18
IMPEDIMENTO OU RENÚNCIA: ELEIÇÕES Autores: Francisco Tiago Viana Barros, Enzo Barros Lima, Juscelino Wellington Soares de Sousa, George Henrique Pinto Bandeira, Elton Freire Barbosa RESUMO Os crimes que levam ao processo de impeachment de um presidente no Brasil, não são crimes, em sentido próprio, mas infrações político-administrativas, cuja incidência enseja o processo de impedimento. A expressão impeachment pode apontar o processo parlamentar contra o presidente da República e outras autoridades levando ao afastamento do cargo. Segundo a Constituição de 1988, o impeachment do presidente da República, por crimes de responsabilidade, é decidido pelos senadores após prévia autorização de dois terços dos membros da Câmara dos Deputados. Uma vez instaurado o processo no Senado, o presidente é afastado do cargo, que passa a ser exercido por seu substituto legal, o vice-presidente. Caso não ocorra o julgamento em cento e oitenta dias, após o afastamento do presidente, o chefe do poder executivo volta ao exercício de suas atividades, até final julgamento. Se o presidente é condenado pelo Senado, fica inabilitado para o exercício de qualquer função pública por oito anos, inclusive cargo ou mandato eletivo. A sanção imposta pelo Senado não impede a aplicação de outras sanções pelo Judiciário. INTRODUÇÃO 1

Impedimento ou renúncia eleições

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Impedimento ou renúncia   eleições

IMPEDIMENTO OU RENÚNCIA: ELEIÇÕESAutores: Francisco Tiago Viana Barros, Enzo Barros Lima, Juscelino Wellington Soares de Sousa,

George Henrique Pinto Bandeira, Elton Freire Barbosa

RESUMO

Os crimes que levam ao processo de impeachment de um presidente no Brasil,

não são crimes, em sentido próprio, mas infrações político-administrativas, cuja

incidência enseja o processo de impedimento. A expressão impeachment pode apontar o

processo parlamentar contra o presidente da República e outras autoridades levando ao

afastamento do cargo. Segundo a Constituição de 1988, o impeachment do presidente da

República, por crimes de responsabilidade, é decidido pelos senadores após prévia

autorização de dois terços dos membros da Câmara dos Deputados. Uma vez instaurado

o processo no Senado, o presidente é afastado do cargo, que passa a ser exercido por seu

substituto legal, o vice-presidente. Caso não ocorra o julgamento em cento e oitenta

dias, após o afastamento do presidente, o chefe do poder executivo volta ao exercício de

suas atividades, até final julgamento. Se o presidente é condenado pelo Senado, fica

inabilitado para o exercício de qualquer função pública por oito anos, inclusive cargo ou

mandato eletivo. A sanção imposta pelo Senado não impede a aplicação de outras

sanções pelo Judiciário.

INTRODUÇÃO

O processo de impeachment é algo quase inteiramente alienígena ao dia-a-dia do

cidadão comum, muitas pessoas sabem o que é, em termos gerais, mas o processo se

encontra cheio de pequenas minúcias e eventualidades que podem drasticamente alterar

seu resultado, sem mencionar as diversas partes diferentes do governo que devem se

mobilizar para realizar tal processo.

Nesse artigo, discutiremos o que exatamente é o impeachment, o que constitui

crime de responsabilidade, como se deram os processos de impeachment do ex-

presidente Fernando Collor de Melo e da atual presidente Dilma Rousseff, bem como

oferecer uma comparação entre os dois processos e como se dá continuidade ao

impeachment face a uma renúncia por parte do político sendo impedido. Justifica-se

para a realização desse artigo a importância inerente do processo de impeachment à

política brasileira e a falta de conhecimento por parte da população geral de seus

mecanismos mais complexos.

1

Page 2: Impedimento ou renúncia   eleições

1. DESENVOLVIMENTO

1.2 O QUE É O IMPEACHMENT?

Impeachment é uma palavra de origem inglesa que significa

"impedimento" ou "impugnação", utilizada como um modelo de processo instaurado

contra altas autoridades governamentais acusadas de infringir os seus deveres

funcionais. Dizer que ocorreu impeachment ao Presidente da República, significa que

este não poderá continuar exercendo as suas funções políticas. Abuso de poder, crimes

normais e crimes de responsabilidade, assim como qualquer outro atentado ou

violação à Constituição são exemplos do que pode dar base a um impeachment.

