View
214
Download
0
Category
Preview:
Citation preview
ESCOLA SUPERIOR DE DIREITO CONSTITUCIONAL CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU EM DIREITO CONSTITUCIONAL
JURISDIÇÃO NO ESTADO CONSTITUCIONAL
DISCIPLINA: PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DO PROCESSO
PROFESSOR: DOUTOR MARCELO LAMY
PÓS-GRADUANDO: VICENTE LENTINI PLANTULLO
SÃO PAULO, OUTUBRO DE 2007
“Os rios são caminhos em marcha e que levam
aonde queremos ir”.
Giambattista Vico
SUMÁRIO
OBJETIVO .........................................................................................................01
PARTE I - FICHAMENTO DOS TEXTOS ...................................................................02
TEXTO I - MOTIVAÇÃO E FUNDAMENTAÇÃO DAS DECISÕES JUDICIAIS E O PRINCÍPIO DA SEGURANÇA JURÍDICA ........................................................02
1. Motivação processual e fundamentação constitucional ...............03 2. Motivo, fundamentação e razão de decidir...................................03 3. O Princípio da Razão Suficiente na lógica jurídica.......................04 4. Interpretação e motivação............................................................04 5. Decisões judiciais fundamentadas e garantias constitucionais ....05 6. Conclusão ....................................................................................05 7. Análise crítica. ..............................................................................06 TEXTO II - O JURISDICIONAMENTO E A APARENTE “CRISE” DO
PRINCÍPIO DA COISA JULGADA ....................................................................07
1. Introdução ....................................................................................07 2. O jurisdicionado como centro do cenário processual ...................07 3. O Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) e sua homologação
judicial: apresentação da problemática ........................................08 4. O Princípio Constitucional da Coisa Julgada................................08 5. Descabimento dos Embargos de Declaração no caso concreto ..09 6. Conclusão ....................................................................................10 7. Análise crítica. ..............................................................................10 TEXTO III - A PRISÃO CIVIL POR DÍVIDA E OS PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS
DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA E DA PROPORCIONALIDADE ............................ 11
1. A sociedade e o Direito ................................................................11 2. Normas jurídicas e sua eficácia....................................................11 3. A prisão como instrumento de Eficácia Jurídica (?) .....................12 4. Legislação intestina e internacional..............................................12 5. Posição do Supremo Tribunal Federal (STF) ...............................13 6. Posição do Superior Tribunal de Justiça (STJ) ............................13 7. Princípio da Dignidade da Pessoa Humana.................................13 8. Princípio da Proporcionalidade.....................................................14 9. Conclusão ....................................................................................14 10. Análise crítica. ..............................................................................14 PARTE II - DISSERTAÇÕES LIVRES .......................................................................16
1. Princípio do Duplo Grau de Jurisdição .........................................16 2. A legitimidade da decisão e a necessidade da
publicidade e da motivação ..........................................................17 BIBLIOGRAFIA....................................................................................................18
1
OBJETIVO
O principal objetivo deste trabalho é a escolha de um dado bloco ou
grupo de assuntos de interesse, visando fazer o fichamento dos textos
pertinentes e sua respectiva análise crítica, com vistas a obter uma nota de
aproveitamento da disciplina Princípios Constitucionais do Processo,
coordenada pelo professor Doutor em Direito pela PUC-SP, Marcelo Lamy,
como parte dos requisitos necessários para obter o título de Especialista em
Direito Constitucional.
2
PARTE I - FICHAMENTO DOS TEXTOS
TEXTO I - MOTIVAÇÃO E FUNDAMENTAÇÃO DAS DECISÕES JUDICIAIS E O PRINCÍPIO
DA SEGURANÇA JURÍDICA
O texto I, da autoria de Carlos Aurélio Mota de Souza, trata da
importância do processo motivacional do magistrado para, dada a existência de
uma dada lide, buscar, do modo equânime, a mais sábia decisão. Isto é
fundamental porque contribui, de forma objetiva, para a manutenção do
importante princípio da segurança jurídica.
