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1 IDENTIFICAÇÃO
PRODUÇÃO DIDÁTICO – PEDAGÓGICA TURMA - PDE/2012
Título: Estratégias e intertextualidade no incentivo à leitura
Autora Rita de Cássia Camillo
Disciplina/Área Língua Portuguesa
Escola de Implementação do
Projeto e sua localização
Colégio Estadual Márcia Vaz Tostes de Abreu – Ensino
Fundamental e Médio - Rua XV de Novembro, 603
Município da escola São Jorge do Ivaí
Núcleo Regional de Educação Maringá
Professor Orientador Prof.ª Dr.ª Tânia Braga Guimarães
Instituição de Ensino Superior Universidade Estadual de Maringá
Relação Interdisciplinar Artes
Resumo
Percebe-se que os alunos ao chegarem ao ensino médio apresentam dificuldades de leitura e interpretação de textos, especialmente os literários. De modo geral, confundem leitura com a simples decodificação de sinais gráficos, não encaram a leitura como um processo que envolve o leitor com o autor, não utilizam das leituras já feitas para interpretar um texto, por isso se faz necessário instrumentalizá-los. Assim este projeto, com a 1ª série do ensino Médio, visa oportunizar a leitura de textos seguindo as estratégias de leitura propostas por Solé. (1998). Além disso, objetiva aprimorar a capacidade e o nível de leitura de nossos alunos ao trabalhar a compreensão da intertextualidade e proporcionar uma discussão que os prepare para a percepção da linguagem literária e metafórica a fim de contribuir para sua formação leitora.
Palavras-chave Estratégias de leitura; Intertextualidade; Incentivo à leitura.
Formato do Material Didático Sequência Didática
Público - Alvo 1º ano - Ensino Médio
2 INTRODUÇÃO
Na vida de todo educador, existe um questionamento vital: o que
queremos que nosso aluno, do ensino médio, domine e como faremos para
atingir esse objetivo? Acreditamos que se nossos estudantes fossem leitores
atentos e competentes, capazes de estabelecer diálogos entre textos, de
perceber a natureza irônica, metafórica, filosófica dos mesmos, estaríamos
realizados, pois os preparamos para pensar o mundo, posicionar-se diante dele
e assumir a capacidade de transformá-lo.
Para tanto, se faz necessário trabalhar a leitura de tal forma que o aluno
possa refletir, discutir, formular hipóteses e perceber a visão de mundo do
autor. Porém, alcançar esses objetivos sempre foi um desafio para a escola
que se depara com o desinteresse e as dificuldades, de nossos alunos, em
relação à leitura. Em vista disso, a nossa preocupação está relacionada com o
despertar do interesse pela leitura. Este deve ser estimulado no âmbito escolar,
como forma de interação social em todas as suas etapas, cabendo ao
professor a grande responsabilidade de formar o hábito de leitura, sendo esta
fundamental para a integração de nossos alunos na sociedade.
Segundo as DCE’s (2008, p. 71),
Ler é familiarizar-se com diferentes textos produzidos em diferentes esferas sociais – jornalística, artística, judiciária, científica, didático-pedagógica, cotidiana, midiática, literária, publicitária, etc. Trata-se de propiciar o desenvolvimento de uma atitude crítica que leva o aluno a perceber o sujeito presente nos textos e, ainda, tomar uma atitude responsiva diante deles.
Devido à importância da leitura, acreditamos ser necessário sua
motivação, por isso este trabalho tem como finalidade o incentivo à leitura por
meio de textos, de esferas diferentes, porém com relações intertextuais que
ampliem o interesse de nossos alunos em ler e contribuam para a formação de
um leitor autônomo.
Ao propor atividades de leitura, aos alunos de ensino médio, devemos
levar em conta o gosto que os mesmos possuem pelo ato de ler, pois se
constata que nesta faixa etária eles não se sentem muito motivados a realizar
tal atividade. Além disso, sabemos que o trabalho com a leitura possibilita
exercitar a atenção, a memória e o pensamento, elementos que efetivam a
aprendizagem em qualquer área do conhecimento.
Diante disso, se faz necessário trabalhar e desenvolver o processo de
ensino e aprendizagem de leitura em sala de aula. Logo, esta produção
didático-pedagógica tem como objetivo principal oportunizar a leitura de textos
de temáticas relacionáveis a fim de preparar o aluno para a percepção da
linguagem literária e metafórica com intuito de contribuir para a sua formação
leitora.
