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PAACTIVIDAD
ES
Agrupamento de Escolas de Amares
AAGRUPAMENTO DE ESCOLAS DE AMARES
N.º 1 | | 2016/2017
AEA . E-Boletim outubro 16
AEAMARES
Outubro’16
N.º01 e-BOLETIM
Missão Amar(es):
Bernardino Silva
Um projeto, uma proposta de vida!
“Um sacrifício, para ser real, tem que custar, tem que doer, tem que nos esvaziar.”
Santa Teresa de Calcutá
As férias de verão são uma oportunidade para realizar tantas atividades com tan-
tas escolhas diversas e ocupar o tempo de forma diferente do habitual. Uma dessas es-
colhas é o voluntariado internacional. A oportunidade de se ampliar um desafio pessoal
que ao longo do ano se vai incrementando, e que nas férias o podemos estender por um
período maior de tempo dedicando-o aos outros, é a razão de tantos jovens e adultos
cumprirem esta escolha nas suas férias de verão.
O voluntariado é, hoje, um movimento que mobiliza em todo o mundo um grande
número de jovens e de adultos, sendo um instrumento de participação da sociedade civil
nos mais diversos domínios de atividade. Esta prática não se restringe ao campo social,
mas alarga-se à cultura, à educação, à justiça, ao ambiente, ao desporto e a outras di-
mensões do nosso quotidiano e tem vindo a responder às questões que continuamente
emergem do tecido social, económico ou político.
Neste contexto, nasceu o projeto Missão Amar(es) para os alunos do Ensino Se-
cundário da Escola Secundária de Amares, que através de um conjunto de ações de in-
teresse social e comunitário, realizadas de forma desinteressada pelos alunos, no âmbito
de projetos sociais vários, procura além de incentivar o voluntariado em contexto escolar,
ao mesmo tempo, promover o agir local e o pensar global. A Educação para o Voluntari-
ado acaba por ocupar, deste modo, um lugar ímpar na preparação integral dos alunos e
ajudá-los a construir uma identidade pautada no bem comum.
Acreditamos que sempre que uma instituição educativa promove atividades de
voluntariado, mediadas e animadas pela escola oferece aos seus alunos a oportunidade
de participar ativamente na construção de uma sociedade mais coesa e mais solidária.
Partindo das experiências realizadas e da formação adquirida ao longo do Ensino
Secundário, desejamos incutir nos alunos que participam no Clube da Solidariedade e do
Voluntariado da Escola Secundária de Amares um espírito de partilha e experiências glo-
bais, nomeadamente em contextos de países em vias de desenvolvimento e, preferenci-
almente, de língua portuguesa. Assim, quisemos que o projeto Missão Amar(es) propor-
cionasse uma oportunidade a três alunos (duas jovens e um jovem) de realizarem uma
experiência de voluntariado internacional. Neste caminhar contínuo, conseguimos reali-
zar a nossa experiência no passado mês de agosto em Moçambique, concretamente di-
vidindo a missão entre Mavalane e Hulene, na província de Maputo e em Chibuto, pro-
víncia de Xai-Xai – Gaza. Definitivamente, uma experiência única de estar com os outros
mais desfavorecidos de contextos sociais e culturais bem diferentes do nosso. Construir
pontes entre nós e estes povos ajudam ao desenvolvimento local, porque é na proximi-
dade que se consegue obter o sucesso de uma relação que permita num curto período
de tempo deixar a marca da nossa missão, porque enquanto homens e mulheres procu-
ramos o equilíbrio e a justiça social entre todos.
A Missão Amar(es) que tem como lema um projeto, uma proposta de vida, é justa-
mente uma opção distinta de viver o verão. Sabemos que a humildade não nos torna
melhores que ninguém, mas acredito que nos torna diferentes de muitos. Desejo que a
Missão Amar(es) como projeto e proposta de vida, se perpetue com humildade.
Reviver uma missão é reencontrar partes inteiras de uma identidade que cresceu e nas-
ceu numa jornada verdadeiramente memorável.
