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MESTRADO EM LETRAS
ELISABETH SUMBERCKI WEISS
A IMPORTÂNCIA DA DISCIPLINA NA APRENDIZAGEM DE L2 NO COLÉGIO
MILITAR DE PORTO ALEGRE
Porto Alegre
2016
ELISABETH SUMBERCKI WEISS
A IMPORTÂNCIA DA DISCIPLINA NA APRENDIZAGEM DE L2 NO COLÉGIO
MILITAR DE PORTO ALEGRE
Dissertação de mestrado apresentada ao Centro Universitário Ritter dos Reis como requisito para titulação de Mestre em Letras.
Prof. Dr. Márcia Zimmer (orientadora- UNIRITTER)
Prof. Dr. Pedro Theobald (convidado- PUCRS) Prof. Dr. Neiva Maria Tebaldi Gomes (convidada – UNIRITTER)
Porto Alegre
2016
Aos meus pais Rosa e Luiz pela imensa ajuda durante esses dois anos de pesquisa. Obrigada por sonharem junto o meu sonho. Sem o apoio de vocês este trabalho não teria sido realizado. Meu muito obrigado!
AGRADECIMENTOS
À minha orientadora, professora Dra. Márcia Zimmer, por acalmar minhas
angústias e compreender minhas inúmeras dificuldades. Pelas intervenções pertinentes e sábias e principalmente pelas palavras incentivadoras. A toda a equipe de professores do PPGL/UNIRITTER, que contribuíram para a minha formação.
Aos meus pais, Rosa e Luiz, pela ajuda incansável. Aos meus colegas de curso, que me ajudaram nessa caminhada. Pela troca de
experiência, pela conversa amiga e incentivadora durante nossa trajetória. Meu muito obrigado!
Em especial, meu muito obrigada à minha colega Cristiane Toffanello, por ter insistido com o tema desta dissertação.
Ao Colégio Militar de Porto Alegre, por me apoiar durante minha pesquisa.
Não há vida intelectual sem esforço e disciplina.
Décio de Almeida Prado
RESUMO
O presente trabalho tem como objetivo apresentar e analisar o desempenho dos alunos do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA) no concurso de vestibular da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e no concurso de admissão à Escola Preparatória de Cadetes do Exército (EsPCEx), investigando como estudo de caso os mecanismos disciplinares presentes no CMPA, e sua influência no desempenho dos alunos nestes concursos. Para atingir os objetivos propostos, foram analisados os resultados obtidos pelos egressos do CMPA no concurso de vestibular da UFRGS do ano de 2007 até 2016. A análise do desempenho dos alunos no concurso da EsPECx foi realizada nos anos de 2012 até 2015. A metodologia adotada nesta pesquisa foi a abordagem qualitativa, com o propósito de relacionar o alto índice de desempenho nos exames de língua inglesa dos alunos do CMPA nestes concursos aos mecanismos disciplinares e às rotinas de sala de aula, que parecem ser determinantes no processo ensino-aprendizagem de L2. Palavras-chave: Disciplina. Ensino. Língua Inglesa.
ABSTRACT
This work aims to analyze the performances of the students from Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA) at the college admission exam to Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) and at the college admission to Escola Preparatória de Cadetes do Exército (EsPCEx), investigating as a case study the disciplinary mechanisms presented at CMPA, and its importance on the development of the students on their performances in those exams. To achieve this purpose, the results were analyzed based on UFRGS data analyzed of entrance examination from 2007 to 2016, and EsPECx data analyzed admission exam from 2012 to 2015.
The methodology used on this work was based on the qualitative approach, in order to understand the high performances in the English language admissions test of the CMPA students at UFRGS and EsPECx college admission exams.
The results indicated that the disciplinary mechanisms and the classroom management are decisive in the language teaching process of L2. Key-words: Discipline. Teaching. English Language.
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
AMAN- Academia Militar das Agulhas Negras
CMPA- Colégio Militar de Porto Alegre
CRI - Clube de Relações Internacionais
CTA- Centro de Telemática de Área
ENEM - Exame Nacional do Ensino Médio
ESA - Escola de Sargentos das Armas
EsPECx- Escola Preparatória de Cadetes do Exército
FNDE- Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação
HMUN- Harvard Model United Nations
IAG/USP - Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da USP
IDEB- Índice de Desenvolvimento da Educação Básica
IME - o Instituto Militar de Engenharia
LDBEN – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
LE- Língua Espanhola
LI- Língua Inglesa
MEC- Ministério da Educação e Cultura
OCDE - Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico
OM- Organização Militar
PPP- Projeto Político Pedagógico
SEAN- Sistema de Ensino e Aprendizagem por Níveis
SCMB- Sistema Colégio Militar de Porto Alegre
SEF - Seção de Educação Física
UFMG- Universidade Federal de Minas Gerais
UFRGS- Universidade Federal do Rio Grande do Sul
USP- Universidade de São Paulo
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1: O uso do tempo em sala de aula……………………………..….. página 26
LISTA DE TABELAS
TABELA 1: Resultados dos alunos do CMPA na UFRGS….……………..… página 64
TABELA 2: Desempenho dos alunos do CMPA no Ensino Médio e UFRGS..página 67
TABELA 3: Resultados dos alunos do CMPA na EsPECx….………………..página 70
LISTA DE QUADROS
QUADRO 1: Jargões Militares…………..………………………………..….. página 39
QUADRO 2: Jargões Militares………………………………………………...página 40
QUADRO 3: Juramento do Legendário…………………………………...…...página 46
QUADRO 4: Níveis do material didático adotado pelo CMPA………..….…..página 55
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 14
2. REFERENCIAL TEÓRICO ............................................................................................... 18
2.1. Disciplina em sala de aula ................................................................................................... 18
2.1.1 O tempo gasto em sala de aula devido a questões de (in)disciplina ............................... 23
2.1.2 A disciplina e o estabelecimento de rotinas de sala de aula ........................................... 26
2.2. Disciplina e Aprendizagem de L2 ..................................................................................... 30
3. O SISTEMA COLÉGIO MILITAR DO BRASIL E O COLÉGIO MILITAR DE
PORTO ALEGRE ....................................................................................................................
3.1 Sistema Colégio Militar do Brasil e Colégio Militar de Porto Alegre ................................ 33
3.1.1 Rotinas Militares ........................................................................................................... 34
3.1.2 Linguajar Militar e a Semana Zero ................................................................................ 38
3.1.3 Disciplina versus Punição no SCMB ........................................................................... 43
3.1.4 Legião de Honra ............................................................................................................ 45
3.1.5 Atividades Extracurriculares: Banda de música e Coral ............................................... 46
3.1.6 Atividades Esportivas .................................................................................................... 49
3.1.7 Sociedade Esportiva e Literária ..................................................................................... 50
3.1.8 Laboratórios e Clubes .................................................................................................... 51
3.1.9 Observatório Astronômico Didático Capitão Parobé .................................................... 51
3.1.10 O Funcionamento do 3º ano e a Seção de Cursos ........................................... ........... 53
3.2 O Ensino de L2 no CMPA e seu impacto no exame de vestibular na Universidade
Federal do Rio grande do Sul (UFRGS) .................................................................................... 54
3.3 O ensino de L2 no CMPA e seu impacto sobre a performance na prova de L2 na
Escola Preparatória de Cadetes do Exército (EsPCEx) .............................................................. 57
4. OBJETIVOS E MÉTODO .................................................................................................. 59
4.1. Objetivos .............................................................................................................................. 59
4.2. Metodologia ......................................................................................................................... 59
4.2.1 Tipo de Pesquisa e participantes .................................................................................... 59
5. ANÁLISE E DISCUSSÂO DOS RESULTADOS ............................................................. 63
5.1. Resultados obtidos no vestibular da Universidade Federal do Rio Grande do Sul-
UFRGS ...................................................................................................................................... 63
5.2. Resultados obtidos no concurso de admissão à Escola Preparatória de Cadetes do
Exército (EsPCEx) ...................................................................................................................... 69
5.3. Os mecanismos disciplinares presentes no Colégio Militar de Porto Alegre, e a
importância das rotinas em sala de aula no processo aprendizagem de L2 ................................ 71
5.3.1 As Rotinas militares e a disciplina na sala de aula de L2 ................................................ 73
5.3.2 Atividades extracurriculares como mecanismos disciplinadores .................................... 77
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................... 79
6.1. Resumo dos principais achados deste estudo ...................................................................... 79
6.2 Limitações do estudo ........................................................................................................... 80
6.3. Sugestões para estudos futuros ............................................................................................ 80
REFERÊNCIAS ....................................................................................................................... 82
INTRODUÇÃO
As exigências do ensino e da educação são cada vez maiores e mais complexas.
A indisciplina, o insucesso e o abandono escolar são problemas que integram o
cotidiano dos professores. E a escola de hoje parece permanecer imóvel frente às
mudanças que vêm ocorrendo na sociedade. Em virtude disso, as relações entre as
várias pessoas que a compõem vêm se alterando, e os conflitos dessas relações têm
trazido consequências variadas para todos, facilitando a emergência, no interior da
escola, de formas de conduta diversas nas relações sociais de seus integrantes
(SIRGADO, 2000). Os problemas da indisciplina em sala de aula, segundo o autor, têm
importunado professores e administradores escolares. Os professores referem-se a esse
problema como um dos aspectos mais difíceis e perturbadores para quem leciona.
As forçasarmadas primam pelas características profissionais de centralização,
hierarquia e disciplina. Tais práticas, aliadas a uma forte estrutura burocrática, com
regras rígidas de funcionamento, e um código penal próprio, fazem dos militares
funcionários públicos diferenciados. No Brasil as Forças Armadas são compostas pela
Marinha, Exército e pela Aeronáutica
O Sistema de Ensino Militar forma profissionais capacitados para se ajustarem
às finalidades e aos objetivos da Instituição. O Exército utiliza a educação como uma
ponte entre setores militar e civil; assim sendo, os Colégios Militares despontam como
uma forma eficaz de aproximação entre ambos os setores, fazendo com que os ideais
defendidos pelo Exército sejam disseminados nos demais setores da sociedade civil.
O interesse pelo tema baseia-se em justificativas de ordem pessoal, aliadas ao
interesse profissional. Ex-aluna do Sistema Colégio Militar do Brasil (SCMB), sou
oficial do Exército Brasileiro e atuo como professora de Língua Inglesa no Colégio
Militar de Porto Alegre, inicialmente como estagiária, depois concursada desde 2009.
Desde então, procuro respostas às diversas perguntas em relação ao desempenho dos
alunos, não só no Colégio Militar de Porto Alegre, mas no Sistema de Colégios
Militares do Brasil - SCMB.
As práticas didático-pedagógicas em vigor nos Colégios Militares subordinam-
se às normas e às prescrições do sistema de ensino do Exército e, ao mesmo tempo,
obedecem também à Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDBN, principal
referência que estabelece os princípios e finalidades da educação nacional, conforme se
lê em seu art. 83: “o ensino militar é regulamentado em lei específica, admitida a
equivalência de estudos, de acordo com as normas fixadas pelos sistemas de ensino”.
Sendo assim, por que o SCMB se diferencia dos demais colégios, mesmo havendo entre
eles equivalência de estudos? A disciplina é a responsável pela alta aprovação em
exames como o Exame Nacional do Ensino Médio – ENEM, concursos militares ou
exames vestibulares? O desempenho satisfatório dos alunos do SCMB nesses exames
pode sugerir que tal desempenho seja produto da seleção de alunos realizada para
ingresso nos Colégios Militares?
Para responder a todas essas indagações, torna-se necessário resgatar o histórico
do SCMB e suas especificidades. A fim de situar o leitor, antes da análise dos dados, é
fundamental contextualizar o surgimento das instituições de ensino militar.
O processo de modernização do exército teve início em 1903 com a unificação
das escolas de guerra e, por consequência, a criação da Escola Militar do Realengo.
Esse processo teve reflexos no ensino militar. Houve uma ampliação significativa de
cursos e instituições educativas vinculadas ao Exército Brasileiro, sendo que atualmente
as Forças Armadas mantêm um número expressivo de instituições, tanto de Ensino
Fundamental e Médio, quanto de cursos de Graduação e Pós-Graduação.
Sobre a continuidade da expansão do ensino militar no Brasil, Leal (2009, p. 01)
diz que em 1889 surge, no Rio de Janeiro, o primeiro Colégio Militar, destinado ao
Ensino Secundário. Oficializado pelo Decreto Imperial 10.202, assinado em 9 de março
de 1889, com o nome Imperial Colégio Militar da Corte, tinha como
[...] finalidade garantir a educação dos órfãos de militares que haviam morrido ou que se tornaram inaptos em campos de batalha ou no serviço em campanha, além de promover a escolarização dos filhos de militares destacados a serviço e também de filhos de civis interessados em uma educação fundada sob os auspícios da pedagogia e disciplina militar.
Segundo Leal (2009), a instituição criou um grande renome pela sua qualidade
de ensino e isso fez com que o próprio Exército fosse enxergado com outro olhar pelos
civis.O prestígio adquirido foi um dos fatores que motivaram o Exército a defender a
ideia de espalhar uma rede de colégios militares pelo Brasil. O Exército conta com
Centros de Formação Profissional próprios: a Academia Militar das Agulhas Negras
(AMAN), a Escola Preparatória de Cadetes do Exército (EsPCEx), a Escola de
Sargentos das Armas (ESA), o Instituto Militar de Engenharia (IME), dentre outros.
O Sistema dos Colégios Militares do Brasil (SCMB) dá assistência educacional
para os filhos de militares e, mais recentemente, para os filhos de civis que entram na
escola através de concurso público, já mencionado anteriormente. Todos esses aspectos
possibilitam à Instituição um relativo funcionamento, independente da sociedade civil.
A contribuição do Exército para a cultura nacional e a valorização do homem brasileiro, conquanto seja assunto de evidente interesse histórico e social, não tem merecido o adequado enfoque pelos que escrevem a história da educação nacional (LUCHETTI, 2006, p.63).
Os seus sistemas de seleção são independentes, mas todos eles possuem a
disciplina e a hierarquia como princípios básicos para a sua proposta educacional. Com
uma doutrina de ensino baseada na filosofia do Exército Brasileiro, todos os Colégios
Militares buscam adequar os conteúdos educacionais também a esses preceitos
militares, incentivando o patriotismo através do ensino de hinos cívicos.
Na opinião do especialista Luiz Prazeres (2012), consultor em processos de
avaliação educacional e professor do Centro Pedagógico da Universidade Federal de
Minas Gerais (UFMG), a disciplina dos colégios militares faz diferença, mas não é o
único fator determinante para o sucesso dos estudantes egressos desse sistema de
ensino. “Os alunos desses colégios representam uma elite intelectual. A prova para
admissão nessas instituições é muito rigorosa, e acaba selecionando apenas os
melhores”, afirma Prazeres (2012, p.19). Embora pareça ser senso comum o fato de que
a seleção dos melhores alunos de fora do ambiente militar acabe por criar um círculo
virtuoso, diminuindo de alguma forma o papel da disciplina na aprendizagem, é
importante fazer uma contraposição a essa crítica, pois os alunos que prestam o exame
de admissão no SCMB geralmente não ultrapassam os 30%, sendo que os restantes 70%
formam o contingente de amparados, ou seja, alunos dependentes de militares das
Forças Armadas, transferidos ou não. Reforço aqui a importância dos alunos
concursados no SCMB devido ao alto nível de aprendizagem exigido na prova no
concurso de admissão.
Essa situação será explorada em detalhes na seção 3, mas chama-se a atenção
para isso com o intuito de resgatar, sim, o papel da disciplina na aprendizagem.
A disciplina dos colégios militares se aproxima da cobrada no Exército, mas de
modo mais leve, já que o aluno do SCMB não é um soldado. Algumas características
dos colégios militares, como hastear a bandeira e cantar o hino nacional, são algumas
atividades rotineiras. A postura frente ao professor, aos monitores, os horários
cumpridos com rigor e o uso da farda contribuem para o desenvolvimento de uma
postura diferenciada do aluno.
Durante minhas pesquisas, foi possível perceber que há uma escassez na
comunidade científica sobre as práticas pedagógicas das instituições militares e a
própria cultura escolar destes estabelecimentos de ensino.
O objetivo desta pesquisa é estudar o fenômeno da disciplina em sala de aula e
sua relação com o processo de aprendizagem em L2 no Colégio Militar de Porto Alegre
(CMPA). Serão apresentados os mecanismos disciplinares presentes na escola e os
fatores que interferem no cotidiano escolar e sua relação com a prática docente.
Esta dissertação apresenta o referencial teórico no capítulo 2, que está
subdividido em cinco seções, a saber: 2.1 Disciplina em sala de aula; 2.2 Disciplina e
Aprendizagem; 3 O Sistema Colégio Militar do Brasil e O Colégio Militar de Porto
Alegre; 3.2 O Ensino de L2 no CMPA e seu impacto no exame de vestibular na
Universidade Federal do Rio grande do Sul (UFRGS); 3.3 O ensino de L2 no CMPA e
seu impacto sobre a performance na prova de L2 na Escola Preparatória de Cadetes do
Exército (EsPCEx).
O capítulo 4 apresenta os objetivos e os métodos utilizados na dissertação. Esse
capítulo é dividido em duas partes. Na primeira parte (4.1), a apresentação dos objetivos
específicos a eles correspondentes e na segunda parte o método (4.2), que trata das
características dos participantes e das características desse grupo. Na seção 4.2.1 será
apresentado o tipo de pesquisa e os participantes da pesquisa. No capítulo 5 são
apresentados os resultados com a análise dos dados coletados seguidos pelas
considerações finais e referências.
No próximo capítulo será feita uma revisão bibliográfica de teorias e pesquisas
realizadas sobre a (in) disciplina em sala de aula.
2 REFERENCIAL TEÓRICO
Este capítulo está organizado em 4 seções, sendo que a primeira delas versa
sobre a disciplina e seu universo conceitual (2.1). Na subseção que segue (2.1.1),
veremos o tempo gasto em sala de aula devido a questões de (in)disciplina e a disciplina
e o estabelecimento de rotinas em sala de aula na seção (2.1.2). Na seção 2.2, será
ressaltada a relação entre disciplina e aprendizagem de L2.
2.1 Disciplina em sala de aula
O viver em sociedade implica elaborar e disseminar princípios e regras que
regulam a convivência entre pessoas num determinado tempo e lugar. Para que tais
princípios sejam respeitados e tais regras sejam seguidas, produzem-se práticas
disciplinadoras visíveis e invisíveis (PAIVA,2005). Tudo isso pode parecer simples fora
do ambiente escolar. No entanto, a relação entre professor e aluno com a disciplina
escolar não pode ser compreendida de forma tão simplificada.
A aprendizagem, segundo Vygotsky (2000), é o processo no qual o indivíduo se
apropria de informações e conhecimentos que são apresentados a ele por meio da sua
interação com o meio. Ela se dá a partir do momento em que signos e sistemas
simbólicos são assimilados pelo sujeito, contribuindo para o desenvolvimento das
funções mentais superiores do mesmo. Assim, pode-se perceber que existe uma estreita
relação entre aprendizado e desenvolvimento, ou seja, o aprendizado permite ao
indivíduo a maturação das suas funções psicológicas propiciando o seu
desenvolvimento. Assim, a teoria de Vygotsky trata o indivíduo como um agente e o
meio, é externo, com isso, os indivíduos interagem com o social, com colegas e
mediadores. Através disso, as crianças internalizam e constroem o conhecimento, sob
influência desse meio e como são passados os conhecimentos.
O pedagogo Mariano Narodowski (2000) faz um alerta sobre o assunto
disciplina. Ele explica que a escola não consegue se reacomodar às novas configurações
sociais, não consegue lidar com as crianças que estão hoje na escola, prejudicando
assim o processo de aprendizagem.
O tema em questão vem sendo discutido cada vez mais no cotidiano escolar e
vem se tornando um desafio para professores e gestores educacionais que se deparam
com o problema da indisciplina. Para Parrat-Dayan (2008, p.07), “os problemas de
indisciplina manifestam-se com frequência na escola, sendo um dos maiores obstáculos
pedagógicos do nosso tempo.”
Rocha (1996, p.338) entende que "indisciplina é a falta de disciplina, que
significa regime de ordem, imposta ou livremente consentida, a ordem que convém ao
funcionamento regular de uma organização" (grifo desta autora). Diante da posição de
Rocha, percebe-se que a indisciplina é algo que pode desencadear a desordem no
ambiente escolar, afetando assim o funcionamento da escola e, por conseguinte, o
processo de ensino-aprendizagem.
