prontos. Você tem seu livre-arbítrio, sua individualidade, sua per-
sonalidade, sua percepção e sentimentos; você é único e de características
próprias. Ninguém tem de ser igual ao outro em tudo. Cada um tem que se-
guir a partir do que efetivamente é. Se adotar um jeito ou modo de outro,
certamente que desequilibrará sua reta caminhada em busca de seus objeti-
vos. Cada um tem que saber distinguir o que de fato é bom para si, quanto
àquilo que serve e o que não serve, mesmo quando a maioria faz uso. Me-
lhor ser simples e verdadeiro, do que artificial e falso. Quem vai ter de se
ver com as consequências de atitudes mal pensadas será você mesmo. Claro
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que o isso não quer dizer que temos de ser teimosos ou inflexíveis. Temos é
que buscar o autoconhecimento que conduzirá ao equilíbrio. O conhecimen-
to de si nos leva à melhor compreensão de quem somos e de quem são os
outros. Esta é a principal condição para o desenvolvimento espiritual.
Constância
Constância é uma qualidade essencial à concretização de nossas ideias
e planos. Constância significa ter firmeza e determinação, concentração nos
nossos objetivos apesar de qualquer distração ou obstáculo. Significa persis-
tir naquilo que resolvemos fazer até que esteja terminado; estar de acordo
com nossos princípios mesmo que possamos ocasionalmente achar mais
fácil ou mais agradável não fazer. Ser constante significa permanecer fiel a
nossas causas, leais e firmes nas nossas inclinações.
Quando uma pessoa é constante em seu amor a um animal de estima-
ção, o animal cresce confiando e amando-a, e é um animal agradável e man-
so. Um cachorro é constante em seu amor por seu dono, não importando que
ele seja rico ou pobre e que tipo de personalidade ele tenha. Uma vez que o
cão dá seu amor, ele o dá permanentemente, constantemente. Se uma pessoa
se mostra constante adquire uma reputação de confiança. Se for inconstante
num simples propósito, há grande probabilidade de ser inconstante em ou-
tras coisas, e não ser considerada confiável. A constância fala por si mesma.
As outras pessoas podem ver por si mesmas se a constância é um dos nossos
atributos.
Temos de prolongar o tempo de atuação das forças. Se não alcança-
mos um objetivo em um minuto, trabalhemos nele por dois minutos. Se não
alcançamos em uma hora, trabalhemos por duas horas; se não alcançamos
em um dia, trabalhemos nele por dois dias. Se o objetivo não foi alcançado
em um ano, trabalhemos nele por dois anos ou uma vida inteira. Quanto
mais tempo dirigimos nossos esforços em uma determinada direção, mais
força adquirimos e, finalmente, o poder será suficiente para cumprirmos
nossos objetivos. Qualquer um pode fazer qualquer coisa desde que traba-
lhe o tempo suficiente e com constante dedicação.
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Para ser constante de maneira correta devemos seguir as regras do cor-
reto viver. Devemos colocar nossas melhores considerações em primeiro
lugar em nossas mentes e nos separarmos de tudo o que não é essencialmen-
te bom. Deste modo seremos verdadeiros com os nossos princípios e cren-
ças, com nossas resoluções e responsabilidades, com nossos amigos e fami-
liares; e, acima de tudo, seremos verdadeiros conosco mesmos.
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Capítulo XXV
Depressão
Vamos repassar rapidamente alguns tópicos comentados levando-se
em consideração a forma como atuam na formação da depressão, que é uma
das principais queixas do ser humano e faz incontáveis vítimas por todo o
mundo; e o número continua crescendo de forma assustadora, a ponto de
existir previsões de que seja o principal mal social daqui a alguns poucos
anos. Será que podemos evitar ou curar sentimentos tão complexos e dolo-
rosos, e que vitimam tanta gente? Será que a indicação de antidepressivos
basta para curar e levar alguém a um nível satisfatório para consigo e para
com os outros?
A depressão se instala por diferentes motivos ou pela união de fatores
que desequilibram, até o ponto onde não se consegue viver num nível satis-
fatório de compreensão de si ou daquilo que está acontecendo. Ela desorien-
ta o sentido da vida, afeta a memória, o raciocínio, a criatividade, a vontade,
a libido e faz com que nada mais tenha cores, nada mais dê prazer; a falta de
ânimo causa preguiça até de pensar. O recolhimento que ela causa acaba
envolvendo sua vítima numa dor profunda que arrebata e se repete continu-
amente, agindo de forma sorrateira e cruel, levando à apatia. Quando isso
acontece, todo o ser é tomado num sentimento de insatisfação com ele pró-
prio e com tudo que se passa ao seu redor. O sentimento de abandono faz
com que a pessoa se coloque num nível inferior diante dos outros, sempre
com comparações levadas pelo dó de si, pela interpretação de si como sendo
alguém solitário e esquecido pelos outros.
Os valores pessoais são abalados, a insatisfação pessoal causa uma
profunda mágoa por coisas que já passou, por acontecimentos presentes e
pelo medo do futuro. Este questionamento acontece sem que se leve em
conta o que de fato está causando tanta dor, tanto desgosto. Geralmente o
depressivo não detecta a raiz de seus problemas imaginários ou reais, que
afetaram a ponto de causar a queda de seus valores, a perda da vontade de
viver e de continuar fazendo.
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Por aqui já podemos começar a perceber como é que ela se instala.
Note que a depressão não é uma tristeza passageira daquelas que temos
quando recebemos alguma má notícia ou lamentamos por um acontecimento
desagradável. Ela toma parte da pessoa como se ela toda fosse aquilo que
está sentindo. Seus valores pessoais em cada ação ou atitude vêm carrega-
dos de energia pesada que desequilibra e causa dor. Qualquer situação, por
menos problemática que seja, acaba por tornar-se algo difícil de lidar.
O medo de se submeter a novos acontecimentos e decisões carrega o
receio de que algo possa tornar sua vida ainda mais problemática. Então,
dificilmente alguém depressivo aceita participar de alguma atividade, mes-
mo que seja uma tarefa de recreação. Sua autoestima encontra-se tão baixa
que não se sente com vontade de conversar com ninguém. Seu animo e ale-
gria estão escondidos pelo seu estado alterado, e não se sentem bem para
conversar ou compartilhar aquilo que lhes é de fato muito ruim. Este reco-
lhimento e fuga acabam por elevar a insatisfação que têm de si e do mundo.
Passam a ser um ser autônomo e apartado do mundo. Como não sentem
alegria e satisfação para fazer qualquer coisa, veem naqueles que continuam
suas vidas pessoas mais fortes do que ela, pessoas mais queridas e resolvi-
das.
Essa sensação de fracasso e impotência só faz aumentar o sentimento
de fraqueza. Nada mais agrada de forma que possa aliviar suas dores. En-
contros passam a ser um pesado momento onde terão de suportar a presença
de outras pessoas, que muito bem poderão tomá-la como sendo aquilo que
estão sentindo ser. Note que este círculo venenoso transforma todos os mo-
mentos da vida em coisas negativas. Então, aquele que se encontra nestas
condições, se não buscar ou encontrar por si só uma forma de sair aos pou-
cos desta situação, acaba por se afundar até níveis perigosos. As síndromes
de pânico aparecem quando isto tudo começa a somatizar, a refletir na saúde
juntamente com o abalo psicológico.
O medo aumenta quando o organismo começa a dar sinais de enfra-
quecimento, com sudoreses, palpitações, formigamentos, tontura, hiperten-
são, taquicardia, sonolência excessiva, etc. Se a dor é grande e o dia a dia
faz com que ela fique ainda maior, existirá a real possibilidade que chegue
num patamar insuportável. Acordar será um despertar para uma nova jorna-
da de tristeza, descontentamento, fracasso, choro, mágoa e tantos outros
sentimentos que se misturam e se transformam numa sensação de que o
mundo é a fonte de todas as suas angústias. Se viver passou a ser carregar
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um fardo pesado, logo poderão surgir vontades alimentadas pelo medo, pela
dor, pela sensação de impotência, de não mais ter forças para suportar tama-
nha amargura. Muitos depressivos são levados a pensar em suicídio. A vida
chega em tal ponto de desagrado que acabar com ela parece ser o golpe de
misericórdia para pôr fim na interminável luta para o nada; uma eterna bus-
ca de soluções que parecem ser impossíveis de serem encontradas.
A ansiedade e estresse que isto gera começa a perturbar as reações na-
turais do organismo: se existe a necessidade de fazer e não se toma nenhuma
providência, logo aquela energia latente que prepara para a ação se descar-
rega e fica perdida no organismo, envolvendo-o numa euforia deprimente. A
continuidade desse processo desencadeia uma outra reação do organismo
que tenta controlar este desajuste. Daí surgem as sudoreses, o esgotamento
pela sonolência que o organismo sente para tentar diminuir o estado de es-
tresse. O estresse é o principal ingrediente para inúmeras patologias, tais
como cardiovasculares (arteriosclerose, derrame); metabólicas (diabetes
insulinorresistente ou tipo2); gastrintestinais (úlceras, colite); distúrbios do
crescimento (nanismo psicogenético, aumento do risco de osteoporose);
reprodutivas (impotência, amenorreia, aborto espontâneo); infecciosas (her-
pes labial, gripes e resfriados); reumáticas (lúpus, artrite reumatoide); cân-
cer, depressão e disfunção das defesas imunológicas.
Estresse é a resposta dada pelo organismo às pressões externas e in-
ternas por ele identificadas como hostis. Pelas reações que o estresse causa
no organismo podemos ter uma visão mais ampla de como o organismo vai
sendo progressivamente minado por um processo depressivo. Podemos di-
vidir os agentes causadores em três estágios: No primeiro (estágio de alar-
me, alerta ou preparativo) o corpo ativa o sistema neuroendócrino assim que
sente a carga psicológica, tal como numa luta ou fuga, por exemplo; ele li-
bera mais estimulantes naturais (adrenalina) para melhorar os impulsos efe-
rentes do Sistema Nervoso Simpático. É considerada a fase positiva do es-
tresse. O segundo (estágio de adaptação ou fase de resistência transitória)
permite que o organismo continue a lutar contra o ameaçador e depois repa-
ra os danos causados pela reação de alarme; reduzindo os níveis hormonais
e liberando um neurotransmissor chamado Acetilcolina para ativar o Siste-
ma Nervoso Parassimpático, que logo restabelecerá o estado normal.
No entanto, se o estresse persistir, o terceiro estágio (de exaustão ou
desadaptativo) se inicia podendo provocar o surgimento de doenças associa-
das a esta condição. Neste estágio começam a falhar os mecanismos de
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adaptação, o que acaba por acarretar déficit nas reservas energéticas. As
modificações biológicas que aparecem nessa fase assemelham-se àquelas da
reação de alarme; mas agora o organismo já não é capaz de equilibrar-se por
si só. O organismo suporta muito bem aquele nível alterado causado por
acontecimentos cotidianos normais; porém, se a situação passar dos limites
razoáveis ele terá seu estoque de vitaminas, minerais ou aminoácidos des-
falcado. Milhares de enzimas responsáveis pela homeostase – que é a pro-
priedade natural que o organismo tem de regular seu ambiente interno, de
modo a manter uma condição estável – só se formam num ambiente onde
todos estes fatores possam exercer sua parte de forma completa e normal.
Isso só se dá num organismo equilibrado entre os limites entre saúde e
doença. Níveis persistentes de adrenalina e ácido clorídrico, por exemplo,
acarretam desequilíbrio no potencial hidrogeniônico (pH), o que causa um
desgaste orgânico generalizado, proporcionando ambiente favorável ao apa-
recimento de males orgânicos que chamamos de doenças. Podemos ilustrar
uma sequencia destas pela progressão de sentimentos comportamentais. Em
situações onde o humor varia dentro dos padrões normais, de acordo com
situações cotidianas comuns, a recuperação do organismo se dá pelos seus
próprios recursos. Ele recupera o equilíbrio e mantém o organismo funcio-
nando dentro da amplitude adequada. Quando simples reações emocionais
passam para sentimentos mais profundos e contínuos, todo o sistema poderá
ser prejudicado pela desordem causada.
Alguém pode ficar irritado com uma atitude mesquinha ou irresponsá-
vel de outro, por exemplo. Esta irritação por si só já afeta o sistema que terá
de liberar substâncias que normalizem o sistema. Mas, pior do que uma si-
tuação passageira são as atividades em que pessoas ficam por horas, todos
os dias, se sujeitando a todo tipo de reações mais bruscas. Aqui, assim como
na sequencia que adiante expomos, o organismo sofre modificações biológi-
cas que tornam impossível o restabelecimento devido à baixa nas reservas
de energia. Existem inúmeras situações nos relacionamentos humanos em
que, de alguns simples desconfortos psicológicos brotam rancores, mágoas,
culpa, vergonha e tantos outros sentimentos prejudiciais à pessoa como um
todo – mental, física emocional e espiritualmente – que acabam levando a
consequências ainda piores.
Por exemplo, dependendo do grau de maturidade de uma pessoa, de
uma simples desavença pode acontecer o início de um processo depressivo.
Uma pessoa que é destratada por outra numa discussão simples e recebe um
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forte golpe que não condiz com a sua realidade, por não gostar de briga ou
não saber se defender, por exemplo, leva em seu íntimo aquelas duras pala-
vras, que com o passar do tempo vão lhe minando o conceito de si. Daí, de
uma mágoa surge a tristeza; da tristeza a inibição de sua espontaneidade;
desta inibição à apatia que desvirtua a noção de seus verdadeiros valores; a
confusão de valores leva à perda da verdadeira identidade, o que enfraquece
as defesas naturais e o raciocínio lógico... Assim nasce, de um conflito ge-
rado por simples palavras, toda uma sequencia confusa que acaba por se
tornar um círculo de dor e angústia. Aqui vamos voltar a alguns pontos já
comentados neste trabalho, onde demonstramos que não é aquilo que satis-
faz momentaneamente uma pessoa que a levará a felicidade. Também, que
nem sempre o que imaginamos ser um modelo de felicidade pode de fato
conduzir pessoas a se sentirem bem, de modo que compreendam a si e aos
outros.
Quando temos apenas um vislumbre da vida, sem procurar se encaixar
de modo satisfatório, sem conhecer de si e um pouco do que são os outros,
poderemos chegar a pontos mais adiante onde aparecem a dúvida de que se
o que fizemos foi de fato importante para nós. Poderemos chegar a pontos
onde sentiremos um enorme remorso pela dedicação cega despendida para
aqueles que se aproveitam e sequer demonstram qualquer gratidão. Outras
vezes podemos chegar num determinado momento da vida onde nos senti-
mos esquecidos, apesar da enorme luta passada para fazer o possível para
agradar aos outros. Quantas vezes não nos sentimos vazios e desamparados,
mesmo tendo vivido com preocupações com os outros, sempre de maneira
agradável e disposta a ajudar o próximo. Quantas vezes não sentimos a
amarga sensação de sermos incompreendidos por aqueles a quem estende-
mos a mão, fizemos e cuidamos para ajudar na sua felicidade? Quantas ve-
zes não guardamos sentimentos ruins simplesmente por não querer compar-
tilhar ou incomodar com problemas que julgávamos ser somente nossos?
Quantas vezes não esperamos ser compreendidos quando, em boa parte das
vezes, aqueles não compreendiam nem a si próprios? Quem é que não espe-
ra viver feliz depois de ter cumprido com todas as obrigações, de ter feito
além das possibilidades sem receber sequer uma menção carinhosa?
Quantas vezes não nos sentimos usados, abusados em nossa boa von-
tade, educação e desprendimento, por aqueles que jamais valorizam esforços
dos outros? Quantas vezes não nos pegamos traídos pela vida depois de ter
feito tudo para agradar, e no fim não receber sequer uma palavra de grati-
dão, um simples reconhecimento de nossos esforços, um respeito por aquilo
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que tivemos de nos esforçar muito para conseguir? Seguimos perguntando,
quantas vezes auxiliamos, ajudamos e nos esforçamos sem receber nada em
troca? Quantos pais têm de suportar a indiferença daqueles que receberam
de seu melhor, mas que desprezam seus sentimentos, e continuam vivendo
como se eles fossem parte obrigatória de seu passado; como se todo seu
desprendimento e esforço não passassem de algo comum, que receberam
como simples obrigação de sua parte?
Quantas vezes não somos desmerecidos e desprezados depois de ter
dedicado parte de nossa vida em prol de pessoas que sequer se lembram do
que fizemos; e pior, que condenam até mesmo atitudes que tomamos visan-
do unicamente seu próprio bem? Quantas vezes não queremos parecer ser
resolvidos e seguros, mas conservamos em si pesados fardos de inseguran-
ça, ciúmes, culpa, desgosto, tristezas, desamores, infelicidade, intranquili-
dade e inconformismo? Quantas vezes não sentimos profunda mágoa por
não sermos compreendidos quando falhamos? Carregamos muitas vezes a
dor de pensar que desagradamos alguém, mesmo quando aquele nem sequer
se lembra do que aconteceu. O tamanho da dor é o tamanho da culpa; o ta-
manho da dor é o tamanho do desprezo; o tamanho da dor é o tamanho do
valor que dávamos por algo ou alguém perdido; o tamanho da dor é o tama-
nho da distância que achamos ter em relação àqueles que julgamos serem
perfeitos.
O que leva à depressão?
A depressão pode ter origem em diversos fatores desencadeantes, que
podem agir isoladamente ou em grupo. Quando não conseguimos raciocinar
sobre um sentimento mal resolvido que causa tristeza, e assim ele não é le-
vado para níveis satisfatórios de compreensão, passa a acompanhar a pessoa
como que um implacável perseguidor que destrói o equilíbrio e as energias.
Ao baixar as energias, todo o ser fica mais vulnerável a outras investidas, a
novos sentimentos de dores, com menos defesas ou vontade reagir. Por não
ter conseguido debelar um fator inicial desencadeante, pelo fato de não ter
conseguido “digerir” e entender as causas e consequências, a pessoa se torna
menos equilibrada e resistente para enfrentar novas investidas.
