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Aspectos práticos da Certificação LEED:
exemplo de aplicação em unidade multifamiliar
Tatyana Particelli
Projeto de Graduação apresentado ao
Curso de Engenharia Civil, da Escola
Politécnica, Universidade Federal do Rio
de Janeiro, como parte dos requisitos
necessários à obtenção do título de
Engenheiro.
Orientadora: Elaine Garrido Vazquez
Rio de Janeiro
Setembro de 2018
ASPECTOS PRÁTICOS DA CERTIFICAÇÃO LEED: EXEMPLO DE APLICAÇÃO EM
UNIDADE MULTIFAMILIAR
Tatyana Particelli
PROJETO DE GRADUAÇÃO SUBMETIDO AO CORPO DOCENTE DO CURSO DE
ENGENHARIA CIVIL DA ESCOLA POLITÉCNICA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO
RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A
OBTENÇÃO DO GRAU DE ENGENHEIRO CIVIL.
Examinado por:
______________________________________
Profa. Elaine Garrido Vazquez
______________________________________
Prof. Eduardo Qualharini
______________________________________
Prof. Paulo Renato
Rio de Janeiro
Setembro de 2018
Particelli, Tatyana
Aspectos práticos da certificação LEED: exemplo
de aplicação em unidade multifamiliar/ Tatyana
Particelli – Rio de Janeiro: UFRJ/ Escola
Politécnica, 2018.
X, 102 p.: il.; 29,7 cm.
Orientadora: Elaine Garrido Vazquez
Projeto de Graduação – UFRJ/ Escola
Politécnica/ Curso de Engenharia Civil, 2018.
Referências Bibliográficas: p. 103 – 106
1.Introdução 2.Sustentabilidade na
Construção Civil 3. Estudo Prático da
aplicação da certificação LEED em um
empreendimento residencial multifamiliar 4.
Considerações Finais
Agradecimentos
Agradeço primeiramente e principalmente aos meus pais, Paola e Vitor, que
me ensinaram o verdadeiro sentido de família, de estarmos juntos em qualquer
momento, nos apoiando, mesmo nos momentos em que acreditei não conseguir
superar as dificuldades, eles me deram amor, afeto e suporte. Obrigada por todos os
esforços incondicionais para me proporcionar uma boa educação, criação e
principalmente, por sempre buscarem a minha felicidade acima de tudo. Amo vocês
hoje e sempre.
Ao meu namorado e melhor amigo Gabriel, por ser essa pessoa maravilhosa,
que me entende mais do que ninguém. Obrigada por me apoiar, incentivar e motivar
em todas as vezes que hesitei. Quero estar sempre ao seu lado e poder retribuir tudo
o que você fez e faz por mim.
Agradeço muito aos amigos que a UFRJ me deu, vocês tornaram tudo mais
fácil e alegre. Em especial à minha amiga Carolina, que dividiu desde o colégio
inúmeras alegrias, dificuldades e confidências durante todo o curso. Serei sempre sua
amiga e fã.
Àos inúmeros professores que tive a honra de conhecer e poder aprender um
pouco com cada um sobre a importância do engenheiro civil como um agente que se
preocupa com o meio ambiente e a sociedade.
Agradeço, por fim à Professora Elaine, que aceitou orientar este trabalho
sempre se mostrando muito solicita e compreensiva, independente da sua atribulada
rotina e seus problemas pessoais. Muito obrigada por se mostrar um exemplo como
pessoa e profissional para mim.
Resumo do Projeto de Graduação apresentado à Escola Politécnica/ UFRJ como parte
dos requisitos necessários para a obtenção do grau de Engenheiro Civil.
ASPECTOS PRÁTICOS DA CERTIFICAÇÃO LEED: EXEMPLO DE APLICAÇÃO EM
UNIDADE MULTIFAMILIAR
Tatyana Particelli
Setembro/ 2018
Orientadora: Elaine Garrido Vazquez
Curso: Engenharia Civil
O setor da construção civil é um dos principais responsáveis pelo alto consumo
de água, energia e materiais. Dessa forma, a busca pela implantação dos conceitos da
Sustentabilidade e sua influência no tripé social, econômico e ambiental, vem se
intensificando no setor. Diante disso, faz-se necessário o estudo de como o mercado
chegou nesse novo ciclo, de quais práticas sustentáveis devem ser adotadas em cada
etapa de construção e quais as consequências dessa mudança. De forma a
aprofundar o assunto, foi realizado um estudo sobre uma das principais certificações
ambientais, o Leadership in Energy Environmental Design (LEED). Foi desenvolvido
um estudo teórico sobre como sua aplicação foi introduzida no mercado brasileiro,
como funciona o selo, a diferença entre suas versões, seus benefícios e quais são
suas etapas de certificação. A partir do embasamento teórico, foi desenvolvida uma
análise sobre um empreendimento multifamiliar certificado, de maneira a mostrar na
prática a aplicação do LEED, as ações sustentáveis utilizadas, dificuldades
encontradas, além da realização de um comparativo entre as versões v.2009 e v.4 da
certificação. Assim, percebeu-se que são inúmeras as dificuldades construtivas para a
realização dos pré-requisitos tanto para a construtora, quanto para os fornecedores e
empreiteiros. Outra dificuldade encontrada foi em relação ao comparativo entre as
versões LEED, visto que o empreendimento seria certificado pela primeira (v.2009),
mas não pela última versão (v.4).
Palavras-chave: Certificação ambiental, LEED, Sustentabilidade, Práticas
sustentáveis.
Abstract of Undergraduate Project presented to POLI / UFRJ as a partial fulfillment of
the requirements for the degree of Engineer.
PRACTICAL ASPECTS OF LEED CERTIFICATION: EXAMPLE OF APPLICATION IN
A MULTIFAMILIAR UNIT
Tatyana Particelli
September 2018
Advisor: Elaine Garrido Vazquez
Course: Civil Engineering
Construction industry is one of the main responsible for the high consumption of water,
energy and materials. In this way, the implementation search of Sustainability concepts
and its influence inside social, economic and environmental tripod has been
intensifying in the sector. Therefore, it is necessary to study how the market reached
this new cycle, what sustainable practices should be adopted at each stage of
construction and its consequences. In order to study more deeply this subject, a study
was carried out on one of the main environmental certifications, the Leadership in
Energy Environmental Design (LEED). A theoretical study was developed on how its
application was introduced in the Brazilian market, how “certification” works, what are
the difference between its versions, its benefits and its stages. Starting from a
theoretical basis, an analysis was developed on a certified multifamily enterprise, in
order to show, in practice, the LEED´s application, the sustainable actions used, the
difficulties encountered, besides the accomplishment of a comparison between the
v.2009 and v.4 versions of the certification. So, it was noticed that there are numerous
constructive difficulties for the realization of the prerequisites for both the contractor
and the suppliers. Another found difficulty was in relation to the comparison between
the LEED versions, since the enterprise would be certified by the first version (v.2009),
but not by the last one (v.4).
Keywords: Environmental Certification, LEED, Sustentability, Sustainable Practices
LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Tripé da sustentabilidade ............................................................................. 20
Figura 2: Pesquisa “Sustentabilidade hoje ou amanhã?” ............................................ 24
Figura 3: Abrangência do World Green Building Council ............................................ 26
Figura 4: Missão GBC Brasil ....................................................................................... 27
Figura 5: Primeira certificação LEED no Brasil............................................................ 28
Figura 6: Classificação LEED de acordo com pontuação ............................................ 32
Figura 7: Mudança no tratamento da matéria-prima da versão LEED 2009 para a
LEED v4 ..................................................................................................................... 38
Figura 8: Tipos de DAP aceitos pela LEED v4 ............................................................ 39
Figura 9: Registros da Certificação LEED por tipologia ............................................... 46
Figura 10: Registros da Certificação LEED por Estado ............................................... 47
Figura 11: Presença de certificações LEED Platinum por região ................................ 48
Figura 12: Países representados na International Roundtable .................................... 48
Figura 13: Custos para acessar a Plataforma Arc ....................................................... 51
Figura 14: Localização do Condomínio R ................................................................... 53
Figura 15: Aparamento decorado - unidade 801 Bloco 4 ............................................ 53
Figura 16: Área de lazer condomínio R ....................................................................... 54
Figura 17: Limitação da certificação - LEED Boundary ............................................... 56
Figura 18: Créditos de SS submetidos ao LEED ......................................................... 57
Figura 19: Localização dos acessos ao transporte público próximos ao
empreendimento ......................................................................................................... 61
Figura 20: Alguns créditos e pré-requisitos da categoria WE submetidos ao LEED ... 64
Figura 21: Captação mensal da água da chuva .......................................................... 66
Figura 22: Distribuição das áreas irrigáveis ................................................................ 70
Figura 23: Alguns créditos e pré-requisitos da categoria EA submetidos pela LEED .. 75
Figura 24: Fluxograma das atividades de comissionamento durante o projeto,
construção e operação do empreendimento ............................................................... 78
Figura 25: Sistema de aquecimento da água através de placas solares ..................... 84
Figura 26: Reservatório de água do sistema de aquecimento dentro de um dos
apartamentos .............................................................................................................. 85
Figura 27: Alguns créditos de MR submetidos pelo LEED .......................................... 88
Figura 28: Localização da central de resíduos ............................................................ 90
Figura 29: Contentores herméticos para a coleta seletiva de resíduos do
empreendimento ......................................................................................................... 90
Figura 30: Documento Nota de Transporte de Resíduos ............................................ 94
Figura 31: RIA de reciclagem e descarte de resíduos
................................................................................................................................... 95
Figura 32: Pré-requisitos de Qualidade do ar interno submetidos pelo LEED ............. 96
Figura 33: Procedimento de pressurização ................................................................. 99
Figura 34: Procedimento de despressurização ........................................................... 99
Figura 35: Amostragem apartamentos que devem passar pelo teste de estanqueidade
................................................................................................................................. 100
Figura 36: Dados necessários de apartamento que sofrerá o teste de estanqueidade
................................................................................................................................. 101
LISTA DE QUADROS
Quadro 1: Impactos da construção civil ...................................................................... 19
Quadro 2: Tipologias LEED v.4 ................................................................................... 30
Quadro 3: Categorias LEED v.2009 e v.4 ................................................................... 32
Quadro 4: Benefícios certificação LEED ..................................................................... 43
Quadro 5: Documentos necessários para a pré-certificação ....................................... 44
Quadro 6: Créditos que sofreram adaptações para o mercado da América Latina ..... 49
Quadro 7: Pré-requisitos para contratadas e subcontratadas referentes à categoria
Sustentabilidade do Sítio ............................................................................................ 58
Quadro 8: Estratégias presentes no Plano de Prevenção da obra para garantir o pré-
requisito Prevenção à poluição das atividades de construção .................................... 59
Quadro 9: Documentação necessária para auditoria GBCI do pré-requisito Prevenção
à Poluição das atividades de construção .................................................................... 61
Quadro 10: Documentação necessária para auditoria GBCI do crédito Transporte
Alternativo: Bicicletário e vestiário............................................................................... 62
Quadro 11: Documentação necessária para auditoria GBCI do crédito Transporte
Alternativo: veículos eficientes e de baixa emissão .................................................... 63
Quadro 12: Ofertas e demandas de água de reuso do condomínio R ......................... 65
Quadro 13: Documentação necessária para auditoria GBCI do pré-requisito Redução
de água potável .......................................................................................................... 69
Quadro 14: Documentação necessária para auditoria GBCI do crédito Eficiência do
uso da água no paisagismo ........................................................................................ 73
Quadro 15: Documentação necessária para auditoria GBCI do crédito Tecnologias
inovadoras para Efluentes .......................................................................................... 74
Quadro 16: Pré-requisitos para contratadas e subcontratadas referentes à categoria
Energia e Atmosfera ................................................................................................... 75
Quadro 17: Normas do comissionamento ................................................................... 77
Quadro 18: Etapas de comissionamento .................................................................... 79
Quadro 19: Documentação necessária para auditoria GBCI do pré-requisito
Comissionamento básico ............................................................................................ 80
Quadro 20: Medidas adotas para alcançar a redução do custo anual de energia no
empreendimento ......................................................................................................... 81
Quadro 21: Documentação necessária para auditoria GBCI do pré-requisito Eficiência
Energética mínima ...................................................................................................... 85
Quadro 22: Documentação necessária para auditoria GBCI do crédito Medição pelo
locatário ...................................................................................................................... 88
Quadro 23: Pré-requisitos para contratadas e subcontratadas referentes à categoria
Materiais e Recursos .................................................................................................. 88
Quadro 24: Documentação necessária para auditoria GBCI do pré-requisito
Armazenamento e coleta seletiva de resíduos ............................................................ 90
Quadro 25: Pré-requisitos para contratadas e subcontratadas referentes à categoria
Qualidade do Ar Interno .............................................................................................. 96
Quadro 26: Documentação necessária para auditoria GBCI do pré-requisito
Performance Mínima da qualidade do ar interno ......................................................... 97
Quadro 27: Documentação necessária para auditoria GBCI do pré-requisito Controle
de fumaça de tabaco ................................................................................................ 102
Quadro 28: Medidas que o morador pode incorporar no seu dia-a-dia para manter os
quesitos sustentáveis ................................................................................................ 103
LISTA DE TABELAS
Tabela 1: Créditos da categoria Localização e transporte v.4 ..................................... 33
Tabela 2: Créditos da categoria Sustentabilidade do Sítio v.4 x v.2009 ...................... 34
Tabela 3: Créditos da categoria Gestão da água v.4 x v.2009 .................................... 35
Tabela 4: Créditos da categoria Energia e Atmosfera v.4 x v.2009 ............................. 37
Tabela 5: Créditos da categoria Materiais e Recursos v.4 x v.2009 ............................ 39
Tabela 6: Créditos da categoria Qualidade do ar interno v.4 x v.2009 ........................ 40
Tabela 7: Créditos da categoria Inovação e Design v.4 x v.2009 ................................ 41
Tabela 8: Créditos da categoria Créditos Regionais v.4 x v.2009 ............................... 42
Tabela 9: Representatividade residentes .................................................................... 55
Tabela 10: Representatividade staff ........................................................................... 56
Tabela 11: Cálculo da quantidade de Racks e Chuveiros para o empreendimento ..... 62
Tabela 12: Dados gerais para estudo de balanço hídrico ........................................... 64
Tabela 13: Médias pluviométricas médias para Rio de Janeiro ................................... 66
Tabela 14: Fórmula para cálculo do volume de captação da água de chuva .............. 66
Tabela 15: Fluxos dos dispositivos Baseline x Economizadores ................................. 67
Tabela 16: Usos diários por tipo de ocupação ............................................................ 67
Tabela 17: Consumo de água de acordo com dispositivo ........................................... 68
Tabela 18: Valores do fator das espécies Ks para diversas plantas ............................ 71
Tabela 19: Valores da fator de densidade Kd para plantas diversas plantas .............. 71
Tabela 20: Valores do microclima Kmc para plantas diversas plantas ........................ 71
Tabela 21: Demanda hídrica anual do paisagismo base ............................................. 72
Tabela 22: Valores mínimos de redução necessário para o projeto proposto para
atendimento aos critérios requeridos pelo crédito ....................................................... 73
Tabela 23: Classificação dos Resíduos segundo classes ........................................... 91
Tabela 24: Planilha resumo do Ventilation Rate Procedure - Ashrae 62.1–2007 ........ 97
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas
ACV Avaliação do Ciclo de Vida
ANTAC Associação Nacional de Tecnologia do Ambiente Construído
Aqua Alta Qualidade Ambientel
ASHRAE Sociedade Americana de Engenheiros de Aquecimento, Refrigeração
e Ar condicionado
ASTM American Society for Testing and Materials
CBCS Conselho Brasileiro de Construção Sustentável
CFC Clorofluorcarboneto
CIB International Council for Building
COMLURB Companhia Municipal de Limpeza Urbana
CONAMA Conselho Nacional do Meio Ambiente
DAP Declaração Ambiental de Produtos
FIMAC Ficha de Inspeção de Madeira Certificada
FSC Conselho Brasileiro de Manejo Florestal
FTE Full Time Equivalent
GBCI Green Building Council Institute
HVAC Heating, Ventilating and Air Conditioning
IBAMA Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
INEA Instituto Estadual do Ambiente
INMETRO Instituto Nacional de Metodologia, Qualidade e Tecnologia
IPTU Imposto sobre Propriedade Particular
LEED Leadership in Energy Environmental Design
NTR Nota de Transporte de Resíduos
RIA Relatório de Implantação de Acompanhamento
SMAC Secretaria Municipal de Meio Ambiente
USGBC United States Green Building Council
USP Universidade de São Paulo
VOC Composto Orgânico Volátil
VRF Variable Refrigerant Flow
SUMÁRIO
1. Introdução ............................................................................................................ 16
1.1. Objetivo ........................................................................................................ 17
1.2. Justificativa ................................................................................................... 17
1.3. Metodologia .................................................................................................. 17
1.4. Estruturação ................................................................................................. 18
2. A sustentabilidade na construção civil ................................................................. 19
2.1. Apresentação do tema .................................................................................. 19
2.2. A Sustentabilidade dentro das etapas de construção ................................... 20
2.2.1. Idealização ............................................................................................ 21
2.2.2. Projeto ................................................................................................... 21
2.2.3. Construção ............................................................................................ 21
2.2.4. Uso ........................................................................................................ 22
2.2.5. Manutenção ........................................................................................... 22
2.2.6. Demolição ............................................................................................. 22
2.3. A adesão do conceito da sustentabilidade no mercado da construção civil no
Brasil ........................................................................................................................23
2.4. Os certificados ambientais e o estímulo à competitividade ........................... 24
2.5. A certificação LEED e a busca por construções mais sustentáveis .............. 26
2.5.1. Aspectos históricos ................................................................................ 26
2.5.2. LEED v4 (2013) ..................................................................................... 28
2.5.3. Benefícios da adoção do LEED ............................................................. 42
2.5.4. Processo de certificação ........................................................................ 43
2.5.5. Panorama atual brasileiro ...................................................................... 46
2.5.6. Internacionalização dos processos ........................................................ 48
2.5.7. Dificuldades encontradas na implantação do LEED v.4 ......................... 49
2.5.8. LEED v4.1 ............................................................................................. 50
3. Estudo Prático da aplicação da certificação LEED em um empreendimento
residencial multifamiliar ............................................................................................... 52
3.1. Apresentação da empresa ............................................................................ 52
3.2. Apresentação do empreendimento ............................................................... 52
3.3. A pré-certificação – v.2009 ........................................................................... 54
3.3.1. Definição da população de projeto para certificação .............................. 55
3.3.2. Definição do LEED Boundary ................................................................ 56
3.4. Estratégias LEED implementadas no projeto ................................................ 57
3.4.1. Localização e Transporte (LL) ............................................................... 57
3.4.2. Sustentabilidade do Sítio (SS) ............................................................... 57
3.4.3. Gestão de Água (WE) ............................................................................ 63
3.4.4. Energia e Atmosfera (EA) ...................................................................... 74
3.4.5. Materiais e Recursos (MR) .................................................................... 88
3.4.6. Qualidade do ar interno (IEQ) ................................................................ 95
3.4.7. Manutenção das estratégias pelo proprietário ..................................... 102
4. Considerações finais ......................................................................................... 104
16
1. Introdução
O setor da construção civil trata-se do maior consumidor de recursos naturais e
que utiliza energia de forma mais intensiva, gerando consideráveis impactos
ambientais, segundo o Conselho Internacional da Construção (2017). Além disso,
estima-se que mais de 50% dos resíduos sólidos gerados pelo conjunto das atividades
humanas sejam provenientes da vida útil de uma construção. (Ministério do Meio
Ambiente, 2018).
