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ATA DE AUDIÊNCIA Aos quatro dias do mês de abril do ano 2014, às 17h31min, na VARA DO TRABALHO DE ROLIM DE MOURA, por determinação da JUÍZA SILMARA NEGRETT MOURA, foi aberta a sessão de julgamento relativa ao processo 0010008-31.2014.5.14.0131, no qual contendem FELIX DADALTO e EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELÉGRAFOS. Observadas as formalidade inerentes, foi submetido o processo a julgamento, sendo prolatada a seguinte SENTENÇA I RELATÓRIO FELIX DADALTO ajuizou a presente Reclamação Trabalhista em face de EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELÉGRAFOS, trazendo causa de pedir e pedidos no id 412498. Deu à causa o valor de R$ 50.000,00. Juntou procuração no id 421505 e também no id 421508. Juntou diversos documentos. Citada, a Reclamada compareceu à audiência (id 602590) e, não havendo êxito na conciliação, foi recebida a contestação (id598247), com diversos documentos, sobre os quais manifestou-se o Reclamante em audiência.

Sentença Felix dadalto

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Page 1: Sentença Felix dadalto

ATA DE AUDIÊNCIA

Aos quatro dias do mês de abril do ano 2014, às

17h31min, na VARA DO TRABALHO DE ROLIM DE MOURA, por

determinação da JUÍZA SILMARA NEGRETT MOURA, foi aberta a sessão de

julgamento relativa ao processo 0010008-31.2014.5.14.0131, no qual

contendem FELIX DADALTO e EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E

TELÉGRAFOS.

Observadas as formalidade inerentes, foi submetido o

processo a julgamento, sendo prolatada a seguinte

SENTENÇA

I – RELATÓRIO

FELIX DADALTO ajuizou a presente Reclamação Trabalhista

em face de EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELÉGRAFOS,

trazendo causa de pedir e pedidos no id 412498. Deu à causa o valor de R$

50.000,00. Juntou procuração no id 421505 e também no id 421508. Juntou

diversos documentos.

Citada, a Reclamada compareceu à audiência (id 602590) e,

não havendo êxito na conciliação, foi recebida a contestação (id598247), com

diversos documentos, sobre os quais manifestou-se o Reclamante em

audiência.

Page 2: Sentença Felix dadalto

Nos termos da audiência relatada, as partes declararam

não possuir outra prova a ser produzida, requerendo o encerramento da

instrução processual, o que foi deferido, seguindo-se apresentação de razões

finais remissivas, restando rejeitada a última proposta conciliatória.

É, em apertada síntese, o relatório.

2 – FUNDAMENTAÇÃO

PRELIMINAR DE ILEGITIMIDADE PASSIVA ARGUIDA PELA RECLAMADA

Argui a Reclamada que o pedido de indenização por danos

morais está fundamentado em circunstâncias de fato e de direito que excluem

sua responsabilidade, posto que a segurança é uma questão de ordem pública,

sendo uma obrigação do Estado garantir a segurança pública com

implementação de políticas próprias, na conformidade do art. 3º, 5º e 144,

todos da Constituição Federal.

Acrescenta que não obstante tenha implementado medidas

de segurança em suas unidades, esta obrigação permanece com o Estado,

razão pela qual entende ser parte ilegítima para responder pelo pedido feito na

petição inicial.

Da leitura da petição inicial, observa-se que estando a

serviço da Reclamada na agência de Rolim de Moura, passou por momentos

de tensão e humilhação decorrentes do assalto implementado por dois homens

portando arma de fogo, conforme o BO 3918-2013, de 22/7/2013.

Page 3: Sentença Felix dadalto

Acrescenta que a Reclamada não implementou as

medidas de segurança necessárias ao manuseio de valores, no sentido de

dificultar a ação de assaltantes, impondo potencial risco aos empregados que

laboram no chamado Banco Postal.