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Daí, qualquer nova derrota, sentimento ruim ou desprezo irão abalar
de tal forma que vai se sentir acuada e sem condições de reagir. Quando
amontoa um conjunto de fatores agravantes, logo sentirá como que se esti-
vesse sendo atacado por uma gangue de inimigos num beco sem saída. O
sentimento doloroso de estar perdido meio a bandidos acaba por causar o
pânico, o medo, o sentimento de ser menos capaz, impotente para fazer
qualquer coisa. Assim, se não percebe que o que está lhe causando mal teve
um princípio, um meio e que pode ter um fim, o desespero toma conta de
forma impiedosa e traiçoeira.
Com o passar dos dias as coisas tendem a se agravar. O contínuo sen-
timento de fraqueza e incapacidade descontrola o sistema nervoso que agirá
de forma desequilibrada. Um organismo doente produz menos reações físi-
cas e orgânicas. A saída geralmente encontrada são aquelas drogas alopáti-
cas para correção bioquímica do cérebro, para que ele retome o comando
deste sistema aflito de forma mais confortável. Mas, o máximo que se con-
segue com isso é amenizar a dor e produzir um pouco de suporte para pen-
sar e lidar com os problemas a partir de um ponto mais equilibrado, sem
excesso de preocupações ou pânico. O que se busca com a administração de
antidepressivos é a correção no nível de neurotransmissores, juntamente
com o reequilíbrio dos neurorreceptores, ajustando a quantidade e qualidade
destes.
Mas, infelizmente, nem sempre isso é o suficiente para curar a alma.
Se existe um problema não adianta aprisioná-lo ou maquiá-lo. Numa analo-
gia, seria como se consertássemos o telhado para parar de infiltrar água nu-
ma casa com o alicerce já danificado. Ora, se a base está prejudicada, claro
que somente impedir que entre mais água pelo telhado não será o suficiente.
Uma infiltração lateral, por pequena que pareça, poderá pôr tudo abaixo.
Com mais ou menos tempo a construção poderá ruir; se o problema está na
base, claro que teremos de adotar medidas eficazes que reforcem este alicer-
ce para que seja novamente resistente a todas as intempéries. Maquiar ape-
nas para transformar o monstro em algo menos feio não é o suficiente.
Temos é que tratar do problema a partir de sua origem. Por isso refor-
çamos a importância de uma análise criteriosa e muito bem feita que avalie
a situação em seu todo. Achar a causa, ou as causas que deram início ao
processo é fundamental. Isso só se consegue a partir de que conheçamos a
pessoa e sua vida pregressa. Quando identificamos o tipo humano e acha-
mos a raiz do problema, teremos de seguir um fio que conduza até que se
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chegue ao plano atual de existência, com todos os elementos constituintes
da situação. Os fatores que podem levar à depressão são inúmeros. Mas,
vamos dar uma passada em alguns deles, nos mais comuns, para demonstrar
de que forma acontecem e qual as atitudes devemos tomar para manter
qualquer depressão bem longe. Se você é depressivo, acompanhe e perceba
se alguns destes fatores não fazem parte do rol dos perversos que povoam
sua mente.
Demonstramos nos capítulos anteriores várias ocasiões onde o deslize
abre as portas para os mais cruéis sentimentos de desaprovação de si, des-
contentamentos e aflições. Não queremos ser repetitivos e voltar a abordar
pontualmente cada situação. Porém, há milhares de pessoas que se encon-
tram em situações perigosas, com depressões fortíssimas e não têm recurso
para um tratamento adequado. Então, vamos passar por alguns tópicos onde
comentaremos sobre alguns destes algozes. Na juventude geralmente a de-
pressão nasce da reprovação de si, de alguma característica física notada
como imperfeita por si mesmo, por uma timidez excessiva, por despedidas
indesejadas, desamores, excesso de ciúmes, complexo de inferioridade, difi-
culdade de transmitir de forma clara seus sentimentos e opiniões; o que leva
à diminuição da vontade, ao prejuízo da memória e consequente falta de
vontade de raciocinar e pensar sobre as aulas – que nesse ponto estarão sen-
do recebidas como algo difícil de ser digerido.
O desempenho escolar começará a cair, e outros problemas poderão
surgir dessa trama: timidez, recolhimento, revolta, abandono das tarefas,
ódio, raiva e descontentamento de si, dos outros e do mundo. Um adolescen-
te pode sentir muito a separação dos pais, as brigas constantes entre eles, a
forma como eles tratam os irmãos, a forma como os irmãos e os colegas são
com os outros e com ele; a carência de recursos financeiros, o sentimento de
que não é amado pelos colegas e por aquelas que aprecia secretamente e
gostaria de namorar, entre tantos outros motivos.
Para estas dificuldades, basta que se remeta a alguns comentários fei-
tos em outros capítulos anteriores que se verá sobre o porquê e como pode-
remos proceder nestas ocasiões. Sentir-se oprimido ou entristecer-se com
alguma coisa de vez em quando é normal e comum entre todos os adoles-
centes e adultos. Só se deverá preocupar e procurar ajuda quando ela persis-
tir a ponto de prejudicar o andamento normal de vida.
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O pior mesmo é aquela depressão que atormenta e retira toda a alegria
de viver, mina as forças físicas e causa um profundo estado de desolamento.
A pessoa se sente fortemente prejudicada em tudo que tenta fazer – isso lá
quando tenta. Sua vida passa a ser uma constante luta com os sentimentos
que apagam a personalidade e tiram a vontade de reagir. O quarto e a cama
parecem ser o único lugar que lhe dá alguma tranquilidade. Mesmo nos
momentos de descanso continua a pensar em problemas, imagina soluções
impossíveis e continua se frustrando. E, pior: muitas vezes o estado chega a
um ponto onde a pessoa simplesmente desiste e continua em seu estado,
convivendo com o problema como se eles fossem parte de suas característi-
cas pessoais. Muitas das depressões infantis e juvenis – e até de muitos
adultos – são sinais claros de problemas acontecidos em derradeiras passa-
gens e que não foram resolvidos de uma forma completa e satisfatória. Nes-
tes casos, somente um profissional habilitado, muito bem preparado e com-
petente é que poderá ajudar, através de uma regressão.
Uma das fases em que mais vítimas são acometidas de depressão é no
ingresso à terceira idade. Aqui existe uma forte e natural tendência ao iso-
lamento: o afastamento dos filhos, a perda do cônjuge, os sentimentos de
culpa, os saudosismos, os inconformismos, a sensação de aproximação da
morte, as doenças, a fragilidade perante o mundo; a sensação de que não faz
parte da vida cotidiana de que está renegado a outra categoria de viventes,
de que ninguém mais se importa com o que sente, com o que fala, com o
que quer, com suas necessidades, opinião ou importância; pelo sentimento
de que foram passados para trás com o tempo, que estão desatualizados e
fora do mundo moderno, de que são antiquados e menos espertos do que a
geração mais jovem; de que os filhos hoje dedicam todo o amor à esposa ou
marido, filhos e amigos.
Pelo medo de ficar jogado conforme a vontade daqueles que pouca ou
nenhuma consideração têm com eles; de que poderão estar só numa ocasião
de emergência; de que já não se integram mais à vida moderna, de que são
atrasados e menores, menos digno de atenção e amor; e assim são tratados
como algo que perdeu o brilho, com a data de validade ultrapassada, e que
não prestam para mais nada. Pelo sentimento de que ninguém valoriza toda
uma vida de trabalho, dedicação, amor e desprendimento no trato incondici-
onal com filhos, cônjuge e outros; de que seus conhecimentos estão ultra-
passados pelas modernidades; pelo fato de não ter mais escolhas, de ter que
seguir conforme a vontade dos outros; de ter de se contentar com o que ou-
tros – muitas vezes, de muito mau grado – lhes provê; por ter de sofrer com
243
a desatenção e pouco caso dos filhos e parentes, que pouco ou nada se im-
portam com suas necessidades ou vontades, etc.
A depressão é um transtorno afetivo que geralmente se compõe de
medo, angústia, insegurança, culpa, ansiedade, preocupação e autocobrança
excessivas; perda do equilíbrio nas ações, descaminho, sentimento de inferi-
oridade e impotência; nostalgia, solidão, frustração, negativismo, nervosis-
mo, irritação, inconformismo, derrotismo, falta de esperança, autopiedade,
isolamento, exclusão, baixa autoestima, confusão, desequilíbrio e cansaço
fisco; reclusão, timidez, falta de vontade, hipervalorização dos problemas,
repetição e apego ao passado, dentre outras coisas. Quando alguém se en-
contra no estado de depressão, qualquer comentário ou notícia de que algo
não vai bem, nem que não seja com alguém muito próximo ou que lhe diga
respeito, logo atiçará o sentimento de angústia e impotência, como se esti-
vessem sendo cobrados ou tivessem de agir ou tomar alguma providência.
O medo de que, além da sua situação, algo mais se torne pior, aumenta
ainda mais sua angústia. Isso acontece mais frequentemente com mães que
se preocupam demasiadamente com os problemas dos filhos, mesmo quan-
do já estão casados. Se algum parente ou amigo adoece ou passa por qual-
quer dificuldade, logo serão tocados como se tivessem de sofrer juntos. A
notícia soa como um alarme que pede providências. Se não podem fazer
nada, ficam se cobrando como se estivessem se omitindo. A educação ex-
cessivamente rigorosa que receberam tornou sua responsabilidade aguçada a
tal ponto que acham que têm de tomar providências com relação a tudo.
Quando não conseguem realizar algo, para si ou para outrem, entram num
estado de frustração e pesar, como se estivessem falhando ou dando as cos-
tas para os problemas. Se existiu um fato em que tenham agido de forma
áspera ou equivocada, carregam a culpa, se condenando e renovando este
sofrimento todos os dias. Se não podem agir para fazer além do que estão
fazendo, logo se sentem como se fossem inúteis, relaxados, incompetentes
ou irresponsáveis.
Quando isso chega num ponto onde o excesso de preocupação toma
conta, logo a porta estará aberta para outras tantas agravantes se instalarem.
Chega um momento em que o limite é ultrapassado e saturado desequili-
brando todo o ser, seu organismo, seus sentimentos e alma. Daí inicia-se o
desespero sem causa aparente. A invasão foi tão grande, tão incisiva e mar-
cante que a pessoa entra num estado de tristeza e descontentamento com
tudo, como se estivesse faltando algo, como se tivesse que fazer, mas sem
244
saber como nem o que. Quando este caos se instala e a situação se normali-
za, boa chance se terá de que a depressão ceda lugar para o estado normal;
mas, quando a situação persiste, sem que se possa fazer nada, logo tudo se
tornará nublado, escuro, frio, sem vida, triste, feio e dolorido. A nuvem ne-
gra que ronda os pensamentos gira tão depressa que se torna impossível
pensar e raciocinar de forma clara e tranquila.
Nestes estados as vítimas da depressão cometem exageros, precipita-
ções, atos insanos; deixam de tomar decisões claras e abalizadas, que é
quando atiram os acontecimentos ao acaso. Se suas forças não derem conta
de resolver aquilo que tinham ou não de fazer, abandonam a luta. Só que as
cobranças internas persistem. Com isso, sua vontade de viver estará profun-
damente enfraquecida.
Se viver é um peso altamente doloroso todos os dias, pra que continu-
ar tentando.
Para piorar isso tudo, se a situação piorar e não encontrar nenhuma
esperança de resolver sua situação e sua angústia, logo poderá até tentar pôr
fim em tudo de maneira trágica. Mas, se a depressão é uma confusão de sen-
timentos onde geralmente a pessoa não tem ideia clara de tudo que a fez se
instalar, existe muitas formas de se prevenir contra suas investidas.
Muito já comentamos a respeito da culpa. Vamos relembrar um pouco
para perceber melhor como ela pode ser uma forte componente numa de-
pressão. Existem milhares de pessoas que não aliviam a consequências de
seus atos passados, nem que eles já estejam resolvidos. Isso os torna eternos
condenados por qualquer erro cometido. É óbvio que ninguém está livre de
cometer erros.
Se você cometeu algum deslize no passado, e carrega consigo a dor
por ter agido daquela forma, é porque sua consciência alertou sobre aquela
atitude errada, e você aceitou a sua reprimenda, entendendo que você feriu
seu código de ética e ultrapassou o limite da legalidade. O arrependimento
só poderá acontecer quando alguém reconhece seus erros. Há muitos que
não se arrependem de seus atos porque não possuem consciência capaz de
julgá-los. Para estes, errar é uma forma de levar a vida.
Pouco se importam se prejudicaram ou prejudicam alguém. Sua capa-
cidade de discernimento e experiência não permite que hajam de forma mais
245
ponderada e acertada. Assim, agir de maneira marginal e errada nada mais é
do que ser esperto, ter opinião, não ser bobo, não ser tolo, não ser incapaz
ou incompetente.
Então, se você carrega alguma marca do passado, desde que não tenha
sido algo extremamente grave e que prejudicou imensamente alguém, sem
que você pudesse ou possa fazer alguma coisa, jogue fora sua culpa, atire
para bem longe qualquer mágoa, tristeza ou remorso. Se foi essa culpa que
te levou a determinado ponto de desequilíbrio, trate imediatamente de mu-
dar de sintonia.
O passado construiu seu presente; seu futuro são os atos e pensamen-
tos de hoje que construirão. Se você tem plena consciência de que errou,
certamente que foi porque quando fez foi contrariado, foi contra a vontade
ou levado por algum motivo que o desequilibrou naquele instante.
O arrependimento eficaz elimina a culpa. Numa analogia distante, a
nossa legislação permite que, aquele que comete um furto, por exemplo, e se
arrepende logo em seguida e restabelece a ordem das coisas, devolvendo o
bem furtado nas condições em que se encontrava, não sofra qualquer atri-
buição de pena. Ele estará livre de qualquer punição. Isto recebe o nome de
“arrependimento eficaz”.
Nestes casos a justiça entende que, aquele que comete um ato ilícito,
mas se arrepende logo depois de tê-lo feito, e restitui a condição anterior-
mente existente, sem causar prejuízo ao proprietário ou a outrem, foi tocado
pelo sentimento de culpa que fez com que ele se arrependesse a partir de
que percebeu a gravidade de sua atitude negligente.
Como sua atitude posterior – a de devolver o bem – foi eficaz para
restabelecer a ordem das coisas, o que prevalece é o seu arrependimento;
que está sendo valorizado como uma atitude de quem não mais incorrerá no
mesmo erro. A reparação do erro foi eficazmente exercida quando sua cons-
ciência conseguiu suplantar uma vontade baixa do ego, corrigindo uma ati-
tude reprovável.
Então, voltemos. Se você sabe que hoje não tornaria a fazer o que fez,
por quê ficar carregando culpa? Pra que ficar sofrendo por um ato isolado
cometido por aquele que você já foi um dia? Aposto que, hoje mais maduro
e justo, reprova quando alguém comete ou pensa em cometer aquele mesmo
246
erro, e até orienta para que ninguém incorra na mesma falta. Se você cresceu
e chegou neste ponto onde percebe que cometeu algo que desagradou al-
guém ou a si próprio, dê graças por já ter passado por esta oportunidade
onde pôde se provar e criar mais qualidade moral.
Festeje o que você é hoje e não fique remoendo aquilo que não pode
ser mexido. Se for algo que o afastou de alguém ou causou prejuízo, peça
desculpas, procure reparar a perda ou prejuízo; não carregue consigo ele-
mentos do passado que ficam como fantasmas assombrando sua alma, afe-
tando sua personalidade e caráter. Se não pode fazê-lo por falta de condi-
ções possíveis, como a morte de quem você magoou, por exemplo, peça
desculpas numa oração e sinta-se perdoado. Quem vive no mundo espiritual
tem condições mais claras para compreender a si e aos outros, com todas as
suas qualidades e defeitos; certamente, então, que compreenderá sua even-
tual falha, seu arrependimento sincero, e seu pedido honesto e humilde de
desculpas, e o perdoará.
Não se sinta obrigado a fazer sempre
E a excessiva preocupação com os outros? Ora, se você já cumpriu
sua parte com luta e dedicação, por que ficar pajeando adultos, como se ti-
vesse obrigação de reparar suas falhas e coordenar suas ações? Cada um tem
sua vida, sua individualidade, seu livre-arbítrio e obrigação de arcar com as
consequências de seus atos, omissão ou inércia. Ninguém tem que ficar pas-
sando a mão na cabeça de quem por si só dá motivos para que sua vida seja
uma eterna bagunça.
Claro que não podemos generalizar; existem muitas situações onde
podemos nos sentir compelidos a ajudar: pela compaixão, pelo amor, pela
consideração, pela amizade, pela obrigação ou pelo simples fato de ser des-
provido de egoísmo. Mas, em boa parte das situações corriqueiras de um
casal, por exemplo, serão eles que terão de tomar providências e lutar para
tornar a vida viável e boa de ser vivida. Não há que se preocupar em reme-
diar nem arcar com o ônus das inconsequências sejam lá de quem for. Cada
um tem a obrigação de construir a si próprio, com suas próprias forças. Nin-
guém aprenderá enquanto houver quem faça por ele. Ninguém se preocupa-
rá com as consequências de seus atos quando não tiver de assumir a respon-
247
sabilidade sobre eles. Imaginar que tem de cuidar dos filhos, mesmo depois
de eles já terem idade suficiente para agir por si, é outra forma de preocupa-
ção que pode gerar a frustração e tristeza, principalmente quando não puder
fazer nada.
Então, não se ache na obrigação de ter de suportar cruz dos outros, se-
ja lá de quem for. Você não estará ignorando nem amando menos se não faz
porque não tem que fazer. Lembre-se de que existe um dito popular que diz
“em questões conjugais ninguém deve se meter”. Se você já cumpriu sua
missão com méritos, aceite que seu trabalho já foi feito. Agora, o mais certo
é que eles façam por você.
