15º Congresso Brasileiro de Geologia de Engenharia e Ambiental 1

15º Congresso Brasileiro de Geologia de Engenharia e Ambiental

EROSÃO LAMINAR NO BAIRRO DO SANTARENZINHO, ÁREA URBANA DE SANTARÉM-PA

Fábio Góis da Mota1; Eduardo Francisco da Silva1; Arthur Iven Tavares Fonseca1; Anderson Conceição Mendes2

Resumo – Os processos erosivos são capazes de trazer danos ao meio físico e com o período chuvoso diversas áreas da terra são atingidas. O homem contribui com a intensificação de tais processos, desmatando, ocupando áreas e construindo moradias de forma desordenada modificando as camadas superficiais do solo. Na área de estudo identificou-se a erosão do tipo laminar, com a colaboração das enxurradas grande quantidades de sedimentos são carreados uniformemente da Serra do Índio, no bairro do Santarenzinho, área urbana de Santarém-PA, percorrendo vias, causando problemas as residências e favorecendo o assoreamento do Igarapé do Irurá, curso d’água existente nas proximidades do referido bairro. Notou-se que há necessidade de interferência do público com medidas corretivas e construção de obras de contenção como formas mitigadoras aos processos erosivos e educação ambiental a população da área afetada.

Abstract – Erosive processes be able to bring damages to the physical environment and in rainy period several land areas are affected. The human being contributed to intensify such processes, deforesting, occupying areas and building houses in a disarranged way, modifying the soil superficial layers. In the study area was identified laminar kind of erosion, with the collaboration of downpour, huge amounts of sediments are evenly loaded from the Indio hill, on the neighborhood of Santarenzinho, urban area of Santarem, traveling for pathways, causing troubles to the residences and favoring the siltation in the Irurá Stream, a water flow in the neighborhood surroundings. It was noted that there is need for public interference with corrective measures and construction of containment works as mitigating ways to erosion and environmental education population of the affected area.

Palavras-chave – Erosão laminar; Serra do Índio; Assoreamento.

1Graduando em Geologia, Universidade Federal do Oeste do Pará, (93) 99155 8006, f.motastm@gmail.com;

efrancisco_geo@hotmail.com; Arthur_iven@hotmail.com ; 2

Geól., Dr., Universidade Federal do Oeste do Pará - PA, (91) 992473445, Anderson.mendes@ufopa.edu.br

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1. INTRODUÇÃO

O período chuvoso contribui com os processos erosivos em diversas regiões da superfície terrestre, pois através das enxurradas, grandes quantidades de partículas do solo são desagregadas e transportadas para áreas mais depressivas do relevo. A ação antrópica também colabora para ocorrência de tais processos, uma vez que o crescimento populacional intensifica a retirada da vegetação e a remoção das camadas superficiais do solo, deixando expostas as intempéries do tempo.

Os conhecimentos dos aspectos ambientais como o meio físico, biótico e social são importantes para que haja o entendimento dos processos erosivos de maneira que se faça previsão, prevenção, controle e recuperação de áreas propícias à erosão (Romão & Souza, 2006).

Dentro da área urbana da cidade de Santarém no Oeste do Estado do Pará, no Bairro do Santarenzinho a atividade antrópica e erosão ocorrem de modo acelerado. Nesse bairro foi identificado um fenômeno conhecido como erosão laminar, onde partículas de sedimentos oriundos da Serra do Índio são transportadas uniformemente e tem como destino final um igarapé nas adjacências. Como consequência, prejuízos de ordem socioambiental ocorrem nesta região e interferem, principalmente, na trafegabilidade das vias e modo de vida dos comunitários.

Desta forma, este trabalho tem como objetivos descrever “in loco” os problemas advindos pela ação dos processos erosivos e identificar as áreas mais afetadas por tais processos no bairro do Santarenzinho, em Santarém.

2. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA ESTUDADA

2.1 Localização e acesso

O município de Santarém, situado no oeste do Estado do Pará, norte do Brasil. Abrange 722.358 Km² e abriga 25 municípios (Oliveira et al. 2012), sob as coordenadas geográficas 02º27’32”S e 54º44’26.4”W. Na periferia da cidade, bairro do Santarenzinho, área urbana de Santarém-PA, aflora uma serra chamada de “Serra do Índio”, com cota topográfica de 110 m de altura.