Aduz que o assalto não configura caso fortuito, ou

responsabilidade de terceiros, visto que foi fruto da inércia da empresa em

tomar medidas para minimizar os riscos de sua atividade.

Assim, sob o fundamento de que há provas nos autos que

demonstra a conduta negligente da Reclamada, o nexo de causalidade entre o

assalto e a inércia da Reclamada, e a culpa decorrente de omissão, alega

estarem preenchidos os requisitos para a condenação em indenização por

dano moral.

Conforme se observa, a causa de pedir está atrelada

especificamente às condições do meio ambiente de trabalho, requerendo o

Reclamante a condenação da empregadora por não ter praticado atos que

impediriam o assalto, ou que demonstrassem, mesmo diante do

acontecimento, a tomada de medidas impeditivas do evento danoso.

Desta forma, a causa de pedir do trabalhador vem aos

autos relacionada com obrigação específica do empregador, disposta no art.

7º, inciso XXII, da Constituição Federal que dispõe sobre a obrigação do

empregador de reduzir os riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas de

saúde, higiene e segurança, bem como no art. 2º da CLT, que atribui ao

empregador os riscos de sua atividade.

Isto posto, em razão da causa de pedir acima delineada,

emerge a legitimidade passiva ad causam da Reclamada.

Rejeita-se, pois.

Page 4: Sentença Felix dadalto

MÉRITO

Alega o Reclamante que em 22/7/2013 a agência onde

trabalhava foi invadida por dois homens armados que efetuaram o roubo dos

valores que lá havia e fugiram, tomando rumo ignorado. Acrescenta que

passou por momentos de tensão e humilhação no ambiente de trabalho

ocasionados pela não adoção de medidas eficazes, pela Reclamada, para

dificultar o ingresso de meliantes no ambiente, expondo os trabalhadores a

situação de risco em razão de operarem com valores, realizando o serviço de

Banco Postal.

Aduz que na agência não existe nenhum dispositivo de

segurança, nem vigilância armada, de maneira que os assaltos não se

enquadram como caso fortuito, mas sim deu-se em decorrência da inércia

quanto à adoção de medidas para minimizar os riscos da atividade econômica

exercida.

Nesse sentido, enfatiza que o MPT em parecer lavrado

nos autos de nº 0010028-40.2013.5.14.0007, registrou a obrigação da

Reclamada de atender a exigência da Lei 4.595/64 e que não vinha adotando

medidas adequadas para prevenir e evitar assaltos.

Enfatiza que durante os assaltos os trabalhadores tiveram

seus pertences roubados e que foram ameaçados, emergindo que, passado o

assalto, trabalha inseguro e melindroso, sentindo-se sujeito a outro assalto e

temendo por sua vida, ao seu ver em constante perigo.

Dito isto, invocando o texto legal do art. 7º, inciso XXII, da

Constituição Federal, reitera que se encontram provados a conduta negligente

da Reclamada, o nexo de causalidade entre os assaltos e a ausência de

medidas protetivas, e a culpa decorrente de omissão, pugnando pela

condenação da Reclamada ao pagamento de indenização no valor de R$

50.000,00.

Page 5: Sentença Felix dadalto

Com a petição inicial trouxe o Boletim de Ocorrência nº

3918-2013 que noticia que em 22/7/2013, por volta das 7h30/8h30min, dois

homens portanto arma em punho (provavelmente de calibre 38) entraram na

agência, amarraram os empregados e danificaram o computador que capturava

imagens internas, roubando uma quantia não informada, bem como 13

aparelhos de celular pertencentes aos empregados da agência.

Juntou também uma CAT, relativa a um assalto

acontecido em 9/1/2009, constando como agente causador “assaltante à mão

armada” e parte atingida “emocional/psicológico”.

Trouxe também aos autos o Parecer do MPT nos autos de

nº 00100088-25.2013.5.14.0003.

