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CENTRO FEDERAL DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA DE MINAS GERAIS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ESTUDOS DE LINGUAGENS
MESTRADO EM ESTUDOS DE LINGUAGENS
Convergência de mídias Uma análise da união de linguagens em notícias do Portal Uai
Belo Horizonte
2013
CENTRO FEDERAL DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA DE MINAS GERAIS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ESTUDOS DE LINGUAGENS
MESTRADO EM ESTUDOS DE LINGUAGENS
EMERSON CAMPOS GONÇALVES
Convergência de mídias Uma análise da união de linguagens em notícias do Portal Uai
Belo Horizonte 2013
EMERSON CAMPOS GONÇALVES
Convergência de mídias Uma análise da união de linguagens em notícias do Portal Uai
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Estudos de Linguagens (POSLING), do Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (CEFET-MG), como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Estudos de
Linguagens.
Orientadora: Profa. Dra. Ana Elisa Ferreira
Ribeiro
Belo Horizonte 2013
EMERSON CAMPOS GONÇALVES
Convergência de mídias Uma análise da união de linguagens em notícias do Portal Uai
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Estudos de Linguagens (POSLING) do Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (CEFET-MG), em setembro de 2013, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Estudos de Linguagens, aprovada pela Banca Examinadora constituída pelos professores:
____________________________________________________ Profa. Dra. Ana Elisa Ferreira Ribeiro – CEFET/MG (orientadora)
____________________________________________________ Profa. Dra. Giani David Silva – CEFET/MG
____________________________________________________ Prof. Dr. Carlos Frederico de Brito D’Andrea – UFMG
____________________________________________________ Profa. Dra. Geane Carvalho Alzamora – UFMG (suplente)
Avenida Amazonas, 5253 – Belo Horizonte, MG – 30.480-000 – Tel. (31) 3319-7139
iv
Dedico este trabalho à minha esposa Juliana, responsável pelo meu
renascimento como homem e pesquisador. Dedico ainda à minha mãe,
Eliana, e ao meu irmão, Junior, por todo o amor e incentivo. In
memoriam, ao meu pai, Jose Antonio Gonçalves, que sempre viverá
em seus ensinamentos, alguns deles presentes nas entrelinhas desta
dissertação.
v
AGRADECIMENTOS
OBRIGADO...
...DEUS, por me direcionar, com a intercessão de NS Aparecida, quando a vista estava turva
demais para enxergar o caminho óbvio a se seguir;
...MÃE, por ser uma protetora guerreira e sábia, que me educou e acreditou em mim mais do
que eu mesmo poderia, me banhando de ânimo com amor e incentivo incondicionais
em todos os momentos da minha vida;
...PAI (IN MEMORIAM), por estar comigo sempre, desafiando o impossível para me guiar com
seu amor;
...JUNIOR, meu melhor amigo, irmão e, na maioria das vezes, mestre e pai, pelos conselhos
que me acompanharam desde os primeiros rabiscos na infância até o mestrado no
CEFET-MG, instituição na qual fomos companheiros;
...PROFA. DRA. ANA ELISA FERREIRA RIBEIRO, por aceitar o desafio de orientar um
mestrando dividido entre o amor pelo jornalismo e o antigo flerte com a academia,
compreendendo de forma materna minhas limitações. Suas contribuições foram
imprescindíveis para este trabalho e suas palavras certeiras para me lançar no
apaixonante caminho da pesquisa;
...AMIGOS DO CEFET, em especial Sr. Rafael Passos, Sra. Luana Cruz, Sr. Gilmar
Laignier, Sr. Pablo Guimarães e Sra. Carla Leite, companheiros muito estimados
nesta trajetória;
...DIÁRIOS ASSOCIADOS, pelo apoio na pesquisa, permitindo acesso ao material
necessário para o trabalho;
...FUNCIONÁRIOS E PROFESSORES DO POSLING, em especial Profa. Dra. Giani
David Silva, Profa. Dra. Ana Maria Nápoles Villela e Prof. Dr. Rogério Barbosa da
Silva, pelas contribuições valiosas para a concretização deste estudo;
vi
...PROFESSORES PARECERISTAS, Prof. Dr. Carlos D’Andréa, Profa. Dra. Geane
Alzamora e Prof. Dr. Vicente Parreiras, pelo olhar crítico e pelas dicas valiosas para
a realização da pesquisa em convergência de mídias;
...e, especialmente, MUITO OBRIGADO JULIANA, minha linda esposa. Mais do que a
principal incentivadora, você foi meu norte, o maior exemplo de dedicação e
superação pelos estudos que poderia ter. Obrigado pelo companheirismo e por todo
apoio nesta caminhada. Seu amor me fez renascer, minha querida Profa. Dra. Juliana
Barbosa Coitinho Gonçalves.
vii
“Mestre não é quem sempre ensina, mas quem, de repente, aprende”.
João Guimarães Rosa
viii
RESUMO
Presente na mentalidade e nos projetos empresariais dos grandes grupos brasileiros de
comunicação, o processo de convergência de mídias ainda é visto de maneira muito
simplificada, sobretudo nas redações de jornalismo, sendo resumido, na maioria das vezes, a
uma mera sinergia nas relações de trabalho e de produção do conteúdo. Entre outros fatores,
pode-se dizer que tal simplificação acontece por causa do caráter multifacetado do processo,
que pode ser associado tanto às transformações tecnológicas, quanto mercadológicas ou de
linguagem. Entre os principais estudiosos do tema estão os pesquisadores Henry Jenkins, que
opta por observar a convergência predominantemente como um processo cultural, e Ramón
Salaverría, que tenta esgotar a análise de todas as vertentes do processo através de sucessivos
estudos de caso nas redações jornalísticas, dedicando, no entanto, menor atenção à linguagem.
Dado tal cenário, esta pesquisa aproveita as contribuições dos teóricos para analisar o
processo sob o prisma dos estudos de linguagem, face menos explorada do tema. Para isso, o
estudo se apoia, também, em discussões sobre Web 2.0 e hipertextualidade, avaliando,
qualitativamente, a experiência com a convergência de mídias que é desenvolvida no Portal
Uai, dos Diários Associados. Com tal fim, foi elaborado um modelo metodológico próprio,
passível de ser utilizado em novas pesquisas na área. O objetivo foi entender como a união de
linguagens originadas em modelos tradicionalmente distintos de produção e edição – rádio,
televisão e impresso – delineia uma narrativa jornalística convergente no portal de notícia e,
em que medida, essa narrativa convergente pode ser considerada nova. Ainda que ciente da
impossibilidade de generalização dos resultados obtidos com o estudo de caso, destacou-se,
ao fim do percurso, a aparente influência que é exercida pelo processo no veículo impresso e
uma predileção da editoria de Cultura como espaço para experimentação da linguagem
convergente, que ainda não pode ser considerada nova nas demais editorias observadas dentro
do Uai.
Palavras-chave: convergência de mídias, linguagem convergente, jornalismo,
hipertextualidade, Web 2.0, interatividade
ix
ABSTRACT
The process of the media convergence, present in the mentality and entrepreneurial
projects of large Brazilian communication groups, is still seen in a very simplified way,
especially in journalism newsrooms, being summarized, most often, as a mere synergy in
labor relations and content production. Among other factors, it may be said that such
simplification occurs because of the multifaceted nature of the process that can be associated
with technological, market or language transformations. Among the main researchers are
Henry Jenkins, who chooses to observe the convergence predominantly as a cultural process,
and Ramón Salaverría, who tried to exhaust the analysis of all aspects of the process through
successive case studies in newsrooms, devoting, however, less attention to language. Given
such scenario, this research utilizes the contributions of theorists to analyze the process
through the prism of language studies, part less explored of this theme. For this, the study is
also based in discussions about Web 2.0 and hypertextuality, assessing, qualitatively, the
experience with the media convergence that is developed in Portal Uai, of Diários Associados.
To this purpose, a methodological model was designed, which can be used in further
researches in the area. The goal was to understand how the union of languages, originated in
traditionally distinct models of production and editing - radio, television and newspaper,
outlines a convergent journalistic narrative on the news portal and how this narrative can be
considered new.
Keywords: media convergence, convergence language, journalism, hypertextuality, Web 2.0, interactivity
x
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 – [ESQUEMA] Enquanto nos anos 2000, a internet exercia o papel de integrar os outros veículos, com a concretização da convergência de mídias ela passa a ser protagonista no processo ............................................................................................................................... 43
Figura 2 – [PRINT DZAÍ] Dzaí já nasceu com a interface ultrapassada. Na imagem, modelo de blog oferecido com layout que remete ao ano de 2000 ....................................................... 71
Figura 3 – [PRINT ÁREAH] Site AreaH replica conteúdos em diferentes portais. No destaque os portais iBahia, Uol/Band e Uai ............................................................................................ 73
Figura 4 – [ESQUEMA] Associações entre características do conteúdo multimidiático com a hipertextualidade e a interatividade levam ao surgimento do conteúdo convergente .............. 77
Figura 5 – [ESQUEMA] Divisão das etapas de produção (A, B, C e D) que permitem a construção de uma narrativa convergente em diferentes níveis ............................................... 79
Figura 6 – [PRINT EM.COM.BR] Referência à rede social Dzaí é destacada na sessão de comentários ............................................................................................................................... 83
Figura 7 – [PRINT EM.COM.BR] Recurso de “antes e depois” fornece certo grau, ainda que mínimo, de interatividade ........................................................................................................ 86
Figura 8 – [PRINT EM.COM.BR] Formato com foto horizontal antes do texto escrito ainda é o mais comum no jornalismo on-line ....................................................................................... 88
Figura 9 – [PRINT EM.COM.BR] Box com notícias relacionadas à esquerda do texto é a forma mais comum de hipertextualidade presente no corpo das notícias observadas no em.com.br ................................................................................................................................. 91
Figura 10 – [PRINT DIVIRTA-SE] Ao passar ponteiro do mouse sobre links presentes no corpo do texto, portal abre publicidades relacionadas com as palavras-chave ........................ 94
Figura 11 – [PRINT EM.COM.BR] Relacionamento de notícias presente em box à esquerda e no fim da reportagem .............................................................................................................. 106
Figura 12 – [PRINT EM.COM.BR] Infográfico incorporado à notícia ................................. 109
Figura 13 – [PRINT DIVIRTA-SE] Chamada “assista ao trailer” faz ponte entre texto escrito e oral ....................................................................................................................................... 118
Figura 14 – [PRINT VRUM] Foto cumpre propósito na reportagem .................................... 123
Figura 15 – [PRINT EM.COM.BR] Notícia traz o endereço eletrônico dos sites com editais, mas não faz hiperlinks em 46 itens ......................................................................................... 130
xi
Figura 16 – [PRINT DIVIRTA-SE] Campo II bem equilibrado com o uso das imagens, conteúdos multimidiáticos e hipertextos ................................................................................ 135
Figura 17 – [PRINT ALTEROSA] Vídeo começa com a apresentadora do telejornal de costas para a tela ................................................................................................................................ 138
Figura 18 – [PRINT ALTEROSA] Elemento “estranho” é sinal de shovelware ................... 153
Figura 19 – [PRINT VRUM] Galeria de imagens como recurso multimidiático .................. 156
xii
LISTA DE GRÁFICOS E QUADROS
Gráfico 1 – Unificação de rotinas e transformações tecnológicas são as características mais associadas à definição de convergência de mídias pelos jornalistas entrevistados (CAMPOS, 2012). ........................................................................................................................................ 37
Gráfico 2 – Transformação do conteúdo é pouco citada em questionário aplicado aos jornalistas do Portal Uai (CAMPOS, 2012) ............................................................................ 38
Quadro 1 – Salaverría aponta os níveis de convergência pelos quais passou a primeira redação a implementar o processo no globo (SALAVERRÍA; NEGREDO, 2008) .............................. 41
Quadro 2 – Tarefas dos jornalistas foram multiplicadas, sobretudo nos últimos dez anos (SALAVERRÍA; NEGREDO, 2008). ...................................................................................... 44
Quadro 3 – Hipertextualidade, multimidialidade e interatividade colocam portais como protagonistas no contexto convergente (SALAVERRÍA; NEGREDO, 2008) ........................ 48
Quadro 4 – Portais e sites abrigados no Uai em janeiro de 2013 ............................................. 70
Quadro 5 – Modelo para análise de marcas da convergência nas notícias publicadas em portais ....................................................................................................................................... 80
Quadro 6 – Identificação da Reportagem 1 .............................................................................. 82
Quadro 7 – Identificação da Reportagem 2 .............................................................................. 85
Quadro 8 – Identificação da Reportagem 3 .............................................................................. 87
Quadro 9 – Identificação da Reportagem 4 .............................................................................. 89
Quadro 10 – Identificação da Reportagem 5 ............................................................................ 90
Quadro 11 – Identificação da Reportagem 6 ............................................................................ 92
Quadro 12 – Identificação da Reportagem 7 ............................................................................ 93
Quadro 13 – Identificação da Reportagem 8 ............................................................................ 95
Quadro 14 – Identificação da Reportagem 9 ............................................................................ 97
Quadro 15 – Identificação da Reportagem 10 .......................................................................... 99
Quadro 16 – Identificação da Reportagem 11 ........................................................................ 101
Quadro 17 – Identificação da Reportagem 12 ........................................................................ 104
Quadro 18 – Identificação da Reportagem 13 ........................................................................ 106
xiii
Quadro 19 – Identificação da Reportagem 14 ........................................................................ 108
Quadro 20 – Identificação da Reportagem 15 ........................................................................ 110
Quadro 21 – Identificação da Reportagem 16 ........................................................................ 111
Quadro 22 – Identificação da Reportagem 17 ........................................................................ 113
Quadro 23 – Identificação da Reportagem 18 ........................................................................ 115
Quadro 24 – Identificação da Reportagem 19 ........................................................................ 117
Quadro 25 – Identificação da Reportagem 20 ........................................................................ 119
Quadro 26 – Identificação da Reportagem 21 ........................................................................ 121
Quadro 27 – Identificação da Reportagem 22 ........................................................................ 122
Quadro 28 – Identificação da Reportagem 23 ........................................................................ 125
Quadro 29 – Identificação da Reportagem 24 ........................................................................ 127
Quadro 30 – Identificação da Reportagem 25 ........................................................................ 128
Quadro 31 – Identificação da Reportagem 26 ........................................................................ 129
Quadro 32 – Identificação da Reportagem 27 ........................................................................ 131
Quadro 33 – Identificação da Reportagem 28 ........................................................................ 133
Quadro 34 – Identificação da Reportagem 29 ........................................................................ 134
Quadro 35 – Identificação da Reportagem 30 ........................................................................ 137
Quadro 36 – Identificação da Reportagem 31 ........................................................................ 138
Quadro 37 – Identificação da Reportagem 32 ........................................................................ 140
Quadro 38 – Identificação da Reportagem 33 ........................................................................ 141
Quadro 39 – Identificação da Reportagem 34 ........................................................................ 143
Quadro 40 – Identificação da Reportagem 35 ........................................................................ 144
Quadro 41 – Identificação da Reportagem 36 ........................................................................ 145
Quadro 42 – Identificação da Reportagem 37 ........................................................................ 146
xiv
Quadro 43 – Identificação da Reportagem 38 ........................................................................ 147
Quadro 44 – Identificação da Reportagem 39 ........................................................................ 149
Quadro 45 – Identificação da Reportagem 40 ........................................................................ 150
Quadro 46 – Identificação da Reportagem 41 ........................................................................ 151
Quadro 47 – Identificação da Reportagem 42 ........................................................................ 152
Quadro 48 – Identificação da Reportagem 43 ........................................................................ 154
Quadro 49 – Identificação da Reportagem 44 ........................................................................ 155
Quadro 50 – Identificação da Reportagem 45 ........................................................................ 158
Quadro 51 – Identificação da Reportagem 46 ........................................................................ 160
Quadro 52 – Identificação da Reportagem 47 ........................................................................ 161
Quadro 53 – Identificação da Reportagem 48 ........................................................................ 162
Quadro 54 – Identificação da Reportagem 49 ........................................................................ 163
Quadro 55 – Identificação da Reportagem 50 ........................................................................ 164
Quadro 56 – Identificação da Reportagem 51 ........................................................................ 165
Quadro 57 – Identificação da Reportagem 52 ........................................................................ 166
Quadro 58 – Identificação da Reportagem 53 ........................................................................ 167
Quadro 59 – Identificação da Reportagem 54 ........................................................................ 168
Quadro 60 – Identificação da Reportagem 55 ........................................................................ 169
Quadro 61 – Níveis de convergência nas reportagens analisadas e índice remissivo ............ 170
Quadro 62 – Reportagens que apresentaram narrativa convergente ...................................... 170
Gráfico 3 – Nível de convergência nas reportagens observadas no em.com.br ..................... 171
Gráfico 4 – Nível de convergência nas reportagens observadas no Vrum ............................. 171
Gráfico 5 – Nível de convergência nas reportagens observadas na Alterosa ......................... 171
Gráfico 6 – Nível de convergência nas reportagens observadas no Divirtase- ...................... 171
xv
Gráfico 7 – Comparação do nível de convergência (em porcentagem) entre os quatro veículos ................................................................................................................................................ 172
Gráfico 8 – Comparação do nível de convergência (em porcentagem) entre os quatro veículos ................................................................................................................................................ 172
1
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 5
1.1 CRÔNICA: O PRIMEIRO DIA ........................................................................................... 5
1.2 CONVERGÊNCIA DE MÍDIAS: MERA SINERGIA? ...................................................... 6
1.3 DO CIMENTO AO CONTEÚDO: FOCO NA NARRATIVA ........................................... 7
1.4 UM TEMA, MUITAS FACES E DEFINIÇÕES ................................................................. 7
1.5 DISCUSSÕES NO POSLING ............................................................................................. 9
1.6 PONTO DE PARTIDA PARA ESTUDAR A CONVERGÊNCIA ................................... 10
1.7 MODELO DE ANÁLISE: O ESTUDO DE CASO ........................................................... 11
1.8 A FONTE DO ESTUDO DE CASO: PORTAL UAI ........................................................ 12
1.9 É TEMPO DE SE QUEBRAR O PARADIGMA .............................................................. 13
PARTE I: revisão teórica ....................................................................................................... 16
CAPÍTULO I: hipertexto, Web 2.0 e linguagens ................................................................. 17
I.1 O FUTURO DA INTERNET .............................................................................................. 17
I.2 DISCUSSÕES SOBRE HIPERTEXTO ............................................................................. 18 I.2.1 Primeiras definições de Chartier e Lévy ...................................................................... 18 I.2.2 Americanos e o início da história ................................................................................. 19 I.2.3 O hipertexto de Lévy na era pós-massiva ..................................................................... 20
I.3 DISCUSSÕES SOBRE WEB 2.0 ....................................................................................... 21 I.3.1 O poder da palavra versus o poder da criptografia ....................................................... 21 I.3.2 O futuro da internet para Lévy e Lemos ....................................................................... 22
I.3.2.1 Teoria do Estado Transparente ............................................................................. 23 I.3.3 O outro lado: o futuro nebuloso de Assange ................................................................ 24
I.3.3.1 Mensagem para os latino-americanos ................................................................... 25 I.3.3.2 Apocalipse e solução na linguagem matemática ................................................... 25 I.3.3.3 O contraponto fundamental dos Cypherpunks ...................................................... 27
I.3.4 Outros estudos sobre Web 2.0 ...................................................................................... 27 I.3.5 O meio-termo entre Lemos e Assange ......................................................................... 29
I.4 LINGUAGENS ELETRÔNICAS: RÁDIO E TV .............................................................. 30
2
I.4.1 Características do texto na televisão ............................................................................. 30 I.4.1.1 Instantaneidade ...................................................................................................... 30 I.4.1.2 Sonoridade ............................................................................................................. 32 I.4.1.3 Texto associado às imagens ................................................................................... 33 I.4.1.4 Linguagem coloquial correta ................................................................................. 34
I.4.5 O texto no Rádio ........................................................................................................... 34
CAPÍTULO II: debates sobre convergência de mídias ....................................................... 36
II.1 DEFINIÇÕES DENTRO DA REDAÇÃO ........................................................................ 36
II.2 DEBATE ENTRE SALAVERRÍA E JENKINS ............................................................... 39
II.3 ESTUDOS DE SALAVERRÍA E NEGREDO ................................................................. 39 II.3.1 Em busca de definições ............................................................................................... 41
II.3.1.1 Dimensão tecnológica .......................................................................................... 42 II.3.1.2 Dimensão empresarial .......................................................................................... 43 II.3.1.3 Dimensão profissional .......................................................................................... 44 II.3.1.4 Dimensão dos conteúdos ...................................................................................... 45
II.3.2 Integração e a convergência de mídias ........................................................................ 45 II.3.3 O conceito de cross-media para Salaverría (multiplataforma ou XMA) .................... 46 II.3.4 Multimidialidade ......................................................................................................... 47
II.3.4.1 Convergência é fator necessário .......................................................................... 48 II.3.5 Escalabilidade ............................................................................................................. 48 II.3.6 Shovelware .................................................................................................................. 49 II.3.7 Repurposing (alteração de propósito) ......................................................................... 50 II.3.8 Modalidades de convergência ..................................................................................... 51
II.3.8.1 Convergência a dois (papel + TV) ....................................................................... 51 II.3.8.2 Convergência a três (papel + online + TV) ......................................................... 51 II.3.8.3 Convergência a quatro (papel + online + TV + rádio) ....................................... 51
II.3.9 Justaposição, integração e repetição............................................................................ 52
II.4 ESTUDOS DE JENKINS E HERANÇA DE MCLUHAN ............................................... 52 II.4.1 A teoria de Marshall McLuhan ................................................................................... 53
II.4.1.1 Aldeia global: o centro da teoria ......................................................................... 53 II.4.1.2 Coro a McLuhan ................................................................................................... 55 II.4.1.3 Aldeia ou teia global?........................................................................................... 55
II.4.2 Teoria de Henry Jenkins .............................................................................................. 55 II.4.2.1 Paradigma da convergência ................................................................................. 56 II.4.2.2 Sistemas de distribuição x meios de comunicação ............................................... 57 II.4.2.3 Cultura participativa e inteligência coletiva ........................................................ 57 II.4.2.4 O canivete suíço e a falácia da caixa-preta ......................................................... 58 II.4.2.5 Consumidores dentro da convergência de mídias ................................................ 59 II.4.2.6 Narrativa transmídia ou transmidiática (transmedia storytelling) ...................... 60
3
II.4.2.7 Conceito de transmídia e aplicação no jornalismo .............................................. 62 II.4.2.8 Por que não cross-media ou multimidialidade?................................................... 63
PARTE II: metodologia e análise .......................................................................................... 64
CAPÍTULO III: metodologia e modelo de análise .............................................................. 65
III.1 ANÁLISE QUALITATIVA ATRAVÉS DO ESTUDO DE CASO ................................ 65
III.2 RECORTES DENTRO DO PORTAL ............................................................................. 68 III.2.1 Recorte temporal ........................................................................................................ 68 III.2.2 Recorte de sites .......................................................................................................... 69
III.2.2.1 Sites da casa: primeiros descartes ...................................................................... 70 III.2.2.2 Dzaí: rede social? ............................................................................................... 70 III.2.2.3 Sites parceiros ..................................................................................................... 71 III.2.2.4 Sites carros-chefes: os portais ............................................................................ 72
II.2.3 Recorte de contexto ..................................................................................................... 75
III.3 MODELO METODOLÓGICO PARA A ANÁLISE ...................................................... 76 III.3.1 Quadro para análise e modelo organizado em níveis de convergência ..................... 77
CAPÍTULO IV: análise qualitativa ...................................................................................... 81
IV.1 Primeira rodada de análise – 21 de janeiro de 2013 ......................................................... 82 IV.1.1 em.com.br .................................................................................................................. 82 IV.1.2 Divirta-se ................................................................................................................... 93 IV.1.3 Alterosa ...................................................................................................................... 97 IV.1.4 Vrum ....................................................................................................................... 101 IV.1.5 Resumo da primeira rodada ..................................................................................... 103
IV.2 Segunda rodada de análise – 05 de fevereiro de 2013 ................................................... 104 IV.2.1 em.com.br ................................................................................................................ 104 IV.2.2 Divirta-se ................................................................................................................. 115 IV.2.3 Alterosa .................................................................................................................... 119 IV.2.4 Vrum ........................................................................................................................ 122 IV.2.5 Resumo da segunda rodada ..................................................................................... 124
IV.3 Terceira rodada de análise – 20 de fevereiro de 2013 .................................................... 125 IV.3.1 em.com.br ................................................................................................................ 125 IV.3.2 Divirta-se ................................................................................................................. 134 IV.3.3 Alterosa .................................................................................................................... 138 IV.3.4 Vrum ........................................................................................................................ 141 IV.3.5 Resumo da terceira rodada....................................................................................... 142
IV.4 Quarta rodada de análise – 07 de março de 2013 ........................................................... 143
4
IV.4.1 em.com.br ................................................................................................................ 143 IV.4.2 Divirta-se ................................................................................................................. 150 IV.4.3 Alterosa .................................................................................................................... 152 IV.4.4 Vrum ........................................................................................................................ 155 IV.4.5 Resumo da quarta rodada. ....................................................................................... 157
IV.5 Quinta rodada de análise – 22 de março de 2013 ........................................................... 158 IV.5.1 em.com.br ................................................................................................................ 158 IV.5.2 Divirta-se ................................................................................................................. 164 IV.5.3 Alterosa .................................................................................................................... 166 IV.5.4 Vrum ........................................................................................................................ 168 IV.5.5 Resumo da quinta rodada........................................................................................ 169
CONCLUSÕES E PERSPECTIVAS ............................................................................... 1733
BIBLIOGRAFIA .................................................................................................................. 177
5
1 INTRODUÇÃO
1.1 CRÔNICA: O PRIMEIRO DIA
Lembro-me bem da primeira vez que pisei numa redação de web. O estranhamento –
meu e dos demais jornalistas presentes no cenário – durou pouco menos de um minuto. O
encantamento nem teve tempo para acontecer. Não naquele dia. Antes que conseguisse
descobrir quem era quem já estava a bordo de um computador velho, de frente para um
monitor exageradamente grande, escrevendo e fazendo para anteontem jornalismo policial a
distância, sem conseguir, contudo, superar ou esconder o espanto trazido por uma espécie de
fetiche imposto pela velocidade que dominava todos ali. Logo percebi que tão cedo não teria
tempo para sair à rua e muito menos para entender onde a tal convergência de mídias
entraria naquele frenesi desenfreado por conteúdo e cliques. A verdade é que – sem nenhum
humor negro – sentia que o deadline estava morto há mais tempo que as vítimas dos crimes
que apurava. Talvez, até mesmo que o próprio Chatô. Este, aliás, ia ficar boquiaberto se
tivesse visto pelos meus olhos, no start-up do século XXI, a empresa que criou. É que
enquanto o jovem Assis Chateaubriand, ainda pelo ido de 1900, precisou de semanas até
conseguir publicar notas sobre “fatos desimportantes” na Gazeta do Norte (primeiro jornal
pelo qual foi contratado), um repórter cheirando a fraldas - e focas - tem grandes chances de
conseguir uma manchete já no primeiro dia, em algum dos maiores portais dos Diários
Associados, podendo ser lido por dezenas de milhares de pessoas num clique. Isso, claro,
porque a equipe é mirrada em praticamente todos os sites de notícia do país e cada novo par
de mãos no teclado é sempre muito bem-vindo. Mas, sobretudo, porque a velocidade da
internet tira o tempo de pensar, de planejar, de preparar e treinar um novo profissional ou de
discutir um processo que emerge. Não deveria, mas tira. E assim caminha o jornalismo
moderno (com o perdão do músico pela paródia ruim): com passos de guepardo e em
altíssima velocidade. Ele muda e se renova antes que possa ser discutido. Transforma-se em
relato do longe que vive aguardando mais informações, em texto de uma fonte só, em
reportagem colaborativa construída em coautoria com o leitor, em convergência de mídias,
em matemática da semântica. E nos atropela com a velocidade do felino e a sutileza de um
elefante de saltos, antes que possamos soltar o grito de susto do primeiro dia. Por isso, é
preciso se distanciar da redação e do correr do tempo peculiar que ela impõe para observá-
la. É urgente parar as prensas e os administradores de portais antes que o imediatismo
6
persevere e vença. E pedir socorro à academia, para que seja possível o encanto, mas nunca
o vendar dos olhos.
1.2 CONVERGÊNCIA DE MÍDIAS: MERA SINERGIA?
Presente na mentalidade e nos projetos empresariais dos grandes grupos brasileiros de
comunicação, o processo de convergência de mídias ainda é visto de maneira muito
simplificada e superficial pelos profissionais do jornalismo, sendo reduzido, na maioria das
análises, a uma mera sinergia nas tarefas realizadas dentro das redações.
Entre outras explicações, pode-se dizer que a simplificação acontece porque o ritmo
imposto pelo webjornalismo é alucinante e a equipe, de maneira inversamente proporcional,
muito reduzida. Não sobra tempo para discutir mudanças no processo ou entendê-lo, já que a
dedicação é integral ao fazer. Dessa maneira, embora o texto jornalístico seja uma construção
intelectual, a mecânica impera seguindo a lógica da pirâmide invertida1, as exigências do
mercado e fomentando, inevitavelmente, uma breve alusão ao pensamento heideggeriano,
segundo o qual a técnica surge como “a resposta líquida e certa para os problemas aos quais
não meditamos ou sequer formulamos mais” (POSSAMAI, 2010)2.
A crônica que abre esta pesquisa traz realidade semelhante ao recordar o primeiro dia
do autor como jornalista em um portal de notícias, ilustrando as angústias que a rotina
acelerada e o frenesi por cliques trazem. Em traços gerais, a percepção é de que os processos
se atropelam e a ausência – ou insipiência – de discussões dentro das redações sobre a
linguagem que emerge na convergência de mídias – transformação que é, em sua essência,
complexa e multifacetada – pode levar não somente ao colapso/fracasso do modelo aplicado
em determinados grupos de jornalismo, como, principalmente, ao surgimento de uma visão
mecanicista, na qual a técnica (ou avanço tecnológico) seria a resposta para um processo que
tem como principal produto a construção de uma narrativa. É a produção intelectual e
linguística resumida a computadores e redes móveis.
1 Modelo de construção do texto informativo que organiza as informações desde a mais importante até a menos relevante. A origem da pirâmide invertida está na Guerra Civil norte-americana (1861-1865), mas foi no fim do século XIX que o recurso se tornou uma técnica redacional (TRAQUINA, 2004).
2 Tal constatação instiga esta pesquisa, mas fica a ressalva de que a teoria do filósofo alemão Martin Heidegger (1889 – 1976) não serve de fundamentação, nem é discutida durante o trabalho. É impreterível que o foco seja mantido nas discussões sobre convergência de mídias e linguagem, com um recorte centralizado no tema.
7
1.3 DO CIMENTO AO CONTEÚDO: FOCO NA NARRATIVA
Entre as simplificações “físicas” (ou mecânicas) feitas pelos jornalistas é comum,
inclusive, associar o êxito futuro da convergência à construção de um novo modelo de news
room3 que consiga incorporar os setores que atuam nas diversas etapas de produção da notícia
para diferentes veículos. Mas, lembremos: informação ainda é o motivo de ser e a matéria-
prima da imprensa e essa não é construída com tijolos, cimento e areia. Levante um prédio e
ele será útil, mas não escreverá textos. A questão é que, mais do que reorganizar o espaço
físico das editorias de um jornal e unificar forças de trabalho, a produção de trechos de uma
reportagem em diferentes formatos (áudio, vídeo, texto e foto) que é condicionada pela
convergência de mídias e a veiculação desses em um único ambiente – a internet – transforma
a construção do discurso jornalístico com a união de linguagens tradicionalmente distintas,
fecundando o surgimento de uma nova (ou, pelo menos, modificada) narrativa, que herda
características dos meios de origem – televisão, rádio, jornal impresso – e adquire marcas
próprias da web, como textos não lineares e conteúdos customizáveis e interativos, passíveis
de edição pelo público ou, pelo menos, de uma nova experiência de leitura.
1.4 UM TEMA, MUITAS FACES E DEFINIÇÕES
Observando o processo de convergência a partir dos principais estudos realizados
sobre o tema, pode-se inferir outra justificativa bastante pertinente – talvez a principal
encontrada – para que a simplificação em sua análise ainda impere nas redações. Trata-se da
inexistência de um conceito único entre estudiosos (CORRÊA; CORRÊA, 2007;
SALAVERRÍA; NEGREDO, 2008; JENKINS, 2009; BARBOSA, 2009; RODRIGUES,
2009; MASSIP, et al, 2010; ZILLER, 2011) para definir convergência de mídias. Mais do que
propriamente por um debate conceitual, essa divergência acontece por causa do já citado
caráter multifacetado do processo.
3 A primeira experiência com uma news room (redação) integrada aconteceu no ano 2000, na Flórida (EUA), quando passaram a compartilhar o mesmo edifício o portal Tampa Bay Online, o jornal impresso The Tampa Tribune e a rede de televisão WFLA-TV (SALAVERRÍA; NEGREDO, 2008). Em Minas Gerais, a TV Record inaugurou redação semelhante em 2009, mas não foi realizada a integração com o jornal Hoje em Dia, que acabou vendido em setembro de 2013 para outro grupo empresarial. Os Diários Associados, por sua vez, projetam uma redação convergente desde 2008, mas atualmente as obras estão paradas.
8
Embora olhem por ângulos opostos para o tema, os pesquisadores Henry Jenkins e
Ramón Salaverría concordam que, antes de ser qualquer coisa, convergência de mídias “não é
uma coisa só”. Jenkins (2009, p.29) lembra que “convergência é uma palavra que consegue
definir transformações tecnológicas, mercadológicas, culturais e sociais, dependendo de quem
está falando”. Embora considere geral a definição apresentada pelo colega americano,
Salaverría faz coro ao lembrar as diversas faces pelas quais o processo se apresenta:
A convergência jornalística é um processo multidimensional que, facilitado pela implantação generalizada das tecnologias digitais de telecomunicação, afeta o âmbito tecnológico, empresarial, profissional e editorial dos meios de comunicação, propiciando uma integração de ferramentas, espaços, métodos de trabalho e linguagens anteriormente separados (tradução livre minha, SALAVERRÍA; NEGREDO, 2008, p.45) 4.
Das convergências sugeridas por Salaverría em seu estudo com Samuel Negredo, a
que surge com grande interesse para esta pesquisa é a de linguagens, uma das menos
exploradas pelos teóricos que estudam o tema. O próprio Jenkins, depois de constatar uma
característica multifacetada na convergência de mídias, opta por estudá-la,
predominantemente, como um processo cultural. Já Salaverría escolhe observá-la pelo ponto
de vista jornalístico e busca esgotar a análise de todas as etapas que constata no processo,
através de sucessivos estudos de caso, para tentar a aproximação com um conceito único.
Porém, a maioria das abordagens do pesquisador dedica grande atenção aos processos
produtivos e até mercadológicos, restando menor espaço à linguagem. É certo que ambos,
ainda que em correntes opostas, trazem grande contribuição ao tirar o tema da simples
observação sinérgica – face que mais seduz as empresas e os jornalistas. No entanto, além de
ter em mente que convergência “não é somente a integração de redações” (tradução livre
minha, SALAVERRÍA; NEGREDO, 2008, p.16) 5, é preciso, também, sair da news room
para observá-la. É preciso vestir-se como consumidor da informação. Afinal, como reconhece
o próprio Salaverría, para o público, pouco importa ou aparece da integração física,
econômica e da sinergia dos processos de apuração e produção em uma reportagem. Aos
4 La convergencia periodística es un processo multidimensional, que, facilitado por la implantación generalizada de las tecnologías digitales de telecomunicación, afeta el ámbito tecnológico, empresarial, profesional y editorial de los medios de comunicación, propiciando una intergración de herramientas, espacios, métodos de trabajo y lenguajes anteriormente disgregados (SALAVERRÍA e NEGREDO, 2008, p.45).
5 No es solamente integración de redacciones (SALAVERRÍA e NEGREDO, 2008, p.16).
9
interagentes6, as mudanças mais perceptíveis estão no produto final, que surge com uma
linguagem transformada.
O produto final – o portal de notícias e seus conteúdos – é a ponta do processo que
atrai os olhares desta pesquisa e que motiva uma série de estudos, conduzidos à luz dos
estudos de linguagens, no Programa de Pós-Graduação em Estudos de Linguagens (Posling)
do Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (CEFET-MG).
1.5 DISCUSSÕES NO POSLING
Desde o surgimento do Posling, em janeiro de 2009, aproveitando o caráter
interdisciplinar, a riqueza e a diversidade proporcionadas pelas três linhas de pesquisa do
programa, pesquisadores com formação em outras graduações, que não a de Letras –
Comunicação Social (Publicidade e Jornalismo), Filosofia, Design, Sistemas de Informação,
História, Engenharias –, têm recorrido ao mestrado em Estudos de Linguagens para observar
por novo prisma matérias de outras ciências. Esse processo tem ocorrido, sobretudo, com pós-
graduandos oriundos da comunicação, em sua maioria jornalistas. Frequentemente, esses têm
se inserido na Linha II do programa, motivados pela possibilidade de analisar a “interferência
de novas tecnologias na produção de escrita e leitura” e, também, os textos midiáticos. É o
caso desta pesquisa, que encontra suporte na excelência da escola em trabalhos envolvendo o
desenvolvimento tecnológico – fator determinante na convergência de mídias – e se
fundamenta em imprescindíveis discussões linguísticas e midiáticas oferecidas pelo curso.
Entre os estudos de linguagem jornalística (midiática) que são realizados no CEFET-
MG – sobretudo com orientações da Profa. Dra. Ana Elisa Ribeiro, Profa. Dra. Giani David
Silva e Prof. Dr. Vicente Aguimar Parreiras –, destaca-se a pesquisa de mestrado já concluída
por Camila Gonzaga-Pontes, que deu origem à dissertação “Aguarde mais informações: uma
análise da webnotícia com base na releitura de estrutura da notícia de Teun van Dijk”. O
trabalho, defendido em 2012, analisa a influência da web no modo de organização global do
discurso da notícia factual. A pesquisa foi conduzida sob os critérios fundamentados por van
Dijk, que estudou a estrutura (temas e esquemas) da notícia impressa. Em sua dissertação, a
6 Alex Primo (2003) propõe o termo “interagente” para substituir a comum definição de “usuário” (ou “receptor”) que é dada aos consumidores da informação na Web 2.0. Para ele, é inadequado tratar esse público como quem apenas “usa” determinado conteúdo, uma vez que a era pós-massiva permite a interação e, até mesmo, intervenção na produção jornalística.
