View
218
Download
0
Category
Preview:
Citation preview
8/7/2019 Leite, Fernando Baptista; Codato, Adriano. Elites universitrias no campo da Cincia Poltica brasileira: uma anlise
1/31
33 ENCONTRO ANUAL DA ANPOCS
GT 18: Elites e instituies polticas
Elites universitrias no campo da Cincia Poltica brasileira contempornea:
elementos metodolgicos para uma anlise da produo acadmica
Fernando Leite
Adriano Codato
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAN
8/7/2019 Leite, Fernando Baptista; Codato, Adriano. Elites universitrias no campo da Cincia Poltica brasileira: uma anlise
2/31
2
33 ENCONTRO ANUAL DA ANPOCS
GT 18: Elites e instituies polticas
27 a 29 de outubro de 2009, Caxambu/MG
Elites universitrias no campo da Cincia Poltica brasileira contempornea:elementos metodolgicos para uma anlise da produo acadmica
Fernando Leite (ferngutz@gmail.com) mestrandoem Sociologia pela Universidade Federal do Paran ebolsista do Conselho Nacional de DesenvolvimentoCientfico e Tecnolgico (CNPq), ao qual manifestasua gratido por financiar a pesquisa em que estetrabalho se insere.
Adriano Codato (acodato@ufpr.com) Doutor emCincia Poltica pela Universidade Estadual deCampinas, Professor de Cincia Poltica naUniversidade Federal do Paran e Editor da Revista deSociologia e Poltica.
Fernando Leite
Adriano Codato
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAN
mailto:ferngutz@gmail.commailto:ferngutz@gmail.commailto:ferngutz@gmail.commailto:acodato@ufpr.commailto:acodato@ufpr.commailto:acodato@ufpr.commailto:acodato@ufpr.commailto:ferngutz@gmail.com8/7/2019 Leite, Fernando Baptista; Codato, Adriano. Elites universitrias no campo da Cincia Poltica brasileira: uma anlise
3/31
3
RESUMO
O artigo apresenta e discute o mtodo utilizado para analisar a produo acadmica da reade Cincia Poltica entre 2004 e 2008. Nosso principal objetivo tornar pblico esse mtodo,
para que sirva de referncia para outros pesquisadores e para depur-lo a partir do escrutniocoletivo. O texto composto da seguinte forma: (i) defendemos a necessidade do estudocientfico, de preferncia sociolgico, da cincia poltica e das cincias sociais em geral,indicando como referncia vrios trabalhos de cientistas polticos americanos sobre a CinciaPoltica nos Estados Unidos e no mundo; (ii) apresentamos os elementos fundamentais premissas, objeto, problema e escopo da pesquisa sobre a Cincia Poltica brasileiracontempornea que conduzimos na Universidade Federal do Paran e (iii) expomos ediscutimos o mtodo que adotamos para analisar a produo acadmica da Cincia Polticabrasileira contempornea. Essa exposio est focada numa discusso a respeito da definiodos peridicos a serem utilizados como representantes da produo acadmica hegemnica;da eficcia dos indicadores escolhidos para identificarmos a hierarquia cultural e institucionaldo campo e numa descrio do procedimento de anlise dos peridicos. Quanto questo daeficcia dos indicadores, tratamos especialmente do Sistema Qualis: seria um indicadorseguro para se tomar como critrio de escolha de peridicos e como critrio para medir aimportncia de peridicos e instituies acadmicas? Ns pretendemos mostrar que sim.
PALAVRAS-CHAVE: anlise de produo acadmica; mtodo de anlise; campo da CinciaPoltica brasileira; Qualis; Sociologia das Cincias Sociais; histria da Cincia Poltica.
I. INTRODUOA cada ano aprofunda-se o processo de institucionalizao da Cincia Poltica brasileira.
Embora mais nova que a Sociologia e a Antropologia no campo acadmico brasileiro e com um
campo de ensino e pesquisa menor, a Cincia Poltica apresenta um crescimento institucional e
acadmico vigoroso e proporcionalmente maior que dessas cincias sociais. A Associao
Brasileira de Cincia Poltica (ABCP), fundada em 1996, lanou em 2007 o peridico Brazilian
Political Science Review (BPSR), o primeiro peridico nacional especificamente dedicado
rea de Cincia Poltica e divulgao da cincia poltica brasileira no exterior. Todos os
indicadores acadmico-institucionais pertinentes para se verificar o tamanho do campo deensino e pesquisa da cincia poltica mostram-nos um crescimento vigoroso, reforando a idia
de que a Cincia Poltica brasileira passa por um processo consistente de institucionalizao e
de autonomizao acadmica1.
1 Cf., a respeito, o nmero de grupos de pesquisa, de programas de ps-graduao, o nmero de ps-graduadosformados anualmente, de matriculados (CAPES, 2009a; 2009b) e o nmero de linhas de pesquisa, de
pesquisadores e de grupos de pesquisa (CNPq, 2009); s para mencionar alguns indicadores pertinentes.
8/7/2019 Leite, Fernando Baptista; Codato, Adriano. Elites universitrias no campo da Cincia Poltica brasileira: uma anlise
4/31
4
O fato de que a rea de Cincia Poltica vem ampliando-se e tornando-se
institucionalmente mais slida, enquanto a prtica da cincia poltica adquire cada vez mais
identidade no campo acadmico, algo que os prprios cientistas polticos percebem
subjetivamente. Apesar disso, preciso chamar ateno necessidade de os cientistas polticos
e sociais analisarem o prprio desenvolvimento cultural e institucional de suas reas de
conhecimento. medida que a cincia poltica se institucionaliza, torna-se cada vez mais
necessrio que seus membros conheam sua histria e suas condies de exerccio; que tenham
cincia dos fatores que influenciam sua prtica cientfica e que condicionam o desenvolvimento
geral da disciplina.
I.1. A necessidade do estudo cientfico da cincia poltica e das cincias sociais em geral
A produo de conhecimento sobre a prpria profisso poderia ser por si s um fim em
si mesmo, j que se trata de um importante elemento da identidade e do prestgio de uma
disciplina acadmica ou de qualquer grupo social. Faz parte da prpria natureza social dos
grupos a celebrao de seus valores e elementos em comum, o que necessrio tanto
subjetivamente (pois confere sentido vida dos indivduos) como socialmente (pois favorece a
coeso do grupo). Mas h pelo menos duas razes, mais substantivas, que afetam diretamente a
prtica cientfica e acadmica e que faz ser necessrio submetermos o prprio campo
acadmico anlise cientfica, de preferncia sociolgica.
Em primeiro lugar, como bem mostrou Fernando Uricoechea (1982), a cincia,
especialmente a social, no se desenvolve num ambiente fechado, isto , seu desenvolvimento
no produto exclusivamente de operaes lgicas, do escrutnio emprico e do debate de
idias. O contexto social e institucional em que um campo acadmico (incluindo-se a o da
cincia, das cincias sociais e da cincia poltica) insere-se influencia as condies de trabalho,
de exerccio da prtica acadmica. No estamos sugerindo que o conhecimento acadmico ou
cientfico seja por isso uma construo social de contedo to arbitrrio quanto qualquer
fantasia social ou subjetiva ainda que aceitemos que fatores extra-cientficos possam
eventualmente limitar a objetividade da prtica cientfica. Trata-se, simplesmente, de assumir
que certa organizao e diviso do trabalho acadmico e cientfico, certos procedimentos
burocrticos, certas polticas de gesto e de (des)incentivo da produo acadmica e mesmo
certas polticas em geral podem favorecer ou desfavorecer o desenvolvimento cultural e
8/7/2019 Leite, Fernando Baptista; Codato, Adriano. Elites universitrias no campo da Cincia Poltica brasileira: uma anlise
5/31
5
institucional do campo acadmico seja simplesmente sabotando-o2, seja influenciando o
desenvolvimento terico de uma disciplina ao favorecer, por meio dos meios institucionais
cabveis e por razes extra-cientficas, certas orientaes tericas em detrimento de outras.
Em segundo lugar, especificidades lgicas do objeto das cincias humanas geram
importantes problemas metodolgicos que exigem cuidados especficos por parte dos cientistas
sociais. Como nas cincias sociais o objeto de estudo confunde-se com o observador, como o
objeto no faz parte de uma ordem de realidade separada de nosso esprito, somos acometidos
por obstculos metodolgicos complexos e aparentemente insuperveis3. Um desses problemas
a influncia que o objeto (seres humanos e suas prticas e cultura) pode exercer sobre o
observador, influenciando ou mesmo controlando suas representaes tericas.
Assim, alm dos cuidados metodolgicos especficos exigidos em uma cincia cujo
objeto de estudo no explode em nossas mos quando cometemos um erro de clculo,
preciso ser reflexivo. A reflexividade, neste caso, significa a capacidade de um agente social
olhar para si mesmo de forma objetivante, no intuito de descobrir e trazer conscincia, ou,
mais exatamente, de revelar os constrangimentos sociais que influenciam sua prtica em
nosso caso, a prtica cientfica (BOURDIEU, 2004; 1992, p. 36-46). somente se os cientistas
sociais tiverem conscincia das foras sociais que influenciam suas idias, teorias e sua
pesquisa que eles podero ter controle sobre essas foras e, assim, sobre sua prpria prtica
cientfica. Se no fizerem isso, os cientistas sociais correm o srio risco de construrem uma
imagem da prtica dos agentes que reflete, na verdade, as foras sociais que influenciam o
cientista social, e no a lgica real que opera na prtica. Ou pior, podem construir uma
representao da ao necessariamente conveniente aos interesses de nosso objeto de estudo.
Nas cincias sociais, portanto, a reflexividade uma condio metodolgica para atingirmos o
grau de objetividade que possvel atingir. Precisamos, assim, conhecer o funcionamento e os
mecanismos sociais internos e externos que influenciam nossa produo cientfica.
A Cincia Poltica americana parece ter percebido a importncia de estudar sua prpria
histria e a prpria disciplina a partir do incio da dcada de 1980. Como nota James Farr
(1988), antes disso os trabalhos dedicados a reconstruir ou analisar a histria da cincia poltica
2 Como ocorreu, por exemplo, com a cincia poltica portuguesa durante o regime salazarista. Cf. a respeito, otrabalho de Manuel Villaverde Cabral (1982).
3 Certamente, Max Weber (1949) foi o principal autor que chamou nossa ateno a esses problemas, e um dos que
mais contribuiu para sua soluo.
