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VII Convibra Administração Congresso Virtual Brasileiro de Administração www.convibra.com.br Inteligência de Fontes Abertas: um estudo sobre o emprego das redes sociais na prevenção à corrupção Eduardo Amadeu Dutra Moresi [email protected] Osvaldo Spíndola da Silva Junior [email protected] Newton Castilho Lavoyer [email protected] Cláudio Chauke Nehme [email protected] Universidade Católica de Brasília Gilson Liborio de Oliveira Mendes [email protected] Controladoria-Geral da União Resumo Atualmente a atividade de inteligência é considerada um dos elementos críticos para a estratégia de diversos tipos de organizações, sejam públicas ou privadas. Os avanços das tecnologias de informação e comunicação, ocasionaram mudanças significativas no ambiente informacional. Nesse sentido, as redes sociais ancoradas na internet possuem um papel de destaque entre as formas de comunicação existentes. Embora ocorram em múltiplas variedades, todas possuem o dado, a imagem e a informação como legados. Essa pesquisa apresenta um arcabouço conceitual do emprego de redes sociais na prevenção à corrupção. Palavras-chave: Inteligência de Fontes Abertas; Redes Sociais Virtuais; Prevenção à Corrupção Abstract Currently, the intelligence activity is considered a critical element in the strategy for different types of organizations, in the public or private sector. Advances in information technology and communication, caused significant changes in the information environment. Social networks anchored on the internet have a prominent role among the existing forms of communication. Although occurring in many varieties, all have the data, image and information as legacies. This research presents a conceptual framework of the employment of social networks in corruption prevention. Keywords: Open Source Intelligence; Virtual Social Networks; Corruption Prevention

Inteligência de Fontes Abertas: um estudo sobre o emprego das redes sociais na prevenção à corrupção

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Inteligência de Fontes Abertas: um estudo sobre o emprego das redes sociais na

prevenção à corrupção

Eduardo Amadeu Dutra Moresi

[email protected]

Osvaldo Spíndola da Silva Junior

[email protected]

Newton Castilho Lavoyer

[email protected]

Cláudio Chauke Nehme

[email protected]

Universidade Católica de Brasília

Gilson Liborio de Oliveira Mendes

[email protected]

Controladoria-Geral da União

Resumo

Atualmente a atividade de inteligência é considerada um dos elementos críticos para a

estratégia de diversos tipos de organizações, sejam públicas ou privadas. Os avanços das

tecnologias de informação e comunicação, ocasionaram mudanças significativas no ambiente

informacional. Nesse sentido, as redes sociais ancoradas na internet possuem um papel de

destaque entre as formas de comunicação existentes. Embora ocorram em múltiplas

variedades, todas possuem o dado, a imagem e a informação como legados. Essa pesquisa

apresenta um arcabouço conceitual do emprego de redes sociais na prevenção à corrupção.

Palavras-chave: Inteligência de Fontes Abertas; Redes Sociais Virtuais; Prevenção à

Corrupção

Abstract

Currently, the intelligence activity is considered a critical element in the strategy for different

types of organizations, in the public or private sector. Advances in information technology

and communication, caused significant changes in the information environment. Social

networks anchored on the internet have a prominent role among the existing forms of

communication. Although occurring in many varieties, all have the data, image and

information as legacies. This research presents a conceptual framework of the employment of

social networks in corruption prevention.

Keywords: Open Source Intelligence; Virtual Social Networks; Corruption Prevention

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prevenção à corrupção

1. Introdução

A prevenção da corrupção no Brasil é uma atividade complexa, que envolve ações de

predominância governamental, contudo, a participação de movimentos organizados da

sociedade tem contribuído para a efetividade das ações do Estado. A difusão em meio

eletrônico de informações sobre a distribuição de recursos, somada a outras ações de controle,

contribuem para a redução dos eventuais desvios na finalidade dos investimentos e gastos

públicos. Entretanto, estas ações não são suficientes para coibir as tentativas e a realização de

atos de aproveitamento ilícito por parte de indivíduos e organizações, necessitando do apoio

de outros instrumentos de enfrentamento, destacando a importância da inteligência e da

obtenção de informações capazes de mitigar os efeitos danosos da corrupção para a sociedade.

Na última década, em decorrência da modernização e utilização massiva das tecnologias de

informação e comunicação, o ambiente virtual tornou-se um elemento social. Nesse ambiente

concentram-se informações provenientes de variadas fontes, cujo crescimento e utilização

exponencial justificam a participação da inteligência, nas ações governamentais, que

envolvem o controle das informações que afetam a ordem social.

No contexto que envolve os ambientes virtuais baseados na web, sob suas diversas formas,

encontram-se as redes sociais. Criadas a partir da necessidade natural de comunicação

humana, possuem dinâmica própria, movimentam grandes quantidades de informação e tem

poder para influenciar comunidades e parcelas significativas da sociedade.

O estudo do comportamento das redes sociais, como parcela significativa do fluxo de

informação que circula entre os ambientes virtuais, pode trazer luz à compreensão deste

fenômeno social e sua possível participação como elemento informacional e de disseminação

das práticas de prevenção da corrupção.