10
pesquisadora observa que ainda não há uma estrutura própria da notícia na web, apontamento
que surge, também, no artigo “Ler e recarregar a página: um exercício analítico sobre a
reescrita da webnotícia”, publicado em 2013 por Ana Elisa Ribeiro e Gonzaga-Pontes na
Revista Brasileira de Linguística Aplicada. As autoras observam que as mudanças
proporcionadas pela internet “talvez não tenham chegado a alterar, em sua essência, a
característica informativa do texto noticioso, sua estrutura temática ou sua composição, mas
influenciaram a forma como esse texto é produzido e publicado diante dos olhos do leitor”
(RIBEIRO; GONZAGA-PONTES, 2013). Tal constatação é testada novamente nesta
pesquisa que, reconhecendo a importância do diálogo e da continuidade dos estudos de
comunicação dentro do Posling, aproveita as conclusões obtidas por Gonzaga-Pontes (2012) e
amplia o foco ao observá-las sob o olhar da convergência de mídias.
1.6 PONTO DE PARTIDA PARA ESTUDAR A CONVERGÊNCIA
Como dito anteriormente, a face do processo que surge com maior interesse para esta
pesquisa é a linguagem. Tomando como ponto principal para a análise a “convergência na
tela”, ou seja, os produtos noticiosos que surgem na web como frutos de um processo
convergente anterior, este estudo encontra seu ponto de partida na discussão sobre a
construção da narrativa na internet a partir da hipertextualidade e da interatividade (Web 2.0),
condições consideradas necessárias para sua realização e seu entendimento.
Citado à exaustão em todos os trabalhos sobre o tema, como destaca Ana Elisa Ribeiro
(2006) em “Leituras sobre hipertexto: trilhas para o pesquisador”, o filósofo tunisiano Pierry
Lévy traz, em 1993, uma das mais famosas definições sobre a hipertextualidade. Para o
teórico, “tecnicamente, um hipertexto é um conjunto de nós ligados por conexões” (LÉVY,
1993, p.33). Os nós citados por Lévy podem ser palavras, páginas, imagens, gráficos e
sequências sonoras, sendo que estes itens não são ligados linearmente, mas sim em estrela, de
modo reticular. Em uma visão mais desatenta, a definição ainda embrionária – mas ainda
amplamente aceita – de Lévy, já bastaria para definir algo bastante semelhante ao material
convergente. No entanto, é preciso entender que a mera união de sons, imagens e textos por
hiperlinks criaria uma reportagem apenas hipertextual, e não convergente. Convergência
pressupõe ir além e unir linguagens. Pressupõe ainda unir, em algum grau, as diferentes
instâncias no processo comunicativo, o que ocorre com a presença da Web 2.0.
11
Em “O Futuro da internet: Em direção a uma ciberdemocracia planetária” – tradução
modificada de “Cyberdémocracie: Essai de Philosophie Politique” (LÉVY, 2002) –, André
Lemos (2010) lembra que o hipertexto ganha novo contexto dentro das discussões sobre as
novas mídias interativas pós-massivas, uma vez que, mais do que informativas, essas
funcionam como verdadeiras ferramentas de conversação. Seria a “mass self communication”
(ou “era da intercomunicação”), proposta pelo sociólogo Manuel Castells (2006). É na soma
dessa discussão sobre as mídias pós-massivas com a união de diferentes linguagens, a partir
do conceito preliminar de hipertexto proposto por Lévy, que finalmente se encontra o ponto
de partida para uma interpretação inicial do contexto tecnológico e social em que se insere e
funciona a convergência experimentada na tela.
Dado o cenário conceitual acima, para sua realização, esta pesquisa contou com um
“pontapé teórico” inicial (antes mesmo da revisão bibliográfica visando aos estudos de
convergência de mídias em si) dado pelas discussões sobre hipertextualidade (LÉVY, 1993;
LÉVY, 1996; CHARTIER, 2002; PRIMO, 2003; MARCUSCHI, 2005; RIBEIRO, 2006;
LEMOS; LÉVY, 2010) e Web 2.0 (PRIMO, 2003; COVRE, 2010; LEMOS; LÉVY, 2010;
D’ANDRÉA, 2011). Foi a partir dessa revisão imprescindível que a pesquisa pôde focar as
atenções na escolha do objeto e na busca de um modelo metodológico que permitisse avaliar
as características que compõe a construção da linguagem na convergência de mídias.
1.7 MODELO DE ANÁLISE: O ESTUDO DE CASO
Para verificar o processo de convergência de mídias olhando diretamente através da
linguagem, esta pesquisa optou por seguir Salaverría e realizar um estudo de caso,
descartando, porém, as outras faces do tema (empresarial, econômica), também abordadas
pelo autor.
Apresentado no 5º Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo, da SBPJor, o
artigo “Convergência de mídias: primeiras contribuições para um modelo epistemológico e
definição de metodologias de pesquisa”, elaborado por Elizabeth Saad Corrêa e Hamilton
Luís Corrêa (2007), propõe discussões sobre as metodologias de pesquisas mais adequadas
para o desenvolvimento de trabalhos científicos abordando a convergência de mídias no
jornalismo.
As reflexões que buscamos na literatura destacam o forte vínculo do sub-campo das novas mídias à observação empírica e à busca de fertilização teórica em outros campos correlatos. Fenômenos de jornalismo digital se dão primordialmente no
12
próprio interagir entre aparatos e suportes, protagonistas comunicantes e interagentes. Tais fenômenos se constroem a partir da experimentação que a criatividade humana imprime no próprio espaço de comunicação e sociabilidade. (CORRÊA; CORRÊA, 2007, p. 7).
A partir da ideia de que os computadores e a internet são elementos determinantes e o
próprio espaço de experimentação/configuração da convergência, Corrêa e Corrêa recorrem a
José Luiz Braga e propõem o estudo de caso como modelo mais adequado. Para os autores, a
observação dos processos de convergência por meio de uma sucessão de estudos de caso (e, a
partir deles, a aproximação entre teoria e prática), é a alternativa mais viável para atingir o
resultado esperado. “Processos comunicacionais não são coisas fechadas em si mesmas, mas
objeto de observação caso a caso” (CÔRREA; CÔRREA, 2007, p.8), concluem. Foi a partir
dessa definição que esta pesquisa recortou as inúmeras possibilidades de estudo da linguagem
convergente, focando em um só caso: o experimentado pelos veículos dos Diários Associados
dentro do Portal Uai <www.uai.com.br>.
1.8 A FONTE DO ESTUDO DE CASO: PORTAL UAI
Na maior parte dos grupos brasileiros de comunicação, o processo de convergência de
mídias faz parte apenas do discurso empresarial ou foi reduzido a uma mera sinergia nas
tarefas da redação com acúmulo de funções pelos jornalistas. Ainda são raros os casos no
Brasil onde se observa de maneira efetiva a construção desse processo. Entre as empresas que
já acenam para uma integração na tela, podemos citar os Diários Associados (DA), grupo
fundado pelo jornalista Assis Chateaubriand, em 1924, e que conta com portais de notícia em
cinco estados brasileiros, além do Distrito Federal. Em Minas Gerais, embora a integração das
diferentes redações do DA ainda não aconteça, o modelo de negócio da empresa prevê a união
de conteúdos da TV Alterosa, Jornal Estado de Minas e Rádio Guarani na tela do Portal Uai, o
maior e mais antigo site de notícias do Estado – fundado em 1996, o veículo conta,
atualmente, com uma média mensal de 100 milhões de pageviews7.
7 Número de acessos registrados por um site. Não engloba o total de pessoas que visitaram o portal, mas, sim, o número de vezes que ele foi acessado (GOOGLE ANALYTCS, 2012). Atualmente, critérios como tempo médio de permanência também têm sido utilizados como medidor importante da audiência, mas os pageviews conquistados seguem como o principal deles.
13
O projeto convergente almejado pelos Diários Associados, bem como a proximidade e
relevância do portal, foram fatores determinantes para a escolha do veículo como fonte para a
realização do Estudo de Caso que nutre esta dissertação. Vale ressaltar que, ao optar por
analisar a linguagem convergente praticada no Portal Uai através de uma abordagem
qualitativa, ou seja, que tem em sua essência a observação crítica do pesquisador a partir da
aproximação dos dados com as reflexões teóricas anteriores, essa pesquisa se cercou de
cuidados para garantir que nem a ‘mão leve’ nem o olhar rígido pesassem, uma vez que o
autor faz parte do quadro de funcionários da empresa. Ainda que ciente da impossibilidade da
imparcialidade absoluta, o autor se alinhou, com redobrada atenção, a todos os princípios
éticos para o desenvolvimento do trabalho, não abrindo mão da liberdade para o pleno
exercício da pesquisa e crítica.
1.9 É TEMPO DE SE QUEBRAR O PARADIGMA
Como dito anteriormente, ainda sem uma definição única, a convergência de mídias
ganha uma de suas melhores discussões no livro “A Cultura da Convergência”, de Henry
Jenkins (2009). Em sua obra, o teórico traz uma questão que preocupa e se soma aos erros de
definição e simplificações citados, justificando a inquietação que levou esta pesquisa a estudar
a linguagem na convergência de mídias: o paradigma da revolução digital. Segundo o autor,
enquanto o emergente paradigma da convergência presume que novas e antigas mídias
interajam de formas cada vez mais complexas, ainda há um forte domínio da chamada
revolução digital, que prevê um processo em que as novas mídias acabam por substituir as
antigas. Neste contexto de incertezas, preocupa o grande domínio que este último exerce nas
escolas de jornalismo e na mentalidade dos próprios jornalistas, que se mostram assustados
com a possibilidade de que mídias mais tradicionais, como o rádio e o impresso, desapareçam
com o processo de convergência. Esse pensamento está ligado principalmente ao primeiro
equívoco, apontado por Salaverría e Negredo (2008), na definição de convergência – tratá-la
apenas como união das redações. Por isso a importância de se estudar a linguagem
convergente, face ainda pouco explorada deste complexo processo. Compreender a formação
desse novo/modificado discurso jornalístico a partir da união de diferentes linguagens se
mostra tarefa imprescindível e de imensurável importância no país que experimenta a
convergência numa época em que, com a discussão da obrigatoriedade (ou não) do diploma
de jornalista, todos os internautas – sejam eles profissionais da internet, entusiastas da
14
blogosfera ou apenas curiosos – podem se apresentar como repórteres e grandes interventores
nos portais.
Dado o cenário apresentado, com simplificações e divergências de conceito
dominando os debates sobre a convergência de mídias (processo que é, por natureza,
multifacetado), o presente estudo se guiou sempre mantendo fidelidade à seguinte
problemática: Como a união de linguagens originadas em modelos tradicionalmente distintos
de produção e edição – rádio, televisão e impresso – delineia uma narrativa jornalística
convergente nos portais de notícia? Como e em que medida essa narrativa convergente pode
ser considerada nova, do ponto de vista da linguagem que a constitui e dos parâmetros
jornalísticos a ela vinculados?
Para conseguir responder ao problema, o estudo percorreu um caminho que passou
pelo cumprimento de determinados objetivos específicos, a fim de imergir em uma reflexão
mais profunda e detalhada da temática. Tais metas, apresentadas inicialmente no projeto de
pesquisa, guiaram todo o processo, desde a revisão bibliográfica até a elaboração da
metodologia e análise dos dados. São elas:
Geral
Dentro do processo de convergência de mídias, investigar como e em que medida a
união de linguagens originadas de meios tradicionalmente distintos transformam a lógica de
construção da narrativa jornalística no Portal Uai.
Específicas
� Analisar as estratégias de construção do discurso nos portais de notícias a
partir do fenômeno da convergência de mídias e verificar em quais medidas o mesmo se
transforma com a convergência, considerando os parâmetros jornalísticos a ela vinculados;
� Tomando como referência os modelos usados nos suportes originais, verificar
quais são as principais mudanças estruturais sofridas pelos conteúdos em vídeo, texto, áudio
e foto ao serem publicados na web;
� Investigar as interferências que a hipertextualidade e as possibilidades da Web
2.0 trazem ao jornalismo quando somadas à união de linguagens na tela;
� Procurar marcas do processo de transformação do discurso a partir da
convergência de mídias no produto jornalístico final publicado nos portais de notícias.
15
Para cumprir os objetivos propostos, este trabalho foi divido em duas partes. A
primeira traz revisões teóricas com nuances indispensáveis para a análise qualitativa,
abordando os principais conceitos e discussões da atualidade sobre hipertextualidade, Web 2.0
e convergência de mídias. Vale ressaltar que, durante todo o processo de pesquisa, optou-se
por trabalhar com teóricos com visões muitas vezes opostas, primando pela reflexão e respeito
às diversas correntes como caminho para chegar às teorias que conduzem este estudo.
Já na segunda parte, aproveitando o conhecimento fomentado pela revisão teórica, a
pesquisa apresenta um modelo metodológico próprio, elaborado à luz das discussões
presentes na Parte I, e realiza a análise qualitativa dos dados coletados no Portal Uai,
apresentando conclusões e novos caminhos para estudos em convergência de mídias.
16
PARTE I: revisão teórica
17
CAPÍTULO I: hipertexto, Web 2.0 e linguagens
I.1 O FUTURO DA INTERNET
Determinar rumo a qual futuro a internet caminha é tarefa em que poucos se arriscam.
São mais raros ainda os pesquisadores que se lançam à sorte para dizer qual tipo de linguagem
jornalística nós vamos atingir com as constantes transformações da web. Isso porque, na
última década, a nova mídia, ainda que em processo de amadurecimento, viveu uma
verdadeira revolução de conceitos com a união de linguagens, enchendo as certezas de
dúvidas e subvertendo uma lógica que lhe foi imposta logo no berço: de ser o espaço infinito
para transpor o impresso, o local da multimidialidade, a memória fácil (PALACIOS, 1999). A
web mostrou que, de fato, é muito mais. Não que os conceitos originais difundidos por
Marcos Palacios (1999) – hipertextualidade, interatividade, multimidialidade, personalização,
memória e atualização contínua –, pregados ao longo de anos nas escolas de jornalismo,
estejam errados, mas existe um consenso atual nas pesquisas de que eles são parcela ínfima do
que a rede pode representar, seja para o bem ou para o mal.
A transformação na lógica da internet está diretamente relacionada com o cruzamento
da linguagem hipertextual com o cenário trazido pela Web 2.0. E os primeiros resultados
promovem previsões diversas, a maior parte delas superestimadas em extremos, como em
Lévy e Lemos (2010), que pregam a possibilidade de uma ciberdemocracia planetária a partir
da libertação pela linguagem, ou em Assange (2013), que acredita que a nova realidade “traz
um soldado para debaixo de nossa cama” – se referindo à possibilidade de espionagem que a
web permite aos governos que detêm a tecnologia.
Entendendo que a convergência de mídias é um processo inserido na transformação
citada acima e que sua linguagem é, em grande parte, fruto desse processo ainda em
construção, este capítulo busca tecer um meio-termo nas previsões para a Web 2.0, atingindo
uma definição de hipertexto que atenda a contemporaneidade das publicações observadas.
Além disso, recorrendo aos clássicos manuais de jornalismo e teorizando sobre os conceitos
de texto que eles apresentam para as mídias digitais, este capítulo traz uma revisão do
processo de construção das narrativas elaboradas para rádio e televisão, buscando entender em
que ponto elas se cruzam na tela com a linguagem do impresso, base para a origem do
jornalismo on-line e presente na web desde o surgimento dos primeiros portais.
18
I.2 DISCUSSÕES SOBRE HIPERTEXTO
Abordado na introdução deste trabalho, o pesquisador Pierre Lévy é citado à exaustão
nos estudos sobre a produção de qualquer forma de conteúdo na internet, graças à rica
pesquisa que desenvolve sobre a hipertextualidade. Embora pareça ser um caminho à
contramão da história, iniciar a discussão estudando esse teórico – e não aqueles que o
antecederam – é extremamente pertinente, uma vez que ajuda a delimitar um conceito mais
atual e bem recortado de hipertexto, sobre qual será preciso debruçar durante todo percurso
teórico. É importante destacar ainda uma preferência pela abordagem de Lévy – e não só por
seu maior entusiasmo com o tema –, uma vez que os conceitos defendidos pelo filósofo
ganham em atualidade e se aproximam da discussão sobre convergência de mídias
principalmente através da obra O Futuro da internet: em direção a uma ciberdemocracia
planetárias, de 2010, uma tradução modificada escrita por André Lemos a partir do original
Cyberdémocracie: Essai de Philosophie Politique (LÉVY, 2002). Ao assinar o livro em
conjunto com Lévy, o brasileiro traz as discussões e teorias do tunisiano para o cenário
nacional e oferece novos elementos ao debate, como o conceito de mídias interativas pós-
massivas e a inserção das ferramentas da Web 2.0 no conceito de hipertextos.
I.2.1 Primeiras definições de Chartier e Lévy
Para iniciar a busca da melhor definição de hipertexto dentro da teoria de Lévy é
preciso entender antes que o filósofo trata-o como uma “tecnologia intelectual” e não como
um processo mecânico (ainda que, ora ou outra, aborde o tema desta forma). Para o autor, o
hipertexto seria uma tecnologia que quase sempre exterioriza, objetiviza ou virtualiza uma
função cognitiva ou atividade mental. Desta forma, ainda em 1993, ele chega a uma definição
embrionária, mas ainda amplamente aceita e utilizada, sobre o tema:
Tecnicamente, um hipertexto é um conjunto de nós ligados por conexões. Os nós podem ser palavras, páginas, imagens, gráficos ou partes de gráficos, sequências sonoras, documentos complexos que podem eles mesmos ser hipertextos. Os itens de informação não são ligados linearmente, como em uma corda com nós, mas cada um deles, ou a maioria, estende suas conexões em estrela, de modo reticular. Navegar em um hipertexto significa, portanto, desenhar um percurso em uma rede que pode ser tão complicada quanto possível. Porque cada nó pode, por sua vez, conter uma rede inteira. (LÉVY, 1993, p. 33).
Assim como Lévy, o historiador francês Roger Chartier também se mostra interessado
na forma como o hipertexto cria uma nova narrativa. Em Os desafios da escrita, de 2002,
19
Chartier destaca que a hiperleitura que o hipertexto permite e produz transforma as relações
possíveis entre as imagens, os sons e os textos associados de maneira não linear – é
importante ressaltar que para Chartier o hipertexto já estava presente em enciclopédias e
algumas organizações textuais anteriores ao ciberespaço, embora em outra natureza.
Embora pareça pertinente seguir Chartier e pensar o hipertexto como estrutura textual
já existente em outras publicações – como capas de jornal, para citar um exemplo do universo
estudado –, aqui se faz necessário um recorte para a pesquisa proposta sobre convergência de
mídias: durante toda a abordagem teórica e o processo de estudo e análise presentes neste
trabalho, o hipertexto é tratado apenas como ferramenta da internet, já que a união deste tipo
de organização textual com a tecnologia possibilitou determinadas formas de interação e
navegação (ou leitura) que certamente não eram possíveis nas publicações citadas por
Chartier. O objetivo com tal recorte é reduzir o objeto de estudo e facilitar sua observação.
I.2.2 Americanos e o início da história
Seguindo pela contramão da história, chegamos até 1940, com Vannevar Bush e a
1965, com Theodore Nelson. Atribui-se o início da história sobre o hipertexto a Bush, que
teria pensado – ainda que de forma mecânica – em “algo” com a característica de fazer
ligações entre informações por meio de verdadeiras encruzilhadas ou nós (como proposto na
definição de Lévy). Teria sido, no entanto, Nelson o responsável por dar nome à invenção de
Bush. De forma menos mecânica que seu antecessor, o pesquisador pensou um “objeto”
mapeado com diversos percursos possíveis que permitissem ao leitor acessar as informações
de maneira mais pessoal, ou, nas palavras de Ribeiro (2006), “uma maneira ‘customizada’ de
ler e escrever”.
É preciso ressaltar que a criação de Bush (sem nome na época) poderia ter sido ligada
tanto ao hipertexto – o que de fato aconteceu –, quanto aos HDs (hard disk drive) de um
computador. Ambos, em sua lógica, imitam de determinada maneira a forma como o cérebro
humano assimila e organiza as informações, segundo afirma Nelson (1965). Para ele, se os
pensamentos eram estruturados de maneira não sequencial, não haveria motivos para
organizá-los de maneira que parecessem lineares, ideia defendida também por Pierre Lévy
(1993).
20
I.2.3 O hipertexto de Lévy na era pós-massiva
Aceitando a ideia de que o hipertexto imita a forma como pensamos, saltamos mais
uma vez na história. Tomando a definição básica de Lévy como pontapé inicial para descrever
o hipertexto, resta ainda aplicar o conceito ao contexto contemporâneo, uma vez que a
hipertextualidade experimentada através da convergência de mídias e da Web 2.0 certamente
é diferente das bases da World Wide Web (WWW), na década de 1990, e dificilmente será
igual ao que veremos com a cada vez mais presente Web Semântica (Web 3.0). É o próprio
Lévy, em 1996, que ajuda na tarefa de aplicar seu conceito aos dias atuais, lembrando que
“diversos sistemas de registro e de transmissão (tradição oral, escrita, registro audiovisual,
redes digitais) constroem ritmos, velocidades ou qualidades de história diferentes” (LÉVY,
1996, p. 22). A partir destas diferenças apontadas pelo filósofo, é possível inferir que a
aplicação do conceito de “nós” do hipertexto vai depender, também, da origem e da história
de cada linguagem utilizada no texto convergente. Em outras palavras, mais do que um
conjunto de nós ligados por conexões, na era da convergência, o hipertexto configura o
desenho de uma nova narrativa, ao ligar em uma só linguagem na tela outras diferentes
linguagens, cada qual carregando em si as marcas e características peculiares da mídia onde se
originou.
Assim, na obra de 2010, André Lemos e Pierre Lévy apontam três grandes linhas de
transformação que podem dar novo caráter às mídias e também ao hipertexto:
A perspectiva global das mídias e sua dependência crescente em relação às comunidades e redes sociais locais de alcance global. A convergência entre os suportes midiáticos e de forma mais geral entre todas as instituições que têm vocação para difundir mensagens e reconfigurar a cultura contemporânea. A responsabilização crescente da função midiática pelo conjunto de atores sociais: a emergência das mídias de função pós-massiva pelo princípio da conexão generalizada, aliando potência informativa e mobilidade. (LEMOS; LÉVY, 2010, p. 72).
Entre as transformações citadas, os autores destacam a convergência, a dependência
das redes sociais e a potencialidade trazida pela função pós-massiva das mídias. Tudo isso,
como dito anteriormente, dá um sentido muito mais amplo ao hipertexto do que aquele
elaborado inicialmente por Lévy. Na verdade, ele não deixa de ser um conjunto complexo de
nós formados por palavras, textos, gráfico e vídeos, só que ele passa a ser isso e algo mais.
A partir destas reflexões de Lévy e Lemos, parece pertinente lançar uma nova
definição de hipertexto, que reúna a teoria “embrionária” do filosofo e suas atualizações
presentes na obra de 2010. Portanto, nesta pesquisa, hipertexto é entendido como o conjunto
21
complexo de conexões comunicacionais que é formado pela união de diferentes linguagens na
tela do computador, sendo que este conjunto pode ser ao mesmo tempo, a linguagem
convergente que surge na web e, também, o espaço do ato comunicacional, uma vez que a era
pós-massiva possibilita a participação do interagente no mesmo ambiente em que a
mensagem é construída.
Vale ressaltar, mais uma vez, que o conceito acima não abrange a totalidade do
hipertexto, uma vez que parece pertinente e inquestionável o posicionamento de Chartier
sobre sua origem. No entanto, para a realização deste estudo, o recorte e a atualização da
definição foram facilitadores indispensáveis para que fossem cumpridos os objetivos
propostos.
I.3 DISCUSSÕES SOBRE WEB 2.0
I.3.1 O poder da palavra versus o poder da criptografia
Entre as discussões propostas neste capítulo, a que concentra a maior parcela das
atenções de pesquisadores contemporâneos se refere às potencialidades da Web 2.0,
responsável não só por transformar a produção da narrativa jornalística nos portais de notícia
(foco deste trabalho), mas, também, por viabilizar o encontro de ideias e ideais para
complexas revoluções políticas e levantes populares contemporâneos, sendo, em alguns casos
(Primavera Árabe8, Revolta do Vinagre9), ator principal na organização de lutas por causas
coletivas que colocam o próprio discurso jornalístico em xeque. Tais possibilidades da Web
2.0 estão presentes em todas as obras pesquisadas para a discussão presente neste tópico, em
especial nos livros de Lévy, Lemos e Assange, que travam um rico embate em dois extremos.
Dentro da lógica de visões extremistas citada no tópico “O futuro da internet”, as
obras dos três autores se contrapõem de maneira clara, revelando infernos e paraísos possíveis
8 Onda de protestos organizados pelas redes sociais na web que atingiu o Oriente Médio e o Norte da África a partir de dezembro de 2010. Entre os resultados, o levante levou à queda os governos do Egito, Líbia, Tunísia e Iêmen. Também ocorreram guerras civis em países como a Síria, Barein e Kuwait.
9 “Revolta do Vinagre” (“Revolta da Salada”) foi um dos termos utilizados para definir a série de manifestações populares que estourou no Brasil em 2013. O estopim para a revolta foi o reajuste em passagens de ônibus em São Paulo, mas a lista nacional de pautas foi diversa, com pedidos que iam desde contra a corrupção até pela não realização da Copa do Mundo no país. O nome foi escolhido em referência ao líquido utilizado pelos manifestantes para aliviar os efeitos do gás lacrimogêneo.
22
com a utilização do discurso na Web 2.0. Enquanto os pesquisadores André Lemos e Pierre
Lévy defendem o surgimento de uma ciberdemocracia planetária, com a libertação pela
palavra possível no espaço comunicacional oferecido na rede, Julian Assange, o polêmico
fundador do WikiLeaks10, ainda que de maneira menos conceitual e teórica, se mostra
preocupado com o otimismo exacerbado que existe em torno das redes sociais e defende que a
liberdade na rede só é possível por meio de outra forma de linguagem, a criptografia11.
I.3.2 O futuro da internet para Lévy e Lemos
Uma atualização da democracia virtual proposta por Pierre Lévy no início da década
passada para a era da Web 2.0. Esta é a linha que conduz a obra O futuro da internet: em
direção a uma ciberdemocracia planetária, tradução modificada assinada pelo professor de
comunicação da UFBA, André Lemos. Na abertura do livro, o próprio Lévy esclarece que o
objetivo é analisar as transformações contemporâneas da esfera pública como resultado da
expansão do ciberespaço e considerar as novas possibilidades que essa mudança abre para a
democracia. O tunisiano lembra que, em 2002, ano de publicação do original
Cyberdémocracie: Essai de Philosophie Politique, “a blogosfera não tinha nome, a Wikipedia
– que nasceu em 2001 – passava ainda despercebida, e a Web 2.0 ainda não existia”
(LEMOS; LÉVY, 2010, p. 9). Aliás, é a Web 2.0 – na obra também denominada de
“computação social” ou “era pós-massiva” – que valida o que foi publicado pelo pesquisador
em 2002, quando este falou em um “movimento futuro” para libertação da palavra e da
expressão pública pelo ciberespaço.
Em sua atualização, Lemos mostra compartilhar as ideias embrionárias de Lévy sobre
a ciberdemocracia, deixando, inclusive, transparecer o mesmo otimismo em relação à
utilização da Web 2.0 como ferramenta de luta social. “Quanto mais podemos livremente
produzir, distribuir e compartilhar informação, mais inteligente e politicamente consciente
uma sociedade deve ficar. As ações de produzir, distribuir e compartilhar são os princípios
10 WikiLeaks é uma organização que se denomina sem fins lucrativos e publica em sua página, construída através de um código próprio – que garante o anonimato das fontes –, documentos, fotos e informações confidenciais, vazadas de governos ou empresas, sobre assuntos que julguem pertinentes à sociedade, realizando a missão primordial do jornalismo de trazer à luz o que está obscuro e é de interesse público.
11A palavra criptografia tem origem no termo grego para “escrita secreta” (kryptós, "escondido", e gráphein, "escrita") e designa a prática de se comunicar em código.
23
fundamentais do ciberespaço” (LEMOS; LÉVY, 2010, p. 27), afirma o teórico, que ainda
aposta:
A transformação da esfera midiática pela liberação da palavra se dá com o surgimento de funções comunicativas pós-massivas que permitem a qualquer pessoa, e não apenas empresas de comunicação, consumir, produzir e distribuir informação sob qualquer formato em tempo real e para qualquer lugar do mundo sem ter de movimentar grandes volumes financeiros ou ter de pedir concessão a quem quer que seja. Isso retira das mídias de massa o monopólio na formação da opinião pública e da circulação de informação. (LEMOS; LÉVY, 2010, p. 25).
Vale ressaltar que Lemos deixa claro, assim como já havia feito Lévy, que sabe que
boa parte da teoria publicada ainda parece aos demais ou, de fato, é uma utopia. É a partir
dessa lógica que ele apresenta os passos que indicam o caminho em direção à emancipação de
tempo e das fronteiras que a linguagem na internet e a ciberdemocracia permitem. Seria uma
jornada rumo ao governo mundial ciberdemocrático, um novo tipo de Estado transparente a
serviço da inteligência coletiva.
A transparência radical permitida pelos instrumentos do ciberespaço, como condição para que ela continue sistemática, nos parece ser um dos fatores determinantes não apenas da mutação da democracia moderna em ciberdemocracia, mas da queda próxima das ditaduras à moda antiga (LEMOS; LÉVY, 2010, p. 67).
Para sustentar a argumentação, Lemos se apoia nas discussões do sociólogo Manuel
Castells (2006), recorrentemente citado em estudos sobre comunicação, mostrando as
mudanças provocadas pela Web 2.0 nas tradicionais mídias de massa com o surgimento da era
pós-massiva. Ainda na ideia da libertação pela palavra, ele destaca o fim dos filtros –
“gatekeepers”12 – para o consumo e a distribuição de conteúdos, opiniões e mensagens.
I.3.2.1 Teoria do Estado Transparente
Dentro do debate sobre a governança ciberdemocrática global, Lemos chega à “Teoria
do Estado transparente”, em que discute diversos aspectos, como entraves judiciários e
econômicos, desta possibilidade, apresentando-a como “um convite a pensar a natureza do
futuro Estado ciberdemocrático mundial” (LEMOS; LÉVY, 2010, p. 179). O autor lembra (e
12 O termo refere-se à pessoa que toma uma decisão numa sequência de decisões, no caso, o jornalista. Na teoria do gatekeeper, o processo de produção da informação é concebido como uma série de escolhas onde o fluxo de notícias tem que passar por diversos gates (portões) que são áreas de escolha dos jornalistas envolvidos no processo comunicacional (TRAQUINA, 2004)
24
aposta) que o processo deve começar pelas zonas que já são mais conectadas, como a Europa,
a América e os países avançados da zona Ásia-Pacífico. O pesquisador, no entanto, pondera,
que para tal Estado planetário, todas as formas de totalitarismo devem ter sido relegadas à
memória da humanidade como etapas superadas, ressaltando a essência democrática e
coletiva da sociedade que surge libertada pela palavra.
A reflexão sobre o nascimento do Estado proposto por Lemos parte de três fatores: a
globalização, o crescimento do liberalismo e a emergência da sociedade da informação.
Unidas, essas três tendências formam a civilização da inteligência coletiva, o que, para o
autor, espelharia o novo Estado. O teórico aponta uma das principais missões deste novo
Estado:
Fornecer à inteligência coletiva da sociedade um metanível de reflexão, de regulação e de governança, uma espécie de espelho que permite reconhecer os efeitos dos seus atos, de aprender continuamente e de ver mais amplamente (LEMOS; LÉVY, 2010, p. 185).
I.3.3 O outro lado: o futuro nebuloso de Assange
“Privacidade para os fracos, transparência para os poderosos”. É esta a máxima que
dita o movimento cypherpunk, formado, em sua essência, por ativistas hackers que utilizam a
criptografia para provocar mudanças sociais e políticas. E é dessa ideia embrionária e,
principalmente, de todas as ações articuladas pelos mais diversos Estados e organizações
privadas para impedi-la, tornando a internet ferramenta de vigilância, que urge o grito de
Julian Assange em tom que ultrapassa o alarmismo e beira o apocalipse ao comentar a Web
2.0: “a internet é uma ameaça à civilização humana” (ASSANGE et al., 2013, p. 25).
Editor-chefe e visionário que comandou a criação do WikiLeaks, site/grupo
responsável por revelar documentos secretos do governo norte-americano (entre os mais
notórios, o Cablegate13, com 251 mil comunicados diplomáticos provenientes de 274
embaixadas dos Estados Unidos, responsáveis, entre outros desdobramentos, por semear a
Primavera Árabe), Julian Assange segue preso na Embaixada do Equador no Reino Unido,
onde conseguiu asilo político, mas vive sob constante ameaça de ser detido caso deixe o
prédio.
13 Vazamento de registros oficiais diplomáticos dos Estados Unidos pela internet ou por “cabos” – cables, em inglês. O nome faz alusão ao escândalo do Watergate, que culminou com a renúncia do presidente Richard Nixon, em 1974, após denúncias de uma fonte oculta.
25
A obra Cypherpunks: liberdade e o futuro da internet, na verdade, trata-se de uma
transcrição, acrescida de comentários e notas, de um debate gravado em 20 de março de 2012
entre o fundador do WikiLeaks e três “colegas sentinelas” na prisão domiciliar em Londres.
São eles Jacob Appelbaum, Andy Müller-Maguhn e Jérémie Zimmermann, todos
ciberativistas ou cypherpunks14, defensores do código livre, da liberdade de expressão e da
criptografia como arma contra a vigilância controlada.
Para sustentar as afirmações e comprovar o alcance de suas teses, eles ilustram o
discurso com ataques econômicos, políticos e jurídicos aplicados pelo governo dos Estados
Unidos contra eles próprios, o WikiLeaks e seus representantes.
I.3.3.1 Mensagem para os latino-americanos
Para a versão publicada na América Latina, ‘Cypherpunks’ ganhou um prefácio
especial, escrito por Assange um mês antes do lançamento. No texto, Julian lembra que as
questões abordadas são de “especial interesse para os leitores da América Latina”
(ASSANGE et al., 2013, p.19), em tom que recorda os sombrios tempos coloniais. “Ela [a
criptografia] pode ser utilizada para combater não apenas a tirania do Estado sobre os
indivíduos, mas a tirania do império sobre a colônia” (ASSANGE et al., 2013, p.22).
I.3.3.2 Apocalipse e solução na linguagem matemática
Em seu debate teórico, Assange traz o apocalipse, mas também apresenta a solução.
Ao mesmo tempo em que o autor sentencia uma ameaça global e destaca o perigo de que a
civilização se transforme em uma distopia da vigilância pós-moderna, ele traz a arma para
vencer o temido inimigo. Trata-se da criptografia e suas propriedades físicas. Julian explica
com certo sarcasmo que “o universo acredita na criptografia” (ASSANGE et al., 2013, p.27),
de forma que é mais fácil codificar informações do que decodificá-las. “Nenhuma força
repressora poderá resolver uma equação matemática” (ASSANGE et al., 2013, p. 28), resume.
Em voga nos conceitos que tecem a obra de Assange e seus “sentinelas” está a noção
de que o platonismo criado sobre a capacidade “maravilhosa” das redes sociais de trazer
independência e liberdade de expressão mascara formas modernas de vigilância, sendo que
14 O termo cypherpunk – derivação (criptográfica) de cipher (escrita cifrada) e punk – foi incluído no Oxford English Dictionary em 2006. Em português pode ser traduzido para criptopunk.
26
essas ferramentas são utilizadas massivamente pelos Estados. É o paradoxo maior
comunicação versus maior vigilância.
Essa dicotomia trazida pela rede é exemplificada pelo próprio Assange com caso
semelhante ao utilizado por Lemos, porém sob um novo olhar. Julian lembra a revolução
contra o governo Mubarak no Egito (Primavera Árabe), em 2010, e destaca que, embora a
organização realizada pelas redes sociais tenha conseguido êxito ao chegar às ruas, todos
organizadores foram rastreados, de modo que, não fosse o sucesso do movimento, eles
dificilmente estariam vivos. E é neste mesmo tom apocalíptico que o grupo continua as
discussões sobre o Google, o Facebook, o fornecimento de informações pelos usuários e a
utilização destas pelas agências de espionagem norte-americanas durante todo o texto. “Hoje
isso é feito por todo mundo e por praticamente todos os Estados, em consequência da
comercialização da vigilância em massa” (ASSANGE et al., 2013, p.43).
No entanto, os debatedores também reconhecem que, em certo ponto, a Web 2.0 se
apresentou como desafio e perigo aos Estados dominantes. “Se olharmos a internet do ponto
de vista das pessoas do poder, os últimos vinte anos foram aterrorizantes”, diz Andy
Müller-Maguhn (ASSANGE et al., 2013, p.44).
Em uma crítica à técnica moderna que ainda restringe o poder de controle às pessoas
que detêm os recursos físicos e à necessidade de satisfação social da massa pela internet, os
autores chegam a comparar a recompensa oferecida pelo Facebook através de “créditos
sociais” com o fornecimento de informações ao Stasi, órgão de controle da segurança da
antiga Alemanha Oriental, onde se pagava pelas informações fornecidas. No entanto, para
eles, a nova forma de controle imposta pela internet se mostra mais preocupante, já que ao em
vez de coletar informações de “pessoas táticas”, opta-se estrategicamente por armazenar ‘tudo
de todos’ para depois esmiuçar. Julian Assange resume bem a ideia que norteia o debate:
A internet, que deveria ser um espaço civil, se transformou em um espaço militarizado. Mas ela é um espaço nosso, porque todos nós a utilizamos para nos comunicar uns com os outros, com nossa família, com o núcleo mais íntimo de nossa vida privada. Então, na prática, nossa vida privada entrou em uma zona militarizada. É como ter um soldado embaixo da cama (ASSANGE et al., 2013, p.53).
Andy completa o sentido bélico da teoria: “(...) o principal identificador da estrutura
do banco de dados [do Facebook] era a palavra ‘alvo’. Eles não chamam as pessoas de
‘assinantes’, ‘usuários’ ou qualquer termo do gênero” (ASSANGE et al.,2013, p.74).
27
I.3.3.3 O contraponto fundamental dos Cypherpunks
Embora exagere no tom apocalíptico, o livro de Assange e seus colegas cypherpunks
surge como importante contraponto em era de “adoração’ à Web 2.0. Teóricos como Henry
Jenkins, André Lemos e Pierre Lévy têm promovido rico debate no sentido de exaltar a
possibilidade de comunicação livre e democrática oferecida pela web, relembrando, entre
outros, os conceitos de Marshall McLuhan (1911 - 1980), principalmente no que diz respeito
à aldeia global15. No entanto, é preciso ter cuidado ao defender esta liberdade extrema, uma
vez que a comunicação, a priori, ainda depende em grande parte de ferramentas que têm
códigos fechados e uma estrutura física de propriedade dos Estados e empresas privadas. Não
é exagero questionar o limite da liberdade, mas é preciso lembrar que, como o próprio Julian
Assange coloca, a batalha é tanto política quanto tecnológica.
