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Ilustríssimo Senhor Doutor Delegado Titular da Delegacia de Repressão aos Crimes contra a Ordem Tributária. O Município do Recife, por sua Procuradora Diretora da Procuradoria da Fazenda Municipal, in fine assinada, vem trazer ao conhecimento dessa respeitável autoridade policial, os fatos a seguir narrados, detectados em processos de Execuções Fiscais, em que esta Municipalidade figura no pólo ativo e que além de terem causado prejuízo ao Erário Municipal, configuram-se, pelo menos em tese, em delidos tipificados pelo Código Penal Brasileiro, para os quais ainda não se tem por identificada a autoria. A Fazenda Municipal do Recife constatou, em executivos fiscais nos quais figura como parte exequente, a ocorrência de falsificações de petições, mediante as quais foram requeridas extinções de processos. As petições foram subscritas mediante falsificação grosseira da assinatura do Procurador Judicial do Município, Dr. HUMBERTO CABRAL VIEIRA DE MELLO e acompanhadas de falsificações, não menos grosseiras, dos comprovantes de quitação de débitos, o que redundou, inclusive, em suas extinções, por sentença, em fraude que ocasionou sérios danos ao Erário Municipal. As falsificações tiveram por escopo a extinção de processos de execuções fiscais oriundos de débitos do IPTU e Taxa de Limpeza Pública do imóvel Inscrito no Cadastro Imobiliário pelo Sequencial nº 329.634-2 e

Notitia criminis falsificacoes_pfm

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Notitia Criminis à Delegacia de Crimes contra a Ordem Tributária sobre as falsificações de assinaturas de Procurador e documentos de quitação de débitos para extinguir execuções fiscais da Procuradoria da Fazenda Municipal do Recife

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Ilustríssimo Senhor Doutor Delegado Titular da Delegacia de Repressão aos Crimes contra a Ordem Tributária.

O Município do Recife, por sua Procuradora Diretora da

Procuradoria da Fazenda Municipal, in fine assinada, vem trazer ao

conhecimento dessa respeitável autoridade policial, os fatos a seguir narrados,

detectados em processos de Execuções Fiscais, em que esta Municipalidade

figura no pólo ativo e que além de terem causado prejuízo ao Erário Municipal,

configuram-se, pelo menos em tese, em delidos tipificados pelo Código Penal

Brasileiro, para os quais ainda não se tem por identificada a autoria.

A Fazenda Municipal do Recife constatou, em executivos

fiscais nos quais figura como parte exequente, a ocorrência de falsificações de

petições, mediante as quais foram requeridas extinções de processos. As

petições foram subscritas mediante falsificação grosseira da assinatura do

Procurador Judicial do Município, Dr. HUMBERTO CABRAL VIEIRA DE MELLO e acompanhadas de falsificações, não menos grosseiras, dos

comprovantes de quitação de débitos, o que redundou, inclusive, em suas

extinções, por sentença, em fraude que ocasionou sérios danos ao Erário

Municipal.

As falsificações tiveram por escopo a extinção de processos

de execuções fiscais oriundos de débitos do IPTU e Taxa de Limpeza Pública do

imóvel Inscrito no Cadastro Imobiliário pelo Sequencial nº 329.634-2 e

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Matriculado no 2º Cartório do RGI sob o nº 317, cuja titularidade pertencia à

SOCIEDADE HOSPITALAR MIGUEL CALMON LTDA. e que posteriormente

passou a se denominar CENTRO HOSPITALAR CASA FORTE LTDA. (cf.

Certidão do 2º Cartório de RGI), e que veio a ser transmitido, por Escritura

Pública lavrada em 29 de dezembro de 1997, pelo 4º Serviço de Notas a

ANTONIO CARLOS GONÇALVES DA ROCHA, CPF nº 084.839.304-04, de

modo que as execuções e as cobranças dos débitos ali carreados, inicialmente

movidas contra o CENTRO HOSPITALAR CASA FORTE LTDA. passaram a ter

como devedor, por sucessão, o já mencionado ANTONIO CARLOS GONÇALVES DA ROCHA.