“Ah, mas eu me sinto na obrigação de fazer alguma coisa...” Mas isto
não é irresponsabilidade nem demonstração de indiferença. No máximo po-
demos ouvir, compreender e até oferecer algum conselho. Mas, daí a ficar se
remoendo com problemas dos outros...
Certamente que você já passou por inúmeras dificuldades; todos nós
passamos, porque isso faz parte da vida de qualquer um. Até por isso você
sabe pesar as dificuldades dos outros; mas é somente através das dificulda-
des e autoprovações que aprendemos. Então, deixe que cada um trate de sua
vida. Dificuldades devem ser encaradas como oportunidades de crescer e
melhorar-se. Enquanto houver quem faça por nós, continuamos no mesmo
estágio; e com mais ou menos tempo teremos de passar por alguma situação
mais difícil que nos ensine como se superar para não mais errar. Diminua o
peso de sua responsabilidade. Excessos de preocupações com tudo causam
nervosismo, estresse, ansiedade, descontentamento, desilusões, dor e sofri-
mento.
Não se imagine uma vítima do mundo
Outra coisa que costuma levar à depressão é o dó de si mesmo. Quan-
do nos colocamos como vítimas do mundo caímos numa autocompaixão
que faz com que nos sintamos de fato humilhados, passados para trás, me-
nores, inocentes, tolos e vítimas de tudo que os outros fazem. Aceitar ficar
num plano passivo e acatar tudo o que os outros fazem será como se anular
e deixar acontecer o que os outros querem, e não o que você deseja para si.
248
Dar-se o devido respeito coloca uma barreira, um limite até onde os outros
podem chegar. Deixar-se levar para agradar aos outros, poderá ser uma for-
ma de querer parecer sempre bonzinho, mas só que sempre só o será para os
outros. Lembre-se de que o primeiro a ser amado, respeitado e agradado é
você mesmo. Sem egoísmos ou excessos de vaidades, temos de fazer por
merecer a necessária tranquilidade.
Colocar-se como o bonzinho para agradar, cheio de medo de magoar,
pode deixar uma bomba na sua mão; poderá levá-lo a sempre querer agradar
os outros e esquecer-se de si. Sabe aquela dificuldade enorme dizer não?
Pois isso advém do temor de ser tido como ruim, como má pessoa ou egoís-
ta. Nossas inseguranças e carências nos fazem temer que as pessoas deixem
de nos amar. Mas, aceitar fazer algo para os outros deve partir do princípio
da coerência. Fazer só pra agradar pode ser abrir a porta para pessoas aco-
modadas e preguiçosas que ficam sempre na dependência de que outros fa-
çam por elas. Então, antes de simplesmente aceitar fazer algo, temos de res-
peitar os limites de nossas vontades e individualidade.
O dó de si remete ao isolamento e ao recolhimento calado. Sentir-se
pequeno para ter a compaixão dos outros poderá levá-lo a ficar calado na
infantil esperança de que alguém identifique sua dor pelos seus pacatos ges-
tos. Quando isso acontece, a compaixão dos outros faz com que nos enxer-
guemos como coitados e desprezados. E, claro que isso é uma forma de ten-
tar comover e chamar a atenção! Mas, nem sempre isso dá certo; ou, às ve-
zes, demora tanto que o tempo de remorso pode causar grandes danos emo-
cionais. Então, falar e comunicar suas dificuldades e sentimentos – desde
que faça com as pessoas certas – será uma forma de tirar o peso de uma luta
solitária; será uma forma de ouvir outras opiniões e auxílio daqueles que de
fato te querem bem. Nunca se ache indigno de merecer ajuda, se fechando
com medo de incomodar alguém. As pessoas de bem sentem prazer em po-
der ajudar. Falar de suas dificuldades e problemas é demonstrar humildade.
As pessoas sentem um profundo prazer em ajudar aqueles que se re-
conhecem nas suas limitações. Até porque se sentirão enaltecidas em seu
prestígio e valor, dignos de escutar suas carências de foro mais íntimo, e à
altura de poder prestar auxílio. Todos nós precisamos de aprovação; fazer o
bem para o outro é uma forma de se sentir realizado, prestigiado e útil. Au-
mentamos nossa autoestima sempre que somos úteis. Assim, isso nos faz
sentir alegria e satisfação por ter sido útil e amigo, preenchendo nosso natu-
ral instinto de realização. O sentimento de caridade é a forma que temos de
249
demonstrar aquilo que desejamos para nós mesmos. Então, podemos conclu-
ir que uma boa forma de amenizar qualquer tristeza ou depressão é sendo
útil, caridoso e prestativo. O amor puro despendido no altruísmo nos eleva
aos mesmos níveis da alegria de quem recebe os benefícios de nossa carida-
de.
Fazer dá a sensação de dever cumprido, de ser bom, de ser suficiente-
mente grande para reconhecer a dor do próximo e fazer parte de seu alívio.
Quem é procurado nestas ocasiões sente qualquer barreira sendo quebrada.
Seu nível de relacionamento será muito mais livre e proveitoso. Isto é ex-
tremamente gratificante porque demonstramos nosso verdadeiro amor. De-
monstrar amor é um prazer que vale reconhecimento e destaque, além de
causar bem-estar pessoal. Precisamos fazer, inclusive para que nos sintamos
amados e capazes.
Então, não se isole na quietude que atormenta. Comunique suas dores,
angústias e dificuldades, que certamente sempre haverá alguém para ajudar.
Aquele que ajuda tem a oportunidade de demonstrar o seu lado bom, seu
bom coração e sua íntima vontade de ser diferente num mundo tão violento.
Quem faz pelos outros cresce e se afirma interiormente, e passa a adotar
outra postura perante a vida.
A consciência e compreensão do sofrimento dos outros promove um
salto na sua qualidade pessoal. Vivemos num mundo onde personificamos
uma pessoa forte o suficiente para suportar os golpes do mundo. Só que
dentro de cada um de nós existe um Ser bom e carente. Muitas vezes, a úni-
ca forma de fazer aflorar este lado escondido pelas muitas defesas será aju-
dando ao próximo.
Desilusão de si
Outro motivo que pode deprimir alguém é o descontentamento com o
próprio rendimento, com a sensação de que poderia fazer mais, com o sen-
timento de que está se ausentando aos compromissos, deixando de fazer, ou
não fazer quando sente que a situação pede uma solução. Pessoas advindas
de sistemas extremamente rigorosos vivem com a cobrança interna de que
não podem ficar parados, que não podem esmorecer, que não podem ser
250
preguiçosos etc. Quando este tipo de filosofia foi calcado de forma austera,
a pessoa não consegue se dar o direito ao descanso. Se ficar alguns poucos
minutos a mais descansando, logo sentirá uma voz interna cobrando para a
ação.
Só que em determinadas circunstâncias e fases da vida não há como se
fazer muita coisa. Existe inclusive um tempo de diminuir os afazeres e reco-
nhecer que não é de ferro, nem tem que passar o tempo todo fazendo algo
porque alguém um dia falou que o ócio é vergonhoso. Se você já fez tudo na
sua luta de vida, por que conservar a ideia de que tem de matar um leão por
dia, mesmo quando já não tem que se preocupar tanto com coisas que se-
quer lhe dizem respeito?
Só que muitas pessoas não admitem ficar paradas, mesmo quando já
estão com certa idade, quando o ideal seria descansar e procurar atividades
para recreação e manutenção da saúde. Não se deixam ficar na cama, por
exemplo, nem sequer alguns minutos a mais do que o horário que acordam
costumeiramente, como se aquele fosse o limite de descanso. Se passar al-
guns poucos segundos a mais deitado, logo a consciência medrosa remeterá
à severidade daquelas cobranças feitas no passado. Existem muitas pessoas
que se veem limitadas no mundo fechado de seu lar, sem poder fazer qual-
quer outra atividade que alegre um pouco o coração e que as faça sair da
rotina. Isso vai causando a sensação de inutilidade e exclusão do mundo dos
vivos. Os dias passam e a sensação de privação só faz aumentar a angústia
pelo sentimento de que está inútil e desprezado para qualquer atividade.
Quando alguém é ou foi ativo e participativo, claro que sentirá forte-
mente qualquer tipo de diminuição no seu ritmo habitual. Nestas ocasiões,
além de aceitar e compreender que pode e deve desfrutar de momentos de
descanso e lazer, deve se procurar novas alternativas de diversão, recreação,
entretenimento, cultura, coisas que tirem da monotonia e sensação de que o
mundo o esqueceu num porão escuro. Buscar novas amizades, grupos que
compartilhem de gostos parecidos, dança, leitura, jogos, turismo, música,
cinema, camping; enfim, atividades que promovam o bem-estar, a alegria, a
satisfação de viver, que preencham os dias com cultura, emoções, boas gar-
galhadas, otimismo, fé, amor e fraternidade. Este tipo de atitude elimina
qualquer tipo de depressão e afasta qualquer possibilidade de que ela ve-
nha a se aproximar.
251
Manter-se integrado em grupos que compartilham gostos e atividades
é uma forma de conservar a alegria de viver, a boa saúde, o ânimo, a dispo-
sição, o equilíbrio que todo organismo precisa para manter-se bem. Existem
inúmeras atividades que não custam dinheiro: caminhar, exercitar-se, rir,
cantar, ouvir boa música, dançar, prosear, namorar, brincar com uma crian-
ça, pescar, participar de um descontraído jogo de cartas; passear em clubes,
parques onde se possa sentir e apreciar a natureza; shoppings, museus, bi-
bliotecas, no comércio em geral.
Você já experimentou assistir a uma Missa, principalmente quando
seu estado emocional não está muito bom? Se ainda não o fez, experimente
e veja o quanto o simples, porém sagrado ato de comungar, faz bem? O
ambiente iluminado pelo calor da oração nos alimenta a alma, apazigua o
animo e renova nossas forças. Experimente!
Que tal dar uma boa arrumada naquele cômodo da casa que está meio
bagunçado? E se mudar a arrumação dos móveis, pôr um vaso com belas
flores... Leia um bom livro, escreva um pouco, comente um pouco de si em
palavras descompromissadas; abrace uma pessoa querida, sem barreiras ou
medos; arranje um animal de estimação que não cause tormentos, um gati-
nho, por exemplo, pássaros, peixes coloridos; plante um jardim, aprenda a
pintar quadros, a usar o computador... O importante é manter-se ativo e ale-
gre, afastar qualquer tristeza e manter sempre uma expressão de juventude,
atitude confiante e saudável. Isto chama todo o organismo a levantar-se e
manter a boa disposição. A atitude faz o momento, a vontade, a manutenção
de bons níveis de ânimo e disposição. Seu estado de espírito reflete direta-
mente no seu estado de saúde. Vibração e semblante alegre abrem o cami-
nho para a saúde, juventude e alegria permanentes.
Não gosta de muita agitação nem de integrar grupos? Basta que você
esteja bem consigo e queira sair da monotonia. Quem sabe até convidar
aquela velha amiga – ou irmã, filhos, alguém que você goste e que tem bom
ânimo – para participar de caminhadas suaves e descontraídas. Que tal ir
fazer companhia para aquela sua amiga que adora ir ao shopping, simples-
mente para passear e ver gente nova? Enfim, existem inúmeras maneiras de
buscar bons motivos para viver alegre e feliz. Está acima do peso? Busque
orientação e inicie uma dieta moderada que leve em conta sua condição físi-
ca e necessidades diárias; mude o corte de cabelo; compre roupas mais ale-
gres; faça um tratamento de beleza; busque uma atividade que pode tornar-
se frequente e que lhe seja agradável, tal como cantar num karaokê, brincar
252
num videogame, escrever um livro...; enfim, alguma coisa que a faça sair da
monotonia entediante. O que não podemos é nos recolher e ficar chorando
pelos cantos, esperando a morte chegar.
A sua felicidade depende única e exclusivamente da sua atitude. Pren-
der-se a antigas condições é se tornar refém do passado. Imaginar que so-
mente numa condição parecida com a que passou um dia poderá resgatar a
alegria, será limitar-se a viver de lembranças. Nostalgia e lembrança servem
apenas para reviver bons momentos. O agora tem de ser preenchido com
coisas novas, sem apego ao passado, a pessoas ou condições já vividas. Se
está se sentindo isolado ou esquecido, comunique-se, fale de seus descon-
tentamentos, reclame sua atenção, compartilhe suas dúvidas e converse a
respeito de qualquer sentimento ruim. Deixar passar o tempo levando má-
goas ou ressentimentos é como cultivar ingredientes venenosos que podem
criar a depressão.
Não pense que não ter condições de fazer tem de limitar suas reivindi-
cações àqueles por quem já fez muito. Os filhos têm a obrigação de amparar
seus pais. Não se sinta incomodando em reclamar o seu direito e de ter a
tranquilidade necessária, depois de ter dedicado muito de sua vida e se pri-
vado de muitas coisas para fazer por eles. Existem sociedades que cultural-
mente respeitam e cultivam esse princípio como sendo uma obrigação ele-
mentar – como na Índia, por exemplo.
Menos fatalismo
Um outro fator desencadeante de angústias que podem levar à depres-
são é a multiplicação das dores de uma perda ou o fatalismo de sempre se
imaginar à beira de doenças ou da morte. Abordamos melhor este assunto
mais adiante; mas, não podemos manter a dor de uma perda ou ter medo da
morte. Melhor será viver bem até nosso último dia, sem sustentar medos
desnecessários; não temos de sofrer por antecedência, recear sobre aconte-
cimentos futuros que não sabemos como será, quando será e de que forma
vai acontecer; nem ninguém tem de passar o resto da vida lamentando uma
perda, com eternas choradeiras, simplesmente porque gostava muito daquele
que se foi.
253
Ora, se o amor é verdadeiro, ele existe e permanecerá, tanto o de um
quanto o do outro. A morte sepulta o corpo, mas não os sentimentos. Man-
tenha sua consideração, seu amor e carinho de forma natural, sem guardar
apego, sem multiplicar sofrimentos. Isso só leva a um destino: depressão!
Deixe os que se foram descansar em paz, sem incômodos nem o peso de ter
de viver preocupados com a dor e inconformismo daqueles que ficaram, e
que não compreendem que esse é o caminho natural de todos. Desapegue-
se. Seu amor por quem já se foi jamais irá diminuir se passar a gostar de
outro alguém. Se você guarda respeito por aquele que já partiu, nem de lon-
ge será necessário guardar o peso do luto.
Aparências enganam não só aos outros
Existem inúmeras pessoas que se escondem por detrás de suas cria-
ções mentais, personagens que criam para parecer bem para os amigos, fa-
miliares ou para a sociedade. Ao tentar criar em cima do que é uma figura
que acha ser o ideal para aparecer, afogam sua verdadeira essência e come-
çam a montar um monstro cada vez maior que, futuramente, certamente se
virará contra seu criador. Principalmente na adolescência, tudo que está à
volta influi intensamente na forma de pensar e agir do jovem. Se ele tiver
pouca segurança e, consequentemente, baixa autoestima, logo procurará
copiar modelos que ele vê e sente como sendo o ideal para se encaixar no
meio em que vive. Só que ao fazer isso, ao abandonar a verdadeira identida-
de, expulsa e afoga dentro de si todo seus verdadeiros princípios, sua perso-
nalidade, temperamento e equilíbrio, em detrimento desta figura imaginada.
Com isso, a pessoa sente-se inferior, vê em algum outro um modelo
que acha mais bem aceito e deseja ser igual. Sua atitude então estará sobre
forte influência da vontade de ser igual àquela figura que adotou como mo-
delo. Mas suas dificuldades existenciais continuam morando no porão da
alma, e com o tempo se manifestarão reclamando providências para que
sejam resgatadas e resolvidas. O conflito que isso costuma causar pode levar
a depressões terríveis. Por isso, vemos frequentemente pessoas se mostrando
tão alegres e resolvidas, mas que no fundo carregam as dores de não se iden-
tificarem nem ser aquilo que estão demonstrando ser. Quando voltam ao seu
recolhimento, logo começam a sentir os efeitos das cobranças de sua cons-
254
ciência apontando para suas atitudes tolas e infantis, seus abusos em detri-
mento de sustentar uma aparência “bem resolvida”.
Estes só conseguem sair deste transe a que se submetem quando acor-
dam e percebem que o que importa é ser o que é espontaneamente, e não
alguma coisa que imaginou ser para agradar aos outros, para se sentir apro-
vado e amado. Dentro de níveis normais, claro que vamos mudando nosso
jeito, nossos hábitos, maneiras, personalidade, caráter e expressão conforme
amadurecemos. Mas, em níveis diversos, frequentemente vemos pessoas
completamente desvirtuadas, representando ser algo que nem de longe con-
diz com sua verdadeira identidade.
Estes conflitos quando não são percebidos e trazidos para níveis razo-
áveis – dos quais se poderá iniciar uma recuperação – podem conduzir a
grandes desastres, vícios, desajuste social, abandono de bons princípios e
queda. Boa parte dos dependentes de entorpecentes passaram por estes ca-
minhos. Por isso, nunca é demais refletir sobre as atitudes que tomamos
para não ultrapassar limites onde nossa natureza mais íntima e verdadeira
seja abalada.
Sempre que forçamos além do limite colocamos em risco o ponto de
equilíbrio. A perda do referencial-base verdadeiro e genuíno pode levar ao
caos, prejudicando o desenvolvimento natural e sadio das mudanças que
todos nós temos de fazer para melhor se ajustar ao meio e àquilo que dese-
jamos ser. O que pode advir destas situações perigosas, e também da com-
pleta segurança apenas numa imagem, é de se pôr sob o julgamento dos ou-
tros de acordo com a nota que dão para aquilo que estão vendo. É importan-
te lembrar que boa parte dos comentários dirigidos pelos outros é formada
pela inveja, maldade, mentira ou irresponsabilidade; então, se alguém aceita
tudo isso como verdadeiro estará sempre aberta ao que os outros dizem,
deixando influenciar-se até por comentários infundados, mentirosos, fúteis
ou banais.