O impeachment ocorre no Poder Executivo, podendo acontecer no Brasil, por

exemplo, ao Presidente da República, Governadores e Prefeitos. Quando acontece

o impeachment, significa que o mandato fica impugnado ou cassado.

1.3 - LEI DO IMPEACHMENT E CRIME DE RESPONSABILIDADE

O procedimento do impeachment está descrito na lei 1079/50.O impeachment é

um processo longo e para que ocorra, devem ser cumpridos vários passos, entre eles a

denúncia, a acusação e o julgamento.

O artigo 86 da Constituição refere as medidas tomadas caso o Presidente da

República seja de fato impugnado, a primeira das quais a suspensão de suas funções. O

Poder Legislativo gere todo este processo.

A Constituição não fala diretamente sobre impeachment, mas no caso do Presidente da República, por exemplo, os crimes de responsabilidade estão descritos no artigo 85 da Constituição da República Federativa do Brasil. São considerados crimes de responsabilidade aqueles que atentem contra a Constituição Federal.

Art. 85. São crimes de responsabilidade os atos do Presidente da República que atentem contra a Constituição Federal e, especialmente, contra:

I – A existência da União;II – O livre exercício do Poder Legislativo, do Poder Judiciário, do Ministério Público e dos Poderes constitucionais das unidades da Federação;III - O exercício dos direitos políticos, individuais e sociais;IV - A segurança interna do País;V - A probidade na administração;VI – A lei orçamentária;VII - O cumprimento das leis e das decisões judiciais.

2

Page 3: Impedimento ou renúncia   eleições

1.3.1 – CAPÍTULO I - DOS CRIMES CONTRA A EXISTÊNCIA DA UNIÃO:

Art. 5º - São crimes de responsabilidade contra a existência política da União: 

1 - Entreter, direta ou indiretamente, inteligência com governo estrangeiro,

provocando-o a fazer guerra ou cometer hostilidade contra a República, prometer-lhe

assistência ou favor, ou dar-lhe qualquer auxílio nos preparativos ou planos de guerra

contra a República;

2 - Tentar, diretamente e por fatos, submeter a União ou algum dos Estados ou

Territórios a domínio estrangeiro, ou dela separar qualquer Estado ou porção do

território nacional;

3 - Cometer ato de hostilidade contra nação estrangeira, expondo a República ao

perigo da guerra, ou comprometendo-lhe a neutralidade;

4 - Revelar negócios políticos ou militares, que devam ser mantidos secretos a bem da

defesa da segurança externa ou dos interesses da Nação;

5 - Auxiliar, por qualquer modo, nação inimiga a fazer a guerra ou a cometer

hostilidade contra a República;

6 - Celebrar tratados, convenções ou ajustes que comprometam a dignidade da Nação;

7 - Violar a imunidade dos embaixadores ou ministros estrangeiros acreditados no

país;

8 - Declarar a guerra, salvo os casos de invasão ou agressão estrangeira, ou fazer a

paz, sem autorização do Congresso Nacional.

9 - Não empregar contra o inimigo os meios de defesa de que poderia dispor;

10 - Permitir o Presidente da República, durante as sessões legislativas e sem

autorização do Congresso Nacional, que forças estrangeiras transitem pelo território

do país, ou, por motivo de guerra, nele permaneçam temporariamente;

11 - Violar tratados legitimamente feitos com nações estrangeiras.

1.3.2 - CAPÍTULO II - DOS CRIMES CONTRA O LIVRE EXERCÍCIO DOS

PODERES CONSTITUCIONAIS:

Art. 6º - São crimes de responsabilidade contra o livre exercício dos poderes

legislativo e judiciário e dos poderes constitucionais dos Estados

1 - Tentar dissolver o Congresso Nacional, impedir a reunião ou tentar impedir por

qualquer modo o funcionamento de qualquer de suas Câmaras;

2 - Usar de violência ou ameaça contra algum representante da Nação para afastá-lo

da Câmara a que pertença ou para coagi-lo no modo de exercer o seu mandato bem

3

Page 4: Impedimento ou renúncia   eleições

como conseguir ou tentar conseguir o mesmo objetivo mediante suborno ou outras

formas de corrupção;

3 - Violar as imunidades asseguradas aos membros do Congresso Nacional, das

Assembleias Legislativas dos Estados, da Câmara dos Vereadores do Distrito Federal

e das Câmaras Municipais;

