2012_IsraelLacerdaAraujo

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  • UNIVERSIDADE DE BRASLIA

    INSTITUTO DE GEOCINCIAS

    PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM GEOCINCIAS

    APLICADAS

    CARACTERIZAO DO ARCABOUO TECTNICO DO TERRENO

    SO JOS DO CAMPESTRE, PROVNCIA BORBOREMA,

    COM BASE EM DADOS DE AEROGEOFSICA

    DISSERTAO DE MESTRADO N 037

    ISRAEL LACERDA DE ARAUJO

    BRASLIA

    2012

  • UNIVERSIDADE DE BRASLIA

    INSTITUTO DE GEOCINCIAS

    PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM GEOCINCIAS

    APLICADAS

    CARACTERIZAO DO ARCABOUO TECTNICO DO TERRENO

    SO JOS DO CAMPESTRE, PROVNCIA BORBOREMA,

    COM BASE EM DADOS DE AEROGEOFSICA

    ISRAEL LACERDA DE ARAUJO

    Dissertao de Mestrado elaborada junto ao Curso

    de Ps-Graduao em Geocincias Aplicadas (rea

    de Concentrao em Geofsica Aplicada), do

    Instituto de Geocincias (IG) da Universidade de

    Braslia (UnB), para concesso do ttulo de Mestre

    em Geocincias Aplicada

    Orientadora:

    Prof. Dr. Roberta Mary Vidotti

    Coorientadores:

    Prof. Dr. Roberto Alexandre Vitria de Moraes

    Prof .Dr. Elton Luiz Dantas

    Banca examinadora:

    Prof. Dr. Reinhardt A. Fuck (UnB)

    Prof. Dr. Francisco Hilrio Rego Bezerra (UFRN)

    BRASLIA

    JULHO DE 2012

  • minha maior inspirao de vida:

    Minha me Noeme do Carmo Arajo

  • Mestrado em Geocincias Aplicadas Geofsica Aplicada

    i

    Dissertao de mestrado

    AGRADECIMENTOS

    Gostaria primeiramente de agradecer a Deus por conceder-me a pacincia e

    a fora necessria, pois intercedeu para que pudesse continuar este projeto sempre que

    estava prestes a desistir.

    Agradeo a ESRI pela disponibilizao do Pacote de ferramentas que

    compem a Famlia ArcGis 10 por intermdio do contrato n 2011 MLK 8733 e a

    IMAGEM pelo apoio e viabilidade da concretizao do termo de uso entre o IG-UnB e

    a ESRI e pelo suporte aos softwares.

    Agradeo aos amigos gelogos que me ajudaram nas revises e auxlio, em

    especial aos amigos Rafael Brant, Saulo Carreiro, Diego Pereira, Diogo Baleeiro,

    Thiago Carvalho e Bruno de Jesus.

    Aos amigos da Carreira de Infraestrutura Rodolfo Salomo, Martha

    Martorelli, Fbio Henrique, Ktia Tancon, Renato Sampaio, Paulo Henrique Nonato e

    Frederico Meira, dentre outros que sempre me incentivaram a continuar.

    Aos meus orientadores, Prof. Roberto Alexandre Vitria de Moraes e

    Roberta Mary Vidotti, pela pacincia ao longo desse perodo, e ao Professor e amigo

    Elton Dantas, pelos ensinamentos ao longo desses oito anos, ora impaciente ora

    motivador, sem o qual no poderia ser o profissional de hoje.

    No menos importante, agradeo a toda minha famlia, minha me, Noeme

    do Carmo Arajo, meus irmos, Ismael e Dionsia Lacerda de Arajo, ao meu sobrinho

    e afilhado Miguel Lacerda e a minha namorada amiga e confidente.

    A todos, muito obrigado.

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    Dissertao de mestrado

    RESUMO

    Na poro Nordeste do Domnio Rio Grande do Norte (Provncia Estrutural

    Borborema), no Macio So Jos do Campestre, foram desenvolvidos estudos, com

    base na anlise do espectro radial ponderado de potncia do Campo Magntico Total,

    para individualizao de limites fsicos de blocos crustais cujos limites so marcados

    por um conjunto de cisalhamentos transcorrentes profundos que compem a trama

    tectnica do Macio So Jos do Campestre. Este sistema apresenta tendncia estrutural

    marcadamente N70E e N30E correlacionados ao Lineamento Patos e s Zonas de

    Cisalhamento Joo Cmara, Remgio e Brejinho. Estas estruturas regionais so

    interpretadas como limites de blocos crustais denominados Bloco Alagoinha e Pedro

    Velho, respectivamente localizados a sul e a norte do Lineamento Patos, Blocos So

    Jos do Campestre, Brejinho, Taipu e Rio do Fogo, a leste da Zona de Cisalhamento

    Brejinho, e os Blocos Dona Ins e Japi a sul da Zona de Cisalhamento Brejinho. A

    assinatura geofsica permite delimitar o limite dos Complexos Santa Cruz, Serrinha

    Pedro-Velho e Joo Cmara, ambos de idade paleoproterozica. O ciclo de orognese

    brasiliana definiu feies magnticas de primeira ordem, alm de reativar estruturas

    preexistentes, com o alojamento de corpos granticos neoproterozico preferencialmente

    nestas zonas de cisalhamento.

  • Mestrado em Geocincias Aplicadas Geofsica Aplicada

    iii

    Dissertao de mestrado

    ABSTRACT

    In the northeastern portion of Rio Grande do Norte Domain (Borborema

    Structural Province), at So Jos do Campestre Massif, studies were conducted based on

    weighted analysis of the radial power spectrum of the Total Magnetic Field for

    individualization of physical boundaries of crustal blocks whose boundaries are marked

    by a set of transcurrent shear zones that make up the deep tectonic fabric of the So Jos

    do Campestre Massif. This system shows remarkably structural trend N70E and N30E

    correlated to the Patos Lineament and Joo Cmra Shear Zone, Remigio Shear Zone and

    Brejinho Shear Zone. These regional structures are interpreted as a limit of crustal

    blocks called Alagoinha Block and Pedro Velho Block, wich are are located,

    respectively, to the southern and northern of the Patos Lineament. So Jos do

    Campestre Block, Brejinho Block, Taipu Block and Rio do Fogo Block, are located to

    the eastern of Brejinho Shear Zone, and finally, Japi and Dona Ines Blocks are located

    to southern at the Brejinho Shear Zone. The geophysical signature allows to define the

    boundary between Santa Cruz and Serrinha-Pedro Velho. The cycle of orogenesis

    brasiliana set features magnetic first order, and reactivate preexisting structures, with

    the granite intrusions preferentially in these Neoproterozoic shear zones.

  • Mestrado em Geocincias Aplicadas Geofsica Aplicada

    iv

    Dissertao de mestrado

    NDICE

    AGRADECIMENTOS i

    RESUMO ii

    ABSTRACT iii

    NDICE iv

    LISTA DE FIGURAS vi

    LISTA DE TABELAS viii LISTA DE ABREVIAES ix

    CAPTULO 1 INTRODUO 1 1.1 Localizao e Aspectos geomorfolgicos 4

    CAPITULO 2 MATERIAIS E MTODOS 6

    CAPITULO 3 ARCABOUO GEOTECTNICO DA PROVINCIA ESTRUTURAL BORBOREMA

    8

    3.1 Domnio Rio Grande do Norte (DRN) 11

    3.1.2 Macio So Jos do Campestre 12

    CAPTULO 4 MTODOS GEOFSICOS APLICADOS 17 4.1 Fundamentaes Tericas 17

    4.1.1 Magnetismo dos Materiais 20

    4.1.2 Magnetizao das Rochas 21

    4.2 Origem e Processamento dos Dados Geofsicos 22

    4.2.1 Interpolao 2d em Malha Regular 24

    4.2.1.1 Micronivelamento dos Dados 25

    4.2.2 Tratamento dos Dados Aeromagnticos 26

    4.2.2.1 Campo Magntico Anmalo CMA 26 4.2.2.2 Amplitude do Sinal Analtico ASA 28 4.2.2.3 Amplitude do Gradiente Horizontal Total AGHT 29 4.2.2.4 Derivada Vertical - Dz 29

    4.2.2.5 Inclinao do Sinal Analtico - ISA 30

    4.2.2.6 Espectro radial de potncia 31

    4.2.3 Tratamento dos Dados de Gamaespectrometria 32

    4.2.3.1 Canal do Potssio 35

    4.2.3.2 Canal do Trio 35

    4.2.3.3 Canal do Urnio 35

    4.2.3.4 Canal da Contagem Total 36

    CAPTULO 5 INTERPRETAO GEOFSICA 37 5.1 Interpretao de Gamaespectrometria 37

    5.1.1 Estruturas Gamaespectromtricas 38

    5.1.2 Domnios integrados (CT) 38

    5.1.3 Domnios Gamaespectromtricos 39

    5.2 Interpretao de Magnetometria 50

    5.2.1 Modelo espectral de profundidade das fontes magnticas 51

    5.2.2 Domnios e estruturas magnticos 59

    5.2.2.1 Domnios magnticos da faixa B0 fontes magnticas profundas 59 5.2.2.2 Domnios magnticos da faixa B1 61

    5.2.2.3 Domnios magnticos das faixas B2 e B3 62

    5.2.2.4 Estruturas magnticas 66

    5.2.4 Anlise de rudo a partir do processamento dos dados magnticos. 71

    5.2.5 Modelo Fsico 72

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    Dissertao de mestrado

    CAPITULO 6 ARCABOUO TECTNICO E GEOFSICO DO DOMNIO SO JOS DO CAMPESTRE

    75

    6.1 Macio So Jose do Campestre 82

    6.2 Terrenos Paleoproterozicos 84

    6.3 Faixa Serid e Intruses Neoproterozicas 88 6.4 Vulcanismo e Cobertura Fanerozica 90

    CAPTULO 7 CONCLUSES E DISCUSSES FINAIS 91

    REFERNCIAS 94

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    vi

    Dissertao de mestrado

    LISTA DE FIGURAS

    Figura 1.1 - Localizao da rea objeto dos trabalhos aqui propostos, representada pelo

    retngulo vermelho hachurado..........................................................................................4

    Figura 3.1 Domnios e terrenos tectono-estratigrficos da Provncia Estrutural

    Borborema (modificado de Santos, 2000 e Brito Neves et al., 2000).............................10

    Figura 3.2 Mapa do Arcabouo estrutural do Macio So Jos do Campestre

    (modificado de Dantas, 1998).........................................................................................13

    Figura 3.3 Mapa Litolgico das Folhas So Jose do Campestre e Joao Cmara

    (modificado de Dantas e Roig, 2010)..............................................................................14

    Figura 4.1 - Onda senide de alta frequncia (linha tracejada) amostrada em pontos

    discretos gera onda de mais baixa frequncia (linha contnua) (Davis, 1986)................24