Segundo Carvalho (1996, p. 129), há seis diferentes acepções do termo
disciplina no dicionário, a saber:
1.instrução e direção dada por um mestre a seu discípulo[...] 2. submissão do discípulo à instrução e direção do mestre. [...] 3. imposição de autoridade, de método, de regras ou preceitos[...] 4. respeito à autoridade; observância de método, regras ou preceitos. [...] 5. qualquer ramo de conhecimentos científicos, artísticos, linguísticos, históricos, etc.: as disciplinas que se ensinam nos colégios. [...] 6. o conjunto das prescrições ou regras destinadas a manter a boa ordem resultante da observância dessas prescrições e regras: a disciplina militar; a disciplina eclesiástica.
A disciplina, em seu sentido original, traduz a ideia de um caminho a ser
percorrido ao longo do processo educacional e do grau de comprometimento que deve
existir entre os agentes de determinada estrutura ou instituição; neste caso, os agentes
escolares. Portanto, a disciplina está intimamente ligada à capacidade de ter controle
sobre si mesmo, de forma a ajustar a conduta individual às atividades e aos trabalhos
coletivos, promovendo a convivência na vida escolar. E em momento algum deve
referir-se a um poder de autoridade, que promove um sistema de castigos ou sanções
que são aplicadas àqueles que não desenvolvem as atividades escolares em silêncio, ou
seja, são punidos por sua conduta negativa (CARVALHO, 1996).
Os significados atribuídos à disciplina estão relacionados às concepções que se
formam no ideário educacional, influenciando diretamente os eventos de sala de aula.
Para Rego,
o modo como interpretamos a disciplina, sem dúvida, acarreta uma série de implicações à prática pedagógica, já que fornece elementos capazes de interferir não somente nos tipos de interações estabelecidas com os alunos e na definição de critérios para avaliar seus desempenhos na escola, como também no estabelecimento dos objetivos que se quer alcançar (REGO, 1996, p. 87).
Enfatizando as ideias de Rego (1996), Boynton (2008), explica como as questões
disciplinares interferem na aprendizagem do aluno. Solucioná-las torna-se uma questão
primordial. A administração adequada do comportamento do aluno é um aspecto
extremamente importante, que todo professor deve desenvolver, já que, além de auxiliar
na criação de um ambiente positivo, afeta muito na aprendizagem escolar. Segundo o
autor, a socialização é o primeiro déficit a ser vencido. É importante para o aluno ter um
bom relacionamento com os colegas e professores para que possa desenvolver a sua
aprendizagem. Sem vencer esse problema, o aluno não conseguirá um ambiente
favorável à aprendizagem.
De acordo com Estrela (2002) as definições de disciplina baseadas em um
ensino tradicional voltado para a coação e a obediência implicam um comportamento de
passividade por parte dos alunos. Com base em estudos de várias áreas de
conhecimento, principalmente da psicologia, em que se retoma o lugar do aluno no
processo de ensino-aprendizado, o conceito de disciplina foi-se transformando em
organização do espaço e do tempo escolar e do grupo.
Para De La Taille (1994, p.120) “se desde cedo a criança aprende que há limites a
serem respeitados, aos poucos ela própria vai compreendendo que as regras são como
contratos estipulados para que todas as partes sejam beneficiadas”. Pela citação,
entende-se que o aluno deve compreender, desde o início de sua formação, que o
respeito a regras faz parte do processo educacional e da disciplina, compreensão essa
que não é percebida no dia a dia da maioria das escolas brasileiras.
De acordo com Xavier (2002) a partir da intenção da escola em fugir do ensino
tradicional, em virtude de seus métodos autoritários, bem como da concepção de
disciplina que traduz, acabou ocorrendo um silêncio entre os profissionais da escola
sobre a questão disciplinar, consequentemente, sobre o que se pode ser considerado
importante para a organização do trabalho docente e para o aprendizado dos alunos. A
escola passou a rejeitar todas as decorrências de uma opção pelo ensino tradicional,
acreditando que estaria, desse modo, optando por um ensino mais democrático, recaindo
no erro ao deixar de falar sobre a disciplina. No entanto, segundo a autora, o silêncio da
escola e a rejeição a questões de cunho disciplinares não a tornou mais democrática, e
sim mais despreparada para administrar as questões que resultam dessa escolha.
Para estabelecer os limites em sala de aula ou na escola, o professor vale-se das
regras, que visam contribuir para a organização do ambiente de trabalho, promover a
justiça, fomentar a responsabilidade por aquilo que ocorre na classe e o
comprometimento de todos com os procedimentos e decisões referentes à sala de aula.
E, segundo Vasconcellos (2004) o aluno tem a necessidade de se expressar, sentir-se
como sujeito no meio em que vive. Nesse sentido, o professor deve mediar a
comunicação e a relação interpessoal, de modo a garantir o respeito às regras, às
diferenças, favorecendo experiências e aprendizados e permanecer atento quanto à sua
prática pedagógica.
Enfatizando a ideia de Vasconcellos, Araújo (1996) salienta a importância do
exercício da autoridade por parte do educador de criar vínculos afetivos com seus
alunos para que estes se sintam seguros e motivados a agirem de forma adequada.
Como exemplo da necessidade de resgatar a importância da disciplina em sala de
aula, foi recentemente aprovada a militarização de 15 escolas só no estado de Goiás. A
parceria entre o prefeito com as Secretarias de Educação e de Segurança Pública
promete ampliar o projeto em mais 35 escolas até o final de 2015. Segundo a
reportagem da Revista Veja, nestas escolas cabe aos policiais aplicar a disciplina,
lecionando constituição e noção de cidadania (Revista Veja. São Paulo. Edição 2368,
abril 2015).
Os resultados da mudança implantada no início deste ano, segundo a escola e o
governo goiano, foram satisfatórios. O diretor do agora Colégio Militar Fernando
Pessoa, capitão Francisco dos Santos Silva, afirma que, implementando os princípios
básicos militares de "hierarquia e disciplina", a escola conseguiu acabar com os casos de
violência e virou um "sonho" para os moradores da cidade. A escola se tornou militar
em janeiro deste ano e, segundo o capitão Santos conseguiu manter 80% dos alunos
após as mudanças – eram 680 alunos até então. Agora, o colégio tem quase o dobro de
estudantes (1.100) e atuam nele um total de 13 oficiais militares, 38 professores – a
maioria mantida do modelo antigo da escola, com apenas algumas trocas daqueles que
"não se adaptaram ao novo esquema" -, além de uma psicóloga, uma psicopedagoga e
outros funcionários. Entre as funções dos militares, estão as de cunho administrativo – o
comandante e o sub-comandante fazem parte do corpo diretivo – e também as de
"coordenadores de disciplina", que são responsáveis por fazer com que os alunos
cumpram as regras da cartilha militar. Além dos novos hábitos, os alunos da escola
Fernando Pessoa ganharam também novas aulas. O currículo do Ministério da Educação
(MEC) é mantido, mas os militares adicionaram à grade aulas de música, cidadania,
educação física militar, ordem unida, prevenção às drogas e Constituição Federal.
Em Manaus o modelo de gestão militar está sendo implementado pelo prefeito
na escola, que agora se chama 3° Colégio Militar da PM Professor Waldocke Fricke de
Lyra, numa região com alto índice de violência. Para o governo a experiência até o
momento é positiva, já que os índices do IDEB (Índice de Desenvolvimento da
Educação Básica) melhoraram. Segundo a reportagem do site do jornal O Tempo (O
TEMPO,2015), no estado de Minas Gerais, são mais de 20 mil alunos frequentando
escolas cujo uniforme remete à farda militar, divididos em 24 colégios, dois do Exército
e 22 da PM – dois deles inaugurados no corrente ano, em Uberlândia, no Triângulo, e
em Pouso Alegre, no Sul de Minas. E a intenção é continuar crescendo: Divinópolis, na
região Centro-Oeste, também deverá receber em 2016 uma unidade do Colégio
Tiradentes. “Não conseguimos atender 100% (dos interessados). Ainda temos uma
demanda reprimida de dependentes de militares”, explica a coronel Rosângela de Souza
Freitas, diretora de Educação Escolar e Assistência Social da PM. O levantamento feito
pelo jornal Folha de São.Paulo e divulgado no site 24horasnews aponta que Minas
Gerais só perde para Goiás na quantidade de colégios militares.
A autoridade e o respeito que cada professor impõe perante a turma podem
variar. Observa-se então o conceito de autoridade moral de Durkheim (1978). O filósofo
e sociólogo francês diz que a autoridade do mestre é algo nato, advindo de sua função
social, porém ela só é passível de ser observada e praticada por meio “[...] do respeito
que o mestre tenha por suas funções [...]”. Durkheim (1978) deixa claro também que a
autoridade não é exercida por meio violento ou opressor e que para que o professor a
exerça são necessárias duas condições essenciais:
A autoridade implica confiança, e a criança não pode manifestar confiança em quem vê hesitar, voltar sobre suas decisões. O que importa, antes de tudo, é que o mestre demonstre sentir realmente, sinceramente, o sentimento da própria autoridade. A autoridade é uma força que ninguém pode manifestar, se efetivamente não a possui. (DURKHEIM, 1978, p. 55).
O crescente processo de militarização apresentado acima reforça essa
necessidade em disciplinar os alunos evitando, por exemplo, um desperdício de tempo
em sala de aula destinado ao aprendizado de conteúdos. Esse é o assunto da subseção
2.1.1 a seguir.
2.1.1 O tempo gasto em sala de aula devido a questões de (in)disciplina
No cotidiano escolar é possível perceber demonstrações de insatisfação por parte
dos docentes, devido à indisciplina dos alunos. Nesse contexto surgem as queixas dos
professores, que não conseguem desenvolver as atividades previstas no planejamento e,
como consequência, sofrem prejuízos no desenvolvimento do processo da aprendizagem
de seus alunos. Situações como essas possivelmente contribuirão para desestabilizar as
atividades previstas no planejamento e se converterão em desconforto por parte dos
professores. Com relação a essas situações, Estrela (2002) aponta que
O tempo que o docente gasta na manutenção da disciplina, o desgaste provocado pelo trabalho num clima de desordem, a tensão provocada pela atitude defensiva, a perda do sentido da eficácia e a diminuição da auto-estima pessoal levam a sentimentos de frustração e desânimo e ao desejo de abandono da profissão. (ESTRELA, 2002, p. 109)
Nesse sentido, o tempo gasto na sala de aula para intervir na indisciplina dos alunos é
contado como um tempo que se perdeu, tempo este que poderia ser ganho no
desenvolvimento do ensino-aprendizagem.
Harris (2000) revisa estudos feitos em relação ao tempo de sala de aula
dispendido para dar instruções ou para iniciar as aulas. Seus estudos, realizados nos
últimos 15 anos, mostram a importância das rotinas em sala de aula e sua relação direta
com a qualidade da aprendizagem.
Entre os professores iniciantes, o maior problema visto na pesquisa foi a
(in)disciplina e seus efeitos na aprendizagem. De acordo com a autora, a questão do
tempo desperdiçado em função da disciplina em sala de aula varia de escola para escola,
mas em todos os casos, esse número está aumentando. Mesmo nas melhores
circunstâncias, o tempo usado para instruções iniciais da aula e estabelecimento de uma
atmosfera propícia à aprendizagem chega à metade de um dia letivo. O tempo perdido
com instruções é sempre relacionado com a (in)disciplina dos alunos. O problema não é
a falta de tempo que o professor possui em sala de aula, e sim a maneira como esse
tempo será usado pelo professor para a aprendizagem do aluno. Rotinas como
atividades de planejamento do conteúdo, da organização da sala de aula e monitoração
por parte dos próprios alunos administram o tempo disponibilizado para a aprendizagem
(HARRIS, 2000), conforme se vê na seção 3.1.1
A importância do tempo em sala de aula é um tema estudado e pesquisado por
instituições brasileiras e estrangeiras. O desperdício de 10% dos dias letivos é uma das
constatações presentes na pesquisa publicada em 2014 pelo Banco Internacional para
Reconstrução e Desenvolvimento, Great Teachers: How to Raise Student Learning in
Latin America and the Caribbean (BRUNS; LUQUE, 2014). Do total de 200 dias
letivos do ano escolar aos quais os alunos brasileiros têm direito, 20 dias são
desperdiçados por conta de atrasos e saídas dos alunos antes do término da aula e com
outras atividades que em nada estão relacionadas com o ensino e a aprendizagem. Nesse
cálculo sequer foi considerado o tempo perdido com a contenção da bagunça e com a
realização de outras atividades pelo professor, como a realização de chamada e a
entrega de trabalhos escolares.
Segundo a pesquisa, a mágica da educação, referida como transformação dos
elementos educacionais em resultados da aprendizagem, acontece na sala de aula. A
pesquisa realizada proporcionou um olhar nunca empregado antes sobre as salas de aula
da América Latina e do Caribe para examinar de que modo os professores utilizam o
tempo em sala de aula e outros recursos disponíveis para apoiar a aprendizagem de seus
alunos. No período entre 2009 e 2013, foram observadas mais de 15.000 salas de aula
em mais de 3.000 escolas de sete países diferentes: o maior estudo internacional desse
tipo jamais realizado. Por meio de visitas não-anunciadas a amostras representativas de
escolas de âmbito nacional, observadores treinados utilizaram um protocolo de pesquisa
padronizado chamado “Retrato da sala de aula de Stallings” para gerar dados
comparáveis para quatro variáveis: a) Uso do tempo de instrução por parte dos
professores; b) Uso dos materiais pelos professores, inclusive computadores e outros
recursos de TIC; c) Práticas pedagógicas as usadas pelos professores; d) Capacidade dos
professores de manter os alunos envolvidos.
O método foi originalmente desenvolvido nos Estados Unidos e, portanto, os
resultados da América Latina e do Caribe podem ser comparados com os dados dos
sistemas escolares dos EUA coletados durante várias décadas pelos pesquisadores
Stallings e Knight (2003).
O baixo uso do tempo de instrução contribui para o baixo nível de aprendizagem
na América Latina e no Caribe. Nenhum dos sistemas escolares da América Latina e do
Caribe estudados aproximou-se do padrão de boas práticas de Stallings de 85% de
utilização do tempo total da aula com instrução. As médias mais elevadas registradas —
65% para a amostra nacional na Colômbia e 64% para o Brasil e Honduras — estão 20
pontos percentuais abaixo do que a pesquisa de Stallings sugeriu que uma sala de aula
bem administrada pode alcançar.
Tendo em vista que as medidas de Stallings são estatisticamente representativas
do funcionamento do sistema escolar como um todo, isso sugere que 20% do tempo de
instrução potencial esteja sendo perdido na América Latina em comparação com o
objetivo de boas práticas. Isso equivale a um dia de instrução a menos por semana. A
maior parte do tempo de instrução perdido é utilizada em atividades de organização da
sala de aula, tais como chamada, limpeza do quadro negro, correção de dever de casa ou
distribuição de trabalhos, que absorvem entre 24% e 39% do tempo total da aula: muito
acima do padrão de 15%.
Os padrões de Stallings também partem do pressuposto que os professores
passam a aula inteira ensinando ou administrando a sala de aula, mas em todos os países
da América Latina e do Caribe estudados os professores gastam pelo menos 9% do
tempo em nenhuma dessas duas atividades, o que é considerado tempo do professor fora
de tarefa.
Os professores brasileiros gastam, em média, 20% do tempo de aula para
manter a disciplina na classe, segundo levantamento internacional. Ou seja, o docente
gasta um minuto, de cada cinco, pedindo silêncio ou chamando a atenção por bagunça,
como mostra a figura 1 abaixo.
Figura1: Uso do tempo em sala de aula
Fonte:http: Disponível em <> http://g1.globo.com/educacao/noticia/2015/03/professor-no-brasil-
perde-20-da-aula-com-bagunca-na-classe-diz-estudo.html>. São Paulo, São Paulo, Brasil. Acessado em:
06 de Agosto de 2015.
O desempenho brasileiro é o pior entre os 32 países que responderam a essa
parte da pesquisa. A média entre os países é de 13%. Na Finlândia, país tido como
exemplar no quesito educação, o percentual de tempo dedicado a essa atividade chega a
13%. As informações são da edição 2013 da Talis, Pesquisa Internacional sobre Ensino
e Aprendizagem coordenada mundialmente pela OCDE (Organização para Cooperação
e Desenvolvimento Econômico). Em âmbito nacional, o estudo foi coordenado pelo
Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), vinculado ao Ministério
da Educação (MEC).
Tendo em vista esses dados, começa-se a cogitar quais seriam as estratégias a
serem usadas para restabelecer ou criar um ambiente de maior disciplina em sala de
aula. Esse é o tema da próxima subseção.
2.1.2 A disciplina e o estabelecimento de rotinas em sala de aula
As rotinas são entendidas não apenas como um dos elementos integrantes das
práticas pedagógicas e didáticas que são planejadas e reguladas, mas também como a
dimensão educativa favorecedora da aprendizagem e do desenvolvimento do aluno
(BARBOSA, 2006). A rotina prevista no planejamento é um trabalho intencional, no
qual o professor mobiliza recursos didático-pedagógicos em prol da aprendizagem dos
alunos, não é uma atividade mecânica sem contextualização.
As crianças aprendem, através dessas rotinas, a prever o que farão na escola e a organizar-se. Por outro lado, a existência dessas rotinas possibilita ao professor distribuir com maior facilidade as atividades que ele considera importantes para a construção dos conhecimentos em determinado período, facilitando o planejamento diário das atividades didáticas. (LEAL, 2004, p.02)
O estabelecimento de rotinas contribui tanto para a prática de ensino como para o
processo de aprendizagem do aluno. Com a construção de rotinas é possível conduzir
melhor a aula, prevendo dificuldades dos alunos, organizar o tempo da forma
sistemática e flexibilizar as estratégias de ensino. (CRUZ, 2012, p.17)
Segundo Veiga (2011), a organização da aula demanda características como: a
colaboração entre professores e alunos; a contextualização da aula, que considera o
contexto social, educativo e as peculiaridades do conjunto de alunos. O reconhecimento
da diversidade étnica e cultural das crianças; a organização flexível, capaz de se adequar
com as necessidades detectadas. Para a autora, a qualidade da aula interfere na
promoção da autonomia, da criatividade, da ética, da solidariedade e da colaboração.
O estudo de Szenczuk (2004) contribui muito ao salientar um posicionamento,
mais institucional do que pessoal, em relação à (in)disciplina. Segundo a autora, as
pesquisas analisadas privilegiam três focos de investigação: a organização das
atividades de ensino, a organização das atividades escolares e as relações de poder na
escola. Entretanto, em aproximadamente metade das pesquisas, cuja abordagem é a
didático-pedagógica, o foco foi colocado na organização das atividades de ensino e na
organização das atividades escolares, conhecidas como rotinas de sala de aula. Essa
tendência, observada nas pesquisas sobre a (in)disciplina, de trazer para a escola e para
seus processos internos parte da responsabilidade sobre as práticas educativas escolares
torna-se de extrema importância. Assim, os professores precisam compreender que o
sentido das coisas é construído por um conjunto de representações, historicamente
construídas, que vão se tornando presentes em seus discursos. Além disso, como se
verifica, toda ação docente é pautada por concepções e crenças que muitas vezes não
são conscientes para o professor (CORSI, 2005; PAPPA, 2004).
Dada a complexidade da questão da indisciplina, mesmo as pesquisas que a
analisaram do ponto de vista dos alunos (ARAÚJO, U., 2001; BENTES, 2003) também
destacam aspectos como a organização escolar, organização dentro de sala de aula, a
interação professor-aluno, a prática pedagógica do professor, entre outros, como fatores
de influência para o comportamento dos alunos.
Segundo Estrela (2002), a relação pedagógica tem extrema importância no
âmbito dos comportamentos apropriados. No mesmo sentido, Carita e Fernandes (1997)
afirmam que a organização e gestão de sala de aula, através da criação e manutenção do
clima afetivo do grupo, representa uma atuação para evitar e/ou diminuir os
comportamentos de indisciplina. De fato, o ensino na sala de aula pode ser estruturado
através de dois elementos que se relacionam intrinsecamente: a ordem e a
aprendizagem, como afirma Barroso (2004, p.10): “a disciplina e a aprendizagem são
duas faces de uma mesma moeda”, que não podem existir separadamente. O papel do
professor passa por manter um equilíbrio entre estes dois elementos, isto é, estabelecer
regras na aula, lidar com o comportamento dos alunos e definir consequências para
estes, sem que haja interrupção da aula. No entanto, a maioria dos professores deseja
centrar-se mais na instrução que na disciplina. (Estrela, 2002). Por um lado, quando há
disciplina, os alunos estão atentos e aderem às tarefas o que leva ao prazer no ensino.
Entretanto, um ambiente negativo de controle e repreensões constantes, poderá levar à
desmotivação e ansiedade do professor. Então, a intervenção do professor deverá
basear-se numa correta organização e gestão de sala de aula (Estrela, 2002).