I.3.4 Outros estudos sobre Web 2.0
Dadas as reflexões de Lemos, Lévy e Assange, pode-se inferir que as características da
Web 2.0 associadas ao processo de convergência de mídias não apenas uniu diferentes
suportes e linguagens, como também trouxe o usuário (agora interagente) para a produção dos
conteúdos, obrigando os portais noticiosos a adotar entre suas estratégias as possibilidades de
interação a partir de sites específicos colaborativos, redes sociais próprias, sessões de
comentários, entre outras ferramentas que permitem ao internauta – que já experimentava uma
maior autonomia através da hipertextualidade – editar, transformar e participar da notícia. É o
fim da “arrogância” da imprensa, que passa a ter suas “verdades absolutas” questionadas pelo
leitor ou, na definição de Alex Primo (2003), modificadas pelos interagentes.
Nunes (2009) lembra que para Ramón Salaverría, o principal desafio é a
interatividade. Segundo o espanhol, incorporar o leitor ao discurso jornalístico é algo
radicalmente novo e é a isso que os meios digitais estão conferindo um protagonismo. De
acordo com Salaverría (2008), o impacto da interatividade já pode ser observado nos jornais
impressos, uma vez que os mesmos vêm abrindo espaço para os leitores proporem pautas e
15 Teoria de Marshall McLuhan que prevê a redução do planeta à estrutura de uma aldeia, onde todos estariam ligados com todos e poderiam se comunicar diretamente. Quando lançada pelo filósofo canadense, a teoria buscava aporte nas possibilidades da televisão e foi muito criticada (PEREIRA, 2011). No contexto da Web 2.0, ganhou releitura amplamente aceita com Henry Jenkins, como é debatido no tópico II.5.1 desta pesquisa.
28
debates. E o autor espanhol sentencia: podemos estar assistindo aos primeiros passos de algo
que terminará mudando o discurso jornalístico que conhecemos há séculos.
Em artigo apresentado no VI Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo, da
SBPJor, Xosé Lopéz (2008), professor de jornalismo digital na Faculdade de Ciência da
Comunicação da Universidade de Santiago de Compostela (Espanha), fala sobre a crescente
participação dos usuários nos portais de notícia mais tradicionais da internet, alguns com até
14 anos de existência. Ele deixa claro que nem todos os portais tradicionais querem essa
participação e lembra que outros que buscam a interação não sabem como fazê-la ou
encontram dificuldades para gerenciá-la. Lopéz estudou 15 portais noticiosos brasileiros e
europeus, nos quais ele observou transformações que definiu como próprias da primeira
década deste século, o que denominou de “Sociedade em Rede”.
Segundo Lopéz (2008), a sombra do mundo digital comanda todas as transformações
vivenciadas nos meios de comunicação (que se reorganiza a partir da convergência de
processos ou convergência de mídias) e na sociedade civil (que se dota de ferramentas para
participar e ter voz nessa nova mídia). Em sua análise, ele observa que os portais têm
incorporado diversas vias de participação dos usuários, como os blogs e as redes sociais, de
modo que foi possível observar uma melhora progressiva na intervenção e participação dos
internautas no processo informativo. Para Lopéz, as mudanças atingem inclusive a profissão
do jornalista, que precisou assumir importantes mudanças em seu papel de moderador oficial
e intérprete da realidade.
Em suas conclusões, Lopéz afirma que a Web 2.0 não somente já chegou às redações
jornalísticas através de blogs, wikis e redes sociais, como também já é demandada pelos
grandes grupos de comunicação através de profissionais específicos, que são contratados para
gerenciar estas ferramentas, de modo a tornar o processo comunicacional mais democrático e
plural, garantindo o diálogo com os usuários. É com base nesta observação que o autor
justifica como necessário o estudo da participação do usuário integrado à era pós- massiva
para se compreender a construção de uma narrativa jornalística a partir da convergência.
É importante destacar que, em grande parte, o debate do espanhol retoma as
discussões de André Lemos e Pierre Lévy sobre as mídias interativas na Web 2.0, que mudam
a relação comunicacional “um para todos” das mídias massivas para “todos para todos”. É
também a “aldeia global” proposta por McLuhan e revisitada por Jenkins, mas com um olhar
menos perfeccionista.
29
O mesmo debate é retomado em Reemergência do sujeito nas mídias sociais da web
2.0 e a consequente transformação da esfera jornalística, de André Covre (2010). Ele discute
a reemergência do sujeito a partir da apropriação de ferramentas interacionais da Web 2.0. Em
outras palavras, Covre observa a maneira como os sujeitos aprofundam suas relações com as
características de liberdade da linguagem, na medida em que se tornam mais próximos de
ferramentas interativas que surgem a partir da união de computador e internet, convergência
essa que reformula a esfera jornalística a partir da dialogia.
Covre trata a Web 2.0 como o processo que motivaria o fim da relação mecânica (e de
sentido único) ditada pela relação produtor/receptor no jogo comunicativo. Em suas palavras:
[...] mensagem não pode ser compreendida apenas como um bloco monolítico de informações pré-datadas, e a relação entre o transmissor e o receptor não pode se dar por um movimento mecânico e de sentido único; por isso é necessário construir uma definição de mídia que trabalhe com uma concepção discursiva de linguagem; uma definição que se desligue dos detalhamentos pormenorizados dos conceitos técnicos e ontologizadores (COVRE, 2010, p. 208).
Em sua conclusão, o autor lembra que a relação entre mídia e indivíduos não é mais (e
certamente nunca foi) de obediência completa e exclusiva. Nunca o ouvinte, telespectador,
leitor ou internauta foi, de fato, meramente receptor da mensagem. No entanto, as pressões
sociais e as possibilidades da Web 2.0 permitem que ele se manifeste de forma mais agressiva
e participe de uma maneira mais decisiva na produção jornalística, criando certa polarização
entre os leitores do ciberespaço e do papel, como destaca Ribeiro:
Na América do Norte, um grupo de pesquisadores da Internet e do hipertexto se destaca, especialmente no Massachusets Institute of Technology (MIT): George P. Landow, Michael Joyce, J. David Bolter e Stuart Moulthrop, entre outros. Segundo Cunha (2004), esses pesquisadores têm defendido, principalmente, certa polaridade entre leitores de material impresso e leitores de material digital, de maneira que aqueles seriam mais passivos do que estes, mais “agressivos” (LANDOW, 1997), na lida com os textos. (RIBEIRO, 2006, p. 7)
I.3.5 O meio-termo entre Lemos e Assange
Embora sejam extremamente importantes para a definição conceitual da Web 2.0,
como já comentado neste capítulo, os posicionamentos de Lemos com Lévy e Assange pecam
pela visão extremista. Desta forma, corre-se o risco de que, ao se debater a era pós-massiva
sob o ponto de vista do discurso jornalístico e da linguagem, as discussões sejam levadas para
outras esferas (social, política, bélica). Contudo, parece extremamente pertinente se ater às
visões de libertação pela palavra e criptografia para chegar ao “meio-termo” em que o
30
interagente não seja visto como condenado ou salvador, mas como protagonista (ou, pelo
menos, importante questionador) dentro de uma nova configuração que se desenha à
imprensa. Por isso, a visão de Covre parece como a medida ideal para ilustrar o real papel que
as características da Web 2.0 desempenham dentro do contexto da convergência de mídias,
como um dos principais fatores (ao lado do hipertexto) que modificam as linguagens dos
veículos tradicionais ao convergi-las na web. É o novo código, ainda que não totalmente
seguro ou blindado, como ferramenta que permite ao antigo receptor vestir a roupa de coautor
e ressignificar a mensagem, rompendo a relação mecânica e de sentido único.
I.4 LINGUAGENS ELETRÔNICAS: RÁDIO E TV
Se o hipertexto e a Web 2.0 são os responsáveis por condicionar a convergência de
mídias, são os conteúdos do rádio e da televisão, contudo, que servem de matéria-prima para
o processo ao unirem-se com o texto do impresso, presente na “tela” desde as bases da
WWW, quando os portais foram criados como uma mera transposição de seus jornais diários.
Dado tal cenário, para que fosse possível a análise presente no capítulo III, esta pesquisa
recorreu aos manuais clássicos de telejornalismo e radiojornalismo, partindo das definições
mais básicas e embrionárias de construção do texto noticioso nessas mídias e trazendo os
conceitos para a contemporaneidade observada através de discussões que englobam o
contexto de produção na era pós-massiva. O material presente nos próximos tópicos (I.4.1 e
I.4.2) nutre, ainda que de forma menos evidente, os debates sobre convergência no capítulo
seguinte e o modelo elaborado para a análise qualitativa com as reportagens do Portal Uai.
I.4.1 Características do texto na televisão
I.4.1.1 Instantaneidade
Ao se escrever um texto jornalístico para a televisão, a primeira noção que o repórter
deve ter é de que se trata de um texto para ser falado ou, nas palavras do jornalista norte-
americano Ted White, “escrever para a televisão é escrever para os ouvidos, jornais impressos
são escritos para os olhos, o que significa que, se o leitor não entender alguma coisa, pode
retornar para o parágrafo ou frase anterior e lê-la novamente” (PATERNOSTRO, 2006, p.
77).
31
A noção apresentada por White passa por uma das principais características
predominantes no telejornalismo e na TV: a instantaneidade. Do ponto de vista de
planejamento para a produção, isso significa que o 'receptor' deve captar a informação de uma
só vez para que o objetivo do jornalista seja concretizado. Ou seja, apesar de soar (e ser)
positiva, tal característica traz alguns fatores limitantes no que diz respeito à produção e
captação do texto.
No entanto, algumas das impossibilidades trazidas pelo instantâneo somem na web.
Isso acontece uma vez que, ao incorporar o conteúdo da “telinha” em um portal – e com a TV
Digital16 –, a internet permite que o consumidor (agora interagente) modifique e interaja em
algum grau com a notícia, assistindo, por exemplo, quantas vezes desejar a todo o vídeo ou
apenas a um trecho e bagunçando a lógica de “absorção da mensagem” pregada ao longo de
décadas.
Na verdade, tal interação anula a preocupação com a captação instantânea do conteúdo
quando se trata de um vídeo jornalístico produzido exclusivamente para a web, eliminando
formatos ultrapassados e engessados de reportagem e permitindo uma narrativa “mais solta” –
com uma divisão menos rigorosa entre os trechos de uma reportagem (passagem17, imagens
cobertas, entrevistas com personagens) –, feita para complementar um conteúdo presente na
página ou simplesmente para transmitir a notícia completa em uma linguagem mais
apropriada aos portais jornalísticos.
No entanto, a mesma instantaneidade ainda provoca pânico naqueles que precisam
apenas transportar o material exibido na TV aos portais sem comprometer o sentido da
mensagem, já que a linguagem “à moda antiga” pode soar, na maioria das vezes, inadequada,
afetando fatores como a temporalidade e profundidade da notícia ao desprezar as nuances do
jornalismo na web.
O que acontece nesse caso [da instantaneidade] – assim como em tantos outros no
jornalismo – é uma questão de escolha e edição: o texto para a reportagem em vídeo pode ter
versões diferentes para web e TV; pode ainda criar uma linguagem que atenda ambos; ou
16 Ainda que em grau menor (se comparada à web), a concepção da TV Digital incorpora características do contexto pós-massivo, que permitem ao consumidor da informação interagir com a programação e administrar os dados recebidos de acordo com suas preferências.
17 Gravação feita pelo repórter no local do acontecimento, com informações que merecem destaque durante a reportagem (PATERNOSTRO, 2006).
32
pode seguir o que tem sido senso comum e apenas “transportar” o material que foi ao ar em
uma emissora para o portal, como será discutido no capítulo II, sobretudo na teoria de Ramón
Salaverría.
Contudo, é importante destacar, segundo lembra Carlos d’Andréa em TV + Twitter:
reflexões sobre uma convergência emergente (2011), que tal mudança, principalmente nas
transmissões de grandes eventos – tradicionalmente realizadas ao vivo –, pode esvaziar a
experiência desejada pelos consumidores da informação, ainda que permitindo novas formas
de experiência, próprias da era pós-massiva:
Acreditamos que a transmissão ao vivo de eventos de caráter jornalístico (ou de entretenimento) explora algumas das características fundadoras desse meio massivo, como a imposição de um horário à sua audiência em nome de uma experiência coletiva. Assistir a um debate e, principalmente, a um jogo gravado, ainda que seja tecnicamente cada vez mais fácil, é um ato que esvazia toda experiência de se acompanhar o evento, mesmo que geograficamente separado, simultaneamente aos interlocutores da vida cotidiana e a milhões de outros interessados no tema (D’ANDRÉA, 2011, p. 46).
I.4.1.2 Sonoridade
Em “O Texto na TV” (2006), Vera Íris Paternostro lembra que a intenção de
repórteres e jornalistas, independentemente do meio de comunicação, é a mesma: informar.
“O que é diferente é a forma de transmitir a informação” (PATERNOSTO, 2006, p.77),
lembra a autora. No entanto, o fato de uma construção textual precisar “ser falada” traz uma
preocupação extra para os profissionais da televisão: a sonoridade. É necessário escrever
pensando no resultado daquele texto quando lido em voz alta e, para realizar tal tarefa, duas
características surgem como fundamentais para a construção da narrativa: frases curtas e
pontuação. Paternostro lembra que uma série de frases “dá um sentido de ação à notícia e
passa a informação sem rodeios” e a pontuação “dá embalo ao texto” (PATERNOSTRO,
2006, p.81), já que uma dose correta de “vírgula, dois pontos, reticências” ajuda na respiração
do locutor e na compreensão.
Entre as principais exigências para um texto de qualidade para o telejornalismo, esta é,
talvez, a única que não devesse sofrer profundas mudanças no contexto da convergência,
porém, é uma das mais prejudicadas, principalmente quando é produzida uma reportagem em
vídeo por um profissional da web. Isso acontece, entre outros fatores, por causa da
multiplicação das funções que são exigidas de um repórter no contexto da convergência,
33
impedindo que ele trabalhe com clareza o quesito da sonoridade ao escrever, por exemplo, um
stand up18 para a internet.
I.4.1.3 Texto associado às imagens
Uma das grandes preocupações de linguagem dentro do telejornalismo é fazer com
que texto, sons e imagem caminhem juntos, sem que seja estabelecida uma competição entre
eles. É muito comum, porém, notar casos de redundância e paralelismo, respectivamente,
quando o texto repete exatamente o que a imagem está mostrando e quando texto e imagem
caminham paralelamente sem se complementar. Evitar um texto descritivo ajuda em tal tarefa,
que fica ainda mais complexa na web, já que podem “concorrer” entre si o texto que cobre as
imagens, as próprias imagens e o texto que acompanha o vídeo incorporado ao portal. É a
repetição de conteúdos, contrariando os conceitos de justaposição e integração, pregados por
Salaverría e Massip et al. (tópico II.4.9).
Em artigo apresentado no I Encontro Nacional em Pesquisadores de Jornalismo, Iluska
Coutinho destaca o “amarramento” necessário entre sons, imagens e texto na TV:
No jornalismo de televisão os códigos de imagens, texto e sons não se somariam, mas constituiriam uma espécie de “amálgama” que teria como diferença em relação ao cinema, meio do qual para muitos a TV seria tributária, o fato de se constituir em uma narrativa do cotidiano, com uma imagem do presente (COUTINHO, 2003, p.4).
De fato, como lembra Arbex Júnior (2001), as imagens são a grande arma para o show
da televisão, que segue em posição de destaque entre as mídias, por isso a importância de
trabalhá-las complementarmente ao texto:
(...) a televisão, com o seu aparato tecnológico cada vez mais aperfeiçoado, reivindica para si a capacidade de substituir com vantagem o olhar do observador individual. Diversas câmaras postadas em lugares distintos podem captar um número maior de imagens – ou a mesma imagem segundo vários ângulos -, com muito mais detalhes e maior precisão do que é facultado ao observador individual (ARBEX JÚNIOR, 2001, p.34).
18 Gravação feita do repórter (sem nenhuma imagem para cobrir a locução) narrando um acontecimento. Normalmente, é a técnica mais utilizada nas entradas ao vivo nos telejornais.
34
I.4.1.4 Linguagem coloquial correta
Paternostro chama a atenção para o uso da linguagem coloquial nos textos de TV. Ela
lembra que quanto mais as palavras ou o texto forem familiares ao telespectador, mais clara
ficará a informação e maior será o grau de comunicação.
As palavras e as estruturas das frases devem ser o mais próximo possível de uma conversa. Devemos usar palavras simples e fortes, elegantes e bonitas, e apropriadas ao significado e a circunstância da história que queremos contar. Estamos falando de um texto simples, mas não de um texto pobre ou vulgar; estamos falando de um texto natural e não de um texto “rebuscado” ou literário (PATERNOSTRO, 2006, p.95).
Para atingir tal meta, a elaboração de frases diretas (sujeito + verbo + predicado) ajuda
na clareza. “É melhor colocar ponto final e explicar na frase seguinte. Não é limitação de
estilo, é clareza” (PATERNOSTRO, 2006, p. 96). Quem faz coro às orientações de Vera Íris
Paternostro é Heródoto Barbeiro que, ao lado de Paulo Rodolfo de Lima, sentencia no famoso
Manual de Telejornalismo (2002):
O texto jornalístico, seja em veículo impresso ou eletrônico, deve ser claro, conciso, direto, preciso, simples e objetivo. São normas universais, de absurdo consenso em TV, rádio, Internet, jornal ou revista. Algumas regras, no entanto, devem ser seguidas em cada veículo para que a missão de conquistar o telespectador, ouvinte ou leitor seja alcançada (BARBEIRO, LIMA, 2002, p.95).
De fato, Barbeiro está correto. Seja qual for o meio de comunicação, um bom texto é a
pedra-fundamental do processo. No entanto, as peculiaridades das mídias fazem que um texto
da televisão não seja bom para o jornal impresso e vice-versa. Então, a indagação que surge é:
e para a internet, eles são bons em um contexto de convergência? E o texto do rádio, é bom
para a web?
I.4.5 O texto no Rádio
Quando consideradas apenas as hard news (notícias quentes, factuais, de “última
hora”), o texto radiofônico é o que mais se aproxima da web, já que a instantaneidade que a
entrada ao vivo no rádio exige é muito próxima da velocidade que os portais tentam impor,
produzindo textos curtos, em ordem direta (assim como na televisão) e apenas com as
informações básicas, recorrendo, muitas vezes ao “aguarde mais informações” (GONZAGA-
PONTES, 2012). Se por um lado a chance é única para que o leitor consuma a informação, o
que aproxima o veículo da TV, por outro, não há imagem e o tom descritivo, quase sempre
sem aspas, se aproxima bastante do que é produzido nos portais de notícia. No mais, o fato de
35
ser um texto falado faz com que o rádio tenha – com exceção, obviamente, das imagens – as
mesmas características da televisão (discutidas no tópico anterior), entre as quais, destacam-
se, segundo Barbeiro (2003), a atenção com a pontuação, as frases mais curtas, o cuidado com
as rimas e os cacófatos19, o cuidado com o uso de pronomes demonstrativos, a preferência por
frases no singular e a identificação clara de locais durante a construção do texto, que precisa
ser muito mais descritivo, visando a amenizar a ausência de imagens.
Vale destacar, por fim, que o texto no rádio traz, ainda, uma última característica
muito próxima ao texto da televisão: a necessidade de uma interpretação no momento da
leitura. Segundo nos alerta Humberto Eco (1979), a ideia é criar uma empatia/proximidade
com quem está recebendo a mensagem e passar o tom de tristeza ou alegria do fato, criando
uma falsa sensação de interação com o público.
Singular situação de quem se apresta para um contato com o real bruto, e assimila ao contrário, um real humanizado, filtrado e feito argumento. (...) Fácil veículo de fáceis sugestões, a TV é também encarada como estímulo de uma falsa participação, de um falso sentido do imediato, de um falso sentido de dramaticidade (...) a presença agressiva de rostos que nos falam em primeiro plano, em nossa casa, cria a ilusão de uma relação de cordialidade, que, com efeito, não existe (ECO, 1979, 335-343 in COUTINHO, 2003, p.4).
19 Encontro de sílabas de palavras diferentes que forma sons desagradáveis ou palavras obcenas.
36
CAPÍTULO II: debates sobre convergência de mídias
II.1 DEFINIÇÕES DENTRO DA REDAÇÃO
Conforme destacado na introdução desta pesquisa, a convergência de mídias é uma
ação presente na mentalidade e nas ambições empresariais dos grandes grupos brasileiros de
comunicação. Contudo, apesar de figurar, ainda que sob a forma de discurso, na rotina diária
das redações jornalísticas, tal processo é observado de maneira muito simplificada e
superficial pelos profissionais do jornalismo, sendo reduzido, na maioria das análises, a uma
mera sinergia nas tarefas realizadas.
Entre as simplificações feitas pelos jornalistas é comum, por exemplo, associar o êxito
futuro da convergência à construção de um novo modelo de news room que consiga
incorporar os setores que atuam nas diversas etapas de produção da notícia para diferentes
veículos. Também é muito comum confundir o todo do processo com evolução tecnológica ou
com integração de redações.
Para verificar, ainda que pontualmente, essa realidade (e também “passear” um pouco
pelo terreno pesquisado), foi aplicado um questionário sobre convergência de mídias aos
repórteres do Portal Uai, veículo escolhido para a análise qualitativa. Vale ressaltar que a
intenção com a abordagem não foi de teorizar ou utilizar os dados obtidos para o estudo
realizado nesta pesquisa, mas apenas ilustrar uma das fundamentações que o sustentam.
Os resultados do questionário, elaborado à luz da obra de Ramón Salaverría (2008) e
apresentado no 14º Encontro Nacional de Professores de Jornalismo, em Uberlândia
(CAMPOS, 2012), mostram a comum associação da convergência de mídias com a união de
plataformas, rotinas de trabalho e veículos, ficando a união de linguagens, face do processo
mais percebida pelos interagentes, minimizada nas respostas, como mostra o gráfico 1, na
página 36.
Durante a pesquisa, foi traçado um perfil dos jornalistas que se prontificaram a
participar do questionário. Em média, esses profissionais têm 27 anos de idade, sendo quatro
anos e seis meses de formados e um ano e sete meses trabalhando como repórteres de web, o
que nos permite inferir que, em sua maioria, os entrevistados tiveram contato com o tema
“convergência de mídias” ainda dentro da universidade.
37
Gráfico 1 – Unificação de rotinas e transformações tecnológicas são as características
mais associadas à definição de convergência de mídias pelos jornalistas entrevistados (CAMPOS, 2012).
Seguindo a proposta de Salaverría (2008), o questionário foi básico e direto, com
apenas três itens para avaliação dos entrevistados:
� Tente, em poucas linhas, definir o que é convergência;
� Tente, em poucas linhas, definir o que é convergência de mídias;
� Dadas as definições acima, responda, em sua opinião, o que é necessário para
praticar a convergência nas redações jornalísticas?
Após as respostas, a primeira inferência possível se dá a partir da observação de que a
palavra convergência já é utilizada pelos profissionais para se referir ao processo de
convergência de mídias, ficando as definições trazidas pelos dicionários - direção comum
para o mesmo ponto; tendência para um resultado comum - suprimidas nas respostas.
Já entre as explicações apresentadas para definir o que é convergência de mídias,
alguns termos foram usados com maior frequência pelos jornalistas:
� “Única infraestrutura”;
� “Mistura de plataformas”;
� “Mistura de diferentes meios”;
� “Migrar para um mesmo canal”;
� “Concentrar em um só espaço”;
� “Produzir para diferentes meios”;
Investimento em
infraestrutura (11,7%)
Unificação de rotina/produção
(35,29%)
Habilidades/transformações
tecnológicas (29,41%)
Transformação do
conteúdo/narrativa (23,52%)
38
No que diz respeito ao terceiro item do questionário, é possível notar com ainda mais
clareza que a narrativa fica em segundo plano quando avaliado o processo. Ao responder
sobre os procedimentos necessários para viabilizar a convergência de mídias, apenas uma das
respostas mencionou a “transformação de conteúdos”, como mostra o gráfico 2:
Gráfico 2 – Transformação do conteúdo foi citada apenas uma vez (CAMPOS, 2012).
Tal cenário ilustra bem o pressuposto presente neste trabalho de que, mesmo entre os
jornalistas graduados há pouco tempo, existe a comum associação com o investimento em
tecnologia ou estrutura como sinônimos de êxito para a convergência de mídias, ficando as
discussões e definições que passam pela linguagem e a narrativa para um segundo momento.
Fato é que, mesmo entre os estudiosos, não existe consenso em torno de uma definição
única para convergência de mídias, nem é conferido qualquer protagonismo à observação da
união de linguagens no processo (CORRÊA; CORRÊA, 2007; SALAVERRÍA; NEGREDO,
2008; JENKINS, 2009; BARBOSA, 2009; RODRIGUES, 2009; MASSIP, et. al, 2010;
ZILLER, 2011). Mais do que propriamente por um debate conceitual, essa divergência
acontece por causa do já citado caráter multifacetado do processo.
A convergência jornalística é um processo multidimensional que, facilitado pela implantação generalizada das tecnologias digitais de telecomunicação afeta o âmbito tecnológico, empresarial e editorial dos meios de comunicação, proporcionando uma integração de ferramentas, espaços, métodos de trabalho e linguagens anteriormente separadas, de forma que os jornalistas elaboram conteúdos que se distribuem através
Unificação de
rotina/produção (6)
Investimentos em
tecnologia/infraestrutura (6)
Transformação do
conteúdo/narrativa (1)
Transformação
cultural/editorial da
empresa
39
de múltiplas plataformas, de acordo com as linguagens próprias de cada uma (tradução livre minha, SALAVERRÍA; NEGREDO, 2008, p.45) 20.
II.2 DEBATE ENTRE SALAVERRÍA E JENKINS
O caminho mais usual para se chegar próximo de um conceito mais aceito de
convergência de mídias tem sido seguir a teoria de Henry Jenkins e tratar o processo como
cultural, sendo esse apenas parte de uma transformação ainda maior e global. No entanto, o
teórico norte-americano encontra nas pesquisas do espanhol Ramón Salaverría um pertinente
contraponto, uma vez que este tenta aproximar as definições do termo para a realidade do
jornalismo, deixando em segundo plano as transformações culturais.
Autores como Henry Jenkins, por exemplo, têm observado que, na realidade, a convergência jornalística nada mais é do que uma manifestação particular de outro grande processo sociocultural de convergência em escala mundial que tem se chamado de “globalização”. No entanto, parece que chegar a uma definição tão geral seria pouco útil e produtivo. O jornalismo necessita uma aproximação mais combinada e precisa aos meios de comunicação (tradução livre minha, SALAVERRÍA; NEGREDO, 2008, p. 45) 21.
Desta forma pareceu pertinente a este estudo confrontar as publicações de ambos
(assim como de seus antecessores, como Marshall McLuhan, e daqueles que os estudam e
acompanham, como Samuel Negredo), a fim de buscar conceitos mais sólidos e bem
recortados para o modelo que sustenta a análise qualitativa realizada.
II.3 ESTUDOS DE SALAVERRÍA E NEGREDO
Há mais de uma década, o fenômeno da convergência de mídias serve de alento e, ao
mesmo tempo, assombra jornalistas e empresas de comunicação em todo o planeta. Esta
relação ambígua, de medo e esperança, nada mais é que o fruto das novas possibilidades
20 La convergencia periodística es un processo multidimensional, que, facilitado por la implantación generalizada de las tecnologías digitales de telecomunicación, afeta el ámbito tecnológico, empresarial, profesional y editorial de los medios de comunicación, propiciando una intergración de herramientas, espacios, métodos de trabajo y lenguajes anteriormente disgregados, de forma que los periodistas elaboran contenidos que se distribuyen a través de múltiples plataformas, mediante los lenguajes proprios de cada una. (SALAVERRÍA; NEGREDO, 2008, p.45).
21 Autores como Henry Jenkins, por ejemplo, han señalado que, en realidad, la convergencia periodística no es sino una manifestación particular de outro gran proceso sociocultural de convergencia a escala planetaria que se há dado en llamar “globalización”. Sin embargo, parece que llegar a una definición tan general sería poço útil y operativo. La profesión periodística necesita una aproximación más concerta y ceñida a los medios de comunicación (SALAVERRÍA; NEGREDO, 2008, p. 45).
40
criadas com a internet para o “fazer jornalístico”, sobretudo a partir da Web 2.0. É a linha
tênue entre o que pode ser o futuro do Jornalismo e, também, o decreto de extinção de alguns
de seus principais veículos, ou, numa perspectiva mais revolucionária, de uma era inteira da
imprensa. Entendê-la (esta tênue relação) talvez seja a melhor definição para a essência do
trabalho de Ramón Salaverría, que junto com Samuel Negredo viajou pelas Américas do Sul e
do Norte, além da Europa, observando de perto os acertos e equívocos em oito redações onde
se tentou unir em um só ambiente – físico, tecnológico, intelectual e de linguagem –
atividades jornalísticas com características de produção, suportes, públicos e linhas editoriais
tradicionalmente distintos. Os estudos e observações estão reunidos no livro “Periodismo
integrado. Convergencia de medios y reorganización de redacciones”, de 2008.
Ao lado do pesquisador americano Henry Jenkins, Ramón Salaverría aparece como
um dos principais estudiosos da convergência de mídias no planeta. No entanto, ao contrário
do americano, o espanhol apresenta uma visão mais apocalíptica do processo, justificando na
maioria das vezes com números e cifras publicitárias o medo que os jornalistas têm da
revolução digital e do fim de alguns veículos, como é possível perceber no exemplo a seguir:
A conta dos jornais norte-americanos nos últimos tempos começa a ser elevada: The New York Sun, Kentucky Post, Cincinnati Post, King Country Journal, Union City Register-Tribune, Capital Times, Halifax Daily News, Albuquerque Tribune, South Idaho Press... Outros jornais diários, como o Christian Science Monitor, abandonaram a edição impressa – com exceção dos sábados – e mantêm o foco na rede (tradução livre minha, SALAVERRÍA; NEGREDO, 2008, p. 25) 22.
Embora este estudo aborde uma visão mais otimista do que a trazida por Salaverría e
foque na linguagem convergente, deixando de lado as cifras e não menos importantes
questões trabalhistas, a obra do espanhol é de inquestionável importância para sua realização,
uma vez que ao fazer um estudo dos principais casos de convergência ao redor do globo, o
pesquisador trouxe noções de convergência jornalística muito mais completas e bem
estruturadas do que aquelas experimentadas por Jenkins. Antes de tratá-la como um processo
cultural, o autor se preocupa em mostrar como o processo de convergência atua na
transformação das linguagens jornalísticas tradicionais, uma vez que a internet consegue
22 La cuenta de diários norteamericanos em los últimos tiempos empieza a ser elevada: The New York Sun, Kentucky Post, Cincinnati Post, King Country Journal, Union City Register-Tribune, Capital Times, Halifax Daily News, Albuquerque Tribune, South Idaho Press... Otros periódicos, como el Christian Science Monitor, han abandonado la edición impresa – salvo los sábados – y mantienen la cabecera em la red. (SALAVERRÍA; NEGREDO, 2008, p. 25).
41
reunir características como a interpretação do impresso, a imediatez do rádio e o
entretenimento da televisão. É Salaverría também que aponta pela primeira vez uma lista com
diferentes níveis de convergência, ao estudar o exemplo do Tampa News Center, na Flórida
(EUA). O teórico aponta sete níveis (Quadro 1, p.41) que foram atravessados na redação, que
vão do compartilhamento de dados e recursos humanos até a apresentação dos diferentes
suportes com uma só identidade e com os mesmos mecanismos de resposta para o cidadão,
sendo este último (tido como o 7º nível), o que mais interessa a esta pesquisa.
Dada riqueza do estudo realizado pelos espanhóis, principalmente no Laboratorio de
Comunición Multimedia (MMLab), da Universidade de Navarra, esta pesquisa trabalhou
dentro dos princípios do paradigma convergente mais amplo que é proposto por Henry
Jenkins, mas sempre recorrendo aos exemplos e definições conceituais de Salaverría. Em
outras palavras, esta pesquisa segue uma corrente teórica alinhada ao pesquisador americano,
mas sem deixar de lado a rica contribuição conceitual da corrente espanhola (e aqui podemos
citar além de Salaverría e Negredo, os espanhóis Pere Massip e Xosé Lopéz), que surge como
indispensável a este e qualquer outro debate proposto sobre o tema.
Níveis de convergência experimentados no Tampa News Center
Nível 1 Nível 2 Nível 3 Nível 4 Nível 5 Nível 6 Nível 7
Com
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Quadro 1 – Salaverría aponta os níveis de convergência pelos quais passou a primeira redação a implementar o processo no globo (SALAVERRÍA; NEGREDO, 2008)
II.3.1 Em busca de definições
Em busca de uma definição sobre o tema, Salaverría e Negredo lembram que,
primeiramente, a convergência de mídias é um processo e, como tal, é gradual e paulatino.
“Não existe nenhum só exemplo no mundo de grupo jornalístico que tenha passado, sem um
42
projeto de continuidade, da absoluta descoordenação entre seus meios à plena integração”
(tradução livre minha, SALAVERRÍA; NEGREDO, 2008, p.46) 23.
Ao contrário de Henry Jenkins, que opta por estudar a convergência como um
processo prioritariamente cultural (como será melhor retratado no tópico II.5), os espanhóis
optam por esgotar todas as possibilidades de estudo sobre o tema e defendem que o mesmo se
repita nas redações jornalísticas, uma vez que, dado o caráter multifacetado do processo,
pouco adiantaria praticá-lo apenas em uma de suas vertentes. “De nada serve, por exemplo,
esforçar-se em integrar os conteúdos de um jornal impresso com sua edição digital se,
anteriormente, não se tiver reorganizado de forma correta a equipe de jornalistas” (tradução
livre minha, SALAVERRÍA; NEGREDO, 2008, p.46) 24.
Para ilustrar a reorganização necessária para realização da convergência de mídias,
Salaverría e Negredo comparam o processo com a regência de uma orquestra, que precisa
coordenar diferentes conjuntos de instrumentos (corda, metal, percussão) para conseguir um
som harmônico. No caso do processo jornalístico, seriam quatro os conjuntos principais a
serem “regidos”: tecnológico, empresarial, profissional e editorial.
II.3.1.1 Dimensão tecnológica
A esfera tecnológica corresponde às ferramentas e sistemas de produção e difusão do
conteúdo. Como visto no questionário presente neste capítulo, esse conjunto engloba, na visão
dos jornalistas, o que de melhor pode definir a convergência de mídias. De fato, o
desenvolvimento de novas tecnologias é ator fundamental no processo, ainda que não seja o
único.
Os teóricos espanhóis lembram que o vertiginoso avanço das tecnologias multimídia
tem colocado os jornalistas com ferramentas de produção cada vez mais semelhantes. Já é
comum que processadores de texto e programas de edição de vídeo e áudio, por exemplo,
compartilhem as mesmas plataformas, de maneira que, independentemente do meio em que
23 No existe ni un solo ejemplo en el mundo de grupo periodístico que haya pasado, sin solución de continuidad, de la absoluta descoordinación entre sus medios a la plena integración (SALAVERRÍA; NEGREDO, 2008, p.46).
24 De nada sirve, por ejemplo, esforzarse en articular los contenidos de um diário impreso com los de su edición digital, si, previamente, no se há reorganizado como es debido al equipo de periodistas (SALAVERRÍA; NEGREDO, 2008, p.46)
43
trabalhem, os profissionais se acostumem com as interfaces, conseguindo editar e produzir se
necessário, em diferentes suportes e para diferentes veículos.
Na prática, considerando a convergência que acontece nos portais, a tecnologia atinge
diretamente a linguagem. Salaverría e Negredo citam a pesquisa do colega García Avilés para
lembrar que “se na etapa analógica cada meio e cada suporte se centrava em conteúdos
específicos para suas linguagens correspondentes, agora, a convergência propicia o
intercâmbio e a combinação dos conteúdos de uns meios com os outros” (tradução livre
minha, SALAVERRÍA; NEGREDO, 2008, p.47) 25.
II.3.1.2 Dimensão empresarial
No que diz respeito ao ponto de vista empresarial, o processo de convergência nada
mais é do que a etapa final de uma transformação muito mais ampla, iniciada há mais de 25
anos pelos grupos comunicacionais, com o intuito de diversificar suas áreas de atuação em
busca da liderança. Com a concretização da convergência de mídias, o que muda é somente o
veículo que desempenha o papel de protagonista nas empresas, como sugere o esquema
elaborado por Salaverría e Negredo:
Figura 1 – Enquanto nos anos 2000, a internet exercia o papel de integrar os outros veículos, com a
concretização da convergência de mídias ela passa a ser protagonista no processo (Adaptado de SALAVERRÍA; NEGREDO, 2008).
25 Si en la etapa analógica, cada medio y cada soporte se centraba en unos contenidos específicos con sus correspondientes lenguajes, ahora la convergencia propicia los intercambios y combinaciones de los contenidos de unos medios con otros ( SALAVERRÍA; NEGREDO, 2008, p.47).
44
II.3.1.3 Dimensão profissional
A terceira esfera citada por Salaverría e Negredo é a profissional, ou seja, a que
envolve diretamente o trabalho e as funções do jornalista. O chamado “profissional
convergente” tem se enquadrado de maneira crescente no perfil polivalente, desempenhando
funções que antes eram divididas entre apuradores, repórteres, fotógrafos, diagramadores,
redatores, editores, entre outros.
No entanto, tal sinergia no trabalho não é nova e vem ganhando corpo ao longo da
última metade de século, como se pode notar no quadro elaborado por Ramón Salaverría:
Evolução das tarefas realizadas por jornalistas do impresso
Obrigatórias Possíveis
Rep
orta
gem
Red
ação
Edi
ção
Doc
umen
taçã
o
Pla
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ção
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ção
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os/á
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s
Loc
ução
de
víde
os/á
udio
s
1960
1970
1980
1990
2000
20?? Quadro 2 – Tarefas dos jornalistas foram multiplicadas, sobretudo
nos últimos dez anos (SALAVERRÍA; NEGREDO, 2008).
Tal característica, segundo os pesquisadores, tem levado ao surgimento de dois tipos
de polivalência entre os jornalistas: a funcional e a midiática.
