2001 - Algumas Estratégias de Compreensão Em Leitura de Alunos Do Ensino Fundamental - BORUCHOVITCH, Evely

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    ALGUMASESTRATGIASDECOMPREENSOEMLEITURADEALUNOSDOENSINOFUNDAMENTAL

    Evely Boruchovitch1

    Resumo

    Como parte de uma pesquisa mais ampla que visa conhecer as estratgias de aprendizagem de alunos do ensino fundamental de uma escola pblica deCampinas e os fatores associados ao seu emprego, o presente estudo teve como objetivo especfico investigar as estratgias de aprendizagem espontneasmencionadas por alunos do ensino fundamental, no que diz respeito compreenso do contedo durante a leitura, bem como analisar a relao entre asestratgias de compreenso de leitura relatadas e fatores como idade, srie escolar, gnero e repetncia. Os resultados revelaram uma gama pouco diversificadade estratgias de leitura entre os participantes. Relaes significativas entre as estratgias de leituras mencionadas e a repetncia foram tambm encontra-das. Concluiu-se pela necessidade de que professores e educadores atentem para a importncia de se desenvolver um trabalho preventivo no sentido daformao do leitor independente, crtico e reflexivo.

    Palavras-chave: estratgias de aprendizagem, estratgias de compreenso da leitura, ensino fundamental.

    READINGCOMPREHENSIONSTRATEGIESOF ELEMENTARYSCHOOLSTUDENTS

    Abstract

    As a part of a broader research aimed at investigating the learning strategies among Brazilian students of a Public school in an inner city of So Paulo,the objective of the present study was both to explore the spontaneous reading comprehension strategies mentioned by elementary school students while

    reading, and analyse the reading strategies reported by subjects in relation to age, gender, school grade level and repetition of a school grade level. Resultsevinced participants lack of a variety of reading strategies. Significant relationships emerged between reading strategies mentioned and repetition of aschool grade level. The study points out the need that teachers and educators engage in a preventive work towards the development of an independent,reflexive and critical reader.

    Keywords: learning strategies, reading comprehension strategies, elementary school.

    INTRODUO

    Toricos contemporneos tm apontado a impor-tncia, no s de ensinar aos alunos o contedo, mas,tambm, de promover nos estudantes a conscincia dosprocessos pelos quais se aprende (Pfromm Netto, 1987;Pozo, 1996). O desenvolvimento de alunos auto-regu-lados vem se constituindo numa importante meta edu-cacional (Zimmerman, 1986; Pressley, Borkowski &Schneider, 1989; Brown, 1997). De acordo comZimmerman (1986), um estudante auto-regulado quan-do capaz de ser ativo e responsvel pelo seu prprio

    1Psicloga pela UERJ, PhD em Educao pela University of Southern Califrnia. Professora da Faculdade de Educao da UNICAMP. E-mail:

    [email protected]

    processo de aprendizagem. A auto-regulao envolvemetacognio (a capacidade do aluno refletir sobre osseus processos cognitivos), motivao e, sobretudo,iniciativa e comportamento autnomo por parte do es-tudante. As estratgias de aprendizagem vm sendoconsideradas pela literatura como importantes instru-mentos de auto-regulao do aluno, na medida em quecontribuem para ajud-lo a aprender a aprender e exer-cer mais controle sobre o seu prprio processo de apren-dizagem (Pozo, 1996; Da Silva & S, 1997).

    Psicologia Escolar e Educacional, 2001 Volume 5 Nmero 1 19-25

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    As estratgias de aprendizagem so tcnicas oumtodos que os alunos usam para adquirir, armazenare utilizar a informao (Dembo, 2000). As estratgiasde aprendizagem podem estar mais voltadas para aju-dar o aprendiz a organizar, elaborar e integrar a infor-

    mao (estratgias cognitivas ou primrias) ou ser maisorientadas para o planejamento, monitoramento,regulao do prprio pensamento e manuteno de umestado interno satisfatrio que facilite a aprendizagem(estratgias metacognitivas ou de apoio).

