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1 + TAUBATÉ | dezembro de 2013

+ Taubaté

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“Por isso que eu canto, eu visto esse manto, orgulho de ser Taubaté”.

O grito, de uma das torcidas mais apaixonadas do interior de São Paulo, exprime o sentimento comum a todo morador de Taubaté. Uma honra imensa de pertencer a uma cidade que respira história e transpira tradição.

Hoje, ao completar 368 anos de uma história muito pecu-liar, nossa cidade e você, cidadão taubateano, de sangue ou de coração, ganham um presente: a revista + Taubaté, publi-cação especial de O VALE e da Gazeta de Taubaté.

Entre tantas curiosidades, filhos famosos, grandes indús-trias, cenário de filmes e inspiração de livros, garimpar boas histórias foi tarefa fácil e prazerosa para a equipe da + Taubaté.

Difícil foi escolher sobre o que falar, o que contar, onde fotografar, tantas foram as histórias descobertas no meio do caminho.

Apesar dos desafios impostos ao poder público, do trân-sito carregado na região central, de algumas administrações inglórias no passado e dos problemas com violência, Taubaté ainda é, para a maioria da população, o melhor lugar no mun-do para se viver. Mas o que a cidade tem de tão especial que enche nossos cidadãos de orgulho?

Nós vamos contar nas páginas da + Taubaté.É gente como Seu Dito, figurinha querida no Mercadão,

seu lugar preferido na cidade. Ou ainda os jovens estudantes que dão vida aos personagens de Monteiro Lobato e todos os dias divertem crianças e adultos no Sítio do Pica-Pau Amarelo.

Sem falar na Dona Elisa, dona da receita mais tradicional da cidade, o verdadeiro gos-tinho de Taubaté. E que delícia! Nem a repór-ter Kelma Jucá resistiu: provou (e aprovou) a quirerinha de milho com costela de porco.

E como esquecer do relógio da CTI, que ainda hoje rege os horários de quem mora ou trabalhaw perto. Curiosa, a repórter Da-niela Borges foi até lá conhecer quem é o responsável pela sirene que dispara quatro vezes ao dia: Celso Luís Ribeiro, 54 anos, um taubateano au-têntico, nascido e criado na cidade.

Estas e outras histórias de uma Taubaté que enche de or-gulho seus moradores, que respira tradição e guarda seu pas-sado sem parar no tempo. Se desenvolveu, cresceu e hoje se destaca. Tudo isso e muito mais nesta edição especial. Uma edição com orgulho de ser Taubaté.

Boa Leitura!

Janaína CoelhoEditora

Uma só TaubatéDiretor Responsável

Fernando Salerno

Editor-chefeHélcio Costa

EditoraJanaína Coelho

Divisão de Revistas

A revista + Taubaté é um produto editorial desenvolvido pela Divisão de Revistas de O VALE

+ TAUBATÉRedação

Reportagem: Daniela Borges e Kelma Jucá

Fotos internas: Rogério Marques Foto de capa: Flávio Pereira

Design e Tratamento de Imagens: Paulo Donizetti

Publicidade Regional

Diretora: Marcella Cotes

Gerente Comercial: Priscilla Xavier

Assistentes Comerciais: Adriane Oliveira e Keli Rosemere

Executivos de Negócios: Marcia Candido, Maria Aparecida da Silva, Zilma Cardoso, Adriane Castro, Wolfgango Brandão, Maristela Cardozo e Paula Medeiros

Vendas Internas Supervisão: Paula Lunardi

Vendedores: Caroline Melo, Jerusa Avanzini, Jediel Pereira, Debby Baldi, Natalia Espanhol, Yuri Santos e Barbara Frigi

Rua Santa Clara, 417 – Vila AdyannaCep: 12243-630 - São José dos Campos - SPTel: (12) 3909-3958 – 3909-3959

São Paulo

Diretor Nacional: José Tadeu Gobbi

Assistente Comercial: Eliana Nogueira

Executivos de Negócios: Silvia Paixão, Alberto Fernandes e Clebe Alucci

Alameda Gabriel Monteiro da Silva, 2373Jardim América - CEP: 01441-001 - São Paulo - SPTel: (11) 3546-0300 Fax: (11) 3546-0322

Taubaté

Sucursal

Executivos de Negócios: Flávio Silva e Viviani Chiquetto

Rua Uruguai, 94 - Jardim das Nações - CEP: 12030-220 - Taubaté - SP

Tel: (12) 9642.1389

Administração e Redação da Revista + Taubaté

Rua Santa Clara, 417 – Vila Adyanna

Cep: 12243-630 - São José dos Campos - SP

Tel: (12) 3909-3909 Fax: 3959-3910

www.ovale.com.br

Circulação: A revista + Taubaté circula encartada em O VALE e na Gazeta de Taubaté na edição de 5/12/2013 nos exemplares de assinantes e venda avulsa nas bancas de 32 cidades das regiões do Vale do Paraíba, Serra da Mantiqueira, Litoral Norte e Sul de Minas Gerais

Cidades: Aparecida, Caçapava, Cachoeira Paulista, Campos do Jordão, Canas, Caraguatatuba, Guaratinguetá, Igaratá,Ilhabela, Jacareí, Jambeiro, Lorena, Monteiro Lobato, Natividade da Serra, Paraibuna, Paraisópolis, Pindamonhangaba, Piquete, Potim, Queluz,Redenção da Serra, Roseira, Santa Branca, Santo Antônio do Pinhal, São Bento do Sapucaí, São José dos Campos, São Luís do Paraitinga, São Sebastião, Taubaté, Tremembé, Ubatuba e Cunha.

Editorial

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368 anos: um orgulho imenso de ser taubateano

8 a 14

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Só por aqui:esse povo tem cada mania

16 a 20u

u

Cheirinho bom:conheça o prato típico de Taubaté

32 a 34

Fato ou lenda?Vá à Bica do Bugre

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SumárioFotos: Rogério Marques

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Filhos ilustres:a história de um jeitinho diferente

24 a 30

Fato ou lenda?Vá à Bica do Bugre

TCC:uma história que se confunde

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Economia:aqui é diferente. Saiba o porquê

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Minha cidade:meu cantinho preferido na cidade

36 a 40u

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Transporte:entre passado e futuro, solução está no presente

48 a 50

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Nossa Cidade

Nos 368 anos,

Taubatécidade e cidadão: todos numa só

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Por isso que eu canto, eu visto esse manto, orgulho de ser Taubaté. O grito entoado por uma das torcidas mais apaixonadas do interior

de São Paulo exprime o sentimento comum a todo bom morador de Taubaté. A honra e a glória de pertencer a uma cidade que respira história e transpira tradição.

Aliás, toda a paixão devotada ao time de futebol sintetiza, metaforicamente, o mesmo amor que seus moradores sentem pela cidade. Um amor sem divisão, que transforma as ruas em arquibancadas do Joaquinzão. Sempre com a esperança de que as coisas vão melhorar, principalmente agora, às vésperas do centenário.

Fenômeno parecido pode ser observado na admiração dos taubateanos em relação à cidade. Apesar do descaso do poder público, do trânsito carregado na região central, de sucessivas administrações inglórias e dos problemas com a violência, Taubaté ainda é, para a maioria de sua população, o melhor lugar no mundo para se viver.

Mas o que a cidade, que comemora 368 anos, tem de tão especial que enche seus cidadãos de orgulho?

Longe da alienação e da utopia que cegam, o que motiva o morador da cidade é a sua cultura pulsante e efervescente. O orgulho de ter a mesma origem do barro de onde saem as obras de arte das mãos das figureiras, e que ganham o mundo. De usufruir da qualidade de vida que resiste ao caos da cidade grande. De contar com uma localização estratégica, no coração do Vale do Paraíba. De ter a sua história e a de seus filhos ilustres reconhecidas pelo resto do Brasil. De ser querida e amada por todos que pisam em seu solo fértil. Muitas cidades tentam, mas só Taubaté consegue despertar no povo tamanha devoção.

Para entender os caminhos da cidade que se apoderou do sentimento de amor-próprio, foi à luta e construiu sua trajetória desenvolvimentista e triunfante, a +Taubaté foi atrás de alguns de seus ‘filhos’ prodígios, por nascimento ou opção, que conhecem a cidade como a palma de sua mão. Personagens que contribuíram, e seguem fazendo à sua parte, cada um à sua maneira, para elevar o nome de Taubaté a patamares cada vez mais altos.

Os ‘bandeirantes’ dos dias atuais contam de onde vem esse orgulho de ‘ser Taubaté’.

É um orgulho que rompe os limites geográficos. Quem sabe dizer por que o taubateano é tão apaixonado por sua terra natal? É o que a revista +Taubaté vai responder nesta edição especial de aniversário

* Por Daniela Borges

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O orgulho de sua cidade está no DNA do taubateano. Esse forte sentimento tem relação direta

com o protagonismo de Taubaté na história do Brasil ao longo dos últimos três séculos. “É através da história de um povo que se firmam certos senti-mentos como, por exemplo, o orgulho de pertencimento a um grupo que ce-lebra e considera os mesmos valores: morais, sociais e religiosos”, explica a historiadora Lia Carolina.

De acordo com ela, cabe à história, registrar os procedimentos de senso comum que são passados por gera-ções e acabam cristaliza-dos como a maneira de ser de um povo. E foi isso que aconteceu em Taubaté.

“Estudando a história da cidade percebe-se niti-damente a perpetuação de um modus vivendi inerente ao povo.” São valores que, passados de pais para fi-lhos, ao longo dos séculos, ainda vivem no meio das famílias taubateanas.

São maneiras de ser e comportamentos que o tempo não apagou.

“Não podemos negar a presença das influências externas que dão no-vas perspectivas às novas gerações, mas a essência continua a sobreviver no povo taubateano”, completa.

Para Lia, ao despertar e estimular esse sentimento de amor à cidade, de orgulho de fazer parte, se fortalece a história e se perpetua seu povo.