Adquirir conhecimentos sobre as estratégias facilitadoras da
compreensão da leitura é um dos pressupostos básicos para melhorar as
perspectivas de letramento nas escolas. Assim, optou-se por trabalhar os
textos escolhidos seguindo as estratégias de leitura propostas por SOLÉ
(1998).
Para ela, leitura é uma inter-relação entre leitor e o texto com objetivos
específicos. Isso implica em criar sentido para a leitura, ou seja, conhecer os
objetivos, para que se possa sentir capaz de fazer e assim encontrar o
interesse. A leitura vai, portanto, além do texto e começa antes do contato com
ele, assim o leitor assume um papel atuante, deixa de ser mero decodificador
ou receptor passivo tornando-se um leitor autônomo.
(...) capaz de aprender a partir dos textos. Por isso, quem lê deve ser capaz de interrogar-se sobre sua compreensão, estabelecer relações entre o que lê e o que faz parte do seu acervo pessoal, questionar seu conhecimento e modificá-lo, estabelecer generalizações que permitam transferir o que foi aprendido para outros contextos diferentes (SOLÉ, 1998, p.72).
Solé (1998) enfatiza a ideia de que o professor pode ensinar algumas
estratégias de leitura para que seus alunos se tornem leitores maduros,
críticos, competentes, reflexivos e desenvolvendo novas aprendizagens, como
é o caso do ensino médio.
Segundo a autora, essas estratégias se compõem de ações que devem
ser utilizadas em etapas; antes, durante e depois da leitura, sempre contando
com a participação ativa do leitor. Ela elenca como estratégias fundamentais a
definição do objetivo da leitura, a atualização de conhecimentos prévios, a
previsão, a inferência e o resumo.
Primeiramente, cria-se uma motivação, um sentido para se ler
determinado texto que dependem dos objetivos propostos. Depois, diante dos
estímulos oferecidos pelos textos, ativa-se o conhecimento, prévio ligado às
vivências e experiências de mundo, armazenado na memória de nossos
alunos.
Ainda, na etapa anterior à leitura, faz-se necessário estabelecer
previsões sobre o texto que será lido por meio da observação de título,
ilustrações e do próprio texto.
Estabelecidos os objetivos, acionados os conhecimentos prévios, feitas
as previsões, caminha-se para questionamentos tendo como ponto de partida
as hipóteses e os objetivos da leitura. Depois, delimita-se o tema e resumem-
se as ideias principais.
Além disso, também é possível ampliar o conhecimento de nossos
alunos oportunizando novas leituras a partir das relações intertextuais
estabelecidas pelo texto lido. A cada leitura realizada, mais conhecimento
prévio o leitor armazena, o que favorece a construção de sentidos dos textos.
Dizemos que ocorre a intertextualidade quando um texto retoma o
conteúdo de outro.
O texto redistribui a língua. Uma das vias dessa reconstrução é a de permutar textos, que existiriam ou existem ao redor do texto considerado, e, por fim, dentro dele mesmo; todo texto é um intertexto; outros textos estão presentes nele, em níveis variáveis, sob formas mais ou menos reconhecíveis. (BARTHES, 1974, apud Koch, 2011, p. 59).
Além dos conhecimentos trazidos pelo leitor, precisamos considerar as
características de nossa linguagem que é complexa, pois cada palavra pode ter
vários significados e ser usada com um sentido diferente daquele que é o
literal. O leitor precisa, então, perceber o seu uso para poder posicionar-se
diante das ideias veiculadas pelo autor construindo outro texto, o texto do
próprio leitor. Assim, perceberá que a palavra escrita não se esgota nela
mesma, pois o leitor lhe atribui vários significados.
Observação 1: As atividades que acontecem antes, durante e após a leitura são orientadas e mediadas pelo professor . É utilizada como estratégias para desenvolver a leitura proficiente, segundo Solé (1998).
Observação 2: todos os esclarecimentos ou comentários dirigidos ao professor estarão inseridos em
Sardinha (2007) diz que a nossa linguagem possui muitos sentidos que
se chamam figurativos e explica que são os usos não literais das palavras e
expressão da língua. Dentre esses usos, destaca a metáfora eleita por muitos
como uma “figura mestra” por muitas razões.
