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12 JORNAL DA UNICAMP Campinas, 8 a 14 de setembro de 2008 BABINSKI MANUEL ALVES FILHO [email protected] Galeria de Arte Unicamp abriga até o dia 26 de se- tembro uma exposição de Maciej Antoni Ba- binski, considerado um dos maiores gra- vuristas e aquarelistas em atividade no Brasil. A mostra, que conta com cerca de 50 trabalhos, todos pertencentes ao acervo pessoal do artista plástico, foi aberta no último dia 3, seguida de uma palestra dele sobre o tema Arte, cria- ção e ensino. De acordo com o curador do evento, João Francisco Duarte Júnior, professor do Instituto de Artes (IA), esta é a primeira vez que Babinski expõe em Campinas. “O contato com a obra e com o pensamento de Babinski está sendo enriquecedor, particular- mente para os alunos de graduação e pós-graduação em Artes Plásticas da Universidade”, considera. A exposição é aberta ao público em geral. As visi- tas podem ser feitas de segunda a sex- ta-feira, das 9h às 17h. As negociações para a realização da exposição, conforme o professor João Francisco, duraram cerca de seis me- ses. A escolha de Babinski deu-se por duas razões, como explica o curador da mostra. Primeiro, pela importância da obra do artista plástico. “Ele é um grande gravurista e aquarelista. Além disso, Babinski tem várias facetas em termos artísticos, tanto no que se refe- re à técnica como no que diz respeito à temática. É um excelente paisagista e autor de obras que eu chamaria de al- tamente expressionistas. Ademais, seus trabalhos exercem uma forte crítica da realidade”, elenca o docente do IA. O segundo motivo para o convite, acres- centa, é a experiência de Babinski como educador. Nascido na Polônia, ele chegou ao Brasil em 1953, vindo do Canadá. Aqui, ele participou de uma experiên- cia educacional inovadora: atuou como professor do projeto dos ginásios vocacionais, dirigidos a estudantes de 5ª a 8ª séries do Estado de São Paulo. Inspirados no projeto pedagógico da Escola de Sèvres e da Escola Compre- ensiva Inglesa, que valorizavam a par- ticipação ativa e consciente do aluno em uma sociedade democrática, esses estabelecimentos apresentavam baixís- simos índices de reprovação, de faltas e de evasão. O currículo, além das dis- ciplinas convencionais, contemplava fortemente as artes. “Havia oficinas de teatro, música e artes plásticas”, lem- bra o professor João Francisco. Os ginásios vocacionais foram im- plantados nas cidades de Americana, Barretos, Batatais, Rio Claro, São Pau- lo e São Caetano do Sul. A experiên- cia durou de 1961 a 1969. A interrup- ção se deu por determinação do regi- me militar. Na ocasião, vários profes- sores foram presos sob a acusação de subversão. Na seqüência, Babinski transferiu-se para Brasília, onde parti- cipou de mais uma iniciativa educaci- onal inovadora, como docente da re- cém-fundada Universidade de Brasília, projeto coordenado pelo antropólogo Darcy Ribeiro. “Babinski também foi docente na Universidade Federal de Uberlândia, onde fomos colegas no curso de Artes Plásticas e tivemos a oportunidade de trocar muitas idéias e experiências sobre a arte”, conta o pro- fessor João Francisco. Atualmente, aos 77 anos, Babinski está aposentado como educador, mas continua produzindo como artista plás- tico. Ele mora no sertão do Ceará, num pequeno município chamado Várzea Alegre. “Quando ele mudou-se para lá, o local não contava sequer com luz elé- trica”, afirma o curador da exposição, que revela ainda um dado curioso so- bre a vinda do pintor para o Brasil. Con- forme o professor João Francisco, a fa- mília de Babinski abandonou a Polônia por conta da invasão do país pelas tro- pas de Hitler. De lá, foi para a França, Inglaterra e posteriormente Canadá. Foi nesta última nação que o jovem polo- nês tomou contato mais intenso com as artes plásticas. E foi lá também que ele ouviu falar pela primeira vez sobre um país tropical chamado Brasil. Numa conversa com um de seus mentores, um padre, Babinski revelou o desejo de conhecer o tal país tropical. O religioso desaconselhou-o, dizendo tratar-se de um país muito quente, no O artista plástico Maciej Antoni Babinski, na abertura da exposição, ao lado de uma de suas obras Maciej Antoni Babinski nasceu em Varsóvia, Polônia, em 1931. É gravador, ilustrador, pintor, desenhista e professor aposentado. Iniciou sua for- mação artística na Inglaterra, em 1946. Em Montre- al, no Canadá, para onde emigrou com a família em 1948, estudou com John Lyman, Elton Grier e Goodrich Roberts, e participou do movimento automatista, liderado pelo pintor Borduas. Aos 22 anos mudou-se para o Brasil, naturalizando-se bra- sileiro em 1959. Morou inicialmente no Rio de Ja- neiro, onde conviveu com Oswaldo Goeldi, Augusto Rodrigues, Darel Valença e Newton Cavalcanti. Em 1965 transferiu-se para Brasília, onde trabalhou como professor de desenho no Instituto Central de Artes da Universidade de Brasília por um breve pe- ríodo. De lá, partiu para São Paulo, onde viveu até me- ados dos anos 70, quando se mudou para Araguari, no triângulo mineiro. Nos anos 80 lecionou na Uni- versidade Federal de Uberlândia. Em 1987 foi rein- tegrado à Universidade de Brasília, onde se aposen- tou em 1991. Vive atualmente em Várzea Alegre, Ceará. Participou de individuais e coletivas em di- versos países, como o Canadá, Estados Unidos e Bra- sil. Expôs na Bienal Internacional de São Paulo em 1967 e 1985. Participou, ainda, de várias edições do Salão Nacional de Arte Moderna, do Salão Paulista e do Panorama da Arte Atual Brasileira, entre ou- tros eventos de arte. qual as pessoas abusavam da sensuali- dade. Ao final da advertência, Babinski pensou: pois é para lá mesmo que eu quero ir. De acordo com o professor João Francisco, as obras expostas na Galeria de Arte da Unicamp compõem a fase recente do artista plástico. Elas foram produzidas nos últimos dez anos. Um dos trabalhos expostos será doado pelo autor à Galeria de Arte Unicamp. Além de proporcionar ao público de Campinas e região o contato com a obra de um renomado artista, a expo- sição, conforme o docente do IA, tam- bém se insere no esforço que a Uni- camp vem fazendo para transformar a Galeria de Arte em Museu de Arte. “Nosso objetivo é criar um espaço maior, com status diferenciado. Além de um local de exposição, o museu ser- virá também às atividades de ensino e pesquisa. Com isso, teremos a oportu- nidade de manter intercâmbios com instituições do gênero tanto no Brasil quanto no exterior. Essa iniciativa está intimamente ligada ao projeto que pre- tende transformar a Universidade num pólo cultural da região”, esclarece. A O João Francisco Duarte Júnior, curador da exposição: “Trabalhos exercem uma forte crítica da realidade” Biografia Fotos: Reprodução/Antoninho Perri Serviço Exposição: Babinski – Aquarelas e gravuras Autor: Maciej Antoni Babinski Local: Galeria de Arte Unicamp Data: de 3 a 26 de setembro Horário: Segunda a sexta-feira, das 9h às 17h Entrada: Franca Serviço