O autor coloca, com prioridade, três possibilidades metodológicas face a
uma Teoria Geral Constitucional do Direito:
a) admitir a ambivalência, do “adotar as posições correntes entre os
doutrinadores, nacionais e estrangeiros” (p. 355);
b) buscar o cerne, o núcleo, a essência de cada vocábulo e/ou
expressão, e;
c) recepcionar novos entendimentos doutrinários, de sorte a analisas,
sob diversos ângulos, o mesmo fenômeno jurídico.
Abarca também o texto a metodologia lógico-jurídica do caminho criado
para se chegar da demanda à sentença, com justiça.
No que tange à motivação, percebe-se, claramente, pela leitura que a
motivação deve ser fundamentada, ou seja, deve perpassar pela discussão,
ponderação e determinação.
Cabe destacar que o artigo 458 do CPC de 1973 estipula que a
sentença deve conter um relatório; uma parte fundamentada; e uma parte
dispositiva em que “o juiz resolverá as questões, que as partes lhe
submeterem” (p. 357).
Vários autores discutem o problema da motivação nas decisões judiciais,
admitindo esta como discussão dos motivos e não da fundamentação, que
seria um ato posterior. Isto é fundamental porque o ordenamento jurídico se
alicerça no Princípio da Segurança Jurídica, da certeza de uma decisão judicial
correta.
3
1 MOTIVAÇÃO PROCESSUAL E FUNDAMENTAÇÃO CONSTITUCIONAL
Neste tópico, o autor analisa os principais elos entre o processo e o
procedimento. São eles:
a) todos os aspectos formais e materiais da coisa julgada;
b) a importância da motivação nas decisões judiciais, sob pena de
nulidade;
c) a diferenciação entre juízo de oportunidade e juízo de legalidade.
Aborda também este tópico a importância de uma correta petição inicial,
com logicidade e concatenação ente a parte negativa; a parte legal. A causa de
pedir; o pedido, e para o fechamento, o valor da causa. Repousa a exordial na
Teoria da Substanciação.
2 MOTIVO, FUNDAMENTAÇÃO E RAZÃO DE DECIDIR
O motivo, segundo o autor, é o que move, movimenta, justifica a ação.
Já os fundamentos são os pilares, verdadeiros sustentáculos da relação
jurídico-processual. A razão de decidir é a ratio decidendi, um conjunto
complexo de elementos cognitivos teórico-empíricos, fruto do conhecimento a
priori e a posteriori do magistrado aliados a sua experiência prática de espaço-
tempo kantianos.
Também pode-se argumentar que a motivação seria uma atividade
lógico-psicológica “que consiste na análise prudencial dos motivos, a
pronderação de todos o elementos que orbitam em torno do fato” (p. 361). Não
há como se negar que há uma inter-conexão entre motivação, razão de decidir
e fundamentador. A razão de decidir pode seguir os métodos cartesianos-
kantianos, enquanto que a fundamentação segue os princípios da lógica
jurídica.
Finalmente, neste item, o autor coloca, com propriedade ímpar, a
necessária correlação positiva que deve haver entre pedido e sentença, sendo
que este deve ser uma norma particular para dirimir a lide entre as partes na
busca da justiça; deve ser também uma norma profissional para aquela e
outras sentenças e; norma pública, uma vez que será utilizada em casos
análogos.
4
3 O PRINCÍPIO DA RAZÃO SUFICIENTE NA LÓGICA JURÍDICA
Aborda o autor neste tópico uma concatenação de princípios, tais como:
da identidade; da contradição; do terceiro excluído e o da razão suficiente.
Trata-se os três primeiros de princípios auto-explicativos e o quarto reza que
“tudo o que é tem sua razão de ser” e “nada há sem razão suficiente” (p. 365).
É importante salientar a contribuição kantiana ao conceito de juízo, uma
“espécie/forma de relação de conceitos” expressada como sendo um juízo do
conhecimento em busca da verdade real. Em outras palavras, o magistrado
busca um conjunto de itens que, somados, proporcionam-lhe uma visão micro
e macro do processo favorecendo-lhe a tomada de decisão que se reveste na
sentença como seu objetivo final.
4 INTERPRETAÇÃO E MOTIVAÇÃO
“Todo juízo, para se verdadeiro, necessita de uma razão suficiente” (p.