8/7/2019 Leite, Fernando Baptista; Codato, Adriano. Elites universitrias no campo da Cincia Poltica brasileira: uma anlise
6/31
6
americana existiam, mas eram escassos4. Os livros de Collini, Winch e Burrow (1983), Finifter
(1983) Ricci (1984), Seidelman e Harpham (1985) e Janos (1986) foram os principais
responsveis por desencadear a ateno histria da prpria disciplina. A partir de ento,
cientistas polticos clebres passaram sua ateno ao tema, publicando importantes trabalhos,
tais Easton (1985), Easton, Gunnel e Stein (1995), Almond (1990; 1991); Farr e Seildelmann
(1993), Dryzek e Leonard (1988), Dryzek, Farr e Leonard (1995). Em novembro de 2006, a
American Political Science Review (APSR) dedicou um nmero especial anlise e avaliao
da histria e da situao da cincia poltica, intitulado The Evolution of Political Science. Nele,
publicaram autores como John Dryzek, James Farr, Michael Gibbons, John Gunnel, Emily
Haptmann, entre outros. Artigos sobre o tema tornaram-se freqentes nas pginas da APSR,
alm de consistir numa das diretrizes editoriais do peridico PS: Political Science & Politics5.
II.2. No que consiste este trabalho e em que ele se insere
Inspirados por essas idias, ns decidimos empreender uma pesquisa sobre o campo da
Cincia Poltica brasileira atual. Por que o campo da Cincia Poltica? J tnhamos noes
significativas sobre ele, que se desenvolveram a partir de observaes primrias sobre o estado
atual da hierarquia entre agentes, idias e instituies; trata-se, pois, de certa proximidade que
temos com a cincia poltica. Mas h, tambm, duas peculiaridades que acometem a cincia
poltica, e que favoreceram o surgimento deste empreendimento. Em primeiro lugar, a cincia
poltica propriamente dita uma inveno americana. Fora dos Estados Unidos, a cincia
poltica ainda uma espcie de agremiao de vrios acadmicos dedicados ao estudo da
poltica, isto , um campo de fronteiras vagas e amorfas, marcado por um grau de
4 A maioria desses estudos tentava fazer um retrato cronolgico da cincia poltica americana, descrevendo asescolas que foram se sucedendo. Entre esses, merecem ser citados o trabalho de Somit e Tanenhaus (1967),
que tenta descrever a histria da cincia poltica americana at o advento do comportamentalismo e o deMurray (1925), que tenta uma ambiciosa descrio do pensamento poltico desde Plato. Estudos das dcadasde 1960 e 1970 abriram caminho para os estudos contemporneos, pautando-se por um registro mais crtico-analtico. Os trabalhos de Lipset (1969), Kress (1973) e Karl (1974) so referncias importantes dessa linha. Oartigo de Lowi (1973) um dos pioneiros do argumento que denuncia a existncia de certo comprometimentoda Cincia Poltica e a democracia americanas. Essa idia constituiu o ncleo dos vrios estudos que focaramsua ateno sobre as relaes estabelecidas entre a cincia poltica e seu objeto (a poltica) geralmenteinvestigando os efeitos dessa relao sobre a neutralidade e a objetividade cientficas. Outro artigo de Lowi(1992) criticando a Cincia Poltica americana produziu um acalorado debate: cf., a respeito, Calvert (1993),Simon (1993a; 1993b) e Lowi (1993a; 1993b).
5 Nesse sentido, gostaramos de elogiar a iniciativa dos organizadores do I Frum Brasileiro de Ps-Graduao emCincia Poltica de dedicar uma sesso para o debate de trabalhos sobre a prpria cincia poltica. Trata-se deuma contribuio importante, infelizmente ainda escassa, para o prprio desenvolvimento institucional da
Cincia Poltica brasileira e para o melhoramento qualitativo de sua produo cientfica.
8/7/2019 Leite, Fernando Baptista; Codato, Adriano. Elites universitrias no campo da Cincia Poltica brasileira: uma anlise
7/31
7
autonomizao relativamente baixo6. As cincias polticas formam-se, assim, em relao a e at
mesmo aos moldes da Cincia Poltica americana. Por isso, temos disposio fontes
excelentes, em especial a vasta bibliografia americana sobre o tema. Em segundo lugar, o
problema metodolgico da confuso entre objeto e observador a que nos referimos h pouco
toma propores dramticas na Cincia Poltica pois, afinal, seu objeto a poltica, o poder.
Nutrimos a esperana de encontrar paralelos entre a produo acadmica, a estrutura
institucional e a estrutura de relaes de fora da Cincia Poltica brasileira, sem descurar de
sua dimenso diacrnica, sua histria. Tivemos, pois, a idia de aplicar a teoria sociolgica de
Pierre Bourdieu numa pesquisa sobre o campo da Cincia Poltica brasileira. Achamos que a
sociologia de Bourdieu tenha se mostrado um caminho proveitoso quando se trata de relacionar
a anlise estrutural anlise histrica por meio de uma viso agonstica das relaes humanas.
Com isso, queremos contribuir ao cabedal de conhecimento cientfico sobre a Cincia Poltica e
ao escrutnio emprico de uma sociologia concebida de modo a ser orientada para a pesquisa.
Organizamos a pesquisa em duas etapas. A primeira, de carter predominantemente
descritivo, consiste em identificara situao atual do campo da Cincia Poltica a partir de duas
dimenses: sua produo acadmica (a produo de idias e teorias por meio de veculos de
produo acadmica, como peridicos e eventos) e suas instituies (de ensino, de pesquisa e
de fomento). Trata-se de reconstruir teoricamente certas dimenses da estrutura do campo, ou
seja, dizer quem o compe o campo e onde nele se encontra. A segunda, de carter
6Entendemos processo de autonomizaocomo um processo pelo qual um campo social determinadotorna-segradativamente independente e irredutvel em relao a outros campos. Trata-se de um processo quegradativamente confere a um campo uma scio-lgica eficaz o suficiente para que esse campo obedea aprincpios que lhe so prprios. Trata-se, pois, de estruturas sociais, sistemas simblicos e vises de mundoirredutveis a quaisquer outros campos. Quanto mais autnomo, mais um campo transfigura e refrataquaisquer constrangimentos externos segundo sua lgica especfica. Esse processo paralelo ao que chamamosde processo de institucionalizao. Mas preciso sublinhar: um campo pode institucionalizar-se sem,
contudo, tornar-se autnomo. A institucionalizao de um campo , sem dvidas, uma condio necessriapara a autonomia de um campo, mas no por si s garantia disso. Tal distino tornar-se- mais clara logoque esclarecermos melhor o que entendemos por autnomo. Em primeiro lugar, preciso dizer que umcampo qualquer sempre relativamente autnomo. Um campo sempre autnomo em relao a outroscampos, ou seja, irredutvel aos valores e ao funcionamento de campos externos, bem com resistente a suasinvestidas. Assim, um campo pode ser autnomo em relao a campo X, mas heternomo em relao a campoY; no limite, autnomo em relao a todos os campos exteriores a ele. Dizemos que um campo autnomosugerindo que ele parece fechado em si mesmo, sendo altamente resistente, tanto por sua lgica imanentecomo at mesmo pelas resistncias conscientes de seus agentes, a quaisquer demandas externas. Observamos,contudo, que teoricamente impossvel um campo ser totalmente autnomo, porque, em nosso modelo, issoimplicaria em confundir o campo com o prprio espao social em que ele se encontra, de modo que mesmoesses campos que so autnomos em relao a todos os outros so, na verdade, parcialmente esignificativamente autnomos em relao a todos os outros campos. Portanto, a institucionalizao, embora
importante, no garantia de autonomia social.
8/7/2019 Leite, Fernando Baptista; Codato, Adriano. Elites universitrias no campo da Cincia Poltica brasileira: uma anlise
8/31
8
predominantemente explicativo, consiste em tentar identificar os principais fatores responsveis
por fazer a Cincia Poltica ser o que , tanto do ponto de vista da produo como das
instituies. Trata-se, pois, de dizer o porqu daqueles se encontrarem onde se encontram.
Queremos saber se existem instncias hegemnicas na Cincia Brasileira
contempornea do ponto de vista da produo simblica e das instituies, e, caso afirmativo,
nome-las. Fizemos isso por razes operacionais e metodolgicas: preciso delimitar o escopo
da primeira etapa, restringindo o reconhecimento de terreno s fraes superiores do campo,
que chamamos de escolas ou correntes terico-metodolgicas hegemnicase instituies
acadmicas hegemnicas. Ora, alm de nos ser atualmente impossvel reconstruir
teoricamente todo o campo da Cincia Poltica brasileira, identificar as fraes hegemnicas
heuristicamente til porque exige que identifiquemos os valores correntes no campo e os
princpios responsveis por estratificar e distinguir as instncias 7 do campo entre si8. H uma
relao direta entre a presena de certa espcie de valores e de formas de hierarquizao num
campo e as fraes hegemnicas deste. Isso necessrio para partirmos para a etapa
explicativa. Alm disso, as circunstncias acadmico-institucionais de nossa pesquisa exigiram
o acesso ao campo da Cincia Poltica a partir de cima.
Uma escola ou corrente terico-metodolgica um conjunto de idias
sistematicamente relacionadas que se repete de forma mais ou menos freqente na produo
acadmico-cientfica. Uma escola ou corrente hegemnica quando ela predomina nos
principais peridicos e eventos cientficos da rea. Falaremos mais a respeito disso na parte II.
Uma instituio acadmica uma organizao dotada de um corpo permanente de
funcionrios (uma burocracia) e de profissionais acadmicos dedicados ao ensino ou
pesquisa, podendo esta ser pura ou aplicada. Como o foco de nossa pesquisa, neste momento,
a produo acadmica (i.e.: as escolas ou correntes terico-metodolgicas), passaremos a falar
a respeito dela.
7Utilizamos a palavra instncia para nos referir aos trs elementos da realidade social responsveis por produzirefeitos sociais pertinentes: agentes, produo simblica ou de significado (cultura) e instituies sociais.Utilizamos agente em sentido estrito, indicando pessoas. Sabemos que a cultura tambm uma instituiosocial, mas distinguimo-las para diferenciar um aparelho institucional das idias (o esprito) que o animam eque ele difunde. Sabemos que esses elementos esto inter-relacionados na realidade, mas distingui-los teoricamente necessrio.
8 Trata-se do conceito de capital usado por Pierre Bourdieu. Uma definio sinttica, apropriada a nossos
propsitos, pode ser conferida em Bourdieu (1992, p. 94-110; 1989, p. 133-136).