Diante da problemática de degradação ao meio ambiente devido à construção civil, o
conceito de sustentabilidade possui um sentido amplo que concilia aspectos
ambientais com econômicos, sociais e até mesmo, culturais. É necessário reconhecer
que os aspectos ambientais, no cenário mundial, tem tido uma repercussão muito
maior tanto na mídia quanto nas estratégias de marketing, fato preocupante dados os
inúmeros problemas sociais e econômicos que afetam a população em nível global e
que deveriam estar sendo tratados como prioridades.
Foi nesse cenário que a indústria da construção civil identificou nos greens
buildings uma maneira de fomentar suas vendas e se apoiou nas certificações
ambientais como garantia ao consumidor de que aquele determinado produto atende
aos requisitos mínimos de uma especificação ambiental.
Assim, houve o surgimento de diversos selos diferentes que, em muitos casos, o
usuário pode escolher mais de um selo para um mesmo tipo de produto. No Brasil, o
certificado que possui maior abrangência nos empreendimentos brasileiros é o
Leardership in Energy and Environmental Design, aplicado pelo GBC Brasil e que
possui uma complexa estruturação com pré-requisitos e determinado número de
créditos a serem cumpridos. (M.JOHN, 2016, O Desafio da Sustentabilidade na
Construção Civil, 3°ed. São Paulo, Edgard Bluncher Ltda)
Dessa forma, percebe-se a importância das certificações no setor da construção,
como essencial ferramenta para a realização de algumas modificações sustentáveis
no setor que, se aliadas com políticas públicas direcionadas à proteção do meio
ambiente, podem contribuir de forma significativa para a ampliação de práticas que
favoreçam a sustentabilidade nas construções, visando o bem-estar da sociedade e
economicamente favoráveis aos empresários do ramo. (Dotto, 2017)
17
1.1. Objetivo
Este trabalho tem como objetivo apresentar a importância da adesão dos
princípios da sustentabilidade na área da construção civil ao longo dos últimos anos,
enfatizando como isso ocorreu com o surgimento das certificações. Foi dado enfoque
à análise da certificação LEED e sua aplicação em um empreendimento multifamiliar,
para que pudessem ser avaliadas as estratégias utilizadas na construção do
condomínio, seus impactos, custos, benefícios e a documentação necessária para a
aquisição da certificação. Adicionalmente, foi feito um comparativo das versões v.2009
e v.4 do certificado.
1.2. Justificativa
Apesar de ser um tema muito abordado, em que sua utilização vem sendo cada
vez mais incentivada nas construções brasileiras, a difusão das metas da
sustentabilidade e das certificações ambientais ainda são pouco aprofundadas no
país. (M.JOHN, 2016, O Desafio da Sustentabilidade na Construção Civil, 3°ed. São
Paulo, Edgard Bluncher Ltda)
Vale ressaltar que o bom desenvolvimento de uma empresa está diretamente
relacionada, entre outros fatores, ao casamento dos bons resultados econômicos com
o setor da sustentabilidade.
Portanto, diante da complexidade do assunto e da crescente demanda por
construções sustentáveis, se faz necessária a análise da implantação dos certificados
ambientais e das práticas verdes obrigatórias, apontando seus impactos, vantagens,
documentos necessários para que seja confirmada a correta execução das mesmas e
seus custos. Tal estudo é essencial para a orientação de profissionais e empresas da
área na hora de escolher quais caminhos seguir diante de novos projetos.
1.3. Metodologia
A metodologia utilizada para o estudo da importância das certificações ambientais
diante da busca pela sustentabilidade na construção civil, dando enfoque a certificação
LEED, se constituiu em uma análise teórica associada a um estudo prático.
Na parte teórica foi feita uma coleta de dados relevantes ao tema, de forma a criar
uma base de conceitos inerentes ao assunto para realização de um posterior estudo.
A pesquisa foi feita em livros de renomados escritores, nos sites oficiais da certificação
18
LEED e em documentos disponibilizados por grandes empresas do ramo e
consultorias especializadas.
Para realização de um estudo prático, foram feitas entrevistas com os
responsáveis pelo setor da sustentabilidade, análise de documentos da certificação e
acompanhamento das práticas sustentáveis ao longo da execução de uma obra
residencial multifamiliar, que estava no processo de certificação LEED, de uma
renomada construtora. Dessa forma, foi feito um estudo detalhado das ações
sustentáveis adotadas, a pontuação garantida em cada categoria de avaliação LEED,
as principais dificuldades encontradas e os documentos necessários para
comprovação de cada crédito.
1.4. Estruturação
O Capítulo 1 é dedicado à introdução do tema, seu objetivo, justificativa e
metodologia e estruturação do trabalho a ser desenvolvido.
O Capítulo 2 é destinado a apresentar a contextualização do tema
sustentabilidade no setor da construção civil, mostrando com ela deve ser abordada
em cada etapa da construção, seus aspectos históricos no mercado nacional e como
empresas do ramo tiveram que mudar sua forma de atuar de modo a se adaptar ao
novo contexto do mercado. Em seguida, há a apresentação da certificação LEED,
mostrando seus aspectos históricos, tipologias, benefícios, como se dá o processo de
certificação, como está o panorama atual brasileiro, a forma como o certificado teve
que se adaptar ao mercado internacional e uma breve apresentação da nova versão
LEED v4.
No terceiro capítulo apresenta-se a aplicação da certificação LEED em um
empreendimento multifamiliar de altíssimo luxo na Barra da Tijuca, na cidade do Rio
de Janeiro. São citadas as principais práticas sustentáveis aplicadas no
empreendimento devido à certificação, deixando evidente seu método de execução,
benefícios, pontuação adquirida e recepção pelo morador, além de ter sido feito um
comparativo entre as versões v.2009 e v.4 do LEED.
O capítulo 4 apresenta as considerações finais sobre o estudo e suas limitações.
19
2. A sustentabilidade na construção civil
2.1. Apresentação do tema
O setor da construção civil é responsável pela transformação do ambiente natural
em construído, onde são realizadas todas as atividades humanas. Ele pode ser
entendido como um setor macro da economia que depende de uma enorme cadeia
produtiva: extração de matérias-primas, produção e transporte de materiais e
componentes, concepção de projeto, construção, práticas de uso e manutenção,
demolição e destinação de resíduos gerados ao longo da vida útil. Ao final desse
processo, podem ser notados grandes impactos ambientais como o uso de uma
grande quantidade de materiais de construção, mão-de-obra, energia e geração de
resíduos (Quadro 1).
Quadro 1: Impactos da construção civil
De 40 % a 50 % dos resíduos gerados são oriundos da
construção civil
No Brasil são consumidos 220 milhões de t/ano de agregados
naturais na produção de concretos e argamassas
Consumo de 50% da energia elétrica e 20% do total de
energia produzida no Brasil
Construção e reforma de edifícios gera anualmente cerca de
400 kg de entulho por habitante
Consumo de 60% de toda madeira extraída
34% do consumo mundial de água
Adaptado M.JOHN, 2016, O Desafio da Sustentabilidade na Construção Civil, 3°ed.
São Paulo, Edgard Bluncher Ltda); FUJIHARA, 2012
Infelizmente, empresários do ramo e órgãos governamentais, demoraram à
perceber a gravidade do impacto gerado e portanto, atualmente, são forçados a fazer
mudanças frente às demandas de uma sociedade cada vez mais exigente com a
20
preservação do meio ambiente. (M.JOHN, 2016, O Desafio da Sustentabilidade na
Construção Civil, 3°ed. São Paulo, Edgard Bluncher Ltda)
Foi diante desse cenário de busca por construções mais ecologicamente
corretas, que o conceito de sustentabilidade se encaixou perfeitamente. Trata-se, de
acordo com a teoria do Tripple Bottom Line (Elkington, 1990), de um tripé com três
dimensões: (I) Econômica; (II) Social e cultural e (III) Ambiental, que quando
combinadas garantem a Eco eficiência, Inserção social e Justiça socioambiental,
alcançando a plenitude da sustentabilidade (Figura 1).
Figura 1: Tripé da sustentabilidade
https:estudofino.wordpress.com,2017
Assim, para que haja o aumento do desenvolvimento sustentável no setor da
construção civil, devem ocorrer mudanças em todas as etapas de obra, articuladas
dentro de uma visão global.
2.2. A Sustentabilidade dentro das etapas de construção
Segundo Motta e Aguiar (2012), a sustentabilidade deve estar presente em todas
as fases do ambiente construído, sendo elas: (I) idealização; (II) concepção; (III)
projeto; (IV) construção; (V) uso; (VI) manutenção; (VII) final de vida útil.
21
2.2.1. Idealização
É a fase necessária para que haja o planejamento de todas as etapas
posteriores, minimizando possíveis impactos que venham a ocorrer. Deve haver a
coleta de informações sobre o ambiente onde o empreendimento será construído,
observando sua fauna, flora, presença de lençóis freáticos ou cursos d´água e
comunidades que ali residem.
2.2.2. Projeto
Importantes decisões são tomadas nessa etapa, como a definição do produto a
ser construído, a especificação dos materiais e componentes que serão utilizados e as
técnicas sustentáveis que vão ser implantadas no empreendimento, afim de assegurar
fatores como conforto térmico, baixo consumo de energia, reutilização de água, entre
outros.
Essa escolha afeta diretamente o consumo dos recursos naturais e energia,
determina a modificação do espaço no entorno da obra (cortes, aterros, inundações),
além de determinar os impactos estéticos e urbanos mais amplos.
A determinação de materiais e técnicas deve ser feita por profissionais do ramo
que busquem se manter atualizados sobre as novidades do mercado e que tenham
plena consciência das características de cada elemento. Materiais mal empregados ou
especificados erroneamente para uso, acabam gerando maiores gastos, prejudicando
a durabilidade e podem chegar ao extremo de causar patologias incuráveis.
2.2.3. Construção
É na etapa da construção que ocorre a maior parcela de geração de resíduos,
em grande parte pelas perdas dos processos construtivos ainda não otimizados.
A sustentabilidade deve estar presente nessa fase em diversos aspectos desde
o emprego de métodos construtivos mais eficientes, uma melhor gestão de resíduos
gerados e em todas as outras etapas de obra desde a montagem do canteiro,
utilização de maquinários, escolha da mão-de-obra, consumo de água, eletricidade,
emissão de poluentes, impactos na vizinhança, entre outros.
22
2.2.4. Uso
É na fase de utilização que resultados como a redução do uso de energia ou
água previstos no projeto, com foco na sustentabilidade, poderão ser mensurados
pelos utilitários, comprovando ou não aquilo que foi prometido.
Nessa fase se mantém a necessidade de realizar uma boa gestão dos resíduos
gerados, podendo fazer uso de um sistema de coleta de lixo que permita a triagem de
materiais descartados, possibilitando a reciclagem.
2.2.5. Manutenção
Essa etapa consiste na busca da manutenção do edifício de forma a mantê-lo
no seu estado original. Tem também como objetivo diminuir os impactos na
comunidade, reaproveitar materiais e evitar demolições.
Para se fazer a manutenção dos sistemas hidráulicos, elétricos, de
condicionamento de ar e aquecimento de água, é importante que na fase de projeto
seja considerada a facilidade de acesso a estes sistemas.
2.2.6. Demolição
Ocorre principalmente quando a vida útil da edificação chega ao fim. Para que
haja uma demolição de forma sustentável, opta-se pela desmontagem controlada, que
ao contrário dos métodos tradicionais que fazem uso de muita mão de obra e grande
quantidade de maquinário e explosivos, ela é mais mecanizada e específica,
proporcionando maior produtividade, segurança para os operários e elimina abalos e
vibrações, não danificando a estrutura remanescente.
Na demolição convencional a edificação é demolida praticamente sem distinção
dos seus elementos. Já no processo controlado, o trabalho é feito em segmentos e os
elementos são separados, assim há o maior aproveitamento dos materiais da
demolição, minimizando o desperdício dos resíduos e evitando que o material
demolido seja descartado de qualquer maneira em aterros.
Essa técnica também é utilizada para a passagem de instalações elétricas e
hidráulicas, modificações estruturais, obras de retrofit, entre outros.
23
2.3. A adesão do conceito da sustentabilidade no mercado da construção
civil no Brasil
Os conceitos de sustentabilidade na construção civil chegaram ao Brasil com
algum atraso. Somente no ano de 2000 que o Departamento de Engenharia de
Construção Civil da Escola Politécnica da USP organizou um evento denominado CIB
Symporium on Construction and Environment – theory into practice. Esse encontro,
pode ser considerado o marco inicial da preocupação sobre a construção sustentável
no Brasil, servindo como um alerta para que diversos setores da indústria, que até
então consideravam a sustentabilidade como modismo dos países ricos, começassem
a querer investir em pesquisas na área.
Nele foi apresentada uma proposta de sustentabilidade na construção civil no
Brasil que deveria ser adotada por todos os segmentos da indústria e pelo governo,
que incluía: (I) Redução das perdas dos materiais de construção; (II) Aumento da
reciclagem de resíduos como materiais de construção; (III) Eficiência energética nas
edificações; (IV) Conservação de água; (V) Melhoria na qualidade do ar interno; (VI)
Durabilidade e manutenção; (VII) Redução do déficit de habitações, infraestrutura e
saneamento; (VIII) Melhoria da qualidade do processo produtivo. Pelos pontos
apresentados, nota-se que a melhoria na qualidade de vida se estendia à toda a
população. (M.JOHN, 2016, O Desafio da Sustentabilidade na Construção Civil, 3°ed.
São Paulo, Edgard Bluncher Ltda)
Outros eventos ocorreram ao longo dos anos sobre essa problemática, como o
primeiro Encontro Nacional de Edificações e Comunidades Sustentáveis, em 2001 e o
Encontro Nacional de Tecnologia do Ambiente Construído da Associação Nacional de
Tecnologia do Ambiente Construído (ANTAC), em 2004. Mas foi só em 2007, que foi
construído o Conselho Brasileiro de Construção Sustentável (CBCS), uma entidade
que tem como objetivo contribuir para a geração e difusão de conhecimento e de boas
práticas de sustentabilidade na construção civil, atuando através de comitês temáticos
como da água, da energia e de materiais.
Ao mesmo tempo, começou a se difundir a cultura de certificação dos green
buildings no país, devido a influência do exterior. Selos de outros países como o norte-
americano LEED e o Alta Qualidade Ambiental (Aqua-HQE), de base francesa,
começaram a atuar no Brasil. Essas certificações foram desenvolvidos baseadas nas
24
políticas de seus países de origem, portanto possuem certas limitações no mercado
local e geram a necessidade da contratação de consultorias.
Entretanto, não foram só certificações estrangeiras que passaram a ser utilizadas.
Entidades brasileiras tiveram a iniciativa de criar selos nacionais como a Caixa
Econômica Federal, que lançou o Selo Casa Azul de Construção Sustentável,
desenvolvido especificamente para o mercado brasileiro e oferecido gratuitamente a
empreendedores clientes da entidade.
2.4. Os certificados ambientais e o estímulo à competitividade
Uma estratégia competitiva pode ser definida como a maneira pela qual a
empresa irá atuar, quais são suas metas e quais políticas serão necessárias seguir
para alcançar seus objetivos.
Assim, o novo contexto econômico caracteriza-se por uma postura rígida dos
clientes voltada para uma pegada ambiental, tanto em pequenas ações no seu dia-a-
dia, quanto na busca pela interação com organizações que sejam éticas e com
responsabilidade ecológica. Fato que pode ser comprovado pela pesquisa do Ibope,
2007 na figura à seguir, que mostra que a preservação do meio ambiente se trata da
segunda maior preocupação tanto para empresários, na hora de definir prioridades da
política da empresa, quanto para consumidores, quando opinam sobre o que eles
acreditam que uma empresa deve prezar para ter um bom funcionar.
Figura 2: Pesquisa “Sustentabilidade hoje ou amanhã?”
Ibope, 2007
25
Dessa forma, com as mudanças nos padrões de consumo, as certificações
ambientais constituem em uma oportunidade estratégica para a empresa agregar valor
à sua imagem, valorizar seus ativos imobiliários e se diferenciar dos seus
concorrentes.
Essa mudança vai muito além, pois para que haja um produto final sustentável,
toda a cadeia produtiva deve ser modificada e adaptada, desde a mentalidade voltada
para a sustentabilidade de técnicos, engenheiros, arquitetos e os demais profissionais
do ramo, até o cumprimento de determinadas regras ambientais por todos os
empreiteiros e fornecedores de materiais.
Muitas vezes, fazer uso de auto declarações ambientais gera economia de
custos, mas com a adoção de certificações, é possível garantir um plano estratégico
ambiental de longo prazo, uma vez que o consumidor tem acesso à informação e pode
acompanhar o que foi prometido pela empresa através de parâmetros como a redução
da conta de condomínio e economia de água e luz.
Não que um produto que não esteja rotulado signifique necessariamente ser
danoso ao meio ambiente, mas a diferenciação ambiental não estará comprovada
frente a um mercado que passa a exigi-la. Assim, diferentes tipos de selos podem ser
identificados como: (I) selos ambientais baseados na análise do ciclo de vida e
critérios múltiplos; (II) selos ambientais relativos a um atributo em particular; (III) selos
baseados na análise do ciclo de vida, mas sem critérios; (IV) selos mandatórios
(exigidos por lei). (Pinho Nascimento, “A certificação ambiental como instrumento para
a competitividade econômica e o desenvolvimento sustentável”,2015)
Além de tratar-se de uma estratégia competitiva, a busca pela certificação
ambiental de empreendimentos se dá pelos, ainda modestos, incentivos fiscais
oferecidos pelo governo. O melhor exemplo em vigor, desde 2012, é o selo Qualiverde
do Rio de Janeiro, que oferece incentivos como concessão de descontos para alguns
tributos municipais, isenção/desconto de Imposto Predial e Territorial Urbano durante a
obra, isenção/desconto no Imposto de Transações de Bens Imóveis ao adquirente final
e desconto do IPTU após o Habite-se. O selo funciona como um sistema que verifica o
cumprimento de diversas ações sustentáveis voltadas para a gestão da água,
eficiência energética, desempenho térmico e projeto, e à elas são atribuídos pontos,
devendo somar no mínimo 70 para garantir a certificado.
26
Para tanto é preciso que se criem todas as condições para facilitar o processo,
suprindo dados, desenvolvendo e disseminando indicadores e tornando transparentes
os procedimentos. Isso pode ser realizado por meio de práticas centradas na
educação ambiental que garantam os meios de criar novos estilos de vida e
promovam uma consciência ética que questione o atual modelo de desenvolvimento,
marcado pelo caráter predatório e pelo reforço das desigualdades socioambientais.
