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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA CENTRO DE EDUCAÇÃO CURSO DE GRADUAÇÃO EM PEDAGOGIA A DISTÂNCIA PESQUISA EM EDUCAÇÃO III: BASES METODOLÓGICAS 3º semestre

1 - PED Fin 5sem Pesquisa Educacao III Completa [1]

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Estudo e pesquisa

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  • UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA

    CENTRO DE EDUCAO

    CURSO DE GRADUAO

    EM PEDAGOGIA A DISTNCIA

    PESQUISA EM EDUCAO III: BASES METODOLGICAS 3 semestre

  • Presidente da Repblica Federativa do Brasil Luiz Incio Lula da Silva

    Ministrio da EducaoFernando HaddadMaria Paula Dallari BucciCarlos Eduardo Bielschowsky

    Universidade Federal de Santa MariaFelipe Martins MllerDalvan Jos ReinertMaria Alcione Munhoz Andr Luis Kieling RiesJos Francisco Silva DiasJoo Rodolpho Amaral FlresOrlando FonsecaCharles Jacques PradeHelio Lees HeyVania de Ftima Barros EstivaleteFernando Bordin da Rocha

    Coordenao de Educao a DistnciaFabio da Purificao de BastosCarlos Gustavo Martins HoelzelRoberto CassolDaniel Lus Arenhardt

    Centro de EducaoHelenise Sangoi AntunesRosane Carneiro Sarturi

    Elaborao do ContedoTaciana Camera Segat

    Ministro do Estado da Educao

    Secretria da Educao Superior

    Secretrio da Educao a Distncia

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    Vice-Reitor

    Chefe de Gabinete do Reitor

    Pr-Reitor de Administrao

    Pr-Reitor de Assuntos Estudantis

    Pr-Reitor de Extenso

    Pr-Reitor de Graduao

    Pr-Reitor de Planejamento

    Pr-Reitor de Ps-Graduao e Pesquisa

    Pr-Reitor de Recursos Humanos

    Diretor do CPD

    Coordenador CEAD

    Coordenador UAB

    Coordenador de Plos

    Gesto Financeira

    Diretora do Centro de Educao

    Coordenadora do Curso de Pedagogia a Distncia

    Professora pesquisadora/conteudista

  • Equipe Multidisciplinar de Pesquisa eDesenvolvimento em Tecnologias da Informao e Comunicao Aplicadas EducaoElena Maria MallmannVolnei Antnio MattAndr Zanki CordenonsiIlse Abegg

    Produo de Materiais DidticosEvandro BertolMarcelo Kunde

    Diana Cervo Cassol

    Marta AzzolinSamariene PilonSilvia Helena Lovato do Nascimento

    Cau Ferreira da SilvaNatlia de Souza Brondani

    Emanuel Montagnier PappisMaira Machado Vogt

    ndrei CamponogaraBruno Augusti Mozzaquatro

    Coordenadora da Equipe Multidisciplinar

    Materiais Didticos

    Desenvolvimento Tecnolgico

    Capacitao

    Designer

    Designer

    Orientao Pedaggica

    Reviso de Portugus

    Ilustrao

    Diagramao

    Suporte Moodle

  • sumrioUnidade 1Tipos e nveis de pesquisa 5

    1.1 Pesquisa bsica e pesquisa aplicada ......................................................................... 51.2 Pesquisa histrica ............................................................................................................ 61.3 Pesquisa descritiva .......................................................................................................... 81.4 Pesquisa explicativa ........................................................................................................ 81.5 Pesquisa tipo estudo de caso ....................................................................................... 91.6 Pesquisa exploratria ................................................................................................... 111.7 Pesquisa tipo estudo de campo ................................................................................ 121.8 Pesquisa causal comparativa (ou ex-post facto) ................................................... 131.9 Pesquisa experimental ................................................................................................. 131.10 Pesquisa participante .................................................................................................. 151.11 Pesquisa-ao ................................................................................................................ 151.12 Pesquisa bibliogrfica e pesquisa documental.................................................... 161.13 Pesquisa etnogrfica .................................................................................................... 18

    Unidade 2abordagens meTodolgicas da pesquisa educacional 20

    2.1 Mtodo indutivo ............................................................................................................... 212.2 Mtodo dedutivo.............................................................................................................. 222.3 Mtodo hipottico-dedutivo ....................................................................................... 22

    Unidade 3procedimenTos meTodolgicos na pesquisa qualiTaTiva 24

    3.1 Observao participante ............................................................................................... 253.2 Entrevista ........................................................................................................................... 273.3 Histria de vida ................................................................................................................ 283.4 Anlise de contedo ....................................................................................................... 32

    referncias bibliogrficas 34

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    unidade 1Tipos e nveis de pesquisa

    Ao iniciarmos nossa leitura, poderamos primeiramente pontuar al-gumas diferenas entre a pesquisa quantitativa e a pesquisa qua-litativa. Como j sabemos de estudos anteriores, a cincia nasce, no incio da era moderna, com a pretenso de afirmar a limitao de nosso conhecimento fenomenalidade do real. E esse conhe-cimento dos fenmenos, por sua vez, limitava-se expresso de uma relao funcional de causa a efeito que s podia ser entendida atravs de uma funo matemtica. Por este motivo, toda lei cien-tfica necessitava ser fundada em uma formulao matemtica, ex-primindo uma relao quantitativa. Da a caracterstica original do mtodo cientfico ser sua configurao experimental-matemtica.

    Assim, de acordo com Chittozzi (2009), esse modelo positivista de construo de conhecimento foi se adaptando s necessidades da organizao do mundo fsico, fortalecendo-se como principal caminho para a constituio das cincias, in clusive daquelas que pretendiam conhecer tambm o mundo humano. Contudo, sem de-mora os cientistas se deram conta de que o conhecimento e o trn-sito desse mundo humano no poderiam ser reduzidos a modelos e parmetros elaborados por esta compreenso metodolgica.

    Ao pensarmos a pesquisa quantitativa ou qualitativa, prefer-vel tratarmos por abordagem quantitativa e abordagem qualitativa, vez que com essa denominao possibilita nos remeter aos conjun-tos de metodolo gias. Neste contexto, so diversas as metodolo-gias de pesquisa que podem estar inseridas dentro da abordagem qualitativa, pois o que as insere em um grupo ou outro so seus fundamentos epistemolgicos.

    1.1 pesquisa bsica e pesquisa aplicadaAo se tratar da pesquisa bsica e da pesquisa aplicada, ou pes-quisa acadmica e pesquisa tecnolgica, as contraditoriedades e rupturas no so novidade, nem tampouco parecem haver encon-trado um caminho em comum.

    Como estabelecer vnculos articulando pesquisa acadmi-ca, pesquisa bsica e pesquisa aplicada uma das problemticas que move a poltica cientfica e tecnolgica em todas as reas de conhecimento. Tal problemtica tem relao, especialmente, com os motivos pelos quais os pesquisadores se movimentam e com a aplicao, ou lugar a que se destina, ou mesmo com a apropriao social dos dados e resultados dos processos de pesquisa.

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    Neste caminho apropriado clarificar alguns conceitos:

    Por pesquisa acadmica entenderemos aquela que tem por motivao

    a descoberta de fenmenos empricos importantes, que possam avanar

    o conhecimento em determinado campo, de acordo com o consenso da

    comunidade de especialistas. Por pesquisa aplicada entenderemos

    aquela que tem um resultado prtico visvel em termos econmicos ou

    de outra utilidade que no seja o prprio conhecimento; e por pesquisa

    bsica aquela que acumula conhecimentos e informaes que podem

    eventualmente levar a resultados acadmicos ou aplicados importantes,

    mas sem faz-lo diretamente. (schwartzman, acesso 2010).

    Portanto pensar em como articular as diferentes formas de pes-quisa cientfica, geralmente tratado de maneira abstrata, com pou-ca ou nenhuma estratgia de ao prtica, ou como oposio entre dois modelos alternativos de encaminhar e organizar o processo de pesquisa. Privilegia-se ora a pesquisa acadmica, como aquela mais qualificada para o encaminhamento do desenvolvimento intelectu-al, autnomo e comprometido dos pesquisadores; ora a pesquisa aplicada, acreditando nesta como capaz de organizar e articular a pesquisa cientfica com os interesses sociais e econmicos.

    De acordo com Schwartzman, o conflito apenas no mundo das ideias destes dois modelos de pesquisa nem sempre considera a re-alidade com a qual trabalham os cientistas, que sempre o resultado de uma combinao entre necessidades, interesses, expectativas e aspiraes nem sempre tendem para o mesmo ponto ou objetivo.

    Neste contexto, os cientistas so chamados para dentro das sa-las de aula das universidades, ao mesmo tempo que se espera deles que faam pesquisas acadmicas. Assim adentrarem as aulas em cur-sos de graduao e ps-graduao, preocupam-se em contribuir para atividades socialmente relevantes, zelam por suas carreiras profissio-nais e buscam trabalhos que lhes deem rendimentos satisfatrios.

    Observar e compreender esta complexa trama caminho para que as figuras do cientista pesquisador e do professor se tornem uma s. Perseguindo uma formao no compartimentalizada na qual o fazer e o pensar estejam a cargo de um mesmo profissional que, ao mesmo tempo em que se compromete com a qualificao do saber de seus alunos, tambm se compromete com a produo de conhecimentos econmicos e sociais de maneira mais geral.

    1.2 pesquisa hisTricaA histria, como campo do saber, no tem seus limites nos muros da universidade, uma vez que, em um sentido amplo, histria se estabelece como memria social, algo intrnseco nossa civiliza-o. Desde as sociedades mais primitivas, com suas formas es-pecficas de registrar suas vivncias, passando pela Idade Mdia,

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    at os dias de hoje, organizamos nossa cultura imersa em uma necessidade de progresso da histria.