Partir para Moçambique foi abalar para um choque vulnerável de existências que se de-
senhava num povo moldado pelos resquícios da escravidão. Uma realidade sufocante de
políticas desumanas combatidas por rebeldes era conspirada em cada casa e núcleo. A
cidade não feria pela pobreza , mas pela riqueza que arquitetava a Costa do Sol e inúme-
ras avenidas impiedosamente coloniais. Como é possível coexistir ilusoriamente a opu-
lência e o desfalque da humanidade?
Desde a Escola Secundária de Mavalane a Hulene B, foram várias as escolas que per-
corremos. Esta última era plantada nas imediações de uma lixeira de 3 km de extensão e
assegurava a educação de 180 crianças entre os 3 e 5 anos de idade. Foi nesta mesma
escolinha que entendi a imensurável importância que a educação tinha para estas comu-
nidades marginalizadas. Em todas as escolas era necessário o pagamento de propinas e,
mesmo em sufoco financeiro constante, existiam listas intermináveis de espera para o
ensino público. Inicialmente abismada com a incoerência da capital era agora presentea-
da com feixes surpreendentes de esperança. As escolas traziam orgulhosamente pinta-
das nas paredes o pensamento de Pitágoras: “Educai as crianças e não será preciso cas-
tigar os homens.”.
Chibuto era em tudo diferente à metrópole moçambicana que descansava a 200 km
no sul. Desde as paisagens de cimento substituídas por idílicos quadros quentes de terra
africana às ruas agora amplamente compostas de crianças imensas, Chibuto era estra-
nhamente familiar. Entre núcleos, escolas e construção de casas foi verdadeiramente ins-
pirador vaguear pelo mundo do pároco Amaro que se fazia acompanhar da Diana e So-
fia, duas leigas que transponham toneladas de boa energia por osmose a quem cruzasse
caminho. Conhecem aquele efeito psicadélico de sorrir sem razão aparente? Esse era o
meu inspirador estado em Chibuto. Tudo era motivo para ficar só mais um pouco, para
voltar e relembrar o caloroso “HOYO HOYO!” com que me recebiam. Portugal tinha fica-
do no hemisfério contrário mas o mundo era tão próximo que podia abraçá-lo de uma vez
só. O amor faz isto até aos mais fortes, torna-os loucamente frenéticos por algo maior do
que a sua própria existência.
Regressar foi saber que havia mundos paralelamente palpáveis onde a missão não se
fazia de léguas mas de uma vontade imensa de quebrar injustiças e concordâncias soci-
ais.
Regressar foi querer partir por conhecer um mundo que reveste cada ser com o potencial
de se tornar verdadeiramente extraordinário.
A vida encontrou-se ali, naquela missão!
A todos os que agora veem o que eu vi, KANIMAMBO!
Uma missão em Moçambique
Ana Luísa Amaro
KANIMAMBO
Desde o meu 5ºano de escolaridade que estive integrado na disciplina de Educa-
ção Moral Religiosa Católica, mas só no meu 9ºano é que me foram incutidos determi-
nados valores, de forma a estar na vida e ver de maneira diferente o voluntariado. Nes-
tes 4 anos de caminhada aprendi que ser voluntário é ter a oportunidade de contribuir
com algo, de uma forma livre e não estar à espera de receber nada em troca.
É difícil dizer em poucas ou até mesmo em muitas palavras aquilo que vi e vivi
com esta missão, mas é certo que todas estas experiencias vieram guardadas no meu
coração, para assim poder transmitir a todos aqueles que estiveram direta ou indireta-
mente envolvidos no projecto.
Chegado a Moçambique a 17 de agosto, nomeadamente a Maputo deparei-me
com duas realidades totalmente diferentes: a classe rica que vivia em habitações luxuo-
sas e com todas as condições necessárias para o dia a dia e a meia dúzia de quilóme-
tros a classe pobre que vivia mesmo ao lado de uma lixeira com mais de três quilóme-
tros de comprimento.
Mas o local que mais me marcou foi a duzentos quilómetros da capital de Mo-
çambique, em Chibuto com cerca de 57.281 habitantes (dados recolhidos em 2008).
