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TRABALHO 01- Texto Contexto Enferm 2005 Jul-Set; 14(3):411-8. A interdisciplinaridade como construção do conhecimento... A INTERDISCIPLINARIDADE COMO CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO EM SAÚDE E ENFERMAGEM1 INTERDISCIPLINARITY AS KNOWLEDGE CONSTRUCTION IN HEALTH CARE AND NURSING LA INTERDISCIPLINARIEDAD COMO LA CONSTRUCCIÓN DEL CONOCIMIENTO EN LA SALUD Y EN ENFERMERÍA Betina Hörner Schlindwein Meirelles2 , Alacoque Lorenzini Erdmann3 1 Texto elaborado a partir da tese de doutorado “Viver Saudável em Tempos de Aids: a complexidade e a interdisciplinaridade no contexto da prevenção da infecção pelo HIV”, defendida no Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) em 2003. 2 Enfermeira. Doutora em Enfermagem. Professora do Curso de Graduação em Enfermagem da UFSC. 3 Enfermeira. Doutora em Filosofia da Enfermagem. Professora Titular do Departamento de Enfermagem da UFSC. Pesquisadora e Representante de Área CNPq. Orientadora da Tese. Endereço: Betina Hörner Schlindwein Meirelles Av. Gov. Irineu Bornhausen, 3188, Apto 801 88025-200 – Florianópolis, SC. E- mail: [email protected] RESUMO: Este artigo resulta de uma síntese sobre a interdisciplinaridade na construção do conhecimento e práticas em saúde/enfermagem, considerando as múltiplas dimensões que envolvem o processo saúdedoença e a promoção da saúde das comunidades. O objetivo é propiciar

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TRABALHO 01-

Texto Contexto Enferm 2005 Jul-Set; 14(3):411-8. A interdisciplinaridade como construção do

conhecimento... A INTERDISCIPLINARIDADE COMO CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO EM

SAÚDE E ENFERMAGEM1 INTERDISCIPLINARITY AS KNOWLEDGE CONSTRUCTION IN HEALTH

CARE AND NURSING LA INTERDISCIPLINARIEDAD COMO LA CONSTRUCCIÓN DEL

CONOCIMIENTO EN LA SALUD Y EN ENFERMERÍA Betina Hörner Schlindwein Meirelles2 ,

Alacoque Lorenzini Erdmann3 1 Texto elaborado a partir da tese de doutorado “Viver Saudável

em Tempos de Aids: a complexidade e a interdisciplinaridade no contexto da prevenção da

infecção pelo HIV”, defendida no Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da

Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) em 2003. 2 Enfermeira. Doutora em

Enfermagem. Professora do Curso de Graduação em Enfermagem da UFSC. 3 Enfermeira.

Doutora em Filosofia da Enfermagem. Professora Titular do Departamento de Enfermagem da

UFSC. Pesquisadora e Representante de Área CNPq. Orientadora da Tese. Endereço: Betina

Hörner Schlindwein Meirelles Av. Gov. Irineu Bornhausen, 3188, Apto 801 88025-200 –

Florianópolis, SC. E-mail: [email protected] RESUMO: Este artigo resulta de uma síntese

sobre a interdisciplinaridade na construção do conhecimento e práticas em

saúde/enfermagem, considerando as múltiplas dimensões que envolvem o processo

saúdedoença e a promoção da saúde das comunidades. O objetivo é propiciar reflexão e

melhor compreensão da realidade dinâmica e complexa, que impõe que se estabeleça

múltiplas interconexões para que as ações se efetivem na promoção da saúde. O pensamento

em saúde ainda é fragmentado, levando a ações de prevenção e controle de doenças pontuais

e enfoque mutilado da realidade vivida pelos sujeitos. O estabelecimento das inter-relações e

integrações disciplinares propiciará uma consciência capaz de enfrentar as complexidades e a

integralidade do processo de viver saudável. A partir dessa compreensão, sugere-se a

construção de um conhecimento contextualizado em saúde/enfermagem, que responda às

necessidades dos sujeitos e facilite a criação de parcerias entre múltiplos atores/sistemas

sociais na abordagem por melhores condições de saúde e vida. ABSTRACT: This article is the

result of a synthesis about interdisciplinarity in constructing knowledge and practices in health

care and Nursing, considering the multiple dimensions which involve the health and illness

processes and health promotion in communities. The objective of this study is to propitiate

better comprehension about the complexity and dynamism of the reality that demands

professionals to establish interrelationships among their actions, aiming for effective health

promotion. The concepts of health are still fragmented, resulting in reducing professionals’

actions toward prevention to controlling illness without considering the individuals’ daily life

context. Whereas, the professional that establishes the interrelationships between disciplines

will be able to face the complexities and wholeness of healthy living process. From this

comprehension, the author suggests knowledge construction based on a health care/Nursing

context that meets individuals’ necessities and facilitates the development of a net partnership

between social actors, seeking better health and life conditions for individuals. RESUMEN: Este

artículo resulta de una síntesis sobre la interdisciplinariedad en la construcción del

conocimiento y prácticas en salud/enfermería, considerando las múltiples dimensiones que

envuelven el proceso salud-enfermedad y la promoción de la salud de las comunidades. El

objetivo es propiciar la reflexión y mejorar la comprensión de la realidad dinámica y compleja,

que impone que se establezcan múltiples interconexiones para hacer efectivo las acciones en

la promoción de la salud. El pensamiento en la salud, todavía, continua fragmentado, llevando

las a acciones de prevención y el control de enfermedades puntuales y a um enfoque mutilado

de la realidad vivida por las personas. El establecimiento de las interrelaciones e integraciones

disciplinares propiciará una conciencia capaz de enfrentar las complejidades y la integridad del

proceso de vivir saludable. A partir de esta comprensión, se sugiere la construcción de un

conocimiento contextualizado en salud-enfermería, que responda a las necesidades de las

personas y facilite la creación de parcerías entre múltiples actores/sistemas sociales en el

abordaje por mejores condiciones de salud y de vida. PALAVRAS-CHAVE: Ação intersetorial.

Promoção da saú- de. Enfermagem. Conhecimento. KEYWORDS: Intersectorial action. Health

promotion. Nursing. Knowledge. PALABRAS CLAVE: Acción intersectorial. Promoción de la

salud. Enfermería. Conocimiento. Artigo original: Reflexão Recebido em: 15 de fevereiro de

2005 Aprovação final: 13 de abril de 2005 - 412 - Texto Contexto Enferm 2005 Jul-Set;

14(3):411-8. Meirelles BHS, Erdmann AL INTRODUÇÃO A dinâmica e as transformações que

vêm ocorrendo na sociedade refletem de maneira significativa no campo da saúde, trazendo

novos desafios aos pesquisadores e profissionais da saúde tanto nos campos epistemológicos

como metodológicos. O setor saúde é chamado a responder a uma pluralidade de

necessidades e especificidades, às mudanças demográficas, às condições sociais, às mudanças

epidemiológicas, centrando-se no ser humano, individual ou coletivo. A saúde coletiva e

pública, como proposta centrada na promoção da qualidade de saúde e vida dos homens, tem

nas práticas interdisciplinares um espaço privilegiado para repensar teorias, inovar seus

conhecimentos e as formas de pensar a saúde, a doença e a prestação de serviços, e se

concretizar como um movimento que aglutine o saber e os sujeitos desse saber. Envolve

pensar a respeito da realidade. Necessita do encontro, de troca entre os diversos setores da

sociedade, entre investigadores na busca das respostas às questões em aberto. Convivemos

com a necessidade de diferentes abordagens para entender a realidade e enfrentar os

problemas que se apresentam, buscando múltiplas teorias para explicá-los. Assim, a saúde

torna-se um processo dinâmico e complexo, cuja compreensão aponta a reflexões

interdisciplinares para uma nova prática em saúde e Enfermagem, como nos propomos a

discutir neste texto. UMA BREVE REFLEXÃO A RESPEITO DO CONCEITO DE

INTERDISCIPLINAIDADE EM SAÚDE E ENFERMAGEM A abordagem interdisciplinar nos leva

como ponto de partida, a uma discussão a respeito do termo interdisciplinaridade, tão

comumente usado em nosso meio. Podemos até dizer que o termo está na “moda” e é

facilmente confundido com o trabalho em equipe ou em grupo, tanto na pesquisa como na

resolução de um problema prático. No caso da saúde, coloca-se que “a busca de ações

integradas na prestação de serviços, ou na associação de docência e serviço, ou a questão da

interface entre o biológico e o social passa pelo campo genericamente denominado de

relações interdisciplinares”,1:98 como resposta à compartimentalização que procura

responder aos problemas de saúde, que geralmente não são disciplinares. Assim, uma

abordagem interdisciplinar, com o olhar da complexidade em saú- de, se caracteriza pela

necessidade de aporte de outros conhecimentos, principalmente das Ciências Humanas e