    Anterior pesquisa acadmica, a histria como jornada de inquie-tao e dvida, antecede o nascimento das cincias, especialmente das cincias sociais, o que facilmente estudado atravs da histria. Neste contexto, no precisamos nos preocupar com questes sobre o que ou para que serve a historia, preciso que se entenda o que a histria simplesmente , e no vai deixar de ser por nenhum motivo.

    Por vezes, ouve-se dizer que a pesquisa histrica profissional, o que significa entender que esta deve ser realizada dentro da Univer-sidade, contudo muitas vezes ouvimos falar que excelentes obras de histria foram produzidas fora da Universidade, ao passo que outras bastante medocres foram produzidas dentro dela. (andrade, 2009)

    Na realidade, existem algumas caractersticas de cunho tc-nico que diferenciam e qualificam uma pesquisa histrica: levan-tamento exaustivo das fontes, tratamento sistemtico dos dados, indicao precisa da documentao, reconhecimento bibliogrfico cuidadoso, citaes corretas, alm da preocupao com problemas metodolgicos. Mesmo no sendo possvel afirmar que um levan-tamento documental deu conta de todo o universo a ser consul-tado, h um mnimo de critrios a serem observados para que se possa iniciar a redao de um trabalho.

    De acordo com Pimentel (2001), os estudos baseados em do-cumentos como material primordial so, na maioria das vezes, o caso da pesquisa histrica, sejam revises bibliogrficas, sejam pesquisas historiogrficas, ao passo que subtraem as anlises que vem sendo construdas, organizando-as e interpretando os dados segundo os objetivos da investigao proposta.

    Esta uma pesquisa em que o sujeito do pesquisador possui espao restrito, uma vez que se trata de um processo minucioso de procura de categorias de anlise que depende dos documentos, os quais ainda precisam ser encontrados nas prateleiras, para ento receber um tratamento que, orientado pelo problema de pesquisa, possibilite organizar o universo da pesquisa.

    Embora na pesquisa histrica uma parte significativa dos per-sonagens, das instituies e dos acontecimentos no pertenam ao cenrio atual, isto no significa que estejam confinados ao esque-cimento. Ao contrrio, eles continuam presentes de alguma forma, haja vista que nossas pesquisas e nossos conhecimentos partem do que anteriormente foi elaborado.

    por meio deste entendimento que se torna possvel a arti-culao entre o presente e o passado, ao se buscar estabelecer vnculos entre esses dois tempos histricos da atividade humana, encaminhando-nos para alm de anlises do presente.

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    Portanto, de acordo com Pimentel (2001), o trabalho realizado com documentos histricos torna-se de suma importncia me-dida que o pesquisador consegue superar os limites inerentes ao prprio material pesquisado. Um destes limites se concretiza na mutilao do conhecimento estudado, vez que nos permite pes-quisar aquela realidade sob um ponto de vista. Assim, o documen-to traduz a interpretao de fatos reais elaborada por seu autor sob sua prpria leitura do objeto estudado, portanto, no deve ser entendido como uma descrio ou interpretao neutra dos fatos.

    1.3 pesquisa descriTivaAo se optar pelas pesquisas descritivas, tem-se por objetivo investigar e descrever as carac tersticas de determinada populao ou fenme-no. Neste universo so muitos os estudos que podem ser classificados como pesquisa descritiva, observando ainda que uma das caracters-ticas mais marcantes est justamente na utilizao de tcnicas de co-leta de dados, tais como o questionrio e a observao sistemtica.

    Esta pesquisa ainda tem por objetivo estudar as caractersticas de um grupo: sua distribuio por idade, sexo, procedncia, nvel de escolaridade, entre outras. Dentro deste espao de pesquisa possvel ainda estudar o nvel de atendimento dos rgos pblicos de uma comunidade, as condies de vida dos moradores e seus espaos, o ndice de criminalidade, etc. So includas neste grupo as pesquisas que tm por objetivo averiguar as opinies, atitudes e crenas de uma populao. Alm disso, so tambm pesquisas descritivas aquelas que visam descobrir a existncia de associa-es entre variveis, como, por exemplo, as pesquisas sobre os nveis de alfabetizao das crianas de uma determinada regio demogrfica indicam a relao entre os achados da pesquisa e o nvel socioeconmico da populao atendida. (GIL, 2009)

    Algumas pesquisas descritivas extrapolam a simples constata-o da existn cia de relaes entre variveis, objetivando ir alm, buscando as causas que estabelecem essas relaes. E justamente na busca destas relaes que a pesquisa descritiva pode se aproxi-mar da pesquisa exploratria, uma vez que, ao buscar causas, pode viabilizar uma maneira diferente de olhar para a situao-problema.

    Nesta direo, de acordo com Severino (2007), tanto as pesquisas descritivas, quanto as pesquisas exploratrias, so as mais praticadas pelos pesquisadores sociais comprometidos com a atuao prtica.

    1.4 pesquisa explicaTivaEste tipo de pesquisa tem como principal objetivo determinar que motivos, causas ou fatores estabelecem ou colaboram para a ocorrn-cia de determinada situao ou fenmeno considerado problemtico. De acordo com Gil (2009), a pesquisa do tipo explicativa a que mais

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    contribui para o aprofundamento do conhecimento da realidade, por-que explica a razo, o porqu das coisas, o motivo pelo qual as rela-es se estabelecem de determinada maneira. Por esta razo, concre-tiza-se como o tipo mais complexo e delicado de pesquisa, uma vez que o risco de cometer erros aumenta de forma importante.

    No contexto desta pesquisa, torna-se vivel dizer que o conhe-cimento cientfico se firma por meio dos resultados oferecidos pe-las investigaes de cunho explicativo. Isso no significa, contudo, dizer que as outras modalidades de pesquisas tenham valor infe-rior, uma vez que, na maioria das vezes, constituem etapas prvias importantes para que se possa chegar a resultados satisfatrios.

    Vale lembrar que as pesquisas explicativas nas cincias na-turais utilizam basicamente o mtodo experimental. Contudo, nas cincias sociais, a aplicao deste mtodo no se d de maneira to tranquila, optando-se, na maioria das vezes, por mtodos que priorizam a observao. No entanto, como alerta Gil (2009), por ve-zes difcil a concretizao de pesquisas rigidamente explicativas em cincias sociais, justamente pela mobilidade e capacidade de autotransformao dos fenmenos pesquisados nesta rea.

    1.5 pesquisa Tipo esTudo de casoEste tipo de pesquisa foca sua viso no estudo de um caso particular, que possa ser entendido como representativo de um conjunto de ca-sos semelhantes a ele. O processo de coleta dos dados e sua anlise se do de maneira semelhante realizada nas pesquisas de campo.

    Ao se optar por este tipo de pesquisa, importante observar que o caso escolhido para a pesquisa deve ser significativo e bas-tante repre sentativo, de modo a permitir que se generalizem as concluses para situaes anlogas. Os dados devem ser cole tados e registrados com o necessrio rigor, seguindo todos os procedi-mentos da pesquisa de campo (SEVERINO, 2007).

    Neste mesmo encaminhamento, Chizzotti (2009) observa que o estudo de caso uma maneira de colocar em evidncia aspectos abrangentes de um determinado fenmeno a fim de viabilizar a elaborao, atravs de um caso particular ou de vrios casos, de um referencial terico, prtico, analtico e crtico de uma experin-cia, objetivando propor aes que viabilizem a transformao da situao observada como problemtica.

    O caso investigado como unidade significativa do todo re-presentativo de um marco de referncia de complexas condies socioculturais, que por fim dem conta de retratar uma realidade, ao mesmo tempo em que revelam a multiplicidade de aspectos globais, presentes em uma dada situao focalizada.

    No mesmo encadeamento de pensamentos, GIL (2009) apre-senta o estudo de caso tendo como principal caracterstica o es-

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    tudo profundo e exaustivo de um ou poucos objetos, objetivando seu amplo e detalhado conhecimento.

    No caso das cincias biomdicas, o estudo de caso possui lon-ga tradio e preferncia por parte de muitos pesquisadores. Nes-te contexto ele habitualmente empregado em estudo-piloto, na tentativa de esclarecer e compreender o campo da pesquisa em seus mltiplos aspectos, e ainda para a descrio de sndromes raras. Seus resultados, de modo geral, so apresentados em aberto, ou seja, na condio de hipteses, no de concluses.

    Contudo, historicamente nas cincias, por longo tempo, o es-tudo de caso foi entendido como procedi mento pouco rigoroso, que serviria apenas para estudos de natureza exploratria. Hoje, porm, encarado como a opo de pesquisa mais adequada para a investigao de um fenmeno contemporneo dentro de seu contexto real, no qual possvel observar os sujeitos reais em mo-vimento dando vida ao fenmeno e a seus conflitos.

    So estes encaminhamentos que, de acordo com Gil (2009), tm justificado, nas cincias sociais, a crescente demanda pelo es-tudo de caso. So diferentes os objetivos que levam os pesquisa-dores a optarem por este tipo de pesquisa, entre eles:

    a. explorar situaes da vida real cujos limites no esto claramente de-

    finidos;

    b. preservar o carter unitrio do objeto estudado;

    c. descrever a situao do contexto em que est sendo feita determinada

    investigao;

    d. formular hipteses ou desenvolver teorias; e

    e. explicar as variveis causais de determinado fenmeno em situaes

    muito complexas que no possibilitam a utilizao de levantamentos

    e experimentos. (gil, 2009, p. 54)

    Assim ainda no que se refere crescente preferncia por este tipo de pesquisa nas Cincias Sociais, possvel observarmos muitas contestaes a respeito de sua utilizao. A principal delas est ligada falta de rigor metodolgico, uma vez que no possui procedimen-tos metodolgicos rigidamente pr-estabelecidos, o que por sua vez acaba por facilitar os vieses nos estudos de caso, acabando muitas vezes por comprometer o resultado final do trabalho. Contudo, vale lembrar que os vieses no so exclusividades dos estudos de caso, podendo tambm ser encontrados em outras formas de pesquisa.