Ressalte-se, ainda, que as fraudes também alcançaram

processos de execuções fiscais oriundas do lançamento de créditos tributários

de natureza mercantil (ISS e taxas) movidas contra o CENTRO HOSPITALAR CASA FORTE LTDA., cujo representante legal é PAULO DE MORAIS ANDRADE LIMA, CPF Nº 000.784.094-20, juntamente com PAULO ROBERTO CANTARELLI DE ANDRADE LIMA, AIDE DE ANDRADE LIMA ARAUJO, ARMIDA CANTARELLI DE ANDRADE LIMA ALBUQUERQUE, CPF Nº 126.194.424-00 e ABGAIL DE ANDRADE LIMA CHAVES, CPF Nº 796.918.704-87

As falsificações foram detectadas, até a presente data, nos

processos a seguir listados, sendo possível que a fraude se estenda a outros

processos, o que deverá, certamente, ser alvo das investigações a serem

providenciadas por essa respeitável autoridade de polícia judiciária:

EXECUÇÃO FISCAL CDA ORIGEM

VALOR ATUAL EM

R$

VARA/EXEC.FISCAIS

MUNICIPAI

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S 001.1994.01306

4-6 E.94.000178-0 07.326980.91 445.991,31 1ª

001.1995.026355-0 1.94.320313.7 15.377340.0.08 257.328,90 1ª

001.1995.018313-01 1.94.315963-4 15.586856.97 120.494,16 2ª

001.1998.022643-1 1.98.392115.4 15.37735.7.08 373.975,36 2ª

001.2001.011928-1 E.00.000829-0 15.041911.99 249.247,31 2ª

001.2001.043014-9 1.00.489797.6 15.37736.3.08 239.369,48 2ª

001.2005.196786-4

00.05.002959-2 15.37733.4.08 163.013,89 2ª

T O T A L EM R$ *** ***

1.849.420,41 ***

Conforme atestam os Pareceres Técnicos elaborados pela

EMPREL – Empresa Municipal de Informática, “inexistem eventos capazes de justificar a emissão de comprovantes de quitação para a referida CDA”,

muito embora cada executivo fiscal tenha sido extinto com base em uma petição

e um comprovante de quitação protocolados nos autos respectivos em nome da

Fazenda Municipal, esses recursos jamais ingressaram nos cofres municipais,

vez que nenhum pagamento foi, em verdade, efetuado.

Consultado pelo Procurador Judicial, Dr. JOSÉ RICARDO VAREJÃO (Ofício nº 42/2009-PFM), o STDA, Setor de Dívida Ativa, responsável

pela geração das petições de extinção e dos respectivos comprovantes de

pagamentos no âmbito da Procuradoria da Fazenda Municipal do Recife,

informou que tanto o modelo de petição, quanto o comprovante de pagamento

utilizados para lastrear os pedidos de extinção dos processos não

correspondiam aos utilizados por aquele Setor, em sua rotina, o que é facilmente

percebido, já que tanto um – comprovante de quitação -, quanto a outra –

petição – são geradas a partir de um programa disponibilizado pela EMPREL.

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Por meio da Comunicação Interna nº 05/2009, o Chefe do

STDA, servidor ELIAS LAPENDA LABANCA, aponta inúmeros diferenciais

entre o modelo oficial utilizado pela Procuradoria da Fazenda Municipal do

Recife para requerer a extinção dos processos efetivamente pagos e aquele

criado pelo falsário ou falsários, para obter as extinções dos processos, sem o

pagamento correspectivo.

Dentre os diferenciais, o STDA aponta, por exemplo, que

nos modelos padronizados não há a subscrição do nome e matrícula do

Procurador que irá assinar a petição, isto porque, repita-se, essas petições são

geradas pela EMPREL e distribuídas aos lotes para todos os Procuradores da

PFM e que apõem suas assinaturas sobrepostas aos respectivos carimbos.