Em contestação, a Reclamada sustenta que, tendo

ocorrido o assalto, não deve responder por seus efeitos tendo em vista que foi

praticado por terceiros, asseverando não ser atribuída a si alguma sequela,

posto que a questão encontra-se relacionada com a segurança pública, que é

incumbência estatal.

Aduz que a condenação necessita de respaldo em

responsabilidade subjetiva, inexistente no caso dos autos, tendo em vista que,

embora exerça a função de Banco Postal, não teve suas unidades (agências)

transformadas em agências bancárias típicas, não se havendo falar em

atividade de risco.

Complementa dizendo não estarem preenchidos os

requisitos autorizadores da condenação pretendida, por inexistir nos autos

qualquer elemento que demonstre que a Reclamada tenha contribuído para a

ocorrência do evento danoso ou que pudesse, de alguma forma, tê-lo

impedido, máxime porque o assalto foi praticado por terceiros, que o teriam

praticado mesmo que houvesse vigilância armada no local.

Acrescenta que, nos termos do art. 393 do Código Civil, o

assalto caracteriza força maior, excludente de responsabilidade, por ser

imprevisível e impassível de impedimento.

Page 6: Sentença Felix dadalto

Aduz também que não há norma legal obrigando-a a

adotar medidas de segurança para conter assaltos nas agências, não estando

obrigada na prática das medidas listadas na Lei 7.102/83, tendo em vista que é

uma empresa pública que explora serviços postais, cujas atividades específicas

estão delineadas na Lei 6.538/78, e mesmo exercendo o serviço de

correspondente bancário, não teve desnaturada sua qualificação, não podendo

ser considerada como empresa exercente de atividade financeira, posto que as

atividades bancárias praticadas nas agências são essencialmente básicas.

Nesta toada, assevera não estar obrigada às medidas de

segurança dispostas na Lei 7.102/83, mas que segundo a possibilidade

orçamentária e o grau de risco, vem estruturando suas unidades e investindo

em segurança, munindo as agências de cofres com fechadura eletrônica com

retardo, sistema de alarme eletrônico, sistema de gravação de imagens por

circuito interno de TV e contratação de empresas de segurança privada para

algumas agências.

Por fim, ressalta não haver prova de que os bens

espirituais e psíquicos do trabalhador tenham sido aviltados, requerendo, à luz

do princípio da eventualidade que, se restarem ultrapassados os argumentos

de defesa, que a indenização seja fixada com critérios de moderação e

razoabilidade.

Pois bem.

A Reclamada juntou aos autos os contratos realizados

com o Banco Bradesco S/A e com o Banco do Brasil, firmados na

conformidade da Resolução 2707/2000, 3.110/2003 e 3959/2011, do Banco

Central.

Nos termos do contrato com o Banco Bradesco S/A, a

Reclamada, como correspondente bancário, realizava, segundo o contrato

juntado aos autos, as seguintes atividades:

I) recepção e encaminhamento de propostas de abertura

de contas e depósito à vista, a prazo e de poupança;

Page 7: Sentença Felix dadalto

II) recebimentos e pagamentos relativos a contas de

depósitos à vista, a prazo e de poupança;

III) aplicações e resgates em fundos de investimento;

IV) recebimentos e pagamentos decorrentes de convênios

de prestação de serviços mantidos pelo CONTRATANTE na forma da

regulamentação em vigor;

V) execução ativa ou passiva de ordens de pagamento em

nome do CONTRATANTE;

VI) recepção e encaminhamento de pedidos de

empréstimos e de financiamentos;

VII) análise de crédito e cadastro;

VIII) execução de cobrança de títulos;

IX) outros serviços de controle, inclusive processamento

de dados, das operações pactuadas;

X) outras atividades autorizadas pelo Banco Central do

Brasil, a critério das outras partes.