Lia cita uma frase do escritor Milan Kundera que exprime esse valor. “Para liquidar os povos, começa-se por lhes tirar a memória. Destroem-se seus li-vros, sua cultura, sua história. E uma outra pessoa lhes escreve outros livros lhes dá outra cultura e lhes inventa uma outra história”.

Para ela, o povo que não tem do que se orgulhar praticamente não tem razão de ser. “É um aglomerado de pes-soas de fácil desagregação”, exclama.

historiadoraLia Carolina,

Nossa Cidade

» RespeitoOs motivos de admiração da cida-

de são muitos e remotos, vem desde a sua fundação. Segundo a historiadora, a presença do homem branco no Vale teve início com a criação da Vila de Tau-baté. Logicamente não era uma região desabitada, já que aqui viviam os índios Guaianazes, mas foi com a criação da Vila de Taubaté, por Jacques Félix, que teve início a nova povoação em 5 de dezembro de 1645. A primeira vila do Vale do Paraíba. Daí para frente a his-tória de Taubaté caminha lado a lado à do Brasil. “Como bem nos ensinou a saudosa historiadora Maria Morgado de Abreu, Taubaté transformou-se, de núcleo irradiador de bandeirismo, a centro industrial e universitário.”

» ObstáculosOs entraves existem. Não só de flo-

res vive a cidade. Pontos negativos in-

sistem em prejudicar e abalar a relação com os moradores. No bojo do civis-mo, segundo ela, entram todos os di-reitos e deveres que transformam um grupo de pessoas em munícipes.

E, claro, uma cidade não muda so-zinha, é preciso a ação das pessoas. A população tem papel fundamental de transformação do destino da cidade.

“Com esclarecimento e participa-ção ativa na vida política, financeira e social da cidade. E não deixar que os interesses particulares tomem o lugar do interesse público”, ressalta.

Mas, o que esperar para o futu-ro? Para Lia, uma cidade mais justa e consciente de sua história. “Gostaria de viver numa Taubaté moderna, sim! Onde os anseios da população fossem respeitados, mas sem perder sua iden-tidade, sem perder suas raízes, sua “fei-ção” tradicional e única.”

Lia Carolina entre livros que guardam um pouco da história da cidade

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O taubateano tem uma caracte-rística muito própria e peculiar, uma certa predileção por ser

sempre o primeiro. Talvez seja uma he-rança antiga, já que a cidade tornou-se ponto de partida para o povoamento do Vale do Paraíba.

O pioneirismo que corre no sangue do taubateano levou a família Danelli, que imigrou para o Brasil em 1893, a fundar uma das mais antigas imobiliá-rias do interior de São Paulo.

Desde 1951, a imobiliária Danelli deu início à comercialização dos pri-meiros edifícios com mais de 20 an-dares da cidade. Por ela passou o seu desenvolvimento.

O empresário Hodges Danelli Fil-lho, que está à frente dos negócios, pertence à terceira geração da família de taubatenanos. “Aqui nasci, cresci, estudei, casei e criei meus filhos”, relata Danelli. “Agora vem vindo meu primei-ro neto o que me faz ter um grande amor por esta terra e me motivou a lançar um livro sobre a nossa trajetória empresarial”, conta.

A cidade conquista cada vez mais o coração deste empresário. “Falar do orgulho de ser taubateano é fácil, em uma cidade que tão bem nos acolheu e acolhe todos que aqui chegam”, de-clama Danelli.

E em Taubaté é assim. Sempre tem alguém que conhece ou é amigo de uma pessoa famosa. O próprio Danelli conta que foi amigo de juventude do cantor Renato Teixeira. “São amizades de mais de 40 anos que nasceram nos bancos escolares”, relembra.

No hall de ‘coisas’ de Taubaté que o

Nossa Cidade

empresário mais gosta, há lugar para o Esporte Clube Taubaté e o Convento de Santa Clara. “Que participo como ministro da Eucaristia”, afirma. Dos res-taurantes de Quiririm. “E do respeito pelas tradições da rua Imaculada.”

Ocupante da 40ª posição no ranking que mede o IDH (Índice de De-senvolvimento Humano), a cidade que beira os 300 mil habitantes oferece, segundo Danelli, oportunidade de ne-gócios em todos os ramos de atividade empresarial. Outro motivo de honra para Danelli está no respeito às tradi-ções. “Sem dúvida é uma das marcas registradas de Taubaté”, completa.

Divulgar o que a cidade tem de bom, segundo o empresário, é render uma homenagem justa a tudo o que ela representa. “Ver em livros, artigos de jornais, rádio e TV os sucessos e as conquistas nos mais diversos campos é o que nos estimula e mostra que lugar maravilhoso escolhemos para viver.”

» MelhoriasPor outro lado, segundo Danelli,

quando há atos e gestos negativos, seja na política, na gestão pública, nas questões mal resolvidas, na criminali-dade, nas obras não realizadas, a po-pulação se sente enfraquecida. “E isso traz um sentimento de que precisamos participar mais da vida da cidade.”

Para Danelli, o futuro está nas mãos dos taubateanos.

“Haja o que houver ninguém segu-ra o crescimento de nossa cidade pois acreditamos no amor dos que aqui nasceram e dos que aqui vieram viver”, conclui o empresário.

Hodges Danelli Filho,empresário Para Danelli, a cidade

oferece bons cinemas e ótimos restaurantes

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Exaltar o lado positivo das coi-sas e difundir o que a cidade tem de melhor. Para a tenen-

te-coronel Eliane Nikoluk essas são algumas das tônicas que aju-dam a transformar a realidade de um povo. “As pessoas veem muito o lado negativo, o que é bonito as pessoas não enxergam, falta res-gatar um pouco esses valores po-sitivos”, afirma.

Apontar somente as coisas ruins, segundo ela, mina a autoes-tima do povo. “Claro, é fundamen-tal trabalhar o que é negativo, en-carar os problemas de frente.”

A tenente-coronel foi a primei-ra mulher a assumir o comando de um dos mais tradicionais bata-lhões da PM de São Paulo, com 115 anos de história. À frente de uma tropa com mais de 800 homens e a abrangência de 10 cidades, essa paulistana que cresceu em Campos do Jordão, mais uma vez

Nossa Cidade

Eliane Nikoluk,tenente-coronel

atesta o pioneirismo que impulsio-na todo taubateano, até mesmo aquele por adoção.

Apaixonada pela história e pe-las características da cidade, Niko-luk hoje se sente à vontade o bas-tante para se considerar local.

Da carreira de 25 anos na polí-cia, quase 10 deles foi atuando na região. Sua filosofia de trabalho está pautada na união de forças. Para isso, a comandante tem tra-balhado com a prefeitura, parcei-ros, terceiro setor e ONGs.

O aumento nos índices de cri-minalidade em Taubaté é uma questão que abala a autoestima da cidade. Para a tenente-coronel, boa parte da violência tem origem

social. Outro fator apontado por ela é o ordenamento urbano. Se-gundo ela, esse é o maior desafio de Taubaté hoje.

Medidas para melhorar o pla-nejamento urbano, aliadas à ação das polícias e, principalmente, ao combate à impunidade e à corrup-ção são fatores primordiais para resgatar a autoestima.

A tendência, segundo a co-mandante, é que a polícia se torne cada vez mais comunitária. “Sen-timos na pele, choramos junto as mazelas, somos os primeiros a chegar e a nos deparar com o que tem de pior na sociedade. A car-ga emocional é muito grande e a vontade de fazer a diferença tam-bém”, desabafa.

» PessoasQuando uma comunidade

não acredita mais em si mesma, é como uma população sem fé, de acordo com a tenente. Talvez por isso Taubaté tenha resistido às in-tempéries com tamanha firmeza. E é aí que entra o papel do orgu-lho em pertencer e fazer parte da cidade e de sua história. Faz parte do taubateano a consciência de in-tegrar um povo com tradição rica e poderosa, que ajudou a cons-truir outros. Se for preciso buscar estímulo e motivação, basta olhar

para o passado, presente e futuro, mas, sobretudo, para as pessoas. “Temos aqui problemas sim, mas temos algo de va-lor inestimável: as pes-soas de Taubaté.”

A tenente-coronelem seu escritório no batalhão da PM

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Mesmo quem não se interessa muito por futebol, sabe quan-do é dia do Esporte Clube Tau-

baté entrar em campo para mais uma ‘peleja’. Os tradicionais fogos de artifício se encarregam, há décadas, de anunciar à cida-de quando o time está pres-tes a encarar mais um desafio no Joaquinzão.

O grande responsável por essa tradição é o tor-cedor José Maciel Alves, 79 anos, o eterno dono da camisa 14, que ainda hoje, de posse de sua prancheta, angaria doações entre os comerciantes para ‘finan-ciar’ a tradição.

Como o mais famoso torcedor do Burro da Cen-tral, Seu Maciel não nasceu em Taubaté, mas dedicou e continua dedicando os últimos 60 anos da sua vida ao clube que ele aprendeu a

amar e respeitar.Nascido em Baependi (MG),

aos 19 anos mudou-se para Tau-baté para trabalhar no laticínio do

primo que ficava perto da Bica do Bu-gre. “Já de cara me lembro de ter gosta-do muito do que vi”, completa.

Apaixonado por futebol desde sempre, seu Maciel recebeu o convite do amigo sapateiro para assistir a um jogo do Taubaté no antigo estádio da praça Monsenhor Silva Barros, o Cam-po do Bosque, demolido em 1967. “Quando passei pelos arcos que da-vam acesso ao estádio senti algo dife-

Nossa Cidade

fundador da Camisa 14José Maciel Alves,

rente. A beleza daquele campo era tão grande que mexeu comigo. Foi uma das coisas mais lindas que já vi.”

A partir desse dia, em que Alves as-sistiu extasiado à partida entre o Tau-baté e o Comercial, seu coração deixou de lado o Botafogo de Baependi para se tornar exclusivo do Burro da Central.