Sociais à saúde, numa superação do enfoque muitas vezes biomédico, curativista e

fragmentado que se tem adotado na abordagem da problemática. Porém, a questão não é a

simplificação de interligar os conhecimentos, mas deve-se levar em consideração a

intervenção efetiva no campo da realidade social. “O problema assume maior complexidade

na medida em que a disciplinaridade e a interdisciplinaridade necessitam ser vistas em seus

condicionantes histórico-sociais no contexto de uma sociedade em que a especialização e a

proliferação e fragmentação do conhecimento passam a fazer parte de uma sociedade

competitiva e corporativista”.1:98 A nova visão de saúde coletiva e pública, em construção na

América Latina, traz a necessidade de uma sistematização do conceito de saúde, situando suas

potencialidades de constituição de um conhecimento interdisciplinar. Enfim, no sentido de que

este movimento ideológico se articule a novos paradigmas científicos capazes de abordar o

objeto complexo saú- de-doença respeitando sua historicidade e integralidade, reconhecendo

as várias facetas dos fenômenos da vida cotidiana envolvidos neste processo. Neste sentido,

consideramos importante a discussão a respeito destes novos paradigmas, como também a

pertinência do debate entre profissionais e instituições de saúde em busca desta nova prática

sanitá- ria, tal como também propõe a Organização Mundial da Saúde através de suas

Conferências para a promo- ção da saúde dos povos. Novos paradigmas trazem novas formas

de pensamento e de visão de mundo. O pensamento simplificador vigente na saúde

desenvolveu-se, no quadro soberano dos três axiomas da lógica identitária clássica.2 Foi

justamente isso que produziu um pensamento redutor ocultando a solidariedade,

interretroações, sistemas, organizações, emergências, totalidades e suscitou conceitos

unidimensionais, fragmentados e mutilados do real. Foi o que levou a ciência clássica à visão

determinista/atomista de um universo-máquina constituído de bases isoláveis. A idéia de

interdisciplinaridade já vem desde os filósofos gregos com a possibilidade de formar um

homem integral, voltando à discussão nos tempos atuais, na década de 60, com os trabalhos

de Gusdorf, Piaget, Bastide, Jantsch, dentre outros, com a possibilidade de unir os

conhecimentos que vão se fragmentando nos espaços especializados. Porém, somente na -

413 - Texto Contexto Enferm 2005 Jul-Set; 14(3):411-8. A interdisciplinaridade como

construção do conhecimento... década de 70, principalmente com as conclusões de um

encontro sobre interdisciplinaridade organizado pela Organização da Comunidade Européia

para o Desenvolvimento Econômico (OCDE), é que recebe seu maior impulso.3 Na década de

90, a interdisciplinaridade toma outra forma diante do mundo de informação e de crises que

vivemos. Passa a ser vista de uma forma mais complexa, na busca de uma nova epistemologia.

Vivemos a hiperespecialização em todas as áreas do conhecimento, os problemas

fundamentais e os problemas globais são despejados das ciências disciplinares. As mentes

formadas pelas disciplinas perdem suas aptidões naturais tanto para contextualizar os saberes,

tanto como para integrá-los em seus conjuntos naturais.2 O enfraquecimento da percepção do

global conduz ao enfraquecimento da responsabilidade (cada um tende a responsabilizar-se

somente pela sua tarefa especializada) e da solidariedade. A divisão das disciplinas

impossibilita entender o que está tecido junto, ou o complexo, o que precisa ser mudado para

que sejamos capazes de construir concepções e modelos mais aproximados da realidade.

Aponta-se que a justificativa de um projeto de pesquisa interdisciplinar, que ultrapasse os

quadros das diferentes disciplinas científicas, deve ser procurada “na complexidade dos

problemas aos quais somos hoje em dia confrontados, para chegar a um conhecimento

humano, se não em sua integridade, pelo menos numa perspectiva de convergência de nossos

conhecimentos parcelares”.3:62 Pois, de certa forma, os especialistas decompõem o homem

em busca de um conhecimento positivo, um saber verificável, através de métodos científicos

determinados. É enfatizado ainda, que se necessita de uma nova forma de conhecimento do

real e que esta consciência coletiva seria saturada de complexidade, de complexus, ou seja, de

agires e fazeres que rejuntariam tudo aquilo que a disjunção cartesiana fez no plano físico,

metafísico e metapolítico. Qualquer sistema vivo passaria, então, a ser entendido como um

sistema incompleto, indeterminado, irreversível, sempre marcado pela autoorganização que

combina, descombina e recombina a ordem, a desordem e a desorganização.2 Ao discutirmos

os conceitos de interdisciplinaridade, é comum a visão de uma resposta à fragmentação do

saber para a construção de um saber que dê conta da totalidade da realidade, o saber unitá-

rio. Esta unidade está presente na construção de um sistema conceitual resultante da

integração dos sistemas disciplinares, que pode conduzir à introdução de uma nova noção, a

transdisciplinaridade. Ora, aqui temos um ponto bastante significativo para a discussão. O que

é esta unidade? Temos que estar atentos, pois a unidade é metafísica, é redutora, leva da

mesma forma ao fechamento em si mesmo ou “emmesmesamento”. A realidade é dinâmica e

não se fecha em si, não sendo redutível à mensuração. O real está em constante movimento,

em constante rela- ção entre o geral e o específico, o universal e o particular, entre o uno e o

diverso. Apesar de considerar a unidade como não acabada, por conseguinte aceitando a sua

dinamicidade,3 concordamos que existe a necessidade de delimitarmos um objeto para

investigação, mas sem verdades prévias, considerando as múltiplas determinações que o

constitui e a dinamicidade e complexidade da realidade em que se insere. Também não existe

uma metodologia interdisciplinar, pois não podemos ter essa pretensão de prever o

imprevisível diante da dinamicidade da realidade. Enfatiza-se que, ao contrário de Descartes

que partia de um princípio simples de verdade e por isso propunha um discurso do método em

poucas páginas, Morin faz um discurso muito longo “à procura de um método que não se

revela por nenhuma evidência inicial, mas que deve elaborar-se com esfor- ço e risco. A missão

desse método não é fornecer fórmulas programáticas de um pensamento ‘são’, mas convidar a

pensar a si mesmo na complexidade”.4:55 As construções científicas não podem ser pensadas

como tendo a ver com a verdade, segundo o conceito tradicional, metafísico. “Não são cópias

do mundo dado. São reorganizações do mundo congruentes com o sujeito produtor”.5:56 Não

há simplesmente a unidade, mas há unidade na diversidade, universal e particular. Assim,

quando falamos em unidade temos que estar atentos ao sentido que está sendo atribuído.