No cumprimento do contrato celebrado com o Banco do

Brasil em 1º/7/2011, os agentes dos correios passaram a realizar as seguintes

tarefas na condição de correspondentes:

I - recepção e encaminhamento de propostas de abertura

de contas de depósitos à vista, a prazo e de poupança mantidas pela

instituição contratante;

II - realização de recebimentos, pagamentos e

transferências eletrônicas visando à movimentação de contas de depósitos de

titularidade de clientes mantidas pela instituição contratante;

Page 8: Sentença Felix dadalto

III - recebimentos e pagamentos de qualquer natureza, e

outras atividades decorrentes da execução de contratos e convênios de

prestação de serviços mantidos pela instituição contratante com terceiros;

IV - execução ativa e passiva de ordens de pagamento

cursadas por intermédio da instituição contratante por solicitação de clientes e

usuários;

V - recepção e encaminhamento de propostas referentes

a operações de crédito e de arrendamento mercantil de concessão da

instituição contratante;

VI - recebimentos e pagamentos relacionados a letras de

câmbio de aceite da instituição contratante;

VII - execução de serviços de cobrança extrajudicial,

relativa a créditos de titularidade da instituição contratante ou de seus clientes;

VIII - recepção e encaminhamento de propostas de

fornecimento de cartões de crédito de responsabilidade da instituição

contratante; e

IX - realização de operações de câmbio de

responsabilidade da instituição contratante, observado o disposto no art. 9º.

Ainda passaram os agentes a realizar a coleta de

informações cadastrais e de documentação, bem como realizar controle e

processamento de dados, estabelecendo, em relação às operações de câmbio,

a restrição às seguintes atividades:

I - compra e venda de moeda estrangeira em espécie,

cheque ou cheque de viagem (limitada a operação ao valor de U$ 3.000,00 –

três mil dólares americanos);

II - execução ativa ou passiva de ordem de pagamento

relativa a transferência unilateral do ou para o exterior (limitada a operação ao

valor de U$ 3.000,00 – três mil dólares americanos); e

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III - recepção e encaminhamento de propostas de

operações de câmbio.

Desta forma, embora a Reclamada não esteja vinculada

ao Ministério da Fazenda, e sim ao Ministério das Comunicações, passou a

realizar serviços bancários, mesmo que básicos.

Nesta toada, a análise detalhada das tarefas acima revela

que as atividades dos agentes dos correios guarda similaridade com aquelas

desenvolvidas pelos caixas bancários, tanto que ecoa no e. TST a

jurisprudência que reconhece aos empregados das agências dos correios a

jornada de 30 horas semanais dos trabalhadores bancários.

Verifica-se ainda que os bancos auferem lucro da

atividade dos caixas igualmente à Reclamada, que aufere lucro com a atividade

de correspondência bancária realizada por seus agentes, na conformidade dos

preços pagos pelo Banco Bradesco e pelo Banco do Brasil para os serviços

realizados, conforme os contratos juntados aos autos (Cláusula 11ª e seguintes

do contrato com o Banco Bradesco e Cláusula 14ª e seguintes do contrato com

o Banco do Brasil).

Assim, a atividade bancária, mesmo que básica, embora

não torne a agência dos correios uma agência bancária nem seus agentes em

bancários, passou a ser efetivamente exercida pela EBCT e por ela é

administrada de maneira lucrativa.

Desta forma, ao operar com valores, em condição similar

às agências bancárias, passa a ter a obrigação disposta no art. 1º da Lei

7.102/83, pois preenche o requisito trazido pela lei, qual seja, “a guarda de

valores ou a movimentação de numerário”.