8/7/2019 Leite, Fernando Baptista; Codato, Adriano. Elites universitrias no campo da Cincia Poltica brasileira: uma anlise
9/31
9
A anlise da produo acadmica trata-se, portanto, de uma anlise da produo
acadmica delimitada (poderamos dizer tambm limitada ou enviesada) pela identificao das
fraes hegemnicas. Nosso objetivo identificar a hierarquia cultural, isto , das idias,
escolas e correntes do campo da Cincia Poltica. Desse modo, nosso retrato do campo de
produo acadmica pode ser significativo para representar a produo em geral, mas deve ser
significativa para a produo hegemnica9.
Vamos apresentar agora o mtodo que utilizamos para analisar a produo acadmica da
Cincia Poltica brasileira contempornea com o objetivo de desvelar sua hierarquia, mais
precisamente, identificar as escolas ou correntes terico-metodolgicas hegemnicas.
II. A anlise de produo acadmicaII.1. Justificativa
A nosso ver, a produo acadmica , entre outros, um indicador seguro para identificar
a hierarquia entre as vrias escolas ou correntes terico -metodolgicas do campo.
Acreditamos que analisando a produo acadmico-intelectual podemos descobrir a hierarquia
do campo da Cincia Poltica do ponto de vista das escolas ou correntes terico -
metodolgicas. Mas sua importncia no se restringe a isso.
Existe necessariamente uma relao entre agentes e idias (normalmente agremiadas em
escolas ou correntes terico-metodolgicas), afinal de contas so os agentes que efetivamente
pensam, escrevem textos, participam de congressos etc. Mas, alm disso, supomos haver
correspondncia de algum grau entre a hierarquia de escolas e a hierarquia de agentes. Trata-
se de uma hiptese: aqueles que dizem o que academicamente mais valorizado tendem a
ocupar uma posio superior no campo acadmico.
Certamente, a filiao de algum a determinada corrente de pensamento no o nico
fator que determina sua posio no campo acadmico. H outros fatores envolvidos, como a
filiao institucional, a trajetria acadmica e estratgias especficas de carreira. Mas achamos
que a filiao intelectual um dos fatores que determinam a posio de um agente.
Aplicamos o mesmo raciocnio s instituies. Pela prpria estrutura do campo
acadmico brasileiro, h uma relao entre escolas e instituies de ensino e pesquisa: os
peridicos so vinculados a instituies, e os programas de ps-graduao so responsveis
9 Isso tambm se aplica s instituies.
8/7/2019 Leite, Fernando Baptista; Codato, Adriano. Elites universitrias no campo da Cincia Poltica brasileira: uma anlise
10/31
10
pela formao intelectual de seus alunos, bem como pelas linhas de pesquisa existentes que,
tambm, so favorecidas ou desfavorecidas dependendo de sua situao no campo acadmico.
As instituies acadmicas universidades, institutos de pesquisa, congressos e peridicos
so os veculos por meio dos quais se divulgam e se difundem as idias, as teorias e as
correntes de pensamento.
Assim, se a produo acadmica for uma forma eficaz de identificar a hierarquia das
escolas, como acreditamos, talvez ela tambm seja til para descobrir eventuais ligaes
entre certas instituies e determinadas escolas terico-metodolgicas, por meio de
cruzamentos de dados. Ns sabemos que existe uma relao entre escolas e instituies;
possvel que tambm haja,em paralelo, uma correspondncia entre a hierarquia institucional e a
hierarquia de idias. Se isso for verificado, podemos verificar a qual instituio se filiam os
acadmicos que produziram os trabalhos analisados. Podemos, com isso, indiretamente
identificar se h tendncias tericas definidas na produo das instituies em questo. Trata-
se, pois, de uma forma de abrir o caminho para o esclarecimento da hierarquia do campo da
Cincia Poltica brasileira contempornea.
II.2. O mtodo de anlise
Consiste (i) na escolha dos peridicos e eventos (congressos cientficos) a seremtomados como referenciais da produo acadmica do campo, com a condio de permitir que
identifiquemos as escolas hegemnicas; (ii) na construo de um modelo das escolas
terico-metodolgicas a partir de bibliografia sobre a Cincia Poltica ocidental, reunindo em
classes certas caractersticas (como a linhagem terico-metodolgica, a natureza e o propsito
do texto, os tipos de dados apresentados e as variveis-chaves) que acreditamos estarem
relacionadas; (iii) na aplicao desse modelo anlise dos artigos dos peridicos, ou seja, a
classificao desses peridicos segundo as informaes do modelo; ( iv) na construo de
estatsticas acerca das caractersticas da produo acadmica, especialmente no que se refere s
filiaes terico-metodolgicas dos artigos e (v) na interpretao qualitativa dos resultados.
Vamos descrever melhor as trs primeiras etapas do mtodo.
II.2.1. A escolha dos referenciais da produo acadmica
Em primeiro lugar, elegemos os peridicos cientficos e os congressos como
referenciais da produo acadmica e, conseqentemente, das escolas terico -metodolgicas.
Lembramos que nossos referenciais no precisam refletir todo o campo de idias e escolas da
8/7/2019 Leite, Fernando Baptista; Codato, Adriano. Elites universitrias no campo da Cincia Poltica brasileira: uma anlise
11/31
11
Cincia Poltica, mas pelo menos os hegemnicos Inclumos os principais congressos que
dizem respeito Cincia Poltica o Encontro da Anpocs (Associao Nacional de Ps-
Graduao e Pesquisa em Cincias Sociais) e o Encontro da ABCP (Associao Brasileira de
Cincia Poltica) por entendermos que se tratam de importantes instncias de legitimao
acadmica do campo e devem ser referenciais importantes da situao do campo de produo
cultural da cincia poltica. Quanto aos peridicos, ainda que acreditemos que sua escolha para
os objetivos a que nos propomos seja uma obviedade, esclareceremos sua importncia ao
discutirmos um elemento importante de nosso mtodo, a utilizao do Sistema Qualis como
principal critrio de escolha.
Prosseguimos escolha dos peridicos a serem analisados, tendo em mente que eles
precisam ser representativos das escolas hegemnicas. Ora, um peridico considerado
importante pela maioria dos cientistas polticos deve, por suposto, veicular as idias que mais
atraem as atenes seja para defend-las seja para critic-las. Partimos, portanto, da seguinte
premissa: as escolas hegemnicas so veiculadas pelos peridicos mais importantes; para
descobrir as escolas hegemnicas, preciso analisar os peridicos institucionalmente mais
importantes e subjetivamente mais prestigiados. preciso, pois, de critrios que nos faam
escolher os peridicos que tenham essas propriedades, e no bastam somente critrios
subjetivos.
Elegemos ento os seguintes critrios para a tarefa que se apresenta, em ordem de
importncia: (i) a classificao no Qualis de Peridicos; (ii) as estatsticas bibliomtricas do
SCIelo (o fator de impacto em dois e trs anos e o nmero de acessos); (iii) a filiao
institucional e (iv) a presena nos indexadores SCIelo, ISI (Social Sciences Citation Index) e
Lilacs10.
Evidentemente, a escolha feita sobre os peridicos que possurem produo pertinente
em cincia poltica, isto , indicados pelos programas de ps-graduao da rea de Cincias
Polticas e Relaes Internacionais para comporem a lista de peridicos do Qualis. Tanto para a
escolha dos peridicos como para a anlise efetiva dos artigos, utilizamos como perodo de
referncia o padro de cinco anos, adotado pelas agncias de fomento. Mas como at o
momento da redao deste trabalho o SCIelo s disponibilizou os dados bibliomtricos dos
10 Usamos esses indicadores como referncias porque so os que o SCIelo menciona nas estatsticas de citaesrecebidas dos peridicos. Mas sabemos que ser indexado pelo SCIelo uma condio imprescindvel de
importncia e prestgio no Brasil e pelo o ISI, internacionalmente.
8/7/2019 Leite, Fernando Baptista; Codato, Adriano. Elites universitrias no campo da Cincia Poltica brasileira: uma anlise
12/31
12
peridicos at 2007, neste caso, extraordinariamente, ajustamos o perodo a essa limitao, indo
de 2003 a 2007 e ignorando o ano de 2008.
A partir desses critrios, foram escolhidos os peridicos Dados, Revista Brasileira de
Cincias Sociais, Opinio Pblica, Novos Estudos, Revista de Sociologia e Poltica e Lua
Nova. Apresentamos as principais informaes desses peridicos abaixo. Alm desses,
escolhemos tambm a Brazilian Political Science Review exclusivamente em funo da filiao
institucional ( a revista da ABCP).
QUADRO 1 ESTATSTICAS DOS PERIDICOS ESCOLHIDOS
Dados Qualis : A1
Filiao institucional : Iuperj
Nmero de acessos artigos
Fator de impacto(dois anos)
Fator de impacto(trs anos)
2007 0.1800 0.3108
2006 0.0208 0.0685
2005 0.3265 0.3521
2004 0.3191 0.2794
2003 0.3721 0.3768
Total 1 604 066
Rev. bras. Ci. Soc. Qualis : A2Filiao institucional : Anpocs
Nmero de acessos artigos
Fator de impacto(dois anos)
Fator de impacto(trs anos)
2007 0.3148 0.3086
2006 0.2037 0.2892
2005 0.2857 0.3133
2004 0.1607 0.1585
2003 0.0755 0.1461
Total 3 149 056
Opinio Pblica Qualis : B1
Filiao institucional : Unicamp
Nmero de acessos artigos
Fator de impacto(dois anos)
Fator de impacto(trs anos)
2007 0.1667 0.2045
2006 0.1667 0.0476
2005 0.0370 0.1250
2004 0.0385 0.1111
8/7/2019 Leite, Fernando Baptista; Codato, Adriano. Elites universitrias no campo da Cincia Poltica brasileira: uma anlise
13/31
13
2003 0.0870 0.0606
Total 566 039
Novos Estudos1 Qualis : B1
Filiao institucional : CebrapNmero de acessos
artigosFator de impacto
(dois anos)Fator de impacto
(trs anos)
2007 0.0909
2006
2005
Total 497 473
Rev. Sociol. Polit Qualis : B1
Filiao institucional : UFPR
Nmero de acessos artigos
Fator de impacto(dois anos)
Fator de impacto(trs anos)
2007 0.1707 0.1061
2006 0.0000 0.1343
2005 0.0930 0.0877
2004 0.0625 0.0426
2003 0.1379 0.1087
Total 1 236 742
Lua Nova1 Qualis : B1
Filiao institucional : CEDEC
Nmero de acessos artigos
Fator de impacto(dois anos)
Fator de impacto(trs anos)
2007 0.1944 0.1404
2006 0.0938 0.2105
2005 0.1304 0.1618
2004 0.1915
Total 678 058
FONTES: SCIelo (2009); Capes (2009d).NOTAS:
1. O SCIelo s disponibilizou dados para esses anos.2. A avaliao do Qualis apresentada da rea de Cincia Poltica e Relaes Internacionais.3. Valores referentes s edies impressas, exceto o nmero de acessos.4. Nmero de acessos de Dados contados desde 25.abr.1997; RBCS desde 16.out.1998; RSP desde
8.fev.2002; Opinio Pblica desde 17.mar.2003; Lua Nova desde 19.jul.2002 e Novos Estudos desde10.fev.2006. Trata-se do perodo mximo disponvel no SCIelo.