Não se pode conceber unidade sem multiplicidade; só há unidade quando há um referente,

que no caso é a multiplicidade. A unidade é dialética, pois é multiplicidade em movimento. E a

dialética única negaria sua própria identidade, ou seja, a unidade dos contrários. A dialética,

mais que outras metodologias, sabe apontar para o caráter contraditório e ambíguo da

realidade e de si mesma. “Como todas é lógica, ou seja, também representa a intenção de

catar padrões na complexidade, mas dentro da perspectiva essencialmente dinâmica”.6 É

múltipla como todos os produtos também culturais, é essencialmente aberta e evolui sem

direção determinada. - 414 - Texto Contexto Enferm 2005 Jul-Set; 14(3):411-8. Meirelles BHS,

Erdmann AL Devemos conceber uma unidade que garanta e favoreça a diversidade, uma

diversidade inscrita na unidade. A unidade complexa: unidade na diversidade, diversidade na

unidade, unidade produtora de diversidade, diversidade produtora de unidade; é a unidade de

um complexo gerador “[...] que gera diversidade ilimitada”.7:66 A discussão sobre a

interdisciplinaridade entre as ciências articulando os saberes de outras áreas, demonstra que

“pela lógica da produção/construção do saber e por sua autonomia, as ciências não são

fragmentos de um saber unitário e absoluto. Sua gênese não provém daí”.5:63 A existência de

um fragmento pressupõe a existência de um todo que se perdeu no tempo, como se as

ciências tivessem surgido de maneira linear e dependente de saberes anteriores – assim a

autonomia e a produção científica são vistas como fragmentação. Neste sentido, afirma que o

que se perdeu no decorrer do tempo foi aquela “unidade natural” do homem primitivo e sem

história imerso na natureza e dela inteiramente dependente. Mas, afinal, o que pretendemos

com a interdisciplinaridade? O abandono da concepção fragmentária por outra unitária do

saber e do conhecimento? Uma nova verdade científica? Consideramos oportuno discutir a

respeito, começando com o que definimos como verdade. A verdade que acreditamos não se

trata de uma verdade definitivamente adquirida, mas de uma reflexão que cada um de nós

deve realizar a respeito das questões que se colocam em nossa sociedade, com pontos de vista

diversos. Considera-se a verdade não como algo que se impõe como dogma, mas sim, daquela

que é alcançada através do diálogo e da polêmica, pois tal verdade traz em si a força da

dialética. Diante da diversidade da realidade vivida, cabe à interdisciplinaridade possibilitar o

conhecimento claro da interdependência das verdades. A retirada da verdade e da certeza dá

lugar ao imprevisível, ao incerto, deixando as pessoas sem saber o que pensar. Faz-se

necessário resgatar alguma verdade sem recair num mundo verdadeiro. Compreendemos que

a realidade dinâmica e complexa nos coloca que a verdade é flexível a esta dinamicidade do

real, na expectativa de que ordens menos rígidas nos possibilitem conviver com as incertezas

desta realidade. Assim, a verdade se constrói por aproximações sucessivas, abertas, que são

constantemente questionadas para poder apreender a totalidade desta realidade. Mas,

retomando nossa discussão anterior, o que seria então esta unidade que buscamos? Como

vimos, não é a verdade dogmática. O que pretendemos com a interdisciplinaridade é a busca

de integração, de instaurar formas de totalidade em um campo de saber múltiplo, pluralista,

heterogêneo; reconhecendo a complexidade dos fenômenos, dialeticamente, com olhares

diferenciados, resgatando uma unidade que perdemos no decorrer da história. Esta totalidade

só é apreensível através das partes e das relações entre elas. A categoria da totalidade

justifica-se “enquanto o homem não busca apenas uma compreensão particular do real, mas

pretende uma visão que seja capaz de conectar dialeticamente um processo particular com

outros processos e, enfim, coordená-lo com uma síntese explicativa cada vez mais ampla”.8:16

Implica uma complexidade em que cada fenômeno só pode vir a ser compreendido como um

momento definido em relação a si e em relação aos outros fenômenos. A totalidade não é um

todo já feito, determinado e determinante das partes, não é uma harmonia simples, pois não

existe uma totalidade acabada, mas um processo de totalização a partir das relações de

produção e de suas contradições. Uma compreensão dialética da totalidade exige a relação

entre as partes e o todo e as partes entre si. O todo, na verdade, só se cria a si mesmo na

dialética das partes, só pode existir concretamente nas partes e é na relatividade das partes

que o todo se estrutura e caminha.8 Assim, a totalidade é aberta, ligada ao movimento do real

e em constante processo no seu desenvolver. Existem contradições no seio da totalidade que

levam ao reconhecimento do real como histórico. A realidade está em movimento com suas

contradições, o que a conduz à superação de si mesma. A totalidade concreta “não é algo que

tenha uma existência em si. Ela é o processo de criação de sua estrutura porque é vista como

uma produção social do homem”.8:37 O homem, como sujeito histórico-social, pela sua práxis

objetiva produz a realidade e também por ela é produzido. A totalidade “não é totalidade lisa,

com partes tranqüilamente justapostas, estática, mas incompleta, aproximada, imprecisa:

forma um todo porque existe dinâmica comum, mas mostra rachaduras constantes, por onde

sempre pode entrar a antidinâmica da mudança. Não possui apenas a dinâmica circular, que é

sempre a mesma e lhe permitiria recuperar-se eternamente. Ao contrário, a dinâmica é feita

de dinâmicas contrárias, feitas de convergências e divergências”.6:108 Esta apreensão da

totalidade nos exige um pen- - 415 - Texto Contexto Enferm 2005 Jul-Set; 14(3):411-8. A

interdisciplinaridade como construção do conhecimento... samento complexo, capaz de

conceber o que nos une, contextualizando o pensamento no sentido de que todo

acontecimento, informação ou conhecimento seja considerado na relação da inseparabilidade

com seu meio ambiente, seja cultural, social, econômico, político ou natural. “Trata-se de

procurar sempre as relações e inter-retroações entre cada fenômeno e seu contexto, as

relações de reciprocidade todo/partes; como uma modificação local repercute sobre o todo e

como uma modificação do todo repercute sobre as partes. Tratase, ao mesmo tempo, de

reconhecer a unidade dentro da diversidade, o diverso dentro da unidade; de reconhecer, por

exemplo, a unidade humana em meio às diversidades individuais e culturais, as diversidades

individuais e culturais em meio à unidade humana”.9:25 Concluímos então que, quando

pensamos em unidade na interdisciplinaridade, estamos adotando esta visão de totalidade,

considerando o tempo, o espaço e o contexto (social, ético, político, econômico e outros) que

constituem o real, num movimento dialético, complexo, considerando as suas múltiplas

determinações. Estamos abandonando o pensamento que separa o que está ligado, que

unifica o que é múltiplo, que simplifica o que é complexo, percebendo as interações e ligações

entre os fenômenos e, considerando a irredutibilidade e complexidade do ser e viver humano.

