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Bios Cadernos do Departamento de Ciências Biológicas e do Programa de Pós-graduação em Zoologia de Vertebrados

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BiosCadernos do Departamento de Ciências Biológicas e do

Programa de Pós-graduação em Zoologia de Vertebrados

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Dom Walmor Oliveira de Azevedo

Eustáquio Afonso Araújo

Dom Joaquim Giovani Mol Guimarães

José Tarcísio Amorim

Osvaldo Rocha Tôrres

Extensão – Vera Maria Neves Victer Ananias; Gestão Finan-ceira - Paulo Sérgio Gontijo do Carmo; Graduação - Maria Inês Martins; Infra-estrutura - Rômulo Albertini Rigueira; Logística - Sérgio de Morais Hanriot; Pesquisa e de Pós-gra-duação - João Francisco de Abreu; Planejamento e Desen-volvimento Institucional - Carlos Francisco Gomes; Recursos Humanos - Alexandre Rezende Guimarães; Arcos - Wander-ley Chieppe Felippe; Barreiro – Patrícia Bernardes; Betim – Carmen Luiza Rabelo Xavier; Contagem - Geraldo Márcio Alves Guimarães; Poços de Caldas - Maria José Viana Ma-rinho de Mattos; São Gabriel – Paulo Sérgio Martins Alves; Serro - Ronaldo Rajão Santiago.

Virginia Simão Abuhid (Coordenadora)Miguel Ângelo de Andrade (Coordenador adjunto)

EDITORA PUC MINAS

Ângela Vaz Leão (PUC Minas); Graça Paulino (UFMG); José Newton Garcia de Araújo (PUC Minas); Maria Zilda Cury (UFMG); Oswaldo Bueno Amorim Filho (PUC Minas)

Antônio Cota Marçal (PUC Minas); Benjamin Abdalla (USP); Carlos Reis (Univ. de Coimbra); Dídima Olave Farias (Univ. del Bío-Bío – Chile); Evando Mirra de Paula e Silva (UFMG); Gonçalo Byrne (Lisboa); José Salomão Amorim (UnB); José Viriato Coelho Vargas (UFPR); Kabengele Munanga (USP); Lélia Parreira Duarte (PUC Minas); Leonardo Barci Castrio-ta (UFMG); Maria Lúcia Lepecki (Univ. de Lisboa); Philippe Remy Bernard Devloo (Unicamp); Regina Leite Garcia (UFF); Rita Chaves (USP); Sylvio Bandeira de Mello (UFBA).

Cláudia Teles de Menezes Teixeira

Maria Cristina Araújo Rabelo

Astrid Masetti Lobo CostaVirgínia Mata Machado

José Augusto Barros - [email protected]

Grão-Chanceler:

Reitor:

Vice-Reitor:

Assessor Especial da Reitoria:

Chefe de Gabinete do Reitor:

Pró-reitores:

Curso de Ciências Biológicas:

Comissão editorial:

Conselho editorial:

Coordenação editorial:

Assistente editorial:

Revisão:

Arte:

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS

EDITORA PUC MINAS: Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais • Rua Pe. Pedro Evangelista, 377 • Coração Eucarístico • 30535-490 • Tel: (31) 3319.9900 • Fax: (31) 3319.9907 • Belo Horizonte • Minas Gerais • Brasil • e-mail: [email protected]. Tiragem: 700 exemplares.

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BiosCadernos do Departamento de Ciências Biológicas e do

Programa de Pós-graduação em Zoologia de Vertebrados

ISSN: 0104-4389

BIOS Belo Horizonte v. 13 n. 13 p. 1-92 dez. 2005

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BiosCadernos do Departamento de Ciências Biológicas e do Programa

de Pós-graduação em Zoologia de VertebradosEDITORA

Luciana Barreto Nascimento

COMISSãO EDITORIALHugo Pereira Godinho (PUC Minas)

José Enemir dos Santos (PUC Minas)Maria de Fátima Vieira Starling (PUC Minas)

Nilo Bazzoli (PUC Minas)Simone Fulgêncio Lima (PUC Minas)

CONSULTORES CIENTíFICOSAdriano Garcia Chiarello (PUC Minas)Adriano Paglia (Conservação Internacional)Almir de Souza Martins (UFMG)Ana Angélica Almeida Barbosa (UFU)Carlos Frederico Duarte da Rocha (UERJ)Carlos Roberto de Carvalho (UFV)Castor Cartelle Guerra (UFMG)Célia Leite Santana (USP)Conrado A. B. Galdino (UERJ)Cristiane Lafetá Furtado (PUC Minas)Dálcio Ricardo de Andrade (UENF)Denise Pinheiro da Costa (Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro)Edson Vieira Sampaio (CODEVASF)Eduardo Von Sperling (UFMG)Edvânia Francefcaimelli (UFMG)Evoy Zaniboni Filho (UFSC)Flávio Bokemman (USP, Ribeirão Preto)Francisco Barbosa (UFMG)George Washington Gomes de Moraes (UFMG)Geraldo Wilson Fernandes (UFMG) Gérman A. B. Mahecha (PUC Minas)Gilberto Pedralli (CETEC)Gilmar Bastos Santos (PUC Minas)Gleydes Gambogi Pariera (UFMG)

Henrique Paprocki (PUC Minas)Helena de Godoy Bergallo (UERJ)Hugo Pereira Godinho (PUC Minas)João Augusto Alves Meira Neto (UFV)João Carlos de Oliveira (UFJF)José Carlos Nogueira (UFMG)José Eugênio Cortes Figueira (UFMG)Kelly Grace Magalhães (FIOCRUZ)Lídia Miyako Yoshii Oshiro (UFRRJ)Lúcia Helena Sipaúba Tavares (UNESP)Marcos Callisto (UFMG)Maria Bernadete Lorato (UFMG)Maria Teresa C. Pinto (PUC Minas)Milene Faria Vieira (UFV)Nilo Bazzoli (PUC Minas)Paulina Maria Barbosa (UFMG)Queila de Souza Garcia (UFMG)Ricardo Motta Pinto Coelho (UFMG)Rogério Parentoni Martins (UFMG)Rosy Mary dos Santos Isaías (UFMG)Sandra Maria Feliciano Azevedo (UFRJ)Simão Pedro P. Marinho (PUC Minas)Sônia Aparecida Talamoni (PUC Minas)Thaisa de Almeida Maria (PUC Minas)Valéria Ruiz de Souza (UFMG)

Foto da capa: Miguel Angelo de Andrade.

FICHA CATALOGRÁFICAElaborada pela Biblioteca da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais

B616 Bios: Cadernos do Departamento de Ciências Biológicas. – v.1, n.1 (dez. 1993- ). – Belo Horizonte: Ed. PUC Minas, 1993- . v. ISSN 0104-4389 Anual 1. Biologia - Periódicos. 2. Zoologia – Periódicos. I. Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Departamento de Ciências Biológicas. CDU: 57(05)

Indexação: artigos publicados na Bios são indexados no Asfa (Aquatic Sciences & Fisheries Abstracts) a partir do número 7 e no Zoological Record a partir do número 10.

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Sumário

ARTIGOS

Associações malacológicas em sedimentos ao largo da costa leste do Brasil, latitudes 10º e 20º S, entre os Estados da Bahia e Espírito SantoMalacological assemblages in sediments of eastern Brazilian continental shelf, coordinates 10º and 20º S, between Bahia and Espírito Santo StateMaria Auxiliadora GomesRonaldo NovelliIlana Rosental ZalmonCristina Maria Souza 11

Briófitas das Ilhas do Passatempo, Parque Municipal das Mangabeiras, Belo Horizonte, MGBryophytes of Passatempo Islands, Municipal Park of Mangabeiras, Belo Horizonte, MGAndreia ToniniMaria de Fátima Vieira StarlingOlga YanoJosé de Arimatéa Figueiredo 25

Deslocamento matutino e vespertino do biguá, Phalacrocorax brasilianus (Pelicaniformes, Phalacrocoracidae) em Belo Horizonte, Minas Gerais, BrasilDawn and dusk movements of the Neotropic Cormorant, Phalacrocorax brasilianus (Pelicaniformes, Phalacrocoracidae) in Belo Horizonte, Minas Gerais, BrazilTúlio DornasGabriel Barbosa de OliveiraJosé Eugênio Côrtes Figueira 35

A qualidade de água e as comunidades de macroinvertebrados aquáticos da Estação Ecológica do TripuíWater quality and aquatic macroinvertebrated community of Estação Ecológica do TripuíMarcelo Coutinho AmaranteHenrique Paprocki 43

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RESUMOS

Hábitos alimentares da Corvina plagioscion squamosissimus (Perciformes, Sciaenidae) em dois reservatórios do sudeste do BrasilFeeding habits of Corvina plagioscion squamosissimus (Perciformes, Sciaenidae) in two reservoirs in southeastern BrazilAndré Corrêa CostaGilmar Bastos Santos 61

Aspectos ecomorfológicos indicadores de modalidade locomotoras e estratégias forrageadoras de xenartros Phyllophaga Owen, 1842 e Vermilingua (Illiger, 1811) atuais e fósseis intertropicais brasileiros (Xenarthra; Pilosa)Ecomorphological aspects indicating locomotion systems and foraging strategies of living xenartrans Phyllophaga Owen, 1842 and Vermilingua (Illiger, 1811) and Brazilian intertropical fossils (Xenarthra; Pilosa)Bruno Machado Kraemer Robert Young 62

Embriogênese e ontogênese larval de três espécies de peixes Erythrinidae da bacia do rio São FranciscoLarval embryogenesis and ontogenesis of three species of Erythrinidae fish of the São Francisco river bayBruno Vilaça Campos Gomes Nilo Bazzoli 64

Teores de mercúrio total em Rhandia quelen (Quoy & Gaimard, 1824) e sua relação com os parâmetros físicos, químicos e físico-químicos do rio Piracicaba em Minas GeraisTotal mercury concentrations in Rhandia quelen (Quoy & Gaimard, 1824) and their relation with physical, chemical and physical-chemical parameters of Piracicaba river, State of Minas GeraisCarolina Decina Vieira Maria Tereza Candido Pinto 65

Quantificação de mercúrio em órgãos celomáticos de Geophagus brasiliensis (Quoy & Gaimard, 1842) e sua relação com parâmetros abióticos do rio Piracicaba, Minas GeraisMercury contamination in celomatic organs of Geophagus brasiliensis (Quoy & Gaimard, 1842) and its relation with abiotic parameters of Piracicaba river, State of Minas GeraisDomingos Sávio Pereira Maria Tereza Candido Pinto 66

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O homem, as matas ciliares e os peixes de Lagoa da Prata, no Alto São Francisco: um estudo das inter-relaçõesMan, riparian vegetation and fish in Lagoa da Prata, upstream São Francisco river: a study of interrelationsFlávia Peres Nunes Maria Tereza Candido Pinto 68

Aspectos biológicos, ecológicos e comportamentais do lobo-guará, Chrysocyon brachyurus (Illiger, 1815) (Mammalia: Canidae), segundo os moradores do entorno da Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) do CaraçaBiological, ecological, and behavioral aspects of the maned wolf, Chrysocyon brachyurus (Illiger, 1815) (Mammalia: Canidae), according to dwellers of the Private Reserve of the Natural Heritage of Serra do CaraçaGraziela Mendes Resende Sonia Nicolau dos Santos 70

Estrutura espacial e temporal da anurofauna associada a poças naturais na Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Serra do Caraça, MGSpatial and temporal structure of anuran fauna associated to natural ponds in the Private Reserve of the Natural Heritage of Serra do Caraça, Minas Gerais StateKátia Alcione Kopp Paula Cabral Eterovick 72

Estrutura temporal e espacial de comunidades de anuros em riachos de mata na RPPN Serra do Caraça (Catas Altas, Minas Gerais)Temporal and spatial structure of anuran communities in forest streams at Serra do Caraça (Catas Altas, State of Minas GeraisLílian Gomes Afonso Paula Cabral Eterovick 74

Análise da variação craniométrica em Wiedomys pyrrhorhinos (Wied, 1817) (Rodentia, Muridae)Craniometric variation analysis of Wiedomys pyrrhorhinos (Wied, 1817) (Rodentia, Muridae)Maria Olímpia Garcia Lopes Adriano Garcia Chiarello 75

Área de vida e uso de micro-ambientes em uma população de Crossodactylus sp. (gr. gaudichaudii) (Anura, Cyclorhamphidae) na Serra do Caraça, Minas GeraisHome range and microhabitat use in a population of Crossodactylus sp. (gr. gaudichaudii) (Anura, Cyclorhamphidae) at Serra do Caraça, State of Minas GeraisMilena Wachlevski Machado Paula Cabral Eterovick 76

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Avaliação do estado de saúde e do risco de transmissão de doenças entre canídeos (Mammalia, Carnivora) silvestres e domésticos na região da Serra do Cipó, Minas Gerais: implicações para a conservaçãoEvaluation of health conditions and disease transmission risk between wild and domestic canids (Mammalia, Carnivora) in the Serra do Cipó National Park region, State of Minas Gerais: implications for conservationNelson Henrique de Almeida Curi Sônia Aparecida Talamoni 77

Diversidade de mamíferos em diferentes fitofisionomias do Cerrado do Parque Nacional Grande Sertão Veredas: um estudo com foto-armadilhasDiversity of mammals in different physiognomies of Cerrado of Parque Nacional Grande Sertão Veredas: a study with camera trappingRafael Luiz Aarão FreitasAdriano Garcia Chiarello 79

Estratégias reprodutivas dos peixes do reservatório de Porto Colômbia, bacia do rio Grande, sudeste do BrasilReproductive strategies of fish in Porto Colômbia Reservoir, Grande river basin, southeastern BrazilRenê Eiji Souza Hojo Nilo Bazzoli 80

Estrutura e dieta da ictiofauna em dois riachos na bacia do rio Pará (MG) com ênfase nas interações tróficas entre peixes e macroinvertebrados bentônicosIcthyofauna structure and diet in two streams of Pará river basin (Minas Gerais State) with emphasis on trophic interactions between fish and benthic macroinvertebratesTaynan Henriques Tupinambás Gilmar Bastos Santos 81

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Artigos

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Reprodução cooperativa: ajudar ou não ajudar, eis a questão

Bios, Cadernos do Departamento de Ciências Biológicas da PUC Minas, v. 12, n. 12, p. 11-24, dez. 2004 11

Associações malacológicas em sedimentos ao largo da costa leste do Brasil, latitudes 10º e 20º S, entre os

Estados da Bahia e Espírito Santo

Malacological assemblages in sediments of eastern Brazilian continental shelf, coordinates 10º and 20º S, between Bahia and Espírito Santo State

MARIA AUXILIADORA GOMESRONALDO NOVELLI1

ILANA ROSENTAL ZALMONCRISTINA MARIA SOUZA

ResumoUm levantamento da malacofauna da plataforma continental leste do Brasil foi realizado em 1994-1995, durante o cruzeiro oceanográfico a bordo do navio Victor Hensen, entre as paralelas 15º e 20ºS. As amostras qualitativas e quantitativas foram obtidas em 0,25m2 de box grab em 14 estações oceanográficas. Foram amostradas 170 espécies de moluscos, dentre elas 105 gastrópodes e 65 bivalves. Natica pusilla, Calyptraea centralis, Crassinella lunulata, Nuculana acuta, Corbula cubaniana e Anadara notabilis foram as espécies mais freqüentes, ocorrendo em seis estações, onde representaram cerca de 30% do total amostrado. A análise de co-ocorrência revelou a existência de três associações malacológicas relacionadas à granulometria. A primeira composta por estações com predominância de sedimento mais arenoso; a segunda apresentando as três frações – argila, silte e areia – bem distribuídas e uma terceira com predomínio da fração silte. O modelo discriminante construído com variáveis abióticas foi 100% eficiente em identificar o ambiente onde as associações ocorreram, sendo especialmente relevantes os percentuais de silte e areia. Palavras-chave: Associações malacológicas; Relação animal/sedimento; Padrões de co-ocorrência.

AbstRActA survey of the malacofauna along the eastern Brazilian continental shelf (15º and 20º S) was carried out from 1994 to 1995 by the oceanographic ship Victor Hensen. Qualitative and quantitative samples were collected using 0.25m2 of box grab in 14 sublitoral stations. One hundred and seventy species of mollusks were sampled: 105 gastropods and 65 bivalves. Natica pusilla, Calyptraea centralis, Crassinella lunulata, Nuculana acuta, Corbula cubaniana and Anadara notabilis were frequent and occurred at six stations, where they represented around 30% of the total sampling. Distribution patterns of benthic associations were examined in relation to the prevalent sedimentary processes. Three malacological assemblages were identified by the co-occurrence analysis based on sedimentological properties: one with sandy-sediment predominance, the second with three well distributed fractions, and the third with silte fraction predominance. A discriminant model including abiotic variables was 100% efficient in identifying the assemblage environments, with especially relevant percentages of silte and sand.Key words: Malacological assemblages; Benthos; Animal/sediment relationship; Co-occurrence patterns.

Laboratório de Ciências Ambientais, Centro de Biociências e Biotecnologia, Universidade Estadual do Norte Fluminense, Av. Al-berto Lamego, 2000, 28015-620, Campos dos Goytacazes - RJ. e-mail: [email protected]

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Gomes, M. A.; Novelli, R. Zalmon, I. R.; Souza, C. M.

Bios. Belo Horizonte, v. 13, n. 13, p. 11-24, dez. 200512

Os moluscos destacam-se entre os de-mais organismos da macrofauna bên-tica pela riqueza de espécies e pela

dominância numérica. Constituem um grupo bem conhecido do ponto de vista taxonômi-co. Muitas espécies são sedentárias e as con-chas vazias podem constituir um registro se-mipermanente de sua ocorrência.

Em regiões temperadas, espécies de mo-luscos têm sido tradicionalmente utilizadas para a caracterização de associações bênticas, pelo fato de serem dominantes ou constantes ao longo do espaço e do tempo. No entanto, são poucos os trabalhos que procuram carac-terizar as associações malacológicas das pla-taformas continentais de regiões tropicais e subtropicais. Gastrópodes e bivalves chegam a compreender de sete a 38% dos organismos de tais comunidades bênticas (LONGHURST; PAULY, 1987).

Para Absalão (1989), comunidades bên-ticas de invertebrados da plataforma conti-nental têm sido amplamente estudadas de forma descritiva. Segundo esse autor, poucos estudos têm atentado para construir modelos viáveis para associações de espécies com va-riáveis ambientais, principalmente ao longo da costa tropical e subtropical e na plataforma continental brasileira.

Nesse contexto, o presente estudo pro-curou, através do levantamento sistemático de moluscos bivalves e gastrópodes, inves-tigar o delineamento de “associações” de es-pécies através dos padrões de co-ocorrência entre moluscos e verificar a ocorrência relativa da relação animal/sedimento a partir das as-sociações de espécies e o compartimento abi-ótico, num contexto espacial.

MAtEriAl E MétodoS

A área estudada compreende um trecho da costa leste do Brasil, entre as latitudes 10º S e 20º S, abrangendo o Estado da Bahia e do Espírito Santo (FIG. 1; ANEXO 2). A profundida-

de variou de 9m (estação 18) a 48m (estação 10) em área da plataforma continental. Fo-ram feitas referências às estações 4 (989m) e 9 (1180m), para fins comparativos, em área do talude continental (ANEXO 1).

FiGUrA 1 - Localização geográfica da área estu-dada, com as 12 estações oceanográficas.

O material biológico e sedimentológico foi coletado durante a operação Jops II (Joint oceanografic projects II), compreendendo a segunda expedição científica multidisciplinar com o navio de pesquisa RV Victor Hensen em águas brasileiras.

Para a obtenção do material bentônico, foi utilizado um pegador de sedimento box grab, com área amostral de 0,25m2

, retirando-se uma sub-amostra de 6,25dm3. O material assim obtido foi conservado em formol a 10% e transportado para o laboratório.

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Associações malacológicas em sedimentos ao largo da costa leste do Brasil, latitudes 10º e 20º S, entre os Estados da Bahia e Espírito Santo

Bios. Belo Horizonte, v. 13, n. 13, p. 11-24, dez. 2005 13

No laboratório 30% dessa amostra foi retirada, aleatoriamente, e lavada com água através de duas peneiras de 1,0 e 0,5mm. O material biológico retido nessas peneiras foi triado manualmente, sob microscópio estere-oscópio e os moluscos separados para iden-tificação. O material estudado foi comparado com exemplares da coleção do Espaço da Ciência da Universidade Estadual do Norte Fluminense, Uenf, que apresenta 90% de suas conchas identificadas por Eliézer de Carvalho Rios, do Museu Oceanográfico da Universida-de do Rio Grande, Mofurg. Após identificação, o material foi depositado no Espaço da Ciên-cia da Uenf.

O material sedimentar foi diferenciado e classificado em argila, silte e areia, segundo a

tabela do MIT, tradicionalmente utilizada em estudos de sedimentos. Para representação diagramática dos sedimentos, utilizou-se o Tri-ângulo de Shepard (SHEPARD, 1954) (FIG. 2). O percentual de carbono orgânico no sedimen-to foi obtido pelo CHNS/O Analyzer (PERKIN; ELMER, 2004).

Dados de temperatura, salinidade e pro-fundidade foram obtidos através do CTD e o percentual de saturação de oxigênio, determi-nado por um oxímetro.

Para delinear as associações malacoló-gicas, os dados obtidos sobre as espécies nas diferentes estações foram incluídos em uma análise de agrupamento (modo Q) pelo méto-do das médias não ponderadas (Upgma), com índice binário de Dice, escolhido após testes

FiGUrA 2 – Diagrama triangular mostrando a posição das estações conforme a classificação do sedi-mento. ArS - areia-síltica; ArA - Areia-argilosa; ArSA - areno-síltico-argiloso; SAAr - silte-argilo-arenoso;

ASAr - argilo-síltico-arenoso; SAr - silte-arenoso; AS - argila-síltica e AAr - argila arenosa.

Argila 100%

Areia 100%

Silte 100%

Silte

Argila

Areia

SarArS

ArA

AAr AS

SAArSA SAAr

ASAr

11

20

2327

15

14

24

12

10

9

6

18

16

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Gomes, M. A.; Novelli, R. Zalmon, I. R.; Souza, C. M.

Bios. Belo Horizonte, v. 13, n. 13, p. 11-24, dez. 200514

realizados a priori. Para as análises utilizou-se o “pacote estatístico” Fitopac.

Uma análise discriminante simples (ADS) (LUDWIG; REYNOLDS, 1988) foi aplicada nas estações agrupadas, a fim de se confirmar as formações dos agrupamentos e a contribui-ção dos parâmetros abióticos.

Duas estações do agrupamento 3 não foram incluídas, devido à falta de dados abi-óticos.

rESUltAdoS

Com base na percentagem granulomé-trica dos sedimentos, verificou-se a existência de três tipos sedimentológicos principais, re-presentados no diagrama da FIG. 2. Reconhe-ceu-se um tipo (tipo I) com predomínio de areia, em que se caracterizou na estação 11 um sedimento mais arenoso (Ar), nas estações 20, 15, 23 e 27 um sedimento de areia-argilosa (ArA) e na estação 14 um sedimento de areia síltica (ArS); outro tipo (tipo II) com percen-tuais similares das três frações, areno-siltico-argiloso (ArSA) na estação 10, silte-argilo-are-noso (SAAr) na estação 6, 16 e 18. O terceiro tipo (tipo III), formado pelas estações 12 e 24, constituídas de silte com pequena contribui-ção de argila (SA).

Dados de temperatura, salinidade, per-centagem de saturação de oxigênio da água próxima ao fundo não apresentaram nenhum padrão. Quanto às estações, destacaram-se a número 27, situada em Barra do Riacho (Es-pírito Santo) e a 10, situada em Canavieiras (Bahia), tendo a primeira os menores valores de temperatura, salinidade e percentual de saturação de oxigênio (19,4º C, 35,9 e 95,8%, respectivamente), enquanto na estação 10 foram registrados os maiores valores de sali-nidade e percentual de saturação de oxigênio (37 e 104,3%, respectivamente). A estação 24 apresentou o maior valor de temperatura (28oC) (ANEXO 1).

O carbono orgânico no sedimento apresentou uma tendência a valores mais baixos nas estações com maior teor de areia (ANEXO 1).

Foram registradas 170 espécies de mo-luscos (ANEXO 3), entre as quais 105 gastró-podes e 65 bivalves. As espécies Natica pu-silla, Calyptraea centralis, Crassinella lunulata, Nuculana acuta, Corbula cubaniana e Anadara notabilis foram as que apresentaram maior porcentagem relativa, aparecendo em seis estações, correspondendo a cerca de 30% do total de indivíduos coletados (FIG. 3).

FiGUrA 3 – Percentagem de ocorrência relativa (O.R.) das espécies mais abundantes presentes

nas estações de coleta.

Associações malacológicas

As análises das associações moluscos versus estações foram realizadas para dois conjuntos de dados. Inicialmente, testou-se o conjunto de dados com todas as espécies de moluscos e depois foram retiradas as espécies representadas por um único indivíduo. As es-tações (#4 e #9) próximas ao talude continen-tal, não representadas na FIG. 1, foram incluí-das somente na análise de agrupamento, por apresentarem espécies exclusivas, utilizadas como controle.

0

10

20

30

40

50

N. p

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C. lu

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espécies

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Associações malacológicas em sedimentos ao largo da costa leste do Brasil, latitudes 10º e 20º S, entre os Estados da Bahia e Espírito Santo

Bios. Belo Horizonte, v. 13, n. 13, p. 11-24, dez. 2005 15

Os resultados das análises de agrupa-mentos sobre dois conjuntos de dados testa-dos são mostrados na FIG. 4. O dendrograma A foi produzido com base em todos os 170 tá-

xons e o dendrograma B com base nos molus-cos. Foram retiradas as espécies representa-das por um único indivíduo, totalizando uma amostragem com 102 espécies.

14 24 15 20 11 06 27 16 12 18 23 10 04 09

0.1

0.2

0.3

0.4

0.5

0.6

0.7

0.8

0.9

1.0

dic

e/So

rens

en/C

zeka

now

ski

Média de grupo (UPGMA)A

14 24 15 06 20 11 16 27 12 18 23 10 04 09

0.1

0.2

0.3

0.4

0.5

0.6

0.7

0.8

0.9

1.0

dic

e/So

rens

en/C

zeka

now

ski

Média de grupo (UPGMA)b

Figura 4 – Dendrogramas baseados na similaridade entre as estações de coleta. Foi utilizado o índice de similaridade de Dice. (A: todos os moluscos coletados; B: moluscos com mais de um indivíduo por

estação).

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Gomes, M. A.; Novelli, R. Zalmon, I. R.; Souza, C. M.

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Nos dois conjuntos testados eviden-ciou-se a existência de três agrupamentos, apresentando 10% de similaridade, só mo-dificando o arranjo de algumas estações nos agrupamentos. O baixo índice de similarida-de adotado para o corte provavelmente re-flete a elevada diversidade e a baixa freqüên-cia da maioria das espécies.

O agrupamento I reuniu as estações 14, 24, 15, 6, 20, 11, 16 e 27, cuja profundidade variava em torno de 12-29 m. Foram comuns e abundantes as espécies Calyptraea centra-lis, Crassinela lunulata, Natica pusilla, Nucula-na acuta, Pitar albidus, Acteon pelecais e Acte-ocina bullata. Esse agrupamento apresentou um predomínio do tipo sedimentológico I, com maior percentagem de areia (FIG. 2).

O agrupamento II, formado pelas esta-ções 12, 18 e 23, reuniu as estações mais ra-sas, com profundidade variando de 9 a 12m. Esse agrupamento, com alta variabilidade sedimentológica, apresentou os três tipos (FIG. 2). Nesse agrupamento ocorreram as espécies comuns Anadara notabilis, Anadara ovalis, Corbula patagonica, Corbula cubania-na, Diplodonta nucleiformes e Macoma uru-guaensis.

O terceiro agrupamento foi caracteri-zado pelas estações de maior profundidade,

a estação 4, com cerca de 989m e a estação 9, com 1180m de profundidade, ambas com tipo sedimentológico III, em que predomina-vam silte e argila (FIG. 2). Ocorreram exclu-sivamente nesse agrupamento as espécies Benthonela gaza, Cavolinia uncinata, Callios-toma coppingeri, Clatrodrillia lophoessa, Cryo-turris serga, Diacria quadridentata e Tindaria af. cytherea.