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Page 1: 12 JORNAL DA UNICAMP BABINSKI · do evento, João Francisco Duarte Júnior, professor do Instituto de Artes (IA), esta é a primeira vez que Babinski expõe em Campinas. “O contato

12 JORNAL DA UNICAMP Campinas, 8 a 14 de setembro de 2008

BABINSKIMANUEL ALVES FILHO

[email protected]

Galeria de Arte Unicampabriga até o dia 26 de se-

tembro uma exposiçãode Maciej Antoni Ba-

binski, consideradoum dos maiores gra-

vuristas e aquarelistas em atividade noBrasil. A mostra, que conta com cercade 50 trabalhos, todos pertencentes aoacervo pessoal do artista plástico, foiaberta no último dia 3, seguida de umapalestra dele sobre o tema Arte, cria-ção e ensino. De acordo com o curadordo evento, João Francisco DuarteJúnior, professor do Instituto de Artes(IA), esta é a primeira vez que Babinskiexpõe em Campinas. “O contato coma obra e com o pensamento de Babinskiestá sendo enriquecedor, particular-mente para os alunos de graduação epós-graduação em Artes Plásticas daUniversidade”, considera. A exposiçãoé aberta ao público em geral. As visi-tas podem ser feitas de segunda a sex-ta-feira, das 9h às 17h.

As negociações para a realização daexposição, conforme o professor JoãoFrancisco, duraram cerca de seis me-ses. A escolha de Babinski deu-se porduas razões, como explica o curadorda mostra. Primeiro, pela importânciada obra do artista plástico. “Ele é umgrande gravurista e aquarelista. Alémdisso, Babinski tem várias facetas emtermos artísticos, tanto no que se refe-re à técnica como no que diz respeito àtemática. É um excelente paisagista eautor de obras que eu chamaria de al-tamente expressionistas. Ademais, seustrabalhos exercem uma forte crítica darealidade”, elenca o docente do IA. Osegundo motivo para o convite, acres-centa, é a experiência de Babinskicomo educador.

Nascido na Polônia, ele chegou aoBrasil em 1953, vindo do Canadá.Aqui, ele participou de uma experiên-cia educacional inovadora: atuou comoprofessor do projeto dos ginásiosvocacionais, dirigidos a estudantes de5ª a 8ª séries do Estado de São Paulo.Inspirados no projeto pedagógico daEscola de Sèvres e da Escola Compre-ensiva Inglesa, que valorizavam a par-ticipação ativa e consciente do alunoem uma sociedade democrática, essesestabelecimentos apresentavam baixís-simos índices de reprovação, de faltase de evasão. O currículo, além das dis-ciplinas convencionais, contemplavafortemente as artes. “Havia oficinas deteatro, música e artes plásticas”, lem-bra o professor João Francisco.