O objetivo deste trabalho é apresentar a possibilidade do emprego da inteligência em fontes

abertas no ambiente que envolve as redes sociais, como opção para a obtenção de informações

estratégicas, utlizaveis na prevenção à corrupção no Brasil. Para isso, são analisados estudos

bibliográficos e pesquisas, na tentativa de fornecer subsídios que orientem a Secretaria de

Prevenção da Corrupção e Informações Estratégicas da Controladoria-Geral da União (CGU),

no desenvolvimento de um método de aplicação de conceitos doutrinários sobre inteligência

de fontes abertas.

2. Corrupção

A corrupção não é um fenômeno recente, pelo contrario, desde o inicio da convivência em

sociedade, a caracterização deste comportamento humano foi retratado. O conceito inerente à

corrupção é por si só, impregnado de valores, crenças e pré-concepções. As definições de

corrupção são apresentadas por autores que se preocupavam com a harmonia do convívio em

sociedade. O termo Corrupção é definido pelo Banco Mundial como o abuso do poder público

para a obtenção de benefícios privados, presentes principalmente em atividades de monopólio

estatal e poder discricionário por parte do Estado (WORLD BANK, 1997).

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De modo geral, corrupção implica em trocas entre quem detém poder decisório na política e

administração e quem detém poder econômico, para obter vantagens ilícitas, ilegais ou

ilegítimas, para indivíduos ou grupos envolvidos (SCHILLING, 1999, p. 15).

O conceito é abrangente e sua aplicação exige um referencial normativo que delimite o que é

público e o que é privado, o que configura mal uso da coisa pública e quais são os deveres do

servidor. Todavia, a presença desses requisitos legais é a base do combate à promiscuidade

entre público-privado, traço típico da corrupção.

A participação massiva de parcela significativa da sociedade nos meios de comunicação

trouxe, particularmente para o Brasil, maior interesse na investigação da governança do

Estado e com os assuntos que passam interferir no bem estar coletivo. A nova sociedade,

conhecida também como sociedade da informação e em rede, apresenta-se como mais um dos

fenômenos da modernidade, procurando cada vez mais, mobilizar-se em torno da correta

utilização dos recursos públicos. Nesse período começaram os movimentos que promoviam a

percepção na sociedade, de que as atribuições do Estado, dependem de eficiência na alocação

e no controle dos recursos disponíveis.

Pode-se perceber a existência de um conjunto de forças sociais formada pelas instituições e

mecanismos denominados de controle social, que envolvem a atuação da sociedade civil em

suas mais variadas formas de organização e manifestação. Mannheim (1971, p. 178) define o

controle social como o “conjunto de métodos pelos quais a sociedade influencia o

comportamento humano, tendo em vista manter determinada ordem”.

Não há, no âmbito do pensamento social e político brasileiro, uma teoria da corrupção no

Brasil. Durante muito tempo o tema foi deixado de lado nas reflexões acadêmicas e teóricas

sobre o Brasil, não havendo, nesse sentido, uma abordagem que dê conta do problema da

corrupção no âmbito da política, da economia, da sociedade e da cultura de forma abrangente.

Os estudos sobre corrupção no Brasil são recentes, realizados a partir de abordagens

comparativas e institucionalistas, sem a pretensão de uma teoria geral, de cunho interpretativo

(FILGUEIRAS 2008).

Para Johnston (2002), a corrupção não é algo que acontece em uma sociedade como um

desastre natural. Trata-se da atividade de pessoas e grupos reais que traficam influências em

um dado ambiente de oportunidades, de recursos e de limitações. Essas ações e escolhas

costumam, muitas vezes, provocar estragos em governos e regimes inteiros, mas quase

sempre afetam a política de maneira mais específica, refletindo a natureza e a continuidade do

desenvolvimento das sociedades em que ocorrem. Assim, a corrupção depende fortemente das

relações entre Estado e sociedade, e dos modos pelos quais riqueza e poder são mantidos e

utilizados.

Atualmente, a organização não-governamental Transparência Internacional publica

anualmente o Índice de Percepção de Corrupção, que é um indicador de opiniões sobre

corrupção e abrange países de todos os continentes. Cada país recebe uma “nota” de 0 a 10, e

os países são listados na ordem dessas “notas”, formando um ranking. No ano de 2010, a lista

relaciona 178 países. Três ocupam o primeiro lugar: Dinamarca, Nova Zelândia e Cingapura,

com índice de 9,3. No pé da relação está a Somália, com índice de 1,1. O Brasil encontra-se

na posição de número 69, juntamente com Cuba, Montenegro e Romênia, com índice de 3,7.

Restringindo-se a atenção aos 178 países que comparecem simultaneamente nas listas de 2009

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e 2010, o Brasil subiu seis posições, mas o índice se manteve em 3,7 (TRANSPARENCY

INTERNATIONAL, 2010).

Caracterizado como uma atitude perversa de membros do governo e da sociedade, parte-se

então para as ações que visam o seu combate. Pereira (2004) sugere que o combate à

corrupção passa pelo controle dos governantes, que pode ser exercido por meio de: voto;

controle parlamentar; controle dos procedimentos burocráticos (via controladorias, tribunais

de contas, comissões de inquérito); controle social (via mídia ou grupos da sociedade civil). O

autor indica ainda que o conjunto de ações necessárias para o combate à corrupção envolve

educação à cidadania e, de forma imprescindível, a transparência da gestão da coisa pública.