366). Em outras palavras, há que se ter uma relação de causa e efeito entre
motivação, fundamentação e razão em busca de um objetivo final: a satisfação
dos interesses da lide em seus aspectos micro e macro. A interpretação deve
ter um fim em si mesma, perpassando-se, subjetivamente, pela motivação,
fundamentação e razão pertinente.
Quanto aos princípios e valores no ordenamento jurídico, tem-se que
predominava na Constituição Federal o positivismo legalista que evoluiu para
um jusnaturalismo realista. Esta evolução tem cunho axiológico e é
fundamental para o alcance de um chamado “valor superior”.
5
5 DECISÕES JUDICIAIS FUNDAMENTADAS E GARANTIAS CONSTITUCIONAIS
Evidentemente que as decisões judiciais fundamentadas devem ter
respaldo na Constituição Federal, seus princípios, dogmas, efetividade e tudo
isto lastreado nos planos da validade e existência e eficácia.
Em fundamentação é prioridade para a manifestação do poder estatal do
qual o juiz está imbuído. É a própria expressão do Estado de Direito e da
reprodução axiológica-ideológica do seu modo de ser. Os julgados não podem
ser conclusões nuas, sem sentido.
As decisões judiciais, assim, devem respeitar os fundamentos da norma
incrustada no ordenamento jurídico, ou seja, alicerçados numa motivação
valorativa das questões de fato e de direito. (causa petendi). Além disto, estes
fundamentos devem estar apoiados na interpretação/hermenêutica da norma
ao caso concreto (Princípio da Subsunção) com seus aspectos dispositivos e
de relatório. Em suma, as decisões judiciais que refletem a expressão político-
ideológica do Estado de Direto compreendem, obrigatoriamente, o relatório dos
fatos; os fundamentos da norma aplicada ao caso concreto, embasados no
dispositivo com carga valorativa.
Faz-se mister que a decisão judicial atual valha-se também de um
contexto interdisciplinar, além do que já foi exaustivamente explicitado. O juiz
ou magistrado deve estar atento que, hodiernamente, sua decisão judicial deve
levar em consideração um conjunto complexo de variáveis e não-jurídicas
todas correlacionadas entre si.
6 CONCLUSÃO
O artigo foi fundamental para elucidar as principais diferenças entre
motivação, motivação, fundamentação e razão buscando a sua integração com
múltiplas - e complexas - variáveis correlacionadas no sentido de poder unir,
num só ato, causa de pedir, pedido, fundamentação, motivação, razão, tomada
de decisão e alcance da justiça, não só inter partes, mas também erga omnes.
Também abordou-se no texto o alicerce constitucional que uma decisão
bem fundamentada do magistrado deve ter, além dos acentos axiológicos a ela
inerentes.
6
7 ANÁLISE CRÍTICA
Em que se pese a linguagem sofisticada e intrincada do autor, ficou claro
que a decisão judicial é algo complexo que não depende somente do relatório,
mas também de sua ligação/conexão com a fundamentação ou conexão com a
norma fundamental, além da razão a priori e a posteriori propugnadas por
Immanuel Kant.
Independentemente disto, há que se destacar todo um nexo
interdisciplinar que o magistrado deve conhecer para melhor - e corretamente -
argumentar a sua decisão.
Além disto, há a carga axiológica/política/poder que permeia o decisum
do magistrado e, tudo isto precisa - e deve - otimizar uma decisão para o
jurisdicionado e para a consolidação do Estado de Direito perpanado pelo
Princípio da Segurança Jurídica.
No todo um excelente texto teórico-refletivo que ajuda a melhor
compreender a tomada de decisão dos magistrados.
7
TEXTO II - O JURISDICIONAMENTO E A APARENTE “CRISE” DO PRINCÍPIO DA COISA
JULGADA
Trata a autora Flávia Pereira Hill do tema “O jurisdicionamento e a
aparente “crise” do Princípio da Coisa Julgada”. Reveste-se ente tema de
excepcional importância, uma vez que retrata o “paradoxo” da teórica
imutabilidade da coisa julgada. “Paradoxo” porque estão ocorrendo certas
flexibilizações, certas “relativações” da coisa julgada, comprometendo o
“Princípio da Segurança Jurídica”.