5. O fator de impacto calculado a partir da proporo entre as citaes recebidas e as concedidas. Quantomais o nmero de citaes recebidas est prximo do de citaes concedidas, maior o fator de impacto.
6. O perodo abordado pelo clculo do fator de impacto funciona da seguinte forma: o ndice de impacto deum determinado ano refere-se s citaes recebidas e concedidas nos anos anteriores, definidos pelo
8/7/2019 Leite, Fernando Baptista; Codato, Adriano. Elites universitrias no campo da Cincia Poltica brasileira: uma anlise
14/31
14
perodo. Por exemplo, o ndice de impacto de 2007 em um perodo de dois anos refere-se s citaesrecebidas e concedidas em 2005 e 2006. Se o perodo fosse de trs anos, seriam 2004, 2005 e 2006.
Acreditamos que esses critrios permitam-nos escolher os peridicos mais prestigiados.
Se eles no cumprirem essa tarefa, pelo menos so claramente apresentados, de modo a serem
criticados e conseqentemente melhorados.
Nosso objetivo ser analisar todos os artigos de cincia poltica publicados nesses
peridicos. Como a prpria definio de cincia poltica ainda demas iado vaga, sendo um
objeto de disputa no interior do campo que orbita a prpria definio do objeto da Cincia
Poltica (a poltica strictu sensu ou o poder em geral?), utilizamos como critrio para definir se
um artigo de cincia poltica se ele tem como objeto a poltica em sentido lato, ou seja, os
fatos polticos, desde a poltica propriamente dita (o Estado ou o sistema poltico) at a
organizao das relaes de fora entre grupos e estrutura da dominao numa determinada
sociedade. Seguindo o critrio padro das agncias de fomento, vamos analisar os artigos
publicados nos ltimos cinco anos, contados regressivamente a partir de 2008 ( i.e.: 2004-2008).
Pretendemos ampliar esse perodo at a dcada de 1980, momentos antes da
redemocratizao11, mas neste caso provavelmente precisaremos fazer uma pesquisa por
amostragem.
Tambm analisaremos os papers publicados em anais do Encontro da Anpocs e do
Encontro da ABCP durante o mesmo perodo. Quando ampliarmos o perodo da anlise dos
peridicos, iremos fazer o mesmo com os anais desses eventos. O mtodo de anlise aplicado a
ambos os casos descrito no tpico II.2.2. Antes de apresent-lo, vamos nos deter mais um
pouco nos indicadores que usamos para escolher os peridicos. Est claro que esses indicadores
medem a importncia de um peridico precisamos escolher os importantes para analisar
uma produo que seja representativa das escolas hegemnicas (se existirem). So usados para
identificar, portanto, posies (tericas) no campo (de produo cultural da Cincia Poltica).
Consideramos que o Qualis seja o principal deles, e aparentemente isso pode gerar problemas.
disso que falaremos agora.
11 Concordamos com parte da bibliografia que acusa a heteronomia da Cincia Poltica em relao poltica.Acreditamos que comparar a evoluo qualitativa da produo acadmica em cincia poltica em funo daredemocratizao seja um teste interessante a essa hiptese: acreditamos que efeitos exgenos (propriamentepolticos) afetaram a produo acadmica de cincia poltica, favorecendo a diminuio de influncia do
marxismo nessa rea.
8/7/2019 Leite, Fernando Baptista; Codato, Adriano. Elites universitrias no campo da Cincia Poltica brasileira: uma anlise
15/31
8/7/2019 Leite, Fernando Baptista; Codato, Adriano. Elites universitrias no campo da Cincia Poltica brasileira: uma anlise
16/31
16
Em terceiro lugar, no que se refere s possveis implicaes poltico-acadmicas de
nossa posio metodolgica, entendemos que tornar explcitos os mecanismos de dominao e
a lgica de seu funcionamento , na verdade, o maior instrumento para combat-los.
Acreditamos que h certas vcios de pensamentos nas cincias sociais, oriundos talvez de sua
falta de autonomia cientfica e sua proximidade com a poltica e a ideologia, que fazem que
associemos significados polticos a consideraes de fato. Tende-se a confundir "ser" com
"dever ser". Quando se fala de "hegemonia", entende-se que implicitamente se sugere que
"hegemnico" significa "melhor", "mais qualidade" ou "mais contribuio ao conhecimento".
No fazemos e no estamos interessados nisso. Os agentes do campo podem efetivamente, em
suas prticas e representaes, relacionar "prestgio" (i.e.: poder) com qualidade acadmica,
intelectual e cientfica; mas ns no fazemos isso. No estabelecemos qualquer relao entrehegemonia e qualidade acadmica ou intelectual. Para ns, inclusive, o poder (capital)
acadmico, intelectual ou cientfico pode ou no estar a servio do conhecimento. Um exemplo
abstrato: uma hegemonia, o statu quo do meio cientfico, pode agir deliberada ou no
deliberadamente de modo a conservar sua posio, para isso precisando lutar contra aqueles
que carregam novos conhecimentos, desestimulando e mesmo impedindo a ampliao do
conhecimento. Sabemos que isso ocorre com freqncia na histria do campo acadmico.
Vimos que o que importa para nossa pesquisa que um fator tomado como indicador seja
ou no socialmente pertinente para produzir a hierarquia (estrutura) do campo. A nosso ver, a
utilidade do Qualis para nossa pesquisa vai alm de definir os peridicos a serem analisados.
Achamos que ele muito importante na determinao da hierarquia do campo acadmico,
incluindo a o da Cincia Poltica contempornea, e isso que tentaremos mostrar a seguir.
II.2.1.2. O Sistema Qualis: elementos estruturais fundamentais
O Sistema Qualis consiste numa metodologia de avaliao (e seu instrumental) das
instncias do campo acadmico brasileiro, especialmente os programas de ps-graduao e a
produo acadmica e num banco de dados que registra as avaliaes dessas instncias.
Vinculado ao Ministrio da Educao, utilizado como referencial para a distribuio de
recursos para pesquisa. Iremos focar esta exposio sobre o Qualis de Peridicos e vamos
resumi-la para atender especificamente aos fins da pesquisa.
O Conselho Tcnico Cientfico da Educao Superior (CTS-ES), instituio ligada
Capes e ao Ministrio da Educao, em conjunto com os coordenadores de rea, define as
8/7/2019 Leite, Fernando Baptista; Codato, Adriano. Elites universitrias no campo da Cincia Poltica brasileira: uma anlise
17/31
17
diretrizes operacionais do Sistema Qualis. Chama-se de coordenador de rea o indivduo
responsvel por representar uma determinada rea de Conhecimento, presidindo a Comisso
Capes de sua respectiva rea12, possuindo poderes especficos como o de indicar um peridico
a compor a lista de peridicos classificados da rea.
O CTS, contudo, no tem o poder de determinar os critrios de avaliao a partir dos
quais os peridicos sero efetivamente classificados e distinguidos entre si. O responsvel por
isso a Comisso do Qualis Peridicos, que especfica para cada rea. O coordenador o
responsvel por indicar os membros da Comisso. Isso geralmente feito por meio da
negociao com o Frum dos Coordenadores de Ps-Graduao que, como diz o nome, rene
os coordenadores dos programas de ps-graduao de uma determinada rea. Os critrios so
entregues Diretoria de Avaliao do CTS, que oficializa sua vigncia.
Ainda que o coordenador de rea no tenha o poder exclusivo de determinar os critrios
de avaliao dos peridicos, possvel que ele influencie indiretamente sua concepo por
meio do poder de determinar quem sero os responsveis por fazer isso. No encontramos
qualquer informao, nos documentos consultados13, que indicasse a obrigao de os critrios
serem definidos pelos lderes dos programas de ps-graduao. Isso significa que no h
qualquer garantia institucional de que os critrios sejam a manifestao da vontade ou da
inteno objetiva dos responsveis pelos programas de ps-graduao. A definio dos critrios
a serem adotados acaba por depender das circunstncias poltico-acadmicas de cada rea.
Aparentemente, os programas de ps-graduao detm influncia sobre a concepo dos
critrios por meio do Frum: espera-se, em geral, que o coordenador indique os membros da
Comisso em dilogo com ele. O poder de definir os critrios de classificao dos peridicos
est, portanto, nas mos do coordenador de rea e dos coordenadores dos programas de ps-
graduao; variando o peso de cada um em funo de circunstncias especficas de cada rea.
Vejamos um exemplo prtico. O CTS faz uma reunio com os coordenadores de rea e,
juntos, definem as diretrizes operacionais do Sistema Qualis. Uma dessas diretrizes a
definio dos estratos em que os peridicos sero alocados. Assim, na reestruturao aprovada
em 6 de maio de 2008 (CAPES, 2008), foram determinados oito estratos: A1, A2, B1, B2, B3,
B4, B5 e C. Entre outras diretrizes operacionais, certas regras para preencher esses estratos
12 A Tabela das reas de Conhecimento pode ser conferida em Capes (2009e).
13 So eles: Capes (2008), Frum... (2008), Revista... (2009) e ABCP (2009).
8/7/2019 Leite, Fernando Baptista; Codato, Adriano. Elites universitrias no campo da Cincia Poltica brasileira: uma anlise
18/31
18
tambm foram estabelecidas, como a obrigao de o nmero de peridicos componentes dos
estratos superiores (A1 e A2) no superar 20% do universo de peridicos presentes na lista de
peridicos indicados pela rea. J os critrios para determinar quem ir compor cada estrato
cabem a cada rea definir: pode-se determinar que para um peridico ser classificado como
A1 ele precisa obter um valor mnimo de fator de impacto num tempo determinado. Ou pode-
se usar o fator h; ou ter um nmero mnimo de autores ou co-autores estrangeiros. Ou mesmo
considerar tudo isso. Os critrios de classificao, enfim, variam.