2.5. A certificação LEED e a busca por construções mais
sustentáveis
2.5.1. Aspectos históricos
O LEED é um sistema internacional de certificação e orientação ambiental para
edifícios e comunidades utilizado em mais de 160 países, que foi elaborado pelo U.S.
Green Building Council (USGBC), em 1998, e é reconhecido internacionalmente pelo
incentivo à implantação de estratégias de alta performance ambiental e eficiência
energética de edifícios. Os projetos que buscam o LEED devem ser registrados no
Building Certificate Institute (GBCI), organização credenciada pelo USGBC e
responsável pelo processo de análise e certificação. A abrangência de países em que
a GBCI atua é vista na Figura 3. (GBC BRASIL, 2018)
Figura 3: Abrangência do World Green Building Council
Fujihara, 2012
27
O LEED já é considerado como a principal ferramenta de construção
sustentável no mundo, pois segundo dados da GBCI (2018), é a única que a cada 15
minutos um novo empreendimento é registrado e que a cada 20 minutos uma
certificação é concluída, ao redor do mundo. Um dos principais fatores desse sucesso
se dá pelo desenvolvimento de uma nova versão LEED em uma periodicidade que
varia de 2 a 4 anos, de forma a igualar os padrões técnicos do mercado de
construções sustentáveis com a tecnologia vigente. (GBC BRASIL, 2018)
A versão pioneira do certificado, chamada de LEED 1.0, foi lançada nos
Estados Unidos e certificou 20 edifícios. O LEED 2.0 foi criado no ano de 2000, dando
origem à uma versão totalmente diferente da primeira, mais focada no sistema
operacional do edifício. (ZALDINI, “LEED-NC como sistema de avaliação da
sustentabilidade: questionamentos para uma aplicação local”, 2007, IV Encontro
Nacional e II Encontro Latino-americano sobre edificações e Comunidades
sustentáveis)
Em 2007, o LEED chegou ao Brasil com a criação do Green Building Council
Brasil (GBCB), órgão não governamental vinculado ao USGBC, cujos objetivos podem
ser vistos na figura à seguir, após o primeiro pedido de certificação no país.
Figura 4: Missão GBC Brasil
Fujihara,2012
28
No mesmo ano, o primeiro certificado emitido foi para a agência do Banco Real
na Granja Viana, São Paulo.
Figura 5: Primeira certificação LEED no Brasil
http://archive.iclei.org, 2010
Em 2009, foi lançada a versão LEED 3.0, com mudanças na estrutura
relacionadas à questões regionais estabelecidas pelo USGBC. Por fim, uma nova
versão LEED v4, entrou em vigor para projetos desenvolvidos a partir de Outubro de
2016, aumentando o rigor técnico, ampliando os setores de mercado capazes de usar
a certificação e evoluindo a clareza, usabilidade e funcionalidade dos sistemas de
classificação. Mais adiante, será apresentado na análise prática, uma edificação
multifamiliar, inaugurada em 2018, mas que foi certificada pelo LEED v3 (2009).
2.5.2. LEED v4 (2013)
Quando um empreendimento adquire o certificado LEED, ele possui a
confirmação de que sua construção foi projetada e executada adotando estratégias
que enfatizam a busca pela redução dos impactos causados pela construção civil ao
meio ambiente, durante todas as etapas de construção.
Segundo a LEED v4, o processo de certificação está disponível para diversos
tipos de projetos existentes no mercado, classificando-os de acordo com o seu tipo de
construção: (I) LEED Building Design and Construction; (II) LEED Homes; (III) LEED
Existing Buildings; (IV) LEED for Interior Design and Construction; (V) LEED for
29
Neighborhood Development; e sua utilização: (I) Core & Shell; (II) New Construction;
(III) For Schools; (IV) Retail; (V) Healthcare; (VI) Data Centers; (VII) Hospitality; (VIII)
Warehouses . A listagem das tipologias existentes, bem como suas apresentações se
encontram no Quadro 2.
30
Quadro 2: Tipologias LEED v.4
continua
continuação
Envoltória e Estrutura Principal: é destinado para edificações que
terão seus espaços internos futuramente comercializados.
LEED Core &
Shell
( I ) LEED Building Design and Construction (BD + C)
Fornece parâmetros para construir um edifício que considere a sustentabilidade o foco,
maximizando os benefícios de cada aspecto sustentável
LEED Retail
Lojas de Varejo: reconhece as diferentes necessidades e
características de uma loja de varejo, quando comparada a uma
edificação comercial.
Novas construções e Grandes Reformas: destinado a edificações
que serão construídas, ou passarão por reformas.
LEED New
Construction
Escolas: cria ambientes escolares mais saudáveis e confortáveis,
possibilitando melhor desempenho dos alunos e corpo docente.
LEED for
Schools
Especialmente feito para atender as necessidades de um edifício
com alta densidade de equipamentos de computação como racks de
servidores.
Para hotéis, motéis, pousadas e outras empresas dentro da indústria
de serviço que forneça alojamento de curto-prazo, com ou sem
alimentação.
LEED Hospitality
Galpões e centros de distribuição: melhorar a eficiência de edifícios
usados para armazenar mercadorias, produtos manufaturados,
matérias-primas ou pertences pessoais.
LEED
Warehouses
LEED for
Healthcare
Hospitais: engloba todas as necessidades de um hospital, muito
distintas das de uma construção comercial.
( II ) LEED Homes
Voltado exclusivamente para residências visando o bem estar não somente da
comunidade e do meio ambiente mas, principalmente do agente de uso, ou seja o
proprietário que viverá e será impactado pelo produto final.
Projetado para casas unifamiliares e edifícios multifamiliares entre um e três andares.
LEED Homes
and Multifamily
Lowrise
LEED Multifamily
MidriseProjetado para construções multifamiliares de quatro a oito andares.
LEED Data
Centers
31
Adaptado GBC Brasil, 2018
Uma vez enquadrado em uma tipologia, o projeto que almeja a certificação
deverá garantir o cumprimento de medidas sustentáveis pré-definidas, que variam de
acordo com categorias. Essas medidas se dividem em pré-requisitos e créditos. Pré-
requisitos são ações obrigatórias para qualquer empreendimento que busca a
certificação, portanto o não cumprimento de qualquer um deles inviabiliza a obtenção
do certificado. Por outro lado, os créditos são ações que o LEED sugere para que o
empreendimento consiga uma melhor performance de desempenho nos quesitos.
Por tratar-se de um sistema de pontuação, os pontos são obtidos à medida que
créditos e pré-requisitos são aplicados e pleiteados, podendo alcançar um máximo de
110 pontos. Assim, a certificação foi dividida em quatro classificações que variam de
acordo com a pontuação, segundo a Figura 6.
Criado para projetos com escala de bairro que estão na fase de
planejamento ou até 75% construído. Ajuda incorporadores à
financiar o projeto e à convencer possíveis futuros inquilinos.
Criado para projetos com escala de bairro que estão próximos do
final da execução ou que foram terminados nos últimos três anos.
LEED Built
Project
LEED Plan
( IV ) LEED for Interior Design and Construction (ID+C)
Voltado para o interior da construção garantindo benefícios como uma melhor
iluminação natural e um ambiente mais arejado, tornando os utilitários mais produtivos e
saudáveis.
É utilizado em Interiores Comerciais, lojas de varejo e hospedagem.
( III ) LEED Existing Buildings – Operation and Maintance (O+M)
Operação e manutenção de edifícios existentes: ajuda a maximizar a eficiência da
operação e minimizar custos e impacto ao meio ambiente. É utilizado também em data
centers, centros de distribuição, hotéis, escolas e lojas de varejo.
( V ) LEED for Neighborhood Development (ND)
Foi criado para inspirar e ajudar a criar bairros melhores, mais sustentáveis e melhor
conectados. Olha para além da escala dos edifícios, considerando comunidades
inteiras.
32
Figura 6: Classificação LEED de acordo com pontuação
GBC Brasil, 2018
Vale ressaltar que na versão v.4, a pontuação foi redistribuída de forma a
priorizar ações relacionadas com os seguintes temas, em ordem de importância:
mudanças climáticas (35%), saúde (20%), recursos hídricos (15%), biodiversidade
(10%), recursos naturais (10%), economia verde (5%) e comunidade (5%). (GBC
Brasil, 2017)
As categorias foram definidas pelo LEED de forma a identificar melhor os
métodos de avaliação de cada tipologia, garantindo a análise do empreendimento
segundo principais áreas.
A seguir serão descritas as categorias das versões v.2009 e v.4, como citadas
no Quadro 3, dando um enfoque nos créditos e pré-requisitos da tipologia LEED Core
& Shell de forma a fazer um comparativo entre as duas versões.
Quadro 3: Categorias LEED v.2009 e v.4
Versão v.4 Localização e Transporte (LL)
Sustentabilidade do Sítio (SS)
Gestão de Água (WE)
Energia e Atmosfera (EA)
Materiais e Recursos (MR)
Qualidade do Ar Interno (IEQ)
Inovação e Design (ID)
Créditos Regionais (RC)
Versão v.2009 Sustentabilidade do Sítio (SS)
Gestão de Água (WE)
Energia e Atmosfera (EA)
Materiais e Recursos (MR)
Qualidade do Ar Interno (IEQ)
Inovação e Design (ID)
Créditos Regionais (RC) Adaptada GBC BRASIL, 2018
33
2.5.2.1. Localização e Transporte (LL)
Trata-se de uma nova categoria implementada no LEED v.4, que tem como
objetivo estimular projetos que considerem o acesso a pé e o transporte público e que
aproveitem ao máximo práticas relacionadas a diminuição dos impactos no transporte
urbano.
A categoria é composta por 7 créditos e nenhum pré-requisito, como pode ser
visto na Tabela 1.
Tabela 1: Créditos da categoria Localização e transporte v.4
Adaptada GBC Brasil, 2018
2.5.2.2. Sustentabilidade do Sítio (SS)
É a categoria voltada para a localização e o terreno, que abordam
preocupações ambientais relativas ao local do edifício, dando enfoque a integração do
projeto com os ecossistemas locais e regionais.
Como pode ser analisado na tabela 2, devido à criação da nova categoria
Localização e Transporte, diversos créditos ligados ao tema do acesso urbano que
ficavam na categoria Sustentabilidade do Sítio na v.2009 não estão mais na v.4,
reduzindo o número de pontos possíveis.
Além disso, de acordo com a nova versão, há o estimulo ao incorporador de
avaliar as características do terreno e suas condições de exposição antes do início do
projeto. Devem ser levantadas condições topográficas, hidráulicas, climáticas, o tipo
de solo, uso e ocupação humana e comunidades vulneráveis próximas ao terreno.
Pontuação
crédito 2
crédito 3
crédito 6
crédito 6
crédito 1
crédito 1
crédito 1
20
Localização e Transporte
Versão v.4
Densidade ao redor e seus usos
Acesso ao trânsito de qualidade
Veículos verdes
Redução de estacionamentos
Facilidade do uso de bicicletas
TOTAL
Proteção de áreas sensíveis
Sítios de alta prioridade
34
Tabela 2: Créditos da categoria Sustentabilidade do Sítio v.4 x v.2009
Adaptada GBC Brasil, 2018
2.5.2.3. Gestão de água (WE)
Esta categoria encoraja o uso de critérios e tecnologias que reduzem o volume
de água potável consumida pelo empreendimento. As medidas adotadas devem levar
em consideração tanto o uso quanto o descarte de água, promovendo a implantação
de práticas mais eficientes no sistema de distribuição.
Uma grande mudança da versão 4 se encontra nessa categoria, pois ela passa
a enxergar que a água está conectada a todos os sistemas de construção e todos eles
são afetados por ela, por isso, a partir de agora, será considerado o uso da água como
Pontuação
pré-req -
crédito 1
crédito 2
crédito 1
crédito 3
crédito 2
crédito 1
crédito 1
11
Pontuação
pré-req -
crédito 1
crédito 5
crédito 1
crédito 6
crédito 2
crédito 3
crédito 2
crédito 1
crédito 1
crédito 1
crédito 1
crédito 1
crédito 1
crédito 1
crédito 1
28
Efeito ilha de calor: Não cobertura
Efeito ilha de calor: Cobertura
Redução da poluição luminosa
Manual do locatário: Diretrizes de projeto e construção
TOTAL
Sustentabilidade do Sítio
TOTAL
Diretrizes de projetos e proteção de inquilinos
Versão v.4Prevenção da poluição devido à construção
Gestão de águas pluviais
Redução das ilhas de calor
Redução da poluição luminosa
Versão v.2009Prevenção da poluição devido à construção
Escolha do terreno
Desenvolvimento de densidade e conectividade com a comunidade
Avaliação do local
Desenvolvimento do sítio - proteger e renovar o habitat
Área livre de construção
Recuperação da área degradada
Transporte alternativo: Acesso ao transporte público
Transporte alternativo: Bicicletário e vestuário
Transporte alternativo: Veículos eficientes e de baixa emissão
Transporte alternativo: Capacidade de estacionamento
Desenvolvimento do sítio - proteger e renovar o habitat
Desenvolvimento do terreno: área livre de construção
Projeto de drenagem pluvial: Controle de quantidade
Projeto de drenagem pluvial: Controle de qualidade
35
um todo, mensurando os processos do interior e exterior da edificação, incluindo
instalações, sistema de ar condicionado e sistema de irrigação. Essa mudança fica
clara de acordo com os pré-requisitos citados na Tabela 3.
Para cumprir a redução do uso externo da água, é necessário mostrar que a
paisagem não precisa fazer uso de um sistema de irrigação permanente além de um
período de 2 anos ou deve haver diminuição de pelo menos 30% do consumo com a
irrigação. Já para a redução do uso interno, é necessário diminuição de 20% a partir
da baseline.
O controle da medição de água no edifício é feita pela instalação obrigatória de
hidrômetros e através da permissão de acesso aos dados de consumo, por um
período de 5 anos, pelo USGBC.
Tabela 3: Créditos da categoria Gestão da água v.4 x v.2009
Adaptada GBC Brasil, 2018
2.5.2.4. Energia e Atmosfera (EA)
Seu principal foco é voltado para medidas que reduzam o consumo de energia
necessária para um empreendimento realizar suas operações, além de controlar o
desempenho do sistema e garantir a não utilização de gases nocivos à saúde.
A eficiência energética em um prédio verde começa com o foco no design que
reduz as necessidades energéticas globais, como a orientação do edifício, a seleção
Pontuação
pré-req -
pré-req -
pré-req -
crédito 2
crédito 6
crédito 2
crédito 1
11
Pontuação
pré-req -
crédito 2 a 4
crédito 2
crédito 2 a 4
10TOTAL
Redução do uso de água potável - 20%
Eficiência do uso de água para paisagismo
Tecnologias inovadoras para efluentes
Redução do uso de água potável
Indoor Water Use Reduction
Uso da água da torre de resfriamento
Medição de água
TOTAL
Versão v.2009
Gestão da água
Versão v.4Redução do uso externo da água
Redução do uso interno da água
Medição de água no edifício
Redução do uso externo da água
36
dos vidros e a escolha de materiais de construção apropriados para o clima local.
Estratégias como aquecimento e resfriamento passivo (sem o uso de uso de energia
extrínseca à construção), ventilação natural e sistemas HVAC de alta eficiência em
parceria com controles inteligentes reduzem ainda mais o uso de energia de um prédio
e agregam maior pontuação. (USGBC, 2017)
Esse quesito também sofreu considerável modificação após a v.2009, pois
agora é exigida a instalação de medidores de energia e a permissão de acesso aos
dados pelo USGBC (Tabela 4). Além disso, vale ressaltar a importância dos outros 3
pré-requisitos da categoria: no primeiro, é necessário o desenvolvimento de um plano
de comissionamento, com o objetivo de verificar o bom funcionamento dos sistemas
referentes à economia de energia e incluir ferramentas que aumentem a eficiência
energética, como por exemplo através sistemas de climatização (HVAC) ou o controle
de iluminação natural e artificial; O segundo faz uso de um modelo de simulação
computacional que mensura a eficiência rentável, avaliando o desempenho energético
da edificação em comparação com um projeto-base através de cálculos realizados
utilizando o método da norma ASHRAE 90.1. Requer uma redução no custo anual de
energia de 2%, contra 10% da versão v.2009, mas o modelo de referência e os itens
mandatórios são baseados na versão ASHRAE 90.1-2010, muito mais restritiva que a
usada no modelo anterior (ASHRAE 90.1-2007); Por último, o empreendedor que
reutilizar sistemas de refrigeração já existentes deve identificar os equipamentos que
utilizem CFC e substituí-los. Se o edifício for novo, deve-se utilizar novos sistemas de
HVAC que não funcionem com refrigerantes à base de CFC. Estas medidas visam
reduzir a destruição da camada de ozônio. (USGBC,2018)
O estímulo da redução da demanda de energia nos horários de pico por meio
de programas de controle ou por meio de sistemas de automação capazes de
monitorar o consumo e a medição setorizada das cargas, que representam ao menos
10% do consumo total do edifício, e sua integração do sistema predial também são
importantes créditos da categoria.
37
Tabela 4: Créditos da categoria Energia e Atmosfera v.4 x v.2009
Adaptada GBC Brasil, 2018
2.5.2.5. Materiais e Recursos (MR)
Como citado previamente, a indústria da construção civil é um dos principais
setores responsáveis pela produção de resíduos no mundo, portanto essa categoria
visa reduzir o volume gerado ao mesmo tempo que desenvolve a gestão responsável
dos resíduos e a seleção criteriosa do materiais utilizados no espaço alocado.
Vale ressaltar que trata-se do ponto mais polêmico da certificação v.4, pois dá
foco ao ciclo de vida dos materiais, aumentando a exigência e transparência quanto ás
informações sobre o produto e suas matérias primas, em comparação à versão
anterior (Figura 8). Esse quesito tem imensa importância, pois os materiais utilizados
podem afetar diretamente a saúde dos ocupantes. Dessa forma, para garantir o bem
Pontuação
pré-req -
pré-req -
pré-req -
pré-req -
crédito 6
crédito 18
crédito 1
crédito 2
crédito 3
crédito 1
crédito 2
33
Pontuação
pré-req -
pré-req -
pré-req -
crédito 3 a 21
crédito 4
crédito 2
crédito 2
crédito 3
crédito 3
crédito 2
37
Energia e Atmosfera
Versão v.4Comissionamento e verificação
Desempenho mínimo de energia
Medição de energia do edifício
Gerenciamento fundamental de refrigerantes
Comissionamento aprimorado
Otimização do desempenho energético
Medição de energia avançada
TOTAL
Versão v.2009Comissionamento básico dos sistemas de energia
Energia renovável On-site
Redução da demanda
Produção de energia renovável
Gerenciamento aprimorado de refrigerante
Green Power e compensação de carbono
Comissionamento aprimorado
Energia renovável - Green Power
Otimização de performance energética
Gestão de gás refrigerante - sem CFC´s
Eficiência energética mínima - 10%
Gerenciamento aprimorado de refrigerante
TOTAL
Medição de energia do edifício
Medição e verificação - sub-medição pelo locatário
38
estar antes, durante e depois da obra, a certificação passa a exigir uma Declaração
Ambiental de Produtos (DAP) para todos os materiais, garantindo transparência de
informações, como local de extração e compromissos por parte dos fornecedores, aos
clientes e usuários finais, de forma a permitir uma avaliação do desempenho ambiental
por todos.