Peguemos o exemplo de um repórter apurador, responsável por descobrir e repassar as
primeiras informações sobre uma notícia factual. Na polivalência funcional, este jornalista se
adapta às necessidades impostas pela empresa, aprendendo a editar vídeos, por exemplo, e
passando a desenvolver as duas funções. No caso da polivalência midiática, a convergência
acontece mais em relação aos meios. O mesmo profissional se especializa em produzir o
conteúdo para diferentes mídias, fornecendo o material sobre um mesmo assunto para o rádio,
a televisão e a web. Vale destacar que esse último caso é cada vez mais comum entre os
freelancers, que se especializam em determinados assuntos para cobri-los para diferentes
veículos.
45
II.3.1.4 Dimensão dos conteúdos
A última esfera citada por Salaverría e Negredo – a de maior interesse para esta
pesquisa – se refere aos conteúdos. Os pesquisadores espanhóis lembram que, em uma
definição mais básica, pode-se considerar como convergência a difusão do mesmo conteúdo
em diferentes meios ou a reunião de diferentes conteúdos em um único meio. No entanto, eles
fazem coro com um dos pressupostos que justificam este trabalho e lembram que tal
fenômeno configura apenas a produção multimidiática. Ao conteúdo convergente, eles
propõem uma explicação “mais avançada”:
Corresponde a criação de uma linguagem jornalística derivada da combinação de textos, sons e imagens fixas e em movimento. Esta nova linguagem, explorada, sobretudo, pelos veículos de internet, seria algo como um ponto em que se amarram as heranças genéticas do jornalismo escrito por um lado e do jornalismo audiovisual por outro (tradução livre minha, SALAVERRÍA; NEGREDO, 2008, p.50) 26.
II.3.2 Integração e a convergência de mídias
Dentro das redações jornalísticas, é comum o emprego indiscriminado do termo
“integração” como sinônimo de convergência de mídias. Contudo, conforme salientam
Salaverría e Negredo, os termos se referem a possibilidades diferentes.
É preciso lembrar (mais uma vez!) que a convergência é um processo, ou, em uma
definição dicionarizada, são duas ou mais linhas que caminham para um mesmo ponto. A
consequência disso, para os pesquisadores, é de que a convergência sempre será um processo
inacabado. Já o conceito de integração surge na interseção das linhas que convergiam, ou seja,
do ponto de vista da teoria jornalística, integração nada mais é do que o resultado possível da
convergência de mídias.
A confusão de definições citada acima surge como grande risco às empresas
jornalísticas. Isso acontece uma vez que o êxito da convergência é associado à simples
integração de redações, desconsiderando as demais etapas do processo e empobrecendo o
conteúdo jornalístico com a fusão mal estruturada de equipes. Ao passo que o reconhecimento
da qualidade pelo público é um processo de longo prazo, os efeitos da falta de qualidade são
26 Corresponde a la creción de un lenguaje periodístico derivado de la combinación de textos, sonidos e imágenes fijas y en movimento. Este nuevo lenguaje, explorado sobre todo por medios en Internet, sería algo así como un crisol en el que se amalgaman las herencias genéticas del periodismo escrito por um lado y del periodismo audiovisual por outro (SALAVERRÍA; NEGREDO, 2008, p.50)
46
reconhecidos em curto prazo e fazem com que a economia de dinheiro com a união de
equipes e processos produtivos logo se transforme em prejuízo. “As empresas jornalísticas
que conjugam o verbo ‘integrar’ redações como simples eufemismo de ‘dizimar’ redações
têm problemas que as aguardam assim que dobrarem a esquina” (tradução livre minha,
SALAVERRÍA; NEGREDO, 2008, p.51) 27.
Para conseguir chegar com sucesso à integração, fruto do processo convergente,
alguns passos são fundamentais, com uma transformação que comece das instâncias
superiores até chegar à redação. Trata-se de uma sequência de etapas que modifiquem com
qualidade a rotina de produção, sendo o surgimento do produto jornalístico, consequência
desta mudança. No entanto, é preciso lembrar que esta não é a única possibilidade:
A convergência é como um trem: o final do trajeto está marcado por uma estação chamada integração. No entanto, como em qualquer linha férrea, antes desta estação final, a linha dispõe de paradas anteriores. Cada grupo de jornalismo, em função de suas peculiaridades e objetivos, é que deve determinar em qual dessas paradas vai apear seu trem (tradução livre minha, SALAVERRÍA; NEGREDO, 2008, p.52) 28.
Em outras palavras, a convergência é inevitável, a integração não.
II.3.3 O conceito de cross-media para Salaverría (multiplataforma ou XMA)
Pensando cross-media como sinônimo de conteúdo multiplataforma, chegamos a um
significado que nos salta aos olhos, designando todos os aspectos relacionados com a
produção, a difusão e o consumo dos conteúdos através de diferentes meios que fazem parte
de determinado grupo comunicacional. Desta forma, nos alertam Salaverría e Negredo,
quando se fala em produção jornalística multiplataforma ou cross-media, se alude aos
processos tecnológicos e editoriais que orientam a produção de conteúdos para o posterior
consumo através de múltiplos meios ou dispositivos de recepção.
Tal processo foi facilitado pelo grande avanço das tecnologias que permitem que um
mesmo conteúdo tenha cópias distribuídas simultaneamente em diferentes meios digitais,
27 Las empresas periodísticas que conjugan el verbo ‘integrar’ redacciones como um simple eufemismo de ‘diezmar’, los problemas les aguardan justo a vuelta de la esquina (SALAVERRÍA; NEGREDO, 2008, p.51)
28 La convergencia es como un tren: el fin de trayecto viene marcado por una estación llamada integración. Sin embargo, como cualquier línea de ferrocarril, además de esa estación término la línea dispone de otras paradas anteriores. Cada grupo periodístico, en función de sus peculiaridades y objetivos, debe determinar en cuál de esas paradas se apea del tren (SALAVERRÍA; NEGREDO, 2008, p.52).
47
como para computadores ou dispositivos móveis, sem grandes dificuldades. Além do mais, o
mesmo conteúdo ainda pode ser trabalhado pelos meios clássicos, ainda que sem o mesmo
caráter simultâneo.
No que diz respeito ao âmbito editorial, o de maior interesse para esta pesquisa, a
estratégia do cross-media traz uma finalidade que, se bem trabalhada, pode ser de grande
valia para os grupos jornalísticos. Trata-se de evitar a descoordenação de informações entre os
veículos de uma mesma empresa, sempre muito prejudicial, propiciando, ao contrário, uma
complementaridade que gere um “efeito grupo”, destaca Salaverría (2008). Desta forma, em
um plano ideal, os veículos produziriam conteúdos que se complementassem, reforçando a
cobertura sobre determinado evento que seja de interesse da empresa.
A característica citada acima leva o cross-media, ainda, a outro objetivo: a
diversificação de audiências e a aproximação entre o jornalismo e os negócios das
telecomunicações. Trata-se de uma fusão do tradicional modelo de distribuição do jornalismo
(um para todos) com o modelo desenvolvido pelas telecomunicações (um para um). Tal
possibilidade acontece graças às peculiaridades e possibilidades tecnológicas da Web 2.0,
como retratado no capítulo I deste estudo.
II.3.4 Multimidialidade
Multimidialidade nada mais é do que a possibilidade de produzir conteúdos
multimidiáticos, com vídeos, textos, fotos, áudios e gráficos. Como ressaltado ao longo desta
pesquisa, assim como acontece com o conceito de integração, a produção de um conteúdo
multimídia também é comumente confundida com o todo da convergência de mídias. Porém,
é justo reconhecer que é esta característica (ao lado da hipertextualidade e da interatividade,
como dito no capítulo I) a responsável por conferir protagonismo aos veículos de internet
dentro do processo convergente, como mostra o quadro 3, na página 48.
Comumente confundida com cross-media, a multimidialidade se aproxima mais do
objeto de estudo desta pesquisa, uma vez que se refere à combinação de conteúdos e
linguagens, enquanto a XMA se refere à combinação de meios e suportes.
Vale ressaltar que, embora a multimidialidade seja uma característica inerente à web,
que consegue combinar textos, fotos e vídeos sem maiores dificuldades, outros meios, como o
impresso e a TV também podem ser considerados multimidiáticos, ao combinarem textos e
imagens, por exemplo. Tal aspecto surge como inviável apenas no rádio, incapaz de, pela
forma clássica de transmissão, apresentar conteúdos textuais ou imagéticos.
48
Comparação de possibilidades expressivas no impresso, no rádio, na TV e nos meios on-line
Impresso Rádio TV On-line
Hipertextualidade Baixa (artigos
relacionados em páginas)
Nenhuma Nenhuma Alta (navegação
hipertextual)
Multimidialidade Baixa (combinação estática de textos e
imagens)
Nenhuma (apena o som)
Alta (combinação dinâmica de imagens, sons e breves textos)
Alta (combinação dinâmica de imagens, sons e todos os tipos
de textos)
Interatividade Baixa (cartas/e-mails e conteúdos sugeridos
por leitores)
Média (intervenções telefônicas com
participação direta dos ouvintes)
Média (intervenção telefônica dos
telespectadores e participação por
mensagens)
Alta (navegação é dirigida pelo leitor / diálogo entre o leitor
e o jornalista)
Quadro 3 – Hipertextualidade, multimidialidade e interatividade colocam portais como protagonistas no contexto convergente (SALAVERRÍA; NEGREDO, 2008)
II.3.4.1 Convergência é fator necessário
Como dito, o que tem sido comum nas redações é a colocação da multimidialidade
como responsável pela convergência. Porém, segundo Salaverría e Negredo, o processo deve
ser observado exatamente da forma contrária. Apenas quando as empresas colocam seus
fluxos de produção para internet, TV, rádio e impressos em conjunto e possibilitam o
compartilhamento dentre conteúdos é que a multimidialidade acontece de forma mais viável,
sendo o oposto tão perigoso para o empobrecimento do conteúdo quanto a visão equivocada
de integração, citada anteriormente. “A convergência é a condição necessária para o
desenvolvimento da multimidialidade”, (tradução livre minha, SALAVERRÍA; NEGREDO,
2008, p. 56) 29.
II.3.5 Escalabilidade
O conceito de escalabilidade, apresentado por Salaverría e Negredo, se refere è
propriedade de um sistema ou rede de crescer de maneira fluida ou de conseguir oferecer mais
serviços (conteúdos) sem perder a qualidade. De certa forma, a expressão se assemelha ao
29 La convergencia es condición necesaria para el desarollo de la multimedialidad (SALAVERRÍA; NEGREDO, 2008, p. 56)
49
conceito de adaptabilidade, incorporando a noção de tamanho. Seria algo como a propriedade
das empresas jornalísticas de conseguir se adaptar ao constante crescimento da audiência e à
constante multiplicação das possibilidades multimidiáticas e interativas.
No que diz respeito ao conteúdo, a necessidade de seguir a escalabilidade pode trazer
resultados negativos para a qualidade editorial, uma vez que a multiplicação de tarefas com o
constante crescimento da web acaba por sufocar os profissionais entre funções que surgem
diariamente, ficando fatores essenciais ao bom jornalismo, como o texto correto e completo,
por exemplo, prejudicados e pobres.
Nas palavras do vice-presidente de operações digitais do grupo New York Times,
Martin Nisenholtz, escalabilidade é ter a capacidade de crescer em usuários, ferramentas e
oferta de conteúdos, mantendo ou incrementando a qualidade editorial.
II.3.6 Shovelware
O brasileiro Rosental Camon Alves, professor da Universidade do Texas, explica que
shovelware foi o nome criado nas redações on-line americanas para definir o material
preparado para um meio tradicional (TV, rádio, impresso) e publicado do mesmo jeito na
Internet, com pouco ou nenhum retrabalho. Segundo Salaverría e Negredo, tal fenômeno nada
mais é do que “derrubar informação de forma indiscriminada”, colocando as empresas contra
seu próprio prestígio ao mecanizar um processo e passar aos usuários a clara sensação de que
estão recebendo o conteúdo de uma máquina.
Com isso, o que se vê são fotografias importantes multiladas pelo enquadre
automático, reportagens cortadas por causa de uma quebra de página, parágrafos repetidos,
dezenas de caracteres estranhos e códigos indevidos (se assemelhando a erros ortográficos),
entre outros equívocos.
Na maioria das vezes, os próprios interagentes atuam corrigindo a informação
publicamente (no espaço dos comentários, por exemplo) ou de forma particular, através de e-
mail ou mensagem ao portal, mas isso não reduz o impacto que uma rotina de shovelware traz
para a imagem do veículo. Afinal, em outras palavras, shovelware é publicar à revelia, sem
seleção nem adaptação para o suporte. Seria como usar uma pá (shovel) para pegar a pilha de
informações do impresso, por exemplo, e descarregá-las, sem trato ou cuidado algum, na web.
Tal processo se amplia com o surgimento de novas tecnologias mobile, uma vez que o
shovelware começa a se repetir com os conteúdos produzidos para desktops que são
replicados sem tratamento ou adequação em smartphones e tablets.
50
No que diz respeito ao papel do jornalista dentro deste processo, quando não é
totalmente automatizada, a tarefa do profissional se limita ao trabalho de “copiar e colar”, que
não tem nada de editorial. Trata-se apenas de uma redução de custos que resulta em um
produto idêntico ao anterior e com deficiências graves na nova plataforma.
A equação parece clara, de uma lógica esmagadora: quanto mais conteúdos, mais visitas, especialmente através de buscadores. Mas oferece quantidade a qualquer preço nunca deveria ser o objetivo de uma empresa de jornalismo. Existem várias soluções para eliminar o indesejável shovelware do fluxo de trabalho (tradução livre minha, SALAVERRÍA; NEGREDO, 2008, p. 58) 30.
II.3.7 Repurposing (alteração de propósito)
Repurposing em certo grau se assemelha com o shovelware, já que, de fato, também
define a transposição de uma matéria de jornal ou de TV, por exemplo, para o meio on-line.
No entanto, o repurposing supõe que seja feita uma otimização do conteúdo transposto com o
uso de todas as possibilidades comunicativas da nova plataforma. Neste trabalho, o termo será
substituído pela expressão “alteração de propósito”, que melhor traduz o sentido do termo
lançado por Salaverría e Negredo (2008).
No caso dos portais de notícia, a alteração de propósito pressupõe, ao adaptar uma
reportagem do impresso, por exemplo, que esta seja editada com parágrafos mais curtos,
palavras ou ideias destacadas em negrito, links, imagens cortadas com critérios humanos, uma
galeria de imagens com o material que não coube no papel, entre outros artifícios. O mesmo
deve acontecer com um vídeo, por exemplo, que, se não for corretamente manipulado para a
web pode perder contexto, referências temporais, entre outros.
A excelência da alteração de propósito, no entanto, estaria relacionada com o
planejamento da notícia desde sua concepção, de modo que fosse pensada, adequando-se aos
benefícios oferecidos por cada suporte. No caso da web, o desafio é imaginar como passá-la
da forma mais completa possível ao interagente, pois é este que exerce protagonismo dentro
do contexto convergente.
30 La ecuación parece clara, de una lógica aplastante: cuantos más contenidos, más visitas, especialmente a través de buscadores. Pero oferecer cantidad a cualquier precio nunca debería ser el objetivo de una empresa periodística. Existen varias soluciones para eliminar el indeseable shovelware del flujo de trabajo (SALAVERRÍA; NEGREDO, 2008, p. 58)
51
II.3.8 Modalidades de convergência
II.3.8.1 Convergência a dois (papel + TV)
A dita convergência a dois é o modelo de convergência mais praticado no globo, com
a associação entre o jornal impresso e o portal. Nestes casos, o mais comum é tratar o
processo como uma formalização da relação já existente entre as redações. Apesar disso, no
novo contexto multimidiático, cada vez mais o portal tem de tentar se afastar do modelo de
“resumo do impresso”, investindo em recursos que atraiam os interagentes, com o uso de
vídeos e gráficos.
II.3.8.2 Convergência a três (papel + online + TV)
É um modelo de convergência que cresceu muito nos últimos anos com a
popularização da internet de banda larga. No entanto, a convergência com a televisão é mais
difícil do que a realizada entre jornal e portal, uma vez que a TV “prima pelo entretenimento
sobre a informação, a imagem sobre a palavra, o impacto sobre a reflexão” (tradução livre
minha, SALAVERRÍA; NEGREDO, 2008, p.128) 31. Além disso, é difícil transpor à web a
agilidade e o estilo informal que se impõe nos informativos do meio televisivo, como visto no
capítulo I, sem perder contexto ou as referências temporais.
II.3.8.3 Convergência a quatro (papel + online + TV + rádio)
É o modo mais complexo, mas também o que mais abre possibilidades com a
convergência de mídias. Dado o trabalho específico que cada meio requer, dificilmente um
mesmo redator ou repórter trabalhará simultaneamente para os quatro veículos, porém mais
profissionais podem atuar em conjunto. A vantagem de ter uma rádio dentro de uma estrutura
convergente é a imediatez e a agilidade, que em muitos casos supera os portais mais bem
estruturados de hard news.
31 Prima el entretenimiento sobre la información, la imagen sobre la palabra y el impacto sobre la relexión (SALAVERRÍA; NEGREDO, 2008, p.128)
52
II.3.9 Justaposição, integração e repetição
Embora destaque que integração é uma palavra utilizada de forma errônea para
determinar a convergência de mídias como um todo, Salaverría (2005) lança o termo para
definir o produto final do processo convergente. Dessa forma, o espanhol define por
integração a publicação, em um mesmo meio (plataforma), de conteúdos originados em outros
meios que se complementem e abordem um mesmo assunto/tema, oferecendo novas
potencialidades de leitura e interpretação aos interagentes.
No entanto, como reforça Ziller (2011), Salaverría também define outras duas formas
de convergência dos conteúdos: a justaposição e a repetição. “Salaverría (2005) classifica a
convergência de conteúdo multimídia naquela feita por justaposição, como no caso das TVs
que incluem, no rodapé das imagens, uma linha de texto com notícias que não se relacionam
àquela tratada no vídeo” (ZILLER, 2011, p.15).
Por repetição, Salaverría (2005) entende a publicação de conteúdos com informações
semelhantes, que não se completam, simulando uma falsa convergência que acaba por se
tornar cansativa ao interagente, contrariando o objetivo inicial de oferecer um conteúdo mais
completo, com maiores possibilidades de leitura e interpretação. Tal característica, segundo
Ziller (2011), reforça o pensamento de que “do ponto de vista da recepção, há certa
unanimidade em defender que a incorporação de conteúdos multimídia na web, em particular
dos vídeos, não pode ser regida pela mera justaposição de conteúdos” (MASSIP, 2010, p.572
in ZILLER, 2011, p.15).
II.4 ESTUDOS DE JENKINS E HERANÇA DE MCLUHAN
Dentro de praticamente todos os debates sobre convergência de mídias, o pesquisador
Henry Jenkins tem sido a principal referência para delinear um conceito que permita analisar
o processo a partir de diferentes caminhos. Lemos (2009) destaca que a obra do norte-
americano, o livro “Cultura da Convergência” (2009), tem dado luz às pesquisas
principalmente por causa da abordagem que traz sobre o “tripé”: convergência midiática,
inteligência coletiva e cultura participativa. Tais discussões fundamentam-se a partir de outras
três noções trazidas pelo autor e de igual importância:
� A convergência midiática como processo cultural e não tecnológico;
� O modelo de narrativa transmidiática como referência para o processo;
53
� A economia afetiva permitindo inferências de caminhos dentro da
convergência;
Entre estas discussões, surge como maior interesse para esta pesquisa, que aborda
prioritariamente o produto jornalístico dentro da convergência de mídias, o modelo de
narrativa transmidiática. Há ainda uma quarta noção, presente na introdução deste trabalho,
que parece indispensável e deve ser acrescentada ao tripé apresentado por Lemos: trata-se do
conceito de “paradigma da convergência”, utilizado por Jenkins para justificar sua obra e um
dos principais trunfos em relação a outros teóricos, como Salaverría, por exemplo.
Se o paradigma da revolução digital presumia que as novas mídias substituiriam as antigas, o emergente paradigma da convergência presume que novas e antigas mídias irão interagir de formas cada vez mais complexas. O paradigma da revolução digital alegava que os novos meios de comunicação digital mudariam tudo. Após o estouro da bolha pontocom, a tendência foi imaginar que as novas mídias não haviam mudado nada (JENKINS, 2009, p. 32).
II.4.1 A teoria de Marshall McLuhan
Antes de abordar de forma mais profunda as discussões de Henry Jenkins e seu
conceito de narrativa transmidiática, é fundamental beber da mesma fonte que o norte-
americano para compreender alguns dos principais conceitos que norteiam seu trabalho.
Embora o próprio Jenkins cite o cientista Ithiel de Sola Pool (1917 – 1984) como o
verdadeiro profeta da convergência, é o professor canadense Marshall McLuhan (1911 –
1980), reconhecido como profeta da revolução digital, que inspira o pensamento do
pesquisador com as ideias de inteligência coletiva e aldeia global. É dele que o norte-
americano extrai a essência que fundamenta a obra Cultura da Convergência.
II.4.1.1 Aldeia global: o centro da teoria
Em 1962, com o livro “The Gutenberg Galaxy: the making of typographic man”, o até
então pouco conhecido professor Marshall McLuhan traz o conceito de “aldeia global”
(extremamente próximo da definição de globalização) para os meios de comunicação,
provocando calorosos debates e a ira dos críticos, sobretudo nos Estados Unidos, onde o livro
foi publicado e distribuído em larga escala.
Os debates e, sobretudo, as críticas, acontecem porque o autor prega, na obra, que o
crescente desenvolvimento dos meios eletrônicos de comunicação – principalmente a TV,
exemplo mais contemporâneo à publicação da teoria – contribuiria para criar uma sociedade
54
ligada em rede, eliminando as fronteiras geográficas e levando os indivíduos a
compartilharem pautas e informações de maneira solidária, democrática. Em outras palavras,
seria o fim do modelo “um para todos” na comunicação, tornando o globo uma grande aldeia
em que todos poderiam se comunicar diretamente com todos, sem a necessidade de filtros e,
de certa forma, promovendo a “retribalização” do planeta com o fim da era da escrita,
apontada pelo autor como era da “destribalização” ou do individualismo.
A tese de McLuhan é a de que as mudanças nas relações humanas e na estrutura social
que delas se origina são promovidas e condicionadas pela evolução dos meios de
comunicação. Dada essa premissa, o canadense defendia estar diante de uma transformação
tão radical como a que se registrou na idade paleolítica para a neolítica: a passagem da era
mecânica para a era eletrônica, da era de instrumentos que apenas prolongavam as
capacidades físicas (máquina de escrever) para a era em que os instrumentos (meios
eletrônicos) prolongam o nosso sistema nervoso central.
É o pesquisador brasileiro Luiz Beltrão que, em artigo de 1968, explica e resume
críticas e contribuições do trabalho de McLuhan:
Negado por uns, para os quais depois de resistir às seduções da “Noiva Mecânica” (a tipografia) deixou-se apaixonar pelas “perversidades da sua progênie eletrônica”, esquecendo a moral em favor da técnica, a sua obra, contudo, é reconhecida por outros como a de um realista, um autêntico filósofo da nova era, um restaurador até da verdadeira cultura que a revolução tipográfica liquidara (BELTRÃO, 1968, s.n.).
Em 1967, com a obra “The medium is the massage”, Marshall McLuhan explica o
ponto central de sua teoria, sem conseguir, contudo, abrandar o furor que trouxe ao sentenciar
o fim da mídia impressa e dos modelos comunicacionais pregados ao longo de décadas pelos
seus contemporâneos e antecessores. Na nova publicação, em coautoria com Quentin Fiore,
McLuhan trata o título da obra como sua tese central, ou seja, que o meio é a mensagem. Em
outras palavras, o teórico destaca que o meio de comunicação, geralmente associado ao canal
mecânico responsável por transmitir a mensagem, de fato, é um dos elementos decisivos no
jogo comunicacional e molda os conteúdos.
Embora o usual seja pensar o meio como mero local de transmissão da mensagem,
McLuhan destaca o fato de uma mensagem proferida oralmente ou por escrito, transmitida
pelo rádio ou pela televisão, colocar em jogo diferentes estruturas perceptivas, podendo
adquirir diferentes significados. Assim, ele defende que o meio não apenas constitui a forma
comunicativa, mas determina o próprio conteúdo da comunicação, sendo os eletrônicos
responsáveis por transformar esse conteúdo e toda a lógica comunicativa.
55
II.4.1.2 Coro a McLuhan
Citando Walter Benjamin (1882 – 1940), um dos marcantes teóricos da Escola de
Frankfurt, Regina Zilberman (2006) lembra no artigo “Memória entre oralidade e escrita”
distinções importantes nas narrativas orais e escritas, fazendo, de certa forma, coro a
McLuhan. Para Zilberman, enquanto a oralidade presume a presença de uma audiência
coletiva, a escrita aparece como produto de um indivíduo solitário que escreve para um leitor
não identificado e igualmente isolado de todos, retomando, em certo ponto, a ideia de
“destribalização”.
II.4.1.3 Aldeia ou teia global?
Em certo ponto, as críticas dos contemporâneos de McLuhan à sua teoria se justificam
temporalmente, uma vez que a revolução pregada pelo autor era inviável com a tecnologia
oferecida na época, com notável expansão da televisão e o fortalecimento dos rádios.
Contudo, tem sido comum uma “retratação acadêmica”, por assim se dizer, com o
pesquisador, uma vez que suas teorias ganham vida nova e ilustram – em muitos casos com
perfeição – o modelo global de comunicação e interação que surge com a WWW, sobretudo
com o estouro da bolha da Web 2.0.
Embora Jenkins seja o seguidor de maior sucesso de McLuhan dentro das pesquisas
em convergência de mídias e comunicação, ele não é o único e o conceito de aldeia global
segue a cada dia ganhando novas teorias aliadas, o que, de certa forma, leva à “utilização
indiscriminada” e, em alguns casos, equivocada dos pensamentos do teórico. Quem chama a
atenção para o fato é o pesquisador brasileiro Vinícius Andrade Pereira (2011).
Em “Entendendo McLuhan: da aldeia à teia global”, Pereira (2011) lembra que para
que o planeta, de fato, funcionasse como uma aldeia global, que todos teriam que comungar
de uma mesma fonte de informações, o que é improvável com a atual segmentação da
internet. Desta forma, para aplicar a teoria do canadense aos dias atuais, o autor brasileiro
defende o conceito de teia global. Segundo ele, uma teia pode conectar alguns ou até todas as
pessoas, mas não obriga ninguém a buscar, comentar ou transmitir os mesmos assuntos.
II.4.2 Teoria de Henry Jenkins
Embora olhem por ângulos opostos para o tema, os pesquisadores Henry Jenkins e
Ramón Salaverría concordam que antes de ser qualquer coisa, convergência de mídias “não é
56
uma coisa só”. Jenkins lembra que “convergência é uma palavra que consegue definir
transformações tecnológicas, mercadológicas, culturais e sociais, dependendo de quem está
falando” (2009, p.29). No entanto, a grande marca da teoria do norte-americano – que, como
visto no tópico anterior, se baseia nos pensamentos de McLuhan – é abordar o processo de
convergência prioritariamente pelo aspecto cultural, o que acabou tornando sua obra um livro
de cabeceira para os principais produtores culturais da grande mídia.
Meu argumento aqui será contra a ideia de que a convergência deve ser compreendida principalmente como um processo tecnológico que une múltiplas funções dentro dos mesmos aparelhos. Em vez disso, a convergência representa uma transformação cultural, à medida que consumidores são incentivados a procurar novas informações e fazer conexões em meio a conteúdos de mídia dispersos (JENKINS, 2009, p. 30).
No entanto, observar a convergência de mídias como um processo prioritariamente
cultural parece estranho do ponto de vista jornalístico e é esse o principal ponto que levou esta
pesquisa, inicialmente planejada integralmente à luz da Jenkins, a buscar “socorro” em
Ramón Salaverría. Porém, ainda que deixando um pouco à margem o foco cultural do norte-
americano, os demais conceitos de sua teoria seguem pertinentes a este ou qualquer trabalho
sobre o tema, uma vez que o mesmo traz importantes contribuições ao aliar convergência com
inteligência coletiva e cultura participativa, observando tal união pelo prisma do paradigma da
convergência.
II.4.2.1 Paradigma da convergência
Como destacado no tópico que aborda os estudos de Marshall McLuhan, é no teórico
canadense que encontramos as bases para a discussão do paradigma da revolução digital, uma
vez que o mesmo condena à extinção o jornal impresso com o surgimento da televisão.
Embora McLuhan tenha sido bastante criticado à época de publicação de suas teorias,
sobretudo nos anos 60, tal paradigma externado pelo autor sobreviveu na última metade de
século, ainda que na maioria das vezes de forma discreta, entre pesquisadores e jornalistas.
Cada novidade ou evolução tecnológica em um meio de comunicação mais jovem foi
encarada como a sentença final aos seus antecessores, ainda que todos continuassem a atuar
juntos.
Nos anos 1990, a retórica da revolução digital continha uma suposição implícita, às vezes explicita, de que os novos meios de comunicação eliminariam os antigos, que a Internet substituiria a radiodifusão e que tudo isso permitiria aos consumidores
57
acessar mais facilmente o conteúdo que mais lhes interessasse (JENKINS, 2009, p.32).
A proposta que Henry Jenkins traz com sua obra é quebrar esse temor velado que o
paradigma da revolução digital leva às redações, principalmente através da difusão da ideia do
paradigma da convergência. Enquanto a revolução digital prevê que um meio mais antigo
sempre será extinto com o surgimento de uma nova forma de comunicação, o emergente
paradigma da convergência prega que o nascimento de um novo meio obriga os demais a se
reinventarem e interagirem com a novidade. “O estouro da bolha pontocom jogou água fria
nessa conversa sobre revolução digital. Agora, a convergência surge como um importante
ponto de referência” (JENKINS, 2009, p.32).
Citando o trabalho de historiadores, Jenkins lembra que os velhos meios de
comunicação nunca morrem, nem desaparecem necessariamente. “O que morre são apenas as
ferramentas que usamos para acessar seu conteúdo – a fita cassete, a Betacam” (JENKINS,
2009, p.41), ou seja, as tecnologias de distribuição.
II.4.2.2 Sistemas de distribuição x meios de comunicação
Para precisar a linha que separa as definições de meios de comunicação e tecnologias
de distribuição, Henry Jenkins recorre à historiadora Lisa Gitelman e traz um modelo de
mídia que divide os meios de comunicação em dois níveis: o primeiro aborda os meios como
tecnologia que permite a comunicação; o segundo como um conjunto de protocolos e práticas
sociais e culturais que crescem em torno desta tecnologia. Desta forma, enquanto sistemas de
distribuição são “apenas” tecnologias, os meios de comunicação são, também, sistemas
culturais.
Desde que o som gravado se tornou uma possibilidade, continuamos a desenvolver novos e aprimorados meios de gravação e reprodução do som. Palavras impressas não eliminaram as palavras faladas. O cinema não eliminou o teatro. A televisão não eliminou o rádio. Cada meio antigo foi forçado a conviver com os meios emergentes. É por isso que a convergência parece mais plausível como uma forma de entender os últimos dez anos de transformações dos meios de comunicação do que o velho paradigma da revolução digital. Os velhos meios de comunicação não estão sendo substituídos. Mais propriamente, suas funções e status estão sendo transformados pela introdução de novas tecnologias (JENKINS, 2009, p.42).
II.4.2.3 Cultura participativa e inteligência coletiva
Ao lançar seu conceito geral sobre cultura participativa, Henry Jenkins esbarra em
outra discussão presente nesta pesquisa: a do papel dos interagentes. De fato, a definição do
58
autor se aproxima muito do conceito proposto pelo brasileiro Alex Primo. Para Jenkins, a
expressão cultura participativa contrasta com noções antigas de passividade dos espectadores,
uma vez que não podemos mais falar de produtores e consumidores em instâncias tão
separadas como antes. “Podemos agora considerá-los [produtores e consumidores] como
participantes interagindo de acordo com um novo conjunto de regras, que nenhum de nós
entende por completo” (JENKINS, 2009, p. 30).
No entanto, o autor reconhece dificuldades para que a participação se dê por igual e de
forma democrática entre as partes, observando um resistente domínio do modelo anterior.
Para Jenkins, parece óbvio que as corporações ainda exerçam poder maior que um indivíduo e
que nem todos consumidores tenham a habilidade exigida para conseguir participar deste
novo jogo comunicativo.
Ao citar as discussões sobre inteligência coletiva, Jenkins retoma, ainda que com
maior moderação, as discussões de Pierre Lévy, que ganhariam corpo após a publicação de
sua obra com André Lemos, como visto no tópico I.3.2 desta pesquisa.
A inteligência coletiva pode ser vista como uma fonte alternativa de poder midiático. Estamos aprendendo a usar esse poder em nossas interações diárias dentro da cultura da convergência. Neste momento, estamos usando esse poder coletivo principalmente para fins recreativos, mas em breve estaremos aplicando essas habilidades a propósitos “mais sérios” (JENKINS, 2009, p.30).
II.4.2.4 O canivete suíço e a falácia da caixa-preta
Durante toda sua obra, Jenkins insiste que a convergência de mídias, enquanto
processo em construção, é comumente associada à evolução tecnológica. Para exemplificar, o
autor lembra que encontrar um telefone que apenas faça ligações, cumprindo exclusivamente
a função básica do aparelho, já é tarefa praticamente impossível. Isso porque, segundo o
teórico, os telefones se tornaram o equivalente eletrônico do canivete suíço, funcionando
como câmeras fotográficas e de vídeo, rádio, televisão e equipamento de acesso à internet.
Dentro dessa realidade, Henry Jenkins lança o conceito que chama de “falácia da
caixa-preta”. Segundo o teórico, mais cedo ou mais tarde, diz a falácia, “todos os conteúdos
de mídia irão fluir por uma única caixa preta em nossa sala de estar (ou, no cenário dos
celulares, através de caixas pretas que carregamos conosco para todo lugar)” (JENKINS,
2009, p.42).
59
Para Jenkins, parte do que torna o conceito da caixa preta uma falácia é o fato de ele
reduzir a transformação dos meios de comunicação a uma transformação tecnológica,
desconsiderando os níveis culturais:
A convergência de mídias é mais do que apenas uma mudança tecnológica. A convergência altera a relação entre tecnologias existentes, indústrias, mercados, gêneros e públicos. A convergência altera a lógica pela qual a indústria midiática opera e pela qual os consumidores processam a notícia e o entretenimento. Lembrem-se disto: a convergência refere-se a um processo, não a um ponto final. Não haverá uma caixa preta que controlará o fluxo midiático para dentro de nossas casas (JENKINS, 2009, p.43).
O pesquisador norte-americano lembra ainda que a “velha ideia da convergência”
começa a ser superada, referindo-se, principalmente, ao pensamento de que todos os aparelhos
iriam convergir em um único aparelho central. Hoje, ao contrário, o que se vê é o hardware
divergindo enquanto o conteúdo converge. Isso ocorre, entre outros motivos, pelo fato de,
dependendo de onde estamos (escola, casa, trabalho), apresentarmos necessidades diferentes
ao acessar os conteúdos. Assim, ao mesmo tempo, surgem aparelhos que tentam se
especializar a cada situação e aparelhos genéricos, como o telefone “canivete suíço”, que
buscam atender nossas necessidades durante todo o tempo.
II.4.2.5 Consumidores dentro da convergência de mídias
No artigo “Integração, complementaridade e justaposição: o aproveitamento da
convergência multimídia em portais e blogs”, Joana Ziller recorre a Silva Júnior (2011) para
lembrar que as discussões sobre convergência no jornalismo aludem “a um processo de
integração, interdependência e complementaridade a partir de modelos de comunicação
tradicionalmente separados.” (SILVA JÚNIOR, 2011, p. 32 in ZILLER, 2011, p. 5).
Observando este conceito, Ziller lembra que “os aspectos mais visíveis da convergência,
como a integração de modelos e formatos tradicionais, incidem de maneira bastante
diversificada tanto na atividade jornalística em si, quanto em sua relação com os públicos”
(ZILLER, 2011, p.5). Desta forma podemos inferir que quem “consome” o material
convergente também atua de forma decisiva nesse jogo comunicacional.
Como destacado no capítulo I, principalmente à luz das discussões de Lemos, Lévy e
Assange, o atual cenário pós-massivo dos meios de comunicação coloca o consumidor da
informação, antes mero receptor, como protagonista e coautor no processo comunicativo,
alterando verdades que imperaram durante toda uma era da mídia, como reforça Jenkins. No
60
entanto, sempre há os dois lados da moeda. “Alguns veem um mundo sem gatekeepers, outros
um mundo onde os gatekeepers têm um poder sem precedentes” (JENKINS, 2009, p.46).
Jenkins cita o exemplo da função de gatekeeper para ilustrar o temor que se cria com
os novos papéis que são distribuídos no jogo comunicativo. Enquanto uns preveem que os
meios de comunicação fujam ao controle dos grupos dominantes (Lemos, Lévy), outros
temem que sejam controlados demais (Assange). Mas, o teórico norte-americano nos
tranquiliza: “Mais uma vez, a verdade está no meio-termo” (JENKINS, 2009, p.46).
Fato é que a convergência é tanto um processo coorporativo, como um processo do
interagente. Jenkins alerta que, assim como as empresas, os interagentes tem se especializado
em trocar informações neste novo cenário midiático que a Web 2.0 abre, criando profundas
expectativas em torno de um fluxo mais livre de ideias e conteúdos.
Se os antigos consumidores eram tidos como passivos, os novos consumidores são ativos. Se os antigos consumidores eram previsíveis e ficavam onde mandavam que ficassem, os novos consumidores são migratórios, demonstrando uma declinante lealdade a redes ou aos meios de comunicação. Se os antigos consumidores eram indivíduos isolados, os novos consumidores são mais conectados socialmente. Se o trabalho de consumidores de mídia já foi silencioso e invisível, os novos consumidores são agora barulhentos e públicos (JENKINS, 2009, p.47).
O novo papel destes consumidores [e a tentativa dos grandes grupos de comunicação
de conviverem com a nova forma de inteligência coletiva e cultura participativa] é
exemplificado por Jenkins com os spoilers do reality show americano Surviver e com os
conflitos entres interagentes e produtores nas sequências Guerra nas Estrelas e Harry Potter.
Em ambos os casos, os interagentes interferem no contexto do produto cultural oferecido, uma
vez que antecipam ou modificam seu conteúdo colocando a narrativa/estória em caminhos
não planejados pelos produtores.
II.4.2.6 Narrativa transmídia ou transmidiática (transmedia storytelling)
Dentro de todos ricos debates e exemplos que Henry Jenkins traz, o que surge com
maior pertinência para que seja observada a convergência de mídias presente no jornalismo é
o conceito de narrativa transmídia ou transmidiática. Segundo o autor, tal narrativa surgiu
como resposta à convergência das mídias e prevê uma estética que faz novas exigências aos
consumidores, dependendo de sua participação em comunidades de conhecimento. Em outras
palavras, “a narrativa transmídia é a arte da criação em um universo” (JENKINS, 2009, p.