    Na sequncia, outra restrio diz respeito dificuldade de genera-lizao, uma vez que a anlise de um nico ou de poucos casos relacio-nados fornece uma base muito frgil para a generalizao. Todavia, o estudo de caso no tem por objetivo dar a conhecer as caractersticas precisas de determinada populao, mas, sim, viabilizar a identificao

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    de possveis fatores que o influenciam ou que so influenciados por ele, possibilitando uma viso global do problema estudado.

    Outro ponto a ser destacado desta modalidade de pesqui-sa refere-se ao tempo destinado pesquisa. Este mais uma de suas restries, uma vez que realizar uma pesquisa consistente e resistente aos vieses demanda muito tempo, e mesmo assim frequentemen te seus resultados no possuem a consistncia de-sejada. De fato, de acordo com Gil (2009), os primeiros trabalhos qualificados como estudos de caso nas Cincias Sociais foram de-senvolvidos em lon gos perodos de tempo, alguns chegando aos 20 anos. Por outro lado atualmente, a experincia acumulada com os prprios processos de pesquisa demonstra ser possvel a reali-zao de estudos de caso em perodos mais curtos e com resulta-dos passveis de confirmao por outros estudos.

    Por fim, importante destacar, que um estudo de caso qualificado constitui tarefa nada fcil de realizar. Contudo, no raro encontrar pesquisadores inexperientes, que, entusias mados pela flexibilidade metodolgica dos estudos de caso, optam por ele, por vez inclusive em situaes no recomendveis, tendo, como consequncia, um final de pesquisa com um amontoado de dados os quais no conseguem analisar, e menos ainda dar o devido tratamento terico. (GIL, 2009).

    1.6 pesquisa exploraTriaNo contexto das pesquisas de abordagem qualitativa, a pesquisa exploratria tem o propsito de coletar o maior nmero possvel de informaes sobre um determinado objeto ou grupo social, possibilitando assim delimitar as fronteiras do campo de trabalho, ma peando as condies de manifestao desse objeto ou grupo social. Na maioria das vezes, a pesquisa exploratria se caracteriza como uma fase preliminar da pesquisa explicativa.

    Ento ao proporcionar maior familiaridade entre o pesquisa-dor e o problema a ser pesquisado, este tipo de pesquisa potencia-liza explicitar as limitaes e constituir as hipteses. Mesmo tendo ainda como forte caracterstica seu planejamento bastante flex-vel, na maioria dos casos, essas pesquisas envolvem: levantamen-to bi bliogrfico; entrevistas com pessoas que tiveram experincias prticas com o problema pesquisado; e anlise de exemplos que conduzam compreenso do objeto estudado (GIL, 2009).

    De acordo com Severino (2007), a pesquisa explicativa tem como caractersticas principais registrar, analisar e compreender, identificando as causas dos fenmenos estudados. Esse processo de busca de compreenso pode ser realizado atravs de mtodos interpretativos matemticos ou de mtodos qualitativos.

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    1.7 pesquisa Tipo esTudo de campoNa pesquisa de campo, o objeto a ser pesquisado observado/estuda-do em seu meio ambiente prprio. Dentro destas condies, a coleta dos dados precisa ser efetuada no local onde os fenmenos ocorrem, podendo desta forma serem diretamente observados, sem interven-o e manuseio por parte do pesquisador (SEVERINO, 2007).

    O estudo de campo oferece, em seu processo de pesquisa, mui-tas semelhanas com o levantamento de campo. Contudo, algumas diferenas podem ser observadas: o levan tamento tem maior alcan-ce enquanto o estudo de campo tem maior profundidade; o levanta-mento oferece resultados caracterizados pela preciso estatstica ao passo que o estudo de campo procura muito mais o aprofunda-mento das questes propostas do que a distribuio das caracte-rsticas da populao segundo determinadas variveis. Alm disso, o planejamento das aes a serem realizadas no estudo de campo apresenta-se de maneira bastante flexvel, mesmo que para tanto seja necessria a reformulao dos objetivos ao longo da pesquisa.

    O estudo de campo constitui a maneira clssica de investiga-o no campo da Antropologia, onde se originou. Nos dias atuais, no entanto, sua utilizao se d em muitos outros domnios, como no da Sociologia, da Educao, da Sade Pblica e da Administrao.

    De maneira habitual, o estudo de campo tem seu foco de investi-gao em uma comunidade, que no neces sariamente delimitada ge-ograficamente, j que pode ser uma comunidade de trabalho, de estu-do, de lazer ou voltada para qualquer outra atividade humana. Esse tipo de pesquisa desenvolvida geralmente por meio da observao direta das atividades do grupo estudado e de entrevistas com informantes para captar suas explicaes e interpretaes a respeito do fenme-no estudado. Esses procedimentos da pesquisa geralmente podem ser conjugados com a anlise de documentos, filmagem e fotografias.

    Em relao ao estudo de campo, Gil (2009) apresenta algumas vantagens e uma desvantagem em relao aos levantamentos.

    Vantagens:por desenvolvido no prprio local em que ocorrem os fen- menos, seus resultados costumam ser mais fidedignos;por no requerer equipa mentos especiais para a coleta de da- dos, tende a ser bem mais econmico;pelo pesquisador apresentar nvel maior de participao, tor- na-se maior a probabilidade de os sujeitos oferecerem respos-tas mais confiveis.

    Desvantagem: por requer muito mais tempo do que um levantamento e pelos da- dos serem coletados por um nico pesquisador, existe risco de sub-jetivismo na anlise e interpretao dos resultados da pesquisa.

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    No estudo de campo, o pesquisador realiza a maior parte do trabalho pessoal mente, pois enfatizada importncia de o pesqui-sador ter tido ele mesmo uma experincia direta com a situao de estudo. Tambm se exige do pesquisador que permanea o maior tempo possvel na comunidade, pois somente com essa imerso na realidade que se podem entender as regras, os costumes e as convenes que regem o grupo estudado.

    1.8 pesquisa causal comparaTiva (ou ex-post facto)Se traduzirmos a expresso ex-post facto temos como significado a partir do fato passado. Este tipo de pesquisa tem basicamente o mesmo objetivo que a pesquisa experimental, qual seja: veri ficar a existncia de relaes entre variveis. Contudo, entre muitas se-melhanas, a diferena mais importante entre estas duas modali-dades de pesquisa que, na pesquisa ex-post facto, o pesquisador no dispe de controle sobre a varivel independente, que consti-tui o fator presumvel do fenmeno, ou aquele que, de acordo com alguns dados, conduz-nos a compreender algo que ainda est por acontecer, porque ele j ocorreu.

    Um exemplo importante de uma modalidade da pesquisa ex-post facto a pesquisa caso-controle, baseada na comparao en-tre duas amostras, bastante utilizada nas cincias da sade.

    Mesmo apresentando muitas semelhanas com a pesquisa expe-rimental, o delineamento ex-post facto no garante que suas conclu-ses relativas a relaes do tipo cau sa-efeito sejam totalmente segu-ras. O que geralmente se obtm nesta modalidade de delineamento a constatao da existncia de relao entre variveis (GIL, 2009).

    1.9 pesquisa experimenTalNa pesquisa experimental, o prprio objeto de pesquisa tomado em sua concretude e colocado em condies tcnicas de observao e manipu lao experimental nas bancadas e pranchetas de um labo-ratrio, onde so criadas condies adequadas para seu tratamento. Para tanto, o pes quisador seleciona determinadas variveis e testa suas relaes funcio nais, utilizando formas de controle. Essa modali-dade de pesquisa bastante adequada para as Cincias Naturais, no entanto mais complicada no mbito das Cincias Humanas, j que no se pode fazer manipulao das pessoas (SEVERINO, 2007).

    De modo geral, a pesquisa experimental consiste em: determinar um objeto de estudo; selecionar as variveis que seriam capazes de causar-lhe influncia;definir as formas de controle e de observao dos efeitos que a varivel produz no objeto.

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    De acordo com Gil (2009), quando os objetos em estudo so entidades fsicas, tais como pores de lquidos, bactrias ou ra-tos, no se identificam grandes limitaes quanto possi bilidade de experimentao. No entanto, se se trata de experimentar com obje tos sociais, ou seja, com pessoas, grupos ou instituies, as limitaes tornam-se bastante evidentes. Consideraes ticas e humanas impedem que a experimenta o se faa de maneira mais livre nas cincias humanas, razo pela qual os procedimentos ex-perimentais se mostram adequados apenas a um reduzido nmero de situaes. Todavia, experimentos nas cincias humanas, come-am a se tornar mais frequentes, por exemplo:

    na Psicologia: processos de aprendizagem; na Psicologia Social: medio de atitudes, estudo do compor- tamento de pequenos grupos, anlise dos efeitos da propa-ganda; etc.;na Sociologia do Trabalho: influncia de fatores sociais na pro- dutividade.

    Ao longo dos anos, a pesquisa experimental construiu grande prestgio nos meios cientficos, uma vez que, ao contrrio do que faz supor o entendimento popular, ela no precisa necessariamente ser realizada em laboratrio, exigindo um pesquisador ativo em suas participaes, ao mesmo tempo que passivo em suas observaes.