    Figura 4.2 Fluxograma de processamento para os dados de magnetometria...............27

    Figura 4.4 Espectro de radiao gama (Minty 1997)...................................................33

    Figura 4.5 Fluxograma de processamento para os dados de gamaespectrometria.......34

    Figura 5.1 Imagem do Potssio com sombreamento de inclinao de 45 e declinao

    de 315.............................................................................................................................42

    Figura 5.2 Imagem do Trio com sombreamento de inclinao de 45 e declinao de

    315..................................................................................................................................43

    Figura 5.3 Imagem do Urnio com sombreamento de inclinao de 45 e declinao

    de 315.............................................................................................................................44

    Figura 5.4 - Mapa de Lineamentos da Gamaespectrometria (CMY K:Th:U)..............45

    Figura 5.5 Mapa de Contagem Total (Imagem Sombreamento de inclinao de 45 e

    declinao de 315)...............................................................................................................46

    Figura 5.6 Imagem de composio RGB K:Th:U.....................................................47

    Figura 5.7 Imagem de composio CMY K:Th:U....................................................48

    Figura 5.8 Mapa de Domnios Gamaespectromtricos interpretados, de acordo com a

    Tabela 5.1. Sobreposio ao produto RGB K:Th:U.....................................................49

  • Mestrado em Geocincias Aplicadas Geofsica Aplicada

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    Dissertao de mestrado

    Figura 5.9 Espectro radial de potncia do Campo Magntico Total CMT................52

    Figura 5.10 Campo Magntico Anmalo micronivelado.............................................54

    Figura 5.11 Campo Magntico Anmalo da Faixa B0.................................................55

    Figura 5.12 Campo Magntico Anmalo da Faixa B1................................................56

    Figura 5.13 Campo Magntico Anmalo da Faixa B2................................................57

    Figura 5.14 Campo Magntico Anmalo da Faixa B3................................................58

    Figura 5.15 - Mapa de Domnios Magnetomtricos, interpretado a partir da

    ASA_CMA_B0...............................................................................................................60

    Figura 5.16 Mapa de Domnios Magnetomtricos, interpretado a partir da

    ASA_CMA_B1...............................................................................................................63

    Figura 5.17 Mapa de Domnios Magnetomtricos (alto vermelho, mdio verde,

    baixo - azul). Interpretado a partir da ASA_CMA_B2...................................................64

    Figura 5.18 Mapa de Domnios Magnetomtricos (alto vermelho, mdio verde,

    baixo - azul). Interpretado a partir da ASA_CMA_B3 (Sombreamento de inclinao de

    45 e declinao de 315)................................................................................................65

    Figura 5.19 Lineamentos Magnetomtricos (em azul) interpretados a partir da

    ISA_CMA_B0. Destaque s tendncias N30E e N70E ...............................................67

    Figura 5.20 Lineamentos Magnetomtricos (vermelho bord) interpretados a partir da

    ISA_CMA_B1. Destaque s tendncias N30E e N70E, N30W e E-W.......................68

    Figura 5.21 Lineamentos Magnetomtricos (laranja) interpretados a partir da

    ISA_CMA_B2.................................................................................................................69

    Figura 5.22 Lineamentos Magnetomtricos (verde) interpretados a partir da

    ISA_CMA_B3.................................................................................................................70

    Figura 5.23 Fluxograma do processo de segregao e aglutinao do Campo

    Magntico Anmalo segundo o espectro de potncia.....................................................73

    Figura 5.24 Modelo Fsico para o Macio So Jos do Campestre..............................74

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    Dissertao de mestrado

    Figura 6.1 Principais unidades tectono-estratigrficas compiladas de Angelim et. al.

    (2007) e estruturas interpretadas neste trabalho (Figura 5.24)........................................76

    Figura 6.2 Correlao entre modelo fsico e arcabouo geolgico..............................77

    Figura 6.3 Terminao em splay do Lineamento Patos (L-P)......................................79

    Figura 6.4 Encurvamento de N30E para N90E na ZC Joo Cmara.........................80

    Figura 6.5 Segmentao da Zona de Cisalhamento Brejinho (ZC-Br). a) Santa Cruz-

    So Jos do Campestre; b) Brejinho (sotoposta cobertura fanerozica)......................80

    Figura 6.6 Zona de Cisalhamento Remgio ZC-RM (01 e 02) interpretado a partir do

    ASA do CMA (faixa B0, figura 5.15) sotoposto aos blocos interpretados neste trabalho

    (Figura 6.2). b) A ocorrncia de falhas de movimento dextral e sinistral podem ser

    explicadas pelo modelo de rotao de blocos modificado de Dantas (1997)..................81

    Figura 6.7 Interpretao do modelo de domos (branco) e quilhas (marrom) para a rea

    do ncleo arqueano do MSJC. ASA e ISA (transparente) do CMA da banda B0..........84

    Figura 6.8 Assinatura gamaespectromtrica dos terrenos paleoproterozicos. a)

    Complexo Santa Cruz, hachurado horizontalmente; b) Complexo Serrinha-Pedro Velho,

    hachurado verticalmente; c) Complexo Joo Cmara.....................................................85

    Figura 6.9 Sutes granticas neoproterozico. Sute Itaporanga representado por: a)

    Granito Barcelona, e; b) Granito Gameleira. Sute Catingueira representado por: c)

    Granito Japi; d) Granito Dona Ins, e; e) Granito Taipu.................................................88

    LISTA DE TABELAS

    Tabela 5.1 Classificao das unidades gamaespectromtricas para a regio do TSJC, de acordo com os teores de Potssio, Trio:...............................................................................................41

    Tabela 5.2: Caractersticas das faixas do espectro de energia para a regio do TSJC................53

  • Mestrado em Geocincias Aplicadas Geofsica Aplicada

    ix

    Dissertao de mestrado

    LISTA DE ABREVIAES

    Amplitude do Gradiente Horizontal Total AGHT

    Amplitude do Sinal Analtico do Campo Magntico Anmalo ASA

    Campo Magntico Anmalo CMA

    Campo Magntico Total CMT

    Servio Geolgico do Brasil CPRM

    Contagem Total CT

    Departamento Nacional de Produo Mineral DNPM

    Derivada Vertical Dz

    Domnio Rio Grande do Norte DRN

    Domnio So Jos do Campestre DSJC

    Espectro de potncia radialmente ponderado EPRP

    Frequncia de Nyquist fn

    Idade modelo TDM

    Inclinao do Sinal Analtico ISA

    International Geomagnetic Reference Field IGRF

    Lineamentos Patos LP

    Lineamento Pernambuco LPE

    Macio So Jos do Campestre MSJC

    Mtodo Urnio-Chumbo U-Pb

    Projeto Geofsico Brasil Canad PGBC

    Sistema de Informao Geogrfica SIG

    Terreno So Jos do Campestre TSJC

    Tonalito-trondhjemito-granodiorito TTG

    World Global System WGS1984

    Zona de Cisalhamento Brejinho ZC-Br

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    1

    Dissertao de mestrado

    1. INTRODUO

    Antigos ncleos arqueanos apresentam-se como resultado de complexos

    processos geolgicos. Muitas vezes essas unidades so marcadas por mltiplas

    assinaturas tectnicas devido aos processos de polideformao, retrabalhamento crustal

    e reativao tectnica, alm de geralmente estarem sobrepostas por sedimentos recentes.

    Em ncleos preservados em margens passivas modernas so comuns processos de

    retrabalhamento crustal, em que diferentes episdios de deformao podem causar

    obstculos no entendimento da histria evolutiva e formao de crosta continental da

    regio.

    No intuito de compreender a evoluo tectnica e a configurao de terrenos

    antigos, faz-se uso de ferramentas de integrao de dados de geologia de campo, das

    relaes estruturais e de determinaes geoqumicas e geocronologia absoluta e obter

    subsdios para o arcabouo tectnico destas reas. Este processo envolve uma avaliao

    minuciosa do registro geolgico em superfcie. Sob esta gide, e de forma

    complementar, as tcnicas baseadas em dados geofsicos tm sido utilizadas para o

    entendimento dos processos geolgicos dominantes abaixo da superfcie e para

    segmentao de blocos ou terrenos tectnicos que marcam as descontinuidades

    geofsicas ou geolgicas em profundidade.

    Poucos exemplos existem na literatura seguindo estes preceitos, em que se

    procura realizar a delimitao de terrenos e domnios tectnicos em regies antigas.

    Modelos de compartimentao tectnica obtidos por meio da modelagem em trs

    dimenses via dados de magnetometria e gravimetria em terrenos arqueanos contendo

    rochas do tipo greenstone belts, apresentam peculiaridades geofsicas e geolgicas que

    permitem caracterizar fontes profundas e enraizamento do ncleo arqueano, como no

    caso do Crton de Pilbara, na regio noroeste da Austrlia (Wellman, 2000).

    Por sua vez, a integrao de informaes de geocronologia, mapeamento

    geolgico e magnetometria com vistas a reinterpretar os limites da crosta

    paleoproterozica na regio centro-norte dos Estados Unidos da Amrica foi usado por

    Holm et. al. (2007) para o aprimoramento do modelo de evoluo dos terrenos

    paleoproterozicos dos cintures orognicos de Penokean, Yavapai e Mazatzal, que

    foram formados em episdios de rpida formao de crosta e acreso crustal.

  • Mestrado em Geocincias Aplicadas Geofsica Aplicada

    2

    Dissertao de mestrado

    Feies tectnicas podem ser mais bem detalhadas quando compreendida

    a relao da herana estrutural e a reativao de estruturas pr-existentes. Depsitos

    minerais so possveis de serem identificadas pela existncia de mltiplos horizontes

    magnticos, alojamento de pltons, metamorfismo de alto grau ou alterao hidrotermal

    pervasiva de xido de ferro atravs da determinao das propriedades petrofsicas e em

    levantamentos de aeromagnetometria (Crawford et. al., 2010).

    As principais tcnicas empregadas nestes estudos, por intermdio de

    refinamento e processamento de dados e aeromagnticos, so Deconvoluo de Euler,

    local wavenumber e amplitude do sinal analtico do campo magntico anmalo, como

    proposto por Bournas et. al. (2003) para o Escudo de Tuareg, localizado na poro leste

    de Hoggar (Algeria).

    A composio rochosa das regies mais antigas, que abarcam unidades

    metassedimentares aluminosas, cherts, carbonatos, clcio-silicticas e rochas gneas do

    tipo TTG, geralmente apresentam anomalias de baixa amplitude do sinal analtico

    (anomalia magntica). Na regio sul da Austrlia, no Crton Gawler, uma sucesso de

    rochas do tipo greenstone belt, komatiitos, basaltos toleticos, formaes ferrferas

    bandadas e intruses mficas so representadas por anomalias de maior amplitude e

    frequncia nos mapas magnticos. (Stewart e Betts, 2010).