Ao considerarmos estas definições, admitimos a visão de que a realidade é complexa e que

esta complexidade só pode ser abordada numa visão interdisciplinar. O enfoque particular do

real e como um sistema específico de relações do ser humano traz uma visão parcial da

realidade, sem inter-relação do todo com as partes e das partes com o todo, como se o mundo

fosse estático e o viver previsível. Ao abordarmos este aspecto, torna-se relevante discutirmos

a construção do conhecimento diante desta incerteza e imprevisibilidade do real, que nos

mostra que saberes diversos são necessários para conceber este conhecimento. Não se trata

de uma integração dos conhecimentos de forma sintética e harmoniosa. É uma tarefa difícil. O

problema da complexidade nos coloca “da dificuldade de permanecermos no interior de

conceitos claros, distintos, fáceis, para concebermos a ciência, para concebermos o

conhecimento, para concebermos o mundo em que estamos, para nos concebermos a nós na

relação com este mundo, para concebermos a nós na nossa relação com os outros e para nos

concebermos a nós na nossa relação com nós mesmos que é, afinal, a mais difícil de

todas”.2:35 O problema não está em que cada um perca a sua competência, mas em

compreender de que modo estão estruturados outros tipos de pensamento diferentes do

nosso. “Está em que a desenvolva o suficiente para a articular com outras competências que,

ligadas em cadeia, formariam o anel completo e dinâ- mico, o anel do conhecimento do

conhecimento”,2:33 pois há necessidade de saberes diversos para que se conceba o

conhecimento. Pensamos que é necessário ultrapassar, relativizar e englobar num método de

pensamento complexo, dialógico. A dialógica que propomos constitui não uma nova lógica,

mas um modo de utilizar a lógica em virtude de um paradigma da complexidade. Cada

operação fragmentária do pensamento dialógico obedece à lógica clássica, mas não o seu

movimento em conjunto. Cada uma das contradições que surgem na caminhada do

conhecimento deve ser encarada na sua singularidade e problemática própria. É necessário

“agir com”. A contradição incita o pensamento complexo; nos servimos dela para reativar e

complexificar o pensamento. É necessário um pensamento que saiba tratar, interrogar,

eliminar e salvaguardar as contradições. É a tarefa do pensamento complexo. Necessitamos de

“uma cabeça bem-feita”, que significa uma aptidão geral para colocar e tratar os problemas,

bem como princípios organizadores que permitam ligar os saberes e lhes dar sentido, evitando

a acumulação estéril do conhecimento. A organização do conhecimento comporta operações

de ligação (conjunção, inclusão e implicação) e de separação (diferenciação, oposição, seleção

e exclusão).9 O processo é circular, comportando ao mesmo tempo separa- ção e ligação,

como análise e síntese. Morin ressalta que em nossa civilização ligação e síntese continuam

subdesenvolvidas. A forma de organização do pensamento é que gera as fronteiras entre as

disciplinas, por isso o problema é transformar estes princípios. O desenvolvimento da aptidão

para contextualizar e globalizar os saberes torna-se imperativo. O “conhecimento torna-se

pertinente quando é capaz de situar toda a informação em seu contexto, e, se possível, no

conjunto global ao qual se insere”.4:18 Como já citamos anteriormente, trata-se de

reconhecer a unidade dentro do diverso, o diverso dentro da unidade. Neste sentido, podemos

considerar a complexidade como forma de pensamento, como um exercício cognitivo. Um

pensamento que contextualiza, que adota visões complementares, num processo dinâmico de

construção do conhecimento, produto da dialógica entre o certo e o incerto, entre a ordem e a

416 - Texto Contexto Enferm 2005 Jul-Set; 14(3):411-8. Meirelles BHS, Erdmann AL desordem,

entre o simples e o complexo presentes em nossa sociedade. Ao dirigirmos a nossa discussão à

saúde, salienta-se que no setor saúde temos geralmente uma visão disciplinar, corporativa,

unidimensional, numa lógica linear, mecanicista e redutora, que de certa forma não pode

explicar a complexidade do fenômeno saúde/ doença e da realidade.Assim, muitas vezes

assume-se teorias que buscam explicar as ocorrências e os riscos de maneira unicausal, de

maneira linear causa/efeito. É preciso aprender a ultrapassar a causalidade linear.

“Compreender a causalidade mútua inter-relacionada, a causalidade circular (retroativa,

recursiva), as incertezas da causalidade (porque as mesmas causas não produzem sempre os

mesmos efeitos, quando os sistemas que elas afetam têm reações diferentes, e porque causas

diferentes podem provocar os mesmos efeitos)”.9:77 Os indivíduos e as sociedades não

podem produzir conseqüências senão através de causas, e como estas não ocorrem na mesma

escala dos seus efeitos, não é possível partir do pressuposto de que o controle das causas

acarreta o controle das conseqüências. Pelo contrário, a falta de controle sobre as

conseqüências significa que as ações empreendidas como causas têm, não apenas as causas

intencionais (lineares) da ação, mas uma multiplicidade imprevisível (potencialmente infinita)

de conseqüências.10 O controle das causas sendo absoluto, é absolutamente precário. Este

pensamento comum em saúde, leva a prá- ticas voltadas a ações de prevenção e controle de

doenças pontuais e com enfoque mutilado da realidade vivida pelos sujeitos. Desta forma,

chegamos à discrepância entre a capacidade de ação (controle das causas) e a capacidade de

previsão (controle das conseqüências), o que nos convida a um novo conhecimento mais

próximo do real. Ao estabelecermos as inter-relações e os fenômenos multidimensionais,

contextua-lizando o conhecimento, teremos uma consciência capaz de enfrentar as

complexidades, como em nossas práticas, o processo de viver saudável na sua integralidade.

Hoje adotamos o conceito de vulnerabilidade e determinação social no processo

saúde/doença, considerando uma multiplicidade de acontecimentos e de fenômenos, de riscos

e de incertezas, no qual as estratégias cognitivas visam de modo complementar (e antagônico)

simplificar e a complexificar o conhecimento, religando os saberes.2 Nossos acontecimentos

da vida cotidiana devem ser contextualizados e pensados num processo de simplificação e de

complexificação, considerando o provável e o improvável, o histórico, o certo e o incerto, o

singular e o diverso, o acidental, o variável. Destaca-se que é “na procura da simplicidade

elementar que se chega à complexidade fundamental”.11:28 A simplificação seleciona o que é

de interesse do cognoscente, eliminando o que é alheio a sua finalidade, e computa o estável,

o determinado e o certo. A complexificação considera o máximo de dados e informações

concretas, procurando reconhecer e computar o variado, o variável, o ambíguo, o aleatório e o

incerto. Assim, da simplificação à complexificação chegamos ao conhecimento. Tanto a

complexidade em si como o simples em si balançam entre o objetivo de compreender a

complexidade maior possível e a reduzir esta complexidade ao menos complexo possí- vel,

com a tendência ilusória de considerar o simples em si mesmo ou o complexo em si mesmo.11

A INTERDISCIPLINARIDADE E SUA APLICABILIDADE NAS AÇÕES EM SAÚ- DE E ENFERMAGEM

Para fazer face aos pressupostos de promoção da saúde e às ameaças emergentes à saúde, há

necessidade de novas ações e de construção contínua do conhecimento. O desafio para os

próximos anos será ativar o potencial para a promoção da saúde inerente em muitos setores

da sociedade, nas comunidades e nas famílias. A visão habitual disciplinar, corporativa e

unidimensional, que temos adotado em saúde, “tende a deformar nossa visão de mundo, o

que nos leva a isolar os problemas de saúde do seu contexto, simplificando-os para tentar

resolvê-los. Com isso, obtémse uma solução parcial e inadequada, dando a impressão que os

problemas se repetem, quando na verdade, não foram resolvidos”.12:535 Assim, ao tratarmos

mais especificamente da promoção da saúde com enfoque nas ações de Enfermagem, não

podemos nos afastar da noção de interdisciplinaridade e complexidade, já que as ações

envolvem mudanças, como a mudança nas comunidades, nas políticas públicas ou em

comportamentos e hábitos de vida. Uma intervenção que aborda muitas dimensões da vida

social pode nos apresentar muitos resultados possíveis. As intervenções de promoção da

saúde visam a melhoria da qualidade de vida e residem através do processo contínuo de

complexidade, diante das suas características de diversidade e heterogeneidade. Necessitamos

de uma ampla visão da base científica que - 417 - Texto Contexto Enferm 2005 Jul-Set;