4 - Permitir que força estrangeira transite pelo território do país ou nele permaneça

quando a isso se oponha o Congresso Nacional;

5 - Opor-se diretamente e por fatos ao livre exercício do Poder Judiciário, ou obstar,

por meios violentos, ao efeito dos seus atos, mandados ou sentenças;

6 - Usar de violência ou ameaça, para constranger juiz, ou jurado, a proferir ou deixar

de proferir despacho, sentença ou voto, ou a fazer ou deixar de fazer ato do seu ofício;

7 - Praticar contra os poderes estaduais ou municipais ato definido como crime neste

artigo;

8 - Intervir em negócios peculiares aos Estados ou aos Municípios com desobediência

às normas constitucionais.

1.3.3 - CAPÍTULO III - DOS CRIMES CONTRA O EXERCÍCIO DOS DIREITOS

POLÍTICOS, INDIVIDUAIS E SOCIAIS:

Art. 7º -  São crimes de responsabilidade contra o livre exercício dos direitos

políticos, individuais e sociais:

1- Impedir por violência, ameaça ou corrupção, o livre exercício do voto;

2 - Obstar ao livre exercício das funções dos mesários eleitorais;

3 - Violar o escrutínio de seção eleitoral ou inquinar de nulidade o seu resultado pela

subtração, desvio ou inutilização do respectivo material;

4 - Utilizar o poder federal para impedir a livre execução da lei eleitoral;

5 - Servir-se das autoridades sob sua subordinação imediata para praticar abuso do

poder, ou tolerar que essas autoridades o pratiquem sem repressão sua;

6 - Subverter ou tentar subverter por meios violentos a ordem política e social;

7 - Incitar militares à desobediência à lei ou infração à disciplina;

8 - Provocar animosidade entre as classes armadas ou contra elas, ou delas contra as

instituições civis;

9 - Violar patentemente qualquer direito ou garantia individual constante do art. 141 e

bem assim os direitos sociais assegurados no artigo 157 da Constituição;

10 - Tomar ou autorizar durante o estado de sítio, medidas de repressão que excedam

os limites estabelecidos na Constituição.

4

Page 5: Impedimento ou renúncia   eleições

1.3.4 - CAPÍTULO IV - DOS CRIMES CONTRA A SEGURANÇA INTERNA DO

PAÍS:

Art. 8º São crimes contra a segurança interna do país: 

1 - Tentar mudar por violência a forma de governo da República;

2 - Tentar mudar por violência a Constituição Federal ou de algum dos Estados, ou lei

da União, de Estado ou Município;

3 - Decretar o estado de sítio, estando reunido o Congresso Nacional, ou no recesso

deste, não havendo comoção interna grave nem fatos que evidenciem estar a mesma a

irromper ou não ocorrendo guerra externa;

4 - Praticar ou concorrer para que se perpetre qualquer dos crimes contra a segurança

interna, definidos na legislação penal;

5 - Não dar as providências de sua competência para impedir ou frustrar a execução

desses crimes;

6 - Ausentar-se do país sem autorização do Congresso Nacional;

7 - Permitir, de forma expressa ou tácita, a infração de lei federal de ordem pública;

8 - Deixar de tomar, nos prazos fixados, as providências determinadas por lei ou

tratado federal e necessário a sua execução e cumprimento.

1.3.5 - CAPÍTULO V - DOS CRIMES CONTRA A PROBIDADE NA

ADMINISTRAÇÃO:

Art. 9º - São crimes de responsabilidade contra a probidade na administração: 

1 - Omitir ou retardar dolosamente a publicação das leis e resoluções do Poder

Legislativo ou dos atos do Poder Executivo;

2 - Não prestar ao Congresso Nacional dentro de sessenta dias após a abertura da

sessão legislativa, as contas relativas ao exercício anterior;

3 - Não tornar efetiva a responsabilidade dos seus subordinados, quando manifesta em

delitos funcionais ou na prática de atos contrários à Constituição;

4 - Expedir ordens ou fazer requisição de forma contrária às disposições expressas da

Constituição;

5 - Infringir no provimento dos cargos públicos, as normas legais;

6 - Usar de violência ou ameaça contra funcionário público para coagi-lo a proceder

ilegalmente, bem como utilizar-se de suborno ou de qualquer outra forma de

corrupção para o mesmo fim;

7 - Proceder de modo incompatível com a dignidade, a honra e o decoro do cargo.