A estação 10, caracterizada pela freqü-ência mais elevada de Chione subrostrata, Granula lavalleana e Limopsis antillensis, não se agrupou às demais no nível de similarida-de escolhido.

relação entre moluscos e fatores ambientais

A interpretação dos fatores ambientais, utilizando-se análise discriminante simples (ADS), baseou-se em dois conjuntos de da-dos. O primeiro composto por todos os dados abióticos disponíveis, ou seja, profundidade, temperatura, salinidade, carbono orgânico do sedimento, oxigênio e percentagem de argila, silte, areia; no segundo utilizaram-se todos os dados já citados, desconsiderando-se os tipos sedimentológicos (argila, silte e areia), para, com isso, avaliar a importância desses conjun-

tABElA 1Resultados da análise discriminante simples (ADS) na interpretação de diferenças entre dois agrupamentos de estações da plataforma continental leste, usando oito fatores ambientais:

profundidade (X1), temperatura (X2), salinidade (X3), percentual de carbono orgânico (X4), per-centual de saturação de oxigênio (X5), percentual de argila (X6), silte (X7) e areia (X8).

Fator Coeficiente discriminante % Contribuição relativaX1 0,3149 0,384

X2 0,4334 0,028

X3 -2,8548 2,049

X4 0,4527 0,962

X5 -0,0123 0,044

X6 -12,0291 9,853

X7 -12,1990 55,674

X8 -12,0633 -67,994

Distância de Mahalanobis = 0,064 x 103; F=44,8; DF=2,7; nível de significância=0,0001% de acerto=100%; grupo centróide: I=-12,969 x 103; II=-13,033 x 103.

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Associações malacológicas em sedimentos ao largo da costa leste do Brasil, latitudes 10º e 20º S, entre os Estados da Bahia e Espírito Santo

Bios. Belo Horizonte, v. 13, n. 13, p. 11-24, dez. 2005 17

tos separadamente. Devido à falta de dados abióticos nas duas estações do agrupamento 3, utilizaram-se apenas os dois primeiros agru-pamentos nos dois dendrogramas (FIG. 4).

O primeiro conjunto de dados foi prati-camente 100% eficiente em diferenciar o am-biente abiótico das duas associações malaco-lógicas, sendo menor que 1% a probabilidade de que os dois agrupamentos sejam iguais (TAB. I). Os dados padronizados da função dis-criminante simples destacaram o silte como a maior contribuição positiva (55,6%) e a areia como contribuição negativa (-67,9%). As coor-denadas para cada estação ao longo do eixo discriminante ilustram bem a separação dos dois grupos (FIG. 5).

FiGUrA 5 – Eixo discriminante entre os agrupa-mentos 1 e 2 em relação a todas as variáveis

analisadas. A distância D2 entre os grupos cen-tróides também é apresentada.

O resultado da ADS, da qual foram ex-cluídas as variáveis sedimentológicas, está sumarizado na TAB. 2, onde é verificada a per-da de qualquer significância estatística para

os resultados (p=0,25), apresentando uma eficiência de acerto de 75% no desmembra-mento dos agrupamentos (FIG. 6). Os dados obtidos reforçam a importância das variáveis sedimentológicas na diferenciação das asso-ciações malacológicas.

FiGUrA 6 – Eixo discriminante entre os agrupa-mentos 1 e 2, retirando as variáveis sedimen-tológicas. A distância D2 entre os grupos cen-

tróides é apresentada.

Discussão

Um levantamento da malacofauna da plataforma continental leste do Brasil foi rea-lizado em 1994-1995, durante o cruzeiro oce-anográfico a bordo do navio Victor Hensen, entre as paralelas 15º e 20ºS, em 14 estações oceanográficas. Foram amostradas 170 espé-cies de moluscos, dentre elas 105 gastrópo-des e 65 bivalves. Neste estudo foi descartada a hipótese de influências nas amostragens por moluscos mortos devido à remobilização, embora diversos pesquisadores questionem a validade de se considerar dados de ocorrência

tABElA 2Resultados da análise discriminante simples (ADS) na interpretação de diferenças entre dois agrupa-mentos de estações da plataforma continental leste, usando cinco fatores ambientais: profundidade

(X1), temperatura (X2), salinidade (X3), percentual de carbono orgânico (X4) e percentual de saturação de oxigênio (X5).

Fator Coeficiente discriminante % Contribuição relativaX1 0,216 34,6

X2 1,881 - 60,9

X3 -12,634 12,4

X4 -11,344 108,4

X5 -0,016 5,6

Distância de Mahalanobis = 0,03819 x 102 ; F =2,6733; DF=2,7.Nível de significância=0,25% de acerto=75 %; grupo centróide: I=-4,171; II=-4,209.

-13,10 -13,05 -12,95 -12,90

1218

20 24 14

11 15

16 6

27

ii i

D2 x 103

-4,3 -4,25 -4,15 -4,10

12

18

2024 14

11 15

16

6

27

ii i

D2 x 102

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Gomes, M. A.; Novelli, R. Zalmon, I. R.; Souza, C. M.

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de moluscos coletados mortos, uma vez que estes poderiam facilmente ser remobilizados pelas correntes marinhas, alterando assim seus padrões de distribuição original. Absalão et al. (1997), em seu estudo de associações malacológicas na Área de Proteção Ambiental do Arquipélago de Santana, contestam esse fato, ao comparar análises de agrupamentos de moluscos grandes coletados vivos, com moluscos menores de 10mm, em sua maioria coletados mortos, obtendo resultados muito similares. A suposta remobilização de animais após a morte, embora plausível enquanto hi-pótese, não foi sustentada pelas evidências. Uma segunda questão levantada é a necessi-dade de eliminação das análises de todos os táxons que contenham apenas um indivíduo (FIG. 4B). No presente estudo, no entanto, os resultados dos testes comparativos de agru-pamento das estações com todos os molus-cos não revelaram quaisquer diferenças em relação aos obtidos excluindo-se as espécies com um único indivíduo (FIG. 4A).

A análise discriminante otimiza a propor-ção de variação entre os grupos em relação à variação nos grupos. Logo, a escolha inicial dos grupos é crítica na decisão de se encontrar di-ferenças significativas entre eles. Conseqüen-temente, a análise pode ser vista como um teste de validação para as associações obtidas a partir da análise de agrupamento das ocor-rências dos moluscos (ABSALÃO et al., 1999).

Os resultados obtidos da análise discri-minante simples confirmaram a análise de classificação proposta, demonstrando uma relação das associações malacológicas com as características sedimentológicas particulares. As frações de silte e areia apareceram como separadoras das diferentes estações, visto que em sua maioria ocorreu uma elevada percen-tagem dessas frações. O resultado negativo pode indicar a inclusão de uma variável discri-minante fraca, o que pode diminuir a força da análise (LUDWING; REYNOLDS, 1988). Porém,

nesse caso, o valor negativo tão alto refletiu a grande contribuição do componente areia na separação das estações.

A análise de agrupamento mostrou cer-ta correspondência com a profundidade, que tem uma grande relação com o tipo de sedi-mento presente no local.

Gonçalves e Lana (1991) comentam que a distribuição das associações de moluscos ao longo do gradiente batimétrico é um aparente reflexo do gradiente hidrodinâmico perpendi-cular à plataforma continental. Os níveis de energia, definidos pela maior ou menor movi-mentação da água e sedimento, são, em últi-ma análise, os responsáveis pela estruturação dos fundos regionais. Dessa forma, os eleva-dos níveis de energia prevalecentes no setor raso da plataforma condicionam as ocorrên-cias de fundos arenosos bem selecionados, continuamente retrabalhados e pobres em finos e matéria orgânica particulada. O mate-rial fino é transportado em suspensão para as maiores profundidades, fato evidenciado pelo maior teor de silte e argila nas estações mais profundas analisadas neste estudo.

Absalão (1991) apontou a profundida-de com uma das mais importantes variáveis controladoras da estrutura das associações malacológicas. A profundidade pode ser con-siderada como uma variável controladora da estabilidade/perturbação do sedimento, des-de que, quanto mais rasas as estações, mais facilmente seu sedimento seria afetado pelo efeito do arrasto causado pelas ondas. Loca-lidades mais profundas tendem a ser mais estáveis e propícias à deposição de matéria orgânica e sedimentos mais finos, como silte e argila.

Thorson (1957), Gray (1974) e Péres (1982) têm mostrado a existência de uma for-te ligação entre os organismos bênticos e o sedimento onde habitam.

Associações estruturadas por distintas estratégias de alimentação e mobilidade não

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Associações malacológicas em sedimentos ao largo da costa leste do Brasil, latitudes 10º e 20º S, entre os Estados da Bahia e Espírito Santo

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se distribuem aleatoriamente nos fundos ma-rinhos, mas são condicionadas e estruturadas por fatores e processos sedimentológicos. A estreita relação entre a natureza do fundo e a estrutura trófica de associações macrobênti-cas foi anteriormente demonstrada por Lana (1986) e Absalão (1986) em áreas estuarinas da plataforma.

Para Sanders (1958), a riqueza e a abun-dância de espécies estão relacionadas com o teor de silte e argila contidos no sedimento. Algumas espécies dominantes são comple-tamente ou largamente limitadas a sedi-mentos com pequena quantidade de silte e argila, outras estão largamente confinadas em solos com grande quantidade de silte e argila, enquanto outros animais estão ampla-mente distribuídos. Os organismos que ob-têm seu alimento da matéria em suspensão (filtradores) são a maioria da fauna de sedi-mentos arenosos, enquanto os animais detri-tívoros vivem de matéria orgânica do fundo e dominam a fauna de sedimentos finos. O sedimento de areia reflete a mais pronun-ciada atividade de corrente, inversamente à lama, que reflete as correntes mais fracas, permitindo que a matéria orgânica se assen-te e assim provendo um curso adequado de nutrição para os detritívoros.

As variáveis sugeridas como relevantes, dada sua constância em diferentes estudos, têm uma dimensão ecologicamente significa-tiva na determinação da estrutura das comu-nidades malacológicas. Dessa forma, e com base nesses fundamentos, utilizaram-se as va-riáveis profundidade, temperatura, salinidade e tipos sedimentológicos nas determinações das relações malacológicas e seus fatores am-bientais.

São escassas as evidências de dados so-bre alimentação e mobilidade da maioria das espécies de bivalves e gastrópodes coletadas neste estudo. No entanto, é possível fazer al-gumas considerações sobre o assunto, com

base em informações sobre regimes alimenta-res fornecidas por Gonçalves e Lana (1991) e Absalão (1991).

A baixa heterogeneidade dos sedimen-tos, pela inclusão de silte em quase todas as estações, impediu que fosse notificada a pre-sença de associações nítidas entre as espé-cies. Lana (1986) descreve associações como Olivella-Tellina-Cadulus, referindo-se a asso-ciações de areias finas bem selecionadas, mas também mostra a ocorrência ocasional de espécies típicas de setores mais profundos, localizados em sedimentos mais finos, como a associação Nucula-Corbula-Dentalium.

Em nosso estudo, no agrupamento I (es-tações 14, 24, 15, 6, 20, 11, 16 e 27), mesmo com a presença de silte em quase todas as es-tações, observaram-se o predomínio de fundo mais arenoso e a presença de animais filtrado-res, como Pitar albidus e Crassinella lunulata. Porém, constatou-se também nesse agrupa-mento a presença de detritívoros como Nucu-la puelcha e Nucula semiornata, o que revela a influência de sedimento lodoso.

A baixa heterogeneidade dos sedimen-tos pode estar relacionada à proximidade das estações de coleta com desembocadura de rios, proporcionando o aporte de sedimento terrígeno para o mar.

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Gomes, M. A.; Novelli, R. Zalmon, I. R.; Souza, C. M.

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ANEXo 1Dados abióticos das estações de coleta, obtidos durante a operação Jops II,

pelo navio oceanográfico Victor Hensen.

Profundidade (m)

Temperatura (ºC)

Salinidade(ppm) % OC % Sat. O2

# 6 12 25,6 36,8 0,3 102,2

# 10 48 25,4 37 0,95 104,3

# 11 18 22,9 36,7 -* 97,7

# 12 12 25,1 36,6 0,76 97,3

# 14 29 23,5 36,7 0,11 95,8

# 15 12 24,6 36,8 -* -*

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Bios. Belo Horizonte, v. 13, n. 13, p. 11-24, dez. 2005 21

Profundidade (m)

Temperatura (ºC)

Salinidade(ppm) % OC % Sat. O2

# 16 24 25,7 36,6 0,31 101,1

# 18 9 26,4 36,5 0,69 103,1

# 20 10 26,4 36,3 0,85 103,7

# 23 10 -* -* -* -*

# 24 12 28,0 36,3 1,24 100,7

# 27 16 19,4 35,9 0,07 95,8

M 17,6 24,8 36,5 0,58 100,1

DP 11,6 2,27 0,3 0,4 3,2

Min. 9 19,4 35,9 0,07 95,8

Máx 29 28 37 1,24 104,3M - média, DP- desvio-padrão, Min. - minimo, Máx.- máximo * Dados não computados.

ANEXo 2

Coordenadas das estações de coleta realizadas pelo navio oceanográfico Victor Hensen.

ESTAÇÃO LATITUDE LONGITUDE LOCAL

#4# 6# 9

# 10# 11# 12# 14# 15# 16# 18# 20$ 23# 24# 27

10O 45’ 42” S15O 13’ 42”S15O 20’ 24”S15O 28’ 15’’ S15O 37’ 36” S16O 16’ 42” S16O 18’ 12” S16O 27’ 42” S17O 37’ 24” S17O 56’ 00” S17O 56’ 36” S18O 37’ 30” S18O 57’ 54” S19O 51’ 24” S

36o 15’ 12” W38o 58’ 24” W38O 35’ 42” W38O 41’ 30” W38O 40’ 00” W38O 59’ 06” W38O 57’ 24” W39O 02’ 12” W38O 50’ 30” W39O 01’ 42” W39O 18’ 00” W39O 42’ 30” W39O 42’ 42” W40O 02’ 42” W

Rio São FranciscoBarra do Uma/Bahia

Belmonte/BahiaCanavieiras/BahiaCanavieiras/Bahia

Cabrália/BahiaCabrália/Bahia

Porto Seguro/BahiaCaravelas/BahiaCaravelas/BahiaCaravelas/Bahia

Barra Seca/E. SantoEspírito Santo

Barra do Riacho/E. Santo

ANEXo 3Lista das espécies coletadas durante a operação Jops II, pelo navio oceanográfico Victor Hensen.

bivalviaArcidae Carditidae Crassinela martinicensisArca imbricata Cardita floridana VitrinellidaeArca zebra Chamidae Vitrinella filiferaBarbatia domingensis Chama congregata PectinidaeBarbatia cancellaria Chama macerophyla Chlamys sentisArcopsis adamsi Corbulidae Chlamys tehuelchusAnadara notabilis Corbula cymella Chlamis benetictiBarbatia candida Corbula dietziana Chlamis muscosusCalyptraea centralis Corbula cymella Chlamys ornatusCrepidula aculeata Corbula patagonia P. portalesianumCardiidae Crassatellidae SemelidaeLaevicardium laevigatum Crassinella lunulata Abra aequalis

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Gomes, M. A.; Novelli, R. Zalmon, I. R.; Souza, C. M.

Bios. Belo Horizonte, v. 13, n. 13, p. 11-24, dez. 200522

Semele nuculoide Limopsis antillensi Nuculidae Spondylidae Mactridae Nucula puelchaBasterotia quadrata Mactra petiti Nucula semiornataTellinidae Mytilidae OstreidaeMacoma uruguayensis Crenella divaricata Crassostrea rizophoraCuspidariidae Noetidae Ostrea puelchanaLimidae Arcopsis adamsi GlycymerididaeLima pellucida Nuculanidae Glycymeris decussataLimopsidae Nuculana acuta Glyssimeris undata

GastropodaAclididae Turritella exoleta Epitonium candeanumAcmaeidae Cycichinidae Epitonium magellaniumColisella abrolhosensis Acteocina bullata EulimidaeActeonidae Acteocina candi Eulima bifasciataActeon pelecais Cylichina verrillii Eulima mulataAmathinidae Cylichna crispula FissurellidaeIselica anomola Triphoriidae Diodora arcuataAssimineidae Triphora decorata Diodora cayenensisAssiminea succinea Triphora nigrocincta Diodora sayBuccinidae Triphora pulchella Lucapina aegisProsipho tuberculatus Triphora turris thomae Lucapinella henseliCalyptraeidae Dentimargo lasallei Lucapinella limatulaCalyptraea centralis Prunum bahiensis HamineidaeCrepidula aculeata Volvarina avena Haminoea petitiiCavolinidae Volvarina serrei LamellariidaeCavolinia gibbosa Muricidae MarginellidaeCavolinia uncinata Attiliosa striatoides TriphoriidaeDiacra trispinosa Chicoreus senegalensis Triphora decorataCerithiopsidae Dermomurex abyssicola Triphora nigrocinctaCerithiopsis emersoni Muricopsis oxossi Triphora pulchellaCerithiopsis subulatum Murixiela glibyla Triphora turris thomaeAesopus stearnsi Nassariidae Dentimargo lasalleiAnachis catenata Buccinanops lamarckii Prunum bahiensisAnachis helenae Nassarius albus Volarina avenaAnachis isabellei Natica pusilla Volvarina serreiAnachis obesa Neritidae MuricidaeMitrella lunata Smaragdia veridis Attiliosa striatoidesConidae Olividae Chicoreus sewnegalensisConus jaspideus Jaspidella jaspidea Dermomurex abyssicolaCostellariidae Olivella natermani Muricopsis oxossiVexilum hedersoni Olivella olssoni Murixiela glibylaVexillum lixa Pyramidellidae NassariidaeRetusidae Odostomia canaliculata Buccinanops lamarckiiVolvullela paupercula Ododtomia virginae Nassarius albusPyrunculus caelatus Pyramidella crenulata Turbonilla interruptaVolvullela persimilis Diastomidae Turbonilla niveaVolvullela texasiana Finella dubia Turbonilla pusillaTurritellidae Epitoniidae Rissoidae

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Associações malacológicas em sedimentos ao largo da costa leste do Brasil, latitudes 10º e 20º S, entre os Estados da Bahia e Espírito Santo

Bios. Belo Horizonte, v. 13, n. 13, p. 11-24, dez. 2005 23

Bentonella gaza

Rissoina bryerea

Skeneidae

Parviturbo rehderi

Calliostoma coppingeri

Throchidae

Tricoliidae

Gabrielona sulcifera

Tricolia bella

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Bios, Cadernos do Departamento de Ciências Biológicas da PUC Minas, v. 13, n. 13, p. 25-34, dez. 2005 25

Briófitas das Ilhas do Passatempo, Parque Municipal das Mangabeiras, Belo Horizonte, MG

Bryophytes of Passatempo Islands, Municipal Park of Mangabeiras, Belo Horizonte, MG

ANDREIA TONINIBolsista FIP/ PUC Minas

MARIA DE FÁTIMA VIEIRA STARLINGDepartamento de Ciências Biológicas da PUC Minas

OLGA YANOInstituto de Botânica da USP

JOSÉ DE ARIMATÉA FIGUEIREDODepartamento de Ciências Biológicas da PUC Minas

Resumo

Foram identificadas 46 espécies de briófitas nas Ilhas do Passatempo, do Parque Municipal das Mangabeiras, das quais 38 pertencem à divisão Bryophyta (distribuídas em 16 famílias: Fissidentaceae, Bryaceae, Pottiaceae, Sematophyllaceae, Macromitriaceae, Hypnaceae, Leucobryaceae, Bartramiaceae, Brachytheciaceae, Calymperaceae, Dicranaceae, Entodontaceae, Fabroniaceae, Racopilaceae, Stereophyllaceae e Thuidiaceae) e oito pertencem à divisão Marchantiophyta (distribuídas em quatro famílias: Lejeuneaceae, Plagiochilaceae, Frullaniaceae e Metzgeriaceae). Entre elas, dez espécies são citadas pela primeira vez para Minas Gerais. Sematophyllum caespitosum (Brid.) Brid. e Lejeunea laetevirens Nees e Mont foram as espécies com maior ocorrência nas ilhas estudadas. O substrato de maior incidência de briófitas foi o corticícola. Elas foram encontradas servindo de substrato para germinação de sementes de outras plantas e como abrigo para pequenos animais.Palavras-chave: Diversidade; Brioflora; Ilhas do Passatempo; Minas Gerais.

AbstRActWe identified 46 bryophytes species in the Passatempo Islands, located in the Municipal Park of Mangabeiras, of which 38 belong to Bryophyta division (distributed in 16 families: Fissidentaceae, Bryaceae, Pottiaceae, Sematophyllaceae, Macromitriaceae, Hypnaceae, Leucobryaceae, Bartramiaceae, Brachytheciaceae, Calymperaceae, Dicranaceae, Entodontaceae, Fabroniaceae, Racopilaceae, Stereophyllaceae and Thuidiaceae) and 8 belong to Marchantiophyta (distributed in 4 families: Lejeuneaceae, Plagiochilaceae, Frullaniaceae and Metzgeriaceae). Ten species were mentioned for the first time for Minas Gerais. Sematophyllum caespitosum (Brid.) Brid. and Lejeunea laetevirens Nees and Mont were the species of widest occurrence. The substratum of highest bryophytes incidence was corticicolous. They were found serving as substratum for germination of other plant seeds and as small animals’ shelter.Key words: Diversity; Mosses; Liverworts; Passatempo Islands; Minas Gerais.

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Tonini, A,; Starling, M. F. V.; Yano, O.; Figueiredo, J. A.

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As briófitas contribuem significativa-mente para a diversidade vegetal e são também importantes pelas grandes

quantidades de carbono que armazenam, de-sempenhando um papel importante no ciclo global do carbono. Ao lado dos líquens, são importantes colonizadoras iniciais de rochas e superfícies nuas (RAVEN et al., 2001), modi-ficando o substrato e oferecendo condições para que outras plantas o colonizem, forman-do o berço ideal para a germinação de semen-tes de outros vegetais. Servem, ainda, como refúgio para pequenos animais (GRADSTEIN et al., 2001).

De acordo com Yano (2000), do total de 24 mil espécies de briófitas conhecidas no mundo, 3.125 táxons são citados para o Bra-sil, e, para o Estado de Minas Gerais, foram encontrados 883 táxons (quatro espécies de Anthocerotophyta, 262 espécies de Marchan-tiophyta e 617 espécies de Bryophyta). Ainda segundo a autora, dez espécies foram consi-deradas ameaçadas de extinção.

A importância de se conhecer a brioflo-ra de um determinado local reside no fato de que ela é essencial para o estabelecimento de alguns tipos de animais e vegetais (GRADS-TEIN et al., 2001).

A incapacidade de se distinguir uma es-pécie da outra, seja devido às características semelhantes ou à confusão sobre o nome científico correto, freqüentemente atrasa os esforços de preservação das espécies. Trata-se de um problema ainda mais sério em áreas de alta diversidade, como o nosso país. Dado que a ação do homem tem levado muitas es-pécies à extinção, o melhor meio de proteger a diversidade biológica, além de conhecê-las, é a preservação de seus habitats (PRIMACK; RODRIGUES, 2001).

Em Minas Gerais, o estudo de briófitas ainda é muito restrito. Os primeiros trabalhos realizados no Estado foram os de Nees (1833), Hornschuch (1840), Ångstron (1876) e Mueller

(1898). Posteriormente, outras publicações fizeram referências às espécies já descritas ou citaram novas ocorrências para o Estado, destacando-se Yano (1981; 1987; 1995), Smi-th-Merril (1991), Crum (1992), Yano e Carvalho (1995) e Costa (1999).

Um dos poucos remanescentes de mata da região metropolitana de Belo Hori-zonte encontra-se no Parque Municipal das Mangabeiras, localizado a apenas 3km do centro de Belo Horizonte e um dos maiores parques urbanos do país. Sua infra-estrutura está voltada para o lazer, o que facilita e favo-rece a visitação constante de pessoas, poden-do acarretar alterações na vegetação original do local (BELO HORIZONTE, 1996).

O presente trabalho teve como obje-tivos realizar o levantamento das briófitas do Parque Municipal das Mangabeiras, a fim de contribuir para o conhecimento da brioflora de Minas Gerais, fornecer subsídios para es-tudos futuros de taxonomia e ecologia, bem como enriquecer a coleção de briófitas do herbário da PUC Minas/Coração Eucarístico.

MaterIal e Métodos

Área estudada - O Parque Municipal das Mangabeiras está localizado nas encostas da Serra do Curral. Apresenta uma área de 337 ha de vegetação cortada por cursos d’água, em altitudes que variam de 1.000 a 1.400m, com predominância de cerrado. Situa-se na bacia hidrográfica do Córrego da Serra, afluente do Ribeirão Arrudas. Em função do relevo da área e dos diferentes tipos de solo, o parque apre-senta uma cobertura vegetal heterogênea, formando uma rica variedade de ambientes, com formas que variam de floresta estacional semidecídua, cerrado e até mesmo campos de altitude (BELO HORIZONTE, 1996).

O clima da região é classificado como tropical e o regime pluviométrico possui mé-dia anual de 1.515mm. O período mais quen-te do ano (outubro a março) é o que recebe

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maiores quantidades de chuva, colaborando com cerca de 89% da média anual. É no perí-odo marcado pela escassez de chuva (abril a setembro) e durante o trimestre julho-agosto-setembro que ocorrem as maiores ameaças de incêndio. Além disso, a velocidade média anual dos ventos aumenta a partir do inverno, atingindo o máximo na primavera, o que faci-lita a propagação de focos de incêndio (BELO HORIZONTE, 1996).

Coleta e identificação - a coleta do ma-terial briofítico foi realizada nas dez pequenas “Ilhas do Passatempo”, denominadas: Ilha Sa-biá, Ilha Quaresmeira, Ilha Mística, Ilha Mico Estrela, Ilha Jacarandá, Ilha Esquilo, Ilha Tico-tico, Ilha Vinhático, Ilha Sibipiruna e Ilha Pau-ferro.

Foram realizadas cerca de 20 excursões para coleta e/ou observação do material brio-fítico entre fevereiro e dezembro de 2003, re-sultando num total de 71 coletas.

A área foi escolhida de acordo com a maior riqueza aparente de briófitas, a presen-ça constante do homem e de animais, o de-senvolvimento de trabalhos socioeducativos locais (indicando acúmulo de pessoas) e a in-solação.

As amostras de briófitas foram coletadas arbitrariamente, sendo observado e anotado o tipo de substrato em que foram encontra-das. As metodologias de coleta, herborização e preservação do material briofítico seguiram as regras básicas indicadas por Yano (1984). O sistema de classificação adotado foi baseado em Buck e Goffinet (2000), para a divisão Bryo-phyta, e em Crandall-Stotler e Stlotler (2000) para a divisão Marchantiophyta.

O material briofítico foi identificado com base nos trabalhos de Bartram (1949), Gra-dstein (1994), Gradstein et al. (2001), Griffin III (1979), Hirai et al. (1998), Oliveira e Silva e Yano (2000a; 2000b; 2000c), Reiner-Drehwald (2000), Sharp et al. (1994), Yano e Ribas (1998), Yano (1995; 2000). Quando necessário, o ma-

terial foi enviado para especialistas do Ins-tituto de Botânica de São Paulo, a fim de se completar e/ou se confirmar a identificação, incluindo espécie.

Os exemplares coletados estão deposita-dos no herbário didático da PUC Minas/Cora-ção Eucarístico.

resultados e dIsCussão

Composição florística - No levantamen-to da brioflora do Parque Municipal das Man-gabeiras foram encontradas, na área selecio-nada, 46 espécies de briófitas, distribuídas em 20 famílias e 31 gêneros, das quais 38 perten-cem à divisão Bryophyta (distribuídas em 16 famílias e 25 gêneros) e oito pertencem à divi-são Marchantiophyta (distribuídas em quatro famílias e seis gêneros), conforme TAB 1.

Descrição da área de estudo - As ilhas Sabiá, Mística, Mico Estrela, Tico-tico e Esqui-lo apresentam um ambiente mais sombrio e úmido, pois a vasta quantidade de plantas de maior porte no local e nos seus arredores pos-sivelmente dificulta a entrada da luz. A coleta foi realizada nos limites de cada ilha, em todos os tipos de substratos presentes (terra, rocha e troncos).

