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RESUMO PARA MESA REDONDA – OROPOUCHE Jessica Cristiane Bertoni, Jessica Ferri Toesca, Marcio Yuri Ferreira Histórico O ORO foi isolado originalmente em 1955, a partir do sangue de um paciente febril em Port of Spain-Trinidad. Em 1960, obteve- se seu isolamento pela primeira vez no Brasil, do sangue de uma preguiça (Bradypus tridacty-lus) capturada na rodovia Belém-Brasília, às proximidades de Belém. No ano seguinte, ocorreu uma epidemia na capital paraense, a qual sucederam-se outras em 1968-69 e 1979-80, o que permitiu constatar o caráter cíclico das epidemias. Além de Belém, diversos municípios da região leste e baixo Amazonas do Estado do Pará, foram igualmente acometidos por surtos causados pelo ORO7. No biênio 1980-81, pela primeira vez o vírus causou doença fora do território paraense, quando ocorreram epidemias em Manaus e Barcelos, no Estado do Amazonas e Mazagão, no Amapá. Há relatos de casos também no Panamá, Peru e Argentina. Em Porto Franco, MA, a partir de dezembro de 1987, numerosos pacientes portadores de doença febril começaram a procurar a unidade sanitária (atendimento médico laboratorial) da Fundação SESP. Amostras de sangue foram coletadas e remetidas ao o Instituto Evandro Chagas (IEC), onde isolaram quatro cepas do vírus ORO. Configurava-se, assim, que a epidemia era causada por esse agente, o que levou os autores a realizarem investigações clínicas e eco-epidemiológicas na vila e arredores do município, entre 26 de janeiro e 1 de fevereiro de 1988. Estudos soroepidemiológicos realizados no Brasil e nas Américas indicam que, entre 1961 e 2007, aproximadamente 357000 pessoas tenham sido infectadas pelo vírus. No entanto, estes

Resumo para mesa redonda - Oropouche

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RESUMO PARA MESA REDONDA – OROPOUCHEJessica Cristiane Bertoni, Jessica Ferri Toesca, Marcio Yuri Ferreira

HistóricoO ORO foi isolado originalmente em 1955, a partir do sangue de um paciente

febril em Port of Spain-Trinidad. Em 1960, obteve- se seu isolamento pela primeira vez

no Brasil, do sangue de uma preguiça (Bradypus tridacty-lus) capturada na rodovia

Belém-Brasília, às proximidades de Belém. No ano seguinte, ocorreu uma epidemia na

capital paraense, a qual sucederam-se outras em 1968-69 e 1979-80, o que permitiu

constatar o caráter cíclico das epidemias. Além de Belém, diversos municípios da

região leste e baixo Amazonas do Estado do Pará, foram igualmente acometidos por

surtos causados pelo ORO7. No biênio 1980-81, pela primeira vez o vírus causou

doença fora do território paraense, quando ocorreram epidemias em Manaus e

Barcelos, no Estado do Amazonas e Mazagão, no Amapá.

Há relatos de casos também no Panamá, Peru e Argentina.

Em Porto Franco, MA, a partir de dezembro de 1987, numerosos pacientes

portadores de doença febril começaram a procurar a unidade sanitária (atendimento

médico laboratorial) da Fundação SESP. Amostras de sangue foram coletadas e

remetidas ao o Instituto Evandro Chagas (IEC), onde isolaram quatro cepas do vírus

ORO. Configurava-se, assim, que a epidemia era causada por esse agente, o que

levou os autores a realizarem investigações clínicas e eco-epidemiológicas na vila e

arredores do município, entre 26 de janeiro e 1 de fevereiro de 1988.

Estudos soroepidemiológicos realizados no Brasil e nas Américas indicam que,

entre 1961 e 2007, aproximadamente 357000 pessoas tenham sido infectadas pelo

vírus. No entanto, estes dados parecem estar subestimados uma vez que a incidência

dessa arbovirose não foi computada em importantes epidemias como as ocorridas em

Belém no ano de 1968, em Porto Franco (Estado do Maranhão) e Tocantinópolis

(Estado do Tocantins) em 1988. Portanto, acredita-se que mais de meio milhão de

pessoas residentes na Amazônia Brasileira tenham sido infectadas pelo VORO desde

o início da década de 1960.