    Ainda segundo Stewart e Betts (2010), contrastes geofsicos ocorrem entre

    as bordas dos ncleos arqueanos e os terrenos adjacentes devido s diferentes

    composies mineralgicas, sendo que estes limites so geralmente coincidentes com

    zonas de cisalhamento dcteis de escala regional.

    No obstante, alm da complexa trama de zonas de cisalhamento nas bordas

    dos domnios, estas reas expem configuraes estruturais de dobramentos que

    permitem inferir o grau de deformao devido ao processo de evoluo tectnica,

    quanto comparao entre as dobras apertadas e abertas que ocorrem no sistema e que

    ficam bem marcadas nos produtos de primeira derivada e inclinao do sinal analtico

    do campo magntico anmalo, conforme pode ser observado em Stewart e Betts (2010),

    em regies geologicamente similares a abordada neste trabalho.

    Especificamente em relao Provncia Borborema, destaca-se a descoberta

    de rochas crustais com mais de 3,45 Ga no Macio So Jos do Campestre MSJC

  • Mestrado em Geocincias Aplicadas Geofsica Aplicada

    3

    Dissertao de mestrado

    (Dantas, 1997), que compe terreno alctone denominado Terreno So Jos do

    Campestre.

    O MSJC, que representa o mais antigo fragmento de crosta continental

    existente na plataforma Sul Americana, configura-se como entidade alctone, ou terreno

    extico, aglutinada s unidades neoproterozicas quando do ciclo Brasiliano, com a

    peculiaridade de alocar-se prximo fronteira entre a crosta continental e a crosta

    ocenica (Dantas et. al., 2004). Esta configurao geotectnica, com eventos registrados

    desde o Arqueano at o Cenozoico, proporciona alto grau de complexidade para o

    estudo geodinmico da regio em questo.

    Desta forma, dados de geofsica (e.g. magnetometria e gravimetria), tornam-

    se relevantes devido possibilidade de estudo indireto de feies profundas e rasas

    relacionadas crosta continental. O uso destas, juntamente com informaes de

    superficie trazidas pela gamaespectrometria, possibilita ampliar o conhecimento

    geolgico e geofsico da regio e repercute igualmente na explorao mineral local,

    fatores de interesse tanto cientfico quanto econmico.

    Com estes preceitos, este trabalho objetiva a utilizao de mtodos de

    processamento e interpretao de dados aerogeofsicos de magnetometria e

    gamaespectrometria como ferramenta para aprimorar e ampliar o conhecimento

    geofsico e geolgico, do Macio So Jos do Campestre e seus componentes

    tectnicos.

  • Mestrado em Geocincias Aplicadas Geofsica Aplicada

    4

    Dissertao de mestrado

    1.1 Localizao e aspectos geomorfolgicos

    Conforme ilustrado na Figura 1.2, a rea em estudo est localizada no

    extremo nordeste do Brasil, na poro leste do Rio Grande do Norte e da Paraba e

    abrangida em sua totalidade pela Carta ao milionsimo SB-25 (Almeida, 1981; Brito

    Neves, 1975) e pelo Projeto Aerogeofsico Borda Leste do Planalto da Borborema

    (CPRM, 2012). Limita-se pelas coordenadas geogrficas de 3600 W e 7 00S e pela

    costa Brasileira a leste e norte da rea.

    Figura 1.1 - Localizao da rea objeto dos trabalhos aqui propostos, representada pelo

    retngulo vermelho hachurado. A rea de estudos recobre a poro setentrional dos

    estados do Rio Grande do Norte e Paraba.

  • Mestrado em Geocincias Aplicadas Geofsica Aplicada

    5

    Dissertao de mestrado

    O acesso principal poro norte da rea realizado atravs da BR-304, que

    liga as cidades de Natal a Fortaleza e, na parte sul pela BR-101 (Natal-Joo Pessoa) e

    BR-226 (Natal - Currais Novos). Alm disso, a regio servida por diversas estradas

    estaduais interligando as pequenas cidades.

    A regio apresenta como caracterstica geomorfolgica o relevo plano

    composto de afloramento de rochas do embasamento cristalino, e inselbergs isolados

    que caracterizam os granitos brasilianos (Jardim de S, 1994; Sial, 1986). Coberturas

    tabulares compostas de sedimentos Tercirios formam a Serra de Santana e Serra de

    Picu, e so bem destacadas na paisagem local. As rochas sedimentares que compem a

    Bacia Potiguar recobrem a costa norte do Rio Grande do Norte, formando uma

    superfcie altiplana.

    O clima semirido presente na regio nordeste possibilitou o estancamento

    dos processos intempricos e, como consequncia, possibilitou razovel exposio dos

    afloramentos do embasamento. Os principais acidentes geogrficos presentes na rea

    so os rios Trairi e Cear-Mirim no Rio Grande do Norte e os rios Jac e Curimata na

    Paraba.

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    6

    Dissertao de mestrado

    2. MATERIAIS E MTODOS

    Os mtodos aplicados tem como base: i) o levantamento bibliogrfico sobre

    o conhecimento geolgico do arcabouo geotectnico pr-cambriano da Provncia

    Estrutural Borborema, bem como sua contextualizao na evoluo do antigo continente

    Gondwana; ii) processamento e interpretao de dados aerogeofsicos de magnetometria

    e gamaespectrometria; iii) integrao e interpretao conjunta destes dados.

    O conjunto de dados foi estruturado em base de dados georreferenciada com

    parmetro cartogrfico de datum horizontal World Global System WGS1984 e

    sistema de coordenadas com projeo UTM Zona 25 em Sistema de Informao

    Geogrfica - SIG, com o intuito de possibilitar a interpretao e integrao de

    informaes geolgicas e geofsicas.

    A etapa de tratamento e processamento dos dados geofsicos foi executada

    com a plataforma Oasis Montaj (verso sete), por meio da gerao de malhas regulares

    de espaamento de 100 metros e aplicao de filtros, tendo ento uma serie de produtos

    gerados a partir campo magntico residual, para os dados de magnetometria, e mapas de

    contagem total, dos elementos trio, urnio e potssio alm de composies ternrias

    para os dados gamaespectromtricos.

    A partir destes produtos foram interpretadas feies e domnios geofsicos,

    com a caracterizao dos elementos para elaborao do mapa fsico da regio em

    estudo. Em seguida os dados foram integrados para efetuar a correlao das

    caractersticas geofsicas e geolgicas.

    No intuito de antecipar as etapas desenvolvidas, para melhor compreenso

    do leitor e para que este tenha uma viso geral do que proposto, esta dissertao foi

    organizada em 7 captulos.

    Os Captulos 1 e 2 apresentam resumidamente a motivao para utilizao

    das ferramentas geofsicas, bem como a localizao da rea escolhida e suas

    caractersticas geogrficas, e resumidamente os materiais e mtodos utilizados para o

    desenvolvimento da presente dissertao.

    O Capitulo 3 composto pela reviso bibliogrfica do arcabouo geolgico

    da Provncia Estrutural Borborema, com nfase nas informaes que envolvem o

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    Dissertao de mestrado

    Macio So Jose do Campestre MSJC, que compreende parte do Domnio Rio Grande

    do Norte DRN, alm de estudos nos quais foram utilizados mtodos magnetomtricos

    e gravimtricos para compartimentao do arcabouo tectnico da referida provncia.

    O capitulo 4 compreende uma reviso do estado da arte acerca da teoria

    geofsica dos mtodos utilizados neste trabalho, a descrio dos parmetros do

    aerolevantamento geofsico pelo qual foram gerados os produtos derivados da

    aeromagnetometria e gamaespectrometria, bem como as tcnicas de tratamento dos

    dados aerogeofsicos.

    O capitulo 5 apresenta o resultado da interpretao qualitativa e quantitativa

    dos dados de magnetometria, por meio da anlise do espectro de potencia, pelo qual

    foram interpretadas as profundidades que contribuem para a gerao das anomalias

    magnticas. Por intermdio da interpretao de domnios e lineamentos magnticos, foi

    gerado o mapa geofsico da regio.

    O capitulo 6 versa sobre a correlao dos dados geofsicos aos geolgicos

    previamente conhecidos, de forma a corroborar as feies j conhecidas alm da

    proposio de estruturas no mapeadas. O capitulo 7, por fim, apresenta e discute os

    resultados deste trabalho.

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    Dissertao de mestrado

    3. ARCABOUO GEOTECTNICO DA PROVINCIA ESTRUTURAL

    BORBOREMA

    A Provncia Estrutural Borborema, segundo Almeida et al. (1977, 1981),

    definida como uma das entidades geotectnicas que compem o conjunto de dez

    provncias estruturais oriundas da compartimentao do territrio brasileiro. Para a

    definio dessas unidades, os autores consideraram a evoluo das principais unidades

    geolgicas que apresentam caractersticas estratigrficas, magmticas, metamrficas e

    tectnicas distintas daquelas adjacentes. Segundo estes autores, a Provncia Estrutural

    Borborema caracteriza-se pela granitognse e por zonas de cisalhamento de grandes

    propores vinculadas ao Ciclo Brasiliano/Panafricano, o ltimo evento de orognese,

    com idade neoproterozica, variando entre 700 e 540 milhes de anos. Esta provncia

    foi resultante da convergncia entre os crtons Amaznico, Oeste Africano-So Luis e

    So Francisco-Congo, incluindo ainda outros blocos antigos e arcos consolidados em

    perodos pr-brasilianos (Dantas et al., 2004; Van Schmus et al., 2008).

    Brito Neves (1975) prope a segmentao do pr-cambriano da poro

    nordeste do territrio brasileiro, com destaque diviso em faixas de dobramentos que

    foram geradas durante o Ciclo de orognese brasiliana a partir da convergncia entre os

    crtons envolvidos neste processo geotectnico. Dessa forma, a Provncia Estrutural

    Borborema limita-se a oeste pelo conjunto de rochas sedimentares de idade fanerozica

    da Bacia do Parnaba, a sul pelo Crton So Francisco, e os demais pelas bacias

    sedimentares Mesozoico-Cenozoicas costeiras Potiguar, Pernambuco-Paraba e Sergipe-

    Alagoas. Caby (1989) sugere ainda que a provncia em questo estende-se para o

    continente africano por meio da faixa de dobramento Trans-Saara, destacado pela

    continuidade de grandes estruturas e lineamentos.

    Estudos posteriores foram realizados com o intuito de separar os diferentes

    domnios que compem a Provncia Estrutural Borborema. De forma geral, as

    segmentaes se fundamentam em parmetros que envolvem evoluo geolgica,

    correlao estratigrfica, padres geofsicos, geocronolgicos e de estruturas tectnicas

    lineares de dimenses regionais. Destaca-se a complexidade de efetuar a referida

    segmentao, uma vez que o processo de acreso se deu por diferentes terrenos, os

    quais podem ser subdivididos em fragmentos de crosta arqueana como ncleos

    dispersos pela provncia, embasamento granito-gnissico paleoproterozicos e

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    Dissertao de mestrado

    sequncias metavulcanosedimentares, cuja formao se deu entre o Mesoproterozico e

    Neoproterozico, sofrendo ainda intruses tardi-tectnicas no Ciclo Brasiliano (Van

    Schmus et al., 1995).