49).
61
Vicente Gosciola (2011) lembra que “a narrativa transmídia, mais que um conceito, é
um processo verificado em algumas áreas da comunicação, seja no entretenimento, no
jornalismo, no meio corporativo e até mesmo na área da educação” (GOSCIOLA, 2011, p.3).
No entanto, o próprio Jenkins (2009) reconhece que a narrativa transmídia só pode ser
aproveitada ao máximo com acesso dos interagentes às novas tecnologias da informação e
com o domínio de determinadas habilidades que permitam participar plenamente das novas
culturas de conhecimento.
Partindo desse princípio, Jenkins traz a franquia Matrix como um dos melhores
exemplos do que chama de narrativa transmídia, uma vez que, para muitos, os irmãos
Wachowski, que escreveram e dirigiram a sequência de filmes, teriam forçado a nova
narrativa além do ponto onde a maioria do público estava preparada para ir, fragmentando
exageradamente trechos da história.
II.4.2.5.1 Matrix
Com referências claras ao Mito da Caverna, de Platão, Matrix é uma sequência de
filmes que exigiu habilidades que, até seu lançamento, eram irrelevantes ao público que
comparecia aos cinemas. Isso porque, para entender e aproveitar a obra por completo, em sua
máxima potencialidade, além de dominar múltiplos conhecimentos – como filosofia, um
pouco de linguagem de programação e sistemas de informação –, os consumidores precisaram
passear por diferentes mídias, jogando games, lendo quadrinhos, participando de listas de
discussão na web e fazendo o download de curtas de animação.
Jenkins elogia a iniciativa dos irmãos Wachowski e destaca que eles “jogaram o jogo
transmídia muito bem” (JENKINS, 2009, p. 137). Isso porque, na visão do autor, a obra
configura o entretenimento esperado na era da convergência, integrando múltiplos textos para
criar uma narrativa ampla, que não pode ser mais contida em uma única mídia.
Citando Pierre Lévy, Jenkins lembra que Matrix também é entretenimento para a era
da inteligência coletiva, uma vez que para interpretar e compreender toda lógica do filme é
preciso construir em conjunto, através das pistas e discussões oferecidas na web, o
conhecimento e interpretação da obra. “Os espectadores aproveitam ainda mais a experiência
quando comparam observações e compartilham recursos do que quando tentam seguir
sozinhos” (JENKINS, 2009, p.138).
62
No entanto, embora atendam o conceito de narrativa transmídia e inovem com o filme,
ao fragmentar a obra em diversas mídias, os autores de Matrix receberam diversas críticas.
Segundo Henry Jenkins, as principais investidas contra os irmãos Wachowski alegaram que a
sequência não era suficiente autônoma, sendo quase desconexa; que os games dependiam
demais dos filmes, oferecendo poucas experiências novas; e que as teorias dos fãs eram mais
ricas que as proporcionadas pela tela.
Porém, o próprio Jenkins lembra que ainda não existem critérios estéticos bem
definidos para avaliar uma narrativa que transite por múltiplas mídias, sendo que poucas
franquias alcançaram todo potencial estético da narrativa transmídia. Assim, nas palavras do
autor, “Matrix foi uma experiência fracassada [do ponto de vista transmidiático, já que foi
sucesso nas bilheterias], um fracasso interessante, mas suas falhas não diminuem o
significado do que se tentou realizar” (JENKINS, 2009, p.139).
II.4.2.7 Conceito de transmídia e aplicação no jornalismo
Dado o exemplo de Matrix e toda discussão que Jenkins traz sobre o filme, o autor nos
lança o conceito de narrativa transmídia:
Uma história transmídia se desenrola através de múltiplas plataformas de mídia, com cada novo texto contribuindo de maneira distinta e valiosa para o todo. Na forma ideal de narrativa transmídia, cada meio faz o que faz de melhor – a fim de que uma história possa ser introduzida num filme, ser expandida pela televisão, romance e quadrinhos; seu universo pode ser explorado em games ou experimentado como atração de um parque de diversões. Cada acesso à franquia deve ser autônomo, para que não seja necessário ver o filme para gostar do game, e vice-versa. Cada produto determinado é um ponto de acesso à franquia como um todo. A compreensão obtida por meio de diversas mídias sustenta uma profundidade de experiência que motiva mais consumo (JENKINS, 2009, p. 138).
Tal definição detalhada de Jenkins pode ser aplicada tanto na ficção quanto no
jornalismo, uma vez que a reportagem nada mais é do que uma história de interesse público
que estava oculta e é trazida à luz através do relato e olhar de diversos personagens. Sendo
assim, a mesma ponderação – que motivou tantas críticas à obra Matrix – cabe ao conteúdo
convergente no jornalismo: cada ponto de acesso deve ser autônomo e cada um deles deve
garantir acesso aos demais. Ou, nas palavras de Gosciola, “a narrativa transmídia é voltada à
articulação entre narrativas complementares e ligada por uma narrativa preponderante, sendo
que cada uma das complementares é veiculada pela plataforma que melhor potencializa suas
características expressivas” (GOSCIOLA, 2011, p.9).
63
II.4.2.8 Por que não cross-media ou multimidialidade?
Existe uma confusão muito comum nas definições de cross-media, multimidialidade e
narrativa transmídia, sendo os termos, na maioria dos casos, utilizados erroneamente para
definir uma única coisa, já que eles possuem diferenças fundamentais desde a concepção.
O conceito de transmídia foi lançado pela primeira vez por Henry Jenkins em 2001,
em artigo do MIT (Massachusetts Institute of Technology), e, como visto no tópico anterior, é
utilizado para definir uma narrativa contada por diversas mídias. Já a definição de cross-
media (mídia cruzada) é um conceito anterior, nascido na década de 90, dentro da
publicidade, e se refere mais ao cruzamento de plataformas (meios e suportes) do que das
narrativas. Já multimidialidade, como detalhado no tópico II.4.4, se refere à combinação de
diferentes linguagens dentro de uma mesma mídia.
Em artigo publicado no Observatório da Imprensa, Carlos Castilho (2011) lembra que
“cross-media é um conceito mais dinâmico porque se vincula especificamente ao processo de
transição de uma mídia para outra”.
Organizando essas ideias, temos:
� Cross-media: cruzamento de meios e plataformas através da convergência de
mídias (se refere mais ao suporte);
� Multimidialidade: linguagens de várias mídias combinadas dentro de um único
meio de comunicação;
� Transmídia: uma mesma narrativa contada por diversas mídias que se
completam, mas são autônomas;
É a partir desses conceitos e da rica discussão sobre convergência de mídias e, ainda,
do debate sobre hipertextualidade e Web 2.0 presente no Capítulo I, que este estudo propõe e
executa, em sua segunda parte, um modelo metodológico próprio, com a realização de um
estudo de caso do Portal Uai. Os passos para a definição metodológica e o recorde da unidade
de análise são detalhados a partir do próximo capítulo.
64
PARTE II: metodologia e análise
65
CAPÍTULO III: metodologia e modelo de análise
Depois de cumprir a fase inicial de pesquisa, com revisão da literatura das definições
consideradas necessárias para fundamentar a análise pretendida, este estudo focou suas
atenções no desenvolvimento de um modelo que permitisse a avaliação qualitativa do objeto,
jogando luz no mesmo a partir dos debates presentes nos capítulos I e II. Para construir tal
esquema, aproveitou-se em grande parte os processos e métodos de pesquisa aplicados pelos
teóricos espanhóis estudados na Parte I deste trabalho, sobretudo Xosé López e Ramón
Salaverría.
III.1 ANÁLISE QUALITATIVA ATRAVÉS DO ESTUDO DE CASO
Como destacado na introdução, optou-se por realizar um estudo de caso, a fim de
verificar o processo desejado sob o prisma da linguagem, cumprindo os objetivos propostos
com a pesquisa. Vale ressaltar que o método do estudo de caso enquadra-se como uma
abordagem qualitativa, sendo que sua utilização neste trabalho se justificou por três aspectos:
a natureza de processo em construção da convergência de mídias, ou seja, fenômeno em
constante transformação a ser investigado; o conhecimento que se pretende alcançar com a
observação da narrativa jornalística na web; e a possibilidade de que novos estudos sejam
realizados a partir da observação desse caso em particular.
Embora tenha sido comum tratar, sobretudo nas pesquisas em estudos de linguagem e
comunicação, a análise qualitativa como uma das vertentes possíveis dentro dos estudos de
caso, a relação ocorre exatamente de forma contrária, como nos alerta Arilda Schmidt Godoy
(1995), sendo o estudo de caso, ao lado da pesquisa etnográfica e da documental, uma das três
possibilidades mais usuais de análise qualitativa. “O estudo de caso se caracteriza como um
tipo de pesquisa cujo objeto é uma unidade que se analisa profundamente” (GODOY, 1995,
p.25).
Godoy (1995) ressalta, ainda, que os trabalhos com pesquisas qualitativas,
principalmente através de estudos de caso, são identificados pelo “ambiente natural” como
fonte direta de coleta e a presença do pesquisador como “instrumento” essencial à análise, o
que justificou a revisão teórica realizada na primeira parte deste trabalho. Além disso, também
são características marcantes nessas pesquisas o caráter descritivo e o enfoque indutivo dos
resultados (presentes no capítulo IV), conforme destaca Maanen (1979):
66
A expressão "pesquisa qualitativa" assume diferentes significados no campo das ciências sociais. Compreende um conjunto de diferentes técnicas interpretativas que visam a descrever e a decodificar os componentes de um sistema complexo de significados. Tem por objetivo traduzir e expressar o sentido dos fenômenos do mundo social; trata-se de reduzir a distância entre indicador e indicado, entre teoria e dados, entre contexto e ação (MAANEN, 1979, p.520 in NEVES, 1996, s.n).
Executar uma análise qualitativa através de um estudo de caso surgiu como
metodologia extremamente pertinente se considerada a natureza dos processos
comunicacionais e da internet de fenômenos em constante transformação. Em “Métodos de
pesquisa para internet” (2011), Fragoso et. al chamam a atenção para tal característica e a
dificuldade que ela impõe à observação de objetos na rede:
Segundo Costigan (1999, p.19), um dos principais desafios para o estudo de internet é que ela não pode ser capturada por um quadro individual, uma vez que cada retrato acrescenta um quadro e fronteiras que não existem, já que a internet não pode ser contida. Esses retratos também acrescentam enfoques e proeminências a itens individuais, que não são universalmente dominantes. Os retratos ficam estagnados, mas a internet está em constante fluxo (FRAGOSO et. al, 2011, p.33).
Dessa forma, as pesquisas sobre internet quase sempre se encontram limitadas pelo
paradoxo de já nascerem desatualizadas e “engolidas” pela sequência de quadros impossíveis
de se captar ou avaliar em sua totalidade.
Ainda assim, como destacam Corrêa e Corrêa (2007), a observação dos processos de
convergência na web por meio de uma sucessão de estudos de caso (e, a partir deles, a
aproximação entre teoria e prática), é a alternativa mais viável para atingir o resultado
esperado. “Processos comunicacionais não são coisas fechadas em si mesmas, mas objeto de
observação caso a caso” (CÔRREA; CÔRREA, 2007, p.8).
Porém, para conseguir êxito na observação pretendida a partir da pesquisa com estudo
de caso, o primeiro fator fundamental é o reconhecimento desta como um pequeno link em
um complexo conjunto hipertextual – metaforizando em tema que soa agradável –, ou, em
outras palavras, das limitações que o método e a própria essência da web impõem, impedindo
qualquer forma de generalização a partir do objeto examinado e tornando extremamente
necessária a contextualização do mesmo em um universo maior. O não cumprimento desses
quesitos, aliás, é um dos principais equívocos cometidos pelos pesquisadores ao adotarem o
método, como destaca Alves-Mazzotti:
(...) temos observado que muitas pesquisas classificadas por seus autores como “estudos de caso” parecem desconsiderar o fato de que o conhecimento científico desenvolve-se por meio desse processo de construção coletiva. Ao não situar seu estudo na discussão acadêmica mais ampla, o pesquisador reduz a questão estudada
67
ao recorte de sua própria pesquisa, restringindo a possibilidade de aplicação de suas conclusões a outros contextos e pouco contribuindo para o avanço do conhecimento e a construção de teorias. Tal atitude frequentemente resulta em estudos que só têm interesse para os que dele participaram, ficando à margem do debate acadêmico (ALVES-MAZZOTTI, 2006, p.639).
Tal posição apenas reforça a importância do caráter de continuidade dos estudos
desenvolvidos dentro da observação midiática, no Posling, objetivando, futuramente, um
recorte teórico mais amplo a partir da análise da sucessão de pesquisas que são realizadas na
linha II do programa de pós-graduação.
É por isso que, reconhecendo a limitação do trabalho dentro do atual conjunto de
abordagens possíveis para se debater a convergência de mídias, esta pesquisa tentou contribuir
não somente com a exposição de um dos “quadros” contemporâneos do tema e com as
inferências possíveis sobre os resultados obtidos, mas, também, com a proposição de um
modelo próprio (tópico III.3) para a realização de análises qualitativas na área estudada.
Corrêa e Corrêa (2007) lembram que ainda são escassas as possibilidades
metodológicas em estudos de convergência, o que foi verificado, também, durante a etapa
inicial deste trabalho, com a revisão da literatura. Por isso, pareceu interessante elaborar e
propor um novo quadro que permitisse a avaliação de outros casos sobre os mesmos
parâmetros desta pesquisa, viabilizando, futuramente, uma aproximação entre diferentes
análises e debates mais amplos, o que é extremamente pertinente para validação do
conhecimento.
A validação do conhecimento pelos pares assumiu ainda maior importância após a derrocada de dois pilares do positivismo: o primado do método como garantia do rigor, que Adorno (1983, p.219) chama “obsessão metodológica”; e a crença na objetividade e racionalidade da ciência (ALVES-MAZZOTTI, 2006, p.638).
Em outras palavras, o que se espera são o aprimoramento e o debate sobre o modelo
embrionário que aqui é proposto para uma discussão mais ampla, a partir de diferentes
enfoques, dentro das pesquisas em linguagem na convergência de mídias.
Considerando, no entanto, que a abordagem qualitativa, enquanto exercício de pesquisa, não se apresenta como uma proposta rigidamente estruturada, ela permite que a imaginação e a criatividade levem os investigadores a propor trabalhos que explorem novos enfoques (GODOY, 1995, p.27).
68
III.2 RECORTES DENTRO DO PORTAL
Antes de iniciar a avaliação da convergência de mídias experimentada no Portal Uai,
novos recortes na coleta de dados se fizeram necessários para viabilizar e fortalecer a
pesquisa. São eles: temporal, de sites, de contexto.
III.2.1 Recorte temporal
Como destacado no tópico III.1, é praticamente inviável observar uma grande
sequência de “quadros” da internet, sobretudo em uma pesquisa como esta, que tem como
foco principal avaliar a união de linguagens promovida na tela pela convergência de mídias.
Porém, é inegável a importância de que, dentro das limitações do estudo, tente-se observar o
maior e mais amplo período de tempo possível, evitando divergências entre o material
coletado e a realidade “maior” da unidade analisada, discrepâncias essas que podem ser
ocasionadas, entre outros fatores, pela centralização do trabalho de coleta em um curto
período de tempo.
Isso ocorre porque, em prazo curto e centralizado, o imponderável opera. Dessa forma,
pensando na unidade de análise escolhida, ao se realizar a coleta de dados durante uma
mesma semana, por exemplo, surgem dezenas de hipóteses possíveis para justificar erros e
perfeições no material analisado, como: uma redução (ou ampliação) da equipe de jornalistas
naquele período por causa de algum afastamento (contratação); a opção por centralizar as
atenções em alguma pauta ou cobertura específica naqueles dias; atualizações no
administrador do portal; troca de editores e redatores; o lançamento de algum hot site ou
página especial; entre outros. Tal cenário foi constatado durante a realização de dois estudos-
piloto, à época da elaboração do projeto que sustenta esta pesquisa, um com o portal O Tempo
Online e outro com o hot site Caso Bruno, do Portal Uai. Em ambos, a centralização do
período observado em dias subsequentes enfraqueceu as categorias de análise e impossibilitou
inferências mais amplas a partir da avaliação qualitativa.
Godoy (1995) nos lembra que o ideal no estudo de caso é utilizar “uma variedade de
dados coletados em diferentes momentos, por meio de variadas fontes de informação” (1995,
p. 24). A pesquisadora também ressalta a importância de iniciar a observação qualitativa tão
logo sejam obtidos os dados:
Embora nos estudos qualitativos em geral, e no estudo de caso em particular, o ideal seja que a análise esteja presente durante os vários estágios da pesquisa, pelo
69
confronto dos dados com questões e proposições orientadoras do estudo, é provável que um pesquisador pouco experiente termine a fase de coleta dos dados para depois iniciar o processo de análise (GODOY, 1995, p. 27).
Considerando a importância de iniciar a observação tão logo fossem recolhidos os
dados e de se fragmentar o período de coleta, optou-se por trabalhar com rodadas de análise,
de modo a verificar a produção do portal em diferentes momentos, atingindo todos os dias
úteis da semana, quando redações do jornal, TV, rádio e internet trabalham com a equipe
completa – ainda que ciente da necessidade de que a imprensa opere de forma semelhante de
domingo a domingo, é preciso reconhecer que a redução brusca na equipe, bem como o
predomínio do uso de agências de notícia nos plantões de sábado e domingo, pode provocar
discrepâncias com os demais dados, gerando as discussões do “imponderável”, como citado
anteriormente.
Dessa forma, realizando tais recortes, a coleta foi dividida em cinco rodadas realizadas
com intervalo de duas semanas e um dia, contemplando, assim, a produção de segunda a
sexta-feira, e permitindo, ainda, o início imediato das análises, tão logo foram coletados os
dados. A primeira coleta aconteceu no dia 21 de janeiro, uma segunda-feira, a segunda no dia
5 de fevereiro, um terça-feira, e assim por diante, com dados recolhidos também em 20 de
fevereiro (quarta-feira), 07 de março (quinta-feira) e 22 de março (sexta-feira).
III.2.2 Recorte de sites
O Portal Uai <http://www.uai.com.br/>, assim como outros portais brasileiros e
internacionais, opera como uma espécie de “guarda-chuva” (comparação que tem sido comum
entre teóricos e jornalistas), abrigando outros portais, sites, blogs e até mesmo redes sociais.
Desta forma, ao escolher o Uai como unidade de análise, novo recorte se fez necessário,
afinal, o que observar dentro da grande diversidade de conteúdos que são produzidos e
replicados nele?
Para responder, foi necessário fazer a decupagem, por assim se dizer, dos sites debaixo
desse grande guarda-chuva, escolhendo, entre eles, os protagonistas que seriam analisados.
Em janeiro de 2013, mês da coleta de dados, o Uai contava com sete portais, um site
parceiro, nove sites da casa e uma rede social incorporando todos os blogs, como mostra o
quadro a seguir:
70
Quadro de portais e sites presentes dentro do Uai
Portais Sites parceiros Rede Social Sites da casa
em.com.br AreaH Dzaí Jornal Aqui
Divirta-se
EM Impresso
Vrum
EM Digital
Superesportes
Rádio Guarani
Lugar Certo
Revista Encontro
Admite-se
Mundo Ela
Alterosa
EhGata
Ragga
Ragga Drops
Quadro 4 – Portais e sites abrigados no Uai em janeiro de 2013
III.2.2.1 Sites da casa: primeiros descartes
Ao começar o recorte para escolher os portais onde seriam feitas as coletas de dados,
os primeiros a serem descartados foram os chamados de “sites da casa”. Entre eles, os únicos
a produzirem conteúdo próprio eram os portais Ragga e Mundo Ela – extintos meses após a
realização da coleta – e da Revista Encontro. Contudo, os três apresentaram baixa relevância
na home do portal, com periodicidade inconstante para a produção de material próprio e
atualização.
Já os sites da Rádio Guarani, Jornal Aqui, EM Impresso, EM Digital e Ragga Drops
não apresentavam nenhuma forma de produção própria de notícias, figurando apenas como
veículos institucionais ou espaço para consumo do conteúdo produzido em outras mídias,
sendo irrelevantes para o corpo de análise sobre linguagens.
Por fim, o portal EhGata, também extinto no primeiro semestre de 2013, traz ensaios
fotográficos sensuais com nenhuma produção textual. O conteúdo, ainda que imagético, não
apresenta qualquer relevância para as observações realizadas neste trabalho.
III.2.2.2 Dzaí: rede social?
Concebido para funcionar como a rede social dos demais portais que fazem parte do
grupo Diários Associados (Diário de Pernambuco, Correio Braziliense, Portal Uai, Diário de
Natal, O Imparcial), o Dzaí <http://www.dzai.com.br> – que teve seu nome escolhido em
71
concurso popular – nunca emplacou. A interface do portal já nasceu ultrapassada em 2007
(como exemplifica a Figura 2, p. 72) e não passou por nenhuma grande atualização ao longo
de sua existência. Sua forma de operar, com constantes erros de layout e código, não permite
uma compreensão clara aos interagentes sobre os objetivos e funcionalidades das
comunidades de notícia e blogs, dificultando a interação com outros usuários. Além disso, o
sistema de upload de vídeos e áudios é confuso e possui limitações técnicas. Somados, esses
fatores permitem inferências bem claras para explicar o baixo aproveitamento na home do Uai
dos conteúdos – escassos e de qualidade questionável – que são postados na rede.
Ainda assim, além dos blogs de usuários comuns, o Dzaí incorpora todos os
blogueiros oficiais do Portal Uai, encontrando nesses a sua única forma de “sobreviver” na
capa. Apesar das limitações técnicas da rede, os “blogs da casa” recebem tratamento especial,
com layout próprio e customização. No entanto, embora as postagens desses blogueiros, em
grande parte dos casos, sejam constantes e de boa qualidade, avaliar a linguagem presente no
conteúdo construído por terceiros não pareceu pertinente para esta pesquisa, uma vez que os
mesmos não seguem nenhum padrão jornalístico ou linha editorial. A conclusão é de que os
resultados de tal observação seriam pouco produtivos para os objetivos deste trabalho.
Figura 2 – Dzaí já nasceu com a interface ultrapassada. Na imagem, modelo de blog
oferecido aos internautas em 2013 com layout que remete ao ano de 2000
III.2.2.3 Sites parceiros
Tem sido comum nos portais de notícia brasileiros a incorporação dos chamados sites
parceiros, que funcionam como uma espécie de agência, agregando conteúdos sobre assuntos
72
segmentados (moda, turismo, comportamento) e diversificando a cobertura sem agregar
grandes custos financeiros à empresa. Na verdade, o “preço” que é pago com essa estratégia é
a utilização de conteúdos semelhantes a outros portais, já que esses sites têm por hábito se
relacionar com mais de um veículo, não trazendo, de fato, nada novo ou especial ao seu
público, que pode encontrar o mesmo assunto em concorrentes, como mostra a Figura 3 (p.
73).
Contudo, ainda que estranha, a aposta tem figurado nos planos dos Diários
Associados. Na época da coleta de dados, apenas um site, o AreaH (comportamento
masculino), aparecia no Uai, mas o número foi ampliado no primeiro semestre de 2013, com a
incorporação dos sites Fashionistando (moda), No Ateliê (moda) e Bella da Semana (ensaios
sensuais).
No entanto, apesar de ser uma aposta nova e crescente no país, a utilização de sites
parceiros apresenta o mesmo problema dos “blogs da casa” ao trazerem um conteúdo externo,
não se enquadrando na linha editorial da empresa e, muitas vezes, nem nos padrões
jornalísticos, tornando, assim, sua análise irrelevante dentro do contexto estudado.
III.2.2.4 Sites carros-chefes: os portais
Entre os portais que compõem o Uai, considerando tanto a audiência quanto o espaço
conquistado na home, quatro se destacam como carros-chefes: em.com.br
<http://www.em.com.br/>, Superesportes <http://www.superesportes.com.br/>, Alterosa
<http://www.alterosa.com.br/> e Divirta-se <http://divirta-se.uai.com.br/>. Além disso,
existem ainda outros três portais especializados que concentram grande atenção dentro dos
Diários Associados: Vrum <http://estadodeminas.vrum.com.br/>, Lugar Certo
<http://estadodeminas.lugarcerto.com.br/> e Admite-se <http://estadodeminas.admite-
se.com.br/>.
III.2.2.4.1 Superesportes
O Superesportes é um dos principais portais esportivos do país. Até se transformar em
veículo nacional, em 2010, com expansão para Pernambuco, Rio de Janeiro e Brasília, era
considerado o maior portal regional esportivo brasileiro. Sozinho, concentra praticamente
metade da equipe que trabalha no Uai e é responsável por pelo menos 30% dos 100 milhões
de pageviews atingidos por mês no portal. Com o sucesso na internet, o Caderno de Esportes
73
do Jornal Estado de Minas passou a se chamar Superesportes e foi padronizado com a mesma
identidade visual, em referência ao site, que aproveita materiais do próprio impresso e da TV
Alterosa.
Figura 3 – Site AreaH replica conteúdos em diferentes portais.
No destaque os portais iBahia, Uol/Band e Uai
Contudo, embora o Superesportes exerça um protagonismo sedutor a esta pesquisa,
optou-se por descartá-lo na análise. Tal decisão visa respeitar os limites entre os trabalhos
desenvolvidos no Posling, uma vez que o mesmo portal é alvo de estudo de linguagens
desenvolvido pelo pesquisador Gilmar Laignier, com orientação da Profa. Dra. Giani David
Silva.
III.2.2.4.2 Admite-se e Lugar Certo
Outro portal descartado nesta análise foi o Admite-se. Embora tenha a mesma lógica
de funcionamento do Vrum e do Lugar Certo, o veículo, destinado aos classificados do
mercado de trabalho e especializado na cobertura do tema, é desenvolvido em Brasília, pela
equipe do Jornal Correio Braziliense, e apenas replicado aqui, afastando-se, assim, do
objetivo da pesquisa, de investigar a convergência produzida dentro do Portal Uai.
Já o Lugar Certo, por sua vez, ainda que possua produção contínua de conteúdos, se
mostrou pouco relevante dentro da home do site durante o período de coleta, sendo, também,
descartado.
74
III.2.2.4.3 em.com.br e Divirta-se
O em.com.br é, de certa forma, um portal novo. Até 2010, o Uai apresentava estrutura
própria para publicação de notícias nas editorias de Gerais, Política, Economia, Nacional,
Internacional, Educação e Ciência e Tecnologia, sendo ele próprio o responsável por abrigá-
las e figurar como representante do Jornal Estado de Minas na internet. Porém, uma decisão
empresarial, justificada pela necessidade de reforçar a marca do impresso na web, levou à
criação do em.com.br, que passou a exercer tais funções.
Com isso, o Uai passou a ser apenas o guarda-chuva e as principais publicações do
grupo, com as notícias factuais e coberturas do cotidiano, foram inseridas dentro do
em.com.br, sendo este o primeiro veículo escolhido para o estudo.
Vale ressaltar que o em.com.br também foi alvo da observação de Gonzaga-Pontes
(2012), no Posling, porém à luz da teoria Teun van Dijk e suas estruturas para produção e
atualização de notícias. Neste trabalho, o foco está na convergência, sobretudo como um olhar
que parte dos conceitos lançados por Jenkins e Salaverría.
O segundo veículo escolhido para tal abordagem é o Divirta-se, portal de cultura do
Uai. Com desempenho significativo na home e na audiência do portal, ele conta com rica
produção própria e grande aproveitamento do material produzido pelo caderno de cultura (EM
Cultura) do Estado de Minas. Além disso, em observação preliminar, realizada antes mesmo
da coleta de dados, foi possível verificar que é um dos portais que mais experimenta a
multimidialidade no grupo.
III.2.2.4.4 – Alterosa e Vrum
Como dito anteriormente, o Vrum conta com a mesma lógica de funcionamento do
Lugar Certo e do Admite-se, configurando-se como classificado de veículos e portal
especializado no assunto. No entanto, ainda que com uma produção menor que o em.com.br e
o Divirta-se, o portal desempenha papel de destaque dentro do site, com significativa
audiência e espaço na capa. Criado paralelamente ao programa de televisão do SBT
(produzido pela TV Alterosa), o Vrum seguiu o caminho do Superesportes, tornando-se um
veículo nacional e provocando a alteração no nome do caderno de veículos do impresso.
Já o site da Alterosa, por sua vez, embora, inicialmente, tivesse por objetivo apenas
documentar as matérias exibidas na televisão, acabou se tornando espaço de convergência ao
estipular, pelo menos no discurso, a elaboração própria de conteúdos que complementem o
75
que foi exibido na TV. Além disso, por ser o espaço da transposição “oficial” dos vídeos, sua
análise foi de fundamental interesse para cumprir os objetivos desta pesquisa.
II.2.3 Recorte de contexto
Escolhidos os portais em.com.br, Vrum, Alterosa e Divirta-se para as cinco coletas de
dados, restou definir critérios para selecionar quais notícias seriam observadas, uma vez que o
elevado volume de produção por dia nestes quatro veículos inviabiliza a análise de todo o
material. Nesse recorte, observou-se o contexto de produção das reportagens, priorizando
aquelas que estavam em destaque na home, presumindo-se que foram melhor trabalhadas
pelas equipes, incorporando as características do discurso convergente presente na empresa.
Os primeiros recortes foram realizados dentro do em.com.br, considerado carro-chefe
do Uai e protagonista entre os portais avaliados. Composto por sete editorias, o em.com.br
possui produção própria em todas as seções. No entanto, devido às dificuldades geográficas
ou à equipe mais reduzida, quatro dessas editorias operam prioritariamente (ainda que não
exclusivamente) com agências: Nacional, Internacional, Educação, Ciência e Tecnologia. No
caso de Economia e Política, embora também contem com os conteúdos de agência, as
notícias possuem produção própria mais alta dentro portal e contam com o aproveitamento
das publicações do impresso. Já na editoria de Gerais, que cobre prioritariamente assuntos do
Estado, existe o aproveitamento das notícias do Jornal Estado de Minas, mas, ao longo do dia,
a produção é toda realizada dentro do portal. Dada tal constatação, foram selecionadas para
análise as editorias de Gerais, Economia e Política.
Como dito anteriormente, optou-se por avaliar as notícias destacadas na capa do Uai.
Visando coletar material produzido por repórteres do impresso e transposto para a tela e,
também, material produzido pelos jornalistas do portal, foram recolhidas, durante as cinco
rodadas: o principal destaque de cada uma dessas editorias no começo do dia (entre 7h e 8h),
conteúdo que normalmente é produzido pelo impresso; e o principal destaque das mesmas que
foi destacado na capa ao longo da manhã (entre 8h e 12h), notícias que, a priori, são
produzidas pelos repórteres do em.com.br. Como o pesquisador faz parte do quadro funcional
da empresa e trabalha no turno da tarde/noite, não foi coletada nenhuma manchete neste
período. Com isso, a coleta do em.com.br gerou seis reportagens diárias, totalizando 30 textos
para análise.
76
Os mesmos parâmetros utilizados para coleta no em.com.br foram repetidos dentro do
Divirta-se, que, embora possua seis sessões de notícia, foi considerado como uma única
editoria. Com isso, seguindo os mesmos critérios, foram recolhidas reportagens que abriram o
portal e que foram produzidas ao longo do dia (nesse caso, entre 8h e 21h), totalizando 10
links.
No site da TV Alterosa, como não existe o aproveitamento do conteúdo do impresso,
foram coletadas duas reportagens: a primeira cadastrada no site no dia (normalmente
divulgada no Uai antes mesmo de o Jornal da Alterosa ir ao ar) e a principal exibida no
telejornal e destacada no portal, somando, assim, mais 10 reportagens.
Já o Vrum, entre os veículos observados, é o que conta com equipe mais reduzida
dentro do Uai, o que ocasiona uma produção menor e com intervalos mais inconstantes. Dessa
forma, decidiu-se recolher a principal notícia do portal destacada na home em cada um dos
dias observados. Com isso, a fase de coleta de dados encerrou com 55 reportagens, volume
considerado satisfatório para a análise qualitativa desejada.
III.3 MODELO METODOLÓGICO PARA A ANÁLISE
Como dito na abertura deste capítulo, ainda que qualitativas, as pesquisas em
convergência de mídias seguem com poucos modelos bem definidos e elaborados. Entre eles,
destacam-se os apresentados por Ramón Salaverría e Xosé Lópes, utilizados durante os
estudos de caso realizados em diferentes redações ao redor do globo. Aos modelos aplicados
pelos espanhóis soma-se à rica contribuição trazida por Janaína Nunes (2009) em sua
dissertação na Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Foi no cruzamento desses
modelos que esta pesquisa encontrou as alternativas mais viáveis para realização da análise
proposta.
Nunes (2009), para viabilizar a análise em sua pesquisa, observou as manchetes do
“Globo online” em diferentes horários (como proposto, também, nesta pesquisa), avaliando
composição das reportagens com seus links, vídeos, galerias de fotos, infográficos e áudios.
Depois de descrever cada link presente no texto, ela avaliou diferentes aspectos em cinco
categorias que eram pertinentes ao seu trabalho: hipertexto, multimídia, texto, interatividade e
relação com o impresso.
No caso desta pesquisa, optou-se, inicialmente, por seguir um modelo próximo ao que
foi sugerido por Nunes, mudando, no entanto, as categorias de análise para temas que
77
permitissem uma observação mais profunda, que fosse pertinente com os objetivos propostos.
Assim, originalmente, à época da formulação do projeto de pesquisa, foi criado um quadro, à
luz, também, dos estudos de López, para “decupar” o material coletado.
No entanto, depois da realização dos estudos-pilotos, foi constatada a necessidade não
apenas de ampliar o modelo inicial, proposto por Nunes, mas também de construir um
esquema metodológico próprio para a análise, coerente com a observação qualitativa
pretendida.
Para criar o modelo, foram aproveitados os conceitos e debates que surgiram durante a
revisão teórica, que serviu, dessa forma, não apenas como ferramenta para a análise
qualitativa, mas como parâmetro para a elaboração do próprio processo metodológico
utilizado.
Assim, partindo do princípio de que a narrativa presente na convergência de mídias é
resultado do cruzamento das características dos veículos de origem de cada um dos conteúdos
multimidiáticos compartilhados na web com a hipertextualidade e a interatividade (como
ilustra a Figura 4), decidiu-se por dividir a análise em dois momentos: o
descritivo/interpretativo e o compreensivo/comparativo. No primeiro, estão ausentes os juízos
de valor, enquanto no segundo serão feitas considerações e julgamentos frente às observações
realizadas.
Figura 4 – Associações entre características do conteúdo multimidiático com a hipertextualidade e a interatividade levam ao surgimento do conteúdo convergente (elaboração própria)
III.3.1 Quadro para análise e modelo organizado em níveis de convergência
Para o primeiro momento (de decupar e organizar) foi desenvolvido um quadro (p. 80)
que permitiu sistematizar o material observado, verificando as marcas das mídias de origem
78
presentes nas reportagens que possuem material convergente e a atuação na narrativa dos
principais conceitos abordados na revisão teórica sobre hipertextualidade, interatividade e
convergência.
Após a sistematização dos dados, com análise inicial do conteúdo coletado, o segundo
momento, também realizado a partir da elaboração de um modelo próprio (Figura 5, p. 79),
verificou o grau de convergência atingido pela narrativa na tela, a fim de, finalmente, atingir
as inferências possíveis sobre a transformação do conteúdo jornalístico que converge no
Portal Uai, respondendo a problemática que fomentou este estudo e cumprindo os objetivos
propostos.
O modelo elaborado para a realização desta última etapa, também feito à luz das
teorias de Jenkins e Salaverría, divide a convergência de mídias em quatro diferentes níveis,
formando um ciclo ininterrupto de circulação das informações ao atingir o grau máximo:
� Nível I: É o nível básico de convergência atingido por praticamente todo
material multimidiático que é publicado na web, uma vez que a simples
inserção desse conteúdo associada às características hipertextuais leva ao
primeiro passo do processo e produz uma narrativa com novas
potencialidades;
� Nível II: Ocorre quando as potencialidades da Web 2.0 são associadas ao
conteúdo multimidiático e hipertextual, elevando-o mesmo a um novo
contexto, onde o interagente exerce, em algum grau, seu papel de coautor do
conteúdo;
� Nível III: É a etapa em que deve imperar a alteração de propósito
(repurposing). Só é possível quando as características dos níveis anteriores são
associadas de forma inteligente pelos produtores, respeitando as
peculiaridades do meio, no caso, a web. Acredita-se que neste nível é possível
verificar as pressupostas transformações ocorridas no discurso midiático;
� Nível IV: É o retorno à mídia de origem, ou, em outras palavras, a
complementaridade (que não deve ser confundida com dependência) entre o
conteúdo transposto (produzido) para a web com o oferecido nos meios de
origem. Esse nível ocorre quando portal guia o interesse do interagente para a
procura dos veículos de origem e os mesmos devolvem a atenção à web,
79
retroalimentando o processo com uma convergência diária de conteúdos
multimidiáticos, hipertextuais e interativos.
Figura 5 – Divisão das etapas de produção (A, B, C e D) que permitem a construção de
uma narrativa convergente em diferentes níveis (elaboração própria)
A partir dos níveis propostos no modelo (Figura 5) desenvolvido à luz das teorias de
Ramón Salaverría, Henry Jenkins, André Lemos e Pierre Lévy, e da sistematização do
conteúdo através do Quadro 5 – como detalhado anteriormente neste capítulo –, esta pesquisa
filtrou e avaliou os conteúdos de 55 reportagens presentes em quatro portais que integram o
Uai, trabalho que é apresentado no próximo capítulo, que traz, ao longo das análises,
exemplos das discussões presentes na Parte I deste estudo e conclusões parciais e
apontamentos que são apresentados ao final de cada uma das cinco rodadas de análise, a fim
de facilitar a compreensão dos resultados obtidos.
Quadros comparativos e prints das telas dos portais estudados também foram
utilizados como recurso para facilitar ao leitor a observação e interpretação do material
coletado e avaliado no Capítulo IV desta dissertação.
80
Quadro para análise de marcas da convergência em narrativas nos portais jornalísticos
Reportagem:
Link:
Origem:
Reportagem foi elaborada pelo impresso, pela televisão ou pelo rádio? É notícia de agência? Ou foi elaborada pelo próprio portal? Para verificar a origem é preciso consultar, também, os veículos
tradicionais. Embora em alguns casos a origem pareça óbvia, uma boa pista para começar os trabalhos é pesquisar pelo nome do
repórter.