Figura 1. Mapa de localização da área estudada.

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2.2 Caracterização geológica

A cidade de Santarém está assentada sobre a bacia sedimentar do Amazonas. Esta bacia é do tipo intracratônica com aproximadamente 500.000 km2, situada no centro norte do estado do Pará (Vasquez & Rosa-costa, 2008). Segundo Cunha et al. (1994), nos 5.000 m de preenchimento sedimentar podem ser distinguidas duas sequências de primeira ordem: uma paleozóica e outra meso-cenozóica. A primeira sequência engloba os grupos Purus, Trombetas, Urupadi, Curuá e Tapajós; a segunda englobaria o Grupo Javari. O Grupo Javari é constituído pelas formações Alter do Chão e Solimões, sendo que a última não aflora no estado do Pará (Vasquez & Rosa-costa, 2008).

Neste sentido a área estudada está inserida na Formação Alter do Chão, que segundo Mendes et al. (2012) é constituída por depósitos siliciclásticos. Possui pacotes de arenitos intercalados com camadas de pelitos e, conglomerados em menor escala (Tancredi, 1996). A região pesquisada apresenta grandes quantidades de areias carreadas devido à erosão, tais sedimentos são característicos da formação supracitada (Figura 2).

Figura 2. Serra do Índio com indicação do sentido do movimento de massa (setas).

3. MATERIAIS E MÉTODOS

Os métodos utilizados neste trabalho constam em três etapas:

1) consulta a literatura pertinente e temática;

2) pesquisa de campo e

3) trabalho de escritório.

Para o trabalho de campo foram utilizados: GPS Etrex 10, câmera fotográfica Finepix S Fuji, bússola marca Brunton, martelo petrográfico, lupa de aumento de 30x e fita métrica. Foram elaborados mapas utilizando o modelo digital de elevação adquiridos na base de dados da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), com resolução espacial de 90 metros no sistema de coordenadas geográficas Datum SIRGAS 2000 através do software ArcGIS 10.1 com dados do Google Earth. A Figura 3 apresenta o mapa altimétrico da área estudada.

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Figura 3. Mapa altimétrico da área de estudo.

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES

No trabalho de campo foi possível identificar que, a ação das chuvas por meio das enxurradas provoca a erosão do tipo laminar na Serra do Índio, caracterizada pelo transporte de grandes quantidades de sedimentos de maneira uniforme (Salomão, 1994). A cota topográfica máxima é de 110m e na encosta apresenta ângulo de inclinação de 38º. Foi determinado o sentido do fluxo laminar de SW para NE direção esta, preferencial para onde são carreadas as partículas em um fluxo laminar (Figura 4).

Nas adjacências da Serra do Índio, residências são afetadas diretamente pelo processo erosivo durante o escoamento superficial das chuvas. Neste sentido, alguns moradores trabalham contra a ação erosiva construindo muros de contenção na tentativa de evitar o transbordamento para as residências, mesmo não sendo práticas eficientes de segurança (Figura 5).

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Figura 4. A) Inclinação da serra, B e C) Indicação do fluxo preferencial para o transporte de sedimentos em fluxo laminar.

Figura 5. Muro de contenção construído pelos moradores contra a erosão.

Os sedimentos carreados e transportados pela enxurrada, alcançam o curso d’água na porção mais baixa do relevo (Figura 3). A área de estudo apresenta grandes quantidades de sedimentos arenosos relacionados com a litologia da unidade geológica em que está contida. As

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atividades humanas contribuem com os processos erosivos, pois removem camadas da superfície do solo com intuito de corrigir os desníveis dos terrenos para a construção de moradias, empurrando-os para as margens das ruas permitindo que a água das chuvas transporte-os em direção ao curso d’água das proximidades (Figura 6).

Figura 6. A)Transporte de areias através da enxurrada, B) Vias públicas prejudicadas pela erosão e C) Proximidades do Igarapé do Irurá.