    Dos fragmentos crustais arqueanos, destacam-se os complexos Granjeiro,

    Troia-Tau, Patos-Cajazeiras e o Macio So Jos do Campestre, que apresentam Nd

    negativo, indicando envolvimento de crosta silica oriunda de manto enriquecido (Brito

    Neves et. al., 2000), retrabalhado em distintos eventos geotectnicos (Jardim de S,

    1994; Dantas, 1997).

    Como resultado, Santos (2000) segmentou a referida provncia em trs

    grandes domnios (superterrenos), separados entre si pelas zonas de cisalhamento ou

    lineamentos Patos LP e Pernambuco LPE, denominados ento como Domnio Sul

    (Domnio Externo), localizado a sul do LPE, Domnio Central (Domnio da Zona

    Transversal), localizado entre o LPE e LP, e Domnio Norte, a norte do LP, conforme

    ilustrado na Figura 3.1.

    Especificamente, o Domnio Norte apresenta como domnios de segunda

    ordem Mdio-Corea, Cear-Central, Rio Grande do Norte DRN, (Santos, 1996; Brito

    Neves et al., 2000), estando a rea enfoque do presente estudo neste ltimo domnio.

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    Dissertao de mestrado

    Figura 3.1 Domnios e terrenos tectono-estratigrficos da Provncia Estrutural Borborema:

    TJC Terreno So Jos do Campestre; TSD, TRP, TGJ (Terrenos Serid, Rio

    Piranhas e Jaguaribe); DMC (Domnio Mdio Corea); TAC, TCC, TBN (Domnio

    Ceara Central); TPB, TAP, TAM, TRC (Domnio da Zona Transversal); TBS,

    TCM, TPA, TMO (Domnio Externo) LP, LPE, LJT, LT (Lineamentos Patos,

    Pernambuco, Jaguaribe-Tatajuba e Transbrasiliano) (modificado de Santos, 2000 e

    Brito Neves et al., 2000).

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    3.1 Domnio Rio Grande do Norte (DRN)

    Situado a norte do LP, alm de estar encoberto pela Bacia Potiguar, a norte,

    e sedimentos costeiros cenozoicos, a leste, o DRN ocupa aproximadamente 150.000

    km2 da poro nordeste da Provncia Borborema.

    Segundo Brito Neves (1975) este domnio resultante do processo de

    aglutinao, durante o Ciclo Brasiliano, de fragmentos de ncleos arqueanos, blocos

    gnissicos migmatticos paleoproterozicos e sequncias supracrustais formadas entre o

    Paleoproterozico e o Neoproterozico. Estas unidades amalgamadas foram alvo de

    intruses de idade tardi-orognicas brasilianas, geralmente associadas s zonas de

    cisalhamento transcorrentes (Jardim de S 1994, Van Schmus et al., 1995; Vauchez et

    al., 1995; Dantas 1997; e Brito Neves et al., 2000). Em termos tectnicos, o DRN

    apresenta segmentaes menores (subdomnios) que provavelmente coexistiram como

    blocos singulares desde o Paleoproterozico (Brito Neves et al., 2000).

    Santos (2000) apresentou modelo de desdobramento do DRN em

    subdomnios, subdividindo-os em So Jos do Campestre, Rio Piranhas-Granjeiro e

    Serid. Por corresponderem a sequncias limitadas por feies estruturais de grande

    porte, como zonas de cisalhamento e falhas quilomtricas, e apresentarem significativo

    contraste geolgico com as unidades adjacentes, estes subdomnios apresentam

    caratersticas de terrenos alctones (Irwin, 1972; Berg et. al., 1972). Desta forma,

    Santos (2000) adotou a denominao de Terreno So Jos do Campestre, Terreno

    Serid e Terreno Rio Piranhas-Granjeiro, podendo este ltimo ser segmentado (Figura

    3.1).

    O autor ainda acrescenta a diversidade de episdios, s quais se destacam

    aqueles vinculados ao Terreno So Jos do Campestre:

    Acreso juvenil paleoarqueana;

    Acreso vertical grabo-anortostica no Mesoarqueano e no Estateriano;

    Enxames de diques mficos estaterianos.

    Gonalves (2009) compilou, com base em dados geofsicos regionais, uma

    srie de estruturas magnticas regionais de carter dctil com forte penetratividade de

    direo preferencial leste-oeste e nordeste-sudoeste, associadas ao evento Brasiliano.

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    Dissertao de mestrado

    Alguns produtos magnticos subsidiaram a definio dos blocos (terrenos) e seus

    respectivos limites (Dal R Carneiro et al. 1988, Campelo, 1999, Oliveira, 2008).

    Castro et al. (1997b, 1998) apresentaram, como produto da anlise e

    interpretao de dados gravimtricos do DRN, um mapa de interface crosta-manto com

    informaes relevantes sobre a profundidade da Descontinuidade de Mohorovicic, que

    varia de aproximadamente 29 km, a leste da cidade de Bom Jesus, Estado do Rio

    Grande do Norte, at aproximadamente 10 km, no sop da plataforma continental.

    Oliveira (2008) caracteriza o DRN como a parte da Provncia Estrutural

    Borborema que apresenta a crosta com sinal analtico do Campo Magntico Anmalo

    mais elevado, sendo que as fontes magnticas regionais que resultaram nesta

    caracterstica apresentam origem profunda. O autor ainda observa que os limites do

    DRN apresentam assinatura magntica bem definida, delimitados pela Zona de

    Cisalhamento Patos a sul e Zona de Cisalhamento Jaguaribe a oeste. O mesmo autor

    ainda sugere a adio de fontes magnticas produzidas a partir da fisso do

    supercontinente Gondwana, no Mesozoico, tais como o magmatismo Cear Mirim, e ao

    longo de uma faixa de direo norte-sul, como o Alinhamento Macau-Queimadas como

    uma das possveis causas de fontes magnticas atuantes no DRN. Outra fonte magntica

    seria o ncleo arqueano do Terreno So Jos do Campestre (Dantas et al., 2004).

    3.1.2 Terreno So Jos do Campestre

    O Terreno So Jos do Campestre TSJC, ilustrado nas Figuras 3.2 e 3.3,

    composto por unidades geolgicas formadas desde o arqueano at o neoproterozico. O

    ncleo arqueano, denominado Macio So Jos do Campestre apresenta evoluo

    tectnica vinculada a distintos eventos de acreso crustal entre o Paleoarqueano e

    Neoarqueano. As rochas do ncleo arqueano MSJC so limitadas pelos complexos

    Serrinha-Pedro Velho, Santa Cruz e Joo Cmara, de idade Paleoproterozica (Dantas,

    1997).

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    Dissertao de mestrado

    Figura 3.2 Mapa do Arcabouo estrutural do Macio So Jos do Campestre mostrando a

    configurao de pequenos blocos crustais delimitados por zonas de cisalhamento

    transcorrentes e o sentido do transporte tectnico as Orogneses Paleoproterozica

    (setas claras) e Neoproterozica Brasiliana (setas escuras) (modificado de Dantas,

    1998).

    Fig.3.3

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    Dissertao de mestrado

    Figura 3.3 Mapa Litolgico das Folhas So Jose do Campestre e Joao Cmara (modificado de

    Dantas e Roig, 2010).

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    Dissertao de mestrado

    Em sua regio centro-norte, o MSJC apresenta assinatura gravimtrica

    positiva, que corresponde ao ncleo arqueano (Dantas et al., 1998; Dantas et al., 2004)

    de densidade elevada, em contraste com as rochas metassedimentares e granticas da

    Faixa Serid. Esta diferena de densidade sugere tambm a estrutura denominada Zona

    de Cisalhamento Picu-Joo Cmara como sutura que separa o TSJC e o Terreno

    Granjeiro-Serid (Castro et. al. 1997a, 1998, Jardim de S et. al., 1997, Campelo,

    1999).

    Na poro sul, Oliveira (2008) utilizou dados de aeromagnetometria para

    determinar o limite entre os subdomnios a partir de um eixo de baixa magnetizao que

    acompanha a trama principal de direo norte-sul que ocorre no lado oeste e segmenta a

    estruturao de direo nordeste-sudoeste no lado leste.

    Os complexos paleoproterozicos que bordejam o ncleo arqueano (figura

    3.2) so formados por sutes clcio-alcalinas granticas com gerao de crosta juvenil e

    retrabalhamento crustal. Os Complexos Joo Cmara e Santa Cruz (figura 3.3)

    apresentam idade U/Pb 2,25 Ga e idade modelo TDM em 2,5 Ga, o que os difere do

    Complexo Serrinha-Pedro Velho por este corresponder crosta juvenil de 2,2 Ga e TDM

    2,23. Ainda neste contexto, ocorrem enxames de diques toleticos a subalcalino

    representados pela Sute Inhar, com idade U/Pb de 2,15 G.a. e 1,97 G.a. (Dantas 1997,

    Dantas et al., 2004).

    O MSJC, que Brito Neves (1983) nominou inicialmente como Macio

    Caldas Brando, ocupa uma rea de aproximadamente 6.000 km2 sendo formado por

    fragmentos crustais, de origem independente, que foram aglutinados aps

    retrabalhamento durante o Paleoproterozico (Dantas et al., 2004). O MSJC representa

    o mais antigo fragmento de crosta silica da Plataforma Sulamericana (Dantas, 1997;

    Brito Neves et al., 2000; Dantas et al., 2004).

    Em termos petrolgicos, o MSJC corresponde essencialmente a um grupo

    de unidades de ortognaisses, gnaisses migmatizados, granulitos e anfibolitos,

    predominando estes, alm de granitides de composio grantica a sienograntica,

    sequncias mfico-ultramficas acamadadas e sequncia vulcanossedimentar do tipo

    greenstone belt.

    O Complexo Presidente Juscelino (Figura 3.3) corresponde a um terreno

    tonalito-trondhjemito-granodiorito de assinatura tpica de TTG, com TDM de 3,6 Ga,

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    16

    Dissertao de mestrado

    idade de cristalizao pelo mtodo U-Pb de 3,25 Ga e Nd negativo para os tonalitos

    dessa unidade, podendo assim indicar contribuio de crosta juvenil retrabalhada

    (Dantas et al. 2004). Os dados permitem inferir a presena de pores de crosta

    paleoarqueana na gnese deste complexo ou a derivao do manto enriquecido mais

    velho do que 3,5 G.a (Brito Neves et al., 2000).

    Os Complexos Senador Eli de Souza e Riacho da Telha (Figura 3.3) so

    representados por sequncias mfico-ultramficas acamadadas de TDM de at 3,9 G.a. e

    idade U/Pb de aproximadamente 3,0 Ga. Dantas (2009) relaciona a idade modelo destas

    unidades com possvel magmatismo entre o Paleoarqueano e o Mesoarqueano, enquanto

    a idade de 3,0 Ga estaria relacionada ao momento de cristalizao desses complexos.