Campo I (Chapéu, título e bigode)
Se originada em outro veículo, a notícia sofreu mudanças em seu título? Qual tipo de mudanças? Existe alguma referência ao
conteúdo multimidiático?
Campo II (Corpo da narrativa)
Estrutura do lead (ver nota 32). Sofreu alguma mudança? Dá sinais de que a notícia segue a pirâmide invertida? Foi substituído
por conteúdo multimidiático? Possui elementos hipertextuais?
Elementos multimidiáticos. São utilizados? Quais deles? São originados em outro veículo?
Elementos hipertextuais. São aplicados no corpo da reportagem? 'Conversam' com outros veículos ou com conteúdos multimídia? O
texto é linear ou tem marcas de não-linearidade?
Marcas textuais e repurposing. Se originada em outro veículo, a reportagem conserva características da linguagem? Ocorreram
modificações? Existem orações ou expressões características de outras mídias?
Repetição. Elementos multimidiáticos se repetem? Atuam completando um ao outro? 'Conversam' com o texto?
Interatividade. É condicionada alguma forma de interferência do leitor ao longo da reportagem? Espaço fica restrito aos
comentários?
Shovelware. Apresenta caracteres estranhos ou anomalias que indiquem shovelware?
Transmídia. Se originada de outra mídia, houve alguma forma de referência entre as reportagens? Ocorreu apenas a transposição do
conteúdo? Foi agregado algum novo elemento?
Campo III (Sessão de comentários e redes
sociais)
Quais possibilidades são oferecidas? É possível interagir, de fato, com a reportagem e com o texto? É possível atuar como coautor e
exercer plenamente o papel de interagente?
Quadro 5 – Modelo para análise de marcas da convergência nas notícias publicadas em portais
81
CAPÍTULO IV: análise qualitativa
Com o modelo de análise em mãos e a revisão teórica finalizada, iniciou-se a
observação dos dados coletados nos portais em.com.br, Vrum, Divirta-se e Alterosa, quatro
veículos de destaque dentro do Portal Uai. Vale ressaltar, novamente, que por se tratar de uma
análise qualitativa, a avaliação foi dividida em dois momentos: o descritivo/interpretativo e o
compreensivo/comparativo. Em ambos, ainda que ciente da impossibilidade da imparcialidade
absoluta, o autor, que faz parte do quadro de funcionários da empresa desde 2008, alinhou-se,
com redobrada atenção, a todos os princípios éticos para o desenvolvimento do trabalho, não
abrindo mão da liberdade para o pleno exercício da pesquisa e crítica.
As ponderações sobre o conteúdo observado seguiram alinhadas às reflexões teóricas
presentes nos capítulos I e II, com certa predileção pela corrente de Henry Jenkins (2009),
principalmente no que diz respeito ao paradigma da convergência. No mais, prevaleceu o
meio termo de André Covre nas reflexões sobre interatividade e o conceito próprio que foi
lançado nesta pesquisa, a partir das discussões de Pierre Lévy e André Lemos para definir a
hipertextualidade.
Com as características embrionárias do texto produzido em cada veículo em mente e
os principais conceitos de narrativa convergente revisados, objetivou-se, com esta análise
compreender, a formação do discurso jornalístico a partir da união de diferentes linguagens na
tela, entendendo até que ponto, no caso observado, a web atuou transformando a narrativa
jornalística.
Vale ressaltar que a observação de cada notícia foi realizada incialmente de forma
individual, por isso, para melhor compreensão dos dados, a análise que se segue neste capítulo
foi dividida de acordo com as 55 reportagens coletadas e, também, com os resumos
comparativos de cada rodada de estudos. Desta forma, para facilitar a leitura, optou-se por
iniciar a análise de cada uma das notícias sempre em nova página.
82
IV.1 Primeira rodada de análise – 21 de janeiro de 2013
IV.1.1 em.com.br
Reportagem 1
Reportagem 1 “Brasil vive a era do filho único” – Editoria de Gerais
Link http://www.em.com.br/app/noticia/gerais/2013/01/21/interna_gerais,344767/brasil
-vive-a-era-do-filho-unico.shtml
Origem Impresso. Reportagem elaborada pela repórter Patrícia Giudice, do Jornal Estado
de Minas.
Quadro 6 – Identificação da Reportagem 1
Campo I
O título, originalmente “Era do filho único”, foi modificado para que a reportagem
fosse transposta para a web, ganhando um verbo (“vive”) que tornou a frase direta e localizou
o contexto da notícia territorialmente (“Brasil”). O bigode – ou subtítulo – foi mantido
semelhante ao jornal impresso.
Campo II
Não ocorreu nenhuma alteração no lead32 em relação ao impresso, mas o mesmo não
segue o padrão usual e indica (o que, observando o restante do texto, se confirma) que a
reportagem também não. Embora a análise desse ponto possa ser irrelevante dentro dos
objetivos em voga nessa pesquisa, individualmente ela permite inferir uma mudança de
contexto na reportagem do jornal impresso, que se afasta do hard news.
O único elemento presente no campo II além do texto escrito é a fotografia, a mesma
do jornal impresso, que também repete a legenda. Além disso, não existe nenhuma forma de
interatividade ao longo do corpo do texto e nenhum conteúdo adicional em relação ao
oferecido pelo impresso foi incorporado.
32 O lead é a abertura da matéria. Nos textos noticiosos, deve incluir, em duas ou três frases, as informações essenciais que transmitam ao leitor um resumo completo do fato. Precisa sempre responder às questões fundamentais do jornalismo: o que, quem, quando, onde, como e por quê. Uma ou outra dessas perguntas pode ser esclarecida no sublead, se as demais exigirem praticamente todo o espaço da abertura. (MARTINS, 2013)
83
No que diz respeito ao texto escrito, não existe nenhum tipo de tratamento ou cuidado
na adaptação da reportagem à web. A transcrição das aspas de uma especialista no assunto
debatido na notícia, assim como as dicas sobre o assunto fornecidas por uma instituição,
foram incorporadas ao texto corrido (no impresso estavam destacadas em boxes na página),
prejudicando o sentido da reportagem. Ao contrário do esperado, o hipertexto não foi
utilizado para conduzir uma leitura não-linear. Ao invés disso, a reportagem praticamente se
tornou mais linear – se é que podemos dizer isso – do que na página impressa.
Campo III
A sessão de comentários – que exige cadastro no site com submissão das postagens à
moderação – e a barra de compartilhamento nas redes sociais foram as duas únicas formas
oferecidas para interatividade. Também existe um link fixo na página (com o erro,
presumidamente de digitação, “efaça”) convidando os leitores para participar do Dzaí, como
mostra a figura abaixo:
Figura 6 – Referência à rede social é destacada na sessão de comentários, no Campo III
Análise
A indicação nessa reportagem é da transposição definida como shovelware por Ramón
Salaverría. O texto é idêntico ao do impresso e, como dito na sistematização do material
observado, ao transportá-lo para web, praticamente conseguiram torná-lo mais linear que no
jornal, não fossem as características hipertextuais que qualquer portal, ainda que estático,
oferece pelo simples fato de estar conectado à rede. A foto, único recurso adicional, não
agrega sentido mais amplo ao texto da reportagem, funcionando apenas como ilustração.
84
Como definido no modelo apresentado no capítulo anterior (tópico III.3.1), tal reportagem não
figura nem mesmo no nível inicial de convergência, remetendo às bases da WWW, quando o
portal era um mero espaço de transposição do impresso. Em “Notas sobre o conceito de
transposição e suas implicações para os estudos da leitura de jornais on-line”, Ribeiro (2009)
alerta:
O fato é que, se para o produtor é possível tratar de transposições, para o leitor, não é possível transpor experiências. Ele não se engana com aparências. O leitor aprende com base no que sabe e no que lhe é apresentado. Assim que entra em contato com algo novo, põe em riste a operação de comparar. O espectro é muito amplo, estando o leitor mais para degustador do que para alguém que experimenta às talagadas (RIBEIRO, 2009, p.27).
Neste sentido, cabe destacar, logo nesta primeira análise, a confirmação de que, assim
como debatido por Ribeiro (2009), o jornalismo on-line não tem fases com marcações
temporais bem definidas, que se alteraram de acordo com sua evolução. Ao contrário, ele
experimenta todas as fases simultaneamente, sendo que, o surgimento de uma nova realidade
– como foi a Web 2.0 – não elimina as demais, que sobrevivem em algum grau na tela. É o
caso do conteúdo analisado.
85
Reportagem 2
Reportagem 2 “Muro de obra desaba e casas são interditadas no Bairro Floresta” – Editoria de
Gerais
Link http://www.em.com.br/app/noticia/gerais/2013/01/21/interna_gerais,344871/muro
-de-obra-desaba-e-casas-sao-interditadas-no-bairro-floresta.shtml
Origem Web. Reportagem produzida pela repórter Luana Cruz, do Portal Uai.
Quadro 7 – Identificação da Reportagem 2
Campo I
Elaborado para uma reportagem a ser publicada diretamente na web, o título, tido
como importante elemento de audiência, segue o padrão difundido pelos portais, com ordem
direta, informação principal destacada (“muro que desabou interditando casas”) e localização
geográfica (“Bairro Floresta”).
Campo II
O lead da reportagem segue a ordem tradicional, destacando os elementos mais
importantes da notícia, que segue a pirâmide invertida. No lugar da foto, é utilizado o recurso
de “antes e depois” (Figura 7), que permite ao interagente comparar o local pós-acidente com
uma imagem anterior, mostrando o muro que desabou ainda em construção.
Além disso, existem links sobre outras reportagens referentes ao mesmo tema (chuva
em Minas Gerais, deslizamentos) que estão relacionados em um box à esquerda do texto. Não
há referências externas. Todos levam ao próprio em.com.br.
Além da possibilidade de interagir – ainda que minimamente – com as imagens,
também existe uma indicação com hiperlink, no final do campo II, para que o interagente
participe de uma comunidade específica no Dzaí sobre o tema “chuvas em Minas”, o que
mostra certa preocupação com a interatividade dentro da notícia.
Existe, ainda, uma lista com as casas afetadas, apresentada na forma de texto corrido.
Campo III
Semelhante à reportagem 1.
86
Análise
A reportagem produzida pelo portal apresentou variedade de recursos interativos e
hipertextuais ao longo do texto, o que não ocorreu com a primeira notícia observada,
transposta do Estado de Minas. O texto, porém, seguiu o padrão do jornal impresso, com
poucos recursos hipertextuais em seu corpo e primando pela leitura linear, o que pode ser
comprovado pela inserção de uma lista em forma de texto corrido (e não de links, como
esperado).
Ainda assim, ao transformar as fotografias, que em sua essência são um conteúdo
multimodal – e não multimidiático –, inserindo a possibilidade de interação na tela, ainda que
mínima, a reportagem chega ao primeiro nível de convergência, aliando multimidialidade33 e
hipertextualidade.
Figura 7 – Recurso de “antes e depois” fornece certo grau, ainda que mínimo,
de interatividade, tornando a foto um recurso multimidiático
33 Nesta análise, as fotografias quando reunidas em galerias de imagens ou animações que aproveitem o dinamismo da web, quebrando a essência estática do impresso, serão consideradas como conteúdo multimidiático e não apenas multimodal.
87
Reportagem 3
Reportagem 3 “Brasileiros viajam mais e de carro novo” – Editoria de Economia
Link http://www.em.com.br/app/noticia/economia/2013/01/21/internas_economia,3447
52/brasileiros-viajam-mais-e-de-carro-novo.shtml
Origem Impresso. Reportagem elaborada pela repórter Zulmira Furbino, do Jornal Estado de Minas.
Quadro 8 – Identificação da Reportagem 3
Campo I
Assim como aconteceu na reportagem I, o título precisou ser reescrito, ganhando
verbo: o título da reportagem publicada originalmente no impresso é “Dinheiro no bolso e pé
na estrada”. O subtítulo foi mantido semelhante.
Campo II
Novamente, o único conteúdo observado além do texto escrito é a fotografia, duas no
caso desta reportagem: uma superior, em destaque acima do texto, e outra mais embaixo,
alinhada à direita. Tal modelo de diagramação (constatado também na maioria das
reportagens que se seguem) reforça um predomínio ainda forte na web do padrão “foto
superior mais texto escrito” (Figura 8), bastante semelhante à página do impresso. Essa
prática no jornalismo on-line foi constatada por Luciana Moherdaui, ainda em 1999, como a
mais comum em portais de notícia, e segue ainda muito presente, sendo observada também
nos trabalhos de Ziller (2011) e Nunes (2009).
Ainda no Campo II, o texto escrito, por sua vez, segue a pirâmide invertida e possui 16
parágrafos, parecendo cansativo na tela. Embora seja composto por dois intertítulos
destacando diferentes assuntos dentro da notícia e uma retranca (reportagem secundária), o
material não foi dividido por hiperlinks, primando-se, mais uma vez, por mantê-lo linear.
Neste campo, não existe qualquer forma de interatividade ou de hipertextualidade.
Campo III
Semelhante à reportagem 1.
88
Análise
Novamente a inferência é no sentido de shovelware. Assim como na reportagem I,
essa notícia primou por manter um caráter linear, desconsiderando todas as possibilidades
oferecidas pela web. Não fosse a sessão de comentários e a possibilidade de compartilhar a
notícia, o conteúdo seria idêntico ao apresentado pelo portal em sua fundação, em 1996.
Figura 8 – Formato com foto horizontal antes do texto escrito
ainda é o mais comum no jornalismo on-line
89
Reportagem 4
Reportagem 4 “Mercado eleva previsão de inflação pela 3ª semana” – Editoria de Economia
Link http://www.em.com.br/app/noticia/economia/2013/01/21/internas_economia,3448
34/mercado-eleva-previsao-de-inflacao-pela-3-semana.shtml
Origem Agência de notícias. Reportagem da Agência Estado.
Quadro 9 – Identificação da Reportagem 4
Campo I
O título segue o padrão da web, mas a notícia não possui subtítulo.
Campo II
Assim como na reportagem anterior, o texto é considerado extenso para a web, com 11
parágrafos. Apesar de possuir três intertítulos dividindo a reportagem em diferentes tópicos,
nenhum deles foi abrigado em outra página, imperando a linearidade.
Assim como na reportagem 2, apresenta um box alinhado à esquerda destacando duas
notícias sobre o mesmo assunto publicadas no em.com.br. Não existe nenhuma referência
externa e o padrão da narrativa segue o mesmo de jornais impressos.
Campo III
Semelhante à reportagem 1.
Análise
Ainda que uma notícia produzida por agência possa soar estranha ao contexto desta
pesquisa, observá-la é interessante para verificar o tratamento que a mesma recebeu ao ser
inserida no Uai. A sensação é de poucos cuidados. Apesar da inserção de dois hiperlinks, não
foi verificada a presença de nenhum conteúdo multimidiático, sendo a narrativa da
reportagem observada “não convergente”.
90
Reportagem 5
Reportagem 5 “Maioria dos municípios mineiros não tem receitas próprias para sobreviver” –
Editoria de Política
Link
http://www.em.com.br/app/noticia/politica/2013/01/21/interna_politica,34
4757/maioria-dos-municipios-mineiros-nao-tem-receitas-proprias-para-
sobreviver.shtml
Origem Impresso. Reportagem de Bertha Maakaroun, jornalista do Estado de Minas.
Quadro 10 – Identificação da Reportagem 5
Campo I
Assim como observado nas outras reportagens originadas no impresso, o título foi
modificado, ganhando verbo e ordem direta, além de destacar o assunto principal. O título
original era “Sem receitas para sobreviver”.
Campo II
Não apresenta nenhum recurso multimidiático, nem mesmo multimodal, como fotos,
ao contrário das reportagens 1 e 3. Novamente o texto é extenso e não é divido por hiperlinks,
trazendo apenas o box padrão com relacionamento de outras reportagens sobre o mesmo
assunto à esquerda da notícia (Figura 9). A reportagem segue a ordem da pirâmide invertida,
mas não possui localização temporal bem definida.
A assinatura do repórter está no local errado e existem espaços inesperados no texto o
que, segundo a teoria de Salaverría (2008), nos permite inferir shovelware.
Campo III
Semelhante à reportagem 1.
Análise
O material não recebeu nenhum tratamento para a web nem conteúdo multimidiático,
sendo rapidamente descartado como possível notícia convergente. No entanto, a análise da
reportagem, quando comparada com as outras transpostas do jornal analisadas até este ponto
(reportagens I e II), é importante para reforçar a ideia da ausência de temporalidade dentro das
notícias publicadas no Estado de Minas – nenhuma das três possui referências claras de data.
91
Figura 9 – Box com notícias relacionadas à esquerda do texto é a forma mais comum
de hipertextualidade presente no corpo das notícias observadas no em.com.br
92
Reportagem 6
Reportagem 6 “AGU já ajuizou 23 processos contra prefeitos que perderam o cargo” – Editoria
de Política
Link http://www.em.com.br/app/noticia/politica/2013/01/21/interna_politica,34
4836/agu-ja-ajuizou-23-processos-contra-prefeitos-que-perderam-o-cargo.shtml
Origem
Web. Notícia assinada pela equipe de reportagem do CorreioWeb, portal de
notícias do Correio Braziliense, jornal que também faz parte dos Diários
Associados.
Quadro 11 – Identificação da Reportagem 6
Campo I
Título em ordem direta, com informações mais importantes da reportagem.
Campo II
Embora produzida para a web, não existe nenhum aproveitamento de conteúdo
multimidiático e a narrativa segue o padrão do impresso, sendo apenas mais breve. Utiliza o
box de relacionamentos à esquerda para trazer outras notícias sobre os dois principais assuntos
abordados: AGU e prefeitos. Não há interatividade. Os links externos também não estão
presentes, nem mesmo com o portal que produziu a notícia.
Campo III
Semelhante à reportagem 1.
Análise
Embora tenha sido trabalhado minimamente para a web, com relacionamento de
notícias e elaboração de texto mais curto, o conteúdo não apresenta os elementos necessários
para ser considerado convergente.
93
IV.1.2 Divirta-se
Reportagem 7
Reportagem 7 “Representante de Chris Brown confirma novo dueto com Rihanna”
Link
http://divirta-
se.uai.com.br/app/noticia/musica/2013/01/21/noticia_musica,139757/representant
e-de-chris-brown-confirma-novo-dueto-com-rihanna.shtml
Origem Web. Reportagem replicada do portal Correio Braziliense.
Quadro 12 – Identificação da Reportagem 7
Campo I
Título em ordem direta. Não traz nenhuma referência aos conteúdos multimidiáticos
presentes no texto da reportagem.
Campo II
Seguindo a pirâmide invertida, o texto conta com a associação de conteúdo
multimidiático através da presença de áudios. Além disso, possui fotos e o relacionamento de
notícias sobre os dois artistas que são retratados na reportagem à esquerda da página, em
padrão semelhante ao observados nas primeiras notícias analisadas no em.com.br.
No corpo do texto em si, não existe nenhum relacionamento para outras notícias, mas
existem quatro “insuportáveis” hiperlinks (inclusive na legenda da foto) levando a
publicidades relacionadas com as palavras-chave. Ainda que irritante, não deixa de ser uma
opção comercial, por assim se dizer, de uso da hipertextualidade (Figura 10).
Ao evocar o interagente para escutar o áudio no final do texto, existem referências
claras às narrativas presentes no rádio e na televisão, com um tom mais informal, convidativo,
chamando para a música: “Ouça à faixa Nobody's Business”.
Campo III
O Divirta-se apresenta uma novidade em relação ao em.com.br: as notícias podem ser
comentadas diretamente de sua conta no Facebook ou com cadastro no portal. Não existe a
moderação de comentários, o que torna a comunicação mais franca e o papel do interagente,
94
mais decisivo na produção das narrativas. Na reportagem observada, porém, não ocorreu
nenhuma interferência dos interagentes.
Análise
Depois da primeira rodada de análise das notícias no em.com.br, o primeiro link
coletado dentro do Divirta-se surge como alento à pesquisa.
O material multimidiático está presente, trazendo inclusive marcas textuais de outras
mídias (linguagem informal, presunção de que você está dialogando com alguém). Os
elementos (foto, áudio, texto e hiperlinks) conversam, sem se repetir. No campo III, a
sensação de interatividade, como dita, é mais franca, levando a crer em uma possível
coautoria. Somados, esses fatores – interatividade, multimidialidade e hipertextualidade –
levam o conteúdo ao segundo nível de convergência, segundo os parâmetros observados.
Figura 10 – Ao passar ponteiro do mouse sobre links presentes no corpo do texto,
portal abre publicidades relacionadas com as palavras-chave
95
Reportagem 8
Reportagem 8 “Rapper é expulso de evento de posse de Obama por criticar presidente
americano”
Link
http://divirta-
se.uai.com.br/app/noticia/musica/2013/01/21/noticia_musica,139763/rapper-e-
expulso-de-evento-de-posse-de-obama-por-criticar-presidente-americano.shtml
Origem Web. Reportagem assinada pelo Portal Divirta-se.
Quadro 13 – Identificação da Reportagem 8
Campo I
Título em ordem direta, com os elementos principais da notícia. Não traz nenhuma
referência aos conteúdos multimidiáticos presentes no texto da reportagem.
Campo II
Assim como na primeira reportagem analisada no Divirta-se, a notícia traz elemento
multimidiático: desta vez, o vídeo. No entanto, neste caso ocorre a repetição com a imagem
utilizada, já que a foto horizontal que é destacada antes do texto é uma imagem congelada
(também chamada de frame) do vídeo que surge no final do texto, não acrescentando
nenhuma informação relevante ao conteúdo.
Ainda como na reportagem I, existem as notícias relacionadas com o assunto presentes
em box alinhado à esquerda e os hiperlinks espalhados no corpo do texto, sendo esses últimos
direcionando os interagentes até publicidades. No entanto, apresenta a primeira forma de
relacionamento externo verificada no material coletado, permitindo ao interagente, partindo
do próprio texto, chegar ao site de onde as informações foram apuradas.
Nessa notícia, também ficam mais claras as marcas da influência exercida pela
televisão. O texto é mais curto, com orações menores e diretas, servindo como uma
introdução ao conteúdo do vídeo, que se torna o protagonista na reportagem. A linguagem é
simples e informal (“Nem tudo são flores”), simulando, mais uma vez, uma conversa com o
espectador: “Veja o momento(...)”.
Campo III
96
Segue os mesmos padrões da reportagem I. Não houve a participação de interagentes.
Análise
Assim como a primeira notícia analisada no Divirta-se, a reportagem 2 se encontra no
segundo nível de convergência. Mais uma vez o conteúdo multimidiático foi associado com
as potencialidades da hipertextualidade e da interatividade. Porém, destacou-se negativamente
a repetição dos elementos, o que empobrece o conteúdo convergente.
No entanto, a observação mais pertinente do material está nas marcas trazidas pelas
outras mídias presentes na narrativa. Nessa reportagem, o protagonista não é o lead, nem
mesmo o restante do texto, ainda que esses sigam a pirâmide invertida. Toda expectativa do
interagente durante a leitura fica para o material multimidiático (vídeo), presente apenas no
final da reportagem. Assim, pode-se dizer que o texto funcionou como uma espécie de entrada
ao prato principal ou, no jargão dos telejornais, como uma cabeça (texto lido pelo
apresentador que introduz as reportagens exibidas nos telejornais).
97
IV.1.3 Alterosa
Reportagem 9
Reportagem 9 “Bandidos arrombam bar no Centro de BH, mas são presos em flagrante”
Link
http://www.alterosa.com.br/app/belo-horizonte/noticia/jornalismo/ja---
1ed/2013/01/21/noticia-ja-1edicao,1398/bandidos-arrombam-bar-no-centro-de-
bh-mas-sao-presos-em-flagrante.shtml
Origem TV Alterosa – Jornal da Alterosa.
Quadro 14 – Identificação da Reportagem 9
Campo I
Não possui subtítulo e não faz nenhuma referência à presença de conteúdo
multimidiático.
Campo II
Contando com a presença de fotos e vídeos, a reportagem consegue repetir todos os
elementos durante a narrativa. A repetição acontece nas imagens (frames do vídeo) e no texto
corrido, que é uma transcrição com poucas alterações daquele dito pelo repórter, como mostra
o trecho abaixo:
� Texto escrito: “Emerson Daniel de Oliveira, de 26 anos, foi algemado e levado
para a delegacia. Uma pessoa que passava de ônibus pela Rua da Bahia viu o
arrombamento e acionou a polícia”.
� Texto falado no vídeo: “Emerson Daniel de Oliveira, de 26 anos, estava todo
sujo, ele foi algemado e levado para a delegacia. Uma pessoa que passava de
ônibus ali pela Rua da Bahia viu o arrombamento e acionou a polícia”.
Não existe nenhuma forma de adaptação do vídeo para o portal. A interatividade e
hipertextualidade estão presentes em grau mínimo, apenas na possibilidade de se comandar a
execução do vídeo. Há falhas técnicas graves, com qualidade ruim de frames e erros de
espaçamento indicando assim, ainda que com a edição mínima no texto, shovelware.
Campo III
98
Na época da coleta de dados, o portal da Alterosa não tinha nenhuma forma de
interação. No entanto, ainda no primeiro semestre de 2013, com uma mudança de layout, o
veículo abriu espaço para a participação pelas redes sociais. Além das possibilidades de
comentar realizando um cadastro ou pelo Facebook, como no Divirta-se, foram inseridas
funcionalidades que permitem a integração com outras redes. No entanto, nenhuma das
reportagens analisadas possui tal interação.
Análise
Esse material, assim como praticamente todos os outros postados no portal da
Alterosa, configura-se no nível inicial da convergência de mídias, uma vez que, com a simples
transposição de vídeos para a web e poucos cuidados de edição, já reúne multimidialidade e
hipertextualidade. Como dito, após a coleta de dados, foi criada a possibilidade da
participação dos interagentes mediada por redes sociais, o que elevaria o conteúdo ao 2º nível
de convergência. No entanto, essa e as outras nove notícias avaliadas na Alterosa ainda estão
no primeiro nível.
No que diz respeito à narrativa, a repetição e os graves problemas de shovelware
impedem até mesmo a observação desta na tela. Existe uma tentativa equivocada do portal de
incorporar o texto lido pelo repórter como conteúdo, o que coloca o material distante dos
parâmetros mínimos de qualidade, impedindo qualquer inferência de modelo a partir da
notícia observada.
99
Reportagem 10
Reportagem 10 “Dia de limpeza e de contabilizar os prejuízos após chuva em BH”
Link
http://www.alterosa.com.br/app/belo-horizonte/noticia/jornalismo/ja---
1ed/2013/01/21/noticia-ja-1edicao,1416/dia-de-limpeza-e-de-contabilizar-os-
prejuizos-apos-chuva-em-bh.shtml
Origem TV Alterosa – Jornal da Alterosa.
Quadro 15 – Identificação da Reportagem 10
Campo I
Não possui subtítulo e não faz nenhuma referência à presença de conteúdo
multimidiático.
Campo II
Assim como a primeira reportagem analisada da Alterosa, esse conteúdo conta com
vídeo e fotos. Desta vez, porém, as imagens estão reunidas em uma galeria de imagens,
presente no campo II através de hiperlink, o que, como dito anteriormente, proporciona um
dinamismo que faz das imagens, de acordo com o contexto discutido nesta pesquisa, um
conteúdo que pode ser considerado multimidiático.
Ainda que aproveitando das informações presentes no vídeo, o texto não apresenta
grandes repetições com os demais elementos, conduzindo o interagente (assim como na
segunda reportagem analisada no Divirta-se) ao vídeo, que exerce papel de protagonista na
reportagem.
O vídeo não apresentou nenhuma modificação ao ser publicado no site e não existem
referências cruzadas entre os veículos.
Campo III
Semelhante à reportagem I.
100
Análise
Como dito na análise da reportagem anterior, assim como as demais, essa notícia
também figura no nível inicial de convergência, unindo multimidialidade e hipertextualidade.
Porém, esse caso serve melhor para a observação da construção da narrativa que,
assim como no exemplo da reportagem II do Divirta-se, traz o vídeo como protagonista e o
texto como introdutor ao conteúdo principal.
A galeria de imagens funciona como bom elemento convergente, dando sentido de
complementaridade à utilização dos frames, uma vez que, em sua maioria, os mesmos foram
extraídos do material bruto gravado pelos cinegrafistas e não foram ao ar no telejornal.
O destaque negativo fica por conta do vídeo que foi transposto exatamente da mesma
forma como foi exibido na TV, trazendo, inclusive, a imagem da apresentadora do telejornal
aguardando, de costas, a reportagem entrar no ar após a leitura da cabeça. Embora os
produtores esperem que haja uma compreensão dos interagentes de que tal elemento foi
extraído da TV, o desleixo indica shovelware.
101
IV.1.4 Vrum
Reportagem 11
Reportagem 11 “Rely chega ao Brasil com motor mais forte da categoria”
Link
http://estadodeminas.vrum.com.br/app/noticia/noticias/301,19,306,19/201
3/01/21/interna_noticias,45522/rely-chega-ao-brasil-com-motor-mais-forte-da-
categoria.shtml
Origem Web. Reportagem assinada pela equipe do Portal Vrum de Recife e
transposta ao Vrum de Minas.
Quadro 16 – Identificação da Reportagem 11
Campo I
Título em ordem direta. Subtítulo traz a informação “ao Recife”, presumindo uma
audiência local.
Campo II
Texto segue a pirâmide invertida e o estilo dos jornais impressos. Não é utilizada
nenhuma forma de hipertextualidade ou interatividade no campo II, ainda que exista um
programa de TV do portal. O único conteúdo complementar ao texto escrito é a fotografia,
com duas imagens intercaladas aos parágrafos. No terceiro parágrafo, assim como no
subtítulo, existe a referência territorial – “(...) previsão para chegada da Pick-up ao Norte-
Nordeste é(...)” –, indicando sinergia entre os portais, mas shovelware na transposição de
conteúdos.
Campo III
Semelhante ao observado nas reportagens do em.com.br, o que sugere um
administrador de portal da mesma geração. Possui, no entanto, a vantagem de não depender
da moderação de comentários, permitindo uma interação mais franca.
102
Análise
Assim como ocorrido em reportagem analisada do em.com.br na rodada inicial, o
material apresenta a sinergia (que não deve ser confundida com convergência) entre diferentes
portais. No entanto, até mesmo na transferência de um veículo da web para outro semelhante,
o shovelware foi observado, com a permanência de elementos de localização estranhos à
audiência do portal que recebeu o conteúdo. Além disso, nenhum material hipertextual ou
interativo foi aproveitado, sendo as fotografias o único recurso presente, o que torna a
narrativa da reportagem “não convergente”.
103
IV.1.5 Resumo da primeira rodada
Durante a primeira rodada de análises, o conteúdo do Divirta-se se mostrou o mais
alinhado ao que se espera de uma narrativa convergente depois da revisão teórica presente
neste trabalho, apresentando indícios claros da influência de outras mídias na web e da
construção de uma narrativa transformada, com novos protagonistas que não o lead e o texto.
As primeiras inferências que nos parecem pertinentes são sobre o fato da Cultura
normalmente ser o local da experimentação e, também, a fonte de entretenimento, o que
coloca a linguagem da editoria mais próxima às características da televisão, por exemplo.
No restante do material, quando ocorreu alguma forma de transposição ou
convergência, o que imperou foi o shovelware, com pouca ou nenhuma preocupação ao
adaptar o conteúdo à web, o que torna a análise da narrativa pouco pertinente, uma vez que
ela mantém características como a linearidade e o uso de fotos como recursos para ilustração.
No entanto, tanto a reportagem II da Alterosa como a reportagem II do em.com.br
mostraram alguma possibilidade de transformação ao agregar um nível informativo e
interativo às fotografias presentes nas notícias. É verdade que em nenhum dos dois casos a
fotografia exerceu papel de protagonista, porém, na reportagem da editoria de Gerais, ela
dividiu o papel de informar com o texto. Já no material coletado na Alterosa, o texto, assim
como observado no Divirta-se, serviu como condutor do interagente ao protagonista: o vídeo.
104
IV.2 Segunda rodada de análise – 05 de fevereiro de 2013
IV.2.1 em.com.br
Reportagem 12
Reportagem 12 “Detran quer pacote antifraude para habilitação de condutores de ônibus” –
Editoria de Gerais
Link http://www.em.com.br/app/noticia/gerais/2013/02/05/interna_gerais,3484
52/detran-quer-pacote-antifraude-para-habilitacao-de-condutores-de-onibus.shtml
Origem Impresso. Reportagem elaborada pelos jornalistas Mateus Parreiras e Paula
Sarapu, ambos do Estado de Minas.
Quadro 17 – Identificação da Reportagem 12
Campo I
Assim como ocorreu nas reportagens transpostas do impresso para a web e avaliadas
na primeira rodada, o título foi modificado, ganhando verbo e as informações mais
importantes. O subtítulo foi mantido.
Campo II
Não existe nenhum conteúdo multimidiático, nem mesmo fotos. O texto é extenso e
linear, seguindo os moldes do impresso. Apesar de ser composta por quatro intertítulos, a
notícia não foi dividida em hiperlinks. A única forma de hipertextualidade está no box à
esquerda, com apenas uma reportagem relacionada. Não foi feita nenhuma modificação no
texto em relação ao jornal.
Campo III
Semelhante à rodada I.
105
Análise
Novamente o padrão encontrado foi o de transportar, com praticamente nenhuma
modificação (apenas o título foi alterado), a reportagem do impresso para a web. Não foi
produzida nenhuma forma de conteúdo multimidiático e a narrativa não sofreu alteração. O
material não serve para a observação da convergência na narrativa.
106
Reportagem 13
Reportagem 13 “Estudante morreu por intoxicação de etanol em república de Ouro Preto” –
Editoria de Gerais
Link http://www.em.com.br/app/noticia/gerais/2013/02/05/interna_gerais,348524/estud
ante-morreu-por-intoxicacao-de-etanol-em-republica-de-ouro-preto.shtml
Origem Web. Reportagem assinada pela repórter Luana Cruz, do Portal Uai.
Quadro 18 – Identificação da Reportagem 13
Campo I
O título apresenta uma novidade em relação às demais reportagens relacionadas até
aqui, com tempo verbal no pretérito perfeito.
Campo II
Possui uma fotografia como único recurso multimodal, mas não existe legenda ou
referência à mesma ao longo do texto, cabendo ao interagente deduzir que se trata do jovem
morto sobre o qual trata a notícia. Mais uma vez, assim como nas outras reportagens do
em.com.br, a principal forma de uso da hipertextualidade é o relacionamento e reportagens
através do box à esquerda da página.
No entanto, é interessante observar que existe um relacionamento do fim da
reportagem (figura 11), sobre outra notícia comum ao tema. A linguagem utilizada para criar
o hiperlink chama a atenção pela informalidade e tom de ‘oralidade’: “Veja as novas regras
que a Ufop impôs após mortes em repúblicas”.
Figura 11 – Relacionamento está presente no box à esquerda e no fim da reportagem
107
Campo III
Semelhante à rodada I.
Análise
Embora dê sinais de utilização da hipertextualidade e incorpore algumas
características de outras mídias, como o tom mais informal ao convidar o interagente a ver
outra notícia, a reportagem não utiliza elementos multimidiáticos em sua narrativa, como já
dito, a base para a convergência de mídias.
108
Reportagem 14
Reportagem 14 “Gasolina tem alta média de 4,25% em BH” – Editoria de Economia
Link http://www.em.com.br/app/noticia/economia/2013/02/05/internas_economia,3484
65/gasolina-tem-alta-media-de-4-25-em-bh.shtml
Origem Impresso. Reportagem assinada pelas repórteres Carolina Mansur e Geórgea
Choucair.
Quadro 19 – Identificação da Reportagem 14
Campo I
Nessa reportagem o título não foi modificado, uma vez que a mesma foi publicada no
impresso com os elementos “exigidos” pela audiência: informação principal, verbo, ordem
direta.
Campo II
Mais uma vez não foi encontrada nenhuma forma de hipertextualidade no campo II,
nem mesmo com o relacionamento de reportagens no box à esquerda. Com dois intertítulos, a
notícia segue a narrativa linear, sistematizando as informações da mais importante até a
menos importante.
Além da foto (que, mais uma vez, tem mera função ilustrativa), a notícia também
recebeu um infográfico, elaborado para a versão publicada no portal, organizando os dados
mais relevantes sobre o aumento da gasolina.
Essa foi a primeira vez que se observou, dentro das reportagens avaliadas no
em.com.br e transpostas do impresso, a agregação de algum conteúdo. Porém, a peça é
estática (Figura 12) e não traz nenhuma forma de interação. Além do mais, as informações
que ele sistematiza estão no texto corrido, provocando repetição. Com isso, a narrativa figura
fora do padrão de convergência esperado por essa pesquisa.
Campo III
Semelhante à rodada I.
109
Análise
Embora a reportagem tenha mostrado, pela primeira vez entre as notícias analisadas,
certo cuidado do portal com a transposição para a web, mais uma vez não houve a utilização
de nenhum recurso multimidiático relevante para que a narrativa fosse considerada
convergente.
Ainda que o infográfico tenha sido incorporado ao conteúdo, sua formatação estática
não foi suficiente para transformar a narrativa, sendo este, publicado no mesmo padrão em
que poderia ter aproveitado no impresso. Além disso, não há nenhuma referência no material
publicado no Estado de Minas ao conteúdo extra que está presente na web.
Figura 12 – Infográfico incorporado à notícia é estático e não
apresenta nenhum grau de interação
110
Reportagem 15
Reportagem 15 “Eike perde o posto de 3º mais rico do Brasil” – Editoria de Economia
Link http://www.em.com.br/app/noticia/economia/2013/02/05/internas_economia,3485
53/eike-perde-o-posto-de-3-mais-rico-do-brasil.shtml
Origem Web. Reportagem assinada pela jornalista Fernanda Borges, do Portal Uai.
Quadro 20 – Identificação da Reportagem 15
Campo I
Segue a ordem direta, com principais informações da notícia, mas presume o
conhecimento prévio do interagente para associar ‘Eike’ com a figura do empresário Eike
Batista.
Campo II
A reportagem explora bem os recursos hipertextuais, listando outras notícias sobre o
assunto à esquerda do texto e relacionando um conteúdo externo no corpo da matéria. É
utilizada uma foto sem legenda (assim como na reportagem II da segunda rodada) e um
infográfico estático. Não foi verificada nenhuma forma de interatividade. O texto segue o
padrão do jornal impresso.
Campo III
Semelhante à rodada I.
Análise
Embora tenha explorado bem os recursos hipertextuais, tal reportagem figura apenas
como conteúdo da web e não como conteúdo convergente, uma vez que não traz nenhuma
forma de multimidialidade no campo II. A foto, assim como nos outros casos, serve apenas
como ilustração. Já o infográfico é estático.