1 INTRODUÇÃO
Neste item aborda a autora o papel fundamental do “devido processo
legal” (due process of law), a ampla defesa, o contraditório, assim como o
Princípio da Coisa Julgada” (p. 11).
Analisa, de forma magistral, que a diminuição da importância da coisa julgada
material acarreta uma insegurança ao jurisdicionado, à coletividade e à própria
higidez do sistema processual, o que é nefasto para o ordenamento jurídico brasileiro.
2 O JURISDICIONADO COMO CENTRO DO CENÁRIO PROCESSUAL
De um início em que o jurisdicionado era o centro das atenções, o processo
culminou em fins do século XIX e durante boa parte do século XX, para uma
vertente mais formalista, impessoal, abstrata e distante da realidade, relegando o
jurisdicionado a um segundo plano. O escopo metajurídico passa a ser atômico,
movimentos ocorreram, entretanto, no sentido de tornar, novamente, o processo
mais informal, próximo aos anseios e necessidades do jurisdicionado. Em vão. O
que se percebe, agora, com o problema da repercussão geral e da súmula
vinculante é um novo distanciamento do jurisdicionado, ou seja, da concretude
para a perigosa abstração legalista subsumista.
Então, de certa forma, precisa-se lutara para maximizar, novamente, a
visão antropocentrista do processo, tarefa árdua para o Novo Direito
Constitucional.
8
3 O TERMO DE AJUSTAMENTO DE CONDUTA (TAC) E SUA HOMOLOGAÇÃO JUDICIAL: APRESENTAÇÃO DA PROBLEMÁTICA
Discute a autora, neste item, um caso essencialmente prático de
substituição processual em que o Ministério Público passou a defender os
interesses do ou dos particulares no que tange ao dano causado ao meio
ambiente.
Trata-se o TAC de uma “modalidade de conciliação entabulada entre o
ente público e o autor da lesão, através do qual o particular faz concessões,
comprometendo-se a recuperar os danos ocasionados, de acordo com as
condições previstas no termo firmado” (p. 13).
Trata-se de um instituto importante porque repousa no aglutinamento de
um conjunto de desejos e anseios de um grupo de pessoas, tudo isto também
conhecido pelo nome de Tutela dos Interesses Difusos e Coletivos.
4 O PRINCÍPIO CONSTITUCIONAL DA COISA JULGADA
A coisa julgada material repousa no resultado da legitimação do poder
do Estado-Juiz por meio de uma sentença homologatória soberana. É
necessária e na sentença, o timbre da decisão resguardada pelo Estado
Constitucional possuindo efeitos inter partes e/ou erga omnes. Quando a
repercussão de um dado fato concreto é substancial, faz-se necessária a
existência de uma longa manus do Poder Judiciário.
Evidentemente que o Ministério Público tem interesse na solução e
participação do conflito, uma vez que o TAC visa a esse fim. Porém, para
cumprir os planos da validade e eficácia, deve ter a cancela, o timbre do Peder
Judiciário.
O problema que se percebe, no entanto que, mesmo com a intervenção
do Ministério Público é que está ocorrendo no Direito brasileiro, uma
flexibilização, uma relativização da coisa julgada formal, gerando, com isto a
insegurança pertinente.
O juiz ou magistrado está assoberbado de processos e de recursos para
julgar. O Estado brasileiro não tem interesse em investir no Poder Judiciário
para que este se torne mais efetivo. A coisa julgada material e formal, antes
9
imutável, última fronteira do ordenamento jurídico agora relatividade, trazendo
uma espécie de “caos” para o sistema como um todo, afetando, inclusive sua
credibilidade como instituição. Isto merece ser refletido.
5 DESCABIMENTO DOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO CASO CONCRETO
No caso concreto em tela, em que o Ministério Público faz “as vezes” do
cidadão comum e fez a homologação, o Instituto de Embargo de Declaração
tornam-se ineficientes porque existe - e precisa ser cumprido - a
irrecorribilidade do princípio da coisa julgada. De acordo com NERY; NERY
(2003:924), a natureza jurídica dos Embargos de Declaração (EDr) permite a
sua interpretação, como recurso, contra sentença ou decisão interlocutória,
evidentemente sujeitando-se aos requisitos de admissibilidade pertinente a
essa teoria.