Ainda que o problema da corrupção possa ser considerado de difícil ou até utópica solução,

existem forças sinérgicas que se propõem ao enfrentamento do problema. Instituições

governamentais como o Ministério Público, os Tribunais de Conta e a Controladoria Geral da

União, vêm nos últimos anos agregando esforços na prevenção e no combate a fraude e a

corrupção que envolve os recursos e os agentes públicos.

A tecnologia também desempenha um papel de destaque nesses esforços. Após a criação da

Lei 8666/93, que regulamentou o processo de aquisição de bens e serviços pelos órgãos da

administração pública, pôde-se utilizar uma série de ferramentas tecnológicas de apoio ao

controle dos recursos do Estado.

A criação dos portais Comprasnet e da Transparência, promoveram mudanças significativas

na maneira de tratar os recursos públicos. Por meio do Comprasnet é possível acompanhar as

informações referentes às licitações e contratações promovidas pelo Governo Federal, bem

como permitir a realização de processos eletrônicos de aquisição.

O Portal da Transparência lançado em novembro de 2004, é um canal pelo qual o cidadão

pode acompanhar a execução financeira dos programas de governo, em âmbito federal. Estão

disponíveis informações sobre os recursos públicos federais transferidos pelo Governo

Federal a estados, municípios e ao Distrito Federal, para a realização descentralizada das

ações do governo, e diretamente ao cidadão, bem como dados sobre os gastos realizados pelo

próprio Governo Federal em compras ou contratação de obras e serviços.

Diante do desafio de combater a corrupção de forma eficaz, faz-se necessário a adoção de um

sistema de inteligência, a ação contra a fraude e a corrupção no serviço público requer cada

vez mais o processamento de informações de diferentes fontes, sejam elas provenientes ou

não de sistemas informatizados, tais como SIAPE (Sistema Integrado de Administração de

Recursos Humanos), SIAFI (Sistema Integrado de Administração Financeira do Governo

Federal), SICRO (Sistema de Custos Referenciais de Obras), CPF (Cadastro de Pessoa Física)

e SIDOR (Sistema Integrado de Dados Orçamentários). È imperativo que os sistemas e seus

mecanismos sejam conhecidos pelos atores que participam das ações de controle. A partir

desses conhecimentos pode-se orientar, de forma objetiva, o processo de fiscalização para

áreas mais sensíveis ou que tenham indícios de tentativas ou perpetração de fraudes,

aumentando-se assim o potencial de detecção e de apuração desses eventos.

Para um controle eficiente da burocracia é essencial que a informação sobre o que está

ocorrendo, com níveis detalhados, esclareça os procedimentos internos que permitem falhas.

Registre-se, entretanto, que a obtenção de informações sobre o que se passa nos caminhos da

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burocracia do serviço público é uma tarefa bastante complexa. Os meios utilizados para

buscar essas informações nem sempre são suficientemente eficientes, eficazes e efetivos, além

de terem um custo elevado.

A importância do estudo da corrupção para a sociedade brasileira é tanto maior quanto a

compreensão do real significado deste problema, que ameaça os principais valores do estado

democrático e ataca a estabilidade dos seus arranjos institucionais. A corrupção atinge o

princípio da igualdade e da justiça, destrói a confiança dos cidadãos e deslegitima as

instituições.

As tecnologias que surgem a cada momento, fruto da melhoria do arcabouço técnico-

científico, dos recursos alocados nas instituições e programas que visam a prevenção e o

combate a corrupção, são um alento às estratégias das instituições que atuam no combate a

corrupção.

O estudo e a descoberta de novas formas de controle social sobre os recursos públicos,

utilizando-se dos modernos instrumentos tecnológicos de comunicação, pode contribuir para a

diminuição da corrupção e a consequente melhoria dos investimentos em áreas que trazem

benefícios a qualidade de vida da sociedade.

As redes e comunidades baseadas na internet podem contribuir de muitas formas no combate

a corrupção, tanto de maneira preventiva, exercendo um controle social sobre os atos dos

administradores públicos, quanto à maneira educativa, difundindo as boas práticas no trato

com os bens e recursos públicos.

Embora a convergência da literatura conceitue a corrupção como um fenômeno social

sistemico, a disposição governamental, em consonância com a ação de redes sociais

organizadas, representando parcela significativa da sociedade, está dispondo uma nova

realidade ao trato do dinheiro público, trazendo esperança quanto a melhoria da qualidade do

controle, respaldando o combate intensivo a corrupção.

3. Inteligência em Fontes Abertas

Em uma linguagem técnica, a palavra informação deve assumir um contexto amplo.

Ultrapassando a referência aos tipos de conhecimento e as fontes de produção da informação,

esta deve representar o resultado de um raciocínio, que transmite a certeza, para quem a

analisa, do significado contextualizado a respeito de um fato ou ação e suas consequências,

tanto no passado quanto no presente.