Figura 7: Mudança no tratamento da matéria-prima da versão LEED 2009 para a LEED v4
GBC Brasil,2018
Antes essas informações eram auto declaratórias, ou seja, o próprio fabricante
declarada as informações sem que houvesse uma auditoria por fora. O processo de
produção de um DAP funciona em três etapas: (I) definição das regras de acordo com
a categoria do produto; (II) desenvolve-se um estudo de avaliação do ciclo de vida,
analisando todos os processos desde a extração, passando pelo transporte, produção,
instalação, utilização, descarte e reciclagem; (III) elaboração do DAP de acordo com
os resultados das primeiras duas etapas, que só passa a valer como um registro
efetivo após a auditoria por uma terceira parte. Esse processo é conduzido por um
Operador de Programa externo (consultoria especializada) e auditada por uma
certificadora, que garante a transparência e imparcialidade das partes interessadas.
Para que o DAP seja válido na v4, ele deve seguir os critérios listados na figura
à seguir. São três tipos de opções, mas há variação de pontuação entre eles.
39
Opções Documento Escopo N° de
produtos para obter 1 ponto
1 Declaração específica do
produto
ISO 14044 80
2 DAP média do setor industrial
ISO 14025, 14040,14044 e EN
15804 ou ISO 21930 40
3 DAP Tipo III - específica do
produto
ISO 14025, 14040,14044 e EN
15804 ou ISO 21930
20
Figura 8: Tipos de DAP aceitos pela LEED v4
GBC Brasil, 2018
Além disso, nessa edição é obrigatório a elaboração de um Plano de Gestão de
Resíduos de demolição e construção e a opção de se fazer a análise do ciclo de vida
da edificação foi incluída.
À seguir, podem ser visto na Tabela 5 todos os créditos e pré-requisitos da
categoria.
Tabela 5: Créditos da categoria Materiais e Recursos v.4 x v.2009
40
Adaptada GBC Brasil, 2018
2.5.2.6. Qualidade do ar interno (IEQ)
A maioria das pessoas fica boa parte do seu tempo dentro de escritórios, assim
sua produtividade, saúde e qualidade de vida ficam diretamente ligadas à qualidade de
tal ambiente. Desse modo, essa categoria de análise dos empreendimentos para o
LEED foca no cuidado e na preocupação com fatores relacionados com o conforto e
bem-estar dos usuários.
O controle da ventilação no ambiente, o monitoramento da qualidade do ar
interno através do cumprimento das exigências da versão 2010 da ASHRAE 62.1, a
escolha do uso de materiais com baixa emissão de compostos orgânicos voláteis em
tintas, vernizes e selantes e a exigência da elaboração de um projeto acústico eficaz,
são exemplos de práticas que devem ser adotadas no LEED v.4, como pode ser
observado na Tabela 6.
Tabela 6: Créditos da categoria Qualidade do ar interno v.4 x v.2009
Pontuação
pré-req -
pré-req -
crédito 6
crédito 2
crédito 2
crédito 2
crédito 2
14
Pontuação
pré-req -
crédito 1 a 5
crédito 1 a 2
crédito 1
crédito 1 a 2
crédito 1 a 2
crédito 1
13TOTAL
Divulgação e otimização dos produtos de construção - suprimento de matéria-prima
Reúso de materiais
Conteúdo reciclado de materiais
Materiais regionais
Madeira certificada
TOTAL
Versão v.2009Armazenamento e coleta seletiva de resíduos
Reaproveitamento de edifício - paredes, pisos, coberturas
Gestão de resíduos da construção
Divulgação e otimização dos produtos de construção - componentes dos materiais
Gerenciamento de resíduos de construção e demolição
Materiais e Recursos
Versão v.4Armazenamento e coleta de resíduos recicláveis
Planejamento do gerenciamento de resíduos de construção e demolição
Redução do impacto do ciclo de vida
Declaração de produtos ambientais
41
Adaptada GBC Brasil, 2018
2.5.2.7. Inovação e processo de projeto (ID)
Projetos com características de construção inovadoras e estratégias de
construção sustentáveis podem receber créditos por este critério. Inovações no
projeto, participação de profissional certificado pelo LEED, performance excepcional
de sistemas podem garantir pontos extras para melhorar a classificação obtida, de
acordo com a Tabela 7. Vale ressaltar que não houve nenhuma modificação na
pontuação atribuída à categoria na mudança da versão v.2009 para v.4.
Tabela 7: Créditos da categoria Inovação e Design v.4 x v.2009
Pontuação
pré-req -
pré-req -
crédito 2
crédito 3
crédito 1
crédito 3
crédito 1
10
Pontuação
pré-req -
pré-req -
crédito 1
crédito 1
crédito Plano de qualidade do ar interno - duração a construção 1
crédito 1
crédito 1
crédito 1
crédito 1
crédito 1
crédito 1
crédito 1
crédito 1
12
Iluminação natural
Monitoramento do ar externo
Materiais de baixa emissão: compostos de madeira e fibras naturais
Controle interno de produtos quimicos e poluentes
Controlabilidade de sistemas: conforto térmico
Vista
TOTAL
Ventilação adicional
Materiais de baixa emissão: Adesivos e selantes
Materiais de baixa emissão: tintas e revestimentos
Conforto térmico: projeto
Luz natural
Vista de qualidade
TOTAL
Versão v.2009Desempenho mínimo da qualidade do ar interno
Controle do tabaco
Qualidade do ar interno
Versão v.4Desempenho mínimo da qualidade do ar interno
Controle do tabaco
Estratégias aprimoradas de qualidade interna do ar
Materias de baixa emissão
Plano de gestão da qualidade do ar interno
42
Adaptada GBC Brasil, 2018
2.5.2.8. Créditos regionais
A categoria créditos regionais procura incentivar equipes de projeto a se
concentrarem em suas prioridades ambientais locais, incentivando-as a tratarem de
questões ambientais críticas em cada país e em todo o mundo. É possível afirmar que
não houve nenhuma modificação na pontuação atribuída à categoria entre as versões
v.2009 e v.4, como pode ser observado na tabela à seguir.
Tabela 8: Créditos da categoria Créditos Regionais v.4 x v.2009
Adaptada GBC Brasil, 2018
2.5.3. Benefícios da adoção do LEED
Diante do cenário já descrito, em que há a busca por construções mais
sustentáveis, fica evidente como os interesses econômicos se unem aos ambientais
no quesito certificação de empreendimentos, pois apesar do custo da construção ser
de 0,5% a 3% da obra, se considerar somente o processo de certificação, podendo
chegar a 10%, levando em conta materiais, alterações e testes específicos, em média,
a valorização estimada de revenda é de 10% a 20%, além do investimento
proporcionar diminuição de cerca de 9% no custo de operação da vida útil do imóvel,
sendo 30% no consumo de energia, 30% a 50% no consumo de água, 50% na
geração de resíduos e 35% na emissão de gás carbônico. (FUJIHARA, 2012).
Pontuação
crédito 5
crédito 1
6
Pontuação
crédito 5
crédito 1
6TOTAL
Inovação
Profissional autorizado LEED
TOTAL
Versão v.2009
Inovação e Design
Versão v.4Inovação
Profissional autorizado LEED
Pontuação
crédito 1 a 4
4
Pontuação
crédito 1 a 4
4
Prioridade regional: crédito específico
Versão v.2009
TOTAL
Créditos Regionais
Versão v.4Prioridade regional: crédito específico
TOTAL
43
Além disso, um estudo recente da Fundação Getúlio Vargas voltado para
análise de residências com e sem certificação LEED na cidade de São Paulo, liderado
pelo professor Costa (2010), mostrou que independente de outros fatores como
localização e tamanho do imóvel, há a valorização por metro quadrado no aluguel de
4% a 8% dos imóveis certificados, além de que a taxa de vacância neles é de 28,6%
contra 34,1% dos não certificados. Outros benefícios econômicos, sociais e
ambientais, gerados pela certificação de empreendimentos, são descritos no Quadro
4.
Quadro 4: Benefícios certificação LEED
Adaptação GBC Brasil, 2018
2.5.4. Processo de certificação
O processo de certificação LEED acompanha todo o cronograma do
empreendimento, desde a fase inicial da escolha da localização e o desenho do
projeto até a entrega das chaves para o morador. Em geral, há a contratação de
consultorias especializadas no assunto que vão auxiliar a construtora/incorporadora do
empreendimento em todas as etapas. Durante esse processo inúmeros documentos e
taxas devem ser apresentados e pagos para que haja realmente a conclusão da
certificação no pós-obra. O processo pode ser dividido nas seguintes etapas:
44
2.5.4.1. Pré-certificação
Em algumas obras, construtoras e incorporadoras desejam pré-certificar o
empreendimento geralmente, com o objetivo de auxiliar a venda dos imóveis ainda na
planta, uma vez que a certificação em si só é concedida quando a obra estiver
concluída. Para dar início a esse processo, devem ser entregues ao órgão certificador
os seguintes documentos citados no Quadro
Quadro 5: Documentos necessários para a pré-certificação
ENE Consultoria, 2014
2.5.4.2. Registro do projeto junto ao USGBC
A equipe de projeto deve enviar um formulário de registro à USGBC,
declarando o cumprimento dos requisitos mínimos e em seguida, efetuar o pagamento
da taxa de registro que varia de U$900 a U$1.200 de acordo com a categoria da
certificação.
2.5.4.3. Coleta de informações pelo time de projetistas
(I) Cronograma simplificado com início e término das etapas principais de
projeto
(II) Imagens renderizadas da fachada, vistas exteriores, pavimentos tipo e
interiores
(III) Definição da população de projeto
(IV) Plantas e cortes das seções principais do projeto
(V) Tabela com o levantamento das áreas e informações gerais do projeto a
serem encaminhadas para aprovação na Prefeitura
(VI) Planta identificando o LEED Boundary - Limite de Certificação
(VII) Formulário de Escopo de Entrega de Construção – Créditos e pré-requisitos
45
Reunião com a equipe de projeto (arquitetos, engenheiros e projetistas) afim de
identificar quais créditos poderão ser obtidos dentro do tipo de certificação LEED
proposto, realizando as alterações e adequações necessárias.
2.5.4.4. Projeto em curso
A sequência dos pré-requisitos e créditos da certificação LEED é sempre a
mesma: Intent (intenção por trás do pré-requisito ou crédito), Requirements (requisitos
que comprovam o atendimento do intent) e Documentation (documentos que
comprovam o atendimento aos requirements).
Assim, a documentação é variável para cada pré-requisito ou crédito, mas em
resumo, visa atender aos requisitos estabelecidos pela norma. Seja na apresentação
de uma planta com desenhos demarcando as vagas preferenciais de veículos de baixa
emissão, seja apresentando um catálogo técnico comprovando a vazão de um
dispositivo hidráulico, ou mesmo um plano de gestão de resíduos de obra.
Além disso, todas as empresas que forem contratadas para prestar algum
serviço ou fornecer algum material para o empreendimento que está sob auditoria da
certificação, deverá obedecer regras e fornecer documentos pré-estabelecidos de
acordo com a área que atuarão.
2.5.4.5. Envio
Uma vez compiladas todas as informações e documentos necessários, o
projeto é então enviado ao USGBC para ser submetido à análise e revisão.
2.5.4.6. Revisão
O material enviado pode não estar completamente de acordo com o pedido,
portanto, se necessário, o revisor do GBCI pode solicitar algumas informações
adicionais ou maiores esclarecimentos, que devem ser enviados pela equipe de
projeto. Vale ressaltar que em cada revisão de crédito ou pré-requisito é cobrada uma
taxa de aproximadamente U$ 500.
2.5.4.7. Conclusão do processo
Assim que a análise final do material tiver sido concluída,
o projeto então receberá o nível de certificação de acordo com a pontuação. Deve-se
46
considerar um prazo médio de 4 a 6 meses após a conclusão da obra para se obter a
certificação LEED.
2.5.5. Panorama atual brasileiro
Em fevereiro de 2018, a USGBC anunciou o ranking anual dos 10 países com
maior número de projetos LEED, consagrando a 4° posição para o Brasil, com 460
empreendimentos e mais de 14.8 milhões de metros quadrados certificados
espalhados por 25 estados da federação e mais o Distrito Federal.
Dentre os projetos LEED brasileiros, segundo dados da GBC Brasil, é a
tipologia Core & Shell que mais certifica com cerca de 41%, seguida da New
Construction com 34% (Figura 9).
Figura 9: Registros da Certificação LEED por tipologia
GBC Brasil, 2018
São Paulo e do Rio de Janeiro são os estados que mais possuem
empreendimentos certificados, representando 56% e 16%, respectivamente (Figura
10). (GBC Brasil, 2018)
47
Figura 10: Registros da Certificação LEED por Estado
GBC Brasil, 2018
Entretanto, vale ressaltar que apesar de contribuir com apenas 14% das
construções certificadas, nos últimos 5 anos, a região sul apresentou um crescimento
de 46%, ficando muito acima dos resultados obtidos pelos estados do Rio de Janeiro
(28%) e São Paulo (21%). Fazendo um paralelo com os últimos dados do IBGE, o sul
do país contribuiu com 16,2% do PIB nacional, muito distantes do 32,6% do estado de
São Paulo, mostrando assim que a região apresenta um grande potencial no quesito
construções sustentáveis.
Além disso, as construções do sul são as que apresentam maior porcentagem
de certificações Platinum (24%) (Figura 11), garantindo um diferencial de performance
em relação as outras regiões devido aos altos níveis de eficiência e sustentabilidade
que os empreendimentos alcançam. (GBC Brasil, 2018)
48
Figura 11: Presença de certificações LEED Platinum por região
Notícias GBC Brasil
2.5.6. Internacionalização dos processos
A proposta do selo LEED é o estabelecimento de um sistema padrão que
garante níveis de qualidade. Dessa forma, segundo a GBCI, equipes de projeto tem
fácil compreensão das normas ao redor de todo o mundo.
Para garantir o intercâmbio e o desenvolvimento técnico entre países, foi criado
o LEED International Roundtable, formado por 38 organizações representantes de
seus países de origem (Figura 12), em que o LEED está atuando. Cada componente
tem como objetivo auxiliar a USGBC para adaptar a certificação em nível regional e
local, pois eles conhecem a indústria da construção regional, suas práticas e normas.
(GBC Brasil, 2018).
Figura 12: Países representados na International Roundtable
Notícias GBC Brasil,2018
Cada regionalidade possui um Alternative Compliance Paths, que são métodos
alternativos que permitem a flexibilização e aplicabilidade do LEED de acordo com as
individualidades locais, mas que devem ser previamente aprovados pelo comitê
técnico.
49
Assim, após uma rigorosa revisão de leis, normas e práticas locais, muito
discutidas na International Roundtable pela USGBC e membros da GBC na América
Latina, alguns créditos podem ser atendidos de outra maneira devido a dificuldades
dos mercados locais. Os principais créditos com mudanças aprovadas se encontram
no Quadro 6.
Quadro 6: Créditos que sofreram adaptações para o mercado da América Latina
Notícias GBC Brasil, 2018
2.5.7. Dificuldades encontradas na implantação do LEED v.4
O principal desafio para adaptação do mercado brasileiro a essa versão é
quanto aos materiais, pois fornecedores ainda não possuem nem incentivo, nem
facilidades econômicas para garantir a documentação exigida. c
No Brasil, por exemplo, ainda não possui as categorias de produto
desenvolvidas, aumentando o tempo e o custo de elaboração das DAPs.
Além disso, a elaboração de uma boa Avaliação do Ciclo de Vida, com grande
detalhamento, pode fornecer ao fabricante valiosas informações sobre diversas etapas
como onde pode estar ocorrendo ineficiência energética e/ou desperdício de materiais,
indicando dessa forma, reduções nos custos de operação e refletindo no preço final.
Mas para que isso ocorra, é fundamental a busca por uma consultoria que detenha
Em 2012 foi instituida uma Alternative Compliance Path que garante que veículos
classificados com 4 estrelas no programa de Etiquetagem do IBAMA, Nota Verde, fossem
aprovados para o estacionamento preferencial em toda América Latina. Antes, muitos
veículos locais não estavam listados nos guias de classificação de veículos de baixa
emissão.
Crédito 4.3: Transporte Alternativo - Veículos Eficientes e de baixa emissão
Pré-requisito 2: Performance energética mínima
Projetos no Brasil que sejam certificados nível A pelo Programa Brasileiro de Etiquetagem
de Edifícios, para todos os sistemas avaliados (envoltória, sistema de iluminação e sistema
de ar condicionado), podem atender à esse pré-requisito.
Crédito 6: Potência verde
Projetos na América do Sul podem utilizar o Certificado de Energia Renovável brasileiro
como uma alternativa de atendimento ao americano Green-E. Esse programa rastreia a
geração e aquisição de energia renovável no Brasil e certifica a compra voluntária de energia
por meio da geração de Certificados de Energia Renovável.
50
experiência no assunto, as quais são escassas no país e portanto, acarretam em um
alto custo.
Uma vez desenvolvida a ACV, é necessária a preparação do documento do
DAP, em que estará contido o estudo. Nessa etapa também se faz necessário um alto
investimento financeiro com consultorias externas e com a certificadora.
Quando os primeiros fornecedores começarem a realmente implantar o
fornecimento do DAP aos seus compradores, será necessária a adequação dos
demais da classe à essa realidade, pois esse documento traz competitividade,
inovação e pioneirismo aos fabricantes.
Outra questão difícil de ser contornada em grandes centros urbanos, como na
cidade de São Paulo, é a dificuldade de se encontrar bairros que integrem os
princípios de urbanismo sustentável em relação ao transporte público, devido ao
crescimento desordenado das cidades, dificultando assim a pontuação na nova
categoria de transporte.
Por esse e por outros motivos, o LEED v4 é, de fato, um grande desafio para o
mercado brasileiro, mas essencial na concretização de um futuro sustentável.
2.5.8. LEED v4.1
Apesar de ainda recente no mercado e com muitos desafios a serem vencidos
para sua implantação, o LEED v4 já está ficando ultrapassado. O LEED v4.1 em
versão beta é uma realidade. Segundo Ramanujam (2018), CEO da USGBC, o LEED
v4.1 é um passo fundamental para a concretização de edifícios verdes acessíveis à
todos, pois ele possui um referencial atualizado para o mercado de hoje. Essa versão
não se trata de uma mudança completa, portanto sua nomenclatura não é v5 e sim
V4.1.
O primeiro LEED v4.1 a ser lançado foi o O+M para edifícios existentes que
estão sendo reformados. Essa nova versão também pode ser aplicada em interiores
existentes e não apenas em edifícios inteiros como antes. Agora, para que haja um
referencial mais atualizado com o mercado atual, conforme prometido, houve a
simplificação nos requisitos dos créditos, de modo que a maioria dos pontos passaram
a ser baseados em desempenho.