Isso acontece com frequência nos romances adolescentes mais apai-
xonados, onde o que mais se valoriza é a aparência física. Assim, colocam
todos seus valores conforme sentem que são vistos pelas outras pessoas. Se
tiverem boa aparência são seguras e se sobrevalorizam; se não têm, logo se
põem para baixo, como se aparência fosse tudo. Existe uma infinidade de
casos onde jovens passam por imensas desilusões amorosas levadas por esta
confusão entre sua aparência e sua verdadeira essência humana. Muitas aca-
255
bam se envolvendo nesses romances onde primeiro se valoriza as aparên-
cias, e não o que de fato é a pessoa, com todas seus sentimentos, qualidades
e defeitos, insegurança, medo, carência, necessidades ou fraquezas.
Marilyn Monroe é um exemplo perfeito para ilustrar isso de forma
mais clara. Belíssima, era cortejada por todos os galãs, influentes e milioná-
rios da época, que só valorizam de fato toda sua exuberância, toda sua femi-
nilidade, fragilidade e delicadeza. Seu aspecto meigo transpirava sensuali-
dade e provocava desejos ardentes. Porém, seu coração vivia oprimido por
ela não ser correspondida nem compreendida. Era mera personagem de jo-
gos de interesses escusos.
Sua pessoa era desprezada, pois pouco se importavam com seus valo-
res pessoais, seus sentimentos, insegurança, carência, fragilidade e inocên-
cia. Esse dilema a impedia de viver feliz, aniquilando e apagando todas as
cores de seu glamour. Apenas mantinha sua figura linda, mas por dentro
estava em farrapos. O fim trágico foi o ponto culminante de uma pessoa
dominada pela sua aparência, que não sabia lidar nem era respeitada nos
seus sentimentos e valores. Assim, seus frágeis valores se confundiam meio
à sua beleza. Em maior ou menor grau, isso acontece com mais frequência
do que se possa imaginar.
Enfim, fica evidente a importância de valorizarmos o que somos inte-
gralmente, independente de qualquer aparência. Capacidade e inteligência
valem por si só, independente de sua moldura. Verdadeiros valores é que
fazem o brilho de uma pessoa. A educação, orientação e acompanhamento
dos pais neste aspecto são de extrema importância. Uma linda aparência
sem conteúdo é tudo que os desejos e instintos alheios mais baixos desejam.
Ilusão de tolos
Outra causa de infinitos descontentamentos é o fazer para provar para
o mundo. Muitas pessoas passam a vida correndo atrás do dinheiro. O que
importa para estes é ganhar e ganhar, sempre. Não se importam nem com
seus sacrifícios, estresse e entrega às tarefas extenuantes. Por pensar que o
valor de uma pessoa se mede usando o tamanho da conta corrente como
parâmetro, fazem coisas absurdas para serem ricos e aparecer bem na socie-
256
dade. Não se importam de pisar nos outros, desrespeitar regras e convenções
quando o assunto é pôr sempre o máximo possível na conta, para que isso se
reverta rapidamente em bens materiais vistosos.
Sua vida é uma eterna busca por valores financeiros, bens materiais e
luxo. Assim sustentam sua pobre imagem, que acham que brilha como ouro.
Valorizam-se ao extremo, colocando os outros sempre abaixo de sua majes-
tade. Só que estes, em boa parte das vezes, quando não têm consciência de
si, confundem valores e levam sua vida num ritmo frenético, a ponto de nem
pararem para pensar ou simplesmente viver, e acabam terminando no isola-
mento.
Ora, tudo que amavam era o dinheiro; mas este não costuma comprar
amizade, saúde, amigos de verdade, uma boa família, nem nada que não seja
material. Quando adoecem ou envelhecem, muitas vezes se veem sós, des-
prezados, boicotados, retaliados e enganados. Só daí é que caem na realida-
de do mundo. O que adiantou conseguir uma montanha de bens materiais, se
dentro de si dificilmente se encontrará os verdadeiros bens, os morais, os
espirituais, as qualidades que todos nós temos de lapidar?
Passaram uma vida inteira ostentando, sem nunca oferecer sequer uma
pequena sobra para os outros; sua ignorância, prepotência, arrogância, ego-
ísmo e avareza afastaram toda e qualquer pessoa de bom juízo de perto. O
que restou de sua vida afinal? Dinheiro? Falsas amizades? Inimizades? Rus-
gas e veneno? Um punhado de bens materiais que logo terá de deixar para
trás? Um monte de dinheiro que seus herdeiros irão disputar à tapa? E os
verdadeiros valores, será que cresceram um pouco ou pioraram? Dentre es-
tes há aqueles que fizeram para tentar agradar aos outros, comprar amor e
criar uma figura vencedora e irretocável. Sua busca de status foi tão grande
que passou a vida correndo atrás disso. Muitos desses acabam tendo grandes
desilusões, doenças causadas pelos excessos, traições e infortúnios. Quando
percebem que muita coisa o dinheiro não consegue comprar, caem em pro-
funda depressão pelo desgosto de ter perseguido algo de valor temporário, e
não valores eternos.
Sua fragilidade é muito maior do que a imagem que sustentavam. A
estes, quando percebem a realidade, só resta o consolo de aproveitar o tem-
po que resta para promover uma faxina em si, e pôr bons princípios onde só
há apego.
257
Voltando às cores
O ideal para começar a sair do estado doloroso da depressão é fazer
uma parada para balanço; avaliar a situação e começar a promover gradati-
vamente as necessárias mudanças, a partir de um ponto que signifique um
novo início.
Inicie por cobrar menos de si, seja até menos responsável por hora pa-
ra que retire dos ombros o peso das cobranças, autopunições, culpa, dó de si
mesmo, o desânimo e a falta de vontade de fazer qualquer coisa. Daí faça
uma viagem ao interior de sua mente perguntando-se o que é que está afe-
tando tanto para que esteja tão para baixo. Existe algum problema real? Pois
trate de fazer o possível sem excessivas cobranças ou imediatismos.
Coloque-se num plano mais calmo e conserve este estado comparando
sua mente a um lago de águas claras, harmonioso, calmo e perfeitamente
equilibrado, sem nenhuma ondulação e sem ondas. Agora, lembre-se de que
é neste estado emocional que poderá refletir melhor sobre o passado, suas
dores, e os verdadeiros valores de cada sentimento. Vasculhe todos os po-
rões do subconsciente para encontrar os motivos que o levaram a ficar de-
pressivo.
Esta atitude por si só já promove o alívio. Sempre existirá um ou mais
motivos. Ninguém sai do estado normal para outro depressivo sem que haja
motivos. Não se aflija com tudo, mas comece a agir, e aos poucos encontra-
rá um meio de ir saindo da situação pesada. A ansiedade é causada por ex-
cessivas preocupações com o porvir, mas também pela postergação de nos-
sos afazeres. Se alguém acumula tarefas e não toma nenhuma providência,
logo o mecanismo interno começa a pressionar. A consciência dispara um
alarme como se estivesse dizendo: “Há várias coisas que precisam ser feitas
e prosseguidas para que tudo fique dentro da normalidade... Não fique para-
do, não relaxe... as consequências poderão levá-lo a ter de pagar um alto
preço!”.
Se a pessoa não pode fazer, ou não consegue – pelos muitos possíveis
motivos – isso não impede que o sistema de alertas dispare. A cobrança con-
tinua. Se não se toma providência hábil, logo tudo entrará em colapso. A
desordem nas coisas da vida externa acaba por afetar o equilíbrio da psique.
Este tipo de coisa é um dos maiores responsáveis pela sensação de dor sem
258
que se identifique o que está causando. A desordem pode chegar a tal ponto
que os problemas vão se empilhando. Quando isso acontece e não existe
uma ação contraria que satisfaça a solicitação de ordem, tudo acaba por se
tornar um caos. Daí não haverá apenas um problema, mas um conjunto que
se misturou e se tornou uma imensa bola negra atacando a alma.
A confusão de sentimentos será tão grande e forte que todo o orga-
nismo estará em colapso. Daí é que o sentimento de dor domina sem que a
pessoa se aperceba qual exatamente é a sua origem. Aqui não é apenas um
problema que está causando preocupação, ansiedade ou tristeza passageira;
mas sim, uma variedade de problemas acumulados. O forte desequilíbrio
emocional acaba se refletindo nas atitudes e sentimentos que, então, não
mais serão como uma simples tristeza ou melancolia; o que existe é uma
aflição exagerada causada pelo acumulo de problemas. Então, um misto de
tristeza, ansiedade, frustração, medo, baixa autoestima, fuga, temor, aflição
e caos toma conta deste que estará fortemente abalado por esta avalanche de
fatores. Esse acúmulo de problemas tem um nome: depressão! Por isso,
mais do que experimentar doses de ansiolíticos e antidepressivos é preciso
que se tome uma atitude com relação à vida. Não importa como, mas é ex-
tremamente importante que alguma providência seja tomada para destrin-
char aquele bolo de problemas.
A pior coisa nestas situações é deixar que o caos permaneça. A busca
por ajuda deve acontecer sempre que identificamos uma necessidade urgen-
te e não temos forças suficientes para resolvê-la. Nesta hora o orgulho deve
ceder lugar à razão. As ações devem partir do princípio de que existe uma
real necessidade e a situação precisa tomar outro rumo. Nem sempre os pro-
blemas são de ordem financeira, mas sim de ordem psicológica. Principal-
mente nestes casos, a necessidade de atividade física é imprescindível.
Quando se estamos parados envoltos em sentimentos ruins, se recolhendo à
mercê do que estamos sentindo, logo poderemos chegar num ponto de pro-
fundo transe por dentre as lembranças, dores, angústias, pesares e culpa.
O mecanismo de cobrança é o mesmo: ou fazemos alguma coisa ou as
cobranças levarão à aflição. Se continuamos parados, logo o organismo pas-
sará a responder de forma mais lenta, produzindo menos substâncias neces-
sárias ao equilíbrio e normalidade, tais como a serotonina. Mas, se a pessoa
inicia uma reação, seja ela uma caminhada, uma boa conversa para desaba-
far o problema, isto será entendido pelo sistema interno de cobrança como
uma reação. Então, automaticamente os níveis de cobrança baixarão, o or-
259
ganismo voltará ao equilíbrio que lhe permite liberar substâncias que moti-
vem para esta iniciativa, e o nível de bem-estar se manterá dentro do míni-
mo necessário.
As células que um organismo sadio produz são diferentes daquelas
produzidas por outro doente. Para que haja equilíbrio orgânico, antes deve
haver o equilíbrio emocional. O estado de espírito se reflete no semblante.
Sempre que fazemos um grande esforço mental ou físico, nosso organismo
reage criando substâncias que dão prazer e sensação de dever cumprido.
Esta é uma forma de tranquilizar a mente e de pô-la numa posição confortá-
vel. Se as atitudes deram conta de satisfazer as necessidades, a sensação de
dever cumprido promoverá bem-estar e tranquilidade. O sistema ficou saci-
ado porque as atitudes tomadas deram conta de pôr em ordem um setor que
causava preocupação.
Do contrário, se os problemas vão se amontoando, se os sentimentos
vão sendo represados, se a capacidade de discernimento não for o suficiente,
logo tudo estará coberto por lama, pelo caos causado pela confusão de sen-
timentos, sensações dolorosas e aflitivas nascidas lá no fundo da mente. O
subconsciente estará empurrando todo este lixo para que seja colocado num
nível ideal de entendimento, onde o raciocínio os faça entrar em paz com o
consciente.
Enquanto não houver uma iniciativa de começar a pôr as coisas em
ordem, noites sem dormir poderão acontecer e dias de choro e desilusão
terão de ser suportados, e grandes cobranças internas advirão deste sistema
em choque.
Não está conseguindo? Pois procure ajuda. Converse com as pessoas e
fale sobre suas aflições. Não está surtindo bons resultados? Procure um bom
profissional, e vá sem medo, vergonha ou receio. Não guarde para si o que
pode estar sendo uma fonte de veneno. Lembre-se sempre que você é muito
mais do que qualquer problema. Todos nós temos problemas durante a vida.
O que não podemos pensar é que somos um problema.
Todas as pessoas estão sujeitas a ter algum desgosto, dificuldades pas-
sageiras ou mesmo que demorem um pouco mais para serem solucionadas.
Quando existe vontade de sair deve existir, também, a iniciativa, o primeiro
movimento. Não houve ajuda eficaz da primeira vez? – Pois tente de novo.
Pessoas diferentes podem sentir e compreender determinada situação de
260
formas diferentes. Muitas vezes o que está sendo altamente difícil para nós,
para outros poderá ser apenas algo sem muita importância, dada a sua expe-
riência e conhecimento de causa.
Então, muitas vezes podemos procurar a ajuda de pessoas da família,
amigos, no trabalho ou de profissionais capazes de fazer uma boa análise e
ministrar terapia ou substâncias que podem auxiliar de forma definitiva na
recuperação do bom estado de saúde – sem apenas maquiar ou criar depen-
dências, nem deixar uma infinidade de rastros venenosos no organismo.
Quantas vezes você não se viu com um problema difícil e outra pessoa con-
seguiu resolver num simples passe?
O sacro-ofício
Toda pessoa que sacrifica sua ira cultiva a mansidão. Se alguém sacri-
fica a cobiça, nele nascerá o altruísmo. Quem sacrifica a inveja, nele surgirá
a energia da filantropia, o desejo de trabalhar pelo próximo. Esse trabalho é
denominado de “sacro-ofício”, expressão que deu origem à palavra “sacrifí-
cio”. Sem sacrifício não pode haver transformação. As impressões devem
ser transformadas para dar origem a novas energias, necessárias à manifes-
tação plena do Ser, da genuína Consciência.
Não devemos partir do princípio que uma necessária mudança tenha
de ser acompanhada do sofrimento. A iniciativa de mudar o que não está
bom em nós é um investimento de valor gigantesco. A acomodação na inér-
cia nos petrifica e limita àquilo que estamos vivendo no momento. Todas as
pessoas desejam ser mais prestigiadas, amadas, compreendidas, inteligentes,
discernidas etc; mas, poucas são as dispostas a sair de onde estão e trans-
formar o que for necessário para alcançar um novo patamar.
Quando sentimos que algo não está bom é preciso tomar a sábia ini-
ciativa de iniciar o processo de melhorias. Somente quando efetivamente
paramos e começamos a refletir é que iniciamos este processo. Quando as
primeiras análises são feitas, sem preguiça e acomodação, e chegamos à raiz
do problema, daí sim é que começamos a colher os frutos de nosso autoco-
nhecimento. Quando conseguimos sentir a diferença que isso faz, e todo
bem que isso promove, é que passaremos a valorizar estas reflexões. Feito
261
isso o processo passa a ser automático. Todas as vezes que nos sentirmos
mal seremos levados a refletir para identificar o que de fato está acontecen-
do. Isso nos eleva a outros níveis de raciocínio e maturidade.
Uma eficiente maneira de promover importantes mudanças compor-
tamentais é expressando as virtudes a todo o momento: em vez de reagir
com ira, agir com mansidão frente a uma determinada circunstância. Em vez
de reagir com luxúria, agir com pureza. Em lugar de reagir aos berros e gri-
tos, agir com calma, serenidade, paz e tolerância. A prática permanente das
Virtudes chama-se Conduta Reta. Devemos analisar cada uma de nossas
reações. Assim é que promovemos as necessárias mudanças comportamen-
tais. Devemos pôr sob análise cada uma de nossas reações, respostas, atitu-
des, emoções, sentimentos... Quando imaginamos ser esse alguém com estas
atuais características, acabamos por nos aceitar como somos e não nos preo-
cupamos em melhorar nada. Cada uma de nossas reações acabam sendo a
natural expressão daquilo que imaginamos ser.
Só que jamais podemos estacionar num ponto e aceitar sermos defei-
tuosos, amargos, respondões, rudes, mal-educados, inferiores, menos capa-
zes, fracos... Cada uma de nossas fraquezas e defeitos devem ser submetidos
à análise da Consciência. Só conseguimos mudar algo que conhecemos.
Rebeldia, inveja, raiva, ira, ciúme, timidez, distração, revolta, indiferença,
repulsão, deboche, incapacidades, preguiça, inconformismos, incompreen-
sões, etc, etc, devem ser analisados. Quando nos habituamos a parar e anali-
sar cada uma de nossas reações até as compreendermos, promovemos uma
revolução interna em nós. A partir desse momento nos conscientizamos de
que podemos mudar tudo aquilo que não está bom para nós nem para quem
convive conosco. Esse é o principal antídoto contra o egoísmo.
262
Capítulo XXVI
A dor do luto
Um dos maiores temores e causa de tantos sofrimentos é a dor da per-
da por morte, seja ela de um parente, de um amigo de alguém conhecido a
quem tínhamos estima. A dor da morte de um filho, dos pais, irmãos ou côn-
juge costumam ser das mais fortes e marcantes; e muitas vezes nem o tempo
cura as marcas deixadas abertas pelos sentimentos de dor e pesar. Saudade é
um sentimento natural quando lembramos ou recordamos de alguém com
carinho. Mas, muitos não só sentem saudades como também revivem a per-
da e suas dores a cada lembrança. Cada vez que se lembram do pai, da mãe
ou de um filho, lágrimas correm e o coração se sente oprimido; a mente se
perde em lembranças, tomada por uma onda que a faz reviver todas as cau-
sas, circunstâncias e tristeza vividas naquele momento de despedida.
Existem muitas pessoas que não conseguem superar a perda e prolon-
gam seu sofrimento pelo resto de seus dias. Entram em profunda depressão,
e sentem como se relembrar a morte todos os dias de sua vida fosse uma
necessidade. A separação causada pela morte lhes causa como se fosse uma
separação de uma parte de si. A perda estará sempre rondando a mente e
causando tristeza e dor. Não se conformam e seguem alimentando isso co-
mo se tivesse de fazer parte de sua vida. Esses são tomados por sentimentos
confusos que os levam a pensar que, esquecer ou aliviar sua dor será como
se estivesse esquecendo da importância que a pessoa teve em sua vida.