Kent (1966) descreve inteligência sob três aspectos:

- como produto: é a representação do resultado do processo de produção de

conhecimento, atendendo a demanda do tomador de decisão, tornando o resultado

obtido por meio do processo de inteligência, um produto de inteligência;

- como organização: apresenta as estruturas funcionais, que tem como missão crítica a

obtenção de informações e a produção de conhecimento de inteligência, podendo ser

caracterizados como os operadores da inteligência;

- como atividade ou processo: refere-se aos caminhos pelos quais certos tipos de

informação são requeridos, coletados, obtidos, analisados e difundidos. Determinação

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dos procedimentos para a obtenção de determinados dados, em especial aqueles

protegidos.

Outros autores que merecem destaque pela definição abrangente da atividade de inteligência

são Shulsky e Schimtt (2002), para eles a inteligência compreende informação, atividades e

organizações. Para estes autores a inteligência esta relacionada à informação que é relevante

para se formular e implementar políticas voltadas aos interesse de segurança nacional e para

lidar com ameaças, atuais ou mesmo potenciais, a esses interesses. No que diz respeito à

atividade em sí, a inteligência compreende a coleta, e a análise de informações e inclui as

atividades destinadas a conter as atividades de inteligência adversas. Neste contexto, os

autores afirmam que, a contra-inteligência estaria contida na inteligência e concluem que o

termo também diz respeito a organizações que exerçam a atividade, atribuindo a essas

organizações um de suas características mais importantes, o secretismo necessário a conduta

de suas atividades.

Reforçando a diferenciação entre inteligência e informação, o Glossário da Organização do

Tratado do Atlântico Norte - OTAN, define em sua perspectiva, que a informação se refere

aos dados brutos, que serão analisados para a produção de um conhecimento de inteligência,

informação processada com vistas a subsidiar o processo decisório.

Na percepção de Washington Platt (1974), “informações (intelligence) é um termo específico

e significativo, derivado da informação, informe, dado ou fato que foi selecionado, avaliado,

interpretado e, finalmente expresso de forma tal que evidencie a sua importância para

determinado problema de política nacional corrente”. Platt acrescenta que “essa definição traz

a tona o problema da distorção entre informe bruto (raw information) e a informação acabada

(finished intelligence), distinção que é objeto de tanto orgulho profissional da Comunidade de

Informações”.

Após apresentar definições sobre a atividade de inteligência, e constatar a abrangência de

áreas em que a atividade pode ser utilizada, trazendo benefícios para o tomador de decisão,

torna-se evidente a definição de escopo, ou até categorias da atividade de inteligência.

O ciclo da inteligência, apresentado na Figura 1, é habitualmente ilustrado como um processo

repetitivo de 5 passos, conforme abaixo:

- planejamento e direção, que abrangem o esforço inteiro de gerenciamento do processo e

envolvem, em particular, determinar as exigências da coleta baseadas em pedidos dos

clientes;

- coleta refere-se ao recolhimento de dados “in natura” para encontrar o objeto dos

requerimentos dos clientes. Estes dados podem ser derivados (obtidos) de fontes abertas ou

secretas;

- processamento refere-se ao tratamento dos dados “in natura” para convertê-los a um formato

que os analistas de informação possam usar;

- análise e produção descrevem o processo de avaliação dos dados em sua confiabilidade,

validação e relevância, integrando-os e analisando-os, e convertendo o produto deste esforço

em um inteiro significativo, o qual inclui avaliações de eventos e de informações coletadas;

- disseminação é a etapa em que o produto da Análise e Produção é distribuído para a

audiência pretendida.

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Figura 1: O ciclo tradicional da inteligência (JOHNSTON, 2005: 46).

A campo abordado neste trabalho, envolve especificamente as atividades de inteligência em

fontes abertas, por isso, cabe apresentar algumas definições que possam esclarecer este tipo de

atividade e como seus resultados podem ser utilizados para o controle social, aplicando a

capilaridade das redes sociais, na prevenção e combate a corrupção.

Neste trabalho todas as pesquisas estão voltadas a atividade de inteligência com dados

provenientes de fontes abertas. Segundo Shulsky e Schmitt (2002, p.208) um meio importante

para a reunião de dados para a produção do conhecimento de inteligência é a coleta, ou seja a

reunião de informações a partir de fontes abetas.

Para Lowenthal (2003) os dados obtidos a partir de fontes abertas, apresentam variedade de

classificação, detacando-se aquelas relacionadas a:

Mídia: jornais, revistas, rádio, televisão e informações de base de dados de

informática.

Dados públicos: relatórios governamentais, dados oficiais como orçamentoe

sensos, audiencias públicas, debates legislativos, conferencia de imprensa e

discursos.

Informações profissionais e academicas: conferencias, simposios, produção de

associações profissionionais, eriodicos academicos e trabalhos de especialistas.

Entretanto, a evolução dos meios eletronicos de comunicação também propriciou o

surgimento de diversos formatos de interação via web, as chamadas “redes sociais”. Estas

redes são criadas e acessadas por pessoas de todos os paises, permitindo a troca de dados,

imagens, arquivos e outros formatos de mídia, passiveis de monitoramento via ferramentas de

eletrônicas de idenificação de textos e sinais.

4. Redes Sociais

Para este trabalho, serão estudas as redes sociais baseadas na web, sua estrutura, o

comportamento de seus membros e sua utilização como fonte aberta de informação e

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ferramenta de difusão e disseminação do controle social na prevenção da corrupção no Brasil

do século XXI.