As viagens foram muitas, as en-crencas também. Graças a uma delas, inclusive, que seu Maciel fundou a tor-cida Camisa 14, a primeira da cidade e, segundo ele, uma das primeiras do Brasil. “Foi em um jogo do Taubaté pelo torneio Integração do Vale, em 1976. Fui sozinho a Paraibuna assistir à parti-da contra o time da casa. Um fazendei-ro havia feito uma festa antes do jogo e a turma que foi ao estádio estava bem alcoolizada”, lembra.

O Taubaté venceu a partida por 2 a 0 e seu Maciel acabou encurralado pe-los torcedores bêbados e revoltados. “A torcida partiu pra cima de mim, apa-nhei muito”, conta.

No dia seguinte em Taubaté, a rá-dio Difusora procurava o torcedor herói, que havia apanhado da torcida adversária. Sem saber o nome, a única referência era a camisa 14 que seu Ma-ciel usava na ocasião. Nasceu em 13 de julho de 1976 a torcida organizada Ca-misa 14, fundada por seu Maciel e seus amigos. “A gente dava show”, conta.

Hoje, a torcida não existe mais. Com o pequeno museu montado em sua casa, ele revive as glórias e as aven-turas do passado. Para ele, Taubaté é o melhor lugar do mundo. “Aqui fiz minha vida, formei uma família linda, tudo o que eu consegui foi aqui.”

Mas entre os momentos mais emo-cionantes vividos por esse mineiro de alma taubateana foi ter recebido o tí-tulo de cidadão, em 1991. No ponto mais nobre da sua sala, está o certifica-do. “Foi uma grande homenagem que não esqueço.” Não é para menos, seu Maciel tem sua vida tão conectada a Taubaté que faz aniversário junto com a cidade, em 5 de dezembro. Parabéns seu Maciel!

O torcedor José Maciel Alves é um apaixonado por sua cidade

Foto: Rogério Marques

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Houve um tempo, em que o di-nheiro e a fama perdiam de go-leada para um sentimento que

hoje parece extinto nos campos de fute-bol: o amor à camisa. Era a Taubaté dos anos 50. Dos tempos de Antônio Taino, craque da época de ouro do Burro da Central e pai da família que melhor tra-duz o amor da cidade pelo seu clube. Em campo, foi campeão. Nas arquiban-cadas, duas décadas depois de se apo-sentar, Taino teve o privilégio de acom-panhar dois de seus filhos envergando a camisa do Taubaté e conquistando su-cesso em nível nacional. Uma história di-vidida em dois tempos. De um só amor.

» Primeiro TempoA lenda começa com o garoto fran-

zino, nascido em Quiririm, que com apenas 10 anos, já demonstrava talen-to excepcional com a bola durante as peladas de rua. No campo de chão ba-tido, não tinha para ninguém. Julinho era o rei dos campinhos.

Antes de jogar no Taubaté, Taino foi para São Paulo, onde jogou em alguns times do futebol amador, conhecido ainda como Julinho. O bigode que sus-tenta até hoje, aos 84 anos, sempre foi sua marca pessoal.

Em 1951, Taino voltou para a sua terra natal, convidado para jogar no Caçapavense. O time, comandado por Satirio de Oliveira, que hoje dá nome ao estádio municipal de Caçapava, sagrou-se campeão do torneio regio-nal. O desempenho de Taino chamou a atenção do Esporte Clube Taubaté que tratou de contratá-lo em 1952. O lendário meio-campista foi um dos

Nossa Cidade

ex-jogador do TaubatéAntônio Julio Taino,

protagonistas do Burro da Central na conquista do campeonato Paulista da Segunda Divisão de 1954.

Taino se despediu do Taubaté em 1962, mas entre as suas lembranças de quando jogou no time alvi-azul está a partida contra o Santos de Pelé.

Hoje, Taino mora com conforto e tranquilidade, mas, segundo ele, nun-ca ganhou dinheiro com o futebol. Para ele, a maior homenagem que existe é ser celebrado onde quer que ele vá na cidade. “Sou festejado quando vou ao supermercado, por exemplo, e isso não tem preço”, orgulha-se.

» Segundo TempoNão bastou fazer parte da época

mais incrível história do clube, que no ano que vem completa 100 anos, An-

tonio Taino deu muito mais ao time do coração. Inspirou dois dos seus cinco filhos a seguir o mesmo caminho.

Antonio Julio Taino Junior, hoje com 54 anos, jogou no Taubaté de 74 a 82. Éder Canavezi Taino, de 53 anos, atuou no Taubaté nos anos 81, 83 e 84.

Os três ex-jogadores concordam que o que falta ao time da cidade para voltar a ser competitivo é investir mais no futebol amador. “Taubaté tem con-dições de formar uma equipe de gente daqui, está faltando isso”, afirma Éder.

Hoje, todos os heróis da família Tai-no moram na cidade. “Meu amor pelo clube veio do amor que tenho por Taubaté. Não existe melhor lugar no mundo do que a nossa cidade, prin-cipalmente, Quiririm, que é um lugar maravilhoso”, conclui o patriarca.

O patriarca, ao centro, com os filhos Taino Júnior (esq.) e Éder Taino

Foto: Rogério Marques

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Minha Cidade

Entre manias e tradições: muita história para contarUma passadinha no carrinho de lanche da Santa Terezinha, ajustar o relógio pelo toque da sirene da CTI ou ainda ‘bater cartão’ na Feira da Barganha de domingo: tudo coisa de taubateano

* Por Daniela Borges

Tem coisas que só aconte-cem em Taubaté. São hábi-tos e costumes enraizados

na cultura popular, muitas vezes passados de pai para filho, que perpetuam maneirismos e pecu-liaridades típicas de sua popula-ção. Tradições responsáveis por dar à cidade uma cara, um jeito próprio. Algumas vezes, cobiçado e até invejado por seus vizinhos.

Muitas das manias do tau-bateano acontecem em meio aos principais cartões postais da cidade. Cenários que estão inseridos no cotidiano das pes-soas. Episódios pitorescos que ajudam a contar sua história, seu passado glorioso, seu presente de conquistas e a projetar o futu-ro de realizações.

Situações que fazem parte do DNA do morador de Taubaté, como se orientar pelo sinal do relógio da CTI ou dar um pas-seio pela Feira da Barganha (ou Breganha, em ‘taubatês’) em um domingo qualquer, só para olhar as curiosidades que são ofereci-das ali mesmo, na rua. Ou ainda,

assistir à missa do padre Fred na igreja Santa Terezinha e, na saída, saborear um delicioso lanche em uma das muitas op-ções de barraquinhas da praça.

Como quem não quer nada, levar aquela pessoa que-rida, mas que mora em outro lugar, para conhecer o Merca-do Municipal, só para oferecer a água da Bica do Bugre na ex-pectativa de que ela não deixe mais a cidade.

A verdade é que só quem mora em Taubaté reconhece o aviso dado pelos fogos de artifício do seu Maciel de que mais um jogo do Burrão está prestes a começar. E que, em dia de jogo, quando o trem passa atrás estádio e apita, sig-nifica que lá vem gol do time da casa, para delírio de sua fa-nática torcida.

Morar em Taubaté é reco-nhecer na televisão mais um taubateano ilustre e torcer por ele. É manter a visão no futu-ro, sem se esquecer das tradi-ções e, jamais, perder de vista a referência e a deferência do lugar de onde veio.

‘A Feira da Barganha de domingo tem grande potemcial para se tornar um ponto turístico de Taubaté

Ismael LeiteAmbulante

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Quem mora ou trabalha em um raio de seis ou sete quilôme-tros ao redor do prédio da CTI

(Companhia Taubaté Industrial), já se habituou a programar o seu dia de acordo com o som emitido pelo reló-gio alojado no topo do edifico, no me-lhor estilo Big Ben, de Londres.

Na realidade, são dois sistemas dis-tintos: a sirene e o relógio. Mas que se complementam em suas funções. O re-lógio avisa o horário de tocar a sirene.

Ambos estão instalados em um edifício épico, fundado em 1891 para abrigar a primeira grande indústria de Taubaté, e que ainda ostenta uma ar-quitetura moderna, muito além de seu tempo. Acima de seus nove andares, no ponto mais alto da construção de 40 metros, o mastro exibe a imponen-te bandeira da cidade, logo abaixo, as quatro faces do relógio, original dos tempos de Félix Guisard, embora seu maquinário tenha se atualizado ao lon-go dos anos. O último, inclusive, substi-tuído no ano passado.

O responsável por soar a sirene quatro vezes ao dia – às 8h, 12h, 14h e 18h – é o supervisor técnico Celso Luís Ribeiro, 54 anos, taubateano autêntico, nascido e criado na cidade.

Há 18 anos, esse homem organiza-do e meticuloso, está incumbido desse compromisso diário.

É interessante pensar que, em tempos de internet e celulares mo-dernos, o mesmo som, que no século 19 ecoava por grandes distâncias para avisar os turnos de entrada e saída dos funcionários da antiga tecelagem, hoje dita os horários dos moradores. Segun-do Ribeiro, em virtude do surgimento de muitos prédios em volta da CTI, o som tem ficado cada vez mais aba-fado e concentrado às ruas próximas. “Tenho conhecimento de que o som chega na Estiva, Independência até no Mercado Municipal”, comenta.

Para se ter uma ideia da influência da sirene do relógio no cotidiano das

pessoas, no dia que não toca --é raro, mas acontece-- dá para entender o va-lor que a população dá a esse símbolo da cidade. Como aconteceu durante alguns dias de novembro. O relógio ca-lou e o silêncio incomodou. “Há quem ligue nas rádios da cidade para saber o que houve”, conta Ribeiro. Segundo ele, o responsável por ‘calar’ o mito foi um fusível queimado. “Infelizmente, para trocar leva tempo, já que precisa de um eletricista para fazer o serviço. Temos procedimentos e não dá para arrumar da noite para o dia, existe os trâmites da prefeitura”, conta Ribeiro. A sirene já voltou a funcionar normal-mente para a alegria do povo.