As metáforas são recursos retóricos poderosos e são conscientemente usadas por políticos, advogados, jornalistas, escritores e poetas, entre outros, para dar mais ‘cor’ e ‘força’ a sua fala e escrita. Elas também são meios econômicos de expressar uma grande quantidade de informação. (SARDINHA, 2007, p.13-14).
Por isso, vamos abordá-la no intuito de propiciar, a nossos alunos, um
entendimento mais amplo de como conceitualizamos o mundo, as pessoas, os
sentimentos. Buscando melhorar o olhar crítico sobre as mensagens que
determinados grupos sociais querem nos passar.
Portanto, nesta unidade didática, em cada texto selecionado, faremos
uso de um conjunto de estratégias de leitura. As atividades, individuais ou
coletivas, terão o professor como mediador das questões propostas, a fim de
contribuir para que o aluno conheça as estratégias de leitura e possa utilizar as
mesmas num plano pessoal e social, proporcionando experiências por meio
das quais poderá expandir suas limitações, atentar para o uso da linguagem
conotativa, obter conhecimentos de si próprio, de outros seres humanos e da
sociedade em que vive.
Sequência Didática
Antes da Leitura
Alunos, a escola tem por finalidade trabalhar a leitura para poder
desenvolver a plena formação de vocês. Pois, quem lê mais pode além de
ampliar vocabulário, compreender melhor a estrutura e as normas da Língua
Portuguesa. Nesse sentido, o trabalho que desenvolveremos, nesta sequência,
tem como foco principal a leitura.
Você, aluno, se considera um bom leitor? Já parou para pensar em
como lê? Vamos imaginar que vocês tenham alguma atividade para cumprir,
com certeza, pensarão em como realizá-la. Por exemplo, se têm uma viagem
para fazer, escolherão o melhor horário para sair e o melhor roteiro pensando
nas possíveis paradas para alimentar-se ou descansar, preveem o retorno e
projetam hipóteses de quão prazerosa será a viagem.
Enfim, você pensa em estratégias para cumprir de forma mais eficaz as
atividades que surgirem em sua vida. Pensando nisso, este trabalho irá ajudar
você a pensar em como usar algumas estratégias para tornar o ato de ler uma
atividade de grandes descobertas.
Antes da Leitura Objetivo: despertar o interesse pelo tema.
A linguagem não verbal utiliza qualquer código que não seja a palavra,
como a música, que tem o som por sinal, a dança, que tem o movimento por sinal, a mímica, que tem o gesto por sinal, a pintura, a fotografia e a escultura, que têm a imagem por sinal, etc.
Atividade 1
Leitura de Imagem
Primeiramente, vamos apreciar um texto, que é considerado uma
linguagem não verbal.
http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/pde/arquivos/1806-6.pdf. Acesso 12/11/2012
http://peregrinacultural.wordpress.com/2009/08/24/as-parcas-ou-moiras-temidas-por-todos/ - Acesso 12/11/2012
Ao observarmos atentamente esse quadro, mesmo sem saber detalhes
sobre ele, conseguimos sentir se o mesmo nos agrada ou não. Que
sentimentos ele provoca em você? Por quê?
Encontramos obras de arte em diferentes lugares, porém qual o local
provável que esse texto circula e a que público se destina?
Ativando o conhecimento prévio e formulando hipóteses. Atividade com respostas escritas para posterior comparação.
A cor é capturada pelos olhos e interpretada pelo cérebro, porém a
sensação visual se processa de forma diferente em cada pessoa. Assim, quais
são as tonalidades de cores que você observa nessa tela? Será que se fossem
outras, mudaria nossa impressão sobre a pintura?
E as personagens que compõe o quadro.
Quem são?
Onde estão?
O que estão fazendo?
O provável objetivo para essa imagem, pensando ser uma obra que
pertence à esfera das Artes Visuais, é sensibilizar, entreter e refletir.
John Strudwick - Inglaterra, 1849-1937 - pinta essa tela em 1885 e lhe
dá o título de A Golden Thread - " Um fio de ouro”. Essa informação muda
seu olhar para os elementos que compõem o texto? Qual é o foco agora?
Por que você acha que este fio é de ouro?
O que esse metal representa para a sociedade em que você está
inserido?