Manuel Castells (1999) tece considerações de suma importância para a construção de um

debate sobre a morfologia social das sociedades de tecnologia avançada neste início de novo

século. Fundamentado por um conjunto de informações empíricas e na teoria sociológica,

descreve a sociedade contemporânea como uma sociedade globalizada, centrada no uso e

aplicação de informação e conhecimento, cuja base material está sendo alterada

aceleradamente por uma revolução tecnológica concentrada na tecnologia da informação e em

meio a profundas mudanças nas relações sociais, nos sistemas políticos e nos sistemas de

valores.

Seguindo as contribuições de Castells, à discussão apresentam quatro aspectos principais: a

centralidade da tecnologia da informação; o refinamento da teoria sociológica, com a

proposição da articulação do conceito clássico de modo de produção à noção, por ele

desenvolvida, de modo de desenvolvimento; a compreensão do papel do Estado no

desenvolvimento econômico e tecnológico, deixando de lado a visão reducionista e

ideologizada das perspectivas liberais do Estado mínimo; e a caracterização da sociedade

informacional como uma sociedade em rede, com a morfologia social definida por uma

topologia em forma de rede.

Uma Rede Social, entre outros usos, representa os relacionamentos afetivos, bem como

relacionamentos profissionais entre grupos de pessoas, sendo responsável pelo

compartilhamento de informações entre indivíduos que possuem objetivos e valores em

comuns a serem compartilhados. Partindo desta definição, surgem as Redes Sociais Virtuais

que são aquelas onde se estabelece uma comunicação entre indivíduos através do computador.

O aprimoramento das tecnologias da informação e comunicação possibilitou a dispersão das

informações de forma diferenciada, com a utilização de ferramentas específicas para a

comunicação eletrônica. A criação da internet transformou a maneira como os indivíduos, as

redes ou associações passaram a trocar informações.

As redes sociais deram origem às comunidades virtuais, que nos últimos anos, fez surgir à

cultura de colaboração on-line. Rheingold (1996) compara as comunidades virtuais do

ciberespaço a colônias de microorganismos diversos que por ele se alastram.

As informações que circulam nas redes sociais, objeto de estudo da Ciência da Informação,

apresentam uma série de condicionamentos e análises para tentar mostrar de uma forma lógica

o fluxo informacional e suas características dinâmicas quando isso ocorre em rede.

Ao estudar o fluxo de informação nas redes sociais é preciso considerar as relações de poder

que advêm de uma organização não-hierárquica e espontânea e procurar entender até que

ponto a dinâmica do conhecimento e da informação interfere nesse processo. A informação

circula socialmente e, para o sujeito, esta circulação deve ser percebida como conjunto de

opções.

Percebendo-se que os fluxos de informação movimentam as redes, o direcionamento desses

fluxos pode fortalecer e delinear uma rede, proporcionando sinergia às funções nela

desdobradas. A informação mobiliza a rede e traz possibilidades de interação e expansão:

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mediante o uso da informação, o estado existente modifica-se, expandindo o conhecimento

que vai fortalecer o fluxo da informação e respaldar os processos individuais e coletivos

(TOMAÉL, 2008).

A popularização do acesso aos provedores de internet, a efetivação da banda larga e os

programas sociais de difusão e inclusão digital, permitiram o incremento do acesso aos meios

eletrônicos de comunicação. A redistribuição de renda, conseqüência da manutenção da

estabilidade econômica nos últimos dez anos, possibilitou a inserção de um maior número de

consumidores a bens de consumo como os computadores e celulares, aumentando

participação de parcelas significativas da população nos meios de comunicação.

As novas possibilidades e maneiras de utilizar a tecnologia da comunicação possibilitaram a

criação e a participação em comunidades virtuais, além de outros formatos de interação via

web, influenciando e alterando o convívio social, refletindo também em aspectos da economia

e da política.

Nos últimos anos os estudos sobre as redes ganharam maior importância. Watts (2003) afirma

que a diferença entre os novos estudos de redes e os antigos é que no passado, as redes foram

vistas como objetos de pura estrutura, cujas propriedades estavam fixadas no tempo.

Nenhuma dessas assertivas poderia estar mais distante da verdade. Para Watts, é preciso levar

em conta que nas redes, os elementos estão sempre em ação, "fazendo algo", e que elas são

dinâmicas, estão evoluindo e mudando com o tempo. Portanto, a questão crucial para a

compreensão dessas redes sociais passava também pela sua dinâmica de sua construção e

manutenção. Portanto, a novidade das novas abordagens sobre redes e sua possível

contribuição para o estudo das redes sociais está no fato de perceber a estrutura não como

determinada e determinante, mas como mutante no tempo e no espaço.

No Brasil, o fenômeno das redes sociais baseados na web também já registrou acontecimentos

e mobilizou a opinião de milhares de pessoas em torno de assuntos polêmicos. Um fato que

merece registro foi a escândalo envolvendo os cartões de crédito corporativos do governo

federal. Por meio dos sites de organizações não governamentais que acompanhavam a

transparências dos gastos públicos, foi possível detectar o mal uso de recursos por meio de

cartões corporativos. Esse episódio, até então considerado corriqueiro no cotidiano da

administração pública, foi amplamente divulgado nas diversas redes sócias interligadas

nacionalmente que fazem parte da comunidade do controle social, acompanhando a utilização

dos recursos públicos.