Nesse sentido, colaciona-se a ementa do Parecer do MPT

nos autos de nº 0010088-25.2013.5.14.003:

Page 10: Sentença Felix dadalto

“AÇÃO CIVIL COLETIVA. BANCO POSTAL. CORRESPONDENTE BANCÁRIO. TERCEIRIZAÇÃO ILÍCITA. DESENVOLVIMENTO DE ATIVIDADE INERENTE AO SISTEMA FINANCEIRO. AGLUTINAÇÃO, AO SISTEMA POSTAL, DE OPERAÇÕES ANCÁRIAS. SEGURANÇA DOS TRABALHADORES PERICLITADA, ANTE A INEXISTÊNCIA DE QUALQUER SISTEMA QUE PREVINA AÇÕES CRIMINOSAS. A par da lamentável (e ilícita) prática de terceirização da atividade fim do sistema bancário brasileiro, observa-se que a realização de operações que envolvam dinheiro nas agências postais constitui um atrativo à ação delinquencial, em razão da inexistência de qualquer sistema de segurança, afetando sobremaneira o sadio e seguro meio ambiente de trabalho dos empregados dos correios, sendo de rigor a procedência dos pedidos inseridos na presente via.”

Observa-se então que neste nicho encontramos o assalto

ocorrido na agência de Rolim de Moura em julho de 2013, bem como o assalto

ocorrido também em janeiro de 2009.

Nesse contexto, onde o ato praticado por terceiros

encontra o cenário de omissão na contratação da segurança especializada

disposta no art. 1º da Lei 7.102/83, o art. 2º da CLT liga especial luz sobre a

obrigação da empregadora, de maneira que o ato, embora praticado por

terceiro, passa a atrair também a responsabilidade da Reclamada como

empregadora.

Registre-se que as obrigações do Estado como garantidor

da segurança pública e da Reclamada como garantidora de condições seguras

de trabalho (art. 7º, XXII, da Constituição Federal), não se confundem, nem se

anulam.

Não se está, então, diante de uma situação de força

maior, mas sim de uma condição de risco acentuada e previsível, que não

mereceu nenhuma atitude preventiva pela Reclamada.

Há, pois, inegável nexo de causalidade entre o meio

ambiente de trabalho (guarda de valores e movimentação de numerários sem

Page 11: Sentença Felix dadalto

proteção específica) no qual o Reclamante está inserido por seu empregador,

com a lesão psicológica e emocional decorrente da angústia de ser amarrado e

mantido sob arma de fogo.

Neste contexto, emerge a falha da Reclamada ao não

disponibilizar vigilância armada dentro da agência, nem sequer a porta giratória

detectora de metais, pois o circuito interno de câmeras apenas é útil para

elucidar fatos já acontecidos, protegendo, então, seu patrimônio, bem como o

sistema de alarme, utilizado quando a agência está fechada, também para

proteger o patrimônio durante ataques noturnos.

Registre-se que não só o trabalhador foi submetido à

severa angústia durante o assalto, como também, dado o fato de ter acontecido

dois assaltos na agência, convive com a possibilidade iminente de um terceiro,

visto que continua, como agente dos correios/banco postal guardando e

movimentando valores em a devida proteção.

Este meio ambiente perigoso impõe características

próprias à dimensão psicológica deste ambiente de trabalho, fator que não

pode ser desconsiderado quando se conceitua o que vem a ser “ambiente de

trabalho”, caracterizado por Guilherme Guimarães Feliciano como:

“(...) o conjunto (= sistema) de condições, leis, influências e interações de ordem física, química, biológica e psicológica que incidem sobre o homem em sua atividade laboral, esteja ou não submetido ao poder hierárquico de outrem.” (in Saúde e Segurança no Trabalho: O meio ambiente do trabalho e a responsabilidade civil patronal; Juiz Titular da 1ª Vara do Trabalho de Taubaté)

Meio ambiente de trabalho ecologicamente equilibrado,

então, emerge como o ambiente de trabalho, dentre outras vertentes, sem

acidentes de trabalho ou condições que lhe favoreçam, observando-se, nesta

realidade, um adequado controle de riscos em proteção à saúde e a segurança

dos trabalhadores.

Page 12: Sentença Felix dadalto

Da garantia legal e constitucional em relação a um meio

ambiente de trabalho equilibrado, decorrem direitos subjetivos, como o direito à

vida e à integridade psicossomática e o direito à promoção da correção dos

riscos ambientais.