Diversos artistas representam determinados sentimentos por meio de
uma estratégia chamada alegoria. O termo alegoria designa uma figura de
estilo utilizada nas artes visuais para expressar ideias abstratas e/ou
sentimentos. Trata-se de expressar um pensamento ou conceito por meio de
uma ou várias imagens, com as quais se passa de um sentido literal a um
sentido figurado ou alegórico.
Esse quadro usa desse recurso, pois tanto as personagens quanto o fio
estão sendo usados em sentido conotativo. Pensando nisso, o que você acha
que eles estão representando?
Você sabia que na mitologia greco-romana os deuses tinham o poder de
influenciar e até escolher o nosso destino? E que na idade Média, o
Atividades escritas
pensamento teocêntrico apregoava um grande poder a Deus na direção da
vida das pessoas daquela época? Isso está relacionado com a temática da
tela. Você já consegue defini-la?
Atividade 2
Muitas vezes, não estamos preparados para entender um texto não
verbal como essa tela apresentada a vocês. Por isso, se faz necessário obter
mais informações sobre o assunto abordado. Essa pode ser uma boa
estratégia e deve ser recorrente em nossa prática escolar.
Você já parou para pensar por que temos dificuldades em elaborar
títulos para os nossos trabalhos escritos? Isso acontece porque sabemos que
para um título ser bom ele deve resumir o tema proposto. Pensando nisso,
observe este título...
Este texto tem como objetivo nos informar a respeito de quem são
esses seres mitológicos e está relacionado com a tela que você admirou. Ficou
curioso...
Intertextualidade Antes da leitura Objetivo: ler para se informar.
As parcas
Na mitologia romana, para determinar o curso da vida humana havia três deusas, as Parcas que se chamavam Nona, Décima e Morta. Na mitologia grega elas eram as Moiras e tinham nomes de Cloto que significa fiar, Láquesis que é sortear e Átropos, não voltar. Elas decidiam sobre a vida e morte e nenhum outro deus, nem mesmo Júpiter (Zeus), podia contestar suas decisões. Texto na integra disponível em : http://ninitelles.blogspot.com.br/2012/02/mitos-e-lendas-as-parcas.html - dia
07/10/2012 às 19:00
1. O texto cumpriu seu objetivo de esclarecer quem eram as parcas? Comente.
2. Do que fala o texto?
3. Como as parcas eram nomeadas na mitologia grega? Quais eram os seus
nomes e o que significavam?
4. Na mitologia romana como as parcas eram conhecidas? Qual era a função
de cada uma delas?
Com certeza, agora, você entendeu o tema abordado pela obra de arte.
Observe a imagem da roda da fortuna citada no
texto sobre as parcas.
Fonte: Rita de Cássia Camillo
Após a leitura silenciosa do texto o professor deverá ler o mesmo em voz alta. Este provocará e mediará a discussão com os alunos, dando oportunidade a todos que queiram manifestar-se e incluindo outros. Leitura compartilhada: professor e aluno assumem a responsabilidade de organizar a tarefa de leitura. A proposta é que as atividades durante a leitura sejam feitas apenas oralmente.
Após a leitura
Leia esta estrofe da música Roda Viva de Chico Buarque:
"A gente quer ter voz ativa
No nosso destino mandar
Mas eis que chega a roda viva
E carrega o destino prá lá…"
Tanto a música quanto a ilustração da roda da fortuna demonstram o
poder do destino. Você saberia dizer o que significa essa roda e a localização
das pessoas representadas nela?
Atividade 3
Fonte: Rita de Cássia Camillo
1. Você conhece esse objeto? Qual é sua utilidade? Como chamamos as
pessoas que manuseiam esse instrumento?
2. Nos dias atuais, você observa alguém usando esse tipo de objeto?
Antes da leitura: (atividade oral). Ativar o conhecimento prévio promovendo perguntas aos alunos sobre a imagem para a formulação de hipóteses.
3. O texto que leremos, agora, se caracteriza por apresentar apenas um
conflito, ele é curto, tem poucos personagens, poucas ações e o tempo e o
espaço são reduzidos. Você saberia nomear esse gênero? Qual a estrutura de
texto que você possivelmente encontrará?
Observe este título:
a. Que enredo você acha que esse título resume?
b. Qual poderia ser o conflito que poderemos encontrar nesta história?
c. Você acredita que toda narrativa tenha um final feliz? É isso que acontecerá
neste texto?
d. O substantivo "moça" traz algumas características e estereótipos. Quais
seriam? Essas informações condizem com o sentido dessa palavra para os
dias atuais?