Roberts (2009) apresenta uma série de conceitos que ajudam a entender o que é o processo de

marketing viral e como se estabelece. Segundo o autor, marketing viral pode ser traduzido

como uma estratégia que irá encorajar indivíduos a passar adiante uma mensagem de

marketing à outra pessoa. Este processo cria um potencial de exposição da mensagem e de

influencia sobre os participantes da rede. Nesse processo que é suportado por pesquisa e

tecnologia os consumidores são encorajados a dialogar sobre produtos e serviços da

organização. O marketing viral é mais poderoso que a propaganda de massa porque convence

através de um endosso implícito de um amigo, conhecido ou familiar.

Uma das primeiras organizações a utilizar o marketing viral foi o Hotmail em 1996 que criou

um mecanismo onde todo e-mail incluía uma promoção acessível através de uma URL

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“clicável” e deste momento em diante todos os usuários se tornaram vendedores potencias

daquela organização.

Outra estratégia que prova o potencial do marketing viral foi à utilizada pelo Gmail no início

de suas operações. As primeiras contas de e-mail foram criadas pelo mecanismo de afiliação

por indicação. Esta é outra das chaves deste tipo de mecanismo a afiliação: Eu quero ser

membro deste grupo? Neste caso um grupo de amigos, pessoas em quem eu confio. A curva

de afiliados foi exponencial e hoje o Gmail é um dos grandes recipientes mundiais de e-mail,

junto com Hotmail, Yahoo e outros.

Segundo Roberts, David (2009) o boca a boca ocorre em grande parte desconectado da rede

(85% do total) sendo bastante poderoso, pois o comunicador usualmente é uma pessoa

conhecida da comunidade que influencia o que acrescenta um forte componente de

confiabilidade a comunicação.

Segundo o WOMMA (Word of Mouth Marketing Association)1 um episódio boca a boca

envolve quatro componentes, a saber:

- participantes – os criadores, pessoas que enviam ou recebem, que podem ser medidas pela

propensão de atuar, demografia, credibilidade e por terem sido atingidas;

- unidade de boca a boca – é uma unidade singular de informação sobre marketing relevante;

- ações – aquilo que os participantes fazem para criar, repassar ou responder a uma unidade de

boca a boca; ações podem ser mensuradas quanto a velocidade, distribuição e densidade de

assuntos;

- foro – é a mídia ou local físico onde a comunicação se estabelece. Foro pode ser mensurado

através do potencial total da população / a audiência atual recebida.

Um único episódio atinge um dos cinco resultados abaixo os quais servem como um evento

que pode ser mapeado:

1. Consumo: O recebedor absorve a informação, mas não age;

2. Inquérito: O recebedor procura por informações adicionais;

3. Conversão: O recebedor toma a ação desejada;

4. Retransmissão: O recebedor redistribui a unidade para outra pessoa;

5. Recriação: O recebedor cria uma nova unidade.

Goldenberg, Libai e Muller (2001) descreveram a propagação da informação nos sistemas

sociais como um sistema complexo adaptativo. Um sistema que consiste de um número muito

grande de entidades individuais que interagem umas com as outras em larga escala. Embora

as interações entre os indivíduos possam ser simples em muitos sistemas adaptativos, a larga

escala do sistema propicia o surgimento de padrões de difícil predição, de difícil mapeamento

e de difícil analise.

Os autores trabalharam com uma técnica para relacionar o boca a boca micro ao macro

fenômeno, empregando autômatos celulares estocásticos, uma ferramenta para analise de

sistemas complexos. Modelos celulares autômatos são simulações de conseqüências

agregadas, baseados em interações locais entre indivíduos de uma população. No caso do

boca a boca as interações locais são os diversos tipos de interações interpessoais e o

1 http://womma.org

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surgimento de macro efeitos a partir de micro efeitos foram baseados nos fundamentos da

teoria da comunicação conhecida como força dos laços/nós fracos.

Granovetter (1973) criador da teoria da força dos laços fracos afirmou que indivíduos são

freqüentemente influenciados por outros com quem tem relações tênues ou randômicas

denominadas de laços/nós fracos, distinguindo estas relações de outros mais estáveis,

freqüentes e intimas chamadas de laços/nós fortes as quais caracterizam as redes pessoais. A

importância dos laços fracos reside no seu potencial de expor as redes interpessoais a

influencias externas, pavimentando o caminho para a propagação da informação pela

sociedade.

Brown e Reingen (apud GOLDENBERG, LIBAI, MULLER, 2001) afirmaram que os

laços/nós fortes são mais comuns de serem ativados e percebidos como influenciadores nas

decisões de consumo, enquanto os laços fracos servem para facilitar os fluxos de

encaminhamento da informação.