111
Reportagem 16
Reportagem 16 “Tribunal de Contas de MG quer cobrar mais de R$ 8 milhões de servidores
públicos” – Editoria de Política
Link
http://www.em.com.br/app/noticia/politica/2013/02/05/interna_politica,348459/tri
bunal-de-contas-de-mg-quer-cobrar-mais-de-r-8-milhoes-de-servidores-
publicos.shtml
Origem Impresso. Notícia assinada pela repórter Isabella Souto, do Jornal Estado de
Minas.
Quadro 21 – Identificação da Reportagem 16
Campo I
Novamente o título foi modificado para publicação na web, trazendo praticamente um
resumo da notícia.
Campo II
Mais uma vez há a utilização do box à esquerda para relacionar notícias, mas a
hipertextualidade no campo II para aí. Não existe nenhuma forma de relacionamento ou
interatividade. O texto foi replicado na íntegra do impresso e não existem referências
temporais no lead, assim como os demais observados transpostos ao em.com.br. O único
recurso utilizado é uma foto, que não traz nenhuma relevância à narrativa que, por sua vez,
não pode ser considerada convergente.
Campo III
Semelhante à rodada I.
Análise
Uma inferência que ganha corpo com o avanço das análises diz respeito à narrativa do
impresso, que não é alvo desta pesquisa. Acontece que, nos casos analisados de notícias
traspostas até este ponto, observa-se a mesma tendência de esvaziar o lead do jornal Estado de
Minas de referência temporais, evitando assim uma competição com a web, tida como o
espaço do hard news.
112
No mais, novamente a ausência de conteúdos multimidiáticos elimina qualquer
possibilidade de convergência na narrativa.
113
Reportagem 17
Reportagem 17 “Liberação de quase R$ 2 bilhões para estados e municípios "tranca" pauta do
Senado” – Editoria de Política
Link
http://www.em.com.br/app/noticia/politica/2013/02/05/interna_politica,348561/li
beracao-de-quase-r-2-bilhoes-para-estados-e-municipios-tranca-pauta-do-
senado.shtml
Origem Web. Notícia assinada pelo portal “com informações da Agência Senado”.
Quadro 22 – Identificação da Reportagem 17
Campo I
Título em ordem direta e com as principais informações. Assim como tem sido usual
nos demais títulos até aqui – na maioria dos casos, graças à própria ausência de
multimidialidade – não faz qualquer referência a conteúdos multimídia.
Campo II
Reescrito e editado a partir de informações disponibilizadas em texto da Agência
Senado, o material segue o padrão de relacionar notícias sobre o mesmo assunto em box
próprio, mas não oferece nenhuma outra forma de hipertextualidade ou interatividade no
campo II. Não há conteúdo multimidiático.
Campo III
Semelhante à rodada I.
Análise
Novamente a ausência de conteúdos multimidiáticos torna a narrativa irrelevante
dentro da observação pretendida sobre convergência de mídias. No entanto, vale destacar que,
como visto em outros casos, a simples incorporação de um conteúdo multimodal (como as
fotos) não garante que a narrativa se torne convergente. Da mesma forma, o fato da narrativa
não ser convergente não significa que a notícia não possa ser convergente, uma vez que sua
simples transposição indica que ela faz parte do processo, ainda que em outro contexto
114
(convergência de produtos e rotinas, por exemplo), o que não é objetivo desta pesquisa
verificar.
115
IV.2.2 Divirta-se
Reportagem 18
Reportagem 18 “Grupo mineiro de maracatu resgata repertório clássico do ritmo em CD”
Link
http://divirta-
se.uai.com.br/app/noticia/musica/2013/02/05/noticia_musica,140132/grupo-
mineiro-de-maracatu-resgata-repertorio-classico-do-ritmo-em-cd.shtml
Origem Impresso. Reportagem assinada por Walter Sebastião, do Jornal Estado de
Minas.
Quadro 23 – Identificação da Reportagem 18
Campo I
Assim como as demais matérias transpostas do Jornal Estado de Minas, o título sofreu
alteração. Pela primeira vez, a sugestão de conteúdo multimidiático na reportagem está
presente no campo I.
Campo II
Entre as reportagens do Divirta-se já avaliadas, essa é a primeira a não apresentar
nenhuma presença de conteúdo multimidiático. Apesar da sugestão de um CD como principal
tema da notícia, a expectativa não se cumpre no campo II. No mais, existe o mesmo uso da
hipertextualidade observado anteriormente, com inserção de relacionamentos em box à
esquerda e de publicidade no corpo do texto.
Outro destaque diz respeito à adaptação do texto para a web, com a substituição, por
exemplo, de marcas temporais do impresso (ontem, hoje) por referências mais apropriadas ao
novo meio, como “nesta terça-feira”.
Campo III
Semelhante à primeira rodada de análises.
116
Análise
Sem a presença de nenhum conteúdo multimidiático, pela primeira vez a narrativa
observada dentro do Divirta-se não figurou nem mesmo no grau inicial de convergência.
Embora haja o uso da hipertextualidade, faltou o principal: a matéria prima para abastecer a
narrativa.
117
Reportagem 19
Reportagem 19 “'Tainá' é a primeira franquia do cinema nacional a alcançar o terceiro filme”
Link
http://divirta-
se.uai.com.br/app/noticia/cinema/2013/02/05/noticia_cinema,140126/taina-e-a-
primeira-franquia-nacional-a-alcancar-o-terceiro-filme.shtml
Origem Impresso. Reportagem assinada por Walter Sebastião, do Jornal Estado de
Minas.
Quadro 24 – Identificação da Reportagem 19
Campo I
Novamente o título é modificado para transposição à internet e, assim como na
reportagem I desta rodada de análises, cria a expectativa de conteúdo multimidiático no
interagente ao abordar um filme como tema da reportagem.
Campo II
Nessa reportagem, a expectativa do interagente se concretiza com a presença de um
trailer do longa-metragem no final do campo II. De fato, o vídeo acaba ocupando papel de
destaque, mas não tem força suficiente para ser o protagonista dentro da narrativa, como
observado na primeira rodada de análises do Divirta-se e da Alterosa.
Os hiperlinks seguem o mesmo padrão que está presente nas demais reportagens do
canal, com relacionamentos divididos entre notícias e publicidade. Não há nenhuma forma de
interatividade. As fotos, no entanto (quatro ao longo do texto) atuam complementando a
reportagem.
Negativamente se destaca a falta de cuidado com o texto ao reproduzi-lo na internet.
Novamente, assim como foi observado em notícias analisadas no em.com.br, a notícia conta
com vários intertítulos, o que permitiria um uso melhor da hipertextualidade, mas a opção foi
de tentar manter a leitura linear.
Campo III
Semelhante à primeira rodada de análises.
118
Análise
A narrativa observada na reportagem pode ser considerada no primeiro nível de
convergência, uma vez que aliou multimidialidade e hipertextualidade. No entanto, os
interagentes não interviram no conteúdo. Tal fato pode ser explicado pelo shovelware, uma
vez que é possível inferir pela notícia diagramada de forma imprópria à web, primando pela
leitura linear, que esses tenham ‘perdido o interesse’, por assim se dizer, ao longo do texto,
muito extenso para o portal.
Ainda que o vídeo (figura 13), como dito, exerça um papel importante, ele não é
suficiente para roubar o protagonismo do texto.
Figura 13 – Chamada “assista ao trailer” faz ponte entre texto escrito e oral
119
IV.2.3 Alterosa
Reportagem 20
Reportagem 20 “Problemas no Mineirão são alvo de inquérito do Ministério Público”
Link
http://www.alterosa.com.br/app/belo-horizonte/noticia/jornalismo/ja---
1ed/2013/02/05/noticia-ja-1edicao,2046/problemas-no-mineirao-sao-alvo-de-
inquerito-do-ministerio-publico.shtml
Origem TV Alterosa. Jornal da Alterosa.
Quadro 25 – Identificação da Reportagem 20
Campo I
Título em ordem direta. Não possui nenhuma referência de conteúdo multimidiático.
Campo II
Sem qualquer recurso hipertextual, a reportagem limita a interatividade às
possibilidades oferecidas pela interface no player de execução do vídeo. Além deste recurso,
presente em todas as reportagens no portal da Alterosa, existe uma foto, usada apenas para
ilustrar a página, sem acréscimo nenhum de informação relevante à narrativa.
O vídeo, assim como todos os outros observados na Alterosa, é transposto da TV sem
nenhuma edição. O único cuidado foi em evitar a aparição da apresentadora do telejornal
antes que a reportagem começasse a ser executada, o que não se repete no fim.
Novamente o protagonista é o vídeo. O texto escrito, nesse caso, mais do que exercer
papel semelhante à cabeça de uma reportagem no telejornalismo é a própria, sendo mera cópia
do texto lido pela apresentadora no ar.
Campo III
Semelhante à primeira rodada de análises.
Análise
A narrativa figura no grau inicial de convergência, uma vez que, como já dito, a mera
transposição de um vídeo associada à hipertextualidade que a web oferece já é suficiente para
120
que isso ocorra. É interessante observar ainda que, mais uma vez, o vídeo foi o protagonista
dentro da narrativa e, exercendo este papel, trouxe um tom mais informal à mesma, com o
predomínio do texto da TV.
121
Reportagem 21
Reportagem 21 “Pílula anticoncepcional proibida na França continua sendo vendida no Brasil”
Link
http://www.alterosa.com.br/app/belo-horizonte/noticia/jornalismo/ja---
1ed/2013/02/05/noticia-ja-1edicao,2051/pilula-anticoncepcional-proibida-na-
franca-continua-sendo-vendida-no-brasil.shtml
Origem TV Alterosa. Jornal da Alterosa.
Quadro 26 – Identificação da Reportagem 21
Campo I
Título em ordem direta. Não possui nenhuma referência de conteúdo multimidiático.
Campo II
Assim como na reportagem I, não possui nenhuma forma de hipertextualidade ou
interatividade além das permitidas pela publicação do vídeo na web. Mais uma vez o texto
funciona apenas como cabeça do vídeo, que exerce papel de protagonista dentro da
reportagem. Neste caso, a edição teve o cuidado de editar começo e fim, cortando a imagem
do apresentador e, além disso, o texto do vídeo não apresenta problemas de temporalidade ou
localização, sendo apropriado à web.
Campo III
Semelhante à primeira rodada de análises.
Análise
Essa reportagem reforça a lista de exemplos em que o vídeo é o principal produto
dentro da narrativa. Embora não exista a utilização de hipertextos ou alguma forma de
complementaridade ao conteúdo, o cuidado na edição do vídeo associado ao uso da cabeça
para introduzi-lo se mostrou suficiente para cumprir o objetivo proposto. A narrativa
observada figura no estágio inicial de convergência.
122
IV.2.4 Vrum
Reportagem 22
Reportagem 22 “Volkswagen decide tirar do ar propaganda que irritou protetores de animais”
Link
http://estadodeminas.vrum.com.br/app/noticia/noticias/2013/02/05/interna_noticia
s,47275/volkswagen-decide-tirar-do-ar-propaganda-que-irritou-protetores-de-
animais.shtml
Origem Web. Reportagem de Marcello Oliveira, jornalista do Portal Vrum.
Quadro 27 – Identificação da Reportagem 22
Campo I
Apresenta título em ordem direta, com as principais informações, e sugere a presença
de conteúdo multimidiático ao relacionar “do ar” e “propaganda”. A expectativa que se cria é
de assistir a propaganda.
Campo II
Apesar do campo I, a notícia não cumpre a expectativa e omite o vídeo da página, o
que, desconsiderando o discurso convergente, pode ter sido estratégia inteligente do ponto
vista jornalístico, uma vez que se trata de uma peça publicitária polêmica, que seria retirada
do ar pela própria montadora que criou o comercial.
Para suprir a ausência do vídeo, foi utilizada uma foto da mesma campanha
publicitária que, somada ao texto, cumpriu bem o objetivo de explicá-lo (figura 14).
No mais, não há a presença de conteúdos multimidiáticos, tornando a narrativa “não
convergente”.
Contudo, é interessante observar o grau de informalidade e oralidade incorporado ao
texto com expressões como “está dando o que falar na internet”. Além disso, para relembrar
outra notícia semelhante, optou-se pela hipertextualidade no texto escrito, relacionando o
conteúdo e quebrando o caráter linear da leitura, ainda que já no fim do campo II.
123
Figura 14 – Foto cumpriu bem o propósito dentro da reportagem
Campo III
A possibilidade de interagir sem nenhum filtro – gatekeeper – mostrou sua
potencialidade nessa reportagem. Ainda que a narrativa não possa ser considerada
convergente, ela é reconstruída pelos interagentes no campo de comentários através de
debates que se guiam por duas correntes opostas: uma defendendo o comercial e outra
criticando. É interessante observar como os argumentos do texto são rebatidos e ampliados,
dando continuidade à narrativa no campo III.
Análise
Mais uma vez não se viu narrativa convergente dentro do Vrum. No entanto, vale
destacar a influência das características do texto da TV dentro da notícia o que, no entanto,
não é suficiente para se falar em nova ou transformada narrativa.
124
IV.2.5 Resumo da segunda rodada
Depois de nova rodada de análise, fortalece o pensamento de que a presença da
narrativa convergente se dá de maneira mais sólida dentro do Divirta-se, que faz melhor uso
da hipertextualidade e dos materiais multimidiáticos.
Quando consideradas também as notícias analisadas no em.com.br, ao contrário do
esperado, tem se notado certa modificação nos padrões jornalísticos das narrativas presentes
nos textos originados no impresso e não naqueles construídos na web. A principal
modificação que tem sido observada diz respeito à temporalidade, o que nos permite inferir,
dentro do contexto convergente, certa predileção do Estado de Minas por se afastar da
cobertura de hard news, o que fomenta novas pesquisas e investigações além das propostas
neste trabalho. No caso das notícias replicadas na web, impera o shovelware, gerando um
material convergente, mas não uma narrativa convergente.
Por fim, principalmente nas notícias da TV Alterosa (e em algumas do Divirta-se) foi
possível observar, até o momento, a incorporação do vídeo como elemento principal da
reportagem, deixando o texto escrito em segundo plano. Como dito anteriormente, tal fator
ainda não é suficiente para apontamentos no sentido de uma transformação na narrativa, mas
ilustra bem as possibilidades que surgem com a construção de um discurso convergente.
125
IV.3 Terceira rodada de análise – 20 de fevereiro de 2013
IV.3.1 em.com.br
Reportagem 23
Reportagem 23 “MP anuncia ofensiva para barrar poluidor do Velho Chico” – Editoria de Gerais
Link http://www.em.com.br/app/noticia/gerais/2013/02/20/interna_gerais,351653/mp-
anuncia-ofensiva-para-barrar-poluidor-do-velho-chico.shtml
Origem Impresso. Reportagem assinada por Luiz Ribeiro, da sucursal do Estado de Minas
de Montes Claros.
Quadro 28 – Identificação da Reportagem 23
Campo I
O título, apesar de ter sido modificado em relação ao original no impresso, apresenta
elementos com informações “incompletas” para o padrão utilizado na web, com termos que
podem parecer estranhos ao leitor desacostumado com o assunto, como “MP” (Ministério
Público) e “Velho Chico” (Rio São Francisco). Além disso, não apresenta subtítulo ou
referências a conteúdos multimidiáticos.
Campo II
Novamente a referência temporal perde espaço na reportagem. O texto escrito não
sofreu nenhuma alteração para ser transposto à web e, mais uma vez, a escolha é pela
composição com uma fotografia, que não tem legenda e não agrega informações de grande
relevância ao conteúdo.
A hipertextualidade está presente no box de relacionamentos posicionado à esquerda
da página e traz cinco reportagens sobre o mesmo assunto (a poluição do Rio São Francisco).
Não existe conteúdo multimidiático.
126
Campo III
A interatividade acontece no espaço de comentários, onde um interagente traz novo
ponto de vista para a discussão. No entanto, como dito anteriormente, o fato das participações
serem moderados impede qualquer inferência sobre a real interferência do interagente no
conteúdo.
Análise
Mais uma vez, o shovelware operou, com poucos cuidados na transposição de
conteúdos. A notícia não apresenta os elementos necessários para que sua narrativa seja
considerada convergente.
127
Reportagem 24
Reportagem 24 “Carreta tem problema mecânico e pega fogo na BR-381” – Editoria de Gerais
Link http://www.em.com.br/app/noticia/gerais/2013/02/20/interna_gerais,351760/carre
ta-tem-problema-mecanico-e-pega-fogo-na-br-381.shtml
Origem Web. Reportagem assinada pela jornalista Luana Cruz, do Portal Uai.
Quadro 29 – Identificação da Reportagem 24
Campo I
Título em ordem direta e sem referência a conteúdos multimidiáticos.
Campo II
Novamente, as reportagens relacionadas à esquerda são a forma mais presente de
hipertextualidade dentro da reportagem. No entanto, é observada pela segunda vez no campo
II uma referência à rede social do grupo, o Dzaí, convidando os interagente a compartilharem
conteúdos relacionados com acidentes de trânsito. O texto escrito é curto, com apenas dois
parágrafos.
Campo III
Idem aos demais onde não há participação do interagente.
Análise
Com o avanço das análises, cresce a percepção da ausência de narrativas consideradas
convergentes dentro do em.com.br, embora, como já dito, o discurso impere na rotina de
produção na empresa. Essa reportagem reforça, ainda, a inferência de que os textos factuais
produzidos para a web tem se mantido fiéis aos padrões do impresso, enquanto este tem
priorizado a produção de reportagens consideradas frias (analíticas, de assuntos que não estão
na pauta do dia).
128
Reportagem 25
Reportagem 25 “Saiba como economizar até R$ 20,60 para abastecer em BH” – Editoria de
Economia
Link http://www.em.com.br/app/noticia/economia/2013/02/20/internas_economia,3516
73/saiba-como-economizar-ate-r-20-60-para-abastecer-em-bh.shtml
Origem Jornal impresso. Notícia assinada pelo repórter Pedro Rocha Franco, do Estado de
Minas.
Quadro 30 – Identificação da Reportagem 25
Campo I
Entre os títulos observados no em.com.br é um dos que incorpora maior grau de
informalidade, se assemelhando muito ao texto da TV ao “conversar” com o interagente:
“saiba como economizar”.
Campo II
Segue o padrão mais comum nas reportagens do em.com.br – e, como visto, nos
demais portais jornalísticos – com foto horizontal acima do texto escrito e links destacados
em box próprio, alinhado no terceiro parágrafo à esquerda. A foto tem caráter estático e não é
utilizado nenhum recurso multimidiático.
Embora possua dois intertítulos, mais uma vez a opção foi de seguir o padrão do
jornalismo praticado no impresso e manter uma construção linear da reportagem, preterindo
uma possível divisão hipertextual.
Campo III
Idem aos demais onde não há participação do interagente.
Análise
Embora não possua uma narrativa convergente, a notícia é interessante por trazer
referências factuais ao jornal impresso – o que, espantosamente, tem sido raro nas reportagens
coletadas.
129
Reportagem 26
Reportagem 26 “Concursos oferecem 20 mil vagas em todo o país e salários chegam a R$ 24 mil”
– Editoria de Economia
Link
http://www.em.com.br/app/noticia/economia/2013/02/20/internas_economia,3517
58/concursos-oferecem-20-mil-vagas-em-todo-o-pais-e-salarios-chegam-a-r-24-
mil.shtml
Origem Web. Reportagem transposta do CorreioWeb, portal do Correio Braziliense.
Quadro 31 – Identificação da Reportagem 26
Campo I
Título em ordem direta, com as principais informações presentes e nenhuma referência
a conteúdos multimidiáticos.
Campo II
Mais uma vez é notória a ausência do uso de material multimidiático dentro da
reportagem e é fácil descartar a narrativa dentro dos critérios de convergência utilizados nesta
pesquisa. No entanto, é interessante observar no conteúdo como o shovelware pode imperar
mesmo em uma notícia transposta entre portais. Com a temática “concursos” como tema
central, a reportagem lista, em texto escrito e corrido (ou seja, sem nenhum cuidado gráfico
ou de diagramação), as principais oportunidades abertas no país, 51 ao todo. Dessas, quatro
concursos aparecem com os sites onde foram publicados os editais – informação pertinente
aos interagentes – relacionados por hipertexto, enquanto outras 46 (figura 15) tiveram o
endereço eletrônico informado, mas não relacionado, desprezando uma lógica básica da web.
Campo III
Há participação do interagente, mas sem intervenções na narrativa.
130
Figura 15 – Notícia traz o endereço eletrônico dos sites com editais, mas
não faz hiperlinks em 46 itens, como nos três exemplos acima
Análise
Nas observações feitas até esta terceira rodada, tem sido constatado um problema mais
visível de shovelware dentro das notícias de Economia. Uma inferência possível para explicar
que a falta de cuidado seja mais notória nessa editoria está na essência do jornalismo
econômico, que tem por base a utilização de muitos dados analíticos que, quando não
reorganizados corretamente durante uma transposição, acabam por dificultar a compreensão
da narrativa ou a busca de informações, como foi o caso dessa reportagem.
131
Reportagem 27
Reportagem 27 “Vereadores mostram preocupação com imagem da Casa após cassação de
Burguês” – Editoria de Política
Link
http://www.em.com.br/app/noticia/politica/2013/02/20/interna_politica,351657/ve
readores-mostram-preocupacao-com-imagem-da-casa-apos-cassacao-de-
burgues.shtml
Origem Impresso. Notícia assinada pela redação do Estado de Minas.
Quadro 32 – Identificação da Reportagem 27
Campo I
Título em ordem direta, com resumo da notícia. Novamente, foi modificado em
relação ao original no jornal impresso.
Campo II
Mais uma vez a notícia segue padrão idêntico ao impresso, com nenhuma alteração
para ser transposta à web (apenas o Campo I tem sido modificado). Não existe nenhum
conteúdo multimidiático e a única forma de hipertextualidade presente está no box com
notícias relacionadas à esquerda. Nenhuma outra forma de interatividade está presente neste
campo.
Campo III
Das reportagens avaliadas até aqui, é a que possui maior participação dos interagentes,
com 103 comentários. No entanto, como dito anteriormente, é complicado avaliar a real
liberdade de intervenção que o campo permite, uma vez que os comentários são moderados.
Além disso, cabe observar que, ao contrário das demais, a editoria de Política traz uma
mensagem de alerta sobre a responsabilidade dos autores sobre os comentários e a proibição
de “propagandas de candidatos”.
Análise
Assim como em quase a totalidade dos dados coletados no em.com.br, essa
reportagem parece útil para perceber outras nuances do jornalismo on-line, como uma
132
presumida “falsa participação” do interagente ou a transposição de notícias para a web, mas
não a narrativa convergente.
133
Reportagem 28
Reportagem 28 “STF dá dez dias para Congresso prestar informações sobre reforma da
Previdência” – Editoria de Política
Link
http://www.em.com.br/app/noticia/politica/2013/02/20/interna_politica,351761/stf
-da-dez-dias-para-congresso-prestar-informacoes-sobre-reforma-da-
previdencia.shtml
Origem Agência de notícias. Agência Brasil.
Quadro 33 – Identificação da Reportagem 28
Campo I
Título em ordem direta, com elementos principais da notícia. Não possui subtítulo.
Campo II
Texto escrito é apresentado sem nenhum recurso multimidiático. Também não possui
fotografia ou qualquer forma de relacionamento de conteúdos, hipertextualidade e
interatividade.
Campo III
Idem aos demais onde não há participação do interagente.
Análise
De todas reportagens analisadas do em.com.br até este ponto é a que apresenta maior
grau de shovelware, com absolutamente nenhum cuidado de adaptação do texto à web.
134
IV.3.2 Divirta-se
Reportagem 29
Reportagem 29 “Mulheres domam a MPB e mantêm a importância do traço pessoal na
interpretação”
Link
http://divirta-
se.uai.com.br/app/noticia/musica/2013/02/20/noticia_musica,140518/mulheres-
domam-a-mpb-e-mantem-a-importancia-da-interpretacao-no-genero.shtml
Origem Impresso. Reportagem assinada por Ailton Magioli, do EM Cultura.
Quadro 34 – Identificação da Reportagem 29
Campo I
Assim como ocorre nas reportagens transpostas do impresso para o em.com.br, os
títulos também são modificado na transposição realizada no Divirta-se, de modo a atingir o
padrão esperado pela audiência na web. Não há referências aos conteúdos multimidiáticos
presentes no campo II.
Campo II
Ao contrário da maioria absoluta dos conteúdos avaliados no em.com.br até aqui, no
Divirta-se, ao que parece, o cuidado não se resume na troca de títulos. Nesta reportagem
especificamente, a sensação é de alteração de propósito (repurposing), com o campo II bem
equilibrado (Figura 16), com elementos divididos através de conteúdos multimidiáticos – três
áudios – e fotos, que dão um tom de complementaridade à narrativa, além de hipertextos
agregados ao conteúdo.
Assim como nas demais reportagens observadas do Divirta-se, o hipertexto foi
incorporado em box à esquerda, com notícias relacionadas, e também dentro do texto, em
forma de publicidade. Não existe nenhuma forma mais avançada de interatividade neste
campo, além da permitida pelo controle dos áudios. Também não existe nenhuma referência
remetendo ao jornal impresso.
Ao integrar os conteúdos multimidiáticos, a reportagem traz marcas próprias do meio
de origem (no caso, o rádio), como a presunção de oralidade (de um diálogo com o
interagente) e a informalidade, característica mais presente até aqui: “Ouça ‘Amar Alguém’”.
135
No mais, as marcas são próprias do jornal impresso, com o texto atuando como protagonista
na reportagem.
Figura 16 – Campo II foi bem equilibrado com o uso das imagens,
conteúdos multimidiáticos e hipertextos
Campo III
Como dito na primeira rodada de análises, a possibilidade do interagente de atuar a
partir das redes sociais dá novo aspecto, mais franco, ao campo III. Na notícia avaliada, os
interagentes, de fato, agem reconstruindo a narrativa. Além das críticas ao texto publicado
pelo portal, eles incorporam novos elementos, como cantoras que ficaram de fora da relação
trazida pelo meio de comunicação, muito provavelmente por causa de decisões editoriais ou
de espaço.
Análise
Com a reconstrução (no caso, ampliação) da notícia através da atuação dos
interagentes, a inserção de material multimidiático e o aproveitamento das características
hipertextuais, a reportagem é a primeira observada que tem sua narrativa presente no nível III
de convergência, uma vez que é possível notar a cuidadosa alteração de propósito do material
ao contexto da tela. Tal fator é bem ilustrado pelo relacionamento presente no jornal
136
impresso, que convida o leitor a acessar ao portal e consumir o conteúdo extra, no caso
multimidiático. Na verdade, o texto presente na web apenas não completa o ciclo convergente
(chegando ao nível IV) por não remeter o interagente novamente ao impresso ou a algum
outro veículo do grupo, encerrando o ciclo de convergência da narrativa naquele conteúdo.
Tal observação não significa que a narrativa seja perfeita do ponto de vista
convergente. Ao contrário, a repetição do texto – semelhante ao do jornal impresso – é um elo
fraco. No entanto, é importante reconhecer o mérito de diversificar um conteúdo e torná-lo
convergente a partir da transposição.
137
Reportagem 30
Reportagem 30 “Renegado faz show gratuito no Palácio das Artes”
Link
http://divirta-
se.uai.com.br/app/noticia/musica/2013/02/20/noticia_musica,140521/renegado-
faz-show-gratuito-no-palacio-das-artes.shtml
Origem Redação EM Cultura.
Quadro 35 – Identificação da Reportagem 30
Campo I
Título em ordem direta e sem referências ao conteúdo multimidiático presente no
Campo II.
Campo II
Assim como na reportagem anterior, essa também traz a sensação de alteração de
propósito. Mais uma vez, embora transposto do impresso à tela, o texto foi trabalhado para
exercer bem a nova função, recebendo conteúdo hipertextual e multimidiático. Os elementos
– foto, texto escrito e áudio – não repetem informações e trazem um grau importante de
complementaridade entre si.
Campo III
Não houve nenhum tipo de interferência do interagente.
Análise
Notícia no nível III de convergência, com multimidialidade, hipertextualidade,
interatividade e a alteração de propósito da reportagem. No entanto, não surge nenhuma
referência aos demais veículos, quebrando o ciclo.
138
IV.3.3 Alterosa
Reportagem 31
Reportagem 31 “Francês adotivo procura família em Mercês na Zona da Mata”
Link
http://www.alterosa.com.br/app/belo-horizonte/noticia/jornalismo/ja---
1ed/2013/02/20/noticia-ja-1edicao,2877/frances-adotivo-procura-familia-em-
merces-na-zona-da-mata.shtml
Origem TV Alterosa. Jornal da Alterosa.
Quadro 36 – Identificação da Reportagem 31
Campo I
Título em ordem direta, com a supressão, presumidamente por erro de digitação, de
uma vírgula: “em Mercês, na Zona da Mata”. Não faz referência ao vídeo no Campo II.
Campo II
E o shovelware segue “imperando” dentro da Alterosa. Assim como observado nas
primeiras avaliações, o vídeo não foi editado para a web e, outra vez, “sobra” a imagem da
apresentadora do telejornal de costas (Figura 17) para o interagente.
Figura 17 – Vídeo começa com a apresentadora do telejornal de costas para a tela
Além disso, também ocorre repetição entre o texto falado, o texto escrito e a legenda
da foto, indicando poucos cuidados ao postar o conteúdo na web.
Campo III
Idem às rodadas anteriores.
139
Análise
Outra vez o vídeo é protagonista no site da Alterosa e, como dito anteriormente, sua
simples utilização associada às possibilidades hipertextuais da web já torna a narrativa
convergente. No entanto, todo o potencial que essa narrativa traz é eliminado pela excessiva
falta de cuidados que tem sido observada dentro do portal.
140
Reportagem 32
Reportagem 32 “Homem é executado no meio da rua no Bairro São Geraldo”
Link
http://www.alterosa.com.br/app/belo-horizonte/noticia/jornalismo/ja---
1ed/2013/02/20/noticia-ja-1edicao,2876/homem-e-executado-no-meio-da-rua-no-
bairro-sao-geraldo.shtml
Origem TV Alterosa. Jornal da Alterosa.
Quadro 37 – Identificação da Reportagem 32
Campo I
Título em ordem direta, com grau de informalidade próprio da TV: “no meio da rua”.
Campo II
Novamente os conteúdos se repetem e sobrepõe um ao outro, indicando shovelware. O
texto escrito e o texto oral são exatamente os mesmos. Não existe nenhuma forma de
hipertextualidade “adicional” no Campo II, além daquela naturalmente proporcionado pelo
portal.
Campo III
Idem às rodadas anteriores.
Análise
A notícia repete a realidade registrada na anterior, com o shovelware eliminando toda
e qualquer potencialidade da narrativa em grau primário de convergência.
141
IV.3.4 Vrum
Reportagem 33
Reportagem 33 “Fiat prepara a chegada do novo Linea”
Link http://estadodeminas.vrum.com.br/app/noticia/noticias/2013/02/20/interna_noticia
s,47339/fiat-prepara-a-chegada-do-novo-linea.shtml
Origem Impresso. Reportagem assinada pelo repórter fotográfico Marlos Ney Vidal.
Quadro 38 – Identificação da Reportagem 33
Campo I
Título em ordem direta, sem nenhuma referência a conteúdo multimidiático.
Campo II
A reportagem não apresenta nenhum conteúdo multimidiático. Três fotos ilustram e
trazem sentido ao texto escrito, que trata do lançamento do automóvel Linea, “personagem”
das fotografias. Mais uma vez no Vrum foi preterida a possibilidade de se utilizar o conteúdo
do programa de TV no portal, ainda que esse possua vídeos sobre o mesmo assunto abordado.
Além disso, a hipertextualidade não foi bem explorada, aparecendo apenas um
relacionamento de conteúdo (escondido no fim da página) e uma sugestão para seguir o portal
no microblog Twitter.
Campo III
Embora exija o cadastro dos interagente, como dito anteriormente, a ausência do filtro
(moderação) nos comentários permite uma maior interação, com complementações diversas à
narrativa principal.
Análise
Contrariando o que se esperava com o Vrum, mais uma vez o portal não apresentou
uma narrativa convergente.
142
IV.3.5 Resumo da terceira rodada
Analisados 60% dos dados coletados, algumas inferências começam a parecer bastante
claras sobre cada um dos portais analisados. Dentro do em.com.br, a percepção é de que a
narrativa convergente existe apenas no discurso e a prática da convergência se resume à
sinergia no trabalho e à transposição de reportagens entre diferentes veículos. Tal realidade
fica notória por causa do aproveitamento praticamente inexistente de material multimidiático.
O Divirta-se, por sua vez, segue mostrando ser o espaço da experimentação, da união
de linguagens e mídias, com aproveitamento de áudios, vídeos e textos de forma planejada,
quase sempre, é verdade, através do conteúdo transposto, que ganha possibilidades adicionais
com a alteração de propósito.
Já a Alterosa mostra a tendência de que o vídeo – texto oral – tome o papel de
protagonista do texto escrito. No entanto, o constante shovelware acaba por anular as
potencialidades que essa narrativa convergente, ainda que primária, poderia ofertar.
Por último, o Vrum, frustrando a expectativa criada com sua escolha para esta
pesquisa, tem se mostrado inútil para a observação dentro dos objetivos traçados, já que não
apresentou nenhum recurso multimidiático.
143
IV.4 Quarta rodada de análise – 07 de março de 2013
IV.4.1 em.com.br
Reportagem 34
Reportagem 34 “Defesa do goleiro Bruno assume tática de risco” – Editoria de Gerais
Link http://www.em.com.br/app/noticia/gerais/35,11,35,18/2013/03/07/internas_caso_
bruno,355179/defesa-do-goleiro-bruno-assume-tatica-de-risco.shtml
Origem Impresso. Reportagem assinada por equipe de repórteres do Estado de Minas.
Quadro 39 – Identificação da Reportagem 34
Campo I
Título em ordem direta, com poucas alterações em relação ao original, do impresso:
“Defesa assume tática de risco”.
Campo II
Novamente não há conteúdo multimidiático e os indícios de shovelware são claros,
com espaços estranhos inseridos na página. Apesar da extensão do texto, a hipertextualidade
não foi utilizada para reduzi-lo. Palavras com referências temporais próprias do jornal
impresso, como “ontem”, foram mantidas na reportagem.
Nessa notícia, as reportagens são relacionadas por hiperlink no box à esquerda. No
corpo do texto está relacionado o blog que acompanha o caso, inserindo nova possibilidade de
interação.
Campo III
Idem aos demais analisados do em.com.br.
Análise
Apesar de trazer o relacionamento de um blog no Campo II, mais uma vez a sensação
é de shovelware com a reportagem transposta, que não apresenta uma narrativa convergente.
144
Reportagem 35
Reportagem 35 “Mãe ainda espera que local onde está o corpo de Eliza Samudio seja revelado” –
Editoria de Gerais
Link
http://www.em.com.br/app/noticia/gerais/35,11,35,18/2013/03/07/internas_caso_
bruno,355271/mae-ainda-espera-que-local-onde-esta-o-corpo-de-eliza-samudio-
seja-revelado.shtml
Origem Web. Reportagem de Cristiane Silva.
Quadro 40 – Identificação da Reportagem 35
Campo I
Título com resumo da notícia, seguindo o padrão da web.
Campo II
Não existe a utilização de conteúdo multimidiático. A hipertextualidade está presente
através das notícias relacionadas no box à esquerda e no final do texto, com dois hiperlinks
para a cobertura do julgamento do Caso Bruno (que, curiosamente, também nutriu um dos
estudos-piloto realizados para esta pesquisa). A única interação possível é pela navegação no
hipertexto.
Campo III
Idem aos demais analisados do em.com.br.
Análise
Novamente, sem a presença de material multimidiático, uma notícia de grande
destaque dentro do em.com.br se mostrou uma narrativa “não-convergente”, sendo pouco útil
para observação pretendida.
145
Reportagem 36
Reportagem 36 “Há mais vagas para as mulheres na Grande BH” – Editoria de Economia
Link http://www.em.com.br/app/noticia/economia/2013/03/07/internas_economia,3551
68/ha-mais-vagas-para-as-mulheres-na-grande-bh.shtml
Origem Impresso. Notícia assinada pelo repórter Pedro Rocha Franco, do Estado de
Minas.
Quadro 41 – Identificação da Reportagem 36
Campo I
Novamente o título precisou ser alterado em relação ao original do impresso,
ganhando informações relevantes.
Campo II
Outra vez, o modelo utilizado é o apontado por Moherdaui (1999) como o
predominante no jornalismo on-line: foto horizontal acompanhada de texto escrito. De fato, a
observação realizada nesta pesquisa tem mostrado que a constatação da teórica segue em
voga, ao menos na unidade de análise observada.
Não existe nenhum conteúdo multimidiático, hipertextual ou interativo na reportagem.
Além disso, erros de diagramação, como o texto colado na foto, indicam shovelware, segundo
lembram Salaverría e Negredo (2008).
Campo III
Idem aos demais analisados do em.com.br.
Análise
Não configura narrativa convergente, assim como tem sido comum nas reportagens
observadas do em.com.br, sejam elas transpostas ou produzidas para a própria web.
146
Reportagem 37
Reportagem 37 “Receita já recebeu 1.047.010 declarações do IRPF” – Editoria de Economia
Link http://www.em.com.br/app/noticia/economia/2013/03/07/internas_economia,3552
90/receita-ja-recebeu-1-047-010-declaracoes-do-irpf.shtml
Origem Agência de notícias. Agência Estado.
Quadro 42 – Identificação da Reportagem 37
Campo I
Possui elementos que podem soar estranhos aos interagentes que não estão a
acompanha a editoria de Economia, como “IRPF” (Imposto de Renda da Pessoa Física). Não
possui nenhuma referência a conteúdo multimidiático.
Campo II
Assim como as demais notícias originadas em agências de notícia que foram
observadas, essa também mostra poucos cuidados com a adaptação ao portal no Campo II. A
única complementaridade aplicada é o relacionamento de notícias no box à esquerda do texto.
Não existe conteúdo multimidiático ou opções de interatividade. Como ocorre nas demais
publicações do em.com.br, o lead segue o padrão do impresso.
Campo III
Idem aos demais analisados do em.com.br.
Análise
Novamente, poucos cuidados são observados com as narrativas em duas reportagens
de grande destaque dentro da sessão de Economia.
147
Reportagem 38
Reportagem 38 “Mais uma cidade em Minas terá que fazer novas eleições” – Editoria de Política
Link http://www.em.com.br/app/noticia/politica/2013/03/07/interna_politica,355150/m
ais-uma-cidade-em-minas-tera-que-fazer-novas-eleicoes.shtml
Origem Web. Reportagem assinada pelo jornalista Marcelo Ernesto, do Portal Uai.