    Good e Brophy (1986) organizaram cinco tiposde estratgias identificadas por Weinstein e Mayer(1985), a saber: estratgias de ensaio, elaborao, or-ganizao, monitoramento e estratgias afetivas(Boruchovitch, 1993;1999b). Enquanto as estratgiasde ensaio envolvem repetir ativamente, tanto pela fala

    como pela escrita, o material a ser aprendido, as es-tratgias de elaborao implicam a realizao de co-nexes entre o material novo a ser aprendido e o ma-terial antigo e familiar (e.g., reescrever, resumir, criaranalogias, tomar notas que vo alm da simples re-petio, criar e responder perguntas sobre o materiala ser aprendido). J as estratgias de organizao re-ferem-se imposio de estrutura ao material a seraprendido, seja subdividindo-o em partes, seja iden-tificando relaes subordinadas ou superordinadas(e.g., elaborar tpicos, criar uma hierarquia ou redede conceitos).

    O monitoramento do prprio processo de aprender essencial ao sucesso acadmico. Os estudantes bem-sucedidos apresentam a capacidade de monitoramen-to bem desenvolvida, sendo capazes de monitorar acompreenso, o uso de estratgias, o investimento deesforo e o engajamento nas tarefas, entre outrasatividades. As estratgias de monitoramento da com-preenso, por exemplo, implicam que o indivduo es-teja constantemente com a conscincia realista do

    quanto ele est sendo capaz de captar e absorver docontedo que est sendo ensinado (e.g., tomar algumaprovidncia quando se percebe que no entendeu, auto-questionamento para investigar se houve compreen-so, estabelecer metas e acompanhar o progresso emdireo realizao dos mesmos, modificar estrat-gia utilizadas, se necessrio).

    Como a utilizao eficiente de estratgias de apren-dizagem depende, em parte, das condies internasdo aprendiz, asestratgias afetivas so voltadas eli-minao de sentimentos desagradveis, que no con-dizem com a aprendizagem (e.g., estabelecimento e

    manuteno da motivao, manuteno da ateno econcentrao, controle da ansiedade).

    sabido que o domnio da leitura essencial parase obter sucesso na escola, sendo necessrio na maiorparte das situaes acadmicas. A competncia em

    leitura envolve um conjunto de habilidades que inclu-em, entre outras, a capacidade do leitor criar suas pr-prias estratgias de compreenso adequando-as s ca-ractersticas do texto, construir significado, identifi-car a macroestrutura, a microestrutura e a superestru-tura do texto, estabelecer uma rede de relaes entreenunciados, organizando as informaes que compemas diferentes partes do material, realizar inferncias,localizar informaes relevantes, avaliar a informa-o recebida e utilizar adequadamente a informao(Brando & Spinillo, 1998; Sol, 1998; Vicentelli,

    2000).Dembo (2000) enfatiza que a leitura para compre-

    enso, aquisio e reteno da informao requer umengajamento ativo por parte do leitor. Pesquisas vmdemonstrando que bons leitores compreendem melhor,se lembram mais do que lem e exibem um repertriomais vasto de estratgias de leitura do que o dos alu-nos que apresentam dificuldades nessa rea (Dembo2000; Vicentelli, 2000).

    Mais precisamente, como cita Dembo (2000), bons

    leitores conseguem identificar mais facilmente as in-formaes essenciais e separ-las dos exemplos e dasinformaes de apoio, ao passo que os maus leitoressublinham o texto indiscriminadamente. Enquantomaus leitores raramente fazem resumos do texto, lei-tores competentes investem esforos no sentido deelaborar uma sntese do texto baseada na seleo deidias que melhor o representa. Bons leitores tentammanter-se ativamente engajados na leitura gerandoquestes sobre o contedo lido e almejam respond-las enquanto lem. Maus leitores apresentam uma certa

    passividade e dificuldade em gerar perguntas sobre omaterial, enquanto lem. Existe, ainda, uma grandediferena entre bons e maus leitores no que diz respei-to ao monitoramento da compreenso. Na realidade,bons leitores so conscientes do grau e da qualidadede sua compreenso e sabem o que fazer e como fazerquando no compreendem o material. Por no conse-guirem monitorar adequadamente a compreenso daleitura, maus leitores acabam por depender de tercei-ros para identificao de suas dificuldades.