14(3):411-8. A interdisciplinaridade como construção do conhecimento... considere a

complexidade inerente à promoção da saúde num enfoque multisetorial, compartilhando com

outros saberes, outras disciplinas, outros setores e com a população, com a consciência de que

não há resposta fácil aos complexos fenômenos humanos. Porém, esta “abordagem

totalizadora e respeitosa da complexidade dos fenômenos da vida, saúde, doença, sofrimento

e morte”, que convivemos em nossa prática cotidiana em saúde, necessita “de um tratamento

teórico-metodológico efetivamente transdisciplinar, tomando como base a perspectiva da

complexidade”.13:109 As intervenções de saúde incluem uma mescla complexa de muitas

disciplinas e campos de ação variados, com o enfoque de melhorar a saúde, reorientar os

serviços de assistência e fazer com que as pessoas sejam protagonistas da sua própria saúde,

exigem a compreensão que muitas disciplinas ou bases científicas podem trazer. Ao discutir a

epidemia de Aids como um problema internacional, o Ministério da Saúde enfatiza que as

práticas sociais não pertencem mais a uma comunidade nacional exclusivamente, nem os

indivíduos que as realizam reconhecem apenas uma identidade distintiva e homogênea, como

antes era pensado. “A diversidade opera tanto nas formas diferentes de se perceber a

realidade e, em última instância, de se viver, quanto nas formas desiguais em que as pessoas e

os grupos sociais incorporam novos valores, atitudes e práticas através dos fluxos

interculturais”.14:136 Neste sentido, a noção de território é porosa e susceptível de mediar

com múltiplos cenários, transcendendo sua original visão espacial, hoje insuficiente para a

compreensão dos fenômenos que envolvem fronteiras, ora nos seus termos geopolíticos, ora

na sua dimensão simbólica, ou, ainda, como no tema que nos interessa, na perspectiva das

fronteiras do processo saúde-doença e na promoção da saúde. Talvez tenhamos que

considerar a saúde como produção social, como processo dinâmico e em permanente

transformação, rompendo com a setorialização da realidade. Mendes reforça que este estado

de saúde permite a ruptura com a idéia de um setor saúde, erigindo-a como produto social

resultante de fatos econômicos, políticos, ideológicos e cognitivos. Isto significa “inscrevê-la,

como campo do conhecimento, na ordem da interdisciplinaridade e, como prática social, na

ordem da intersetorialidade”,15:241 o que está coerente com a nova visão de saúde como

qualidade de vida e a nova visão dos sujeitos como protagonistas da sua saúde. REFLEXÕES

FINAIS A interdisciplinaridade e a visão complexa são temas pouco discutidos na área da

saúde, e mais especificamente na Enfermagem, e esta reflexão poderá nos trazer subsídios

para a sua efetivação com a conseqüente melhoria da qualidade das nossas ações visando à

promoção da saúde das comunidades. Interdisciplinaridade em saúde ainda é confundida com

trabalho em equipe, porém, temos clareza que sem construção de conhecimento não há

interdisciplinaridade, apenas justaposição de ações parcelares, que não dão conta de atender

às ameaças emergentes a saúde, de compreender as novidades das biociências, as profundas

transformações da vida cotidiana e das relações de trabalho, que desvelam o cenário

complexo de um novo paradigma do conhecimento. A atuação interdisciplinar nas equipes de

saúde e Enfermagem implica em construção deste conhecimento, como aquisição de

competências, uma prática de inter-relação e interação entre as diversas disciplinas,

articulação dos conhecimentos, num constante ir e vir para resolução dos problemas ou

alcance dos objetivos, e conseqüentemente a ampliação das fronteiras disciplinares. Implica

em reflexão-ação-reflexão. Esse constante construir, desconstruir e reconstruir pode contribuir

para a evolução e inovação da Enfermagem como conhecimento e profissão. O esforço é

essencial no sentido de que se estabeleça uma nova visão frente aos problemas que afetam a

saúde, com enfoque da promoção da saúde em nossa sociedade, apontando para a construção

de novos saberes através da interação entre os campos disciplinares, com sujeitos construindo

com sua experi- ência de vida novos saberes científicos. Mesmo diante das transformações

que temos observado em nossa sociedade, em tempos de mudanças paradigmáticas e

estruturais, os serviços de saúde continuam equivocadamente assumindo a responsabilidade

pela condução do viver saudável em sociedade. Ao superar esta noção de saúde como

atribuição exclusiva do setor saúde, partimos para uma ação intersetorial que destaca a saúde

no contexto das polí- ticas sociais e de participação da população no processo das decisões e

controle das condições de saúde do indivíduo e da coletividade. Vivemos numa sociedade

plural. A diversidade, ou seja, uma justaposição de pessoas, culturas, tradi- ções, diferenças

políticas, históricas, religiosas e de estilos de vida caracterizam a sociedade atual. As distân- -

418 - Texto Contexto Enferm 2005 Jul-Set; 14(3):411-8. Meirelles BHS, Erdmann AL cias foram

encurtadas com o intenso movimento migratório e surgem maiores diferenças entre pessoas

que vivem lado a lado. Esta sociedade é produzida e produtora de sujeitos, profissionais de

saúde ou clientes, que interagem e objetivam melhores condições de saúde e vida. Assim,

temos o desafio da pluralidade em nossa vida e prática profissional. A sociedade é um todo e

devemos pensar este desafio com o esforço de ampliar o nosso entendimento a respeito da

interação das partes rumo à unidade e totalidade nesta diversidade, de forma que os diversos

setores da sociedade percebam-se interdependentes e responsáveis na constru- ção de uma

sociedade mais solidária e saudável. Esta nova visão a interdisciplinaridade e a complexidade

nos trazem. REFERÊNCIAS 1 Nunes ED. A questão da interdisciplinaridade no estudo da saúde

coletiva e o papel das ciências sociais. In: Canesqui AM, organizadora. Dilemas e desafios das

ciências sociais na saúde coletiva. São Paulo-Rio de Janeiro: HucitecAbrasco; 1995. p. 95-115. 2

Morin E. A religação dos saberes: o desafio do século XXI. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil; 2001.

3 Japiassu H. Interdisciplinaridade e patologia do saber. Rio de Janeiro: Imago; 1976. 4 Morin E.

Educação e complexidade: os sete saberes e outros ensaios. São Paulo: Cortez; 2002. 5. Etges

NJ. Ciência, Interdisciplinaridade e Educação. In: Jantsch AP, Bianchetti L. Interdisciplinaridade:

para além da filosofia do sujeito. Petrópolis: Vozes, 1995. p. 51-84. 6 Demo P. Metodologia do

conhecimento científico. São Paulo: Atlas; 2000. 7 Morin E. O Método 5: a humanidade da

humanidade. Trad. Juremir Machado da Silva. Porto Alegre: Sulina, 2002. 8 Cury CRJ. Educação

e contradição: elementos metodológicos para uma teoria crítica do fenômeno educativo. 6a.

ed. São Paulo: Cortez; 1995. 9 Morin E. A cabeça bem-feita: repensar e reforma, reformar o

pensamento. Rio de Janeiro: Bertrand; 2000. 10 Santos BS. A crítica da razão indolente: contra

o desperdício da experiência. 3a. ed. São Paulo: Cortez; 2001. 11 Erdmann AL. Sistema de

cuidados de enfermagem. Pelotas: Universitária/UFPEl; 1996. 12 Koerich MS, Erdmann AL.

Enfermagem e patologia geral: resgate e reconstrução de conhecimentos para uma prática

interdisciplinar. Texto e Contexto. 2003 Out.-Dez; 12 (4): 528-37. 13 Almeida Filho N, Andrade

RFS. Holopatogênese: esboço de uma teoria geral de saúde-doença como base para a

promoção da saúde. In: Czeresnia D, Freitas CM. Promoção da saúde: conceitos, reflexões,

tendencias. Rio de Janeiro: Fiocruz; 2003; p.97-116. 14 Ministério da Saúde (BR). Secretaria de

Políticas de Saúde. A resposta brasileira ao HIV/Aids: experiências exemplares. Brasília:

Coordenação Nacional de DST/Aids; 1999. 15 Mendes EV. Uma agenda para a saúde. São

Paulo: Hucitec;

TRABALHO 02

Competência dos profissionais da saúde para o trabalho interdisciplinar* SAUPE, R. et al.