Para que não confundamos os conceitos de disciplina e gestão de sala de aula
(classroom managment), torna-se relevante fazer a sua diferenciação. Martins (2011)
afirma que o primeiro conceito (disciplina) diz respeito “apenas aos comportamentos
que o professor desenvolve no sentido de alcançar e manter determinados padrões de
comportamento nos alunos”, e o segundo (gestão de sala de aula) diz respeito “a todas
atividades da sala de aula, como aprendizagem, interação social e comportamento dos
alunos”. Ambos os conceitos são importantes no contexto deste estudo porque nos
interessa caracterizar a indisciplina, no âmbito dos comportamentos do professor, mas
também dos comportamentos dos alunos e das interações que se estabelecem entre
ambos e, ainda, relativamente ao sistema produtivo na sala de aula.
O estudo da gestão de sala de aula teve início com Kounin (1977) e referia-se a
prática docente, mais concretamente a preparação de aula, a gestão do tempo e do
espaço, a exposição e a capacidade de envolver os alunos nas atividades. Para Amado e
Freire (2005), o conceito de gestão de sala de aula envolve conceitos de ensino e de
aprendizagem enquanto ações observáveis, quantificáveis e subjetivas. Abrange, ainda,
conhecimentos, técnicas e tecnologias, bem como maneiras de ser e pensar de cada
participante do contexto.
Estudando sobre a questão gestão de sala de aula, Amado e Freire (2005)
debruçaram-se sobre duas dimensões: o modo como o professor organiza as atividades e
a forma como gere os poderes dentro da sala de aula.
Para Slavin (2006), qualquer docente deve proporcionar aulas interessantes,
envolventes e relevantes para os estudantes, o que irá permitir que estes prestem mais
atenção e façam com mais entusiasmo o que lhes é solicitado. Assim, as estratégias
devem ser focadas na prevenção e resposta aos comportamentos inadequados, na
utilização eficaz do tempo e espaço físico, bem como na criação de um ambiente que
abranja os interesses dos alunos e os faça colocar questões, e a promoção de atividades
que acionem a imaginação e o envolvimento mental dos alunos (engagement),
permitindo a criação de um ambiente feliz e produtivo de aprendizagem e a
minimização de problemas de comportamento.
Os estudos de Richardson (1997) dão destaque aos recursos que o professor
controla, salientando o tempo – gestão e focalização do tempo dos alunos nos assuntos
escolares em geral – e o espaço na sala de aula – como movimentar-se nesse espaço,
onde colocar os alunos, os materiais e as carteiras e como criar um ambiente adequado à
aprendizagem. Fazem, ainda, referência ao fato de estar bastante bem desenvolvida a
investigação sobre a gestão do tempo, mas muito pouco se saber ainda sobre a gestão do
espaço. A flexibilidade na colocação das carteiras e das mesas e no agrupamento dos
alunos assume um papel muito importante quando se considera o uso do espaço na sala
de aula. A principal preocupação dos professores com o espaço é experimentar a
reorganização da disposição da sala de aula. A forma como o mobiliário está disposto
pode ter influência no tempo de aprendizagem escolar e, consequentemente, na
aprendizagem dos alunos. A flexibilidade na colocação das cadeiras e das mesas, bem
como no agrupamento dos alunos, é essencial para proporcionar uma aprendizagem
cooperativa, o apoio entre pares e a apresentação dos conteúdos a todos os elementos da
aula (RICHARDSON, 1997).
Richardson (1997) e Castro (2004) investigaram as relações entre os vários
aspectos do tempo e da aprendizagem dos alunos e confirmaram que a aprendizagem
está relacionada com a quantidade de tempo atribuída a uma tarefa e com o tempo que
os alunos permanecem ocupados e concentrados na sua realização. Quanto mais tempo
os professores atribuírem a um tópico escolar específico e quanto mais os alunos
estiverem concentrados nesse tópico, mais aprenderão acerca dele.
Slavin (2006) afirma que o docente deve manter a Regularidade e o Ritmo,
evitando interrupções ou abrandamentos por parte do professor ou outro, de modo a
prevenir situações de perturbação da aula, como bater à porta, fazer chamadas
telefônicas, administração de rotinas diárias escolares e minimização do tempo para a
disciplinação as ações/conversas sobre disciplina devem ser direcionadas depois da aula
(SLAVIN, 2006).
A sala de aula, enquanto espaço de socialização cultural, produz, além de
desenvolvimento cognitivo, conflitos inevitáveis, especialmente no ensino de línguas,
por envolver a participação ativa do aluno. Dentre esses conflitos, a indisciplina
destaca-se. Percebe-se que, apesar do estudo realizado sobre esse tema no campo da
Educação em geral, no campo da Linguística Aplicada há uma carência de estudos que
tratem especificamente da questão, apesar das implicações que a indisciplina pode trazer
para o processo de ensino e aprendizagem de Língua Estrangeira (LE).
A literatura sobre estratégias de aprendizagem apresenta diferentes
classificações. Tais classificações são decorrentes de visões específicas de estratégia
defendidas pelos autores e pesquisadores.
Na seção seguinte será abordada a relação da disciplina e o processo de ensino
de L2 e as pesquisas realizadas sobre a importância da disciplina nesse processo.
2.2 Disciplina e Aprendizagem de L2
As palavras tempo e espaço são utilizadas cotidianamente no âmbito da escola,
porém o que se constitui como uma das abordagens desta pesquisa, não é o uso rotineiro
das noções dessas palavras, mas de refletir o significado de tempo e espaço como
elementos mediadores do processo de aprendizagem. É preciso observar que há
possibilidades de organização e distribuição do tempo e do espaço para efetivar de
maneira significativa a aprendizagem dos alunos.
Lima (2009) investigou a relação entre disciplina e ensino/aprendizagem de L2
em uma escola brasileira. Em seu estudo, a autora confirma que a questão da
(in)disciplina compromete o processo de ensino e aprendizagem de L2, levando a uma
atmosfera conflituosa e tensa, interferindo na qualidade relacional em sala de aula. Mais
ainda, a qualidade material (metodologia, material didático etc.) do ensino de L2 é
afetada pela falta de disciplina, uma vez que concepções de disciplina modulam
escolhas metodológicas da professora, bem como suas ações e tomadas de decisão,
acarretando forte e rápido desgaste das relações professor-aluno e entre alunos, e
inclusive inviabilizando a manutenção de ambiente propício à aprendizagem.
Em sua pesquisa, Lima (2009) acompanhou as experiências de uma professora e
quatorze estudantes adolescentes entre 13 e 14 anos em um curso de idiomas no interior
de Minas Gerais. O curso conta com excelente infra-estrutura de ensino: salas de aula
limpas e equipadas, turmas pequenas, professores treinados, apoio da coordenação,
variedade de material didático e aulas em dois encontros semanais de uma hora e quinze
minutos de duração. Mesmo nessas condições, a professora, profissional competente,
graduada e com dezesseis anos de prática de ensino, abandonou a turma devido a
dificuldades em lidar com comportamentos indisciplinados. Em questionários e
entrevistas, professora e alunos relataram sentimentos de incômodo sobre
comportamentos indisciplinados, respectivamente, de alunos e de colegas ou pessoais,
bem como do comportamento e atitudes da professora. Assim, a pesquisa documentou
que indisciplina pode ocorrer em qualquer sala de aula, inclusive na equipada e moderna
de cursos livres, tendo efeito prejudicial para aprendizagem, professor e estudantes
(LIMA, 2009).
Além disso, os resultados confirmaram que a indisciplina compromete o
processo de ensino e aprendizagem de LE, levando a uma atmosfera conflituosa e tensa,
interferindo na qualidade relacional em sala de aula. Mais ainda, a qualidade material
(metodologia, material didático etc.) do ensino de LE é afetada pela indisciplina, uma
vez que concepções de (in)disciplina modularam escolhas metodológicas da professora,
bem como suas ações e tomadas de decisão, contrariando expectativas dos estudantes.
Isso acarretou forte e rápido desgaste das relações professor-aluno e entre alunos,
inviabilizando a manutenção de ambiente propício à aprendizagem (LIMA, 2009).
A literatura em Linguística Aplicada tem identificado uma taxonomia de
Estratégias de Aprendizagem (doravante EA) como um dos fatores que podem
contribuir para a aprendizagem de L2 e diminuir a indisciplina. Williams e Burden
(2000, p. 10) constatam que “[o] trabalho recente da área de aprendizagem de
estratégias de aprendizagem tem nos mostrado que o uso consciente de estratégias pode
aumentar a aprendizagem significantemente”.
Freitas (1998), por exemplo, apresenta um artigo no qual diz comprovar a
validade do uso consciente de EA por alunos de inglês como L2. Além disso, a autora
interpretou o aumento gradativo do uso de certas EA como evidência da possibilidade
de um ensino de EA sistemático, ou seja, as EA não são algo inerente ao aprendiz, mas
podem ser ensinadas a ele. Destaco aqui a disciplina na autoaprendizagem como uma
dessas estratégias, afinal, segundo Oxford (1990, p. 139), organizar a aprendizagem diz
respeito a “compreender e usar condições relacionadas a otimizar a aprendizagem da
nova língua; organizar seus horários, o ambiente físico (ou seja, local, temperatura,
barulho, iluminação) e o caderno de Língua Estrangeira” (Oxford, 1990, p. 139). Essa
EA ressalta a importância de o aluno desenvolver a habilidade de organizar sua
aprendizagem para otimizar o desenvolvimento da competência comunicativa.
As estratégias de aprendizagem, como o próprio nome indica, visam a possibilitar,
facilitar ou acelerar a aprendizagem de uma língua. Na literatura sobre o tema, as
classificações mais referenciadas são as de O’Malley e Chamot (1990) e Oxford (1990),
sendo esta última a mais popular, tomada como parâmetro para muitas pesquisas.
O´Malley e Chamot (1990, p. 1), baseados em uma perspectiva cognitiva de
processamento da informação, definem as estratégias de aprendizagem como
pensamentos ou comportamentos especiais que os indivíduos utilizam para ajudá-los a
compreender, aprender ou reter informações novas. Cohen (1996), por sua vez, afirma
que as estratégias de aprendizagem são como passos ou ações selecionados pelos
aprendizes para melhorar a aprendizagem ou o uso da língua, ou ambos. São
pensamentos e comportamentos conscientes que os alunos utilizam para facilitar as
tarefas de aprendizagem.
As estratégias são predominantemente classificadas como sociais, afetivas,
cognitivas e metacognitivas. Inegavelmente este é o critério de classificação mais
empregado na literatura sobre ensino de línguas (WENDEN, 1987; OXFORD, 1990;
O`MALLEY & CHAMOT, 1990, entre outros).
As estratégias metacognitivas requerem avaliação, planejamento, reflexão e
monitoramento do processo de aprendizagem. Tanto a organização do espaço físico, da
luz, do horário das aulas e do gerenciamento do tempo fazem parte dessa estratégia. A
autora acrescenta que um dos fatores que resultam em baixa qualidade de ensino é a
indisciplina, pois essa está relacionada com o desperdício de tempo em sala de aula
pelos professores. Esses seriam responsáveis, portanto, pela administração de processos
envolvidos na aprendizagem, em especial pelo emprego consciente de estratégias
metacognitivas, o que pode levar a uma diminuição da indisciplina.
Em termos gerais, as estratégias representam um pensar sobre a aprendizagem
de forma a possibilitar a tomada de decisões que visam possibilitar uma aprendizagem
mais consciente, responsável e bem-sucedida. Uma das funções das estratégias
metacognitivas é identificar problemas durante a aprendizagem e planejar possíveis
soluções. Apesar das estratégias metacognitivas não estarem relacionadas à aquisição de
conteúdos específicos, o emprego das mesmas contribui de forma significativa para o
sucesso da aprendizagem, uma vez que é por meio delas que os alunos podem
desenvolver níveis mais elevados de autonomia e consciência sobre o processo
educacional (COHEN, 1998; CHAMOT, 2005).
Na seção 3 será apresentado o Sistema Colégio Militar do Brasil juntamente com o
Colégio Militar de Porto alegre e suas particularidades em treze (13) subseções.
3. O SISTEMA COLÉGIO MILITAR DE PORTO ALEGRE E O CO LÉGIO MILITAR DE PORTO ALEGRE
A presente seção está dividida em 13 subseções que abordarão as características
do SCMB: Sistema Colégio Militar do Brasil e Colégio Militar de Porto Alegre. Nas
seções (3.2 e 3.3) serão apresentados o ensino de L2 no Colégio Militar de Porto Alegre
seu impacto nos concursos de vestibular da UFRGS e EsPECx respectivamente.
3.1. Sistema Colégio Militar do Brasil e Colégio Militar de Porto Alegre
O Sistema Colégio Militar do Brasil (SCMB) é formado por 12 Colégios
Militares, que oferecem o ensino fundamental (do 6º ao 9º ano) e o ensino médio.
Fazem parte do SCMB os seguintes colégios: Colégio Militar de Brasília, Colégio
Militar de Campo Grande, Colégio Militar de Curitiba, Colégio Militar de Fortaleza,
Colégio Militar de Juiz de Fora, Colégio Militar de Manaus, Colégio Militar de Porto
Alegre, Colégio Militar de Salvador, Colégio Militar de Santa Maria, Colégio Militar de
Belo Horizonte, Colégio Militar de Rio de Janeiro e Colégio Militar de Recife.
Esses estabelecimentos de ensino oferecem educação de alta qualidade a
aproximadamente 15 mil jovens. As práticas didático-pedagógicas nos Colégios
Militares subordinam-se às normas e às prescrições do Sistema de Ensino do Exército e,
ao mesmo tempo, obedecem à Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
(LDBEN), principal referência que estabelece os princípios e as finalidades da educação
no País.
Os Colégios Militares realizam anualmente um concurso público de admissão
para o preenchimento de vagas do 6º ano do Ensino Fundamental e do 1º ano do Ensino
Médio. Para ingressar no SCMB, o candidato realizará um exame intelectual de
matemática (prova objetiva) e, se aprovado, um exame intelectual de Língua Portuguesa
(prova objetiva e redação). Se classificado dentro do número de vagas oferecidas, será
convocado para revisão médica.
Outra maneira de ingresso no SCMB é por amparo. Especificado em
regulamento, destina-se a atender aos dependentes de militares, que sofrem os reflexos
das obrigações profissionais dos pais em razão das peculiaridades da carreira, as
transferências. Com isso cada colégio possui a mesma grade curricular, possibilitando
assim um ensino único entre as escolas, e facilitando em caso de troca de colégio, em
qualquer época do ano. Os Concursados são os alunos que ingressaram no SCMB
através de concurso de admissão. Geralmente, o número de alunos amparados (70%) é
superior ao de concursados (30%) em todos os colégios militares. Esse fato merece
destaque, já que põe por terra o argumento de que o bom desempenho dos estudantes
dos colégios militares deve-se ao fato do processo de seleção feita para a admissão de
novos alunos.
O Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA) foi criado pelo Decreto nº 9.397, de
28 de fevereiro de 1912. Seu aniversário é comemorado em 22 de março, data em que
houve a primeira aula. Atualmente, no Colégio Militar de Porto Alegre o número de
alunos amparados é de 70% e concursados 30%.
Os ritos de ensino militar, que serão descritos na seção seguinte, também
contribuem para uma atmosfera permeada pela disciplina.
3.1.1 Rotinas Militares
Refletir sobre os ritos promovidos pelo SCMB permitirá não só conhecê-lo e
avaliar a imagem que a sociedade e a instituição fazem dele como também tornará
possível entender os métodos utilizados para promoção e perpetuação dessa imagem,
uma imagem constituída ao longo da evolução da instituição militar em si e consolidada
na expansão de seus estabelecimentos de ensino.
Para o antropólogo francês Van Gennep:
A vida individual, qualquer que seja o tipo de sociedade, consiste em passar sucessivamente de uma idade a outra e de uma ocupação a outra. Nos lugares em que as idades são separadas, e também as ocupações, esta passagem é acompanhada por atos especiais, que, por exemplo, constituem para os nossos ofícios, a aprendizagem, e que, entre vários povos, consistem em cerimônias. (VAN GENNEP, 2011, p.24)
Segundo Mesquita (2011), visando firmar identidade frente à sociedade, o
Exército construiu ao longo de sua história uma série de ritos e tradições a serem
transmitidas a seus integrantes, principalmente através do ensino, e, o mais importante,
a serem cultuados por eles. A preocupação militar em fazer das passagens de fase, pelas
quais todo indivíduo passa, momentos memoráveis compele a instituição a validar as
ideias de Van Gennep sobre as cerimônias como marcação dessas passagens.
Segundo Abbagnado (2007), “ tradição perpassa pela herança cultural no qual
se transmite as crenças e os valores de uma geração a outra. (ABBAGNADO, 2007,
p.p. 1149-1150) A cultura militar, por assim dizer, tem nos estabelecimentos militares, o
mensageiro de suas tradições. Seus valores são passados aos jovens de geração a
geração e são tidos na mais alta conta. Existem várias reuniões “nostálgicas”,
promovidas pelo colégio, através da Associação de Ex-Alunos, em que o fluxo de
lembranças consolida o conjunto de valores.
Os rituais do ensino secundário militar funcionam como uma espécie de “janela”
através da qual a sociedade pode observar o desenvolvimento do trabalho e ter uma
ideia dos objetivos da instituição. Os rituais que já são tradição envolvem: formaturas
matinal e geral, formaturas de conclusão de curso, desfiles, o grito de guerra, o
uniforme, o culto ao civismo e às personagens históricas, entre outras solenidades.
As tradições são necessárias para imprimir, nas gerações futuras, os valores da
instituição. O melhor meio para efetivar a impressão é a educação. No contexto do
estabelecimento em questão, podemos citar aquilo que Hobsbawm chamou de
“tradições inventadas”.
(...) Inclui tanto as “tradições” realmente inventadas, construídas e formalmente institucionalizadas, quanto as que surgiram de maneira mais difícil de localizar num período limitado e determinado de tempo – às vezes coisas de poucos anos apenas – e se estabelece com enorme rapidez. (HOBSBAWM, 1997, p.9)
Ao cruzar por militares do Colégio, os alunos deverão saudar os militares
prestando a continência individual. No pátio, cantina e demais áreas de livre acesso, os
alunos deverão estar bem uniformizados e fazendo o uso obrigatório da boina. Os
deslocamentos de turmas para qualquer local devem ser em forma, a comando do Chefe
de Turma, sob a supervisão dos Monitores. O chefe de turma é definido de acordo com
a ordem da lista de chamada e trocado a cada semana, de maneira que todos os alunos
devam passar por essa posição de destaque e responsabilidade durante o ano. É de
responsabilidade do chefe de turma informar ao professor os alunos ausentes logo no
início do período.
A principal diferença entre os colégios militares e as escolas civis é a questão da
disciplina. As regras no SCMB são rígidas. Apesar de a aula começar às 7:30h, o aluno
que atravessa o portão de entrada às 7:15h é considerado atrasado.
A formatura matinal funciona como prévia de qualquer solenidade. Ela é
realizada no início de todas as manhãs. Nesse momento os monitores repassam os
avisos, anotam as faltas e observam o uniforme, cabelo e a apresentação individual.
Nessa hora é feito o hasteamento da bandeira nacional.
A formatura com desfile, onde os alunos marcham, é apenas semanal, a cargo de
cada colégio militar. O hino nacional e o hino do colégio é cantado por todos, sempre
com muita vibração. Nessa formatura são observadas marcialidade, imobilidade,
disciplina e, mais uma vez, a apresentação individual.
Nesses dias, a formatura é seguida pela apresentação dos estandartes dos 27
estados brasileiros, além dos pavilhões do Brasil e do próprio Colégio Militar de cada
região, no caso de Porto Alegre, o brasão do CMPA; pela entonação do Grito de Guerra
e dos hinos do Brasil e de cada canção do colégio militar em questão; e pela
apresentação do mascote do Colégio, sendo tudo acompanhado pela banda de música do
colégio, composta pelos alunos.
A posição hierárquica dos conhecidos “alunos-graduados” durante as cerimônias
fica evidenciada para quem assiste. A condução do batalhão do corpo de alunos e do
grito de guerra, além da ostentação das bandeiras, são honras concedidas aos melhores
alunos.