Insta salientar que a situação de risco é sistêmica, não

localizada nas atividades de um único trabalhador, mas atinge todo o ambiente

onde ele, e todos os demais colegas, estão inseridos.

Desta forma, abstrai-se da responsabilidade subjetiva,

atraindo-se a responsabilidade objetiva do empregador poluidor, nos moldes do

art. 14, § 1º, da Lei 6.938/81.

Sobre o direito à vida e à integridade psicossomática e ao

meio ambiente do trabalho poluído e suas consequências, escreveu o i.

doutrinador e magistrado citado acima:

“Trata-se de emanação imediata da própria dignidade humana, consoante artigo 5º, caput, “in fine”, da CRFB/88. O empregador, com efeito, é o responsável pela organização dos meios de produção, formatando a equação econômica que arregimenta trabalho e bens de produção para uma atividade profissional que visa ao lucro. O trabalhador insere-se nesse contexto como parte de uma organização pré-concebida, sem poder ou autoridade para remodelá-la ou adequá-la às suas necessidades; a subordinação, por conseguinte, torna o trabalhador mais vulnerável aos malefícios que a organização perversa, negligente ou viciada dos fatores de trabalho pode lhe causar. Com efeito, é obrigação fundamental do empregador – com prelação sobre as próprias obrigações pecuniárias, como o pagamento de adicionais de remuneração ou o recolhimento de F.G.T.S. - resguardar, de toda forma possível (inclusive com a absorção de tecnologia referida no artigo 9º, V, da Lei 6.938/81), a vida e a integridade psicossomática dos trabalhadores ativados sob sua égide, subordinados ou não (supra). Apenas “si et qando” a atividade econômica não puder prescindir do trabalho perverso ou intensamente desgastante (caldeirarias, postos de combustíveis, distribuidoras de energia elétrica, hospitais, modos de produção ininterruptos

Page 13: Sentença Felix dadalto

etc.), caberá compensar o trabalhador, nos limites do razoável, com os consectários legais. Daí a maior responsabilidade do empregador, que engendra o risco e a ele submete trabalhadores ora impassíveis, ora alienados. Assim, quando essa organização causa ofensa ou violação aos diritos de outrem (os trabalhadores), os seus bens ficam sujeitos à reparação do dano causado (artigo 942 do NCC), sem prejuízo das responsabilidades criminais e administrativas. Se o dano deriva de dolo, imprudência ou negligência episódica, essa responsabilidade é subjetiva, cabendo ao prejudicado fazer a sua prova em Juízo (artigo 7º, XVIII, “in fine”, da CRFB, e Súmula 229 do C. STF); se, porém, o dano deriva de desequilíbrio ambiental endêmico, que compromete potencialmente toda a coletividade de trabalhadores (atuais e futuros), aquela responsabilidade é objetiva, por se tratar, tipicamente, de obrigação do poluidor (artigo 14, § 1º, da Lei 6.938/81). (destacado)

(…)

“Nestes termos, pode-se distinguir, nos lindes da infortunística do trabalho, os danos decorrentes de causalidade sistêmica (que representam a concreção de um quadro de desequilíbrio na disposição ou na combinação dos fatores de produção, i.e., da poluição labor-ambiental) e os danos decorrentes da causalidade tópica (i.e.., sem relação com algum desequilíbrio sistêmico do meio ambiente do trabalho). No primeiro caso, a responsabilidade civil patronal rege-se pela norma do art. 14, § 1º da Lei 6.938/81. No segundo caso, a responsabilidade civil patronal rege-se pela norma do arrigo 7º, XXVIII, da CRFB.