Não bastasse o burburinho causa-do pelo silêncio temporário, para mos-trar que o som emitido pela sirene é re-almente notado pelas pessoas, Ribeiro acionou o botão às 11h05, apenas para mostrar como funciona à equipe de reportagem. Ao sair do prédio, os comerciantes locais e as pessoas que passavam na rua estranharam o toque fora de hora. “Antecipou a hora do al-moço”, brincou o vendedor de rua. Não teve quem não provocou Ribeiro pelo toque demonstrativo.

Para não cometer erros, ele man-tém o horário de seu relógio de pulso sincronizado com o do relógio da CTI. Por mais que Ribeiro esteja habituado a acionar a sirene, é de se espantar que ele nunca tenha se esquecido ou se atrasado para apertar o botão. Com os compromissos diários, que Ribeiro tem muitos já que ele também é responsá-vel pela manutenção dos sistemas de telefonia fixa da prefeitura, passar um pouco do horário pode ocorrer. Para evitar, ele programou seu relógio com um alarme três minutos antes dos ho-rários da sirene.

O sonho de Ribeiro é que um dia o acionamento seja automático.

“Existe um temporizador que pode fazer o trabalho, sem erros e nem es-quecimentos.”

Relógio

‘Tenho conhecimento que o som chega, na Estiva, no Mercado e na Independencia

Celso RibeiroOperador da CTI

da CTI

Celso Ribeiro não se atrasapara acionar o relógio da CTI

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Lá tem de tudo. Porta-retrato, chave velha, livro antigo, me-dalhão de um santo amigo

ou um pinho feito à mão, revistas vistas, quadros de um vulgar artis-ta. Na feira de trocas, coisas velhas pelo chão, onde o que já foi usado tem alguma servidão. O trecho da música de Renato Teixeira exprime com precisão o espírito que rege a tradicional Feira da Breganha.

O cantor, que já morou em Tau-baté e conhece muito bem seus costumes, disse certa vez que a feira é o que a cidade tem de mais autêntico a respeito de seu perfil.

De fato, a feira da barganha ex-tasia quem a visita pela primeira vez. Passear por ela é como entrar em um túnel do tempo.

São histórias como a do brega-nheiro por vocação José Benedito Mazzei, 51 anos, que vende tudo quanto é antiguidade, de cande-labros de bronze até sinos, cinzei-ros e estátuas. A paixão começou com seu pai, José Benedito da Silva, que, segundo ele, trabalhou mais de 40 anos na feira e hoje é lembrado como uma das figuras mais célebres e reconhecidas do

Feira da Barganha (Breganha em ‘taubatês’)

lugar. “Meu pai foi lembrado até em livros sobre a Breganha”, conta orgulhoso Germano Mazzei, outro filho de seu Silva.

Resgatar o valor histórico da barganha é uma missão que tem sido levada a sério. Invadida por produtos novos e piratas, ela per-deu muito do seu brilho nos últi-mos anos. “É uma tradição da ci-dade que merece ser preservada”, desabafa Ismael Silva Leite, 47 anos, que há dois anos vende ar-tigos antigos, como telefones, rá-dios, revistas, livros, discos de vinil e todo tipo de mercadoria arcaica.

A feira é tratada pela prefeitura como evento informal. Logo, não há registros oficiais e nem levanta-mentos sobre o número de pesso-as que passam por ela.

Os primeiros registros da bar-ganha datam do período colonial, no século 17. Inicialmente realiza-da na Praça Dom Epaminondas, a feira foi aumentando de tamanho e de representatividade até não caber mais ali e mudar-se, na déca-da de 50, para o local onde hoje é realizada, ao lado do Mercado.

Inicialmente, seu foco na per-

muta era restrito aos relógios, mas com a mudança de local também veio a diversificação de produtos. A saudosa prática do escambo também não resistiu ao tempo e ao dinheiro, segundo registros do Almanaque Urupês. Depois da mudança de lugar, as mercadorias ali oferecidas passaram a ser ven-didas, logo o comércio prevaleceu à função original, e de barganha ficou mesmo só o nome, que, aliás, virou breganha, na língua do povo taubateano.

Mas seu jeito interiorano, imor-talizado pelos filmes de Mazzaropi, ainda prevalece firme, mesmo que seja na memória coletiva. “A Bre-ganha tem grande potencial para ser tornar um ponto turístico de Taubaté. Já tem muitas pessoas que vem de outras cidades para visitar a feira”, conta o ambulante Ismael Leite. Para ele, resgatar a ca-racterística original será um ganho para a cidade e os ambulantes.

Para o breganheiro, estar junto do povo é uma das maiores van-tagens da feira. “Conhecer novas pessoas, fazer amizade, isso não tem dinheiro que pague”, conclui.

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Outro bom exemplo dessa ma-nia de taubateano é comer nas barracas de lanche. Somente

na praça da igreja Santa Terezinha, são oito opções à escolha do freguês.

O lugar por si só já é convidativo. Ter a chance de degustar um saboroso sanduíche tendo como cenário o prin-cipal cartão-postal da cidade é privilé-gio para poucos.

Em uma das barracas mais anti-gas do lugar, o movimento à noite é frenético. No Alex Lanches e Pastéis, existente há 21 anos no mesmo pon-to, o carro-chefe é o x-bacon, segundo Gustavo Marques de Vasconcelos, 26 anos, filho do fundador da barraca, cujo nome batiza o estabelecimento. “Ao lado do hamburger mais simples, esse é o lanche mais pedido por aqui. Os pastéis também saem muito bem”, confirma o herdeiro, que largou a car-reira de webdesigner para se dedicar integralmente ao negócio da família.

O criador da barraca, Alex Vascon-celos, de 51 anos, não quer saber de se aposentar. Embora a administração esteja a cargo do filho, seu Alex ainda costuma dar uma força no atendimen-to. “Meu pai tirou o sustento da famí-lia, criou eu e meus dois irmãos, com o dinheiro da barraca e nunca nos faltou nada”, conta o filho, que se formou pela Unitau (Universidade de Taubaté).

Segundo Vasconcelos, em uma se-mana boa de vendas, geralmente no dia de pagamento, são vendidos até 400 lanches. “As vendas estão muito ligadas ao clima e ao período do mês”, explica. Em dias de chuva, normalmen-te a barraca não abre, em virtude do risco de se trabalhar com óleo quente. “É perigoso, se cair um pingo de água no óleo fervente há o risco de pegar fogo”, explica. Nos dias frios e longe das datas do contra-cheque, as vendas também caem um pouco.

Carrinho de Lanche“Cada cidade

tem o seu costu-me. Aqui, o tau-bateano gosta de lanches. Já em São José, a preferência é o hot dog, que em Taubaté não tem mui-ta força. É uma questão de gosto. Mas comer nas barraquinhas de lanche é um hábito típico daqui”, comenta.

O fato da praça da igreja ter se tor-nado ponto de referência das barracas de lanche é positivo, segundo Vascon-celos. “É como a praça de alimentação de um shopping, por exemplo, são vá-rias opções e o cliente escolhe a que mais lhe agrada”, conta.

Aliás, o ponto já é tão tradicional e conhecido que até o McDonald’s re-solver entrar na disputa por clientes. Abriu uma unidade quase em frente à barraca da família Vasconcelos. De um lado a tradição, do outro a moderni-dade. Quem vence? A população, que tem a sua disposição várias opções.

Dos flanelinhas que ‘guardam’ os carros da praça aos executivos de em-presas com carros importados, o públi-co que consome na barraca do Alex é bem variado. “Tem gente que vem de bicicleta, outros de Porsche”, conta.

O lanche é um alimento muito de-mocrático, tanto no sabor, quanto no preço. Custam em média R$ 7 e o pas-tel R$ 4,50. A barraca funciona das 20h à 1h, fecha uma vez por semana, que pode ser na quarta ou na quinta-feira.

“Gosto do que faço. E a parte que mais me agrada é lidar com o público. Tenho a chance de conhecer tipos dife-rentes de pessoas e tem gente de tudo que é jeito, das mais mal educadas a àquelas que se tornam bons amigos.”

Vasconcelos já trabalhou com ou-tras coisas, paralelas, mas nenhuma profissão foi capaz de lhe dar tamanha satisfação e retorno financeiro do que o carrinho de lanches. “É cansativo, as pessoas pensam que só trabalhamos no horário da barraca, mas temos que comprar os produtos, preparar tudo.”

A inspetora de qualidade Paola Va-nessa Ramos, 26 anos, mora no Jardim Morumbi, mas come pelo menos uma vez por semana na barraca. “Com cer-teza, é difícil resistir porque você está passando e sente aquele cheiro gosto-so”, disse ela, que confirma a fama do taubateano ter mania de lanches.

‘Meu pai tirou o sustemto da família com o dinheiro da barraca e nunca nos faltou nada

Gustavo VasconcelosDono da barraca

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Marco da Cidade

Na Bica do Bugre, mito e histórias do povo

‘Quem beber da sua água sempre voltará à cidade' é o que diz a lenda: mito ou não, o lugar é parada obrigatória de quem passa por ali

* Por Kelma Jucá

Quem nunca ouviu falar sobre a Bica do Bugre, em Taubaté, cedo ou tarde, ainda ouvirá.

Reza a lenda que aquele que beber da sua água sempre voltará à cidade. Crendices à parte, a bica tem um valor histórico que ajuda a entender o mito que foi criado em torno dela.

Famosa, a Bica do Bugre é apenas mais um dos muitos pontos de água da cidade. E está bem longe de ser a úni-ca. A rua Barão da Pedra Negra, a ave-nida do Povo e a rua 4 de Março, por exemplo, são regiões de manancial de água, com fontes ou pequenos riachos canalizados. O nome Bica do Bugre se explica porque naquelas imediações se concentrava um acampamento in-dígena --bugre está relacionado com a figura do índio.