Os alunos do SCMB têm um brado. Uma saudação colegial, que marca seu
status de aluno ou ex-aluno de um Colégio Militar no Brasil. O brado demonstra
unidade do grupo e camaradagem entre os alunos, mas sua origem é um dos grandes
mistérios nos Colégios Militares. Chamado de "Zum Zaravalho", o brado foi iniciado no
Colégio Militar do Rio de Janeiro, na década de 90 e foi estendido a todos os demais
Colégios, sem que ninguém ainda tenha descoberto seu real significado. Os militares
mais antigos relatam que o brado foi criado pelos índios paraguaios durante a guerra do
Paraguai para exaltar coragem, mas até hoje a fonte nunca foi confirmada. Ainda,
segundo Hobsbawm, as novas “tradições inventadas” podem se estabelecer com
rapidez, tanto que fica difícil localizar num período limitado e determinado de tempo.
Em dias de formatura o aluno mais graduado do terceiro ano do Ensino médio
fica em frente ao batalhão escolar para a execução do grito de guerra como término de
formatura. Para os militares, essa cerimônia é importante porque é nesse momento que o
SCMB apresenta para a sociedade, civil e militar, a disciplina e condicionamento físico
que caracterizam o ensino militar.
A apresentação individual é outro fator decisivo que faz parte dos rituais
militares, sendo considerada de grande importância dentro do sistema Colégio Militar,
tendo em vista os aspectos educacionais que se tenta incutir nos alunos, como higiene,
boa aparência, sociabilidade, postura, marcialidade, dentre outros.
Ao longo do ano, são realizadas revistas de uniforme e de apresentação
individual, podendo ser divulgadas ou não. O uso correto dos uniformes e a boa
apresentação individual dos alunos são preocupações diárias e constantes. São
recomendadas aos alunos a padronização, a discrição e a sobriedade na apresentação
individual. O não cumprimento das normas em detrimento dos deveres que sempre
aprendemos a preservar, como cidadão, constitui falta disciplinar. Atenção especial
deve ser dispensada ao uso e à conservação da boina.
Nos dias de formatura do Batalhão Escolar, os alunos deverão comparecer ao
Colégio com o uniforme “Meia Gala” , um uniforme usado apenas em dias especiais.
O SCMB entrega um manual no primeiro dia de aula aos alunos, o Manual do
Aluno. Nele constam informações sobre o colégio, explicações sobre o sistema de notas
e bônus, nomenclaturas e postos militares, mapa do colégio com todas as suas
instalações e todas as obrigações e informações necessárias aos alunos. No manual do
aluno estão as seguintes orientações quanto ao uso do uniforme e uso de acessórios: os
sapatos sempre limpos e engraxados; camisa, saia e calças limpas, passadas e vincadas;
utilizar sempre a plaqueta de identificação e as divisas do ano atualizadas, de acordo
com o ano que está cursando. A boina é o símbolo maior dos alunos do CMPA. Em
locais descobertos (a céu aberto) a boina deve estar obrigatoriamente na cabeça. Em
locais fechados (salas de aula, auditórios, vestiários etc) o uso da boina não é
obrigatório. Em via pública, o aluno deve estar sempre utilizando a boina.
Para o segmento feminino os cabelos médios e longos serão usados presos em
coque, com uso obrigatório de “redinha” ou uso do cabelo preso em "rabo de cavalo"
sempre observando que os acessórios (elásticos, grampos e presilhas) devem ser na cor
preta. Os cabelos podem ser tingidos uniformemente, em tonalidades naturais,
entretanto, é proibido o uso de mechas coloridas. É permitido o uso de batons ou gloss
em tons discretos. Maquiagem é permitida desde que discreta. As unhas podem ser
tratadas e pintadas uniformemente apenas com esmalte incolor, nas cores branca e rosa
claro. Não é permitido o uso de esmaltes de qualquer outra cor, assim como adesivos.
O segmento masculino também deve seguir algumas regras em relação ao corte
de cabelo devendo ser efetuado no período máximo de 15 (quinze) dias sempre
apresentar-se ao seu monitor na primeira oportunidade que tiver logo após a realização
do corte de cabelo, sob pena de não ser aceito o corte e, consequentemente, não ser
assinado o Cartão de Cabelo. Em sala de aula o professor pode anotar o número e nome
do aluno caso observe que o aluno está com cabelo fora do padrão. Não é permitido o
uso de bigode, barba ou cavanhaque.
Essas tradições, rituais e símbolos dão oportunidade de refletir sobre os aspectos
desse núcleo cultural. Segundo Hobsbawm (1997) esses aspectos podem ser analisados
primeiro em respeito ao poder político do colégio, mostrando à sociedade o
compromisso de contribuir para formação da nação e de pertencer a uma instituição de
prestígio; o segundo aspecto está relacionado com a imagem dele, que é respeitada por
esta sociedade; em terceiro lugar, apontaria a estrutura social do colégio, que é
reconhecido em nível local e nacional; o quarto aspecto a ser analisado é a imponência
de suas instalações, que se apresentam pelo prédio histórico e funcional; e por último,
aponta o autor a imagem que a instituição tem de si e que proclama em seus eventos,
solenidades, como uma instituição que promove um dos melhores ensinos do país e, que
são proclamados também em seus símbolos (HOBSBAWM,1997,p.p 114-174).
Na seção 3.1.2 a seguir será apresentado o linguajar militar usado em todo o
território nacional, não somente nos colégios militares, mas sim em todas as
organizações militares no país. Ainda na mesma seção será explicado o funcionamento
da Semana Zero e sua importância no CMPA.
3.1.2 Linguajar Militar e a Semana Zero
Esta subseção trata de dois assuntos que exercem um grande impacto sobre a
disciplina no CMPA, a saber: 1) o jargão militar usado na comunicação entre
professores e alunos; 2) a Semana Zero
Os processos de mudança que ocorrem na comunidade de fala segundo Labov
(1972) são primordiais na Sociolinguística. Comunidade de fala para o modelo teórico-
metodológico não é entendida como um grupo de pessoas que falam exatamente igual,
mas que compartilham traços linguísticos que distinguem seu grupo de outros;
comunicam relativamente mais entre si do que com os outros e, principalmente
compartilham normas e atitudes diante do uso da linguagem. (LABOV, 1972).
Como exemplo de neologismo, podemos citar a linguagem usada pelas Forças
Armadas no Brasil, onde os traços linguísticos usados na Marinha, Exército e
Aeronáutica são exatamente o mesmo em qualquer região do país. No quadro 1 abaixo
estão alguns termos e jargões militares mais usados pelos militares nos quartéis e OMs
(organizações militares) do país.
Quadro 1- Jargões militares
Acochambrar = Relaxar,“vagabundear”
Bizonho = inexperiente, burro
Bizu = Dica Ir na rota= Seguir destino.
Carcaça = Porte físico
Embuste = Gabar-se
Escamotear = fugir de responsabilidades
Laranjeira = quem vive dentro do quartel, quem mora no quartel Mocorongo = não sabe dar palpites, bizonho
Mulambo = mal feito, mal vestido
Paisano = Civil PC = Posto de comando. Geralmente se utiliza pra falar do escritório do
comandante.
Piruar = (verbo) Pedir, ver se consegue algum favor. Safo = Militar bom no que faz, experiente
Torar = Dormir Última forma = esqueça o que eu disse
Zaralho = bagunça Zero um = Melhor colocado, cabeça da turma
PQD = paraquedista.
Ler o celotex =Verificar avisos no quadro mural.
Peguei uma Vermelha = Estar de serviço sábado ou domingo, ou nos feriados.
Peguei uma Preta = Estar de serviço qualquer da semana, de segunda à sexta.
Cobertura = boina, quepe ou capacete.
Catanho = Lanche em um saco plástico constituído de um pão, mariola e uma laranja ou banana.
Bivaque = Acampar sem barracas, somente com a capa de chuva. Gandola = Blusão de tecido mais grosso que se usa por cima da camisa camuflada. Dar golpe = Burlar um regulamento
Voador = Aquele militar que tá sempre sumindo pelo quartel pra não receber missão. Desunido = Aquele que não se preocupa com o bem da tropa e sim com o
próprio bem
Acochambrão = Militar que sempre arranja alguma desculpa pra não trabalhar ou que sempre descansa na hora de ralar.
Aloprar = Tocar o horror.
Rolha = Missão fácil.
PC = Posto de comando. Geralmente se utiliza pra falar do escritório do comandante.
Rancho = refeitório Suco de Amarelo / de Vermelho etc…= Suco servido no rancho Suco de Gandola = Suco servido no rancho
Pica fumo: = mais moderno, recém formado.
Alvorada: = usada no sentido de começar o dia, ou horário em que os militares levantam da cama. Toque de Alvorada.
Dar o Pronto: = Após terminar uma missão, reportar ao superior que a missão foi cumprida.
Quadro 1 - jargões militares mais usados pelos militares nos quartéis e organizações militares.
Fonte: elaborada pela autora
Em alguns lugares, as relações de jargões de caserna, como os verbos
relacionados no quadro 2 abaixo, são colocadas em celotex situados nos corredores da
escola.
Quadro 2: jargões militares
Quadro 2 - relações de jargões usados nos quartéis e organizações militares
Fonte: elaborada pela autora
Militar não entra: avança
Militar não pode: tem permissão
Militar não come: arrancha
Militar não entra: avança
Militar não dorme: tora
Militar não adorce: baixa
Militar não anda: sem cadência marche
Militar não se esconde: se camufla
Militar não tem alarme: tem PDA
Militar não pratica esporte: Faz TFM (teste físico militar)
Militar não tem carro: tem viatura
Militar não tem tarefa, tem missão
Militar não vai embora: segue destino
Militar não se agrupa: fica coberto e alinhado
A movimentação do militar ou transferência é o ato administrativo que se realiza
para atender a uma necessidade do serviço e tem por finalidade principal assegurar a
presença, nas Organizações Militares (OM), do efetivo necessário à sua eficiência
operacional e administrativa. Estando sujeito a ser transferido em decorrência dos
deveres e das obrigações, o militar pode servir em qualquer parte do país ou no exterior,
e geralmente leva junto sua família. Logo, os filhos podem estudar no Colégio Militar
da região transferida.
Visando atender ao ensino assistencial para os dependentes de militares do
Exército, da Marinha e da Aeronáutica, o SCMB padroniza a linguagem militar. A
problemática não está relacionada com os filhos de militares, que acabam se
familiarizando com essa linguagem desde pequenos, e sim com os filhos de civis, que
na maioria das vezes, nunca usou ou teve conhecimento dessa variação linguística.
Porém, qual seria a necessidade de padronizar uma variedade linguística nos
Colégios Militares? Com a mesma grade curricular, o SCMB possibilita um ensino
único entre as escolas e facilita a adaptação do aluno quando chega num novo Colégio
Militar. Entretanto, para os alunos que são filhos de civis, conhecidos como
concursados, essa adaptação é mais demorada e penosa para algumas crianças, tendo em
vista a grande diferença da linguagem militar encontrada na nova escola.
Mudar de escola não é simples, pois não envolve apenas a troca de endereço ou
de professores. Mudar implica o enfrentamento do desconhecido, no temor de não
conseguir dar conta das exigências dessa nova escola, no receio de ser rejeitado pelos
colegas e de não conseguir fazer justiça ao esforço dos pais, que sonhavam com seu
filho vestindo a farda do Colégio Militar.
A Semana Zero é uma semana atípica. Ela começa como o próprio nome diz,
uma semana antes do ano letivo normal, e é direcionada apenas para os alunos novos,
sejam concursados ou filhos de militar transferidos. Essa adaptação é feita apenas no
turno da manhã.
Já no primeiro dia os alunos se apresentam de calça jeans e camiseta branca,
padronizando o efetivo e já demonstrando o uso do uniforme, já que os alunos
concursados só poderão usar a farda um mês depois.
Os alunos são divididos em grupos de 12, onde cada pelotão (sinônimo de
grupo) fica com um monitor. Esse monitor é um sargento ou uma sargento que tem por
missão o primeiro contato com a postura, linguagem e disciplina militar. Em cinco dias
esses monitores terão que demonstrar e treinar a ordem unida com os alunos, treinar
apresentação de turma, como fazer e para quem prestar a continência, etc. Os alunos
terão ainda que decorar a canção do colégio e o hino nacional, reconhecer os militares
pelo uniforme, aprender a hierarquia militar, fazer um tour pelo colégio, ter uma breve
noção de patriotismo, aprender a hastear a bandeira entre outras atividades. Essa
demanda de novas atividades adicionada pelo nervosismo do primeiro dia de aula faz
com que vários alunos tenham que enfrentar uma angústia, relatada no consultório
médico do colégio. Essas angústias são típicas desse momento de recomeço, mas que
podem e devem ser apaziguadas.
Ao mesmo tempo em que os alunos sentem vontade de frequentar a nova escola,
tem curiosidade sobre os professores e sobre as avaliações, além do interesse de se
integrar ao grupo de colegas. Os sentimentos são muito ambivalentes. A principal
reclamação é com o linguajar militar, que segundo os alunos novos, é impossível de
gravar na memória.
Na sociolinguística de Labov (1972), o contexto social é anterior à fala, aos
enunciados; é global e duradouro e, como conjunto de condições sociais e históricas,
funciona como sistema de referência explicativo dos usos individuais da linguagem.
Assim sendo, coletividades como classes sociais, comunidades, redes sociais, bem
como características coletivas dos agentes (sexo, idade, profissão, escolaridade) são
unidades de análise relevantes. Há uma afirmação a esse respeito, quando os autores
citados resumem o problema do encaixamento para uma teoria da variação e mudança
linguística:
Na explicação linguistica, é possíve alegar que os fatores sociais pesam sobre o sistema linguistico como um todo [...]Assim, a tarefa do linguista não é tanto demostrar a motivação social de uma mudança quanto ao determinar o grau de correlação social que existe e mostrar como ela pesa sobre o sistema linguistico abstrato (WEINREICH, LABOV e HERZOG, 1968 [2006], p.123)
Segundo a teoria laboviana, apesar de o indivíduo ser tradicionalmente visto
como ponto de articulação entre dados linguísticos e categorias sociais, Labov (1972)
reconhece que, para explicar certos fenômenos da mudança, torna-se necessário não
apenas identificar o sujeito, mas conhecê-lo, conhecer sua história, suas redes de
relações, etc. E esse conhecimento do sujeito é feito no primeiro dia da Semana Zero.
Usando uma dinâmica lúdica, os monitores fazem a apresentação dos alunos e cada um
escolhe o seu “nome de guerra”, o nome com o qual irá ser reconhecido pelos próximos
7 anos, durante sua passagem pelo colégio, sua nova identidade, agora militar.
Sobre o indivíduo no processo de mudança linguística, Labov (1972) localiza a
importância do papel da identidade/identificação de um certo grupo. Labov (1972)
salientou que os membros de uma comunidade de fala têm o intuito de marcarem suas
identidades, intensificando certos usos linguísticos.
Sobre as variações linguísticas nos indivíduos, segundo Labov (2003), essas
seriam condicionadas pelos seguintes fatores: (i) as relações entre os interlocutores,
particularmente as relações de poder e solidariedade entre eles; (ii) o contexto social
mais amplo – escola, trabalho, vizinhança; e (iii) o tópico.
As atitudes implícitas ou explícitas e as palavras do monitor podem interferir+
intensamente na concepção do “eu” de cada aluno, como também podem influenciar
todos os membros que compõem a sala de aula a terem a mesma percepção. Por isso foi
elaborada a Semana Zero, que nada mais é que um cuidado especial com esses alunos
novos e suas angústias. É na semana zero que o aluno recebe seu manual do aluno, onde
constam os tipos de uniforme, canções militares, modelos de corte de cabelo para os
meninos e os tipos de penteados aceitos para as meninas já explicados anteriormente.
3.1.3 Disciplina versus punição no SCMB
Segundo Magalhães (1998) o ensino militar no Brasil veio promover o
disciplinamento de todo o corpo militar, pois mesmo dentro da instituição havia
resistência entre os membros em se submeterem às ordens, à disciplina e à hierarquia
militar. O ensino surge, assim, como um meio para moldar os indisciplinados, além de
apresentar caminhos para a reorganização da própria instituição. O ensino segue normas
e regras específicas, bem como define papéis, baseadas na estrutura militar. De acordo
com Mesquita (2011) o disciplinamento por meio da educação é tema recorrente da
ciência da educação, especialmente, na Sociologia Francesa. Segundo Durkheim,
Para cada sociedade, “a educação é o meio pelo qual prepara no coração das crianças as condições essenciais para sua própria existência”. A observação dos fatos conduz pois à seguinte definição: A educação é a ação exercida pelas gerações adultas sobre aquelas que ainda não estão maduras para a vida social. Tem por objeto suscitar e desenvolver na criança um certo número de estados físicos, intelectuais e morais que lhe exigem a sociedade política no seu conjunto e o meio ao qual se destina particularmente. Em resumo, a educação é uma socialização da jovem geração. (DURKHEIM, 2007, p.14)
Segundo esta corrente sociológica, seria através da educação com
disciplinamento que se consolidariam os valores morais, políticos e religiosos
transmitidos às gerações futuras exigidos para consolidar a sociedade moderna, afirma
Mesquita (2011). Nesse contexto, os militares enquanto instituição definiram uma
educação específica, que seria transmitida aos oficiais, com base nos princípios, valores
e tradições militares. Não bastava disciplinar a elite militar dentro das regras e normas
da organização, era necessário formar a nova geração. Assim, as escolas e colégios
militares surgem como espaço singular para esse disciplinamento. No estatuto dos
militares a hierarquia faz parte da base da estrutura organizacional:
A hierarquia militar é a ordenação da autoridade, em níveis diferentes, dentro da estrutura das Forças Armadas. A ordenação se faz por postos ou graduações; dentro de um mesmo posto ou graduação se faz pela antiguidade no posto ou na graduação. O respeito à hierarquia é consubstanciado no espírito de acatamento à sequência de autoridade. (LEI N° 6.880, 09 de dezembro de 1980, Artigo 14)
A hierarquia, traduzida pela autoridade distribuída em níveis pré-estabelecidos, é
a essência da ordem. Os níveis hierárquicos da corporação são utilizados também pelo
ensino militar, o que leva os alunos a serem reconhecidos, dentro de seus
estabelecimentos educacionais, com base no mesmo princípio.
A ascensão hierárquica nos estabelecimentos de ensino funciona como incentivo
entre os alunos, pois alcançar patentes cada vez mais altas evidencia o desempenho
geral do aluno no batalhão escolar, dando-lhe destaque durante as datas comemorativas
e cerimônias, conhecidos como alunos graduados. Esse poder disciplinar não procura
reter as forças, mas sim interligá-las, multiplicá-las e utilizá-las, sua consolidação
utiliza-se dessa vigilância hierárquica e outros meios como o de punição.
Por definição, o ato de punir significa uma ação no ambiente que tem como
propriedade a interrupção imediata do comportamento inadequado, como jogar um
papel no chão ou no meio escolar militar andar sem boina em um lugar público por
exemplo.
A entrada na escola dos alunos só é permitida se estiverem uniformizados,
usando a boina, mochila da cor preta e no caso dos meninos com a barba feita. Esse
controle rigoroso, aliado a outras regulamentações, forma um sistema punitivo,
composto por dispositivos disciplinares que fazem funcionar normas gerais da
educação.
A transgressão disciplinar é uma infração culpável. O aluno do colégio militar
deve observar dois preceitos fundamentais: a hierarquia e a disciplina. A inobservância
destes preceitos poderá configurar a prática de faltas administrativas denominadas
transgressões disciplinares. O aluno estará sujeito as diversas punições, como ordem
unida nos finais de semana, manutenção da sala de aula por um período de uma semana,
etc.
Na seção seguinte será explicado o funcionamento da Legião de Honra do
Colégio Militar de Porto Alegre. Vale lembrar que a disciplina também é um dos pilares
da Legião de Honra.
3.1.4 Legião de Honra
A Legião de Honra do Colégio Militar de Porto Alegre foi instituída no ano de
1964, no comando do Coronel Plácido de Castro Nogueira, e presidida pelo aluno
Marco Antônio Longo. Na década de 80, foi extinta. Seu ressurgimento ocorreu no ano
de 1995, por iniciativa da DEPA.
A Legião de Honra do Colégio Militar de Porto Alegre, pioneira no SCMB, foi
inspirada, como suas demais congêneres no mundo, na Legião de Honra francesa criada
pelo Primeiro-Cônsul General Napoleão Bonaparte, em 1802, com o fim de
recompensar os cidadãos que se destacaram por feitos militares na defesa da Liberdade
ou por outros méritos civis ou militares, qualquer que fosse a origem do cidadão.
A Legião de Honra do Colégio Militar tem por finalidade incentivar os alunos ao
cultivo e à prática de sadios princípios de lealdade e honestidade, iniciativa e nobreza de
atitude, disciplina e camaradagem, estudo e amor à cultura, segundo os valores, os
costumes e as tradições do Exército Brasileiro.