As pesquisas de Goldenberg, Libai e Muller(2001) apresentaram resultados interessantes

quanto ao comportamento da disseminação das informações pelas redes sociais:

1. a influência dos laços fracos na velocidade com que a informação é disseminada é pelo

menos tão forte quanto a influencia dos laços fortes;

2. apesar de ser importante no inicio do processo de disseminação da informação, o efeito do

marketing externo rapidamente diminui e os laços fortes e fracos passam a ser as principais

forças propulsoras no processo;

3. o efeito dos laços fortes na velocidade de disseminação da informação diminui quando o

tamanho da rede diminui;

4. quanto maior o número de laços fracos, maior é o efeito destes laços e menor e o efeito dos

laços fortes sobre a disseminação da informação;

5. com o aumento do nível de propaganda externa, o efeito de ambos (laços fortes e fracos) é

marginalmente impactado, mas em direções inversas: o efeito dos laços fortes aumenta,

enquanto o efeito dos laços fracos diminui.

Todavia, o impacto da propagação da informação em redes sociais passa necessariamente pelo

convencimento dos influenciadores, ou seja, identificar os evangelizadores e torná-los clientes

mais empolgados para tirar proveito do marketing viral e alcançar objetivos bem definidos e

planejados.

A WOMMA define os influenciadores como uma pessoa que tem um alcance ou um impacto

maior que a média no boca a boca em um ambiente informacional. Saber quem são os

influenciadores e influenciáveis em determinado contexto, qual é o seu perfil e como se

comportam é chave para estabelecer uma política de influência bem sucedida. Mas não basta

conhecer os evangelizadores que atuam no contexto de uma organização é necessário

conquistá-los e estabelecer uma relação de confiança onde os influenciadores passem a ser

mais do que parceiros, co-criadores, clientes entusiasmados, vendedores de campanhas

informacionais.

Uma boa oportunidade para trazer os influenciadores para perto da organização é atender suas

expectativas, dar a eles combustível (informações relevantes) - assunto para suas publicações,

promover sua popularidade, conquistá-los fazendo com que tenham importante papel no

desenvolvimento de campanhas informacionais, trabalhar junto ao seu ego e à sua vaidade.

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A tarefa de criar um ciclo virtuoso que faça com que a marca, as informações atinjam um

patamar de reverberação nos meios de comunicação social não é fácil e necessita de

alinhamento com as políticas e metas da organização além de um bom de planejamento, de

ações precisas e focadas, de monitoramento quanto aos objetivos a serem alcançados e de

avaliação dos resultados.

5. Redes Sociais e Inteligência de Fontes Abertas

A chegada da sociedade eletrônica de informação modificou drasticamente a delimitação de

tempo e espaço da informação. A importância do instrumental da tecnologia da informação

forneceu a infra-estrutura para modificações, sem retorno, das relações da informação com

seus usuários. As transformações associadas à interatividade e à interconectividade no

relacionamento dos receptores com a informação, mostram como tempo e espaço modificam

as relações com o receptor (BARRETO, 2010):

- interatividade ou inter-atuação multitemporal representa a possibilidade de acesso em tempo

real, o que representa o tempo de acesso no entorno de zero, pelo usuário à diferentes fontes

de informação; possibilita o acesso em múltiplas formas de interação entre o usuário e a

própria estrutura da informação contida neste espaço. A interatividade modifica o fluxo:

usuário - tempo - informação. Reposiciona os acervos de informação, o acesso à informação

e a sua distribuição;

- inteconectividade reposiciona a relação usuário - espaço - informação; opera uma mudança

estrutural no fluxo de informação que se torna multiorientado. O usuário passa a ser o seu

próprio mediador na escolha de informação, o determinador de suas necessidades. Passa a ser

o julgador da relevância da informação que procura e do estoque que o contêm em tempo real,

tempo igual a zero, como se estivesse colocado virtualmente dentro do sistema de

armazenamento e recuperação da informação.

Nesse sentido, a era da Internet, da globalização e do trabalho centrado em rede, impõe à

atividade humana a tendência de se inserir mais em espaços do que em locais físicos, onde a

informação e o conhecimento se difundem e se dispersam num determinado espaço, ainda que

associado a pessoas, processos e tecnologias.

Assim, as mudanças tecnológicas que tiveram lugar nas últimas décadas deram um lugar de

destaque à utilização da informação no nosso dia a dia, visando alcançar diversos objetivos

organizacionais. A informação passou a ser um elemento fundamental vida das organizações

sendo fundamental refletir sobre a sua importância, quanto aos diversos aspectos e setores que

influencia.

Para compreender melhor toda essa mudança, pode-se reduzir essa nova realidade a três

mundos: o mundo subjetivo dos sistemas cerebrais, o mundo objetivo dos sistemas materiais e

o mundo dos sistemas simbólicos cibernéticos e informatizados. A realidade subjetiva dos

conteúdos de informação, da sua geração e assimilação, a realidade objetiva dos seus

equipamentos e seus instrumentos, e a realidade do ciberespaço, de tempo zero, da existência

pela não presença, da realidade virtual. A Figura 2 apresenta uma ilustração da intersecção

desses três mundos e o Quadro 1 as respectivas descrições.

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Figura 2. Os três mundos da informação (BARRETO, 2010).