A Ilha Quaresmeira, com um ambiente mais ensolarado, apresenta predominância de árvores da família Melastomataceae (como a Tibouchina, popularmente conhecida como quaresmeira). A coleta do material briofítico estendeu-se para os arredores da ilha, onde o ambiente era mais úmido e sombreado, abrigando uma quantidade de briófitas apa-rentemente maior do que no espaço da ilha propriamente dito.

Assim como a Ilha Quaresmeira, as ilhas Vinhático e Pau-ferro também apresentam um ambiente mais ensolarado, porém não houve necessidade de estender a coleta para os arredores dessas ilhas.

As ilhas Jacarandá e Sibipiruna, por serem próximas à Praça das Águas e à sede adminis-

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taBela 1Briófitas encontradas nas “Ilhas do Passatempo”, Parque Municipal das Mangabeiras

de Belo Horizonte – MG

Divisão Família Espécie

Bryophyta

Bartramiaceae Philonotis hastata (Duby) Wijk & Marg.Brachytheciaceae Rhynchostegium scariosum (Taylor) H. Rob.

Bryaceae

Brachymenium hornschuchianum Mart.

Brachymenium systilium (C. Muell.) A. Jaeg.

Bryum limbatum Müll. Hal.Bryum pseudocapillare Besch.

Bryum radiculosum Brid.

Calymperaceae Syrrhopodon prolifer Schwägr.Dicranaceae Dicranella hilariana (Mont.) Mitt.Entodontaceae Entodon beyrichii (Schwägr.) Müll. Hal.Fabroniaceae Fabronia ciliaris (Brid.) Brid.

Fissidentaceae

Fissidens amoenus Müll. Hal.Fissidens bryoides Hedw.

Fissidens flaccidus Mitt.Fissidens gardneri Mitt.Fissidens intramarginatus (Hampe) A. Jaeg.Fissidens palmatus Hedw.Fissidens serratus Müll. Hal.Fissidens zollingeri Mont.

HypnaceaeChryso-hypnum diminutivum (Hampe) W. R. BuckIsopterygium tenerum (Sw.) Mitt.

LeucobryaceaeOchrobryum gardneri (Müll. Hal) Mitt.Octoblepharum albidum Hedw.

Macromitriaceae (Orthotrichaceae)

Groutiella apiculata (Hook.) H. A. Crum & Steere

Macrocoma frigida (Müll. Hal.) Vitt

Schlotheimia rugifolia (Hook.) Schwägr.

Pottiaceae

Barbula indica (Hook.) Spreng.Hyophila involuta (Hook.) A. Jaeg.

Hyophiladelphus agrarius (Hedw.) R. H. ZanderLeptodontium viticulosoides (P.-Beauv.) Wijk & Marg.Pseudosymblepharis schimperiana (Par.) H. A. Crum

Racopilaceae Racopilum tomentosum (Hedw.) Brid.

Sematophyllaceae

Sematophyllum caespitosum (Hedw.) Mitt.Sematophyllum cuspidiferum Mitt.Sematophyllum galipense (Müll. Hal) Mitt.Sematophyllum subpinnatum (Brid.) E. BrittonSematophyllum subsimplex (Hedw.) Mitt.

Stereophyllaceae Entodontopsis nitens (Mitt.) W. R. Buck

Marchantiophyta

Thuidiaceae Cyrto-hypnum involvens (Hedw.) W.R. Buck & H. A. CrumFrullaniaceae Frullania ericoides (Nees ex Mart.) Mont.

Lejeuneaceae

Acanthocoleus aberrans (Lindenb. & Gott.) KruijtCheilolejeunea rigidula (Mont.) R. M. Schust.Lejeunea flava (Sw.) NeesLejeunea laetevirens Nees & Mont.

Metzgeriaceae Metzgeria furcata (L.) Corda

PlagiochilaceaePlagiochila disticha (Lehm. & Lindenb.) Lindenb.Plagiochila martiana Nees

Espécies citadas pela primeira vez para Minas Gerais.

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resmeira e Tico-Tico foram encontradas cinco e quatro espécies, respectivamente (TAB. 2).

Riqueza florística - Algumas espécies, tanto de musgos quanto de hepáticas, tiveram maior ocorrência, sendo encontradas na gran-de maioria das ilhas, como Fissidens zollingeri, Lejeunea laetevirens e Sematophyllum subpin-natum. Outras, no entanto, ficaram restritas a poucas ilhas, como Acanthocoleus aberrans, Bryum limbatum e Metzgeria furcata (TAB. 2).

Sematophyllum subpinnatum e Lejeunea laetevirens foram as espécies de ocorrência mais ampla na área estudada. Outras espé-cies, como Fissidens zollingeri (Fissidentaceae), Frullania ericoides (Frullaniaceae) e Octoble-pharum albidum (Leucobryaceae), que tam-bém tiveram uma ocorrência ampla, ocorrem num menor número de ilhas. Molinaro e Cos-ta (2001), ao trabalharem com briófitas do ar-boreto do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, relataram, entre outras, essas duas famílias como as de maior ocorrência no local.

tipos de substrato - As briófitas foram encontradas colonizando diferentes tipos de substratos, como rochas, solo, troncos e ga-lhos de árvores vivas ou em decomposição.

O substrato de maior incidência de brió-fitas foi o corticícola, com 63% de ocorrência, seguido pelo terrícola, com 22% (FIG. 2). A ex-plicação para a preferência das briófitas pelo habitat corticícola, segundo Lisboa (1976), é que a água da chuva, ao escorrer lentamente pelo tronco, dissolve muitos detritos, ficando com nutrientes suficientes para manter uma grande quantidade de briófitas, além de ou-tras epífitas.

FIGura 2 - Percentual de distribuição de briófi-tas de acordo com o tipo de substrato.

trativa do parque, onde o fluxo de pessoas é constante, têm a atuação e influência antrópi-ca mais evidentes do que nas outras ilhas.

Todas as ilhas apresentam uma infra-es-trutura adequada ao lazer e facilidade de aces-so, o que torna a área bastante visitada e, con-seqüentemente, mais sujeita a depredações.

Devido ao fluxo constante de pessoas, registraram-se na área, com certa freqüência, troncos de árvores com marcas de desenhos e/ou escritos, demonstrando que a brioflora local está vulnerável a ações depredatórias.

Dentre todas as dez ilhas, a Ilha Mico Es-trela foi a que contribuiu com o maior número de espécies de briófitas (16 ao todo), 13 das quais pertencentes à divisão Bryophyta e três à divisão Marchantiophyta (FIG. 1).

FIGura 1 - Número de espécies de hepáticas e musgos encontrados nas ilhas estudadas (IS:

Ilha Sabiá, IQ: Ilha Quaresmeira, IM: Ilha Mística, IME: Ilha Mico Estrela, IJ: Ilha Jacarandá, IE: Ilha Esquilo, ITT: Ilha Tico-tico, IV: Ilha Vinhático, ISI:

Ilha Sibipiruna, IPF: Ilha Pau-ferro).

A Ilha Vinhático foi a que apresentou o menor número de briófitas (FIG. 1), com ape-nas duas espécies de musgos registradas.

As demais ilhas que compõem a área Ilhas do Passatempo contribuíram com um nú-mero de espécies que variou entre esses dois extremos. Na Ilha Sabiá, foram encontradas 14 espécies (do total); na Ilha Mística 12 espécies; na Ilha Sabiá 11 espécies; nas Ilhas Esquilo e Si-bipiruna foram encontradas sete espécies; na Ilha Pau-Ferro, seis espécies; e nas ilhas Qua-

0

3

6

9

12

15

Is IQ IM IMe IJ Ie Itt IV IsI IPF

musgos

hepáticas

Corticícola63%22%

15%

rupícola

terrícola

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taBela 2Distribuição das briófitas nas Ilhas do Passatempo.

Espécies IS IQ IM IME IJ IE ITT IV ISI IPF SubstratoAcanthocoleus aberrans - - - - - - - - - + CBarbula indica - - + - - - - - + - TBrachymenium hornschuchianum + - - - - - - - - - TBrachymenium systilium - - + - - - - - - - CBryum limbatum - - - - - - + - - - TBryum pseudocapillare + - + - - - - - - - C, TBryum radiculosum + - - - - - - - - - CCheilolejeunea rigidula - - - - + - - - - - CChryso-hypnum diminutivum + - - - - - - - - - R, CCyrto-hypnum involvens + - - - - - - - - - CDicranella hilariana - - - - - - - - + - TEntodon beyrichii - - - - + - - - - + CEntodontopsis nitens - - - - + - - - - - CFabronia ciliaris - - - + + + - - + - CFissidens amoenus - - - + - - - - - - CFissidens bryoides - - - + - - - - - - RFissidens flaccidus - - - - + - + - + - RFissidens gardneri - - + - - - - - - - CFissidens intramarginatus - - - - - - - - + - RFissidens palmatus - - - - + - - - - - RFissidens serratus + - - - - + - - - - CFissidens zollingeri + - + + - + - - - - R, TFrullania ericoides - - - - + - - - + + CGroutiella apiculata - - - + - - - - - - CHyophila involuta - - - - - + - - - - R, THyophiladelphus agrarius - - - - + - - - - - RIsopterygium tenerum + - + + - - - - - - CLejeunea flava - - - - - + - - - - CLejeunea laetevirens + - + + + + - - - - CLeptodontium viticulosoides - + - - - - - - - - CMacrocoma frigida - + - - + - - - - + CMetzgeria furcata - - + - - - - - - - COchrobryum gardneri - - + - - - - - - - COctoblepharum albidum + - + + - - - - - - CPhilonotis hastata - - - + - - - - - - TPlagiochila disticha + - - + - - - - - - CPlagiochila martiana - - - + - - - - - - CPseudosymblepharis schimperiana - + - + - - - - - - TRacopilum tomentosum + - - - - - - - - - RRhynchostegium scariosum - - - - - - + - - - TSematophyllum caespitosum + + - + + + + + + + C, TSematophyllum cuspidiferum - - + + - - - - - - C, TSematophyllum galipense - - - + - - - + - - C, TSematophyllum subpinnatum - + - - - - - - - - TSematophyllum subsimplex + - - - - - - - - - TSchlotheimia rugifolia - - - + - - - - - + CSyrrhopodon prolifer - - + - - - - - - - CTOTAL 14 5 12 16 11 7 4 2 7 6

IS: Ilha Sabiá, IQ: Ilha Quaresmeira, IM: Ilha Mística, IME: Ilha Mico Estrela, IJ: Ilha Jacarandá, IE: Ilha Esquilo, ITT: Ilha Tico-tico, IV: Ilha Vinhático, ISI: Ilha Sibipiruna, IPF: Ilha Pau-ferro. C: cortícola; T: terrícola; R: rupícola.

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Briófitas das Ilhas do Passatempo, Parque Municipal das Mangabeiras, Belo Horizonte, MG

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Bryum pseudocapillare, Chryso-hypnum diminutivum, Fissidens zollingeri, Hyophila invo-luta, Sematophyllum subpinnatum, S. cuspidife-rum e S. galipense foram encontradas em mais de um tipo de substrato. Mas a grande maioria das briófitas estudadas, 87,23%, foi observada em apenas um tipo de substrato (TAB. 2).

tipos de habitat - Dentre as espécies re-lacionadas para o Parque Municipal das Man-gabeiras, temos aquelas que, de acordo com Yano e Câmara (2004), são consideradas de zo-nas urbanas e/ou de grandes cidades, como: Frullania ericoides, Lejeunea flava, L. laetevirens, dentre as hepáticas; Fabronia ciliaris, Hyophila involuta, Octoblepharum albidum e Semato-phyllum subpinnatum, dentre os musgos.

BrIóFItas enContradas no ParQue MunICIPal das ManGaBeIras, CItadas Pela PrIMeIra Vez Para o estado

divisão Bryophyta

BRACHYTHECIACEAE• Rhynchostegium scariosum (Taylor) A. Jaeg.

Gametófitos pequenos, verdes. Cau-lídios irregularmente ramificados; ramos eretos. Filídios levemente complanados, côncavos na base, ovados, com o ápice acu-minado. Margem serreada até perto da base. Costa percurrente, terminando antes do ápi-ce. Células medianas fusiformes ou lineares. Células basais alongadas e retangulares. Células alares quadráticas ou retangulares, geralmente com uma pequena borda com-posta por uma ou duas fileiras de células alongadas e estreitas.

Ocorrência: Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e São Paulo.

BRYACEAE• Brachymenium systilium (C. Muell.) A. Jaeg.

Gametófitos pequenos, brilhantes, esver-deados. Caulídios ramificados. Filídios cônca-

vos, oblongos, ápice acuminado. Margem lisa. Costa excurrente. Células apicais rômbicas-hexagonais. Células basais quadráticas.

Ocorrência: Distrito Federal, Espírito San-to, Minas Gerais e Rio de Janeiro.

• Bryum pseudocapillare Besch.Gametófitos ligeiramente eretos, es-

verdeados, filamentosos, com propágulos axilares. Filídios oblongos, enrolados quan-do secos. Margem levemente serreada na região apical. Costa excurrente. Células api-cais e medianas hexagonais. Células basais retangulares e quadráticas. Seta alongada. Cápsula cilíndrica e pendular. Opérculo curto e cônico.

Ocorrência: Bahia, Mato Grosso, Minas Gerais e Rio de Janeiro.

• Bryum radiculosum Brid.Gametófitos brilhantes, esverdeados. Fi-

lídios alongados, oblongos. Margem serrada na região apical. Costa amarelada, excurrente. Células apicais e medianas rombo-hexagonais, levemente alongadas. Células basais quadrá-ticas. Cápsula alongada, cilíndrica, enrugada. Opérculo cônico e curto. Dentes do peristoma unidos na base.

Ocorrência: Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais e Santa Catarina.

FABRONIACEAE• Fabronia ciliaris (Brid.) Brid.

Gametófitos verdes, ramificados. Filídios oblongos, com a região apical acuminada e alongada. Margem denteada até a metade da lâmina, dentes formados por apenas uma cé-lula. Costa terminando na região mediana do filídio ou um pouco mais acima. Células apicais hexagonais, com a parede sinuosa. Células me-dianas alongadas. Células basais diferenciadas, quadráticas. Seta longa. Cápsula ovóide. Den-tes do peristoma aos pares, curtos e papilosos. Esporos arredondados, com papilas.

Ocorrência: Bahia, Mato Grosso, Minas Gerais e Pernambuco.

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FISSIDENTACEAE• Fissidens bryoides Hedw.

Gametófitos eretos e grandes. Filídios longos, lanceolados. Margem mais ou menos inteira. Borda com uma a cinco fileiras de célu-las alongadas e estreitas. Células basais alon-gadas e retangulares. Células apicais e media-nas quadráticas, menores. Costa percurrente. Lâmina vaginante até a metade do filídio.

Ocorrência: Bahia, Fernando de Noronha, Minas Gerais, Paraná, Pernambuco, Rio de Ja-neiro, Rondônia, Roraima e São Paulo.

MACROMITRIACEAE• Groutiella apiculata (Hook.) H. A. Crum e Steere

Gametófitos esverdeados, formando densos emaranhados. Caulídios rastejantes, com numerosos ramos eretos. Filídios distri-buídos irregularmente no caulídio, em espiral; ligulados ou oblongos. Ápice obtuso. Margem inteira. Costa levemente excurrente. Células apicais e medianas arredondadas ou quadrá-ticas, inchadas. Células basais retangulares, al-gumas alongadas e outras mais estreitas; são maiores que as demais células do filídio.

Ocorrência: Bahia, Espírito Santo, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Pará, Paraná, Pernambuco, Rio de Janeiro e São Paulo.

• Macrocoma frigida (Müll. Hal.) VittGametófitos delicados, verde-escuros,

formando tapete. Caulídio rastejante, com ra-mos secundários eretos (em sua maioria). Filí-dios eretos, oblongo-lanceolados; ápice agu-do; costa percurrente, terminando logo abai-xo do ápice. Seção transversal do filídio com células mamilosas, arredondadas, assumindo a forma quadrada quando próximas da mar-gem. Células basais arredondadas na margem e hexagonais ou elípticas próximas à costa. Seta longa; cápsula ovóide e estriada.

Ocorrência: Minas Gerais e Rio de Ja-neiro.

POTTIACEAE• Hyophila involuta (Hook.) A. Jaeg.Gametófitos verdes no ápice e casta-

nhos na base, raramente ramificados. Filídios espatulados ou ovóides. Margem plana ou levemente curvada, inteira ou com pequenos dentes no ápice. Costa percurrente. Células apicais e medianas pequenas, quadráticas ou hexagonais. Células basais retangulares, maio-res, algumas sobrepostas. Seta longa. Cápsula cilíndrica, apresentando um diferenciado pes-coço. Esporos papilosos.

Ocorrência: Amazonas, Bahia, Distrito Fe-deral, Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Pará, Paraíba, Pa-raná, Pernambuco, Piauí, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Rondônia e São Paulo.

MarCHantIoPHYta

LEJEUNEACEAE• Acanthocoleus aberrans (Lindenb. e Gott.) Kruijt

Gametófitos verdes, rastejantes. Filídios incubos, com o ápice obtuso ou ligeiramente acuminado. Margem inteira. Lóbulo com um a dois dentes pequenos. Células arredonda-das e/ou quadráticas, com trígonos cordados. Oleocorpos pequenos e numerosos. Anfigas-tro inteiro.

Ocorrência: Alagoas, Espírito Santo, Mi-nas Gerais e Paraná.

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Briófitas das Ilhas do Passatempo, Parque Municipal das Mangabeiras, Belo Horizonte, MG

Bios. Belo Horizonte, v. 13, n. 13, p. 25-34, dez. 2005 33

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Bios, Cadernos do Departamento de Ciências Biológicas da PUC Minas, v. 13, n. 13, p. 35-42, dez. 2005 35

Deslocamento matutino e vespertino do biguá, Phalacrocorax brasilianus (Pelicaniformes,

Phalacrocoracidae) em Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil

Dawn and dusk movements of the Neotropic Cormorant, Phalacrocorax brasilianus (Pelicaniformes, Phalacrocoracidae) in Belo

Horizonte, Minas Gerais, Brazil

TÚLIO DORNASGABRIEL BARBOSA DE OLIVEIRA

JOSÉ EUGÊNIO CÔRTES FIGUEIRA1

ResuMoEste estudo analisa se a temperatura, a umidade relativa do ar e a presença de luz correlacionam-se com os horários de deslocamento diário de uma população de biguás, Phalacrocorax brasilianus, entre o dormitório e seu local de forrageio. Utilizando-se a correlação de Spearman, verificou-se que não houve nenhuma correlação entre a umidade relativa do ar e o horário de deslocamento das aves, assim como para a temperatura e a saída do primeiro indivíduo. Entretanto, a temperatura correlacionou-se negativamente (rs= -0,72; p = 0,008; n = 17) com os horários de deslocamento dos bandos representativos do dormitório pela manhã e positivamente (rs= 0,62; p = 0,02; n = 12) à tarde para o local de forrageio, indicando um padrão de deslocamento inverso. Observou-se também que, em média, 92% das aves abandonavam o ponto de forrageio antes do anoitecer, sendo esse padrão irregular para as alvoradas.Palavras-chave: Phalacrocorax brasilianus; Migração; Lagoa da Pampulha; Belo Horizonte.

ABstRACtThis study analyzes whether temperature, relative air humidity and light are correlated with the daily movements of a Neotropic Cormorant population, Phalacrocorax brasilianus, between its nesting and foraging sites. Using Sperman’s correlation, it was verified that there was not any correlation between relative air humidity and the schedule of the birds’ movements, as well as temperature and the first individual’s exit. However, temperature was correlated negatively (rs = -0.72; p= 0.008; n=17) for the schedules of representative groups’ movements from the nesting site in the morning, and positively (rs= 0,62; p = 0,02; n = 12) to the foraging site in the afternoon, indicating an inverse movement pattern. It was also observed that an average of 92 % of the birds abandoned the foraging site before twilight, while this pattern was irregular at dawn.Key words: Phalacrocorax brasilianus; Migration; Pampulha Lake; Belo Horizonte.

Laboratório de Ecologia de Populações, Departamento de Biologia Geral Instituto de Ciências Biológicas, UFMG, e-mail: [email protected]

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Dornas, T.; Oliveira, G. B.; Figueira, J. E. C.

Bios. Belo Horizonte, v. 13, n. 13, p. 35-42, dez. 200536

O biguá, Phalacrocorax brasilianus (GMELIN, 1789), é uma ave aquática que ocorre em toda a América Latina

(SICK, 1997), habitando lagos, lagoas, estu-ários, manguezais e áreas litorâneas (NAKA; RODRIGUES, 2000). Essa ave alimenta-se de peixes e é exímio mergulhador. Existem rela-tos de que indivíduos dessa espécie podem mergulhar a profundidades de até 20 metros (SICK, 1997). Além de pescarem individual-mente, podem nadar agregados, encurra-lando cardumes de peixes, mergulhando si-multaneamente e capturando vários peixes (SANTOS, 1990).

Os biguás são aves migratórias, cujo vôo ocorre geralmente na posição em forma de V (160º), o que proporciona uma vantagem aerodinâmica, tornando o vôo menos desgas-tante (SICK, 1997). Além disso, tal comporta-mento pode ser uma alternativa para manter o campo de visão de todos os indivíduos bem amplo e aberto (SICK, 1997). Estudos com uso de anilhas mostraram a existência de bandos migratórios e entre vales do baixo Rio Paraná na Argentina e os alagados do Rio Grande do Sul, no Brasil (ANTAS, 1994).

Os biguás dormem em aglomerados de árvores muito altas, onde se concentram du-rante a noite. Nesses locais, observa-se grande quantidade de guano, que é muito utilizado como fertilizante (SICK, 1997). Os biguás dei-xam seus dormitórios diariamente e se diri-gem às áreas de forrageio, retornando ao en-tardecer.

No Parque Municipal Lagoa do Nado, região norte de Belo Horizonte, há um dor-mitório de P. brasilianus. Pela manhã, as aves voam em direção à Lagoa da Pampulha, onde permanecem forrageando. Nessa trajetória as aves cruzam caprichosamente a rota de pouso e decolagem dos aviões do Aeroporto Munici-pal da Pampulha, o que causa certa preocupa-ção entre os aeroviários, devido à possibilida-de de colisões com as aeronaves.

Desse modo, o objetivo do estudo foi averiguar se o deslocamento entre dormitório e local de forrageio apresentava algum padrão quanto ao horário do dia, e ainda se dependia de parâmetros meteorológicos: temperatura e umidade relativa do ar e a presença ou não do sol.

Para isso, testamos a hipótese de que os horários de deslocamento das aves depende-riam da temperatura e umidade relativa do ar, considerando os horários de saída do primeiro indivíduo da população e do grupo de bando mais representativo (GBR) em relação ao total de indivíduos presentes para cada dia de estu-do. Consideramos também a hipótese de que a ausência de luz, devido à não presença do sol, anterior à alvorada e posterior ao crepús-culo vespertino, poderia interferir no desloca-mento das aves.

Material e MétoDos

O estudo foi realizado de março a no-vembro de 2002 no Parque Municipal Lagoa do Nado (19º49’56”S, 43º57’34”W) e na Lagoa da Pampulha (19º55’09”S, 43º56’47”W). Fo-ram formadas duas equipes: uma permanecia no dormitório, enquanto a outra no local de forrageio. Aparelhos telefônicos celulares e walk-talks proporcionaram as comunicações necessárias entre as duas equipes. As obser-vações foram feitas através de binóculos du-rante a alvorada, em que foram anotados os horários de saída de cada bando do dormitó-rio e o número de indivíduos, assim como seu horário de chegada no local de forrageio. O mesmo procedimento foi tomado para a saída do ponto de forrageio em direção ao dormitó-rio durante o crepúsculo.

Para determinar o GBR, considerou-se o tempo total de deslocamento de toda a po-pulação para cada dia de estudo. Esse tempo de deslocamento era dividido em intervalos de cinco minutos. Logo após, verificava-se em qual intervalo concentraram-se mais de 50%

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Deslocamento matutino e vespertino do biguá, Phalacrocoraxbrasilianus (Pelicaniformes, Phalacrocoracidae) em Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil

Bios. Belo Horizonte, v. 13, n. 13, p. 35-42, dez. 2005 37

dos indivíduos presentes no deslocamento. Supondo-se, para uma manhã, um tempo de deslocamento de 60 minutos, haveria 12 parcelas de cinco minutos. Na parcela sete foram observados seis bandos, os quais, so-mados, possuíam 71% de toda a população deslocada naquela suposta manhã. Poste-riormente verificava-se o horário de saída da parcela sete, que ficava então registrado como o horário do GBR para aquela manhã de deslocamento.

Para estimar o tamanho do percurso realizado, foram utilizadas imagens aéreas com escala de 1:25.000 retiradas da pági-na eletrônica da Prefeitura Municipal de Belo Horizonte. Os dados de temperatura e umidade relativa do ar foram fornecidos pela Infraero-SSBH. Os dados foram anali-sados através da correlação de Spearman, utilizando-se o programa Systat 5.0.

resultaDos

O percurso deslocado entre o dormi-tório (Parque Municipal Lagoa do Nado) e o local de forrageio (Lagoa da Pampulha) é de 3600 metros. O deslocamento matutino ocorria no sentido nordeste-sudoeste, e o vespertino no sentido inverso. Para Phala-crocorax auritus, espécie de biguá norte-americana, observou-se que as popula-ções do delta do rio Mississipi deslocaram-se em média 7,5km entre o dormitório e o local de forrageio, com alguns indivíduos deslocando-se até 15km (KING et al., 1995). Para a mesma localidade registrou-se ain-da que alguns indivíduos de P. auritus che-garam a utilizar entre quatro e seis dormi-tórios diferentes (TOBIN et al., 2002).

Durante o período de estudos, veri-ficou-se uma grande variação no número de indivíduos, com 115 indivíduos no pri-

5

5,5

6

6,5

60 70 80 90 100umidade relativa do ar

horá

rio d

e sa

ída

do 1

º ind

ivíd

uo

rs = -0,105, P>0,06 n = 17

5

5,5

6

6,5

60 70 80 90 100umidade relativa do ar

horá

rio d

e sa

ída

do G

Br

rs = 0,210, P>0,05 n = 12

FiGura 1 – A saída de Phalacrocorax brasilianus do dormitório e do local de forrageio não se corre-lacionou com a umidade relativa do ar. Os gráficos A e B referem-se ao deslocamento matutino e os

gráficos C e D ao deslocamento no período crepuscular.

5

5,5

6

6,5

60 70 80 90 100umidade relativa do ar

horá

rio d

e sa

ída

do 1

º ind

ivíd

uo

rs = 0,37, P>0,05 n = 15

5,5

5

5,5

6

6,5

60 70 80 90 100umidade relativa do ar

horá

rio d

e sa

ída

do G

Br

rs = 0,168, P>0,05 n = 12

A B

C D

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Dornas, T.; Oliveira, G. B.; Figueira, J. E. C.

Bios. Belo Horizonte, v. 13, n. 13, p. 35-42, dez. 200538

Não houve também correlação entre a temperatura e a saída do primeiro indiví-duo do dormitório, assim como do local de forrageio (FIG. 2a,c.). Entretanto, houve uma significativa correlação negativa (rs= -0,72, p = 0,008, n = 17) para os horários de desloca-mento dos grupos de bandos representativos pela manhã e a temperatura do ar. Para o pe-ríodo da tarde, foi verificada uma significativa correlação positiva (rs= 0,62, p = 0,02, n = 12) para os grupos de bandos representativos e a temperatura do ar (FIG. 2b,d).

Por outro lado, quanto à possibilidade de os horários do nascer e do pôr-do-sol afetarem o deslocamento dos P. brasilianus ao longo do tempo, observou-se um padrão irregular no deslocamento das aves em relação ao nascer do sol: os indivíduos não tiveram nenhuma preferência pelo período anterior ou posterior

meiro mês de observações e um máximo de 880 indivíduos em agosto de 2002. Oli-veira (2004) também verificou uma varia-ção do número de indivíduos de P. brasilia-nus na bacia de Guaratuba-PR, registrando no mês de agosto cerca de 700 indivíduos. Essa flutuação no número de indivíduos ao longo dos estudos demonstra a capa-cidade migratória da espécie, condição verificada por Antas (1994).