    Para o MSJC sugerido evoluo tectonotermal entre o Arqueano e o

    Paleoproterozico. Neste ncleo marcado a formao de crosta juvenil no Complexo

    Presidente Juscelino, em 3,25 G.a. e, em seguida, pela cristalizao de sute

    trondjhemtica em 3,17 Ga do Complexo Brejinho, seguido pela formao da Sute

    Gabro-anortostica de idade U/Pb de 3,03 Ga do Complexo Senador Eli de Souza,

    alojadas segundo direo SE-NW caracterstica do MSJC. A intruso de sienogranitos

    de 2,7 Ga marcou a ltima atividade gnea arqueana neste ncleo. Um evento

    metamrfico neoarqueano de datao U-Pb em 3,0 Ga sugerido com base em datao

    de migmatitos do Complexo Juscelino e, alm deste, um ltimo evento

    paleoproterozico de 2,0 Ga que atingiu condies do fcies metamrfico anfibolito

    pode ser observado devido a uma segunda fase de migmatizao (Dantas et. al., 2004).

    As unidades do MSJC foram ento consolidadas durante a Orognese

    Brasiliana, durante o Neoproterozico, sendo os granitides de 0,62 Ga e 0,58 Ga

    correlacionados a este ciclo. Estes comumente esto associados a zonas de cisalhamento

    brasilianas ou a antigas estruturas profundas reativadas (Dantas et al., 2004). Ainda

    durante o Brasiliano prevaleceu um metamorfismo regional em fcies anfibolito alto

    com retrometamorfismo para xisto verde, alm do desenvolvimento de sistemas

    transcorrentes de carter dextral que apresentam trend E-W e NE-SW. Por fim, as

    estruturas NW-SE anteriores Orognese Brasiliana foram reativadas.

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    Dissertao de mestrado

    4. MTODOS GEOFSICOS APLICADOS.

    Pode-se dizer que a geofsica o campo das geocincias que visa o estudo

    da Terra, da superfcie at o seu interior, por intermdio de observaes indiretas que

    so funo das propriedades fsicas do meio, para a compreenso dos processos que

    ocorrem em subsuperfcie. J a geofsica aplicada cobre os estudos das diferentes

    caractersticas geofsicas da poro rasa da crosta terrestre, adicionando terceira

    dimenso s feies observadas em superfcie. A identificao de contrastes geofsicos

    pode marcar descontinuidades tectnicas ou geolgicas, alm de apresentar relevante

    interesse para a prospeco de bens minerais (Reynolds, 1997).

    Os mtodos geofsicos podem ser divididos em ativos e passivos. Os

    mtodos passivos referem-se queles associados a campos naturais da Terra, como a

    gravimetria e magnetometria, ambos fundamentados na Teoria do Potencial (Blakely,

    1995).

    No que concerne magnetometria, seu carter dipolar, em contraste quele

    monopolar da gravimetria, torna sua interpretao mais complexa. O Campo magntico

    medido representa variaes da intensidade do campo total (B) ou de suas componentes

    (x,y,z), tendo como unidade de medida o nanoTesla (nT). Este mtodo visa aferir a

    intensidade do campo magntico terrestre proveniente da interao entre o campo

    magntico gerado no interior da terra e as rochas da crosta, com destaque s portadoras

    de minerais com alta suscetibilidade magntica, que so magnetita, pirrotita e ilmenita.

    4.1 Fundamentao Terica

    Em uma barra composta por material magntico existe um fluxo magntico

    que converge para suas extremidades, tambm conhecidas como polos magnticos. A

    barra magntica ficar alinhada com o campo magntico terrestre com um polo positivo

    para o norte terrestre e o negativo para o polo sul. A razo entre o fluxo magntico entre

    os polos pela rea denominada densidade de fluxo B ou vetor de induo magntica,

    de unidade Weber/m2

    (Reynolds, 1997).

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    18

    Dissertao de mestrado

    Os polos magnticos so tidos como excessos de carga magntica

    desenvolvidos nas extremidades dos ms. Em analogia s cargas eltricas que se

    acumulam na extremidade de material eletricamente polarizado e geram campo eltrico

    externo ao material, os polos so encarados como fonte do campo magntico externo ao

    m (Reynolds, 1997).

    Em que pese este modelo seja utilizado no estudo de campos externos aos

    materiais magnetizados, ainda no foi possvel observar as cargas geradoras ou seus

    excessos isoladamente. Assim, no deve o polo magntico ser a fonte do respectivo

    campo magntico (Reynolds, 1997).

    Entre dois polos magnticos de massa m1 e m2 separados por uma distncia

    r existe uma fora. Se os polos possuem o mesmo sinal, a fora ser de repulso, caso

    contrrio, ser de atrao (Reynolds, 1997). O vetor fora (F) inversamente

    proporcional distncia r e ao fator permeabilidade magntica ().

    F =

    Onde:

    m: massa do plo magntico

    r: distncia entre os plos magnticos

    : permeabilidade magntica do meio entre os polos

    O campo magntico tambm pode ser definido em termos de um campo de

    fora produzido por corrente eltrica. Observa-se a formao de campos

    eletromagnticos quando correntes eltricas fluem atravs de condutores, podendo ser

    esta a fonte dos campos magnticos (Reynolds, 1997). Sob esta tica, determina-se a

    unidade fundamental de momento dipolo magntico (m):

    Momento Dipolo Magntico (m) =

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    19

    Dissertao de mestrado

    Onde:

    I: corrente eltrica que flui atravs de uma espira que limita a rea a

    c: velocidade da luz; n: vetor unitrio normal rea a

    Para um dado material, a magnetizao ocorre por meio do alinhamento dos

    dipolos internos, provocando o surgimento de campo adicional que, somado ao campo

    externo H, produz o campo de induo magntica B (Reynolds, 1997).

    O campo magntico H definido a partir da Lei de Biot-Savart, que

    descreve o vetor induo magntica em termos de magnitude e direo de uma fonte de

    corrente eltrica. A razo entre o campo induo magntica B e o campo magntico H

    a constante denominada permeabilidade magntica absoluta (). A permeabilidade

    magntica da gua e do ar podem ser considerados iguais permeabilidade magntica

    do vcuo, podendo ser adotado como 0, constante de valor 4.10-7

    WbA-1

    m-1

    . A razo

    entre a permeabilidade de qualquer outro meio e o vcuo igual permeabilidade

    relativa r (Reynolds, 1997).

    B = H

    Sendo = r0

    B = r0H

    Como r = k + 1

    B = (k + 1)0H

    Por outro lado, a relao entre B e H, em termos de parmetros geolgicos,

    expressa por meio da suscetibilidade magntica k, sendo que, para um mesmo campo

    magntico, materiais com maior fator k esto aptos a magnetizarem-se com maior

    intensidade. O sentido da intensidade da magnetizao causada por este fator definido

    pelo sinal positivo ou negativo que cada material apresenta como k (Reynolds, 1997).

    A intensidade de magnetizao J representa um campo magntico extra

    induzido pelo campo externo H. Alm disso, se um corpo de volume V e comprimento l

    uniformemente magnetizado com intensidade J, apresentar um Momento Dipolo

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    20

    Dissertao de mestrado

    Magntico (m) resultante do produto entre polo magntico m e comprimento l. Desta

    forma, a intensidade magntica J tambm conhecida como Densidade Magntica

    (Reynolds, 1997).

    O Campo Geomagntico, International Geomagnetic Reference Field

    IGRF uma representao terica, para um dado intervalo de tempo, para o campo

    magntico gerado pelo interior da Terra, exclusivo aqueles provenientes de material da

    crosta, que representa o Campo Magntico Anmalo, e correntes eltricas induzidas por

    campos externos. O campo terico IGRF representa a somatria de harmnicos

    esfricos de coeficientes determinados por medidas realizadas a partir de levantamentos

    areos, marinhos e terrestres. O IGRF utilizado como referncia para a definio de

    anomalias oriundas de feies geolgicas no campo normal da Terra.

    A origem do campo magntico terrestre pode ser correlacionada s correntes

    eltricas que circulam no ncleo externo lquido, de composio terica frrica. Esse

    movimento de partculas no ncleo lquido embasa a Teoria do Dnamo, que, por

    conseguinte, explica a variao secular do campo magntico terrestre e suas inverses

    de polaridade.

    4.1.1 Magnetismo dos Materiais

    A magnetizao de um material ocorre por meio da orientao de dipolos

    internos do material, a partir da submisso deste a um campo externo (H), que provoca a

    produo do campo induo magntica (B) de correlao direta com o fator

    permeabilidade magntica do meio () (Reynolds, 1997). Os materiais rochosos

    componentes da crosta terrestre, quando submetidos a um campo magntico externo,

    apresentam respostas distintas, destacando-se: substncias que so repelidas

    (diamagnticas); substncias atradas (paramagnticas ou ferromagnticas). Substncias

    diamagnticas e paramagnticas apresentam susceptibilidade magntica constante e

    adquirem magnetizao de intensidade fraca de sentido oposto ao campo externo, no

    primeiro caso, e de mesmo sentido, no segundo caso (Reynolds, 1997).

    A causa do diamagnetismo vinculada ao movimento de eltrons em torno

    do ncleo dos tomos componentes do elemento qumico. Representa um momento

    dipolo magntico (m) gerado pela corrente eltrica do movimento em espira do eltron

  • Mestrado em Geocincias Aplicadas Geofsica Aplicada

    21

    Dissertao de mestrado

    do tomo. J o paramagnetismo descrito a partir do spin do eltron (movimento do

    eltron em torno do seu prprio eixo) tambm associado a um momento dipolo

    magntico (Reynolds, 1997).

    Em termos tericos toda substncia caracterizada como paramagntica.

    Contudo, o cancelamento de um spin por outro oposto resulta em atenuao desta

    caracterstica, resultando em efeito diamagntico.

    Destacam-se como material diamagntico predominante os minerais

    quartzo, feldspatos, grafita e anidrita, e como paramagntico os minerais dolomita,

    olivina, piroxnio, biotita e pirita.

    Alguns materiais paramagnticos apresentam forte interao dos tomos

    constituintes, mesmo na ausncia de campo externo, que permite alinhamento dos

    momentos dipolo magntico dos spins, sendo que somente em temperaturas superiores

    ambiente possvel destruir este alinhamento (Reynolds, 1997). Nomeia-se

    ferromagntico estes materiais paramagnticos. Estes materiais comportam-se como os

    outros paramagnticos quando submetidos temperatura de Curie.

    O ferromagnetismo responsvel pelo magnetismo observado nos

    levantamentos geofsicos do mtodo associado, sendo que as anomalias magnticas so

    geralmente associadas presena de magnetita, pirrotita e/ou ilmenita devido

    capacidade de magnetizao destes minerais (Reynolds, 1997).