(…)

Ora, é princípio informador do direito Ambiental que “os custos sociais externos que acompanham a produção industrial (como o custo resultante da poluição) devem ser internalizados, isto é, levados à conta dos agentes econômicos em seus custos de produção” - eis o princípio do poluidor-pagador, devidamente enunciado. Pois bem: parece evidente que, se há poluição também nos locais de trabalho (inclusive na acepção da Lei 6.938/81), então os custos oriundos dos danos por ela provocados – ao entorno ambiental (= efeitos exógenos) ou a terceiros direta ou indiretamente expostos, como os trabalhadores (= efeitos endógenos) – devem ser igualmente internalizados, independentemente de perquirição de culpa (artigo 14, § 1º

Page 14: Sentença Felix dadalto

da Lei 6.938/81), para que os suporte o próprio agente poluidor.”

No caso dos autos, conforme já dito, considerando que

todos os empregados da agência laboram sujeitos às mesmas condições de

risco, temos de fato um desequilíbrio ambiental endêmico, emergindo a

Reclamada como empregadora-poluidora, objetivamente responsável pela

indenização dos empregados lesados, a exemplo do Reclamante, na

conformidade da Lei 6.938/81, em seu artigo 14, § 1º, que dispõe:

“Art. 14 - Sem prejuízo das penalidades definidas pela legislação federal, estadual e municipal, o não cumprimento das medidas necessárias à preservação ou correção dos inconvenientes e danos causados pela degradação da qualidade ambiental sujeitará os transgressores:

(...)

§ 1º Sem obstar a aplicação das penalidades previstas neste artigo, é o poluidor obrigado, independentemente da existência de culpa, a indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade. O Ministério Público da União e dos Estados terá legitimidade para propor ação de responsabilidade civil e criminal, por danos causados ao meio ambiente.”

Frise-se que não se trata de omissão que atinge a apenas

um trabalhador, mas a todos, indistintamente e ao mesmo tempo, presentes no

indigitado ambiente de trabalho, gerando um desequilíbrio ambiental endêmico,

capaz de capaz de comprometer a segurança de toda a coletividade de

trabalhadores da agência.

Inclusive, no caso dos autos, o Sindicato dos

Trabalhadores da Empresa de Correios e Telégrafos de Rondônia

(SINTECT/RO) chegou a ajuizar a ação de nº requerendo a condenação da

Reclamada à implementar, de maneira imediata, sistema de vigilância armada

(e outros dispositivos de segurança complementares) em todas as suas

agências.

Page 15: Sentença Felix dadalto

Mesmo que não dê ao caso o tratamento acima, abrindo-

se então o caminho da responsabilidade subjetiva, emerge esta configurada,

fruto desta mesma realidade endêmica, alimentada no fato de que a

Reclamada exerce a guarda e movimentação de valores sem a devida

proteção do ambiente e de seus trabalhadores, omitindo-se, então, no

cumprimento das obrigações de garantir segurança e mitigar os riscos da

atividade econômica por ela exercida.

Fundamentada está, pois, a responsabilidade objetiva da

Reclamada nos termos do artigo 14, § 1º, da Lei 6.938/81, bem como subjetiva

fundamentada no art. 7º, XXII da Constituição Federal e art. 2º da CLT.

Preenchidos pois, os requisitos necessários para

configuração do dever de indenizar, analisados à miúde.

Dessa situação, emerge o dano moral originado pela

situação angustiante vivida durante os assaltos e depois deles, no dia a dia

sem proteção específica.

Para fixar o valor da indenização por dano moral, deve-se

levar em conta a situação econômica tanto do ofendido como do ofensor, a

posição social do ofendido, bem como a intensidade de seu sofrimento, a culpa

do infrator, bem como o caráter pedagógico da penalidade. Não deve servir de

meio de enriquecimento ao ofendido, e também deve pesar para o ofensor de

maneira a inibi-lo em relação à novas situações, convencendo-o, nem que seja

pela dor no bolso, de que é necessário investir na segurança de seus

trabalhadores.

A par da situação de hipossuficiência do Reclamante,

declarada nos autos, temos a Reclamada, da qual nem se necessita estender

as especificações.