Quanto às possíveis dependências me-teorológicas dos deslocamentos diários dos biguás, as análises de correlação de Spearman mostraram que não houve correlação entre umidade relativa do ar e os horários de saída do dormitório e o local de forrageio das aves, tanto para o primeiro indivíduo, quanto para o grupo de bandos mais representativo (GBR) (FIG. 1).

FiGura 2 – Os gráficos B e D mostram uma forte correlação entre temperatura do ar e os grupos de ban-dos mais representativos (GBR), ao contrário da saída do primeiro indivíduo mostrada nos gráficos A e C.

5

5,5

6

6,5

10 15 20 25temperatura do ar (ºC)

horá

rio d

e sa

ída

do 1

º ind

ivíd

uo

rs = -0,488, P>0,05 n = 17

5

6

7

8

14 6 18 20 24temperatura do ar (ºC)

horá

rio d

e sa

ída

do G

Br

rs = -0,718, P<0,01 n = 12

22

16,0

16,5

17,5

180

22 24 26 28 32temperatura do ar (ºC)

horá

rio d

e sa

ída

do 1

º ind

ivíd

uo

rs = -0,3349, P>0,05 n = 15

17,0

306

7

8

9

22 24 26 28 32temperatura do ar (ºC)

horá

rio d

e sa

ída

do G

Br

rs = 0,643, P<0,05 n = 12

30

C

A B

D

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Deslocamento matutino e vespertino do biguá, Phalacrocoraxbrasilianus (Pelicaniformes, Phalacrocoracidae) em Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil

Bios. Belo Horizonte, v. 13, n. 13, p. 35-42, dez. 2005 39

ao sol nascente (TAB. 1). Porém, para o perí-odo de crepúsculo vespertino, foi observado um padrão muito regular. Em média, aproxi-madamente 92% dos indivíduos abandona-ram o local de forrageio antes do pôr-do-sol (TAB. 1).

taBela 1Porcentagem de indivíduos de Phalacrocorax

brasilianus que abandonaram o dormitório antes do nascer do sol (padrão irregular) e o local de forrageio antes do pôr-do-sol (padrão regular)

em 15 dias amostrados entre março e novembro de 2002.

Dia de campanha

antes do sol nascente (%)

antes do sol poente (%)

1 100 94,442 98,20 81,253 34,57 1004 47,95 97,355 41,93 73,116 2,70 92,827 3,13 77,608 4,10 98,309 1,10 99,30

10 7,00 98,9011 6,00 10012 070 96,2013 0,40 90,0614 0,00 96,9015 0,00 95,70

DisCussão

Os resultados obtidos mostraram que o deslocamento da população de Phalacrocorax brasilianus na região norte de Belo Horizonte pode estar sendo determinado por fatores metereológicos. A princípio, essa população não sofre nenhuma influência da umidade re-lativa do ar, ao contrário da temperatura do ar, que demonstrou forte influência.

A população de biguás estudada apre-senta um padrão inverso de deslocamento em relação à variação da temperatura do am-biente. Pela manhã, quanto maior for a tem-peratura durante a alvorada, mais cedo os indivíduos abandonam o dormitório (FIG. 2b). Ao entardecer, quanto maior for a tempera-tura no crepúsculo vespertino, mais tarde os

biguás retornam ao dormitório (FIG. 2d). De alguma forma, a temperatura do ar es-

taria sinalizando aos biguás o melhor momen-to de iniciar o deslocamento nos dois períodos do dia. Conforme a FIG. 2b, o aumento de um grau na temperatura do ar pode representar o adiantamento de até 20 minutos no aban-dono do dormitório pela manhã. Isso pode representar um elevado grau de sensibilidade de P. brasilianus à temperatura ambiente.

A variação do fotoperíodo durante o ano é um importante fator determinante dos mo-vimentos e migração entre as aves (FAABORG, 1988). Desse modo, espera-se que ao longo do ano, com a variação do fotoperíodo, os ho-rários de abandono e retorno ao dormitório dessa população de biguás sejam diferencia-dos.

Nos períodos do ano em que o fotoperío-do for maior, as alvoradas terão temperaturas mais altas em horários mais cedo, comparati-vamente ao período de fotoperíodo menor. O mesmo ocorre nos crepúsculos vespertinos, pois serão registradas temperaturas mais altas em horários mais tarde, comparativamente ao período de fotoperíodo menor. Isso implicaria, portanto, um abandono mais cedo e um re-torno mais tarde ao dormitório em período de fotoperíodo maior e um abandono mais tarde, seguido de um retorno mais cedo ao dormitó-rio, em ocasiões de fotoperíodo menor.

Fisiologicamente, a temperatura corpo-ral das aves acompanha o ciclo diário da luz (SCHIMIT-NIELSEN, 1996). Durante o período noturno, as temperaturas das aves de hábi-tos diurnos podem diminuir até quatro graus centígrados, como observado para Pipilo al-berti, fringilídeo norte-americano (SCHIMIT-NIELSEN, 1996). Uma das estratégias utilizadas pelas aves é reduzir a taxa metabólica durante o período noturno (FAABORG, 1988) e resta-belecer, durante as manhãs, a taxa metabólica ideal para o exercício de suas atividades. Elas podem se expor ao sol, o que aumentará sua

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Dornas, T.; Oliveira, G. B.; Figueira, J. E. C.

Bios. Belo Horizonte, v. 13, n. 13, p. 35-42, dez. 200540

temperatura corporal, ou promover contração muscular, involuntária ou voluntariamente, a fim de restabelecer a taxa metabólica ideal (FAABORG, 1988).

Possivelmente, as manhãs que apresen-tarem maiores temperaturas em horários mais cedo proporcionarão aos biguás alcançar ra-pidamente a temperatura corporal ideal, res-tabelecendo a taxa de metabolismo corpóreo mais eficiente para suas atividades em horá-rios também mais cedo, comparados àquelas manhãs mais frias. O mesmo ocorreria para as tardes mais quentes, pois a temperatura corporal ideal do biguá se prolongaria por um tempo maior, já que o indivíduo sentiria os efeitos da queda da temperatura do ar ao final do dia em horários mais tarde, estenden-do assim o horário de abandono do local de forrageio.

Do ponto de vista comportamental, o deslocamento dessa população de biguás in-depende da saída do primeiro indivíduo, pois constatou-se que esta pouco se correlacionou com a temperatura do ar. Porém, esse desloca-mento depende da saída de bandos que nu-mericamente representam a maior parte de toda a população presente. Isso depõe contra a possibilidade de que a população de biguás estudada tenha um indivíduo líder, isto é, um indivíduo de largada, o qual sinalizaria, após a sua saída, uma possível permissão ou indica-ção para a saída dos demais indivíduos.

O fato de esse abandono estar ligado à saída de bandos representativos do total de indivíduos presentes (GBR) mostra um forte comportamento gregário entre os indivíduos, indicando a preferência pelo deslocamento em grupo e não isolado. Isso pôde ser com-provado nas observações de campo, em que foram avistados bandos com 70 indivíduos em algumas manhãs e com até 150 indivíduos no anoitecer, sendo mais freqüentes os ban-dos de dois a cinco indivíduos.

O nascer e o pôr-do-sol também de-

monstraram interferir no deslocamento. Se-gundo Faaborg e Chaplin (1988), a posição do sol parece ser um dos primeiros instrumentos de navegação entre as aves. Durante o perío-do de estudo, a alta porcentagem de indiví-duos que abandonavam o local de forrageio para retornarem ao dormitório antes do sol se pôr (em média 92%, TAB. 1) mostrou possivel-mente uma grande influência da necessidade da presença do sol e/ou da luminosidade para a realização desse deslocamento. No sertão pernambucano observou-se, para bandos de andorinhas, Progne chalybea, o retorno aos seus dormitórios no final da tarde, por volta das 17 horas, em um tempo máximo de 20 mi-nutos, por mais de 60 dias de estudos (JUNIOR et al., 2000).

Possivelmente, a presença do sol e/ou da luminosidade seria muito importante para os P. brasilianus se guiarem e direcionarem seu vôo de retorno ao dormitório, pois em seguida ao crepúsculo vespertino tem-se um grande período de escuridão, até a alvorada. Por ou-tro lado, mais que uma questão de direção, no caso particular da população de P. brasilianus, a presença da luz pode significar proteção. No fim do dia o fluxo de aviões aterrissando no ae-roporto municipal é muito intenso e, como o deslocamento dessas aves coincide justamen-te com a rota de aterrissagem, um retorno ao dormitório durante a noite ou em período de luminosidade reduzida poderia representar uma possibilidade de colisão.

Acreditamos, portanto, que os dados apresentados poderão contribuir com infor-mações importantes sobre o comportamento de Phalacrocorax brasilianus, pouco relatado na literatura. Telfair e Morrison (1995) e Lopez-Ornat e Ramos (1992) já destacaram tal con-dição para as regiões costeiras da Argentina e México, respectivamente, ocorrendo o mes-mo para o Brasil.

Porém, o que mais impressiona é que o estudo fornece informações relevantes sobre

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Deslocamento matutino e vespertino do biguá, Phalacrocoraxbrasilianus (Pelicaniformes, Phalacrocoracidae) em Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil

Bios. Belo Horizonte, v. 13, n. 13, p. 35-42, dez. 2005 41

o comportamento da espécie num ambiente altamente urbanizado. Esse vigoroso cenário antropizado, conseqüentemente, interfere sobre os fatores ecológicos que regem a so-brevivência dos organismos e suas respostas a esses ambientes, condição verificada para essa população de Phalacrocorax brasilianus, que demonstra ter conseguido adaptar-se a esses ambientes artificiais.

aGraDeCiMentos

Agradecemos ao Prof. Rogério Parentoni e a Marcelo Vasconcelos pe-las sugestões, e à equipe de trabalhos de campo: Aretusa Drummond Lage, Fabrício Vilas-Boas e Hubermam Gonçalves.

reFerênCiasANTAS, P. T. Z. Migration and other movements among the lower Paraná River valley wetlands, Argentina, and the south Brazil/Pantanal wetlands. Bird Conservation International, v. 4, p. 181-190, 1994.AZEVEDO JUNIOR, S. M. A. et al. Movimentação de Progne chalybea (Aves: Hirundinidae) em Pernambuco, Brasil. In: ALVES, M. A. S. et al. A ornitologia no Brasil: pesquisa atual e perspectivas. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 2000. p 149-160.FAABORG, J. ornithology, an ecological approach. New Jersey: Prentice Hall, 1988. FAARBOG, J.; CHAPLIN, S. B. Adaptations for survival in extreme environments In: FAABORG, J. ornithology, an ecological approach. New Jersey: Prentice Hall, 1988. p. 230-249.KING, D. T.; GLAHN, J. F.; ANDREWS, K. J. Daily activity budgets and movements of winter roosting double-crested cormorants determined by biotelemetry in the Delta Region of Mississippi. Colonial Waterbirds, v. 18, n. 1, p.152-157, 1995.

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Bios, Cadernos do Departamento de Ciências Biológicas da PUC Minas, v. 13, n. 13, p. 43-58, dez. 2005 43

A qualidade de água e as comunidades de macroinvertebrados aquáticos da Estação

Ecológica do Tripuí

Water quality and aquatic macroinvertebrated community of Estação Ecológica do Tripuí

MARCELO COUTINHO AMARANTEInstituto Estadual de Florestas de Minas Gerais

HENRIQUE PAPROCKIPontifícia Universidade Católica de Minas Gerais

ResumoA qualidade da água da microbacia do córrego Tripuí foi avaliada mediante o uso de parâmetros físico-químicos e zoobentônicos, e classificada como oligosapróbio e em alguns pontos oligo-betamesosapróbio, ou seja, com o teor de carga orgânica variando de ausente a pouco. A poluição identificada na microbacia é de origem pontual, do tipo efluente de esgoto doméstico. O índice BMWP adaptado (JUNQUEIRA et al., 2000) foi utilizado para a avaliação biológica da qualidade da água. Sua pontuação varia entre 63 e 137 na microbacia, indicando qualidade de água entre boa e excelente. Foram identificadas quatro espécies da ordem Plecoptera e 91 espécies da ordem Trichoptera no córrego Tripuí e no rio Belchior. Palavras-chave: Insetos aquáticos; Zoobenton; Macroinvertebrados; Qualidade de água; Biomonitoramento.

AbstRActThe water quality assessment of the Tripuí stream was undertaken using physical, chemical and zoobenthonic parameters. It was classified as oligossaprobic and, at some sites, as oligo-betamesossaprobic, that is, with organic matter rate from null to low. The pollution identified in the watershed is point-source, domestic wastewater. The adapted biological index of water quality BMWP (JUNQUEIRA et al., 2000) was used to classify the water quality in the watershed, punctuation varying from 63 to 137, indicating from good to excellent water quality. Identification of 91 species of adult Trichoptera and four species of adult Plecoptera was accomplished in Tripuí stream and Belchior River. Key words: Aquatic insects; Zoobenton; Macroinvertebrates; Water quality; Biomonitoring.

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Amarante, M. C.; Paprocki, H.

Bios. Belo Horizonte, v. 13, n. 13, p. 43-58, dez. 200544

A crescente instalação de indústrias e construção de sistemas de esgotamen-to urbano têm acarretado um aumen-

to do lançamento de resíduos industriais e domésticos nos corpos d’água, na sua maioria destituídos de tratamento prévio adequado. Esses despejos têm alterado a qualidade da água dos mananciais, o que suscita a preocu-pação com o desenvolvimento de técnicas ca-pazes de diagnosticar tais alterações.

O uso de indicadores biológicos de qua-lidade de água vem sendo reafirmado mun-dialmente como uma forma eficaz de monito-ramento. Os grupos mais recomendados para serem usados nesses estudos são os macroin-vertebrados, em primeiro lugar, e as algas (HELLAWELL, 1986).

O estudo sistematizado de biomonitora-mento começou no século XX com os traba-lhos de Kolkwitz e Marsson (1908), que desen-volveram o conceito de saprobidade ou grau de poluição por matéria orgânica. Junto a isso, a observação da permanência ou não de cer-tos organismos em determinados biótopos levou à listagem de organismos indicadores (ROSENBERG; RESH 1993).

Os macroinvertebrados apresentam uma série de vantagens sobre outros grupos habi-tantes dos sistemas aquáticos. Sua ubiqüida-de e diversidade de espécies garantem sua distribuição em praticamente todos os tipos de ambiente aquático e fornecem respostas específicas de acordo com os variados tipos de impacto produzidos nos corpos d’água. Por outro lado, a diversidade em ambientes neotropicais e a falta de conhecimento ta-xonômico da maioria dos grupos de insetos aquáticos dificultam o desenvolvimento dos estudos de biomonitoramento.

As comunidades de macroinvertebra-dos apresentam organismos geralmente se-dentários e com ciclo de vida relativamente longo, o que representa uma vantagem so-bre outros grupos, como os peixes, que po-

dem fugir das zonas poluídas em direção às cabeceiras ou afluentes não poluídos. Reu-nindo todas essas características, a sua uti-lização em monitoramento da qualidade da água exprime uma figura sempre utilizada na literatura: o monitoramento físico-químico representa um momento do corpo d’água, como uma fotografia, e o monitoramen-to biológico representa um filme, onde fica registrada a história do corpo d’água. Esses organismos sofrem o impacto de descargas poluidoras eventuais e seus efeitos alteram as comunidades de macroinvertebrados, o que pode ser detectado pelos pesquisado-res, mesmo algum tempo depois.

Resh (1995) listou vantagens e desvan-tagens da utilização de macroinvertebrados para monitoramento biológico. Uma das van-tagens é que a taxonomia de muitos grupos já é bem conhecida e chaves de classificação estão disponíveis, o que representa a realida-de em países da Europa e nos Estados Unidos, mas não na região sul-americana, onde é ne-cessário o desenvolvimento da taxonomia básica e da elaboração de chaves de identifi-cação. A metodologia de coleta, análise e tra-tamento dos dados já está bem estabelecida e é de fácil adaptação, mas a composição da fauna do hemisfério norte é extremamente diferente da América do Sul.

A utilização das ordens Trichoptera, Ple-coptera e Ephemeroptera em biomonitora-mento pode ser considerada como um gran-de passo para o desenvolvimento das técnicas relativas à bioindicação de qualidade de água (PAPROCKI, 2003), devido à sua grande diver-sidade e alta sensibilidade ao aumento dos te-ores de poluição orgânica. Resh (1992) avalia vários sistemas de pontuação dos grupos de macroinvertebrados. Os Trichoptera recebem, em diversas regiões do mundo, a denomina-ção de intolerantes a moderadamente tole-rantes à poluição orgânica, de acordo com o taxa estudado.

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A qualidade de água e as comunidades de macroinvertebrados aquáticos da Estação Ecológica do Tripuí

Bios. Belo Horizonte, v. 13, n. 13, p. 43-58, dez. 2005 45

Muitos dos sistemas de pontuação utili-zam nível de família ou gênero em sua avalia-ção, mas a resposta é mais precisa quando se identifica a espécie. Para isso, a taxonomia deve ser bem conhecida e estudada, assim como as associações entre as larvas e os adultos das espécies. O objetivo deste trabalho é a iden-tificação das espécies de macroinvertebrados bentônicos das microbacias do córrego Tripuí e rio Belchior e sua utilização, juntamente com parâmetros físicos e químicos, para avaliação da qualidade da água desses ambientes. Com isso, pode-se determinar uma metodologia consistente e barata para o constante monito-ramento da qualidade das águas da bacia, que consiste na elaboração de chaves de identifi-cação pictóricas e interativas de fácil utiliza-ção por membros treinados da comunidade. Pode-se também desenvolver programas de monitoramento voluntário que, além de pro-duzirem dados interessantes, despertam a consciência do público para a importância da conservação dos recursos aquáticos.

MATEriAl E MéTodos

Área de estudoA Estação Ecológica Tripuí (E. E. T.), criada

em 1978 com o objetivo de proteger o habitat natural do Peripatus acacioi (MARCUS; MAR-CUS, 1955), possui uma área total de 337 hecta-res com altitudes variando entre 1.100 e 1.350 metros e se limita geologicamente, ao norte e nordeste, por rochas xistosas da Formação Sabará, e ao sul e sudeste por filitos grafitosos da Formação Barreiro. Os solos são desenvol-vidos sobre material litológico atribuído ao grupo Minas, constando essencialmente de xistos, filitos e, bem menos freqüentemente, influenciados por quartzitos. Ocorre em relevo muito movimentado (forte ondulado e mon-tanhoso), com declividades dominantes qua-se sempre superiores a 25%, atingindo muitas vezes mais de 45% (PEDRALLI et al., 1997). O clima da região, segundo Köeppen, é do tipo

Cwb temperado úmido, com inverno seco e verão quente e chuvoso, cujas médias anuais de precipitação variam de 1.450 a 1.800mm. As temperaturas médias anuais oscilam entre 14° e 19°C (FEAM, 1995). Os principais tipos vegetacionais encontrados na estação são as florestas mesófilas estacionais, o cerrado, a vegetação aquática (brejos, lagoa artificial e córregos) e formações sucessionais em vários estágios (PEDRALLI et al., 1997).

Caracterização dos pontos de amostragem

Os pontos de amostragem (TAB. 1) situ-am-se na bacia do córrego Tripuí em regiões distintas, com e sem influência antrópica. Um ponto fora da unidade (rio Belchior, ponto 6) foi monitorado biologicamente através da fauna de insetos aquáticos adultos como refe-rência de boa qualidade ambiental.

Ponto 1 - Córrego Botafogo - Venda Nova - Ponte antiga da Estrada real - Coorde-nadas geográficas: 20º 22.908’ S, 43º 33.615’ W

Ponto de amostragem localizado a mon-tante da microbacia local, no córrego Botafo-go, próximo ao limite noroeste da E. E. Tripuí. Principal afluente do córrego Tripuí, é carac-terizado por longo período de atividades antrópicas no passado (fim do século XVIII a meados do século XIX), devido à existência de ouro de aluvião na época e à proximidade de um trecho da Estrada Real que ligava Vila Rica a Diamantina. A tipologia vegetal predo-minante atualmente é a floresta estacional se-midecidual secundária em diversos estágios sucessionais, sendo marcante a presença de indivíduos centenários de pinheiro-do-Paraná (Araucaria angustifolia).

Ponto 2 - Córrego Tripuí – Apiário - Coordenadas geográficas: 20º 23.009’ S, 43º 33.237’ W

Área afetada por erosões nas margens do córrego Tripuí, causadas pelas “descargas” e inundações periódicas, devido ao escoamento

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Amarante, M. C.; Paprocki, H.

Bios. Belo Horizonte, v. 13, n. 13, p. 43-58, dez. 200546

rápido das águas pluviais, acentuadas pela to-pografia de entorno acidentada, e ao tipo de encaixamento do córrego. A vegetação local é bem distinta em cada margem, sendo a es-querda mais alterada por influência antrópica, com presença de um bambuzal (Bambuza sp.) e de árvores frutíferas remanescentes da an-tiga estação de fruticultura. Do lado direito, a

vegetação nativa secundária encontra-se em vários estágios de regeneração.

Ponto 3 - Córrego Tripuí - sob a ponte 1 da rFFsA (rede Ferroviária Federal socieda-de Anônima) - Coordenadas geográficas: 20º 23.250’ S, 43º 32.550’ W

Área onde se verte o efluente sólido da vila do Tripuí (atualmente cinco casas com

TABElA 1Coletas e pontos de amostragem para avaliação da qualidade da água

do córrego Tripuí e rio Belchior.

Data Corpo d’água Local Coordenadas31/1/98 Córrego Tripuí Apiário 20º 25.041’ S - 43º 25.633’ W

1/2/98 Córrego Botafogo Ponte da Estrada Real 20º 25.041’ S - 43º 25.633’ W

2/2/98 Rio Belchior Serra da Serrinha 20º 23.309’ S - 43º 32.622’ W

8/5/98 Rio Belchior Serra da Serrinha 20º 23.120’ S - 43º 32.440’ W

9/5/98 Rio Belchior Serra da Serrinha 20º 23.364’ S - 43º 32.541’ W

27/5/98 Córrego Tripuí 1ª ponte da RFFSA 20º 25.041’ S - 43º 25.633’ W

16/7/98 Nascente dos Fortes Represa 20º 22.923’ S - 43º 33.594’ W

27/7/98 Córrego Tripuí 2ª ponte da RFFSA 20º 23.364’ S - 43º 32.541’ W

28/7/98 Rio Belchior Serra da Serrinha 20º 25.041’ S - 43º 25.633’ W

29/7/98 Córrego Tripuí Apiário 20º 27.258’ S - 43º 24.094’ W

16/8/98 Córrego Tripuí 2º ponte RFFSA 20º 25.048’ S - 43º 25.737’ W

17/8/98 Rio Belchior Serra da Serrinha 20º 27.258’ S - 43º 24.094’ W

18/8/98 Córrego Mainarte Ponte da estrada do Cibrão 20º 23.364’ S - 43º 32.541’ W

19/9/98 Córrego Belchior Parque do Itacolomi 20º 23.364’ S - 43º 32.541’ W

19/9/98 Córrego Mainarte Ponte da estrada do Cibrão 20º 25.048’ S - 43º 25.737’ W

20/9/98 Córrego Tripuí 2ª ponte da RFFSA 20º 25.048’ S - 43º 25.737’ W

1/11/98 Córrego Tripuí 2ª ponte da RFFSA 20º 23.364’ S - 43º 32.541’ W

8/11/98 Rio Belchior Parque do Itacolomi 20º 25.048’ S - 43º 25.737’ W

20/11/98 Rio Belchior Parque do Itacolomi 20º 25.048’ S - 43º 25.737’ W

21/11/98 Córrego Tripuí 2ª Ponte da RFFSA. 20º 23.364’ S - 43º 32.541’ W

16/12/98 Córrego Botafogo Venda Nova 20º 22.908’ S - 43º 33.615’ W

17/12/98 Rio Belchior Parque do Itacolomi 20º 25.048’ S - 43º 25.737’ W

19/2/99 Córrego Tiririca Captação de água da RFFSA 20º 22.867’ S - 43º 32.849’ W

20/2/99 Rio Belchior Parque do Itacolomi 20º 25.048’ S - 43º 25.737’ W

21/2/99 Córrego Tripuí 2ª Ponte da RFFSA. 20º 23.364’ S - 43º 32.541’ W

19/3/99 Córrego Tripuí 2ª Ponte da RFFSA. 20º 23.364’ S - 43º 32.541’ W

20/3/99 Rio Belchior Parque do Itacolomi 20º 25.048’ S - 43º 25.737’ W

21/3/99 Córrego Tiririca Captação de água da RFFSA 20º 22.867’ S - 43º 32.849’ W

16/4/99 Rio Belchior Parque do Itacolomi 20º 25.048’ S - 43º 25.737’ W

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moradores). Caracteriza-se por um trecho es-praiado do córrego e mata ciliar com presença de invasoras como lírio-do-brejo (Hedichium coronarium) e algumas espécies de gramíne-as no estrato herbáceo. As coletas foram reali-zadas a montante da ponte da RFFSA.

Ponto 4 - Córrego Tripuí - jusante do efluente da vila - Coordenadas geográficas: 20º 23.364’ S, 43º 32.541 W

Área localizada a jusante da ponte 1 da RFFSA, caracterizada por afloramentos de quartzito e pelo estrangulamento do córre-go, que causa o aumento da profundidade do córrego, principalmente durante as chuvas, podendo atingir até 4m de altura, “lavando” as margens por curtos períodos.

Ponto 5 - lagoa dos Fortes - Estação Ecológica do Tripuí - Coordenadas geográfi-cas: 20º 23.120’ S, 43º 32.440 W

Trata-se de um açude artificial formado pela barragem de duas nascentes de primei-ra ordem, formando uma lagoa de aproxima-damente 0,5 ha de espelho d’água. Área com atividade humana bem marcante, pois é utili-zada para natação e pesca. A coleta de adultos

de insetos aquáticos nesse ponto foi realizada apenas uma vez, a título de caracterização.

Ponto 6 - Córrego Belchior – Parque do itacolomi - Coordenadas geográficas: 20º 25.048’ S, 43º 25.737’ W

Ponto bem preservado, localizado na di-visa do Parque Estadual do Itacolomi, na Serra da Serrinha, onde a floresta estacional encon-tra-se em avançado estágio de regeneração. Realizaram-se nesse ponto coletas de insetos aquáticos adultos e uso de parâmetros físico-químicos de qualidade de água como referên-cia de boa qualidade ambiental.

METodologiA

As amostragens biológicas e físico-químicas foram realizadas mensalmente na calha do leito do rio, quando a profundidade assim o permitia, ou nas margens dos cursos d’água, totalizando 29 coletas distribuídas em 16 meses (TAB. 1). Os parâmetros físico-quími-cos consistiram na análise da temperatura da água, pH, oxigênio dissolvido, turbidez, con-dutividade, demanda química de oxigênio, demanda bioquímica de oxigênio, nitrogênio

TABElA 2Determinação da classificação dos níveis de saprobidade da água em função dos parâmetros físico-

químicos da água.

Classes Grau de SaprobidadeTeor de carga orgânica

PARÂMETROS FÍSICO-QUÍMICOSO.D DBO5

(mg/ml)NH4 - N (mg/ml)

DQO (mg/ml)Déficit de

saturação (%)Supersatu-ração (%)

I Oligosapróbio (OS)Ausente até pouco

0 – 5 0 - 3 0,0 - 0,5 < 0,1 1 - < 3

I – IIOligo-betamesosapróbio (OS – BMS)

Pouco 5 – 15 3 - 10 0,5 - 2,0 0,1 3 -< 6

II Betamesosapróbio (Bms) Moderado 15 – 30 10 - 25 2,0 - 4,0 > 0,1 - <0,3 6 - < 10

II – IIIBeta-alfamesosapróbio (Bms - ams)

Crítico 30 – 50 25 - 50 4,0 - 7,0 >0,3 - <0,7 10 - < 19

III Alfamesosapróbio (ams) Forte 50 – 75 50 - 100 7,0 - 13,0 >0,7 - <3,0 19 - < 75

III – IVAlfamesopolisapróbio (ams - ps)

Fortíssimo 75 – 90 + 100 13,0 - 22,0 >3,0 - <9,0 > 75

IV Polisapróbio (ps) Excessivo + 90 - + 22,0 > 9,0Fontes: LAWA (1982); modif. HAMM. In: SHAFFER (1985); HUTTER (1984) modif.

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Amarante, M. C.; Paprocki, H.