O fato é que tal instituto tem, por objeto, completar uma decisão omissa
ou contraditória ou ambígua.
Não há uma “substituição” da decisão; há a sai complementação ou
clarificação. A isto se dá o nome de Efeito ou caráter integrativo, jamais
substitutivo, modificativo ou extensivo do julgado.
Ora, dado que ocorreu uma homologação respaldada pelo Ministério
Público, não inadmissíveis os embargos de declaração porque, se aceitos
fossem, relativavizariam a coisa julgada e atacariam frontalmente o Princípio da
Segurança Jurídica do já frágil ordenamento constitucional brasileiro. Além
disto, como ficaria o Princípio da Estabilidade da Demanda?
10
6 CONCLUSÃO
Do embate entre o “Ministério Público” e o “Princípio da Unicidade da
Instituição” mostra-se clara a necessidade da absolutividade da coisa julgada,
mesmo porque o Princípio da Segurança Jurídica visa fornecer ao
jurisdicionado e na dita “segurança”. Em outras palavras, da fase autonomista,
passou-se à fase do jurisdicionado e, desta, novamente à fase autonomista,
etérea, vaga, abstrata.
A autora também explicita, de forma clara e contundente, o conceito do
Termo de Ajustamento de Conduta e a necessidade da chancela/timbre do
Estado-Juiz.
Por fim, prestigia a autora o processo coletivo em detrimento do
individual como uma forma de resolução de problemas.
7 ANÁLISE CRÍTICA
Percebe-se o esforço desprendido pela autora para convencer o leitor da
importância de certos temas: relativização versus absolutização da coisa
julgada material, necessidade de homologação de uma ação civil pública pelo
Ministério Público, o problema da “segurança” jurídica no processo civil
brasileiro, a evolução do direito processual de uma fase autonomista para uma
outra visando satisfazer o jurisdicionado, nas incongruências e inconsistências
do sistema no que tange ais Embargos Declaratórios neste caso em tela, a
definição do TAC e outro temas de importância.
O problema é que, a autora, deveria ter aprofundado as conseqüências
políticas, econômicas, sociais e ideológicas acerca do problema da
relativização da coisa julgada, uma vez que isto acarreta um problema grave de
legitimidade para o ordenamento jurídico brasileiro.
11
TEXTO III - A PRISÃO CIVIL POR DÍVIDA E OS PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DA
DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA E DA PROPORCIONALIDADE
Escrito por Ivan Aparecido Ruiz é claro ao destacar a importância da
sociedade e do direito, uma vez que, teoricamente, “a sociabilidade é
característica fundamental de nossa espécie” (p. 243).
1 A SOCIEDADE E O DIREITO
Neste tópico, o autor aborda a necessidade de se ter uma correlação
forte entre a sociedade e suas regras de convivência social, regras esses
denominadas de “Direito”. Nos dizeres de Orlando Gomes, mencionados pelo
próprio autor: “(...) o Direito não é tanto um conjunto de regras dotadas de
força própria, masn, sim um complexo de regras que regulam o
uso dessa força, designando os sujeitos que vedem usá-lo e
determinando os casos, e as modalidades, nos quais a força
pode ser usada e, assim, sublinhando a sai junção garantista, e
não a sua junção repressiva. O espaço jurídico está
compreendido na esfera da liberdade” (p. 244)
2 NORMAS JURÍDICAS E SUA EFICÁCIA
As normas jurídicas devem passar pelos planos da existência, validade
e eficácia para que possam atender a seu objetivo de transcendência para o
mundo concreto. O fato é que as normas são regras obrigatórias de convívio
social que, se não cumpridas, devem gerar a sanção correspondente. Quem
deve regular e aplicar estas regras ao caso concreto é o poder judiciário, que
detém a necessária competência para isto.