    4.1.2 Magnetizao das Rochas

    A magnetizao observada em material rochoso correlaciona-se com os

    minerais magnticos que a compem, sendo classificadas como magnetizao induzida

    e magnetizao residual ou remanescente.

    A magnetizao induzida ocorre a partir da interao entre o campo

    magntico da Terra e os minerais magnticos componentes da crosta e que resulta no

    momento magntico, sendo diretamente proporcional susceptibilidade e de sentido

    igual quele do campo magntico.

    J a magnetizao residual ou remanescente ocorre a partir do

    desenvolvimento de alinhamento magntico permanente correlacionado a processo

  • Mestrado em Geocincias Aplicadas Geofsica Aplicada

    22

    Dissertao de mestrado

    termal, qumico ou fsico em minerais componentes da rocha. Este alinhamento

    magntico independente do campo magntico terrestre.

    Durante o processo de resfriamento de rochas gneas, registra-se a

    informao magntica referente ao momento em que sua temperatura diminui abaixo da

    Temperatura de Curie. Este processo de resfriamento responsvel pela gerao de

    magnetizao termorremanescente em rochas gneas.

    Alm da magnetizao termorremanescente, ocorre tambm a magnetizao

    remanescente qumica, quando da precipitao de sedimentos ferromagnticos e a

    detrtica, que se refere orientao de gros no momento da deposio sedimentar.

    As medidas do campo magntico obtidos por aerolevantamentos so

    resultado da interao entre a magnetizao induzida com quela residual. Como

    resultado, os domnios magnticos so reorientados ou ampliados espacialmente, o que

    adiciona fator de complexidade maior na etapa de interpretao dos dados.

    4.2 Origem e Processamento dos Dados Geofsicos

    A primeira gerao de sistemas de aerolevantamento adotada para auxiliar

    projetos de mapeamento geolgico regional continha basicamente equipamentos de

    fotografia area e raramente gravimetria e magnetometria. A exemplo deste perodo,

    tem-se o Projeto Geofsico Brasil Canad PGBC (DNPM, 1981), que contava com

    preciso de 1nT e registro de informao a cada 70 metros e espaamento entre linhas

    de produo de 2 km.

    Algumas medidas adotadas foram consideradas essenciais para a evoluo

    do sistema de aquisio de dados por aerolevantamentos geofsicos aplicados ao

    mapeamento geolgico e explorao mineral (Jaques et. al. 1997), entre os quais

    destacamos:

    Estreitamento do espaamento entre as linhas de voo, alcanando

    patamar igual ou inferior a 800 metros, podendo alcanar 50 metros

    de espaamento em casos especficos;

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    23

    Dissertao de mestrado

    Adoo de navegao com instrumentos de Sistema de

    Posicionamento Global (Global Position System);

    Altura de voo mais prximas da topografia, da ordem de 100-150

    metros, o que possibilita registro de comprimentos de onda relativos

    a corpos superficiais;

    Aprimoramento da resoluo dos equipamentos, a exemplo da

    magnetometria, inferiores a 0,1 nT.

    Para este trabalho, foram utilizados bancos de dados com caractersticas

    similares aos dados de sistema de alta resoluo, que foram obtidos por meio do Projeto

    Aerogeofsico Borda Leste do Planalto da Borborema, de propriedade da Companhia de

    Pesquisa de Recursos Minerais CPRM, do Ministrio de Minas e Energia, composta

    por aquisio de dados de aeromagnetometria e gamaespectrometria.

    O aerolevantamento foi realizado seguindo linhas de produo orientadas

    segundo direo norte-sul, paralelas ao vetor campo magntico, com espaamento de

    500 (quinhentos) metros entre cada linha de voo, seguidas de linhas de controle

    perpendiculares (direo Leste-Oeste), espaadas 5 km entre si.

    O magnetmetro acoplado aeronave, de marca e modelo Scintrex CS-

    2, apresenta resoluo de medida de 0,001 nT.

    J o gamaespectrmetro, da marca Exploranium GR-820, com sistema

    detector constitudo por trs conjuntos de cristais de iodeto de sdio (NaI), sendo dois

    de 1024 e um de 512 polegadas cbicas, totalizando 2560 polegadas cbicas de

    detectores voltados para baixo (downward looking) e dois cristais, de 256 polegadas

    cbicas cada, voltados para cima (upward looking), totalizando 512 polegadas cbicas.

    O detector (upward looking) monitora as radiaes relativas influncia do radnio

    atmosfrico na faixa energtica do canal do urnio (1,66 a 1,86 MeV).

    A amostragem das janelas do espectro correspondente aos picos de energia

    so de 0,41 a 2,81 MeV para a contagem total, 1,37 a 1,57 MeV para o potssio, 1,66 a

    1,86 MeV para o urnio, 2,41 a 2,81 para o trio.

    O sistema em questo apresenta razo de 10:1 para leitura do magnetmetro

    e gamaespectrmetro, ou seja, dez leituras do aeromagnetmetro e uma do

    gamaespectrmetro a cada segundo. Em velocidade aproximada do voo de 280 km/h,

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    24

    Dissertao de mestrado

    equivale a uma leitura do magnetmetro a cada 8 metros do terreno e uma

    gamaespectomtrica a cada 80 metros.

    4.2.1 Interpolao 2d em Malha Regular

    Como premissa, necessrio levar em considerao no s o grau de

    uniformidade, mas tambm densidade de distribuio dos dados para que se possa

    definir o mtodo de interpolao de dados de uma malha aleatria para regular. Quanto

    maior a densidade e o grau de uniformidade, menor poder ser a clula unitria de

    interpolao de dados.

    Com relao definio da clula unitria, haja vista a distribuio linear

    dos dados de aerolevantamentos geofsicos, Vasconcelos et al. (1990), sugerem valores

    mximos entre 1/4 e 1/8 do espaamento entre as linhas de voo para que seja preservada

    a correlao entre o resultante e a informao bruta e evita o aparecimento de

    falseamento (aliasing) ou incorporao de frequncias altas sem soluo nas frequncias

    baixas, conforme Figura 4.1, referente ao Teorema da Amostragem (Davis, 1986). Em

    face disso optou-se por clula quadrada unitria de 100 metros para interpolao em

    malha regular para o Projeto Aerogeofsico Borda Leste do Planalto da Borborema.

    Figura 4.1 - Onda senide de alta frequncia (linha tracejada) amostrada em pontos discretos

    gera onda de mais baixa frequncia (linha contnua) (Davis, 1986)

    Para o segundo fator, que definio do mtodo de interpolao,

    considerou-se o mtodo de splines bi-cbicos para os dados magnetomtricos, ideal

    para dados em linha (GEOSOFT, 1995). Para os dados gamaespectromtricos, foi

    definido o mtodo de interpolao bidimensional de curvatura mnima, que gera uma

    Intervalo deAmostragem

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    25

    Dissertao de mestrado

    malha regular similar a uma superfcie suavizada e linearmente elstica, com os valores

    o mais prximo possvel dos dados originais.

    A etapa de processamento foi executada no software OASIS MONTAJ

    7.0.1, sendo que o primeiro passo consistiu na insero da informao em banco de

    dados do tipo Geosoft Data Base (.gdb) prpria do programa utilizado.

    4.2.1.1 - Micronivelamento dos Dados

    Mesmo aps as correes de nivelamento executadas durante a aquisio

    dos dados no aerolevantamento, persistem ocorrncias de anomalias residuais

    confinadas e orientadas segundo a direo da linha de voo, que podem ser retiradas por

    meio de aplicao de filtros unidimensionais nas direes paralela e ortogonal de voo.

    Com o intuito de realizar a correo destas anomalias residuais, que so provenientes

    mais precisamente do mtodo de aquisio da informao do que do campo magntico

    terrestre propriamente, utiliza-se a rotina de micronivelamento desenvolvida por Blum

    (1999), adaptadas de Minty (1991).

    A tcnica de micronivelamento, da forma que foi aplicada neste trabalho,

    consiste na composio de uma malha regular derivada do campo magntico anmalo

    que contenha o rudo causado pela tendncia da linha de voo. Esta malha obtida a

    partir de filtro passa-alta flexvel, tambm denominado Butterworth, na direo

    perpendicular s linhas de produo e comprimento de onda igual ou superior ao dobro

    do espaamento entre linhas de produo em uma malha regular A, sendo o resultado

    armazenado na malha regular B. Em seguida, aplica-se filtro passa-baixa na malha

    regular B na mesma direo das linhas de voo e comprimento de onda igual ou superior

    ao espaamento entre as linhas de controle, com o resultado armazenado na malha

    regular C. A malha resultante D, referente ao campo magntico anmalo micronivelado,

    resultante da subtrao entre a malha regular A e a malha regular C (rudo oriundo do

    prprio aerolevantamento).

    Por meio de teste emprico, optou-se por utilizar para o filtro passa-alta

    flexvel o comprimento de onda de 1000 metros de ordem 4, seguido de filtro cosseno

    direcional com aceite aos comprimentos de onda de direo azimute N-S, de mesma

    direo da linha de voo, e grau 1 (GEOSOFT, 1994).

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    26

    Dissertao de mestrado

    4.2.2 Tratamento dos Dados Aeromagnticos

    As tcnicas aplicadas ao processamento dos dados magnticos so

    realizadas por meio de transformaes lineares e aplicao de filtros tanto no domnio

    do espao como no domnio da frequncia (domnio de Fourier). A adoo destes

    procedimentos decorre da dificuldade de interpretao do CMA, principalmente

    vinculado ao carter dipolar. Desta forma toma-se mo de algoritmos de derivao do

    CMA para que produza mapas ou imagens que realcem as variaes da propriedade

    fsica hora analisada. Este clculo de derivadas possibilita a amplificao das anomalias

    de maiores frequncias em detrimento daquelas de maior comprimento de onda, desde

    que ponderada quanto amplificao de rudos, alm de possibilitar a identificao dos

    diferentes feies geolgicas profundas (crustais ou de feies regionais) daquelas

    vinculadas alta frequncia (contatos geolgicos ou atinentes a estruturas).

    Alm deste, foi utilizado o filtro hanning 3x3, que correspondente a um

    filtro de matriz 3x3 com coeficientes que resultam na produo de um novo valor

    central para cada n da malha regular, de modo a causar suavizao da malha regular e

    eliminar rudos indesejveis de alta frequncia. O fluxograma ilustrado na Figura 4.2

    discrimina as etapas de processamento e tratamento dos dados aeromagnetomtricos.

    4.2.2.1 Campo Magntico Anmalo CMA

    O campo magntico anmalo ou residual representa a contribuio da

    poro rasa da crosta no campo magntico medido no aerolevantamento, sendo que a

    interpretao das anomalias dificultada pelo carter dipolar que apresentam. De

    qualquer forma, o CMA a base para a gerao dos produtos a seguir.