51
Uma novidade desta versão é a interface com a plataforma Arc, que consiste
em uma plataforma tecnológica que oferece ferramentas de classificação dos
empreendimentos divididas em cinco categorias de desempenho: energia, água,
resíduos, transporte e experiência humana, gerando pontuações.
Assim, poderá ser feito o acompanhamento dos projetos em tempo real,
podendo ver o quanto se aproximam da certificação LEED e compara-los com outros
projetos ao redor de todo o mundo. Usuários responsáveis por projetos LEED
(membros da USGBC ou não) poderão ter acesso ao recurso de forma gratuita (Figura
13).
Figura 13: Custos para acessar a Plataforma Arc
Arc ,2018
52
3. Estudo Prático da aplicação da certificação LEED em um
empreendimento residencial multifamiliar
O presente capítulo tem como objetivo apresentar um exemplo real da aplicação
da certificação LEED Core & Shell em um empreendimento residencial. Através desse
estudo será feita a apresentação de práticas adotadas, seus projetos e métodos
construtivos, além de documentos necessários para a auditoria da GBCI.
3.1. Apresentação da empresa
A construção e incorporação desse empreendimento foi realizado pela
conceituada empresa X. Ela atua no mercado desde 1962, quando deu início às suas
atividades em São Paulo, vindo para o Rio de Janeiro somente em 2006 após realizar
a compra de outra empresa, já experiente no mercado carioca.
A X é dividida em duas marcas, sendo XA voltada exclusivamente para
empreendimentos de alto padrão, contando com diferenciais de acabamento e lazer e
XB, uma linha de construções mais acessíveis para todos.
O empreendimento em questão é da marca XA, mas vai além disso: trata-se de
um complexo residencial de extremo luxo, voltado para compradores de alto poder
aquisitivo.
3.2. Apresentação do empreendimento
O condomínio da está localizado no bairro da Barra da Tijuca, na cidade do Rio de
Janeiro, entre a extensa Avenida das Américas e o famoso campo de golfe olímpico
que conta com 18 buracos distribuídos ao longo de 44,5 hectares, cenário das
competições olimpíadas Rio 2016 (Figura 14).
53
Figura 14: Localização do Condomínio R
Google Maps, 2018
Trata-se de um empreendimento residencial multifamiliar com certificação
LEED Core & Shell na versão 2009, em um terreno de 31 mil m², onde estão
localizadas 3 torres com plantas de 4, 5 e 6 suítes, de 266, 381 e 648 m² e coberturas
lineares de até 1308 m², todas com sistema de ar condicionado e aspiração central,
hall social exclusivo, portas de entrada com dimensões especiais e piso e teto
nivelados entre sala e varanda, permitindo total integração entre estes ambientes. Nas
suítes, como pode ser visto na Figura 15, foto do apartamento decorado do
condomínio, um diferencial que aproxima o morador da natureza são as portas e
guarda-corpos em vidro, na fachada, proporcionando uma sensação de varanda.
Figura 15: Aparamento decorado - unidade 801 Bloco 4
Book do empreendimento,2018
54
Além dos 121 apartamentos, o condomínio possui uma imensa infraestrutura
desportiva e de lazer como quadras de squash, tênis, vôlei, piscina com raia, piscina
recreativa indoor e externa, salão de festas, espaço gourmet, brinquedoteca, entre
outros (Figura 16).
O projeto paisagístico foi desenvolvido afim de capturar a magnifica paisagem
ali existente, dando vida a riachos, espelhos d´água, lagos com peixes propícios à
região e mais de 300 árvores e palmeiras ao longo da alameda central.
Figura 16: Área de lazer condomínio R
Book do empreendimento, 2018
3.3. A pré-certificação – v.2009
Para que ocorresse a pré-certificação do empreendimento previamente à sua
construção, a construtora X contratou a ENE Consultoria, uma empresa que a
auxiliasse desde o início do processo de certificação. Como primeiro passo foi a
necessária a entrega dos seguintes documentos para o órgão certificador:
55
3.3.1. Definição da população de projeto para certificação
A população de projeto é composta pelo número de residentes mais o Full
Time Equivalent (FTE), que representa um ocupante padrão que permanece
trabalhando em um regime de 8 horas/dia no local.
Portanto, neste projeto foram contabilizados os moradores, FTE de staff
domésticos ou funcionários do lar e FTE para staff condomínio ou prestadores de
serviço.
O número de moradores foi definido a partir do número de suítes que compõem
cada apartamento, sendo estabelecido um pessoa por suíte e duas pessoas para a
suíte máster. Desta forma, temos 845 ocupantes como demonstra a Tabela 9.
Tabela 9: Representatividade residentes
Adaptado ENE Consultoria, 2014
Em referência ao grupo denominado staff Domésticos, considerou-se um
funcionário por apartamento, apesar de estarem determinados dois leitos em cada
conjunto (Tabela 10). O fato é que, nem todos os apartamentos obrigatoriamente terão
dois funcionários e nem todos irão permanecer trabalhando durante as oito horas,
deste modo o FTE de domésticos para os aptos que porventura possuírem um número
maior de empregados ou pessoas que irão pernoitar ficará balanceado.
Já para o grupo de Staff Condomínio foi considerada uma porcentagem de 5%
sobre o número total de residentes, o que representa um total aproximado de 10
funcionários por bloco (Tabela 10).
56
Tabela 10: Representatividade staff
Adaptado ENE Consultoria, 2014
Portanto, para fins de cálculo, são totalizados 845 Residentes e 248 Staffs.
3.3.2. Definição do LEED Boundary
Para a correta determinação dos percentuais de área e delimitações de
incidência nos diversos créditos de certificação há a necessidade de demarcar o limite
de certificação do empreendimento.
Por se tratar de um condomínio de edifícios residenciais administrados por uma
única entidade, pode-se garantir a certificação dos blocos utilizando-se de apenas um
LEED Boundary.
A demarcação completa do terreno do empreendimento pode ser vista na
figura a seguir.
Figura 17: Limitação da certificação - LEED Boundary
ENE Consultoria, 2014
57
3.4. Estratégias LEED implementadas no projeto
Seguindo as categorias estabelecidas pelo processo de certificação LEED V.2009,
estão listados à seguir alguns dos principais pré-requisitos e créditos desenvolvidos no
empreendimento e a documentação necessária para a comprovação de cada um afim
de garantir a certificação.
Vale ressaltar que a obra foi entregue em Julho de 2018, portanto a certificação
ainda não foi concedida, apenas a sua pré-certificação. Mas os itens citados são
aqueles que já possuem documentação completa, tiveram o aval da consultoria e
foram enviadas para a auditoria da GCBI, além de serem aqueles os quais o autor
pode acompanhar diariamente, por ter trabalhado na obra nesse período.
3.4.1. Localização e Transporte (LL)
Alguns créditos e pré-requisitos que seriam abordados nessa categoria de
acordo com o LEED v.4, não se enquadraram na mesma pois o empreendimento em
questão foi certificado pela LEED v.2009, a qual não possui a categoria Localização e
Transporte. Portanto, requisitos relacionados a esse assunto foram abordados em
Sustentabilidade do Sítio.
3.4.2. Sustentabilidade do Sítio (SS)
Na Figura 18 são listadas as ações mais importantes submetidas à certificação
no empreendimento da categoria Sustentabilidade do Sítio.
Figura 18: Créditos de SS submetidos ao LEED
Adaptado Scorecard Leed Core & Shell, 2009
Vale ressaltar, como já citado previamente, que a certificação faz exigências
para as empresas contratadas e subcontratadas de acordo com o serviço que ela irá
prestar e sua interferência em cada categoria. Para a categoria Sustentabilidade do
Sítio, as exigências são citadas à seguir no Quadro 7.
58
Quadro 7: Pré-requisitos para contratadas e subcontratadas referentes à categoria
Sustentabilidade do Sítio
Pré-Requisitos Contratações – Sustentabilidade do Sítio
Os contratados deverão respeitar o Plano de Prevenção e Controle da Poluição
Ambiental das Atividades de Construção;
Produtos contaminantes e materiais pulverulentos deverão ser armazenados em
local protegido do contato direto com o solo.
Adaptado Escopo contratações ENE Consultoria,2014
Como previamente estudado na parte teórica, sobre diferenças dos critérios
entre a v.4 e a v.2009 do LEED, pode-se observar que o pré-requisito Prevenção à
Poluição das atividades de construção permanece um pré-requisito da categoria
Sustentabilidade do Sítio, porém os créditos Transporte Alternativo: Acesso ao
transporte Público (6 pontos), Transporte Alternativo: Bicicletário e Vestiário (2 pontos)
e Transporte Alternativo: Veículos Eficientes e de baixa emissão (3 pontos), da
categoria SS na v.2009, passaram para a categoria Localização e Transporte na v.4
para os seguintes créditos, respectivamente: Acesso ao transporte de qualidade ( 6
pontos), Facilidade ao uso de bicicletas (1 ponto) e Veículos Verdes (1 ponto). Com
isso, pode-se concluir que o somatório dos pontos adquiridos com as mesmas
medidas realizadas para a v2009, diminuiria se a v4 estivesse valendo na época.
3.4.2.1. Pré-requisito 1. Prevenção à poluição das atividades de
construção
O LEED tem como pré-requisito a elaboração e implantação um Plano de
Prevenção a Poluição das Atividades de Construção afim de reduzir a poluição
proveniente das atividades de construção, incluindo o controle da erosão do solo, do
assoreamento e sedimentação, da geração e contaminação de resíduos, poeira e
emissões atmosféricas, ocasionados pela atividade de construção do
empreendimento. O controle deve incluir medidas de estabilização de áreas ou solos
modificados e elementos estruturais de controle do escoamento da água e da remoção
de sedimentos (temporário ou permanente), abrangendo ainda a minimização de
impactos ambientais decorrentes da movimentação de máquinas, equipamentos e
veículos no canteiro, vazamentos de produtos químicos, entre outros.
59
Antes do início das intervenções das obras no terreno a construtora X teve que
identificar, em conjunto com a ENE consultoria e demais subcontratados, os aspectos
e impactos ambientais das atividades de construção, como: demolição, escavações,
movimentação de terra, drenagem, fundações, estrutura, etc.
A partir daí, foi desenvolvido o Plano de Prevenção que apresentou
documentos como plantas e desenhos técnicos, especificações detalhadas, instruções
quanto às responsabilidades, cronogramas e inspeções em campo.
No Quadro 8 são descritos alguns exemplos de estratégias do plano realizadas
na obra:
Quadro 8: Estratégias presentes no Plano de Prevenção da obra para garantir o pré-
requisito Prevenção à poluição das atividades de construção
(a) Gestão de Efluentes
Os efluentes pluviais captados pela obra serão
escoados pela rede pluvial. Para evitar o ingresso de
sedimentos na rede de água pluviais, garantiremos a
adoção de sistemas de decantação primários sempre
que necessário. Águas provenientes da lavagem do
escritório, áreas de vivência, etc serão lançadas na rede
coletora de águas pluviais desde que não contenham
substâncias tóxicas ou perigosas, por exemplo:
gasolina, diesel, solventes orgânicos, etc;
(b) Controle das partículas
Controle de partículas suspensas através da irrigação
com mangueira com água proveniente do reuso.
Continua
60
Continuação
(c) Avaliação do Nível de fumaça
Cartão Índice de Fumaça tipo
Ringelmann Reduzido
O veículo, cuja emissão gasosa é proveniente da
queima de derivado de petróleo, deverá ser avaliado
com este parado e o motor sob condições normais de
operação. Será realizado um teste de modo a obter
valores para serem comparados à escala Ringelmann
(escala gráfica para avaliação colorimétrica de
densidade de fumaça, constituída de seis padrões com
variações uniformes de tonalidade entre o cinza claro e
o preto). Para os veículos avaliados, cuja densidade
calorimétrica ultrapassar a No 2 - 40%, e para as
máquinas ou equipamentos, cuja densidade
calorimétrica ultrapassar a No 1 - 20%, da Escala
Ringelmann, serão considerados não conformes, por
não atenderem aos requisitos legais aplicáveis.
(d) Avaliação do ruído gerado no perímetro do Empreendimento
Será utilizado um Decibelímetro para fazer as
Avaliações pontuais pré-estabelecidas, o aparelho
utilizará o sistema de resposta lenta para a realização
das medições. O responsável pela medição deverá
posicionar-se nos pontos pré-estabelecidos sobre o
perímetro da área a ser avaliada
(e) Lava-rodas
Todo caminhão que acessar a obra deverá passar pelo
lava-rodas de forma a não carregar para as estradas
resíduos do canteiro.
61
Adaptado Plano de Prevenção Condomínio R, 2015
A documentação exigida pela GBCI que foi entregue pela obra para a
comprovação desse crédito pode ser vista no quadro à seguir.
Quadro 9: Documentação necessária para auditoria GBCI do pré-requisito Prevenção à
Poluição das atividades de construção
Critérios de sustentabilidade e eficiência energética, ENE Consultoria, 2014
3.4.2.2. Crédito 4.1. Transporte alternativo: Acesso ao
transporte público
Este crédito foi instituído pelo LEED afim de reduzir a poluição e os impactos
gerados pela utilização de veículos, incentivando a utilização do transporte público.
O empreendimento R possui acesso ao transporte público coletivo, com
diversos pontos de ônibus localizados próximos à entrada principal do condomínio,
além de estar em frente a um terminal do BRT. Além disso, o condomínio fica à
poucos metros do Terminal Alvorada, de onde saem diversos ônibus com diferentes
destinos, sendo um dos principais deles o metrô da Barra da Tijuca.
Figura 19: Localização dos acessos ao transporte público próximos ao empreendimento
Google maps, 2018
Item 1
Item 2
Requisitos de certificação e auditoria GBCI:
Desenvolvimento do Plano de Prevenção a Poluição das Atividades de
Construção com as especificações e desenhos/detalhamentos técnicos das
estratégias adotadas. Projeto de meio ambiente do canteiro.
Documentação da implantação das estratégias através de relatórios de
controle e inspeções e registros fotográficos com data.
62
3.4.2.3. Crédito 4.2. Transporte alternativo: Bicicletário e
Vestiário
O crédito 4.2 do LEED tem por objetivo reduzir a poluição e os impactos do
desenvolvimento gerados pela utilização de veículos.
É necessário prover bicicletário seguro para 15% ou mais do total de
moradores e mais 5% do total de ocupantes de serviço localizado a, no máximo, 183
metros da entrada principal do edifício, além de vestiários com chuveiros para 0,5%
dos ocupantes de serviço, equivalentes ao período integral, localizado no edifício ou a,
no máximo, 183 metros de sua entrada principal.
O número de bicicletários e chuveiros nos vestiários do empreendimento R
foram construídos baseando-se no cálculo previamente descrito nos requisitos LEED e
seguindo a ocupação populacional definida (Tabela 11)
Tabela 11: Cálculo da quantidade de Racks e Chuveiros para o empreendimento R
Bicicletário
15% dos moradores 0,15*845 126 racks
3% dos ocupantes de serviço 0,03*248 8 racks
134 racks
Chuveiros
0,5% dos ocupantes de serviço 0,005*248 2 chuveiros
Adaptado Critérios de sustentabilidade e eficiência energética, ENE Consultoria, 2014
Os itens que foram apresentados à GBCI para a comprovação desse crédito
são listados no Quadro 10.
Quadro 10: Documentação necessária para auditoria GBCI do crédito Transporte
Alternativo: Bicicletário e vestiário
63
Critérios de sustentabilidade e eficiência energética, ENE Consultoria, 2014
3.4.2.4. Crédito 4.3. Transporte alternativo: veículos eficientes
e de baixa emissão
Tem por finalidade reduzir a poluição e os impactos do desenvolvimento
gerados pela utilização de veículos, provendo vagas específicas para veículos de
baixa emissão de gases, ou seja, para os carros que utilizam álcool e gás.
O condomínio em análise possui vagas preferenciais distribuídas pelo primeiro
andar de garagem, demarcadas próximas aos acessos da torre do empreendimento,
para veículos de baixa emissão classificados como “A” ou “B” pelo Programa Brasileiro
de Etiquetagem do INMETRO (PBE) e/ou 4 estrelas no Programa Verde do IBAMA.
Para imputar a pontuação desse pré-requisito foi necessária a realização do
item à seguir (Quadro 11).
Quadro 11: Documentação necessária para auditoria GBCI do crédito Transporte
Alternativo: veículos eficientes e de baixa emissão
Critérios de sustentabilidade e eficiência energética, ENE Consultoria, 2014
3.4.3. Gestão de Água (WE)
Na Figura 20 são descritos os créditos e o pré-requisito submetidos ao LEED
pela obra.
Item 1
Item 2
Requisitos de certificação e auditoria GBCI:
Determinação do número de ocupantes (FTE) para determinar o número de
bicicletários e vestiários requeridos para atendimento ao crédito
Desenvolver um detalhamento de projeto indicando a localização do
bicicletário e vestiários indicando a distância entre eles e a entrada principal
Item 1
Requisitos de certificação e auditoria GBCI:
Deverão ser armazenadas as informaçoes sobre o número de vagas do
projeto
64
Figura 20: Alguns créditos e pré-requisitos da categoria WE submetidos ao LEED
Adaptado Scorecard Leed Core & Shell, 2009
Caso a v.4 estivesse valendo ao invés da v.2009, no momento da elaboração
do projeto, as medidas para cumprir o pré-requisito Redução do uso de água potável
juntamente com as do crédito Eficiência do uso de água para paisagismo estariam
agindo para cumprir os novos pré-requisitos Redução do uso interno de água e
Redução do uso externo de água.
Porém, antes da realização de tais ações tiveram que ser feitas algumas
considerações além das necessárias para a pré-certificação, como: (I) Building
Footprint: área de projeção das torres, que será a área de captação das águas
pluviais; (II) Área construída: são todas as áreas cobertas considerando subsolos,
edículas e edificação; (III) Área de vegetação: área que necessitará de irrigação; (IV)
Coeficiente de Runoff: é o coeficiente de escoamento superficial, definido como a
razão entre o volume de água escoado superficialmente e o volume de água
precipitado; (V) Eficiência no tratamento de águas negras e de chuva. A Tabela 12
mostra todas essas considerações citadas e seus respectivos valores.
Tabela 12: Dados gerais para estudo de balanço hídrico
65
Critérios de sustentabilidade e eficiência energética, ENE Consultoria, 2014
No Quadro 12 são definidas quais serão as ofertas e demandas de água de
reuso no condomínio.
Quadro 12: Ofertas e demandas de água de reuso do condomínio R
Adaptado Critérios de sustentabilidade e eficiência energética, ENE Consultoria, 2014
Vale ressaltar que os números encontrados são baseados na construção do
condomínio completo, mas serão duas fases de construção: a primeira, em que foram
entregues 3 torres (blocos 1,3 e 4) em maio de 2018, e a segunda que será construída
em um prazo máximo de 5 anos de uma torre (bloco 2).
Tendo a área de cobertura para coleta da água da chuva (3.540 m²) e o valor
do coeficiente de Runoff (referente ao escoamento superficial em laje
impermeabilizada), juntamente com o índice pluviométrico mensal médio na cidade do
Rio de Janeiro (Tabela 13), foi possível calcular a capacidade de água coletada da
chuva que pode ser ofertada, através da fórmula da Tabela 14.