Bios. Belo Horizonte, v. 13, n. 13, p. 43-58, dez. 200548

amoniacal, coliformes fecais e estreptococos fecais (TAB. 2 e 3). Essas coletas foram realiza-das seguindo os métodos descritos em Stan-dard methods for the examination of water and wastewater, 19th edition, 1995. A classificação do grau de saprobidade (TAB. 4) foi feita com base no sistema de sapróbios (HAMM, 1985).

As coletas para realização da amostra-gem físico-química e formas imaturas de in-setos aquáticos (qualitativas) foram realizadas simultaneamente. A fauna de insetos aquáti-cos adultos e parâmetros físico-químicos de qualidade de água foram amostrados em um ponto fora da unidade (rio Belchior, Ponto 6), como referência de boa qualidade de água.

As coletas de insetos adultos foram feitas com armadilhas luminosas e a mesma freqü-ência. As coletas, preservação, armazenamen-to e análise das amostras zoobentônicas foram realizadas segundo o Standard methods for the examination of water and wastewater, 19th edi-

tion, 1995. Foi utilizada uma rede de coleta do tipo surber de 3mm de poro e 0.10m² de área, com a qual foram amostradas três réplicas por ponto de amostragem. O material colhido foi acondicionado em sacos plásticos e preser-vado com formol (10%). Uma vez fixadas, as amostras seguiram para o laboratório, onde fo-ram submetidas a análise, que consistiu inicial-mente na tamisação com peneiras circulares Granutest, com abertura de malha de 1,0, 0,5 e 0,3mm para lavagem e separação dos orga-nismos. Todo o resíduo retido nas peneiras foi preservado em álcool 70% e levado ao estere-omicroscópio com aumento de dez a 40 vezes, conforme as necessidades de identificação. Foram utilizadas pranchas ilustrativas e chaves de identificação taxonômicas (PENNAK, 1978; FLINT, 1982; DOMINGUEZ et al., 1992; MERRITT; CUMMINS, 1996; WIGGINS, 1996).

Para as coletas de insetos adultos foi uti-lizada uma armadilha luminosa composta de

TABElA 3Parâmetros físico-químicos em 22 de março de 1999.

Parâmetros físico-químicos Unidades P-01 Venda Nova

P-02 Apiário

P-03 1ª ponte da RFFSA

P-04 2ª ponte da RFFSA

Temperatura da água ºC 19,7 21,2 19,5 21,0

pH (in loco) 5,82 7,60 7,31 7,60

Condutividade elétrica (in loco) µS 0,005 0.080 0.071 0,082

Oxigênio dissolvido Mg/l 8,94 10,31 7,24 9,93

Turbidez NTU 0 0 2 0

Grau de saprobidade OS OS-BMS OS OS-BMS

TABElA 4Parâmetros físico-químicos em 1 de março de 1998.

Parâmetros físico-químicos Unidades P-01

Venda NovaP02 Apiário

P03 1ª ponte da RFFSA

P-04 2ª ponte da RFFSA

P-06 Belchior

Temperatura da água ºC 17,9 19,9 17,6 19,5 21.5

PH (in loco) 6,62 7,70 7,50 7,65 7,3

Condutividade elétrica(in loco)

µS 0,004 0,82 0,027 0,050 0.005

Oxigênio dissolvido mg/l 11,05 10,12 10,25 9,80 10,9

Turbidez NTU 0 0 0 1 0

Grau de saprobidade OS OS-BMS OS OS-BMS OS

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duas lâmpadas, uma U.V. (ultravioleta) e uma fluorescente comum de 40 W. Foram utilizados um lençol branco, uma bateria de 12 volts, cor-das, pregadores, frascos mortíferos de cianeto de potássio e frascos com álcool 70%. O lençol foi fixado na corda por meio de pregadores, as lâmpadas dependuradas e conectadas à ba-teria. As coletas iniciaram-se ao entardecer. A sua duração variou de acordo com a atividade dos insetos, ou seja, com temperaturas mais baixas a atividade dos insetos cessa mais cedo e interrompe-se a coleta. A duração da coleta com armadilha luminosa variou entre duas e quatro horas. Os exemplares coletados foram identificados, espetados e acondicionados em caixas entomológicas.

rEsulTAdos E disCussãoQuanto às condições organolépticas da

água (TAB 2 e 3), a condutividade elétrica baixa reflete poucos sais dissolvidos. Nesse caso, os pontos 1 e 3 apresentam uma condutividade muito baixa, com característica semelhante à de água destilada. A condutividade aumenta gradativamente, de montante para jusante, em conseqüência do aporte de serrapilheira e do recebimento de contribuintes como o cór-rego Botafogo. Este, por sua vez, recebe influ-ência a montante do Hotel Estalagem das Mi-nas. Em condições de poucos sais, o que equi-vale a dizer poucos nutrientes no ambiente, mesmo sendo a água bastante pura, há uma menor diversidade de organismos, por falta de alimento. Nascentes com a mata ciliar mais preservada contribuem para a alimentação de organismos fragmentadores e raspadores, subsidiando os predadores e coletores.

Foram identificadas 91 espécies pertencen-tes à ordem Trichoptera, 39 no córrego do Tripuí e 68 no rio Belchior (TAB. 5). Dessas 91 espécies, 35 são novas à ciência. O Brasil conta atualmen-te com 378 espécies registradas e o Estado de Minas Gerais com 101 espécies (PAPROCKI et al., 2004). Foram também identificadas quatro es-pécies da ordem Plecoptera (TAB. 6).

TABElA 5Lista de ocorrência de espécies de Trichoptera adultos no córrego do Tripuí e no rio Belchior.

Espécie rio Belchior

rio Tripuí

Anchitrichia duplifurcata x xAtopsyche sp. xAustrotinodes sp. xAustrotinodes n. sp. 1 xAustrotinodes n. sp. 2 x xAustrotinodes sp. xBarypenthus concolor x xCentromacronema obscurum xCernotina sp. xCernotina n. sp. 4 xChimarra sp. xChimarra camposae xChimarra froehlichi xChimarra heligma xChimarra n. sp. 2 xChimarra sp. xChimarra teresae xCochliopsyche sp. xContulma n. sp. 1 xDolophilodes n. sp. 6 xGrumichella aequiunguis xGrumichella n. sp. 1 xGrumichella rostrata xGrumichella sp. xHelicopsyche sp. x xHydroptila n. sp. 1 xLeptonema sparsum xLeptonema sp. xLeptonema viridianum x xMacronema sp. 5 xMacronema sp. 9 xMarilia minor xMarilia lateralis xMarilia sp. 2 xMarilia sp. xMetrichia n. sp. 2 x xMetrichia n. sp. 3 xMexitrichia sp. x xMexitrichia n. sp. 6 xMortoniella n. sp. 2 xNectopsyche n. sp. 1 xNectopsyche n. sp. 10 x xNectopsyche n. sp. 12 xNectopsyche n. sp. 16 x

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Espécie rio Belchior

rio Tripuí

Nectopsyche n. sp. 17 xNectopsyche n. sp. 2 x xNectopsyche n. sp. 35 xNectopsyche n. sp. 38 xNectopsyche n. sp. 5 xNectopsyche n. sp. 7 xNectopsyche separata x xNotalina sp. xNothotrichia n. sp. 1 xNyctiophylax neotropicalis xNyctiophylax sp. xOecetis (oecetis) sp. x xOecetis n. sp. 1 xOecetis sp. xOxyethira sp. xOxyethira n. sp. 10 xOxyethira n. sp. 11 xOxyethira n. sp. 12 xOxyethira n. sp. 13 xOxyethira n. sp. 14 xOxyethira n. sp. 15 xOxyethira n. sp. 3 x xOxyethira n. sp. 4 xOxyethira n. sp. 8 xOxyethira parce x xOxyethira sp. xOxyethira tica x xOxyethira zilaba xPolycentropus sp. xPolycentropus n. sp. 18 xPolycentropus n. sp. 19 xPolyplectropus n. sp. 11 xPolyplectropus n. sp. 7 xPolyplectropus sp. xRhyacopsyche n. sp. 1 xSmicridea sp. xSmicridea coronata xSmicridea n. sp. 1 x xSmicridea n. sp. 19 xSmicridea piraya x xSmicridea radula xSmicridea sp. xTriplectides gracilis x xTriplectides neotropicus x

TABElA 6Lista de famílias, gêneros e espécies de Trichopte-ra e Plecoptera adultos, coletados com armadilha

luminosa na Estação Ecológica do Tripuí.

tRIcHoPteRA

Hydropsychidae

Centromacronema obscurum

Macronema sp.

Leptonema viridianum

Leptonema sparsum

Macronema sp. 5

Macronema sp. 9

Smicridea coronata

Smicridea n. sp. 1

Smicridea n. sp. 19

Smicridea piraya

Smicridea radula

Smicridea sp.

leptoceridae

Oecetis sp.

Triplectides gracilis

Triplectides neotropicus

Nectopsyche n. sp. 2

Nyctiophylax neotropicalis

Oecetis (Oecetis) sp.

Oecetis (Oecetis) n. sp. 1

Grumichella aequiunguis

Grumichella n. sp. 1

Grumichella rostrata

Grumichella sp.

Nectopsyche n. sp. 1

Nectopsyche n. sp. 10

Nectopsyche n. sp. 2

Nectopsyche n. sp. 5

Nectopsyche n. sp. 7

Nectopsyche n. sp. 10

Nectopsyche n. sp. 12

Nectopsyche n. sp. 16

Nectopsyche n. sp. 17

Nectopsyche n. sp. 35

Nectopsyche n. sp. 38

Nectopsyche separata

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Notalina sp.

Philopotamidae

Chimarra sp.

Chimarra camposae

Chimarra n. sp. 2

Chimarra froehlichi

Chimarra heligma

Chimarra teresae

Dolophilodes n. sp.

Polyplectropus n. sp. 7

Polyplectropus n. sp. 11

Polycentropus n. sp. 18

Anomalopsychidae

Contulma n. sp. 1

Polycentropodidae

Polycentropus sp.

Polycentropus n. sp. 18

Polycentropus n. sp. 19

Polyplectropus n. sp. 7

Polyplectropus n. sp. 11

Cernotina n. sp. 4

Hydroptilidae

Anchitrichia duplifurcata

Metrichia n. sp. 2

Metrichia n. sp. 3

Mexitrichia n. sp. 6

Hydroptila n. sp. 1

Oxyethira n. sp. 3

Oxyethira n. sp. 4

Oxyethira n. sp. 8

Oxyethira n. sp. 10

Oxyethira n. sp. 11

Oxyethira n. sp. 12

Oxyethira n. sp. 13

Oxyethira n. sp. 14

Oxyethira n. sp. 15

Oxyethira parce

Oxyethira tica

Oxyethira zilaba

Hydrobiosidae

Atopsyche sp.

glossosomatidae

Mortoniella n. sp.

Nothotrichia n. sp.

Rhyacopsyche n. sp. 1

odontoceridae

Marilia n. sp. 2

Barypenthus concolor

Marilia minor

Marilia lateralis

Helicopsychidae

Helicopsyche sp.

Cochliopsyche sp.

Calamoceratidae

Phylloicos sp.

Ecnomidae

Austrotinodes n. sp. 1

Austrotinodes n. sp. 2

PLecoPteRA

Perlidae

Kempnyia obtusa

Anacroneuria sp.

gripopterygidae

Tupiperla gracilis

Tupiperla tecelata

A utilização de organismos zoobentô-nicos como bioindicadores de ambientes lóti-cos apresenta muitas vantagens. Esses orga-nismos refletem com maior precisão as condi-ções de qualidade da água de trechos do rio, pelo fato de viverem aderidos a substratos ou mesmo sob pedras no fundo e terem um ciclo de vida relativamente grande. São também de fácil visualização, mesmo a olho nu.

O córrego Tripuí é de primeira ordem, tendo como principal afluente o córrego Bo-tafogo. Essa microbacia caracteriza-se por ser muito encaixada, ou seja, delimitada por margens altas. Com isso, o córrego Tripuí sobe aproximadamente quatro metros em uma hora de chuva forte no verão. Essas cheias re-pentinas lavam o leito do rio, provocando o carreamento de material e da fauna zooben-tônica.

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Foram encontradas larvas de quatro filos, Arthropoda, Annelida, Nematoda e Platelmin-tes. Do filo Arthropoda havia 32 famílias, das quais 29 pertencem à classe Insecta. Apenas organismos das classes Ephemeroptera, Ple-coptera e Trichoptera foram identificados em nível genérico, perfazendo um total de 18 gê-neros (TAB. 7). Entre os adultos coletados em armadilha luminosa, foram encontradas 11 fa-mílias, nove das ordens Trichoptera e duas de Plecoptera. Dessas duas famílias, foram identi-ficados 20 gêneros, sendo quatro de Plecopte-ra e 16 de Trichoptera (TAB. 7).

TABElA 7Lista de táxons de formas imaturas de macroin-vertebrados aquáticos, encontrados nas amos-

tragens com rede surber na Estação Ecológica de Tripuí nos anos de 1998 e 1999

ePHemeRoPteRAleptohyphidaeLeptohyphes sp.BaetidaeBaetodes sp.Camelobaetidius sp.Acerpenna sp.leptophlebiidaetRIcHoPteRAHydropsychidaeLeptonema sp.Smicridea sp.HydroptilidaeLeuchotrichia sp.Hydroptila sp.Oxyethira sp.Ochrotrichia sp.odontoceridaeMarilia sp.HydrobiosidaeAtopsyche sp.HelicopsychidaeHelicopsyche sp.CalamoceratidaePhylloicos sp.glossosomatidae PhilopotamidaeChimarra sp.

DIPteRAChironomidaeTipulidaesimulidaeEmpididaeThaumaleidaeCeratopogonidaeTabanidaedixidaePLecoPteRAPerlidaeAnacroneuria sp.gripopterygidaeTupiperla gracilismeGALoPteRACorydalidaeCorydalus sp.HemIPteRAVeliidaeMesoveliidaeLePIDoPteRAPyralidaeoDoNAtAlibellulidaegomphidaeCoenagrionidaecoLeoPteRAElmidaelampyridaedytiscidaestaphylinidaePsephenidaetuRbeLARIAoLIGocHAetANemAtoDA

Quanto ao índice biológico BMWP (TAB. 8 a 12), pode-se inferir que o ponto de melhor qualidade de água foi o ponto 1, em janeiro e fevereiro de 1999, com uma pontuação de 137 e 114, respectivamente (TAB. 9 e 10). Em seguida, o ponto 4, em abril de 1999, com uma pontuação de 113. Os piores resultados foram obtidos nos pontos 3 e 4, com pontu-ação de 63 e 65, em março e janeiro de 1999, respectivamente (TAB. 9 e 11). Esses resulta-dos devem estar mais relacionados com as enchentes ocorridas, que dizimam a fauna

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aquática local, cuja recomposição leva algum tempo. Isso pode ser confirmado pela alta pontuação dos pontos 3 e 4 nos outros meses. Em média, o melhor ambiente foi o ponto 1, por apresentar uma mata ciliar preservada e pouca ou nenhuma influência a montante. Já o ponto 2 foi o que teve menor qualidade e diversidade, mas é também o que sofre maior influência antrópica do Hotel Estalagem das Minas. Além disso, a ausência da vegetação nativa intensifica a erosão e, conseqüente-mente, o assoreamento dos corpos d’água. Nesse ponto os parâmetros físico-químicos indicaram águas com grau de saprobidade oligo-betamesosapróbio, corroborando em parte os resultados do BMWP. Em parte por-que oligo-betamesosapróbio significa pouca carga orgânica e, muitas vezes, um pouco de carga orgânica pode aumentar a produtivida-de e, conseqüentemente, a riqueza.

TABElA 8Ocorrência das famílias de macroinvertebrados

aquáticos nos pontos amostrados e resultado do índice biótico BMWP no mês de dezembro de

1998.

Ponto 1

Ponto 2

Ponto 3

Ponto 4

EPHEMEroPTErALeptohyphidae x x x x

Baetidae x x x x

Leptophlebiidae x x

TriCHoPTErAHydropsychidae x x x x

Hydroptilidae x x x

Hydrobiosidae x

Helicopsychidae

Glossosomatidae x x x

Philopotamidae x x x

ColEoPTErAElmidae x x x x

diPTErAChironomidae x x x x

Tipulidae x x x

Simulidae x x x x

Ponto 1

Ponto 2

Ponto 3

Ponto 4

Empididae x x x x

Thaumaleidae

Ceratopogonidae x x

Tabanidae x

Dixidae x

PlECoPTErAPerlidae x x x x

Gripopterygidae x x x x

MEgAloPTErACorydalidae x x

HEMiPTErAVeliidae x

lEPidoPTErAPyralidae

odoNATALibellulidae x x

Calopterygidae x

Coenagrionidae

TurBElAriA x

oligoCHAETA x x

BMWP 114 64 82 101riqueza 19 12 15 18

TABElA 9Ocorrência das famílias de macroinvertebrados

aquáticos nos pontos amostrados e resultado do índice biótico BMWP no mês de janeiro de 1999.

Ponto 1

Ponto 2

Ponto 3

Ponto 4

EPHEMEroPTErALeptohyphidae x x x

Baetidae x x x x

Leptophlebiidae x x

TriCHoPTErAHydropsychidae x x x x

Hydroptilidae x x x

Glossosomatidae x x

Philopotamidae x x x

ColEoPTErAElmidae x x x x

Psephenidade x

diPTErAChironomidae x x x x

Tipulidae x x

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Ponto 1

Ponto 2

Ponto 3

Ponto 4

Simulidae x x x x

Empididae x

Thaumaleidae

Tabanidae x x

PlECoPTErAPerlidae x x x x

Gripopterygidae x x x x

MEgAloPTErACorydalidae x x

HEMiPTErAVeliidae x x x

lEPidoPTErAPyralidae x

odoNATALibellulidae x x

Gomphidae x

Coenagrionidae x

oligoCHAETA x

NEMATodA x x

BMWP 104 79 93 65riqueza 18 14 16 12

TABElA 10Ocorrência das famílias de macroinvertebrados

aquáticos nos pontos amostrados e resultado do índice biótico BMWP no mês de fevereiro de 1999.

Ponto 1

Ponto 2

Ponto 3

Ponto 4

EPHEMEroPTErALeptohyphidae x x x x

Baetidae x x x x

Leptophlebiidae x x

TriCHoPTErAHydropsychidae x x x x

Hydroptilidae x x x x

Hydrobiosidae x

Helicopsychidae x x

Glossosomatidae x x x x

Calamoceratidae x

Philopotamidae x x x

ColEoPTErAElmidae x x x x

Psephenidae x

diPTErA

Ponto 1

Ponto 2

Ponto 3

Ponto 4

Chironomidae x x x x

Tipulidae x x x x

Simulidae x x x x

Empididae x x

Ceratopogonidae x x

Tabanidae x x

PlECoPTErAPerlidae x x x x

Gripopterygidae x x x x

MEgAloPTErACorydalidae x x x

HEMiPTErAVeliidae x x x

Mesoveliidae x x

odoNATALibellulidae x x

Calopterygidae x

Coenagrionidae x

oligoCHAETA x x

NEMATodA x

BMWP 137 111 86 109riqueza 23 19 15 21

TABElA 11Ocorrência das famílias de macroinvertebrados

aquáticos nos pontos amostrados e resultado do índice biótico BMWP no mês de março de 1999.

Ponto 1

Ponto 2

Ponto 3

Ponto 4

EPHEMEroPTErALeptohyphidae x x x

Baetidae x x x x

Leptophlebiidae x

TriCHoPTErAHydropsychidae x x x x

Hydroptilidae x x

Glossosomatidae x x x x

Calamoceratidae x x

Philopotamidae x

ColEoPTErAElmidae x x x x

Psephenidae x

diPTErAChironomidae x x x x

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Ponto 1

Ponto 2

Ponto 3

Ponto 4

Tipulidae x x x

Simulidae x x x

Empididae x

Thaumaleidae x

Ceratopogonidae x

Tabanidae x

PlECoPTErAPerlidae x x x x

Gripopterygidae x x x

MEgAloPTErACorydalidae x

HEMiPTErAVeliidae x

odoNATALibellulidae x

Gomphidae x

Calopterygidae x x x

oligoCHAETA x x x

BMWP 86 80 63 66riqueza 16 15 11 12

TABElA 12Ocorrência das famílias de macroinvertebrados

aquáticos nos pontos amostrados e resultado do índice biótico BMWP no mês de abril de 1999

Ponto 1

Ponto 2

Ponto 3

Ponto 4

EPHEMEroPTErALeptohyphidae x x x x

Baetidae x x x x

Leptophlebiidae x x x

TriCHoPTErAHydropsychidae x x x x

Hydroptilidae x x x x

Helicopsychidae x

Odontoceridae x

Glossosomatidae x

Philopotamidae x x

ColEoPTErAElmidae x x x x

Staphylinidae x

Psephenidae x

diPTErAChironomidae x x x x

Ponto 1

Ponto 2

Ponto 3

Ponto 4

Tipulidae x x x x

Simulidae x x x

Empididae x x

Ceratopogonidae x x x

PlECoPTErAPerlidae x x x x

Gripopterygidae x x x x

MEgAloPTErACorydalidae x x

HEMiPTErAVeliidae x

Mesoveliidae x x

odoNATALibellulidae x x x x

Coenagrionidae x x x

oligoCHAETA x x

BMWP 95 86 111 113riqueza 15 16 18 19

As atividades antrópicas na microbacia do córrego Tripuí remontam à segunda meta-de do século XVIII, quando foi encontrado o ouro preto (paladiado), explorado até meados do século XIX. Nos dias atuais, a interferência ocorre devido ao referido hotel, moradores da reserva e pelo esgoto doméstico de cinco casas da vila do Tripuí. Esse esgoto é jogado in natura, entre os pontos de coleta 3 e 4, au-mentando a matéria orgânica à jusante e apre-sentando uma elevação de coliformes fecais e estreptococos fecais. A construção de uma estação de tratamento de esgoto já foi previs-ta no plano de manejo da unidade como ação emergencial (FEAM, 1995). Seu projeto está pronto, aguardando recursos.

A microbacia do córrego Tripuí ficou ca-racterizada como oligosapróbio e em alguns pontos oligo-betamesosapróbio, ou seja, com o teor de carga orgânica de ausente até pouco. Esse aumento do teor de carga orgânica altera a condutividade, o pH e a turbidez (TAB. 2 e 3). A microbacia do córrego Tripuí foi caracteriza-da (FIG. 1) através de um mapa indicativo das

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variações das qualidades de água encontra-das em sua calha e em seus afluentes, duran-te o período de estudo. Todos os parâmetros analisados estiveram em consonância com os padrões estabelecidos pela resolução Cona-ma 010/86.

coNcLusão

As águas da microbacia do córrego Tri-puí apresentam boa qualidade em relação aos parâmetros físico-químicos e biológicos, variando entre oligosapróbio a oligobetame-sosapróbio, ou seja, a carga orgânica varia de ausente a pouca. Os resultados do BMWP cor-roboram essa tendência, variando apenas em poucas ocasiões. Notou-se também que um pequeno aporte de carga orgânica pode levar ao aumento da produtividade e, conseqüen-temente, da diversidade, desde que o aporte de carga orgânica não atinja níveis onde fato-res limitantes, como o oxigênio dissolvido e material em suspensão, sejam prejudiciais aos organismos.

Uma vez conhecida a fauna bentônica e testada a utilização do índice BMWP adapta-do, criam-se condições para a implementação de um sistema eficiente e barato de monito-ramento da qualidade da água da bacia. Esse monitoramento deve ser incorporado ao plano de manejo da reserva. A continuidade das pes-quisas sobre qualidade da água contribui para a conservação da biodiversidade. Um mapa de qualidade de água (FIG. 1) é apresentado.

AgrAdECiMENTos

Somos gratos à coordenadoria de pro-teção à vida silvestre do Instituto Estadual de Florestas (IEF-MG) pela emissão das autoriza-ções de coleta nos parques do Estado. Agra-decemos também a Roger Blahnik e Ralph Holzenthal, pela identificação dos insetos da ordem Trichoptera. Ao Fundo Nacional do Meio Ambiente (FNMA), pelo financiamento. Aos que colaboraram nas coletas, Margarete

Ramez Safar, Virgínia Mendes Braga, José Bos-co Isaac Junior, Alberto Vieira de Melo Matos e, principalmente, a Aristides Salgado Guima-rães Neto. Também agradecemos as valorosas observações e contribuições dos revisores anônimos.

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Figura 1 - Mapa de avaliação da qualidade da água do Córrego Tripuí.

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Hábitos alimentares da Corvina plagioscion squamosissimus (Perciformes, Sciaenidae) em dois reservatórios do sudeste

do Brasil1

Feeding habits of Corvina plagioscion squamosissimus (Perciformes, Sciaenidae) in two reservoirs in southeastern Brazil

André CorrêA CostA (mestrAndo)GilmAr BAstos sAntos (orientAdor)

ReSumo

neste trabalho descreveu–se a ecologia trófica da corvina Plagioscion squamosissimus em dois reservatórios do rio Grande (mG/sP), marimbondo e Porto Colômbia, bem como diferenças na morfologia trófica entre jovens e adultos dessa espécie. As amostragens foram realizadas entre fevereiro e novembro de 2004, em quatro coletas trimestrais, utilizando-se redes de emalhar, com diferentes tamanhos de malha. os exemplares de P. squamosissimus coletados foram separados em jovens e adultos, de acordo com a primeira maturação sexual. A morfologia trófica de jovens e adultos mostrou diferenças principalmente na disposição e aumento de dentes e no primeiro arco branquial. Foram analisados 176 estômagos no reservatório de marimbondo e 254 em Porto Colômbia, sendo os itens alimentares mais consumidos, entre os jovens: microcrustáceo (Cladocera e Copepoda), inseto (principalmente odonata e diptera), crustáceo (Macrobrachium sp.), vegetal (macrófitas aquáticas e parte de vegetais superiores) e o item peixe na fase adulta. o item detrito/sedimento apareceu apenas em dois estômagos, podendo ser considerado acidental. Foram observadas variações no consumo desses itens entre as estações (seca e chuva). A espécie se alimentou de presas (peixes) de pequeno porte, que não ultrapassou 4cm de média, não ocorrendo correlação entre o tamanho do predador e da presa. os dados obtidos permitem concluir que P. squamosissimus, nos reservatórios amostrados, apresentou um hábito alimentar insetívoro-piscívoro, com uma evidente ontogenia trófica, canibalismo presente e comportamento oportunista.

Palavras-chave: Alimentação; ecologia trófica; rio Grande.

ABStRAct

the aims of this study were to describe the feeding habits of the corvine Plagioscion squamosissimus in two reservoirs of Grande river (minas Gerais and são Paulo states), marimbondo and Porto Colômbia, and to detect differences in the trophic morphology among juveniles and adults. From February to november 2004, 4 samplings were made quarterly by means of gillnets with several mesh sizes. Collected samples of P. squamosissimus were separated into juveniles and adults, according to the first sexual maturation. ontogenetic fish stages were determined through the first sexual maturation length. the trophic morphology of juveniles and adults showed differences mainly in teeth arrangement and increment, as well as in the first branchial arch arrangement. one hundred and seventy-six stomachs were analyzed in the marimbondo reservoir, and 254 in Porto Colômbia. the main food items eaten by juveniles were micro-crustaceans (Cladocera and Copepoda), insects (mainly odonata and diptera), crustaceans (Macrobrachium sp.) and plant material (aquatic macrophytes and terrestrial plants). For adult specimens, fish was the predominant item. detritus/sediment was detected in two stomachs only, being considered an accidental item. Variations in the ingestion of those items between dry and wet seasons were also observed. the species fed on small prey that never reached more than 4cm, there being no relation

1. CostA, A. C. Hábitos alimentares da Corvina plagioscion squamosissimus (Perciformes, Sciaenidae) em dois reservatórios do sudeste do Brasil. dissertação (mestrado em Zoologia de Vertebrados). Pontifícia Universidade Católica de minas Gerais, Belo Horizonte, 2005.

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between the predator’s and the prey’s size. results allow us to conclude that P. squamosissimus shows an insectivorous-piscivorous feeding habit with a strong trophic ontogeny, cannibalism and an opportunistic feeding behavior in the sampled reservoirs.

Key words: Food; trophic ecology; Grande river.