Os peridicos a fazerem parte da lista de peridicos classificados de cada rea so
escolhidos pelos prprios programas de ps-graduao, que os indicam em funo das
necessidades de publicao de seus membros. Isso ocorre por meio da lista de reas, que
preenchida anualmente pelos programas de ps-graduao, componente da Coleta de Dados do
Qualis. Assim, basicamente, a lista de peridicos de cada rea corresponde aos peridicos em
que publicam os acadmicos (docentes e discentes). Vamos aprofundar um pouco mais nossa
anlise da composio da lista de peridicos de cada rea. Ela ir nos conduzir a consideraes
importantes fundamentam o uso do Qualis at como um instrumento para se identificar
fraes da estrutura do campo acadmico.
II.2.1.3. Algumas consideraes a respeito da composio da Lista de Peridicos da rea
A terceira e a quarta questes do documento Perguntas Mais Freqentes(FAQ), do
Qualis, contm informaes a respeito da composio da Lista de Peridicos que tm
importantes implicaes para nossa pesquisa. Antes de esclarec-las, transcrevemos a terceira
questo, Como construdo o Qualis?:
Os peridicos que compem o Qualis so constitudos por peridicos mencionados pelos programas deps-graduao anualmente no Coleta de Dados. Quando os dados chegam a CAPES, so reunidos em umabase de dados os ttulos de todos os peridicos e eventos mencionados pelos Programas naquele ano.Portanto, o Qualis o processo de classificao dos peridicos mencionados pelos prprios programas e
no do universo de peridicos ou de eventos de cada rea.Com definio temos o Sistema Qualis como o processo de classificao dos veculos utilizados pelosprogramas de ps-graduao para a divulgao da produo intelectual de seus docentes e alunos. Talprocesso foi concebido pela CAPES para atender a necessidades especficas do sistema de avaliao ebaseia-se nas informaes fornecidas pelos programas no aplicativo Coleta de Dados. Esta classificao feita ou coordenada por uma comisso de consultores de cada rea e passa por processo anual deatualizao. Os veculos de divulgao citados pelos programas de ps-graduao so enquadrados emcategorias indicativas da qualidade do veculo utilizado, e, por inferncia, do prprio trabalho divulgado(CAPES, 2009c, p. 3).
E a quarta, Gostaria de saber como fao para indicar um peridico para o Qualis das reas? :
Existem duas formas para um peridico ou outro veculo ser inserido na lista Qualis de uma rea.Primeiro, pela declarao de um dos programas de ps-graduao reconhecidos pela Capes, quando dopreenchimento do Relatrio Anual da CAPES (Coleta de Dados), de que seus docentes, discentes ou
8/7/2019 Leite, Fernando Baptista; Codato, Adriano. Elites universitrias no campo da Cincia Poltica brasileira: uma anlise
19/31
19
pesquisadores publicaram artigos cientficos no veculo. Adicionalmente, esse veculo precisar passar porprocesso de (1) padronizao pela Capes - no caso de peridico, checagem de que realmente existe e que ocdigo de ISSN e ttulo so vlidos - (2) classificao - receber os atributos de qualidade - e, finalmente, (3)ser indicado pela rea de avaliao para participar da lista de veculos publicados no Qualis das reas.
Uma segunda forma de um veculo figurar na listagem por indicao direta do Coordenador de rea, emvirtude da relevncia qualitativa do veculo. Nesse caso, o Qualis est sendo utilizado como indutor depublicao de qualidade em veculos de qualidade reconhecida, independente desse veculo j ter sido, ouno, utilizado para divulgar a produo bibliogrfica de algum Programa. Tal indicao, aps a devidapadronizao e classificao, includa no Qualis das reas.
Em ambos os casos, a classificao e divulgao ocorrem anualmente ( idem, p. 4).
Esses trechos contm implicaes importantes para nossa pesquisa. Em primeiro lugar,
a classificao, a conferncia de valor acadmico e, portanto, a hierarquizao dos artigos
publicados depende da classificao do peridico. Disso deriva que a posio do peridico no
Qualis um importante indicador para definir a posio de um determinado artigo, j que ovalor do artigo est institucionalmente vinculado ao valor do peridico, em virtude dos
critrios do Qualis. Assim, pelo menos a partir do Qualis, o valor de um artigo publicado numa
revista A1 superior ao de outro publicado numa revista B1, no importando qual a
influncia acadmico-intelectual real de cada uma medida, por exemplo, pelo nmero de
citaes bibliogrficas. E disso deduzimos: para determinar o valor individual dos artigos
publicados preciso, alm do Qualis, considerar outros indicadores, como o nmero de
citaes. Por haver, de fato, transferncia de capital (e suas vrias formas: valor, prestgio,
reconhecimento etc.) entre o veculo de publicao e o contedo publicado, a classificao do
peridico no Qualis um importante indicador da posio de um artigo, mas preciso usar
outros. Para os peridicos, especificamente, trata-se de um excelente critrio, ainda que seja
imprescindvel considerar critrios como o nmero de citaes, a presenha sistemas de
indexao, a instituio acadmica a que se vincula etc.
Em segundo lugar, h alguma relao entre os programas de ps-graduao e os
peridicos que compem o Qualis em que os peridicos precisam ser mencionados porprogramas de ps-graduao. A maioria dos peridicos que compem o Qualis deve possuir
alguma relevncia acadmica, j que eles so indicados pelos. No possvel inferir que so
todos, j que o coordenador de rea pode indicar um determinado peridico sem justificativas
objetivas, j que no so definidos os critrios de mensurao da relevncia qualitativa do
veculo (tratar-se-, portanto, da avaliao subjetiva do coordenador), tornado possvel, assim,
a indicao de peridicos insignificantes no campo acadmico brasileiro. (Todavia,
consideramos essa possibilidade bastante remota, pois no vemos razo de um Coordenador
8/7/2019 Leite, Fernando Baptista; Codato, Adriano. Elites universitrias no campo da Cincia Poltica brasileira: uma anlise
20/31
20
indicar um peridico desconhecido ou ignorado por toda a comunidade acadmica de sua
rea.) Isso implica que, salvo alguma idiossincrasia extraordinria do Coordenador, o prprio
meio acadmico define os peridicos que faro parte de cada rea do Qualis. Isso significa
que, se um peridico qualquer est na lista de peridicos do relatrio de rea, ele
necessariamente foi utilizado como meio de publicao de algum trabalho de algum acadmico
vinculado a determinado programa de ps-graduao (ou em vias de s-lo) ou foi indicado pelo
Coordenador. Significa, portanto, que o peridico possui alguma influncia acadmica. E como
para medi-la e determin-la existe a nota do Qualis, deriva que ele um indicador
importante, o principal ns diramos, da influncia acadmica.
II.2.1.4. A relevncia do Qualis manifesta na polmica em torno de sua reestruturao
Em 6 de maio de 2008 a Capes publicou um documento intitulado Qualis peridicos:
reestruturao do sistema e classificao dos peridicos em 2008 (CAPES, 2008) que
estabeleceu as diretrizes de reestruturao do Sistema Qualis. Essa reestruturao decorreu
durante o ano de 2008, e sua principal conseqncia para nossa pesquisa foi a mudana nas
classes que estratificavam a Lista dos Peridicos da rea. O que nos interessa neste momento
o fato de que, por causa da reestruturao do Qualis, ainda no temos os critrios de avaliao
dos peridicos da rea de Cincia Poltica e Relaes Internacionais 14. imprescindvel que
analisemos esses critrios se usamos o Qualis como indicador para identificar fraes da
hierarquia do campo, j que, se fazemos isso, pressupomos que os critrios do Qualis da rea
correspondem aos nossos critrios para definir a hierarquia do campo. so as reaes de certas
fraes da comunidade acadmica reestruturao do Qualis. Como no temos esses critrios,
vamos tentar mostrar indiretamente sua relevncia na composio da hierarquia do campo
acadmico por meio das reaes que a reestruturao suscitou de parte da comunidade
acadmica.
Antes de tudo, apresentamos alguns elementos, importantes aos nossos propsitos,
extrados do relatrio divulgado pela Diretoria de Avaliao da Capes sobre a reestruturao do
Qualis.
1. O Qualis de Peridicos e os demais Qualis de Eventos, de Livros, de Produo Artstica e de Patentescontinuam sendo o referencial da produo intelectual apresentada pelos programas de ps-graduao eavaliada pela Capes. (CAPES, 2008, p. 1).
14 At a data de 14 de setembro de 2009, no conseguimos ter acesso aos critrios da rea de Cincia Poltica eRelaes Internacionais para classificar sua Lista de Peridicos. Segundo Gustavo Biscaia de Lacerda, editor
da Revista de Sociologia e Poltica, esses critrios ainda no foram publicados.
8/7/2019 Leite, Fernando Baptista; Codato, Adriano. Elites universitrias no campo da Cincia Poltica brasileira: uma anlise
21/31
21
3. Cada rea deve definir o que considera peridico, e apenas os veculos de divulgao que atendam oestabelecido nesse conceito sero classificados no respectivo Qualis de Peridicos. Em princpio, somenteos veculos com corpo editorial reconhecido, com avaliao pelos pares (pareceristas ad hoc) e dotados deISSN devem ser considerados peridicos. Alm disso, no caso das reas que apresentam critrios deindexao bem estabelecidos, suas bases de dados podem, para esse fim, ser utilizadas como referncia.
(ibidem).7. Cada rea dever apresentar, em seu documento Critrios do Qualis de Peridicos, os critrios pelosquais define cada estrato (fator de impacto, ndice H, ou outros modos de mensurar sua qualidade).Destaca-se a necessidade de a definio dos dois estratos superiores ser efetuada de maneiraparticularmente criteriosa e rigorosa. (idem, p. 2).
8. Recomenda-se que os dois estratos superiores no sejam superpovoados, a fim de que sejadevidamente destacada a excelncia ou o diferencial de qualidade dos peridicos neles classificados, emrelao aos includos nos demais estratos. (ibidem; grifos no original).
9. Os dois estratos superiores A1 e A2 podero ser deixados vazios, por deciso da rea, em termos deartigos efetivamente publicados, recomendando-se que delas constem apenas peridicos da mais altaqualidade, nos quais a rea julga que deva sinalizar para avanar a qualidade da produo cientfica de sua
comunidade. O Qualis assim ter um papel indutor claramente definido, no se limitando a analisar onde area publica, mas indicando tambm onde se deve publicar. (ibidem).
O pargrafo nove especialmente importante para ns: indica, pelo menos
aparentemente, que os estratos superiores devem ser referenciais de desenvolvimento,
indicando a direo que devem seguir os peridicos nacionais de outros estratos. Duas novas
diretrizes, em especial, do novo formato do Qualis geraram crticas de certos setores do campo
acadmico: a combinao da estratificao em oito nveis com a regra de que a soma dos
peridicos que compem os estratos superiores (A1 e A2) no pode ser superior a 20% do total
de artigos listados pela rea15. Vejamos o que dizem algumas vozes de protesto.