    Gil (2009, p. 56) alerta que este tipo de pesquisa pode ser desenvol-vida em qualquer lugar, desde que apresente as seguintes propriedades:

    manipulaoa. : o pesquisador precisa fazer alguma coisa para mani-

    pular pelo menos urna das caractersticas dos elementos estudados;

    controleb. : o pesquisador precisa introduzir um ou mais controles na

    situao experimental, sobretudo criando um grupo de controle;

    distribuio aleatriac. : a designao dos elementos para participar dos

    grupos experimentais e de controle deve ser feita aleatoriamente.

    No que se refere s vantagens da pesquisa experimental, sur-gem algumas limitaes. A primeira delas o fato de muitas vari-veis no estarem sujeitas manipulao experimental, uma vez que uma srie de caractersticas humanas, tais como idade, sexo, pr-disposies genticas, histrico familiar, no podem ser confe-ridas s pessoas de forma aleatria. Outra limitao diz respeito tica que impede que se exponham pessoas a situaes de risco ou de estresse como objetivo de averiguar alteraes em sua sa-de fsica ou mental, ou ento priv-Ias do convvio social, ou de alguma dieta alimentar para verificar em que medida esse fator capaz de afetar sua vida (GIL, 2009).

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    1.10 pesquisa parTicipanTeA pesquisa participante apresentada por Severino (2007) como sendo aquela em que o pesquisador, para realizar a observao dos fenme nos ou da situao problema a ser investigada, com-partilha a vivncia (a vida) dos sujeitos pesquisados, participando, de forma sistemtica e permanente, ao longo do tempo da pes-quisa, das suas atividades. O pesquisador busca espaos para a aproximao, para a construo da identificao dos sujeitos com os pesquisados. Passa a interagir com eles em todas as situaes, acompanhando todas as aes praticadas pelos sujeitos, no ape-nas como expectador, mas como sujeito ativo comprometido com a mudana da situao observada como problemtica. Ao longo de suas interaes, o pesquisador vai observando as manifestaes dos sujeitos e as situaes vividas, ao passo que mantm um regis-tro sistemtico em que descreve todos os elementos, sujeitos, to-das as situaes, ligaes que puderam ser observadas, bem como as anlises e consi deraes que fizer ao longo dessa participao.

    Neste contexto, Gil (2009) nos lembra de que a pesquisa parti-cipante, assim como a pesquisa-ao, caracteriza-se pela interao permanente entre pesquisadores e membros das situaes inves-tigadas. Contudo alerta que existem autores que utilizam as duas expresses como sinnimas, mas no so. Este autor explicita suas diferenas principais:

    a pesquisa-ao: um modo de pesquisa que supe uma forma de ao planejada, de carter social, educacional, tcnico, ou outro, tendo como seu principal autor Thiollent. J a pesquisa participan-te engloba a distino entre cincia popular e cincia dominante, envolvendo posies valorativas, derivadas, principalmente, do humanismo cristo e de certas concepes marxistas.

    Este contexto histrico no qual esta imersa a pesquisa parti-cipante facilmente observvel, vez que ela suscita muita simpatia entre os grupos religiosos voltados para a ao co munitria. Esse tipo de pesquisa ainda tem se mostrado comprometida com a mi-nimizao das relaes de opresso entre dirigentes e dirigidos e por essa razo tem sido bastante utilizada na pesquisa com grupos desfavorecidos, como, por exemplo: os operrios, camponeses, n-dios, etc. (GIL, 2009).

    1.11 pesquisa-aoComo j estudamos brevemente no item anterior a pesquisa-ao uma abordagem metodolgica que alm de compreender, visa in-tervir na si tuao problemtica, com o objetivo de transform-Ia. As diferentes leituras e prticas de pesquisa acabaram por, ao longo dos

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    ltimos anos, conduzir, em alguns casos, a pesquisa-ao para dife-rentes concepes e prticas que as distanciaram, e at as opuseram, ao modelo de pesquisa-ao de Lewin que lhe deu origem. Assim, no entendimento de Lewin, a pesquisa-ao deveria se propor a uma ao deliberada visando a uma mudana no mundo real, comprome-tida com um campo restrito, englobado em um projeto mais geral.

    importante que se entenda que, na pesquisa-ao, o conheci-mento que objetivamos alcanar deve articular-se a uma finalidade intencional de alterao da situao pesquisada. Assim, ao mesmo tempo em que o pesquisador realiza um diagnstico e a anlise de uma determi nada situao, prope ao conjunto de sujeitos envolvidos mudanas que levem a um melhoramento das prticas analisadas.

    Neste contexto, o prprio Thiollet define a pesquisa-ao como:

    ...um tipo de pesquisa com base emprica que concebida e realizada em

    estreita associao com uma ao ou com a resoluo de um problema

    coletivo e no qual os pesquisadores e participantes representativos da si-

    tuao ou do problema esto envolvidos de modo cooperativo ou partici-

    pativo. (thiollent, 1985, p. 14).

    Por fim, no universo acadmico, a pesquisa-ao tem sido alvo de diversas controvrsias, por conter, em seu rol de exign-cias, o envolvimento ativo do pesquisador e a demanda por uma ao participativa por parte das pessoas, comunidade ou grupos envolvidos no problema.

    1.1 2 pesquisa bibliogrfica e pesquisa documenTalDependendo do objetivo da pesquisa, ela pode ser de laboratrio, de campo ou bibliogrfica. A pesquisa bibliogrfica caracteriza-se por se efetivar a partir dos registros escritos disponveis de pesquisas ante-riores. Portanto, o pesquisador trabalha tendo como ponto de partida e de chegada as obras (livros, artigos, teses) de outros autores, bus-cando construir suas categorias a partir de concluses e anlises or-ganizadas em outros tempos e espaos. J na pesquisa documental, as fontes no se reduzem a materiais decorrentes de pesquisas an-teriores, abarcando, alm destes documentos, outros, como jornais, fotos, gravaes, documentos legais (SEVERINO, 2007).

    Neste contexto importante lembrar que no podemos en-tender os diferentes tipos de pesquisa como momentos estanques e sem comunicao, ao contrrio, ao elaborar e desenvolver nossa proposta de pesquisa, devemos nos servir de todas as possibilida-des de investigao oferecidas por elas. Contudo, precisamos ter o cuidado de, ao realizar nossas opes, no forar construes terico-metodolgicas conflitantes.

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    Sobre a pesquisa bibliogrfica, importante dizer que ela desen-volvida com base em material j elaborado, constitudo principalmente de livros e artigos cientficos. Mesmo que em quase todos os estudos seja exigido algum tipo de trabalho dessa natureza, existem pesquisas de senvolvidas exclusivamente a partir de fontes bibliogrficas.

    Neste universo os livros constituem as fontes bibliogrficas por excelncia. Alguns so utilizados como sendo de referncia ou de consulta, tendo como objetivo possibilitar a rpida obteno das informaes requeridas, ou, ento, encaminhando o leitor para a localizao das obras que as contm.

    Outra fonte importante de pesquisa so as publicaes peri-dicas editadas em fascculos, em intervalos regulares ou irregulares, com a colaborao de vrios autores, tratando de assuntos diversos, embora relacionados a um objetivo mais ou menos definido. As prin-cipais publicaes peridicas so os jornais e as revistas, as quais hoje so importantes fontes bibliogrficas. Enquanto a matria dos jornais se caracteriza principalmente pela rapidez, a das revistas ten-de a ser muito mais profunda e mais bem elaborada. Temos, como exemplo, as revistas eletrnicas organizadas por reas de conheci-mento. So formas rpidas e seguras de termos acesso a conheci-mentos cientficos elaborados, por exemplo, nas universidades.

    A principal vantagem da pesquisa bibliogrfica reside no fato de permitir ao investigador a cobertura de uma gama de fen-menos muito mais ampla do que aquela que poderia pesquisar diretamente. Essa vantagem torna-se particularmente importan-te quando o problema de pesquisa requer dados muito disper-sos pelo espao. Por exemplo, seria praticamente impossvel a um pesquisador percorrer todo o territrio brasileiro em busca de dados sobre populao ou renda per capita; todavia, se tem a sua disposio uma bibliografia adequada, no ter maiores obs-tculos para contar com as informaes requeridas. A pesquisa bibliogrfica tambm indispensvel nos estudos histricos. Em muitas situaes, no h outra maneira de conhecer os fatos pas-sados se no com base em dados bibliogrficos. (GIL, 2009)

    Cabe ainda dizer que a pesquisa documental bastante pareci-da com a pesquisa bibliogrfica. A diferena essencial entre ambas est na natureza das fontes. Ao passo que a pesquisa biblio grfica se utiliza basicamente das contribuies dos diversos autores so-bre determinado assunto, a pesquisa documental constituda de materiais impressos que no receberam ainda um tratamento ana-ltico, ou que podero ser reelaborados de acordo com os objetos da pesquisa ou do pesquisador que estiver dele dispondo.

    E, ainda, o desenvolvimento da pesquisa documental segue o mesmo caminho da pesquisa bibliogrfica. A diferena fundamental

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    entre as duas modalidades de pesquisa esta na provenincia e no tra-tamento do material disponibilizado para a pesquisa, uma vez que:

    na pesquisa biblio grfica, as fontes so constitudas principal- mente por materiais impressos localizados nas bibliotecas, ou por peridicos eletrnicos;na pesquisa documental as fontes so muito mais diversifica- das, por exemplo:

    os documentos de primeira mo, que no receberam ne- nhum tratamento analtico, por exemplo: documentos conser-vados em arquivos de rgos pblicos e instituies privadas, tais como associaes cientficas, igrejas, sindicatos, partidos polticos etc.; documentos como cartas pessoais, dirios, foto-grafias, gravaes, regulamentos, ofcios, boletins etc.;os documentos de segunda mo, que de alguma maneira j fo ram analisados, por exemplo: relatrios de pesquisa, re-latrios de empresas, tabelas estatsticas etc.