O processo de admissão na Legião de Honra inicia-se com a indicação do aluno
para ingresso como legionário. Os comandantes de Companhia de Alunos (Cmt Cia Al),
por intermédio do Comandante do Corpo de Alunos (Cmt CA), indicam, à assembleia
geral, os alunos que satisfaçam as seguintes condições de ingresso:
1) Estar classificado no comportamento “excepcional”;
2) Ter obtido nota final igual ou superior a 6,0 (seis) em todas as disciplinas;
3) Estar cursando o Colégio Militar desde o início do ano letivo considerado.
Solenemente e perante o estandarte do CM, o novo legionário prestará seu
compromisso, traduzido no CÓDIGO DE HONRA, que encerra o juramento de
legionário conforme quadro 3 a seguir:
Quadro 3: Juramento do legendário
“AO INGRESSAR NA LEGIÃO, PROMETO CUMPRIR O LEMA: - LEALDADE E HONESTIDADE - INICIATIVA E NOBREZA DE ATITUDE - DISCIPLINA E CAMARADAGEM - ESTUDO E AMOR À CULTURA - RESPEITO ÀS NORMAS DO COLÉGIO”
Quadro 3: Juramento do legendário
Pertencer à Legião de Honra exerce sobre o aluno uma responsabilidade que é
passada aos demais alunos. Aptos por conduta exemplar os legionários acabam
incentivando os alunos à prática de princípios de lealdade, camaradagem, estudo e amor
as tradições do Exército, transformando esses valores em disciplina consciente. Os
alunos oriundos do concurso de admissão tem como objetivo alcançar o legionato e
seguir os passos desses alunos diferenciados. Logo, é fato importância que esses alunos
exercem na formação s alunos novos no SCMB.
Na subseção seguinte serão destacadas as atividades extracurriculares e sua
importância para os alunos do SCMB.
3.1.5 Atividades extracurriculares: Banda de música e Coral
Nesta seção, tratar-se-á de duas atividades curriculares que podem
colaborar para o desenvolvimento da disciplina no CMPA, que são a banda de música e
o coral. A presença da música é uma tradição em todos os colégios militares do Brasil.
É uma atividade extraclasse cultural e artística desenvolvida durante o ano letivo, com a
participação de alunos voluntários. É coordenada por um militar especializado em
música.
A Banda de Música de Alunos encontra-se dividida em Banda “A” e Banda “B”.
A Banda “A” é composta por alunos que alcançaram um grau de conhecimento técnico
e teórico compatíveis com as atividades desenvolvidas pela Banda de Música. Por isso,
é a fração que toca nas formaturas, treinamentos e apresentações externas. A Banda “B”
é composta por alunos que estão iniciando seus estudos teóricos e práticos de música,
com a finalidade de ingressar posteriormente na Banda “A”. Deve ser respeitado o
critério de voluntariado, dando-se prioridade aos alunos do Ensino Fundamental, no
caso de aprendizes, na Banda “B”. Os voluntários serão submetidos, no início do ano
letivo, a testes específicos e, quando aprovados, frequentam um estágio de, no máximo,
120 (cento e vinte) dias. Serão aproveitados os alunos que tiverem revelado progresso,
disposição e gosto pela atividade. Os pais ou Responsáveis deverão apresentar
autorização por escrito para que os alunos possam pertencer ao efetivo da Banda de
Música. O aluno estará habilitado a receber o GIP (bônus) após atingir o tempo mínimo
de dois meses de participação na Banda de Música. O aluno iniciante deverá ter uma
participação ativa em 85% das aulas teóricas e dos ensaios da Banda “B”, realizadas no
contraturno com o Maestro.
Os alunos da Banda “A” deverão ter 90% de presença durante o bimestre nos
ensaios que são realizados diariamente das 07h00min às 07h30min. Os alunos da Banda
de Música assumem a responsabilidade de estarem presentes em todas as apresentações
internas e externas.
Segundo Kater (2004) e Brito (2013) essa formação musical está presente no
contexto educacional de modo significativo para o processo de formação do civismo e
do patriotismo. As ordens dos monitores são realizadas através dos diferentes toques das
cornetas, fazendo com que os alunos os identifiquem e executem movimentos militares
correspondentes a cada trecho melódico emitido. Esses movimentos indicados pelos
toques de cornetas a exemplo de “entrar em forma”, apresentar arma, dar meia volta até
que retorne à posição de descansar. Ao total, são trinta e um toques diferentes que
devem ser memorizados pelos estudantes para que o comando seja executado segundo
as convenções previamente estabelecidas. Essa forma de linguagem através dos toques
previamente convencionados nos remete a Schaff (1968), quando afirma que:
Os homens comunicam-se por meio de gestos, linguagem fônica, escrita, filmagens pictóricas previamente convencionadas, etc. Em todos esses casos, porém, sempre por meio de signos. Gestos, sons da fala, escrita, sinais – todos são uma forma de signo, os quais por sua vez, organizados em sistema, constituem uma forma de linguagem. (SCHAFF, 1968. Pag. 161)
Os toques de corneta e clarim, que são parte importante do patrimônio da música
militar, também merecem uma atenção especial, já que registram os processos de
comunicação sonoros das Forças Armadas, evoluindo de acordo com as novas
necessidades e realidades militares a importância da música na história e na tradição
militares brasileiras, não apenas cumprindo suas funções na tropa, mas retratando a
história nacional.
Mesmo tendo uma relação direta com as práticas militares, a música promove o
desenvolvimento de aspectos psicossociais além da aprendizagem de conteúdos,
permitindo a construção de um conjunto de valores internos (KATER, 2004). A música
é uma das ferramentas mágicas para promover o desenvolvimento interno e a
qualificação humana, sendo até a mais abstrata e de maior sentido coletivo
(KATER,2004).
Por sua vez, o Coral no CMPA é coordenado pelo professor civil de música. É
uma atividade extraclasse cultural e artística desenvolvida durante o ano letivo, com a
participação de alunos voluntários.
Como em todas as outras atividades, algumas condições são impostas aos alunos
para a sua participação. O aluno iniciante deverá ter uma participação ativa em 85% das
aulas teóricas realizadas com o Maestro e deverão ter 90% de presença durante o
bimestre nos ensaios que são realizados diariamente das 7h às 07h30min. Esses alunos
assumem a responsabilidade de estarem presentes em todas as apresentações internas e
externas. Muitas das obrigações são semelhantes as exigências da Banda em função dos
diversos ensaios realizados em conjunto. Durante o ano letivo Banda e Coral se
apresentam juntos em hospitais, asilos e escolas carentes.
Para Mazzini (2013) e Faria (2001), a presença da música na educação auxilia
desde a socialização às habilidades linguísticas e lógicas-matemáticas. Ao estimular a
sentimentos, memória e a inteligência, relacionando-as ainda com ao desenvolver do
próprio educando, a música favorece a construção de um cidadão mais consciente de si
e de seu papel no mundo, mais humano, mas participativo. É também uma ferramenta
importante para disciplinar os alunos.
A música pode ser uma atividade divertida e que ajuda na construção do caráter,
da consciência e da inteligência emocional do indivíduo, pois desenvolve a mente
humana, promove o equilíbrio, proporciona um estado agradável de bem-estar, facilita a
concentração e o desenvolvimento do raciocínio, sendo também um agente cultural que
contribui efetivamente na construção da identidade do cidadão. Pode até mesmo
transformar conceitos espontâneos em conceitos científicos. (FARIA,2001)
Para a autora existe uma forte correlação entre a educação da música e o
desenvolvimento das habilidades que as crianças necessitam para se tornarem bem
sucedidas na vida. Autodisciplina, paciência, sensibilidade, coordenação, e a capacidade
de memorização e de concentração são valorizadas com o uso da música. Estas
qualidades acompanharão os educandos em qualquer caminho que escolham para a sua
vida. A aprendizagem, juntamente com a música, pode ter uma influência na formação
das crianças que é apenas secundada pelo amor dos pais escolham para a sua vida.
Atualmente a Banda de Música e o Coral juntos possuem 132 alunos. São 62 alunos na
Banda de Música e 70 alunos no Coral.
Na subseção seguinte (3.1.6) será explicado o funcionamento da Seção de
Educação Física(SEF) e suas atividades esportivas.
3.1.6 Atividades Esportivas
A Seção de Educação Física (SEF) e o Grêmio da Cavalaria oferecem horários
de treinamento específico em várias modalidades, visando à formação de equipes para a
participação em competições externas. O Grêmio da Cavalaria oferece equitação aos
alunos. As modalidades e horários são organizados e divulgados pela Seção de
Educação Física e Grêmio da Cavalaria de acordo com a disponibilidade de professores
e locais para funcionamento. Todas as atividades são gratuitas.
O Corpo de alunos apresenta considerações em relação às atividades:
a) O GIP (bônus) poderá ser concedido ao atleta que preencher todas as condições
necessárias e tiver efetiva participação em todos os treinamentos, amistosos e
competições previstas, excetuando-se os casos de impossibilidade de comparecimento,
cujas justificativas deverão ser entregues ao técnico da modalidade em até 48 (quarenta
e oito) horas após a falta. Só poderão compor as equipes desportivas do CMPA os
alunos com grau de comportamento igual ou superior a 5,0 (cinco vírgula zero).
b) Os horários de treinamento, amistosos e competições ocorrerão, preferencialmente,
no contraturno e nos finais de semana.
c) O atleta que não obtiver média maior ou igual a 5,0 em todas as NP (notas
periódicas) não poderá participar das competições esportivas externas representando o
Colégio Militar.
Segundo o professor da Unicamp, João Batista Freire (2012), é notório que
jovens que praticam esportes querem competir e vencer. No entanto, isso só será
possível em um regime disciplinado. Não sendo assim não terão sucesso. O esporte
impõe o mérito pela disciplina. Ou seja, ninguém fica forte sem treinos árduos, ninguém
entra em plena forma física sem treinamentos rigorosos, não é possível desenvolver
habilidades técnicas sem treinos exaustivos e incontáveis. Outro detalhe é que tais
características não são características únicas do esporte, com as devidas adaptações e
observação das diferenças, a música, a arte e cultura de um modo geral são aliados no
auxílio para a formação disciplinada. Tal disciplina está relacionada à liberdade de
escolhas, maturidade e desenvolvimento pleno recheado de ricas experiências de vida.
Essencial no esporte e nos negócios, a disciplina é o que faz a diferença na hora
dos resultados. O professor destaca que assim como no mundo esportivo, quase tudo é
uma competição em ambientes corporativos, e a disciplina para realizar suas tarefas e se
preparar é imprescindível. Esporte e disciplina andam juntos. Tudo começa pelas regras.
Regras do jogo, de convivência, de treinos. Regras e rotinas são muito importantes para
as crianças. Na verdade as crianças precisam muito disso, é fundamental para o seu
desenvolvimento que estejam orientados sobre o que devem fazer. E o esporte ajuda
muito nesse papel. Esportes coletivos e individuais auxiliam os pais a firmarem regras
importantes para a vida de cada um. Regras de convivência, de individualidade, de vida.
Além de o esporte ser importante para o desenvolvimento físico, é fundamental para a
disciplina. “Escolha o esporte ideal e coloque seu filho. Esporte não é só saúde, mas
também é disciplina” (FREIRE,2012).
Quando se faz referência ao esporte, parte-se primeiramente da prática do
exercício físico, do corpo saudável e esteticamente bem modelado. Porém, a prática do
esporte, segundo o pedagogo Freire (2012), não se limita apenas a uma vida saudável, e
sim a todo um contexto social mais abrangente, como a inclusão social, a construção do
conceito de cidadania, a socialização com diferentes modos de vivência e a consciência
de que o âmbito escolar e núcleos esportivos são locais de aprendizagem, de bem estar e
de construção de valores e que por isso precisam ser conservados e bem cuidados para
os fins que os reservam.
Na subseção seguinte será explicada a função do grêmio estudantil no CMPA,
chamado de Sociedade Esportiva e Literária.
3.1.7 Sociedade Esportiva e Literária
A Sociedade Esportiva e Literária, conhecida como SEL, é uma instituição sem
fins lucrativos constituída pelos alunos regularmente matriculados e frequentes no
Colégio Militar de Porto Alegre.
A SEL é um grêmio estudantil que tem por finalidade melhorar a qualidade de
vida e da educação dos alunos do CM, estimulando o interesse desses na construção de
soluções para os problemas, contribuindo para formar assim cidadãos conscientes,
participativos e multiplicadores dos valores constantes na Proposta Pedagógica do
Colégio Militar.
No cumprimento de suas finalidades, a SEL promove ações na área social,
cultural, esportiva e educacional, podendo realizar eventos, cursos, debates, palestras,
campeonatos, concursos e quaisquer outras atividades ligadas às suas finalidades.
Na subseção a seguir serão destacados os laboratórios e os clubes existentes no
CMPA.
3.1.8 Laboratórios e Clubes
Os laboratórios são considerados espaços importantes no processo de ensino e
aprendizagem. Os colégios militares do Brasil possuem os seguintes laboratórios:
Laboratório de Química, Física, Biologia e Matemática. Alguns colégios apresentam
algumas especificidades, como é o caso do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA)
que junto com o Laboratório de Física ainda criaram um observatório astronômico.
Os colégios ainda possuem clubes no contraturno: Clube de Robótica, Clube de
Radioamadores, Clube de Astronomia, Clube de Relações Internacionais e o Clube de
Línguas.
3.1.9 Observatório Astronômico Didático Capitão Parobé
No dia 26 de novembro de 2002, o Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA)
inaugurou a primeira fase do seu Observatório Astronômico, em solenidade realizada no
quartel da 1ª Divisão de Levantamento, onde está situado.
A instalação foi batizada como “Observatório Astronômico Capitão Parobé”,
em homenagem ao Capitão João José Pereira Parobé, aluno e professor da Escola
Militar do Rio Grande do Sul (1882-1887), diretor da Escola de Engenharia (berço da
UFRGS) (1898 – 1915), fundador do Colégio Júlio de Castilhos (1900), da Escola
Técnica Parobé (1906) e do Instituto Astronômico e Meteorológico da UFRGS (1906),
além de eminente político e administrador público gaúcho.
O Colégio Militar transformou-se, assim, na primeira escola brasileira de
educação básica a contar com um observatório astronômico. A ideia inicial surgiu após
as vitórias alcançadas por seus alunos nas competições de astronomia em 2001/2002,
quando os alunos Viegas e Lion foram selecionados para representar o Brasil na VII
Olimpíada Internacional de Astronomia (realizada em outubro na Rússia), com apenas
alguns meses de preparação na matéria. O fato despertou a atenção de pesquisadores
militares e civis, bem como de órgãos de pesquisa e de fomento à pesquisa ligados a
UFRGS e a USP, os quais viram ali a oportunidade para realizar um velho sonho: trazer
a iniciação à pesquisa para a escola básica, tal como é feito nos países mais adiantados.
Segundo o comando do Colégio Militar de Porto Alegre, a viabilização do
Observatório deu-se através de um convênio firmado entre o CMPA, a 1ª Divisão de
Levantamento (1ª DL), a Comissão Regional de Obras/3 (CRO/3), a UFRGS, a
Fundação de Apoio a UFRGS (FAURGS), o 1º Centro de Telemática de Área (1º CTA),
a Universidade de São Paulo (USP) e a Fundação Vitae.
O Observatório Capitão Parobé possibilita o desenvolvimento do projeto
“Educação em Ciências com Observatórios Virtuais”. Neste projeto, um grupo de seis
instituições acadêmicas e sete escolas de ensino médio, sob a coordenação do Instituto
de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da USP (IAG/USP), estão associadas
para implantar um programa piloto de estudos, pesquisas e observação astronômica
direta, com utilização, em tempo real, de telescópios robóticos, que assim funcionarão
como "observatórios virtuais". Todas essas instituições estarão ligadas entre si e, por sua
vez, terão acesso e poderão ser acessadas pela rede do projeto TIE (Telescópios na
Educação), um programa patrocinado pela NASA e apoiado, entre outras instituições,
pelo Laboratório de Propulsão a Jato, do Instituto de Tecnologia da Califórnia.
No Brasil, as escolas estarão conectadas aos telescópios robóticos instalados
nos observatórios do IAG em Valinhos – SP; da Universidade Federal do Rio de Janeiro
(UFRJ), no Valongo – RJ; da Universidade Federal de Santa Catarina, em
Florianópolis; da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e do Colégio Militar,
ambos em Porto Alegre. O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), em São
José dos Campos, e a Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), em Natal,
terão os telescópios robóticos localizados inicialmente em suas dependências, prevendo-
se a instalação de seus respectivos observatórios durante o período de execução do
projeto. Está prevista também a possibilidade, em médio prazo, de integração do projeto
ao observatório do LNA - Laboratório Nacional de Astrofísica/CNPq, instalado no Pico
dos Dias, em Minas Gerais, que é o principal observatório brasileiro.
No exterior, a conexão será articulada com os observatórios do projeto TIE,
principalmente os localizados nos Estados Unidos, Austrália, Japão e Chile.
As atividades pedagógicas previstas objetivam desenvolver as habilidades e
competências dos alunos no uso do método científico, através da realização de projetos
interdisciplinares, a partir de atividades de observações astronômicas, já que a
astronomia é uma área interdisciplinar por excelência. Assim, os projetos pedagógicos
deverão integrar as áreas de matemática (para correção de medidas, por exemplo),
computação, física, química, história, geografia (com estudos sobre regiões e realidades
socioculturais dos sítios de observação), antropologia (para estudos comparados sobre a
diversidade cultural dos conceitos astronômicos), artes (representação simbólica e
plástica de objetos astronômicos), mitologia, etc. Essas atividades terão níveis
diferenciados de complexidade, que podem ser adequados aos vários graus do ensino.
O sucesso do laboratório de Física fez com que outros três clubes fossem
criados: Clube de Astronomia, Clube de Radioamadores e Clube de Robótica.
A seguir o funcionamento do curso pré-vestibular que o Colégio Militar oferece
aos alunos e da Seção de Cursos.
3.1.10 O funcionamento do 3º ano e a Seção de Cursos
O último ano em um colégio militar é atípico em relação às demais escolas. Ele
se divide em subseções: PREVEST e Seção de Cursos. Essas duas seções são
direcionadas aos alunos que irão realizar algum tipo de prova em concurso público, seja
vestibular os concursos militares. O 3º ano segue com quase as mesmas normas e
prescrições previstas para todos os demais anos escolares. O ano é diferenciado pois
segue um padrão de concurso. Durante todo o ano letivo o aluno vivencia ao final de
cada bimestre a estrutura, a ambientação e o estilo de prova, já se familiarizando com o
concurso desejado. A seção de Cursos prepara os alunos para a Escola Preparatória de
Cadetes do Ar (EPCAr) e Escola Preparatória de Cadetes de Exército (EsPCEx) e
Escola de Sargentos do Exército (ESA). As aulas são ministradas no turno da tarde,
juntamente com o PREVEST.
O último ano tem como objetivo prestar orientação aos alunos que desejarem
realizar o Programa de Avaliação Seriada (PAS) ou similar e, programar e coordenar as
atividades de complementação de conteúdos para realização do Exame Nacional do
Ensino Médio (ENEM). As finalidades de orientar para o ENEM são a de estimular o
aluno do 3º ano a participar de um exame de âmbito nacional promovido pelo
INEP/MEC, com ênfase para a autoavaliação, e a de permitir que o discente participe de
outras formas de ingresso no ensino superior. A preparação do ENEM será alvo cada
vez maior de atenção dos docentes, principalmente nos aspectos de interdisciplinaridade
e contextualização das questões.
Na seção 3.2 será explicado como se desenvolve o ensino de L2 no Colégio
Militar de Porto Alegre MPA e seu impacto nos exames vestibulares
3.2 O Ensino de L2 no CMPA e seu impacto nos exames vestibulares
Os Colégios Militares ministram inglês por níveis, nos moldes dos institutos
civis especializados nessa área. O método utilizado desenvolve a capacidade de
expressão oral dos alunos e tem como base o uso do chamado “Corredor de Inglês”. No
Colégio Militar de Porto Alegre o nome dado ao espaço de idiomas é Salas Especiais.
Tem esse nome devido ao número de salas direcionadas apenas ao ensino de língua
estrangeira, num total de 10 salas de aula. É um espaço temático em que todos são
incentivados a se expressar no idioma.
De acordo com o Projeto Político Pedagógico da escola, cujos fundamentos
teóricos metodológicos estão contemplados nas Diretrizes Curriculares Estaduais, o
objeto do ensino da língua estrangeira moderna é “a língua, concebida como discurso,
repleta de sentidos a ela conferidos por nossa cultura em nossa sociedade.” (Projeto
Político Pedagógico, p. 96). Além disso, tem como objetivo possibilitar ao aluno o
emprego da língua oral em diferentes situações de uso, adaptar o uso da língua em
situações discursivas, como também levar o aluno a ser parte integrante do mundo atual,
caracterizado pelo avanço tecnológico e grande intercâmbio de povos.