EtiologiaA febre do Oropouche (ORO) constitui em termos de Saúde Pública, uma das

arboviroses mais importantes na Amazônia brasileira. O vírus ORO antigenicamente

está incluído no sorogrupo Simbú da classificação de CASALS1 e, taxonomicamente

integra a família Bunyaviridae e gênero Orthobunyavirus.

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A partícula viral apresenta-se sob a forma esférica, cujo diâmetro varia de 90 a

100 nm. Por apresentar envelope, o vírus é sensível à ação de solventes orgânicos

(éter e clorofórmio) e detergentes (desoxicolado de sódio) (Karabatsos, 1985

EpidemiologiaO vírus ORO mantêm-se na natureza através de um ciclo complexo, no qual

intervém um ciclo silvestre e outro urbano. As preguiças e os macacos atuam como

reservatórios do ORO selvagem. Aves silvestres têm sido também incriminadas como

possíveis hospedeiros. Quanto aos vetores, o ciclo silvestre ainda não foi devidamente

esclarecido. Já se obteve isolamento dos mosquitos Aedes serratus (Pará) e

Coquilletidia venezuelensis (Trinidad), o que os tornam suspeitos de participarem do

ciclo de manutenção desse agente. Quanto ao ciclo urbano, o homem apresenta-se

como hospedeiro único e a transmissão se faz pelas picadas do maruim Culicoides

paraensis e eventualmente do mosquito Culex quinquefasciatus.

O “maruim” é encontrado na região Amazônica e em áreas tropicais e

subtropicais das Américas sendo ativo durante o dia, mais especificamente no período

da tarde, cuja hematofagia em humanos é exercida tanto dentro quanto fora do

domicílio. Este inseto se multiplica principalmente em áreas com acúmulo de material

orgânico em decomposição, tais como cascas de cacau, cachos de bananas e troncos

de bananeiras. Até o momento nenhum tipo de estudo foi realizado objetivando avaliar

o envolvimento do maruim na transmissão do vírus no que tange o ciclo silvestre. A

ligação entre os dois ciclos de manutenção do VORO provavelmente é feita pelo

próprio homem, que ao se infectar em áreas enzoóticas silvestres retorna aos centros

urbanos ainda em período virêmico, tornando-se uma fonte de vírus em potencial para

a infecção de novos maruins. O VORO se replica nos tecidos do maruim, que após um

período extrínseco de incubação realiza o repasto sangüíneo e infecta novos

indivíduos suscetíveis, dando início a uma cadeia de infecção que culmina em

epidemias

O período de incubação é curto, variando em média de 3-6 dias e o quadro

clínico é de uma síndrome febril benigna. No entanto, durante a última epidemia

registrada em Belém, diversos casos de meningite asséptica foram descritos como

decorrentes da infecção pelo ORO. Número significativo de doentes (60%) refere

episódios recidivantes, em média de 7 a 14 dias após o ataque inicial. Os sinais

clínicos são febre — temperatura entre 38 e 39.5°C, presente em todos os casos de

início brusco, cefaleia, calafrios, mialgias, artralgias e tontura foram os sintomas mais

frequentemente encontrados na maioria dos pacientes. Ainda, outros sintomas podem

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ser relatados, tais como fotofobia, dor retro-ocular, náuseas, vômitos, anorexia e

adinamia; há evidência de exantema e sinais meníngeos.

Os pacientes acometidos pela febre do Oropouche se recuperam

completamente e sem sequelas, mesmo em casos mais severos. Até o momento,

nenhum caso fatal foi registrado e/ou associado à febre do Oropouche.

DiagnósticoA literatura cita como meios utilizados para diagnóstico o isolamento viral,

neutralização, fixação de complemento, ELISA e hemaglutinação.