Competence of health professionals for interdisciplinary work. Interface - Comunic., Saúde,

Educ., v.9, n.18, p.521-36, set/dez 2005. Interdisciplinarity, as one of the key concepts for the

consolidation of public policies in the area of health, was focused based on the perspective of

the professionals who are faced with the challenge of putting it into practice. Understanding

interdisciplinarity as a competence resulting from a range of knowledge, skills and attitudes, it

was organized in the form of a tree diagram. This diagram was initially submitted for

evaluation by a group of twenty-one judges, and subsequently, by a sample of one hundred

and forty-five health professionals. The results show a consistency between the researcher’s

proposal and the evaluation of the participating subjects, since on a scale of zero to ten, the

final level of performance was over nine. The space provided for statements by the subjects

resulted in the addition of important categories, enriching the study as a whole. KEY WORDS:

interdisciplinarity. competence-based education. human resources in health. A

interdisciplinaridade, como um dos conceitos nucleares para consolidação das políticas

publicas na área da saúde, foi focalizada na perspectiva dos profissionais que estão com o

desafio de concretizá-la na prática. Entendida como uma competência que resulta de um

conjunto de conhecimentos, habilidades e atitudes, foi organizada na forma de diagrama

hierárquico. Este foi inicialmente submetido à avaliação por um grupo de vinte e um juizes e

posteriormente a uma amostra de cento e quarenta e cinco profissionais da saúde. Os

resultados evidenciaram aderência entre a proposta dos pesquisadores e a avaliação dos

sujeitos participantes, pois numa escala de zero a dez, o índice de desempenho final ficou

acima de nove. O espaço aberto para depoimentos dos sujeitos resultou em importantes

categorias a serem agregadas, enriquecendo a totalidade estudada. PALAVRAS-CHAVE:

interdisciplinaridade. educação baseada em competências. recursos humanos em saúde. *

Resultado de pesquisa, conforme projeto submetido à FAPESC (antiga FUNCITEC), Edital

003/2003, aprovado e financiado pela FUNCITEC/MINISTÉRIO DA SAÚDE/UNESCO FCTP NO

2186/039. Aprovado pela Comissão de Ética da UNIVALI (no 381/2003); Vinculada ao Programa

de Mestrado Profissionalizante em Saúde e Gestão do Trabalho; ao grupo de pesquisa em

Educação na Saúde e Gestão do Trabalho; à linha de pesquisa Formação de Recursos Humanos

na Saúde. Agradecemos às pessoas que colaboraram: sujeitos da pesquisa; bolsistas; apoio

logístico; colegas e alunos do Curso de Mestrado Profissionalizante em Saúde e Gestão do

Trabalho. As instituições: FAPESC (antiga FUNCITEC); Ministério da Saúde; 17a Regional de

Saúde de Santa Catarina; UNIVALI. 1 Enfermeira, Coordenadora do Projeto; docente, Curso de

Mestrado Profissionalizante em Saúde e Gestão do Trabalho. 2 Médico, pesquisador do

projeto; docente, Curso de Mestrado Profissionalizante em Saúde e Gestão do Trabalho. 3

Enfermeira, pesquisadora do projeto; coordenadora, Curso de Mestrado Profissionalizante em

Saúde e Gestão do Trabalho. 4 Enfermeira, pesquisadora do projeto; docente, Curso de

Mestrado Profissionalizante em Saúde e Gestão do Trabalho. 1 Rua Mediterrâneo, 172, apto

401 Córrego Grande - Florianópolis, SC 88.037-610 Rosita Saupe 1 Luiz Roberto Agea Cutolo2

Águeda Lenita Pereira Wendhausen3 Gladys Amélia Vélez Benito4 Competência dos

profissionais da saúde para o trabalho interdisciplinar* SAUPE, R. et al. Competence of health

professionals for interdisciplinary work. Interface - Comunic., Saúde, Educ., v.9, n.18, p.521-36,

set/dez 2005. Interdisciplinarity, as one of the key concepts for the consolidation of public

policies in the area of health, was focused based on the perspective of the professionals who

are faced with the challenge of putting it into practice. Understanding interdisciplinarity as a

competence resulting from a range of knowledge, skills and attitudes, it was organized in the

form of a tree diagram. This diagram was initially submitted for evaluation by a group of

twenty-one judges, and subsequently, by a sample of one hundred and forty-five health

professionals. The results show a consistency between the researcher’s proposal and the

evaluation of the participating subjects, since on a scale of zero to ten, the final level of

performance was over nine. The space provided for statements by the subjects resulted in the

addition of important categories, enriching the study as a whole. KEY WORDS:

interdisciplinarity. competence-based education. human resources in health. A

interdisciplinaridade, como um dos conceitos nucleares para consolidação das políticas

publicas na área da saúde, foi focalizada na perspectiva dos profissionais que estão com o

desafio de concretizá-la na prática. Entendida como uma competência que resulta de um

conjunto de conhecimentos, habilidades e atitudes, foi organizada na forma de diagrama

hierárquico. Este foi inicialmente submetido à avaliação por um grupo de vinte e um juizes e

posteriormente a uma amostra de cento e quarenta e cinco profissionais da saúde. Os

resultados evidenciaram aderência entre a proposta dos pesquisadores e a avaliação dos

sujeitos participantes, pois numa escala de zero a dez, o índice de desempenho final ficou

acima de nove. O espaço aberto para depoimentos dos sujeitos resultou em importantes

categorias a serem agregadas, enriquecendo a totalidade estudada. PALAVRAS-CHAVE:

interdisciplinaridade. educação baseada em competências. recursos humanos em saúde.

Interface - Comunic, Saúde, Educ, v.9, n.18, p.521-36, set/dez 2005 521 SAUPE, R. ET AL. 522

Interface - Comunic, Saúde, Educ, v.9, n.18, p.521-36, set/dez 2005 Introdução A pauta

convergente na área da saúde, na atualidade, mobilizadora de esforços integrados entre

Ministério da Saúde (MS) e Ministério da Educação (ME), diz respeito às políticas públicas que

focalizam a reorientação do modelo assistencial, conforme preconizado pela Reforma

Sanitária. A consolidação do Sistema Único de Saúde (SUS) depende tanto do sucesso de

estratégias como o Programa de Saúde da Família (PSF) e da implementação de processos de

Educação Permanente (EP), de competência do MS, quanto da revitalização dos Projetos

Pedagógicos (PP) dos cursos de graduação, incorporando as premissas da Lei de Diretrizes e