“A partir de 1580, houve uma var-redura de índios no Vale. Foi realmente uma limpeza étnica, que acabou por dizimá-los. Aqueles que restaram vie-ram posteriormente com os portugue-ses e se estabeleceram nessa região”, conta a diretora do Museu de Arte Sa-cra, a historiadora Olga de Souza.

O grupo indígena que passa a se fi-xar no lugar começa, então, a fazer uso da bica, que pode ser considerada o sistema de água mais antigo da cidade. E essa bica propicia o surgimento de um tanque, que abastece Taubaté en-quanto ainda era apenas vila. “Daí, em algum momento se cria a lenda ‘Quem bebe dessa água volta’. Na verdade, essa é a fonte de água que ajudou a prover o primeiro povoado. Surgiram outras fontes em outros povoados que deixaram de existir, mas a Bica do Bu-

gre continua”, completa.Outra característica importante

que ajuda a iluminar a questão da fama da bica é a sua própria localização. “Por ser zona de mercado, aquela área sem-pre contou com um volume popula-cional grande. Ali, também servia para matar a sede de cavalos e animais de tração que transportam materiais para o mercado”, explica a historiadora.

» RevitalizaçãoRecentemente, em 2010, a fonte

passou por uma revitalização. O espa-ço ganhou trabalhos de marcenaria, de paisagismo, de serralheria e de artes plásticas. Por conta da ação de vânda-los, o canto histórico estava se desca-racterizando. Uma das soluções foi co-locar um portão de ferro que é fechado durante a noite. “Foram quatro meses de estudo para fazermos uma leitu-ra próxima do que a bica foi um dia e definirmos o melhor projeto”, conta o arquiteto e professor da Ametra (Aten-dimento Múltiplo na Educação e no Trabalho), José Augusto Gomes Junior, um dos responsáveis pela obra.

Além do portão, entre as mudanças efetuadas está o reposicionamento da réplica da bica, que passou para a la-teral do painel. O painel artístico, um conjunto de azulejos da década de 1940, também foi recuperado.

As pessoas que circulam ao redor do Mercado Municipal durante a se-mana aproveitam para uma parada obrigatória na bica. “A primeira vez que vim aqui devia ter uns 6 anos. Es-tava com minha mãe num dia de feira”, conta Claudemir Rodrigues, 26 anos. A Bica do Bugre está instalada na Aveni-da Juca Esteves, próxima ao Mercado.

Morador para na bica para serefrescar, uma tradição em Taubaté

Fotos: Rogério Marques

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História da Cidade

DAqui pArA o MuNDo, os FAMosos DE TAuBATéHebe, Monteiro Lobato, Mazzaropi, Celly Campello e Cid Moreira sob a ótica de quem conviveu, conheceu ou sabe um pouquinho sobre esses ilustres filhos de Taubaté

* Por Kelma Jucá

A genuína história de uma cidade é construída

essencialmente por seu povo. São as pessoas que transformam fatos do passado em memórias saudosistas. E o que faz a gente de uma cidade pode ser revelado em livros, registrado em documentos e descoberto em jornais antigos – e inspirar futuros filhos da terra.

Taubaté é um celeiro de personagens ilustres. Nascidos ou criados na cidade, são homens e mulheres cujo talento atravessou os limites do Vale do Paraíba e alcançou a admiração bem longe daqui. Cid Moreira, Hebe Camargo, Celly Campello, Monteiro Lobato e Amácio Mazzaropi são alguns dos nomes mais conhecidos que nasceram ou se criaram em Taubaté e fazem parte da história da cidade.

Jorge Monteiro, 59 anos, lembra dos tempos em que trabalhou com Mazzaropi

Fotos: Rogério Marques

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DAqui pArA o MuNDo, os FAMosos DE TAuBATé

Trazida com apenas 5 dias de vida de São Paulo, Célia Benelli Campello (1942-2003) não imaginaria, mais tarde, que a fama e o sucesso lhe fariam adotar o nome Celly Campello. E tudo começou na inocente intenção de ajudar o irmão Sergio, mais conhecido como Tony, a completar um disco de 78 rotações. “Em São Paulo, ele disse para o pessoal da gravadora que tinha uma irmã que morava em Taubaté e gostava de cantar”, lembra o outro irmão da dupla, o em-presário Nelson Campello, 76 anos.

Para preencher a faixa que faltava no LP, a jovem de ape-nas 15 anos de idade gravou a música “Handsome Boy”. E foi com surpresa que a família recebeu a visita de toda a di-

Celly Campello, a bonequinha que canta

reção da gravadora Odeon na casa de número 30, da Praça Santa Terezinha. “Ouvimos a música, pela primeira vez, na nossa vitrola. E, naquele dia, Celly teve seu contrato assina-do”, conta.

O sucesso veio rápido. E o país conheceu Tony e Celly. A dupla encantou multidões de 1958 a 1962. O carro da famí-lia, na época um Ford Taunus branco, ganhou o apelido de Cupido em referência ao hit “Estúpido Cupido”. Na dupla, Celly acabou se destacando.

Segundo o irmão mais ve-lho, Celly nunca se empolgou com a fama. Sua verdadeira vocação era a vida doméstica e cuidar da família. Quando casou, em maio de 1962, dei-xou por conta própria a carrei-ra de artista.

Cid Moreira morava na Rua Barão da Pedra Negra, no centro de Taubaté, quando pediu um estágio para o her-deiro da rádio Difusora e amigo Emí-lio Amadei Beringhs Filho. E ele con-seguiu, só não esperava que um mal entendido fosse mudar o rumo de sua trajetória profissional. “Como estudava conta-bilidade, ele acreditava que o estágio fosse na área. Mas acabou se tor-nando locutor”, explica a jornalista Fernanda Guerra, que escreveu um perfil sobre Cid Mo-reira, em 2009.

Publicado no livro “Jornalistas do Vale do Paraíba: experiência e memó-ria”, do Núcleo de Pesquisas e Estudos em Comunicação da Universidade de Taubaté, o capítulo “Cid Moreira: a voz de ouro da notícia” traça o início da carreira do jornalista até o seu projeto pessoal daquele momento e que lhe absorvia por inteiro: a gravação da Bí-blia. “Ele falava que esse trabalho [gra-var a Bíblia na íntegra] era o projeto da vida dele”.

Fernanda conta que o taubateano sempre se referia com muito carinho e respeito à cidade. “A primeira coisa que me surpreendeu nele foi realmente a voz. Ouvir do outro lado da linha do telefone um ‘bom dia’ de quem você cresceu ouvindo ‘boa noite’ no Jornal Nacional é, no mínimo, estranho e di-ferente. Ele é um ícone da TV”, admite.

Cid Moreira, o ‘boa noite’ mais famoso do Brasil

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Além da ligação com Taubaté, um ele-mento importante une as obras de Monteiro Lobato (1882-1948) e de Amácio Mazzaropi (1912-1981): a figura do caipira. E foi embasado na relação deles com essa figura do matuto da roça que Luzimar Goulart Gouvêa escre-veu o livro “Monteiro Lobato e Mazzaropi e o Imaginário Caipira”, pu-blicado neste ano pela editora Casa Cultura.

Resultado de sua pesquisa de mestrado pela Unicamp (Universi-dade de Campinas), Lu-zimar Gôuvea analisa o papel tanto do escritor como do cineasta na construção da imagem do caipira e revela dife-renças na abordagem de seus criadores.

O pesquisador con-ta que ambos possuem vínculos diferentes com a cidade e isso acaba por se refletir no traba-lho e na obra de cada um. “Monteiro Lobato ficou pouco tempo em Taubaté e teve forma-ção em São Paulo e até fora do país. Daí, a obra dele não dialoga com a cidade, mas com o Brasil. Ele discutia questões nacionais, não locais. Mazzaropi veio para Taubaté criança e depois de deixar a cidade, volta e monta um polo de cinema mo-

Lobato e Mazzaropi:entre livros e filmes,o imaginário popular

Hebe Camargo, a dama daTV brasileira

Hebe Camargo (1929-2012) morou pouco tempo em Taubaté. Viveu com a família numa casa na região central, na Rua Barão da Pedra Negra, mas ainda adolescente foi para São Paulo. Filha de um músico, que dá nome ao conservatório da cidade – a Escola de Música, Artes Plásticas e Cênicas Maestro Fêgo Camargo –, gostava de dizer que era acordada ao som do violino do pai, na porta de seu quarto.

Talentoso, Fêgo Camargo dava aulas de violino na cidade. “Foi o pai de Hebe que fundou o coral da nossa catedral. E sabemos que, no início, ela tam-bém participava junto com Fêgo”, conta o padre Marco Jacob, da catedral São Francisco das Chagas, instalada na Praça Dom Epami-nondas. “Desde peque-na, Hebe acompanhava o pai em apresentações na rádio Difusora. Mais tarde, também passou a acompanhá-lo em bares à noite”, disse o radialista Renato Feres Junior, 58 anos.

Para a fama de que não gostava de Taubaté, Renato tem uma explicação: “De-pois que foi para São Paulo, as rádios locais convidaram muito a

derno que se relaciona com Taubaté. O caipira de Mazzaropi é, sim, inspirado no Vale do Paraíba”, define.

Jorge Lucio Montei-ro, 59 anos, lembra com carinho dos tempos em que trabalhou com Mazzaropi. Durante as gravações do filme “Um caipira em Bari-loche”, de 1973, Jorge Figureiro, como é mais conhecido, tinha ape-nas 19 anos. Mas ele se recorda, entre risos, da casa de barro ceno-gráfica que ajudou a construir. Para espanto de Seu Jorge Figureiro, a casa foi usada como um paiol que explode no fim do filme.

“Mazza era um gênio. Fazia bons filmes com pouco dinheiro. A maioria dos atores era gente da fazenda dele e das redondezas.”

Quando soube da morte de Mazzaropi, ficou emocionado e chorou. “Ele era diverti-do e talentoso.”

Hebe para entrevistas. Como devia ter uma vida corrida com muitos compromissos, ele nunca veio. Aliado a isso, quando dava entrevistas para outras rádios ela não tinha o hábito de falar que era de Taubaté. Daí, criou-se esse mito de que Hebe não gostava da cidade, o que não é verdade.”