Durante reunio realizada em Vitria (ES) nos dias 1 e 2 de outubro de 2008, o Frum
de Coordenadores de Ps-Graduao em Sade Coletiva publicou um manifesto contra as
regras de preenchimento dos estratos superiores (A1 e A2) da nova classificao proposta pela
Capes.
[...] o Frum foi surpreendido pela no aprovao de sua proposta de qualificao de peridicos, assimcomo pela determinao recente da CAPES de que os estratos superiores (A1 e A2) da nova classificao
no deveriam conter mais que 20% dos artigos produzidos pela rea. A aplicao irrestrita deste critrio,arbitrrio e sem sustentao conceitual ou bibliomtrica, pode se revelar danosa para algumas reas doconhecimento. No caso da Sade Coletiva, compromete gravemente o projeto poltico-acadmicodesenhado pela rea e coloca sob risco a rdua e indiscutvel conquista de qualificao dos nossosperidicos. (FRUM..., 2008).
Eis o ncleo da crtica:
O efeito da nova proposta de Qualis peridicos foi o rebaixamento de todos os peridicos nacionaisrelevantes, tomando como base a proposta elaborada pelo Frum para a rea de Sade Coletiva, emparticular deixando os estratos A1 e A2 sem nenhum peridico nacional relevante para o campo. A lgicautilizada gera ainda um grave problema lgico: apesar de seus excelentes indicadores bibliomtricos, ser
15 No encontramos meno alguma clusula de barreira dos 20% no documento da Capes sobre a
reestruturao (CAPES, 2008). Ela mencionada nos documentos de protesto que analisamos.
8/7/2019 Leite, Fernando Baptista; Codato, Adriano. Elites universitrias no campo da Cincia Poltica brasileira: uma anlise
22/31
22
impossvel para os mais importantes peridicos da rea ascender simultaneamente para o nvel A, j quedois deles concentram aproximadamente 20% da produo da rea. Considerando que o percentual dedistribuio por faixas no guarda qualquer relao objetiva com a qualidade dos peridicos, sendomeramente um artefato aritmtico de ranqueamento, a nova classificao gera distores que podemcomprometer as conquistas e avanos da rea no pas. (idem, p. 3-4; grifos do original).
E o documento refere-se dimenso da influncia do Qualis na produo acadmica nacional:
Como seria esperado, a Poltica de Avaliao da Ps -Graduao e os critrios por ela definidos tm umpoderoso papel indutor que ultrapassa o mbito estrito dos programas. A classificao Qualis, por exemplo,passou a ser adotada como parmetro de qualificao da produo de pesquisadores pelas agncias defomento e para a avaliao de professores pelas instituies de ensino (idem, p. 4).
No caso da rea de Sade Coletiva, a barreira fez que os peridicos nacionais fossem
rebaixados, ou seja, excludos dos extratos superiores. Mas como a prpria rea que define os
critrios de avaliao dos peridicos salvo, evidentemente, a barreira , isso significa que
os peridicos nacionais ficaram aqum dos internacionais (que por suposto compuseram os
20%) segundo os prprios critrios definidos pela rea. Por isso, critica-se a arbitrariedade do
valor estabelecido como limite.
Em 22 de julho de 2009, na ocasio do 14 Congresso da Sociedade Brasileira de
Sociologia (SBS), os editores da Revista de Sociologia e Poltica publicaram um documento
(REVISTA..., 2009) criticando a nova classificao do Qualis por causa de um efeito indireto,
supostamente nocivo para os peridicos nacionais, que deriva da vinculao entre a clusula
de barreira, a presena de peridicos internacionais e o uso do Qualis como referencial para a
distribuio de recursos entre os peridicos nacionais. O raciocnio o seguinte. A maior parte
dos peridicos que compem os estratos superiores (da rea de Cincia Poltica) estrangeira,
especialmente norte-americana. Por causa do limite de 20%, ocorre que poucos peridicos
nacionais fazem parte dos estratos superiores. E como a classificao no Qualis o principal
critrio considerado no financiamento dos peridicos (entre outras coisas), ocorre que os
peridicos nacionais so prejudicados por competirem com peridicos internacionais que no
dependem do financiamento pblico brasileiro. O fundamento da crtica da Revista de
Sociologia e Poltica , assim, semelhante ao manifesto do Frum de Sade Coletiva 16.
II.2.2. Construindo o modelo para a anlise dos artigos
16 O documento da Rev. de Sociol. e Polit. tambm contm vrios elementos que ilustram a idia muito presenteno campo acadmico que associa prestgio a qualidade acadmica, referindo-se ao Qualis como principaldeterminante dessas propriedades, reconhecidas tanto subjetivamente (por meio da avaliao dos agentes)
como objetivamente (por meio da concesso de recursos, entre outros).
8/7/2019 Leite, Fernando Baptista; Codato, Adriano. Elites universitrias no campo da Cincia Poltica brasileira: uma anlise
23/31
23
Selecionados os peridicos e os artigos que nos serviro de referncia, passamos
anlise e classificao propriamente ditas. Lembrando, preciso identificar a posio terica
que ocupam, a que escola pertencem17. Esse ato de classificao feito buscando nos artigos
certas caractersticas, especialmente elementos tericos e metodolgicos, que acreditamos
serem recorrentes no universo de idias transmitidas no campo, tendo carter social, fazendo
parte, assim, de posies tericas do campo. Assim, a partir dessas caractersticas,
classificamos os artigos como pertencentes a determinadas escolas ou correntes terico -
metodolgicas.
Mas para fazer essa classificao precisamos de um modelo das escolas de cincia poltica, um
esquema que rena e codifique as caractersticas das escolas, a partir do qual iremos
interpretar e classificar os artigos que analisarmos. Elaboramos esse modelo a partir da anlise
de certas referncias bibliogrficas, que podem ser descries ou anlises crticas sobre a
histria ou a situao da Cincia Poltica ocidental18, dos quais extramos e codificamos dados
qualitativos para formar nossa representao terica das escolas. A bibliografia selecionada
como referncia a seguinte: Lipset (1969), Forjaz (1979; 1997), Santos (1980), Lamounier
(1982), Finifter (1983), Easton (1985), Dryzek e Leonard (1988), Farr (1988), Miceli (1989;
1995; 1999), Almond (1990; 1991), Farr e Seidelman (1993), Quirino (1994), Dryzek, Farr e
Leonard (1995), Easton, Gunnel e Stein (1995), Goodin e Hans-Dieter Klingemann (1996),
Immergut (1998), Steinmo (2001) Hall e Taylor (2003) e Katznelson e Weingast (2005). Essa
bibliografia no definitiva, podendo ser ampliada.
Temos uma conduta padronizada para analisarmos as fontes. Com as fontes escolhidas,
mobilizamos uma srie de instrumentos para extrair da melhor forma (que conseguirmos) as
informaes disponveis. Explicitamo-lo, j que ela pode influenciar o modelo referencial que
17 preciso considerar a possibilidade de nem todas as tomadas de posio no campo de produo cultural dacincia poltica fazerem parte de "escolas" ou correntes terico-metodolgicas. Identificar escolas pressupeque h homogeneidade suficiente entre as idias de modo que possamos agrup-las, produto de certaproximidade social (intercmbio de idias que so incorporadas e reproduzidas por vrios agentes de formarelativamente homognea). Estamos, contudo, atentos possibilidade de artigos inclassificveis, e incluiremo-la como uma das variveis.
18Lembramos que utilizamos, pelos prprios propsitos dessa pesquisa, uma definio lato de Cincia Poltica,qual seja, o estudo erudito e/ou acadmico dos fenmenos polticos ou das relaes de poder. Tambm somosfavorveis a uma definio mais acurada e necessariamente cientfica de cincia poltica, mas persiste que oprprio campo ainda no corresponde objetivamente a essa definio, obrigando-nos a nos ajustarmos realidade do campo (as concepes de cincia poltica entre aqueles acadmicos que falam sobre a poltica ousobre o poder). Quando falamos em cincia poltica, em de iniciais minsculas, referimo-nos prtica da
Cincia Poltica.A
8/7/2019 Leite, Fernando Baptista; Codato, Adriano. Elites universitrias no campo da Cincia Poltica brasileira: uma anlise
24/31
24
construiremos. Ns lemos, sintetizamos e fichamos todas as referncias. A leitura
evidentemente atenta, no se tratando de leitura leiga de literatura ou de gibi. Sublinhamos
todas as passagens que possam ser teis aos nossos propsitos. Os sublinhados possuem um
significado: eles so srios candidatos a ser transferidos (seja por transcrio, seja por
observaes crticas) para os arquivos de sntese e/ou para os ndices de idias e de dados
empricos. Buscamos sublinhar trechos que tenham valor tanto como fontes primrias, como
fontes secundrias ou como referncias tericas. Ou seja, que constituam dados empricos por
si prprios, como por exemplo uma polmica entre acadmicos que possa vir a ser til para a
pesquisa; que nos forneam informaes indiretas sobre a situao ou a histria da Cincia
Poltica, apreendidas e interpretadas pelos autores; ou que nos forneam importantes reflexes
que possam contribuir para nosso modelo terico geral e nossa metodologia de anlise epesquisa.
Alm da prpria leitura e da memria, utilizamos um fichrio. O fichrio composto
(i) por bancos de arquivos de sntese e (ii) por ndices de dados empricos, de pistas e de
idias. O banco de arquivo uma espcie de fichamento; rene aquilo que vulgarmente se
conhece por fichamentos. Por exemplo, se apanhamos uma coletnea de textos sobre a
histria da Cincia Poltica, como o livro organizado por Bolvar Lamounier (1982), fazemos
um arquivo de sntese (documentos de texto) para cada captulo (os que acharmos apropriados).
Cada arquivo desses seria equivalente s fichas que os eruditos e acadmicos19 do passado
utilizavam para organizar seus estudos, mas so em geral mais extensos. O fichrio, pois,
composto pelos bancos de arquivos de snteses (fichas) e indexado numa planilha de
dados20. J os ndices so planilhas de dados, uma para dados empricos e pistas de
pesquisa e outra para idias (reflexes pessoais importantes, observaes crticas, diretrizes
metodolgicas etc.), todos derivados da leitura das referncias. Organizem e classificam esses
elementos, o que facilita a construo de nossas escolas tericas de referncia.