5

Page 6: Impedimento ou renúncia   eleições

1.3.6 - CAPÍTULO VI - DOS CRIMES CONTRA A LEI ORÇAMENTÁRIA:

Art. 10º - São crimes de responsabilidade contra a lei orçamentária: 

1- Não apresentar ao Congresso Nacional a proposta do orçamento da República

dentro dos primeiros dois meses de cada sessão legislativa;

2 - Exceder ou transportar, sem autorização legal, as verbas do orçamento;

3 - Realizar o estorno de verbas;

4 - Infringir, patentemente, e de qualquer modo, dispositivo da lei orçamentária.

5- Deixar de ordenar a redução do montante da dívida consolidada, nos prazos

estabelecidos em lei, quando o montante ultrapassar o valor resultante da aplicação do

limite máximo fixado pelo Senado Federal; (Incluído pela Lei nº 10.028, de 2000)

6- Ordenar ou autorizar a abertura de crédito em desacordo com os limites

estabelecidos pelo Senado Federal, sem fundamento na lei orçamentária ou na de

crédito adicional ou com inobservância de prescrição legal; (Incluído pela Lei nº

10.028, de 2000)

7- Deixar de promover ou de ordenar na forma da lei, o cancelamento, a amortização

ou a constituição de reserva para anular os efeitos de operação de crédito realizada

com inobservância de limite, condição ou montante estabelecido em lei; (Incluído pela

Lei nº 10.028, de 2000)

8- Deixar de promover ou de ordenar a liquidação integral de operação de crédito por

antecipação de receita orçamentária, inclusive os respectivos juros e demais encargos,

até o encerramento do exercício financeiro; (Incluído pela Lei nº 10.028, de 2000)

9- Ordenar ou autorizar, em desacordo com a lei, a realização de operação de crédito

com qualquer um dos demais entes da Federação, inclusive suas entidades da

administração indireta, ainda que na forma de novação, refinanciamento ou

postergação de dívida contraída anteriormente; ((Incluído pela Lei nº 10.028, de 2000)

10- Captar recursos a título de antecipação de receita de tributo ou contribuição cujo

fato gerador ainda não tenha ocorrido; (Incluído pela Lei nº 10.028, de 2000)

11- Ordenar ou autorizar a destinação de recursos provenientes da emissão de títulos

para finalidade diversa da prevista na lei que a autorizou; (Incluído pela Lei nº 10.028,

de 2000)

12- Realizar ou receber transferência voluntária em desacordo com limite ou condição

estabelecida em lei. (Incluído pela Lei nº 10.028, de 2000)

6

Page 7: Impedimento ou renúncia   eleições

1.3.7 - CAPÍTULO VII - DOS CRIMES CONTRA A GUARDA E LEGAL EMPREGO

DOS DINHEIROS PÚBLICOS:

Art. 11º - São crimes contra a guarda e legal emprego dos dinheiros públicos:

1 - Ordenar despesas não autorizadas por lei ou sem observância das prescrições

legais relativas às mesmas;

2 - Abrir crédito sem fundamento em lei ou sem as formalidades legais;

3 - Contrair empréstimo, emitir moeda corrente ou apólices, ou efetuar operação de

crédito sem autorização legal;

4 - Alienar imóveis nacionais ou empenhar rendas públicas sem autorização legal;

5 - Negligenciar a arrecadação das rendas impostos e taxas, bem como a conservação

do patrimônio nacional.

1.3.8 - CAPÍTULO VIII - DOS CRIMES CONTRA O CUMPRIMENTO DAS

DECISÕES JUDICIÁRIAS:

Art. 12º -  São crimes contra o cumprimento das decisões judiciárias: 

1 - Impedir, por qualquer meio, o efeito dos atos, mandados ou decisões do Poder

Judiciário;

2 - Recusar o cumprimento das decisões do Poder Judiciário no que depender do

exercício das funções do Poder Executivo;

3 - Deixar de atender a requisição de intervenção federal do Supremo Tribunal Federal

ou do Tribunal Superior Eleitoral;4 - Impedir ou frustrar pagamento determinado por sentença judiciária.

2. O QUE É PRECISO PARA O PROCESSO DE IMPEACHMENT SER

ABERTO

De acordo com a lei 1079/50, qualquer cidadão pode denunciar o presidente da

República na Câmara por crime de responsabilidade. Para que o processo se inicie,

contudo, a denúncia deve ser aceita pelo presidente da Câmara.