Quem escreveu esse texto foi Marina Colasanti. Vamos saber mais sobre ela...
Antes da leitura: (atividades escritas)
Marina Colasanti (1938) nasceu em Asmara, Etiópia, morou 11 anos na Itália e desde então vive no Brasil. Publicou vários livros de contos, crônicas, poemas e histórias infantis. Recebeu o Prêmio Jabuti com Eu sei, mas não devia e também por Rota de Colisão. Dentre outros, escreveu E por falar em amor, Contos de amor rasgados, Aqui entre nós, Intimidade pública, Eu sozinha, Zooilógico, A morada do ser, A nova mulher, Mulher daqui pra frente, O leopardo é um animal delicado, Esse amor de todos nós, Gargantas abertas e os escritos para crianças Uma idéia toda azul e Doze reis e a moça do labirinto de vento. Colabora, também, em revistas femininas e constantemente é convidada para cursos e palestras em todo o Brasil. Casada com o escritor e poeta Affonso Romano de Sant’Anna. (Texto e perfil extraídos do livro "Doze Reis e a Moça no Labirinto do Vento", Global Editora, RJ, 2000.)
e. Após essas informações, suas hipóteses quanto ao enredo da trama se
modificaram?
Marina Colasanti(2004) diz:
Vamos ao texto...
Acordava ainda no escuro, como se ouvisse o sol chegando atrás das
beiradas da noite. E logo sentava-se ao tear. Linha clara, para começar o dia. Delicado traço cor da luz, que ela ia passando entre os fios estendidos, enquanto lá fora a claridade da manhã desenhava o horizonte.
Depois lãs mais vivas, quentes lãs iam tecendo hora a hora, em longo tapete que nunca acabava.
Se era forte demais o sol, e no jardim pendiam as pétalas, a moça colocava na lançadeira grossos fios cinzentos do algodão mais felpudo. Em breve, na penumbra trazida pelas nuvens, escolhia um fio de prata, que em pontos longos rebordava sobre o tecido. Leve, a chuva vinha cumprimentá-la à janela.
Mas se durante muitos dias o vento e o frio brigavam com as folhas e espantavam os pássaros, bastava a moça tecer com seus belos fios dourados, para que o sol voltasse a acalmar a natureza.
Assim, jogando a lançadeira de um lado para outro e batendo os grandes pentes do tear para frente e para trás, a moça passava os seus dias.
Nada lhe faltava. Na hora da fome tecia um lindo peixe, com cuidado de escamas. E eis que o peixe estava na mesa, pronto para ser comido. Se sede vinha, suave era a lã cor de leite que entremeava o tapete. E à noite, depois de lançar seu fio de escuridão, dormia tranqüila.Tecer era tudo o que fazia. Tecer era tudo o que queria fazer. Mas tecendo e tecendo, ela própria trouxe o tempo em que se sentiu sozinha, e pela primeira vez pensou em como seria bom ter um marido ao lado.
Não esperou o dia seguinte. Com capricho de quem tenta uma coisa nunca conhecida, começou a entremear no tapete as lãs e as cores que lhe dariam companhia. E aos poucos seu desejo foi aparecendo, chapéu
“[...] o que me interessa não é contar uma história. É utilizar uma história para lidar com o amor e com o ódio, com o medo, o ciúme, o desejo, a grandeza humana, sua pequenez e sua morte”.
emplumado, rosto barbado, corpo aprumado, sapato engraxado. Estava justamente acabando de entremear o último fio da ponto dos sapatos, quando bateram à porta.
Nem precisou abrir. O moço meteu a mão na maçaneta, tirou o chapéu de pluma, e foi entrando na sua vida.
Aquela noite, deitada no ombro dele, a moça pensou nos lindos filhos que teceria para aumentar ainda mais a sua felicidade.
E feliz foi, durante algum tempo. Mas se o homem tinha pensado em filhos, logo os esqueceu. Porque tinha descoberto o poder do tear, em nada mais pensou a não ser nas coisas todas que ele poderia lhe dar.
— Uma casa melhor é necessária — disse para a mulher. E parecia justo, agora que eram dois. Exigiu que escolhesse as mais belas lãs cor de tijolo, fios verdes para os batentes, e pressa para a casa acontecer.