    Estratgias de aprendizagem podem ser ensinadaspara alunos de baixo rendimento escolar. possvel

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    Estratgias de compreenso em leitura de alunos do ensino fundamental 21

    ensinar a todos os alunos a expandir notas de aulas, asublinhar pontos importantes de um texto, a monitorara compreeenso na hora da leitura, usar tcnicas dememorizao, fazer resumos, planejar, estabelecermetas, entre outras estratgias (Weinstein & Mayer,

    1985). Entretanto, de acordo com Pozo (1996), co-nhecer as estratgias no suficiente. Os alunos pre-cisam adquirir um metaconhecimento, compreenden-do como e quando us-las.

    No que concerne especificamente ao desenvolvi-mento do leitor competente, h estratgias de apren-dizagem que podem ser ensinadas e usadas para apoiarcada momento relativo ao processo de ler: o antes, odurante e o aps (Dembo, 2000). Na realidade, ao alunopode ser ensinado analisar o ttulo do texto, transform-lo em perguntas e fazer inferncias sobre o seu

    contedo, antes mesmo de comear a leitura. J,durante a leitura, o estudante deve ser encorajado aelaborar um dilogo com o texto, gerar questes quefacilitem a identificao das idias principais e quepossibilitem o monitoramento da compreenso. Re-sumir, fazer um roteiro do texto e elaborar uma repre-sentao grfica do contedo lido constituem, semdvida, atividades importantes a serem realizadas apsa leitura (Sol, 1998; Dembo, 2000).

    Embora a importncia da habilidade de leitura sejaamplamente reconhecida por educadores e estudos te-nham se voltado para melhorar a capacidade de leiturade alunos nas sries iniciais, ainda pouco se sabe sobreos processos subjacentes compreenso da leitura, du-rante a leitura normal. A dificuldade de compreensode contedo durante a leitura persiste mesmo com oavano na escolaridade, sendo um problema freqentetambm entre universitrios (Santos, 1997; Vicentelli,2000). Alm disso, estudos que identificam o repert-rio de estratgias espontneas utilizadas pelos alunosbrasileiros em situaes de leitura tambm so escas-

    sos, apesar de se constiturem em fonte de informaesimprescindveis para a elaborao de programas de trei-namento mais efetivos no que diz respeito a melhorar acapacidade de leitura de alunos.

    Em consonncia, como parte de uma pesquisa maisampla que visa conhecer as estratgias de aprendiza-gem de alunos do ensino fundamental e os fatores as-sociados ao seu emprego (Boruchovitch, 1995; 1999b,2000), o presente estudo teve como objetivo especfi-co investigar as estratgias de aprendizagem espont-neas mencionadas por alunos brasileiros do ensinofundamental, no que diz respeito compreenso du-

    rante a leitura, bem como analisar a relao entre asestratgias de compreenso de leitura relatadas e fato-res como idade, srie escolar, gnero e repetncia desrie escolar dos participantes.

    MTODO

    SujeitosInicialmente, foi realizado um contato com a Pre-

    feitura de Campinas com o propsito de se obter in-formaes sobre as escolas pblicas que mais enfren-tam problemas srios como repetncia e evaso esco-lar. Uma escola apresentando os problemas anterior-mente mencionados foi selecionada de uma lista con-

    tendo o nome de todas as escolas pblicas da regio.Sugestes provenientes da chefe da diviso de pes-quisa e planejamento da Prefeitura foram tambm le-vadas em conta na seleo da escola.

    A escola escolhida atendia a uma populao debaixa renda. A diretora dessa escola foi contactada eos objetivos da pesquisa foram explicitados, bem comoo interesse da escola em participar do estudo foi con-firmado. A diretora foi informada do carcter confi-dencial da pesquisa e assegurada de que a coleta dedados transcorreria de acordo com os horrios de maior

    convenincia da escola, de modo a interferir minima-mente com a rotina da mesma. Depois que a escolaconcordou em participar da pesquisa a lista de todosos alunos de 3a, 5a, e 7asrie foi obtida.