Descargas dos vasos sanitários dos quatro blocos
Águas negras e cinzas provenientes de vasos sanitários, chuveiros e lavatórios dos blocos 1,2,3 e 4
Captação de água da chuva nos blocos 1,2,3 e 4
Ofertas
Demandas
Irrigação do paisagismo de todo o condomínio
66
Tabela 13: Médias pluviométricas médias para Rio de Janeiro
Climatempo, 2017
Tabela 14: Fórmula para cálculo do volume de captação da água de chuva
Adaptado Critérios de sustentabilidade e eficiência energética, ENE Consultoria, 2014
Com isso, foi calculado o volume potencial mensal de captação de água de
chuva, apresentado com o seguinte gráfico da Figura 21.
Figura 21: Captação mensal da água da chuva
Critérios de sustentabilidade e eficiência energética, ENE Consultoria, 2014
Assim, volume anual acumulado ofertado poderá ser de 3.027 m³.
3.4.3.1. Pré-requisito 1. Redução no uso de água potável – 20%
Esse requisito LEED busca adotar estratégias que resultem na redução de 20%
do consumo de água potável em relação ao projeto base do empreendimento
(excluindo irrigação). O cálculo deverá ser baseado no uso estimado para os
67
ocupantes (FTE) e incluir dispositivos como torneiras, bacias sanitárias, chuveiros,
torneiras de cozinha e sprays de pré-lavagem de utensílios de cozinha.
Foram utilizadas estratégias que resultaram na redução de, no mínimo, 20%
do consumo de água potável em relação ao projeto base do empreendimento
(excluindo irrigação), com base nos valores de consumo.
O consumo do projeto será comparado ao do projeto base que apresenta os
dados de uso diário, vazões e consumos pré-estabelecidos em relação ao consumo
dos dispositivos mais eficientes, de acordo com os dados de referência dos
fabricantes. Essa comparação das vazões entre dispositivos comuns e
economizadores pode ser observada na tabela 15.
Tabela 15: Fluxos dos dispositivos Baseline x Economizadores
Adaptado Critérios de sustentabilidade e eficiência energética, ENE Consultoria, 2014
O cálculo, baseado na estimativa do uso diário dos ocupantes (residentes e
staffs) e de acordo com cada tipo de dispositivo, pode ser acompanhado na Tabela 16.
Tabela 16: Usos diários por tipo de ocupação
68
Adaptado Critérios de sustentabilidade e eficiência energética, ENE Consultoria, 2014
Foram considerados uma ocupação de 365 dias para residentes e 250 para
staffs.
Concluindo, o consumo de água dos dispositivos citados será de,
aproximadamente, 37.499,81 m³/ano ou 103 m³/dia, divididos segundo Tabela 17.
Tabela 17: Consumo de água de acordo com dispositivo
Total m³/ano % total
Bacias sanitárias (sólidos) 7406,925 20%
Torneira de lavatórios 9504,688 25%
Chuveiros 15362,4 41%
Torneira de copa 5225,8 14%
Adaptado Critérios de sustentabilidade e eficiência energética, ENE Consultoria, 2014
69
Utilizando o mesmo cálculo, só que modificando as vazões para os dispositivos
sem economizadores, pode-se chegar no somatório de 57.571 m³/ano, o que acarreta
em uma redução de 35%. Vale ressaltar que apesar dos chuveiros com redução de
vazão representarem a maior economia de água dentre os dispositivos, eles foram os
mais criticados pelos novos morados na hora da vistoria de entrega de apartamento.
Em quase todas as visitas, os proprietários questionaram o porquê da baixa vazão e
alegaram que iriam trocar o dispositivo uma vez que se mudasse.
Para que haja a comprovação da realização deste pré-requisito, foram
necessárias as entregas dos documentos descritos no Quadro 13 para auditoria da
GBCI.
Quadro 13: Documentação necessária para auditoria GBCI do pré-requisito Redução de
água potável
Critérios de sustentabilidade e eficiência energética, ENE Consultoria, 2014
3.4.3.2. Crédito 1. Eficiência no uso da água para paisagismo
A eficiência do uso da água para paisagismo é garantida quando há a redução
ou eliminação do uso de água potável tratada ou proveniente de qualquer outra fonte
natural superficial ou subterrânea disponível próxima ao projeto para irrigação do
paisagismo. São possíveis duas opções para garantir o crédito: (I) Reduzir o consumo
em 50% de água potável para irrigação do paisagismo, tomando por base o volume de
água consumido durante o mês mais crítico do verão (2 pontos); (II) Não utilizar água
potável para irrigação ou não irrigar (2 pontos).
No condomínio R foram definidas espécies nativas ou adaptadas de baixo
consumo de água no projeto, fazendo com que sistema de irrigação fosse
dimensionado para suprir uma demanda mínima do paisagismo. Além disso, o projeto
desenvolvido para o local tem como premissa atrelar a irrigação à captação de água
das chuvas e utilizar um sistema eficiente de zoneamento hídrico e gotejamento,
Item 1
Item 3
Item 4
Item 5
Definir os grupos de consumo
Apresentar planilha de cálculo resumo para atendimento ao crédito
Requisitos de certificação e auditoria GBCI:
Determinar o tipo e número total de ocupantes (FTE)
Apresentar manuais de fornecedores com os dados de vazão e consumo dos
dispositivos e acessórios hidráulicosItem 2
Listar os metais, dispositivos economizadores e acessórios, por tipo e uso
70
garantindo a redução de 50% do consumo e conseguindo atender aos requisitos da
opção 1.
Para garantir o cumprimento da opção 2, foram instalados sensores de
umidade do solo e de chuva que, automaticamente mandam um sinal à controladora
para que não haja irrigação durante o período em que o solo está úmido ou houve
ocorrência de chuvas.
O cálculo do consumo do paisagismo considerará os tipos de espécies
escolhidas, os coeficientes de paisagismo ks (varia de acordo com a necessidade de
água da planta), kd (varia conforme densidade da planta) e kmc (varia com o
microclima), o tipo de irrigação e respectiva eficiência, a evapotranspiração potencial
da localidade e os índices pluviométricos médios para cada mês. O LEED v2009
estabelece que, para a determinação do projeto base, os valores dos coeficientes Ks,
Kd e a eficiência global dos equipamentos de irrigação devem ser fixos como valores
médios, a fim de representar práticas e equipamentos convencionais comumente
utilizados durante a concepção de projetos de paisagismo, compostos por zonas
mistas e sistemas de irrigação tradicionais (Figura 22). Para o projeto base e para o
projeto proposto, o Kmc foi calculado através de análise da radiação e da quantidade
de horas de insolação anual incidente nas áreas demarcadas.
Figura 22: Distribuição das áreas irrigáveis
Critérios de sustentabilidade e eficiência energética, ENE Consultoria, 2014
71
Para fins de cálculo, consideramos: (I) Área de vegetação composta por zonas
mistas: 11.809 m²; (II) Irrigação tipo sprinkler (aspersores): possui eficiência de
irrigação (IE) de 0,625; (III) Evapotranspiração de referência por mês (ETo) são
valores disponibilizados pelo Boletim agroclimático do governo
(http://www.inmet.gov.br, 2018); (IV) Ks = 0,5, segundo Tabela 18 para vegetação do
tipo plantas rasteiras com necessidade média de água;
Tabela 18: Valores do fator das espécies Ks para diversas plantas
The Irrigation Association, 2005 - Landscape Irrigation Scheduling and Water Management
(V) Kd = 1,1, segundo Tabela 19 para vegetação do tipo plantas rasteiras com
densidade alta;
Tabela 19: Valores da fator de densidade Kd para plantas diversas plantas
The Irrigation Association, 2005 - Landscape Irrigation Scheduling and Water Management
(VI) Kmc = 1,2, segundo Tabela 20 para plantas rasteiras com um alto fator de
microclima, pois trata-se de um local rodeado por superfícies que absorvem o calor;
Tabela 20: Valores do microclima Kmc para plantas diversas plantas
72
The Irrigation Association, 2005 - Landscape Irrigation Scheduling and Water Management
(VII) Kl = Ks*Kd*Kmc, o qual é considerado o coeficiente de paisagismo,
responsável por juntar as principais características daquela vegetação em um valor;
(VIII) Evapotranspiração de paisagismo (ETl) = ETo*Kl; (IX) Quantidade necessária de
água para irrigação em um mês naquele local = (Área de vegetação*ETL / IE) x CE.
Assim, a demanda hídrica anual do paisagismo base pode ser observada na Tabela
21.
Tabela 21: Demanda hídrica anual do paisagismo base
73
The Irrigation Association, 2005 - Landscape Irrigation Scheduling and Water Management
Na Tabela 22 é exposto o valor mínimo de redução necessário para o projeto
proposto atender os critérios requeridos pelo crédito.
Tabela 22: Valores mínimos de redução necessário para o projeto proposto para
atendimento aos critérios requeridos pelo crédito
The Irrigation Association, 2005 - Landscape Irrigation Scheduling and Water Management
A seguir, no Quadro 14, encontram-se os documentos necessários para
comprovação do crédito.
Quadro 14: Documentação necessária para auditoria GBCI do crédito Eficiência do uso
da água no paisagismo
74
Critérios de sustentabilidade e eficiência energética, ENE Consultoria, 2014
3.4.3.3. Crédito 2. Tecnologias inovadoras para efluentes
Tem por objetivo reduzir a geração de efluentes e o consumo de água potável
dos sistemas de descarga do empreendimento. Tratar no próprio local no mínimo 50%
dos efluentes provenientes de bacias sanitárias até o nível terciário ou pós-tratamento.
A água tratada deve ser infiltrada no terreno ou reutilizada no próprio local.
Adoção de tecnologias no empreendimento R, como bacias de duplo fluxo,
com 6 litros para o acionamento de sólidos e 3 litros para o acionamento de líquidos
em todos os sanitários apresenta valores de redução de 31,25% na geração de
efluentes. Além destas duas possibilidades de redução, haverá tratamento das águas
negras e cinzas na ETE e abastecimento dos sanitários com uma prumada de água de
reuso, garantindo o nível de tratamento necessário (50% dos efluentes das bacias até
o nível terciário ou pós tratamento) e reuso conforme premissa de atendimento ao
crédito. Do ponto de vista econômico é importante ressaltar que a redução na geração
de efluentes é duplamente benéfica uma vez que reduz o consumo e a conta de água
e consequentemente de esgotos.
No Quadro 15 são listados os documentos apresentados, exigidos pela GBCI
para comprovação do crédito.
Quadro 15: Documentação necessária para auditoria GBCI do crédito Tecnologias
inovadoras para Efluentes
Critérios de sustentabilidade e eficiência energética, ENE Consultoria, 2014
3.4.4. Energia e Atmosfera (EA)
Item 1
Requisitos de certificação e auditoria GBCI:
Elaborar os cálculos de consumo entre o projeto base e o projeto proposto
demonstrando a redução na demanda em 50%
Preparar uma planta do paisagismo demonstrando as rotinas de irrigaçãoItem 2
Item 1
Item 3
Requisitos de certificação e auditoria GBCI:
Determinar o tipo e número de ocupantes - FTE
Apresentar catálogos ou manuais de fornecedores constando as vazões, o
fabricante, o modelo e o tipo de dispositivo utilizadoItem 2
Compilar todas as informações referentes ao sistema de tratamento de
águas pluviais e efluentes, se houver
75
Na Figura 23 são listadas os requisitos mais importantes submetidos pelo
LEED no empreendimento, da categoria Energia e Atmosfera.
Figura 23: Alguns créditos e pré-requisitos da categoria EA submetidos pela LEED
Adaptado Scorecard Leed Core & Shell, 2009
Ao fazer um comparativo com a versão v.4, os pré-requisitos Comissionamento
básico, Eficiência energética mínima e Gestão de gás refrigerante permanecem sendo
obrigatórios na nova versão, mas a norma a ser seguida, a ASHRAE 90.1-2010, se
tornou muito mais rigorosa do que a ASHRAE 90.1-2007, utilizada anteriormente. Já o
crédito Medição e verificação se tornou um item obrigatório na versão mais recente, se
tornando essencial a instalação de medidores.
No Quadro 16 são mostradas algumas exigências para as empresas
contratadas de acordo com o serviço que ela irá prestar e com a sua interferência
nesta categoria.
Quadro 16: Pré-requisitos para contratadas e subcontratadas referentes à categoria
Energia e Atmosfera
Pré-Requisitos Contratações – Energia e Atmosfera
As instaladoras dos sistemas que envolvem o consumo de energia do edifício
deverão respeitar as diretrizes de comissionamento apresentadas pelo contratante.
Durante a execução e antes da entrega para a operação das instalações dos
serviços contratados, a contratada e sub-contratados de sua responsabilidade
deverão ensaiar e testar em campo os respectivos equipamentos e sistema de
instalação, conforme as determinações das normas técnicas da Associação
Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), das normas internacionais aplicáveis às
mesmas (ASHRAE) e do Agente de Comissionamento.
76
Para cada teste e ensaio deverá ser elaborado pela contratada e subcontratados de
sua responsabilidade, um Relatório de Comissionamento específico, informando a
descrição do sistema ensaiado/testado, o método utilizado, os aparelhos utilizados e
os resultados obtidos. No mesmo relatório deve constar data e horário de sua
realização, assim como a assinatura da contratada e dos subcontratados.
Os ensaios e testes das instalações deverão ser acompanhados, sempre que
possível, pelo Representante técnico do cliente ou pelo Agente de
comissionamento.
Cabe ainda a contratada e subcontratados de sua responsabilidade, fornecer ao
cliente todos os manuais de operação e manutenção dos sistemas de energia a
serem comissionados, assim como certificados e laudos técnicos dos equipamentos
desses sistemas.
Os projetos deverão ser seguidos integralmente no intuito de alcançar índices de
redução de consumo de energia expressos na simulação computacional do
empreendimento.
Adaptado Escopo contratações ENE Consultoria,2014
3.4.4.1. Pré-requisito 1. Comissionamento básico dos sistemas
de energia
O objetivo do processo de comissionamento é garantir que todos os sistemas
relacionados à energia estejam projetados, contratados, instalados, testados,
calibrados e tenham o desempenho conforme os requisitos estabelecidos pelo
proprietário, premissas de projetos e os documentos de comissionamento. O processo
de comissionamento deve ser executado para, pelo menos, os seguintes sistemas: (I)
Sistemas de aquecimento, ventilação e exaustão e ar condicionado (HVAC); (II)
Sistema de instalações elétricas; (III) Sistema de iluminação e controles associados;
(IV) Sistema de automação predial.
Para o acompanhamento das etapas de comissionamento, é necessário
entender as seguintes definições: (I) Autoridade de Comissionamento ou Agente de
Comissionamento (CxA): Entidade designada pelo proprietário que lidera, planeja e
define os prazos, alocação de recursos e os requisitos documentais do Processo de
Comissionamento. (II) Bases de Projeto (BoD): Documento que contém os conceitos,
cálculos e dimensionamentos de projeto, decisões de partido e seleção de
equipamentos e produtos adotados para atendimento aos Requisitos do Proprietário e
critérios de projeto estabelecidos e para o atendimento aos requisitos normativos e
77
legais incidentes; (III) Plano de Comissionamento: Documento que detalha o processo
de comissionamento quanto à sua organização, planejamento e prazos e execução
prediais. (IV) Requisitos de Projeto do Proprietário (OPR): Documento escrito que
detalha os requisitos funcionais dos sistemas e as expectativas de uso e operação.
Inclui as metas e objetivos, critérios de aceitação de projetos e instalações.
As Normas que o Plano de comissionamento deverá seguir estão descritas no
Quadro 17.
Quadro 17: Normas do comissionamento
Normas de Comissionamento
LEED Building Design and Construction Reference Guide 2009 Edition;
ASHRAE Guideline 0-2005 - The Commissioning Process;
ASHRAE Guideline 1-1996 – The HVAC Comimissioning Process;
California Commissioning Guide: New Buildings; e
The Building Commissioning Handbook - BCA.
ENE Consultoria, 2014
Para o empreendimento R, como primeiro passo, a ENE Consultoria
apresentou um documento que cita todas as etapas de comissionamento, visando
garantir não só submeter o pré-requisito Comissionamento Básico, como também o
crédito Comissionamento Avançado, como pode ser visto na Figura 24.
78
Figura 24: Fluxograma das atividades de comissionamento durante o projeto,
construção e operação do empreendimento
ENE Consultoria, 2014
79
Essas etapas citadas na Figura 24 são melhor explicadas no Quadro 18.
Quadro 18: Etapas de comissionamento
Adaptada Plano de Comissionamento ENE Consultoria, 2014
O comissionamento básico foi comprovado à GCBI mediante a apresentação
da documentação resultante do cumprimento das atividades listadas no Quadro 19.
Etapa Atividade
2
Revisar e documentar os Requisitos de Projeto do Proprietário quanto à
definições primárias, normas e referências técnicas e descrição narrativa do
sistema
3 Revisar os Requisitos de Projeto do Proprietário e as Premissas de Projeto
4
Desenvolver e implantar o Plano de Comissionamento o qual é único para
cada projeto. Ele deve seguir a seguinte estrutura: (I) Descrição do programa de
comissionamento; (II) Determinar a equipe de comissionamento; (III) Descrição
das atividades do processo de comissionamento; (IV) Cronograma de
Comissionamento CxA
6 Revisão e análise crítica de projetos
Etapa Atividade
1 Análise das cartas convite, escopo e propostas técnicas dos instaladoras
4 Verificação dos requisitos e realização dos treinamentos
6Re-comissionamento dos sistemas após 10 meses de ocupação ou de pelo
menos 80% dos espaços do empreendimento
Verificação da instalação e performance dos sistemas comissionados
(Verificação da instalação, Ensaios de desempenho dos sistemas,Avaliação dos
resultados comparados aos Requisitos para o Empreendimento do Proprietário e
às Premissas de Projeto
2
Gerenciar o desenvolvimento de um manual dos sistemas comissionados para a
futura equipe de administração e operação predial
A Autoridade de Comissionamento deve apresentar os resultados do processo
de comissionamento compilados num relatório, incluindo a confirmação de que
cada sistema atende às exigências dos Requisitos para o Empreendimento do
Proprietário, Premissas de Projeto e Projetos Executivos.
5
3
FASE DE PROJETO
Designar a autoridade de comissionamento, tendo experiência comprovada de
pelo menos 2 projetos anteriores na função de autoridade de comissionamento1
Incorporar os requisitos de comissionamento nos documentos de construção
(plantas, memoriais, procedimentos, etc)5
FASE DE CONSTRUÇÃO
80
Quadro 19: Documentação necessária para auditoria GBCI do pré-requisito
Comissionamento básico
Critérios de sustentabilidade e eficiência energética, ENE Consultoria, 2014
3.4.4.2. Pré-requisito 2. Eficiência energética mínima
A certificação LEED exige uma simulação energética de todo o
empreendimento afim de: (I) Demonstrar redução de 10% no custo anual de energia
do projeto proposto em relação ao baseline para novos empreendimentos; (II) Atender
os itens mandatórios da ASHRAE Standard 90.1-20072; (III) Incluir todos os custos de
energia relacionados ao projeto;
Através de um estudo feito por simulação computacional no programa Whole
Building Energy Simulation, realizado pela ENE Consultoria, e seguindo a metodologia
estabelecida pela ASHRAE Standard 90.1-2007, foi concluído que a eficiência
energética do empreendimento foi 18% mais econômica que a do edifício modelo
(baseline).