O arquivo de sntese possui sempre um resumo substantivo, um ndice descritivo de
tpicos e os tpicos propriamente ditos que renem as informaes consideradas pertinentes, os
comentrios crticos sobre essas informaes e outras notas. Os tpicos compem a estrutura do
19 Cf., a respeito, o clssico trabalho de Umberto Eco, Como se faz uma tese (ECO, 1977, p. 81-111).
20 Como as planilhas do programa Excel, da Microsoft.
8/7/2019 Leite, Fernando Baptista; Codato, Adriano. Elites universitrias no campo da Cincia Poltica brasileira: uma anlise
25/31
25
arquivo, e buscam reunir todas as informaes primrias, secundrias e crticas encontradas nas
referncias.
Sintetizadas e fichadas todas as referncias bibliogrficas, fazemos comparaes e
buscamos por recorrncias utilizando o fichrio e os ndices. A partir disso, extramos o modelo
das escolas, que utilizaremos para analisar os artigos de peridicos e eventos cientficos. Se
bem sucedido, o mtodo dever nos fornecer tipos ideais das principais escolas da Cincia
Poltica, como marxismo, comportamentalismo, neo-institucionalismo, culturalismo
etc.; e suas variantes terico-metodolgicas, como descritivo, analtico, terico,
ensastico etc.
Construmos, assim, um modelo das principais escolas ou correntes do campo a partir
do reconhecimento e das categorias do prprio campo.
II.2.3. Analisando os artigos de peridicos e eventos
Selecionados os peridicos, os artigos e com o modelo de anlise em mos, buscamos
nos ttulos, nos resumos, nas palavras-chave, nas introdues e nas concluses dos artigos
analisados aqueles elementos presentes nas classes de nosso modelo. Construmos, ento,
tabelas de freqncia no intuito de mostrar a distribuio da produo acadmica por escola, na
esperana de medir sua predominncia, e, da, inferir sua hegemonia.
Lembrando, acreditamos que a predominncia na produo acadmica veiculada pelos
principais peridicos e eventos cientficos esteja ligada ou mesmo seja um reflexo da posio
hierrquica que determinada escola ocupa no campo de produo cultural da Cincia
Poltica brasileira contempornea. Presumimos, portanto, que se uma maioria relativa de
acadmicos publicarem artigos nesses veculos orientados segundo determinada escola, ela
deve ser hegemnica segundo o sentido que damos a esse termo.
Por fim, cruzamos os dados de produo acadmica com a filiao institucional dos
cientistas que produziram os artigos (considerando inclusive a sua trajetria), com o intuito de
estabelecermos relaes entre produo acadmica e as instituies universitrias. Acreditamos
que esse cruzamento permita-nos ter acesso, indiretamente, a outra dimenso da hierarquia da
Cincia Poltica brasileira, a hierarquia institucional.
8/7/2019 Leite, Fernando Baptista; Codato, Adriano. Elites universitrias no campo da Cincia Poltica brasileira: uma anlise
26/31
26
Esclio: como evitar o problema da defasagem entre as escolas do modelo e as escolas reais
Como foi at aqui apresentado, nosso modelo de anlise dos artigos tem um srio
problema de curto-circuito. Ele aplica a uma situao histrica (o campo da cincia poltica
brasileira de 2004 a 2008) categorias de percepo baseadas em outras situaes histricas
(outros campos, de outras pocas e lugares). Vamos descrever melhor esse problema e
apresentar nossa soluo a ele.
Primeiramente, vamos imaginar o percurso para se chegar at o modelo que temos em
mos. Em primeiro lugar, existem campos determinados de Cincia Poltica (no sentido lato)
(digamo-lo: c1, c2, c3...) de determinados locais (l1, l2, l3...), em determinadas situaes (s1,
s2, s3...) e em tempos determinados (t1, t2, t3...). Por exemplo: o campo da Cincia Poltica nos
Estados Unidos na dcada de 1950, quando o comportamentalismo ascendia sobre as demais
escolas. A seguir, em segundo lugar, temos as anlises e interpretaes da histria ou da
situao desses vrios campos, compostos pelas combinaes entre locais, situaes e tempos.
So elas: nossas referncias bibliogrficas. Elas abordam e baseiam suas anlises, descries e
interpretaes, pois, em determinadas situaes histricas. Em terceiro lugar, temos o modelo
das escolas que ns construmos, baseado naquelas referncias, baseadas por sua vez naquelas
circunstncias. Por fim, temos a anlise da produo acadmica, baseada em nosso modelo, e
assim sucessivamente.
Ora, pois: a produo acadmica brasileira contempornea faz parte de um campo
diferente daqueles que serviram de referncia para a bibliografia. Digamos, nosso campo atual
c4, produto da combinao de s1 e s4, em l5 (o Brasil, ou mais especificamente So Paulo,
Minas Gerais, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Pernambuco, por exemplo) e t4 (2004 a
2008). Isso quer dizer que aplicamos um modelo de escolas a circunstncias distintas, podendo
estar forando as escolas atuais a se encaixarem no modelo. E assim deixando de perceber
escolas eventualmente inexistentes no modelo pois inexistentes tanto no campo que produziu
as referncias bibliogrficas como no campo a que essas referncias se referem ou
percebendo distorcidamente as escolas atuais.
Propomos uma sada para esse problema, resumida em trs passos. O primeiro consiste
em no separar rigidamente as referncias para a construo do modelo (as referncias
bibliogrficas) das referncias que so nosso objeto de anlise (os artigos dos peridicos e
eventos cientficos), isto , vamos tratar os artigos que analisamos como novas pginas da
8/7/2019 Leite, Fernando Baptista; Codato, Adriano. Elites universitrias no campo da Cincia Poltica brasileira: uma anlise
27/31
27
histria da Cincia Poltica, como novas referncias para (re)construir o modelo. O segundo,
ligado ao primeiro, consiste em usarmos nosso modelo extrado da bibliografia como um
referencial comparativo da produo acadmica brasileira atual: em funo das semelhanas e
diferenas que percebermos entre nosso modelo e a produo atual, ajustamos o modelo s
novas circunstncias. O terceiro, ligado aos dois primeiros, consiste em considerar a produo
acadmica da Cincia Poltica brasileira contempornea como um campo (formado por uma
determinada combinao de fatores), que faz parte de um campo maior de Cincia Poltica,
composto tambm pelos campos que serviram de referncia nossa bibliografia e pelos que
englobavam nossa prpria bibliografia e pelo campo. Afinal de contas, nosso campo no est
num casulo histrico, pelo contrrio, est ligado a outros campos de Cincia Poltica e,
inclusive, foi influenciado por campos de outros tempos.
Trata-se, pois, de integrar nosso campo a um campo de Cincia Poltica de dimenso
global inclusive diacrnica , retroalimentando nosso modelo e tornando-o desta forma, em
teoria, mais prximo da realidade.
III.CONSIDERAES FINAISO processo de institucionalizao da Cincia Poltica brasileira e o aumento de sua
autonomia cultural e institucional devem ser acompanhados de reflexes sobre sua histria, deanlises da situao de sua produo acadmica e da estrutura dos programas de ps-graduao.
Conhecer as caractersticas acadmico-intelectuais e a estrutura institucional da disciplina que
os cientistas polticos tenham controle sobre ela. Alm disso, objetivar nossa prpria prtica
cientfica uma das melhores formas de suprimirmos parte dos entraves metodolgicos
causados pela confuso do observador e de seu objeto nas cincias humanas.
Nesse sentido, apresentamos um mtodo para analisar a situao da produo acadmica
da Cincia Poltica brasileira contempornea. Nosso foco de ateno reside em identificar asescolas ou correntes terico-metodolgicas hegemnicas, isto , aquelas que
predominarem nos principais peridicos e eventos cientficos da rea. Queremos fazer isso
para, a seguir, identificar as fraes superiores da hierarquia institucional (as instituies
hegemnicas). Nossa esperana descobrir relaes e correspondncias entre a produo
acadmica e as instituies acadmicas, partindo de suas fraes hegemnicas. Trata-se de um
passo importante num esforo global de identificar a situao da Cincia Poltica brasileira e
8/7/2019 Leite, Fernando Baptista; Codato, Adriano. Elites universitrias no campo da Cincia Poltica brasileira: uma anlise
28/31
28
de, talvez, contribuir para seu entendimento mais profundo, esclarecendo possveis causas.
Acreditamos que isso seja uma condio para a maturidade cientfica.
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS
ABCP. 2009. Notas sobre a reunio a respeito da avaliao institucional da Capes, realizadaem Belo Horizonte, 27 de julho de 2009. Boletim ABCP, ago.-set., p. 4.
ALMOND, Gabriel.1990. A Discipline Divided.Newbury Park, Cal. : Sage Publications.
_____. 1991. Political Science : The History of the Discipline. In : GOODIN, Robert E. &KLINGEMANN, Hans-Dieter. (eds.). A New Handbook of Political Science. New York :Oxford University Press.
BOURDIEU, Pierre. 2004. Science of Science and Reflexivity. Cambridge : Polity Press.
_____. 2003b. Os usos sociais da cincia. So Paulo : UNESP.
CABRAL, Manuel V. 1982. Histria e poltica nas cincias sociais portuguesas, 1880-1980. In: LAMOUNIER, Bolvar. (org.). A Cincia Poltica nos Anos 80. Braslia : UNB, p. 251-280.
CALVERT, Randall. 1993. Lowis Critique of Political Science : a Response. PoliticalScience & Politics, v. 26, n. 2, June, p. 196-198.
CAPES. MINISTRIO DA EDUCAO. 2008. Qualis peridicos: reestruturao dosistema e classificao dos peridicos em 2008. Instruo/DAV n. 05/2008, 6.mai.
_____. 2009a. Planilhas Especficas. Disponvel em:http://conteudoweb.capes.gov.br/conteudoweb/PlanilhasEspecificasServlet Acesso em :24.set.2009.
_____. 2009b. Caderno de Indicadores. Disponvel em :http://conteudoweb.capes.gov.br/conteudoweb/CadernoAvaliacaoServlet Acesso em :24.set.2009.
_____. 2009c. Qualis 2009. Perguntas Mais Freqentes. Disponvel em :http://www.capes.gov.br/images/stories/download/avaliacao/FAQ_Qualis.pdf Acesso em :14.set.2009.
_____. 2009d. WebQualis. Disponvel em : http://qualis.capes.gov.br/webqualis/Acesso em :14.set.2009.
_____. 2009e. Tabela de reas de Conhecimento. Braslia : Ministrio de Cincia eTecnologia. Disponvel em : http://www.capes.gov.br/avaliacao/tabela-de-areas-de-conhecimentoAcesso em : 15.set.2009.