Aspectos ecomorfológicos indicadores de modalidades locomotoras e estratégias forrageadoras de xenartros

Phyllophaga Owen, 1842 e Vermilingua (Illiger, 1811) atuais e fósseis intertropicais brasileiros (Xenarthra; Pilosa)2

Ecomorphological aspects indicating locomotion systems and foraging strategies of living xenartrans Phyllophaga Owen, 1842 and Vermilingua

(Illiger, 1811) and Brazilian intertropical fossils (Xenarthra; Pilosa

BrUno mACHAdo KrAemer (mestrAndo)roBert YoUnG (orientAdor)

ReSumo

As várias modalidades de locomoção de grupos mamalianos não voadores são o resultado de sua capacidade em adaptar-se em face das forças seletivas. Uma análise mais profunda da variação anatômica dos membros locomotores de mamíferos xenartros recentes e fósseis permite que se faça uma distinção mais acurada dessas classes locomotoras principais. Comparando-se as preguiças terrícolas (extintas) com as arborícolas (viventes) e tamanduás (viventes), as primeiras apresentam morfologia osteológica, em sua estrutura geral, com claras afinidades com as preguiças e tamanduás, assemelhando-se crânio, mandíbula e dentes, assim como escápula, aos das preguiças viventes e a coluna vertebral e membros locomotores aos dos tamanduás. o objetivo principal deste estudo é analisar os aspectos ecomorfológicos de 12 espécies de xenartros, cinco extintas e sete viventes, pertencentes ao grupo dos Pilosa (preguiças e tamanduás), com o intuito de identificar modalidades locomotoras preponderantes em cada espécie, assim como estratégias de forrageamento correlacionadas às especializações locomotoras desenvolvidas. os índices morfométricos aqui utilizados foram sete, a saber: índice de flexibilidade do cotovelo (smi), índice de braquialidade (Bi), índice de capacidade semifossorial (iFA), índice de robustez do fêmur (Fri), índice de robustez da perna (lri), índice de cursorialidade (Ci) e índice de proporção intermembral (imi). As análises discriminantes resultantes mostraram que os índices smi, lri e iFA perfazem 96,6% da significância amostral, apresentando smi como o índice de maior expressividade, com 65,8%. Foram identificados três agrupamentos de especializações locomotoras, apresentando maiores valores em investimento de força nos membros torácicos as preguiças terrícolas, seguidas por tamanduás e preguiças arborícolas. os maiores valores de robustez nos membros pélvicos concentraram-se nos tamanduás, seguidos por Eremotherium, preguiças terrícolas de médio porte e preguiças arborícolas. essa diversidade mastofaunística no bioma do

2. KrAemer, B. m. Aspectos ecomorfológicos indicadores de modalidades locomotoras e estratégias forrageadoras de xe-nartros Phyllophaga owen, 1842 e Vermilingua Illiger, 1811 atuais e fósseis intertropicais brasileiros (Xenarthra; Pi-losa). dissertação (mestrado em Zoologia de Vertebrados). Pontifícia Universidade Católica de minas Gerais, Belo Horizonte, 2005.

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cerrado pleistocênico pode ser percebida quando comparadas as modalidades locomotoras das diversas espécies em conjunto com sua morfologia craniana e dentária, identificando-se espécies generalistas e especialistas altamente adaptadas a esse bioma.

Palavras-chave: Phyllophaga; Vermilingua; ecomorfologia; Paleobiomecânica; Paleobiologia.

ABStRAct

the various locomotion systems of non-volant mammals are the result of evolutionary selective forces. An in-depth analysis of the anatomic variation in locomotor limbs of extant and extinct xenartrans allows a more accurate distinction of their main locomotor classes. A comparison of ground sloths (extinct) with arboreal sloth species (extant) and anteaters (extant) shows that ground sloths possess a skeleton, whose structure has clear affinities with living sloths and anteaters both in terms of cranial and post-cranial bones. the main objective of this study was to analyze ecomorphological aspects of 12 species of xenartrans (five extinct and seven extant) belonging to the group of Pilosa (sloths and anteaters), trying to identify locomotor modalities in each species, and thus foraging strategies related to their locomotor adaptations. the seven used morphometric indices were: flexibility of the elbow (smi); brachial ability (Bi); semi-fossorial ability (iFA); robustness of the femur (Fri); robustness of the leg (lri); crural ability (Ci); and intermembral proportion (imi). these indices were analyzed with both discriminant and cluster analysis using post-cranial material of those species to identify which indices were causing the greatest variation between species, as well as to group extinct and living species in terms of their locomotor systems. results showed that the smi, lri and iFA indices account for 96.6% of the variation between the analyzed species and, therefore, are the most important factors in species separation on an ecomorphological-locomotor level. the smi index alone accounted for 65.8% of the variation. Visual inspection of the discriminant analysis showed the presence of three distinct groupings of species, which were separated by thoracic member strength into ground sloths, anteaters and, lastly, arboreal sloths. the greatest values for pelvic limb robustness were found in the anteaters, followed by the Eremotherium, medium-size ground sloths and, finally, arboreal sloths. in conclusion, the large number of xenartrans living sympatrically in the Cerrado biome at the end of the Pleistocene can be explained by their locomotor separation, and consequently, ecological separation (i.e., avoidance of niche competition through different foraging strategies).

Key words: Phyllophaga; Vermilingua; ecomorphological; Functional Anatomy; Paleobiology.

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embriogênese e ontogênese larval de três espécies de peixes erythrinidae da bacia do rio São Francisco3

Larval embryogenesis and ontogenesis of three species of Erythrinidae fish of the São Francisco river bay

BrUno VilAçA CAmPos Gomes (mestrAndo)nilo BAZZoli (orientAdor)

ReSumo

estudos de ovos e larvas são relevantes para o conhecimento global da biologia e da sistemática de peixes, principalmente em seus aspectos relacionados à variação ontogênica, morfologia, alimentação, comportamento e mortalidade. Com o objetivo de comparar os desenvolvimentos embrionário e larval de três espécies de erythrinidae da bacia do são Francisco, exemplares de jejú, Hoplerythrinus unitaeniatus, de traíra Hoplias malabaricus e de trairão Hoplias lacerdae foram submetidos à reprodução induzida por hipofisação. A extrusão dos gametas ocorreu com 13h após a aplicação da última dose para H. malabaricus e H. lacerdae e com 16h para H. unitaeniatus à temperatura de 26°C. os ovos, após fertilização, foram mantidos em incubadoras à temperatura de 24°C. Para acompanhar o desenvolvimento embrionário, coletaram-se amostras de ovos das incubadoras de uma em uma hora até a eclosão, as quais foram analisadas sob microscópio estereoscópio. As larvas foram coletadas diariamente até a total reabsorção do saco vitelino, fixadas em solução de formalina neutra 10% para biometria e em líquido de Bouin para histologia. ovos de erythrinidae são esféricos, amarelos e adesivos. o tempo de desenvolvimento embrionário variou entre as espécies, 44h para H. unitaeniatus, 48h para H. malabaricus e 50h para H. lacerdae. larvas de jejú eclodiram com comprimento total de 4,20±0,28 mm, enquanto as de H. malabaricus e H. lacerdae eclodiram com 5,40±0,30 e 5,72±0,39 mm, respectivamente. larvas das três espécies apresentaram abertura da boca a partir do sexto dia pós-eclosão. em H. malabaricus e H. lacerdae a total reabsorção do saco vitelino ocorreu com 10 e 12 dias respectivamente, enquanto em H. unitaeniatus ela foi de nove dias. As características de ovos, embriogênese e a ontogênese larval das espécies do presente trabalho corroboram com outros estudos que mostram serem estas sedentárias e adaptadas à sobrevivência em ambientes com baixa concentração de oxigênio.

Palavras-chave: embriologia; ontogenia; teleostei; rio são Francisco.

ABStRAct

research into fish eggs and larvae is important to the global knowledge of general biology and fish systematics, mainly in what concerns ontogenic variation, morphology, feeding, behavior and mortality. With the purpose of comparing the embryonic and larval development of three species of erythrinidae fish of the são Francisco basin, jejús, Hoplerythrinus unitaeniatus and trahiras, Hoplias malabaricus and Hoplias lacerdae were induced to spawning through hypophysation. extrusion of gametes occurred 13h after the last dose in H. malabaricus and H. lacerdae, and 16h in H. unitaeniatus, at water temperature of 26°C. the eggs, after fertilization, were maintained in incubators at 24°C. to accompany the embryonic development, samples of fresh eggs were collected at 1-hour intervals until hatching, and were analyzed under stereoscope microscope. the larvae, collected at 24-hour intervals until the complete absorption of the yolk sac, were fixed in neutral formalin solution at 10% for biometry purposes and in Bouin’s fluid for histological analyses. eggs of erythrinidae are round, yellow and adhesive. the time of embryonic development was different among the species: 44h for H. unitaeniatus, 48h for H. malabaricus and 50h for

3. Gomes, B. V. C. embriogênese e ontogênese larval de três espécies de peixes erythrinidae da bacia do rio São Francisco. dissertação (mestrado em Zoologia de Vertebrados). Pontifícia Universidade Católica de minas Gerais, Belo Horizonte, 2005.

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Resumos

Bios. Belo Horizonte, v. 13, n. 13, p. 59-81, dez. 2005 65

H. lacerdae. larvae of jejú hatched with a total length of 4.20±0.28, while larvae of H. malabaricus and H. lacerdae hatched with 5.40±0.30 and 5.72±0.39, respectively. larvae of the three species showed mouth opening after the 6th day post-hatching. in H. malabaricus and H. lacerdae, the complete absorption of the yolk sac happened after 10 and 12 days, respectively, while in H. unitaeniatus it occurred on the 9th day. the features of eggs, embryonic and larval development of the species studied in this research confirm that they are sedentary and totally adapted to survival in environments with low oxygen content.

Key words: embriology; ontogeny; teleostei; são Francisco river.

teores de mercúrio total em Rhandia quelen (Quoy & Gaimard, 1824) e sua relação com os parâmetros físicos,

químicos e físico-químicos do rio Piracicaba em minas Gerais4

Total mercury concentrations in Rhandia quelen (Quoy & Gaimard, 1824) and their relation with physical, chemical and physical-chemical

parameters of Piracicaba river, State of Minas Gerais

CArolinA deCinA VieirA (mestrAndA)mAriA tereZA CAndido Pinto (orientAdorA)

ReSumo

o presente trabalho avalia a concentração de mercúrio total em tecido muscular de bagre Rhandia quelen e seu potencial risco para a saúde da população humana, que o consome. os peixes foram capturados em um trecho do curso médio do rio Piracicaba, tributário do rio doce, pela margem esquerda. As quantificações do mercúrio nos peixes e no sedimento foram feitas por espectrometria de absorção atômica analyst 100/ Perkin elmer acoplado a sistema de geração de vapor frio mHs-20. A contaminação do rio foi avaliada através de amostras de sedimento, coletadas em quatro pontos situados ao longo do trecho estudado, e sua dinâmica química foi inferida através dos teores de carbono orgânico do sedimento e das medidas de pH, oxigênio dissolvido, condutividade elétrica, temperatura, secchi e teores de sólidos totais e dissolvidos na água, capazes de determinarem as formas químicas do metal nos dois compartimentos do rio: coluna d’ água e sedimento. A correlação positiva dos sólidos dissolvidos e em suspensão na água com o mercúrio do sedimento nos pontos amostrais localizados na porção de menor vazão do rio (porção lêntica) indicou o escoamento superficial do solo como a principal via de contaminação do sistema e apontou esses locais como ideais para a acumulação de matéria orgânica e inorgânica lançada a jusante, assim como para a síntese das espécies químicas que são preferencialmente absorvidas pelos organismos da cadeia trófica, terminando por contaminar os peixes. A concentração do mercúrio nos peixes oscilou ao longo do ano amostral (janeiro a dezembro de 2001) entre valores não percebidos pelo método utilizado (<4,0 ng/g p.f.) no verão, aos maiores teores (123,8 ng/g p.f.) medidos na estação seca (maio). Ainda que tais valores estivessem abaixo do permitido pela legislação brasileira (500 ng/g p.f.) para consumo de pescado contaminado, para os sedimentos os valores foram elevados (0,02 - 0,16 mg/g Ps) e, ao se apresentarem acima do estabelecido pela organização mundial de saúde (0,1 mg/g Ps), confirmaram a contaminação do sistema pelo metal.

Palavras-chave: mercúrio; Cadeia trófica; Rhandia quelen; rio Piracicaba.

4. VieirA, C. d. teores de mercúrio total em Rhandia quelen (Quoy & Gaimard, 1824) e sua relação com os parâmetros físi-cos, químicos e físico-químicos do rio Piracicaba em minas Gerais. dissertação (mestrado em Zoologia de Vertebrados). Pontifícia Universidade Católica de minas Gerais, Belo Horizonte, 2005.

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Bios. Belo Horizonte, v. 13, n. 13, p. 59-81, dez. 200566

ABStRAct

this study evaluates total mercury concentrations in muscle tissue of Rhandia quelem and their potential risk for human health. the fish were captured in a segment of the medium course of Piracicaba river, a tributary of doce river, on the left margin. in that segment, the river presents two different physiographic characteristics: the lotic ones flow faster and are deeper, and the lentic ones present small depth and slower flow. the mercury quantification in fish and sediments was measured by atomic absorption spectrometry made by Analyst 100/Perkin-elmer equipment connected to mHs-20 cold vapor. the river contamination was evaluated through sediment samples, collected in four different sites along the studied course, and its chemical dynamics was inferred through organic carbon levels in the sediment and the pH measures, dissolved oxygen, conductivity, temperature, secchi and levels of suspended matter in the water, capable of determining the metal chemical transformation in both river compartments: water and sediment. the positive correlation between dissolved matter and suspended solids on the water with mercury from the sediment in the sample points located in the portion of slow river flow indicated that the soil superficial runoff was the main way for the system contamination. due to the natural barriers (meanderings) and artificial ones (Piracicaba dam) in the sampling points, the place is ideal to accumulate organic and inorganic matter thrown downstream, the same occurring for chemical species syntheses that are preferably absorbed by trophic web organisms, resulting in fish contamination. the total mercury levels in fish oscillated all sampling year long (January to december, 2001), presenting values not quantified by the used method (<4.0 ng/g ww) in the summer, and higher levels (123.8 ng/g ww) quantified in dry season (may). even if those values were below the ones recommended by Brazilian legislation (500 ng/g ww) for human consumption of contaminated fish, they were higher for the sediments (0.02-0,16 mg/g dw; range values) and, when they exceeded the limits established by the World Health organization (0.1 mg/g dw), they confirmed the system contamination by the metal.

Key words: mercury; trophic chain; Piracicaba river.

Quantificação de mercúrio em órgãos celomáticos de Geophagus brasiliensis (Quoy & Gaimard, 1842) e sua relação

com parâmetros abióticos do rio Piracicaba, minas Gerais5

mercury contamination in celomatic organs of Geophagus brasiliensis (Quoy & Gaimard, 1842) and its relation with abiotic parameters of

Piracicaba river, State of minas Gerais

dominGos sáVio PereirA (mestrAndo)mAriA tereZA CAndido Pinto (orientAdorA)

ReSumo

no presente estudo foram investigadas as contaminações por mercúrio total no sedimento e em órgãos da cavidade celomática de Geophagus brasiliensis capturados em um trecho de aproximadamente 20 km do rio Piracicaba, que passa pelo interior do município de rio Piracicaba, em minas Gerais, no período de janeiro a dezembro de 2001 e nos meses de maio e junho de 2004. Uma caracterização do rio foi feita através de medidas limnológicas, in situ, com aparelhos da marca digimed. os teores de mercúrio

5. PereirA, d. s. Quantificação de mercúrio em órgãos celomáticos de Geophagus brasiliensis (Quoy & Gaimard, 1842) e sua relação com parâmetros abióticos do rio Piracicaba, minas Gerais. dissertação (mestrado em Zoologia de Vertebrados). Pontifícia Universidade Católica de minas Gerais, Belo Horizonte, 2005.

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Resumos

Bios. Belo Horizonte, v. 13, n. 13, p. 59-81, dez. 2005 67

total no sedimento e nos peixes foram quantificados por espectrometria de absorção atômica, acoplada a sistema de geração de vapor frio. no segmento estudado, o rio foi pouco profundo e conteve águas ligeiramente aquecidas, levemente ácidas, bem oxigenadas, com baixos teores de sólidos totais suspensos e dissolvidos, além de baixos valores de condutividade elétrica. A relação dessas variáveis com os teores de carbono orgânico e mercúrio total do sedimento demonstrou condições favoráveis à metilação do metal e sua incorporação nos peixes, em especial no trecho lêntico do rio. no sedimento, os teores médios mensais de carbono orgânico variaram entre 5,53 (valor mínimo) e 7,31% P.s. (valor máximo), enquanto os de mercúrio total variaram de 0,04 a 0,11µg/g p.s., alguns deles situados acima do permitido pela organização mundial de saúde (1998; 0,10µg/g). nos órgãos e tecido adiposo da cavidade celomática dos espécimes de Geophagus brasiliensis capturados, os maiores valores de mercúrio ocorreram na estação seca (0,131µg/g p.s.; maio), sugerindo a influência da dieta na contaminação dos peixes, assim como o efeito diluidor da gordura acumulada na sua cavidade celomática, durante a estação chuvosa. todos os teores situaram-se abaixo do permitido pela legislação brasileira (1998), estabelecido em 0,5µg/g. o hepatopâncreas e os demais órgãos da cavidade celomática (baço, gônadas, ductos do sistema excretor, reprodutor e tecido adiposo = resto) revelaram uma relação direta entre as classes de tamanho dos peixes e os teores de mercúrio total. tal resultado indicou que a biomagnificação ocorreu nas classes de maior tamanho e, portanto, nos espécimes mais velhos. o tubo digestivo apresentou teores de mercúrio que não variaram significativamente com o aumento das classes de tamanho dos organismos, sugerindo ausência de biomagnificação nessa porção do sistema. tal resultado, associado à fisiologia do tubo digestivo, permitiu que se concluísse pela sua capacidade de absorção do metal.

Palavras-chave: mercúrio; Cadeia trófica; Geophagus brasiliensis; rio Piracicaba.

ABStRAct

this study investigated the total mercury contamination in the sediment and in celomatic organs of Geophagus brasiliensis captured in a 20-km stretch of the Piracicaba river, which crosses the city of Piracicaba, state of minas Gerais. specimens were captured from January to december, 2001, and in may and June, 2004. the river was characterized liminologically, in situ, with digimed instruments. the total mercury in the sediment and fish was quantified by cold-vapor atomic absorption spectrometry. in the studied stretch, the river was not very deep and the water was relatively warm, a little acid, well oxygenated, with low levels of suspended and dissolved matter, and low conductance. the relation between these variables and organic carbon and total mercury in the sediment showed favorable conditions for metal metilation and its accumulation in fish, especially in the lentic section of the river. in the sediment, the monthly mean values of organic carbon varied between 5.53 (minimum value) and 7.31% d.w. (maximum value), while the total mercury values varied from 0.04 to 0.11µg/g d.w. some of the values encountered exceeded that permitted by the World Health organization (1998; 0.10µg/g). in the celomatic organs and fat tissue from Geophagus brasiliensis, the higher mercury values occurred during the dry season (0.131µg/g d.w.; may), suggesting the direct influence of diet on fish contamination, as well as the dilution effect of accumulated fat in the celoma, during the wet season. All contamination levels were below that allowed by the Brazilian legislation (1998) (0.5µg/g). the hepatopancreas and the other celomatic organs (spleen, gonads, ducts of excretory and reproductive systems and fat matter = rest), revealed a direct relationship between fish-size classes and total mercury contamination. this result indicated that biomagnification had occurred in larger-size classes, therefore, in older specimens. the digestive tube results for mercury contamination did not vary significantly with the increase of fish-size classes, suggesting the absence of biomagnification in that portion of the system. such result, associated to the organ physiology, demonstrated the capacity of the digestive tube to absorb mercury, as well as the low predisposition to accumulate it.

Key words: mercury; trophic chain; Geophagus brasiliensis; Piracicaba river.

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Resumos

Bios. Belo Horizonte, v. 13, n. 13, p. 59-81, dez. 200568

o homem, as matas ciliares e os peixes de Lagoa da Prata, no Alto São Francisco: um estudo das inter-relações6

Man, riparian vegetation and fish in Lagoa da Prata, upstream São Francisco River: a study of interrelations

FláViA Peres nUnes (mestrAndA)mAriA tereZA CAndido Pinto (orientAdorA)

ReSumo

A manutenção da integridade ambiental da vegetação ciliar é um pré-requisito para a preservação do rio, de seus recursos pesqueiros e do solo do entorno, pois, por se instalarem na região de interface terra/água, as matas influenciam tanto o sistema terrestre quanto o aquático. embora estudos que abordem a relação terra/água/homem no município de lagoa da Prata sejam inexistentes, essa cidade merece destaque, por se inserir na porção alta da bacia hidrográfica do rio são Francisco, fortemente impactado, na região, pelo despejo dos dejetos provenientes, sobretudo, do cultivo de cana-de-açúcar, estabelecido no local como principal atividade econômica. nesse contexto, o presente trabalho teve como objetivo resgatar junto a dois grupos de indivíduos residentes no município, o de pescadores (n=10), praticantes de alguma modalidade de pesca, esportiva ou profissional, e o de ambientalistas (n=10), formado por pessoas envolvidas com as atividades das onGs ambientalistas locais e que convivem com as matas ciliares da região, o conhecimento empírico sobre esse tipo de vegetação, bem como sua importância para a manutenção da integridade dos rios são Francisco e santana, no trecho de seus cursos em lagoa da Prata, no período compreendido entre outubro de 2001 e fevereiro de 2002. os grupos foram submetidos a um questionário semi-estruturado com perguntas abertas e fechadas. embora revelassem perfis socioculturais distintos, especialmente no tocante à formação escolar e diferente motivação para o convívio com as matas ciliares da região, os dois grupos foram unânimes em atribuir importância às matas ciliares para a preservação da qualidade ambiental do ecossistema aquático que lhe é adjacente. demonstraram também conhecimento empírico sobre a composição ictíca dos rios santana e são Francisco, relacionando-a inclusive às suas condições físicas e químicas, no trajeto de seus cursos pelo município, além de conhecimento sobre as dimensões, composição florística e dinâmica de funcionamento da vegetação ciliar nativa (mata do Urubu) que lhes é adjacente. tal fato não ocorreu em relação ao reflorestamento da Fazenda Capoeira da Cana, considerado por eles inadequado à proteção do rio santana, por seu tamanho reduzido e por conter espécies não nativas da região (exóticas e frutíferas). o saber empírico dos pescadores sobre a inter-relação mantida entre a vegetação ciliar e os rios foi construído pelo seu convívio cotidiano com o ambiente, sobretudo pela necessidade de conhecerem o funcionamento do ecossistema aquático para obterem sucesso nas atividades de pesca, enquanto o dos ambientalistas foi adquirido durante sua formação escolar e, principalmente, durante as práticas conservacionistas promovidas pelas onGs de lagoa da Prata, tais como os plantios de talhões de vegetação ciliar e programas de educação ambiental. Ao manterem um convívio permanente com a região de interface terra/água, pescadores e ambientalistas demonstraram percepções que se igualaram ou mesmo se sobrepuseram ao citado na literatura técnico-científica. dessa forma, eles se revelaram uma fonte rica de informações para o aprimoramento das estratégias de preservação e recuperação da vegetação ciliar no município e região.

Palavras-chave: inter-relação; Homem; matas Ciliares; bacia do rio são Francisco.

6. nUnes, F. P. o homem, as matas ciliares e os peixes de Lagoa da Prata, no Alto São Francisco: um estudo das inter-re-lações. dissertação (mestrado em Zoologia de Vertebrados). Pontifícia Universidade Católica de minas Gerais, Belo Horizonte, 2005.

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Resumos

Bios. Belo Horizonte, v. 13, n. 13, p. 59-81, dez. 2005 69

ABStRAct

the maintenance of the environmental integrity of riparian vegetation is a prerequisite for the preservation of a river, of its fishing resources and the surrounding soil, as, given their location in the land-water interface, the bushes influence the terrestrial and aquatic systems. Although there are no studies on the relation land-water-man in the city of lagoa da Prata, the place deserves prominence for being inserted in the high portion of the hydrographic basin of the são Francisco river, strongly affected in the area by ousting of the dejections mostly from sugar cane culture, the region’s main economic activity. in that context, this study aimed to detect, in the period between october, 2001 and February, 2002, in two groups of local residents (one of 10 fishermen or people involved in some modality of leisure or professional fishing, and one of 10 conservationists or people engaged in local environmental nGos’ activities and coexisting with the riparian bushes in the region), their empirical knowledge of this type of vegetation, as well as of its importance to preserve the integrity of the san Francisco and santana rivers in the region of lagoa da Prata. the groups answered a semi-structured questionnaire with open and closed questions. Although presenting distinct social and cultural profiles, especially regarding schooling and motivations for contact with riparian bushes, the two groups were unanimous in giving importance to those bushes for the preservation of environmental quality of the adjacent aquatic ecosystem. they also demonstrated empirical knowledge of the icthyofauna composition of santana and são Francisco rivers, relating it to the physical and chemical conditions along their courses through the city, besides knowledge of the dimensions, vegetation and functional dynamics of the adjacent native riparian forest (Urubu Bush). this did not occur in relation to the sugar Cane Capoeira Farm reforestation, which they considered inadequate to the protection of the santana river, as it is reduced in size and contains non-native species (exotic and fruitful). the fishermen’s empirical knowledge concerning the interrelation between riparian vegetation and the rivers was constructed through their daily contact with the environment, mainly their need to know the aquatic ecosystem functioning in order to succeed in their fishing activities. on the other hand, the conservationists’ was acquired during their studies and mainly through conservationist practices promoted by nGos in lagoa da Prata, such as riparian vegetation reforestation activities and environmental education programs. in keeping a permanent contact with the land-water interface, fishers and conservationists demonstrated perceptions equal or superior to what is recorded in the technical and scientific literature. thus, they proved to be a very rich source of information for the improvement of strategies to preserve and recover riparian vegetation in the city and its region.

Key words: interrelation; man; riparian zone; são Francisco river basin.

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Aspectos biológicos, ecológicos e comportamentais do lobo-guará, Chrysocyon brachyurus (Illiger, 1815) (mammalia:

canidae), segundo os moradores do entorno da Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) do caraça7

Biological, ecological and behavioral aspects of the maned wolf, Chrysocyon brachyurus (Illiger, 1815) (mammalia: canidae), according to dwellers of the Private Reserve of the Natural Heritage of Serra do

caraça)

GrAZielA mendes resende (mestrAndA)soniA niColAU dos sAntos (orientAdorA)

ReSumo

neste trabalho apresenta-se um estudo de caso desenvolvido com os moradores de duas comunidades – santana do morro e sumidouro – do entorno da reserva Particular do Patrimônio natural (rPPn) do Caraça, Catas Altas, minas Gerais. expõem-se as imagens que os moradores locais constroem sobre o lobo-guará (Chrysocyon brachyurus). objetivou-se resgatar, descrever e analisar os conhecimentos dos moradores sobre o animal, as interfaces entre a literatura científica (modelo operacional) e os conhecimentos etnobiológicos (modelo percebido). também são analisadas as percepções e as atitudes relativas à conservação do lobo e as indicações valorativas sobre uso e crenças existentes acerca da espécie e os significados subjetivos e/ou atitudes racionais em relação ao comportamento de ataque do lobo-guará. A coleta de dados foi realizada entre agosto de 2002 e agosto de 2003. Um censo por moradia foi realizado, no qual entrevistas semi-estruturadas com questões abertas foram aplicadas. Quando os moradores das duas comunidades descrevem o lobo-guará, recorrem a três padrões cognitivos distintos: identificação de outro animal definido como semelhante através de critérios morfológicos ou qualificações pessoais ou morais; categorias ou qualificações pessoais e morais, sem usar outro animal para compor a descrição ou observar características físicas e a associação desses dois últimos padrões e critérios. A freqüência de expressões que depreciam o lobo é menor em santana do morro do que em sumidouro. em santana do morro, o padrão de associação a outro animal semelhante ao lobo-guará é predominante. em sumidouro os padrões são mais complexos e verifica-se maior flexibilidade entre os três padrões estabelecidos. o padrão de atribuição que dispensa o emprego de outro animal é a imagem predominante em sumidouro (44%). em relação aos etnoconhecimentos, a maioria dos moradores dá informações sobre comportamentos ecológicos e o maior número de respostas se concentra no hábito cursorial noturno-crepuscular. o turismo é a razão mais apontada para a conservação do lobo-guará. não há indícios de que os moradores não desejem ou sejam indiferentes à presença do lobo na região, embora as percepções aproximem-se mais de atitudes econômicas ou de cunho religioso. os usos mais freqüentes que os moradores fazem de partes do lobo são o couro e o pêlo, principalmente para usos místicos. A crença em um animal ameaçador é relatada por alguns moradores em santana do morro e em sumidouro. existe entre os moradores uma imagem do lobo como animal que ataca galinhas e pessoas. Quanto ao ataque às pessoas, a percepção é de ordem cultural subjetiva. o que os moradores percebem como ataque pode estar relacionado com o comportamento de defesa da prole ou de defesa de território do lobo. Partindo-se das percepções desses moradores é possível substituir, modificar a idéia de que o lobo é um animal feroz e violento por natureza. espera-se que esses resultados sirvam para subsidiar atividades em educação ambiental e gestão dessa

7. resende, G. m. Aspectos biológicos, ecológicos e comportamentais do lobo-guará, Chrysocyon brachyurus (Illiger, 1815) (mammalia: canidae), segundo os moradores do entorno da Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) do ca-raça. dissertação (mestrado em Zoologia de Vertebrados). Pontifícia Universidade Católica de minas Gerais, Belo Horizonte, 2005.