Sempre que chegávamos a uma comunidade eramos recebidos de braços aber-
tos pelo povo aí residente, como forma de agradecimento por essa recessão oferecía-
mos algumas coisas que tínhamos levado para essa missão e assim mais familiariza-
dos, tivemos oportunidade de conhecer os seus hábitos e a sua cultura.
No seio da comunidade de Chibuto tive a oportunidade de contribuir com algo de
mim, ajudando os jovens dessa paróquia na construção de uma casa típica da região,
habitação composta por uma só divisão. Esta foi destinada a um senhor de idade, que
era apelidado na região por vovô, que vivia numa habitação sem condições nenhumas.
Para essa construção foram utilizados alguns materiais típicos da região como o caniço
que é um tipo de cana de pouca espessura, este servia para a construção das paredes;
utilizamos ainda matérias mais comuns nos países desenvolvidos para complementar a
construção como por exemplo o cimento que servia para pavimentar o chão e chapas
que serviam de telhado na mesma.
Outro aspeto que me marcou foi o facto de todas as comunidades apresentarem
características que são de louvar, encontrávamos neles uma bondade tremenda e um
espírito de partilha nunca antes visto, como é o exemplo de uma comunidade que fomos
visitar com o padre Amaro. Esta tinha várias dificuldades económicas como alimentares,
mas mesmo assim fizeram questão de nos oferecer um almoço como forma de agrade-
cimento pela nossa visita.
Adorei também ter trabalhado com as crianças que me deram uma lição muito
boa que para ser feliz não é preciso viver num berço de ouro, onde tudo que queremos
aparece aos nossos pés e no momento em que lhes ofereci uma t-shirt, que para mim
era uma simples objecto apercebi-me que para eles tinha um valor incalculável e isso foi
visível quando eles olhavam para mim e me faziam um sorriso de orelha a orelha.
John Campos
... um sorriso de orelha a orelha
Testemunho
As palavras não são suficientes para espelhar o quão especial foi tudo o que vivi. A nossa missão foi mais do que o esperávamos… foi enriquecedora, aventureira, extra-ordinária, familiar!!! Visitamos as várias escolinhas, principalmente a de Hulene B e o Centro de Dia de
Hulene. Nesta experiência senti que desempenhava-mos um papel importante na vida da-
quelas pessoas. Tenho saudades das danças africanas com os vovôs, de andar em cima
dos pneus sempre a cair porque as crianças puxavam-me a pensar que me seguravam,
dos abraços e beijinhos cheios de alegria e amor.
Mas nem tudo o que vimos foi positivo, há imagens que vou guardar para resto da mi-
nha vida. Perto da escola de Hulene B fomos ver uma lixeira com cerca de 3km, onde
vimos casas em frente a todo o lixo de Maputo, as crianças a brincar descalças em cima
de vidros, pessoas à procura de comida…
Quando estivemos no Centro de Dia de Hulene, a diretora pediu-me para visitar uma
vovó que não andava, por que tinha sido operada, mas como não tinha possibilidades
económicas, nunca pode comprar canadianas e deixou de andar. Eram 15h e esta vovó
ainda não tinha comido nada, nem ia comer, mas conseguimos arranjar-lhe uma refeição
para aquele dia. Lembro-me de ela me dizer: “Quando fores para Portugal diz que esta
velha sabe falar muito bem português e que manda muitos beijinhos.”.
Em Chibuto ajudamos, juntamente com os jovens da paróquia, a construir uma casa pa-
ra um vovô que vivia sozinho. Estivemos a colaborar com a Escolinha “Mãos Unidas” e
ainda, fizemos parte do projeto SOPA, que consistia em dar uma refeição a pessoas que
precisavam, como foi o exemplo de dois vovôs que tinham a seu cargo quatro netos
abandonados pelos pais.
Chego a Portugal cheia de marcas negras, não aguentei a avalanche de carinho e da
alegria de todas aquelas crianças, até me levaram ao chão.
Espero vir a ter muitas mais destas marcas, que apesar de desaparecerem fisicamente
nunca serão esquecidas emocionalmente.
A missão chegou ao fim, mas foi a primeira de muitas outras que desejo vir a realizar.
Espero que mais alunos se juntem a nós.
Ana Vieira
Testemunho
Vovós
MISSÃO AMAR(ES)
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