CNPq. 2009. Plano Tabular. Diretrio de Grupos de Pesquisa no Brasil. Disponvel em :http://dgp.cnpq.br/planotabular/Acesso em : 24.set.2009.
http://conteudoweb.capes.gov.br/conteudoweb/PlanilhasEspecificasServlethttp://conteudoweb.capes.gov.br/conteudoweb/PlanilhasEspecificasServlethttp://conteudoweb.capes.gov.br/conteudoweb/CadernoAvaliacaoServlethttp://conteudoweb.capes.gov.br/conteudoweb/CadernoAvaliacaoServlethttp://www.capes.gov.br/images/stories/download/avaliacao/FAQ_Qualis.pdfhttp://www.capes.gov.br/images/stories/download/avaliacao/FAQ_Qualis.pdfhttp://qualis.capes.gov.br/webqualis/http://qualis.capes.gov.br/webqualis/http://www.capes.gov.br/avaliacao/tabela-de-areas-de-conhecimentohttp://www.capes.gov.br/avaliacao/tabela-de-areas-de-conhecimentohttp://www.capes.gov.br/avaliacao/tabela-de-areas-de-conhecimentohttp://dgp.cnpq.br/planotabular/http://dgp.cnpq.br/planotabular/http://dgp.cnpq.br/planotabular/http://www.capes.gov.br/avaliacao/tabela-de-areas-de-conhecimentohttp://www.capes.gov.br/avaliacao/tabela-de-areas-de-conhecimentohttp://qualis.capes.gov.br/webqualis/http://www.capes.gov.br/images/stories/download/avaliacao/FAQ_Qualis.pdfhttp://conteudoweb.capes.gov.br/conteudoweb/CadernoAvaliacaoServlethttp://conteudoweb.capes.gov.br/conteudoweb/PlanilhasEspecificasServlet8/7/2019 Leite, Fernando Baptista; Codato, Adriano. Elites universitrias no campo da Cincia Poltica brasileira: uma anlise
29/31
29
COLLINI, Stefan; WINCH, Donald & BURROW, John. 1983. That Noble Science ofPolitics : A Study in Nineteenth-century Intellectual History. Cambridge : CambridgeUniversity Press.
DRYZEK, John S. & LEONARD, Stephen. T. 1988. History and Discipline in PoliticalScience. The American Political Science Review, v. 82, n. 4, p. 1245-1260. [Obs.: esse artigotambm foi publicado em Easton, Gunnel e Stein (1995).]
DRYZEK, John S.; FARR, James &LEONARD, Stephen T. (eds.). 1995. Political Sciencein History. Cambridge : Cambridge University Press.
EASTON, David. 1985. Political Science in the United States: Past and Present. InternationalPolitical Science Review, v. 6, n. 1, Jan., p. 133-152.
EASTON, David.; GUNNELL, John G. & STEIN, Michael. (eds.). 1995. Regime and
Discipline : Democracy and the Development of Political Science.Ann Arbor : University ofMichigan Press.
FARR, James. 1988. The History of Political Science. American Journal of Political Science,v. 32, n. 4, Nov., p. 1175-1195.
FARR, James & SEIDELMAN, Raymond. (eds.). 1993. Discipline and History: PoliticalScience in the United States. Ann Arbor : The University of Michigan Press.
FINIFTER, Ada (ed.). 1983. Political Science: the State of the Discipline. Washington, D.C. :The American Political Science Association.
FORJAZ, Maria C. S. 1979. De como a autonomia do poltico aprisionou os cientistassociais brasileiros. Cadernos de Opinio, n. 14.
_____. 1997. A emergncia da Cincia Poltica no Brasil : aspectos institucionais. RevistaBrasileira de Cincias Sociais, So Paulo, v. 12, n. 35, fev.
FRUM DE COORDENADORES DE PS EM SADE COLETIVA . 2008. Nota dofrum de coordenadores de programas de ps-graduao em sade coletiva sobre o novoQualis Peridicos. Documento gerado a partir de discusses realizadas no Frum deCoordenadores de de Programas de Ps-Graduao em Sade Coletiva, Vitria, 2.out.
GOODIN, Robert E. & KLINGEMANN, Hans-Dieter. (eds.). 1996. A New Handbook ofPolitical Science.New York : Oxford University Press.
HALL, Peter A. &TAYLOR, Rosemary C. R. 2003. As trs verses do neo-institucionalismo.In : Lua Nova, So Paulo, n. 58, p. 194.
IMMERGUT, Ellen M. 1998. The Theoretical Core of the New Institucionalism. Politics &Society, v. 26, n. 1, p. 5-34.
JANOS, Andrew C. 1986. Politics and Paradigms : Changing theories of Change in the SocialSciences. Sanford : Stanford University Press.
8/7/2019 Leite, Fernando Baptista; Codato, Adriano. Elites universitrias no campo da Cincia Poltica brasileira: uma anlise
30/31
30
KARL, Barry. 1974. Charles E. Merriam and the Study of Politics. Chicago : University ofChicago Press.
KATZNELSON, Ira & WEINGAST, Barry R. 2005. Preferences and Situations: Points of
Intersection Between Historical and Rational Choice Institucionalism.KRESS, Paul F. 1973. Social Science and the Idea of Process : The Ambiguous Legacy ofArthur F. Bentley. Urbana : University of Illinois Press.
LAMOUNIER, Bolvar. (org.). 1982. A Cincia Poltica nos anos 80. Braslia : UNB.
LIPSET, Seymour M. 1969. Politics and the Social Sciences. New York : Oxford UniversityPress.
LOWI, Theodore. 1973. The Politicization of Political Science. American Politics Research, n.1, p. 43-71.
_____. 1992. The State in Political Science : How We become What We Study. AmericanPolitical Science Review, v. 86, n. 1, p. 1-7.
_____. 1993a. A Review of Herbert Simons Review of My View of the Discipline. PoliticalScience and Politics, v. 26, n. 2, p. 196-198.
_____. 1993b. Response to Critiques of Presidential Address. Political Science and Politics, v.26, n. 3, p. 539.
MURRAY, Robert H. 1925. The History of Political Science from Plato to the Present. NewYork : Appleton.
QUIRINO, Clia. 1994. Departamento de Cincia Poltica. Estudos Avanados, v. 8, n. 32.
REVISTA DE SOCIOLOGIA E POLTICA. 2009. Documento da Revista de Sociologia ePoltica apresentando sua perspectiva a respeito de algumas questes conexas da produocientfico-editorial recente. Documento apresentado 14 Congresso da Sociedade Brasileira deSociologia, Rio da Janeiro, 22.jul.
RICCI, David. 1984. The Tragedy of Political Science. New Have : Yale University Press.
SANTOS, Wanderley G. 1980. A Cincia Poltica na Amrica Latina. Dados, v. 23, n.1.
SCIELO. 2009. Relatrios do peridico. Disponvel em :http://www.scielo.br/statjournal.php?lang=pt&issn=0011-5258 (Dados);http://www.scielo.br/statjournal.php?lang=pt&issn=0102-6909 (Rev. Bras. Ci. Soc.);http://www.scielo.br/statjournal.php?lang=pt&issn=0104-6276 (Opin. Publica);http://www.scielo.br/statjournal.php?lang=pt&issn=0104-4478 (Rev. Sociol. Polit.);http://www.scielo.br/statjournal.php?lang=pt&issn=0102-6445 (Lua Nova);http://www.scielo.br/statjournal.php?lang=pt&issn=0101-3300 (Novos estud.). Acesso em :24.set.2009.
SEIDELMAN, Raymond & HARPHAM, Edward. 1985. Disenchanted Realists : Political
Science and the American Crisis, 1884-1984. Albany : State University of New York Press.
http://www.scielo.br/statjournal.php?lang=pt&issn=0011-5258http://www.scielo.br/statjournal.php?lang=pt&issn=0011-5258http://www.scielo.br/statjournal.php?lang=pt&issn=0102-6909http://www.scielo.br/statjournal.php?lang=pt&issn=0102-6909http://www.scielo.br/statjournal.php?lang=pt&issn=0104-6276http://www.scielo.br/statjournal.php?lang=pt&issn=0104-6276http://www.scielo.br/statjournal.php?lang=pt&issn=0104-4478http://www.scielo.br/statjournal.php?lang=pt&issn=0104-4478http://www.scielo.br/statjournal.php?lang=pt&issn=0102-6445http://www.scielo.br/statjournal.php?lang=pt&issn=0102-6445http://www.scielo.br/statjournal.php?lang=pt&issn=0101-3300http://www.scielo.br/statjournal.php?lang=pt&issn=0101-3300http://www.scielo.br/statjournal.php?lang=pt&issn=0101-3300http://www.scielo.br/statjournal.php?lang=pt&issn=0102-6445http://www.scielo.br/statjournal.php?lang=pt&issn=0104-4478http://www.scielo.br/statjournal.php?lang=pt&issn=0104-6276http://www.scielo.br/statjournal.php?lang=pt&issn=0102-6909http://www.scielo.br/statjournal.php?lang=pt&issn=0011-52588/7/2019 Leite, Fernando Baptista; Codato, Adriano. Elites universitrias no campo da Cincia Poltica brasileira: uma anlise
31/31
31
SIMON, Herbert A. 1993a. The State of American Political Science: Professor Lowi's View ofour Discipline. Political Science & Politics, v. 26, n. 1, Mar., p. 49-51.
_____. 1993b. Reply to the Letter of Professor Lowi Kindly Wrote Me. Political Science and
Politics, v. 26, n. 3, p. 539.SOMIT, Albert & TANENHAUS, Joseph. 1967. The Development of American PoliticalScience : From Burgess to Behavioralism. Boston : Allyn and Bacon.
STEINMO, Sven. 2001. The New Institutionalism. In : CLARK, Barry & FOWERACKER,Joe. The Encyclopedia of Democratic Thought. London : Routledge.
URICOECHEA, Fernando. 1982. Institucionalizao da Cincia Social na Colmbia. In :LAMOUNIER, Bolvar. A Cincia Poltica nos Anos 80. Braslia : UNB, p. 343-356.
WEBER, Max. 1949. Methodology of the Social Sciences. Glencoe : The Free Press.
http://findarticles.com/p/articles/mi_hb3333/is_199303/ai_n8047005http://findarticles.com/p/articles/mi_hb3333/is_199303/ai_n8047005http://findarticles.com/p/articles/mi_hb3333/is_199303/ai_n8047005http://findarticles.com/p/articles/mi_hb3333/is_199303/ai_n8047005Recommended