É importante destacar que as regras, normas estão num plano abstrato e
que devem ser aplicadas ao caso concreto em tela por meio do Princípio da
Subsunção. O fato com que se depara este artigo é o problema da prisão civil
por dívida, uma ação de execução indireta. Há que se destacar que há,
segundo o autor, vários tipos de execução: espontânea, forçada, indireta e
12
imprópria. A execução indireta, em que pese seu substrato ser a multa,
funciona como sendo um meio psicológico de fazer o alimentador pagar a
pensão, alimento ao alimentado e obrigar o depositário infiel a deixar em
“desigualdade” ou ainda obrigar o devedor a saldar seus compromissos para
com o credor.
3 A PRISÃO COMO INSTRUMENTO DE EFICÁCIA JURÍDICA (?)
Será que, é isto que discute o autor neste tópico, é educativa e
exercedora de pressão psicológica e na modalidade de prisão? Até que ponto
ela é efetiva no ordenamento jurídico nacional? Fere ela a dignidade da pessoa
humana? Até que ponto? Até que ponto macula o valor supremo liberdade?
Estas e outras questões serão respondidas no decorrer deste artigo.
O fato é que há uma responsabilidade patrimonial a ser cumprida, mas,
até que ponto pode uma construção não patrimonial indisponível em seus
essência afetar um bem não patrimonial, um valor supremo que é a liberdade
do ser humano?
Como se sabe, de acordo com o artigo 1º, inciso III da Constituição
Federal, a República Federativa do Brasil deve preservar a dignidade da
pessoa humana. Mas, será que preserva?
4 LEGISLAÇÃO INTESTINA E INTERNACIONAL
É importante salientar que a legislação brasileira era omissa nas
Constituições de 1824, 1891, 1934 e 1937 acerca da prisão civil por dívida. Tal
assunto foi regulamentado no artigo 150, § 17 do Diploma Excelso de 1967.
cabe destacar que o Brasil em seu ordenamento jurídico era mais rígido quanto
a este instituto. Contudo, a partir de 1992 promulgou a Convenção Americana
dos Direito Humansi (Pacto de San José da Cuesta Rica), afrouxando
paulatinamente este instituto, o que poder ser funesto para o ordenamento
jurídico.
No caso da obrigação alimentícia, o objetivo da prisão civil por divida é
uma pressão psicológica do Estado-Juiz contra o devedor para que este
13
cumpra as suas obrigações de chefe de família e não deixe desamparado os
seus descendentes. O artigo 733 do CPC e o artigo 19 da Lei 5478 de 1968
alicerçam este instituto.
Por outro lado, no caso do Depositário Infiel, há que se considerá-lo
como sendo a quebra de um contrato de depósito, não se aplicando à
modalidade civil, como no caso da pensão alimentícia. Consequentemente,
segundo o autor, não cabe este tipo psicológico de pressão porque seus
fundamentos são negociais e não alimentares.
5 POSIÇÃO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (STF)
O STF, a princípio, não admite a prisão civil por dívida especificamente
no caso do depositário infiel penalizado, porém o devedor de prestação
alimentícia pelo inadimplemento voluntário e inescusável desta. Mas, há
julgados do STF que expressam claramente a sua posição em prender,
civilmente, não só o devedor alimentar, mas também o depositário infiel. O fato
é que, com a EC 45/2004, essa nuvem dúbia se dissipou. Como o tratado
internacional tem força de Emenda Constitucional, é reforçado admitir que o
Pacto de São José da Costa Rica deve ser integralmente cumprido. Em outras
palavras, não se deve ser civilmente prese nem o depositário infiel e nem o
devedor de prestação alimentar.
6 POSIÇÃO DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA (STJ)
A posição do STJ é clara no que concerne do depositário infiel: não
prendê-lo. Por outro lado, é mais rígida quanto à prestação alimentícia, ou seja,
admite plenamente a prisão civil por dívida obrigacional alimentar.
7 PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA
Caso se alicerce toda essa discussão sobre o Princípio da Dignidade
Humana, é de não se aplicar a prisão civil por nenhum dos dois motivos, uma
vez que dever ser respeitado o direito ao bem supremo que é a liberdade.
14
8 PRINCÍPIO DA PROPORCIONALIDADE
Esse princípio é, nos dizeres de CANOTILHO um “método de
interpretação, verdadeira técnica de elucidação e resolução de conflitos
latentemente apresentados em princípios constitucionais que garantem valores
fundamentais” (p. 256).