Os ginásios vocacionais foram im-plantados nas cidades de Americana,Barretos, Batatais, Rio Claro, São Pau-lo e São Caetano do Sul. A experiên-cia durou de 1961 a 1969. A interrup-ção se deu por determinação do regi-me militar. Na ocasião, vários profes-sores foram presos sob a acusação desubversão. Na seqüência, Babinskitransferiu-se para Brasília, onde parti-cipou de mais uma iniciativa educaci-onal inovadora, como docente da re-

cém-fundada Universidade de Brasília,projeto coordenado pelo antropólogoDarcy Ribeiro. “Babinski também foidocente na Universidade Federal deUberlândia, onde fomos colegas nocurso de Artes Plásticas e tivemos aoportunidade de trocar muitas idéias eexperiências sobre a arte”, conta o pro-fessor João Francisco.

Atualmente, aos 77 anos, Babinskiestá aposentado como educador, mascontinua produzindo como artista plás-tico. Ele mora no sertão do Ceará, numpequeno município chamado VárzeaAlegre. “Quando ele mudou-se para lá,o local não contava sequer com luz elé-trica”, afirma o curador da exposição,que revela ainda um dado curioso so-bre a vinda do pintor para o Brasil. Con-forme o professor João Francisco, a fa-mília de Babinski abandonou a Polôniapor conta da invasão do país pelas tro-pas de Hitler. De lá, foi para a França,Inglaterra e posteriormente Canadá. Foinesta última nação que o jovem polo-nês tomou contato mais intenso com asartes plásticas. E foi lá também que eleouviu falar pela primeira vez sobre umpaís tropical chamado Brasil.

Numa conversa com um de seusmentores, um padre, Babinski revelouo desejo de conhecer o tal país tropical.O religioso desaconselhou-o, dizendotratar-se de um país muito quente, no

O artistaplásticoMaciej AntoniBabinski,na aberturada exposição,ao lado deuma de suasobras

Maciej Antoni Babinski nasceu em Varsóvia,Polônia, em 1931. É gravador, ilustrador, pintor,desenhista e professor aposentado. Iniciou sua for-mação artística na Inglaterra, em 1946. Em Montre-al, no Canadá, para onde emigrou com a família em1948, estudou com John Lyman, Elton Grier eGoodrich Roberts, e participou do movimentoautomatista, liderado pelo pintor Borduas. Aos 22anos mudou-se para o Brasil, naturalizando-se bra-sileiro em 1959. Morou inicialmente no Rio de Ja-neiro, onde conviveu com Oswaldo Goeldi, AugustoRodrigues, Darel Valença e Newton Cavalcanti. Em1965 transferiu-se para Brasília, onde trabalhoucomo professor de desenho no Instituto Central deArtes da Universidade de Brasília por um breve pe-ríodo.

De lá, partiu para São Paulo, onde viveu até me-ados dos anos 70, quando se mudou para Araguari,no triângulo mineiro. Nos anos 80 lecionou na Uni-versidade Federal de Uberlândia. Em 1987 foi rein-tegrado à Universidade de Brasília, onde se aposen-tou em 1991. Vive atualmente em Várzea Alegre,Ceará. Participou de individuais e coletivas em di-versos países, como o Canadá, Estados Unidos e Bra-sil. Expôs na Bienal Internacional de São Paulo em1967 e 1985. Participou, ainda, de várias edições doSalão Nacional de Arte Moderna, do Salão Paulistae do Panorama da Arte Atual Brasileira, entre ou-tros eventos de arte.

qual as pessoas abusavam da sensuali-dade. Ao final da advertência, Babinskipensou: pois é para lá mesmo que euquero ir. De acordo com o professorJoão Francisco, as obras expostas naGaleria de Arte da Unicamp compõema fase recente do artista plástico. Elasforam produzidas nos últimos dez anos.Um dos trabalhos expostos será doadopelo autor à Galeria de Arte Unicamp.

Além de proporcionar ao públicode Campinas e região o contato com aobra de um renomado artista, a expo-sição, conforme o docente do IA, tam-bém se insere no esforço que a Uni-camp vem fazendo para transformar aGaleria de Arte em Museu de Arte.“Nosso objetivo é criar um espaçomaior, com status diferenciado. Alémde um local de exposição, o museu ser-virá também às atividades de ensino epesquisa. Com isso, teremos a oportu-nidade de manter intercâmbios cominstituições do gênero tanto no Brasilquanto no exterior. Essa iniciativa estáintimamente ligada ao projeto que pre-tende transformar a Universidade numpólo cultural da região”, esclarece.

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O JoãoFranciscoDuarteJúnior,curador daexposição:“Trabalhosexercemuma fortecrítica darealidade”

Bio

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Fotos: Reprodução/Antoninho Perri

Serviço Exposição: Babinski – Aquarelas e gravuras

Autor: Maciej Antoni BabinskiLocal: Galeria de Arte UnicampData: de 3 a 26 de setembroHorário: Segunda a sexta-feira, das 9h às 17hEntrada: FrancaS

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