Um filme que pretende contar a vida da famosa taubateana, inclusive com possíveis gravações locais, terá a direção do cineasta Cacá Diegues. Em nota, a produtora carioca Luz Mágica informou que a película ainda não tem roteiro e que deve ser rodada em 2015.

Atualmente, um jovem de 27 anos ajuda a preservar parte da história de Hebe na internet. Com o nome da artista, ele mantém uma página no face-book com uma média de 12 mil seguidores.

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Um lugar em que boneca de pano fala e sabugo de milho é gente. Po-pularmente conhecido como Sítio do Pica-Pau Amarelo, o Museu Histórico, Folclórico e Pedagógico Monteiro Lo-bato recebe em média 178 mil visi-tantes por ano em Taubaté. No acervo, constam objetos pessoais do escritor, peças antigas que retratam a história da cidade, aquarelas pintadas pelo próprio Lobato, além de uma bibliote-ca com livros infanto-juvenis.

Instalado na chácara que perten-cia à família Lobato, o museu conta com um vasto espaço ao ar livre e uma famosa jaqueira de 200 anos. Entre os destaques da casa estão os perso-nagens infantis de Monteiro Lobato, interpretados por jovens atores da re-gião. O elenco é composto por duas equipes que se revezam nos períodos da manhã e da tarde e, também, nos finais de semana.

» EmíliaTímida, Amanda Pereira, 23 anos,

faz a Emília. “Existe uma Amanda antes e uma depois da Emília. Eu sou muito quieta e, como atriz, o meu trabalho é muito grande nesse sentido, mas a personagem me fez enxergar que eu sou maior do que pensava e que existe muito mais dentro de mim”, conta.

Amanda fala que de tanto que pas-sa o dia como Emília (seis horas diárias no museu), às vezes, sai do lugar com a voz da personagem e, quase sempre, percebe-se com algum vestígio de ma-quiagem no rosto. Aliás, toda a monta-gem da boneca de pano acontece em 10 minutos, do figurino à maquiagem até a peruca. “A Emília é como se fosse uma válvula de escape. É muito bom dar voz à ela.”

» Visconde“A nossa atuação não é apenas no

palco. Se ando até uma estátua da casa, ando como se fosse Visconde”, revela Murilo Paparelli, de 18 anos, res-ponsável por dar vida ao Visconde de Sabugosa. Estudante de Publicidade, Murilo se divide entre a faculdade, o

Eles dão vida à imaginação

curso de teatro e o estágio no museu. “Quando estou aqui vivo a vida do per-sonagem.”

» NarizinhoO cabelo é dela mesmo e o rosto

aparece quase que ao natural. Mas quando está ali na casa que pertenceu à família de Lobato, Bárbara Maria Re-zende, 19 anos, passa a se chamar Na-rizinho. “É uma responsabilidade que você carrega. Um dia, saímos juntos daqui e fomos fazer um lanche e no lu-gar havia algumas pessoas que tinham acabado de passar no museu. Daí, uma menina de uns 6 anos me viu e espan-tada me disse: Narizinho, é você?”

Entre os momentos marcantes, a atriz recorda de quando um grupo de adolescentes, em excursão, foi visitar a casa. “Uma das meninas começou a

chorar quando abraçou a Emília e os outros personagens.”

» AnastáciaMaelly Sammay, 22 anos, não é

negra, mas já sentiu na pele o precon-ceito da cor. “Teve uma família que cumprimentou todos os personagens, menos a mim. Mas a bebê de um ano no carrinho só queria saber de mim, es-tendo os bracinhos. Daí, eu a peguei e a mãe e a avó ficaram pasmas olhando a cena. Ficou claro: uma criança peque-na deu uma lição para as duas mulhe-res”, conta a atriz que faz Tia Anastácia.

Da união do grupo, formou-se uma família dentro e fora da grande cháca-ra. “Somos uma família que briga e que se entende. Quando saímos daqui, nós nos chamamos carinhosamente pelos nomes dos personagens.”

Os personagens do Sítio caracterizados --abaixo, os jovens estudantes que os interpretam; à direira, Luzimar Gouvêa, autor que compara Lobato e Mazzaropi

Fotos: Rogério Marques

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Gosto da Cidade

qual o gostinho que te faz lembrar Taubaté?

Na culinária, um pouco de história e tradição: desde os bandeirantes, quirerinha com costela de porco é o prato mais tradicional

Foto: Rogério Marques

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* Por Kelma Jucá

Quando teve sua primeira ex-periência na cozinha, aos 13 anos, Elisa Surnin Saes não ima-

ginaria que se tornaria referência na culinária de Taubaté. Descendente de italianos, orgulha-se em contar que a bisavó materna foi a primeira professo-ra de italiano dos filhos de imigrantes, nos idos de 1889.

Hoje, aos 64 anos, o seu nome virou sinônimo de boa comida. Ela é proprie-tária do Restaurante Cultural Casa da Elisa, localizado em Quiririm, distrito da cidade. Apaixonada pela arte gas-tronômica, fez por conta própria uma pesquisa, em 2006, sobre as comidas tradicionais de Taubaté. “O objetivo era preservar a nossa cultura.”

Em quatro meses, Elisa fez um ver-dadeiro estudo de campo e foi ao en-contro das pessoas mais antigas da ci-dade e que viveram na roça. “Conversei com muita gente com mais de 90 anos. A minha preocupação era resgatar junto a essas pessoas parte de nossa riqueza gastronômica”, relata.

E o resultado é uma coleção de his-tórias gostosas ao sabor da memória dos mais de 100 entrevistados de Elisa.

Durante a pesquisa, uma surpresa: todos citaram a quirerinha de milho com costelinha de porco.

E ele foi eleito o prato mais lem-brado pelas pessoas mais velhas da cidade, ou seja, o prato tradicional de Taubaté.

“A pesquisa comprovou que os pratos típicos da cidade são aqueles dos tropeiros, dos bandeirantes. Quan-do eles passavam por aqui com suas mulas, eles carregavam apenas uma panela para cozinhar a comida. Então, eles aproveitavam o milho – porque em cada parada que faziam já tinham o milho que haviam plantando da pa-rada anterior, um costume deles – e o porco, que era do mato mesmo. Co-zinhavam tudo de uma vez e estava pronta a comida”, esclarece Elisa.

Naturalmente, a receita ganhou elementos de sofisticação e foi se apri-morando com o tempo. Mas os ingre-dientes principais se mantêm como patrimônio de Taubaté.

‘A pesquisa comprovou que os pratos típicos da cidade são aqueles dos tropeiros, dos bandeirantes

Elisa SaesDona do restaurante

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Onde Fica

Restaurante Cultural Casa da ElisaRua Virgílio Valério, 57, Quiririm, TaubatéTelefone: (12) 99772-0294Horário de funcionamento: Sexta, sábado, domingo e segunda, das 11h30min às 15hOutros dias da semana podem ser reservados

A ReceitaQuirerinha de milho com costelinha de porco

Ingredientes: 200 gramas de quirerinha de milho1 quilo de costelinha de porco com osso, temperada com sal, alho e limão½ concha de banha de porco derretida ou óleo de soja5 dentes de alho amassados1 cebola picadinha1 tomate picadinho2 folhas de louro1 pitada de pimenta do reinoSalsinha e cebolinha picadas Modo de preparo:Lave a quirera e dê uma fervida para começar a amolecer. Desligue o fogo.Pegue uma panela e coloque a banha. Acrescente a costelinha e frite até corar.Acrescente o alho e deixe dourar.Adicione a cebola e frite até ficar transparente.Adicione o tomate, o louro, a pimenta do reino e o sal.Acrescente a quirerinha pré-cozida e mexa.Vá adicionando água quente, até ficar cozida a gosto.Prove o sal e os temperos. Acerte, se necessário.Sirva em um prato onde se colocou previamente uma boa concha de feijão bem quente.

Rendimento: 5 porçõesTempo de preparo: 40 minutos

O Restaurante Cultural Casa da Elisa abriga um pequeno museu. São artigos de família que ajudam a con-tar a história de uma época, como: li-vros históricos, diário de um agricul-tor fugido da guerra na Rússia, cartas manuscritas da década de 1920 e de 1930, 1.500 LPs originais que podem ser ouvidos no espaço, livros de re-ceitas do final do século 19 e início do século 20, fita de casamento da década de 1940.

Uma curiosidade da casa é a pos-sibilidade que o visitante/cliente

tem de enviar uma carta para si mes-mo. Elisa envia para o destinatário no período que ele indicar, geralmente, uma média de 6 meses a um ano, com o objetivo de uma autoavalia-ção. A ideia é que a pessoa escreva os planos e os projetos que preten-de realizar até receber a sua própria carta.

As receitas, as cartas e os livros antigos podem ser utilizados como fonte de pesquisa para estudos. Para isso, é necessário fazer um agenda-mento por telefone.

Sabor e história num só lugar

A costelinha é acrescentada à quirerinha depois de bem frita no óleo quente

No restaurante, bem mais que comida: também muita história para contar

Fotos: Rogério Marques

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Minha Cidade

Cada cantinho, uma história! qual é o seu preferido?

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Taubateanos, de sangue e de coração, revelam quais são os seus lugares preferidos na cidade nestes 368 anos de história

* Por Kelma Jucá

Cada cantinho, uma história. Verde, asfalto e rua de paralelepípedos. Praças,

parques e vista para a serra. A cor e o cheiro de frutas e verduras da estação. Gente que ainda compra arroz e feijão a granel.

Pessoas com sotaque próprio. Plantas que dão sombra e frutos para os transeuntes. Amizades que se constroem ao ar livre. Taubaté tem tudo isso e muito mais.

Para tentar descobrir lugares diferentes e com significado afetivo para os moradores, a revista +Taubaté conversou com quatro moradores. Nesse passeio, eles nos apresentam seus lugares preferidos na cidade: o mirante do Quiririm e sua visão panorâmica, o eterno Mercadão, quase um personagem com vida própria, uma pista de skate que reúne gente de toda idade e aquilo que podemos chamar de um minireflorestamento, do ladinho da Dutra.