    A amostra foi composta de 110 alunos de 3a (N=36 ), 5a (N=38) e 7a (N=36) sries do ensino funda-mental de uma escola municipal de Campinas. Os su-

    jeitos eram de ambos os sexos e provenientes de fa-mlias de nvel socioeconmico desfavorecido. A fai-xa etria dos participantes variou de 8 a 16 anos. Maisprecisamente, 25,5% da amostra encontrava-se entre8 e 10 anos (grupo 1), 45,5% entre 11 e 13 anos (gru-po 2) e 29,1% possuia 14 ou mais anos de idade (gru-po 3). Como os dados do presente estudo foramcoletados num momento anterior Lei de Diretrizes eBases 9394/96, que estabelece a promoo continua-da, pode se dizer que, em relao histria escolar,68,1% dos participantes j haviam sido retidos em pelomenos uma srie escolar.

    Material

    As questes utilizadas no presente estudo foram

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    traduzidas e adaptadas por Boruchovitch (1995) daSelf-Regulated Learning Structured Interview deZimmerman e Martinez-Pons (1986). Esse instrumentotem como objetivo investigar o uso de estratgias deaprendizagem, por parte dos alunos em situaes de:

    a) aprendizagem em sala de aula, b) estudo em casa,c) realizao de tarefas escolares em casa, e d) prepa-rao para provas As questes dessa entrevista erambaseadas em situaes concretas. Como exemplo podese citar a seguinte questo:A maioria dos professorescostuma dar testes no final do semestre. Esses testes

    determinam a nota dos alunos. Voc tem alguma ma-

    neira que possa lhe ajudar a se preparar para uma

    prova de portugus?Se o sujeito desse uma respostaclara, perguntava-se a ele, se ele costuma fazer maisalguma coisa. O entrevistador pedia para o sujeito ser

    mais preciso sempre que a resposta dada fosse ambguaou vaga.

    Como o Self-Regulated Learning Structured Interviewfoi originalmente escrito em ingls, Boruchovitch(1995), num primeiro momento, traduziu e adaptou omesmo do ingls para o portugus e, num segundomomento, solicitou que um outro pesquisadorbrasileiro que morou num pas de lngua inglesa,fizesse a verso dos instrumentos para o ingls (backtranslation). Acredita-se que as tradues eadaptaes realizadas possibilitaram a mensurao dasvariveis estudadas de forma vlida e confivel.

    ProcedimentoA autora estabeleceu um bom rapport com os par-

    ticipantes. Os sujeitos foram informados que eles fo-ram sorteados para participar de uma pesquisa volta-da para compreender melhor o que eles pensam a res-peito de questes relacionadas prpria aprendiza-gem. Aos sujeitos foi assegurado o carter confiden-cial do estudo e que as respostas fornecidas no iriam

    influenciar suas notas, j que os dados coletados sseriam utilizados para a pesquisa. Os alunos eram li-vres para participar ou no. O desinteresse por fazerparte do estudo foi raro. Nesse caso, sorteava-se umoutro estudante.

    Os sujeitos foram selecionados aleatoriamente, porsorteio, de 19 classes de 3a, 5ae 7asries da escola.Uma diviso balanceada por gnero foi tambm obti-da. Dados sobre a histria escolar dos alunos (promo-es e retenes) foram conseguidos atravs dos ar-quivos da escola e no contato com os alunos.

    Os sujeitos foram entrevistados individualmente

    pela autora e suas estratgias de compreenso de lei-tura foram avaliadas por questes abertas e fechadas,como as que se seguem: Alguns alunos s vezes per-cebem que no conseguem entender nada ou quase

    nada do que lem. Isso acontece com voc? Sim ( )

    No ( ). Em caso de resposta afirmativa, continuava-se com a pergunta seguinte: Voc costuma perceber

    quando isso lhe acontece? Sim ( ) No ( ). O que

    voc costuma fazer para lhe ajudar a entender me-

    lhor o que est lendo?. As repostas dos alunos fo-ram transcritas na ntegra.