Um número reduzido de alunos por classe assegura que os mesmos recebam um alto
nível de atenção por parte dos professores. Com o número reduzido de alunos
aprendizado é facilitado devida a atenção que os alunos podem receber do professor
individualmente.
O ensino de Língua Inglesa está estruturado de acordo com o Sistema de Ensino
e Aprendizagem por Níveis (SEAN) até o 2˚ ano do Ensino Médio. A distribuição de
níveis com Matriz de Referência de Competências e Habilidades é elaborada a partir das
orientações dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN). A carga horária segue o
previsto nas Normas de Planejamento e Gestão Escolar (NPGE): 6ano/EF ao 1ano/EM
– 90h/a; 2ano e 3ano/EM – 60h/a. A fim de alinhar o SEAN à divisão proposta pelo
Marco Comum Europeu (Common European Framework of Reference), os níveis
passam a receber a seguinte denominação: A1A, A1B, A2A, A2B, B1A, B1B.
Cada ano escolar pode se encaixar em dois ou em até três níveis. Para
exemplificar essa divisão dos níveis usamos o 8º ano do ensino fundamental como
exemplo. Os alunos do 8º ano são divididos por 3 níveis. O nível relacionado ao ano e
dois níveis mais baixos, para aqueles alunos com mais dificuldades no idioma. O único
ano em que os alunos possuem apenas um nível é o 6º ano. Todos os alunos desse ano
iniciam no nível A1A (Starter). Durante o ano são avaliados e, se aprovados, passam
para o nível seguinte, ou permanecem no mesmo nível se forem reprovados apenas na
disciplina de inglês.
O quadro 4 ilustra essa divisão por níveis ao longo dos anos escolares:
Quadro 4: níveis de inglês
6˚/EF – A1A
7˚/EF – A1A e A1B
8˚/EF – A1A, A1B e A2A
9˚/EF – A1B, A2A e A2B
1˚/EM – A2A, A2B e B1A
2˚/EM – A2B, B1A e B1B
Quadro 4 – níveis do material didático adotado pelo CMPA
Logo no primeiro dia de aula, os alunos novos não-concursados realizam uma
prova de nivelamento. Caso não atinjam, neste teste de nivelamento, o nível mínimo de
Língua Inglesa previsto para o Ensino Médio (A2A para o 1º EM e A2B para o 2º EM),
será indicado para cursar a Língua Espanhola. Nos outros níveis o aluno irá para o nível
mais baixo de seu ano de ensino.
Fica facultada aos Colégios Militares a escolha do material didático para uso no
SEAN e seriado, devendo ser registrado no Plano Geral de Ensino (PGE) do CM.
As avaliações em Língua Inglesa seguem as modalidades previstas nas Normas
de Avaliação para a Educação Básica (NAEB) – diagnóstica, formativa e somativa. Os
testes de nivelamento visam verificar o nível de conhecimento em Língua Inglesa
necessário para a distribuição dos alunos pelos níveis possíveis nos anos escolares.
As quatro habilidades (speaking, listening, reading e writing) deverão compor a nota de
Avaliação Parcial (AP), ficando a critério de cada Colégio Militar o peso que será
atribuído a cada habilidade. Uma vez definido, o peso atribuído a cada habilidade
deverá constar no PGE.
O sucesso dessa divisão por níveis é comprovado pelo alto desempenho nas
línguas estrangeiras pelos alunos nos diversos concursos vestibulares e concursos
públicos. Os 12 colégios do SCMB têm registrado a aprovação de seus alunos em
processos seletivos nos respectivos estados, fora dele e até mesmo em outros países. De
acordo com os dados da Diretoria de Ensino Preparatório e Assistencial (DEPA)
somente 2015, um total de 13.801 estudantes passou por processos seletivos em
vestibulares de universidades públicas e privadas. E desse número, até o momento,
9.384 foram aprovados, o que corresponde a quase 70% de aprovação.
Os resultados dos alunos do Colégio Militar de Porto Alegre nos vestibulares e
concursos militares também foram satisfatórios no ano de 2015. Foram 90 alunos
aprovados em universidades públicas e 122 em instituições de ensino privado, como
IBMEC, PUC, entre outras. Nas instituições militares como o Instituto Militar de
Engenharia (IME) e o Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA) e a Escola
Preparatória de Cadetes do Exército (EsPCEx) foram 40 alunos aprovados.
O Instituto Militar de Engenharia (IME) é uma instituição acadêmica de nível
superior pública que pertencente ao Exército Brasileiro. O IME oferece cursos de
graduação e pós-graduação em Engenharia, sendo considerado um centro de excelência
e referência nacional e internacional no ensino da Engenharia. No recente concurso para
o Curso de Formação e Graduação (CFG) do Instituto Militar de Engenharia (IME),
dois dos três aprovados no RS são do CMPA.
Outra instituição militar é a Escola Preparatória de Cadetes do Exército
(EsPCEx), que no ano de 2015 aprovou 35 alunos do CMPA e outros três ex-alunos do
ano de 2014. Outros dois ex-alunos do Colégio Militar de Porto Alegre foram
aprovados naquele que é considerado um dos mais difíceis vestibulares brasileiros, o do
Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA).
Alguns alunos do CMPA se destacaram pelas aprovações em universidades
estrangeiras nos últimos anos. Em 2010 uma aluna membro da Legião de Honra,
Secretária da SEL, integrante da Comissão de Formatura e primeira aluna a se tornar
Jovem Embaixadora junto aos Estados Unidos - tornou-se a primeira ex-aluna a
conquistar vaga de graduação em universidades americanas, optando pela Bryn Mawr
College, uma universidade para mulheres na Pensilvânia. Agora, com sua formatura,
tornou-se a primeira ex-aluna a concluir os sete anos do CMPA e a se graduar em uma
universidade americana.
Atualmente, três ex-alunos do CMPA fazem graduação nos Estados Unidos,
após terem sido selecionados no ano de 2012 nas universidades de Harvard,
Pennsylvania e Duke e um ex-aluno na Universidade de Salamanca (Usal), na Espanha.
Em 2011 outro ex-aluno foi aceito para realizar os estudos de graduação em
Relações Internacionais na Fudan University, sediada na cidade de Shanghai, na
República Popular da China. Essa Universidade é membro do C9, a liga das mais
destacadas universidades chinesas. É considerada a melhor universidade de Shanghai e
a terceira melhor da China, possuindo convênios com Harvard, Yale e outras renomadas
universidades mundiais. Ao todo, vinte jovens brasileiros foram selecionados para
cursar universidades chinesas, mas apenas dois foram selecionados para a Fudan
University.
Três alunos e um ex-aluno do Colégio Militar de Porto Alegre, integrantes do
CRI - Clube de Relações Internacionais, participaram da 61th Harvard Model United
Nations- HMUN 2014, a mais antiga e importante simulação da ONU no mundo,
realizada anualmente na Universidade Harvard, nos Estados Unidos.
Como já foi dito anteriormente o número de alunos aprovados na Escola
Preparatória de Cadetes do Exército (EsPCEx) também foi satisfatório. Em 2015 foram
35 alunos do CMPA e outros três ex-alunos do ano anterior. Na seção 3.3 será
destacado o ensino de L2 e seu impacto no concurso de admissão.
3.3 O ensino de L2 e seu impacto sobre a performance na prova de L2 na Escola
Preparatória de Cadetes do Exército (EsPCEx)
A aprovação na Escola Preparatória de Cadetes do Exército (EsPCEx) cumpre
dupla finalidade para o ensino no exército: é um objetivo histórico do SCMB, posto que
os Colégios Militares sempre se prestaram à reprodução do efetivo da oficialidade; e se
presta a avaliação do rendimento escolar, como indicador externo.
A Escola Preparatória de Cadetes do Exército (EsPCEx) localiza-se na cidade de
Campinas, estado de São Paulo. É uma instituição com mais de meio século de
existência, cuja missão é preparar candidatos para o ingresso na Academia Militar das
Agulhas Negras (AMAN), responsável pela formação do oficial combatente do exército.
O ingresso na EsPCEx é feito por intermédio de um concurso de admissão realizado
anualmente, para jovens do sexo masculino que estejam cursando, ou tenham concluído,
a 3ª Série do Ensino Médio. No ano de 2016 a escola passará a receber a primeira turma
de segmento feminino.
O aluno da EsPCEx realiza em um ano, um curso equivalente ao 1º Ano do
Ensino Superior, acrescido de formação militar necessária ao futuro cadete da AMAN.
Inclui-se, além das disciplinas do Ensino Superior, a disciplina de Instrução Militar,
entre outras de cunho preparatório para a AMAN e para a vida militar, com ênfase na
preparação física do aluno através do Treinamento Físico Militar (TFM).
A aprovação do concurso de admissão da EsPCEx é muito estimulada no
Sistema Colégio Militar do Brasil. No contraturno os alunos interessados podem
ingressar no curso preparatório já mencionado na subseção 3.1.10. A língua inglesa,
única língua estrangeira no concurso de admissão, tem sido nos últimos anos uma
matéria de grande dificuldade no concurso como um todo, já que apenas 30% dos
candidatos conseguem atingir 50% necessários para a aprovação na parte de língua
estrangeira. De acordo com o site oficial da EsPCEx , em 2015 cerca de 17 mil jovens
participaram do processo seletivo e apenas 7% foram aprovados para a segunda fase .
Ao final da segunda fase somente 3% conseguem a aprovação. Das 500 vagas
destinadas ao país inteiro, o CMPA aprovou 35 alunos e três ex-alunos de 2014. O
processo ocorreu em 34 cidades em todo o Brasil.(www.espcex.ensino.eb.br).
Dos 41 alunos do CMPA que realizaram o exame de admissão, 39 conseguiram
o resultado mínimo na prova de língua inglesa para a aprovação. Esse resultado se
iguala aos demais colégios militares. O Sistema Colégio Militar do Brasil aprovou nesse
ano 162 alunos, quase 34% dos aprovados no concurso no país todo.
Na seção seguinte serão apresentados os objetivos e o método utilizados para a
realização da pesquisa.
4 OBJETIVOS E MÉTODO
Este capítulo trata dos objetivos e do método de pesquisa construído para
implementá-la. Para essa finalidade, divide-se em duas partes principais. Na primeira
parte (4.1), trataremos dos objetivos específicos a eles correspondentes. Na segunda
parte, apresentamos o método (4.2), que trata das características dos participantes e as
características desse grupo.
4.1 Objetivos
Tendo em mente o enfoque teórico abordado no capítulo anterior, pretende-se,
nesta seção, estabelecer o objetivo geral e os objetivos específicos da pesquisa.
A partir do objetivo geral, que é estudar o fenômeno da disciplina em sala de
aula e sua influência no processo de ensino aprendizagem de L2 no Colégio Militar de
Porto Alegre, colocam-se os seguintes objetivos específicos:
1) apresentar e analisar os resultados obtidos no concurso vestibular da UFRGS;
2) apresentar e analisar os resultados obtidos no concurso de admissão à Escola
Preparatória de Cadetes do Exército (EsPCEx );
3) investigar como estudo de caso os mecanismos disciplinares presentes no
Colégio Militar de Porto Alegre, analisando a importância das rotinas em sala de aula
no processo aprendizagem de L2.
4.2 Metodologia
Esta seção visa descrever o tipo de pesquisa implementada, o processo de
seleção dos dados e os procedimentos de análise.
4.2.1 Tipo de pesquisa e participantes
A metodologia adotada neste estudo de caso é a abordagem qualitativa, com o
propósito de compreender o alto índice de desempenho nos exames de língua inglesa
dos alunos do CMPA no vestibular da Universidade Federal do Rio Grande do Sul
(UFRGS) e no concurso público da Escola Preparatória de Cadetes do Exército. A
abordagem qualitativa permite, segundo Richardson (1999), descrever a complexidade
de determinados problemas e possibilita, dentre outros aspectos, compreender processos
dinâmicos vividos por grupos sociais, além de favorecer o entendimento das
peculiaridades do comportamento dos indivíduos.
O estudo de caso permite, segundo Triviños (1987), realizar investigações de
maneira profunda, tanto de um indivíduo, como grupo ou instituição. Nesse sentido, a
metodologia escolhida possibilitou retratar a realidade de forma contextualizada,
considerando que essa se desenvolve numa situação natural, o dia-a-dia da escola, rico
em dados significativos, descritivos, que resultam das “[...] interações, ações,
percepções, sensações e dos comportamentos das pessoas relacionados à situação
especifica onde ocorrem” (TRIVIÑOS, 1987).
Dessa forma, é possível entender que o estudo de caso possibilita um maior
aprofundamento do problema da vida escolar e, em se tratando da avaliação do ensino-
aprendizagem e seus desdobramentos em relação à aprovação nos vestibulares na
disciplina de língua inglesa, o estudo de caso propicia a análise dos elementos inseridos
no processo de ensino, buscando a participação de todos, como esclarece Depresbiteris
(1991, p. 58-59):
[...] na busca de uma perspectiva totalizante de conhecimento e análise da realidade, e mais próxima de uma concepção dialética da educação, a prática avaliativa deveria lançar mão de abordagem de pesquisa tais como pesquisa etnográfica, avaliação iluminativa, pesquisa participante, pesquisa-ação e estudo de caso. Essas abordagens visam à conscientização e envolvimento dos elementos inseridos no processo de ensino, buscando a participação de todos esses elementos numa discussão conjunta e crítica desses resultados [...].
O estudo de caso manifesta o pensamento de Lüdke e André (1986), que o
definem como uma estratégia de investigação, uma forma de analisar dados em que
“[...] o desenvolvimento do estudo aproxima-se a um funil: no início há questões ou
foco de interesses muito amplos, que no final se tornam mais diretos e específicos. O
pesquisador vai precisando melhor esses focos à medida que o estudo se desenvolve”
(LÜDKE; ANDRÉ, 1986, p.13).
De acordo com Ludke e André (1986, p. 11), a pesquisa qualitativa “[…] supõe
contato direto e prolongado do pesquisador com o ambiente e a situação que está sendo
investigada”. Chizzotti (2003, p.221) esclarece que “[…] o termo qualitativo implica
uma partilha densa com pessoas, fatos e locais que constituem objetos de pesquisa, para
extrair desse convívio os significados visíveis e latentes que somente são perceptíveis a
uma tenção sensível”.
Na mesma perspectiva, Deslandes (1994, p.21-22) destaca que “[…] a pesquisa
qualitativa responde a questões muito particulares […] trabalha com o universo de
significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes”.
Nesta modalidade de investigação, o pesquisador envolve-se com o tema
estudado, faz observações dos fenômenos, registrando como eles se processam e se
relacionam. Na prática, tem-se a coleta, o registro, a organização, a codificação e a
análise de dados. Esse processo requer sistematização para possibilitar que os resultados
descrevam a realidade estudada.
A proposta desta pesquisa é estudar o fenômeno da disciplina em sala de aula e
sua relação com o processo de aprendizagem em L2 no Colégio Militar de Porto Alegre
(doravante CMPA). Desse modo, serão apresentados os mecanismos disciplinares
presentes na escola, bem como os fatores que interferem no cotidiano escolar e sua
relação com a prática docente. O foco de atenção será na implicação que a disciplina
aplicada no Sistema Colégio Militar do Brasil (SCMB) exerce no processo de ensino
aprendizagem de L2 no CMPA, refletindo-se nos resultados (produto) dos exames
vestibulares em L2.
A discussão sobre este tema não é nova, pois a indisciplina sempre foi polêmica
nos meios acadêmicos, continua sendo um assunto relevante, carente de pesquisas que
acrescente novos conhecimentos.
A pesquisa ocorreu no Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA). Os
selecionados para participar da pesquisa foram apenas os vestibulandos, os alunos do
último ano do Ensino Médio do CMPA, totalizando mil trezentos e cinquenta e três
(1353), de 2007 até o ano de 2015. A faixa-etária dos alunos envolvidos é de 16 a 19
anos. A fase inicial da pesquisa iniciou-se com a coleta de dados de aprovação dos
vestibulares das universidades juntamente com os concursos públicos militares. Durante
o corrente ano foram realizadas pesquisas nos sites do Colégio Militar de Porto Alegre,
site da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e da Escola Preparatória de Cadetes
do Exército para tais informações. Alguns dados sobre o desempenho dos alunos no
ensino médio foram enviados pela Diretoria de Educação Preparatória e Assistencial
(DEPA). Esses dados serão analisados juntamente com o desempenho dos alunos do
CMPA no capítulo 5.
Tendo em vista o grande efetivo de alunos dessa pesquisa, a coleta de dados
começou no início de 2015 com a obtenção das médias do Ensino Médio dos alunos
envolvidos através do Sistema Integrado de Gestão Acadêmica (SigaWeb) usado em
todo o SCMB. Algumas médias dos alunos foram enviadas também pela Diretoria de
Educação Preparatória e Assistencial (DEPA), já mencionado anteriormente. Essas
médias foram coletadas com o intuito de comparar o desempenho dos alunos durante a
vida escolar no CMPA com o desempenho no vestibular da UFRGS e nos concursos
militares. Também foram usadas as redes sociais para entrar em contato com os alunos
mais antigos do colégio, já que alguns alunos deletaram o seu desempenho do vestibular
no site da UFRGS. Esses dados serão apresentados com melhor clareza no capítulo 5.
5 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
Nesse capítulo serão apresentados os resultados e análises concernentes ao
desempenho dos alunos no Vestibular da Universidade Federal do Rio Grande do Sul
(UFRGS) e ao desempenho do concurso público da Escola Preparatória de Cadetes do
Exército (EsPCEx ). Para isso, o capítulo está dividido em duas seções, cada uma
referente a cada análise pesquisada.
5.1 Resultados obtidos no vestibular da Universidade Federal do Rio Grande do
Sul- UFRGS
Na literatura até hoje não foi investigado o desempenho dos alunos do SCMB
em concursos vestibulares ou militares. Partimos da ideia de que os alunos do CMPA
certamente apresentam um desempenho melhor em concursos do que os alunos de fora
do colégio. Contudo, não era possível afirmar se haveria grandes diferenças entre esses
alunos.
Conforme o objetivo da pesquisa, foram realizadas coletas de dados dos últimos
vestibulares da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) juntamente com o
desempenho dos alunos do CMPA desde 2007, ano em que as questões do vestibular da
UFRGS foram reduzidas de 30 para 25 questões. O Concurso Vestibular da UFRGS
constitui-se de provas que visam à avaliação dos conhecimentos adquiridos pelos
candidatos nas matérias do núcleo comum do Ensino Médio: Física, Literatura de
Língua Portuguesa, Língua Estrangeira Moderna, Língua Portuguesa e Redação,
Biologia, Química, Geografia, Matemática e História.
A tabela 1 abaixo ilustra o ano do vestibular da UFRGS, a quantidade de alunos
que realizaram a prova de língua inglesa e língua espanhola seguidos pelo número de
acertos dos alunos do CMPA e demais vestibulandos em cada uma das provas. Ilustra
também a média dos alunos do CMPA e a média do vestibular em cada prova de
idiomas da UFRGS de 2007 a 2015.
As informações constantes na tabela 1 foram coletadas através de quatro
maneiras: 1) informações obtidas no site da UFRGS, para obter o número de acertos nas
provas de língua estrangeira dos alunos do CMPA; 2) no site do CMPA; e 3) na seção
técnica de ensino do CMPA para obter o número exato de alunos aprovados no 3º ano
do Ensino Médio; 4) redes sociais para o contato direto com os alunos que realizaram
aprova.
Analisando a tabela 1 abaixo, é possível visualizar uma diferença significativa
em ambos os idiomas no desempenho dos alunos do Colégio Militar de Porto Alegre em
relação aos demais vestibulandos. No vestibular do ano de 2007 os alunos do CMPA
alcançaram desempenho acima dos demais vestibulandos da UFRGS nas provas de
idiomas. O número de acertos acima dos demais candidatos foi de 2,82 em Língua
Inglesa (LI). Na Língua Espanhola (LE), o número de acertos acima dos demais foi de
2,37, o pior desempenho dos alunos nesse idioma nos vestibulares de 2007 a 2015.
Mesmo assim, os alunos do CMPA conseguiram superar a média geral em ambos os
idiomas, como se pode observar na tabela 1.