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    27

    Dissertao de mestrado

    Figura 4.2 Fluxograma de processamento para os dados de magnetometria.

    PROJETO GEOFSICO BORDA LESTE DO PLANALTO DA BORBOREMA

    MAGNETOMETRIA Altura de voo-100 metros

    Dx

    CMA Micronivelado

    Amplitude do Gradiente

    Horizontal Total AGHT

    Malha regular 100 metros CMA

    Campo Magntico Anmalo - CMA

    Dy Dz

    Inclinao do Sinal Analtico

    ISA

    Amplitude do Sinal Analtico

    ISA

    Espectro de Potncia

    Interpretao Geofsica

    Integrao de dados Geofsicos

    E Geolgicos

    Teste de consistncia

    Interpolao - BiGrid

    Minty (1991); Blum (1999)

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    28

    Dissertao de mestrado

    4.2.2.2 Amplitude do Sinal Analtico ASA

    A tcnica do sinal analtico uma das principais ferramentas para

    interpretao dos dados magnticos. Em latitudes baixas o vetor campo magntico tende

    a horizontalizao, o que dificulta a medio durante o aerolevantamento, alm de

    apresentar anomalias que no correspondem a fonte geradora.

    Este conceito foi proposto por Nabighian (1972, 1974) a partir de uma srie

    de mtodos semiautomticos baseados em derivadas do campo magntico anmalo,

    sendo caracterizado por no depender nem da direo/sentido do vetor campo

    magntico nem da direo da fonte geradora, o que acarreta em posicionamento da fonte

    geradora em duas ou trs dimenses, bem como a mudana de anomalias com

    assinaturas complexas em monopolares (Roest et al., 1992)

    Este produto eficiente para enfatizar os limites laterais das fontes

    causadoras das anomalias magnticas (os picos magnticos localizam-se acima das

    fontes causadoras), bem como para delimitar os domnios magnticos.

    A Amplitude do Sinal Analtico (ASA) corresponde soma dos quadrados

    das derivadas parciais em relao aos eixos x,y e z, conforme expresso abaixo:

    |A(x,y)| = 222

    z

    M

    y

    M

    x

    M

    Onde:

    x e y e z so as derivadas parciais nos eixos x e y e z, respectivamente.

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    29

    Dissertao de mestrado

    4.2.2.3 Amplitude do Gradiente Horizontal Total AGHT

    A amplitude do gradiente horizontal total baseia-se nas derivadas parciais na

    direo x e y do campo magntico M(x,y). Este produto pode indicar estruturao

    interna e realar os limites laterais de blocos magnticos, mudanas laterais abruptas.

    Sua magnitude segue a seguinte frmula matemtica:

    hn (x,y) =

    22

    y

    M

    x

    M

    Onde:

    n a ordem de derivao (neste trabalho foram calculadas amplitudes do

    gradiente horizontal total de ordem zero)

    x e y so as derivadas parciais nos eixos x e y

    4.2.2.4 Derivada Vertical - Dz

    A derivada vertical corresponde a uma estimativa da taxa de variao do

    campo magntico anmalo com relao ao distanciamento ou aproximao da fonte

    magntica causadora da anomalia. Ela representa uma transformao linear de campos

    potenciais com respostas de alta frequncia em detrimento dos sinais de baixa

    frequncia (Blakely, 1995, GEOSOFT, 2007). Por consequncia, este componente

    possibilita acentuar contatos, descontinuidades magnticas e lineamentos.

    Calcula-se a derivada vertical, para o domnio do espao, da seguinte forma:

    L() = n

    = 22 vu

    Onde:

    o nmero de onda em radianos

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    30

    Dissertao de mestrado

    u e v so, respectivamente o nmero de onda na eixo x e y

    n o ndice de derivao

    Em tese, qualquer componente direcional pode ser usado para calcular os

    outros componentes do campo magntico. Na prtica, todavia, somente o campo

    magntico anmalo e o componente vertical funcionam como entrada para converso

    em ambos ou componentes x e y. Isto ocorre devido singularidade dos componentes

    horizontais que podem levar valores convertidos a zero ou infinito (GEOSOFT, 2007).

    4.2.2.5 Inclinao do Sinal Analtico - ISA

    A inclinao do sinal analtico definida pelo arco tangente da razo entre a

    derivada vertical e a amplitude do gradiente horizontal total. Em resumo, este produto

    permite estimar o mergulho da fonte causadora e, por conseguinte, o contraste local de

    suscetibilidade (Blum, 1999), alm de caracterizar a textura do relevo magntico de

    forma que auxilie na segmentao de domnios de amplitude do sinal analtico.

    ISA = ArcTan (

    )

    22

    arctan),(

    y

    M

    x

    M

    z

    M

    yx

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    31

    Dissertao de mestrado

    4.2.2.6 Espectro radial de potncia

    O espectro radial de potncia, ou espectro de energia, segundo Spector &

    Grant, (1970), calculado por meio de uma funo relacionada ao comprimento de

    onda componente do sinal. A partir deste espectro possvel relacionar um conjunto de

    componentes magnticos com a profundidade em que se encontram, representando-os

    por meio da reta de inclinao S (GEOSOFT, 2007).

    O nmero de onda mais alto a ser analisado definido pela frequncia de

    Nyquist. Haja vista que comprimentos de onda menores do que o dobro da distncia

    entre amostras no podero ser detectados, frequncias maiores do que a de Nyquist

    devem ser considerados rudos aleatrios (Davis, 2002). Abaixo segue a relao entre

    profundidade da fonte geradora e o espectro radial de potncia:

    h = (

    )

    Onde:

    h a profundidade da fonte

    S a inclinao de uma determinada reta no logaritmo de densidade de energia.

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    32

    Dissertao de mestrado

    4.2.3 Tratamento dos Dados de Gamaespectrometria

    A radiao gama tem sua origem no processo de desintegrao de ncleos

    instveis de elementos radioativos que, alm da radiao gama (), liberam tambm

    radiao alfa () e beta (). Essa radiao gama, para o caso em estudo, derivada da

    desintegrao natural dos elementos instveis potssio (40K), trio (238U) e urnio

    (232Th). O mtodo aplicado aerogamaespectrometria possui penetrao superficial,

    desta forma, detectando a radiao proveniente dos primeiros quarenta centmetros de

    profundidade (IAEA, 2003).

    Os trs radioelementos supramencionados esto contidos na janela de

    energia do canal de contagem total, que se refere a todos os raios gama da janela

    energtica de 0,41 a 2,81 MeV (Figura 4.4).

    Para o potssio (40K), tem-se o pico de energia de 1,46 MeV. J para o canal

    do trio e urnio, pondera-se que os istopos 238U e 232Th no emitem radiao gama,

    entretanto, os istopos decorrentes da srie de decaimento radioativo desses dois

    elementos emitem energia, sendo assim considerado para o 238U o istopo 214Bi e para

    o 232Th o istopo 208Ti com picos de energia centrados em 1,76 MeV e 2,61 MeV,

    respectivamente (IAEA, 2003). Destaca-se ainda a possvel interferncia na aquisio

    de dados por fatores como umidade, intemperismo, relevo e cobertura.

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    33

    Dissertao de mestrado

    Figura 4.4 Espectro de radiao gama (Minty 1997)

    Primeiramente, foram corrigidos os valores negativos para os canais de

    contagem total, potssio, trio e urnio. Para tal, consideraram-se dois fatores

    importantes: a inexistncia de percentuais negativos e a relao mdia de concentrao

    dos radioelementos na crosta terrestre. Sendo assim, para rochas granticas, os

    elementos K, Th e U apresentam, respectivamente, 3%, 12 ppm e 3 ppm (Pires, 1995) e,

    por conseguinte, foi retirado do banco de dados o restante dos valores negativos, tendo

    em vista que no representam mais do que 0,1% das amostras dos canais supracitados.

    Similar ao processamento dos dados de aeromagnetometria, foi gerada uma

    malha regular, a partir da interpolao por curvatura mnima com clula unitria de 100

    metros dos dados brutos de caractersticas de levantamento em linha, e

    micronivelamento dos dados para correo de tendncias oriundas do prprio

    aerolevantamento.

    Para a apresentao da informao, no que concerne ao carter de

    interpretao qualitativa, foram confeccionados mapas dos canais de Contagem Total,

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    34

    Dissertao de mestrado

    Potssio (K), Trio (Th), Urnio (U) e mapa ternrio formato RGB (Vermelho-Verde-

    Azul) com os canais K, Th e U para realce em falsa cor.

    Figura 4.5 Fluxograma de processamento para os dados de gamaespectrometria.

    PROJETO GEOFSICO BORDA LESTE DO PLANALTO DA BORBOREMA

    GAMAESPECTROMETRIA Altura de voo-100 metros

    Potssio

    Malha regular 100 metros

    Interpretao Geofsica

    Integrao de dados Geofsicos

    E Geolgicos

    Correo estatstica e interpolao por mnima curvatura

    Micronivelamento

    Trio Urnio Contagem Total

    RGB (K, Th, U)

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    35

    Dissertao de mestrado

    4.2.3.1 Potssio

    Representa o elemento mais abundante na crosta terrestre dos trs

    analisados. Sua ocorrncia vinculada formao de feldspatos e minerais micceos

    componentes de rochas flsicas. Por esta caracterstica, representa elemento mvel

    devido a lixiviao que estes minerais sofrem por meio de processos de intemperismo

    fsico-qumico.

    4.2.3.2 Trio

    Possui comportamento inerte e imvel quando comparado aos outros dois

    radioelementos, portanto, representa correlao com estruturas superficiais e com os

    domnios geolgicos e marcador da fonte. Os principais minerais compostos por esse

    elemento so alanita, monazita, zirco e xenotima.

    Este elemento pode apresentar alta concentrao quando a rocha tambm

    apresentar alta concentrao de potssio. No obstante, quando a regio apresenta

    elevado grau de intemperismo, pode ocorrer concentrao anmala deste radioelemento.

    4.2.3.3 Urnio

    O radioelemento Urnio tem ocorrncia vinculada xidos e minerais

    silicticos, apresenta-se com elemento trao e sua concentrao tanto maior quanto

    mais cida for a rocha, em sentido latu.

    Rochas como pegmatitos, carbonatitos, sienitos, granitides e alguns tipos

    de folhelhos so os principais representantes de rochas com minerais portadores de

    Urnio. Estes minerais podem tanto ser solveis, com a diminuio da concentrao de

    Urnio por lixiviao, como tambm podem ser insolveis, podendo ento ser

    transportados por processo fsico, tal como zirco.

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    36

    Dissertao de mestrado

    4.2.3.4 Contagem Total

    Este corresponde a todo o espectro energtico de interesse geolgico. Desta

    forma, abrange o espectro dos trs radioelementos (K, Th e U), alm do intervalo

    interpicos, conforme demonstrado na figura 4.4.