2.1 - CÂMARA DOS DEPUTADOS

Uma vez autorizada a tramitação, o pedido de impeachment é lido no Plenário

da Casa e é criada uma comissão especial para investigar o caso. A comissão terá 66

integrantes, de todos os partidos da Casa.

O presidente em exercício será notificado assim que a comissão especial for

criada e terá 10 sessões para se defender. Terminado o prazo de 10 sessões para a defesa

do presidente, a comissão especial irá colher depoimentos de testemunhas e poderá

7

Page 8: Impedimento ou renúncia   eleições

requisitar que o presidente seja interrogado. Ao longo deste processo, o presidente em

exercício poderá assistir a todas as sessões pessoalmente ou mandar um representante ao

local.

Após ser criada, a comissão tem 48 horas para eleger seu presidente e relator.

Com sua mesa diretora definida e com o recebimento da defesa, o colegiado terá cinco

sessões para emitir um parecer sobre a denúncia. Neste processo, a comissão poderá

convocar testemunhas e tomar as providências que julgar necessárias para esclarecer a

denúncia.

O procedimento de votação do impeachment permite que cinco representantes

de cada partido possam falar sobre o parecer durante uma hora. Ao todo, vinte e seis

partidos têm representação na Câmara. Além disso, o relator da comissão especial

poderá responder a cada um dos deputados.

Os membros da comissão especial decidem, por maioria simples, se dão

continuidade ao pedido ou o rejeitam. Independentemente da recomendação do

colegiado, o parecer tem de ser levado à votação no plenário da Câmara. O resultado da

votação sobre o parecer da comissão especial é lido na sessão da Câmara dos Deputados

e publicado integralmente no Diário do Congresso Nacional juntamente com a

denúncia. Todos os deputados terão acesso ao parecer. Após 48 horas da publicação, o

parecer é incluído, em primeiro lugar, na ordem de votação do plenário da Câmara. 

A votação do pedido de impeachment é nominal. Para afastar o presidente é

preciso que dois terços do plenário da Câmara, o equivalente a 342 deputados, vote a

favor do impeachment. O governo precisa de 172 votos para arquivar o processo.

Caso a abertura do pedido de impeachment seja aprovada no plenário da

Câmara, a presidente da República é afastada do cargo, por até 180 dias, e tem 20 dias

para apresentar provas que sustentem sua defesa. Neste período, o vice-presidente,

assume interinamente a Presidência.

2.2 – SENADO FEDERAL

Decretada a acusação, o processo vai para o Senado, que tem 180 dias para

decidir sobre a questão. O julgamento do presidente da república no Senado é

comandado pelo presidente do Supremo Tribunal Federal, e o presidente eleito é

notificado a comparecer. Para aprovar o impedimento é preciso a aprovação de 54 dos

81 senadores.

8

Page 9: Impedimento ou renúncia   eleições

No caso de crime de responsabilidade, o presidente é julgado no plenário do

Senado. A sessão se assemelha a um julgamento comum, com o direito à defesa do réu,

a palavra da comissão acusadora e a possibilidade de depoimento de testemunhas. É

preciso que dois terços dos senadores (54 de 81) votem pelo impeachment para que o

mandato do presidente seja cassado. Em caso de impeachment do presidente, o vice-

presidente toma posse.

3. PROCESSOS DE IMPEACHMENT, COLLOR E DILMA

3.1 – COLLOR DE MELO

Empossado no dia 15 de março de 1990 após derrotar o candidato Luiz Inácio

Lula da Silva no segundo turno das primeiras eleições presidenciais diretas após o fim

da ditadura, o ex-governador alagoano Fernando Collor de Mello tornou-se o mais

jovem presidente brasileiro, com meros quarenta anos. Seu governo, contudo, perdeu

gradualmente a sustentação política e foi marcado por escândalos de corrupção, além de

medidas administrativas impopulares.