Tabela 1: Resultados dos alunos do CMPA e vestibulandos na UFRGS
Ano vestibular UFRGS
Número de
Alunos CMPA
(LI)
Acertos LI Vestibulandos
UFRGS (Média)
Acertos LI
Alunos CMPA
Número de
Alunos CMPA (LE)
Acertos LE Vestibulandos
UFRGS (Média)
Acertos LE
Alunos CMPA (Média)
2007 98 14,22 17,04 27 13,84 16,21 2008 95 13,93 16,21 27 11,61 15,52 2009 100 13,03 16,09 29 10,89 16,09 2010 130 15,03 18,34 27 12,83 17,04 2011 114 13,55 19,52 25 14,52 18,34 2012 92 14,71 20,04 37 11,37 19,52 2013 114 11,88 18,31 24 10,42 17,04 2014 105 11,10 19,52 24 10,18 19,32 2015 102 8,94 19,04 37 10,42 19,52 2016 132 10,41 17,04 14 13,03 18,34
* LI – Língua Inglesa **LE – Língua Espanhola *** (Média vestibulandos UFRGS – Média acertos alunos CMPA X 100% Média UFRGS) Fonte: UFRGS, 2015 ( http://www.ufrgs.br/ufrgs/inicial, adaptado) e CMPA, 2015 (http://www.cmpa.tche.br/, adaptado)
No ano de 2008 os alunos do CMPA tiveram o pior desempenho em Língua
Inglesa (LI) nos vestibulares analisados. A média geral da UFRGS foi de 13,93 acertos
e a média dos alunos do Colégio Militar foi de 16,21 acertos, superando, ainda sim, a
média geral por 2,28 acertos. Em Língua Espanhola (LE) os alunos superaram a média
geral em quase 4 acertos (3,91acertos).
No ano de 2009 o CMPA realizou a troca do material didático visando um
melhor desenvolvimento dos alunos de ambos os idiomas. O resultado foi uma melhora
no desempenho do vestibular no ano de 2009 nos dois idiomas. O número de acertos
acima dos demais candidatos foi de 3 acertos em Língua Inglesa (LI), e na Língua
Espanhola (LE) o número de acertos acima dos vestibulandos da UFRGS foi de 5,2
acertos.
O ano de 2010 é lembrado no CMPA como a turma recorde do 3º ano do Ensino
Médio com 157 formandos. Com isso, 130 alunos realizaram a prova do vestibular da
UFRGS de LI e 27 alunos do CMPA realizaram a prova de LE. O desempenho dos
alunos foi satisfatório na prova de Língua Inglesa com 18,34 acertos, alcançando 3,31
acertos acima da média geral. Na prova de LE os alunos conseguiram 17,04 acertos e
superaram a média geral em 4,21 acertos.
Em 2011 os alunos do CMPA mais uma vez superaram a média dos demais
vestibulandos em LI e LE. A turma de 2011 e de 2015 foram em termos de formandos,
a segunda mais numerosa, totalizando 139 formandos. Em LI os alunos obtiveram 19,52
acertos, superando em quase 6 acertos (5,97 acertos) a média geral da UFRGS. Em LE
os alunos conseguiram 18,34 acertos na prova superando em 3,82 acertos os demais
vestibulandos,
O vestibular de 2012 é tido como referência pelos docentes do CMPA. Os
alunos do CMPA tiveram o seu melhor desempenho desde 2007 acertando 20 questões
na prova de LI e 19 questões na prova de LE. Os alunos superaram em 5,33 acertos a
prova de LI e 8,15 acertos a prova de LE. O efetivo total de alunos do CMPA que
prestaram o vestibular foi de 129 alunos, onde 92 realizaram a prova de LI e 37 a prova
de LE. Dos 16.816 candidatos que realizaram a prova para LI, apenas 108 acertaram 20
questões. Em LE 15.505 candidatos realizaram a prova e apenas 284 alcançaram 19
acertos. Vale lembrar que o vestibular de 2012 da UFRGS bateu recorde de inscritos
com exatos 46.224 de vestibulandos inscritos.
No vestibular de 2013 os alunos conseguiram uma diferença de quase 7 acertos
na prova de LI (6,43 acertos). Na prova de LE a diferença de acertos dos vestibulandos
do CMPA foi de 6,62 acertos acima da média geral da UFRGS.
Em 2014 os alunos do CMPA obtiveram um desempenho muito bom em relação
aos demais anos analisados. Foi a segunda maior média de acertos dos alunos do
Colégio Militar de Porto Alegre, perdendo apenas para o vestibular de 2012, já
mencionado anteriormente. Os alunos conseguiram uma marca de 19,52 acertos na
prova de LI com quase 9 acertos acima da média geral (8,52) e 19,32 acertos na prova
de LE com 9,14 acertos acima da média geral do vestibular. Foi a maior diferença de
acertos na prova de LE nos vestibulares da UFRGS desde 2007.
No ano de 2015 a média geral do vestibular na prova de LI foi de 8,94 acertos e
a média dos alunos do CMPA foi de 19,04 acertos. Assim, nesse vestibular os alunos do
CMPA alcançaram a maior diferença em relação a média geral do vestibular da UFRGS
nos anos analisados, com aproximadamente 10 acertos de diferença (10,10 acertos). Na
prova de LE os alunos obtiveram 19,52 acertos e uma diferença de 9,10 acertos da
média geral. O desempenho dos alunos em LE foi semelhante ao vestibular do ano
anterior com 9,14 acertos acima da média geral.
No último vestibular da Universidade Federal do Rio Grande do Sul os alunos
do CMPA fizeram 17,04 acertos em LI, e a média geral da UFRGS foi de 10,41 acertos.
A média geral de LE foi de 13,03 acertos. Já os alunos do CMPA obtiveram 18,34
acertos. Esses dados confirmam o excelente desempenho dos alunos no concurso.
Indo além das informações da tabela 1, pode-se compreender esse desempenho
analisando a performance dos alunos durante os três anos do Ensino Médio do CMPA
por meio da tabela 2. As médias nela apresentadas foram utilizadas com a intenção de
corroborar a ideia de que o bom aproveitamento dos alunos durante o Ensino Médio é
refletido no bom desempenho do vestibular.
As informações constantes na tabela 2 foram coletadas através de cinco
maneiras: 1) informações obtidas no site da UFRGS, para obter o número de acertos nas
provas de língua estrangeira dos alunos do CMPA e dos demais vestibulandos; 2) no
site do CMPA; e 3) na seção técnica de ensino do CMPA para obter o número exato de
alunos aprovados no 3º ano do Ensino Médio; 4) banco de dados do ex- sub comandante
do CMPA; 5) redes sociais para o contato direto com os alunos que realizaram aprova .
Tabela 2: Desempenho dos alunos do CMPA no Ensino Médio e UFRGS
Ano
escolar CMPA
Matéria
Nr de
alunos
CMPA
Média
1º ano E.M
CMPA
Média
2º ano E.M
CMPA
Média
3º ano E.M
CMPA
Média todos
os
vestibulandos
(UFRGS)
Média
egressos
CMPA
(UFRGS)
% acima da média UFRGS
dos alunos do
CMPA***
2007 LI 98 7,9 9,2 7,6 14,22 17,04 19,83%
2007 LE 27 8,0 8,2 8,6 13,84 16,21 17,12 %
2008 LI 95 8,6 9,0 8,2 13,93 16,21 16,36 %
2008 LE 27 8,2 8,6 8,0 11,61 14,85 27,90 %
2009 LI 100 9,6 9,2 7,4 13,03 16,09 23,48 %
2009 LE 29 8,9 8,5 8,5 10,89 16,52 51,69 %
2010 LI 130 9,2 7,9 9,2 15,03 18,34 22,02 %
2010 LE 27 9,0 8,2 8,1 12,83 17,12 33,43 %
2011 LI 114 9,4 9,4 8,9 13,55 19,52 44,05 %
2011 LE 25 8,1 8,9 8,9 14,52 18,13 24,86 %
2012 LI 92 9,6 9,7 9,2 14,71 20,04 36,23 %
2012 LE 37 9,4 8,9 8,7 11,37 19,47 71,24 %
2013 LI 114 9,4 9,8 9,1 11,88 18,31 54,12 %
2013 LE 24 9,0 8,8 8,0 10,42 17,21 65,16 %
2014 LI 105 9,5 9,0 9,2 11,10 19,52 75,85 %
2014 LE 24 9,2 9,6 9,1 10,18 19,04 87,03 %
2015 LI 102 9,1 9,6 8,9 8,94 19,04 82,72 %
2015 LE 37 9,3 9,1 9,4 10,42 19,52 87,33 %
2016 LI 132 9,0 8,9 8,9 10,41 17,04 63,68% 2016 LE 14 9,2 9,0 9,0 13,03 18,34 40,75% * LI – Língua Inglesa **LE – Língua Espanhola *** (Média vestibulandos UFRGS – Média acertos alunos CMPA X 100% Média UFRGS) Fonte: UFRGS, 2015 ( http://www.ufrgs.br/ufrgs/inicial, adaptado) e CMPA, 2015 (http://www.cmpa.tche.br/, adaptado)
No ano de 2007 a média escolar dos alunos no ensino médio do Colégio
Militar de Porto Alegre foi 8,2 em ambos os idiomas, sendo a média escolar mais baixa
dos alunos nos anos analisados. Ainda assim, os alunos conseguiram alcançar uma
diferença de 19,83% acima da média da UFGRS na prova de LI. Em língua espanhola, a
diferença foi de 17,12% acima dos demais vestibulandos.
Em 2008 a diferença obtida na prova de LI realizada pelos alunos do CMPA foi
de 16,36% acima da média geral. Os alunos do CMPA obtiveram uma média nos três
anos de Ensino Médio de 8,6, 0,4 décimos acima da média do ano anterior. Em LE a
média permaneceu a mesma de 2007, 8,2, porém, o desempenho dos alunos no
vestibular foi 27,90 % acima da média da UFRGS.
Em 2009 o desempenho dos alunos melhorou em relação aos anos anteriores. As
médias escolares foram de 8,7 (LI) e de 8,6 (LE) durante o Ensino Médio.
Consequentemente o desempenho dos alunos também melhorou em relação ao
percentual acima da média dos demais vestibulandos. Em LI o percentual foi de 23,48%
e em LE foi de 51,69% acima da média da UFRGS, o dobro da média do ano anterior.
A performance dos alunos em relação as médias escolares do Ensino Médio foi
de 8,7 (LI) e de 8,4 (LE), muito semelhante ao ano anterior. A porcentagem acima da
média do vestibular de 2010 foi de 22,02% em LI, superior ao ano anterior, já em LE o
desempenho não foi tão positivo como do ano anterior, mas ainda foi de 33,43% acima
da média do vestibular.
A turma de vestibulandos de 2011 alcançou um rendimento superior durante o
Ensino Médio de 9,2 (LI) e de 8,6 (LE). Em LI esse resultado positivo transpareceu no
vestibular. Os alunos conquistaram 44,05% acima da média geral do vestibular naquele
ano, e a Língua Espanhola atingiu 24,86% acima da média.
O vestibular de 2012 é considerado como um exemplo a ser seguido pelos
demais alunos do CMPA. As médias escolares no Ensino Médio foram de 9,5 (LI) e de
9,0 (LE), as maiores já alcançadas por alunos do CMPA. O sucesso no vestibular da
UFRGS era esperado pelo corpo docente do colégio. Em LI os alunos conseguiram um
resultado de 36,23% acima da média geral e em LE alcançaram 71,24 % acima da
média da UFRGS, a maior diferença até então.
O vestibular de 2013 mais uma vez demonstrou superação dos alunos do CMPA.
Com médias escolares muito boas no Ensino Médio com 9,4 (LI) e 8,4 (LE), eles
alcançaram 54,12% acima de média em LI e 65,16% em acima da média geral em LE.
A porcentagem alcançada em LI foi a mais alta desde 2007.
Os vestibulandos de 2014 demonstraram um bom resultado do ensino médio
com 9,2 (LI) e 9,3 (LE), resultou num excelente desempenho no vestibular, o segundo
melhor desempenho dos alunos nos anos analisados. Com 75,85% em LI e 87,03% em
LE acima da média geral, os alunos obtiveram em ambos os idiomas o maior percentual
até então conquistados no vestibular de 2013.
No início do ano de 2014, o livro didático foi trocado a fim de alinhar o SEAN
(Sistema de Ensino e Aprendizagem por Níveis) à divisão proposta pelo Marco Comum
Europeu (Common European Framework of Reference), já explicado anteriormente na
seção 2.4. A troca de material didático sempre é um momento de cautela no SCMB. Os
alunos do Ensino Médio, os mais próximos a prestarem o concurso de vestibular, são
obrigados a se familiarizar com o novo material didático. Contudo, a troca do material
não prejudicou os vestibulandos do CMPA, como mostra a tabela 2. Dessa forma, no
vestibular do ano de 2015, os alunos que fizeram a prova de língua inglesa alcançaram
um resultado 82,72% acima dos outros candidatos, e os alunos que fizeram a prova de
língua espanhola alcançaram resultado 87,33% acima da média geral da prova. Foi o
maior percentual acima da média geral da UFRGS dos alunos do CMPA dos anos
analisados.
A média escolar no ensino médio dos alunos que prestaram vestibular em 2016
foi de 8,9 em LI e 9,1 em LE. No vestibular do corrente ano os alunos mantiveram o
bom desempenho dos últimos vestibulares. A média geral da UFRGS foi a segunda
mais baixa desde 2007 com apenas 10,41 acertos na prova de língua inglesa. Os 134
alunos que fizeram a prova de LI do CMPA alcançaram 17,04 acertos, alcançando
63,68% acima da média geral. A média de LE da UFRGS foi de 13,03 acertos. Os 14
alunos que fizeram a prova de LE acertaram 18,34 acertos nesta prova, alcançando
40,75% acima da média geral da UFRGS.
Assim, a tabela 2 acima demonstra um desempenho superior dos alunos do
Colégio Militar em todos os anos analisados. Nos anos em que o rendimento não foi tão
alto, ainda assim houve um percentual superior aos demais vestibulandos. Uma análise
mais aprofundada desses resultados será feita na seção 4.3, onde será discutido o papel
das rotinas em sala de aula no processo de aprendizagem de L2 (tanto língua inglesa
como espanhola).
Na próxima seção será apresentada a análise dos resultados obtidos no concurso
de admissão à Escola Preparatória de Cadetes do Exército.
5.2 Resultados obtidos no concurso de admissão à Escola Preparatória de Cadetes
do Exército (EsPCEx )
O segundo objetivo desta pesquisa é apresentar e analisar os resultados obtidos
no concurso de admissão à Escola Preparatória de Cadetes do Exército (EsPCEx ).
A tabela 3 abaixo ilustra os acertos de Língua Inglesa dos alunos do CMPA e de
demais candidatos no concurso público da Escola Preparatória de Cadetes do Exército
nos anos de 2012 a 20151. O Exame Intelectual é composto de provas escritas,
realizadas em dois dias consecutivos e aplicadas a todos os candidatos inscritos, 1 Entre os anos de 2006 a 2010 o idioma de inglês foi cancelado do concurso devido ao baixo rendimento dos candidatos no idioma. Em 2011 a escola voltou a exigir o idioma no concurso pois no ano de 2012 a Escola Preparatória de Cadetes do Exército passaria a adotar, como método de educação, o Ensino por Competências. Foi a escola pioneira do Exército Brasileiro a implantar essa metodologia, que busca contextualizar o conhecimento, integrando os conteúdos programáticos das diversas disciplinas em situações-problema, obrigando o aluno a refletir e solucioná-los de forma sistêmica e integralizada.
versando sobre os assuntos relacionados no edital de Abertura do Concurso de
Admissão. As provas se distribuem em dois módulos (o primeiro módulo composto das
provas de Português (com 20 questões objetivas), Redação (questão discursiva), Física
(com 12 questões objetivas) e Química (com 12 questões objetivas) e módulo 2
composto das provas de Matemática (com 20 questões objetivas), Geografia (com 12
questões objetivas), História (com 12 questões objetivas) e Inglês (com 12 questões
objetivas).
Na tabela 3 é possível perceber o excelente desempenho dos alunos do CMPA
em relação aos outros candidatos no concurso de admissão da EsPCEx nos 4 anos
analisados. A Língua Inglesa deixou de fazer parte do processo de admissão por 5 anos,
no período de 2006 a 2011.
As informações constantes da tabela 3 foram coletadas através de três maneiras:
1) informações obtidas no site da EsPECx, para obter o número de acertos nas provas
de língua estrangeira dos candidatos; 2) no site do CMPA; e 3) redes sociais para o
contato direto com os alunos que realizaram aprova.
Tabela 3: Resultados dos alunos do CMPA e candidatos do concurso EsPCEx
Ano concurso EsPECx
Alunos CMPA prova
Língua Inglesa- EsPECx
Acertos LI dos
candidatos do concurso
EsPCEx (M)
Acertos LI
Alunos CMPA
% acima da média EsPCEx
dos alunos do CMPA**
2007 - - - - 2008 - - - - 2009 - - - -
2010 - - - - 2011 - - - - 2012 31 4 8 100% 2013 30 6 7 16,66% 2014 28 5 9 80% 2015 35 5 8 60%
* LI – Língua Inglesa ** (Média concurso EsPCEx – Média acertos alunos CMPA X 100 % Média EsPCEx) Fonte: EsPCEX, 2015 (http://www.espcex.ensino.eb.br/adaptado)
No ano de 2012 a Língua Inglesa voltou a fazer parte da grade de conteúdo do
concurso. O SCMB redobrou o número de aulas de LI nos cursinhos durante o
contraturno de todos os colégios militares. No concurso de 2012 o esforço feito pela
parte docente e pelos alunos do CMPA foi compensado com a aprovação de 31 alunos,
número considerado excelente para os colégios militares. Os alunos alcançaram um
percentual de 100% acima da média dos demais candidatos, já que a média do concurso
em LI foi de 4 acertos, conforme a tabela 3 abaixo.
Em 2013 o CMPA aprovou o maior número de alunos no SCMB, com 30
alunos. Das 12 questões apresentadas na prova de LI, os alunos obtiveram 7 acertos,
chegando a um percentual de 16,66% acima da média geral.
No concurso de 2014 o desempenho não foi tão bom quanto o anterior, mas
ainda assim aprovou 28 alunos. Com uma média de acertos de 5 questões os alunos
conseguiram um percentual de80% acima da média geral do concurso.
No ano de 2015 o concurso de admissão ultrapassou os 17 mil inscritos, segundo
site oficial do concurso (EsPCEx, 2015). Desse número 35 alunos e três ex-alunos de
2014, foram aprovados, conforme dito anteriormente. No concurso do ano em questão,
os alunos do CMPA fizeram 60 % acima da média dos demais candidatos. É sabido nos
cursinhos preparatórios para esse concurso que as matérias que mais reprovam
candidatos são matemática e inglês. Esse ano a média de acertos de LI foi de 5 acertos,
quase tão baixa quanto a média dos acertos de matemática, que foi de apenas 3 acertos
num total de 20 questões. Possivelmente uma das causas pelo não aparecimento do
inglês nos anos de 2006 a 2010 deve-se a sua dificuldade.
Conforme a tabela 3 acima, em todos os anos analisados os alunos do CMPA
conseguiram aprovação acima da média dos demais candidatos.
Na seção 5.3 serão destacados os mecanismos disciplinares presentes no CMPA.
Além disso, a importância das rotinas militares e da disciplina implicada no processo de
aprendizagem de L2.
5.3 Os mecanismos disciplinares presentes no Colégio Militar de Porto Alegre, e a
importância das rotinas em sala de aula no processo aprendizagem de L2.
Os colégios militares do SCMB se tornaram destaque nos meios de comunicação
nos últimos anos pelos bons resultados que os alunos obtiveram em diversos concursos
pelo país, como o vestibular da UFRGS (seção 5.1) e o concurso de admissão para a
EsPCEx (seção 5.2). Para muitos educadores, como Paiva (2005), Rocha (1996) e
Narodowski (2000), estabelecimentos de ensino pautados pela disciplina escolar
proporcionam aos alunos aquilo que se espera de uma escola: formar alunos
competentes para enfrentar os desafios da educação, entre os quais ENEM e, depois, a
vida universitária (CMPA, 2015).
Um dos fatores relacionados com o bom desempenho dos alunos é a rotina em
sala de aula existente no CMPA. Segundo Barbosa (2006) a organização e planejamento
das atividades diárias proporcionam ao professor a reflexão de suas ações e
metodologias, analisando os resultados de seu projeto. A prática pedagógica possui o
objetivo principal de transmissão dos conhecimentos, em todos os níveis escolares. Essa
prática compreende, também, aquelas ações repetitivas e regulares que ocupam o maior
tempo dos professores e alunos, às quais se refere por rotinas escolares. Compreendem-
se como rotinas “[...] uma série de ações que se repetem, com um padrão estrutural
característico, o qual possui certa invariância e é reconhecível por todos aqueles que
pertencem à área” (Barbosa, 2006, p. 132), sendo caracterizadas pela tradição de
realizar determinadas ações sempre do mesmo modo.