No relacionamento com uma estrutura de suporte da informação, um receptor realiza

reflexões e interações, que lhe permitem evocar conceitos relacionados explicitamente com a

informação recebida (BARRETO, 2005). O receptor mostra aspectos de um pensamento que é

seduzido por condições quase ocultas, silenciosas, de um meditar próprio de sua privacidade

ambientada no: contexto da informação; contexto particular do sujeito, no tempo e no espaço

de interação com a informação; estoque de informação do sujeito; competência simbólica do

receptor em relação ao sub-código lingüístico na qual a informação se insere; contexto físico e

cultural do sujeito que interpreta a informação.

Portanto, a interseção entre os três mundos da informação é o espaço de interesse para o

emprego de inteligência de fontes abertas no âmbito das redes sociais virtuais. Trata-se de

espaço virgem, que pode ser explorado para campanhas informacionais com foco na

prevenção e combate à corrupção. Cabe o aproveitamento de conceitos de marketing viral

aplicados em um novo domínio.

O diagrama da Figura 3 sintetiza o ciclo de inteligência aplicado no contexto das redes

sociais. As 5 fases são:

- Planejamento e Direção inclui os seguintes passos: definir escopo; definir temas; definir

estratégia de “diálogo”, monitoria e de influência; definir ações de relacionamento entre a

organização e os evangelizadores; elaborar do plano de influencia; definir métricas de

avaliação e de resultado;

- Coleta e Processamento referem-se à coleta, ao tratamento, à classificação e ao

armazenamento de informações sobre evangelizadores, grupos, temas, entre outros dados;

- Preparação da Campanha Informacional é o processo de identificação de matérias em

diversas mídias que possam ser utilizadas para prevenção e combate à corrupção, além da

preparação de conteúdo e contra-conteúdo de acordo com o plano de influência;

- Publicação de Informações é a etapa em que as matérias produzidas são publicadas em

diversas mídias sociais virtuais;

- Avaliação de Impacto compreende o monitoramento dos resultados de acordo com as

métricas planejadas, alem da avaliação o comportamento da propagação das informações nos

diversos canais.

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Quadro 1. Descrição dos espaços dos três mundos da informação [4].

Identificador Mundos da

Informação

Exemplos

A Espaço da Realidade

Subjetiva

espaço das construções teóricas, dos conteúdos,

dos processos de geração , interpretação e

apropriação da informação.

B Espaço Realidade dos

Objetos

espaço dos artefatos dos sistemas, dos

computadores e das comunicações.

C Espaço Realidade do

Ciberespaço

espaço dos símbolos cibernéticos, da interação

entre os indivíduos e as máquinas.

1 Espaço de interseção

das realidades

subjetivas e dos

objetos

espaço das tecnologias de informação e

comunicação, dos estoques de conteúdos e das

redes.

2 Espaço de interseção

das realidades

subjetivas e do

ciberespaço

espaço das construções dos agentes inteligentes

para interação do homem com a máquina - os

softwares.

3 Espaço de interseção

das realidades dos

objetos e do

ciberespaço

espaço dos processos das comunicações e das

redes interativas.

N Espaço de interseção

das realidades

subjetivas, dos objetos

e do ciberespaço

espaço das atividades de interatividade da

interconectividade, ,da inteligência artificial , da

realidade virtual e dos novos desenvolvimentos.

6. Conclusão

Este trabalho os primeiros passos para a construção de um arcabouço conceitual para emprego

Inteligência de Fontes Abertas no âmbito de redes sociais virtuais, visando o combate e a

prevenção à corrupção. Algumas das conclusões possíveis diante do referencial teórico

estudado apontam que, a corrupção pode ser comparada a um vírus, que se adapta as

mudanças do ambiente, tentado manter-se vivo, em detrimento das tentativas de eliminação.

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Figura 3 – O ciclo de inteligência aplicado ao contexto das redes sociais.

Atualmente a atividade de inteligência é considerada um dos elementos críticos para a

estratégia de diversos tipos de organizações, sejam públicas ou privadas. Os avanços das

tecnologias de informação e comunicação, ocasionaram mudanças significativas no ambiente

informacional, que incorporou novas ferramentas tecnológicas de análise textual, em função

do grande volume de informação e da diversificaçãos dos meios de comunicação, que

dificultam a qualidade do resultado das atividades de inteligência.

Utilizando as informações obtidas em fontes abertas, com foco nos meios eletrônicos, que

propagam variados formatos de dados e informações utilizando a internet, pode-se obter

resultados que agregem valor a outras fontes de informação já utilizadas como subsidio a

atividade de inteligência.

As redes sociais ancoradas na internet possuem um papel de destaque entre as formas de

comunicação existentes. Embora ocorram em múltiplas variedades, todas possuem o dado, a

imagem e a informação como legados. As pessoas que habitam as redes sociais expressam

pensamentos, comunicam fatos, discutem assuntos variados, expõem opiniões, relatam

experiências e atos praticados ou que pretendem praticar. Todo esse conjunto de ações deixa

registro, que depois de tratados, podem oferecer material informativo relevante para a

atividade de inteligência.

7. Agradecimentos

Esse trabalho é financiado pelo Escritório Sobre Drogas e Crime (UNODC/Nações Unidas),

sendo executado na Universidade Católica de Brasília (UCB) em parceria com a

Controladoria-Geral da União (CGU).

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