Mas pronta a casa, já não lhe pareceu suficiente. — Para que ter casa, se podemos ter palácio? — perguntou. Sem querer
resposta imediatamente ordenou que fosse de pedra com arremates em prata. Dias e dias, semanas e meses trabalhou a moça tecendo tetos e portas,
e pátios e escadas, e salas e poços. A neve caía lá fora, e ela não tinha tempo para chamar o sol. A noite chegava, e ela não tinha tempo para arrematar o dia. Tecia e entristecia, enquanto sem parar batiam os pentes acompanhando o ritmo da lançadeira.
Afinal o palácio ficou pronto. E entre tantos cômodos, o marido escolheu para ela e seu tear o mais alto quarto da mais alta torre.
— É para que ninguém saiba do tapete — disse. E antes de trancar a porta à chave, advertiu: — Faltam as estrebarias. E não se esqueça dos cavalos!
Sem descanso tecia a mulher os caprichos do marido, enchendo o palácio de luxos, os cofres de moedas, as salas de criados. Tecer era tudo o que fazia. Tecer era tudo o que queria fazer.
E tecendo, ela própria trouxe o tempo em que sua tristeza lhe pareceu maior que o palácio com todos os seus tesouros. E pela primeira vez pensou em como seria bom estar sozinha de novo.
Só esperou anoitecer. Levantou-se enquanto o marido dormia sonhando com novas exigências. E descalça, para não fazer barulho, subiu a longa escada da torre, sentou-se ao tear.
Desta vez não precisou escolher linha nenhuma. Segurou a lançadeira ao contrário, e jogando-a veloz de um lado para o outro, começou a desfazer seu tecido. Desteceu os cavalos, as carruagens, as estrebarias, os jardins. Depois desteceu os criados e o palácio e todas as maravilhas que continha. E novamente se viu na sua casa pequena e sorriu para o jardim além da janela.
A noite acabava quando o marido estranhando a cama dura, acordou, e, espantado, olhou em volta. Não teve tempo de se levantar.
Ela já desfazia o desenho escuro dos sapatos, e ele viu seus pés desaparecendo, sumindo as pernas. Rápido, o nada subiu-lhe pelo corpo, tomou o peito aprumado, o emplumado chapéu.
Então, como se ouvisse a chegada do sol, a moça escolheu uma linha clara. E foi passando-a devagar entre os fios, delicado traço de luz, que a manhã repetiu na linha do horizonte.
http://portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecnicaAula.html?aula=9931 - Acesso 12/11/2012
Reconhecendo o Gênero
Conto
Quem escreve? Escritor, contistas, autor ficcionista.
Onde circula? Ambientes educacionais e
residenciais, principalmente via
revistas literárias, livros ou sites.
Quem lê? Leitor em geral, interessados em
literatura, estudantes.
Por que lê? Divertir/refletir sobre o tema abordado,
analisar/admirar a utilização da
linguagem e o enredo de narrativas
curtas.
Reação em resposta à leitura Entusiasmo, desejo de relatar o que
leu, desejo de ler mais textos do
mesmo gênero ou de conhecer mais
sobre o assunto.
Estrutura textual Apresenta um narrador que pode
participar da história (personagem) ou
ser apenas um observador
(onisciente) e personagens inseridos
no espaço e no tempo.
Apresenta um enredo, cuja estrutura
se compõe de: apresentação,
complicação, clímax e desfecho.
Mecanismos linguísticos Linguagem criativa, culta, com apelo à
fantasia cujo objetivo é mais sugerir
do que dizer, a linguagem é
conotativa. Os tempos verbais
utilizados geralmente são o pretérito
perfeito e o imperfeito.
(FONTANA,2009) adaptado
Vamos voltar ao texto...
1. Observe o terceiro e quarto parágrafos. Você consegue perceber a
passagem do tempo nesses fragmentos? Justifique.
2. Qual a evidência, no texto, que a moça dava conta de suas
necessidades básicas e era independente?
3. Descreva as características físicas desse marido, pensadas pela
moça tecelã. Você consegue relacioná-las a algum estereótipo existente?
4. Quanto ao aspecto psicológico do marido, a protagonista faz algumas
previsões, mas essas não se manifestam. Por isso, imagine quais poderiam
ser as características psicológicas reais desse moço e assinale as mais
prováveis.