    Neste contexto, nem sempre fica clara a diferena entre a pesquisa bibliogrfica e a documental, j que as fontes bibliogrficas nada mais so do que documentos impressos para determinado pblico. Alm do mais, boa parte das fontes usualmente consul tadas nas pesquisas documentais, como jornais, por exemplo, pode ser tratada como fontes bibliogrficas. Desta forma, possvel at mesmo tratar a pesquisa bi-bliogrfica como um tipo de pesquisa documental (GIL, 2009).

    1.13 pesquisa eTnogrficaA pesquisa de cunho etnogrfica visa compreender a cotidianidade na qual os sujeitos esto inseridos, os pro cessos do dia a dia em suas diversas modalidades, os elementos e as relaes que organizam os fazeres dirios dos sujeitos de determinado espao social. Trata-se de um mer gulho no microssocial, olhado com uma lente de aumento.

    Essa perspectiva metodolgica vale-se de m todos e tcnicas compatveis com a abordagem qualitativa. Utiliza-se do mtodo et-nogrfico, descritivo por excelncia.

    Ao discutir os propsitos e usos da etnografia na educao, Marli Andr (1997), que foi uma das introdutoras da metodologia no pas, aponta que, ao se valerem do mtodo, os estudiosos da educao

    buscavam uma forma de retratar o que se passa no dia-a-dia das escolas,

    isto , buscavam revelar a complexa rede de interaes que constitui

    a experincia escolar diria, mostrar como se estrutura o processo de

    produo do conhecimento em sala de aula e a inter-relao entre as

    dimenses cultural, institucional e instrucional da prtica pedaggica.

    (andr, 1997, p. 49)

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    A produo atual dos pesquisadores em cincias sociais que se orientam na perspectiva etnogrfica, tem resultado em diversas defi-nies conceituais para este mtodo. Dentre esses, destaco principal-mente duas definies conceituais do mtodo etnogrfico, a opo por estas se deu por entender que so as que mais se aproximam e melhor se harmonizam com meu modo de pensar e de fazer pesqui-sa, e, sobretudo, porque possibilitavam, no momento da pesquisa de campo, melhores estratgias para investigar o objeto proposto.

    Fonseca (1998, p. 2-3) nos apresenta a etnografia como um instrumento importante para a compreenso intelectual de nosso mundo, por estar calcada numa cincia do concreto, acentuando que seu ponto de partida a interao entre pesquisador e objeto estudado e observando que, para o sucesso dessa relao, ne-cessrio dar nfase cotidianidade, ao subjetivismo e ao dilogo. A autora tambm evidencia que a persistncia ou obstinao do pesquisador nos aspectos sociais de comportamento individual que instigam a resgatar a dimenso social e histrica da experincia individual (...) levando procura e construo de sistemas que vo sempre alm do caso individual.

    Considero, entretanto, que Winkin (1998) que fornece a con-ceituao mais consistente sobre a etnografia:

    a etnografia ao mesmo tempo uma arte e uma disciplina cientfica, que

    consiste em primeiro lugar em saber ver. em seguida uma disciplina

    que exige saber estar com, com outros e consigo mesmo, quando voc

    se encontra perante outras pessoas. (...) Arte de ver, arte de ser, arte de

    escrever. So trs competncias que a etnografia convoca. (winkin, 1998,

    p. 132) [grifos da autora].

    Este autor nos incita a compreender os processos sociais como instigadores de investigao e de prazer, porque ao mesmo tempo em que estamos estudando o objeto proposto, tambm estamos aprendendo as artes do viver. Aprendizagem esta preciosa para que o pesquisador consiga fazer um vai e vem interpretativo menos mu-tilado, portanto mais preciso, indo do particular ao geral, descobrin-do a complexidade do contexto e criando um relato etnogrfico.

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    unidade 2abordagens meTodolgicas da pesquisa educacional

    ponto pacfico que todas as cincias firmam-se e caracterizam-se pela utilizao de mtodos cientficos. Contudo, no so ape-nas as cincias que lanam mo dos mtodos para verificar e solucionar problemas. Estas afirmaes nos conduzem a concluir que, mesmo no sendo exclusividade das cincias, no h como construir ou verificar cientificamente determinado fenmeno sem o emprego de mtodos cientficos.

    Neste sentido, de acordo com Trivins (2008), o mtodo um conjunto de atividades sistematizadas racionalmente com a inten-o de, com maior segurana e economia, permitir alcanar os ob-jetivos traados, seguir o caminho adequado para a deteco de erros e auxiliar nas de cises do pesquisador.

    Os mtodos cientficos tm uma longa tradio nas cincias, tempo este que fez com que tivessem que se reinventar algumas vezes de acordo com as necessidades da sociedade e de seus cientistas, e ainda com que outros mtodos fossem criados. Mais adiante estudaremos esses mtodos. Contudo, no momento, o que nos interessa compreender o conceito moderno de mtodo. Para tanto, concordando com Bunge (1980), que o mtodo cientfico a teoria da investigao, que esta se desenvolve de forma cientfica, quando observadas as seguintes etapas:

    1 Descobrimento do problema Recolocao de um problema antigo

    2 Procura de conhecimentos ou instrumentos relevantes ao problema Exame do conhecimento para tentar resolver o problema

    3 Tentativa de soluo do problema com auxlio de meios identificadosInveno de novas ideias e hipteses ou novos dados para resoluo do problema

    4 Obteno de uma soluo para o problema

    5 Investigao das consequncias da soluo obtida

    6 Se o resultado satisfatrio, a pesquisa dada como concluda

    7 Caso contrrio: inicia-se um novo ciclo da pesquisa

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    2.1 mTodo induTivoDe acordo com Marconi e Lakatos (2009), a induo um processo mental atravs do qual, partindo de dados particula res e localizados, contudo, constatados, so construdas concluses gerais ou univer-sais, no contidas necessariamente nas partes examinadas. Assim, conclui-se que o mtodo indutivo tem por objetivo levar a compre-enses mais amplas do que as premissas nas quais se basea ram.

    Muito apropriadamente assinalado por Cervo e Bervian (1978), uma das caractersticas que no pode deixar de ser comentada que o argumento induti vo, da mesma forma que o dedutivo, fun-damenta-se em premissas. No entanto, se nos deduti vos, premis-sas verdadeiras conduzem certamente concluso verdadeira, nos induti vos, conduzem apenas a concluses provveis, sendo poss-vel afirmar que so concluses, possivelmente, verdadeiras.

    No contexto do mtodo indutivo, temos de considerar trs ele-mentos fundamentais, ou seja, para podermos realizar uma indu-o, temos de observar trs etapas ou fases:

    a. observao dos fenmenos - nessa etapa observamos os fatos ou

    fen menos e os analisamos, com a finalidade de descobrir as causas

    de sua ma nifestao;

    b. descoberta da relao entre eles - na segunda etapa, procuramos, por

    in termdio da comparao, aproximar os fatos ou fenmenos, com a

    finalida de de descobrir a relao constante existente entre eles;

    c. generalizao da relao - nessa ltima etapa, generalizamos a relao

    encontrada na precedente, entre os fenmenos e fatos semelhantes,

    muitos dos quais ainda no observamos (e muitos inclusive inobserv-

    veis) (marconi e lakatos, 2009. p. 87).

    Portanto:observamos certos fatos ou fenmenos;1. agrupamos e classificamos fatos ou fenmenos da mesma 2. espcie;classificamos, o que se torna possvel atravs da relao entre 3. observaes generalizaes.

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    2.2 mTodo deduTivoA melhor maneira de entendermos o mtodo dedutivo traando um paralelo entre ele e o mtodo indutivo.

    mtodo dedutivo mtodo indutivo

    Se todas as premissas so verdadeiras,

    a concluso deve ser verdadeira.

    Mesmo se todas as premissas forem

    verdadeiras, a concluso no necessa-

    riamente verdadeira.

    Todo o contedo ou as informaes j esta-

    vam, mesmo que implcitos, nas premissas.

    A concluso utiliza informaes que no

    estavam nem implcitas nas premissas.

    Tem por propsito explicitar o conte-

    do das premissas.

    Tem o objetivo de ampliar o alcance dos

    conhecimentos.

    argumentos dedutivos sacrificam a am-

    pliao do contedo para atingir a preciso

    argumentos indutivos aumentam o con-

    tedo das premissas, comprometendo a

    preciso.

    2.3 mTodo hipoTTico-deduTivoEsquema do Mtodo Hipottico-Dedutivo segundo entendimento de Karl R. Popper.

    PI O metdo cientfico parte de um problema inicial.

    SP Soluo provisria, a qual oferece uma teoria que tenta solucionar o problema.

    EE lanado um olhar crtico sobre a soluo numa tentativa de eliminar o erro.

    NP O ciclo se renova e surgem novos elementos.

    Etapas do Mtodo Hipottico, segundo Popper:

    expectativas ou conhecimento prvio

    problema conjecturas falseamento

    Teorias j existentes

    Geralmente originado do conflito ou da dis-

    cordncia entre teorias existentes e expectativas

    Soluo proposta em forma de proposio que pode ser testada

    As hipteses precisam superar o teste, caso contrrio preciso que sejam reformulados hipteses e problema. Caso as hipteses superem o teste,

    estaro confirmadas provisoriamente, no definitivamente, uma vez que, se o enunciado cientfico se refere re-alidade, esta no comporta hipteses definitivas, devido a sua mobilidade.