    O procedimento de coleta de dados e as questesusadas no presente estudo foram revisados e refina-dos, levando-se em conta as informaes provenien-tes de um estudo piloto previamente realizado com 12sujeitos (quatro de cada srie) da mesma escola que

    no fizeram parte da amostra.

    RESULTADOS

    As respostas s questes abertas foram estudadaspor anlise de contudo (Berelson, 1952). No queconcerne s questes abertas, cada aluno pode dar maisde uma resposta. Sistemas de categorizao das res-postas foram desenvolvidos, levando-se em conta os

    existentes na literatura da rea. Uma amostra das res-postas de cada uma das questes abertas foi categorizadatambm por um juiz independente. A consistncia entrea pesquisadora e o juiz variou de 80 a 100%. Primeiramente,a freqncia e a porcentagem de respostas em cadacategoria foram calculadas. Num segundo momento,procedimentos da estatstica inferencial foramutilizados para analisar as relaes entre as respostasfornecidas pelos estudantes s questes abertas efechadas e a idade, a srie escolar, o gnero e arepetncia escolar do grupo pesquisado. Dada anatureza categrica das variveis investigadas, a provado Qui-Quadrado foi realizada.

    Dos alunos entrevistados (N=110), 80% mencio-naram que acontece de estarem lendo algum materiale no conseguirem compreender o contedo que estolendo. Quando indagados se percebem quando issoacontece, 92% afirmou que sim. No que diz respeito questo aberta relativa ao que os alunos fazem paramelhorar a prpria compreenso da leitura, as respos-tas dos participantes foram estudadas por anlise de

    contedo.

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    Estratgias de compreenso em leitura de alunos do ensino fundamental 23

    Os dados da Tabela 1 revelaram que a maioria dosparticipantes buscam Apoio Social (44,3%). Reler foimencionado por 31,8%. Uma minoria (11,4%) repor-tou que, primeiramente, tentam resolver a dificuldadesozinho por meio do Reler e quando no conseguem

    partem para a busca do Apoio Social. Tanto BuscarAcessrios, como por exemplo, o dicionrio, quantoNo Fazer Nada foram categorias de respostas poucofreqentes (1,1% e 4,5%, respectivamente).

    Tabela 1:Porcentagem das respostas da amostra to-

    tal na questo O que voc costuma fazer para lhe

    ajudar a entender melhor o que voc est lendo?

    Categorias %

    Apoio Social 44,3

    Reler 31,8

    Controle Ateno 6,8

    Busca de Acessrio 1,1

    Reler/Apoio 11,4

    Nada 4,5

    Total 100,0

    N = 88 nmero de respostas dos sujeitos.

    Como pode ser visto na Tabela 2, a prova do Qui-Quadrado revelou a existncia de relaes significantes

    entre as estratgias de leitura mencionadas e o alunoser ou no repetente (c2(5)= 12,7; p=.026). Mais pre-cisamente, verificou-se que a categoria Reler/ApoioSocial, que engloba as respostas nas quais os sujeitosrelataram primeiramente tentar resolver o problemasozinho, buscando ajuda externa somente se necess-rio, foi mais freqente entre os alunos no repetentes(30%) do que os repetentes (70%). Encontrou-se tam-bm que alunos repetentes apresentaram um maiornmero de respostas na categoria No Fazer Nada pararesolver o problema do que alunos no repetentes(100% e 0%, respectivamente). Alunos no repeten-tes citaram menos a busca de apoio social (35,9%) do

    que alunos repetentes (64,1%). J respostas na cate-goria Buscar Acessrios foram caractersticas apenasdos no repetentes (100%).

    Cabe ainda mencionar que a no percepo da faltade compreenso durante a leitura foi maior na sries

    menos avanadas sendo 16,1% na 3a

    srie, 0% na 5a

    srie e 7,7% na 7 a srie. Todavia, esses resultadossomente se aproximaram da significncia estatstica(c2(2)= 5,5; p=.064). Relaes significantes entre asestratgias de compreenso durante a leitura e variveiscomo idade, gnero, srie escolar dos participantes noforam encontradas.