‘Se eu não tiver nada para fazer aqui, venho nem que seja para prosear. Isso aqui é uma belezaBenedito dos Santos

Sobre o Mercadão

O Mirante do Quiririm, um dos lugares mais bonitos da cidade

Foto: Rogério Marques

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O nome dele é Benedito Mo-reira dos Santos, mas atende pelo nome de Seu Dito. O

aposentado de 69 anos é nascido em Natividade da Serra, mas mora em Taubaté desde 1974. “Já sou mais daqui”, conta.

Gosta do Mercado Municipal, o Mercadão, porque diz encontrar de tudo. “Não venho todo dia, mas sempre que posso. Pelo menos, uma vez por semana é sagrado”, re-vela.

E ele passa pelos comerciantes das bancas e dos boxes e cumpri-menta a todos. Fica a impressão de que não se recorda do nome de to-dos, mas os feirantes, por sua vez, já vão logo falando de forma amistosa: “Seu Dito! Como está? Vai virar de-putado, conversando com o jornal?”, brinca um deles. “Seu Dito vai ser candidato a vereador!”, retruca outro.

Com sua simpatia e anima-ção, Seu Dito entra na brincadeira: “Opa! Virei importante!” Casado há 49 anos, é pai de 5 filhos, avô de 11 netos e de 2 bisnetos. Quando conclui a conta dos entes queridos, fala: “Acho que é isso.” Enquanto os dedos da mão lhe ajudam na esta-

tística familiar, passa uma moça por trás que, apressada, esbarra nele. “Opa! Mas nem buzina?”, fala garga-lhando.

Enquanto caminha, carrega duas sacolas, uma com frango a pas-sarinho e outra com pés de frango. “Não tem nada meu. É tudo enco-menda do pessoal do bairro”, conta. Como mora no bairro Belém, afas-tado da região central da cidade, os vizinhos aproveitam a “viagem” de Seu Dito que sempre marca ponto no Mercadão e lhe pedem a gentile-za de comprar o que precisam.

No passeio pelo mercado, gasta em média uma hora até cumpri-mentar todos os conhecidos. Nun-ca deixa de passar na banca de um amigo querido, o Geraldo Quirino dos Santos, de 73 anos. Lá, faz uma rápida pausa para seguir novamen-te seu caminho pelos corredores coloridos de frutas e de verduras do Mercadão.

“Se eu não tiver nada pra fazer aqui eu venho nem que seja só pra prosear. Isso aqui é uma beleza!”, fala enquanto acena para mais um conhecido qualquer na banca ao lado.

O cantinho do Seu Dito

O Mercadão Saiba mais:

foi fundado em 1860. Possui 701 feirantes. Durante a semana, tem um fluxo médio de 8.000 a 10 mil pessoas. No final de semana, 30 mil pessoas chegam a passar pelo lugar

Endereço:

Praça Dr. Paula de Toledo, 50, centro

Horário de funcionamento:

De segunda a sexta, das 7h às 17h

Aos sábados, das 6h às 14h

Nos domingos e feriados, das 6h às 13h

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Foto: Rogério Marques

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A paisagem de Theo

Mirante do Quiririm. É para lá que o músico e jornalista Marcelo Theo, 44 anos, se refugia quando quer um pouco de sossego. “Eu curto esse lugar por causa da

visão panorâmica para a Serra da Mantiqueira. Daqui tam-bém dá para ver a várzea de arroz e o rio Paraíba.”

Um dos hobbys de Theo é a fotografia. Como frequenta o mirante há 20 anos, tem imagens desde a época da foto analógica. Quando usa uma lente objetiva, garante que con-segue fazer fotos de cavalos e de aves distantes. Aproveita a luz nos diferentes horários: manhã, tarde e noite.

“A cada dia, a Serra da Mantiqueira está com uma cor di-ferente e quando a várzea está cheia de água para plantação dá para ver o reflexo do céu nela. Tenho mais de 1.000 fotos tiradas daqui”, revela.

Em meio ao caos urbano, o espaço é para Theo um can-to para meditação. “Além de ter uma paisagem bucólica que me ajuda a desligar da cidade, o mirante do Quiririm tem um valor histórico, pois marca o início da colonização italiana em Taubaté. Como morei um tempo na Itália, adoro vir aqui e puxar na memória o que vivi lá”, explica.

Sempre que retorna do mirante, Theo sente que volta re-novado para casa. Como músico, a beleza deslumbrante do lugar já lhe deu inspiração para compor uma canção.

O MiranteSaiba mais:

possui o nome oficial de Belvedere Dona Valentina e Seu Joanin em homenagem aos imigrantes italianos

Onde:

é aberto ao público e está localizado na Praça Antônio Naldi, 50, Quiririm

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Ele começou a andar de skate aos 25 anos. Num primeiro momen-to, a intenção era apenas acom-

panhar um amigo, de 40 anos, e fazer fotos. Depois, não teve jeito. De tanto registrar as manobras radicais quis também experimentar a sensação de estar nas alturas. Passados dois anos, o publicitário Danilo Monteiro elege a pista de skate do Parque Jardim das Nações como seu lugar preferido.

“É o único momento em que con-sigo me libertar de tudo. As pessoas reclamam porque ninguém consegue me achar quando estou aqui. Mas não trago nenhum eletrônico ou aparelho celular. Eu me desligo”, conta.

Em julho deste ano, teve a ideia de reformar a pista e colocar um pouco de arte no reduto. Conversou com uns

A pista de Danilo

amigos talentosos e, num sábado de sol, oito pessoas se revezaram e pinta-ram a imagem de um enorme dragão no mar. “Ele ficou meio psicodélico. Como a pista é num formato de pisci-na californiana, parece mesmo que o dragão está surfando. A turma gostou bastante”, entusiasma-se.

Os gastos com a obra de arte saí-ram dos bolsos dos próprios skatistas, que se mostram organizados. Anual-mente, eles montam um campeonato em que pessoas de todo o Vale e até de fora vêm participar. “Demos o nome de Garden in tha house [com tha mesmo]. No dia, o campeonato deve fazer cir-cular umas 1.000 pessoas entre parti-cipantes, curiosos e gente que vem só para assistir e apoiar a causa”, explica.

Quando Danilo e os amigos combi-

nam um ‘rolê’ na pista, costumam falar que vão se encontrar no Garden, como é chamado o lugar pelos frequentado-res. E eles têm várias idades. “A maioria tem uns 25 anos, mas tem gente de 40 e de 50 anos também. A molecada usa a pista o dia inteiro, com sol e tudo.”

Danilo gosta de usar a pista quase que diariamente. Aí, aproveita para re-laxar depois de um dia de trabalho e esquecer dos problemas. “A adrenalina sobe. Você sente medo porque é um esporte de risco, mas ao mesmo tem-po você quer enfrentá-lo e dominá-lo.”

Com 62 anos, o aposentado José Epaminondas Gouvêa, o Seu Gou-vêa, aproveita bem o tempo livre.

Ele cuida das mais de 100 árvores que plantou nos últimos 10 anos ao lado da Dutra, mais precisamente na Avenida Bandeirantes, no Jardim Maria Augusta. “Ao todo, são 160 plantas. Destas, eu plantei 140 e sei dizer exatamente quais são. As outras foram conhecidos.”

Seu Gouvêa desenha num papel exatamente o que e onde vai plantar para só depois abrir a terra para receber uma nova muda. Organizadas em duas fileiras, que gosta de chamar de pistas, as árvores foram plantadas a sete passos uma da outra. São espécies de médio e grande portes, nativas e frutíferas, como: amora, graviola, acerola, bananeira, jam-bo e ipê, entre outras. Num trecho, loca-lizado em frente ao bar de um amigo, o bar do Zé da Bica, ele fez o que chama de bosque, fugindo do seu padrão de mu-

O ‘floresta’ do Seu Gouvêadas enfileiradas.

“Nos anos de 1960, quando conhe-ci, isso aqui era tudo mato. Lembro que tinha uma bica d´água que hoje está desativada. Onde temos um campo de futebol, por exemplo, era uma região de brejo. Foi para resgatar o que guar-do na minha memória desse tempo e para dar mais qualidade ao nosso meio ambiente que resolvi plantar a primei-ra muda”, explica.

O carinho com que se dedica às plantas acaba por contagiar as pesso-as ao redor, que lhe doam sementes, mudas e adubo. Seu Gouvêa vai, qua-se que diariamente, ao lugar que fica a menos de cinco minutos de caminha-da da sua casa. Criado na roça, Seu Gou-vêa tem o sonho de ver mais verde na cidade. “Imagine se cada morador tivesse o compromisso de plantar uma árvore de porte pequeno na frente de sua casa. Se-ria maravilhoso.”

Fotos: Rogério Marques

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Minha Cidade

Ponto de encontro da elite taubateana no passado, clube hoje mantém glória e tenta se adequar às modernidades

TCC: muita história nas paredes de um clube

* Por Kelma Jucá

As paredes do Taubaté Country Club, ou simplesmente TCC, guardam lembranças de um

tempo em que a cidade era considera-da a capital do Vale. Símbolo de tradi-ção, o clube foi o cenário dos principais eventos da elite taubateana a partir da primeira metade do século 20.

Inaugurado em 1938, o TCC se tor-

nou dali em diante na nova sede da sociedade taubateana. O endereço no-bre, rua Conselheiro Moreira de Barros, era contornado por imensas palmeiras imperiais, daí o antigo nome rua das Palmeiras. “Muitos chamavam o TCC como o fidalgo clube da rua das Pal-meiras”, rememora um dos conselhei-ros do clube, Horton Cunha, 70 anos.