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    Etapas do Mtodo Hipottico Dedutivo, segundo Bunge:

    colocao do problema

    construo de um modelo

    terico

    deduo de consequncias

    particulares

    teste das hipteses

    adio das concluses na teoria

    Reconhecimento dos fatos que

    so impor-tantes para a

    investigao do problema.

    Criao de um conjunto de suposies plausveis.

    Deduo de consequncias

    de campos vizinhos, que

    possam ter sido verificados.

    Elaborao de estrat-gias para pr prova os meros conhecimentos elaborados ou as refor-mulaes dos antigos

    conhecimentos.

    Comparao entre as concluses e os conhecimentos elaborados

    atravs de processo de pesquisa.

    Busca de lacunas ou

    incoerncia no saber existente

    referente ao problema.

    Tendo por base o modelo terico mais os dados empri-cos, reelaborar ou modificar

    conhecimentos j estabelecidos

    ou antecipar/elaborar algo

    novo.

    Realizao da prova.Ajuste ou correo do modelo

    metodolgico.

    Elaborao de uma QUESTO, que abarque

    o ncleo significativo do problema e que tenha alguma probabilidade

    de soluo.

    Classificao, anlise e reduo dos dados

    empricos.

    Sugestes para futuras pesquisas, inclusive em outras reas.

    Interpretao dos dados, fundamenta-da em referenciais

    tericos.

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    unidade 3procedimenTos meTodolgicos na pesquisa qualiTaTiva

    A pesquisa qualitativa, nas cincias sociais, preocupa-se com um nvel de realidade que no pode ser quantificado. O que quer dizer realidade que no pode ser quantificada? a realidade que trata do universo de significados, compreenses, moti vos, aspiraes, crenas, anseios, valores, desejos e atitudes, o espao de vida das relaes, no qual os processos e fenmenos sociais aconte-cem, elementos estes que no se prestam para serem colocados dentro de medidas exatas de um mtodo quantitativo.

    Neste sentido, importante mencionar, fundamentada em Mi-nayo (1994), que no existe uma linha ou um padro de continuidade entre o mtodo qualitativo e o mtodo quantitativo, em que o primei-ro mtodo seria o baseado na intuio, explorao e no subjetivismo, enquanto o segundo mtodo trataria do espao cientfico, vez que fundamenta suas concluses em dados matemticos. A autora ainda observa sobre as diferenas entre qualitativo-quantitativo.

    Enquanto cientistas sociais que trabalham com estatstica apreendem dos

    fenmenos apenas a regio visvel, ecolgica, morfolgica e concreta, a

    aborda gem qualitativa aprofunda-se no mundo dos significa dos das aes

    e relaes humanas, um lado no perceptvel e no captvel em equaes,

    mdias e esta tsticas.

    O conjunto de dados quantitativos e qualitativos, porm, no se opem. Ao

    contrrio, se complementam, pois a realidade abrangida por eles interage

    dinamica mente, excluindo qualquer dicotomia (MINAYO, 1994, p. 22).

    Contudo, as assertivas acima mencionadas no so no univer-so acadmico da pesquisa aceitas de maneira unnime, uma vez que alguns pesquisadores se preocupam fundamentalmente em organizar matematicamente seus achados, ao passo que outros no se preocu pam em quantificar, mas, sim, em compreender a organi-zao social estabelecida. Estes ocupam-se em estudar questes ligadas s crenas, aos valores, s atitudes e aos hbitos; centrando o foco da pesquisa nas vivncias e experincias da cotidianidade. Neste tipo de investigao, a linguagem oral e gestual, as formas de compreender e viver o mundo e as prti cas so inseparveis.

    Como possibilidade de consenso, Minayo (1994, p. 34) sugere a abordagem dialtica:

    Ela se prope a abar car o sistema de relaes que constri, o modo de

    conhecimento exterior ao sujeito, mas tambm as repre sentaes so-

    ciais que traduzem o mundo dos significa dos. A Dialtica pensa a relao

    da quantidade como uma das qualidades dos fatos e fenmenos. Busca

    en contrar, na parte, a compreenso e a relao com o todo; e a interiori-

    dade e a exterioridade como constitutivas dos fenmenos.

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    Desta forma, considera que o fenmeno ou processo social tem que ser

    entendido nas suas determinaes e transformaes dadas pelos sujei-

    tos. Compreende uma relao intrnseca de oposio e complementari-

    dade entre o mundo natural e social, entre o pensamento e a base mate-

    rial. Advoga tambm a necessidade de se trabalhar com a complexidade,

    com a especificidade e com as diferenciaes que os problemas e/ou

    objetos sociais apresentam.

    Neste contexto, nossa posio de concordncia com Minayo, e exatamente este nosso propsito na disciplina de Pesquisa III, a de no buscar oposies entre a pesquisa quantitativa e a qualitativa, traan-do caminhos para a construo de processo de complementaridade.

    3.1 observao parTicipanTeA observao participante obtida por meio do contato direto do pesquisador com o fenmeno ou a situao observado, para coletar as aes dos atores em seu contexto natural, a partir de sua perspectiva e seus pontos de vista. Esta tcnica de pesquisa potencializa uma descrio apurada, ou seja, mais prxima do real vivido pelos sujeitos, possibilitando ao pesquisador a apreenso e compreenso do local e das circunstncias, do tempo e suas varia-es, das aes e suas significaes, dos conflitos e da harmonia das relaes, e das atitudes e reaes diante da realidade.

    De acordo com Chizzotti (2009, p. 91):

    A atitude participante pode estar caracterizada por uma partilha com-

    pleta, duradoura e intensiva da vida e da atividade dos participantes,

    identificando-se com eles, como igual entre pares, vivenciando todos os

    aspectos possveis da sua vida, das suas aes e dos seus significados.

    Neste caso, o observador par ticipa em interao constante em todas as

    situaes, espontneas e formais, acompanhando as aes cotidianas e

    habituais, as circunstncias e sentido dessas aes, e interrogando sobre

    as ra zes e significados dos seus atos.

    Ao longo do tempo em que o pesquisador esta imerso no tra-balho de campo, coleta dados atravs de sua participao na vida co-tidiana da comunidade estudada, acompanhando as atividades, ob-servando as pessoas: como falam, o que dizem e como se comportam nas situaes que vivenciam diariamente. Concomitantemente a este processo de observao ocorrem os dilogos, com todos os membros da comunidade ou com alguns deles, para descobrir quais interpreta-es fazem a respeito das situaes observadas pelo pesquisador.

    Um dos principais objetivos da observao participante propor-cionar ao pesquisador um banho de realidade. O que se pretende com essa insero descobrir, testar e buscar comprovar as questes propostas para pesquisa, atravs da convivncia com a comunidade. Para tanto, preciso conviver e viver, sem amarras de pesquisador,

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    tentar viver um pouco como eles para que se compreenda o ponto de onde olham as coisas que os cercam. evidente que o pesquisador, sujeito estranho, no pode tornar-se um deles por uma srie de motivos, mas preciso chegar o mais prximo disso dentro dos meus prprios limites histrico, social e cultural (SEGAT, 2007).

    A ida ao campo, para realizao de uma observao partici-pante tambm tem por propsito observar a ocorrncia de alguns comportamentos assinalados por Bourdieu (1990, p. 155). No que se refere observao dos corpos, assevera que distncias sociais esto inscritas nos corpos, ou mais exatamente, na relao com o corpo, com a linguagem e com o tempo (SEGAT, 2007).

    A observao participante, introduzida pela Escola de Chicago nos anos 20, duramente contestada pelas pesquisas experi mentais, foi abandonada, durante algumas dcadas. No entanto, sua volta ao cenrio das pesquisas tem auxiliado interpretaes mais glo-bais das situaes analisadas. Exige, porm, cuidados e um registro adequado para garantir a confiabilidade e pertinncia dos dados e para eliminar impresses meramente emotivas (CHIZZOTTI, 2009).

    Os registros ou dirios de campoWinkin (1998, p. 138), aconselha que os dirios de campo devem ser mantidos com extrema regularidade e disciplina, pois, caso contrrio, perde-se a funo catrtica deste instrumento. Se o re-gistro for realizado em outro dia, perde-se a fora das emoes que foram produzidas naquele momento especfico de contato, pois o dirio ser o lugar do corpo a corpo consigo mesmo, ante o mundo social estudado. Trata-se, pois, de um documento pessoal, ntimo e espontneo, no qual o pesquisador pode manter uma descrio e reflexo contnua de seu trabalho, suas interaes e descobertas, estabelecendo uma conversa reflexiva com seu fazer na qual se explicitam suas percepes, seus sentimentos, suas concepes, elaboraes, seus sucessos, conhecimentos, limites, bem como o carter das relaes que se estabelecem na comunidade. Winkin (1998) enfatiza, como uma das mais importantes funes do dirio de campo, sua fora reflexiva e analtica, que permite ao pesquisa-dor perceber as regras de natureza generalizante e as impresses de regularidade. Destacando que, por vezes, as coisas que no apa-recem so to, ou mais importantes, que as coisas que aparecem.

    Os dirios de campo oferecem, ento, condies naturais para que o pesquisador busque explicaes e justificativas para as prticas e atitudes observadas, bem como identifique e analise componentes intrnsecos s narrativas, compreendendo valores, expectativas e padres sociais. O dirio de campo ainda pode se caracterizar num excelente instrumento em que o pesquisador ex-travasa suas dvidas, seus anseios, elaborando seus acertos e suas

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    decises, construindo seu prprio conhecimento sobre o objeto de estudo (ANGOTTI, 1998, p. 7). A verdade a qual me refiro acima certamente a verdade captada do ponto de vista do pesquisador, por isso parcial e as vezes imprecisa; mas aquela possvel de alcanar, considerando-se, por um lado, a impossibilidade de abs-trair por completo a subjetividade do pesquisador e, por outro, as subjetividades dos prprios pesquisados (SEGAT, 2007).