O início do governo Collor caracterizou-se por políticas radicais para conter a

inflação extrema da época e estabilizar a moeda, o exemplo mais infame foi quando

Collor confiscou as poupanças da população por mais de um ano, como um meio de

preservar o poder de compra da moeda, mas esse foi apenas um dos casos mais

conhecidos. O presidente reduziu os gastos do governo, privatizou estatais e deixou de

fornecer subsídios à exportação. Segundo a então ministra da Fazenda, Zélia de Melo,

teria sido escolhido arbitrariamente durante uma festa. A medida, apesar de ter sido

considerada em outros meios além dos ministérios de Collor, provocou grande

descontentamento devido à arbitrariedade do teto e às posteriores denúncias de que o

presidente e seu tesoureiro de campanha, PC Farias, teriam feito saques substanciais em

suas contas antes do bloqueio, com Farias realizando transações fraudulentas para

Collor em seu próprio nome de modo para esconder a real identidade de seu

contratador.

3.1.2 - CÂMARA E LIDERANÇAS NACIONAIS

A Câmara dos Deputados estabeleceu uma Comissão Parlamentar de Inquérito

(CPI) para averiguar as denúncias. Na mesma época, a Ordem dos Advogados do Brasil

(OAB), a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), a Central Única dos

Trabalhadores (CUT) e partidos de oposição realizaram uma manifestação chamada de

9

Page 10: Impedimento ou renúncia   eleições

“Vigília pela Ética na Política”, para pressionar os congressistas a checar devidamente

os fatos e punir os envolvidos.

O movimento estudantil realizou passeatas com manifestantes vestidos de preto,

de forma para indicar luto pela aparente morte da justiça no país e rostos pintados,

ambos eram formas de clamar pelo impeachment do presidente. Poucos dias depois, os

presidentes da Associação Brasileira de Imprensa e da OAB entregaram um pedido

formal de impeachment à Câmara, que foi admitido. Collor era acusado de enriquecer

com dinheiro obtido de forma ilícita por PC Farias, acusação que foi acatada pela CPI,

que o considerou culpado de ter recebido cerca de 6,5 milhões de dólares no esquema.

O processo de impeachment foi aprovado pela Câmara Federal, por 441 votos a

favor e 38 contra, e afastou da Presidência da República Fernando Collor de Mello, em

29 de setembro.

Sabendo que seria afastado, Collor acabou renunciando no dia 29 de dezembro,

como um meio de não se tornar inelegível, mas o Senado prosseguiu o julgamento,

afastando-o do cargo e privando-o dos direitos políticos por oito anos. A decisão foi

confirmada pelo STF em 1993. Collor alegou ter sido perseguido por forças políticas

contrárias à modernização do país.

3.2 – DILMA ROUSSEFF

O impeachment de Dilma Rousseff se mostra difícil para a análise, em grande parte por

se tratar de um processo que, ao menos na data em que esse texto está sendo escrito, ainda está

longe de chegar a uma conclusão, com diversos processos ainda para serem realizados, no

entanto, o observador poderia perceber padrões se repetindo entre o impeachment de Collor e o

de Rousseff.

Assim como Collor, Dilma assumiu o país em uma época de grande turbulência política

e econômica, mesmo que tenha sido uma turbulência criada por ela mesma, e assim como o ex-

presidente, as medidas de Rousseff para tentar acalmar a situação econômica do país não foram

bem vistas por boa parte da população nacional, que acabou se virando contra sua presidente,

um claro exemplo disso é visto nas pesquisas de aceitação de Dilma, que ganhou as eleições de

2014 com mais de cinquenta por cento dos votos, pouco mais de cinquenta e quatro milhões de

pessoas, mas que se encontrou com um índice de aprovação de menos de dez por cento de

acordo com uma pesquisa realizada pelo Datafolha em fevereiro de 2016

No caso de Dilma Rousseff, as “pedaladas fiscais” em 2015 foram usadas como

justificativa de Eduardo Cunha para acatar o pedido, consideradas “crime de responsabilidade

fiscal” pela Lei Nº 1.079/1950.

10

Page 11: Impedimento ou renúncia   eleições

3.2.1 – PASSO A PASSO DO PROCESSO

Crime – O pedido foi protocolado pela professora de Direto Penal, Janaína Paschoal,

Miguel Reale Júnior e Hélio Bicudo, jurista e fundador do PT.

Admissão – O presidente da Câmara Eduardo Cunha, aceitou o pedido de

impeachment, e foi criada uma comissão especial para analisar o pedido. A comissão composta

pelos parlamentares deu parecer favorável a continuidade do processo, a presidente teve 10

sessões para apresentar sua defesa.

Votação dos deputados – Se aceito por 2/3 dos parlamentares o processo segue para o

senado. 342 dos 513 deputados votaram no prosseguimento do processo.