O destino dos sedimentos é o igarapé do Irurá com uma cota topográfica de 7m no seu ponto mais baixo, que sofre com as consequências decorrentes da erosão, transporte e deposição provocando o assoreamento do curso d’água (Figura 7). Para Brito & Sant’anna (2007), o assoreamento é decorrente da grande produção de sedimentos que excedem a capacidade de transporte do curso d’água, refletindo dessa forma na ocorrência de processos erosivos. Deste modo, isso pode causar danos à flora e a fauna presente naquele ambiente, também prejudicando a qualidade da água do igarapé.

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Figura 7. Assoreamento do Igarapé do Irurá.

5. MEDIDAS DE CONTENÇÃO

Para minimizar a erosão e consequentemente o transporte dos sedimentos da Serra do Índio, devem ser construídas obras de contenção. As medidas a serem tomadas seriam construção de taludes para minimizar as partes com maiores declives, plantação de gramíneas como forma de intervir erosões superficiais; grampeamento do solo como reforço e estabilização dos solos. No entanto, para a área de estudo a medida mais eficaz e de baixo custo seria a construção de muros de gabiões (Figura 8), feitos com gaiolões de arames em formas de malhas nas extremidades e preenchidos por rochas de diversas granulometrias facilitando o escoamento das águas e dificultando o transporte dos sedimentos (ONODERA, 2005).

Figura 8- Ilustração de medidas de contenções: Plantações de gramas e muro de gabião (setas).

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6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Analisando o ocorrido in situ nota-se que à necessidade de ações que possam minimizar tais problemas, tais como: 1) contenção das encostas nas adjacências da serra; 2) remoção de moradias muito próximas a montante e jusante, pois há riscos de movimentos gravitacionais de massa, provocando queda de blocos, fluxo de detritos; construção de um sistema de drenagem eficiente para o escoamento das águas das chuvas e residências e; 3) reabilitação de áreas antropizadas onde foi removida a cobertura vegetal e as primeiras camadas de solo.

Portanto, é de fundamental importância dos órgãos governamentais no planejamento e busca de práticas que proporcionem melhoraras na qualidade de vida da comunidade afetada, além da preservação do meio ambiente.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem ao Instituto de Engenharia e Geociências, a Universidade Federal do Oeste do Pará e a PETRUS Jr. pela contribuição e pelo suporte oferecido durante a pesquisa.

REFERÊNCIAS

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BRITO, C. M.; SANT’ANNA, S. N. A influência da urbanização na sedimentação de lagos urbanos: caso do lago Igapó 2 em Londrina, norte do Paraná. Londrina, 2007.

CAPUTO, M. V.; RODRIGUES, R.; VASCONCELOS, D. N. N. Litoestratigrafia da Bacia do Amazonas. RENOR - Petrobrás, 1971. 92p.

OLIVEIRA, B. M.; GOMES, S. C.; TOBIAS, M. S.; CABRAL, E. R.; OLIVEIRA. F.; DUARTE, A. L. Mobilidade Urbana e Desigualdade Social: um estudo dos deslocamentos na cidade de Santarém-PA. Amazônia, Organizações e Sustentabilidade. v.1, n.2, ago./dez. 2012, p.79-91.

ONODERA, L. T. O uso de gabiões como estrutura de contenção. Trabalho de conclusão de curso. São Paulo, 2005. 92p.

ROMÃO, P. A.; SOUZA, N. M. Caracterização Ambiental. In: Camapum de Carvalho, J.; Sales, M. M.; Souza, N. M.; Melo, M. T. S. Processos Erosivos no Centro-Oeste Brasileiro.– Brasília: Universidade de Brasília: FINATEC, 2006, p.157-192.

SALOMÃO F. X. T. Processos erosivos lineares em Bauru (SP): regionalização cartográfica aplicada ao controle preventivo urbano e rural. Tese (Doutorado) - Departamento de Geografia, FFLCH, USP, São Paulo, 1994. 200p.

TANCREDI, A. C. F. N. S. Recursos hídricos subterrâneos de Santarém. Tese (Doutorado) - Centro de Geociências, Universidade Federal do Pará, Belém, 1996. 153p.

VASQUEZ, M. L. & ROSA-COSTA, L. T. (Org.). Geologia e Recursos Minerais do Estado do ará. CPRM, Belém, 2008. 329pp.