Este é um ponto fundamental: não precisamos e nem temos de conser-
var um sofrimento associando-o ao tamanho da importância e amor que sen-
timos por aquele que se foi. Não podemos querer demonstrar o que sentimos
por alguém através de exageradas manifestações de apego, saudades, nos-
talgia, choro, lamentações ou outras manifestações quaisquer. No fundo,
tudo isso não passa de carência mal resolvida e dó de si mesmo. Pessoas vão
e vêm todos os dias. Era assim, assim é e assim será. Isto é obvio. Só que
não temos um esclarecimento que dê conta de amenizar as dores da perda.
Quanto maior o grau de envolvimento, maior a dor. Quanto mais sentimos
falta, mais isto fica aflorando e fazendo sofrer. Por não termos um exato
263
vislumbre da vida espiritual nos calamos na dúvida quanto ao futuro; sobre
o que será daquele que é ceifado da vida corpórea.
O choro causado por uma perda é misturado ao sentimento de vazio,
de escuridão, de dúvida, de separação e perda definitiva. Outros associam a
morte como se aquele que se foi jaz numa fria sepultura; assim pensam na
morte associando com o despojo que foi sepultado, como se aquele que se
foi fosse aos poucos se acabando até sumir definitivamente. Muitos vão ao
cemitério rezar sobre despojos, restos mortais que nada significam espiritu-
almente; vão aos túmulos para lamentar a perda com grandes discursos e
lamentações chorosas, reportando-se a restos mortais. Depositam flores co-
mo sinal de amor ou saudade; demonstram carinho com gestos patéticos e
desconexos.
Outros tantos contam longas histórias de alguém já falecido como se
este estivesse num mundo distante, perdido no espaço ou não existisse mais,
nem na forma corpórea, nem na forma espiritual; ou como se estivessem
num lugar indefinido, envolvidos por vestes da morte, onde não sentem ,
não pensam, não falam, não ouvem; com ninguém a sua volta, num ponto
isolado do espaço, sem amparo, sem amor e alguém que os ouça. Algumas
seitas e religiões ensinam de forma confusa, obscura e errada o que é a vida
e a morte. Criam romances ridículos sobre coisas tão importantes, que mais
confundem do que esclarecem. Por querer demonstrar serem únicas portado-
ras da verdade, acabam criando ares de segredos, com seus códigos secretos
e coisas que não podem ser reveladas aos pobres seres da casta comum.
Passam conceitos absurdos de pecado e salvação causando temor e
terror pela confusão desconexa que atiram nas mentes menos esclarecidas.
Isso tudo acaba por criar o terror e medo da morte, do peso da perda, da dú-
vida que dói, que confunde, que escraviza e aliena mesmo pessoas esclare-
cidas sobre algumas coisas. Não podemos seguir algumas determinações
inventadas ou mal interpretadas simplesmente porque um grande número de
pessoas as segue; não podemos simplesmente acreditar em algumas “sabe-
dorias” simplesmente porque a maioria foi levada a acreditar e seguir. Não
podemos simplesmente acreditar em algumas coisas por que dizem que foi
escrito por grandes em códigos sagrados. Estes códigos têm inúmeros erros
de interpretação.
Alguns ensinamentos elevados recebem interpretações equivocadas
por parte de muitos que os usam para deturpar mentes, confundir crenças,
264
pregar o impossível, vender falsas curas ou milagres. Ora, mas ao se pensar
desta forma não se estará indo contra os ensinamentos sagrados? - Estare-
mos sim indo contra os Ensinamentos quando seguimos interpretações for-
jadas, maldosas e convenientes que muitos utilizam para ganhar dinheiro,
tirar de seus iludidos seguidores o pouco recurso que têm. Não medem seus
próprios atos e cometem erros absurdos tirando dinheiro e deturpando suas
verdadeiras raízes cristãs.
Nosso Mestre Maior nos deixou ensinamentos do mais elevado valor;
mas, é preciso que saibamos separar o que de fato é Sua Palavra de engodos
fantasiosos que confundem, escravizam e enganam. Não é por que dizem ser
daquela forma que temos de simplesmente seguir, como se fossem deuses
ditando regras infalíveis e inequívocas. Não confunda a Grandeza e Vontade
de nosso Mestre Maior com interpretações humanas, ultrapassadas, equivo-
cadas, ruins para quem as atira aos quatro ventos e para quem as ouve.
Só podemos atenuar as dores quando conhecemos, mesmo que apenas
um vislumbre, do que acontece no futuro. O que causa aflição e temor é o
medo do desconhecido, que gera a dúvida do que pode acontecer. Quando
sabemos que a vida futura nos reserva uma vida melhor, por que temer ou
lamentar a ida de um ente para nossa verdadeira morada, que é o mundo
espiritual? Podemos ter plena certeza de que o que nos espera é muito me-
lhor do que uma vida cheia de sofrimentos, provações, dores e lágrimas.
Claro que isso jamais autoriza alguém a abreviar a vida corpórea.
Aquele que imagina que poderá seguir para lugares mais elevados através
do suicídio, engana-se terrivelmente. Jamais se poderá sequer imaginar em
abreviar a jornada retirando-se da veste corpórea.
O espírito permanece. Aquele que abrevia sua vida terrena através de
uma insanidade, certamente que terá de cumprir todos os seus restantes
dias – aqueles que teria de viver aqui, conforme o que havia sido destinado
a ser cumprido – preso ao plano terrestre, numa veste oca, sem vida; mas
que sente agruras terríveis; sentimentos horríveis de vazio, sem poder satis-
fazer ou aliviar suas vontades nem sensações de fome, frio, calor, angústia,
medo, tristeza ou desespero...
Estes terríveis sofrimentos perduram até que chegue o tempo em que
o suicida faria sua passagem naturalmente. Por isso, insistimos: oriente
aquele que está no desespero com palavras de confiança, de fé e de espe-
265
rança. Retire qualquer chance de que venha a cometer o que imagina ser o
fim de seus problemas. O que acontece efetivamente poderá ser infinitamen-
te pior do que suportar as mais duras provas terrenas.
Assim como não iniciamos nossa jornada para desenvolvimento no
dia em que nascemos, também não terminamos nossa existência com a mor-
te. No ciclo reencarnatório o normal é que alternemos entre idas e vindas,
ora vivendo no mundo espiritual, ora encarnado onde existam condições de
prosseguir o desenvolvimento. Não se assuste imaginando que teremos de
perder um amigo ou ente simplesmente pela separação temporária que a
morte causa. Não imagine que somos donos de alguém simplesmente por-
que fomos incumbidos da missão de desenvolvê-la sob nossos cuidados.
Não somos um do outro. Somos todos seres únicos, filhos eternos de
um só Pai.
A hierarquia familiar varia durante as passagens de um e de outro nes-
te plano. Ela foi diferente em ocasiões passadas, é hoje o que está e futura-
mente terá outra configuração, com aqueles que hoje estão em determinada
posição vivendo noutra diferente, na condição que lhe for mais apropriada
ao mútuo desenvolvimento. Assim, podemos numa passagem terrena ser
filho de quem numa passagem anterior fomos pai; podemos hoje ter como
irmão alguém que já foi a mãe numa passagem anterior, e assim por diante,
nas mais diferentes posições de parentesco, ou mesmo vivendo numa famí-
lia onde a força das circunstâncias fez que ali encarnasse, independente se
na vida passada pertencesse ao círculo mais próximo de parentesco daquele
núcleo familiar.
Isso varia sempre, independente da condição sexual atual, hierarquia
ou vontade própria. Conforme a necessidade de desenvolvimento e prosse-
guimento daquilo que alcançamos, vamos alternando situações de vida no
decorrer da evolução.
Não podemos nos apegar a um ser simplesmente porque foi um filho
querido que partiu. Claro que todos nós sentimos a perda de um ente queri-
do. Isso é natural e humano; mas temos de acreditar na Providência Divina,
nos Desígnios do Pai, na Sabedoria que rege as engrenagens da evolução.
Por isso, não lamente uma perda momentânea além da natural manifestação
de pesar. Afinal, você não estará perdendo nada definitivamente; estará ape-
nas presenciando a partida de alguém antes da sua própria partida. Um dia
266
chegará em que será a sua vez de retornar à vida espiritual. Certamente que
lamentarão sua ida e sentirão sua falta. Quando isso é compreendido de uma
forma ou pouco mais completa, não carregamos as dores de uma partida
como se estivéssemos atrelados àquele que se foi.
Os principais motivos das dores (principalmente na perda de filhos) é
o carinho, a proximidade, o toque, identidade e proteção que despendemos;
o carinho recebido deles, a doce sensação de que somos completos respon-
sáveis pelo seu desenvolvimento e cuidados, pela sua carência e inocência
etc. Daí é natural que nos sintamos donos desse alguém que ora está sendo o
filho. Todos estes sentimentos sentidos e transmitidos tomam parte em nos-
so desenvolvimento emocional. Essas sensações de proximidade entre pais e
filhos desenvolvem o amor, a solidariedade, a amizade, o respeito, a admi-
ração, a compaixão, os deveres de um para com o outro, o sentimento de
afeto e dedicação etc.
Em algumas ocasiões um filho poderá ter sido um ferrenho desafeto
numa das passagens anteriores; e nesta, reencarnou no meio familiar daque-
le com quem terá de restabelecer as pazes, a amizade, receber ou dar o per-
dão, reconciliar, restabelecer o amor que existia antes do desentendimento,
ou criar o necessário para que ambos possam evoluir de forma mais apropri-
ada. O resultado espiritual, ou seja, aquele que vai além das passagens cor-
póreas é o que importa. Então, desta forma podemos conviver e desenvolver
relações estreitas, mesmo com alguém com quem tivemos algum desenten-
dimento anterior. Sem a lembrança do acontecido, tudo poderá voltar à
normalidade; e quando voltarem para o mundo espiritual, tudo voltará a fi-
car num bom nível de aceitação, perdão e amizade.
O que não podemos imaginar é que aquele pequeno ser que nasceu foi
criado e dado a existir a partir de seu atual nascimento. Muitos são aqueles
que estão limitados à compreensão de que aquele espírito foi criado pelo
ventre materno e vai se acabar com a morte. Este pensamento limitado e
errado pode gerar grandes dores. Ao se sentir que aquele alguém tão queri-
do, nascido de uma união amorosa se foi, logo se imaginará que o seu filho,
único e insubstituível, foi ceifado da face da Terra para todo o sempre. O
máximo que se imagina é que foi morar no céu e que jamais será visto, e
que sempre continuará sendo aquela criança doce e meiga, sempre daquele
mesmo jeitinho que era quando se foi. Não podemos jamais nos deixar en-
volver por estes pensamentos destruidores do equilíbrio emocional e que
267
tantas dores causaram, causam e vão continuar causando por toda parte do
mundo, infelizmente.
Não podemos imaginar que criamos um espírito, que fazemos o mila-
gre de gerar um novo ser cada vez que nasce uma criança. A sua essência, o
seu espírito, o seu Eu verdadeiro já existia milhares de anos antes de vir a se
encarnar para uma nova passagem, agora na sua família. Assim como você
vem através do tempo, nascendo e morrendo em vários lugares – e até mes-
mo em diversas famílias – aquele filho querido já passou por inúmeras ex-
periências. Apenas nasceu, desta feita, em seu lar para continuar seu desen-
volvimento. Acontece frequentemente de pessoas ligadas por um laço de
afeto se desenvolver num mesmo grupo que chamamos de família, durante
suas gerações. Mas isso não é regra: pode acontecer de um espírito vir a se
encarnar numa determinada família porque eram aqueles pais que reuniam
as condições mais próximas daquilo que ele precisava para se desenvolver.
Então, por mais que se apegue e tenha um grande amor por um filho,
não imagine que ele está estreando no mundo nesta passagem em que pas-
sou a existir espiritualmente da união entre você e seu cônjuge. Somos seres
universais e sem endereço fixo. Não há que se prender ao capricho de nascer
sempre na mesma família, se o objetivo final é imensamente maior do que
simplesmente sustentar gostos, vontades, caprichos e satisfação de desejos
humanos. Isso pode parecer um pouco cruel demais, mas basta que se com-
preenda o verdadeiro princípio e objetivo de nossa peregrinação, onde temos
de passar pelas mais diversas situações para nosso efetivo desenvolvimento.
Então, não podemos nos apegar a um filho, ou outra pessoa qualquer,
como se ele fosse uma propriedade exclusiva. Não somos donos de nin-
guém, temos sim é que desenvolver o amor verdadeiro entre todos nós; por
isso, não será apenas um grupo que terá de manter laços afetivos, mas toda
uma geração de seres irmãos, apenas se desenvolvendo nos mais diversos
lugares de nossa atual habitação. Por isso, quando perder um ente querido
conserve o amor, mas livre-se do apego.
268
Capítulo XXVII
O que é a morte?
Conforme já comentamos brevemente, a morte é o final de uma tem-
porada que o espírito esteve encarnado para poder desenvolver suas quali-
dades latentes e torná-las dinâmicas. É o resultado do colapso do arquétipo
que mantém a vida.
Com a morte o corpo vital abandona o corpo denso juntamente com os
veículos superiores.
Eu e você estamos no mesmo barco da evolução. Estamos aqui agora,
mas chegará o tempo em que retornaremos à vida espiritual. Melhores e
mais polidos, juntamo-nos mais uma vez àqueles que nos deixaram, e até a
outras pessoas que não nos lembrávamos enquanto estávamos nas vestes
corpóreas. Sim! É necessário que deixemos antigas ligações “desligadas”
durante a vida terrestre, para que possamos melhor desempenhar nossas
tarefas, esquecendo-se temporariamente de algumas pessoas de nosso círcu-
lo mais próximo de afeição, amor, e amizade. Certamente que há muito mais
pessoas conhecidas neste continuum entre vida corpórea e espiritual do que
podemos imaginar por hora.
Num rápido resumo do processo de morte, podemos dizer que deixa-
mos o corpo físico quando desligamos nosso espírito de sua parte sólida
temporária. Levamos conosco nossos veículos superiores e a alma. O cordão
prateado ligado ao nosso átomo-semente coronário é desligado e deixamos
as vestes que nos serviram de veículo para atuar no mundo material. O que
somos de fato, independente de nosso corpo, segue para os mundos superio-
res, onde temos a oportunidade de reviver rapidamente tudo que passamos,
começando de nosso último dia de vida até o dia em que nascemos; depois,
seguimos para mais um passo onde repassaremos tudo que fizemos de forma
inversa; ou seja, começando pelo dia do nascimento até o dia da morte. Esta
fase terá duração variável dependendo do tempo que cada um leva para as-
269
similar e revisar tudo o que aconteceu durante sua vida8. Os aprendizados
serão os elementos de nosso aperfeiçoamento e são inseridos em nossa Es-
sência Divina, que é o átomo-semente de que falamos.
Este processo é a forma pela qual sentimos tudo o que fizemos na úl-
tima jornada; tudo que fizemos de bom e de ruim. Esta é a forma como me-
lhor podemos avaliar tudo de bom que fizemos – através da gratidão que
sentimos para cada uma de nossas boas atitudes – e tudo que fizemos al-
guém passar, nas muitas ocasiões onde cometemos enganos, erros, equívo-
cos, injustiças, etc. Ao sentir o verdadeiro peso de nossas ações, somamos à
nossa consciência as marcas da vida que deixamos, que vão servir de guia
numa próxima encarnação.
Cada um tem de pagar suas culpas com o castigo que ele crê mereci-
do, porque a consciência é o juiz mais severo que existe após a morte física.
A consciência despe a alma ante sua vista espiritual; a alma depois de escu-
tar a vez da Consciência aceita a sentença como merecida e justa; começa
então a sofrer ou a gozar de acordo com o seu conceito sobre o bem e o mal.
Esta é a justiça da “Lei de Causa e Efeito”. As consequências de nos-
sas más atitudes aqui identificadas não terão de se transformar em sofrimen-
to ou castigo, pois nada mais são do que meios naturais para o desenvolvi-
mento das virtudes e para a restrição dos erros e vícios a fim de que a alma
possa adiantar-se para a perfeição. A memória subconsciente descobre nos-
sos segredos e compreendemos a causa e os efeitos de cada acontecimento
8 Lembra de quando falamos da importância de rever nossas atitudes, e tudo que fi-
zemos durante o dia, numa revisão antes de dormir? Pois vamos falar um pouco mais a
respeito da importância desta atitude singela na vida de cada um.
Quando deixamos as vestes corpóreas, partimos para outros planos onde seremos
levados a revisar tudo o que aconteceu durante a existência terrena. Se fizermos esta sim-
ples revisão diária de nossas atitudes, antes de dormir ou a qualquer hora tranquila do
dia, passaremos menos tempo presos a este purgatório, analisando cada uma de nossas
passadas atitudes e ações, pois que boa parte já estará “digerida” e colocada num nível de
entendimento satisfatório.
Afinal, nesta passagem, onde repassamos os acontecimentos, o que importa é a assimila-
ção e conscientização da dimensão de todas nossas interações, com seus erros e acertos,
para que possamos analisar o que teremos de melhorar numa próxima passagem. Quando
assimilamos e conseguimos compreender nossas atitudes, muito deste tempo estacionado
nesta fase poderá ser poupado, para que seja aproveitado em novas tarefas num plano
muito mais elevado e agradável.
270
da vida que acabamos de passar. As ações da vida passada imprimem na
alma o caráter individual nas futuras vidas. A condição da alma – do ser –
depois da morte do corpo denso é de estado e não de lugar. Desse ponto
subiremos para nossa verdadeira morada, onde passaremos um período de
Consciência plena, melhorados e sem o peso e limitação do corpo denso.
Estaremos íntegros e leves, sendo o que de fato somos, muito além do que
percebemos agora na vida corpórea. O céu não é um lugar; o céu é um esta-
do de Consciência, variável segundo o indivíduo.
A morte do físico não muda o caráter nem a inteligência da pessoa.