Para alcançar tal resultado, foram adotadas algumas medidas e especificações
citadas no Quadro 20.
Item 1
Item 3
Item 4Apresentar os seguintes documentos: OPR, BoD, especificações de
comissionamento, testes e relatórios de comissionamento
Requisitos de certificação e auditoria GBCI:
Apresentar o Plano de Comissionamento atualizado de acordo com as
atividades principais durante as fases de projeto e construção
Apresentar uma listagem completa dos sistemas e itens comissionadosItem 2
Documentação de comprovação de experiência mínima em 2 projetos
81
Quadro 20: Medidas adotas para alcançar a redução do custo anual de energia no
empreendimento
(I) Vidros de controle solar em toda a
envoltória das torres, dos tipos: Laminado
Controle Solar Verde, com fator solar de
34%, transmitância térmica de 5,6 W/m² e
transmissão luminosa de 35%, e o
Laminado Controle Solar Verde Opaco, com
fator solar de 30%, transmitância térmica de
5,6 W/m² e transmissão luminosa de 28%,
valores estes que representam menor
ganho de calor através das áreas
envidraçadas e complementam o nível de
luminosidade próximo às fachadas. (Foto:
fachada do edifício com os vidros de
controle solar)
(II) O nível de eficiência energética do
empreendimento está relacionado
diretamente com o sistema de iluminação.
O controle automatizado da iluminação
interna e externa das áreas comuns permite
a economia de energia e aumento da
eficiência do sistema, durante a operação.
(Foto: sensores de luz para automatização
do sistema de iluminação)
(III) Foi feito uso de coberturas verdes nas
edículas. (Foto: Vista das edículas do
Condomínio R, vistas por cima)
82
(IV) Elevadores com sistema de frenagem
regenerativa, que consiste em um sistema
que reaproveita a energia devolvida pelo
motor do elevador ao invés de desperdiçá-
la em forma de calor. (Foto: cabine do
elevador do Condomínio R.)
(V) A cobertura da edificação apresenta
placas solares de aquecimento que auxiliam
na eficiência energética do empreendimento
reduzindo os ganhos de calor pela
edificação e também o efeito ilha de calor.
(Foto: sistema de placas solares instaladas
nos telhados dos edifícios do condomínio
R.)
(VI) A cobertura da edificação apresenta
uma estratégia de pintura com material de
alta refletância (SRI>78) que auxilia na
eficiência energética do empreendimento
reduzindo os ganhos de calor pela
edificação e também o efeito ilha de calor.
(Foto: Reservatório de um dos edifícios do
condomínio pintado com a tinta Baucryl –
material de alta refletância)
83
Continua
Continua
Critérios de sustentabilidade e eficiência energética, ENE Consultoria, 2014
Devido a sua utilização cada vez mais frequente no mercado de
empreendimentos sustentáveis, segundo a ENE Consultoria, o item (VII) do Quadro 21
será descrito à seguir de forma mais aprofundada.
(VII) Sistema de pré-aquecimento solar, que
fará uma troca de calor com a água fria que
irá abastecer o tanque de acumulação
previsto em cada unidade privativa, o
mesmo é complementado com o
aquecimento a gás proveniente do
aquecedor instalado na área de serviço.
(Foto: aparelho trocador de calor instalado
nas lixeiras nos corredores dos edifícios)
(VIII) O empreendimento oferece a
infraestrutura do sistema de climatização
completa, com sistema de condicionamento
de ar VRF (sistema de ar condicionado
central que opera de maneira mais eficiente
e com maior economia de energia ao ser
comparado com sistemas convencionais).
(Foto: sistema de difusores e frestas de
retorno instaladas em todos os cômodos de
todas as unidades do condomínio)
84
O sistema de aquecimento funciona da seguinte maneira para conseguir
atender todas as unidades do empreendimento: no telhado há dois reservatórios que
compõem um sistema fechado de recirculação, aquecendo a água através da carga
térmica acumulada pelas placas solares. A água quente é direcionada ao trocador de
calor do imóvel, localizado na circulação de serviço do andar. Este equipamento
complementa em 15°C o aquecimento de água da unidade. O reservatório de água
quente do apartamento é abastecido com água fria fornecida pela concessionária (A).
Em seguida, a mesma é encaminhada ao aquecedor de passagem (B), que aquece a
água à temperatura mínima de 45°C (C), indo em seguida ao trocador de calor (D) e
chegando à temperatura final de 60°C (E). Com isto, a água quente está pronta para
ser utilizada nos pontos de consumo (F) e permanece recirculando pelo sistema
hidráulico do apartamento (G). O sistema completo pode ser visto na Figura 25.
Figura 25: Sistema de aquecimento da água através de placas solares
Manual do proprietário, Condomínio R, 2018
Vale ressaltar que é necessária a instalação de um reservatório individual
(Figura 26) em cada apartamento para o armazenamento da água quente, pois
somente com o aquecedor de passagem a quantidade de água oferecida só servirá
85
para abastecer um chuveiro por vez. Porém, o reservatório não é fornecido pela
construtora, obrigando o morador a comprar tal aparelho, que possui um alto custo,
para o perfeito funcionamento do sistema.
Figura 26: Reservatório de água do sistema de aquecimento dentro de um dos
apartamentos
Outro problema relacionado, é que quando empresas terceirizadas vem realizar
a instalação do reservatório individual, por falta de conhecimento e prática, acabam
não fazendo a instalação correta e acabam ocasionando diversos vazamentos no shaft
dos corredores, onde está localizado o trocador de calor.
No Quadro 21 foram citados os itens obrigatórios de apresentação à GBCI para garantir o cumprimento do pré-requisito.
Quadro 21: Documentação necessária para auditoria GBCI do pré-requisito Eficiência
Energética mínima
86
Critérios de sustentabilidade e eficiência energética, ENE Consultoria, 2014
3.4.4.3. Pré-requisito 3. Gestão de gás refrigerante
É proibida a utilização de gás refrigerante à base de CFC (clorofluorcarbono)
nos equipamentos do sistema de condicionamento de ar.
“CONAMA 267/00 - Art. 2º - Fica proibida, a partir de 1º de janeiro de 2001, em
todo o território nacional, a utilização das substâncias controladas constantes dos
Anexos A e B do Protocolo de Montreal nos sistemas, equipamentos, instalações e
produtos novos, nacionais ou importados”
No condomínio R os resfriadores não utilizam refrigerantes à base de CFC,
apenas gases e refrigerantes que minimizam ou eliminam a emissão de componentes
que danificam a camada de ozônio e reduzem o potencial de aquecimento global.
O empreendimento conta com o sistema VRF que é um sistema de ar
condicionado central, semelhante ao Multi Split, que funciona com várias
evaporadoras (unidades internas) e apenas uma condensadora (unidade externa) em
um único sistema de refrigeração.
O ar-condicionado VRF possibilita automação sofisticada, que modula o
funcionamento dos equipamentos conforme a carga térmica demandada pelos
ambientes, operando de maneira mais eficiente e com maior economia de energia ao
ser comparado com sistemas convencionais.
Para os blocos 1 e 3, o tipo de sistema de condicionamento de ar e ventilação
mecânica é o de expansão direta VRF (volume de refrigerante variável), com
condensação ar, enquanto que para o bloco 4, o sistema proposto é do de expansão
indireta VRF, com condensação a água, através de torres de resfriamento, bombas
centrífugas e trocador de placas.
Item 1
Item 3
Item 4Simulação de acordo com o Apêndice G da ASRAE Standard 90.1-2007
apresentando relatório com os custos anuais de consumo de energia
Requisitos de certificação e auditoria GBCI:
ASRAE Compliance - Preparar os formulários de atendimento à ASRAE
Standard 90.1-2007
Determinar a zona bioclimática e o arquivo climático de referência utilizadoItem 2
Listar e calcular o uso final de energia por sistema do baseline e do projeto
proposto
87
3.4.4.4. Crédito 5.1. Medição e verificação – Sub-medição pelo
locatário
Segundo crédito 5.1, deve ser incluso na infraestrutura de medição de energia
do empreendimento uma rede de medição eletrônica possível de ser ampliada para
acomodar medidores nos conjuntos dos locatários.
Assim, as unidades residenciais do projeto contam com medidores
individualizados de consumo de energia dedicados exclusivamente para medição do
consumo privativo de cada proprietário, viabilizando que o custo da energia seja
dividido com base no uso efetivo de cada unidade.
A energia distribuída para cada conjunto é fornecida diretamente pelo busway
e, após passar pelo submedidor, é direcionada para o quadro elétrico de cada
unidade.
Estes medidores individualizados vão além da questão do rateio equitativo do
consumo de energia elétrica, eles também estão diretamente associados à
oportunidades de economia, seja pela utilização de equipamentos mais eficientes e
medidas de eficiência energética, ou seja pelo uso racional dos recursos.
O proprietário contará com recursos que podem auxiliá-lo no controle dos
custos de seu espaço, como por exemplo, exercer o controle de desligamento
automático da iluminação após determinado horário, garantindo que nenhuma
luminária tenha sido deixada acessa sem que houvesse nenhuma ocupação no
espaço.
Após a instalação do condomínio deverá ser definida a forma de rateio do
consumo de energia das áreas comuns.
A seguir encontra-se os documentos entregues à GBCI necessários para
comprovação do crédito (Quadro 22).
88
Quadro 22: Documentação necessária para auditoria GBCI do crédito Medição pelo
locatário
Critérios de sustentabilidade e eficiência energética, ENE Consultoria, 2014
3.4.5. Materiais e Recursos (MR)
Na Figura 27 são listadas os requisitos mais importantes submetidos pelo
LEED no empreendimento R, da categoria Materiais e Recursos.
Figura 27: Alguns créditos de MR submetidos pelo LEED
Adaptado Scorecard Leed Core & Shell, 2009
Vale citar que se o empreendimento estivesse sendo analisado pela versão v.4
da certificação, tanto o já Pré-requisito: Armazenamento e coleta seletiva de resíduos,
quanto o Crédito: Gestão de resíduos da construção seriam obrigatórios.
À seguir, no Quadro 23, são citadas algumas exigências para as empresas
contratadas e suas subcontratadas, de acordo com o serviço que ela irá prestar e sua
interferência nesta categoria.
Quadro 23: Pré-requisitos para contratadas e subcontratadas referentes à categoria
Materiais e Recursos
Pré-Requisitos Contratações – Materiais e Recursos
A contratada deverá destinar os resíduos que forem de sua responsabilidade para
reciclagem, quantificando o total em metros cúbicos (m³) e solicitando declaração do
receptor comprovando o envio para reciclagem. A contratada será responsável pela
triagem interna e destinação correta.
Item 1
Requisitos de certificação e auditoria GBCI:
Decidir de que maneira os locatários serão cobrados pelo uso de energia,
contendo indicação específica de como a energia será medida e os custos
que serão incorridos no condomínio
Definir e documentar de que forma os locatários serão cobrados pelo uso de
energia medida nas áreas comunsItem 2
89
A contratada deverá fornecer equipe própria para remoção de resíduos gerados pela
execução de seus serviços. Quando se fizer necessário ou por solicitação do
contratante, a contratada deverá fornecer material informativo (placa, mural, painel)
sobre o processo de reciclagem de resíduos da obra e os trabalhadores deverão
participar dos treinamentos promovidos pela construtora.
Materiais deverão responder à Declaração Ambiental de Produto informando o
conteúdo de material reciclado em seu produto. A declaração deve ser preenchida
pelo fabricante do produto.
Materiais deverão responder à Declaração Ambiental de Produto informando a origem
da matéria prima utilizada pela fabricação do seu produto. A declaração deve ser
preenchida pelo fabricante do produto.
Componentes de madeira dos equipamentos e instalações deverão ser certificados
pelo FSC (Conselho Brasileiro de Manejo Florestal). O processo de comprovação
deverá seguir a FIMAC – Ficha de inspeção de madeira, apresentada pela construtora.
Adaptado Escopo contratações ENE Consultoria,2014
3.4.5.1. Pré-requisito 1. Armazenamento e coleta seletiva de
resíduos
O Pré-requisito 1 tem como objetivo garantir o fornecimento uma área
facilmente acessível, que atenda todo o edifício, para coleta e acondicionamento de
recicláveis, incluindo, no mínimo, os seguintes materiais: papel, papelão, vidro,
plásticos e metais. Deve ocorrer o desenvolvimento do Plano de Gestão de Resíduos
para o uso do empreendimento. Neste documento deve constar: detalhes de plantas
que indiquem depósitos nos andares (pavimento-tipo), depósito central; perfil de
geração (estimativa) e o programa de comunicação visual e de educação que instrua
os usuários quanto à coleta seletiva.
O projeto arquitetônico do condomínio R prevê uma área de 51m² localizada no
2° subsolo do condomínio (Figura 28) dedicada ao armazenamento temporário para
coleta e triagem seletiva dos resíduos (Figura 29) (resíduos orgânicos, perigosos e
recicláveis).
90
Figura 28: Localização da central de resíduos
Critérios de sustentabilidade e eficiência energética, ENE Consultoria, 2014
As docas de serviço, controle de acessos, depósito de resíduos orgânicos e
recicláveis e as vagas de utilitários estão organizadas conforme figura 29, com uma
rampa de acesso que liga o térreo e o 2° subsolo, de forma a garantir que a logística
de carga e descarga de materiais seja facilitada e não haja contato com outras áreas
do empreendimento.
Figura 29: Contentores herméticos para a coleta seletiva de resíduos do empreendimento
Critérios de sustentabilidade e eficiência energética, ENE Consultoria, 2014
A seguir encontra-se os documentos entregues necessários para comprovação
do crédito (Quadro 24).
Quadro 24: Documentação necessária para auditoria GBCI do pré-requisito
Armazenamento e coleta seletiva de resíduos
91
Critérios de sustentabilidade e eficiência energética, ENE Consultoria, 2014
3.4.5.2. Crédito 2. Gestão de Resíduos da construção
Para estar de acordo com o crédito 2 do LEED deve haver a reciclagem de
detritos de construção e de demolição não contaminados. Além disso, é necessário o
desenvolvimento e implementar um Plano de Gerenciamento de Resíduos de
Construção que, no mínimo, identifique para onde cada material deve ser desviado
para descarte, de acordo com a sua classificação.
Os detritos escavados do solo e do desmatamento não contribuem para esse
crédito.
Em função dos materiais e serviços especificados para a obra, foram
identificados os seguintes resíduos e classificados de acordo com a Resolução
CONAMA 307 segundo Tabela 23.
Tabela 23: Classificação dos Resíduos segundo classes
CLASSE DOS RESÍDUOS RESÍDUOS
A
Cacos de placas cerâmicas
Entulho de alvenaria
Entulho de concreto
Restos de argamassa
Sobras de agregados
Solos escavados
B
Gesso
Madeira
Metais (sucata)
Alumínio (esquadrias, dutos de ar condicionado, etc.)
Cobre (fios, tubos, etc.)
Ferro (grades, grelhas, etc.)
Papel / papelão
Documentos
Sacos de cimento, argamassa
Plásticos
Embalagens diversas
Materiais de instalações (Ex: PVC)
Item 1
Requisitos de certificação e auditoria GBCI:
Preparar documentação que indique em planta as áreas da central de
armazenamento de resíduos do empreendimento e as estações locais de
armazenamento no andares
Elaborar um plano de gestão de resíduos para ser entregue aos ocupantesItem 2
92
Vidros
C
Estopa
Isopor
Lixas
Pedaços de manta asfáltica
Pneus
D
A política adotada no canteiro será a de minimizar/eliminar a geração de resíduos perigosos, tais como sobras de tintas, solventes, aditivos, etc.
Procurar-se-á consumir integralmente ou transferi-los para outra obra para utilização.
Adaptada Resolução CONAMA, 2017
Uma vez classificados em categorias, os resíduos possuem destinos pré-
estabelecidos pela Resolução CONAMA 307.
Os resíduos de classe A que não forem utilizados no próprio lote, em aterros
necessários, serão acondicionados em baias na área interna do canteiro, e
posteriormente, transportados para caçambas estacionarias ou caminhões e daí para
aterros licenciados para receber tais materiais.
Como a Resolução CONAMA 307 estabelece que apenas os resíduos sejam
separados por classe, não sendo obrigatória a segregação dos diversos tipos de
resíduos de uma mesma classe, os resíduos da classe B serão separados em baias
reunindo todos os tipos de material: madeira, plástico, vidro, metais (sucata) e
papel/papelão. Caso sejam identificados interessados em cada um destes materiais,
serão construídas baias especificas para eles.
Os resíduos da classe C serão acondicionados em baias, para acumulação de
volumes capazes de serem recolhidos pelas empresas transportadoras.
Durante as fases de alvenaria e acabamento da obra, os resíduos das classes
A, B e C poderão, a critério do engenheiro da obra, ser deixados no piso de cada
pavimento, acondicionados em pequenas baias ou tambores e, posteriormente,
transportados verticalmente através da prancha (classe B) ou de tubos coletores
(classes A e C) e conduzidos para os locais previstos para o seu acondicionamento.
Quando da ocorrência de resíduos classe D, estes serão acondicionados em
recipientes fechados, preferencialmente usando as próprias embalagens. Estes
recipientes serão colocados em baia coberta com pavimentação impermeável e
93
reutilizados em outras obras da empresa ou descartados quando não for possível sua
reutilização, ocasião em que serão transportados separados dos demais por empresas
licenciadas para este fim pelo órgão ambiental competente.
O lixo orgânico gerado pela obra será acondicionado em contêineres padrão
COMLURB e recolhido pelo serviço de coleta pública.
Além do destino dos materiais ser diferente de acordo com a categoria, a forma
de transporte de cada um deles também é.
O transporte dos resíduos das classes A, B e C será feito por transportador
credenciado pela COMLURB.
Serão exigidos cuidados do transportador no sentido de evitar o
extravasamento de resíduos em vias públicas. No caso de transportadores de
caçambas estacionarias, será obrigatório o uso de lonas ou telas que impeçam a
queda de material durante o transporte evitando o carreamento de sólidos para as vias
públicas, sistemas de drenagem e corpos hídricos.
Durante o carregamento e transporte de resíduos, em especial daqueles da
classe A, serão adotadas medidas para minimizar a poeira gerada, como por exemplo,
o umedecimento do material transportado, evitando a emissão de particulados para a
atmosfera.
A obra, sempre que possível, programará a retirada dos resíduos no horário
onde o barulho da movimentação das caçambas provoque o menor incomodo aos
vizinhos, adotando medidas que reduzam a emissão de ruídos. Será exigida dos
transportadores credenciamento atualizado junto a COMLURB.