Assim, considera-se, nesta dissertação, como rotinas de sala de aula, por
exemplo, a organização dos alunos assim que o período começa, o chamado entrar em
forma; fazer a chamada ou tirada de faltas pelos alunos; a apresentação da turma feita
pelo chefe de turma ao professor informando as faltas; e a liberação dos alunos somente
após a apresentação da turma ao término do período. Esses procedimentos são
repetidos ao longo dos 06 (seis) períodos diários no colégio a cada troca de professor.
Nas salas especiais o procedimento é o mesmo, porém o idioma é na língua em questão,
LI (língua inglesa), ou LE (língua espanhola).
Para Harris (2000), a importância das rotinas de sala de aula estão diretamente
relacionadas ao tempo ganho pelo professor. Os alunos são os responsáveis, como já
mencionado na seção 2.3.1, pela organização da turma como um todo, cabendo ao
professor desenvolver seus projetos sem grandes distrações. Esta organização durante as
aulas de idiomas no CMPA tem efeitos na qualidade ensino-aprendizagem de uma
língua estrangeira (HARRIS,2000).
As rotinas colaboram na ação educativa, uma vez que auxiliam o trabalho
pedagógico do professor, permitindo efetivar, de maneira organizada, o cotidiano
educativo e poupando tempo do docente com a indisciplina. A autora afirma em sua
pesquisa a importância to tempo em sala de aula, já explicado na seção 2.1.1, onde
relata os efeitos do tempo desperdiçado. Assim, acredita-se que estas rotinas no CMPA
são as grandes responsáveis pelo excelente desempenho dos alunos nos concursos
analisados nesta dissertação.
Aspectos como organização escolar e a organização dentro de sala de aula são
fatores de influência para o comportamento dos alunos e consequentemente, para o bom
andamento do processo ensino-aprendizagem (ARAÚJO, 2005; VEIGA,2011). Outros
autores como Kounin (1977), Amado e Freira (2005), Slavin (2006) e Richardson
(1997) reforçam a ideia da importância da gestão de sala de aula.
Assim, os rituais executados diariamente do CMPA, como a organização dos
alunos diariamente no pátio (formatura matinal), o respeito pelo professor com a
apresentação da turma no início de cada período, a hierarquia da continência,
hasteamento da bandeira todas as manhãs, por exemplo, podem ser considerados como
uma forma genuína de comportamento ritualizado (Barbosa, 2006). Segundo o autor, os
rituais são compreendidos como atos, individuais ou grupais, que se mantêm fiéis a
certas regras e hábitos sociais e que possuem um significado particular em cada cultura.
São práticas que fixam regularidades apesar de manterem-se abertas a eventuais
mudanças. A repetição de certas ações e de determinadas práticas dão estabilidade e
segurança aos sujeitos (BARBOSA, 2006).
A próxima seção se subdivide em 5.3.1 e 5.3.2, que tratam, respectivamente, das
rotinas militares e a disciplina na sala de aula de L2, e das atividades extracurriculares e
a disciplina.
5.3.1 As rotinas militares e a disciplina na sala de aula de L2
A organização da rotina das atividades dos alunos no CMPA é um aspecto de
suma importância. Segundo DeLaTaille, a rotina deve ser pensada a partir do
planejamento feito pela equipe pedagógica e professores, traduzida no plano de trabalho
ou de aula. A rotina é uma situação de aprendizagem quando possibilita ao aluno
segurança e domínio do espaço e do tempo que passa na escola. Uma rotina estável,
clara e compreensível permite que os alunos a incorporem, podendo antecipar o que irá
acontecer em seguida. Isso oferece uma sensação de segurança, o que por sua vez,
permitirá que elas atuem com maior autonomia e tranquilidade no ambiente escolar
(DeLaTaille,1994).
Uma das explicações possíveis para o alto desempenho dos alunos nos diferentes
concursos são as diferentes atividades que o Colégio Militar de Porto Alegre oferece aos
alunos são as rotinas militares. O CMPA possui um repertório de ritos que visam à
formação do estudante, numa proposta de educá-lo disciplinarmente e provê-lo de uma
bagagem cultural determinada por seu sistema de ensino.
Esta disciplina é desenvolvida devido aos diversos mecanismos disciplinares que
o SCMB possui, como o rígido cumprimento de horários, respeito a hierarquia e até a
continência prestada a um militar. As regras estabelecem no âmbito da escola o padrão
da apresentação individual masculina e feminina, definindo para os gêneros
padronizações que lhes conferirão, discrição e sobriedade considerados importantes, tais
como o corte de cabelo masculino e para as alunas como devem ser usados os adornos e
a maquiagem, dentre outros.
As padronizações de condutas de comportamento segundo Van Gennep (2011),
de rigor no vestuário imputam ao aluno a internalização da moral. As regras não se atêm
apenas ao tipo de corte ou arrumação do cabelo, mas também detalha o que pode e o
que não pode ser usado na apresentação pessoal, como a cor da mochila, cor do esmalte
e até a quantidade e modelo dos brincos femininos. Essas regras são usadas para a
perpetuação da imagem constituída ao longo da evolução militar, já explicadas na seção
3.1.1, anteriormente.
A partir da constatação de que o Colégio utiliza a meritocracia para avaliar os
alunos, há uma disputa para conseguir símbolos de destaque pelas melhores notas que
são conferidos como estímulo à aprendizagem. Há uma busca ansiosa para o
recebimento das notas, pois será a partir delas que os alunos receberão os símbolos de
distinção, identificados como estimuladores da aprendizagem como, por exemplo, ser
promovido no Batalhão Escolar, ser o chefe de turma, integrar a legião de honra, ser
escolhido para hastear a Bandeira Nacional numa formatura geral, ou até mesmo ser
nomeado monitor (MESQUITA, 2011).
Os mecanismos disciplinares têm reflexos sobre a aprendizagem nas aulas de
língua inglesa e língua espanhola no CMPA. Logo no início do intervalo, entre um
período e outro de aula, os alunos se direcionam para as salas especiais guiados pelo
subchefe da turma. Este procedimento já foi explicado na subseção anterior, pois além
de ser uma rotina de sala de aula também é uma rotina militar. As salas de idiomas é um
ambiente, já mencionado na seção 3.2, propício ao aprendizado de uma segunda língua.
Lá, o subchefe deve conferir o número de cadeiras em sala de aula, conferir o efetivo de
alunos presentes, conferir se todos os alunos estão com o livro didático e até mesmo se
na sala de aula possui caneta e apagador para o professor. A tarefa do chefe de turma é
colocar os alunos em forma dentro da sala de aula, usando os comandos militares na
língua do idioma estudado para a apresentação da turma ao professor.
Segundo Vasconcelos (2004) o estudo é um processo de adaptação, é um hábito
adquirido com esforço, aborrecimento e até sofrimento. Contudo, sem disciplina, seria
quase impossível realizar-se a aprendizagem (VASCONCELOS, 2004). Assim, somos
levados a concluir que a disciplina se apresenta como possuidora de características
pertinentes ao processo de aprendizagem, neste caso então, a disciplina é vista pelo
SCMB como sendo uma condição necessária para a produção da aprendizagem.
Essa estrutura educativa, minuciosamente estruturada nas rotinas militares, está
voltada para a constituição identitária do corpo da tropa. Nas definições sobre o
disciplinamento para se conseguir obter a excelência do aluno transparece o forte
vínculo com o que preconiza Émile Durkheim ao tratar da educação moral. Para
Durkheim a moral é entendida como “um sistema de regras que predeterminam a
conduta. Elas dizem como devemos agir em cada situação; e agir bem é obedecer bem.
(DURKHEIM, 2008). Desta forma, a característica das ações morais é o que se faz em
obediência a uma regra preestabelecida.
O Manual do Aluno é um documento onde as regras e as rotinas militares estão
descritas. Nele consta o gesto eminentemente militar: a continência. O objetivo desse
regulamento específico é estabelecer as honras, as continências e os sinais de respeito
que os alunos do CMPA devem prestar a determinados símbolos nacionais e às
autoridades civis e militares membros do colégio. É através desse regulamento que se
torna ainda mais visível a atuação do poder disciplinar no CMPA e o fato desta escola
ser uma sociedade disciplinar.
Faz parte desta estrutura educativa a SEL (Sociedade Esportiva e Literária), os
Grêmios, os esportes intensamente praticados no contraturno, as formaturas, o civismo e
as atividades extracurriculares que serão relembradas na subseção seguinte.
Os alunos da SEL representam os interesses dos estudantes na escola. Os alunos
podem discutir,criar e fortalecer inúmeras possibilidades de ação tanto no próprio
ambiente escolar como na comunidade. A SEL é encarada a partir de uma perspectiva
pedagógica onde tal experiência irá compor o currículo escolar dos estudantes, sendo
uma atividade onde os envolvidos desenvolverão um exercício de cidadania, formação
de cultura cívica, vivência política e liderança positiva (CMPA,2015).
Outra ferramenta usada para inserir os alunos neste ambiente escolar é a Semana
Zero, explicada anteriormente na subseção 3.1.2 É por meio deste processo de
comunicação que os novos alunos aprendem sua função social e adquirem sua nova
identidade cultural. Este novo linguajar é iniciado na Semana Zero juntamente com um
programa de treinamentos (ordem unida) e de aquisição de conhecimentos cujo objetivo
é adaptá-los às particularidades do CMPA. Esta semana serve de acolhida aos novos
alunos, com o intuito de recebê-los com muita afetividade e ao mesmo tempo
desenvolver autoestima e segurança.
Os fatores internos possuem grande destaque para a análise da aprendizagem de
línguas. Vygotsky (2000) já se referia a eles ao evidenciar que os aspectos externos
contribuem para os fatores internos do aprendiz. E ainda acrescenta que o
desenvolvimento cognitivo é produzido pelo processo de internalização da interação
social com materiais fornecidos pela cultura. Então o sujeito é interativo, porque forma
conhecimentos e se estabelece como ser social a partir de relações intra e interpessoais.
Baseado neste pensamento, Vygotsky (2000) afirmou que diferentemente do que
se acreditava, “o único bom ensino é o que se adianta ao desenvolvimento”, trabalhando
sob a perspectiva da análise da capacidade potencial dos sujeitos. Vygotsky (2000)
afirma ainda que uma organização coerente da aprendizagem é imprescindível para a
criança, pois conduz ao desenvolvimento mental.
A autoestima, por sua vez, é também um fator interno preponderante na
aprendizagem de línguas. Lago (2000) considera o fato de a autoestima ser algo
primordial no processo, uma vez que quando elevada, se converte em segurança,
encorajando e fornecendo ao aluno subsídios para desenvolver tarefas ainda maiores.
As atividades esportivas no contraturno ou em competições nacionais e
internacionais que os alunos do CMPA participam servem também para dinamizar o
processo de ensino-aprendizagem, já que prática do esporte envolve a aquisição de
habilidades físicas e sociais, valores, conhecimentos, atitudes e normas. Almeida e
Gutierres (2009) cita que o esporte é uma forma de sociabilização e de transmissão de
valores. Portanto, observa-se que o esporte possui amplas repercussões, sendo um
fenômeno que possui uma linguagem universal. Os benefícios do esporte têm
ultrapassado o limite do bem-estar físico e tornar-se visível também em nível
educacional e formativo dos alunos do CMPA.
Na subseção a seguir será discutida a importância das atividades
extracurriculares para o desenvolvimento da disciplina.
5.3.2 Atividades extracurriculares como mecanismos disciplinadores
As atividades extracurriculares no SCMB podem contribuir para o
desenvolvimento da disciplina nos colégios militares. A Banda de Música do CMPA e o
Coral são atividades diferenciadas dos outros colégios e pertencentes a caserna. Já
mencionados anteriormente na subseção 3.1.5, essas duas atividades exigem disciplina e
um coleguismo em torno de um objetivo comum. Você não pode se sobressair aos
outros, nem ser pior (FARIA,2001).
A música é considerada por vários autores e pesquisadores como elemento
enriquecedor para o desenvolvimento humano, que proporciona, segundo Correia
(2003) bem-estar e colabora para a ampliação de outras áreas necessárias para a
formação plena do indivíduo. O aprendizado musical serve como estímulo, ajudando na
apropriação da linguagem, concentração, disciplina e no aprendizado da matemática.
Como explica o autor Faria (2001) a música como sempre esteve presente na
vida dos seres humanos, ela também sempre está presente na escola para dar vida ao
ambiente escolar e favorecer a socialização dos alunos, além de despertar neles o senso
de criação e recreação. No caso do CMPA a música faz parte da rotina da escola, tendo
em vista toda a dependência que os alunos e militares têm em relação aos toques de
corneta. Os hinos e as canções militares são sempre acompanhados pela banda de
música durante as formaturas, e até mesmo os avisos de reuniões são feitos apenas com
um toque de corneta ou clarim.
Assim, a música nos colégios militares é uma ferramenta disciplinar usada por
militares e alunos do SCMB. Ela promove o desenvolvimento interno e a aprendizagem
de conteúdo, estimulando áreas do cérebro não desenvolvidas por outras linguagens,
como a escrita e a oral. A música potencializa o processo de aprendizado e disciplina os
alunos (KATER,2004).
A Banda de Música também faz parte do Coral, outra atividade extracurricular
do CMPA. Além de desenvolver as habilidades da música já mencionadas
anteriormente, o coral desenvolve percepção auditiva e desenvolvimento de senso
rítmico. Outras características potencializadas são o respeito ao próximo e ao coletivo,
pontualidade, disciplina e o espírito de corpo, termo militar que consiste em demonstrar
solidariedade e lealdade ao corpo ou grupo de pessoas a que se pertence ou está ligado
de algum modo.
Segundo Brito (2013) a Banda de Música possui junto a si um caráter social que
muito contribui para o ambiente escolar: a hierarquia, a convivência, a inclusão, a
valorização do indivíduo com suas particularidades e possibilidades e ainda sua
identificação dentro do grupo e dentro da comunidade. Toda essa gama de
possibilidades é ferramenta necessária à formação integral do indivíduo na sociedade e
por consequência uma ótima ferramenta para o desenvolvimento escolar do aluno.
(BRITO, 2013).
Além disso, aprender música aguça a percepção e desenvolve o raciocínio,
salienta Brito (2013). Para o pesquisador, a música também ensina autodisciplina,
paciência e sensibilidade.
O professor de música no Instituto de Bateria Northon Vanalli de Presidente
Prudente (SP) Daniel Mazzini é defensor do ensino de música nas escolas. Para ele,
depois de musicalizado vocalmente o aluno terá mais segurança em si mesmo. Segundo
ele, o trabalho vocal tem sido um dos meios que muitos professores encontraram para
inserir uma atividade musical no contexto escolar. “Há muitas práticas corais
envolvendo percussões corporais, que facilitam o trabalho nas questões financeiras, e
ajudam na aprendizagem e no desenvolvimento musical ”(MAZZINI, 2013).
Para Vygotsky, a espécie humana é capaz de adquirir e transmitir o
conhecimento através da cultura que o circunda, por meio da interação social com os
outros. O conhecimento, as idéias, as atitudes e os valores das crianças se desenvolvem
pela interação com os outros. Sendo assim, não podemos ignorar a importância desse
aspecto em que está inserido o contexto das Bandas de Música e Coral no meio escolar.
Enfim, por meio da Banda de Música e do Coral os alunos do CMPA fortalecem
o respeito, as regras do colégio e as habilidades sociais, ampliando na maioria das vezes
a liderança e autoconfiança, características importantes para a formação de cidadão de
sucesso. No capítulo final serão feitas as considerações finais desta pesquisa.
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este capítulo de conclusão tem como objetivo retomar as motivações que
originaram a realização desta pesquisa, procurando estabelecer uma relação entre os
resultados obtidos através dos objetivos investigados. Para tanto, este capítulo encontra-
se dividido em três seções: a primeira apresenta um resumo dos principais achados deste
trabalho; a segunda, por sua vez, expõe as limitações deste estudo e a terceira propõe
algumas sugestões que podem ser adotadas futuramente para fazer avançar a pesquisa
na área de ensino-aprendizagem de L2.
6.1 Resumo dos principais achados deste estudo
Esta é uma época de transição na educação brasileira. De acordo com Estrela
(2002) as políticas educacionais estão sendo implementadas e apontam novas visões
teóricas e práticas pedagógicas, tendo ao centro conceitos tais como cidadania,
interdisciplinaridade e contextualização. Mas nesse horizonte de mudanças desejadas
vemos um cruzamento de novos e antigos desafios que instigam educadores e sistemas
educacionais. Nesta dissertação a (in) disciplina na escola foi destacada.
Entendemos que a escola deve, de fato, educar por meio de uma série de
instrumentos, estratégias e princípios, sendo que o Colégio Militar de Porto Alegre
cumpre efetivamente essa função ao estabelecer as rotinas de sala de aula; incentivar as
atividades extracurriculares fomentando o aprendizado em suas aulas de
acompanhamento no período vespertino e ao criar clubes de estudo e grêmios esportivos
para os alunos. O colégio ministra uma educação cujos resultados são visíveis na
sociedade Porto Alegrense que vê os alunos do CMPA ingressarem em instituições
públicas de ensino superior de renome nacional e internacional.
Sobre os objetivos desta pesquisa, verificamos que o excelente desempenho dos
alunos do CMPA no vestibular da UFRGS e na EsPCEx podem estar diretamente
relacionados com a disciplina, com os mecanismos disciplinares e com as rotinas em
sala de aula. Eles acentuam e fortalecem o processo de ensino-aprendizagem de L2.
6.2 Limitações do estudo
O propósito desta pesquisa foi apresentar os resultados obtidos nos concursos
públicos da UFRGS e da EsPCEx dos alunos do CMPA, analisando os mecanismos
disciplinares e a influência no processo ensino-aprendizagem de L2.
Nas últimas duas décadas, diversas questões relativas à (in) disciplina escolar
têm sido debatidas em eventos educacionais no Brasil, e este tema tem sido explorado
em periódicos científicos, bem como em diversos trabalhos de mestrado e doutorado no
campo educacional (ZENCZUK, 2004). Temas e assuntos relacionados apenas com a
(in) disciplina é vasto, porém, tanto o número de pesquisas quanto a quantidade de
referencial teórico relacionados com a aprendizagem de segunda língua é muito
pequeno. Esta foi a grande limitação da pesquisa.
Outro aspecto que merece destaque foi a dificuldade em obter os resultados dos
desempenhos dos alunos. Durante o ano de 2014 a internet e as redes sociais foram de
grande valia para este trabalho. As ferramentas usadas para o contato com 1353 alunos
foram o facebook, instagram, e-mail, site da UFRGS e até mesmo o site do CMPA.
O discurso cívico e o ritual da doutrina militar – que buscam mobilizar o jovem
para a consciência nacional, impondo amor à Pátria como prática cultural – permitem
uma reflexão sobre as relações sociais dos jovens com os adultos na educação formal e
constituem outro aspecto da formação do jovem que merece ser considerada. Talvez por
causa da página nebulosa que temos em nossa história, haja uma resistência
inconsciente a essa prática do cultivo do “amor a Pátria” por parte de alguns jovens que
refutam as solenidades de formatura. Porém, sem querer levantar a bandeira do
sentimento patriótico, acredito que o resgatar, no jovem, a valorização do amor a Pátria,
ajuda na formação de cidadãos comprometidos com o gênero humano que exige valores
solidários e fraternos.
6.3 Sugestões para estudos futuros
Nesta estrutura de ensino assentada prioritariamente na hierarquia e na
disciplina, os alunos vão construindo sua formação por meio de uma série de
mecanismos a partir dos quais os militares representam a si próprios como integrantes
da sociedade política. Assim, estes são aspectos relevantes que aliados com o
cumprimento efetivo dos conteúdos dados e a exigência para que a aprendizagem
ocorra, promovem o Colégio Militar de Porto Alegre a uma posição de destaque em
âmbito nacional.
Para desenvolvimento futuro, sugere-se a extensão da aplicação desta pesquisa
para os demais colégios do SCMB. Importante seria a análise dos resultados dos
vestibulares de línguas estrangeiras em todos os 12 colégios militares situados em
diferentes regiões do país, analisando assim as especificidades de cada vestibular,
confirmando a importância da disciplina no processo ensino-aprendizagem no Sistema
Colégio Militar do Brasil.
Por fim, é importante ressaltar entre outros fatores o caráter inédito desta
pesquisa, pois ainda não consta na literatura Brasileira nenhum estudo relacionando à
(in) disciplina e sua influência no aprendizado e L2. Espera-se que esta investigação
tenha dado o pontapé inicial a muitas que virão, em que os efeitos da disciplina e das
rotinas de sala de aula possam auxiliar e estimular a aprendizagem de L2.
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