    3.2 enTrevisTaA tcnica de entrevista pode se converter em um instrumento de extre-ma importncia para a pesquisa qualitativa, mais especificamente para o trabalho etnogrfico, na medida em que o pesquisador for capaz de relacionar o processo de pesquisa com a viso do processo social que no se manifesta, mas est implcito nas diferentes situaes.

    Assim, o entrevistador que realiza sua pesquisa de campo na comunidade do entrevistado, precisa criar uma relao de dilogo que impea que as respostas sejam conduzidas ou influenciadas pelo pesquisador. Para contornar tal problema, Becker (1999, p. 94-95), sugere que procedimentos mais flexveis muitas vezes geram dados muito mais completos, sendo necessrio que o entrevistador experimente usar tticas que parecem ter maior probabilidade de trazer tona o tipo de informao desejada.

    Outra preocupao frequente do entrevistador que realiza pesquisa de campo no comprometer neste dilogo a relao que ter de perdurar para alm do momento da entrevista. Ain-da que possa existir tal risco, a utilizao conjunta da pesquisa de campo e da entrevista semiestruturada, auxilia o pesquisador a compreender e contextualizar os dados, revelando as dimenses de uma realidade social multifacetada. (FONSECA, 1998).

    oportuno, tambm mencionar que as entrevistas so muito importantes por possibilitar, ao mesmo tempo, obter dados objeti-vos respostas a questes previamente estruturadas e captar os elementos subjetivos que esto imbricados na prpria linguagem verbal e corporal dos sujeitos (SEGAT, 2007).

    importante ainda mencionarmos que, de acordo com Chi-zzotti (2009), no enfoque qualitativo, podemos usar a entrevista estruturada, fechada, semiestruturada, entrevista livre ou aberta. Contudo, apesar de reconhecer o valor da entrevista aberta ou livre, e das outras formas de entrevista, queremos privilegiar a entrevista semiestruturada, pois, ao mesmo tempo que valoriza a presena do investigador, oferece todas as perspectivas possveis para que o infor mante alcance as informaes desejadas.

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    Segundo Chizzotti (2009, p. 94)

    Podemos entender por entrevista semiestruturada, em geral, aquela que

    parte de certos questionamentos bsicos, apoiados em teorias e hip-

    teses, que interessam pesquisa, e que, em seguida, oferecem amplo

    campo de interrogativas, fruto de novas hipteses que vo surgindo

    medida que se recebem as respostas do informante. Desta maneira, o

    informante, seguindo espontaneamente a linha de seu pensamento e de

    suas experincias dentro do foco principal colocado pelo investigador,

    comea a participar na elaborao do contedo da pesquisa.

    til esclarecer, para evitar qualquer erro, que essas perguntas fun-

    damentais que constituem, em parte, a entrevista semiestruturada, no

    en foque qualitativo, no nasceram a priori. Elas so resultados no s

    da teoria que alimenta a ao do investigador, mas tambm de toda a

    infor mao que ele j recolheu sobre o fenmeno social que interessa,

    no sendo menos importantes seus contatos, inclusive, realizados na es-

    colha das pessoas que sero entrevistadas.

    Com o passar do tempo, as pesquisas com a metodologia qua-litativa tm demonstrado que o processo da entrevista semiestru-turada d melhores resultados se se trabalha com diferentes co-munidades, como, por exemplo: professores, alunos, orien tadores educacionais, diretores, sobre as perspectivas da orientao educa cional nas escolas. Assim, numa entrevista semiestruturada, as etapas da entrevista se desenvolvem em processos de retroali-mentao. Isso significa dizer que aqueles pontos nebulosos, que no tm sido pos sveis compreender num primeiro momento, po-dem ser posteriormente retomados.

    Neste contexto, os sujeitos, podero ser novamente, de forma individual, submetidos a vrias entre vistas, no apenas com o ob-jetivo de descobrir as informaes desejadas, mas tambm para avaliar as variaes das respostas em diferentes momentos.

    De maneira, geral a durao da entrevista flexvel e depende das circunstncias na qual realizada. Neste universo, preciso lembrar que, se a entrevista tiver sido gravada, deve ser imedia-tamente transcrita e analisada detidamente pelo pesquisador ou pela equipe de investigadores, antes de realizar outra entrevista com o mesmo sujeito ou outras pessoas. Contudo, se o dilogo no tiver sido gravado, aumenta a responsabilidade do pesquisador, devendo este fazer seu registro to logo quanto for possvel para que no perca sua funo catrtica.

    3.3 hisTria de vidaIniciamos esta abordagem metodolgica fundamentando-nos em Chizzotti (2009, p. 96), que apresenta a histria de vida da se-guinte maneira:

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    A histria de vida um instrumento de pesquisa que privi legia a coleta

    de informaes contidas na vida pessoal de um ou vrios informantes.

    Pode ter a forma literria biogrfica tradi cional como memrias, cr-

    nicas ou retratos de homens ilustres que, por si mesmos ou por enco-

    menda prpria ou de terceiros, relatam os feitos vividos pela pessoa.

    As formas novas valorizam a oralidade, as vidas ocultas, o testemunho

    vivo de pocas ou perodos histricos.

    A histria de vida ou relato de vida pode ter a forma auto biogrfica, onde o

    autor relata suas percepes pessoais, os senti mentos ntimos que marcaram

    a sua experincia ou os aconte cimentos vividos no contexto da sua trajetria

    de vida. Pode ser um discurso livre de percepes subjetivas ou recorrer

    a fontes documentais para fundamentar as afirmaes e relatos pessoais.

    Outra forma dos relatos de vida a psicobiografia, onde o autor se situa no

    interior de uma trama de acontecimentos aos quais atribui uma significao

    pessoal e diante dos quais assume uma posio particular. A psicobiografia

    rene informaes tanto so bre fatos quanto sobre o significado de aconte-

    cimentos vividos que forjaram os comportamentos, a compreenso da vida

    e do mundo da pessoa. Outras formas de comunicar o contedo vivido na

    relao com o contexto da vida tem sido criado com a con tribuio de vrias

    cincias: psicologia, lingustica, filosofia, so ciologia etc.

    Neste universo, geralmente, a tcnica utilizada para investigar em Histria de Vida a entrevista semiestruturada (anteriormente cita-da) que se realiza com uma pessoa ou um grupo de pessoas a serem investigados. A entrevista aprofunda-se cada vez mais na His tria de Vida do sujeito. Porm, a en trevista no a nica tcnica que se pode usar na Histria de Vida. Uma vez que utilizada como instrumento nico, pode fornecer uma viso incompleta, ou falsa, devido a mui-tas razes. Por isso, realmente til, para ter uma compreenso mais aproximada do real da Histria de Vida, revisar documentos, obras, realizar entrevistas com as pessoas vinculadas com o sujeito, poden-do ser uma importante estratgia de pesquisa (CHIZZOTTI, 2009).

    Como a metodologia de histria de vida no possui natureza comparativa, o pesquisador pode ter a possibilidade de estudar dois ou mais sujeitos; trata-se de Estudos multicasos. Por exemplo: estudo de duas escolas tcnicas que formam professores, ou uma pesquisa que investigue aspectos fsicos, e assim por diante.

    O pesquisador como observadorUma das situaes mais complicadas que pode ser vivenciada pelo pesquisador que se prope estudar a realidade social, definir com clareza sua funo, uma vez que objetiva conhecer aspectos da vida de outras pessoas. Contudo, em um momento to importante para a investigao, infelizmente no se podem dar orientaes preci-sas sobre modos de atuar e proceder. Por isso, importante que o investigador observe atentamente cada situao considerando suas prprias caractersticas. de encargo do investigador avaliar as circunstncias e buscar o melhor caminho (TRIVINS, 2008).

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    Encaminhando-nos para as palavras finais sobre este mtodo, reco-menda-se que o pesquisador seja inflexvel quanto sua neutralidade fren-te aos problemas que por ventura possam apresentar os investigados.

    Uma sistematizao importante para qualquer investigador qualitativo foi elaborada por Lofland (1971), quando ele disserta sobre dificuldades que podem ser encontradas no processo de pesquisa. Estas elaboraes de Lofland so mencionadas por Tri-vins (2008, p. 143-5):

    as divises internas dos grUpos

    Em todos os agrupamentos sociais existem conjuntos de pessoas que

    se movem por interesses partidrios, de partidos polticos, de lideran-

    as com vocao comunitria ou egosta. O pesquisador, no s porque

    no conhece a estrutura ntima dos grupos, mas tambm pelos objetivos

    cient ficos que persegue, deve permanecer longe de qualquer tipo de

    rivalidade para alcanar determinadas hierarquias, ainda que o cientista

    se sinta politicamente vinculado ou identificado a agrupaes espec-

    ficas que existam na comunidade. Porm, por mais eficiente que neste

    sentido seja o inves tigador, sempre ser observado como algum que

    pode ser capaz de incli nar-se em favor de algum ou alguns. Por isso,

    suas atitudes e comporta mentos so rigorosamente avaliados, buscando

    neles qualquer sinal de desvio que possa ser considerado como uma

    manifestao negativa de sua evidncia de ser neutral.

    o sentimento de estar marginalizado

    Naturalmente, em geral, o pesquisador no quer sentir-se parte do gru-

    po que estuda. No obstante isso, medida que avana na investigao,

    que conhece os sentimentos e problemas das pessoas, pode ser cho-

    cante para ele escutar as vozes dos sujeitos que o identificam como um

    estranho. Atitudes, comportamentos etc., das pessoas do grupo, s vezes

    manifestos em forma inconsciente, talvez o fazem refletir sobre o nvel

    de seu relacio namento com os membros da comunidade.

    a necessidade de envolver-se pessoalmente na vida do grUpo

    Esta uma realidade na qual pode ser envolvido o pesquisador, espe-

    cialmente se ele inexperiente. Lembramos o caso de uma moa que co-

    meou a fazer uma investigao numa vila operria com tantos e graves

    problemas de fome, doena e tramitaes burocrticas odiosas de que

    ela resolveu participar na busca de solues das situaes conflitivas.