Por conseguinte, há tanta variedade de graus de inteligência entre os mortos
quanto entre os vivos. A morte por si só não transforma ou eleva alguém
para melhor em termos de desenvolvimento espiritual, mas liberta a consci-
ência das limitações impostas pelas vestes corpóreas. Assim, nossa percep-
ção e compreensão serão mais completas e abrangentes. Cada um alcança o
Plano espiritual mais apropriado ao seu grau de desenvolvimento: a cada um
é dado conforme sua obra; não existe um ou dois planos distintos para onde
inequivocadamente iremos, mas sim muitos planos, nos mais variados
graus possíveis, cada um oferecendo exatamente aquilo que cabe a cada um
conforme o seu desenvolvimento.
Cada um subirá até o nível que sua luz permitir. Quanto menos “pesa-
dos” mais alto poderemos ir. As recompensas são proporcionais ao tamanho
de nossas boas ações e de nossa verdadeira luz, que é medida exatamente
como ela é, sem qualquer possibilidade de que haja algum erro. Cada um
desperta no plano correspondente às melhores qualidades de seu caráter e ali
permanecem durante sua vida astral. Cada alma permanece no grau de evo-
lução correspondente ao seu grau de desenvolvimento. Ninguém passa ao
grau superior sem merecimentos. Aqui não se pode subornar o professor ou
o juiz para passar de grau ou perdoar um delito. Os de cima podem descer,
isto é, os de vibrações superiores podem atenuar sua frequência e descer
para os Planos inferiores, mas os de baixo só poderão alçar voos mais altos
quando tiverem desenvolvido Luz apropriada. Passado um período de vida
espiritual, sentimos a necessidade e somos orientados a fazer uma nova jor-
nada na vida corpórea no local mais adequado ao prosseguimento do desen-
volvimento já alcançado. Assim, somos orientados para uma nova passagem
para desenvolver aquilo que ainda não desenvolvemos totalmente.
Somos levados a planejar uma vida que nos ofereça as melhores opor-
tunidades de desenvolver aquelas qualidades que ainda não se encontram no
271
nível satisfatório para seguir para espaços mais elevados. Para que isso se dê
da melhor forma possível, é necessário que exista o local mais apropriado,
os pais, a condição de vida, e tudo o mais que se necessite para melhor
cumprir nossa trajetória. Daí nascemos para uma nova encarnação com as
características que conseguimos atingir numa vida passada, agora purifica-
dos pela passagem onde purgamos aquilo que causamos aos outros, junta-
mente com a quintessência do nosso desenvolvimento, que é a luz que con-
seguimos somar ao nosso Eu verdadeiro. Assim, somos convidados a ter um
novo período de desenvolvimento.
Mas por quê não continuar se desenvolvendo no mundo espiritual, em
condições mais favoráveis? – Porque lá não é lugar para tormentos, nem
para perturbações daqueles que estão recebendo suas recompensas pelos
seus esforços, e dando sequencia nos seus estudos e aprendizados, agora no
mundo astral. Para que possamos aprender determinadas lições, necessária
ao nosso grau de desenvolvimento, temos de estar num local que forneça
todas as condições onde podemos nos confrontar com problemas variados,
que possibilitem cada um sentir o que precisa neste estágio. Nossas qualida-
des só poderão se desenvolver em condições apropriadas. É neste lugar em
que vivemos agora que podemos encontrar tudo que necessitamos conhecer:
o tipo de vida, as confrontações, os conflitos, as crises, as competições, as
disputas, os sentimentos de angústia, dor, alegria, felicidade relativa, com-
paixão, paixão, amor, ciúmes, etc.
Então, na realidade estamos numa escola aprendendo a ser melhores.
Estamos cada vez mais nos habilitando a viver em lugares cada vez mais
elevados, cada vez mais puros e na mais alta Expressão da Criação. Assim
seguimos avançando para outros patamares onde exerceremos novos com-
promissos espirituais, alcançando graus por hora inimagináveis; conduzindo
novas ondas de vida, aconselhando, guiando, orientando, formando opiniões
e implantando tecnologias que facilitarão o desenvolvimento de outras gera-
ções de filhos de Deus. Seremos chamados a ser cocriadores, responsáveis
pelo desenvolvimento da Criação na sua forma mais ampla.
Somos seres infinitos, com possibilidades infinitas de desenvolvimen-
to, sempre de acordo com a Vontade Maior, seguindo os Desígnios do Plano
Maior. Contamos hoje com o auxílio de ensinamentos elevados deixados
por aqueles que hoje estão numa Posição aonde chegaremos um dia, com
mais ou menos tempo, dependendo exclusivamente da evolução pessoal de
cada um.
272
Saudades e dor
Voltando ao ponto onde tratávamos das dores das perdas, claro que é
natural que se sintamos a falta e nos lembremos daqueles que se foram. O
que não é necessário é levar para sempre esta dor, todos os dias. Muitas pes-
soas confundem ter consideração com ter de sentir dor; daí, só conseguem
demonstrar toda sua afeição através de grandes demonstrações de pesar, de
sentimento abalado, de intensa falta daquele que não pode mais tocar e ter
nos seus dias.
Isso acaba sendo processado numa confusão de sentimentos donde se
poderia afirmar que se trata de uma manifestação de admiração com aquele
que foi, juntamente com pena de si por ter ficado só e desamparado; de ter
perdido alguém que o compreendia, amava, cuidava, ajudava nas decisões,
orientava, dava aconchego, uma palavra de carinho, que sempre tinha uma
palavra sábia e providente; daquele a quem cuidava com carinho, dava
amor, se preocupava e tinha como sendo dos seus, ou até mesmo sendo seu:
seu pai, sua mãe, seu filho, seu irmão, seu amigo...
Esta noção de propriedade causa um vínculo de emoções confusas,
como se a falta de algum destes diminuísse aquele que ficou. Para demons-
trar o tamanho da dor da perda, instintivamente expressamos sentimentos de
pesar na mesma dimensão do valor da perda; imagina-se que a dor da perda
tenha de ser tão grande quanto a importância que damos àquele que se foi; e
assim, grandes manifestações de dor são sentidas e expressadas, porém sem
a devida compreensão, que é o que poderia pôr tudo em níveis mais confor-
táveis.
Na verdade esta é uma forma de demonstrar e sentir-se digno de dó e
de compaixão. Muitas pessoas se apegam a isso como que dizendo incons-
cientemente: “Aquela pessoa sim me amava; só ela me compreendia; era ela
quem podia falar alguma coisa de mim, pois era minha amiga; vocês não
sabem o quanto ela me amava; eu fui digno de ser amado; ninguém me
compreende nem ama de verdade; somente ela foi capaz de me entender e
aceitar como sou... agora minha existência se tornou vazia, isolada, despro-
vida de amor e compreensão...” Por isso que a perda de uma criança é muito
mais sentida do que a de uma pessoa que já estava numa idade madura e
natural para a morte. Para os pais, sua criança é um ser desprotegido, que
depende de seus cuidados, é grato, carinhoso, sorridente. Ela aprova um
273
carinho e retribui um gesto de amor com um sorriso. Ela trata os pais como
seres únicos, como se eles fossem de fato seus donos.
A criança passa a ser uma propriedade dos pais: devem obediência,
respeito e admiração. Os pais fazem de tudo para dar o máximo por um fi-
lho, por isso sentem como se aquela criança fosse sua e dependente de seus
cuidados. Ela deverá seguir conforme suas ordens, gostos, preferências;
modos de sentir, interpretar e julgar. Quando este laço estreito que une esta
relação é quebrado dá motivo para as mais intensas dores. Se não sabemos o
destino pós-morte deste ente tão querido – ou qual o tratamento que recebe-
rá, por exemplo – não será tão difícil se desesperar inconformado pela per-
da. A grande maioria das pessoas fica de certa forma confusa quando perde
alguém, como se aquele que se foi fosse ficar desamparado, longe dos cui-
dados habituais, longe do amor daqueles que o amam.
Então, as incertezas quanto ao que acontece no mundo espiritual é o
grande causador da maior parte das dores. As pessoas imaginam que aquele
que falece perde sua identidade e passa a ser algo disforme e solitário no
espaço; ou que vai para um lugar distante que faz com que perca a noção de
sua existência passada; que aquele que se foi está condicionado a viver num
espaço longínquo de forma e aspecto desconhecidos. Como será sua vida lá?
Será que existe vida depois da morte? Será que existem outras pessoas onde
ele está? Como estará se sentindo? Será que está bem ou está passando por
sofrimentos? Será que não está privado de nos ver, sem poder saciar sua
saudade? Estas e outras perguntas permeiam as mentes orientadas por dou-
trinas pouco esclarecedoras e que nunca convencem completamente sobre o
que estão dizendo.
Duvidas se manifestam na forma de tristeza e melancolia, choro e con-
fusão de sentimentos que não deixam identificar a verdadeira causa desses
sentimentos e manifestações. Choram a perda numa manifestação confusa
entre o pesar e o dó de si mesmo. Assim, dia após dia vamos vendo pessoas
recolhidas no sofrimento que as fazem se sentir dignas de dó. Alimentam
sentimentos pesados pela falta que sentem e... prejudicam aquele que se foi
para nossa verdadeira morada.
Sim! Quando falecemos, passamos por um período de assimilação so-
bre tudo que fizemos. Senão não teria sentido ter passado por uma jornada,
sem tirar dela os necessários proveitos pela experiência passada. Neste mo-
mento o espírito precisa estar numa esfera tranquila, sem nenhuma manifes-
274
tação que o atinja com suas vibrações prejudiciais, para só assim perceber e
assimilar de forma completa tudo que vivenciou. A perturbação de uma pes-
soa que aqui ficou o atrapalhará e causará grande incômodo. O sofrimento
daquele que ficou acaba por perturbar e causar sofrimento àquele que se foi.
Seguir em seu mar de lágrimas sem compreender o que significa a morte
fará com que o espírito daquele que se foi sinta toda esta dor e lamentação.
Ficará extremamente perturbado pela limitação de visão daquele que conti-
nua encarnado.
Quando desencarnados percebemos aspectos que por hora nos são ve-
dados. Assim, o espírito que parte tem uma visão muito mais ampla do que
aquele que ficou. A incompreensão e sofrimento pela morte incomodam
aquele que partiu.
Por isso, o melhor que podemos fazer para que tudo caminhe para ní-
veis razoáveis é não ficar lamentando além do natural, simplesmente por ter
sido privados momentaneamente da presença de alguém. Podemos manifes-
tar amor e respeito de uma forma simples, tranquila e boa através de orações
carinhosas e respeitosas. Certamente que aquele receberá a manifestação na
mesma intensidade de carinho e afeição com que é enviada. Uma forma de
amor dirigida ao ser amado atua como anjo de guarda que o protege em toda
oportunidade. O pensamento amoroso puro é o anjo protetor do ser ao qual é
dirigido, assim como são os pensamentos das mães para seus filhos.
Não temos nem que se ficar visitando túmulo. Lá não estará mais do
que restos mortais, despojos sem qualquer valor ou sentimento. Ore pelos
seus entes e respeite as leis naturais do destino. Ninguém é de ninguém; mas
sim, pertencemos todos a uma imensa família; somos todos irmãos, filhos de
um mesmo pai definitivo, e não só durante uma vida. Aquele que parte re-
cebe as mais altas atenções daqueles que são incumbidos de fazê-lo quando
voltamos para nossa verdadeira morada. Lá estarão seres de alto desenvol-
vimento orientando para tudo, para o que precisar fazer e para subir de volta
para sua liberdade de sentimentos e expressão.
Certamente que se a alma é merecedora de recompensas é lá que as
receberá. Sua permanência será algo altamente gratificante e bom. Ninguém
tem de se preocupar com aquilo que não é sua responsabilidade. Lamenta-
ções pós-morte só servem para causar sofrimento para um e para outro. Cer-
tamente que não iremos querer ser incomodados com algum sofrimento da-
queles que deixamos. Pois o mesmo se dá com aqueles que partiram ou par-
275
tirem antes de nós. Então, nosso maior respeito é conservar aqueles na sua
liberdade e tranquilidade, sem manifestações inúteis de ressentimento, dor
ou qualquer tipo de pesar. Não perdemos o amor de quem nos ama, nem
temos de perder o amor que sentimos, nem temos de sentir o gosto amargo
de uma breve separação.
A Criação tem planos infalíveis e justos. O mundo espiritual promove
reencontros no caminho da evolução. Não temos de nos sentir órfãos de
ninguém se temos um Pai que nos ama acima de tudo. Encontros e despedi-
das fazem parte da vida de todos nós. O importante é amar a si e nunca se
sentir menos amado porque perdeu alguém que o considerava. Seu amor é
infinito. Podemos amar outras pessoas sem diminuir o amor que sentimos
por alguém. Não estaremos dividindo sentimentos ao amar outras pessoas.
Preferências podem existir, mas nunca devemos achar que jamais podere-
mos amar de novo ou ser querido por outras pessoas.
Não podemos nos apegar à ilusão de que somos parte de outra pessoa.
Somos universais e sujeitos a viver nas mais diversas circunstâncias, aman-
do, aprendendo a amar e sendo amados. O importante que fica disso tudo é
o amor verdadeiro que brota destes relacionamentos, onde somos levados a
sentir de tudo um pouco. Afinal, o que a vida nos pede é que aprendamos a
amar os outros assim como amamos a nós mesmos. Só o amor puro e desin-
teressado pode nos levar ao Íntimo. Só o amor para servir pode firmar nos-
sos passos no Caminho. Só o mais puro amor pode alentar o nosso ânimo,
temperar e retemperar nossas forças; pode nos levar ao Mestre; pode nos
fazer verdadeiros e fiéis servidores e felizes. O Amor é aquele que se des-
dobra nas infinitas virtudes e qualidades humanas.
O verdadeiro amor vai desde a coesão atômica até ao mais elevado
sentimento; é a força indômita da vida que a sustenta desde o mineral até o
divino. Amor é a magia que elimina todo temor e que outorga paz e felici-
dade. Então, isso tudo faz parte de uma longa caminhada que nos orienta
para o amor verdadeiro e recíproco entre todas as pessoas. Certamente que
compreenderemos isso perfeitamente quando estivermos do outro lado do
véu. Podemos adiantar ainda que, quando uma criança deixa sua vida terres-
tre, certamente que viverá num lugar da mais alta alegria, pois não será jul-
gada por seus atos, nem terá o peso da responsabilidade pelo seu desenvol-
vimento. Até a puberdade, próximo dos catorze anos, não estamos comple-
tamente desenvolvidos, não temos nosso corpo de desejos (átomo-semente
276
do fígado), nem a mente completamente desenvolvida. Somente a partir dos
vinte e um anos é que o Ego começa a atuar mais diretamente.
Assim, há muitos casos em que crianças nascem apenas para integrar e
formar situações de vida que os pais têm de cumprir. Têm uma vida breve e
voltam para a morada espiritual, até que sejam trazidas para uma nova vida
corpórea, passando por outras experimentações similares às que passamos.
Não choremos a morte de um filho. Seu amor estará sempre presente em seu
coração, e sua lembrança será compensada quando tiver cumprido sua tare-
fa. A separação de casais que vivem longos períodos juntos, principalmente
se existiu amor verdadeiro, faz sofrer pesar e dor na separação. Mas, quando
compreendemos que tudo tem um sentido que vai muito além de nosso atual
entendimento, compreendemos e suportamos melhor a separação física. Não
perdemos o amor, nem precisamos lamentar por alguma eventual falha que
cometemos, ou ainda por algo que não dissemos ou não demonstramos.
Do plano astral esta pessoa sentirá na forma mais pura o que efetiva-
mente sentíamos e sentimos por ela. Se alguma briga ou discussão banal
aconteceu é porque isso é passível no percorrer do desenvolvimento de
qualquer um de nós. Se não havia outra forma de ter sido à época do aconte-
cimento, não temos de guardar as dores da mágoa ou culpa. O que vale de
fato é o verdadeiro amor e afeto. Invariavelmente somos levados a compor-
tamentos impróprios e contrários àqueles que gostaríamos de expressar. Isso
acontece devido às inúmeras formas de expressar o que sentimos, às vezes
até com atitudes exageradas pelo excesso de cuidado e afeição.
Quantas vezes não sabemos nos expressar – e mesmo querendo de-
monstrar amor, companheirismo, cuidado e respeito – agimos de forma im-
própria e até agressiva? É muito difícil alguém passar uma relação onde
tudo transcorra de maneira branda e perfeita todos os dias. Isso é quase im-
possível. Interpretar os motivos que levam a acontecer determinados com-
portamentos é coisa muito difícil. Como ninguém é mestre para saber de-
monstrar carinho e defender sua posição ao mesmo tempo, divergências
acabam acontecendo.
Lembremos uma vez mais: - Perdoe e sinta-se perdoado. Não carre-
guemos a dor de uma mágoa sentida ou causada. A jornada não termina
apenas em uma passagem. Somos imaturos em termos sentimentais. Se não
conseguimos expressar tudo que sentimos e amamos de forma sincera, cer-
tamente que com alguns passos a mais criaremos laços mais fortes e puros
277
que farão nascer o recíproco amor na sua mais alta e nobre expressão. As-
sim como erramos com os outros, muitos erram e julgam de forma incorreta
nossos pensamentos e ações. Nestes relacionamentos sentirá menos remorso
aquele que conduzir seu convívio sem egoísmo, com diálogos sinceros e
abertos, sem defesas de si ou de opiniões mesquinhas; mantendo-se a calma
e a ponderação, pesando as verdadeiras razões de um e de outro em cada
expressão. Sempre haverá mútuo bem-querer quando existe união saudável,
com um querendo sempre o melhor para o outro.
Viver apenas querendo para si ou defendendo seus pontos de vista, ig-
norando a opinião e sentimentos do outro, será plantar nos seus próximos
passos uma relação onde terá de passar pelos mesmos processos dolorosos.
A dor causada é a dor que terá de ser suportada; o código que usa para jul-
gar será o mesmo a ser usado no seu julgamento; a forma como conduz suas
relações será a mesma que receberá quando estiver numa situação similar,
mas com posições invertidas.