( ) sedutor
( ) autoritário
( ) sensível
( ) dominador
( ) romântico
( ) ambicioso
Outras: ----------------------------------------------------------------------------------------------
5. No décimo primeiro parágrafo, encontramos um conectivo que marca
a ideia de contradição, revelando que o mundo idealizado pela moça entrará
em choque com outros ideais. Escreva-o.
6. Que verbos, encontrados no texto, caracterizam a personalidade
autoritária do marido?
7. Presa no alto da torre, a tecelã trabalhava muito, porém sem o prazer
de antes. Qual é a frase que comprova essa ideia? O que essas palavras têm
em comum?
8. Ao sentir-se só, a moça tece um companheiro. Ela começa a tecê-lo
por onde? No final do conto, ela o destece, começando por qual parte do
corpo? O que você pensa sobre essa mudança?
Durante a leitura Objetivo: ensinar os alunos a compreender e controlar a compreensão da leitura. Questões encaminhadas pelo professor e respondidas pelos alunos por escrito.
Após a leitura Objetivo: obter informação do momento histórico e refletir sobre os dias atuais. Leitura oral pelo professor e reflexão oral pelos alunos. .
Libby (1997) informa que além das atividades agrícolas responsáveis
pela expansão das produções brasileiras, no final do século XVIII, as atividades
têxteis artesanais e domésticas estavam desabrochando.
Em vista disso, com a grande demanda de tecidos nessa época, as
mulheres passaram a ter que produzir muito e isso fez com que elas ficassem
restritas ao espaço de sua casa.
O conto, A Moça Tecelã, foi criado no século XX, porém o ato de tecer
faz com que pensemos numa retomada à condição da mulher no século XVIII
que por meio da tecelagem, mesmo restrito ao ambiente doméstico, pode se
inserir na sociedade enquanto produtora de cultura.
E você o que pensa da condição social da mulher na atualidade?
1. Você sabe que manifestação artística é considerada a sétima arte?
Observe este texto:
Antes da leitura: (atividade oral) ativar o conhecimento prévio, .
Um arquiteto viciado em trabalho encontra um controle
remoto universal que permite avançar ou voltar no
tempo, em diferentes fases da vida de quem o opera.
Tudo funciona muito bem, até que as escolhas
começam a ser rejeitadas pelo controle, e, logo, as
vantagens se transformam em desvantagens.
1. Você sabia que esse tipo de texto tem como objetivo nos auxiliar
numa escolha, que discute de forma objetiva o tema ou assunto tratado. Em
que suportes provavelmente o texto circulou?
2. Você conhece a qual filme pertence essa sinopse?
http://barbaranonato.wordpress.com/2011/08/24/click-psychomovies/ acesso outubro/2012
Assistam ao filme
Professor, fica a seu critério a organização da sessão de cinema. O importante é que todos os alunos assistam.
Imagem disponível da capa do DVD no site:
http://megafilmesdoyoutube.blogspot.com.br/2012/
07/click-filme-dublado.html - Acesso em 20 de
outubro de 2012.
FICHA TÉCNICA Diretor: Frank Coraci Elenco: Adam Sandler, Kate Beckinsale, Christopher Walken, Sean Astin, David Hasselhoff, Jennifer Coolidge. Produção: Jack Giarraputo, Steve Koren, Neal H. Moritz, Mark O’Keefe, Adam Sandler Roteiro: Jack Giarraputo, Tim Herlihy, Steve Koren, Mark O’Keefe, Adam Sandler Fotografia: Dean Semler Trilha Sonora: Teddy Castellucci Duração: 105 min. Ano: 2006 País: EUA Gênero: Comédia Cor: Colorido Estúdio: Columbia Pictures Corporation / Revolution Studios / HappyMadison Productions / Original Film Classificação: Livre
O filme traz uma reflexão sobre a tendência do homem de querer
controlar a vida, controlar os fatos, os acontecimentos de forma a ter somente o
lado bom sem perdas, dificuldades ou problemas. Esse poder de controle te
lembra algum texto abordado anteriormente? Justifique.
O final do texto A Moça Tecelã nos remete a um recomeço, a uma nova
chance de buscar o que queremos da vida. É o que acontece também no final
do filme Click quando Morty lhe encaminha o controle remoto e o protagonista
o coloca no lixo. O que você pensa a respeito das escolhas desses
personagens?