    Tirou dinheiro de seu bolso para comprar remdios e alimentos para os

    doentes. Consumiu horas nos hospitais ou reparties pblicas tratan-

    do de con seguir atendimentos para seus vileiros. Outro pesquisador

    havia colo cado objetivos totalmente diferentes daqueles que procurou,

    em seguida, alcanar; voltou-se com entusiasmo a conseguir madeiras e

    elementos para melhorar as condies de habitao, de vivenda, dos vi-

    zinhos da vila, ao mesmo tempo que alfabetizava crianas e adultos. Am-

    bas as ati tudes, notadamente romnticas e messinicas, pouco tinham a

    ver com um trabalho cientfico. Verdadeiramente, os problemas humanos,

    como a po breza, a ignorncia e a doena oferecem to grande seduo

    aos espritos sensveis, que fcil que desencadeiem, ainda nas pessoas

    mais frias, senti mentos de fraternidade, de apoio. Por isso, entre outras

    razes, a pes quisa qualitativa, no tipo denominado pesquisa participan-

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    te, quando se realiza em povoados que vivem na misria, tem muitas

    dificuldades para obter achados cientficos. Investigadores e investiga-

    dos envolvem-se tanto nos problemas que, se bem conseguem resulta-

    dos timos para o desenvolvimento imediato da comunidade, no alcan-

    am, muitas vezes, expresses que possam enriquecer a cincia social.

    a bUsca do informante adeqUado

    Alguns pesquisadores que iniciam, pela primeira vez, trabalhos de campo

    acham que qualquer pessoa pode ser til no fornecimento das informa-

    es que deseja. Realmente, no assim. A escolha dos sujeitos mais ca-

    pacitados para prestar ajuda pesquisa no fcil. Talvez o pesquisador

    tenha de se ver obrigado a processos de ensaio e erros reiteradas vezes

    antes de encontrar as pessoas adequadas para atingir os objetivos pen-

    sados. possvel tambm que o nmero de informantes diminua no de-

    senvolvimento da pesquisa, geralmente, por falta de tempo ou irrespon-

    sabilidade dos mesmos. Em algumas oportunidades, o investigador deve

    buscar novas pessoas para entrevistar. Tudo isto, no melhor dos casos,

    pode significar problemas e frustraes temporrios para o investigador.

    Para amenizar estas dificuldades, o pesquisador deve realizar uma srie de

    atividades preliminares tendentes a esclarecer sua viso de cada um de seus

    possveis informantes. Isto significa realizar contatos informais com a maior

    quantidade possvel de pessoas que esto envolvidas no pro cesso social

    que interesse. Quando falamos disto, estamos pensando fun damentalmente

    na entrevista como tcnica de Coleta de Informaes. Deve ficar claro, de

    todas as maneiras, que nunca o investigador ter informantes ideais, perfei-

    tos. Por outro lado, devemos lembrar que a entrevista um dos recursos que

    emprega o pesquisador qualitativo no estudo de um fenmeno social.

    Spradley procura delinear as condies mnimas que devem ter proemi-

    nncia no processo de escolha de um bom informante, quando se deseja

    estudar um fenmeno social vinculado ao desenvolvimento de uma comu-

    nidade, grupo social ou atividade especfica. Esses requisitos poderiam ser

    os seguintes, tomando como base geral o pensamento do autor citado:

    a. antigidade na comunidade e envolvimento desde o co meo no fe-

    nmeno que se quer estudar;

    b. conhecimento amplo e detalhado das circunstncias que tm envol-

    vido o foco em anlise;

    c. disponibilidade adequada de tempo para participar no desenrolar

    das entrevistas e dos encontros;

    d. capacidade para expressar especialmente o essencial do fenmeno e

    o detalhe vital que enriquece a compreenso do mesmo.

    A primeira e a segunda condies so muito importantes do ponto de

    vista de poder apreciar com exatido os significados das diferentes si-

    tuaes que podem ser observadas. Todo grupo humano (agrupamento

    de advogados, mdicos, professores, pedreiros, jornalistas etc.) tem seu

    prprio mundo cultural, criado por processos de aculturao realiza-

    dos lentamente ao incorporar-se a ele. Uma comunidade formada por

    operrios tem suas expresses culturais peculiares. Como nos grupos

    de mdicos e odontlogos, existem profissionais que dominam melhor

    suas culturas caractersticas, isto , os processos de aculturao tm sido

    intensos neles, assim tambm nos meios dos trabalhadores existem nas

    vilas operrios que tm atingido realidades aculturais mais completas e

    complexas. Estes dois requisitos apontam, essencialmente, para o dese-

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    jo do pesquisador de alcanar do informante os significados mais genu-

    nos do fenmeno social em foco.

    Uma pesquisa, porm, pode enfrentar grandes dificuldades em seu de-

    senvolvimento se as pessoas escolhidas para serem entrevistadas no

    tm tempo suficiente para atender s necessidades da investigao.

    S depois de vrias experincias diretas o pesquisador pode determinar

    que tal pessoa possui condies para expressar coisas essenciais dos

    fen menos e que no se perde em detalhes desnecessrios.

    importante salientar que o investigador, ainda que pertena mes-

    ma rea dos sujeitos que esto participando na pesquisa (um professor

    univer sitrio de educao, por exemplo, que esteja estudando as funes

    do supervisor nas escolas de primeiro e segundo graus), enfrenta uma

    realidade cultural especfica, desconhecida, possivelmente, para ele e

    da qual pre cisa tomar conscincia em suas caractersticas principais se

    deseja realizar um trabalho cientfico. Este penetrar nos traos essen-

    ciais de uma cultura realizado atravs do processo de aculturao que

    pode ser consciente ou inconsciente. (trivins, 2008, p. 143-5)

    3.4 anlise de conTedo

    Um pouquinho de sua histriaA anlise de contedo um mtodo que pode ser aplicado tanto na pesquisa quantitativa como na investigao qualitativa, contu-do com aplicao bastante diversa.

    A anlise de contedo tem uma longa histria, possvel di-zer que ela nasceu quando os primeiros homens realizaram as pri-meiras tenta tivas para interpretar os livros sagrados. Esforos mais sistemticos so encontrados em 1908, quando um professor de Chicago, ao analisar cartas pessoais, autobiografias, jornais, e ou-tros documentos, foi capaz de elaborar um quadro de valores e atitudes dos imigrantes polacos.

    Outro ponto importante na histria desta metodologia ocorreu aps a Primeira Guerra Mundial, devido aos estudos de Leavell sobre a propaganda empregada nesse evento blico, neste contexto possvel afirmar que a anlise de contedo alcana foras sistematizadas de uso, adquirindo as formas organizadas de um mtodo de investigao.

    Contudo, a obra na qual o mtodo de anlise de contedo pas-sa a ganhar evidncia, no s em relao tcnica de seu emprego, mas tambm em seus princpios e em seus conceitos fundamen-tais, a de Bardin, publicada em Paris, em 1977.

    Neste contexto, a anlise de contedo, assim como qualquer mtodo de pesquisa, ganha credibilidade e fora, se estiver devi-damente fundamentado em determinado referencial terico. Por estas razes, e tambm por possibilitar a pesquisa e compreenso das motivaes, atitudes, dos valores, das crenas, tendncias que conduzem os seres humanos e que organizam determinados gru-pos, este mtodo preferncia de muitos pesquisadores. Alm de,

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    em seu rol de possibilidade, viabilizar o estudo e a descoberta de entendimentos subliminares que podem estar presentes nos dis-positivos legais, princpios, diretrizes.

    Portanto, de acordo com Chizzotti (2009, p. 98):

    A anlise de contedo um mtodo de tratamento e anlise de informa-

    es, colhidas por meio de tcnicas de coleta de dados, consubstancia-

    das em um documento. A tcnica se aplica anlise de textos escritos

    ou de qualquer comunicao (oral, visual, ges tual) reduzida a um texto

    ou documento. Segundo Badin, um conjunto de tcnicas de anlise de

    comunicao que contm informao sobre o comportamento humano

    atestado por uma fonte documental.

    O objetivo da anlise de contedo compreender criticamente o senti-

    do das comunicaes, seu contedo manifesto ou latente, as significa-

    es explcitas ou ocultas.

    A decodificao de um documento pode utilizar-se de diferentes procedimen-

    tos para alcanar o significado profundo das comunicaes nele cifradas. A es-

    colha do procedimento mais adequado depende do material a ser analisado,

    dos objetivos da pesquisa e da posio ideolgica e social do analisador.

    Assim os momentos da pesquisa acima citados encaminham para a anlise dos dados coletados seja atravs dos tipos de an-lise j existentes: anlise lexi colgica, ou anlise catego rial, seja atravs de uma anlise do momento do discurso, ou da anlise dos significados dos conceitos em meios sociais diferenciados. Ou, por fim, atravs da elaborao de novas/inditas formas de decodifica-o de comunicaes impressas, visuais, orais entre, outras. Estas tcnicas de organizao do material coletado na pesquisa tm por objetivo diminuir a gama de informaes, possibilitando passar de uma etapa mais descritiva para uma interpretativa, privilegiando investigar a compreenso dos atores sociais no contexto cultural em que esto inseridos (CHIZZOTTI, 2009).

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