Quadro 43 – Identificação da Reportagem 38
Campo I
Título em ordem direta traz elementos de destaque, mas não revela qual cidade precisa
realizar novas eleições, o que surge como elemento para captar o clique (audiência) do
interagente.
Campo II
Como tem sido comum nas reportagens produzidas pelos repórteres do Portal Uai, o
factual está presente, com estrutura textual semelhante à narrativa clássica dos jornais
impressos.
A hipertextualidade também está presente no relacionamento à esquerda. No entanto,
como também tem sido comum, não há conteúdos multimidiáticos ou interativos.
Campo III
Idem aos demais analisados do em.com.br.
Análise
Produzida por um repórter do Portal Uai, a reportagem é bem diagramada e não
apresenta os mesmos erros/desleixos vistos nas notícias que são transpostas ou replicadas de
agências de notícias. Salaverría e Negredo (2009) nos alertam que erros como espaçamentos
estranhos e códigos indesejados, comumente ocorrem por causa da automatização
(robotização) de processos. É o que acontece com as notícias de agência e do jornal impresso
que entram automaticamente no em.com.br, restando ao repórter – como em outras redações,
148
quase sempre com pouquíssimo tempo – a função de trabalhar o conteúdo, alterando título e
corrigindo essas imperfeições.
149
Reportagem 39
Reportagem 39 “Apesar dos protestos, pastor é eleito para presidir comissão da Câmara” –
Editoria de Política
Link http://www.em.com.br/app/noticia/politica/2013/03/07/interna_politica,355297/ap
esar-dos-protestos-pastor-e-eleito-para-presidir-comissao-da-camara.shtml
Origem Web. Reportagem assinada pela equipe do Portal Uai.
Quadro 44 – Identificação da Reportagem 39
Campo I
Título com as informações principais, sem referência a conteúdos multimidiáticos.
Campo II
Além do texto escrito, a reportagem apresenta uma foto que atua completando o
sentido da notícia, sem repetir informações. Não existe conteúdo multimidiático, nem
interatividade.
A estrutura do lead foi mantida, como ocorre em todas as reportagens observadas do
em.com.br nesta pesquisa. Novamente, a hipertextualidade está presente no box de
relacionamento à esquerda, que desta vez, presumidamente por erro na publicação, foi
inserido duas vezes na página.
Campo III
Idem aos demais analisados do em.com.br.
Análise
Concluída a quarta rodada de análises dentro do em.com.br, parece bem claro a
inexistência quase que geral de narrativas convergentes dentro do portal, uma vez que,
conforme determinado na metodologia desta pesquisa, foram avaliadas apenas as reportagens
de grande destaque – presumidamente as que são melhor trabalhadas – em espaçamento
diverso de tempo.
150
IV.4.2 Divirta-se
Reportagem 40
Reportagem 40 “Produção do Rock in Rio anuncia atrações nacionais e homenagem a Cazuza”
Link
http://divirta-
se.uai.com.br/app/noticia/musica/2013/03/05/noticia_musica,140829/producao-
do-rock-in-rio-anuncia-atracoes-nacionais-e-homenagem-a-cazuza.shtml
Origem Web. Portal CorreioWeb.
Quadro 45 – Identificação da Reportagem 40
Campo I
Possui título com informações principais e não faz referência a conteúdos
multimidiáticos.
Campo II
Como em todas as outras reportagens avaliadas no Divirta-se, a hipertextualidade está
presente no relacionamento de conteúdos e na estratégia publicitária, incorporada ao longo do
texto. Porém, nesse caso, não aparece conteúdo multimidiático no Campo II, sendo a narrativa
“não convergente”.
Campo III
Interagentes não atuaram no espaço.
Análise
Em raro caso no Divirta-se, a reportagem não apresentou uma narrativa convergente,
graças, principalmente, à ausência de conteúdos multimidiáticos.
151
Reportagem 41
Reportagem 41 “Michel Teló lança clipe do novo hit 'Amiga da minha irmã'; assista”
Link
http://divirta-
se.uai.com.br/app/noticia/musica/2013/03/05/noticia_musica,140834/michel-telo-
lanca-clipe-do-novo-hit-amiga-da-minha-irma-assista.shtml
Origem Web. Notícia assinada pela equipe do CorreioWeb.
Quadro 46 – Identificação da Reportagem 41
Campo I
O título chama o leitor para o conteúdo multimidiático, com o mesmo tom de diálogo
presente na TV: “assista”.
Campo II
Como acontece em todas as reportagens analisadas dentro do site da Alterosa – e
também já observado anteriormente em outro destaque no Divirta-se –, nessa notícia o vídeo
“toma” o lugar de protagonista do texto escrito, que ganha maior informalidade, com termos
como “está bombando”, e, ainda que seguindo a pirâmide invertida, acaba servindo mais
como uma espécie de introdução ao conteúdo multimidiático.
Campo III
Novamente, a possibilidade de intervenção pelas redes sociais, permitiu que os
intragentes avaliassem a qualidade do clipe divulgado, criando uma nova perspectiva além
daquela detalhada pelo veículo de comunicação.
Análise
A notícia está no grau III de convergência, uma vez que é possível notar uma alteração
de propósito com o vídeo, que passar a exercer papel de protagonista dentro da reportagem.
152
IV.4.3 Alterosa
Reportagem 42
Reportagem 42 “Propaganda de mau gosto sobre o Caso Bruno causa indignação nas redes
sociais”
Link
http://www.alterosa.com.br/app/belo-horizonte/noticia/jornalismo/ja---
1ed/2013/03/07/noticia-ja-1edicao,82557/propaganda-de-mau-gosto-sobre-o-
caso-bruno-causa-indignacao-nas-redes-sociais.shtml
Origem TV Alterosa. Jornal da Alterosa.
Quadro 47 – Identificação da Reportagem 42
Campo I
Não traz informações sobre o conteúdo multimidiático.
Campo II
Ao contrário das reportagens da Alterosa analisadas na última rodada, essa não
apresenta repetição entre texto escrito e oral. No entanto, mais uma vez o shovelware pode ser
notado, com a presença de um elemento estranho na página, o código “FOTO 1” (Figura 18),
utilizado para inserir uma imagem no portal.
Além disso, o vídeo não foi editado para a web e apresenta, a partir de 2m51s, a
inscrição na tela “Últimas informações do Júri Caso Bruno”, inserindo uma referência
temporal inadequada, que torna o material inapropriado para a web e ultrapassado já no
momento de sua publicação.
Campo III
Idem às demais reportagens avaliadas da Alterosa.
Análise
Dentro da rotina de shovelware observada na Alterosa, o erro mais grave tem sido o
desleixo com os vídeos, que parecem receber pouquíssimo ou nenhum tratamento a fim de
adequar sua linguagem à web. Por isso, é importante insistir em lembrar que o grau mínimo
153
de convergência condicionado à narrativa não é interessante, uma vez que essa vê toda sua
potencialidade ser anulada.
Figura 18 – Elemento “estranho” é sinal de shovelware
154
Reportagem 43
Reportagem 43 “Nos dois primeiros meses deste ano, 1732 mulheres deram queixa de violência
doméstica em BH”
Link
http://www.alterosa.com.br/app/belo-horizonte/noticia/jornalismo/ja---
1ed/2013/03/07/noticia-ja-1edicao,82603/nos-dois-primeiros-meses-deste-ano-
1732-mulheres-deram-queixa-de-violencia-domestica-em-bh.shtml
Origem TV Alterosa. Jornal da Alterosa.
Quadro 48 – Identificação da Reportagem 43
Campo I
Sem referência a multimidialidade
Campo II
Novamente o shovelware. Além de apresentar o mesmo erro de código da reportagem
anterior observada nesta rodada, o conteúdo apresenta repetições entre texto oral e escrito e o
vídeo começa na metade da fala da repórter, indicando desleixo na edição. Não há nenhum
relacionamento hipertextual ou interatividade.
Campo III
Idem às demais reportagens avaliadas da Alterosa.
Análise
Idem à reportagem anterior.
155
IV.4.4 Vrum
Reportagem 44
Reportagem 44 “Família americana deixa tudo para trás para morar em uma Kombi 1971 que
roda o mundo”
Link
http://estadodeminas.vrum.com.br/app/noticia/noticias/2013/03/07/interna_noticia
s,47403/familia-americana-deixa-tudo-para-tras-para-morar-em-uma-kombi-
1971-que-roda-o-mundo.shtml
Origem TV. Reportagem assinada pelo repórter Marcelo Leite, da equipe do
Programa Vrum.
Quadro 49 – Identificação da Reportagem 44
Campo I
Não sugere a presença de nenhum conteúdo multimidiático.
Campo II
Pela primeira vez, uma reportagem do Vrum analisada nesta pesquisa trouxe algum
conteúdo multimidiático. Trata-se de uma galeria de imagens (Figura 19), recurso que, como
dito anteriormente, aqui é tratado como multimídia. No entanto, a narrativa convergente para
aí. Embora seja uma pauta elaborada simultaneamente para site e TV, mais uma vez o vídeo
foi preterido do portal.
Campo III
Novamente a interação ocorreu de forma mais franca no Vrum, graças à ausência de
moderação.
Análise
Pela primeira vez, o Vrum traz uma narrativa que pode ser incluída no segundo grau
de convergência, graças à união de multimidialidade, hipertextualidade e interatividade. Na
verdade, a reportagem tinha potencial para completar o ciclo convergente, pois fica óbvio o
processo comum de produção, que acabou fragmentado na publicação da notícia.
156
Figura 19 – Galeria de imagens funciona como recurso multimidiático
157
IV.4.5 Resumo da quarta rodada.
É difícil inferir alguma justificativa para o shovelware observado na Alterosa. Com
80% das análises concluídas, ainda não se observou nenhum grande cuidado com a edição de
vídeos no portal que tem a função primordial de abrigá-los dentro do Uai. O em.com.br por
sua vez, com o decorrer das análises, tem se mostrado, de fato, uma extensão do impresso,
com apenas uma narrativa considerada convergente. Enquanto isso, o Vrum parece ser um
grande desperdício de potencialidade convergente, com a fragmentação de um conteúdo entre
impresso, TV e on-line.
158
IV.5 Quinta rodada de análise – 22 de março de 2013
IV.5.1 em.com.br
Reportagem 45
Reportagem 45 “Julgamento de Bola começa hoje e decisão deve sair em três dias” – Editoria de
Gerais
Link
http://www.em.com.br/app/noticia/gerais/35,11,35,18/2013/04/22/internas_caso_
bruno,374704/julgamento-de-bola-comeca-hoje-e-decisao-deve-sair-em-tres-
dias.shtml
Origem Impresso. Reportagem assinada pela jornalista Valquiria Lopes, do Estado de
Minas.
Quadro 50 – Identificação da Reportagem 45 Campo I
Mantém uma referência temporal própria do jornal impresso (“hoje”) no título e
subtítulo.
Campo II
De todas as reportagens avaliadas dentro da editoria de Gerais, é a que apresenta mais
indícios de shovelware. O texto não traz legenda na foto (único recurso fora o texto escrito),
nem conteúdo hipertextual e está recheado de espaços indesejados. Além disso, não ocorreu
nenhuma edição no mesmo em relação ao jornal impresso. Obviamente, o mesmo também
não apresenta nenhum conteúdo multimidiático.
Campo III
Idem às reportagens anteriores do em.com.br.
Análise
Novamente a principal reportagem do jornal impresso transposta para o portal no dia
não recebeu nenhum tratamento visando a alteração de propósito, nem conteúdos
multimidiáticos que pudessem torná-la convergente, mostrando que a prática, ao que parece,
ocorre apenas na face de sinergia do trabalho.
159
Reportagem 46
Reportagem 46 “Defesa diz que Bola foi incluído em inquérito por causa de briga com delegado”
– Editoria de Gerais
Link
http://www.em.com.br/app/noticia/gerais/35,11,35,18/2013/04/22/internas_caso_
bruno,374805/defesa-diz-que-bola-foi-incluido-em-inquerito-por-causa-de-briga-
com-delegado.shtml
Origem Web. Reportagem assinada por jornalistas do Portal Uai.
Quadro 51 – Identificação da Reportagem 46
Campo I
Não sugere conteúdo multimidiático
Campo II
Assim como foi notado na quarta rodada de análises, nessa notícia também é possível
verificar o cuidado maior existente com a montagem da página para as reportagens produzidas
por repórteres do on-line, ainda que estejam ausentes as narrativas convergentes, como é o
caso. Mais uma vez, o hipertexto é utilizado para associar notícias sobre o mesmo tema e a
interatividade multimidialidade estão ausentes.
Campo III
Idem às reportagens anteriores do em.com.br.
Análise
Encerradas as reportagens da editoria de Gerais, carro-chefe do em.com.br, já é
possível destacar a ausência da narrativa convergente dentro do site. Ao que parece, o
discurso não se aplica à prática, já que apenas em um dos principais destaques se viu algo
semelhante com multimidialidade em um estágio ainda inicial de convergência.
160
Reportagem 47
Reportagem 47 “Fornecedores já sentem retomada da indústria” – Editoria de Economia
Link http://www.em.com.br/app/noticia/economia/2013/03/22/internas_economia,3611
11/fornecedores-ja-sentem-retomada-da-industria.shtml
Origem Impresso. Reportagem assinada por Marta Vieira, do Estado de Minas.
Quadro 52 – Identificação da Reportagem 47
Campo I
Não existe referência a conteúdo multimidiático. Pouca modificação do título em
relação ao impresso, o que foi observado de forma mais frequente nas notícias de Economia.
Campo II
Embora o lead siga a estrutura clássica, novamente a referência temporal fica pouco
precisa ou, em outras palavras, mais difusa, genérica: “neste mês”. Não existe nenhum
elemento hipertextual, interativo ou multimidiático.
Campo III
Idem às reportagens anteriores do em.com.br.
Análise
Em 27 reportagens de grande destaque avaliadas no em.com.br, essa é a 26ª a não
apresentar nenhuma multimidialidade, o que reforça a teoria de que o discurso não se aplica à
prática. Por outro lado, novamente o impresso apresenta definições temporais menos precisas,
tendendo a assumir um papel mais analítico, aprofundado, nas pautas, o que sugere novas
pesquisas.
161
Reportagem 48
Reportagem 48 “McDonald's reduz em R$ 43 milhões valor de dano moral coletivo em acordo
feito no MPT” – Editoria de Economia
Link
http://www.em.com.br/app/noticia/economia/2013/03/22/internas_economia,3611
92/mcdonald-s-reduz-em-r-43-milhoes-valor-de-dano-moral-coletivo-em-acordo-
feito-no-mpt.shtml
Origem Agência de notícias. Agência Brasil.
Quadro 53 – Identificação da Reportagem 48
Campo I
Título traz resumo da reportagem. Não há subtítulo.
Campo II
O único complemento disponível é hipertextual, com relacionamento de reportagens
em box à esquerda. Novamente não há multimidialidade ou interatividade no Campo II. O
lead segue o padrão do jornal impresso, como em todas as outras reportagens observadas
dentro do em.com.br.
Campo III
Idem às reportagens anteriores do em.com.br.
Análise
Encerrada a análise da editoria de Economia, observa-se que em nenhuma notícia
ocorreu a narrativa convergente.
162
Reportagem 49
Reportagem 49 “Caso Feliciano divide deputados evangélicos na Assembleia de Minas” –
Editoria de Política
Link http://www.em.com.br/app/noticia/politica/2013/03/22/interna_politica,361138/ca
so-feliciano-divide-deputados-evangelicos-na-assembleia-de-minas.shtml
Origem Impresso. Reportagem assinada por Alice Maciel, do Estado de Minas.
Quadro 54 – Identificação da Reportagem 49
Campo I
Subtítulo utilizado no impresso baseou título no on-line, que, por sua vez, não tem
bigode.
Campo II
Novamente não há referência temporal muito precisa na reportagem. Ao ser transposto
à web, o único elemento incorporado ao texto escrito foi o relacionamento de notícias à
esquerda. Não há multimidialidade ou interação.
Campo III
Idem às reportagens anteriores do em.com.br.
Análise
A sensação é de shovelware. A ausência de elementos considerados “obrigatórios”,
como o subtítulo, indica poucos cuidados com a transposição do conteúdo. Não há narrativa
convergente.
163
Reportagem 50
Reportagem 50 “Filho de Herzog levará à CBF petição contra Marin” – Editoria de Política
Link http://www.em.com.br/app/noticia/politica/2013/03/22/interna_politica,361193/fil
ho-de-herzog-levara-a-cbf-peticao-contra-marin.shtml
Origem Agência de notícias. Agência Estado.
Quadro 55 – Identificação da Reportagem 50
Campo I
Título traz resumo da informação principal e não indica conteúdo multimidiático.
Campo II
Novamente, apenas a hipertextualidade está presente, sendo a narrativa “não
convergente”.
Campo III
Idem às reportagens anteriores do em.com.br.
Análise
Encerradas todas as observações em reportagens publicadas pelo em.com.br, pode-se
dizer que não existe a prática de uma narrativa convergente dentro do portal. Ao contrário,
como ilustra bem essa reportagem, foi observada certa predileção pelo modelo tradicional de
jornalismo, com reportagens organizadas de forma a remeter às bases do WWW. Os dois
únicos recursos que se alternam são a fotografia horizontal (recurso multimodal) e o
relacionamento hipertextual (presente nessa notícia) de outras publicações sobre determinado
assunto.
164
IV.5.2 Divirta-se
Reportagem 51
Reportagem 51 “Bibi Ferreira mostra a força da interpretação no espetáculo 'Histórias e canções'”
Link
http://divirta-
se.uai.com.br/app/noticia/musica/2013/03/22/noticia_musica,141174/voz-do-
brasil.shtml
Origem Impresso. Reportagem assinada por Walter Sebastião, do EM Cultura.
Quadro 56 – Identificação da Reportagem 51
Campo I
Título modificado em relação ao original, do impresso: “Voz do Brasil”. Não faz
referência a nenhum conteúdo multimidiático.
Campo II
Novamente, uma reportagem do Divirta-se, que se mostrou o portal com maior grau de
convergência em suas narrativas, não apresenta nenhuma forma de multimidialidade ou
interatividade. A hipertextualidade está presente, mas apenas na publicidade incorporada ao
corpo do texto escrito.
Campo III
Interagentes utilizaram o campo para opinar sobre o show de Bibi Ferreira,
referendando, de certo modo, o que foi dito na reportagem.
Análise
Embora não apresente elemento que tornem a narrativa convergente, não se pode dizer
que houve shovelware, pois, ainda que desconsideradas as características da web, nota-se um
cuidado da edição com a composição da reportagem.
165
Reportagem 52
Reportagem 52 “Ingressos para novo show de Caetano Veloso começam a ser vendidos segunda-
feira, 25”
Link
http://divirta-
se.uai.com.br/app/noticia/musica/2013/03/22/noticia_musica,141231/ingressos-
para-novo-show-de-caetano-veloso-comecam-a-ser-vendidos-segu.shtml
Origem Web. Reportagem assinada pela equipe do Divirta-se.
Quadro 57 – Identificação da Reportagem 52
Campo I
É utilizada uma referência temporal precisa no Campo I: “segunda-feira, 25”.
Campo II
A narrativa volta a trazer a tríade: multimidialidade, hipertextualidade e interatividade,
embora a última esteja presente apenas no Campo III. Nessa reportagem, que segue a
pirâmide invertida, o vídeo não consegue tomar o lugar de protagonista do texto escrito, mas
complementa o mesmo. Novamente, um grau alto de informalidade é observado no texto, com
o termo “Caê” (Caetano Veloso), fortalecendo a inferência de ser a editoria de cultura o local
da experimentação.
Campo III
Os interagentes utilizaram o Campo III para reclamar a falta de informações, mas a
troca comunicativa não teve continuidade até que as dúvidas fossem sanadas.
Análise
Novamente o Divirta-se mostrou ser o espaço da convergência. A narrativa, no
terceiro grau no processo, novamente só não completa o ciclo por não remeter o interagente a
outros veículos, criando um sentido de continuidade no processo.
166
IV.5.3 Alterosa
Reportagem 53
Reportagem 53 “Veneno de aranha pode ser solução para impotência sexual, diz pesquisa”
Link
http://www.alterosa.com.br/app/belo-horizonte/noticia/jornalismo/ja---
1ed/2013/03/22/noticia-ja-1edicao,4703/veneno-de-aranha-pode-ser-solucao-
para-impotencia-sexual-diz-pesquisa.shtml
Origem TV Alterosa. Jornal da Alterosa
Quadro 58 – Identificação da Reportagem 53
Campo I
Sem referências ao conteúdo multimidiático
Campo II
Não existe hipertexto e a multimidialidade é protagonista. Como ocorreu em
praticamente todas as reportagens, a repetição volta a operar dentro das notícias da Alterosa.
A mesma oração (transcrita abaixo) surge no texto escrito e no texto oral dito pela repórter no
vídeo:
“Dados da Organização Mundial de Saúde mostram que 50% dos homens apresentam algum
tipo de disfunção erétil. Seja pela idade avança (sic), de doenças, ou mesmo de estresse ou
ansiedade. Alguns medicamentos já disponíveis no mercado que são importados até ajudam,
mas uma opção que está sendo pesquisada na Universidade Federal de Minas Gerais está
bem perto de resolver a situação e sem efeitos colaterais”.
Campo III
Idem às demais reportagens avaliadas da Alterosa.
Análise
E o ciclo da Alterosa com narrativas no grau I segue. Novamente, essa é marcada por
shovelware e repetição, anulando a força da convergência.
167
Reportagem 54
Reportagem 54 “Quadrilha é presa após tentativa de assalto a um caixa eletrônico na Pampulha”
Link
http://www.alterosa.com.br/app/belo-horizonte/noticia/jornalismo/ja---
1ed/2013/03/22/noticia-ja-1edicao,4715/quadrilha-e-presa-apos-tentativa-de-
assalto-a-um-caixa-eletronico-na-pampulha.shtml
Origem TV Alterosa. Jornal da Alterosa
Quadro 59 – Identificação da Reportagem 54
Campo I
Sem referências ao conteúdo multimidiático
Campo II
Desta vez não há repetição entre vídeo e texto, mas as fotos utilizadas para ilustrar a
página são frames do vídeo, gerando, assim, o mesmo problema observado nas demais
reportagens.
O vídeo, no entanto, chama a atenção por seu um dos poucos com edição mais
adequada à web, sem a presença de trechos lidos pelo apresentador do telejornal.
Campo III
Idem às demais reportagens avaliadas da Alterosa.
Análise
Como dito repetidas vezes ao longo de todo o processo de pesquisa, a simples
associação de um conteúdo multimidiático com a interatividade que é oferecia por qualquer
portal de notícias já torna a narrativa convergente, ainda que em grau mínimo. É o que
ocorreu nessa e em todas as reportagens da Alterosa. O grande pecado cometido é o do
shovelware, com a transposição quase sempre sem cuidados para o site, o que mina as
potencialidades que a convergência pode oferecer.
168
IV.5.4 Vrum
Reportagem 55
Reportagem 55 “Novo Logan ganha mais itens de série”
Link http://estadodeminas.vrum.com.br/app/noticia/noticias/301,19,306,19/2013/03/22/
interna_noticias,45716/novo-logan-ganha-mais-itens-de-serie.shtml
Origem Web. Reportagem assinada pela equipe do Portal Vrum.
Quadro 60 – Identificação da Reportagem 55
Campo I
Título em ordem direta, sem referências a conteúdos multimidiáticos.
Campo II
Novamente o Vrum traz o texto corrido com fotos como único elemento
complementar. Além disso, não há interatividade ou hipertextualidade no Campo II.
Campo III
Interagente questiona a informação “novo” presente no título, atuando como coautor
da notícia.
Análise
Novamente, o portal Vrum, que (vale ressaltar) tem jornal impresso e programa na
TV, não consegue formar uma narrativa convergente. Ao longo do processo de análise, nas
buscas pelos outros veículos, foi observada uma fragmentação do conteúdo sem que, contudo,
um meio dialogasse com o outro.
169
IV.5.5 Resumo da quinta rodada
Encerrada a análise das reportagens recolhidas nos quatro portais escolhidos dentro do
Uai, a sensação é de repetição de termos, críticas e observações ao longo das rodadas, o que,
embora seja notoriamente cansativo ao leitor desta pesquisa, surge como fator positivo para a
mesma, uma vez que, ao seguir rigorosamente os critérios selecionados para a análise,
observou-se dentro dos mesmos portais características semelhantes em diferentes períodos e
circunstâncias, o que permite inferir elevado grau de fidelidade dos resultados obtidos com a
realidade maior do veículo, referendando, assim, o trabalho realizado.
Dessa forma, antes dos apontamentos finais, presentes no capítulo seguinte, é
interessante observar que os portais apresentaram graus muito distintos de convergência entre
si, como resumem, quantitativamente, os quadros e gráficos a seguir:
Rodada Número da reportagem
Assunto da reportagem Veículo Nível de
convergência Página
I 1 Era do filho único em.com.br nenhum 83
I 2 Muro de obra desaba em.com.br I 86
I 3 Brasileiros viajam mais em.com.br nenhum 88
I 4 Inflação em.com.br nenhum 90
I 5 Receitas dos municípios
em.com.br nenhum 91
I 6 Processos da AGU em.com.br nenhum 93
I 7 Chris Brown e Rihanna Divirta-se II 94
I 8 Rapper é expulso Divirta-se II 96
I 9 Bandidos arrombam
bar Alterosa I 98
I 10 Dia de limpeza Alterosa I 100
I 11 Rely chega ao Brasil Vrum nenhum 102
II 12 Detran antifraude em.com.br nenhum 105
II 13 Morte de estudante em.com.br nenhum 107
II 14 Alta da gasolina em.com.br nenhum 109
II 15 Eike Batista em.com.br nenhum 111
II 16 Tribunal da Contas em.com.br nenhum 112
II 17 Liberação de R$ 2 bi em.com.br nenhum 114
II 18 Grupo de maracatu Divirta-se nenhum 116
II 19 Filme 'Tainá' Divirta-se I 118
II 20 Problemas no Mineirão Alterosa I 120
II 21 Pílula anticoncepcional Alterosa I 122
II 22 Propaganda da VW Vrum nenhum 123
III 23 Velho Chico em.com.br nenhum 126
170
III 24 Carreta na BR-381 em.com.br nenhum 128
III 25 Economia ao abastecer em.com.br nenhum 129
III 26 Concursos públicos em.com.br nenhum 130
III 27 Cassação de Burguês em.com.br nenhum 132
III 28 STF e Congresso em.com.br nenhum 134
III 29 Mulheres na MPB Divirta-se III 135
III 30 Show de Renegado Divirta-se III 138
III 31 Francês adotado Alterosa I 139
III 32 Homem executado Alterosa I 141
III 33 Novo Linea Vrum nenhum 142
IV 34 Goleiro Bruno em.com.br nenhum 144
IV 35 Corpo de Eliza
Samudio em.com.br nenhum 145
IV 36 Vagas para mulheres em.com.br nenhum 146
IV 37 Declaração do IRPF em.com.br nenhum 147
IV 38 Novas eleições em.com.br nenhum 148
IV 39 Pastor eleito em.com.br nenhum 150
IV 40 Rock in Rio Divirta-se III 151
IV 41 Michel Teló Divirta-se III 152
IV 42 Propaganda mau gosto Alterosa I 153
IV 43 Violência doméstica Alterosa I 155
IV 44 Kombi Vrum II 156
V 45 Julgamento do Bola em.com.br nenhum 159
V 46 Briga com delegado em.com.br nenhum 161
V 47 Retomada da indústria em.com.br nenhum 162
V 48 McDonald's em.com.br nenhum 163
V 49 Caso Feliciano em.com.br nenhum 164
V 50 Petição contra Marin em.com.br nenhum 165
V 51 Bibi Ferreira Divirta-se nenhum 166
V 52 Caetano Veloso Divirta-se III 167
V 53 Veneno de aranha Alterosa I 168
V 54 Quadrilha é presa Alterosa I 169
V 55 Novo Logan Vrum nenhum 170
Quadro 61 – Níveis de convergência nas reportagens analisadas e índice remissivo
em.com.br Vrum Alterosa Divirta-se Reportagens com narrativa
convergente 3,33% 20% 100% 70%
Reportagens no nível I 3,33% nenhuma 100% 10%
Reportagens no nível II nenhuma 20% nenhuma 20%
Reportagens no nível III nenhuma nenhuma nenhuma 40% Reportagens no nível IV nenhuma nenhuma nenhuma nenhuma
Quadro 61 – Reportagens que apresentaram narrativa convergente
171
Gráfico 3 – Nível de convergência nas reportagens observadas no em.com.br
Gráfico 4 – Nível de convergência nas reportagens observadas no Vrum
Gráfico 5 – Nível de convergência das reportagens observadas na Alterosa
Gráfico 6 – Nível de convergência das reportagens observadas no Divirta-se
nível I
nível II
nível III
nível IV
nenhum
nível I
nível II
nível III
nível IV
nenhum
nível I
nível II
nível III
nível IV
nenhum
nível I
nível II
nível III
nível IV
nenhum
172
Gráfico 7 – Comparação do nível de convergência entre os quatro veículos
Gráfico 8 – Comparação do nível de convergência entre os quatro veículos
0,00%
20,00%
40,00%
60,00%
80,00%
100,00%
120,00%
nível I nível II nível III nível IV nenhum
em.com.br
Vrum
Alterosa
Divirta-se
0% 20% 40% 60% 80% 100%
nível I
nível II
nível III
nível IV
nenhum
em.com.br
Vrum
Alterosa
Divirta-se
Quantidade percentual de reportagens por veículo
Níveis de convergência
Quantidade percentual de reportagens por veículo
Níveis de convergência
173
CONCLUSÕES E PERSPECTIVAS
Pautando o discurso empresarial dos grandes grupos brasileiros de comunicação, a
convergência de mídias é assunto constante no dia a dia das redações jornalísticas. Contudo,
ainda que muito discutida, as análises são rasas e, na maioria dos casos, o tema acaba sendo
tratado como uma mera sinergia nas relações de trabalho e de produção da empresa. Entre
outros fatores, pode-se dizer que tal simplificação do processo ocorre, principalmente, por
causa da inexistência de um conceito único entre estudiosos para defini-lo, o que, por sua vez,
encontra explicação na própria essência multifacetada da convergência, que afeta,
simultaneamente, os âmbitos tecnológico, empresarial, profissional e editorial dos meios de
comunicação, propiciando a integração de ferramentas, espaços, métodos de trabalho e
linguagens.
No entanto, ainda que sejam muitas as vertentes e possibilidades para abordar a
temática, o que justifica o difícil consenso em torno de uma definição, a perspectiva da
linguagem se mostrou uma das menos exploradas (ou das mais preteridas) pelos
pesquisadores, que quase sempre optam por seguir os caminhos do norte-americano Henry
Jenkins, que observa a convergência como um processo predominantemente cultural, ou do
espanhol Ramón Salaverría, que busca estudar todas os ângulos do assunto através de
sucessivos estudos de caso. Porém, como o próprio Salaverría reconhece, as convergências
nas rotinas e na logística para a produção de conteúdos pouco interessam ao público. A face
do processo que surge com grande pertinência ao interagente é justamente a menos estudada
dentro da convergência de mídias: o produto final e sua linguagem.
Dado o protagonismo da convergência de mídias nas redações e a observação
insipiente do processo no campo da linguagem, um dos pressupostos que motivou
inicialmente este estudo foi justamente o surgimento de um novo (ou, pelo menos,
modificado) discurso jornalístico nas narrativas convergentes. Porém, como a pesquisa
destacou durante todo o percurso de revisão teórica, a convergência precisa ser reconhecida
enquanto processo paulatino, gradativo. Dessa forma, recorrendo novamente a Salaverría e
Negredo (2008), precisamos lembrar que, na possibilidade de que todas as narrativas
apresentem integração total de conteúdos com multimidialidade, interatividade e
hipertextualidade em grau máximo, nós já não estaremos mais falando da convergência, mas
sim de algo novo. É exatamente por isso que a investigação se deu no sentido de verificar
como a união de linguagens originadas em modelos tradicionalmente distintos de produção e
174
edição – rádio, televisão e impresso – delineia uma narrativa jornalística convergente nos
portais de notícia; e, como e em que medida essa narrativa convergente pode ser considerada
nova, do ponto de vista da linguagem que a constitui e dos parâmetros jornalísticos a ela
vinculados.
Para cumprir esses e os demais objetivos, a realização de uma análise qualitativa
através de um estudo de caso se mostrou eficaz, considerada a natureza dos processos
comunicacionais e da internet de fenômenos em constante transformação. Ainda que ciente da
impossibilidade de generalização dos resultados obtidos, é preciso fazer coro à Corrêa e
Corrêa (2007), uma vez que a observação dos processos de convergência na web por meio de
uma sucessão de estudos de caso (e, a partir deles, a aproximação entre teoria e prática),
parece ao fim desta pesquisa, de fato, a alternativa mais viável para teorizar sobre a realidade
que nos é contemporânea.
No entanto, como dito, a impossibilidade de grandes generalizações trouxe o risco de
que a pesquisa se encerrasse nela mesma. Prevendo tal possibilidade, foi elaborado um
modelo metodológico próprio para realizar a análise qualitativa da linguagem convergente
presente no Portal Uai, unidade escolhida para coleta de dados. O objetivo foi propor um
quadro inédito, que permitisse a avaliação futura de outros casos sobre os mesmos parâmetros
desta pesquisa, viabilizando uma aproximação entre diferentes análises e debates mais
amplos, o que é extremamente pertinente para validação do conhecimento. Para chegar ao
melhor modelo, foram feitos dois pilotos para testar as categorias utilizadas no estudo de caso,
sendo estes extremamente pertinentes, uma vez que os primeiros equívocos foram
fundamentais para ajudar a delinear uma abordagem mais precisa para a observação da
linguagem.
Finalizada as análises, pode-se dizer que a elaboração do modelo metodológico se
mostrou válida não somente como contribuição para pesquisas futuras, mas, principalmente,
para a realização da própria análise proposta. Através dele foi possível analisar as estratégias
de construção de sentido nos portais de notícias a partir do fenômeno da convergência de
mídias; verificar em quais medidas o discurso se transforma com a convergência de mídias;
verificar quais são as principais mudanças estruturais sofridas pelos conteúdos em vídeo,
texto, áudio e foto ao serem publicados na web; investigar as interferências que a
hipertextualidade e as possibilidades da Web 2.0 trazem ao jornalismo quando somadas à
união de linguagens na tela; e procurar marcas do processo de convergência de mídias no
produto jornalístico final publicado nos portais de notícias. Contudo, vale ressaltar que o
175
modelo e a própria pesquisa mostraram-se insuficientes para verificar como o processo de
convergência de mídias transforma a cultura de produção dentro das redações jornalísticas,
um dos objetivos traçados para o estudo, mas que acabou por extrapolar o campo da
linguagem e suas possibilidades de pesquisa.
O modelo foi eficiente para comparar o nível de convergência de mídias presente na
narrativa jornalística em diferentes portais. Foi possível observar, por exemplo, que, ainda que
dentro do mesmo grupo empresarial e sob o mesmo “guarda-chuva”, convivem veículos com
características de linguagem ancoradas em diferentes eras da web.
Entre os quatro veículos que nutriram o estudo de caso realizado nesta pesquisa,
Alterosa e Vrum pouco contribuíram para as reflexões. O primeiro pela insistência na prática
do shovelware, anulando quase sempre as características do discurso convergente. Já o
segundo, pela pouca relevância da convergência no material observado, que não permitiu
muitas inferências. Na verdade, apenas o portal Divirta-se apresentou, de fato, uma tendência
para o predomínio da narrativa convergente, sendo de grande valia para este estudo. Como
dito ao longo da análise qualitativa, entre as explicações possíveis para isso [a predileção do
Divirta-se pela convergência], estão o fato da Cultura ser o local da experimentação (o que
ratifica a preferência de Jenkins pelos produtos culturais como fonte de estudo) e a
proximidade do portal com as características da linguagem televisiva, que também traz em
sua essência o entretenimento.
O fato é que, mesmo sem produção própria de conteúdos multimidiáticos – a maioria
dos materiais utilizados é de divulgação dos artistas –, o Divirta-se mostrou diferentes
possibilidades de uso do discurso jornalístico com a narrativa convergente. Respondendo à
problemática que guiou esta pesquisa, ainda não é possível falar que seja praticado um novo
discurso, mas, novamente atentando para o caráter processual da convergência, algumas pistas
interessantes surgem sobre o que pode vir, destacando-se, entre elas, a inversão de valores
entre o texto escrito e o conteúdo multimidiático que, como observado, pode assumir em
determinadas circunstâncias o papel de protagonista (e não mais de mero complemento)
dentro dos portais. Ainda que não seja a visão desta pesquisa, é interessante destacar que para
alguns pesquisadores, como Carlos Castilho (2013), tal fato revela a reinversão (ou fim) da
pirâmide invertida, o que, com certeza, é debate para longos e próximos estudos.
Outra observação bastante pertinente foi possível a partir do caso do em.com.br.
Dentro dos objetivos desta pesquisa, pode-se dizer, sem cometer qualquer injustiça, que o
portal foi útil apenas para revelar que a construção de uma narrativa convergente existe
176
apenas no discurso empresarial dos Diários Associados, sendo a face do processo
verdadeiramente explorada pelo grupo a de sinergia do trabalho. No entanto, a avaliação do
veículo, ainda que ausentes as narrativas convergentes e as pretensões originais desta
pesquisa, foi extremamente interessante para a percepção de um “comportamento” novo no
jornal Estado de Minas. Enquanto as reportagens produzidas no portal permaneceram fiéis ao
modelo tradicional de jornalismo, seguindo o lead clássico e a pirâmide invertida, as matérias
publicadas no impresso, em sua maioria, perderam a referência temporal, indicando que
buscam novas formas de sobreviver. Tal constatação comprova novamente a existência do
medo da revolução digital, tão criticado por Jenkins (2009), e fomenta nova pesquisa. Afinal,
ao invés de caminhar para a convergência, a web estaria assumindo o papel do impresso? E o
discurso jornalístico dos jornais impressos: está mudando ou já se transformou?
Ciente das limitações inerentes à pesquisa cabe ressaltar que as inferências sobre a
Cultura como espaço da convergência e o afastamento das editorias mais factuais da narrativa
convergente não podem ser generalizados, sendo os resultados um reflexo da realidade
experimentada na unidade de caso observada. Contudo, espera-se que os dados obtidos, bem
como o modelo de análise qualitativa desenvolvido para a narrativa convergente, sejam úteis
para a realização de novos estudos de caso e estudos comparativos na área, contribuindo,
assim, para uma teorização futura da transformação que nos é contemporânea.
177
BIBLIOGRAFIA
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