Bases da Educação Nacional (LDB), conforme estabelecem as Diretrizes Curriculares (DC),

atribuições da alçada do ME. Para tanto, é urgente que se estabeleça uma nova relação entre

os profissionais de saúde [...] diferentemente do modelo biomédico tradicional, permitindo

maior diversidade das ações e busca permanente do consenso. Tal relação, baseada na

interdisciplinaridade e não mais na multidisciplinaridade [...] requer uma abordagem que

questione as certezas profissionais e estimule a permanente comunicação horizontal entre os

componentes de uma equipe. (Costa Neto, 2000, p.9) Assim, a interdisciplinaridade constitui

um entre os vários temas que necessitam serem desenvolvidos para gerarem contribuição

para a pauta da área da saúde, pois entendemos que o contexto histórico vivido nessa virada

de milênio, caracterizado pela divisão do trabalho intelectual, fragmentação do conhecimento

e pela excessiva predominância das especializações, demanda a retomada do antigo conceito

de interdisciplinaridade que, no longo percurso do século passado, foi sufocado pela

racionalidade da revolução industrial. Na perspectiva contemporânea na qual este estudo se

insere, a interdisciplinaridade contempla: o reconhecimento da complexidade crescente do

objeto das ciências da saúde e a conseqüente exigência interna de um olhar plural; a

possibilidade de trabalho conjunto, que respeita as bases disciplinares específicas, mas busca

soluções compartilhadas para os problemas das pessoas e das instituições; o investimento

como estratégia para a concretização da integralidade das ações de saúde. A partir destas

constatações decidimos incluir a interdisciplinaridade como um dos temas que foram

estudados num projeto sobre competências para a consolidação do SUS/PSF. O objetivo foi

mapear, a partir de documentos oficiais, literatura e opinião de peritos, um conjunto de

saberes teóricos, práticos, pessoais e interpessoais, necessários ao trabalho interdisciplinar em

saúde e submetê-los a apreciação de profissionais da área, incorporando também suas

contribuições, sob a forma de depoimentos, à compreensão do conceito em suas várias

dimensões. Referencial teórico A base de sustentação teórica deste estudo partiu dos

elementos comuns que devem ser desenvolvidos em todos os cursos de graduação,

destacando a competência para “trabalhar em conjunto com outros profissionais da área

COMPETÊNCIA DOS PROFISSIONAIS DA SAÚDE... Interface - Comunic, Saúde, Educ, v.9, n.18,

p.521-36, set/dez 2005 523 de saúde”, ou seja, de modo interdisciplinar (Almeida &

Maranhão, 2003). Interdisciplinaridade tem sido objeto constante de discussão quando se

aborda as ciências da saúde. Embora a palavra tenha recebido tratamento sistemático, pouco

se tem categorizado o que se pretende dizer sobre ela. Japiassú (1976) levantou a

possibilidade desse neologismo tomar sentidos amplos e diversificados, com conseqüentes

entendimentos e usos. Acreditamos que a polissemia que a interdisciplinaridade desperta

pode ser entendida, pelo menos parcialmente, na medida em que seu significado se recorta ao

interior do objeto específico que se pretende investigar ou enfrentar. Por exemplo, num

sentido amplo poderíamos qualificar a Bioquímica como um produto de uma relação

interdisciplinar entre a Biologia e a Química, originando uma nova disciplina. Outro poderia

indicar que Educação em Saúde é uma área do conhecimento articulada interdisciplinarmente

entre os pressupostos da Saúde Coletiva e a Educação Construtivista. Estes exemplos já

tendem a dimensionar o problema das multifaces da categoria. Embora reconheçamos como

legítimos, a partir de seus planos de incisão, os dois exemplos apresentados como

possibilidades interdisciplinares, ocupar-nosemos com uma categorização um pouco mais

pragmática no âmbito de práticas que envolvam os diferentes profissionais da área da saúde e

suas conseqüências para o cotidiano das Unidades Básicas de Saúde; portanto chamaremos de

interdisciplinaridade a relação articulada entre as diferentes profissões da saúde. Usando das

categorias epistemológicas de Fleck (1986) pretendemos qualificar as profissões como sendo

diferentes Coletivos de Pensamento fundamentadas, cada qual, em seu Estilo de Pensamento,

ou seja, num olhar estilizado que permeia um conjunto de regras para a abordagem e

resolução de um problema, baseados numa formação específica e diferenciada com marco

conceitual identificado. O que queremos dizer é que o médico, o enfermeiro, o odontólogo, o

psicólogo ou qualquer outro profissional da saúde compõem distintos Coletivos de

Pensamento e, conseqüentemente, constróem fatos novos diante de problemas comuns. Mas,

o que é interdisciplinaridade? Qual a diferença entre as terminologias, muitas vezes

confundidas, como interdisciplinaridade, transdisciplinaridade, multidisciplinaridade,

pluridisciplinaridade? Achamos importante uma aproximação com estes conceitos, já que são

usados muitas vezes como sinônimos ou com sentidos plurais. Longe de encerrar o significado

com uma definição fechada, optamos pelas aproximações de Japiassú (1976) modificadas. A

multidisciplinaridade indica uma execução de disciplinas desprovidas de objetivos comuns sem

que ocorra qualquer aproximação ou cooperação. Na pluridisciplinaridade haveria um núcleo

comum, já aparecendo uma relação, com certo grau de colaboração, mas sem uma ordenação;

haveria um toque, um tangenciamento entre as disciplinas. Estas duas terminologias são

freqüentemente colocadas como sinônimos, o que necessariamente não se constituiria um

erro. Rosenfield apud Perini et al. (2001) chama de multidisciplinar o que Japiassú (1976)

chama de pluridisciplinar, ou seja, quando um problema comum é tratado de forma seqüencial

ou paralela por disciplinas específicas. Ainda Rosenfield apud Perini et al. (2001) caracteriza a

interdisciplinaridade como a possibilidade do trabalho conjunto na busca SAUPE, R. ET AL. 524

Interface - Comunic, Saúde, Educ, v.9, n.18, p.521-36, set/dez 2005 de soluções, respeitando-

se as bases disciplinares específicas. Concluindo, referese à transdisciplinaridade como

trabalho coletivo que compartilha “estruturas conceituais, construindo juntos, teorias,

conceitos e abordagens para tratar problemas comuns” (Rosenfield apud Perini et al., 2001,

p.103). Neste caso a disciplina em si perde seu sentido e não há limites precisos nas

identidades disciplinares. Numa relação pluridisciplinar um paciente com respirador bucal

poderá primariamente ser atendido pelo médico de família. Uma vez diagnosticado poderá ser

encaminhado ao otorrinolaringologista que, uma vez verificadas as condições do palato do

paciente, o encaminha ao ordodontista e ao fonoaudiólogo. Como vemos, cada qual realiza

seu trabalho separadamente, sem cooperação direta. Numa perspectiva interdisciplinar a

abordagem do problema seria vista conjuntamente, bem como a busca de soluções criativas

para resolvê-lo. Mas, o que é necessário para que a interdisciplinaridade se torne uma forma

natural e solidária de trabalho, que ultrapasse as arrogâncias pessoais, a necessidade de

exercer poder sobre os outros e a tradição de centralizar os profissionais, deslocando para a

periferia do processo o sujeito que sofre por adoecimento, por falta de conhecimento ou

energia para se cuidar, logo necessitando de atenção, assistência, informação? Esta foi a

questão original deste estudo e para respondê-la, encontramos no Relatório Unesco, da

Comissão Internacional sobre Educação para o Século XXI (Delors, 1998), a base para propor

um conjunto de saberes, conforme propõe o referido documento. Metodologia A metodologia

selecionada para conduzir a coleta e análise dos dados tem sua origem na University of North

Carolina, proposta no início da década de setenta, introduzida no Brasil em meados da mesma

década (Spínola & Pereira, 1976) e utilizada na avaliação de alguns programas (Saupe, 1979;

Spínola & Pereira, 1977). Inclui as seguintes etapas: elaboração do “Diagrama de Árvore”;

consulta a “experts”, denominado “Método do Júri”; verificação da concordância entre os

juizes; construção e aplicação de instrumento(s) a uma população/amostra que tem interesse

em relação ao tema; avaliação do desempenho. Este processo resulta em uma avaliação

quantitativa que valida uma proposta teórica por um grupo de juizes, sendo submetida

também a uma população mais ampla de interessados na temática, incorporando suas

contribuições conceituais expressas em depoimentos. Na apresentação dos resultados

seguiremos esta mesma seqüência, detalhando os aspectos metodológicos, favorecendo sua

compreensão. Os dados qualitativos foram analisados seguindo-se o seguinte percurso:

inicialmente os depoimentos, sob a forma de comentários, explicações, sugestões, foram

transcritos e organizados por categoria profissional; em seguida, para uma primeira

aproximação com este conteúdo sistematizado, foi realizada a leitura exaustiva e flutuante das

respostas transcritas, no sentido de apurarmos uma possível classificação. Apesar de

entendermos que a decupagem das competências em habilidades, atitudes e conhecimentos

têm-se tornado difícil em função de suas intrínsecas racionalidades, optamos, para manter a