Por isso não julgue. Afinal, se tivéssemos que passar pelas mesmas
condições e dificuldades daqueles que julgamos, certamente que poderíamos
cometer os mesmos erros, ou até outros muito piores. Muitos daqueles que
gostam de apontar os erros dos outros, em condições futuras (às vezes bem
próximas de quando criticaram) cometem erros muitíssimos piores do que
aqueles de quem apontavam os dedos, fazendo julgamentos, imputando cul-
pas e rogando altas penalidades.
Antes de qualquer julgamento devemos procurar entender os outros e
a si, e tudo que faz alguém agir de determinada forma; tudo que construiu
aquela forma de expressão que manifesta ou manifestou. Desta forma não
haverá motivos para se arrepender quando não mais existir possibilidade de
pedir perdão, de resgatar uma dívida, consertar o que de fato não servia na-
quela união. Assim, só restará o verdadeiro amor, a leveza de ter feito tudo
que podia, sem conservar nada além do respeito, admiração, lembranças
felizes; sem qualquer dependência ou excessivo apego. Se você já passou
por estes momentos dolorosos, julgando não ter sido o que podia na relação,
apenas conserve a certeza de que tudo será compreendido quando visto de
um plano mais elevado. Aquele que se foi certamente que compreenderá
tudo que passou, inclusive a verdadeira intenção de cada um para consigo.
Se cometemos uma traição, hoje sentimos a dor que isto causa na al-
ma. Então, que nos arrependamos e aprendamos que, quando traímos, o ver-
278
dadeiro traído e maior prejudicado somos nós mesmos. Pois, numa só atitu-
de mal pensada, traímos a nossa própria consciência e princípios e a de
quem em nós confiou; prejudicamos uma relação, desrespeitamos e ferimos
sentimentos e provocamos uma dívida que teremos de pagar futuramente. O
arrependimento é o início da recuperação de quem comete um erro. A cons-
ciência de uma falha nos fortalece para que não reincidamos num mesmo
erro.
279
Capítulo XXVIII
Autoestima
Autoestima é o valor físico e emocional que damos a nós mesmos. É o
estado de espírito resultante de como tratamos nossos conflitos internos du-
rante a vida. Este estado é criado de acordo com o maior ou menor valor
atribuído a cada acontecimento vivido. Se o fato marcou de maneira negati-
va e produziu uma grande carga emocional, esta carga permanecerá e toma-
rá parte na expressão da pessoa. A autoestima resulta da soma da percepção
física e emocional, do nível de compreensão de si e dos outros, do nível de
aceitação da personalidade, mais a capacidade intelectual e espiritual de
cada um. É o valor atribuído a si advindo da compreensão que cada um tem
do momento que está vivendo, somados às características individuais exis-
tentes. Aquilo que a pessoa é determina sua forma de pensar, e é o que mo-
dera a intensidade do que ele sente mediante os acontecimentos. As ideias
formam hábitos, e os hábitos criam o caráter.
O valor que cada um atribui a si depende de como ele aceita suas atu-
ais características, e ao valor que ele imagina que as outras pessoas dão a
ele. Dessa personalidade advém sua capacidade de compreensão e aceitação
do que acontece diretamente a ele e aos outros. A maneira como cada um
lida com estes sentimentos, mais a capacidade de se sobressair das circuns-
tâncias cotidianas, é que perfazem o estado que chamamos autoestima. Mui-
tas pessoas acabam sendo tocadas profundamente pelas eventuais falhas e
marcas ruins que ocorrem principalmente na fase de adolescente, e passam a
conviver com estes assuntos mal resolvidos que podem acabar persistindo
dentro de si, tornando-se algo extremamente prejudicial para o bom desen-
volvimento pessoal.
Estas marcas são trazidas principalmente por aqueles que foram cria-
dos em sistemas mais antigos, onde existiam aquelas fórmulas rudes do “fi-
ca quieto ou apanha”, aquelas que na prática funcionam mais ou menos as-
sim: “reserve-se ao direito de ficar calado, anule-se e deixe que eu pense por
você... ...a decisão que eu tomar você deve acatar e ficar quietinho; afinal
você me deve obediência”.
280
Com isto, apesar de compreendermos que era o que podiam oferecer,
até por não terem tido conhecimento de outro método melhor, há muitas
pessoas que são “descendentes” desses sistemas que, se serviram para a
época, hoje nem de longe servem mais, apesar de ainda existirem alguns
fantasmas antiquados que ainda conservam estes regimes arraigados em si.
Por quê? Porque são altamente prejudiciais e criam pessoas sem inici-
ativa, pelas altas doses de desaprovação e “nãos” que recebem, e pelos cor-
tes invejosos que fazem pessoas se anularem e aceitarem o que o mundo
lhes impõe. Pessoas reprovadas em suas parcas iniciativas têm a autoestima
tão baixa que acabam se julgando incapazes; foram prejudicadas de tal for-
ma pelos dominantes que ainda hoje deixam que os outros pensem por eles.
Daí, quando têm de improvisar, temem não conseguir; afinal, sua criativida-
de foi aniquilada e quase morta. A confiança abalada não os deixa agir es-
pontaneamente. O temor de errar ou ser reprovados causa o medo de decep-
cionar alguém ou a si próprios. Pessoas assim tendem a seguir modelos
prontos ou aquilo que apregoam, sem muito julgamento do que seja certo de
fato ou apenas bobagens. Bem ou mal, todos nós carregamos um pouco dis-
so dentro de nós; por isso, jamais deixe que o mundo pense por você. Quem
deve identificar os melhores pesos e medidas para o equilíbrio de nosso ca-
ráter somos nós mesmos.
Por isso é que temos de nos conhecer melhor a cada novo dia. Somen-
te com o contínuo trabalho de autoanálise é que poderemos medir nossas
atitudes. Assim aprendemos a distinguir o que de fato é bom daquilo que é
ruim. O melhor método é aquele que criamos através da experiência, cons-
ciência e humildade. Nosso conhecimento efetivo se dá com a união do co-
nhecimento e experiência pessoal. Só aprendemos algo de forma definitiva
quando formos testados na prática.
A autoestima é determinada pelo conjunto mental e físico momentâ-
neos de cada pessoa. Ter autoestima elevada depende de estar satisfeito com
o conjunto que engloba a mente e o físico. Uma pessoa saudável e equili-
brada psicologicamente terá uma energia completamente diferente de quem
está descontente com o que está fazendo, da forma como está fazendo, ou
que tem a forma física em desordem.
Pessoas dotadas de boa autoestima vencem os obstáculos, tarefas,
missões ou problemas sentimentais de uma forma muito mais rápida e defi-
nitiva. Sua energia equilibrada faz com que ela se mantenha sempre próxi-
281
mo do eixo que indica o melhor caminho para as soluções e iniciativas. A
baixa autoestima faz com que a pessoa se sinta deslocada, inferiorizada,
menos capaz, sem iniciativa. Isto causa a sensação de que os outros a veem
com olhos críticos o tempo todo. Imaginam-se de forma a julgar que suas
eventuais falhas ou defeitos saltem à vista de todos, o tempo todo. Julgam-
se inferiores levando-os a entrar em desvantagem emocional em todas as
ocasiões.
O fato de a pessoa não ter tido o carinho suficiente na sua infância po-
de acarretar a busca por suprir esta carência e necessidade de aprovação
quando adulta. Se isto não lhes for dado, sentem-se inferiorizados como se
não fossem dignos de aprovação. O jovem adolescente começa a enfrentar
uma grande quantidade de mudanças físicas e psicológicas exatamente
quando o mundo começa a lhe pedir respostas e cobrar atitude adulta. Este
período delicado é uma fase em que ele está extremamente suscetível a ter
problemas de identidade.
Estas crises se iniciam quase sempre quando ainda não existe uma
formação totalmente construída, que possa entender e superar estas marcas
que acabam ficando mal resolvidas na alma. O jogo prossegue e o problema
mal resolvido persiste. Uma mente confusa reflete numa personalidade con-
fusa. Uma personalidade confusa não terá segurança adequada para conví-
vio natural e saudável. Não existe quem não tenha algum problema existen-
cial. Não existe aquele que não precisa desenvolver-se constantemente. O
que faz a diferença é como cada um lida com seus problemas, e quanto o
meio em que vive o influencia para o bem ou para o mal. A pessoa com bai-
xa autoestima acaba tendo insegurança quanto às suas qualidades. Ao come-
çar a ficar para baixo perde a iniciativa achando que qualquer um pode fazer
melhor que ele, e isto lhe inibe qualquer iniciativa ou criatividade própria.
Aqui podem brotar os primeiros sintomas que podem levar a um quadro
depressivo: pessoas assim estarão sempre na dependência de que alguém
tome iniciativa por elas; podem ter medos absurdos, timidez extrema, com-
plexo de inferioridade etc. Isto tudo começa a gerar certos inconformismos e
revoltas que fazem com que a pessoa se feche no seu mundo, descontente
com tudo e com todos, e principalmente consigo mesmo.
Em outros casos aflora o perfeccionismo, a obsessividade, a tensão.
Por que estes não conseguem fazer nada que beirar a perfeição. Afinal, pre-
cisam compensar o que lhe introduziram na cabeça na infância ou adoles-
cência: “você nunca faz nada certo!”. Então, o temor de virem a ser julgados
282
numa eventual falha fará com que só mostrem algo indefectível, perfeito;
algo que ninguém possa pôr defeito.
Cuide-se para a sua melhor aceitação
Não existe fórmula milagrosa nem tampouco remédios para desenvol-
ver a autoestima ou elevar um ser ao nível de mestre. Existem providências
específicas para cada caso. Aqui veremos como muito do que comentamos
acaba por influenciar o estado de espírito que perfaz a autoestima. Então,
antes de imaginarmos num passe mágico que transforme alguém, melhor
será ter uma visão mais ampla dos pontos importantes que podem modificar
o estado de espírito. Podemos dizer que a autoestima está diretamente rela-
cionada ao equilíbrio.
Então, vamos jogar fora nossas culpas, e procuremos apagar marcas
negativas do passado. Não deixemos que nenhuma culpa fique sorrateira-
mente escondida na alma. O veneno causado pela excessiva preocupação do
que poderia ter causado acaba por envenenar todo o organismo. Antes de
ficar sentindo culpa por alguma falha, decida-se por mudar comportamentos
e consertar o que estiver ao seu alcance. Ninguém é ou esteve perfeito para
ser livre de cometer alguma falha ou algum ato não muito louvável. O im-
portante é que podemos e devemos melhorar e não mais cometer erros do
passado. Tire de si o peso de uma culpa mal resolvida. Vivamos melhor o
agora para que ele nos conduza a um futuro melhor.
A autoestima está intimamente ligada ao julgamento que fazemos de
nós mesmos. Nosso corpo está diretamente ligado à nossa mente que produz
o nosso estado emocional e comportamental. Se estamos bem conseguimos
nos manter num bom nível de energia vital, e irradiamos alegria, bem-estar,
luz e disposição.
A depressão e a desaprovação de si começam sempre por algum des-
vio que cometemos em termos mentais, orgânicos ou físicos que abalam o
equilíbrio do conjunto. Começam a surgir aqueles sentimentos amargos e
confusos advindos do fundo da alma, mas que não sabemos exatamente o
porquê de estar sentindo. Esta é a sensação típica da depressão.
283
Observe que só poderemos resolver algum problema se conseguirmos
identificá-lo. Se a dor não tem sua origem identificada, o máximo que po-
demos fazer é tomar um remédio para cessá-la. Veja que para a dor o remé-
dio vai ter efeito calmante ou fazer com que ela desapareça momentanea-
mente. Mas, o mais provável é que a doença permaneça em estado latente.
Este é o efeito que se consegue, principalmente quando falamos de antide-
pressivos. Para que o problema seja solucionado é necessário que se dê um
início correto de tratamento, e uma sequencia que vá até a solução definiti-
va. Medicamentos alopáticos costumam sobrecarregar o organismo, dese-
quilibrar a harmonia, causar efeitos desagradáveis e dar início a outros tan-
tos males, até piores do que aquele que se pretendia curar de início. O que
recomendamos são tratamentos mais completos que levam em conta o ser
integral e não só a sua doença, e ministrados por profissionais qualificados.
Existem algumas diferenças e importância entre tratar doentes e ape-
nas tratar doenças. Todo processo de cura tem de passar pela identificação
da origem dos sintomas apresentados, tais como hereditariedade, predispo-
sição, ritmo de vida, alimentação, lazer, família, hábitos e vícios, traumas,
medos, fobias, remédios que toma; se já teve algum problema maior de saú-
de, tratamentos ou terapias já realizados, etc. Só daí é que poderemos indi-
car quais os elementos terapêuticos irão tomar parte na recuperação ou pre-
venção do melhor estado de saúde possível, inibindo o acionamento dos
gatilhos que dão origem à manifestação dos distúrbios orgânicos e psicos-
somáticos, desequilíbrios e estados patológicos. Só assim agiremos com
eficácia tanto na prevenção quanto na correção dos distúrbios funcionais
que podem evoluir para estados lesionais; e sintomas emocionais que podem
resultar doenças psicossomáticas. Isso é completamente diferente de sim-
plesmente receitar uma droga qualquer.
A medicina do futuro utilizará oligoelementos, vitaminas, fitoterápi-
cos, homeopáticos, alimentação adequada e funcional, florais, aminoácidos,
enzimas, mudança de hábitos e equilíbrio energético entre outros. Isso só
será possível quando grande parte das indústrias farmacêuticas admitirem
que se preocupam muito mais com a saúde de suas finanças do que com a
das pessoas. Gente saudável não precisa de remédio! Mas, voltando à nossa
leitura, como podemos tratar de problemas da alma, sentimentos ruins que
podem nos levar à derrocada? - Através de atitudes conscientes, corretas e
constantes. Observe que se você fizer uma reflexão ou meditação, e identifi-
car a causa de suas angústias, tudo ficará mais fácil. Achado o problema
284
pode se iniciar uma autoterapia para modificar ou remover o pensamento
implantado que está prejudicando, tal qual um vírus num computador.
Novas atitudes e ajustes deverão ser feitos. Chegamos à solução de um
problema a partir do momento que iniciamos a transformação para uma no-
va forma de pensar. Estes desarranjos podem começar com um simples des-
cuido que inicia o processo, e desencadeia uma série de sentimentos. Quan-
do as providências não são tomadas a tempo, tudo tende a piorar.
Geralmente quando deixamos de tomar providências de pronto para
algum problema, a tendência é a postergação; ou seja, o adiar e adiar, até
que a situação tome proporções assustadoras. Ao se deixar um problema
sentimental ou físico para depois, a tendência natural é que se deixemos
outros também para mais tarde e sem solução, até que eles comecem a se
amontoar e tomar proporções gigantescas. Pronto. Está criado o monstro!
Isto leva a pessoa a começar a sentir as cobranças subconscientes que levam
às estranhas sensações de mal-estar, tristeza e desequilíbrio, o que a impede
de identificar precisamente sua origem e tomar alguma providência eficaz.
Estes males acabam levando a consequências graves.
Quando nada é feito para retomar as rédeas da situação, além das co-
branças internas ela poderá ter de enfrentar o julgamento alheio, os comen-
tários de terceiros que soarão como flechas pontiagudas contra seus valores
pessoais. Se a pessoa não encontrar ou procurar saída para aquele ou aqueles
problemas a queda terá início. Quando não há uma providência para resol-
ver o problema quando ele se apresenta, a tendência é que outros apareçam
em decorrência daquele e tudo se torne ainda pior. Um conjunto de proble-
mas ou situações mal resolvidos e deixados à mercê do tempo faz com que
estes adentrem o campo do inconsciente e comecem a produzir males físi-
cos. Doenças psicossomáticas advêm desta sequencia ruim de fatores. Na
maioria das vezes são as cargas emocionais que desencadeiam males físicos.
Um sentimento ruim permanente pode comprometer o equilíbrio de
todo o organismo. Daí tem de se buscar o equilíbrio perdido unindo algumas
providências que demandam um pouco de tempo e atenção; mas, que se
levadas a sério resultarão em grandes melhorias. Observe que pessoas de-
primidas, com baixa autoestima acabam refletindo e transparecendo fisica-
mente seus males. O que ocorre? Não é o físico que dá luz a alma; mas sim
o estado de espírito que reflete no semblante. A verdade é que a vida mo-
derna nos leva ao cansaço físico e mental, o que pode resultar num certo
285
relaxamento por parte das pessoas, que acabam se acomodando com algum
aumento de peso, por exemplo, e dizem: - Quando eu tiver tempo eu cuido
disso. Só que o tempo nunca é suficiente, o problema vai se somando a ou-
tros e outros e acaba se instalando. O quadro crítico é condenado pela cons-
ciência para que providências sejam tomadas.
O que fazer, então? – Tomar as providências necessárias!
Comece a observar o que está te incomodando. O que faz com que vo-
cê tenha vergonha ou te faça sentir mal perante os outros? O que está te de-
sagradando em seu convívio social? O que te desagrada fisicamente? Você
perdeu qualidade de vida em decorrência de quê? Quais os exageros você
está cometendo e que podem estar comprometendo a sua saúde e bem-estar?
O que você gostaria de resgatar para ter mais alegria de viver e sentir-se
mais confiante e bem consigo? Você não estará dando valor demais para
algum recalque que só é notado por você? Você não está julgando a si pelo
que acha que os outros pensam?
Só o fato de você fazer uma análise bem pensada e honesta já elimina-
rá boa parte do fardo pesado que está incomodando. Identificar o que está
fazendo mal já é um caminho para a melhora. A consciência vai aliviar a
partir do momento que tiver claro o que está prejudicando; afinal, era ela
quem estava sendo cobrada para tomar providências: foi nela que disparou o
alarme reclamando mudanças; se o alerta foi disparado houve motivos para
isto. Para o inconsciente, o fato de você ter agora nítido o que precisa fazer
significa já ter iniciado o conserto.