Em outras palavras, nos dizeres de célebre professos português, os
valores fundamentais se sobrepões à carga axiomática, razão pela qual não
deve haver construção legal à liberdade, quer num, quer noutro caso.
9 CONCLUSÃO
Finaliza o texto o autor mencionando a controvérsia existente no instituto
da prisão civil por dívida, quer num, quer noutro caso especificado. Menciona a
classificação de execução indireta da Prisão Civil por Dívida, a necessidade de
se ter uma dívida alimentar descumprida voluntariamente sem um aparente
motivo pertinente. E, por fim, o autor analisa a prisão civil por dívida sob os
princípios da dignidade humana e proporcionalidade.
10 ANÁLISE CRÍTICA
Em que se pese o texto bem estruturado, lógico, argumentado, lógico,
argumentado e escrito, há que se tecer certas considerações:
a) bem é verdade que a prisão por dívida sempre foi um assunto
controverso sendo ora alguns a favor da prisão civil por ambos os casos
(depositário infiel e pensão alimentícia); outros segundo a prisão em ambos os
casos e outro ainda negando a prisão no caso do depositário infiel. Como se
pode perceber, grande é a controvérsia nesses casos.
Percebe-se do texto que há um critério muito bem definido do que seja
uma obrigação a ser paga do que seja um descumprimento bem definido do
que seja o depositário infiel e o não cumprimento da prestação alimentícia.
Em outro ponto aborda a conexão entre as decisões do STF e do STJ,
além dos Princípios da Proporcionalidade e Dignidade Humana. O fato é que o
texto é ameno no que tange o posicionamento da autor. Advoga-se, outrossim,
15
um posicionamento mais agressivo por parte deste, no sentido de exarar aos
leitores sua opinião, idéias e outros. O ideal é que este texto colocasse uma
opinião crítica sobre o assunto, qual seja, decretar sim a prisão civil por dívida,
quer no caso de descumprimento de prestação alimentícia (principalmente),
quer no descumprimento do contrato de depositário fiel. Assim, advoga-se uma
posição mais rígida, não só do STF, mas também do STJ, porque se tem
percebido uma exagerada “flexibilização” por parte destes órgãos, flexibilização
esta que está desamalgamando a estrutura do ordenamento jurídico nacional e
esgarçando o tecido social deste pais. Leis precisam ser cumpridas. De nada
adianta ter-se as melhores legislações do mundo se não são devida e
corretamente aplicadas por quem de direito. Veja-se o caso de todos os
políticos nacionais.
16
PARTE II - DISSERTAÇÕES LIVRES
1 PRINCÍPIO DO DUPLO GRAU DE JURISDIÇÃO
Há que se destacar, inicialmente, o conceito de princípio que pode ser
estendido, axiologicamente, como pilar de sustentação, ou também como
sendo um verdadeiro dogma, algo que deve ser aceito como sendo verdade,
sem discussão, algo completo, total, universal. Parafraseando a Ciência
Matemática, os conceitos primitivos de ponto, reta e plano devem ser aceitos
como sendo verdades universais, verdades que não admitem nenhum tipo de
discussão e/ou contradição. No que tange ao outro conceito, o grau de
jurisdição, este deve ser entendido como sendo uma parcela do poder do
Estado (Democrático) de Direito. A jurisdição é, em outras palavras, o “dizer o
Direito”; é o exarar uma determinada sentença ou decisão interlocutória,
abrangendo também os despachos propriamente ditos e os despachos
meramente administrativos do magistrado. O conceito de duplo grau invoca a
necessidade de um processo qualquer ser revisto por um grupo de pessoas
que, teoricamente, detêm maior experiência prática – os Doutos Senhores
Desembargadores. Isto deve ocorrer porque um determinado juiz singular pode
perceber, devido ao elevado volume de trabalho a que está sempre sendo
submetido, de forma errônea os problemas de uma determinada lide. Errar é
humano e o juiz é humano. Logo, o juiz também erra. Evidentemente que a
decisão de um juiz singular não pode – e não deve – ser definitiva ou
terminativa com julgamento do mérito. Para que isto não prejudique o bom
andamento da justiça, faz-se mister a existência de uma espécie de “controle
de qualidade” das decisões exaradas pelo juiz singular, uma vez que isto é a
garantia da própria segurança do ordenamento jurídico ou do também
cognominado sistema jurídico. No sistema constitucional brasileiro há, por isto,
a possibilidade de se interpor recurso (recursus = novo curso, nova verificação,
nova avaliação) para uma terceira ou quarta categorias de “revisores”, os
chamados membros do Superior Tribunal de Justiça (STJ) e do Supremo
Tribunal Federal (STF), respectivamente. Não se pode olvidar, também dos
respectivos Tribunais Superiores Eleitoral (TSEs) e do Trabalho (TSTs). O
17
problema disto tudo é que a variável intertemporal tem se mostrado
extremamente dilatada e, muitas vezes, ainda que se faça a cognominada
justiça, esta vem tarde demais, em nítido confronto com a eficiência, eficácia e
efetividade, tudo isto contrariamente ao propugnado pelo Artigo 5o., inciso
LXXVIII da Constituição Federal, inovação introduzida pela respectiva Emenda
Constitucional número 45, de 2004.