“O clube foi fundado em 1936, e o objetivo era que fosse construído às margens da Estrada de Rodagem. Mas pela dificuldade de transporte na época, optou-se pelo atual endereço”, diz o presidente Pedro Luiz de Abreu, 59 anos. Os esportes marcaram os pri-meiros anos do TCC. “O nosso futsal se transformou numa das maiores forças

do Estado”, relembra Mario Celso Casti-lho, 74 anos, jogador da época.

» ShowsEm 1965, o clube trouxe num úni-

co show Roberto Carlos, Wanderléia e Erasmo Carlos. “A entrada triunfal dos três se deu na porta dos fundos. Lem-bro deles passarem por um corredor e de ver Roberto Carlos com um ca-chimbo na boca. Essa foi a primeira vez que eles estiveram em Taubaté”, conta Horton Cunha. Muitos casais também namoraram nos bailes do TCC, como o governador Geraldo Alckmin e sua mulher Lu Alckmin, quando ele fre-quentava a cidade por conta da facul-dade de medicina na Unitau.

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Futuro da Cidade

* Por Kelma Jucá

Desde os tempos dos bandeiran-tes, Taubaté soube usar como moeda de valor a sua localiza-

ção privilegiada no eixo Rio-São Paulo. Ainda conserva hábitos e costumes de cidade interiorana, mas sabe bem como manter-se em desenvolvimento.

“Na última década, Taubaté teve significativo crescimento na sua ativi-dade econômica acompanhando uma tendência que é nacional. Para a cida-de, esse bom momento pode ser atri-buído principalmente a dois setores, à indústria automobilística e à cons-trução civil”, analisa o professor e eco-nomista da Universidade de Taubaté, Edson Trajano.

Hoje, Taubaté é um expoente da indústria automobilística no país, abri-gando, além de duas montadoras, Ford

indústria e comércio mantêm economia forteEspecialista prevê próxima década de franco crescimento, mas alerta: qualidade de vida precisa melhorar

e Volkswagen, empresas vinculadas à sua cadeia produtiva.

“A renda gerada pelo setor indus-trial criou novas demandas de cresci-mento para a construção civil. Nos úl-timos dez anos, percebemos os vários prédios que foram construídos em di-ferentes lugares da cidade”, observa o economista.

» RiquezaAtualmente, Taubaté conta com 25

mil empresas, segundo o Empresôme-tro do Instituto Brasileiro de Planeja-mento e Tributação. E a expectativa se-gue positiva para o setor. “Eu acredito que Taubaté seja a cidade no Vale que mais irá crescer nos próximos 10 anos”, afirma a presidente da Acit (Associa-ção Comercial e Industrial de Taubaté), Sandra Teixeira.

Com empresas como LG, Daruma,

Edson Trajano, da Unitau, fala sobre a economia de Taubaté

Alstom, Usiminas e Embraer, entre ou-tras, Taubaté é o segundo maior polo comercial e industrial de uma região classificada entre as mais ricas do país.

» Qualidade de vidaUma cidade universitária atrai pes-

soas de fora, que movimentam o setor imobiliário e aquecem o comércio lo-cal. Uma cidade industrial gera empre-gos, que fazem com que o dinheiro circule e também aqueça o comércio. No entanto, o crescimento econômico isolado não basta --precisa impactar positivamente na vida da população.

“É importante que a alta na atividade econômica resulte em qualidade de vida. Isso está acontecendo, porém de forma lenta, até porque quando a cidade cresce também aumentam as suas demandas sociais”, alerta o economista Edson Trajano.

“Precisamos resgatar Taubaté como grande cidade do Vale e isso passa, ine-vitavelmente, pela discussão da Região Metropolitana, que está parada. Cabe a cidades como Taubaté e São José li-berarem esse projeto”, conclui.

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O professor Edésio Santos, 49 anos, só sai de casa em sua bicicleta elétrica

* Por Kelma Jucá

Os motoristas que utilizam a avenida 9 de Julho, no cen-tro de Taubaté, no horário do

almoço, precisam levar na bagagem uma boa dose de paciência. No rush, vê-se de uma ponta a outra um mar de carros enfileirados – cada um aguar-dando a sua vez de seguir adiante. A situação não é muito diferente para quem passa no entorno da tradicional Praça Santa Terezinha a partir das 18h. E vice-versa. Com quase quatro sécu-los, Taubaté é uma cidade como tantas outras. Convive com os impasses entre o desenvolvimento urbano e a preser-vação de seu centro histórico.

Caracterizada por ruas e calçadas estreitas, a cidade mantém o seu dese-nho original, traçado para o tráfego de carroças e de cavalos. Algumas calça-das que hoje mal permitem que cami-nhe uma pessoa não foram planejadas para pedestres. Elas cumpriam o obje-tivo de proteger os antigos casarões das chuvas.

Esse contexto foi lentamente alte-rado pelo progresso e pela industria-lização. Ano após ano, carros, motos e ônibus começaram a ser inseridos neste espaço. Enquanto a cidade tinha

Vida na Cidade

como planejar o futuro entre marcos do

passado e necessidades

do presente

Arquitetos e estudantes dão suas sugestões para melhorar o planejamento urbano e solucionar um dos maiores gargalos de Taubaté

um número reduzido de automóveis, os taubateanos foram aos poucos se adaptando à nova realidade.

Hoje, a cidade conta com uma frota de 182.757 veículos, segundo o Dena-tran, para uma população estimada de 296.431 habitantes –média de 1,6 car-ro por pessoa –, mas as vias da região central continuam as mesmas. “A solu-ção para o centro seria priorizar o pe-destre e o trânsito local. Os carros não podem mais usar aquela região como passagem. O ideal seria transformar algumas ruas em calçadões de modo a privilegiar o pedestre”, explica o pro-fessor do Departamento de Arquitetu-ra da Universidade de Taubaté, Flávio Mourão.

Para desafogar o trânsito da área do centro, uma medida importante seria não privilegiar mais o carro. Em paralelo, outra providência para desin-char o fluxo local seria adotar aquilo que o arquiteto chama de visão sistê-

Flávio Mourão com grupo de alunos debate soluções para o trânsito

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Em 2009, a então graduanda em arquitetura e urbanismo pela Unitau Pollyanne de Fátima Brunelli Ribeiro realizou como trabalho de conclusão de curso um estudo sobre o centro de Taubaté sob a orientação do professor Flávio Mourão. O estudo ‘Conjunto Ideal: Requalificação da área central da cidade de Taubaté’ propõe soluções como as seguintes alterações entre as ruas Voluntário Penna Ramos e Jacques Félix, extremos do centro com valores histórico e cultural para a cidade:

l Criação de um novo desenho para as quadras e interligação das mesmas por meio dos miolos de quadra, buscando um eixo de passagem que possibilite várias atividades comerciais, como lotes de duas fachadas, criação de bulevares e ruas cobertas

l Transformação das 16 quadras iniciais da cidade em 6 novas quadras, totalmente pensadas para o pedestre. A mudança deveria ser trabalhada juntamente com uma nova proposta viária

l Para evitar o desperdício de espaço gerado pela ocupação de estacionamentos, uma solução seria realocá-los de forma subterrânea, com entradas em locais estratégicos dos quarteirões

l Criação de um sistema viário onde o motorista não se veja obrigado a atravessar o centro para chegar a seu destino. Para isso, criar-se-ia uma espécie de anel viário ao redor das super-quadras, com eventuais bifurcações

l Nesse anel seria permitida apenas a circulação de carros e vans. Assim, mudar-se-ia as direções das seguintes vias: Jacques Félix, Rua Chiquinha de Matos e Rua Carneiro de Souza

l As ruas seriam diminuídas para a largura de 3,5m, para dar segurança ao pedestre com mais espaços nas calçadas, além de acarretar na diminuição da velocidade do veículo

l As quadras quanto ao uso, seriam direcionadas a terem atividades que mais condissessem com seu entorno. Assim, surgiriam “quadras temáticas”, onde os usos dos lotes seriam reorganizados, restabelecendo uma lógica e possibilitando uma vida noturna ao local

Trabalho propõe melhorias

mica. “Resolver o problema do trânsito envolve pensarmos nas diferentes formas de transpor-te, como o automóvel, o ônibus e o trem. Mesmo quando eu re-tiro o carro do centro, é preciso oferecer alternativas para que as pessoas cheguem rapidamente sem depender do carro”, afirma o especialista.

Se planejada, uma saída inte-ligente também seria usar a es-trutura ferroviária que já existe. “A solução do problema é mul-timodal, precisamos ter vários meios de transporte e todos fun-cionando bem. Um carro trans-porta em média duas pessoas, um ônibus 80 e um trem 1.800.”

Com atuação de mais de três décadas na área, o arquiteto Ma-noel Carlos de Carvalho chama a atenção para as intervenções porque a cidade está passando e antecipa que o objetivo é a criação de um anel viário. “Nos últimos dez anos, a cidade se de-senvolveu mais no sentido físico, não no sentido organizacional. E é preciso que se trabalhe sempre à frente do problema”, disse.

» AlternativasSe a solução para o trânsi-

to na região central precisa de planejamento de governo, o ci-dadão comum pode fazer a sua parte no dia a dia. Edésio Santos, 49 anos, é professor universitário e há quatro anos circula pela ci-dade com sua bicicleta elétrica. “Eu tenho mobilidade porque ando muito mais rápido na hora do rush quando os carros ficam parados e ajudo o meio ambien-te porque minha bike não polui, além de ser silenciosa”, diz.

Já quem costuma usar a Du-tra também pode dar sua parcela de contribuição. No Facebook, o grupo “Caronas Taubaté” conta com quase 1.200 membros que divulgam caronas entre si para São Paulo, Campinas e até cida-des de Minas Gerais e Rio de Ja-neiro. “Não existe uma cobrança pela carona. Cada um usa o seu bom senso e, em geral, as pesso-as dão uma ajuda de custo para o motorista da vez”, explica o designer Artur Montenegro, 27 anos, um dos colaboradores e co-fundadores do grupo.

No centro, está o maior ‘gargalo’ do trânsito, com ruas estreitas

Foto: Rogério Marques

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