    A partir da anlise conjunta aos outros produtos gamaespectromtricos,

    possvel verificar qual o radioelementos de maior contribuio no sinal

    gamaespectromtrico, com a discriminao de domnios e definio de lineamentos

    superficiais.

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    37

    Dissertao de mestrado

    5. INTERPRETAO GEOFSICA

    As interpretaes derivadas dos produtos geofsicos apresentados tm

    carter eminentemente qualitativo. As interpretaes qualitativas remetem anlise de

    mapas e imagens geradas a partir do processamento anterior, com a delimitao de

    partes com comportamentos geofsicos semelhantes (domnios gamaespectromtricos /

    magnticos), estudos de suas inter-relaes e da fbrica do relevo magntico associado

    (estruturas gamaespectromtricas / magnticas).

    Alguns dos temas gerados para a magnetometria permitiram ter uma idia

    da ordem de grandeza das profundidades das fontes magnticas responsveis pelas

    assinaturas divisadas. Neste aspecto os estudos dos espectros de potncia possibilitaram

    vislumbrar profundidades de famlias de fontes que depois foram tentativamente

    separadas por filtragens lineares apropriadas.

    Este estudo foi complementado pelos resultados da Deconvoluo de Euler

    (Reid et. al., 1990), decodificando-se o relevo magntico em termos de fontes definidas

    pelo decaimento em distncia dos gradientes magnticos em termos de formas (carter

    linear, planar, bidimensional ou tridimensional).

    5.1. Interpretao de Gamaespectrometria

    A gamaespectrometria representa a informao de maior proximidade ao

    observvel em superfcie, como resultado de fenmenos de desintegrao de sries

    naturais que ocorrem aproximadamente 0,5 metros abaixo da superfcie do terreno

    sobrevoado. Em virtude de se tratar de uma propriedade dos materiais geolgicos, as

    concentraes anmalas mapeadas esto relacionadas diretamente a estes e s

    caractersticas do seu material formador. Portanto, o mais representativo do

    observvel geologicamente e que tem maior ligao com aquilo que se observa durante

    um mapeamento geolgico. Como fator correlato, a topografia (zonas de relevo) pode

    influenciar na concentrao de radioelementos em determinadas feies

    geomorfolgicas, j que os elementos traadores das contribuies das trs sries

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    naturais de desintegrao natural tm mobilidades diferentes em funo do

    intemperismo e dos gradientes do relevo.

    Para a determinao de grandes domnios gamaespectromtricos foi

    analisada a Contagem Total que, alm disso, permite definir possveis contribuies

    oriundas do relevo ou ainda lineamentos superficiais.

    J em relao aos domnios gamaespectromtricos (incluindo subdomnios),

    foram utilizados os mapas do Potssio K, Trio - Th e Urnio U, individualmente ou

    em composio de falsa cor do tipo RGB-K:Th:U e CMY-K:Th:U sendo que para o

    RGB o K ocupa a posio da cor vermelha, o Th representa a cor verde e o Urnio a cor

    azul; para o CMY o K representa a cor ciano, o Th correlacionado a cor magenta e o U

    representando a cor amarela.

    5.1.1. Estruturas Gamaespectromtricas

    Foram extrados dos dados de gamaespectrometria, por intermdio das

    indicaes nos mapas de K, Th e U (Figuras 5.1, 5.2 e 5.3), lineamentos em escala

    entre 1:100.000 e 1:250.000 (Figura 5.4). Tendo em vista a peculiaridade da

    informao obtida pela radiao gama, estes lineamentos podem representar contatos

    geolgicos entre as unidades que compem a regio ou estruturas tectnicas que

    delimitam unidades alctones, por vezes denominados como terrenos.

    5.1.2. Domnios integrados (CT)

    A interpretao da Contagem Total em funo dos valores relativos das

    radiaes no CT (Figura 5.5) possibilitou definir os grandes domnios

    gamaespectromtricos. O significado destes domnios, em termos de suas fontes

    formadoras, pode ser aferido usando-se as indicaes dos elementos discriminados e das

    composies em falsa cor.

    Contagem Total Baixa (DCtB): O domnio de contagem total baixo

    abrange a faixa menor do que 5.620 contagens por segundo CPS e

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    representa a faixa de cor azul e verde. Este domnio encontra-se na costa

    do continente e bacia costeira.

    Contagem Total Mdia (DCtM): Este domnio correlaciona-se com

    valores de contagem total mdio, com valores de CPS entre 5.620 e

    9.212. No mapa de contagem total este domnio corresponde a faixa

    amarela e apresenta-se nos interstcios entre os valores de contagem total

    alto ou entre estes e a margem continental

    Contagem Total Alta (DCtA): Este conjunto relaciona-se aos valores de

    contagem total maiores do que 9.212 CPS, alcanando picos de at

    13.500 CPS, que representa as cores de vermelho at magenta. Este

    domnio apresenta maior representatividade no cristalino.

    5.1.3. Domnios Gamaespectromtricos

    Tendo como base as imagens RGB e CMY (Figuras 5.6 e 5.7), foram

    interpretados dezoito domnios gamaespectromtricos. Cada domnio foi definido a

    partir da mistura de teores dos trs radioelementos representados em cores, sendo

    ignorados domnios complexos devido a escala do mapa utilizado no trabalho,

    considerando ento estes domnios complexos como sendo um nico.

    De forma complementar, os canais de Th, K e U foram utilizados como

    forma de controle as composies de falsa cor RGB e CMY. Para tal, cada

    radioelemento foi considerado qualitativamente em escala de baixo, mdio e alto.

    O potssio apresenta valores que variam entre 0,50% e 3,95%, com

    predomnio de teores de 1,5% a 2,5%. J o trio e urnio apresentam variao de 4,5 a

    25,7 ppm e 3,5 a 6,5 ppm, respectivamente. Para cada radioelemento foram

    considerados os seguintes percentuais para classificao qualitativa:

    Potssio:

    K-baixo: 2,511%

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    Trio:

    Th-baixo: 12,443 ppm

    Urnio:

    U-baixo: 5,035 ppm

    Como resultado, as caractersticas de cada domnio gamaespectromtrico

    em funo do contedo de K, Th e U encontram-se na tabela abaixo e na Figura 5.8.

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    Tabela 5.1 Classificao das unidades gamaespectromtricas para a regio do TSJC, de acordo

    com os teores de Potssio, Trio e Urnio:

    Domnios Gamaespectromtricos

    Unidades Classificadas

    Composio relativa

    K Th U

    DG01 (DG-AAA) Alto Alto Alto

    DG02 (DG-AAB) Alto Alto Baixo

    DG03 (DG-AAM) Alto Alto Mdio

    DG04 (DG-ABB) Alto Baixo Baixo

    DG05 (DG-ABM) Alto Baixo Mdio

    DG06 (DG-AMA) Alto Mdio Alto

    DG07 (DG-AMB) Alto Mdio Baixo

    DG08 (DG-AMM) Alto Mdio Mdio

    DG09 (DG-BAA) Baixo Alto Alto

    DG10 (DG-BBA) Baixo Baixo Alto

    DG11 (DG-BBB) Baixo Baixo Baixo

    DG12 (DG-BBM) Baixo Baixo Mdio

    DG13 (DG-BMM) Baixo Mdio Mdio

    DG14 (DG-MAA) Mdio Alto Alto

    DG15 (DG-MAM) Mdio alto Mdio

    DG16 (DG-MBB) Mdio Baixo Baixo

    DG17 (DG-MMA) Mdio Mdio Alto

    DG18 (DG-MMM) Mdio Mdio Mdio

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    Figura 5.1 Mapa do Potssio com sombreamento de inclinao de 45 e declinao de 315.

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    Figura 5.2 Mapa do Trio com sombreamento de inclinao de 45 e declinao de 315.

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    Figura 5.3 Mapa do Urnio com sombreamento de inclinao de 45 e declinao de 315.

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    Figura 5.4 - Mapa de Lineamentos da Gamaespectrometria com base no mapa do CMY

    K:Th:U

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    Figura 5.5 Mapa de Contagem Total (Imagem Sombreamento de inclinao de 45 e

    declinao de 315). A poro prxima costa corresponde aos menores valores de

    contagem total.

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    Figura 5.6 Mapa de composio RGB K:Th:U

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    Figura 5.7 Mapa de composio CMY K:Th:U

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    Figura 5.8 Mapa de Domnios Gamaespectromtricos interpretados, de acordo com a Tabela

    5.1. Sobreposio ao produto RGB K:Th:U

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    5.2. Interpretao de Magnetometria

    Para a interpretao dos produtos de magnetometria foi utilizado

    inicialmente o Espectro de Potncia Radialmente ponderado da intensidade do Campo

    Magntico Total. Na forma proposta, com base no modelo espectral de profundidades,

    segundo Spector & Grant, (1970), trabalha-se com a hiptese de correlao entre as

    profundidades do topo das fontes magnticas e as caractersticas do sinal medido, mais

    especificamente o comprimento de onda.

    A partir dele foi possvel subdividir as assinaturas magnticas observadas

    em termos das profundidades relativas de suas fontes dadas pela anlise do decaimento

    espectral de acordo com as faixas de profundidade de maior relevncia no referido

    espectro.

    Para a separao do espectro observado nas faixas de frequncias espaciais

    (nmeros de onda) correspondentes a cada famlia de fontes cujos topos estariam numa

    determinada profundidade foi feita com uma combinao do filtro passa-baixa do tipo

    Butterworth na intensidade do Campo Magntico Anmalo micronivelado. Na anlise

    feita foram divisadas quatro faixas espectrais.

    Sobre a separao espectral das diversas faixas de frequncias espaciais

    condicionadoras foram gerados: Amplitude do Sinal Analtico (ASA) e Inclinao do

    Sinal Analtico (ISA), em primeiro momento, sequenciados pela gerao das derivadas

    direcionais (x, y e z) e da Amplitude do Gradiente Horizontal Total (AGHT).

    Os domnios magnticos foram interpretados, em cada caso, a partir da

    Amplitude do Sinal Analtico do Campo Magntico Anmalo ASA. J os lineamentos

    foram baseados nas imagens da Inclinao do Sinal Analtico do Campo Magntico

    Anmalo ISA.

    Para a analise semi-quantitativa fez-se uso igualmente, em cada caso, da

    Deconvoluo de Euler para gerao de solues de profundidade para os diferentes

    tipos de estruturas: planares, lineares, bidimensional ou tridimensional.

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    5.2.1. Modelo espectral de profundidade das fontes magnticas

    O espectro de potncia radialmente ponderado EPRP, tambm conhecido

    como densidade de energia espectral, foi gerado a partir do Campo Magntico Total

    CMT. A Frequncia de Nyquist (fn) definida para o aerolevantamento apresenta nmero

    de onda de 1 km-1

    (um ciclo por quilmetro, ou comprimento de onda de 1000 metros),

    correspondente a duas vezes a distncia entre, no caso, perfis de amostragem, e a