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Bios. Belo Horizonte, v. 13, n. 13, p. 59-81, dez. 2005 71

unidade de conservação que efetivem a participação das comunidades, tomando-se como referência os etnoconhecimentos existentes.

Palavras-chave: etnoconhecimentos; Percepção Ambiental; moradores locais; rPPn do Caraça.

ABStRAct

this is a case study developed with dwellers of two communities – santana do morro and sumidouro – of the Private reserve of the natural Heritage of serra do Caraça, Catas Altas municipality, minas Gerais state. local dwellers’ images of the maned wolf (Chrysocyon brachyurus) are presented. the aim was to describe and analyze those dwellers’ knowledge of the animal, and to examine interfaces between the scientific literature (operational model) and ethno-biological knowledge (perceived model). Perceptions and attitudes concerning the maned wolf conservation, value indications about existing uses and beliefs concerning the species, as well as subjective meanings and/or rational attitudes related to attack by the maned wolf, were analyzed. data were collected from August, 2002 to August, 2003. A census per residence was made, through semi-structured interviews with open questions. When dwellers from the two communities describe the maned wolf, they make use of three distinct cognitive patterns: identification of another animal defined as similar according to morphological criteria, or moral or personal qualifications; moral and personal categories or qualifications, without using another animal to compose the description or observe physical characteristics; and the association of those two patterns and criteria. the frequency of expressions depreciating the wolf is smaller in santana do morro than in sumidouro. in santana do morro, the pattern of association to another animal similar to the maned wolf is predominant. in sumidouro, the patterns are more complex and there is more flexibility between the three established ones. the attribution pattern, which dispenses with the use of another animal, is the predominant image in sumidouro (44%). in relation to ethno-knowledge, most dwellers give information about ecological behavior, and most answers concern cursorial nocturne-crepuscular habit. tourism is the main reason to conserve the maned wolf. there is no indication that dwellers do not desire or are indifferent to the maned wolf’s presence in the region, although their perceptions are related to economic or religious viewpoints. the most frequent wolf’s parts used by them are the leather and hair, mainly for mystic purposes. Belief in a threatening animal is reported by some in santana do morro and sumidouro. one image incorporated by them is that the wolf is an animal that attacks hens and people. As to attacking people, the perception is of a subjective cultural nature. What dwellers perceive as attack could be related to defense of the maned wolf’s offspring or territory. it is possible to change the belief that the maned wolf is a violent and ferocious animal by nature. these results can be used as an instrument for environmental education and management activities related to this conservation unit involving the communities’ participation with basis on the existent ethno-knowledge.

Key words: ethnoknowledges; environmental perception; local dwellers; rPPn do Caraça.

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estrutura espacial e temporal da anurofauna associada a poças naturais na Reserva Particular do Patrimônio Natural

(RPPN) Serra do caraça, mG8

Spatial and temporal structure of anuran fauna associated to natural ponds in the Private Reserve of the Natural Heritage of Serra do Caraça,

Minas Gerais State

KátiA AlCione KoPP (mestrAndA)PAUlA CABrAl eteroViCK (orientAdorA)

ReSumo

os trabalhos aqui apresentados abordam aspectos referentes à distribuição espacial e temporal da anurofauna associada a poças naturais. no primeiro capítulo três assembléias de anuros que ocorrem em poças naturais foram estudadas em relação à composição de espécies, partição de microambientes, distribuição espacial e temporal das atividades reprodutivas e à influência de alguns fatores abióticos nos padrões observados. Vinte e duas espécies representantes de quatro famílias (Bufonidae, Hylidae, leptodactylidae, e microhylidae) foram registradas durante o estudo. o mês de ocorrência, a altura em relação ao solo e tipo de substrato foram as variáveis mais importantes para distinguir as espécies de anuros. o número total de espécies e o número de espécies com machos em atividade de vocalização registrados para as três poças foram positivamente correlacionados com a precipitação média mensal e a temperatura no campo. os resultados obtidos apontam para a importância da vegetação marginal para as atividades reprodutivas dos anuros, provendo disponibilidade de microambientes para um grande número de espécies com requerimentos particulares. no segundo capítulo, no contexto do uso e partição de recursos por assembléias de girinos, três poças naturais foram estudadas no sudeste do Brasil com a intenção de inventariar as espécies de anuros que usavam as poças durante seu estágio larval, descrever sua distribuição temporal e espacial, inventariar os potenciais predadores de girinos e relacionar a riqueza de espécies de girinos à presença dos seus potenciais predadores. onze espécies de girinos foram registradas nas três poças estudadas. A posição dos girinos na coluna d’água, a profundidade da água e presença de vegetação aquática foram as variáveis mais importantes para discriminar entre as espécies de girinos. doze famílias de insetos aquáticos considerados como potenciais predadores de girinos foram registradas nas três poças amostradas. A riqueza de espécies de girinos não foi relacionada ao número de tipos de predadores potenciais de girinos nas poças, nem à abundância dos predadores. este estudo contribui para maior conhecimento da organização das comunidades de girinos neotropicais. no terceiro capítulo, através do acompanhamento de um experimento em campo, foram examinados os efeitos de predadores e da vegetação aquática na sobrevivência de girinos de Dendropsophus minutus e Scinax curicica em minas Gerais, sudeste do Brasil, pela quantificação de como os refúgios para os girinos influenciam as taxas de predação por baratas d’água (Belostoma oxyurum, Belostomatidae, Heteroptera). Considerando que estudos prévios sobre seleção de microambientes têm mostrado que algumas espécies de girinos preferem microambientes com vegetação aquática no sudeste do Brasil, formulou-se a hipótese de que esses girinos são vulneráveis a predadores co-ocorrentes e podem selecionar tais microambientes porque estes podem oferecer alguma proteção contra insetos aquáticos predadores. Usamos gaiolas no campo contendo girinos de duas espécies de Hylidae (Dendropsophus minutus e Scinax curicica) nos estágios de desenvolvimento 26-30 e um predador (Belostoma oxyurum), colocadas em substrato natural em locais com e sem vegetação aquática, de acordo com o tratamento. medimos os efeitos do predador e da complexidade ambiental na sobrevivência dos girinos, monitorando cada gaiola diariamente durante dez 8. KoPP, K. A. estrutura espacial e temporal da anurofauna associada a poças naturais na Reserva Particular do Patrimônio

Natural (RPPN) Serra do caraça – mG. dissertação (mestrado em Zoologia de Vertebrados). Pontifícia Universidade Católica de minas Gerais, Belo Horizonte, 2005.

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Bios. Belo Horizonte, v. 13, n. 13, p. 59-81, dez. 2005 73

dias para amostrar os girinos sobreviventes. os tratamentos com predadores reduziram significativamente a sobrevivência dos girinos em relação aos controles, para ambas as espécies de girinos. A interação entre os predadores e a vegetação também foi significante, uma vez que as taxas de predação foram menores quando a vegetação estava presente. este estudo demonstra que a complexidade estrutural do ambiente reduz as taxas de predação por baratas d’água e não deve ser ignorada em estudos que queiram verificar a importância da predação para a estruturação das comunidades de girinos.

Palavras-chave: distribuição; espacial; estacional; Poças naturais; Anurofauna; rPPn serra do Caraça.

ABStRAct

the work presented here focuses on aspects of the spatial and temporal distribution of anuran assemblages in natural ponds. in the first chapter, three anuran assemblages occurring in natural ponds were studied regarding species composition, microhabitat partitioning, temporal and spatial distribution of reproductive activities, and the influence of some abiotic factors on the observed patterns. twenty-two species belonging to four families (Bufonidae, Hylidae, leptodactylidae and microhylidae) were recorded during the study. the month of occurrence, height above ground and kind of substrate were the most important variables to discriminate anuran species. the total number of species and the number of species with calling males recorded in the three ponds were positively correlated with the mean monthly rainfall and temperature in the field. results obtained in this study point out the importance of marginal vegetation to anuran reproductive activities, providing suitable microhabitats for a large variety of species with particular needs. in the second chapter, in the context of resource use and partitioning by tadpole assemblages, three natural ponds were studied in southeastern Brazil, aiming to list the anuran species using the ponds during larval stage, to describe their temporal and spatial distribution, to list potential tadpole predators, and to relate tadpole species richness to the predators’ presence. eleven tadpole species were recorded in the three studied ponds. tadpole position in the water column, water depth and the presence of aquatic vegetation were the most important variables to discriminate tadpole species. twelve families of aquatic insects considered potential tadpole predators were recorded in the three sampled ponds. tadpole species richness was not related to the number of types of potential tadpole predators in the ponds, nor to predator abundance. this study contributes to a deeper knowledge of the organization of neotropical tadpole communities. in the third chapter, through field work, we examined the effects of predators and aquatic vegetation on the survival of tadpoles Dendropsophus minutus and Scinax curicica in minas Gerais, southeastern Brazil, by measuring how refugia for tadpoles influence the rates of predation by water bugs (Belostoma oxyurum, Belostomatidae, Heteroptera). Considering previous studies on microhabitat selection have demonstrated that some tadpole species prefer microhabitats with aquatic vegetation at sites in southeastern Brazil, a hypothesis was formulated that those tadpoles are vulnerable to co-occurring predators and may select such microhabitats because they can offer some protection against predatory aquatic insects. Field enclosures containing tadpoles from two species of Hylidae (Dendropsophus minutus and Scinax curicica) at development stages 26-30 and one predator (Belostoma oxyurum) were placed on natural substrata in sites both with and without aquatic vegetation, according to the treatment. the effects of the predator and habitat complexity on the tadpoles’ survival were measured by monitoring each enclosure daily during 10 days to survey surviving tadpoles. treatments with predators reduced the tadpoles’ survival significantly in relation to controls for both tadpole species. the interaction between predator and vegetation was also significant, predation rates being lower when vegetation was present. this study demonstrates that the habitat structural complexity reduces tadpole predation by water bugs and cannot be ignored in studies aiming to assess the importance of predation to tadpole community structure.

Key words: distribution; spacial; temporal; natural ponds; Anuran assemblages; rPPn serra do Caraça.

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estrutura temporal e espacial de comunidades de anuros em riachos de mata na RPPN Serra do caraça (catas Altas, minas

Gerais)9

Temporal and spatial structure of anuran communities in forest streams at Serra do Caraça (Catas Altas, State of Minas Gerais)

líliAn Gomes AFonso (mestrAndA)PAUlA CABrAl eteroViCK (orientAdorA)

ReSumo

A comunidade de anuros da rPPn serra do Caraça, localizada no município de Catas Altas (mG), foi estudada de agosto de 2003 a outubro de 2004 em oito riachos permanentes de mata. Foram registradas 19 espécies de anuros pertencentes a quatro famílias: Bufonidae (10.53%), Centrolenidae (5,26%), Hylidae (63,16%) e leptodactylidae (21,05%). Houve uma relação negativa significativa entre o número de espécies presentes e o volume dos riachos. não houve uma relação entre os fatores abióticos (precipitação e temperatura) e a diversidade de espécies por mês e a diversidade de espécies vocalizando, mas os anuros apresentaram diferenças quanto à distribuição temporal. das 19 espécies encontradas, 12 apresentaram atividade de vocalização e para dez espécies foram encontrados indícios de atividade reprodutiva, como fêmeas ovadas, pares em amplexos, desovas, girinos e jovens recém-metamorfoseados. o tamanho dos riachos parece ser um importante fator que determina a riqueza de espécies de anuros local. A relativa estabilidade climática dos riachos de mata favorece as espécies de anuros com período reprodutivo longo, bem como o aumento do período reprodutivo de espécies mais flexíveis. A utilização do nicho espacial pelos anuros adultos foi estudada em oito riachos de mata na rPPn serra do Caraça localizada no município de Catas Altas (minas Gerais). os microambientes avaliados foram classificados em 18 tipos baseados nos substratos, na distância e na altura da água. Um total de 440 anuros de 19 espécies apresentou grande seletividade na utilização desses microambientes. espécies com nichos mais amplos (mais generalistas) não ocuparam um maior número de riachos do que as espécies mais especialistas, nem os riachos com maior riqueza de espécies apresentaram espécies com valores mais estreitos de nicho. As espécies apresentaram variados níveis de sobreposição na utilização dos microambientes. o padrão de distribuição observado neste estudo sugere que a competição não é um importante fator a influenciar a estrutura espacial das comunidades de anuros de riachos permanentes de mata.

Palavras-chave: estrutura; espacial; temporal; riachos; Comunidade de anuros; rPPn serra do Caraça.

ABStRAct

Anuran communities were studied at eight permanent forest streams located in the Private reserve of the natural Heritage of serra do Caraça, located in the municipality of Catas Altas, state of minas Gerais, southeastern Brazil, from August, 2003 to october, 2004. A total of 19 anuran species from four families were recorded: Bufonidae (10.53%), Centrolenidae (5.26%), Hylidae (63.16%) and Leptodactylidae (21.05%). the number of species present in the streams was negatively related to stream volume. rainfall and mean monthly temperatures were not related to anuran species diversity per month or to species diversity with calling males, though species differed in their temporal distribution. of the 19 recorded species, 12 exhibited calling activities during the study period, and 10 presented signs of reproductive activity such as gravid females, amplexed pairs, egg clutches tadpoles and post-metamorphic froglets. stream size

9. AFonso, l. G. estrutura temporal e espacial de comunidades de anuros em riachos de mata na RPPN Serra do caraça (catas Altas, minas Gerais). dissertação (mestrado em Zoologia de Vertebrados). Pontifícia Universidade Católica de minas Gerais, Belo Horizonte, 2005.

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Bios. Belo Horizonte, v. 13, n. 13, p. 59-81, dez. 2005 75

seems to be an important factor determining local anuran species richness, while the relatively stable climatic conditions of forest streams seem to favor anuran species with long breeding periods, as well as the increase of breeding periods of more flexible species. the use of spatial niche by anuran amphibians was studied in eight forest streams in serra do Caraça, Catas Altas municipality, state of minas Gerais, southeastern Brazil. microhabitats were sampled and classified in 18 types based on substrate, water distance and water height above the ground. A total of 440 individual anurans of 19 species presented high selectivity in the use of those microhabitats. species with broader niches (generalists) did not occur in more streams than species with narrower niches (specialists), nor did streams with more variety of species richness shelter more specialists. species showed variable overlap levels in microhabitat use. the distribution patterns observed in the studied anuran assemblages suggest that competition is not an important factor influencing the spatial structure of those assemblages in permanent forest streams.

Key words: structure; spacial; temporal; streams; Anuran community; rPPn serra do Caraça.

Análise da variação craniométrica em Wiedomys pyrrhorhinos (Wied, 1817) (Rodentia, muridae)10

Craniometric variation analysis of Wiedomys pyrrhorhinos (Wied, 1817) (Rodentia, Muridae)

mAriA olímPiA GArCiA loPes (mestrAndA)AdriAno GArCiA CHiArello (orientAdor)

ReSumo

Wiedomys pyrrhorhinos (Wied, 1817) é um roedor amplamente distribuído no bioma caatinga, sendo encontrado do norte de minas Gerais até o Ceará e rio Grande do norte. este estudo analisou 301 espécimes do gênero Wiedomys, contemplando quase toda a distribuição da espécie. Foram tomadas 20 medidas cranianas e mandibulares, que foram submetidas a análises univariadas e multivariadas. não foram verificadas diferenças significativas entre os sexos para as quatro maiores amostras, mas as análises evidenciaram variabilidade craniana entre grupos geográficos. As amostras de Araçuaí (minas Gerais) e Vitória da Conquista (Bahia), situadas ao sul na distribuição da espécie, apresentaram os maiores tamanhos cranianos, seguidos das amostras de Feira de santana e seabra (ambas na Bahia), localidades situadas pouco mais ao norte, que formam um grupo semelhante e um pouco menor que o anterior. o grupo formado por Garanhuns, Pesqueira (ambos em Pernambuco), Quebrangulo (Alagoas), Caruaru (Pernambuco) e santana do ipanema (Alagoas), de latitudes mais setentrionais, apresentou as menores medidas cranianas, ao passo que a amostra de ipu, do norte do Ceará, apresentou valores ainda menores. esse padrão de variação craniana, em que o tamanho do crânio diminui com a diminuição da latitude, sugere um padrão de variação clinal em tamanho.

Palavras-chave: Crânio; morfometria; Variação geográfica; Wiedomys pyrrhorhinos.

ABStRAct

Wiedomys pyrrhorhinos (Wied, 1817) is a widely distributed rodent in the Caatinga biome, being found from the north of minas Gerais state to the states of Ceará and rio Grande do norte. in this study, 301

10. loPes, m. o. G. Análise da variação craniométrica em Wiedomys pyrrhorhinos (Wied, 1817) (Rodentia, muridae). disser-tação (mestrado em Zoologia de Vertebrados). Pontifícia Universidade Católica de minas Gerais, Belo Horizonte, 2005.

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Resumos

Bios. Belo Horizonte, v. 13, n. 13, p. 59-81, dez. 200576

specimens were examined, encompassing most of the species distribution. twenty cranial measurements were taken of skulls and mandibles, and submitted to univariate and multivariate analyses. no significant differences were detected between male and female samples in the four largest population samples, but the analyses revealed cranial variation between geographic groups. samples from Araçuaí (minas Gerais) and Vitória da Conquista (Bahia), located at the southern range of the species distribution, presented the largest cranial sizes, followed by samples from Feira de santana and seabra (both in Bahia), located further north, which formed a similar but slightly smaller group than the first one. the group formed by samples from Garanhuns, Pesqueira (both in Pernambuco), Quebrangulo (Alagoas), Caruaru (Pernambuco) and santana do ipanema (Alagoas), at lower latitudes, presented the smallest skull dimensions, whereas the sample from ipu (north of Ceará) had even lower values. this pattern of cranial variation, in which the cranial size gets smaller at lower latitudes, suggests a pattern of clinal variation in size for the species.

Key words: skull; morphometry; Geographical variation; Wiedomys pyrrhorhinos.

Área de vida e uso de micro-ambientes em uma população de Crossodactylus sp. (gr. gaudichaudii) (Anura,

cyclorhamphidae) na Serra do caraça, minas Gerais11

Home range and microhabitat use in a population of Crossodactylus sp. (gr. gaudichaudii) (Anura, cyclorhamphidae) at Serra do caraça,

State of minas Gerais

milenA WACHleVsKi mACHAdo (mestrAndA)PAUlA CABrAl eteroViCK (orientAdorA)

ReSumo

As espécies do gênero Crossodactylus são diurnas, vivem em pequenos riachos permanentes e apresentam reprodução prolongada. A área de vida, o uso e a disponibilidade de micro-ambientes foram estudados para uma população da espécie Crossodactylus sp. (gr. gaudichaudii) através de técnica de marcação e recaptura em um quadrante ao longo de um riacho permanente na serra do Caraça, sudeste do Brasil. A área de vida foi estimada através do método do mínimo polígono convexo, e seu tamanho não diferiu entre machos e fêmeas. Houve uma grande sobreposição de áreas de vida intra-sexual, mas pouca sobreposição entre os sexos. os adultos estiveram concentrados em trechos do riacho que apresentaram características favoráveis a suas atividades reprodutivas. o tamanho estimado da população foi de dez indivíduos por 100m2. os indivíduos não se distribuíram uniformemente ao longo do riacho, mas concentraram-se em sítios específicos. As variáveis ambientais medidas indicam uso diferenciado de micro-ambientes entre machos, fêmeas e jovens. As variáveis que melhor explicam as diferenças entre os segmentos da população foram correnteza, distância da água e profundidade. os micro-ambientes disponíveis foram seletivamente utilizados pelos machos, mas não por fêmeas grávidas.

Palavras-chave: Crossodactylus sp. (gr. gaudichaudii); área de vida; tamanho da população; seleção de micro-ambiente; Partilha de ambiente; sudeste do Brasil.

11. WACHleVsKi, m. m. Área de vida e uso de micro-ambientes em uma população de Crossodactylus sp. (gr. gaudichaudii) (Anura, cyclorhamphidae) na Serra do caraça, minas Gerais. dissertação (mestrado em Zoologia de Vertebrados). Pontifí-cia Universidade Católica de minas Gerais, Belo Horizonte, 2005.

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Resumos

Bios. Belo Horizonte, v. 13, n. 13, p. 59-81, dez. 2005 77

ABStRAct

species of Crossodactylus are diurnal, live in small permanent streams and have long breeding periods. Home range, microhabitat use and availability were studied for a population of the Crossodactylus sp. (gr. gaudichaudii) species, using a capture and recapture technique within a grid placed along a stream at serra do Caraça, state of minas Gerais, southeastern Brazil. Home ranges were estimated through the minimum convex polygon method, and the size did not differ between males and females. A high home-range overlap was recorded within sexes, whereas less overlap was observed between sexes. Adult distribution concentrated on a stream section with features considered suitable to their reproductive activities. the estimated population size was 10 individuals per 100 m2. individuals were not uniformly distributed along the stream, but aggregated at some specific sites. measured environmental variables indicated a differential use of microhabitats among males, females and juveniles. the variables that better explained differences between population segments were water flow, distance from water and water depth. the available microhabitats were used selectively by males, but not by gravid females. to the former, such microhabitats correspond to defended calling and breeding sites.

Key words: Crossodactylus sp. (gr. gaudichaudii); Home range; Population size; microhabitat selection; Habitat partitioning; southeastern Brazil.

Avaliação do estado de saúde e do risco de transmissão de doenças entre canídeos (mammalia, carnivora) silvestres

e domésticos na região da Serra do cipó, minas Gerais: implicações para a conservação12

Evaluation of health conditions and disease transmission risk between wild and domestic canids (Mammalia, Carnivora) in the Serra do Cipó National Park region, State of Minas Gerais: implications for

conservation

nelson HenriQUe de AlmeidA CUri (mestrAndo)sôniA APAreCidA tAlAmoni (orientAdorA)

ReSumo

As doenças ocupam, junto com a fragmentação, caça e outros fatores, lugar de destaque entre as ameaças para a conservação de canídeos silvestres. este estudo teve como objetivo avaliar o estado sanitário de canídeos silvestres e a existência do risco de transmissão de doenças entre cães domésticos e canídeos silvestres na região do Parque nacional da serra do Cipó, minas Gerais. Foram capturados nos mesmos pontos de armadilhagem 14 canídeos silvestres das espécies presentes na região (três lobos-guará Chrysocyon brachyurus, nove cachorros-do-mato Cerdocyon thous e duas raposinhas-do-campo Lycalopex vetulus) e 19 cães domésticos (além de outros carnívoros domésticos e outras espécies). também foram amostrados 74 cães domésticos não vacinados que viviam soltos ao redor de três aglomerações urbanas do entorno do parque. exames clínicos completos, biometrias, análises clínicas, parasitológicas

12. CUri, n. H. A. Avaliação do estado de saúde e do risco de transmissão de doenças entre canídeos (mammalia, carnivora) silvestres e domésticos na região da Serra do cipó, minas Gerais: implicações para a conservação. dissertação (mestra-do em Zoologia de Vertebrados). Pontifícia Universidade Católica de minas Gerais, Belo Horizonte, 2005.

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Resumos

Bios. Belo Horizonte, v. 13, n. 13, p. 59-81, dez. 200578

e testes sorológicos para leishmaniose, cinomose e parvovirose foram realizados nos canídeos silvestres capturados, e os cães domésticos amostrados foram apenas testados sorologicamente. todos os canídeos silvestres capturados estavam clinicamente normais, saudáveis e apresentando determinações biométricas, hematológicas e urinárias nos padrões já descritos, apesar dos níveis de parasitismo encontrados. os seguintes táxons de ectoparasitos foram encontrados em lobos-guará: carrapatos - Amblyomma cajannense, A. tigrinum, Boophilus microplus; pulgas - Pulex irritans. em cachorros-do-mato: carrapatos - A. cajannense, A. ovale; pulgas - P. irritans, Ctenocephalides felis felis. em raposinhas-do-campo: carrapatos - A. cajannense. ovos de endoparasitos encontrados em fezes de lobos-guará foram de Acanthocephala, Ancylostomidae, trichuridae, Hymenolepidae, Physaloptera sp., Platynossomun sp., Spirometra sp. em cachorros-do-mato foram trematoda, Hymenolepidae, Spirometra sp., Platynossomun sp., Toxocara sp. relatamos pela primeira vez a infestação pelo endoparasito Platynossomun sp. em lobos-guará de vida livre. As soroprevalências aparentes encontradas para leishmaniose, cinomose e parvovirose nos canídeos silvestres foram de respectivamente 14,3%; 0%; e 100%. nos cães domésticos, essas prevalências foram de 8,1%; 65,7%; e 58,6%. Concluímos que existe o risco de transmissão de doenças entre canídeos domésticos e silvestres no Parna Cipó e que as populações de canídeos silvestres da região estão ameaçadas por patógenos caninos e parasitas comuns em animais domésticos. medidas de manejo preventivo de baixo risco e custo podem ser implementadas, desde que envolvam a conscientização da população local e a minimização do contato entre animais domésticos e silvestres, no intuito de contribuir para a conservação dos canídeos silvestres em longo prazo.

Palavras-chave: Canídeos; doenças; Conservação; leishmaniose; Cinomose; Parvovirose; Parque nacional da serra do Cipó.

ABStRAct

nowadays diseases, along with fragmentation, hunting and other factors, are some of the relevant threats for wild canids’ conservation. this study aimed to evaluate the health conditions of wild canids and the existence of disease transmission risk between wild and domestic canids in the serra do Cipó national Park region (state of minas Gerais). in the same trap points, 14 wild canids of the species present in the region were captured: 3 Chrysocyon brachyurus (maned wolfs), 9 Cerdocyon thous (crab-eating foxes) and 2 Lycalopex vetulus (hoary foxes), besides 19 domestic dogs (as well as other domestic carnivorous and other species). seventy-four free-ranging and non-vaccinated domestic dogs in three urban settlements around the national Park were also sampled. Complete clinical examinations, biometrics, clinical and parasitological analyses, as well as serology for leishmaniasis, distemper and parvovirosis were performed in the captured wild canids, while the domestic dogs were only serologically tested. All captured wild canids were healthy and clinically normal, showing biometrical, hematological and urinary determinations according to described standards, despite the levels of parasitism found. ectoparasites found in maned wolves were from the following taxa: ticks - Amblyomma cajannense, A. tigrinum, Boophilus microplus; fleas - Pulex irritans. in crab-eating foxes: ticks - A. cajannense, A. ovale; fleas - P. irritans, Ctenocephalides felis felis. in hoary foxes: ticks - A. cajannense. endoparasite eggs found in maned wolves’ excrement were Acanthocephala, Ancylostomidae, Trichuridae, Hymenolepidae, Physaloptera sp., Platynossomun sp. and Spirometra sp. in crab-eating foxes, they were Trematoda, Hymenolepidae, Spirometra sp., Platynossomun sp. and Toxocara sp. this is the first report of the Platynossomun sp. genus in free-ranging maned wolves. the apparent sero-prevalence for leishmaniasis, distemper and parvovirosis in wild canids was of 14.3%, 0% and 100%, respectively. in domestic dogs, the prevalence was of 8.1%, 65.7% and 58.6%, respectively. We concluded that the risk of disease transmission between wild and domestic canids is present in Parna Cipó, and wild canid populations are threatened by canine pathogens and parasites common in domestic animals at the study site. low-risk and low-cost preventive management measures should be taken, provided they involve the local population’s awareness and minimize the contact between wild and domestic animals, in order to contribute to long-term wild canids’ conservation.