    DISCUSSO

    O presente estudo teve como objetivo conheceras estratgias de compreenso do contedo durante aleitura de alunos do ensino fundamental, examinarse estes tm conscincia das suas prpriasdificuldades durante a leitura, bem como avaliar asestratgias mencionadas em relao a caractersticasdos participantes tais como gnero, idade, srieescolar e repetncia.

    Foi interessante notar que a maioria dos participan-tes relatou conseguir identificar e perceber momentos

    em que a compreenso do contedo lido no eraalcanada. Esses dados no s confirmam os achadosda literatura no que se refere a capacidade de crianasmonitorarem as suas aes (Kopp, 1982; Martin &Marchesi, 1996; Brown, 1997), mas tambm apontampara a importncia da escola ir, desde cedo, fomentan-do no aluno a capacidade de planejamento, monitora-mento e regulao do prprio comportamento.

    Embora os alunos tenham, de modo geral, mencio-nado estratgias de aprendizagem relevantes para acompreenso da leitura, cabe destacar que, no s afreqncia das respostas nas categorias de estratgiasfoi baixa, mas tambm o repertrio de estratgias

    Tabela 2: Porcentagem das respostas da amostra total para a questo O que voc costuma fazer para lhe ajudar

    a entender melhor o que voc est lendo? em relao repetncia.

    Apoio Social Reler Controle da Ateno Acessrio Reler/ Apoio Nada

    No repetentes 35.9 32.1 0.0 100.0 70.0 0.0

    Repetentes 64.1 67.9 100.0 0.0 30.0 100.0

    p

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    identificadas pelos participantes no contemplou umagama mais diversificada de estratgias. Dados seme-lhantes foram encontrados por Costa (2000), tanto noque diz respeito s estratgias mencionadas, como noque se refere ao relato dos participantes sobre a

    freqncia de utilizao das mesmas.Diferentemente dos resultados de Costa (2000), mascomo era de se esperar, alunos repetentes do presenteestudo revelaram um conjunto de estratgias de com-preenso de contedo durante a leitura mais simples,quando comparado aos no repetentes. Por um lado, aleitura competente essencial para um bom rendimen-to escolar. Pode-se aventar aqui a hiptese de quemuitas das dificuldades escolares desses alunos po-dem estar associadas a deficincias na compreensodos contedos lidos e no h dvidas de que esses

    mesmos estudantes poderiam se beneficiar de um en-sino sistemtico de estratgias de aprendizagem, so-bretudo de estratgias relativas ao processo da leitura(Molina, 1984; Sol,1998). Por outro lado, pesquisasorientadas no sentido de revelar mais claramente opapel das variveis demogrficas e psicolgicas noemprego das estratgias de aprendizagem, bem comoinvestigaes mais voltadas para a observao e oacompanhamento do comportamento da criana em

    atividades reais de leitura precisam ser conduzidasmais sistematicamente.

    Sol (1998) chama ateno para o fato de que amaior parte das atividades escolares voltada paraavaliar a compreenso da leitura dos alunos e no para

    o ensino de estratgias que formem o leitor compe-tente. Mathes e Torgesen (2000) acrescentam quemuitas crianas que so rotuladas como apresentandodificuldades de aprendizagem teriam condies deatingir nveis adequados de leitura, se fossem ensina-das a ler de forma apropriada. Defendem esses auto-res a idia de que essencial que professores sejammais bem preparados a ensinar a ler e que prticasinstrucionais efetivas na rea da leitura sejam identificadase mais amplamente utilizadas.

    Faz-se necessrio, pois, que professores e edu-

    cadores atentem para a relevncia de se desenvol-ver um trabalho preventivo no sentido da formaodo leitor independente, crtico e reflexivo (Lopes,1997; Vicentelli, 2000). Ressalta-se aqui a necessi-dade de uma atuao conjunta entre a escola e a fa-mlia, uma vez que a competncia em leitura in-fluenciada por fatores motivacionais, cognitivos econtextuais como os familiares e escolares (Wigfield& Guthrie, 1997).

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    Estratgias de compreenso em leitura de alunos do ensino fundamental 25

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    Enviado em: 16/8/2001

    Revisado em: 22/10/2001

    Aceito em: 10/12/2001