Tanto no conto como no filme, a crença no destino não se configura, os
protagonistas buscam, a sua maneira, fazer suas opções. Porém sabemos que
em nossas vidas, em nossa sociedade, mesmo que não queiramos temos
limites que devem ser observados para a convivência social adequada. Você
saberia dizer quais seriam possíveis elementos que podem cercear nossas
ações?
Quem nunca quis pular, avançar ou retroceder alguns momentos em sua
vida? Porém se pulamos ou avançamos etapas estaremos realmente vivendo
as nossas escolhas? Justifique.
Marina Colasanti inicia seu conto mostrando uma personagem
autônoma, numa perspectiva mais contemporânea, uma mulher profissional
que conduz sua própria vida. Essa vida é representada de diferentes formas,
Após a sessão de cinema. Objetivo: identificar a mensagem principal transmitida por meio do filme; fazer leitura de mundo transferindo para sua vida experiências vivenciadas pelos personagens. .
Após a leitura Objetivo: Reconhecer o uso da linguagem figurada e da intertextualidade. Atividade feita por escrito. .
.
utilizando da linguagem figurada, conotativa. Na tela é associada ao fio de
ouro. E no conto, como ela é então concebida? O que você achou dessa
comparação?
No texto A Moça Tecelã, o objeto que proporciona a ela o poder de
transformar as escolhas em realidade é o tear. No filme, o personagem
principal também consegue conduzir as suas escolhas, porém de maneira mais
futurista. Que objeto simboliza o poder de decidir e até de intervir no destino?
Você já havia parado para pensar nessa comparação feita entre o ato de tecer
e o ato de clicar? No poder que eles têm em nossa formação?
No conto observamos uma mulher que rompe com os rígidos valores de
uma sociedade. O que, metaforicamente, representa essa ação no texto? Já no
filme, observamos o resgate de um determinado valor social. Você consegue
identificá-lo e o considera importante para a atual sociedade?
Enfim, tanto o conto como o filme nos leva a refletir que o nosso destino
está em nossas mãos, ele será o resultado das escolhas que vamos tomando
ao longo da vida, e do potencial de responsabilidade que depositamos ao fazê-
las. Cada um de nós pode tomar nosso pequeno tear individual e fiar, tecer,
narrar, criar nossa própria história sem medo de errar, se reconstruindo a cada
escolha.
Alunos, espero que dentre as escolhas que vocês fizerem permaneçam,
sempre, a opção pela .
FORMA DE AVALIAÇÃO DOS ALUNOS
Os alunos serão avaliados desde o início do projeto: Estratégias e
intertextualidade no incentivo à leitura. O professor deverá frequentemente
observar o interesse, a participação e, principalmente, o envolvimento dos
alunos durante todo o processo das atividades.
REFERÊNCIAS
COLASANTI, Marina. A moça tecelã: In: Doze reis e a moça no labirinto do vento. 1ª. Ed. São Paulo - Círculo do Livro, 1988. COLASANTI, Marina. Fragatas para terras distantes. Rio de Janeiro: Record,
2004.
FONTANA, Niura Maria. Práticas de linguagem: gêneros discursivos e interação. Caxias do Sul, RS: Educs, 2009. KOCH, Ingedore Grunfeld Villaça. O texto e a construção de sentidos.10. ed.- São Paulo: Contexto, 2011. LIBBY, Douglas Cole. Notas sobre a produção têxtil brasileira no final do século XVIII: novas evidências de Minas Gerais. Estudos Econômicos. Vol. 27, n.1. Janeiro/Abril, 1997. Disponível em: uspbr/estecon/index. php/estecon//article/ MITOS E LENDAS, As Parcas. Disponível em: http:// ninitelles.blogspot. com. br/2012/02/mitos-e-lendas-as-parcas.html. - Acesso dia 07/10/2012 às 19:00 PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. Diretrizes Curriculares da Educação Básica de Língua Portuguesa. Curitiba, 2008. SARDINHA, Tony Beber. Metáfora. São Paulo: Parábola Editorial, 2007. SOLÉ, Isabel. Estratégias de leitura. trad. Cláudia Schilling - 6. ed. - Porto alegre: Artes médicas, 1998. STRUDWICK,John Melhuish. Pinturas de Artes e Humor de Mulher. Disponível em : http://artesehumordemulher.wordpress.com/pinturas-de-john-melhuish-strudwick/