COMPETÊNCIA DOS PROFISSIONAIS DA SAÚDE... Interface - Comunic, Saúde, Educ, v.9, n.18,

p.521-36, set/dez 2005 525 lógica da descrição da primeira fase da pesquisa, pela divisão em

três grandes blocos de categorias. Num segundo momento, passamos à fase de categorização,

propriamente dita, assinalando palavras e expressões que poderiam dar significados no

desdobramento das competências. O terceiro momento foi caracterizado pela análise

inferencial das categorias classificadas. Como poderá ser observado algumas categorias

poderiam ser consideradas híbridas, podendo transitar, de acordo com seu potencial, como

atitude, habilidade e conhecimento, o que vai ao encontro de nossa percepção de que estes

elementos se engendram (Bodgan & Biklen, 1994; Minayo, 1992; Triniños, 1987; Lüdke &

André, 1986). Registramos ainda que o projeto seguiu todas as tramitações necessárias a sua

aprovação ética, resultando no Parecer 381/2003, da Comissão de Ética da UNIVALI. A

dimensão ética cumpriu todos os cuidados, incluindo a assinatura de termo de consentimento

pós-informado. Resultados Participaram desta pesquisa, como avaliadores, um grupo de

peritos e uma amostra de profissionais de saúde, conforme apresentado na tabela 1. O

número de juizes consultado foi definido pelos pesquisadores. Quanto aos demais

profissionais, trabalhamos com a perspectiva de atingir a totalidade da população que,

localizados no período destinado à coleta de dados, informados sobre o projeto, livremente

consentissem em participar. A população estimada incluía 133 docentes, sendo: 21

enfermeiros; 67 médicos; e 45 dentistas. Quanto aos trabalhadores do PSF, verificamos que

estavam atuando no território de abrangência da pesquisa (17a Regional de Saúde de Santa

Catarina): 66 médicos, igual número de enfermeiros e 12 dentistas, totalizando 144

profissionais. O percentual da amostra de docentes que aceitou participar do estudo foi de

42% e de profissionais do PSF foi de 62%, resultando num total de 52% de representatividade

do universo em estudo. Conforme a tabela 1, o grupo mais representativo entre os docentes

foi dos odontólogos e nas equipes de PSF os enfermeiros merecem destaque. Tabela 1 -

Distribuição dos profissionais que participaram do estudo Enfermeiras Dentistas Médicos

Farmacêutico Fonoaudiólogo Fisioterapeuta Psicólogo TOTAL Profissão Juízes Docentes PSF

TOTAL 07 06 04 01 01 01 01 21 12 29 15 - - - - 56 51 11 27 - - - - 89 70 46 46 01 01 01 01 166 O

Diagrama de Árvore (DIAGRAMA 1) segue o modelo original da metodologia e representa a

decomposição da competência para interdisciplinaridade, em suas dimensões de

conhecimentos, habilidades e atitudes. As fontes para definição desta matriz incluíram a

experiência dos pesquisadores envolvidos, documentos legais que normalizam o campo de

conhecimento e a literatura. Esta etapa pode ser considerada como a contextualização do

fenômeno, capturando as várias perspectivas de perceber a realidade, no caso da

interdisciplinaridade como competência necessária ao trabalho em saúde da família. Esta

matriz foi submetida à avaliação por um grupo de 21 (vinte e um) juizes convidados, que

atribuíram pesos a cada componente (usaremos como sinônimo: variável ou atributo)

conforme importância relativa, em comparação com as demais em seu nível. A importância

traduziu-se por um peso na escala de 1 – importância muito baixa, a 5 – importância muito

alta. Na seqüência foi verificada a concordância entre os juizes. Esta concordância é

considerada natural quando o componente receber o mesmo peso de todos os juizes. No caso

deste estudo, esta concordância não aconteceu com nenhuma das variáveis. Assim, conforme

orienta a metodologia, foi definida a mediana entre os pesos. Todavia, no processo de análise

e para refinar as diferenças de avaliação entre os componentes, calculamos também a média.

Estes dados estão inseridos no diagrama 1 e mostram a avaliação altamente positiva recebida

pela proposta, já que nenhuma variável ficou com mediana inferior a 4 ou média menor que

3,66. A distribuição de todos os pesos atribuídos pelos juizes, conforme os atributos de cada

dimensão da competência para interdisciplinaridade, está apresentada na tabela 2.

Completado o Diagrama de Árvore (Diagrama 1) com todos os seus componentes

discriminados e pesos atribuídos, passamos à construção do(s) instrumento(s), focalizando os

componentes de último nível apresentados no diagrama. A escala para avaliação foi ajustada a

valores entre 0 – avaliação totalmente negativa e 10 – avaliação totalmente positiva. Foram

incluídas ainda questões abertas, possibilitando expressões individuais dos informantes,

evidenciando aspectos comuns ou singulares de suas percepções. Este instrumento foi

aplicado individualmente aos 145 participantes (enfermeiras, médicos e dentistas), sendo 56

docentes e 89 profissionais do PSF. Para avaliação do desempenho de cada componente,

foram aplicadas as seguintes equações: a) para medida das atividades de último nível: (VeL0x

Nr0)+(VeL1xNr1)+.......... Até incluir todos os valores da escala Nr0+Nr1+Nr2+...... (que deve

corresponder ao número TOTAL de respondentes Sendo: VeL0 = Valor 0 da escala LIKERT na

questão 1, e assim sucessivamente; e Nr0 = Número de respostas 0 na questão 1, e assim

sucessivamente. O resultado é um Índice de Desempenho da questão, correspondente a um

valor ente 0 e 10 b) para medida dos componentes dos demais níveis: D = ∑Da Wa ∑ Wa Ou

seja, o desempenho de cada componente é igual à somatória dos índices resultantes da

avaliação das atividades de último nível e multiplicados pelo seu peso; este resultado é

dividido pela somatória dos pesos. Na tabela 2 apresentamos a distribuição dos valores de 0-

10 em números absolutos, antes da aplicação das equações, o que já fornece visibilidade

positiva recebida pela proposta. Ou seja, das 1740 ocorrências registradas pelos entrevistados,

encontramos tendência de aumento da freqüência do numero de respostas conforme o valor

vai ficando mais positivo, atingindo o percentual de 88,70 quando somamos as respostas

concentradas nos números 8, 9 e 10. Tabela 2 – Distribuição dos valores de 0 a 10 atribuídos

pelos 145 entrevistados Na seqüência do estudo foram aplicadas as equações. Os valores

obtidos em cada componente foram convertidos para uma Escala de Medida do Desempenho

(figura 2), sendo considerada ‘região de fracasso’ a situada entre 0 (zero) e 4 (quatro),

indicando a extrema fragilidade dos componentes que ficaram neste patamar; entre 4,1

(quatro e um) e 7 (sete) encontra-se a ‘região de indefinição’ que atribui à variável um

desempenho intermediário; o sucesso é alcançado quando a variável atingir um patamar

acima de 7,1 (sete e um), evidenciando o pleno alcance do objetivo relativo à mesma. Estes

resultados também foram inseridos no Diagrama de Árvore (Diagrama 1) completando o ciclo

quantitativo da avaliação. Ou seja, cada componente ou variável avaliada teve sua

representação incluindo sua descrição, o peso correspondente à mediana e a média conforme

avaliação dos 21 juizes e uma medida de seu desempenho, resultado da aplicação das

link

http://www.scielosp.org/pdf/icse/v9n18/a05v9n18.pdf