Decisão no Senado – O senado aceita o processo com maioria simples, 41 de 81. E

nesse caso a presidente é afastada por 180 dias. O Senado tem esse prazo para realizar o

julgamento do processo de impeachment, caso não ocorra no prazo, a presidente volta para o

cargo.

Para o impeachment – Para a condenação são necessários dois terços da casa,

neste caso 54 dos 81 senadores. Além da perda do mandato, decide-se também se Dilma

fica inelegível por até 8 anos.

4. EM CASO DE RENÚNCIA E CASSAÇÃO

As outras duas possibilidades de perda do posto de presidente são a renúncia e a

cassação do mandato pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). No primeiro caso, a

decisão é individual.

Se a presidente renuncia, por exemplo, assume o seu vice. No segundo caso,

contudo, toda a chapa é afastada e assume o segundo colocado na eleição. No caso de

dupla vacância, quando o presidente e o vice renunciam, o presidente da Câmara

assume interinamente o comando da nação e promove eleições no prazo de 90 dias.

Caso a cassação não ocorra antes do dia 1º de janeiro, é convocado novas

eleições, nesse caso, eleições indiretas, onde será decidido em votação entre os

deputados quem assumirá o posto de presidente da republica o restante do período

gestão presidencial.

CONCLUSÃO

Podemos perceber que a lei 1079/50, vem com o intuito de resguardar os interesses do país, sob a perspectiva de liberdade e finanças. Podendo assim o presidente, caso tenha cometido algum dos crimes citados no trabalho, ter o seu mandato cassado. Processo que por sua vez, já ocorreram duas vezes, sendo uma em

11

Page 12: Impedimento ou renúncia   eleições

1992, terminada com a renuncia do então presidente Fernando Collor de Melo e agora mais recentemente, em 2016, tramita para a decisão do Tribunal do Senado Federal a decisão se a atual presidente afastada Dilma Rousseff, terá seu mandato cassado ou se ela retornará ao posto de presidente da republica.

REFERÊNCIAS

Constituição Federal da República Federativa do Brasil; Brasília; 05 de outubro

de 1988.

LESSA, Alexandra. Revista da Faculdade de Direito de Campos. Ano VI, Nº 6 –

Jun. 2005

CASTRO, Gabriel. Entenda como funciona o processo de impeachment. Revista

Veja@, Brasília, março 2015. Disponível em:< http://veja.abril.com.br/noticia/brasil/os-

seis-passos-de-um-processo-de-impeachment

Acervo. Impeachment de Collor. Jornal Estadão@. Brasília, setembro 1992. Disponível

em:< http://acervo.estadao.com.br/noticias/topicos,impeachment-de-collor,887,0.htm

CAMILA, Moraes. Impeachment de Collor Revisado, retrato de uma crise, Jornal El

País@, São Paulo, abril 2016, disponível em:<

http://brasil.elpais.com/brasil/2016/03/30/politica/1459370703_082305.html

Acervo. Presidente Collor sofreu impeachment, em 1992, e foi cassado pelo Senado.

Jornal O Globo@, publicado, julho 2013. Disponível em:<

http://acervo.oglobo.globo.com/fatos-historicos/presidente-collor-sofreu-impeachment-

em-1992-foi-cassado-pelo-senado-9239073

LOURENÇO, Iolando e JUNGMAN, Mariana Há 20 anos, Fernando Collor de Melo

foi o primeiro presidente do Brasil a sofrer um processo de impeachment, EBC@,

publicado, setembro 2012. Disponível em:< http://www.ebc.com.br/2012/09/ha-20-

anos-fernando-collor-de-mello-foi-o-primeiro-presidente-do-brasil-a-sofrer-processo-de

DIAS, Carlos. Relembre como foi o impeachment de Collor. IstoÉ@. Publicado, Dez,

2015. Disponível em:<

http://www.istoedinheiro.com.br/noticias/economia/20151203/relembre-como-foi-

impeachment-collor/322958

12

Page 13: Impedimento ou renúncia   eleições

BRETAS, Valéria. Dilma x Collor: Em que o impeachment de hoje difere do de 1992.

Revista Exame@; publicado, abril 2016. Disponível em:<

http://exame.abril.com.br/brasil/noticias/dilma-x-collor-o-que-impeachment-de-hoje-

difere-do-de-92

13