2 A LEGITIMIDADE DA DECISÃO E A NECESSIDADE DA PUBLICIDADE E DA MOTIVAÇÃO
No que tange à legitimidade da decisão e da necessidade de aplicação
dos princípios de publicidade e da motivação a um determinado problema,
questão ou lide processual, quer civil ou não, em busca do “decisum”, tudo isto
é um complexo processo cognoscitivo que busca sempre o “status” de legítimo,
razão pela qual a decisão torna-se complexa. Para que tal ocorra, faz-se mister
que haja um relatório, uma outra parte cognominada de dispositiva, alicerçadas
em uma poderosa fundamentação legal. O que é legítimo deve estar amparado
na lei, levando-se em consideração não somente ela própria em sua forma
despida, mas também e, principalmente, todo um conjunto probatório de
informações psicológicas, sociológicas, políticas, econômicas, ideológicas,
axiológicas que envolve todo e qualquer caso e/ou inquietação jurídica. Posto
isto, cabe destacar que o “decisum” envolve a motivação, a fundamentação e a
própria “ratio dedidendi”. Isto faz lembrar as idéias de Immanuel Kant ao
manifestar seu pensamento acerca dos juízos “a priori” e “a posteriori”. Em
suma, pode-se afirmar que a necessidade de uma forte correlação entre
publicidade ou transparência e da motivação com a legitimidade da decisão
deve ocorrer. Os princípios da publicidade e da motivação, vale dizer, estão
centrados/respaldados na Constituição Federal e isto precisa estar/ser em
qualquer decisão legítima exarada, quer por um juiz singular, quer por um
colegiado de desembargadores da capital ou da Capital Federal. Finalmente,
cabe destacar que os dois princípios precisam estar contidos em toda e
qualquer decisão, sob pena de ilegitimidade e a existência de um procedimento
anti-democrático.
18
BIBLIOGRAFIA
HIIL, Flávia Pereira. O jurisdicionamento e a aparente crise no princípio da coisa julgada. Revista Brasileira de Direito Constitucional, São Paulo, SP, n. 6, p. 10-22, 2005.
LAMY, Marcelo. Notas de aula de disciplina “Princípios Constitucionais do Processo” proferida de 16 ago. a 11 out 2007. Escola Superior de Direito Constitucional. São Paulo, SP.
NERY JÚNIOR; Nelson; NERY, Rosa Maria Barreto Borriello de Andrade. Código de Processo Civil Comentado e Legislação Extravagante. 7. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2003. 1855p.
RUIZ, Ivan Aparecido. A prisão civil por dívida e os princípios constitucionais da dignidade da pessoa humana e da proporcionalidade. Revista Brasileira de Direito Constitucional, São Paulo, SP, n. 5, p. 243-263, 2005.
SOUZA, Carlos Aurélio Moda de. Motivação e fundamentação das decisões judiciais e o princípio da segurança jurídica. Revista Brasileira de Direito Constitucional, São Paulo, SP, v. 2, n. 7, p. 355-376, jun/jul. 2006.
Recommended