O controle do transporte dos resíduos das classes A, B ou C será feito através
do documento "NTR – Nota de Transporte de Resíduos" (Figura 30). Este controle, em
conformidade com a legislação em vigor, contém as informações mínimas
estabelecidas por norma, além da discriminação da classe do resíduo transportado e
da etapa da obra em que foi gerado, dados como Nome, endereço, CNPJ, Número da
licença ambiental das partes envolvidas estas ultimas, exigências especificas da
SMAC.
94
Figura 30: Documento Nota de Transporte de Resíduos
Plano de Gerenciamento de Resíduos de Construção Condomínio R, 2015
No caso dos resíduos da classe D (perigosos), o transporte será feito
obrigatoriamente por transportadores credenciados pelo INEA/FEEMA.
Em conformidade com o estabelecido pela Resolução SMAC 519/2012, em dois
momentos serão emitidos os Relatórios de Implantação e Acompanhamento (Figura
31): inicialmente, quando da conclusão da etapa de preparo do terreno e ao final da
obra, para a concessão do Habite-se. Nesses relatórios, além de constarem a
indicação da classe, quantidade e o destino dos resíduos, serão anexadas as
comprovações da sua destinação final adequada.
95
Figura 31: RIA de reciclagem e descarte de resíduos Plano de Gerenciamento de Resíduos de Construção do Condomínio R, 2015
3.4.6. Qualidade do ar interno (IEQ)
Na Figura 32 são listados os pré-requisitos realizados no empreendimento R e
submetidos ao LEED da categoria Qualidade do ar interno.
96
Figura 32: Pré-requisitos de Qualidade do ar interno submetidos pelo LEED
Adaptado Scorecard Leed Core & Shell, 2009
No Quadro 25 são mostradas algumas exigências para as empresas
contratadas de acordo com o serviço que ela irá prestar de acordo com a sua
interferência nesta categoria.
Quadro 25: Pré-requisitos para contratadas e subcontratadas referentes à categoria
Qualidade do Ar Interno
Pré-Requisitos Contratações – Qualidade do Ar Interno
Todas as equipes envolvidas no processo de construção do empreendimento
deverão tomar conhecimento e atender as diretrizes estabelecidas pelo plano de
controle da qualidade do ar interno da obra.
Tintas, selantes, adesivos, colas e aditivos, entre outros, devem obrigatoriamente
possuir um baixo teor de VOC (Composto orgânico volátil) em g/L.
Adaptado Escopo contratações ENE Consultoria,2014
3.4.6.1. Pré-requisito 1. Performance mínima da qualidade do ar
interno
Deve ser estabelecido o desempenho mínimo da qualidade do ar interno de
forma a melhorar a qualidade do ar no empreendimento e contribuir para o conforto e
bem-estar dos usuários.
O sistema de ventilação mecânica deve se atender os requisitos mínimos das
Seções 4 a 7 da ASHRAE 62.12007 (Ventilation for Acceptable Indoor Air Quality) e
ser projetado com base no Ventilation Rate Procedure da ASHRAE 61.1-2007 ou na
legislação local aplicável, o que for mais restritivo.
O dimensionamento do sistema de ventilação para o empreendimento R
demonstrou o atendimento aos parâmetros de cálculo estabelecidos pela ASHRAE
Standard 62.1-2007 segundo Tabela 24, determinando para cada zona: as taxas de
ventilação de ar externo em função da categoria de ocupação do ambiente, o número
97
de ocupantes, a taxa de ventilação por unidade de área, a área do ambiente e a
efetividade da distribuição de ar.
Tabela 24: Planilha resumo do Ventilation Rate Procedure - Ashrae 62.1–2007
Adaptada Critérios de sustentabilidade e eficiência energética, ENE Consultoria, 2014
Para a auditoria da GBCI sobre esse pré-requisito foram necessários os itens
citados no Quadro 26.
Quadro 26: Documentação necessária para auditoria GBCI do pré-requisito Performance
Mínima da qualidade do ar interno
Critérios de sustentabilidade e eficiência energética, ENE Consultoria, 2014
ZonaCategoria da
ocupaçãoÁrea (sf)
Taxa de ar
livre na
área
(CFM/sf)
Ocupação
(pessoas)
Fluxo de ar externo
necessário (CFM)
Fluxo de
ar ao ar
livre
oferecido
(CFM)
% de
aumento
de
ventilação
Pavimentos 2 e 3 Residencial 2100 0,06 4 146 200 37
Pavimento 4 Residencial 2500 0,06 4 170 300 76
Pavimento 5 Residencial 2500 0,06 4 170 300 76
Pavimento 6 Residencial 2500 0,06 4 170 375 121
Pavimento 7 Residencial 2500 0,06 4 170 375 121
Pavimento 8 Residencial 2500 0,06 4 170 375 121
Pavimento 9 Residencial 2500 0,06 4 170 375 121
Pavimento 10 Residencial 2500 0,06 4 170 375 121
Pavimento 11 Residencial 2500 0,06 4 170 425 150
Pavimento 12 Residencial 2500 0,06 4 170 425 150
Pavimento 13 Residencial 2500 0,06 4 260 425 63
Pavimento 14 Residencial 2500 0,06 4 260 425 63
Pavimento 15 Residencial 2500 0,06 4 260 425 63
Pavimento 16 Residencial 2500 0,06 4 260 425 63
Pavimento 17 Residencial 2500 0,06 4 260 425 63
Pavimento 18 Residencial 2500 0,06 4 260 425 63
Pavimento 19 Residencial 2500 0,06 4 260 425 63
Pavimento 20 Residencial 2500 0,06 4 260 425 63
Corredores Corredores 385 0,06 0 23 2000 8558
Lobby Lobbies 250 0,12 5 55 600 991
Sala de recreação Sala de jogos 660 0,18 5 156 156 44
Sala de tratamento Saúde 270 0,06 2 56 56 33
Standart Case: ASHRAE Std 62.1 - 2004 ProjetoIdentificação da Zona
Item 1
Requisitos de certificação e auditoria GBCI:
Demonstrar (planilha com memorial de cálculo) o atendimento aos
parâmetros e procedimentos estabelecidos na ASHRAE Standard 62.1-2007
Apresentar a descrição dos espaços a serem locados e a expectativa de usoItem 2
98
3.4.6.2. Pré-requisito 2. Controle de fumaça de tabaco
O controle da fumaça de tabaco tem como objetivo prevenir ou minimizar a
exposição dos usuários à fumaça de tabaco, inclusive nas áreas internas e
proveniente do sistema de ventilação. Para edifícios residenciais e hotéis, proibir o
fumo em todas as áreas comuns do edifício. Áreas externas para fumantes devem
estar afastadas 8 metros das entradas, tomadas de ar e janelas basculantes. Controlar
a transferência da fumaça de tabaco das unidades residenciais para as áreas comuns,
por meio de selantes e vedações, que deverão ser testados de acordo com a ASTM-
E779-03.
Para atendimento a este crédito é necessário atender aos seguintes
parâmetros: (I) Proibir o fumo em todas as áreas comuns dos edifícios; (II) Projetar
qualquer área reservada aos fumantes, inclusive sacadas, onde fumar for permitido
(se for o caso), a uma distância de pelo menos 8 metros das entradas, tomadas de ar
externo e janelas basculantes voltadas a áreas comuns ou outras unidades
residenciais; (III) Proibir o fumo a pelo menos 8 metros de entradas, tomadas de ar
externo e janelas basculantes e providenciar comunicação visual para permitir o fumo
em áreas planejadas, para proibir o fumo em áreas não apropriadas ou para proibir o
fumo na propriedade inteira; (IV) Impedir a comunicação (transferência de ar) entre
unidades residenciais através de vedação de paredes, tetos, pisos e shafts verticais;
(V) Vedar todas as portas das unidades residenciais com saída para áreas comuns
e/ou corredores a fim de impedir o vazamento de ar para estes ambientes; (VI)
Demonstrar o atendimento ao crédito por meio de um teste de estanqueidade da
unidade residencial que deverá ser conduzido de acordo com o estabelecido na norma
ANSI/ASTM-E779-03; (VII) Atender aos requisitos da metodologia definida pelo
capítulo 4 do ‘Residential Manual for Compliance with California´s 2001 Energy
Efficiency Standards’, demonstrando vazão de ar de ao menos 8 centímetros
quadrados a cada 10 m² de área enclausurada (somando-se todas as áreas de
parede, teto e pisos).
Durante o período de obras do empreendimento, não foi permitido fumar no
interior da área de construção com a finalidade de atender as recomendações do
Plano de Qualidade do Ar Interno.
Para a realização do teste de estanqueidade, responsável por ver se os
cômodos estão estanques (sem haja a entrada ou saída de ar pelas esquadrias,
99
frestas de retorno do ar condicionado ou tomadas) foi contratada a empresa Eversys,
que produz um relatório a partir do método “Door Fan Test” de ensaio. Esse método
consiste em uma pressurização e despressurização mecânica dos ambientes e
medições do fluxo de ar a cada condição de pressão estática (em relação à área
externa) a que for submetido o ambiente, através do uso de um “ventilador” como
mostrado nas Figuras 33 e 34.
Figura 33: Procedimento de pressurização
Figura 34: Procedimento de despressurização
Para avaliar os possíveis vazamentos, o teste toma como referência o princípio
da conservação da massa. A somatória das vazões de ar que atravessam as frestas
será a mesma que entra no ventilador.
Para a execução do teste, é necessário ao menos cinco medições distintas que
variem os valores da pressão à que o local é submetido, considerando que sejam
feitas através da pressurização e despressurização do ambiente.
Para obtenção da certificação, a somatória dos vazamentos medidos, devem
ser inferior a 8cm² para cada 10m² da superfície do volume do total ambiente
enclausurado a uma pressão de referência de 4Pa. Esta pressão é calculada pelo
software de forma empírica, com base nas equações descritas na ASTM E779 e nos
valores obtidos entre 10Pa e 60Pa executados no teste, considerando que não é
possível por questões físicas, realizar o teste a 4Pa.
100
A amostragem necessária de unidades do empreendimento que deve passar
pelo teste é de 1 a cada 7 apartamentos. Todos os apartamentos selecionados devem
passar no teste. Caso não passem, o teste deverá ser aplicado em 100% das
unidades para que haja a aprovação da estanqueidade (Figura 35).
Figura 35: Amostragem apartamentos que devem passar pelo teste de estanqueidade
Relatório Eversys para condomínio R, 2016
Uma vez definidas as unidades-amostra para a inspeção técnica, procede-se: a
verificação dimensional das plantas, confirmação de medidas “in-loco” e ratificação
das compartimentações, conforme o exemplo de uma unidade à seguir (Figura 36).
101
Figura 36: Dados necessários de apartamento que sofrerá o teste de estanqueidade
Relatório Eversys para condomínio R, 2016
Infelizmente, todos os apartamentos da amostragem em que foi realizado o
teste foram reprovados. Segundo o relatório da empresa Eversys, o que acarretou
essa negativa foi um erro no projeto das esquadrias pois as mesmas eram totalmente
estanques entre as folhas, mas não totalmente em seus trilhos, deixando passar muita
fumaça.
Por isso, para que houvesse o cumprimento desse pré-requisito, foi proibido o
uso de tabaco em qualquer área do empreendimento, inclusive nos apartamentos.
Essa medida foi extremamente rejeitada pelos moradores fumantes, uma vez que a
102
maioria comprou uma unidade sem saber dessa proibição e com isso, provavelmente
não irão respeitá-la.
Para a auditoria da GBCI sobre esse pré-requisito foi necessário o envio dos
itens citados no Quadro 27.
Quadro 27: Documentação necessária para auditoria GBCI do pré-requisito Controle de
fumaça de tabaco
Critérios de sustentabilidade e eficiência energética, ENE Consultoria, 2014
3.4.7. Manutenção das estratégias pelo proprietário
O proprietário que optar por manter os padrões de qualidade e de
sustentabilidade de sua unidade residencial poderá contratar uma empresa de
consultoria especializada em certificação LEED e operação verde de edificações, para
que esta auxilie o cliente no desenvolvimento e na implantação de seu projeto de
interiores/decoração de forma a cumprir com os requisitos de liderança em energia e
design ambiental.
Á seguir algumas estratégias e ações de controle que podem ser consideradas
(Quadro 28).
Item 1
Requisitos de certificação e auditoria GBCI:
Indicar as áreas onde é permitido o fumo, nas áreas externas do
empreendimento
Apresentar a comunicação visual desenvolvida e a implantação nos locais de
proibição quanto ao fumoItem 2
103
Quadro 28: Medidas que o morador pode incorporar no seu dia-a-dia para manter os
quesitos sustentáveis
Reaproveitar o padrão de instalações e acabamentos entregues, evitando
desperdício e geração de resíduos;
Prever espaço interno para separação dos resíduos, ao menos dos itens recicláveis
e dos não recicláveis;
Usar materiais que possuam rápida renovação na natureza (sisal, juta, algodão,
bambu, etc.);
Projetar os layouts dos ambientes internos de modo que propicie visibilidade ou
acesso às vistas externas;
Adquirir produtos e componentes com baixa emissão de VOC (Composto Orgânico
Volátil);
Escolher equipamentos de baixo consumo de energia (Nível A PROCEL ou
ENERGY STAR);
Monitorar o consumo de energia da unidade por grupo de uso (uso de
computadores, iluminação, ar condicionado etc.) e tomar medidas corretivas e
preventivas para evitar desperdícios;
Em âmbito condominial Implementar Programas de Educação Ambiental para os
moradores.
104
4. Considerações finais
Em todo o trabalho foi frisado que o conceito da Sustentabilidade na Construção
Civil é extremamente complexo e que depende de três principais “setores” da
sociedade, cujas ações nem sempre convergem para o mesmo objetivo, são elas: o
interesse da população em medidas e produtos mais sustentáveis, a postura do
Governo quanto à incentivos no setor e os interesses de empresários do ramo. Assim,
foi analisado mais a fundo o surgimento das certificações ambientais, nas quais
podem ser acompanhadas as participações de cada um desses setores.
Uma vez definido o foco da monografia, foi feito um estudo teórico da certificação
LEED e a partir daí, uma análise prática da sua implementação em um condomínio
residencial multifamiliar. Desse modo, elaborou-se uma apresentação das estratégias
e tecnologias empregadas, desde o projeto até a construção e entrega do
empreendimento, que são necessárias à certificação e que visam a mitigação dos
impactos ambientais.
O estudo foi além da citação de ações sustentáveis. Foi realizado um apanhado de
toda a documentação necessária no processo de certificação, incluindo os itens
essenciais para a comprovação de cada requisito apresentado e foi executada uma
comparação entre a versão antiga do certificado (v.2009) e a nova (v.4).
Sobre o processo executivo, o autor trabalhou durante 1 ano e meio na construção
do empreendimento que é objeto de estudo, podendo verificar in-loco o último ano de
construção e o início da entrega das unidades para os clientes. Assim, foi possível
acompanhar diariamente a implantação de algumas práticas, a forma que a
engenharia lidou com as dificuldades e como os moradores reagiram às mudanças do
empreendimento devido ao LEED.
Foi possível verificar que o selo LEED dificilmente se adapta para
empreendimentos de baixa renda, pelos seguintes fatores: (I) Desde o início do
processo é necessário o pagamento de taxas para iniciar o registro; (II) A realização
do passo-a-passo para obter a certificação é muito complicada sem o
acompanhamento de uma consultoria especializada, que ainda são muito escassas no
país, acarretando em um alto custo que é incluso no preço de venda das unidades;
(III) Para o cumprimento de alguns pré-requisitos são necessários alguns materiais
especiais, como por exemplo para a redução do consumo de água o único tipo de
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chuveiro que se encaixava nos pré-requisitos era da linha mais cara do fabricante; (IV)
Somente empreiteiros especializados se sustentaram dentro da obra, pois alguns
serviços, que em geral são mais simples, em obras LEED tem difícil execução devido
à particularidades, devendo muitas vezes serem refeitos, atropelando os demais
serviços, atrapalhando o planejamento da obra e gerando atrasos nos pagamentos
das medições; (V) Após a entrega das chaves para os moradores, estes continuarão
tendo gastos com sistemas instalados devido ao LEED, como por exemplo, com a
compra das máquinas de ar condicionado para o sistema VRF e o pagamento de um
alto valor de condomínio para a manutenção.
Em relação à comparação das versões LEED v.2009 e v.4, pode-se concluir,
mesmo sem ter tido acesso à todas as ações realizadas pela obra e apresentadas ao
LEED, que o empreendimento não seria certificado pela nova versão, pois a v.4,
apesar de ser muito mais realista em alguns quesitos como com o estudo da redução
do uso da água considerando o condomínio como um todo, ela faz exigências muito
maiores como no uso de materiais que possuam DAP, o qual já seria um pré-requisito
não cumprido pela obra já que quando em algum serviço que o planejamento da
compra de materiais não havia sido exata, a engenharia acabava comprando de
qualquer fornecedor, sem fazer nenhuma exigência sobre o ciclo de vida do produto.
Quanto à documentação necessária em cada etapa, vale ressaltar que trata-se de
um processo muito burocrático, que exigiu não só a ajuda de uma consultoria
especializada, como já citado, como também a contratação de uma equipe dentro da
obra própria para o acompanhamento da certificação, responsável por ficar enviando
documentos à consultoria, tirando dúvidas construtivas e produzindo relatórios
mensais de acompanhamento.
Diante dos benefícios e dificuldades expostas, tanto no estudo prático, quanto no
teórico, conclui-se que a busca pela sustentabilidade sempre vale a pena, só que ela
deve ser incluída em um cenário econômico mais pronto para aceita-la e coloca-la à
disposição da sociedade como um todo. Acredita-se que as empresas buscam os
certificados ambientais com o principal objetivo de concorrência no mercado, mas se
formos fazer uma análise mais profunda, as próprias certificações e selos podem ser
considerados negócios, como organizações que vendem seus serviços e buscam
conquistar o mercado internacional. Como não há uma matriz global, cada certificação
mede a eficácia de seus pré-requisitos da forma que desejar e de acordo com o seu
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país de origem, portanto, mesmo quando adaptadas, não refletem a realidade do país
de aplicação, tendo efetividade reduzida e custo maior.
Assim, deve haver o casamento de certificações adequadas à realidade local,
voltadas para construções de todo o tipo e renda, com uma política coerente e
estruturada de construções sustentáveis incentivadas pelo Governo, ao invés de
iniciativas legislativas isoladas, que na maioria das vezes, são incentivadas por fortes
interesses econômicos e possuem pouco efeito prático.
Para finalizar, uma vez estabelecida a união desses dois fatores, seria mais fácil
fazer com que o tema sustentabilidade parasse de ser visto somente como um
marketing empresarial e que empresários e a sociedade estivessem convictos de que
pode haver melhoria na qualidade de vida da população, prejudicando minimamente o
meio ambiente, com soluções economicamente viáveis e socialmente satisfatórias.
Para trabalhos futuros, fica a sugestão do estudo de viabilidade para
empreiteiras se tornarem totalmente adequadas aos critérios da versão v.4 do LEED,
tanto em relação à documentação exigida ao ciclo de vida dos materiais, quanto à
treinamentos de funcionários.
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