Além disso, na petição padrão, utiliza-se espaço 1,5, já na

falsificação, espaço simples. Tipo de fonte, tabulação, a numeração da petição,

todos esses elementos estão postos de forma totalmente diversa no modelo

padrão e nas petições falsificadas.

A falsificação se mostra mais grosseira ainda quando se

observa o “comprovante de quitação”. Conforme se pode observar na

documentação acostada, o documento oficial aponta o número completo da

Certidão de Dívida Ativa, a Vara onde corre a execução fiscal, o valor pago e o

banco onde foi efetuado o pagamento, dados que não se encontram

consignados no “comprovante” falso.

Por fim, é relevantíssimo destacar que as assinaturas

utilizadas para subscrever as petições de extinção NÃO FORAM reconhecidas

como autênticas pelo Procurador Judicial, Dr. HUMBERTO CABRAL VIEIRA DE MELLO, cujo nome, matrícula funcional e inscrição na OAB/Pe foram

utilizados pelo falsário ou falsários para dar ares de veracidade a seu golpe

milionário.

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Contrariamente a isso, afirma o Procurador, Dr. Humberto Cabral Vieira de Mello: “Embora semelhante a rubrica por mim utilizada, denota-se pela irregularidade do traço tratar-se de falsificação” (grifamos),

isso referindo-se à assinatura lançada nos autos da ação nº 001.1995.018313-0,

para a qual foi exarada a sentença nº 1186/06, donde se extrai que o executado

teria satisfeito a obrigação tributária, “conforme requerimento de extinção do processo formulado pelo Exequente”, o que, de antemão, já se percebe não

ser a expressão da verdade, pois jamais a Fazenda Municipal do Recife, por

qualquer de seus Procuradores Judiciais, requereu a extinção por pagamento

desses processos. E isso por um motivo muito simples: não foi feito qualquer

pagamento! Petições e assinaturas ali apostas não passam de falsificações

grosseiras detectáveis por qualquer leigo e o que é pior, a olho nu.

Ainda mais suspeito é o desaparecimento da Execução Fiscal nº 001.1995.018313-0 e que já está sendo objeto de uma ação de

Restauração de Autos, em trâmite na Segunda Vara dos Executivos Fiscais

Municipais, da qual é Chefe de Secretaria o Bel. ALFREDO GONSAGA RODRIGUES. Trata-se da Ação de Restauração de Autos nº 001.2009.125261-0, em cuja petição inicial, a Procuradora Judicial do Município,

Dra. MARIA HELENA DUARTE LIMA, já fazia consignar e advertir ao MM. Juiz

daquela Vara, Dr. JOSÉ SEVERINO BARBOSA, por meio da documentação

ora também acostada, da existência de “indícios de falsificação da petição de extinção do feito e do respectivo comprovante de quitação”, requerendo,

inclusive, a cientificação do Ministério Público para as providências pertinentes.

Diante do exposto, requer o MUNICIPIO DO RECIFE que

essa ínclita autoridade policial, ciente da gravidade dos fatos reportados na

presente notitia criminis e de que os prejuízos causados ao Erário Municipal do

Recife, pelo falsário ou falsários, é superior a UM MILHÃO E OITOCENTOS MIL REAIS, determine, incontinenti, a instauração do procedimento próprio, qual

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seja, o competente Inquérito Policial, de modo a apurar a materialidade e a

autoria dos fatos delineados na narrativa acima expendida e corroborados pela

documentação ora anexada, vez que presente a necessária justa causa para

sua instauração.

N. Termos,

P. Deferimento.

Recife, 05 de maio de 2010.

Noelia Lima Brito Procuradora Diretora da

Procuradoria da Fazenda Municipal

Mat. 37.778-5

OAB/Pe 16.261