Key words: Canids; diseases; Conservation; leishmaniasis; distemper; Parvovirosis; Parque nacional da serra do Cipó.

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Diversidade de mamíferos em diferentes fitofisionomias do cerrado do Parque Nacional Grande Sertão Veredas: um

estudo com foto-armadilhas13

Diversity of mammals in different physiognomies of Cerrado of Parque Nacional Grande Sertão Veredas: a study with camera trapping

rAFAel lUiZ AArão FreitAs (mestrAndo)AdriAno GArCiA CHiArello (orientAdor)

ReSumo

o presente trabalho procurou avaliar por meio de armadilhamento fotográfico e procura de vestígios a diversidade de espécies de mamíferos de médio e grande porte em quatro diferentes tipos de vegetação existentes no bioma Cerrado. A área de estudo, Parque nacional Grande sertão Veredas, atualmente com cerca de 231.000 ha, se localiza no noroeste do estado de minas Gerais, e sudoeste da Bahia. Para cada hábitat avaliado (cerrado estrito senso, carrasco, veredas e matas de galeria) foram estabelecidos três pontos amostrais, representados por três réplicas cada. em cada um desses pontos amostrais foi instalada um armadilha fotográfica e uma transecção de 200 m. o esforço amostral obtido foi de 4.019 câmeras-dia e 26,4 km, respectivamente para as foto-armadilhas e procura de vestígios nas transecções. Foram obtidos 380 registros independentes, provenientes das câmeras, e 336 registros baseados nos vestígios encontrados, nos quais somente a presença daquela espécie na transecção naquele mês era considerada. trinta e uma espécies de mamíferos de médio e grande porte foram confirmados na área de estudo, inclusive algumas ameaçadas de extinção, de acordo com a iUCn, como por exemplo, o tatu-canastra (Priodontes maximus). Análises de agrupamento (Cluster) utilizando dados de rastros (presença/ausência da espécie) revelaram maior semelhança na composição faunística entre o cerrado e o carrasco e, em menor grau, entre veredas e matas de galeria. A maior parte das espécies foi registrada em mais de uma fitofisionomia e uma porção muito reduzida das espécies foi registradas exclusivamente em cada uma delas. os dados demonstram que, para a conservação da mastofauna do Cerrado de maneira geral, é importante conservar a diversidade de hábitats característico deste bioma.

Palavras-chaves: mamíferos; Armadilhamento fotográfico; Cerrado; Conservação.

ABStRAct

the present study analyzed the mammal diversity in four different physiognomies of Cerrado using camera trapping and footprint recording. the study area was the Parque nacional Grande sertão Veredas, currently with 231.000 ha of area. the park is located in northwest minas Gerais and southwest Bahia states. three sampling points were established in each one of the four study habitats (cerrado, carrasco, mata de galeria e veredas). in each sampling point a camera trap was set and a 200 m long transect was created. sampling effort was 4,019 camera-days and 26.4 km for cameras and transects, respectively. it was obtained 380 records from the cameras and 336 from the transects, in which only the presence or absence of a given species was recorded. thirty-one species of mammals were confirmed for the Park, including some endangered species such as the giant armadillo (Priodontes maximus). Cluster analyses revealed high similarity among cerrado and carrasco and, to a lesser extend, between veredas and mata de galeria. the majority of species was recorded in more than one habitat type and a minor proportion was recorded in just one habitat type. data demonstrate that, for the conservation of mammals in cerrado in general, it is important to conserve the whole diversity of habitat types which are characteristics of this biome.

Key words: mammals; Camera trapping; Cerrado; Conservation.

13. FreitAs, r. l. A. Diversidade de mamíferos em diferentes fitofisionomias do cerrado do Parque Nacional Grande Sertão Veredas: um estudo com foto-armadilhas. dissertação (mestrado em Zoologia de Vertebrados). Pontifícia Universidade católica de minas Gerais, Belo Horizonte, 2005.

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estratégias reprodutivas dos peixes do reservatório de Porto colômbia, bacia do rio Grande, sudeste do Brasil14

Reproductive strategies of fish in Porto colômbia Reservoir, Grande river basin, southeastern Brazil

renê eiJi soUZA HoJo (mestrAndo)nilo BAZZoli (orientAdor)

ReSumo

Para a realização do presente estudo, capturaram-se 1551 exemplares de peixes no reservatório de Porto Colômbia, mG/sP, pertencentes a nove espécies. os peixes foram coletados utilizando-se redes de emalhar de três a 12 cm entre nós opostos, armadas ao entardecer e retiradas na manhã seguinte. As coletas foram realizadas em quatro trimestres de 2001/2002 (novembro-dezembro-janeiro, fevereiro-março-abril, maio-junho-julho, agosto-setembro-outubro). os espécimes foram fixados em formol 10% e transferidos para bombonas contendo álcool 70%. Fragmentos de gônadas de alguns exemplares foram fixados em líquido de Bouin por oito a 12 horas para serem submetidos às técnicas histológicas de rotina. Baseando-se nos valores de proporção sexual, índice gonodossomático (iGs), freqüência dos estádios de maturação gonadal, tipo e duração da desova, período reprodutivo, tamanho de maturação gonadal, migração reprodutiva e cuidado parental, estabeleceram-se três grupos de estratégias reprodutivas para as espécies mais abundantes do reservatório de Porto Colômbia: estratégia de equilíbrio: L. lentiginosa, S. pappaterra e C. monoculus, que apresentam desova do tipo parcelada, longo período reprodutivo, não realizam migrações reprodutivas e têm cuidado parental; estratégia oportunista: s. nasutus, M. maculatus, S. spilopleura, P. maculatus e P. squamosissimmus apresentam desova parcelada, longo período reprodutivo, não realizam migrações reprodutivas e não têm cuidado parental; e estratégia sazonal: L. friderici apresenta desova do tipo total, realiza migrações reprodutivas e nenhum cuidado parental.

Palavras-chave: estratégias reprodutivas; teleostei; bacia do rio Grande.

ABStRAct

For this study, 1551 fish specimens belonging to nine species were captured in Porto Colômbia reservoir, minas Gerais and são Paulo states. they were collected using fishing nets with mesh size from 3 to 12 cm, spread at sunset and removed in the following morning. the collections were carried out during four quarters in 2001/2002 (november-december-January, February-march-April, may-June-July, August-september-october). the specimens were fixed in formaldehyde 10% and transferred to alcohol 70%. Gonad scraps of some specimens were fixed in Bouin liquid from 8 to 12 hours in order to be submitted to routine histological techniques. With basis on the sexual proportion values, gonadossomatic rate (iGs), reproductive cycle stages frequency, spawn kind and duration, reproductive period, gonad maturation size, reproductive migration and parental care, three reproductive strategies groups were established for the most abundant species of Porto Colômbia reservoir: equilibrium strategy: S. spilopleura, L. lentiginosa, S. pappaterra and C. monoculatus, which present fractional spawn, a long reproductive period, parental care and no reproductive migrations; opportunistic strategy: S. nasutus, M. maculatus, P. maculatus and P. squamosissimmus, which present fractional spawn, a long reproductive period, no reproductive migrations, no parental care; and seasonal strategy: L. friderici, which present total spawn, reproductive migrations and no parental care.

Key words: reproductive strategies; teleostei; Grande river basin.

14. HoJo, r. e. s. estratégias reprodutivas dos peixes do reservatório de Porto colômbia, bacia do rio Grande, sudeste do Brasil. dissertação (mestrado em Zoologia de Vertebrados). Pontifícia Universidade Católica de minas Gerais, Belo Horizonte, 2005.

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Bios. Belo Horizonte, v. 13, n. 13, p. 59-81, dez. 2005 81

estrutura e dieta da ictiofauna em dois riachos na bacia do rio Pará (mG) com ênfase nas interações tróficas entre peixes

e macroinvertebrados bentônicos15

Icthyofauna structure and diet in two streams of Pará river basin (Minas Gerais State) with emphasis on trophic interactions between fish and

benthic macroinvertebrates

tAYnAn HenriQUes tUPinAmBás (mestrAndo)GilmAr BAstos sAntos (orientAdor)

ReSumo

o presente estudo teve por objetivo avaliar a composição, dieta e estrutura da comunidade de peixes de dois riachos da bacia do rio Pará, região do alto são Francisco, com ênfase nos aspectos relacionados às interações tróficas entre peixes e macroinvertebrados bentônicos, assim como caracterizar o status de conservação dos ambientes amostrados. Foram encontradas 29 espécies de peixes, predominando Characiformes e siluriformes, bem como detectada considerável dominância de espécies de peixes para a maioria dos pontos amostrados, com destaque para Astyanax sp. A diversidade e riqueza não aumentaram espacialmente e foram influenciadas pelo nível de preservação dos pontos de coleta. Foram determinadas oito guildas tróficas, refletindo uma grande variedade de itens ingeridos, com algumas espécies demonstrando preferência alimentar por determinados recursos. A análise do conteúdo estomacal adicionou quatro taxa ao inventário de macroinvertebrados bentônicos realizado através da análise de sedimentos. As conclusões obtidas sugerem que os cursos d’ água estudados vêm sofrendo impactos antrópicos como o desmatamento da vegetação ripária e a extração de areia ao longo de seus cursos, o que vem alterando sensivelmente as condições naturais da área de estudo. Apontam também para o importante papel da mata ciliar na manutenção da integridade dos habitats aquáticos e suas ictiofaunas associadas.

Palavras-chave: Composição; dieta; estrutura; comunidade de peixes; bacia do rio são Francisco.

ABStRAct

this study aimed to evaluate the fish community composition, diet and structure in two streams of Pará river basin (são Francisco river headwaters), named Córrego do Bagaço and ribeirão dos Coelhos, with emphasis on aspects related to trophic interactions between fish and benthic macroinvertebrates, as well as to characterize the environment conservation state. twenty-nine fish species were found, Characiformes and siluriformes being the predominant ones. A strong dominance of some fish species in the sampled sites was detected too, especially of Astyanax sp. richness and diversity indexes did not increase along the streams, and they were influenced by the preservation level of the sample sites. eight trophic guilds were determined, reflecting a great variety of ingested items, some species showing preference for some kinds of food resources. stomach content analysis showed four extra benthic macroinvertebrates taxa when compared with the inventory made only from sediment analysis. results suggest that the studied streams have been affected by human impacts such as riparian vegetation deforesting and sand removal, which have changed significantly the original conditions of the area. they also point out the importance of the riparian zone to preserve the aquatic habitats and fish fauna integrity.

Key words: Composition; diet; structure; Fish community; são Francisco river basin

15. tUPinAmBás, t. H. estrutura e dieta da ictiofauna em dois riachos na bacia do rio Pará (mG) com ênfase nas interações tróficas entre peixes e macroinvertebrados bentônicos. dissertação (mestrado em Zoologia de Vertebrados). Pontifícia Universidade Católica de minas Gerais, Belo Horizonte, 2005.

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BIOS – CADERNOS DO DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS DA PUC MINAS

normAs GerAis PArA PUBliCAção

Bios é uma publicação do departamento de Ciências Biológicas da Pontifícia Universidade Católica de minas Gerais para a divulgação de relatos de pesquisa, artigos de revisão, notícias, co-mentários, comunicações, ensaios, editoriais e cartas ao Conselho editorial nas diferentes áreas da Biologia, inclusive meio ambiente e ensino.1. As contribuições serão aceitas para publicação mediante aprovação do Conselho editorial

da Bios, a partir de parecer de consultores ad hoc, desde que sejam originais e não tenham sido submetidas a outros periódicos.

2. excepcionalmente, o Conselho editorial poderá aceitar contribuição que já tenha sido ante-riormente publicada. neste caso, ela deverá vir acompanhada da fonte onde foi publicada, que será citada.

3. As contribuições deverão ser em português, inglês ou espanhol.4. As contribuições aprovadas para publicação poderão ser revistas para que se adaptem ao

padrão de qualidade da Bios. Quando a Comissão editorial entender que a revisão possa ter provocado alterações significativas no original, a contribuição revisada será, antes da publicação, submetida ao(s) seu(s) autor(es), para manifestação.

5. As afirmações e opiniões expressas nas contribuições são dos seus autores e não refletem, necessariamente, a opinião da administração e do corpo docente do departamento de Ci-ências Biológicas da PUC minas, do Conselho editorial da Bios ou da administração supe-rior da Pontifícia Universidade Católica de minas Gerais.

6. toda contribuição deverá vir acompanhada de uma declaração do seu autor ou responsá-vel (em caso de co-autoria) nos seguintes termos:transfiro para a Pontifícia universidade católica de minas Gerais todos os direitos so-bre a contribuição (citar o título), caso seja aceita para a publicação em BIoS, publica-da pelo Departamento de ciências Biológicas da Puc minas, na seção (citar a seção).eu, (colocar o nome completo), assino a presente declaração e me responsabilizo inte-gralmente, em meu nome e de eventuais co-autores, pelo material apresentado.(local e data)Nome: (completo)cPF: (indicar o CIC)endereço: (citar por completo, incluindo endereço eletrônico)

7. Apresentação do original7.1 Formato do arquivo:

microsoft Word para Windows, versão 6.0 ou acima, exceto Windows Vista, devidamente mencionado em separado qual versão está sendo utilizada, formato A4 (210X297mm), fonte Arial, tamanho12.

7.2 texto:margens: superior, esquerda e direita com 2,0cm, inferior com 2,5cm.espaçamento entre linhas: 1,5

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7.3 título:título completo, na língua em que for apresentada a contribuição, alinhado à direita.título em inglês se a contribuição estiver em português; em português se a contribuição estiver em inglês; em português e inglês se a contribuição estiver em espanhol, logo abaixo do título, alinhado à direita.

7.4. Autores:nome(s) completo(s) do(s) autor(es), com identificação da(s) instituição(ões) de origem logo abaixo, alinhado(s) a direita.em caso de co-autoria, nome do responsável, endereço postal completo, telefone(s) ou fax para contato e e-mail. estas informações deverão ser colocadas no rodapé da primei-ra página.

7.5. resumo:Cada contribuição virá com um resumo, em português e inglês, que não deverá exceder a 100 (palavras), contendo até 5 (cinco) unitermos (palavras-chave), por idioma, após o resumo e o abstract.

7.6. texto principal:deverá iniciar-se na página 2, coluna simples, não conterá figuras, gráficos ou tabelas inclusas.

7.7. Figuras, tabelas e gráficos:deverão vir em anexos, sendo indicado no texto onde deverão ser inseridas, porém a comissão editorial se reserva no direito de uma recolocação para permitir melhor diagra-mação da revista.todas as figuras, gráficos e tabelas deverão ser referenciados no texto e numerados com algarismos arábicos. Quando citados no decorrer do texto, devem ser referenciados como FiG. 1 ou FiG. 1 e 2 (quando for mais de uma figura), tAB. 1 ou tAB. 1 e 2 (quando fora mais de uma tabela). no caso de gráficos, utilizar a mesma FiG. 1 ou FiG. 1 e 2 (quan-do for mais de um gráfico).As legendas das tabelas e figuras devem estar abaixo das mesmas, sendo referenciadas como “tabela 1.”, “tabela 1 e 2.”, “Figura 1.”, “Figura 2.”, “Figuras 1 e 2.”. Gráficos devem ser referenciados da mesma forma que as figuras.tabelas e gráficos devem ser inseridos em documento Word, sendo enviado também uma cópia no formato original, citando o nome do programa utilizado e a versão.Preferencialmente, não utilizar cores em gráficos e tabelas, mas padrões de textura dife-rentes. As fotografias devem ser apresentadas em original preto-e-branco em papel bri-lhante de alto contraste. desenhos e gráficos devem ser enviados em Cd, como arquivo de programa gráfico nos formatos .tiFF, .JPG, .Cdr, .Psd, .Ai ou .ePs. A comissão editorial se reserva no direito da inclusão ou não de figuras em outro formato. Podem ser envia-dos ainda em nanquim.

7.8. referências bibliográficas:As referências bibliográficas dentro do texto devem estar da seguinte forma:Um autor: (riZZini, 1979) ou rizzini (1979); dois autores: (riBeiro; FernAndes, 1999) ou ribeiro e Fernandes (1999); três autores: (nAsCimento; PomBAl; HAddAd, 1999) ou nascimento, Pombal e Haddad (1999); mais de três autores: (roCHA et al., 2000) ou ro-cha et al. (2000).

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devem ser listadas ao final do trabalho, fonte Arial tamanho 9, de acordo com o padrão:Artigos de periódicos:BAZZoli, n.; GodinHo, H. reproductive biology of the Acestrorhynchus lacustris (rei-nhardt, 1874) (Pisces: Characidae) from três marias reservoir, Brazil. Zoologischer An-zeinger, v. 226, n. 516, p. 285-297, 1991.Livros e relatórios técnicos:BritsKi, H. A.; sAto, Y.; rosA, A. B. s. manual de identificação de peixes da região de três marias: com chave de identificação para peixes da bacia do são Francisco. Brasílias: Câmara dos deputados, 1984. 143p. eletroBrás. Plano diretor de meio ambiente do setor elétrico, 1991-1993. rio de Janeiro: Centrais elétricas Brasileiras, 2v. 1991.CeteC/leme engenharia/CemiG. Levantamentos ambientais em Nova Ponte – Ictio-fauna: relatório Final. Belo Horizonte, 1988.Capítulos de livros:HrBáCeK, J. Competition and predation in relation to species composition of freshwater zooplankton. in: CAirns Jr., J. (ed.). Aquatic microbial communities. new York: Garland. 1977. Cap. 3, p. 305-353.teses e dissertações:diniZ, C. C. 1997. Dinâmica reprodutiva de L. striatus e histologia do ovário de cinco espécies do gênero Leporinus Spix, 1829 (osteichthyes, characiformes, Anostomi-dae) na represa de camargos, mG. 1997. 106f. (dissertação, mestrado em Zootecnia: nutrição de monográstrico). Universidade Federal de lavras, lavras.GArAVello, J. C. Revisão taxonômica do gênero Leporinus Spix, 1829 (ostariophysi, Anostomidae). 1979. 455f. (tese, doutorado em Ciências: Zoologia). instituto de Bioci-ências da Universidade de são Paulo, são Paulo.Resumos de congressos:sAntos, J. e. dos. Comportamento de larvas de 6 espécies de peixes sob condições ex-perimentais de fotoperíodo. in: enContros AnUAis de AQUiCUltUrA, 10, 1992, Belo Horizonte. Anais... Belo Horizonte: Associação mineira de Aqüicultura, 1992. p. 75-77.

8. o artigo deverá ser enviado em Cd para computador, em formato microsoft Word 6.0 ou superior, exceto Windows Vista. 8.1. o original, em Cd, deverá vir acompanhado de uma folha de identificação, com os

seguintes dados:(a) número total de figuras, pranchas, tabelas e gráficos.(b) número total de Cds com informações sobre os formatos de arquivos de texto, de figura ou gráficos.(c) outras informações julgadas necessárias.(d) Fonte Arial, tamanho 12, nomes científicos em itálico.

8.2. Quando o original for enviado em Cd, este deverá conter uma etiqueta com o nome da contribuição e uma cópia impressa.

9. os Cds deverão ser submetidos a programas antivírus.10. As referências não deverão exceder 30 (trinta).11. embora a comissão editorial possa providenciar a revisão de referências bibliográficas, a exa-

tidão sobre suas informações é de inteira responsabilidade dos autores da contribuição.

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12. As unidades de medida, grandezas, símbolos e abreviaturas devem seguir as normas nacio-nais ou internacionais correspondentes.

13. A impressão a cores, quando absolutamente necessária, dependerá do pagamento, pelo(s) autor(es) da contribuição, das despesas correspondentes.

14. As ilustrações poderão ser reduzidas por exigência gráfica, guardando-se as devidas pro-porções.

15. As contribuições deverão, o mais absolutamente possível, se ater a estas normas gerais para a apresentação de originais.

16. Comprovante da publicação:16.1. Cada contribuição terá direito, sem ônus, a 10 (dez) exemplares da publicação.16.2. números excedentes poderão ser solicitados, por escrito, ao Conselho editorial, fican-

do o envio condicionado ao ressarcimento das despesas de impressão e da remessa.17. Para informações adicionais acesse o site da biblioteca da PUC minas, sobe padronização

de normas para artigos e periódico: http://www.pucminas.br/ocumentos/normaliacao_ar-tigos.pdf

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BIOS – REVIEW OF THE DEPARTMENT OF BIOLOGICAL SCIENCES OF PUC MINAS

norms For PUBliCAtion

Bios is a publication of the department of Biological sciences of the Pontifícia Universidade Católica de minas Gerais, aimed at divulging research, reviews, news, comments, communica-tions, essays, editorials and letters to the editorial Council in the various in the various areas of Biology, including teaching and the environment.1. documents will be accepted for publication with the approval of the editorial Council of

Bios, based on the report of ad hoc consultants, provided they are original papers and have not seen submitted to other periodicals.

2. exceptionally, the editorial Council may accept a previously published document. in that case, the annexed source will be mentioned.

3. documents must be preferably in Portuguese, english or spanish.4. documents approved for publication may be reviewed according to the quality standard of

Bios. When the editorial Council judges that the review may have altered significantly the original, the reviewed paper will be submitted to the author(s) before publication.

5. the statements and opinions expressed in the documents reflect the author(s), and not necessarily the management and the faculty of the department of Biological sciences of PUC minas, the editorial Council of Bios ou the higher management of the Pontifícia Uni-versidade Católica de minas Gerais.

6. A statement of the author or the person responsible for the document (in case of co-author-ship) will be attached to every contribution, in the following terms:I hereby transfer to the Pontifícia universidade católica de minas Gerais, all the rights on the document (metion its title), if it is accepted for publication BIoS, issued by the Department of Biological Sciences of Puc minas, in the section (metion the section).I also declare that this contribution is original, that it is not being submitted to any other editor for publication, and that the copyright was not previously granted to any other individual or juridical entity. I, (full name), sign the present declaration and take full responsibility, in my name of eventual coauthors, for the manuscript presented.(place and date)Name: (full name)Social Security number:Identity card: (number and issuing agency)Address: (full address and e-mail)

7. document presentation7.1 Format:

microsoft Word for Windows, version 6.0 or above, except Windows Vista, mentioning separately the version used, format A4 (210X297mm), Arial font size 12.

7.2 text:margins: superior, left and right 2.0cm, inferior 2,5cm.space between lines: 1,5

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7.3 title:Complete title, in the language of the document, aligned to the right.title in english if the document is in Portuguese, in Portuguese if the document is in en-glish; in Portuguese and english if the document is in spanish;

7.4. Authors:Full author(s) name, identifying the home institution(s) below, aligned to the right.in the case of coauthorship, name the responsible person, full, address, telephone(s) or fax, e-mail. those data should be placed at the foot of the first page.

7.5. Abstract:each document must include an abstract, in Portuguese and in english, not above 100 words, with up to five keywords per idiom, after the abstract.

7.6. main text:it begins on page 2, in a single column, without figures, graphs or tables.

7.7. Figures, graphs, and tables:they are annexed, with indications in the text of where they should be inserted. the edi-torial Council has the right to rearrange them so as to have a better diagram of the pe-riodical.All figures, graphs and tables will be referred to in the text and numbered with Arabic numerals. When they are quoted within the text, they must be referred to as FiG. 1 or FiG. 1 and 2 (in the case of more than one figure), tAB. 1 or tAB. 1 e 2 (in the case of more than one table). As to graphs, the same FiG. 1 or FiG. 1 e 2 (in the case of more than one graph) will be used.tables and figures legends are placed below them, and referred to as “table 1.”, “table 1 and 2.”, “Figure 1.”, “Figure 2.”, “Figures 1 and 2.”.Graphs are referred to in the same way as figures.Graphs and tables must be inserted in Word document, with a copy in the original for-mat, mentioning the program used and its version.Photographs must be presented in the original black-and-white high-contrast glossy pa-per. drawings and graphs must be sent in Cd as graphic program file in .tiFF . JPG, .Cdr, .Psd, .Ai or .ePs. the editorial Council has the right to include or not figures in a different for-mat. they can also be sent in China ink on vegetable paper.

7.8. Bibliography:Bibliographical references in the text will appear as follows:one author: (riZZini, 1979) or rizzini (1979); two authors: (riBeiro; FernAndes, 1999) or ribeiro e Fernandes (1999); three authors: (nAsCimento; PomBAl; HAddAd, 1999) or nascimento, Pombal and Haddad (1999); more than three authors: (roCHA et al., 2000) or rocha et al. (2000).they are listed at the end of the text, Arial font size 9, according to the standard:Periodical articles:BAZZoli, n.; GodinHo, H. reproductive biology of the Acestrorhynchus lacustris (rein-hardt, 1874) (Pisces: Characidae) from três marias reservoir, Brazil. Zoologischer An-zeinger, v. 226, n. 516, p. 285-297, 1991.Books and technical reports:

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BritsKi, H. A.; sAto, Y.; rosA, A. B. s. manual de identificação de peixes da região de três marias: com chave de identificação para peixes da bacia do são Francisco. Brasília: Câmara dos deputados, 1984. 143p. eletroBrás. Plano diretor de meio ambiente do setor elétrico, 1991-1993. rio de Janeiro: Centrais elétricas Brasileiras, 2v. 1991.CeteC/leme engenharia/CemiG. Levantamentos ambientais em Nova Ponte – Ictio-fauna: relatório Final. Belo Horizonte, 1988.Book chapters:HrBáCeK, J. Competition and predation in relation to species composition of freshwater zooplankton. in: CAirns Jr., J. (ed.). Aquatic microbial communities. new York: Garland. 1977, p. 305-353.thesis e dissertations:diniZ, C. C. 1997. Dinâmica reprodutiva de L. striatus e histologia do ovário de cinco espécies do gênero Leporinus Spix, 1829 (osteichthyes, characiformes, Anostomi-dae) na represa de camargos, mG. 1997. 106f. (dissertação, mestrado em Zootecnia: nutrição de monográstrico). Universidade Federal de lavras, lavras.GArAVello, J. C. Revisão taxonômica do gênero Leporinus Spix, 1829 (ostariophysi, Anostomidae). 1979. 455f. (tese, doutorado em Ciências: Zoologia). instituto de Bioci-ências da Universidade de são Paulo, são Paulo.Abstracts in seminars:sAntos, J. e. dos. Comportamento de larvas de 6 espécies de peixes sob condições ex-perimentais de fotoperíodo. in: enContros AnUAis de AQUiCUltUrA, 10, 1992, Belo Horizonte. Anais... Belo Horizonte: Associação mineira de Aqüicultura, 1992. p.75-77.

8. documents are sent in a Cd, microsoft Word 6.0 or above format, except Windows Vista, in no more than 20 (twenty) pages with 60 (sixty) lines.8.1. An identification sheet is attached to the original, in Cd, with the following informa-

tion:(a) total number of figures, boards, tables, and graphs.(b) total number of Cds with information on the text file, figures, and graphs formats.(c) Further information considered important.(d) Arial font, size 12, scientific names in italics.

8.2. When the original is sent in Cd, a label with the paper title and a printed copy must be annexed.

9. Cds must be submitted to antiviral program.10. Bibliographical references must not exceed 30 (thirty).11. though the editorial Council may see to it bibliographical references are revised, the au-

thors are entirely responsible for the data accuracy.12. measured units, values, symbols and abbreviations must follow corresponding national or

international standards.13. Color prints, when absolutely necessary, will depend on the authors’ payment of the corres-

ponding costs.14. illustrations may be reduced due to graphic demands, keeping due proportions.15. Papers must follow, as much as possible, those general norms for the submission of originals.

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16. Publication confirmation:16.1. each paper will receive, free of charge 10 (ten) copies.16.2. extra copies may be requested, in written form, to the editorial Council, shipment

being conditioned to the payment of print and post costs.17. the author(s) could be accessed PUC minas library site for additional information of stan-

dard methods for periodical articles: http://www.pucminas.br/documentos/normalizacao_artigos.pdf

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