Considerando então o efeito pedagógico da sentença, a

ocorrência de dois assaltos, e que a fixação de um valor pode servir de

incentivo à manutenção da situação atual, caso os custos indenizatórios fiquem

Page 16: Sentença Felix dadalto

abaixo do custo da readequação necessária, fixa-se a indenização por dano

moral em R$ 35.000,00.

JUSTIÇA GRATUITA

Considerando o pedido dos benefícios da Justiça Gratuita,

com as afirmações feitas na inicial, defere-se.

HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS

Preenchidos os requisitos da Lei 5.584/70, combinada com

a Lei 1.060/50, iluminadas pela súmula 219 do e. TST, defere-se os honorários

advocatícios no percentual de 15% do valor da condenação.

Considerando então que, diante da assistência jurídica ao

trabalhador, concedida pelo Sindicato, o custeio do advogado deve ser feita

exclusivamente pela entidade sindical, emergindo eminentemente gratuita a

assistência ao trabalhador, destoa deste arcabouço jurídico a procuração

passada pelo Reclamante, diretamente ao advogado, inclusive com previsão

de pagamento de 30% pelo outorgante trabalhador ao advogado contratado (id

421505).

Insta salientar que o valor de 15% dos honorários

advocatícios deferidos nesta decisão revertem-se a favor do sindicato, e a

remuneração do advogado por ele contratado para prestar a assistência

Page 17: Sentença Felix dadalto

sindical, deve ser por ele suportada, unicamente, mesmo que extrapole o

percentual fixado nesta sentença.

Assim, para segurança do trabalhador, determina-se a

expedição de guia de levantamento, quando do pagamento do valor acima

estabelecido, do valor integral devido ao trabalhador, em nome deste,

especificamente, sendo confeccionada guia separada em nome do

advogado contratado pela entidade sindical relativos aos 15% de

honorários.

Para que sejam efetivados os esclarecimentos necessários,

determina-se a expedição de ofício ao Ministério Público do Trabalho, com

cópia da petição inicial, e dos documentos que a acompanham, da

contestação, também com os documentos que a acompanham, da ata de

audiência e ainda desta decisão, para que tome as providências que entender

cabíveis diante do mérito da sentença, bem como das questões em aberto

relativas à efetiva gratuidade da assistência sindical prestada pelo SINTECT-

RO.

3 - CONCLUSÃO

Posto isto, na apreciação da Reclamação Trabalhista proposta por FELIX DADALTO em desfavor de EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELÉGRAFOS, em sede de mérito, o Juízo julga PARCIALMENTE PROCEDENTE os pedidos para condenar a Reclamada ao cumprimento das seguintes obrigações:

a) indenização por dano moral no valor de R$ 35.000,00;

b) honorários advocatícios na ordem de 15% sobre o valor da condenação.

Sentença líquida, sujeita a atualização nos termos da

Súmula 439 do e. TST Juros de mora de 0,5% ao mês, a partir do ajuizamento

Page 18: Sentença Felix dadalto

da ação, nos termos do art. 883 da CLT, e correção monetária a partir da data

da publicação desta sentença ou da alteração do valor.

Concede-se à Reclamada todos os privilégios da Fazenda

Pública nos termos do art. 12 do Decreto-lei nº 509/69.

Para as finalidades do art. 832 da CLT, registre-se a

natureza indenizatória das parcelas.

Ofício da fundamentação.

Expedição de guias de levantamento na forma da

fundamentação.

Custas, pela Reclamada, no importe de R$ 805,00, calculadas sobre o valor atribuído à condenação, de R$ 40.250,00, estando dispensada do recolhimento na forma da Lei.

Cientes as partes.

SILMARA NEGRETT MOURA

Juíza Titular de Vara do Trabalho

Assinado eletronicamente. A Certificação Digital

pertence a:

[SILMARA NEGRETT MOURA]

http://pje.trt14.jus.br/primeirograu/Processo/ConsultaDoc

umento/listView.seam

14040411564711000000

000637633