Mas, atenção! A partir deste ponto, ou se toma providências para ree-
quilibrar o sistema, ou outros males irão se somar àquele primeiro até come-
çar produzir as doenças psicossomáticas. Procure nunca deixar que as coisas
cheguem a este ponto! Que tal se agora (que identificou os monstros) come-
çar a eliminá-los um a um, nem que isto leve algum tempo? O que de mais
importante se tem a fazer neste momento é começar agir e promover as ne-
cessárias mudanças para as necessárias limpezas. Fugir dos problemas só
vai fazer com que os sintomas piorem! Que tal mudar isto? O que você acha
de consertar estas falhas para que o equilíbrio se restabeleça?
A cada remoção de problemas vamos ganhando qualidade de vida. Ter
iniciativa, disciplina e persistência: este é o medicamento a ser usado. Não,
não tem contraindicação e os efeitos serão benéficos para o corpo e para a
286
alma. Identificou o seu problema? Qual é ele? É mais de um? Ah, são vá-
rios! Não tem problema. O importante é que se tenha a iniciativa e a força
de vontade para iniciar com as providências. A partir do primeiro passo,
quando os resultados começarem a surgir, tudo ficará mais fácil. A partir daí
nasce nova motivação; daí é só ter persistência e força de vontade. Todo e
qualquer esforço se reverterá em ótimos benefícios pessoais.
Para tudo há uma ou várias saídas. Mecha-se. Procure amigos que
queiram e necessitam mudar também e criem programas para melhoria de
vida. Afinal mudanças são necessárias a todos, o tempo todo. Adote hábitos
mais saudáveis!
Não tenha medo de ousar e começar a fazer boas atividades que até
então não fez! Você identificou que aqueles quilinhos a mais estão pesando
não só na balança, mas na sua cabeça também? Inicie um regime bem orien-
tado, sem exageros, mas com disciplina e persistência. Está se sentindo de-
satualizado diante de tantas modernidades? Procure estudar, atualizar-se,
fazer cursos, inteirar-se de novos assuntos, ler com mais frequência, com-
prar livros; peça orientação. Hoje podemos contar com bons cursos pela
Internet e vastíssimo material para pesquisa sobre os mais variados assuntos.
A informática é um recurso imprescindível no mundo de hoje, e que qual-
quer pessoa pode aprender com algumas poucas aulas.
Está com uma situação mal resolvida com alguém, chame-a para um
diálogo, perdoe. Não sabe o que fazer a respeito de algum tema, busque aju-
da! Todos nós estamos sujeitos a cometer falha. Mesmo quando existem
boas intenções podemos cometer falhas e causar mágoas. Mas não há o que
não tenha solução. Não fique reclamando para as paredes. Encare calma-
mente os fatos de frente.
Estará você está num círculo monótono, numa mesmice e que isto o
está deixando entediado? Que tal procurar novas atividades, novos lazeres,
novos entretenimentos; mudar e criar alguns programas, ir ao cinema, ao
teatro, a uma instituição filantrópica... Sim, isto fará com que você conheça
outras pessoas; compartilhe experiências, note que outros também têm lá
suas agruras, seus problemas; e que muitas vezes são bem maiores do que os
nossos. Existem hábitos extremamente saldáveis e necessário para carregar
nossas baterias de nova luz. Dentre estes podemos citar as atividades físicas
regulares, a filantropia, a dança... Você não precisa se tornar um triatleta;
mas, exercícios tais como a caminhada, natação, yoga, alongamentos fre-
287
quentes, exercícios aeróbicos leves podem e devem ser feitos regularmente.
Você já tirou um tempinho para meditar? Não?! Pois saiba que meditar é
uma excelente forma de relaxar os sentidos e aliviar a mente dos afazeres
diários. E mais: nos momentos de relaxamento e meditação nossa mente
trabalha num nível mais adequado para encontrar soluções simples para
problemas que às vezes julgamos extremamente complicados.
Para quem está sem nenhum condicionamento físico, não se esqueça
de que é necessário passar por uma avaliação médica e testes de resistência
que indiquem por onde iniciar, e qual a intensidade do programa de restabe-
lecimento da melhor condição física. Busque um condicionamento que esta-
beleça uma recuperação gradual e constante. Mantendo-se uma regularidade
de exercícios moderados já é o suficiente para eliminar peso e toxinas, me-
lhorar o tônus muscular e circulação, o que imediatamente se reverte em
mais calma, tranquilidade, bem-estar geral e paz. É muito mais importante
habituar-se a uma rotina de exercícios leves do que se meter a fazer algumas
poucas séries de exercícios pesados e parar. Vou te convidar novamente:
Inicie! Dê a largada para uma nova vida com muito mais vigor e alegria.
Não fique parado reclamando! Você não precisa ser escravo de uma rotina
pesada e cansativa. Melhor será variar atividades que alternem compromis-
sos com lazer; disciplina com relaxamento saudável. Esta conquista te dará
mais alegria e satisfação de viver.
Ladrões de energia
Pare de fumar, ou pelo menos diminua para no máximo três cigarros
por dia; evite o excesso de álcool, principalmente em dias de semana. Evite
tomar remédios ou álcool sem ter se alimentado direito; tome muita água,
dois litros ou mais por dia, principalmente se fuma, toma remédios ou inge-
re álcool; faça uma alimentação saudável e variada de acordo com as suas
necessidades físicas.
Evite frituras, gorduras e óleos saturados; troque o sal de cozinha por
sal marinho, e use-o de forma moderada; evite o açúcar branco, alimentos
muito condimentados e refinados; conservas, enlatados, embutidos, lanches,
petiscos ou guloseimas fora do horário das refeições habituais. Sua alimen-
288
tação deve ser equilibrada e incluir frutas, legumes, vegetais e outros de
acordo com a necessidade e aceitação do seu organismo. Para quem trabalha
na rua, procure ter horário certo para as refeições. Evite salgadinhos, lanches
ou alimentos pré-fabricados. Dê preferência por refeições leves e completas;
almoce ou jante adequadamente, de preferência sempre num mesmo horário
e com tempo suficiente para a boa mastigação e digestão. Evite refrigerante
e sucos artificiais, e procure não beber nada durante a refeição.
Dê um espaço de quarenta minutos antes ou depois das refeições para
tomar suco natural, água ou outra bebida saudável – como um chá de ervas,
por exemplo. Lembre-se de que a perda de saúde poderá sair bem mais cara
do que o dinheiro que você ganha na afobação. Evite os excessos, correrias
e afobações.
Evite comer nos intervalos de refeições, chupar balas ou chiclete ou
tomar café a toda hora. Coma pouco à noite e nunca imediatamente antes de
deitar; evite tomar remédios sem consultar um médico: isso pode levá-lo ao
desequilíbrio físico, com inchaços, retenção de líquidos, mau funcionamento
do sistema digestório, intoxicação, celulite, gordura localizada etc, e conse-
quentemente também a problemas de ordem psicológica, além de inúmeras
outras disfunções biológicas e orgânicas.
Se você estiver mal fisicamente isto lhe trará desconforto e mal-estar.
Se o seu peso começar a aumentar e a sua forma física for para o espaço, sua
autoconfiança e autoestima vão juntas. Perceba enquanto é tempo ou tome
providências urgentes se acha que já passou do tempo. Agite-se! Isto serve
para pessoas de ambos os sexos e de todas as idades. Outro fator importan-
tíssimo: descanse do seu dia a dia. Lembre-se de que seu organismo possui
necessidades fisiológicas que devem ser respeitadas: além de procurar man-
ter um horário habitual, procure não contrariar as vontades naturais de seu
sistema de eliminação. Isso pode favorecer a constipação pela diminuição
dos movimentos do mecanismo natural de expulsão.
Reserve um período para lazer e outro para descanso, incluindo uma
boa noite de sono. Uma noite de bom sono é de extrema importância para o
equilíbrio natural das atividades fisiológicas. É à noite quando dormimos
que nosso organismo recupera sua energia vital e faz a limpeza de resíduos.
Observe melhor se você não está exagerando em algum ponto. Nenhum
exagero ou excesso é bom: exagero = desequilíbrio; desequilíbrio = más
consequências. Um dos principais causadores da falta de energia – e conse-
289
quentemente da iniciativa e vontade de viver – é o sedentarismo. Junte-se a
isto um mal-estar danado pelo aspecto físico que isto pode causar, mais o
estresse causado pelo peso que será viver assim, e o resultado será uma pes-
soa depressiva, para baixo, com a autoestima a zero, e sem iniciativa nem
vontade para nada. O rendimento começa a cair e ele inicia o processo de
descida ao fundo do poço.
Daí só com tratamento e talvez ainda ter de engolir o fato de não ter
mais tempo para recuperar a saúde nem o tempo desperdiçado com vida mal
vivida! O excesso de atividades e cansaço causado pelo sedentarismo mina
as forças necessárias para o bom nível físico e mental. Uma pessoa cansada
fica fragilizada emocionalmente, e isso prejudica sua tomada de decisões;
seu nível já abalado o colocará inferiorizado em situações que demandem
um bom estado espiritual.
Quase todas as pessoas são capazes de fazer uma autoanálise para
achar o que está fazendo com que tenha perdido o rendimento, e que tenha
abaixado o amor para consigo. Mas, se não conseguir, procure ajuda, peça a
opinião de familiares que queiram o seu bem. Busque ajuda de um profissi-
onal. De preferência àquele de formação variada que possua conhecimento
corroborado pela prática, e que assim possa orientar e dar suporte efetivo
para levá-lo a um bom estado de espírito. Evite curas químicas rápidas que
na verdade nada curam, e que podem até acarretar problemas maiores no
futuro. O espantoso número de vítimas de câncer e outras doenças antes
desconhecidas não acontece por acaso! Diariamente pessoas procuraram
ajuda para problemas psicológicos e o que conseguem são apenas indica-
ções de antidepressivos ou ansiolíticos que lhes aliviam de um sintoma, mas
causam estragos enormes a médio ou longo prazo.
Lembre-se que efeito momentâneo ou equilíbrio químico do organis-
mo não é o mesmo que resolver os problemas. Será como querer tapar o sol
com peneira, até quando o organismo aguentar a droga. Vemos frequente-
mente pessoas pararem com antidepressivos e a doença voltar à tona. Será
por quê? Então, antes de procurar ajuda de terceiros, que tal perguntar para
quem mais sabe dos seus problemas – para o seu melhor amigo: - Você!
Experimente fazer uma autoavaliação e se surpreenda com tudo que você
aprenderá de si. Medite, reflita e avalie quais são os bons valores que você
está desejando para si. O que de fato interessa e será bom para você? Quais
foram os pontos em que você mais se fixou e desejou para si quando fez a
290
mentalização? Quando fizer isto ficará surpreso com tanta coisa que brotará
da sua imaginação.
Aproveite as dicas da sua consciência e comece a transformação. Parta
para ser aquele ser que você admirou pelas suas grandes qualidades morais,
brilho autêntico e verdadeiro, e caminhe para a conquista de toda a seguran-
ça que isso proporciona. Nem sempre a melhor alternativa será recorrer à
ajuda de terceiros. Isto poderá levar mais tempo e dinheiro do que você
imagina. Dê um tempo maior para se conhecer e tome a iniciativa de tratar-
se com maior carinho e dedicação. Só podemos fazer uma grande reforma
quando conhecemos as bases estruturais. Dificilmente alcança seus objeti-
vos aquele que outorga a outros a análise de si. Somos mais complexos do
que qualquer definição duvidosa advinda de interpretações incompletas ou
equivocadas. A melhor compreensão de si acontece com a descoberta de
quem efetivamente somos, com todas nossas atuais características, definin-
do cada uma delas, e o porquê de cada uma coexistir. E, afinal, é disso que
precisamos para ter a autoestima sempre elevada: ter o conhecimento de si
mesmo – O “Homo, nosce te ipsum” de Tales de Mileto.
Só poderemos promover mudanças em algo ou alguém a partir de que
conheçamos intimamente. Busque a sua verdadeira personalidade, analise-a
sem medos e mude para melhor o que não estiver bom. Não exija demais de
si o tempo todo. Não imagine que todos têm de acertar sempre, o tempo
todo. O importante é ser constante. Busque melhorias de forma gradual e
frequente que o resultado será um caráter bem definido, boa índole e uma
agradável personalidade, com brilho próprio e alegria de viver.
O homem está contido no Universo e o Universo está contido no ho-
mem. Assim, o Universo está dentro de nós. Se não descobrirmos o Univer-
so dentro de nós mesmos, tampouco o descobriremos fora de nós. Não há
nada de oculto que não deva ser descoberto, nem de secreto que não deva
ser conhecido. Nossa mais alta missão agora é cristalizar em nossa alma
(nosso Corpo Astral) todas as nossas faculdades divinas, nossas forças, vir-
tudes, capacidades e poderes.
Quando eliminamos do ego a ira, em sua substituição cristalizamos a
virtude da serenidade, da paciência; quando eliminamos o egoísmo, cristali-
zamos em nós o altruísmo; quando eliminamos a luxúria, cristalizamos a
virtude da castidade – o amor sem desejo e o adorar sem profanação; quan-
do eliminamos o ódio, cristalizamos o amor. Se eliminamos a inveja, em seu
291
lugar nasce a alegria pelo dever alheio, a filantropia. É necessário compre-
ender que precisamos eliminar os defeitos indesejáveis de nossa psique para
o efetivo desenvolvimento do nosso Corpo Astral, a essência divina que
somos, e que vai além de qualquer mera aparência momentânea.
292
Considerações finais
Concluímos este breve trabalho com o mais sincero desejo de que seus
dias sejam felizes, leves e com a Consciência sempre alerta. Que a vida lhe
proporcione muitos momentos de aprendizado, oportunidades de manifestar
sua sabedoria, suas verdadeiras capacidades. Estaremos realizados se este
pequeno esboço lhe servir para compreender-se um pouco mais, aos outros e
um pouco do sistema que ora vivemos.
Se conseguimos realizar ainda que uma pequena parte de nossa inten-
ção primeira, tudo terá valido a pena. Que você conserve no seu coração o
firme propósito de ser feliz, de realizar para si e para todos, independente de
receber reconhecimento ou glórias. Quando temos consciência de quem so-
mos, recebendo algum reconhecimento ou não, sabemos que o importante é
seguir fazendo, de forma tranquila e alegre, na certeza de estar cumprindo
com nossa parte, independente do que os outros estão fazendo, se estão
agindo certo ou não. As recompensas? Tenha plena certeza de que não exis-
te uma maior do que a própria realização e desenvolvimento pessoal; tam-
bém, que todos os seus esforços estão sendo contabilizados para aferição
futura. Se você faz o bem, tudo que receberá será bom e motivo da mais
intensa felicidade, aquela que não encontramos aqui, nem mesmo com mui-
to dinheiro.
Devemos buscar viver de forma honesta, alegre, tranquila e sem afo-
bações, mesmo quando passamos por aquelas dificuldades maiores. Faça-
mos nossa parte sem cobranças desmedidas, confiantes e sempre com bons
motivos para comemorar. E lembre-se de que você não precisa concordar
apenas para agradar. Nem sempre quem nos faz uma solicitação tem boas
intenções ou merece nossa preocupação. Quando temos de dizer não, e
aprendemos a dizer sem o peso da culpa, é porque amadurecemos a ponto
de ser sincero consigo e com os outros. Ninguém precisa concordar com
tudo simplesmente para manter as aparências, suportando mágoas ou contra-
riedades. Aprendamos a dizer não, quando preciso. Não deixe que um co-
mentário banal, daqueles feitos por gente que não conhece nem a si – quem
dirá você – influencie na sua confiança e crença de seus verdadeiros valo-
res. Seus valores pessoais são tesouros que você leva consigo para sempre.
Conserve-se no bom caminho e um dia terá a certeza de que seu esforço
pessoal na construção de si valeu cada minuto de reflexão, conscientização e
293
estudo de suas atitudes. Você está construindo a cada dia sua verdadeira
essência divina.
Aproveite seu tempo para conhecer-se melhor, compreendendo o que
os outros fazem, por quê fazem, e o que existe por detrás de cada ato ou
intenção. Não julgue; apenas tente compreender e fazer para conviver de
forma agradável, educada e sadia com todos. Dificilmente faríamos um jul-
gamento correto se não sabemos os fatores que constroem cada atitude de
cada pessoa. Se você se aborrecer com tudo, sem compreender as limitações
humanas, correrá sério risco de viver eternamente insatisfeito, inconforma-
do, irritado e sem a necessária tranquilidade para o seu equilíbrio. Respeite a
sua forma de ser e não se ponha em comparações banais e desnecessárias.
Sua autenticidade indicará um caminho seguro de seguir seu destino. Copiar
modismos ou tipos pode desequilibrar sua vida inteira. Lembramos uma vez
mais sobre os perigos de se seguir modelos de boa aparência, mas de conte-
údo duvidoso.
Cuidado para não criar uma imagem que terá de ser sustentada por in-
venções para parecer bem, quando na realidade estará desvirtuando seu ca-
minho, sua verdadeira índole e caráter, sua felicidade. Ninguém precisa ser
igual a ninguém. Cada um com sua individualidade, demonstrando autenti-
cidade e humildade é que passamos a melhor impressão. Com tudo que im-
plica nossa vida, experimentações, alegrias, tristezas, brincadeiras, roman-
ces, ou quaisquer outros sentimentos e emoções, viva e aproveite cada dia
de sua vida, e que cada dia seja melhor que o de antes. Você está construin-
do hoje o seu amanhã. Sua obra deve sempre partir do princípio de que es-
tamos num continuum necessário para nosso nascimento para o Mundo de
Deus. E, afinal, o melhor é não pensarmos que estamos reparando ou pa-
gando nossos erros passados, mas sim construindo o futuro com cada uma
de nossas novas atitudes, agora utilizando cada uma das qualidades que as
experiências passadas nos possibilitaram.
Que o brilho de sua elevação resplandeça de seu coração, doando ao
seu semblante a aura da mais elevada luz.
Cristian Germain